Revista valeparaibano - Dezembro 2010

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Dezembro 2010 • Ano 1 • Número 9 R$ 7,80

Adoção

Pais do mesmo sexo Em decisão inédita na região, Vara da Infância e Juventude de São José autoriza a adoção de crianças por casais homossexuais

POLÍTICA

É viável ampliar o aeroporto de São José? P14

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SAÚDE

Síndrome do pânico: o medo do medo P52

MODA

Pedras e paetês iluminam looks de verão P82

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Opinião

Palavra do editor

DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno

A adoção por homoafetivos

O

pinar sobre um assunto polêmico é sempre um desafio, principalmente àquele que mexe com conceitos já enraizados em nossa sociedade. Mas fechar os olhos frente à situação seria escamotear uma realidade. Neste caso, o prudente é refletir sobre o tema e tirar uma conclusão, antes de fazer julgamentos. Em decisão inédita e unânime, em abril deste ano, o Superior Tribunal de Justiça reconheceu o direito de um casal homossexual recorrer à adoção de uma criança. A decisão abriu precedentes e a Justiça de São José dos Campos, meses depois, autorizou a adoção de crianças por dois casais homoafetivos. Diante desse novo cenário, desse novo conceito de família prestes a surgir, não é difícil imaginar que a adoção por casais gays encontrará forte resistência na sociedade. É certo que volta e meia o tema acaba discutido com amigos e familiares. Mas será que fomos isentos nas opiniões? Considerando-se que é reconhecido aos casais heterossexuais o direito à adoção de crianças e adolescentes, deixando de lado todo o conservadorismo existente, seria correto negar tal direito às uniões formadas por pessoas do mesmo sexo? Não há nada mais nocivo à sociedade que um pensamento conservador, que prefere, por puro preconceito, um órfão em dificuldades a uma criança com lar e amada. O amor não tem sexo. Todos os seres humanos têm o direito a uma vida digna, de ter uma família e ser amado. O que é incompreensível são as pessoas classificarem o assunto como absurdo e negar, sem refletir, o entendimento de conceder o direito à adoção a pessoas cuja vontade é oferecer amor, carinho e afeto a uma criança tolhida de tais sentimentos. E esse preconceito impõe barreiras enormes entre o desejo de milhares de crianças e adolescentes em ter um lar e o desejo de casais do mesmo sexo de terem um filho. Então deixo a pergunta: seria justo criticarmos ou julgarmos a vontade alheia? Marcelo Claret editor-chefe

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DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br

EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br

EDITOR DE FOTOGRAFIA Flávio Pereira flavio@valeparaibano.com.br

REPÓRTERES Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br), Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Elaine Santos (elainesantos@valeparaibano.com.br) e Rafael Persan (estagiário) DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes daniel@valeparaibano.com.br COLABORADORES Antonio Basílio, Brunho Fraiha Cristina Bedendo, Franthiesco Ballerini, Marrey Júnior e WR Modelos (Ayume Priscila, Juliana Oliveira e Andrey Machado) COLUNISTAS Alice Lobo, Carlos Carrasco, Fabíola de Oliveira, Marco Antonio Vitti, Marcos Meirelles, Ozires Silva e Roberto Wagner de Almeida CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. O valeparaibano reserva-se ao direito de selecioná-las e resumi-las.

DEPARTAMENTO DE PUBLICIDADE REGIONAL Tatiana Musto e Vanessa Carvalho

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A revista valeparaibano é uma publicação mensal da empresa Jornal O Valeparaibano Ltda. Av. São João, 1.925, Jardim Esplanada, São José dos Campos (SP) CEP: 12242-840 Tel.: (12) 3202 4000

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A tiragem é auditada pela BDO

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MODA

Sumário

O VERÃO PEDE MUITO BRILHO P82

ESPECIAL

A nova família A adoção de crianças por casais homoafetivos já é uma realidade na região. A Vara da Infância e Juventude de São José já tem dois casais na fila de espera por órfãos.

POLÍTICA INFRAESTRUTURA

TURISMO LESTE EUROPEU

É possível ampliar o Bósnia para aeroporto de S. José? P14 turistas P72 Pesquisa aponta demanda de passageiros se aumentar número de rotas no terminal

Depois de anos de conflitos, o país está pronto para receber e mostrar os seus tesouros culturais e naturais

ESPECIAL SAÚDE

A soma de todos os medos P52 Estimativa aponta que transtorno do pânico atinge mais de 30 mil pessoas em São José ENTREVISTA EXCLUSIVO

Padre Fábio de Melo fala sobre o Natal P56

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POESIA

Livro perdido A história da localização da última obra do poeta Cassiano Ricardo P90

CINEMA APARECIDA

O milagre chega às telas P102

‘Aparecida - O Milagre’ estreia neste mês em circuito nacional trazendo a história que perpetua a Padroeira do Brasil LITERATURA MONTEIRO LOBATO

140 anos de magia P96 Ensaio Fotográfico p64 Curtas p88 Flashes & p116 Viva a Vida p122

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Palavradoleitor É com muita satisfação e interesse que tenho acompanhado a consolidação da revista valeparaibano. A matéria “Por que somos diferentes?”, do competentíssimo repórter Xandu Alves, provou que o jornalismo pode ser uma importante ferramenta para a divulgação científica e contrária ao obscurantismo e fundamentalismo que insistem em acompanhar o ser humano em sua trajetória evolutiva. Fez-me lembrar o clássico dos já distantes anos 60, “O Homem Nú”, do etólogo Desmond Morris. Ele nos lembra que, das 193 espécies de macacos e símios, 192 têm o corpo coberto de pelos. Lembra ainda que o ‘macaco pelado’ é também aquele que possui o maior cérebro e o maior pênis. Pois então, que os representantes do gênero masculino passem a usar mais o primeiro, em detrimento do segundo, para que, apesar de nossas diferenças, as relações entre mulheres e homens se tornem a cada dia mais respeitosa e harmoniosa. Abraços! Enio Machado - Diretor da Alameda Comunicação

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@revistavale

Av. São João, 1925 Jd. Esplanada, CEP 12242-840

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ENQUETE Como você avalia a produção brasileira de cinema?

óti - 17 ótima 17,05% 05% boa - 29,03% regular -24,88% ruim -29,03% Foram computados 217 votos entre os dias 10 e 20 de novembro

Enquete www.valeparaibano.com.br

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Domingo 5 Dezembro de 2010

A revista valeparaibano encomendou uma pesquisa para avaliar a satisfação profissional do joseense com o trabalho

ENSAIO

GERAL Conteúdo São Luís do Paraitinga não pode perder a cultura. Fico muito triste por isso e indignada com os governos federal e estadual. Adorei a matéria sobre a satisfação profissional, isso mostra o progresso de São José dos Campos. E acredito que Geraldo Alckmin é competente e coerente e vai fazer muito pelo Vale do Paraíba. Um grande abraço a todos da redação. Saúde e sucesso. Eliny Marcela L. Albinati Comentou no Facebook

Parabéns PESQUISA Trabalho Foi muito legal ver o ensaio fotográfico do “Gigante Branco”. Podemos perceber, em cada fotografia, os belos detalhes da cultura dos Incas, no Peru, além das esculturas naturais da maior montanha da Cordilheira Real da Bolívia - Illimani. A imagem que mais chamou minha atenção foi o contraste de cultura, na qual a mãe, com seu chapéu típico, e o filho, “fugindo” um pouco das raízes, utilizando um boné do Homem Aranha, sem ao menos saber dessa inserção ao mundo globalizado. Parabéns valeparaibano. Alexandre Andrade Jornalista

IMERSÃO Aprendizagem Lendo a matéria sobre imersão cultural, refleti sobre o quanto foi boa essa experiência em minha vida. Tenho certeza que os alunos vão, mesmo que de maneira involuntária, usar algo que aprenderam nessa viagem algum dia. Realmente, o processo de aprendizagem num programa como este ultrapassa a questão do idioma. João da Silva Pereira Engenheiro civil

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Parabéns pela revista e pelas temáticas abordadas. A reportagem “Vidas perdidas”, que aborda a situação do tráfico de mulheres, é uma verdadeira prestação de serviço à comunidade. Parabéns pela forma como a matéria foi redigida. Meus cumprimentos ao Yann Walter e à Priscila Siqueira. Desejo muito sucesso à polícia no enfrentamento desta realidade, em especial ao delegado Unacy Pereira de Jesus. A sociedade precisa de pessoas como vocês. Também muito bem redigida a reportagem sobre a felicidade no trabalho, contudo, a empresa que realizou a pesquisa o fez em apenas dois dias da semana (13 e 14 de outubro) em “pontos de fluxo de São José dos Campos”. Foram realizadas as coletas em todas as regiões da cidade? Dois dias para uma pesquisa desta magnitude, penso que não representa o universo. Os números mostram-se otimistas demais.

Sobre o cancelamento da Semana da Canção: @porqueira Boa matéria sobre São Luís do Paraitinga na revista valeparaibano, esperamos um 2011 melhor para a nossa cidade.

Sobre a revista: @valdir_psb Parabéns pela edição da revista. Está com ótimas matérias, inovando a cada edição, com uma linguagem simples e dinâmica.

Sobre a cerveja artesanal: @web_adriano Ai sim, hein!! Minha casa vai vira uma adega RT @revistavale: Aprenda como fabricar a sua própria cerveja em casa!

Sobre a pesquisa: @ticianetoledo Gostei muito da matéria da revista valeparaibano desse mês sobre felicidade no trabalho. Faço parte dessa parcela dos joseenses que adora o que faz.

Zilda Souza Estudante Sobre a revista:

CRÉDITO Bailarinos As fotos da reportagem “Por que somos tão diferentes?” foram feitas com os bailarinos da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.

@tirelli_ A revista valeparaibano tem uma diagramação limpa e agradável, com um layout moderno, o que facilita a leitura e a torna mais prazerosa

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Política

Dois Pontos

Marcos Meirelles Jornalista

Dilma Rousseff e a hora da fatura

BRANCO & PRETO

Presidente eleita paga um preço alto pela maioria consolidada no Congresso pelo seu mentor político Valter Campanato/ABr

Caso Panamericano A elite em Brasília e o baú furado de Sílvio Santos

“O responsável número 1 é o acionista majoritário. O BC agiu a tempo de não causar prejuízo ao poder público, ao sistema financeiro e à economia” Henrique Meirelles presidente do Banco Central

PARCEIRO? A presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), ao lado do vice, Michel Temer (PMDB)

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partilha de cargos no governo Dilma Rousseff (PT) indica que a maioria parlamentar no Congresso Nacional costurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá um custo político muito maior do que o projetado durante a campanha eleitoral. Os partidos aliados querem manter o controle de áreas estratégicas e ampliar a cota de cargos na Esplanada dos Ministérios. A conta não fecha. Além disso, há legendas que pretendem impor nomes à presidente eleita e outras que exigem porteira fechada nas pastas que lhe foram oferecidas. Outro problema para Dilma é arranjar abrigo para os aliados derrotados nas eleições de outubro. Esta prática nefasta consolidada durante o governo Lula garante uma “boquinha” em Brasília para candidatos

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sobejamente rechaçados pelos eleitores e cria uma reserva de vagas que inviabiliza a contratação de técnicos e especialistas. Interlocutores de Dilma afirmaram ao longo dos últimos 30 dias que a presidente eleita gostaria de montar uma equipe mais técnica e cobrar dos partidos indicações menos vinculadas às disputas políticas regionais. Nem uma coisa nem outra. A equipe de Dilma repetirá o balaio de gatos do segundo mandato de Lula, com um ligeiro toque mais feminino. A presidente eleita terá ainda que administrar as disputas entre os aliados no Congresso Nacional. Logo após o segundo turno, o PMDB articulou um “blocão” com os pequenos partidos da base de apoio ao governo e criou uma saia justa com o PT. Coube ao presidente Lula contornar o princípio de crise. E como agirá Dilma, a partir de janeiro?

“O que ocorreu foi uma fraude contábil vulgar. O procedimento normal é chegar e fazer a intervenção. Cadê a autonomia do Banco Central?” Jutahy Junior deputado federal pelo PSDB-BA

“A ação do BC foi cirúrgica. Não envolve dinheiro público, evita a intervenção e o espraiamento dessa crise localizada por todo o sistema financeiro” Ricardo Berzoini deputado federal pelo PT-SP

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Domingo 5 Dezembro de 2010

Do presidente Lula, sobre a montagem da equipe de Dilma

Continuísmo ou mesmice em SP?

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maior especulação em torno do secretariado do governador eleito Geraldo Alckmin (PSDB) envolveu a improvável indicação de José Serra para a Secretaria de Saúde. A maior frustração para os “alckmistas” do PSDB foi a indicação inicial de um número considerável de assessores ligados ao ex-governador. No frigir dos ovos, mesmo sem Serra, Alckmin fez uma opção clara e preferencial pelo continuísmo. Indicado chefe da Casa Civil, o ex-secretário estadual e ex-presidente da Assembleia Legislativa Sidney Beraldo será o “gerentão” de Alckmin, responsável pela interlocução entre as secretarias e os partidos aliados do governo. Sem resistências, sua nomeação era esperada desde a vitória do PSDB no primeiro turno

O que está em jogo na Câmara A eleição para a presidência da Câmara de São José tem um favorito e um nome considerado ideal pela administração do PSDB. A oposição, mais uma vez, será carta fora do baralho. O favorito é o candidato à reeleição Alexandre da Farmácia (PR), menos pelas suas “realizações” à frente do Legislativo e mais pelas “amarrações políticas” que construiu ao longo dos últimos dois anos à frente da Casa. Os integrantes da mesa diretora da Câmara que falam mal do vereador do PR para o governo do PSDB são os mesmos que assinaram em baixo de todas as decisões polêmicas tomadas por Alexandre: aumentos salariais, gastos injustificados com a aquisição de equipamentos e a contratação da FIP para a realização de

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“Eu não peço e não indico ninguém no governo Dilma. Conselho eu dou, até para você, se pedir. Conselho é de graça, não precisa pagar nada” das eleições para o Palácio dos Bandeirantes. Uma escolha conservadora, mas capaz de estabelecer um canal de diálogo com as legendas que se sentiram alijadas do bloco governista em São Paulo. Na Saúde, onde supôs-se a possibilidade de uma reserva de vaga para José Serra, Alckmin optou por um nome de perfi l técnico. A sinalização é clara: o governo deve manter as diretrizes definidas por Serra para o setor, mas evitar o uso político da pasta. É o estilo discreto do exsecretário Luiz Roberto Barradas Baratas fazendo escola. Na Segurança Pública, Alckmin sinalizou que poderá manter o atual titular da pasta, Antonio Ferreira Pinto, responsável direto pelo aumento das investigações sobre a corrupção policial no Estado e pela redução dos índices de criminalidade. São escolhas compreensíveis, mas o risco do continuísmo é a mesmice. Alckmin pode passar os próximos quatro anos repetindo as promessas e os programas de Serra. E isso é muito pouco para quem governa o Estado mais rico do país.

um concurso público até hoje sub judice. O preferido da administração tucana é o vereador Juvenil Silvério (PSDB), que cumpriu à risca as orientações da prefeitura como líder governista na Câmara e poderia conduzir a presidência do Legislativo sem fazer sombra ao governo. O problema é que a candidatura de Juvenil esbarra em restrições dentro do próprio do PSDB, onde a fogueira das vaidades inspira mais duas pré-candidaturas à Presidência. O governo confia tanto na construção de uma candidatura de consenso dentro do bloco governista que o prefeito Eduardo Cury (PSDB) viajou para a Europa sem tratar do assunto com os vereadores. Avalia-se que o conceito de “parceria” entre a prefeitura e o bloco aliado na Câmara está consolidado e não existe interesse em marcar posição às vésperas de uma eleição municipal que terá a maioria dos vereadores em busca da reeleição. Mas o salto alto do governo incomoda e uma sinalização de terceira via não está descartada no Legislativo.

PINGUE & PONGUE Francisco Vieira (Chesco) Coordenador regional do PSDB no Vale do Paraíba e ex-prefeito de pindamonhangaba

Como sr. avalia a reestruturação do partido para as eleições municipais? Como coordenador do PSDB, acho que temos um problema pela frente. Brasília tem que discutir a reforma política. É muito difícil fazer aliança para ganhar eleição e depois governar com o quadro político atual. As lideranças são personalistas e os partidos só existem para atender a uma demanda da Justiça Eleitoral. Você discute pessoas, não discute projetos, grupos. O político perde a eleição e já pensa em mudar de partido. É preciso fortalecer os partidos políticos. Quais são as metas do PSDB no Vale para 2012? Temos 12 prefeitos e queremos atingir 21. Vamos buscar a estruturação dos diretórios nas 39 cidades da região. Não posso falar em renovação, sem pensar nos jovens. Vamos buscar a juventude, buscar as mulheres. Os jovens precisam participar mais do processo político. Mas Brasília tem que dar sua contribuição, aprovar a reforma política, o voto distrital. Não é possível que, com mais de 1 milhão de eleitores, o PSDB só tenha eleito dois deputados na região. Temos que criar condições para aumentar a representatividade da região.

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Política MAIS ROTAS

Aeroporto: ampliação é viável em São José? Pesquisa encomendada pela ACI aponta que existe demanda de passageiros se oferta de rotas for aumentada; estudo será usado para incentivar operação de mais companhias aéreas no terminal Hernane Lélis São José dos Campos

expectativa da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) em conseguir aumentar a capacidade do aeroporto de São José dos Campos de 90 mil para 600 mil passageiros por ano reacendeu uma antiga discussão sobre o potencial de embarque regional no terminal. A estimativa é que a demanda seja de 5,1 milhões de usuários a partir de 2020, no entanto, os destinos mais procurados para fomentar as atividades até lá ainda faltavam ser definidos. Diante dessa interrogação, a ACI (Associa-

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ção Comercial e Industrial), em conjunto com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São José, realizou uma pesquisa para identificar quais são as rotas de maior interesse na cidade. O resultado apontou que voos para o Nordeste, Rio de Janeiro e São Paulo são os que mais levariam pessoas ao aeroporto joseense, sendo o horário de embarque e o preço das passagens fatores preponderantes para a escolha do local de embarque. A ideia é que o estudo seja utilizado para atrair maiores investimentos e incentivar as companhias aéreas a operarem no aeródromo de maneira intensiva, já que hoje apenas duas empresas possuem base em São José— Azul e Trip. A expectativa da Infraero é que novas rotas sejam implantadas com base na pesquisa, principalmente após a con-

Aceitação dos passageiros por voos com saída do aeroporto de São José dos Campos

97% 2% 1%

Sim Talvez Não responderam

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Fotos: Flávio Pereira

TRÁFEGO Embarque de passageiros para o voo da Azul no aeroporto de S. José

clusão das obras de ampliação do aeroporto, previstas para começarem no segundo semestre de 2011 e orçadas em R$ 2,5 milhões. Tal investimento não seria em vão. De acordo com o levantamento realizado pelo Instituto Vínculo Métrica, a pedido da ACI, 97% dos entrevistados escolheram São José dos Campos como ponto de embarque, principalmente se as rotas contemplassem diferentes pontos do Nordeste, onde 43% das pessoas consultadas manifestaram interesse por voos, seguido por Rio de Janeiro, com 37%, e São Paulo, com 20% das rotas desejadas. Belo Horizonte e Curitiba aparecem em quarto e quinto lugares, com 19% e 17%, respectivamente. A pesquisa foi realizada em outubro e novembro. Foram ouvidas 118 pessoas –42% homens e 58% mulheres em diferentes pon-

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tos da cidade. “Partiu da Azul o interesse na pesquisa. Isso mostra que a companhia tem planos para a cidade, planos de investir no aeroporto. Queremos acabar com esse pessimismo sobre a demanda na região. É importante destacarmos o grande mercado que existe no município em torno do turismo de negócios. Isso movimenta de forma significativa a economia local, mas é preciso fomentar o setor”, disse Felipe Cury, presidente da Associação Comercial e Industrial. Segmentar a demanda de passageiros, segundo o empresário, também coloca fim a um dos argumentos apresentados pelas companhias aéreas, que olham com desconfiança o potencial do terminal. Segundo previsões da McKinsey & Company, empresa de consultoria americana, a Região

Metropolitana de São Paulo deve operar cerca de 61 milhões de passageiros a partir de 2020, o que agravaria significativamente o sistema aeroportuário, exigindo a necessidade de transbordo das aeronaves. Dentro desse escopo, a estimativa apresentada em estudo realizado pela Divisão de Engenharia Civil do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) é que o aeroporto de São José concentre no mesmo período uma demanda de 5,1 milhões por ano em decorrência do estrangulamento aeroportuário da capital, também previsto para ocorrer no aeroporto de Viracopos, em Campinas, onde a estimativa para os próximos dez anos é de movimento 30% maior, estimulado pela construção do Trem-Bala. “Vamos realizar essa pesquisa a cada seis meses, fazer dela um instrumento de negó-

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Política

cios para as companhias aéreas. A cidade vai passar a receber passageiros vindos da capital, principalmente da região leste, de Mogi da Cruzes, ABC paulista e demais municípios. As empresas precisam de um instrumento que ajude a nortear seus investimentos, temos como oferecer isso a elas”, explicou o empresário. Ócio Nos últimos oito anos, o terminal vem operando com menos da metade de sua capacidade, sendo 2007 o período em que foi apresentada sua melhor performance, quando foram atendidos 55 mil passageiros. À época, a Gol e OceanAir (Avianca) operavam no aeródromo. No ano seguinte, ambas deixaram as atividades. A Gol alegou que suas aeronaves eram inadequadas para operarem no terminal devido a alta capacidade de passageiros. Já a Avianca informou que se tratava de uma redução de custo. Hoje, mesmo apontado como uma das principais alternativas para desafogar o tráfego aéreo de Congonhas e receber voos

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Perfil do entrevistado

Sexo Masculino: 42% Feminino: 58%

Renda Familiar Até R$ 560: 1% De R$ 561 a R$ 1.680: 13% De R$ 1.681 a R$ 2.800: 18% De R$ 2.801 a R$ 3.920: 20% De R$ 3.921 a R$ 5.600: 14% R$ 5.600 ou mais: 8%

Faixa Etária De 18 a 25 anos: 18% 26 a 35 anos: 23% 36 a 45 anos: 22% 46 a 60 anos: 28% 61 ou mais: 9%

durante a Copa do Mundo de 2014, o foco das autoridades políticas e empresariais é atrair companhias aéreas regionais, que operam aviões de até 122 lugares, como os E-Jets da Embraer. A maior vantagem do aeródromo em termos estruturais está na pista de pouso e decolagem. São 3.000 metros sem pontos de alagamento, pronta para receber qualquer tipo de aeronave. A desvantagem está na pequena área de embarque. Problema que deve ser solucionado após as obras de ampliação, com a construção de um MOP (Módulo Operacional Provisório), expandindo em 1.000 metros quadrados a área destinada ao tráfego e acomodação de passageiros. “Acredito que temos demanda para isso, o interesse depende da companhia. Além disso, um dos objetivos do novo operacional é receber voos de Guarulhos e Congonhas”, disse Jussara Ribeiro, superintendente regional da Infraero. O prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB), se colocou a disposição da Infraero para ajudar a fomentar as atividades no terminal. Para ele, demanda de passagei-

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ros nunca foi problema, mas sim a infraestrutura oferecida para empresas e passageiros. “Eles anunciam investimentos no aeroporto há mais ou menos seis anos, então, precisa realmente que seja feita alguma coisa. Basicamente, precisa a ampliação do terminal de passageiros porque São José respondeu bem, os voos estão cheios”, disse o prefeito. Demanda Cury destaca ainda que o movimento inverso, de passageiros de outros estados buscando acessar cidades da região, também pode acontecer. “Com a colocação de rotas, o passageiro está aparecendo e, não só do Vale do Paraíba, mas também de outras regiões. O turismo também pode ser de pessoas indo para Aparecida, Litoral Norte e Campos do Jordão. Queremos instalar um balcão da prefeitura para fazer um trabalho de marketing mostrando a cidade, fazer com que o passageiro desça do avião e fique também em São José”, explicou. As novas operações da Azul no aeroporto, que oferece voos diários para Belo Horizonte

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Destinos desejados

Regiões e cidades Nordeste: 43% Rio de Janeiro: 38% São Paulo: 20% Belo Horizonte: 19% Curitiba: 17% Sul: 15% Campinas: 7% Norte: 6% Recife: 5% Brasília: 5% Porto Alegre: 3% Minas Gerais: 3% Vitória: 3% São Luís: 2% Florianópolis: 2% Natal: 2% Foz do Iguaçú: 2% Salvador: 1% Manaus: 1%

e Curitiba, comprovam a existência de uma relação positiva entre oferta e demanda de passageiros. Somente nos dois primeiros dias de atividades, iniciadas em outubro, o terminal recebeu mais de 600 pessoas, garantindo lotação de 80% nos aviões Embraer 195, com capacidade para 118 passageiros, utilizados pela companhia. Agora, outras rotas podem ser incrementadas nos próximos meses, seguindo os resultados do estudo. Adalberto Febeliano, diretor de relações institucionais da Azul, vê São José como polo concentrador de tráfego do Vale do Paraíba. A ideia da empresa é desenvolver rotas que possam levar seus habitantes “ao Norte, Sul e ao Centro-oeste do país em complementação aos serviços que são oferecidos em São Paulo”, explicou o empresário. Para isso, ele pretende utilizar os dados obtidos pela pesquisa feita pela ACI. “Todas as informações disponíveis sobre um mercado são levadas em consideração quando se está trabalhando no desenvolvimento de novas rotas. Esses dados específicos podem ser usados para sugerir rotas

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ou para sugerir campanhas promocionais. Estudos desse tipo são sempre muito importantes”, disse Febeliano. José de Mello Corrêa, secretário de Desenvolvimento Econômico de São José, está otimista com os novos projetos para o aeroporto e com a movimentação prevista para os próximos meses. De acordo com pesquisa coordenada pela pasta, o número de pessoas que circulam pelo aeródromo aumentou dez vezes com o início das operações da Azul –passou de 40 para 450 por dia. O secretário afirma que já existe negociação com outras companhias aéreas para a implantação de novas rotas. “Estamos conversando com a Infraero e Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) sobre essa questão. Trazer investimentos para o terminal significa geração de emprego e renda no setor hoteleiro, comércio e prestação de serviços, além de maior recolhimento de impostos para o município através de repasses do ICMS (Imposto sobre Prestação de Serviços e Circulação de Mercadorias). A pesquisa mostra que está superada essa questão de demanda e que temos condições

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CHECK IN Passageiros aguardam para fazer o check in no saguão do aeroporto

de atender novas empresas aéreas”, disse. A secretaria deve finalizar ainda este mês um estudo a respeito das rotas mais utilizadas pelas indústrias da cidade. Até agora foram ouvidas 25 empresas, entre elas, Embraer, General Motors, Johnson & Johnson e Gerdau, que apontaram Rio de Janeiro, Porto Alegre e o Distrito Federal como as regiões que recebem com maior frequência seus funcionários. Somente na Fly Tour, uma das principais operadoras utilizadas pelas empresas, as operações cresceram mais de 100% com a chegada da Azul. A Trip Linhas Aéreas, que atua em São José desde abril de 2008, trabalha hoje com dois horários diários até o Rio de Janeiro e com outro ligando a cidade a Belo Horizonte nos sábados. A empresa já solicitou junto a Agência Nacional deAviação Civil novas rotas partindo do município. Victor Celestino, diretor de relações institucionais da companhia, afirma que a empresa “olha com muito interesse as atividades no terminal e espera concretizar a curto prazo os planos destinados ao aeródromo.

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Política

CONTROLE Torre de controle do aeroporto de São José, que terá investimentos da Infraero em ampliação

“São José tem potencial, mas os investimentos prometidos para ampliar o terminal precisam ser acelerados. Acredito que a Anac aguarda essa ampliação para liberar novas rotas. Temos confiança na demanda e na capacidade das operações que o aeroporto oferece, há viabilidade e interesse da companhia em atender com maior frequência e número de voos à população”, disse o diretor, que revela ainda uma das possíveis mudanças previstas na malha aérea da companhia. “Esse voo de São José a Belo Horizonte queremos ele diário. É importante destacar que a partir dele o passageiro pode fazer conexão a outras 45 cidades. Não se trata apenas de origem e destino”, explicou Celestino. Já a Passaredo, que operou no município durante sete anos, limitou-se a dizer que “a região é muito rica, porém não posso falar sobre investimentos na cidade, por ser informação estratégica para a companhia”, disse Ricardo Merenda, gerente de planejamento da empresa. A Gol informou que não tem planos de voltar a operar em São José no momento, mas que está sempre avaliando oportunidades que agreguem benefícios aos clientes e resultados ao negócio. •

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Política

Ozires Silva

Infraestrutura aérea no Brasil: uma real e urgente necessidade transporte aéreo é o último modal de transporte a ser incluído entre os meios utilizados pela humanidade, desde passados remotos, e crescentemente ocupa espaço relevante nas necessidades do ser humano moderno. Embora, ainda que pareça esquisito, há pessoas que falam do “medo de voar”, submetendo-se normalmente a extensas e longas viagens por terra, longe do conforto oferecido pelos aviões correntes no tráfego mundial

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Sem dúvida, os atributos do avião, como meio de transporte, superam de longe a qualquer outro modal. O número de vôos, de passageiros e carga dos serviços mundiais de transporte aéreo, já mostra dimensões acima de tudo o que se poderia pensar no passado e projeta taxas de crescimento futuro crescentes. São difíceis de antecipar os impactos na vida das pessoas e na infraestrutura de apoio às operações, os quais ganham espaço entre especialistas e responsáveis pela coisa pública. Nas nações, hoje chamadas de “emergentes”, o modal aéreo mostra expansão inusitada, classificada quase como explosão, não deixando dúvida sobre sua importância para o futuro, como um vetor diferenciado de impulso para riqueza e a prosperidade. Na Coréia do Sul, em particular, o crescimento da demanda têm surpreendido. A Korean Air anunciou receitas expressivas, que, comparadas com

CRESCIMENTO “Para os aeroportos, o nosso país precisaria investir acima de R$ 25 bilhões ao longo dos próximos 10 anos” 2009, resultaram num aumento de 26% do seu lucro operacional. A Air Emirates anunciou um lucro, em 2010, maior em 351%, em relação a igual período do ano anterior e estabelece que este ainda não é o limite para o crescimento de suas atividades operacionais. O crescimento do mercado chinês não apresenta resultados muito diferentes. Segundo o Banco Central do Brasil, os brasileiros gastaram quase US$ 300 milhões, em setembro, com a compra de passagens de empresas aéreas estrangeiras, elevando o total este ano a US$ 2 bilhões, o que representa 29% do déficit do item viagens internacionais do balanço de pagamentos janeiro-setembro, da ordem de US$ 7 bilhões. Enquanto isso, as receitas auferidas pelas empresas aéreas brasileiras nas suas linhas internacionais foram de US$ 198 milhões no mesmo período, menos de um décimo das obtidas pelas estrangeiras. Apesar dos esforços das companhias nacionais, a participação das estrangeiras tende a crescer: das 58 novas rotas aéreas internacionais autorizadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) até agosto deste ano, apenas 11 ficaram com as nacionais. O cenário brasileiro, assim como em

outros países, mostra que para acompanhar o ritmo mundial da demanda, a infraestrutura está a requerer atenção especial. Não somente os aeroportos, mas também o sistema de proteção ao vôo. Por exemplo, para os aeroportos o nosso país precisaria investir acima de R$ 25 bilhões ao longo dos próximos 10 anos. Caso contrário, a realização dos dois eventos esportivos mundiais, conquistados pelo Brasil, poderá ser comprometida. Nesses aeroportos, controlados pelo governo federal, os recursos para acomodar essa futura demanda mostram apenas uma quinta parte do mínimo necessário. Mesmo que ocorram alternativas, como por exemplo, a dos trens de alta velocidade, assim como sistemas de transporte de veículo leve sobre trilhos ou outros, dificilmente poderia dar conta da futura demanda e atenuar os problemas já existentes. De qualquer modo, temos de pensar na necessidade de que o modal aéreo possa receber os investimentos essenciais, para que atenda a imensa demanda de usuários, não se permitindo comprometer todos os avanços conquistados nos últimos anos pelo setor. •

Ozires Silva Engenheiro

ozires@valeparaibano.com.br

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Wilson Dias/ABr

Mundo

POLÍTICA INTERNACIONAL

Desafios de Dilma Como a primeira presidente mulher do Brasil vai se comportar no cenário internacional, agora que assumirá o comando da 8ª potência econômica do globo terrestre?

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Yann Walter São José dos Campos

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o dia 31 de outubro, a candidata Dilma Rousseff (PT) foi eleita à Presidência da República com 56,05% dos votos, contra 43,95% para seu adversário, José Serra (PSDB). A economista e ex-guerrilheira, que contou durante toda a campanha com o apoio indefectível de seu mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, é a primeira mulher a assumir o cargo. Três dias depois da vitória no segundo turno, marcado por uma forte taxa de abstenção (20 milhões de brasileiros não votaram), Dilma aparecia no 16º lugar da lista das pessoas mais poderosas do mundo elaborada a cada mês pela revista Forbes. A conceituada publicação norte-americana colocou apenas duas mulheres à frente da presidente brasileira: a chanceler alemã Angela Merkel (6ª) e a política indiana Sonia Gandhi (9ª). É claro que tanto poder gera altas expectativas. Grandes desafios aguardam a nova dirigente, tanto dentro como fora do país. Como Dilma vai se comportar no cenário internacional, agora que assumirá o comando da oitava potência econômica do mundo? Tentará preservar o legado de seu antecessor, que fortaleceu o Brasil nas instituições multilaterais? Terá a mesma leniência com as violações dos direitos humanos cometidas em países aliados, como Irã ou Cuba? Suas ações serão pautadas pelo mesmo ideal de pragmatismo que definiu os oito anos do governo Lula? Para responder a estas perguntas, a revista valeparaibano conversou com três especialistas em relações internacionais, que projetaram as novas orientações da política externa brasileira. Um dos maiores argumentos da campanha de Dilma Rousseff era que, se fosse eleita, daria continuidade às ações empreendidas pelo governo de Lula, cuja taxa de aprovação é de 77%. Assim sendo, houve entre os três especialistas um consenso sobre o fato de que a nova dirigente não promoverá grandes mudanças no âmbito das relações internacionais. “A política externa continuará sendo pautada pela visão atual do PT. O que poderá haver, porém, é uma mudança de estilo. Lula dava um tom mais pessoal às conversas com os dirigentes mundiais. Dilma será provavelmente mais protocolar, até porque ainda não tem experiência no cenário internacional”, ava-

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liou Alberto Pfeiffer, professor de relações internacionais da USP (Universidade de São Paulo) e especialista em América Latina. “Lula tinha um carisma incomparável, uma facilidade de lidar com as pessoas. Sua história e seu jeito de ser despertavam muita simpatia no exterior. Dilma não possui estas características”, acrescentou. “Haverá alguns ajustes, mas as prioridades serão as mesmas. Dilma seguirá privilegiando as relações com as nações sul-americanas, porém com menos ênfase e brilho que Lula. Ela deverá reduzir o número de reuniões bilaterais, a agenda de viagens será menos intensa. Haverá uma mudança de tom, mas não de objetivos”, resumiu Ricardo Sennes, professor de relações internacional da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo e diretor de uma consultoria especializada em comércio e investimentos internacionais. Na opinião dos especialistas, o próximo ministro das Relações Exteriores, cujo nome deve ser definido ainda este mês, também contribuirá para a mudança de estilo. Antônio Patriota é um dos mais cotados para substituir o atual titular do cargo, Celso Amorim. Na opinião de Reginaldo Nasser, outro professor de relações internacionais da PUC-SP, a escolha de Patriota favoreceria a continuidade. Já para Sennes, Patriota tem um perfil diferente de Amorim. “Ele é mais disciplinado, contido. Não tem o mesmo brilho, nem os mesmos contatos no cenário internacional. Terá, portanto, menos autonomia para atuar”. Foco na economia Para Pfeiffer e Sennes, a tendência é que nas relações com os outros países, o Brasil de Dilma deixe um pouco de lado o aspecto político para se focalizar na parte econômica. “Dilma dará prioridade ao fortalecimento das relações comerciais. Sua agenda

Três dias após a eleição, Dilma Rousseff aparece no 16º lugar da lista das pessoas mais poderosas do mundo elaborada pela revista Forbes

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será pautada pelas consequências da crise global, como vem sendo, aliás, a de todos os principais dirigentes mundiais, de Barack Obama (EUA) a Hu Jintao (China)”, afirmou Alberto Pfeiffer. “Dilma será mais pragmática, sobretudo do ponto de vista econômico. Tentará agilizar o comércio, suprimir barreiras e obstáculos. Buscará resultados concretos”, enfatizou Sennes. “Dilma vai seguir os passos de Lula e fortalecer as relações com os países do Mercosul. No entanto, acredito que hoje, as maiores prioridades do Brasil se chamam China, Rússia e Índia. Assim, o governo brasileiro deverá intensificar sua atuação em organismos multilaterais, como o G20. O Mercosul acabará ficando em segundo plano. O Brasil aspira desempenhar um papel global, e não apenas regional”, declarou Nasser. De fato, cabe ressaltar que a primeira viagem oficial de Dilma Rousseff para o exterior foi a uma reunião de cúpula do G20 na Coreia do Sul, a qual acompanhou como convidada já que toma posse no dia 1º de janeiro de 2011. “O Brasil deverá seguir ativo nos grandes foros econômicos internacionais, como a OMC (Organização Mundial do Comércio) ou o G20. Terá um papel preponderante nos debates sobre energia e meio ambiente. Em compensação, provavelmente deixará de lado suas ambições políticas, como a aspiração de obter uma vaga de membro permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas)”, avaliou Sennes. Sobre este último ponto, Reginaldo Nasser tem uma opinião diferente: para ele, o Brasil continuará sendo um protagonista no jogo político mundial. “Lula deu uma maior projeção ao Brasil no cenário internacional. O país passou a se posicionar em assuntos mais complexos, como quando exerceu, junto com a Turquia, um papel de mediador na questão nuclear iraniana, um tema tradicionalmente reservado às grandes potências. Dilma Rousseff deve continuar nessa linha, até para não perder o legado de Lula. É possível que não tenha o mesmo desempenho, pois não tem o mesmo carisma. Mas a doutrina não deve mudar”. Ao contrário, Ricardo Sennes e Alberto Pfeiffer estão convictos de que a nova presidente não intervirá na questão nuclear iraniana. “Dilma não vai tomar partido sobre este assunto, pelo menos por enquanto. Ela não tem experiência no jogo político, e seria muito arriscado para ela se posicionar num debate tão espinhoso”, avaliou Pfeiffer. “A questão do programa nuclear iraniano foi

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Mundo

muito desgastante para o Brasil. O país entrou de forma ingênua em um assunto complexo, e saiu arranhado. O custo político foi elevado. Por isso, acredito que Dilma se manterá longe deste debate”, disse Sennes. Relações protocolares De fato, as relações com o Irã já causaram vários problemas para o Brasil. Obedecendo a seu ideal de pragmatismo, Lula nunca condenou diretamente a nação persa, fechando os olhos para as violações dos direitos humanos cometidas pelo regime do presidente ultraconservador Mahmud Ahmadinejad. O presidente brasileiro deu diversas declarações polêmicas sobre os acontecimentos no Irã. Qualificou de “choro de perdedores” os protestos organizados pela oposição iraniana após a controversa reeleição de Ahmadinejad e reprimidos com extrema violência pelo poder. Referindo-se à sentença de morte por apedrejamento proferida contra Sakineh Mohammadi Ashtiani, uma iraniana acusada de adultério, Lula recusou-se a intervir, sob o argumento de que “se as pessoas começam a desobedecer as leis delas para atender pedidos de presidentes, vira uma avacalhação”. Diante da repercussão negativa da declaração, acabou oferecendo asilo político à iraniana, mas a proposta foi rejeitada pelas autoridades locais. Sobre este caso, Dilma Rousseff surpreendeu ao adotar uma postura claramente mais firme que a de seu mentor. Apenas três dias após sua eleição à presidência, classificou como “bárbara” a execução de Sakineh. “Confesso que fiquei surpreso com a declaração de Dilma sobre Sakineh. Talvez tenha sido uma reação instintiva, pelo fato dela ser mulher”, disse Ricardo Sennes. Na opinião de Reginaldo Nasser, Dilma tentará evitar as frases polêmicas pronunciadas por seu predecessor sobre o Irã, mas também sobre Cuba. Em março deste ano, Lula comparou os prisioneiros políticos cubanos em greve de fome a criminosos comuns. “Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrassem em greve da fome para pedir liberdade”, disse à época. Em se tratando da ilha comunista, os três especialistas concordaram sobre o fato de que a nova presidente manterá relações amistosas com o governo cubano de Raúl Castro, mas sem levá-las para o lado pessoal. De qualquer forma, com lembrou Alberto Pfeiffer, as relações entre Brasil e Cuba são meramente simbólicas. O mesmo deverá

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EUA Barack Obama

VENEZUELA Hugo Chávez

acontecer com outros dirigentes polêmicos que contaram com o apoio explícito de Lula em diversas oportunidades, como Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia. “As relações com a Bolívia, a Venezuela e os outros países da América Latina não serão alteradas por motivos estratégicos. O Brasil quer assumir um papel de liderança no continente, e precisa para isso manter boas relações com todos os dirigentes eleitos da região”, analisou Nasser. “A estratégia do Brasil em matéria de política externa seguirá sendo baseada no diálogo, sem restrições de nenhum tipo. Dilma manterá as portas abertas para todos, mas não será tão efusiva como Lula”, destacou Pfeiffer. “Para lidar com Chávez ou Morales, Dilma Rousseff adotará o pragmatismo de Lula, mas não se

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IRÃ Mahmud Ahmadinejad

FRANÇA Nicolas Sarkozy

envolverá pessoalmente. Manterá com estes dirigentes relações mais protocolares. Provavelmente não fará declarações contundentes sobre eles, nem de repúdio, nem de apoio”, avaliou Sennes. EUA e Europa Tanto Pfeiffer como Sennes insistiram na importância de melhorar as relações com os Estados Unidos. “As relações com os EUA esfriaram bastante durante o governo de Lula. Um dos motivos foi a postura antiamericana de Amorim. O Brasil perdeu espaço nas relações comerciais com este país, e tem interesse em recuperar este espaço. Antônio Patriota, que foi embaixador nos Estados Unidos entre 2007 e 2009, poderia contribuir para esta reaproximação”, acredita Ricardo Sennes. “Algumas

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posições do governo brasileiro desagradaram os americanos, mas não é nada que não possa ser superado. As relações com os EUA precisam melhorar, sobretudo no aspecto comercial, que é o que realmente interessa. Hoje, os EUA recebem apenas 10% do total de exportações do Brasil. Tradicionalmente, este percentual oscila entre 20% e 25%”, lamentou Alberto Pfeiffer, lembrando que “querendo ou não, os Estados Unidos são a maior potência econômica, política e militar do mundo”. Reginaldo Nasser minimizou a importância das rusgas americano-brasileiras. “As relações com os EUA sempre foram pautadas pelo pragmatismo. Houve, e haverá tensões, mas nunca ocorrerá uma ruptura total das relações, que não seria benéfica nem para um lado nem para o outro”, explicou. Cabe ressaltar que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi um dos primeiros chefes de Estado a parabenizar Dilma Rousseff pela vitória de 31 de outubro. O fato de o Brasil privilegiar o Mercosul não significa necessariamente que a União Europeia perderá relevância nas relações comerciais. Para Ricardo Sennes, os laços com alguns países da UE poderão, inclusive, ser estreitados durante o mandato de Dilma. “Lula reforçou as relações com várias nações europeias, principalmente com a França. A tendência é que a nova presidente continue nesta linha. Historicamente, a centroesquerda brasileira tem mais simpatia pela Europa do que pelos Estados Unidos”, declarou. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi um dos primeiros chefes de Estado a confirmar presença na cerimônia de posse de Dilma Rousseff, marcada para o dia 1 de janeiro. Sobre a Europa, há ainda a questão da Bulgária, onde nasceu o pai da nova presidente. A nação do leste europeu acompanhou com entusiasmo a vitória de Dilma, que já recebeu um convite oficial das autoridades locais para visitar o país. No entanto, segundo Alberto Pfeiffer, se os búlgaros esperam dela uma ajuda para resolver a crise econômica que assola o país, poderão se decepcionar. “A Bulgária está longe das prioridades do Brasil, e esta situação não deverá mudar somente porque Dilma Rousseff é descendente de búlgaros. O fato é apenas curioso, anedótico. É claro que os búlgaros vão se aproveitar desta situação para tentar estreitar os laços com o Brasil, mas nosso maior parceiro comercial naquela região é a Rússia, e isso não vai mudar”, sentenciou Pfeiffer. •

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Economia SEU BOLSO

Disciplina na hora das compras Antes de pensar em bancar o Papai Noel, economistas recomendam planejar os gastos com o Natal para evitar entrar em 2011 no vermelho ou com o nome no SCPC Hernane Lélis São José dos Campos

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falta de planejamento na hora de ir às compras de Natal pode ditar como será sua vida financeira ao longo do próximo ano. Afinal, garantir uma farta ceia e satisfazer os desejos que o período propõe é um desafio para o bolso, podendo resultar em dívidas acumuladas em 2011. O reflexo dessa gastança é sentido no Sistema de Proteção ao Crédito logo nos primeiros meses do calendário, com a inclusão de milhares de nomes no cadastro nacional de inadimplentes. Somente entre janeiro e abril desse ano, quase 54 mil consumidores de São José dos Campos e Taubaté tiveram seus nomes inscritos no SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito). Por isso, antes de estourar o espumante e partir para o abraço, a dica dos economistas e especialistas em finanças é revisar o orçamento familiar para

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evitar que as festividades se transformem numa forte ressaca de contas atrasadas. O período natalino, considerado a melhor época do ano para o comércio varejista, é também o grande responsável pelo desequilíbrio financeiro dos consumidores. Nesta época, nem mesmo o estímulo econômico provocado pela inclusão do abono salarial consegue evitar certos exageros. Isso porque, segundo o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas, o dinheiro “extra” já está comprometido para sanar dívidas anteriores. Para evitar começar o ano no vermelho e fazer parte das estatísticas do SCPC é preciso disciplina. A dica é não confundir o espírito natalino com a necessidade de comprar presentes compulsivamente e resistir às tentações, mesmo com as facilidades de pagamento. Braz aponta a falta de planejamento e conhecimento sobre as próprias finanças como um dos principais fatores que colocam o consumidor na lista de inadimplentes. “Algumas pessoas tratam o orçamento como um buraco sem fundo, onde o dinheiro extra que entra se torna uma extensão do orçamento, assim como o crédito bancário e as

NATAL Decoração natalina em shopping de São José; especialistas recomendam cautela na hora das compras

facilidades de pagamento. É uma ilusão que se repete todos os anos e traz graves consequências. Um exagero nesta época vai delinear os caminhos financeiros a serem seguidos nos próximos meses, e o ponto de partida pode ser a inadimplência”, disse Braz. Abril, segundo os dados do Sindicato do Comércio Varejista de São José, é o mês campeão de inclusões no Sistema de Proteção ao Crédito –nada menos que 14.364 pessoas tiveram seus nomes “sujos” por não conseguirem honrar com os compromissos financeiros, principalmente os adquiridos em dezembro. Isso porque é preciso que haja pelo menos 30 dias

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Fotos: Flávio Pereira

PERSONAGENS EM DESTAQUE Luíz Alberto de Carvalho, 43 anos Dedetizador

“Estou tentando negociar minha dívida para voltar a comprar até o Natal” Débora Almeida, 24 anos Administradora de empresas

“Nunca tive problemas, mas recorreria ao cheque especial se fosse preciso” Zilda Laurindo da Silva, 61 anos Aposentada

“Fiz empréstimo quando estava numa situação complicada. Hoje só compro à vista” David Bravo, 66 anos Economista

de atraso no pagamento das prestações para que o lojista possa inscrever a dívida no SCPC. “Então, se o consumidor efetuou a compra em dezembro para começar a pagar em janeiro, ele pode, por exemplo, quitar a primeira parcela e depois não pagar a de fevereiro. Aí, o lojista fica cobrando por telefone em março e, se não obtiver sucesso, inclui o inadimplente em abril. Normalmente é feito dessa forma, mas alguns lojistas realizam o procedimento antes, deixando os meses anteriores com uma média de 9.000 inclusões”, explicou José Maria de Faria, presidente do sindicato. Em Taubaté, a situação é a mesma. Os qua-

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tro primeiros meses do ano são os que mais recebem nomes para figurarem na lista de devedores. Também estimulados pela tradicional troca de presentes de Natal, muitos consumidores exageram nas compras a prazo, transformando o crédito em uma bolha pronta para estourar nos meses seguintes. Somente em abril desse ano foram 6.435 inclusões e, em março, outras 6.593 –quase o dobro do registrado em outros meses. “Percebemos que existe muita inadimplência por falta de planejamento. O consumo nesta época é grande, mas precisa ser feito com consciência para evitar um início de ano cheio de

“O crédito é novidade no Brasil, as pessoas ainda vão criar o hábito de economizar” Zorilda de Mello Oliveira, 39 anos Funcionária pública

“Ainda não tive problemas com crédito, não sou uma consumidora compulsiva”

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Economia

dívidas. Os dados do SCPC servem como termômetro nesta questão. É possível notar um aumento significativo na inadimplência após as festividades”, disse Cláudio Testa, diretor de Desenvolvimento Regional da ACIT (Associação Comercial e Industrial de Taubaté). O economista André Braz acredita que muitos consumidores passam o ano inteiro tentando equilibrar as finanças domésticas, que já incluem despesas do Natal anterior e, quando chega novembro, época de pagamento do 13º salário e de outros benefícios trabalhistas, a sensação é de bonança no orçamento. Porém, a tempestade logo volta com as despesas que o início do ano reserva, como IPVA, IPTU, matrícula e material escolar, além dos carnês e faturas de cartão de crédito com as despesas de final de ano. Numa possível falta de planejamento, essas contas podem ser o início cíclico de uma crise economia familiar. Cautela ao comprar Para evitar o efeito “bola de contas”, a principal recomendação dos economistas é ter cautela antes de abrir a carteira. Segundo Braz, a facilidade na obtenção de crédito pode virar uma armadinha, levando o consumidor direto para a inadimplência. Mesmo que na hora da compra as parcelas estejam convidativas, com valores baixos, os juros não deixam de ser aplicados, então o melhor a fazer é optar pelo pagamento à vista. Na impossibilidade de quitar o débito no ato, a opção em dividir em parcelas deve ser feita com planejamento. É preciso calcular o quanto da renda familiar já está comprometida, sem esquecer de incluir os impostos que ainda estão por vir. Com isso é possível saber se as parcelas irão ou não afetar de forma significativa o orçamento. O ideal é registrar todas as compras feitas e o número de prestações que serão pagas em cada mês.

COMÉRCIO DE RUA Movimento de consumidores no calçadão da rua 7 de Setembro, no centro de São José

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Outra dica é fazer uma lista de presentes antes de ir às lojas, isso evita as compras por impulso. Tente também realizar pesquisas com antecedência, assim você pode ter mais tempo para comparar preços e condições de pagamento, uma vez que podem ocorrer variações até mesmo em estabelecimentos da mesma rede. “O que ocorre é que as pessoas não planejam e acabam comprando de forma indiscriminada. Depois, lutam para adequar seus orçamentos ao que foi gasto, o que em muitos casos não é possível, resultando em uma bola de neve anual. É preciso adequar as compras ao dinheiro que se tem e não ao contrário, adequar o ganho ao que se foi comprado”, disse Braz. Organização ao pagar Se antes de pensar em bancar o Papai Noel a palavra de ordem dos economistas é planejamento, para quitar os débitos em atraso a situação não é diferente. Organizar e priorizar o pagamento de determinadas contas é fundamental para reconquistar o equilíbrio financeiro. Edson Trajano, economista do Nupes (Núcleo de Pesquisas Econômico-sociais) da Universidade de Taubaté, aponta as semanas que antecedem as datas comemorativas como as mais propícias para negociar com credores. “Normalmente em dezembro a renda familiar é maior, mas isso não que dizer que o poder de compra também seja. Se está endividado, a primeira coisa a fazer é deixar os presentes de lado e partir para quitar as dívidas. Se der para comprar, o importante é reduzir o valor da compra. Nossa demanda sempre vai ser maior que nossas possibilidades”, explicou. Em muitos casos é possível abater os juros e até mesmo conseguir um bom desconto no valor da dívida acumulada. O ponto de partida para quem deseja reabilitar o crédito é consultar junto aos órgãos responsáveis em administrar o benefício quais são as empresas que cobram e os valores devidos. Deve-se eleger como prioridade conta com os juros maiores como, por exemplo, cheque especial e cartão de crédito. Ao procurar o banco ou a loja, procure oferecer ao credor algum montante à vista, mesmo que seja muito inferior ao total pendente ou do mesmo tamanho da prestação que cabe em seu orçamento, dessa maneira as empresas costumam ser mais flexíveis. Para evitar novos transtornos, proponha como pagamento uma quantia 10% ou 20% menor do que a suportada pelos rendimentos da família –isso permite outras margens de negociação. Antes de fechar qualquer acordo, cheque todas as taxas cobradas. De acordo com a lei, é permitida uma multa de,

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no máximo, 2%, correção monetária e juros de mora que não excedam 1% ao mês. Tenha certeza de que está firmando um compromisso que conseguirá cumprir, pois caso contrário a situação pode ficar ainda mais grave. “O dinheiro para sanar dívida pode vir de um empréstimo bancário, de preferência consignado, onde as taxas estão, em média, 2% ao mês. Cheque especial e cartão de crédito têm entre 8% e 9%, por isso é melhor quitar essas contas e ter uma pequena parcela com juros menores. Em lojas, é possível conseguir bons acordos com os responsáveis, é só querer quitar o débito” disse Trajano. Depois de organizada as pendências financeiras, procure novamente os órgãos de proteção ao crédito para saber se o prazo de cinco dias úteis estabelecidos pela lei para que a empresa limpe o nome do consumidor foi cumprido. Usualmente leva menos tempo, já que é de interesse do lojista tê-lo como cliente novamente. Ferramenta A dificuldade em conseguir administrar as finanças pessoais levou dois engenheiros formados pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), de São José, e um analista econômico a criarem o site Minhas Economias. A página é dedicada exclusivamente à educação financeira, disponibilizando inclusive uma ferramenta onde o usuário consegue organizar seus gastos em uma planilha e visualizar onde, quando e como está gastando seu dinheiro por meio de gráficos e tabelas. Paulo Sain, um dos idealizadores do site, garante que a ferramenta vem ajudando centenas de pessoas desde sua criação, há dois anos. “A cada mês o número de usuários cadastrados cresce em torno de 20%”, disse. O sucesso, segundo ele, está atrelado ao endividamento dos consumidores, que necessitam de uma maneira prática e, de preferência gratuita, para controlar suas despesas. “A ideia do site surgiu com os constantes pedidos de ajuda de parentes e amigos sobre o assunto. Resolvemos atender um público maior, criar uma planilha que fugisse do simples Excel, onde pudesse ser acessada de qualquer lugar, que apontasse erros e acertos, que controlasse de forma efetiva uma meta de gastos”, disse Sain. No ano passado São José registrou a exclusão de 61.851 nomes de consumidores da lista de inadimplentes. No entanto, no mesmo período, outras 104.859 pessoas foram incluídas. Neste ano, até outubro, foram 78.806 inclusões, contra 55.574 exclusões. Em Taubaté, 69.656 consumidores tiveram o nome sujo em 2009. Esse ano a soma já é de 50.146 pessoas até outubro. •

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Economia

CONSUMO ONLINE

Quanto mais gente, melhor Conceito de compras coletivas na internet que surgiu há dois anos nos Estados Unidos chega ao Vale do Paraíba; sistema oferece descontos de 50% a 90% em vários produtos e serviços Yann Walter São José dos Campos

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ançado este ano no Brasil, o conceito de compras coletivas pela internet está crescendo a uma velocidade assustadora e conquistando cada vez mais adeptos. O motivo? Descontos imbatíveis de até 90% sobre uma grande variedade de produtos e serviços. A ideia é utilizar a internet para estabelecer um contato entre os melhores prestadores de serviços e o maior número possível de consumidores potenciais em cada cidade. O sistema é simples: a pessoa acessa um site de compras coletivas, como Peixe Urbano ou Groupon, e preenche os dados solicitados para o cadastro. Depois, é só aguardar: as ofertas são enviadas diariamente por e-mail. Cada uma fica entre 24 e 72 horas no ar e todas têm descontos de 50% a 90%. Se a pessoa estiver interessada, faz a compra utilizando seu cartão de crédito ou de débito, ou mediante uma transferência bancária. Para que a oferta seja válida, é necessário atingir um número mínimo de compradores, prédeterminado pelo site. Se a cota é alcançada, a pessoa recebe um cupom eletrônico e tem até seis meses para usá-lo. Ao contrário, se o mínimo não é atingido, a operação é cancelada, com custo zero tanto para o comprador

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como para o prestador de serviço. Ou seja, todo o mundo sai ganhando. “As empresas que fazem parceria conosco têm dois objetivos: divulgar seus produtos para um número muito importante de pessoas e conquistar uma grande quantidade de novos clientes em pouco tempo. Depois, cabe a elas fidelizar estes novos clientes. Muitas pessoas descobrem as empresas de suas cidades através de nosso site. Se aprovam o serviço prestado por elas, voltam, ou recomendam para seus amigos”, explicou Letícia Leite, diretora de comunicação do Peixe Urbano, primeiro e maior site de compras coletivas do Brasil. “A empresa que trabalha conosco não precisa de verba de marketing. A parceria com o Peixe Urbano é uma garantia de visibilidade. Estamos presentes nas principais redes sociais, como Facebook e Twitter, e atingimos centenas de milhares de pessoas”, acrescentou, destacando que o site fica com 50% dos lucros. De acordo com Letícia, o conceito de compras coletivas surgiu nos Estados Unidos no fim de 2008 e o Peixe Urbano foi o primeiro a importá-lo para o Brasil. O site foi aberto para cadastros em janeiro deste ano. “Júlio Vasconcelos, um dos três sócios fundadores do site, morou dez anos na Califórnia. Descobriu o conceito e se interessou. Achou que daria muito certo no Brasil. Os brasileiros são antenados. Acessam a internet e frequentam as redes sociais. Além

Ideia do sistema é usar a internet para estabelecer contato com os melhores prestadores de serviços e o maior número possível de consumidores potenciais em cada cidade

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Flávio Pereira

vembro com duas ofertas: uma de um spa e outra de um restaurante.

CULINÁRIA Restaurante Canteiros e Temperos, de São José, que ofereceu desconto em crepe no Peixe Urbano

disso, como todo o mundo, gostam de descontos”, explicou a diretora. A primeira oferta de compras coletivas do Brasil foi lançada pelo Peixe Urbano em março, no Rio de Janeiro. Em agosto, o site ultrapassou a marca de um milhão de cadastrados em 11 cidades. Hoje, está presente em quase 30 cidades e o objetivo é chegar a 35 até o fim deste ano. “No entanto, tudo indica que vamos superar esta meta”, afirmou Letícia. A maioria das empresas que se associa ao site pertence aos ramos da gastronomia e da estética. Contudo, setores como entretenimento, turismo e moda estão ga-

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nhando cada vez mais espaço. “As ofertas de restaurantes são as mais populares, bem como as de salões, spas e clínicas de beleza. Mas também temos muitas ofertas para shows e diárias de pousadas. Além disso, estamos fechando parcerias com muitas lojas de roupas para aproveitar o período do Natal”. “Nossas ofertas mais populares são os tratamentos de beleza e as promoções de restaurantes”, confirmou Gean Moraes, sócio-diretor do Caldeirão de Ofertas, outro site de compras coletivas, que nasceu no fim de outubro em Londrina e aportou em São José dos Campos no dia 17 de no-

Preços acessíveis O Peixe Urbano chegou a São José no dia 15 de outubro e conquistou tanto os consumidores como os estabelecimentos comerciais. “Gostamos muito do resultado da parceria. Nossa oferta foi uma limpeza de pele, mais um peeling de diamante, de R$ 150 por R$ 65. A promoção ficou no ar nos dias 3 e 4 de novembro e conquistou 427 clientes. Ficamos surpresos com a quantidade de pessoas que se interessaram.”, comentou Thais Martins, proprietária de uma clínica de estética facial e corporal na Vila Adyana, em São José. “Anunciamos no site em meados de novembro. Nossa oferta foi um crepe, salgado ou doce, de R$ 21 por R$ 9. Vendemos 761 cupons. Muitas pessoas conheceram o estabelecimento através do site e vieram conferir”, contou Vera Lúcia Ferreira da Costa, dona de um restaurante na Vila Ema. “Não sei se vou repetir a parceria. Acho a parte que fica para eles é alta demais. Vou fazer uma pesquisa com os concorrentes para ver se as condições são as mesmas”, ponderou. “Conheci o Peixe Urbano através de amigos e achei muito bacana. Comprei um prato de macarrão e um refrigerante por R$ 10. O preço original era R$ 29”, disse Luciana Gouveia, uma personal trainer de 33 anos. Luciana se encaixa no perfil dos usuários dos sites de compras coletivas. “A maioria dos cadastrados tem entre 25 e 35 anos e bom poder aquisitivo, já que tem internet e cartão de crédito. O número de homens e mulheres que têm cadastro no site é equivalente, mas as mulheres são responsáveis por 70% das compras efetuadas”, frisou a diretora de comunicação do Peixe Urbano. O sistema parece ter conquistado de vez os consumidores. “Já fiz cinco compras, a maioria no Caldeirão de Ofertas. É realmente espetacular. Tanto que acabo comprando coisas de que não preciso. Aproveitei uma oferta de depilação a laser, de R$ 149 por R$ 19,90. Comprei para mim e para minha namorada”, disse Natanael Pires, 23 anos, morador de Londrina, no Paraná. “Esses sites são ótimos para os consumidores, pois proporcionam a oportunidade de conhecer serviços novos perto de casa por um preço bem em conta. Se gostamos do serviço prestado, voltamos. O sistema é bom para todas as partes”, avaliou Adriana Sakama, 35 anos, também de Londrina. •

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Economia

MERCADO IMOBILIÁRIO

Crédito para o luxo Financiamento de imóveis de alto padrão cresce 77% e movimenta R$ 456 milhões no Vale; construtoras apostam em lançamentos de apartamentos com até 409 metros quadrados de área útil em São José Hernane Lélis São José dos Campos

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aranda gourmet, piscina, churrasqueira, quatro dormitórios, sendo três suítes, área verde, quadra de esportes e academia de ginástica. Tudo isso construído em uma das regiões mais nobres de São José dos Campos para acomodar uma família de quatro pessoas. O apartamento foi comprado por um empresário do Nordeste que buscava oportunidades de negócios no interior de São Paulo sem abrir mão da qualidade de vida que levava em sua antiga casa no Recife (PE). O imóvel ficou dois anos vago, sendo visitado neste período por um grupo seleto de pessoas interessadas em adquiri-lo, o último foi Francisco Oliveira, de 40 anos. Ele fechou contrato com a construtora contando com recursos do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos), da Caixa Econômica Federal, que atende famílias com renda superior a dez salários mínimos. Avaliado em R$ 650 mil, Oliveira recorreu ao banco para conseguir financiar 30% do valor do apartamento. Somente esse ano, de janeiro até 9 de novembro, a Caixa emprestou R$ 456,3 milhões para compra de casas, apartamentos e terrenos em luxuosos condomínios no Vale do Paraíba. O montante representa um crescimento de 77% em relação ao ano pas-

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sado, puxado principalmente por São José, que dentro do mesmo período financiou R$ 280,2 milhões –um aumento de 74% ante 2009. “Pesquisei outros apartamentos, mas a localização e o conforto pesaram na decisão. São José é uma cidade que oferece condições de se ter um bom carro e uma bela casa” disse Oliveira. Ademir Losekann, superintendente regional da Caixa Econômica Federal, acredita que a estabilidade econômica e a facilidade no acesso ao crédito têm contribuído para que as classes média e média alta também possam aproveitar as linhas de financiamento disponíveis no mercado, se preocupando não apenas com o valor do imóvel, mas também com o prazo para pagamento. Para ele, a maioria dos clientes emergiu na profissão, como executivos, comerciantes e profissionais liberais. “Temos uma conjunção de fatores que levam a esse crescimento: a estabilidade econômica, que permite planejamento de médio a longo prazo, o bom momento do país e, especialmente, da região. O poder de compra das famílias ficou maior, levando a mudança na classe econômica e disponibilidade de recursos. As taxas do SBPE são pequenas, garantindo ao cliente disponibilidade de recurso sem comprometer fortemente o orçamento”, disse Losekann. No caso de Francisco outros fatores também contribuíram para que o contrato de venda fosse assinado, entre eles, a tão sonhada qualidade de vida –longe do trânsito caótico, poluição e do alto índice de crimi-

JACUZZI Vista da cobertura de apartamento no Jardim Aquarius, que concentra imóveis de luxo em São José

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Fotos: Flávio Pereira

Somente em São José, a Caixa Econômica Federal financiou R$ 280,2 milhões em imóveis de luxo de janeiro a 9 de novembro –74% a mais que em 2009

nalidade encontrado em grandes centros urbanos. “Aluguei um apartamento enquanto procurava um outro para comprar. Agora, estou ao lado do Parque Vicentina Aranha, perto de estabelecimentos comerciais de qualidade, de bancos, shoppings e hospitais”, explicou o empresário. Denerval Machado de Melo, delegado regional do Creci (Conselho Regional dos Corretores de Imóveis) aponta ainda a falta de terrenos bem localizados em cidades de porte igual ou superior aos municípios mais desenvolvidos do Vale do Paraíba como outro atrativo para investimentos imobiliários de luxo na região. Se comparado com Ribeirão Preto, por exemplo, os empréstimos via SBPE somam de janeiro a 9 de novembro deste ano R$ 251,2 milhões –R$ 29 milhões a menos que em São José. O mesmo acontece em Sorocaba, onde foram emprestados no período R$ 140,5 milhões do banco. Raio-x De acordo com a última pesquisa imobiliária realizada pela Aconvap (Associação das Construtoras do Vale do Paraíba), o mercado habitacional de luxo responde por 23% do total de empreendimentos lançados, em construção ou prontos em São José dos Campos. No total, são 2.831 apartamentos de 4 dormitórios, sendo que apenas 659 ainda estão disponíveis para venda. O valor agregado ao total de unidades é estimado em R$ 2 bilhões, o equivalente a 51% de todo o mercado, que inclui imóveis de 1, 2 e 3 dormitórios. O bairro com maior número de apartamentos de luxo é o Jardim Aquarius (901), seguido por Jardim Esplanada 2 (416), Jardim das Indústrias (400) e Vila Ema (396). “Com as facilidades de empréstimos, as classes mais altas da sociedade estão preferindo o financiamento ao pagamento à vista. Ao invés de mexer no capital da empresa, por exemplo, vão capitalizar o imóvel através do parcelamento junto ao banco. O dinheiro que se tem

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em mãos é aplicado na empresa ou em outras opções de alto rendimento”, disse Melo. Cléber Córdoba, presidente da Aconvap, afirma que a definição “luxo” pode ser ampla no mercado de habitação, variando inclusive de cidade para cidade. No entanto, algumas características são únicas nesses empreendimentos e vão além da quantidade de dormitórios que o apartamento ou a casa oferece. O imóvel considerado de alto padrão, segundo ele, é aquele que possui qualidade de acabamento, quatro ou cinco quartos, suítes, área útil acima de 150 metros quadrados, duas ou mais vagas de garagem, até duas unidades por andar, localização em área nobre, sala de ginástica, salão de festas, piscina, quadra de esporte, sala de cinema, entre outras opções de lazer –um conjunto de itens oferecido antigamente apenas em condomínios horizontais, mas que já fazem parte dos mais modernos projetos verticais. “São imóveis que possuem liquidez e respondem por uma movimentação econômica muito expressiva no setor. Quem compra, compra para morar, financia direto com as construtoras ou recorre aos fundos do SPBE da Caixa ou de bancos privados. Voltamos a crescer nesse segmento, que já recebeu a maior parte dos investimentos imobiliários da cidade, chegando a representar 33% do mercado em 2008”, disse Córdoba. Migração Diante da falta de terrenos na capital e regiões metropolitanas do Estado, grandes construtoras e incorporadoras estão voltando seus olhos para o potencial de compra do interior. É o caso da Apoena Imóveis, empresa sediada em São Paulo, que lançou em agosto desse ano, em parceria com a Carmel Marketing, o condomínio Reserva dos Lagos, em Pindamonhangaba. Com terrenos a partir de R$ 112 mil, variando entre 400 e 600 metros quadrados, direcionados para as classes A e B. Os empresários responsáveis pela obra investiram R$ 9 milhões numa área de 250 mil metros quadrados e na infraestrutura do condomínio, que foi dividido em 251 lotes. Segundo Alexandre Alves Cardoso, presidente da Apoena, somente nos primeiros 30 dias de oferta, 70% dos pontos destinados para construção foram vendidos. Depois de quatro meses de lançamento, os terrenos valorizaram 20%, uma vez que a época eram comercializados a R$ 89 mil. “Depois de construídas as residências, acredito que o metro quadrado ficará em torno de R$ 3.000, variando de acordo com o investimento do proprietário. O interior está muito valorizado, principalmente o Vale do Paraíba,

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LAZER Detalhe da varanda gourmet do edifício Esplanada Life Club, construído pela Helbor, em São José

Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo Empréstimos Vale do Paraíba São José dos Campos

R$ 456,3 milhões R$ 280,2 milhões

Prazo de financiamento Mínimo 36 meses - Máximo 360 meses

Taxas Imóveis acima de R$ 500 mil a taxa é pós-fixada, de 10,9% ao ano. Podendo ser reduzida para 10,4% ao ano em caso de pagamento em débito em conta e para 10,2% em caso de cliente Caixa

Valor financiado Quota de 90% para taxas pós-fixadas Quota de 70% para taxas pré-fixadas Fonte: Caixa Econômica Federal

onde o metro pode sair ao custo de uma área nobre de São Paulo”, disse Alexandre, que já planeja um novo condomínio de alto padrão em Pinda e pesquisa um local para a construção de outro em Taubaté. “Tenho clientes de São Paulo que estão investindo em imóveis no Vale. A maioria quer fixar residência na região, já que as capitais estão insustentáveis”, concluiu o empresário. Mercado de Luxo A Helbor, fundada em Mogi das Cruzes, em 1977, tinha como foco dentro do segmento de luxo desenvolver projetos na capital paulista, em Goiânia (GO), Joinville (SC), Guarulhos (SP) e Santos (SP). No entanto, o vigor econômico do Vale do Paraíba despertou o interesse da construtora em intensificar os investimentos de alto padrão nas duas maiores cidades da região. Em São José, a construtora possui dois empreendimentos de luxo, com variações entre 134 e 409 metros quadrados de área construída. A previsão é que a obra, localizada no Jardim Esplanada, na zona oeste, termine ainda este mês. Segundo Paulo Araújo, gerente de vendas da Helbor, seis meses após o lançamento já não havia mais nenhum dos 200 aparta-

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mentos disponíveis para venda. O mesmo aconteceu com um segundo empreendimento no Jardim das Colinas, também na zona oeste, onde os 216 apartamentos foram vendidos em menos de oito meses. Agora, um terceiro projeto está em desenvolvimento na mesma região. Serão quatro torres com 194 apartamentos de 249 a 317 metros quadrados. A previsão é que todas as unidades sejam vendidas um ano depois do lançamento, previsto para o início de 2011. Em Taubaté, a situação é semelhante. A construtora possui 128 apartamentos considerados de alto padrão, com metro quadrado variando entre 144 e 177, onde 65% das unidades já estão vendidas. “Enxergo um aumento significativo na quantidade de pessoas migrando para o financiamento bancário, devido às condições de juros. Acredito que pelo menos 30% das nossas negociações são feitas hoje por esse sistema, antes não chegava a 10%. A tendência, se as condições bancárias melhorarem ou continuarem como estão, é que se equipare ao financiamento direto com a construtora”, disse Araújo. •

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CONDOMÍNIOS Vista de casas e apartamentos no Jardim Aquarius, um dos bairros nobres de S. José

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Ciência & Tecnologia Artigo

Fabíola de Oliveira

Especialistas falam sobre o necessário para tornar o país mais competitivo

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o artigo publicado nesta coluna em setembro falamos sobre tecnologia e inovação no Brasil com a promessa de voltar ao tema. O momento é mais que oportuno. Com nova presidente eleita, muito tem se falado sobre o que deve e precisa ser feito para que o país entre cada vez mais nos trilhos do desenvolvimento sustentável, e isto depende muito do estabelecimento de condições favoráveis a esse desenvolvimento. O sistema nacional de ciência e tecnologia, como foi comentado na coluna de setembro, avançou muito durante as últimas duas décadas.

CAMINHOS “ Com nova presidente eleita, muito tem se falado sobre o que deve ser feito para que o país entre cada vez mais nos trilhos do desenvolvimento sustentável”

Em quase todos os estados da federação, por exemplo, existem secretarias específicas dedicadas à ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Desde 2005, com a implantação do Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de CT&I (Consecti), os representantes estaduais têm se reunido para discutir e propor ações de incentivo ao crescimento da produção de conhecimento nos estados, com integração crescente entre instituições de ensino superior e de pesquisa com o setor produtivo. Parece haver um consenso e uma militância dos atores envolvidos (governantes, entidades e associações, agências de fomento, empresas e universidades) de que o caminho para o crescimento eco-

nômico sustentável passa necessariamente e na ordem que segue, pela educação de qualidade (e tudo que ela envolve), investimentos pesados e constantes em ciência e tecnologia, e na criação de um ambiente favorável à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico nas empresas. Na edição de outubro/dezembro da revista Gestor CT&I, publicada pelo Consecti, representantes de entidades como a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), o Conselho Estadual das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), colocam suas sugestões sobre o que é necessário para tornar o país mais

competitivo com base na ciência, tecnologia e inovação. Destacamos alguns consensos: “uma maior integração entre universidades e institutos de pesquisa com as empresas; mais isenção fiscal para quem investe em inovação e, mais que isso, que a inovação seja encarada como prioridade e a estratégia que dará ao país competitividade no cenário global. Mas o maior consenso continua no gargalo da educação. Apesar de todos os esforços dos últimos anos, apenas 10% dos jovens entre 25 e 34 anos têm curso superior completo e desses apenas 10% são formados em ciências e engenharia. São questões criticas que podem definir o nosso futuro nos próximos anos. •

Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br

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Reportagem de capa Capa

ADOÇÃO

A nova família A Vara da Infância e Juventude de São José autoriza, pela primeira vez, a adoção de crianças por homoafetivos; região já tem dois casais na fila de espera por órfãos

Elaine Santos São José dos Campos

er em uma Certidão de Nascimento o nome de duas mulheres ou de dois homens indicando a filiação da criança o deixaria confuso? Se nunca refletiu sobre essa situação é melhor começar a pensar porque essa realidade está mais próxima do que você imagina no Vale do Paraíba. A Vara da Infância e Juventude de São José dos Campos autorizou os dois primeiros casos de adoção de crianças por casais homossexuais e formalizou a inclusão do pedido no Cadastro Nacional de Adoção. Hoje, 29.689 mil crianças estão registradas no CNA à espera de uma nova família e outras 70 mil se encontram em milhares de

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abrigos para menores espalhados por todo o território nacional. O que seria melhor para essas crianças? Aguardar pela adoção por um casal heterossexual ou ter a possibilidade de um novo lar ao lado de pais ou mães gays? A questão é polêmica e divide opiniões. Pesquisa elaborada pelo Instituto Datafolha apontou que 51% dos brasileiros são contrários à adoção por casais homossexuais, 39% são favoráveis, 6%, indiferentes, e 4% não souberam opinar. Ao todo, foram consultadas 2.660 pessoas com mais de 16 anos de idade em 162 municípios brasileiros nos dias 20 e 21 de maio. A margem de erro é de dois pontos percentuais. Quando tabulada por faixa etária, a pesquisa revelou que a opinião sobre o tema muda de acordo com a idade do entrevistado. De acordo com a consulta, 58% dos jovens com idade entre 16 e 24 anos são

favoráveis à adoção de crianças por casais gays e 34% são contrários. Já 45% das pessoas de 25 a 35 anos se disseram favoráveis e 56% são contra. O índice de aceitação reduz quanto mais idade tem o entrevistado –de 35 a 44 anos (40% favoráveis e 51% contrários), de 45 a 59 anos (29% favoráveis e 59% contrários) e acima de 60 anos (19% favoráveis e 68% contrários). Para o sociólogo Alípio Sousa Filho, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, mestre em estudos críticos de gênero e sexualidade, os resultados da pesquisa atestam uma realidade nacional: jovens e pessoas mais escolarizadas são menos preconceituosas. “Novas gerações, por efeito de novas experiências e de um novo olhar para a homossexualidade, constroem uma nova relação com o assunto. O peso do preconceito e de toda uma tra-

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Foto ilustrativa: Flávio Pereira

dição moral e religiosa sobre as gerações mais velhas fazem que estas sejam mais intransigentes quanto a mudanças, transformações. Nisso, torna-se imprescindível destacar o papel da educação contra o preconceito. Nesse sentido, a família, a escola e os meios de comunicação são espaços importantes e definidores de transformações ou afirmações conservadoras.” A inclusão dos casais homossexuais, de São José dos Campos, no Cadastro Nacional de Adoção, foi autorizada pelo juiz da Vara da Infância e Juventude, Marco César Vasconcelos e Souza, depois que assistentes sociais e psicólogos deram parecer favorável após avaliar as condições social, psicológica e socioeconômica dos pretendentes. Quando procurado pela revista valeparaibano, Souza alegou que, como juiz, seria complicado dar qualquer posi-

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cionamento pessoal sobre o assunto, preferindo não expor sua opinião. O processo corre sobre segredo de Justiça. Cláudia Regina Marcondes de Oliveira, assistente social da Vara da Infância e Juventude, foi uma das responsáveis em dar parecer favorável ao ingresso dos dois casais homoafetivos de São José no cadastro de adoção. “Avaliei as condições do casal homossexual da mesma forma que os demais. A forma da união, a convivência, a índole. Vejo que grande parte do preconceito da sociedade está em dizer que a criança não vai ter referência heterossexual dentro de casa, e isso poderá influenciar em sua opção sexual futura. Mas fica a pergunta: o homossexual de hoje não vem de um convívio de pai e mãe heterossexual? Então por quem ele foi influenciado?”, disse. E um desses dois casais autorizados pela

Justiça de São José em adotar uma criança, Maria Auxiliadora Bila, 48 anos, e Elizabethe Gomes da Silva, 54 anos, abriu as portas da casa recém-comprada, no distrito de Quiririm, em Taubaté, para falar com a reportagem da revista sobre o desejo de ter um filho adotivo e sobre as barreiras do preconceito que já encontraram e que ainda terão de enfrentar. “A criança não vê sexo, isso está na cabeça do adulto. A criança vê o amor que vamos passar para ela. O que uma criança espera de pai e mãe é uma família, e aqui ela vai viver em um ambiente familiar. Ela vai ver que nessa casa tem amor, vai ter um lar de verdade. É lógico que ela vai ter problemas com o preconceito, quando entrar na escolinha vai ter perguntas, alguns pais até terão preconceito, mas na hora que ela trouxer os problemas da rua, nós saberemos como

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Reportagem de Capa Flávio Pereira

lidar com isso e ajudar”, disse Beth, com o apoio da companheira. “Estamos nos preparando para receber essa criança há tempos. Mudamos do nosso primeiro apartamento em São José para um maior, de três quartos. Depois montamos a nossa empresa, já para não ter problemas com horário de trabalho e, desde fevereiro, compramos essa casa, em Quiririm, com quatro quartos e área de lazer”, disse Maria Auxiliadora, exibindo nas mãos o boneco de pano feito pela sua mãe de 87 anos, que mora na casa com o casal. Com união estável de 16 anos, Maria Auxiliadora e Beth se preparam para adotar uma criança na vida conjugal há quase 10 anos. A ideia foi amadurecendo aos poucos, ambas chegaram a pensar em gerar um filho biológico, por inseminação artificial, mas com o passar dos anos, o plano da adoção falou mais alto. “Eu venho de uma família muito grande, somos em 18 irmãos. Sempre tive vontade de ser mãe. Na minha família sempre cuidei de todas as crianças, e é assim até hoje. Mas quero ter os meus”, disse Beth. Entrevistas Como todos os casais que entram no Cadastro Nacional de Adoção, Maria Auxiliadora e Beth passaram por todos os processos de entrevistas com assistentes sociais, psicólogos, audiência com juiz e até encontros com grupos de pretendentes à adoção. No começo elas disseram que foi um pouco complicado, mas com o tempo o processo ficou mais fácil.“Pensamos muito antes de tomar qualquer atitude. Estamos desde 2007 tentando adotar legalmente uma criança. Senti na Vara da Infância e Juventude de São José um problema grande: não estavam preparados para receber um casal gay. Por isso, acredito, tudo demorou muito”, disse Maria Auxiliadora. “Chegamos já na primeira entrevista com a assistente social e fomos claras: somos um casal homoafetivo e queremos adotar uma criança juntas. Eu acredito que isso tenha feito demorar um pouco mais o processo. Conseguimos entrar no cadastro só tem três meses e a gente até brinca que quando nosso filho chegar vai chamar gente de avó, por que, veja bem, não somos mais crianças (risos)”, disse Beth. No início do processo de adoção, como 33,43% dos 29.689 casais inscritos no CNA (Cadastro Nacional de Adoção), Maria

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ESPERA Maria Auxiliadora e Elizabethe: “A criança não vê sexo, isso está na cabeça do adulto. A criança verá o amor que vamos passar”

Pesquisa elaborada pelo Instituto Datafolha apontou que 51% dos brasileiros são contrários à adoção por casais homossexuais, 39% são favoráveis, 6%, indiferentes, e 4% não souberam opinar

Auxiliadora e Beth tinham preferência por adotar uma menina, além da exigência de que a criança estivesse na faixa etária de 3 a 5 anos. Percebendo a dificuldade e o tempo, elas mudaram o cadastro e hoje aceitam qualquer criança que precise de uma família. “Mudamos o cadastro, não temos mais nenhuma restrição. Hoje aceitamos irmãos, meninos, meninas, não importa. Queremos formar nossa família”, disse Maria Auxiliadora. Livres de preferências, agora o casal disputa com uma porcentagem menor, 17,51%, ou seja, 5.199 dos pretendentes de todo o território nacional.

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Promotoria “A partir do momento que o nome dos pretendentes entra para o CNA, isso significa que eles foram totalmente aceitos, estão aptos a terem a guarda de uma criança como pais adotivos. O próximo passo é aguardar o contato da Vara da Infância chamando para a entrega da criança de acordo com o perfil pedido. Caso o casal aceite a criança, é marcada uma audiência para entrega do menor, quando os pretendentes recebem a guarda provisória para fins de adoção”, explicou Sílvia Máximo, promotora da Vara da Infância e Juventude de São José. No decorrer do período da guarda provisória, que pode durar até 30 dias, depende apenas do casal, formalizar ou não o pedido de adoção legal. “Ter dois pais ou duas mães na mesma casa, ter uma casa, uma família, é bem diferente de passar toda a infância e adolescência à espera de um lar em um dos milhares de abrigos de menores de todo o país. E é isso que deve ser avaliado com cuidado”, disse assistente social de São José,

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Claudia Regina Marcondes de Oliveira. Hoje, o Brasil já reconhece na prática a união estável entre pessoas do mesmo sexo e garante os direitos e os deveres do casal homossexual –e um desses direitos é a adoção. Há oito meses o STJ (Superior Tribunal de Justiça) abriu precedente para que casais homossexuais de união estável ganhem o direito de adotar uma criança, dando decisão favorável a um casal homoafetivo feminino a adoção de dois meninos. Foi a primeira vez no Brasil que um Tribunal Superior reconheceu esse direito. O casal, a psicóloga Luciana Reis Maidana e a fisioterapeuta Lídia Guteres, de Bagé, no Rio Grande do Sul, está junto há 12 anos e mantêm união estável há cinco anos. Hoje, no registro dos dois meninos adotados por elas consta o nome das duas mães. Agora, elas têm o direito legal pelas crianças, que passam a ter em todos os documentos o nome das duas mães. Em decisão favorável neste caso, o ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal

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de Justiça, disse: “precisamos afirmar que essa decisão é orientação para que sempre seja atendido o interesse do menor, que é o de ser adotado.” Dado o primeiro precedente, quatro meses depois, em agosto deste ano, um segundo caso aconteceu no país, dessa vez no Estado do Paraná. Um casal homossexual masculino obteve na Justiça a guarda permanente de um menino de 8 anos. Em setembro, um terceiro caso ocorreu no Estado do Rio de Janeiro. Duas irmãs, uma menina de 6 e outra de 8 anos, foram adotadas por um casal homossexual masculino. As meninas, Vanessa Marques de Oliveira dos Santos de Souza e Valesca Marques de Oliveira dos Santos de Souza, carregam em seus documentos o nome dos dois pais: André Luiz de Souza, 42 anos, e Carlos Alberto Marques de Oliveira, 58 anos. Já na sentença, a juíza Mônica Labuto, da Vara da Infância e Juventude da Regional de Madureira, no Rio de Janeiro, determinou que na Certidão de Nascimento a indicação pai

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Reportagem de Capa Arquivo Pessoal

DOCUMENTO Ao lado, André Luiz de Souza, 42 anos, e Carlos Alberto Marques de Oliveira, 58 anos, com as filhas Valesca e Vanessa; acima, Certidão de Nascimento das meninas, com o nome dos dois pais

e mãe fosse substituída por filiação, assim como a indicação avós maternos e paternos passou apenas para avós paternos. “Foi muito emocionante ver meu nome e o do Carlos lado a lado na Certidão de Nascimento das meninas e no RG. Isso para mim é um sonho realizado e para ser feliz não preciso de mais nada”, disse André. Com relacionamento de união estável há cinco anos com Carlos, André confessa que a relação do casal ficou mais forte depois da adoção das meninas, que já convivem com eles há um ano e meio. “Agora, sendo pais adotivos, eu e Carlos nos sentimos muito mais fortes. Nossa relação é muito estável, já era antes, mas agora é muito mais completa”, disse. Questionado sobre a relação em casa com as filhas, André, que é professor em uma escola estadual no Rio de Janeiro, diz que já está acostumado a lidar com crianças, mas confessa que muitas vezes tem que recorrer à paciência de Carlos, que já passou pela experiência de ter em casa duas filhas biológicas de seu primeiro casamento com uma mulher e sabe lidar com as situações

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cotidianas com maior tranquilidade. “A minha idade ajuda muito a compreender melhor as necessidades do dia a dia. Fui casado durante 13 anos. Tenho duas filhas biológicas, uma com 32 anos e a outra com 29. Sem contar que sou avô de uma menina de três anos (risos). Somos muito bem resolvidos. Me separei da mãe delas quando eram adolescentes. Hoje me dão total apoio e estão sempre presente com as meninas (Vanessa e Valesca)”, disse Carlos. Em casa, os pais seguem ritmos diferentes. Como é aposentado, Carlos fica responsável por cuidar das crianças levando na escola e nos compromissos do dia enquanto André trabalha. A relação com as meninas quanto à falta de uma mulher em casa, segundo eles, é normal. “Sempre deixamos tudo muito claro para elas. Para ter uma família não é preciso ter pai e mãe, aqui elas têm dois pais. É muito engraçada a situação, por exemplo, quanto perguntam a elas: Cadê seu pai? Elas respondem: o pai André ou o pai Carlos?”, contou André. Na linha de educação seguida pelo casal,

sexo em casa não é discutido, pelo menos por enquanto. Os pais afirmam que como em qualquer outra família formada por casais heterossexuais, as manifestações de carinho entre o casal são sutis na frente das crianças. “Em casa, como na rua, mantemos o respeito. Tudo em casa é muito natural. Não nos beijamos na boca na frente delas, assim como não nos beijamos na frente de ninguém. Isso seria hipocrisia. Não nos manifestamos assim na rua e não precisamos fazer em casa, mas o manifesto de afeto dentro de casa é normal. Beijo no rosto, abraço, mãos dadas”, disse Carlos. Mesmo diante de tantas pesquisas indicando o preconceito de relações familiares como a deles, esse fator ainda não foi identificado pelo casal carioca. Já há mais de um ano convivendo com as meninas, situações como Dia das Mães na escola foi enfrentada com naturalidade. “Foi logo no início, quando ainda tínhamos a guarda provisória das meninas. Nós realmente não sabíamos como agir. Fomos orientados pela própria direção da escola a comparecer na festinha

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Reportagem de Capa Flávio Pereira

e assim como todas outras várias crianças elas teriam a família presente. Tem muitas crianças que em datas como essa não têm a mãe presente porque mora só com o pai, ou com a tia, com a avó. Enfim, não somos os únicos”, disse Carlos. Espera Em São José, além das empresárias Maria Auxiliadora Bila e Elizabethe Gomes da Silva, que ainda aguardam pela adoção de uma criança, um segundo casal homossexual de mulheres, que preferiu não dar entrevista, também está na lista dos pretendentes à adoção conjunta com base na união estável. Porém, contam com um diferencial. Assim como André e Carlos, o casal de São José já mantém em casa uma convivência familiar com um menino de seis anos, filho adotivo registrado somente por uma delas. Agora, as duas lutam na Justiça não só para ter a guarda de mais uma criança, mas também para ter na Certidão de Nascimento do primeiro filho adotivo o nome das duas como mães. “O próprio ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), em nenhum momento, descrimina a opção sexual de um pretendente à adoção. Nossa dificuldade maior na Justiça é a adoção conjunta, é oferecer a essa criança o direito legal de ter pai e mãe homoafetivos. Hoje, a Justiça reconhece a união estável homossexual, mas só depois de muita luta em tribunais. Enquanto isso, muitos homossexuais têm que adotar seus filhos individualmente, tendo que escolher qual dos dois pais a criança deverá ser legalmente filho. Isso é um absurdo”, disse Toni Reis, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais). “É necessário que a Justiça cumpra a constituição federal que determina que seja assegurado o melhor interesse da criança. Entre a criança estar abrigada e ter um lar, com certeza, a segunda opção é a melhor”, disse Maria Berenice Dias, advogada especializada em direitos homoafetivos. Atualmente, a advogada trabalha em 15 casos de casais de todo o país que pretendem adotar uma criança. Dentre esses casos um chamou a atenção pela contradição da sentença. Mesmo reconhecendo a união estável do casal homossexual feminino, o juiz, não concedeu a adoção conjunta –quando o documento da criança apresenta o nome do casal. Porém, deu o direito para que cada

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ORFANATO Berçário da Casa das Meninas, uma entidade que abriga órfãos que serão adotados em S. José

O Brasil não permite o casamento entre casais do mesmo sexo. Atualmente, 17 projetos de leis sobre o tema aguardam aprovação do Congresso Nacional –o primeiro deles é de 1995

uma delas adotasse até duas crianças. “Elas podem adotar até quatro filhos, mas cada uma terá que escolher ser mãe legal de apenas duas crianças. Já recorremos da decisão. O fato é que essa criança que é adotada por um casal homoafetivo, que ganha o direito da adoção conjunta, recebe todos os direitos legais de ambos os pais. Caso contrário, não. Se ela é adotada só por uma pessoa, se houver caso de falecimento da mesma, essa criança volta para o abrigo. Essa é a situação atual”, disse. O Brasil não permite o casamento entre casais do mesmo sexo. Atualmente, 17 projetos

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de leis sobre o tema aguardam aprovação no Congresso Nacional –o primeiro deles é de 1995. Casais que se sentem prejudicados pela demora na regulamentação estão recorrendo à Justiça e os tribunais, que, na grande maioria, são favoráveis. Em todo o país, mais de 800 decisões foram consideradas favoráveis ao reconhecimento de algum direito à população homossexual. Em todo o mundo, apenas 10 países autorizam o casamento entre gays: Suécia, Islândia, Noruega, Holanda, Bélgica, Espanha, Portugal, África do Sul, Canadá e Argentina –o último foi aprovado em julho deste ano. Groelândia, Finlândia, Dinamarca, Suíça, Alemanha, Inglaterra, Colômbia, Uruguai e Nova Zelândia são países que não aceitam o casamento, mas permite união civil, o que garante os mesmos direitos da união tradicional, incluindo a adoção. Religião Desde março de 2003, o Vaticano trabalha em campanha mundial contra a legalização

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Cadastro Nacional de Adoções Total de crianças 7.662, sendo 3.502 meninas e 4.160 meninos, estão incluídas no cadastro em todo o Brasil

Raça Branca: 30,54% Negra: 17,88% Com irmãos: 18,98%

Idade De 0 a 1 ano: 380 crianças De 2 a 3 anos: 933 crianças De 4 a 10 anos: 2.560 crianças Fonte: Conselho Nacional de Justiça

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da união de homossexuais pedindo a políticos católicos de todo o mundo que se pronunciem de forma clara e incisiva contra as leis que favorecem tais uniões. A campanha foi lançada através de um documento oficial, de 11 páginas, divulgado com o título ‘Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais’, e preparado pelo então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger, o papa Bento 16. O documento, aprovado à época pelo Papa João Paulo 2º, estabelece que o reconhecimento legal das uniões homossexuais ou a equiparação ao matrimônio “significa não apenas aprovar um comportamento desviado e convertê-lo em modelo para a sociedade atual, como também afetar os valores fundamentais que pertencem ao patrimônio comum da Humanidade”. Para o Vaticano, a homossexualidade é um fenômeno moral e social inquietantes, que se torna cada vez mais preocupante nos países nos quais já se concedeu ou se tem a inten-

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Reportagem de Capa Foto ilustrativa: Flávio Pereira

necessita obrigatoriamente da presença de um homem e de uma mulher como referentes simbólicos que seriam do masculino e do feminino. A criança necessita é de outros seres humanos socializados que possam tomá-la a seu encargo, dando-lhe afeto e direção, fazendo-a compartilhar as significações sociais que constituem o sentido da realidade em sua cultura”. Segundo ele, os homossexuais podem cumprir essa tarefa igualmente como os heterossexuais, seja em casais formados por homens ou por mulheres, seja um homossexual solteiro. “Como demonstram inúmeras experiências e argumentam antropólogos, psicanalistas e psicólogos, crianças educadas por homossexuais crescem com os mesmos referentes culturais que as demais crianças quando se trata das distinções de sexo, gênero etc, até porque não são educadas isoladas, mas em contato com todos os demais da sociedade”, disse o sociólogo.

ção de conceder o reconhecimento legal às uniões homossexuais. Seguindo a mesma linha, a Diocese de São José se pronuncia contrária tanto à união estável por homossexuais como à adoção de crianças por casais gays. Para o bispo dom Moacir Silva, a adoção de criança por casais homossexuais fere alguns dos direitos da criança, um deles, considerado pelo bispo como crucial, o de conviver com pai e mãe –homem e mulher. “A criança tem o direito de adquirir, fundar, estabelecer, de maneira adequada, algo muito importante e irrenunciável: a sua identidade sexual. Esse direito é impedido ou gravemente ameaçado, quando ela recebe apenas modelos de condutas dos homossexuais. O menino e a menina têm necessidade do pai e da mãe para identificar-se com a pessoa de seu mesmo gênero e para compreender o respeito, o afeto e a complementaridade que a pessoa de outro gênero deve exprimir”, disse dom Moacir. Para o bispo, uma criança criada por casal homossexual perderia o direito de amadu-

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recer a própria afetividade pelo fato de não presenciar em casa o vínculo que se estabelece nas relações entre heterossexuais. “Esta relação (heterossexual) constitui a trama na qual se define e se consolida a maturidade da sua afetividade e da sua personalidade futura. Uma criança que vivesse apenas com homossexuais não experimentaria nem aprenderia as diferenças entre homem e mulher. Não se pode esquecer que a finalidade da adoção é a proteção do menor e não a satisfação do adulto sem descendência”, disse. Com tese em seu doutorado defendido na Universidade René Descartes, em Sorbonne (Paris), e seu pós-doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o sociólogo Alípio de Sousa Filho afirma que em diversos estudos desenvolvidos em antropologia, sociologia ou psicologia, apontam que a vida de casal dos homossexuais funciona igualmente como a de casais heterossexuais e, assim, a educação de crianças pode nela ocorrer igualmente. “É falso o ponto de vista segundo o qual a criança, para se constituir psíquica e socialmente,

Repercussão Nacional Em 2003, o Brasil teve o primeiro caso de repercussão nacional envolvendo a guarda definitiva de uma criança e casais homossexuais no Brasil. Em 31 de outubro daquele ano, Maria Eugênia Vieira Martins conseguiu a tutela definitiva de Francisco Eller, filho biológico da cantora Cássia Eller e de Otávio Filho, ambos já falecidos. Órfão de pai e mãe, Chicão, como é chamado, teve a tutela contestada na Justiça pelo avó materno, Altair Eller, quando o menino tinha apenas 9 anos. Dez meses depois, a companheira de Cássia, Maria Eugênia, conseguiu na Justiça, com apoio de parte da família da cantora, a guarda definitiva do menino, hoje com 15 anos. Maria Eugênia mantinha uma relação estável com Cássia há 14 anos e era responsável pela educação do menino enquanto a cantora trabalhava em shows pelo país. Os dois quase não aparecem em público, mas mantêm relação de mãe e filho e moram até hoje juntos no Rio de Janeiro. No início do ano, Chicão deu sua primeira entrevista à imprensa, desta vez falando de sua carreira como músico em uma banda, a Zarapatel, com músicas que seguem o estilo da nova MPB, e dedicou seu sucesso às suas duas mães Cássia e Maria Eugênia. Essa foi a primeira vez na história da Justiça brasileira que uma mulher homossexual teve garantido o direito de ser mãe, ainda que não tenha gerado o próprio filho. •

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Parabéns Taubaté!

05 de dezembro

365 DIAS DE LUZ

desejamos a todos

dezembro 2010

Boas Festas Venha festejar com a gente

Veja a programação completa do dia 29/11 a 23/12 no site www.taubate.sp.gov.br

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Saúde

FOBIA SOCIAL

A soma de todos os medos Transtorno do pânico já atinge 5% da população brasileira; mais de 30 mil podem ter a doença em São José, onde foi criado um grupo de apoio para os portadores da síndrome Yann Walter São José dos Campos

A

os 32 anos, tinha uma vida muito atribulada. Trabalhava como gerente de vendas na Mesbla e vivia viajando para inaugurar lojas em todo o país. Podia estar de manhã em São Paulo, à tarde no Nordeste e à noite em outro lugar. Percorria milhares de quilômetros de avião a cada semana. Certo dia, em Aracaju, Sergipe, estava prestes a atravessar a rua quando de repente, meu coração disparou. Comecei a suar frio. Minhas pernas tremeram. Parecia que meus braços pesavam 100 quilos. Perdi a capacidade de pensar, de raciocinar. Achei que fosse morrer. Não consegui atravessar a rua. Dei meia volta e fui embora para São José de carro com meu marido e minha filha. Fui direto para a casa dos meus pais e fiquei lá, trancada, por 13 anos. Não podia ir ao supermercado, ao cinema. Não conseguia sair para comprar leite na esquina. Tinha medo de tudo, até de olhar pela janela. Larguei trabalho e amigos. Só melhorei após anos de tratamento. Nunca mais entrei em um avião, nunca mais saí de São José”. Sandra Amery, 53 anos, foi acometida por mais de duas décadas por um mal chamado transtorno do pânico, mais especificamente por uma de suas principais vertentes: a agorafobia, uma ansiedade por estar em lugares ou situações onde a fuga é difícil e a ajuda possa

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não estar disponível na eventualidade de ocorrer um ataque de pânico. Este quadro de ansiedade leva a uma resposta de evitação sistemática destes lugares ou situações. Naquele dia em Aracaju, Sandra sofreu seu primeiro ataque de pânico, definido pelos especialistas como uma crise de medo e desconforto intenso acompanhada de um ou mais sintomas como taquicardia, sudorese, calafrios ou ondas de calor, tremores, falta de ar, anestesia ou sensação de formigamento, sensação de desmaio, náusea, tonturas, vertigem, sensação de descontrole e medo de enlouquecer ou de morrer. O transtorno, ou síndrome, do pânico, é caracterizado pela repetição destas crises, acompanhada pela preocupação constante de sofrer novos ataques. A frequência e a gravidade dos ataques variam segundo as pessoas. De acordo com o psicanalista Douglas Brito, responsável pela criação de um grupo de apoio aos portadores da doença em São José dos Campos, 5% da população brasileira sofre de algum transtorno ligado ao pânico –ou seja, 30 mil joseenses podem ter a síndrome. “Quase 2.000 pessoas passaram pelo Gaspan (Grupo de Autoajuda aos Portadores da Síndrome do Pânico) desde dezembro de 2001. No entanto, a maioria não chegou a participar efetivamente, pois o medo de falar sobre o assunto é tão grande que muitos nem conseguem vir às reuniões”, comentou. O transtorno do pânico é mais comum entre as mulheres –a proporção é de três para cada homem– e os primeiros sintomas costumam aparecer na adolescência, até os

35 anos. Segundo Brito, a maioria dos portadores da doença tem entre 21 e 40 anos, uma faixa etária que corresponde justamente à da população mais ativa profissionalmente. Entretanto, o psicanalista ressaltou que o Gaspan atende também crianças e idosos. Estresse no trabalho A pressão no trabalho é um elemento que favorece o desenvolvimento da síndrome do pânico. O estresse ligado às atividades profissionais é responsável por um grande número de casos. Daniela Amaral, uma assistente social de 35 anos, é um deles. Nascida e criada em Taubaté, ela desenvolveu a doença há um ano e meio, quando teve que trabalhar em São José. “Foi uma mudança muito radical. Estava bem em Taubaté, mas fui enviada a São José por motivos profissionais. A ideia de trabalhar aqui [em São José] me deixou muito infeliz e estressada. Tive a primeira crise na rodoviária. Simplesmente travei, não consegui entrar no ônibus. Perdi o controle sobre as minhas pernas. Depois disso, não pude mais ir sozinha. Toda manhã, minha mãe me levava à rodoviária e me colocava no ônibus. Às vezes passava mal, precisava ligar para ela para me acalmar. Ficava desesperada para sair”, contou Daniela, que trabalha em uma ONG (Organização Não-Governamental) em São José. “Também não conseguia andar sozinha na cidade. Certa vez fui visitar uma colega de trabalho e não consegui sair da casa dela. A escada não tinha corrimão, e travei de novo. Minhas pernas se recusaram a andar. Tive

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Fotos: Flávio Pereira

”Certa vez não consegui sair da casa de uma colega. A escada não tinha corrimão. Tive que descer toda a escada sentada” De Daniela Amaral, 35 anos, que faz terapia contra a síndrome do pânico

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Saúde

que descer a escada sentada”, disse. Para Daniela, uma das principais consequências da síndrome de pânico foi a perda da autonomia. “No auge da doença, as atividades mais simples eram difíceis para mim. Vivia acompanhada por minha mãe ou por colegas de trabalho. Não podia fazer nada sozinha”. Hoje, Daniela considera que o pior já passou. Ao contrário de Sandra, que ficou mais de uma década trancafiada dentro de casa, ela procurou ajuda imediatamente. Até porque já tinha passado por esta situação antes. “Tive minha primeira crise de pânico na faculdade, aos 22 anos. Esta crise foi seguida por várias outras. Na época, fiz um tratamento com paroxetina [um forte antidepressivo] e calmantes e melhorei. Fiquei muitos anos bem. Agora, combino medicamentos com terapia. Tomo venlaflaxina [um antidepressivo mais brando] e faço análise uma vez por semana. Hoje posso dizer que tenho uma vida normal. Ainda tenho medo de altura e tento evitar multidões. Até vou a shows, discotecas e bares de vez em quando, mas não fico muito. Tenho medo de ter outro ataque”. Predisposição As circunstâncias responsáveis pelo surgimento do transtorno do pânico não estão cientificamente comprovadas, mas fatores genéticos, de personalidade e estresse potencializam a predisposição. Assim, algumas pessoas estariam mais propensas do que outras a desenvolver a doença. Sandra –cuja filha de 20 anos tem fobia social– e Daniela têm alguns traços de personalidade em comum. “Sempre fui ansiosa e medrosa, desde criança. Depois, quando cresci, fui me tornando cada vez mais controladora, estressada e crítica comigo mesma”, avaliou Daniela. “Sempre fui perfeccionista ao extremo. Era tão chata que as pessoas tinham medo de mim. É por isso que meus pais custaram a acreditar na minha doença. No início, achavam que era frescura minha”, comentou Sandra. Muitas vezes, os ataques de pânico são provocados por um trauma, como um assalto, um acidente ou a morte de um membro da família. A atriz e professora de teatro, Alexandrina Lixa Palosa, 42 anos, teve a primeira crise aos 11. A história dela é, no mínimo, surpreendente. “Certa noite estava na igreja e vi alguma coisa no céu. Um objeto grande, redondo, de cor vermelha. Parecia um disco voador. Todas as pessoas que estavam lá viram e ficaram muito assustadas. Achei que fosse o fim do mundo.

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TRAUMA Alexandrina Lixa Palosa, 42 anos, que teve a primeira crise de pânico aos 11 anos

”Tinha pavor de elevador.Só entrava com alguém de confiança. Também não atravessava a rua sozinha”

Tive minha primeira crise de pânico uma semana depois”, contou a mulher nascida no Mato Grosso do Sul, que se mudou para São José com a família pouco depois do episódio. Alexandrina fez um tratamento psicológico dos 12 aos 22 anos. Casou pouco antes de completar 18 anos. Durante os sete primeiros anos de casamento, não teve um único ataque. Porém, problemas conjugais ligados ao alcoolismo do marido fizeram com que o problema voltasse com mais força. Retornou à terapia, mas continuou desprezando os remédios. “Nunca gostei. O mais forte que já tomei foi rivotril [um tranquilizante do grupo dos benzodiazepínicos]”. Durante este período, teve de aprender a conviver com seus medos e a domálos. “Tinha pavor de elevador. Só conseguia entrar se fosse com uma pessoa de confiança.

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Autoestima baixa Além do pânico, Sandra, Daniela e Alexandrina têm outro ponto em comum: a terapia teve um papel muito importante em sua recuperação. “Faço três sessões por semana. É muito importante para mim. Agora consigo superar as crises com as técnicas que aprendi na terapia”, disse Alexandrina. O Gaspan, que a atriz frequenta até hoje, ensina técnicas de relaxamento, meditação e terapia cognitivo-comportamental, que consiste em focalizar o pensamento em coisas positivas. Outro aspecto trabalhado na análise é o resgate da autoestima, geralmente muito abalada pela doença. “Passei 13 anos enclausurada, sem falar com ninguém. Minha autoestima foi ficando cada vez mais baixa. Comecei a terapia em 2001. Depois de tantos anos em casa, tive a reaprender a andar na rua, a interagir com as pessoas. No início foi assustador. A terapia ajudou a levantar minha autoestima”, disse Sandra, que não sofre ataque do pânico há mais de dois anos. “A análise me ajudou a ter mais paciência, a entender que não é possível controlar tudo. Continuo sendo uma pessoa ansiosa e controladora, mas agora sei lidar com isso”, explicou Daniela.

MEDO Sandra Amery, 53 anos, permaneceu por 13 anos trancada na casa dos pais, em S. José

Também não atravessava a rua sozinha. Perdi muitos trabalhos em São Paulo e no Rio de Janeiro porque tinha medo de cidade grande. Hoje, ainda tenho medo de multidão, mas não deixo de sair por causa disso. Aliás, não deixo de fazer nada por causa da doença. A vida não pode parar”, afirmou Alexandrina, admitindo, porém, que não voltou a dirigir e que ainda não consegue ver notícias trágicas na televisão. Lidar com acontecimentos traumáticos continua sendo difícil. Alexandrina teve sua última crise de pânico há cerca de dois meses, pouco tempo após a morte de um sobrinho. “Na hora, chorei muito, mas consegui controlar. Alguns dias depois, tive um ataque muito forte. Meu coração disparou, minha vista escureceu, minhas pernas amoleceram. Foi horrível”.

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”Não sei se estou pronta. Não tenho crise há muito tempo, mas ainda tenho receio de ter. É o medo do medo”

Medo do medo Frases de motivação como “eu sou capaz” ou “dar um passo de cada vez” podem parecer chavões, mas fazem muito sentido para pessoas que sofrem com uma doença imprevisível como o transtorno do pânico. Para elas, cada passo adiante, cada progresso realizado, cada medo superado, representa uma grande vitória. “Em 2006, fui ao cinema com minha filha pela primeira vez. Fiquei muito feliz. Ainda fomos ao restaurante depois. Antes não podia ver programas tristes e agora assisto até filmes de terror com minha filha”, disse Sandra. Antes do primeiro ataque de pânico, Sandra tinha um sonho: ir a Paris. Infelizmente, a crise impediu a viagem. Talvez não seja tarde demais. “Minha filha quer fazer pós-graduação na França e quer que eu vá com ela. Não sei se estou pronta. Não tenho crise há muito tempo, mas ainda tenho receio de ter. É o medo do medo”, disse. De fato, para quem não sai de São José há 20 anos, uma viagem para outro continente tem ares de missão impossível. No entanto, para o psicanalista Brito, que a conhece há quase uma década, Sandra tem hoje todas as condições de se lançar à conquista deste objetivo. “Não há dúvida de que tal iniciativa seria uma imensa vitória sobre uma doença conhecida como ‘a soma de todos os medos’”. •

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Entrevista >Padre Fábio de Melo ocupa o primeiro lugar no ranking de álbuns mais vendidos do país, com mais de dois milhões de CDs comercializados e mais de 100 shows por ano

Celebração do Natal: “ser cristão é ser Jesus de novo” Elaine Santos São José dos Campos

sentar de forma adequada essa data? <Viver bem. Não perder tempo com ódios, rancores. Aproveitar a época para revisar a vida e com ela renovar o compromisso.

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Quais as mensagens que seu novo trabalho traz para as pessoas que acompanham seu trabalho? < Que quanto mais Jesus entra em nossa vida, maior será a nossa capacidade de escolher melhor os caminhos que vamos seguir.

adre Fábio de Melo, 39 anos, um mineiro nascido na cidade de Formiga, se transformou em um fenômeno de mídia. Professor graduado em Filosofia e Teologia, pós-graduado em Educação, escritor, cantor, compositor e apresentador, é um dos recordistas de venda de CDs e livros no país. No ranking musical no Brasil, Fábio de Melo aparece pelo terceiro ano consecutivo em primeiro lugar, com dois bilhões de CDs vendidos, deixando para trás a dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, a norte-americana Beyoncé e até o rei Roberto Carlos. Seu novo trabalho, “Iluminar ao vivo”, gravado em agosto, foi lançado em outubro e promete ser mais um recorde de venda. Por ano, o padre chega a fazer, em média, 120 shows, percorrendo todo território nacional. Cada apresentação reúne mais de 10 mil pessoas. Com uma agenda atribulada, Fábio de Melo não mantém a rotina sacerdotal de ministrar missas diariamente, mas leva seu trabalho de evangelização a milhares de fiéis por meio de seu programa de TV, o Direção Espiritual, da Canção Nova, todas as quinta-feiras. Em entrevista exclusiva à revista valeparaibano, ele fala sobre fé, o significado do Natal e revela um pouco da vida pessoal.

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O senhor já tem novos projetos de trabalho para 2011? Quais? < Um livro. “Tempo de esperas – O itinerário de um florescer humano”. Será lançado em maio. Como é sua rotina? Natal é uma data onde todos cristãos têm a religiosidade mais aflorada. Como o senhor enxerga esse momento? < Toda finalização de processo nos faz pensar. O Natal coincide com o final do ano. Talvez seja por isso que a religiosidade fique mais aflorada. O cansaço faz parte desta época. Com isso a alma fica desarmada. Qual o verdadeiro significado da data? < É a celebração do nascimento de Jesus. Essa comemoração deve nos servir para avaliar o quanto Jesus já nasceu e cresceu em nós. Ser cristão é isso: ser Jesus de novo. Para aqueles que não têm o hábito de frequentar a igreja, o que o senhor aconselharia fazer em casa para repre-

< Não tenho rotina. Vivo o desafio constante de ajeitar minhas necessidades e obrigações onde estou. Como foi que decidiu ser padre?

< Cresci numa família muito religiosa. A fi-

gura do padre sempre disse muito ao meu contexto cultural. Eu via no padre uma pessoa feliz, realizada, fazendo o bem às pessoas. Desde criança eu já queria ser padre. Entrei no Seminário aos 16 anos. É difícil precisar os motivos que nos movem. Prefiro olhar e compreender o processo como um todo. No hoje da vida eu reconheço uma vocação sólida. Sou feliz sendo quem sou e fazendo o que faço. Qual o principal desafio que o senhor encontra na sua vida como padre? E

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Domingo Dom ming in o 5 Dezembro dee 20 201 2010 010 0

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Divulgação

PERFIL NOME: Fábio José de Melo Silva IDADE: 39 anos NATURALIDADE: Formiga (MG)

PADRE FÁBIO DE MELO “QUANTO MAIS JESUS ENTRA EM NOSSA VIDA, MAIOR SERÁ A NOSSA CAPACIDADE DE ESCOLHER MELHOR OS CAMINHOS QUE VAMOS SEGUIR”

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CARREIRA: Lançou 14 CDs e, ao todo, já vendeu mais de 2 milhões de cópias (1,8 milhão apenas na Som Livre), além de 500 mil livros, entre eles, “Quem me roubou de mim”, “Tempo: Saudades e Esquecimentos”, “Quando o sofrimento bater à sua porta”, “Amigo: somos muitos, mesmo sendo dois”, “Mulheres de Aço e de Flores”, “Cartas entre Amigos”, “Mulheres Cheias de Graça”.

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Entrevista Divulgação/Canção Nova

SACERDÓCIO “DESDE CRIANÇA EU JÁ QUERIA SER PADRE. ENTREI NO SEMINÁRIO AOS 16 ANOS. É DIFÍCIL PRECISAR OS MOTIVOS QUE NOS MOVEM. SOU FELIZ SENDO QUEM SOU E FAZENDO O QUE FAÇO” hoje, qual a sua missão? < Meu principal desafio é quanto a ser referência. Quanto mais cresce meu trabalho, maior é a responsabilidade que ele acarreta. Eu estudo muito e quem quer trabalhar com comunicação tem que ter conteúdo. Minha principal missão é transmitir as palavras do evangélio. Faço tudo para que Deus seja sempre transparente em mim. Como faz para conciliar seu cotidiano religioso com sua agenda de shows? < Não há conflito nisso. Minha agenda de shows gira em torno da Evangelização. Sua exposição constante na mídia não prejudica seu lado espiritual? < Espiritualidade não é mochila que levamos às costas. É um jeito de ser. A espiritualidade é um jeito de olhar para o mundo. Procuro manter vivo isso dentro de mim. O grande risco da exposição é a gente ser imaginado demais. Não posso permitir que

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aquilo que o outro imagina sobre mim se torne a minha verdade. Na hora de compor suas músicas, escrever suas poesias, de onde vem sua inspiração? < O cotidiano é minha fonte. A vida humana é minha matéria. Ou porque vivi, ou porque vi de perto. Não tenho nada de extraordinário no meu dia a dia, mas a arte me permite enxergar a beleza velada de todas as realidades. Deus mora na simplicidade. O senhor acredita que a Igreja Católica alcançou mais fiéis depois de aderir à mídia fonográfica? < Creio que a música tenha nos ajudado muito na propagação do Evangelho, mas o trabalho principal é o que acontece nas paróquias. É lá que o cristão se compromete com o Cristo. É lá que os Sacramentos são celebrados. A música é apenas um detalhe da grande ação evangelizadora da Igreja.

Pelo fácil acesso as mídias, nos dias de hoje, na sua opinião a busca por Deus se tornou menos complexa? < Sim, precisamos aproveitar a oportunidade de fazer o trabalho acontecer com mais amplitude e qualidade. Creio no poder da comunicação religiosa e tento fazer com que essa comunicação seja ponte entre a Palavra de Deus e o coração dos homens. O fato de não ter obrigatoriedade de aulas de religião nas escolas, na sua opinião, mudou o comportamento da educação das pessoas ? < Eu creio que o discurso religioso se torna mais interessante à medida que cumpre a missão de aliviar a existência. Fé é experiência existencial, e por isso precisa mover a nossa vida. Reduzir a religiosidade ao cumprimento do rito é empobrecer a riqueza. Grande parte das pessoas que não são religiosas, nasceram e cresceram na religião das obrigações. •

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MOSTRA Domingo 5 Dezembro de 2010

Divulgação/Marcos Hermes

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Se inspire para um natal mais criativo. Venha conhecer e buscar inspiração na Mostra “Natal Conceitto Design” Expositores da mostra:

18 nov à 18 dez Segunda à Sexta - 9h às 19h30 Sábado - 9h às 16h

SHOW “CREIO QUE A MÚSICA NOS AJUDA NA PROPAGAÇÃO DO EVANGELHO, MAS O TRABALHO PRINCIPAL OCORRE NAS PARÓQUIAS”

www.conceittomoveis.com.br

by Sus i Tol e do Evento beneficente aberto ao público.

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Vale, Brasil & o Mundo

Frases “É melhor gostar de mulheres bonitas do que ser gay”

FLORENTINA

Tiririca consegue ler e escrever em teste de alfabetização

Silvio Berlusconi, primeiro-ministro da Itália, tentando justificar seu envolvimento com uma marroquina menor de idade

“ Sou apedrejada diariamente: aguento olhares tortos e ofensas desde a hora que saio de casa “ Lea T, modelo, 28 anos, que nasceu Leandro e é filho do ex-jogador Toninho Cerezo

“Não tem coisa mais desestimuladora do que um Mickey e uma Minnie em um quarto de motel” Roberto Justus, apresentador, criticando um participante do seu programa que pretende abrir um motel temático ECONOMIA

OGX dá prejuízo de R$199 milhões O deputado federal eleito Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP), o palhaço Tiririca, conseguiu ler e escrever no teste de alfabetização aplicado pela Justiça Eleitoral. Segundo o presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo, Walter de Almeida Guilherme, o deputado eleito fez um ditado tirado de um livro editado pelo tribunal: “Justiça Eleitoral, uma retrospectiva”. Ele teve que escrever: “A promulgação do Código Eleitoral, em fevereiro de 1932, trazendo como grandes novidades a criação da Justiça Eleitoral”. Tiririca também foi obrigado a ler uma notícia de jornal e teve de fazer uma interpretação do que leu e escreveu. O deputado eleito se recusou a fazer uma perícia do documento que apresentou ao registrar a candidatura para provar que era alfabetizado. Guilherme lembrou que ninguém é obrigado a produzir uma prova contra si mesmo. De acordo com o presidente do TRE, o comediante será diplomado, qualquer que seja o resultado.

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Cresce número de apreensões A Polícia Federal apreendeu mais de uma tonelada e meia de cocaína entre janeiro e outubro deste ano no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O boletim divulgado pela PF aponta que a apreensão da droga é 40% superior na comparação com o mesmo período de 2009. Somente em outubro de 2010 foram apreendidos quase 300 quilos de cocaína, uma quantidade recorde no ano.

A OGX, braço de petróleo do grupo EBX, do empresário Eike Batista, teve prejuízo líquido de R$ 199,5 milhões no terceiro trimestre, contra prejuízo de R$ 60,6 milhões em igual período do ano passado. A OGX possui portfólio de blocos exploratórios nas bacias de Campos, Santos, Espírito Santo, Pará-Maranhão e Parnaíba. A empresa articula, no momento, a venda de participações minoritárias em seus blocos na bacia de Campos, em negócio que, segundo executivos da companhia, poderá alcançar aproximadamente US$ 7 bilhões.

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TREM-BALA

IBGE

PPS tenta barrar verba do TAV

Mulheres mais velhas no casal

O PPS ingressou com ação de inconstitucionalidade no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a Medida Provisória 511, que obriga o Tesouro Nacional a garantir o financiamento do BNDES para a construção do TAV entre o Rio de Janeiro e Campinas. De acordo com a MP, a União fica autorizada a garantir o financiamento de até R$ 20 bilhões e a conceder subvenção econômica ao BNDES de até R$ 5 bilhões, sob a modalidade de equalização de taxas de juros, nas operações de financiamento do TAV. Na ação, o PPS argumenta que o presidente da República só pode apresentar MPs em casos de urgência e relevância. O mesmo valeria para a edição de MPs para regular matérias relativas a créditos adicionais e suplementares. A exceção seria a abertura de crédito para atender despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública. “Por tratar-se de evidente exceção ao princípio da separação de poderes e ao próprio princípio da

soberania popular, a edição de medidas provisórias sofre diversas limitações temáticas e circunstanciais”, argumenta a legenda. Para o partido, a construção do TAV é discutida há décadas. “Não há como qualificar a construção e concessão do empreendimento, e mesmo a prestação de garantia por parte da União, como imprevisível”, afirma. “A toda evidência, as autorizações concedidas pela MP, que resultam em substanciais gravames ao patrimônio público brasileiro, feitas ao arrepio do Congresso Nacional, são incompatíveis com os ditames constitucionais”, conclui.

A quantidade de casamentos entre mulheres mais velhas e homens mais jovens aumentou no Brasil, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na comparação com os anos de 1999, 2004 e 2009, observa-se alta dos percentuais em que a mulher é a mais velha do casal –respectivamente, 19,3%, 21,3% e 23%. LEILÃO

Pechincha: R$ 415 mil por um Mac

TURISMO

CVC se torna “operadora seleta” da Walt Disney A CVC, operadora de viagens líder no Brasil, passa a ser considerada “operadora seleta” da Walt Disney World. O contrato foi assinado no mês passado, na diretoria de vendas da CVC em São Paulo, e contou com a presença da nova vice-presidente internacional de vendas da Disney, Sharon Siskie; o presidente

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da CVC, Valter Patriani; entre outras autoridades das duas empresas. “Com a novidade, passamos a inserir todos os produtos da Disney em nosso portfólio, incluindo os hotéis exclusivos do complexo Disney nos Estados Unidos, bem como os Cruzeiros Disney”, explica Patriani. A empresa brasileira tem experiência de mais de 20 anos na operação e comercialização de roteiros turísticos voltados às famílias brasileiras em viagens para a Flórida (EUA), onde fica o maior complexo dos destinos da Disney.

Se você acha um Mac caro, não imagina quanto vale o primeiro computador produzido pela companhia de Steve Jobs, o Apple I. Um raro exemplar do pioneiro computador (só foram produzidos 200) foi colocado à venda na casa de leilões Christie, em Londres, por £150 mil: o equivalente a R$ 415 mil. O que está à venda em Londres está impecável, na caixa original, com os manuais de instrução, uma fita cassete explicando como realizar a montagem dos equipamentos e uma carta do próprio Jobs respondendo a perguntas de usuários sobre os melhores monitores.

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Ensaio fotográfico

gUi Mohallem FOTÓGRAFO

Menina dos meus olhos Mineiro de Itajubá, Gui Mohallem nem imaginava que sua fotografia o levasse em apenas um ano para uma exposição individual em Nova York. Aqui, nestas páginas, você conhece o primeiro ensaio realizado com a menina Júlia, sobrinha do fotógrafo, revelando um olhar peculiar e sensível sobre cenas cotidianas

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JEITO Quando abriu em 2007, a exposição “Menina dos Olhos” convidava para “um outro jeito de se ver fofografia”

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Ensaio

JANELA As fotos ficavam dentro de janelas na primeira exposição, quem quisesse ver, abria a moldura

NOVA YORK Em 2008, Gui Mohallem fez sua primeira exposição individual em Nova York

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LOUCURA O trabalho pessoal mais atual do fotógrafo é “Ensaios para Loucura”, que usa a técnica do pinhole para registrar imagens

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Ensaio

ILUSÃO “A fotografia me dá a ilusão de que posso realmente me comunicar com as pessoas”

SOLIDÃO “A fotografia é uma maneira de pacificar minha profunda solidão”

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GUI “Sempre ouvi e vivi uma dicotomia entre o trabalho pessoal e o trabalho comercial”

GALERIA Hoje, o artista é representado exclusivamente pela Galeria Babel, na América Latina

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Coisa & Taltigo

Marco Antonio Vitti

Um diálogo entre a nossa fé, a genética e a biologia molecular

M

ais um Natal! O que faz com que bilhões de pessoas no mundo todo comemorem esta data, muitos mesmo não sendo cristãos? O que nos leva à fé? No Alcorão, por exemplo, Jesus Cristo é reconhecido e amado como um dos maiores profetas que já passaram pelo nosso universo, algo que preconceituosamente não fazemos com Maomé, com Alá dos muçulmanos. O que leva os budistas a acreditarem nas revelações do iluminado Buda? Por que o ser humano tem essa vocação de acreditar em um ser superior que o governa, salvo exceções que se dizem ateus? Muitos agnósticos dizem que a fé existe porque o ser humano tem medo da morte. Outros dizem que é a necessidade de sermos eternos. Mas a realidade diz que Jesus modificou o mundo de maneira radical. Jesus trouxe uma nova consciência para substituir a consciência que adquirimos quando optamos por Satanás, nos alienando de Deus e, por causa dessa consciência insana, sofremos porque pensamos. A importância de Jesus é que muito antes de Freud, Jung, Willian James, Alan Kardec, Lutero, nos trouxe a boa nova de que o reino de Deus se encontra dentro de cada um de nós, isto é, o privilégio que poucas pessoas têm de ter essa conexão interna com Deus, através de uma oração diária e fiel. Jesus nos ensinou que vencemos a

FÉ “Se tentarmos entender o Sagrado com a razão, estamos sendo estúpidos” morte, morrendo. Que nos livramos da consciência mortal que tanto nos faz sofrer com o desapego do mundo material, uma vez que quando morremos deixamos tudo o que damos, ou não, importância neste mundo material, governado hoje não mais por Deus, mas pelos mestres da guerra e da corrupção. Um exemplo disso que estou abordando foi deixado pelos ancestrais faraós, que quando enterrados seus objetos pessoais eram enterrados juntos com eles. Enterravam inclusive suas esposas, empregados vivos, para que pudessem servi-los no mundo imaterial. O que diferencia o animal do humano é que o animal é irracional e não enterra seus mortos ritualísticamente, já o humano enterra seus mortos podendo ser racionais e de uma irracionalidade que muitas vezes é injustamente comparada com a irracionalidade animal. Na história das religiões, Mircea Eliade demonstra que no início da humanidade muitos animais eram reverenciados, tais como o elefante, a serpente, o macaco, a vaca, etc. No entanto, como descreve o grande estudioso Rudolf Otto, em seu livro ‘O Sagrado’, somente o humano pode ser racional e irracional ao mesmo tempo,

e que a ideia cristã de Deus é caracterizada por atributos, como espírito, razão, vontade teleológica (vontade que tem uma finalidade, um objetivo), boa vontade, onipotência, unidade de essência, consciência, etc. Otto vai mais além ao afirmar que: “O Sagrado é, antes de mais nada, uma categoria de interpretação e avaliação que ocorre somente no domínio religioso”. Trata-se de uma categoria complexa e com uma qualidade que escapa a tudo que chamamos racional, algo de inefável (inexprimível). Se tentarmos entender o Sagrado com a razão, estamos sendo estúpidos, pois com a razão nos afastamos do Sagrado e, portanto, de Deus. Podemos alcançar a fé somente quando rebaixamos nossa consciência mortal à transcendentalidade irracional que Jung bem denominou de Função Transcendente, isto é, quando transcendemos nossa consciência material e conseguimos entrar em um estado religioso de êxtase, que Otto denominou de “Numinoso”, o que contém o númem, que fornece a poucas pessoas a experiência do luminoso, da luz, que foi a primeira obra da criação de Deus. Atualmente, já sabemos que existem regiões em nosso cérebro e substâncias como os neurotransmissores que criam em nosso cérebro a experiência religiosa de sentir Deus inteiramente dentro de nós. Mas, descreverei mais no próximo número da revista valeparaibano. Um feliz Natal a todos e um Ano Novo iluminado! •

Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br

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Turismo PERÍODO PÓS-GUERRA

Bósnia turística Depois de anos de conflitos, a Bósnia-Herzegóvina quer deixar outras marcas em quem visita as belezas do leste europeu

Marrey Júnior Bósnia-Herzegóvina

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Bósnia surpreende. O país está começando a se desabrochar para o turismo após décadas de comunismo e um difícil período de guerra. Aquela imagem de local abatido está ficando para trás. Entre casas destruídas, paredes com marcas de balas, prédios abandonados, é possível ver a superação de um povo. Recordações da recente guerra viraram souvenires que qualquer turista de gosto um tanto duvidoso pode levar para casa. Em meio a diversos tipos de artesanato, é possível encontrar canetas feitas com balas de metralhadora, capacetes e fardas usadas, camisetas de líderes revolucionários, inclusive do marechal Tito, ditador comunista da antiga Iugoslávia, e até placas de sinalização com marcas de tiros. Há mais de 15 anos, entre 1992 e 1995, notícias do país eram frequentes na mídia por causa

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de uma guerra civil. Nacionalistas bósnios de etnia sérvia queriam impedir que a BósniaHerzegóvina se separasse do que restava da antiga Iugoslávia. Nesse conflito, 250 mil pessoas foram mortas e 1,8 milhão se refugiaram. Hoje a luta dos 3,8 milhões de habitantes é deixar outra impressão aos visitantes. Bastante receptivos, eles querem fazer jus a fama de ser o coração do sudeste da Europa. O traçado do território de 51 mil quilômetros quadrados se assemelha a esse órgão do corpo humano e os moradores são bastante amorosos para contar as tradições e as histórias do país. A Bósnia-Herzegóvina, nome completo que eles fazem questão de dizer toda vez que só se menciona a Bósnia, fica na Península dos Bálcãs e faz divisa com a Croácia, Sérvia e Montenegro. O relevo é montanhoso. O território está no sul dos Alpes. A Herzegóvina é uma parte que fica ao sul do país, com relevo menos acidentado e clima mais ameno. É nessa parte onde está o litoral. A costa no Mar Adriático é pequena, tem apenas 25 quilômetros de extensão.

Por ser banhado pelo mar e estar próxima à costa, a Bósnia-Herzegóvina tem uma mistura de climas de montanha e mediterrâneo. Os verões são bastante quentes –a temperatura ultrapassa os 30 graus. Os invernos são um tanto rigorosos com temperaturas negativas durante mais de seis meses no ano nas regiões mais altas. No período de frio, o país é bastante procurado por quem gosta de esportes praticados na neve. Um dos orgulhos da população é dizer que Sarajevo foi sede das Olimpíadas de Inverno, em 1984. Quem mora na Bósnia também adora enfatizar que são falados três idiomas oficiais: o bósnio, o croata e o sérvio. Língua parecida uma a outra. Pode-se dizer que as diferenças são similares ao português falado no Sul, no Sudeste e no Norte do Brasil. Mas a língua não é um obstáculo para visitar o país. O inglês é compreendido em boa parte dos lugares, principalmente nas cidades que recebem maior número de turistas. Desde a sua origem, o território que é chamado atualmente de Bósnia Herzegóvina foi

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Fotos: Marrey Junior

invadido por vários povos, que sempre deixaram suas heranças culturais. Os habitantes mais antigos foram os ilírios, indo-europeus cujo registros são de 1000 a.C., fim da Idade do Bronze. Depois quem colonizou esse trecho dos Bálcãs foram os romanos em 9 d.C.. Na Idade Média, entre vários ataques e comandos, foram os húngaros quem dominaram o território. No século 15, em outra invasão, os turcos otomanos tomaram a região e, após várias batalhas, a Bósnia se tornou uma província turca. Até hoje, passados mais de 500 anos, ainda é forte as tradições deixadas por esse povo. A principal delas é a religião. Foi durante esse período que grande parte dos moradores se converteram ao islamismo. Depois da Guerra Russo Turca, entre 1877 e 1878, a Bósnia e a Herzegóvina fizeram parte do Império Austro-Húngaro, tendo sido anexadas em 1908. No século passado, depois da Segunda Guerra Mundial, houve o período sob o regime comunista. Entre 1946 e 1992, a Bósnia e a Herzegóvina fizeram parte da República Socialista da Iugoslávia. Uma das princi-

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pais tradições deixadas pelos invasores foi a religião. Atualmente no país, 40% da população é muçulmana, 30% são católicos ortodoxos e 15% de católicos romanos. Jerusalém europeia Um bom exemplo de toda essa mistura cultural deixada pelos ancestrais é a capital Sarajevo. Nas ruas do centro, jovens muçulmanas com os cabelos totalmente cobertos por véus coloridos conversam descontraidamente com adolescentes com piercings, tatuagens e cabelos bastante chamativos. Risadas e conversas ecoam dos cafés que ficam lotados durante todo o dia. Barulhos que se misturam aos sons de sinos das igrejas e da pontual oração divulgada por megafones várias vezes ao dia do alto dos minaretes. Mesquitas a poucos metros de sinagogas, que não estão tão distantes de igrejas católicas, tanto a romana como a ortodoxa. Diversidade religiosa que intitula a cidade como a Jerusalém da Europa. E é essa mistura que faz Sarajevo, com cerca de 600 mil habitantes, ser fascinante. A re-

gião central fica em um vale cortado pelo rio Miljacka. Os trans, uma espécie de trem de superfície, são os veículos utilizados pela maioria da população. Eles colorem a cidade com seus anúncios um tanto chamativos. Nessa parte do centro estão os clássicos e imponentes prédios de arquitetura Austro-Húngara. As avenidas são largas e o comércio é muito parecido como o de qualquer outra cidade do oeste da Europa. A catedral ortodoxa é uma atração bastante interessante para quem gosta de conhecer igrejas. Construída entre 1863 e 1868, ela é um reduto da comunidade sérvia. No interior há um museu que conta a história dos ortodoxos no país. Também é possível apreciar peças religiosas trazidas da Rússia e da Grécia. Em frente ao templo, o que chama a atenção é um enorme tabuleiro de xadrez. A qualquer hora do dia é possível assistir a uma partida entre os moradores. O mais curioso é quem está em volta também participa dando palpites nas jogadas. Nessa região mais moderna também estão dois dos principais museus do país. Inaugu-

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Turismo

rado em 1888, o Museu Nacional fica em um prédio de arquitetura romana com quatro pavilhões. Ele retrata a história do território desde o período Neolítico. Também faz parte do complexo, o Jardim Botânico, que tem espécies raras de flores e plantas dos Bálcãs. Focado mais em recentes fatos, o Museu Histórico tem uma vasta exposição sobre a guerra da década de 90. Fotografias e notícias de jornais contam como se sucedeu esse conflito civil. Também estão dispostos artefatos de guerra e cômodos foram reconstruídos para mostrar como a população vivia nesse difícil período. No outro lado do centro está o Bašcaršija, ou traduzindo literalmente essa palavra de origem turca, o grande bazar. Esse é o centro antigo de Sarajevo, com produtos mais tradicionais ou de maior apelo turístico. Essa região se parece a um labirinto com ruas bastantes estreitas e traçado irregular. O turista que pretende levar alguma lembrança tem que ser bom de barganha. Bons argumentos e muito choro sempre resultam em ótimos descontos. Nas vitrines, muitas joias feitas com ouro e pedras preciosas, roupas muçulmanas e também ocidentais, camisetas de times de várias partes do mundo, inclusive do Brasil, sapatos feitos a mão e vários modelos de jogos para tomar café ao estilo turco. Aliás, café é a bebida preferida na cidade. Ele é servido sem coar em um pequeno bule de cobre. Geralmente, os moradores tomam sem açúcar. Os locais onde são servidos são bastante aconchegantes. Alguns chegam a se parecer grandes salas de estar, com diversas poltronas entre as mesas e estantes repletas de livros e revistas. Tomar bastante água também é outro costume da população. No centro antigo é possível encontrar várias fontes para se abastecer. A mais famosa delas é a Sebilj, construída em estilo mourisco em 1891 – é um cartão-postal da cidade. Em Bašcaršija também estão concentrados restaurantes de comidas típicas da Bósnia. Dois pratos tradicionais bastante apreciados e baratos são o cevapcici e o burek. O cevapcici é um sanduíche feito com vários bastões carne moída bastante temperada e assada na brasa. O lanche é acompanhado de cebola picada e servido em um pão redondo e chato, chamado de somum. O burek é uma espécie de mini rocambole feito de massa folhada com diversos tipos de recheios, entre eles, carne de carneiro, queijo branco e espinafre. Nessa região do centro velho também está a Gazi-Hursrev Bey, uma das mais tradicionais mesquitas de Sarajevo. Ela é aberta para visitação durante os períodos de intervalo entre as orações. Mas o curioso é assistir ao

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MOSTAR AO FUNDO, O BAIRRO CRISTÃO NO CENTRO VELHO DA CAPITAL DA BÓSNIA momento de meditação que também pode ser visto no pátio. Homens de um lado, mulheres do outro fazem seus agradecimentos para Alá. As mesquitas, além de um local sagrado, também servem de ponto de encontro para atualizar as notícias do dia. Próximo a essa grande mesquita, está a antiga sinagoga dos judeus sefardis, povo que fugiu da Península Ibérica e foi para a Bósnia durante a Inquisição. Além do templo, também é possível conhecer qual foi a influência da colônia judaica para o desenvolvimento da Bósnia e quem foram os principais judeus que contribuíram para a história do país. Símbolo de união Outra cidade bastante procurada por quem vi-

sita a Bósnia-Herzegóvina é Mostar. Nela está um dos mais famosos cartões-postais do país, a velha ponte sobre o rio Neretva. Após anos de conflito na década de 90, a ponte de Mostar representa a restauração de uma nação. Chamada de Stari Most pelos nativos, foi construída originalmente por volta de 1566 em estilo otomano. O nome da ponte originou o da capital da Herzegóvina: Mostar, com 100 mil habitantes e localizada a 130 quilômetros de Sarajevo e a 60 quilômetros do Mar Adriático. O antigo centro de Mostar é atração turística. Do alto dos minaretes (torres das mesquitas), é possível contemplar o visual de toda a cidade. Melhor vista, só do alto das montanhas, aos pés do cruzeiro. Tomar café às margens do rio Neretva e relaxar observando as águas de

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cor esmeralda também faz parte do passeio. A Mostarski Pils, é uma opção para quem gosta de provar diferentes tipos de cerveja. De sabor meio adocicado, o que chama a atenção é a garrafa, lacrada com uma tampa de porcelana. Essa rotina de pacata cidade do interior foi bastante diferente há quase 20 anos. Em 1992, durante o período de guerra, a relação entre croatas e muçulmanos que viviam na região estava bastante fragilizada. Entre vários ataques, casas bombardeadas e muitas mortes, o que mais chocou a população foi quando o exército croata destruiu a velha ponte de Mostar. Todas as outras pontes da cidade também foram detonadas. O município ficou separado entre o lado muçulmano e o cristão. Um comitê da Unesco trabalhou para que a Stari Most fosse reconstruída. Em 2004, a nova velha ponte passou a unir novamente as duas partes da cidade. Hoje, ela é reconhecida internacionalmente como um símbolo de reconciliação e cooperação. A ponte é a síntese do que é o país atualmente, um local onde povos de diferentes origens culturais, étnicas e religiosas podem conviver pacificamente. •

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NERETVA TOMAR CAFÉ ÀS MARGENS DO RIO E RELAXAR FAZ PARTE DO PASSEIO PELO PAÍS

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PaladarArtigo

Roberto Wagner

Coisas que você precisa saber antes de degustar um espumante

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stão chegando as festas de Natal e Réveillon, nas quais são quase obrigatórios os brindes com um bom vinho espumante. Então, é hora também de você conhecer algumas informações e curiosidades sobre esse que é o mais alegre dos vinhos. Por que dizer espumante e não champanhe? Porque por lei de alcance internacional só podem ser rotulados de champanhe os vinhos produzidos na região francesa de Champagne. Todos os demais, sejam os crémants da própria França, os cavas da Espanha, os astis, proseccos e franciacortas da Itália, os sekts da Alemanha, são chamados de espumantes, com essa palavra sofrendo apenas as variações de cada idioma. Terei esquecido de mencionar os frizzantes da Itália, como o tão popular lambrusco? Não, um frizzante não pode ser chamado de espumante. O champanhe e todos os espumantes têm que ser produzidos com duas fermentações subseqüentes, a última delas dentro da própria garrafa. O frizzante é vinho de uma fermentação só. Além disso, para ser champanhe ou espumante o vinho precisa ter pressão de três a sete atmosferas. O frizzante só tem de 0,5 a duas atmosferas. Medida em libras, sabe qual a pressão média numa garrafa de espumante? É de 88 libras. Daria para

NACIONAL É importante dizer que o Brasil produz excelentes vinhos espumantes

DIFERENÇA “O champanhe e os espumantes têm que ser produzidos com duas fermentações ” encher quase três pneus do seu carro. Por falar nisso, deixe-me contar-lhe uma história que parece mentira, mas é verdade. Em 1986 a tradicional casa francesa Möet & Chandon se deu ao luxo de contratar o renomado químico Bruno Dutertre para verificar, cientificamente, quantas borbulhas existem em média numa garrafa de champanhe daquela marca. Para satisfazer esse capricho a pesquisa prolongou-se por quase quatro anos e custou a bagatela de 7 milhões de dólares. Finalmente, em 1989 Monsieur Dutertre pôde provar que existem em média 250 milhões de borbulhas em

cada garrafa de Möet & Chandon. Importante mesmo é eu lhe dizer, e garantir, que o Brasil produz excelentes vinhos espumantes. É o melhor que fazemos aqui em termos de vitivinicultura. Acredite, em provas às cegas, alguns espumantes brasileiros podem até vencer famosos champanhes franceses. Porque o regime pluviométrico da Serra Gaúcha, que é complicado para a produção de vinhos tintos, é ótimo para obter a acidez exigida por um bom espumante. Última dica: como saber, visualmente, se um espumante é de boa qualidade? Antes mesmo de bebê-lo, examine o tamanho, a quantidade e a persistência das borbulhas que você vir na taça. Um bom espumante tem um grande número de borbulhas, elas são minúsculas, do tamanho da ponta de um alfinete, e ficam por bom tempo vindo do fundo para o topo, de forma persistente. •

Roberto Wagner jornalista

robertowagner@valeparaibano.com.br

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Divulgação

FRUTAS A Torre de Frutas Vermelhas elaborada pelo restaurante Safari

GASTRONOMIA

Natal sofisticado São José dos Campos

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té o dia 6 de janeiro, Campos do Jordão continua com sua temporada gastronômica de Natal promovida pelo grupo Cozinha na Montanha. As receitas dos 26 restaurantes envolvidos no evento têm como ingredientes principais as frutas vermelhas e as castanhas portuguesas cultivadas na região. Maior produtor brasileiro de frutas vermelhas, principalmente pelo investimento em tecnologia e clima da região, Campos do Jordão foi o primeiro centro a produzir as frutas no país. Hoje, a cidade conta com mais de 50 hectares de cultivo. Os sabores e aromas exóticos –que misturam toques adocicados e a acidez– fizeram saltar os olhos da alta gastronomia que tradicional-

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mente passou a usar as frutas em receitas doces e salgadas. O tradicional Baden Baden, por exemplo, consegui unir no mesmo prato salgado a tradição de seu cardápio alemão com a proposta do grupo. O Eisbein Recheado com Purê de Castanhas e Vinagrete de Frutas Vermelhas, com certeza, pode ser uma boa pedida de harmonização com as cervejas artesanais da casa. O Safari, optou por fazer uma Torre de Frutas Vermelhas. A receita leva cereja, mirtilo, framboesa e amoras. Como uma prévia dos cardápios e ambientação dos restaurantes, os clientes poderão visitar a 7ª Mostra de Mesas e Cardápios. Lá, as casas participantes da temporada expõem as suas mesas natalinas e os cardápios elaborados especialmente para o Natal e Ano Novo, ajudando os turistas a escolher -com antecedência- onde degustarão as ceias de final de ano. •

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• Volante d

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• Mostrado

Fotos: Flávio Pereira

Hi-Tech

e três raios

res com Blu e Ice • Troca de marchas no Vola l nte

AUTOMÓVEL

Das telas para a sua garagem Poderoso nos cinemas e nas estradas, Chevrolet Camaro reaparece fiel ao conceito original, mas sem deixar de lado d do a modernidade de um superesportivo; novo modelo custa R$ 185 mil no Brasill

Hernane Lélis São Paulo

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epois de brilhar nas telonas como um verdadeiro “Muscle Car” na saga Transformes, uma das maiores lendas automotivas norteamericana já pode ocupar um lugar de destaque na garagem de sua casa. O Chevrolet Camaro finalmente chegou ao Brasil, carregando com ele toda herança de um esportivo arrojado, com um visual agressivo aliado à potência do motor e com ronco inconfundível –tudo isso sem deixar de lado muita tecnologia. O modelo disponível para venda é o 2SS, o mais completo da linha. Ele carrega sob o capô um motor V8 de 6.2 litros com 406 cavalos. Ao contrário do que você deve

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CAMARO AM 2SS OB Bumblebee umbleeebee do o filme m Transforn mers me ers cheg chega ga ao g Brasil a para r reviver v um md dos clássicos lá lá i s doss anos 6 60 R$ $ 185 mil il

estar pensando, o prazer em acelerar essa máquina não causa grande estrago no bolso. O consumo médio na cidade é de 6,8 quilômetros por litro, já na estrada o rendimento é de 10,2 por litro –quase o mesmo que de um Vectra Next Edition, com etanol e câmbio automático. Além da potência, o motor vem equipado com a tecnologia AFM (Active Fuel Management), que controla o consumo cortando a alimentação para quatro cilindros nas situações em que oito não são necessários, tudo monitorado pelo computador de bordo. Tanto vigor age em conjunto com a transmissão sequencial/automática de seis velocidades traseira, garantindo ao Camaro atingir de 0 a 100 km/h em cinco segundos, limitado à máxima de 250 km/h eletronicamente. “Trouxemos ao Brasil o top de linha, que expressa uma tecnologia moderna sem perder o estilo arrojado de um superesportivo. O câmbio sequencial, com opção

de troca no volante é um item fundamental para conseguir aliar a agressividade de condução ao conforto necessário”, disse Alexandre Guimarães, engenheiro executivo da General Motors. Design O desempenho do Camaro é apenas uma parte do show, já que o interior surpreende pelo design harmônico, retratando a herança de sua primeira geração produzida de 1967 a 1969 com um olhar mais futurista. O volante de três aros é revestido em couro e conta com ajuste de altura e profundidade. Até aí, nada de novo. O que chama atenção é que o aro fica levemente levantado em relação ao centro, estampando o nome do carro ao invés do logo do fabricante. No painel, os mostradores contam com iluminação “Ice Blue”, também encontrada no Malibu e no Agile. Entre o velocímetro e o conta-giros está uma tela de cristal lí-

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Ice HEAD-UP DISPLAY HEAD

ante

Reflete no para-brisa informações em proinforma fundidade como velofundida cidade, conta-giros e estação de rádio

CONFORTO

Bancos revestido em couro com oito regulagens elétricas para o motorista e quatro para o passageiro

• Mootor V8 de 406 cv • 0//1100 em 5 seg • Bloco e cabbeçottes de alumínio

F FICHA TÉCNICA Camaro C

quido com as informações do computacomputtador de bordo. No console central, outros quatro marcadores em formato retangular medem a pressão e temperatura do óleo, a voltagem da bateria e a temperatura do fluido da transmissão de marchas. No entanto, uma das maiores novidades do Camaro é o HUD (Head-Up Display), um sistema desenvolvido pela GM para as Forças Armadas Norte-americanas, que reflete no para-brisa do veículo algumas informações em profundidade, como por exemplo, velocidade, rotação do motor e até mesmo estação de rádio, evitando assim que o motorista desvie os olhos da estrada. O condutor ainda pode personalizar a altura e a intensidade das imagens. Para completar, os painéis de portas são confeccionados em uma resina especial, rígida, que tem uma fileira de LEDs que percorre quase toda a sua extensão, aumentando o ar futurista do interior do modelo. •

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M MOTOR: 8 cilindros em “V”, 6 6.2 litros, 16V (duas por litr tro), aspirado TRANSMISSÃO: AutomátiT c ca/sequencial, seis marc chas, tração traseira P POTÊNCIA: 406 cv a 5.900 rp rpm DIMENSÕES (M): 4,84 de D co comprimento, 1,92 de larg gura e 1,38 de altura PORTA-MALAS: 320 litros P PESO: 1.770 Kg P VEL. MÁXIMA: 250 km/h, V limitada eletronicamente li

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Moda&estilo SOFISTICAÇÃO

Para brilhar! Pedras, paetês e tecidos metalizados iluminam os looks de verão, tanto para o dia como para a noite, e são ótimas opções para as festas de fim de ano

Cristina Bedendo São José dos Campos

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eja com um maxicolar ou um mini vestido bordado com paetês, a palavra de ordem é brilhar. E, com as festas de fim de ano à vista, brilhar em grande estilo é quase unanimidade entre os desejos das mulheres. O fato é que há algumas temporadas o paetê vem se tornando item indispensável em diversas coleções, tanto para o dia como para a noite. E o mais interessante das peças com brilho é justamente o modo de coordenação delas: podem segurar um look noturno poderoso ou apenas serem coadjuvantes numa composição mais simples para um almoço especial. Além dos vestidos, que ganham versões inteiras de paetês, os shorts foram as apostas de diversas marcas no quesito brilho, por conta da versatilidade e do toque mais despojado da peça. Para equilibrar o look, a dica é combinar o short de paetês com uma camiseta mais básica ou até mesmo com uma estampa mais rock. O blazer boyfriend ou um colete em alfaiataria também são ótimas opções para minimizar o efeito do brilho. Nos pés, uma open boot mais pesada ou um sapato no estilo oxford harmonizam os looks com a peça. E um detalhe importante: como o short de paetês já chama atenção, o ideal é escolher um modelo mais larguinho. Como a peça vale tanto para o dia como para a noite, outra dica é usá-la em eventos mais informais, como confraternizações com a família ou amigos. Para quem adora camisetas, elas deixaram a fama de básicas há algum tempo e também ganham versões com brilho que seguram um look inteiro. É o caso das peças da Joulik, bordadas artesanalmente com paetês. “Os bordados são a cara da Joulik. Para o verão, pensamos em bordar paetês formando listras navy e ficou tão legal que resolvemos fazer

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listras prateadas também, pensando num evento mais chique”, conta Karen Moraes, uma das estilistas e proprietária da marca. As referências para criar as peças em paetês vêm dos blogs de streetstyle internacionais, que adiantam as tendências. “Lá fora muita gente usa paetês durante o dia. Nossa t-shirt de paetês navy, por exemplo, tem um brilho mais discreto e dá para usar durante o dia, com um short jeans”, sugere Karen, adiantando que a marca vai continuar investindo no paetê para o inverno 2011. As peças com brilho chegam também às araras das lojas de fast fashion, em versões com preços mais acessíveis. Basta dar uma olhada por lojas como Renner, Riachuelo e C&A para perceber a influência. É o caso da coleção “Rio de Janeiro”, assinada pelo estilista Oscar Metsavaht, da Osklen, que conta com peças despojadas, mas com um toque de sofisticação, como no vestido com brilho dourado em modelagem bem simples. Mas se você tem algum receio de usar roupas com brilho, a dica é aproveitar os acessórios, que também ganham aplicações de pedrarias, paetês ou até mesmo tecidos metalizados. Maxicarteiras de festa ganham versões em cetim, entre outros materiais que garantem o efeito. Sandálias também são incrementadas com pedrarias, além de peças trançadas, como pulseiras, colares e cintos em materiais metalizados. Praia chique Detalhes em corrente, pedrarias e até mesmo o lamê –tecido que fez sucesso no fim dos anos 70 e início da década de 80, na chamada era disco– aparecem juntos aos paetês, inclusive nas grifes de moda praia mais sofisticadas. A grife SkinBiquini investiu em aplicações de cristais nas peças de beachwear, além de tecidos brilhantes com estampa de onça furta cor. Já a estilista Adriana Degreas apostou em tops e saias de paetês para um visual que vai além das areias: peças com brilho se unem a outras mais leves, em tecidos fluidos e sofisticados. Tudo para um Reveillon à beira-mar inesquecível! •

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Moda

BELEZA

Make de verão Cristina Bedendo São José dos Campos

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om a chegada da nova temporada, é hora de renovar a paleta de cores de sombras, batons e blushes e aproveitar as novas tecnologias das principais marcas de cosméticos contra os efeitos do calor, como brilho excessivo e pele oleosa. Entre as tendências para a estação quente, estão os batons coloridos, as sombras iluminadoras e os blushes que garantem um efeito bronzeado para quem prefere não se expor ao sol. Mas apesar das tendências a cada temporada, o maquiador da Natura, Marcos Costa, dá a dica: “maquiagem é personalidade, estado de espírito. Depende de traços fisionômicos e bom senso. E tem a teoria do espelho: se você gostou, vá à luta!”

AREZZO BEAUTY A Arezzo foi além dos esmaltes e gloss e, nesta temporada, incrementou a linha de beleza com batons, sombras e delineador. As cores e embalagens são super modernas –os batons, por exemplo, têm espelho na tampa. DE R$ 19,90 A R$ 59,90

AVON SUMMER BRONZE Em edição limitada para a temporada Primavera/Verão, a nova linha Summer Bronze, da Avon, garante um efeito bronzeado natural em três produtos: gloss labial extra luminoso, quarteto de sombras cintilantes e aveludadas e pó bronzeador para o rosto. DE R$ 14 A R$ 35

NYX Para o verão, a NYX Cosméticos traz a coleção Extravaganza, com cores vibrantes para blushes, sombras e batons. Um dos destaques é o blush mosaico com cinco cores em cada unidade, que criam um efeito tridimensional e iluminado ao mesmo tempo. DE R$ 29 A R$ 75

NATURA UNA A nova linha propõe texturas inovadoras, prevenção de sinais e ativos vegetais. Entre os ingredientes responsáveis pela qualidade da textura estão o fino talco de babaçu, a manteiga de oculta e os ésteres de jojoba e sapucainha, que deixam a pele mais homogênea. As novidades são batom e gloss com FPS 15, hidratante labial, lápis retrátil para lábios, fluído prémaquiagem, bases líquida e em pó FPS 15, corretivo iluminador, pó compacto, blushes, sombras, máscaras para cílios e pincéis. De R$ 29 a R$ 72

MAKE B B, O BOTICÁ BOTICÁRIO O Boticário acaba de lançar a nova linha Make B., desenvolvida sob a consultoria do maquiador Fernando Torquatto. Os produtos contam com tecnologia HD e embalagens com um detalhe em cristal Swarowski. A linha inclui base líquida, duo base, base stick, pó compacto, blush, primer facial, delineador líquido, sombras, batons e brilhos labiais, iluminador, entre outros produtos. DE R$ 24,90 A R$ 69,90

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Tempos ModernosArtigo

Alice Lobo

Ao contrário do que a maioria pensa comércio justo não é assistencialismo

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ocê sabe o que é comércio justo? E comércio solidário? Com a chegada do fim do ano, bazares beneficentes acontecem por toda a parte e os consumidores acabam achando que comprar produtos que têm como objetivo fazer caridade é sinônimo de comércio solidário, a “versão brasileira” do conceito em inglês chamado de Fair Trade. Como essa confusão é frequente, dedico esta coluna à explicação de ambos, suas semelhanças e diferenças. Comércio Justo ou Fair Trade é uma forma comercial em que todos ganham. Ela é baseada em 10 princípios: gerar oportunidade para quem precisa; transparência na relação comercial; investir em capacitação; preço justo e desintermediação; dizer não ao trabalho infantil; exigir boas condições de trabalho; garantir igualdade de gênero para mulheres e homens; respeitar o meio ambiente; promover o comércio justo; e estabelecer relações duradouras e estáveis entre produtor e comprador. “Ao contrário do que muita gente pensa, comércio justo não é assistencialismo”, diz Ana Asti, representante de todos os países da América Latina na Organização Mundial de Comércio Justo (World Fair Trade Organization). Originalmente a relação do Comércio Justo se faz no eixo norte-sul, o que quer dizer que os países ricos compram produtos dos que estão em

ECONOMIA SOLIDÁRIA “ É a tentativa de fazer com que todas as organizações de pequenos produtores e cooperativas consigam se desenvolver” desenvolvimento, como da África, do Sul da Ásia e da América Latina. Agora, quando se traz esta lógica para dentro de um país que produz e consome, como o Brasil, se cria uma nova situação. Na América Latina a economia solidária é um movimento forte porque é a tentativa de fazer com que todas as organizações de pequenos produtores e cooperativas consigam se desenvolver. Ele busca seguir os princípios do Fair Trade, mas adapta este conceito à realidade local. Ambos são movimentos muito próximos e que acabam se interligando quando se está num país originalmente de produção. Mas vamos à parte prática. “No comércio justo existe uma exigência muito grande com o design e a qualidade do produto. É um mercado internacional

e tem um volume de produção muito maior, para vender em atacado para uma grande rede, por exemplo” explica Ana. Já o comércio solidário tem um trabalho forte de capacitação de mão-de-obra e desenvolvimento da economia local. São artesanatos que podem ser encontrados muitas vezes em feiras de rua. A economia solidária levanta um debate com os governos para criar ferramentas para dar oportunidades aos desfavorecidos. Hoje já são mais de um milhão de famílias de agricultores e artesãos no mundo que participam deste movimento de comércio justo e fazem parte de redes especiais que exigem design e qualidade nos produtos. Que tal abraçar esta ideia e divulgar esta causa? •

Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br

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A cantora Pink está grávida do motociclista Carey Hart

Notas & fatos

A cantora Pink, 31 anos, está grávida. Uma fonte próxima à cantora contou na revista “US Weekly” que Pink estaria esperando o primeiro filho do motociclista Carey Hart e a gravidez já estaria bem avançada. “Ela já está com 12 semanas. Ela queria engravidar entre as turnês, quando tem algum tempo livre”. Ainda não é possível saber o sexo da criança. A fonte conta que, depois do término do relacionamento do casal em 2008, “Pink estava determinada a tornar o relacionamento sólido. Agora ela está realmente feliz, e animada por ter ficado grávida tão rápido. Ela será uma mãe brilhante.” Pink e Hart estão casados desde 2008. De acordo com a revista “People”, os dois se conheceram durante o X Games de 2001.

Fergie é eleita a mulher do ano pela Billboard Fergie, que já tem em sua estante seis Grammy, recebeu o Prêmio Mulher do Ano de 2010 no Billboard Woman of the Year, em Nova York. “Ser homenageada pela Billboard é uma grande conquista na minha carreira.” Além de sua carreira e seu extenso trabalho de conscientização contra o câncer de mama, Fergie é uma referência feminina no mundo da música: “Fergie causou uma tempestade na

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indústria da música desde o momento em que entrou em cena, e estamos entusiasmados para celebrar as realizações de sua carreira e sucessos incríveis no ano passado, honrando-a com a Billboard Mulher do Ano”, disse Bill Werde, diretor editorial da revista. Ele ainda completou: “Fergie é uma artista única, com grande tino comercial, estilo e uma dedicação incrível aos esforços filantrópicos.”

CINEMA E FUTEBOL

Ronaldo vira bandido O jogador do Corinthians Ronaldo Nazário deve fazer uma participação em “The Brazilian”, próximo filme do produtor americano Uri Singer, interpretando o papel de um assaltante. A informação foi divulgada pelo próprio Singer, que esteve no Brasil para promover o filme “Amor Por Acaso”, primeira incursão no cinema do ator Márcio Garcia. Segundo o produtor, o ator Morgan Freeman está estudando o roteiro para entrar no longa. O filme é uma colaboração entre Brasil e Estados Unidos, e as fimagens são programadas para 2011.

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QUEM DÁ MAIS?

Playboy vai leiloar obras

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Daniel Radcliffe não teme rótulo de Harry Potter Mesmo tendo passado quase metade da vida interpretando o bruxo Harry Potter no cinema, o ator Daniel Radcliffe não teme ser rotulado pelo papel e fala com otimismo sobre o fim da saga. “Agora terei mais tempo para assumir novos projetos”, destaca o protagonista de “Harry Potter”. O papel de jovem atormentado na peça “Equus” já provou à cena teatral de Londres que Radcliffe não pretende ser lembrado somente pelos filmes que levaram ao cinema as histórias best-sellers da escritora britânica J.K.Rowling.

Quem falou o quê? ”Não entendemos porque essa nota maldosa foi divulgada” Cleo Pires, a Estela de “Araguaia”, em comunicado enviado à imprensa, negando suposto clima ruim com Eva Wilma nas gravações da novela

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Rachel Weisz e Darren Aronofsky se separam A atriz Rachel Weisz (“A Múmia”, 1999) e o diretor Darren Aronofsky (“O Lutador”, 2008) anunciaram sua separação após nove anos juntos. O ex-casal, que nunca subiu ao altar, compartilhará a custódia de seu filho Henry Chance, de 4 anos.“Rachel Weisz e Darren Aronofsky estão separados há vários meses. Seguem sendo bons amigos e têm o compromisso de criar seu filho juntos em Nova York”, informou um representante dos artistas.Segundo alguns sites especializados na vida de famosos, Rachel teria estabelecido uma relação próxima com seu companheiro de filmagem em “Dream House” (ainda sem título em português), Daniel Craig, o último ator a interpretar James Bond.

A Christie’s vai leiloar 125 obras da coleção de arte da revista “Playboy” neste mês, em Nova York. Entre os itens que estarão à venda estão obras contemporâneas de pintores e fotógrafos, como fotos da atriz Brigitte Bardot, feita em 1958, e da atriz Marilyn Monroe, tirada em 1949. MODA

Victoria Beckham ataca Lady Gaga

”Quanto mais filho a mulher fizer, mais Bolsa Família r” ela vai ganhar” Letícia Spiller, atriz, durante t a coletiva l ti d de imprensa de “Afinal, o Que Querem as Mulheres?”

”Sou uma dama na rua e uma louca na cama” A cantora Katy Perry em entrevista à revista “Now Magazine”

A ex-Spice Girl Victoria Beckham acha que Lady Gaga pode ter se tornado uma “paródia” de si mesma. Em entrevista ao site de moda WWD, a mulher do jogador David Beckham questiona celebridades como Lady Gaga que optam por roupas excêntricas. Victoria que virou estilista é frequentemente citada como uma das mulheres mais elegantes do mundo. O sucesso de sua grife homônima comprova.

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ValeViver LITERATURA

Caçador do livro perdido A história por trás da descoberta de ‘Dexistência’, o livro inédito do poeta joseense Cassiano Ricardo que estava desaparecido desde a morte do autor Adriano Pereira São José dos Campos

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em todo explorador aventureiro usa chapéu na cabeça e chicote na cintura, é obrigado a comer cérebro de macacos para agradar um rei de um país desconhecido ou enfrentar milhares de cobras numa tumba. Pelo menos não foi assim, com os exageros de Hollywood, mas com uma importância histórica e cultural muito maior do que qualquer caveira de cristal, que o estudante de jornalismo, Douglas Yoshida, 22 anos, estagiário da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, encontrou um dos maiores tesouros perdidos de São José dos Campos. Foi por meio de uma pesquisa sobre a morte do poeta joseense Cassiano Ricardo que Yoshida tomou conhecimento sobre a existência de um livro inédito do autor. Numa

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reportagem do Jornal do Brasil, o escritor Homero Homem narrou o que viu nos últimos três dias de vida do poeta em seu leito de morte. “Num momento do texto, Cassiano falava sobre o ‘Dexistência’, dizendo que era seu livro inacabado. Ele inclusive mostrou a obra ao escritor”, conta Yoshida. A pesquisa do estudante serviria de base para o jornalista e escritor Julio Ottoboni, um estudioso da vida e da obra do autor e curador da 44ª Semana Cassiano Ricardo, escrever seu próximo trabalho: “O Homem Plural”. Ottoboni soube do livro, produzido entre os anos de 1972 e 1973, no final dos anos 80 pela filha de Cassiano Ricardo, Célia Cecília Ricardo Gianesella. “Soube que existia, mas nem ela, nem ninguém sabia onde estava”, diz Ottoboni. “Mais tarde, fiquei sabendo que sua última esposa [Lourdes Fonseca Ricardo] andava com uma pasta preta o tempo todo na qual Cassiano escrevia seus textos e ela guardava. Ela, às vezes, forçava Cassiano a escrever. Essa pasta sumiu”.

DESCOBRIDOR Douglas Yoshida, 22 anos, o estagiário da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, que encontrou o livro “Dexistência”

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“Dexistência” sumiu junto. A própria família do poeta considerava a obra como “O Livro Perdido” e ninguém tinha a menor ideia sobre o paradeiro do livro e menos ainda sobre como o manuscrito havia sumido da família. Uma das razões desta falta de informação se dá por uma notória relação familiar conturbada entre Lourdes e os descendentes do poeta. Em 1998, o casal Heitor e Silvia Reali, de Atibaia, entrou em contato com a Fundação Cultural Cassiano Ricardo e entregou sacos de lixo lotados de documentos, um acervo sobre o poeta. “Lourdes conheceu esse casal numa consulta médica, ficou amiga deles e acabou entregando parte do acervo dela para os dois”, explica Ottoboni. “Tentei achar esse material na época, mas o Arquivo Público ainda era muito desorganizado e não tinha como encontrar nada”. Em agosto deste ano, o estagiário Yoshida resolveu procurar este material no local mais óbvio: o Arquivo Público Municipal da FCCR. Numa das centenas de caixas, uma etiqueta com a palavra “Dexistência”, escrita assim mesmo, com a letra “x”, chamou a atenção do estudante. Ao abri-la, um saco plástico guardava o livro perdido de Cassiano Ricardo. “Eram caixas que estavam em fase de limpeza. Mandei uma mensagem para o Júlio [Ottoboni] e falei que tinha encontrado algo que poderia ser importante. Ele me disse: ‘Você não sabe o que encontrou! ’. Eu não tinha ideia mesmo”. “Passei mal”, lembra Ottoboni. Depois de 30 anos de procura, o jornalista finalmente estava frente ao “livro perdido”. “Identifiquei o livro e logo comecei a ler trechos e tentar analisar o que Cassiano havia escrito em sua última obra. Um livro que ficou 12 anos escondido no Arquivo e que ficaria por mais tempo se não houvesse a iniciativa de procurá-lo”. Segundo o historiador Donato Ribeiro, chefe do Arquivo Público, a figura do pesquisador é indispensável em situações como esta. “O livro aparece catalogado desde 1998, mas ninguém havia identificado a obra”. Importância “Dexistência” está inacabado, com apenas quatro dos seis capítulos previstos pelo poeta. Na avaliação de Ottoboni, a obra representa uma linguagem diferente dos trabalhos anteriores de Casssiano, mais pessimista como indica o título. “É um livro mórbido. ‘Dexistência’ é escrita com ‘x’ justamente para dar esse sentido de deixar de existir. É alguém se despedindo da existência”, diz.

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MANUSCRITO O prefácio original de ‘Dexistência’

A própria família do poeta considerava a obra como “O Livro Perdido” e ninguém tinha ideia do paradeiro do livro e nem sobre como havia sumido da família

Apesar de não ter participado da Semana de Arte Moderna de 1922, Cassiano Ricardo, que nasceu em 26 de julho de 1895, foi um dos líderes do movimento ao lado de figuras como Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral, participando ativamente dos grupos “Verde e Amarelo” e “Anta” –fase nacionalista do poeta. Já em 1937, junto com Menotti del Picchia e Mota Filho, fundou o movimento político “Bandeira”, em contraponto ao Integralismo de Plínio Salgado. Nos anos de 1950

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e 1960, aproximou-se da Poesia Concreta. “Ele tem um namoro bem intenso com os concretistas, mas depois rompe com o Décio [Pignatari] e o Haroldo [de Campos] e passa a falar que não faz parte do movimento, mas faz sim”, lembra Ottoboni. Neste sentido, “Dexistência” se configura como a última grande obra da primeira geração de modernistas no país. “É como se alguém na Escola Bauhaus, na Alemanha, encontrasse algo inédito”, compara o jornalista. Quinto capítulo Nos dois capítulos que ficaram inacabados em “Dexistência”, o quinto tem pelo menos um provável início, segundo pesquisas de Ottoboni. No poema, Cassiano Ricardo versa como uma pessoa moribunda que quer voltar para a própria terra. Com o título de “Minha paisagem de hoje”, a peça seria uma forma do poeta revelar novamente o desejo de ser enterrado em São José dos Campos. Logo no primeiro parágrafo ele diz: “Nunca ninguém amou tanto a paisagem/ do sítio onde nasceu em Vargem-Grande,/ como eu, até perdê-lo na distância/ que vai da infância para a despedida”. Mais adiante no texto: “Aí saudade enquadra no meu peito/ até chegar o fim da caminhada”. Na época da morte de Cassiano Ricardo, o enterro deixou de ser feito em São José dos Campos por interferência de Lourdes Fonseca, que decidiu deixá-lo no mausoléu da ABL contrariando a vontade de Cassiano. O poeta sempre expressou seu desejo de ser enterrado na terra natal. Além de cartas, comunicados aos familiares, o literato deixou dois poemas claros falando sobre isso –“Queixa Antiga” e o “Última Vontade”. Cassiano chegou a comprar, em meados da década de 60, um terreno no cemitério público de São José dos Campos. Em 2004, houve um movimento para que as cinzas do poeta viessem para São José dos Campos. Vergonhosamente, a cidade não teve um local apropriado para receber os restos de Cassiano Ricardo, a questão ficou sem conclusão e com uma série de acusações entre as partes envolvidas. No local do Memorial prometido ficou um tótem em homenagem a comunidade japonesa em São José. Na época em que as cinzas foram disponiblizadas, o presidente da ABL (Academia Brasileira de Letras) Ivan Junqueira disse: “Enquanto as cinzas não têm destino apropriado, que fiquem no Mausoléu da Academia, construído justamente para ser o local de descanso eterno dos imortais. As cinzas

CASAMENTO O poeta e sua terceira esposa, a jornalista Lourdes Fonseca

de Cassiano Ricardo são muito importantes e não podem ficar viajando por aí. Daqui elas só sairão com destino certo”. Talvez agora o destino se mostre. “Estamos com uma obra ao lado da FCCR onde teremos um memorial do Cassiano. Um espaço fixo que poderá abrigar, além das cinzas, esse acervo enorme que temos aqui”, diz o presidente da Fundação Cultural, Mario Domingos de Moraes. Mais material “Dexistência” pode não ser a única grande descoberta deste “baú” que agora passa a ver a luz do dia. Pelo menos duas cartas encontradas já mudam uma história de injustiça contra Cassiano Ricardo. Muitos chegaram a dizer que o poeta foi a favor da extinção do Conselho Municipal de Cultura na administração do prefeito Sérgio Sobral de Oliveira.

Nas duas cartas, uma endereçada ao prefeito, outra ao governador, Cassiano pede que a decisão seja revista, inclusive sugerindo que a Semana Cassiano Ricardo fosse cancelada para economizar verba e manter o conselho. Na época, o poeta foi acusado de apenas desejar manter a Semana Cassiano Ricardo e não se importar com a desativação do conselho. “Ainda existem diversos documentos, fotos e cartas que podem revelar novidades, mas para isso precisa da figura de um pesquisador”, afirma Donato Ribeiro. Quanto ao “Dexistência”, a intenção da FCCR é publicar o livro. “Já entramos em contato com a família do Cassiano e estamos negociando essa publicação. Se tudo correr bem, esperamos ter a edição no começo de 2011”, afirma Moraes. Que não seja uma espera de mais 12 anos. •

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CULTURA

140 anos de magia 096-099_CULTURA_MonteiroLobato_.indd 96

Casarão que serviu de inspiração para Monteiro Lobato criar os famosos personagens do Sítio do Picapau Amarelo continua tão majestoso e imponente quanto em 1870, quando foi construído pelo avô do escritor nascido no Vale

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Fotos: Flávio Pereira

Yann Walter Monteiro Lobato

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Sítio do Picapau Amarelo, patrimônio histórico e cultural do Vale do Paraíba, completou 140 anos. O famoso casarão branco que serviu de inspiração para José Bento Monteiro Lobato, um dos maiores nomes da literatura infantil nacional, responsável pela criação de personagens encantadores como Emília, o Visconde de Sabugosa, Narizinho e Pedrinho, Dona Benta e Tia Nastácia, continua tão majestoso e imponente quanto em 1870, ano em que foi construído no pequeno povoado de Buquira (atual Monteiro Lobato) pelo Visconde de Tremembé, avô do escritor. ta é uma casa “O sítio de Dona Benta m grotão, branca no fundo de um s, com cercado de montanhas, abeium quintal de jabuticabeiiras ras, jaqueiras e mangueiras centenárias. No fundo do ra sítio de Dona Benta para um riacho de águas lim-pas e transparentes, onde nadam peixes de olhos arregalados”. Para Maria Lúcia Xavier, a administradoraa do sítio, a descrição ti-na rada do livro “A menina o”, do narizinho arrebitado”, o primeiro da saga de Narizinho, publicado em 1920, úvidas: não dá margem para dúvidas: rão de 80 foi ali mesmo, no casarão do em um ceportas e janelas erguido nário natural idílico de árvores, montanhas e até uma cachoeira, com a cabeça cheia do sibilar dos pássaros pardos que inspiraram o nome do sítio, que Monteiro Lobato imaginou seu mundo mágico. Mais de 140 anos depois, a casa, o quintal, a cachoeira e os pássaros continuam ali, como se não sentissem o passar do tempo. Eternos, como o legado do escritor, que deu seu nome à cidade de Buquira no ano de sua morte, em 1948. “Monteiro Lobato soube captar a essência do pensamento das crianças. Elas se identificam com os personagens do Sítio. Narizinho e Pedrinho representam todos nós aos oito anos. Uma idade maravilhosa, de liberdade: somos autônomos,

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e podemos criar nosso próprio mundo de fantasia. Dona Denta e Tia Nastácia são as avós. Pessoas doces, amorosas, generosas e permissivas, que tornam a vida das crianças mais gostosa. O Visconde de Sabugosa representa o avô. Velho, pode morrer a qualquer momento. Morre, inclusive, em várias histórias, mas sempre volta. É o símbolo da reencarnação, na qual o escritor acreditava. Já Emília tem um poder absoluto. É a dona da verdade. Ela é o próprio Monteiro Lobato”, contou Maria Lúcia, que vive no sítio há 18 anos, todos eles dedicados à preservação da memória do autor. “Monteiro Lobato, único neto homem do Visconde de Tremembé, recebeu a fazenda de herança em 1911. Mudou-se com a mulher e os filhos e ficou aqui mais de seis anos. Porém, não se adaptou à vida na roça e voltou para São Paulo. A propriedade foi cedida a negociantes, que a revenderam para o meu avô em 1930. Meu pai herdou o sí sítio e fez a primeira reforma da casa em 1945. Cinco anos depois, o local ffoi aberto para visita sitação. Quando meu pa pai morreu, assumi a fazenda e todo o le legado cultural que ggira em torno dela”, ex explicou a administr tradora do sítio. Pa Patrimônio O Sítio do Picapau Am Amarelo é o maior patri patrimônio cultural e turísti turístico da pacata Monteiro L Lobato, que deve receber em breve o título de capital estadua estadual da literatura infantil, segundo revelou Eduardo Rocha Dellú, secretário municipal da Cultura e do Turismo. “O projeto já está nas mãos da Assembleia Legislativa”, afirmou. “As obras de Monteiro Lobato contribuem para a definição da identidade da cidade. Vários comércios têm nomes de personagens. Os bonecos de Emília e do Visconde de Sabugosa são os produtos mais vendidos do artesanato local. E tem ainda o Carnaval, com blocos de rua, marchinhas e os famosos pereirões (bonecos gigantes). Monteiro Lobato tem o dele, assim como o Saci e o Visconde. Em 2011 será a vez de Emília. A criançada adora”, afirmou o secretário que, assim como Maria Lúcia Xavier, é visivel-

Detalhes da mobília da casa do Sítio do Picapau Amarelo, em Monteiro Lobato

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mente apaixonado pelo que faz. “Criamos o Festival de Literatura Infantil, que aconteceu pela primeira vez em setembro deste ano. Foi um grande sucesso. Em abril, colocamos um busto de Monteiro Lobato na pracinha do centro”, destacou. Segundo ele, o trabalho não foi em vão. “Hoje, recebemos 50 mil pessoas por ano. São pessoas da região, que visitam o sítio, almoçam, passeiam um pouco no centrinho e voltam no mesmo dia. Somente 5.000 pernoitam, mas de qualquer forma não temos estrutura para receber muitas mais. Há poucas pousadas”, frisou Dellú, preocupado em preservar a tranquilidade do lugar. “Vem muita gente aqui no sítio, principalmente nos dias de sol. Mais ou menos 90% dos visitantes são paulistas”, confirmou Maria Lúcia, lamentando, porém, que “apenas 10%” de todas estas pessoas conheçam realmente a obra de Monteiro Lobato. “Os demais vêm por curiosidade, para conhecer o lugar onde ele morou ou apenas para passear”, comentou. Polêmica Monteiro Lobato pode ser censurado por racismo. O CNE (Conselho Nacional de Educação) emitiu recentemente um parecer recomendando que o livro “Caçadas de Pedrinho”, publicado em 1933, não seja distribuído às escolas. O colegiado alega que a obra se refere à Tia Nastácia, a empregada negra do Sítio do Picapau Amarelo, com expressões depreciativas e discriminatórias. A acusação provocou a ira de Maria Lúcia Xavier. “Monteiro Lobato não era racista. Neste livro, ele descreve o sonho de um menino de caçar uma onça. É uma história linda. Tia Nastácia é retratada como uma negra sábia, apesar de analfabeta. O racismo está na cabeça destas pessoas”, indignou-se. “Não existe racismo na obra de Monteiro Lobato. Tia Nastácia é a única personagem do sítio que realmente existiu. Ela morava na fazenda, era a empregada da família”, defendeu Dellú, admitindo, porém, que “o contexto sociocultural mudou”. “Ao longo dos anos, a leitura e a escrita vão se adaptando às novas realidades. O que era aceitável naquela época já não é mais considerado politicamente correto”, explicou. VIDA O casarão branco onde Monteiro Lobato viveu por seis anos, após recebê-lo de herança do avô, o Visconde de Tremembé

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TEATRO

Colcha de retalhos “As Folhas do Cedro”, de Samir Yazbek, está no palco do Sesc este mês Adriano Pereira São José dos Campos

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ma colcha de retalhos é aberta no palco em “As Folhas do Cedro”, peça de Samir Yazbek, em cartaz no dia 10, no Sesc São José. A história é narrada pela filha de um casal de imigrantes libaneses. Na meia-idade, ela parte mentalmente em busca de suas origens e se transporta para tudo o que viveu. Das influências do Líbano, representadas pela figura materna, ela passa para a Transamazônica no período em que seu pai –menos conservador de suas raízes– estava lá a trabalho. Descendente de libaneses, Yazbek conta que o espetáculo surgiu de sua própria vida. “Aquilo que inicialmente tinha a ver com a minha história era passível de ser universal. Esse tema de raízes é muito presente no cotidiano brasileiro com essa grande influência de cultura de imigração”, disse. •

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CEDRO No palco do Sesc, a história das raízes culturais e étnicas de uma família

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CINEMA

Milagre na telona Para fechar o ano religioso nos cinemas, estreia dia 17 “Aparecida – O Milagre”, que aborda o surgimento e a força religiosa de Nossa Senhora Aparecida Franthiesco Ballerini São Paulo

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mbora “Tropa de Elite 2” tenha sido a maior bilheteria das últimas duas décadas, 2010 será marcado por outro fenômeno até então nunca visto no cinema nacional. Trata-se dos filmes de cunho religioso, que amealharam uma quantidade enorme de público, nunca antes registrado. Tudo começou com “Bezerra de Menezes”, que fez mais de 440 mil espectadores em 2008, surpreendendo o mercado exibidor nacional. Vendo a receptividade do público a esse nicho, os produtores aceleraram suas obras e incrementaram o orçamento, resultando em dois grandes sucessos de bilheteria em 2010. “Chico Xavier – O Filme” e “Nosso Lar” foram vistos por mais de 3,4 milhões de espectadores cada um. Para fechar o ano religioso nos cinemas, estreia em circuito nacional, dia 17, “Aparecida – O Milagre”, que aborda o surgimento e a força religiosa de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. O primeiro grande desafio dos produtores Gláucia Camargo e Paulo Thiago era como transpor para as telas a história de uma santa descoberta no rio Paraíba do Sul em 1717, evitando fazer um filme histórico, que tradicionalmente não tem feito grande sucesso de bilheteria. Vale lembrar que “Chico Xavier” se passa no século 20 e “Nosso Lar” atraiu grande público graças ao visual moderno e digital dos planos espirituais. Para Aparecida não perder este embalo, a solução

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foi dividir a história em três épocas. Dirigido por Tizuka Yamasaki (“Gaijin”, “Lua de Cristal”, “Xuxa Popstar”), o longa começa com um terrível acidente na rodovia Presidente Dutra, que corta o Vale do Paraíba. E logo o público é jogado para 1967, quando o protagonista Marcos (Murilo Rosa) ainda é garoto e vive em Aparecida com os pais. Muito humilde, seu pai (Rodrigo Veronese) morre num acidente e o garoto cresce com raiva da santa, para quem rezou algumas vezes. É quando o filme dá outro salto, para 2010, onde fica a maior parte do tempo. Nesta fase, Marcos é um ambicioso e incrédulo homem de negócios, separado de sua mulher (Leona Cavalli), com quem teve um filho (Jonatas Faro). É o tal garoto que sofre um acidente na Dutra. Visto que a medicina nada poderia fazer por ele, Marcos reencontra sua fé por Aparecida. A grande estrela do filme é Murilo Rosa. À revista valeparaibano, ele conta que tem uma ligação especial com Nossa Senhora Aparecida, razão pela qual topou protagonizar o filme. Ele já havia feito outros personagens ligados à fé, como na novela “A Padroeira” e também na atual novela, “Araguaia”, na qual ele vive Solano, um domador de cavalos devoto ao catolicismo. “Minha família é devota de Aparecida e quando meu pai fez uma cirurgia no coração, fomos à Basílica rezar por ele. Eu tenho muita fé nela”, diz ele, que encarou o desafio de fazer um personagem bem mais velho, pai de um adolescente. A história da imagem hoje cultuada por milhões de brasileiros só aparece nos trechos finais da trama. Tizuka reconstitui o ano de 1717, quando a população local estava passando fome porque não havia peixes no rio. Certo dia, porém, dois pescadores levantaram

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SANTA

Cena em que os pescadores encontram a imagem de Nossa Senhora no Rio ParaĂ­ba

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ValeViver Fotos: Divulgação

INCRÉDULO

Murilo Rosa vive Marcos, um homem que perde sua fé

a rede e encontraram uma imagem, com a cabeça separada. Assim que notaram que era a imagem de uma mulher negra, ficaram espantados e contaram para os outros presentes na margem do rio. Em seguida, centenas de peixes começaram a aparecer no rio, registrando o primeiro milagre daquela que se tornaria, no século 20, a Padroeira do Brasil. O filme ainda tem no elenco Maria Fernanda Cândido, Bete Mendes e Leopoldo Pacheco. É o primeiro filme brasileiro que teve amplo acesso para filmar dentro do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, a segunda maior basílica do mundo, menor apenas que a Basílica de São Pedro, no Vaticano (Roma). Em entrevista exclusiva à revista valeparaibano, a diretora Tizuka Yamazaki diz que foi um grande desafio fazer, pela primeira vez, um filme religioso. “Não poderíamos deixar a história cair no ridículo. Tivemos que tomar muito cuidado com os diálogos, especialmente porque o pessoal de cinema não é lá muito religioso e poderia falar besteiras que desagradariam os devotos”, diz ela, que filmou a cena histórica à beira do rio, quando subitamente caiu uma chuva torrencial que contribuiu para belas imagens finais. “Gostei muito

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de filmar no Vale do Paraíba, é uma região linda e pouco explorada pelo cinema. Como sou de Atibaia, não é uma paisagem estranha para mim, mas acabei descobrindo vários objetos de procissão e o teatro local, traços culturais que busquei explorar no filme.” Este não é um projeto original de Tizuka, ou seja, não é um filme autoral, como “Gaijin”. Por ter feito diversos filmes bem-sucedidos como diretora contratada, ela foi chamada para a missão de transpor a história da santa nos cinemas. Tizuka vê vantagens e desvantagens neste perfil de trabalho. “Ser contratado é bom porque eu não preciso correr atrás de dinheiro, como têm que fazer todos os diretores com seus projetos pessoais. Eu só preciso entender o que os produtores querem. Felizmente, em ‘Aparecida’, eu pude dar minhas opiniões e meu toque pessoal, mas nem sempre um diretor contratado é capaz de fazer isso. É muito ruim quando você é chamado para um filme que não te toca, você não consegue dar tudo de si. Eu me candidatei a fazer ‘Aparecida’ porque o filme me toca pessoalmente. É o que eu fazia também com os filmes da Xuxa e do Didi, eu achava algum ponto que me estimulava para dar tudo de mim na produção.”

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Sobre a onda de filmes religiosos no cinema, Tizuka acredita que exista um desejo do público por filmes espirituais e que talvez isso não seja passageiro. “Se as produções continuarem boas, a bilheteria vai continuar alta”, diz ela. Murilo Rosa concorda. “O público está despertando não só para as produções religiosas, como também para o cinema brasileiro como um todo. Querem ver ‘Nosso Lar’, ‘Tropa’, ‘Aparecida’, porque têm a ver com eles mesmos, mais do que um ‘Homem Aranha’ qualquer”, diz ele, que será visto novamente nas telas em breve nos filmes “No Olho da Rua”, selecionado para o Festival de Havana e sem data de estreia, além de atuar em “Vazio Coração”, de Alberto Araújo, e “15 Minutos para Se Vingar”, de André Moraes. Mirando o público nas vésperas do Natal, “Aparecida – O Milagre” é um filme-família, com algumas boas cenas, como o acidente na rodovia e a reconstituição do achado da santa, e outras mais artificiais, fracas. Para os devotos, porém, a cena final ao som de Ave Maria vai fazê-los esquecer dos pequenos defeitos cinematográficos e, quem sabe, manter os filmes religiosos em alta até o ano que vem. •

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ELENCO

Maria Fernanda Cândido também está no elenco do longa de Tizuka Yamazaki

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MARCONDES CESAR

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PERFIL

Blackbird brazuca Elaine Santos São José dos Campos

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zzy Gordon, pela segunda vez na carreira, foi contratada para se apresentar a um astro internacional. Depois de Bono Vox, Paul MacCartney é quem estava em sua plateia. Filha de Dave Gordon e sobrinha de Dolores Duran, ela cresceu ouvindo e vendo grandes nomes da música popular brasileira que apareciam para as jam sessions no piano com seu pai. Em setembro ela lançou seu primeiro trabalho só com musicas autorais: “O que eu tenho pra dizer”. E ela tem muito.

Paul McCartney e Bono Vox. Qual a sensação de se apresentar para os maiores ícones da música popular mundial? Foi uma delícia, além de um sonho. O Paul fez a trilha sonora da minha vida, não só nos Beatles, que a gente curtiu tanto, mas no trabalho solo. Vi que ele gostou do meu trabalho, ficou até o final. Ter a oportunidade de mostrar as músicas do meu trabalho para ele foi demais! Você acredita que esses momentos podem influenciar de algum modo sua carreira?

Izzy Gordon, a cantora brasileira que realizou o que muitos músicos no mundo sonham: dividir o microfone com o ex-beatle Paul McCartney em uma festa particular

Sempre ajuda. É aquela coisa de você ter um padrinho que fala: já ouvi e ela é boa. Ou então aquela coisa de ver que estou no caminho certo. Paul fez algum pedido especial para ser tocado em seu repertório? Não, não. Ele me deixou muito à vontade. Foi pedido um repertório só com músicas brasileiras e eu fiz todo o show, uma hora e meia, com várias músicas e muitas do meu novo CD. Dei o CD para ele e na mesma hora abriu. Quando eu disse que era a última música, ele subiu no palco, dançou e me deixou à vontade. Abrimos vozes e ele me abraçou para cantarmos juntos. Você foi contratada sem saber para quem iria tocar. Ficou muito surpresa? Realmente não esperava, mas foi uma surpresa maravilhosa! Ele sentou para assistir o show, depois dançou e se divertiu muito. Como é dividir o microfone com um exbeatle cantando “Só Danço Samba” ? Ele ouviu até certo ponto e depois falou: “vou brincar aí com você”. E foi lá. Era só um microfone. Paul brincou muito, se sentiu em casa. Não tinha ninguém de fora, era só ele, a banda dele e a namorada. •

ESTRELA

Izzy Gordon, a voz que cantou para Bono Vox e Paul McCartney com exlusividade; para 2011, cantora pretende lançar disco de sua autoria, com samba, MPB e, é claro, jazz

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O Colégio Poliedro oferece aos alunos uma educação de qualidade. Todo o potencial intelectual e criativo é estimulado, despertando no estudante a vontade de aprender. Os projetos e eventos são estruturados para que os alunos vivenciem uma experiência única e façam com que o aprendizado adquirido seja encarado como um mundo de grandes descobertas.

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ROCK IN RIO 2011

O mundo volta a ser nosso de vez São José dos Campos

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ocê se lembra da melodia de: “se a vida começasse agora/ se o mundo fosse nosso de vez”? Pois é, nove anos sem escutarmos a famosa letra do jingle do Rock In Rio, e depois de passar por cidades como Lisboa, ele voltou para casa com força total e datas marcadas em 2011 (23, 24, 25 e 30 de setembro e 1 e 2 de outubro). O festival agora será a cada dois anos em sua cidade natal, promete o empresário Roberto Medina. Para o ano quem vem já estão confirmados nomes como o Metallica , Red Hot Chili Peppers e Snow Patrol, além de outras atrações nacionais. Mesmo sem ter toda a programação fechada, quem quiser já pode comprar o ingresso. Um cartão –como se fosse um cartão de crédito– já garante sua entrada. Em março, quando a programação estiver fechada, o cliente escolhe o dia que quer ir por meio do site do evento. Quem comprar agora tem prioridade na hora de escolher o dia em que quer ir. •

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METALLICA James Hetchfield tem presença confirmada no Rock In Rio 2011

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CULTURA

Estação melodia Sesc São José recebe show de Luiz Melodia na noite do dia 29 Adriano Pereira São José dos Campos

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que sempre foi um namoro intenso, agora é casamento firmado. Dizer que Luiz Melodia tem uma relação com o samba é “chover no molhado”. O estilo esteve sempre presente em sua música, mas desta vez é diferente. Em “Estação Melodia” o músico escancara a paixão e interpreta clássicos que vão de Cartola a Paulinho da Viola. Quase todos foram conhecidos por Melodia na infância vivida no Morro de São Carlos, no Estácio, berço carioca de bambas como Ismael Silva, de quem o cantor revive “Contrastes”. É este repertório que Luiz Melodia traz para o Sesc São José dos Campos no dia 29, às 20h30. Um show de intérprete, mas que consegue ser ao mesmo tempo um momento autoral, dada a capacidade de Melodia de colocar sua marca, sua forma.

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SAMBA Músico canta clássicos do samba das décadas de 30, 40 e 50 no Sesc

Neste show, o músico convida para um boteco imaginário os grandes nomes do samba, inclusive seu pai, Oswaldo Melodia, que ganhou interpretação em duas canções: “Não me quebro à tôa” e “Linda Teresa”. A ideia de gravar um álbum de samba vem de muito tempo. O incentivo que faltava veio em um show especial que Luiz Melodia fez

em comemoração aos 70 anos do Teatro Rival. No espetáculo de 2006, Melodia cantou o samba de diferentes épocas, e lançou no ano seguinte “Estação Melodia”. O disco também se transformou em DVD, lançado pela MTV. Os arranjos para o show são de Silvério Pontes e Alessandro Cardoso, a iluminação é de Rubens Gonzaga e a direção é de Jane Reis. •

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Cultura&mais

Fotos: Divulgação

Depois da rehab, shows

Adriano Pereira São José dos Campos

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epois de cancelar as três datas que faria no Brasil este ano por conta da reabilitação do vocalista Scott Weiland, o Stone Temple Pilots faz duas apresentações neste mês. No dia 9, os norte-americanos tocam no Via Funchal, em São Paulo, e no dia 11 é a vez do Circo Voador, no Rio de Janeiro. O Stone Temple Pilots ganhou projeção mundial nos anos 90, pegando carona no grunge que se tornou sucesso em todo o mundo e lançando músicas como “Plush” e “Creep”. Após cinco discos, o grupo encerrou as atividades e retornou à ativa em 2008.

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A nova turnê divulga o álbum “Stone Temple Pilots”, lançado em maio deste ano. O grupo estreou toda a tracklist do disco em uma apresentação intimista com a presença de nomes fortes da indústria fonográfica em um bar de Nova York. O diretor executivo da Atlantic Records, Craig Kallman, fez um discurso elogiando o talento, esforço e influência da banda, comparandoos inclusive ao Led Zeppelin. O mais surpreendente ao ouvir este sexto álbum da banda não é constatar que o quarteto preserva a pegada hard rock que o consagrou. O mais incrível é que o vocalista Scott Weiland está vivo. E cantando bem. Antes de sair de cena para a rehab ele disse: “Eu voltei a beber. Eu me divorciei da minha mulher e meu mundo simplesmente está de cabeça para baixo. Então eu vou cuidar de mim mesmo”. O grupo foi acusado de copiar o Pearl Jam

quando apareceu na cena grunge, em 1992. Mas escutar no novo disco a levada quase Beatles de “Dare If You Dare” ou a pesada “Hazy Daze”, que poderia estar em qualquer bom disco do Deep Purple, faz o ouvinte pensar como uma banda tão boa ficou tanto tempo separada. O álbum é o primeiro desde “Shangri-La Dee Da”, de 2001, quando os problemas de Weiland com cocaína e heroína passaram da conta. Os irmãos Robert (baixo) e Dean DeLeo (guitarra) e o baterista Eric Kretz partiram para outros projetos. Weiland fez dois álbuns solos e foi cantar no Velvet Revolver, que tinha um guitarrista acostumado a cantores problemáticos: Slash, parceiro de Axl Rose no Guns N’ Roses. Quem viu os shows do Velvet Revolver no Brasil conferiu de perto seu estado quase morto-vivo. Os ingressos no Via Funchal custam entre R$ 200 (pista) e R$300 (camarote).

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ELVIS

Documentário com imagens raras de seus filmes, coletivas de imprensa e bastidores da carreira

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PAUSE

WEB

RICHARDS

Acompanhe as notícias do mundo da música em www.valeparaibano.com.br/ soltaopause

MÚSICA

O título “Vida” junto com Keith Richards já seria algo inexplicável, escrito então, deve valer a pena

Polêmica

CD’S & MAIS

É ou não é Michael Jackson?

VALE DESTAQUE

Um solteiro pouco convencional

FELIZ NATAL DE JESSICA Fique longe dessa bomba. Jessica Simpson em músicas de Natal homenageando soldados americanos PREÇO: R$ 30.-

Sai neste mês o disco póstumo “Michael”. Como sempre, até depois de morto, o lançamento está cercado de polêmicas. No mês passado, a canção “Breaking News” recebeu críticas severas de fãs e até de familiares de Jackson acusando a faixa de ser uma farsa. Produtores saíram em defesa do trabalho.

Cinema

Procurar sua cara-metade num casamento parece algo improvável. Mas é essa história que pode ser conferida até o dia 19 no teatro Colinas, em São José dos Campos, na peça “Os homens querem casar e as mulheres querem sexo”, estrelada pelo ator Carlos Simões. O ator e autor, ao contar uma desilusão amorosa para os amigos em um restaurante, passou por uma situação inusitada:“eu estava gesticulando e falando tão alto, que quando dei por mim, o restaurante inteiro estava dando risada da minha história e prestando atenção no que eu falava. Ao me recuperar da vergonha que passei, percebi que poderia colocar este episódio num espetáculo”, conta. A partir de então, começou a escrever a peça, ao mesmo tempo em que escrevia o livro “Meu Par Quase Perfeito.”

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Como escrevia livros sobre relacionamentos, Simões teve acesso a diversas pesquisas sobre o tema.“Uma das pesquisas dizia que as mulheres entre 25 e 35 anos estão menos interessadas em se casar do que os homens na mesma idade. Isso é reflexo não só da merecida independência conquistada pelas moças, mas é, principalmente, um retrato da vida individualista à qual estamos nos adequando neste início de século”, conclui. Ao entrar no teatro, os espectadores recebem adesivos de acordo com seu ‘estado civil’ –vermelho para os comprometidos, amarelo aos ‘enrolados’ e o verde fica com os solteiros. O ator brinca com o público de acordo com os adesivos e fala das histórias de vida do personagem. A direção fica por conta de Marco Marcondes, um veterano com passagens por diversos programas globais.

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TRILHA SONORA O duo francês Daft Punk faz a trilha para a nova versã do clássico Tron PREÇO: R$ 27.-

Boyle promete ‘Trainspotting2’

O diretor Danny Boyle afirmou que a sequência de “Trainspotting com certeza vai acontecer”. Ele já tinha afirmado em diversas ocasiões que estava interessado em fazer uma continuação do filme, que o fez ser reconhecido como um dos maiores talentos dos anos 90.

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Social

Flashes& Noite de festa no topvale 2010 A festa em comemoração da quarta edição do topvale da revista valeparaibano reuniu convidados e representantes das marcas vencedoras do prêmio no Teatro do Sesi, em São José dos Campos. A premiação contou com a apresentação do showman Luiz Carlos Miele, que relembrou, ao lado do piano do maestro Aloízio Pontes, os tempos de convivência com grandes nomes da música brasileira, como Tom Jobim e Vinícius de Moraes. O maestro Osmar Barutti deu o tom na entrega dos prêmios, e o coquetel foi assinado pelo chef Mané Young. Fotos: Antonio Basílio, Bruno Fraiha e Flávio Pereira

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Luiz Carlos Miele

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Maestro AloĂ­zio Pontes

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Maestro Osmar Barutti

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Social

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Tomoko Miura e Silvia Niel

Patrícia Alves, Glaucia Ferreira e Marta Vieira

Paulo Mendes e Nelson Branco

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Flávio Franceschini e Rose Schmalz

Roberta Maia, Patrícia Couto e Raquel Bottacci

José de Melo Corrêa e Almir Fernades

Aline Briet e Cassia Amorim

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Benedito Vieira Pereira e Rosana Chuluc

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Adriana Câmara e Felipe Danelli

Bianca e Fernando Pereta

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Corrêa e des

Thiago e Cristiane Pêgas

Vagner Mota e Andréia Schmitz

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Luciana Silva e Frederico Guratti

Fernanda Bruno, Helen Braga e Gabriela Budino

Marcelo Andrade, Fábio Paiva e Romilton Seccomandi

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Social

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Homenagem em alto estilo A solenidade de despedida de José Carlos Pinheiro Neto do cargo de vice-presidente da General Motors do Brasil contou com a presença de 750 convidados no último dia 23, quando o executivo completou 65 anos de idade –mais de 40 deles na montadora. O evento, realizado no Clube Atlético Monte Líbano, em São Paulo, reuniu a família, amigos, gerentes e diretores da GM e autoridades. À ocasião, também foi feito o lançamento do Camaro. Pinheiro Neto vai continuar trabalhando, a partir de janeiro, como assessor direto do presidente da GM na América do Sul, Jaime Ardila, em Relações Públicas e Governamentais.

José Carlos Pinheiro Neto com a neta Mariana

Fotos: Ataíde Alba e Fábio Gonzalez

Em família: (da dir. para a esq.) José Carlos da Silveira Pinheiro Filho e esposa Keila Pinheiro, José Carlos Pinheiro Neto e esposa Maria Yvoty Pinheiro, o genro Marcelo Tringori e Maria Carolina Pinheiro (filha) e a neta Mariana no colo da babá

Marcia Munhoz, José Aurichio Júnior e Marcos Munhoz

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Pedro Luiz Dias, Lorecy Dias, Jaime Ardila e Martha Ardila

Ferdinando Salerno e José Carlos Pinheiro Neto

André Beer, Delfim Netto e Luiz Moan

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Viva a Vida

Carlos Carrasco

Como no espelho de Alice, a realidade amplifica a ficção e o terror atuais

S

erá que se a gente entrar no espelho o mundo vira do avesso? Ou o mundo está do avesso e se entrar ele endireita? Um está paralelo ao outro ou eles se opõem em coisas boas e más? Sou o reflexo do espelho ou a imagem real? Quantas reflexões refletem os reflexos do nosso ser? Isso é a relatividade do tempo ou a condução do destino? O mundo está do avesso ou sou eu que sou avesso a ele? Alguém me responde? Tem muita incoerência! Está tudo de pernas para o ar. Estou no meio de um filme de terror cercado de criaturas malignas em plena luz do dia. A insensibilidade vampiresca. Amantes esquartejadas, afogadas em represas e outras atrocidades. A gente assiste a esses filmes e acha que já viu de tudo. As pessoas têm medo dos filmes de terror, mas assistem ao telejornal diário. Se deparam com fatos mais sanguinários e param de se chocar. Banalização da violência no narcisismo das pessoas que acreditam na impunidade e na máxima de “poder tudo” sem nunca pensar nas consequências de seus atos. A zumbificação do ser. As pessoas estão esquecendo de viver e estão sobrevivendo diante dos fatos da vida moderna. E, para piorar, esta classe de pessoas nem se indigna e se comporta com a própria “Alice Alienada”. A gente tem a obrigação de reagir à altura e trazer

CONFUSO O mundo está do aveso ou eu sou avesso a ele?

para a terra uma criatura destas. O dialogo é mais ou menos assim: Nunca leu?... mentira?! Não conhece?... não diga?! Esqueceu?... como?! Não viu?... estava distraído?! Deixou passar?... parado?! Ficou para trás?... por que?! Assistiu?... ah, não deu tempo?! Desconhece?... Já sabia?! Sua ignorância, meu deboche. E finalmente... A anencefalia Frankstiniana, um multidão de gente que

pensa segundo a deterninação de outros fatores e segundo a imposição dos outros. Cérebro neste tipo de pessoa está ausente, comodidade e facilidade é o que importa para tocar a vida e ser um ser (humano?) despreocupado com os destinos da vida real. Prefiro ignorar a TV e ver meus filmes onde as criaturas estão menos demoníacas que goleiros assasinos e advogados com pinta de psicopata. •

Carlos Carrasco cabeleireiro

carrasco@valeparaibano.com.br

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