Revista valeparaibano - Dezembro 2011

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Ozires Silva Uma conversa com um líder da inovação P44 Berlusconi Crise na Europa pode respingar no Brasil P56 Sarah Jessica Parker Elenco milionário no Réveillon P100

Dezembro 2011 • Ano 2 • Número 21 R$ 7,80

Pedaços de VIDA Cunha guarda o maior acervo patológico catalogado do mundo; um laboratório que preserva a morte para salvar vidas

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Opinião

Palavra do editor

DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno

Um acervo para a humanidade

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ilhares de amostras de partes do corpo humano preservadas em pequenos blocos de parafina formam o maior acervo patológico catalogado do mundo. E esse “tesouro”, de valor científico inestimável para profissionais da área e para a humanidade, está guardado em um galpão de uma fazenda em Cunha, a pequena cidade do Vale Histórico. Toda a coleção foi reunida ao longo de 40 anos de trabalho de um médico de 80 anos que continua dedicando a vida para que outras sejam salvas no futuro. Trata-se de Luiz Celso Mottosinho França que, mesmo depois de aposentado, ainda dispõe de tempo e dinheiro para manter todo o material em condições de uso em pesquisas. São nada menos que 1,1 milhão de pequenos pedaços de órgãos e tecidos usados em biópsias que poderiam ser descartados, mas foram devidamente preservados e hoje podem contribuir para o tratamento e combate de doenças como o câncer e a Aids. Para se ter ideia da importância desse banco de dados genéticos, acervo semelhante foi usado no final do século passado em pesquisa sobre a gripe espanhola. Como não tinham amostras de tecidos à disposição, cientistas norteamericanos foram até perto do Polo Norte para desenterrar as vítimas da gripe de 1918 e recolher o material. Certo de que já fez sua contribuição, Mattosinho pretende montar uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) para gerir o acervo, que deve ser usado a favor da medicina e não ficar armazenado no galpão de 15 metros quadrados de sua fazenda. Mas até para doar o material enfrenta dificuldades. Já tentou doá-lo ao Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo, onde foi diretor do Serviço de Anatomia Patológica, mas a proposta não deu certo por falta de espaço adequado para armazenagem. Agora quer formar parcerias com faculdades para fornecer o material. Que o trabalho de quatro décadas não seja em vão.

DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br EDITOR DE FOTOGRAFIA Flávio Pereira flavio@valeparaibano.com.br REPÓRTERES Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Isabela Rosemback (isabela@valeparaibano.com.br) e Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br) DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes daniel@valeparaibano.com.br COLABORADORES Cristina Bedendo, Filipe Manoukian, Franthiesco Ballerini, Marrey Júnior, Xandu Alves e WR Models COLUNISTAS Alice Lobo, Arnaldo Jabor, Fabíola de Oliveira, Marco Antonio Vitti e Ozires Silva CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. O valeparaibano reserva-se ao direito de selecioná-las e resumi-las.

DEPARTAMENTO DE PUBLICIDADE REGIONAL Aline Furtado, Cristiane Abreu, Mellise Carrari, Tatiana Musto e Vanessa Carvalho comercial@valeparaibano.com.br (12) 3202 4000 RIO DE JANEIRO E BRASÍLIA

Essencial Mídia Carla Amaral e Claudia Amaral (11) 3834 0349

A revista valeparaibano é uma publicação mensal da empresa Jornal O Valeparaibano Ltda. Av. São João, 1.925, Jardim Esplanada, São José dos Campos (SP) CEP: 12242-840 Tel.: (12) 3202 4000

ASSINATURA E VENDA AVULSA Carina Montoro 0800 728 1919 Segunda a sexta-feira, das 8h às 18h FAX: (12) 3909 4605 relacionamento@valeparaibano.com.br www.valeparaibano.com.br

PARA FALAR COM A REDAÇÃO: (12) 3909 4600 EDIÇÕES ANTERIORES: 0800 728 1919

A TIRAGEM É AUDITADA PELA

Marcelo Claret editor-chefe

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BDO AUDITORES INDEPENDENTES

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Anel Hídrico de São José dos Campos. Uma das maiores obras realizadas na cidade: R$ 16,8 milhões em investimentos, estações de tratamento, três estações de bombeamento, duas novas adutoras, seis reservatórios e 31 km novos de rede de água. Sabesp. A vida tratada com respeito.

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MODA M

Sumário

T TEMPORADA DE FESTAS D P76 P

SAÚDE

Arquivo pessoal Um dos maiores acervos de tecidos humanos do mundo fica em Cunha, fruto do trabalho voltuntário de um médico e pesquisador que usa a morte para salvar outras vidas

POLÍTICA CHUVAS

MUNDO ECONOMIA

Um ano e nada foi feito Crise europeia no Rio Comprido P14 P56 Bairro não foi incluído no pacote de obras antienchente da Prefeitura de São José ECONOMIA COMÉRCIO

A (boa) guerra entre os shoppings de S. José P20 Os três maiores centros de compras têm lista de espera de lojistas e irão expandir ENTREVISTA OZIRES SILVA

“Fui considerado para presidente da República, mas não aceitei” P44

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INTERNET COMPORTAMENTO

Sua vida está exposta

P82

A Zona do Euro ameaça desabar e levar um monte de países para o buraco, inclusive o Brasil

FOTOGRAFIA

O Vale mais rico Livro revela paisagens desconhecidas da região pelas lentes do fotógrafo Ricardo Martins P94

Internautas que contam tudo nas redes sociais podem expor mais do que deveriam; seguimos um deles TURISMO TRÓPICOS

Um paraíso na Venezuela P68 Ensaio Fotográfico p60 Hi-Tech p74 Cinema p100 Arnaldo Jabor p114

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Palavradoleitor POLÍTICA

CULTURA

Como o serviço postal que já foi o melhor do mundo chegou a esse ponto? P14

Quanto custa ser um artista independente no Vale e no Brasil? P86

Novembro 2011 • Ano 2 • Número 20 R$ 7,80

A revista valeparaibano publicou reportagem sobre o esquema de prostituição na praça Afonso Pena em São José

TERRITÓRIO

OCUPADO Praça Afonso Pena, um dos principais cartões-postais de São José, vive sob o regime do poder paralelo ditado por criminosos, prostitutas e traficantes

PROSTITUIÇÃO

VITTI Família Confesso que fiquei muito feliz com a coluna que você escreveu falando sobre a vida de seus pais e sua família. E, principalmente, a importância que você deu a Deus. Vivemos numa cidade, onde a maioria dos profissionais, sejam médicos ou outros, só pensa em se enriquecer na profissão e não tem a consciência de que ajudar pessoas e colocar Deus na frente é o segredo para viver bem.

ENQUETE Você expõe sua vida nas redes sociais?

Cláudio de Oliveira Técnico em informática

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REDES SOCIAIS

Praça Fiquei chocada com a reportagem da prostituição da praça Afonso Pena. Cada dia a impunidade nos tira um pouquinho mais de nossa curta e escassa liberdade. Nunca imaginava que havia tantas mulheres nessa situação e de ainda serem comandadas por uma cafetina. Onde será que iremos parar? Parabenizo a equipe pela clareza da reportagem. Precisamos sim de meios de comunicação como a revista valeparaibano. Quem sabe expondo, tenhamos a chance de ver alguma mudança. Lissandra Silva Tetti Analista fiscal

Melissa Martins Li a matéria (A praça não é nossa), estão de parabéns. Acho que foi uma das melhores matérias da revista. Esilda Alciprete Tenho lido a revista valeparaibano. Ela está fantástica nas reportagens e na qualidade do produto, superando em muito a Veja. Parabéns. Ana Witts Parabéns pela revista valeparaibano. É ótima, leio todas, e gosto muito das matérias.

87%

SIM NÃO

Os votos foram computados entre os dias 3 e 21 de novembro

Enquete www.valeparaibano.com.br

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Política

Da Redação Lula luta contra o câncer É a primeira vez, em 30 anos de vida pública, que o expresidente aparece sem a barba, sua marca registrada Ricardo Stuckert/Instituto Lula

BRANCO & PRETO Sobre o diagnóstico e tratamento do câncer na laringe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diagnosticado em outubro

“Estou certa que, em janeiro, nós veremos o presidente Lula na Gaviões da Fiel”

Dilma Rousseff Presidente do Brasil

TRATAMENTO Após três ciclos de quimioterapia, petista dará início ao tratamento com radioterapia

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m tratamento contra um câncer na laringe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva raspou os cabelos e a barba –sua marca registrada. Em mais de 30 anos de vida pública, é a primeira vez que o petista aparece sem barba. No final dos anos 70, quando ainda era sindicalista, cultivava apenas o bigode, que foi preservado no atual visual. As fotos sem os cabelos e barba foram divulgadas dia 16 de novembro pelo Instituto Cidadania. Coube a sua mulher, dona Marisa Letícia, cortá-los. O ex-presidente encarou com bom humor, segundo amigos e familiares, o fato de ter raspado o cabelo e a barba e tem se comparado à imagem de Frei Chico, um irmão mais velho. Foi Frei Chico quem levou Lula para o Sindicato dos Metalúrgicos de São

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Bernardo do Campo e Diadema, em 1966. Lula completou dois de um total de três ciclos de quimioterapia. Devido ao tratamento, Não tem saído de seu apartamento, onde vem recebendo frequentes visitas de amigos. Após o fim da quimioterapia, Lula começará a radioterapia para combater o câncer, diagnosticado no final de outubro. Todo o tratamento é realizado no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O tumor foi classificado como de agressividade média, com previsão de tratamento até fevereiro de 2012. Ao divulgar o diagnóstico de câncer, Lula foi alvo de comentários grosseiros. Internautas apontaram que o ex-presidente estaria fazendo uso político da atual situação de sua saúde e que deveria se tratar pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Entretanto, também recebeu milhares de mensagens de solidariedade.

“Estamos muito confiantes também e seguros que Lula também vai superar esta doença cruel que nos atingiu, que nos surpreendeu”

Hugo Chávez Presidente da Venezuela

“(A recuperação de Lula) é o desejo de todos os brasileiros. A pessoa que tem o grande número de feitos pelo Brasil deve receber a maior solidariedade” Fernando Henrique Cardoso Ex-presidente do Brasil

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Domingo 4 Dezembro de 2011

Carlos Lupi, ministro do Trabalho, sobre as especulações de sua demissão

“Não temo perder o ministério. O ministério é da presidenta Dilma Rousseff. O PDT apoia o governo Dilma com ou sem ministérios. Estou pronto para a luta”

São José ganhará mais dois parques públicos em 2012

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Prefeitura de São José dos Campos planeja implantar mais dois parques públicos em 2012, nas regiões norte e leste, ampliando para sete o número de áreas verdes públicas na cidade. A ampliação de espaços é uma das propostas do convênio firmado pelo município com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) neste ano para a contratação de um empréstimo de US$ 85,9 milhões com o organismo internacional. Na zona leste, o plano do governo Eduardo Cury (PSDB) é implantar o Parque Itapuã, entre os bairros Galo Branco e Jardim Itapuã, no distrito de Eugênio de Melo. Pelo estudo inicial elaborado pela prefeitura, o parque terá

Lupi ganha novo fôlego no governo

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o que tudo indica, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, envolvido em denúncias de desvio de dinheiro em esquema parecido com o que derrubou o ministro do Esporte, Orlando Silva, conseguirá se manter no primeiro escalão do governo de Dilma Rousseff. Entre declarações polêmicas –duvidou que Dilma o tiraria do ministério e disse que só deixaria o cargo se fosse abatido a bala– e pedidos de desculpas e declarações de amor à presidente Dilma, Lupi não perdeu apoio da maioria do seu partido, o PDT, ganhando força frente ao governo petista. Até o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, chegou a declarar que não

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140 mil metros quadrados de área. A proposta contempla arborização, preservação da fauna e flora, implantação de ciclovia, trilhas de caminhadas, recreação infantil, equipamentos esportivos e espaços para atividades culturais. Já na região norte, a proposta é criar o Parque Boa Vista, no Altos de Santana. A área escolhida era uma antiga fazenda de café que ainda preserva uma casa, que foi sede da propriedade. A gleba, de 125 mil metros quadrados, é coberta por um bosque de pinheiros. O projeto prevê a implantação de trilhas de caminhadas, áreas para exercícios físicos com circuito de arborismo e pista de ciclismo. São José possui sete parques públicos que somam uma área de 1,489 milhão de metros quadrados. O maior é o Parque da Cidade “Roberto Burle Marx”, na região norte, com 960 mil metros quadrados. No centro, o Santos Dumont tem 46,5 mil metros quadrados e o Vicentina Aranha, 84,5 mil metros quadrados de bosque. Na periferia ficam três parques, o Senhorinha, região sul, Caminho das Garças, Sérgio Sobral de Oliveira e Alambari, na região leste. haveria indício de irregularidade contra o ministro, reforçando o coro a favor de Lupi. “Por enquanto, os elementos dizem respeito a irregularidades em programas do Ministério do Trabalho, mas não apontam o envolvimento direto do ministro”, disse à ocasião. Entretanto, as investigações sobre o eventual esquema de cobrança de propina continuam. Segundo denúncias, assessores de Lupi cobrariam propina de 5% a 15% de ONGs contratadas para oferecerem cursos de capacitação. Mal as denúncias foram publicadas, Lupi determinou a abertura de uma investigação interna e afastou o coordenador-geral de qualificação do Ministério, Anderson Alexandre dos Santos. Essa não é a primeira polêmica em que o ministro se envolve desde o início da gestão Dilma. Na votação pelo salário mínimo, o partido de Lupi não votou em consenso com o governo e, na ocasião, o ministro minimizou a votação dos dissidentes que votaram a favor de R$ 560 (valor pedido pela oposição) contra o governo (que defendia R$ 545).

Ex-mulher de Collor cobra R$ 300 mil A ex-primeira dama do país, Rosane Collor, cobra uma indenização de R$ 300 mil do ex-marido, o senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB/AL), no divórcio litigioso que se arrasta há anos na Justiça. O processo corre em segredo de Justiça. O débito seria referente a pensões atrasadas, que ficaram em aberto desde que a Justiça estipulou o valor da pensão mensal que ela iria receber a partir de janeiro deste ano, quando ganhou a ação movida contra o exmarido na Justiça de Alagoas. À época o ex-presidente alegava que tinha uma renda mensal de R$ 25 mil, mas para Rosane esse valor é irrisório diante do padrão de vida do ex-marido. Ela venceu a disputa judicial no começo deste ano, quando foi estipulada uma pensão de 30 salários mínimos e mais alguns bens imóveis a título de indenização. A defesa do ex-presidente recorreu. Além da generosa pensão, Rosane teve direito a receber dois apartamentos e dois carros de Collor no valor de R$ 950 mil. Como teria decidido recorrer da decisão, o ex-presidente aguarda que o Superior Tribunal de Justiça resolva o impasse. Os dois foram casados por mais de 20 anos, mas não tiveram filhos. Filiada ao PV, Rosane pensa em se candidatar a vereadora por Maceió, mas disse que só decide se entra na disputa no começo de 2012.

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Política PLANEJAMENTO URBANO

Ferida aberta Área de risco do Rio Comprido, onde cinco pessoas morreram em janeiro, é excluída do pacote antienchente da Prefeitura de São José; bairro abriga dezenas de famílias que pagam aluguel para morar em imóvel interditado

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Domingo 4 Dezembro de 2011

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Fotos: Flávio Pereira

RISCO Após 11 meses da tragédia, ainda há áreas de risco no Rio Comprido

Hernane Lélis São José dos Campos

céu nublado parece o recomeço de uma história trágica no bairro Rio Comprido, zonal sul de São José dos Campos. Pela janela, Juliana Aparecida de Matos, 27 anos, observa o barranco próximo à casa em que mora temendo que parte desmorone e tire a vida de sua família, assim como aconteceu no início do ano com seus vizinhos. Apesar do risco, ela se recusa a mudar de residência, acredita que a prefeitura irá resolver o problema, mesmo após quase um ano sem nenhuma providência de contenção do poder público, que

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excluiu a região do pacote de obras essências para o período de chuvas. Onze meses se passaram desde o deslizamento de terra que soterrou cinco pessoas, entre elas duas crianças, no Rio Comprido. De lá para cá, a Prefeitura de São José investiu R$ 5,9 milhões para evitar que tragédias semelhantes ocorram no município durante o período de chuvas que se aproxima. O montante foi empregado, segundo a administração, para a construção de galerias de águas pluviais, desassoreamento e dragagem de rios. Nenhum centavo da verba foi destinado a área condenada do bairro, onde pelo menos 29 famílias vivem sob ameaça de novas enchentes e desbarrancamento. “Perdi tudo o que tinha com aquela chuva e estou recomeçando agora. Tentei me inscrever para conseguir uma casa no CDHU (Compa-

nhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), mas quando fui atrás o prazo de inscrição já tinha terminado, falaram que não podiam fazer nada. Agora, acho até melhor, não tenho como pagar a prestação. Aqui, pago R$ 150 de aluguel, era R$ 200, mas por causa do risco o dono diminuiu o preço”, explicou Juliana, apontando na sequência dezenas de outras casas na rua que foram condenadas pela Defesa Civil e que ainda abrigam diversas famílias. Todas já foram avisadas pela prefeitura sobre o perigo em permanecer no local, ainda assim resistem à transferência para conjuntos habitacionais, onde já vivem outras 196 famílias. A remoção dessas pessoas começou três meses depois do acidente, período em que 234 casas foram condenadas –157 de encostas e 77 na várzea do Rio Comprido, área

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Política

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TRANSFERÊNCIA Conjunto habitacional no Parque Interlagos para onde foram algumas famílias

sujeita à inundação e considerada inabitável pela Lei de Zoneamento. À época, a administração deu início ao trabalho de demolição dos imóveis desocupados, 80 viraram entulho. O serviço foi paralisado em março por intervenção da Justiça, que solicitou um estudo geotécnico e sondagem do terreno. Algumas casas que ficaram vazias foram invadidas ou alugadas por outras pessoas, que sabem do risco, mas garantem não ter opção de moradia. Para o advogado Aristeu Pinto Neto, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB de São José, responsável pela liminar que garantiu a paralisação das demolições por meio da Defensoria Pública, a prefeitura negligenciou durante todos esses meses a situação do Rio Comprido. Ele acredita que a esperança da administração era de conseguir colocar o restante das casas ao chão, sem avaliar a possibilidade de custear uma perícia nos imóveis e pagamento de indenização as famílias prejudicadas. “Se a prefeitura diz saber do risco, por qual motivo deixaram de fazer as obras na região? As demolições programadas não tinham respaldo técnico, qualquer engenheiro de conhecimento básico descarta o laudo que foi produzido por ser insuficiente. A grande omissão na questão da habitação é da prefeitura e dos governos recentes. A administração deveria ver a possibilidade de manter o

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maior número de famílias no local e corrigir o risco que diz existir. Ela condenou a área de uma forma suspeita, sem o estudo topográfico que foi pedido pela Justiça”, disse Neto. Atraso O processo de licitação para escolha da empresa que ficará responsável pelo estudo geotécnico mencionado pelo advogado começou somente no último mês, mas o edital ainda não foi publicado. O estudo vai apontar com maior profundidade a fragilidade e estabilidade do solo no Rio Comprido, onde vivem aproximadamente 2.200 pessoas. A proposta é saber quais casas realmente precisam ser derrubadas. Segundo o advogado, um laudo do Instituto Geológico teria apontado a necessidade de demolição de apenas 31 casas no bairro. Neto critica ainda o tempo que a prefeitura levou para pedir a realização do estudo. “Não entendo a demora para providenciar isso. O trabalho prévio é justamente esse, você vai analisar o solo, conhecer a área para depois pensar se existe necessidade de remoção e em quais regiões do bairro. O custo da remoção é alto, ao contrário do estudo. É evidente, não queremos que ninguém corra o menor risco de morte, agora, a prefeitura tem que estabelecer a segurança de forma criteriosa, num determinado local existe um aclive discretíssimo que foi determinado como área

de risco”, afirmou Neto. Para Juliana Matos, que mora no bairro há três anos, o tempo que preocupa agora não é o da espera pelo resultado do levantamento geotécnico, mas sim o que os meteorologistas preveem para o início do verão. “A cada final de tarde que o tempo começa a fechar fico com o coração na mão, com medo que a chuva venha forte e leve tudo outra vez. Estamos esperando uma providência da prefeitura, existem crianças aqui. Não podem ignorar a gente somente porque optamos em continuar mesmo sabendo do risco, eu não tenho condições de sair e pagar aluguel em outro lugar”, explicou Juliana. Ações Ainda que nenhuma providência tenha sido tomada para garantir a segurança dos moradores do Rio Comprido que permanecem nas áreas condenadas, a prefeitura tratou de respaldar a transferência de 43 famílias aos conjuntos habitacionais Frei Galvão, na zona leste, Boa Vista, região norte, e Santa Luzia, próximo ao bairro Putim. Outras 153 famílias foram transferidas para o Parque Interlagos, na região sul, e 10 famílias com mais de oito membros aguardam os apartamentos maiores ficarem prontos para efetuarem a mudança. Enquanto isso, elas seguem recebendo o aluguel social. Quem deixou o bairro para recomeçar a vida em um dos conjuntos habitacionais passou

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Domingo 4 Dezembro de 2011

a ter outros motivos para reclamar. A maior queixa é com as novas despesas, como água, luz, transporte e principalmente a prestação do apartamento, que pode variar entre R$ 80 e R$ 300. Segundo os moradores, o valor foi calculado a partir da renda familiar à época da transferência. “Muita gente perdeu o emprego e está tendo dificuldade para conseguir outro por causa da distância e do preconceito. Falam que aqui só tem bandido”, disse Carla de Jesus Santos, moradora do Interlagos. Apesar das dificuldades financeiras que diz enfrentar, ela não se arrepende da mudança, acredita que hoje os filhos estão em segurança, longe do risco de serem soterrados. “Ainda tenho parentes e amigos no Rio Comprido, eles não querem sair sem o pagamento de indenização, são donos da casa em que moram. Apoio da decisão deles, pois levaram anos construindo para depois deixar tudo para trás”, afirmou. De acordo com a Secretaria de Habitação, 29 famílias não aceitaram o auxílio oferecido pela administração e foram notificadas sobre o risco de continuarem em suas casas. No entanto, basta fazer uma rápida visita ao lo-

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cal para constatar que diversos imóveis que deveriam estar desocupados seguem com moradores. “Todos os invasores foram notificados e serão noticiados no processo judicial”, disse, por meio de nota, a secretária municipal de Habitação, Irene Maria Marttinen, garantindo que um levantamento está sendo realizado para apurar as invasões. Sobre a demora para a realização do estudo geotécnico, a prefeitura informou que “segue a legislação vigente e está tomando todas as providências necessárias para iniciar o certame licitatório o quanto antes.” O processo estaria em fase de elaboração de termo de referência e edital. No documento a prefeitura afirma ainda que não realizou obras no bairro devido a intervenção da Justiça. “As obras foram suspensas a pedido do Ministério Público que antes necessita do estudo”. Obras Este ano a Secretaria de Obras investiu R$ 5,9 milhões em obras consideradas essenciais para o período de chuva na cidade. Logo no início do ano foi entregue a galeria de águas

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pluviais no Jardim Morumbi, zona sul, e outra na Vila Rossi, zona norte. O custo dessas duas obras foi de R$ 3,6 milhões. Os trabalhos de contenção de encostas e prolongamento da galeria de águas pluviais no Morro do Regaço, na Vila Industrial, começaram neste segundo semestre e estão orçados em R$ 1,3 milhão. Os serviços de desassoreamento, drenagem e limpeza dos principais córregos do município, entre eles, Cambuí, Pararangaba, Alambari e Bueirinho vão custar ao governo R$ 960 mil. As máquinas irão tragar 30,6 quilômetros de extensão dos córregos, com previsão para terminar os trabalhos em janeiro. No Rio Comprido, a única obra feita pela Secretaria de Transporte. Trata-se do recapeamento da Avenida 1 e Avenida Marginal B, que receberam pavimentação asfáltica e galerias de água –investimento de R$ 1,2 milhão. A intenção da prefeitura é propor à população do bairro no próximo ano a realização do PCM (Plano Comunitário de Melhorias). Nesse projeto, os moradores arcam com 60% do custo da obra e a prefeitura paga o restante do trabalho. Ainda não há previsão para a conclusão do programa. •

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Política

Ozires Silva

Previsões, inovações e caminhos de um futuro próximo omo a própria palavra indica, a previsão procura estabelecer uma série de pensamentos e ideias e, com base em dados do presente e de projeções, cria bases e planos definindo ações que possam garantir a ocupação de espaços num futuro possível. No mundo competitivo e global no qual vivemos, previsões e planejamentos tornaram-se essenciais, pois aqueles que encontraram os caminhos dos sucessos, certamente partiram de pontos que lhes permitiram conquistar as sempre desejadas vantagens competitivas nas áreas em que atuam.

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Normalmente, o que se pensa hoje pode cobrir os mais variados campos, a economia, o desenvolvimento econômico, as tecnologias e muitos outros. Algumas ideias, com conteúdos abrangentes, sinalizam mudanças e constituem elementos interessantes para conhecer, debater e cotejar. Certamente, 2011 foi ano dos tablets. A Apple assegura que vendeu mais de um milhão de exemplares até um mês após o seu lançamento. Analistas do mercado prevêem que, até o final deste ano, mais de 7 milhões de unidades terão sido vendidos. Essa foi verdadeiramente uma inovação no mundo da Tecnologia da Informação que fez diferenças. Quando isso acontece, as pessoas e as empresas que estejam atrás da realização têm toda a razão para comemorar e participar

TECNOLOGIA “Os avanços têm sido extraordinariamente rápidos no mundo” dos resultados. O exemplo mostra a importância de inovar atualmente. Se a tecnologia avança tão rapidamente por que não nos espantamos mais com isso? Ou melhor, há uma clara constatação de que as novidades são tão aceitas, que parece sempre ter sido fácil se chegar a elas, como se o processo fosse natural e não exigisse esforços. Por outro lado, o progresso tecnológico se acelerou e não está sendo observado somente nos campos da Tecnologia da Informação. Outros exemplos de ousadia e pioneirismo também vêm de outros tipos de atividades que, devido aos cenários atuais, não ganham a mesma repercussão. Os avanços têm sido extraordinariamente rápidos em todos os campos. O constante lançamento de novidades cria uma série de possibilidades e de necessidades até então inexistente em nossas vidas e poucos poderiam imaginar que já vivemos num mundo novo, quase que inteiramente diferente daquele que se viveu há pouco. No campo das inovações, é possível identificar tendências importantes no comportamento dos consumidores que precisam ser levadas em conta. O sucesso no mercado, para um novo produto, claramente passa pela confiabilidade

e pelo alto desempenho do que seja e que pretenda disputar com vantagens uma posição no mercado futuro. Quem conquistar a independência buscada pelo comprador, de imediato, reproduzirá o sucesso dos tablets. Muitos perguntam sobre qual seria o salto da tecnologia, por exemplo, nos telefones celulares. Um a se pensar, e vem fora da Tecnologia da Informação, e poderia ser a substituição das tradicionais baterias cuja capacidade de acumular energia, se bem que melhorada nos últimos tempos, ainda deixam a desejar. Essa substituição poderia ser algo, que, como nos automóveis, poderia ser reabastecido inúmeras vezes com alguma espécie de combustível, deixando para trás as tradicionais baterias que conhecemos tanto. Será que as células combustíveis poderiam ser uma saída? Neste caso, o abastecimento de um celular com metanol ou etanol poderia fornecer ao usuário uma duração entre reabastecimentos para, no mínimo, períodos de tempo pelo menos dez vezes superiores à melhor das baterias da atualidade. Enfim, sobre o atual mundo novo, estamos certos de que muito mais novidades virão. Será que tudo isso somente será criado no Hemisfério Norte e lá industrializado? Será que não conseguiremos ambientes de estímulos que justifiquem a brasileiros participar desse inevitável festival de inovações? As respostas não virão de fora. Estão conosco e não podemos transferi-las a terceiros. •

Ozires Silva Engenheiro

ozires@valeparaibano.com.br

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Economia MERCADO CONSUMIDOR

Espera por vagas Pelo menos 188 marcas estão na fila para conseguir espaço em lojas dos shoppings do Vale do Paraíba; centros de compra investem R$ 450 milhões em planos de expansão para atender demanda reprimida

Hernane Lélis São José dos Campos

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costumados a lidar com preços, estoque, fluxo de caixa, entre outras tarefas que envolvem a atividade comercial, empresários de todo o Brasil interessados em abrir seus negócios em shoppings centers do Vale do Paraíba estão agora do outro lado da vitrine. A busca é por uma oferta de espaço para se instalarem dentro dos centros de compras, onde a taxa de ocupação em alguns casos é de 100%, obrigando lojistas a aguardarem meses numa fila de espera. São pelo menos 188 marcas de olho nos ávidos consumidores da região, dispostas a investir em média R$ 300 por metro quadrado. A indústria dos shoppings vive um momento histórico no Vale. Todos os centros de compras estão em fase de expansão ou acertando detalhes para iniciarem projetos de ampliação, que inclui a inauguração de lojas exclusivas, infraestrutura agradável e atendimento personalizado para saciar os ímpetos

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de consumo. Os investimentos anunciados até o momento serão aplicados até o final de 2014. A necessidade de desenvolver os empreendimentos tem como objetivo responder ao aumento de fluxo de clientes, mas também a grande procura de lojistas por espaços. Hoje, segundo levantamento realizado pela revista valeparaibano, o índice de vacância nos shoppings da região está em torno de 3,2% –o dobro do nível nacional, que é de 1,6%, recorde no Brasil. Os sete maiores centros varejistas do Vale –quatro em São José dos Campos e um em Jacareí, Taubaté e Guaratinguetá– estão com poucas vagas para novas lojas, com taxa de ocupação oscilando entre 85% e 100%. A fila de espera para conseguir abrir um novo negócio nesses estabelecimentos chega a 188 marcas, incluindo os que aguardam a conclusão de obras para iniciarem as atividades e os que esperam por uma desistência. Para a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) existe uma ocupação plena no segmento na região, já que seria praticamente impossível alcançar uma vacância próxima a zero. “Esse aquecimento do mercado acontece em todo o Brasil. Vai

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Fotos: Flávio Pereira

INVESTIMENTO CenterVale Shopping constrói nova área de 6.000 metros quadrados para abrigar mais 80 pontos de venda

demorar um pouco para que todos consigam resolver o problema da fila. Quem ganha com isso é o consumidor que passa a ter diferentes opções de compras, a concorrência entre os estabelecimentos fica maior, o que acaba gerando melhores preços de venda nos produtos”, disse Adriana Colloca, superintendente de operações da entidade. Para transformar sua fila em lojas, o CenterVale Shopping, em São José dos Campos, está construindo uma nova área com 6.000 metros quadrados que irá abrigar 80 novos pontos comerciais. Um investimento de R$ 100 milhões que inclui ainda a revitalização do centro de compras, com troca de piso, teto, iluminação e mobiliário. Atualmente, o maior shopping do Vale tem 220 lojas, sendo que 85% estão ocupadas e o restante em fase de negociação com 60 marcas interessadas em consolidar negócios no local –a maioria deve ocupar lugares disponíveis com a expansão. O crescente fluxo de consumidores no shopping foi um dos fatores preponderantes para colocar em pratica o projeto de ampliação. Segundo Edmar Aranda, do departamento comercial do CenterVale, nos últimos dez anos o número de visitantes aumentou 30%, o que corresponde entre 40 e 50 mil pessoas circulando pelos corredores por dia, incluindo os finais de semana –apesar da diferença de público, a quantidade é a mesma divulgada pelo Shopping Iguatemi, na Avenida Faria Lima, em São Paulo. “Fizemos uma pesquisa de foco para entender a necessidade de marcas na cidade. A partir disso, delimitamos nosso projeto”, explicou Aranda. Vigor econômico O surgimento de um termo já tão popular quanto as pessoas que se enquadram nele, a nova classe média, tem sido o principal alvo dos lojistas, que pretendem pegar carona no crescimento dos shoppings. A premissa é que o fortalecimento da economia brasileira com fortes perspectivas de aumento do poder de compra da população aproxime cada vez mais os desejos de consumo dos emergentes a produtos que até então figuravam no imaginário das pessoas, democratizando cada vez mais o acesso a marcas e redes renomadas do Brasil e do exterior. “Essas pessoas não se contentam com produtos de baixa qualidade, querem inovações, ainda que para isso tenham que ter um orçamento tabelado, pagando suas compras em várias vezes. O lojista que não se adaptou tende a ficar para trás nesse mercado consumidor. Marcas brasileiras e es-

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Economia

trangeiras atuam nesse segmento com produtos direcionados especificamente a essas pessoas. Assim como os lojistas, os shoppings estão de olho nisso e se adequando fisicamente para atender as necessidades dos clientes e empreendedores”, disse o diretor de Relações Institucionais da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), Luís Augusto Ildefonso da Silva. Com todas suas 128 lojas ocupadas, o Shopping Colinas, também em São José, pretende dobrar de tamanho até maio de 2014. Essa será a primeira vez que o shopping passará por expansão, desde sua inauguração em 1997. A intenção é investir R$ 225 milhões no projeto que resultará, entre outras coisas, na implantação de mais 170 pontos de venda. O objetivo é oferecer maior opção de compra às pessoas, com grifes exclusivas, além, é claro, atender a demanda de lojistas que aguardam por um espaço no estabelecimento. Hoje, cerca de 40 marcas estão na fila de espera. “A rotatividade é pequena, por isso o tempo de espera é grande, principalmente por temos uma taxa de ocupação grande. O que acontece normalmente é a substituição do lojista por outro, quando o contrato dele vence e não é renovado passa a vigorar por tempo indeterminado. Se entendermos que o produto já não é tão atraente para o consumidor ou que a oferta que temos atende melhor as necessidades do público, fazemos a substituição. Para as lojas que virão com a ampliação faremos a oferta comercial entre abril e maio, a partir disso temos entre 18 e 24 meses para entregá-las à marca locatária”, explicou Ferdinando Genduso, superintendente do Shopping Colinas. Ainda que modestamente, o centro de compras mais antigo da cidade, o Shopping Centro São José, promete fazer frente ao movimento do setor e também estuda revitalizar sua área, que conta hoje com 100 lojas. Mesmo com uma fila de dez lojistas interessados em um espaço no empreendimento, ainda não está confirmada uma ampliação. As obras planejadas até o momento fazem parte do projeto Centro Vivo, idealizado pela Prefeitura de São José. Os detalhes sobre as modificações ainda não foram divulgados, mas a previsão é que as obras tenham início em 2012. A fila anda Para evitar espera de lojistas, o Vale Sul Shopping afirma adotar uma política diferenciada no atendimento comercial. Por dia chegam, em média, 20 consultas de empre-

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EXPANSÃO Com suas 128 lojas ocupadas, o Shopping Colinas, pretende dobrar de tamanho até maio de 2014

RAIO-X DOS SHOPPINGS

1.008 LOJAS nos shoppings do Vale do Paraíba, com 96,8% de ocupação

188 MARCAS estão na fila de espera por um espaço nos centros de compras

300 REAIS é o preço médio do investimento por metro quadrado

sários questionando a possibilidade e viabilidade de abrir seu empreendimento no centro de compras. Todas as propostas são analisadas em um curto período e o interessado tem a resposta, positiva ou negativa, em poucas semanas. O shopping estuda os últimos detalhes para dar início a seu plano de expansão, que prevê um prédio de três pavimentos com a incorporação de mais 60 lojas, sendo que 90% dessas já estão reservadas. “Por causa da grande concentração de indústrias, muitas pessoas estão vindo para São José. Nós estamos fechando com muitas franquias de outros estados, são pessoas que vêm do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Espírito Santo e investem no shopping. Pessoas que estão vindo para trabalhar em indústrias e agregando alguma atividade extra por ver o potencial de crescimento da cidade”, disse Erika Cristina da Silva, Relações Comerciais do Vale Sul Shopping. O valor que será aplicado no shopping com a ampliação não foi divulgado. A maioria dos shoppings consultados pela reportagem possui contrato de locação de

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Economia

OCUPAÇÃO Das 60 lojas que serão implantadas pelo Vale Sul, 54 já estão reservadas

cinco anos. Poucos lojistas não cumprem o período estipulado –o que deixa menos provável a disponibilidade de uma vaga por desistência de um algum empresário. Quando isso acontece, normalmente é porque o proprietário da marca entende que seu negócio já está consolidado no mercado e consegue sobreviver longe dos centros de compra, partindo para áreas urbanas adequadas para seu ramo e público. Foi o que aconteceu com a empresária Patrícia Couto, que possuía três lojas em um único shopping de São José. Depois de cinco anos com duas e três anos com outra, decidiu levá-las para áreas nobres da cidade. Com a medida, acredita que ganhou na qualidade de atendimento de seus funcionários, já que a carga de trabalho é menos exaustiva e, principalmente, no custo de manutenção. “O shopping dá visibilidade, mas o custo é alto. Aproveitei nossa experiência e fidelidade dos clientes para conseguir espaço na rua. Acredito que garanti uma economia de 50% com a mudança. São José está criando locais adequados para o comércio de rua, isso é uma tendência, comum nas grandes cidades, como a Oscar Freire, em São Paulo, e a Quinta Avenida, em Nova Iorque”, explicou Patrícia.

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Mercado O desenvolvimento do mercado varejista de shopping está presente também em outras cidades do Vale. Assim como na vizinha São José, há anos Taubaté e Jacareí têm problemas de saturação dentro do centro de compras. O sofrimento passa pelos consumidores, que amargam a falta de variedades de marcas e produtos, e chega aos lojistas, que gostariam de oferecer novas opções de consumo, mas ficam com seus investimentos congelados devido a falta de espaço para seus empreendimentos. Por isso, depois de três anos desde a última ampliação, o Taubaté Shopping entra em um período de obras que deve terminar em outubro do próximo ano. O valor aplicado é de R$ 20 milhões, o dobro do previsto inicialmente. O resultado será a expansão do mix de 160 para 200 lojas. O suficiente para suprir a fila que o shopping possui hoje, que é de 40 lojistas, todos em negociação para implantação, sendo que pelo menos três grandes redes já estão confirmadas. A cidade terá ainda um novo e moderno espaço de compras, tratase do Via Vale Garden Shopping. A construção está acelerada e a inauguração prevista para outubro de 2012. Serão mais 200 lojas,

a maioria já comercializada, inclusive mega lojas e âncoras já foram definidas. O investimento total é de R$ 185 milhões. O Jacareí Shopping, único centro de compras do município, tem 16 franquias a espera de uma vaga. A fila deve começar a andar a partir do próximo ano, quando 25 lojas serão entregues, somando-se as outras 80 existentes. Para garantir o novo espaço, R$ 25 milhões estão sendo aplicados. No Buriti Shopping, em Guaratinguetá, os investimentos em ampliação estão em fase de estudo. O centro de compras nunca passou por uma ampliação. Apenas quatro lojas foram incorporadas desde sua inauguração há seis anos. A urgência de novos espaços começa a ser sentida na ocupação, já que nenhuma loja está disponível e existem 12 negociações na fila de espera. Pindamonhangaba ganhará seu primeiro shopping center. As obras devem começar ainda este mês, com inauguração prevista para abril de 2013. Serão 195 lojas a um custo total de R$ 80 milhões. “A necessidade dos lojistas reflete o poder de compra dos brasileiros. Esse crescimento vai continuar enquanto o País tiver com a economia estável, sem grades riscos para o investidor e consumidores”, finalizou Adriana Colloca da Abrace. •

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Ciência & Tecnologia

Fabíola de Oliveira

Resolvi compartilhar: porque finalmente me rendi ao Facebook

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endição é mesmo a melhor palavra para descrever a insegurança, um certo tédio e descaso, que eu, possivelmente como muitos de minha geração (com mais de 50), senti e me comportei em relação às redes sociais. Eu não, colocar minha vida exposta para todo mundo ver, nem pensar! Depois, Orkut e Twitter sempre achei (e continuo achando), uma chatura, uma pobreza mesmo esta coisa cheia de palavras resumidas e posts twitados sobre os assuntos mais banais do mundo, trucidando a língua escrita.

CURTI Hoje já são 800 milhões de usuários, mais do que 10% da população mundial

Mas aí, devagarzinho, quase que sorrateiramente, o Facebook foi entrando em minha vida. Primeiro vi que algumas pessoas que respeito e gosto já estavam no FB. Entrei lá e coloquei algumas informações no perfil, bem poucas para começar. Pronto, foi o suficiente para em menos de uma semana receber a solicitação de amizade de pessoas que eu mal conhecia e, em alguns casos, não queria conhecer. Cancelei tudo. Na verdade eu não estava ainda entendo bem o espírito da coisa. Em pouco tempo o namoro recomeçou. Lendo coisas interessantes aqui e acolá, assistindo ao filme “A Rede Social”, e em alguns momentos me sentindo meio por fora em conversas sobre o que rola pelas redes. Não, não estou fazendo pro-

paganda ou apologia à rede social. O jovem Zuckerberg e sua turma ultra criativa não precisam disto. É uma constatação. A rendição total aconteceu há alguns meses, quando soube que minha filha adolescente colocou minha foto no FB dela. Pronto, acertou em cheio! Criei novamente minha conta, fui alimentando o perfil. Em pouquíssimo tempo descobri (sei que tardiamente) um veículo fantástico de comunicação com ela, com os amigos dela, e claro, com amigos e colegas de profissão. O que surpreende é saber que atualmente são mais de 800 milhões de usuários do FB, mais do que 10% da população mundial! E a turma do Zuckerberg não para. Agora vem aí um novo FB, que promete desbancar re-

des como o Twitter, o FourSquare e o Flickr. A nova interface que estará disponível em breve, vai transformar o FB não só em a maior rede de relacionamentos do planeta, mas também na mais poderosa ferramenta de marketing. De acordo com a revista Info, “com o uso da plataforma Open Graph o FB poderá se transformar em um gigantesco medidor de audiência em tempo real, um ibope da web mundial”. A invasão da privacidade é sempre um risco, e pode ser esse o lado “Big Brother” do Facebook. Mas há o lado da integração planetária, da plataforma de lutas por causas humanitárias (vide Oriente Médio) e, porque não, uma nova forma de diálogo entre pais e filhos, que suplanta qualquer receio ultrapassado. •

Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br

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No Brasil, as descobertas em energia colocam o país em um novo nível [...] A Petrobras cresceu no seu próprio ritmo impressionante ao longo de décadas, misturando o progresso com retrocessos enquanto o Brasil lutava com a arrastada dependência do petróleo estrangeiro. Mas as enormes descobertas da Pe-

trobras de petróleo no mar nos últimos anos permitem agora aos seus líderes afirmar que poderiam ultrapassar a Exxon Mobil - chamada de Standard Oil no dia a dia de Walter Link - como a maior companhia de petróleo do mundo [...]

Fonte: The New York Times

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Esportes

JOGOS PAN-AMERICANOS

Suor e medalhas Três atletas do Vale do Paraíba subiram ao pódio em Guadalajara; em comum, além das medalhas, força de vontade e superação, todos são esportistas de clubes de outras regiões do Estado

Yann Walter São José dos Campos

pesar de algumas decepções, a participação dos atletas brasileiros nos últimos Jogos Pan-Americanos, disputados em outubro em Guadalajara, pode ser considerada um sucesso. O país não repetiu o desempenho ‘caseiro’ de 2007 no Rio de Janeiro, mas as 48 medalhas de ouro conquistadas transformaram o Pan mexicano no melhor do Brasil fora de seus domínios. Ao todo, o país faturou 141 medalhas, contra 236 para os Estados Unidos. A ilha de Cuba colocou 136 atletas no pódio, mas abocanhou dez ouros a mais que o Brasil. Com o desempenho em Guadalajara, 24 atletas do país já se garantiram nas Olimpíadas de 2012. Como era de se esperar, a maioria das conquistas brasileiras aconteceu nas piscinas, nas pistas de atletismo e nos tatames. O Brasil faturou 24 medalhas na natação (10 de ouro, oito de prata e seis de bronze), 23 no atletismo (10 de ouro, seis de prata e sete de bronze) e 13 no judô (seis de ouro, três de prata e quatro de bronze). Três esportistas do Vale do Paraíba brilharam nestas disciplinas. Três pessoas diferentes, com histórias de vida distintas, que têm em comum, além do vínculo regional, um traço característico dos atletas de alto nível: a capacidade de superação. Leandro Cunha é um destes exemplos. Aos 31 anos, sendo 25 passados nos tatames, o judoca de São José dos Campos disputava os Jogos Pan-Americanos pela primeira vez. Além da pressão inerente à estreia em uma competição importante, embarcou para o México com fragmentos ósseos no cotovelo direito. Não fez a cirurgia necessária antes do torneio, para não perturbar sua preparação. Simplesmente

Jefferson Bernanrdes / Vipcom

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CRUZEIRO Adriana Aparecida da Silva, ouro na maratona enfrentando o calor e a altitude

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Flávio Pereira

SÃO JOSÉ O judoca Leandro Cunha levava salgadinhos que os pais vendiam para os treinos

ignorou o problema e derrubou todos os adversários, um depois do outro. Ganhou a medalha de ouro. “Estava tão focado na conquista que nem senti a dor”, contou o bem-humorado atleta, que recebeu a revista valeparaibano devidamente operado e com o braço enfaixado em sua casa do Jardim América, onde mora com a mulher, a filha Vitória e dois labradores. Como a maioria das crianças brasileiras, Leandro queria ser jogador de futebol. Mas acabou optando pelo judô sob a influência do pai, um vendedor de salgadinhos sensível aos valores morais de disciplina e respeito contidos no esporte oriental. “Meu pai vestia o kimono e levava toda a família para treinar. Eu e meus quatro irmãos nos amontoávamos

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no Passat vermelho dele e passávamos horas na estrada para participar de todos os torneios estaduais. Fui campeão paulista aos 11 anos. Dois de meus irmãos também ganharam títulos regionais e até nacionais. Um deles, Giovane, se tornou professor de judô. O outro, Aristides, virou policial. Mas toda a família é faixa preta”, orgulha-se Leandro. Além do domínio das artes marciais, o judoca da categoria meio-leve (menos de 66 kg) ganhou outro legado do genitor: o apelido de “Coxinha”, que tem desde pequeno. “Meus pais sempre trabalharam com a venda de salgados. Começaram na rua e hoje fazem entregas para festas, casamentos... Quando era moleque costumava levar coxinhas aos treinos”, diverte-se.

Coxinha O primeiro passo para abraçar de vez a carreira de judoca profissional foi dado aos 14 anos, quando “Coxinha” foi aprovado em uma seletiva estadual. “Fui para um centro de treinamento em São Paulo, junto com os melhores judocas do Estado. Passei quatro ou cinco anos lá, só treinando e competindo. Não pagava moradia nem alimentação, mas fora isso não tinha nenhum retorno financeiro. Mesmo assim, não desisti do meu sonho. Meus pais sempre me incentivaram. A situação melhorou um pouco em 1999, quando fiz minha primeira seletiva sênior (acima de 20 anos) e entrei para a seleção brasileira. Dois anos depois, consegui um clube, o Pinheiros, onde estou até hoje”, relatou.

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Esportes Jefferson Bernardes/Vipcom

LADY PAN Uma das atletas mais experientes da região, Fabíola Molina superou inclusive o pesadelo da acusação de doping

Leandro começou a competir pela seleção em 2000, mas, por diversos motivos, os primeiros resultados expressivos só apareceram em 2009, quando o joseense foi selecionado para disputar seu primeiro Mundial. Na curva ascendente, participou também dos de 2010, no Japão, e 2011, em Paris. Foi vice-campeão de ambos. Depois, emendou com o ouro no Pan. Aos 31 anos, está no auge da carreira. Mais maduro e experiente, finalmente está colhendo os frutos de anos de sacrifícios. Sexto mundial da categoria, ele está praticamente garantido nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, seu maior objetivo. “Só os 22 melhores do mundo vão às Olimpíadas, sendo apenas um por país. O brasileiro que está logo atrás de mim no ranking é o 32º do mundo, então ele vai ter que ganhar tudo daqui para frente se quiser me passar”, avisou. “O judô é um trabalho de longo prazo. Estou avançando por etapas, subindo um degrau após o outro. O último, lá em cima, é o ouro olímpico”. Sonhos Disputar uma Olimpíada é o sonho de qualquer esportista, e Adriana Aparecida da Silva não é exceção. Natural de Cruzeiro, Adriana, 30 anos, é outra atleta do Vale que brilhou em Guadalajara. Ignorando o tempo seco e o forte calor, ela se impôs na extenuante maratona, superando em

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1m26s a fundista local Madai Perez, favorita da prova. A cruzeirense cruzou a linha de chegada após duas horas, 36 minutos e 37 segundos de corrida, estabelecendo um novo recorde nos Jogos Pan-Americanos. A vitória de Adriana foi o resultado de meses de sacrifícios e dedicação. “Nunca vou me esquecer desta vitória, pois ela veio após uma preparação intensa. Eu e meu treinador, Cláudio Castilho, analisamos minuciosamente todos os detalhes da prova. Temperatura, umidade, adversárias, nada foi deixado ao acaso”, explicou. Para vencer os efeitos da altitude, Castilho levou sua pupila para a cidade de Paipa, na Colômbia, a 2.600 metros do nível do mar. Nos 35 dias que passou lá, a atleta correu mais de 1.000 km. Retornou a São Paulo – como Leandro Cunha, Adriana da Silva treina no clube de Pinheiros – e duas semanas depois seguiu para San Luis de Potosí, no México, para a última etapa da preparação. Este preparo intensivo era necessário para aplicar a estratégia traçada pela fundista e seu treinador, que decidiram apostar tudo na segunda metade da prova. Adriana começou a maratona em um ritmo cadenciado, para apertar o ritmo a partir dos 25 km. As duas primeiras colocadas, que haviam iniciado a prova em um ritmo acelerado, não aguentaram o tranco e ‘quebraram’, como dizem os corredores. A cruzeirense seguiu firme na pista e foi premiada com o ouro.

Ao contrário do judoca Leandro Cunha, Adriana entrou no esporte relativamente tarde, aos 12 anos. “Meu irmão mais novo me chamou para participar de uma corrida em Cruzeiro, e fui a primeira colocada. Desde então, não parei mais de competir. Respiro atletismo 24 horas por dia. Treino de segunda a segunda e corro, em média, 30 km por dia”, afirmou a fundista, definindo-se como uma pessoa caseira. “Não saio muito à noite, pois os treinos são muito puxados e fico cansada. Gosto de ficar em casa ouvindo música sertaneja. Sou fã de Zezé di Camargo e Luciano”, entregou. Lady Pan No caso de Fabíola Molina, a conhecida nadadora de São José dos Campos, a paixão pelo esporte se desenvolveu gradativamente. “Comecei a nadar aos quatro anos porque tinha bronquite e meus pais achavam importante eu aprender a nadar. Meu pai gosta muito do mar. Quando era pequena, passávamos todos os fins de semana na praia, mergulhando, nadando e velejando”, explicou a simpática Fabíola, destacando que começou a gostar mesmo da natação aos 11 anos, quando passou a competir oficialmente. Na AESJ (Associação Esportiva de São José) desde os seis anos de idade, a nadadora de 36 anos passou grande parte de sua vida nos Estados Unidos, dividindo-se constantemente entre este país e o Brasil. Aos 18 anos, saiu de

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São José rumo a Knoxville, Tenessee, onde ficou por quatro anos. Depois disso, os destinos diferentes se sucederam: em pouco mais de uma década, ela viveu em Nova York, Rio de Janeiro, Coral Springs (Flórida), Provo (Utah), Itália e Brasília, sem contar as voltas frequentes à cidade natal. Em meados de setembro, pouco antes dos Jogos Pan-Americanos, mudou-se com o marido, o também nadador Diogo Yabe, para a cidade de Jacksonville, na Flórida. “Aqui é legal, estamos bem perto da praia. Mas o lugar onde mais gostamos de morar foi Ispra, uma cidade de 5.000 habitantes na região da Lombardia, no norte da Itália”, revelou. Os últimos Jogos Pan-Americanos, uma competição que disputava pela quinta vez –recorde que lhe rendeu o apelido de Lady Pan– não tiveram um sabor tão especial para Fabíola, dona desde 2004 de uma confecção de moda esportiva e praiana que leva seu nome e exporta peças para os quatro cantos do planeta. Afinal, ela conquistou ‘apenas’ uma medalha de bronze no revezamento 4x100 medley, deixando escapar o pódio nos 100m costas por quatro centésimos. Em

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cinco participações no torneio continental, faturou seis medalhas, sendo cinco de bronze e uma de prata. Disputou duas Olimpíadas (Sydney-2000 e Pequim-2008) e 11 Mundiais. Em três décadas nas piscinas, conquistou, ao todo, mais de mil medalhas. Mesmo assim, todas são devidamente festejadas. “Cada medalha é especial. A de Guadalajara significa muito para mim, pois mostra que vinte anos depois de meu primeiro Pan, continuo competitiva. Além disso, veio após um resultado analítico adverso que me magoou muito”, disse a nadadora, referindo-se a um teste antidoping realizado em junho que acusou a presença da substância metilhexanamina em seu organismo. A intenção não foi ganhar performance, como reconheceu a própria CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos). Ela apenas consumiu um suplemento alimentar diferente sem fazer as verificações adequadas. Mesmo assim, foi punida com uma suspensão de dois meses, não pôde disputar o Mundial de Xangai e perdeu o índice para os Jogos de 2012. “Foi um pesadelo estar envolvida com algo que

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sempre combati e que não condiz com minha postura ética”, relembrou. Assim como Leandro Cunha e Adriana da Silva, Fabíola Molina tem uma meta: os Jogos Olímpicos, palco das maiores consagrações da história do esporte. Ao contrário do judoca e da fundista, a nadadora já esteve lá. Duas vezes. Mas a Olimpíada de Londres também terá um gostinho especial para ela, pois certamente será sua última. É para a medalha olímpica que Leandro, Adriana e Fabíola fazem todos estes sacrifícios. Treinam diariamente por horas a fio, até a exaustão. Dormem cedo. Fazem dietas rigorosas. Passam meses longe de suas famílias. Quase não tiram férias. Vivem sob a ameaça de lesões, pior pesadelo do esportista de alto nível. Mas como disse Leandro, “ser reconhecido pelo que você faz de melhor é algo que não tem preço. É uma satisfação muito grande ver que todos os sacrifícios não foram em vão”. “O esporte nos ensina a ter disciplina, a acreditar em nós e a lutar pelos nossos sonhos”, resumiu Fabíola. “Gosto de desafios, de superar limites, e o esporte proporciona isso”, encerrou Adriana. •

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Reportagem de Capa

PESQUISA

Coleção de gente Cunha abriga um dos maiores acervos patológicos do mundo graças ao trabalho voluntário de um médico que dedica a vida para que outras sejam salvas no futuro Hernane Lélis Cunha

u tenho um defeito, nunca consegui jogar nada fora”. A frase poderia soar comum se o médico Luiz Celso Mattosinho França, 80 anos, estivesse se referindo a jornais, revistas ou qualquer outro tipo de objeto em desuso. Mas o comentário era direcionado a pedaços de cérebros, olhos, lascas de ossos, peles e outras partes do corpo humano preservadas em pequenos blocos de parafina, armazenadas em um galpão de sua fazenda produtora de queijo, em Cunha. São milhares de órgãos e tecidos, mais precisamente 1,1 milhão, que formam um dos maiores e mais importantes acervos patológicos do mundo. O “tesouro”, como ele costuma chamar sem nenhum eufemismo sua coleção, é resultado de quatro décadas de trabalho dedicadas à patologia. Debruçado sobre o microscópio, doutor Mattosinho guardou todo o material de biópsia que chegou às suas mãos para que fossem analisados e pudessem revelar tumores, úlceras, inflamações ou qualquer outra doença de seus donos. São 7.995 pedaços de bocas, 3.715 de línguas, 1.004 pedacinhos de corações, 69.899 de estômagos e mais 851.487 partes de outros 111 órgãos que poderiam ter sido descartados depois de cinco anos –como prevê a lei.

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Fotos: Flávio Pereira

FRAGMENTO Dr. Mattosinho exibe uma das lâminas do seu acervo de 1,1 milhão de amostras

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Reportagem de Capa

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CATALOGADAS Amostras de parafina com pedaços dos tecidos usados nas pesquisas; ao lado, ilustração do DNA

Hoje, graças ao “defeito” de Mattosinho, essas amostras de células e invasores podem contribuir no tratamento e combate de doenças como o câncer e o HIV, o vírus da Aids. “É possível saber como as doenças evoluíram e como foram tratadas ao longo das últimas décadas no Brasil. Com as técnicas modernas de biologia molecular podemos descobrir a composição genética de um vírus, saber se ele sofreu alguma mutação com o tempo e quais são as doenças similares. Esse material é como se fosse uma pedreira, dela você pode tirar cascalhos e blocos trabalhados, mas a finalidade é tirar blocos trabalhados”, explicou Mattosinho. É o que já vem fazendo alguns patologistas da capital e de outras regiões do Estado. Frequentemente eles entram em contato com Mattosinho pedindo determinadas amostras e diagnósticos para novos estudos. “A maioria quer reavaliar o caso. O tumor pode ter sido tratado e tempos depois aparecido novamente. Se tem um tumor que voltou, o médico precisa saber se o quadro citológico atual é o mesmo que o quadro prévio. A medicina evoluiu muito, se eu pegar um diagnóstico para avaliar pode ser que chegue a uma conclusão diferente da apresentada em 1970, por exemplo, isso mudaria todo o tratamento”, disse. A mesma humildade que usaria em uma reavaliação de seus diagnósticos, ele apresenta ao ser questionado sobre a identidade de seus pacientes. Do Laboratório Mattosinho

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de Patologia Clínica, um dos mais respeitados do Brasil, saíram laudos de importantes figuras políticas e algumas celebridades, mas é com muita discrição que ele fala sobre essas pessoas. Depois de pensar um pouco sobre o assunto, “lembrou” da paciente Maria Aparecida Abravanel, primeira mulher do apresentador Sílvio Santos, que morreu de câncer em 1977. O material recolhido para sua biópsia encontra-se preservado assim como de outros personagens que habitaram a vida do doutor –ainda que de forma impessoal. Acervo No Brasil, a única coleção com dimensões semelhantes à de Mattosinho é a do Hospital do Servidor Público de São Paulo, com 500 mil amostras. Nos Estados Unidos, o Armed Forces Institute of Pathology guarda milhares de exemplares desde sua fundação, em 1862, em um prédio construído exclusivamente para o armazenamento do material. Mattosinho tira dinheiro do próprio bolso para a manutenção de seu banco de células. Em janeiro de 2005, iniciou com uma equipe de seis pessoas a digitalização de seu acervo, todo o material está catalogado e disponível na internet pelo site www.mattosinhopath.com, classificado segundo códigos internacionais. O acervo físico, colecionado entre 1961 e 2001, seria doado ao Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo, onde Mattosinho

exerceu a função de diretor do Serviço de Anatomia Patológica. O problema é que o local não dispõe de um espaço adequando para armazenar as amostras, uma vez que a instituição já possui seu próprio acervo, também catálogo digitalmente. “Minha intenção agora é montar uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) para gerir o projeto. Vou negociar com faculdades para fornecer o material, o importante é que seja usado a favor da medicina, não fique apenas armazenado”. O valor científico dessas amostras é imenso para profissionais da área e, consequentemente, para a humanidade. Um acervo desse tipo foi usado, por exemplo, numa pesquisa importantíssima sobre gripe espanhola, feita no final do século 20. Os cientistas foram até perto do Pólo Norte para desenterrar vítimas da gripe, que atacou em 1918. A esperança era que o vírus estivesse vivo dentro dos cadáveres, conservados pelo gelo eterno daquela região. Para confirmar que o vírus do gelo era igual ao vírus original, foram usadas parafinas com tecidos de soldados mortos pela mesma gripe, guardados num banco de tecidos de um hospital americano. Também foi com material semelhante ao guardado por Mattosinho, que médicos patologistas do Rio de Janeiro constataram que as doenças que atingem os brasileiros hoje estão mais parecidas com as desenvolvidas por moradores de países do primeiro mundo do que eram há algumas décadas. Eles observaram

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que um tipo de linfoma, o Linfoma de Hodgkin –câncer que se origina nos gânglios do sistema linfático– sofreu algumas alterações no tipo de apresentação, ficando mais parecido com as formas encontradas nos Estados Unidos e na Europa, sendo possível analisar com mais acuidade a causa da doença. “Este acervo possui uma importância muito grande para a ciência como fonte de pesquisa. O problema esbarra na falta de investimentos públicos para o setor, uma vez que o material está disponível. O Brasil precisa valorizar mais esse campo da ciência, temos excelentes profissionais que podem garantir avanços significativos no setor. O problema é que os órgãos públicos não estão interessados em aplicar na área, uma vez que ela tem pouca visibilidade perante a sociedade, disse Carlos Renato Almeida Melo, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia. Para ele, patologistas são médicos dos bastidores da saúde, que conversam com os pacientes através de suas células, descobrindo por meio delas certas intimidades desconhecidas até mesmo por seus donos. Sem esse diálogo, não existiria diagnóstico e informações su-

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Reportagem de Capa

ficientes para o tratamento de boa parte das doenças. “A desvalorização é tão grande, que em muitos casos o setor de patologia de um hospital fica no subsolo do prédio”, acrescentou Melo, temendo que o trabalho e todo o material preservado por Mattosinho se percam com o tempo, caso nenhum representante acadêmico manifeste interesse no acervo. Destino Incerto O maior acervo catalogado de patologia do mundo, de propriedade do doutor Matosinho, encontra-se em um galpão simples, de no máximo 15 metros quadrados, em uma propriedade de 206 alqueires no distrito de Campos de Cunha, em Cunha. O material é preservado em temperatura ambiente, distribuído em caixas de plásticos, dessas encontradas em supermercados. Os blocos de parafina estão em pequenos sacos plásticos, parecidos com os vendidos em aeroportos para embalar frascos em voos internacionais. Cada caixa possui uma etiqueta de identificação, assim como os saquinhos com as amostras retiradas para biópsia, tudo organizado segundo os critérios do Systematized Nomenclature of Pathology, do College of American Pathologist, sociedade médica mundial. Todo o trabalho foi feito por no máximo seis pessoas, sendo que hoje apenas três seguem na equipe de Mattosinho finalizando a digitalização do acervo. A mais próxima do campo da medicina é Ana Sampaio, que se formou em auxiliar de enfermagem. Alceu Fagundes era motorista de transporte escolar e tornou-se braço direito do doutor no projeto. Sem gaguejar ele pronuncia coisas como “Helicobacter pylori”, a bactéria causadora de gastrite e da úlcera gástrica e conhece de cor alguns códigos usados na identificação patológica. “Foi difícil aprender tudo, mas valeu a pena por saber que vamos deixar uma bela herança cientifica”, disse Alceu, orgulhoso pelo feito. O tesouro de Mattosinho e equipe recebe a guarda de sete cães, que abanam o rabo para o primeiro desconhecido que adentra a propriedade rural. A única criatura que causa temor a quem se aproxima é um touro mal encarado que acompanha cada passo de uma pessoa em um raio de 30 metros. Em outro galpão, Mattosinho mantém em gavetas todas as lâminas de vidro que foram usadas em suas análises – ainda com o material retirado das amostras. O mesmo local abriga centenas de livros enfileirados em estantes de ferro, são páginas e mais páginas, a maioria datilografada, contendo o diagnóstico dos pacientes. Como tudo está digitalizado, a intenção do médico é incinerar todo o material de papel.

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EQUIPE Além do médico, a auxiliar de enfermagem Ana Sampaio e o motorista escolar Alceu Fagundes formam a equipe responsável pelo arquivo

Amostras de tecidos estão organizadas de acordo com critérios do Systematized Nomenclature of Pathology, do College of American Pathologist

Já as lâminas, segundo ele, terão o mesmo destino que os blocos de parafina, uma vez que são materiais complementares. “Não faço ideia quanto investi até agora. O custo maior ficou por conta da digitalização do acervo, que vai completar sete anos. Contratei uma pessoa para desenvolver o site e o programa de armazenamento, além dos funcionários para separar as peças, fotografar e digitar tudo. É um tipo de material que não precisa de muitos cuidados para armazenamento e manutenção”, explicou o doutor. Ainda sim o médico Venâncio Avancini Fer-

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reira Alves, professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Diretor da Divisão de Anatomia Patológica do Hospital das Clínicas da USP, acredita que o melhor destino para as amostras é permanecer com o proprietário, mas custeado por algum órgão público. Para ele, dificilmente alguma entidade pode receber e abrigar o material, uma vez que a maioria das instituições de saúde possui seu próprio acervo patológico, mesmo que a dimensão seja diferente do material preservado em Cunha. “Guardar os blocos de parafina é essencial para o bem das pessoas, que se tiverem outra lesão podem comparar com as amostras anteriores, e também para interesses epidemiológicos, estatísticos e científicos. O problema é que quase ninguém tem área física para guardar isso, nas cidades maiores o metro quadrado é caríssimo. Custa caro investir nisso, precisa de um espaço grande. O Hospital das Clínicas, o Hospital São Paulo e a Santa Casa possuem seus arquivos. A melhor alternativa é fazer o arquivo Mattosinho França, com algum órgão público mantendo isso”, explicou Alves. •

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ESPAÇO Nenhum outro local em um centro urbano tem a capacidade de abrigar o acervo

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RAIO-X

Sociedade

SURGIMENTO

COMPOSIÇÃO

USO

AÇÃO

T

Nos Estados Unidos, na década de 1980, em bairros pobres de Nova York, Los Angeles e Miami

Obtido a partir da mistura da pasta base de coca ou cocaína refinada com bicarbonato de sódio e água

O crack geralmente é fumado com cachimbos improvisados, feitos de latas de alumínio e tubos

O efeito do crack é quase imediato: de 8 a 15 segundos. No cérebro, a ação dura entre 5 e 10 minutos

O p p v P

k

• pedras de crac

DROGAS S/A

Destruição em massa Presente em 98% das cidades brasileiras, o crack se aproxima do álcool, vira pandemia e arrasta usuários e seus familiares para o fundo do poço. Conheça o relato de quem vive à beira do abismo

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Fotos: Flávio Pereira

TRÁFICO

DISSEMINAÇÃO

TRATAMENTO

MISTURA

VALE

O crack brasileiro é produzido a partir da pasta base de coca vinda da Colômbia, Peru e Bolívia

O uso do crack já empata com o álcool em cidades paulistas entre 50 e 100 mil habitantes

Estudo aponta que 79% das 325 cidades paulistas não dispõem de leitos públicos para tratar os dependentes

A droga concentra os princípios ativos da cocaína, mas pode conter outros tipos de substâncias tóxicas

Segundo o Observatório do Crack, lançado em abril pela Confederação Nacional dos Municípios, nenhuma das 39 cidades do Vale do Paraíba possui diagnóstico sobre o consumo de crack e estrutura para reinserir o usuário à sociedade

Xandu Alves São José dos Campos

iciados em crack têm sede de fogo. O corpo sempre exige a próxima tragada. A labareda do isqueiro, a pedra em brasa e a fumaça dos cachimbos formam nuvens de tempestade acima da cabeça dos drogados. E na de seus familiares também. A chuva de fogo queima quem estiver ao redor. Não poupa ninguém. Sem estrutura para atender dependentes de crack, o Vale do Paraíba e a maior parte dos municípios do país assistem a droga mais barata e acessível do submundo se tornar uma

V

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pandemia e dinamitar a vida dos dependentes. A cada aspirada de crack, o usuário se mata um pouco e leva junto seus familiares. A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) estima em mais de um milhão os viciados em crack no país, cuja escalada não tem precedentes na história brasileira. No início dos anos 1990, a droga só podia ser encontrada em São Paulo. Vinte anos depois, está presente em 98% dos municípios brasileiros, desde grandes capitais a cidades do interior, e qualquer criança consegue comprá-la nas ruas. A droga também deixou de ser procurada apenas por mendigos e marginais. O crack ascendeu socialmente. “O crack é o câncer da humanidade”, compara Antônio Eleutério Neto, 49 anos, ex-viciado em drogas que se curou e hoje é coordenador da Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, comunidade terapêutica na

qual ele foi o primeiro a se recuperar. Com 80 unidades espalhadas em mais de 10 países, a Fazenda tornou-se referência no tratamento de dependentes ao aliar a recuperação com o tripé espiritualidade, trabalho e convivência. Segundo Neto, das 10 famílias que procuram o centro todos os meses atrás de internação, nove têm dependentes de crack. A maioria é de classe média. O motivo de tamanha penetração? Responde ele: “É uma droga barata, a dependência é devastadora e os efeitos são tão rápidos que obrigam a pessoa a procurar sempre uma dose maior. Isso acaba com ela na mesma velocidade. O crack devasta o usuário e a família”. Poucos relatos são mais dramáticos do que o da doméstica Mara (*), cujo filho caçula começou a experimentar crack aos 10 anos, em 2006, na região sul de São José.

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Sociedade

Ele conseguia crack nas ruas como outros meninos. A mãe percebeu o vício quando até as panelas da cozinha sumiram. O garoto trocava tudo por pedras de crack. Com mais três filhos em casa, Mara conta que o caçula roubava roupas e pertences dos irmãos para entregar aos traficantes. Revoltados, os filhos saíram de casa, e Mara chegou a uma situação limite. Ou colocava um basta na dependência do filho ou iria matá-lo, suicidando-se em seguida. “Se aquilo não terminasse, a única solução era matar meu filho e depois me matar. Não havia mais vida.” A internação era a única opção considerada por Mara no estágio em que chegara o vício do filho. Ela perdeu o emprego e passou a viver da ajuda de amigos de tantas vezes que teve que buscá-lo nas biqueiras da cidade. Isso incomodava os traficantes, que a obrigaram a sair de casa. “Fui expulsa do Morumbi (bairro da região sul de São José) pelos traficantes. Era sair ou morrer.” Tragédia anunciada, Mara tomou a decisão mais dura em sua vida quando, ao resgatar o filho quase morto depois de uma noitada de crack, decidiu acorrentá-lo dentro de casa até conseguir a tão sonhada internação. “Pedi a um policial que prendesse meu filho. Ele disse que não podia fazer isso e sugeriu que eu chamasse a imprensa”, comenta. Foi o que ela fez em julho de 2009. Deixou o filho acorrentado ao sofá e foi expor sua dor na televisão e nos jornais. A imagem do adolescente acorrentado comoveu as autoridades e o menino passou a ser acompanhado pelos serviços de saúde. Ele foi internado no centro de recuperação Recanto das Garças, em Bragança Paulista, entidade conveniada da Prefeitura de São José desde 2007. Mas o que parecia um sonho para Mara, com o filho se tratando, virou um novo pesadelo. O convênio terminou no ano passado e não foi renovado. O filho foi obrigado a voltar para casa. A internação não foi suficiente para afastá-lo das drogas, e ele retornou ao mundo do crack. “Eu não tinha como vigiá-lo 24 horas. Precisava trabalhar. Ele começou a andar pelas ruas e a droga o conquistou novamente.” Sem saber mais o que fazer, Mara jogou sua última cartada há dois meses. Pediu ao pai do menino, de quem está separada e que mora no Piauí, que cuidasse do garoto. Aos 15 anos, sem saber ler ou escrever, o adolescente viajou de avião com ajuda da companhia aérea. Mara arrumou dinheiro, que não tinha, para

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evitar que ele fosse de ônibus. Ela tinha medo que ele se perdesse pelo caminho. “Ele só sabe escrever o primeiro nome. A droga acabou com a vida dele.” Hoje, a doméstica fala com o filho quase todos os dias pelo telefone e se apega em uma foto para não esquecer o sorriso dele. Ainda sonha em trazer o jovem para casa, mas os tempos sombrios ainda não passaram. “Lembro das cenas de terror nas bocadas que ele entrava. Pessoas totalmente degradadas vivendo para a droga. É muito fácil achar crack nas ruas. Imagino quantas mães vão passar pelo que sofri”, lamenta a mãe.

Escalada Esses garotos são exemplos de como o crack conquistou o primeiro lugar nas ruas, atraindo gente de todas as classes sociais. Há cinco anos, 80% dos que procuravam tratamento no Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) de São José eram dependentes de álcool. Hoje, a bebida ainda responde por 44% dos casos, mas o vício em crack atingiu 40% dos pacientes. Por mês, o centro atende 480 pessoas. Patricia Minari, psicóloga e gerente do Caps, considera o poder devastador do crack o principal responsável pela disseminação da droga. O uso leva à compulsão por mais doses cujos

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volvimento da Medicina), que administra o Hospital Municipal de São José, acredita que a rede de varejo que se criou em torno do crack foi o que mais contribuiu para sua propagação. “É uma rede muito bem distribuída e que tem autonomia própria. Ela se disseminou rápido e a droga ficou muita barata. Muitas pessoas a consomem, pois os usuários se tornam dependentes”, afirma o médico, criticando a lentidão dos governos em reagir. “Em relação ao crack, nada está sendo feito no momento. Não há políticas concretas.” Outro especialista atesta a subida da droga na pirâmide social. Em sua clínica, o psiquiatra Jorge César Figueiredo recebe pacientes que podem pagar R$ 13.500 por mês. De sete internados, três são dependentes de crack. “Tem advogado, filósofo, professor. O poder viciante é impressionante. De cada dez pessoas que provam bebida alcoólica, uma vira dependente. Com o crack, são nove.” Para ele, a explicação está na sensação que o crack provoca em quem experimenta. A droga faz com que a pessoa se sinta forte e invulnerável. Então, ela fica com uma lembrança eufórica daquela experiência, mas que some rapidamente. É raro quem não busque a segunda, terceira e quarta doses. O vício se instala rapidamente. “A pessoa fica agressiva, perde a autocrítica. Se precisar pisar no pescoço da mãe para conseguir a droga, vai pisar. Quem fuma crack vira um monstro”, diz Figueiredo.

MAURO Um prato com açúcar, uma vela de sete dias, o nome do filho escrito em um papel branco

“Cheguei num ponto que planejei matar meu filho e depois me matar. Era a única maneira de livrá-lo das drogas e de todo o sofrimento que a vida se transformou” Da doméstica Mara, 42 anos, mãe de um viciado em crack

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efeitos são a perda gradual do controle sobre a própria vontade, perturbação psíquica e agressividade, além de levar o viciado para a criminalidade. O dinheiro acaba e ele precisa roubar para sustentar o vício. Nesse contexto, a família vira refém do drogado. “Todos se debilitam e adoecem com o dependente. Há muitos casos de pessoas que perdem tudo por causa da droga, inclusive a família”, diz ela. Especialista em crack e uma das principais vozes contrárias à legalização das drogas no Brasil, o médico e psiquiatra Ronaldo Laranjeira, membro do conselho administrativo da SPDM (Associação Paulista para o Desen-

Terror Chegar aos 47 anos foi uma vitória para o caminhoneiro Silva (*). Ele temeu ficar pelo meio do caminho diante das cenas de terror que viveu. Quase enfartou e ainda flagrou a mulher tomando remédios para se matar. Tudo isso por causa do filho viciado em crack. “Não suportamos a pressão”, afirma. A sina de Marcelo (*), 22 anos, começou na infância. Os pais biológicos se separaram e, aos seis meses de idade, ele ganhou o padrasto a quem chama de pai até hoje. Silva se casou com a mãe dele e o adotou como filho. Os dois viram-se pela última vez no começo de outubro, na primeira visita que Silva e a mulher fizeram à Fazenda da Esperança, em Guará, onde Marcelo está internado desde julho deste ano. Silva conta que a infância e adolescência do filho foram normais e que ele era bom aluno e educado, conquistando a confiança dos pais. Arrumou emprego e, por causa da facilidade com que lidava com pessoas, matriculou-se numa faculdade de Recursos Humanos em

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Sociedade

MARCELO Em quatro anos de uso, o jovem se envolveu em roubos para sanar o vício

Guarulhos, onde mora a família. No meio do caminho, porém, havia as pedras de crack. Em quatro anos, ele desceu ao inferno e abraçou o diabo, mesmo tentando disfarçar o capeta em pele de anjo. “Eu ia para a igreja usando droga. Estava no fundo do poço, mas me escondia atrás da Bíblia”, conta Marcelo. Começou a cheirar cocaína aos 18 anos e, quanto mais prazer tinha, mais droga consumia. Para sustentar o vício, ele e os amigos começaram a roubar. Os pais perceberam que algo estava errado quando Marcelo passou a mentir, a ficar horas longe de casa e a perder empregos com frequência. O caldo entornou quando ele foi preso. “O mundo caiu na nossa cabeça”, recorda o caminhoneiro. Marcelo foi condenado por receptação e cumpriu pena no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Guarulhos. Ficou quatro meses no regime fechado. Mesmo assim, não se livrou das drogas. “Tinha de tudo na prisão”, conta ele. Ao sair da cadeia, em liberdade provisória, o vício continuou. Empregado novamente, Marcelo roubava do caixa da empresa para se drogar. Chegou a fugir por três dias com

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R$ 2.500 no bolso. Torrou tudo em cocaína e crack. Aí, tombou de vez. “A sensação do crack é 10 vezes mais forte do que a cocaína, mas é mais rápido. Com a cocaína, chega um momento em que o nariz entope e não dá mais para usar, mesmo que queira. O crack não. Você usa direto e ele vai acabando com você. Entrei nessa espiral”, explica o dependente. Dois pais A solução era tirar Marcelo da vida que levava, que estava matando aos poucos a si próprio e a seus pais. “Perdi a conta de quantas vezes entramos nas favelas para procurar meu filho”, diz Silva. Nesse ponto da tragédia, uma feliz coincidência mudou o rumo da história. O pai biológico de Marcelo reapareceu. Nos últimos dois anos, o comerciante Antonio (*), 46 anos, dono de uma loja na região sul de São José, tentava conhecer o filho de sangue. A segunda mulher dele procurava o nome do rapaz na internet e o encontrou nas redes sociais. Eles fizeram contato e o jovem topou conversar pelo te-

lefone, e depois pessoalmente. O primeiro encontro foi cheio de emoção. A bomba veio 15 dias depois, quando o filho ligou para o pai e confessou ser viciado em crack. “Ele pediu a nossa ajuda para sair dessa vida. Procuramos a internação e conseguimos na Fazenda da Esperança”, afirma Antonio. Ele e Marcelo também se encontraram no começo de outubro, durante a primeira visita. Os dois pais do dependente acreditam que ele conseguirá sair do mundo das drogas. Para tanto, terá que ser forte. Marcelo deve ficar na comunidade até 2012, para depois ir morar e trabalhar com o pai biológico em São José. “Vontade de ir embora eu tenho todos os dias, mas estou convicto de ficar aqui. Lá fora, fazia tudo pela droga. Aqui dentro faço tudo pela família e por Deus”, diz ele. Velas Um prato com açúcar, uma vela de sete dias, o nome do filho escrito em um papel branco. Tudo colocado na parte mais alta da casa. Mauro (*), 66 anos, se apega na simpatia e nas orações a santos da Igreja Católica para ajudar o

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MITOS E VERDADES O crack gera dependência logo na primeira experiência Mito. Apesar de ser absorvido quase totalmente pelo organismo, apenas o uso recorrente do crack causa dependência

O crack é pior que a maconha e a cocaína Verdade. O crack é mais potente e tem efeitos diferentes. Uma vez que o crack deixa o indivíduo mais impulsivo e agitado, e gera dependência e fissura de forma intensa, O crack só atinge a popu- ele termina tendo um lação de baixa renda impacto maior sobre a Mito. O crack foi consisaúde e a vida do usuário derado inicialmente uma droga “de rua” e dos mais O crack sempre faz pobres, mas hoje atinge mal à saúde todas as camadas sociais Verdade. O uso dessa droga compromete o O usuário corre mais ris- comportamento como co de contrair Aids um todo, mas espeVerdade. Isso ocorre porcialmente a atenção que os usuários da droga e concentração, caucostumam adotar compor- sando falta de sono e tamentos de risco, como quadros de alucinação praticar sexo sem proteção e delírio O crack é um problema dos grandes centros urbanos Mito. O crack já chegou às cidades do interior e mesmo em zonas rurais afetadas por problemas relacionados ao tráfico

É possível se livrar do crack Verdade. O usuário deve procurar tratamento adequado e contar com apoio familiar, social e psicológico para superar a dependência

Usuárias de crack não podem amamentar Verdade. Mães usuárias de crack devem receber tratamento imediato com a suspensão do uso da droga e da amamentação O crack também prejudica o feto Verdade. O crack prejudica o desenvolvimento do feto por alterar a saúde física da mãe e passar à corrente sanguínea do futuro bebê durante a gestação Bebês de mães usuárias nascem já dependentes Mito. Bebês expostos ao crack durante o período fetal não são dependentes da droga quando nascem, mas podem apresentar problemas de formação Algumas pessoas têm predisposição genética para se tornar dependente Verdade. Existem sim pessoas com uma predisposição genética à dependência química

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filho a livrar-se do vício do crack, que o fez ser internado duas vezes em clínicas de recuperação. Aos 30 anos, Deco (*) resolveu buscar ajuda em maio deste ano, quando completava dois anos de namoro e pretendia se casar. A noiva estava grávida. Ele já havia passado um ano em tratamento e sentia-se mais seguro. Mas a chegada do filho não foi suficiente para tirá-lo das drogas, mundo que conheceu através da bebida alcoólica, aos 8 anos de idade. Deco voltou a consumir crack nas ruas de São José e desceu ao fundo do poço mais rápido que esperava. Levou junto seu pai, que perdeu um carro por causa do vício do filho. O rapaz vendeu até a aliança de noivado para comprar crack. “Estava internado no hospital e deixei meu celular e relógio com ele, além de algum dinheiro para me buscar quando tivesse alta. Ele vendeu e usou tudo para fumar crack, e desapareceu. Estava no fundo do poço”, resume Mauro. Ainda demonstrando insegurança quanto ao futuro, Deco acredita que a turbulenta relação dos pais –ele diz que o pai era alcoólatra e batia na mãe– o tenha deixado revoltado e predisposto a entrar nas drogas. O pai acha que o organismo do filho é fraco e que ele experimentou por diversão, não conseguindo sair mais do vício. Ambos concordam em um ponto: a vida terá que ser diferente. “Quero trabalhar e recuperar a minha vida”, diz Deco. Quem aguarda a volta dele com esperança é Lídia (*), 19 anos, a noiva do rapaz. Nem as drogas foram suficientes para separá-los, embora muitas vezes ela tenha ido procurar o noivo nos pontos de tráfico de São José. “Nunca mais quero saber desse mundo. Amo meu noivo e estou à espera dele”, conta a moça, que acabou perdendo o filho por causa do estresse e do nervosismo dos tempos em que o noivo aparecia maltrapilho depois de uma semana vivendo na rua. Com a fala embargada pela tristeza, ela reflete a dor quase insuportável que o crack provoca nas pessoas que convivem com os viciados. Elas não fumam nem cheiram, mas sentem o gosto amargo da droga descendo pela garganta e se instalando no coração. O flerte com a criminalidade, a violência e a decadência física dos dependentes são as faces visíveis dessa tragédia dos nossos tempos. Muito pior é a deterioração na relação entre pais e filhos, marido e mulher, amigos e familiares. Eles sabem o quanto o crack é capaz de matar. • (*) nomes fictícios

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Flávio Pereira

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Entrevista

Dois Pontos >Ozires Silva, prestes a completar 80 anos, em 8 de janeiro, engenheiro aeronáutico tem sua biografia publicada por amigo dos tempos do ITA

“ Fui considerado para presidente da República, mas não aceitei” Hernane Lélis São Paulo

A

serenidade ao pronunciar as palavras afasta Ozires Silva, 79 anos, do estereótipo de um militar. A formação em engenharia aeronáutica pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos, e a pós-graduação nos Estados Unidos, também não denunciam que tirava notas baixas no período escolar. Depois do colégio, como ele mesmo diz, estudou bastante. E o resultado de tanta dedicação culminou na criação da Embraer. A empresa foi fundamental para que Ozires ganhasse espaço na política no papel de gestor para assumir a presidência da Petrobras. Sua carreira pública terminou ao deixar o cargo de ministro da Infraestrutura no governo Collor –que poderia ter sido seu concorrente, caso tivesse aceitado convite para disputar a Presidência da República. Muitos anos se passaram desde então e hoje Ozires se dedica à educação. É reitor da Unimonte, em Santos, e propaga suas ideias por meio de palestras e conferências. O conhecimento sobre sua trajetória pode ser aprofundada por meio do livro “Ozires Silva – Um Líder da Inovação”, escrito por Decio Fischetti, seu amigo desde os tempos do ITA. Mas no que depender da disposição de engenheiro, novas páginas terão que ser escritas. “Estou velho, mas não estou inútil. O fato de estar velho não significa estar incapacitado, vou terminar meu dia hoje às 11 da noite”, disse.

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Como surgiu a ideia de escrever um livro sobre a sua vida? < Nós, ex-alunos do ITA, nos encontramos com frequência. Num encontro desses, um colega levantou a questão do livro. Ele disse que estava na hora de escrever minha biografia. Respondi que não, que já tinha meus livros e que muita coisa sobre a minha vida no passado já era pública. Mas ele disse que um de nós escreveria. Foi daí que o Décio Fischetti (autor da obra) grudou na ideia e tomou a iniciativa, nunca pensei em fazer minha biografia, o Décio caminhou nisso. Ficou surpreso com o resultado? < De algumas coisas tive que participar, como correção de datas e coisas dessa natureza. Mas quando o Décio me mandou o primeiro trabalho que ele fez, confesso que não gostei. Falei para ele que a redação não estava boa. Depois ele fez algumas mudanças e mandou novamente. Gostei dessa vez, parecia melhor. Qual passagem de sua biografia considera mais emblemática ou que não se recordava mais? < Prefiro responder a segunda parte da pergunta. A parte mais emblemática é difícil dizer. O Décio fez uma pesquisa ampla, teve acesso a informações que eu não tinha. Ele foi à escola onde cursei o ginásio, em Bauru, e olhou minhas notas. Falou que eu não era bom aluno, que não tive nada que me destacava quando estudante entre a 5ª e 8ª séries. Mas depois disso estudei bastante, aprendi muito na Força Aérea. A privatização da Embraer é um dos assuntos em destaque no livro, esse foi o maior desafio em sua carreira como gestor?

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E F S


Flávio Pereira

Domingo 4 Abril de 2010

PERFIL NOME: Ozires Silva IDADE: 79 anos NATURALIDADE: Bauru-SP ESTADO CIVIL: Casado. Três filhos

EMBRAER “O SINDICATO DOS METALÚRGICOS CHEGOU ATÉ FAZER MEU ENTERRO SIMBÓLICO. COSTUMO DIZER QUE SOU EXUMADO. A PRIVATIZAÇÃO FOI MESMO DIFÍCIL”

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FORMAÇÃO: Engenharia aeronáutica, pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica

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Entrevista

LIVRO OZIRES SILVA Biografia lançada pela editora Bizz foi escrita por Decio Fischett, um amigo desde os tempos do ITA. Custa R$ 65

LEILÃO Fundada em 19 de agosto de 11969, a Embraer foi privatizad da em 7 de dezembro de 1994 por R$ 154,1 milhões

< Levantar o que foi mais difícil na Embraer não é fácil. Tivemos fases difíceis. No começo tudo foi penoso. Agora, a privatização teve uma visão pública muito maior porque quando a Embraer era criada, poucas pessoas se interessavam. Quando foi privatizada já tinha certa expressão, pessoas com opiniões formadas sobre a empresa para ser contra a privatização. O Sindicato dos Metalúrgicos chegou até fazer meu enterro simbólico. Costumo dizer que sou exumado. A privatização foi mesmo difícil, estávamos buscando caminhos e graças a Deus a empresa hoje é bem-sucedida. Outro assunto interessante é o relato sobre a ligação do então presidente da República, José Sarney, convidando o senhor para assumir a presidência da Petrobras. O seu desejo era recusar a proposta? < Fiquei surpreso. Eu tinha tido alguns contatos antes com o Sarney, inclusive dentro de uma iniciativa na qual eu queria integrar a indústria aeronáutica brasileira com a indústria dos demais países da América do Sul, em particular na Argentina, onde já existia uma iniciativa de fabricação de avião. Dentro dessas conversas, acho que o presidente ficou interessado na minha imagem, ou coisa desse tipo. O fato é que ele pegou o telefone um dia e ligou na Embraer para falar comigo. Levei um susto. O Sarney disse que o Hélio Beltrão (ex-presidente da Petrobras) queria sair e que eu era o candidato para assumir. Foi quase um apelo para que eu aceitasse. Deixar a Embraer foi complicado, estava envolvido com vários projetos, surpreendi a diretoria com a decisão de aceitar. Eles falaram: “Pô, você vai embora?”. Se você receber um telefonema desses, o que passa na sua cabeça? Na hora eu agradeci e topei o desafio. Foi também por um telefonema surpresa que o senhor aceitou assumir o Mistério da Infraestrutura no governo Collor. < A ligação não foi direta do Collor, o pessoal do Planalto acha que o presidente da República não pode receber um não. Então não deixaram ele me ligar antes de saber se eu aceitaria. Até que um dia ele ligou e eu aceitei. Participei do pré-governo na Casa da Dinda, onde se reuniram os asses-

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sores e prováveis outros ministros. Disse na ocasião que devíamos enfraquecer o governo, porque achava que ele mandava demais no Brasil. Tínhamos que dar espaço para o Brasil crescer independentemente das questões governamentais, que fosse um país mais democrático em relação às propostas de desenvolvimento econômico, cultural, entre outras coisas que caracterizam o progresso. O Collor aceitou que fizéssemos um governo bem enxuto, foi quando surgiu a ideia do Ministério da Infraestrutura, que somava Minas e Energia, Comunicações e Transportes. O pessoal chamava de “Super Ministério”. O senhor se dava bem com a Zélia Cardoso de Melo?

< Não sei se alguém se dava bem com ela. Ela era muito difícil, eu não tinha um bom relacionamento com a Zélia, mas não era o único. Foi por isso que deixou o governo?

< O governo trabalhou muito em centralização por motivação da Zélia. Desde o começo eu queria uma abertura para que o governo tivesse maior participação do povo no processo de crescimento do Brasil. A Zélia por outro lado aumentou mais ainda o poder de controle no Ministério da Fazenda. Acabei não gostando também das pessoas que mandavam em nome do Collor. Um ano antes do impeachment deixei o governo e disse ao Collor que achava que ele não teria sucesso. Ele, autoconfiante como era, acho que não prestava muita atenção. Falei que temia por seu futuro, era muito moço para enfrentar um fracasso e viver sob o espectro desse fracasso. Desde o Ministério da Infraestrutura não houve nenhum convite para continuar na vida política? < Não recebi nenhum convite político porque deixei bem claro que não tinha interesse. Fui considerado na época para presidente da República, mas também não aceitei. Era pelo partido criado pelo Roberto Campos, se chamava Movimento de Convergência Democrático. Nasceu no Rio de Janeiro e chegaram a me convidar para entrar na campanha como concorrente do Collor e do Lula, mas não aceitei.

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Entrevista

ZÉLIACARDOSO DEMELO“NÃOSEISEALGUÉMSEDAVABEM COM ELA. ELA ERA MUITO DIFÍCIL, EU NÃO TINHA UM BOM RELACIONAMENTO COM A ZÉLIA, MAS NÃO ERA O ÚNICO“ O governo Dilma passa por uma crise em seus ministérios, como o senhor vê esse problema? < Acho que isso não é da Dilma. O povo brasileiro transferiu a propriedade do Brasil ao governo federal. O governo está assumindo essa propriedade, o que eu acho um erro muito grande. Segundo a constituição, o país pertence ao povo, o povo que toma as decisões e não é o que está acontecendo há muito tempo. O governo decide coisas que não tem competência para decidir. Tem muitos políticos que dizem que estou errado, falam que o povo não sabe votar. Respondo a eles que foi o povo que os elegeram. “O povo que não sabe votar elegeu você”, brinco. Alguém disse uma vez que o poder corrompe, não sei quem foi, mas é isso verdade. Quando você dá muito poder a uma pessoa pode esperar por isso. É o que vem acontecendo nesses últimos anos. Como o senhor analisa o atual momento do mercado aeronáutico? < Que bom que vamos parar de falar sobre política. Olha, diria que o Brasil tem uma aviação menor do que precisa e a culpa disso é do governo. Muito regulado, muita burocracia, muita dificuldade. A estrutura brasileira está fraca e não funciona bem, embora o crescimento do tráfego aéreo nos últimos dois ou três anos tenha sido significativo. As duas empresas mais importantes de transporte aéreo no país só vão a 59 cidades do Brasil, que tem 5.500 municípios. Em 1993 o presidente (Bill) Clinton, nos Estados Unidos, mandou ao Congresso uma lei de desregulamentação do transporte aéreo. Alguém já ouviu falar nisso no Brasil? Não, você só ouve falar em regulamentação, mais restrições. Os Estados Unidos têm 40% do transporte aéreo mundial, que está faturando hoje na ordem dos US$ 2 trilhões por ano, 40% disso é mais da metade do PIB brasileiro. Nós precisamos de uma desregulamentação. O mercado existe e está aquecido, todo mundo quer voar. Como a Embraer está neste cenário?

< A Embraer está trabalhando sob o comando do (Frederico) Curado. Acho que ele está bem, abrindo subsidiárias, como a do setor de Defesa. Esse mercado tem um potencial enorme, gira US$ 1 trilhão ao ano no mundo. A Embraer tem competência para entrar nesse mercado fazendo boas ações. A empresa está fazendo o que pode, não é a toa que é a terceira maior fabricante de jatos no mundo. Infelizmente vende no Brasil menos de 10% de sua produção. Quais são hoje os principais desafios da Embraer, uma vez que o mercado sinaliza para aeronaves maiores que os atuais EMB-195? < O John Kasarda, um especialista renomado em aviação, coloca claramente que, se pegar o espectro dos tipos de avi-

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ões que existem no mercado mundial hoje, se espera para os próximos 20 anos uma demanda de 3.000 novas aeronaves da esfera de operação da Embraer. Na faixa da Boeing e da Airbus, é de 30 mil. Só de passageiros são esperados cinco bilhões por ano, o que dá 13 bilhões no período. A Embraer adiou o plano de ter um avião maior, comercialmente falando acho que deveria fazer. Vai entrar num mercado de 30 mil aeronaves ao invés de ficar em um de 3.000. O senhor defende que o governo brasileiro compre os caças supersônicos da Embraer para reequipar a Força Aérea Brasileira. Acredita mesmo que isso um dia pode acontecer? < A Embraer está fazendo uma série de aviões que ninguém acreditava fazer, entre eles, o cargueiro KC-390. Então porque o governo usando dinheiro do contribuinte decide gerar emprego na França ou nos Estados Unidos e não aqui? Pegando dinheiro do nosso tributo para colocar em outro país. Esses aviões devem ser encomendados da Embraer, não adianta colocar que a empresa não sabe fazer. Todos os aviões que começamos diziam a mesma coisa, todos fizeram críticas sobre isso e fizemos. Isso é conversa política. Agora, se vai precisar de parceria ou não é outra conversa. Foi como fizemos com o Xavante, no comecinho da Embraer. A FAB queria comprar um avião de treinamento e os convenci para que comprassem da Embraer, que tinha somente cinco meses de idade. Claro que não sabia fazer, mas ninguém discutiu e o fato é que a FAB comprou 100 aviões. Fizemos uma parceria com uma empresa italiana para o desenvolvimento. O prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury, encaminhou uma proposta ao governo federal de municipalização do aeroporto da cidade. O que pensa sobre o assunto? < O governo federal não tem mecanismo legal para transferir o aeroporto para o setor privado. O aeroporto de São José está nas mãos da Infraero há anos e nunca fizeram nada por ele, não é interessante para a empresa que já tem Guarulhos e Viracopos. No ponto de vista aeronáutico, São José é o mesmo ponto no mapa dessas outras regiões. Ela não vai tirar dinheiro desses terminais para colocar em São José. Por outro lado, a Infraero não deseja que o Cury tenha sucesso nessa empreitada porque sabe que ganhará um concorrente para Guarulhos e Viracopos. Mas é de interesse de São José criar a concorrência. Se conseguir, o Cury pode apresentar propostas para iniciativa privada. Recebi esses dias um grupo de indianos interessados em investir nisso, muita gente tem interesse. São José precisa de um grande aeroporto e até hoje a Infraero não fez nada para isso. Gostaria de participar de perto desse debate sobre a municipalização. •

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Infraestrutura

ALTA TEMPORADA

Novo verão, velhos problemas Trânsito carregado nas rodovias e filas gigantescas em trechos urbanos testam novamente a paciência dos turistas que seguirão rumo às praias do Litoral Norte

Filipe Manoukian Litoral Norte

o meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho. O poeta e contista brasileiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) parecia saber exatamente a sensação comum a todos aqueles que optam por passar suas férias de verão ou os feriados de final de ano num dos trechos litorâneos mais bonitos do Brasil, o Litoral Norte de São Paulo. Indiscutivelmente, Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba guardam alguns dos principais paraísos de veraneio do país entre a Serra do Mar e o Oceano Atlântico. Quem decide passar o verão no Litoral Norte, se depender das praias, dificilmente se arrependerá. Mas, nem só de sol, água salgada e areia branca vive o homem. E é exatamente quando se pensa em todo o contexto que envolve as férias, ou mesmo um final de semana, na praia, durante a temporada de verão, que os versos de Drummond parecem traduzir em palavras o que se torna o Litoral Norte no final de ano, principalmente nas semanas de comemorações do Natal e Réveillon –e nas que antecedem e sucedem as festas. “Já tentei fugir do trânsito pegando horários alternativos e mesmo assim fiquei seis horas na estrada até chegar a Caraguá”, conta o analista de sistemas Rafael Leite, 28 anos. A experiência não é exclusiva. O próprio repórter, às vésperas do Réveillon do ano passado, demorou exatas sete ho-

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ras, das 23h30 às 6h30, entre São José dos Campos e Caraguatatuba pela rodovia dos Tamoios (SP-99). Em circunstâncias normais, o percurso de 90 quilômetros não ultrapassa uma hora. “É complicado. Tem que ter muita paciência e força de vontade para chegar à praia e relaxar”, continua Leite. A ida ao litoral é a primeira das pedras no caminho, seja para Leite ou para qualquer outro turista que queira curtir a praia no verão. As antigas rodovias dos Tamoios (São José-Caraguá) e Oswaldo Cruz (SP-125), que liga Taubaté a Ubatuba, são completamente dominadas por um batalhão de carros vindos de todos os cantos do Estado e de outras regiões do país. “Só neste último feriado, com chuva, mais de 1 milhão de pessoas vieram ao litoral”, afirmou o prefeito de Caraguatatuba, Antonio Carlos da Silva (PSDB), referindo-se ao feriado da Proclamação da República, no dia 15 de novembro. “É muito carro descendo a serra”, emendou o tucano. Para se ter uma ideia, basta atentar-se aos

Uma das conquistas é o abastecimento de água. Bairros em regiões mais altas e afastadas deixaram de sofrer com falta de água potável nos horários de pico

números de carros que passam diariamente pela Tamoios no decorrer do ano e no Réveillon. Hoje, o VDM (Volume Diário Médio de Tráfego) da SP-99 é de 12 mil veículos. Somente no Réveillon do ano passado, 140 mil carros desceram a serra pela Tamoios –um salto de mais de 1.000%. O problema é comum ao corredor que liga Taubaté a Ubatuba. Na SP-125, a média diária de carros que vão do Vale ao litoral é de pouco mais de 4.700 veículos. Na virada do ano de 2010 para 2011, 50 mil carros passaram pela Oswaldo Cruz. A pedra no meio do caminho não é de hoje. O cenário é o mesmo há décadas. Há pelo menos duas gerações, a família Albuquerque, que faz questão de passar as festas de final de ano no litoral, encara estradas cheias na ida e no retorno. “Sempre quando a gente ia a Caraguá, lá na década de 90 [1990], meu pai contava sobre verões passados em que ele tinha ficado ainda mais tempo na Tamoios”, narra Felipe Albuquerque, hoje com 21 anos. Desde pequeno, ele acompanha o pai, Celso, da capital do Estado ao litoral. A família mantém uma casa de veraneio na Martin de Sá, em Caraguá. “Hoje, meu pai não está mais com paciência de ir à praia no final do ano. Vou eu, minha namorada e amigos”, continua Felipe. “O chefe [pai] agora está aposentado. Pode curtir o litoral longe da loucura que é o final do ano”, brinca, sem lamentar o fato de que a casa da praia será só dele no final deste ano. Prefeito entre 1997 e 2004 de Caraguatatuba, tendo voltado à prefeitura em 2009, Antonio Carlos confirma que as desventuras enfrentadas pelos turistas que se di-

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Fotos: Flávio Pereira

TAMOIOS No final do ano, tempo de viagem até o Litoral Norte ultrapassa cinco horas

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Infraestrutura

BALSA Com fila de espera ou não, chegar em Ilhabela custa R$ 20,30 aos sábados, domingos e feriados

rigem ao Litoral Norte vêm de longa data. “Estamos convivendo com isso há muito tempo, cada vez se agravando mais. Aguardamos melhorias nos acessos a Caraguá há quatro mandatos”, afirmou o prefeito, referindo-se à primeira promessa de duplicação da Tamoios, em 1995, época em que Mário Covas (PSDB) assumiu o comando do Estado. Desde então, os tucanos se mantiveram à frente do governo e a duplicação da rodovia não saiu do papel. Somente neste ano, após 16 anos de espera, o projeto de duplicação da SP-99, que também prevê alças ligando Caraguá a São Sebastião e a Ubatuba ganhou contornos reais, transformando-se num projeto. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) promete iniciar as obras no trecho do planalto (entre São José e Paraibuna, até o alto da serra) em março. A duplicação no trecho da serra e os contornos viários nas cidades do litoral, para desafogar o trânsito urbano, ainda não têm data definida. Problemas urbanos O trânsito interno nas cidades, por sua vez, caracteriza-se como uma segunda pedra no caminho dos turistas. Não só dos turistas, mas também dos moradores das cidades do Litoral Norte. “É normal tudo parar aqui embaixo. Por isso queremos que os contor-

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nos viários aqui sejam feitos antes, ou pelo menos junto, com a duplicação”, reclama Antonio Carlos. Em coro, o prefeito de Ilhabela, Toninho Colucci (PPS), também afirma que seria importante priorizar uma melhoria viária no litoral antes de duplicar a Tamoios no trecho do planalto. “Todo litoral tem problema com trânsito em final de ano. A gente vive de receber pessoas e as pessoas vêm para a praia no verão. Por mais que nos preparemos, o fluxo de carros é muito grande. É assim aqui, no Rio de Janeiro, no Guarujá. É uma demanda muito grande”, justifica. Quem sofre é o cidadão. É trânsito para ir ao mercado. É trânsito para ir à praia. Sábado cedo, sol quente, dia claro. Ir de Caraguá a Ubatuba para curtir o dia na praia? Prepare-se: trânsito. Trafegar à noite de carro no centro de uma das quatro cidades do litoral? Trânsito. Mais pedras surgem no caminho. Churrasco com a família ou os amigos? Preparativos para a ceia? Respire fundo antes de ir ao mercado. É mais do que natural enfrentar filas por vaga nos estacionamentos e mais filas dentro do mercado. Há quem saiba transformar o tempo de espera em oportunidades para socialização ou paquera. Há quem se estresse. Enquanto prefeito, Colucci garante que as cidades litorâneas se preparam para o

verão, reforçando a área da Saúde, aumentando as equipes no Pronto-Socorro, os serviços de limpeza pública e a segurança. “Nós nos preparamos para atender melhor tanto a população quanto os que vêm de fora”, afirma. Uma das grandes conquistas das quatro cidades do Litoral Norte, por exemplo, conforme explica Colucci, é no abastecimento de água. Durante muito tempo, bairros em regiões mais altas e afastadas sofriam com falta de água potável durante horários de pico. “Não temos esse problema há dois anos”, garante o prefeito de Ilhabela. Talvez, uma pedra a menos no caminho. Balsa Em Ilhabela, a propósito, existe outra pedra no caminho. Em média, segundo números de 2010, mais de 3.200 veículos embarcam diariamente sentido Ilhabela. Como tudo fica superlativo no verão, é de se imaginar que a travessia São Sebastião-Ilhabela fica muito mais requisitada. Apenas para contexto, num domingo de novembro, sem feriado prolongado, a espera no retorno de Ilhabela para São Sebastião era de 40 minutos, com tempo bom, na fila da balsa. O tempo ultrapassa horas em Natal e Ano Novo. A Dersa (Desenvolvimento Rodoviário) opera com cinco embarcações na tra-

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vessia. Juntas, elas têm capacidade para 193 veículos. Segundo a autarquia, vinculada ao governo do Estado, até o final do ano, antes da temporada de verão, uma nova balsa entrará em operação, a FB-25, com capacidade para 100 veículos. A embarcação está passando por reforma geral. Com espera ou não, chegar a Ilhabela custa R$ 13,50 a automóveis de passeio em dias úteis, e R$ 20,30 aos sábados, domingos e feriados. O preço é escalonado e sobe de acordo com o tamanho do veículo. Existe a opção de marcar hora para a travessia –o que, em tese, faz com que o motorista evite filas. Para tanto, o preço sobe para R$ 79,70 a automóveis de passeio em dias úteis, e R$ 119,50 aos sábados, domingos e feriados, considerando-se as travessias de ida e volta. O turista que for a Ilhabela também deve pagar a TPA (Taxa de Preservação Ambiental). Carros de passeio pagam R$ 5 sempre que deixarem a cidade. A taxa também é escalonada conforme o tamanho do veículo. Apenas veículos com placas de Ilhabela são isento da TPA.

Operação verão Para amenizar as intempéries causadas pelas pedras no caminho ao Litoral Norte, o governo do Estado promete centrar esforços na primeira –e talvez mais traumática– das pedras: a ida e a volta da praia. Todos os anos, o governo prepara a “Operação Verão”. Neste ano, conforme adiantou a Secretaria Estadual de Logística e Transportes à revista valeparaibano, com exclusividade, “a Operação Verão 2011/2012 terá início em 23 de dezembro e será encerrada em 27 de fevereiro, logo após o feriado de Carnaval”. Em nota oficial, a pasta informou que “equipes especializadas atuarão de maneira informativa em pontos estratégicos nas rodovias com o objetivo de auxiliar na fluidez do tráfego por meio de bases móveis, tendas, postos de informações, postos do SAU (Serviço de Atendimento ao Usuário) e policiamento. Além disso, o usuário contará com painéis informativos que são instalados em pontos estratégicos das rodovias e transmitem as condições das vias”.

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Também, deverá ocorrer uma campanha educativa voltada aos usuários que se dirigem ao litoral. “O objetivo será alertar os motoristas quanto aos principais problemas causadores de acidentes, além de educá-los a programar o melhor horário para viajar, evitando picos de congestionamento”, afirma a nota da secretaria. Apesar da duplicação da SP-99 não ter saído, o governo Alckmin garante que o motorista que for ao litoral neste verão sentirá diferenças em relação ao ano passado. “A Rodovia dos Tamoios, desde novembro de 2010, passa por melhorias que antecedem sua duplicação, prevista para iniciar em março de 2012. Este ano já foi concluída duplicação das pontes no km 18 e km 28. Além disso, o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) trabalha no recapeamento da pista e dos acostamentos entre o km 11,5 e km 64,4, somando 52,9 quilômetros de extensão. O investimento na rodovia é de R$ 46 milhões e a conclusão das melhorias está prevista para dezembro”, informou a Secretaria de Transportes. •

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Notas

Vale, Brasil & o Mundo UNIVAP

Depois de 20 anos, ‘Era Gargione’ acaba com demissão do reitor

CIDADES BRASILEIRAS

Vale tem 5 entre 100 melhores Cercado de polêmicas, acusações e com uma gestão que garantiu inimigos e processos, Baptista Gargione Filho foi destituído do cargo de reitor da Univap (Universidade do Vale do Paraíba). Em maio de 2011, a revista valeparaibano publicou uma reportagem exclusiva revelando sob quais condições a intituição mais tradicional de São José dos Campos era administrada. Gargione se perpetuava na reitoria da universidade desde que foi criada, em 1991. O primeiro revés veio com uma ação impetrada por professores demitidos em 2006, que trazia inclusive denúncias de corrupção. Neste ano o Ministério Público interveio na instituição com o objetivo de aprovar um novo estatuto para universidade, prevendo eleições para a reitoria em 2012. Foi o início da “derrota” de Gargione, que tentou na última semana de novembro uma manobra para ganhar mais espaço no conselho deliberativo da Univap nomeando uma de suas filhas. Antes da estratégia surtir efeito, a Fundação Valeparaibana de Ensino - mantenedora da Univap - demitiu Gargione da função de reitor.

Frases ”Foi uma falta de respeito grave ao Papa”

Estudo da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) colocou 5 municípios do Vale do Paraíba entre os 100 mais desenvolvidos do Brasil. Taubaté ocupa a melhor posição como o nono melhor desempenho no ranking nacional. Em seguida aparecem Caraguatatuba (30ª colocada), São José dos Campos (35ª), Caçapava (65ª) e Jacareí (98ª). Em 2010, o IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal) apontou três cidades da região no grupo das 100 mais: Taubaté, na 22ª colocação, São José (51ª) e Pindamonhangaba (91ª). O estudo avalia o desenvolvimento socioeconômico dos 5.564 municípios do país por meio de indicadores

”Alguns momentos os são especiais, e queria dizer que, hoje, é um mole mento em que vale ente” a pena ser presidente”

Diz nota oficial divulgada pelo Vaticano sobre a campanha da marca de roupas Benetton, que usou uma fotomontagem na qual o Papa Bento 16 De Dilma Rousseff no lançamento do Viver sem Limites, voltado à inclusão de pessoas com deficiência beija na boca o imã sunita de Al Azhar, no Cairo

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da Educação, Saúde e Emprego. O sistema de pontuação vai de 0 a 1. Os municípios com índice entre 0 a 0,4 são classificados na categoria “baixo desenvolvimento” e entre 0,4 e 0,6, na faixa “desenvolvimento regular”. Existem outras duas faixas “desenvolvimento moderado” (entre 0,6 e 0,8) e “alto” (entre 0,8 e 1). Neste ano, 7 das 39 cidades da região tiveram avaliação desenvolvimento alto. Além das cinco do “Top 100”, apareceram nessa pontuação Guaratinguetá e São Sebastião. Os outros municípios do Vale foram classificados com desenvolvimento moderado. Entretanto, 30 cidades receberam pontuação abaixo da média do país –0,7603.

”Não tenho que p provar nada. As críticas e elogios vão existir sempre” Do goleiro do Corinthians Júlio Cesar sobre sua atuação nos jogos

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NO PIAUÍ

Cratera é da época dos dinossauros Pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) encontraram evidências de que a cratera circular de Santa Marta, em Gilbués, no Piauí, formada pelo impacto de um meteorito, pode ser da época em que ocorreu a extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos. Se confirmada a hipótese, a cratera piauiense será a única até hoje identificada no hemisfério Sul formada no mesmo período da famosa cratera mexicana de Chicxulub –a causa mais aceita para o sumiço dos dinossauros e de mais de 70% da biodiversidade da Terra naquela época. Muitas análises de amostras coletadas no campo serão necessárias ainda para com provar a suspeita. Não há prazo de conclusão dos estudos.

ALERTA

Radiação de Fukushima circulou pelo planeta A maior parte do vazamento radioativo que resultou do acidente na usina nuclear de Fukushima caiu no oceano e circulou o planeta, informou o Instituto de Pesquisa Meteorológica do Japão. Estima-se que até 80% do césio liberado pela usina Daiichi caiu no Oceano Pacífico e viajou ao redor do mundo. O resto teria caído na terra, em Fukushima e no entorno. Os resultados mostram que o oceano foi mais contaminado que a terra, embora dados recentes tenham mostrado que a poluição oceânica resultante do acidente ficou abaixo dos níveis que afetam os seres humanos. Os materiais radioativos, incluindo o césio137, um isótopo com meia-vida de mais de 30 anos, foram amplamente dispersados quando entraram nos oceanos e cada partícula mediria menos de um micrômetro –um sétimo do tamanho de um glóbulo vermelho do sangue. FACULDADE

Unitau é 101ª na América Latina A Unitau (Universidade de Taubaté) é considerada uma das 200 melhores faculdades da América Latina. O levantamento é feito pela empresa britânica Quacquarelli Symonds, especializada em elaborar estudos internacionais sobre o ensino superior. Foram considerados, entre outros requisitos, o volume de produção científica da

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Nasa abre vagas para astronautas A Nasa abriu inscrições para quem sonha ser astronauta. A agência espacial americana recrutará nova turma de astronautas através da página de empregos no serviço público federal USAJobs.gov, onde o interessado encontrará os requisitos dos candidatos. O salário oscila entre US$ 64.724 e US$ 141.715 anuais. O prazo de inscrição vence em 27 de janeiro de 2012.

instituição, a titulação dos professores, além do número de alunos e cursos oferecidos. A Unitau ficou com a 101ª colocação. Além da Unitau, a única do Vale do Paraíba incluída no estudo, o Brasil teve outras 63 instituições consagradas na lista, entre elas, a USP (Universidade Estadual de São Paulo), que foi a primeira colocada. A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) ficou em terceiro lugar.

INVESTIGAÇÃO

Casa Branca vira alvo de disparos

O serviço secreto dos Estados Unidos encontrou no mês passado um projétil disparado contra uma das janelas da Casa Branca. Outras balas deflagradas foram encontradas no exterior da residência oficial do presidente Barack Obama, que não estava em casa na hora do tiroteio. Especulou-se que as balas seriam de um tiroteio que aconteceu nas imediações. A polícia prendeu Oscar Ramiro Ortega-Hernandez, 21 anos, suspeito de estar envolvido no episódio. Ele foi dado como desaparecido por sua família em 31 de outubro e estava vivendo em Washington, apesar de ser de Idaho.

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Mundo CRISE INTERNACIONAL

Pesadelo global A Grécia já foi e a Itália pode ser a próxima. União Europeia ameaça desabar financeiramente levando um monte de países, inclusive o Brasil Yann Walter São José dos Campos

m 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, a Europa conheceu um período de prosperidade histórico que perdurou até 1973, ano da primeira crise do petróleo. Quarenta anos depois dos Estados Unidos, o Velho Continente finalmente se tornava uma sociedade de consumo. Um vento de otimismo alimentado por um crescimento econômico excepcional, uma explosão demográfica e uma situação de pleno emprego, soprava da Islândia à Grécia e de Suécia a Portugal. Durante todo o período, o PIB (Produto Interno Bruto) da maioria dos países cresceu entre 4% e 9% ao ano. O nível de vida melhorou significativamente, com aumentos salariais generalizados de mais de 100%. Muitas nações aproveitaram a emergência da produção de massa para compensar o atraso em relação aos Estados Unidos e se tornar grandes potências industriais e tecnológicas. Hoje, quase quatro décadas depois, a Europa está à beira do abismo. O cenário idílico do pós-guerra se transformou em pesadelo para muitos países da zona do

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euro, mergulhados numa crise da dívida sem precedentes que já derrubou a Grécia e ameaça seriamente a Itália. Até mesmo França e Alemanha, os pesos-pesados do continente, não estão imunes. Não está descartada a possibilidade de a UE (União Europeia) desabar como um castelo de cartas. Se isso acontecer, o mundo inteiro, inclusive o Brasil, sofrerá as consequências. Tudo começou em 2009, quando a crise financeira mundial estava vivendo suas últimas horas. No fim daquele ano, após a chegada dos socialistas ao poder, os gregos descobriram que o déficit público de seu país, que acreditavam ser equivalente a 6% do PIB, beirava na verdade os 13% –sendo que o limite máximo estipulado para os integrantes da zona do euro é 3% do PIB. A necessidade de contrair empréstimos pesados para resolver o problema combinada com a perda de confiança dos investidores estrangeiros colocaram o país em um beco sem saída. Decidido tarde demais, o plano de austeridade idealizado pelo governo irritou a população, que foi em peso às ruas de Atenas para protestar. À medida que a situação piorava, as manifestações iam se tornando mais violentas. Em maio de 2010, durante um protesto, três pessoas morreram na explosão de um coquetel molotov. “Na última década a Gré-

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Fotos: divulgação

GRÉCIA Números maquiados e fraudes detonaram uma crise sem precedentes nos países da zona do euro

cia gastou bem mais do que podia. Os gastos públicos foram às alturas, e as receitas foram duramente atingidas pela evasão fiscal (hoje, seis em cada sete gregos não pagam impostos). Além disso, o país perdeu credibilidade no mercado internacional quando se soube que o governo anterior havia mascarado as estatísticas para esconder o tamanho do déficit”, explicou o economista Luiz Carlos Laureano da Rosa, pesquisador da Unitau (Universidade de Taubaté). “A Grécia foi ‘criativa’ com seus dados de receitas e despesas públicas para entrar na zona do euro (em 2001). Desde então, a atitude dos governos sucessivos sempre tem sido empurrar com a barriga a questão do déficit”, concordou Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de economia na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo. Risco de contágio A situação da Grécia foi de mal a pior. Além de não permitirem recuperar a confiança dos mercados, os cortes de gastos foram duramente sentidos pela população do país. No auge da crise, a dívida grega atingiu 350 bilhões de euros, ou seja, 165% do PIB. O risco de contágio começou a preocupar os demais integrantes da zona do euro, que criaram em 2010 o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) para apoiar os países ameaçados por uma extensão da crise grega. O FEEF serviu para ajudar a Irlanda em novembro do ano passado, e Portugal no início deste ano. “No entanto, ao contrário da Grécia, estes dois países já fizeram os ajustes fiscais necessários e recolocaram a casa em ordem”, destacou Alves dos Santos. Na última conferência do G20–o grupo das 20 maiores economias do planeta, realizada no início do mês passado em Cannes, no sul da França, aventou-se a possibilidade de nações emergentes, como o Brasil ou a China, injetarem dinheiro no FEEF. A presidente Dilma Rousseff, porém, rejeitou prontamente a oferta. Ela concordou apenas em emprestar ao FMI, que segundo ela dá “mais garantias”. O Brasil está agora na posição de credor, algo totalmente impensável no início da década, quando o país devia mais de US$ 40 bilhões ao Fundo Mo-

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FORA Berlusconi resistiu a vårios escândalos sexuais e declaraçþes polêmicas, mas seu poder não superou a crise enfrentada pela Itålia

netĂĄrio Internacional. AlĂŠm da criação do FEEF, eram necessĂĄrias medidas fortes para salvar a GrĂŠcia e evitar que a crise atinja os membros mais vulnerĂĄveis da UE. No fim de outubro, dias antes da cĂşpula do G20, os lĂ­deres do bloco chegaram a um acordo sobre o perdĂŁo de 50% da dĂ­vida grega e a recapitalização (aporte de capitais) dos bancos europeus detentores de ‘junk bonds’ (tĂ­tulos podres). O acordo estipula que pelo menos 9% do capital destes bancos deverĂŁo ser procedentes de fundos prĂłprios atĂŠ o dia 30 de junho de 2012 para sustentar uma eventual propagação da crise da dĂ­vida. A Autoridade BancĂĄria Europeia (EBA, na sigla em inglĂŞs), avaliou os aportes externos necessĂĄrios em mais de 100 bilhĂľes de euros, sendo mais de 25% somente para os bancos

espanhĂłis. Depois da GrĂŠcia, a Espanha ĂŠ o paĂ­s da Europa que tem as maiores necessidades de recapitalização. Abalada duramente pela crise financeira de 2008, a economia espanhola estĂĄ estagnada. O crescimento econĂ´mico prĂłximo de zero nĂŁo permite criar empregos, deixando o paĂ­s na incĂ´moda posição de lĂ­der europeu do desemprego com uma taxa superior a 20% da população ativa. O governo garantiu que nĂŁo precisarĂĄ de um plano de resgate semelhante ao da GrĂŠcia, mas teve que se comprometer a reduzir significativamente seu dĂŠficit, por meio dos sempre impopulares cortes de gastos. “A Espanha nĂŁo tem uma mĂĄ gestĂŁo econĂ´mica e sua dĂ­vida nĂŁo ĂŠ tĂŁo alta, em relação Ă de outros paĂ­ses da zona do euroâ€?, ponderou o

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Domingo 4 Dezembro de 2011

economista da PUC-SP. A situação da Itália é mais complicada. A terceira maior economia da zona do euro tem uma dívida abissal de quase dois trilhões de euros –mais de 120% de seu PIB. Depois da Grécia, a Itália tem o percentual dívida/PIB mais alto da zona do euro. Assim como Atenas, Roma ficou presa no círculo vicioso do déficit. Quanto maior a desconfiança dos investidores, mais os juros da dívida pública ficam altos. Assim, o déficit vai crescendo e estrangulando cada vez mais a economia do país, fazendo surgir o fantasma do ‘default’, também conhecido como moratória ou calote. Ao contrário da Grécia, a Itália é grande demais para ser resgatada com um pacote de ajuda. A crise da dívida até conseguiu algo que nenhuma acusação de corrupção, fraude fiscal, enriquecimento ilícito ou envolvimento em escândalos sexuais havia conseguido em mais de oito anos: derrubar o poderoso Silvio Berlusconi, o mais longevo presidente do Conselho da história da Itália, que anunciou no dia 8 de novembro sua saída do poder assim que fosse aprovado o pacote de medidas de austeridade exigidas pela UE –o que aconteceu no fim de semana seguinte. Um dia depois, o primeiro-ministro grego, George Papandreou, na corda bamba há vários meses, finalmente deixou o cargo à disposição. Calote A Grécia e a Itália têm a opção de fazer o que fez a Argentina com o FMI em 2001: dar o calote, o que no caso deles significaria se retirar da zona do euro. O exemplo argentino mostra que é possível se recuperar de uma falência. Hoje, uma década após a moratória, a Argentina ostenta um crescimento de 7% a 8% do PIB. Entretanto, como bem lembrou o pesquisador da Unitau Luiz Carlos Laureano da Rosa, ela está isolada no cenário internacional, ou seja, extremamente vulnerável em caso de nova crise. “Não consigo ver vantagem numa declaração de default, pois o país que faz esta opção nunca mais tem acesso a empréstimos. Além disso, a situação da Argentina hoje não é tão confortável assim. Ela continua passando por problemas econômicos, e o forte crescimento atual está relacionado com as gigantescas perdas registradas no passado”, avaliou o economista. “A opção da moratória é inviável para a Grécia, e mais ainda para a Itália. Os prejuízos seriam infinitamente maiores, tanto para eles como para os outros países do bloco. Haveria uma

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queda brutal de liquidez na zona do euro, e uma das consequências para o resto do mundo seria uma forte redução do comércio internacional”, afirmou Antônio Carlos dos Santos, da PUC-SP. “Como vivemos em um mundo globalizado, qualquer coisa que acontece no mundo tem influência no Brasil. A recessão na Europa pode afetar as exportações, e a desvalorização da moeda comum pode prejudicar a competitividade externa dos produtos nacionais”, destacou o professor Laureano. De fato, vale ressaltar que a UE ainda absorve 21% do total das exportações brasileiras, segundo dados recentes do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio. Por enquanto, o Brasil vê a crise europeia de longe, como um mero observador. O país pode, porém, se tornar protagonista, se decidir ajudar os europeus através do FMI. Um aporte adicional de fundos permitiria ao Brasil renegociar seu poder decisório na instituição monetária, consolidando de vez seu papel no cenário internacional. Ou seja, estender a mão à Europa pode trazer dividendos políticos para o país. A China, que já manifestou interesse em ajudar, entendeu muito bem os benefícios que poderia retirar de uma posição de credor. “A China quer ganhar mais espaço no FMI e ser reconhecida como economia de mercado. O Brasil pode seguir a mesma linha e injetar dinheiro em troca de um peso maior das nações emergentes nas decisões do Fundo. Na verdade, estamos numa situação invejável”, disse o professor de economia da PUC-SP. Assim, o melhor caminho parece ser a permanência na zona do euro, custe o que custar. Como a Grécia, a Itália terá que se submeter a uma supervisão permanente da UE e do FMI por um bom tempo. É claro que quem vai acabar pagando a conta das políticas de austeridade impostas pelos dirigentes da UE serão os gregos e os italianos. Os salários serão congelados, os impostos vão aumentar, o já combalido poder aquisitivo vai diminuir ainda mais e os cortes de gastos públicos vão repercutir negativamente na qualidade de serviços básicos como saúde e educação. Para estes países, uma saída pode ser investir no turismo, um setor que, no caso da Grécia, já representa 16% do PIB. Aliás, os países mais atingidos pela crise da dívida –Grécia, Itália, Espanha e Portugal– são, junto com a França, os mais visitados do continente. •

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Ensaio fotográfico

Marcelo Alves Repórter Fotográfico

Tanto riso Tanta alegria A figura que hoje diverte e traz alegria tem na etmologia do termo que a define uma história de humilhação e pobreza. Os palhaços do repórter fotógrafico Marcelo Alves trazem os dois lados dessa moeda em cores vivas no mês em que se comemora o Dia do Palhaço

SURUBIM Luciano Draetta se inspira nos palhaços franceses caricatos para se vestir e criar seus números de malabarismo e pirofagia

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Ensaio

RIR Os intrumentos principais dos palhaços são seu corpo e seu olhar, usados para alegrar e divertir

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NARIZ A cor vermelha no nariz quando surgiu significava que o palhaço havia caído de cara no chão

TAMANHO As calças e sapatos grandes são parte da vestimenta porque eram invariavelmente doações dos ricos

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Ensaio

PERSONAGENS Ao lado, Pepin se prepara para a apresentação e depois (página à direita) retira a maquiagem; enquanto seu parceiro (abaixo) cai do trapézio

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Coisa & Taltigo

Marco Antonio Vitti

Só acredito em Deus, no Papai Noel e na cegonha: e você?

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ocê acreditaria que em alguma época da vida o mundo estaria matando seus ditadores, genocidas sanguinários, e se tornando potências democráticas liberando seu povo para viverem democraticamente, enquanto os países com os Estados Unidos e todos os usurários do mundo em todos os tempos estariam com o chapéu pedindo arrego para o segundo mundo, para os países pobres? O que será que está acontecendo? O mundo enlouqueceu? O Brasil enlouqueceu? Ou eu fiquei normal! Não! O mundo está sarando. Digo isto, uma vez que a humanidade com suas crianças índigo desde os anos 70’s assistem hoje as transformações ocorrendo no mundo. Quem diria que o Brasil seria a potência que sempre foi, mas somente agora reconhecida pelo mundo. O grande lance é que não devemos isto a nenhum de nossos políticos, mas única e exclusivamente ao nosso povo. Um povo submetido a juros escorchantes dos bancos, a preços altíssimos de remédios, a planos de saúde que deveriam se chamar de planos da morte, à corrupção, mas que talvez por sermos teimosos, ou por muita fé chegou a vez do Brasil. Cuidado políticos corruptos, o mundo não está aceitando mais a ditadura corrupta que tanto faz sofrer o ser humano. Imaginem se o povo começar a caçar políticos corruptos fazendo o trabalho que Charles Darwin apoia-

MUDANÇA “Cuidado políticos, o mundo não está aceitando mais a ditadura corrupta que vocês criaram” ria: “Eliminar todo ser que não é capaz de sobreviver por conta própria”, pelo contrário tirando o pão da boca daqueles que não podem sequer se defender. Cuidado políticos brasileiros, a Justiça tarda, mas não falha. Muitos pensam na letargia de Deus. Não! Deus não é letárgico, Ele simplesmente dá tempo para que as pessoas se arrependam. Deus não vai salvar a pessoa que pede clemência, enquanto criminosos genocidas, somente quando com um revólver com a bala dirigida contra sua cabeça, seu cérebro. Cérebro? Que cérebro? O momento que vivemos é outro, não vivemos mais o mundo neurótico de Freud, mas simplesmente sabemos como o cérebro de cada um de nós funciona, um cérebro autônomo. Não acredito mais na política do mundo inteiro, uma vez que aqueles que sempre fizeram o mundo sofrer criando guerras, agora, estão na mesma situação que os países que invadiram e mataram tantos inocentes. Assistindo um filme maravilhoso sobre a vida de Karol Wojtyla, o Grande Papa João Paulo 2º, em sua juventude, quando lutava com seus amigos contra

a ocupação nazista, um de seus mentores lhe disse: “Podemos lutar agora contra o nazismo, mas, depois, se vencermos virá um mal pior!” E veio o comunismo que massacrou a Europa durante décadas. Mas Wojtyla não abandonou sua crença de que somente o Amor corrige tudo, assim como Jesus Cristo disse. A Polônia de Karol Wojtila dominada pelo comunismo fez aparecer também um grande líder sindical, Lech Walesa, líder do “Solidariedade”, o sindicato que era o top no início da queda do comunismo, que se tornou presidente por duas vezes, e foi o governo mais corrupto que a Polônia já teve. No Brasil tivemos o movimento sindical na época da ditadura, que era um mal maior do que enorme, com seu presidente: o Lula, que também como Lech Walesa se tornou presidente. E o Brasil passou a ter desde então e até agora os governos mais corruptos que nossa nação já teve. Quero lhes dizer que só acredito em Deus, no Papai Noel e na cegonha. Quero desejar a todos um Feliz Natal e um ano que não seja novo, mas diferente dos finais de ano das últimas décadas. Um ano em que não podemos mais acreditar como as pessoas que governam o Brasil são tão más, com vontade e até orgulho de nos fazer sofrer. Governos que não cumprem o que está na Constituição, um Judiciário que não cumpre as leis estabelecidas, médicos que transformam a medicina em uma indústria farmacêutica. Chega! •

Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br

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Turismo TROPICAL

Paraíso venezuelano Los Roques mantém o clima de oásis desabitado para os turistas que querem fugir da agitação dos destinos comuns no Caribe

Marrey Júnior Los Roques (Venezuela)

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e repente, do alto, ainda no avião, dá para se ter apenas ideia do que espera o turista em terra firme. A monotonia de um constante mar escuro se transforma em um espetáculo de degradês entre o branco da areia e várias tonalidades de azul ao redor das 42 ilhas que formam o arquipélago de Los Roques. Por isso, o primeiro conselho para quem deseja ir esse trecho do Caribe na Venezuela é: dispute um lugar ao lado de uma das janelas no avião. A viagem entre Caracas e Los Roques é curta.

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Em meia hora de voo é possível deixar a caótica capital venezuelana e pisar nesse destino que, aos poucos, vem atraindo cada vez mais brasileiros. Na chegada, por causa da localização da pista, o avião parece mergulhar na água. O pouso é na Vila de Gran Roque. O aeroporto está bem à beira do mar. Segue-se a pé para o povoado. Quem está cheio de bagagens pode até contratar um carregador de malas. O único veículo motorizado da ilha mais povoada do arquipélago é um caminhão que faz o abastecimento de água. Os turistas que seguem para Los Roques buscam as águas transparentes do Caribe, mas fogem da agitação de destinos como Aruba, República Dominicana, Cancun e até mesmo a vizinha Isla Margarita, onde tudo se concentra ao redor dos grandes resorts. Esse lugar é uma

decepção para quem procura milhares de lojas, várias opções de restaurantes e badalação durante a noite. O arquipélago oferece o contrário disso: dias de vida simples para quem deseja realmente descansar. Gran Roque é a ilha onde está concentrada a maior parte da população e também é onde a grande maioria dos turistas fica hospedada. É um pequeno povoado com ruas de areia e charmosas casas de fachada e janelas coloridas. Nada é suntuoso, porém o clima é de aconchego. Centenas de árvores na principal vila de Los Roques dão um refresco para quem está cansado do calor. O vilarejo tem cerca de 1.800 habitantes. Boa parte deles vindos da Isla Margarita no início do século passado para explorar a pesca.

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Fotos: Marrey Júnior

FRANCISQUÍ Ótima para crianças por conta das águas rasas, é uma das poucas praias com serviço de restaurante

Caribe à italiana Hoje um novo tipo de forasteiro segue para viver em Los Roques: os italianos. Eles viram no arquipélago uma chance de levar uma vida tranquila e ainda tirar vantagem econômica. São eles os proprietários da maioria das pousadas, restaurantes e do comércio que atendem o visitante, grande parte vindo dessa região da Europa. Tanto que o italiano é a segunda língua mais falada no arquipélago. Além do idioma, os italianos também deram uma sofisticação à culinária local. Receitas vindas do velho continente se fundem com ingredientes da região. Os pratos conquistam os visitantes não só pelo sabor, mas também pela apresentação. Espaguetes, fetuccines, talharins, capeletes recebem inusitados molhos

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feitos a base de peixes e ervas frescas. A lagosta é obrigatória em quase todos os cardápios e também encontrada aos montes nas raras barracas de praia. O preço é bem mais em conta do que é cobrado no Brasil. Em vez da famosa porção de camarão ou de caranguejo encontradas na costa brasileira, é esse crustáceo um dos petiscos mais populares para se comer à beira-mar. Quem busca algo mais típico venezuelano pode provar as arepas, uma espécie de pão feito de farinha de milho branca, de forma redonda e achatada. Geralmente, elas são servidas no café da manhã ou no jantar. Uma delícia para se comer quente, com manteiga e queijo. O maior problema de Gran Roque é que nela não existem praias. Mas nada que cinco mi-

nutos de barco resolva. O píer é o ponto de partida para o que mais atrai quem vem de longe: as praias. É do povoado que partem diariamente os barcos que levam os turistas aos mais variados destinos. Até é possível ficar sozinho em uma ilha durante todo o dia. Usar protetor solar é uma necessidade para quem não quer ter más recordações da viagem. Ficar embaixo do guarda-sol também. Dias de chuva são bastante raros. Sombra também. O clima é quente e seco. A média durante o ano inteiro é de 27 graus, com picos de 35 graus. O sol é tão presente que faz o turista, às vezes, desejar aquela chuvinha de fim de tarde para dar uma trégua ao calor. Embora as temperaturas sejam altas, uma curiosidade: a areia da praia não esquenta e nem queima os pés.

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Turismo

GRAN ROQUE A maior parte da população está concentrada na ilha e onde os turistas se hospedam

Los Roques possui uma estrutura de atol, pouco frequente no Caribe, mas típica do Oceano Pacífico, com duas barreiras externas formadas por corais, as quais protegem o arquipélago das correntes fortes e proporciona ao turista as condições ideais para um tranquilo banho de mar. Além das ilhas, também há 250 bancos de areia, recifes e piscinas naturais. Grande parte dessas ilhas não tem quiosques, lanchonetes, qualquer tipo de comércio e até mesmo ambulantes. Pensando no conforto desses turistas, que passam o dia inteiro na praia, a maioria das pousadas oferecem um kit incluído na diária para o banhista com guarda-sol, cadeiras, toalhas de praia e uma caixa térmica com saladas, sanduíches, aperitivos e bebidas. Francisquí, Madriskí, Crasquí, Nordisquí, Espenquí são alguns desses paraísos para ficar o dia todo, alguns deles bem próximos de Gran Roque. Nomes exóticos dados por habitantes que vieram das proximidades das Antilhas Holandesas, Aruba e Curaçao, que

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chegaram ao arquipélago no fim do século 19. Madriskí é o destino mais popular por ser a ilha mais próxima. Cerca de 5 minutos de barco de Gran Roque. O local tem uma extensa faixa de areia e o mar se parece a uma grande piscina. Essa ilha se une por uma barreira de areia ao Cayo Pirata, quando a maré está baixa, uma grande lagoa se forma entre as duas ilhas. Já Franscisquí é ideal para quem gosta da prática de esportes náuticos. Velas de windsurfes e kitesurfes trazem novas cores ao mar e ao céu azul. O local é cercado por manguezais. Ela é perfeita para crianças por causa da pouca profundidade do mar. Esse é um dos raros lugares que conta com serviço de restaurante. Um dos destinos mais longínquos de Gran Roque e também um dos mais sensacionais é o Cayo de Água. Há cerca de uma hora de barco, o local recebe esse nome por causa dos poços de água doce no interior da ilha. Dependendo do local onde o visitante se instala, é possível ter o visual do mar por

todos os lados. As duas praias parecem se beijarem. O visual compensa todos os solavancos que o barco faz durante a viagem. Praias protegidas Em 1972, o arquipélago foi transformado em parque nacional. Esse é um dos motivos para tudo ainda estar bastante preservado e não ter sido tomado por grandes complexos hoteleiros. Por causa desse cuidado com o meio ambiente, Los Roques está entre os destinos preferidos para o mergulho. Há diversos pontos para quem deseja praticar esse esporte. La Guasa é um dos mais famosos. Entre a fauna marinha estão peixes das mais variadas cores. Entre os que mais impressionam estão os melros, os pargos e as barracudas. As lagostas e a diversidade de espécies de tartarugas também encantam quem se aventura nas profundezas do mar. Os turistas que querem ver as tartarugas marinhas e não tem tanta coragem de ficar embaixo d’água, deve visitar a Ilha de

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O NOSSO NEGÓCIO É CHURRASCO Segundo a Associação das Churrascarias do Estado de São Paulo, o nascimento do rodízio aconteceu em meados da década de 60. Conta a lenda que, um belo dia, um atrapalhado garçom começou a trocar os espetos de churrasco de várias mesas. Quem havia pedido galeto recebeu costela e o filé veio no lugar da linguiça. A confusão era generalizada com todos os clientes, quando resolveram servir todos os espetos, para todas as mesas. Assim nasceu o “espeto corrido”, mais conhecido como o famoso “rodizio”. Por curiosa coincidência, os pioneiros bem sucedidos no espeto corrido vieram de Nova Bréscia, pequena cidade encravada na serra, a 167 km de Porto Alegre. A cidade exibe na praça principal a estátua de um churrasqueiro com avental branco, faca e espeto nas mãos.

Churrascaria Nova Bréscia Matriz: Taubaté - Rod. Presidente Dutra, Km 114 Sentido RJ SP - Tel.: (12) 3681-3358 Filial: Vale Sul Shopping - Av. Andrômeda, 277 - São José dos Campos SP - Tel.: (12) 3931-1277 Site: www.churrascarianovabrescia.com.br

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Turismo

Dos Mosquises. É nela que está a Fundação Científica de Los Roques, que entre os diversos trabalhos de preservação ambiental também faz a preservação e repovoamento de tartarugas marinhas. Além de visitar as instalações da fundação, onde há tanques com várias espécies de animais aquáticos, se tiver sorte, o turista pode participar também de uma soltura de tartarugas ao mar. Shows a parte são dados pelos pelicanos em Los Roques. Eles estão por toda parte e há espécies variadas. É imperdível assisti-los em pescaria. Do alto, eles mergulham em direção ao mar para fisgarem os pescados. São eles que fazem a trilha sonora de outra atração do fim de tarde: a despedida do sol, que também faz seu espetáculo e dá uma trégua para quem está cansado de tanto calor. O entardecer muda o azul frequente do local, traz ainda mais calma para quem busca Los Roques para descansar. Quem está passeando pela ilha fica na expectativa por outro dia de sol. A torcida pela vinda dele é para aproveitar o que Los Roques tem de melhor, as praias, que fazem esse lugar se tornar inesquecível. •

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MADRISKÍ É o destino mais popular por ficar a apenas cinco minutos de barco

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Hi-Tech

SCOTT

A tecnologia tem seu pre莽o, a Scale Premium sai por R$ 25 mil e s贸 pode ser comprada por encomenda

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CICLO COMPUTADOR

iPhone

Inclui GPS, altímetro, barômetro, previsão do tempo, distância percorrida, média horária, velocidade, medidor de batimentos cardíacos, quantidade de calorias queimadas e até a quantidade de carbono economizado. O Bryton Rider 50 chega ao mercado com o preço sugerido de R$ 1.000

Fabricado pela Vista, o suporte ccarrega o iPhone e ou outros smartphones se sem risco de Preço: R$43 queda. Pre

Em duas (super) rodas Materiais nobres e raros, peças exclusivas e de alto desempenho equipam bicicletas que chegam a custar mais de R$ 30 mil Yann Walter São José dos Campos

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mountain bike vem conquistando cada vez mais adeptos no Vale do Paraíba. A região tem inúmeros lugares para a prática do esporte, como São Francisco Xavier, Santo Antônio do Pinhal e muitos outros. Muitas comunidades de ciclistas apaixonados por passeios em ambientes florestais estão se formando em São José dos Campos, e várias até trocam informações sobre os trajetos efetuados. Como acontece com os carros, existem bikes de todos os tipos e preços, do ‘fusquinha’ à ‘Ferrari’. Algumas das mountain bikes disponíveis no mercado são verdadeiras jóias que podem custar R$ 30 mil, ou até mais. Feitas exclusivamente com materiais nobres, elas são desenvolvidas após minuciosos estudos ergonômicos e apresentam uma tecnologia de última geração. A revista valeparaibano avaliou duas, uma da KHS e outra da Scott. É claro que os preços são salgados, mas os especialistas garantem: é o custo da excelência. A Alite Comp, da KHS, e a Scale Premium, da Scott, têm muito em comum, mas envolvem valores bem diferentes: enquanto a primeira custa R$ 7.700, a segunda não sai por menos de R$ 25 mil e só pode ser comprada por encomenda, como qualquer outra bicicleta desta faixa de preços. “As diferenças estão nos detalhes. As peças são semelhantes, só que nos modelos mais caros são usados somente materiais nobres, como titânio ou tungstênio, no lugar do alumínio. As fibras de carbono utilizadas na fabricação do quadro são mais leves, o composto dos pneus é mais puro”, enumerou Robson Álvaro, 41 anos, sócio da Hard Track Company e praticante assíduo de mountain bike. O grupo de peças (alavanca, freio, pé de vela, catracas, câmbios e corrente) da Scale Premium é da Shimano XTR, assim como as rodas e os pedais. De acordo com o vendedor da Gamaia José Carlos, conhecido no meio como Zecão, trata-se da melhor empresa do ramo no mercado. “Um grupo de peças regular custa em torno de R$ 2.500,

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enquanto um da Shimano não sai por menos de R$ 7.000. Os maiores diferenciais são os cubos de rolamento de cerâmica nos eixos das rodas e os pinhões em titânio”, explicou. Os dois modelos têm quadro de carbono, material prezado por sua leveza e capacidade de absorção dos impactos. No entanto, o da Scale Premium é feito com fibras de carbono ainda mais leves: a bike da Scott pesa 7,9 kg, e a Alite Comp, 11kg. O quadro é a parte mais cara da bicicleta, e a única que é de fato desenvolvida pelo fabricante. O da Alite custa R$ 4.000, enquanto o da Scale vale R$ 9.000. As duas bikes têm 30 marchas e uma suspensão dianteira hidráulica, só que a da Scale Premium vem com sistema de trava inteligente. “A suspensão hidráulica permite uma melhor leitura do terreno. Ela pode ser regulada em função dos tipos de trajeto –subida, descida– e de solo –cascalho, lama, areia, erosão”, detalhou Álvaro. Ambas têm freio de disco hidráulico, mais sensível e confortável. “Devido a sua sensibilidade, este freio pode ser acionado com apenas um dedo. Dá mais segurança, pois permite segurar o guidão com mais firmeza”, disse. Os pneus da Alite Comp são feitos de um composto exclusivo de borracha, que confere mais aderência e maciez. Segundo Robson Álvaro, “os pneus comuns são duros e furam com facilidade, porque plástico é acrescentado à borracha para baratear o custo”. Já os compostos da Scale Premium são de borracha e kevlar. “O kevlar aumenta ainda mais a aderência, mas o verdadeiro diferencial é o peso: 285 gramas, contra 400 gramas para os pneus comuns”, ressaltou. Apesar da crescente paixão dos joseenses pelo mountain bike, é óbvio que modelos como a Scale Premium não saem das lojas todos os dias. “Vendo em média três bicicletas por ano nesta faixa de preço. São bikes desenhadas para competidores, mas a maioria dos compradores são pessoas que gostam de fazer trilha no fim de semana. Este ano já vendi três, sendo as três para o mesmo cliente. Ele comprou uma Scott, uma Specialized e uma Fuji. Ele não compete, mas é apaixonado pelo esporte”, contou Zecão, destacando que estas bikes nem são as mais caras existentes no mercado. “A Scott também faz bicicletas de R$ 48 mil”, revelou. •

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Moda&estilo GLAMOUR

Temporada de festas Tecidos metalizados e maxiacessórios se misturam às tramas artesanais e podem garantir um toque de informação para a produção de fim de ano Cristina Bedendo São José dos Campos

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m meio à correria do fim do ano, um assunto é sempre unânime nas listas das mulheres: os looks para as festas. E nesse quesito, as peças metalizadas estão entre os itens preferidos. Para essa temporada, aliás, elas estão entre as principais tendências tanto para os acessórios como para as roupas. Calças e shorts em materiais metalizados que lembram o couro – só que em versões mais leves– são ótimas opções para se tornarem o ponto focal do look. Por chamarem muita atenção, a dica é combiná-los com t-shirts ou regatas mais básicas ou com uma estampa descolada. Vale também complementar o look com um maxicolar ou um bracelete mais pesado. Uma dica para as mais ousadas é apostar na combinação de duas peças metalizadas ou uma peça e um acessório, com tons próximos, como dourado e rosé. E os metalizados também aparecem nos sapatos. Sandálias, anabelas e até rasteiras ganham materiais sofisticados e pedrarias. Outro hit para as festas das

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mais antenadas são as peças em crochê, que ganharam status elevado nas araras de super marcas como Maria Filó, Espaço Fashion, Carlos Miele e Vanessa Montoro –estilista paulistana expert em crochê e tricô. Depois das rendas, que também continuam em alta para misturas interessantes com outras texturas, o crochê garante um estilo super feminino às produções. E como essas peças costumam ser mais delicadas, adicione informação de moda com acessórios mais pesados, como maxianéis, braceletes em metais trançados ou várias pulseiras usadas juntas. Se a ideia é investir num look com informação de moda já para as próximas temporadas, aposte nas modelagens mais retas e golas arredondadas, bem no estilo anos 60. Os vestidos tubinhos de modelagem minimalista prometem ser peça-chave da próxima estação e você pode usá-los desde já com maxicolares e saltos poderosos. Na cartela de cores, para quem quiser fugir do look total branco para as festas de Réveillon, a dica é investir nas combinações com tons pastel, que ficam sutis e super atuais. Os tons de azul, rosa, menta e lilás são os hits da estação. •

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RETRÔ As estampas de poás remetem diretamente ao universo do vintage e do retrô. São ideais para composições bem femininas, com modelagens comportadas

METALIZADOS São ótimos para transmitir um clima mais sofisticado às produções. Para não errar, escolha apenas uma peça com brilho e um acessório de peso para o look

CROCHÊ Tramas naturais aparecem em versões sofisticadas, voltadas para as festas ou passeios mais finos ao ar livre. A dica é investir em peças com ótimo acabamento

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FRANJAS Garantem movimento ao look e um toque 70’s mais glamouroso. Invista em acessórios ou em detalhes nas regiões do corpo que você gostaria de destacar

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Tempos ModernosArtigo

Alice Lobo

Natal, família, mesa farta, presentes... e um monte de lixo produzido

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lgumas coisas me deixam angustiadas pelo simples fato de produzirem um lixo absurdo. E uma delas acontece nas festas de final de ano. Que casa não passa pelo seguinte ritual? Trocam-se e abrem-se os presentes e depois é hora de recolher todos os papéis que embrulharam os mimos que o Papai Noel trouxe. Existem ainda algumas embalagens que, de tão rebuscadas, são quase um presente à parte. Pena que não dá para guardá-las e o destino final é o descarte mesmo. Poucas situações me deixam mais incomodadas do que esta descrita no parágrafo acima. Uma, por exemplo, acabei de vivenciar: uma mudança. Papéis e caixas que não acabam mais foram necessários para que minha “casa” chegasse inteira. Realmente só quebrou uma taça de vinho. Mas o lixo foi do tamanho da minha garagem que cabe um carro grande. Para minimizar, a empresa veio recolher e garantiu a reciclagem de tudo. Espero que o faça, pois para este caso não temos muitas alternativas. Outro fato vou vivenciar nos próximos meses: as fraldas de um bebê. São cerca de 9 por dia! Ou seja, 63 por semana ou ainda 3.285 por ano! E todas são sujas, ou seja, não serão recicladas. Será que não é hora de empresas no Brasil investirem nas versões biodegradáveis? Pois acho

RECICLAR Uma boa ideia é usar papel reciclável para embrulhar os presentes

difícil “virar moda” voltar a usar a de pano. Se você tiver algumas dicas, estou aceitando sugestões. Enfim, voltando ao Natal, algumas ideias criativas podem ajudar a diminuir o lixo. Por que não aproveitar embalagens antigas ou ainda criar novas com revistas e jornais que irão para a reciclagem? No ano passado escolhi imagens bonitas de revistas que tinham alguma relação com o que o presenteado

gostava e usei páginas –que foram grampeadas ou coladas uma nas outras como um patchwork– para embrulhar o presente. Em alguns casos, usei jornal e desenhei ou escrevi frases coloridas. E sabe qual foi o melhor de tudo? Além de ter ficado com a consciência limpa, as pessoas se divertiram olhando a embalagem ao receberem os presentes. Que tal experimentar você também? E boas festas a todos! •

Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br

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Eddie Murphy desiste de apresentar o Oscar 2012

Notas & fatos

Eddie Murphy, que foi anunciado como apresentador oficial do Oscar em 2012, renunciou seu cargo . “Eu entendo como Eddie se sente em relação a saída do amigo Brett Ratner, e todos nós o queremos bem”, disse Tom Sherak, presidente da Academia. “Em primeiro lugar quero dizer que entendo completamente e apoio a decisão de cada membro em relação a uma mudança de produtores para a cerimônia do Oscar deste ano”, disse Murphy. “Eu estava realmente ansioso para fazer parte do show que a nossa equipe de produção e escritores já estava começando a desenvolver. Mas tenho certeza que a produção e o novo apresentador realizarão um trabalho grandioso”. O cineasta Brett Ratner deixou seu cargo de produtor do evento depois de ter causado indignação no setor de entretenimento por conta de seu insulto aos homossexuais. Billy Cristal será o apresentador pela nona vez.

Rihanna: ‘gosto de homens agressivos’ Rihanna, convidada do programa de Ellen DeGeneres, nos Estados Unidos, fez revelações sobre sua vida pessoal. A prestigiada cantora pop garantiu que, atualmente, está solteira e não encontra vantagem alguma nesse status. “Não estou namorando ninguém”, afirmou. “É difícil, mas eu não tenho o tempo necessário para estar com alguém. Isso não é divertido, não é legal. É um saco, na verdade,

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mas é isso”. Questionada sobre o tipo de homem que gosta, Rihanna não pestanejou e fez sua confissão: “Eu gosto de homens agressivos, misteriosos. Gosto de homens no geral, na verdade. Mas, no atual momento, eu sou o homem com relação ao meu trabalho”. Vale lembrar que em 2009, a cantora abriu processo judicial contra seu ex-namorado, o rapper Chris Brown, que a agrediu em uma noite de premiação.

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MADONNA

‘Me chamavam de monstro peludo’

FAMÍLIA

‘Sou avó moderna’, diz Regina Duarte Regina Duarte vai ganhar um presente mais do que especial neste Natal. A filha da atriz, Gabriela Duarte, deve dar a luz ao seu segundo filho. A atriz, que já é avó de Manuela, primeira filha de Gabriela, e Theo, filho de André, contou que a família não pretende viajar neste final de ano. “Vamos ficar quietinhos, com o bebê”, afirmou. Questionada como ela se define como avó, Regina logo respondeu: “Moderna!”. E completou que é muita preocupada, mas contribui com os pais de seus netos. “Queremos criar um ambiente equilibrado, bacana e feliz”, falou.

Quem falou o quê? “O cara que vem dizer pra mim que eu sou uma celebridadezinha é um imbecil por completo. Eu sou o Romário! ” Romário ,em entrevista à ‘Playboy’, o ex-jogador falou sobre sua carreira no Congresso

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Cauã está tranquilo com a paternidade Apesar de muito feliz com a gravidez da mulher, Grazi Massafera, Cauã Reymond mostrou estar bem tranquilo a espera do seu primeiro filho. “Ainda é muito cedo, geralmente as pessoas falam da gravidez após três meses, mas, por motivos de trabalho, contamos antes. Mas a gente nem sabe o sexo ainda. Estamos muito felizes, é uma notícia ótima”, contou. Escalado para participar da próxima novela das nove, “Avenida Brasil”, Cauã revelou que sua única preocupação é que o filho irá nascer quando ele estiver no meio deste trabalho. “Vou nanar o neném decorando texto”, brincou.

”Tomei uísque e e um Rivotril para dormir” O cantorLuciano revela no ‘Programa do Jô’ qual foi o motivo de sua internação logo ogo após a briga com o irmão Zezé ezé

”Apesar de estar amando a função de mãe, já estava querendo trabalhar” Juliana Knust , no ar como a Zuleika, de “Fina Estampa”

Considerada um símbolo sexual em décadas passadas, Madonna revelou que foi “torturada” durante a adolescência com comentários maldosos sobre sua aparência. “Os garotos da minha escola zombavam de mim. [Me chamavam de] ‘Monstro cabeludo’, coisas assim”, disse em entrevista concedida à revista norte-americana “Harper’s Bazaar”. Ela afirmou que descuidava do visual para se distanciar da aparência das meninas mais populares. “No colégio, eu via como as garotas populares tinham que se comportar para ficar com os meninos. Eu sabia que não me encaixava nisso. Então decidi fazer o oposto. Me recusava a usar maquiagem, arrumar o cabelo. Me recusava a me depilar. Eu tinha as axilas peludas”. Madonna disse que só se encontrou quando começou a frequentar boates gays. “Homens heterossexuais não me achavam atraente. Acho que tinham medo de mim porque eu era diferente”, revelou.

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ValeViver CYBER

Sua vida na rede O que você come, com quem anda, sua conta bancária, o prato preferido, o endereço de casa, que horas você tomou banho ontem... enfim, sua privacidade pode estar exposta sem que você se dê conta de como isso pode ser revelador

Isabela Rosemback São José dos Campos

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uando torceu tor o joelho, ao final do ano passado, o promoter Leonardo Luis Arantes fi ficou desolado. A contusão atrapalhava os seus plan planos e ocorria no mesmo final de semana em que o para-brisa de seu carro havia quebr quebrado –soava como muito azar para um perí período tão curto de tempo. Hoje, com os dois problemas resolsatisfei por ter voltado vidos, ele sente-se satisfeito aos seus treinos de tênis ––esporte pelo qual pode manter o hábito é apaixonado–, e por poder c de circular à noite pela cidade levando de ma próximos. carona os seus amigos mais completad em 12 de julho Com 27 anos completados ch passado, Léo (como é chamado entre os co amigos) leva uma vida confortável em São José dos Campos, onde divide um aparMa não fica muito tamento com a mãe. Mas tempo sem visitar a casa onde morava em Santa Isabel (a 45 km de sua atual cidade). piscin do quintal, que Lá, ele pode curtir a piscina d terrenos vizié cercada por árvores dos nhos, enquanto toma um umas cervejas para sem relaxar depois de uma semana de trabalho. Identificar a sua antiga residência é fácil: bran de portão gratrata-se de uma casa branca u fábrica têxtil, fite, a poucos metros de uma em uma rua próxima à ave avenida Manoel Ferr z de Campos Sales. O único ra ú raz problema é

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Fotos: Flávio Pereira /modelos WR

que os amigos que fez no Vale do Paraíba preferem circular com ele pelas baladas mais próximas, o que abrange o Litoral Norte e a Serra da Mantiqueira. Por colaborar com uma empresa de promoção de eventos, Léo está sempre por dentro de grande parte das festas na região. Isso contribuiu, de certa forma, para que ele ganhasse o status de popular, rótulo do qual o próprio já riu uma vez. Mas ele é mesmo requisitado, ao mesmo tempo em que consegue agitar grupos de amigos para marcar presença na noite valeparaibana. No mês passado, inclusive, foi a vários eventos. Entre eles, uma noite à fantasia em Santa Isabel e festas eletrônicas nas baladas que ele sempre prestigia em grupo, em Jacareí e São José dos Campos. Os que mantêm contato com Léo costumam até descolar um convite VIP ou um nome na lista de descontos na entrada das festas que ele ajuda a promover. Entre um copo e outro de vodca com energético, a bebida predileta dele, nessas ocasiões, as histórias para serem lembradas e repercutidas no dia seguinte começam a surgir. Porque balada boa, para essa turma, é aquela que rende risadas por um bom tempo. Muitas vezes, as noites começam ao final da tarde, em reuniões que ele chama de “esquenta” –o que significa entrar cedo no clima de descontração que os aguarda. Às sextasfeiras, geralmente, uma pizzaria do bairro Esplanada, na área nobre de São José dos Campos, torna-se o ponto de encontro dessa galera. Em praticamente todas as semanas

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ValeViver

tem “pizzada” para reunir todo o mundo. E se Léo acha que exagerou na dose naquela noite, no dia seguinte tem o costume de repetir aos amigos que parou com essa vida. Apesar disso, ele vive declinando os convites que recebe, com a desculpa de estar cansado. Os amigos não aceitam, mas há dias em que tudo o que ele quer fazer é ficar em casa, jogando videogame ou vendo filme. Em sua sala, miniaturas de personagens de histórias conhecidas decoram a prateleira que fica sobre a televisão. E se não está jogando, Léo –que adora estar cercado de pessoas– recorre à internet para manter-se em contato com os amigos. Esse costume pode até explicar um pouco do cansaço que o isola em dias que nem saiu de casa. Léo tem dificuldade para dormir. Não raro, passa parte da madrugada em claro, conversando co com outros amigos insones. Outras vezes, foi forçado pelo trabalho tra a ter de ir para a cama já com a hora avançada, depois de ficar mergulhado em planilhas do Excel. Funcionário de uma loja de telefonia de um shopping da zona sul, já chegou a sair às 3h. Hoje, apesar de ter direito a um vale-transporte de pouco mais de R$ 10 por dia, prefere ir ao serviço com o seu pró-

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prio carro. Já teve uma moto, mas desistiu de mantê-la e, agora, está só com o seu Fiat HXL. Aliás, ele adora o seu veículo, o qual vive levando para lavar. Do que ele reclama um pouco é ter de levar a mãe até Santa Isabel, às vezes, só porque ela não quer andar de ônibus. Mas, apesar de gostar de dirigir, Léo vive batendo o seu carro. Geralmente são coisas pequenas, como no dia em que ele amassou uma das portas em uma pilastra de um supermercado. Nesses casos, o jeito é sair para o que ele chama de “rolê” –passeios pela cidade– no carro dos amigos. E, se a mãe viaja, o jovem já aproveita para promover um encontro da sua turma no apartamento dele. Apesar de amar comer pizza, que é o seu prato predileto –a ponto de ele preparar alguns sabores em jantares para os amigos–, Léo, quando fica sozinho, também conta com o cuidado da matriarca para poder se virar: como não sabe cozinhar, ela chega a congelar comida para o filho, mas não sempre. Duro é quand quando ela deixa lasanha, massa da qual ele não é muito fã. Quando fica em casa, também, Léo gosta de assistir às novelas. Ele mesmo admite ser noveleiro. Agora que tem um folhetim na Globo que mostra personagens que jogam tênis, então, é

que ele fica ainda mais ligado nas tramas. Como pratica o esporte desde os dez anos, ele se considera um ótimo tenista. Jogando em dupla, ficou em segundo lugar na sua categoria no CTA Open de Tênis de 2009, por exemplo. Neste ano, participou de outros torneios. Para provocá-lo, outros atletas brincam dizendo que ele não ganharia deles. Os treinos de tênis, que ele frequenta geralmente às sextas-feiras, também o ajudam a manter a forma. Vaidoso, Léo se preocupa com os quilos que ganhou no período em que esteve afastado das quadras. Afinal de contas, além de ser considerado “baladeiro” pelos amigos, ele também tem fama de galanteador. As meninas vivem por perto, mas ele jura ser daqueles que gostam de namorar. Anda até lamentando que suas investidas não têm dado resultado, e então resolveu que vai curtir o Carnaval antes de tentar engrenar um novo romance sério. A temporada agora promete muitas baladas na praia. E, quando é assim, ele costuma dormir em Caraguatatuba, cidade da qual gost e na qual também firmou amizaele gosta nat des. O contato com a natureza o agrada, visto que ele já chegou até a fazer escaladas e, de uns tempos para cá, tem agitado os

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Formar pessoas competentes na vida acadêmica, no mundo do trabalho e na vida social são objetivos de toda escola. Fazer a diferença é o nosso desafio! Comece escolhendo uma ótima escola.

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ValeViver V aleViver mo mocionais, feiras e outros eventos. E Entrar em contato com ele não é difícil. q A quem interessar, ele tem dois celulares – um da Vivo e outro da Oi, ambos divulgados no Facebook. E, por seu perfil na rede social se desbloqueado, não leva muito tempo ser até que você encontre os números.

amigos para, com ele, pularem de paraquedas em Boituva (SP) neste mês. Viajar com os amigos é diversão garantida para Léo, como mostram os vídeos que ele gravou e narrou durante um cruzeiro marítimo timo. Em um desses desses, ele aparece em grupo em momentos de descontração, como quando um dos amigos escova os dentes em um balde de gelo. Isso tudo só reforça o jeito extrovertido de Léo em seus momentos de lazer, o que dá abertura a brincadeiras de quem convive com ele. Alguns chegam até a afirmar que têm medo das loucuras que ele faz. Entretanto, o jovem não foge de suas responsabilidades. Ele também dedica horas do dia aos trabalhos que desenvolve e arrepende-se de não ter começado a trabalhar cedo. Mas tem corrido atrás, a exemplo da LLA Solution. Trata-se da empresa que ele criou para oferecer soluções para a melhoria da imagem de uma marca em ações pro-

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”Nunca parei para pensar se me exponho muito. Na verdade, não posto nada que seja para ofender alguém, então não me preocupo muito com o que publico” De Leonardo Luis Arantes, 27 anos

Co Contato Fo por meio desse site que a reportagem Foi da revista valeparaibano o localizou para se segui-lo por três dias. Em momento algum, du durante a construção deste texto, Léo foi co consultado. Muito menos foi ouvido alguém qu tenha o mínimo de contato com ele. que Ap Apenas as informações divulgadas por ele, po meio de mensagens, fotos e comentários por es escritos em seu Facebook, serviram de base pa traçar este histórico de seu cotidiano. para L Léo não é daqueles usuários que escrevem t a todo momento o que estão fazendo ou pa onde vão, mas deixa, ao longo do dia, para dic de seu paradeiro e de seus gostos pesdicas so soais. Também divide as suas experiências co os amigos por meio dessa ferramenta com da internet. Seus convites para as festas são pú públicos, bem como para os “esquentas” e pa os “rolês”. Apesar disso, não acredita para qu esteja se expondo demais. que A Apenas ao término deste texto é que o contat com Leonardo Luis Arantes (o Léo) foi tato fei Ele não teve acesso ao que foi escrito feito. so sobre ele, mas aceitou a proposta de ter o se perfil, baseado em suas publicações no seu sit de relacionamentos da internet, publisite ca pela revista. Nada lhe foi perguntado cado so sobre sua personalidade ou costumes, apena sobre os seus hábitos na internet. nas ““Nunca parei para pensar se me exponho mu muito. Na verdade, não posto nada que sej para ofender alguém, então não me seja pr preocupo muito com o que publico”, conta ele, que afirma conhecer de 60% a 70% das pessoas que adiciona ao seu perfil. “Muitos pedem para ser adicionados porque querem colocar o nome nas listas de festas que eu ajudo a promover”, justifica. Arantes afirma que essa foi a sua principal motivação para criar a sua conta no Facebook. “É mais para ajudar os amigos. Eu costumo acessar a rede quando não estou no trabalho. Fico bastante tempo nela quando estou de folga”, diz. Depois que teve um aparelho de telefone celular danificado, deixou de ter acesso às redes sociais por meio dessa ferramenta. “No começo eu senti um pouco de falta, mas já me acostumei”, finaliza.

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É PRECISO CUIDADO COM A SEGURANÇA

FACEBOOK Foto divulgada no perfil de Léo Arantes

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Até mesmo o mais discreto dos usuários de redes sociais está sujeito a interpretações de seu perfil, sem que meça os efeitos dos dados que torna públicos. Isso não quer dizer que, em meio a tantas preocupações atuais com segurança, as pessoas devam criar uma nova paranóia. Basta tomarem certos cuidados para evitar que sejam prejudicadas pelos conteúdos que compartilham. “Os modelos de redes sociais são antigos, apenas evoluíram e se expandiram com o surgimento da internet banda larga, mas todo o mundo ainda está aprendendo a usá-los”, avalia Josué Brazil, professor de mídias da Unitau (Universidade de Taubaté). Ele reforça as recomendações para que sejam evitadas

publicações com pistas muito claras sobre rotina, trajetos ou pertences, bem como a permissão de acesso a páginas pessoais a desconhecidos. “Há uma preocupação válida com a segurança, mas as pessoas gostam de estender a vida delas à rede. Há nelas um desejo, às vezes inconsciente, de se exporem e serem aceitas em grupos. E aí é que podem ocorrer alguns excessos”, pondera. Exemplos são os casos que envolvem a ética profissional. “É comum as pessoas criticarem, pela internet, o lugar onde estudam ou prestam serviço. Também falam dos concorrentes pela rede. Isso é dar um tiro no pé porque pode prejudicá-las em suas relações de trabalho”, adverte. •

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ValeViver

COMPORTAMENTO

Sozinhos por opção Jovens, solteiros, bem-sucedidos, com vidas sociais ativas e que moram sozinhos: esse novo perfil cresce diariamente no Brasil, e número de domicílios com apenas um morador já corresponde a 12% do total Yann Walter São José dos Campos

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engenheiro Juliano Lemos Pereira, a empresária Michelle Darlan e o coordenador de projetos Henrique Scalet têm vidas completamente distintas, mas compartilham alguns pontos em comum: são jovens (na casa dos 30 anos), trabalham, não têm filhos, e estão entre os pouco menos de sete milhões de brasileiros que moram sozinhos. O número de solitários do Brasil já foi multiplicado por quase três entre 1991 e 2011. De acordo com o Censo Demográfico 2010, elaborado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os domicílios ocupados por apenas um morador já representam 12,2% do total, superando pela primeira vez na história o percentual de residências habitadas por cinco pessoas, que corresponde hoje a 10,7%. Esta nova tendência já se tornou realidade em muitas cidades do Vale do Paraíba. Em Taubaté, 11,25% dos domicílios contam com um morador, enquanto 10,57% têm cinco. Em Jacareí, a relação é de 10,93% para 10,41%. A exceção mais notável é justamente São José dos Campos, que ostenta os números de 10,45% (um morador) e 10,89% (cinco moradores). Mas Juliano, Michelle e Henrique estão aqui para comprovar que a inversão destes percen-

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tuais é apenas uma questão de tempo. Em 3 das 4 cidades do Litoral Norte, o percentual de residências com um único morador supera com folga a média nacional. Em Caraguatatuba, representa 14,69% do total. Em São Sebastião o número chega a 14,71%, e em Ubatuba, a 14,74%. Constata-se, aliás, que as cidades praianas atraem mais solitários que as do interior: em Santos, recordista do Estado de São Paulo, 17,38% das residências têm apenas um morador (na capital paulista, o percentual é de 14,10%). No Rio de Janeiro, são 17,52%. Mas o maior percentual do Brasil entre as capitais pertence à cidade de Porto Alegre, onde 21,5% dos domicílios são ocupados por uma só pessoa. Os dois principais fatores que explicam esta invasão de solitários no país são o aumento da renda média dos brasileiros e o maior número de idosos. Em outubro, a revista valeparaibano obteve do IBGE a repartição dos domicílios por salários mínimos e constatou que em Porto Alegre, 18,54% das residências vivem com mais de cinco salários por mês. Em Santos, são 16,1% e no Rio, 14,25%. Em São Paulo, o percentual é de 13,02%. No Vale, a primeira do ranking é São José dos Campos, com 9,71% das moradias concentrando mais de cinco salários. Porém, São José perde para Taubaté e Jacareí em número de idosos. Em São José dos Campos, as pessoas com mais de 60 anos representam apenas 9,84% da população total, contra 11% em Jacareí e 11,38% em Taubaté. Em Cunha, uma cidade onde menos de 2% das residências vi-

vem com mais de cinco salários, o percentual de idosos é muito mais alto (13,55%), o que explica que os domicílios com um único morador representem 14,64% do total. Com 19,16% de sua população acima dos 60 anos, Santos tem um dos percentuais de idosos mais altos do Estado (São Paulo tem 11,89%) e até do país. Juliano, Michelle e Henrique ainda estão longe dos 60 anos, mas ganham o suficiente para bancar o estilo de vida que escolheram. “Não quero revelar meu salário, mas ganho

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Fotos: divulgação

LIBERDADE

O engenheiro Juliano Lemos afirma que poder fazer o que quiser é a maior vantagem de viver sozinho

bem. Estava na Bélgica e voltei a São José no ano passado porque recebi uma excelente proposta de trabalho”, disse Juliano, 35 anos, que mora em uma casa confortável no bairro Jardim Esplanada 2. “A casa é da minha mãe. Quando meu pai faleceu, ela se mudou para um apartamento. Tenho dois irmãos, mas eles moram em São Paulo. Então estou aqui sozinho”, explicou o engenheiro, que disse estar vivendo “a melhor fase” de sua vida. “Estou realizado profissionalmente, mas não sou uma dessas

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pessoas que só pensam no trabalho. Saio com os amigos para tomar cerveja, toco violão e bateria, faço corrida e natação. Estou namorando há seis meses, mas ainda não penso em casamento. Até quero ter filhos, mas não agora, talvez daqui a cinco anos. Gosto muito de viajar, e ainda quero viajar bastante. Adoro minha vida atual e não pretendo mudar nada, pelo menos por enquanto”, enfatizou. Henrique Scalet, 30 anos, é outro ‘solitário’. Nascido em São Paulo, ele mora desde se-

tembro de 2010 em um apartamento de três quartos nas Floradas de São José. Os pôsteres dos filmes ‘Laranja Mecânica’ e ‘Pulp Fiction’, as duas prateleiras cheias de DVDs como ‘Scarface’, ‘O Pagamento Final’, ‘Assassinos por Natureza’ e a trilogia ‘Mad Max’, e as duas guitarras e o skate apoiados nas paredes não deixam dúvidas: ali não mora nenhuma mulher. A impressão de ‘recanto do guerreiro’ é reforçada pela presença de um Xbox 360 (com volante separado para os games de corridas de

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ValeViver

carros), uma tela plana e dois pufes gigantes que ocupam quase metade da sala. Além de seu trabalho de coordenador de projetos em uma agência, Scalet montou, junto com três amigos, uma produtora de conteúdo. Voltada para o mundo do entretenimento, a empreitada acaba consumindo praticamente todo seu tempo livre. “Estou sempre saindo, indo para shows, festas, para conhecer pessoas e fazer contatos. Vivo na noite. É um trabalho prazeroso, mas muito exigente. Não tenho horários. Mas não me queixo, pois esse trabalho tem tudo a ver comigo”. Assim como Juliano, Henrique faz questão de ressaltar que mesmo que não tenha pais, mulher ou filhos esperando por ele em casa, não passa a vida inteira no batente. “Trabalho muito, mas também tenho uma vida. Toco guitarra em uma banda, ando de skate, jogo bola duas vezes por semana. Gosto de fazer churrascos com os amigos. E quando não estou a fim de sair, fico em casa assistindo TV ou jogando videogame. Quando ligo esse console não desligo nunca mais”, brincou. A situação de Michelle Darlan, 34 anos, é diferente. Casada há 12 anos, ela mora em uma casa na Vila Betânia enquanto o marido vive em São Francisco Xavier. “Não estamos separados, mas há três anos que não moramos mais juntos. Meu marido é gerente de um posto de gasolina em São Francisco e prefere passar a semana lá. Costumamos nos encontrar aos domingos. Ele se mudou por causa do trabalho, mas na verdade foi melhor assim. Gosto de morar sozinha”, afirmou Michelle, que é dona de uma escola de inglês em São José. Para explicar sua escolha de vida, Juliano, Henrique e Michelle têm uma lista de argumentos na ponta da língua. “Posso fazer tudo do meu jeito. Posso deixar a cama desarrumada, roupa suja jogada na sala. Posso dormir no sofá, tocar bateria até altas horas da madrugada”, enumerou Juliano. “Quando saí da casa dos meus pais para morar em São Paulo, passei vários anos em pensionatos e repúblicas. Moro sozinho há cinco ou seis anos. Hoje, posso dizer que a maior vantagem de não dividir moradia com ninguém é ter total liberdade na minha própria casa. Posso fazer fritura, convidar quem eu quiser na hora que eu quiser, jogar videogame horas a fio. Não tenho que dar satisfações a ninguém”, enfatizou Henrique. “Vivo minha vida exatamente do jeito que eu quero. Não preciso dividir meu espaço ou meu tempo com ninguém”, concordou Michelle. Nem tudo, porém, é um mar de rosas na vida dos solitários. “Às vezes pesa o fato de saber que ninguém está me esperando em casa. Sinto

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LAZER

Henrique Scalet e o videogame, o único companheiro fixo em casa

falta de ter uma pessoa para conversar, para contar como foi meu dia. Também não é legal ver todo mundo na rua acompanhado numa sexta-feira à noite enquanto você está sozinha. Assim, acabo ficando mais em casa mesmo”, lamentou a empresária. Michelle admitiu que já teve “momentos de tristeza” causados pela solidão. “Mas nada que justificasse um tratamento”, ressaltou. Já para Henrique Scalet, pior é não ter ninguém para dividir as contas da casa. “Todas as vezes que pensei em voltar a morar com alguém foram por conta desse aspecto financeiro. É difícil arcar sozinho com todos os custos de um apartamento. Já a solidão nunca foi um problema para mim. Sempre que quiser, posso chamar alguns amigos, ou amigas. A diferença é que quando quero ficar sozinho, posso também. A escolha é minha”, conclui.

Desvantagens Homens e mulheres têm maneiras diferentes de encarar a solidão. Enquanto eles a veem como uma oportunidade para viverem como bem entenderem, elas são mais propensas a sentir falta da presença de um companheiro nas horas difíceis. É o que afirma a psicóloga joseense Letícia de Oliveira. “Morar sozinho traz uma liberdade que o homem aproveita mais que a mulher. A maioria dos homens enxerga a solidão como uma possibilidade para se dedicar exclusivamente à carreira, ou se entregar às noitadas. As mulheres também aproveitam o tempo passado sozinhas, mas acabam sentido falta de uma companhia”, detalhou. “É comprovado estatisticamente que as mulheres são mais sujeitas à depressão que os homens, pelo simples fato de terem a sensibilidade mais aguçada. Além disso,

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“Dengue mata. Não espere ver pra crer.”

Em São José dos Campos, alguns ainda não acreditam na Dengue. A última cidade que pensou assim teve uma epidemia com 43 mortes. Dengue mata. E o mosquito está mais perto do que você imagina. O único jeito de evitar a doença é não deixar o mosquito nascer. Acabe com as larvas, não permitindo a formação de água parada. Dengue é problema sério. Pode crer.

DR. ANDRÉ WANDELLI Clínico-Geral e Diretor Técnico da UPA Eugênio de Melo

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a sociedade ainda vê as mulheres que moram sozinhas com olhos diferentes. Basicamente, na percepção das pessoas, o homem solitário é independente e focado na carreira, enquanto a mulher que fez a mesma escolha é encalhada, não achou ninguém para morar com ela. Este preconceito está desaparecendo das metrópoles, mas ainda é forte nas cidades do interior”. A psicóloga também alertou para outro efeito colateral da solidão, que desta vez atinge tanto as mulheres quanto os homens. “A pessoa que mora sozinha há muito tempo pode perder a habilidade de conviver com os outros. Adquire manias, fica intolerante com os defeitos alheios. Desaprende a ceder, a fazer concessões. Quanto mais a pessoa fica só, mais ela desenvolve estas características, o que faz com que suas chances de encontrar alguém diminuam ainda mais. É um círculo vicioso”, definiu. Henrique Scalet, o coordenador de projetos, está ciente do perigo. “Estou tão acostumado a morar sozinho que vai ser difícil viver com alguém novamente. Isso pode ser um pro-

blema no futuro”, admitiu. Há, também, outras considerações. Estudos médicos comprovaram que solteiros e divorciados são mais propensos que os casados a contrair doenças como diabetes, cirrose e câncer de pulmão. Os solitários tendem a levar uma rotina mais desregrada. Comem fora de hora, bebem mais, fumam mais. A esperança de vida deles é menor. “Uma pessoa que mora sozinha precisa ter uma força de vontade muito maior para manter hábitos saudáveis. Afinal, ninguém quer passar uma hora na cozinha preparando um jantar para si só”, destacou Letícia de Oliveira. “Gosto de cozinhar, mas na maioria das vezes acabo comprando comida pronta. Não é tão saudável, e ainda gasto mais. Sobre a questão da bebida, é verdade que como moro sozinho, sempre aparece um ou outro amigo aqui em casa para tomar cerveja. Descobri recentemente que tenho pressão alta, então procuro me cuidar mais. Parei de fumar, não tomo mais café e estou tentando limitar o sal”, contou Scalet. “Meu marido só come fora, mas eu

gosto de cozinhar, mesmo que seja só para mim. De um modo geral, acho que as mulheres são mais cuidadosas que os homens em relação à saúde. Eu não me descuido, pratico vários esportes. Vou à academia, corro, ando de bicicleta. Preciso liberar energia”, enfatizou Michelle. Morar sozinho está se tornando uma realidade para um número cada vez maior de pessoas em todo o mundo. Na Suécia, país que concentra o maior número de solitários do planeta, cerca de 40% dos domicílios são ocupados por uma única pessoa. Os Estados Unidos estão quase na casa dos 30%, uma marca que já ultrapassaram países como Inglaterra, Alemanha e França. O Brasil ainda está longe destes percentuais, mas será que vai chegar lá um dia? Para a psicóloga Letícia de Oliveira, a resposta é não. “É fato que está ocorrendo uma tendência mundial ao individualismo, mas o brasileiro é tradicionalmente apegado à família. É uma característica cultural. Por isso, acredito que nunca alcançaremos os percentuais registrados na Europa”, finalizou. •

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FOTOGRAFIA

Riqueza do olhar O fotógrafo joseense Ricardo Martins reúne no livro ‘A Riqueza de um Vale’ uma simbiose entre cultura e natureza apresentando um Vale do Paraíba pouco conhecido pela maioria de seus habitantes Adriano Pereira São José dos Campos

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s paisagens do Vale do Paraíba têm vida. Longe da poesia de uma frase de efeito, mas perto das pessoas que fazem com que essa região tenha uma riqueza única, construída durante séculos, unidas por laços às vezes invisíveis, escondidos atrás de um morro ou se misturando com o barro que constrói as casas de paua-pique. Foi essa constatação que fez com que o fotógrafo Ricardo Martins saísse inicialmente em busca de lugares bonitos e se deparasse com pessoas e histórias. Isso mudou o foco temático e gerou uma obra que consegue mostrar em belas imagens essa ligação entre o humano e o Vale. “Visitei um local chamado Poço das Pacas, em Pindamonhangaba. Uma cachoeira linda, um lugar que parecia ser na Chapada Diamantina. Ali eu já tinha o nome do livro, ‘A Riqueza de um Vale’. Mas quando fiz o primeiro roteiro e comecei por São Luís do Paraitinga, percebi que não havia como retratar a região sem esbarrar na faceta cultural. Essas características foram aparecendo e construindo o livro”, conta o fotógrafo. Em São Luís o barro encontra as mãos, as mãos encontram a necessidade e uma casa na zona rural ganha a cor da terra ilu-

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Fotos: Ricardo Martins/divulgação

ITATIAIA

As estrelas riscam o céu acima da ‘Prateleira’ no Parque Nacional de Itatiaia

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O Santuário Nacional de Aparecida foi um dos pontos que não estavam nos planos iniciais

minada pelo sol. Pronto, um clique que retrata uma interação inevitável. Foi assim na primeira cidade visitada e seguiu dessa maneira em todas as outras 17 percorridas pelas lentes do fotógrafo. Por exemplo, o Santuário Nacional de Aparecida não estava nos planos de Martins. “Durante a realização das fotos, muita gente me perguntava: ‘E a Basílica, você não vai fotografar?’ Respondia que não. Mas na quarta vez que me perguntaram percebi que não poderia ficar de fora. O desafio era fazer algo diferente em um lugar que já foi fotografado milhões de vezes”. Pois foi de um ângulo conhecido e comum aos turistas que a técnica encontrou a criatividade, fazendo com que a imagem registrada mostre um fluxo de pessoas na passarela com uma analogia a que o fotógrafo se refere como a “energia que entra e sai” do local. Mais uma união. As fotos em longa exposição, técnica na qual a câmera usa mais tempo para registrar uma imagem, e o uso de light painting –luzes artificiais usadas para “pintar” locais escuros no momento de fotografar–

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foram bastante usadas nas fotos noturnas. No Parque Nacional de Itatiaia, por exemplo, o assistente do fotógrafo e o alpinista que serviu de guia na região tiveram que escalar a montanha para jogar luz nas paredes de pedra. Durante 20 minutos, o movimento da Terra foi captado pela câmera de Martins gerando o que se assemelha a uma chuva de meteoros, mas que na verdade são as estrelas riscando o céu. Em tempos de máquinas digitais e da falta da surpresa na “revelação” de uma foto, as imagens feitas dessa maneira acabaram surpreendendo até o fotógrafo. “Não imaginava como iriam ficar até o visor da câmera voltar a acender”, explica. A mesma técnica rendeu a imagem da cachoeira Véu da Noiva, também em Itatiaia. Uma lanterna de luz amarela ilumina as pedras e outra de luz branca ilumina a queda d’água. Noite Fotografar à noite em locais isolados não exige apenas técnica. Um pouco de sorte e coragem também fazem parte do trabalho. “Quando fomos fotografar a Casa de Pedra,

na Serra da Bocaina, ouvimos o som de um animal que parecia uma onça. O assistente já estava assustado quando um segundo som de um burro gritando durante 20 segundos, como se estivesse sendo atacado fez com que entrássemos no carro”, conta. Ainda na Bocaina, numa manhã cheia de neblina, o fotógrafo percebeu uma mancha escura ao lado do carro que os levava ao topo da serra. “Parei e me aproximei. O guia me alertou dizendo que era um ‘boi marruá’, que é na verdade um bezerro que se desgarra do rebanho e cresce na mata sozinho. Esse tipo de animal não tem medo do ser humano, ao contrário, ele ataca. Mesmo assim consegui registrar uma boa imagem”. Mudança Essas descobertas surpreenderam Martins a ponto de mudar um pouco o foco da sua fotografia. No ano retrasado, ele já havia lançado “O Encanto das Aves”, um trabalho de pesquisa e registro de diversas espécies de aves. “Meu negócio sempre foi natureza, mas essas surpresas na realização deste trabalho abriram um leque

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NOITE

A cachoeira Véu da Noiva em Itatiaia; iluminação com lanternas produziu os efeitos

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maior para o meu trabalho”. Tanto que o próximo projeto o levará ao Jalapão para fazer um novo encontro entre as comunidades que vivem do artesanato do capimdourado com as paisagens hipnotizantes da região central do país. O livro com 224 páginas recebeu o apoio da grupo NotreDame Intermédica, por meio da Lei Rouanet. Por conta das discussões sobre as mudanças na lei em 2010, a realização do trabalho ficou paralisada, entretanto os prazos para o patrocínio continuaram correndo. “Quando a definição sobre a Rouanet saiu, tínhamos apenas um mês e meio para realizar as fotos”. “A riqueza de um Vale” sai pela Editora Kongo, de propriedade do próprio fotógrafo, e tem o grande mérito de mostrar o contraponto de uma região extremamente industrializada e que ainda guarda, além de belas paisagens, uma raiz cultural preservada e ativa em muitas cidades. “É mais difícil ver a riqueza que está na sua cara”, comenta Martins. De fato, pouco além das margens da via Dutra, um Vale do Paraíba repleto de riquezas não se esconde, está ali para o nosso orgulho. •

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HOMEM

Casa de pau-a-pique é construída em São Luís do Paraitinga

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DE 9 A 31 DE JANEIRO DAS 18H30 ÀS 21H

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ELENCO

Josh Duhamel, marido da cantora Fergie, está no novo filme de Garry Marshall

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Fotos: divulgação

CINEMA

Réveillon estrelado Com um elenco repleto de astros, o diretor Gary Marshall repete a receita de ‘Indas e Vindas do Amor’ no seu novo longa ‘Noite de Ano Novo’ Franthiesco Ballerini São Paulo

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m 1990, o diretor Garry Marshall escalou uma atriz praticamente desconhecida para viver uma prostituta que se apaixonava por um ricaço em uma comédia romântica. Ele queria uma estrela, mas recusaram o papel diversas atrizes, entre elas, Kim Basinger, Kathleen Turner, Geena Davis, Meg Ryan, Michelle Pfeiffer, Madonna, Emma Thompson etc. Sem as estrelas, Marshall acabou usando a tal novata e o filme rendeu nada menos do que meio bilhão de dólares no mundo todo, tornando-se um fenômeno pop e um clássico de Hollywood. O nome do filme era “Uma Linda Mulher” e a novata, claro, Julia Roberts. Exatas duas décadas depois, nenhuma estrela diz não a Marshall. Curiosamente, em 2010, o diretor reuniu uma constelação inteira em “Idas e Vindas do Amor”, incluindo a própria Julia Roberts, além de Anne Hathaway, Kathy Bates, Jessica Biel, Patrick Dempsey, Ashton Kutcher etc. Mas o resultado rendeu menos de R$ 150 milhões no mundo todo. Resumo da história: estrelas não fazem milagre quando o roteiro não surpreende. Já uma história nova, ousada e criativa, bem comandada por uma atriz (ainda que anônima), é ouro puro. Apesar disso, Marshall volta aos cinemas, no próximo dia 9, repetindo a segunda fórmula. “Noite de Ano Novo” traz uma parte

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MISS SUNSHINE

Agora uma adolescente, Abigail Breslin contracena com Sarah Jessica Parker

considerável do PIB de Hollywood às telas de uma vez só: Halle Berry, Katherine Heigl, Sarah Jessica Parker, Robert DeNiro, Zac Efron, Hilary Swank, Michelle Pfeiffer, Ashton Kutcher, Jon Bon Jovi etc. E a história é a mesma de “Idas e Vindas do Amor”, só troca o feriado. Em vez do Dia dos Namorados, agora o diretor conta os encontros e desencontros de casais e solteiros na véspera de Ano Novo. E imagine qual é o cartão-postal da trama? Claro, Nova York. Diversas histórias paralelas vão acontecendo neste cenário habitual de Hollywood. Algumas delas se cruzam, mas todas acabam com o famoso happy ending da indústria do entretenimento norte-americano. Destaque para Zac Efron, em papel menos bom-garoto de “High School Musical”, e Abigail Breslin, a gorduchinha que cantava mal em “Pequena Miss Sunshine”, agora uma adolescente no peso ideal (de Hollywood) experimentando alguns amores. Já Robert de Niro está tão apagado quanto Nova York em noite de blecaute. Por que será que o ator de “Taxi Driver” e “Touro Indomável” tem aceitado papéis tão

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sem graça? Falta de dinheiro ou preguiça? Em uma época na qual grande parte dos orçamentos milionários dos filmes vai para pagar apenas o cachê de um ator, quer saber como Gary Marshall consegue reunir uma galáxia inteira num só filme? Simples: uma proposta prática. Para tais estrelas, mais precioso que dinheiro (que eles já têm aos montes), é tempo. E nada melhor do que um filme que lhe toma apenas alguns dias da sua vida, em vez de meses. Sim, as estrelas tinham data marcada para ir ao set, falas fáceis de decorar e pronto, fim do trabalho. Com um cachê proporcional ao esforço – embora ainda na casa dos milhões– cada um fazia sua parte em menos de meia semana, muitos nem se encontravam, e o filme nascia mesmo na ilha de edição, quando todas as peças eram unidas. Marshall não teve nem trabalho de escalar a equipe técnica. Trabalhou com os mesmos do filme anterior, como a roteirista Katherine Fugate e os produtores Mike Karz e Wayne Rice, assim como o diretor de fotografia Charles Minsky e o figurinista Garry Jones.

O resultado é um filme de entretenimento leve, sem pensar, justamente para uma época do ano em que as pessoas estão exaustas de tantos compromissos e querem desanuviar a cabeça. Sem nenhum requinte no roteiro, ao menos se vê Nova York charmosa como sempre e alguns atores vivendo praticamente eles mesmos –como Ashton Kutcher– e o retorno de Michelle Pfeiffer, num dos papéis mais interessantes. Marshall trabalha com todos os clichês desta época do ano. Personagens que não cumpriram suas promessas, outros que fazem novos acordos consigo próprios. Personagens solitários em busca de um amor. Outros em busca de alguma alternativa melhor àquele que dorme ao seu lado todas as noites. Em suma, é muito difícil não se identificar com uma ou outra história, embora nenhuma delas surpreenda. E se “Noite de Ano Novo” der um lucro um pouco acima de seu orçamento de US$ 50 milhões, pode esperar que nos próximos anos virão a versão Noite de Natal, Dia de Ação de Graças ou, quem sabe, para dar uma apimentada no mel, o Halloween. •

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Nada em Comum (1986) Com o astro em ascensão Tom Hanks, diretor começa a refinar seu estilo de cômico-romântico, apostando na releitura de clichês. Um Salto para Felicidade (1987) Um mico do diretor nas telas. Com Goldie Hawn e Kurt Russell, mal pagou o cachê dos atores.

ALTOS E BAIXOS DE GARRY MARSHALL Médicos Loucos e Apaixonados (1982) Primeiro filme do diretor, fez US$ 30 milhões com atores desconhecidos e uma comédia para lá de sem graça. Um mau início de carreira.

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Uma Linda Mulher (1990) O ápice da carreira de Marshall até hoje, trazendo a novata Julia Roberts no papel que a consagrou. A química perfeita de Julia e Richard Gere gerou muitas imitações –nunca à altura– em Hollywood. Deus nos Acuda! (1996) O título já diz tudo. O filme foi um fracasso, que custou US$ 25 milhões e faturou apenas um terço deste valor.

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Noiva em Fuga (1999 Vendo que sua carreira estava indo para o buraco, Marshall reúne novamente Julia Roberts e Richard Gere num filme cujo título é auto-explicativo. Sucesso de bilheteria (US$ 150 milhões), mas nem próximo da dobradinha original dos atores. O Diário da Princesa (2001) O diretor encontra um novo sopro na carreira, com Anne Hathaway no papel que a consagrou, ao lado de Julie Andrews. Sucesso. Idas e Vindas do Amor (2010) Após “O Diário da Princesa 2” (2004), Marshall começa a apostar na reunião de uma constelação de astros para contar micro-histórias, esta, na véspera do Dia dos Namorados.

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MÚSICA

A subida do ’tiozin’ Reverenciado por medalhões da MPB, o rapper Criolo vive a melhor fase da carreira depois de 23 anos de estrada fazendo música ‘por necessidade’ Isabela Rosemback São José dos Campos

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Cristiano Caniche /Divulgação

e, no palco, o rapper Criolo é enérgico ao proferir as palavras que constroem as músicas com que tem ganhado público –sucesso que tem se amplificado desde que ele lançou o seu segundo álbum, “Nó na Orelha” (2010)–, nos bastidores, o artista revela-se cauteloso ao avaliar os últimos acontecimentos de sua carreira. Nem por isso deixa de comemorar o momento, que inclui o lançamento oficial do videoclipe de “Freguês da Meia-Noite”, no próximo dia 9.

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À vontade antes de subir ao palco do Hocus Pocus, em São José dos Campos, no dia 18 de novembro, o mesmo MC que acaba de ser reverenciado por Chico Buarque de Hollanda e Caetano Veloso disse não se incomodar com a visibilidade que tem alcançado, no auge de seus 23 anos de estrada, junto a um público aparentemente alheio ao universo do rap. “É imensurável. Penso: ‘Que bom que essas pessoas gostam de música’. E elas terem contato com a minha, é algo que eu agradeço. Não posso ser arrogante. Eu faço música por necessidade, porque penso nela ‘28 horas por dia’. E quem a ouve, em algum ponto se conecta comigo”, afirma Criolo, com a voz calma e sempre gesticulando. Quatro meses após a estreia do bem exe-

cutado videoclipe de “Subirusdoistiozin”, também do seu atual álbum de trabalho, o bolero “Freguês da Meia-Noite” se expandiu em imagens gravadas no mesmo horário, em pleno largo do Arouche, em São Paulo. “O clipe está lindo. Foram 40 pessoas em cena, com direção de Arthur Rosa e Samuel Malbon”, completa sorrindo. Para “Subirusdoistiozin”, dirigido por Bruno Scalzo e Gustavo Gusmão, Criolo conta que chegaram a ser mobilizadas 70 pessoas. “Nunca havia pensado em fazer algo do tipo. É como cinema”, confessa o rapper, que já protagonizou o filme de baixa renda “Profissão MC” (2009), de Alessandro Buzo e Toni Nogueira. “Nesse caso, eu estava dividindo uma ‘responsa’, um momento mágico com os amigos. Foi coisa bonita o que eles fizeram, na raça, só com uma câmera. Mas não gosto de aparecer porque não sou ator e respeito o espaço de quem é”, diz. Criolo tem orgulho de ser MC e credita aos pais parte do seu despertar para a música. “Eles são do Ceará, e eu prestava atenção no que eles gostavam de conversar, comer e ouvir. Eles sempre me apoiaram, isso é importante. Eu tinha olhos e ouvidos comuns, de uma criança da periferia. Mas como tudo o que a gente vive deságua em algo, meu primeiro jogo de palavras escrevi aos 11 anos”, conta. Por isso Criolo, com sua experiência de 12 anos como professor de artes na rede pública, lamenta: “Apesar de o ‘querer’ ser o ponto de partida para a introdução às artes, é por meio delas que o aluno se sensibiliza e se reconhece como cidadão. Mas aí ele tem apenas duas aulas de arte por semana? Não preciso dizer mais nada. E quando o professor cobra os seus direitos, apanha. Dói ver isso. A criança é inocente e precisa de exemplos, tem de se sentir valorizada”. E nesta fase de reconhecimento ampliado do seu trabalho, o rapper sente que ainda está traçando o seu caminho. “Tenho de fazer muitas coisas, ainda, para me melhorar. Mas não sei quais. Sou um homem livre, pelo menos em minha poesia. Não há métodos para o amor”. •

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MÚSICA

A volta do ’rocknejo’ Depois de dois anos separados, Edson e Hudson retomam a dupla que mistura a viola com a guitarra prometendo shows, disco de inéditas e DVD para 2012 Divulgação

São José dos Campos

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á dois anos, no auge da carreira, a dupla Edson & Hudson se desfez. Diferenças musicais e o abuso de álcool foram os motivos só agora assumidos por ambos. “Descobrimos que juntos nós somos uma pedreira e separados somos um cascalho. A separação não foi boa para nenhum de nós”, diz Edson em entrevista a revista valeparaibano. “Foi um momento ruim, bebíamos demais”. Segundo a dupla, foi durante um almoço na casa dos pais que surgiu a ideia de voltar à dupla. “Nossos pais estavam tristes, nossa vida estava vazia e a gente tem o respeito um pelo outro”, explica Hudson. Para essa volta os dois já prometem um DVD “megaproduzido” para o início de 2012, juntamente com um CD de inéditas e uma turnê. Os dois estão gravando no estúdio particular de Hudson, em Limeira, e provavelmente o disco saia pela EMI, que acaba de ser comprada pela Universal em uma negociação bilionária. O primeiro single já é cantado pelos dois. “Moleque Biscate” traz a receita pronta do sertanejo atual com as histórias de balada, mulheres, bebidas e diversão, quase o trinômio da vida de um roqueiro. Aliás, o rock sempre fez parte das composições da dupla por conta da paixão de Hudson pela guitarra. “Essa pegada nunca vai sumir mesmo que as pessoas critiquem. Quando a gente começou, o pessoal que gostava de sertanejo dizia que a gente fazia rock e o pessoal que gostava do rock dizia que a gente era sertanejo, mas teve um momento que isso acabou”, diz Hudson. “A energia que está rolando agora é uma delícia. Estávamos com saudades um do outro, do palco, enfim, essa separação foi algo negativo, mas transformamos em algo positivo, com um aprendizado para crescermos profissionalmente”, finaliza Edson. •

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Marcelo Magano / Divulgação

SHOW

20 anos independentes A banda White Liers completa duas décadas em 2012 e já começa a comemoração neste mês São José dos Campos

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maoria das bandas que começam hoje em dia carrega a bandeira “independente” como algo novo. Em 1992, quando o mercado começava a mostrar que um grande selo talvez não fosse o futuro da indústria, o White Liers já nascia caminhando com as próprias pernas. Dois discos e um EP e lá se foram 20 anos de independência que começam a ser comemorados no próximo dia 10, no Photozofia, no distrito de São Francisco Xavier, com show de inéditas que devem se

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transformar em um CD no ano que vem. A comemoração traz também algumas mudanças, como as letras em português aparecendo em mais composições. “Sempre compus em português, e começamos a sentir que o público que começou a ouvir as músicas em português passou a cantá-las. Agora eles sabem a letra, não dá nem para errar”, brinca Oswaldo Jr.. Essas canções já fazem parte do repertório do show antes da banda entrar em estúdio no início de 2012. O disco deve sair até julho. “Continuamos com nosso estilo de sempre, experimentamos pouco, mas já temos algumas novas influências que os fãs irão perceber. É sutil, mas tem mudança”, finaliza Oswaldo. •

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Música&mais Que venha 2012! O ano foi agitado para quem gosta de música. Mas 2012 promete muito som no Brasil com a chegada de novos festivais e nomes pra lá de interessantes nos palcos Adriano Pereira São José dos Campos

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e ainda houver alguém reclamando que 2011 não teve nada para assistir é porque viveu 12 meses em outro planeta. Este foi um dos anos mais agitados nos palcos brasileiros, com artistas de todos os gêneros em shows únicos ou mega festivais como o Rock in Rio. Mas a gente quer sempre mais, e por isso 2012 já deixou de ser uma promessa e deve repetir a boa dose musical do seu antecessor. Entre as atrações confirmadas, Roger Waters, com a turnê The Wall, é quem deve trazer a maior estrutura já vista em território nacional. Maior até que a 360º Tour do U2. Só para se ter uma ideia, o muro construído durante o show tem 137 metros de comprimento, 11 metros de altura com 5,5 metros de profundidade, são 424 tijolos. Se forem somados os pesos de cenário e estrutura de palco, o conjunto chega a inacreditáveis 112 toneladas. Os shows em São Paulo acontecem nos dias 31 de março e 1º de abril. Uma semana depois, nos dias

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7 e 8 de abril, o Brasil recebe sua edição de um dos três maiores festivais de música do mundo: o Lollapalooza. Em agosto de 2011, a revista valeparaibano esteve em Chicago antecipando como funciona a estrutura deste gigante. A organização impecável deve se repetir no Brasil. Entre as 50 atrações estão nomes como Foo Fighters, Arctic Monkeys, Jane’s Addiction, Foster The People, MGMT, Joan Jett and The Heartbrakers. Já que estamos falando de um festival que tem sua sede em Chicago, nada melhor do que ir direto para o palco Via Funchal, em São Paulo, para curtir um dos últimos bluesmen vivos. No dia 12 de maio, Buddy Guy traz a turnê “Living Proof” para o palco da casa de shows. Boatos Há ainda aquela leva enorme de nomes que muitos afirmam de pé juntos que estão com as malas prontas para o Brasil. Outros, nem tanto. A lista inclui até Madonna e Lady Gaga, que realmente não foram nem citadas de maneira oficial por nenhuma produtora brasileira de shows. Assim como Noel Gallagher, Van Halen, Rolling Stones e Radiohead. De forma mais palpável, surgem expectativas do cantor Morris-

sey fazer parte do line-up do Live Music Rocks, um festival novo que tem uma proposta diferenciada. As apresentações do Live Music Rocks acontecerão em estádios, arenas e casas de shows, mas serão pensadas e formatadas como conteúdo multitelas (para que sejam também exibidas em streaming na internet). Segundo informado, os artistas serão divididos em três categorias: Stadium (show para mais de 20 mil pessoas), Open Air (de 10 e 20 mil pessoas) e Arena (até 10 mil pessoas). Além do cantor, nomes como Arcade Fire, Prince, Portishead e Dave Matthews Band estão entre as apostas. Já está marcada também a segunda edição do Summer Soul Festival para janeiro do ano que vem. Como headline do evento o músico norte-americano Bruno Mars já foi escalado, assim como a banda Florence + The Machine. Será a primeira vez de ambos no Brasil. Esse festival foi responsável pela vinda da cantora Amy Winehouse neste ano. Bom, se vocês notaram, ficamos apenas no primeiro semestre de 2012 e já temos várias atrações para serem vistas. Se você é daquelas pessoas que não podem perder nada, segure o bolso no Natal e prepare a garganta.

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DUOFEL

SOLTA O PAUSE

NEGÓCIOS

A dupla de violonistas brasileiros mostra leituras particulares e talentosas de canções dos Beatles em DVD

Acompanhe as notícias do mundo da música pelo blog http://soltaopause. com.br

Neste livro, o CEO da MTV Bill Roedy conta como transformou a emissora em um fenômeno midiático

WEB

Fotos: Divulgação

PROGRESSIVO

CD’S & MAIS

A voz do Yes canta em São Paulo

VALE DESTAQUE THE BLACK KEYS “El Camino” O sétimo disco da dupla formada por Dan Auerbach e Patrick Carney chega com a produção do hypado Danger Mouse

AMY WINEHOUSE “Lioness: Hidden Treasures” O disco póstumo da cantora que morreu neste ano traz inéditas e novas versões

THE CURE “Bestival Live 2011” Disco duplo ao vivo da apresentação da banda no festival em setembro

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Jon Anderson é uma das vozes mais marcantes do rock progressivo e responsável por sucessos como Close to the Edge, Awaken, I’ve Seen All Good People, Roundabout e Owner Of A Lonely Heart. À Frente do Yes, Anderson vendeu mais de 50 milhões de álbuns ao redor do mundo e se consolidou como um dos ícones do rock progressivo dos anos 60 e início dos 70. O show “Jon Anderson – A Voz do Yes” acontece no Citibank Hall (SP) dia 13 de dezembro. Esse é o show para os fãs de Jon Anderson e, principalmente, do Yes. Com uma proposta intimista, Anderson subirá ao palco sozinho e soltará sua voz inconfundível. Sempre se revezando entre o teclado e o violão, ele tocará músicas do Yes e de sua carreira solo em versões que visam envolver o público em uma atmosfera encantadora e de paz. Ingressos no www.ticketsforfun.com.br.

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Ponto Final

Arnaldo Jabor

Desculpe, é engano...

H

á dez anos, eu estava em um hospital para ser operado e, talvez por medo, escrevi um texto sobre minha mãe, no secreto desejo de ela me proteger. Voltei esses dias ao hospital para exames e me lembrei de minha lembrança, da memória de uma memória. E, em minha viagem de recordações, repito trechos desse artigo sobre ela que foi, afinal, a personagem central de tudo que me aconteceu. Ando com vontade de telefonar para ela. Mas, minha mãe já morreu. Mesmo assim, quis ligar, pois, talvez, no telefone, houvesse um milagre e ela atendesse: “Alô? 284858? Mamãe?”. Na época desse número remoto do Meier, sua voz era jovem e feliz. Depois, foi enfraquecendo por outros números, até o tempo em que, já velhinha, atendia triste e doente o 478378: “E aí, meu filho, tudo bem?” Como seria bom o telefone me salvar e alguém me chamar de “meu filho”. Confesso que, em alguns momentos de desespero, eu já liguei escondido para números antigos de casas em que morei. Ouvia a voz anônima e falava: “Desculpe, é engano...”, com a sensação de, por instantes, ter visitado minha velha casa. Minha mãe era linda. Parecia a Greta Garbo. A vida de minha mãe foi a tentativa de uma alegria. Sorria muito, trêmula, insegura e, nela, eu vi a historia de tantas mulheres de seu tempo buscando uma felicidade sufocada pelas leis do casamento, pela loucura repressiva dos maridos. Meu pai era um árabe alto, de bigode, pilotando aviões de guerra; era um homem

LEMBRANÇAS “Conto hoje a memória de uma memória” bom e amava-a, mas nunca conseguiu sair do espírito autoritário da época e, inconscientemente, se enrolou numa infelicidade que oprimia os dois. Na classe média carioca dos anos 50, cercados de preconceitos, medos e ciúmes nas casas sombrias, os casais estavam programados para tristezas indecifráveis. Eram cenários estreitos para o amor: a casa do subúrbio, o apartamento micha de Copacabana, onde vi minha mãe enlouquecer pouco a pouco, tentando manter um sonho de família, tentando manter a cortina de veludo, a poltrona coberta de plástico para não gastar, os quadros de rosas e marinhas e a eterna desculpa para os raros visitantes: “Não reparem que a casa não está pronta ainda...” (isso, com 50 anos de casada). A casa nunca ficou pronta, como ela, Greta Garbo do subúrbio sonhou: a casa feliz, com bolos decorativos nas festas, seu orgulho, a única coisa que ela sabia fazer: bolos em forma de avião, para homenagear meu pai piloto, em forma de livro, para me fazer estudar ou em forma de piano para minha irmã tocar. Na juventude, minha mãe era infeliz e não sabia, pois todas suas forças eram convocadas para esquecer isso –se bem que ninguém era muito feliz naquele tempo. Não havia essa infelicidade esquizofrênica de hoje, mas era uma infelicidade tristinha, com lâmpada fraca, uma infelicidade de novela de rádio, de

lágrimas furtivas, de incompreensões, de conceitos pobres para a liberdade. Eu via as famílias; sempre havia uma ponta de silêncio, olhos sem luz, depois dos casamentos esperançosos com buquês arrojados para o futuro que ia morrendo aos poucos. Toda minha vida consistiu em fugir daquela depressão e em tentar salvá-los. Eu queria dizer: “saiam dessa, há outras vidas, outras coisas!” –logo eu, que achava que ia descobrir mundos feitos de revoluções e de prazeres, eu que achava que viveria na vertigem do sexo que se libertava, na bossa nova, na arte, ilusões que foram logo apagadas pelo golpe de 64. Hoje, vivemos essa liberdade desagregadora, vivemos o medo das ruas, das balas perdidas, que não havia quando mamãe ia visitar a médium de “linha branca” que lhe prometia felicidade com voz grossa de “caboclo”. Antes, minha mãe e meu pai tinham a ilusão de uma “normalidade”. Hoje, todos nos sentimos sem pai nem mãe, perdidos no espaço virtual, dos e-mails, dos contatos breves, da vida rasa sem calma. Sinto imensa saudade da linearidade, do princípio, do meio e do fim das vidas, e tenho medo de ter morrido e de não perceber. Por isso, me dá essa vontade profunda de pegar o telefone e discar, ouvir a voz de minha mãe e voltar para a salinha de móveis “chippendale” e vê-la sempre querendo ser feliz, mas com vergonha das visitas: “Não reparem que a casa não está pronta...” Na verdade, tenho vontade de discar, mas é para saber quem sou eu. E quando disserem: “Quem fala?” –pensarei: “É o que me pergunto sempre...” Mas, sei que vou desligar, dizendo: “Desculpe, é engano...” •

Arnaldo Jabor Jornalista e cineasta

jabor@valeparaibano.com.br

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