CINEMA Cleo C leo Pires Pires vive viive ssua primeira protagonista nas telonas P102
POLÍTICA Rob bertto P eiixo oto Roberto Peixoto enfrenta tsunami de problemas P18
Junho 2011 • Ano 2 • Número 15 R$ 7,80
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São José acumula 100 mil pessoas na lista de espera por consulta, cirurgia e exame; fila tem 50 km de extensão
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Opinião
Palavra do editor
DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno
Fila: uma doença crônica da Saúde
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inquenta quilômetros. Essa é a extensão do problema na rede de saúde de São José dos Campos, cuja fila de espera por consultas médicas, exames ou cirurgias reúne quase 100 mil pacientes –colocados um atrás do outro, formaria uma linha reta que chegaria até a vizinha Taubaté, num percurso cansativo, desgastante e burocrático, que pode demorar até dois anos para ser concluído. A espera por atendimento, uma doença crônica e ainda sem cura, se alastra como uma epidemia e se junta a outras mazelas da gestão pública da saúde. Pacientes reclamam com frequência do sistema de emergência, das unidades básicas e ambulatórios lotados, da falta de médicos e enfermeiros, dos leitos insuficientes, entre outras situações que comprometem o atendimento à população. Mas quando não se consegue o atendimento primário, aquela consulta com o médico, a situação fica mais preocupante. A assistência médica é um direito de todos e um dever do poder público. A demanda reprimida em São José foi constatada em auditoria feita por determinação do Ministério da Saúde para averiguar os principais gargalos da saúde na cidade. Foi recomendado ampliar a oferta de consultas e procedimentos especializados, contratar médicos e instalar um laboratório de reumatologia. Um semestre se passou desde a entrega do relatório e a prefeitura nada fez. A Secretaria Municipal de Saúde informou que pretende ampliar a rede de assistência, os prestadores de serviços e a oferta de consultas, mas não explicou porque há pacientes que esperam mais de um ano por atendimento. O orçamento para a área da Saúde previsto para este ano é de R$ 391,3 milhões, sendo R$ 94,8 milhões por meio de transferências federais –o valor é 10,5% maior que em 2010, quando prefeitura e governo federal destinaram, juntos, R$ 354,1 milhões. A verba da Secretaria de Saúde de São José corresponde a 24% do orçamento municipal. Ao que tudo indica, dinheiro não seria o problema.
Marcelo Claret editor-chefe
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DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br EDITOR DE FOTOGRAFIA Flávio Pereira flavio@valeparaibano.com.br REPÓRTERES Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br) DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes daniel@valeparaibano.com.br COLABORADORES Angélica Félix, Cristina Bedendo, Elaine Santos, Fábio, França, Franthiesco Ballerini, João Carlos de Faria, Jovana Bubniak e Xandu Alves COLUNISTAS Alice Lobo, Arnaldo Jabor, Fabíola de Oliveira, Marco Antonio Vitti e Ozires Silva CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. O valeparaibano reserva-se ao direito de selecioná-las e resumi-las.
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A tiragem é auditada pela KPMG
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MODA
Sumário
PINTE-SE PARA ENCARAR O INVERNO P76
ESPECIAL
O fiasco da Saúde Com uma fila de espera que chega a 50 quilômetros de extensão, a prefeitura não consegue suprir a demanda de pacientes em São José; já são 100 mil pessoas aguardando consultas, exames e cirurgias
POLÍTICA REGIONAL
TRANSPORTE ÔNIBUS
CULTURA ERUDITO
Taubaté não sai do olho do tsunami P18
Lotação máxima
Festival mais enxuto P82
Denúncias políticas, dengue, violência, limpeza pública... A maré de azar sobre Peixoto ECONOMIA SETOR AERONÁUTICO
Plano de expansão do aeroporto é suspenso P22 Infraero decide estudar novo projeto de ampliação do terminal em São José ENTREVISTA TOMINAGA
“Não desisti, mesmo levando muitos nãos” P32
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P36 Testamos as linhas mais complicadas de São José; viajar sentado é luxo
MEIO AMBIENTE
O pesadelo do Paraíba Governo estadual estuda a liberação da extração de areia no Rio Paraíba do Sul P42
Com o tema “Contrastes”, o 42º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão reduz número de concertos TURISMO ARRIBA!
A terra dos Astecas P68 Ensaio Fotográfico p60 Naturismo p96 Cinema p102 Arnaldo Jabor p114
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Palavradoleitor Gostaria de parabenizar a equipe de editores e jornalistas responsáveis pela edição de maio, com ênfase na matéria “A Máfia da Univap”. É preciso coragem e determinação para tratar de um assunto tão gritante que vem acontecendo há muito tempo nesta Entidade de Ensino, comprometendo até o nome de São José dos Campos. Digo isso por que nos meus 10 anos de trabalho prestados a esta Universidade tive tempo suficiente para ver muita falcatrua e abusos cometidos a funcionários e quem mais cruzasse o caminho do professor Gargione. Apesar de sua formação superior e o título de Doutor, não tinha a menor educação e princípios básicos no trato de seus comandados, fossem eles de qualquer nível. As suas palavras eram sempre ameaçadoras, de intimidação e gritava a quem quisesse ouvir: “Aqui quem manda sou eu, essa Universidade é minha e faço o que eu quiser, sem dar justificativa a quem quer que seja e quem não estiver contente que caia fora e desocupe o lugar”. Em verdade vos digo: Se mexerem bem no caldeirão Univap, muita porcaria ainda irá aparecer.
ENQUETE Como você avalia o transporte público de São José dos Campos?
23,53% 52,69%
23,79%
Bom Regular Ruim
Foram computados 391 votos entre os dias 2 e 25 de maio
Luciano M. Vieira, ex-colaborador da Univap Enquete www.valeparaibano.com.br
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Domingo 5 Junho de 2011
Pitty Virada Cultural chega ao interior do Estado P76 Jair Bolsonaro Deputado solta o verbo em entrevista P20 Eduardo Cury São José reforça o lobby no F-X2 P17
Maio 2011 • Ano 2 • Número 14 R$ 7,80
EXCLUSIVO
A MÁFIA DA UNIVAP
A revista valeparaibano publicou reportagem de capa na edição anterior sobre o nepotismo e a gestão administrativa na Univap
Abrimos a caixa preta da gestão de Baptista Gargione: nepotismo, desvios e denúncias de fraude em décadas de poder
UNIVAP 3 Coragem Parabéns pela matéria sobre a Univap. Coragem, qualidade da informação e espirito investigativo, dignos dos mestres do jornalismo. Agliberto Chagas Diretor do Cecompi de São José
UNIVAP 4 UNIVAP 1 Estudantes Parabenizo esta grande revista pelo conteúdo das matérias que vem expondo. Em especial à edição de maio, cuja capa estampa o Sr. Baptista Gargione. Agradeço, em nome dos estudantes, pela nobre iniciativa de publicar a existência dos processos, o arquivamento por parte do Ministério Público. Estamos também aguardando a apreciação de uma representação ao MP, de autoria dos estudantes, no que concerne ao valor das mensalidades. Mais uma vez, muito obrigado. Gabriel Nogueira Presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito da Univap
UNIVAP 2 Mudança Excelente e corajosa reportagem para o bem da sociedade. Deveríamos conhecer melhor os eleitores que elegem o reitor há tanto tempo. Quando lia reportagens sobre a Univap, nunca dava valor porque sempre tinha a sensação de que tudo continuaria na mesma. Vamos aguardar que esta surta o efeito desejado e que processos de mudanças aconteçam para que voltemos a ter, no futuro, uma grande universidade, formando profissionais com qualidade como acontecia, antigamente, na Faculdade de Direito. Nezio Antonio Barreiros De São José dos Campos
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Sobre a Univap: @MarcosTeles corajosa e mais que atual a capa
@elizaniosilva muito boa a matéria da @r_valeparaibano sobre a gestão Gargione à frente da Univap. Parabéns!!!
Vitória Cheguei a pensar que esse dia não chegaria. Acredito que já seja uma vitória para nós que fomos prejudicados. Agora é esperar para ver como essa história termina. Amanda Silva Comentário feito no Facebook
RESPOSTA Desgosto Venho, através desta carta, divulgar publicamente o meu desgosto e revolta com a matéria “Um dia nada especial”, me qualificando como uma senhora abandonada no Asilo Santo Antônio. Nunca fui abandonada pelos meus familiares e a escolha de viver no asilo Santo Antônio foi exclusivamente minha. Alice de Lima Xavier Moradora do Asilo Santo Antônio
DIA DAS MÃES Reportagem Parabenizo a revista e a autora da reportagem “Um dia nada especial” não só pelos relatos que retratam a realidade de milhares de idosos no Brasil, mas também pelo enfoque que deu ao Dia das Mães. A atenção dada ao longo do ano, não alivia os sentimentos de vazio e solidão quando esses idosos não recebem a visita do familiar num dia tão especial. Joel Alves de Sousa Júnior Advogado e vice-reitor da USF
@kcioandrade parabéns aos jornalistas da @r_valeparaibano, Adriano Pereira e Marcelo Claret, pela excelente reportagem
@renanrosaa depois que li a reportagem da Univap na @r_valeparaibano , fiquei em dúvida se a universidade realmente se chama Univap ou Congresso Nacional
@joaluizjor Já falei que a reportagem da @r_valeparaibano sobre “A Máfia da UNIVAP” está ótima?! Verdade pura essa, Gargione mafioso!!
@KelmaJuca Estudando semiótica e fazendo análise da capa de maio/2011 da revista @r_valeparaibano para trabalho da @posunitau
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Política
Da Redação Dom Raymundo é eleito novo presidente da CNBB Arcebispo de Aparecida permanecerá no cargo por 4 anos; Dom Odilo Pedro Scherer, fica em segundo lugar
BRANCO & PRETO Sobre o patrimônio do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, que passou de R$ 375 mil para R$ 7,5 milhões entre 2006 e 2010
“Para afastar dúvidas, o ministro precisa se explicar. Não é normal que um homem público tenha essa evolução patrimonial em 4 anos” ACM Neto líder do DEM na Câmara dos Deputados
RELIGIÃO O cardeal e arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis
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cardeal e arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, foi eleito o novo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil durante a 49ª Assembleia Geral da CNBB, realizada em Aparecida. O arcebispo de Aparecida recebeu 196 votos e ficará no cargo nos próximos quatro anos. O cardeal de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, ficou em segundo lugar, com 75 votos. Foram feitas duas rodadas de votação porque a primeira não alcançou dois terços dos votos (182). Damasceno era considerado um dos favoritos para assumir a presidência da CNBB por causa, principalmente, do seu perfil conciliador e do prestígio que obteve após a visita do papa
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Bento 16 ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em 2007. O cardeal já foi secretário geral da CNBB por dois mandatos consecutivos, entre 1998 e 2003. No final do mês passado, ele entregou o cargo de presidente do Celam (Conselho Episcopal Latinoamericano), órgão que preside desde 2007. O novo presidente da CNBB é tido também como uma pessoa próxima ao papa e de fácil diálogo com setores da sociedade civil organizada e o governo. Natural de Capela Nova (MG), ele substitui o arcebispo de Mariana (MG), Dom Geraldo Lyrio Rocha, que ficou por quatro anos no cargo e decidiu não tentar a reeleição. Nas eleições do ano passado, ele defendeu que temas relacionados ao direito à vida, como o aborto, e ao matrimônio fossem debatidos pelos candidatos na campanha presidencial. Damasceno foi nomeado cardeal em outubro.
“Palocci não está sob suspeita. Eu confio 100% nele e as explicações dadas são satisfatórias” Cândido Vaccarezza Líder petista do governo na Câmara dos Deputados
“Não vamos fazer prejulgamento, mas ele tem que esclarecer cabalmente, mostrar a declaração de renda”
Alvaro Dias Líder do PSDB no Senado
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Domingo 5 Junho de 2011
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José Paulo Sepúlveda Pertence, pre- “Não nos cabe indagar a história da fortuna dos pobres e dos ricos que sidente da Comissão se tornaram ministro. Não há matéria a ser examinada pela comissão” de Ética Pública da Sobre o patrimônio do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, que aumentou 20 vezes em 4 anos Presidência
Novo no PMDB, Chalita disputará Prefeitura de SP
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deputado federal Gabriel Chalita, que deixou o PSB para ingressar no PMDB, é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo no próximo ano. A mudança de partido recebeu elogios até da presidente Dilma Rousseff, que foi comunicada oficialmente pelo vice-presidente Michel Temer da decisão. Chalita, que tem forte ligação com a ala carismática da Igreja Católica, teve um papel importante na crise da candidatura de Dilma com os setores religiosos no início do segundo turno, quando lideranças católicas e evangélicas comandaram um movimento anti-Dilma por considerá-la pró-aborto.
PT terá Carlinhos na eleição de 2012
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O deputado federal Carlinhos Almeida é pré-candidato do PT à Prefeitura de São José dos Campos nas eleições municipais de 2012. Para lideranças, ele é o nome do partido que reúne condições para enfrentar os tucanos, que estão à frente da administração municipal desde 1997. Será a terceira vez que Carlinhos tenta a vaga. A presidência estadual do PT avalia a disputa como difícil porque o PSDB se consolidou com vitórias sucessivas em São José. Carlinhos já manifestou que tem condições de concorrer ao cargo, mas, segundo ele, o pleito não é um projeto individual, é um projeto do PT e de outras forças. Em São José, o PT foi eleito uma única
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Michel Temer fez questão de comunicar pessoalmente à presidente dos planos do PMDB de tentar levar Chalita, ex-secretário de Educação do Estado de São Paulo, à prefeitura da capital paulista, costura que vem sendo realizada há meses. O vice ressaltou que não é uma candidatura contra o governo e que, no caso de haver segundo turno, PT e PMDB estarão juntos. A pressa de Chalita em deixar o PSB tem razões pragmáticas: O PMDB quer que ele seja a estrela do programa eleitoral do partido que irá ao ar neste mês. Nascido em Cachoeira Paulista, Chalita ele foi um dos recordistas de votos no pleito deste ano, ficando em terceiro lugar na disputa por vagas na Câmara Federal, com 560.022 adesões nas urnas. Chalita entrou para a política aos 19 anos, quando foi eleito vereador em sua cidade natal. À época, também assumiu a presidência da Câmara. Aos 42 anos, tem quase 50 livros publicados. Escreveu o primeiro aos 11 anos e, pelas suas contas, já vendeu mais de 9 milhões de exemplares. vez para o Executivo, quando a ex-prefeita Angela Guadagnin disputou pela primeira vez o cargo na prefeitura. Angela, que atualmente é vereadora pelo partido, ficou à frente da administração municipal entre 1993 a 1996. Ela também já foi eleita por dois mandados na Câmara dos Deputados. O PSDB ainda não definiu o nome que disputará a prefeitura. A direção do PSDB em São Paulo decidiu pressionar o secretário de Estado de Planejamento, Emanuel Fernandes, a lançar seu nome na disputa. Principal liderança tucana no Vale do Paraíba e homem forte do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), Emanuel administrou São José por oito anos (de 1997 a 2004) e foi fundamental para as duas vitórias de Eduardo Cury contra Carlinhos Almeida (PT) nos pleitos de 2004 e 2008. Emanuel tem sustentado que não pretende voltar a concorrer ao cargo de prefeito e que o ideal seria a legenda lançar uma nova liderança para a tentativa de conquista do quinto triunfo significativo.
Empresa de Palocci fatura R$ 20 milhões A empresa de consultoria do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, faturou R$ 20 milhões no ano passado, quando ele era deputado federal e atuou como principal coordenador da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República. O desempenho do ano passado representou um salto significativo para a consultoria, que faturou pouco mais de R$ 160 mil no ano de sua fundação, 2006. Batizada como Projeto, a empresa foi aberta em julho daquele ano e transformada numa administradora de imóveis no fim de 2010, dias antes da posse do novo governo. A Projeto comprou um apartamento de R$ 6,6 milhões em 2010 e um escritório de R$ 882 mil em 2009. Os dois imóveis ficam em São Paulo, perto da avenida Paulista, uma das áreas mais valorizadas da capital paulista. As aquisições ajudaram Palocci a multiplicar por 20 seu patrimônio. Ao registrar sua candidatura a deputado em 2006, ele declarou à Justiça Eleitoral a propriedade de bens avaliados em R$ 356 mil, em valores corrigidos. O presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Ophir Cavalcante, se disse “indignado”. “Pode-se deduzir que ele teria recebido isso como uma compensação pela campanha, e que teria de ser paga antes de ele assumir o ministério. O que mais me assusta é o fato de [a Procuradoria Geral da República] não querer nem investigar”, disse.
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Reportagem de Capa
Política
REDE PÚBLICA Hernane Lélis São José dos Campos
O fiasco a saúde da em S. José Lista de espera por consulta, exame ou cirurgia acumula quase 100 mil pacientes, revela auditoria realizada por determinação do governo federal
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esde os quatro anos de idade João Pedro Chaves vive à base de antiinflamatórios, inalação, dilatadores nasais e injeções para dor. O problema poderia ser resolvido com uma simples cirurgia, mas se tornou crônico, assim como o drama do garoto. Ele precisa realizar um exame nasal antes de encarar o bisturi, mas há oito meses se juntou a outros pacientes encostados numa fila de espera que não se sabe como anda e como termina no sistema público de saúde de São José dos Campos, onde quase cem mil pessoas aguardam por consultas e procedimentos especializados. O diagnóstico da rede municipal de saúde, traçado pelos próprios pacientes, é deprimente. Reclamam do sistema de emergência, postos e ambulatórios lotados, falta de médicos e enfermeiros, leitos insuficientes, entre outras situações relacionadas à infraestrutura que comprometem o atendimento à população. As queixas se alastram em todo o setor como uma epide-
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Fotos: Flávio Pereira
ESPERA Pacientes aguardam atendimento em UBS do Jardim Satélite, na região sul de São José
mia. No caso de consultas e cirurgias, a precariedade se reflete também em números. São 12.532 pessoas aguardando por um oftalmologista, 10.333 por um ortopedista e 9.791 à espera de um dermatologista. Outras 1.052 pessoas anseiam por uma cirurgia de catarata, 1.841 por uma intervenção cirúrgica ortopédica e 1.303 por cirurgia plástica. Somando todas as especialidades, são 84.022 pacientes à espera de um médico. Para procedimentos, exames que podem ser agendados por não implicarem risco imediato à vida, são 15.410 pacientes na fila, incluindo João Pedro, que hoje está com 12 anos. A maior parte da demanda neste caso é para endoscopia, com 2.523 pessoas, seguido pelo teste ergométrico, com 2.059 pessoas, e mapeamento de retina, com 1.945 pacientes –nos dois sentidos da palavra. No total, entre consultas, exames e cirurgias, chega-se a uma fila de espera com 99.432 pessoas, que, se colocadas uma atrás da outra, formaria uma linha reta de 50 quilômetros de extensão –pouco mais que a distância que separa os municípios de São José e Taubaté, num percurso cansativo, desgastante e burocrático, que pode demorar até dois anos para ser concluído. “Hoje, espero para fazer o exame, depois
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ainda tenho que enfrentar outra fila para o médico analisar o resultado do exame, e por último mais uma fila até a cirurgia. É complicado, todo mês gasto cerca de R$ 50 com remédios para tentar amenizar o sofrimento dele, que dorme mal, sente dores, nariz sangra, e no inverno a situação fica ainda mais complicada”, disse Cícera Bentos Chaves, mãe de João Pedro, que mora com o marido e outros dois filhos, de 6 e 4 anos, numa pequena casa no bairro Putim, região sudeste da cidade. A demanda reprimida foi computada pelo SNA (Sistema Nacional de Auditoria), mecanismo de controle técnico e financeiro que regula as ações e serviços do SUS (Sistema Único de Saúde), entre os dias 27 de agosto e 1º de outubro de 2010. O resultado foi encaminhado ao Conselho Municipal da Saúde de São José em 12 de janeiro desse ano. Segundo a própria administração municipal, não houve nenhuma mudança significativa na lista de espera desde a avaliação dos auditores, que recomendaram “ampliar a oferta de consultas e procedimentos especializados, em especial aqueles em que há grande demanda reprimida”. A auditoria foi feita a pedido do Ministério da Saúde para averiguar os principais
gargalos da gestão básica da saúde de São José. A demora para atendimento e a grande quantidade de pessoas na fila de espera foram os únicos problemas apontados no levantamento. De acordo com informações da SNA, a prefeitura teria elaborado uma defesa em relação à quantidade de pessoas aguardando por uma consulta e encaminhado ao setor responsável no ministério. No documento estariam algumas adequações que seriam feitas pela prefeitura, por meio da Secretaria de Saúde. “Aguardamos novas instruções do ministério sobre quais serão os próximos procedimentos. Fizeram a defesa deles e encaminharam para Brasília. Provavelmente faremos uma nova auditoria, o que chamamos de auditoria de acompanhamento, para saber se aquilo que recomendamos de melhorias está sendo feito. Nenhuma outra auditoria havia sido feita neste sentido ainda, somente duas para apurar denúncias, mas já faz muito tempo”, disse Elias Naiberg, auditor do Sistema Nacional de Auditoria. O Ministério da Saúde informou que foi enviado um ofício à Secretaria de Saúde, solicitando ao gestor responsável, à época o secretário Jorge Zarur, informações sobre as medidas corretivas adotadas. Entre elas estariam a contratação de novos médicos, instalação de um laboratório de reumatologia e ampliação dos convênios com a SPDM –entidade gestora do Hospital Municipal–, AME (Ambulatório Médico de Especialidades), Hospital Pio 12 e Provisão, responsável pelas consultas e procedimentos oftalmológicos no município. Diagnóstico Quatro dias após conceder entrevista à revista valeparaibano sobre o assunto, o médico cardiologista Jorge Zarur, 55 anos, pediu demissão da Secretaria de Saúde alegando falta de apoio político para continuar no cargo. Em seu lugar foi nomeado o cirurgião-geral Danilo Stanzani Júnior, 42 anos, médico de carreira na prefeitura e ex-diretor técnico do Hospital Municipal. A primeira medida de Stanzani a frente da pasta foi alterar o método de agendamento de consultas para tentar desafogar o sistema. Agora, o paciente pode ir a UBS (Unidade Básica de Saúde) em qualquer dia útil para pedir vaga, diferentemente do que ocorria antes, quando era necessário ir sempre ao primeiro dia de cada mês. O problema é que nenhuma das opções garante atendimento a curto prazo. Quando questionado se houve alteração no
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Reportagem de Capa
quadro de agendamentos apresentado pela SNA, Jorge Zarur, ainda na condição de secretário, afirmou que pouca coisa mudou desde a auditoria, ou seja, Stanzani tem como herança da última gestão quase cem mil pacientes disputando horário na apertada agenda da rede pública de Saúde. Para Zarur a situação é aceitável, já que a cidade recebe diariamente pessoas de outras cidades do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira, à procura de procedimentos, chegando a prestar até 100 atendimentos por dia fora da demanda municipal. “Tem muita gente de fora do sistema, de outros municípios, tem certos períodos que o número de adesões à nossa rede passa de 100 por dia. O que eu tenho hoje é uma demora parecida com a da época da auditoria e que vem se mantendo, em torno de três meses, em média [o tempo de espera somente para consultas e exames]. Tenho 88.432 pessoas à espera de consultas, atendo 28 mil por mês. Esse número está mais ou menos estável, mas com tendência a aumentar, periodicamente ele aumenta”, explicou Zarur, que para chegar a pouco mais de três meses de espera em exames e consultas dividiu o total de pessoas na fila pelo número de atendimento. O problema na resolução matemática apresentada fica na falta de informação referente à quantidade de pessoas que entram com pedidos de consultas e exames dentro do mesmo período. Sem esse número, que não foi informado pela Secretaria de Saúde, fica impossível, por exemplo, ter uma média de quantos pacientes seguem sem atendimento nesses 90 dias, uma vez que da mesma maneira que diversos procedimentos são realizados diariamente, uma expressiva quantidade de usuários não consegue passar por um médico, formando então a demanda reprimida municipal. Desde a saída de Jorge Zarur, no dia 13 de maio, a revista valeparaibano tentou inúmeros contatos com o novo secretário de Saúde, Danilo Stanzani, para falar sobre o assunto. Por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa, o gestor limitou-se a dizer que pretende ampliar a rede de assistência municipal, os prestadores de serviços, assim como a oferta de consultas especializadas disponibilizadas mensalmente pelo AME, unidade ambulatorial que é mantida pela Secretaria Estadual da Saúde. “Entro com a vontade de fortalecer a rede básica de saúde e melhorar as condições de trabalho dos funcionários, e tudo será discutido e estudado com o objetivo de ampliar o vínculo do paciente com suas Unidades Básicas de Saúde e também com os programas de
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PREJUÍZOS Jéssica Mota, 14 anos, aguarda consulta com ortopedita faz 1 ano e 4 meses; Ana Cristina Mota, diz que não há previsão de atendimento para a filha
”Pensei em procurar atendimento particular, o problema é o preço. Além disso, pago meus impostos em dia para ter atendimento gratuito” De Ana Cristina Mota, mãe de Jéssica Mota, 14 anos
promoção à saúde por elas desenvolvidas”, disse o secretário, acrescentando que o AME realiza 8.000 consultas especializadas por mês e que o agendamento é feito levandose em consideração a demanda, a oferta e a priorização médica. Sob o argumento de que está há pouco tempo no cargo, o secretário deixou de responder se existe um prazo para a administração acabar, ou mesmo diminuir, a longa fila de espera. Não explicou os motivos que levam pacientes aguardarem anos por atendimento, além de não fornecer a quantidade de pedidos por consultas e exames que entram mensalmente na rede pública, reiterando apenas que o sistema realiza 36 mil consultas especializadas por mês, somando-se a demanda das UBS e do AME. A Secretaria Municipal de Saúde tem 713 médicos de 32 especialidades inscritos nas UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) e UBS. Entretanto, o número de profissionais trabalhando na rede seria menor, já que alguns
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bitantes, segundo estudo realizado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). “Precisam melhorar a saúde pública, precisamos ter mais médicos na rede. Abrem-se concursos e ninguém quer fazer inscrição para trabalhar em São José. As poucas pessoas que prestam concurso começam a trabalhar e logo pedem demissão, isso não é segredo para ninguém. Eles [a administração] sabem dessa realidade, mas nós precisamos mudar essa realidade. Esperamos uma mudança em toda a política de saúde com essa troca de gestão, não adianta apenas mudar a pessoa”, disse a pediatra Neusa Helena Massula de Melo, representante da Comissão de Médicos de São José. No ano passado, o investimento na área de saúde foi de R$ 354,4 milhões. Desse total, R$ 93 milhões vieram de transferências relativas aos programas federais, principalmente do SUS. O orçamento previsto para este ano é de R$ 391,3 milhões, sendo R$ 94,8 milhões de transferências federais –10,5% maior que em 2010. A verba da Secretaria de Saúde corresponde a 24% do orçamento municipal.
BUROCRACIA João Pedro Chaves, 12 anos, aguarda exame faz 8 meses; a mãe Cícera Bentos Chaves, gasta com remédios para amenizar sofrimento do filho
teriam duplo vínculo com a administração – foram aprovados em dois concursos públicos para dobrar a jornada de trabalho. A categoria estima que pelo menos cem médicos estariam nessas condições, reduzindo para 613 o total de profissionais. A falta de especialistas para atender a crescente população joseense é uma das principais causas apontadas para a perpetuação da demanda reprimida no município. Nos últimos sete anos, entre 2005 e 2011, a prefeitura perdeu 386 médicos de seu quadro funcional, sendo 293 pedidos de exoneração, 45 aposentadorias, 20 demissões, duas mortes e 26 licenças. No mesmo período, 382 profissionais foram contratados para reposição. São José tem 1 médico para cada 880 moradores, uma proporção muito aquém da média mundial, que é de 1 para cada 300 habitantes. A situação na gestão pública da saúde do município é pior que a média nacional –no Brasil há um médico para 595 ha-
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”Espero o exame, depois tenho que enfrentar outra fila para o médico analisar o resultado e, por último, mais uma fila até a cirurgia.” De Cícera Bentos Chaves, mãe de João Pedro Chaves, 12 anos
Espera Estudante da 9ª série do ensino fundamental, Jéssica Mota, de 14 anos, pratica basquete, dança e futebol. Na lista de atividades que desenvolve na escola também constava capoeira. No entanto, há pouco mais de seis meses ela teve que abandonar o esporte devido a fortes dores que sentia no joelho direito. A primeira iniciativa foi procurar um hebiatra no sistema público de São José. O médico encaminhou a garota a um ortopedista, mas passado um ano e quatro meses ainda não conseguiu ser atendida pelo especialista. Diante da falta de retorno, Ana Cristina Mota, 32 anos, mãe de Jéssica, decidiu procurar a UBS próxima à sua casa. Foi informada de que não existia previsão de atendimento, sendo orientada pelos funcionários a aguardar contato da unidade. “Eles não informaram os motivos, mas só pode ser falta de médico para atender a todos. Pensei procurar um atendimento particular, o problema é o preço de uma consulta. Além disso, pago meus impostos em dia para ter atendimento médico gratuito”, disse. O desabafo de Ana Cristina não é isolado. Em qualquer canto da cidade é fácil encontrar alguém que sofre com as incertezas provocadas pelo sistema de agendamento na rede pública. Terezinha Maria de Carvalho, também está na fila por um ortopedista. Com 61 anos de idade e graves problemas de saúde, procura manter
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Reportagem de Capa
a paciência na agonizante espera por atendimento. Desde o encaminhamento ao especialista, onde pretende encontrar um tratamento adequado para controlar a osteoporose, já se passaram um ano e três meses. “Já estou acostumada com isso tudo. Fui criada e criei meus filhos nos hospitais públicos. Posso não ser um caso de emergência hoje, mas com essa demora isso pode acontecer, digo, virar uma urgência. Quem sabe se durante todos esses anos eu tivesse tido um atendimento adequado, não tivesse tantos problemas de saúde. Sobrevivo com a aposentadoria do meu marido, é pouco para ir numa consulta particular. Eles [o poder público] que precisam garantir nosso atendimento, colocando mais médicos para trabalhar”, afirmou Terezinha. Professora de Saúde Pública da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e diretora do Cebes (Centro Brasileiro de Estudos de Saúde), Ligia Bahia, afirma que a situação encontrada em São José e em diversas cidades brasileiras traz consequências perversas. Sem gestão efetiva das filas, não há como priorizar casos mais graves com base na idade, tempo de espera e real situação clínica. A falta de transparência também agrava o problema, uma vez que não é uma lista que permite o acompanhamento de quem nela esteja sobre o fluxo de pessoas que já foram atendidas. O problema, de acordo com a professora, tem raiz na estrutura da saúde pública. Como a quantidade de leitos, profissionais e equipamentos é inferior ao necessário, as unidades de saúde priorizam procedimentos de urgência e emergência. A lógica do mercado também é um fator que contribui para a forte demanda reprimida. Médicos e hospitais conveniados preferem realizar consultas e procedimentos privados ou de convênios, uma vez que eles remuneram melhor que o SUS. Para sua tese, Ligia apresenta dados do Instituto Brasileiro para Estudo e Desenvolvimento do Setor de Saúde que apontam uma diferença de 50% a mais, em média, no valor pago pela rede particular. A diretora lembra ainda que, em países como a Inglaterra, há limites para a espera, podendo o Brasil caminhar para uma regulamentação semelhante. “Penso que nos acostumamos a tolerar grandes desigualdades e tratá-las como inevitáveis. Temos falta de recursos financeiros e humanos e gastamos mal o que temos. Hoje, o Brasil gasta menos com saúde e tem uma relação médico/habitante menor do que vários países da America Latina. Além disso nossos serviços de saúde são geridos de maneira improvisada e quem
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NA FILA Pacientes esperam na fila por atendimento em UBS do Dom Pedro, na zona sul de S. José
neles trabalha está desestimulado. Esses ingredientes fertilizam o solo do tratamento desrespeitoso aos cidadãos que acorrem aos serviços públicos”, disse Ligia. Embate Enquanto milhares de pessoas aguardam por atendimento clínico em uma fila quilométrica, médicos e prefeitura travam há pouco mais de um mês um embate para resolver a questão da remuneração paga pela administração aos doutores e doutoras do sistema público municipal. O salário base dos médicos na rede é de R$ 2.200 por 20 horas de trabalho semanal, porém o governo de Eduardo Cury (PSDB) alega que o salário médio pago à categoria é de R$ 6.600, em função dos benefícios. Os médicos querem que a prefeitura dobre o salário base para R$ 4.400, contrate pelo menos mais 100 especialistas e melhore as condições de trabalho. Enquanto o impasse não chega ao fim, pacientes ficam sem atendimento por conta das paralisações esporádicas na rede pública organizada para pressionar o governo sobre as reivindicações. Diante desse
cenário, a administração assinou contrato com uma empresa para prestar atendimento à população numa eventual ausência de médicos nas unidades clinicas. A Ideas (Instituto de Desenvolvimento Estratégico e Assistência Integral à Saúde) foi contratada por R$ 513 mil na segunda quinzena de abril em caráter de urgência, com dispensa de licitação. Foram 30 dias de serviços prestados. A pedido dos médicos, o Ministério Público Federal abriu inquérito para verificar a legitimidade da contratação da empresa. A categoria garante que apoia apenas paralisações discutidas e aprovadas em assembleia, como a que ocorreu no dia 24 de maio, por isso, nada justificaria a contratação da Ideas sem licitação para ocupar o lugar delegado aos médicos nos plantões. “Fazer plantão é a única forma de conseguir aumentar um pouco a nossa renda, todo médico da rede quer fazer hora-extra e se sentir valorizado na profissão. Aguardamos uma posição da prefeitura sobre nossas condições de trabalho”, explicou a pediatra Neusa Helena Massula. •
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Política
Ozires Silva
Se o Brasil quer competir no mercado mundial precisa de um novo PAC á 40 anos a Coreia do Sul era uma das nações mais pobres. Sobreviveu a uma severa guerra civil que quase destroçou o país e perdeu muitos de seus habitantes numa luta que, feliz e surpreendentemente, terminou vencida pelo bom-senso e pelo progresso. Na atualidade, o país mostra um PIB per capita quase três vezes superior ao brasileiro e seus produtos são conhecidos, distribuídos e vendidos em todo o mundo, chamando atenção pela sua qualidade e competitividade em relação às mais significativas inovações.
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Muitos não mais perguntam as razões pelas quais um país de pequenas dimensões territoriais pôde, num período de tempo relativamente curto, sair da miséria para um modelo de desenvolvimento bem-sucedido. Segundo estudos feitos na Europa e nos EUA, o que mais se ressalta são os bem-concebidos e realizados investimentos em educação, desde os anos 60. É importante se destacar que o setor, na Coreia, ganhou prioridade e ênfase, com o lançamento de um programa nacional sério de redução do analfabetismo de 70% para 20% em meados da década de 70. Logo em seguida aumentou de forma dramática a quantidade de alunos matriculados no ensino médio, enquanto o número de graduados universitários expandiu-se significativamente. No mesmo período de desenvol-
BRASIL “Menos de 1% da população conclui o ensino superior” vimento do sistema educacional coreano, no Brasil, observou-se a progressiva queda da qualidade do ensino fundamental, mantido basicamente pelos poderes públicos. Os resultados, certamente mostraram e mostram um quadro de causa e efeito tristemente desencorajador, com predominância da pobreza e da falta de qualificações de milhões de chefes de família. Vivemos um real funil da educação. De quase 200 milhões de habitantes em 2008, cerca de 32 milhões de estudantes ingressaram no ensino fundamental, chegando ao final do nível médio somente 8 milhões de brasileiros. Um quadro dramático de desempenho absolutamente não aceitável de desistências ou de reprovações. Desses últimos 8 milhões, apenas pouco mais de 2 milhões ingressaram em cursos superiores, para uma graduação final de 1,2 milhões, ou seja, menos de 1% da população. Para concorrer em pé de igualdade com as potências mundiais, o Brasil terá que aumentar o percentual da população com formação acadêmica superior. Como referência, de brasileiros entre 25 e 64 anos, apenas 11% chegou a um diploma universitário. Levantamento feito pelo especialista
em análise de dados educacionais, Ernesto Faria em 2008, a partir de relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), concluiu que o Brasil ocupa o último lugar em um grupo de 36 países ao avaliar o percentual de graduados na população da faixa etária citada. Entre os países da OCDE, a média (28%) é mais do que o dobro da brasileira. Neste momento, encontra-se em discussão no Congresso Nacional um projeto de lei que determina a discussão e a aprovação de um Plano Nacional de Educação para o período 2011/2020. Esse projeto teve origem e foi coordenado pelo governo federal, uma vez que foi preparado pelo Ministério da Educação. A importância desse documento legal é óbvia e deveria ser um marco de mudanças. Um verdadeiro plano que abranja cada unidade de federação e cada comunidade. E não somente um dispositivo legal aprovado pelos congressistas sob um clima de interesses. Com muita urgência, o Brasil precisa de um ”Plano de Aceleração da Educação”, ou seja, de um novo PAC que transforme cada brasileiro num vencedor. Sem dúvida, é imperativa a participação de cada um, individual ou coletivamente, pois estamos sob risco de levar nossos descendentes a viver num país pobre em face do que está acontecendo hoje nos cinco continentes, um real mergulho no progresso e na disseminação do conhecimento e da cultura. •
Ozires Silva Engenheiro
ozires@valeparaibano.com.br
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A vida é bonita, mas pode ser linda.
Aquele friozinho na barriga de volta para o seu namoro.
No Dia dos Namorados, d¬ &oNjHH 6HdXFWioQ ZZZ EoWiFario Fom Er
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Política Fotos: Rogério Marques/vp
Alvo de um processo com pedido de cassação, prefeito de Taubaté enfrenta uma série de denúncias de cobrança de propina, nepotismo e superfaturamento
ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL
Peixoto de frente para o tsunami Luara Leimig Taubaté
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uem analisa os números de Taubaté, que ostenta uma arrecadação anual de mais de R$ 500 milhões em impostos, índice de crescimento de empregos em alta e figura em 50º lugar no ranking de desenvolvimento industrial no Brasil, imagina que o município esteja em momento de prosperidade, com motivos de sobra para comemorar os resultados e fazer planos para o futuro. Mas a situação é oposta.
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Taubaté enfrenta uma onda de problemas que vão desde buracos nas ruas e avenidas, falta de produtos básicos para atendimento na rede municipal de saúde, uma epidemia de dengue que já deixou três mortos neste ano, aterro sanitário interditado, lixo espalhado pelas vias públicas, sem falar no tráfico de drogas que a cada dia tem provocado mais mortes na cidade. Parece uma torre de babel, mas os problemas não param por aí. É dentro da prefeitura, lá no gabinete do Palácio do Bom Conselho, que a maré negativa atingiu proporções gigantescas e se transformou em um tsunami de acusações contra o prefeito Roberto Peixoto (PMDB). São denúncias de cobrança de
propina, investigações de superfaturamento de alimentos, nepotismo e outras suspeitas do Ministério Público contra a administração municipal que ganharam a atenção da mídia nacional e viraram motivo de piada. O primeiro programa a mostrar ao país a realidade vivida na cidade onde nasceu Monteiro Lobato foi o CQC, da Band. Vestido de galinha, uma alusão às acusações de superfaturamento em compras de ovos, o repórter Oscar Filho esteve em Taubaté e denunciou compras realizadas pela prefeitura, que teria pago, por exemplo, R$ 200 em uma caixa de bombons de 400 gramas e R$ 78 por uma dúzia de ovos.
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Thiago Leon/vp
PROBLEMAS Agentes no combate à dengue, doença que causou três mortes em Taubaté; pacientes em posto de saúde e acúmulo de lixo nas ruas da cidade (abaixo)
Menos de uma semana depois, foi a vez do Fantástico, da Rede Globo, dar espaço para mais um problema enfrentado pela administração municipal. Em uma reportagem especial feita sobre a merenda nas escolas brasileiras, o semanário jornalístico mostrou um esquema milionário montado pela Prefeitura de Taubaté e a EB Alimentação, empresa responsável pelo fornecimento de merenda escolar na cidade e, que teria pago mais de R$ 5 milhões em propinas para Peixoto. Um dia após a exibição do programa, e atordoados com a repercussão das denúncias, os vereadores, que até então tinham feito vista grossa e não queriam aprovar
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nenhum tipo de comissão para investigar as irregularidades, decidiram convocar uma sessão extraordinária e votaram em uma única noite a abertura de três CEIs (Comissão Especial de Inquérito). Dois dias depois, aprovaram também uma comissão processante para apurar denúncias de irregularidades em compras de remédios. O resultado? Peixoto agora pode ter seu mandato cassado, perdeu o apoio popular, que se voltou contra ele e tomou as ruas, e está ganhando cada vez mais força nas redes sociais da Internet, com taubateanos organizados em grupos que pedem a cassação do prefeito, que ainda tem todos os seus passos acompanhados
diariamente pela imprensa nacional. Problemas e denúncias demais? Parece que não. As acusações continuam a surgir e o próximo capítulo deve ser de investigações sobre a compra de combustível para a frota de veículos do Executivo, que apenas em 2010 gastou quase R$ 3 milhões com a compra de 1,2 milhão de litros de gasolina entre janeiro e dezembro. A denúncia foi feita pela ONG (Organização Não-Governamental) Transparência Taubaté, que fiscaliza os gastos da prefeitura divulgados no site da própria administração municipal. “Todo o nosso levantamento será repassado ao Ministério Público para que possa dar início a uma investigação mais aprofundada sobre os gastos. Os indícios de irregularidades são grandes e, só para ter uma ideia, o valor desembolsado para a compra de gasolina dobrou de uma no para o outro, já que em 2009 foram gastos R$ 1,4 milhão”, disse o presidente da ONG, Joffre Neto. Outra denúncia, também alvo de apuração pelo Ministério Público, é o suposto superfaturamento da construção de uma ponte no bairro do Jaraguá. Apesar de construída com o mesmo material, a ponte feita pela prefeitura, com 518 metros, custou aos cofres públicos R$ 5.069 o metro quadrado. A mesma ponte feita pelo DER (Departamento de Estradas e Rodagem) a poucos metros no mesmo bairro foi construída com R$ 2.348 o metro quadrado. Colapso O colapso em todas as áreas e serviços em Taubaté forma um ciclo vicioso de problemas que se interligam e ficam cada vez mais evidentes, complexos e longe de soluções. A sujeira nas ruas provoca doenças, que lotam os postos de saúde. A falta de laser e oportunidades na periferia abre espaço para que adolescentes sejam recrutados pelo tráfico e se distanciem da escola e da família, caindo na criminalidade, e assim por diante. O mato, o lixo e o entulho estão espalhados por todos os cantos do município, o serviço de coleta e limpeza não dispõe de funcionários e maquinário suficientes e agora a prefeitura está tentando terceirizar os serviços para reverter a situação. Taubaté conta com 136 quadras esportivas que poderiam servir de apoio às comunidades como opção de lazer e atividades para os menores em diversos bairros, mas apenas 5 são efetivamente ocupadas pelo Executivo com atividades. As demais estão abandonadas e, na maioria das vezes, servem como ponto para práticas ilícitas. Enquanto isso, crianças ca-
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Política
rentes permanecem ociosas pelas ruas. Um dos principais problemas da cidade é a segurança pública –neste caso, a falta dela. A violência cresceu em uma escala vertiginosa em dois anos e no último mês a situação obrigou a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo a intervir. Desde o início de abril equipes da Rota (Ronda Ostensiva Tobias Aguiar), a tropa de elite de São Paulo, estão em Taubaté para tentar reverter a situação de violência que se instalou no município. O problema do tráfico de drogas ultrapassou as barreiras da periferia e tomou as ruas de todo o município, chegando ao ponto de um adolescente de 14 anos ser assassinado em meio a centenas de pessoas em frente ao shopping da cidade e de um agente penitenciário e de um pedreiro serem mortos em uma padaria em plena tarde de domingo. Professores da rede municipal convivem com o medo e sobre o domínio do tráfico dentro das salas de aula nos bairros periféricos. “Os meninos de 10, 11 anos, todos vapores do tráfico, jogam bolinha de gude com as pedras de crack na sala de aula e ninguém pode falar nada. A gente finge que não vê porque a probabilidade de pagar caro por qualquer tipo de repressão é enorme”, contou uma professora da rede municipal de ensino do bairro Gurilândia que pediu para não ser identificada. Segundo uma outra professora, quando a situação com algum menor dentro da escola toma dimensões mais graves, elas são obrigadas a recorrer ao chefe local do tráfico para tentar solucionar o problema. “Em casos de violência com outros alunos ou em uma situação em que o garoto está prejudicando muito as aulas, a gente é orientado a procurar o líder daquela região para pedir que ele converse com o pai do garoto, que na maioria das vezes faz parte do tráfico, e ajude a dar um direcionamento na situação”, revelou. Para o Ministério Público, com o cenário atual de Taubaté, somente policiais nas ruas não vão resolver o problema da violência, que sofre com ausência total do poder público na periferia. “A polícia não combate a causa, ela atua onde o problema já existe com prisões e se não houver um trabalho na origem do problema, o que deve ser feito em longo prazo, a situação só tende a piorar”, disse o promotor criminal Paulo José de Palma. Pessoas aglomeradas nos corredores e médicos sem material básico para trabalhar. Esta é a realidade encontrada por quem procura o Pronto-Socorro Municipal no centro de Taubaté. “Tem dias em que
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”Sou um homem religioso e acredito que Deus, nosso maior arquiteto, poderá mostrar a todos que somos inocentes em todas essas colocações” Do prefeito de Taubaté, Roberto Peixoto
você entra para trabalhar, precisa atender uma emergência e não tem nem luva para vestir. A situação é tão precária e absurda que chega ao ponto de faltar fio para dar um ponto após uma operação, ter que pegar um fio de uma espessura inadequada para aquele tipo de cirurgia e o ferimento se abrir todo depois de costurado”, revelou um médico que atua como plantonista no PS. Outro Lado Mesmo diante de todas as denúncias e do momento turbulento que enfrenta, Roberto Peixoto disse que está confiante na Justiça e que toda esta avalanche de acusações faz parte de um complô político. Depois do silêncio inicial, diante da repercussão e da exposição de Taubaté, ele decidiu falar sobre o momento que enfrenta e sobre o sentimento como político e como ser humano. Segundo o prefeito, as denúncias seriam orquestradas por grupos políticos que torcem para que a cidade não se desenvolva, em todos os setores. “Minha experiência de vereador, presidente da Câmara, vice-prefeito, prefeito eleito e reeleito pela vontade popular mostra claramente que interesses políticos estão sobrepondo a interesses da comunidade. Taubaté, hoje ocupa o 50° PIB do Brasil, é a cidade que se coloca na 37ª posição no ranking de exportação, em abril batemos novo recorde de emprego em toda a região do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira. Na verdade, são denúncias vazias, sem comprovação de nenhum ato ilícito por parte do prefeito”, desabafou Peixoto.
Para o chefe do Executivo, a repercussão na mídia nacional ocorreu de forma precipitada com o intuito de tentar macular a imagem de homem público, que sabe muito bem de suas obrigações perante o povo taubateano. “Enfrentei essa situação com bastante equilíbrio emocional, pois nunca parei de trabalhar um só instante buscando com nossas ações no governo oferecer uma Taubaté melhor para todos os munícipes. Podemos citar que implantamos dois PA’s 24 horas, revolucionamos o sistema educacional do município com o método de apostilas, melhoramos dignamente o salário dos professores e servidores, fomos a prefeitura que mais realizou concursos públicos em todas as áreas, melhoramos a arrecadação do IPMT, construímos o CEMTE, o SEDES, centros comunitários em diversos bairros, enfim, o trabalho foi o nosso maior apoio no momento difícil”, contou. Religioso, Peixoto disse que está se agarrando na fé e na família para enfrentar todas as turbulências. “Sem sombra de dúvida, a família, minha esposa, meus filhos e parentes têm proporcionado o apoio necessário para seguirmos em frente. Sou um homem religioso e acredito que Deus, nosso maior arquiteto, poderá mostrar a todos que somos inocentes em todas essas colocações que venho recebendo de alguns setores insatisfeitos com o grande desenvolvimento de nossa Taubaté.” Para especialistas que acompanham o quadro político de Taubaté, o “boom” de manifestações populares e judiciais demorou para acontecer. O historiador econômico e político da Unitau (Universidade de Taubaté), Fábio Ricci, disse que a administração de Peixoto já está marcada pela desconfiança em relação à corrupção e ao desvio de verbas. “Os serviços públicos estão degradados, as denúncias estão ganhando corpo e toda esta situação chegou às redes sociais, onde recentemente tiveram uma repercussão entre a sociedade civil que não se imaginava e que será de difícil reversão”, disse. Segundo ele, mesmo que Peixoto consiga se manter no cargo até o final de seu mandato, o governo não terá mais legitimidade diante da sociedade e das próprias secretarias –será um período de serviços ineficientes para a cidade. “Ele não consegue mais se recompor, se conseguir se manter juridicamente, não conseguirá socialmente. Ele será o prefeito de direito, mas a legitimidade dele estará muito enfraquecida. Apesar disso, ele vai lutar até o final, pois quem está no poder não vai largá-lo”, afirmou Ricci. •
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Economia AVIAÇÃO COMERCIAL
EMBARQUE Passageiros durante embarque na pista do aeroporto de São José, cujo projeto de ampliação foi suspenso
Puxadinho fica no papel Infraero suspende plano de ampliação no aeroporto de São José para estudar novo projeto de expansão; proposta inicial era aumentar em cinco vezes a capacidade do terminal ao custo de R$ 2,5 milhões Hernane Lélis São José dos Campos
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plano de ampliação do aeroporto de São José dos Campos, que deveria começar neste segundo semestre, foi suspenso temporariamente pela Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária). A estatal interrompeu os investimentos para realizar um novo projeto de expansão com custo superior aos R$ 2,5 milhões previstos inicialmente. A decisão foi tomada devido o crescente trânsito de passageiros pelo terminal. A Infraero considera que o volume de operações nos últimos meses demonstrou que o aeroporto necessita de adequações maiores do que as pretendidas inicialmente e, por isso, precisaria de tempo para fazer um novo estudo antes de iniciar as obras. “O terminal é pequeno, porém consegue atender hoje as operações existentes. Essa revisão no projeto é para adequarmos de forma eficiente o terminal, sempre preocupados em atender aos usuários e passageiros com qualidade e segurança”, explicou Jussara Ribeiro, superintendente da Infraero em São José.
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Antes do cancelamento do projeto, a estatal pretendia construir um MOP (Módulo Operacional Provisório). Trata-se de um “puxadinho” de estruturas pré-montadas que ampliaria a capacidade de 100 mil para 600 mil usuários por ano. A obra aumentaria em 1.000 metros quadrados a sala de embarque e desembarque. O projeto estava orçado em R$ 2,5 milhões e tinha prazo de seis meses para ser concluído. A intenção da superintendente, à ocasião do anúncio dos investimentos, era antecipar as obras, mas todo o projeto ficou no papel. Atualmente o pátio do aeroporto tem capacidade para estacionar três aeronaves de médio porte, como os Boeing 737, ou 16 jatos executivos de pequeno porte, como os Phenom da Embraer. Essa capacidade, de acordo com a Infraero, deverá ser explorada ao máximo, principalmente com a proximidade da Copa do Mundo de 2014, que acontece no Brasil. O aeródromo joseense é apontado como uma das principais alternativas para receber voos desviados de Guarulhos, Congonhas e Viracopos, em Campinas, durante o torneio continental. Dados apontam que o volume de passageiros que circularam pelo aeroporto dobrou entre os anos de 2009 e 2010. No total, foi computado o movimento de 84.176 passageiros no ano
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Fotos: Flávio Pereira
Aumento do poder aquisitivo da população e diminuição dos preços das passagens aéreas elevam o movimento nos aeroportos do Brasil
passado ante 43.820 do ano anterior, um aumento de 92%. Embora longe de atingir o pico de 2005, ano em que 200.009 pessoas circularam pelo aeroporto, o terminal demonstra ter potencial de crescimento. Neste ano, somente no primeiro trimestre, 47.295 pessoas chegaram ou deixaram São José pelo local, sendo que apenas duas companhias operam atualmente –a Trip Linhas Aéreas e a Azul. A crescente demanda, segundo a superintendente, é justificada pela atual situação econômica do país. “Com o aumento do poder aquisitivo da população e a diminuição dos preços das passagens, diversas classes viajam de avião, priorizando este tipo de transporte, tendo em vista a segurança e rapidez”, disse Jussara, ressaltando ainda que todas as empresas que solicitaram voos em São José foram atendidas. “Novos voos serão aprovados desde que não seja simultâneo, porém depende do interesse das companhias aéreas”. Coincidência? A suspensão temporária das obras no aeroporto de São José acontece simultaneamente em meio as discussões sobre a escolha de um modelo de concessão para aeroportos brasileiros. O governo federal precisa encontrar uma solução para os 47 aeroportos deficitários do total de 67 administrados pela Infraero, além, é claro, de otimizar de forma eficiente os terminais que operam superavitários, porém com problemas na logística de passageiros e aeronaves. A concessão dos aeroportos à iniciativa privada, mesmo que parcial, deve atrair a atenção de diversas empresas, inclusive a Embraer, instalada em São José, teria manifestado interesse em participar da licitação. O objetivo é, por meio desse processo, agilizar os investimentos para melhorar a infraestrutura aeroviária do país até a Copa do Mundo. A privatização ainda está longe de ter um modelo definido pelo governo federal e pode não ficar restrita às operações no terminal de passageiros. “O aeroporto de São José é uma das melho-
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Economia
res alternativas para desafogar os aeroportos da capital durante a Copa. Creio que a Infraero tomou a decisão pensando neste aspecto, uma vez que não faria sentido cancelar um investimento baixo por causa dessa questão de concessão, mesmo porque isso deve ficar restrito aos grandes terminais brasileiros, dificilmente chegaria aos aeroportos do interior. Temos que torcer para que realmente um novo projeto seja estudado”, disse Mauro Gandra, ex-ministro da Aeronáutica e especialista em aviação. Surpresa A notícia sobre a suspensão das obras de ampliação no aeroporto de São José surpreendeu empresários e lideranças políticas que apostavam na revitalização do terminal. A esperança agora é que a Infraero realmente apresente uma nova proposta nos próximos meses, contemplando principalmente a construção de um novo terminal de passageiros às margens da rodovia dos Tamoios, como sugere o diretor do Ciesp (Centro das Industrias do Estado de São Paulo), Almir Fernandes. “Não dá para ficar fazendo puxadinho. O ideal é construir esse novo terminal para acomodar melhor os passageiros, porque já foi provado que demanda existe. Realmente não via motivo para fazer esse investimento, uma vez que ele não resolveria de fato o problema. A suspensão é inteligente somente se for para fazer uma coisa mais eficiente. Agora, se nenhuma proposta for apresentada fica complicado”, explicou o diretor, que falou ainda sobre a intenção da estatal em renovar o contrato de concessão do terminal que vence em outubro desse ano. “Acho que vão ter que apresentar um novo projeto para continuar na administração do aeroporto. Isso é muito importante. É preciso cobrar da Infraero, todos os setores, inclusive o poder público têm interesse nessa expansão”, afirmou Fernandes. José de Mello Corrêa, secretário de Desenvolvimento Econômico de São José, acredita que o estudo de um novo projeto traz benefícios à cidade, uma vez que a proposta da Infraero é garantir maior aporte financeiro e estrutural ao aeroporto. Para ele, a discussão sobre a concessão dos aeroportos à iniciativa privada não tem nenhuma relação com a revisão da obra pretendida. “Acredito mesmo que vão revisar o projeto para aumentar o aeroporto. Isso para a gente é bom, se é um aumento é ótimo. Mas acho que esse novo terminal às margens da Tamoios não é para agora na Copa. Precisamos aumentar a capacidade do terminal, pois as companhias aéreas querem oferecer novas rotas. Não existe temor em perder esse investimento”, explicou o secretário. •
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TERMINAL Fachada do aeroporto de São José; passageiros na sala de espera para o embarque (abaixo)
NÚMEROS Capacidade 90 mil passageiros por ano
Área 1.740.110,20 metros quadrados
Pátio das Aeronaves 16.931 metros quadrados
Movimentação em 2010 84.116 embarques e desembarques
Companhias Aéreas Azul e Trip são as únicas companhias que operam no terminal
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Material preliminar de pesquisa de mercado, sujeito a alterações sem aviso prévio. O detalhamento dos serviços, equipamentos e acabamentos que farão parte deste empreendimento consta no Memorial Descritivo. Projeto Aprovado nº 104769/09, junto à Prefeitura Municipal de São José dos Campos em 10/11/2010, registrado no 1º registro de Imóveis de São José dos Campos sob o número R1 197 497. GMR S.A. Empreendimentos e Participações é marca registrada e está em total conformidade com a Lei nº 9279/96 – Lei de Propriedade Industrial. LIV Intermediação Imobiliária CRECI 20161J, Itaplan Imóveis Ltda CRECI 346J, DALE Imóveis Ltda CRECI 21499J, Zining Participações Ltda CRECI 17163J. Autorização de Construção de Heliponto Privado Pátio das Américas (SP), processo ANAC nº60800.023925/2010-15.
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Ciência & Tecnologia
Fabíola de Oliveira
As relações entre desenvolvimento sustentável e água potável
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cordo pela manhã e invariavelmente, quase que mecanicamente, tomo um copo de água fresca, como muitos de nós o fazemos. Mas, acreditem, quase um terço dos habitantes deste planeta não podem se dar ao luxo deste hábito que parece tão banal. Água boa na torneira, água mineral filtrada, com gás ou sem gás, com Ph maior ou menor, na banheira que enchemos e esvaziamos para apenas um banho, nas piscinas do verão, nos lagos e fontes das praças públicas. Água potável nas descargas de vasos sanitários, na lavagem de carros, na rega dos jardins, na irrigação das imensas culturas agrícolas; água devastadora nas enchentes que invadem o nosso litoral, que desabrigam milhares no nosso Sul e Nordeste; que engolem banhistas nas ressacas das praias cariocas; que resfriam os reatores nucleares de Angra a Fukushima. Somos mais água do que terra e no entanto a escassez de água potável ameaça a qualidade da vida humana. O Brasil, sabemos, é privilegiado por imensos mananciais de água doce, mas o contraste na distribuição é imenso. A região Norte, com 7% da população possui 68% da água do país, enquanto o Nordeste, com 29% da população, possui 3%, e o Sudeste, com 43% da população, conta com 6%. Além disso, problemas como o desmatamento das nascentes e a polui-
DESIGUALDADE “ Somos mais água do que terra e no entanto a escassez de água potável ameaça a qualidade da vida” ção dos rios agravam a situação. Em conseqüência, 45% da população não têm acesso aos serviços de água tratada e 96 milhões de pessoas vivem sem esgoto sanitário. São dados oficiais do Ministério do Meio Ambiente. Em junho de 2012 será realizada no Rio de Janeiro a RIO+20 Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Serão passados 20 anos da histórica conferência RIO’92, e muitos dos problemas então levantados, continuam se agravando. Um deles certamente é a crescente escassez de água potável. Tanto que haverá um grande evento paralelo já chamado de RIO+20 Água para debater as correlações entre o desenvolvimento sustentável e o suprimento de água. O manejo dos recursos hídricos causa
impacto em quase todos os aspectos da sociedade e da economia, principalmente na saúde, produção e segurança de alimentos, água para uso doméstico e sanitário, energia, indústria, e o equilíbrio dos ecossistemas. Atualmente, as mudanças climáticas têm causado, inclusive em nossa região do Vale e Litoral, casos crescentes de escassez ou cortes temporários do acesso à água. Quando há seca, acaba a água tratada, e quando acontecem enchentes, há riscos de contaminação ou cortes no abastecimento. A água, já foi dito, será –e em alguns lugares já é– a grande riqueza econômica das próximas décadas. É bom que tenhamos consciência disto, a cada copo de água que tomarmos pela manhã. •
Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br
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Economia
AQUICULTURA
O mercado está para peixe Piscicultores investem na criação da tilápia no reservatório de Paraibuna; já são 1.200 tanques com produção estimada em 1.800 toneladas ao ano
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Fotos: Flávio Pereira
TANQUES Anderson Leite de Oliveira com o barco entre os tanques de criação de tilápia em Natividade da Serra
José Carlos de Faria Vale do Paraíba
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m “mar” de água doce, com 250 quilômetros de metros quadrados de espelho, borda equivalente a um quarto de toda a costa brasileira (2.000 quilômetros) e volume de água maior que a baía da Guanabara, espalhado pelos municípios Paraibuna, Natividade da Serra e Redenção da Serra. Na década de 1970, quando foi construído, o reservatório de Paraibuna trouxe muitos transtornos às cidades e bastante prejuízos à produção rural, pois a maior parte das áreas produtivas ficou sob a água, restando apenas topos de morro e ribanceiras. À época, Redenção e Natividade da Serra tiveram que mudar a sede das cidades de lu-
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gar, com a expectativa de tirar algum proveito da represa, explorando a atividade turística, com praias artificiais de água doce, passeios de barco, pescarias, restaurantes flutuantes e veraneio às margens do grande largo que se formou. Quase 40 anos depois, pouca coisa mudou e os turistas ainda não chegaram em número suficiente para mover a economia local. Mas finalmente a represa começa a dar sinais de que pode ser mais bem utilizada, contribuindo com o desenvolvimento sustentável da região. É o que esperam 36 pequenos produtores, sócios da Associação de Aquicultores de Natividade da Serra e região, que pretendem reforçar a renda, com a criação de tilápias em tanques-rede, na represa. Eles estão de olho num mercado que cresceu 40% nos últimos dez anos, segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura, com o consumo de peixe per capita entre os brasileiros pas-
sando de seis para nove quilos por ano. Já são 1.200 tanques espalhados pelos três municípios, com previsão de mais 600 para a próxima safra, sendo que 13 áreas já foram liberadas para licitação pelo Ministério da Pesca e Aquicultura. Os contratos já começaram a ser assinados neste semestre. A safra estimada para 2010/2011 deve render 1.800 toneladas desse peixe de carne muito saborosa e valorizada no mercado de pescados. A renda estimada para essa produção passa de R$ 3,8 milhões por ano. “A Casa da Agricultura já tinha esta proposta há muito tempo, mas sabendo do alto custo do investimento, não encontrávamos produtores com recursos e disposição para começar a atividade, mas mesmo assim não desistimos. Há quatro anos fomos procurados por um empreendedor que pretendia iniciar uma criação em tanques-rede. Fizemos uma reunião de sensibilização e já tivemos 14 adesões
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Economia
logo de cara”, explica a engenheira agrônoma Sandra Regina dos Santos Rezende. Um grande impulso para a atividade deve ser a implantação de um frigorífico em Natividade da Serra, cujo projeto é analisado pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), em fase de licenciamento. Uma verba de R$ 270 mil foi liberada pelo MPA, mas a transição no governo federal atrasou a celebração do convênio. O frigorífico vai processar três toneladas de peixe por mês, o que equivale a 20% do que pode ser produzido nos tanques-rede instalados. “Isso vai melhorar as condições de comercialização, agregando valor ao produto, com a venda do filé e melhor aproveitamento dos subprodutos”, destaca Sandra. Hoje os piscicultores só podem comercializar peixes vivos em fase de abate ou alevinos para pesque-pagues. A possibilidade de melhorar a renda e ter um retorno mais rápido dos investimentos anima produtores, como Afonso Celso de Brito, que saiu de Itatiba (SP) disposto a ganhar dinheiro com a criação de tilápias em tanques-rede, depois de seis anos de procura por um lugar ideal para desenvolver seus planos. Começou com 30 tanques, mas deve chegar a 50 até o final desse ano, com a meta de atingir 100 tanques. “Tenho atendido a outros criadores, com o fornecimento de peixes na fase juvenil, ou seja, com média de 40 gramas de peso”, afirma Brito. De 50 mil peixes, metade é destinada para esse fim. A outra metade é criada até atingir cerca de 600 gramas, quando é repassada a pesqueiros, ficando apenas uma parte para engorda, atingindo entre 1,5 e 2 quilos, destinados a restaurantes, por enquanto um mercado mais restrito. Para otimizar os custos com ração, o produtor projetou um comedouro com controle eletrônico, que é testado com sucesso no seu criatório. “A cada 15 minutos ele descarrega 50 gramas de ração e isso faz com que o crescimento seja uniforme e o custo diminui, com o fim do desperdício e a diminuição da mão de obra”, explica. Ele também tem fabricado seus próprios tanques, com economia de quase 50% em relação à aquisição dos tanques prontos. Até agora, com a metade do projeto implantado, Brito diz que já investiu cerca de R$ 250 mil e já consegue algum lucro da atividade. Além da carne, ele também experimentou usar subprodutos como as escamas, para transformar em biojóias e o couro, usado na confecção de bolsas e outros acessórios, seguindo os passos de artesãos de Porto Seguro (BA), que se tornaram referência na utilização de subprodutos de peixes do mar
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GIFT O piscicultor Celso Brito mostra a tilápia gift criada em tanques em Natividade da Serra
CRIAÇÃO Tanques São 1.200 espalhados pela represa de Paraibuna
Produção Estima-se que a safra renda 1.800 toneladas
Renda Calcula-se que será de R$ 3,8 milhões ao ano
com essa finalidade. “As vísceras e as carcaças transformam-se em compostagem e, com isso, se controla a destinação dos resíduos e se preserva o meio ambiente”, afirma. Mais rentável No bairro do Paraitinga, em Redenção da Serra, o empresário Omar Makanse cansou de esperar o lucro da engorda de bois e também resolveu optar pela piscicultura como forma de tornar rentável a sua propriedade às margens da represa. Em quatro anos, seu criatório já soma 87 tanques-rede, com produção de 80 toneladas de peixe, com lucro líquido de R$ 1 em cada quilo. “O retorno do boi não foi o esperado. Agora plantei eucalipto no terreno e peixe na água”, afirma.
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TANQUES Criação de tilápias, em Natividade da Serra; represa tem 1.200 tanques distribuídos pelas cidades da região
Omar já gastou R$ 220 mil na implantação do projeto e espera ter o retorno esperado quando atingir a produção de 100 toneladas por ano, o que não está muito longe de acontecer. Ele aponta a concorrência e a comercialização, enquanto o frigorífico não começa a funcionar, e a mão-de-obra escassa, como gargalos do negócio. Como vantagem aponta o espaço ocupado pelos peixes, que é muito menor que o gado. Pequenos produtores como a sitiante Alaíde Vilarta, do sítio Paraíso das Tilápias, no bairro Cachoeirinha, em Natividade da Serra, veem na criação de tilápias uma boa alternativa econômica. “Fiz uma pesquisa de mercado e vi que tinha muita gente criando peixe e mesmo assim sem conseguir atender à demanda”, afirma Alaíde, que herdou o terreno do pai e não sabia o que fazer. Ela começou com 20 tanques e hoje já está com 30 e garante que é um bom negócio. “Está valendo a pena. Quero chegar a 60 tanques”, afirma. Por enquanto ela apenas fornece o peixe vivo para outros criadores, mas quer expandir e passar a fornecer filés de tilápia para restaurantes. O trabalho é compartilhado com o filho, formado em engenharia ambiental, e com um funcionário, com produção média de 15 toneladas/ ano. O preço de comercialização no mercado chega a R$ 12 o quilo. A exemplo dos demais aquicultores envolvidos no projeto, Alaíde está otimista. “A água é maravilhosa para esse tipo de atividade e o frigorífico vai dar mais impulso”. Apoio Institucional Os produtores contam com uma rede de apoio institucional, que envolve a Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), órgão da Secretaria de Estado da Agricultura, por meio
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da Casa da Agricultura de Natividade da Serra, responsável pela gestão e capacitação técnica do projeto, além da prefeitura (infraestrutura de assistência técnica) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (organização de eventos). O Ministério da Pesca e Aquicultura também contribuiu com a doação de um kitfeira, além liberar os recursos para a implantação da unidade frigorífica, com fábrica de gelo e unidade de abate e filetagem. A ANA (Agência Nacional de Águas) e a APTA (Agência Paulista de Pesquisa e Tecnologia em Agronegócios), localizada em Pindamonhangaba, também são parceiras do projeto, oferecendo monitoramento e controle da qualidade da água, para qualificar a produção dos peixes e evitar danos ao meio ambiente. O Sebrae participa do projeto, por meio da agência regional de São José dos Campos, e atualmente desenvolve, em conjunto com o Laboratório de Parasitologia da Unitau (Universidade de Taubaté), um mapeamento da atividade na região. Também elabora um diagnóstico que trará indicadores precisos das dificuldades desses empreendedores rurais. “O objetivo do diagnóstico é apontar as deficiências de mercado, a logística, a produção, o manejo e a gestão do negócio”, explica Tatiana Candel. As metas são a conquista e fidelização de clientes de peixes vivo, abatido e processado com foco na qualidade e eficiência, a melhoria das técnicas de produção para aumento de produtividade e qualidade do produto final, a organização do negócio e fomento ao trabalho em grupo. Um grande filão de mercado que pode absorver boa parte da produção dos tanquesrede instalados no reservatório de Paraibuna é a utilização do filé de tilápia na merenda
escolar. Alguns testes são feitos na cozinhapiloto da Prefeitura de Natividade da Serra e com alunos da rede de ensino municipal. “Estamos fazendo experiências, com o acompanhamento de uma nutricionista da prefeitura, para detectar a aceitação pelo paladar dos alunos. Se colocarmos peixe na merenda escolar dos municípios da região, a produção não será suficiente para atender a demanda”, afirma Sandra. Ela enfatiza, no entanto, que é preciso conscientizar as autoridades da necessidade de melhorar a qualidade da alimentação dos alunos e do potencial de geração de empregos e renda que essa atividade pode viabilizar. Consumo Nacional O brasileiro, segundo dados do Ministério da Pesca e Aquicultura, ainda consome menos peixe que a média recomendada pela Organização Mundial da Saúde. Enquanto o consumo nacional por habitante/ano atinge o máximo de 10 quilos por pessoa, a média recomendada é de 12 a 14 quilos, o que significa que o país precisa modernizar os métodos de produção e aperfeiçoar o processamento da carne e, com isso, baratear o custo e aumentar o consumo. A China tem a metade da água doce e, no entanto, produz 60 vezes mais peixe que o Brasil. Para se ter uma pequena noção do que poderia significar o consumo de peixe na merenda escolar em todo o país, uma vez por semana, segundo o MPA, não haveria peixe suficiente para atender o consumo gerado. Em recente pronunciamento no programa “Bom Dia Ministra”, na Rede Brasil, a ministra Ideli Salvatti informou que o governo federal tem como meta para 2012, colocar o pescado na merenda de pelo menos 20% das escolas brasileiras. •
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Entrevista
Dois Pontos >Geovanna Tominaga fala do seu carinho por São José dos Campos e dos desafios da carreira como apresentadora do programa Vídeo Show
“ Tive que ouvir: se você não é loira não vai ter trabalho aqui” Elaine Santos São José dos Campos
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ma alegria de menina em corpo e mente de mulher. Geovanna Tominaga chegou aos 31 anos e mandou seu recado: veio pra ficar e encantar. A joseense que sempre sonhou em ter um lugar ao sol na telinha está cada dia mais reluzente. E quem pensa que ela já está com a vida ganha, se engana. A japinha tem sim muita história pra contar. Geovanna começou cedo. Seu primeiro trabalho foi como ajudante de palco de Angélica, na extinta TV Manchete e no SBT. Logo fez participações especiais em Malhação e em algumas novelas da Rede Globo, até que veio sua consagração, em rede nacional, como apresentadora da TV Globinho, em paralelo com a apresentação no Vanguarda Mix. Agora, Geovanna se destaca com suas reportagens no Vídeo Show. Mesmo com tanto sucesso, nem de longe ela pensa em se acomodar. Sabe que ainda tem muito pela frente.
< Comunicação é o meu caminho. Na verdade já fiz de tudo.
Você se considera uma guerreira? Como é olhar pra trás, o que você sente? < Me considero com certeza uma guerreira. Essa é uma área muito difícil, de muita concorrência. Quando eu comecei, ser oriental não era um diferencial. Não tinha espaço para orientais. Então foi bem aquela coisa de chegar com a foice abrindo caminho, e ir tentando e tentando. Não desistir mesmo levando muitos, muitos, nãos. Já perdi muitos trabalhos e oportunidades na vida por conta de ser oriental, mas não desisti porque era realmente o que eu queria. Nunca fiz outra coisa na vida. Desde criança eu já pedia para os meus pais. Tem pais que levam o filho para esse caminho, no meu caso foi diferente, eu sempre pedi. E sempre eles tiveram presente. Quando resolvi sair do Vale [do Paraíba] e buscar mais oportunidades fui para São Paulo. Eu lembro que fui a uma agência que hoje não existe mais e lá eles falaram: ‘não, você é oriental, então no mercado você só se encaixaria em passarela. Você tem uma beleza exótica, mas para isso teria que ter pelo menos 1,65 metro e pesar bem menos’. É claro que eu não tenho e não faria nada para me encaixar nesses moldes. Mas tive que ouvir: ‘se você não é loira, não tem olho azul, não é morena, não tem olho verde, desculpe mas você não vai ter trabalho aqui’. Esse era o mercado da época. Mas não desisti, fui buscar outras oportunidades.
Já cantei, já desfilei, já fiz novela, já fiz teatro, e aí, quando entrei na TV Globinho e no Vanguarda Mix, entrei na facul-
Já que tocou no assunto família oriental, me ex-
Bailaria, apresentadora, jornalista, modelo, atriz. Está faltando mais alguma coisa no currículo? < (risos) Estou aprendendo a cozinhar, quero ser chef. Também quero aprender a tocar violoncelo. Na verdade, desde que eu completei 30 anos, no ano passado, resolvi fazer coisas que nunca fiz. E a dramaturgia. Seria um novo caminho?
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dade e percebi que era o que eu realmente gostava de fazer. É o caminho que eu quero. Na dramaturgia foram participações, mas também não fecho nenhuma porta. Se houver um convite de um personagem que me encante, acho que eu faria, mas não largaria o meu atual trabalho, faria em paralelo.
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PERFIL NOME: Geovanna de Oliveira Tominaga IDADE: 31 anos NATURALIDADE: São José dos Campos
CARREIRA “NÃO DESISTIR, MESMO LEVANDO MUITOS NÃOS. JÁ PERDI MUITOS TRABALHOS E OPORTUNIDADES NA VIDA POR CONTA DE SER ORIENTAL, MAS NÃO DESISTI”
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ESTADO CIVIL: Solteira FORMAÇÃO: Jornalismo
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Entrevista
ENSAIO NU “REALMENTE NÃO É UMA VONTADE. PODE SER QUE NO FUTURO VENHA A SER PORQUE A GENTE SEMPRE MUDA, MAS HOJE NÃO. NUNCA TIVE VONTADE” plica uma curiosidade. Você é uma descendente de japonesa que não gosta de peixe e detesta comida japonesa? Como é isso? < (risos) Não gosto. Olha, não sei, o paladar não me agrada. Eu comia quando era criança, na casa da minha avó. Mas hoje não gosto. Meus amigos até tentam fazer eu comer, mas não dá. É questão de paladar, e olha que eu já tentei. Toda festa japonesa que eu vou as pessoas chegam com aquelas barcas e tal, e sempre peço desculpas. Outra situação é quando algum amigo me leva para jantar e para me impressionar me leva a um restaurante japonês (risos). Aí eu tenho que me explicar: ‘desculpe, mas não gosto, será que não tem um restaurante italiano por perto’ (risos). É dureza. E o que você carrega no seu dia-a-dia dos ensinamentos orientais da sua família? < Acho que a determinação, a paciência, talvez até de uma forma até negativa, sou um pouco fechada. Negativa porque todo o mundo que vê a gente na televisão acha que a gente está sempre sorrindo e falando o tempo inteiro, mas tem situações do dia-a-dia que eu fico mais fechada. Por exemplo, uma vez, eu estava numa fila de banco. Estava atrasada, com horário, pensativa, fazendo contas e a pessoa ficou olhando para trás e aí depois veio me perguntar: ‘escuta você não é aquela menina da TV?’ Eu respondi: sim, sou. E veio uma interrogação do tipo: poxa, não te reconheci porque você estava tão séria! Então, assim, sou mais fechada, sou muito tímida. Também tem um pouco do oriental aí, na timidez. Mas então, quando as pessoas me veem na rua, ou eles percebem que eu sou tímida ou eles acham que eu sou metida, arrogante, porque sempre procuro ficar quieta num canto, não chamar tanta atenção. Então... Você tem um lado família muito forte. Como você faz para conciliar sua agenda com São José dos Campos? < Faço de tudo para estar presente. Sou muito família sim e amo estar perto dos meus amigos. Sempre que eu posso estou aqui. Mas é complicado. Eu trabalho a semana inteira e nos finais de semana a agenda fica para os compromissos fora do Rio [de Janeiro], viagens pelo Brasil a trabalho. Mas minha mãe está sempre no Rio, meus amigos também estão sempre lá me fazendo visitas. Você é uma mulher de relacionamentos amorosos duradouros. Só teve dois namorados, um que durou 13 anos e o último que durou pouco mais que três anos, com o apresentador Jonas Almeida. E agora? O coração já está ocupado novamente? < Não, o coração está sempre cheio. Sempre cheio de amor. Família, amigos e de mim mesma. Acho que quando você fica sozinha é um tempo para você se conhecer. Quando
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você está sempre com alguém do seu lado é aquela coisa de se doar. Eu me dôo muito nos meus relacionamentos, quero ver sempre, quero saber tudo da pessoa, sou muito companheira e você acaba se deixando um pouco de lado. Não vejo isso de uma forma negativa. Toda mulher faz isso, todo relacionamento exige isso. O lado negativo disso é se perder, se perder de você mesma, passar a viver a vida daquela outra pessoa. E acho que estar sozinha é um momento para se conhecer e se gostar também. Meu coração está tranquilo. Você é o tipo de mulher que só namora ou tem abertura para relacionamentos temporários, os chamados ficantes? < Eu nem penso nisso porque se eu gosto de alguém para ficar, eu já quero logo namorar com a pessoa (risos). Já fico pensando: quando ele vai me ligar? Quando a gente vai sair de novo? Será que vai me pedir em namoro? (risos) Será que a gente vai ficar junto? Sou toda sonhadora, penso em príncipe encantado e tudo mais. Os interessados em conquistar Geovanna Tominaga têm que ter quais requisitos básicos no currículo? < São várias coisas, sou exigente (risos). Tem que ser bom caráter, ser um cara bacana, bem-humorado, romântico ao quadrado, tem que ser família. Nossa, estou ficando bem exigente com 31 anos (risos). É claro que o físico chama atenção, mas não tenho preferência, beleza é muito relativo. Às vezes, a pessoa não é bonita para uns, mas você vê um olhar diferente, um peitoral, um abdômen (risos). Eu vou mais pelo conjunto. Não tem como não relembrar o episódio com Susana Vieira. O que você sentiu ali na hora? Como conseguiu se manter firme durante o programa ao vivo? < Eu fiquei com muita vontade de dar risada e não podia. Achei tudo muito engraçado. Depois, as pessoas falavam: ‘como você não ficou brava com ela? Deveria ter tacado o microfone na cabeça dela?’. Mas levei na boa. Nem pensei que teria toda aquela repercussão. Só depois que eu cheguei em casa que recebi aquele monte de telefonemas de amigos, aí que percebi o que tinha acontecido. Eu entendo a reação dos colegas jornalistas, mas não me afetou, porque eu sei da história, das minhas conquistas e sei que ela [Susana Vieira], não é obrigada a saber. Eu é que tinha obrigação de saber tudo da vida dela, ela não. Eu já sabia que eu não era inexperiente. Tenho muito que aprender, estava começando no Vídeo Show ao vivo, mas não me afetou. E quando vocês se reencontraram e você deu um microfone de presente para ela. Foi uma segunda saia justa ou vocês já tinham combinado?
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PROFISSÃO Geovanna Tominaga começou a carreira como ajudante de palco de Angélica. Tempos depois fez participações especiais no folhetim Malhação e em novelas da Rede Globo, até que veio sua consagração, em rede nacional, como apresentadora da TV Globinho e, na sequência, do Vídeo Show
< Não, a ideia foi minha. Era o programa do Vídeo Show Retrô e quando me falaram que eu iria entrevistá-la eu dei a ideia, mas para mostrar tanto para ela quanto para as pessoas que eu não estava chateada com o que houve. Mesmo porque ao vivo é muito complicado, você não sabe qual o humor da pessoa. Se o avô morreu, se está tudo bem, se teve algum tipo de problema no dia. Você já entrevistou vários ícones da história da dramaturgia brasileira, teve alguma entrevista que seu lado fã falou mais alto? < Não sei, já entrevistei tanta gente que eu amo. Mas Roberto Carlos, acho que foi diferente. Meus pais são muito fã dele, meu pai já faleceu, mas era muito fã dele, me ensinou a tocar violão com suas músicas. Eu cresci ouvindo Roberto Carlos. Eu estava muito nervosa na entrevista, acho que todo mundo percebeu, mas ele foi muito gentil. Mas também já entrevistei outros grandes nomes como Fernanda Torres, Antonio Fagundes, que foi uma grande entrevista.
meçou no Vídeo Show e hoje apresenta, de vez em quando, o Fantástico e faz reportagens, tem alguns quadros. Eu acho o máximo porque ela tem liberdade para falar sobre entretenimento, sobre moda, comportamento. Acho que é isso. Você acaba de fazer seu primeiro ensaio fotográfico mais sensual. Você encara como um divisor de águas em sua carreira, a menina da TV Globinho que virou mulher no Vídeo Show? < Não vejo como divisor de águas porque acho que esse processo já aconteceu, antes mesmo do Vídeo Show. As pessoas que me viam na rua sempre comentavam: ‘nossa achava que você era uma criança, mas você é uma mulher’. De fato na TV Globinho eu tinha cara de menina, colocava aquelas chiquinhas, falava para crianças, então tinha todo o personagem. No Vanguarda Mix já era a linha adolescente. Hoje no Vídeo Show posso explorar mais meu lado mulher. Então acho que isso é mais um processo e não um divisor. Você toparia fazer um ensaio fotográfico nu?
Como você se imagina daqui a uns cinco anos? < Não imagino (risos). Mas acho que estaria ainda dentro desse mesmo ritmo. Hoje eu faço jornalismo de celebridades, podemos dizer assim, mas eu gostaria de poder falar de outros temas, na mesma linha. Eu me inspiro muito na Renata Ceribelli, que inclusive fez o mesmo caminho, co-
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< Não, não faria. Não faz parte de meu desejo pessoal, principalmente por causa da minha carreira, que não tenha nada a ver com minha exposição física. Realmente não é uma vontade pessoal. Pode ser que no futuro venha a ser porque a gente sempre muda, mas hoje não. Nunca tive vontade na verdade. •
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Transportes
NO APERTO
Lotação máxima Síndrome da lata de sardinha acomete maioria das principais linhas de ônibus em São José nos horários de pico –pela manhã e final da tarde; viagem em pé em carros cheios é queixa recorrente de passageiros
ila Dirce, 7h30. No frio matinal, cerca de dez pessoas aguardam o ônibus azul da Viação Saens Peña na Estrada Jaguari, o segundo ponto da linha 115, que liga este bairro da zona norte ao centro de São José dos Campos. Após cinco minutos de espera, a condução chega. Logo no início, dois passageiros discutem com a cobradora sobre problemas com o bilhete eletrônico. “Eu é que sei. Tive formação. Quer saber mais do que eu?”, responde, ríspida, a funcionária, suscitando comentários indignados. “Essa cobradora é complicada. Todo dia ela xinga um. Conheço pessoas que mudaram seus horários só para não pegar o ônibus dela”, afirma Jesu, um estudante de 16 anos. Já no quarto ponto, o ônibus fica cheio. Na ponte do Jardim Telespark, o sétimo ponto da linha, uma fila grande de pessoas espera para entrar na condução, que nesta altura já está superlotada. “Eles sempre dão um jeito de fazer entrar mais gente, não ligam se não cabe mais”, diz o jovem. De fato, o ônibus da linha 115 dá um novo sentido à expressão “espremidos como sardinhas”. Neste horário da manhã, a sensação de quem não entrou nos dois primeiros pontos e, portanto, não encontrou lugar para sentar, é de estar em uma lata de sardinhas. A sensação permanece até a avenida São José, o primeiro ponto do centro, quando os passageiros começam a descer. “Peça para o secretário de Transportes fazer este trajeto, só um dia, para ele ver”, resmunga uma mulher. Jardim Aquarius, 17h25. Algumas pessoas esperam o ônibus laranja da Viação Júlio Simões
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na rua Juiz David Barrilli, o primeiro ponto da linha 237, que vai até o Parque Novo Horizonte, na zona leste de São José. A condução chega logo. Já no quarto ponto, na altura do supermercado Extra e do Shopping Colinas, entra tanta gente que o ônibus fica instantaneamente superlotado, de tal forma que não cabe mais ninguém. Quem não conseguiu assento sabe que vai passar a próxima hora em pé, espremido no corredor do veículo. “O ônibus das 17h30 fica muito lotado. O das 18h é pior ainda. A situação está ficando cada vez mais crítica. Os que não entram nos dois primeiros pontos não sentam mais. Ninguém quer ficar mais de uma hora em pé depois de um dia de trabalho”, comenta o ajudante de obras Edson da Silva Almeida, de 25 anos. Vale frisar que o trajeto da linha 237 é realmente demorado: uma hora e dez minutos, até o ponto final. Com exceção da cobradora antipática, um caso a parte, estes dois exemplos são emblemáticos. A superlotação nos horários de pico é apontada pelos próprios usuários como o problema número um do transporte público em São José. A síndrome da lata de sardinha acomete a maioria das linhas principais, sobretudo as que vão para as regiões norte e leste da cidade. A revista valeparaibano chegou a esta conclusão depois de andar de ônibus nas zonas norte, leste, sul, oeste, sudeste e central nas horas de maior movimento, pela manhã e final da tarde. Ao todo, foram ‘testadas’ seis linhas, cinco das quais foram apontadas pela prefeitura como sendo as de “maior demanda”: a 115 (norte), a 204B (leste), a 237 (leste), a 304 (sul), a 121 (oeste)e a 305 (sudeste). Com exceção da 204B, substituída na volta pela 237 (não citada pela prefeitura), todas foram percorridas nos dois sentidos. A superlotação foi constatada em quase todos os casos. “É preciso tomar cui-
ESPREMIDOS Passageiros na linha 304 da Saens Peña, que faz o trecho Jardim Colonial, na região sul, até a praça Afonso Pena, no centro
Fotos: Flávio Pereira
Yann Walter São José dos Campos
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RAIO-X DO SISTEMA
Lote 1 SAENS PEÑA Tem uma frota de 131 ônibus e transporta 86.200 passageiros por dia, segundo a prefeitura
Lote 2 JÚLIO SIMÕES Tem uma frota de 134 ônibus e transporta 87.200 passageiros por dia, segundo a prefeitura
Lote 3 EXPRESSO MARINGÁ Tem uma frota de 120 ônibus e transporta 88.300 passageiros por dia, segundo a prefeitura
Frota TOTAL As três concessionárias do sistema de transporte público de São José mantêm, juntas, 385 ônibus
Gente DEMANDA Por dia, as três empresas transportam 261.700 passageiros nas 89 linhas de ônibus de São José
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Transportes
dado com o termo superlotação. Em São José, nenhum ônibus anda com pessoas penduradas nos degraus, e ninguém fica de fora da condução”, declarou Anderson Farias Ferreira, secretário de Transportes de São José dos Campos, em entrevista à revista valeparaibano. Muitos ônibus já saem cheios. Filas gigantescas se formam em pontos de partida como a Rodoviária Velha e a praça Afonso Pena. A maior fila vista pela equipe de reportagem foi no Terminal Urbano Central, às 17h, quando mais de 80 pessoas aguardavam a chegada do ônibus 305 com destino ao Jardim São Judas Tadeu (sudeste). “Todo dia o ônibus sai lotado daqui”, afirmou Jessica Raimundo, uma estudante de 15 anos. Às 18h, na praça Afonso Pena, é comum ver mais de 50 pessoas esperando para embarcar no 304, que vai até Colonial (zona sul). O 121, que vai para Urbanova, também sai lotado da Rodoviária Velha na parte da manhã. “Pegava o ônibus das 8h, mas parei, porque a condução sempre saía lotada. Agora pego o das 9h, que é mais tranquilo”, disse a diarista Eunice Valim, 39 anos. De acordo com a Secretaria de Transportes de São José, a capacidade de lotação dos ônibus de modelo Padron, com três portas, é de 37 pessoas sentadas e 62 em pé, ou seja, 99 no total. A quantidade estabelecida para a lotação em pé é no mínimo fantasiosa, pois a verdade é que mal cabem 40 pessoas no corredor. “Este número de 62 não foi definido pela prefeitura. Trata-se de uma norma federal, que existe desde 2009”, afirmou Ferreira. Outro paradoxo: todos os ônibus de São José têm entrada para cadeirantes, mas é totalmente impossível colocar uma cadeira de rodas dentro da condução nos horários de maior movimento. Na prática, isso significa que os deficientes físicos não podem utilizar o transporte público na hora do rush. “Nunca constatamos este problema”, alegou o secretário. O preço do aperto Para a grande maioria dos usuários entrevistados pela revista, o pior é que o aperto tem um preço, bem salgado por sinal: R$ 2,80. Assim, uma pessoa que pega duas conduções por dia, para ir ao trabalho e voltar para casa, gasta R$ 28 por semana. Ou seja, R$ 112 por mês, no mínimo. Para efeitos de comparação, uma passagem de ônibus na cidade do Rio de Janeiro, onde as distâncias são bem maiores, custa R$ 2,40. Em São Paulo, custa R$ 3. “Todo dia vou e volto em pé, no ônibus lotado. Pago R$ 5,60 por dia e ainda fico em pé o tempo todo. A passagem está muito cara. Deveria ter mais ônibus, e a passagem tinha que ser mais barata”, reclamou Ana Alice Firmino, uma empregada doméstica de 51 anos, usuária
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FILA Embarque de passageiros na linha 305, da Expresso Maringá, na Rodoviária Velha
da linha 204. “É caro demais. A passagem deveria custar no máximo R$ 2”, avaliou Plínio Gomide, 60 anos, que usa diariamente a linha 121 para ir da Vila Ema, onde mora, ao Procon, na rua Vilaça (centro), onde trabalha. No entanto, há quem discorde da opinião geral. “O preço é justo pelo serviço oferecido. Os ônibus melhoraram bastante. Estão mais arejados, mais confortáveis”, elogiou Laysi Cavalcante, uma recepcionista de 20 anos usuária da linha 304, da Viação Saens Peña. “Tanto no Rio como em São Paulo, as prefeituras subsidiam, ou seja, injetam dinheiro público para abaixar o preço da passagem. Além disso, é importante ressaltar que toda a frota de ônibus de São José foi renovada. A passagem pode ser cara, mas é o preço a pagar para andar em veículos novos, seguros e limpos”, resumiu o secretário Ferreira. Esta renovação começou em 2007, ano do início do processo de substituição das empresas de ônibus em São José. Na primeira licitação, foram escolhidas as viações Júlio Simões e Expresso Maringá, que iniciaram as operações em julho de 2008. A carioca Saens Peña começou a atuar em fevereiro no ano passado, após vencer a segunda licitação. As três empresas substituíram a São Bento, a Real e a Capital do Vale, ativas há quase três décadas na cidade. No processo, São José foi dividida em três lotes. A Júlio Simões pagou R$ 4,2 milhões para atuar no Lote 2, e a Expresso Maringá levou o Lote 3 por R$ 5 milhões. Já a Saens Peña teve que desembolsar R$ 19 milhões para ficar com o Lote 1. “A concorrência foi maior no segundo
processo. Cinco empresas estavam na disputa”, explicou o secretário de Transportes. É fato que os usuários joseenses ganharam mais conforto e segurança com a renovação total da frota. Porém, como bem questionou o ajudante de obras Edson da Silva Almeira, “o que adianta viajar em ônibus novo se é para ficar em pé o tempo todo?” Integração total? O sistema de integração, em virtude do qual um passageiro pode usar duas linhas pagando apenas uma passagem, começou a ser implantado em 2004, mas só passou a ser total em abril deste ano. Segundo a Secretaria de Transportes, a cidade tem 89 linhas de ônibus, sendo 77 integradas (cinco noturnas e sete linhas já fazem as ligações entre regiões e são independentes, por isso estão fora do sistema de integração. São elas: 130, 215, 237, 240, 122, 125, 230). A integração melhorou significativamente a vida dos usuários. “Eu pego quatro ônibus por dia. Pouco antes das 18h, pego o 121 e vou até a Rodoviária Velha. Depois pego outra condução para ir para o Parque Tecnológico. Na volta, faço o trajeto inverso. Ao todo, pago apenas duas passagem”, explica Wallace Duarte, 38 anos, que estuda logística e transporte na Fatec (Faculdade de Tecnologia) de São José dos Campos. “Eu uso o serviço de integração na região sudeste, e funciona”, revela a estudante Jessica Raimundo. “Para ir do Novo Horizonte ao Urbanova, pego o 204A e o 128 com um bilhete único”, frisa Simone Alves da Silva, uma auxiliar administrativa de 22 anos. Ao contrário, vários
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Transportes
LINHA 115 (Vila Dirce/Av. Francisco José Longo) Empresa: Saens Peña
Na ida, o ônibus ficou superlotado. No Jardim Telespark, vários passageiros não conseguiram embarcar
LINHA 304 (Colonial/Praça Afonso Pena) Empresa: Saens Peña
O ônibus saiu cheio da Praça Afonso Pena. Na avenida Adhemar de Barros lotou de vez, e na rua Bacabal já não cabia mais ninguém
LINHA 121 (Terminal Urbano Central/Urbanova) Empresa: Saens Peña
Na ida, usuários encararam fila. Ônibus saiu cheio da Rodoviária Velha. Na volta, às 17h45, o ônibus não ficou lotado, mas todos os passageiros disseram que o pior horário é o das 15h às 16h30
LINHA 204B (Novo Horizonte/Av. Francisco José Longo) Empresa: Júlio Simões
Saiu do Novo Horizonte sem lugar sentado, mas só lotou na metade do percurso (na Av. Benedito Friggi). Usuários dizem que ônibus fica muito cheio à noite
LINHA 237 (Parque Novo Horizonte/Jardim Aquarius) Empresa: Júlio Simões
O ônibus ficou completamente lotado do Jardim Aquarius até o Nova Michigan, quando começou a esvaziar
LINHA 305 (Jd. São Judas Tadeu/Terminal Urbano Central) Empresa: Expresso Maringá
Na volta, uma fila gigantesca de 80 pessoas. O ônibus saiu lotado e assim ficou até chegar ao Putim
TEMPO ESTIMADO
35 min / 23 min
30 min / 24 min TEMPO ESTIMADO
41 min / 29 min
44 min / 25 min TEMPO ESTIMADO
43 min / 32 min
47 min / 32 min TEMPO ESTIMADO
47 min / 37 min
TEMPO ESTIMADO
1h10 / 50 min
TEMPO ESTIMADO
58min / 38min
39min / 23min
moradores da zona norte se queixaram. “Para ir da Vila Dirce ao Canindú, tenho que pagar duas passagens”, disse Jesu, o estudante usuário da linha 115. “O 115 não tem integração com o 105, que vai para Freitas”, reclamou outro passageiro do mesmo ônibus. “A integração funciona apenas de uma região para a outra, o que já atende à demanda da imensa maioria dos usuários. É impossível satisfazer a todos”, rebateu o secretário. Atrasos A questão dos atrasos divide os usuários das linhas mais movimentadas. “O maior problema não é o atraso, a gente nem espera muito”, afirmou a cozinheira Vera Lúcia da Silva, de 56 anos, no ônibus 115. “Geralmente não atrasa, ou atrasa pouco. Mas muitas vezes passam dois ônibus da mesma linha juntos”, destacou Heraldo Melo, um vendedor de 21 anos, também usuário do 115. “Nunca vi atrasar muito”, comentou a auxiliar de contabilidade Karina dos Santos Faria, 24 anos, que pega o 304 todos os dias. “É difícil atrasar, mas sempre lota”, resumiu Simone Alves da Silva, que usa diariamente o 204B. Outros passageiros têm opiniões diferentes. “Às vezes atrasa até 20 minutos”, afirmou a empregada Ana Firmino, referindo-se ao mesmo ônibus. “O 237 atrasa com frequência. Já esperei até 40 minutos no ponto”, disse Edson da Silva. A maioria dos usuários gostaria que as empresas responsáveis pelo transporte público de São José disponibilizassem um maior número de ônibus nos horários de pico, para evitar a superlotação. “O problema se repete nos horários de menor movimento. Os ônibus das linhas 204B e 237 ficam lotados também depois das 19h, pois as conduções passam a chegar de 40 em 40 minutos. Precisamos de mais ônibus”, reclamou uma passageira do 204B. Segundo a Secretaria de Transportes de São José, as linhas 304 e 204 (A e B) já têm, respectivamente, 14 e 13 carros, sendo ultrapassadas apenas pela linha 205 em quantidade de veículos. A linha 305 tem oito carros, enquanto a 237, a 121 e a 115 têm sete cada uma. “Transportamos seis milhões de pessoas por mês, ou seja, quase 1,5 milhão a mais que em 2008. Desde então, já acrescentamos 93 veículos. Em junho de 2010, disponibilizamos mais três ônibus na linha 305. Em fevereiro, a linha 304 ganhou mais dois. Temos problemas pontuais de lotação, que vamos resolvendo aos poucos”, justificou o secretário Ferreira. Assim, a única saída para os joseenses afetados pela síndrome da lata de sardinha parece ser mesmo o bom humor. “O serviço está bom, o povo reclama demais”, disse, rindo, uma senhora, acomodada em um dos 37 assentos de um veículo da linha 304. •
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Meio Ambiente
PASSIVO AMBIENTAL
A polêmica das cavas de areia no Vale Governo estadual discute revisão do zoneamento que regula a extração no rio Paraíba do Sul para propor novas medidas de recuperação das áreas degradadas na região
João Carlos de Faria Vale do Paraíba
este mês, quando se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, um debate que já se configura há dois meses promete ficar mais acirrado: a revisão do zoneamento ambiental, instituído em 1999, que regula a extração de areia na bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, uma proposta do governo do Estado para estudar medidas de recuperação das áreas degradadas pela atividade mineraria.
N
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O ato oficial mais concreto até agora foi a publicação da Resolução SMA número 16, de 28 de abril de 2011, assinada pelo secretário de Meio Ambiente do Estado, Bruno Covas. O documento institui o grupo de trabalho que irá fazer a revisão, com prazo de 12 meses para apresentar os resultados. Nenhum representante do Vale do Paraíba participa do grupo, o que causou reações imediatas. Em reunião com Bruno Covas, em maio, o deputado estadual Padre Afonso Lobato (PV) solicitou a inclusão da Frente Parlamentar de Proteção e Recuperação da Bacia do Rio Paraíba do Sul, da qual ele é presidente, além de representantes do Inpe (Ins-
tituto Nacional de Pesquisas Espaciais), do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica) e do Ministério Público. O presidente do Instituto Ecosolidário e membro do Conselho Estadual de Meio Ambiente, Jéferson Rocha de Oliveira, também quer no grupo representantes de Organizações NãoGovernamentais ambientalistas e defende a presença do Sindareia (Sindicato das Indústrias de Extração de Areia do Estado de São Paulo). “É como discutir um assunto relacionado a uma determinada categoria profissional e não convidar seus representantes”, justifica. A polêmica, no entanto, se amplia quando se colocam frente a frente opiniões quase sem-
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Fotos: Flávio Pereira
CRATERA Vista aérea de cava de areia à margem da via Dutra, no trecho entre Jacareí e São José
pre conflitantes. Há quem considere a atividade de extração de areia um atentado contra o meio ambiente, que se prevalece do poder econômico e desafia a legislação e os órgãos que a fiscalizam. Para esses, a maior parte ambientalistas históricos na região, a atividade precisa ser vigiada de perto e não há como confiar na regeneração dos empresários. Esse clima predominou durante a primeira reunião para discussão do assunto, realizada em 16 de maio, na sede do Daee, órgão da Secretaria de Estado do Saneamento e Recursos Hídricos, localizado em Taubaté. Convocado pelo Instituto Ecosolidário, o encontro contou com mais de 40
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pessoas ligadas à questão, além dos deputados estadual Padre Afonso Lobato e federal Carlinhos Almeida (PT). Foram muitas manifestações contrárias e um aparente ceticismo quanto à efetiva ação governamental para proteção ao rio e o cumprimento do novo zoneamento. Boa parte dos ambientalistas teme uma “anistia forçada” aos maus empresários, recorrentes em infrações contra a lei. A atividade mineraria de extração de areia no Vale do Paraíba sempre caminhou sobre uma tênue linha: a necessidade do material, ainda insubstituível e cada vez mais consumido com o crescimento acelerado do setor da construção civil, e a pre-
servação ambiental, uma exigência da mesma sociedade, que não vive sem o produto. No rio Paraíba do Sul, o descontrole levou ao surgimento de problemas como as crateras abertas pelas cavas, na maioria das vezes, abandonadas, sem a recuperação exigida pelas leis. Invasão de APPs (Áreas de Proteção Permanente), destruição da mata ciliar e más condições de trabalho são outras ações atribuídas alguns empresários, que denigrem a imagem dos demais. O Ministério Público Estadual, que atua na região por meio do Gaema (Grupo de Atuação Especial e Defesa do Meio Ambiente), sediado em São José dos Campos, trabalha
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Meio Ambiente
PANORÂMICA Rio Paraíba do Sul na divisa entre São José e Jacareí; na região, extração de areia à margem do rio teve início na década de 50
atualmente em cerca de 100 procedimentos jurídicos, entre TAGs (Termos de Ajuste de Conduta), inquéritos e ações civis relacionados à invasão de áreas de conservação de várzeas e de proteção permanente. Em denúncia apresentada ao Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente) neste ano, pelo presidente do Instituto Ecosolidário, Jéferson Rocha de Oliveira, que também é conselheiro do órgão, aponta ao menos cinco empreendimentos entre Jacareí e Pindamonhangaba, que exigem ações rígidas de fiscalização e atuação do Ministério Público. Num desses casos, localizado em Caçapava, o estrago é muito grande nas áreas de proteção e nada se fez na recuperação das cavas desativadas; outro, em Tremembé, desrespeita a área que deveria ser destinada à conservação da várzea. Desde 2010 o Estado já aplicou 22 multas, cinco suspensões de licença e dois cancelamentos de licença no trecho entre Jacareí e Pinda, sem contar a extração irregular em municípios fora do “zoneamento minerário”, como Roseira, Potim e Cachoeira Paulista. Segundo o Inpe, hoje existem 287 cavas nesta região, sendo 202 desativadas, 43 ativas dentro da Zona de Mineração e 42 ativas fora da Zona de Mineração, portanto, em condições irregulares. O Sindareia defende o setor apontando uma avaliação quantitativa publicada em
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2008 pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente que informa que até março de 2007 os empreendimentos de mineração de areia valeparaibanos já tinham recuperado uma área de 709,87 hectares, o equivalente a 1.774 campos de futebol. O presidente do Sindareia, Carlos Eduardo Pedrosa Auricchio, garante que a entidade mantém permanente recomendação aos associados para o cumprimento da legislação, especialmente das normas ambientais. “O Sindicato apoia todas as iniciativas de governo que venham aprimorar as ferramentas para licenciar, monitorar e fiscalizar os empreendimentos”, esclarece, lembrando que as jazidas devem ser tratadas de forma estratégica pelas várias esferas de governo. Jazidas A areia começou a ser extraída no rio Paraíba há cerca de 50 anos, entre Jacareí e Pindamonhangaba, com extração de leito e baixo impacto ambiental. A atividade, no entanto, teve que acompanhar o crescimento da construção civil e dar conta do mercado. Na década de 70, a capacidade de extração no leito do rio foi sendo esgotada e aparecem as primeiras cavas às margens do rio Paraíba do Sul, que foram crescendo de maneira desordenada. A área de lavra apontada em documento da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, em
2008, totaliza 2.815 hectares ou mais de 28 milhões de metros quadrados, com produção estimada em quase 500 milhões de metros cúbicos, levando-se em conta a altura média de 17,5 metros. No entanto, cerca de 80% desse volume já teria sido retirado, apontando as jazidas próximas do esgotamento. “Esse volume significa 5% da produção do Brasil e 25% da produção do Estado e atende principalmente a região metropolitana de São Paulo, que consome 80% da nossa produção”, afirma Benedito Jorge dos Reis, membro titular do Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul - CBH-PS, que presidiu por dois mandatos. Cerca de 3.000 vagas de emprego são geradas direta e indiretamente pelo setor. O faturamento, no entanto, é considerado uma caixa preta, um mistério não revelado pelo Sindareia e pelos empresários. Reis defende a conciliação do desenvolvimento com a sustentabilidade e destaca o fato do Brasil ter uma das melhores legislações do mundo. “Basta a correta aplicação da legislação e fiscalização adequada. A ampliação do Zoneamento Minerário visa disciplinar a extração onde ainda não existe esse ordenamento. Reis afirma ainda que “não podemos ser tão conservadores a ponto de proibir tudo, como se quiséssemos voltar às origens, ou seja, andarmos nus e morar
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em cavernas ou debaixo de árvores”. Os ambientalistas Jéferson Rocha de Oliveira e Marcos Fernandes da Costa, do Instituto Ecosolidário, concordam. “Somos favoráveis ao diálogo para essa revisão, que dever ser também uma oportunidade para a avaliação socioambiental de sua gestão”, afirma Oliveira. Sua expectativa é que o movimento socioambientalista dê seu apoio à iniciativa, focando não a gestão restrita a municípios isoladamente, mas tendo uma visão ampliada para o conjunto da região. Fernandes aponta a necessidade de “separar o joio do trigo”, tratando como mineradores, os empresários preocupados com a sustentabilidade, cumpridores das leis, pagadores de impostos e que revitalizam ambientalmente suas áreas, que cumprem os planos de recuperação ambiental. “Já os areeiros são os corruptores do sistema, sonegadores de impostos, que não cumprem a legislação ambiental e degradam o meio ambiente”, afirma. MINERAÇÃO Área de extração de areia na várzea do rio Paraíba do Sul, em Jacareí
Mobilização O anúncio da revisão do zoneamento minerário provocou uma movimentação nos bastidores políticos, principalmente na Assembléia Legislativa, onde duas frentes parlamentares se posicionaram a respeito do assunto. No início do ano, o deputado tucano João Caramez se apressou a reativar a Frente Parlamentar em Defesa da Mineração, que havia sido criada em 2006. O objetivo, segundo ele, é ter um órgão estadual que trate do planejamento e do fomento dessa atividade de forma sustentável. “A Frente seria a principal interlocutora entre o setor e os órgãos públicos federais e estaduais e pretende acompanhar os trabalhos do grupo instituído pela SMA, além de ser um fórum permanente de discussões”, diz Caramez. Em contrapartida, deputados da região, como Padre Afonso Lobato, Marco Aurélio de Souza (PT) e André do Prado (PP), articularam a Frente Parlamentar de Proteção e Recuperação da Bacia do Rio Paraíba do Sul. Um grupo de 23 parlamentares já aderiu à iniciativa. Entre seus objetivos está a atuação, em parceria com entidades e órgãos governamentais, na fiscalização das atividades degradadoras da bacia, em especial as que comprometem as áreas de várzea, zonas de preservação e áreas de preservação permanente. “A ideia da Frente já havia surgido depois de uma expedição que fizemos pelo rio, quando detectamos uma série de problemas, inclusive o da areia. Estamos procurando entender o que se passa e ficaremos muito vigilantes. Vamos contrapor a quem quer
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RAIO X CAVAS Entre Jacareí e Pindamonhangaba
287 cavas, sendo 202 desativadas, 43 ativas dentro da Zona de Mineração e 42 ativas fora da Zona de Mineração ÁREA DE LAVRA Documento da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, de 2008, aponta 2.815 hectares ou mais de 28 milhões de metros quadrados, com produção estimada em quase 500 milhões de metros cúbicos de área EMPREGO Cerca de 3.000 vagas são geradas direta e indiretamente pelo setor FATURAMENTO É considerado uma caixa preta, um mistério não revelado pelos empresários RECUPERAÇÃO Avaliação publicada em 2008 pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente aponta que até março de 2007 os empreendimentos de mineração de areia valeparaibanos tinham recuperado uma área de 709,87 hectares, o equivalente a 1.774 campos de futebol HISTÓRICO A areia começou a ser extraída no rio Paraíba há cerca de 50 anos, entre Jacareí e Pindamonhangaba, com extração de leito e baixo impacto ambiental. Na década de 70, entretanto, a capacidade de extração no leito do rio foi sendo esgotada e aparecem as primeiras cavas às margens do rio Paraíba do Sul, que foram crescendo de maneira desordenada
apenas tirar proveito, sem se preocupar com a devida compensação”, disse Padre Afonso. Capital do Vale São José dos Campos, que proibiu a atividade mineraria no rio Paraíba em 1994, também gera controvérsias. Sendo o maior consumidor de areia da região, principalmente após o ‘boom’ imobiliário dos últimos dez anos, com crescimento médio de 10%, segundo a Aconvap (Associação de Construtores do Vale do Paraíba), há pressões para que a cidade reveja a proibição ou então pague uma compensação às demais cidades, que arcam com esse passivo ambiental. Segundo o vereador João Tampão, presidente da Comissão de Participação Legislativa da Câmara de São José, um projeto sugerido pelo Sindareia está em discussão e deve brevemente ser levado para audiências públicas. “O tema é polêmico, o mundo não vive sem areia, mas precisamos saber o que é melhor para a cidade”, disse. A prefeitura, segundo o secretário municipal do Meio Ambiente, André Miragaia, ainda não fez essa discussão, mas continua cumprindo e fiscalizando a determinação, mantendo sua autonomia. “É natural que em decorrência disso o município ainda conserve suas várzeas relativamente preservadas, com suas funções ambientais. Ao invés de debater a abertura de novas áreas de mineração é preciso discutir e combater o desperdício que é ainda gigantesco”, afirma Miragaia. •
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A Sabesp está fazendo um dos maiores investimentos em obras da história de São José dos Campos. São mais de 120 milhões de reais em tratamento e distribuição de água e em coleta e tratamento de esgotos. A Sabesp trabalha dia e noite para levar qualidade de vida para você e sua família. Água tratada na sua torneira é mais saúde na sua casa. Esgoto coletado e tratado é mais saúde para o meio ambiente. Na rede de água, as obras estarão concluídas em janeiro de 2012. Já estão prontos e operantes 25 dos 36 quilômetros das adutoras de grande porte. Seis estações de bombeamento e sete novos reservatórios vão aumentar a capacidade de reserva de água para 11 milhões de litros. Em 2014, ficarão prontas as de coleta e tratamento de esgotos. Despoluição das bacias do Vidoca, Ressaca, Cambuí e Zona Norte. Rede Coletora Buquirinha. Dez mil metros de rede coletora em Freitas e Mirante. Construção da Estação Elevatória de Tratamento de Esgotos de Lavapés. A despoluição do Pararangaba já em licitação. Em alguns bairros da cidade, os efeitos já começaram a aparecer, mas até tudo ficar pronto você pode ajudar muito. Use a água com inteligência e economize sempre que puder. Limpe a sua caixa d’água a cada seis meses e conserte os vazamentos. Não despeje águas pluviais na rede de esgotos. Cuide bem do destino de seu lixo e evite que ele chegue à rede de esgoto. A Sabesp, investindo o máximo que pode, e você, investindo sua responsabilidade. É assim que São José vai chegar aonde todo mundo quer.
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Especial
MICHELANGELO A tela ‘Expulsão do Paraíso’ retrata o primeiro demônio da história bíblica
RELIGIÃO
O demônio existe? Desde a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, tentados pelo demônio na pele de uma serpente, o diabo reina como o pior inimigo da humanidade. Mas será que ele tem influência, de fato, no mundo? Para obter respostas, a valeparaibano conversou com especialistas: de exorcistas a satanistas
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Reprodução
Xandu Alves São José dos Campos
voz rouca e ensandecida da garota de 20 anos, chamada Marta, arrepia até os mais céticos. O padre olha diretamente em seus olhos e faz a derradeira pergunta ao espírito maligno, que a possui: “Por que você não quer sair?”. A cena se passa nos arredores de Madri, na Espanha, em 2002, mas continua viva na memória de José Antonio Fortea, 43
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anos, sacerdote espanhol e teólogo especializado em demonologia. Ele é considerado um dos principais exorcistas da Igreja Católica em atividade no mundo, ao lado do padre italiano Gabriele Amorth, 86 anos, exorcista oficial do Vaticano na diocese de Roma. Entre os rituais que fez ao longo de 20 anos, Fortea garante que o exorcismo de Marta foi o mais intenso. Com persistência e oração, ele disse que conseguiu tirar vários demônios do corpo dela, mas um se recusou a sair. Para o sacerdote, era o próprio diabo. “Ele me disse que queria sair, mas Deus não deixava”, contou o padre. Então, Fortea perguntou o motivo. A
resposta, segundo ele, foi uma das revelações mais chocantes de toda a sua vida sacerdotal: “O demônio disse: ‘Para que eles saibam’”. “O caso de Marta serviu para conscientizar as pessoas da existência do demônio”, avalia o sacerdote, autor daquele que é considerado a ‘Bíblia dos exorcistas’, o livro “Summa Daemoniaca – Tratado de Demonologia e Manual de Exorcistas”, lançado em 2004. A diferença para outros tantos casos de possessão demoníaca, diz Fortea, é que o de Marta foi acompanhado por um grupo de jornalistas. O exorcismo foi narrado em reportagens, documentários e inspirou filmes como “Ritual”
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Especial
(2011), com Anthony Hopkins e a brasileira Alice Braga. Antes incrédulos, os jornalistas se surpreenderam com as atitudes da garota. “Eles ficaram chocados e perplexos ao ver uma jovem mulher normal entrar em transe e se contorcer como uma cobra no chão”, conta o sacerdote, que também escreveu “Entrevista com um exorcista: posse, diabo e o caminho para libertação” (2006), não-lançado no Brasil. Ele existe? A experiência de Fortea leva a uma pergunta fundamental: o demônio existe de fato? Ou Marta e tantos outros supostamente “endemoniados” padeceriam de distúrbios emocionais, psicológicos ou físicos, mas nunca sobrenaturais. Há quem duvide da existência do diabo. Para o diretor do Centro Psicanalítico de Ubatuba, Wagner Paulon, psicanalista e mestre em Psicopatologia, o demônio nada mais é do que folclore introduzido pelas diversas religiões para intimidar e punir desafetos. “Simplesmente, diabo e demônios não existem”, afirma. O demônio seria uma invenção humana para atemorizar os pobres incautos, diz ele, e tirar deles tudo o que conseguiram através de longas horas de trabalho. “Se a pessoa, e principalmente sua família, for instruída, culta, destituída do fanatismo no aspecto religioso, saberá obviamente o que fazer (nas supostas possessões demoníacas)”, aponta Paulon, que é agnóstico. “Ou seja, nada mais é do que procurar urgentemente um bom profissional.” No lado oposto, as religiões cristãs atestam a existência do capeta. A Sagrada Escritura cita nada menos que 114 vezes as palavras demônio, diabo e satanás. São trechos como o narrado pelo evangelista Lucas (4, 1-13), relatando a tentação que o próprio Jesus Cristo sofreu do demônio no deserto. “A Bíblia fala do inimigo. Jesus Cristo libertou pessoas da influência dele”, resume o bispo de São José dos Campos, dom Moacir Silva, vice-presidente do Regional Sul 1 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Ele não tem dúvida da existência do diabo. Segundo o religioso, Deus criou os anjos, seres sem corpo físico, de puro espírito. Um deles revoltou-se contra o Criador e decidiu tentar tomar o seu lugar. É nesse ato de desobediência que surge a figura do demônio, banido por Deus ao inferno. “A decisão do anjo mau de atuar constantemente em oposição a Deus é definitiva”, explica o bispo, lembrando que o diabo tem poder sobre coisas e pessoas, mas nunca de forma absoluta. O que é um
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A Sagrada Escritura cita 114 vezes as palavras diabo e satanás, entre elas, na narração da tentação que Jesus Cristo sofreu do demônio no deserto
Divulgação
EXORCISMO José Antonio Fortea: teólogo espanhol é especializado em demonologia
”O anjo mau tem poder sobre coisas e pessoas, mas nunca de forma absoluta. Até o último suspiro Deus permite a reconciliação” Do bispo da Diocese de São José, dom Moacir Silva
alento para quem estiver na perdição. “Até o último suspiro Deus permite a reconciliação.” É curioso que a figura do demônio da teologia tradicional não aparece no Antigo Testamento. No entanto, é nos livros mais antigos da Bíblia que satã aparecerá pela primeira vez como figura separada, individual e pró-ativa. E tomará o imaginário popular. “Na teologia de muitos cristãos, a doutrina do diabo somente perde em importância para a de Deus”, escreve João Rafael Chió Carvalho, em sua dissertação de mestrado “Honorius Augustodunensis e O Elucidarium”, pela Faculdade de História da USP (Universidade de São Paulo). “O demônio é uma parte indispensável da maquinaria da fé e da piedade.” Escrito entre os séculos 11 e 12, o Elucidarium é uma espécie de enciclopédia teológica cristã medieval. O texto explica que “o poder do diabo está presente em tudo o que afasta o homem de Deus”, bem como em qualquer forma de “resistência aos ensinamentos cristãos”. Assim ele se manifesta na religião dos judeus e, sobretudo, no paganismo. E o diabo não está só, mas auxiliado por inúmeros demônios menores. “Não somente os anjos caídos e o próprio satã seriam demônios, mas também, na mente de Paulo (apóstolo) e dos pais da Igreja, todas as deidades do paganismo”, explica Carvalho. Segundo o professor Felipe Aquino, doutor em física pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e autor de mais de 60 livros sobre doutrina católica, diversas passagens do Evangelho afirmam a existência de muitos demônios, não de um só. Ele cita também o catecismo da Igreja Católica: “Satanás ou diabo, bem como os demais demônios, são anjos decaídos por terem se recusado livremente a servir a Deus”. Aquino recorda ainda as palavras do papa Paulo 6º, para quem o mal “não é apenas uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo, espiritual, pervertido e perversor”. Influência Doutor em Teologia Moral, padre Wagner Ferreira da Silva, formador geral da Associação Internacional Privada de Fieis, da Comunidade Canção Nova, pondera que somente à luz da revelação divina é possível concluir sobre a existência do diabo e dos demônios. Não há provas através do método empírico, próprio das ciências. Possuindo uma natureza espiritual, continua o sacerdote, o ‘Maligno’ influencia as faculdades espirituais dos seres humanos, como inteligência, vontade e liberdade. Ele procura induzir as pessoas à desobediência a Deus, agindo como
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da Terra, que “pretendem conduzir o mundo para um Estado Mundial escravo”. De que jeito se daria tamanha conspiração? O escritor aponta a criação de uma única moeda, parlamento e governo global com acesso a tomadas de decisões nacionais. A autonomia dos países cairia por terra. E tudo isso está prestes a ocorrer, segundo o teólogo holandês, após severas crises internacionais. “Alguns desastres vêm ocorrendo por acaso. Outros vêm como resultado da insensatez humana. Mas a maioria das calamidades é produzida por um grupo de famílias poderosas em seus esforços para estabelecer uma Nova Ordem Mundial”, afirma Ruiter. Para ele, o objetivo último desse grupo é a criação de uma ditadura mundial com um único líder no topo: o demônio. “Essas famílias adoram o diabo como seu deus e dirigem o satanismo mundialmente.”
EL AQUELARRE Goya retratou ’O Grande Bode’ na série ‘Pinturas Negras’, que decorava sua casa
um tentador que ilude para o pecado. “O diabo se alegra quando as pessoas se dividem em atitudes de ódio, desrespeito à dignidade humana e agressões à existência e à vida”, afirma. Porém, a existência de um ser maligno espiritual influenciando as pessoas não seria contraditório ao se pensar no livre arbítrio? Tentação espiritual e liberdade de escolha andam juntas? Dom Moacir Silva responde que, ao contrário de Deus, o diabo não tem poder absoluto. Portanto, a pessoa tentada sempre tem a chance de dizer não. “A Bíblia diz com clareza de que Deus não pode permitir uma tentação maior do que a nossa capacidade de resistência”, ressalta o religioso. “Sempre haverá espaço para a escolha e para dizer não ao inimigo.” O diabo age nas trevas, literalmente. E prefere atacar aqueles que acreditam na fé, na espiritualidade e nas boas obras. Cooptá-los seria uma espécie de grande prêmio para o capeta. Neste contexto, o teólogo e escritor holandês Robin de Ruiter tem chamado a atenção pela
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série de livros sobre a dominação pretendida pelo diabo e que anda em curso, segundo ele, na história da humanidade. Ruiter diz que o mundo ruma para o estabelecimento de uma ‘Nova Ordem Mundial’ subjugada por uma ordem satânica. Tal ordem seria formada por 13 famílias poderosas, as linhagens satânicas, chamadas por ele de “Soberanos Invisíveis”. Tal grupo de milionários e influentes empresários, executivos e políticos estaria por trás das principais tragédias dos últimos 100 anos, da Primeira Guerra Mundial à destruição do World Trade Center, nos Estados Unidos. A conspiração satânica é denunciada por Ruiter no livro “O Anticristo – Poder oculto por trás da Nova Ordem Mundial”, lançado no Brasil pela editora Ave Maria, em 2005. Nele, o escritor afirma que “a Nova Ordem Mundial pretende controlar a raça humana”. Não se trata de teoria, rebate Ruiter, mas de oligarquias secretas e ocultas e de um pequeno círculo formado pelas famílias mais poderosas
Como escapar? Acreditar ou não no demônio, para a Igreja Católica, é irrelevante frente às suas investidas. Mesmo quem negue sistematicamente a existência do demônio pode sofrer a influência maligna dele. Nestes casos, o campo estará mais livre. É como um boxeador que baixa a guarda sem esperar pelo golpe. Padre José Antonio Fortea explica que poucas coisas podem resultar em possessão demoníaca. Aliás, a Igreja só aceita fazer um exorcismo quando todas as possibilidades médicas forem descartadas. Quando não houver explicação natural para a atitude de uma pessoa é que o bispo pode designar um padre exorcista. “Passa-se antes por exames da medicina, psiquiatria, psicologia e parapsicologia. É preciso verificar todos os caminhos”, relata dom Moacir. Uma das causas da possessão, segundo padre Fortea, é o envolvimento com magia negra, vodu e rituais supostamente espirituais. É como diz o sábio ditado popular: “quem procura, acha”. O sacerdote espanhol dá os sinais de um genuíno “endiabrado”: “Entrar em transe com os olhos em branco, aversão repentina e irracional a todas as coisas sagradas e perda da consciência enquanto emerge uma segunda personalidade maligna”, enumera Fortea. Para escapar do demônio, segundo ele, é preciso observar as palavras do papa João Paulo 2º, morto em 2005. No texto “A existência dos anjos revelada por Deus”, o pontífice escreve: “Mas Deus não se rende. Predestinou para sermos seus filhos em Cristo. Tudo vai com força e suavidade, para que o bom não seja vencido pelo mal.” Amém. •
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Vale, Brasil & o Mundo
Frases “Feliz e satisfeito. Pronto para seguir na luta para demonstrar minha inocência”
TERRORISMO
Morte de Osama Bin Laden gera especulações até hoje
Do ex-presidente da Guatemala Alfonso Portillo, absolvido da acusação de corrupção pela Promotoria e Comissão Internacional contra a Impunidade
“Depois da primeira parada, você tem pit stops a cada dez ou 15 voltas, e aí fica impossível de acompanhar a corrida“ Do piloto Sebastian Vettel, que reclama do alto número de paradas nos boxes na F-1
Na madrugada do dia 2 de maio, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, confirmou em pronunciamento na TV a morte de Osama Bin Laden, líder da rede terrorista da al-Qaeda responsável pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA, que mataram 3.000 pessoas. Bin Laden foi morto em uma ação de inteligência do Exército norte-americano em parceria com o governo do Paquistão. A operação, sigilosa, foi executada por um comando especializado da Marinha dos EUA. Soldados conseguiram matar o terrorista em uma fortaleza em Abbotabad, próximo a Islamabad, a capital paquistanesa. “Foi feita justiça”, disse Obama, que já lançou sua campanha à reeleição em 2012. Enquanto o presidente fazia seu pronunciamento, milhares de norte-americanos cercaram a Casa Branca e o Marco Zero, local dos atentados em Nova York, para comemorar a morte do terrorista, que foi sepultado no mar, conforme o que seria o costume islâmico. A reação dos norte-americanos gerou críticas. E a morte de Bin Laden até hoje gera especulações. O movimento talibã paquistanês nega que o líder da rede terrorista Al-Qaeda tenha morrido. O Movimento Talibã do Paquistão, braço do grupo radical islâmico no país, prometeu se vingar. O grupo ameaçou atacar alvos americanos e do governo paquistanês. Seja qual for o saldo da morte de Osama Bin Laden, quem mais sai ganhando com o fim do número 1 da Al-Qaeda é Barack Obama, cujos índices de aprovação vinham oscilando em meio a uma economia em crise da qual os EUA ainda tentam se recuperar.Trata-se de uma tremenda vitória política e uma vantagem considerável quando se trata do segundo mandato que busca em 2012.
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“O Delúbio Soares ficou seis anos fora do partido. Uma punição dura e correta” Do governador Tarso Genro (PT), sobre a reintegração do ex-tesoureiro do partido
FRANÇA
CASAMENTO
Drama do hormônio do crescimento fica sem culpados
STF reconhece união entre gays
O drama do hormônio de crescimento, um escândalo médico dos anos 90 que causou na França a morte de 119 crianças tratadas por problemas de baixa estatura, ficou sem punição aos acusados. É a segunda vez em que os responsáveis de colocar no mercado o produto feito a partir de glândulas de cadáveres obtidas de forma ilegal e que disseminaram a doença de Creutzfeldt-Jakob para dezenas de pacientes saem ilesos da Justiça. A corte entendeu que eles não cometeram “nenhuma falta” e, portanto, foram declarados inocentes das acusações de homicídio involuntário.
O Supremo Tribunal Federal aprovou por unanimidade o reconhecimento legal da união homoafetiva. Pela decisão, os homossexuais passam a ter reconhecido o direito de receber pensão alimentícia, ter acesso à herança de seu companheiro em caso de morte, podem ser incluídos como dependentes nos planos de saúde, poderão adotar filhos e registrá-los em seus nomes. Pela legislação anterior, em caso de separação, não havia direito à pensão e a partilha de bens era feita medindo-se o esforço de cada um para a formação do patrimônio adquirido.
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NO SUDESTE
Bullying afeta 47% dos alunos Quarenta e sete porcento dos estudantes do sudeste do país já viram algum colega sofrer bullying, uma agressão feita de forma sistemática contra a mesma pessoa. Trata-se do maior índice no país, o dobro em relação à taxa do Norte, onde o número cai para 23,7%. A região Sudeste também apresenta a maior taxa de alunos que admitem terem sido vítimas de maus-tratos na escola ao menos uma vez na vida: 40%. Os números pertencem à pesquisa Bullying escolar no Brasil, da ONG Plan Brasil, com base em dados referentes a 2009. Foram ouvidos 5.168 alunos de escolas públicas e privadas brasileiras, de 10 a 15 anos. O praticante de bullying tem autoestima elevada e se acha bem-sucedido por agredir um colega para uma plateia. O alvo, por sua vez, concorda, intimamente, com as humilhações. É o caso de jovens obesos ou portadores de deficiências, por exemplo: como sabem que essas características são malvistas socialmente, acabam intimidados pelas ofensas dos colegas.
Pimenta Neves está preso em Tremembé O jornalista Antonio Marcos Pimenta Neves, 74 anos, condenado pela morte da também jornalista Sandra Gomide, foi preso no último dia 24 após o STF (Supremo Tribunal Federal) negar, por unanimidade, seu último recurso de defesa. Ele está na P-2 de Tremembé. Réu confesso, Pimenta Neves matou Sandra com dois tiros, um na cabeça e outro nas costas, depois que o casal rompeu um relacionamento de quase três anos. O assassinato ocorreu em 20 de agosto de 2000, em um haras de Ibiúna (SP). O jornalista só havia ficado detido entre setembro de 2000 e março de 2001. Depois disso, manteve-se em liberdade graças a ações judiciais. Como Pimenta Neves já cumpriu sete meses de prisão, caso receba atestado de boa conduta, poderá solicitar a progressão ao semiaberto depois de 1 ano e 11 meses. No semiaberto, o preso pode sair pelo menos cinco vezes por ano para visitar a família. Caso tenha emprego, pode trabalhar durante o dia e voltar para dormir.
FACÇÃO CRIMINOSA
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ELEIÇÕES 2010
Rombo será coberto com dinheiro público Os rombos que o ano eleitoral de 2010 deixou nas contas do PT e do PSDB serão integralmente cobertos por recursos públicos em 2011, graças à manobra do Congresso que elevou em R$ 100 milhões os repasses da União para o Fundo Partidário. Depois de bancar parte da campanha presidencial de Dilma Rousseff, além de outros candidatos a governos estaduais e ao Congresso, o PT chegou ao fim de 2010 com um déficit de quase R$ 16 milhões, mas receberá R$ 16,8 milhões extras neste ano graças ao incremento do Fundo Partidário. No caso dos tucanos, a receita extra será exatamente igual ao déficit nas contas de 2010: R$ 11,4 milhões. CONSUMO
Corrupção policial seria causa de ataques do PCC
Gasto supera renda em 53% dos lares
Cinco anos após a onda de ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital), estudo aponta três causas para as ações da facção criminosa: a corrupção policial contra membros do grupo, a falta de integração dos aparatos repressivos do Estado e a transferência que uniu 765 chefes do PCC, às vésperas do Dia das Mães de 2006, numa prisão de Presidente Venceslau. Os dados constam do estudo “São Paulo Sob Achaque”, produzido pela ONG Justiça Global e pela Clínica Internacional de Direitos Humanos da Faculdade de Direito de Harvard, uma das mais importantes dos Estados Unidos. Ao esmiuçar os 493 homicídios, o estudo viu indícios da participação de policiais em 122 execuções. No Vale do Paraíba, o saldo foi de nove mortos: dois policiais e sete suspeitos. O documento também aponta que dois dias após os primeiros atentados, o Estado enviou uma comissão a um presídio para negociar com os chefes do PCC o fim dos ataques. O fato sempre foi negado pelo governo.
A Pesquisa Tendências do Consumidor, divulgada pela Associação Paulista de Supermercados, mostra que 53% das famílias brasileiras tiveram em 2010 um gasto mensal acima da renda média do mesmo período. O estudo foi elaborado com uma amostra de 8.200 lares de todas as classes sociais, em cidades acima de 10 mil habitantes. Pela primeira vez na série histórica iniciada em 2006, o gasto médio superou a renda. A renda mensal média nacional em 2010 foi de R$ 2.146, enquanto o gasto foi de R$ 2.171. A pesquisa mostra que, em relação ao ano de 2009, os gastos mensais apresentaram alta de 16%, enquanto a renda média subiu 13%. A Apas acredita, porém, que em 2011 volte a ocorrer um equilíbrio entre gastos e renda e que a oferta maior de crédito não trará consequências negativas ao consumidor.
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Mundo
FUTURO ANUNCIADO
Brasil, o país do p Maior nação da América Latina lidera exportação de carnes, café, açúcar, suco de laranja, tabaco e soja em grãos, e a produção de minério de ferro; com o etanol, passou a ter a indústria de biocombustíveis mais sofisticada do planeta e hoje goza do privilégio de poder emprestar dinheiro ao FMI, seu antigo credor
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Yann Walter São José dos Campos
m 1941, um ano antes de seu suicídio em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, o escritor austríaco Stefan Zweig lançou um livro precursor chamado ‘Brasil, país do futuro’. Publicado simultaneamente em vários idiomas –um feito e tanto, considerando o fato de que o mundo vivia então sua Segunda Guerra–, o livro foi um sucesso de vendas. No entanto, a visão ufanista de Zweig sobre o Brasil daquela época foi massacrada pela crítica brasileira, que acusou o autor de conivência com a ditadura de Getúlio Vargas. A expressão cunhada pelo escritor demorou mais de meio século para voltar a ser usada, quando a hiperinflação que assolava
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o país chegou ao fim. A estabilidade política e o crescimento econômico que marcaram a segunda metade dos anos 90 começaram a despertar o interesse dos investidores estrangeiros, levando o Brasil a entrar de vez na categoria dos ‘países emergentes’. Esta evolução ficou ainda mais dinâmica na década seguinte: o país conseguiu promover mais de 20 milhões de pessoas da pobreza para a classe média, criando um novo mercado de consumidores que contribuiu para impulsionar ainda mais a economia. Gigantes como Petrobras, Embraer e a mineradora Vale continuaram crescendo, ganhando cada vez mais peso em seus setores de atuação respectivos. Milhões de novos empregos foram criados. Aos poucos, o Brasil foi conquistando seu espaço no cenário internacional, transformando-se de fato no país do presente. “O Brasil não é mais uma potência emergente. Já emergiu.
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Flávio Pereira
o presente Hoje, o país é um ‘player’ no cenário mundial”, afirmou o cônsul-geral dos Estados Unidos, Thomas Kelly, na abertura de uma palestra sobre as relações entre os dois países, organizada no mês passado pela Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) de São José dos Campos. “Hoje, o Brasil é considerado um parceiro relevante entre as potências internacionais. O mundo está olhando para nossa economia com mais interesse. As matérias-primas valem muito mais hoje em dia, e esta nova situação coloca o Brasil em vantagem”, avaliou o economista David Kupfer, membro do Grupo de Indústria do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O Brasil é o país dos superlativos. A maior nação da América Latina possui a floresta tropical mais extensa do globo terrestre e concentra 14% das reservas mundiais de
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água potável. Goza de abundância de recursos naturais e de amplas áreas cultiváveis, e é dono do maior rebanho de gado do mundo. É o maior exportador mundial de carne bovina, carne de frango, café, açúcar, suco de laranja, tabaco e soja em grãos. Com o desenvolvimento do etanol, passou a ter a indústria de biocombustíveis mais sofisticada do planeta. O Brasil também é o maior produtor mundial de minério de ferro, commodity que respondeu por 14% do total das exportações do país em 2010. Vale ressaltar ainda que o país passou praticamente incólume pela crise financeira que abalou o mundo em 2008, graças principalmente a uma rígida política de austeridade fiscal e regulamentações bancárias. Um cúmulo, para uma nação que já teve uma inflação de 2000% e precisou do maior pacote de salvamento da história do FMI (Fundo Mo-
netário Internacional). Ironicamente, o Brasil, que quitou sua dívida com o Fundo de maneira antecipada em 2005, é hoje um dos dez maiores cotistas da instituição. Indicadores no azul O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu mais de 7% entre 2009 e 2010. Durante o período, as exportações aumentaram em 32% e as importações em 42,2%, atingindo, respectivamente, 201,9 e 181,6 bilhões de dólares, segundo dados colhidos no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Nunca, em toda sua história, o país tinha movimentado quantias tão elevadas. Atualmente, seus principais parceiros comerciais são, nesta ordem, a China, os Estados Unidos e a Argentina. O gigante asiático abocanhou 15,3% do total das exportações brasileiras em 2010. Os Estados Unidos ficaram com
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9,6% e a Argentina, com 9,2%. “Quando estava em Buenos Aires, pude observar que todos os diplomatas argentinos eram obrigados a aprender o português. Isso é mais uma prova da importância do Brasil no cenário mundial”, ressaltou o cônsul americano Thomas Kelly, que exerceu a função na Argentina antes de seguir para o Brasil. Como destacou David Kupfer à revista valeparaibano, “o Brasil é um ‘global player’, faz negócios com o mundo inteiro”. Um exemplo, entre muitos outros: as exportações brasileiras de produtos do agronegócio para a Argélia, o Marrocos e o Egito aumentaram em, respectivamente, 126,7%, 108% e 83,6% entre janeiro de 2010 e janeiro deste ano. Além do minério de ferro e das commodities agrícolas, o Brasil também é um importante produtor e exportador de petróleo. O óleo bruto foi, de longe, o produto brasileiro mais importado pelos Estados Unidos nos dois últimos anos. Na China, ocupa o terceiro lugar, atrás do minério de ferro e da soja. A Petrobras é atualmente a oitava empresa de capital aberto mais rica do mundo, segundo o ranking elaborado a cada ano pela revista Forbes. Em seu ramo de atividades, perde apenas para a norteamericana ExxonMobil (4ª da lista), a holandesa Shell (5ª) e a PetroChina (6ª). No que toca ao ouro negro, o Brasil tem projetos faraônicos. O magnata e empresário Eike Batista, dono de uma fortuna avaliada em 27 bilhões de dólares e oitavo homem mais rico do planeta segundo a Forbes, está construindo no Estado do Rio um gigantesco complexo portuário para abrigar os maiores navios petroleiros do mundo. Financiado com investimentos chineses, o novo porto também será a porta de saída para o continente asiático do minério de ferro e de outros commodities brasileiros. Como se não bastasse, acreditase que o território brasileiro seja o cenário da maior descoberta de petróleo já vista no mundo nos últimos 35 anos. A 240 quilômetros do litoral brasileiro, em uma área que vai de Santa Catarina até o Espírito Santo, gigantescas reservas de óleo leve –de melhor qualidade– foram localizadas a cerca de um quilômetro de profundidade, abaixo da camada do pré-sal. O potencial de exploração é imenso. Segundo os especialistas, o Brasil poderá produzir cerca de seis milhões de barris por dia, transformando-se no quarto ou no quinto maior produtor mundial de petróleo. A exploração do óleo na Bacia de Santos vai, inclusive, abrir novas oportunida-
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des de negócios para as empresas do Vale do Paraíba e do Litoral Norte. Empresas no topo A Petrobras é um símbolo do sucesso do Brasil no exterior, mas não é a única empresa neste caso. A Embraer, com sede em São José dos Campos, é o terceiro fabricante mundial de aviões, atrás apenas da americana Boeing e da europeia Airbus. A companhia se especializou no segmento dos jatos executivos. Em 2010, o Phenom 100 foi o modelo mais entregue em todo o mundo, com 126 unidades. Em fevereiro deste ano, a Embraer inaugurou na Flórida (sudeste dos EUA) sua primeira unidade industrial nos Estados Unidos, o maior mercado da companhia. “As empresas brasileiras estão investindo mais nos Estados Unidos, mas a recíproca também é verdadeira. Companhias como General Motors, Johnson & Johnson, Google ou Avon são exemplos de empresas americanas muito fortes no país”, destacou Thomas Kelly. Vale frisar, aliás, que o maior parque fabril da Johnson & Johnson em todo o mundo é o de São José dos Campos. O poder aquisitivo do brasileiro cresceu muito na última década. Com a emergência recente de 21 milhões de pessoas na classe C, novos segmentos de mercado se
O Brasil está com o vento em popa e pode se tornar a quinta maior economia do mundo em 2016, no ano dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro
abriram. Carros, geladeiras, cruzeiros e perfumes são apenas alguns exemplos de produtos que viram suas vendas disparar. No ano passado, o Brasil se tornou o maior mercado mundial de perfumes, superando os Estados Unidos. O turismo é outro setor em forte desenvolvimento. O brasileiro viaja cada vez mais. Uma prova disso é o aumento do número de vistos norte-americanos concedidos aos cidadãos do país. “A demanda brasileira por vistos vem crescendo ano após ano. Hoje, os Estados Unidos concedem mais vistos para não-imigrantes aos brasileiros do que a qualquer outra população do mundo”, afirmou o cônsul-geral Thomas Kelly. Em 2010, 500 mil brasileiros visitaram a região de Miami, na Flórida, e
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gastaram mais de um bilhão de dólares, tornando-se o maior contingente de visitantes internacionais. Os brasileiros também são os estrangeiros que mais investem em propriedades imobiliárias na cidade. O fluxo é tanto que o governo norte-americano está pensando seriamente em abolir a necessidade de visto para os cidadãos brasileiros. O Brasil está com o vento em popa. Segundo os especialistas, o país pode se tornar a quinta maior economia do mundo em 2016, justamente no ano dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Dois anos antes, o Brasil já terá sediado a Copa do Mundo. Estes dois eventos planetários vão impulsionar mais ainda a economia do país, atraindo investidores e fomentando melhorias internas, sobretudo na infraestrutura, na hotelaria e no transporte. BOM EXEMPLO Plataforma de petróleo da Petrobras; ao lado, funcionários na montagem de aviões da Embraer, abaixo, floresta amazônica
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Problemas É claro que existem muitas nuvens neste céu ensolarado. Burocracia, corrupção e impunidade são algumas das mazelas que assolam o país. Educação e saúde são outros setores que precisam ser melhorados urgentemente. Apesar dos esforços realizados na última década, as desigualdades sociais persistem. “Os pontos fracos do Brasil são o baixo nível educacional da população, a ineficiência e o tamanho excessivo do Estado e a fragilidade das instituições. É preciso considerar que o nível de desenvolvimento não é medido apenas pelo PIB, mas também por variáveis culturais, sociais e institucionais”, ressaltou Celso Martone, professor de economia na USP (Universidade de São Paulo). Aliás, cabe frisar que o PIB real por habitante do Brasil continua inferior aos da Argentina e do Chile. “Tecnologia e inovação são nossas principais fraquezas. Por outro lado, o Brasil construiu uma competência, que lhe permite liderar a exploração de seus recursos. Temos o pré-sal, mas também a capacidade para extraí-lo”, ponderou o economista David Kupfer. Na opinião de especialistas do banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs, o Brasil, a Rússia, a Índia e a China (os chamados BRICs) vão dominar a economia no século 21. Se esta profecia se concretizar, o Brasil poderá encarnar o espírito de uma nova ordem mundial, sem armas nucleares, nem intenções bélicas ou imperialistas. Interessante notar que há 70 anos, o visionário Stefan Zweig já defendia esta teoria de que o jeito brasileiro de amenizar os contrastes poderia ser a solução para um mundo sem guerras. •
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Cores centenárias Jonny Ueda fotógrafo
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O fotógrafo brasileiro Jonny Ueda aceitou o desafio de recriar o olhar de Tamamura Kozaburo, um mestre da colorização do preto e branco e precursor da foto-brinde, ao refazer o caminho que Kozaburo percorreu há cem anos
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MONTE FUJI Na primavera, um campo de tulipas aos pés do Monte Fuji é como um “retrato do mundo flutuante” na arte ukio-e de Hokusai Katsushika
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Ensaio
BUDA Na guerra, a estátua original foi derretida e virou munição. Na atual, de 13 metros, há uma réplica com seis centímetros de ouro puro, chamada de Sol
RIO NEGRO Vários barcos ficam encalhados no leito seco do Rio Negro, em Manaus; a seca veio forte como a cheia
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MAIKO Aprendizes de artistas, as maiko devem saber cantar, dançar e atuar, mas neste instante raro, só souberam se divertir
PARQUE DE NARA Os cervos, considerados mensageiros de Deus, dão à Nara a fama de “Cidade da Paz”; turistas oferecem biscoito especial aos animais
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Ensaio
COMÉRCIO Nos corredores que levam aos templos se pode encontrar de antiguidades a grifes da moda americana
CORDÕESDESAKURA A grande cerejeira foi plantada em 1949 no mesmo local onde foi gerada da seiva da árvore-mãe
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LUTA Deuses encarnados, os sumotori descem Ă arena apenas seis vezes por ano para o deleite de uma legiĂŁo de adoradores
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Coisa & Taltigo
Marco Antonio Vitti
Fiz a mesma curva que faço há cinco anos e de repente... plaft, patatimbum!
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abe quando você acorda naqueles dias? Como acontece com as mulheres, acordei com TPM mental. Você acorda, toma banho, e quando vai fazer uma curva para ir tomar seu cafezinho básico, conversar com a Tamíres, Fátima e o Juarez, logo após ter saído da Igreja, onde rezo todos os dias pedindo a Deus paciência e para não me envolver em problemas, e principalmente não discutir com mulheres... Plaft, patatimbum! Tentei desviar, mas não consegui: bati. Quando fiz a curva que faço há cinco anos seguidos, o carro estava atravessado no meio da rua, onde ela tinha errado a entrada em uma vaga inexistente, manobrando para parar.
Era uma japonesa. Lembrei-me do piloto japonês de Fórmula-1 que batia em todo mundo, o nome dele era Nakagima, sinônimo na corrida de bater o carro, e que se transformou num slogan: se for o japonês ultrapassa ou deixa ele andar até bater em outro. Quando digo em não discutir com mulheres é porque a ciência demonstra que as mulheres têm 20 milhões de neurônios menos que o homem; mas, no entanto, a mulher é portadora de uma região cerebral denominada de corpo caloso, que comunica os hemisférios direito e esquerdo, quase, dois terços, maior que o corpo caloso do homem.
MULHERES “Como um ser humano consegue com sua beleza enlouquecer o sexo oposto? Para a perpetuação da espécie” Pensam que estou falando que a mulher é burra? Jamais cometerei essa estupidez! Pois, com um corpo caloso maior que o do homem, as conexões das sinapses da mulher, coadjuvado por menos neurônios faz com que a mulher tente entender homens de todo o mundo; e, digo, mais uma vez, nunca discuta com uma mulher. Você vai perder, ou, se perder a paciência agredindoa, você ainda vai para a cadeia. Mas, como um ser humano tão lindo, tanto que de todas as espécies animais a fêmea humana é mais bonita que o homem, consegue com sua beleza enlouquecer o sexo oposto? Para a perpetuação da espécie. No entanto, vou tentar explicar com uma metáfora. Em um grande feriado brasileiro, que felizmente a grande maioria da população resolve sair de casa, pego o meu carro e vou, no sentido contrário. Vou para São Paulo, enquanto no lado esquerdo que vai de São Paulo para Bertioga, Guarujá, Tamoios, Osvaldo Cruz, indo para Caraguatatuba, Ubatuba,
São Sebastião, Ilhabela, Campos do Jordão, Rio de Janeiro. O cérebro do homem é a via Dutra no sentido São Paulo–Rio de Janeiro, todo congestionado, com os motoristas mal humorados, tentando ultrapassar uns aos outros e causando riscos de acidentes e até acidentes fatais. Por outro lado, no sentido Rio de Janeiro–São Paulo é o cérebro da mulher com menos carros [neurônios], formando sinapses cada vez maiores, do que o cérebro congestionado dos homens. Bem. Voltando à minha colisão, como minha alma é médica, saí do carro para ver se estava tudo bem. Estavam bem, ela e sua amiga. Fiquei pensando, como não acreditar em Deus? Ninguém estava ferido. Fiquei tranquilo, até que a japonesa me falou: “Você acabou com o meu dia, e o seu”! Ela nem percebeu que na vaga que ela queria parar e errou, e falei para ela que meu seguro pagaria o carro dela e o meu. Pensamos que temos todo o controle em nossa vida, mas, infelizmente, muitas pessoas pensam que tem. No entanto, saí dali, pensando como é difícil para as pessoas acreditarem que Deus existe. É mais fácil acreditar no dinheiro, no que você estabeleceu para acontecer naquele dia de maneira que você programou para que tudo desse certo. A grande decepção é que por mais que você faça tudo certo, à sua maneira, de repente a vida vem e faz tudo diferente. •
Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br
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Turismo ROTA OBRIGATÓRIA
México: terra dos Astecas País com maior população católica das Américas oferece muito mais que as praias praias de Cancun e Acapulco; há história para ser contada contada e surpresas para se revelar Angélica Félix Cidade do México
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uem pensa que o México se limita às praias de Cancun e Acapulco e à cidade de Guadalajara está enganado. O país, com mais de 112 milhões de habitantes em um território de 2 milhões quilômetros quadrados e vários séculos de existência, tem muita história para ser contada e apreciada, mas ainda esconde muitas surpresas que esperam ser reveladas. Assim é o México, a chamada terra dos Astecas, o lar de um povo inteligente que, assim como os egípcios, há milhões de anos, também conhecia e utilizava técnicas avançadas em muitas áreas da ciência. Este também é o lugar onde o povo contrasta, a todo instante, com o antigo e o moderno, sem se esquecer de sua origem indígena e espanhola. E esse convívio, lado a lado com o ontem e o hoje, pode ser facilmente visualizado em uma das mais importantes cidades do país, a capital Cidade do México. Para se ter ideia é possível passar pelas ruas e encontrar, em um mesmo quartei-
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Fotos: Raquel Cunha
HISTÓRIA CONTRUÇÕES ANTIGAS O sítio arqueológico Teotihuacan, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, em 1987 (acima e ao lado); Catedral Metropolitana, que fica no centro histórico da Cidade do México, foi construída em 1571 (abaixo)
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rão, casas construídas no século 19 no estilo espanhol, em meio a edifícios contemporâneos, como os “green buildings”, que são feitos com tecnologia sustentável para não agredir o meio ambiente. Além disso, debaixo de todo o concreto que rodeia a cidade existem parques ecológicos, zoológicos e lagos para que a população tenha contato direto com a natureza. Semelhança ou coincidência, assim como em São Paulo, no Brasil, a Cidade do México é um dos centros financeiros do país, cujas empresas estrangeiras têm se instalado e obtido êxito devido à grande oferta de mão-de-obra. Isso é um ponto positivo para os mexicanos, pois a vinda dessas companhias gera mais emprego e melhora a economia. Essa oportunidade também incentiva o governo e a população a investirem mais na educação, saindo de uma zona de conforto para enfrentar o mercado de trabalho de igual para igual com qualquer outra pessoa. Mas a semelhança com a cidade brasileira não para por aí. O trânsito é bem parecido, há muito congestionamento, muitos veículos e, infelizmente, poluição. Porém, uma coisa que realmente surpreende na Cidade do México é que,
em meio a todo esse caos, dificilmente se vê prédios e muros pichados ou pessoas vivendo debaixo de pontes, parques ou construções abandonadas. Além do mais, os mexicanos são bem hospitaleiros e gostam de “puxar” uma conversa. Esses são alguns aspectos que agradam a todos os turistas que, muitas vezes, não estão acostumados a vivenciar esse tipo de situação em um país estrangeiro. Para quem nunca esteve no México, a ideia é que o país tem pouca estrutura e calor em excesso –o estereótipo retratado nos filmes norte-americanos. Essa imagem pode até ser encontrada nas cidades do interior do país, mas na capital e em outras regiões metropolitanas é bem diferente, pois há desenvolvimento e o clima é bem variado, parecido com o do Brasil. Além de tudo isso, o México oferece muitas atrações turísticas, eventos culturais e, principalmente, simpatia e hospitalidade. O México é o país mais católico das Américas –com 80% dos mexicanos devotos da padroeira, a Virgem de Guadalupe. Praticamente todas as casas possuem um altar ou uma imagem da Virgem. No dia 12 de dezembro, todos fazem uma grande festa para demonstrar a devoção no dia da Nossa
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Turismo
Senhora de Guadalupe. É nessa data que povos de todos os lados do país seguem para a Catedral de Guadalupe, onde está a imagem da Virgem, na Cidade do México, para rezar e agradecer as preces atendidas. As celebrações começam à 0h do dia 12 e terminam 24 horas depois. As pessoas cantam, dançam e fazem oferendas. Comer, dançar e comprar Um dos bairros mais famosos da Cidade do México é Polanco. É nele que estão concentrados os melhores bares, restaurantes, pubs e centros de compras. Quem quer estar em meio às vitrines das mais luxuosas marcas de todo o mundo –Louis Vitton, Lacoste, Dior, Hugo Boss, Ferrari e muitas outras– não pode deixar de passar pela avenida Presidente Masarik. Além das inúmeras lojas e das dezenas de hotéis cinco estrelas, é também a região onde está o Hard Rock Café, o King’s Pub e o restaurante Vila Maria, típico da cozinha mexicana. É em Polanco e em La Condesa, outro bairro agitado da capital, que concentra a maior parte da vida boêmia. Apesar de a maioria das casas fecharem cedo, por volta da 1h30, pode-se sair de um lugar e ir ao outro sem problema, já que todos estão muito próximos. Em compensação, há cafés e bares que já abrem um pouco antes do almoço. O difícil, tanto de dia como de noite, é achar estacionamento livre. Nesse caso, o melhor é chegar cedo, deixar o carro em um lugar seguro ou que tenha serviço de valet e percorrer os estabelecimentos a pé. Mas quem imagina que em pleno centro de uma das cidades mais populosas do mundo há um parque com 1.600 acres e um zoológico com inúmeras espécies de animais? Na Cidade do México, isso é possível. Trata-se do maior parque da América Latina, o Bosque de Chapultepec, no coração de uma das avenidas mais famosas da capital, o Paseo de La Reforma. O parque é aberto todos os dias e a entrada é franca. Além de toda a flora e fauna, as pessoas podem desfrutar de uma feira ao ar livre e, ainda, o incrível Museu de História Nacional, o Castillo de Chapultepec, construído em 1785. Como está localizado bem ao topo de um cerro, no meio do bosque, é possível ver boa parte da cidade, em especial as colônias de Polanco, La Condesa e o Centro –onde está El Zócalo, outro lugar interessante para se conhecer. Para subir
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CULTURA MODERNIDADE Mariachis se apresentam na Plaza Garibaldi, que fica no centro histórico da Cidade do México, conhecida pela vida noturna agitada na capital mexicana (acima); vista do moderno prédio da Bolsa de Valores (abaixo)
até lá, leva-se cerca de 10 minutos caminhando, mas, para aqueles que preferem comodidade, há um trenzinho que sai a cada 20 minutos. O custo é bem acessível, cerca de R$ 1,80 (13 Pesos Mexicanos). Museus Para quem gosta de conhecer a história dos lugares e de seus povos, a Cidade do México apresenta um grande atrativo. Existem inúmeros museus espalhados por toda capital, alguns com entrada franca e outros com custo simbólico. Um passeio obrigatório é visitar as galerias do Museu de Antropologia, que também fica na avenida Paseo de La Reforma, em frente ao Bosque de Chapultepec. Lá, toda a história do povo mexicano é contada em pequenos fragmentos divididos por períodos e conquistas. Os aficionados por arte devem visitar, em especial, dois lugares. O primeiro é o Museu Frida Kahlo –a casa azul–, localizado no bairro de Coyoacán, um dos mais frequentados. Nesse espaço estão as obras de Frida, a artista latino-americana reconhecida mundialmente, e todo o seu universo íntimo. O segundo museu é considerado pelos mexicanos uma das construções mais bonitas da cidade, o Palácio de Belas Artes. Com apresentações permanentes e rotativas, exibe mos-
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tras de artesanato, pinturas e esculturas contemporâneas de renomados artistas nacionais e internacionais. O lugar também abriga um teatro para espetáculos de música, dança, dramaturgia e ópera. Além de todas estas atrações, vale a pena visitar as incríveis instalações do edifício, revestido de mármore branco. Praça de surpresas Em meio à zona denominada Centro Histórico está a principal praça da Cidade do México, a Plaza de La Constituición, também conhecida como El Zócalo. Com cerca de 46.800 metros quadrados, o local se destaca por estar rodeado pela Catedral Metropolitana, que tem mais de 600 anos, pelo Palácio Nacional, onde está a sede do Poder Executivo e o Governo do Distrito Federal, e pelo Museu do Templo Maior. E ao redor de tudo isso estão inúmeros centros comerciais, feiras ao ar livre e hotéis. É nessa praça que se realiza, no dia 15 de Setembro, a homenagem à Guerra de Independência. Nessa cerimônia, conhecida como O Grito, o presidente discursa da sacada do Palácio em memória aos heróis que, há 200 anos, lutaram para que o país deixasse de ser colônia exploratória dos espanhóis. E quem pensa que o Zócalo é só aquilo que está sobre a terra se engana. Debaixo do piso da praça foram descobertas, há quase 40 anos, as antigas ruínas da cidade. Hoje, elas estão abertas para visitação e são consideradas patrimônio histórico da humanidade. Pirâmides Astecas A 50 quilômetros da Cidade do México está o sítio arqueológico de Teotihuacán, local onde se encontram os dois famosos templos mexicanos construídos no século 2 AC: as pirâmide do Sol e da Lua. O mais alto é o templo do Sol, que tem cerca de 65 metros e mais de 260 degraus. Para subir é preciso muito fôlego, mas quando se alcança o topo, a energia e a paisagem compensam o sacrifício. De lá dá para ver todo o território arqueológico. Depois de descer, é imprescindível caminhar pela Calzada de los Muertos até o Templo da Lua, que é menor, mas tão impressionante quanto o outro. Por motivo de preservação do patrimônio histórico, não se pode entrar em todos os templos e ruínas. Mas em algumas partes é possível, inclusive, tirar fotografias. Ainda dentro do sítio existe um moderno
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TRADIÇÃO FÉ E ARTES Devotos comemoram no Dia de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira dos mexicanos, no Santuário (acima); Palácio de Belas Artes, construído em 1954, é considerado a maior expressão da cultura do país (abaixo)
museu que conta a história de Teotihuacán e dos Astecas, através dos inúmeros objetos retirados após escavações de arqueólogos, ao longo dos anos. A visitação é diária e vai das 10h até as 17h. A entrada custa 50 Pesos Mexicanos (R$ 7). O turista tem a opção de fazer o passeio sozinho ou contratar um guia. Há também, ao longo de todo o sítio arqueológico, pessoas vendendo souvenirs das pirâmides. E como o turista passa quase que o dia todo para visitar Teotihuacán há restaurantes de comida típica dentro da reserva. Veneza Mexicana Um dos lugares que ainda conservam as manifestações culturais na Cidade do México é Xochimilco, que fica ao sul da capital. O local é conhecido como a Veneza Mexicana devido a sua grande área de canal e os tradicionais passeios de trajineras, uma espécie de canoa toda enfeitada e colorida. Moradores e turistas podem alugálas para um simples tour pelo canal ou realizar festas e comemorações sobre a água. Um passeio completo leva quatro horas e durante todo o trajeto encontram-se os famosos mariachis cantando e tocando para os visitantes. E para quem quer levar uma lembrança de Xochimilco há pequenos comércios ao longo do canal, onde se pode parar, descer e comprar um “regalo”. •
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Hi-Tech
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ACESSÓRIOS
Estilo U2 Dockings para gadgets da Apple com qualidade de som aprovada por Steve Lillywhite, produtor musical de Bono Vox
Hernane Lélis São José dos Campos
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uem esteve no último show do U2 em São Paulo deve se lembrar de Bono Vox agradecendo a presença de Steve Lillywhite durante a apresentação da turnê 360º no Brasil. Lillywhite é um dos maiores produtores da história do rock e ajudou a moldar o som dos irlandeses no começo da carreira. Sua obsessão por música de qualidade transcede agora as paredes acústicas dos estúdios e o fervor do palco para acomodar-se na estante de uma sala ou no criado-mudo de um quarto por meio das novas dockings para Ipod, Iphone e Ipad da Philips. Os aparelhos, usados como amplificadores musicais dos cobiçados gadgets da Apple, chegaram às lojas em três modelos –todos carregam por trás o nome de Lillywhite como uma espécie de embaixador da marca holandesa no segmento. “Som não existe apenas nos estúdios, está em todo lugar. Os aparelhos são bons, dá para ouvir todas as nuances músicais”, disse o produtor durante coletiva de impensa na apresentação da linha de dockings da Phillips. O DS1100 é a dock de entrada da fabricante. Ele é pequeno, bonito e esbanja
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qualidade de som em uma potência de apenas 4W estéreo proporcionando um volume que impressiona. O custo benefício é uma das grandes vantagens do modelo, que vem ainda com um aplicativo que permite transformar o produto em um rádio-relógio eficiente, com funções que incluem até previsão do tempo. O preço sugerido para venda é de R$ 299. Já o DS3000, opção intermediária da Philips, é uma caixa acústica com potência de saída de 8W estéreo, reforço de graves através do sistema DBB (Dynamic Bass Boost) e um formato ovalado. O volume apresentado nesta versão é mais alto, porém com distorções perceptíveis em determinados momentos. O maior diferencial está mesmo nas dimensões do aparelho e no preço –R$ 100 a mais que a dock anterior, não apresentando nenhuma funcionalidade adicional. Completa a linha o DS7550, com bateria interna recarregável e duração estimada em oito horas. Sua potência de som é também de 8W e o aparelho conta com tecnologias wOOx (reforço dinâmico) e DBB, ambos para melhorar os graves. Apesar de ser mais robusto, o modelo possui excelente portabilidade e pouca diferença de peso das demais versões– não sendo leve apenas quando se trata do desenpenho de áudio. Ele vem com um estojo de proteção transparente e não sai das lojas por menos de R$ 599. •
DS3000 É uma caixa acústica com potência de saída de 8W estéreo, com reforço de graves por meio do sistema DBB R$ 399
DS7550 Sua potência de som é de 8W e o aparelho conta com a tecnologia wOOx e DBB, ambos para melhorar o grave R$ 599
DS1100 Esbanja qualidade de som em uma potência de 4W estéreo, proporcionando um volume que impressiona R$ 299
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Artigo
Moda&estilo MAQUIAGEM
Beleza de Inverno Cristina Bedendo São José dos Campos
Qual mulher não gosta de uma novidade na necessaire, nem que seja um batom diferente? Pensando nisso, selecionamos alguns lançamentos do mercado de beleza para realçar os traços femininos na temporada mais fria do ano. Um dos focos do inverno são os batons, que ficam mais escuros. Destaque para os tons de vermelho, que variam do mais aberto aos fechados, próximos ao vinho. Violetas e rosas mais escuros também são boas opções, principalmente para as morenas.
Natura Aquarela A coleção Fuxico Aveludado conta com uma cartela de cores moderna e antenada às tendências. Em edição limitada, a linha traz produtos para os lábios, olhos e rosto, como o sexteto de sombras com tonalidades de rosa e marrom. Para os lábios, os batons têm alta cintilância e boa cobertura em novas cores: vermelho, coral, rosa e marrom. Os preços variam de R$ 13,90 a R$ 29,90 SAC: 0800115566
Eudora A marca Eudora, do Grupo Boticário, acaba de chegar ao mercado de beleza com produtos diferenciados, como a coleção de batons da linha Soul Kiss Me, com diversas cores e alta cobertura. A marca é vendida online, por meio de consultoras, e já conta com uma loja no Shopping Morumbi, em São Paulo. Os batons da linha Soul Kiss Me custam, em média, R$ 10,50 SAC: 08007274535
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Duda Molinos A linha de Duda Molinos já provou que corresponde às expectativas em acabamento, cores e texturas, além das embalagens super práticas. A coleção lançada pelo maquiador é bem completa e tem entre seus elementos de sucesso os batons com textura opaca (também chamada de mate). Os preços variam entre R$ 31 e R$ 45 SAC: (11) 47368890 Nyx A máscara de cílios Doll Eye, da Nyx, alonga e dá volume, além de deixar os cílios curvados por mais tempo. A intenção é deixar os cílios como os de uma boneca mesmo, como o próprio nome determina. Preço médio: R$ 79 SAC: (11) 50529855
Avon 24K A Avon investiu na linha 24K, que tem entre os produtos um quarteto de sombras ouro cintilantes, com tonalidades em bronze, ouro e violeta. O batom Ouro Rosa deixa os lábios hidratados e está disponível em dois tons de rosa, um mais fechado e outro mais claro. Os preços variam entre R$ 24 (batom) e R$ 42 (quarteto de sombras) SAC: 08007082866
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B Side Na coleção de inverno da B Side Make Up um dos destaques é a palette de sombras Moonlight, com fórmula mineral que apresenta ótima fixação e aplicação uniforme. Pode ser aplicada seca ou molhada para efeito de maior cobertura. As cores são ideais para os looks noturnos no inverno. Preço médio: R$ 46 SAC: (11) 30312878
Tracta A Tracta lança o quarteto de sombras Mystic, com tons terrosos e versáteis para o dia-a-dia. As cores contam com textura macia e fácil aplicação. Preço médio: R$ 42 SAC: 0800122911
Foco nos olhos Os novos duos de sombras perolizadas da Natura Una são ótimos para o inverno e seguem a tendência dos produtos com efeito perolizado. São cinco combinados diferentes de cor com alta luminosidade. Preço: R$ 52 (cada) SAC:: 0800115566
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Tempos ModernosArtigo
Alice Lobo
É só trocar o convencional pelo eco-friendly para resolver o problema?
O
problema do consumismo nos Estados Unidos é o excesso de boas ofertas. Isso mesmo. Não à toa que a gente ouve um amigo dizer que foi para lá e comprou diversas “coisinhas”. Ou ainda que alguém foi para Miami fazer o enxoval de seu filho. Enfim, acredito que muitas pessoas que já pisaram nas terras do Tio Sam tenham passado pela tentação de adquirir algum produto porque “valia a pena” ou “estava muito barato”.
Esse consumismo arraigado naquela cultura contagia até mesmo os turistas que por lá passam. Muito consumo tem também como conseqüência muito lixo. No mês passado estive lá e confesso que me peguei angustiada com esta sensação. Comecei, então, a tentar ver o lado positivo –se é que tem–, além deste comércio fazer “a economia girar” e “o país conseguir enfrentar a crise”. Em paralelo saí por Chicago e Nova York procurando opções sustentáveis e “verdes” nas mais diferentes lojas e até nos supermercados. Queria saber qual era a real influência e penetração do universo eco-friendly na vida dos americanos. Foi aí que tive uma ótima surpresa: a oferta de “green products”, como eles chamam, é imensa. Os mais variados produtos de beleza e de limpeza são cheirosos e boni-
EUA A meca do consumismo já entendeu que a roda não precisa parar, é só mudar o foco
tos, remédios fitoterápicos e vitaminas prometem o bem-estar com ingredientes naturais, os plásticos são biodegradáveis e livres de Bisfenol A (BPA, uma substância tóxica), garrafinhas reutilizáveis de alumínio têm as mais lindas estampas, roupas são feitas com algodão certificado, alimentos, então, nem se fala, são quase todos orgânicos e/ou certificados. Isso sem falar que a maioria leva o selo de “local” e grande parte dos produtos segue o comércio justo. A conclusão? Um país que sempre estimulou o consumo e já tem isso
como parte da sua cultura vai, consequentemente, ser o mais interessado em encontrar a “saída” para consumir sem peso na consciência. Ou seja, não precisa parar este ciclo vicioso, basta trocar o convencional pelo eco-friendly. Mas será que esta é a melhor saída? A discussão é longa, mas a minha proposta é simples. Por que não “importar” as iniciativas de produtos com menor impacto ambiental e manter a consciência na hora de consumir? Seria o melhor dos mundos, não? •
Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br
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Cauã Reymond e Bruno Gagliasso estão se estranhando na Globo
Notas & fatos
Os personagens de Bruno Gagliasso e Cauã Reymond não se dão dentro de “Cordel Encantado”, a novela das seis que vem fazendo um grande sucesso por conta da história e o tratamento que é dado ao produto dentro da emissora. Mas não são só os personagens que não trocam intimidades. Bruno e Cauã também andam se estranhando. Os desentendimentos aconteceram numa cena de briga entre Jesuíno e Timóteo. Primeiro a cena foi feita com dublês, depois com os próprios atores e, segundo informações, rolou até empurrão! Esse teria sido a primeira situação chata entre os dois atores que possuem gênio muito forte, mas nunca foram registrados desentendimentos deles com qualquer outro funcionário da TV Globo. Na ilha de edição, Cauã acompanhava a finalização de uma cena dos dois novamente e sugeriu alguns cortes. Bruno não gostou nada e começou uma discussão e troca de farpas. A diretora-geral da novela, Amora Mautner, que também tem o gênio bem forte e é linha dura, teve que intervir para acalmar os ânimos e colocar todo mundo em seu devido lugar. Com esse tipo de situação, a ficção está invadindo a realidade e isso, nesse caso, não é bom.
Sandra Bullock: ex diz que traí-la foi única opção Jesse James, ex-marido de Sandra Bullock, escreveu em sua autobiografia que trair a atriz foi sua única opção. Em “American Outlaw”, ele diz que se sentia preso no casamento com a estrela de hollywood. “Eu não tinha como fugir. Nem por um instante. Eu estava desesperado para encontrar algo que me trouxesse algum senso de liberdade. Então, pensei naquilo que po-
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deria me dar a sensação de independência. Infidelidade, infelizmente, estava no topo da minha lista”, disse o ex-marido. James afirmou ainda que não se sentia bom o suficiente para Bullock, e que nunca se convenceu de que ela o amava. O casal se casou em julho de 2005 e a separação ocorreu em junho de 2010, meses depois de a imprensa publicar um dos casos de infidelidade de James.
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ADOLESCENTE
Justin Bieber foi ‘meio pentelho’
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Gisele Bünd LUCRO
Gisele Bündchen faturou US$45 milhões em 2010 A “Forbes” atualizou a lista das modelos mais bem-sucedidas e adivinha quem aparece em primeiro lugar? A brasileira Gisele Bündchen, claro! Segundo a publicação, juntas, as dez modelos que mais lucraram fizeram US$ 112 milhões nos últimos 12 meses. E a maior parte deste valor vem de Gisele (US$45 milhões), Heidi Klum (US$ 20 milhões) e Kate Moss (US$13,5 milhões). O dinheiro que essas modelos ganham não vem só de desfiles, elas já passaram a empreendedoras e produtos associados a seus nomes ajudam a engordar essa conta.
Quem falou o quê? ”Vou treinar um pouquinho. Tem muita gente me chamando de gordinha. Mas sou gente boa, viu?” Milene Domingues, apresentadora de TV e ex-mulher de Ronaldo, em seu Twitter
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Se for para Lady Gaga é sem gelo, please! A cantora Lady Gaga proibiu que as casas de show sirvam cubos de gelo durante suas apresentações. Segundo o site Pop Crunch, a cantora tem medo que os fãs joguem gelo nela. Por isso, as casas de shows deveriam parar de servir gelo pelo menos meia hora antes da apresentação. Ainda segundo o site, as outras exigências da cantora seriam frutas secas, iogurte natural e cereais no seu camarim.
Justin Bieber fez sua estreia como ator com uma participação na série “CSI” e não deixou por lá uma boa impressão. A atriz Marg Helgenberger disse que ele foi “meio pentelho” durante as filmagens. “Ele foi gentil comigo, mas trancou um dos produtores em um armário e destruiu um bolo”, contou a atriz. MODERNO
Cameron diz que casar não é atual
”O Capitão Nascimento cimento é pinto perto da Marlene Mattos”” Sérgio Mallandro, humorista, em entrevista a Marília Gabriela no “De Frente com Gabi””
”O que me seduziu não foi a vaidade. Pensei no dinheiro” Da atriz Fernanda Paes Leme, atriz, falando sobre os motivos que a levaram a posar nua em 2005
Muitas mulheres sonham em se casar, mas Cameron Diaz garante não ser uma delas. Em entrevista, a atriz defendeu que o casamento não combina mais com o mundo atual e que novas formas de relacionamento devem ser encontradas. Diaz, 38 anos, disse à revista “Maxim” que as pessoas devem fazer suas próprias regras. “Não acho que devemos viver nossas vidas em relacionamentos baseados em velhas tradições.”
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ValeViver
ERUDITO
Festival mais enxuto 082-087_cultura_festival.indd 82
Com o tema ‘Contrastes’, o 42º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão reduz o orçamento e o número de concertos
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Flávio Pereira
42º FESTIVAL INTERNACIONAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO QUANDO De 1º a 24 de julho ONDE Campos do Jordão: Auditório Cláudio Santoro, Praça do Capivari, Palácio da Boa Vista e igrejas. São Paulo: Paróquia São Luiz Gonzaga, Sala São Paulo e MASP Outros: Piracicaba, Santos, Jundiaí e Santo André
Jovana Bubniak Campos do Jordão
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ais do que promover uma série de concertos, a 42ª edição do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão quer se consolidar como um evento de formação que prepara jovens músicos para o mundo profissional. Com data marcada para acontecer de 1º a 24 de julho e apresentações em São Paulo, Campos do Jordão e mais outras quatro cidades do interior do Estado –Piracicaba, Santos, Jundiaí e
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Santo André– a ideia é expandir as fronteiras do festival para além da cidade-sede dentro do conceito “Festival City”, já utilizado pelos maiores festivais do planeta. Com um orçamento mais curto –R$ 5,1 milhões contra R$ 5,6 milhões em 2010– e menor número de apresentações –serão 55 concertos, contra 84 apresentações em 2010– o festival promete manter a qualidade. “Estamos nos adaptando à realidade orçamentária. O ano de 2010 foi atípico. Em 2011 voltamos ao normal, inclusive no número de dias do festival, já que no ano passado tivemos uma semana a mais de concertos”, afirmou o diretor artístico-pedagógico da Santa Marcelina Cultura e responsável pelo festival, Paulo Zuben.
Já o número de concertos da Orquestra do Festival, que desde o ano passado é formada somente por alunos, aumentou. Serão sete concertos ao invés dos três realizados em 2010. Uma avant premier marcou a abertura do festival no dia 1º de junho em São Paulo com uma récita gratuita na Paróquia São Luís Gonzaga. Serão três dos “Concertos de Brandenburgo”, de Bach, regidos por Luiz Otavio Santos. Já em Campos do Jordão, a tradicional abertura com a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), será realizada no dia 2 de junho, no auditório Cláudio Santoro, sob regência de Frank Shipway. Os concertos também serão realizados ao ar livre na
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ValeViver Fotos: divulgação
Praça do Capivari, na Capela do Palácio da Boa Vista e em três igrejas de Campos do Jordão. Em São Paulo, a Sala São Paulo e o Masp (Museu de Arte de São Paulo) receberão as atrações do festival. Tema “Contraste” será o tema desta edição do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão. Em seu sentido mais amplo, quer mostrar que as diferenças dialogam entre si. “Essa percepção se dará por meio de peças de um mesmo compositor, mas totalmente distintas ou até mesmo de um determinado período que parece de outro. Como é o caso de Beethoven que possui obras consideradas românticas escritas num período clássico”, afirmou Zuben. O festival trará também o contraste social entre o público do festival e os moradores da cidade. “Desde 2009, quando assumimos o festival, buscamos nos envolver com a necessidade da cidade. O público é muito bem recebido durante o festival, mas a realidade da cidade durante o ano é bem contrastante. Queremos provocar nas pessoas a percepção dessa realidade”, declarou o diretor artístico-pedagógico. Segundo Zuben, para atender justamente essa população é que a programação será acessível com metade dos concertos gratuitos e outros com preços populares. Além disso, 360 crianças e jovens da comunidade terão aulas de musicalização e cerca de 100 professores serão transformados em multiplicadores de conhecimento com um curso de extensão universitária desenvolvido em conjunto com a Unesp (Universidade Estadual Paulista). A ideia é também levar a música a lugares como asilos, hospitais e creches, possibilitando ao artista desenvolver um olhar para a comunidade carente. Dentro desse formato, que contempla a responsabilidade social e a difusão artística, está ainda a formação musical. O festival de inverno, como em todos os anos, receberá 160 alunos bolsistas vindos de todo o Brasil e Américas, que durante o período, vivenciam uma imersão em sua formação musical com alguns dos melhores professores do mundo por meio de aulas, master classes, palestras, prática de música de câmara, ensaios, apresentações, além de livre acesso a todos os concertos. Eles também concorrem a vários prêmios em dinheiro, sendo o principal deles, o Prêmio Eleazar de Carvalho, que financia uma bolsa de estudos no valor de R$ 48 mil em
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PREMIADOS O quinteto Imani Winds mostra no festival porque foram indicados ao Grammy
BEBIDAS Drinks seguem os mesmos preços na maioria das casas
DESTAQUES ABERTURA Concerto da Osesp regida pelo maestro britânico Frank Shipway IMANI WINDS Se estabeleceu como um dos ensembles de maior destaque nos Estados Unidos. Desde 1997, o quinteto indicado ao Grammy tem esculpido uma presença distinta no mundo da música erudita ZUKERMAN O violinista Pinchas Zukerman decidiu convidar quatro de seus discípulos para formar um quinteto de cordas. É considerado atualmente como um dos principais grupos de câmara do mundo ATRAÇÕES A programação completa pode ser conferida do site oficial do evento www.festivalcamposdojordao.org.br
qualquer universidade do mundo para o melhor bolsista. “Contaremos com a presença de mais de 60 professores, metade deles estrangeiros. O festival é realmente uma vitrine, uma porta de saída para que os músicos consigam audições e até bolsas fora do Brasil”, afirmou Zuben. A itinerância da Orquestra do Festival que neste ano fará apresentações em quatro cidades do Estado, além da récita, no dia 24, na Sala São Paulo, tem como objetivo ampliar os palcos e a visibilidade do festival e o conceito para os próximos anos, realizando parcerias com outras cidades do Estado e até do Brasil. Atrações Além da Orquestra do Festival, regida por Cláudio Cruz, spalla da Osesp e regente titular da Sinfônica de Rio Preto, alguns dos melhores grupos de câmara do mundo também serão destaques nesta edição. O Zukerman Chamber Players, liderado pelo violonista israelense Pinchas Zukerman é um deles. O Imani Winds e o Ma’Alot, respectivamente os melhores quintetos de sopros dos EUA e da Alemanha e o Quarteto Arditti, que é referência mundial em música contemporânea para cordas, também
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Domingo 5 Junho de 2011
“Uma fusão da cozinha brasileira e mediterrânea, em um ambiente com a vista mais bonita da cidade”
CÂMARA O quinteto de cordas Zukerman Chamber Players formado pelo professor e quatro alunos é um dos destaques da programação em Campos
marcarão presença. Entre as orquestras, estão a Petrobras Sinfônica com Antonio Meneses, a Filarmônica de Minas e a Orquestra do Porto Casa da Música, de Portugal, entre muitas outras atrações. A expectativa para 2011 é ampliar a média de ocupação dos espaços, principalmente nas segundas e terças-feiras, já que no ano passado, a média foi de 124%. A maior plateia é na Praça do Capivari, na região central de Campos do Jordão, onde um concerto consegue reunir de 2.500 a 3.000 pessoas. Só no ano passado 42 mil pessoas assistiram aos concertos realizados no local. Crise na OSB A ausência da OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira) no festival também foi comentada pelo diretor artístico-pedagógico. A orquestra passa por uma crise desde que foi anunciado que seus músicos teriam avalia-
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ções de desempenho individual. Quarenta e um músicos se recusaram a participar da avaliação e como não houve consenso, foram demitidos por justa causa. Os demitidos acusam o diretor-artístico da OSB, maestro Roberto Minczuk, de falta de diálogo e pedem seu afastamento. “A OSB estava entre as atrações do festival, mas cancelamos em razão desses acontecimentos. Para nós é muito ruim o fato da orquestra não estar presente”, declarou Zuben. Para ele, o problema é que no Brasil não há cultura do fomento e patrocínio e as orquestras profissionais geralmente estão atreladas aos governos, o que não é o caso da OSB. “Por isso, acredito que uma crise como essa gera desconfiança aos patrocinadores e afeta a área, pois a OSB leva o nome do país. Não estou julgando quem está certo ou errado, mas minha preocupação é devido ao meio todo sofrer as consequências”. •
Av. Lineu de Moura, 1735, Urbanova - S.J.Campos / SP Telefone: (12) 3949-1054
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Ministério da Cultura, Governo de São Paulo e Secretaria de Estado da Cultura apresentam
patrocina
01 a 24 . julho . 2011
campos do jordão 2 a 23 . julho São Paulo 1, 5, 8, 12, 15 e 24 . julho Itinerância da Orquestra do Festival 18 a 23 . julho confira a programação detalhada em
www.festivalcamposdojordao.org.br @festivalinverno
facebook.com/festivalcamposdojordao
CARTÃO OFICIAL
PRODUÇÃO
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REDE DE PAGAMENTO OFICIAL
APOIO
APOIO INSTITUCIONAL
REALIZAÇÃO
27/5/2011 20:47:19
em Campos do Jordão
2 sábado 12H30
praç a do c ap iv ari CORAL DE ALUNOS DA FUNDAÇÃO BRADESCO
GRÁTIS 21H00
a udi tór io c l audio s an to ro CONCERTO DE ABERTURA: OSESP pinchas zukerman regência e violino
3 domingo
8 sexta
15H30
a udi tór io c l audio s an to ro ORQUESTRA JOVEM DO ESTADO frank shipway regência praç a do c ap iv ari ORQUESTRA DE METAIS LYRA TATUÍ adalto soares regência GRÁTIS
15H30
igreja matriz de santa teresinha NÚCLEO DE MÚSICA ANTIGA DA EMESP luís otávio santos regência
9 sábado
12H30
praç a do c ap iv ari ORQUESTRA JOVEM TOM JOBIM roberto sion regência paulo jobim e daniel jobim convidados
16H30
a udi tór io c l audio s an to ro ORQUESTRA EXPERIMENTAL DE REPERTÓRIO jamil maluf regência corky siegel piano e gaita
4 segunda
21H00
15H30
5
15H30
GRÁTIS
terça i greja de s ão b e n e dito SOLISTAS DE PAULÍNIA claire désert piano GRÁTIS
21H00
a udi tór io c l audio s an to ro PRO ART QUARTET
6 quarta
15H30
21H00
7
15H30
21H00
pr a ça d o ca piva r i ORQUESTRA SINFÔNICA DO CONSERVATÓRIO DE TATUÍ joão maurício galindo regência GRÁTIS
18h00
a ud itór io cla ud io sa ntor o ORQUESTRA SINFÔNICA MUNICIPAL abel rocha regência cristina ortiz piano coral paulistano convidado adélia issa soprano sílvia tessuto contralto josé antônio palomares tenor carlos eduardo marcos baixo
11segunda
15H30
igr eja nossa senhor a d a sa úd e MÚSICA DE CÂMARA
21H00
12H30
12
terça igr eja d e sã o bened ito MÚSICA DE CÂMARA
GRÁTIS
a ud itór io cla ud io sa ntor o MA’ALOT QUINTET R$30
15H30
igreja matriz de santa teresinha MÚSICA DE CÂMARA
GRÁTIS 21H00
a ud itór io cla ud io sa ntor o HET COLLECTIEF robert de leeuw regência jacqueline jansen mezzo-soprano R$30
pr a ça d o ca piva ri CAMERATA ANTIQUA DE CURITIBA wagner polistchuk regência darci almeida soprano marcelo dias barítono
GRÁTIS
pr a ça d o ca piva ri ORQUESTRA DO FESTIVAL cláudio cruz regência josé feghali piano GRÁTIS
ca pela d o pa l á c i o boa vi st a ÁLVARO SIVIERO E CONVIDADOS álvaro siviero piano R$50
21H00
a ud itór io cl a u di o sant oro ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS fábio mechetti regência adriane queiroz soprano
17domingo R$100
12H30
pr a ça d o ca piva ri ÓPERA ESTÚDIO EMESP mauro wrona direção e narração emiliano patarra regência
GRÁTIS 15H30
igr eja ma tr iz de sant a t e re si nh a CONCERTO DOS BOLSISTAS DE COMPOSIÇÃO silvio ferraz direção eduardo leandro regência grupo de câmara do festival GRÁTIS
16H30
GRÁTIS
quinta
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16sábado R$100
a ud itór io cla ud io sa ntor o PROFESSORES DO FESTIVAL
13quarta
R$30
GRÁTIS
GRÁTIS
GRÁTIS
a udi tór io c l audio s an to ro PROFESSORES DO FESTIVAL
a u di t ó r i o c l a ud i o san toro ORQUESTRA PETROBRAS SINFÔNICA isaac karabtchevsky regência antonio meneses violoncelo
R$30
21H00
GRÁTIS
21h00
17H00
igreja matriz de santa teresinha QUARTETO BOSÍSIO
i greja de s ão b e n e dito QUARTETO DE CORDAS DA CIDADE DE SÃO PAULO
igr eja nossa se nh ora da saú de MÚSICA DE CÂMARA
GRÁTIS
15H30
R$30
15H30
16H30
R$30
a udi tór io c l audio s an to ro IMANI WINDS
15sexta
GRÁTIS 16H30
a ud itór io cl a u di o sant oro ARDITTI QUARTET R$30
pr a ça d o ca piva r i BANDA SINFÔNICA JOVEM DO ESTADO DE SÃO PAULO mônica giardini regência
igreja matriz de santa teresinha CORAL GURI SANTA MARCELINA vitor gabriel regência CORAL JOVEM DO ESTADO naomi munakata regência
igr eja d e sã o be ne di t o MÚSICA DE CÂMARA
GRÁTIS 21H00
a ud itór io cla ud io sa ntor o ZUKERMAN CHAMBER PLAYERS
10domingo
12H30
i greja n o s s a s e n ho ra da s aúde CAMERATA FUKUDA ugo kageyama regência elisa fukuda violino
a udi tór io c l audio s an to ro ORQUESTRA SINFÔNICA DE RIBEIRÃO PRETO cláudio cruz regência
15H30
R$100
GRÁTIS 21H00
ca pel a d o pa l á cio boa vista PABLO ROSSI piano R$50
GRÁTIS
15H30
pr a ça d o ca piva r i ORQUESTRA SINFÔNICA DE SANTO ANDRÉ carlos moreno regência GRÁTIS
17H00
GRÁTIS 18H00
pr a ça d o ca piva r i ORQUESTRA JAZZ SINFÔNICA joão maurício galindo regência
GRÁTIS
GRÁTIS 16H30
a ud itór io cla ud io sa ntor o MOZART PIANO QUARTET R$60
GRÁTIS 12H30
14quinta
GRÁTIS 21H00
R$100
11H00
igr eja nossa senhor a d a sa úd e MÚSICA DE CÂMARA
pr a ça d o ca piva ri BANDA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO marcos sadao regência kid vinil narração dr. sin banda convidada GRÁTIS
18H00
a ud itór io cl a u di o sant oro ORQUESTRA DO FESTIVAL cláudio cruz regência josé feghali piano
22sexta R$30
21H00
a ud itór io cl a u di o sant oro THE UNIVERSITY OF FLORIDA CHAMBER PLAYERS david waybright regência welson tremura voz e violão
23sábado R$40
21H00
a ud itór io cl a u di o sant oro ORQUESTRA SINFÔNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA christoph könig regência R$100
informações sujeitas a alteração
PROGRAMAÇÃO
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ValeViver
FESTA DO DIVINO
Fé, caridade e devoção Yann Walter Mogi das Cruzes
A
Festa do Divino Espírito Santo e sua história secular estão de volta em Mogi das Cruzes. Este ano, o evento festivo mais importante da região do Alto Tietê ocorre até o próximo dia 12, com suas tradicionais atrações religiosas e folclóricas. Cerca de 400 mil visitantes são esperados. “Estamos contando com um público importante, talvez maior que o do ano passado [quando a festa atraiu 380 mil pessoas]. O número de visitantes vem crescendo ano após ano”, afirmou o ‘festeiro’ Antônio Lúcio de Lima, responsável, junto com sua mulher Maria Ângela Aparecida, pela organização da Festa do Divino de 2011. “Muitas pessoas vêm de São Paulo. O transporte de lá para cá é fácil e ainda tem o trem turístico, que sai da Estação da Luz e vem até aqui. O trem turístico oferece três tipos de passeios: um religioso e dois ecológicos. Normalmente ele funciona domingo sim, domingo não, mas durante a festa deverá sair nas duas vezes. Além de São Paulo, temos visitantes do Rio de Janeiro, da Bahia e até de Sergipe. E nem sempre são católicos, também vêm fiéis de outras religiões”, afirmou Lima. Para quem não conhece, o evento tem dois grandes componentes: o religioso e o festivo. Entre as atividades religiosas, destacam-se, entre outras, as novenas, que acontecem todas as noites na Igreja Matriz de Santana, a maior de Mogi. “Depois da missa, os festeiros e os violeiros vão visitar pessoas doentes, que não puderam comparecer ao ofício”, disse Lima. Os mais devotos também podem participar das alvoradas, que começam todos os dias às 5h. “Os fiéis se reúnem com os festeiros e saem em procissão pelas ruas do centro da ci-
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dade saudando o Divino Espírito Santo com louvações e cânticos. Após o cortejo, todos se encontram no salão paroquial da igreja para o tradicional café-da-manhã. Todos os alimentos são doados”, ressaltou o organizador. Como sempre, o maior festejo religioso acontecerá no Pentecostes, dia da procissão com tapetes ornamentais. “Os fiéis varam madrugadas para confeccionar os tapetes. Acho que este ano teremos, ao todo, 400 metros de tapetes.”. No dia anterior, haverá a Entrada dos Palmitos, o cortejo que relembra a chegada da população rural aos festejos. “É encabeçada pelos festeiros e ex-festeiros, seguidos pelos fiéis. Vêm depois os carros de boi, com crianças e bandas folclóricas. Os cavaleiros fecham a marcha”, recordou. Outra grande atração é a quermesse, que recebe mais de 10 mil visitantes por dia e mobiliza 2.000 voluntários. Durante os dias da semana, começa às 18h. Nos sábados e domingos abre mais cedo, às 14h. Aliás, no primeiro fim de semana da festa, são organizadas brincadeiras como corrida de saco, dança das cadeiras, cabra-cega ou ovo na colher. “As crianças carentes são convidadas”, disse Lima. Segundo o festeiro Lima, a especialidade do evento é o afogado, um cozido de carne com batatas. “Mas também tem o tortinho, um bolinho de farinha de milho com recheio de carne moída. Foi chamado assim porque tem um formato de meia-lua. Tem ainda o churrasco dos sete dons. Na parte dos doces, os mais populares são os de abóbora e de mamão”. Se tivesse que resumir a Festa do Divino do Espírito Santo em uma frase, Lima citaria três palavras: fé, caridade e devoção. “Fé porque todos os participantes desta festa maravilhosa, sejam moradores, voluntários ou turistas, têm fé. Caridade porque o objetivo dos fiéis é fazer o bem. E devoção porque todos os fiéis são devotos do Espírito Santo”, explicou o festeiro. Vale ressaltar que todo o dinheiro arrecadado com a festa é repassado a entidades e paróquias. •
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Flรกvio Pereira
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ValeViver
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Marcos Myara / Portal Surfar
PUNK
O banda Misfits que se apresentou no Rio de Janeiro graças aos fãs
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ENTRETENIMENTO
Força do público Fãs se organizam para produzir shows de seus ídolos e criam o ‘crowdfunding’, uma forma de financiamento coletivo de eventos artísticos Fábio França São José dos Campos
Q
uando o frontman do LCD Soundsystem, James Murphy, agradeceu aos fãs cariocas em um show feito em fevereiro, com a frase “Nos falaram que este show aconteceu a partir da vontade de pessoas querendo nos ver”, ele não estava se referindo somente à relação simplista dos admiradores que querem ver um show do ídolo, mas a uma mobilização digna de uma grande empreitada corporativa. A apresentação em questão, que também fez parte da última turnê do grupo foi custeada por 335 pessoas que se organizaram e pagaram R$ 160 mil em cotas de ingressos para conseguir levar o show ao Rio de Janeiro –que não estava no roteiro original do grupo. A ação confirmou a consolidação do início de uma reviravolta na forma de realizar shows internacionais no Brasil. Sob o termo crowdfunding (junção das palavras em inglês “fundos” e “multidão”), o show foi a materialização de um projeto de financiamento coletivo, organizado pelo Queremos, nome dado a uma associação de seis amigos que, quase descompromissadamente, adotou no fim de 2010 a ideia de trazer para solo tupiniquim o conceito que já rola há alguns anos nos Estados Unidos e Europa. Entre alguns nomes que o projeto trouxe ao
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país, estão a dupla escocesa Belle & Sebastian (em novembro de 2010) e a banda The National (em abril deste ano). Dono de um timbre peculiar de barítono, do terceiro nome de banda mais divulgado em blogs no mundo todo e do disco “High Violet” –eleito como um dos melhores do ano passado pelas principais publicações musicais– o líder do grupo, Matt Berninger, se surpreendeu com a inciativa no Brasil. “Um show como esse, em que os fãs estão dispostos a colocarem dinheiro adiantado para ver você, é uma verdadeira honra”, disse em vídeo de divulgação do evento. A verba levantada para garantir o The National na capital carioca foi de R$ 58 mil, valor dividido em 290 ingressos de R$ 200 que foram reembolsados após a confirmação do grupo. A partir da apresentação como certa, são colocados para venda alguns lotes de ingressos não-reembolsáveis, ou seja, destinado aos fãs que queriam ir ao show, mas não participaram da fase crucial para a vinda do artista. É exatamente neste ponto que a ação encontra obstáculos, que ainda limitam o crowdfunding no Brasil. Se superada, a questão “e se eu comprar ingressos adiantadamente, mas a quantidade necessária para trazer o show não for alcançada?” pode render bons frutos, mas ela ainda se limita a um circulo tímido de pessoas. A barreira se dá por dois motivos: ser algo novo, ainda distante da rotina de muita gente e de não haver uma legislação específica, mesmo a atividade sendo legal. Caso a quantidade de ingressos-reembolsáveis não seja atingida, o dinheiro é devolvido (todo o processo é realizado por sistemas como o PayPal e o PagSeguro).
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ValeViver Divulgação
Quando concretizado, os fãs que participam da empreitada inicial (de apostar na compra de um ingresso para um show que não ainda existia), têm seus nomes expostos em um painel, que fica em frente ao local do show, em uma forma contemporânea de expor os heróis em praça pública. A atuação destes fãs –que no fim resulta em ir ao show de uma banda de graça– não é limitada à compra do ingresso de cotas e se estende às redes sociais, onde os incentivadores divulgam as possibilidades de shows e incentivam uma demanda de novos compradores de cotas reembolsáveis e de futuros pagantes de entradas comuns. Outro caso de crowfunding que tem ganhado repercussão nacional é o do site MobSocial, mais conhecido por agendar a apresentação da banda de horror punk, The Misfits, no Rio de Janeiro. O projeto, no entanto, não se resume à Cidade Maravilhosa nem a shows internacionais, e tem em seu andamento shows de nomes como o do bardo Tom Waits, em São Paulo, o guitarrista Joe Satriani, em Belo Horizonte (MG), Foo Fighters, em Porto Alegre (RS), o backstreetboy Nick Carter, em Recife (PE) e da soulwoman – e primeira colocada nas paradas inglesas– Adele, em Fortaleza (CE). Estrutura e pré-produção A empresa fundada em 10 de março de 2011, traz como base –como o próprio nome denuncia– a mobilização pela internet. “Nosso objetivo é conseguir democratizar a cultura e o entretenimento, de uma forma geral. O que tem que ficar claro é que para que a gente possa realizar os sonhos das pessoas, elas precisam se mobilizar. Não basta sugerir um show, tem que sugerir o show e mobilizar os amigos para apoiar a sugestão. Quando a mobilização está no ar, não basta comprar a cota, tem que comprar a cota e divulgar a mobilização. Engajar os seus conhecidos para que eles também se mobilizem e viabilizem o show em sua cidade”, explica Rafael Cardone, criador do MobSocial. A empresa, que conta com uma equipe de 14 pessoas, entre sócios, analistas de mídias sociais, desenvolvedores, produção e marketing, começou a ser administrada em agosto de 2010. “Estudamos bastante o mercado de internet nos EUA e de tudo o que estava sendo feito. O crowdfunding nos pareceu o conceito mais interessante e apto a ser introduzido no mercado nacional, uma vez que a ideia de coletividade estava muito em voga já no ano passado, com o boom das compras coletivas e todo o intenso uso que os brasileiros fazem do
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CROWDFUNDING
Com cotas divididas, o público é quem bancou o show do LCD SoundSystem
Orkut, Twitter (atingindo os trending topics globais diariamente) e Facebook”, analisa. Devido ao caráter inovador, o projeto teve um alcance considerável de mídia espontânea, considerando também o boca-a-boca real e virtual. A mobilização dos fãs gera outro número considerável para a empresa: a de pedidos. “Recebemos algo em torno de 280 sugestões por semana. Nós batemos recentemente a marca de 2.000 sugestões. São diversos artistas dos quais muita gente não conhece e, o que é mais legal, são sugestões de todos os gêneros. Nós começamos com uma banda punk e ficamos com receio que entendessem que atendemos somente esse mercado. Mas nossa comunicação foi bem feita e todos entenderam o nosso conceito de democratização”. Com os ventos do mercado soprando a favor, a projeção feita pela empresa é animadora. “Nós projetamos um crescimento robusto para os próximos anos. O mercado de shows é imenso e existe uma ‘cauda longa’. Nós trabalhamos em um mercado com muitas empresas já bem consolidadas, mas que não são concorrentes nossas. Inclusive pode haver sinergia entre nós e as produtoras existentes, e estamos abertos a parcerias, pois o nosso intuito é que os fãs de todos os artistas tenham a possibilidade de ver o ídolo em sua cidade”, anuncia.
Vida além-música Com a expansão surreal do mercado digital brasileiro, há sites de crowdfunding que oferecem outros tipos de financiamento, fora do mundo da música. É o caso do site Incentivador, que foi fundado em abril de 2009 e reúne projetos que vão do cinema e da literatura até palestras e ações para comunidades. Entre os projetos em andamento, está a animação “Mar de Paixão”, do cartunista Allan Sieber, que tem roteiro assinado por André Dahmer e Arnaldo Branco –em suma, três expoentes do novo humor nos quadrinhos brasileiros. A proposta de projeto expira no dia 14 de junho e do custo total (R$ 45 mil) angariou até o momento modestos R$2.197. Um exemplo claro de ônus por se tratar de algo inovador e também pela contrapartida vir revertida em um possível lucro do projeto. Outro na lista de prováveis realizações é o livro “Beit: As Sinagogas do Rio”, do fotógrafo Felipe Goifman. Com prazo final até julho, ele custa R$ 50 mil, e tem como dinheiro certo, R$7.590, 01. Longe da realidade dos blogs tropicalistas apoiados por projetos públicos, estes projetos refletem um encontro entre as filosofias de mercado e a do “faça você mesmo”. Um paralelo entre capitalismo e socialismo que deixaria até mesmo Karl Marx abismado. •
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ValeViver Flávio Pereira
MÚSICA
Os graves de Graves DJ Ammie Graves se prepara para agitar as casas noturnas da Europa
Hernane Lélis Caraguatatuba
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uando a DJ e produtora Ammie Graves, 23 anos, não coloca uma pista inteira para dançar nas badaladas casas noturnas de São Paulo, fica em casa cuidando de seus 15 gatos ou pegando sol em Caraguatatuba, onde mora desde o primeiro ano de idade. Mas para achá-la a partir de agora é preciso enfrentar mais do que uma hora de carro sentido capital ou Litoral Norte. A jovem, nascida em São José dos Campos, embarca este mês para Europa, onde inicia uma turnê e lança seu terceiro EP pela OM Records. Você acha que a profissão de DJ está banalizada no Brasil? Totalmente. Estou voltando para essa temporada na Europa por não aguentar mais isso. Hoje, quem toca lá é quem é mesmo DJ. Dá para contar quem se manteve na cena eletrônica na Inglaterra depois desse boom que ocorreu. Estou começando a fazer meu nome lá como produtora porque você não faz nome em Londres, por exemplo, como DJ. Se ficasse entre as casas da região teria o mesmo sucesso? Não. Para você tocar em qualquer cidade do interior teria que tocar um som muito comercial para sobreviver. Teria que me sujeitar a tocar coisas que não tocaria de jeito nenhum. Se fosse apenas para ganhar dinheiro, poderia ficar por aqui, mas perderia credibilidade se aceitasse ficar no comercial da profissão. Porque você acha que as casas noturnas de São José sofrem para sobreviver? Os promoters são ruins. Nos primeiros três meses da casa começam a trazer DJs bons, passou o período de inauguração já começa a apelar para qualquer pessoa que cobra barato. Depois disso, começam a tocar sertanejo, funk, pagode... Os donos acham que a pista dança só som comercial, subestimam o próprio público. Você está mostrando seu trabalho, a galera gostando e chega o dono e fala: “Toca panamericano”. Vai passar quanto tempo na Europa? Pretendo ficar até setembro. Coloquei essa meta, mas se surgir boas oportunidades vou ficar mais tempo. Estou indo com datas na Espanha, na Itália, Portugal e Inglaterra. Agora, é alta temporada lá, vou tocar em bastante lugar. •
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Divulgação
CULTURA POPULAR
Aos mestres com carinho Natura lança box de seis CDs com registros inéditos de manifestações populares do Vale do Paraíba Adriano Pereira São Luiz do Paraitinga
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istórias se perdem com o tempo. Nessa era cada vez mais imediatista e informatizada, se perdem em segundos. Com a cultura popular, esse processo se agrava a cada dia. São tradições passadas de geração para geração, só que as novas gerações formadas por bytes e conexões já não se interessam mais como antes pelo o que seus avós cantam, dançam e representam numa manifestação artística. Foi pensando não apenas em preservar, mas também em estimular, que a Natura, por meio do projeto Natura Musical, trouxe à luz da modernidade algumas das mais tradicionais manifestações do Vale do Paraíba. Idealizado pelo produtor Betão Aguiar, o projeto “Mestre Navegantes - Edição São Luiz do Paraitinga” consegue numa única tacada registrar em CD músicas que nunca imprimiram uma marca definitiva. Moçambique, Folias, Adorações, Congadas, Jongos, Calango e o já desaparecido Drão (uma espécie de “repente” caipira) ganharam edição caprichada num box com seis CDs. Para se ter uma ideia, alguns destes protagonistas nunca tinham escutado a própria voz gravada. Mas além dos discos, essas manifestações finalmente entraram nessa nova era, e pelas mãos das novas gerações. No site naturamusical.com.br/mestresnavegantes, integrantes desses grupos carregam seu cotidiano, apresentam sua arte e finalmente conseguem contagiar quem já não estava achando graça naquilo tudo. Cada uma das danças e cantos ganhou hotsites que são abastecidos pelos próprios grupos (leia-se os mais jovens) com fotos, videos, agendas e tudo mais que for sendo criado durante o fazer cultural do cotidiano. Se era por falta de registro, o primeiro passo nessa preservação foi dado.•
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COMPORTAMENTO
Todo o mundo nu
SEM ROUPAS
As amigas Luana Morelli Oide, 21 anos, e Bruna Oliveira, 21 anos, no Mirante do Paraíso, reduto naturista em Igaratá
Região abriga único reduto oficial do Estado à prática do naturismo; Litoral Norte pode ganhar a primeira praia paulista onde será permitido nadar pelado Hernane Lélis Igaratá
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e toda nudez será castigada, como dizia o escritor Nelson Rodrigues, o advogado Horácio Xavier Filho, 52 anos, encontra absolvição para seu pecado em um sítio de Igaratá. Juntamente com a mulher, ele adotou há três anos uma nova filosofia de vida, onde o propósito é despir-se socialmente para conviver em comunhão com as pessoas e em harmonia com a natureza. E essa atividade é colocada em prática no único reduto naturista oficializado do Estado de São Paulo, o Mirante do Paraíso. O local reúne semanalmente dezenas de pessoas que viajam de todos os cantos do Brasil carregando na mala no máximo um protetor solar, óculos de sol e um chapéu. Cercados pela represa que dá nome à cidade, entre árvores e montanhas, eles encontram em Igaratá a privacidade e o respeito que precisam para relaxar de maneira reservada. No caso de Horácio, pelo menos duas vezes por mês, ele deixa o terno e a gravata no armário e parte de Mogi das Cruzes rumo a um dos 12 destinos naturistas reconhecidos no país. “O naturismo deixa a gente muito mais solto, quebra tudo quanto é tabu. É uma prática que te exila de preconceitos. Consigo enfrentar o estresse da semana com mais tranquilidade depois de um fim-desemana com a comunidade naturista”, disse Horácio, enquanto a maior parte do grupo aproveitava o sol na piscina do sítio
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ao som de Trem das Onze, de Adoniram Barbosa, interpretada por um músico convidado para animar a festa de nove anos do Mirante do Paraíso. Aliás, o músico e os oito funcionários contratados pelo proprietário da pousada, Arnaldo Ramos Soares, 66 anos, são os únicos vestidos. Naquela tarde de domingo, sob um calor de 33 graus, gente com vontade de tirar a roupa não parava de chegar. Dos carros importados desciam empresários vestindo camisas pólo e suas mulheres de salto alto e óculos de grife acompanhada dos filhos exibindo tênis de última geração e seus iPod. Dos automóveis mais populares, saiam casais e amigos usando apenas cangas e chinelos. Todos pagaram a mesma quantia, R$ 300, para frequentar os dois dias de festa. Em minutos, já sem roupas, já não era mais possível saber quem é milionário ou classe média. “A maioria dos naturistas tem mais de 30 anos, boa formação e carreira profissional consolidada. São pessoas que têm a cabeça mais aberta para entender a nossa filosofia de vida, os jovens ainda são cercados de preconceito. Num ambiente onde todos estão nus, não dá para saber quem tem mais ou menos, todos são iguais”, disse Soares. O conservadorismo num reduto naturista fica realmente do lado de fora daquele ambiente. Nem mesmo a presença da nossa equipe de reportagem intimidou os frequentadores. Ao lado da piscina, em um extenso gramado, homens e mulheres tomavam sol tranquilamente enquanto esperavam o churrasco ficar pronto. O sossego só foi quebrado quando um helicóptero sobrevoou o
A nudez é obrigatória nas áreas regulamentadas pela federação, inclusive para práticas esportivas. Atos com conotação sexual resultam na expulsão da comunidade naturista
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Fotos: Flávio Pereira
local apenas para “admirar” os naturistas. Solícitos ao visitante, todos acenaram para os curiosos a bordo da aeronave. Nada parecia incomodar, estressar ou alterar de forma negativa o humor dos “sem-roupas”. Vergonha O que mais se vê no mirante são casais com crianças, aposentados, pequenos grupos de mulheres e poucos homens desacompanhados. A regra do estabelecimento diz que só é permitida a entrada de pessoas do mesmo sexo, com exceção de homoafetivos, desde que convidado por algum naturista co-
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nhecido pela maioria dos frequentadores. Eduardo Oide, 57 anos, agente de viagens e membro do conselho de ética da federação, é naturista há oito anos. Ele explica que a nudez é obrigatória nas áreas regulamentadas pela FBrN (Federação Brasileira de Naturismo), inclusive para práticas esportivas. Atos considerados ofensivos e com conotação sexual podem resultar na expulsão do local e, até mesmo, da comunidade naturista. “Só posso autuar se o problema tiver acontecido em um estabelecimento credenciado à federação, caso contrário, a entidade
não pode fazer nada. Por isso, é importante se informar antes de sair tirando a roupa”, disse Oide. Quem quer começar no naturismo, a dica é procurar a federação para conhecer as regras e os destinos oficiais. Normalmente, segundo o empresário, o iniciante chega ao local e, por opção, fica mais isolado até se habituar à situação. Foi assim com a filha Luana Morelli Oide, 21 anos, quando foi pela primeira vez ao Mirante do Paraíso, há dois anos. Formada em turismo pela Metodista, universidade conhecida por seus princípios cristãos, ela é uma das poucas
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jovens circulando sem roupa pelo sítio. “No começo foi bem difícil. Tinha mais vergonha por estar pelada na frente do meu pai do que das outras pessoas. No primeiro dia ficava mais sentada num canto, demorei para ficar à vontade. Levei uma amiga comigo para criar coragem e ela foi a primeira a tirar a roupa. Acho que vai de cada pessoa mesmo”, disse Luana, que hoje trabalha na agência de turismo do pai, única no Brasil especializada em viagens naturistas. Naturista há 18 anos, Inês Murari, 51 anos, trabalha como funcionária pública em Santo André. Ficar de roupa, para ela, somente durante o expediente de trabalho, em casa a nudez é total. Divorciada, mora apenas com um filho, de 21 anos, que hoje não aprova a atitude da mãe, mas entende a opção de vida que ela escolheu. “Quando pequeno até gostava, agora fica pedindo para eu colocar a roupa, me vestir”, disse Inês. O naturismo apareceu em sua vida por curiosidade. Depois de pesquisar muito na internet decidiu conversar com as irmãs sobre o assunto e marcar reuniões, encontros de família, onde a ordem era deixar a roupa no armário. Fora dos portões de sua casa, apenas um topless em praias isoladas. Mais tarde, acostumada a despir-se em público, resolveu buscar redutos naturistas internacionais, como Riviera Maya, no México. Hoje, o principal destino é o mirante de Igaratá. “Todos sabem que eu frequento, até onde eu trabalho. Não existe preconceito no trabalho, mas muita gozação. Se a gente marca uma pizza em casa, por exemplo, é todo mundo nu. Não temos muitos locais em São Paulo onde é permitido o naturismo. Por isso, Igaratá torna-se o mais viável. É um mirante belíssimo, cercado pela natureza e com pessoas maravilhosas frequentando”, explicou. Praia Por toda costa brasileira, os naturistas têm sete praias apropriadas para a atividade e reconhecidas pela FBrN. Somente em Santa Catarina, são três –praia da Galheta, em Florianópolis, Pedras Altas, em Palhoça, e a famosa praia do Pinho, em Balneário de Camboriú. No litoral paulista não existe nenhum espaço dedicado ao naturismo, mas no que depender da federação a primeira praia do Estado liberada para prática ficará em São Sebastião. A entidade conseguiu um aval da administração municipal para utilizarem a
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ADEPTOS
Turistas na escada de acesso à piscina do Mirante do Paraíso, que reúne naturistas de todo o Brasil
NATURISMO NO BRASIL 12 destinos oficiais • Colina dos Ventos
PB
• Praia de Tambaba
PB
• Praia Massarandupió
BA
• Praia de Barra Seca
ES
• Encanto de Mina
MG
• Praia do Abricó
RJ
• Ilha de Jububá
RJ
• Mirante do Paraíso
SP
• Praia do Pinho
SC
• Praia da Galheta
SC
• Praia de Pedras Altas
SC RS
• Colina do Sol
500 mil praticantes 1.200 registrados na FBrN
praia Brava, localizada no distrito de Boiçucanga, que já possui até uma pousada filiada à federação. O problema é que os representantes naturistas consideram o local de difícil acesso. “A praia é bonita e bem reservada, o complicado é chegar até ela. A gente viaja com a família, crianças e idosos que podem se machucar em meio às trilhas que levam à praia”, disse Eduardo Oide, conselheiro da federação. O prefeito de São Sebastião, Ernane Primazzi (PSC), confirma o interesse da FBrN em conquistar, por meio de decreto municipal, o direito de praticar naturismo em uma praia da cidade. No entanto, ressalta que até agora não houve nenhuma conversa oficial para tratar do assunto. Ele acredita que é necessário pensar no choque cultural que pode ser provocado na cidade entre pescadores, veranistas e caiçaras. “Esta decisão depende de aprovação de Lei Federal que institui em praias específicas o naturismo. Além do mais, há necessidade de consulta pública”, diz o Primazzi, que não é naturista. •
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Ministério da Cultura Apresenta
FESTIVAL INTERNACIONAL 17,18 e 19 JUNHO 2011 Paraty receberá de 17 a 19 de Junho uma seleção de shows que representam o universo musical do conceituado clube paulistano Bourbon Street Music Club.
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CINEMA
Qualquer gato encararia essa A bela Cleo Pires vive sua primeira protagonista no cinema com o longa “Qualquer Gato Vira Lata”, uma comédia romântica que trata seus personagens com sinceridade darwinista; em entrevista exclusiva à revista valeparaibano, a jovem atriz conta um pouco sobre essa experiência e sobre a sua carreira
Franthiesco Ballerini São Paulo
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entre todas as artes, o cinema talvez seja a mais cara e a mais arriscada. Afinal de contas, levam-se meses para organizar o pré-projeto e a equipe, outros meses para captar o dinheiro, algumas semanas para filmar e mais tempo para editar e esperar uma brecha para poder lançar o produto. E quando o filme chega às salas, impossível prever a reação do espectador antes da estreia. Já houve até estudos acadêmicos em renomadas universidades norte-americanas que concluíram ser impossível prever o sucesso e o fracasso de um filme. Em tempos de crise financeira mundial, a melhor maneira de diminuir as chances de fracasso é apostando naquilo que já deu certo, ou seja, fazendo remakes ou adaptando para o cinema produtos de grande apelo popular na TV, literatura e teatro. É o caso de “Qualquer Gato Vira Lata Tem Uma Vida Sexual Mais Sadia que a Nossa”, filme que estreia dia 10 de junho e cujo título é tão longo quanto o sucesso da peça homônima que o originou. Escrito por Juca de Oliveira, o espetáculo ficou em cartaz em diversas cidades do Brasil entre os anos de 1998 e 2002, levando mais de 1 milhão de espectadores ao teatro. Com tal cifra –absolutamente incomum na dramaturgia brasileira– era de se esperar que
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a peça chamasse a atenção de uma produtora. Dirigido por Tomas Portella, o filme conta a história de um triângulo amoroso formado por Tati (Cleo Pires), jovem abandonada por Marcelo (Dudu Azevedo) que busca ajuda com Conrado (Malvino Salvador), cético professor de biologia. Para reconquistar o garoto, Conrado sugere que a moça mude totalmente de comportamento perante Marcelo e qualquer outro homem. Tudo isso levando-se em consideração o comportamento de machos e fêmeas de outras espécies, nas quais as fêmeas são mais recatadas e os machos mais audaciosos. O problema é que Tati não se aguenta, quebrando as regras, e o próprio professor se apaixona por ela. Cleo Pires é a grande estrela do filme. A atriz de 29 anos está começando a trilhar seu caminho pelo cinema, após críticas negativas e sucessos na televisão. Quando começou na TV, em 1994, na série “Memorial de Maria Moura”, foi bombardeada pela crítica, especialmente porque fazia Maria Moura jovem, cuja versão adulta era feita por sua mãe, Glória Pires. Comparações foram inevitáveis, o que fez com que a moça se distanciasse da vida artística, ficando quase 11 anos longe da TV. Voltou na novela “América”, em 2005, com novas críticas. Mas desta vez, mais madura, aguentou as comparações, seguindo com outras produções televisivas, como “Cobras & Lagartos” e “Caminho das Índias”, culminando em várias críticas positivas em seu último trabalho, a novela “Araguaia”. No cinema, fez pontas como em “Lula, o
Filho do Brasil”, atuou ao lado de Selton Mello em “Meu Nome não é Johnny”, mas é em “Qualquer Gato Vira Lata” que Cleo conquista sua primeira protagonista, sobre a qual ela fala em entrevista exclusiva à revista valeparaibano.
<Como você define sua personagem no filme? A Tati, inicialmente, é muito insegura, e ao mesmo tempo faz de tudo para acertar e ser feliz, e com essa busca ela se encontra, se descobre –isso tem a ver comigo como atriz e mulher, a busca. E o arco da personagem para mim é muito interessante. Ela deixar de ser essa menina insegura e histérica para se encontrar, ficar mais serena, mais segura, mais madura.
<Você acha que as mulheres são mais suscetíveis às fórmulas e teorias sobre amor e relacionamento que os homens? Daí tantos livros de auto-ajuda sobre o assunto? Eu acho que as mulheres em geral, por vivermos numa sociedade paternalista, são criadas, consciente ou inconscientemente, com a meta de casar e ter filhos, programadas social e culturalmente para isso. Os homens são educados para ter uma carreira de sucesso, dinheiro, poder, e para serem deuses do sexo. Acho que por isso a mulher se concentra tanto nesse assunto, assim como os homens em geral adoram ler sobre sexo, carros, negócios e política.
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PROTAGONISTA
Cleo Pires é Tati, uma jovem abandonada pelo namorado e que busca ajuda profissional para reconquistar o parceiro
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Acho que todos nós sofremos um condicionamento do qual muitas vezes nem nos damos conta.
<Você não considera o filme um pouco machista por conta das teorias do personagem, ligadas a outras espécies de animais? Não acho que o filme julgue o que é certo ou errado, como você deve agir sendo homem ou mulher. Muito pelo contrário, o filme passa a ideia de que não existe uma regra no amor, ou para o sexo feminino e masculino; existe sim, a busca e a descoberta do que é bom para você ou não. Não acho que seja um filme moralista.
<As leis de Darwin podem se aplicar a casos amorosos humanos? O Marcelo, para mim, é o típico garoto gente boa, mas raso, completamente manipulado pelas regras sociais do que um jovem adulto deve ser, e por isso, o jogo que Conrado ensina Tati a jogar para reconquistar o namorado faz sentido para o Marcelo mesmo. A Tati não quer ganhar ou perder, ela quer amar, viver
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de verdade. Por isso, quando ela ganha perde a graça: porque ela mesma passou a se ver de verdade e a ver seus verdadeiros desejos e suas verdadeiras aspirações. Acho que a biologia é, de fato, grande parte do indivíduo e de como ele se comporta, mas tão importante quanto ela são a consciência, o poder de raciocínio, o bom senso, o ambiente que cerca esse indivíduo, as aspirações e dons que nascem com ele antes mesmo de haver qualquer interferência social, econômica, ou cultural.
<Sua primeira protagonista no cinema é em uma comédia-romântica. Acha que o gênero é o grande filão de bilheteria hoje, transformando nosso cinema em indústria autossustentável? Não consigo pensar em algo que seja um empecilho para que isso aconteça. Talvez só há pouco tempo o nosso cinema tenha tido mais espaço para ser um veículo de diversão e entretenimento, tanto quanto uma forma de falar sobre política e dramas sócio-econômicos, mas talento para isso acho que o país tem de sobra.
REGRAS
Dudu Azevedo e Malvino Salvador contracenam com Cleo Pires, que interpreta a Tati no filme de Tomas Portella
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<Quais comédias-românticas você assistiu e gostou? Gosto de algumas. “O amor não tira férias”, “Jerry Maguire – a grande virada”, “Alguém tem que ceder”, “Armações do Amor”. <Está pensando agora em dar um tempo de TV e migrar para o cinema? O cinema é o que realmente fala mais à minha alma. Eu amo o estudo profundo que se pode fazer em todas as áreas de um filme que vai ser realizado, o estudo do personagem, os ensaios, e o tempo intenso e relativamente curto em que rodamos o filme. Eu sinto uma facilidade maior para me aprofundar no universo do personagem, e expressar esse novo mundo que eu absorvi durante o estudo do personagem. <Quem te inspira no cinema? Inspirações não tenho, mas admiro muito Meryl Streep, Laura Cardoso, minha mãe [Glória Pires], Diane Keaton, Wagner Moura, Tony Ramos, e mais alguns, poderia fazer uma lista bem grande (risos). •
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Música&mais Fotos: Divulgação
All that Jazz BMW Jazz Festival festeja o estilo durante três dias de muita música no Auditório do Ibirapuera, em SP Adriano Pereira São José dos Campos
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ã0 Paulo se transformará na capital do jazz nos próximos dias 10, 11 e 12, no Auditório do Ibirapuera. Aproveitando a lacuna deixada há alguns anos pelo Free Jazz, o BMW Jazz Festival traz alguns dos grandes nomes do gênero, como Wayne Shorter (foto central), que ajudou a compor a banda de Miles Davis, e novidades como Sharon Jones (no detalhe), que canta acompanhada do grupo The Dap-Kings, mais conhecido por ter participado das gravações do álbum Back to Black, de Amy Winehouse. Com a proposta de ser mais do que um evento para ouvir música, algumas providências foram tomadas para que o festival seja, acima de tudo, uma “experiência”, conforme definiu a produtora e diretora de cinema Monique Gardenberg, da Dueto Produções, responsável pela direção artística e produção do BMW. Outras atividades farão parte do festival, como a exibição, ao ar livre, de filmes que têm o jazz como tema, exposições de fotos e workshops gratuitos com alguns dos artistas que fazem parte da lista de atrações. Monique foi responsável pela concepção dos extintos Free Jazz e Tim Festival que, por sua vez, se cercou de seu antigo time de colaboradores/curadores: o jornalista Zuza Homem de Mello, o músico e produtor musical Zé Nogueira e o produtor musical Pedro Albuquerque. O resultado foi a seleção de dez atrações dotadas de estilos diversos, pertencentes a gerações distintas do jazz e suas variações, todas em plena produtividade. O veterano Wayne Shorter, saxofonista norte-americano que fez parte da banda de Miles Davis e considerado por muitos o maior compositor vivo do jazz, vem com o seu quarteto formado por alguns dos melhores músicos da atualidade: Danilo Perez, no piano, John Patitucci, no baixo, e Terri Lyne Carrington, na bateria. O saxofonista tenor Billy Harper, também dos Estados Unidos, dez anos mais jovem do que Shorter, apresenta com o seu quinteto um jazz temperado pelas raízes blues e gospel, adquiridas em sua infância no Texas. Dona de uma voz poderosa, Sharon Jones é a mais nova diva da black music americana. Descoberta tardiamente, ela chega
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SOLTA O PAUSE
BIOGRAFIA
Sucesso nas telonas, a história da garota de programa Bruna Surfistinha chega às locadoras do país
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A mina do tesouro não acaba nunca. O livro ganha tradução e já está no mercado brasileiro
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REVIVAL
CD’S & MAIS
A voz do Creed sobe ao palco
VALE DESTAQUE
acompanhada de seu grupo, The Dap Kings, que ganhou reconhecimento mundial ao gravar 6 das 11 faixas de Back to Black, disco de maior sucesso de Amy Winehouse. Um dos conjuntos mais fiéis ao autêntico soul e R&B dos EUA, Sharon Jones & The Dap Kings apresenta a turnê de seu quarto disco, “I Learned the Hard Way”, que chegou ao 15º lugar da parada Top 200 da Billboard e já superou a marca de 150 mil cópias vendidas. O compositor e baixista norte-americano Marcus Miller promove um tributo a Miles Davis com o celebrado projeto “Tutu Revisited”, onde faz uma releitura do seminal “Tutu”, álbum do trompetista lançado em 1986, no qual tocou diversos instrumentos e foi o principal compositor. Outro integrante da turma do sax, o premiado Joshua Redman, californiano filho do lendário músico Dewey Redman, vai mostrar porque é tido como um dos mais importantes artistas do gênero surgidos na década de 90. Principal representante da música brasileira no line-up do festival, a Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz mistura jazz e ritmos afro-brasileiros, em formato de big band, através de canções originais escritas e arranjadas pelo maestro e saxofonista Letieres Leite. De composição semelhante, mas com proposta diferente, a Funk Off Brass Band, banda marcial italiana de sopro e percussão, mostra sua fusão de funk, soul, R&B e jazz, animada por coreografias mirabolantes. Entre os maiores contrabaixistas do mundo, o virtuoso francês de origem catalã Renaud Garcia-Fons desembarca de Paris para levar ao palco sua combinação de jazz, música clássica, flamenco e outros gêneros, presentes em seu recém-lançado disco “Mediterranées”. O pianista norueguês Tord Gustavsen vem acompanhado de seu trio para apresentar seu jazz com toques de folk escandinavo, blues e música caribenha, que tem despertado grande interesse da mídia especializada. Os ingressos custam R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia, sujeito à disponibilidade) e podem ser comprados pelo site http://www. ticketsforfun.com.br ou pelo telefone (11) 4003 5588.
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ARCTIC MONKEYS “Suck it and See” O terceiro e esperado disco dos britânicos chega às lojas no começo deste mês. Segundo a banda, é um álbum “mais fácil”
BRIAN ENO “Drums Between The Bells” Disco feito em parceria o poeta underground Rick Holland. Vale a curiosidade
WOODS “Sun & Shade” Guitarras psicodélicas e baterias marcantes; essa pelo menos é a promessa da banda
No dia 12 de junho, Scott Stapp, vocalista da banda Creed, desembarca em São Paulo para um show no Credicard Hall. Em sua primeira vinda ao país, o artista trará no repertório grandes sucessos do Creed, como “My Sacrifice”, “With Arms Wide Open” - vencedora do Grammy na categoria melhor canção de rock –“Higher” e “One”, e músicas de seu trabalho solo, o álbum de 2005 “The Great Divide”, que recebeu disco de platina. O Creed, que começou a carreira em 1994, encerrou as atividades em 2004, mas voltou a se reunir cinco anos mais tarde, quando lançou o álbum “Full Circle”. Este ano, Stapp lança seu segundo trabalho solo, intitulado “Between Lust and Love”.
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Ponto Final
Arnaldo Jabor
O ataque do “vírus da irrelevância”
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m amigo meu, muito culto, tem um filho muito “conectado” na internet. E o menino disse a ele: “Pai, você sabe tudo que já aconteceu, mas não sabe nada que está acontecendo”. O pai, como todos nós, embatucou. A mutação cultural dos últimos anos foi tão forte, a turbulência no mundo pós-industrial dissolveu tantas certezas, que caímos num vácuo de rotas. Não só no Brasil, mas no mundo inteiro, artistas e pensadores vivem perplexos –não sabem o que filmar, escrever, formular. Em geral, recorrem às atitudes mais comuns nas turbulências: desqualificar os fatos novos e reinventar um “absoluto” qualquer. Sinto em mim mesmo como é difícil criar sem esperança ou finalidade. Como era gostoso nosso modernismo, os cinemas novos, os movimentos literários, as cozinhas ideológicas. Os criadores se sentiam demiurgos falando para muitos. Agora, na falta das ‘grandes narrativas’ do passado, estamos a idealizar irrelevâncias, como se ali estivessem pistas para novas ‘verdades’ a desvelar –a aura deslizou da obra para o próprio autor. Hoje, as palavras que eram nosso muro de arrimo foram esvaziadas de sentido e ficamos à deriva. Por exemplo, “futuro”. Que quer dizer? Antes, era visto como um lugar a que chegaríamos, um lugar no espaço-tempo, solucionado, harmônico, que nos redimiria da angustia da falta de ‘Sentido’. Agora, no lugar de ‘futuro’, temos um presente incessante, sem ponto de chegada. Pela influencia insopitável do avanço tecnológico da informação, turbinado pelo mercado global, foram se afastan-
ANÁLISE “Precisamos de um debate sobre nossa literatura” do do grande público as criações artísticas e literárias, as ideias filosóficas, os valores. Em suma, toda aquela dimensão espiritual chamada antigamente de cultura que, ainda que confinada nas elites, transbordava sobre o conjunto da sociedade e nela influía, dando um sentido a vida e uma razão de ser para a existência. A verdade é que passamos da ilusão para o desencanto. Temos hoje uma ‘horrenda liberdade’ sem fins, porque (vamos combinar) os criadores querem mesmo é ser eternos, inesquecíveis, mesmo os mais radicais ‘instaladores’ contemporâneos. Não sei em que isso vai dar, mas o tal ‘futuro’ chegou; grosso, mas chegou. Talvez este excesso de ‘irrelevâncias’ esteja produzindo um acervo de conceitos ‘relevantes’, ainda despercebidos. Podemos nos dedicar ao micro, ao parcial, podemos nos arriscar ao erro com mais alegria; mas, isso não pode justificar um desprezo pela excelência. Será que houve a morte da ‘importância’? Ou ela seria justamente esta explosão de conteúdos e autores? O ‘importante’ seria agora o quantitativo? Não sei; mas, se tudo é ‘importante’, nada o é. Escrevo estas coisas porque meu artigo é a propósito de um ‘importante’ ensaio de Alcyr Pécora de 23 de abril, no “Prosa e Verso”, sobre a crise de nossa literatura. Alcyr acha que fomos atacados por “um vírus de irrelevância”. Ele escreveu: “É como se o presente se absolutizasse e
não mais admitisse um legado cultural como patamar exigente de rigor para sua produção (...) é como se alguma coisa se introduzisse na cultura e a tornasse inofensiva, doméstica (...). A ação já se apresenta como narrativa, como ocorre nos ‘reality shows’, em que as pessoas, antes de agir, representam ou narram a ação que lhes cabe, como se todo mundo fosse interessante o bastante para ser visto/lido (...). Perdida a noção de herança cultural, perde-se a de crítica, de autocrítica, e naturalmente a de criação (...). Escrever literatura é um gesto simbólico que traz uma exigência: a de ser de qualidade (...). A recusa de muitos escritores de sequer considerar o impasse atual tem qualquer coisa de cegueira deliberada (...). Atitude resolve problemas do roqueiro, mas não resolve a questão da literatura”. No entanto, as questões levantadas pelo professor não tiveram repercussão teórica maior, além de reclamações mal humoradas de que ele seria um critico ‘estraga-prazer, um intrometido’. Contudo, é preciso que esses tópicos sejam discutidos, com ou sem polemicas, pois, na tal conversa do pai erudito com o filho conectado, a resposta do pai poderia ser: “Você acha que sabe tudo que está acontecendo e nada sabe sobre o que já aconteceu.” Por isso, dou pequena contribuição ao assunto: tenho um filho de 11 anos, João Pedro. Eu, zeloso pai, botei o Quarteto de Cordas op 133 de Beethoven para que ele ouvisse um momento máximo da história da música. Ouviu tudo atentamente enquanto, no ritmo exato do quarteto, jogava um ‘game’, o “Hell Kid”, no IPad. Beethoven e o ‘game’ se uniram em harmonia. Talvez haja futuro. •
Arnaldo Jabor Jornalista e cineasta
jabor@valeparaibano.com.br
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