Revista valeparaibano - Julho 2010

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Julho 2010 • Ano 1 • Número 4 R$ 7,80

Especial

São José do futuro Urbanistas avaliam proposta da nova Lei de Zoneamento e preveem como ficará a cidade em 2020 JUSTIÇA

Gustavo Pissardo: o primeiro passo para a liberdade P52

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SEXO

O mercado da prostituição de luxo P58

MODA

Das passarelas do SPFW para as ruas P88

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Opini達o

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Domingo 4 Julho de 2010

Palavra do editor

DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno

O que queremos para o futuro de São José? ão José dos Campos completa 615 mil habitantes e que a cada ano re243 anos no dia 27 de julho e cebe de braços abertos milhares de pestem como um dos principais soas de outras regiões do Estado e do desafios colocar em prática a país, já é uma cidade especial. Com um proposta da nova Lei de Zoneamento, dos maiores PIBs do país, abriga granque projeta o desenvolvimento ur- des empresas e institutos de tecnologia bano da cidade para os próximos que colaboram para o crescimento da dez anos. Em discussão desde o ano região, do Estado e do Brasil. Mas que São José queremos no futuro? passado, a lei enfrenta resistência da Queremos qualidade de vida na cidade sociedade civil e empresários, princiPolo da Tecnologia, uma rede de saúde palmente do setor da construção. e transporte público eficientes, educaA legislação propõe mudanças proção de qualidade, emprego e menos defundas em relação ao uso e ocupação do sigualdade social. Mas só querer não é solo em vários bairros. Para compreensufi ciente. O que estamos fazendo para der como ficará São José em 2020, a remelhorar nossa cidade? Essa é uma resvista valeparaibano consultou especialistas em planejamento, arquitetura posta que depende de cada um de nós. e urbanismo, cujas opiniões ajudaram a projetar a cidade para a próxima década. bano eparaiib Em linhas gerais, segundo eles, o cenávalle rio seria desfavorável. A lei favoreceria a formação de assentamentos irregulares, provocaria uma retração no mercado imobiliário com o rígido controle da verticalização e os bairros da região central estariam sujeitos à degradação, como ocorre hoje com o centro antigo. Na outra ponta, a prefeitura diz que Especial turo a proposta da lei foi norteada pela preSão José do fu servação do meio ambiente, pelo aprimoramento da malha viária, além de fomentar a captação de novos investimentos e promover o desenvolvimento econômico e a geração de empregos. A meta, segundo o Executivo, é garantir Marcelo Claret um futuro com qualidade de vida. editor-chefe Não há dúvidas que São José, com seus

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Julho 2010 • Ano

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JUSTIÇA

: Gustavo Pissardo so o primeiro pas e P52 para a liberdad

O mercado da prostituição de luxo P58

DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br

EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br

EDITOR DE FOTOGRAFIA Eugênio Vieira eugenio.vieira@valeparaibano.com.br

REPÓRTERES Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br), Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Elaine Santos (elainesantos@valeparaibano.com.br) e Rafael Persan (estagiário) COLABORADORES Antonio Basílio, Cleiton Costa, Cláudio César de Souza, Cristina Bedendo, Isabela Rosemback, Marrey Júnior, Ronny Santos, Sérgio Carvalho e Xandu Alves DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes COLUNISTAS Alice Lobo, Carlos Carrasco, Fabíola de Olveira, Marco Antonio Vitti, Marcos Meirelles, Ozires Silva e Roberto Wagner de Almeida CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br

DEPARTAMENTO DE PUBLICIDADE Tatiana Musto tatiana@valeparaibano.com.br

(12) 3909 4646 SUCURSAL SÃO PAULO Alameda Gabriel Monteiro Silva, 2373 Jd. América (11) 3546 0300

1 • Número 4 R$ 7,80

Zoneamento da nova Lei de iam proposta de em 2020 Urbanistas aval o ficará a cida e preveem com

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Das passarelas do SPFW para as ruas P88

A revista valeparaibano é uma publicação mensal da empresa Jornal O Valeparaibano Ltda. Av. São João, 1.925, Jardim Esplanada, São José dos Campos (SP) CEP: 12242-840 Tel.: (12) 3202 4000

ATENDIMENTO AO ASSINANTE Segunda a sexta-feira, das 8h às 18h 0800 728 1919 relacionamento@valeparaibano.com.br

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MODA

Sumário

O QUE SAI DO SPFW PARA AS RU RUAS? P88

ESPECIAL

Fortuna na ponta da picareta Garimpeiros arriscam a sorte na região de Teófilo Otoni, em Minas Gerais; cidade é considerada a capital das pedras preciosas no Brasil

ANIVERSÁRIO 243 ANOS

VIDA REAL COMPORTAMENTO

MEMÓRIA MÚSICA

Nosso Futuro: a São José de 2020

Prostituição de luxo P58

30 anos sem Vinícius P108

P14

Urbanistas projetam a cidade usando como base a proposta da nova Lei de Zoneamento POLÍTICA ELEIÇÕES

Corrida ao Palácio dos Bandeirantes P24 Dos seis candidatos ao governo do Estado, cinco têm ligações com o Vale do Paraíba MUNDO HISTÓRIA

O primeiro teste nuclear 65 anos depois P61

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Garotas de programa que ganham até R$10 mil por mês revelam como funciona esse mercado em São José Personagens lembram como foi conviver com esse gênio artístico brasileiro SISTEMA PRISIONAL

Pissardo quase livre Assassino dos próprios pais deixou o presídio no Dia das Mães P52

CULTURA TRADIÇÃO

Um estudo sobre as figureiras P94 Entrevista p40 Turismo p76 Hi-Tech p84 Viva a Vida p130

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Domingo 4 Maio de 2010

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Cartas

Cartas&e-mails AS CARTAS TOY STORY Parabéns A revista valeparaibano está primorosaa em suas três edidi ções iniciais. Penso que suas reportagens e artigos em muito contribuirão para que nós leitores tenhamos uma visão adequada dos principais fatos que acontecem no mundo, no país, Estado e, principalmente, em nosso município. Considerei de suma importância a reportagem sobre os deputados da região em sua rotina de vida e trabalho. Sugiro que seja feita algo similar com os vereadores de São José dos Campos. Parabéns a toda equipe, especialmente, Franthiesco Ballerini pela reportagem “Eles estão vivos outra vez”, sobre a estreia de Toy Story 3. Therezza Lima Psicopedagoga

SUCESSO Conhecimento Tenho acompanhado este novo trabalho e me surpreendi com a competência nas formulações das matérias. Portanto, gostaria de parabenizá-los pelo excelente trabalho voltado ao conhecimento da nossa sociedade. Desde já, quero desejá-los muito sucesso nesta nova empreitada, que, aliás, será sempre sucesso. Um forte abraço a todos da revista. Denilson Freitas Agente de segurança

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MODA

O DESTAQUE

Antenada

EXPECTATIVAS

Momento oportuno Nossa região vive um momento de expectativas positivas quanto a avanços em algumas áreas, os quais, em sendo comprovados, definitivamente a colocariam como um grande centro regional. Temos um potencial avanço no transporte intermunicipal, no planejamento urbano, com a discussão sobre a região metropolitana, e a sociedade civil dando sua contribuição para um maior dinamismo cultural, criando e mantendo espaços de qualidade para a expressão e a convivência. O momento parece oportuno, e não se trata de coincidência, para a existência de uma revista como essa, que já nasce praticando um jornalismo que olha para o futuro, acrescentando profissionalismo à abordagem dos assuntos regionais e evitando traços personalistas que poderiam vinculá-la ao passado. Podemos ter mais? Sim, mais desenvolvimento social, mais ocupação das cidades por seus donos, os cidadãos. Mas definitivamente vivemos uma perspectiva de positivas mudanças. Neste ponto, a revista se comporta como deveria comportar-se nossa região. Sem medo de ser grande. Oswaldo Almeida Jr. Gerente do Sesc São José dos Campos

ENQUETE Quem ganha as eleições presidenciais?

SERRA ERRA

52,74 20,9 26,37 MARINA

Enquete www.valeparaibano.com.br

DILMA

Foram computados 1.627 votos entre os dias 1º e 21 de junho

Sou leitora assídua da revista e, desta vez, gostaria de parabenizar especialmente a repórter Cristina Bedendo pelo ótimo trabalho na editoria de Moda. Sempre antenada ao que acontece neste universo, suas matérias vêm para preencher uma lacuna na imprensa regional: o jornalismo de Moda. Antes defasada, a cobertura deste crescente mercado agora é realizada com profissionalismo, propriedade e paixão. Parabéns também à revista que, ao abrir este espaço, ajuda a “desmistificar” a Moda, ao mesmo tempo em que valoriza os bons profissionais da nossa região, altamente capazes de gerar matérias de qualidade sem usar da reprodução de releases e de conteúdo fornecido pelas grandes agências de notícias. Ticiane Toledo Jornalista

OUTRA VISÃO Informação nova Realmente, depois de ler essa matéria tenho outra visão sobre o filme Toy Story, pois em seu primeiro lançamento, eu tinha somente cinco anos de idade e, obviamente, como todas as crianças da época não perdi a oportunidade de assisti-lo. Mas naquela época para mim foi só mais um filme. Depois de ler esta matéria fiz algumas pesquisas e de fato o filme tem uma importância muito grande aos designers, aos amantes e aos criadores de cinema e animações digitais. Parabéns pela matéria. É uma ótima informação. Erika Mattje Estudante de Design de Moda

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Domingo 4 Julho de 2010

Cartas Av. São João, 1925 Jd. Esplanada, CEP 12242-840

COPA Penta É de surpre-ender a formaa como essa revista sta aborda os fatos. s O Vale do Paraíba precisava realmente de um meio de divulgação como esse, que analisa, estuda, aprofunda e instrui o leitor da melhor forma. As matérias sobre a Copa do Mundo, edição de junho, em que os pentacampeões foram entrevistados foi uma ótima escolha, já que ninguém melhor do que quem já sentiu o gosto da vitória para opinar. Outra que chamou atenção foi a vida dos deputados em Brasília. Em ano eleitoral é uma boa pauta para o leitor já ir conhecendo e estudando em quem votar. Uéslei J. Santos Jornalista

POLÍTICA Abordagem Quando soubee da proposta daa revista, fiquei na expectativa de como seria a abordagem dada às matérias sobre política, especialmente pelo fato de ter periodicidade mensal. Confesso que me surpreendo a cada edição, não somente pela escolha dos assuntos e pela visão crítica dos textos, como pelo aprofundamento dado aos temas, o que nunca foi visto em qualquer outro veículo de comunicação regional. Parabéns aos colunistas, repórteres e editores. Letícia Maria Jornalista

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E-mail cartadoleitor@valeparaibano.com.br

Twitter @revistavale

OS E-MAILS VIOLÊNCIA Abordagem Excelente a reportagem ‘Violência: jovens amam, mas batem’. Achei muito interessante a abordagem dada pelo repórter, mostrou as faces da violência entre os adolescentes. Acredito que é imprescindível para um bom veículo de comunicação abordar esses assuntos que fazem o leitor refletir sobre a sociedade em que vive e também que, muitas vezes, tiram os pais de sua zona de conforto, no quesito de educar. Acho que, como citado na reportagem, é essencial que os adolescentes tenham boas referências na vida, para que não introjetem maus exemplos, e essa primeira lição é dada em casa. As boas referências e o bom relacionamento dentro de casa podem evitar adultos frustrados num futuro próximo. Parabéns pela reportagem e pela terceira edição da revista. Renata Alegre Relações públicas da Associação Comercial e Industrial de Taubaté

JOVENS Preocupante Gostaria de parabenizar a revista valeparaibano pela reportagem “Violência: jovens amam, mas batem”, publicada na última edição. É preocupante observar que muitos jovens encaram a violência em seus relacionamentos como algo natural.

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Redes www.flickr.com/revistavaleparaibano www.facebook.com/revistavaleparaibano

Mais chocante é observar que as atitudes violentas se estendem a todos os aspectos da vida. São jovens que, incapazes de lidar com sentimentos como frustração e perda –e por falta de apoio familiar– encontram na violência o caminho para lidar com seus conflitos. Que futuro terão essas pessoas? Faço votos de que a revista continue apresentando a cada edição temas tão interessantes como esse: instigantes e provocativos.

TWITTER

Jorge Santana Jornalista

Sobre a educação:

COPA O outro lado O fato de o Brasil receber a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 seria um motivo de orgulho e comemoração para todos. Seria, se esses eventos não servissem como pretexto para uma “melhora” no país, assim como podemos ver na matéria “Jogos: o outro lado da moeda”, que descreve os impactos negativos nos países sedes de eventos esportivos. Essa é a pior desculpa que se pode dar. Isso soa, infelizmente, para a minoria dos brasileiros (talvez os mais sensatos), como uma “maquiagem” nos problemas para que os gringos não lembrem apenas de Pelé, Ronaldo e Ronaldinho quando ouvirem falar em Brasil. A Copa de 2014 já está começando de forma errada, com as reformas e construções dos estádios que estão muito atrasadas. Imagine então toda a logística das cidades-sedes. Espero que a Copa e as Olimpíadas não saiam como os jogos Pan-Americanos de 2007, que teve obras superfaturadas e feitas às pressas. Bruno Castilho Estudante

@vitorfredd Carrasco expressou a situação atual em seu texto na @revistavale : A geração está se acostumando com a vida fria, sem contato verdadeiro.

@maryianishi Não é só na rede estadual de ensino, não! Aqui em SJC, os alunos de escolas municipais também pagam taxa por xerox. Um absurdo!

@rojassjc Seria cômico se não fosse trágico... E enquanto isso nenhum candidato aborda com profundidade a questão da educação...

Sobre a revista: @aleguimaraes @revistavale A evolução da comunicação no Vale do Paraíba para o Brasil. @triadaz A Tríadaz apoia a imprensa de qualidade da região!

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Política

Dois Pontos

Marcos Meirelles Jornalista

O grande timoneiro da eleição presidencial Lula celebra casamento de Dilma com PMDB e reserva ao PT papel de coadjuvante na disputa pelos governos estaduais

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Ponto de Vista: As várias faces do PMDB

“Pelo raciocínio histórico, o PMDB está certo em São Paulo, apoiando o Serra e o Alckmin. E está errado apoiando a candidata do governo”

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ove entre cada dez analistas políticos avaliam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu o primeiro round da eleição presidencial, consolidando a candidatura de Dilma Rousseff à revelia da Justiça Eleitoral e desafiando o principal candidato da oposição, José Serra (PSDB), a retomar a liderança nas pesquisas de intenção de voto para o Planalto. Em Brasília, mesmo entre círculos oposicionistas, avalia-se que Dilma só irá perder a eleição se houver um grande escândalo envolvendo o governo: Lula estreia como padrinho político de uma candidatura à Presidência com uma popularidade jamais vista na história da República. Mas qual foi o preço pago para consolidar o nome de Dilma e a aliança com o PMDB? Dentro do PT, os estragos foram consideráveis, mas não mais surpreendentes. No Maranhão, os petistas foram obrigados por Lula a apoiar a reeleição de Roseana Sarney (PMDB), rompendo um acordo com o candidato do PC do B –acordo que levou militantes históricos da legenda a lembrar os piores anos do regime militar. Em Minas Gerais, as lideranças do partido tiveram que se curvar ao apoio à candidatura de Hélio Costa (PMDB) ao governo do Estado. De Norte a Sul, Lula deixa de lado as questões ideológicas e impõe, soberano, a sua vontade. E o PT vira um coadjuvante do PMDB. Com a aliança formalizada com o PMDB e Michel Temer a tiracolo, Dilma terá um tempo de propaganda 23% maior do que José Serra (PSDB) no horário eleitoral. Em

BRANCO & PRETO

Orestes Quércia Ex-governador

DONO DA BOLA Lula e Dilma, em convenção do PT

2002, ao lado da peemedebista Rita Camata, José Serra (PSDB) teve uma vantagem até maior em relação a Lula e acabou derrotado nas eleições. Mas a costura política em torno da candidatura governista não teve os contornos discricionários definidos pelo atual presidente da República. Com a possível eleição de Dilma, o Brasil será refém de Lula e do PMDB. O grande timoneiro da candidatura da ex-ministra continuará atuando à sombra do governo, tal como Néstor Kirchner na Argentina. O PMDB subirá a rampa do Palácio do Planalto com a certeza de que os cargos ora disponíveis no governo federal se multiplicarão. Durante a campanha eleitoral, Serra e Marina, obviamente, tentarão caracterizar este quadro como um retrocesso para o país. O problema é que o eleitor costuma ser avesso a previsões catastróficas, especialmente em tempos de prosperidade econômica.

“Assumo a condição de vice porque terei oportunidade de participar de um dos mais brilhantes governos que se instalará a partir do ano que vem” Michel Temer Presidente da Câmara

“A política se transformou em negócio. Embora haja homens honrados no Parlamento e no Executivo, eles se tornam cada vez mais raros“

Pedro Simon Senador

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Domingo 4 Julho de 2010

José Serra, canditado à presidência da República pelo PSDB

A Igreja de olho nas eleições

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polêmica em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos certamente passará ao largo da campanha eleitoral de 2010 porque não é do interesse dos candidatos discutir temas que podem dividir o eleitorado ou estimular posições extremadas. Para a CNBB (Conferência Nacional de Bispos do Brasil), no entanto, este é um debate crucial. A assembleia geral da Conferência, realizada em maio, enfatizou as divergências da Igreja em relação ao tratamento dispensado pelo governo ao PNDH. O secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara, afirma que o PNDH-3 é resultado do reducionismo antropológico que domina parte do governo. E considera que mudanças substanciais no programa só serão possíveis no debate com o Congresso. “Acredito que os

Vanucchi: PNDH é suprapartidário Enquanto a Igreja Católica mantém sob fogo cerrado o PNDH-3, o ministro Paulo Vanucchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, acredita que as mudanças feitas pelo governo foram suficientes para atender as principais demanda dos católicos. Segundo Vanucchi, entres os críticos do PNDH, o governo teve uma preocupação especial de intensificar o diálogo com a Igreja, “mesmo sabendo que, em alguns pontos, não haveria consenso”. “A Igreja é uma trincheira histórica de defesa dos direitos humanos no Brasil”, afirma o ministro. Alteramos a questão do aborto e

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“Não estou dizendo que foi ela quem fez. Mas quando acontece algo assim se deve agir imediatamente” Sobre Dilma Rousseff e os supostos dossiês articulados pela campanha petista

próximos passos serão dentro do Congresso. O governo não vai voltar atrás. Então vamos acompanhar a discussão no Congresso.” Para dom Dimas, a expressão “saúde pública” foi utilizada durante a formulação do plano para justificar a legalização do aborto. “O aborto não é um problema de saúde pública. O ministro da Saúde diz que todo mundo sabe que existem clínicas clandestinas. Saúde pública, neste caso, é colocar a polícia para descobrir onde estão estas clínicas, fechálas e penalizar os responsáveis.” O secretário-geral da CNBB diz que o governo errou ao colocar na mesma pauta bandeiras históricas, como os direitos das crianças e reivindicações de minorias. “Dizer que o aborto é um direito humano é uma inversão de valores. O que existe é o direito à vida.” A CNBB vê com preocupação o desgaste das instituições políticas brasileiras. “A nossa grande contribuição é no campo da ética, é o projeto dos fichas limpas”, diz dom Dimas. “Existe um movimento perigoso de descredibilização das instituições. Isso é péssimo para a democracia e para a governabilidade.”

retiramos a ação sobre os símbolos religiosos, que foi muito mal interpretada e acabou repercutindo, de modo distorcido, como se fosse uma proposta para tirar o Cristo Redentor do Corcovado ou mudar o nome da cidade de São Paulo. Não era isso o que texto dizia.” Vanucchi acredita que o PNDH continuará sendo uma referência para a construção de políticas públicas do governo federal, independente de quem vencer as eleições, até a sua próxima atualização. “O PNDH-3 é resultado de uma construção democrática que teve início com os PNDHs 1 e 2, de 1996 e 2002. Este é um tema suprapartidário. A terceira versão do programa é uma atualização do segundo, elaborado no governo anterior. E trouxe poucas mudanças, com exceção do tema Direito à Memória e à Verdade –que não constava de programas anteriores.”

PINGUE & PONGUE Dom Dimas Lara Secretário-geral da CNBB

O problema do abuso sexual cometido por padres foi abordado pela CNBB. A Conferência divulgou carta em que pede a atenção da Igreja para evitar o ingresso de homossexuais como sacerdotes. Esta é a solução? A questão não é só com os homossexuais. Nas ordens sacras, nós precisamos ser rigorosos. Nós não podemos admitir nos seminários pessoas com dificuldade ou incapacidade de viver o celibato. Essas pessoas vão ser um problema para elas mesmo e para a sociedade. A maior parte dos abusos contra a criança e a mulher acontece dentro de casa. Então não é um problema só da Igreja. Na vivência do celibato, uma pessoa assim não tem perfil para ser padre. O papa é injustamente cobrado nestes casos? O papa Bento 16 é uma das pessoas que melhor compreende a realidade de nossa sociedade, o diálogo entre fé e razão. Na carta aos católicos da Irlanda, ele diz que sofre profundamente, nós sofremos profundamente estas mazelas de nossos irmãos no sacerdócio. A Igreja tem as regras, a aplicação no concreto tem que ser mais rigorosa. Mas o papa não pode ser responsabilizado.

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Reportagem de Capa

Política

São José do futuro No mês em que a cidade completa 243 anos, a revista valeparaibano convidou urbanistas para projetarem como será o município em 2020, de acordo com a nova Lei de Zoneamento Yann Walter São José dos Campos

ão José dos Campos completa 243 anos no final deste mês. O aniversário coincide com a discussão da nova Lei de Zoneamento, que poderá trazer profundas modificações em vários bairros na próxima década. Mas qual será a cara da cidade daqui a 10 anos? Para ter uma ideia de como ficará São José em 2020, a revista valeparaibano consultou especialistas em planejamento, arquitetura e urbanismo, cujos comentários e críticas ajudaram a projetar mudanças radicais, para o bem e para o mal. Em linhas gerais, no cenário desfavorável, a nova lei de parcelamento, uso e ocupação do solo favoreceria a criação de assentamentos irregulares, provocaria uma retração no setor imobiliário com o rígido controle da verticalização e bairros da região central estariam sujeitos à degradação, como ocorre hoje com o centro antigo. Os investimentos previstos para melhorar a mobilidade urbana, segundo especialistas, vão “desumanizar” a cidade.

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Segundo a prefeitura, a nova legislação foi norteada pela preservação do meio ambiente e criação de novas áreas verdes, busca de equilíbrio entre as construções urbanas e a paisagem natural, aprimoramento da malha viária, além da captação de novos investimentos, promoção do desenvolvimento econômico e geração de empregos. A meta anunciada é “garantir o futuro com crescente qualidade de vida através da manutenção da sustentabilidade”. Entretanto, segundo os arquitetos Adalton Paes Manso, diretor da Ecoterra Urbanismo Ambiental, Flávio Mourão, professor de arquitetura e urbanismo na Unitau (Universidade de Taubaté), e Pedro Ribeiro, professor de planejamento urbano e regional da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), a nova lei tem muitos efeitos perversos. “O projeto está de tal modo confuso, inconsistente e com ilegalidades de tal monta que logo na sequência de sua aprovação começarão a surgir pressões políticas, jurídicas e administrativas para sua adequação à realidade concreta da cidade”, alertou Adalton Paes Manso, que foi secretário de planejamento de São José entre 1982 e 1986.

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Eugênio Vieira

PONTO O DE VISTA Cynthia Gonçalo Secretária de Planejamento Urbano

TECNOLOGIA Fachada do Parque Tecnológico, na região leste de São José, onde a prefeitura aposta no crescimento urbano

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Cynthia Gonçalo, secretária de Planejamento Urbano de São José dos Campos, ressaltou que a nova Lei de Zoneamento foi desenvolvida a partir de dois princípios: qualidade de vida e sustentabilidade. “A ideia é estabelecer parâmetros de uso e ocupação do solo que mantenham a capacidade de empreender do município dentro de um equilíbrio entre o ambiente construído e o ambiente natural, potencializando a qualidade de vida do cidadão”, afirmou. De acordo com a secretária, a criação de novas centralidades é um dos grandes objetivos da lei, assim como o respeito da identidade dos bairros. “Os usos comerciais e de serviço mais incômodos serão direcionados para as avenidas, privilegiando as ruas locais dos bairros para o uso residencial”, disse Cynthia. Sobre o controle da verticalização em alguns bairros, que poderia afugentar as construtoras, Cynthia Gonçalo lembrou que a nova lei “apresenta para o mercado imobiliário as chamadas Zonas de Qualificação, que detém vazios urbanos, em especial nas regiões leste e sudeste, oferecendo locais estratégicos para o desenvolvimento de novas centralidades (comércios e serviços) e a construção de prédios sem controle de altura”. A nova lei terá validade de dez anos, mas poderá ser reavaliada de quatro em quatro anos, após aprovação de emenda parlamentar.

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Reportagem de Capa Claudio Capucho/vp

PANORÂMICA Vista da região sul de São José; ao fundo, a zona oeste, onde será liberada a construção de prédios de até oito andares

“Como os planos de transporte, as questões ambientais, o saneamento básico e a educação estão pensados para a cidade no futuro? Estes assuntos precisam ser melhor explicitados na lei de uso do solo para que se possa verificar se os índices utilizados estão em consonância como a capacidade instalada ou prevista de estrutura urbana”, enfatizou Flávio Mourão. O principal –e mais polêmico– parâmetro urbanístico da nova lei é a limitação do número de pavimentos dos prédios, uma medida que desagrada profundamente às construtoras. A altura dos edifícios será limitada a 4, 8 e 15 andares, dependendo da zona em que se situarem. Segundo Cléber Cordoba, presidente da Aconvap (Associação das Construtoras do Vale do Paraíba), a limitação vai tornar os empreendimentos mais caros –e o aumento será repassado aos consumidores. De acordo com a nova lei, a construção de prédios mais altos somente será liberada em vazios urbanos, mais especificamente em bairros da zona leste, como Novo Horizonte e Santa Inês, e da região oeste, como o Urbanova. “A lei pretende reduzir o adensamento da ocupação do solo e transforma grande parte da área urbana consolidada em ZUCs (Zona de Urbanização Controlada), com edifícios de altura máxima de quatro e oito andares. Com o objetivo de criar novas centralidades, o projeto estimula a construção de prédios de até 15 an-

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ISTO É SÃO JOSÉ

615 mil POPULAÇÃO É o total de moradores da maior cidade do Vale do Paraíba, segundo o IBGE

1.099 KM2 É a extensão territorial de São José, que tem 575 habitantes por km2

17,9 bi PIB (R$) É o que São José produz de riqueza por ano, segundo levantamento da prefeitura

dares em áreas não urbanizadas. Essa decisão desconsidera os princípios mais elementares do mercado imobiliário. Não há possibilidade de adensar vazios urbanos sem proporcionar grandes incentivos”, avaliou Adalton Paes Manso, que além de arquiteto e urbanista também é pesquisador titular do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Elefantes brancos Para Paes Manso, a medida acabará tendo efeito contrário ao desejado pela prefeitura: afastará os grandes investidores da cidade e provocará uma desaceleração do empreendedorismo. Além disso, segundo o urbanista, o projeto falhará na tentativa de criar novas centralidades, limitando-se a estimular a construção de torres –que chamou de ‘elefantes brancos’– isoladas na periferia. “A retração do mercado imobiliário provocará a ocupação da periferia por loteamentos carentes de infraestrutura social e de serviços que serão inescrupulosamente comercializados com a população de baixa renda, como ocorre em todas as periferias das cidades sem planejamento e como já ocorreu em São José”, explicou o urbanista, alertando especificamente para a situação da zona leste. “A proximidade do Parque Tecnológico poderá atrair aventuras imobiliárias. A nova lei também favorecerá a proliferação de ZEIS (Zo-

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Eugênio Vieira

nas Especiais de Interesse Social) e os assentamentos irregulares”. Segundo o arquiteto, o desinteresse das grandes empresas favorecerá a multiplicação das pequenas empreiteiras e construtoras de imóveis de baixa qualidade, contribuindo para a desvalorização dos bairros. “São expressões desta tipologia arquitetônica os bairros Santana, Jardim Paulista, Vila Maria, Vila Industrial e Jardim Satélite.” Paes Manso ressaltou, porém, que o adensamento precisa ser controlado. O caso do Jardim Aquarius é emblemático dos males decorrentes da falta de controle. Na última década, os prédios altos se multiplicaram sem planejamento, criando ilhas de calor e afetando a qualidade de vida dos moradores. A nova lei pretende controlar a verticalização neste bairro limitando a altura dos edifícios a 15 andares, quando a legislação atual permite a construção de prédios de até 30 pavimentos. A ideia é evitar a saturação das redes de água e esgoto. “O Jardim Aquarius tem uma história. Na década de 80, quando eu era secretário de Planejamento, projetamos e aprovamos uma zona especial, mista (que permite estabelecimentos comerciais) e de alta densidade, com projeto urbanístico. Na década de 90, pela ausência de estudos técnicos competentes e decisões políticas, a lei foi alterada, permitindo um adensamento inconveniente. Hoje, todas as quadras já estão ocupadas ou comprometidas com projetos em fase de aprovação”, relatou, defendendo, porém, sua criação. “O Aquarius é um sucesso urbanístico, que conseguiu deslocar o eixo de desenvolvimento da cidade para uma região com malha viária adequada”, afirmou.

CENTRO Rua 15 de Novembro, no centro de São José; prefeitura tem projeto para revitalizar a região central da cidade

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Verticalização Para o urbanista Flávio Mourão, o controle da verticalização no Aquarius não vai resolver o problema das ilhas de calor. “Sobre o adensamento proposto, a maior preocupação não reside na maior ou menor verticalização em alguns setores da cidade, e sim no fato de que os instrumentos não evitam os efeitos indesejados das ilhas de calor, provocados pela geometria e a impermeabilização do ambiente urbano”, destacou. No site, a prefeitura também anuncia a intenção de “conter a impermeabilização crescente do solo urbano que sobrecarrega as redes de drenagem de águas pluviais e gera problemas de acúmulo de água e enchentes”. No entanto, é necessário ir além, afirma Mourão. “Alguns instrumentos adotados buscam um ambiente urbano mais sustentável, especialmente na questão da macrodrenagem, mas é preciso ir além e pensar mais na microdre-

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nagem, ou seja, fazer como que a água penetre mais no subsolo antes de chegar aos córregos”. A Lei de Zoneamento também pretende atribuir uma classificação específica para os estabelecimentos comerciais e de lazer como hotéis, bares e restaurantes, com o intuito de mantê-los afastados das residências. A medida, que visa limitar os conflitos por causa do barulho, agrada aos moradores, mas não aos profissionais da categoria. O Jardim Esplanada, classificado como ZR1 (Zona Residencial 1), é um exemplo de bairro onde a abertura de novos estabelecimentos deste tipo deverá ser coibida. Outra novidade da lei é a transformação das zonas mistas em Zonas de Urbanização Controlada, que terão seu número ampliado de seis para oito. As mais próximas ao centro, que incluem bairros como Vila Maria, Vila Adyana ou Jardim São Dimas, permitirão menos usos e maior densidade populacional, e as mais periféricas incentivarão a diversidade de usos para estimular a formação de novas centralidades. No entanto, o temor dos especialistas é que os comércios substituam cada vez mais os prédios residenciais. “Na região central, em bairros como São Dimas, Vila Adyana ou Vila Ema, os lotes de ocupação unifamiliar continuarão a ser substituídos por comércios e sofrerão degradação, à semelhança do que ocorre hoje com o centro antigo”, ressaltou Paes Manso. Revitalização A nova lei tem como objetivo promover a revitalização do centro antigo por meio de um plano de ação em três pontos: valorizar os bens preservados, incentivar atividades culturais, de diversão e lazer noturno e otimizar a infraestrutura existente. O texto prevê a divisão do setor em duas zonas de uso. Na Zona Central 1, que concentra a maior parte dos comércios, será criado um setor específico para diversão noturna, com a concessão de incentivos fiscais aos investidores que abrirem bares, restaurantes e danceterias. As calçadas serão alargadas, e haverá novos calçadões. Outra medida destacada pela prefeitura é a “valorização e renovação do entorno do Mercado Municipal”. Na Zona Central 2, que cerca a ZC1, serão incentivadas as atividades ligadas ao comércio e aos serviços, bem como prédios residenciais. “A área central já está bem deteriorada, resgatar sua importância é essencial. A preservação histórica não é apenas manter fisicamente os edifícios, é também dar-lhes usos e funções compatíveis com os projetos e conceitos que lhes deram origem”, ressaltou Mourão. A lei ainda pretende transformar o Urbanova no polo residencial da região oeste per-

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Flávio Pereira/arquivo

SEM-TETO Pinheirinho, área ocupada por sem-teto na zona sul de S. José; mais de 1.500 famílias moram no terreno

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Arquivo/vp

A Lei de Zoneamento terá validade de dez anos, mas poderá ser reavaliada a cada quatro anos após aprovação de emenda parlamentar

CARTÃO-POSTAL Banhado, a área de proteção ambiental que se tornou o principal cartãopostal de São José

mitindo, além dos condomínios, edifícios de até oito andares. A ideia da prefeitura é criar uma Zona de Qualificação ao lado do bairro, cada vez mais apinhado de condomínios fechados que “ampliam a segregração”, segundo Mourão. As ZQAs são grandes áreas vazias de localização estratégica ao desenvolvimento, definidas para promover novas centralidades. O objetivo é fazer com que os moradores do bairro sejam mais “independentes” do centro. “A ocupação do Urbanova exige hoje um plano diretor específico e direcionado, mas continuamos a ver o mesmo erro cometido no Satélite, que cresceu mais do que o projetado e de forma desorganizada”, disse Mourão. O projeto também prevê ZQAs em Putim e Capão Grosso, uma área da região leste cercada por ZEIS. Segundo Paes Manso, o problema destas ZQAs é a indefinição das condições de uso, que “estimulará a ocupação do solo por segmentos da economia informal”. Um dos elementos essenciais da nova lei é a melhoria da mobilidade urbana. A cidade está crescendo e o número de habitantes e carros também. Para resolver os problemas de trânsito, o município aposta na criação de novas

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centralidades (para limitar os deslocamentos), mas também contempla a abertura de quatro tipos de “corredores de uso”: expresso, de apoio, de requalificação e de orla. Destinado a um uso comercial, o corredor expresso terá como função manter a fluidez do Anel Viário e das vias expressas, com a ajuda dos corredores de apoio. Os corredores ditos de requalificação contribuirão para a renovação estética, o conforto para os pedestres e a valorização do comércio. Já os corredores de requalificação serão instalados em trechos das avenidas Andrômeda, dos Astronautas, Tancredo Neves, Juscelino Kubitscheck e Brigadeiro Faria Lima, e nos centros comerciais de Santana e Jardim Paulista. Já o corredor da orla garantirá a proteção da paisagem do Banhado, classificado como ZPA1 (Zona Especial de Proteção Ambiental), que admite apenas as atividades agrícolas e pecuárias. Para o urbanista Pedro Ribeiro, da Univap, os esforços empreendidos em prol da mobilidade vão “desumanizar” a cidade. “A nova lei aponta para uma cidade voltada para o uso do transporte individual, estabelecida sobre um sistema de corredores sem disposição para o transporte de massa. Assim, na contramão de todas as experiências vencedoras conhecidas, reafirma-se o modelo elitista e poluidor do automóvel e cria-se um ambiente maquinizado, desumaniza-se a cidade”, lamentou. Um fator que pode perturbar seriamente esta busca por mobilidade é a transformação da estrutura urbana social e econômica por “empreendimentos macro-regionais” não considerados pela nova lei, avisou Paes Manso. O arquiteto citou especificamente a consolidação do Anel Intermodal Macro Metropolitano e o Corredor de Exportação do Estado de São Paulo, assim como a ampliação da capacidade do Porto de São Sebastião e a construção do Retro Porto (Porto Seco) no Vale do Paraíba. Segundo ele, estas obras demandarão “grandes áreas industriais”, que a nova Lei de Zonea-

mento pretende instalar ao longo da via Dutra. “Grandes volumes de carga circularão pela área urbana consolidada, comprometendo seriamente a fluidez do tráfego”, alertou. Outra grande obra prevista é a implantação da Rede de Trem de Alta Velocidade. O trem-bala terá uma estação de passageiros em São José, cuja localização ainda não foi definida. Modo geral, a região Leste continuará abrigando a grande maioria das Zonas Industriais da cidade. Paes Manso ainda mencionou outra falha da nova lei: a exclusão da zona rural. “A zona rural não é tratada no texto, mas tem seu perímetro alterado em relação da lei atual. A área rural oferece boas condições para o desenvolvimento do turismo. Entretanto, as chácaras e condomínios de recreio, que poderiam ser uma alavanca para o desenvolvimento ambientalmente sustentável da zona rural, não são admitidos, restringindo ainda mais os preceitos teóricos de geração de empregos e atração de novos investimentos”, lamentou, alertando ainda para o risco de que o novo projeto estimule a ocupação clandestina. Preocupação De um modo geral, segundo o arquiteto Pedro Ribeiro, São José já é uma cidade muito desigual em termos de desenvolvimento, e estas discrepâncias vão piorar com a nova lei. “São José é hoje o centro mais rico da região, mas também aquele onde são maiores os problemas econômicos e sociais da população. Somos os campeões regionais em invasões e assentamentos irregulares, bem como em desigualdade de renda”, afirmou. Na opinião do urbanista, a nova Lei de Zoneamento vai provocar uma queda progressiva da qualidade de vida dos joseenses. “O que teremos para os próximos será a gradativa perda de qualidade de vida que, a duras penas, ainda se mantém. Salvo uma grande mobilização de nossa sociedade que busque a efetiva concretização de um novo projeto metropolitano e um novo paradigma para São José dos Campos, esta será, de fato, a cidade das máquinas”. “São José vai desempenhar um papel cada vez maior na produção de tecnologia e diversificação de serviços. Para validar este cenário, é necessária uma transformação radical na forma e organização do espaço urbano. Isso significa maior qualidade em relação às áreas verdes, distribuição adequada dos equipamentos de saúde e circulação eficiente. Da forma como a cidade está hoje espalhada, e pela falta de estrutura viária adequada e eficiente ao transporte coletivo, a perspectiva futura neste aspecto é preocupante”, finalizou Flávio Mourão. •

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MEMÓRIAS

A São José das minhas lembranças Capital do Avião, Polo de Alta Tecnologia, Pioneira no setor Aeroespacial e Referência no Terceiro Setor são algumas das expressões utilizadas para qualificar São José dos Campos. O município, que completa neste mês 243 anos, conquistou vários títulos graças ao trabalho de inúmeras pessoas que contribuiram de alguma forma para o seu desenvolvimento. Nascidas ou não em São José, com rostos anônimos ou conhecidos, todas têm em comum o fato de carregarem uma história marcante na cidade. A revista valeparaibano foi atrás para descobrir a São José que habita a lembrança de alguns desses personagens. Entre fatos relacionados a experiências profissionais e familiares está um saudoso legado pessoal.

Hugo de Oliveira Piva, 83 anos Major-brigadeirodo-ar da reserva

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Eu vim para cá em 1954, quando São José dos Campos tinha pouco mais de 20 mil habitantes e só tinha uma rua pavimentada com paralelepípedos, que era a Rua 15 de Novembro. Aos domingo, toda a juventude ia passear lá, as moças andavam em uma direção e os rapazes na outra direção de modo que eles se cruzavam sempre. Era um ponto de paquera. Existia também ali um bar, chamado Bar do Boneca, muito frequentado na época. Morávamos no CTA e existia muito pouco ônibus para ir à cidade. Meus amigos pegavam o ônibus e voltavam de charrete, esse era o nosso táxi. Quando chovia muito a estrada ficava com muito barro e o ônibus sempre atolava ao passar embaixo do viaduto da via Dutra, em frente ao CTA. As pessoas tinham que descer do veículo e continuar o caminho a pé ou esperar durante muito tempo outro ônibus. Pouca gente tinha automóvel, em alguns horários o CTA oferecia ônibus ao pessoal para transporte, principalmente para ir ao Mercado Municipal. Nessa época eu já era casado, mas as moças ficavam entusiasmadas quando viam meus amigos solteiros com o uniforme do ITA.

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André Azevedo, 51 anos Piloto de rally

Nasci de parteira em 1959 na casa dos meis pais, em Santana. Tenho uma lembrança muito boa da minha infância. Meu pai era vereador e foi convidado para assistir ao voo inaugural do Bandeirante. Ele levou toda a família ao CTA. Lembro de ter muita gente na pista e um galpão com o Bandeirante. Mesmo criança, com 7 anos, sabia que estava presenciando um marco na história de São José. Esse dia marcou pela grandiosidade do evento, a quantidade de pessoas e por gostar muito de aviação. Queria ser piloto de caça, cheguei até fazer um curso de piloto privado, mas não gostei muito. Achei melhor ficar em terra com minha motocicleta voando, algumas vezes, só no salto. Arquivo pessoal

Chico Oliveira, 57 anos Músico

Lembro b d de minha i primeira apresentação em São José, no aniversário do Tênis Clube, abrindo o show da Elis Regina. Foi um dia de muita emoção, pois era uma coisa inatingível para mim, que só tocava em circos e pequenos bailes. Fui convidado pelo Sérgio Weiss para tocar numa banda famosa da época, a Brazilian Modern Six, em 1972. Foi um passo gigantesco na minha carreira. Mas o palco do show da Elis era imenso e tinha pelo menos mil pessoas no baile. Começamos a tocar às 23h, paramos à 0h30 para o show da Elis e voltamos às 2h para encerrar o evento. Elis era uma pessoa incrível, uma estrela absoluta e eu apenas um músico de banda de baile. Esse show foi praticamente o começo da minha carreira profissional e da minha vida em São José, onde encontrei minha esposa e tive meus filhos.

Arquivo pessoal

Vera Buffulin, 67 anos Presidente da Apae

Morava com minha família na fazenda conhecida hoje como Fazenda Limoeiro. Era um local muito isolado e precisávamos ir à escola de charrete. Minha irmã e eu estudávamos no Instituto São José, que ficava no centro, e tínhamos que acordar bem cedo para que meu pai pudesse levar a gente. Acho que todo o percurso demorava uns 40 minutos. A paisagem era linda, passávamos por quase todo o Banhado. A região era cercada de outras fazendas, parecia uma cidade pequena onde todo mundo conhecia todo mundo. Para a gente, São José começava a partir da Vila Ema, ao atravessar o Vidoca. Lembro que a fazenda do meu avô se chamava Paraíso. Depois de muito tempo, olhando a escritura, descobrimos que o verdadeiro nome era Limoeiro. Dando origem ao nome do bairro.

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Gilberto Câmara, 54 anos Diretor do Inpe

O momento em que me tornei joseense foi em meados de 1978, com a criação da Sociedade Cultural de São José dos Campos. Na época, tínhamos identificado uma necessidade de ampliar a quantidade de atividades culturais que fossem acessíveis às pessoas. Lembro que a Juana Blanco participava, a Claude Mary [de Moura], que hoje é secretária de Governo também participava, o [Carlos Américo] Pacheco, ex-secretário Executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia,

entre outros colegas. Uma das primeiras coisas que a gente fez foi uma cota para comprar um projetor de 16 milímetros. Com ele, a gente passou exibir filmes e criamos o Cine Clube Planetário. Acho que participar desse projeto ajudou a criar raízes em São José, já que dele surgiu a Fundação Cultural Cassiano Ricardo. Eu estava com 23 anos, ainda era estudante do ITA, e um projeto cultural não fazia parte do meu dia-a-dia acadêmico. Por isso, ficou tão marcado. Arquivo/vp

Rico Basano, 37 anos bi-campeão brasileiro de Hipismo

Uma das melhores lembranças que tenho na cidade aconteceu em 1º de agosto de 1993, quando ganhei meu primeiro título brasileiro, no Campeonato Brasileiro de Horse Cross. Foi um total de duas etapas: a primeira aconteceu em Sorocaba e a segunda, em São José. No ano anterior eu tinha ficado em vice e para levar o título teria que vencer em casa, já que em Sorocaba fiquei em segundo. Essa final foi emocionante, pela primeira vez estava correndo como favorito, já que estava em São José. O outro cavaleiro que

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venceu em Sorocaba estava liderando a prova novamente, então eu tinha que fazer um menor tempo. Entrei acreditado, tinha muita gente torcendo. A pista tinha 4.000 metros, quando faltavam cerca de 100 metros para terminar, tinha acabado de saltar o último obstáculo, já soltei a rédea e comecei a comemorar sabendo que ninguém iria conseguir tirar meu tempo. Faltavam ainda oito concorrentes, mas fiz em 6 minutos e 12 segundos, era impossível alguém bater. Esse foi meu primeiro título de relevância.

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Sérgio Porto, 59 anos empresário

Nasci em 1950 e peguei o crescimento cronológico de São José. Acompanhei o processo de urbanização, como a primeira rua asfaltada, a 15 de Novembro. A inauguração da praça Afonso Pena, deixando de funcionar como depósito de burro. Inauguração do Cine Palácio e até mesmo do azulejo da piscina do Tênis Clube, quando meu pai foi presidente do clube. Mas uma coisa que foi um marco na minha vida, tanto pessoal quanto profissional, e até mesmo um marco na história da cidade, foi a construção

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Novo endereço do CenterVale Shopping. Lembro que estava trabalhando em uma outra empresa quando meu irmão telefonou dizendo que tinha um pessoal querendo fazer um shopping e pediu para que eu fosse atendê-los. Falei para ele que estava no meio de uma reunião e não podia. Ele ligou outra vez insistindo, argumentando que queriam dar a obra para a gente. No mesmo dia fui visitar o pessoal e fechamos o contrato. Foi marcante por ser um desafio, era uma obra que tinha que ser rápida, uma verdadeira epopéia.

Arquivo pessoal

Nena Bonadio, 86 anos Empresária

São muitas recordações, afinal tenho 86 anos de vida e todos passados em São José dos Campos. Mas o dia do meu casamento, em 19 de maio de 1945, foi muito especial. A cerimônia movimentou a cidade, pois éramos de famílias tradicionais: meu marido da família Becker e eu da Bonagio. Muita gente foi convidada para o casamento, que aconteceu na Igreja Matriz São José. Era uma ocasião um pouco diferente, já que estávamos em meio a uma guerra mundial. As pessoas que tinham carro não podiam usá-lo por falta de gasolina, o governo controlava a venda do combústivel. Os táxis eram poucos na cidade, mas cada um deu um jeito de ir à cerimônia. Eu atrasei uma hora para chegar à igreja, queria casar às 18h, mas o padre disse que realizava casamento só até as 17h, por isso atrasei de propósito, avisei apenas o meu marido. Depois desse dia seguimos nossas vidas em São José, onde tivemos oito filhos. Nunca pensei em deixar a cidade. •

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Política

ELEIÇÔES 2010

Corrida ao Palácio dos Bandeirantes Dos seis candidatos ao governo do Estado, cinco estão ligados ao Vale do Paraíba, principalmente por raízes familiares; disputa reúne Geraldo Alckmin (PSDB), Aloízio Mercadante (PT), Celso Russomano (PP), Luiz Carlos Prates (PSTU) e Paulo Skaf (PSB), além de Fábio Feldman (PV) Fotos: divulgação

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Cláudio César de Souza são josé dos campos

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egião que já cedeu ao Brasil um presidente da República, Rodrigues Alves, e um governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o Vale do Paraíba confirma na eleição deste ano sua tradição e prestígio políticos. Independententemente de quem vencer a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes no pleito de 3 de outubro, a região estará novamente representada. Dos seis candidatos a comandar o principal Estado da federação nos próximos quatro anos, cinco estão intimamente ligados ao Vale, principalmente por raízes familiares. Líder com folga em todas as pesquisas de intenção de votos para o Executivo estadual, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), 57 anos, nasceu em Pindamonhan-

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gaba e tem no Vale seu principal reduto eleitoral. Apesar da agenda sempre lotada de compromissos, o político tucano, que governou São Paulo entre março de 2001 e abril de 2006, é visitante frequente de sua cidade natal, onde foi vereador e prefeito. É no sítio no bairro da Colmeia, em Pinda, que Alckmin busca forças para se recuperar do estresse do dia a dia da política. Acompanhado pela mulher Lu Alckmin, pelos filhos, Sophia, Geraldo e Thomaz, e pela neta, Isabela, ele aproveita os momentos no local para dar vazão à sua veia de fazendeiro, plantando árvores, cuidando de flores e vacinando o gado. “O sítio é o meu refúgio e o meu lugar de descanso, onde recupero as forças e fico mais perto da natureza e, consequentemente, de Deus. Sempre que posso, volto para cá com a família”, explica Alckmin, que garante ter uma dívida de gratidão com o Vale. “Sou eternamente grato a Pindamonhangaba e ao Vale do Paraíba, onde nasci, fui vereador, prefeito e deputado distrital por três vezes. Não tem como pagar o que a re-

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gião fez por mim, mas prometo, se a população me der a chance de voltar a governar São Paulo, trabalhar com honestidade e seriedade para melhorar a vida dos moradores da região e de todo o Estado.” Em Pinda, moram atualmente duas irmãs, oito sobrinhos, nove sobrinhos-netos, dois cunhados e a ex-babá do tucano, que recebem atenção especial de Alckmin quando ele está na cidade. “O Geraldinho nunca deixa de visitar os parentes, já que a família é muito importante para ele. Mesmo quando não está em Pinda, está sempre telefonando para saber como estamos. Mesmo tendo sido governador e tendo alcançado sucesso na política, o Geraldinho manteve a humildade. Até hoje, é a mesma pessoa com os amigos e com a família”, garante a professora Maria Aparecida Alckmin Morgado, a ‘Mimi’, 60 anos, uma das irmãs do tucano. Os encantos de Pinda e da região também atraíram o candidato do PSB ao governo de São Paulo, Paulo Skaf, 55 anos. Apesar de ter nascido na capital, o presidente licenciado

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Política Fotos: divulgação

tenho dúvida de que terá em seu governo uma atenção especial para resolver nossos problemas”, pondera Hayashi, que é candidato a deputado estadual.

CONVENÇÃO O candidato tucano ao Palácio dos Bandeirantes, Geraldo Alckmin, cumprimenta colegas de partido Arquivo/vp

da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) mantém uma casa no município do Vale, onde sempre passa os fins de semana com a família. Ele também é proprietário de empresas na cidade. “Gosto muito de Pinda e do Vale do Paraíba, região que aprendi a amar e pela qual tenho muito carinho. Agora com os preparativos da campanha está mais difícil ir a Pinda, mas em geral passo todos os fins de semana na casa que tenho na cidade”, explica Skaf. Em Pinda, ele aproveita os momentos de folga para fazer caminhadas e andar de bicicleta. “O Vale do Paraíba mescla conhecimento, desenvolvimento e o talento das pessoas. É uma região muito especial porque conjuga as belezas naturais das serras da Mantiqueira e do Mar.” Um dos principais aliados de Skaf no Vale, o vereador de São José dos Campos Walter Hayashi não tem dúvida de que o empresário terá uma atenção especial com a região caso seja eleito em 3 de outubro. “Paulo Skaf não é do Vale, mas adotou nossa região como extensão de sua casa. Ele tem uma ligação forte com o Vale, conhece as principais demandas e, se for eleito, não

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LEITURA Luiz Carlos Prates, candidato ao governo do Estado pelo PSTU

Raízes O senador Aloízio Mercadante (PT), 56 anos, é outro postulante ao Palácio dos Bandeirantes que tem vínculos com Pindamonhangaba, onde moram alguns de seus parentes. Mas é em Jacareí, maior cidade administrada pelo PT no Vale, que ele possui sua maior identificação. Avô do petista, Pompílio Mercadante, foi prefeito de Jacareí na década de 50 e sua importância para o município pode ser confirmada pelas homenagens que recebeu –além de ter um busto na Santa Casa, ele dá nome a uma rua e uma praça. Já o Clube Elvira, um dos mais tradicionais da cidade, leva o nome da avó de Mercadante, que recebeu da Câmara o título de cidadão jacareiense. “Tenho familiares em Jacareí, Taubaté e Pinda e sempre que posso vou ao Vale do Paraíba, região onde passei parte importante da minha vida e que faz parte da minha história e da minha trajetória. Espero ser eleito para poder governar São Paulo com um olhar especial para essa região tão importante e tão maravilhosa”, ressalta Mercadante. Médico em Jacareí e primo do candidato petista ao governo paulista, o médico José Antônio Mercadante, 61 anos, explica que a ligação da família com o Vale remonta ao século 19. “Os dois irmãos Mercadante que vieram da Itália para o Brasil e que deram início à nossa família se estabeleceram em Jacareí. O Aloízio tem uma agenda muito cheia e nem sempre pode estar aqui em Jacareí, mas não tenha dúvida de que ele tem um carinho muito grande por nossa região.” LIGAÇÃO A lista de candidatos ao governo paulista que tem ligação com o Vale inclui ainda o secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Luiz Carlos Prates (PSTU), o ‘Mancha’, 54 anos, e o deputado federal Celso Russomanno (PP). Apesar de ter nascido em Pitangueiras, no interior de São Paulo, Mancha mora em São José desde 1987. Um dos líderes sindicais mais atuantes do Vale, ele foi candidato a prefeito de São José em 2004 e em 2006 disputou vaga no Senado. Já Russomanno, que também é famoso por seu trabalho como apresentador de TV e pela luta pelos direitos dos consumidores, é irmão do deputado

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CORPO A CORPO Aloízio Mercadante, candidato do PT ao governo do Estado, conversa com eleitores em S. Paulo

NAS RUAS O candidato Celso Russomano (PP) caminha ao lado do deputado federal Paulo Maluf

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VISITA Paulo Skaf, candidato pelo PSB, percorre as ruas de Ferraz de Vasconcelos

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estadual Mozart Russomanno, que mora em Caraguatatuba e em 3 de outubro tentará assegurar sua reeleição. Dos postulantes ao Executivo estadual, apenas o ambientalista e ex-deputado Fábio Feldman (PV), 55 anos, não possui vínculos com a região. Prestígio A presença de cinco candidatos a governador com ligações estreitas com o Vale foi comemorada pelo prefeito de Ubatuba e presidente do Codivap (Consórcio que reúne as prefeituras da região), Eduardo César (DEM). “É um fator muito positivo e que reflete a importância que a nossa região tem para São Paulo e para o Brasil. Qualquer que seja o governador eleito, ele terá identidade e link com o Vale e a tendência é de que governe com atenção especial às nossas reivindicações, principalmente em relação à duplicação da Rodovia dos Tamoios e ampliação do Porto de São Sebastião.” O professor de Ciências Políticas da Unitau (Universidade de Taubaté) José Maurício Cardoso Rego também acredita que o Vale poderá ser beneficiado no próximo governo devido ao vínculo dos candidatos com a região. “O Vale do Paraíba sempre ocupou papel de destaque na economia e na política brasileiras e nesta eleição não será diferente. É normal que os candidatos aos cargos majoritários como governador tenham ligação com o Vale, já que a riqueza e desenvolvimento da região ao longo de sua história atraíram para cá famílias tradicionais e poderosas. O vínculo dos candidatos a governador com o Vale poderá beneficiar a região e espero que isso aconteça, já que as principais obras e investimentos pleiteados nos últimos anos ainda não saíram do papel”, opina Cardoso Rego. “Mas não é só o Vale que poderá ser beneficiado. Essa relação também é positiva para os candidatos a governador, já que a tendência é de que os eleitores do Vale se identifiquem com eles pelo regionalismo e a consequência imediata é o voto. Mas quem for eleito terá que cumprir as promessas e atender as principais demandas, já que por ter ligação com a região a cobrança e a expectativa serão maiores”, alerta o cientista político. Os vínculos dos candidatos a governador com o Vale já estão assegurados. Resta esperar agora pela abertura das urnas em 3 de outubro para saber quem será o próximo mandatário-mor do Estado para cobrar dele um compromisso real com a região. Ao contrário dos álbuns de fotos deles com suas famílias, as promessas não podem ficar no papel. •

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Política

Ozires Silva

Para o desenvolvimento, é necessária uma cruzada pela educação no país esmo que superficialmente, um exame sobre as deficiências educacionais do nosso país leva qualquer observador a constatar nossas claras desvantagens competitivas no mundo global. A história demonstra uma direta relação de causa-e-efeito da educação do povo e o sucesso do desenvolvimento econômico. Países menores e com dificuldades mais significativas, mostram que não estamos tendo resultados compatíveis com as necessidades da nossa economia.

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A realidade mostra que estamos muito distantes dos padrões internacionais. Em números absolutos, o Brasil pode estar no caminho de vir a ser a 5ª economia mundial. Todavia, as comparações mostram um Brasil ocupando a 75ª posição no IDH – Índice de Desenvolvimento Humano (2009) e a 56ª no Índice de Competitividade (2010), demonstrando que a educação deveria ser o maior desafio a ser vencido para reduzir a distância entre o econômico e o social. Nossa população se apresenta em níveis educacionais muito baixos e, em consequência, aparece condenada a trabalhar em funções simples e de baixa remuneração, incapaz de ter acesso à moradia, saúde e qualidade de vida. Todavia, no Brasil e mesmo no Vale do Paraíba, também se constata o sucesso da educação. Com a

PROBLEMA “A educação brasileira sofre, tanto em acesso quanto em qualidade, seja no sistema público ou no privado” instalação do ITA (1950), foi possível criar a indústria aeronáutica em São José dos Campos. A Embraer é hoje a terceira produtora mundial de jatos comerciais. Poderíamos ter exemplos semelhantes, se investíssemos mais em educação. Porém, em plena era da sociedade do conhecimento, parece que nos conformamos em comprar tecnologia e importar o que podemos produzir. Assim, nos condenamos a pagar bilhões em encargos para outros países, cujas empresas nos licenciam e autorizam a replicar seus produtos no Brasil, resultando enormes limitações. A educação brasileira sofre, tanto em acesso quanto em qualidade, seja no sistema público ou privado. Métodos e conteúdos obsoletos se proliferam em todos os níveis. Nossa população é, em sua maioria, incapaz de entender um simples texto. Até mesmo a capacidade de pensar e de resolver questões básicas de raciocínio já está comprometida nos jovens. Dos 190 milhões de brasileiros, 32 estudam no ensino fundamental. Apenas um quarto, 8 milhões, chega ao ensino médio e somente 2 milhões se formam anualmente. Limitados por um funil,

apenas 13% dos jovens conseguem entrar no curso superior. E, além do número irrisório de matrículas, 40% dos universitários não conseguem concluir seu curso, resultando num dos maiores índices mundiais de desperdício do talento. Meus caros leitores, aceitos os argumentos, fica a pergunta. Compreendendo o extraordinário poder da educação de transformar, o que vamos fazer? Há um campo enorme para o peso da opinião pública se manifestar, lembrando que nossa Constituição prevê que “a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, sua cidadania e qualificação para o trabalho (art. 205)”. No entanto, os princípios constitucionais que defendem o direito à Educação, estão sendo negligenciados ou violados. Nossos legisladores aprovaram leis que restringem muitas garantias constitucionais, impedindo que a educação se beneficie, por exemplo, da imunidade tributária e previdenciária prevista na nossa lei maior. Vamos continuar assim? Creio que cada um de nós tem a resposta. •

Ozires Silva Engenheiro

ozires@valeparaibano.com.br

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Economia LAVOURAS

Vale investe no cultivo de arroz especial Maior produtora no Estado de São Paulo, região agora se prepara para virar polo especializado em variedades exóticas do grão; rizicultura movimenta R$ 45 milhões por ano em 15 mil hectares de plantio

Hernane Lélis São José dos Campos

D

epois de emplacar como maior produtor de arroz irrigado do Estado de São Paulo, o Vale do Paraíba pode se tornar também polo especializado no cultivo de variedades exóticas do grão. Tradicionamente branco na mesa dos brasileiros, o alimento ganha nas mãos de produtores da região novas cores, sabores e nutrientes que enriquecem ainda mais o agronegócio nacional. O plantio de arroz no Estado ocupa hoje 16 mil hectares, sendo 15 mil distribuídos em doze cidades do Vale do Paraíba –área equivalente a 17 mil campos oficiais de futebol. A rizicultura movimenta cerca de R$ 45

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milhões por ano na região, apontando como uma das atividades mais importantes e lucrativas da cadeia agrícola regional, com o envolvimento de 1.500 famílias no manejo. Entre as variedades cultivadas estão o arroz agulhinha, que é o mais consumido no Brasil, o koshihikari e o moti, da culinária japonesa, o arbóreo muito usado na cozinha italiana, o grão vermelho, mais conhecido na China e Tailândia, e o preto, também da culinária chinesa. A ideia dos rizicultores da região é ampliar não somente o mix do alimento, mas também aumentar a produção de 6 para até 9 toneladas anuais por hectare. No total, são 295 áreas de plantio distribuídas entre os municípios de Guaratinguetá, Canas, Lorena, Cachoeira Paulista, Potim, Aparecida, Roseira, Cruzeiro, Pindamonhanga, Taubaté e o distrito de Quiririm, Tremembé e Caçapava . Cada hectare de arroz chega a render por ano o equivalente a 150 mil sacas de 60 quilos.

PRODUTOR José Francisco Ruzene, de Tremembé, foi pioneiro no cultivo das chamadas variedades exóticas de arroz no Estado de S. Paulo

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Fotos: Eugênio Vieira

José Francisco Ruzene, 44 anos, arrendatário da Fazenda Mombaça, em Tremembé, é pioneiro no cultivo das chamadas variedades exóticas de arroz no Estado. De suas terras saíram a primeira safra comercial paulista do arroz vermelho, que terminou de ser colhida no último mês e já está disponível no mercado. Segundo o produtor, somente a região Sul do país representa concorrência direta no cultivo de grãos especiais com o Vale. Ruzene agora se prepara para colocar nas prateleiras dos supermercados a espécie basmati –um arroz indiano aromático que deve ser lançado ainda esse ano. “Estamos realizando um trabalho de multiplicação das sementes. Acredito que vamos colher cerca de 15 toneladas para entrar no mercado”, disse. O arroz preto, carro-chefe na lavoura do empresário, com pouco mais de 100 hectares plantados por ano, teve sua primeira safra cultivada no final de 2005. De lá para cá ganha cada vez mais espaço na área de cultivo e nas gôndolas dos supermercados. Diante do sucesso do grão, o produtor implantou um pequeno laboratório em sua propriedade para analisar novas formas e variedades de arroz para semear na região. “Queremos o Vale não só como o maior produtor de arroz do Estado, mas também como o que produz maior variedade de arroz no Brasil. No início tínhamos apenas dois hectares plantados, hoje o cultivo de arroz especial já chega a 400 hectares. Estamos estudando ainda outros três tipos para serem lançados nos próximos três anos”, explicou o rizicultor. O maior desafio de Ruzene, no entanto, foi ‘sair da porteira’, enfrentar o mercado e vender seu produto diretamente para supermercados, empórios e casas do ramo. Hoje, além de sua própria marca, ele embala o grão para outras cinco empresas, algumas delas de renome nacional. “Houve uma resistência muito grande no começo, buscamos primeiro a capital para chegar aos poucos nas demais regiões do Estado”, disse. Cultivo Além de Ruzene, outros dez agricultures do Vale também já cultivam o chamado ‘arroz especial’. É o caso de Armando Sato, 50 anos, que investe principalmente no koshinikare, mais conhecido entre os rizicultores como japônico. Da área de 50 hectares utilizada no plantio, 30 hectares são destinados à variedade. Somente nessa primeira colheita foram retiradas 130 toneladas da espécie, que tem

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Economia

como destino certo a capital e o interior paulista. “Depois de anos plantando o agulhinha resolvi apostar nos especiais. O custo desde a plantação até a colheita é pelo menos 40% maior que o agulhinha, mas o preço no mercado compensa o investimento”, disse. A intenção de Sato e dos demais rizicultores de grãos exóticos do Vale é ampliar anualmente a plantação e o mercado. Para isso, além de conquistar o paladar dos consumidores, eles precisam também convencer os produtores sobre as vantagens de se cultivar o arroz especial, mesmo sem abrir mão do agulhinha. “Os produtores são conservadores, resistem às novidades do setor. Por isso, estamos trabalhando com parcerias para expandir o negócio. Acreditamos que o futuro do cultivo de arroz na região seja para essas variedades. Se não substituir definitivamente o agulhinha, ele será cultivado em menor escala”, afirmou Sato. Sérgio Abissi, 36 anos, agricultor de Guaratinguetá, ainda é considerado novato no cultivo de arroz especial. No último mês terminou de colher sua quarta safra do produto de uma área de dois hectares da Colônia Piagui, conhecida como cinturão verde da cidade. Devido às fortes chuvas que atingiram a região no início do ano, conseguiu retirar do campo apenas oito toneladas de arroz preto. “Hoje estou plantando apenas arroz preto, mas pretendo diversificar de acordo com o mercado. Ainda estou começando com essas variedades, antes trabalhava só com o arroz agulhinha. Optei trocar pelo preto por causa do preço de comercialização. O agulhinha tem muito mercado, mas a concorrência é grande”, disse o produtor. Para Glênio Wilson de Campos, 59 anos, engenheiro agrônomo e diretor do Núcleo de Produção de Sementes de Taubaté, órgão ligado à Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, a tendência a curto prazo é que a plantação de arroz especial ocupe pelo menos 15% dos 15 mil hectares de área de cultivo do Vale. Tal acontecimento, segundo ele, será de forma escalonada. “Na medida que o mercado vai se abrindo, os agricultores vão abrindo espaço de terra para o cultivo dessas variedades. Sabemos que não é um produto de consumo diário, assim como o feijão preto em São Paulo, mas está cada vez mais comum nos melhores restaurantes”, disse. Com 60 hectares de arroz agulhinha plantados em uma área de Tremembé, o agricultor João Antônio Crozariol, 58 anos, ainda

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PRODUÇÃO Colheita do arroz preto em Tremembé (no alto); beneficiamento e embalagem do produto (ao lado e acima)

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não pensa em abrir espaço em suas terras para o cultivo de arroz exótico. “Acho que ainda precisa de maior aceitação, é um produto que pede um gasto muito grande de manejo, sensível demais na lavoura. Hoje não tenho vontade de mexer com essas variedades, mas no futuro pode ser”, explicou. Paladar Conquistar o paladar brasileiro é o principal caminho dos agricultores para levar os arrop p zes especiais para a mesa dos consumidores. Para isso, o percurso está sendo tra traçado com a ajuda de ren nomados chefs de cozinha, ccomo Alex Atala, proprietá tário do restaurante paulis listano D.O.M., eleito o 18º mel melhor restaurante do mundo l revista britânica Restaurants. pela Hoje, um dos pratos de maior sucesso de Atala com a iguaria é uma salada de arroz preto com lulas, algas e tucupi. O produto entrou no menu do D.O.M., segundo o chef, pelo sabor, que lembra um pouco castanha, e consistência. “Além disso, ele é mais protéico e menos calórico do que as variedades branca e integral”, disse o chef. “Temos dois pratos no D.O.M. e dois no Dalva e Dito (novo restaurante de Atala) que levam arroz especial. É muito bem aceito no mercado, basta olhar nas prateleiras das grandes redes atacadistas e empórios como o Santa Luzia, aqui em São Paulo, para notar a grande oferta, principalmente de grãos do Vale do Paraíba”, afirmou Atala. “Fico muito feliz com essa realidade. Acredito que, de um modo geral, isso é re-

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sultado de acertos de produtores e chefs de cozinha. As duas pontas têm que trabalhar, o chef é o caminho, mas o produtor não pode se acomodar”, disse. Alessandro Segato, chef do restaurante La Risotteria, localizado no Jardins, área nobre da capital, também aderiu às variedades exóticas. Segato manteve a base da tradicional cozinha italiana e misturou temperos brasileiríssimos, o que resultou em opções saborosas e criativas com os arrozes especiais. “Acho o arroz vermelho mais saboroso e com características nutricionais melhores, tive ótimo rendimento com essa variedade. Pelos testes e aplicações que realizei, as combinações são muitas e é difícil dizer uma só. Dá para usá-lo em saladas e até mesmo em sobremesas”, disse Segalo. A sugestão do chef para quem já pensa em levar o arroz vermelho para panela é evitar exageros. “Por ser uma espécie de sabor neutro, é melhor não misturar com mais de três ingredientes que tenham um sabor muito marcante, isso pode fazer com que ele perca sua delicadeza”, explicou. Preço As diferenças dos arrozes especiais não se restringem à aparência, cuidados ou ao sabor: os grãos são mais fibrosos e protéicos que o arroz branco ou integral, ricos em compostos fenólicos –substâncias que previnem o envelhecimento. Para levá-los para casa é preciso desembolsar uma quantia considerável. Enquanto o arroz branco custa R$ 9 o pacote de cinco quilos, o arbóreo, por exemplo, sai por R$ 20 o quilo. Já a variedade preta e vermelha, com um quilo do grão, fica entre R$ 25 e R$ 30. •

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1 KOSHIHIKARI

171

39

3,7

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0,80

0

2

VERMELHO

170

36,7

3,2

1,46

1,84

0,4

3

ARBORIO

117

37,9

3,3

0,3

2,1

0,76

4

PRETO

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4,9

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4,2

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BASMATI

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3,6

0

0,84

0

a cada porção de

50 gramas

Fonte: produtores

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Ciência & Tecnologia

Fabíola de Oliveira

A dedicação e o cuidado amenizam as incertezas diante do mistério da morte

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m um claro e ensolarado domingo de junho minha mãe iniciou a jornada que a levou deste planeta, deixando-nos, a nós que a amávamos, com a perplexidade de continuar sem ela, que durante mais de meio século acariciou nossas vidas. Da varanda do quarto do hospital no bairro de Santana, em São José dos Campos, a cor alaranjada e exuberante das flores de espatódeas, a pelada alegre de domingo em um pequeno campo de verde grama, e o azul do céu outonal, me faziam pensar nos ciclos da vida e na luta que travamos contra o câncer pulmonar que finalmente estava levando minha mãe. Durante os últimos sete meses essa batalha nos fez estabelecer relações com médicos, fisioterapeutas, enfermeiras, assistentes sociais e auxiliares de hospitais da cidade, e com as instituições onde esses profissionais atuam: o Instituto de Oncologia do Vale, os hospitais Pio 12, Santos Dumont e Santa Casa, os laboratórios de exames diagnósticos, os consultórios médicos e o onipresente seguro de saúde. Foram sete meses, sete internações, duas cirurgias delicadas e de alto risco que nos fizeram desenvolver um profundo respeito e admiração pela grande maioria dos profissionais que nos atendeu, por sua dedicação e compro-

CÂNCER “Quanto tempo resta, é uma pergunta que persiste quando lidamos com uma doença maligna” metimento imensos. Mas que também nos fizeram sentir na pele a insegurança e as incertezas que ainda cercam os profissionais da saúde e, em consequência, os pacientes e seus familiares nos cuidados com essa doença tão insidiosa que é o câncer. Poucos dias antes de partir, o último pedido de minha mãe foi que escrevesse sobre a experiência que vivemos nesses últimos meses, durante os quais não obtivemos todas as respostas às nossas indagações –questões angustiantes, que a medicina nem sempre é capaz de responder. No entanto, paradoxalmente, foi um período em que sentimos carinho, solidariedade e amor, em meio à quase exatidão e perseverança dos procedimentos, protocolos, receituários, manuais e normas que fazem os hospitais funcionarem ininterruptamente. Uma dose um

pouco maior de analgésico, uma alteração de sinais vitais não observados a tempo, podem significar a perda de uma vida. O momento exato da morte é de difícil precisão. Quanto tempo resta, é uma pergunta que persiste quando lidamos com uma doença maligna, mas aos poucos aprendemos que não há resposta exata. Nada é exato, nada é totalmente previsível e a compreensão disto nos leva a reconhecer e a aceitar nossas limitações. O médico oncologista do IOV, que acompanhou minha mãe e acompanha boa parte dos pacientes de câncer nos hospitais da cidade, chorou quando ela lhe disse que estava na hora de partir. Além da medicina enquanto ciência, me parece que os bons médicos são aqueles que também sentem e demonstram compaixão, carinho e preocupação. •

Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br

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Economia

SETOR AERONÁUTICO

De São José para o mundo Vale do Paraíba abriga uma das seis fábricas de capacetes de voo de todo o globo; empresa disputa mercado com a França, Suécia, Inglaterra e os Estados Unidos Elaine Santos São José dos Campos

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onhecida como a ‘Capital do Avião’, São José dos Campos mais uma vez ganha destaque mundial no setor de tecnologia aérea –desta vez, na produção de capacetes de voos. Está no bairro Chácaras Reunidas, na zona sul da cidade, uma das seis fábricas de capacetes aéreos de todo o globo terrestre. Trata-se da Esra (Engenharia, Serviços e Representação Aeronáutica), que disputa o mercado internacional diretamente com a MSA Gallet e a Gennau, ambas da França, a Helmet, da Inglaterra, a Saab, da Suécia, a Gentex Corporation, dos Estados Unidos, e é a única empresa homologada para fornecer o equipamento em todo o hemisfério sul. “Somos seis fabricantes no mundo, mas quem participa de vendas em termos mundiais são os franceses, os norte-americanos e os ingleses. Nós dominados o mercado na América Latina. Não perdemos nenhuma licitação até hoje”, disse Sidiney Peruchi, proprietário da empresa de engenharia aeronáutica.

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Os equipamentos produzidos na fábrica de São José atendem atualmente o Exército, Marinha e Aeronáutica, além das polícias Militar, Federal, Rodoviária e os Bombeiros. Fora do país, os capacetes são vendidos para as Forças Armadas da Argentina, Venezuela e Chile. “Isso por enquanto, mas temos um projeto em andamento com a David Clark, uma fabricante de componentes de comunicação dos EUA, que daqui a dois anos passará a comprar nosso produto para implantar seus sistemas de comunicação e revender às Forças Armadas Norte-Americanas”, disse. Hoje, 12 empresas fornecem peças para a produção dos 22 modelos de capacetes fabricados no Vale do Paraíba. O volume de venda anual da Esra é de 400 unidades por ano, mas a capacidade de produção é de até mil peças por mês. O volume de compra ainda é considerado pequeno devido à baixa demanda no mercado nacional e à durabilidade do equipamento –que chega a até 40 anos. Atualmente, o Exército Brasileiro negocia a substituição de todos seus equipamentos, cerca de 800 peças até o final de 2011. Quando se fala em capacetes de vôos logo vem à cabeça a imagem dos filmes norteamericanos, onde pilotos de caças travam suas batalhas e exibem seus capacetes como troféus. A produção desse equipamento surgiu no mundo a partir da Segunda Guerra Mundial, com a produção em massa pelos EUA. Aqui, no Brasil, esses equipamentos começaram a ser produzidos em São José década de 70 e seguiram até o final da década de 80, na época pela extinta Fortplás. Em 1991, a pedido da FAB (Força Aérea Brasileira), a Esra assumiu a produção de novos modelos de capacetes, que voltaram a competir no mercado mundial a partir de 1998.

ÁGUIA Pilotos e tripulação da Polícia Militar usam o capacete produzido pela Esra, em São José

Capacete de voo reduz em até 85% a gravidade dos ferimentos no piloto, aponta estudo realizado pelo Exército dos EUA

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Bruno Fraiha/arquivo

todos os testes de impactos que simularam 600 Gs, repassaram no máximo 152 Gs para a cabeça de ensaio”, disse Peruchi. Segundo o empresário, por exemplo, no acidente ocorrido em 25 de julho de 2009 com o piloto Felipe Massa, quando uma mola atingiu seu capacete durante o treino do Grande Prêmio da Hungria de Fórmula 1, o resultado final seria bem diferente se o brasileiro estivesse protegido com um capacete de voo. “O capacete de voo, nesse caso, teria uma capacidade de absorção de impacto de até três vezes mais que o capacete comum usado na Fórmula 1, o que, possivelmente, reduziria potencialmente o ferimento do piloto”, disse Peruchi, que é formado em engenharia mecânica pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Guaratinguetá. À ocasião, Massa sofreu uma concussão cerebral (perda de consciência por conta da pancada) e uma lesão óssea por causa do corte de aproximadamente oito centímetros acima do supercílio do olho esquerdo. A mola metálica quicou na pista atingindo a cabeça do piloto a uma velocidade de 280 km/h. Felipe perdeu o controle do carro e bateu de frente na barreira de pneus. Segundo especialistas, os capacetes de Fórmula 1 são projetados para receber impacto de até 600 quilos.

O capacete de voo tem uma função muito além da comunicação com a tripulação e torre de comando –é um equipamento essencial de segurança dos pilotos e possui uma capacidade de absorção de impacto inimaginável. O crânio humano pode tolerar, sem fratura, um impacto equivalente a 400 vezes a força gravitacional, se distribuída uniformemente na cabeça. Em impactos localizados, a tolerância vai de 30 a 200 vezes. No entanto, danos cerebrais podem ser causados com forças menores. Por exem-

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plo, uma concussão ocorre entre 75 e 100 Gs (75 a 100 vezes a força gravitacional) e com 400 Gs ocorre esmagamento, hemorragia e dilacerações no cérebro. Uma escala de severidade de ferimentos, denominada AIS (Abreviate Injury Scale), usada pelo Exército norte-americano, aponta que o capacete de voo reduz em até 85% a gravidade dos ferimentos em caso de acidente. “As normas internacionais de equipamentos de vôo exigem que eles suportem uma força de impacto de 600 Gs. Nossos capacetes, em

Mercado O mercado brasileiro para esse tipo de equipamento poderia ser bem maior, considerando a frota de helicópteros existente no país. Entretanto, seria necessária uma legislação que obrigasse o uso do capacete de voo por pilotos de aeronaves particulares. Atualmente, somente pilotos de aviação agrícola são obrigados a usar o equipamento como segurança individual. De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o número de helicópteros registrados no Brasil já chega a 1.343. Deste total, o Rio de Janeiro tem 293 aeronaves, Minas Gerais,135, e São Paulo, outros 546 – pouco mais de 40% de toda a frota no país e a segunda maior do mundo, perdendo apenas para Nova York, nos Estados Unidos. A Esra detém quatro produtos exclusivos em todo o mundo: um sistema de encaixe para óculos de visão noturna, que reduz de 30 minutos para 5 segundos o encaixe do equipamento, um controle de volume de áudio individual, um sistema de vídeo, que permite o piloto gravar até 110 horas de vôo, e outro de rádio, que é muito utilizado pelas Polícias Militares do Estado de São Paulo e Rio de Janeiro, auxiliando na captura de

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traficantes em grandes favelas. “Esses equipamentos facilitam na questão do desembarque da tripulação. Já houve situações que o sistema de rádio foi essencial para o resgate da tripulação em solo durante combates entre traficantes das favelas. Este ano, houve um caso que um de nossos helicópteros em voo noturno colidiu com um pássaro de grande porte e não houve feridos graves graças ao uso do equipamento”, disse o major Sérgio Andrade Alves, piloto da PM no Estado do Rio de Janeiro. Desde 2009, o governo de São Paulo investe mais de US$ 15 milhões na compra de helicópteros modelo Esquilo AS-350-B2, que completam a frota de patrulha aérea no Estado em 20 helicópteros e dois aviões. Para cada aeronave vão a bordo, em média, quatro tripulantes que utilizam o capacete fabricado pela Esra como equipamentos de segurança individual. A FAB começou a testar o novo capacete desenvolvido em São José, o EPH D2M-VAM, com capacidade para 110 horas de gravação de áudio e vídeo e que é ativado automaticamente pelo piloto. O equipamento foi patenteado e é único com desse tipo em todo o mundo. O modelo foi exclusivamente projetado para ser usado durante as interceptações

de aeronaves feitas em território nacional. “Esses equipamentos estão em fase de teste ainda. A câmera de vídeo vem acoplada ao capacete, o que facilita o trabalho do piloto, que até hoje tem que registrar as interceptações com uma câmera manual, o que não é o ideal”, disse o major brigadeiro do ar Antonio Franciscangelis Neto, chefe do Gabinete do Comandante da Aeronáutica. Lembranças “Eu era piloto de caça na década de 50. Logo após a Segunda Guerra Mundial, eu servia na base aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, onde foi formado o primeiro grupo de caça do país. Desde aquela época, nós pilotos já filmávamos as ações de combate com uma filmadora que ficava na asa do avião e quando ativávamos a metralhadora ela gravava a ação”, recorda Hugo de Oliveira Piva, brigadeiro da reserva da FAB. “A filmadora era um trambolhão que ficava na asa”, disse Piva –uma realidade bem diferente da oferecida hoje. No entanto, desde essa época já se fazia necessária a documentação das ações de interpretação, uma forma de creditar ao piloto a necessidade de abordagem de outra aeronave no espaço aéreo brasileiro.

MODELOS EPH D2C-AM É equipado com sistema de redução de ruído. Esse mecanismo cancela automaticamente os barulhos externos à comunicação entre os tripulantes Peso: 1,1 kg

EPH D2M-VAM Tem sistema de redução ativa de ruídos e sistema de filmagens para intercepção aérea com até 110 horas de gravação, além de sistema de máscara de oxigênio Peso: 1,4 kg

EPH D2C-SCNV V É equ equipado com mecanismo de redução de ruídos passivos, sistema de comunicação ruído rádio até 15 quilômetros de distância via rá aeronave e óculos de visão noturna da ae Peso: 1,9 Kg

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Eugênio Vieira

Diferenças Não só na alta tecnologia está a diferença de um capacete de aviação para um capacete usado por motociclistas. Mesmo sendo até 10 vezes mais resistente, o equipamento de voo é inadequado para o uso em estradas e a venda para essa finalidade é proibida por normas brasileiras de segurança. O capacete desenvolvido para motos tem uma superfície lisa, o que, em caso de acidente, facilita o deslizamento da vítima no asfalto. Já o capacete usado para voo tem vários componentes expostos na superfície que não permitem deslizar no asfalto, podendo provocar uma fratura do pescoço do piloto. Os materiais usados na fabricação dos dois produtos também são bem distintos. O capacete feito para motos tem como base a fibra de vidro, o que dá um peso 80% maior que os capacetes desenvolvidos para voos, que são feitos com fibra de carbono –um material bem mais leve. O capacete aéreo pesa 380 gramas, contra 1,5 quilo do modelo usado por motociclistas. Outra grande diferença entre os dois é a previsão de tempo de uso. Enquanto um capacete de moto possue, no máximo, dois anos de durabilidade, o de avião tem de 30 a 40 anos. •

MERCADO

1.343 HELICÓPTEROS Estão registrados no Brasil pela Agência Nacional de Aviação Civil. O Rio de Janeiro tem 293 aeronaves, Minas Gerais tem 135 e São Paulo, outros 546 helicópteros, pouco mais de 40% da frota de todo o país

400 TECNOLOGIA Sidiney Peruchi, proprietário da Esra, a fabricante de capacetes de voo com sede em S. José

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CAPACETES São produzidos por ano pela fábrica da Esra, em São José. Demanda por equipamentos seria maior se a legislação brasileira obrigasse o uso dos capacetes de voo por todos os pilotos de aeronaves particulares

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Economia

Entrevista >Ricardo Amorim é economista e ganhou reconhecimento quando previu a crise financeira mundial de 2008 e os problemas no setor de energia no Brasil em 2001

“Mercado imobiliário segue como o melhor investimento” Hernane Lélis São José dos Campos

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uscar respostas para o comportamento da economia e tentar prever como o mercado reagirá nos próximos anos é uma tarefa comum para o economista Ricardo Amorim, 39 anos, presidente da Ricam Consultoria e apresentador do ‘Manhattan Connection’, programa do canal a cabo GNT. Suas previsões nem sempre levam para algo positivo, como a crise financeira mundial de 2008, e a crise no setor de energia, que deu origem ao ‘Apagão’ em 2001. Em entrevista exclusiva à revista valeparaibano Amorim ‘lustrou’ sua bola de cristal –como ele mesmo gosta de dizer– e traçou o cenário econômico do Brasil e do Vale do Paraíba. Para ele, a indústria aeronáutica que engatinhava rumo a uma recuperação após o baque provocado pela falta de crédito no mercado, continuará sofrendo por um longo período graças à turbulência no mercado externo. Já a previsão de entrada de grandes empresas chinesas no Vale representa um novo marco na economia regional e nacional. “Esse ano o maior investidor estrangeiro no Brasil será a China, na frente até dos investidores tradicionais, que são os Estados Unidos, Alemanha e Espanha”, avaliou com apenas uma ressalva. “É preciso saber dosar os incentivos fiscais e tentar controlar os impactos negativos”.

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A economia do Vale do Paraíba tem como principais pilares os setores aeronáutico e automotivo. Há vantagem em manter essa característica? < Por venderem produtos de valor unitário muito alto, esses dois setores são mais dependentes de oferta de crédito que a maior parte da economia. Quando temos bons momentos econômicos, há forte expansão do crédito e esses setores crescem mais ainda. Por isso, quando a economia anda bem, depender desses setores é ótimo, mas se estiver mal acontece uma crise. Faria uma diferenciação importante entre os dois setores. O automotivo depende mais da economia doméstica brasileira enquanto o aeronáutico, mais especificamente a Embraer, depende da economia global. Como boa parte das vendas da Embraer é com exportações, quando as maiores economias mundiais, que são Estados Unidos, Europa e Japão, estão em crise, mesmo que o Brasil esteja passando por um momento espetacular, as vendas da Embraer são afetadas. Para diversificar a econômica é preciso investir em que setor? < Eu investiria mais no setor de serviços e menos no setor industrial. Isso porque uma das coisas que pode acontecer é que, como as economias ricas devem continuar andando mal, as moedas dessas várias economias devem se enfraquecer. O que isso significa, olhando mais para frente, é que com um dólar mais baixo fica mais difícil para nossas indústrias competirem com a indústria deles. Já o setor

de serviços não tem o impacto negativo do dólar, pelo contrário, tem um impacto positivo. Quando ele cai, tudo o que a gente importa fica mais barato, diminui a inflação e abre espaço para juros mais baixos, expandido o crédito e a renda. Resumindo, o setor de serviço deve ter um desempenho melhor que a indústria. O setor aeronáutico do Vale atravessa um momento complicado devido a falta de crédito e a lenta recuperação do segmento na Europa e Estados Unidos. Usando sua fama de “futurólogo”, quando veremos uma retomada? <Tenho uma péssima notícia. Acho que vai levar muito tempo. A recuperação do mercado externo ocorre em três estágios. O primeiro é o estimulo econômico monetário. Eles trouxeram as taxas de juros e fiscal para zero e os governos começaram a gastar para compensar o que as pessoas não estavam gastando. O que isso pode gerar de impacto positivo já está acontecendo. A taxa de juros já está a quase zero e os governos já gastaram tanto que nós começamos a ficar preocupados com a solvência dos governos desses países ricos. O segundo impacto é que, a medida que isso for acontecendo, as empresas, que num momento inicial ficaram com um nível de estoque muito alto, precisam acabar com esse estoque. Acredito que isso já está acontecendo também, mas o processo é lento. O terceiro estágio é o que demorará a ter força, que é voltar a produzir. Com isso vejo três problemas: o emprego não está se recuperando de forma importante e, sem emprego e sem renda, só sobra o aumento

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R V P


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Eugênio Vieira

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PERFIL NOME: Ricardo Cirillo Amorim IDADE: 39 anos NATURALIDADE: São Paulo (SP) FORMAÇÃO: Economia pela USP (Universidade de São Paulo) e pós-graduado em Administração e Finanças Internacionais pela École Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales de Paris

RICARDO AMORIM “ACREDITO QUE O SETOR IMOBILIÁRIO VAI SER O MOTOR DO CRESCIMENTO BRASILEIRO DEVIDO, PRINCIPALMENTE, À EXPANSÃO DE CRÉDITO NO PAÍS”

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ATUAÇÃO: Presidente da Ricam Consultoria, apresentador do programa Manhattan Connection da GNT e colunista da revista Istoé e da Rádio Eldorado

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Economia Divulgação

AVIAÇÃO Modelos da família Embraer 170/190 na pista da unidade de Gavião Peixoto, usada pela empresa para testes dos jatos

ELEIÇÕES “OS DOIS CANDIDATOS SÃO RELATIVAMENTE PARECIDOS NOS PROJETOS DE GOVERNO. ESSA É A PRIMEIRA VEZ QUE VAMOS TER UMA ELEIÇÃO SEM O RISCO DE RUPTURA, SEM MEGAMUDANÇAS” de crédito para as pessoas gastarem. Outro problema é que lá fora o crédito está caindo, pois os bancos perderam muito dinheiro. Então, sem crédito, sem emprego e endividado, o consumo não sustenta. Com isso, o que a gente vai ver é a economia lá fora voltando a piorar. O terceiro problema é que, não no mesmo grau que foi em 2008, mas vai levar alguns anos para se sustentar. Grandes empresas, como as chinesas Sany e Chery, planejam se instalar na região nos próximos anos. Quais aspectos econômicos colocam a região na rota de grandes investimentos? < O fundamental é que os benefícios da chegada dessas empresas fiquem mesmo na região. Muitas vezes você tem o movimento de grandes indústrias indo para lugares novos, com uma série de benefícios fiscais, mas que na prática a mão-de-obra que elas ocupam, por exemplo, não é local. Elas trazem mãode-obra quase que exclusivamente de fora.

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Então, é preciso tomar medidas para que isso não aconteça. Outra coisa interessante que você está chamando atenção é a entrada de empresas chinesas na região. Esse ano o maior investidor estrangeiro no Brasil será a China, na frente até dos investidores tradicionais, que são os Estados Unidos, Alemanha e Espanha. Esse movimento chinês veio para ficar. Acho que essa ligação é benéfica para o país e para as regiões que souberem aproveitar, como o Vale, mas é preciso saber dosar os incentivos fiscais e tentar controlar os impactos negativos. A região e o Brasil vivem um “boom” imobiliário provocado pelos incentivos do governo para a compra de imóveis. Quais os riscos dessa grande movimentação na economia do país, a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos? < A principal razão pela qual acredito que o setor imobiliário vai ser o motor do crescimento brasileiro é a expansão de crédito. Va-

mos imaginar um imóvel de R$ 100 mil. Tem um determinado número de pessoas que podem comprar esse imóvel. Na hora que você fala que os juros caíram e o prazo aumentou você multiplica mais ainda essa quantidade de pessoas. O que estou tentando dizer é que a demanda por moradias no Brasil aumentou exponencialmente e vai continuar a aumentar. Nossos juros ainda são altos, vão continuar subindo, mas a tendência depois dessa turbulência é de queda. A tendência é que a taxa convirja para um padrão internacional, criando realmente um “boom” imobiliário. É o que nós vamos ver nos próximos cinco anos. Agora, é preciso tomar cuidado. O que deixou as economias ricas com o problema atual foi levar esse “boom” imobiliário a extremos, o que resultou na crise mundial. Só para deixar claro o quão longe estamos disso: apenas 3% do crédito bancário imobiliário representa o PIB do Brasil. Nos EUA isso é 79% e na Suíça, 132%. Isso mostra que a gente só começou. Para chegar numa situação complicada, não

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pode deixar o crédito virar um veneno. Hoje, quais são os melhores investimentos para a população? < O mercado imobiliário é um deles, sem dúvida nenhuma. Uma coisa importante para quem quer investir é ter claro o prazo de investimento e o quanto ele aceita de oscilação de seu investimento. Para quem está disposto fazer investimento a longo prazo e com oscilações ao longo do tempo, o mercado imobiliário e a Bolsa de Valores no Brasil são dois dos melhores investimentos olhando para os próximos cinco anos. Agora, se for olhar para os próximos cinco meses, não faria esses investimentos, optaria por coisas mais simples, como as diversas opções bancárias. A gente ainda tem bons rendimentos em rendas fixas. O PIB cresceu 9% no primeiro trimestre de 2010 em relação ao mesmo período de 2009. É possível afirmar que esse crescimento será mantido até o final do ano? < A tendência de crescimento será mantida, agora o nível de crescimento não deve ser

mantido. A média de crescimento nesse ano, ainda que desacelerando, deve ser de 7%, uma das mais altas desde 1986. O efeito disso é que, mesmo com a desaceleração, o crescimento será muito forte. Acho que nos próximos anos a média de crescimento brasileiro será em torno de 5%. Esse ano a gente está crescendo mais porque no ano passado a gente não cresceu nada, tinha uma gordura que dava para aproveitar. Se a gente resolver alguns problemas no país, como reforma tributária, poderíamos acelerar isso para 6% ou 7%, mas acho que não veremos essa reforma. Serra ou Dilma. O resultado das eleições presidenciais pode interferir de forma acentuada no atual cenário econômico? < Acho que muito pouco. Os dois candidatos são relativamente parecidos nos projetos de governo, parecidos entre si e até mesmo com o governo Lula e FHC, pelo menos no ponto de vista econômico. Essa é a primeira vez que vamos ter uma eleição sem o risco de ruptura, quer dizer, risco de uma megamudança. Por outro lado, vai fazer muita diferença o impacto do mercado nas eleições, de acordo com arquivo/vp

MONTADORA Funcionários na linha de produção da GM, em São José, onde são fabricados os modelos Corsa, Zafira, S-10 e Blazer

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quando e como a crise européia vai se desenrolar. Se tivermos o ápice da crise muito próxima à eleição, os investidores vão olhar com muito mais carinho para as pequenas diferenças. Por exemplo, o Serra defende uma taxa de câmbio mais desvalorizada, um real mais fraco e um dólar mais alto. Só que para fazer isso a opção é o câmbio fixo, que tem uma série de impactos negativos, como o Brasil viveu no passado. Pode ser que as pessoas se preocupem mais com isso ou com a gastança que o governo Dilma pode representar, num momento em que o mundo está preocupado com a isenção fiscal e o PT é bem gastão. Diria que isso pode virar uma preocupação à população. Por que o Brasil tem uma das maiores taxas de juros do mundo? < Por algumas razões. O Brasil tem uma taxa de poupança muito baixa por má distribuição de renda. Quando se tem muita gente pobre, a tendência é que essa parcela gaste tudo o que ganha. Não sobra para poupar. Existe ainda a despoupança pública. O governo brasileiro gasta absurdamente. Isso significa que parte da poupança privada acaba indo para o governo e sobra muito pouco para o setor privado. Quando tem muita demanda por crédito e baixa poupança, a taxa de juros fica muito alta. Essa é a razão mais importante que a gente tem. Quando o Brasil terá uma melhor distribuição de renda? < Já estamos tendo. São três políticas que nos últimos anos estão sendo implementadas no país. Uma é a redução da inflação, que machuca muito mais o pobre que não tem conta bancária, já que ele não consegue proteger seu poder de compra, o que também torna a taxa de juros tão alta por ser uma forma de conter a inflação. A segunda é o aumento do salário mínimo. Há treze anos o salário aumenta mais do que a inflação no Brasil e isso deve continuar, elevando a renda nas mãos dos pobres. A terceira é o programa de distribuição de renda. Começou no governo FHC com o Bolsa Escola, que acabou ampliado para o Bolsa Família no governo Lula e acho que será mais do que mantido, será ampliado no próximo governo. Isso tudo melhora a distribuição de renda. Acredito que se a melhora na distribuição de renda no Brasil nos últimos 15 anos continuar ao longo de mais 10 anos, teremos em 2020 uma distribuição melhor do que a dos Estados Unidos. O nível de renda será mais baixo, mas a distribuição será melhor. •

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RAIO-X

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DIAMANTES

CRISE

PREJUÍZO

INFORMALIDADE

O Brasil exportou US$ 8 milhões em diamantes em 2008, sendo a metade de Minas Gerais

A exportação de diamantes caiu 61% desde 2004, quando o país vendeu US$ 21 milhões em pedras

Minas Gerais foi o Estado mais afetado com a queda, pois detinha 98% da produção nacional

O governo de Minas não sabe quanto se extrai de pedras preciosas por causa da informalidade

• lapidação

GARIMPOS

Fortuna na ponta da picareta Garimpeiros ganham R$ 300 por mês para cavar o solo todos os dias na esperança de achar riqueza entre toneladas de terra; homens superam a dor física na busca pelo caminho do ouro, diamante e outras pedras preciosas

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Fotos: Cleiton Costa

GARIMPEIROS

POBREZA

LAVRAS

CONCENTRAÇÃO

EXPORTAÇÃO

PERFIL

Maior centro lapidário do Brasil, Teófilo Otoni conta com 4.000 garimpeiros e 350 lavras

A maioria dos garimpeiros vive na pobreza, ganhando R$ 300 por mês para procurar pedras

O Brasil possui concessão do governo federal para a exploração de 865 lavras garimpeiras oficiais

As regiões Centrooeste e Norte do país detêm 676 dessas lavras concedidas pelo governo

Uma pedra preciosa exportada bruta vale até cinco vezes menos do que se estivesse lapidada

Pesquisa mostra que 46% dos garimpeiros têm entre 40 e 50 anos de idade e 22% são analfabetos

Xandu Alves Teófilo Otoni (MG)

arimpeiros procuram estrelas no fundo da terra. Tão brilhantes quanto as do céu. Tão intensas que lhes saciem os sonhos mais secretos. Penetram fundo na imensidão abaixo do chão à procura de tesouros esculpidos pela natureza ao longo de milhões de anos. Eles aprendem desde cedo a superar a dor, a pobreza e a colocar a esperança na ponta da picareta. Não de-

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sistem de procurar a pedra preciosa dos desejos mais profundos. Aquela que lhes trará riqueza muito além do imaginado. Os garimpos mudaram a história do Brasil. No século 18, a mineração tornou-se a mais importante atividade econômica da então colônia de Portugal, superando a economia açucareira e a exploração do pau-brasil. E os ricos minérios continuam mexendo com o imaginário dos garimpeiros até hoje. Como seus antepassados, esses bandeirantes das entranhas da terra procuram vestígios no subsolo que lhes apontem o caminho da sorte. Indícios de riquezas incalculáveis moldadas na forma de minérios nobres, como ouro e diamante e centenas

de outras pedras preciosas e semipreciosas. Minas Gerais é hoje a capital brasileira do garimpo. O Estado é responsável por 50% da produção nacional de diamantes, mas não tem controle sobre a atividade de outros garimpos por causa da informalidade. Dentro do território mineiro, três áreas se destacam na proliferação da atividade garimpeira: Vale do Jequitinhonha, Governador Valadares e Teófilo Otoni, na região nordeste do Estado, esta última conhecida como a “capital mundial das pedras preciosas”. A revista valeparaibano percorreu 963 quilômetros para encontrar nas redondezas de Teófilo Otoni histórias fantásticas de garimpeiros e comerciantes de pedras.

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Especial

Gente que ganha R$ 300 por mês para cavar o solo todos os dias, faça sol ou chuva, frio ou calor, na esperança de encontrar um brilho colorido entre as toneladas de terra. Quando acham, garantem uma temporada de prosperidade. Porém, o dinheiro acaba e logo eles voltam à dureza do garimpo. Demerval Nunes dos Santos, 63 anos, já levou na carteira uma bolada equivalente a R$ 200 mil, resultado da venda de uma beleza de turmalina encontrada no córrego do Genipapo, em Itinga, no Vale do Jequitinhonha, em 1986. Sorriu à beça e comprou carro e casa para a família. O dinheiro acabou e lá se vão 24 anos sem achar outra maravilha subterrânea. Como todo garimpeiro, Santos não desiste. Ele traz na ponta da língua os segredos da terra que aprendeu com o pai, também garimpeiro, enquanto ajudava na cozinha do garimpo. Tinha 7 anos. “É preciso ler e entender o solo. As pedras brutas sempre têm o seu encanto. Aprendi tudo com a vida”, ensina Santos. Hoje, admite não estar em “boas condições financeiras”, mas insiste em tocar um garimpo com outros colegas atrás de águas-marinhas, ametistas e o tão sonhado crisoberilo, mineral cujas gramas valem milhares de reais, às vezes milhões. Mas as dificuldades são gigantescas. “Com pouco dinheiro, tenho que fazer o trabalho no braço, ao invés de usar máquinas para cavar a terra”, reclama o garimpeiro, cujo corpo dolorido é herança de décadas de trabalho duro. “Já não sou tão ágil e forte como antes. Só a esperança permanece intacta.” A desproporção de homem e máquina é enorme e revela o abismo que se abre entre os garimpos mecanizados, tocados por grandes empresas, daqueles abertos por garimpeiros informais, ainda maioria em Minas Gerais. Com uma hora de máquina, a companhia abre 10 minas (cada espaço onde se procura pedras preciosas). Com as mãos, o garimpeiro consegue abrir duas minas por dia. Sonho Mas o sonho continua jogando-os todos os dias em fendas, buracos e túneis abertos nas entranhas da terra para “ler” as camadas de subsolo que vão se revelando a cada picaretada. Quanto mais se cava, percebem-se texturas diferentes na impressionante palheta de cores da terra, indícios que apontam para um provável veio de mi-

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Garimpeiros trabalham de segunda a sexta-feira, quase dez horas por dia, para depois voltar para casa. Maioria mora na região de Teófilo Otoni

nérios preciosos. No fundo de um túnel apertado, úmido e escuro de 130 metros de comprimento, escavado montanha adentro na pequena cidade de Catuji, na lavra (como é chamada toda área de um garimpo) do Urubu, Ronaldo Adriano da Silva Costa, 43 anos, segura o lampião que lhe garante iluminação mínima para continuar cavando a terra. Madeiras robustas sustentam o interior do túnel evitando que desabe. O cheiro forte dos troncos molhados é permanente. Lembra o de um corpo apodrecendo. Picareta em punho, ele soca a parede ama-

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Minas Gerais lidera mercado

ESPERANÇA Ronaldo Adriano da Silva Costa, 43 anos: “estou no garimpo desde criança, não sei fazer outra coisa. Ainda não fiquei rico, mas ainda chego lá”

relada e começa a vislumbrar a linha de cascalho, mais dura, que denuncia a possibilidade de achar ali pedras preciosas. A esperança aumenta. O coração bate mais forte. Riqueza ou desilusão? É assim desde que Costa entrou nessa vida. “Estou no garimpo desde criança, não sei fazer outra coisa. Ainda não fiquei rico, mas chego lá”, jura o garimpeiro. “É mais fácil achar uma pedra do que ganhar na loteria”, justifica a persistência. A chama branca do lampião usado nos túneis é obtida a partir da reação de um carbureto com a água, como o fogo de maçarico. Explosivo e cancerígeno, o gás é só um dos

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elementos insalubres da atividade garimpeira. A lista é grande: umidade, escuridão, frio, exposição ao sol sem proteção, falta de equipamentos de segurança, ferramentas cortantes e explosivas, contratos informais... Nada disso detém o espírito aventureiro do garimpeiro, ativado mais por sobrevivência do que empreendedorismo. Costa e outros dois garimpeiros ganham R$ 300 por mês para avançar na montanha. Cinco anos se passaram sem nada encontrar. Por falta de oportunidades, eles não entregam os pontos. “Não conseguimos emprego fora daqui. O jeito é continuar”, diz Costa.

Diminuir a burocracia estatal, desenvolver a cadeia produtiva e investir na organização, qualificação e legalização da atividade garimpeira. Essas são as alternativas defendidas por Newton Luz, diretor de Mineração da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, para melhorar o setor dos garimpos no Estado. Minas é responsável por extrair 50% de toda a produção de pedras preciosas no Brasil. A informalidade que assola o setor, segundo ele, não permite que se faça uma avaliação precisa da dimensão econômica dos garimpos. Ao contrário dos mercados de ouro e diamantes, internacionalmente regulamentados, as demais pedras preciosas e semipreciosas são quase inteiramente extraídas de forma informal. “A saída é a legalização”, simplifica Luz. Saída para evitar o colapso do mercado de pedras. No setor de diamantes, por exemplo, o Brasil vem perdendo espaço no comércio exterior desde 2004. Naquele ano, as exportações nacionais chegaram a US$ 21 milhões, sendo que 98% do volume de vendas foram produzidos em Minas Gerias. Em 2008, segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, o país exportou apenas US$ 8,079 milhões em diamantes, com a produção mineira caindo para a metade do total. Para superar a crise, Luz acredita que o garimpo deve ser classificado como atividade de médio impacto ambiental, e não alto, facilitando a legalização das lavras e dos garimpeiros. Evitando-se, assim, conflito entre o meio ambiente e a atividade produtiva. “Esse é um dos grandes desafios do setor público nas três esferas de governo”, afirma.

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Especial

Com nome de artista, Marlon Brando Soares do Amaral, 52 anos, é o chefe da lavra do Urubu. Ele é pago pelo dono da terra para administrar o espaço. Além da encosta da montanha e de um vale, onde os garimpeiros escavam, o lugar conta com um barracão de palha. Lá, estão as camas improvisadas, o fogão de lenha e o depósito de ferramentas e dinamite, usada para abrir buracos na terra. Trata-se da “casa” dos garimpeiros durante os dias úteis. Banho é feito de mangueira com a água pura que brota da terra, para desespero dos ambientalistas. Peças de carne seca penduradas num varal denunciam o cardápio dos trabalhadores, recheado sempre com arroz e feijão. O grupo trabalha de segunda a sexta-feira, quase dez horas por dia, para depois voltar para casa. Todos moram em cidades na região de Teófilo Otoni, município de 130 mil habitantes encravado no Vale do Mucuri, que congrega outras 26 cidades. Amaral é garimpeiro há 30 anos. A barriga avantajada e o sorriso fácil revelam o quanto a atividade já lhe rendeu. “Ganhei mais de um milhão nesse tempo”, assegura. Verdade ou não, é impossível contestar. Mas o garimpeiro é seguramente sincero ao contar como aplicou o dinheiro: “Mulheres, bebida e diversão”, confessa, rindo do próprio infortúnio. “Garimpeiro é assim mesmo. Rico num dia e pobre no minuto seguinte.” Fé Vencer a pobreza é a rotina de Pedro dos Santos, 55 anos, garimpeiro da lavra Colares, encravada no meio da mata em Catuji. Pai de sete filhos e morando numa casa apertada e velha perto do garimpo, ele guarda com carinho algumas pedras que achou na terra. Posa segurando uma delas ao lado de um quadro da Sagrada Família. É sua afirmação de fé na atividade incerta. Dentro de um buraco alagado de dois metros de profundidade, chamado de catra, escavado por ele e pelo novato Paulo Sá, 21 anos, o garimpeiro busca a pedra que lhe garantirá 50% do lucro na venda. É o contrato estabelecido por ele com o dono da terra. As pernas de Santos estão amareladas por causa das horas passadas enterrado na argila, que depois vira terra, rocha e se transforma no valioso cristal, alvo de todos os garimpeiros. A dificuldade é o preço a pagar pelo sonho, que ele garante não querer passar para os filhos.

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COMÉRCIO Garimpeiros vendem pedras na feira da praça Tiradentes, em Teófilo Otoni; comércio gira em torno do dólar, a moeda costumeira do garimpo

LAPIDAÇÃO Rubi durante o trabalho de lapidação; valor da pedra preciosa aumenta depois que é polida e lapidada para uso em jóia

“Sou garimpeiro há 20 anos e somos como bóias-frias. O futuro é incerto. Não quero isso para meus filhos. Quero eles na escola”, admite Santos. “Está ficando cada vez mais difícil a nossa vida. Não temos apoio”, completa o garimpeiro Altamiro Rodrigues Santos, 44 anos, que conseguiu ganhar R$ 20 mil de uma única vez. Mesmo assim, não quer filho no garimpo. Os garimpeiros José Luiz Fernandes, 62 anos, e Adailton Oliveira Duarte, 43 anos, contam que nunca encontraram uma pedra de grande valor nas mais de três décadas passadas em garimpos. “A sorte pode virar”, dizem para confortar o espírito, enquanto o corpo repousa num copo de pinga. Cachaça nos finais de semana é lazer de garimpeiro. De vez em quando acompanhada de um forrozinho. Em Teófilo Otoni, os bares da cidade ficam lotados com os caboclos que chegam do mato, aos sábados e domingos, com suas roupas simples cobertas com o pó colorido da terra dos garimpos. Nos bolsos, o fruto mirrado retirado das lavras. A praça Tiradentes no centro de Teófilo ferve diariamente com centenas de garim-

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o que exige a desburocratização do serviço público em primeiro lugar”, afirma o presidente da Accompedras. “Os garimpeiros precisam parar de sonhar com caviar enquanto só comem feijão.”

RIQUEZA Pedras lapidadas são destaque na feira anual de Teófilo, que ocorre entre 24 e 28 de agosto e atrai compradores de todo o mundo

peiros vendendo suas pedras. A feira movese pelo câmbio do dólar, a moeda costumeira do garimpo. Segundo Eduardo Cardoso de Almeida, 57 anos, presidente da Accompedras (Associação dos Corretores do Comércio de Pedras Preciosas) de Teófilo Otoni, a maior parte do tempo os garimpeiros encontram pedras que servem mais para artesanato, com valor comercial reduzido. Além da informalidade na extração, o maior problema da categoria, aponta o dirigente, é organizar e qualificar o comércio. Mais da metade das pedras extraídas em Minas são vendidas ao exterior na forma bruta, com preço cinco vezes menor, no mínimo, na comparação com o valor das gemas lapidadas –as pedras limpas e trabalhadas. A diferença pode ser brutal em alguns casos. “O requinte vale o esforço”, apregoa Almeida. Veja só: uma turmalina bruta custa R$ 150 a grama, em média. A pedra colocada em uma jóia, devidamente lapidada, pode alcançar US$ 30 mil dólares no mercado internacional. “Precisamos conscientizar os garimpeiros da necessidade de organização, qualificação e legalização das lavras,

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SEM SORTE Adailton Oliveira Duarte, 43 anos: “nunca encontrei uma pedra de grande valor em três décadas passadas em garimpos”

Legalização Presidente da comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o deputado Sávio Souza Cruz (PMDB) defende que sejam criadas políticas específicas para o garimpo levando em conta as particularidades regionais, culturais e ambientais nos projetos de extração. As normas do setor, segundo ele, precisam ganhar um banho de realidade. “As iniciativas vão se perdendo e com isso a legislação parece conflitar com a realidade, gerando um abismo entre a norma e a sociedade.” Uma das propostas do parlamentar é resgatar projetos de geração de renda adicional aos garimpeiros que foram deixados de lado. Eles poderiam evitar que os trabalhadores tivessem que driblar sempre a pobreza para exercer suas atividades. Nessa mesma linha, a professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Maria José Gazzi Salum, coordenadora de programas de mineração do Ministério de Minas e Energia, propõe a capacitação dos garimpeiros para usar os rejeitos da atividade de forma sustentável. É o caso do feldspato, material encontrado nas rochas e que é descartado. “Há viabilidade técnica e econômica para o beneficiamento de feldspato”, ressalta a especialista. “Mas é preciso organizar e regularizar a produção, agregar valor ao material e escoar os produtos.” A maior parte das vezes, contudo, as discussões de gabinete não encontram eco entre os garimpeiros, gente normalmente desconfiada da “intromissão” em suas atividades. Eles temem a fiscalização ambiental, considerada excessivamente rigorosa e pouco educativa. Para se ter uma ideia, a revista valeparaibano só conseguiu acesso aos garimpos, quase todos escondidos no meio da mata, depois de contar com o serviço de um guia. Amplo conhecedor de toda a região, o articulado Ildomar Martins, 29 anos, serviu como ponte entre a reportagem e os garimpeiros. Filho de garimpeiro e acostumado com a atividade desde a infância, ele integra a diretoria da GEA (Gems Exporters Association), a associação de comerciantes e exportadores de gemas do Brasil, e atua como guia

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Especial

desde 2003. Acompanha clientes em potencial, do Brasil e do exterior, e profissionais do setor. Fã de Bob Dylan, aprendeu inglês para traduzir o garimpo teófilo-otonense aos estrangeiros. “Meu trabalho é valorizar o garimpo na região de Teófilo Otoni e lutar para que os garimpeiros tenham uma vida cada vez melhor”, resume. Alegra-se aquele que consegue vender bem suas pedras. Quem consegue ganhar um pouco mais são os empresários que apostam na lapidação, atividade que requer conhecimento técnico acurado. Em Teófilo, estima-se haver centenas de lapidações espalhadas pela cidade, a maioria delas informal e artesanal. Nelas, as máquinas são de qualidade inferior e o trabalho é feito mais na capacidade do olho. Lapidação Nilson Nogueira, 48 anos, é um lapidador que prima pela qualidade. Ele investiu dinheiro no negócio e adquiriu máquinas israelenses no valor de R$ 22 mil cada uma. Usa materiais de primeira e procura agregar valor ao produto final. Mesmo assim, a queda do valor do dólar fez com que reduzisse a equipe de trabalho de 55 para 12 pessoas. “Investir em um garimpo exige, em média, US$ 500 mil por mês. Pouca gente tem recursos para isso. A produção está em declínio”, afirma o empresário, mostrando o processo de refinar as pedras, como as esmeraldas. Começa serrando a pedra bruta, dando forma a ela e depois cortando e polindo. As máquinas de alta precisão garantem que todas fiquem com o mesmo formato. As jóias são destaque na feira de pedras preciosas realizada anualmente em Teófilo, atraindo compradores do mundo todo. O evento, que acontece de 24 a 28 de agosto, chega à 20ª edição em 2010. É essa qualidade que Wagner Pereira Pinto, presidente do Sindicato Nacional dos Garimpeiros, gostaria de ver espalhada pelos garimpos. Ele sabe o quanto é difícil convencer os garimpeiros da necessidade de organização. “Eles sempre foram tratados como marginais, bandidos, e têm muito medo da fiscalização. Com o tempo, ficaram descrentes.” No final das contas, o sindicalista acredita que a desqualificação prejudica o negócio. “A falta de tecnologia apropriada domina os garimpos. Até agora, nós só arranhamos o potencial da terra em fornecer pedras. Podemos ir bem mais longe”, diz.

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CHEFE DA LAVRA Marlon Brando Soares do Amaral, 52 anos, que é pago pelo dono da terra para administrar o garimpo

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Ex-aluno do ITA restaura garimpos

DEGRADAÇÃO Vala aberta em área de mineração em Teófilo Otoni, a capital mundial das pedras preciosas

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O nome é esquisito: voçoroca. O significado é ambientalmente comprometedor: grandes erosões onde a vegetação é escassa e não mais protege o solo, que se torna pobre, seco e quimicamente morto, nada fecundando. A Embrapa Solos calcula que a erosão imponha a perda de 822,7 milhões de toneladas de terra e prejuízo de US$ 4 bilhões por ano ao Brasil. O desmoronamento causa assoreamento dos rios e enormes crateras, que inviabilizam a área onde se instalaram. Em Minas Gerais, os garimpos deixaram um legado de voçorocas espalhadas por todo o Estado. Nas regiões sudoeste e nordeste, os bucacos gigantes ocupam espaço superior a 6.000 campos de futebol. O engenheiro agronômo e exaluno do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) Vinicius Martins Ferreira, mineiro de São João Del Rei, resolveu enfrentar o desafio de recuperar as voçorocas do garimpo. Para tanto, ele e outros profissionais criaram há 10 anos o projeto “Maria de Barro” (www.projetomariadebarro.org.br), uma espécie de ONG (Organização Não-Governamental) articulada com diversos órgãos ambientais, que usa plantas da Mata Atlântica e do Cerrado para recuperar as áreas de erosão. Baseado na cidade de Nazareno, a 230 quilômetros de Belo Horizonte, o projeto foi responsável por plantar milhares de mudas em voçorocas na região, em mais de 3.000 hectares. “Plantamos nas encostas, sempre no sentido de cima para baixo, mudas como capimgordura, aveia preta, feijãoguandu, crotalária, somando 70 espécies”, conta Ferreira. “Elas ajudam a descompactar o solo e devolvem a fertilidade da terra, contendo a erosão.” •

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Especial

SISTEMA PRISIONAL

Pissardo: primeiro passo para liberdade Condenado a 42 anos por matar os pais, a irmã e os avós, Gustavo ganha semiaberto após longa batalha jurídica e deixa prisão no Dia das Mães

Yann Walter São José dos Campos

ano de 1994 ficou marcado por um dos crimes mais aterrorizantes já praticados em São José dos Campos: na madrugada de 29 de setembro, em aparente surto psicótico, Gustavo Pissardo, um rapaz de classe média de 21 anos, primogênito de uma família estruturada e com boa situação socioeconômica, executou friamente seus familiares com tiros certeiros na cabeça. Foi preso dias depois. Em 1997, foi condenado a 63 anos e quatro meses de detenção, uma pena reduzida para 42 anos e sete meses em 1999. Após várias tentativas infrutíferas, obteve a progressão para o regime semiaberto em 2008, aproveitando uma emenda legal aprovada em 2003 que tornou dispensável o exame criminológico. O benefício foi retirado

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e posteriormente restaurado, em janeiro do ano passado, provocando um imbróglio jurídico. Hoje, com a progressão de regime finalmente confirmada, Gustavo dá aulas de conhecimentos gerais na Penitenciária Nestor Canoa de Mirandópolis, oeste de São Paulo, onde cumpre pena desde 2008. O cenário da tragédia ocorrida naquela noite foi uma casa localizada no número 5330 da avenida Cidade Jardim, no Bosque dos Eucaliptos, bairro da zona sul. Naquela casa, onde morava com a família, Gustavo empunhou o revólver calibre 32 do pai e atirou primeiro contra a irmã, de 18 anos, depois na mãe, e finalmente contra o genitor. Teve o cuidado de usar um pedaço de isopor como silenciador para abafar o barulho dos disparos. Na manhã do dia seguinte, pegou a caminhonete do pai e foi até Campinas, onde executou os avós paternos, não sem antes lhes revelar o que fizera. No mesmo dia, voltou para a casa dos pais para apanhar algumas roupas, fez compras no shopping, foi buscar a namorada e a levou para passar o fim de semana em Caraguatatuba, como se nada tivesse acontecido. Ao voltar da viagem, foi ao enterro dos pais e chorou. Acabou confessando o crime à polícia no dia 5 de outubro –uma semana após os crimes em série. Os motivos que levaram Gustavo a cometer estes atos são desconhecidos até hoje. Ele mesmo não soube explicar o que provocou este acesso de fúria. Não tomava remédios, nem usava drogas. Não tinha comportamento agressivo ou violento. Teve uma adolescência normal, sem problemas financeiros. Não se

AMPARO Gustavo Pissardo com o irmão Adriano, que não estava na casa dos pais no dia dos crimes

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Especial

envolveu com pessoas erradas. Apenas mencionou a rígida educação que teria recebido dos pais e avós –sem considerar isso um motivo– e fortíssimas dores de cabeça. O psiquiatra Marco Antônio Vitti, de São José, que manteve contato com Pissardo durante 20 dias logo após o crime e escreveu um livro sobre o caso, publicado em 1997, tem uma explicação. “Sabemos que naquela noite, horas antes do crime, Gustavo teve uma dor de cabeça muito forte tendo sido, inclusive, levado ao hospital pelo pai. No dia em que ele foi preso, solicitei a realização de uma tomografia, que revelou uma mancha escura sobre o sistema límbico. A mancha sugere a presença de um edema ou um tumor, bem na área do cérebro onde é produzida a serotonina, associada a sentimentos como a alegria, a amabilidade, a ternura, a afetividade e a autoestima. A presença deste edema ou tumor impediu a produção de serotonina pelo cérebro, despertando em Gustavo um estado psicótico e depressivo muito violento”, declarou o especialista. “A energia procedente da noradrenalina liberada pelo ato de matar abaixou sua pulsão mortífera, permitindo que ele se desse conta do crime que acabara de cometer. Foi então que decidiu ir até a casa dos avós, numa tentativa de buscar socorro. Não tinha intenção de matá-los. Quando chegou, contou aos dois o que tinha feito. O avô não acreditou e fez menção de ligar à casa dos pais de Gustavo para verificar. Neste momento, o jovem entrou em paranóia. Desesperado, com medo de ser preso, atirou no avô num gesto impulsivo, não premeditado, para impedi-lo de descobrir a verdade. A avó, que estava na cozinha, gritou, e ele atirou de longe na cabeça dela”, continuou Vitti. Para o psiquiatra, o fato de Pissardo ter ido à praia com a namorada logo após o crime demonstra um profundo distúrbio não-psicológico, mas neuroquímico. “Ele simplesmente não entendeu o que tinha feito”, afirmou. Pela extrema gravidade dos fatos, Pissardo não foi autorizado a aguardar o julgamento em liberdade e ingressou na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté no dia 11 de outubro de 1994. Apesar das tentativas da defesa de fazer com que seja considerado inimputável, ou seja, não-responsável por seus atos, Gustavo foi julgado como um criminoso comum. No dia 3 de abril de 1997, foi condenado pelo juiz Guilherme Figueira Nascimento a 63 anos e quatro meses de prisão. A sentença foi confirmada em julho de 1998, em novo julgamento. Entretanto, no dia 11 de fevereiro de 1999, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo reduziu a pena para 42 anos e sete meses. Em

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JULGAMENTO Gustavo Pissardo escoltado por PMs no dia do julgamento no Fórum em São José

Aos psicólogos, Gustavo Pissardo revela plano para reconstruir sua vida com a ajuda do irmão, o único membro da família que sobreviveu à chacina

abril do mesmo ano, Pissardo foi transferido para a penitenciária de Presidente Venceslau, de segurança máxima. O estabelecimento foi escolhido por ser bem distante de São José. Comportamento exemplar Tanto em Taubaté como em Presidente Venceslau e na penitenciária de Paraguaçu Paulista, onde passou pouco mais de cinco meses, entre janeiro e julho de 2002, antes de retornar ao presídio anterior, Gustavo Pissardo era considerado um detento modelo, de bom comportamento. Não há registro de tentativas de fuga nem de brigas com outros

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O crime 29 de setembro de 1994 No fim da noite, tomado por um inexplicável acesso de raiva, Gustavo Pissardo vai à cozinha da casa da família, no Bosque dos Eucaliptos, zona sul de São José dos Campos, pega a arma do pai, um revólver calibre 32, que estava em cima do freezer, segue rumo ao quarto da irmã, Maria Paula Pissardo, 18 anos, onde também estava a mãe, Adelaide Medina Sanches Pissardo, 44 anos, e atira na cabeça das vítimas. Alertado pelo barulho dos tiros, o pai, Gumercindo Pissardo, 42 anos, corre para o quarto. Gustavo aponta a arma para o pai e atira. Gumercindo tenta fugir, mas é atingido por um tiro na nuca

30 de setembro de 1994 Gustavo pega a caminhonete do pai, uma Chevrolet branca, e segue para o bairro Chácara Primavera, em Campinas, onde moram os avós paternos. Conta aos dois que havia matado os pais e a irmã. O casal de idosos não acredita. A avó, Antônia Vacon Pissardo, 69 anos, vai para a cozinha preparar algo para o neto comer. Gustavo segura a cabeça do avô, João Pissardo, 68 anos, e atira. Logo em seguida, mira em direção à avó e acerta um tiro na cabeça Vítimas Gumercindo Pissardo

42 anos

Adelaide Medina Sanches Pissardo

44 anos

Maria Paula Pissardo

18 anos

João Pissardo

68 anos

Antônia Vacon Pissardo

69 anos

presos, nem sequer de falta disciplinar. Aparentemente, não tomava remédios. Depois que voltou de Paraguaçu Paulista, começou a prestar serviços na lavanderia do presídio, demonstrando “interesse pelo trabalho”, segundo avaliação da direção do centro de qualificação profissional e produção de Presidente Venceslau. Com o objetivo de pleitear sua progressão para o regime semiaberto, Pissardo se submeteu a uma avaliação psicológica e psiquiátrica em agosto de 2002. Nessa entrevista, revelou planos para reconstruir sua vida com a ajuda do irmão, o único membro da família que sobreviveu

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à chacina. Adriano Pissardo, que mora em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, continua visitando Gustavo até hoje. Gustavo ainda disse na avaliação que estava namorando havia três anos, por meio de visitas frequentes e correspondências. Assumiu o crime, insistindo novamente na pressão familiar. Em sua avaliação, os profissionais do núcleo de reabilitação de Presidente Venceslau qualificaram Pissardo de calmo, lúcido, consciente, estruturado e coerente em suas declarações. Entretanto, destacaram como pontos negativos “imaturidade nas relações intrapessoais”, “uso inadequado dos mecanismos de defesa”,

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bem como uma “agressividade e impulsividade latente, porém controlada”. Além disso, ressaltaram angústia e ansiedade, assim como uma “perturbação do caráter prevalente”. Com todos estes elementos em mão, a equipe interdisciplinar do presídio manifestou-se contra a progressão de Pissardo ao regime semiaberto. O promotor Mário Coimbra, da Comarca de Presidente Prudente, seguiu a mesma linha e votou pelo indeferimento do pedido em março de 2003. No dia 19 de maio de 2003, a juíza Renata William Rached Catelli, da VEC (Vara de Execuções Criminais) de São Paulo, confirmou a negação do benefício, apesar de Gustavo já ter cumprido um sexto de sua pena e preencher os requisitos legais justificando a progressão de regime. No dia 14 de outubro de 2004, Pissardo voltou a pedir o benefício. Mais uma vez, o promotor Mário Coimbra votou contra. Em 15 de abril de 2005, o juiz Fábio D’Urso, da VEC de São Paulo, indeferiu o pedido. Em junho de 2005, Pissardo foi transferido para o presídio de Irapuru, onde ficou até janeiro de 2006, quando ingressou na penitenciária de Tupi Paulista. Pouco depois, formalizou a terceira solicitação de progressão de regime, negada novamente pelo juiz Fábio D’Urso no dia 27 de outubro de 2006. A defesa recorreu, mas o indeferimento foi confirmado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo em agosto de 2007. “Independentemente do bom comportamento carcerário, não parece possível levar ao regime semiaberto autor de gravíssimos crimes contra a vida sem que seja submetido a exame criminológico ou a alguma avaliação técnica”, justificou o desembargador Marcos Zanuzzi, relator do processo. Exame dispensável Cabe salientar que desde a entrada em vigor da lei 10.792, em dezembro de 2003, o exame criminológico não é mais obrigatório para a progressão de regime, inclusive para crimes hediondos. Entretanto, o juiz pode pedir a realização do exame se achar necessário. Segundo a nova lei, qualquer preso tem direito ao benefício depois de cumprir um sexto da pena e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do presídio. O argumento foi utilizado diversas vezes pela defesa de Pissardo. Para o advogado criminal Marcelo Soares, conselheiro da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e presidente da comissão que coordena o voto dos presos provisórios em São Paulo, a obrigatoriedade do exame criminológico deveria ter sido mantida. “Vejo com bons olhos o exame criminológico.

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Especial

Suzane continua reclusa na prisão

SENTENÇA Gustavo Pissardo foi condenado a 63 anos e 4 meses de prisão em 3 de abril de 1997; sentença foi reduzida para 42 anos e 7 meses em fevereiro de 1999

É uma garantia para a sociedade, e também para o juiz. Contudo, a progressão de regime é um direito do preso”, afirmou. Está justamente em tramitação no Congresso um projeto de lei que altera mais uma vez a Lei de Execução Penal quanto ao exame criminológico. O texto, que já foi aprovado pelo Senado, prevê a obrigatoriedade do exame para a progressão de regime quando se tratar de um preso condenado por um crime praticado com violência ou grave ameaça à pessoa. Em agosto de 2006, o novo advogado de Pissardo, Juliano Vigilato Guiro, formalizou um pedido para transferir o processo de seu cliente da Comarca de Presidente Prudente para a Comarca de Tupi Paulista. No entanto, o pedido foi negado pelo juiz Guilherme Ferreira da Cruz no dia 4 de dezembro de 2006. No dia 7 de novembro de 2007, Guiro emitiu o quarto pedido de progressão de regime de Pissardo. Poucos meses antes, em 29 de março de 2007, fora aprovada uma lei estipulando que todo réu primário –caso de Gustavo– deveria cumprir 2/5 de sua pena antes de ter o direito à progressão de regime. Contudo, argumentou a defesa, esta nova lei não é retroativa, e não pode ser aplicada a Pissardo. Se fosse retroativa, ele só poderia ganhar o benefício no dia 31 de dezembro deste ano. No entanto, o promotor André Luis Felício, de Presidente Prudente, votou contra a progressão, destacando a ausência de exame criminológico. Apesar da posição do promo-

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tor, e com base em atestado de bom comportamento carcerário produzido em janeiro de 2008, o juiz Guilherme Ferreira da Cruz finalmente concedeu o benefício tão esperado no dia 1 de fevereiro daquele ano. “A Lei 10792/03 tornou prescindíveis os exames periciais antes exigidos para a concessão da progressão do regime prisional, bastando a satisfação dos requisitos objetivo –temporal– e subjetivo – atestado de bom comportamento carcerário firmado pelo diretor do estabelecimento prisional”, justificou o magistrado à ocasião. Inconformado, o Ministério Público de São Paulo recorreu da decisão no dia 7 de fevereiro de 2008, argumentando que o fato de Pissardo ter sido condenado a uma pena longa elevava o risco de fuga. O promotor Gilson Antunes Martins ainda defendeu a realização de um exame criminológico antes da concessão do benefício. “Não se pode dar preponderância maior à boa conduta carcerária em detrimento do perfil psicológico” do réu, sentenciou, lamentando que os governantes brasileiros considerem o preso uma “despesa incômoda” e tentem de todas as formas abreviar sua permanência no cárcere, “independentemente de se está ou não preparado para voltar ao convívio social”. No entanto, o juiz Ferreira confirmou sua decisão no dia 13 de março, afirmando que “sem argumentos concretos de necessidade, não se sustenta o pedido de realização do exame criminológico”. A alegria durou pouco. Em 5 de junho de

No dia 31 de outubro de 2002, Manfred e Marísia Von Richthofen foram espancados até a morte com barras de ferro enquan enquanto dormiam na casa da família, no Brooklyn, em São Paulo. O assasssinato foi planejado p pela filha Suzane Von R Richthofen, e executad tado por seu namorado da épo época, Daniel Cravinhos, e pelo irmão dele, Cristian. Suzane e Daniel foram condenados a 39 anos de prisão, enquanto Cristian pegou 38 anos. A sentença foi dada no dia 22 de julho de 2006. Suzane está na Penitenciária Feminina de Tremembé. Suzane, hoje com 26 anos, já formalizou várias solicitações de progressão para o regime semiaberto. Todas foram rejeitadas. A defesa da jovem também pleiteia a remoção dela para outra penitenciária. No início de maio, foi protocolado mais um pedido de transferência para o Centro de Ressocialização de Rio Claro, onde Suzane cumpriu o início de sua pena antes de ser transferida para Tremembé. Os irmãos Carvinhos também solicitaram a progressão para o regime semiaberto, mas o pedido foi negado pela Justiça. Eles estão na P-2 de Tremembé. Cabo Bruno Outro caso de grande repercussão nacional é o do ex-policial militar Florisvaldo de Oliveira, 50 anos, mais conhecido como Cabo Bruno. Condenado a 103 anos de prisão por chefiar um grupo de extermínio que teria executado mais de 50 pessoas nos início dos anos 80 na zona sul de São Paulo, Oliveira, preso há mais de 18 anos na P-2 de Tremembé, obteve a progressão de regime no dia 19 de agosto do ano passado.

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2008, o MP conseguiu cassar a progressão, determinando a regressão de Gustavo ao regime fechado. O caso foi parar no STJ (Supremo Tribunal de Justiça), que ordenou o restabelecimento da decisão de Ferreira no dia 24 de novembro. Entretanto, o juiz Rogério Alcazar confirmou a regressão em 7 de janeiro de 2009. No mesmo dia, a intimação foi enviada ao presídio de Mirandópolis. Revoltado, Pissardo se recusou a assinar o documento. No dia 27, porém, o juiz Paulo Eduardo de Almeida restabeleceu o benefício. A confusão foi tanta que no dia 30 de novembro de 2009 –dez meses depois do restabelecimento da progressão de regime– o diretor técnico da Penitenciária Nestor Canoa de Mirandópolis enviou um fax à Justiça solicitando esclarecimentos sobre a situação de Pissardo. Procurado pela revista valeparaibano, Gustavo se negou a dar entrevista. Dia das Mães Hoje, com a progressão de regime finalmente conquistada após uma luta de seis anos, Gustavo Pissardo continua em Mirandópolis, onde dá aulas de conhecimentos gerais a

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outros detentos. Ele também ganhou outro benefício: as saídas temporárias, concedidas durante alguns feriados como Natal e Ano Novo. Na mais recente, Gustavo ficou fora da penitenciária entre os dias 6 e 11 de maio, por ocasião do Dia das Mães. A situação é irônica, já que Pissardo obteve o benefício justamente na data escolhida para homenagear uma de suas vítimas. Porém, as datas para a concessão da saída temporária são pré-definidas e contemplam todos os detentos que preenchem os requisitos legais, independentemente do crime que cometeram. “O diretor do presídio estabelece um calendário e a saída temporária é concedida a todos os presos que têm direito ao benefício. A data é um detalhe, não é importante. A saída temporária é benéfica, pois contribui para a reinserção social do preso. Neste caso específico, o fato de conceder o benefício do Dia das Mães a uma pessoa que matou a mãe pode até ajudá-la a refletir sobre o crime que cometeu, a pensar melhor no que fez”, avaliou o criminalista Tales Castelo Branco, ex-presidente do IASP (Instituto dos Advogados de São Paulo).

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A Secretaria de Administração Penitenciária informou que a Lei de Execuções Penais autoriza cinco saídas temporárias por ano, independentemente do perfil do preso. A única condição para o benefício é que o detento esteja cumprindo o regime semiaberto e tenha bom comportamento. Segundo a SAP, costuma-se autorizar saídas em datas festivas como Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, Finados ou Dia das Crianças e Natal e Ano Novo. Pissardo deveria sair da prisão somente no dia 14 de maio de 2035 se cumprisse toda a condenação. Entretanto, de acordo com o artigo 75, que estipula que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 anos, e devido às remições obtidas mediante trabalho, ele deverá ser libertado no dia 8 de outubro de 2022, pouco antes de fazer 50 anos. Na opinião do psiquiatra Marco Antônio Vitti, Pissardo está apto a voltar ao convívio da sociedade. No entanto, o profissional fez uma ressalva: “Gustavo tem que ser monitorado a cada seis meses, através de uma bateria de exames clínicos, para verificar que o edema cerebral não voltou”. •

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VIDA REAL

Sexo pago: a prostituição de luxo Garotas de programa que ganham ao menos R$ 10 mil por mês revelam como funciona o circuito da prostituição que não aparece nas ruas de São José Elaine Santos São José dos Campos

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m corpo perfeito, um sorriso largo e um olhar vazio. Assim é Vicky Sampaio, uma gaúcha de 27 anos que deixou a casa dos pais, no Rio Grande do Sul, para viver como garota de programa no chamado circuito da prostituição de luxo em São José dos Campos. Vicky em nada se assemelha às mulheres que oferecem sexo por alguns trocados nas ruas e praças. Poucos imaginariam que a estudante do último ano do curso de direito, que mora em um bairro nobre da cidade, encontrou no próprio corpo uma fonte de renda, uma forma de ganhar dinheiro. Livre das calçadas e dos cafetões, a jovem gaúcha de uma família de classe média não se libertou do preconceito que cerca a profissão que escolheu há cinco anos. Um preconceito que começa por ela –raras são as garotas de programa que se orgulham ou enaltecem o que fazem. “É difícil conviver com isso. Primeiro por que as pessoas te olham e julgam para depois saber quem é você, se é boa pessoa, se paga as contas em dia. Lidar com preconceito é uma coisa que faz mal, machuca”, disse Vicky, que sonha em ter filhos e com uma vida que ela classifica como ‘normal’. “Com o tempo, aprendi a conviver com isso. Hoje em dia não dou mais bola se alguém me olha torto. Mas no começo foi muito complicado. Se você não tem uma ca-

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beça legal, se perde”, afirmou a jovem, que consegue manter uma renda mensal de R$ 10 mil com cinco clientes fixos, fora os programas extras. Segundo ela, o mínimo que recebeu por uma hora de programa foi R$ 300 e o máximo, US$ 3.000 por uma noite. “Na minha casa sempre tive tudo, só que chega uma hora que você precisa viver a tua vida, parar de depender de pai e mãe. Não é que é mais fácil ganhar dinheiro com a prostituição, é mais rápido. Você consegue fazer mais dinheiro em menos tempo, não precisa trabalhar todo o dia para ganhar R$ 1.200 por mês”, disse. Com cinco anos como garota de programa, comprou um carro de R$ 60 mil, um apartamento de R$ 180 mil, um salão de beleza –tocado pela mãe no Rio Grande do Sul– e fez um investimento que não revela o valor. Na prostituição, a jovem sentiu na pele o preconceito: foi humilhada por clientes. “Nesse mundo tem muita droga, gente ruim que vai te levar para um lado que não é legal”, conta Vicky, já sem o sorriso estampado no rosto e, nervosa, cruzando os dedos das mãos. “Mas tenho vários clientes fixos e 70% deles são casados. Quase nunca saio com pessoas com mais de 50 anos. A maioria tem entre 30 a 45 anos. São empresários. Acho que por isso não enfrento muitas situações ruins”, disse. Questionada sobre a escolha da profissão, a resposta veio em tom de defesa, num misto de agressividade e melancolia. “Olha, faz muito tempo que eu não me questiono sobre nada disso por que num relacionamento normal você se envolve e pode se machucar com as pessoas gratuitamente. Então, se fizer isso ganhando dinheiro está bom. Mas pretendo sair

da prostituição até o final desse ano. Vou me formar, passar um tempo na Europa e depois volto para advogar”, disse Vicky, que pretende encontrar um homem que a valorize, se casar e formar a sua família. Renda familiar Maria Cristina*, 34 anos, tem marido e três filhos adolescentes. No sobrado, em um bairro de classe média em São José, onde moram, ela é arrimo da família: mantém todas as despesas da casa fazendo shows de pole dance e programas sexuais. Os filhos são preservados, não trabalham, mas sabem exatamente como funcionam os negócios da casa. “Em casa tudo é conversado desde muito cedo. Mesmo porque sempre avisei que um dia um dos pais dos amigos ou até mesmo os amigos deles poderiam me assistir fazendo shows em alguma casa noturna”, disse Maria Cristina sentada ao lado do marido, Roberto*, 37 anos, e da filha de 18 anos. “Não quero isso para ela [filha]. Por isso ela estuda em escola particular, boa. Eles (os filhos) sabem e respeitam o que faço. E me respeitam como mãe,”, afirmou Maria Cristina, cuja agenda profissional é administrada pelo marido, um ex-ator de filme pornô. Roberto disse que hoje não trabalha mais no mercado de filmes pornográficos porque a mulher não aceita. “Ela é muito ciumenta, se pudesse me colocaria em uma redoma de vidro. Aliás, todas as mulheres, que trabalham como ela, são possessivas por que precisam saber que têm algo verdadeiro”, disse. Empolgado em exaltar o trabalho da mulher, que cobra pelo menos R$ 2.000 por hora de programa, Roberto faz questão de ressaltar por-

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Fotos: Eugênio Vieira

DINHEIRO Maria Cristina, 34 anos, mantém as despesas da casa como garota de programa; marido e filhos sabem dos negócios da família

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qu ela é considerada uma profissional do sexo que de alto nível. Maria Cristina vive da prostituiçã ção desde os 18 anos de idade e o marido fala co com orgulho que ela já trabalhou no Bahamas, um uma conhecida boate de São Paulo, do empresá sário Oscar Maroni Filho. “ aprendeu tudo com o Maroni. Para ter “Ela cli clientes como esses [de classe alta], tem que sa saber se portar muito bem. Ela fez vários curso sos no exterior, fala duas línguas e está sempre m muito bem informada. Quem pensa que um ho homem que paga R$ 2.000 por um programa qu quer só sexo, está enganado”, disse Roberto. S Segundo ele, o cliente também quer boa compa panhia, quer conversar, desabafar e, às vezes, ne nem procura uma relação sexual. “Quer ter co com ela o que não tem em casa, uma mulher qu u saiba escutar”, disse o ex-ator pornô, que que nã ã sente ciúmes de Maria Cristina porque não ac c acredita que o envolvimento dela com outros ho o homens “é apenas profissional”. “Eu sei que ali ela não tem nenhum sentimento com esses ho homens. É apenas trabalho”, disse o marido. M Maria Cristina diz que escolhe seus cliente tes. “Se eu não gostar dele, não saio. Não há di dinheiro que pague. Hoje tenho o meu traba balho, que são os shows. Se acontece de ter um uma boa proposta, tudo bem, caso contrário, nã não”, afirmou a mulher, que faz, em média, 15 shows por mês em casas noturnas de São Pa Paulo. “Não trabalho com anúncio. É só telefo fone. Não se negocia preço. Quem me procura já sabe que é um programa caro. Atendo grande des empresários. Frequento a alta sociedade en ninguém sabe o que faço”, disse. Av Avaliação M Muito diferente da prostituição de rua, onde o programa serve como moeda de troca para dr drogas, pequenas contas e até a sobrevivência, a cchamada prostituição de luxo é um acelerado dor na busca pela estabilidade econômica. “Essa sas mulheres usam o poder de sedução para ad adquirir de forma rápida muito dinheiro, faze zem do sexo uma moeda forte”, disse Iracema Te Teixeira, psicóloga e mestre em sexualidade hu humana, membro da Sociedade Brasileira de Es Estudos em Sexualidade Humana. S Segundo ela, para as garotas de programa, a pr prostituição nada mais é que um facilitador ao ac acesso a grandes somas de dinheiro em curto te tempo. “Para elas, o sexo pago é um emprego co como outro qualquer, porém só não é revela lado porque é recriminado pela sociedade. N Não podemos atribuir um juízo de valor a es essa atividade, se é algo bom ou ruim, porém, tu tudo tem um preço”, explica a psicóloga ressa saltando que qualquer escolha feita na vida

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tem suas consequências. “Acho que se intitular prostituta de luxo é um preconceito delas próprias. Prostituta é prostituta. Se ela cobra pra entrar num quarto com um homem é uma prostituta, não importa se é mais caro ou mais barato e não é diferente nem melhor do que qualquer outra”, disse Gabriela Leite. Socióloga formada pela USP (Universidade de São Paulo), ela trabalhou como prostituta por duas décadas e hoje defende a classe como fundadora da Rede Brasileira de Prostitutas, que reúne 32 associações em 17 estados do Brasil, além de coordenar a ONG (Organização Não-Governamental) Davida e a grife Daspu. “As prostitutas que ganham mais dinheiro, que atendem grandes empresários, como é o caso em São José dos Campos, acabam mais desprotegidas por estarem num mundo fechado pelo falso glamour”, disse Gabriela. Segundo ela, as profissionais do sexo que mantêm o trabalho em sigilo estão mais sujeitas

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POLE DANCE Maria Cristina faz shows de pole dance em casas noturnas de São Paulo e programas sexuais

”As pessoas julgam para depois saber quem é você, se é boa pessoa. Lidar com preconceito é uma coisa que faz mal, machuca” De Vicky Sampaio, 27 anos, garota de programa há 5 anos em S. José

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à violência, ou seja, não é porque a garota de programa atende somente homens ricos que não estão vulneráveis a agressões. “Por não se assumir como prostituta ela não tem como reclamar qualquer violência. Na prostituição mais pobre é mais difícil acontecer violência por parte do cliente do que numa prostituição mais rica. A prostituta pode ser linda, mas está mais desprotegida porque fica num mundo particular. Na baixa prostituição existe uma rede de proteção muito maior.” Estima-se que 500 mulheres trabalham como garotas de programa em São José, principalmente na região central, que concentra os dois principais pontos de prostituição de rua –a praça Afonso Pena e a avenida Nélson D´ávila. Em 2002 foi fundada a Amor (Associação das Mulheres Organizadas na Rua) para reivindicar melhores condições de trabalho às prostitutas na cidade. A associação atuou em defesa dos direitos das profissionais do sexo por ao menos quatro anos, até fechar as portas.

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Perfil do cliente Um empresário, ex-sócio da casa noturna Touch Café, que funcionava no bairro do Urbanova, em São José, se prepara para abrir uma nova boate até o final deste ano na cidade. Segundo ele, que preferiu não se identificar, 80% dos homens que procuram garotas de programa consideradas de luxo são casados. “É um público com idade entre 40 e 45 anos e, na maioria, empresários de alto padrão social. Conheço homens que chegam a procurar por programas até duas vezes por semana. 30% desse público é viciado em sexo”, disse. O endereço da nova boate é mantido sob sigilo, mas o empresário revela que será diferente da extinta Touch Café. “A Touch era uma casa direcionada ao público em geral, homens e mulheres. Não importava a idade, desde que tivesse mais de 18 anos. Não era uma casa de prostituição, as pessoas não mantinham relacionamento sexual lá dentro. Era uma casa de shows de stripers, com serviço de gastronomia de alto nível. A casa fechou porque abriu sem planejamento e a cidade não tinha estrutura para isso. Agora estou elaborando um novo projeto, porém com um custo mais baixo.” Um empresário, que pediu para não ser identificado, disse que entrou na lista de clientes fixos de algumas garotas de programas de São José e São Paulo para realizar seus fetiches. “É a procura por uma aventura que não se tem em casa, algo a mais. Com relação a valores, penso que todo homem bem-sucedido tem reservado um valor para realizar suas fantasias, as fantasias que a sua mulher não realiza”, disse. Aos 42 anos e casado há 10, ele mantém relações sexuais com garotas de programa há 12 anos. “Acho normal pagar por sexo. O máximo que já paguei foi R$ 7.000 para uma garota passar uma semana viajando comigo e, o mínimo, R$ 200 por um jantar”, conta o empresário. “Não necessariamente saio só para ter sexo. A garota tem que ser boa companhia, papo agradável. Viajo bastante e, por isso, minha mulher não pode estar comigo, e não gosto de ficar sozinho. Não sou viciado, mas adoro sexo.” Para ele, o preço do programa é o que menos importa, o que vale é a discrição. “Não me exponho com qualquer garota. Não gosto de mulher vulgar, por isso procuro por garotas de programa de luxo. A mulher que me atrai é a que se veste bem, que é sensual, mas com uma roupa comum. Não quero ser visto com uma mulher que tenha cara de garota de programa. Quero uma companhia que seja apresentável para me acompanhar em um jantar, em viagens e até em reuniões. Então, pago por isso.” • *nomes fictícios

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Ensaio

Cláudio Vieira Queima de fogos no Réveillon em S. José

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Ensaio fotográfico

A cidade revisitada Para comemorar os 243 anos de São José dos Campos, convidamos alguns fotógrafos joseenses para mostrar um olhar único de sua cidade. Acostumados a documentar o município através de suas lentes, eles revelam visões bem pessoais sobre a maior cidade do Vale

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Ensaio

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Rafael Silva O rugby de São José, hexacampeão paulista, treina em um dos redutos do esporte da cidade, o Teatrão

Bruno Fraiha Nascer-do-sol no Jardim Satélite

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Ronny Santos E a vida a passar...

Pedro Ivo Prates Seu Paraíba, foi um grande líder da favela do Banhado

Flávio Pereira Pôr-do-Sol no Banhado com a Igreja Matriz de São José

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Ensaio

Lucas Lacaz Ruiz Sonho de voar, do bambu e das asas de papel de arroz, ao sonho de um bólido de metal Cláudio Capucho Aviões da Esquadrilha da Fumaça durante apresentação em São José Roosevelt Cássio Criança de bicicleta em periferia da zona sul de São José

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Sérgio Carvalho Cruzamento da movimentada Rua 15 de Novembro, no centro de São José

Antonio Basilio Passarela em frente à refinaria Henrique Lage em São José

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Coisa & Taltigo

Marco Antonio Vitti

São José Operário, parabéns pelo aniversário! Somos seus filhos adotivos

M

uito obrigado, São José. Sou um de teus filhos adotivos, com o maior amor do mundo. No penúltimo artigo falei de Saulo de Tarso, que se transformou em Paulo de Tarso. Paulo, ou como prefiro chamá-lo, São Paulo, depois de perseguir os cristãos, se converteu e, provavelmente, é uma das pessoas que mais entendeu Jesus e o amou. O amor de São Paulo é comovedor, principalmente quando ele diz: “Ainda que eu falasse a língua dos homens, serei como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar os montes, se não tiver amor nada serei... O amor jamais acaba...”. - ‘Calma, Paulo!’ interrompe José: ‘Espera um pouco! Tudo isso que falas eu vivi! Vivestes esta experiência?’ - ‘Não! Mas imagino, José’ - ‘Paulo, não sabes o que é a dor de ver a pessoa que você ama grávida, se não foi você quem fez! Jamais poderia imaginar que a mulher mais pura que amei estava grávida de outro’. - Paulo: ‘Mas ela estava grávida do Filho de Deus!’ - José: ‘Legal! Conta isto para minha família e para os meus amigos. O que eles dirão? Não fale porque sei o que passei. Em um sonho, um anjo tudo me revelou. Sorte que em seguida fomos para Belém. No caminho tudo

AMOR “Nós, joseenses, somos filhos adotivos de José, o Santo Pai Adotivo de Jesus” ficou claro para mim: fui escolhido para cuidar do Filho de Deus como pai! E, saiba: amei-o como meu filho e muito mais que meu filho. Nós, joseenses, somos filhos adotivos de José, o Santo Pai Adotivo de Jesus, enquanto a cidade de São Paulo adotou os gentios, ou seja, estrangeiros de todos os outros países. Assim como Jesus , abandonamos nossos lares, nossos pais, e viemos morar aqui em São José. Mas, como muitos filhos adotivos reclamam de seus pais do coração, não acreditam no amor de seus pais adotivos. Da mesma maneira, muitos que moram aqui em São José não acreditam no amor que a cidade tem por eles –por nós! Achamos que merecemos uma cidade melhor, e como reclamamos dessa. Falamos mal de tudo o que ela não tem e esquecemos o que ela tem. Foi aqui que nossos filhos saíram do útero de nossas mulheres, que também em sua maioria são adotadas por São José, nossos netos, nossos amigos. No entanto, me pergunto: ‘E o que nós fazemos por nossa cidade?’. Trabalhamos, ganhamos a vida com o suor de nossos rostos, mas, além

dos impostos, que não são poucos, que amor a gente deixa para nossa cidade. Somos todos filhos adotivos de um mesmo pai. E nosso pai José é também conhecido como José Operário. Porque São José é uma cidade de operários? Porque somos filhos de São José Operário. Que emoção! Somos todos irmãos! Mas na maioria das vezes nos comportamos como Caim e Abel. Pobre José! E agora, José? Como deixar de te amar se nos recebestes tão bem que a maioria de nós construiu sua vida aqui em suas plagas. Que nos procurem não somente para trabalhar, mas para que oremos por ti, São José, Cidade Esperança –e não da desesperança que muitos acreditam morar. Mas que sincronicidade. São Paulo é o apóstolo dos Gentios, pessoas de outros países, enquanto São José é o Grande Pai Adotivo de Jesus, nosso irmão. Obrigado, São José, por teres cuidado tão bem do nosso irmãozinho Jesus. Sei que cuidas de nós operários, teus habitantes. Vamos nos emocionar: Parabéns, São José dos Campos, nossa adotiva cidade. Te Amamos! Só precisamos adotar nosso pai adotivo, São José, e amar a cidade, e tratá-la cada vez melhor. Ainda que eu fale a língua dos homens, prefiro falar a língua do amor por São José dos Campos. Dedico este artigo aos meus filhos Leonardo, Luciana e Lisandra, a meu neto, Bruno, nascidos em São José dos Campos, e a minha neta, Maria Eduarda, nascida em São Paulo. •

Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br

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Turismo SAN BLAS

Kuna Yala: terra indígena em pleno caribe Nesse cantinho do Panamá turistas desfrutam de ilhas praticamente desertas, com praias de areia branca e o mar com várias tonalidades de azul Marrey Júnior San Blas (Panamá)

A

ilha de Cartí Yandub estava em festa. Naquela semana haveria a Chicha Brava, tradicional cerimônia da cultura Kuna de apresentação de meninas e adolescentes para a sociedade. E foi nesse clima de comemoração, que conheci parte de Kuna Yala, também chamada de San Blas, no Panamá. Todos os habitantes da ilha estavam envolvidos com os preparativos da recepção. Os guineos, bananas de gosto amargo usadas em pratos salgados, chegavam dias antes em barcos que vinham do continente. A fruta era um dos ingredientes da comida que seria servida para a comunidade. Também fariam parte do banquete a mandioca e o peixe defumado. Ajudar as índias a carregar os guineos foi o pretexto para me aproximar dos mo-

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radores e conhecer um pouco mais sobre as histórias e costumes de Kuna Yala. Em pouco tempo não demorou o convite para participar da festa. O nome da comemoração tem origem na bebida que é servida: a chicha, feita da fermentação da cana-de-açúcar misturada com café. São quatro dias de festejos e tanto homens quanto mulheres bebem até não aguentarem mais. Moradores de outros povoados também participam da celebração, que é custeada pelos pais das “debutantes”. Todos se reúnem em um galpão –mulheres de um lado e homens do outro. Um curandeiro é convidado para cantar a vida dessas meninas. Entre músicas, discursos e brados, todos bebem a chicha e fumam muitos cigarros. Enquanto o povo comemora, as aniversariantes ficam confinadas em uma cabana. Elas terão o cabelo cortado, como o das índias adultas. Depois vigora a lei seca e tem multa de cinco dólares para quem é flagrado bebendo. Essa é uma das tradições da comarca de

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DICAS A moeda é o dólar e o idioma, espanhol. O fuso tem 2 horas a menos em relação ao horário de Brasília

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DÓLARES

SOUVENIRES

Custa a passagem aérea de ida e volta até o Panamá. Para ir a San Blas pega-se outro voo por US$ 75

Não saia de San Blas sem levar a típica mola, que são os tecido coloridos e bordados pelas nativas

Divulgação

PARAÍSO Vista de parte da ilha onde os kunas recebem milhares de turistas, em San Blas, no Panamá

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Kuna Yala –em português, território Kuna–, no litoral caribenho do Panamá, a leste da capital do país. Antes chamada de San Blas, essa comarca recebeu oficialmente o novo nome em 1998. Para isso, houve muita luta e resistência do povo que vive lá. Hoje Kuna Yala é independente do Panamá. Os kunas têm legislação e um sistema de governo próprio e autônomo. Além disso, também preservam língua própria. Esse foi o primeiro povo indígena da América Latina a conquistar essa independência. Um dos marcos dessa luta foi a Revolução Tule, iniciada em 1925, quando a população se opôs às medidas de aculturação impostas pelo governo central. Após esse conflito, os moradores receberam o reconhecimento legal do território pelas autoridades panamenhas. Essa história é contada na ilha de Cartí Sugdub, onde está o Museu da Cultura Kuna. Em um espaço de pouco mais de 10 metros quadrados, um guia conta a história da formação desse povo, a resistência aos invasores e como fazem para manter as tradições. Nesse mesmo lugar é possível ver uma exposição de artesanatos, fotografias, livros e amuletos que contam um pouco da trajetória desses indígenas. Toda a comarca de Kuna Yala se estende em uma área de quase 2.400 metros quadrados entre a área continental e os arquipélagos. A capital chama-se El Porvenir. A população em todo o território não chega a 40 mil habitantes. Para chegar a esse local, somente de avião e veículo 4 x 4. Parte da estrada de acesso é de terra e durante quase todo o ano ela fica intransitável. Somente motoristas bastante experientes conseguem vencer os obstáculos. Outro jeito de desembarcar nesse paraíso é em um veleiro, que parte da capital ou vem de Cartagena de Índias, na Colômbia. A viagem, a partir do país vizinho, dura cinco dias e custa em torno de US$ 300. Cartí Yandub, um dos locais que recebem turistas, é apenas uma das 365 ilhas desse território. Embora fica próxima ao continente, ainda é bastante primitiva, com vielas estreitas. Os barcos são os únicos meios de transporte para ir às outras ilhas e também para o continente. Energia elétrica só

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Turismo Fotos: Marrey Júnior

a partir de baterias solares, mesmo assim, é pouco difundida. Ainda se usa lamparinas a querosene e pode-se contar nos dedos os pontos de luz desse povoado. Televisores, eletrodomésticos e computadores ainda são artigos de muito luxo e raridade. Mas o telefone celular já se espalha e hoje é o principal meio de comunicação entre eles e o resto do Panamá. Os índios moram em cabanas com paredes feitas de bambu, teto de palha de coqueiro e piso de areia. Não há água encanada, nem qualquer tipo de rede de esgoto. Os sanitários são rústicos e os detritos lançados imediatamente no mar. A água doce vem do continente, mas é rara. O banho é frio e com canequinha. Não pense que para o turista há mais conforto. A hospedagem é tipicamente Kuna, bem simples mesmo, como se recebessem na casa deles. As refeições são feitas ao ar livre. Se você não ligar para isso, tudo é compensando com a simpatia e o jeito de receber especial que fazem o turista ficar mais que a vontade.

CULTURA Acima, mulher recolhe cachos de banana, a base da comida dos nativos; ao lado, típica casa kuna, em bambu e palha

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Ilhas Paradisíacas Mas porque um local tão primitivo atrai turistas do mundo todo? Justamente é o mar do Caribe aliado a essa rusticidade e uma cultura indígena bastante preservada e acessível, que virou um grande chamariz para os estrangeiros. Nesse cantinho panamenho é possível desfrutar de ilhas praticamente desertas com praias de areia branca e água do mar de várias tonalidades de azul. O turista se sente um pouco descobridor ou um pouco náufrago nessas pequenas porções de terra, onde se pode explorá-las em suas totalidades. Geralmente, os passeios partem das ilhas mais habitadas, onde estão as pousadas. Os turistas seguem para locais paradisíacos durante o dia. Ilhas de beleza impecável. Na maioria dos casos, os passeios já estão inclusos nas diárias das pousadas. O trajeto entre as ilhas dura de meia a uma hora, dependendo da distância que se deseja percorrer. Junto com o turista vai toda infraestrutura. A comida e uma cozinheira seguem no barco. Geralmente o almoço tem um pescado bem fresco, arroz e uma salada. Comida que pode ser acompanhada de água de coco, refrigerante ou até mesmo cerveja. Os turistas têm permissão para consumir bebida alcoólica. Além de desfrutar do banho de mar em águas transparentes, também é possível pescar, mergulhar e tomar bastante sol.

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TRANSPORTE Barcos são o principal meio de transporte dos kunas para o continente

A temperatura em Kuna Yala costuma ser quente, mas agradável por causa da brisa do mar. Durante o dia, os termômetros oscilam entre os 25 e 27 graus. Próximo da região de Cartí, por exemplo, pode-se visitar a ilha Agulha, a do Diabo, a de um Coqueiro Só e a dos Cachorros, onde é possível mergulhar em um barco naufragado com fauna marinha bastante rica. Quem deseja um turismo ainda mais primitivo, pode dormir em uma dessas ilhotas. A sensação de ter uma ilha exclusiva é ainda maior para esses hóspedes. Eles podem contemplar maravilhosos nascer e pôr-do-sol, além de dormir com o barulho das ondas do mar bem próximo às cabanas. A comida em Kuna Yala é bastante simples –a base é o pescado, consumido frito ou assado. Mas o turista pode se surpreender e comer lagosta durante o jantar. Mas não pense em nada sofisticado. Ela é apreciada com as mãos, sem qualquer frescura ou requinte que o prato exige aqui no Brasil. Mas isso depende da época em que se visita a ilha porque a pesca é proibida durante o período de reprodução. O “centollo” é outra iguaria muito desejada por quem está no território Kuna. Essa é uma espécie de caranguejo gigante de cor vermelha, bem recheado de carne. Mas típico

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mesmo é o “Tulemasi”, uma espécie de sopa que mistura ingredientes abundantes nessa região do Panamá: peixes, cocos e bananas. Trajes Kunas Outro costume que chama bastante a atenção de quem visita a comarca é o traje das mulheres. As moradoras de Kuna Yala vestem lenços vermelhos na cabeça e usam blusas coloridas com as molas –bordado em forma de retângulos. Essas molas representam a fauna, a flora ou figuras geométricas. Para fazê-las são usadas várias camadas de tecidos e tudo costurado com linhas coloridas. As kunas também usam saias pretas estampadas. Os braços e as pernas são cobertas por pulseiras e tornozeleiras feitas de miçangas. Outro adereço típico é a argola de ouro que usam no nariz. Apesar de bastante vistosas com esses trajes, elas não gostam de ser fotografadas. Se sentem incomodadas. Algumas pedem um dólar em troca da fotografia. Toda essa cultura e natureza preservadas e bem diferentes do cotidiano das grandes cidades atraem e cativam os visitantes. A luta dessa comunidade indígena é para que tudo se mantenha preservado. Nem que para isso, se abra mão do conforto que a tecnologia está trazendo para todo o mundo. •

DICAS DE VIAGEM QUANDO IR Faz calor o ano inteiro no Panamá, que tem clima tropical, e temperaturas médias de 27 graus. Geralmente as chuvas são passageiras

COMO CHEGAR A Copa Airlines tem dois vôos diários entre São Paulo e Panamá. A passagem custa US$ 800 ida e volta. Para ir a San Blas é preciso pegar outro avião no aeroporto da Albrook. A passagem custa, em média, US$ 75 ida e volta. A viagem dura meia-hora. Outra alternativa é ir em veículos 4x4, a partir da capital. Os hotéis e pousadas têm informações dos motoristas que fazem o trajeto. O preço é US$ 25

IDIOMA Falar algumas palavras kunas agrada bastante os nativos. Nuedí, por exemplo, quer dizer obrigado. Outra dica é pechinchar na hora de negociar o valor da pousada. Sempre é possível conseguir um bom desconto

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PaladarArtigo

Roberto Wagner

Será verdade que quanto mais velho o vinho melhor ele fica?

I

magino quantas vezes você terá ouvido que o vinho é tanto melhor quanto mais velho for. Mas saiba que raramente isso é verdade, nem todo vinho comporta envelhecimento. Reconhecido como uma das maiores autoridades no assunto, Robert Parker Jr. calcula que apenas 5% dos vinhos finos conseguem melhorar se forem envelhecidos. Os outros 95% devem ser consumidos entre três a cinco anos, contados da safra mencionada no rótulo.

Um vinho tem que ter estrutura para ser guardado por um longo período. Antes de tudo, tem que ter um elevado teor de taninos, pois eles atuam como conservantes naturais. E isso só se consegue com uvas de alta qualidade que passem por maceração prolongada no processo de vinificação. Até as rolhas de um vinho assim têm de ser excelentes e longas, para evitar, por muitos anos, que o ar penetre na garrafa. No caso de vinhos brancos, uma elevada acidez será fundamental para garantir-lhes vida longa. E há as características genéticas de cada uva. Vinhos de uvas como a chenin blanc ou a riesling renana (no Brasil usa-se a riesling itálica) têm mais potencial para guarda que outros produzidos com sauvignon blanc, por exemplo. A imensa maioria dos vinhos não é feita para envelhecer, mas para ser

ENVELHECIMENTO 95% dos vinhos devem ser consumidos entre três e cinco anos

GOSTO “Se você prefere vinhos mais frutados, nem pense em guardá-los” consumida a curto prazo. No caso dos tintos, vale a pena guardá-los por uns três anos apenas, para que seus taninos fiquem mais redondos e macios, perdendo a aspereza inicial. Se tiverem mais qualidade (e nisso o preço costuma ser um bom indicador), poderão ser mantidos por cinco anos, talvez seis. Mas tenha certeza de que um vinho para ser guardado por dez anos ou mais, a fim de ganhar atributos, não lhe

custará menos de uns R$ 200 . E tem a questão do gosto pessoal. Se você prefere vinhos mais frutados, nem pense em guardá-los. Eles perderiam essa característica. Um vinho envelhecido desenvolve aromas e paladar próprios, bastante diferentes dos de um vinho jovem. Um vinho com 20 anos ou mais de guarda terá aromas chamados terciários ou “bouquet”, como os de caixa de charutos, pelo de animal selvagem, alcatrão, fumo de cachimbo, etc. Então, primeiro pense no que você prefere em termos de aromas e paladar. Talvez você detestasse um vinho velho. Por fim, há um aspecto crucial: a temperatura em que o vinho terá de ser mantido durante o envelhecimento. Essa questão é tão importante que precisa ser bem explicada. Isso fica para nosso próximo encontro. •

Roberto Wagner de Almeida jornalista

robertowagner@valeparaibano.com.br

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Hi-Tech

6 CV • motor 1.7 de 11 ndos 0/100 em 12 segu

• máxima dde 180

km/h

LANÇAMENTO

O sonho da baliza perfeita O novo B180 Confort, da montadora alemã Mercedes-Benz, estaciona sozinho e ainda procura por uma vaga no trânsito; conforto e tecnologia custam R$ 105 mil

Hernane Lélis São Paulo

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ocê está a horas percorrendo o centro da cidade à procura de uma vaga para estacionar até que depois de diversas voltas pelo mesmo quarteirão avista um pequeno espaço entre dois carros. Calmamente, dirige até o local deixando o veículo quase que paralelo entre os ‘obstáculos’. Em seguida, pressiona apenas um botão no volante e em menos de 30 segundos realiza com perfeição a temida baliza. O sonho de muitos homens e mulheres em executar a manobra sem colocar em risco seu carro e os outros que estão a sua dianteira e traseira é uma realidade a bordo do novo

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Mercedes-Benz B180 Confort. Assim como o nome sugere, o veículo visa garantir o máximo de conforto a seus passageiros com um pacote recheado de equipamentos de série, entre eles, a avançada tecnologia ‘Parktronic’, que estaciona quase que automaticamente o carro. Por meio de sensores de ultrassom localizados nos para-choques, o sistema monitora as zonas passíveis de colisão durante as manobras –mesmo em espaços estreitos, advertindo o motorista com sinais visuais e sonoros. O B180 vem equipado ainda com o inovador Parkguidance, classificado pela fabricante alemã como uma assistência conjugada ao Parktronic, permitindo ao condutor que solte o volante para execução da baliza. “O diferencial desse componente é que o próprio sistema faz os giros do volante, deixando o motorista livre para apenas acelerar e frear, assegurando a ele uma total comodi-

dade”, disse Roberto Gasparetti, supervisor de Marketing de Automóveis & Planejamento de Mercado da Mercedes-Benz do Brasil. Com o B180 você consegue ainda economizar nas voltas pelo quarteirão à procura de uma vaga. Os quatro sensores localizados no para-choque dianteiro do veículo servem como uma espécie de radar, localizando os espaços disponíveis para estacionar que tenham, no mínimo, 1,3 metro a mais de área livre em relação ao comprimento total do carro. O local é indicado por uma seta que acende no painel, orientando o motorista quando encontra uma vaga com dimensões adequadas. Ter na garagem de casa um modelo como o B180, que carrega sob o capô um motor 1.7 de 116 cavalos, e acima dele a cobiçada estrela da Mercedes, tem um preço. Toda sofisticação e conforto do modelo saem da concessionária por R$ 105 mil.

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PRATICIDADE Volante em couro com quatro teclas multifuncionais integradas e desenho de quatro raios

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ANO DO LANÇAMENTO

CÂMBIO CVT (Continuously Variable Transmission), que torna quase que imperceptível a troca de marchas

Modelo chegou para substituir o B170, além de ocupar o lugar do antigo Classe A

TESTE DRIVE

E

FICHA TÉCNICA B180 Confort

ACABAMENTO: Externo cromado e interno em alumínio

MOTOR: 116 cavalos de potência e 155 Nm de torque com quatro cilintros em linha

IMPACTOS: Em caso de colisão frontal, um dispositivo faz o bloco de motor deslizar para baixo do automóvel

DESEMPENHO: Aceleração de 0 a 100 km/h em 12 segundos, com velocidade máxima de 180 km/h

FREIOS: ABS, com sistema inteligente de pisca nas lanternas em caso de frenagens de emergência

PESO: 1.390 quilos

PNEUS: 205/55 R16

DIMENSÕES: 4,2 metros de comprimento, 2 metros de largura e 1,60 metro de altura

PORTA-MALAS: 544 litros

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RÁDIO: MP3 e Bluetooth

ca • direção eletrôni • duplo air bag piilloto automático

u não nego e você também não precisa negar. Todos correm de uma baliza. Mas é preciso enfrentá-la em determinadas situações. Por isso, quando esse momento chegar, ter em mãos o B180 Confort facilita muito para qualquer motorista. O sistema de manobra Parktronic é prático e rápido. Testamos a minivan da Mercedes e, de cara, ao sentar no confortável banco revestido de couro, já é possível sentir a diferença da marca alemã. O assento possui regulagem de altura, encosto de cabeça e costas. Então, se ao entrar no veículo você não sentir essa tal diferença, basta apertar um botão e ajustar o banco para senti-la. A direção tem assistência elétrica, que exige o mínimo esforço nas manobras, ficando levemente pesada de acordo com a aceleração. Além disso, sensores nas rodas indicam uma possível falta de calibração ou furos nos pneus. Depois de acelerar na rodovia Castelo Branco, foi hora de estacionar. Saímos atrás de uma baliza. O espaço encontrado tinha seis metros –está certo, era generoso para um carro de 4,2 metros. Parei paralelo à vaga, confirmei o auxílio Parktronic, soltei o volante e em menos de 30 segundos o carro estava rente à guia. O sistema funciona perfeitamente, sem exigir mais do que três manobras. Ao contrário do que você pode estar pensando, a maioria dos clientes são homens, casados e pais de família. Agora, se eles compram para presentear suas mulheres já é outra história. •

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o Costa nova está totalmente pronto.

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e vocÊ, está pronto para ser feliz?

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Moda&estilo MUNDO FASHION

Da passarela para as vitrines Principais nomes da moda indicam as peças e referências, apresentadas pelos estilistas no São Paulo Fashion Week, que ganharão às ruas e lojas do país no verão de 2011

Cristina Bedendo São Paulo

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epois de uma temporada de moda, muita gente se pergunta como ou quem usaria na vida real algumas das roupas um tanto que extravagantes apresentadas nos desfiles. Explico: numa semana de moda é importante ter em mente que nem sempre aquilo que está nas passarelas chegará, de fato, às vitrines das lojas. Tudo isso porque o que vemos nos desfiles é um conceito, algo um pouco mais exagerado sobre a inspiração do estilista para mostrar determinado caminho ou tendência para a próxima estação. Para traduzir o verão 2011 de forma mais clara para nosso leitor, durante o São Paulo Fashion Week, a revista valeparaibano conversou com os principais nomes da moda brasileira, entre jornalistas, stylists e consultores de moda, que indicaram as peças e referências que realmente vão sair direto das passarelas e ganhar as ruas. Em linhas gerais, a temporada quente deixa de lado a influência rock dos anos 80 e dá espaço para uma temporada mais romântica, em tons pastéis e um mix de referências dos anos 50, 60 e 70 –modelagens fluidas, estampas florais e cintura alta. Para a jornalista e consultora de moda Gloria Kalil, assim como em temporadas anteriores, desta vez também não temos uma lista de tendências marcadas. “O que podemos dizer que apareceu em muitos desfiles foram os

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vestidos, em diferentes formas, decotes ou silhuetas”, afirma. Além dos vestidos, chemisies e peças com estampa liberty (flores miúdas) e silhueta esvoaçante com a cintura sempre marcada são as apostas da stylist Manu Carvalho para a mulher contemporânea. “São referências que podem ser misturadas com a vida dela, com seu próprio estilo. O ideal é que a mulher, a cada temporada, saiba mesclar todas essas referências com a vida dela. Em geral, é um verão bem romântico, com tons pastéis”, acredita. Quem também destacou os tons pastéis foi a empresária e consultora de moda Costanza Pascolato. “A silhueta deste inverno é mais limpa e geométrica. Na cartela, temos o branco e as cores claras, o que é algo raro para o verão brasileiro. Do futurismo, o que vai para as ruas provavelmente são as transparências, as malhas em telas e os tules. Um modo de usá-las é com tops de fitness por baixo das roupas. A brasileira, aliás, já inventou as alças aparentes e as jovens, principalmente, vão saber muito bem como usar isso”, aposta a top consultora. Nas estampas, o floral é unanimidade. “É uma invasão e é algo engraçado, pois aparece desde o jardim até as estampas mais abstratas, com manchas, camuflagem ou liberty impressas no plástico”, enumera. Mas como as passarelas ditam algo mais conceitual, Costanza explica que tudo isso ainda vai passar pelo crivo dos compradores do varejo que, em sua maioria, são bem comedidos. “Eu acho que a crise econômica pela qual passamos serviu para dar uma acordada nas pessoas, que passaram a fazer apostas com mais certeza. Poucas marcas ousam no varejo.

Divulgação

Make de verão

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Raquel Cunha/O Vale

ARTESANATO Desfile do estilista Ronaldo Fraga, que resgatou o artesanato pernambucano em coleção com linho e bases de algodão

É importante lembrarmos que o Brasil é denominado pela moda de shopping, com marcas que, na maioria das vezes, se equivalem. A Animale, por exemplo, é uma marca que na passarela é super conceitual, mas tem uma loja totalmente comercial”, explica. As estampas mais tropicais, aliás, também foram indicadas pela jornalista Erika Palomino, editora do Portal FFW. “Eu aposto nas roupas com vocação de verão mesmo, como as estampas tropicais, com motivo de natureza. Acho que todo o mundo vai querer usar. Na modelagem, os curtos sempre agradam”, conta Erika, que citou a Rosa Chá para traduzir esse tipo de estamparia. Além das estampas, vale ressaltar que as

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cores também são o foco do verão, uma vez que a silhueta é bem variada, segundo o editor do site Chic, André do Val. “Temos muito branco e também muitos looks monocromáticos em cores claras, como nos desfiles da Maria Bonita e de Alexandre Herchcovitch”, afirma. Nos acessórios, os destaques ficam por conta dos diferentes materiais, como plástico, neoprene, vinil e emborrachados. Ou seja, os traços bem esportivos, como fez a grife Neon, uma das apostas do stylist e editor de moda, Paulo Martinez. “Acredito na tendência surfe, com tecidos como neoprene e recortes inspirados nos macacões de mergulho para a alfaiataria. E muitas cores, tanto para os homens como para as mulheres. Dá para passear pelos

dois extremos: dos tons pastéis às cores mais fortes”, ressalta Martinez. E diante das diferentes propostas de estilos, há especialistas que acreditam no mix de peças para criação de algo mais personalizado. Para a stylist e estilista Chiara Gadaleta, as pessoas vão pincelar peças de cada coleção para montar seus próprios looks com mais autenticidade. “As pessoas estão precisando se identificar”, afirma. Segundo ela, há muitas coleções masculinas que despertam desejo de consumo nas mulheres e vice-versa. Não há regras. “Eu vi uma bermuda saruel masculina na Cavalera que serve perfeitamente para meninas. Por outro lado, senti vontade de usar aquelas roupas masculinas do João Pimenta”, conta a stylist.

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Moda

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Manu Carvalho Stylist e consultora de moda

Costanza Pascolato empresária e consultora de moda

Gloria Kalil jornalista e consultora de m

“Aposto nas chemisies e peças com estampa liberty e silhueta com a cintura marcada”

“O floral é uma invasão e aparece desde o jardim até as estampas mais abstratas”

“Apareceram em m desfiles vestidos, em formas, decotes e si

DELICADEZA A Cori foi uma das marcas que investiu nos tons pastéis; destaque aos cintos finos que deixam a silhueta feminina

MIL FLORES A estilista Simone Nunes buscou inspiração na Bahia dos anos 70 para retratar um mix de estampas florais

NEOPRENE A Neon ousou no espírito esp orti e surfe; tubinho virou um dos look

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ta e ora de moda

m muitos s, em diferentes s e silhuetas”

João Braga professor de história da moda

“Ganham destaque os trabalhos com aspecto artesanal, que tornam o produto exclusivo”

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Lula Rodrigues jornalista de moda masculina

“Vimos muitos shorts curtos na passarela, mas é uma tendência apenas para os fashionistas” Fotos: Agência Fotosite/divulgação

esp ortivo em mistura de navy dos looks principais e certeiros

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DÂNDI MODERNO Calça com barra mais curta e pregas no cós e alfaiataria em tecidos esportivos são destaque da coleção masculina

JEANSWEAR SETENTISTA A Ellus mostrou forte influência dos anos 70, com uma mistura de florais e uniforme dos marinheiros

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Moda Raquel Cunha/O Vale

O pesquisador e professor de História da Moda, João Braga, segue na mesma linha. “Eu acredito na subjetividade. Não há mais uma tendência muito forte, as pessoas passaram a se vestir do jeito que querem. Por isso, o que ganham destaque são os trabalhos com aspecto artesanal, que tornam o produto exclusivo, como patchwork e barras de calças dobradas ou cortadas. No aspecto de beleza, os desfiles que me encantaram foram da Cia Marítima, do Alexandre Herchcovitch masculino e Reinaldo Lourenço”, conta o pesquisador, que é referência em história da moda no Brasil. Moda masculina Para a moda masculina, em especial, o jornalista Lula Rodrigues, especialista neste segmento, acredita que o xadrez pode gerar várias possibilidades de estampas. Já as bermudas ficam um pouco mais curtas e aparecem, principalmente, em tons de caqui. “Vimos muitos shorts curtos na passarela, mas essa é uma tendência apenas para os fashionistas, o homem normal não usa”, explica. Os blazerss são mais leves, assim como os cardigans, quee dão um sados nos toque de inglês chique e podem ser usados o. ambientes refrigerados, por exemplo. vagem No quesito jeans, quanto menos lavagem melhor com a chamada modelagem “ceninoura” (mais larga no quadril e afunim lada nas pernas), com as barras maiss estivera s a o s s e curtas. “Essa bainha pescando sirii mil p desfiles a. pegou mesmo”, confirma o jornalista. nos 39 FW ndo Nos pés, os mocassins continuam sendo do SP opções super bacanas, assim como os tênis drille tamflats (rasos). As sandálias tipo espadrille radicional bém ensaiam um retorno, além do tradicional modelo tipo Rider. “Mas para mostrarr os dedos é importante manter o cuidado com os pés”, ESTRELA aconselha o especialista. Além do vestuário, a tendência mais releAcima, André Lima vante com relação à moda masculina diz rescom as modelos no peito ao comportamento do homem atual, final do desfile; ao que tem se mostrado mais interessado por lado, Paulo Borges, moda, em geral. “Isso é muito bom, pois é com organizador do São esse homem que eu quero dialogar, e não com Paulo Fashion Week o fashionista”, conclui Rodrigues. •

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CULTURA

Moldando a hist贸ria 094-097_Viver_figureiras.indd 94

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ValeViver Pela primeira vez em um século e meio, os figureiros de Taubaté terão sua memória resguardada em um livro que reproduzirá em fotos toda a história dessa arte Elaine Santos Taubaté

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assado um século e meio, as técnicas e o material utilizados pelas figureiras de Taubaté mudaram, mas o tempo não alterou a dedicação com que é elaborada cada uma das pequenas esculturas. A única preocupação é que, com os anos, o formato histórico dessas obras de arte se perca. Para que isso não aconteça, há cinco anos, alunos da Unitau (Universidade de Taubaté) fazem uma pesquisa de campo para resgatar a memória de cada figureiro. O projeto “Figureiros de Taubaté, Memória e Cidadania”, coordenado pela Pró-Reitoria de Extensão e Relações Comunitárias, catalogou algumas peças produzidas atualmente que serão publicadas com depoimentos dos artesãos. “A questão mais importante dentro da nossa pesquisa é trazer a experiência, a vida e os sentimentos de cada figureiro. Fazer com que a memória dessas pessoas possa ser registrada e servir como documento histórico para o século 21”, disse o coordenador da pesquisa, professor Armindo Boll. O livro está em fase final, mas sem data de publicação por falta de investidores. “Entrevistamos cada um dos 43 figureiros ainda em exercício e registramos três peças consideradas exclusivas de cada um”, disse Boll. Além de catalogar o trabalho mais recente de cada artesão, o livro trará fotos e

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depoimentos de cada um deles –uma forma encontrada pelos alunos para registrar parte da história dos 150 anos de existência da arte, até hoje sem documentação oficial. “Durante a pesquisa o que percebemos é que ao longo da história algumas figuras permanecem e outras vão se modificando. O exemplo disso é o presépio, o caipira, os santos. Todas essas peças tradicionais foram mantidas. O que hoje tem bem menos é o caipira, os trabalhadores rurais, o fogão, o lenhador, as peças que são de origem rural”, explica. Pela memória dos entrevistados da pesquisa, a origem dos figureiros surgiu no convento Santa Clara, em Taubaté, com a confecção de pequenos presépios. Mas os pesquisadores encontraram uma segunda linha de origem. “Como pesquisadores preocupados em ter esse contexto mais amplo, percebemos que temos que incluir duas questões-chave na história: primeiro que o Vale do Paraíba é muito rico em argila. Por isso também temos em Cunha e em outros lugares do Vale um trabalho profundo com argila e artesanato. E também a região é muito rica em religiosidade popular, o que trás várias remessas de artes semelhantes às dos figureiros”, disse. A pesquisa aponta que não se pode oficiali-

zar a arte dos figureiros como originária do convento Santa Clara, mas sim da cultura geral da população de todo o Vale do Paraíba. “As figureiras não só surgiram do convento Santa Clara. Elas estão num contexto do Vale do Paraíba onde, tanto a religiosidade popular e a presença dessa preocupação das pessoas de terem lembranças e figuras de santos nas casas, originou-se a arte.” Cores e formas No galpão instalado no bairro Imaculada, em Taubaté, “A Casa dos Figureiros” abre diariamente suas portas para 43 artesãos, homens e mulheres, que encontram ali um lugar para expressar seus sentimentos e resgatar da memória momentos do dia-adia de seus antepassados. A forma das esculturas de argila, hoje industrializada, surge rapidamente das mãos ágeis das artesãs. Em poucos segundos dona Tina, 68 anos, molda um pequeno pavão, símbolo dos figureiros desde 1979. Conversando e admirando a peça, ela se recorda de sua primeira obra –uma réplica de cozinha em paredes de barro e fogão a lenha, onde costumava escutar seu pai tocar viola aos finais de tarde. “Ser figureira pra mim não tem como exFotos: Eugênio Vieira

MODELAGEM

Para compor uma peça as figureiras trabalham apenas com a argila, uma esponja úmida e, para ajudar a dar forma, uma lixa feita de taquara, arame e palito

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plicar. Fico até emocionada porque é um prazer muito grande. Todas as peças que eu faço são coisas que lembro de minha infância na roça. A galinha d’angola, o caipira trabalhando, o lenhador e o presépio, que a cada ano a gente começa a fazer mais cedo. Tudo isso. Saber que nosso trabalho vai ser guardado em um livro me deixa até emocionada”, disse dona Valentina Viviane, mais conhecida como Dona Tina. “Esse trabalho da Unitau está mostrando que a história contada até hoje deixou pra traz muitas figureiras que já trabalhavam com o artesanato há anos. De duas famílias, a Santos e a Sampaio, nós resgatamos a história de outras 10 famílias. Isso é muito importante”, disse a presidente da Casa do Figureiro, Aparecida Joseane Sampaio, mais conhecida como Josi. Há 17 anos Josi trabalha à frente da associação. A artesã conta que muitos ali têm a arte como cultura familiar. Sua primeira peça, “A história dos figureiros”, está há mais de 150 anos na família. “Minha avô e minhas tias-avós eram todas figureiras e elas faziam santos há anos. Como nós, à época crianças, não dávamos sossego, minha avó colocava uma figurinha na nossa frente, dava um pedaço de argila na mão de cada um e mandava a gente copiar. Foi assim que eu aprendi a trabalhar com argila”, lembra Josi. “Nossa dedicação ainda é a mesma. Todos aqui trabalham com muito carinho e respeito para cultivar a tradição de seus familiares. Mas algumas coisas não têm como não mudar. Por exemplo, naquele tempo minha avó cozinhava a tinta em casa, pegava a argila do rio e o pincel era feito do pelo do nosso cachorro (risos). Hoje é tudo comprado.”

EMOÇÃO Dona Tina, não consegue explicar o prazer de fazer parte desta história, que agora ganha registro oficial

Estudantes da Unitau fazem pesquisa de campo para resgatar a memória de cada um dos 43 figureiros de Taubaté

Novas figuras O tempo deu passagem a novas formas em pequenas peças –o divino com as sete fitas de São Luís do Paraitinga, a coruja, a chuva de beija-flor, a Nossa Senhora das Flores, entre outras. Por ser um trabalho totalmente artesanal cada peça é única. “Existem muitos novos modelos. Eu mesmo tenho cerca de 50 novas peças. Cada figureira cria suas peças conforme o que imagina. Eu mesmo criei uma chuva diferente de galinha d’angola. Fiz a base da chuva em cima de

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uma grande galinha d’angola, e não em cima de um tronco como era antes. Outra peça nova que hoje faz muito sucesso é o Divino de São Luís do Paraitinga”, disse Josi. Para manter uma tradição entre as novas peças, a Casa do Figureiro fez um acordo informal com os artesões, que não podem imitar a criação do outro –uma forma encontrada para eternizar a criação e a assinatura do outro.

LIVRO O professor Armindo Boll, coordenador da pesquisa: “registrar a memória dessas artesãs é o objetivo do trabalho”

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Tradição Para ser figureira não é preciso vir de uma família tradicional. Uma das exigências é não perder o conceito base, que é manter a tradição das peças. Na casa do figureiro, 20 novas pessoas trabalham com o artesanato. “Já teve gente que veio aqui falando: vocês estão precisando de figureiras? Me surpreendi e disse não. Não é assim, a pessoa não pode pensar só no vender a peça, e sim no produzir uma arte de tradição da nossa cultura”, disse Josi. O lema da casa é que cada artesão traduza para a argila um sentimento e uma cultura regional únicos. “Já chegaram pessoas aqui que depois de aprenderem a moldar a argila queriam colocar plumas nas peças, pedras, brilhos. Foi quando fechamos mais o grupo. Não é isso que fazemos aqui. Aqui nós cultivamos a tradição”, disse. Izaura Gomes de Lima, 54 anos, é uma das novas figureirias, que há 10 anos trabalha com o artesanato em argila. “É uma forma de pôr o sentimento de dentro pra fora. Você faz com carinho, então você tem que estar bem, feliz. Cada peça é única, uma nunca fica igual a outra. Eu não sou uma figureira tradicional, mas tenho orgulho de fazer parte da história, da vida das pessoas e da cidade”, disse Izaura, que já trouxe o filho de 21 anos e a neta de 6 anos para aprender a arte na argila. •

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CULTURA

Fotos: Divulgação

O conto da meia entrada

MEIA? Ingressos com preços que em nada se assemelham com um benefício viraram uma regra no show business

Elaine Santos São José dos Campos

O que seria um benefício para milhões de estudantes e aposentados de todo o país virou moeda base para cálculo de preços de ingressos

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riada em 1992, a meia-entrada seria uma forma de aumentar as oportunidades de acesso à cultura no Brasil. Com um desconto de 50% nos preços de bilheteria, estudantes e aposentados do país teriam a chance de serem receptores mais ativos no processo cultural brasileiro. Mas, na prática, a meia-entrada se transformou num pesadelo para produtores culturais e num pseudo benefício

para os que deveriam realmente usufruir deste mecanismo. Produtores de shows blindam os preços de seus espetáculos contra o direito da meia-entrada. A grande maioria soma o borderô –documento de renda total do evento– calculando o ingresso a partir do preço da meia. Para eles, a prática é comum e tida como defesa sob o alto índice de fraude nas carteirinhas de descontos. Acostumados a terem no Estado de São Paulo pelo menos 70% do público pagante de meiaentrada, produtores e classe artística veem na prática uma forma de fugir de eventuais prejuízos, o que torna o preço real do

ingresso impraticável para quem não usufrui do benefício. “Quase 100% das produções de shows e espetáculos teatrais hoje são calculados a partir do preço da meia-entrada e o que vender de inteira é lucro surpresa. Meiaentrada hoje para a gente, que é produtor, principalmente aqui na região, representa mais de 80% da venda”, explica Juca Pugliesi. Há 15 anos no mercado, Pugliesi é o responsável por quase 50% dos espetáculos teatrais produzidos no Vale do Paraíba. Só em 2009, ele trouxe para São José dos Campos 11 peças teatrais. “Por exemplo, na peça ‘Os monólogos da Vagina’, com di-

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reção de Miguel Falabella, que ficou em cartaz em Taubaté em abril, o custo da produção foi de R$ 6.000, sem contar com divulgação e imposto. O cálculo feito para o espetáculo foi sobre os ingressos com o custo da meia-entrada. Quinhentos lugares a R$ 25 em dois dias”, disse Pugliesi, afirmando que em São José a procura pela meia-entrada é ainda maior que nas demais cidades da região. Para exemplificar a prática, Pugliesi revela que num teatro com 500 lugares, 360 pagarão meiaentrada e apenas 140 ingressos inteiros serão disponibilizados. “Não sou contra, mas o fato é que qualquer pessoa consegue uma carteirinha de estudante. Deveria haver fiscalização e mais critérios para se adquirir esse direito”, afirmou o produtor. “De acordo com Procon você não pode exigir a carteirinha de estudante. Então a pessoa com qualquer boleto bancário de qualquer tipo de curso vai até a bilheteira e consegue pagar meiaentrada. Sem contar a terceira idade e professores. As pessoas que pagam ingresso cheio hoje preferem comprar serviço do tipo área vip ou camarote. Com isso, o público do evento acaba sendo só de meia-entrada”, disse José Carlos Nunes, da MKR Eventos de São José. Legislação Segundo a lei estadual 7844, de 13 de maio de 92, todo aluno regularmente matriculado em estabelecimentos de ensinos fundamental, médio, superior e ainda os matriculados em cursos profissionalizantes (básico, técnico, vestibulares e pós-graduação) pagam meia-entrada em cinemas, circos, espetáculos teatrais e esportivos, musicais e de lazer em geral. Basta apresentar o comprovante do curso. No Estado de São Paulo, além

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INTERNACIONAL Aerosmith: preços dos shows ficam impraticáveis para quem deveria receber o benefício

dos estudantes, têm direito à meia-entrada pessoas com 60 anos ou mais, portadoras de deficiências e professores da rede estadual de ensino. “Se fosse estipulado cotas de meia-entrada aí sim, nós produtores, saberíamos como calcular nossos custos a partir do tíquete cheio para então dar o direito da meia-entrada. Mas hoje a meia-entrada é o que comanda o valor do tíquete médio de um evento”, explicou Nunes. O empresário costuma trazer para a região uma média de cinco grandes shows por ano e produz em outros estados ao menos 30 grandes eventos, como o recente

show do cantor Luan Santana, que teve público de 5.000 pessoas em Belém, no Pará. Maior empresa de entretenimento ao vivo da América do Sul, a Time For Fun, proprietária das casas de espetáculos Credicard Hall, Citibank Hall e Teatro Abril, em São Paulo, Citibank Hall, no Rio de Janeiro, da Ticketmaster e da Tickets For Fun, não confirma que a base de cálculo dos ingressos seja o custo da meia-entrada, mas deixa claro que é um dos critérios usados. “O show é precificado levando em conta diversos fatores, entre eles, a meia-entrada e o Estado onde ela será aplicada. Mas não

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é a única variável em questão”, informou a empresa por meio da assessoria de imprensa. A agenda de 2010 da Time For Fun já trouxe para o país nomes como Coldplay, Guns N’Roses, A-HA, Simply Red e Megadeth, Aerosmith, Chris Brown e Manowar. No teatro, a empresa trouxe o musical ‘Cats’, uma produção original da Broadway e ainda a turnê do Cirque Du Soleil. Para o cinema, a meia-entrada não tem o mesmo peso no orçamento das empresas que mantém salas de exibição no Brasil. A rede Cinemark diz que segue o que determina a lei em cada Estado e que isso não influencia no preços final dos ingressos. O que diz a lei De acordo com a lei estadual, 100% das entradas podem ser vendidas com desconto para estudantes. “Cabe a prefeitura estar atenta a fraudes. Ela tem que saber o número de ingresso que está sendo colocado e alertar o empresário que o número de ingresso de meia-entrada não pode ser previamente definido na bilheteria”, disse o diretor do Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) de São José, Sérgio Werneck. Já a prefeitura, por meio da assessoria de imprensa, informou que reclamações quanto a meiaentrada cabem ao Procon resolver. Porém, diz que ao término de cada evento cultural, fiscais da Secretaria Municipal da Fazenda vão até o local para fazer a contagem de ingressos vendidos. Werneck dá exemplo de um dos tipos de fraude mais comuns no Vale quanto a prática da meia-entrada. “Aqui em São José sempre acontece uma ou outra tentativa de fraude. Uma das mais frequentes é a prática do desconto de que todos têm direito ao meio-ingresso se levarem um quilo de alimento, o

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que acaba virando o preço único da entrada”, disse Werneck. Sergundo ele, pela lei, a pessoa beneficiada com a meia-entrada deve levar o quilo de alimento e pagar 50% do preço praticado com desconto. O Código de Defesa do Consumidor determina que todo e qualquer desconto dado a um ingresso tem que ser revertido à meia-entrada. Salvo preços de camarote e espaços diferenciados, que não são considerados ingressos comuns. Outro lado Estudo feito por produtores brasileiros apontou que 80% da frequência nos shows é de estudantes, por isso, o preço do ingresso inteiro extrapola o bom senso. Com isso, muitas vezes o público alvo do espetáculo acaba não tendo acesso ao evento. Tramita na Câmara dos Deputados desde 2008 um projeto de lei que propõe a regulamentação da emissão da carteira de identificação de estudantes. A intenção é coibir falsificações para que, de fato, a meia-entrada exista para os estudantes. O projeto envolve entidades estudantis, produtores e artistas, com a criação de uma comissão para fiscalizar a determinação da lei. “Não concordamos com a medida provisória feita em 2001, que diz que todo estudante tem direito à meia-entrada sem a especificação do documento de comprovação. Esse benefício deveria ser apenas para estudantes formais. É claro que com esse aumento considerável ao direito da meia-entrada, faz com que produtores de shows praticamente dobrem o preço dos ingressos [sabendo que receberão somente a metade]”, disse o presidente da UNE (União Nacional de Estudantes), Augusto Chagas. “Também não concordo que a meia-entrada seja o motivo do aumento do preço das produções teatrais. Na verdade, o grande

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Flávio Pereira/arquivo

MADONNA Para ver a ‘Rainha do Pop’, um bom ‘meio’ lugar custava R$ 300; nos cinemas (ao lado), a meia-entrada não influencia no preço

LEGISLAÇÃO NO PAÍS Todo aluno matriculado paga meia-entrada em cinemas, teatros, eventos esportivos, musicais e de lazer se apresentar o comprovante do curso

EM SÃO PAULO Além de alunos, pessoas com mais de 60 anos, portadores de deficiência e professores da rede estadual também têm direito à meia-entrada

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vilão é o descontrole do sistema desse benefício”, disse Chagas. O Ministério da Cultura não tem um levantamento de quantas pessoas hoje no Brasil desfrutam do benefício da meia-entrada. Porém, só a União Nacional dos Estudantes disponibiliza cerca de 500 mil carteiras por ano. Na busca por um consenso geral, o Ministério da Cultura entra como apaziguador. Sem grandes estratégias, Gustavo Vidigal, secretário executivo adjunto do ministério, explica que existem negociações no Congresso para se chegar a um fator comum à lei da meia-entrada. “A Casa da Moeda está propondo um selo único para identificar a carteira de estudante e, assim, evitar fraudes. Mas não há nada oficial. ”, disse Vidigal. Para o MinC, o problema que

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TEATRO Cena da peça ‘Trair e Coçar é só Começar’; produtores recorrem a artifícios para garantir lucro nas produções

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atinge hoje tanto estudantes quanto produtores e classe artística terá um facilitador com a chegada do Vale Cultura, previsto para ser sancionado pelo presidente Lula até o final deste mês. O projeto prevê que todo trabalhador, cuja empresa se inscrever no programa, receba o benefício de R$ 50 para aquisição de ingressos de cinema, teatro, museu, shows, livros, CDs, DVDs e até revistas semanais. A iniciativa pode atingir até 12 milhões de trabalhadores. No final de abril, o Vale Cultura passou pela primeira votação na Câmara, foi ao Senado, onde recebeu modificações, e voltou às comissões da Câmara para última análise. “Nossa avaliação é que já em julho, tenhamos o Vale Cultura sancionado pelo presidente”, disse. •

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Tempos ModernosArtigo

Alice Lobo

Em baixa na moda, mas em alta na arquitetura e na decoração

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moda do Rio de Janeiro tem tudo para ser a embaixadora sustentável do país. Não somente pelo fato dos cariocas viverem mais próximos da natureza, mas sim porque marcas do Rio têm se mostrado as mais preocupadas em trazer este conceito para as suas coleções. Mas o mais surpreendente desta última temporada do Fashion Rio é que quase nada eco-friendly chegou às passarelas. Uma coisinha aqui e outra ali apareceram muito timidamente, só para marcar presença. No São Paulo Fashion Week algumas atitudes mais concretas foram apresentadas, mas ainda pontuais. A mais representativa foi a carioca Osklen, que trouxe para a passarela paulista uma coleção inteira com tingimentos naturais e algumas peças em algodão orgânico. Alexandre Herchcovitch criou três peças masculinas com o EcoSimple, tecido feito 100% com matéria-prima reciclada a partir de resíduos de confecções que são “desfibrados”, fiados e viram um novo tecido sem passar por nenhum processo químico. O mineiro Ronaldo Fraga usou algodão orgânico cru e bordados feitos por cooperativas de Passira (PE), parte de um projeto que encabeça ao lado de Walter Rodrigues e Tininha da Fonte, o Pernambuco com Design. E por falar em Tininha, sua grife Movimento trouxe peças com pele

CONSCIÊNCIA “Dos 39 desfiles no São Paulo Fashion Week, somente seis tiveram alguma iniciativa ambiental. Ou seja, a triste notícia é que a consciência da moda ainda não acordou” OSKLEN Peças com tingimentos naturais

de peixe aproveitadas por mulheres de pescadores. Já a grife Maria Bonita criou bolsas, vestidos e tops de mosaicos feitos com lâminas de madeira de reflorestamento. E a Iódice continuou o “namoro” com o Estado do Amazonas, onde adotou uma unidade de conservação, faz um trabalho de capacitação e compra tucumã e pele de pescada de mulheres de pescadores locais. Resumo: dos 39 desfiles, somente seis tiveram alguma iniciativa ambiental. Ou seja, a triste notícia é que a consciência da moda ainda não acordou para a sustentabilidade. Mas saindo da moda, a boa constatação é que outro segmento está cada

vez mais sustentável e antenado com esta tendência mundial: o da arquitetura e decoração. Três dias depois de conferir a Casa Cor, o cansaço foi recompensado pela forte presença da sustentabilidade nos espaços. Móveis com madeira certificada ou reaproveitadas, utilização do bambu, paredes “verdes” em forma de jardins verticais, tecidos ecológicos em pisos, paredes, cortinas e móveis, iluminação em LED, louças e metais de banheiro que economizam água e diversos materiais e produtos feitos com matéria-prima reciclada são somente alguns exemplos do que está sendo usado por lá. Vale conferir até o dia 13 de julho, no Jockey Clube. •

Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br

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Divulgação

NOVA ESTRELA

Bela alienígena

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SINOPSE Seriado de ficção aborda a invasão de extraterrestres que querem dominar a raça humana

Atriz brasileira Morena Baccarin, 30 anos, vira estrela nos Estados Unidos, onde interpreta Anna, a maquiavélica protagonista da série V

Yann Walter São Paulo

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la tem 30 anos, nasceu no Rio de Janeiro e é a sensação do momento nos Estados Unidos. A atriz Morena Baccarin ganhou status de estrela como protagonista da série V, exibida no Brasil pela Warner Channel. A primeira temporada do programa, que terminou no dia 8 de junho, foi sucesso de audiência nos Estados Unidos, onde é exibido pelo canal ABC, no Brasil e em outros países da América Latina. A segunda temporada deve estrear no início de 2011. Neste remake estilizado de uma série dos anos 80, Morena interpreta Anna, a bela e maquiavélica líder dos Visitantes, extraterrestres que aportam na Terra para dominar a raça humana. Carismática, persuasiva e excelente oradora, ela seduziu os terráqueos, apresentando-se como uma pessoa amigável, desejosa em ajudar e partilhar seus conhecimentos. Com um sorriso permanente no rosto, Anna repetia com voz suave uma frase que acabaria se tornando seu slogan: “Nossa missão é de paz. Sempre”. Porém, suas verdadeiras intenções não demoraram a aparecer. Morena é carioca, mas se mudou para Nova York com a família aos sete anos de idade, o que explica seu inglês perfeito. Simpática, ela fala português com desenvoltura, mas sempre acaba inserindo uma ou outra palavra da língua de Shakespeare em

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LANÇAMENTO

ORIGINAL

Série V, a grande aposta da Warner Channel, estreou em canal de TV paga do Brasil em abril

Jane Badler, atriz que interpretava a personagem Anna na primeira versão do seriado nos anos 80

suas respostas, mencionando, por exemplo, problemas de “schedule” (agenda), um planeta “green” (verde) ou a “Latin America”. A atriz veio recentemente a São Paulo para um encontro com a imprensa brasileira. “O Brasil é minha casa, o país onde nasci. Meu coração está aqui”, afirmou. Filha do jornalista Fernando Baccarin e da atriz Vera Setta, Morena acabou escolhendo a carreira da mãe. Ela deu seus primeiros passos rumo ao estrelato na prestigiada Juilliard School, em Nova York, e mudou-se para Los Angeles em 2001. Já no ano seguinte, ganhou destaque como protagonista da série de ficção científica Firefly, tanto que foi chamada para integrar o elenco de Serenity, a adaptação do seriado para o cinema, lançada em 2005. Ficção Morena também participou da série Stargate SG-1, outro programa de ficção científica, no ar em 2007 e 2008. A beldade acabou se tornando a musa dos amantes do gênero. “Os fãs de ficção científica que já me conheciam antes estão amando V. Eles são muito apaixonados e exigentes, prestam atenção em cada detalhe”, disse, revelando que gosta de assistir ao seriado Big Bang Theory, também exibido pela Warner, no qual os personagens principais são jovens cientistas nerds. Hoje, Morena se entrega totalmente ao pa-

”O Brasil é minha casa, o país onde nasci. Meu coração está aqui. Sinto falta da praia, da água de coco e da comida brasileira”

pel de Anna, que lhe toma a maior parte de seu tempo. “O ritmo é intenso, com 12 a 15 horas de trabalho por dia. São necessários, em média, oito dias para gravar um capítulo”, explicou. Mas apesar do cansaço, a atriz se diverte muito tentando dar à fria e etérea líder dos Visitantes uma dimensão mais “humana”. “Anna é manipuladora, calma e controlada. Ela tem um jeito diferente de andar, de falar, de olhar para as pessoas. Mas não é apenas um robô. Tem seu lado humano”, defendeu. A atriz, cujo rosto é estampado em outdoors espalhados por várias cidades dos Estados Unidos e dos países onde a série V está sendo exibida, garante que lida com a fama repentina com naturalidade. “Ainda não me acostumei a ser parada nas ruas, mas estou curtindo muito. É legal ser reconhecida pelo trabalho que faço”, disse. Desabafo “Ator nunca relaxa. Já superei várias etapas. Para uma brasileira vencer nos Estados Unidos não é fácil. Tive que lutar muito”, afirmou Morena, que é fã da atriz Meryl Streep, com a qual contracenou quando substituiu a atriz Nathalie Portman em um ensaio da peça A Gaivota, do dramaturgo russo Anton Tchekhov. “Foi uma emoção indescritível”, declarou, antes de citar os brasileiros Walter Salles e Fernando Meirelles como diretores de cinema com os quais gostaria de trabalhar. Indagada sobre se estaria disposta a participar de uma novela no Brasil, a atriz revelou que foi chamada para integrar o elenco de Belíssima, no ar em 2006 pela rede Globo, mas não aceitou o convite devido à agenda carregada. “Para mim é difícil parar oito ou nove meses para gravar uma novela”. Sobre a vida pessoal, Morena disse que gosta de cozinhar e adora degustar um bom vinho nas (poucas) horas vagas. “Na Califórnia tem vinhedos maravilhosos”. E para manter a forma? “Faço ioga, pilates e gosto de caminhar. Não faço dieta, mas me alimento bem”, afirmou a carioca, admitindo que apesar de se sentir “metade americana” tem saudade do Brasil. “Sinto falta da praia, da água de coco e da comida brasileira, que é maravilhosa”, confessou. •

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MEMÓRIA

30 anos sem nosso grande poeta Em 9 de julho de 1980, perdíamos Vinícius de Moraes, um dos maiores gênios artísticos que o Brasil já teve, imortalizado pela literatura e pela bossa nova Isabela Rosemback São José dos Campos

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á trinta anos, o diplomata que passou a vida a emprestar a alma para a palavra escrita e cantada se tornou, ele inteiro, a própria essência. Em 9 de julho de 1980, Vinícius de Moraes transmutou-se em obra e memória, entregue à imortalidade conquistada por meio da literatura e da bossa nova. Foi hora de tocar o “Samba da Bênção” e se despedir das centenas de convidados ilustres que tanto povoaram as salas de onde morava, nas rodas de música regadas a whisky. Momento de dar adeus a parcerias que faziam milhares de fãs pelo mundo –as maiores delas, com o maestro Tom Jobim e com Baden Powell. Como escreveu Nelson Motta, no livro “Noites Tropicais”, a morte do ídolo “marca o fim de uma era musical brasileira” porque “a bossa nova conquistou o mundo, e o ‘poetinha’ foi a melhor influência dos melhores letristas da MPB”. O “poetinha” é um Vinícius tímido, embora extremamente sociável e sedutor. Um filho da burguesia que subiu o morro e soube enxergar o Brasil em sua diversidade cultural, ainda que seja mais lembrado pelos sonetos românticos. Nas contradições de uma personalidade encantadora como era a dele, o infantil confrontava a maturidade, e as paixões, fugazes, eram renovadas por uma busca individualista.

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“Ele vivia atrás de uma felicidade que não existe, chegava a ser egoísta nesse sentido. Quando se apaixonava, se entregava, mas logo achava outra paixão e trocava uma pela outra. Ele vivia uma utopia”, disse Christina Gurjão, 71 anos, jornalista casada com ele na transição dos anos 60 e 70. Foi nessa mesma época que o duro regime militar lhe tirou o título de diplomata. Christina estava ao lado do poeta, em Portugal, quando a notícia chegou até ele, que chorou. Emoção Vinícius era sensível, principalmente quando o tema era o amor ou as amizades que acumulava ao seu entorno a cada ano. Gostava de falar sobre suas vivências ao lado de outras pessoas, muitas vezes com os olhos marejados. Mas ele também sabia ser engraçado e não há uma pessoa que negue

Como escreveu Nelson Motta no livro “Noites Tropicais”, a morte do ídolo marca o fim de uma era musical brasileira

a elegância e a educação com que se apresentava em todas as situações. Uma de suas filhas, Maria Gurjão de Moraes, 40 anos, se recorda desse homem polido, mas bobo. “Ele era muito doce, além do genial. Era impossível resistir a ele porque era muito sedutor e brincalhão. Passei muito tempo sem acreditar que estivesse morto, achava que, de alguma maneira, ele iria voltar. Eu tinha dez anos e, mesmo nesse pouco convívio, acho que me tornei mais sensível por sua causa”, disse. Permanência Certa vez, quando voltou de uma visita ao cronista Rubem Braga, Vinícius falou a Christina sobre o silêncio que abençoou todo o encontro: “Não conversamos, não precisa. Basta estar perto.” Assim se mantém nas últimas décadas –a morte o fez calar, mas a voz lírica gravada por ele na história da arte brasileira se encarrega de mantê-lo sempre ao lado, influenciando ainda hoje diferentes gerações. Por isso, muitos afirmam que ele não será sepultado jamais. Mas apesar de ser sempre lembrado como um dos grandes poetas que este país já teve e, mais que isso, como um dos inventores da bossa nova –ao lado de Tom Jobim e do pai do gênero, João Gilberto–, sua figura exercia uma força na sociedade que extrapolava o limite das letras. “Vinicius era um modelo (no mau sentido, felizmente) de comportamento para muita gente que o cercava. Por causa dele, pessoas saíram de casamentos fracassados, pararam de usar gravata, largaram empregos, enfim, fizeram coisas que não teriam

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Fotos: AE

BUSCA Para Christina Gurjão, Vinícius de Moraes vivia atrás de uma felicidade que não existe

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PARCERIA Ao lado de Toquinho, parceiro em composições históricas e até no momento da morte do poeta

coragem de fazer se ele não tivesse dado o exemplo”, afirmou o jornalista Ruy Castro. Orfeu Autor do livro “Chega de Saudade – A História e as Histórias da Bossa Nova”, Castro afirma que Vinícius foi uma personalidade que soube acompanhar o seu tempo, e destaca em sua trajetória o encontro entre ele e Tom Jobim, no extinto bar Villarino. Ali se consolidava uma parceria para toda a vida, que começava com a montagem da peça “Orfeu da Conceição” que, em 25 de setembro de 1956, levou pela primeira vez atores negros ao palco do Teatro Municipal, no Rio de Janeiro, em uma versão abrasileirada da tragédia grega, que trata do ciúme. O protagonista carnavalesco da peça era vivido pelo ator Haroldo Costa, que conta ter se surpreendido ao ler o roteiro, pela primeira vez, em uma feijoada oferecida por Vinícius, em Paris. “Fiquei impressionado com a beleza do texto. Por ser em verso, a interpretação era um pouco difícil. A montagem era cara, atores e músicos iam além de 50 pessoas, o cenário tinha que ser grandioso e o tempo de ensaio

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não podia ser inferior a três meses”, afirmou. Participaram deste processo nomes como o músico Luís Bonfá e o artista plástico Di Cavalcanti. Além deles e outros artistas, um dos grandes ídolos de Vinícius –sendo páreo apenas para Pixinguinha– foi o gancho para fazer da estreia o momento mais marcante da temporada, na opinião de Costa. “Quando a cortina do Teatro Municipal abriu e apareceu o cenário do Oscar Niemeyer, a plateia aplaudiu com um entusiasmo tal, que parecia que o espetáculo tinha terminado”, contou o ator. Parcerias Ao longo da trajetória artística de Vinícius, outras parcerias foram feitas, que não apenas com Tom Jobim. Entretanto, o jovem compositor era ciumento e impedia que “Carlos”, como chamava o maestro, tivesse outro letrista –a não ser Newton Mendonça. Conta-se que um dia insistiu para que Chico Buarque mexesse na letra de “Gente Humilde”, só sossegando quando ele fez uma leve alteração. Na sequência, se gabou a Tom Jobim: “Tomzinho, o Chico agora também é meu parceiri-

nho”, externando seu lado criança. E para conquistar uma moça novinha em uma festa, pediu ao novato Edu Lobo que acrescentasse música aos versos que escrevera na hora para impressionar o alvo de suas investidas. Nascia ali “Por Um Amor Maior”, o início de um novo encontro de ideias que deu origem ao clássico “Arrastão”. Assim foi até que, em 1970, ele firma parceria com Toquinho. Então começa a enfrentar o tão temido palco, sempre com o copo de whisky à mão, e passa a fazer turnês dentro e fora do país. É uma fase madura da vida dele, quando assume o ofício da música de maneira profissional. Incentivo Foi nesses mesmos idos de 1970 que o poeta Ferreira Gullar passou a conviver mais com Vinícius. Na fase em que esteve exilado em Buenos Aires, por opor-se ao regime militar, o escritor maranhanse conheceu um grande incentivador de sua poesia. “Ele valorizava muito o trabalho dos mais jovens. Era uma pessoa muito generosa, que não era de falar sobre política ou teo-

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SE RECORDA DE COMO RECEBEU A NOTÍCIA DA MORTE DE VINÍCIUS DE MORAES E QUAL FOI SUA REAÇÃO? RUY CASTRO “Estava em São Paulo, acho que na redação da ‘Playboy’, e alguém veio me dizer. Fiquei chocado, embora soubesse que Vinicius não vinha bem. Lembreime de que passei com ele seu último Réveillon [e mais um grupo grande de gente do Rio], em Guarapari, ES, e que ele apresentou Gilda, sua mulher, como ‘sua viúva’. E ela foi mesmo...”

POESIA O contato com Manoel Bandeira mudou sua forma metafísica de escrever, segundo Ferreira Gullar

CHRISTINA GURJÃO “A Maria tinha acabado de ir ao colégio e uma amiga me ligou. Minha irmã foi buscá-la e então contamos a ela. Foi um momento muito doloroso”

TOQUINHO “Eu estava junto de Vinicius quando ele faleceu. Quase morreu em meus braços. Eu fazia um show no Rio de Janeiro com Maria Creuza e Francis Hime e estava morando na casa de Vinicius. Na manhã do dia 9 de julho fui acordado para socorrê-lo, ele estava na banheira já agonizando. Chamei uma ambulância, não deu tempo. Foi traumático, no entanto estive com ele até o fim, talvez tenha sido um privilégio”

HAROLDO COSTA “Só posso dizer que foi um dias mais tristes de minha vida. O impacto foi enorme. A tristeza foi geral, a cidade ficou enlutada e eu senti uma enorme dor no coração. Como me lembro dele praticamente todos os dias, agora acho que ele não morreu. Está nos olhando de algum lugar”

MARIA GURJÃO DE MORAES “Minha tia foi me buscar na escola, mas eu já sabia. Passei anos fantasiando que ele era um detetive e que a qualquer momento iria voltar”

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rias literárias. Ele era contra o regime, mas gostava era de fazer graça aos amigos, contar histórias. Lembro que se emocionava lembrando-se de Cyro Monteiro e que chegou a dizer que o contato com a poesia de Manuel Bandeira mudou a sua forma metafísica de escrever”, disse Gullar. Gullar começava a escrever “Poema Sujo”, publicado em 1975, e Vinícius o encorajou a ler esses versos em um dos encontros em sua casa. Gravou a voz do jovem refugiado declamando o próprio texto e enviou o material ao Brasil. Mais tarde o convidaria para escreverem juntos em um livro de fotografia. “Vinícius era poeta com domínio da forma, principalmente de sonetos. Ele fazia canções primorosas e que eram versos, não letras. Eram palavras metrificadas, inspiradas e bem desenvolvidas. Não pareciam ser espontâneas, mas técnicas”, disse. No dia em que morreu, em sua própria casa, estavam presentes o parceiro Toquinho e a então mulher Gilda Queirós Mattoso. A notícia logo se espalhou por todo o Rio de Janeiro, atingindo os âmbitos nacional e internacional. Sobre o enterro, no cemitério São João Batista, todos contam se lembrar de um momento de tristeza, em que estavam reunidos artistas de todos os meios, amigos e familiares para prestarem a última homenagem ao homem que se autointitulava “o branco mais preto do Brasil”. •

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Fotos: Eugênio Vieira

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Cats por trás das cortinas Das maquiagens ao figurino, tudo é grandioso na versão brasileira do musical da Broadway

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Elaine Santos São Paulo

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ncenado há 29 anos, é difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar no espetáculo “Cats” ou que pelo menos não tenha visto uma camiseta com aqueles dois olhos de gato te olhando furtivamente. Sucesso de público no mundo todo, o musical da Broadway ganhou um gostinho abrasileirado, um molejo a mais nos bailarinos. É o que pode ser conferido na montagem que fica em cartaz até o dia 8 de agosto em São Paulo, no Teatro Abril. Luzes, sonoridade e coreografia se fundem a fantasias presentes nos olhos da plateia que, logo de cara, é surpreendida com alguns felinos, que ganham a escuridão do teatro e surgem entre o público, causando certa euforia. Do primeiro ao segundo ato, “Cats” emociona e se faz entender musicalmente na versão brasileira feita pelo poeta e compositor Toquinho. Aproveitando este último mês em cartaz na cidade de São Paulo, nossa reportagem visitou os bastidores da peça e conferiu o que está por trás do beco escuro onde os felinos da tribo Jellicle Cats se encontram para escolherem um novo chefe. O corre-corre é geral. Mas tudo com muita organização. Para que tudo ande corretamente no palco, os 48 atores do musical têm o suporte providencial de 120 pessoas da chamada equipe de apoio. Ailton José de Souza Junior é o responsável pela maquiagem. Não que ele maquie todo o elenco, mas é quem dá o tom do controle de qualidade. “Não dá para fazer a maquiagem de todo mundo. Aqui cada um faz o seu e eu vou dando os retoques finais”, disse. Os mais craques conseguem finalizar em até 15 minutos, outros demoram um pouco mais para traçar as linhas felinas e passam, em média, uma hora entre a maquiagem, o ajuste das perucas e o figurino –um macacão colado no corpo que volta e meia tem que ser ajustado pelas costureiras durante a apresentação. Todo o figurino –64 perucas e 150 peças de roupas e acessórios– veio do acervo da Broadway. Aqui no Brasil eles ganharam alguns ajustes e agulhadas a mais, principalmente os macacões, para modelar o

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COXIAS Um dos rituais antes de entrar no palco é o aquecimento para enfrentar o espetáculo

MAQUIAGEM A caracterização dos atores é um dos atrativos da peça em cartaz em S. Paulo

VETERANO Saulo Vasconcelos já é considerado um veterano nos musicais brasileiros

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corpo das bailarinas brasileiras. Adriana Lima, responsável pela caracterização das 64 perucas que compõe o musical tem todo um trabalho extra. É ela quem catalogou todas as peças de cada um dos personagens, que durante o espetáculo chegam a fazer, em média, quatro trocas. Trabalho duro Para interpretar “Cats”, os atores chegam pelo menos duas horas antes do espetáculo. A rotina pré-apresentação é forte. Trinta minutos de alongamento severo, com acompanhamento de fisioterapeuta a cada apresentação. Há ainda o aquecimento vocal, que pode durar até 1 hora. Tudo isso para aguentar 18 horas de canto e dança durante quatro dias da semana. Mas se mesmo assim eles precisarem de um reforço, todos podem contar com os Pit Singers –uma equipe de oito atores que fica atrás das cortinas auxiliando no coro musical e prontos para entrar em cena, caso alguém se machuque. Já a orquestra é a verdadeira pérola do musical. Escondida em um pequeno quarto acústico atrás do palco, os dez músicos regidos pelo maestro Paulo Nogueira dão um toque especial de realidade ao musical com os graves que chamam a atenção da plateia. “Você trabalhar uma música que já existe é muito difícil, mais até do que compor. Ter que transformar uma sonoridade em poesia é muito difícil e Toquinho fez isso com muito louvor”, disse Floriano No-

gueira, diretor e coreógrafo residente, responsável pela obra no Brasil. A superprodução ganhou, além de Toquinho, um suingue todo especial com a musicalidade de Paula Lima, que Nogueira confessa ter sido uma surpresa para todos. “A aposta em Paula Lima foi uma surpresa sim. Falo inclusive isso pra ela. Sempre digo que sou muito feliz em tê-la no meu elenco.” O diretor afirma que Paula deu à “Cats” uma brasilidade e é hoje um contraponto especial no espetáculo. “Estamos acostumados a ter a emissão Belt –tipo de projeção de voz–, que todos os cantores de musical têm, e ganhamos um contraponto, que é a Paula Lima, com esse suingue e essa brasilidade na emissão vocal.” Do outro lado Como jurada do “Ídolos”, exibido pela Rede Record, a cantora se viu do outro lado do programa, como calouro, no teste para a gata Grizabella, cantando “Memory” para o inglês Richard Stanfford, diretor geral do espetáculo. “É verdade, me senti do outro lado do programa ‘Ídolos’ quando fiz o teste para ‘Cats’. Primeiro fui convidada para o papel de Grizabella, depois, quando topei, é que disseram que passaria por um teste (risos). Eu disse: Como assim? Teste da onde, não, assim não”, contou Paula dando detalhes da sua nova experiência. “Quando cheguei fui pertinho do piano e aí disseram: não, você tem que ficar ali no

CURIOSIDADE O musical “Cats”, de Andrew Lloyd Webber, estreou em Londres, em 1981, e desde então já se apresentou em mais 300 cidades de 20 países, entre eles, os Estados Unidos, Canadá, Buenos Aires, Seul, Helsinque e Cingapura. O musical também já foi traduzido para 10 línguas

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meio, à vista de todos. Foi duro, mas valeu a pena”, disse Paula, que agora promete ter mais compaixão com seus calouros no programa. Em “Cats”, Paula é a protagonista do musical. A gata, de pelagem acinzentada e já judiada pela vida, volta ao beco dos Jellicle Cats para tentar novamente um lugar na tribo, mas é rejeitada. Mesmo com tamanha experiência em palcos, em seus shows com banda pelo país a fora, a cantora afirma que “Cats” é um desafio agregador à sua carreira e que cantar “Memory” na versão feita pelo amigo Toquinho é uma emoção a cada dia. “Você está cantando ali e as pessoas estão entendendo o que você quer dizer. O que é muito difícil em um musical. Eu acho que Toquinho conseguiu deixar tudo mais atual”, contou Paula Lima. “Eu nunca imaginei que fosse topar, que fosse participar, que eu fosse fazer parte de um elenco como esse, e o melhor, que eu fosse estar tão apaixonada”, disse a cantora durante a maquiagem que ela levou menos de 20 minutos para concluir em seu camarim. “Até hoje sinto frio na barriga. Mas na primeira vez não sabia o que esperar do público. Se as pessoas que conhecem musicais iriam me aprovar, se na hora ia me dar um branco. Tanta coisa me passou pela cabeça. Não digo que tenha entrado insegura, mas com muitas incertezas e receio”, disse Paula, brincando que ainda continua achando que vai ter um branco em cena, mas que agora se sente à vontade.

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Dez anos no palco Diferente da estreia de Paula Lima, Saulo Vasconcelos, que interpreta Old Deuteronomy, o chefe dos Jellicle, comemora com “Cats” a sua trilogia em grandes musicais. O ator, já consagrado em espetáculos do gênero no exterior, rasga elogios ao elenco e, principalmente, ao público brasileiro. “Fechei minha trilogia. É uma coisa fora do comum. Quando eu comecei, há dez anos, não imaginava que ia fazer musical. As coisas foram acontecendo. Fui fazendo os testes e ficando com os principais papéis dos melhores espetáculos do mundo em termo de musical, bilheteria, popularidade e qualidade artística”, disse o ator, que conta em seu currículo com o papel principal do mais famoso espetáculo de Andrew Lloyd Webber, “O Fantasma da Ópera”, em cartaz na Cidade do México, em 1999, onde foi visto por mais de 880 mil pessoas, em 400 apresentações. Vasconcelos foi destaque também no musical “Les Misérables”, “A Bela e a Fera”, “Aida”, “As travessuras do Barbeiro” e “Noviça Rebelde”. “No começo, quando você é jovem, você é ambicioso quer tudo do bom e do melhor. Comecei com 26 anos e hoje tenho 36. São 10 anos realmente de carreira. Na verdade faço 11 anos no dia 16 de outubro. Já quando você é mais velho, você quer tranquilidade. Então, agora esse vai ser o meu objetivo no próximo trabalho: estar em um espetáculo bacana e num clima bacana, só isso”. •

CATS ONDE: Teatro Abril Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 411 Bela Vista - São Paulo QUANDO: Quinta e sexta, às 21h. Sábado, às 17h e 21h. Domingo, às 16h e 20h. Fica em cartaz até 8 de agosto INGRESSOS: de R$ 70 a R$ 240

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Cultura&mais Fotos: Divulgação

Previsão de nevasca

SHOW

Green Day toca no Brasil em outubro Doze anos após sua última passagem pelo Brasil, o Green Day, um dos principias expoentes do gênero punk rock no mundo, estará de volta ao Brasil: em outubro eles trazem para o país sua nova turnê, que será vista em shows em Porto Alegre (13 de outubro), Rio de Janeiro (15 de outubro – HSBC Arena), Brasília (17 de outubro) e São Paulo (20 de outubro – Arena Anhembi).

Adriano Pereira São José dos Campos

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ai nevar no Brasil. A previsão também é de pancadas de chuva ocasionais, fumaça, flocos de neve, alguma neblina, ventos, muitas risadas e um espetáculo de magia e efeitos especiais. O cenário inusitado é da aclamada companhia circense de palhaços russos Slava’s Snowshow que retorna ao Brasil pela segunda vez para se apresentar no Citibank Hall, entre os dias 14 e 18, de 21 a 25 e de 27 a 29 de julho em São Paulo. Slava Polunin, criador do espetáculo, começou a estudar engenharia aos 17 anos, abandonou o curso e juntou-se a um grupo de mími-

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cos. Influenciado por grandes artistas como Charles Chaplin e Marcel Marceu, fundou sua própria companhia, em 1979. A ideia de Polunin era tirar os palhaços do circo e levá-los para as ruas. O sucesso de suas apresentações iniciais foi tão grande que pessoas de cidades vizinhas começaram a viajar apenas para vê-lo. A visão peculiar do artista, que é considerado pela crítica internacional como o melhor palhaço do mundo atualmente, já rendeu diversos prêmios para a companhia. No total foram 10. Além dos prêmios, Polunin também criou uma geração de artistas. Antigos alunos do palhaço abriram suas próprias companhias e grande parte deles ingressou alguma das produções do famoso Cirque Du Soleil. O próprio Slava juntou-se ao Cirque na década de 90. São dele os números de palhaço de O, La Nouba e Alegria, alguns dos mais famosos espetáculos do Cirque.

Com 20 anos de carreira, o Green Day já vendeu cerca de 25 milhões de discos em todo o mundo e ganhou quatro prêmios Grammy. Formada pelo vocalista e guitarrista Billie Joe Armstrong, pelo baixista Mike Dirnt e pelo baterista Tre Cool, já lançou 10 albuns –o último deles “21st Century Breakdown”, chegou às lojas em maio do ano passado e já na primeira semana ocupou o topo da lista dos mais vendidos da revista Billboard. Este foi o primeiro disco lançado pela banda desde “American Idiot”, de 2004, que ganhou dois prêmios Grammy e emplacou cinco singles.

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COMEMORAÇÃO

LIVRO

Adolescentes podem agora gritar e espernear no conforto do próprio lar com o DVD de ”Lua Nova”

No dia 13 é comemorado o Dia Mundial do Rock. Respeite e não ouça axé, sertanejo e pagode

Intoxicado, preso, agredido, incriminado, enfim, “O Que Keith Richards Faria em Seu Lugar?”

ROCK

MÚSICA

Música

CD’S & MAIS

Gol contra das guitarras Gibson

VALE DESTAQUE

50 Cent resgata a histórica Motown

A LENDA ESTÁ Á DE VOLTA A banda do lendário Glenn Danzig quebra o jejum de seis anos sem lançamentos e chega com disco novo. PREÇO: R$ 30.-

A lendária marca de guitarras Gibson deu um “tiro no pé”. No mês passado elegeu os 50 melhores guitarristas da história numa escolha bastante justa. O problema é que entre os dez primeiros, apenas dois foram clientes fiéis à marca. No primeiro lugar, claro, Jimi Hendrix, fã da concorrente Fender.

Festival

Definitivamente, 2010 é o ano do R&B/HpHop no Brasil. Depois da Beyoncé em fevereiro e Chris Brown, podemos esperar por mais dois nomes consagrados para o próximo semestre. Teremos o Black Eyed Peas em outubro, mas antes, em julho, o magnata 50 Cent. O rapper volta ao país, após seis anos. Três shows estão fechados: Salvador (Wet’n Wild - 9 de Julho), São Paulo (Via Funchal - 15 de Julho) e Rio de Janeiro (Marina da Gloria - 17 de julho). O novo álbum de 50 Cent foi inspirado em Marvin Gaye. O rapper revelou que seu disco - cujo título provisório é “Black Magic”- terá uma “pegada soul” na qual foi influenciada pela lenda da Motown e também pelo cantor norteamericano Curtis Mayfield. Ele disse: “tem uma pegada soul e é por isso que eu o chamei de ‘Black

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Magic’. Tinha umas coisas inspiradas em Marvin Gaye, outras são como algo que o Curtis Mayfield faria, e as escolhas de como o ritmo dos discos eram como shows que eles faziam no passado. É algo novinho em folha. Se eu não dissesse que foi inspirado neles, você não saberia de onde eu peguei. Eu não falo as mesmas coisas que eles falaram. É a minha perspectiva em cima do que eles ofereceram”. Ele explicou ao site Rap-Up.com: “eu comecei a escrever para o conceito ‘Black Magic’ antes de partir para a turnê e, desde que voltei, tenho composto em uma direção diferente, então não tenho certeza se será igual ao que eu inicialmente criei. Acabarei pegando o melhor de tudo. Desde que voltei da turnê europeia, fui bombardeado com novas produções, muitas boas ideias para as quais eu comecei a compor com um outro conceito”.

SEM SEQUÊNCIA Eminem já avisa que o disco não tem nada a ver com o anterior ‘Relapse’. PREÇO: R$ 28.-

NÃO É FRASCO DE PERFUME Parace propaganda de perfume mas é o disco novo da Kylie Minogue. PREÇO: R$ 30.-

Woodstock BR muda de nome

O Woodstock Brasil passa a se chamar Festival SWU e acontece em 9, 10 e 11 de outubro, na Fazenda Maeda, em Itu, a cerca de 100 km de São Paulo. Estão confirmados: Pixies, Linkin Park, Incubus e Dave Mathews Band. Ao todo devem ser mais de 60 atrações internacionais.

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Social

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Flashes& Coquetel da construção Pelo sexto ano consecutivo, a Aconvap reuniu para a abertura da Construvale mais de 200 empresários da construção civil em São José dos Campos. Entre os convidados, a surpresa ficou por conta da presença de Paulo Galli, agora superintendente da Caixa Econômica Federal de Campinas, que fez questão de acompanhar o lançamento do evento ao lado de seu sucessor na região, Ademir Losekann. O feirão recebeu 18 mil visitantes nos três dias de evento e movimentou R$ 178 milhões em negócios.

Cléber Córdoba, da Aconvap, na abertura da Construvale

Ademir Losekann

Ronaldo Queiroga

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Orlando Carvalho e Cláudia Cury

Paulo Galli

Mônica Monteiro Porto e Sérgio Porto

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Domingo 4 Julho de 2010

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Fotos: Eugênio Vieira

Rosane Carneiro e Paulo Fernandes

Rodrigo Córdoba e Suely Chaim

Aconvap, p, struvale

José Antônio Marcondes César

Ivanir de Paula

Ricardo Rojas, Atílio Gazola e Bruno Martins

Paulo Galli lli

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André Anacleto

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Martinho Fedato

Antônio Reis

Patrícia Andrade

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Social

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Para todo o sempre A comemoração das Bodas de Prata de Jacqueline e Celso Ferraz mostrou a todos os amigos o quanto é emocionante renovar os votos de 25 anos de casados. Em cada canto, uma boa lembrança: a decoração contava com a prataria da família Ximenes e nas mesas monóculos com fotos da história do casal. Dona de um dos mais tradicionais buffets da cidade, o Sdriffs, Jacqueline cuidou pessoalmente de tudo –do cardápio, impecável, assinado por Onofre Maia, às sapatilhas e pashiminas prateadas encomendadas especialmente para as convidadas. Celso e Jacqueline Ferraz

Cris Ximenes e Luciano Flexa

Ana Araújo

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Maira Ferraz e Guiliana Lins

Vilma Mesquita e Carlos Eduardo Oliveira

Carmem e Bruno Alvim

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Domingo 4 Julho de 2010

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Fotos: Antonio Basilio

Viktor, Filippo e Thiago Ferraz

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Isabelle e Ricardo Vidal

FlĂĄvia e Jessen Vidal

Carlos e Luciane Martella

HermĂŠlia Ximenes

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Marina Passos

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Lindsey e Gersony Batista

Virginia e Osni Lisboa

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Social

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Velas, luzes e rosas Velas em castiçais de prata e candelabros em forma de rosas deram o tom de romantismo à festa de aniversário de Caru Maia, 29 anos, e da mãe dela, Maria Helena Maia, 54 anos, empresárias do Tropikos Buffet, em São José dos Campos. Para os privilegiados 100 convidados, Onofre Maia, especialista em alta gastronomia e eventos, providenciou um cardápio especial com bobó de lagosta, brandi de bacalhau e creme de milho com camarões ao vapor. Para fechar o menu, doces da By Clara e Louzieh. Fotos: Antonio Basílio

Gisele e Renato Salgado

Ana Vertamatti, Eugênio Vertamatti e Maria Fernanda Bastos Caru Maia e Lena Maia

Anderson Chagas e Renata

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Onofre Maia

Carol Schimdt e Rodrigo Sanches

Juliana Rabecchi

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Domingo 4 Julho de 2010

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Fotos: Eugênio Vieira

Jantar de homenagens Apostole Lazaro Chryssafidis, presidente da Abetar (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Aéreo Regional), reuniu fortes nomes do governo e da aviação civil para um jantar de homenagens ao deputado federal Carlos Zarattini e ao coronel Jorge Pajés, representando o ITA. Compareceram ao evento José Benedito Pereira Fernandes, secretário de Esportes, Lazer e Turismo de São Paulo, Herculano Lisboa, secretário Estadual de Turismo do Paraná, e Augusto de Arruda Camargo, da Secretaria dos Transportes de São Paulo . Carlos Zarattini e Apostole Lazaro Chryssafidis

Marino Faria e Blair Pinho Cardoso

Jéssica Chryssafidis

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José Benedito Pereira Fernandes e Luiz Flaviano Furtado

Luiz Leonardi e Herculano Lisboa

Francisco Lira

Maria Aparecida e Sérgio Augusto de Arruda Camargo

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Social

Um inverno bem aquecido João Doria Jr mais uma vez lotou o bairro do Capivari, em Campos dos Jordão. Os termômetros chegaram a 4 graus, mas a noite de inauguração da 15ª edição do Market Plaza se manteve quente ao ritmo dos mais badalados nomes do Estado. Este ano o shopping sazonal chegou com 88 lojas. Destaque para grandes marcas como Sony, Mercedes Benz, Kia Motors, Volkswagen, Kasinski, Nestlé. O inusitado da noite ficou por conta da turma de apresentadores do Pânico na TV que divertiu os convidados.

Pânico na TV

Naim

Bia Doria e João Doria Jr

Cristina Ferraz

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Sônia Hess

Lindsey Yu e Felipe Cui

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Domingo 4 Julho de 2010

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Fotos: Eug锚nio Vieira

Luiz Maluceli e Luiza

J贸ia Bergamo

ico na TVV

Adriano Campos e Ana Paula Campos

Mira Falchi e Roberto Almeida

Naim m

Christiane Spinelli

ey Yu e Cui

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Renato e Roberta Opice Blum

Milla Vieira

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Social

Recebendo em casa A revista valeparaibano abriu suas portas para receber clientes e publicitários da região, que conheceram a redação e as demais instalações da sede. Os convidados foram recepcionados por três dias com um brunch, pela manhã, e um coquetel, à noite, especialmente elaborados pelo Trópikos Buffet. A ideia de dividir o evento em três dias deu um charme diferenciado –cada grupo de convidados teve a atenção devida para conhecer nossa casa num clima bem intimista.

Amanda Del Bel, Daniele Mazzei e Areta Braga Rodrigo de Oliveira

Ana Fiuza e Silvio Vanzela

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Seigi Yamauchi e Celso vieira

Cristiane Sapla e Oscar Vilhena

Cristiane Rosa

Hellen Marcondes

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iane Rosaa

Marcondes es

Domingo 4 Julho de 2010

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Fotos: Eugênio Vieira e Ronny Santos

Cássio Rosas, Fernanda Rodrigues, Aline Rodrigues e Alexsey Neves

Thalita Viana e Carlos Alberto

Camilo Alvarez

Charlie Sanches e Tatiana Esteves

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Alexandre Caetano e Rosangela Mattar

Leandro e Letícia Alves

coronel Nadir Alves, Ana Lúcia Denz, Renata Vanzelli e Nazira Madureira

Marcelo e Mário Sérgio Pulice

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Viva a Vida

Carlos Carrasco

Qual seria o grande segredo de Yoko Ono, a senhora John Lennon?

E

m uma viajem a Nova York cruzei pelas ruas da metrópole com Yoko Ono. Fiquei admirado, emocionado, comovido. Bem na minha frente estava a mulher que conquistou, viveu e foi amada pelo homem que disse ser mais famoso que Jesus Cristo. Uma mulher pequena mas visivelmente forte, cheia de personalidade. Queria eu entender como um ser como John Lennon havia se apaixonado por alguém como Yoko. Ele que podia ter conseguido uma mulher mais bonita. Verdade, que comentário cruel, mas vamos ser honestos, ela nunca foi um monumento à beleza e, sinceramente, ele na posição que estava, poderia ter conseguido mulher mais bonita. Simpatia ela não tinha e isso que poderia ser o diferencial, não era. Ele, que poderia ter um romance com a Vênus ou Afrodite, preferiu Yoko. Daí meus pensamentos sobre esta mulher que via na minha frente. Meu Deus, o que ela tem? No que ela é especial? Uma mulher pequena, fechada, séria, com cara de mal humorada. Só eu pensei nisso? Vocês não? Resolvi então fragmentar a pessoa, tentar entender. Será que tem um furor sexual desses incontroláveis? Coisa que impressiona os homens, estes seres óbvios? Mas todo mundo era assim nos anos 60, descartei esta possibilidade. Yoko era artista, e artistas se seduzem, se entendem.

COMPANHEIRISMO Yoko Ono acompanhava John Lennon nas ideias mais malucas

LENNON “Ele que poderia ter um romance com Vênus ou Afrodite preferiu Yoko?” Desisti quando vi as telas pintadas por ela. Será que ela se dava bem com os amigos dele? Isso para os homens é muito importante. Hipótese absurda. Os Beatles se separaram. Então na minha experiência com mulheres resolvi analisar ela hoje, como eu a via nas ruas de NY. Alguém me disse: existe viúva que carregue o fardo com mais elegância e discrição? Começo a entender. Ela foi casada com Lennon e desse convívio extraiu sabedoria e postura. Ela ainda é sua companheira. Bingo! Achei! Companheirismo! Homem gosta disso, de mulheres

que estão sempre do lado. Só elas conseguem equilibrar um homem. Ele tinha ideias malucas, como ficar pelado ao lado da sua mulher e chamar fotógrafos para registrarem o ato. E lá estava ela a seu lado, sem colocar nenhum “ai meu amor pelada não!” Livre de qualquer problema e cheia de amor e companheirismo ali estava sempre uma mulher forte e íntegra. Então acho que encontrei o segredo de Yoko Ono. Fico aliviado e livre para pensar e tentar achar os segredos dessa mulheres que comovem o mundo. Obrigado a vocês! •

Carlos Carrasco cabeleireiro

carrasco@valeparaibano.com.br

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28/6/2010 11:06:05


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O Vale já faz parte da história da Helbor. A Helbor está presente na região do Vale paraibano, realizando empreendimentos imobiliários com qualidade e tradição. Continuaremos escrevendo nossa história no Vale e fazendo parte dela também. Helbor. Passado, presente e futuro com o Vale.

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Passado, presente e futuro ao seu lado.

28/6/2010 11:11:27


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