valeparaibano Junho 2010 • Ano 1 • Número 3
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quinta-feira, 18 de mar
codigo-barra-revista
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R$ 7,80
Copa
Rumo ao hexa Os craques de 2002 mostram o caminho das pedras para que o Brasil do técnico Dunga possa erguer a taça pela sexta vez
CULTURA
Festival de Campos amplia programação P92
POLÍTICA
Como vivem nossos deputados em Brasília P16
MODA
O tempo passa e ela continua no topo P88 Gisele Bündchen: a última top model?
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PaladarArtigo
Domingo 4 Abril de 2010
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Domingo 6 Junho de 2010
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PaladarArtigo
NÃO APENAS O PATRIMÔNIO É HISTÓRICO: ESTE MOMENTO TAMBÉM.
Solar da Viscondessa do Tremembé. 168 anos.
e a cultura de Taubaté e O Projeto Restau da UNITAU valoriza a história a Capela do Bom Conselho do Vale do Paraíba. Por isso, está restaurando de outro importante e, agora, entrega a primeira etapa de restauro . Todo esse investimento embé Trem patrimônio, o Solar da Viscondessa do u.br/restau merece ser conhecido de perto. Acesse www.unita
acom.unitau
Domingo 4 Abril de 2010
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PaladarArtigo
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Opini達o
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Sumário
MODA
GISELE BÜNDCHEN: A ÚLTIMA TOP MODEL? P88
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ESPECIAL
A fórmula da vitória na Copa A seleção do penta aponta os caminhos para que a equipe do ténico Dunga traga a taça do hexacampeonato para o Brasil
POLÍTICA COTIDIANO
ECONOMIA IMÓVEIS
Como vivem os O preço de um teto deputados da região P16 em São José P30 Nossa reportagem acompanhou o dia-a-dia dos representantes regionais em Brasília
Município tem o segundo metro quadrado mais caro do interior do Estado de São Paulo
ENTREVISTA MARTA SALOMÃO
H1N1: Começa o período crítico P54 Diretora do Instituto Adolfo Lutz diz que a população deve se preparar contra a epidemia VIOLÊNCIA JOVENS
Adolescentes que vivem entre tapas e beijos P58
TELEVISÃO BBB
De volta ao confessionário P110
Confinamos (por algumas horas) a ex-BBB Fernanda Cardoso na nossa casa
MÚSICA
Acordes ampliados Festival Internacional de Campos do Jordão terá mais de 80 concertos neste ano P92
MUNDO MULHERES
A nova face do terrorismo P61 Ensaio Fotográfico p68 Cinema p96 Flashes & p120 Viva a Vida p130
Responsável técnico: Alberto Carisio Nasciutti - CRM 89.259/SP
SANTOS DUMONT HOSPITAL UM ANO DE VIDA E O PRIMEIRO LUGAR ABSOLUTO QUANDO SE FALA EM HOSPITALIDADE.
Nestes 12 meses, o Santos Dumont Hospital trouxe para São José dos Campos e região um novo modelo de atendimento médico-hospitalar. Tornar-se referência na região requer seriedade e atenção contínuas, qualidades que o Santos Dumont Hospital possui desde sempre.
Para o futuro, o que nos espera, é ser sempre o primeiro lugar para você.
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Cartas&e-mails As cArtAs
o dEstAQuE
rEGionAl Conteúdo
isABEllA 1
rEGião MEtroPolitAnA
Indignação
Análise Lançada em momento oportuno, a revista valeparaibano dedica um aguardado espaço à reflexão sobre os assuntos do dia-a-dia que passam por nós em velocidade inacessível à análise mais detalhada. O debate sobre a criação da região metropolitana do Vale do Paraíba, por exemplo, ganhou grande projeção pública e um enfoque extremamente eficiente e explicativo nas páginas da revista, enriquecendo o leitor com informações sobre as chamadas zonas de conurbação que já ocorrem ao longo da via Dutra. Além do tema de extremo interesse às famílias joseenses e da região, podemos acompanhar assuntos relevantes nas áreas da educação, saúde e segurança. É a oportunidade, através desse importante meio de comunicação, de promovermos esclarecimentos e avanços na exposição de temas tão importantes à nossa sociedade. O excelente acabamento visual, além da leveza e variedade dos textos, tornam a leitura ainda mais agradável.
Mais uma vez, ao lembrar o caso Isabella Nardoni, não contive as lágrimas. Li a coluna de Marco Antonio Vitti que, de forma poética e concisa, relembra a dura verdade. De fato, a maior parte dos casos de violência contra crianças e adolescentes ocorre dentro de casa e é praticada justamente por aqueles que deveriam protegê-los. Justamente por aqueles que, ao invés de oferecer o porto seguro e o conforto do abraço, levantam as mãos para cometer atrocidades inexplicáveis. E, infelizmente, casos similares se sucedem em uma pavorosa sequência. A ajuda que podemos dar é a vigilância constante e a conscientização da população, para que não se cale e denuncie qualquer suspeita da prática de uma agressão contra nossas crianças e adolescentes. Que a nossa indignação auxilie no combate à prática de tais crimes. Silvia Máximo Promotora de Justiça
isABEllA 2 Sala de aula
Sou leitora assídua dos textos do médico e escritor Marco Antônio Vitti. Achei maravilhoso o texto sobre a nossa querida Isabella, na segunda edição da revista. Sou professora e resolvi utilizar o texto em sala de aula, pois trata do assunto de uma forma diferenciada, com muita emoção diante de um fato tão doloroso. Cleyde Alves Lins Ambrósio Professora
Macedo Bastos Vereador em São José dos Campos
O ótimo conteúdo editorial e a leveza da diagramação já colocaram a revista valeparaibano como item obrigatório de leitura de quem realmente se interessa pelos assuntos regionais. Estávamos mesmo precisando de um veículo com essas características. Parabéns pela iniciativa e ainda maior sucesso para as próximas edições.
Bianca Totti Jornalista
MÍdiA Qualificada
A revista é uma oportunidade para o leitor da região ter um panorama detalhado dos fatos importantes para o nosso cotidiano. Além disso, enquanto veículo de comunicação, vem preencher uma lacuna no mercado como mídia qualificada para leitores e anunciantes. Oswaldo Rodrigues Diretor da Página Comunicação
cAlotE Orientações
EnQuEtE A seleção brasileira ganha a Copa na África do Sul?
NÃO
57,61
42,39 SIM
Enquete www.valeparaibano.com.br
Foram computados 3.117 votos entre os dias 16 de abril e 19 de maio
Parabéns pela matéria “Calote bate recorde”. O conteúdo serve de instrumento para lojistas e consumidores se organizarem melhor. É impressionante ver os dados sobre inadimplência de uma cidade tão rica como São José dos Campos. Cabe aos consumidores seguirem as orientações dos economistas e aos comerciantes repensarem quanto a oferta de crédito. João Paulo Medeiros Advogado
Domingo 6 Junho de 2010
Cartas Av. São João, 1925 Jd. Esplanada, CEP 12242-840
Eventos Sugestão
Fiquei muito feliz em saber que vocês investiram no desafio de uma revista. A primeira edição foi ótima e a segunda foi melhor ainda. Parabéns. Tenho uma sugestão a dar. Eu acho que o Vale tem muitos eventos de grande porte e seria interessante que fossem mais divulgados, pois acho que assim vocês enriqueceriam mais a revista. Aproveito a oportunidade para agradecer sempre o grande apoio que dão para os eventos da Apae. Sucesso e que Deus abençoe a todos. Vera Buffulin Presidente da Apae de São José
Avestruz Curioso
Adorei a revista. Gostei das imagens e das matérias e a distribuição visual ficou ótima. Parabéns. O avestruz não é um animal muito simpático. A reportagem foi ótima e confirmou que é uma ave muito fascinante. Além de possuir características muito interessantes, ainda oferece em sua carne muitos benefícios conforme exemplificado na matéria. Valeria Vasquez Diretora do Cartório Postal
Reflexão Leitura
Linguagem equilibrada, reportagens com mergulho vertical no tema e layout impecável. A revista valeparaibano já é uma veterana no trato jornalístico. Jonas Maduro Diretor da Tríadaz Propaganda e Marketing
E-mail cartadoleitor@valeparaibano.com.br
Twitter @revistavale
OS E-MAILS Remédios Região
Na vida atual tão complexa, apesar de tantos realmente precisarem de remédio para controlar suas emoções e dores, assusta como o abuso degrada as pessoas, as torna dependentes e constitui um mundo a parte para elas. Parabéns pela excelente reportagem de Xandu Alves na segunda edição da revista valeparaibano. Em constante crescimento, época de Trem-Bala e outras novidades, seremos região metropolitana da capital. Excelente oportunidade para termos uma ótima revista. Parabéns, ela já existe! José Luis Moreira Vendedor
BALADAS Desrespeito
Excelente a matéria ‘Embalos de todas as noites’. Sou do Sul do país e vim morar em São José dos Campos há um ano e meio para trabalhar e fazer uma especialização em uma turma de 55 pessoas. Dessa turma, pelo menos 50 são ‘de fora’ e é unânime a opinião que as baladas da região não tratam o cliente da forma correta, exatamente como consta na matéria: filas para entrar, consumir e pagar, banheiros mal cuidados, ambientes abafados e péssimo atendimento. Além disso, a região carece de opções, obrigando os clientes a se submeterem a isso ou então
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Redes www.flickr.com/revistavaleparaibano www.facebook.com/revistavaleparaibano
a ir, por exemplo, para a capital apenas para curtir uma balada, o que muitos da turma de 50 pessoas passaram a fazer frequentemente. E é triste perceber que a baixa qualidade nos serviços não se limitam apenas às baladas, se estendendo aos bares, lojas e shoppings. O setor de serviços parece que não acompanhou o crescimento da cidade. Ricardo Borges Engenheiro
Twitter Sobre as baladas: @FabioFranca: Massa a matéria sobre as baladas do Vale. (Ah, sim! a cerveja no Anexo não só tem preço salgado, como também é uma facada)
Medicina Corpo perfeito
A revista valeparaibano é muito bem vinda ao nosso convívio. É bom contar com “companhias” que prezam pela independência e pela verdade. Em relação ao artigo “Em busca do corpo perfeito”, parabenizo o colega Doutor Guerra, presidente da SBCP, pelos alertas. Lipoaspiração tem como finalidade a redefinição do contorno corporal. Não tem nenhum propósito de emagrecimento. A postura médica em relação à lipoaspiração é mantê-la como procedimento cirúrgico e como tal respeitá-la. A lipoaspiração é procedimento de excelentes resultados porém com possíveis complicações. Sua banalização é carregada de riscos para os pacientes. Érico Pampado Di Santis Médico
Turismo Roteiros
Gostei muito dos roteiros da reportagem de turimo. Parabéns! Jorge Henrique Advogado
@claudi_sjc: As baladas em São José são muito ruins. Falta bom atendimento, limpeza, segurança e gente bonita! Sobre a revista: @flaviamarreira Pessoal, parabéns! A revista ficou mais uma vez muito bonita e interessante. Sucesso sempre
@anacentralpark Parabéns pela excelente revista e pelo primor das matérias, congraçar com vocês é muito bom
@adivansalles Parabéns por + uma grande conquista para todos do Vale do Paraíba. Esta iniciativa foi 10
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Política
Dois Pontos
Marcos Meirelles Jornalista
Quanto vale o apoio dos partidos nanicos? Cada segundo a mais no horário gratuito de rádio e TV tem mais importância do que a discussão do programa de governo
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deputado federal Paulo Delgado (PT-MG) costuma dizer que a pluralidade partidária no Brasil é “um blefe”. Segundo ele, a maioria dos partidos é formada por legendas de composição e não de competição. Assim, a maioria das 27 legendas registradas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) só está interessada em acordos préeleitorais e arranjos que garantam uma cota dos cargos públicos em disputa. Nos últimos dois meses, os comandos de campanha do PT e do PSDB se dedicaram, com afinco, às negociações com os nanicos, em busca de apoio de legendas como o PTC, o PHS e o PT do B. No cálculo dos estrategistas, cada segundo a mais no horário gratuito de rádio e TV tem mais importância do que a discussão do programa de governo. Uma destas legendas em disputa na sucessão presidencial é o PSC. O partido tem 16 deputados federais e espera eleger 30 em outubro. Na bancada pequena, mas eclética, conta com nomes como ex-jogador de futebol Deley (exFluminense) e o apresentador de TV Ratinho Júnior (filho do indefectível Ratinho). Para completar o time exótico no Congresso, o senador e ex-governador do Piauí Mão Santa. Na história da legenda, nenhuma participação significativa na vida política do país. Não importa: são 36 segundos em disputa. Quem já foi grande e perdeu estofo por conta das trapalhadas de suas lideranças também vive seus momentos de microlegenda. Com três minutos diários no horário gratuito de TV, o PP é a noiva mais cobiçada das eleições e
BRANCO & PRETO Ponto de Vista: O Congresso e o recesso branco durante a Copa
“Ninguém vai fazer com que os deputados venham aqui [na Câmara]. Vou tentar um acordo para votarmos a LDO até 10 de junho.” Candido Vacarezza Líder governista
Nanicos Oito partidos devem disputar o horário
pode até indicar o deputado federal Francisco Dornelles como candidato a vice-presidente na chapa de José Serra. Qualquer que seja o resultado das negociações com Serra e Dilma, o fato é que os nanicos ressurgem nas eleições de 2010 com uma força não observada em 2006 e 2002. Além daqueles que optaram pelos acordos pré-eleitorais, pelo menos oito partidos pretendem lançar candidatos à Presidência da República em outubro, no melhor estilo Enéas Carneiro. Uma das explicações para o “risorgimento” é o fim da verticalização, regra que vigorou nas últimas duas eleições presidenciais e obrigou os partidos a manterem a lógica da aliança nacional nos acordos firmados nos Estados. Portanto, tudo é uma questão de cálculo político adaptado à legislação eleitoral. Mas qual será a real contrapartida para a cessão do tempo de TV, além da oferta de cargos no futuro governo?
“É um assunto delicado. Tem um calendário constitucional que tem de ser cumprido e um risco de desgaste grande. Vou ouvir a proposta” Paulo Bornhausen Líder do DEM
“O governo quer entrar em campanha de qualquer jeito. O Congresso já tem se reunido apenas duas vezes por semana, em meio período”
Pedro Simon Senador
Domingo 6 Junho de 2010
Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional dos Municípios
A hora e a vez do voto regional
A
s eleições de outubro colocarão à prova, mais uma vez, a força do voto regional e a tese de que os eleitores devem optar por candidatos mais próximos de sua realidade. As campanhas em defesa do voto regional tiveram uma boa repercussão em 2002 e 2006, mas não foram capazes de impedir a invasão de forasteiros. Será diferente este ano? Em 2002, um estudo constatou que candidatos a deputado federal de outras regiões receberam 360 mil adesões no Vale, em um universo de 1 milhão de votos válidos. Uma radiografia das eleições de 2006, com base nos dados da Justiça Eleitoral, mostra que, quatro anos depois, o panorama não mudou. Em um universo de 1.108.955 votos válidos, pelo menos 450 mil votos foram destinados a candidatos forasteiros –na prática, menos de
Perto da política, longe de coronéis O voto regional pode estimular a politização do eleitorado mas, também, a formação de currais eleitorais. No Brasil, a lista aberta tornou-se um instrumento para reduzir o poder dos coronéis, mas a votação nominal obedece critérios que resvalam para a pura e simples empatia com o candidato. Como evitar eventuais distorções em um processo crescente de regionalização do voto? O prefeito de Ubatuba e presidente do Codivap (consórcio que reúne os prefeitos da região), Eduardo César (PR), diz ter constatado, na prática, a vantagem de ter deputados mais próximos da realidade do município. “O importante é que o eleitor tenha identidade
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“Municípios aplicaram mais do que deveriam. Este sacrifício ainda é insuficiente devido ao descaso da União e Estados” Sobre o orçamento para a área da Saúde
60% dos eleitores optaram pelo voto regional. Curiosamente, as cidades que mais cederam espaços aos forasteiros são polos turísticos da região. Em Campos do Jordão, os três candidatos a deputado federal mais bem votados foram Robson Tuma (PTB), Paulo Maluf (PP) e Celso Russomano (PP). Dos 23.425 votos válidos na cidade, pouco mais de 4.000 foram para candidatos da região. Em Caraguatatuba, Arnaldo Faria de Sá (PTB) e Ricardo Trípoli (PSDB) tiveram mais votos que Paulo Julião (PSDB) e Emanuel Fernandes (PSDB). Na outra ponta da tabela, os candidatos da região obtiveram pelo menos 69% dos 49.248 votos em Caçapava. Mas foi nas quatro zonas eleitorais de São José onde a adesão ao voto regional mostrou-se mais significativa, chegando a 75% dos votos válidos. Não por acaso, o deputado federal Emanuel Fernandes (PSDB) colheu na cidade boa parte dos votos que lhe renderam o título de candidato mais bem votado do partido no Estado. Candidato à reeleição, Emanuel deve enfrentar um adversário forte este ano, o deputado Carlinhos Almeida (PT). Ponto para o voto regional?
com aquele em que está votando para poder cobrar depois. De quatro em quatro anos, os candidatos chegam falando maravilhas às vésperas das eleições, mas depois eles somem.” A professora da USP Maria do Socorro Souza Braga acredita que, quanto mais próxima é a relação entre representante e representado, maior é a cobrança. O lado perverso desta prática se dá quando o representante se apropria do poder que lhe é atribuído, como o acesso a recursos e obras, e torna esta relação clientelista. “Só assim eles permanecem na política. Por isso, a questão do reduto pode tornar complicada uma representação mais regional ou aprovação do voto distrital misto.” Maria do Socorro acha que, gradativamente, os eleitores do Vale têm optado por candidatos mais próximos. “A região está bem focada na questão da representação.”
PINGUE & PONGUE José Eduardo Cardozo (PT) relator do projeto Ficha Limpa aprovado pela Câmara
o que representa a aprovação do Ficha Limpa? O Ficha Limpa representa um grande avanço para a sociedade brasileira e para a ética na política. Ele foi construído, na sua versão final, baseado em dois valores significativos: primeiro, o desejo legítimo da sociedade de ver afastada da vida política pessoas que têm uma vida pregressa, que efetivamente apresentam situação desabonadora. Por outro lado, como valor central, existe o Estado de Direito, as regras que fazem com que os direitos sejam preservados, que os julgamentos sejam os mais imparciais possíveis. E a opção por condenação em segunda instância? Seria absurdo que tivessemos afastamentos, sem o devido cuidado, sem o devido processo legal, sem o direito ao contraditório e à ampla defesa, de pessoas que muitas vezes possam ser injustiçadas por decisões precipitadas e incorretas de instâncias iniciais da Justiça. O Judiciário é composto por homens e por mulheres, que não são deuses, são falíveis. Os mecanismos institucionais devem levar em conta a possibilidade plena de uma pessoa se defender para que não tenhamos um dos erros mais dolorosos do Estado de Direito, que é o erro judiciário.
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Política ROTINA PARLAMENTAR
Como vivem os deputados do Vale no DF
O dia a dia dos três parlamentares da região em Brasília, onde dividem o tempo entre trabalho na Câmara, jogos de futebol e eventos religiosos
Cláudio César de Souza Enviado a Brasília
B
rasília, terça-feira, 17h. Três homens de terno se juntam no plenário da Câmara Federal para fotos. O momento de descontração para as poses é raro no dia a dia de Emanuel Fernandes (PSDB), Marcelo Ortiz (PV) e Roberto Alves (PTB). Com partidos e formações diferentes, e cada um à sua maneira, os três deputados federais do Vale do Paraíba têm o mesmo objetivo: buscam melhorias e investimentos para os 39 municípios da região.
A revista valeparaibano acompanhou a rotina deles por dois dias e constatou que, em meio à imensidão do planalto central e do corre-corre de votações em plenário, discussão de projetos, participação em reuniões das comissões permanentes e atendimento a prefeitos, lideranças políticas e moradores do Vale e de outras localidades, sobra pouco tempo para curtir o Distrito Federal. “Aqui em Brasília é só trabalho. É do apartamento para a Câmara e de volta para o apartamento à noite para descansar, dormir e me preparar para o dia seguinte de trabalho. Não dá tempo para sair e conhecer a cidade, até porque só fico aqui de terça a quinta-feira, como a grande maioria dos 513 deputados. Eventualmente, vou com alguns deles ao mercado municipal para comer sanduíche de mortadela, tomar cerveja e colocar o papo em dia, mas é raro”, explica Emanuel, 54 anos, para quem Brasília não é novidade. Antes de governar São José dos Campos por oito anos, ele exerceu mandato na Câmara entre 11 de junho de 1996 e 1º de janeiro de 97. Mais acostumado com a rotina da capital federal, Ortiz, 76 anos, que cumpre seu segundo mandato consecutivo, também não encontra tempo para passeios. “É até engraçado. Devido ao trabalho na Câmara e por
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Fotos: Eugênio Vieira
não ficar aqui nos fins de semana, mesmo morando em Brasília há sete anos, conheço a cidade menos que os visitantes que vem eventualmente”, pondera o advogado e exprocurador do Estado, que passa as quintafeiras e finais de semana em Guaratinguetá. Na capital federal, Ortiz só faz uma concessão ao divertimento. Nas noites de terça-feira, vai à sede da Ascade (Associação dos Servidores da Câmara dos Deputados) para o tradicional futebol dos deputados. “É uma forma de desestressar e confraternizar com os deputados, já que nosso futebol é bem democrático e conta com a participação de parlamentares de quase todos os partidos. É muito gostoso, mas só tem jogo quando as votações na Câmara terminam até as 21h e não está chovendo.” Apesar de ser o deputado do Vale que está há menos tempo em Brasília –desde 6 de janeiro do ano passado, quando assumiu mandato na Câmara no lugar do atual vice-prefeito de São Bernardo do Campo, o cantor Frank Aguiar (PTB)– Roberto Alves, 50 anos, é o que mais aproveita os poucos momentos de folga para curtir a cidade, sempre acompanhado de Dora, com quem está casado há 28 anos. “A Dora é minha companheira fiel, mas fica sozinha no apartamento enquanto estou trabalhando. Por isso, faço questão de arrumar tempo para sempre almoçar com ela. Quando chego da Câmara à noite, mesmo cansado, procuro sair para passear com a Dora e sempre vamos a supermercados, restaurantes e shoppings. Apesar do pouco tempo que estou em Brasília, já conheço bem a cidade.” Além de passear com a mulher, Roberto Alves não abre mão de outro compromisso quando não está trabalhando. Pastor da Universal do Reino de Deus, todas as quarta-feiras frequenta os cultos da igreja no Shopping Coniqui. “Mas na Universal aqui de Brasília não costumo pregar, nem vou como pastor. Participo dos cultos apenas como membro.”
DISTRITO FEDERAL Os deputados federais da região, Roberto Alves, Marcelo Ortiz e Emanuel Fernandes no plenário da Câmara, em Brasília
Lar Ao deixarem a Câmara após cansativas votações e reuniões, Emanuel, Ortiz e Roberto Alves retornam para os amplos apartamentos funcionais de 196 metros quadrados, onde moram. Apesar de admitirem o conforto proporcionado pelos 17 cômodos, os três são unânimes ao reclamar da ‘impessoalidade’ dos imóveis. Prova disso é que a maioria do mobiliário não é pessoal –pertencente ao Legislativo. “É um local apenas para dormir e descan-
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Política
sar. Não dá para chamar de lar e não o considero como tal, até porque minha família não está aqui”, salienta Emanuel, que mora sozinho no disputado apartamento localizado na Superquadra Sul, que já foi ocupado pelo atual governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB). Para tentar matar a saudade da mulher, Juana Blanco, dos filhos, de São José e do Vale do Paraíba, Emanuel se reconforta nos quadros e miniaturas de aviões da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) que levou para Brasília em 2007 e dividem espaço com os poucos móveis que são seus no apartamento –um aparelho de som, uma TV, copos e talheres. Na sala, chama a atenção um quadro com a ampliação de uma foto publicada em janeiro de 1985, pelo então jornal valeparaibano, de uma passeata em São José pela campanha Diretas. Na foto, ele aparece ao lado de Juana e de seu enteado, Alexandre Blanco, ainda adolescente. Outros dois quadros mostram imagens captadas por satélite de cidades do Vale e do Litoral Norte, o que não chega a ser surpresa em se tratando de alguém que já foi funcionário do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). No quarto que transformou em escritório, miniaturas de aviões Embraer 145 e da Gol e de helicóptero da Polícia Militar revelam uma das paixões do engenheiro aeronáutico. “Ganhei essas miniaturas quando fui prefeito e faço questão de tê-las sempre por perto. É uma forma de estar sempre me lembrando de São José e da nossa região.” Nos momentos em que passa no apartamento, Emanuel gosta de assistir na TV noticiários e documentários e ler biografias e livros de história. Entre os últimos, estão dois que contam as trajetórias do exprimeiro ministro britânico Winston Churchill e do ex-presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt. “Gosto de ler ouvindo música, de preferência do Pink Floyd, que é um som mais sinfônico e, por isso, ideal para relaxar.” Família Ortiz, que mora em um apartamento na Superquadra Norte com a mulher, também não consegue enxergar no local um lar. “Apesar de ser um apartamento grande e confortável, para mim é apenas um dormitório. A vantagem é que é menos entediante que os hotéis em que morei por seis anos em Brasília. Não consigo considerar esse apartamento um lar porque estou acostu-
Emanuel Fernandes Idade: 54 anos Cidade natal: Valentim Gentil (SP) reduto eleitoral: São José dos Campos Formação: Engenheiro aeronáutico Assessores em Brasília: Dois Salário: R$ 16,5 mil Gabinete: Número 268, no anexo 3 da Câmara Federal
“Eventualmente, vou com alguns deputados ao mercado municipal para comer sanduíche de mortadela, tomar cerveja e colocar o papo em dia”
Contato: Telefone: (61) 3215-5268 Fax: (61) 3215-2268 E-mail: dep.emanuelfernandes@camara. gov.br O que mais gosta em Brasília: A beleza da cidade O que menos gosta: O caráter de impessoalidade
CONFORTO Emanuel Fernandes na sala do apartamento onde mora em Brasília, acima, o deputado tucano no gabinete
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mado com a minha casa em Guaratinguetá sempre cheia com os filhos e netos. A presença da minha mulher ameniza um pouco a saudade que sinto da minha casa, dos meus parentes e de Guará”, ressalta. A ligação de Ortiz com a família fica clara logo que se entra no apartamento. Na sala, ocupam lugar de destaque três porta-retratos em que o deputado aparece com a mulher Fátima, com quem é casado há 23 anos, e com as filhas Marcela e Mariana. Nas noites que passa no apartamento, divide seu tempo entre os noticiários e jogos na TV e a leitura de obras de Direito. “Até gosto de ler outros tipos de livros, como biografias, mas quase não tenho tempo. Sempre trago trabalho para casa e procuro me manter atualizado com a advocacia, o que ajuda no meu trabalho como deputado.” Vizinho de Ortiz no condomínio de apartamentos funcionais, mas em outro bloco, Roberto Alves também concorda com seus dois companheiros de bancada do Vale. “O apartamento é confortável, mas impessoal. O fato de a minha mulher ter vindo comigo melhora a situação, mas não é a mesma coisa de nossa casa. É um local para dormir e descansar.” O pastor espalhou pela sala porta-retratos onde aparecem os filhos Ana Paula e Roberto César. Já no escritório chamam a atenção uma Bíblia e livros evangélicos. “Leio a Bíblia diariamente.” Na TV, os programas favoritos são noticiários, filmes e jogos de futebol, principalmente do Corinthians, outra de suas paixões. No aparelho de som, dividem espaço música gospel, forró e sertanejo, mas ele não abre mão de também ouvir rádio. “O rádio é uma paixão que tenho e sempre que posso sintonizo em programas e músicas evangélicas, mas também não dispenso os noticiários e o futebol.” Na Câmara, os gabinetes dos deputados do Vale também ajudam a explicar as relações deles com a região. No de Emanuel, onde trabalham apenas dois funcionários, logo na entrada um pavão feito por uma das figureiras de Taubaté enfeita o espaço. Na estante do escritório onde despacha, estão mais livros biográfico e obras sobre economia. Surpreendente foi encontrar o livro “Sobre Formigas e Cigarras”, escrito pelo ex-ministro da Economia Antônio Palocci (PT-SP), que atualmente também exerce mandato na Câmara. Mas o que o livro de uma das principais lideranças petistas do país faz no gabinete de um tucano? “Li o livro do Palocci por curiosidade, mas gostei. Não é só pelo prazer da leitura, é também trabalho. Li para pegar elementos para meus discursos e para os debates com o PT.
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ROTINA Marcelo Ortiz no gabinete; abaixo, o deputado toma café da manhã em seu apartamento
“O apartamento é grande, confortável, mas muito impessoal. O fato de a minha mulher ter vindo melhora a situação, mas não é como a nossa”
Marcelo Ortiz Idade: 76 anos Cidade natal: Penápolis (SP) reduto eleitoral: Guaratinguetá Formação: Direito Assessores em Brasília: Quatro Salário: R$ 16,5 mil Gabinete: Número 931, no anexo 4 da Câmara Federal Contato: Telefone: (61) 3215-5931 Fax: (61) 3215-2931 E-mail: dep.marceloortiz@ camara.gov.br O que mais gosta em Brasília: A amizade que desenvolveu com os deputados e funcionários da Câmara O que menos gosta: O excesso de burocracia
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Política
Até porque o Palocci e o pessoal do PT estão sempre falando que o presidente Lula recebeu uma herança maldita [em referência aos oito anos de governos FHC], mas pelo menos neste livro o Palocci não tratou desse assunto.” Se visitar Emanuel em seu gabinete na Câmara e esquecer do traje social, que é obrigatório, não se preocupe. O tucano mantêm pendurados em cabides dois paletós e duas gravatas. “Para circular aqui, é obrigatório o paletó e a gravata. Se algum desavisado vier sem, não tem problema. Estão aqui justamente para serem emprestados.” Se é vizinho de apartamento de Ortiz, na Câmara Roberto Alves está mais próximo de Emanuel –os gabinetes dos dois ficam no mesmo prédio anexo, separados por poucos metros. Fiel a suas convicções religiosas, o pastor mantém uma Bíblia aberta ao lado do computador. “Temos que buscar a sabedoria que vem de Deus. Sem isso, nada funciona no trabalho na Câmara. Sempre que posso procuro ler um versículo para buscar força para a jornada aqui em Brasília.” Mas o que desperta a atenção no gabinete, onde trabalham cinco assessores, é um enorme mapa do Estado de São Paulo pendurado em uma das paredes acima da mesa de reuniões. “Deixei um exemplar pendurado aí para não me esquecer do compromisso que tenho não só com moradores do Vale, mas com todos os paulistas. Não posso de maneira nenhuma decepcionar a população”, disse o deputado, que nasceu em Taubaté e morou por anos em São José, mas desde 2007 reside em Campinas. Se Emanuel mantém em seu apartamento objetos que remetem ao Vale, Ortiz faz o mesmo em seu gabinete. Presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Aeronáutica Nacional e a exemplo do tucano um apaixonado por aviação, fez questão de colocar ao lado de sua mesa nove miniaturas de aviões e helicópteros –entre elas, duas são da Embraer (modelos 170 e 190) e uma da AvEx (Aviação do Exército), de Taubaté. Proteção Católico praticante –fácil notar pelo terço que mantém enrolado no pulso– o deputado do PV instalou no gabinete imagens de Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Desatadora de Nós e Nossa Senhora Aparecida, essa última, consagrada na Basílica de Aparecida, permanece dentro de uma redoma de vidro. Na estante também chama a atenção uma imagem de Frei Galvão, primeiro santo brasileiro e que nasceu em Guará. “Como se vê, a proteção é total”, brincou Ortiz.
GABINETE Roberto Alves no computador em seu gabinete; abaixo, deputado tira foto no apartamento
Roberto Alves Idade: 5O anos Cidade natal: Taubaté reduto eleitoral: Taubaté e Campinas Profissão: Ex-metalúrgico Assessores em Brasília: Cinco Salário: R$ 16,5 mil Gabinete: Número 566, no anexo 3 da Câmara Federal Contato: Telefone: (61) 3215-5566 Fax: (61) 3215-2566 E-mail: dep.robertoalves@ camara.gov.br O que mais gosta em Brasília: A arquitetura e a organização da cidade O que menos gosta: O calor e o clima seco
“Temos que buscar a sabedoria que vem de Deus. Sempre que posso procuro ler um versículo para buscar força para a jornada aqui em Brasília”
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Futuro político de parlamentares ainda é incerto A cinco meses do pleito de outubro, o futuro político dos três deputados do Vale do Paraíba ainda é incerto e não apenas devido a um eventual crivo dos eleitores nas urnas. Atualmente exercendo seu segundo mandato consecutivo na Câmara, Marcelo Ortiz (PV) é o único que confirmou a intenção de concorrer à reeleição. Mesmo que seja bem sucedido, a tendência é de que dispute a Prefeitura de Guaratinguetá em 2012, a exemplo do que fez no pleito de 2008. Já Emanuel Fernandes, principal liderança do PSDB no Vale e deputado tucano mais votado em 2006 com 330 mil adesões, não esconde seu descontentamento com a vida legislativa e adia a definição sobre a disputa de novo mandato no parlamento nacional. “Ainda não tomei minha decisão e antes de definir essa questão vou consultar o Serra [José, ex-governador de São Paulo e pré-candidato tucano à presidência da República] e o Alckmin [Geraldo, também ex-governador
paulista e pré-candidato do partido ao Palácio dos Bandeirantes]. Quero fazer o que for melhor não para mim, mas para o partido”, salienta o ex-prefeito de São José. “Se eles e as outras pessoas que vou consultar considerarem que ajudo mais disputando a reeleição, farei isso. Mas não escondo que estou um pouco decepcionado com a vida de deputado federal. É muita discussão, se perde muito tempo e há pouco resultado prático porque nem sempre é possível debater e votar leis que efetivamente resolvam os problemas do país.” Se a decisão for por não concorrer à reeleição, a tendência é que em 2012 Emanuel dispute novamente a Prefeitura de São José. Até lá, não está descartada também eventual participação na administração de Alckmin caso o ex-governador vença as eleições –entre janeiro de 2005 e março de 2006, Emanuel foi secretário de Habitação na reta final da gestão do tucano no Palácio dos Bandeirantes.
Trabalho Social Roberto Alves (PTB), por sua vez, já decidiu que não disputará a reeleição e deve mudar até de Estado. A intenção do petebista é ir morar em Vitória (ES), onde pretende se dedicar aos trabalhos como pastor da Igreja Universal do Reino de Deus. “Sou um homem do povo e meu objetivo sempre foi ajudar a melhorar a vida das pessoas, mas na Câmara é difícil. Sinto que poderia fazer muito mais pelo país, mas nem sempre é possível pelo fato de serem 513 deputados, haver muita burocracia e não termos o poder na mão”, enfatiza o pastor. “No ano que vem, assim que acabar meu mandato, vou me mudar para Vitória para desenvolver um trabalho social em todo o Estado do Espírito Santo, semelhante ao que fiz em São José dos Campos através da Casa do Povo. Estou só esperando a orientação da igreja para essa nova missão.” •
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Política
Serra da Mantiqueira
Polêmica marca criação de parque Projeto do ICMBio de transformar cerca de 86 mil hectares do mais importante maciço montanhoso do país em parque nacional gera desconfianças entre autoridades e proprietários de terras no Vale
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uma época marcada pelo problema do aquecimento global, a necessidade de proteger o meio ambiente surge cada vez mais como uma evidência. A criação de um parque nacional na Serra da Mantiqueira parece se inscrever perfeitamente nesta estratégia de preservação. No entanto, o projeto foi muito criticado por autoridades e proprietários locais. A proposta de criação do Parque Nacional Altos da Mantiqueira mobiliza na região órgãos públicos e entidades civis há mais de um ano. Foi criada a Força Tarefa da Mantiqueira, com instituições federais, estaduais e não-governamentais, como o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a Fundação Florestal de São Paulo, o Instituto Oikos de Agroecologia e a Fundação SOS Mata Atlântica. O projeto inicial é delimitar uma área protegida de 86 mil hectares –equivalente a 90
mil campos de futebol– no mais importante maciço montanhoso do país, abrangendo parcialmente 15 municípios dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em São Paulo, são contemplados Guaratinguetá, Pindamonhangaba, Campos do Jordão, Cruzeiro, Queluz, Piquete, Lavrinhas e Santo Antonio do Pinhal. Um dos objetivos da iniciativa é complementar o chamado “Mosaico Mantiqueira” ao conectar três parques já existentes: o Parque Nacional do Itatiaia (RJ), o Parque Estadual de Campos do Jordão (SP) e o Parque Estadual da Serra do Papagaio (MG). Outros são proteger a nascente do Rio Paraíba do Sul, responsável pelo abastecimento de milhões de pessoas nos três estados, contribuir para a recuperação da grande diversidade de ecossistemas da Serra da Mantiqueira e preservar a vida selvagem. O processo de criação de um parque nacional comporta duas grandes etapas: a elaboração de um estudo técnico e a realização de consultas públicas, como explicou o advogado e analista ambiental Rogério Rocco, coordenador regional do ICMBio. “Os estudos conduzidos serviram para definir o mapa das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade. Concluídos os
MATA Região da Serra da Mantiqueira, em Pinda, onde o governo federal tem projeto para transformar a área no parque nacional
Fotos: Eugênio Vieira
Yann Walter São José dos Campos
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TÓPICOS DO PROJETO
estados ABRANGÊNCIA
Proposta de criação do parque nacional atinge São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais
Cidades AFETADAS NO VALE
Guará, Pinda, Campos do Jordão, Cruzeiro, Piquete, Queluz, Lavrinhas e Santo Antonio do Pinhal
Área EXTENSÃO
Parque Nacional Altos da Mantiqueira teria, ao todo, 86 mil hectares de área protegida
Guará
MAIOR PARCELA
Guaratinguetá seria a cidade paulista que mais contribuiria com o parque, com 15 mil hectares
estudo C ARACTERÍSTICA
Inpe aponta que 90% da área proposta para o parque tem terrenos com risco de deslizamentos
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Política
estudos, iniciamos no segundo semestre do ano passado o processo de consulta.” A ideia inicial é que o parque seja inaugurado no segundo semestre deste ano. No entanto, o senador Aloizio Mercadante, pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PT, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não aprovará um projeto que gere insegurança na população. “No governo Lula não se construirá nenhuma política ambiental que não passe pelo apoio dos prefeitos e das comunidades. O presidente não aprovará um projeto que gere insegurança na população”, garantiu Mercadante à revista valeparaibano. Com isso, o projeto atual deverá ser revisto pelo ICMBio. “Nossa primeira proposta foi rejeitada, mas isso não significa que desistimos da criação do parque. Na reunião de fevereiro em Brasília, o senador Mercadante nos pediu que levássemos mais em conta as preocupações da sociedade, e é exatamente o que estamos fazendo. Vamos elaborar uma segunda proposta, mais aprimorada”, esclareceu o presidente do ICMBio, Rômulo Mello, destacando que as consultas públicas continuam. Resistência O processo de consulta começou no segundo semestre do ano passado. Logo no início das audiências surgiram as divergências. Em São Paulo, todos os prefeitos das cidades envolvidas se manifestaram contra a criação do parque, denunciando um impacto social e econômico desnecessário sobre a população. “A preservação do meio ambiente é importante, mas criar um parque não é a única maneira de alcançar este objetivo. A APA (Área de Proteção Ambiental) da Mantiqueira, que existe desde 1985, vem dando ótimos resultados. Hoje, os proprietários cuidam da terra. Se forem desapropriados, quem vai cuidar? Os soldados? Eles não têm condições de fazer isso”, criticou Júnior Filippo (DEM), prefeito de Guaratinguetá, que, segundo o projeto inicial, deve contribuir com 15 mil hectares para o parque, ou seja, com 20% de sua área total. “Em termos de hectares, seríamos os mais prejudicados”, destacou. O prefeito de Pindamonhangaba, João Ribeiro (PPS), criticou “a falta de informações precisas” e “a política de preservar sem a presença humana”. “Se há dinheiro para desapropriações, porque não investir no fortalecimento das unidades de conservação já existentes? A retirada das populações traz os riscos de êxodo rural e desem-
QUEDA D’ÁGUA Cachoeira em propriedade que seria afetada pela criação do Parque Nacional Altos da Mantiqueira, que cortará o região
REAÇÃO Niucéia Vieira, proprietária de 1.100 hectares em Pinda; 90% das terras poderiam virar parque se projeto inicial fosse aprovado
prego”, afirmou. “Várias famílias sofreriam prejuízos, que teriam repercussões na economia local. Nossa economia é baseada na agricultura e no turismo. Há pousadas e hotéis nestes 200 hectares de terra, e eles teriam que fechar”, lamentou Augusto Pereira (PT), prefeito de Santo Antonio do Pinhal, referindo-se aos 200 hectares que o município perderia para o parque se o projeto inicial fosse aprovado. “Cruzeiro tem importante atividade agropecuária que seria afetada pelo parque. Com a desapropriação da área, os produtores teriam de deixar suas atividades e os moradores, suas casas. O impacto seria direto, com prejuízos financeiros”, disse a prefeita Ana Karin (PR). “Nossa cidade possui uma quantidade
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PREFEITOS QUESTIONAM PRAZO DE PAGAMENTO DAS INDENIZAÇÕES DAS TERRAS QUE SERIAM DESAPROPRIADAS PARA A CRIAÇÃO DO PARQUE
significativa de produtores rurais. São produtores que desenvolvem a economia da cidade e abastecem a região. Se o parque afetá-los, vários moradores podem ficar sem emprego”, afirmou José Luiz da Cunha (PSDB), prefeito de Lavrinhas. Outra questão levantada é sobre a indenização dos proprietários. “O histórico de outros parques nacionais, onde as pessoas não receberam até hoje depois de mais de 25 anos, assusta”, disse José Celso Bueno (PSDB), prefeito de Queluz. “O parque é uma medida injusta com um povo que já cuida muito bem de suas terras”, completou Otacílio Rodrigues da Silva (PMDB), prefeito de Piquete. Rogério Rocco, o coordenador regional do ICMBio, principal interlocutor dos prefeitos com as instâncias federais, procurou acalmar os chefes do Executivo nas audiências. Para ele, “Tem havido, acima de tudo, um significativo pânico em razão de desinformação quanto aos limites propostos para o parque e sua inserção nas propriedades particulares. Estamos trabalhando para baixar a poeira e discutir os limites com conjuntos de proprietários da cada município”, afirmou Rocco, que entende a resistência das autoridades locais. “Os prefeitos não têm alternativa senão defender seus cidadãos e sua economia. A partir do momento que a desinformação sobre a proposta se generalizou, vários se colocaram contra o projeto. Porém, é unânime o apoio à proteção e à conservação da área, reconhecida pelas autoridades municipais e pelas organizações da sociedade como fundamental para a proteção da diversidade biológica e para a manutenção dos serviços ambientais, como a produção de água e a fertilidade do solo.” E quanto ao impacto econômico, Rocco apontou diversas vantagens aos municípios. “A criação do parque viabiliza o au-
mento na arrecadação municipal, tendo em vista os repasses associados ao ICMS Ecológico. Além disso, atrai investimentos no turismo rural e ecológico, que é na atualidade uma das maiores indústrias do Brasil. Como consequência, toda economia local ganha vitalidade, seja com demanda por hospedagem e circuitos esportivos, seja com consumo de artesanato, alimentos e outros tipos de produtos e serviços”. Reflexo Resta agora convencer os proprietários. Muitos, ao tomarem conhecimento do projeto inicial, decidiram transformar parte de suas terras em RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural). Rocco avisou que as RPPN não constituem uma alternativa à criação do parque. “Não existe qualquer acordo para que as RPPN sejam excluídas do projeto. A RPPN deve ser criada por decisão voluntária do proprietário que de fato queira contribuir com a conservação da biodiversidade e não de forma oportunista para fugir de uma desapropriação”. Débora Murgel, dona da Fazenda Renópolis, em Campos do Jordão, criou uma RPPN em 93 hectares da propriedade, que corresponde a 80% da área total. Ela explicou que sua família, que comprou a fazenda há quase 90 anos, sempre se preocupou com a preservação do meio ambiente. “A criação do parque apenas agilizou um sonho antigo de transformar a área em reserva particular”, afirmou. Assim como os prefeitos, Débora criticou a forma como foi apresentado o projeto e lamentou que os proprietários e produtores não tenham sido ouvidos. Porém, não se posicionou contra a criação do parque. “Para mim pode até ser benéfico, visto que na fazenda o objetivo é promover o ecoturismo”. Para ela, o projeto pode ser melhorado “através do diálogo com os proprietários e estimulando a criação de RPPN por aqueles que realmente queiram preservar e não apenas escapar da desapropriação”. Muitos proprietários da região consideram que a transformação de terras em RPPN é uma medida mais eficiente do que a criação de um parque para proteger a floresta. Contudo, esta não é a opinião de Rogério Rocco. “Acho que são papéis distintos. O particular não detém o poder de polícia administrativa que é inerente ao poder público. Portanto seu papel é limitado. Não podemos delegar a dezenas ou centenas de pequenos proprietários que possuem interesses, práticas e culturas distintas, a conservação de uma área com a
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FRASES EM DESTAQUE Júnior Filippo prefeito de guaratinguetá
“Em termos de hectares, seríamos os mais prejudicados pelo projeto inicial”
José Celso Bueno prefeito de queluz
“A demora para receber as indenizações das desapropiações nos assusta”
João Ribeiro prefeito de pindamonhangaba
“A retirada da população traz os riscos de êxodo rural e desemprego”
Ana Karin prefeita de cruzeiro
“Produtores teriam que deixar suas atividades e moradores, suas casas”
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Política
dimensão da Serra da Mantiqueira. Essa é uma atribuição que compete ao poder público federal, eis que a área atinge três estados da Federação”. Ao contrário de Débora, Niucéia Vieira, que tem 1.100 hectares de terras em Pinda, é contra a criação do parque, uma vez que se o projeto for aprovado, 90% de sua fazenda passarão sob o domínio federal e os outros 10% serão incluídos na chamada zona de amortecimento, constituída por uma faixa de 5 a 10 quilômetros de largura ao redor do parque. O projeto prevê uma atividade humana limitada nesta faixa, idealizada como uma zona de transição. “Não houve pesquisa sobre o impacto social da criação deste parque. O pessoal do Instituto Oikos esteve aqui para dar orientações, mas não houve consulta. Disseram que poderíamos manter nossas atividades, mas com uma série de restrições, sem poder crescer ou construir e regulando o número de visitantes”, disse Niucéia, que mantém em sua propriedade uma pousada com quatro chalés e um restaurante, além de criar
INTERVENÇÃO ICMBio está ciente da insatisfação dos proprietários, mas afirma que a sociedade está acima do indivíduo
trutas e poucas dezenas de cabeças de gado. “Eu e meu marido temos uma propriedade autossustentável. Não há necessidade de proteger o que já é protegido.” Rocco admitiu que o ICMBio está ciente da insatisfação dos proprietários, mas afirmou que a sociedade está acima do indivíduo. “Nenhum dono de terras vê com satisfação qualquer tipo de intervenção em sua propriedade. A cultura em torno da propriedade privada é bastante indivivualista, o que é legítimo no sistema político que vive praticamente todo o ocidente. Por outro lado, o Estado tem o dever de pensar e agir para o coletivo, para toda a sociedade.” Os defensores do projeto também se apoiam em um dado levantado pelo Inpe, segundo o qual quase 90% da área proposta para o parque é formada por terrenos que apresentam algum risco de deslizamento e pouco menos de 9% é constituída de terrenos pantanosos propensos a inundações. Ou seja, segundo o Inpe, quase toda a extensão prevista para o parque é imprópria para atividades humanas. •
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Política
Ozires Silva
A incessante busca de talentos nos ambientes corporativos modernos
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uito se tem escrito sobre o que ganha o consumidor com a concorrência e ninguém coloca em dúvida que o crescimento do comprador no mercado globalizado orienta o interessado para atuar segundo a melhor relação custo/benefício que pode encontrar. Assim, o sucesso das empresas está ligado a esse comportamento, o qual é um bom medidor da capacidade de cada produtor de responder melhor a essas condições impostas pelo mercado. Ganhar vantagens nas atuais condições da competição não é, em geral, direto nem fácil. As estratégias para a prosperidade das empresas se transformaram. Na atualidade, além dos atributos operacionais vividos internamente, aparecem outros, ligados ao meio-ambiente, à responsabilidade social e aos regulamentos impostos pela cultura da sociedade. É, portanto, complexo o contexto nos quais todos vivemos neste mundo revolucionado pelas comunicações universais e instantâneas. No entanto, ainda se nota uma clara tendência de se analisar resultados simplesmente pelas marcas e produtos, não se dando o valor adequado aos recursos humanos e à sua qualidade de formação, perícia e criatividade. Não é incomum deixar de levar em conta a imensa contribuição de um dirigente ou colaborador.
globalização “É complexo o contexto nos quais todos vivemos neste mundo revolucionado pelas comunicações instantâneas” Para tomar um exemplo, o transporte aéreo, segundo a revista norte-americana “Fortune”, é “a atividade que reúne o maior número de tecnologias e de variáveis não controláveis, dentre as múltiplas iniciativas já criadas pelo homem”. Por isto mesmo, a mais importante característica do trabalho para fazer voar aviões repousa na necessidade de superar os problemas e no cuidado com que se controla a quantidade de ações exigidas. E claramente no centro de tudo o que se realiza estão pessoas. No caso das empresas de aviação afloram os técnicos e profissionais, responsáveis pela manutenção dos aviões e por aqueles que se desdobram no contato direto com os passageiros; e mais, espalhados nas áreas indiretas. A bordo, são os comissários, os pilotos. Adicionalmente, uma multidão está posta por traz do que se vê nos balcões, todos dedicados a planejamentos, estudos e gerenciamento das rotas, diligentes responsáveis pela operação aeroportuária, controladores do tráfego aéreo, todos lidando com a proteção do crítico movimento dos aviões, os quais, sempre voando a altas velocidades, de-
Ozires Silva Engenheiro
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mandam ações seguras e rápidas. Aí, como acontece em qualquer centro produtivo, é que entram o talento, a capacidade de mulheres e homens. Esse exemplo pode ser generalizado, pois, no fundo tudo é conseguido através de pequenas e eficazes ações, capazes de superar a miríade de problemas que podem emergir em qualquer dos instantes. Este esforço coletivo vai além das obrigações e é permanente. Isto faz com que, milhares de vezes por dia, se possa transformar as iniciativas em resultados. Tudo isto é somente possível após um bem-feito trabalho de anônimos servidores do bem-comum. Dessas condições e características observadas nas operações das empresas e dos aviões emerge a importância da escola e do treinamento. Mais uma vez aparece a educação fazendo diferenças. Estas são as razões pelas quais as empresas, mais e mais, estão se interessando pela educação, e, muitas delas –as maiores–, decidiram investir mesmo na criação de Universidades Corporativas. E, podemos estar certos, mais e mais ações desse tipo passarão a ser requeridas. •
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Economia CONSTRUÇÃO CIVIL
CENTRO Vista do centro de São José, uma das regiões com metro quadrado mais caro da cidade
São José a preço de ouro Cidade tem o segundo maior custo do metro quadrado do interior do Estado; nos bairros considerados nobres valor chega a R$ 4.000, segundo o Secovi
Hernane Lélis São José dos Campos
S
ão José dos Campos é o segundo município do interior do Estado de São Paulo com o maior custo do metro quadrado na construção civil. Morar em uma região considerada nobre, próxima de centros de compras, parques, restaurantes e com boa infraestrutura viária, demanda investimentos de até R$ 4.000 por metragem. O levantamento foi realizado pelo Secovi (Sindicato da Habitação) por meio das unidades regionais de Campinas, Bauru, Sorocaba, Jundiaí, São João do Rio Preto e Vale do Paraíba, que respondem por 318 dos 645 municípios paulistas. Segundo a pesquisa, o preço do metro quadrado em São José é mais barato somente que na região de Campinas e está no mesmo patamar de Jundiaí. Em São José, cerca de 110 empreendimentos habitacionais estão em lançamento ou em construção, número que corresponde a pelo menos 11 mil novas moradias. O valor
médio do metro quadrado desses imóveis fica entre R$ 1.200 e R$ R$ 4.000, variando de acordo com a localização, estrutura do bairro e, em alguns casos, do condomínio. Já em Campinas, cidade com mais de 1 milhão de habitantes, o metro quadrado varia entre R$ 1.900 e R$ 5.500, sendo o bairro do Cambuí um dos mais valorizados, com preço inicial em R$ 3.800. Jundiaí, com população estimada em 350 mil habitantes, o valor do metro parte de R$ 1.800, também chegando à média de R$ 4.000. De acordo com Frederico Marcondes César, diretor regional do Secovi de São José dos Campos, os bairros Vila Ema, Vila Adyanna, Urbanova, Jardim Esplanada, Jardim Aquarius e Colinas são os mais valorizados da cidade. Neles estão concentradas pelo menos 60% das novas construções e lançamentos habitacionais, com preços a partir de R$ 2.800 o metro quadrado. A grande valorização dos imóveis é explicada pela falta de terrenos disponíveis para construção, pela facilidade de crédito no setor e a chegada de grandes construtoras à cidade, inflacionando instantaneamente o mercado. “A tendência é que fique esta-
PREÇO POR REGIÃO
Valorização no preço dos imóveis é justificada pelo setor da construção civil pela falta de terrenos e pela facilidade de crédito no mercado na região
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Eugênio Vieira
CAMPINAS
Metro quadrado em área nobre varia de R$ 3.800 a R$ 5.500 e na área popular, de R$ 1.900 a R$ 2.400
SÃO JOSÉ
Metro quadrado em área nobre varia de R$ 2.800 a R$ 4.000 e na área popular, de R$ 1.200 a R$ 1.800
bilizado agora. Tivemos nos últimos dois anos uma valorização de pelo menos 30% nos imóveis”, disse Marcondes César. Hoje, para morar em um apartamento de 110 metros quadrado, com três dormitórios, em uma das regiões nobres de São José, por exemplo, é preciso dispor de ao menos R$ 440 mil, levando em consideração o maior valor médio apontado pela pesquisa. Para conseguir comprar um imóvel mais barato, o consumidor terá que abrir mão de uma série de vantagens e confortos, optando por bairros mais afastados do cen-
JUNDIAÍ
Metro quadrado em área nobre varia de R$ 2.000 a R$ 4.000 e na área popular, de R$ 1.800 a R$ 2.200
BAURU
Metro quadrado em área nobre varia de R$ 1.500 a R$ 3.500 e na área popular, de R$ 1.250 a R$ 1.500
tro da cidade, onde o custo ficaria entre R$ 1.200 a R$ 1.800. Neste caso, um apartamento com o mesmo tamanho de um da área nobre, ficaria em torno de R$ 200 mil, também partindo do valor máximo. “Pagávamos cerca de R$ 350 no metro quadrado de um terreno e hoje não encontramos por menos de R$ 1.500. Encontrar uma área para construir é um grande desafio. Quando encontramos ainda existe uma série de burocracias, que acabam refletindo no preço final”, disse o diretor regional do Secovi. Depois de Campinas, São José dos Cam-
SOROCABA
Metro quadrado em área nobre varia de R$ 1.800 a R$ 3.500 e na área popular, de R$ 1.450 a R$ 1.700
S. J. DO RIO PRETO Metro quadrado em área nobre varia de R$ 2.300 a R$ 3.200 e na área popular, de R$ 1.550 a R$ 2.000
pos e Jundiaí, Bauru e Sorocaba aparecem como o terceiro metro quadrado mais caro do interior do Estado, com variações de R$ 1.250 a R$ 3.500 e de R$ 1.450 a R$ 3.500, respectivamente. A região de São José do Rio Preto tem o solo mais barato entre os municípios pesquisados pelo Secovi, variando entre R$ 1.550 a R$ 3.200. Diante do cenário afunilado do mercado imobiliário, as construtoras estão preferindo investir em empreendimentos de alto padrão. De acordo com a última pesquisa da Aconvap (Associação das Construtoras do
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Eugênio Vieira
Vale do Paraíba), realizada entre novembro de 2009 e fevereiro de 2010, das 11 mil unidades habitacionais lançadas e em construção no período, 29% foram de três dormitórios e outras 24% de quatro dormitórios. Além disso, esses empreendimentos se concentram em sua maioria na região central de São José, onde estão bairros como Vila Ema e Vila Adyanna, e no lado oeste da cidade, nos bairros Jardim Aquarius e Urbanova. Essa realidade, segundo Cléber Córdoba, presidente da Aconvap, foi desenhada ao longo dos anos pelo mercado –o único que poderá reverter a situação. “Nós seguimos o direcionamento do mercado, ele é que vai apontar onde devemos investir ou não. Hoje, essas regiões [central e oeste] são as mais procuradas por quem deseja adquirir um imóvel. Se um dia isso mudar, vamos acompanhar essa mudança”, explicou Córdoba. Valorização O empresário disse que a valorização do mercado imobiliário também ocorreu com a chegada de novas construtoras na cidade. Segundo ele, grandes redes, com maior poder de competitividade, provocaram aumento no preço dos poucos terrenos que ainda restam para construção nas regiões de maior demanda. Como reação imediata, alguns construtores estão optando em investir em outras cidades do Vale. “Nos últimos anos vieram dezenas de construtoras de grande porte para São José. Com isso, os terrenos tiveram um aumento significativo já que elas entram no mercado com maior recurso financeiro. Alguns empresários que já estavam na cidade estão enfrentando certas restrições e buscando novos mercados”, disse. De acordo com o Siduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) de São José dos Campos, a cidade tem cerca de 70 construtoras locais, sendo 20 de médio porte, que detinham até 98% do mercado regional. Hoje, com a chegada de outras 15 grandes construtoras, esse percentual caiu para 52%. “Houve um impacto significativo no mercado, mas sem atingir as vendas. A construção civil cresce a cada ano. O terreno representava 10% do valor da obra, agora está em pelo menos 15%. O desenvolvimento da cidade também pode refletir em inflação no setor”, disse José Roberto Alves, diretor do Siduscon. Mesmo com a valorização no setor imobiliário o mercado continua aquecido, batendo sucessíveis recordes de venda. So-
SECOVI Frederico Marcondes César Raquel Cunha
ACONVAP Cléber Córdoba
ÁREA NOBRE Prédios no Jardim Aquarius, onde o preço do metro quadrado pode chegar a R$ 4.000
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o mercado
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CONSTRUTORAS
atuam no mercado em São José –70 locais e 15 de grande porte
11 mil MORADIAS
Foram lançadas entre novembro de 2009 e fevereiro de 2010
428 mi EM CONTRATOS (R$) Foram firmados pela Caixa Econômica Federal neste ano na região
Thiago Leon
mente nos quatro primeiros meses do ano a Caixa Econômica Federal, maior banco financiador de imóveis do Estado, registrou um acréscimo de 329% nas contratações de crédito na região em relação ao mesmo período do ano passado. O volume de financiamentos no Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira fechou o período em R$ 428,8 milhões e beneficiou 5.477 famílias. A expectativa do superintendente regional da Caixa, Ademir Losekann, é terminar 2010 com pelo menos R$ 1,1 bilhão em contratos. “Na região, temos um aquecimento da economia. Isso somado ao crédito fácil e ao aumento do índice de emprego e renda leva as pessoas a pensarem sair do aluguel, investir em um imóvel. Acredito que esses fatores contribuem para que o setor continue aquecido mesmo diante de uma elevação no valor dos imóveis”, explicou Losekann. Crédito José Augusto Viana Neto, presidente do Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis), compartilha da mesma opinião de Losekann. Para ele, a inflação do mercado veio acompanhada da facilidade de captação de crédito, maiores prazos para pagamento e queda na taxa de juros para a operação. “Tivemos essa melhora no mercado, mas nada adiantaria se o consumidor não tivesse reconquistado a confiança na economia. Para acontecer uma deflação no mercado é preciso tributar o lucro imobiliário. Hoje os construtores querem cada vez mais lucros, por isso, não se investe tanto em áreas e empreendimentos populares”, disse Neto. Para comprar um apartamento de 53 metros quadrados no Jardim Oriente, zona sul de São José, o propagandista Messias Braga, 33 anos, apostou na credibilidade da construtora e na indicação que recebeu de um parente que trabalha no ramo imobiliário. Depois de alguns estudos financeiros, fechou contrato no valor de R$ 2.500 o metro quadrado do imóvel ainda na planta. A ideia inicial é aproveitar a inflação do mercado para lucrar com o investimento. “O metro realmente está muito caro, por isso, pretendo vender o apartamento depois de pronto. Se eu conseguir pelo menos de 15% a 20% do valor que paguei já está bom. Financiei fácil pela construtora e o restante, se precisar, vai ser financiado pelo banco. Apesar de caro, o setor imobiliário é um investimento seguro”, destacou Braga. •
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Ciência & Tecnologia
Fabíola de Oliveira
A tecnópolis ideal não será de grandes edificações, mas de ideias edificantes
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proposta da nova Lei de Zoneamento elaborada pelo Executivo e encaminhada ao Legislativo tomou conta do cenário político em São José dos Campos e promete esquentar os ânimos nos próximos meses. O projeto, de fundamental importância para o futuro da cidade, parece esbarrar em empecilhos mais políticos e de jogos de interesses do que de lisura técnica ou grau de consenso popular. O documento provocou mobilização intensa entre as principais entidades da construção civil, que apresentaram um rol de sugestões de alteração da proposta. Algumas das declarações para defender a verticalização sem controle, a redução de áreas verdes para loteamentos e a manutenção de lotes mínimos em 125 metros quadrados, são no mínimo controversas. Dizer que a restrição à verticalização coloca a cidade “na contramão do resto do mundo” e que restrições como essas vão desacelerar a economia e provocar desemprego vai contra, isto sim, ao que está acontecendo no resto do mundo. A tendência mundial para garantir a sobrevivência e a qualidade de vida passa longe da verticalização sem limites, do adensamento populacional e da infraestrutura sempre no limite. Os desastres ambientais, sobretudo nos grandes aglomerados urbanos, têm aumentado de forma assustadora. O jornalista Washington Novaes, em artigo no jor-
EM XEQUE “Proposta da nova Lei de Zoneamento parece esbarrar em empecilhos mais políticos do que de lisura técnica” nal Estado, cita que “entre 2000 e 2010 aconteceram mais de 385 desastres naturais por ano, com 2,4 bilhões de pessoas afetadas e 780 mil mortes.” É como se toda população de São José fosse dizimada, em 10 anos. Prevenir e reduzir os riscos de desastres ambientais é a tendência e a maior preocupação mundial, preconizada pela ONU, que está criando o primeiro plano internacional de redução de riscos de desastres. O biênio 2010-2011 será palco de uma campanha mundial de redução de desastres já denominada “Fazendo as cidades resilientes”, onde a proposta central é que países, estados e cidades de todo o mundo adotem medidas eficazes de redução e controle de desastres para a proteção das populações locais. Podemos imaginar que nossa cidade está livre de grandes desastres ambientais, e de certo esperamos que sim. Mas tão próximo de nós também não imaginávamos que pu-
Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br
desse vir abaixo o centro histórico de São Luís do Paraitinga, assim como os cariocas não imaginavam ver a Lagoa Rodrigo de Freitas invadindo o bairro do Jardim Botânico. Nossa cidade e nenhum lugar do planeta está livre de desastres e não há dúvida de que quanto menos áreas verdes, solo permeável e quanto mais prédios grandes tivermos, mais suscetíveis estaremos a epidemias, enchentes, ilhas de calor e de qualidade de vida. Seria salutar que, em uma cidade com tantas universidades e instituições de pesquisa, os vereadores também ouvissem (se ainda não o fizeram) geólogos, geógrafos, urbanistas e demais especialistas, que poderiam, com isenção e conhecimento, esclarecer e aperfeiçoar a nova Lei de Zoneamento e outros projetos que definam o futuro da cidade. •
Domingo 4 Abril de 2010
Está provado que o álcool é a principal porta de entrada para o mundo das drogas. Por isso, a Prefeitura de São José lança uma grande campanha contra a venda e o consumo de bebidas alcoólicas por menores, que vai fiscalizar, orientar e dar o maior apoio a quem quer cumprir a lei. Além disso, vai punir com rigor os infratores. Ajude a garantir uma cidade melhor e mais segura para todos: não incentive o consumo de álcool
0800-7700140
por menores, nem seja um mau exemplo para eles. Isso sim, é legal. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13/7/1990. Lei Municipal nº 7.600, de 11/7/2008. Lei Municipal nº 8.087, de 8/4/2010. Para saber mais, acesse o site: www.sjc.sp.gov.br/antidrogas
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Especial
Copa do Mundo
A fórmula para a vitória Seleção do penta de 2002 dá a receita para a equipe de Dunga trazer a taça do hexa para o Brasil; preparo físico, união, sacrifício e determinação fazem parte da lista de obrigações dos vencedores
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contagem regressiva já começou. Dentro de alguns dias, o Brasil inteiro vai vibrar no ritmo da Seleção. A equipe do técnico Dunga já desembarcou na África do Sul e está prestes a iniciar sua caminhada rumo ao hexacampeonato mundial. Os 23 jogadores designados para esta missão terão a responsabilidade de apagar a imensa frustração que tomou conta do país após a derrota para a França nas quartas-de-final da Copa de 2006. Três dos titulares daquele jogo, os zagueiros Lúcio e Juan e o apoiador Kaká, estão –salvo lesão de última hora– garantidos no time que enfrentará a Coreia do Norte no dia 15, em Joanesburgo, na estreia do Brasil na competição. E outros três jogadores que eram reservas naquele ano, o volante Gilberto Silva, o atacante Robinho e o goleiro Júlio César, ganharam com Dunga um status de titular absoluto na Seleção. A equipe comandada pelo capitão do tetra, que substituiu Parreira em 2006, logo após o fiasco alemão, se apresenta para a primeira Copa africana da história credenciada pelas conquistas da Copa América de 2007 e da
Copa das Confederações de 2009. Ela ainda terminou no primeiro lugar das eliminatórias sul-americanas para o Mundial. No entanto, o time de Dunga ainda é visto com alguma desconfiança por parte dos brasileiros, seja pela ausência de referências individuais –Kaká está longe de seu melhor nível–, seja pelo futebol dito “de resultado”, defensivo e pouco vistoso, exibido até aqui. A seleção de Luiz Felipe Scolari, que conquistou o penta em 2002, também chegou ao Mundial desacreditada –muito mais, inclusive, do que a equipe de Dunga. Terminou no quarto lugar da Copa das Confederações de 2001 e fez uma péssima campanha nas eliminatórias, garantindo a classificação somente na última rodada. No entanto, deu a volta por cima e ficou com o título. Para conseguir a receita do sucesso, a revista valeparaibano procurou todos os jogadores titulares daquele time, assim como o técnico Felipão. Todos apontaram o Brasil como um dos favoritos ao título. “O Brasil sempre será favorito, independentemente da condição em que estiver. Chegamos a todas as Copas com times muito fortes e competitivos”, lembrou o goleiro Marcos, ídolo do Palmeiras. “O Brasil tem os melhores jogadores do mundo”, opinou o atacante Rivaldo, que atua no Bunyodkor, do Uzbequistão, um time treinado recentemente por Scolari. “Considero o Brasil como grande favorito,
CONFEDERAÇÕES Capitão Lúcio comemora ao lado dos jogadores do Brasil a vitória da seleção na Copa das Confederações, em junho de 2009
Fotos: Vipcomm/Divulgação
Yann Walter São José dos Campos
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Especial
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pela sua qualidade e pelo que vem jogando”, disse Felipão. Contudo, todos destacaram que outras seleções chegam à África do Sul com totais condições de brigar pelo título. Sem surpresa, as mais citadas foram as tradicionais Alemanha e Itália, mas quase todos apontaram a Inglaterra, campeã no ano longínquo de 1966, e a Espanha, que nunca venceu um Mundial, como favoritos. “Espanha e Inglaterra são duas seleções muito fortes. Acho que uma delas vai chegar à final”, adiantou Gilberto Silva, um dos dois titulares de 2002 que continua no time principal em 2010 (o outro é Lúcio). “A Espanha tem que mostrar que não vai chegar e morrer na praia, como costuma fazer na Copa. Mas com certeza virá com força total”, avisou Cafu, o capitão do penta, hoje aposentado. A Argentina de Lionel Messi, apontado por Rivaldo como o melhor jogador do mundo, também foi lembrada. Sobre o craque do Barcelona, Gilberto Silva fez uma ressalva: “Messi está jogando muito, mas Copa do Mundo é diferente. A pressão é bem maior e nem sempre o jogador aguenta a cobrança”, alertou, com a experiência de quem vai disputar seu terceiro Mundial, o segundo como titular. Já a França, campeã em 1998 e vice em 2006, quase não foi mencionada. Apenas Lúcio e o zagueiro Roque Júnior, hoje defendendo o Ituano, incluíram os Bleus em sua lista de favoritos. Cafu ainda se disse convencido de que uma seleção africana
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Semelhanças Para os titulares brasileiros daquela Copa, as seleções de 2002 e 2010 têm fortes semelhanças. Em primeiro lugar, ambas foram forjadas na adversidade. “Para a Copa de 2002, só nos classificamos na última rodada. Ninguém acreditava que passaríamos das quartas-de-final, mas fomos campeões”, recordou o zagueiro Edmílson, que defende hoje o Zaragoza, da Espanha. “Os dois grupos aprenderam muito com as pancadas que tomaram. Ambos enfrentaram dificuldades e souberam superá-las. A seleção de 2002 chegou à Copa totalmente desacreditada e acabou levantando a taça. A equipe de 2010 está resgatando o prestígio aos poucos, superando a desconfiança do torcedor. Em se tratando de seleção brasileira as coisas sempre são mais complicadas porque a cobrança é muito grande”, explicou Gilberto Silva. Outra semelhança mencionada pelos atletas é a coesão dos dois grupos, o clima de união em busca de um mesmo objetivo, que tanto Scolari como Dunga souberam estimular em seus comandados. “Assim como o Felipão fez em 2002, Dunga conseguiu construir um grupo unido e muito competitivo. A gente que está de fora percebe que o clima dos jogadores e da comissão técnica
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11h - Joanesburgo
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dará “muito trabalho”. “Só não pode ser a Costa do Marfim, pois ela está na nossa chave”, brincou Cafu.
ÁFRICA DO SUL
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ARGENTINA
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é excelente. Isso é mérito tanto do treinador como dos atletas”, analisou Marcos. “As duas seleções são parecidas, no sentido de ambas estarem focadas em seu objetivo. A equipe de 2002 mostrou comprometimento e a de 2010 está mostrando também. Dunga conseguiu motivar os jogadores”, avaliou Roque Júnior. Cabe destacar que a falta de comprometimento foi o motivo pelo qual o treinador não levou o atacante Adriano, dado como certo na lista dos 23, mas que acumulou os problemas disciplinares no Flamengo. Para o lugar dele, Dunga escolheu Grafite, do Wolfsburg, que vem de uma temporada mediana no Campeonato Alemão.
TREINO Kaká e Robinho durante treino da seleção na Granja Comary, onde a equipe brasileira se concentra
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União O clima de união na seleção de 2010 é reforçado por Gilberto Silva. “Todos os jogadores estão unidos, focados, cientes de sua responsabilidade. Todos querem o melhor para a Seleção. Há uma grande sintonia de pensamento. Sabemos que o objetivo só vai ser alcançado com muito sacrifício. Ninguém espera facilidade”. União, trabalho e sacrifício são as palavraschaves dos discursos dos dois técnicos, dois gaúchos que têm bastante em comum. “A fama de sargentão que eles têm não é totalmente verdadeira. Cobram e até dão bronca quando é necessário, mas são camaradas, próximos dos jogadores. Eles fazem de tudo
para que o atleta se sinta bem, à vontade para render o máximo em campo”, revelou Gilberto Silva, que conhece bem os métodos de trabalho de cada um. “A equipe de 2002 era muito unida, mas acima de tudo tínhamos uma harmonia e um conjunto fantásticos. Sabíamos as qualidades e as características de cada atleta. Felipão acertou bem o time, soube montar uma defesa sólida e um ataque que fizesse gols nos momentos em que mais precisávamos. E a seleção de Dunga também caminha para isso”, disse Marcos. No entanto, é claro que coesão e comprometimento não bastam para ganhar uma Copa do Mundo. Também são necessários jogadores de qualidade. E neste quesito, a seleção de 2002, que tinha nomes como Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Roberto Carlos, era superior à de 2010, que tem Kaká como principal referência no que diz respeito à qualidade técnica. “Em 2002, os Ronaldos e o Rivaldo fizeram a diferença lá na frente e no gol tínhamos o Marcos, na minha opinião o melhor do mundo”, recordou o volante Kléberson, do Flamengo, uma das surpresas da lista de Dunga. Não por acaso, as unanimidades da seleção de 2010 estão quase todas atrás. Três delas jogam no mesmo clube –Inter de Milão– o ano inteiro, e desenvolveram grande entrosamento. Júlio César é sem dúvida um dos três melhores goleiros do mundo. Sem ser brilhante, Lúcio, o capitão, conquistou o respeito de todos pela regularidade e se
GRUPO
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tornou incontestável. Na lateral-direita, Maicon e Daniel Alves teriam lugar cativo em qualquer time do planeta. O jogador da Inter –que tem a preferência de Dunga– tem mais força e velocidade, enquanto o do Barcelona é mais técnico e versátil: também pode jogar no meio-decampo. Vale lembrar que Júlio César, Lúcio e Maicon fecharam a temporada europeia com chave de ouro, faturando o pentacampeonato italiano e a Champions League. A situação não é tão boa na lateral-esquerda. Muitos jogadores foram testados para ocupar a vaga liberada pela saída de Roberto Carlos depois da Copa de 2006, mas nenhum soube se firmar como titular, tanto que muitos torcedores passaram a clamar pela volta do jogador do Corinthians à seleção brasileira. Em um grupo que, como Dunga sempre fez questão de ressaltar, foi quase todo definido meses antes da Copa, o titular da posição era a única grande incerteza. Acabaram sendo chamados Gilberto e Michel Bastos. A tendência é que o jogador do Cruzeiro, pela experiência que tem, seja o titular, mas não será uma surpresa se Dunga optar pelo atleta do Lyon. Do meio para a frente, o time titular está praticamente fechado, com Gilberto Silva e Felipe Melo na contenção, Elano mais adiantado, Kaká na criação e Robinho e Luís Fabiano no ataque. Considerado burocrático por muitos torcedores, o experiente Gilberto passa por um bom momento, já que arrebatou o Campeonato Grego e a Copa da Grécia com
o Panathinaikos. Não se pode dizer o mesmo de Felipe Melo, bastante criticado em sua primeira temporada com a Juventus, nem de Kaká, que conviveu por meses com dores no púbis e outras lesões e dificilmente começará o Mundial com 100% de suas capacidades. Robinho faturou o Campeonato Paulista e recuperou a alegria de jogar na Vila Belmiro, enquanto Luís Fabiano, artilheiro e maior esperança de gols da seleção brasileira na África do Sul, continua sendo um dos principais jogadores do Sevilla, e sempre correspondeu quando vestiu a amarelinha. Conselhos de campeões A parte física foi considerada pelos pentacampeões brasileiros como uma das chaves para o sucesso em 2010. “Todos os jogadores têm de estar bem. O torneio é curto. São apenas sete jogos até a final”, alertou Roque Júnior. “Cada atleta tem que chegar bem preparado. É importante que todos estejam 100% fisicamente”, concordou Gilberto Silva. É justamente por isso que preocupa a condição de Kaká, o único verdadeiro armador da seleção na ausência de Ronaldinho, do Milan, e Paulo Henrique Ganso, do Santos, descartados pelo técnico Dunga, mas incluídos na ‘lista de espera’. Como era de se esperar, o capitão do tetra escolheu o robusto Júlio Baptista, da Roma, para ser o reserva de Kaká. Todos os jogadores de 2002, porém, se renderam à força coletiva da equipe atual, que venceu as duas competições que disputou até agora. “A equipe de 2002 tinha mais destaques
Oitavas de final 26/6
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Semifinais
SUÍÇA
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SUÍÇA
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HONDURAS
15h30 -Bloemfontein
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1
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OS ADVERSÁRIOS DO BRASIL COREIA DO NORTE Pouco se sabe sobre a misteriosa equipe da Coreia do Norte treinada por Kim Jong-Hun. A seleção asiática vai disputar sua segunda Copa depois de 1966, quando derrotou a Itália e avançou para as quartas-de-final, sendo eliminada por Portugal. Apenas quatro atletas jogam fora do país: três no Japão e um na Rússia. Os norte-coreanos jogam um futebol defensivo e de forte marcação, mas de baixo nível técnico, compensando a falta de habilidade por velocidade e excelente condição física. Os atacantes Hong Yong-Ho e Jong Tae-Se, apelidado de ‘Wayne Rooney da Ásia’, são os principais jogadores
COSTA DO MARFIM COMEMORAÇÃO Gilberto Silva, TREINO um das apostas O volante Gilberto de Dunga para Silva em treino da o meio-campo; seleção; ao fundo, volante foi reserva o meia Kaká, cuja na Copa de 2006 condição física ainda preocupa
individuais, mas a atual tem mais força coletiva”, sintetizou Edmílson. “Há muita qualidade nas duas seleções. Talvez a de hoje não tenha referências individuais como Ronaldo ou Roberto Carlos, mas tem um grupo forte”, afirmou Gilberto Silva. “O time de 2010 está jogando junto há algum tempo, é possível notar um bom entrosamento. O Brasil tem tudo para conquistar mais uma Copa do Mundo”, disse Kléberson. “A equipe atual já conquistou títulos, está bem entrosada”, concordou Cafu. Estilo Dunga E aos que criticam o estilo de Dunga, Roque Júnior faz questão de lembrar que “contra os fatos não tem argumentos”. “Os títulos falam por si. Dunga está no caminho certo”, enfatizou. “A seleção atual tem muita experiência, com vários jogadores que já participaram de uma Copa do Mundo, o que ajuda bastante”, destacou Lúcio, que vai disputar seu terceiro Mundial como titular.
Então, qual é a receita para ganhar a Copa? Para o técnico Scolari, “é preciso respeitar todos os adversários e jogar como tem jogado até o momento”. “O segredo é ter concentração total durante toda a disputa. Qualidade a seleção sempre vai ter. Se tiver comprometimento, como vem tendo, fica difícil de ser batida”, avaliou Marcos. “Determinação também ajuda muito, e isso a equipe parece ter de sobra”, acrescentou Roque Júnior. “É importante estar sempre ligado, não pode entrar em campo achando que já ganhou”, avisou Cafu. “Continuar trabalhando forte e seguir o planejamento da comissão técnica”, ensinou Kléberson. Já Edmílson recorreu a uma explicação menos convencional. “Quando o Brasil não se apresenta como o principal favorito, as coisas vão melhor. Pode ser que essa seja uma das chaves”. Desacreditada em 2002, a seleção brasileira se apresentou com status de estrela em 2006. E agora? O que vai acontecer em 2010?
O segundo adversário do Brasil não passa por um bom momento –foi eliminado pela Argélia nas quartas-de-final da Copa da África deste ano e trocou de técnico após o fiasco, mas pode ser considerada a seleção mais poderosa do continente africano. O novo treinador é o sueco Sven-Goran Eriksson, que já comandou a seleção da Inglaterra. Muitos jogadores são titulares em grandes clubes da Europa, como o volante Yaya Touré (Barcelona), o lateral-direito Emmanuel Eboué (Arsenal) e os atacantes Salomon Kalou e Didier Drogba (Chelsea). Esta será apenas a segunda Copa dos marfinenses, eliminados ainda na primeira fase em 2006
PORTUGAL
Após uma campanha pífia, em que só garantiu a classificação na repescagem, Portugal ganhou o direito de disputar o quinto Mundial de sua história. Para repetir o feito de 1966 e 2006, quando chegou às semifinais, a seleção lusa treinada por Carlos Queiroz continua contando com o craque Cristiano Ronaldo. O perigo também virá dos pés do atacante Liedson (Sporting Lisboa) e do meia Deco (Chelsea), dois dos três brasileiros do time. O terceiro é o zagueiro Pepe, do Real Madrid. O meia Nani (Manchester United) e o atacante Simão (Atlético Madrid) também têm qualidade
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Especial
ELES VÃO FAZER FALTA ZLATAN IBRAHIMOVIC: O astro do Barcelona não conseguiu classificar seu país, a Suécia, para o Mundial sul-africano. A nação escandinava sequer foi para a repescagem DAVID BECKHAM: O apoiador do Los Angeles Galaxy, emprestado ao Milan, rompeu sozinho o tendão de Aquiles em março passado durante um jogo contra o Chievo pelo Campeonato Italiano, perdendo a chance de disputar seu quarto Mundial com a Inglaterra. O craque de 34 anos disputou 115 jogos e as Copas de 1998, 2002 e 2006 com o English Team SALVADOR CABAÑAS: O atacante do América do México era a esperança de gols da seleção do Paraguai, mas levou um tiro na cabeça no banheiro de uma casa noturna da Cidade do México no fim de janeiro. O jogador se recuperou, mas não o suficiente para disputar uma Copa do Mundo. A bala continua alojada em sua cabeça. Especula-se que Cabañas tenha sido baleado por um torcedor do próprio time RONALDINHO: Apesar do clamor popular pela convocação do astro do Milan, Dunga manteve a posição irredutível e não o integrou na lista dos 23. Sem ser o jogador brilhante que dominou o mundo em 2004 e 2005, Ronaldinho fez uma boa temporada com o clube rossonero, e talvez merecesse uma vaga. Numa seleção com poucas referências individuais, ele pode fazer falta PAULO HENRIQUE GANSO: O jogador do Santos seria o mais indicado para assumir o papel de Kaká, se houvesse necessidade. Mais jovem e – pelo menos no que tem mostrado este ano – mais regular que Ronaldinho, ele reúne todas as qualidades de um bom armador: habilidade, eficiência e visão de jogo. Ganso é o principal responsável pela grande campanha do Peixe no Campeonato Paulista, deixando sempre seus companheiros na cara do gol com passes certeiros NEYMAR: Outro que teve a convocação pedida pelo Brasil inteiro. O companheiro de Robinho no ataque do Santos brilhou na conquista do último Paulistão, mas não foi o suficiente para convencer o técnico Dunga. Extremamente habilidoso com a bola nos pés, o jogador de 18 anos tem uma clara tendência a cavar faltas, que irrita os adversários. Irreverente, ele precisa amadurecer e ganhar experiência. Estará no ponto para a Copa de 2014
‘BRaSIGRInGoS’ na Copa O Brasil será o país mais representado na Copa do Mundo de 2010. Além dos 23 atletas convocados por Dunga, vários outros jogadores brasileiros desfilarão pelos gramados sul-africanos, mas sem vestir a ‘amarelinha’. DECO, PEPE, LIEDSON (PORTUGAL): O meia do Chelsea, o zagueiro do Real Madrid e o atacante do Sporting de Lisboa são três peças fundamentais do esquema do treinador Carlos Queiroz. Deco, que estreou na seleção lusa em 2003, abriu o caminho para os outros ‘brazucas’. Ídolo do Porto, onde jogou de 1999 a 2004, foi um dos líderes da equipe de Luiz Felipe Scolari, vice-campeã da Eurocopa de 2004 e semifinalista do Mundial de 2006. Encostado no Chelsea, deve voltar ao Brasil depois da Copa. Com passagens por Flamengo e Corinthians, Liedson ganhou status de estrela no Sporting, onde joga desde 2003. O bahiano ganhou a cidadania portuguesa em agosto do ano passado
CACAU (ALEMANHA): O atacante de 29 anos foi incluído pelo técnico Joachim Löw numa pré-lista com 27 nomes. Nascido em Santo André (SP), Cacau joga no Stuttgart desde 2003. Recebeu a cidadania alemã em maio do ano passado, e já disputou seis partidas com a seleção do país europeu BENNY FEILHABER (EUA): Nascido no Rio de Janeiro (RJ), o meio-campista mora nos Estados Unidos desde os seis anos de idade. Com passagens pelo Hamburgo (Alemanha) e pelo Derby County (Inglaterra), Benny Feilhaber defende agora o Aarhus, da Dinamarca MARCUS TÚLIO TANAKA (JAPÃO): Túlio Tanaka nasceu no interior de São Paulo e se mudou para o Japão aos 15 anos. Patrão da defesa do Urawa Red Diamonds de 2004 a 2009, foi considerado o melhor jogador da J-League em 2006. Hoje, atua no Nagoya Grampus
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OS TITULARES Júlio César, 31 anos, goleiro Nascido no Rio de Janeiro Títulos com a seleção: Copa América (2004), Copa das Confederações (2009) Maicon, 29 anos, lateral-direito Nascido em Criciúma (SC) Títulos com a seleção: Copa América (2004, 2007), Copa das Confederações (2005, 2009) Lúcio, 32 anos, zagueiro Nascido em Planaltina (DF) Títulos com a seleção: Copa do Mundo (2002), Copa das Confederações (2005, 2009) Juan, 31 anos, zaqueiro Nascido no Rio de Janeiro Títulos com a seleção: Copa América (2004, 2007), Copa das Confederações (2005, 2009)
PENTA Técnico Felipão com a seleção campeã da Copa do Mundo de 2002; elenco do penta dá a receita da vitória para equipe de Dunga
Gilberto, 34 anos, lateral-esquerdo Nascido no Rio de Janeiro Títulos com a seleção: Copa América (2007), Copa das Confederações (2005) Gilberto Silva, 34 anos, volante Nascido em Lagoa da Prata (MG) Títulos com a seleção: Copa do Mundo (2002), Copa América (2007), Copa das Confederações (2005, 2009) Felipe Melo, 27 anos, volante Nascido em Volta Redonda (RJ) Títulos com a seleção: Copa das Confederações (2009) Elano, 29 anos, meia Nascido em Iracemápolis (SP) Títulos com a seleção: Copa América (2007), Copa das Confederações (2009) Kaká, 28 anos, meia Nascido em Brasília Títulos com a seleção: Copa do Mundo (2002), Copa das Confederações (2005, 2009) Robinho, 26 anos, atacante Nascido em São Vicente (SP) Títulos com a seleção: Copa América (2007), Copa das Confederações (2005, 2009) Luís Fabiano, 29 anos, atacante Nascido em Campinas (SP) Títulos com a seleção: Copa América (2004), Copa das Confederações (2009)
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Quem será o craque de 2010? Todo Mundial tem um jogador que se destaca. Quem não se lembra de Pelé em 1970, Maradona em 1986, Romário em 1994, Zidane em 1998, Ronaldo em 2002? E agora? Quem será o craque de 2010? Didier Drogba, da Costa do Marfim, é um misto de habilidade, oportunismo e força física. O centroavante de 32 anos foi campeão inglês com o Chelsea e, de quebra, artilheiro da Premier League, com 29 gols. Pesam contra ele a falta de experiência de sua seleção em Copas e a hérnia de disco que quase o tirou do Mundial sul-africano. Outro craque que, inclusive, já foi eleito o melhor do mundo, vai cruzar o caminho do Brasil na primeira fase: Cristiano Ronaldo, um meia-atacante veloz, que dribla como poucos e ainda é um exímio cobrador de faltas. O gajo de 25 anos foi transferido em 2009 para o Real Madrid por 94 milhões de euros, na transação mais cara da história. Kaká é o craque do Brasil, mas sua condição física preocupa: só voltou a jogar no fim do Campeonato Espanhol e nem de longe lembrou o jogador do Milan que foi eleito o melhor do mundo em 2007. Contudo, se estiver 100% , o atleta de 28 anos tem tudo para brilhar. Wayne Rooney, 24 anos, eleito o melhor jogador do Campeonato Inglês, quer agora dar à Inglaterra o segundo Mundial de sua história. Força, explosão, potência e boa colocação fazem de Rooney a maior garantia de gols do English Team. Lionel Messi, 22 anos, reúne técnica, habilidade, velocidade e visão de jogo. Os seis títulos conquistados pelo Barça na temporada passada lhe renderam o prêmio de melhor do mundo da Fifa. Após várias atuações memoráveis, passou a ser comparado aos melhores da história. Muitos já o consideram superior ao próprio Maradona. Falta apenas um título, o mais prestigiado de todos, para a consagração final. •
COPA DO MUNDO
Divulgação
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ENTREVISTA
Luís Fabiano, o dono da camisa 9 Atacante de 29 anos é esperança de gols do Brasil, que entra em campo no próximo dia 15 contra a Coreia do Norte
Hernane Lélis São José dos Campos
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lém do status de goleador, Luís Fabiano carrega em seu currículo a fama de brigão. Dentro de campo protagonizou um dos mais disputados duelos do futebol brasileiro e saiu vencedor. Sem pontapés e socos, bateu grandes artilheiros, como Ronaldo, Vagner Love, Afonso e Alexandre Pato. O prêmio por suas belas atuações foi a camisa 9 da seleção brasileira entregue pelo técnico Dunga. Aos 29 anos, Luís Fabiano é a esperança de gols para o Brasil, que entra em campo no dia 15, no estádio Ellis Park, em Joanesburgo, contra a Coreia do Norte. Essa será a estreia de Fabuloso no torneio mundial. Ele garante que está preparado para lidar com a pressão e continuar com a mesma raça que o consagrou dono da camisa 9 amarelinha. Assumindo a responsabilidade de mandar a bola para as redes dos adversários, seja dando um chute preciso no momento certo ou aparecendo oportunamente para concluir o ataque com uma cabeçada certeira, Fabuloso afirma em entrevista exclusiva à revista valeparaibano que vê o Brasil como favorito na Copa, mas que ainda na primeira fase é preciso cuidado especial com a seleção da Costa de Marfim, do artilheiro Didier Drogba. Impetuoso, o atacante espera conquistar o hexa brasileiro e entrar para a história da seleção no mundial fazendo o máximo de gols possível.
O que é mais difícil: conseguir uma vaga ou se manter na seleção? O mais difícil com certeza é se manter no grupo. A oportunidade, às vezes, chega quando você menos espera, como no meu caso [foi convocado em novembro de 2007 para os jogos contra Peru e Uruguai pelas Eliminatórias, após o corte de Afonso Alves]. Mas para se manter o jogador tem que provar que tem condições de estar lá a cada jogo, aproveitar cada oportunidade. A camisa 9 da seleção, que já foi usada por ídolos como Careca e Ronaldo, caiu muito bem em você,né? Sem dúvida. Sei da importância dessa camisa e da responsabilidade de vesti-la, mas me sinto muito bem com ela. O que esperar do Brasil nessa Copa do Mundo? Dá para continuar com o discurso de que é favorito na competição? Acho que todos vão ver uma seleção muito forte, guerreira, que vai lutar pelo título. O Brasil sempre é considerado favorito e não podemos fugir disso. Temos que saber lidar com esse favoritismo. Portugal ou Costa de Marfim, quem deve ser o adversário mais difícil no grupo G? E depois, o que esperar das demais equipes? Serão dois adversários muito duros. Acho que talvez por ser o segundo jogo, a partida contra a Costa do Marfim será mais importante, mais decisiva para a nossa classificação. Portugal tem ótimos jogadores e vai dar muito trabalho.
”Todos verão uma seleção muito forte, guerreira, que vai lutar pelo título. O Brasil sempre é considerado o time favorito e não podemos fugir disso” PERFIL NOME: Luís Fabiano Clemente IDADE: 29 anos NATURALIDADE Campinas (São Paulo) CLUBES Ponte Preta (1997 – 2000) Rennes (2000 – 2001) São Paulo (2001 – 2004) Porto (2004 – 2005) Sevilla (2005)
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zer isso? O próximo passo seria ir atrás dos mil gols? Sinceramente minha meta é ajudar o Brasil a conquistar o título mundial. Só assim todos nós entraremos para a história. Penso que a melhor maneira de um atacante ajudar é fazendo gols e vou tentar fazer o máximo de gols possível, mas não tenho meta de gols, nem de ser artilheiro. Chegar à seleção brasileira sem ter passado por nenhum time grande da Europa é um feito de poucos. Ainda sente vontade de defender a camisa de equipes como Barcelona, Real Madri e Milan, por exemplo? Realmente não foi fácil, mas tenho que agradecer ao Sevilla que me ofereceu uma ótima estrutura para trabalhar nos últimos anos. Mas é claro que sonho em jogar por uma equipe maior e acho que isso pode acontecer em breve. O técnico Dunga testou 88 jogadores em três anos e meio de trabalho frente à seleção do Brasil. Em sua opinião, quais critérios colocam um jogador dentro ou fora da equipe? Acho que o principal critério é o desempenho do jogador com a camisa da seleção. Às vezes o jogador pode não estar tão bem no clube, mas quando veste a camisa da seleção tem que dar conta do recado. Quem você não deixaria de levar de jeito nenhum, se estivesse na posição dele? Pergunta difícil (risos). Mas acho que não deixaria de levar o Kaká.
Você vem recebendo inúmeros elogios por seu trabalho no Sevilla e na seleção brasileira, inclusive do Pelé. Isso reflete em forma de pressão ou motivação? Encaro os elogios sempre como motivação. Sou um cara que não se acomoda, que quer melhorar sempre, buscar novos objetivos, e os elogios me motivam. A pressão já existe naturalmente para quem joga pela seleção brasileira, mas graças a Deus eu sei lidar com ela. A fama de brigão já ficou no passado, mas segurar os ânimos num possível encontro entre Brasil e Argentina será complicado? Isso felizmente é passado. Acredito que a
maior prova disso foi no jogo contra a Argentina, em Rosário, pelas Eliminatórias, quando sofremos muita pressão, fomos provocados de todas as maneiras e conseguimos manter a tranquilidade.
O que espera da sua carreira depois da Copa do Mundo? Voltar para o Brasil ainda é um desejo distante? Por enquanto sim. Quero voltar para o Brasil em alto nível, mas acho que tenho mais três ou quatro anos na Europa.
Segurar o Messi seria mais difícil? Não é fácil pará-lo, ele está muito bem. Quem jogar contra a Argentina terá que ter uma atenção especial com ele, pois ele está desequilibrando.
A maioria dos torcedores vai acompanhar a Copa pela TV. O que diria a eles depois de marcar seu primeiro gol na competição? Acho que agradeceria a todos os torcedores que acreditaram em mim e que me ajudaram a chegar até lá.
Sua meta na Copa do Mundo, além conquistar o hexa, é marcar um gol por partida, feito realizado pelo Pelé na Copa da Suécia, em 1958, como pretende fa-
E depois de perder algum gol? Pediria para todos os torcedores continuarem acreditando, pois não faltará vontade para essa seleção. •
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Especial
De olho no futuro
O clima da Copa na África Animados com o maior evento esportivo do planeta, sul-africanos querem mostrar ao mundo uma nação mais forte e pronta para receber bem milhares de turistas Janaína Coelho Joanesburgo (África do Sul)
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África do Sul chegou muito perto de sediar a Copa do Mundo de 2006 mas perdeu para a Alemanha. Levantou a cabeça, deu a volta por cima e conquistou o direito de realizar a de 2010. Sem perder tempo, o governo deu início a uma maciça campanha de convencimento da população de que o Mundial seria o divisor de águas entre um país ainda com as marcas da segregação racial, depois de quase meio século de apartheid, e uma nova África do Sul, que nasceria junto com a competição. E parece que o ‘lobby’ do presidente Jacob Zuma, o mais entusiasta de todos, deu certo. Com um apoio de peso, de Nelson Mandela, Zuma declarou ao povo sul-africano que era preciso mostrar ao mundo uma nova nação, mais forte, alegre e pronta para alavancar
FESTA Estudantes em evento no estádio Green Point, que fica em Cidade do Cabo, uma das nove sedes dos jogos da Copa
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Claudio Capucho
seu turismo. E Zuma conseguiu o que queria. Na boca de cada cidadão, apesar de todos os problemas sociais e de segurança na África do Sul, está o desejo de receber bem o turista que visitar o país para assistir aos jogos entre 11 de junho e 11 de julho. Enock Mathebula é guia em Joanesburgo. Já tinha uma van e comprou um carro de luxo para levar turistas para passear pela cidade. “Quis oferecer mais conforto a quem viesse com crianças ou idosos. Acho importante fazer de tudo para receber bem as pessoas na Copa. O que fizermos durante o mundial, será o nosso retrato pelos próximos anos. E precisamos nos sair bem.” O trabalhador da construção civil Joelks Maido, que atuou na finalização das obras do estádio Soccer City, em Joanesburgo, palco da abertura e do encerramento da Copa, diz que fez seu serviço com prazer, sem reclamar do excesso de horas extras necessárias em razão do atraso nos serviços na arena, que só ficaria pronta 10 dias antes do início do mundial. “Não vamos nos abater agora na véspera de começar os jogos. Queremos mostrar que somos capazes de fazer tudo o que os países mais ricos já fizeram e um pouco mais.” Mesma meta tem Phiri Bodibe, artesão que vende seu trabalho nas ruas de Soweto, township (bairro) mais populosa de Joanesburgo. Ele admite os problemas de violência no país, concentrada principalmente nas periferias, mas acha que nada vai prejudicar o mundial. “Não podemos deixar que isso atrapalhe. Somos alegres demais, vivemos em harmonia hoje e não vamos nos abater com qualquer problema. Sabemos que o governo gastou muito dinheiro, mas isso tudo virá de volta para nós em trabalho, vendas, em negócios. Acredito nisso e vou trabalhar dia e noite durante a Copa para ajudar que tudo dê certo.” Durban Do outro lado do país, em Durban, o taxista Faeez Hoopdhar repete as palavras de Phiri, mesmo sem o conhecer. O discurso até parece combinado, mas não é. São frases de quem aposta na Copa para mudar de vida. É isso que ele quer para a mulher, Zubeda, e para as filhas Firdcus e Fathima. “Acho que depois da Copa consigo comprar meu próprio carro”, diz o sul-africano com descendência indiana, predominante em Durban. É que hoje ele trabalha para uma empresa que presta serviço na porta de hotéis. “Mas isso não vai durar muito.
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Especial Flávio Forner
Nelson Mandela, ícone da luta contra o apartheid, foi a “peça-chave” para convencer a Fifa de que o país estava pronto para sediar a Copa do Mundo
Quero trabalhar muito na Copa para juntar o resto do dinheiro que falta para comprar meu carro”, afirmou. Se depender da felicidade de Faeez em receber os turistas, ele vai conseguir mesmo. “Eu adoro levar as pessoas para passear, conto a história dos lugares, ajudo a carregar as compras, sou até segurança se precisar”. Ainda em Durban, a lojista Amy-Trinit Jewelbey’s aposta no evento esportivo para alavancar os negócios no Victoria Street, mercado indiano bem no centro da cidade. Para ela, o país precisa da Copa para ver seu turismo crescer. “Atrativos para isso a gente tem, em todas as cidades. Falta é um pouco de organização, mas isso nós estamos fazendo agora.” Outro comerciante do mercado, Malaewe Torjah, que trabalha com especiarias, acredita que o turista verá que o país sabe organizar um evento deste porte. “Nossa recompensa será o crescimento do nosso turismo e dos nossos negócios. Vamos fazer de tudo para que não haja violência e que o turista vá embora satisfeito.” Em Cidade do Cabo, segunda maior cidade do país e uma das nove sedes de jogos, o trabalho de convencimento da população chegou às crianças. Eventos semanais têm sido realizados no estádio Green Point para conscientizar os pequenos sobre a importância da Copa. Toda semana, cerca de 400 alunos de escolas da região são levados para assistir a apresentações culturais e também sobre o evento esportivo. É uma espécie de aula que termina com uma clara demonstração de cidadania e amor pelo país. Após cantarem o hino nacional, professores e crianças gritam o nome da África do Sul enquanto se juntam em uma alegre dança com os grupos culturais que acabaram de se apresentar. “Precisamos mostrar a estas crianças que não é apenas um evento esportivo, que será bem mais para nós. Será a nossa virada”, diz
CONSTRUÇÃO O operário Joelks Maido nas obras do estádio Soccer City (ao fundo), que será palco da abertura e encerramento da Copa
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Flávio Forner
Susane Beiktr, professora de uma turma de escola pública infantil de Cidade do Cabo.
ESPERANÇA O artesão Phiri Bodibe acredita que a Copa vai transformar a economia do país e melhorar a vida dos sul-africanos; abaixo, vista noturna do estádio Moses Mabhida, que fica em Durban Claudio Capucho
Otimismo Todo esse otimismo do povo sul-africano traduz o empenho de seu maior líder, Nelson Mandela, para trazer a Copa para o país. Ícone da liberdade por sua luta contra o apartheid, primeiro presidente negro do país e prêmio Nobel da Paz, Mandela foi peça-chave para convencer a Fifa de que a nação estava pronta para a competição. Entre 2002, início da disputa para escolha da sede, e 2004, quando a África do Sul foi finalmente eleita pela Fifa, Mandela não poupou esforços. Sua mensagem foi simples, porém poderosa. Mostrou uma nova África do Sul, conseguiu forte apoio comercial de empresas internacionais, mostrou se tratar da maior e mais estável economia do continente e, principalmente, convenceu os membros da Fifa sobre o empenho do seu povo na disputa pelo evento. Até o apoio do jogador-celebridade David Beckham o ex-presidente conseguiu. O levou para um jogo em Durban em 2003 e obteve o seu testemunho em favor da candidatura. A África do Sul fez a sua apresentação final ao Comitê Executivo da FIFA no dia 14 de maio de 2004. Nelson Mandela falou do “time comprometido e dedicado” do seu país. No dia seguinte, às 12h21, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, abriu um envelope branco revelando a África do Sul como sede da Copa de 2010 após os votos de 24 membros executivos da entidade. A África do Sul recebeu 14 votos contra 10 do Marrocos, enquanto o Egito não recebeu nenhum. “Minha missão foi cumprida, mais uma vez”, resumiu Mandela, em sua primeira declaração após o anúncio. •
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Especial
MITO DERRUBADO
Jogos: o outro lado da moeda A urbanista Raquel Rolnik, relatora especial das Nações Unidas, aponta os impactos negativos na população de países-sedes de Copas ou Olimpíadas
Yann Walter São José dos Campos
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egaeventos como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos nem sempre são sinônimos de festa e desenvolvimento social. Essa é a avaliação de Raquel Rolnik, urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo) e relatora especial das Nações Unidas para o Direito à Moradia. Ela escreveu um relatório muito crítico sobre o impacto negativo dos grandes eventos esportivos sobre as populações locais, desfazendo o mito de que a organização de uma Olimpíada ou de uma Copa do Mundo melhora a vida de todos na mesma proporção. Expulsões, deslocamentos forçados e remoção de assentamentos populares são os efeitos mais visíveis, mas Raquel também mencionou o aumento dos preços imobiliários e alertou que, na maioria das vezes, são os mais pobres quem acabam pagando a conta. Em entrevista à revista valeparaibano Raquel citou ainda vários exemplos passados e futuros e expressou preocupação com a organização pelo Brasil da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Como a organização de grandes eventos esportivos como uma Olimpíada ou uma Copa do Mundo pode afetar negativa-
mente as populações locais? Em primeiro lugar, é importante entender que estes grandes eventos se inscrevem numa estratégia de transformação urbana das cidades envolvidas. Este processo começou nos anos 90 com Barcelona, que sediou os Jogos de 1992. Copa do Mundo ou Jogos Olímpicos funcionam como catalisadores para estas transformações. Os eventos poderiam ser positivos para toda a população, mas o objetivo dos organizadores é atrair investimentos. Existem dois Divulgação
grandes impactos negativos. O primeiro é a remoção de assentamentos populares para obras relacionadas aos eventos. O segundo, mais indireto, é o processo de valorização imobiliária das cidades-sedes, que chamamos de “expulsão branca”: o aumento do preço dos imóveis se traduz na prática pelo afastamento dos moradores de baixa renda. Estes efeitos negativos são mais visíveis nos países pobres? Por quê? Nos países menos desenvolvidos, onde a rede de proteção social é mais frágil, os efeitos negativos da organização desses eventos podem ser sentidos com mais intensidade, justamente por conta da situação de vulnerabilidade em que se encontra parte da população. Quais são os casos mais emblemáticos que trouxeram prejuízo às populações? O caso dos Jogos Olímpicos de Pequim-2008 foi o mais impressionante em termos de números, já que afetou mais de um milhão de pessoas. As autoridades chinesas conduziram uma realocação de moradores em grande escala, com despejos em massa.
PONTO DE VISTA Raquel Rolnik, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e relatora da ONU para o Direito à Moradia
Como está a situação na África do Sul, palco da Copa do Mundo de 2010? Recebi denúncias da Cidade do Cabo sobre um assentamento irregular de 20 mil pessoas chamado Joe Slovo, que fica junto a um dos principais eixos de conexão entre o aeroporto e as instalações esportivas. O governo sulafricano anunciou um projeto de reurbanização na comunidade. No entanto, os primeiros
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Divulgação
PROTESTO Comunidade de Joe Slovo, na Cidade do Cabo, protestam contra remoção de milhares de famílias para áreas distantes
moradores contemplados pela medida foram enviados para um lugar distante e realocados em habitações precárias, chamadas por eles mesmos de “microondas”, por serem edificadas exclusivamente com placas de ferro. As informações que temos é que as autoridades construíram em Joe Slovo alojamentos destinados a pessoas com nível de renda superior, prejudicando os moradores atuais.
Paraisópolis, afetando muitos moradores desta comunidade.
Como limitar estes efeitos negativos? O planejamento antes da apresentação da candidatura é muito importante. É essencial que as populações afetadas sejam incluídas desde o início no processo de discussão. O Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas votou uma resolução para que esta discussão seja lançada assim que a cidade envolvida tomar a decisão de se candidatar para a organização de um evento de grande porte.
Você acredita que governos e entidades esportivas estejam fazendo o necessário para não prejudicar as populações? O bem estar dos moradores é uma preocupação das autoridades brasileiras? Não. Esta preocupação aparece nos discursos, mas não vi planos para transformar essas palavras em atos. O governo brasileiro garantiu que a Copa e as Olimpíadas favorecerão o desenvolvimento social. Agora é esperar para ver. Em se tratando das entidades esportivas, é importante destacar a diferença entre o COI (Comitê Olímpico Internacional) e a Fifa (Federação Internacional de Futebol). A instância olímpica ao menos incluiu o direito à moradia na lista dos fatores que devem ser discutidos. Já a Fifa sequer demonstra interesse.
O Brasil vai sediar a Copa de 2014 e os Jogos de 2016. Existem riscos de deslocamento de pessoas, ou outros? Quais serão as consequências negativas? Estes riscos já são uma realidade. No Rio de Janeiro, 33 pequenas comunidades de Jacarepaguá e Barra da Tijuca estão ameaçadas de remoção por conta dos Jogos de 2016. Em Fortaleza, uma das cidades-sedes da Copa de 2014, há um conflito em torno de um eixo viário que vai ser construído e poderá provocar a remoção de comunidades. E em São Paulo, uma avenida projetada para melhorar o escoamento de pessoas e carros no estádio do Morumbi passará por
É possível organizar um evento esportivo de grande porte sem prejudicar nenhuma parcela da população? Existem exemplos? Vamos ser otimistas: é possível até melhorar a situação da população, desde que o objetivo seja ampliar o direito à moradia, e não negá-lo. A grande questão é: a quem queremos beneficiar com a realização destes megaeventos? Não existem exemplos de grandes eventos que não prejudicaram ninguém. Todas as Copas e Olimpíadas acarretaram prejuízos humanos, em pequena ou grande escala. Mas sejamos justos: todas elas também contribuíram para melhorar a vida de parte da população. •
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Educação
REDE ESTADUAL
Alunos pagam por prova em São José Dinheiro é cobrado por escolas sob justificativa de falta de verba para papel sulfite; estudante que deixa de pagar R$ 1 para receber cópia xerográfica da avaliação tem que transcrever todas questões
São José dos Campos
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runa Campos*, 11 anos, estudante do 5º ano do ensino fundamental da rede estadual de São José dos Campos, precisa contar as moedas que tem no bolso antes de ir ao colégio em época de prova. Isso porque tem que pagar R$ 1 para receber o teste em cópia xerográfica, caso contrário é obrigada a copiar toda avaliação à mão. O dinheiro é cobrado sob a justificativa de falta de verba para fornecer papel sulfite, segundo os pais e alunos. Por frequentar uma escola mantida pelo Estado, Bruna estaria livre de qualquer ônus para fazer o
curso, mas desde o ano passado tem que desembolsar R$ 1 por bimestre para realizar as provas se não quiser perder tempo transcrevendo as questões. Maria Cláudia*, 32 anos, mãe de Bruna, que estuda na escola estadual Euclides Bueno Miragaia, na Vila Nair, na região sudeste, disse que a prática da cobrança é recorrente e o valor seria usado para custear a compra de papel. “Pode parecer pouca coisa, mas tenho três filhos na escola, ai já são R$ 3 que tenho que pagar. Esse dinheiro dá para comprar outras coisas, como pão e leite. A escola disse apenas que era para a compra de papel. A máquina para fazer cópia eu sei que eles têm”, afirmou. Segundo os pais, a “taxa” coloca alguns alunos em situações constrangedoras perante aos colegas de classe, já que nem to-
Ato de pedir dinheiro a alunos da rede estadual se estenderia a qualquer material xerográfico que professor usa em sala
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EM XEQUE Escolas estaduais cobram dos alunos cópia xerografada de prova em São José; para Apeoesp, prática é irregular
dos teriam condições de pagar pela cópia. “Um dia precisei dar um passe [vale-transporte no valor de R$ 2,50] para meu filho. Não tinha dinheiro no dia para pagar, ele avisou muito em cima da hora. Se não dou, ele pode se sentir envergonhado diante dos amigos”, disse Solange Ribeiro*, 33 anos. O ato de pedir dinheiro para alunos da rede estadual, segundo os pais, se estende a qualquer material xerográfico que o professor precisa usar em sala de aula como, por exemplo, mapas e tabelas. Para a Apeoesp
(Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) a cobrança é ilegal. “Meu filho pede e dou o dinheiro. O valor é baixo, por isso a gente não questiona muito”, disse Marcos Pacheco*, 42 anos, pai de um aluno da 6ª série da escola estadual Benedito Matarazzo, no Jardim Paraíso, na zona sul. Na área de abrangência da Diretoria de Ensino de São José, que compreende também Monteiro Lobato e o distrito de São Francisco Xavier, existem 83 escolas estaduais, com 73,7 mil alunos. Se a prática da cobrança for ado-
tada em todas as escolas, por ano, seriam recolhidos dos alunos quase R$ 295 mil. O governo do Estado entrega todo início de ano letivo 100 mil folhas sulfite para cada escola. Dessa forma, somente para os colégios de São José teriam sido enviados 8,3 milhões de folhas –o equivalente a 112 sulfites por aluno. “Pode acontecer a cobrança em acordo informal com o aluno na tentativa de ajudar o estudante durante o período de prova. Ao invés de copiar a prova em todas as disciplinas, ele recebe xerográfica. Mas mesmo assim é ilegal”, disse Rafael Paixão, professor e coordenador da sub-sede da Apeoesp de São José. Para ele, a cobrança em algumas escolas reflete a precariedade do ensino público estadual, que não recebe todo material necessário para garantir aporte didático para os professores. “Quem deveria facilitar é o Estado, já que o ensino é gratuito. O professor faz o que pode para ajudar”, disse. Outro Lado A Secretaria Estadual de Educação informou que repassou para as escolas, no início do ano letivo, 20 caixas de papel sulfite com dez pacotes de 500 folhas cada um, totalizando 100 mil folhas por unidade escolar. Além disso, sempre que solicitado, o governo informou que envia novos materiais aos colégios. Sobre a ‘taxa’ das provas, a secretaria informou que é contra qualquer tipo de cobrança na rede estadual de ensino e orienta aos pais e alunos que se sentirem prejudicados que procurem a Diretoria de Ensino para fazer a denúncia. Somente após essa queixa formal é que o Departamento de Supervisão de Ensino poderá averiguar a situação. A direção das escolas Euclides Bueno Miragaia e Benedito Matarazzo não comentou o caso. • *nomes fictícios
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Saúde
Entrevista >Marta Salomão é diretora do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, que recebe todos os pedidos de exame para diagnóstico do vírus Influenza A (H1N1) no Brasil
“Essa epidemia parece não ser tão devastadora assim” Fotos: Daigo Oliva
H1N1, é muito pouco. Em compensação, nos outros estados fizemos 226 exames e quase 40% deles deram positivo para o H1N1, a maioria para regiões mais ao Norte do país. Isso acontece porque lá o inverno é na época da chuva, é mais cedo que aqui.
Hernane Lélis São Paulo
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á um ano o Brasil diagnosticou o primeiro caso positivo da gripe A (H1N1), conhecida popularmente como gripe suína. O exame foi feito pelo Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo, comandado pela doutora Marta Salomão, 61 anos, diretora do laboratório. Com 270 pesquisadores voltados quase que exclusivamente para estudar o novo vírus (Influenza A), em menos de 18 horas, a equipe do instituto entregou o primeiro teste nacional da doença. A partir dele outros 40 mil foram realizados em 2009, recorde do Adolfo Lutz até então. Outro grande feito do instituto foi isolar e sequenciar, de forma pioneira no país, o vírus. O trabalho foi realizado com material colhido do primeiro caso da doença, permitindo aos pesquisadores a monitoração genética com o objetivo de observar novas mutações da gripe suína. Durante a epidemia no ano passado, 556 pessoas morreram por causa da doença no Estado de São Paulo, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Somente no Vale do Paraíba foram 31 mortes e 700 casos confirmados. Agora, o clima no Instituto Adolfo Lutz se divide em otimismo e apreensão.
“Acho que junho, julho e agosto serão os períodos críticos. Estamos acreditando que ela (vacina para combater o vírus) vai funcionar e diminuir o número de casos”, disse a doutora Marta Salomão, em entrevista exclusiva à revista valeparaibano. Marta orienta a população a continuar com os métodos preventivos da doença para evitar uma nova onda de contaminação e mortes. Como a senhora classifica hoje o risco de contaminação pelo vírus H1N1? < O cenário do Influenza no Estado de São Paulo, e posso falar também dos estados em que o Adolfo Lutz realiza exames, é bem mais tranquilo que no ano passado. O número de pessoas acometidas é bem menor até o momento, mas isso não quer dizer que agora no inverno não teremos um aumento mais significativo no nosso Estado. Nesse ano, nós fizemos até o momento 2.093 exames. Destes, 1.600 para o Estado de São Paulo. Tivemos apenas 17 positivos para o
Então a chance de contaminação agora é grande? < Acho que junho, julho e agosto serão os períodos críticos. Essa época é que se tem mais meningite e outras doenças do tipo. As pessoas não abrem a janela de suas casa, não deixam o sol entrar, os ônibus ficam trancados, pessoas espirram na mão, entre outras coisas que podem contribuir para a contaminação. O Instituto Adolfo Lutz está preparado para realizar quantos exames? < A demanda de exames vai ser um pouco menor que no ano passado, primeiro por achar que vai ter menos pessoas doentes. Essa epidemia parece não ser tão devastadora assim e as pessoas estão sendo vacinadas, imunizadas. Além disso, no ano passado, a gente, por um período, fazia exames para todos suspeitos do H1N1 e agora o protocolo do Ministério da Saúde prevê que a gente só faça exames para pacientes graves e internados. Nós tivemos um período do ano passado que fizemos exames para todo suspeito. Estamos preparados para repetir, se necessário, os 40 mil exames realizados no ano passado.
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Domingo 4 Abril de 2010
PERFIL NOME: Marta Salomão IDADE: 61 anos NATURALIDADE: São João da Boa Vista, interior de São Paulo FORMAÇÃO: Medicina - Unesp (Universidade Estadual Paulista)
iNfluENZA A “A dEmANdA dE ExAmES VAi SER um POucO mENOR quE NO ANO PASSAdO. tEREmOS mENOS PESSOAS dOENtES. AS PESSOAS EStÃO SENdO VAciNAdAS”
ATUAÇÃO: Diretora do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo
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Saúde
PREVENÇÃO “A população teve um comportamento exemplar durante a epidemiA, MAS BAIXOU UM POUCO a guarda e agora precisa relembrar o que foi feito” Quanto tempo leva do exame até o resultado? < Sendo tudo muito rápido, depois que entra no laboratório, temos 48 horas para soltar o resultado. No ano passado tivemos um período que não conseguimos cumprir isso por problemas dos insumos que não tínhamos, já que esses insumos são importados. Agora temos estoque para atender a demanda do ano. Esses insumos usamos também para outros tipos de exames, por isso não corremos o risco de perdê-los com uma possível queda na demanda de exames do H1N1. É um exame caro? < Atualmente não chega a R$ 60, ficou pela metade do preço porque conseguimos simplificar, reduzir os gastos com materiais. Isso tudo desenvolvido pelos pesquisadores do instituto. Quando começamos a fazer os exames, ficava em torno de R$ 120, sem contar a parte de recursos humanos. Como é a mutação do vírus H1N1 encontrada pelo instituto no ano passado? < Desde o início a gente tem feito o isolamento do vírus. Fomos o primeiro do Brasil a isolar o vírus, e fizemos o sequenciamento ge-
nético do vírus. Na verdade, desde a primeira vez, o vírus não era igualzinho, tinha pequenas alterações. Não se caracteriza ainda uma grande mudança, uma alteração importante. A gente tem que fazer o sequenciamento e acompanhar as mutações porque esse vírus pode mudar seu modo dentro do organismo. Uma dessas mudanças pode acontecer na resistência ao antiviral que estamos usando. O que fizemos foi comparar a nossa sequência do vírus com um banco de dados mundial, que tem outras sequências. Não achamos mudanças significativas, mas houve e pode ocorrer uma alteração significativa, por isso fazemos o sequenciamento periodicamente. A qualquer momento que tiver alteração importante a comunidade mundial precisa ficar sabendo. Quer dizer que outras mutações ainda podem acontecer? < Isso é característica da Influenza, ela vai mudando e nós fazemos essa monitoração. Às vezes o vírus pode ficar mais fraco numa mutação, mas ele geralmente se altera para poder sobreviver. Como um vírus, hoje considerado de efeito moderado, causou tanto alarde
na população?
< Era um vírus novo, ninguém sabia qual
seria o potencial de agressividade dele, de mortes que iria causar. Uma das proteínas dele não circulava desde 1950, mas ele já esteve circulando em 1950. Quem tem menos de 50 anos nunca tinha entrado em contato com esse tipo de vírus. Foi justamente essa parcela das pessoas que teve os quadros mais graves. Os idosos, que normalmente são as maiores vítimas da gripe, não registraram tantos casos.
A vacina para combater o H1N1 é 100% eficaz? < Ela não visa impedir que a pessoa possa pegar o vírus, ela visa que você não tenha formas graves da doença. É uma vacina que não faz mal, tem pequenas reações para algumas pessoas, mas nada significativo. Estamos acreditando que ela vai funcionar e diminuir o número de casos. O percentual de eficiência é alto, acima de 90%. Nos Estados Unidos a gente tem dados de que a regiões que têm uma boa cobertura vacinal encontram números mínimos de casos. Já regiões que não têm cobertura vacinal, existem alguns surtos da doença. Isso mostra
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vacina. A imprensa nesse sentido também é muito importante para esclarecer a população, mostrar que nem tudo é verdade na internet. Pessoa com alergia a gema do ovo não pode ser vacinada. Essa é a principal contraindicação, não só para a vacina do H1N1, mas para qualquer outra que usa substâncias do ovo. Mas são alergias documentadas, quando, por exemplo, a pessoa tem choque anafilático depois de comer um ovo. Já tivemos casos de apreensão de vacinas falsificadas que prometiam combater o H1N1 no Brasil. Como a pessoa pode se prevenir para não receber uma dose de origem duvidosa? < Primeiro lugar, vacina é coisa muito séria. A pessoa pode se vacinar na rede pública ou em centros credenciados pela Secretaria do Estado da Saúde. Não pode ser em farmácia de jeito nenhum. Em quase todos os municípios existem clínicas de vacinas credenciadas e supervisionadas pela Vigilância Epidemiológica do município. Quem já foi vacinado e tem alguma dúvida sobre a origem da vacina deve procurar um médico. Quem ainda não tomou a vacina deve fazer o que? < Depois que passar o prazo de vacinação, somente será possível se vacinar em clínicas particulares. Pelo que acompanhei, a aplicação deve custar em torno de R$ 60.
que é importante vacinar. A população negligencia de alguma forma na prevenção à doença? < Não. A população teve um comportamento exemplar durante a epidemia e agora precisa relembrar o que foi feito. Alguns hábitos são de higiene que precisam ser usados para sempre, como a questão de lavar as mãos. Você evita não só a gripe, mas também outras doenças. Quem estiver doente não deve ir trabalhar e deve evitar aglomerações, se não vai acabar levando o problema para outro ambiente. A população baixou um pouco a guarda e a
gente precisa lembrá-la de mudar alguns hábitos. É importante também não ter medo da vacina. Esse medo que a senhora se refere foi propagado na internet por uma série de e-mails recomendando a população a não receber a dose. Por que isso aconteceu? < Na internet em qualquer assunto que você procura tem coisas sérias e verdadeiras, mas também boatos e falsidades. Na gripe não fugiu disso. A gente tem que ter o discernimento e o ministro (da Saúde, José Gomes Temporão) já esclareceu como funciona a
A senhora foi eleita uma das personalidades mais influentes do Brasil em 2009. Gostaria que falasse um pouco sobre a importância do Instituto Adolfo Lutz para o país. < O instituto é de pesquisa e laboratório de estudos públicos e, por essas características, tem uma importância fundamental para o Estado de São Paulo e para o Brasil. Entendo essa homenagem que recebi como uma homenagem para o instituto, nós tivemos um comportamento exemplar. Tínhamos capacidade para fazer 100 exames por dia e durante um longo período realizamos cerca de 600 por dia. Isso foi um trabalho coletivo do instituto, com muita cooperação dos profissionais. Além disso, conseguimos por meio dos nossos pesquisadores realizar exames mais rápidos e mais baratos. Se a gente não fizesse isso não teríamos dado conta de toda a demanda que tínhamos. Liberamos a metodologia para outros laboratórios particulares que queriam fazer o exame, habilitá-los para fazer o exame. •
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Sociedade
Namoro
Violência: jovens amam, mas batem Pesquisa da Fiocruz revela que 9 em 10 dez adolescentes de 15 a 19 anos de idade praticam ou sofrem variadas formas de agressões quando namoram Xandu Alves São José dos Campos
Q
uem ama, bate. A violência passou a fazer parte do repertório romântico de namorados adolescentes. Ao lado de gestos de carinho, aparecem o belicoso “tapinha” e as humilhantes agressões verbais que doem mais do que se pensa. Pesquisa realizada com 3.205 adolescentes entre 15 e 19 anos, de 10 estados brasileiros, revelou que 9 em cada 10 jovens praticam ou sofrem variadas formas de violência. A lista abrange agressões físicas, verbais e sexuais. E elas são recíprocas, estão mais precoces e aparecem com frequência no mundo virtual. Realizado pelo Claves (Centro LatinoAmericano de Estudos da Violência e Saúde Jorge Careli), da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro, o estudo comprovou o que se vê nas ruas: os jovens estão resolvendo seus conflitos de forma mais violenta. E nem sempre os homens são os principais agressores. Mudança sutil na sociedade na qual o machismo, ao invés de suavizar-se, contamina ambos os sexos. Os dados apontam os meninos como maiores vítimas de agressões físicas, enquanto as adolescentes sofrem mais com violências verbais. Ambos os sexos são vítimas e agressores de violências sexuais, ameaças e de humilhações, como postar fotos indesejáveis e publicar ofensas na internet.
Resultados da pesquisa Violência verbal 85,3% perpetraram e 85% foram vítimas. As garotas são mais vítimas e também mais agressoras nesta forma de agressão Violência sexual 38,9% perpetraram e 43,8% foram vítimas. Não há diferença entre os sexos na vitimização da violência sexual, como forçar a beijar e a tocar o outro Ameaça 29,2% perpetraram e 24,2% foram vítimas. Rapazes e moças informam igualmente sofrer ameaças dos parceiros Violência física 24,1% perpetraram e 19,6% foram vítimas. Os rapazes (24,9%) informam mais sofrer violência física do que as moças (16,5%) Violência relacional 8,9% perpetraram e 16% foram vítimas. Formas relatadas pela pesquisa de violência relacional: virar os amigos contra a pessoa e espalhar boatos Ideias suicidas 19,3% dos jovens relataram intenções de se matar por causa de relacionamento amoroso. Não há diferença entre os sexos
Em várias entrevistas durante o levantamento, as meninas justificavam a violência como moeda de revide para igualar-se aos meninos: “Se ele pode, eu também posso”, responderam. Semelhante entre os sexos é também o relato do surgimento de ideias suicidas por causa de relacionamentos amorosos. Para Kathie Njaine, Simone de Assis e Maria Cecília Minayo, coordenadoras da pesquisa, os resultados demonstram que a violência tornou-se uma forma de comunicação entre os adolescentes. Alguns tipos de agressões, sobretudo as verbais, são naturalizadas ao ponto de não serem percebidas como formas de violência. “Percebemos um padrão de resolução de conflitos por meio da violência em diferentes graus de severidade”, diz Kathie. Segundo ela, vários estudos demonstram que esse padrão tende a permanecer na vida adulta, o que torna a violência no namoro um forte preditor da violência entre casais na vida adulta. Ciúmes O que pode parecer crise natural de ciúmes entre casais de namorados adolescentes, por exemplo, se não contida e refletida a tempo, pode embutir nos jovens o germe da violência como ponto de desequilíbrio no pêndulo da balança emocional. “A pesquisa comprova o que vemos no cotidiano: jovens mais agressivos, mais intolerantes e sem a preocupação quanto à sua exposição na sociedade”, avalia Guaraciara Maia, psicóloga, terapeuta e consultora de Desenvolvimento Humano. Para ela, são vários os motivos que levam
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Fotos: Eugênio Vieira
DISCUSSÃO As jovens são mais vítimas e também mais agressoras na agressão verbal
Estudos monstram que o padrão de violência vivenciado por jovens tende a permanecer nos casais na vida adulta
a esse comportamento, especialmente a educação com limites pouco respeitados, dentro e fora da família. “Percebemos jovens com comportamentos mais ousados, correndo mais riscos e sem medo das consequências”, disse. Do lado contrário, ressalta Kathie, doutora em Ciências da Saúde pela Fiocruz, relações de ficar e de namoro respeitosas e saudáveis podem construir futuras relações conjugais mais maduras e ajudar os adolescentes a elaborar estratégias de resolução de conflitos
mais positivas. Mas nem sempre é assim. A jovem L.R., 15 anos, conheceu M.D., 16 anos, pela internet e engatou um namoro no final de 2009. De lá para cá, terminaram e reataram o relacionamento algumas vezes, quase sempre por causa de cenas de ciúmes de um dos dois. O fim definitivo do relacionamento ocorreu no mês passado. “Ele era muito ciumento”, diz a adolescente. Ambos confessaram que não gostavam que o outro se relacionasse com pessoas do sexo oposto na internet, especialmente em
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Sociedade
redes sociais, salas de bate-papo ou através de programas de mensagens instantâneas. No mundo real, então, nem pensar. “Já discutimos por causa de meninas deixando mensagens no Orkut. Ele dava risada, mas também ficava bravo quando eu estava com amigos”, revela a adolescente. Apresentadora do programa “Ciência da Alma” da rádio Boa Nova, de Guarulhos, Guaraciara explica que o comportamento agressivo é uma tendência no ser humano. “Nossos antepassados tiveram que sobreviver e obter poder através da competição e da violência. Portanto, trazemos essa memória e tendência em nossos genes”, disse. A psicóloga lembra, porém, que a educação e a conscientização podem modificar esses padrões e desenvolver comportamentos mais adequados a uma nova ordem social –serena e compreensiva. Mas não é fácil. A atual geração de adolescentes é influenciada por diversos fatores sociais, entre eles, o fenômeno da internet e a presença da mídia no cotidiano das pessoas. Hoje, é mais importante saber as novidades
da vida das celebridades e jogadores de futebol do que pensar no próprio futuro. Criam-se estereótipos, padrões e ídolos que desestimulam a percepção crítica da sociedade, que continua com suas discrepâncias sociais e econômicas. O resultado é menos respeito e mais o “salve-se quem puder”, o “cada um por si”, o “é preciso levar vantagem em tudo” e o “olho por olho, dente por dente”. Morte Ao romper o namoro de quase dois anos com um guitarrista de uma banda de rock de Guaratinguetá, a jovem L., de 19 anos, pensava ter se livrado do crescente sentimento de posse do namorado, tão jovem quanto ela. Ledo engano. O garoto, que cantava versos deprimentes em suas músicas, invadiu o shopping onde ela trabalhava e a ameaçou com um revólver, exigindo reparação. Acossado pela polícia, ele deu um tiro na própria cabeça. Morreu duas horas depois no hospital. “Nunca imaginei que ele pudesse chegar a esse ponto. Acho que não estava preparado para ouvir um não da namorada”, disse a mãe da menina na época do caso, ocorrido em 2008. Tragédias como essa não nascem do dia para a noite. Crescem aos poucos em corações pouco acostumados a decepções amorosas, consequências normais em relacionamentos. A psicanalista Tereza Elizete Gonçalves, professora de psicologia clínica na Unitau (Universidade de Taubaté), não vê a violência como recurso inato do ser humano, embora reconheça que todos nós somos constituídos com uma dose de agressividade, necessária à sobrevivência. Para ela, fatores culturais, convivência e a falta de limites levam os adolescentes a tentar sobrepujar as frustrações através de medidas extremadas. “As vivências familiares são determinantes para os padrões que virão a ser assumidos pelos jovens em seus relacionamentos”, afirma Tereza Elizete. “Quem se habitua a gritar, a manifestar-se de forma truculenta para intimidar os outros, e observa os efeitos que essas condutas têm desde muito cedo, tenderá a manter essas estratégias relacionais.” Internet Natural do Paraná, a estudante Y.D., 15 anos, separou-se do namorado de 22 anos ao mudar-se para São José dos Campos no início do ano. Eles mantiveram o relacionamento à custa de telefonemas diários e
mensagens pela internet. A falta de convivência, contudo, não evitou que o ciúme cruzasse as fronteiras e afetasse o namoro. A adolescente conta que acreditou em mensagens postadas por outras garotas, supostamente interessadas no namorado, de que ele a estaria traindo. “Terminei com ele na mesma hora”, conta Y. “A raiva e a mágoa a gente acaba descontando no outro”, reconhece. Quase um mês depois, eles reataram o relacionamento, mas não sem cicatrizes. “Temos que vigiar sempre os sites na internet para ver quem está falando de quem”, diz a jovem. Nos casos de brigas entre jovens casais de namorados, Tereza Elizete destaca o papel da violência psicológica, que aparece em atitudes de coação, autoritarismo e exigências desmedidas. “Há restrições inexplicáveis que podem chegar à clausura do parceiro, ameaças, chantagens e humilhações, quase sempre encobertos, negados ou justificados por quem sofre como medida do amor”, disse Tereza Elizete. Segundo ela, o não-reconhecimento da violência no namoro pode vir a ser um fator
FIM A jovem L., 16 anos, que terminou o namoro após sucessivas brigas do casal
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Conclusões das entrevistas • Independentemente de estrato social e de região do país, os adolescentes raramente procuram ajuda em situações de violência no namoro ou no ficar • Os jovens elegeram a família, representada sobretudo pela figura dos pais, como as principais pessoas para se trabalhar o tema da violência • A escola foi escolhida como espaço ideal para se desenvolver ações de prevenção, inclusive com os pais dos adolescentes • Os amigos são referidos, na maioria das vezes, como pessoas com quem contam para desabafar e trocar informações
de tolerância e de aceitação das agressões. Os jovens tendem a equivaler a brutalidade com sentimento de amor intenso. Podem ocultar tais vivências pesarosas com receio de que os pais venham a forçá-los a interromper o relacionamento do qual não podem prescindir. “Eles podem manter depoimentos no círculo restrito de amigos, daí que os pais devem estar atentos às condutas indicativas de distorções no namoro dos filhos”, explica a psicóloga. Aos pais, ela orienta que estejam atentos a mudanças de comportamento nos filhos, tais como choro, tristeza, irritabilidade, dificuldades alimentares e de sono, discussões intermináveis e sigilosas pelo telefone ou computador e desinteresse por tudo o mais que não se refira à figura do namorado ou namorada. E há esperança nessa conduta. “Embora muitos neguem e se refugiem, jovens em dificuldade mantêm a expectativa de serem auxiliados pelos familiares, capazes de evidenciar-lhes que o amor é outra coisa, diferente de provocação, vingança e ciúmes possessivo”, completa Tereza Elizete.
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Somos aquilo que aprendemos, diz psicóloga Somos aquilo que aprendemos a ser. Para a psicóloga da Associação Brasileira de Adolescência, Fabiana Luckemeyer, os adolescentes precisam ter boas referências na vida para não introjetar maus exemplos. As referências são fundamentais para a construção da personalidade. A adolescência, diz ela, é menos tolerante e mais imatura para lidar com alguns contextos, principalmente aqueles que trazem frustrações. É necessário que os jovens tenham perto de si pessoas com quem se abrir e escutar conselhos. Pais ausentes podem criar laços negativos com os filhos que, ao longo do tempo, tornam-se para eles os padrões de comportamento. “O trabalho de prevenção é a melhor saída”, afirma Fabiana. Na sua experiência com adolescentes no consultório, ela percebe que os jovens são mais inseguros para resolver seus dilemas emocionais. Uma garota que esteja apaixonada, por exemplo, poderá ceder mais rapidamente às investidas do namorado e ter relações sexuais indesejadas com ele por não conseguir dizer não. Autoestima “Os jovens precisam saber que a dedicação aos estudos dá resultado. Que o esforço leva as pessoas adiante. Que nada vem fácil na vida. Conhecer a verdade fortalece a autoestima”, comenta Fabiana. Aos pais, a psicóloga recomenda tratar do assunto abertamente em casa, além de serem boas referências para os filhos. “Digo que é preciso ensinar a estar acima da média. Ou seja, não fazer o que todo mundo faz.” •
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Mundo VIÚVAS NEGRAS
A nova face do terrorismo Mulheres suicidas viram ‘arma’ em atentados de grupos extremistas; na última década, 40% dos ataques em todo o mundo foram obras femininas
Letícia Maciel São José dos Campos
V
iolência gera violência, sangue atrai sangue. Foi com esta frase simples e que transcende religiões que o pai da jovem suicida Mariam Charipova repreendeu a atitude da filha diante da imprensa estrangeira que lotou a casa da família, no interior do Cáucaso, após os atentados que mataram 39 pessoas no metrô de Moscou, na Rússia, em 29 de março. Nascida no remoto vilarejo de Balakhani, a 160 quilômetros de Makhatchkala, capital do Daguestão, Mariam, 28 anos, levava uma vida normal, ajudava nos afazeres da casa e trabalhava como professora. Era religiosa, segundo o pai, Rasoul, mas nunca havia manifestado tendências extremistas. Até agora, dois meses após o atentado, nem a família, nem os amigos, ninguém sabe explicar exatamente o que a levou a tirar a própria vida com explosivos amarrados à cintura, matando ainda dezenas de pessoas inocentes. A polícia russa suspeita que tanto Mariam quanto Dzhennet Abdurakhmanova, 17 anos, a jovem viúva que se fez explodir com
uma bomba, 40 minutos depois, em outra estação do metrô em Moscou naquele dia, eram ligadas às Viúvas Negras da Chechênia. Dzhennet estava casada desde o ano passado com Umalat Magomedov, que conheceu pela internet quando tinha 16 anos, e ficou viúva no dia 31 de dezembro de 2009, quando o marido foi morto em uma troca de tiros com a polícia. O grupo Viúvas Negras, considerado a mais nova arma dos terroristas, é formado por mulheres que perderam seus maridos, irmãos ou pais nos combates com os russos entre 1994 e 2000. No caso de Miriam, o irmão era acusado de pertencer a uma guerrilha separatista e teria sido torturado pelas forças russas. A participação de mulheres em atentados terroristas suicidas não é um fenômeno recente e não se restringe ao Cáucaso russo, mas vem aumentando a cada ano. Em 2009, elas cometeram a metade dos atentados terroristas na Rússia. Na última década, quase 40% dos ataques em todo o mundo foram obras femininas. A terrorista suicida mais jovem da qual se tem registro até agora é uma menina de 14 anos que se matou ao detonar os explosivos amarrados no cinturão em 10 de novembro de 2008, em Baaquba, durante uma blitz montada pelo exército dos Estados Unidos
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Associated Press/AE
e vigiada por milicianos sunitas, que deixaram de ser insurgentes para lutar contra a Al-Qaeda –os Sahwas. O movimento radical Hezbollah, do Líbano, é considerado o pioneiro dos grupos a praticar os ataques suicidas modernos. De acordo com Pedro Baños Bajo, do Real Instituto Elcano, da Espanha, que estuda a fundo a questão dos atentados suicidas femininos, o primeiro ataque do gênero aconteceu em 1985, organizado pelo Partido Sírio Nacional Socialista.
MULHER BOMBA A jovem Dzhennet Abdurakhmanova, 17 anos, uma das responsáveis pelo atentado a bomba suicida na Rússia
Sri Lanka No pequeno Sri Lanka, país ao extremo sul do continente asiático, os grupos terroristas oficializaram o suicídio como forma habitual de enfrentamento e resistência ao governo. Os insurgentes dos Tigres para a Libertação da Pátria Tâmil não só incentivam a participação das mulheres na guerrilha como permitem que elas deem entrevistas à imprensa, publiquem livros sobre a luta feminina e realizem atos públicos de reconhecimento. Deste modo, passam uma imagem de que as mulheres estão em situação de igualdade com os homens e livres da opressão cultural. O professor de geopolítica da Unitau (Universidade de Taubaté), José Maurício Cardoso, concorda que as mulheres suicidas, em geral, morrem porque perderam seus maridos por causas políticas. “A coerção e as pressões internacionais sofridas pelo mundo árabe geram o terrorismo, podendo ser ele em defesa da causa palestina, da causa chechena”, explicou. Para ele, os terroristas usam a religião como pretexto para cometer o suicídio, mas na realidade estão lutando por razões culturais, políticas ou contra um agressor. Este agressor, acrescentou o professor, pode ser o Estado, pode ser outro país. “O Corão e a sharia (a lei islâmica) proíbem ato violento contra o outro, mas os radicais podem dar interpretações distorcidas a trechos do livro sagrado”, afirmou. “Quando o Estado não abre diálogo com o povo, como ocorre no Oriente Médio, com os palestinos, eles se sentem injustiçados e decidem morrer como mártires pela luta contra Israel”, disse Cardoso. Documentário No documentário “As noivas de Alá”, realizado pelo jornalista português Henrique Cymerman, três palestinas que decidiram cometer atentados contra o inimigo tive-
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Mundo
ram destinos diferentes: uma conseguiu o objetivo, outra foi presa e a terceira arrependeu-se a tempo. No total, 78 palestinas cometeram atentados suicidas entre 2002 e 2006 no conflito entre palestinos e israelenses. Deste total, 10 mulheres mataram 37 israelenses. Muitas sofreram com a ocupação israelense. Wafa Idris foi a primeira delas: era órfã de pai e foi abandonada pelo marido porque não podia ter filhos por problemas de saúde. Sendo assim, era socialmente marginalizada e representava um fardo para as finanças da família. Ela se converteu em símbolo do levantamento palestino e foi seguida por dezenas de outras mulheres. Já Arin Ahmed, hoje estudante de contabilidade, mudou de ideia momentos antes de explodir a carga que carregava amarrada na cintura, ao ver o sorriso de um bebê. Recrutamento Há 30 anos vivendo em Israel como correspondente no Oriente Médio para jornais portugueses e espanhóis, Cymerman concluiu em seu trabalho que as mulheres vêm sendo cada vez mais recrutadas pelos militantes palestinos porque são menos visadas que os homens nos postos de controle do Exército israelense. Além disso, elas buscam maior igualdade perante os homens. As mulheres, em muitas comunidades muçulmanas, ainda vivem sobre restrições severas, sem poder sair de casa desacompanhada de um homem da família, sem poder estudar nem trabalhar. O Iraque é o país que, segundo especialistas, tem o maior número de viúvas candidatas ao martírio. Com dois milhões delas, o radicalismo ganhou adeptos durante a repressão do regime de Saddam Hussein, a guerra Irã-Iraque (1980-1988) e a primeira Guerra do Golfo (1991). A situação se agravou ainda mais em 2003, com a ocupação norte-americana que expulsou o ditador do poder e até hoje mantém suas tropas no país sem conseguir estabilidade política e segurança para a população. Curiosamente, a eficácia das forças governamentais e dos EUA em controlar a violência, reduzindo o número total de mortos em diferentes atos da insurgência, foi um dos fatores que levaram ao auge a participação das mulheres em ataques. O número de atentados com participação feminina no Iraque passou de 2 no primeiro ano do conflito para 36 em 2008. No total, há registros de que 57 muçulmanas sunitas
DRAMA Ao lado, haitiana com alimentos entregues pelos militares brasileiros; abaixo, bebê recebe trata
IRAQUE TEM 2 MILHÕES DE VIÚVAS CANDIDATAS AO MARTÍRIO. PRÁTICA GANHOU ADESÃO NO REGIME DE REPRESSÃO DE SADDAM HUSSEIN
escolheram o martírio em nome de sua causa. As suicidas do Iraque são orientadas por Samira Ahmed Jassim, 51 anos, mais conhecida como a “mãe das terroristas”. De acordo com as forças de segurança iraquianas, ela treinou mais de 80 mulheres e, ao menos, 28 delas cometeram os atentados. Samira prepara psicologicamente as candidatas ao sacrifício e depois as entrega aos grupos terroristas, que lhes fornecem os explosivos e definem os locais onde elas
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Ivan Sekretarev/AP/AE
Como são subjugadas, estão em busca de uma identidade, de respeito”, disse Francirosy, acrescentando que os atentados revelam “sociedades doentes”. A professora fez questão de lembrar que nos países árabes também existem mulheres que são tratadas com dignidade, são felizes e gostam de praticar a religião, dedicando-se a Deus e à família, e usando o véu islâmico. “Mas, assim como acontece em vários países, há muita desigualdade social, muita intolerância e isso pode levá-las ao suicídio em defesa de uma causa”, disse.
DRAMA Russos prestam homenagens às 39 vítimas fatais do atentado na estação de metrô de Park Kultury, em Moscou
devem explodir a carga. Segundo a professora Francirosy Ferreira, doutora e mestre em Antropologia da USP (Universidade de São Paulo), que estuda a cultura muçulmana, as mulheres nascidas em sociedades islâmicas podem ter outras motivações, além da vingança, para cometer o suicídio. Segundo a especialista, a causa pode ser pessoal ou coletiva. “As muçulmanas que cometem atentados suicidas podem estar querendo simplesmente demonstrar uma insatisfação, seja com o governo, seja dentro do grupo delas.
Fio Condutor Para a maioria dos estudiosos sobre o assunto, não existe uma ligação direta entre os atentados suicidas e um claro extremismo ideológico, nem sequer religioso. A religião muçulmana pode ser, na maioria dos casos de terrorismo, apenas o fio condutor usado por determinados grupos para atingir seus objetivos. Segundo Francirosy, uma maneira de tentar reduzir a participação de mulheres nos atentados é aumentar o respeito com a cultura na qual elas vivem e a tolerância. Outra possível alternativa seria incentivar os grupos separatistas, os militantes, os insurgentes ou, como alguns preferem chamar, os terroristas, a entregarem suas armas. Os governos devem abrir o diálogo, uma negociação com as minorias e oferecer incentivos para que abandonem a violência e, assim, criar um novo cenário para a busca de soluções políticas. Mas enquanto forem ineficazes nesta missão e enquanto forças ocupantes continuarem matando civis e exercendo pressão sobre as culturas muçulmanas, o terror vai perpetuar. Conforme lembrou Pedro Baños Bajos, “embora possa parecer que as mulheres vivem à sombra de algumas sociedades, ao amparo dos homens, não se pode esquecer que elas sempre são ouvidas em casa, sabem de muita coisa e, na maioria das vezes, controlam tudo”. Apesar da participação das mulheres nos atentados terroristas ser menor se comparada a dos homens, elas têm grande responsabilidade sobre as futuras gerações. São as principais encarregadas de ensinar aos filhos sobre a violência, o ódio, a luta contra o opressor, sua cultura e sua religião. As mulheres também têm a possibilidade de transformar sua sociedade, orientando seus filhos para o caminho de paz e do respeito a si e ao próximo. •
principais atentados
2000 - Rússia
7 de junho: duas chechenas invadem base militar com um caminhão com TNT, em Alkhan Lurt. Atentado deixa dois mortos
2001 - Chechênia
29 de novembro: mulher suicida e militar morrem em atentado contra outro chefe militar
2002 - Rússia
24 de outubro: grupo checheno invade o teatro Dubrovka. Entre os terroristas, 19 “viúvas negras”. Ao todo 54 terroristas e 129 reféns morrem. 600 ficam feridos
2003 - Rússia
12 de maio: duas mulheres explodem prédio da administração pró-russa com caminhão de explosivos e mata 60 pessoas
2004 - Rússia
De 1 a 3 de setembro: Brigada dos Mártires de Riyad US-Saliheyn, toma reféns em uma escola de Beslan. 335 pessoas morreram, sendo 156 crianças
2005 - Iraque
9 de novembro: mulher belga, que se converteu ao Islamismo, comete atentado em Baaquba. Soldado americano é ferido
2006 - Israel
(Faixa de Gaza) 23 de novembro: Fatma Omar an Najar, 68 anos, se suicida e fere três soldados norte americanos
2007 - Iraque
25 de fevereiro: mulher detona explosivos na Universidade de Mustansiriyah, em Bagdá, e mata 42 pessoas
2008 - Iraque
1º de maio: mulher explode cinturão de explosivos em festa de casamento –35 pessoas morrem e 65 ficam feridas
2009 - Iraque
4 de janeiro: próximo ao santuário do imã Musa kazim, em Bagdá, mulher se suicida. 38 morrem e 79 ficam feridos
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Ciência & Tecnologia
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Abril de 2010reclamações, sugestões e elogios Informações, 0800 726 2492 – Atendimento a deficientes auditivos 0800 725 7474 – Ouvidoria
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Ensaio
Ensaio fotográfico
Miroslaw Swietek Fisioterapeuta e fotógrafo
Close-up na vida de insetos O fisioterapeuta Miroslaw Swietek, 37 anos, que atende crianças com necessidades especiais no vilarejo de Jaroszow, na Polônia, encontrou na macrofotografia um refúgio à dura rotina de trabalho
PLUMAS A lagarta que normalmente causa repulsa nas pessoas exibe uma beleza luxuosa quando vista de perto
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Ensaio
CORES Acima, as cores vivas de uma vespa; ao lado, gotas de orvalho criam efeito em libĂŠlula
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LENTES Nas aranhas, a quantidade de olhos pode variar de dois a oito
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ALIEN Sobre a folha, a libĂŠlula ganha ares de um invasor alienĂgena com as cores dos olhos reveladas pelas lentes do fotĂłgrafo
Ensaio
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BRILHO Realçada pela gotas d’água, as cores do pequeno besouro ganham um brilho incomum
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Coisa & Taltigo
Marco Antonio Vitti
Pederastia, uma palavra que explica o que está acontecendo no mundo
A
tualmente vivemos em um mundo que nos faz retornar ao passado, quando, com a decadência da Grécia, filósofos julgavam ‘status’ ter um jovem imberbe para ser seu discípulo. Naquela época isso era denominado pederastia e até hoje, apesar de ser um termo em desuso, é uma palavra que explica muito bem o que está acontecendo no mundo.
ALARME “Chama a atenção a quantidade de pessoas com desvios de conduta em cargo de responsabilidade irrestrita”
Não consigo entender porque os donos do saber utilizavam esses jovens para obter prazer. Será que seria uma maneira de compensar a petulância que tinham em achar que eram os donos do saber, do conhecimento? Como sabemos, pedofilia significa ‘filo=afinidade=amor’ e ‘pedos=criança=jovem’; portanto, o amor pela juventude. No entanto, termos como pedofilia e pederastia são os crimes mais violentos que se pode cometer contra um ser humano, falseando o amor com o sexo. Mas não é sexo, é perversão. Até os animais se utilizam de rituais amorosos para arrebanhar seu par –que, consentindo, se acasalam para procriação. Alguns religiosos, se assim podemos chamá-los, envergonham a grande maioria dos padres que têm vocação. O que vemos hoje em dia são padres sem vocação, médicos sem vocação, políticos sem vocação, pais sem vocação, vocação sem vocação. Geralmente, estes
indivíduos vêm de lares humildes e, quando alcançam status, se aproveitam da situação por acharem que estão acima de qualquer suspeita. A grande confusão cometida é a terminologia usada: o crime cometido é pederastia, e não pedofilia. Qual a diferença de um psicopata pederasta e assassino, como o caso de Luzilândia, de um pederasta religioso? O pederasta religioso pode não matar o corpo de sua vítima, mas assassina sua alma para sempre. Mas seu objetivo, sua finalidade teleológica, não seria salvar almas? Trago aqui a mensagem de um grande abusador do cristianismo: Saulo de Tarso que, depois que caiu do cavalo, ficou cego para enxergar a verdade, pois aqueles que julgam enxergar tudo dentro de sua ótica psicopata, não a enxergam porque a verdade cega. O arcebispo de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings, comentando o desvio pederasta de seus colegas, afirmou diabolicamente que “a sociedade atual é pedófila”. Ao mesmo tempo, o bispo
Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br
de Blumenau, Dom Angélico Bernardino, lucefirianamente declarou que “existe uma grande diferença entre o assédio a crianças e o perpetrado contra adolescentes”. O que chama a atenção é a quantidade de pessoas que apresentam desvios de conduta, de comportamento, e que acabam ocupando cargos de responsabilidade irrestrita. Hitler é um grande exemplo de quando sua personalidade vai se deteriorando e seu monstro interno “Mr. Hide” vai tomando conta do Dr. Jekkill. De médico e de monstro todos temos um pouco, mas algums têm mais o lado monstruoso. Como no caso do Dr. Jekkill da fertilidade, que foi invadido pela vaidade de julgar que poderia fecundar suas pacientes. É quando a criatura acredita se tornar maior que o criador, então ela enlouquece pela (do grego hybris) vaidade. A grande traição que um ser humano pode fazer é não ser coerente com o que prega. Os gregos já sabiam que existem duas maneiras de se cair: ‘vaidade material e a vaidade espiritual’. Um exemplo brasileiro trágico é a Febem, a malfadada instituição que, sob a sigla maldita de ‘Fundação do Bem Estar do Menor’, perpetrou crimes que se disseminaram com motins e com mortes tanto dos menores quanto dos seguranças do presídio. O maior problema é que estas supostas autoridades do poder não têm amor, uma vez que o poder exclui o amor e vice-versa. •
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Turismo
IDIOMA
TRADIÇÃO PRESERVADA
Zulu, um povo guerreiro e unido
A língua é a isiZulu, da família bantu, a mais praticada pelos zulus em toda a África do Sul depois do inglês
10 mi POPULAÇÃO
De zulus vivem em vilas e cidades da África do Sul, número que representa 25% do total de habitantes no país
No Vale dos Mil Morros, berço da etnia no país, 50 nativos mantêm os costumes dos seus antepassados: vivem da criação de animais e moram em cabanas
Janaína Coelho Durban (África do Sul)
P
opulação predominante no país da Copa, os zulus, povo guerreiro e unido, são uma atração à parte na África do Sul. Oprimidos pela colonização europeia no século 15 e pelo apartheid entre 1954 e 1990, seus representantes hoje tentam manter as tradições dos antepassados e ainda sobreviver às mudanças que a nação atravessa –uma tarefa bem difícil se for analisar a nova África do Sul que está nascendo com o privilégio de sediar a primeira Copa do continente africano. Com bilhões de rands (moeda local) investidos em estradas, transporte público e no setor turístico, está cada vez mais difícil encontrar quem ainda viva e siga à risca as tradições. Mesmo com uma gigantesca população de mais 10 milhões de zulus em território sul-africano (25% do país), a maioria está nas grandes cidades, em escritórios ou nos hotéis e agências de turismo local. Com maciça concentração na província de Kwazulu-Natal, os zulus que moram mais
perto de Durban, uma das nove cidades a receber jogos do mundial a partir do próximo dia 11, criaram reproduções de aldeias do interior do país para apresentar seu modo de vida aos turistas e, dessa forma, sobreviver de uma cultura já quase esquecida pelos mais novos. Em PheZulu, aldeia localizada a 45 quilômetros ao norte de Durban, cerca de 50 pessoas moram e trabalham exibindo aos visitantes suas danças, sua comida e suas casas. O grupo vive no Vale dos Mil Morros, berço da etnia no país. Na aldeia, formada pelo clã Zulu da Gasa há 30 anos, os visitan-
Homens zulus podem se casar com até quatro mulheres. Mas o custo é alto. Para cada sogro, é preciso pagar um dote que chega a 15 vacas
tes são levados inicialmente para as cabanas de colmo (material local), onde os vários artefatos, crenças e rituais são apresentados. Na sequência, a apresentação de dança Zulu é impressionante, com os dançarinos em seus trajes tradicionais mostrando suas habilidades com agilidade e humor. Samson Zimu, administrador do local, diz que a criação do espaço permitiu que muitos membros do clã pudessem sobreviver perto das grandes cidades, já que a escassez de recursos e empregos no interior do país é grande. “Aqui nós podemos manter a maior parte dos hábitos dos nossos antepassados, das danças à comida e até os costumes do casamento zulu”, disse. Casamento Hábitos como o casamento permitido com até quatro mulheres e o pagamento em vacas pela escolhida para o matrimônio. “Os homens podem se casar com até quatro mulheres. Mas poucos fazem isso porque hoje é muito caro. Para cada sogro, é preciso pagar um dote que chega a 15 vacas, dependendo da noiva. Mulher branca não custa nada”, brinca Zimu. Outro costume preservado em PheZulu é o
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Fotos: Claudio Capucho
ALDEIA Zulus em trajes tradicionais na aldeia Phezulu, a 45 quil么metros ao norte de Durban
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Turismo
trabalho feito com miçangas, que representa uma espécie de linguagem espiritual. Cada cor tem um significado, conta Tembha Zamurah. “O branco representa amor, vermelho é inspiração e o amarelo significa saudade”, disse. As crianças zulus aprendem desde cedo esta arte e são sempre ensinadas pelas mães e irmãs mais velhas. As miçangas também estão presentes nas tradições familiares. Antes de se casar, os noivos zulus se comunicam apenas através de um colar de miçangas. Cada desenho e cor usados indicam uma mensagem. As miçangas são parte importante também nas vestimentas típicas, diz Sueneben Zackiumo, uma das dançarinas que se apresenta aos turistas em PheZulu. “As mulheres virgens andam de peito nu coberto apenas com colares de miçangas. As comprometidas usam um top de miçanga. As casadas usam um top maior, de miçanga ou tecido, saia até o joelho e chapéu”, diz. Já os homens, segundo Zimu, se cobrem somente com pele de animais, geralmente de vaca ou cabra. Também usam ossos e pedras em forma de tornozeleiras para reproduzir sons na hora das danças. Das nove etnias que formam a população original da África do Sul, os zulus são o grupo hegemônico. Sua língua é a isiZulu, da família bantu, a mais praticada no país depois do inglês. No interior Bem longe de Phezulu, mais ao norte da província, a quase três horas de carro de Durban, famílias zulus também tentam manter suas tradições explorando o turismo no pé da famosa cadeia de montanhas Drakensberg, sonho de todo alpinista. As amigas Agnes Shabalala e Miriam Ncobo aproveitam a passagem dos visitantes pela estrada que leva à cadeia de montanhas para vender seu artesanato feito com capim dourado. Elas passam o dia sentadas no acostamento de terra batida confeccionando cestos, chapéus, colares, bolsas e bandejas. O capim pode ser usado ao natural ou ainda colorido com tinta. As vendas ajudam no orçamento doméstico, baseado na agricultura e na criação de animais, como vacas, galinhas e cabras. “A gente sobrevive com os mesmos recursos dos nossos antepassados. Aqui vivia muito mais gente, mas todos foram se mudando para a cidade. Quem ficou, só tem isso aqui mesmo para viver”, disse Agnes. Miriam conta que viver ao modo tradicional é uma opção. “Não fui para a cidade porque não quis. É muita bagunça. Minha
COSTUMES Jovens zulus com as roupas de miçangas, uma espécie de linguagem espiritual
MORADIA Cabana típica zulu, onde vários artefatos e rituais são apresentados aos turistas
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cURIOSIDADES Líder O principal representante foi o rei Shaka, que em 1816 liderou o mais poderoso grupo de zulus da história HISTÓRIA Embora hoje tenham expansão e poder político restritos, os zulus foram, no passado, uma nação guerreira que resistiu à invasão imperialista britânica no século 20 POPULAÇÃO Zulus moram atualmente em áreas da África do Sul, Lesoto, Suazilândia, Zimbábue e Moçambique
família inteira está aqui”, diz ela, que fica quase 10 horas à beira da estrada oferecendo o artesanato aos turistas. Segundo Justus Robbertso, guia especializado no tour para as áreas zulus, há 10 anos, havia muito mais representantes na região. “Mas eles não estão conseguindo sobreviver à falta de estrutura, de dinheiro e de emprego aqui. Por onde você anda, vê crianças vendendo artesanato na rua em vez de estarem na escola. Isso aqui é um lugar que vale a pena ser visitado porque acho que não vai existir mais daqui a um tempo.” Fora de Kwazulu-Natal também é possível conhecer um pouco da cultura zulu. Em Gauteng, província onde está Joanesburgo, cidade mais importante da África do Sul, há outra aldeia, a Lesedi, que também faz apresentações de danças e costumes zulus. •
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CiĂŞncia & Tecnologia
Novo Teatro do SESI-SP de São José dos Campos Domingo 4 Abril de 2010
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Conheça e assista a espetáculos de qualidade.
O Teatro SESI de São José dos Campos oferece uma programação cultural diversificada e totalmente gratuita, com espetáculos teatrais – infantil, infantojuvenil e adulto, apresentações de shows –, MPB e música erudita, espaço para exposições e projeção de filmes. Conta também com um Núcleo de Artes Cênicas que oferece cursos de iniciação teatral para crianças, jovens e adultos, além de oficinas artísticas. A infraestrutura é completa e possui capacidade para 388 lugares. Confira a programação e venha assistir a espetáculos de qualidade. Música:
Teatro:
6/6
19h
Léo Maia
10 e 11/6
20h
A Galinha Degolada
12/6
20h
Perseptom Banda Vocal
17 e 18/6
15h
Ibejis
13/6
19h
Gato Negro – Tango
24 e 25/6
20h
De Como Fiquei Bruta Flor
19/6
20h
Paula Lima
1º- e 2/7
20h
Esperando Godot
20/6
20h30
Ensemble Salzburg (Áustria)
8 e 9/7
20h
A Alma Boa de Setsuan
Para conferir a programação completa, acesse o site www.sesisp.org.br/sjcampos Av. Cidade Jardim, 4.389 – entrada: Praça das Bandeiras Bosque dos Eucaliptos – São José dos Campos / SP Tel.: (12) 3936-2611
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PaladarArtigo
Roberto Wagner
Aprenda a examinar a cor de um vinho; ela traz várias informações
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aças de cristal coloridas podem ser ótimas para decoração, mas não para beber vinho. Parte do encanto dessa bebida está na observação de sua cor, o que exige taças incolores e transparentes. A cor de um vinho tinto não é apenas bonita, ela traz informações importantes sobre ele. Só pela observação da tonalidade de um vinho, mesmo antes de prová-lo, você pode dizer se ele é novo ou se esteve guardado por algum tempo, se já é ou não a hora certa de bebê-lo. Digamos que você esteja numa degustação às cegas e seja convidado a provar três vinhos de cabernet sauvignon de diferentes safras –1997, 2003 e 2009– sem poder ver os rótulos das garrafas. Você recebe os vinhos já servidos em três taças e, ao contrário do que possa parecer, será fácil identificar as safras. Incline as taças como se vê na foto. O que tiver uma cor púrpura, arroxeada, que é característica de um tinto novo, será da safra 2009. O da safra 1997, já com 13 anos de guarda, terá um tom granada, meio alaranjado. E o que tiver uma cor intermediária, nem púrpura nem granada, será o da safra 2003. Porque os vinhos tintos que comportam guarda, que melhoram com o envelhecimento em garrafas mantidas sob temperatura adequada, vão mudando de cor, passando de vermelho púrpura para vermelho rubi, depois
tonalidade Incline a taça e poderá identificar com facilidade a safra do vinho
apreciação “Mesmo antes de prová-lo, você pode dizer se é novo ou se esteve guardado” rubi claro, depois o tom granada, até atingir a cor de tijolo. Sabendo disso, se você estiver num restaurante e o garçom lhe servir um vinho cujo rótulo informe ser da safra 2007 e você observar que ele já está alaranjado, pode devolver na hora. Um vinho de três anos não pode ter essa cor, ele está estragado. Mas, cuidado, estou falando de cor alaranjada. Um vinho de pinot noir terá cor rubi
Roberto Wagner jornalista
robertowagner@valeparaibano.com.br
mais clara que a de um cabernet ou merlot, por ser essa a tonalidade típica de um vinho dessa uva – minha predileta, por sinal. Agora, saiba se já é hora de beber um vinho tinto. Coloque um pouco dele na taça e a incline (como na foto). Observe com atenção as bordas do vinho lá em cima, no cume, onde elas têm a menor curvatura. Se estiver no ponto de ser bebido, ou seja, se os seus taninos já estiverem macios, haverá um pequeno halo aquoso naquele ponto. Se não houver halo nenhum, se o vinho estiver totalmente tinto até aquela curvatura superior, será cedo para bebê-lo. Pode comprovar. Os taninos estarão ainda ásperos e lhe darão um aperto na boca, semelhante ao de uma banana verde. Não culpe o vinho por isso, você é que o abriu antes da hora. •
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Hi-Tech
TRIDIMENSIONAL
A tecnologia das TVs em 3D Aparelhos permitem que telespectador se sinta um pouco mais perto dos gramados dos estádios da África do Sul; tamanhos dos televisores variam entre 42 e 65 polegadas, com preços de R$ 6 mil a R$ 15 mil
Hernane Lélis São Paulo
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er o capitão Lúcio levantando a taça de hexacampeão na Copa do Mundo da África do Sul é o sonho de qualquer brasileiro e melhor ainda se a comemoração da seleção brasileira pudesse ser na sala de sua casa. Mesmo longe dos gramados você pode se sentir mais perto da equipe de Dunga com
os novos televisores 3D, uma tecnologia que custa caro, mas que vale a pena. Hoje, a LG e a Samsung são as duas marcas disponíveis no mercado. Os tamanhos variam de 42 a 65 polegadas, com preços entre R$ 6 mil e R$ 15 mil. Mas antes de pensar em colocar a mão no bolso para ver a bola rolando em terceira dimensão no estádio Ellis Park, palco de estreia da seleção no mundial, é preciso saber que ainda não existe garantia de que a transmissão será em 3D no Brasil. Márcio Carvalho, diretor de produtos e serviços da Net, diz que, embora a estrutura de cabo para o 3D já exista (o Carnaval do Rio e a Indy 300 foram transmitidos nesta tecnologia para receptores HD), ainda faltam os acordos de transmissão. “Ainda está aberta a possibilidade de transmissão pública. Algumas questões técnicas precisam ser resolvidas”, disse Carvalho. A parceria para receber o sinal 3D via cabo é negociada com a Rede Globo. “Estamos desenvolvendo projetos em 3D e uma série de outros testes para podermos saber como
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transmitir esse sinal para o telespectador”, explicou José Dias, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Globo. É certo, segundo a Fifa, que 25 partidas da Copa serão transmitidas em 3D. E o Brasil será uma das vedetes do torneio, com os três primeiros jogos sob as lentes dessa nova tecnologia. Resta definir se a exibição ficará restrita a eventos e locais específicos ou disponível em canais digitais via cabo para todos os consumidores preparados para receber o sinal. Os aparelhos A Samsung, líder mundial do mercado de LED, colocou no varejo quatro séries de TVs tridimensionais –três da linha LED e uma de Plasma. Os televisores variam entre 40 e 65 polegadas, convertem imagens 2D em 3D, acompanham óculos tridimensionais, permitem gravar programas em HD, pen-drive ou drive externo e têm controle remoto touchscreen. Como promoção de lançamento, a companhia coreana oferece aos consumidores que comprarem também um Blu-Ray 3D, dois óculos ativos para os televisores, mais uma mídia Blu-Ray 3D do filme Monstros e Alienígenas. Todo o pacote 3D da fabricante sai por R$ 8.000.
A LG apresentou no mês passado nove modelos de televisores tridimensionais com três tamanhos diferentes –42, 47 e 55 polegadas. Um dos grandes diferenciais dos aparelhos da marca é a frequência de 480Hz (presente nas séries LX9500, LEX9, LEX8), aperfeiçoando o contraste e a nitidez das cenas. O modelo dos famosos óculos, necessários para que consiga-se desfrutar da tecnologia 3D, é o AG-S100 que, segundo a LG, são extremamente confortáveis e leves. A bateria do acessório chega a durar até 40 horas com apenas uma recarga feita por USB. Os televisores 3D da Sony vão chegar ao mercado apenas em agosto. O primeiro modelo será o Bravia XBR-LX905, em 60 e 52 polegadas. Ambos tem retro iluminação por LED, Wi-Fi integrado para conteúdo da internet e de computadores ligados na casa, função opcional de conversão de imagens 2D para 3D, um par de óculos, entre outras particularidades. O preço dos televisores ainda não foi revelado. “Foi uma estratégia da Sony lançar as TVs depois da Copa. Temos outros produtos que compõe a linha, não faria sentido lançar um de cada vez”, disse Luciano Bottura, gerente de produto da linha de televisores Bravia da Sony do Brasil. •
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SHOP & MAIS...
IPAD O aparelho agrega as principais funcionalidades de equipamentos já conhecidos, como notebooks, PDA, smartphones e e-readers. É possível ler jornais, revistas, livros, assistir TV, jogar games e navegar na internet US$ 499
LG TV PHONE GM600 O modelo oferece captura e gravação de conteúdos de TV, acesso a vídeos com alta qualidade, tecnologia de som Dolby Mobile e interface 3D interativa R$ 699
• novidade
• óculos 3D
WD TV LIVE HD Mais prático e barato que um tocador de Blu-ray, o WD TV Live é opção para quem dispõe de vontade, mas pouco dinheiro para entrar no mundo da alta definição. Com ele é possível exibir arquivos em vídeos guardados no computador diretamente na TV US$ 149
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Hi-Tech
GAMES
Um clássico nos gramados virtuais Yann Walter São José dos Campos
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odos os fãs de futebol e videogames conhecem FIFA e PES (Pro Evolution Soccer), os jogos que concentram quase 100% do mercado do setor. As novas versões de 2010 saíram em outubro com várias modificações. A Electronic Arts, responsável pela fabricação do FIFA, ainda lançou em abril a versão ‘World Cup’ (Copa do Mundo), que inclui 199 das 204 seleções que participaram das eliminatórias do Mundial de 2010. Esta versão Copa é a mais atualizada disponível no mercado, já que inclui os jogadores que vão à África do Sul. Ronaldinho Gaúcho, que não foi chamado pelo técnico Dunga, também foi “convocado”. Outro detalhe: a trilha sonora do jogo inclui duas músicas brasileiras: “Não é proibido”, de Marisa Monte, e “Emoriô”, de Sérgio Mendes. FIFA e PES têm versões para consoles Xbox 360, PS2, PS3, Wii, PSP e também para PC. A versão para PS3, que vem com a tecnologia Blu Ray, é a mais cara: custa cerca de R$ 200. Já a versão para PC, a mais barata, sai por me-
nos de R$ 100. A Electronic Arts e a Konami, fabricante do PES, praticam preços similares em cada suporte. Mas então, qual é a diferença entre um e outro? A qualidade gráfica é parecida. As feições dos jogadores vêm com uma riqueza de detalhes sem precedentes tanto no FIFA como no PES. No FIFA WC 2010 para PS3, um suporte que apresenta, junto com o Xbox 360, a melhor imagem, os rostos de Kaká e Ronaldinho são quase perfeitos. A maior diferença entre os dois games se dá na jogabilidade. “É muito mais fácil jogar no PES”, disse Artur Aparecido da Rosa Júnior, vendedor de uma loja de games de São José. “No FIFA, os jogadores se movimentam com mais naturalidade. O jogo no PES 2010 é mais mecânico. Outra diferença entre os dois é que o FIFA tem times brasileiros, ao contrário do PES”, avaliou Marcelo Lino, que trabalha em outra loja. A EA Sports –marca da Electronic Arts– introduziu no FIFA algumas novidades, como o primeiro sistema de dribles em 360 graus e as jogadas ensaiadas personalizáveis. Já a Konami inseriu no PES 2010 novos elementos de Inteligência Artificial nos jogadores e nos árbitros, movimentos rápidos e animações de drible, inclusive em 360 graus. •
Central de Vendas 12-3946 3055 ou 0300 789 8747
FIFA WC 2010 Plataformas PSP, PS3, Wii, Xbox 360
FIFA 10 Plataformas PC, PS2, PSP, PS3, Wii, Xbox 360
PES 2010 Plataformas: PC, PS2, PSP, PS3, Wii, Xbox 360
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PORTO SEGURO
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Moda&estilo MUNDO FASHION
Über model No topo há 11 anos, Gisele Bündchen mantém o sucesso implacável e ganha título de top das tops; modelo fatura US$ 25 milhões por ano Cristina Bedendo São José dos Campos
N
inguém conquista o título de über model por acaso. No topo desde 1999, quando foi nomeada a modelo número um do mundo, Gisele Bündchen é considerada um sucesso implacável até hoje, ao lado de ícones da moda como as supermodelos Naomi Campbell, Cindy Crawford e Linda Evangelista. Apesar de não liderar mais o ranking de modelos feito pelo site Models.com –referência mundial no assunto–, Gisele encabeça a lista das tops, seguida por Kate Moss, Natalia Vodianova e Claudia Schiffer. E tem mais: continua como a modelo mais bem paga do mundo com faturamento estimado em US$ 25 milhões (cerca de R$ 45 milhões) no ano passado, segundo lista divulgada pela “Forbes”. Tamanho sucesso se mantém, segundo profissionais da área, também por sua exposição na mídia. “Até modelo tem moda. Mas quando a modelo participa de eventos mais midiáticos, como Calendário Pirelli e o time da Victoria´s Secrets, começa a ganhar mais atenção”, afirma o estilista e pesquisador Marco Sabino, autor do Dicionário da Moda (2007). “E a Gisele atingiu esse patamar de über model (top das tops), desfila para a Colcci
ESTRELA Gisele Bünchen em foto da nova campanha da Hope; brasileira é a modelo mais bem paga no mundo
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[uma marca conhecida], assina produtos e namorava famosos [hoje é casada com o jogador norte-americano Tom Brady]. Ela virou uma celebridade, misturou a carreira de modelo com celebrity”, diz. Aliás, essa é a principal diferença entre o sucesso de Gisele e o de outras modelos que se destacam no mundo da moda. A também brasileira Raquel Zimmermann, por exemplo, é um ícone no meio, mas não para o público em geral, que muitas vezes não conhece a moça. Raquel permaneceu por três anos no topo do ranking do site Models.com e estrela editoriais e campanhas importantíssimas ao redor do mundo. No entanto, Sabino explica que Raquel fica restrita à carreira de modelo. “Raquel tem o que a moda gosta: uma mulher com certa frieza, com algo distante. Ela pertence ao universo da essência da moda e representa elegância. Além disso, é discreta. Não se sabe nada de sua vida pessoal e, mesmo assim, está em todas as melhores revistas ao redor do mundo.” A jornalista de moda Erika Palomino, editora do portal FFW, também concorda sobre a posição midiática de Gisele hoje pelo mundo afora. “Gisele é maior que a moda, é uma celebridade. Raquel Zimmermann tem uma grande presença no mercado, mas como não cria mitologias a seu respeito é percebida somente pelo público de moda. Mas é uma grande personalidade também”, afirma.
ão
Fotos: divulgaç
en
Gisele Bündch
PERFIL NOME Gisele Bündchen IDADE: 29 anos
NATURALIDADE Horizontina (Rio Grande do Sul) FORTUNA Avaliada em US$ 200 milhões
Supermodelos O jornalista André do Val, editor do site Chic, acredita que seria nostalgia dizer que Gisele é a última da era das supermodelos. O que existe, segundo ele, é exatamente essa diferença de perfis. “Alessandra Ambrósio está neste caminho de se tornar uma celebridade. Ela faz fotos sensuais, pontas em cinema. Já Raquel Zimmermann é mais envolvida em moda propriamente dita, domina as campanhas e os melhores desfiles. Por isso é mais conhecida entre fashionistas”, exemplifica. Diante dos nomes mais marcantes do mercado, ele cita ainda ícones como Kate Moss e Sthephany Seymour. “No Brasil, amo a Raquel Zimmermann e acho que ela vai crescer muito ainda. E Gisele é um acontecimento, vê-la desfilar dá até frio na barriga”, diz. A diferença de hoje para a época em que passarela era sinônimo de Naomi Campbell, Claudia Schiffer e Linda Evangelista, se dá também pela velocidade de divulgação das informações de moda pela internet. “Elas eram uma espécie de bloco imagético que se diluiu. Foram muito divulgadas por Versace, que queria que todas estivessem presentes. Hoje, vivemos uma era de excessos, na qual as pessoas já não conseguem guardar esses nomes. Quando você começa a se acostumar com um nome já surge outra nova modelo e muda tudo”, lembra. Mas não dá pra dizer também que o sucesso delas ficou no passado. Muitas voltaram à ativa recentemente, como no caso de Claudia Schi-
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Cindy Crawford
Após seus 25 anos de carreira, a norte-americana foi capa da edição de março deste ano da revista Harper’s Bazaar, aos 43 anos de idade. No pico do sucesso dos anos 90, Cindy Crawford chegou a contabilizar quase 400 capas de revistas em todo o mundo.
Claudia Schiffer
Depois do sucesso na década de 90, Claudia Schiffer foi escolhida pelo estilista Karl Lagerfeld para estrelar a campanha da marca Chanel. No auge do seu sucesso, a modelo alemã foi considerada a nova Brigitte Bardot por especialistas em moda.
Moda
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Fotos: divulgação
ffer, que foi escolhida por Karl Lagerfeld para a campanha da Chanel, e Naomi Campbell, fotografada por Steven Meisel para um editorial na Vogue Rússia a renda no mês passado. , ólares é
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de d
tana
beli Fon
de Isa Nova Safra oa segund Nomes como Carol TrenForbes tini, Aline Weber, a joseense Gracie Carvalho, Ana Claudia Michels, Isabeli Fontana e Barbara Berger formam a nova geração de modelos brasileiras que estão em alta pelo mundo – mas fora do olhar do grande público. Lá fora, Agyness Deyn, Daria Werbowy e Lara Stone (que atualmente lideram o ranking do Models.com) são alguns dos novos rostos. Para a diretora de criação da Ellus, Adriana Bozon, apesar de supermodelos como Kate Moss e Gisele Bündchen estarem longe de se aposentarem, muitas marcas apostam na busca dessas novas meninas. Agyness Deyn, por exemplo, foi o rosto das campanhas de verão e inverno 2009 da marca e desfilou durante a edição de inverno 2009 do São Paulo Fashion Week. Na edição passada –de inverno 2010– foi a vez da holandesa Lara Stone passar por terras brasileiras em nome da Ellus. “Acreditamos na busca de modelos que estejam fazendo algo diferente, que tenham personalidade e estejam no momento certo. Por exemplo, Agyness Deyn, que foi rosto de duas de nossas campanhas e estava no auge de sua carreira, emprestou muito da sua atitude boyish à nossa coleção”, confirma a estilista. Até o momento, portanto, Gisele permanece unânime na mente do público –seja ele fashionista ou não. Mas ainda não é possível afirmar que ela é a última das supermodelos, como esclarece Paulo Borges, responsável pelo São Paulo Fashion Week e Fashion Rio. “Aliás, acho difícil. O mundo sempre vai criar um novo ícone, faz parte da natureza humana. A questão também é que não se inventa alma, se nasce com ela. E isto é um diferencial que determina até onde cada um pode chegar. Só isto explica a trajetória da Gisele”, acredita. Carreira Mas o caminho para chegar ao posto de top das tops não foi fácil, nem previsível –pelo menos para ela. Em 1994, Gisele Caroline Bündchen participou do concurso Look of the Year, da agência Elite, no qual conquistou o segundo lugar na etapa brasileira e o quarto na fase internacional. Na época, a menina de Horizontina (RS) tinha 14 anos e fez editoriais de moda no Japão. No ano seguinte, Gisele concluiu a oitava série e embarcou de vez para São Paulo, onde fez alguns desfiles, como no Phytoervas Fashion. Depois disso, ela começou a emplacar capas de revistas, mas entrevistas antigas revelam que a modelo levou muitos ‘não’ por
ANGELS As modelos da Victoria’s Secrets Isabeli Fontana, Izabel Goulart (no alto) e Alessandra Ambrósio (ao lado)
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Gisele Bündchen segue unânime na lista das tops mais bem pagas do mundo, mas não é possível afirmar se é a última supermodelo
conta de seu nariz. Até que em 1996 foi o momento da top estourar em Nova York e chegou lá sem nem sequer falar o idioma. Depois de um tempo, Gisele conheceu o estilista inglês Alexander McQueen –que morreu neste ano–, quando ele era responsável pelas criações da Givenchy. A top brasileira também teve como padrinhos a dupla Dolce e Gabbana. A partir de então, a menina de Horizontina se firmou no circuito Londres-Paris-Milão e passou a estampar as principais revistas internacionais. “Gisele foi uma das preferidas da Vogue América, uma das revistas de moda mais importantes do mundo, por conta do idioma mais acessível do que da Vogue Paris”, lembra Marco Sabino. Seu visual saudável e natural foram extremamente importantes num momento em que o aspecto anoréxico das modelos estava sendo banidos dos editoriais de moda –e abriu caminho para muitas brasileiras no mesmo estilo. No final de 1999, Gisele recebeu o prêmio de melhor modelo do ano no Vogue Fashion Awards. No ano seguinte, a top se tornou ainda mais midiática, quando começou a ser vista na presença do ator Leonardo DiCaprio. Meses depois, Gisele foi eleita a mulher mais bonita do mundo pela revista “Rolling Stone” –até então apenas as modelos Claudia Schiffer, Cindy Crawford e Laetitia Casta estrelaram a capa da revista. Foi aí que o título de über model, que em alemão significa acima, chegou para ficar na carreira da brasileira. No início de 2001, aos 20 anos de idade, Gisele avisou que iria diminuir o ritmo. “Agora, só trabalho para pessoas que gostam de mim, escolho o que quero fazer”, disse na época em que desfilou para os “padrinhos” Domenico Dolce e Stefano Gabbana. Ela também tinha contrato com a Victoria’s Secret –posto que foi substituído mais tarde pela também brasileira Alessandra Ambrósio– e já posava com exclusividade para a C&A. Atualmente, a top das tops desfila com exclusividade para a grife brasileira Colcci, para a qual chega ao Brasil nos próximos dias para o desfile de verão 2011 da marca no SPFW (São Paulo Fashion Week), que acontece no dia 13 de junho. •
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ValeViver ERUDITO
Acordes ampliados no festival
Com o tema ‘A música e seus diálogos’, o 41º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão dobra o número de atrações e aposta mais no caráter didático Adriano Pereira São José dos Campos
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aior evento de música erudita da América Latina, o 41º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão experimenta uma edição de profundas transformações em 2010. Além de não contar com o maestro Roberto Minczuk à frente da direção artística depois de seis anos de um bom trabalho prestado ao evento, o número de concertos neste ano praticamente dobrou, as apresentações não se restringem à Campos do Jordão e o caráter didático, que no ano passado já se mostrava forte, ganha um peso maior na programação.
A edição, que acontece entre os dias 3 de julho e 1º de agosto, passa a ter o tema “A música e seus diálogos”, ou seja, o perfil conceitual do mais tradicional festival latino-americano dedicado à música clássica também se altera. Com este tema, a ideia da Santa Marcelina Cultura, gestora do evento, é ampliar o diálogo entre os períodos e estilos, mas ainda assim manter a música clássica e romântica com uma presença forte. Na programação artística, a intenção é retomar o modelo que Eleazar de Carvalho praticou desde 1973, isto é, concertos de apelo para o público e com grandes atrações. A iniciativa visa principalmente acolher as diferenças e apresentar para o público e para os bolsistas do festival uma nova convivência com o barroco, com a música de câmara – que ganha muito espaço nesta edição– e com
RESIDENTE A Osesp torna-se a orquestra residente do festival e executa nove concertos na programação
41º Festival Internacional de inverno de Campos do Jordão QUANDO De 3 de julho a 1º de agosto ONDE Em Campos do Jordão no Auditório Claudio Santoro, Palácio Boa Vista (capela), Praça Capivari e igrejas São Benedito, Santa Terezinha e Nossa Senhora da Saúde. Em São Paulo, na Sala São Paulo e no Sesc Vila Mariana
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a composição do século 20. “O maestro Eleazar tinha duas grandes características. A primeira era uma excelência técnica enorme e a segunda ter a capacidade de se voltar para novas descobertas. Isso acompanha a nossa proposta que é de uma música sem fronteiras”, diz Silvio Ferraz, diretor artístico e pedagógico do festival. Além dos tradicionais locais de apresentações –Auditório Claudio Santoro, Palácio Boa Vista (capela), na Praça Capivari e igrejas São Benedito, Santa Terezinha e Nossa Senhora da Saúde– a Sala São Paulo e o Sesc Vila Mariana, na capital, receberão 11 dos 83 concertos agendados. Em 2009, foram 45 no total. Este aumento foi proporcionado por uma semana a mais de programação e por uma parceria mais estreita entre a organização do festival e a Prefeitura de Campos do Jordão.
“Muita gente se ressentia pela cidade não ficar com nada do festival, nenhuma herança. Já no ano passado demos cursos para 150 crianças e para professores da rede pública de Campos. Neste ano essa parceria se amplia. Com isso, as igrejas que recebiam poucos concertos de câmara passam a receber apresentações todos os dias, houve uma abertura desses espaços que não ocorria. Além disso, a Osesp também aumenta sua participação no evento”, explica Ferraz. A intenção da Santa Marcelina é chegar ao ponto do festival deixar de ser sazonal e passar a preencher o ano com atividades artísticas e pedagógicas. Seria algo espelhado no Festival de Tanglewood, em Boston, nos Estados Unidos. Lá, o festival de verão se estende durante o ano com outras atividades, principalmente didáticas. “Precisa-
mos corrigir um erro histórico. O festival nunca teve um bolsista de Campos do Jordão. A iniciativa ainda é tímida, mas é um espaço criado que deve ser ampliado”, diz Paulo Zuben, diretor executivo do evento. Nesse sentido, a Santa Marcelina visa a formação de público e de uma rede multiplicadora de ensino. Para isso, um novo alojamento para bolsistas começará a ser construído em agosto deste ano e deve servir como base para o projeto. Destaques Tradicionalmente, o concerto que abre o festival é realizado pela Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) regida por um maestro e um solista convidados. Neste ano, quem faz as honras é o maestro uruguaio Carlos Kalmar em companhia do
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dos R$ 6,5 milhões do orçamento, 60% serão aplicados na parte pedagógica e o resto na Programação dos concertos
flautista Emmanuel Pahud. Aliás, para esta edição, a Osesp ganha o título de “Orquestra Residente do Festival” e se apresenta nove vezes durante a programação. Além de ter Kalmar e o titular Yan Pascal Tortelier, maestros como Frank Shipway e Alex Klein também regerão a sinfônica. Durante o festival, além da Osesp, outras 12 orquestras brasileiras se apresentarão: a OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira) sob a batuta de Roberto Minczuk, a Filarmônica de Minas Gerais regida por Fábio Mechetti, a Jazz Sinfônica, a Orquestra Municipal de São Paulo, a OSUSP (Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo) e a Banda Sinfônica do Estado. Dois concertos rendem homenagem aos 150 anos de nascimento do compositor austríaco Gustav Mahler: a Orquestra Experimental de Repertório, com Jamil Maluf à frente, traz as “Canções da Trompa Mágica do Menino”, e a OSB executa a majestosa “3ª Sinfonia”. Entretanto, em meio a tantas novidades, a programação repete alguns músicos que se apresentaram no ano passado, fato que não costumava ocorrer quando a direção artística ficava a cargo de Minczuk. Longe de questionar a qualidade desses artistas, até porque seria impossível duvidar do talento de nomes como Nelson Freire, Antonio Meneses e Fábio Zanon, mas o frescor da novidade e a surpresa faziam parte da divulgação da programação do festival. “O festival tem essa característica que congrega os grandes nomes, por isso a repetição. Veja só quantos anos o Pelé jogou na seleção”, brinca Ferraz. Mesmo assim, brilharão estrelas como a pianista Maria João Pires, a Akademie für Alte Musik de Berlim, o grupo francês Les Musiciens de Saint-Julien e o trio La Gaia Scienza, liderado por Paolo Beschi, todos muito inventivos na prática da música antiga com instrumentos de época, o Quarteto de cordas Arditti, paradigma na música
DESCOLADO O violinista francês Gilles Apap que se apresenta nos palco mais consagrados do mundo vestindo jeans e camiseta de surfista
Destaques ABERTURA Dia 3 - Concerto da Osesp regida por Carlos Kalmar e solos do flautista Emanuel Pahud CRISTINA ORTIZ Dia 23 - A pianista faz o recital Scherzades, dedicado às quatro baladas e aos quatro scherzi de Chopin, intercalados NELSON FREIRE Dia 10 - O pianista faz recital dedicado a Schumann e toca ainda o monumental Concerto n.º 2 de Brahms com a Filarmônica de Minas Gerais, regida pelo maestro Fábio Mechetti. A lista de solistas convidados inclui ainda o violinista francês Gilles Apap MAHLER Regida por Roberto Minczuk, a Orquestra Sinfônica Brasileira interpreta a Terceira Sinfonia
BEBIDAS Drinks seguem os mesmos preços na maioria das casas
contemporânea, que conta com o brasileiro Ralf Ehlers na viola. Todos eles, além do Quarteto Cidade de São Paulo, atuarão como grupos residentes do festival, darão aulas e se apresentarão em concertos. Um dos músicos mais esperados é o violinista francês Gilles Apap. Ele destoa dos padrões eruditos no visual, no comportamento e nas leituras inusitadas que faz do repertório clássico, e já é considerado um dos maiores violinistas do século 21. Vencedor do prêmio de música contemporânea Yehudi Menuhin, Apap apresenta-se nos mais consagrados teatros do mundo vestindo calça jeans e camiseta de surfista. Como solista, evita a posição do spalla –prefere entrar no palco pela coxia e passear entre os músicos da orquestra. O repertório acompanha o estilo alternativo do artista –trafega por Bach, Mozart, Vivaldi, country, folk, blues e música cigana. Atualmente, é um dos solistas de grande demanda por orquestras como as de Leipzig, Filarmônica de Israel, Filarmônica de Boston e Sinfônica de São Francisco. Integração A edição de 2009 marcou a entrada da organização social Santa Marcelina Cultura
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MINCZUK O maestro da Orquestra Sinfônica Brasileira vive sua primeira edição sem figurar como diretor executivo do Festival de Inverno de Campos
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na gestão do festival. Já no ano passado, a nova gestora mudou o foco pedagógico do evento tornando as aulas mais práticas para os bolsistas integrando os alunos aos professores. Para se ter uma ideia do foco dedicado ao assunto, do orçamento deste ano, que subiu de R$5,3 milhões para R$6,5 milhões, 60% vai para a parte pedagógica e o restante para os concertos. Neste ano, essa programação pedagógica está integrada com a artística. Os professores que vêm a Campos do Jordão na qualidade de residentes, alguns dos quais estão entre os melhores músicos do mundo, também se apresentam em concertos de câmara. O mesmo acontece com os bolsistas, que formam grupos de câmara para tocar nas igrejas de Campos e, no encerramento oficial do evento, se apresentam na celebrada Orquestra do Festival, na Sala São Paulo, em 1º de agosto, sob a regência dos maestros Yan Pascal Tortelier e Cláudio Cruz (ambos da Osesp). Além disso, praticamente todos os destaques da agenda de concertos ministram master classes, oficinas e palestras para os 170 bolsistas e para o público interessado, que tem a possibilidade de presenciar um lado pouco conhecido desses artistas. O maestro Roberto Minczuk gostava de dizer que o programa para bolsistas no festival podia ser comparado a um ano de aulas em qualquer grande escola de música do mundo. Por isso as vagas são tão disputadas. Neste ano, foram 940 inscritos. Segundo Renato Bandel, coordenador artístico-pedagógico do festival, a seleção atual é de um nível artístico altíssimo, consequência direta do que parece ser uma mescla de candidatos das quatro últimas edições. “O corpo docente é que atrai os alunos e nesta edição teremos professores do nível do primeiro contrabaixo da Orquestra de Viena ou de professores do Conservatório de Paris e da Escola Superior de Música de Colônia”, avalia Bandel. Convivendo com esses músicos experimentados, haverá talentos precoces como o goiano Natanael Ferreira dos Santos, um prodígio na viola, que, aos 15 anos de idade, foi selecionado para participar das atividades entre os bolsistas do festival. Uma perda para este ano foi o curso de regência. Segundo Silvio Ferraz, o curso seria fruto de uma parceria com a Osesp que não teve tempo hábil para ser elaborada. Entretanto, a Tom Jobim –Escola de Música do Estado de São Paulo– receberá a parceria no segundo semestre. •
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FILME
Eles estão
‘vivos’ outra vez
Estreia de Toy Story 3 marca os 15 anos da primeira animação digital da história do cinema; nova versão está em 3D
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Fotos: Divulgação
Franthiesco Ballerini São Paulo
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á exatos 15 anos, um filme deu início a uma nova era na produção cinematográfica mundial. Para os céticos, “Toy Story” era um desenho infantil cheio de brinquedos para divertir as crianças nas férias de verão. Para os visionários da Pixar, o que havia de menos importante nele era o fato de ser um
filme infantil. Oficialmente, “Toy Story” se tornou o primeiro longa metragem feito completamente por computação gráfica. Na prática, seu feito foi muito maior, eliminou de uma vez por todas o estigma de que animações –sejam elas digitais ou não– são produtos para crianças. Equilibrando um visual lúdico para os pequenos com piadas refinadas e referências a histórias que só os adultos conhecem, “Toy Story” iniciou uma saga de animações digitais que hoje formam filas de pais e filhos –e com a vantagem de que os filhos ainda saem do cinema querendo adqui-
rir os bonecos, o CD, os jogos, quando não assistirem outras vezes no cinema. Ponto para Hollywood. O que era tachado como desenho, ganhou o respeitável nome de animação digital, angariando assim os maiores astros do cinema para dublarem seus personagens. Ao longos dos anos, outro feito se tornou habitual das animações. Assim como os filmes com atores e locações reais, elas também começaram a se transformar em franquias, muitas vezes mais rentáveis do que os próprios filmes com gente de carne e osso. Isso porque, poucos sabem, mas cinema, em geral,
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é um negócio que dá bastante prejuízo para os estúdios, ainda mais quando há astros com salários astronômicos. O que mantém a enxurrada de dólares para dentro de Hollywood são os produtos agregados aos filmes, como jogos, bonecos e trilha sonora. Claro que os estúdios nunca admitem isso porque o cinema precisa manter sua aura, seu brilho. E foi assim que a Pixar –que de tanto sucesso fundiu-se com os estúdios Walt Disney– construiu a franquia de “Toy Story”, cujo terceiro filme estréia neste mês no mundo todo. A responsabilidade do diretor Lee Unkrich (“Procurando Nemo”) não foi pouca. Afinal, o primeiro filme se tornou um divisor de águas e o segundo quadruplicou nas salas de cinema do mundo seu custo de US$ 90 milhões. Mas “Toy Story 3” não desaponta. A animação introduz muitos novos personagens, convivendo com os personagens já habituais, como Woody, Buzz Lightyear, Rex e o Sr. Cabeça de Batata. O novo brinquedinho da Barbie, Ken, rouba a cena quando aparece. Além disso, o filme faz uma jornada por lugares inesperados e o roteiro traz boas surpresas, especialmente nos últimos 20 minutos. Com um roteiro bom em mãos, o fato de vê-lo em 3D se torna apenas um adereço de luxo –bem vindo, mas não imprescindível para a diversão. A trama basicamente consiste no destino dos brinquedos quando Andy, o garoto, vai para a faculdade. Uma homenagem ao filme “Rebeldia Indomável” e dezenas de pequenos detalhes dão o charme do filme para os adultos. Curiosamente, tornam-se menos importante os donos da vozes dos personagens, embora eles sejam estrelas do primeiro escalão de Hollywood. Dublam os personagens astros como Tom Hanks, Michael Keaton, Joan Cusack, Tim Allen, Whoopi Goldberg, Timothy Dalton e Bonnie Hunt. Tecnologia Este é o 11º filme da Pixar e o primeiro “Toy Story” em 10 anos, depois da aquisição pela Disney, em 2004. Aliás, na época, a Disney havia feito a desastrosa declaração que lançaria um terceiro filme da saga direto em DVD. Ainda bem que Steve Jobs, acionista majoritário da Disney, voltou atrás da decisão pois, neste período, a Pixar se tornou o braço mais lucrativo da Disney, faturando cinco estatuetas do Oscar para animações como “Ratatouille”, “Wall-E” e “Up – Altas Aventuras”. Este último é a prova de que, nestes 15 anos,
OGRO A Dreamworks pretende lançar a quarta sequência da franquia “Shreck”
as animações digitais evoluíram, e muito. Enquanto nos primeiros filmes os rostos humanos eram terríveis e detalhes como a água e o pelo dos animais pareciam artificiais demais, agora, graças a mais de 15 horas para se fazer apenas um plano, cada detalhe é muito mais caprichado. Em “Up”, por exemplo, foi possível dar uma riqueza visual incrível a milhares de balões de hélio. Ao longo de 15 anos, outras evoluções aconteceram no mundo das animações computadorizadas. Uma delas foi a tecnologia da Performance Capture, ou Captura do Movimento, utilizada pela primeira vez em “O Expresso Polar”. Na época de conclusão do filme, em 2004, o repórter que aqui escreve participou da coletiva de lançamento da tecnologia, no Skywalker Ranch, rancho e núcleo de desenvolvimento tecnológico de George Lucas, em São Francisco (EUA). À ocasião, o diretor Robert Zemeckis citava a tecnologia como a que mudaria a
AVANÇOS DA ANIMAÇÃO 1993 Tim Burton lança “O Estranho Mundo de Jack”, feito em stop motion 1995 Surge “Toy Story”, totalmente feito em computação gráfica 2001 A Dreamworks lança “Shrek”, com piadas mais adultas em visual lúdico 2004 Robert Zemeckis inaugura a tecnologia Captura de Movimento em “O Expresso Polar” 2010 Disney aposta em remakes de clássicos feitos digitalmente, como “Alice no País das Maravilhas”
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Tecnologia Acima, a tecnologia de captura de movimento, em “O Expresso Polar”; ao lado, Tim Burton fez uso do stop motion no longa “O Estranho Mundo de Jack”
face do cinema digital, já que um só ator –o caso Tom Hanks– poderia interpretar diversos personagens, por meio do uso de centenas de pontos eletrônicos no rosto que capturam a atuação facial e, em seguida, transforma-o em qualquer personagem no computador. O fato é que, apesar de evoluído em filmes como “A Lenda de Beowulf” e “O Curioso Caso de Benjamin Button”, a tecnologia ainda é incapaz de transpor a riqueza da expressividade humana, não raro exibindo personagens que parecem “botocados”, ou seja, plásticos e inexpressivos. Depois de “Toy Story”, os avanços mais expressivos se deram no campo da linguagem. A franquia de “Shrek” foi capaz de reinventar os contos de fadas, ironizando os grandes clássicos da Disney e ainda trazendo referências de outros clássicos, como “Flashdance”. Numa mistura de avanço da técnica e linguagem, outro destaque foi para as animações feitas com as tradicionais massinhas de modelar, as cha-
madas animações em stop motion. “O Estranho Mundo de Jack” e “A Noiva Cadáver”, ambos idealizados por Tim Burton, são exemplos de produções que cativaram o público com a técnica. Recentemente, uma história em stop motion ainda mais cativante é do filme “Mary & Max: Uma Amizade Diferente”, sobre a ligação afetiva de uma garotinha de Melbourne com um senhor de Nova York. Para os próximos anos, a tendência é convergir ainda mais todas estas tecnologias para exibição em 3D e apostar no prolongamento de franquias –uma maneira menos arriscada de investir em cinema em tempos de crise– como “Carros 2”. A Dreamworks segue o mesmo rumo. Em breve lançará o quarto e (improvável) último filme de “Shrek”, além de continuações de sagas recentes, como “Kung Fu Panda”. Em outras palavras, os próximos anos serão de apostar no legado de “Toy Story”, até que a próxima tecnologia o leve para os anais da história do cinema. •
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ARTE
Chegou a vez da dança Até o dia 13 de junho, a Fundação Cultural celebra a arte de se expressar com o corpo em São José
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São José dos Campos
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RAÇA Com a coreografia ‘Tango Sob Dois Olhares’, o grupo Raça Cia de Dança se apresenta no último dia do Festidança
onsiderado um dos maiores festivais de dança do país, o Festidança, promovido pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo, chega à sua 21ª edição com duas boas novidades. Além da Mostra Nacional, que contará com nove grupos de outras regiões, a arte de se expressar por meio do corpo também estará em debate aberto com o público. A Mostra Nacional de Dança, que visa incentivar grupos em fase de profissionalização, acontece de 4 a 12 de junho, sempre às 19h, no CET (Centro de Estudos Teatrais), Cine Santana, Teatro Municipal e Teatro do Shopping Colinas. Após as apresentações, haverá debates com o público sobre questões relacionadas ao processo de criação com medição do bailarino e coreógrafo Mauro Rodriguez. O festival terá ainda as seguintes atrações: Mostra Competitiva, Mostra Joseense, Mostra Paralela, Batalha de Danças
Urbanas, Mostra de Solos, Duos e Trios; e cursos abertos e gratuitos (ballet clássico, dança de rua, composição coreográfica, sapateado, dança de salão, jazz, dança contemporânea e curso para professores de dança). A programação completa está disponível no site www.fccr.org.br. Quem abre o evento no dia 2 de junho, às 20h, no Teatro Municipal, é a recém-criada Cia Jovem de Dança de São José dos Campos, da FCCR, e da Cia Jovem de Ballet do Rio de Janeiro. Outro destaque acontece no dia 13 (domingo), quando o grupo Raça Cia de Dança de São Paulo apresenta o espetáculo de encerramento, “Tango sob dois olhares”. Acompanhando a política de descentralização da FCCR, a Mostra Paralela será realizada nos dias 5, 6 e 12 de junho e levará apresentações de dança para as praças Afonso Pena (Centro), Mário Cesare Porto (Jardim Satélite), Cônego Manzi (São Francisco Xavier) e Benedita Néri (Eugênio de Melo), além dos espaços culturais Eugênia da Silva (Novo Horizonte), Flávio Craveiro (Dom Pedro) e Tim Lopes (Bosque dos Eucaliptos). •
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Tempos ModernosArtigo
Alice Lobo
Receita para uma pele perfeita: coma alimentos orgânicos e durma bem
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oda mulher vive em busca de uma pele perfeita, desde quando está preocupada com as espinhas na adolescência até com as rugas e marcas que a idade nos traz. Para isto, cremes e fórmulas que prometem milagres são lançados diariamente e têm cativado cada vez mais o público masculino. Mas muita gente se esquece que tratamentos de beleza começam de dentro para fora do corpo e que a alimentação e hidratação têm forte poder para manter a juventude e a saúde. Foi atrás de alimentação balanceada e saudável, de massagens terapêuticas para o corpo e para a mente e atividades físicas que fui conhecer a Lapinha, um Spa naturista com 37 anos de fundação e que fica próximo de Curitiba. Por Spa leia-se uma clínica integrada onde vão diversos perfis de pessoas, desde as que estão estressadas e cansadas ou ainda aquelas que procuram emagrecer, até pacientes com problemas renais ou cardíacos. Já na chegada, cada um passa por uma avaliação médica que serve de base para definir o cardápio e o programa a ser seguido. O ponto em comum de todas as dietas e programas é a desintoxicação através da alimentação ovolacto-vegetariana somente com alimentos orgânicos, cultivados lá mesmo e sem a presença de cafeína. Cigarro também é proibido.
Pele Em três dias com alimentação orgânica já é possível notar a diferença na pele
juventude “Muita gente se esquece que tratamentos de beleza começam de dentro para fora do corpo” Outro ponto fundamental é a ordenoterapia ou terapia do biorritmo, que é a busca para acertar o compasso com o ritmo natural do organismo. Para alcançar este objetivo existe um rigoroso cronograma a ser seguido. Acorda-se cedo, janta-se cedo para melhor digestão e às 21h30 apagam-se as luzes e é hora de se retirar. Um bom sono é fundamental. Pode parecer um tanto exagerado, ainda mais para aqueles que só querem relaxar, mas já nos primei-
Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br
ros dias é impressionante como o corpo responde de forma positiva. E a pele, o que tem a ver com isso? Em apenas três dias já é possível notar como a alimentação 100% orgânica, livre de carnes e cafeína, consegue deixar a pele lisinha e com poros fechados, como as fotos de estrelas de Hollywood depois de um super tratamento de Photoshop. Que tal tentar em casa? É só procurar a quitanda orgânica mais perto ou pedir um delivery. •
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PaladarArtigo
Fabiola Molina, de São José dos Campos, é uma das melhores nadadoras do mundo, integrando a equipe da natação brasileira desde 1991.
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No turbilhão da internet, poucos perceberam que o número de leitores de revista em 2009 cresceu 3%, mesmo em um ano de crise. Mais uma prova de que um novo meio de comunicação não substitui o outro. Afinal, o cinema não substituiu o rádio. A TV não substituiu o cinema.
Na internet nós buscamos. Na revista, somos surpreendidos. A internet nos agarra. A revista envolve. Com a internet, vamos longe. Com a revista, vamos fundo. A internet é impulsiva. A revista é imersiva
Os meios de comunicação continuam a prosperar quando oferecem experiências únicas.
Fonte: revista Meio & Mensagem Especial Revistas. Publicada em 5 de abril de 2010
Os dois meios de comunicação estão crescendo.
A internet nos convida a navegar. A revista, a mergulhar fundo.
Por isso é muito mais interessante pensar que eles se completam. É por isso que as pessoas não desistiram de mergulhar, mesmo gostando de navegar.
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Navegar é preciso, mergulhar é precioso.
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ENTREVISTA
De volta ao confessionário
A ex-BBB Fernanda Cardoso enfrentou mais um ‘paredão’, só que desta vez foi na nossa casa São José dos Campos
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entista, 28 anos, solteira, linda e famosa. Novata na indústria de celebridades instantâneas, a jovem nascida em Macatuba, no interior de São Paulo, registrada como Fernanda Helena Cardoso, em São Carlos, e joseense de coração, desfruta de sua fama com naturalidade. Espontânea e com sorriso fácil, a vicecampeã da décima edição do Big Brother Brasil teve que enfrentar um novo “paredão” mesmo fora da “casa mais vigiada do país”. Na sede da revista valeparaibano, Fernanda foi entrevistada por toda nossa equipe de reportagem. Na sabatina, a dentista mostrou que, mesmo um mês depois de encarar as pressões do reality show, continua
PERFIL NOME: Fernanda Cardoso IDADE: 28 anos NATURALIDADE: Macatuba, interior de São Paulo FORMAÇÃO: Odontologia, pela Unesp de São José dos Campos
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pronta para novos momentos de invasão de privacidade. Acompanhada da mãe, Marta Artioli, e de uma equipe que promovia o lançamento de seu primeiro ensaio sensual para uma revista masculina, a ex-BBB fez algumas confissões, reafirmou outras e revelou que está preparada para uma possível volta ao consultório odontológico. Você já se encontrou com seu ex-namorado depois de sair do programa? A gente já se encontrou, mas nada de resolver o que vai ser daqui para frente. Realmente conturbei a vida dele, a única coisa que ele não queria era ser exposto e o coloquei para todo o Brasil ver. Eu não sabia que aquele telefonema iria aparecer no ar, ao vivo, nunca imaginaria isso. E ele nunca iria imaginar que eu fosse fazer isso. Daí surgiu muitas críticas, gente que gostava de mim e que passou a não gostar muito dele. O término do namoro foi por causa dessa ligação? Não estou com ele porque iria tumultuar mais ainda a vida dele. Todo mundo ia ligar para ele para fazer perguntas. Conversamos mas não entramos em nenhum assunto de namoro. Vamos deixar para conversar sobre isso mais tarde. E como você está se sentindo? Estou muito bem. Livre, fazendo tudo que preciso fazer. E as baladas? Já voltou a frequentar? Continua em “caps lock”? Está difícil. Fui ao show da Cláudia Leitte e nem consegui ver o show. Acho que não vou conseguir curtir tão cedo uma balada. E o “caps lock” é a Fernanda, entendeu? Lá no Big Brother não tem como você não ser o que é mesmo. Lógico que estava um pouco mais presa por respeitar alguém aqui fora, mas não tinha como ser outra pessoa. Você acha que conseguiu passar para o espec-
”Depois de 3 meses não tem como não ser quem você é. Não dá para fingir que você é outra pessoa estando 24 horas monitorada”
tador quem você é mesmo? Depois de três meses não tem como não ser quem você é. Não dá para fingir que você é outra pessoa estando 24h monitorada. Só se você for muito bom ator. Mas têm vários bons “atores” que passaram pelo Big Brother Brasil. Nesta edição, qual foi o melhor ator, em sua opinião? Acho que a pessoa mais contida era o Dourado [vencedor do reality]. Ele soube jogar melhor. Muitas vezes falávamos: “Dourado, você é chato”. Ele: “não diga isso, retifique o que você falou”. Ele tinha muita noção do que falar e do que não falar. Se você supostamente voltasse para uma próxima edição saberia usar melhor essa estratégia? Lógico. Agora saberia exatamente que pecar lá dentro é cair em contradição. Tudo que você diz lá dentro é registrado aqui fora pelo público. Você ficou triste por não ter conseguido converter o Serginho? (Risos). Meus amigos brincavam que o pai dele iria me dar R$1,5 milhão se eu convertesse o menino. Mas não tem como converter o Serginho. Lá a gente fica tão maluca que você vê o Serginho assumidamente gay e criando dúvidas sobre si mesmo dentro da casa. Ele era a pessoa que podia me dar carinho no BBB. E livrava você aqui fora com seu namorado, né?
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Foi exatamente isso que pensei. Era uma pessoa que eu podia ter liberdade sem me comprometer. Era gostosinho também, mas... o Serginho não tem jeito (risos). A Anamara disse que a pior coisa do confinamento foi ter ficado sem sexo durante três meses. Dá para aguentar numa boa? Claro, mulher aguenta. Antes só do que mal acompanhada. Eu namorei muito, então confesso que nunca fiquei muito tempo sem. Você se considera sexy e poderosa? Ah... quando eu chegava nos lugares as pessoas falavam: “olha que bonita”. Mas poderosa não (risos). Não me acho sexy, me acho normal. Você desenvolveu alguma amizade verdadeira com os participantes da casa? Amizade mesmo não. Costumo dizer que tenho amizades contadas nos dedos, cinco amigas que vou levar para o resto da vida. Tenho carinho especial por algumas pessoas de lá, toda vez que encontro é legal, todo mundo desejando o bem. Tenho carinho enorme pelo Serginho, pelo Dicésar, o Cadu é legal e a Cacau e o Eliéser são muito fofos comigo. Às vezes, gente que você teve algum atrito lá dentro, quando sai muda. A Lena [Elenita] veio falar comigo, por exemplo, que tinha se arrependido do que fez. Mas a Lia eu nunca mais cumprimentei depois que saí da casa. Tem gente que era de um jeito lá dentro e que aqui fora é bem diferente? Lá dentro era muita pressão e as pessoas têm reações diferentes. Lá fica todo o mundo louco. Acho que todo o mundo mudou. A Tessália não gostava de mim lá na casa e aqui fora é um amor comigo. Mesmo depois de assistir ao programa e ver as pessoas falando mal de você enquanto estavam lá? Entendo perfeitamente isso. Lá qualquer coisa é motivo. Por exemplo, se você não tem em quem votar fica pensando em alguma razão para justificar um voto. Qualquer “pisada de bola” vira justificativa. Muitos participantes costumam dizer que a edição de imagens ajuda ou atrapalha alguns candidatos. Você sentiu que isso acontece? Olha, o que senti de edição foi muito por
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ValeViver Fotos: Eugênio Vieira
conta da carta que recebi [Fernanda recebeu uma carta das amigas dizendo que ela estava solteira a partir daquele momento]. Quem via o pay-per-view dizia: “poxa, você não mudou tanto”. Antes da carta já curtia horrores lá na casa, dançava funk até o chão. Só que eles enfatizaram isso, a Fernanda “santa” tentando agradar e não fazer burrada antes da carta e depois enfatizaram a curtição. Você voltaria para o Big Brother? Não, é muito difícil. Pressão o tempo todo, o modo de acordar é muito ruim, longe de quem você gosta durante três meses, pensando o tempo todo em não fazer nada de errado. A estratégia de indicar o Dicésar para o paredão foi pensada? Pensei muito. Fui dormir pensando nisso e quando acordei já falei sobre isso [que iria votar no Dicésar]. O combinado era um indicar o outro para o “paredão”. Falei isso para tirar o gostinho deles de votar nos nossos nomes. Ficamos o dia inteiro falando sobre isso. Mas naquele momento já estávamos nos nossos limites. Se ficássemos ou saíssemos estava tudo bem. Mas teve um momento que você pensou em desistir? É, fiquei revoltada naqueles dias. Eu me perguntava: “que programa o público está assistindo?” Eu estava vendo outro Big Brother. A Maroca [Anamara] era super divertida, animada e foi para o “paredão” com a Lia, que estava sempre mal humorada, e não ganhou. E agora? Vou aproveitar esse momento para trabalhar com eventos e coisas desse tipo e depois fazer uma especialização na minha área. Se surgir alguma coisa no caminho, quem sabe? Gosto muito de esportes, talvez algo relacionado ao tema seria interessante. Para finalizar, você tem 30 segundos para se defender. (Risos) Vocês já me fizeram falar tudo! Bom, vou me defender como se fosse para votar em mim (risos). Votem para que eu possa trabalhar bastante, fazer alguma coisa relacionada ao esporte e eu prometo me dedicar muito (risos). Estou adorando todo o carinho e é isso aí! •
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LEILÃO
Vestido rosa indefectível São José dos Campos
O
vestido de cetim rosa que Marilyn Monroe usou no filme “Os Homens Preferem as Loiras”, de 1953, será leiloado neste mês pelo valor estimado entre US$ 150 a 250 mil (de R$ 269 a 448 mil). As informações estão no site da Profiles in History, casa de leilões responsável pela oferta, localizada na Califórnia, EUA. O vestido “tomara-que-caia”, que acompanha longas luvas da mesma cor, foi usado pela
atriz na cena em que sua personagem, Lorelei Lee, canta a música “Diamonds Are a Girl’s Best Friend”, uma das sequências de música e dança mais memoráveis da história do cinema. A Profiles in History vai leiloar o vestido entre os dias 10 e 12, quando também serão colocados à venda outros 1.500 objetos. O vestido é o artigo mais importante –e valioso. Entre os itens mais valiosos estão o chapéu que a bruxa má do Oeste usou no filme “O Mágico de Oz”, estimado entre US$ 100 a US$ 150 mil, e uma guitarra do Elvis Presley (além de roupas e jóias do músico), entre US$ 60 e US$ 80 mil. •
CINEMA
A eterna Marilyn vestida com US$ 250 mil
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ValeViver
RELACIONAMENTOS
Em busca do p@r perfeito
Sem tempo e mais exigentes, homens e mulheres encontram na internet uma forma de escolher pretendentes para um namoro
Fotos: Raquel Cunha
Elaine Santos São José dos Campos
U
ma noite fria, com a neve batendo no vidro da janela em pleno inverno de Boston, nos EUA. Longe de casa há quatro anos, Rodrigo de Barros Augusto, 28 anos, pensava em como arrumar uma namorada. Trabalhando sem parar, sua única companhia era a tela do computador. E ele resolve arriscar. Depois de algum tempo navegando pela internet, Rodrigo se encanta pelo sorriso da também carioca Alessandra Bauer, 32 anos, com quem passa a manter um relacionamento a distância com direito a muitas mensagens pelo MSN e várias espiadas na webcam –ele em Boston e ela no Brasil. Após três meses de conversas pela web, Rodrigo decide voltar para o Brasil e firmar a relação com Alessandra. Neste mês, quando se comemora o Dia dos Namorados, o casal completa sete meses de uma relação que começou com um simples clique numa sala de bate-papo. Contando assim até parece um conto de folhetim romântico. Mas é a vida real, de Rodrigo e Alessandra, que hoje podem ser vistos juntos caminhando pela praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. “No começo tive um certo preconceito de estar procurando alguém pela internet, mas fui desenganado por um amigo que já tinha
Domingo 6 Junho de 201o
conhecido uma pessoa e deu certo”, disse Rodrigo, justificando que não é uma pessoa tímida, não se acha feio e muito menos teve problemas para encontrar uma namorada. O carioca afirmou que só se permitiu experimentar uma situação diferente por estar sozinho em outro país. “Mesmo com endereços próximos no Rio de Janeiro eu nunca iria conhecer a Alessandra não fosse a internet. Ela mora em Jacarepaguá, eu na Barra da Tijuca, mas ela frequenta lugares que eu nunca fui.” Sem surpresas –os dois já tinham se visto várias vezes pela webcam–, o primeiro encontro foi na orla da praia da Barra. Semanas depois as famílias já se conheceram como se o relacionamento dos dois já existisse há anos. “O engraçado é que ele não tem nada a ver com o perfil que eu procurava na internet”, confessa Alessandra. No site de relacionamento, ela queria conhecer homens de 30 a 35 anos e com filhos. Rodrigo não só é mais novo, como nunca teve filhos. “A gente está vivendo muito bem, passamos todos os finais de semanas juntos. Ela conhece minha família eu a dela, já conheci o Gabriel, filho dela de dois anos, e nos demos muito bem. Se vai dar em casamento eu não sei, só sei que por enquanto estamos felizes”, disse Rodrigo. Solteiros Pesquisa feita pelo site de relacionamento Parperfeito, da empresa Match Latam, que atua na America Latina, Europa e Estados Unidos, aponta que no Brasil existem 9,4 milhões de homens solteiros e 9,1 milhões de mulheres sem namorados. Ao todo, quatro milhões dos solteiros e solteiras têm entre 25 e 35 anos de idade e nível superior de ensino. “Atualmente, 18,5 milhões de pessoas estão ligadas ao Parperfeito no Brasil. Desse total, mais que 90% procuram por relacionamentos. As pessoas estão descobrindo que é possível encontrar alguém pela internet. Mas o namoro continua sendo ao vivo”, disse Cláudio Gandelman, presidente do Meetic e da Parperfeito na América Latina. Além de lucrativo, o mercado de namoro virtual rende muitas histórias bem-sucedidas. Uma pesquisa feita na França aponta que 1 em cada 5 casamentos no país se concretiza após um relacionamento iniciado na internet. No Brasil, o Parperfeito recebe 300 mil novos cadastros por mês e conta com mais de mil histórias de relacionamentos firmados, entre namoros e casamentos. São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília e Rio Grande do Sul são os campeões de acesso. “O tempo limitado, principalmente
pelo trabalho, é o maior motivo de procura pela internet, que vira um grande facilitador para novos relacionamentos”, disse Gandelman, que, apenas no ano passado, registrou 4 milhões de novos usuários no Brasil. O publicitário Fernando Tecchio, 29 anos, e a psicóloga Adriana Manzano, 28 anos, ambos da grande São Paulo, são outro exemplo de relacionamento que teve início nas páginas da internet. No começo, os dois, como a maioria das pessoas, entraram no site de relacionamento por indicação, sem acreditar que dali sairia alguma boa historia para contar. “Entrei para ver qual era e nessa acabei conhecendo a Adriana”, disse Fernando, relembrando o início do namoro de um ano e dois meses. “Foi tudo tão rápido que nem me dei conta. Entrei no site por indicação de uma amiga. Conheci o Fernando no primeiro dia e já trocamos MSN. Depois de uma semana marcamos o primeiro encontro”, contou Adriana. O relacionamento deu tão certo que eles já falam em casamento para o próximo ano. A Procura “30 anos, 1,85 metro, 104 quilos, pouco acima do peso. Tenho olhos verdes, pele branca e cabelos lisos e castanhos escuros.” É assim que Cláudio*, de São José dos Campos, se apresenta no site de relacionamento Par Perfeito. No seu perfil, para conquistar a namorada virtual ele dá um tom descontraído: “sou um cara bonito, apesar de gordinho. Não costumo decepcionar, mas também nunca me encontrei com ninguém da internet, o que seria uma surpresa para todos.” Mas na hora de dizer
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como ele imagina a mulher ideal é mais direto: “procuro uma pessoa especial, de 24 a 33 anos, para curtir grandes momentos. Beleza não é uma característica que eu despreze”. Na vida real, Cláudio preferiu ficar no anonimato do site, mas explicou que tem dificuldade em se relacionar. “Sou um pouco tímido e não sei abordar a pessoa. Pela internet me sinto mais à vontade. O fato de você não estar frente a frente, olho a olho, facilita as coisas. Sem contar que o leque de opções na internet é bem maior que se você sair para conhecer alguém com amigos em bares”, disse. Já o professor de educação física Reginaldo Reis Júnior, 29 anos, leva mais a sério o fato de querer conhecer alguém e se apresenta no site sem rodeios. “Me considero bem resolvido profissionalmente e busco encontrar a pessoa para viver ao meu lado com cumplicidade. Beleza física é importante, mas não valorizo
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PERFIL Quem procura namoro na internet
49% mulheres
51% homens
Escolaridade
38% em demasia. Busco uma companheira alegre, de bem com a vida e que deseja ter família.” Pessoalmente, Reis Júnior é um pouco mais tímido e conta que procurou a internet porque acaba de se mudar para São José dos Campos e viu na rede mundial de computadores uma forma de fazer novas amizades e, quem sabe, um novo relacionamento. “Moro há um ano em São José e não conheço quase ninguém, por isso procurei a internet. Sou tímido, não tenho facilidade de ir me apresentando às pessoas.” Do lado feminino a procura é mais tranquila. As mulheres não são tão exigentes e só querem conhecer pessoas para relacionamento sério. Envergonhadas, preferiram ficar no anonimato, mas foram claras em declarar que estão no site por que é uma forma de procurar pela pessoa ideal sem ter que frequentar tantas baladas e sofrer de uma eventual desilusão. Para a psicóloga Mariana Matos, doutorada pela PUC (Pontifícia Universidade Católica), as pessoas que procuram relacionamento pela internet têm um perfil muito variado, mas todas elas se sentem mais à vontade em se expressar pela rede do que pessoalmente na hora de iniciar uma paquera. “Com certeza a internet é um facilitador, a pessoa se sente mais livre para se apresentar, menos pressionada na hora da conquista, diferente de uma paquera ao vivo”, explicou Mariana. Para ela, os adeptos da rede, além de se soltarem mais, são mais diretos nas conversas
e querem conhecer características mais particulares antes de se encontrar pessoalmente. “O que me parece é que na internet as coisas aconteçam no oposto do namoro tradicional. A pessoa se apresenta mostrando suas particularidades, gostos, objetivos. É diferente de uma paquera iniciada pessoalmente, cujo foco inicial é a conquista pela aparência”, afirmou. Crime Assim como a internet acabou se tornando um facilitador para a busca de um novo namoro, também é um portal perfeito para criminosos, que fazem das mulheres uma presa fácil. Dados do Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado) de São Paulo apontam que o chamado crime eletrônico vem crescendo no país, porém, há grande dificuldade de combate por parte da polícia. O delegado responsável pela equipe da Unidade de Inteligência Policial do Deic, José Mariano de Araújo Filho, disse que, na maioria dos casos, as vítimas não registram Boletim de Ocorrência por preconceito e vergonha. Os crimes são, na maioria, qualificados como estelionato, crime contra a honra ou ameaça. “Normalmente o criminoso que procura esse tipo de site de relacionamento é do sexo masculino, com grande influência na fala. O criminoso demonstra que conhece de tudo um pouco e se expressa muito bem, mas sempre em busca de vantagens financeiras.” • * nome fictício
têm formação superior completa ou incompleta
33 %
fizeram curso técnico
14 %
têm ensino médio
8%
têm mestrado
6%
têm PHD
1%
não informa a escolaridade
Idade
41%
têm entre 25 e 35 anos
32%
têm mais de 35 anos
27%
têm menos de 24 anos
ValeViver
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Divulgação
Festa
Sesc celebra a região São José dos Campos
O
Sesc de São José dos Campos realiza a partir do dia 11 de junho o projeto “Ô de Casa”. O evento, que segue até próximo dia 27, reúne uma série de shows musicais, um encontro de artesãos do Vale, oficinas culinárias de quitutes caipiras tradicionais da região e de outras
do país, em uma ambientação que celebra o caráter festivo e religioso da cultura caipira. No dia 11, a programação contará com os shows do Quinteto Violado, de Pernambuco, e Davi Godói, de São José dos Campos. A apresentação dos violeiros Braz da Viola e Paulo Freire abre a semana final do projeto, que concentra grande parte das atrações, de 23 a 27 de junho. Integram o projeto o som regional do Rio Acima, de Paraibuna, e o show “Os Novos Caipiras”, de Moreno Overá, de São Luís do Paraitinga. A apresentação do grupo de dança Piracuara, que antecede o espetáculo musical Cantos do Nosso Chão, de Benjamim Taubkin com o Núcleo de Música do Grupo Abaçaí de Cultura e Arte, terá composições, adaptações e arranjos a partir do repertório tradicional e folclórico de várias regiões do Brasil. O violeiro joseense Fernando Claros se apresenta antes de Zeca Baleiro no sábado (dia 26), e no domingo (dia 27). Entre outras atividades, o projeto se encerra com um encontro de artesãos de São José e de várias outras cidades do Vale, de Jacareí a Cunha. •
A Prefeitura de Jacareí está trabalhando em ritmo acelerado na despoluição do córrego do Turi. Metade desta obra de saneamento – considerada a maior da história do município – já está concluída e, em breve, elevará de 20% para 70% o percentual de esgoto tratado na cidade. No total, 14,2 milhões de moradores do Vale do
ZECA BALEIRO
Músico se apresenta no próximo dia 26 pela programação do Sesc São José
Paraíba, Minas Gerais e da região metropolitana do Rio de Janeiro serão beneficiados com água mais limpa e saudável do rio Paraíba. Esta é mais uma importante obra do programa ambiental Viva Melhor, por mais desenvolvimento, empregos e qualidade para a vida de todos.
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Cultura&mais
Diva na concepção
PINGUE & PONGUE Fotos: Divulgação
Você acha que o termo grunge ficou generalizado e só tem significado para a indústria? Não sei nem o que isso significa (risos). A primeira vez que ouvi isso era uma palavra que significava algo ‘sujo’ e ‘pesado’, uma mistura de sons, algo que as pessoas comuns não queriam ser. As gravadoras é que transformaram num rótulo. Isso não faz sentido para mim.
SHOW
de Toda a doçura oux yr e P Madeleine está de volta ao Brasil
Adriano Pereira São José dos Campos
D
ivas existem aos montes. Aliás, recentemente o termo diz respeito muito mais à beleza da cantora do que à própria voz. Nesse aspecto, Madeleine Peyroux consegue um destaque bem acima da média. É das poucas que conseguem fazer apaixonar. Com show marcado para o dia 8, no teatro Bradesco, em São Paulo, a cantora volta ao Brasil com suas interpretações de blues antigo e música francesa, folk melancólico e jazz. Em sua última passagem no país, em 2008, Madeleine tinha três discos lançados, todos excelentes. “Careless Love”, lançado em
Mark Arm Vocalista do Mudhoney e ‘inventor’ do grunge
2004, é um dos discos de jazz mais perfeitos dos último dez anos. O quarto álbum da carreira, “Bare Bones”, foi apresentado em doses homeopáticas nos últimos shows no Brasil. O trabalho segue o mesmo caminho dos anteriores. A diferença é que o disco mostra o lado autoral da cantora em cada uma das 11 faixas. Madaleine nasceu em Athens, na Geórgia, mas viveu na França dos 13 aos 22 anos. Aos 15 já cantava em bandas de jazz e blues de Paris. No cenário musical, Madeleine é comparada a cantora Billie Holiday, obviamente pela sua maneira de cantar. Ao mesmo tempo, muitos gostam de citar –de forma injusta– Norah Jones ao falar de Madeleine. Ela não dá a mínima. “Não me incomoda, porque aceito que isso é uma parte grande da indústria musical. Eu me sinto fazendo parte de algo muito maior do que eu”, costuma dizer aos jornalistas incautos.
Mas vocês são considerados os prercussores do movimento . Mas não somos. Nem o Nirvana foi. ‘Nevermind’ é um disco ótimo, mas não tem nada de grunge. Isso serve como um atalho para o entendimento, só. Você imaginava que o Mudhoney duraria tanto tempo? De jeito nenhum (risos). Nosso objetivo quando começamos era lançar um single. Na época achávamos que duraríamos apenas três anos, como toda boa banda punk. Acho que a falta de pressão no nosso trabalho ajuda nessa longevidade. Não estamos desesperados por nada (risos). Nos respeitamos e gostamos de tocar uns com os outros.
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DVD
“Aconteceu em Woodstock” não traz nada de revelador sobre o festival de 1969, mas diverte na medida
2000
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SAMBA
LIVRO
Há exatos 10 anos, o Brasil perdia o compositor Moreira da Silva, conhecido por Kid Morangueira
TEATRO
CD’S & MAIS
Paulo César Pinheiro conta, com informalidade, a história de suas mais de 2000 composições
Em Breve
A pedras rolam sem parar
VALE DESTAQUE
O manual do ‘cafajeste’ moderno Quando André Aguiar Marques lançou o livro “Não Existe Mulher Difícil”, choveram críticas sobre o machismo da obra que ensina os homens serem mais atraentes para as mulheres nos tempos modernos. Trechos como “o casamento é uma espécie de antídoto natural do Viagra, tomado em doses diárias, em teoria, até que a morte acabe de vez com essa chatice”, geraram uma turba de mulheres ofendidas. Mas se encaradas com humor, as tiradas do livro não passam de inofensivas e engraçadíssimas situações comuns aos relacionamentos amorosos. Por isso, o ator Marcelo Serrado decidiu encenar a peça que estreia em circuito nacional no Shopping Colinas, dia 19, em São José dos Campos. Para os homens, o espetáculo é um manual de instruções para torná-los
mais interessantes. E para elas é um arquivo de informações secretas –que só saberiam se fossem homens, em uma conversa de bar. Com uma linguagem simples e divertida, o monólogo traz o perfil cômico e realista das relações amorosas da vida moderna –expectativas, as estratégias e tudo o que envolve um dos assuntos mais conversados no mundo: os relacionamentos. A adaptação para o teatro foi feita por Lúcio Mauro Filho –o Tuco de “A Grande Família”– e a direção é assinada Otávio Müller –entre seus trabalhos mais recentes estão novelas e seriados na Globo como “Tempos Modernos”, “Aline” (2009), “Paraíso Tropical” (2007), “JK” (2006) e “Celebridade” (2003). A temporada vai até o dia 11 de julho com espetáculos aos sábados, às 21h, e domingos, às 19h.
TOM PETTY ESTÁ DE VOLTA Sem gravar desde 2002, o guitarrista lança este mês “Mojo”, que marca a volta da banda Heartbreakers. PREÇO: R$ 35.-
Até o final deste ano devem ser lançados dois DVDs dos Rolling Stones. O primeiro deles chega às lojas neste mês. “Stones in Exile” traz o making-off do clássico disco “Exile on Main Street”, adicionado com materiais bônus, seguindo a reedição do disco. O segundo sai nos cinemas e depois chega em DVD. Cinema
O SONO CONTINUA Chega com o mesmo tom sonífero dos anteriores o quinto álbum do surfista cantor. PREÇO: R$ 35.-
MAIS UM POUCO DO MESMO Christina Aguilera chega com o quarto disco da carreira sem mudar nada. PREÇO: R$ 35.-
Mais um campeão de audiência
No final deste mês estreia o terceiro filme da saga “Crepúsculo”, baseada nos livros de Stephenie Meyer. “Eclipse” traz os mesmos elementos de sucesso de seus antecessores: vampiros bonzinhos e um romance adolescente. A boa bilheteria já é esperada.
Social
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Flashes&
Balada hollywoodiana
Um brinde à imaginação dos mais de 250 convidados da festa Red Carpet realizada no Pátio Eventos, em São José dos Campos. Elvis Presley, Marilyn Monroe, Chapeleiro Maluco, Mulher Gato, Zorro, Shrek, Batman e alguns Jack Sparrow, do Piratas no Caribe, participaram da noite, que contou com a presença de boa parte da sociedade joseense. Todos entraram no clima da festa, com direito a concurso de melhor fantasia, o que transformou a noite em um verdadeiro Blockbuster.
Felipe Ribeiro
Ana Paula Souza e Luane Rodrigues
Audrei Martinez de Oliveira
Caio e Regita Turci
Luiz Roberto Moura e Ronaldo Camargo
Michelini Teixeira e Evandro Oliveira
Ary Menegário
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Fotos: Eugênio Vieira
Wagner Fonseca
Natalia Cysneiros
Douglas Pradi
Maria Cristina e o secretário de Estado da Justiça, Luiz Antonio Marrey
Fernanda Cotrin e Luis Eduardo Cotrin
Cesar Massaioli
Eduardo Ishicawa
Cristine Pradi
Valter Cunha e Cristina
Flavio Alwin
Cristiane Sardinha e Gustavo Bondesan
Fotos: Bruno Fraiha
Social
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Cores do ritual hindu Um sacerdote seguindo os rituais hindu dá início à cerimônia de casamento da brasileira Daniella Morais com o indiano Sanjiv Kalvala. No primeiro momento, os noivos não se falam, não se vêem. Só depois de aceso o fogo nupcial, chamado de Saptapadi, o casal troca as alianças: duas correntes de flores que representam a fertilidade. Os convidados seguem a tradição na cerimônia, cuja as cores dão o valor exato do colorido da vida indiana.Todos saúdam a felicidade dos noivos jogando arroz e, com o dedo indicador, abençoam a união tingindo com pasta Cuncun vermelha a testa do casal.
Sanjiv e Daniella Kalvala
Ronaldo e Neela Kalvala Macedo
Luisa Kalvala
Cristiane de Souza Cândido
Rita Shukla
Fernanda Kalvala
Amália Laurean e Andréa Lemes
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Fotos: Eugênio Vieira
Bem casados e com estilo O casal de empresários Francine de Barros Camargo, 35 anos, e Carlos Rodrigo Agostini, 30 anos, de Taubaté, abusou da criatividade em festa de casamento de estilo inovador pouco visto na região. O ambiente mesclava das melhores baladas paulistanas, com pista de dança e vários telões, ao requinte romântico do decorador Milton Okamoto. Logo na entrada da recepção, fotos do álbum da família traziam um resumo da história dos sete anos de união do casal.
Francine de Barros Camrgo, Carlos Rodrigo de Moraes Agostini e o filho Caiky
David Camargo e Antonio Carlos Agostini
Luiza Barros e Matheus Torres
Elen Miguel, Willian Camargo e o filho Guilherme
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Marina e Jonas Agostini
Márcio Chagas e Maria Cristina
Karina Faria
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Social
Amantes do vinho Com uma adega recheada com mais de 1.800 rótulos nacionais e importados, os empresários Paolo Faroni, Alex Sandro Rodrigues e Almir Neves conquistaram de vez os joseenses que apreciam um bom vinho. Os sócios inauguraram recentemente a loja Belaggio Vini, com um coquetel para a sociedade, enólogos e empresários do setor, como Fábio Miolo, dono da vinícola Miolo, e César França, da importadora Decanter. Nos próximos meses, a Belaggio terá agenda com cursos e palestras sobre vinhos.
Andrea Rigueti e o filho Gustavo
Raul Vianna Filho e Paula Vianna
Paolo Faroni, Alex Sandro e Almir Neves
Silvana Kanto, Vera Catoto, Flavia Benyunes e Luciana Bravo
Lúcia Scussel e Marcel Rabelo
Hugo de Oliveira Piva
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Fotos: Eugênio Vieira
Cezar França
Fábio Miolo
Ema Ely Salamão Bonetti e Edoardo Bonetti
Luciana Salles e Pedro Salles
Neusa e Ramon Touron
Témi Corrêa
Adriana e Alexandre Harrisberger
Social
Fotos: Eugênio Vieira
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Uma noite para dançar O jantar dançante promovido pela Excimer Laser, no condomínio Esplanda do Sol, em São José, comemorou em grande estilo e pelo segundo ano consecutivo, o Dia do Oftalmologista. Para descontrair e dançar, a festa contou com a Banda Metalmaneira conduzida pelo músico Chiquinho Oliveira, do sexteto do Jô –um verdadeiro show instrumental que levou todos os 150 convidados para a pista de dança. O cardápio da noite foi assinado pela chefe Mônica Wermelinger. Chiquinho Oliveira
Sebastião Dominguez e Quintina Dominguez
Albano Santos Filho e Cleuza
Hélio e Luciana Banbini
Lauro Mascarenhas Pinto
Júnia e Carlos Bijos
Marcelo e Luciana Vianna
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Festa de arquitetos Arquitetos da região ganham um novo grupo de lojistas de decoração disposto em premiar a fidelização em suas lojas. Os empresários Karina Brandão, da Iluminare, Patrícia Couto, da Spazio Home, Denis Claus, da SCA, e Cláudio Silveira, da Requinte Decorações e Altero, lançaram o Polo Vale Decor com uma balada fechada para convidados no Pátio Eventos. A primeira premiação está marcada para o início de outubro e levará um dos dez arquitetos associados para uma semana com acompanhante em Dubai. Paulo e Patrícia Couto
Márcia Sales Cláudio Silveira e Elisângela Barreto
Andrea Murao
Vanessa Couto
Maria Fernanda San Martin
Gustavo e Karin Martins
Marina Feroldi
Rodrigo Grossi, Ana Grossi e Fredy Ribeiro
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Social
Prestígio em inauguração Depois de cinco anos de espera, o teatro do Sesi, com capacidade para 388 pessoas, abriu as portas à sociedade joseense, que foi presenteada com um espetáculo emocionante do pianista e maestro João Carlos Martins. Honrado em inaugurar o espaço, o maestro fez várias surpresas à plateia –de solos ao piano a uma harmonia especial do Hino Nacional com a participação da bateria da escola de samba Vai Vai, que prepara o sambaenredo de 2011 em sua homenagem. À ocasião, Paulo Skaf, ex-presidente da Fiesp e do Sesi-SP anunciou sua pré-candidatura ao governo do Estado.
Paulo Skaf e o maestro João Carlos Martins
Humberto Dutra
Jeane e Almir Fernandes
Nerino Pinho Júnior e Maria Inês Pinho
José Roberto Alves e Perla Cunha
Sidiney Perochi de Godoy e Sônia Delta
Iara Vieira
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Fotos: Eugênio Vieira
Maestro João Carlos Martins e orquestra
Claudemir Alves Pereira e Marco José Nunes Siqueira
Andréia Barros e Cláudio Mendel
maestro João Carlos Martins
Felipe Cury, Dom Moacir Silva e Eduardo Cury
Paulo Coelho
Neli e José Cividanes
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Viva a Vida
Carlos Carrasco
Chegamos ao século 21 e os carros não voam; mas ninguém conversa
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ivemos em um mundo de tecnologia. Lembro que quando era criança escutava que ao chegarmos aos anos 2000 os carros voariam, teríamos máquinas que fariam tudo por nós, robôs domésticos, praticamente a “Família Jetsons”. Chegamos lá, e o que vemos? Muita tecnologia nós temos, mas não como no desenho animado. Entretanto, a tecnologia esta aí e não vivemos sem ela. Penso como pude viver sem tudo isto. Não só vivia, como vivia muito bem. Mas vivia feliz? Acho que não, mas era mais tranquilo, menos ansioso. Nas minhas caminhadas entre trabalho e vida social, achei a resposta desta pergunta que me ocupava os neurônios e mexia comigo. Fui a uma festa, de uma figura importante da sociedade paulistana, onde estavam as pessoas mais influentes da moda, pessoas de muitos segmentos profissionais e as consideradas mais importante deste país. Entre uma taça de champagne e outra, percebi que 8 entre 10 pessoas da festa estavam por todo o tempo se comunicando via celular, no Facebook, no Twitter, entre outras formas de se relacionar virtualmente. A comunicação ficou virtual também? Ninguém me avisou! Fiquei apavorado, lembrei de uma viagem ao Japão, onde os japoneses
Tecnologia O que era para ser um facilitador na nossa vida acabou nos afastando
VIRTUAL “As crianças de amanhã se relacionarão como? Por telepatia eletrônica ou pela tecnologia que estará na moda em 2025?” nem se olham nos metrôs e nas ruas de Tóquio. Não tenho medo por mim porque afinal eu amo tecnologia e já vivi sem ela. Sei bem como funciona me relacionar com pessoas de todos os cantos e vivendo o que elas vivem. Mas e as crianças de amanhã? Se relacionarão como? Por telepatia eletrônica ou por uma tecnologia XYZ que
Carlos Carrasco cabeleireiro
carrasco@valeparaibano.com.br
estará na moda em 2025? Não consigo entender muito bem porque algumas pessoas preferem sexo virtual, outros amizade virtual, relacionamentos por site. Me explica isso? Estou sentindo falta de pessoas que se tocam, trocam energia e conhecimentos. Mas dá para ser pessoalmente? •