Pitty Virada Cultural chega ao interior do Estado P76 Jair Bolsonaro Deputado solta o verbo em entrevista P20 Eduardo Cury São José reforça o lobby no F-X2 P17
Maio 2011 • Ano 2 • Número 14 R$ 7,80
EXCLUSIVO
A MÁFIA DA UNIVAP Abrimos a caixa preta da gestão de Baptista Gargione: nepotismo, desvios e denúncias de fraude em décadas de poder
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Opinião
Palavra do editor
DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno
Era Gargione chegará ao fim?
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tirania, na Idade Média, começou pela liberdade. Tudo começa por ela, citou o historiador francês Jules Michelet (1798-1874). E se liberdade é a faculdade de fazer o que quer, sem ser impedido, a tirania pode ocorrer em qualquer época, mesmo em pleno século 21. Em todo o mundo, governos autoritários têm entrado em ruínas por força de uma sociedade que já não mais aceita a opressão. Em São José dos Campos, há tempos a gestão do reitor da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), Baptista Gargione Filho, é questionada. Recentemente, um grupo de ex-professores pediu a reabertura de um processo com 23 acusações contra o reitor, há 31 anos à frente da instituição. Mas enquanto não há manifestação judicial, o silêncio, sobretudo da sociedade civil organizada, diante dos desmandos de Gargione, incomoda. O Direito, curso que originou a criação da Univap, talvez exemplifica as consequências do erro de tratar o interesse público como particular. E a comunidade pagou seu preço. A antiga Faculdade de Direito do Vale do Paraíba, quando fundada em 1953, tinha em seu corpo docente professores respeitados da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco que contribuíram para a formação de excelentes profissionais da área. Hoje, mais de meio século depois, o curso no campus Castejón, em São José, recebeu nota 3, em escala de 0 a 5, na prova do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). Em Jacareí, no campus Villa Branca, o curso foi fechado pelo MEC (Ministério da Educação) por conta da má qualidade de ensino –teve notas 1 e 2 nas últimas avaliações, em 2006 e 2009. A queda na qualidade de ensino do curso de Direito é somente um exemplo da ingerência de um comando antidemocrático, que não se importa em demitir professores titulados, que em algum momento questionaram o modelo de gestão, para contratar profissionais resignados, que aceitam as condições de trabalho. É a administração da Idade Média, que trata o adversário como um inimigo.
DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br EDITOR DE FOTOGRAFIA Flávio Pereira flavio@valeparaibano.com.br REPÓRTERES Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br), Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Elaine Santos (elainesantos@valeparaibano.com.br) DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes daniel@valeparaibano.com.br COLABORADORES Cristina Bedendo, Franthiesco Ballerini, Karina Müller, Letícia Maciel, Marrey Júnior e WR Modelos (Renata Machado e Karina Rorman) COLUNISTAS Alice Lobo, Arnaldo Jabor, Carlos Carrasco, Fabíola de Oliveira, Marco Antonio Vitti e Ozires Silva CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. O valeparaibano reserva-se ao direito de selecioná-las e resumi-las.
DEPARTAMENTO DE PUBLICIDADE REGIONAL Aline Furtado, Tatiana Musto e Vanessa Carvalho
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Essencial Mídia Carla Amaral e Claudia Amaral (11) 3834 0349
A revista valeparaibano é uma publicação mensal da empresa Jornal O Valeparaibano Ltda. Av. São João, 1.925, Jardim Esplanada, São José dos Campos (SP) CEP: 12242-840 Tel.: (12) 3202 4000
ASSINATURA E VENDA AVULSA Carina Montoro 0800 728 1919 Segunda a sexta-feira, das 8h às 18h FAX: (12) 3909 4605 relacionamento@valeparaibano.com.br www.valeparaibano.com.br PARA FALAR COM A REDAÇÃO: (12) 3909 4600 EDIÇÕES ANTERIORES: 0800 728 1919 IMPRESSÃO GRÁFICA OCEANO
Marcelo Claret editor-chefe
A tiragem é auditada pela KPMG
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MODA
Sumário
AS CORES DA ESTAÇÃO CINZA P64
ESPECIAL
Família Gargione Como o nepotismo garantiu a perpertuação de Baptista Gargione Filho na reitoria da Univap por 31 anos; um poder custeado pela intimidação e eliminação de seus opositores
POLÍTICA FX
VIDA DIGITAL
EVENTO 24H
Prefeitura de São José em ‘combate áereo’ P17
A rede contra você P30
Virada Cultural na região P76
Eduardo Cury e equipe reforçam o lobby entre os concorrentes da licitação da FAB ECONOMIA EMERGENTES
A Classe C é a massa que move o Brasil P24 Representando 53% da população, empresas criam mercado para atender esse público ENTREVISTA BOLSONARO
“Filho drogado e gay é quase um filho morto” P20
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Quando os sites de relacionamento se transformam em armadilhas reais
ARQUIVO X
Óvnis: 25 anos de mistério Investigação sobre os objetos voadores não-identificados continua sem explicação em São José P34
São José dos Campos e Caraguatatuba recebem 24 horas de muita música, dança, e teatro de graça TURISMO VELHO MUNDO
Os encantos da Croácia P58 A doença do mau humor p40 Ensaio Fotográfico p52 Cinema p86 Arnaldo Jabor p98
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Palavradoleitor ESPAÇO Joseense é homem-chave na exploração do Planeta Vermelho P30
valeparaibano valeparaibano Abril 2011 • Ano 2 • Número 13
R$ 7,80
Hebe Camargo Apresentadora concede primeira entrevista exclusiva após trocar de emissora
A revista valeparaibano publicou entrevista exclusiva com a apresentadora Hebe Camargo na edição de abril
CULTURA
Bienal traz literatura a São José P96 POLÍTICA
Obama: Inpe firma parceria com a Nasa P10 ECONOMIA
O Vale investe em imóveis nos EUA P20
PARABÉNS Bullying Parabéns pela edição de aniversário da revista valeparaibano! Está primorosa! Esta revista tornou-se imprescindível, com reportagens pertinentes, nos contempla, mensalmente, com qualidade e, principalmente cuidado no trato dos assuntos. Penso que a reportagem sobre o bullying nas escolas seja de grande valia, é um alerta importante para pais e educadores que, na maioria das vezes, negligenciam os sinais evidentes que as vítimas da violência demonstram. É necessário, acima de tudo, que as escolas atentem para os aspectos levantados na reportagem, não só com políticas episódicas, mas, principalmente, com trabalhos de prevenção sistemáticos! Só assim evitaremos que vítimas sucumbam e transformem seu sofrimento em tragédias, como em muitos casos que assistimos, cada vez mais frequentemente.
SURPRESA Conteúdo Confesso que a publicação nunca me despertou muito interesse, a capa nunca me atraia e a falta de informação acabava me fazendo pensar ser algo regional com o mesmo conteúdo que eu poderia encontrar de forma mais completa e confiável nas tradicionais publicações ‘semanais grandes’. Porém, confesso que me surpreendi não só com o conteúdo da revista. Além de ser completa e objetiva, o veículo também é muito bem diagramado. Gostaria de parabenizar o trabalho de vocês. Muito bom mesmo!
Você é a favor que adolescente façam cirurgias plásticas de cunho apenas estético?
Daniel Corrá Estudante
TWITTER @desantana Gratificante ver q uma revista de nossa região ñ perde para grandes revistas do país....Me senti lendo a ‘Época’ da Região! Aproveitamos para agradecer neste espaço a todos que nos mandaram mensagens de congratulações pelo nosso primeiro ano. Foram tantas que não teríamos espaço para publicá-las! Obrigado a todos e aproveitamos para reiterar que nossos leitores são nosso maior bem. Obrigado!
Therezinha de Jesus Professora e Psicopedagoga
cartadoleitor@valeparaibano.com.br
@r_valeparaibano
Av. São João, 1925 Jd. Esplanada, CEP 12242-840
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ENQUETE
Contra A Favor Os votos foram computados votos entre os dias 1º e 21 de abril
Enquete www.valeparaibano.com.br
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Política
Da Redação Justiça obriga Peixoto exonerar mulher e genro Secretarias de Desenvolvimento e Inclusão Social e de Turismo e Cultura são assumidas pelo próprio prefeito
BRANCO & PRETO O ‘Massacre de Realengo’, no mês passado, trouxe de volta as discussões sobre o Estatuto do Desarmamento no Brasil
Rogério Marques
“‘Acho que deveria ser um projeto de lei revogando a lei anterior e rediscutindo o assunto” José Sarney Senador pelo PMDB
SOB SUSPEITA A primeira-dama Luciana e o prefeito de Taubaté, Roberto Peixoto (PMDB)
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oberto Peixoto (PMDB), prefeito de Taubaté, exonerou a primeira-dama, Luciana Peixoto, do comando da Secretaria de Desenvolvimento e Inclusão Social, e o genro, Anderson Ferreira, do cargo de secretário de Turismo e Cultura. É a segunda vez que os dois parentes do prefeito, acusado de nepotismo pelo Ministério Público, são obrigados a deixar o quadro de servidores da administração municipal por determinação da Justiça –a primeira ocorreu em 2009. Ainda não foram definidos os nomes das pessoas que assumirão os cargos. Existe a possibilidade de Peixoto manter os postos desocupados, assumindo ele próprio a responsabilidade pelas secretarias. O trabalho do dia-a-dia
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seria feito pelos assessores das divisões. Peixoto é acusado de nepotismo pelo Ministério Público de Taubaté, autor da ação judicial que resultou na saída de Luciana e Ferreira. A prática de nepotismo é proibida por lei, mas não se aplica a cargos de secretaria, que são considerados funções políticas, portanto, de livre nomeação. Contudo, a Promotoria sustenta que as divisões administrativas da prefeitura não podem ser consideradas secretarias, pois elas não contam com requisitos básicos, como autonomia financeira e jurídica. Para o MP, as estruturas foram criadas apenas para realocar os parentes do prefeito. A decisão para a saída da mulher e do genro do prefeito foi dada pela Justiça em caráter liminar. A defesa do prefeito recorreu e aguarda o resultado dos recursos.
“Qualquer campanha, rediscussão e legislação que seja séria e mostre resultado será bem-vinda” José Mariano Beltrame Secretário de segurança do Rio de janeiro
“Acredito que o episódio pode ter gerado fatos novos que não foram cogitados e que permitem, em tese, que a população seja novamente convocada” Ricardo Lewandowski presidente do Tribunal Superior Eleitoral
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Domingo 1 Maio de 2011
Lula, ironizando FHC, que disse que o PSDB não deve ‘dialogar com o povão’
“Eu, sinceramente, não entendi o que ele quis dizer. Nós já tivemos políticos que disseram preferir cheiro de cavalo do que de povo. Agora, tem um ex-presidente que fala para não ficar atrás do povão, esquecer o povão”
Dilma tem 6.689 servidores sem concurso na ‘elite’
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estrutura da máquina pública no governo Dilma Rousseff revela que existem 6.689 funcionários não-concursados em cargos de confiança –quase um terço dos postos preenchidos por nomeações. Desse total, cerca de 500 estão nas faixas salariais mais altas. Dilma herdou da gestão Luiz Inácio Lula da Silva uma base que permite a nomeação de 21,7 mil pessoas para cargos de confiança, chamados de DAS, exercidos por quem ocupa funções de chefia ou direção e por assessores da presidente, ministros e secretários. Até fevereiro, 31% desses cargos eram ocupados por não-concursados e 64%, por servi-
Relatório da PF prova mensalão
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elatório final da Polícia Federal confirma a existência do mensalão no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de seis anos de investigação, concluiuse que o Fundo Visanet foi uma das principais fontes de financiamento do esquema montado pelo publicitário Marcos Valério. Com 332 páginas, o documento demonstra que, dos R$ 350 milhões recebidos do governo Lula pelas empresas de Valério, os recursos que mais se destinaram aos pagamentos políticos tinham como origem o fundo Visanet. As investigações confirmaram ainda que o segurança Freud Godoy, que trabalhou com Lula nas campanhas presidenciais de 1998 e 2002, recebeu R$ 98,5 mil do valerioduto. A novi-
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dores de carreira, segundo o Portal da Transparência do governo federal. Há ainda uma pequena parcela de servidores cedidos para outras esferas –Legislativo, governos estaduais e de prefeituras. Os postos DAS consomem quase R$ 100 milhões por ano em salários. Dos detentores de cargos de natureza especial, além de DAS 5 e 6, um quarto era filiado a algum partido, sendo que 80% eram petistas. Segundo especialistas, é inédito esse alto grau de poder exercido pelo PT na máquina federal. O governo Lula estourou os limites que ele próprio estabeleceu para o ingresso de servidores não-concursados nos cargos de confiança com remuneração mais baixa. Dados indicam que, em dezembro de 2010, 26,2% e 28,2% dos cargos DAS 1 e DAS 3, respectivamente, eram ocupados por não-concursados. Segundo decreto editado por Lula em 2005, essa parcela não poderia ultrapassar 25%. Por outro lado, o governo encerrado em 2010 poderia ter preenchido com até 50% de não-concursados os cargos DAS 4, mas manteve esse grau de ocupação em apenas 31,6%. dade é que Freud contou à PF que se tratava de pagamento dos serviços de segurança prestados a Lula na campanha de 2002 e durante a transição para a Presidência. No depoimento, ele narrou que o dinheiro serviu para cobrir parte dos R$ 115 mil que lhe eram devidos pelo PT. O relatório apontou o envolvimento de sete deputados federais, entre eles, Jaqueline Roriz (PMN-DF), Lincoln Portela (PR- MG) e Benedita da Silva (PT-RJ), dois ex-senadores e o ex-ministro tucano Pimenta da Veiga. A PF também teria confirmado que o banqueiro Daniel Dantas tentou garantir o apoio do governo petista por intermédio de dinheiro enviado às empresas de Marcos Valério. Dantas teria recebido um pedido de ajuda de US$ 50 milhões depois de se reunir com o então ministro da Casa Civil José Dirceu. Pouco antes de o mensalão vir a público, uma das empresas controladas por Dantas fechou contratos com Valério, apenas para que houvesse um modo legal de depositar o dinheiro. De acordo com a PF, houve tempo suficiente para que R$ 3,6 milhões fossem repassados ao publicitário.
Senado quer referendo sobre armas Com o apoio dos líderes partidários, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), apresentou projeto de decreto legislativo que determina a realização de plebiscito no primeiro domingo de outubro deste ano para que os brasileiros respondam à pergunta: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”. Inicialmente, Sarney anunciou que ia sugerir a realização de referendo para questionar aos brasileiros. Mas mudou de ideia ao afirmar que o plebiscito vai consultar a população sobre a possibilidade do Congresso modificar uma lei que já existe (o estatuto do desarmamento) –enquanto o referendo teria que referendar ou rejeitar a lei. O texto precisa passar pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Casa, depois pelos plenários do Senado e da Câmara, para que o plebiscito ocorra de fato em outubro. Segundo o projeto, a venda de armas de fogo legalizadas no país cresceu de 81.200 em 2006 para 116.900 em 2010. Ao justificar a medida, Sarney disse que a venda de armas no país cresceu desde 2005, quando em referendo nacional a população decidiu manter a comercialização de armas de fogo. À época, a população decidiu manter o comércio de armas e fogo e munição no país depois do “não” vencer com o apoio de 63,94% dos votos válidos dos brasileiros.
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Reportagem de Capa
Política PÚBLICO X PRIVADO
FamíliaUnivap Tivemos acesso exclusivo ao organograma do nepotismo que deu suporte para o reitor Baptista Gargione Filho se perpetuar no poder por 31 anos
Adriano Pereira e Marcelo Claret são josé dos campos
a obra “Livro do Desassossego”, Fernando Pessoa escreve: “A renúncia é a libertação. Não querer é poder”. Acusado por exprofessores e pressionado pelo Ministério Público e por boa parte da sociedade civil, o reitor da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), o professor Bap-
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tista Gargione Filho, se libertou. Sua renúncia ao cargo de presidente da FVE (Fundação Valeparaibana de Ensino) no mês passado pegou de surpresa até os que desejavam sua saída. Mas, como escreveu Pessoa, no caso de Gargione, “não querer é poder”. Apesar de deixar o cargo, com o qual se “autofiscalizava” como reitor (a FVE é mantenedora da universidade, sendo responsável pela liberação de verbas para funcionamento das atividades acadêmicas), Gargione não abandona sua posição de comando na Univap. Esse poder perpe-
tuado por 31 anos, custeado por decisões, nomeações de cargos e diversas alegações, se acumula em mais de 10 mil páginas de acusações em um processo que foi arquivado pelo Ministério Público de São José dos Campos em janeiro de 2009 e teve um pedido de reabertura de investigação encaminhado para Brasília neste ano. As acusações são dignas de um roteiro cinematográfico. Vão de nepotismo a desvio de verbas para construção de nove edificações em seu sítio, localizado em São Francisco Xavier, distrito de São José dos
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Fotos: Flávio Pereira
a totalidade do conselho responsável por eleger o reitor, alguns recebendo salários incompatíveis com o plano de carreira da vida acadêmica, incluindo três filhos e um genro de Gargione. As fontes dessa reportagem tiveram suas identidades preservadas. Tratam-se de pessoas que trabalham na Univap e que não foram cooptadas no esquema de beneficiamento do reitor ou não concordam com o modelo de gestão. São pequenos focos da oposição que ainda restam na universidade, pessoas caladas pelos altos salários ou colocadas no que os professores chamam hoje de “Sibéria”, o IPD (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento). “É triste pensar que o departamento que deveria ser a vitrine da Univap tenha hoje esse papel”, disse um dos entrevistados.
Grupo de oposição pede reabertura de processo com 23 acusações contra reitor da Univap, Baptista Gargione Filho; inquérito arquivado em 2009 tem mais de 10 mil páginas
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Campos, chamado de “Serrinha”. Passa pela compra, com o dinheiro da instituição, de um freezer para presentear a filha de um pró-reitor, beneficiamento de um cunhado na concessão de uma cantina e chega à suposta fraude eleitoral, em 2008, para que Gargione continuasse à frente da Univap e da FVE. A revista valeparaibano teve acesso ao organograma que mostra os níveis de influência em nomeações de cargos em primeiro escalão na universidade. São nomes que compõem atualmente quase que
Nepotismo Um dos casos mais emblemáticos dessa teia envolve Luiz Antonio Gargione, filho do reitor e atual diretor do Parque Tecnológico. Em 1998, ele foi autorizado a um afastamento remunerado por dois anos para realização de um mestrado na Universidade de Berkeley, na Califórnia, como pesquisador visitante. Seria um curso de 1.200 horas de duração. O mestrado à época custava US$ 33.988, fora as despesas com moradia, alimentação e transporte –tudo bancado pela Univap. Após o período, o professor Luiz Antonio retornou ao Brasil sem o título de Berkeley, mas com um trabalho validado pela Universidade Estadual de San Jose, uma instituição de menor renome e cujo documento apresentado pelo professor não teve reconhecimento pela Unicamp (Universidade Federal de Campinas), ou seja, não tem validade acadêmica. De fato o professor esteve em Berkeley e realmente fez um curso por lá, mas de língua inglesa, com apenas 125 horas de duração. Por e-mail, o professor C. William Ibbs, coordenador do curso para o qual Luiz Antonio foi enviado aos Estados Unidos, diz: “Sim, me lembro do Luiz. Ele jamais foi admitido formalmente como estudante, mas simplesmente aceito como visitante. Entretanto, seu desempenho foi errático. Eu não o vi por longos períodos de tempo e ele nunca completou qualquer trabalho que fosse satisfatório. Próximo do final de sua estadia em Berkeley, ele solicitou um encontro comigo. Ele me disse que durante o seu tempo aqui teve problemas com seu síndico. Isto me soou um pouco estranho.
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Reportagem de Capa
Essa é a lembrança que tenho dele aqui. Ele não interagiu com meu grupo. Ele nunca foi oficialmente desligado porque ele nunca foi oficialmente admitido na universidade”. Como não bastasse, o trabalho apresentado pelo professor Luiz Antonio em San Jose foi retirado da biblioteca da Univap e já tinha autor: o aluno de engenharia Dimer Costa Júnior, que sequer foi citado como fonte bibliográfica, muito menos como autor plagiado. “Ele fraudou um trabalho de mestrado. Foi tirada cópia de um documento de um aluno de graduação na biblioteca da Univap. Ele não teve nem o cuidado de tirar as legendas em português das figuras do trabalho”, diz o professor Élcio Nogueira, ex-pró-reitor de Graduação da Univap, à época diretor do Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia. Luiz Antonio é apontado por muitos professores como o provável sucessor do pai na reitoria da Univap. É um dos casos mais clássicos de nepotismo, já que o filho do reitor não teria a graduação necessária para receber o atual salário. O plano de carreira para um professor “Classe 22”, como Luiz Antonio está contratado, prevê salário de aproximadamente R$ 30 mil, dependendo das atribuições. Entretanto, é necessário que o profissional tenha doutorado, o que não é o caso. Gargione tem ainda outras duas filhas na Univap: Maria Angélica Gargione Cardoso, pró-reitora de Avaliação, e Ana Lúcia Gargione Galvão Sant’anna, professora do curso de Farmácia. Ambas também teriam a “Classe 22”. Mas recentemente, no último dia 6 de abril, o reitor nomeou o genro Luiz Eduardo Cardoso, coordenador do curso de Farmácia na instituição. Para auxiliar Gargione no exercício de suas tarefas executivas, a universidade dispõe de oito pró-reitorias. Todas foram compostas por indicação direta do reitor e algumas gozam de mais privilégios que outras, nomeando parentes em outros cargos. É o caso de Ailton Teixeira, pró-reitor de Administração e Finanças, que contratou a filha Tatiana como professora, o filho Rodrigo administra um escritório de advocacia que realiza cobranças para a Univap e o filho Fabrício administra a copiadora central da universidade. Maria Cristina Goulart Púpio Silva, pró-reitora de Assuntos Jurídicos, também tem parentes na Univap: as filhas Fabiana, que trabalha na TV Univap, e Fernanda, professora na área de Saúde, além dos genros Mário Oli-
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MERA SEMELHANÇA? Vista aérea dos chalés no sítio de Baptista Gargione Filho, em São Francisco Xavier, distrito de São José; abaixo: casa principal e, ao fundo, a piscina da propriedade rural; detalhes do revestimento cerâmico e das vigas de concreto armado semelhantes aos usados nas construções do sítio; luminárias com suporte para vasos também achadas na Univap e chalés
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veira Lima, professor na área de Saúde, e Fabiano de Barros Souza, coordenador do curso na área de Saúde. Renúncia pensada Durante esses 31 anos, Baptista Gargione Filho usou do nepotismo como forma de se perpetuar no poder. “Ou está com ele ou contra ele”, disse outra fonte da reportagem. “Se você fizer parte do esquema que ele pretende, aceitar o que ele quer, ganha pontos e pode até ser beneficiado com cargos e salários. É o que aconteceu com o professor Samuel [Roberto Ximenes Costa] que, apesar de competente, ascendeu na carreira acadêmica e agora vai ocupar a presidência da Fundação [Valeparaibana de Ensino]”, completa. A relação entre Costa e Gargione é mais antiga e íntima do que a recente indicação. Samuel tem o mesmo nome de seu pai, um eterno curador da Fundação Valeparaibana de Ensino. Foi ele quem assinou todas as contas do reitor durante mais de 20 anos. Mas o que parece uma retribuição seria mais uma manobra política de Gargione, segundo fontes ouvidas pela reportagem. O cargo de presidente da FVE não é remunerado e Costa também é pró-reitor de Educação Superior, cargo pelo qual recebe um salário acima de R$ 20 mil. O poder que a presidência da FVE garante é o de liberar ou não recursos financeiros para a Univap. “O que ele vai fazer? Se negar o recurso pedido por Gargione é demitido da Univap. Como o cargo na FVE não é remunerado, vai viver de quê? Ou seja, tanto a FVE quanto ele [Samuel] continuam na mão do reitor”, diz a fonte. A “Serrinha” “Quem era convidado para as festas na ‘Serrinha’ sabia que estava dentro do esquema do reitor”, diz o professor Élcio Nogueira. A ‘Serrinha’ é uma propriedade particular do reitor no distrito de São Francisco Xavier, em São José dos Campos. Numa demonstração de egocentrismo e auto-homenagem, as oito edificações próximas ao lago da propriedade parecem ser uma continuidade arquitetônica do complexo da universidade. Não poderiam ser diferentes, afinal, os dois projetos foram assinados pela mesma arquiteta, Andrea Santos Liu, que também é coordenadora da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo. As semelhanças são enormes. O reves-
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Reportagem de Capa
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OS CARGOS NA UNIVAP Ailton Teixeira Pró-reitor de administração e finanças contratou sua filha Tatiana Teixerira como professora, tem outro filho, Rodrigo Teixeira, que administra um escritório de advocacia que realiza cobranças para a Univap, e seu terceiro filho, Fabrício Teixeira administra a copiadora central da universidade
Samuel Roberto Ximenes Costa Pró-reitor de Educação Superior e educação continuada e nome indicado por Gargione para substituí-lo na presidência da FVE. É considerado braço direito do reitor. Segundo fontes consultadas pela reportagem, apesar da FVE ter o poder de liberação de recursos para a Univap, o cargo não é remunerado, fazendo com que o reitor continue exercendo controle sobre o colega
Antonio de Souza Teixeira Jr. Pró-reitor de integração “Universidade X Sociedade” era secretário adjunto do Ministério da Educação no governo Fernando Collor. Durante uma viagem do então ministro José Goldemberg, Teixeira assumiu o cargo interinamente e assinou a portaria que autorizava a criação da universidade. Dias depois, ele assumiu seu primeiro cargo na Univap
Maria Cristina Goulart Púpio Silva Pró-reitora de assuntos jurídicos teria, segundo entrevistados, o maior número de parentes em cargos dentro da universidade. Suas filhas, Fabiana, trabalha na TV Univap, e Fernanda é professora na área de Saúde. Também tem seus dois genros na Univap: Mário Oliveira Lima, professor na área de Saúde, e Fabiano de Barros Souza, coordenador do curso na área de Saúde
Luiz Antonio Gargione Diretor do Parque Tecnológico é filho do reitor. Seu salário seria “Classe 22”, o mais alto do plano de carreira acadêmica na Univap, girando em torno de R$ 30 mil. Entretanto, tal salário destina-se apenas a professores que tenham título de doutorado, o que não é o caso de Luiz Antonio, que não tem nem o mestrado. Sua tese de mestrado, segundo denúncia em processo judicial, foi plagiada de um aluno de graduação do curso de engenharia e não foi validada. É apontado como provável substituto do pai na reitoria da Univap
Maria Angélica Gargione Cardoso Pró-reitora de avaliação é filha do reitor, também “Classe 22”
Ana Lúcia Gargione Galvão Sant’anna Professora do curso de Farmácia é filha do reitor, também “Classe 22”
Luiz Eduardo Cardoso Coordenador do curso de Farmácia é genro de Gargione. É a nomeação mais recente, ocorrida em 6 de abril de 2011
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timento cerâmico usado nos prédios da Univap também pode ser vistos nos chalés construídos no sítio particular de Gargione. Também é possível encontrar na propriedade rural os mesmos vasos e luminárias que decoram a universidade. A parte estrutural também segue o mesmo padrão modular, com grandes vigas de concreto armado atravessando os prédios. Cada um dos sete “chalés” menores se diferencia pelas cores usadas nas janelas e portas. Seriam um para cada neto, segundo as fontes ouvidas. O chalé maior, tem inclusive os mesmos avanços na fachada que têm os prédios da Univap. Vista do alto, a propriedade lembra um empreendimento comercial como outro qualquer dada a padronização empregada na construção. Até aí nada demais. A parte que coube ao Ministério Público averiguar na denuncia formulada pelos ex-professores era sobre a origem dos materiais de construção usados nos prédios da propriedade rural. A acusação alega que a obra foi toda custeada pelos cofres da Univap, e apresentou notas fiscais e autorizações de remessa de material para “Francisco Xavier”. É notório que no aprazível distrito não existe nenhum campus avançado da universidade. O MP deixou de apurar o caso sob o argumento de que a denúncia já havia sido prescrita. Raio-x A Univap foi criada a partir da antiga Faculdade de Direito do Vale do Paraíba, fundada em janeiro de 1953, que tinha em seu corpo docente professores respeitados da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Mais de meio século depois, além da queda na qualidade de ensino, evidenciada pelas sucessivas notas baixas no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), a universidade padece de infra-estrutura básica. Segundo funcionários, nenhum dos campi (São José dos Campos, Jacareí e Campos do Jordão) dispõem de telefonista –as ligações no período da tarde caem direto nas portarias e são atendidas pelos poucos seguranças que restaram na universidade. Até as faxineiras teriam sido dispensadas. Em alguns prédios, restou apenas uma profissional, que fica responsável pela limpeza de um ambiente onde trabalham 70 pessoas e tem 18 banheiros. E as reclamações não param por aí. A Univap teria cancelado o seguro de vida de todos os funcionários e o pagamento
de horas-extras. A redução no número de seguranças, que agora se restringe à portaria, teria aumentado os assaltos no entorno dos campi. Esses cortes de despesas com pessoal, contrapõem aos planos de investimento da universidade, que pretende construir prédios comerciais em áreas nobres da cidade. Reflexo ou não dos problemas na gestão, somente nos últimos três anos, o número de estudantes matriculados nos cursos de gradução da universidade sofreu uma redução de quase 23%. No primeiro semestre de 2008, a Univap tinha 9.261 alunos em 36 cursos, contra os atuais 7.191 estudantes em 39 cursos. Memória Em 2006, um grupo de professores demitidos quer resolveram bater de frente com o reitor abriu um processo contendo 23 acusações contra a administração de Gargione. Sob os cuidados do Ministério Público, representado pela promotora da Curadoria de Fundações de São José dos Campos, Ana Chami, o documento foi recebido e teve quase a totalidade das acusações rebatidas, resultando no fechamento do processo. Das 23 denúncias, apenas 6 receberam manifestação da promotora. Em junho de 2009, o mesmo grupo de professores apresentou à Corregedoria do Ministério Público no Estado de São Paulo uma representação contra Ana Chami, questionando a condução da investigação das denúncias pela curadora. A ação foi arquivada em dezembro do mesmo ano. Entretanto, no dia 4 de fevereiro deste ano, foi procedida a instauração da Reclamação Disciplinar contra a promotora, desta vez no Conselho Nacional do Ministério Público. O processo ainda não tem manifestação. “Todas decisões foram arquivas por que não existiam justas causas. Estou convicta do acerto na decisão. Minha conduta profissional é idônea. Não recebi nenhuma notificação sobre essa segunda reclamação disciplinar, por isso não posso dizer nada sobre isso”, explica a promotora. Embora tenha arquivado todas as denúncias contra o reitor, a Promotoria recomendou ao professor Gargione que fizesse uma revisão no estatuto da Univap. O reitor atendeu ao pedido de Ana Chami encomendando, ao custo de R$ 400 mil, um novo estatuto para a FGV (Fundação Getúlio Vargas), aprovou o novo documento e destituiu a participação da socie-
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Thiago Leon/O Vale
OUTRO LADO Gargione deixa de comentar o caso Procurado pela revista valeparaibano por meio de sua assessoria, o reitor da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), Baptista Gargione Filho, preferiu não comentar o assunto –uma postura já esperada porque normalmente ele evita o contato com a imprensa. Também deixou de se posicionar em relação ao pedido de reabertura do processo com as 23 acusações contra Gargione. A universidade ainda não respondeu aos questionamentos sobre o preenchimento de cargos com parentes do reitor e de pró-reitores. O espaço de resposta foi dado a todas as pessoas citadas na reportagem, sendo a assessoria da Univap responsável pelo contato com os próreitores, seus filhos e parentes.
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dade no Conselho Deliberativo, sem que ninguém tivesse sido consultado, nem a própria curadora. O ato rendeu uma retaliação do Ministério Público. “Não tenho direito ao voto, mas tenho direito ao veto”, disse a promotora que tomou para si a responsabilidade de confeccionar novo documento com o objetivo de aumentar a participação da sociedade nos rumos da instituição e impedir reeleições ilimitadas para a presidência da FVE e a acumulação de cargos na direção da fundação e da Univap. “Apesar de ter dado suporte durante todos esses anos para que Gargione continuasse no poder, dessa vez ele passou dos limites. Ela [Ana Cristina] acabou percebendo que o reitor agiu de má fé para continuar no poder”, diz o professor Élcio Nogueira. Baseados nessa decisão da promotora, os ex-professores da Univap pediram neste ano Conselho Nacional do Ministério Público, a reabertura do processo inicial de 2006, aquele com as 23 denúncias contra Gargione. Ainda não houve manifestação. Entretanto, a primeira grande derrota do reitor ocorreu mês passado. A 2ª Vara do Trabalho de São José dos Cam-
pos determinou que o professor Élcio Nogueira, um dos principais opositores de Gargione, seja reconduzido ao cargo na Univap. Ele foi demitido em 2006 depois que começou a questionar a gestão do reitor. À decisão, cabe recurso. Para a oposição, o futuro da Univap pode ser desenhado pelo novo estatuto da instituição de ensino, confeccionado pela promotora Ana Chami, que acredita que até meados de junho já tenha uma versão final do documento. O prazo para a apresentação termina em agosto. Em entrevista à revista valeparaibano, a promotora adiantou as principais mudanças pretendidas com o estatuto. “Houve uma evolução fática da entidade que permitiu uma concentração exacerbada de poder. O que pretendo com o novo estatuto é devolver o equilíbrio à instituição, reforçar a comunicação entre a comunidade acadêmica e a sociedade, questões que vão além da própria universidade”, conta Ana Chami. A principal mudança apontada pela promotora diz respeito ao número de possíveis reeleições. No novo estatuto, está previsto que o reitor possa se reeleger apenas uma única vez. O atual período de mandato é de quatro anos. Outra mudança, esta mais profunda, recai sobre a composição do Conselho Deliberativo da universidade. “Para que esse equilíbrio exista é necessário que as forças universitárias e da sociedade tenham participação no conselho. A ideia é que tenhamos inclusive estudantes participando. O conselho não pode ser um órgão de assessoramento da reitoria”. Ana Chami tem a esperança de que o novo estatuto seja aprovado. “Se não for aprovado, daí sim vira uma questão judicial, para que seja decidido qual o melhor caminho [se mantém o atual, se adota o encomendado para a FGV ou o redigido pela promotoria]. Por enquanto, o papel do Ministério Público é zelar pelo bem da comunidade”. Alimenta-se o desejo coletivo de que a reformulação do conjunto de normas restrinja a continuidade da gestão de qualquer reitor, seja ligado a Gargione ou não. Existe um bem maior do que qualquer título e permanência de cargos que é a própria universidade, criada para a comunidade e que deve ser espelho de uma sociedade desenvolvida e não um ringue de disputas pessoais. Em 2012 esse futuro será obrigado a se mostrar com a escolha do novo comando na Univap. •
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Ozires Silva
Um sucesso nunca sonhado por nosso genial Santos Dumont écadas após o histórico vôo de Santos Dumont em 1906, notáveis pioneiros se debruçaram e lutaram para que um dia o Brasil tivesse sua própria indústria aeronáutica. Isso pressupunha a criação de aviões brasileiros, sendo projetados para operar nos mercados nacional e internacional. Muitos daqueles pioneiros tiveram sucesso por algum tempo, mas, desde a institucionalização da Embraer, significativos desafios foram vencidos. Na atualidade, nosso país está chegando a níveis expressivos de fabricação de produtos aeronáuticos, os quais são hoje encontrados em operação em quase 90 países. Se há menos de 30 anos fizéssemos previsões sobre o que atualmente a nossa indústria aeronáutica já conseguiu, tudo pareceria utopia.
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O crítico jornalista brasileiro, Nelson Rodrigues, dizia que “os brasileiros se comportam como vira-latas, sempre se recusando a comemorar sucessos brasileiros”. Fugindo ao que sempre afirmava o veterano jornalista, as conquistas da Embraer desmentem suas colocações fazendo com que tenhamos razões para nos orgulhar. Vamos às notícias: - Na presença de autoridades e empresários dos EUA, a empresa inaugurou uma unidade de produção de jatos executivos na cidade de Melbourne na Florida, em fevereiro passado. Desde a primeira iniciativa, de
REFERÊNCIA “O povo japonês na sua dura resistência às fatalidades mostra um exemplo, digno de nota” se instalar em Fort Lauderdale, transcorreram 31 anos de crescimento e progresso dos nossos produtos no mais aberto, amplo e competitivo mercado aeronáutico mundial; - O Presidente da Azul Linhas Aéreas Brasileiras, Pedro Janot, em visita à Embraer, também em fevereiro passado, disse: “Vocês têm todos os motivos para se sentirem orgulhosos, pois fabricam os melhores aviões do mundo”. A Azul em dois anos, já transportou mais de sete milhões de passageiros; - Ainda em fevereiro, na sede da Embraer, em cerimônia contando com a presença de personalidades do Governo da Índia, foi apresentada a primeira unidade do EMB 145 AEW&C, um avião moderno e sofisticado de Alerta Aéreo Antecipado e Controle, utilizando os mais modernos equipamentos projetados pelo Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento de Defesa do Ministério da Defesa indiano; - Fazendo um balanço das entregas do jato executivo Phenom 100, um dos mais recentes produtos da empresa, pode-se anotar que 100 unidades já estão em operação com seus compradores, ganhando o primeiro lugar entre as vendas mundiais. Em cada cinco jatos
executivos, livrados para a operação no mercado mundial, um foi fabricado pela Embraer, ou seja, 20% das entregas de produtos similares; - O novo Legacy 600, já em operação, agora tem seu alcance ampliado para 7.200 km, ou seja, 900 km a mais do que o modelo anterior, pode voar sem escalas de São Paulo a Miami, de Londres a Nova York ou de Singapura até Sidney, na Austrália; - Com suas exportações para vários países, a Embraer responde agora por mais de 8% do superávit do balanço de comércio exterior brasileiro. O país, de importador de material aeronáutico acabado, transformouse em exportador. Vamos convir que é um destacado balanço de notícias. Graças ao esforço da Força Aérea Brasileira em 1950, criando o ITA, mais tarde apoiando a criação da Embraer, fomos capazes de construir um cenário sonhado por Santos Dumont e por muitos pioneiros. Todos eles construíram um resultado fantástico que convincentemente confirma a expressiva capacidade de transformar da Educação e mostram que o João da Silva pode produzir como um John Smith! •
Ozires Silva Engenheiro
ozires@valeparaibano.com.br
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Fotos: Flávio Pereira
MERCADO AERONÁUTICO
CAÇA NORTE-AMERICANO O prefeito de São José, Eduardo Cury (PSDB) no simulador de voo do caça F 18 da Boeing, no estande da Laad, no Rio de Janeiro
Caça de investimentos Hernane Lélis Rio de Janeiro
Prefeitura e empresários de São José aproveitam congelamento no projeto F-X2 para reforçar lobby entre os concorrentes da licitação da FAB e atrair investimentos
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nquanto o governo federal não bate o martelo sobre qual caça será o escolhido para renovar a frota da Força Aérea Brasileira, já que as compras foram suspensas devido ao corte no orçamento da União, a Prefeitura de São José dos Campos aproveita para reforçar o lobby a favor do cluster aeroespacial da cidade. De olho em possíveis investimentos no município, a administração tenta articular encontros entre empresários e concorrentes do programa. A norte-americana Boeing, que oferece ao Brasil a aeronave de combate F-18 Super Hornet, é o próximo alvo do governo de Eduardo Cury. O prefeito, acompanhado pelo secretário de Desenvolvimento Econômico de São José, José de Mello Corrêa, se reuniu com a companhia no Rio de Janeiro durante a Laad (Feira Latino-Americana de Defesa e
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Segurança), no último mês, para acertar com os executivos a realização de um fórum, onde fabricante e empresários apresentariam projetos de cooperação industrial. A data para o encontro ainda não foi definida, mas deve acorrer entre o final de junho e começo de julho. Cury afirma que o interesse da prefeitura na concorrência capitaneada pelo Ministério da Defesa está unicamente em apoiar e atrair novos investimentos, gerar emprego e renda ao município, independentemente do resultado da licitação, que ainda não tem prazo para ser concluída. “Estou defendendo as empresas da região porque qualquer que seja o consórcio ganhador tem que ter uma interação. Os três competidores se mostraram simpáticos com a gente e nosso papel é defender as empresas que geram emprego aqui. Meu papel é mostrar para eles que vale a pena acreditarem nas empresas daqui, que vale a pena darem contrapartida para empresas daqui, que temos capacidade”, disse o prefeito. Disputam a preferência do governo brasi-
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leiro no programa FX-2, que prevê a compra de 36 caças para o reaparelhamento da FAB, o grupo francês Dassault, com o caça Rafale, a sueca Saab e sua aeronave Gripen NG, além, é claro, da Boeing. Durante a Laad, Eduardo Cury fez questão de visitar os estandes dos três concorrentes. Ele mostrou intimidade com os executivos das companhias, tendo inclusive experimentado um dos simuladores de voo que estavam disponíveis na feira. A sinergia proposta pelo prefeito e por representantes do cluster aeroespacial de São José é compartilhada pelos executivos da Boeing, que também aproveitam a oportunidade para ganhar apoio e reforçar sua oferta militar ao Brasil. “São José concentra a maioria das empresas aeroespaciais. Vamos à cidade para conversar e falar sobre o que a Boeing tem para oferecer, as capacidades, os produtos e o que as empresas locais podem nos oferecer, como engenharia e manufatura”, disse Thomas DeWald, diretor de desenvolvimento de negócios para América do Sul da Boeing. Atualmente a companhia possui acordos de cooperação tecnológica com 27 empresas do setor, sendo algumas do Vale do Paraíba. O secretário de Desenvolvimento, José de Mello Corrêa, espera que o encontro ajude a decolar as cartas de intenções e memorandos assinados. “Fazemos questão de manter contato
com todas as concorrentes, independentemente de quem ganhe o processo. Aproveitamos os encontros para inclusive oferecer espaços, terras, nosso Parque Tecnológico para a formação de centros de pesquisa e inovação para cada empresa”, disse o secretário. Investimentos As investidas políticas que ficavam apenas por parte dos concorrentes do programa mudou de lado em São José há pouco mais de um ano, segundo Cury. No entanto, outras cidades também já se articularam e começaram a negociar e colher frutos do lobby investido. É o caso de São Bernardo do Campo onde a Saab vai inaugurar ainda este mês um centro de inovação avaliado em US$ 50 milhões. A previsão é que ele comece a funcionar com 20 integrantes, entre empresas e universidades. “Na época estávamos muito ligados a São Bernardo sobre a possibilidade de trazermos uma fábrica de aeroestruturas. A cidade tem uma vocação que vem da indústria automotiva de engenharia e mecânica. Então nós fomos convidados pelo prefeito para trazer esse centro. Mesmo que a gente tenha um centro de inovação em São Bernardo, não quer dizer que estamos tentando tirar alguma coisa de São José. Nós estamos totalmente focados em São José, mas também te-
MINISTRO Nelson Jobim: “A questão não está decidida. Vamos esperar o melhor momento”
CAÇA FRANCÊS Maquete do caça Rafale, da Dassault, umas das três empresas que estão na concorrência da licitação aberta pela FAB
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CAÇA SUECO Maquete do caça Gripen, da sueca Saab, apontado como melhor opção devido a forma de transferência de tecnologia e por ser mais barato
mos um foco em São Bernardo”, disse Bengt Janér, diretor geral da Saab no Brasil. “Nossa aproximação é anterior ao projeto da Saab em São Bernardo, tanto é que o Rei da Suécia esteve em São José. Estive com embaixador americano no ano passado, ele me convidou para ir ao Rio de Janeiro conversar com ele. Já tratei com a Saab com o ministro da Indústria e Comércio Exterior da Suécia lá trás, já tratamos com a Dassault há mais de um ano, mas fazemos isso de um jeito silencioso para não atrapalhar a decisão, explicou Cury. São José dos Campos também divide a atenção política com São Bernardo dentro do consórcio francês responsável pela fabricação do caça Rafale. Em fevereiro o prefeito do município da grande São Paulo, Luiz Marinho (PT), esteve em Paris, sede da Dassault, para conhecer as instalações da companhia e abrir as portas para a criação de um centro de pesquisa no município. Em coletiva de imprensa na capital da França, Marinho destacou diversas vezes que o objetivo de sua visita era atrair investimentos à “sua cidade”, independente do resultado do F-X2. Com o mesmo objetivo, São José sediou também em fevereiro um seminário junto a Dassault para aproximar o cluster aeroespacial do município à fabricante francesa. À ocasião, 10 acordos de cooperação industrial
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foram assinados com empresas do Vale do Paraíba, aumentando para 35 o número de cartas de intenções e memorandos de entendimentos acordados com indústrias da região para transferência de tecnologia e participação na fabricação do caça Rafale. Jean-Marc Merialdo, representante do consórcio francês no Brasil, afirma que caso a Dassault não seja escolhida, as parcerias firmadas podem continuar, mesmo que o enfoque inicial seja o reaparelhamento da FAB. O executivo garante ainda que São José e outras cidades do Vale têm grandes chances de receber mais investimentos da Dassault, principalmente na área de pesquisa e educação. Ainda sim ele ressalta que também ouvirá representantes de outros municípios brasileiros para nortear melhor os investimentos previstos. “Nosso esforço neste momento é para nos aproximarmos da indústria brasileira, mas também das entidades de ensino para firmarmos mais parcerias no intuito de promover as nossas transferências de tecnologia. Evidentemente, o fato de ter um apoio de autoridades e entidades locais, tipo a prefeitura, federação de indústrias e Cecompi, é muito importante no sentido de nos ajudar a identificar mais parceiros em potenciais. Dependendo desse número de parcerias podemos depois montar projetos”, ressaltou o executivo.
Disputa O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou que o processo de compra de 36 aviões de caça pela Força Aérea Brasileira, suspenso pela presidente Dilma Rousseff por restrições ao Orçamento, poderá não ser retomado e nem concluído em 2011. “A questão não está decidida. Está com a presidente. Vamos esperar um momento melhor em termos orçamentários”, concluiu. Embora o fechamento do negócio dos aviões, estimado em US$ 10 bilhões, não signifique desembolso imediato, segundo os executivos das companhias concorrentes, vai demorar pelo menos mais um ano de negociação de detalhes do contrato, o anúncio da compra de caças dificultaria a manutenção do discurso da presidente sobre a necessidade de se economizar verba da União. A concorrência para renovação da frota da FAB é discutida desde 2002, sendo iniciada no governo FHC. Foi retomada na gestão de Lula, mas sem conclusão. A demora conflita com o fim próximo da vida útil dos atuais caças brasileiros. Além disso, governo e forças armadas colocam ainda as novas necessidades de defesa do país, de proteção da camada pré-sal e da Amazônia, e com as pretensões do Brasil de ter maior peso político no mundo como fatores preponderantes para aquisição dos supersônicos. •
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Entrevista
Dois Pontos >Jair Bolsonaro, 56 anos, volta aos holofotes ao prestar diversas declarações públicas recheadas de frases supostamente racistas e homofóbicas; deputado federal garante que luta em defesa da família
“Acho que um filho drogado ou gay é quase que um filho morto”
Hernane Lélis São José dos Campos
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capitão da reserva do Exército e deputado federal Jair Bolsonaro (PP) é pai de quatro filhos. A família poderia ser menor, segundo ele, caso um dos rebentos fosse usuário de drogas ou homossexual. “Eu acho que um filho drogado ou gay é quase que um filho morto”. A afirmação foi dada pelo parlamentar em entrevista exclusiva à revista valeparaibano, quando questionado sobre a possibilidade de ter em casa um filho homossexual ou bandido. A pergunta incomodou Bolsonaro, que a classificou como preconceituosa. Mesmo adjetivo que o persegue há mais de duas décadas devido a diversas declarações recheadas de frases supostamente racistas e homofóbicas, como a que o colocou novamente nos holofotes, onde se referiu
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como promiscuidade o namoro de uma pessoa branca com outra negra ao ser perguntado sobre o assunto pela cantora Preta Gil em um programa de TV. “Quando eu falo em promiscuidade é a pessoa Preta Gil. Se você entrar no site dela tá lá que ela gosta de sexo com várias mulheres, a vida sexual dela não é privada”, explicou. Bolsonaro garante que luta em defesa da família, por isso não vê com bons olhos o relacionamento homoafetivo. Para embasar suas teorias, ele costuma buscar até mesmo trechos bíblicos, como em Coríntios 15:33, onde está escrito: “as más companhias corrompem os bons costumes”. “Se seu filho começar a andar com quem cheira [cocaína], ele tem tudo para cheirar. Se começa a andar com homossexual tem tudo para ser homossexual também porque ele é levado àquilo”, disse o deputado. O senhor foi reeleito, pela sexta vez na Câmara dos Deputados, com mais de 120 mil votos. Acredita que seus eleitores compartilham das mesmas opiniões que a sua?
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PERFIL NOME: Jair Messias Bolsonaro
NATURALIDADE: Campinas-SP
IDADE: 56 anos OCUPACÃO: Deputado federal pelo (PP-RJ)
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ESTADO CIVIL: Casado. Tem 4 filhos Fotos: José Cruz/ABr
< Compartilham sim. Eu defendo a pena de morte, sei que é uma cláusula aberta na Constituição, mas tem que ter pena de morte. Tem gente que comete cada crime que pelo amor de Deus. Defendo aqui (na Câmara) a redução da maioridade penal. Defendo uma coisa que é politicamente errada, que é o controle de natalidade. Defendo o fim da indústria de demarcações de terras indígenas, não que eu seja contra o índio. Defendo endurecer as penas criminais. Hoje, você não tem medo de ser condenado, você tem medo de ser preso porque uma vez condenado tem pena alternativa. Por isso, sim, hoje tem muita gente que compartilha das minhas opiniões. Teme ser cassado por suas declarações?
< Se levar a cassação será uma tremenda incoerência do nosso parlamento porque estamos aqui [na Câmara] para debater. Não interessa qual seja o assunto, é para debater qualquer assunto. Se eu quiser falar que nós temos que lançar uma expedição intergaláctica para povoar Marte, é problema meu. Você vota em mim porque
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estou certo ou não vota em mim porque eu sou maluco, agora não pode me cassar por causa disso. Nós estamos aqui para debater. Por isso que está no artigo 53 da Constituição que os parlamentares são invioláveis por quaisquer palavras, opiniões e votos. A polêmica declaração do senhor em entrevista a um programa de TV envolve a questão da homossexualidade. O senhor é homofóbico? < Eu estou sendo acusado de homofóbico, ok? No final de novembro estava passando por um dos corredores de Brasília, tinha uma sala de confraternização com algumas pessoas e eu pensei: ‘Poxa, o que está acontecendo aqui’. Lá dentro tinha algumas pessoas, seres humanos, mas com uma vestimenta esquisita, com uma fisionomia que foge da normalidade, para festejar a conclusão de um material, que chamam de didático, para ser distribuído em 6.000 escolas de 1º grau como forma de combate à homofobia. Eram cartilhas e cartazes que você vê tudo que não quer que seu filho ou sua filha veja até completar
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Entrevista
DISCURSO “EU DEFENDO A FAMÍLIA, DEFENDO OS BONS COSTUMES. NA BÍBLIA ESTÁ ESCRITO: ‘AS MÁS COMPANHIAS CORROMPEM OS BONS COSTUMES’. TODO MUNDO DIZ QUE O HOMEM É PRODUTO DO MEIO” 14 anos de idade, no mínimo. Não dá para aceitar isso. Acredita que um deputado gay tem menos competência para exercer a mesma função que um deputado heterossexual? < Você começou me perguntando sobre as minhas bandeiras políticas, eu pergunto quais são as bandeiras desse deputado... Jean Wyllys (PSOL-RJ), né? Ele tem as seguintes bandeiras: casamento entre pessoas do mesmo sexo, adoção de crianças por pais do mesmo sexo, ou seja, dois homens podem adotar um menino. Eu tenho a minha opinião e acho que é a opinião da maioria. Esse garoto adotado tem tudo para ser um “bi” [bissexual] no futuro. Geralmente um garoto quer seguir a função do pai, quer fazer o que o pai faz. Isso é natural. Agora, imagina isso: você está em um restaurante almoçando com a sua esposa, sua filha de 8 anos e teu filho de 5. Chega um casal homossexual e começa entrelaçar um beijo em cima da mesa e seus filhos veem aquilo. Eu não me sinto bem. Se eu mudar de cadeira eu pego de 3 a 5 anos de cadeia, segundo o que o deputado quer aprovar na Câmara. O cara vai virar e falar que eu mudei de cadeira porque ele estava dando uma bitoquinha. O senhor mudaria de cadeira? < Sim, não vou deixar um filho meu vendo duas pessoas do mesmo sexo se beijando ali. Isso é um direito meu. Quando eu vou a um restaurante não fico dando
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bitoca na minha esposa, não fico trocando carícias em público. Se falarem que é preconceito, então eu sou preconceituoso. Não tem como colocar um comando no meu cérebro e falar: ‘olha você vai ter que admitir’. Eu não vou admitir, não tem como. Em sua opinião, o que leva um homem ou uma mulher à orientação homossexual? < Em alguns casos, na verdade poucos casos, vêm da genética dele, eu acho. Mas a maioria é o convívio com outra pessoa. Se seu filho começar a andar com quem cheira [cocaína], ele tem tudo para cheirar. Se começa a andar com outro garoto que não gosta de estudar, não vai ter estímulo escolar nenhum. Se começa a andar com homossexual tem tudo para ser homossexual também porque ele é levado àquilo. Essa é a minha opinião e acabou. Não tem que se discutir. Eu defendo a família, defendo os bons costumes. Na bíblia está escrito: ‘as más companhias corrompem os bons costumes’. Todo mundo diz que o homem é produto do meio. O senhor segue alguma religião?
< Sou católico e frequentei por 10 anos a Igreja Batista. O senhor argumentou que não é racista mostrando uma foto do seu cunhado que, nas palavras do senhor, é negro. Também falou que é casado com uma negra...
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POLÊMICA “SOU A FAVOR DA PENA DE MORTE PARA QUALQUER CRIME PREMEDITADO SEGUIDO DE MORTE. POR EXEMPLO, O CARA VAI ASSALTAR UM BANCO E MORREU ALGUÉM. PENA DE MORTE PARA ELE” < Ela não é negra, não, é mulata clara. Não vou expor a foto da minha esposa para ninguém. Eu tenho um afilhado completamente negro, se olhar para cara dele você vai falar que é 100% negro, outro negro que trabalha comigo e em 99% dos locais que eu vou no Rio de Janeiro tem negro. Quer mais um fato importante, isso está em documentos militares. Em 1978 eu era aspirante, tinha lá uns 23 anos, e num exercício chamado falsa baiana, que são duas cordas por cima de um lago, estava fardado acompanhando o exercício quando um soldado negro caiu no lago. Imediatamente comecei a tirar minha roupa e pulei dentro d’água. Nadei 15 metros, mergulhei duas vezes para conseguir encontrá-lo. A gente o chamava de Celso Negão, não vão falar que eu o discriminava, era o apelido dele. O fato é que se eu fosse racista teria falado: ‘olha o negão está se afogando, deixa morrer que é menos um’. Eu arrisquei a minha vida. E a polêmica com a Preta Gil? < O que eu entendi da pergunta da Preta Gil foi como eu me comportaria se um filho meu tivesse um relacionamento com um gay. A minha resposta foi semelhante a uma pergunta anterior: ‘Isso nem passa pela minha cabeça, eles tiveram uma boa educação, um pai presente, então não corro esse risco’. É uma resposta muito semelhante a que dei à Preta Gil. ‘Não vou discutir promiscuidade porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o seu. Não corro esse risco’. Foi uma resposta padrão à palavra gay. É isso que aconteceu. Quando eu falo em promiscuidade é a pessoa Preta Gil. Se você entrar no site dela está lá que ela gosta de sexo com várias mulheres, a vida sexual dela não é privada como a sua e a minha e de muita gente. Quando a pessoa coloca num site na internet que gosta de relacionar com homens e mulheres ao mesmo tempo, inclusive ela é apaixonada por surubas, suruba vale tudo. Então, segundo o dicionário Aurélio, promíscua, é a pessoa que se entrega ao sexo com facilidade. Quando tudo aconteceu, eu salvei o site dela e no dia seguinte falou que o site havia sito invadido por simpatizantes do Bolsonaro. Do que o senhor sente mais saudades do tempo da ditadura? < Primeiro que ditadura... não existe esta palavra. Ditadura é quando você perde sua liberdade, você não pode sair do país. Você tem toque de recolher... Do Regime Militar...
< Nem regime militar teve. Tivemos uma época onde os presidentes eram militares. Esse povo aqui não sabe
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o que é uma ditadura. Você pode ver, os que combatem a ditadura, falam tanto de ditadura, o pessoal do PT todinho idolatra Fidel Castro, vai ver como é a vida em Cuba, idolatra Armadinejad do Irã que apedreja mulheres por motivos fúteis, idolatra o Hugo Chaves. Inclusive o Lula chamou o nosso Khadafi de grande irmão. Então é o seguinte, esse pessoal da esquerda que está no poder que falam em ditadura, criticam o período dos militares, na verdade são amantes de ditadura. Tenho saudade da ordem, do progresso, do respeito, da família. Bandido era tratado como bandido. Como é para o senhor ter uma mulher e ex-guerrilheira como presidente da República? < Isso daí começou com um trabalho de mídia. O pessoal sempre usou a mídia para conseguir seus objetivos. Você não pode falar em 64, o período militar, a partir de 31 de março de 64, tem que voltar aos anos 60 e todo aquele contexto que o Brasil vivia. Inclusive em 62, o PCdoB mandou um de seus primeiros homens ir à China comunista estudar na Academia Militar como deveria ser feito uma revolução no país. Para esse pessoal a revolução só poderia ser feita através de fuzil e nunca de forma pacífica como pregava o PCB. É tudo propaganda, o grande prestígio, quer queira quer não, é que o Lula acabou conseguindo ao longo dos seus dois mandatos. Se o Lula indicasse um poste, o poste seria eleito. Foi uma transferência de voto como nunca visto antes na história desse país. O que o senhor espera desse mandato da Dilma? < Espero que ela tenha serenidade. Espero, torço para isso. Apesar de ficar com os dois pés atrás. O senhor fala que é a favor da tortura e da pena de morte. Em quais situações exatamente? < Sou a favor da pena de morte para qualquer crime premeditado seguido de morte. Por exemplo, o cara vai assaltar um banco e morreu alguém. Pena de morte para ele. Vai assaltar a casa de um cidadão qualquer, matou lá um chefe de família, esposa dele ou a filha, pena de morte nele. Não é uma briga de trânsito que a gente vai condenar. Na visão do senhor, o que seria pior? Ter um filho gay ou bandido? < Eu acho que um filho drogado ou gay é quase que um filho morto. Agora, não posso falar para você se prefiro ter um filho viado ou drogado. Para mim, a princípio, viado vira drogado. A princípio é um passo para experimentar outros prazeres da vida. Não tenho resposta para essa pergunta sua. É uma pergunta preconceituosa. •
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Economia NOVOS EMERGENTES
A massa que move o Brasil Classe C brasileira já representa 53% da população no país; novos mercados são abertos para atender desejos e consumos desse público Hernane Lélis São José dos Campos
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les abrem o próprio negócio, ingressam na faculdade, conseguem consolidar projetos de vida e alcançar sonhos que poderiam não passar de devaneios. A classe C brasileira cresceu e hoje representa mais da metade da população do país. São 101 milhões de pessoas que deixaram as camadas pobres da sociedade para impulsionar a economia nacional criando mercados totalmente voltados para atender suas necessidades e anseios, proporcionando maior qualidade de vida na busca pela ascensão social. A nova classe média ganhou um reforço de 19 milhões de pessoas no ano passado. Com isso, passou a representar 53% da população total do Brasil, que é de 191,79 milhões. Os dados fazem parte do Observador 2011, pesquisa encomendada pela Cetelem BGN, empresa coligada ao banco francês BNP Paribas, que apontou também um salto na renda média dos brasileiros, sendo mais acentuada nas classes D e E, cuja renda familiar é de R$ 809. Esse valor é 48,44% maior do que em 2005, ano do início
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da pesquisa no país (R$ 545). Marcos Aurélio Frutuoso, 25 anos, é o estereótipo da parcela da população que vem buscando melhorar de vida há mais de cinco décadas. Ele migrou da cidade de Guarapuava, no Paraná, com a família para tentar a sorte na riqueza e no caos paulistano. Trabalhou com panfletagem, terminou o Ensino Médio, fez um curso de cabeleireiro, profissão que exerceu durante cinco anos como subordinado até conseguir um empréstimo de R$ 1.000 no BEJ (Banco do Empreendedor Joseense) para entrar como sócio em um salão. Já com a dívida quitada e os negócios rendendo um bom lucro, resolveu buscar um novo financiamento. Dessa vez investiu R$ 15 mil para abrir o próprio salão. Hoje, aluga o espaço para outros três profissionais da área e possui uma boa cartela de clientes que o ajuda a garantir um rendimento mensal de R$ 3.500. O dinheiro é usado para manter o salão e pagar algumas contas da casa onde mora, no bairro Águas de Canindú, zona norte de São José, juntamente com o pai, mãe. “Pretendo fazer uma faculdade de administração de empresas e futuramente abrir uma rede de salões, que funcionará também como escola para formação de cabeleireiros.
COMÉRCIO POPULAR Multidão no calçadão da rua Sete de Setembro, no centro de São José
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Fotos: Flávio Pereira
Posso dizer que minha vida melhorou muito nesses últimos anos, vou conseguir ter maior conforto dentro de casa e dar uma qualidade de vida melhor aos meus pais. Minha mãe é dona-de-casa e meu pai é azulejista, se ele ficar desempregado posso assumir a casa por um tempo”, disse Marcos Aurélio. O cabeleireiro conseguiu mudar seu padrão de vida não só pelos seus esforços pessoais, mas também graças ao alicerce econômico alcançado pelo país nos últimos anos. A estabilidade na economia brasileira, segundo Marcos Etchegoyen, presidente da Cetelem BGN, abriu as portas do mercado de consumo a uma fatia considerável da população permitindo que avançassem degraus significativos na escada social, aumentando substancialmente a classe C, cuja renda familiar mensal varia entre R$ 1.115 e R$ 4.807. “O crescimento da renda foi em todas as classes sociais, assim como o aumento da renda familiar disponível, que é o saldo após a quitação dos débitos. Agora, isso tudo é reflexo também do que está acontecendo com o Brasil, como por exemplo, a valorização do Real, o nível de empregabilidade, investimento na Educação, entre outros fatores políticos e econômicos favoráveis ao bolso do trabalhador”, explicou o executivo. Luxo de massa A imposição da classe média, ávida para liberar um desejo de consumo represado por décadas, é um desafio paralelo para o mundo dos negócios. Durante muitos anos, boa parte das empresas ignorou essa camada da população, agora o foco é conceber estratégias para se comunicar e vender produtos que atendam as exigências dessas pessoas, que hoje não se preocupam apenas com preço baixo e crédito fácil, querem também qualidade, conforto e status. Foi olhando por essa ótica que a companhia TAM resolveu inovar no setor e fechar no último mês uma parceria inédita com a empresa Pássaro Marron, que atua em várias cidades da região, para a venda de passagens aéreas nos guichês do terminal rodoviário da cidade. O acordo permitirá, por exemplo, que um passageiro de Aracajú possa viajar para Campos do Jordão, Aparecida ou para o Litoral Norte de São Paulo comprando todo o pacote aéreo e terrestre. “A parceria é inovadora, pois amplia as facilidades de acesso às viagens de avião para as classes emergentes, combinadas com o transporte de ônibus para os trechos envolvendo municípios que não são servidos por
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Economia
aeroportos”, disse Manoela Amaro, diretora de Marketing da TAM. Se viajar de avião não é mais luxo, vestir-se com roupas assinadas por renomados estilistas também já não é exclusividade dos endinheirados. Para atender a esse novo cliente formado pela classe C, que antes se contentava em comprar roupa e agora quer consumir moda, as redes varejistas começaram a apostar nas grifes. Depois de ter suas araras com peças desenhadas por Oskar Metsavaht, da Osklen, a Riachuelo fechou uma parceria com a estilista Cris Barros para a confecção de mais de 100 peças. A coleção chegou às lojas da rede no último mês com preços que vão de R$ 39 a R$ 279. Em 2010, a sua rival C&A apostou em coleções desenvolvidas pelo Espaço Fashion e pela Maria Bonita Extra. A estratégia foi repetida neste ano, com uma coleção assinada pela estilista Stella McCartney, cuja marca homônima também é consumida na alta sociedade. As roupas criadas pela filha de Paul McCartney somam 27 itens e chegaram às lojas no final de março. “Essa é uma mudança que veio para ficar, não é uma coisa temporal. O cliente classe C sabe o que está na moda e conhece os estilistas, mas não querem pagar R$ 300 ou R$ 400 numa blusinha. São pessoas exigentes, que buscam informações sobre as novas tendências. Hoje, temos estilistas que nos procuram para assinar peças devido a liberdade que damos para a criação”, disse Marcella Martins, gerente de Marketing da rede Riachuelo. E não é somente no setor de turismo e redes varejistas de roupas que a classe C está conquistando seu espaço. Já é notória sua participação no segmento de telefonia, veículos e mercado imobiliário. A nova classe média avança agora sobre a Bolsa de Valores. Pesquisa feita pela consultoria Plano CDE, a pedido da Bolsa de São Paulo, revelou que 20% dos investidores pessoas físicas –algo próximo de 120 mil–, têm renda familiar mensal entre R$ 2.500 e R$ 4.500. Oficialmente, a BM&FBovespa não tem como constatar se houve um crescimento, já que esse é o primeiro estudo feito sobre a participação da classe C na Bolsa. São investidores que estão saindo da poupança e partindo em busca de maiores oportunidades de rendimento, mesmo que os recursos sejam limitados. De olho nesse filão, as corretoras estão se organizando com palestras e cursos, alguns gratuitos, inexistência de aplicação mínima e outras ferramentas que possam atrair esse novo mercado.
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CABELEIREIRO Marcos Aurélio Furtuoso, 25 anos, que abriu seu salão com um empréstimo do BEJ de São José
NÚMEROS 19 milhões De brasileiros migraram para classe C em 2010
53% Da população brasileira ocupa hoje a classe C
1.500 Foi a quantidade de pessoas entrevistadas na pesquisa
53% Dos entrevistados pretendem gastar mais neste ano
“O acesso à informação tem facilitado esse encontro da classe C com o mercado de ações. Eles começam a ouvir dos amigos, no trabalho, e resolvem procurar um especialista para orientá-los melhor. Muitas corretoras estão fugindo dos grandes centros para captar esse público. A classe C vem de uma cultura de prestações, esse compromisso é muito importante numa aplicação, já que para ter retorno é preciso disciplina e persistência”, explicou Priscila Vargas, gerente Comercial da Planner Corretora de Valores de São Paulo. Educação Financeira Mais renda, mais consumo, mais esperança. Foi com essa prerrogativa que o governo anterior explorou vastamente a ascensão social da classe C como prova de crescimento econômico. Na avaliação do economista Ricardo Amorim, apresentador do programa “Manhattan Connection”, do canal GNT, a nova classe média brasileira precisa agora se conscientizar em relação aos gastos, saber fazer uso da situa-
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ÔNIBUS E AVIÃO Guichê da Pássaro Marron, na Rodoviária Nova de São José, onde também vende passagens aéreas
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ção econômica do país e das próprias finanças para não voltar ao patamar social anterior. “Como estamos tratando de uma classe emergente, existe uma série de desejos de consumo que foram reprimidos durante muito tempo. É importante alertar quanto ao uso do crédito, usar sem exageros. O grande desafio dessa nova classe média é isso, mas a gente só aprende fazendo. Acho que esse movimento vai continuar ao longo dos anos, somente uma grande recessão na economia pode frear isso”, disse Amorim. O presidente da Celetem BGN, Marcos Etchegoyen, também faz questão de alertar sobre a utilização do crédito. “Nós estamos recebendo quase 20 milhões de pessoas que estão começando a consumir no Brasil. É evidente que essa população vai ter que saber de que forma utilizar o crédito a seu favor e não utilizá-lo de uma forma que amanhã ou depois irá sofrer com isso. Neste momento entra também a responsabilidade das instituições oferecerem o crédito de forma consciente, quase que de forma educativa para essa nova demanda de consumidores”, afirmou. •
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Ciência & Tecnologia
Fabíola de Oliveira
Fomos para o espaço e, aos trancos e barrancos, construímos satélites
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á pouco mais que três décadas muitos cantos de nosso planeta eram ainda desconhecidos para a grande maioria das pessoas. Onde ficavam Timbuktu, um ponto na imensidão da África, Timphu, no antigo reino do Butão, ou Eirunepé, isolado no centro da Amazônia? E, que coisa danada, hoje qualquer criança semi-alfabetizada aperta um botão no teclado e em segundos localiza essas e qualquer outra cidadela recôndita do planeta. Graças, sobretudo, a uma ferramenta sem a qual seria impossível conhecer tanto a Terra e o que já sabemos do Universo circundante –os satélites artificiais. Os satélites têm aplicações que seriam inimagináveis quando foram concebidos, há mais de cinco décadas. Recentemente, por exemplo, imagens de satélites estão sendo utilizadas para ajudar a mapear os estragos e planejar a reconstrução de áreas atingidas por cataclismos, como o terremoto do Haiti e, mais recentemente, do Japão. Nos Estados Unidos, a AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência) está trabalhando em um projeto denominado Tecnologias Geoespaciais e Direitos Humanos, que investiga ações de violação de direitos humanos no Sudão e na Nigéria por meio de imagens de satélites. Nelas é possível observar saques a
TECNOLOGIA “ Estamos muito aquém da Índia e do Canadá, que começaram na mesma época” comunidades, destruição de pequenas culturas agrícolas, entre outros ataques contra a população. Saber conceber, desenvolver e produzir satélites é uma capacidade tecnológica que poucos países adquiriram até o momento. E o Brasil é um deles. Aos trancos e barrancos (como diria Darcy Ribeiro) desenvolvemos nossos primeiros satélites, mas ainda estamos muito aquém de países como a Índia e o Canadá, que começaram seus programas na mesma época que o Brasil. As mazelas que dificultaram o nosso progresso nesta área de satélites, são as mesmas de sempre. Má administração de recursos públicos, descontinuidade de
verbas e programas, arranjos institucionais conflitantes, e que tais. Neste ano em que comemoramos em 12 de abril a primeira viagem de um homem ao espaço, o russo Yuri Gagarin, também vamos comemorar os 50 anos do Inpe, no próximo mês de agosto. A presidente Dilma declarou recentemente que vai dar todo apoio ao programa de satélites no Brasil, pois parece ter percebido a importância desta ferramenta tecnológica para o controle do território brasileiro. Tomara que de fato o faça. Será bom para o país, para as instituições e indústrias envolvidas no programa e, certamente, para São José dos Campos. •
Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br
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PARA DEFINIR OS CAMINHOS DA CIDADE, A PREFEITURA VAI OUVIR O CIDADÃO.
De abril a junho, a Prefeitura vai realizar uma ampla pesquisa na cidade, para conhecer melhor o trajeto que as pessoas fazem no seu dia a dia, de carro, ônibus, a pé e de bicicleta. Cerca de 5.000 residências de todas as regiões serão visitadas, mostrando como e para onde as pessoas se locomovem. Isso vai ajudar a planejar o desenvolvimento da cidade e melhorar a qualidade de vida do cidadão, seja qual for o seu caminho. Informações: www.sjc.sp.gov.br ou ligue 156.
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Vida Digital
NA WEB
Perigos das redes sociais Ninguém discute os benefícios do uso desses aplicativos, mas existe o outro lado da moeda: uso inconsequente pode provocar sérios danos à reputação e à imagem e levar a situações extremas como demissão, divórcio e até processos na Justiça
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Yann Walter São José dos Campos
Brasil é um dos países do mundo que mais acessam as redes sociais. De acordo com uma pesquisa publicada em julho de 2010, 87% dos internautas brasileiros são usuários deste tipo de serviço. Considerando que o Brasil tem pouco menos de 74 milhões de internautas (de uma população de 180 milhões de pessoas), pode-se inferir que mais de 64 milhões de brasileiros frequentam sites como Facebook, Orkut, MySpace, Twitter, Linkedln e outros. O Orkut continua na liderança, com 30 milhões de usuários, mas o Facebook está crescendo a uma velocidade assustadora. Hoje, a rede criada por Mark Zuckerberg
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já tem mais de 13 milhões de adeptos, colocando o Brasil na 12ª posição mundial em quantidade de usuários. Vale lembrar que este número era de 6 milhões em setembro do ano passado, o que supõe um aumento de 119% em sete meses. No mundo, o Facebook já tem mais de 500 milhões de usuários. “O Brasil foi um dos únicos países onde o Orkut manteve uma frequentação estável. No resto do mundo, o Facebook explodiu e o Orkut despencou”, afirmou Eugênio Trivinho, professor da PUC-SP e coordenador do Cencib (Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Comunicação e Cibercultura). O fenômeno das redes sociais ganhou tanta importância que muitas faculdades passaram a oferecer cursos dedicados exclusivamente ao assunto. “Já faz um tempo que as redes sociais passaram a ser utilizadas por todos os segmentos da população, e não apenas por jovens e adolescentes. Hoje em dia,
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o uso profissional é tão importante quanto o recreativo. Esta tendência se consolidou em 2008, com a chegada do Facebook ao Brasil”, destacou o professor. De fato, segundo recente pesquisa do Ibope, a faixa etária que concentra o maior número de usuários do Facebook no país é a de 25 a 34 anos, com 33% do total. Vêm depois os 18 a 24 anos, com 30%, e os 35 a 44 anos, com 15%. Ninguém discute os benefícios do uso das redes sociais. No âmbito político, sua incrível capacidade de mobilização de massas foi comprovada recentemente pelos sucessivos levantes nos países árabes. No aspecto econômico e financeiro, todas as empresas se renderam a sua utilização como poderosa ferramenta de divulgação e marketing. Na parte pessoal, permite a cada usuário desenvolver uma teia internacional de contatos, útil também para resolver questões profissionais.
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Especial Vida Digital
Porém, há o outro lado da moeda. O uso inconsequente das redes sociais pode provocar sérios danos à reputação e à imagem e levar a situações extremas como demissão, divórcio e até processos na Justiça. De acordo com estudo publicado ano passado pela empresa norte-americana especializada em segurança para e-mail Proofpoint, 7% das empresas do mundo já demitiram um funcionário por causa de seu comportamento em redes sociais, e 20% tiveram que advertir um ou mais empregados pelo mesmo motivo. Não custa lembrar que criticar um superior hierárquico ou a empresa em que se trabalha através das redes sociais pode dar demissão por justa causa. Nos casos mais graves, a firma ou o funcionário ofendido podem até recorrer à Justiça. “Para a justa causa, é aplicado o artigo 482 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que estipula que ofensas dirigidas ao empregador e a superiores hierárquicos constituem motivo para rescisão de contrato”, disse Renato Leite Monteiro, advogado especialista em direito eletrônico. “A parte ofendida pode até acionar a Justiça e abrir um processo por calúnia, injúria e difamação, e pedir um ressarcimento por danos morais”, acrescentou. Justa causa Os casos de demissão provocada por uma declaração infeliz publicada no Facebook ou no Twitter são tantos que seria impossível citar todos. Um dos mais recentes envolveu um editor da Folha de São Paulo e uma repórter do Agora SP, demitidos por postarem comentários sobre a morte do vice-presidente José Alencar e o tratamento da notícia pelo jornal. Em um dos mais divertidos, uma britânica soltou o verbo no Facebook dizendo que odiava seu emprego e chamando seu chefe de idiota, esquecendose de um pequeno detalhe: tinha adicionado o dito cujo em sua lista de “amigos”. A resposta não demorou, e veio à altura: “Oi, acho que você esqueceu que me adicionou aqui. Não se incomode em aparecer amanhã. Vou mandar sua carta de demissão pelo correio. Sim, estou falando sério”. Por essas e outras, pense duas vezes antes de postar qualquer comentário sobre seu ambiente profissional no Facebook, no Twitter, ou em qualquer outra rede social. Muito cuidado também com as imagens publicadas em seu perfil. Fotos ou vídeos
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de você e seus amigos bêbados em um churrasco ou em uma festa também podem ser motivo para a perda de emprego, se forem vistas pelas pessoas erradas. “A empresa pode alegar incontinência de conduta, ou seja, argumentar que o funcionário não está transmitindo uma imagem compatível com a da instituição. Mas não existe um quadro jurídico específico. Cada caso é um caso”, frisou o advogado, lembrando que a incontinência de conduta também é mencionada no artigo 482 da CLT. Da mesma forma, se usar as redes sociais para publicar informações sigilosas ou rumores sobre sua empresa, correrá o risco de prejudicá-la e, portanto, de sofrer consequências, profissionais ou legais. Assim como seus funcionários, as empresas podem ter sua imagem arranhada por um comentário ou um vídeo publicado em uma rede social. Neste sentido, o caso da Brastemp é emblemático. Em outubro do ano passado, um consumidor insatisfeito com a geladeira que acabara de comprar, e irritado com o fracasso de todas as tentativas empreendidas para resolver o problema com a empresa, postou um vídeo no YouTube contando sua história. O relato se alastrou pelo Twitter e,
em pouco tempo, mais de 700 mil pessoas já tinham assistido o vídeo. “As redes sociais atuam como um agente amplificador, devido a seu imenso poder de propagação. O impacto causado por uma foto, um vídeo ou uma declaração é muito maior nas redes sociais, pois atinge milhares, às vezes até milhões de pessoas em todo o mundo em um período de tempo muito curto”, explicou Trivinho, o professor da PUC. É por este motivo que cada vez mais empresas criam perfis em redes sociais, para estabelecer um canal
Assim como funcionários, as empresas podem ter sua imagem arranhada por um comentário ou um vídeo publicado em uma rede social por algum cliente ou fornecedor descontente
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Valeparaibano promove debate sobre importância do uso das mídias sociais A revista valeparaibano organiza este mês, em São José dos Campos, um debate sobre mídias sociais. O evento, que é fechado para associados do WTC (Business Clube Vale), acontece no dia 24 no hotel Promenade Enterprise. A previsão é que o debate comece às 8h30 e seja encerrado às 11h30. Os participantes vão discutir sobre as interferências das mídias sociais na vida das empresas em quatro áreas específicas: tecnologia da informação, marketing, financeiro e jurídico. Dois convidados já confirmaram presença: o advogado Renato Leite Monteiro, especialista em direito eletrônico, e Luciana Souza, da área de marketing promocional e comunicação interna da Embraer. O objetivo do evento é estudar a forma como as mídias sociais estão sendo usadas pelas empresas e os benefícios decorrentes de sua utilização, bem como as eventuais consequências do mau uso destes aplicativos, que pode motivar até ações judiciais. Serviço O hotel Promenade Enterprise fica na avenida deputado Benedito Matarazzo, 9009, no Jardim Oswaldo Cruz, na região central.
Pesquisa da Academia Americana de Advogados Matrimoniais aponta que 4 em cada 5 advogados relataram um aumento nos processos de divórcios causados por redes sociais
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direto com os consumidores e ser mais ágil e eficiente na resolução dos problemas apontados por eles. Os perigos decorrentes do uso inconsequente das redes sociais não se limitam à esfera profissional. Nos Estados Unidos, o Facebook é citado cada vez mais em casos de divórcio. De acordo com uma pesquisa da Academia Americana de Advogados Matrimoniais (AAML, na sigla em inglês) publicada em março, quatro em cada cinco advogados relataram um aumento do número de divórcios causados pelas redes sociais, sobretudo pelo Facebook. Segundo o estudo, um dos fatores causadores destas separações seria o comportamento diferente de uma das partes nas redes sociais, ou seja, quando o perfil da pessoa não corresponde ao que ela aparenta ser na vida real. Amplificador Muitas pessoas têm dificuldades em avaliar corretamente o poder amplificador das redes sociais. Um caso específico foi bastante divulgado pela imprensa. Em julho do ano passado, uma briga entre duas amigas de Sorocaba, interior de São Paulo, tomou proporções inesperadas quando uma delas, ao descobrir que a outra tinha um caso com seu o marido, resolveu tirar satisfações e gravar toda a cena –que incluiu tapas e chutes na ‘traidora’– em um vídeo que postou no YouTube e em sua página de Orkut. Arrependida, retirou o vídeo no mesmo dia, mas já era tarde: tinha sido replicado e postado novamente por outros internautas. “Não tinha noção. Achei que ficaria só no meu círculo de amigos. Queria que eles soubessem”, explicou então. Em outro exemplo mais recente, uma adolescente australiana decidiu utilizar o Facebook para convidar seus amigos a sua festa de aniversário, que aconteceria na casa dela. O evento teve que ser cancelado, e a polícia acionada, depois de 215 mil pessoas terem confirmado presença através da rede social. Outro problema, que envolve principalmente mulheres e adolescentes, é a exposição em redes sociais de fotos ou vídeos eróticos gravados pelo parceiro. Na maioria das vezes, estas mulheres são vítimas de um ex-namorado ou ex-marido que joga gravações comprometedoras na internet por vingança ou até por diversão, para mostrar aos amigos. Cabe lembrar, aliás, que se trata de um crime, previsto pela lei brasi-
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leira. “As penas criminais para este tipo de delito variam de três meses a um ano de prisão. O sujeito ainda deverá pagar um ressarcimento por danos morais”, afirmou o advogado Monteiro. No entanto, quando a exposição é consentida por ambas as partes, não há nada que se possa fazer. Por serem mais expostas, as celebridades deveriam estar mais cientes da necessidade de pensar duas vezes antes de postar qualquer declaração ou foto nas redes sociais. Pois nem sempre é o caso. Em março do ano passado, o repórter Danilo Gentili, do programa CQC, foi alvo de uma enxurrada de críticas após chamar a apresentadora Hebe Camargo de “múmia” em um comentário no Twitter. Em agosto, três jogadores do Santos se envolveram em um bate-boca com torcedores, também via Twitter. A resposta ríspida dada pelo goleiro Felipe a um santista que o chamara de ‘mão de alface’ foi vista por milhares de brasileiros através das redes sociais, gerando grande mal-estar e obrigando a diretoria do clube a intervir. Várias autoridades também passaram vergonha por conta das redes sociais. Mês passado, um dia depois do terremoto que matou mais de 15 mil pessoas no Japão, o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Acre teve que se desculpar publicamente depois de postar no Twitter uma piada de mau gosto sobre a aparência dos japoneses. Apesar de ter tirado o post e pedido desculpas no mesmo dia, continuou recebendo dezenas de comentários indignados em seu perfil. A Agência Europeia para a Segurança das Redes e da Informação (Enisa, na sigla em inglês) publicou em 2008 uma série de recomendações sobre o uso seguro das redes sociais. As duas primeiras são as seguintes: ‘limite a quantidade de informações pessoais que coloca on-line’ e ‘lembre-se sempre que a internet é um local público’. Percebese nestas orientações que uma qualidade fundamental, que todo usuário de redes sociais precisa desenvolver, é o bom senso. “A internet é um espaço anômico, ou seja, sem normas. Na ausência de normas, devem prevalecer noções como discernimento, ética, prudência e consciência. Na verdade, as recomendações do Enisa abrangem cuidados que devem ser tomados de um modo geral. Os preceitos morais da vida civil têm de ser aplicados também nas redes sociais”, finalizou o professor Eugênio Trivinho. •
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Fotos ilustrativas: Flávio Pereira
REGISTRO O fotógrafo Adenir Britto, que à época registrou as imagens dos pontos de luz observados em S. José
Apesar da liberação de arquivos confidenciais pela Aeronáutica, episódio conhecido como ‘A noite oficial dos óvnis’ continua sem explicação; para ufólogos, conclusões da apuração sobre pontos de luz vistos em maio de 1986 não serão reveladas Yann Walter São José dos Campos
m dos acontecimentos mais misteriosos da história de São José dos Campos completa 25 anos neste mês. O episódio, que ficou conhecido como ‘A noite oficial dos óvnis’, teve repercussão nacional, principalmente porque, pela primeira e única vez, um ministro brasileiro admitiu a entrada de objetos voadores não-identificados no espaço aéreo do país. Porém, um quarto de século depois, e apesar da recente liberação pela Aeronáutica de arquivos confidenciais sobre o assunto, muitos pontos continuam sem explicação, até porque os principais protagonistas da história divergem em seus relatos. Tudo começou na noite de 19 de maio de 1986, quando um operador da torre de controle do aeroporto de São José avistou dois pontos de luz no céu. Ele entrou em contato com o avião pilotado pelo coronel Ozires Silva e o comandante Alcir Pereira, que se encontrava na altura de Poço de Caldas, em Minas Gerais. Ambos estavam voltando de Brasília, onde o coronel, então presidente da Embraer, fora aceitar o desafio de assumir a liderança da Petrobras. Os dois localizaram os pontos de luz, em dois lugares diferentes. “O primeiro tinha as características de um astro: luz forte e fixa no espaço. No entanto, notamos pequenas diferenças. Sua cor era amarela, tendendo para o vermelho, e ele apresentava uma forma oblonga. Não estranhamos a cor, pois o objeto estava provavelmente acima da cidade de São Paulo e a poluição característica daquela época do
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ano provocava frequentemente mudanças nas cores. O que nos causou estranheza foi o formato oblongo e principalmente o fato de o objeto ter sido detectado pelo radar. Astros sempre aparecem redondos, e nunca geram imagens nos radares”, relembrou Ozires Silva, em conversa com a revista valeparaibano. “A medida que nos aproximávamos do objeto ele ia se desvanecendo, até que desapareceu por completo. Solicitei então ao controlador a posição do outro objeto e voei para leste, para um ponto ao sul de Taubaté. Lá encontramos uma luminosidade, abaixo do nosso nível de voo, que parecia ser uma lâmpada fluorescente. Não acreditei que aquilo pudesse ser o objeto detectado pelo controlador no radar, pela simples razão de estarmos voando a uma altitude máxima de 600 metros e ser virtualmente impossível que um objeto qualquer, em nível inferior ao nosso, fosse detectado por uma antena radar instalada em Sorocaba, a 250 km de distância”, continuou o coronel, que descreveu o episódio no livro ‘Decolagem de um sonho: história da criação da Embraer’, publicado em 1998. Pouco antes de Ozires Silva encontrar a segunda luminosidade, o Centro do Tráfego Aéreo de Brasília já havia sido alertado sobre os estranhos pontos de luz, e despachado caças Mirage e F5-E de Santa Cruz (Rio de Janeiro) e de Anápolis (Goiás) para monitorá-los. É neste momento que as versões divergem. De acordo com o Infa (Instituto Nacional de Investigação de Fenômenos Aeroespaciais), uma entidade civil dedicada à pesquisa e à divulgação de fenômenos aeroespaciais, todos os pilotos afirmaram ter visto em seus radares de bordo pontos de luz se deslocando de um lado para o outro e de cima para baixo. Um deles disse ter visto um destes objetos se movimentando em uma velocidade superior a mil quilômetros por hora. Outro afirmou ter sido perseguido por 13 pontos luminosos. No entanto, Ozires Silva insistiu sobre o fato de que os dois pontos de luz localizados por ele e pelo comandante Alcir Pereira eram imóveis. O curioso é que o Infa publica em seu site declarações dos dois citando “variações muito rápidas de velocidade” (Ozires) e “uma grande velocidade” (Alcir). “Para mim os pontos estavam parados, não em movimento. O comandante Alcir diz a mesma coisa”, insistiu o coronel da reserva, hoje reitor da Unimonte, na Baixada Santista. Resta que os acontecimentos levaram o então ministro da Aeronáutica, Octávio Júlio Moreira Lima, a fazer o seguinte pronunciamento: “Entre 20h e 1h, pelo menos 21 objetos
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UFOLOGIA O ufólogo Ricardo Varela Corrêa: “Pela primeira vez na história, um ministro reconheceu a existência de óvnis no espaço aéreo”
foram detectados pelos radares brasileiros”. “Pela primeira vez na história, um ministro reconheceu a existência de óvnis no espaço aéreo brasileiro. Moreira Lima admitiu que na noite de 19 de maio de 1986, 21 objetos voadores não-identificados invadiram o território nacional”, enfatizou o ufólogo Ricardo Varela Corrêa, vice-presidente do Infa, em entrevista à revista valeparaibano. Silêncio De acordo com Varela, o ministro da Aeronáutica, que saiu do cargo em 1990, foi a última autoridade de alto escalão a falar abertamente sobre o tema. “Foi aberta uma investigação, mas as conclusões nunca foram reveladas ao público. Após anos de insistência, a CBU (Comissão Brasileira de Ufólogos) recebeu um documento que mencionava ‘problemas eletromagnéticos’ como única explicação para o ocorrido. Mas pelos relatos dos envolvidos, pelas condições meteorológicas registradas naquela noite e pelas circunstâncias de um modo geral, acho esta hipótese altamente improvável”, declarou. Na época, o ministro Moreira Lima disse: “Só podemos dar explicações técnicas, e não as temos”. Vinte e cinco anos depois, esta continua sendo a posição oficial sobre ‘A noite oficial dos óvnis’. “Existem inúmeras teorias, mas a posição oficial é essa mesmo. O que aconteceu naquela noite segue sem explicação. Não
temos resposta para tudo. Ninguém sabe ao certo como foi criado o Universo, por exemplo. Vi algo que parecia um astro, só que apareceu no radar. Então, o que era? Não sei. Não é necessário inventar teorias. Basta aceitar que algumas coisas são inexplicáveis”, desabafou Ozires Silva, admitindo que até hoje, não gosta de falar sobre o assunto. Segundo diversos depoimentos citados na época pela imprensa nacional, os pontos de luz não foram vistos somente por militares, mas também por civis de São Paulo, do Rio de Janeiro e de São José dos Campos. Há 25 anos, o fotógrafo Adenir Britto, 48 anos, que trabalhava no então jornal valeparaibano, teve a oportunidade de tirar fotos destas luzes. “Lá pelas 20h, quando estávamos no processo de fechamento do jornal, recebemos várias ligações de pessoas que afirmavam estar vendo discos voadores. No início não demos importância, achamos que era trote, mas o número de ligações foi aumentando. Eu e a chefe de reportagem da época decidimos sair para ver o céu, que estava limpo, sem nuvens. Vimos então uma concentração de 10 a 20 pontos luminosos multicoloridos. As cores dominantes eram amarelo, laranja e vermelho. As luzes piscavam e se moviam. Faziam deslocamentos circulares, movimentos acrobáticos. Fiquei particularmente impressionado com as arrancadas em velocidade, seguidas por desacelerações bruscas. Nunca tinha visto nada igual”, contou
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o fotógrafo, destacando que não foi possível distinguir o formato dos supostos objetos. O episódio vivenciado pelo fotógrafo quase não foi noticiado pela imprensa nacional. “Não havia tanta visibilidade naquela época. Não existia internet, a informação circulava menos”, explicou. Ou seja, as fotos dos pontos de luz em São José não foram publicadas por outros jornais, ou reproduzidas nas TVs. Entretanto, cerca de dois meses depois, um professor universitário e escritor norte-americano chamado James Hurtak, conhecido no meio da ufologia, se apresentou ao jornal junto com dois oficiais do CTA (Centro Técnico Aeroespacial) de São José e um intérprete e pediu os negativos originais das fotos para estudá-las. “O editor-chefe da época cedeu o material. Eu não estava no jornal quando isso aconteceu, eles vieram de manhã e eu começava o trabalho à tarde. Sei que Hurtak se apresentou como um cientista da Nasa [a Agência Espacial americana] e levou
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todos os negativos. Disse que ia fazer pesquisas, mas nunca deu retorno”, lamentou. Cabe frisar que, segundo os próprios ufólogos, 90% dos registros fotográficos de óvnis em circulação são enganos. “Perto de 90% de tudo que é registrado em filmes e fotos, não é que seja fraudulento, mas é engano. A pessoa filma ou tira foto de algo no céu e acha que é uma nave. Isso é o que mais acontece”, admitiu Ademar José Gevaerd, presidente da associação civil CBPDV (Centro Brasileiro de Pesquisa de Discos Voadores), em entrevista publicada em agosto passado pelo portal Terra. “Entretanto, temos ainda uma quantidade imensa de registros ufológicos autênticos”, destacou. Em 2009, a Aeronáutica deu início a um processo de liberação de arquivos confidenciais sobre óvnis, que incluem principalmente relatos e depoimentos sobre fenômenos aéreos no país. Os documentos liberados podem ser consultados no Arquivo Nacional. Procurada pela revista, a Aeronáutica ressal-
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tou, por meio de seu Centro de Comunicação Social, que não tem estrutura nem especialistas para investigar as ocorrências registradas. “É função do Comdabra (Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro) apenas registrar as ocorrências, visto que não há especialistas no assunto nem estrutura e processos para investigação. O Comando da Aeronáutica não dispõe de estrutura especializada para realizar investigações científicas a respeito deste tipo de fenômeno aéreo, o que impede a instituição de apresentar qualquer relatório sobre estes acontecimentos”, respondeu em nota oficial. Vale destacar, porém, que nem sempre foi o caso. Em 1969, a Aeronáutica criou um departamento de estudos sobre óvnis, formado por civis e militares. O Sioani (Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados) ficava no IV Comar (Quarto Comando Aéreo Regional), em São Paulo, e encerrou suas atividades em 1972. De acordo com Ricardo Varela, o acervo transmitido ao Arquivo Nacional não contém as conclusões da investigação supostamente aberta pela Aeronáutica depois dos acontecimentos de 19 de maio de 1986. Entretanto, segundo Ademar José Gevaerd, presidente da associação civil CBPDV, existiria um documento datado de 1986 em que o Ministério da Aeronáutica confirma que os objetos vistos naquela noite eram sólidos, e refletiam inteligência em seu controle. Outros casos Para Ricardo Varela, a noite oficial dos óvnis foi o caso mais interessante das últimas quatro décadas no país. Mas houve outros antes. “Em 1954, um objeto luminoso, de forma discóide, sobrevoou a Base Aérea dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Vários militares viram. Caças foram lançados, mas não chegaram nem perto. Dias depois, o comandante da BAAF admitiu que um óvni tinha sobrevoado o local. O fato não foi investigado pelas autoridades”, contou. No entanto, segundo Varela e a maioria dos ufólogos, o caso mais marcante da história brasileira ocorreu na Amazônia em 1977 e ficou conhecido como Operação Prato. Liderada pelo capitão Uyrangê Hollanda Lima, do Comar (Comando Aéreo Regional) de Belém, no Pará, a missão tinha como objetivo investigar estranhos fenômenos provocados por luzes hostis no município de Colares, a 80 km da capital paraense. Segundo os depoimentos desarquivados pela Aeronáutica, cerca de 400 moradores da região foram atingidos por luzes que lhes causaram queimaduras e outros sintomas adversos como
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Em 1969, a Aeronáutica criou um departamento de estudos sobre óvnis, formado por civis e militares. O Sioani, que ficava em São Paulo, encerrou suas atividades em 1972
tontura, cefaleia e tremores. O fenômeno, apelidado de ‘chupa-chupa’, causou uma onda de pânico que se alastrou pela população local. O capitão Hollanda Lima e sua equipe não conseguiram desvendar o mistério, mas testemunharam outras ocorrências estranhas. Uma delas –devidamente documentada– se refere à visão de “um corpo luminoso” presenciado por membros da equipe do Comar em Colares no dia 1 de novembro de 1977. Os militares disseram ter visto o objeto se movimentar a uma velocidade estimada em 800 km/h, sem que se percebesse qualquer ruído ou deslocamento de ar. •
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SAÚDE
Mau humor é do e Falta de paciência, irritação constante e afeta 3% da população mundial e tem o Elaine Santos São José dos Campos
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icar mal humorado é normal e quase sempre se torna motivo de piada entre amigos e familiares. Mas manter-se de “cara-fechada” ou responder atravessado aos colegas e pessoas próximas perde toda a graça para quem vive e convive diariamente esse problema. O mau humor crônico é doença e tem nome: distimia. Para os distímicos, falta de humor e irritabilidade fazem parte do dia a dia e nada, nem as boas notícias, os deixam felizes. Essa realidade, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), atinge 3% da população. A explicação para esse sintoma é a falta de serotonina no cérebro, uma substância química responsável pelos bons sentimentos. “O mau humor do distímico não é ocasional, como todo mundo tem, quando alguém nos perturba ou acontece alguma coisa que não gostaríamos. Ele é crônico e aparece em todas ou quase todas as situações”, explica Antônio Egídio Nardi, psiquiatra especialista em distimia, diretor do Instituto de Psiquiatria do Rio de Janeiro. Diferentemente da depressão, que muitas vezes faz com a pessoa nem saia de casa ou até da cama, a distimia permite que a pessoa trabalhe e se relacione socialmente, mas sempre com o lado positivo comprometido, pois há a perda da capacidade de sentir totalmente esse prazer. Há também uma tendência ao isolamento, ansiedade e, muitas vezes, insônia. Em crianças, a doença pode estar associada ao transtorno de aprendizagem, acarretando um comprometimento no rendimento escolar. Segundo estudos de psiquiatria, mulheres têm três vezes mais propensão a desenvolver a doença que homens. Essa patologia pode aparecer em dois momentos: com início precoce, quando ocorre antes dos 21 anos, e num início tardio, após essa idade. Sendo um estado crônico, seu tratamento inclui medicação e psicoterapia. É importante que a pessoa procure um psiquiátra para que ele faça um diagnóstico preciso do quadro e inicie a medicação adequada. A terapia entra como segunda ferramenta no tratamento. “É diferente de outros transtornos de humor, como depressão ou bipolaridade. A distimia não limita a vida da pessoa. O paciente consegue trabalhar e fazer sua rotina apesar
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o ença e tem nome e e afastamento da vida social: distimia m o diagnóstico muitas vezes ignorado da doença, mas claro que com algumas limitações e com o prejuízo na qualidade de vida”, disse. Convívio Estela*, 60 anos, convive com a distimia há 30. Diariamente ela luta contra a doença que maltrata toda sua família, seus amigos e sua vida. Ela não é distimica, mas é a mulher de João*, um empresário que hoje, aos 61 anos, assumiu a doença e aceitou fazer o tratamento, sob ameaça de perder a única pessoa que ainda o suporta. “Descobrimos a doença em 2009, eu estava num consultório médico e me deparei com uma matéria. Identifiquei ali todo o perfil do meu marido. Guardo a publicação até hoje. Foi o que me ajudou, o que me conformou. Ele não é apenas um chato de galocha, ele é doente”, disse Estela. Por três décadas convivendo com o mau humor frequente do marido, Estela encontrou maneiras de não ser totalmente afetada pelas rabugices de João. Para manter sua autoestima, ela simplesmente aprendeu a ignorar comentários e a olhar para o marido com doses extras de paciência. “Meu marido reclama de tudo, por tudo. Nada está bom. Por exemplo, se vamos a um restaurante ele sempre encontra algo para reclamar. Ou a porção é pequena, ou o garçom é ruim. Sempre há um motivo. Para ele, nada é bom, ninguém é bom o suficiente no que faz. Sempre há reclamações”, disse Estela. Os desabafos de João são sempre agressivos e ofensivos. Uma das maiores manifestações da doença é quando ele precisa encarar alguns minutos no trânsito. “É onde ele mais se incomoda. Para ele todo mundo é barbeiro. Grita, xinga, é grosseiro. Ninguém pode passar na frente. Já arrumou muitas brigas. Se é mulher que está no outro carro então, fica pior. Percebo que ele é mais machista do que outra coisa. Quando é homem, ele fala, mas com certa reserva.Não sei como até hoje não aconteceu coisa mais séria”, disse. A primeira vista, João leva uma vida normal: trabalha, vai a restaurantes, aniversários, festas familiares, momentos raros de convivência social que acabam gerando desabafos agressivos, não diretos às pessoas, mas reservados à mulher. “A arrogância e a prepotência afastaram todos os amigos. Hoje não recebemos ninguém em casa, ele (João) tem um único amigo de todos esses anos que já aprendeu a lidar com os rompantes e vai levando a conversa, escutando as reclamações. Na verdade, ninguém aguenta, por isso ele joga tudo em mim.”
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Causas De acordo com estudos, a doença é genética, mas dificilmente é diagnosticada antes da adolescência. A distimia tem outras complicações, e a primeira delas é o isolamento. Ninguém aguenta um distímico e o distímico não aguenta uma convivência mais próxima com outras pessoas. “A convivência é muito difícil. Ninguém sustenta muito tempo. Outro fator importante a ser observado é a dependência de drogas. Alguns descobrem no álcool, nos calmantes ou mesmo em drogas ilícitas, o alívio, uma melhora do humor e muitas vezes acabam dependentes. A melhor coisa a fazer é encaminhar a um tratamento que envolve medicamentos antidepressivos e terapia”, explica o psiquiatra Antônio Egídio Nardi. O tratamento é feito através de antidepressivos, que ajudam a melhorar o humor, a capacidade de prazer e a satisfação. A medicação deve ser associada à psicoterapia, que leva o indivíduo a reconhecer o lado bom dos acontecimentos do dia-a-dia, uma vez que ele supervaloriza fatos ruins. Por ser um diagnóstico muito difícil, geralmente o paciente chega primeiro ao psicólogo. Dalí por diante inicia um longo caminho até aceitar ser tratado por um psiquiatra. “Na verdade o que traz esse tipo de paciente à terapia é a dificuldade de relacionamento, no trabalho e em casa. A pessoa é altamente crítica, muito perfeccionista, não consegue atingir um grau de satisfação nem com o trabalho dela, e muito menos com o dos outros. E essa constante faz com que no ambiente social as pessoas comecem a não suportá-lo”, explica o psicanalista Douglas Brito, de São José dos
Campos. Em seu consultório, a grande maioria de seus pacientes distímicos não suporta a ideia da doença, e chegaram ao consenso da terapia através da indicação do cônjuge. “É importante considerar que essa patologia se não tratada pode vir a se tornar agressiva. Em alguns casos, vão além da agressividade verbal podendo chegar até a um crime de morte”, explica Brito. Segundo o psicanalista, o distímico não é um psicopata, é uma pessoa que tem consciência e busca um equilíbrio para enfrentar o dia-a-dia. O que acontece é que ele já tem essa agressividade, e por conta do meio em que vive não é evidente, mas diante de uma situação fora de controle, como uma briga no trânsito, por exemplo, onde se vê confrontado, acaba perdendo o controle imediato. “Uma característica que é constante do distímico é contar situações de agressividades como se fosse algo comum porque para ele aquela situação é comum, faz parte de seu dia.” O psiquiatra Marco Antonio Vitti defende a tese de que a distimia é uma doença genética e pode ser observada desde a infância. “A distimia é um fenômeno genético em que os genes que a pessoa recebe vão dar alterações químicas no cérebro em que altera a produção da serotonina, dopamina e a noradrenalina. Já na infância a doença pode ser observada devido o alto índice de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção), dificuldades no aprendizado e ainda a hiperatividade. Aquela criança que corre o tempo todo, não dá sossego e só dorme quando exausto”, explica. Na adolescência o fator indicador da doença é o mau humor constante, a irritabilidade, a falta de tolerância, o jeito de tratar qualquer assunto de forma a desa-
gradar a pessoa relacionada, diminuindo a importância e sendo agressivo com a pessoa amada, com a família em geral. “O adulto tem geralmente um bom relacionamento fora de casa, porém, por pura necessidade, ao chegar em casa ele descarrega todo o mau humor que teve que aturar durante o dia. Por isso o chamamos de ‘o médico e o louco’, ele é dissimulado, sofre de distimia, e não de ignorância. Geralmente o distímico é muito inteligente e sabe com quem pode ser arrogante. Ele geralmente engole desaforos na rua e desconta em casa, na família”, explica o psiquiatra. É na relação com o parceiro que os traços do distímico aparecem mais agressivos. O amor próprio do distímico é tão baixo que ele suga o amor próprio do parceiro, exigindo amor incondicional. “Quanto mais o parceiro sofre, mais ele se torna forte, patologicamente falando. Ele se relaciona bem com os outros e maltrata quem ama por querer ser sempre superior.” Tratamento O primeiro passo a favor da cura é aceitar o tratamento psiquiátrico. Por esse motivo, médicos afirmam que geralmente o tratamento se inicia com um membro da família (filho, mãe, irmã, mulher), que diante do problema em casa resolve procurar um psiquiatra para identificar os sintomas do paciente. O protocolo feito pela Associação Mundial de Psiquiatria exige que o paciente seja assistido de um a dois anos. Mas, na grande maioria das vezes, os sintomas persistem e ele é levado a tomar medicação por mais tempo, sempre acompanhado de sessões de psicoterapias. •
Raio-X Sintomas
O que o mau humor pode provocar
Baixa autoestima, dedicação excessiva às atividades que realiza, cobrança ao cumprimento de regras, perfeccionismo, autocrítica acentuada, pessimismo e retração social
Solidão, perda de qualidade de vida, problemas com amigos, familiares e, principalmente, com o cônjuge, perda de oportunidades de trabalho, depressão, dependência química de drogas ilícitas ou álcool
O que sente o mal humorado
Cura
A falta de serotonina no cérebro causa sentimentos de intolerância com o ambiente e com as pessoas, falta de prazer prolongada por anos, irritação ou raiva por qualquer motivo (até mesmo em boas situações) e insatisfação constante
O tratamento é feito com medicação e psicoterapia e pode durar até dois anos. Para os que não podem pagar o tratamento, é possível encontrar ajuda nos centros de pesquisa das universidades por preços mais acessíveis ou de forma gratuita.
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Notas
Vale, Brasil & o Mundo DEFESA
FAB e Embraer assinam contrato para a modernização de 11 caças
TREM-BALA
Senado aprova empréstimo A Embraer Defesa e Segurança e a FAB (Força Aérea Brasileira) assinaram contrato para a modernização de 11 caças F-5 adicionais e o fornecimento de mais um simulador de voo dessa aeronave. O início das entregas está previsto para 2013. Os valores da operação não foram divulgados. Os caças F-5 foram fabricados pela norte-americana Northrop na década de 1970. A modernização é necessária para estender a vida útil por mais 15 anos. Os 11 aviões adicionais, recentemente adquiridos pela FAB, terão a mesma configuração dos 46 jatos em processo final de atualização. O programa de modernização tem como foco fornecer à aeronave sistema de guerra eletrônica de última geração, novos aviônicos (todos os instrumentos que estão na cabine e instrumentos de voo), sistema de reabastecimento e maior capacidade operacional. A Embraer Defesa e Segurança, empresa criada em dezembro de 2010, informa que já está em andamento, também com a FAB, a revisão e modernização dos 43 caças AMX, fabricados pela empresa nacional no fim da década de 1980.
O Senado aprovou Medida Provisória que autoriza o governo federal oferecer garantia de um empréstimo de até R$ 20 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ao consórcio construtor do trem de alta velocidade (TAV). O trajeto ligará São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, passando por diversas cidades do Vale do Paraíba. Relatora da MP, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) disse que o total da obra é de R$ 35 bilhões. No seu discurso de 13 páginas, reconheceu que “alguns podem questionar a prioridade deste projeto frente à necessidade de investimentos em outras obras de transportes”. Em resposta, alegou que o PAC
”Não vou perder derr um minuto ”Deverá a interessada aguardar com ele”
Frases
o julgamento de seu recurso, como de rigor e necessário” Da juíza de Taubaté, Sueli Zeraik de Oliveira Armani, que negou segundo pedido de progressão de regime prisional de Suzane von Richthofen
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De José Dirceu, sobre o pedido do deputado federal ral Jair Bolsonaro (PP-RJ), que pretende citá-lo como testemunha de defesa no processo aberto pela Corregedoria da Câmara Federal em que é acusado de racismo
(Programa de Aceleração do Crescimento) também favorece setores do país, como moradia, saneamento ambiental e transporte urbano. Portanto, segundo ela, o trem de alta velocidade não é um projeto isolado, mas parte de grandes investimentos que visam garantir as condições para que o país possa fazer frente aos desafios deste século. O leilão do trem-bala já foi adiado duas vezes. O primeiro adiamento foi anunciado em novembro do ano passado e o segundo no início de abril. Pelo novo cronograma, as empresas interessadas terão de apresentar suas propostas em 11 de julho. O leilão ocorrerá em 29 de julho.
”Hoje sou uma pessoa que crê em Deus e respeita as regras” Do atacante colombiano Wilder Medina, 30 anos, do Deportes Tolima, pego no antidoping positivo para uso de maconha
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Fotos: Karina Muller
GUERRA CIVIL
Angola, um país de recomeços 046-049_Mundo.indd 46
PLAYGROUND O tanque abandonado e destruído se transforma em diversão para as crianças angolanas
Angolanos e estrangeiros vivem um tempo de busca de uma nova identidade para uma nação devastada por anos e anos de conflitos
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Karina Muller Luanda (Angola)
o Aeroporto Internacional Quatro de Fevereiro, em Luanda, não se pode imaginar bem o que é Angola. E é de se surpreender. País em construção, trabalho de angolanos, brasileiros, portugueses e chineses... Sim, há muitos deles por toda parte e são a mão-deobra mais procurada na construção civil. E não faltam construções, os quase 30 anos de guerra civil e violência deixaram suas marcas e urgências por toda parte. É hora de reconstruir, tanto as cidades quanto a identidade de quem sobreviveu à guerra. Projetos de educação de crianças, jovens e adultos estão surgindo tanto na capital quanto no interior. Além de levantarem tijolos e prédios, a missão agora é devolver a cada um a capacidade de sonhar. Homens, mulheres, jovens e crianças estão sempre pelas ruas comprando e vendendo, indo e vindo. Os bebês são levados em panos nas costas e as trouxas e bacias, na cabeça. O dia quente dá as boas vindas aos que chegam de longe e o ritmo de vida angolano se estabelece. Candongueiros (motoristas de vans), motoqueiros aos montes e carrões importados, que lá custam a metade do preço, completam a paisagem conturbada de Luanda. A migração do interior do país para a capital gerou um tremendo problema social –Luanda, que foi poupada dos ataques durante a guerra, recebeu cinco milhões de pessoas vindas do interior fugindo da violência. O problema é que uma cidade com estrutura para 600 mil habitantes não teve tempo de se preparar para receber esses migrantes. Resultado: caos no trânsito, na saúde pública, na coleta de lixo, nos serviços, nas estradas, na habitação. Já há algum esforço para mudar esse quadro, mas os prédios populares, construídos principalmente pelos chineses, não dão conta do déficit habitacional que ainda condena milhares de pessoas a viver nas moradias precárias espalhadas pela cidade. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), em apenas 8% do território de Angola vivem 2,4 milhões de pessoas. Doenças como malária, meningite e diarreia assombram a população, principalmente a infantil, além de tantas outras moléstias que levam à morte e que são causadas pela falta de infraestrutura. Mas há boas oportunidades para profissionais capacitados, salários em dólar atraem também muitos estrangeiros que se animam
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a passar uma temporada trabalhando no país. A vida confortável em condomínios fechados e bairros supervalorizados reforçam o abismo social vivido atualmente por lá. De um lado fica a segunda maior produtora de petróleo e exportadora de diamantes do continente e investimentos na construção civil e, do outro, uma nação excludente, povo abandonado, analfabeto e doente. Diferenças, contradições, muros quase intransponíveis. Interior Se o caos domina na capital do país, nas províncias os problemas são outros. A dez horas de Luanda, por terra rumo ao interior, está Bié, província localizada no coração de Angola. Seu território tem o mesmo tamanho de Portugal e é o berço do rio Kwanza e da maioria dos outros rios que cortam o país. Em Bié está Kuito, a capital e sexta cidade mais populosa. Hoje ela pulsa mais lenta, mas há menos de uma década foi o centro da luta armada durante a guerra civil e, consequentemente, o pedaço de Angola que mais sofreu durante os conflitos. Bié fervilhou porque é a terra de Jonas Savimbi, o líder da Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola), partido que provocou, juntamente com o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), a sangrenta batalha pelo controle do país que começou logo depois da independência de Portugal, em 1975, com apoio de diversos países estrangeiros. A guerra só terminou mesmo em 2002, depois da morte em combate do líder da Unita e de muita violência em Bié, onde as últimas batalhas aconteceram. Mas hoje os tempos são outros, são tempos de paz. A reconstrução também chegou à província, mas as marcas da guerra fazem parte da paisagem de todo dia. A infraestrutura da
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cidade foi gravemente abalada. Só há asfalto no centro da cidade e as pontes são provisórias, quase todas foram destruídas no período dos conflitos. “A tristeza ainda está no olhar das pessoas”, diz Stelvio Gil, jovem luandino de 20 anos que afirma que a dor das pessoas da província é maior do que na capital. Casas metralhadas, marcas de granadas nos muros, vestígios da destruição e violência que ficou gravada na história e na memória. E ainda existe o problema das minas terrestres, principalmente no interior do país. Angola é um dos países com o maior número de minas terrestres no mundo, juntamente com Afeganistão e Camboja. Apesar de muitas regiões já terem sido desminadas para a agricultura por meio de projetos humanitários, estima-se que 15% da população ainda corre risco nas zonas minadas e que 80 mil pessoas no país foram feridas em explosões. Em Bié há sempre alguém com um parente ou conhecido mutilado. O jovem Ladislau, morador da província, tem uma imagem que não se apaga da cabeça: a de um homem de bicicleta explodindo ao passar por uma mina, apenas suas botas e os pedaços de metal restaram pelo chão. Com o fim da guerra civil a população de Bié voltou de outros lugares, como da Zâmbia, país que faz fronteira com Angola, para reconstruir a própria história por ali. Dados da ONU apontam que mais de 200 mil pessoas retornaram para a província com o final do conflito. No Bié pós-guerra civil, os mortos espalhados pelas ruas foram enterrados em massa em cemitérios construídos às pressas e até mesmo nos jardins das casas. Ainda hoje as festas e as datas comemorativas, as histórias e as lembranças, tudo gira em torno da guerra e da vida militar. Não há memórias de outros tempos e a identidade do povo em dias de paz ainda está se reconstruindo, já que não há muito do que se lembrar, além de conflitos, fugas e massacres. Hoje no Bié a população trabalha entre os escombros da guerra. Tanques abandonados enferrujam entre as plantações de milho. Crianças brincam, homens e mulheres trabalham. O céu envolve a terra de um extremo ao outro no horizonte como um grande abraço de consolo. Famílias incharam de agregados e órfãos devido ao grande número das mortes. As viúvas dos ‘tropas’ seguem sem seus maridos. Muitas pessoas perderam, de uma vez só, a casa e a família. Crianças saem pelas ruas atrás de comida e jovens ainda lutam contra a lembrança das explosões com a dor dos estilhaços no próprio corpo. Apesar disso, há crianças para educar e os bebês não param de nascer. Entre as tantas marcas das tragédias e o
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Mundo
imenso céu vermelho do final de todo dia, estão pessoas de verdade, gente que vale muito mais do que um número nas estatísticas. Pessoas como Anjo, Elisa, Anastácia, Antônio e Débora. Crianças, jovens, homens e mulheres que sabem que precisam caminhar, apesar das dores muitas vezes ainda sem nome. Maria Cristina, 50 anos, moradora do Cardoso, bairro rural do Kuito, no Bié, vive sozinha e conta que não tem ninguém no mundo, já que seus pais ficaram na Zâmbia desde a guerra e nunca mais voltaram. Mas nem tudo é tristeza, aliás, os dias estão cada vez mais ensolarados. Durante a guerra, Anjo, de 13 anos, foi preso pelos ‘inimigos’, se perdeu dos irmãos, passou fome e frio, fugiu de tiros, mas sabe que esse tempo acabou de uma vez por todas. Hoje seu sonho é ser jornalista, vive com a família e comemora a melhora da condição de vida e o convívio com seus novos amigos. Ele estuda na Escola Sebastiana Garcia de Jesus Santos, parte do projeto da ONG (Organização Não-Governamental) brasileira Nissi, e entre pequenos trabalhos e as tarefas da escola escreve em um caderno sua história e sonhos. “A história da guerra é muito grande, agora o mais importante é a vida e a alegria”, escreveu. Outro sonho do jovem é que seus filhos não passem fome como ele passou, quer uma vida tranquila. E ele não é o único. A comuna do Cardoso, formada essencialmente por refugiados da guerra, vive um novo tempo. A escola instalada nas imediações já atende 500 alunos e trouxe inspiração e meios para sonhar. Todo o projeto “Tenho Fome”, da ONG cristã Nissi, além da escola, prevê a construção de centro cultural e esportivo, centro clínico e orfanato. O terreno da escola, doado por uma igreja para o início do projeto, fica exatamente no local onde a Cruz Vermelha lançava dos ares mantimentos para a população faminta à época dos conflitos armados. Já reconhecida pelo governo do Bié, a escola tem um papel de destaque na comunidade e é observada até mesmo pelas autoridades locais como um modelo a ser seguido por toda a província. Idealizado pelo brasileiro Caíque Oliveira, o projeto também conta com ajuda de voluntários que doam suas férias para trabalhar na construção e transmitir às crianças da comuna cuidado, atenção e vontade de aprender coisas novas. “Acreditamos que Bié será um referencial de excelência tanto para Angola como para toda a África”, afirma Oliveira. Prova disso foi a visita do governador do Bié em fevereiro desse ano, seguida de uma doação de 200 carteiras novas para a escola.
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DESTROÇOS Marcas da guerra ainda estão em quase tudo em Angola, no interior e na capital Luanda
Futuro Todos sabem que é hora de olhar para o futuro e, tanto no interior como na capital, transformar os escombros em oportunidades. Em Luanda, o projeto Semeando a Transformação, idealizado pelo brasileiro Itamar de Almeida Viera, tem como objetivo promover a formação profissional de jovens de baixa renda das escolas estatais da capital. O público alvo são estudantes que terminam o Ensino Médio e não tem perspectiva alguma de ingressar em uma universidade para continuar os estudos. Autorizado pelo Ministério da Educação de Angola, o projeto, também de origem cristã, forma jovens para atuar no campo da construção civil e tecnologia. Além de profissionais, a iniciativa tem como foco formar jovens multiplicadores que treinem outros jovens tanto para o mercado de trabalho como para a criação de pequenos negócios. De cada 60 alunos que recebem treinamento, 20 deles
são treinados como professores. “Nossa meta é enviar 20 professores para 20 escolas de Luanda para formarem de 30 a 60 novos alunos. Nossa expectativa é que já no próximo semestre tenhamos de 600 a 800 alunos sendo atendidos”, diz Itamar, que foi para a Angola com a família para trabalhar e não pode deixar de desenvolver algo na área social frente a tanta necessidade. A ideia foi tão bem recebida pelo governo angolano que em médio prazo deve ser implantada em outras províncias do país. E há muito trabalho a ser feito, por toda parte. Sementes a serem lançadas na terra dos recomeços. Como dizem, não há mal que dure para sempre, do tanque enferrujado à beira da estrada brotam plantas e flores. E em sua carcaça fria e esverdeada crianças se balançam, se penduram como em um parquinho ao ar livre. A vida se refaz segundo o curso da própria existência e nesse novo começo é tempo de sonhar. •
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HILTON Trabalhador limpa o carpete de suĂte do antigo hotel Hilton
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Ensaio fotográfico
Diego Padgurschi fotógrafo
Poesia concreta de suas esquinas As fotos deste ensaio retratam lugares conhecidos do centro de São Paulo do ponto de vista do passageiro do ônibus, do morador, do motorista e do pedestre. É o olhar do fotógrafo Diego Padgurschi que se une aos olhos da população para registrar as inúmeras imagens que a capital paulistana oferece
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Ensaio
GEOMETRIA Pedestres no viaduto Santa Ifigênia, no centro da capital
MONUMENTO Prédios rodeiam estátua de Duque de Caxias, no Campo Elíseos
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SOMBRAS Sombras de pessoas observadas da janela de restaurante em corredor da rua Direita, no centro
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Coisa & Taltigo
Marco Antonio Vitti
Balas perdidas e achadas numa guerra: Os anjos de Realengo
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enhuma bala é perdida. Elas sempre encontram um inocente. Jesus, Ghandi, Kennedy, Luther King, Malcolm X, John Lennon e todos que morreram nas guerras fabricadas pelos senhores da guerra, pelas balas policiais e dos traficantes no Rio de Janeiro e São Paulo. Agora, enquanto estava escrevendo este artigo uma bala atingiu meu coração e me achou. Assim como balas achadas encontraram a cabeça e o coração de 12 anjos do realengo. Pelo que li nos jornais o criminoso era introvertido e sofria também de ansiedade social, que é a dificuldade inata de se comunicar com as outras pessoas, além de ter sido adotado de uma mãe que sofria de esquizofrenia. Pelos relatos de seus colegas na escola, o mesmo era alvo de bullying, fato que se alastra hoje na maioria das escolas e em empresas como bancos, montadoras de autos, escolas, e o que é pior: não ocorre somente com crianças, mas com os funcionários de empresas grandes e renomadas. E seus departamentos médicos não fazem nada. E a todos aqueles vitimados, por balas de psicopatas liberados por uma Justiça espúria e incompetente que é praticada no Brasil, a política de devolver ou revolver bandidos para as ruas para diminuir o número de presos, como se estivessem recuperados, assim como os peritos do SUS e das em-
BULLYING “Não ocorre somente com crianças, mas com os funcionários de empresas grandes” presas tratam seus clientes sem a menor dignidade, que causa revolta e pode levar a atitudes como aconteceu com o rapaz de Realengo. Volto a insistir: não soltem os assassinos psicopatas que hoje fazem parte até da política do nosso país, pois a única coisa que um psicopata sabe fazer é o sofrimento, a morte de inocentes. Sacrificados como Cristo, em nome da loucura de um Império que deseja somente a especulação, sofrendo por isso, tentando conseguir tudo através do sofrimento dos outros, dando alta para pacientes graves no intuito de salvar a falida Previdência, cujo rombo é causado pela imprevidência da corrupção política e governamental; dar alta para pacientes gravemente enfermos, deixar de fornecer medicamentos essenciais à população para que morram e diminuam a pouquíssima verba que é dedicada à Saúde. Quero colocar o nome dos doze mártires: Samira Pires Ribeiro, 13, queria estar viva e alegre; Mariana Rocha de Souza, 12, queria ser modelo; Larissa Anatanásio, 14, evangélica; Karine Lorraine Oliveira, 14, adorava estudar; Géssica Guedes Pereira, 15, que-
ria servir na Marinha; Bianca Rocha Tavares, 13, queria continuar gêmea de sua irmã; Laryssa Silva Martins, 13, carinhosa, se interessava por informática e internet; Luiza Paula da Silveira, 14, queria ser modelo; Rafael Pereira da Silva, 14, queria ser roqueiro; Ana Carolina da Silva, 13, era atriz de uma peça na Igreja para a Páscoa; Milena Nascimento, 14, gostava de estudar; Igor Morais da Silva, 13, queria ser jogador de futebol. Vejo pela televisão o massacre de Realengo e percebo como nosso país ainda está atrasado. Todos querem uma explicação! Eu já a escrevi em meu livro “A Longa Noite do Suicídio de uma Alma”, quando descrevo que o que levou o estudante a matar sua família foi um edema cerebral que atingiu seu sistema límbico. O assassino de Realengo por tudo o que passou, sofreu também da mesma deleção. Em vez de gradear as escolas, colocar policiais armados, detectores de metais, vamos dar atenção aos alunos que sofrem de bullying nas escolas, poderemos salvar mais vidas do que pensamos, com a ajuda dos Anjos de Realengo. O que leva alguém a matar assim? A falta de Amor! O que leva à falta do Amor? A falta de serotonina, que somente é fabricada com carinho, cuidado, proteção, dignidade, amor a ser vivo, e muito triptofano que existe somente nos alimentos. Vamos nos alimentar melhor. Meus filhos de Realengo, durmam bem! •
Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br
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Turismo VELHO MUNDO
Encantos da Croácia Para ampliar ainda mais a oferta de lugares deslumbrantes, território reúne mais de 1.200 ilhas recortadas pelo Mar Adriático
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Fotos: Marrey Junior
Marrey Júnior Croácia
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PLIVTCE Parque tombado como patrimônio universal da Unesco reúne 16 lagos em paisagem de tirar o fôlego
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ôte d’Azur, na França, Ibiza, na Espanha, Algarve, em Portugal, e uma porção de ilhas na Grécia são os principais destinos para quem gosta de praia durante o verão europeu. Mas há poucos anos um outro lugar também está se despontado como uma preferência: o litoral croata, banhado pelas várias tonalidades de azul do Mar Adriático. A costa é bastante recortada. Para aumentar ainda mais essa oferta de lugares deslumbrantes, mais de 1.200 ilhas também pertencem ao território, que está na península dos Bálcãs e é vizinho da Eslovênia, Hungria, Sérvia, Montenegro e Bósnia Herzegóvina. A Croácia se tornou independente da antiga Iugoslávia em 1991, quando virou propriamente um país. Mas entre 1991 e 1995, a nação passou por uma guerra. Só no início dessa década, num tempo em que a paz foi consolidada, que esse lugar vem chamando a atenção dos viajantes. Boa parte das praias é pequena e formada por pedras em vez de areia. Elas ficam rodeadas por montanhas. A vegetação que as cercam é bastante escassa se comparada com a costa brasileira. Durante o verão, entre os meses de junho e setembro, as temperaturas máximas oscilam entre 25 e 30 graus. Embora a capital do país seja Zagreb, que fica na região nordeste, são as cidades medievais na costa que recebem o maior número de turistas o ano inteiro. A influência dos romanos em todas as cidades litorâneas é bastante grande. A culinária é muito parecida a dos vizinhos italianos, que vivem do outro lado do Adriático. A estrada que liga o litoral de norte a sul, às vezes, remete à rodovia Rio-Santos, por causa das curvas e penhascos à beira-mar e da grande quantidade de praias às margens da estrada. Só que em vez das suntuosas casas e vilas de pescadores entre o litoral paulista e o fluminense, o que se vê são antigas aldeias com casas seculares e muitas cidades fortificadas. Dubrovnik, com 45 mil habitantes, é o principal destino turístico da Croácia. A cidade fica no extremo sul e faz parte do roteiro de cruzeiros marítimos que percorrem o litoral europeu. Ela foi apelidada de a “Pérola do Adriático” e de a “Atenas Eslava”. O centro histórico de Dubrovnik é patrimônio mundial da Unesco desde 1979. Para ter
uma noção da beleza dessa antiga cidade medieval o ideal é dar uma volta pelas muralhas que ainda a cercam. Imponentes e bem preservadas, elas foram construídas entre os séculos 7 e 16 e ora se afunilam, ora se alargam e são totalmente irregulares, com escadas, torres e chegam a ter seis metros de espessura. A cidade é vista em outra perspectiva, no seu todo, na composição entre mar, antigos prédios e montanhas. A beleza conservada dessa cidade milenar quase veio abaixo. Entre 1991 e 1992, Dubrovnik foi bombardeada por forças sérvias. Uma em cada três casas tiveram algum tipo de dano. Dez construções foram totalmente destruídas durante o conflito. Atualmente, no interior do centro amuralhado, a agitação é outra. São os turistas que movimentam a economia. Nos meses mais quentes do ano, eles lotam bares, restaurantes e as lojas de souvenires. A Placa, principal rua da cidade antiga, é a que fica mais lotada. Essa via que une os portais de Pile e de Ploce tem 300 metros de comprimento e é toda calçada de mármore, que sempre brilha, tanto com a luz do sol como também com a água da chuva ou as luzes da noite. Próximo a um dos portais está a fonte grande de Onório. Construída no século 15, ela fornece água para quem tem sede de uma pausa após um cansativo dia. Quem quer tranquilidade na antiga Dubrovnik tem que escapar para os becos e estreitas ruas que também compõem o centro antigo. Fôlego também é preciso. Há um grande número de escadas para todos os lados. Mas o turista se surpreende com charmosos bistrôs, casas que mostram o estilo de vida de quem mora numa cidade tão antiga e até passagens que dão acesso a bares bem à beira do Adriático, onde é possível nadar, se bronzear e também assistir a um incrível pôr-do-sol. As ilhas também são alternativa para quem foge da agitação. Nos portos das grandes cidades costeiras estão as balsas e barcos que levam a esses lugares. Próximo a Dubrovnik, por exemplo, está Lopud, um lugar onde carro não chega e quem se dispõe a caminhar encontra lugares quase exclusivos. Na ilha há ruínas dos tempos das invasões gregas, romanas e eslavas. Nessa pacata vila, moram cerca de 200 pessoas. É possível comprar uvas e tangerinas colhidas na hora e também descansar em praias de areia, coisa rara na costa adriática. Pouco mais de duas horas de Dubrovnik está outro lugar de importante valor his-
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Turismo
tórico no litoral croata: Split. O segundo maior município do país abriga o palácio de Diocleciano, antigo imperador romano que ficou famoso por causa da perseguição aos cristãos. Ele morou na cidade entre os anos 295 e 305. O centro histórico fica em frente à orla, onde hoje há um moderno calçadão em que turistas se aglomeram para o jantar, a cerveja ou sorvete do fim do dia. Split Split é a cidade de mais fácil acesso para Hvar, ilha que hoje é um dos points preferidos de milionários de todo o mundo, assim como em Ibiza, Capri ou Saint Tropez. Os nem tanto endinheirados se assustam com os preços desse estreito pedaço de terra com 105 quilômetros de praias. Definitivamente, esse é o local mais caro da Croácia e os preços diferem bastante aos do continente. Das montanhas de Hvar há vista panorâmica de outras ilhas e parques naturais vizinhos. Durante o dia, táxi-boats levam os visitantes para esses locais quase desertos. À noite segue a badalação em restaurantes transados que servem comida regional bem semelhante à mediterrânea e também nas boates, que ficam lotadas em julho e agosto. Zadar, no centro da costa, também é um destino turístico bastante procurado. Envaidecidos, os moradores da cidade com mais de 3.000 anos de história dizem que o pôr-do-sol local é um dos mais bonitos do mundo. Na orla há placas em que diz que o cineasta Alfred Hitchcock endossa essa opinião. Ele fez esse comentário à beira da praia há mais de 40 anos, enquanto tomava um marasquino, licor feito de cerejas selvagens. O visual do alvorecer pode não ser o mais maravilhoso do planeta, mas duas instalações artísticas construídas nessa década junto à orla o tornam especial. Uma delas é o órgão do mar. Degraus foram construídos dentro da água com vários tubos internos. O vai-e-vem das ondas cria sons interessantes. Uma obra que funciona simultaneamente a esse “órgão marítimo” é a luminosa “Saudação ao Sol”. Num círculo de 22 metros de diâmetro, coloridas luzes abastecidas com energia solar dançam ao ritmo das ondas e do som emitido pelo órgão do mar. A calma da península de Istria, no litoral norte, também tem atraído turistas. Nessa parte da Croácia, os vilarejos são ainda mais tranquilos. Uma das iguarias encontradas
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ZADAR PLACAS ABASTECIDAS POR LUZ SOLAR NO PÔR-DO-SOL MAIS BONITO DO MUNDO na região bastante rara e apreciada na alta gastronomia é a trufa branca, espécie de cogumelo que nasce embaixo da terra. Um prato com lascas de trufa é vendido a preços astronômicos nos mais badalados restaurantes do mundo. Pula, capital da Istria, é famosa por ter um dos anfiteatros romanos mais bem preservados do mundo. Ele foi construído no século 1 pelo imperador Vespasiano. Até hoje esse espaço é usado para shows. Luciano Pavarotti, Sting, Elton John, José Carreras, Manu Chao, Sinéad O’Connor, Norah Jones, entre outros nomes conhecidos internacionalmente, já se apresentaram nesse antigo teatro ao ar livre. A cidade também tem um arco do triunfo e várias heranças arquitetônicas dos antigos invasores romanos e venezianos. Cachoeiras Uma alternativa para quem se cansou de tanta praia é conhecer os Lagos Plitvice, que está no mais visitado parque da Croácia. Não é à toa o motivo de tanta procura. Esse patrimônio universal da Unesco tem pai-
sagem de tirar o fôlego. Dentro do parque, estão 16 grandes lagos de cor azul-esverdeadas. Essa coloração muda de acordo com a quantidade de minerais e algas e também do ângulo da luz do sol. Para torná-lo ainda mais belo, centenas de cachoeiras e uma mata nativa temperada bastante preservada. Nela vivem pássaros, lobos, ursos, entre outros animais. A temperatura da água é bastante fria, mesmo no verão. Quem deseja se aventurar em um banho para se refrescar tem que se conter. Nadar é proibido em qualquer área. O parque oferece infraestrutura para percorrer todos os lagos. Há trilhas curtas e outras que duram o dia todo. Além disso, tem ônibus e barcos, que fazem o transporte em algumas partes do trajeto. Todas essas belezas naturais do país enchem de orgulho o povo croata. Eles fazem questão sempre de dizer que hoje a costa do país é o que já foram as rivieras italiana e francesa. Lugares paradisíacos, sem tanta ostentação, onde o tempo passa sem pressa e quem visita uma vez fica sempre com a vontade de voltar. •
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GAMES
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Consoles: como escolher? Yann Walter São José dos Campos
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m décadas de presença no mercado dos games, as japonesas Nintendo e Sony e, mais recentemente, a norte-americana Microsoft, conquistaram legiões de fãs. Cada console lançado vende dezenas de milhares de unidades. Os adeptos mais antenados, atentos às novidades que aparecem no mercado, já escolheram o seu preferido. Já as pessoas que estão entrando no mundo dos games na ponta dos pés vão precisar de informações na hora de bater o martelo. Hoje, três aparelhos monopolizam as prateleiras das lojas especializadas: o Wii, da Nintendo, o Xbox 360, da Microsoft, e o PS3, da Sony. Wii, 360 ou PS3, eis a questão. Cada uma destas máquinas tem suas peculiaridades, pontos fortes e fracos. Basicamente, se você deseja ter um console poderoso, que inclua todas as opções multimídia, opte pelo PS3 ou pelo Xbox 360. Ao contrário, se seu objetivo é apenas se divertir com a família e os amigos sem pagar muito caro por isso, o Wii é exatamente o que você precisa. O PS3 e o Xbox 3 são muito superiores ao Wii no que diz respeito ao tratamento da imagem. O primeiro tem um processador gráfico de 550
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MHz (Nvidia) e o segundo de 500 MHz (ATI), enquanto o ATI do Wii tem apenas 243 MHz. Os processadores principais do PS3 (Cell) e do 360 (Xenon) também são muito mais poderosos: 3,2 GHz, contra 729 MHz para o Broadway do Wii. Para especialistas, a máquina da Sony é a que apresenta melhor qualidade de imagem e som, mas o 360 não fica muito atrás neste quesito, ao contrário do Wii, que não oferece games em alta definição. Uma dica para os que optarem pelo console da Nintendo: um cabo YUV (comprado separadamente) melhora significativamente a qualidade da imagem. No que toca à jogabilidade, o Wii saiu na frente da concorrência com o Wii Remote, um joystick que revolucionou o mundo dos games quando foi lançado, no fim de 2006. As principais características da ferramenta são os sensores que detectam a posição do jogador e o lugar da tela para onde ele está apontando. Ou seja, para jogar tênis ou golfe no computador, executam-se os mesmos movimentos da vida real. Em 2008, a Nintendo apresentou o Wii Motion Plus, um acessório que agregou realismo e precisão ao Remote. A festa da Nintendo acabou no ano passado, quando Sony e Microsoft lançaram, respectivamente, o Playstation Move e o Kinect. Enquanto o Move é bem semelhante ao Wii Remote, o Kinect é o primeiro sistema da história que permite ao usuário jogar sem con-
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trole físico, ou seja, somente com as mãos. A Microsoft acertou em cheio com esta inovação sensacional, um dos maiores argumentos de venda do Xbox 360. “O Kinect e o Move causaram profundas modificações no mercado. As vendas do PS3 e do Xbox aumentaram, enquanto as do Wii caíram muito”, afirmou Artur Aparecido da Rosa Júnior, 20 anos, vendedor de uma loja de games em São José dos Campos. Se você quer um console completo, capaz de aposentar seu tocador de DVD e seu aparelho de som, o PS3 é a melhor opção. Além de aceitar todos os formatos existentes de vídeos (MPEG 1, 2 e 4, H.264, DivX, XviD), fotos (JPEG, TIFF, GIF, PNG, BMP) e músicas (MP3, WAV, WMA, ATRAC, AAC), a máquina da Sony é a única que inclui a tecnologia Blu-Ray. O Xbox 360 possui as mesmas opções multimídia, mas não aceita tantos formatos. Já o Wii passa longe destas funcionalidades múltiplas. No entanto, o Wii tem uma vantagem importante em relação a seus concorrentes. Diversos estudos de confiabilidade avaliaram o console da Nintendo como o mais seguro do mercado, com menos de 3% dos usuários relatando problemas técnicos. Este percentual sobe para 10% no caso do PS3, e para 23% no caso do Xbox. Além disso, o Wii é o mais compacto dos três. Ainda sobre o aspecto estético, vale frisar que tanto o PS3 quanto o Xbox 360 lançaram uma versão ‘slim’ (mais fina).
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PS3
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EMPRESA Sony PROCESSADOR 3,2 GHz Cell PROCESSADOR GRÁFICO Nvidia 550 MHz MEMÓRIA 256 Mb RESOLUÇÃO (PIXELS) 1920x1080 DISCO RÍGIDO 250 Gb FUNÇÕES MULTIMÍDIA Sim BLU-RAY Sim
EMPRESA Nintendo PROCESSADOR 729 MHz Broadway PROCESSADOR GRÁFICO ATI 243 MHz MEMÓRIA 88 Mb RESOLUÇÃO (PIXELS) 852x480 DISCO RÍGIDO FUNÇÕES MULTIMÍDIA Não BLU-RAY Não
Preços Por último, vejamos os preços destas máquinas. O Wii é, disparado, o mais barato: é possível comprá-lo por R$ 799 na versão destravada (roda também games piratas) e com o Wii Remote. O PS3 custa R$ 1.049 na versão travada e R$ 1.300 na destravada. Já o 360 travado custa R$ 799, mas vem sem o Kinect. Com o Kinect, o preço pula para R$ 1.100. A versão destravada com o Kinect sai por R$ 1.400. É possível adquirir apenas o Kinect, por R$ 549. Os preços podem variar um pouco de uma loja para outra. Em resumo, o Wii é mais compacto, mais confiável, mais simples de usar e mais barato. No entanto, seu maior diferencial, o Wii Remote, já foi superado pelo Playstation Move e pelo Kinect. O console da Nintendo também fica muito atrás de seus concorrentes na qualidade de imagem. A firma japonesa vai tentar correr atrás do prejuízo na próxima E3 (Eletronic Entertainment Expo, entre os dias 7 e 9 de junho em Los Angeles, nos Estados Unidos), quando apresentará o Wii HD (Alta Definição). O PS3 é o mais completo e o que proporciona a melhor imagem. Além disso, também oferece internet gratuita para jogos on-line. Já o maior trunfo do Xbox 360 é o Kinect. Vale ressaltar que o console da Microsoft também é multifuncional, e competitivo na parte gráfica. A internet paga é um ponto negativo, assim como a maior ocorrência de problemas técnicos. •
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XBOX 360 EMPRESA Microsoft PROCESSADOR 3,2 GHz Xenon PROCESSADOR GRÁFICO ATI 500 MHz MEMÓRIA 512 Mb RESOLUÇÃO (PIXELS) 1920x1080 DISCO RÍGIDO 250 Gb FUNÇÕES MULTIMÍDIA Sim BLU-RAY Sim
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Moda&estilo Fotos: Agência Fotosite
COLOR BLOCKING
Cores de inverno Cristina Bedendo São José dos Campos
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cartela de cores para o inverno 2011 está mais ampla. Tudo isso porque os tradicionais e sóbrios tons de cinza, marrom e preto dividem as araras com vermelhos, roxos, azul royal e até laranja. E esse toque de cor numa estação normalmente feita por tons fechados traz à tona um tipo de combinação que já foi muito usada pelo estilista Yves Saint Laurent: o color blocking, ou blocos de cores, formados por colorações complementares ou até mesmo opostas na matiz, como amarelo e roxo, azul e laranja, vermelho e azul royal. O fato é o que o color blocking voltou à cena no verão 2011 internacional, quando marcas como Gucci, Prada, Louis Vuitton e Jil Sander apresentaram propostas com as ousadas combinações de cores que casam perfeitamente com o clima e o lifestyle brasileiro. No verão 2011, a tendência já apareceu em alguns desfiles nacionais, mas é neste inverno que promete se consumar. Marcas como Printing, Andréa Marques, Osklen e Colcci investiram no contraste, seja de forma mais sutil ou mais exuberante. Mas como usar essa coordenação de cores na vida real? A dica é investir em peças mais sérias, como calças de alfaiataria, camisas de seda, blazers, saias estruturadas e vestidos comportados. Se você é mais discreta ou tem medo de errar, deixe o toque de cor para os acessórios, sapatos e bolsas.
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BLOCO Desfile da Printing no Fashion Rio
Cor no make da
Amapô
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VERSÁTEIS As bolsas no estilo bowling, a bolsa-saco, estão entre os modelos eleitos no inverno. Essa é da EmporioNaka
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ANIMAL
CORUJA
Animais como onça, tigre e coruja estão presentes tanto nas estampas como nas formas dos acessórios
O bracele de coruja Camila Klein (R$ 764) é ideal para compor um mix de acessórios modernos
ite
INFLUÊNCIA
COOL
SHOP & MAIS
Mix de rock e animais na Joulik
VP DESTAQUE! SHOESTOCK
TABITA
AREZZO
EMPÓRIO NAKA
OSCAR WOMAN
MELISSA ENJOYING
Tirado direto do guarda-roupa deles A influência do guarda-roupa masculino nas peças femininas é praticamente histórica e, finalmente, chegou aos sapatos. Há duas temporadas, os sapatos no estilo oxford começaram a atrair a atenção das mais antenadas. E neste inverno 2011 eles prometem ganhar as ruas, já que a maioria das marcas do setor investiram no modelo Em versões com ou sem salto, o oxford também empresta sua estrutura para modelos com salto anabela e até com aberturas frontais. Valem ainda os modelos com texturas de croco, aplicações de glitter ou paetês e estampas animais, um dos hits da temporada. Como os oxfords têm uma modelagem masculina, a dica é usá-los com
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peças bem femininas, como vestidos e saias românticas em tecidos fluidos. As rendas também são ótimas opções para quebrar o ar masculino dos sapatos. Já os oxfords com brilho ou efeito metalizado são ideais para tirar os looks de trabalho do sério –já pensou em dar um toque especial ao seu uniforme, por exemplo? Como eles são fechados no peito do pé, esses sapatos tendem a encurtar a silhueta. Para evitar esse efeito indesejado, escolha um modelo de tom escuro para que você possa usar com meia-calça e dar unidade e alongar as pernas. Outra opção, para usar sem meiacalça, é escolher um sapato com tom próximo à sua cor de pele, sem criar contrastes.
MOCASSIM EM ALTA O azul royal é ideal para compor os looks em color blockingt. Este modelo é da Santa Lolla. R$ 289,90.-
Sob o tema “Lost in the Forest”, a Joulik apresenta um inverno com bordados com pegada rock, estampas animais e detalhes em franjas, numa mistura rock e boho. Peças na loja virtual da marca (www.joulik. com.br) e na rua Oscar Freire, além de multimarcas. CAMPANHA
CLÁSSICOS MODERNOS Scarpins da EmpórioNaka em cores vibrantes para compor looks em blocos de cores. R$ 229,90 .-
MODELO AREZZO A bolsa azul royal vale para o diaa-dia em composições com tons terrosos ou neutros R$ 479,90.-
Freja Beha estrela na Santa Lolla
Top do momento, a linda Freja Beha é a estrela da campanha da Santa Lolla, que conta com super saltos, como nesta mistura ótima de animal prints e ankle boot vermelha. A coordenação, aliás, é um bom exemplo de color blocking.
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Tempos ModernosArtigo
Alice Lobo
Sustentabilidade banalizada? Basta respeitar o que nos cerca!
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uita gente não aguenta mais ouvir a palavra sustentabilidade. O termo caiu na graça de empresas, principalmente na área de marketing, e de veículos de comunicação, que têm quase a obrigação de tratar do tema devido a sua relevância. O resultado? A banalização de um conceito tão importante nos dias de hoje. Sabe-se que o tripé da sustentabilidade se refere às esferas social, ambiental e econômica. Como foi definido pela ONU (Organização das Nações Unidas), “desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Apesar da ideia ser ampla, ela se transformou realmente em um dos adjetivos favoritos de todos que querem ter uma boa imagem. Esta colheita é sustentável; este perfume tem essências extraídas de forma sustentável; este gado é tratado de forma sustentável; esta floresta tem manejo sustentável… e por aí vai. Isso causa rejeição mesmo nos mais conscientes. No mês passado, estava no debate Trajetos Costurados, realizado em São Paulo, e eu trouxe à tona a sustentabilidade na moda, um dos setores que mais emprega no país. Estavam lá os estilistas Ronaldo Fraga, Jum Nakao, Fernanda
SUSTENTÁVEL se transformou no adjetivo favorito dos que querem uma boa imagem
Yamamoto e Agustina Comas. De cara, Ronaldo torceu o nariz. “Não suporto mais ouvir esta palavra”, debochou. Mas atenção, isso não significa que ele não acredite na importância de se aplicar este conceito. “Eu prefiro falar em humanização de processos dentro das empresas”, diz. Segundo ele, isso engloba se preocupar com as questões socioambientais e garantir um comércio justo, sem exploração de trabalhadores. Rejeição e nomenclatura à parte, um ponto que ganhou unanimidade é que hoje “ser sustentável” é um
diferencial. Contudo este adjetivo deve virar, a curto prazo, uma obrigação. “Antigamente falava-se que um produto era bom porque tinha qualidade. Hoje, espera-se que todos tenham boa qualidade”, compara Ronaldo. Mas na prática, se o termo sustentabilidade tivesse que ser resumido em uma só palavra, qual seria? Respeito! Isso mesmo. Um desenvolvimento sustentável é aquele que respeita as pessoas, o meio ambiente e tudo o que nos cerca. E isso é básico, né? Será que é pedir muito? •
Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br
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Notas & fatos Nicole Kidman diz que tolera cada vez menos a intromissão da mídia
Dennis Quaid: ‘morreria em cinco anos’
A atriz australiana Nicole Kidman afirmou que, com o tempo, tolera cada vez menos a “intrusão impiedosa” da mídia em sua vida privada, e que, embora seja mais forte do que aparenta, chega a se sentir ferida pelas críticas. Em entrevista concedida à revista do jornal “Journal du Dimanche”, Nicole assinala que nunca buscou “a atenção obsessiva que surge com a fama”. Por sorte, aponta, conta com a proteção e o apoio constante do marido, o cantor country Keith Urban, mas explica que “às vezes se sente ferida quando é tratada como um objeto pela imprensa”. A australiana afirma que perante tudo é “mãe e esposa” e, aos 43 anos e com quatro filhos –dois do seu atual marido e outros dois adotados com seu ex-marido, o ator Tom Cruise–, destaca que já não tem vontade de perder seu tempo e sua energia “em vão”.
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O ator Dennis Quaid admitiu ter sido viciado em cocaína durante o tempo em que filmou o longa-metragem “The Big Easy”, nos anos 80. “Eu dormia uma hora por noite, entre as sessões de drogas”, revelou o artista. O artista contou ter sido dependente químico entre a década de 80 e 90, chamando seu vício de grande erro. “Eu acordava,
cheirava uma carreira, e jurava que não ia fazer isso de novo naquele dia. Mas então, em torno de quatro horas depois, voltava à estrada como um esquilinho em uma dessas esteiras”. O veterano finalmente falou sobre a gravidade do seu vício quando sua banda, The Sharks, quebrou. “Percebi que morreria em cinco anos se não mudasse meu jeito”.
BARRAQUINHO
Esse Twitter... O autor Walcyr Carrasco criticou Carolina Dieckmann por ter declarado nos bastidores de uma gravação que seus filhos não assistem à TV aberta. “Deve ser horrível trabalhar em um meio que ela não suporta, a ponto de pedir que seus filhos não assistam”, afirmou. “Declarar isso publicamente não soa como ingratidão?”, questionou. Dieckmann se defendeu no Twitter: “meus filhos podem assistir a qualquer programa que seja classificado para a idade deles. Acho sua novela uma graça, tenho assistido.... E com os meus filhos!”
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Quem falou o quê?
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Demi Lova CONFISSÃO
Demi Lovato sofre de distúrbio alimentar
Luan Santana ganhou versão boneco e as fãs do cantor vão poder escolher entre dois modelos: o caricato ressalta as características marcantes de Luan, como cabelo e gestos. Já o boneco pesonalidade é o retrato fiel do cantor e tem 17 cm de altura. O lançamento das miniaturas de Luan, que são fabricadas pela empresa Tot Toys em parceria com MDB Brasil, aconteceu na Feira Nacional de Brinquedos em São Paulo
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FRAUDE
FBI investiga a ONG de Madonna
”Eu nunca fui numa balada. No nosso tempo, a gente ia direto para o motel” Silvio Santos, apresentador, conversando com Geisy Arruda durante o “Programa Silvio Santos”
Em entrevista para a edição de maio da “Seventeen Magazine”, a cantora Demi Lovato confirmou que sofre de distúrbio alimentar e que por esse motivo ficou internada durante três meses em 2010. A cantora disse saber que este é um problema com o qual terá de lidar para o resto da vida e acha que não conseguirá se alimentar de maneira tranquila, mas está aprendendo a conviver com isso. Por fim, Demi deu um recado para as meninas que sofrem do mesmo mal dizendo que o mais importante é buscar o conforto das pessoas que se ama.
O boneco Luan Santana
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”Parece estranho. Eu o vi somente uma vez” George Clooney, ator, sobre o fato e Silvio Berlusconi querêlo como testemunha em processo de prostituição de menores
”Passei três anos trabalhando trancada numa sala escura, só pela promessa de vir ao Rio de Janeiro. Aconteceu” Anne Hathaway, atriz
”Negócios são negócios e família é família. Eu espero que ela continue tendo sucesso” Mathew Knowles, pai da cantora Beyoncé, ao confirmar que não atuará mais como empresário da filha
Pela segunda vez, uma obra de caridade de Madonna é investigada por má gestão financeira. Segundo o jornal “Daily Mail”, a Success for Kids está sendo analisada pelo FBI por “diversas irregularidades e atividades suspeitas”. Segundo a reportagem, ainda não há evidências do envolvimento de Madonna nas irregularidades, mas a cantora já teria doado US$ 671 mil (cerca de R$ 1,1 milhão) desde a sua fundação em 2011 e incentivava vários amigos famosos a fazer doações generosas. As suspeitas de fraudes podem levar a cantora a também ser investigada pela Receita Federal nos Estados Unidos. No Brasil, só o empresário Eike Batista formalizou uma doação de R$ 12 milhões para o projeto de educação da cantora pop que usa a cabala como base de formação. Em novembro, Madonna esteve no país para arrecadar fundos para sua obra social. Se reuniu com diversos empresários brasileiros, que prometeram ajudá-la.
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Comportamento
CULTO À BELEZA
Silicone na flor da idade Aumenta a procura de adolescentes por cirurgias plásticas: uma alternativa arriscada para recuperar a autoestima e um novo desafio aos pais e especialistas
Letícia Maciel São José dos Campos
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s tempos mudaram e com ele nossas exigências aumentaram. O mundo competitivo, os padrões de beleza impostos pela mídia e a busca por elevar a autoestima têm levado um número cada vez maior de adolescentes à mesa de cirurgia e colocado seus pais diante de um novo dilema: apoiar ou não o desejo dos filhos. O fato é que os implantes de silicone e a lipoaspiração já representam a maioria das operações nesta fase da idade, mas há também buscas por correção de orelhas e redução de mamas em meninos. Mas diferentemente do que acontecia há duas décadas, esta tendência já não causa tanto espanto e divide a opinião pública: uns a encaram com naturalidade ou até defendem. Já outros consideram as transformações estéticas em menores um erro desnecessário e um possível desencadeador de frustrações ainda maiores. Antes de completar 17 anos, a adolescente Melissa*, de São José dos Campos, conseguiu com muito custo convencer os pais e se submeteu a um implante de 240 gramas de silicone em dezembro passado. “Meu pai, que sempre foi conservador, me apoiava, mas minha mãe não queria deixar. Ela dizia que era muito cedo, mas acabei conseguindo convencê-la”, contou. “Agora todas as minhas amigas vêm falar comigo sobre o silicone. Querem que eu mostre, porque têm vontade de fazer o implante.
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Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida”, declarou Melissa. Os pedidos para colocar silicone começaram aos 14 anos e, dois anos depois, com o fim de um namoro, a insistência aumentou. Então, os pais decidiram levá-la ao endocrinologista para fazer uma primeira avaliação. O profissional garantiu que os seios não se desenvolveriam mais, e a encaminhou para um cirurgião plástico. “Conviver com a frustração dela era difícil, mas até o momento de assinar o termo de responsabilidade na clínica eu não tinha certeza do que estava fazendo. Já a Melissa estava determinada. Enquanto não colocou o silicone, não sossegou”, admitiu a mãe da adolescente. “Hoje percebo que fizemos o certo, porque ela se sente muito melhor. Não posso mais dizer que sou contra. Ao mesmo tempo, quero manter segredo e preservar minha filha, pois ainda existe preconceito. As pessoas fazem brincadeiras de mau gosto”, continuou, alertando para os cuidados que os pais devem ter na escolha dos médicos e na realização dos exames que antecedem à cirurgia. Em São José dos Campos, o cirurgião plástico Ronaldo Roesler, confirma esta realidade e admite que meninas e meninos novos, da faixa dos 13 aos 17 anos, já o procuraram por estarem insatisfeitos com o próprio corpo. “A cada dia temos mais meninas querendo aumentar ou diminuir o tamanho das mamas, mas a idade ideal é 16 anos, porque a partir daí o corpo não passa mais por mudanças significativas. Em casos específicos, quando o adolescente sofre transtornos psicológicos por chacotas na escola e temos o consentimento dos pais, a operação pode
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Foto ilustrativa
ocorrer antes, com 13, 14 ou 15 anos”, disse. Os riscos de uma cirurgia plástica hoje são pequenos, mas existem e podem até levar à morte. O paciente toma anestesia geral, fica internado de 12 a 24 horas no hospital e tem de estar disposto a encarar um pósoperatório com duras restrições. O psicólogo Gilberto Rodrigues, de Taubaté, considera arriscado se submeter a estes procedimentos sem antes tentar resolver seus problemas de insatisfação pessoal e recuperar a autoestima, principalmente numa idade em que muita gente ainda não sabe ao certo o que quer. Segundo o terapeuta, as pessoas hoje dizem que a adolescência começa mais cedo, aos 13 ou 14 anos, mas isso não tem relação direta com a maturidade, que começa a chegar aos 18 ou 19 anos. “Considero a cirurgia plástica corretiva um avanço fantástico da medicina, mas a cirurgia estética é questionável porque não é duradoura, principalmente na adolescência. São reparações periódicas que podem acabar deformando o corpo para sempre”, alegou. Cirurgia A joseense Clarice* é outro exemplo da ousadia dos adolescentes de hoje. Aos 17 anos, encarou uma anestesia geral e trocou os seios reais por duas próteses de silicone. Sem consultar nenhum outro profissional, marcou consulta no cirurgião plástico e não encontrou empecilhos. “Fui lá, falei para o médico que estava insatisfeita com meus seios grandes e caídos, ele me explicou o que faria e concordei. Foi bem simples”, resumiu. No dia da plástica, ela aproveitou para modelar a cintura com algumas sessões de lipoaspiração. Loira, bonita, 1,69 de altura para 65 kg, Clarice pensava apenas em reduzir e levantar os seios, mas foi convencida pelo cirurgião a colocar próteses, na tentativa de evitar intervenção futura. O médico não perguntou se ela sentia dores na coluna ou se vinha enfrentando problemas de autoestima, apenas advertiu sobre possíveis consequências da cirurgia. “Eu não tive medo, só perguntei se ia doer. O médico disse que eu tomaria anestesia. Além disso, minha mãe já operou os seios duas vezes para implante de próteses. Eu acompanhei a recuperação dela e sabia que tudo voltaria ao normal comigo também”, afirmou a adolescente, que faz cursinho para o vestibular. “Na verdade, eu só me dei conta de que iria operar quando já estava na maca do hospital, entrando no centro cirúrgico. A anestesia demorou a fazer efeito e eu acabei sentindo os médicos me cortarem. Depois de um tempo, apaguei to-
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Comportamento Flávio Pereira
CIRURGIA
Paciente durante cirurgia de implante de próteses de silicone nos seios, em São José
ALERTA
Procedimento ainda oferece risco Cada vez mais frequentes no Brasil, as cirurgias plásticas já são encaradas com naturalidade, mas ainda requer muitos cuidados. Para Ronaldo Roesler, que atua no ramo há 12 anos, os riscos de uma cirurgia plástica hoje são mínimos, sobretudo as de redução de mamas e implantes de próteses de silicone. Entretanto, nem sempre os resultados correspondem ao esperado e as anestesias podem causar problemas letais. Os casos mais frequentes de óbitos são por lipoaspiração. Por isso, é preciso ser rigoroso na realização e verificação dos exames anteriores ao procedimento. O check-up inclui exames de sangue e cardiológicos. Além disso, a paciente deve manter uma alimentação equilibrada e abster-se completamente de álcool, cigarros e drogas. Antes de se submeter a uma plástica, é extremamente importante verificar se o médico é de confiança, se tem um consultório em local fixo e, principalmente, se pertence à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Alguns médicos saem de São Paulo para operar
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no Vale do Paraíba, mas depois não podem ser encontrados pelas pacientes. “Muitos cirurgiões, que na maioria das vezes não são membros especialistas titulados pela SBCP, indicam procedimentos pensando apenas no retorno financeiro. Essa é a situação propícia para que ocorram complicações”, afirmou o cirurgião Eduardo Gauch. Outra preocupação é em relação à cicatriz. Os cortes para redução de mama e implante de próteses de silicone podem ser feitos no mamilo, na parte inferior da mama, em ambos os locais, ou nas axilas. Cada paciente tem um tipo de cicatriz, em função da cor da pele, da capacidade de recuperação e do repouso pós-operatório. “Se a paciente estiver acima do peso e, depois, emagrecer, provavelmente voltará para refazer o procedimento”, disse Roesler. As cirurgias nos seios podem variar bastante de preço, dependendo dos profissionais, dos procedimentos a e do tempo de operação. As próteses de silicone custam, em média, R$ 1.700. Há ainda o custo com equipe médica e hospital, que pode variar de R$ 5.000 a R$ 7.000. Se a paciente optar por fazer lipoaspiração no mesmo dia, o preço aumenta. Uma revisão nos quadris, cintura, coxas e braços chega a R$ 8.000.
talmente. Quando acordei, não conseguia me mexer e tudo doía. Não recomendo a nenhuma adolescente fazer uma plástica”, disse. No pós-operatório, Clarice sofreu muito. Chorava todos os dias porque não conseguia andar, comer e nem fazer nada sozinha. “Acho que a dor da cirurgia acumulou com a dor da lipo que fiz numa gordura que tinha nas costas. Fiquei com uma cinta apertada durante 15 dias e, quando a tirava para tomar banho, tinha sensações de desmaio”. Apesar do sofrimento, a adolescente disse que valeu a pena porque passou do sutiã número 48 para o 44 e hoje se sente mais confiante. Meses depois da cirurgia começou a namorar o garoto que paquerava havia anos. “Estou muito feliz com meus seios, a cicatriz não me incomoda. Com a cirurgia, muita coisa muda na sua cabeça. Seios grandes e caídos deixam a pessoa insegura”. Hoje, quando se olha no espelho, Clarice acha seus seios lindos, mas pensa em fazer um retoque na mama direita. Curioso é que, enquanto ela concedia entrevista para esta reportagem, uma amiga que estava presente falou que Clarice repetia ‘nunca mais quero fazer cirurgia na minha vida’. A adolescente teve total apoio dos pais. A mãe já conhecia o cirurgião e o pai, apesar de preocupado, até levou presente na saída do hospital. Diálogo Com relação à atitude dos pais, os psicólogos dizem que é preciso muito diálogo para tentar entender o que o filho está realmente buscando. Nesta fase da vida, eles precisam ser compreensivos com a rebeldia do adolescente, porque ela é necessária. Afinal, é exatamente esta fase que forma o adulto. Segundo ele, é no momento de transição que a pessoa questiona valores, princípios e define o que quer para si e para sua vida. O cirurgião Ronaldo Roesler insiste que, antes de tomar qualquer decisão, as candidatas ao silicone e seus pais devem estar cientes dos riscos e das consequências da cirurgia. Primeiro, devem fazer uma avaliação clínica, saber que a mama atual será substituída por uma com cicatrizes e, pior, que o resultado talvez nem a satisfaça. “Já tive paciente que veio para operar e acabou desistindo. Raramente temos pedidos de cirurgia por doenças. A procura é mesmo por vaidade e isso é arriscado. Às vezes, o sonho da paciente vira um pesadelo”, afirmou o cirurgião, dizendo que uma plástica é como qualquer cirurgia: pode dar resultado negativo, seja pela técnica usada ou pelo resultado inesperado. Segundo ele, na grande maioria dos casos, o
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argumento de que seios grandes em uma adolescente podem justificar uma cirurgia plástica por eventuais danos à coluna não corresponde à realidade. Em geral, as pacientes que dizem isto nunca consultaram o especialista no assunto e alegam ter este problema para poder usar o convênio. Mais raro ainda é uma paciente que já tenha conversado com um psicólogo antes de chegar à sala de cirurgia. Em um bate-papo com um grupo de 20 meninas, em março passado, Gilberto Rodrigues comprovou que a maioria faria um implante de silicone se tivesse problemas de autoestima. Apesar de todas admitirem que a preferência masculina seja pelo bumbum, confessaram que existe grande concorrência entre as meninas em relação aos seios e que todas odeiam ter de usar biquínis com bojo . Segundo o psicólogo, todo mundo quer se sentir atraente, mas quem estiver pensando em fazer cirurgia plástica tão cedo deve antes rever seus referenciais de beleza e começar a focar outros valores. “Hoje, a busca pela perfeição estética está em primeiro lugar, mas a chave para se sentir bem é se aceitar”, afirmou.
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“Quando o adolescente busca apenas uma mudança estética, o resultado em geral não é satisfatório porque ele não está bem com ele mesmo, não apenas com seu corpo. Neste caso, ele precisa desenvolver uma nova ótica, deixar de lado a cultura da aparência, a superficialidade”, explicou. No consultório, Gilberto Rodrigues teve uma paciente que fez implante de silicone e adorou o resultado, mas agora já pensa em outras plásticas. “Ela mudou seu comportamento, está com autoestima mais elevada, mas continua infeliz com alguma coisa dentro dela.” No caso da adolescente Débora*, de 17 anos, a cirurgia decorreu principalmente de um cisto que apareceu em uma das mamas. Como os seios eram muito grandes e diferentes um do outro, ela e a mãe optaram pela cirurgia plástica. “Fiz a primeira cirurgia aos 15 anos, mas saí para dançar durante a recuperação e os pontos abriram. Fiquei com uma cicatriz muito grande e acabei operando novamente aos 17. Eu ia só arrumar a cicatriz, mas aproveitei para levantar os seios. Com isso, eles ficaram um pouco menores”, relatou Débora. Segundo ela, a mãe fez plástica nos seios há 16
anos e a irmã mais velha, de 21 anos, também pensa em fazer o mesmo. “Se a pessoa não está se sentindo bem com o próprio corpo e tem condições financeiras para fazer, tem que arrumar sim”, incentivou a adolescente. Mercado Assim como no Vale do Paraíba, o Brasil todo vem registrando aumento na procura por cirurgias plásticas, tanto entre adolescentes quanto entre mulheres e homens adultos. A SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) não divulga estatísticas, mas confirma esta tendência. De acordo com as informações mais recentes da entidade e do Ibope (Instituto Brasileiro de Pesquisas e Estatísticas), o número de procedimentos subiu 2,6% de 2008 para 2009, totalizando 645.464. Porém, estima-se que a procura tenha crescido ainda mais desde então. Dados não-oficiais apontam para crescimento de 10% na realização de plásticas no país. O Brasil é o segundo colocado no ranking mundial de plásticas, atrás apenas dos Estados Unidos, que registraram mais de 1,5 milhão de operações em 2009. •
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ValeViver CULTURA
Um dia inteiro Virada Cultural chega à sua 5ª edição no interior de São Paulo; no Vale do Paraíba, São José dos Campos e Caraguatatuba recebem 24 horas de música e teatro Adriano Pereira São José dos Campos
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m dos projetos culturais de maior sucesso do poder público no Estado de São Paulo, a Virada Cultural já é um evento esperado por todo o mundo, dos puristas aos populistas, dos oportunistas aos que estão sempre em voga. Em todas as áreas, inclusive fora dos palcos. Inspirada nas “Noites Brancas” parisienses, que levam 24 horas de eventos culturais gratuitos para a população, aqui a festa tende a ser em sua maior parte musical, mas o teatro e a dança também terão espaço. No Vale do Paraíba, duas cidades receberão o evento -São José dos Campos e Caraguatatuba- nos dias 14 e 15 de maio. São José é um dos municípios que está desde 2007, quando foi lançada a programação para o interior. Caraguá passou a integrar o circuito em 2008. E mesmo com toda a reclamação sobre a qualidade das atrações, um dos méritos da Virada é tentar abranger um ecletismo artístico muitas vezes utópico. Por exemplo, ter na mesma cidade a música regional e enraizada de Al-
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mir Sater no mesmo palco que será depois usado pelo rock moderno da cantora Pitty, que fecha a programação em São José. Em Caraguá não é diferente, Elba Ramalho e Lobão não se cruzam musicalmente, mas nos camarins deverão se encontrar, afinal, eles se apresentam no mesmo dia, no mesmo palco. Outra crítica que o evento recebe é de privilegiar a música. É verdade, e a justificativa é simples: público. Algumas cidades deixaram de ter suas edições pelo fato de não ter um público relevante. Os shows musicais atraem mais gente, e números ficam bem em documentos oficiais. Entretanto, o teatro e dança em São José e Caraguá estão na programação. Por exemplo, logo depois da abertura oficial, o Teatro Municipal joseense recebe o “Florilégio Musical”. O espetáculo teatral musical com Mira Haar e Carlos Moreno (o eterno e famoso garoto propaganda do Bombril) intercala números musicais e trechos de poesia. Taça de vinho tinto nas mãos, os dois dançam, cantam e convidam a plateia a entrar no clima romântico de “Besame Mucho” (de Consuelo Velazquez). Em outro momento, mais modernos, de óculos escuros, mandam ver na versão em
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Fotos: divulgação
PITTY
A cantora fecha a programação da Virada em São José dos Campos
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ValeViver 15h - 16h Fabiano Medeiros canta Clara Nunes 16h - 16h30 Intervenção 16h30 - 18h Trovadores Urbanos
PROGRAMAÇÃO São José dos Campos Dias 14 e 15 de maio Palco interno - Teatro Municipal 18h - 18h30 Abertura oficial 18h30 - 19h30 Florilégio Musical 20h30 - 21h30 Precisa-se de um Mané - La Cascata Cia Cômica 22h30 - 23h30 Trovadores Urbanos 0h30 - 2h Miranda Kassin - I love Amy 2h30 - 3h30 Michele Machado - Humor de salto alto 10h30 - 11h30 Reciclonices - Academia de Palhaços 13h - 14h Mistura e Manda - Ao som de Paulo Moura - Cia Aérea de Dança 15h - 16h Regina Machado 16h30 - 18h Jamelão Neto Palco externo - Parque da Cidade 18h30 - 19h20 DJ Niggas 19h30 - 20h30 Trio Sabiá 20h30 - 21h Intervenção 21h - 21h50 Ludmila Mazzucatti e banda 22h - 22h30 Intervenção 22h30 - 23h30 5 à Seco 23h30 - 0h Intervenção 0h - 1h30 Almir Sater 1h30 - 3h30 DJ Niggas 14h - 15h Les Pops 15h - 15h30
La Cascata Cia Cômica
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15h30 - 16h30 Garotas Suecas 16h30 - 17h La Cascata Cia Cômica 17h - 18h30 Pitty
Caraguatatuba Dias 14 e 15 de maio Palco interno - Teatro Mario Covas 18h - 18h30 Abertura oficial 18h30 - 19h40 Ame a Amazônia 20h - 20h30 Intervenção 20h30 - 21h30 Um show de variedades palhacísticas Teatro de Rocokoz 21h30 - 22h Intervenção 22h30 - 23h30 Rubi 23h30 - 0h Intervenção 0h30 - 2h Antonio Carlos & Jocafi 2h - 2h30 Intervenção 2h30 - 3h30 Vitor Sarro 10h30 - 11h30 Avoar - Cia Pic Nic 12h30 - 13h Intervenção 13h - 14h Vertigem - Banana Broadway 14h - 14h30 Intervenção
Palco externo -Praça de eventos 18h30 - 19h20 DJ Bra_Sa 19h30 - 20h30 Vivendo do ócio 20h30 - 21h Intervenção 21h - 21h50 EM ABERTO 22h - 22h30I Intervenção 22h30 - 23h30 Bicho de Pé 23h30 - 0h Intervenção 0h - 1h30 Elba Ramalho 1h30 - 3h30 DJ Bra_Sa 14h - 15h Gabriel Grossi Trio 15h - 15h30 Intervenção 15h30 - 16h30 As Choronas 16h30 - 17h Intervenção 17h - 18h30 Lobão
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AMY?
Não, é Miranda Kassin que aproveitou a semelhança vocal com a inglesa e canta várias no repertório do show
rap da cantiga “O Cravo Brigou a Rosa”, apresentando assim um bem-humorado coquetel de músicas. Além de outras peças, nos palcos externos, tanto em São José quanto em Caraguá, haverá intervenções de 30 minutos entre as apresentações “principais” de cada dia. No Teatro Mario Covas, o público caiçara poderá conhecer um espetáculo de dança bastante interessante. É o “Vertigem”, do grupo Banana Broadway. A apresentação reúne técnicas de equilíbrio acrobático e sapateado sob o prisma de uma visão contemporânea de montagem. O resultado do experimental agrada. A dança também aparece em São José no “Mistura e Manda - Ao som de Paulo Moura”, com a Cia Aérea de Dança. O espetáculo traz três bailarinos que contam a história do samba carioca muito bem acompanhados de trilha composta pelo maestro Paulo Moura. Criada pelo coreógrafo João Carlos Ramos, a Cia Aérea de Dança foi responsável, por exemplo, pelas vinhetas de Carnaval exibidas pela Rede Globo neste ano.
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Música Na área musical os destaques são mais conhecidos. Em São José, os grandes se alternam com os menos famosos, mas nem por isso menos talentosos. Almir Sater e Pitty são os notórios do palco externo, mas o indie do Garotas Suecas, o experimentalismo do 5 à Seco e o rock alegre e bem feito dos cariocas do Les Pops agradam os ouvidos mais alternativos. No Teatro Municipal o ecletismo mostra sua cara mais nítida. Começa com as serenatas dos Trovadores Urbanos, grupo famoso por usar vestimentas de época em suas performances. Na sequência, e no outro extremo, vem Miranda Kassin, com o show “I Love Amy”. A cantora paulistana aproveitou sua semelhança (mais vocal do que física) com Amy Winehouse e faz boas versões dos hits da britânica. Regina Machado mostra qualidade vocal acima da média numa ode à canção interpretando nomes como Luiz Tatit, Chico Saraiva, Fred Martins, Dante Ozzetti, Makely Ka e Fábio Barros, entre outros. E por fim, Jamelão Neto fecha a programação no Teatro Muncipal. Seria estranho o cantor não seguir os passos do avô. Mangueirense, o
músico traz a voz grave de uma genética musical invejável. No Teatro Mario Covas, em Caraguá, as atrações musicais começam pela voz ímpar do cantor Rubi. Quem não conhece a figura e apenas ouve o artista jura que é uma mulher que está cantando. Curioso e talentoso. Uma volta ao passado vem logo depois, com a dupla Antonio Carlos & Jocafi. Os dois começaram a carreira em 1969 –no Festival Internacional da Canção– e fizeram sucesso na década de 1970. Muitas de suas composições fizeram parte de trilhas e aberturas de novelas. O cantor Fabiano Medeiros sobe ao palco para homenagear Clara Nunes antes dos mesmos Trovadores Urbanos que passaram por São José mostrarem suas serenatas para o público de Caraguá. Enfim, se a maior parte das boas atrações fica concentrada na Virada da capital paulista, inclusive com artistas internacionais, o interior recebe a diversidade. E mesmo que o grosso deste caldo tenha sabor desconhecido pela maioria, vale a pena variar o cardápio, ainda mais se almoço está pago. •
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Viva a Vida
Carlos Carrasco
Como evitar que as crianças percam a inocência de uma forma tão trágica?
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oje me peguei pensando na inocência humana, nos horrores da vida, até onde vai a inocência e quando ela é perdida. Tantas coisas horrorosas acontecendo no país e no mundo e, no devaneio dos pensamentos, me vem momentos vividos da minha vida profissional. Resolvi relembrar cada um deles, já que tenho tudo arquivado. Tirei muitas fotos do armário e comecei a ver e lembrar de cada retrato. Que delícia ter boas lembranças e, de alguma forma, aliviar o coração. Olhando meu trabalho pude perceber a perda da inocência em muitas modelos que começam a carreira quase crianças. Vi as fotos de cada menina e observei a evolução profissional delas. Será que meu olhar está mais sensível? Acredito que sim. Hoje percebo que elas tentavam ser mulheres, sexys, lindas e cheias de atitude em trabalhos lindos, imagens maravilhosas. Conseguíamos tirar das modelos exatamente o que havíamos pensado para cada foto. Mas o que eu nunca tinha notado, talvez por estar envolvido nos trabalhos, criando visuais e estilos, que seus olhares ainda eram de meninas, criancinhas um pouco assustadas, tentando ser o que não eram. A cada foto, de anos diferentes, hoje enxergo que os olhares foram ficando diferentes, mais fortes, seguros e sexys. Acompanhando a
evolução corporal delas, percebo a experiência da vida nos olhares. O que mais escutei na minha adolescência era que a partir do sexo perdemos a inocência. É, meu bem, depois de experimentar, o olhar muda. Mas pensei: é aí que perdemos a inocência? Depois de experimentarmos o sexo? Será? Minha cabecinha de vento pirou tentando encontrar outras respostas, meios, ambientes, profissões. Automaticamente me veio à mente a tragédia de Realengo, no Rio. Pensei: é Carrasco, não é só fazendo sexo que se perde a inocência. Ela pode ser perdida também no meio da violência urbana e, de todas as formas, presenciando uma barbárie. Também podem perder a inocência dentro de casa, onde deveriam se sentir seguras e apoiadas para que a evolução seguisse seu movimento natural. É poética a perda da inocência, de uma forma linda e natural, como as que pude reconhecer na vida de meninas que passaram pela minha vida profissional. Deixa a gente romântico, cheio de bossa, achando que tudo é lindo, que a vida é perfeita, que todos são felizes. Mas pergunto: porque uns perdem a inocência de uma forma natural e cheia de magia e outros, de forma bruta e desumana? Não quero pensar que estamos retrocedendo na evolução, que voltaremos a ser como nossos ancestrais a milhões de anos atrás. Isso seria o retrocesso da raça. E também não podemos culpar ninguém por isso. Não existe um culpado, mas acho que somos responsáveis por muito disso tudo. Vejo uma sociedade criando cidadãos diferentes, e diferen-
ESPERANÇA Impressionante como fazemos arte de tudo, como muitas vezes tudo fica mais suave quando se vê com os olhos da arte tes entre si. Seria maravilhoso se a vida imitasse a arte mágica, que enche os corações e a mente de coisas boas. Mas, na verdade, a arte se inspira na vida, pintamos a inocência em quadros, escrevemos a inocência em letras, registramos a inocência em fotos e fazemos a mesma coisa com tragédias e outras coisas ruins. Impressionante como fazemos arte de tudo, como muitas vezes tudo fica mais suave quando se vê com os olhos da arte. Então faço um pedido: vamos tentar fazer com que as próximas gerações percam a inocência com arte. Estou de luto por todas as crianças que morreram na tragédia do Rio, mas principalmente pelas que ficaram e tiveram a inocência roubada. Essas precisam de um olhar intenso e cheio de amor para que não cresçam e se tornem seres traumatizados e violentos, roubando a inocência dos que virão. •
Carlos Carrasco cabeleireiro
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LONDRES
O longa teve locações no Havaí, Caribe e na capital inglesa; ao lado, Penélope Cruz que gravou o filme mesmo durante a gravidez
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CINEMA
Jack is back! Johnny Depp volta a viver Jack Sparrow em ‘Piratas do Caribe 4 - Navegando em Águas Misteriosas” acompanhado da bela Penélope Cruz; desta vez filme chega em 3D e sem a presença do casal Orlando Bloom e Keira Knightley mas”, comentou Jerry Bruckheimer no lançamento do filme em Los Angeles. “A ideia de um quarto filme já existia no imaginário de todos nós. Quando eu terminava de interpretar Jack, havia uma descompressão real saindo da minha pele, pois eu entrava mesmo na alma do personagem. Há um conforto absoluto em interpretar este personagem, pois é o momento em que posso ser completamente irreverente e subversivo, além de totalmente abstrato em todas as situações. Já o conheço perfeitamente”, completou Johnny Depp, que inclusive participou da confecção e finalização do roteiro, ao lado dos roteiristas Ted Elliot e Terry Rossio. O quarto filme marca a volta de Keith Richards ao elenco. O guitarrista dos Rolling Stones faz uma ponta como Capitão Teague, pai de Jack Sparrow (Depp). Na trama, o destino de Jack Sparrow se cruza com uma mulher que fez parte do seu passado, Angelica, introdu-
Franthiesco Ballerini São Paulo
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á exatos quatro anos, em Los Angeles, na coletiva de lançamento de “Piratas do Caribe – No Fim do Mundo”, o produtor Jerry Bruckheimer assegurou aos jornalistas presentes de que aquele era o último filme da franquia, pois Johnny Depp e grande parte do elenco não mais queriam estar comprometidos com os personagens e preferiam seguir com sua carreira adiante. O repórter que aqui escreve foi um dos que ouviu esta promessa de perto. No entanto, o longa, que estreou em maio de 2007, faturou quase meio bilhão de dólares, invertendo a curva de franquias na qual a regra costuma ser de faturamento em queda dos últimos filmes. O terceiro filme, portanto, não ficou muito longe dos US$ 655 milhões do primeiro, lançado em 2003. E o que o dinheiro não faz em Hollywood, não é mesmo? Neste mês, “Piratas do Caribe – Navegando em Águas Misteriosas” chega aos cinemas no mundo inteiro dia 20 de maio, mas antes mesmo deste quarto filme estrear, o quinto e o sexto já estão confirmados. E com grande parte do elenco principal, incluindo Johnny Depp e Geoffrey Rush. Mas como foi possível convencê-los a dobrar a franquia? Nada como um salário de US$ 35 milhões por filme, no caso de Johnny Depp. “Os números são atrativos o suficiente, mas o sucesso da franquia mostra que os espectadores do mundo inteiro se apaixonaram novamente por piratas, após quase 30 anos sem este personagem frequentar os cine-
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VILÃO
Acima, Ian McShane interpreta o personagem Barba Negra na quarta sequência da franquia; nesta foto, o par Depp e Penélope
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zindo ao filme a musa Penélope Cruz. O pirata não sabe se ela o ama ou se está apenas usandoo para achar a misteriosa Fonte da Juventude. Ela então o força a embarcar no navio de Barba Negra (Ian McShane) e ele começa então a temer pela presença da donzela. Para piorar a situação, a trupe do Capitão Barbossa (Rush) também está em busca da tal fonte. No elenco não está mais Keira Knightley e Orlando Bloom, o casal romântico da primeira trilogia. Mas a falta deles é compensada não só por Penélope Cruz como também como a opção em ver o filme em 3D. Grande parte do lançamento do filme no mundo virá com a tecnologia do momento. Quem dirige o quarto filme é Rob Marshall (“Chicago”, “Nine”), pois o diretor dos longas anteriores, Gore Verbinski, não aceitou o projeto pois estava envolvido com a criação de um game. Mas “Piratas do Caribe 4” não estava garantido só por conta da presença de Johnny Depp. Com a saída do par romântico dos três primeiros filmes, Orlando Bloom e Keira Knightley, os produtores passaram meses tentando escalar o melhor contraponto feminino para Depp. Foi quando Rob Marshall trouxe uma de suas divas de “Nine”, Penélope Cruz, para o posto, com o risco de ela dizer não, pois estava grávida na época. Aliás, a gravidez tornou as filmagens mais complexas, uma vez que a equipe teve que usar a irmã de Penélope, Monica, para as cenas à distância, pois a barriga já estava saliente e o figurino quase não entrava. “Não há muitas atrizes que conseguem estar no mesmo nível artístico que Johnny Depp. Era preciso uma atriz que abraçasse diversas características ao mesmo tempo, como humor, sensualidade, poder, beleza e paixão”, comentou o diretor no lançamento do filme em Los Angeles. “Angelica, a personagem de Penélope, teve um romance com Sparrow no passado mas ele a traiu. Agora, no reencontro, tudo que ela quer é se vingar.” Orçado em torno de US$ 300 milhões, “Piratas do Caribe 4” foi rodado no Havaí, em algumas ilhas do Caribe e em Londres. Foi durante as filmagens em Londres que Johnny Depp recebeu uma cartinha de uma garota local dizendo para ele a ajudar contra os professores, quando então Depp foi sem avisar para a escola fazer uma visita à classe. Foi no Caribe a locação da cena em que os piratas se encantam com dezenas de sereias maravilhosas –elas foram interpretadas por esportistas de nado sincronizado que participaram das Olimpíadas de Pequim, em 2008. O maior desafio deste quarto filme, no entanto, foi atender à exigência da Disney
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Orçado em cerca de US$ 300 milhões, “Piratas do Caribe 4” foi rodado em algumas praias do Havaí, em ilhas do Caribe e ruas de Londres do século 18. Filme será lançado em 3D
de lançá-lo em 3D. O que não é nada fácil para um filme na sua maioria rodado em locações reais –lembrando que 3D se torna muito menos complicado quando quase tudo é rodado na frente de uma tela verde e reproduzido depois em computação gráfica –como “Beowulf” e “Sin City”. “O filme foi rodado em selvas, praias e em ruas de Londres do século 18. Lidar com todos estes elementos foi muito mais complicado com duas câmeras do que com uma só, aumentando o tempo e o orçamento do filme”, diz Bruckheimer. O resultado não é surpreendente mas, de fato, acrescenta uma novidade no filme, uma nova maneira de olhar aquelas belíssimas locações escolhidas. A segunda trilogia da história pretende ter atores mais variados, o que não garante Penélope Cruz nas três produções. A ideia de Bruckheimer é trazer atores em ascensão ou grande destaque na mídia para cada nova produção. “A franquia ficou incrivelmente grande e complexa. Nossa ideia foi justamente reiniciar o sistema, voltando à essência da história, apenas com os personagens centrais”, explicou, no lançamento, o diretor de Produção, Oren Aviv. Mas Johnny Depp quase deixou de assinar o contrato da segunda trilogia quando a Disney demitiu seu presidente, Dick Cook, pois segundo Depp, ele foi o grande entusiasta do personagem numa época em que piratas estavam em baixa nos cinemas. Após muita negociação –financeira inclusive– o astro topou assinar o contrato. Sorte da Disney, pois apesar dos efeitos especiais, do 3D e de Penélope Cruz, “Piratas do Caribe 4” se sustenta quase que exclusivamente aos trejeitos que Johnny Depp deu ao personagem, uma mistura de pirata lúdico, afeminado, meio bêbado e despreocupado com a vida. Um sucesso entre crianças e adultos. Com ele, a franquia tem tudo para chegar bem ao sexto filme.•
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Música&mais Wild flower
Fotos: Divulgação
O The Cult traz seu rock reto e honesto para São Paulo em 14 de maio Adriano Pereira São José dos Campos
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em lançar um álbum desde “Born Into This” (2007), apenas um single em 2010, o The Cult vem novamente ao Brasil para fazer um apanhado de sua carreira. Nada melhor para os fãs que gostam do rock honesto e sem firulas que a banda faz. O grupo de Ian Astbury se apresenta no dia 14 de maio, em São Paulo, no HSBC Brasil. Clássicos como “Rain”, “Sweet Soul Sister”, “Love Removal Machine”, “She Sells Sanctuary” e “Painted On My Heart” fazem parte do repertório que não deve mudar. Formada no início dos anos 80, a banda inglesa sempre foi associada ao movimento gótico por conta do visual, mas sua música está muito mais para o pós-punk da época do que para algo como Joy Division. Mas o rock do Cult confundiu todo o mundo. A crítica americana costumava definir a banda como “muito gótica para o público em geral, muito heavy metal para os góticos e muito progressivo para os punks”. Além de Ian, o Cult vem com Billy Duffy (guitarra), o integrante coringa que só se apresenta ao vivo, Mike Dimkich (guitarra), Chris Wyse (baixo) e John Tempesta (bateria). Ainda há ingressos para o show que custam de R$ 120 a R$ 360 e podem ser comprados pelo site www.ingressorapido.com.br.
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O fotógrafo Don McCullin revela imagens inéditas de uma das última sessões com os Beatles, em Londres
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Ian Anderson toca em São Paulo
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30 anos de uma pose assumida Já houve um tempo em que pensar em rock pesado era imaginar um cabelo armado com muito spray, roupas extremamente extravagantes e maquiagem de sobra. Dá até para pensar que não mudou nada, mas mudou muito, afinal, naquela época a pose era assumida e acompanhada de boa música. É nesse embalo que o Mötley Crüe vem há 30 anos, quando o baixista Nikki Sixx e o baterista Tommy Lee resolveram montar uma das bandas mais populares do planeta, com 80 milhões de discos vendidos na carreira. O grupo se apresenta no dia 17 de maio, no Credicard Hall, em São Paulo. O disco mais recente lançado pela banda é de 2008, “Saint of Los Angeles”, primeiro com a formação original depois de 10 anos e que não chegou a empolgar na época do lançamento. As
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críticas vieram por conta de uma mudança no som da banda, que tentou de alguma maneira acompanhar a onda de um metal mais pesado, bem diferente do hard rock mulherengo que o Mötley Crüe sempre mostrou. Ainda assim, a canção que dá título ao álbum mostra que aquele rock descompromissado ainda existe na banda. O disco deve ser a espinha dorsal do set list preparado para o show, mas clássicos como “Girls, Girls, Girls”, “Dr. Feelgood” e “Home Sweet Home” são inevitáveis no repertório. O Buckcherry faz o show de abertura e traz ao público brasileiro seu último, e quinto, trabalho, “All Night Long”. Para os fãs da banda, músicas como “Crazy Bitch” e “Sorry” devem fazer parte do repertório. Os ingressos custam de R$ 90 a R$ 170 e podem ser comprados pelo site www.ticketsforfun.com.br.
BEASTIE BOYS “Hot Sauce Committee Part 2” Gravado em 2009, o disco sai só agora por conta de problemas de saúde enfrentados por Adam Yauch
EDDIE VEDDER “Ukulele Songs” Segundo disco solo do vocalista do Pearl Jam. Neste, covers e inéditas tocadas no ukulele
MOBY “Destroyed” Segundo Moby, “é pra ouvir em cidades vazias às 2h da manhã”. Vai entender...
O líder e fundador da banda de rock progressivo Jethro Tull se apresenta dia 14 de maio, em São Paulo. Os ingressos custam de R$ 100 a R$ 400. Anderson toca versões acústicas de canções do grupo, que criou em 1967. Ele divide o palco os músicos Florian Opahle (guitarra), Scott Hammond (bateria), John O’Hara (teclado) e David Goodier (baixo). Juntos, tocam algumas de suas músicas mais conhecidas da banda, como “Aqualung”, “Locomotive breath” (ambas do álbum “Aqualung”, de 1971) e “Living in the past” (single de 1969).
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Ponto Final
Arnaldo Jabor
Achávamos que éramos a “Roma tropical”
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i um artigo de Pérsio Arida sobre sua participação juvenil na guerrilha urbana. Lá está a análise rara de um prisioneiro torturado sobre a onda revolucionária que pegou nossa geração; estão os humanos tremores, a dúvida, o medo, todo o irresistível delírio ideológico e psicológico que insuflou uma geração para sofrimentos e mortes depois de 68. A luta armada foi a consequência da fé que tínhamos antes de 64, influenciados pela guerra fria, Cuba liberada, Vietnã. A importância que restou de tudo, como Pérsio aponta, foi justamente a “via crucis” que tivemos de viver e que, por vias tortas, acabou nos levando à democracia em 85. Historicamente, foi bom. O golpe militar de 64 aconteceu porque nós não existíamos. Éramos uma ilusão. A esquerda era uma ilusão no Brasil. Mas, existia o quê? Existia uma revolução verbal. A ideologia “revolucionária” era um ensopadinho feito de JK, Marx, Getúlio e sonho. Existia uma ideologia que nos dava a sensação de que o “povo do Brasil marchava conosco”. Havia a crendice de que nossos inimigos estavam todos “fora” de nós, fora do país e das estruturas políticas arcaicas que nos corroem há 400 anos. A população nem sabia que existíamos. Não havia base material, econômica ou armada, “condições objetivas” para qualquer revolução. Por trás de nossas utopias, o Brasil escravista e patriarcal dormia a sono solto, intocado. Éramos uma esquerda imaginaria, delegando ao Estado a tarefa de fazer uma revolução contra o Estado. Até nas revoluções
NOSSOS ERROS “É desesperante ver que há gente ainda querendo restaurar as ilusões perdidas” precisamos do governo. Por baixo dos sonhos juvenis, havia apenas o sindicalismo de pelegos e dependentes do presidente, que deu a grande festa de 13 de março –o comício da Central, com tochas da Petrobras e clima soviético. Hoje, acho que o único cara que sacava a zorra toda era o próprio Jango, mais brasileiro, mais sábio, entre os gritos de Darcy Ribeiro falando do “Brasil, nossa Roma tropical!”. Mas existia o quê, então? Existiam os outros. Os “outros” surgiram do nada. O óbvio de nossa cultura pipocou do “nada” em 64. Fantasmas seculares reviveram. Apareceu uma classe média apavorada e burra, que sempre esteve ali. Surgiu um exército autoritário e submisso às exigências externas. Descobrimos a violência repressiva de uma falsa “cordialidade”. Descobrimos o óbvio do mundo. Eu estava dentro da UNE pegando fogo no 1º de abril e quase morri queimado, mas senti neste dia que a vida real começava. A sensação não foi de derrota, foi a de acordar de um sonho para um pesadelo. Um pesadelo feito de milicos grossos, burrice popular e pragmatismo de gringos do “mercado”. Em 64, começara o calvário que nos levou a uma possível maturidade. Despertamos para a bruta mão do “money market”, que
precisava nos emprestar dinheiro para que o Estado pós-getulista-verde-oliva avalizasse a instalação das multinacionais aqui. Ou vocês acham que iam nos emprestar 100 bilhões de dólares para o Jango fazer a reforma agrária com o Francisco Julião? Aprisionaram-nos para contrairmos a divida como, 20 anos depois, nos libertaram para pagá-la. Depois de 64 e 68, vimos que a esquerda tinha “princípios” e “fins”, mas não tinha “meios”. Nossos paranóicos achavam (e muitos continuam achando) que somos vítimas de uma trama de Washington. Claro que a CIA armou coisas com direitistas daqui, mas foram apenas os parteiros do desejo material da Produção. Nessa época, poderíamos ter descoberto que um país sem sociedade organizada morre na praia. E deveríamos ter descoberto que não adianta nada analisar os “erros” de nossa esquerda “revolucionária”, como se fossem erros episódicos. A esquerda no Brasil tem de ser repensada “ab ovo”, pois é impossível trancar a complexidade de nossa formação nacional num “pensamento único”. Por isso, é desesperante ver gente ainda querendo restaurar ilusões perdidas. O tempo não para e as forças produtivas do mundo continuarão agindo sobre nossa resistência colonial. Quando entenderemos que a verdadeira revolução brasileira tem de ser endógena, democrática e que só um choque de capitalismo e de empreendedores livres pode arrasar o ‘bunker’ corrupto, a casa-mata secular do Estado patrimonialista? Pérsio não morreu e, vinte anos depois, ajudou a acabar com a inflação. Valeu... •
Arnaldo Jabor Jornalista e cineasta
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Um dia nada especial Nos asilos, senhoras passarão o Dia da Mães sem o abraço dos filhos em São José; realidade afeta centenas de mulheres na cidade onde mais da metade da população idosa é feminina
Letícia Maciel São José dos Campos
apenas quatro anos de completar um século de vida, dona Alice de Lima Xavier tem sabedoria e discernimento suficientes para compreender que seus filhos não a visitarão no Dia das Mães, mas não consegue esconder a tristeza de estar longe deles. Na tranquilidade monótona do Asilo Santo Antônio, em São José dos Campos, ela divide com outras 20 senhoras a dor e a certeza de que não receberá ninguém para comemorar a data. “Não espero receber meus filhos no Dia das Mães. Belouth está com 71 anos e Oney, com 70. Eles continuam me dando atenção, mas passarão o dia com suas respectivas famílias. Não terão tempo de vir até aqui”, responde convicta a fluminense de Teresópolis, a mais lúcida do lar dos velhinhos. Mais aborrecida está a amiga dela, dona Ana Vieira de Faria, 70 anos, mãe de seis filhos. “Estou aqui há quatro meses e até agora
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não recebi visitas. Queria que meus filhos viessem me ver, mas eles não vêm”, lamenta a senhora, lembrando das dificuldades que enfrentou para criá-los. Casada à época, arrumou serviço em uma granja para complementar o orçamento da família. “Eles me deram muito trabalho e hoje não tenho reconhecimento nenhum.” Assim como ela, dona Nadir Teodoro Brasileiro reclama por não ter a atenção que merece e decidiu sair da casa de um dos filhos porque tinha a impressão de estar incomodando. “Para educar filho é preciso muita dedicação, tem de ficar atento dia e noite, mas depois quase não tem reconhecimento. E eu também não fico cobrando não”, afirma dona Nadir, 76 anos, mãe de quatro filhos. Ela também não espera recebê-los no Dia das Mães. “Três dos meus filhos moram no Estado de São Paulo. O caçula não quis saber de trabalhar, perdeu-se no alcoolismo e está sumido no mundo”, afirma. Contente com a visita da equipe de reportagem da revista valeparaibano e animada para dar entrevista, dona Nadir lembra que passou 40 anos costurando em casa para ajudar na compra do mês. Hoje já não enxerga mais. “Da máquina de costura, eu
acompanhava de perto os passos das crianças. Mesmo cuidando, às vezes, o filho já não vai pra frente, imagine se a mãe trabalha fora?”, disse. Conservadora, aprendeu que os filhos têm o dever de cuidar dos pais na velhice, principalmente da mãe. “Meu pai morreu nos meus braços. Eu ainda tinha meus filhos para dar atenção, mas contrariei meu marido e levei meu pai para dentro de casa. Minha irmã ficou com minha mãe até o dia em que ela faleceu. Hoje é muito raro um filho que assume esta responsabilidade”, completa. A educação de dona Nadir, para ser cumprida atualmente, teve de virar lei. O Estatuto do Idoso considera crime o abandono da mãe pelos filhos. Mesmo assim, as casas de repouso intensivo para idosos em São José estão cheias de histórias como as de dona Alice, dona Ana e dona Nadir. Asilos O Conselho Municipal do Idoso de São José tem uma relação de 10 entidades registradas pela Secretaria de Desenvolvimento Social. A prefeitura tem convênio e dá subsídios para três entidades e não tem controle sobre abrigos considerados clandestinos, ou seja,
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SOZINHAS
Ana Vieira de Faria, 70 anos, mãe de seis filhos; abaixo, Nadir Teodoro Brasileiro, 76 anos, que tem quatro filhos, e Alice de Lima Xavier, 96 anos, mãe de dois filhos, na cadeira de rodas
que não foram declarados e não passaram pelas inspeções da Vigilância Sanitária. São José tem 60 mil idosos, a maioria mulheres. A presidente do Conselho Municipal do Idoso, Salute Maria Kajita, diz que os abrigos públicos não comportam a demanda. “Muitas famílias não têm condições financeiras para pagar abrigo particular. Além disso, os filhos hoje não têm mais sensibilidade, priorizam o trabalho em detrimento da vida dos pais. Os idosos reclamam de abandono”, comenta. Para evitar que os filhos deixem os pais em abrigos, a Casa do Idoso oferece treinamento para cuidadores informais. Os fami-
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liares recebem orientação de profissionais como médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, além de trocarem experiências com pessoas que também enfrentam dificuldades para cuidar dos velhinhos. Segundo as irmãs responsáveis pelo Asilo Santo Antônio, muitas pessoas procuram estabelecimentos de repouso porque os idosos dão muito trabalho em casa. Elas também relataram casos de velhinhos que sofrem maus-tratos na família e outros que são abandonados em entidades. “O asilo é uma alternativa para os filhos que não querem manter os pais em casa até o fim
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da vida, mas eles precisam continuar dando assistência aos genitores. A visita é muito importante. As mães que estão aqui, assim como todos os idosos, necessitam de atenção e carinho”, declara a irmã Luzia, que trabalha há mais de 30 anos no Asilo Santo Antônio. Além das idosas esquecidas nos asilos de São José, de todo o Vale do Paraíba e do Brasil, muitas mães passarão o Dia das Mães sem ver os filhos, em penitenciárias, hospitais e até mesmo em suas casas. Em geral, os asilos são abertos a visitas de voluntários que queiram oferecer um bolo, um abraço ou apenas dedicar um tempo a ouvir os hóspedes. “Eu acho errado esse negócio de deixar em asilo. Filho que tem mãe viva tem obrigação de cuidar dela até a morte”, diz dona Maria José Nascimento, 85 anos e mãe de 10 filhos. Moradora da vizinha Santa Branca, ela é um exemplo de mãe feliz. “Quando falo que vou morar em um asilo, meus filhos ficam bravos comigo. Mas acho que eles me respeitam e me valorizam porque ensinei isso a eles. Sempre mostrei a eles as dificuldades que enfrentei para criá-los. Quando eram pequenos, eu vivia numa pobreza louca, muita coisa me faltava, nem por isso pensei em deixá-los com outra família!”, conta dona Maria, que até se confunde para lembrar o nome dos filhos e o número de netos e bisnetos. Há um ano, ganhou o primeiro tataraneto. Neste e em todos os anos, no Dia das Mães e datas especiais, dona Maria recebe surpresa dos filhos. Todos se reúnem para dar carinho a ela, abraçar, beijar e agradecer pela educação que deu a eles. “Eles sempre estão do meu lado. Quando preciso ir ao médico, sempre tem um para me levar. E eu acho muito bonito quando todos se juntam. Fico feliz da vida”, comemora. Para as mães que esperam reconhecimento dos filhos no futuro, atenção: o conselho da dona Maria não é simples de seguir na correria da vida atual, mas pode funcionar. Os filhos precisam ser educados e corrigidos desde pequenininhos. “A mãe tem que ficar atrás da criança, tem que mostrar a ela o quanto ela dá trabalho. Não precisa bater, mas tem que falar, chamar a atenção, tem que ensinar e não deixar o filho responder aos mais velhos. Tem de aprender a cumprimentar os tios, os avós e as pessoas na rua”, enumera dona Maria. “Hoje em dia os filhos não respeitam os pais, nem os mais velhos. Os pais de hoje precisam resgatar os valores de respeito e educação, caso contrário serão abandonados pelos filhos mais tarde. Graças a Deus, tenho minha recompensa. Meus filhos me dão muitas alegrias”. •
20/4/2011 18:49:22