POLÍTICA Vereadores de São José trabalharam menos em 2010
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Março 2011 • Ano 1 • Número 12 R$ 7,80
ISABELLE CARO Modelo francesa que expôs o corpo em campanha de combate à anorexia morreu aos 28 anos, após uma década e meia de luta contra a doença
OBSESSÃO
Anoréxicas e bulímicas criam blogs que apoiam a ideia de emagrecer a qualquer custo, mesmo que isso leve à morte 001_CAPA_Anorexia.indd 1
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Opinião
Palavra do editor
DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno
Quando magreza vira uma obsessão
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eféns dos atuais padrões de beleza, jovens têm arriscado a saúde para emagrecer. E quando essa busca pela magreza perde o controle e vira uma obsessão recebe um nome: anorexia nervosa, tema que sempre ganha os noticiários quando a doença abate artistas ou modelos famosas. Mas meninas anônimas, insatisfeitas com a própria imagem, cada vez mais têm se rendido ao mórbido comportamento de cultuar a magreza extrema. E para isso usam a internet para propagar, por meio de blogs, a ideia absurda de perder peso a qualquer custo, mesmo que o preço seja a própria vida. São jovens, a maioria entre 12 e 25 anos, que se espelham em top models e celebridades. Para elas, ser magra é uma obsessão e a felicidade se mede pelos quilos perdidos. Algumas chegam a se automutilar para esquecer a fome, comem o mínimo necessário para ficar em pé. Um caso que ganhou repercussão internacional foi o da modelo francesa Isabelle Caro, que estampa a capa desta edição. A jovem morreu no dia 17 de novembro do ano passado aos 28 anos, depois de lutar por uma década e meia, mais da metade de sua vida, contra a doença. Isabelle ficou famosa em 2007, quando expôs o corpo magérrimo em outdoors para uma campanha mundial destinada a alertar adolescentes sobre os perigos da anorexia. À época, pesava 31 quilos para 1,65 metro de altura. “A magreza dá origem à morte e é tudo, menos beleza”, dizia. A modelo, símbolo da luta contra a anorexia, estava decidida a superar a doença, mas já era tarde demais: 13 anos de extrema magreza tiraram a vida da jovem que emprestou o rosto e o corpo para que outras meninas entendessem a realidade escamoteada pelo mundo da moda. Será que seu esforço ficará em vão?
DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br EDITOR DE FOTOGRAFIA Flávio Pereira flavio@valeparaibano.com.br REPÓRTERES Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br), Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Elaine Santos (elainesantos@valeparaibano.com.br) DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes daniel@valeparaibano.com.br COLABORADORES Bruno Fraiha, Cristina Bedendo, Franthiesco Ballerini, Letícia Maciel, Marrey Júnior e Rafael Persan COLUNISTAS Alice Lobo, Carlos Carrasco, Fabíola de Oliveira, Marco Antonio Vitti, Marcos Meirelles, Ozires Silva e Roberto Wagner de Almeida CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. O valeparaibano reserva-se ao direito de selecioná-las e resumi-las.
DEPARTAMENTO DE PUBLICIDADE REGIONAL Aline Furtado, Tatiana Musto e Vanessa Carvalho
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A revista valeparaibano é uma publicação mensal da empresa Jornal O Valeparaibano Ltda. Av. São João, 1.925, Jardim Esplanada, São José dos Campos (SP) CEP: 12242-840 Tel.: (12) 3202 4000
ASSINATURA E VENDA AVULSA Carina Montoro 0800 728 1919 Segunda a sexta-feira, das 8h às 18h FAX: (12) 3909 4605 relacionamento@valeparaibano.com.br www.valeparaibano.com.br PARA FALAR COM A REDAÇÃO: (12) 3909 4600 EDIÇÕES ANTERIORES: 0800 728 1919 IMPRESSÃO GRÁFICA OCEANO
Marcelo Claret editor-chefe
A tiragem é auditada pela BDO
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MODA
Sumário
O QUE VALE A PENA REALMENTE DO SPFW P70
ESPECIAL
Obsessão de Ana ISABELLE CARO Modelo francesa morreu em novembro de 2010 aos 28 anos; Isabelle ficou famosa em 2007, quando expôs o corpo magérrimo em outdoors para uma campanha mundial de alerta contra a anorexia
Jovens que sofrem com a anorexia e a bulimia criam blogs e sites que divulgam e apoiam a ideia absurda de emagrecer a qualquer custo, mesmo que isso leve à morte
POLÍTICA LEGISLATIVO
MUNDO LIBERDADE
Vereadores de São José A internet trabalharam menos P12 libertária De 2009 para 2010 houve queda de 36,7% no número de projetos de lei apresentados ECONOMIA CINTURÃO VERDE
Agronegócios: canteiros exóticos P18 Excentricidades agrícolas de Mogi das Cruzes ganham mercado com hortaliças e legumes ENTREVISTA UIVO
Lobão está na moda outra vez e solta o verbo P24
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CULTURA INDEPENDENTE
Todo mundo gritando junto P78
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Existem 12 países no mundo que controlam o acesso da população à rede mundial
SAÚDE
Linhade de produção Vale tem índice de cesarianas acima da média nacional P40
Festival Grito Rock acontece simultaneamente em 130 cidades de 9 países; no Vale, 5 municípios recebem o evento TURISMO LONDRES
Está barato visitar a capital inglesa P60 Ensaio Fotográfico p52 Comportamento p84 Cinema p90 Viva a Vida p98
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Fevereiro 2011 • Ano 1 • Número 11 R$ 7,80
A revista valeparaibano publicou reportagem de capa na edição anterior sobre o desastre causado pelas chuvas no início do ano
Desastre anunciado Tragédia que matou cinco pessoas no Rio Comprido poderia ser evitada. Desde 2005, população nas áreas de risco aumentou seis vezes em São José
DR. VITTI Dois pesos e duas medidas Ao que parece, o Sr. Vitti tem dois pesos e duas medidas para um mesmo assunto: a adoção. Em um de seus artigos publicado nessa revista ele fala claramente que a mulher que não pode gerar seu próprio filho é porque não nasceu para procriar, essas mulheres só estão tentando preencher “seus próprios vazios existenciais, suas próprias psicopatias”. Na última edição, entretanto, o Sr. Vitti diz o seguinte: “melhor dois homens ou duas mulheres que se amam (....)cuidando de seu filho com amor, do que um homem alcoolizado que não ama a mulher (...), ou uma mulher que não ama o marido e descarrega suas frustrações em seus filhos.” Afinal, porque um casal estaria preenchendo seus vazios existenciais com a adoção de uma criança e os homossexuais não? Do que o Sr. está falando, exatamente?
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Palavradoleitor POLÍTICA Áreas de risco Deixo aqui meus parabéns ao editorial de fevereiro. Sei que nunca adiantou ficar de braços cruzados reclamando da administração e nem devemos dizer que o partido A ou partido B é o responsável por essa baderna. Devemos olhar para os militantes destes partidos políticos e, quando formos fazer valer o nosso direito de cidadão, fazê-lo com respeito, não só por nós, mas aos que por essa terra contribuíram para o seu crescimento, aos que aí estão na labuta e aos que estão por vir.
ENQUETE Como você avalia o trabalho dos vereadores de São José dos Campos
Edinilson Campos da Conceição Comentário enviado por e-mail
TWITTER @gustavo_gtac Bom dia! Lendo a matéria da revista #valeparaibano . 5 vidas ceifadas no Rio Cumprido pelas chuvas. Aí você e eu perguntamos... até quando? @luisdanieljor @revistavale Favoritei vários blogs. Muito bons @dehmoura Não canso de me surpreender com a @revistavale !! Cada vez melhor!!Gostei!!
Edna Petri Jornalista e mãe adotiva
cartadoleitor@valeparaibano.com.br
@revistavale
Av. São João, 1925 Jd. Esplanada, CEP 12242-840
www.flickr.com/revistavaleparaibano www.facebook.com/revistavaleparaibano
Ótimo: 0,79% Bom: 5,24% Regular: 9,69% Ruim: 38,48% Péssimo: 45,81%
Foram computados 382 votos entre os dias 3 e 21 de fevereiro
Enquete www.valeparaibano.com.br
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Política
Dois Pontos
Marcos Meirelles Jornalista
No calendário político, 2012 já começou Em São José, indefinições no bloco governista favorecem terceira via e fortalecimento da oposição Claudio Capucho/vp
BRANCO & PRETO O novo Congresso e a polêmica votação do salário mínimo de R$ 545
“Cá para nós, eu votei com o povo. Eu vim de onde? Quem me colocou aqui? Eu não estou aqui por acaso” Tiririca deputado federal pelo PR
INVENCÍVEIS? Emanuel Fernandes e Eduardo Cury na campanha de 2010: hegemonia será posta à prova
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sucessão nas prefeituras mobiliza os partidos, estimula a especulação em torno de nomes e muda a agenda dos governos municipais. Mas será possível apontar os favoritos e os azarões para a disputa do próximo ano? Em São José, o cenário é o mais nebuloso em 12 anos. No campo governista, Emanuel Fernandes (PSDB), assumiu um compromisso com Geraldo Alckmin que torna remota a possibilidade de uma candidatura. Como o PSDB já sinalizou que não abrirá mão de indicar seu candidato à prefeitura, existe uma disputa silenciosa em curso, entre os nomes mais ligados ao prefeito Eduardo Cury (PSDB) e aqueles mais próximos a Emanuel. Para vencer esta batalha, o interessado terá que demonstrar habilidade política sufi-
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ciente para não se indispor com o restante da legenda e manter o arco de alianças. Além disso, será preciso construir visibilidade política em um curto espaço de tempo. Todos os nomes cogitados até o momento ocupam cargos estratégicos no governo Cury: Alexandre Blanco, Alberto Mano Marques, Claude Mary de Moura, Felício Ramuth, Marina de Oliveira. Todos são, do mesmo modo, desconhecidos para a maioria do eleitorado. Entre os aliados do PSDB, há sinais de deserções. O PV terá candidato próprio. O DEM negocia com o PV. O PR está em rota de colisão com o governo. Na oposição, as aparências indicam que nada vai mudar. O deputado Carlinhos Almeida (PT) deve disputar mais uma vez a prefeitura com o apoio do PMDB. A diferença é que, em 2012, o Palácio do Planalto planeja exigir de seus aliados em Brasília um compromisso maior com seus candidatos às prefeituras.
“Os que vaiaram terão de aplaudir já em 2012, com um mínimo de R$ 616. Graças à sensibilidade da Presidência, chegamos a esse patamar”
Vicentinho deputado federal pelo PT
“Não esperávamos uma diferença tão grande de votos, mas, quando vimos ameaças de demissão de ministros, notamos o esmorecimento” Antonio Carlos Magalhães Neto líder do DEM
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Domingo 6 Março de 2011
Fernando Henrique Cardoso, em entrevista, sobre o consumo de maconha
O governo e a CUT domesticada
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CUT anunciou que não irá participar do ato unificado do 1º de Maio em São Paulo para manter sua independência em relação às demais centrais sindicais. Os dirigentes cutistas falam em construir uma nova agenda para a central, retomando bandeiras como a redução da jornada e ampliação da organização nos locais de trabalho. Não importa o discurso: a CUT virou uma central sindical subordinada aos interesses do governo e hoje é parceira da CGT e da Força Sindical na partilha de benesses como verbas para convênios e cargos na máquina pública federal. Os sindicalistas ligados à CUT estão no alto escalão das principais estatais e no comando dos milionários fundos de pen-
Serra, a sombra de Alckmin? Até quando o ex-governador José Serra (PSDB) continuará acompanhando Geraldo Alckmin (PSDB) nos palanques pelo interior do Estado, posando de padrinho político da atual administração? Será que o 11º mandamento de Serra (“tucano não fala mal de tucano”) vai resistir ao silencioso desmonte de projetos e obras de seu governo? Impelido por novas prioridades financeiras ou pela constatação pura e simples de que as propostas eram tecnicamente inviáveis, Alckmin mandou rever alguma das principais propostas da administração anterior. Ele mandou arquivar, por exemplo, o projeto de construção de uma ponte de 4,6 km entre Santos e Guarujá, com um custo estimado em R$ 700
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“Descriminalizar quer dizer que não adianta colocar o usuário na cadeia, onde ele só vai aprender a usar outras drogas. O usuário deve ser tratado. Não é legalizar a droga, não é liberar” são. Os sindicatos filiados à central tratam o governo como um parceiro, sem ousar nenhuma crítica a Dilma Rousseff (PT). No mês passado, o malabarismo retórico dos dirigentes da CUT justificou até o aumento do mínimo para R$ 545. O presidente da Central, Artur Henrique, anunciou que a política de valorização do mínimo foi “finalmente aprovada pelo Congresso” e sustentou que nos últimos oito anos houve um aumento real 53% no salário. Os sindicatos dos Metalúrgicos no ABC e Taubaté, totalmente alinhados com a direção da central, defenderam uma mobilização em Brasília sem mencionar, convenientemente, valores. Curiosamente, coube ao deputado federal e ex-sindicalista Vicentinho a missão de defender o reajuste do mínimo para R$ 545 na Câmara. Em uma de suas primeiras manifestações públicas após deixar o Planalto, o ex-presidente Lula chamou a atenção de seus excompanheiros de sindicalismo para não serem oportunistas na discussão do mínimo. Nem precisava: eles já sabem qual é a sua lição de casa.
milhões. O governo também congelou a ampliação dos AMEs, os ambulatórios médicos de especialidades que se tornaram a marca de Serra na área da Saúde. E para completar a “alfinetada” no antecessor, Alckmin determinou um pente fino em todos os contratos do Estado. Serra é hoje quase um tucano sem ninho. Seu plano de assumir a presidência nacional do PSDB ruiu diante das articulações contrárias de Aécio Neves. Sua defesa do salário mínimo de R$ 600 não ecoou nem mesmo dentro da bancada de oposição no Congresso. Sem respaldo do partido em outras regiões do país, ele começa a ter a liderança solapada dentro de sua própria base. Por isso, se perder o controle do diretório paulistano do PSDB, em disputa que se dará este mês, terá muitas dificuldades para influir nas eleições de 2012. A divisão no ninho tucano cria um cenário bastante favorável para o PT nas próximas eleições. E coloca à prova, como nunca, a habilidade política de Alckmin.
PINGUE & PONGUE Cândido Vacarezza Deputado federal pelo PT, líder do governo Dilma Rousseff na Câmara
O anúncio de um corte de R$ 50 bilhões no Orçamento dogoverno federal causou preocupação na região, especialmente com relação ao risco de perda de recursos na área de ciência e tecnologia e na área de defesa. Como o sr. avalia esta questão? Não existe corte de verbas, o orçamento estava superestimado. Houve apenas uma adequação. Por isso, acredito que não vai haver comprometimento dos investimentos em ciência e tecnologia. O programa espacial será mantido. Com relação ao programa FX-2, também não há notícia de que vai haver mudança no cronograma. A presidente Dilma Rousseff obteve uma vitória expressiva na Câmara com a votação do salário mínimo, o que criou a expectativa do encaminhamento de reformas. Como o sr. vê esse quadro? As reformas, especialmente a reforma política, devem ser uma iniciativa do Congresso. O papel da presidente Dilma é apoiar esta discussão, mas o Congresso tem que apresentar suas propostas. No caso da Reforma Tributária, já existem projetos em tramitação na Casa e o governo também deve ajudar no debate.
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Política LEGISLATIVO
Prestação de contas
Elaine Santos São José dos Campos
ereadores de São José dos Campos trabalharam menos em 2010, quando parlamentares disputaram as eleições como candidatos a deputado estadual e federal ou ajudaram em campanhas para eleger os colegas de partido. No ano eleitoral, a matemática dos números da Câmara aponta para uma redução de 36,5% no volume de projetos de leis apresentados no período. No ano passado, os vereadores encaminharam 499 projetos, contra os 761 colocados para apreciação do plenário em 2009. De acordo com os dados oficiais, houve também queda acentuada na aprovação das novas leis. Em 2010 foram votados e aprovados 50,7% dos projetos apresentados pelos parlamentares. No ano anterior, 73,7% das propostas foram aprovadas. Somados os trabalhos dos dois anos, os vereadores apresentaram 1.260 projetos de lei. Deste total, 446 foram aprovados e 814 deixaram de ser votados. Das 446 pros-
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Vereadores de São José trabalharam menos em 2010, quando disputaram as eleições como candidatos a deputado estadual e federal ou ajudaram seus colegas de partido nas campanhas; no ano passado, os parlamentares apresentaram 499 projetos de lei, contra 761 enviados para apreciação do plenário em 2009, uma queda de 36,7%
Amélia Naomi (PT)
Alexandre da Farmácia (PR)
Balanço dos projetos de lei apresentados nos últimos dois anos pelos 21 vereadores de São José
Cristóvão Gonçalves (PSDB)
2009
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4 Total
aprovados
sendo 21 deles referentes a títulos, medalhas, nomes de ruas e datas comemorativas
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Cristiano Pinto Ferreira (PSDB)
Angela Guadagnin (PT)
Total
aprovados
sendo 2 deles referentes a títulos e medalhas
Total
aprovados
sendo 1 título, e 12 sugestões ao executivo
Total
aprovados
sendo 16 referentes a títulos, medalhas, nomes de ruas e datas comemorativas
Total
24 aprovados
sendo 19 deles referentes nomes de ruas e datas comemorativas
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Domingo 6 Março de 2011
postas aprovadas e de autoria dos parlamentares, 140 dão nome às ruas e avenidas da cidade, 53 são referentes a datas comemorativas, 62 concedem títulos ou medalhas aos cidadãos. Do restante de 191 projetos de lei aprovados, a maioria refere-se a sugestões de obras e outras melhorias no município encaminhadas ao Executivo já que os parlamentares não podem apresentar propostas que deem custos à prefeitura, que não é obrigada a acolher a sugestão do vereador. Já o Executivo encaminhou nos últimos dois anos 146 projetos de lei e apenas 4 não foram aprovados –continuam em tramitação no Legislativo. Juvenil Silvério (PSDB), que assumiu neste ano a presidência da Câmara de São José, reconhece que os trabalhos paralelos às campanhas eleitorais no ano passado contribuíram para a queda do rendimento dos vereadores na Casa. “Estávamos em período de eleições a deputado. Eu, por exemplo, fiquei todo o tempo, durante quatro meses, desde junho até novembro, trabalhando em campanha. Cuidando obviamente do meu gabinete, mas dando uma atenção especial à campanha, onde era coordenador do partido. Acredito que esse foi um dos motivos [para a redução de trabalhos].” Juvenil foi o vereador que menos apresentou projetos de leis nos últimos dois anos de mandato. Foram 13 propostas, sendo 9 aprovadas: dois nomes de rua, uma inclusão do Dia da Atividade Física ao calendário oficial da cidade, cinco títulos e medalhas e uma alteração à lei já
Dilermando Dié (PSDB)
existente do Executivo. Durante o período eleitoral, o parlamentar tucano foi o responsável pela coordenação da campanha do deputado federal Emanuel Fernandes, agora Secretário de Transporte do Estado, e do deputado estadual Hélio Nishimoto, ambos do PSDB. “Como líder de governo, além de cuidar do bom relacionamento entre o Executivo e o Legislativo, que toma um tempo bastante significativo, fico engessado em relação a desenvolver projetos. Alguns que surgiram, por conta de ser líder de governo, acabavam sendo distribuídos para outros colegas”, explicou. Para Juvenil, a aprovação de todos os projetos de lei encaminhados pelo prefeito Eduardo Cury (PDFB) é “normal” porque as propostas são discutidas pelos demais vereadores. A base aliada de Cury na Câmara é composta por 17 dos 21 vereadores, exceção apenas aos parlamentares do PT: Amélia Naomi, Angela Guadagnin, Tonhão Dutra e Wagner Balieiro. “A Câmara de São José não difere das outras câmaras brasileiras: atende os interesses do Executivo. Pode se concluir, a partir da análise dos dados, que a maioria dos projetos aprovados pelo Legislativo e sancionados pelo Executivo é de autoria ou de interesse do próprio Executivo. Ou seja, os vereadores acabam por trabalhar para o prefeito, aprovando todos os projetos encaminhados por ele, se eximindo de sua responsabilidade constitucional, que é propor e fiscalizar leis, e não apenas
aprová-las”, disse o sociólogo político Alacir Arruda, assessor político da Secretaria de Educação do Estado. Em análise feita especialmente à revista valeparaibano, o sociólogo aponta que, nos últimos dois anos, 65% dos projetos de lei propostos pelos vereadores e votados solicitam mudanças de nomes de ruas, propõem entrega de títulos a cidadãos e inclui datas comemorativas ao calendário oficial. “Sem contar aos ensejos a nascimentos e casamentos e até mesmo a criação do ‘Dia do Padre’, que, diga-se de passagem, foi aprovado por unanimidade”, conclui o sociólogo. O vereador Alexandre da Farmácia (PR), que ocupava o cargo de presidente da Câmara de São José em 2009 e 2010, foi procurado pela revista valeparaibano, mas não comentou o assunto. Nos últimos dois anos, ele apresentou 44 projetos, sendo 22 em cada ano. Do total, 33 foram aprovados, sendo 21 referentes a títulos, medalhas, nomes de ruas e datas comemorativas. Datas Comemorativas Semana de Conscientização à Proteção de Animais, Dia dos Animais, Dia da Psoríase, Dia Demolay, Dia do Cavalo Mangalarga Marchador, Dia da Corrente Solidária, Dia do Palhaço, Dia do Le Parkour, entre outras 45 datas comemorativas, foram propostas e aprovadas, todas por unanimidade, nesses dois anos de mandato. Dos 21 vereadores, 15 foram responsáveis pelas proposituras. Com três mandatos consecutivos na Casa, o vereador Cristiano Pinto Ferreira (PSDB) é o parlamentar com maior número de pro-
João das Mercês Tampão (PR)
Jairo Santos (PR)
Dulce Rita (PV)
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Juvenil Silvério (PSDB)
Luiz Mota (DEM)
2009
2010
2009
2010
2009
2010
2009
2010
2009
2010
2009
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29 79
50
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aprovados
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aprovados
sendo 11 referentes a títulos e medalhas
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Total
aprovados
sendo 16 deles referentes a títulos, nomes de ruas e datas comemorativas
54 23 Total
aprovados
sendo 8 deles referentes a títulos, medalhas, nomes de ruas e datas comemorativas
Total
sendo 1 deles referentes a títulos de cidadão joseense
sendo 8 deles referentes a títulos, medalhas, nomes de ruas e datas comemorativas
Total
aprovados
sendo 9 deles referentes a títulos, medalhas, nomes de ruas e datas comemorativas
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Política
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Projetos de lei DULCE RITA •Semana de Conscientização à Proteção de Animais •Semana da Luta Contra a Violência e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes •Dia da Psoríase •Dia do Motociclista •Semana da Mamografia •Dia do Ciclista - Corrida de Pedestre na semana de aniversário do Distrito Eugênio de Melo •Dia do Agente da Saúde •Dia do Agente de Endemias •Dia Demolay (ordem de princípios filosóficos da Maçonaria para jovens) JUVENIL •Dia de Atividade Física
VADINHO COVAS •Dia do Cavalo Mangalarga Marchador •Dia da Corrente Solidária PETITE DA FARMÁCIA COMUNITÁRIA •Inclui no calendário oficial de festas a feira Expo Mulher •Dia do Maçom •Abril: Mês do Festival Gastronômico de São José dos Campos •Segunda Semana de Março – Expo Desfile da Noiva •Expo Vida Nova •Dia Internacional da Luta Contra as Hepatites •Dia dos Animais
Datas comemorativas aprovadas pelos vereadores em 2009 e 2010
•Semana Municipal de Mobilização para doação de órgãos •Semana de Conscientização Contra o Fumo •Semana da Cultura Gospel JAIRO SANTOS •Aniversario da Vila Industrial CRISTOVÃO GONÇALVES •Dia do Profissional do Marketing •Dia Municipal Sem Carro •Dia Le Parkour •Dia do Padre •Dia do Artesão DILERMANO DIÉ •Dia das Bandas e Fanfarras •Semana do Agricultor Rural de São Francisco Xavier •Dia do Cobrador de Transporte Coletivo •Festival Mantiqueira - Diálogos com a Literatura •Circuito de Bike São Francisco Xavier –anual na data de aniversário da cidade WALTER HAYASHI •Festa da Jaba do Clubeca •Semana Municipal da Prevenção de Acidentes com Crianças RENATA PAIVA •Copa Pedro Miloni de Futebol LUIZ MOTA •Dia do Cobrador de Transporte Coletivo
ALEXANDRE
VALDIR ALVARENGA
•Dia de combate ao câncer infanto-juvenil •Primeira quinzena de setembro - Oscar Fashion Days •Festa dos Nordestinos •Dia do Palhaço •Dia do Motorista •Dia da Comunidade Árabe •Dia do Bombeiro •Competição de Natação na Represa Jaguari
•Mês de doação de Medicamentos – Uma dose de vida •Dia de Prevenção e Orientação e Combate ao Câncer de Próstata •Dia da Reciclagem •Semana de Prevenção ao Distúrbio da Atenção •Semana de Gestão Pública
MACEDO BASTOS
Dia do Cobrador de Transporte Coletivo
•Dezembro - Semana Municipal dos Direitos Humanos e Cidadania •Dia da Família Joseense
TONHÃO DUTRA
“Estávamos em período de eleições a deputado. Eu, por exemplo, fiquei todo o tempo, desde junho até novembro, trabalhando em campanha” Do presidente da Câmara de S. José, Juvenil Silvério (PSDB)
CRISTIANO FERREIRA
Oposição Líder da oposição na Câmara, a vereadora
Dia do Garçom
Macedo Bastos (DEM)
jetos de lei encaminhados, mas também está entre as maiores quedas de rendimento do trabalho. Em 2009, ele apresentou 107 propostas. Já em 2010, o número caiu para 58 projetos, sendo 10 deles com nomes de ruas e datas comemorativas. “Não sei explicar o motivo da redução de trabalhos. O que posso dizer é que no ano de 2009 abri para meus eleitores no site um espaço para pedidos de projetos de lei, que foi ‘Sua ideia pode virar lei’, e atendi boa parte dos pedidos. Já em 2010, tentei qualificar melhor os projetos. Entendo que pautei meu trabalho na qualidade e não na quantidade. Exemplo disso foi a aprovação da lei que proíbe o uso de cigarro em pontos de ônibus e taxi, que é uma das mais discutidas até hoje na cidade’, disse Cristiano Ferreira. Mesmo com queda de 45,8% na apresentação de projetos de lei, Cristiano é o segundo no ranking dos parlamentares com o maior número de projetos aprovados. Teve 46 propostas aprovadas e as demais estão em tramitação. O primeiro lugar em projetos de lei aprovados é do vereador Walter Hayashi. Foram 48 leis aprovadas, sendo que mais da metade (28) envolve nomes de rua. “Acontece que o vereador é limitado, ele não pode fazer projetos de lei que deem impacto orçamentário ao Executivo. Então, acaba sobrando ao vereador atribuições muito pequenas para legislar”, criticou Cristiano Ferreira.
Miranda Ueb (PPS)
Robertinho da Padaria (PPS)
Renata Paiva (DEM)
Petiti da Farmácia (PSDB)
Tonhão Dutra (PT)
2009
2010
2009
2010
2009
2010
2009
2010
2009
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2009
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19
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28
17
16
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21
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15
17
25
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aprovados
total
37 total
sendo 17 deles referentes a títulos, medalhas, nomes de ruas e datas comemorativas
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45 5 aprovados
sendo 4 deles referentes a títulos, medalhas e nomes de ruas
total
24 aprovados
sendo 20 deles referentes a títulos, medalhas, nomes de ruas e datas comemorativas
37 total
16 aprovados
sendo 6 deles referentes a títulos, medalhas, nomes de ruas e datas comemorativas
35 total
13 aprovados
sendo 9 deles referentes a títulos, medalhas e nomes de ruas
32 8 Total
aprovados
sendo todos referentes a títulos, medalhas e nomes de ruas
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Domingo 6 Março de 2011
Angela Guadagnin (PT) disse que os projetos de lei elaborados pela bancada petista são barrados e não chegam a entrar na pauta para serem votados por orientação do governo, que tem a maioria na Casa. Segundo ela, muitos projetos do Executivo são votados no mesmo dia em que são apresentados, sem tempo de estudo por parte dos vereadores. “Os projetos do prefeito são sempre votados. Durante os dois anos que eu estive nessa Câmara teve projetos que entraram na hora. A gente (oposição) nem sabia que estava na pauta e era votado no mesmo dia. O que é inconstitucional. Para mudar isso só se os presidentes da Câmara respeitassem o tamanho das bancadas e o papel da democracia republicana”, disse. Como justificativa ao baixo rendimento dos trabalhos, Angela afirma que os vereadores estão desestimulados devido à sequência de adiamento de votação de leis de autoria do Legislativo para dar prioridade a votações das pautas do Executivo. “Com frequência, só o que está na pauta do Executivo é votado, os outros sempre são adiados. Isso acaba desestimulando o vereador a elaborar projetos de lei. Nós da oposição mais ainda.” A Secretaria de Governo de São José informou que todos os projetos apresentados pelo Executivo e pelos vereadores são discutidos na bancada e os que chegam à votação são àqueles decididos pela maioria. “Todos os projetos cumprem os prazos regimentares da casa, sem exceção”, disse a secretária de Governo, Claude Mary de Moura. •
“Só o que está na pauta do Executivo é votado, os outros sempre são adiados. Isso acaba desestimulando o vereador a elaborar projetos de lei” Da líder da bancada de oposição, vereadora Angela Guadagnin (PT)
Valdir Alvarenga (PSB)
Vadinho Covas (PSDB)
Wagner Balieiro (PT)
Walter Hayashi (PSB)
2009
2010
2009
2010
2009
2010
2009
2010
28
14
11
39
102
20
33 75
42
20
122
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42 Total
23 aprovados
sendo 17 deles referentes à títulos, medalhas; nomes de ruas e datas comemorativas
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50 Total
aprovados
sendo 14 deles referentes à títulos, medalhas; nomes de ruas e datas comemorativas
Total
aprovados
sendo 15 deles referentes à títulos e nomes de ruas
48 Total
aprovados
sendo 32 deles referentes à títulos, medalhas; nomes de ruas e datas comemorativas
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Política
Ozires Silva
De repente! Um minuto de conversa e tudo que se havia pensado está mudado uitas são as preocupações que estão nas cabeças de cada jovem ou de pessoas que buscam oportunidades neste mundo em ritmo avassalador de mudanças. Podemos trocar algumas ideias sobre o assunto, pois está mais do que demonstrado que crescem aqueles que, numa simples conversa, constroem uma chance, que não deveria ser perdida. Ora, em qualquer instante e subitamente, um minuto de conversa pode mudar tudo que se vem pensando nos últimos tempos.
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Na sua cabeça, em momentos diferentes, podem ter acontecido coisas das mais variadas. A venda de um produto, a busca de um emprego, convencer alguém sobre uma boa ideia, encontrar um investidor capaz de entender e apostar no seu negócio. Você pode estar em qualquer lugar, numa conversa de jogar assuntos fora, num bar, num ônibus, numa sala de espera, não importa. De uma forma ou outra, pense que sempre você estará se apresentando, se mostrando e, pode ter a certeza que, do outro lado da mesa ou da sala, poderá haver alguém observando... e, possivelmente, avaliando! Até que ponto você estaria preparado para responder perguntas diretas e objetivas? Quem é você? O que você faz? Você seria capaz de imaginar que tal pergunta poderia, por exemplo, vir de alguém que poderia um dia ser seu chefe, ou, quem sabe, seu subordinado? Ou um Prêmio Nobel? Ou mesmo,
OPORTUNIDADE “Se você souber como aproveitar aquele momento, que pode ser curto, pode construir um caminho novo” alguém que pode ser importante para você e para as oportunidades que busca, numa ocasião que você nem imaginaria acontecer. Você estaria preparado? Inicialmente, pense que precisaria estar pronto, com as respostas na ponta da língua, e ser convincente. Mas, um primeiro passo é falar com precisão, ter certeza de que está sendo entendido, pronunciando as palavras por completo, declinando seu nome com clareza. Seja direto e breve. Pode ser que o seu interlocutor pode estar apenas procurando ser delicado, mas em nada interessado na resposta. Mas, não lhe custa usar um pouco de habilidade, pois você deve se empenhar para interessá-lo. Um bom meio de conseguir sua atenção seria fixar-se diretamente nos seus olhos. Não se esqueça de tentar comunicar quatro atributos importantes a serem focalizados: Quem é você? O que faz? Por que está respondendo a pergunta? E por que procura interessar seu interlocutor? Sinta-se a vontade, e não tenha receio de falar clara e diretamente, independentemente da posição social ou do seu interesse na pessoa. Pense nas palavras que vai usar, procurando não ser sofisticado demais, nem tão simples a ponto de não despertar o
interesse do seu interlocutor. Procure sentir, através de observações quais seriam os itens de interesse que possam assegurar a continuidade do diálogo. Sua introdução deve ser leve, digamos, não mais de um minuto. Diga seu nome, se ainda não o fez, mostre-se seguro e procure dar a impressão de que gosta do que faz, pois a crítica, numa conversa inicial, não deve estar presente. Se souber algo sobre seu interlocoutor procure dar ênfase às suas atividades. As dele, é claro! Procure terminar suas observações. Deixar claro que está respeitando seu interlocutor. Mas o mais importante é não se esqueça nunca que, em qualquer diálogo, sempre haverá algo de representação e, portanto, seja natural e esteja sempre pronto para ser interrompido e ouvir. Se a outra parte falar, você estará vencendo. Finalizando, conta-se que na antiguidade um Rei perguntou quais eram as três coisas mais importantes da vida. A resposta mais valiosa foi: a primeira coisa é o momento atual; a segunda é a pessoa com quem estamos falando; e fazer essa pessoa feliz! Assim, mantenha conversas e relacionamentos que façam diferença. •
Ozires Silva Engenheiro
ozires@valeparaibano.com.br
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QUEM FINGE QUE NÃO VÊ TAMBÉM É CULPADO.
ÁLCOOL PARA MENOR NÃO É LEGAL. DENUNCIE: LIGUE 153. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13/07/1990. Lei Municipal nº 7.600, de 11/07/2008. Lei Municipal nº 8.087, de 08/04/2010. Para saber mais, acesse o site: www.sjc.sp.gov.br/antidrogas
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Economia AGRONEGÓCIOS
Canteiro exótico Excentricidades agrícolas de Mogi das Cruzes chamam atenção de consumidores e conquistam o mercado nacional com hortaliças, legumes e frutas em cores, texturas e sabores diferenciados
Hernane Lélis Mogi das Cruzes
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rutas, hortaliças e legumes raros sempre foram iguarias restritas a viveiros ou coleções particulares. Os produtos, que podem até ser considerados exóticos, aos poucos vêm ganhando espaço nas plantações e gôndolas de supermercados e feiraslivres do Brasil. Isso, graças à iniciativa de um pequeno grupo de agricultores de Mogi das Cruzes que aposta na curiosidade gastronômica dos consumidores para colocar suas excentricidades no cardápio diário das pessoas. As singularidades agrícolas do “Cinturão Verde” –como é conhecida a região do Alto Tietê– vão desde os sabores, cores, nomes e formas de alguns alimentos. Nas áreas de cultivo é possível encontrar, entre outras coisas, tomate amarelo, alface vermelha, atemóia, bucha comestível, minirrepolho, ruibarbo e swiss chard, uma espécie de couve com talos de diferentes cores. Essa
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diversidade de cultura é favorecida pelas condições climáticas, tipo de solo, relevo e meses de testes. O produtor Luís Yano é considerado pioneiro na agricultura exótica. O plantio começou na década de 80 depois que um amigo de seu pai retornou do Japão com algumas sementes de alface vermelha. No canteiro, depois de muita insistência, as hortaliças vigaram, o problema foi fazer com que elas saíssem de sua porteira e ganhassem mercado. “Não conseguia vender de jeito nenhum porque as donas-de-casa achavam que a alface estava queimada”, disse Yano. Passados alguns anos, com o produto já bem aceito, outras espécies de hortaliças e legumes foram testadas. Somente em 2010, Yano investiu em 76 variedades de alface importadas dos Estados Unidos. Sementes da Holanda e de outros países europeus também costumam germinar em terras mogianas. Agora, Yano já tem 176 tipos de alface plantados em seu terreiro, algumas já foram reprovadas pelo agricultor e outras estão aguardando avaliação de especialistas e fornecedores estrangeiros. As variedades são identificadas por núme-
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Fotos: Flávio Pereira
VERDURAS Lavrador cuida de canteiros de verduras exóticas cultivadas em Mogi das Cruzes
Nas áreas de cultivo é possível encontrar, entre outras coisas, tomate amarelo, alface vermelha, minirrepolho, ruibarbo e swiss chard
ros. Algumas assemelham-se às alfaces nacionais, mas outras chamam a atenção pela coloração, formato, maciez e sabor. Há uma alface lisa conhecida como mini, em formato de repolho, onde o aproveitamento de suas folhas macias é de 100%, segundo Yano. Outra é crespa com folhas crocantes e de verde intenso, algumas com um verde mais brilhante e folhas repicadas. “Quanto mais verde for, maior é a quantidade de nutrientes”, disse o agricultor. Os produtos que dão certo são colhidos e distribuídos gratuitamente por ele para chefs de grandes restaurantes da capital, parentes e amigos feirantes. A intenção é fazer com que despertem o interesse de compra do consumidor final. Foi assim que Yano emplacou o swiss chard, uma couve de talo colorido –amarelo, vermelho, roxo e alaranjado nas feiras-livres de São Paulo. Para a variedade, foram reservados pequenos espaços em sua horta que renderam no ano passado 1.000 pés. “Consegui colher tudo que plantei ainda na fase de teste. Este ano plantei um pouco para verificar a resistência em períodos chuvosos, mas não deu certo. É um produto de clima ameno, não adaptável às chuvas. Vou plantar novamente no final de março e espero colher a mesma quantidade de antes, já tenho uma clientela formada para a espécie”, afirmou Yano. Ele explica que a couve é preparada no Japão do mesmo jeito que o espinafre. Colocando-a em uma panela de água quente, torcendo para retirar o excesso de água e
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Economia
servida com molho shoyou. Para não perder a cor, o segredo é cozinhar com um pouco de açúcar. O talo laranja lembra o sabor da cenoura, enquanto a roxa, o de uma beterraba. Alguns mais doces e outros mais amargos, misturando todos os talos, o agricultor garante que o resultado é uma saborosa salada. Outra curiosidade que já saiu das terras de Yano é a bucha comestível, cuja semente também veio do Japão. Cada pé da hortaliça chega a produzir até 20 buchas, com cerca de 50 centímetros. Por fora ela é semelhante à bucha vegetal, comercializada para banho. No entanto, por dentro, não tem fibra e é branca, com textura que lembra a de um pepino. Nas feiras, o produto pode ser encontrado por até R$ 3 a unidade. Yano está preparando suas terras para semear sua segunda safra do produto ainda este mês. Frutas Quem vai ao supermercado ou feira-livre atrás de frutas, geralmente coloca no carrinho o básico, como banana, maça, uva, pêra, melancia e melão. Para fugir um pouco do popular, no máximo, um kiwi. Provavelmente você nunca ouviu falar, ou se ouviu, jamais arriscou comprar uma atemóia. De casca grossa, verde e rugosa, ela é uma das excentricidades frutíferas cultivadas em Mogi. Fernando Ogawa, presidente do Sindicato Rural da cidade, é um dos responsáveis pela produção. São 400 pés da variedade Thompson, um híbrido da pinha com a também pouco conhecida cherimóia, que rendem cerca de 30 quilos cada um. Alguns frutos podem atingir até 1,5 quilos, sendo necessário sustentar seus galhos com bambus para evitar que o peso os quebre. “Faz oito anos que planto atemóia, mas comercialmente apenas quatro. O gosto dela é de um doce único, basta cortar na metade e comer com uma colher. Às vezes, o consumidor até conhece, o problema é que nunca experimentou”, explicou o agricultor. No mercado o quilo da fruta custa entre R$ 5 e R$ 10, dependendo da época e da oferta. A atemóia possui alto teor de proteína, açúcar, potássio e vitamina C. Além de consumida in natura, é possível utilizar sua polpa para sorvete, suco, doces, bolo e até mesmo como molho de salada. Ogawa afirma que é possível encontrar a variedade em algumas quitandas e feiras do Vale do Paraíba, já que 5% de sua produção vai para o interior. O
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# IN 6 D D # ! ! TEXTURAS Na sequência, brotos de nêspera, alface vermelha, almeirão radichio, chicória frisé e Fernando Ogawa, principal produtor de atemóia em Mogi
&I RE 2
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restante ĂŠ consumido principalmente pelos orientais que vivem no bairro Liberdade, reduto nipĂ´nico da capital. Nos 30 hectares de terra do agricultor ĂŠ possĂvel encontrar tambĂŠm nĂŞspera e trĂŞs espĂŠcies diferentes de caqui –guiombo, rama forte e fuwi. Ă rvores de ameixa fortune tambĂŠm estĂŁo espalhadas por seu pomar, mas o rendimento ficou aquĂŠm do esperado: a tentativa de cultivo fracassou. “NĂŁo tenho mais espaço para outra cultura, a ameixa nĂŁo deu certo e agora fico sem produção durante trĂŞs meses por causa do ciclo das outras frutasâ€?, disse. PerďŹ l AgrĂcola Com mais de 2.000 produtores rurais, maioria instalado em Mogi das Cruzes, o Alto TietĂŞ figura como uma das mais importantes potĂŞncias da agricultura paulista e, atĂŠ mesmo, do paĂs. Apesar da variedade imensa, as principais cadeias produtivas da regiĂŁo se concentram no cultivo de hortaliças, criação de codornas, cogumelos, frutas e flores. Sendo que
PRODUTOR LuĂs Yano ĂŠ considerado pioneiro na agricultura exĂłtica em Mogi
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nessas trĂŞs Ăşltimas, mantĂŠm hĂĄ dĂŠcadas a liderança na produção nacional. No caso da nĂŞspera, o Alto TietĂŞ responde por 85% de tudo o que ĂŠ produzido no Brasil. JĂĄ o caqui abastece 50% do mercado nacional. Os cogumelos detĂŠm 60% do comĂŠrcio brasileiro. As folhagens abastecem 35% do mercado paulista e 5% do carioca. No caso das codornas, nĂŁo existe um estudo especifico sobre a criação, mas sabe-se que 70% da produção brasileira de ovos estĂŁo concentrados na Grande SĂŁo Paulo, incluindo a regiĂŁo de Mogi, que tambĂŠm ĂŠ a maior produtora de OrquĂdeas e HortĂŞncias. Na avaliação de Renato Augusto Abdo, engenheiro agrĂ´nomo e coordenador de agronegĂłcios do Sindicato Rural de Mogi, o cultivo de exĂłticos e produtos jĂĄ tradicionais no mercado complementa a atividade agrĂcola da regiĂŁo. “A diversidade ĂŠ fundamental. Quem trabalha com exĂłticos busca um mercado especĂfico devido o alto valor agregado. Se investe em um produto de alto risco, mas tambĂŠm de alto rendimentoâ€?, explicou. •
Investimento imobiliĂĄrio nos Estados Unidos. Quem pode investir?
#ONSULTE NOS 3ĂŽO 0AULO s 53! $IRETO s .EXTEL #OMPRAR UMA PROPRIEDADE NOS %STADOS 5NIDOS PODE SER MAIS FÉCIL DO QUE SE IMAGINA ! AQUISI ÎO DE UMA PROPRIEDADE NO EXTERIOR PODE REPRESENTAR UM INVESTIMENTO PARA MUITOS E A REALIZA ÎO DE UM SONHO PARA OUTROS Comprar uma propriedade nos Estados Unidos pode ser mais fĂĄcil do que se imagina. A aquisição de uma propriedade 6OCĂ? PODE E A HORA Ă? AGORA )NDICAÂ ĂœES ECONĂ™MICAS APRESENTAM GRANDES OPORTUNIDADES DE INVESTIMENTO NO SETOR IMOBILILÉRIO DOS %STADOS 5NIDOS COM FORTES SINAIS no exterior pode representar um investimento para muitos e a realização de um sonho para outros. DE ESTABILIZA ÎO RETOMADA DE MERCADO SEGUIDO DE VALORIZA ÎO ! EQUA ÎO DĂ˜LAR BAIXO CĂŠMBIO ESTÉVEL COMPRA NA BAIXA NĂŽO PODERIA ESTAR MAIS FAVORÉVEL AssistĂŞncia completa em: De Brasileiro para Brasileiro ATENDIMENTO PERSONALIZADO EM 0ORTUGUĂ?S #ONSULTE EXPLORE SUAS POSSIBILIDADES DE INVESTIR NA MAIOR ECONOMIA DO MUNDO s 2ESIDENCIAL #OMERCIAL s 0RE #ONSTRU ÎO s .OVOS s 3EMI .OVOS s 5SADOS s 4ERRENOS s #ONSTRU ÎO #OM A EQUIPE DE Claudia Panella BRASILEIRA NATURALIZADA E RESIDENTE EM /RLANDO &, HÉ ANOS A AQUISI ÎO DE IMĂ˜VEIS Ă? UMA TRANSA ÎO SEM AVENTURAS
s !LTO 0ADRĂŽO s 6ERANEIO s !LUGUEL s !DMINISTRAÂ ĂŽO s &ORECLOSURE s 3HORT 3ALE
!SSISTĂ?NCIA COMPLETA EM 2ESIDENCIAL #OMERCIAL s 0RE #ONSTRU ÎO s Novos s 3EMI .OVOS s 5SADOS s Terrenos s #ONSTRU ÎO s !LTO 0ADRĂŽO s Veraneio s !LUGUEL s !DMINISTRA ÎO s &ORECLOSURE s 3HORT 3ALE &INANCIAMENTOS ATRAVĂ?S DE BANCOS MEDIANTE APROVA ÎO DE CRĂ?DITO COM ENTRADA MĂ“NIMA DE PARA IMĂ˜VEIS ACIMA DE 5 MIL s #ORRETORES E PROFISIONAIS DO RAMO )MOBILIÉRIO n #ONSULTE NOS s #OMPRA ĂŒ VISTA DE IMĂ˜VEIS RESIDENCIAIS GERAM EM TORNO DE DO VALOR DE COMPRA s #OLDWELL "ANKER 2EAL %STATE ,,# #OLDWELL "ANKERÂŽ, Coldwell Banker Previews InternationalÂŽ, e PreviewsÂŽ SĂŽO MARCAS REGISTRADAS LICENCIADA PELA #OLDWELL "ANKER 2EAL %STATE ,,# !N %QUAL /PPORTUNITY #OMPANY %QUAL (OUSING /PPORTUNITY /WNED !ND /PERATED "Y .24 ,,#
Claudia Panella, ,ICENSED 2EALTOR #)03 42# s &LUENTE EM )NGLĂ?S %SPANHOL E 0ORTUGUĂ?S #)03 #ERTIFIED )NTERNATIONAL 0ROPERTY 3PECIALIST 42# 4RANSNATIONAL 2EFERRAL #ERTIFIED % CLAUDIA CPANELLA COM s WWW #LAUDIA0ANELLA COM
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Economia Divulgação
SETOR AER0ESPACIAL
A batalha da Avibras
ARMAMENTO Teste de lançamento de foguete a partir do sistema Astros montado na traseira de caminhão
Principal fabricante de materiais bélicos do Brasil quer aumentar participação no setor civil em até 50% para enfrentar novas crises
Hernane Lélis São José dos Campos
undada há 50 anos para projetar e montar equipamentos bélicos com o objetivo de defender a soberania do Brasil e de outros países, a Avibras Aeroespacial, sediada em São José dos Campos, trava agora uma batalha que visa garantir sua sobrevivência. Imersa a uma crise que já resultou na demissão de 170 funcionários, a empresa pretende novamente baixar as armas e se render aos produtos direcionados ao mercado civil. A ideia é garantir a assinatura de contrato com o governo federal no projeto Astros 2020, que prevê uma nova família de lançadores de foguete, e concentrar esforços para aumentar a demanda de pedidos fora do setor militar. “A gente tenta buscar de 5% a 10% ao ano, mas não é mandatória, pois os contratos de defesa são mais importantes. Só que quando terminam fazem muita falta”, disse Sami Hassuani, diretor-presidente da Avibras.
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A estratégia usada pelo executivo não é nova na empresa. No final da Guerra Fria, no início dos anos 90, os países que formavam o bloco socialista inundaram o mercado mundial de defesa com produtos bélicos. Neste período, o comércio de armas recuou de US$ 1,3 trilhão por ano para US$ 780 bilhões anuais. Uma das saídas encontradas pela Avibras foi investir na produção de equipamentos civis, como antenas parabólicas, centrais de telecomunicações e explosivos utilizados em mineradoras. A expectativa de Hassuani é que depois da assinatura de contrato, os funcionários dispensados sejam readmitidos de imediato e outros 400 sejam contratados. Isso porque o prazo estimado para a entrega das primeiras unidades ao Exército Brasileiro é curto. “Acredito que as primeiras entregas aparecem para o cliente depois de oito ou dez meses”, disse o executivo, salientando ainda que outras empresa da região serão beneficiadas. “A gente tem no mínimo entre 50 a 70 subfornecedores no Astros 2020. A grande maioria instalada no Vale do Paraíba”, afirmou, em entrevista exclusiva à revista valeparaibano. Leia os principais trechos.
Depois da assinatura do contrato Astros 2020, o senhor imagina quanto tempo para começar a produção? Acredito que as primeiras entregas apareçam para o cliente depois de oito ou dez meses. As contratações de novos funcionários independem. Nos primeiros meses já voltamos a contratar para produzir. Esse produto demora muito para ser produzido. A participação do governo federal se restringe à compra dos novos lançadores? O contrato do Exército é um contrato de aquisição. Então, ele nos apoia comprando um programa de cinco anos. Pode ser grande, mas não muito grande todo o ano, é um programa médio todo ano. A vantagem é que acontece durante vários anos. Em linhas, é o que o ministro [da Defesa, Nelson Jobim] falou, um programa plurianual que garante uma sustentação mínima e a gente lança os produtos para exportação. Porque se o nosso Exército não usa, o cliente lá fora não compra. Esse programa, além de dar uma carga durante alguns anos, mesmo que ela não seja gigantesca, seja média, permite que a gente
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Bruno Fraiha
lance produtos e exporte mais.
que a indústria de defesa genuína nunca vai ser 100% diversificada. Ela tem que fazer um mix e a gente vem buscando esse mix, que hoje está em 20%. A tendência é tentar chegar a 50%. Não é fácil. Você pega um modelo americano, a Boeing, por exemplo, é de 50%, mas ela é uma exceção. Se pegar a Lockheed Martin, que é a maior empresa de defesa americana, é de 88% defesa e de 12% civil. Então, temos que tentar buscar uma meta maior, o que não é fácil. Isso a gente tenta buscar de 5% a 10% ao ano, mas não é mandatória, pois os contratos de defesa são mais importantes. Só que quando eles terminam fazem muita falta.
Como está a negociação da Avibras com o governo federal sobre o contrato? Está andando. O ministro [da Defesa, Nelson Jobim] está apoiando, o ministério está conosco apoiando, o Exército, principalmente, está apoiando, mas o governo tem um tempo. É um processo de meses que o governo vem tentando acelerá-lo, mas ele tem o seu tempo e temos que estar vivos aguentando essa espera. Existe o risco de novas demissões? Hoje, não estamos olhando assim. Fizemos os ajustes que nos dão um pouco mais de tempo para esperar. Se não fizéssemos o ajuste, não estaríamos vivos para o programa. Ele vai acontecer, mas precisamos de tempo. Como a Avibras está mantendo a cadência de produção até agora? Temos alguns contratos em execução, alguns de exportação e alguns do Brasil. Eles são menores e ficamos mais leves, dizendo assim, para que possamos continuar rodando esses meses a frente até ter os contratos maiores em carteira. Saindo o contrato com o governo também sairão contratações? É certeza. Tendo o contrato a gente recontrata o número de demitidos e cresce, eu diria, no mínimo mais uns 400 empregos. Quais outras empresas também participam desse contrato? Nós temos um conjunto grande, não vou nominar ninguém para não correr o risco de deixar alguém de fora. Mas a gente tem no mínimo entre 50 a 70 sub-fornecedores no Astros 2020. A grande maioria instalada no Vale do Paraíba. O Astro 2020 garante quanto tempo de produção aproximadamente? Acho que esse contrato do Exército, que é de vários anos, dá uma linha base para gente no sentido de exportação. A ideia é de conseguir olhar o futuro de cinco a dez anos à frente. O valor do contrato seria R$ 1,2 bilhão? Isso estamos discutindo ainda, vai depender dos nossos orçamentos, dos acertos finais. Mas isso é o valor global da oferta, que pode ser um pouco menos ou um pouco mais. Vai ser negociado. Existe um fluxo todo de entrada que vai depender do orçamento. A participação da União como acionista da Avibras será determinante
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OPINIÃO Sami Hassuani, diretor-presidente da Avibras
”A exportação ainda é o grande mercado de defesa do Brasil, mais importante que vender aqui é vender lá fora. Estamos há mais de 30 anos lá fora” para o projeto Astros 2020? Diria que os dois assuntos se interligam. Não diria que é fundamental, mas um processo ajuda o outro. O governo ser acionista e o governo comprar são duas coisas muito positivas que se autoalimentam. A decisão de se capitalizar já foi tomada há mais de um ano, mas ela segue uma regrinha e são várias fases. Nós estamos aí, vamos dizer assim, na última fase, que é o acerto percentual. Não temos ainda esse percentual, imaginamos na ordem de 15% a 25% de participação do governo. A ideia apontada por especialistas do setor em diversificar a produção da Avibras é trabalhada pela empresa? Essa é uma pergunta muito interessante por-
Esses 20% hoje seriam de quais produtos? A gente opera uma linha de explosivos para mineração, voltada para construção civil, e exploramos uma linha de pintura especial, chamada eletroforética. Se você tem um carro da Volkswagen, por exemplo, as peças pretas que estão mais próximas da suspensão e até portas, aquela pintura preta básica é uma pintura antioxidante, que a gente faz não só para carros, mas também para bicicletas. Atendemos um monte de fornecedores de autopeças e montadoras. Com esse processo a pintura lhe dá uma garantia de cinco a dez anos contra corrosão. A ideia é crescer 30% fora do setor de Defesa. Seria ampliar o mercado já existente ou criar novos produtos? É uma combinação. Aumentar a participação nesses dois mercados e abrir mercados novos. Por exemplo, o Vant (Veículo Aéreo Não Tripulado) é um mercado dual. Já estamos no quarto ano de investimento, é um mercado que pode ser tão grande tanto no mercado de defesa como no de civil. Como classifica hoje o mercado de Defesa? Não acompanho exatamente o que acontece com as outras empresas, mas estamos num momento em que o Brasil sinaliza que vai crescer no setor, isso é certo. Agora, isso vai se traduzir em compras, é um processo que ainda não está completo, é um processo de melhoria, só que ele não está completo. Acho que esse ciclo ainda vai o ano de 2011 ou 2012 para, vamos dizer assim, se consolidar. O mercado externo é o grande mote da Avibras, estamos lá fora há mais de 30 anos. A exportação ainda é o grande mercado de defesa para o Brasil, muito mais importante que vender aqui é vender lá fora. É preciso ter uma combinação, aqui você lança produto e lá fora você o consolida. Nós estamos atuando, existe muita oportunidade e esperamos que esse ano a gente consiga fechar uma grande exportação. •
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Fotos: divulgação
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Entrevista >João Luiz Woerdenbag tem a língua afiada, uma carreira marcada pela polêmica e uma autobiografia recém-lançada que já chega à segunda edição em menos de dois meses. Lobão está de volta à cena.
“ Não adianta me enterrar vivo porque eu não morro fácil” Adriano Pereira São José dos Campos
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oram 25 dias de negociação até conseguirmos um horário em sua agenda para essa entrevista. Lobão voltou a estar na moda. E o mais curioso disso tudo é que ele não fez nada para voltar à cena, aliás, fez o de sempre, soltou o verbo. A única diferença é que esses verbos estão impressos em quase 600 páginas de uma autobiografia, que já virou best seller nas livrarias brasileiras. “Lobão – 50 anos a mil” (Nova Fronteira), escrito em parceria com o jornalista Claudio Tognolli, traz a transformação de João Luiz Woerdenbag Filho, um garoto carioca tímido e retraído, na figura artística que o Brasil conhece. Extremamente detalhista e fiel aos fatos, a narrativa do livro tem o tom irreverente e debochado de Lobão. É quase jocosa, não fossem momentos como os suicídios (em épocas diferentes) do pai e da mãe, as próprias tentativas de por fim em sua vida, o abuso (consciente) de drogas, o underground imposto na carreira, a prisão, enfim, a “vida louca, vida” que passou a ser “vida
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bandida” chegando à “vida doce” de hoje. Doce? Será? Ele poderia ter cantado “a vida é ácida”, afinal, é essa acidez que se lê no discurso de Lobão. Acusa Herbert Vianna de plágio, confessa um suborno a um juiz carioca que já lhe rende um novo processo atualmente e assume uma surra homérica com direito a “kabong” de violão na cabeça do próprio pai. Lobão voltou a estar na moda e como ele mesmo já disse “o diabo é Deus de folga”. Você esperava voltar com tanta força para mídia? < Claro, né? É óbvio (risos). Eu sou o Lobão, imagina o que estava entalado na minha cabeça. Sei exatamente onde é meu lugar, não tenha a menor dúvida. Estou dizendo: “esse é o lugar que sempre me coube, não adianta me enterrar vivo porque eu não morro fácil”. E você volta com livro ao invés de um disco. Aliás, no ano passado os melhores lançamentos da música vieram da literatura. Você, Keith Richards, Ozzy Osbourne... < São ciclos que se fecham, por exemplo, você vê o rebu que minha biografia está causando. Está tudo errado. Eu estava sendo excluído de tudo que é lugar, estavam colocando meu nome debaixo do
PERFIL NOME: João Luiz Woerdenbag IDADE: 52 anos PROFISSÃO: Músico, compositor e escritor ATUAÇÃO: Representante do rock dos anos 80, Lobão apareceu tocando com Lulu Santos, no Vímana, foi baterista da Blitz e se lançou em carreria solo ao deixar o grupo. Foi preso por porte de drogas e acaba de lançar a autobiografia sob o título ‘50 a anos a mil’
COMPLÔ “EU E TAVAM COLOCA NÃO PODIA FAL
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tapete já há muitos anos. Não podia falar nada porque qualquer reação que eu tinha era taxado de maluco. Imagina passar 20 anos com isso tudo na cabeça? Escrever esse livro foi uma forma de colocar “as coisas para fora”? Esse foi o principal motivo? < Eu precisava esclarecer à sociedade quem eu era. Você pode imaginar que não deve ser agradável fazerem uma caricatura grotesca da sua pessoa durante 20 anos. Você está lutando contra um monte de instituições mais ou menos organizadas e unidas para me ridicularizar. E você ainda não conseguiu colocar tudo. Ouvi dizer que a primeira versão do livro tinha mais de 900 páginas < Deixei dois terços fora do livro. Escrevi 873 páginas e tive que tirar mais de 500. O Tognolli tirou umas 150 páginas. Mas eu vou começar agora a edição do e-book e sairá uma edição na íntegra, narrada na minha voz, assim posso dar todas as nuances que devem ter . Mas com 600 páginas você já conseguiu um novo processo (os magistrados do Rio de janeiro querem que Lobão dê o nome do juiz que recebeu US$ 2 mil em garrafas de uísque para livrálo de uma acusação), imagine com 900. < Escrevi esse livro com muita calma e com muita lucidez. Não prego um prego sem estopa, não tem ali uma aresta sequer para que alguém possa me processar. Não só eu tenho essa convicção como o departamento jurídico da editora também tem. Vários advogados leram a obra antes de ser publicada. Então estou super tranquilo.
EU ESTAVA EXCLUÍDO DE TUDO QUE É LUGAR, ESLOCANDO MEU NOME DEBAIXO DO TAPETE HÁ ANOS. A FALAR NADA PORQUE ERA TAXADO DE MALUCO”
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Foi doloroso escrever o livro? Lembrar dos suicídios dos seus pais, da cadeia, enfim, de coisas nada agradáveis. < Não, foi prazeroso. Na verdade escrevi como se tivesse escrevendo um romance, me distanciei bastante daquele personagem. Talvez por isso mesmo tive muito mais liberdade, quer dizer, eu queria tornar o livro interessante, então não podia enco-
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Entrevista
O livro BIOGRAFIA A edição impressa já chega à segunda edição e deve ganhar sua versão eletrônica narrada pelo autor em breve
1982 CENA DE CINEMA O primeiro disco da carreira é considerado cult, mas foi um fiasco de vendas
brir alguns fatos, ele tinha que ser confessional. Foi divertido também pelo trabalho de escritor, ver aquilo tomando forma. Foi muito bacana. Mas eu sou um cara justo, se não sou duro comigo não posso ser duro com ninguém. Eu acabei o livro melhor do que quando comecei, organizei minha vida toda. Foi um psicodrama. A maneira de tratar os problemas não foi com esse peso. Eu teria alta depois do livro se isso fosse uma psicanálise (risos). Você “expurgou demônios” com esse livro? < Não, estou mostrando o jeito que sou. Esse é o maior prazer de ter feito esse livro. Acho que sou um cara legal desse jeito assim. Imaginem as pessoas terem uma ideia totalmente diferente do que você é? Essa é a felicidade que, pela primeira vez na minha vida, além das pessoas estarem gostando de mim, estão acreditando no que estou falando. Isso é um prazer muito grande. Mas você mexe com mais gente além de você. Por exemplo, o fato do filme “Cazuza” nem sequer citar sua amizade com ele. Por que você acha que o filme não retrata a cena do baixo Leblon naquela época? < Higienizaram o Cazuza. A cena minha com ele cheirando cocaína em cima do caixão do Júlio Barroso no velório vai virar filme. Já escrevi pensando num roteiro. O mais triste é que, por exemplo, ninguém sabia que o Ney Matogrosso era namorado
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DEFESA Branco Melo, Arnaldo Antunes e Glória, a irmã de Lobão, durante manifestação contra a prisão do cantor, em 1987, por porte de drogas no Rio de Janeiro. Mais tarde, Antunes também seria preso por porte de heroína.
ABPD “NÃO SE DEVE MENOSPREZAR O ADVERSÁRIO E TODO MUNDO TINHA CERTEZA QUE EU NÃO SOBREVIVERIA” dele, mas o Brasil inteiro sabia que nós éramos uma dupla. Nós passávamos o dia inteiro juntos e nos defendendo. Minha relação com ele foi absolutamente pública. A gente era atração turística do baixo Leblon, saímos no guia Michelin. Isso é grave, suprimir fatos num filme que logo no início diz que é baseado em fatos reais. Durante um tempo a estratégia era não falar no meu nome, agora está todo mundo falando (risos). Todo mundo se acovardou, acho ótimo isso (risos). Falando em covardia, a ação da ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Discos) tentando te ridicularizar no episódio da numeração de discos teve aliados como Caetano e Gil. Por que eles se acovardaram na época? < Na verdade virei o inimigo da classe musical. Era eu contra todo mundo praticamente. Logo eles que são considerados tão geniais não enxergavam que o modelo da indústria fonográfica teria que passar por mudanças? < Não enxergavam sabe por quê? Porque não se deve menosprezar o adversário e todo mundo tinha certeza que eu não so-
breviveria. Todos morreram, todos que tiveram essa atitude ou morreram fisicamente ou foram “simonalizados”. Então meu desaparecimento era dado como certo. Você pode imaginar minha satisfação sobre o fato de simplesmente dizer que ia escrever um livro já causar uma comoção nacional. A “ratazanada” toda começou a se esconder. A história é forte e verdadeira. E o melhor disso é que sobrevivi e não estou aqui derrapando, adernando, estou mais forte do que nunca. Aí eu tenho até pena deles (risos). Sobre mercado, o formato de venda de CDs em revistas que você criou em 2009 funcionou durante um tempo. O que aconteceu? Qual o futuro da indústria fonográfica? < A revista não deu certo por conta da situação econômica. Ficou inviável comercialmente por falta de patrocínio. Acho que o negócio é o vinil. Por exemplo, vai sair o disco novo do Radiohed, na versão física tem um monte de capa diferente, disco duplo de dez polegadas, junto com CD, um acesso para baixar no MP3 player. Quem vai sofrer mais dano é o artista que não tem uma cara definida, os mais autorais só vão
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1977 Lobão sempre foi L baterista antes de b eexercer qualquer outra função musical. Nesta época, junto com Lulu Santos e Ritchie, ele tocava no grupo Vímana
MERCADO FONOGRÁFICO “Quem vai sofrer mais dano é o artista que não tem uma cara definida, os mais autorais só vão se beneficiar porque as pessoas querem colecionar esses discos”
HEBERT VIANA “ELE JAMAIS QUIS FALAR COMIGO. SEMPRE TECIA COMENTÁRIOS LACÔNICOS NA IMPRENSA” se beneficiar porque as pessoas querem colecionar esses discos. Se você for para Londres ou Nova York você vê várias lojas só de vinil. O mercado vai sofrer uma variação porque aquele preço não existe mais. A venda vai ser em cima da qualidade e não da quantidade. A música é uma das coisas que mais movimenta grana no mundo, isso não vai parar. Vai chegar uma hora também que esses zilhões de bandas que são feitos downloads saem de cena e você vai querer escutar um disco dos Beatles, do Metallica, enfim, fala mais alto a qualidade. No lançamento do “Acústico MTV”, esse povo que criticou suas intenções com a revista te chamou de vendido, lobo em pele de cordeiro por ter assinado com uma gravadora grande, mas ninguém criticou sua música? < Ganhei um Grammy no dia seguinte que me chamaram de fiasco do ano. Para você ver o teor de animosidade que uma parte da imprensa tinha comigo. Eles queriam me ridicularizar e aniquilar. E o disco não tinha o formato caça-níqueis que quase todos acústicos tiveram. Bastava ter um pouquinho de boa vontade para ver que era um material diferente, mas a sanha de “descer
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o pau” na minha pessoa era maior que o bom senso. Mas o castigo vem a cavalo, agora está publicado, e as pessoas estão todas com cara de tacho (risos). Quando você fala sobre o Herbert Viana (Paralamas do Sucesso) copiar sua carreira você também diz que a imprensa sempre ficou do lado dele. Como acontecia isso? < A imprensa é toda deles. Agora mesmo estava lendo no Twitter uma parte desses jornalistas se esperneando com isso. O Jamari França, que é biógrafo, querendo contestar, mandou um ato falho assim: “mas ‘Me Liga’ do Lobão é muito antes de ‘Me Chama’ do Herbert”. P... o cara vai criticar e se confunde. Faz o seguinte, pega todos meus discos, coloca data e pega minha voz no “Cena de Cinema” e a voz dele no “Cinema Mudo”. Eu mudei meu jeito de cantar por causa dele. Veja a evolução de cada banda. Se achar que estou maluco, ouve, leia o livro. Estou falando de fatos. Não estou fazendo nenhuma conjectura. Se eu estivesse no lugar do Herbert, aguentando um chato como eu, na primeira estocada teria me distanciado ao máximo em conceito, afinal, tem tanta coisa pra falar.
Você nunca falou com ele sobre esse assunto? < Ele jamais quis falar comigo. Sempre tecia comentários lacônicos na imprensa, coisas do tipo “Lobão exagera nas drogas”. Tentei até ser parceiro dele, falei: “Se você gosta tanto de mim, vamos dividir pelo menos os royalties” (risos). Mas a próxima edição do livro (eletrônica) tem um episódio que ele teve que sair fugido. Falando em discussão, ouvi uma entrevista numa rádio na qual os caras queriam te convencer que o Restart é o Kiss de hoje em dia e você detonou todo mundo ao vivo. < Putz, me chamaram lá para falar do livro e gravei as duas músicas inéditas que eu tinha num CD para levar lá. “Vou tocar na rádio”, pensei. Chegou lá se recusaram a tocar meu CD. É um programa meio humorístico e fizeram um paredão tentando destratar o livro, falando coisas como “que capa engraçada”, eu fiquei na minha. Chegou uma hora e detonei todo o mundo sem alterar o som de voz. Tudo que eu procurava eram vilões e estava com vários “canastreiros” ali na minha frente (risos). Eles mesmos se queimaram porque falar que o Restart é o Kiss e que Luan Santana é o Lobão é muito pior do que qualquer coisa. Não precisava dizer nada, os caras são toscos, falta inteligência. Pô, são essas pessoas que estão dirigindo um veículo tão importante como é o rádio? Isso é um genocídio intelectual. •
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Ciência & Tecnologia
Fabíola de Oliveira
A divulgação científica falaciosa cria uma imagem distorcida da C&T
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m um almoço para jornalistas e cientistas realizado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, no ano em que o governo anunciava para os quatro cantos a viagem ao espaço do primeiro astronauta brasileiro, um cientista renomado confessou-me em off o seguinte: “Tudo aí que estão falando na imprensa, que o astronauta vai levar experimentos científicos importantes para a Estação Espacial Internacional, não justifica o que o país está gastando com essa empreitada. Hoje podemos reproduzir em laboratório as mesmas condições do espaço para vários experimentos.” Naquela declaração impublicável na época, ficou claro para mim o que já vinha percebendo. Era mais uma jogada de marketing do governo, um oba oba sobre um fato inócuo, do ponto de vista científico, e dispendioso para os cofres públicos. E o resultado está aí. Passados pouco mais de quatro anos da Missão Centenário, nada de resultados científicos. E o astronauta faz marketing pessoal como palestrante, consultor, coaching, garoto propaganda, o que vier. Esse é apenas um exemplo do que podemos considerar como má divulgação científica, aquela que induz as pessoas a criar uma imagem distorcida da Ciência e da Tecnologia (C&T). Tudo isto porque ainda persiste um grande fosso entre os cientistas e a
FIASCO “ Pouco mais de quatro anos da Missão Centenário, nada de resultados científicos. E o astronauta faz marketing pessoal” sociedade, mas é um cenário que tem mudado ao longo das duas últimas décadas. Os veículos de comunicação têm demonstrado um esforço crescente para divulgar a ciência e a tecnologia de maneira mais crítica e aprofundada. Um bom exemplo recente é a grande cobertura que está sendo realizada sobre a compra de aviões caça para o programa FX-2, onde cada fornecedor tem feito um esforço enorme para demonstrar onde e como haverá transferência de tecnologia, ponto nevrálgico da concorrência. Com tanta informação o governo sente a pressão da sociedade e cerca-se de toda a cautela na escolha do fornecedor que melhor atenda aos interesses do país.
Do lado do governo, o nível também se eleva. No discurso de posse do novo presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Glaucius Oliva, engenheiro do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), afirmou o seguinte: “A responsabilidade sobre a maior compreensão pública em relação à C&T cabe à nós mesmos, da comunidade científica, que temos demonstrado pouca capacidade em conquistar o apoio da sociedade para a convicção de que sem conhecimento não haverá crescimento econômico e social.” É uma convicção que começa a sair dos discursos para ser colocada na prática. •
Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br
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rio. é equilíb e c n la u me i me 7í, resolv oleque, o . e m t a e a d s s e o D nho urti sempre c o surf. Hoje eu te , o s is or r o F o a melh ui para g f e e p r u a t e n dia reinve ada novo c a e s o 40 an a. minha vid onda da
Essa poderia ser a história de qualquer um, inclusive a sua. Nesses 40 anos, a Unimed São José dos Campos cresceu assim: acreditando na história das pessoas. Hoje, atua em 12 cidades, com mais de 180 mil clientes, cerca de 750 médicos cooperados, 113 clínicas, 9 laboratórios e 17 hospitais conveniados, além de um hospital próprio, solidiÅcando#se como a maior operadora de planos de sa de do Lale do Faraíba e Bitoral Norte. Unimed São José dos Campos. Fara quem cuida bem da sa de, 40 anos é só o come o.
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American News Today/AE
SAÚDE
Obsessão de Ana Jovens que sofrem com anorexia e bulimia criam blogs e sites que divulgam e apoiam a ideia de emagrecer a qualquer custo, mesmo que isso possa levar à morte
ISABELLE CARO Modelo francesa morreu em novembro de 2010 aos 28 anos; Isabelle ficou famosa em 2007, quando expôs o corpo magérrimo em outdoors para uma campanha de alerta contra a anorexia
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Yann Walter São José dos Campos
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las usam codinomes como Ana&Mia, Minni, Bia, Dra. Ana, Katie ou Sad. A maioria tem entre 12 e 25 anos. Passam bastante tempo na internet. Se espelham em top models internacionais –muitas, inclusive, já desfilaram nas passarelas– e em celebridades como Victoria Beckham ou Paris Hilton. Se definem como ‘pró-ana’ e ‘pró-mia’, o que no vocabulário delas significa que são adeptas da anorexia e da bulimia. Para estas garotas, ser magra não é apenas uma meta. É uma obsessão. O mundo delas gira exclusivamente em torno de peso, dietas e calorias. A maioria não hesita em colocar em risco a própria vida passando dias sem comer ou tomando drogas, lícitas ou ilícitas, para emagrecer. Muitas forçam o vômito sempre que ingerem alimentos sólidos. Outras praticam automutilação, fazem cortes no próprio corpo para esquecer a fome. A balança é ao mesmo tempo sua mais fiel companheira e sua pior inimiga, fonte, segundo os dias, de imensa alegria ou de insondável tristeza. Para elas, a felicidade se mede pelos quilos perdidos e qualquer aumento de peso, por mais insignificante que seja, é sinônimo de profunda depressão. Em seus blogs, postam frases como ‘comer é um vício’, ‘fome passa, gordura não’, ‘vomitar até sair sangue’ e ‘antes morta do que gorda’. A anorexia e a bulimia são transtornos alimentares que atingem pelo menos 1% da população brasileira e 4% dos jovens entre 12 e 20 anos. As mulheres, sobretudo as mais novas, constituem a esmagadora maioria dos casos (90% a 95% do total). Geralmente, a anorexia aparece mais cedo, por volta dos 12 ou 13 anos, enquanto a bulimia se manifesta mais no fim da adolescência.
Muitas sofrem das duas doenças ao mesmo tempo, ou trocam a primeira pela segunda. A anorexia se traduz por uma preocupação exagerada com o peso, que pode levar a graves problemas psiquiátricos. Já a característica mais marcante da bulimia é a alternância entre episódios de compulsão alimentar e comportamentos compensatórios para evitar o ganho de peso. Em seu site, a joseense Letícia de Oliveira, especialista em psicologia nutricional, qualifica a bulimia de “círculo vicioso de compulsão-purgação”. “Existem várias diferenças entre a anoréxica e a bulímica. Enquanto a primeira registra uma perda de massa corporal importante em um período de tempo muito curto, a segunda mantém uma massa corporal normal, às vezes até um pouco acima do normal. Para os pais, a bulimia é muito mais difícil de detectar”, afirmou a psicóloga. “A anoréxica não quer se alimentar, pois tem um medo doentio de engordar. Passa dias inteiros sem comer nada ou ingerindo apenas a quantidade necessária para sobreviver. Ao contrário, a bulímica tem crises de compulsão. Come em excesso, depois se sente culpada e quer expelir tudo”, explicou. Outra diferença crucial é que, na maioria dos casos, bulimia não mata. Anorexia, sim. “A taxa de mortalidade entre as bulímicas é quase nula. Já entre as anoréxicas, atinge assustadores 10%. Trata-se do transtorno psicológico com maior incidência de mortalidade”, alertou Letícia. Segundo um especialista do Proata (Programa de Orientação em Assistência a Pacientes com Transtornos Alimentares), da Universidade Federal de São Paulo, metade das pessoas que desenvolvem anorexia ficam totalmente livres dos sintomas, 15% alcançam uma remissão parcial, 15% passam a sofrer com bulimia, 10% convivem com a doença e 10% morrem. Anoréxicas e bulímicas também têm muito em comum. “A maioria das pessoas
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com transtornos alimentares, principalmente as bulímicas, tem um pensamento dicotômico, baseado no tudo ou nada. Elas são perfeccionistas, muito críticas com elas mesmas e têm autoestima baixa. Além disso, estão convencidas de que só as magras conseguem emprego, namorado ou marido, têm amigos, vida social e são bem -sucedidas. Assim, as questões relacionadas ao peso acabam adquirindo uma importância totalmente desproporcionada, sendo associadas a todos os aspectos da vida pessoal e profissional. É o que chamamos de crença disfuncional”, explicou Letícia. De fato, o desprezo pelas pessoas acima do peso e a falsa impressão de que a magreza resolve todos os problemas é um traço comum entre as anoréxicas. “Não quero ser gorda. Só quero ser feliz”, disse Minni, uma ex-modelo de 18 anos que mede 1,73 m e pesa 56 kg. “Minha meta é chegar aos 49 kg. Quando desfilava, cheguei a pesar 47 kg, mas era um pouco mais baixa. Hoje, já desisti da carreira de modelo. Não quero mais criar expectativas. Só quero ser bonita para me sentir bem comigo mesma”. Natural de Fernandópolis, no Estado de São Paulo, Minni virou anoréxica aos 12 anos e bulímica aos 14. Trabalhou como modelo dos 12 aos 16 anos, quando teve que parar devido à detecção de um traço leucêmico em seu sangue. Fez um tratamento e engordou quase 20 quilos. Desesperada com o ganho de peso, decidiu adotar medidas drásticas. Jejuava vários dias seguidos. “No ano passado, fiquei uma semana inteira tomando apenas água e chá. Meu corpo não aguentou e tive que ser internada. Foi quando contraí anemia profunda”, revelou. Hoje, por causa da doença, Minni já não pode mais ficar sem comer. Ainda assim, não ingere mais do que o necessário para se manter viva. “Tomo água no café-da-manhã. Na hora do almoço como uma salada com duas folhas de alface, uma rodela de tomate e um pedacinho de queijo branco. Lá pelas 16h, uma maçã. Para o jantar, só chá branco ou preto”, enumerou. Sempre que foge um pouco de sua dieta, por exemplo, comendo um doce, ‘mia’, ou seja, força o vômito. “Quando não comia nada, tinha crises de bulimia. Claro que vomitava tudo depois”, relatou. Minni também já fez uso de diversos remédios para emagrecer. “Tomava laxante todo dia. Hoje não posso mais por causa da ane-
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Comentários retirados de blogs mantidos por jovens que sofrem de anorexia e bulimia
Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém. Meus dias estão cada vez piores, a Ana me consumiu toda. E é com ela que expresso toda a minha raiva, tristeza e felicidade. Cada dia que passa fico mais e mais triste em meu mundo, sem conseguir sair e sem querer ajuda. Não quero ser perfeita, nem quero que me notem. Postado por Julie Anne
mia”, contou. A ex-modelo também admitiu ter recorrido com frequência ao ECA, uma poderosa combinação de efedrina, cafeína e aspirina, famosa no meio do culturismo por sua eficiência na queimação de gordura. O composto, porém, é considerado mais perigoso que muitos anabolizantes, e sua venda é proibida aos menores de 18 anos. “Eu comprava em um site pró-ana. Fazia a encomenda e recebia pelo Correio”, entregou. Hoje, ainda toma calmantes e antidepressivos. Automutilação Para estas garotas, a perda de peso vale qualquer sacrifício. Dra. Ana, de apenas 14 anos, relatou alguns meses atrás em seu blog a intenção de experimentar cocaína, conhecida por ‘cortar’ a fome. No mesmo post, dizia que nunca nem tinha bebido álcool e que odiava maconha “por causa da larica”, a sensação de fome que surge após o uso da droga. Sad, 18 anos, foi bulímica durante dois anos. “Aos 13 anos tive depressão e comecei a comer compulsivamente. Dois anos depois, já estava com 97 quilos para 1,70 metro. No dia do meu aniversário de 16 anos forcei o vômito pela primeira vez. Senti um
Vou postar uma foto que meu amigo fez uma montagenzinha. Tadinho, ele tenta me convencer que eu não sou gorda. Pura perda de tempo. Eu falo para ele que tenho espelho em casa. Postado por Caty Star
Fui numa endocrinologista. Ela me receitou a santa Sibutramina. Consegui ainda que ela me desse a de 15 mg, que me tira toda fome. Então, agora, tenho certeza que vou chegar ao meu objetivo. A médica falou que emagreço uns seis quilos em dois meses, mas acho que em bem menos. Semana passada eu tava estressada com a faculdade e fui ao médico também. Ele me passou Fluoxetina, que
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tira a ansiedade e essa angustia. Os dois emagrecem e dão resultados legais. Tô super empolgada. E sem fome nenhuma!
prejudica a dentição. Depois de um tempo, o esmalte dos dentes fica desgastado. A incidência de cáries entre as bulímicas é muito alta. Além disso, elas sofrem com gastrites, problemas estomacais e inflamações na garganta, tudo por conta da purgação”, detalhou a psicóloga Letícia de Oliveira. “Já as anoréxicas sofrem com quebra de ciclo menstrual, enfraquecimento de unhas, cabelos e ossos, pele descamada e imunidade baixa, responsável por problemas mais sérios”, acrescentou. Em 2006, um caso chamou a atenção do país: no dia 15 de novembro daquele ano, a modelo paulista Ana Carolina Reston Macan morreu aos 21 anos depois de contrair uma infecção urinária, que evoluiu para um quadro de insuficiência renal e posteriormente para uma infecção generalizada. Quando morreu, pesava apenas 40 quilos para 1,74 metro.
Postado por Camila
Estou com 50 quilos. Por favor, preciso emagrecer. O que está errado? Eu estou errada. Estou me sentindo um lixo. Aliás, por enquanto, eu sou um lixo, um depósito de gordura e uma máquina de comer. Tenho que parar de comer muito e conseguir emagrecer. O que mais me incomoda são os meus braços e minha barriga. Se meus braços diminuíssem eu já ficaria bem. Tenho 25 cm de braço, quero que minhas mãos consigam contorná-lo. Estou um caco hoje. Postado por Anamydreams
Bom dia, belas flores. Estou de bom humor mesmo, pois estou me sentindo vazia, perdi um pouco mais de 1 kg de ontem pra hoje. E hoje eu comi: café com adoçante e uma laranja. À noite, ao invés de comer uma maçã, acho que vou comer um iogurte de 40 kcal. Não quero que ele estrague, e ele tem cálcio, que é bom pra emagrecer. Então, acho que vou fazer isso. É, por hoje, é só. Postado por Bonéquiinha
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alívio muito grande e comecei a fazer isso com frequência. Em uma semana emagreci cinco quilos. Foram os primeiros de muitos. Mas ainda estava acima do peso, então passei a tomar laxantes e a ficar dias sem comer. Entrei em uma rotina intensa de exercícios físicos e passei a praticar a automutilação. Quando você se corta, o corpo libera uma substância no organismo que dá uma sensação de alívio. Além disso, me ajudava a esquecer a fome”, relatou a moça de Itanhaém (SP), que também já recorreu ao ECA. Hoje, Sad está parcialmente curada. Com 70 quilos, ainda se considera acima do peso, mas os dias de ‘NF’ (‘no food’, em inglês, uma gíria utilizada por anoréxicas e bulímicas para qualificar dias passados sem comer) ficaram para trás. “Às vezes tenho recaídas. Sinto muita vontade de voltar a tomar ECA, laxantes e tarja preta, mas sei que uma coisa puxa a outra e não vou me enterrar em um buraco novamente. Todos os dias luto contra minha cabeça, mas sei que um dia vou conseguir superar isso. Não existem Ana e Mia, e sim anorexia e bulimia, duas doenças que destroem vidas”. A bulimia, e mais ainda a anorexia, trazem sérios problemas de saúde. “O vômito constante
Isabelle Caro Outro caso que ganhou repercussão internacional é o da modelo francesa Isabelle Caro, que morreu em novembro do ano passado aos 28 anos, sendo 15 passados a lutar contra a doença. Caro ficou famosa em 2007, quando expôs o corpo magérrimo em diversos outdoors para uma campanha destinada a alertar os adolescentes sobre os perigos da anorexia. Entrara em coma no ano anterior, quando ostentava impensáveis 25 quilos para 1,64 metro de altura. “Tenho psoríase, o peito caído, um corpo de pessoa mais velha”, dizia então, mostrando como é tênue a fronteira que separa o mundo glamour das passarelas de um quarto de hospital. Todas as garotas ‘pró-ana’ e ‘pró-mia’ conhecem estas histórias, e estão cientes dos riscos que correm. Tragicamente, algumas chegam até a citar Ana Carolina Reston como fonte de inspiração pessoal. Muitas afirmam não temer a morte, e todas ostentam uma determinação inabalável. Algumas já não conseguem mais voltar atrás. “Sei das consequências, mas vou continuar até alcançar meu objetivo”, afirmou a baiana Bianca, 18 anos, que quer perder 25 quilos e passa dias tomando apenas limonada. “Mais uma vez percebi que não sou feliz saudável. Não tenho mais medo da morte, não tenho mais medo da Ana. Vai que vai!”, postou Dra. Ana em seu blog. “Quando como, me sinto a pior pessoa do mundo. É algo impossível de explicar. Já tentei parar, comer mais, mas não consigo. Sei que prejudica minha saúde, mas não adianta. Tudo engorda. Até água. E eu não quero engordar”, disse Minni.
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Especial Saúde
O preço mais alto A.M, 27 anos, já passou por isso. Bailarina desde pequena, decidiu emagrecer aos 13 anos. “De repente me deu vontade. Eu era muito perfeccionista e gostava de surpreender as pessoas”, explicou. “Cheguei a viver com um tomate ou uma fatia de mamão por dia. Passei uma década tomando laxante todos os dias. No auge da doença, pesava 36 quilos para 1,58 metro de altura”, contou. Como as demais ‘próana’, era excessivamente determinada. “Quando comecei o primeiro tratamento passei a entender que corria risco de vida, mas não foi o suficiente para me fazer parar. Era capaz de pagar o preço mais alto para alcançar meu objetivo, de ficar sempre mais magra”. A.M já passou por vários tratamentos para se curar. Até hoje, faz terapia duas vezes por semana. “A luta contra a doença é diária”, sentenciou. Todos os especialistas concordam com o fato de que não é fácil se livrar totalmente de um transtorno alimentar. Na maioria das vezes, é necessário um trabalho de vários anos com uma equipe multidisciplinar formada por psicólogos, psiquiatras, médicos e nutricionistas. É claro que nenhum tratamento funciona sem a boa vontade do paciente. “O primeiro passo para uma pessoa com transtornos alimentares é querer ser curada”, lembrou Sad. O papel dos pais também é fundamental: eles precisam ficar atentos a todos os sinais. “Alguns comportamentos podem ser considerados como suspeitos. Um desejo repentino de comer sempre só, uma preocupação exagerada com a aparência física e com o número de calorias ingeridas por dia, um excesso de exercícios físicos, mudanças radicais na alimentação, um uso excessivo de laxantes e um emagrecimento importante em um curto período de tempo são sinais que justificam a procura de um tratamento. Fica o alerta para os pais”, frisou A.M, dizendo-se favorável à internação nos casos mais sérios. Causas O que leva uma pessoa a ficar anoréxica ou bulímica? Não existe uma única resposta, e sim uma combinação de fatores. ‘Pró-anas’ e pró-mias’ estão convencidas de que a sociedade rejeita as mulheres acima do peso, uma impressão reforçada pelos critérios de beleza impostos pelo mundo da moda e reproduzidos pela mídia. Muito criticadas após a morte de Ana Carolina Reston, as agências de modelos tiveram que tomar providências, como
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COMPORTAMENTOS SUSPEITOS • Desejo de comer sempre só • Preocupação exagerada com aparência física • Falar somente em peso, dietas e calorias • Excesso de exercícios físicos • Mudanças radicais na alimentação •Uso excessivo de laxantes • Emagrecimento rápido
CONSEQUÊNCIAS BULIMIA • Dentição prejudicada • Gastrite • Problemas estomacais • Inflamações na garganta
ANOREXIA • Amenorréia, quebra de ciclo menstrual • Enfraquecimento de unhas, cabelos e ossos • Pele descamada • Imunidade baixa
NÚMEROS 1,8 milhão de brasileiros têm anorexia ou bulimia Mais de 90% são mulheres 4% dos jovens entre 12 e 20 anos sofrem com as doenças Maioria vira anoréxica aos 12 ou 13 anos e bulímica aos 17 ou 18 anos a instauração de um peso mínimo, para impedir a ocorrência de outros casos fatais. No entanto, há quem diga que as novas medidas, adotadas em 2007 quando a polêmica estava no auge, estão sendo ignoradas novamente. “Há algum tempo, tive uma paciente de 16 anos que era modelo. Tinha 1,75 metro de altura para 55 quilos, e sofria uma pressão muito grande no ambiente de trabalho. Era cobrada constantemente para emagrecer e perdeu vários trabalhos para garotas mais magras. Virou anoréxica”, relatou a psicóloga Letícia de Oliveira. “Hoje, depois de seguir um tratamento e deixar a carreira de modelo, ela está bem melhor. Mas continua muito preocupada com o peso”, ressaltou, insistindo no fato de que as recaídas são frequentes nos casos de transtornos alimentares. Segundo a psicóloga, muitas pessoas também desenvolvem transtornos alimentares
por causa da própria família. “Muitas meninas anoréxicas ou bulímicas têm mães exigentes e perfeccionistas. Não é regra, mas acontece bastante”, destacou. Em sua última entrevista, Isabelle Caro revelou que sua obsessão por magreza começou aos 12 anos de idade, quando ouviu a mãe dizer: “35 quilos é muito”. Em poucas palavras, Sad, a garota de Itanhaém, descreveu com bastante clareza o dilema que abala a maioria das adolescentes com transtornos alimentares. “A sociedade te critica porque você está gorda. Depois fica chocada quando você morre de fome. Ninguém faz nada para te ajudar e quando você toma medidas drásticas todos ficam horrorizados. Não consigo entender tamanha hipocrisia”. Já se sabe que anorexia e bulimia não são simples caprichos de meninas mimadas que querem ser modelos. São verdadeiras doenças, que têm de ser tratadas como tal. •
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Fotos: Flávio Pereira
SEGURANÇA PÚBLICA
Fora da lei e das grades Hernane Lélis São José dos Campos
São José tem pelo menos 1.100 homens e mulheres já condenados pela Justiça que continuam em liberdade nas ruas; morosidade processual dificulta localização dos foragidos nas operações deflagradas pela polícia
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ndré Carlos da Silva, 23 anos, roubou em junho de 2009 um veículo na zona sul de São José dos Campos. O crime aconteceu no final da tarde, no momento em que a vítima encostava o carro em frente à casa dela, na rua Martim de Sá. O bandido estava armado com uma pistola e ameaçava atirar caso o proprietário não deixasse o carro juntamente com alguns pertences –carteira e celular. Silva fugiu e nunca mais foi visto. Hoje, ele faz parte do grupo de 1.100 homens e mulheres condenados pela Justiça que continua em liberdade, circulando
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pelas ruas da cidade. Desse total de foragidos procurados pela Polícia Civil, 12% respondem por crimes homicídio e latrocínio (roubo seguido de morte). Tráfico de drogas é representado por 18%. Outros 17% fugiram do sistema carcerário, sendo que a maior parte é composta por detentos do regime semiaberto que saiu do presídio para o indulto e nunca mais voltou. Roubo e assalto representam 23% e o restante (30%) se enquadra na Lei Maria da Penha (agressão contra a mulher) e na falta de pagamento da pensão alimentícia. A Polícia Civil de São José possui um setor exclusivamente dedicado à procura de condenados por meio de mandados judiciais de prisão. Todos os dias da semana o grupo se mobiliza para capturar os foragidos e colocá-los atrás das grades. No
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Segurança Pública
OPERAÇÃO Policiais no Conjunto João Paulo 2º para cumprir os mandados de prisão contra foragidos em São José
entanto, a morosidade processual seria o principal problema para os investigadores terem maior sucesso em suas abordagens. Ainda sim, o número de acusados tirados das ruas vem aumentando a cada ano, saltando de 123 prisões em 2005 para 738 em 2010. “O processo demora e quando chega à condenação, depois de muitos anos, começamos o trabalho de investigação. O problema é que na maioria das vezes o suspeito sabe que será condenado e desaparece, muda de endereço diversas vezes. Isso dificulta nosso trabalho. Só que em algum momento ele vai ser preso, pois vai precisar do poder público para alguma coisa ou vamos chegar até ele”, disse Amauri dos Santos Silva, chefe do departamento de capturas da DIG (Delegacias de Investigações Gerais). De acordo com Silva, por mês, são emitidos cerca de 80 pedidos de prisão. Desses, 60 são cumpridos dentro do mesmo período. Em Campinas, cidade com pouco mais de 1 milhão de moradores, a divisão de capturas cumpre, em média, 50 mandados por mês. A quantidade de mandados expedidos não foi divulgada pelo setor, mas acredita-se que pelo menos 6.000 pessoas são procuradas naquela região.
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CHECAGEM Policial averigua documentos de suspeitos no bairro Campo dos Alemães
Em todo o Estado são emitidos cerca de 10 mil mandados por mês –desses, 5.800 são cumpridos a cada 30 dias. No Brasil, a estimativa é que existem em aberto cerca de 500 mil mandados de prisão em diversos estados. Parte dos mandados em aberto em São José refere-se a pessoas que já morreram, a crimes prescritos e a ordens de prisão contra cidadãos que podem estar detidos por outros motivos. “Estamos falando de mandados que foram expedidos há mais de 20 anos. Algumas pessoas têm mais de um mandado. Vamos levantar cada um para descobrir qual a real condição desse foragido. O trabalho exige tempo e planejamento, mas temos condições de continuar aumentando a quantidade de prisões”, explicou o investigador. Para Carlos Augusto Roseiro, promotor de Justiça de São José, o número de foragidos no município e no Estado reforça a sensação de impunidade identificada pela população, principalmente quando se trata de casos que tiveram maior repercussão na mídia, como o de Mizael Bispo de Souza, procurado desde o dia 7 de dezembro de 2010, acusado de matar a exnamorada Mércia Nakashima, e do médico Roger Abdelmassih, acusado de abusar se-
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ABORDAGEM Policiais abordam suspeitos em casa de procurado pela Justiça no bairro Campo dos Alemães, na região sul
xualmente de suas pacientes. No entanto, ele pondera que o incremento anual de mandados cumpridos mostra que a polícia vem fazendo um bom trabalho. “O número de foragidos é muito relevante, mas através dos dados sobre a quantidade de capturados a cada ano podemos ver que algo está sendo feito. Mas casos como o do Mizael, por exemplo, que ganham grande destaque na imprensa, amedrontam a população fazendo com que se sinta menos protegida”, disse Roseiro. O promotor acredita que o desempenho da polícia pode ser ainda melhor se houver investimentos no setor de inteligência, contratação de novos agentes e capacitação. “Não tivemos investimentos significativos na polícia nos últimos cinco anos. Os delegados sempre reclamam sobre a falta de estrutura e de pessoal. O setor de inteligência da polícia e a capacitação dos agentes são fundamentais, não adianta apresentar uma viatura novinha para ela ficar vagando sem êxito”. Captura Passava das 5h30 de sexta-feira, 25 de fevereiro, quando o investigador Amauri reuniu parte de sua equipe em frente à DIG para conversar sobre os 30 mandados que
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PRISÃO Foragido é capturado pela Polícia Civil na operação deflagrada em São José
seriam averiguados nas próximas horas daquele dia. “Vamos dar nosso máximo”, disse um dos agentes enquanto outro ajustava o colete à prova de balas ao corpo. O grupo se dividia e discutia sobre as prisões que realizariam naquele dia. “Tenho uma denúncia quente de um foragido, vai ser porta no chão para ele hoje”, comentou um investigador. Logo, todos partiram para seus destinos –regiões leste, sul e norte de São José. Amauri, seu parceiro e mais um policial, seguiram com 11 ordens de prisão em uma viatura para os bairros da região sul. Atrás, um veículo do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) levava mais três agentes. Já com o dia amanhecendo, a primeira parada foi no Conjunto João Paulo 2º para capturar um foragido condenado por furto que teve sua liberdade revogada por reincidência. No endereço indicado no mandado, apenas a rua foi encontrada: o número da residência não existia. “Esse é um problema que acontece com frequência. Quando foi detido pela primeira vez o acusado deve ter passado um endereço falso e confirmado depois ao juiz”, disse Amauri, já entrando no carro para cumprir o segundo mandado do dia,
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Segurança Pública
um jovem denunciado pela ex-mulher por falta de pagamento de pensão alimentícia. Dessa vez o endereço estava correto e a casa foi localizada no bairro Campo dos Alemães. Quem atendeu os policiais foi a irmã do acusado. Assustada, informou que eles já não moravam mais juntos e que o irmão havia reatado o casamento, voltando para sua antiga casa no Jardim da Granja, zona leste de São José. Questionada sobre o nome da rua e o número da residência, se limitou a dizer que não sabia. O mesmo aconteceu em outro caso, onde o procurado respondia por roubo –a família, supostamente, acobertou o procurado. “O lado emocional dos familiares prejudica a captura. Eles se negam a dar informações. Neste bairro, além da lei do silêncio, pode imperar também a lei da mentira”, afirmou o investigador. Prisão A primeira prisão da equipe aconteceu, quase uma hora e meia depois do início da operação, na rua João Alves Ferro, também no Campo dos Alemães. Numa casa simples a polícia encontrou o portão aberto e entrou para interceptar o acusado. Ele estava dormindo. O pai logo pergunta sobre o motivo da “invasão”. “É pensão, deixa eu ver o mandado”. Bruno*, 25 anos, não pagava pensão alimentícia ao seu filho desde junho de 2007. A dívida já ultrapassava R$ 9.000. “De quem é a denúncia”, perguntou uma mulher que se identificou como irmã de Bruno. “Eles já se entenderam e estão casados outra vez, vou ligar para a esposa dele ir ao Fórum retirar o processo”, concluiu. Os policiais concordaram com a decisão e conduziram Bruno para viatura do Garra que o levou até a DIG. O último mandado do dia determinava a prisão de um estelionatário. Ele foi preso em 2001 e respondia pelo artigo 171 em regime semiaberto. Numa de suas saídas da penitenciária, nunca mais retornou aos presídio. A tentativa de prendê-lo foi em vão, já que ninguém estava na residência. Uma das conclusões da polícia é que provavelmente ele já não morava mais naquela casa, uma vez que a condenação saiu dez anos depois do crime e nome e número da rua ainda eram daquela época. “Um estelionatário jamais vai ficar em um endereço fixo, muito menos por dez anos”, explicou Amauri. Na cela da DIG, depois que todas as equi-
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CELA Suspeitos presos na operação policial são levados para a carceragem da Delegacia de Investigações Gerais
pes retornaram das ruas, seis presos representavam o resultado da operação. Lá dentro estavam traficantes, pais que não pagaram pensão alimentícia, receptadores e assaltantes. Todos aguardando os procedimentos legais para serem encaminhados a delegacias e presídios da região. “Tinha esperança de ter mais gente hoje, assim como foi na última semana, mas infelizmente encontramos alguns problemas. É assim mesmo, partirmos com a intenção de cumprir todos os mandados, mas não deu. Agora os que não conseguimos êxito vão para arquivo até que novas informações sejam levantadas sobre os casos que nos leve ao paradeiro dessas pessoas”.
FICHADO Policial civil recolhe impressão digital de foragido capturado na operação
Novas diretrizes A Divisão de Capturas do Dird (Departamento de Identificação e Registros Diversos) da Polícia Civil do Estado está desde o dia 1º de fevereiro sob o comando do delegado Waldomiro Pompiani Milanesi, que anteriormente estava na assessoria do gabinete do secretário da Segurança Pú-
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blica. Apesar de expressivo o número de foragidos de São José, o delegado exalta o trabalho realizado pela polícia da cidade e reconhece que os números estaduais precisam melhorar. A meta para os próximos meses é investir na informatização para facilitar o trabalho policial, pesquisando maiores dados no sistema de inteligência priorizando identificar a natureza do crime para saber sua gravidade e a possibilidade de fazer a prisão na região de São Paulo. “Vamos implementar novas diretrizes nesse trabalho tendo em vista o grande número de mandados a serem cumpridos. Não acho que faltam ferramentas e recursos humanos para isso”, disse Milanesi. A prioridade do delegado é encontrar foragidos reincidentes, que cometeram o mesmo ou outros tipos de crimes mais de uma vez. “Não é que vejo diferença entre um mandado e outro. A partir do momento que o juiz faz a expedição ela se torna nossa prioridade, mas vamos tentar priorizar os crimes que consideramos mais graves em nossos arquivos. É
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BUSCA Policiais pulam muro de casa na tentativa de localizar foragido em São José
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importante ressaltar que crimes, como pensão alimentícia, também terão seus mandados cumpridos. Tenho certeza que daremos conta de todos”, afirmou. O Ministério da Justiça, o Poder Judiciário e o Ministério Público Federal assinaram em dezembro do ano passado um termo de cooperação para acelerar cerca de 90 mil inquéritos inconclusos nas delegacias de todo o país desde 2007, priorizando casos de homicídios. A medida visa acelerar o processo de implantação do Cadastro Nacional de Mandados de Prisão e Alvarás de Soltura, previsto na Estratégia Nacional de Segurança Pública. A unificação do cadastro de pessoas procuradas, segundo o governo, vai facilitar a integração das buscas policiais, uma vez que todos os setores de segurança e alguns serviços públicos terão acesso ao sistema. Outra meta da ENAP é incrementar ainda esse ano a construção de Núcleos de Custódia nos Estados para esvaziar as carceragens nas delegacias saturadas de detentos. •
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SaĂşde
GESTANTES
Nascer sem pressa
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Encontrar obstetras dispostos em encarar as longas horas do trabalho de parto não é fácil no Vale do Paraíba; índice de cesarianas na região chega a 49%, acima da média nacional de 35%
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Letícia Maciel São José dos Campos
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e tempo é dinheiro, nascer sem hora marcada nos dias de hoje é um grande privilégio. Mas a pequena Flora Liz, de apenas quatro meses de idade, teve essa sorte graças à determinação e à coragem de seus pais, Marcela Veiga e Fábio Diniz. Quando souberam da gravidez, eles confiaram o pré-natal a um médico tradicionalista, certos de que o bebê nasceria de forma natural quando estivesse maduro e preparado para vir ao mundo. Porém, no oitavo mês de gestação, tiveram a notícia de que a indicação era de cesariana e acabaram decidindo fazer o parto arriscado em casa, em São José dos Campos, com a ajuda de uma doula (parteira) e uma enfermeira obstetra. Conta Marcela que, desde o início, o médico se comprometeu a fazer o parto normal. No entanto, faltando um mês para Flora nascer, ele indicou uma cesariana por perda drástica de líquido amniótico. “Fiquei decepcionada. Eu queria ser a protagonista do nascimento do meu filho. Chamei o Fábio, voltamos ao consultório, e o médico frisou que, se não fizéssemos cesariana, estaríamos colocando em risco a vida do bebê. Quando Flora nasceu, vimos que a bolsa ainda tinha bastante líquido”, lembra Marcela. O que aconteceu no consultório médico com Marcela e Fábio vem se repetindo com inúmeros casais. A busca por obstetras dispostos a encarar um trabalho de parto tem sido missão penosa, não só nas cidades do Vale do Paraíba, mas em todo o Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, 35% dos partos da rede pública são cesarianos, o que representa 80% dos nascimentos em todo o país. Na região, a média é de 49%, enquanto o preconizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) é de, no máximo, 15%. Em 2009, São José realizou 39% de cesarianas, Jacareí, 42%, Taubaté, 33% e Lorena, 83%. Nos hospitais privados brasileiros, 84% dos nascimentos são feitos com hora marcada, ou seja, com intervenções cirúrgicas. Este cenário se repete nas maternidades particulares de São José e demais cidades do Vale. Para se ter uma ideia, o Hospital São José realizou 938 partos em 2010, dos quais apenas 168 normais (17%). É consenso entre as gestantes, e profissionais da área também admitem, que isto vem acon-
tecendo porque os médicos de convênios estão sobrecarregados e desmotivados pela baixa remuneração. Os profissionais de consultórios particulares andam com a agenda tão lotada que as pacientes não sentem segurança de que serão atendidas no dia do parto. O médico Cesar Damasceno, obstetra com 25 anos de experiência e que atende em Jacareí, concorda que o relógio tem pressionado e que muitos profissionais hoje só aceitam fazer cesarianas. “Quando o médico marca o horário do parto, não precisa cancelar compromissos com a família, viagens, e nem a agenda do consultório”, explica. A maioria dos convênios paga entre R$ 280 e R$ 350 por parto, podendo chegar a R$ 640 em alguns casos, independentemente das horas de trabalho de parto. Algumas empresas adotaram uma política de incentivo, pagando um pouco mais pelo parto normal, mas a diferença ainda é irrisória. O trabalho de parto pode durar até 18 horas. “Muitos colegas optam pela cesariana por terem mais experiência com esta prática. Um bom parto normal é melhor do que qualquer cesariana. Porém, se não for para ser um bom parto normal, é melhor fazer cesariana”, pondera Damasceno. Para a freira Denise Alves de Freitas, 35 anos, dez deles exercendo a profissão de enfermeira obstetra no Hospital Antoninho da Rocha Marmo, em São José, o problema também está na falta de conscientização das próprias gestantes, que chegam à maternidade com medo e sem paciência de esperar o bebê nascer sozinho. “Muitas pacientes chegam aqui querendo cesariana, por não terem esclarecimento suficiente sobre as vantagens do parto normal. Elas não sabem que há mais casos em que os recém-nascidos vão para a UTI após cesarianas do que após partos normais”, afirma Denise. “A maioria dos obstetras alega que, financeiramente, não compensa assumir paciente para parto normal porque tem de abandonar o consultório. Se for de madrugada ainda dá, mas durante o dia, não é rentável para eles. E com essa história de fazer só cesárea, muitos perderam a prática do parto normal”, continua a enfermeira obstetra. Com a falta de tempo dos médicos, as freiras que trabalham no Antoninho iniciaram em janeiro deste ano um programa com doulas voluntárias e quatro enfermeiras obstetras que fazem sozinhas os partos normais de baixo risco. “O médico fica no hospital e, somente se precisar, as enfermeiras o chamam. A vantagem da enfermeira obstetra é que ela fica
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do lado da parturiente o tempo todo, o que o médico não faz. Ela motiva, dá opções não medicamentosas, mas quem se responsabiliza e decide mesmo o tipo de parto é o médico, caso aconteça algo inesperado”, conta a enfermeira. A maternidade do Antoninho ainda está com índice de 40% de cesarianas por ano, mas se esforça para reverter o quadro. A maternidade está sendo reformada, mas precisa de verba para montar a infraestrutura adequada para partos humanizados. Enquanto isso, as enfermeiras obstetras ajudam as candidatas a partos normais a fazer exercícios com bola, tomar banho e caminhar. Elas oferecem alimentos leves e incentiva o acompanhante a ficar no quarto para fazer massagem, acalmar a parturiente, ajudando-a assim a tolerar melhor a dor e a acelerar o parto. De fato, há fatores que podem contraindicar o parto normal, como falta de dilatação do colo do útero, idade da parturiente (no caso do primeiro filho) e algumas doenças como herpes e tumores genitais. Por outro lado, a cesariana implica em riscos maiores para a mãe e para o bebê: o recém-nascido pode não expelir o líquido amniótico que pode engolir no útero, e a mãe terá recuperação pós-parto mais lenta. Partos domiciliares Cientes destes riscos, muitos casais estão buscando, como alternativa, enfermeiras obstetras defensoras do parto humanizado e doulas (palavra originada do grego que quer dizer ‘mulher que serve’). É o caso de Priscila Liske e Francisco Filho, que estão a um mês de receber Cássio. Sem confiança na paciência dos médicos, eles estão se preparando para ter o primeiro filho em casa e, se necessário na hora, correr para o hospital São Francisco de Jacareí. “Estou fazendo o pré-natal com um médico obstetra, mas faço exercícios com uma doula para conseguir ter um parto tranquilo, sem intervenções cirúrgicas. Estamos planejando ter o bebê num ambiente nosso, primeiro porque tenho medo que os médicos não queiram esperar o tempo do meu bebê e, depois, porque não gosto de hospitais”, confessa Priscila. Desde o quarto mês de gestação, ela é preparada pela doula Flávia Penido, que teve seu terceiro e último filho em um parto domiciliar, e Kátia Zeny, enfermeira obstetra há mais de 10 anos. “Apesar de muitos médicos afirmarem que faz o parto normal, a maioria acaba assustando as gestantes durante o pré-natal. Muitas vezes, por motivos pessoais, alegam que o feto está grande demais, que o cordão está em volta
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PARTO NORMAL À dir., doulas fazem massagem em gestantes para estimular as contrações; abaixo, Tatiane Batista, 23 anos, com o filho Carlos Eduardo, nascido no dia 22 de fevereiro, no Hospital Antoninho da Rocha Marmo, em São José
ÍNDICE REGIONAL DE CESARIANAS PELO SUS São José dos Campos: ........... 39% Jacareí: ................................... 42% Taubaté: ................................. 33% Pindamonhangaba: ............... 62% Guaratinguetá: ...................... 67% Lorena: .................................. 83% Média nacional: .................... 35% Fonte: Ministério da Saúde/2009
do pescoço ou que não está bem posicionado para um parto natural”, diz Flávia, que coordena com Kátia um grupo de apoio a gestantes chamado “Bebê du bem”, em São José. A cada 15 dias, elas organizam uma roda de conversa gratuita com casais e explicam a importância e os benefícios do parto normal, expondo os riscos e as consequências das intervenções cirúrgicas. A iniciativa tem colhido frutos. Nas últimas reuniões, a média de participantes foi de 15 pessoas. Os casais que já tiveram filhos dão depoimentos emocionantes e encorajadores sobre o trabalho de parto, reforçando a importância do
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respeito à natureza humana e a capacidade de cada mulher de parir o filho sem as aparelhagens de uma sala de cirurgia e as intervenções do médico. O bebê também tem seu trabalho a fazer na hora do parto, portanto precisa da confiança dos pais. É preciso saber esperá-lo. “As mulheres que querem ter filho em casa têm de estar decididas, porque é trabalhoso, demora, mas também é muito recompensador”, diz Luciana, que teve o bebê em casa, ao lado do marido e da filha de quatro anos. Por mais de 18 horas, ela teve a assistência da doula, de enfermeiras obstetras e de duas amigas do grupo e apoio. Antes do parto, é importante fazer o curso com a doula, para se preparar física e psicologicamente. “Partos domiciliares podem ser muito arriscados porque há situações de emergência em que a parturiente pode morrer ou não conseguir salvar a vida do bebê”, adverte o médico Cesar Damasceno. “Dá pra acontecer? Dá, mas o parto em casa pode ter consequências danosas e irreparáveis. Eu não recomendo, pois não devemos correr mais riscos do que a gente já corre em ambiente hospitalar”, alerta o obstetra. Parto Humanizado No Vale do Paraíba, somente a Maternidade do Hospital São Francisco, em Jacareí, tem um quarto adequado para partos humanizados, com espaço para os exercícios que a gestante precisa fazer durante as contrações. Na chamada sala PPP (pré-parto, parto e puer-
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O QUE DIZEM SOBRE Parto humanizado Vantagens Bebê nasce mais saudável Não precisa de anestesia Não há necessidade de corte Prepara o pulmão do bebê Rápida recuperação da mãe Baixos riscos de hemorragia e infecção
Desvantagens Bebê pode ter dificuldades para passar pela bacia A mulher sente dores durante as contrações Pode haver epísio (corte para a passagem do bebê) O médico pode usar o fórceps
Cesariana Vantagens Mulher não sente dor na hora do parto
Desvantagens Risco cirúrgico Recuperação lenta e dolorida Bebê pode nascer prematuro Riscos de reações adversas à anestesia Riscos maiores de infecções e hemorragias Pode trazer riscos para gestações posteriores
pério), o casal pode entrar com as parteiras. Inaugurado em 2003, o centro de parto humanizado do São Francisco tem cinco suítes e as gestantes são recebidas por uma equipe especializada. Na sala de parto, a gestante é acompanhada na evolução. Se houver alguma indicação de cesárea, ela é transferida para o centro cirúrgico, que fica no corredor ao lado, com acesso fácil em casos de emergência. Na hora do parto, a sala se transforma. A cama comum vira uma cama apropriada para o parto e o nascimento acontece ali mesmo. Ao lado da cama, fica um berço aquecido para o bebê receber os cuidados do pediatra ao lado dos pais. O contato da mãe com o bebê na primeira meia hora de vida é fundamental para o vínculo entre os dois e facilita o aleitamento. No litoral, o Hospital Mário Covas, em Ilhabela, também tem uma PPP com dois quartos para atender gestantes do SUS (Sistema Único de Saúde). Como o município é pequeno, o número de partos é reduzido e a maternidade tem o recorde da região, com menos de 30% de cesarianas por ano. As enfermeiras obstetras fazem os partos e o bebê fica 24 horas do lado da mãe. Se durante o parto houver algum problema, o médico é chamado pelo celular e consegue chegar a tempo na maternidade. Em Caraguatatuba, o Hospital Stella Maris inaugurou há seis meses uma PPP e as freiras responsáveis estão também incentivando o parto humanizado. Para Daphne Rattner, presidente da ONG (Organização Não-Governamental) Rehuna, rede de pessoas e instituições que luta pela rehumanização do nascimento, a solução para o excesso de cesarianas é complexa porque muitas mulheres carregam traumas familiares e experiências negativas dos partos normais que tiveram pelo SUS. As mulheres precisam buscar informações e ter consciência da importância e dos benefícios do parto normal. “Os profissionais precisam rever suas condutas, respeitando as indicações dos livros e trabalhando em equipe com pediatras, psicólogos, enfermeiras obstetras e gestantes”, sugere Daphne. Por último, as instalações hospitalares devem estar dentro das normas da RDC 36 (Resolução da Diretoria Colegiada), publicada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Toda maternidade reformada a partir de 2008 deve ter uma sala PPP. “No momento do parto, o importante é prezar pelo bem-estar da mãe e do bebê, não pela conveniência da família ou dos obstetras, que querem que o filho nasça na data do aniversário da avó ou porque têm compromissos pessoais”, resume. •
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Vale, Brasil & o Mundo
Frases
FUTEBOL
“Ao me comparar ao Ronaldo, que é um fenômeno, também, fico muito feliz”
Ronaldo revela hipotireoidismo ao anunciar sua aposentadoria
Do presidente do Senado, José Sarney (PMDB), sobre o comentário no Twitter que questionava quando o político iria “aposentar as chuteiras”
“Acho que, se soubesse que seria presidente, teria começado a tingir o cabelo anos atrás. Agora é tarde demais“ De Michelle Obama, primeira-dama dos EUA, negando rumores de que Barach Obama pinta o cabelo
“Tenho vergonha desta devassidão. Tenho vergonha por nós e pelo país” De Mikhail Gorbatchev, sobre o que chamou de Rússia de elites “depravadas”, onde a vida política se resume a uma “imitação” Eleito três vezes o melhor jogador do mundo, Ronaldo, 34 anos, confirmou a aposentadoria em coletiva à imprensa. O anúncio ocorreu na tarde do dia 14 de fevereiro, no Centro de Treinamento do Corinthians, entre os filhos Ronald e Alex, e o presidente corintiano, Andres Sanchez. “Antecipo o fim da minha carreira por alguns motivos importantes. Todos sabem do meu histórico de lesões, tenho tido nos últimos dois anos uma sequência muito grande de lesões que vão de uma perna para a outra, de um músculo para outro. Estas dores me fizeram antecipar o fim da minha carreira”, disse, lembrando que ele tinha um contrato com o Corinthians até o final deste ano. “Há quatro anos, no Milan, descobri que tinha um distúrbio, que se chama hipotireoidismo, que desacelera o seu metabolismo e que para controlar eu tenho que tomar hormônios no qual não é permitido. Mas não guardo mágoa com quem fez chacotas com meu peso”, disse. Depois de cinco minutos falando sozinho, Ronaldo não se conteve e chorou. Agradeceu a patrocinadores, familiares, e a torcida do Corinthians. O agora ex-atacante disse que vai investir o seu tempo profissional na agência de marketing e que pensa em criar uma fundação. “Vou me dedicar a minha agência”, afirmou o jogador. “Mas não sei o que vai ser daqui para a frente. Mas, enfim, deu a hora”, completou.
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ORIENTE MÉDIO
FARMÁCIA POPULAR
Egito: liberdade após 30 anos de ditadura Murabak
Hipertensos vão ganhar remédios
Após 18 dias de protestos, mortes e confrontos, o ditador egípcio Hosni Murabak pediu no mês passado a renúncia do cargo. O anúncio foi celebrado pela população, que compareceu em peso na praça Tahrir, no Cairo, principal palco das manifestações. Fogos de artifício e buzinaços foram ouvidos por toda a cidade 18 milhões de habitantes que entrou em festa. Mubarak era considerado um dos mais poderosos chefes de Estado do Oriente Médio e estava no poder desde 1981. Durante os conflitos, 365 pessoas morreram e milhares ficaram feridas.
O programa Farmácia Popular, do governo federal, começou a distribuir gratuitamente 11 medicamentos para hipertensão e diabetes em todo o Brasil. Qualquer pessoa pode retirálos em uma farmácia conveniada, desde que tenha receita médica. Também é necessário apresentar um documento de identidade com foto e o CPF. Os pacientes que não puderem sair de casa e ir pessoalmente buscar os medicamentos podem fazer uma procuração para outra pessoa realizar o processo. O prazo de validade da receita, antes de 180 dias, agora foi reduzido para 120 .
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CÂNCER RARO
HERANÇA
Jovem planeja o próprio funeral
Justiça declara Suzane indigna
Uma adolescente britânica está planejando seu próprio funeral e o que pretende fazer nos últimos meses de vida, depois que descobriu que não há mais tratamento para o câncer nos ossos. Donna Shaw, 17 anos, foi diagnosticada em fevereiro de 2010 com Sarcoma de Ewing, uma forma rara de tumor ósseo maligno. A mãe de Donna, Nikki Parker, 45 anos, disse que a filha é uma “inspiração” a todos a seu redor. “Ela escolheu tudo: as músicas, ela tem um vídeo dela que ela quer que seja exibido no funeral e as cores das flores”, disse Nikki, que pediu demissão de seu trabalho em um restaurante para cuidar da filha. Donna ainda planeja ver um show do grupo Westlife neste mês e dos skatistas Torvill e Dean em abril, se estiver bem o suficiente. Segundo ela, planejar o funeral lhe dá forças, mas ainda assim quando vai dormir, fica assustada. “Não tenho medo de morrer. Tenho medo de deixar minha família. É duro não saber quando [vou morrer], mas eu sou uma lutadora”, disse.
Denise deixa cargo de presidente da GM A norte-americana Denise Johnson, 43 anos, deixou o cargo de presidente da General Motors do Brasil. Com 21 anos de atuação na GM, ela havia assumido o posto em julho de 2010. Segundo comunicado assinado pelo presidente da GM América do Sul, Jaime Ardila, que assumirá o cargo interinamente, Denise “decidiu deixar a empresa em busca de novas oportunidades de carreira”. Ele acrescentou que os motivos da saída da executiva, a primeira mulher a ocupar o cargo, são “de ordem pessoal”.
A Justiça de São Paulo declarou Suzane von Richthofen, condenada pelo assassinato dos pais, indigna de receber a herança da família. A exclusão da herança, apontada como o principal motivo para o crime, atendeu ação movida pelo irmão dela, Andreas. Ainda cabe recurso. O crime ocorreu em 31 de outubro de 2002. Suzane e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos estão presos em Tremembé. MINISTÉRIO DA SAÚDE
GOVERNO DO ESTADO
Região está no guia de subsedes da Copa 2014 São José dos Campos, Guaratinguetá, Caraguatatuba e Campos do Jordão foram incluídas no guia das 37 cidades paulistas selecionadas pelo governo do Estado para disputar as subsedes da Copa de 2014. A publicação, denominada “Cidade-Base: O Potencial do Estado de São Paulo para sediar os Centros de Treinamento das Seleções para a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014”, tem o objetivo de organizar as informações técnicas da oferta de infraestrutura esportiva e hoteleira de São Paulo em formato de catálogo, para facilitar a consulta dos potenciais interessados. O guia traz 64 sugestões de Centros de Treinamento e 50 opções de hotéis. De acordo com as regras da Fifa, cabe às próprias seleções a escolha dos seus centros base de treinamento ao final de um processo de apresentação de todas as opções às delegações do campeonato. O Comitê Paulista para a Copa de 2014 está sob a coordenação do secretário de Planejamento e Desenvolvimento Regional, Emanuel Fernandes, ex-prefeito de São José.
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Vale está no plano contra a dengue
O governo federal incluiu São José, Taubaté e São Sebastião no plano de emergência contra a dengue. Com isso, as três cidades da região serão monitoradas por agentes do Ministério da Saúde e técnicos do governo para criar programas de prevenção à doença. No mapa de risco da doença, Taubaté e São Sebastião são considerados municípios em situação de alerta porque ovos do mosquito transmissor foram encontrados em mais de 1% das casas mapeadas. Já São José é vista como prioritária no combate a doença por conta da densidade demográfica.
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Fotos: divulgação
LIBERDADE
Cyber censura A internet se tornou uma ferramenta infinitamente mais poderosa que as armas de guerra, ameaça regimes autoritários e violentos e virou tão perigosa para ditadores que em alguns locais do mundo a população nem sabe que a rede existe
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Yann Walter São José dos Campos
levante popular que culminou com a queda do presidente egípcio, Hosni Mubarak, no mês passado, confirmou uma realidade já percebida antes na Tunísia, no Irã e em diversas outras nações do mundo: a internet se tornou uma ferramenta infinitamente mais poderosa que as armas de guerra convencionais. Sua penetração cada vez maior na sociedade e sua capacidade de mobilizar rapidamente as massas
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representam uma ameaça constante a todos os ditadores do planeta. Ao mesmo tempo em que derruba governantes autoritários, a rede cria ícones populares que servem de inspiração para outras revoluções mundo afora, como a jovem iraniana Neda Agha Soltan, morta com um tiro na cabeça durante um protesto contra a conturbada reeleição do presidente Mahmud Ahmadinejad em junho de 2009. Cabe frisar também que um dos símbolos do levante no Egito foi Wael Ghonim, um jovem executivo da Google que denunciou com fotos e vídeos em sua página Facebook a morte de um empresário espancado brutalmente pela polícia em junho de 2010. A denúncia de Ghonim foi o estopim
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OS 12 PAÍSES Estes são os inimigos da internet, mas outras nações também vigiam as relações na rede mundial
da revolta egípcia. Uma revolta de 18 dias, que acabou com um reinado de 30 anos. Assim como ocorreu na Tunísia, que também se livrou este ano de um ditador que monopolizava o poder há mais de duas décadas, a internet acelerou o desfecho do processo de transição no Egito. Nos dois casos, as redes sociais foram ferramentas fundamentais para a popularização do levante. Os manifestantes tiraram fotos com seus celulares e as jogaram no Facebook, comentaram os acontecimentos em tempo real através do Twitter e postaram depoimentos e relatos em blogs, contribuindo para a rápida mobilização de seus compatriotas e da imprensa internacional. Hoje, a Líbia está seguindo o mesmo caminho.
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É justamente para evitar esta situação que governantes autoritários recorrem à censura total ou parcial da rede. A organização de defesa da liberdade da imprensa RSF (Repórteres Sem Fronteiras) publica a cada ano uma lista de ‘inimigos da internet’ que reúne pouco menos de quinze nações, quase sempre as mesmas. A lista de 2010 inclui 12 países, sendo cinco do mundo árabe (Arábia Saudita, Irã, Síria, Tunísia e Egito), seis do continente asiático (China, Coreia do Norte, Mianmar, Vietnã, Uzbequistão e Turcomenistão) e um da América Central (Cuba). A RSF ainda publicou uma lista de ‘países sob vigilância’ que inclui, entre outros, a Turquia, a Rússia e - o que é mais surpreendente - a Austrália e a Coreia do Sul.
Convém separar estes países em categorias distintas. Afinal, a situação na China, na Arábia Saudita, na Tunísia, no Egito e até no Irã é muito diferente da observada em Mianmar e, mais ainda, na Coreia do Norte, onde a esmagadora maioria da população sequer está ciente da existência da internet. As redes sociais estão conquistando cada vez mais adeptos nos países árabes. A blogosfera se desenvolveu de forma excepcional nos últimos anos no Egito, país onde a internet tem uma das taxas de penetração mais elevadas do continente africano. Cuba também conta com um forte contingente de blogueiros, como Yoani Sanchez, animadora do blog “Generacion Y”, recentemente retirado da lista de sites censu-
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Mundo
CHINA O Google fechou suas portas no país que proíbe o uso de palavras como ‘democracia’ em sites de busca; na China existem versões ‘autorizadas’ de YouTube, Facebook e Twitter
rados para os habitantes da ilha. Palavras proibidas Campeões da censura cibernética, a China e o Irã ostentam as taxas de penetração da internet mais elevadas destes 12 países listados pela RSF. A China é, aliás, a nação que tem o maior número de internautas do planeta: 420 milhões, para uma população total de 1,3 bilhão de pessoas. Em contrapartida, as autoridades chinesas contam com o sistema de controle mais sofisticado do mundo. Na China, a censura é institucionalizada. No entanto, muitos chineses sequer sabem que ela existe. “Sites como Facebook, Twitter, Blogspot ou YouTube são bloqueados, mas todos eles têm uma versão chinesa”, ou seja, que passou pelo crivo das autoridades, disse Mariana Lima (nome fictício), uma jornalista brasileira de 34 anos que trabalha na Rádio Internacional da China, um órgão do governo chinês, e por isso preferiu não se identificar. De acordo com a RSF, os censores bloqueiam dezenas de milhares de sites combinando filtragem de URLs e censura por palavras e expressões chaves, como “Praça
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da Paz Celestial” (palco do famoso massacre de estudantes pelo exército em 1989), “Dalai Lama”, “democracia”, “direitos humanos” ou, mais recentemente “Egito”. “Para temas considerados sensíveis, o governo quer que a população tenha acesso apenas à versão oficial. Mas esse tipo de censura por palavras só funciona em chinês e em inglês. Já tentei em português, e deu certo”, revelou a jornalista, que mora há dois anos em Pequim com o namorado, o também brasileiro Daniel Ribeiro (nome fictício), um designer de 39 anos. O maior desafio das autoridades chinesas é facilitar o desenvolvimento da internet - indispensável para o crescimento econômico – mantendo um controle absoluto sobre seu conteúdo, para evitar a disseminação de informações consideradas subversivas. Assim como o resto da imprensa chinesa, os principais sites de informação do país recebem diariamente diretrizes do Departamento de Propaganda sobre os temas que podem ser tratados e os assuntos proibidos. A censura é intensificada em vésperas de datas importantes. Foi o caso em junho de 2009, no dia anterior à comemoração do vigésimo aniver-
sário do massacre da Praça da Paz Celestial. A censura é ainda mais forte nas províncias consideradas rebeldes pelo poder central, como o Tibete e o Xinjiang. Dezenas de tibetanos e de uigures (minoria étnica muçulmana chinesa) foram condenados à prisão perpétua por publicarem depoimentos sobre violências cometidas pelas forças de segurança ou simplesmente informações não autorizadas pelo Partido Comunista. O controle da rede é cada vez mais hermético: com cerca de 40 mil membros, a polícia cibernética chinesa é a maior do mundo. Um dado resume bem a situação: na China, o número de usuários do Facebook – em alta em quase todo o resto do mundo – passou de um milhão a 14 mil entre julho e dezembro de 2009. Apesar de todo este aparato de repressão cibernética, muitos chineses conseguem burlar a censura usando proxies e VPNs (Virtual Private Networks) para acessar os conteúdos proibidos. Daniel Ribeiro é um deles. “Um proxy é um servidor que redireciona sua busca para outra máquina, possivelmente localizada em outro país. Eu tinha uma lista com centenas deles. Quando os censores bloqueavam um, eu testava outro, até conseguir um livre. Também existem programas que redirecionam seu IP para outro servidor. Basta instalar no computador. O problema é que os gratuitos são muito lentos”, explicou. “No caso do VPN, você usa um túnel de informação que liga seu computador diretamente a um servidor em outro lugar. Com o VPN, você até consegue ter um IP fixo”, acrescentou. Apesar da ‘net-repressão’ em vigor na China, Daniel afirmou que não teme acessar conteúdos censurados de seu computador pessoal. “Não estou fazendo nada ilegal. Não existe uma lei que proíbe acessar um determinado site na internet. Somente a pornografia é realmente ilícita. O governo simplesmente usa artifícios para nos impedir de ter acesso a alguns conteúdos, e nós usamos outros artifícios para driblar os deles”, resumiu. Censura assumida Na maioria dos países árabes, a censura da internet não atinge o grau de sofisticação registrado na China. Mas alguns têm sistemas de filtragem particularmente rígidos. É o caso do Irã, mas também da Arábia Saudita, que censura com mão-de-ferro todos os conteúdos pornográficos ou considerados como tais, assim como os sites que falam de religião e direitos humanos e os que reproduzem posições da oposição ao regime. Ao contrário da maioria dos países inimigos
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da internet, que praticam uma censura disfarçada, a Arábia Saudita assume completamente suas atividades de controle, e reivindica o bloqueio de cerca de 400 mil sites. Com um salário mensal médio por habitante superior a US$ 20 mil, a monarquia petroleira é, de muito longe, o país mais rico da lista publicada pela RSF. Apesar de também constar nesta lista, a Síria - um país onde o número de internautas registrou um crescimento excepcional na última década – deu recentemente sinais de abertura: no mês passado, as autoridades liberaram o acesso aos sites Facebook e YouTube pela primeira vez desde 2007. Os casos da Coreia do Norte e do Mianmar são bem diferentes. Os dois países têm provavelmente as taxas de penetração da internet mais baixas do mundo. Em Mianmar (ex-Birmânia), um país sob tutela militar, a simples posse de um modem é passível de 15 anos de detenção. A legislação birmanesa sobre a internet, adotada em 1996, é uma das mais rígidas do planeta. Na Coreia do Norte, a internet é reservada a uma ínfima minoria de pessoas, entre diplomatas estrangeiros e membros do alto escalão do regime comunista. Para o resto da população norte-coreana, mais preocupada com questões básicas de sobrevivência, o mundo virtual não passa de um rumor. Em seu relatório de 2010, a RSF citou a Austrália entre os países a vigiar, devido à decisão tomada pelas autoridades do país de instalar um sistema de filtragem de magnitude sem precedentes no mundo ocidental, sob a alegação de combater a pornografia infantil. No entanto, o site Wikileaks revelou que a lista de itens censurados inclui também links do YouTube e páginas do Wikipédia com conteúdo considerado sensível, como por exemplo informações sobre os aborígenes, assim como sites de jogos online e outros que defendem o aborto, a eutanásia e a legalização da maconha. O projeto australiano, cuja aplicação foi adiada no ano passado, já foi criticado por vários sites norte-americanos, como Google e Yahoo. O Brasil não aparece no relatório da RSF. Contudo, o CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas), divulgou no mês passado um dado preocupante: nos seis primeiros meses de 2010 – ou seja, em plena campanha eleitoral, o Google foi obrigado pelas autoridades brasileiras a retirar 368 textos jornalísticos do ar. Assim, o Brasil bateu o recorde mundial de notícias censuradas na maior ferramenta de busca do planeta durante o período, superando a Líbia, vice-líder deste ranking. •
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EGITO Wael Ghonim: a denúncia de Ghonim, feita no Facebook, foi o estopim da revolta egípcia
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Ensaio fotográfico
Denise Alba fotógrafa
Lentes criativas Fotógrafa, joseense e autoretratista, que transita entre o pop, o trash e o lúdico. Usa a câmera fotográfica para registrar o universo que ela mesmo inventa e mistura imagens reais com cenários e elementos criados digitalmente. Neste ensaio, conheça o fabuloso mundo de Denise Alba.
TRASH “Excesso, transgressão. Chega a ser cômico, infantil, porém libertador”
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Ensaio
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ON THE ROAD “Eu gostaria de ser por uns dois meses o Sal Paradise do livro escrito por Jack Kerouac”
PÁSSAROS “Quando tinha 10 anos li uma entrevista do Hitchcock que dizia que o cinema era a vávula de escape de todos os seus medos, e citou alguns. Fiquei fã dele”
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MÚSICA “Na minha opinião é a ilusão de tudo, o melhor de todos ópios”
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Ensaio
MULHER “De maldita à presidente, de prostituta à mãe, sempre complexo”
LUA “Era para ser a capa de um disco hippie, ensolarado. Mas acabou virando noite”
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EXPRESSIONISMO “Conheci melhor a obra do diretor Tim Burton depois dessa arte”
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Coisa & Taltigo
Marco Antonio Vitti
Você sabe se sente amor ou apego? Qual a diferença?
O
que difere o amor do apego? Pergunta difícil de responder, uma vez que o apego atualmente rege a maior parte dos relacionamentos humanos com outros humanos e também com seus objetos de estimação, fazendo com que as pessoas apegadas pensem que é amor, mas, na realidade, é apego.
AMOR X APEGO “O apego é o amor que você sente quando tem medo de ser aniquilado”
E o que é o amor? Desculpem-me, mas não sei o que é o amor, pois o apego é racional, mas o amor não é; portanto é indefinível, a não ser poeticamente. Como disse Eric Segall em seu livro ‘Love Story’, que se transformou num filme lacrimejante: “Amar! É jamais ter de pedir perdão!” No entanto, como viver com alguém que você ama e não errar e ter de pedir perdão. Perdão para mim é uma grande perda, por isso, é perdão. Se a gente não pedir perdão, sofreremos uma enorme perda, por isso, chamo de perdão. Já o apego é o amor que você sente quando tem medo de ser aniquilado e, por isso, você se apega a coisas materiais, que infelizmente a maioria das pessoas identifica como sendo amor, mas não é. O apego, segundo John Bowlby, um psiquiatra que estudou a relação dos bebês com suas mães e escreveu um grande livro chamado “Apego”, é: “Naquele tempo, era amplamente aceito que o motivo pelo qual um bebê desenvolve forte laço com a mãe é o fato de que esta a alimenta. Dois tipos de impulsos são postulados, primário e secundário. O alimento é
tido como primário; a relação pessoal, referida como dependência, como secundário. Essa teoria não me parecia se adaptar aos fatos”. No entanto, na época que Bowlby estudava o comportamento dos bebês, ele entrou em contato com o trabalho de um grande etologista, que estudava o comportamento dos filhotes animais com o comportamento humano: Konrad Lorenz, que com seus colaboradores, Harlow e Robert Hinde, publicou suas teorias sobre imprinting, ou seja, impressões relevantes do estudo dos vínculos dos animais com os seres humanos. John Bowlby propôs que, assim como as espécies animais, os filhotes humanos seriam programados para exibirem comportamentos que eliciariam, isto é, chamariam a atenção, para serem cuidados e desta maneira se aproximariam cada vez mais do cuidador, no caso de uma maneira geral, a mãe. Bowlby com a ajuda da Etologia descartou a ideia do impulso primário, isto é, a alimentação como fonte do apego, substituindo-a pelo sentimento de segurança, que fornecia então ao filhote ou bebê, a função biológica de proteção. Definiu assim o comportamento de
apego: “Qualquer forma de comportamento que resulta em uma pessoa alcançar e manter proximidade com algum outro indivíduo mais apto para lidar com o mundo”. O comportamento de apego é o conjunto de condutas inatas exibidas pelo bebê, que Jung denominou de arquétipos, que permitem o funcionamento e a manutenção da proximidade com sua figura provedora de cuidados, a mãe, na maioria das vezes. É, então, o bebê configurado com artifícios ou habilidades como repertório comportamental de apego, como o choro, o contato visual, o sorriso, etc. Já o amor é o sentimento que todos sentimos e sempre desejamos sentir com uma pessoa que nos transmita esses mesmos sentimentos de confiança e segurança de nossa mãe primordial. E é aqui que começam os problemas nos relacionamentos amorosos. Quando confundimos apego com amor podemos ser: Seguro: quando a pessoa que amamos se afasta, quando ela volta a recebemos com uma alegria efusiva; Inseguro/Evitador: quando a pessoa que amamos se afasta, quando ela volta, a ignoramos, ficamos horas, dias, semanas, sem falar com ela; Inseguro/Resistente: quando ela volta, ficamos de cara feia, vários dias para provar que é por causa dela; Inseguro/Desorganizado: comportamos-nos como os dois anteriores. Continuarei esta história no próximo número. •
Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br
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Turismo Fotos: Marrey
• Big Ben
Júnior
• London Eye
Londres: nunca esteve tão barato visitar a capital inglesa Marrey Júnior Londres (Inglaterra)
L
ondres é famosa pelo Big Ben, pela rainha, pelos pubs, pela vida cosmopolita com gente de todas as partes do mundo e por ser uma das capitais europeias mais caras para fazer turismo. Mas essa última fama está virando lenda. Primeiro por causa da moeda, que se desvalorizou. Há cinco anos uma libra valia mais de R$
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6 e faz pouco mais de um ano que está abaixo dos R$ 3 –até no câmbio paralelo. Se a diferença cambial já é um incentivo, outra razão é que Londres oferece diversas atrações de graça –entre elas, visitas a parques, museus, igrejas e prédios históricos. Até onde tem que se desembolsar algum dinheiro, há maneiras de economizar. E levar um tênis bastante confortável na bagagem é uma das principais dicas para quem quer conhecer a cidade gastando pouco. Apesar de Londres ter 7,5 milhões de ha-
bitantes, os principais pontos turísticos não são distantes um dos outros. O passeio pode começar pelo Westminster, o parlamento, onde está o famoso Big Ben. O prédio é imponente. O relógio também impressiona pela beleza, com detalhes em dourado. É nesse local onde são tomadas as principais decisões do país. O parlamento é aberto à visitação aos sábados e durante o verão. Muitas vezes é até possível acompanhar uma sessão. A excursão dura 75 minutos e custa £14. Por causa dessa restrição de
horário, a grande maioria só vê o prédio do lado de fora e segue para as outras atrações que a cidade oferece. Westminster fica a poucos metros da London Eye. É só atravessar a ponte sobre o Rio Tâmisa. Esse é um dos trechos com a maior concentração de turistas, que disputam espaço para tirar fotos às margens do rio. De um lado, é possível ter a roda gigante ao fundo, do outro, o Big Ben é o cenário da fotografia. A London Eye tem 135 metros de altura. Uma volta completa demora cerca de 30 minutos.
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• Tower Bridge DESTAQUE
GUARDA REAL Cerimônia de troca da guarda em frente ao Palácio de Buckingham, a residência oficial da Rainha Elizabeth
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A velocidade é lenta, menos de um quilômetro por hora. Ideal para se ter uma visão panorâmica de Londres e de algumas cidades vizinhas. Essa é a atração paga de maior procura na cidade, custa £18,90, porém há descontos para quem compra ingressos para toda a família ou quem faz um pacote com outras atrações como o Madame Tussauds, museu com bonecos de cera de celebridades, e um passeio de barco pelo Rio Tâmisa. Só o visual debaixo da London Eye já vale a pena. A partir dela, com uns 10 minutos de agradá-
vel caminhada às margens do rio em direção leste, é possível chegar ao Tate Modern, um dos mais famosos museus de arte moderna do mundo, cuja entrada é de graça. São sete andares repletos de obras feitas a partir de 1900. Nomes mundialmente consagrados no universo das artes plásticas têm seus trabalhos expostos. Entre os artistas, é possível admirar quadros do americano Andy Warhol, as destorcidas imagens de Francis Bacon, dez obras de Pablo Picasso e do brasileiro Hélio Oiticica. Das
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sacadas do Tate Modern, há uma excelente vista da ponte do Millenium, do Rio Tâmisa e da Catedral de Saint Paul. Bem ao lado do museu, está o Shakespeare’s Globe Theatre, local dedicado ao mais famoso escritor da língua inglesa, William Shakeaspeare. O prédio é uma reconstrução de um teatro a céu aberto desenhado em 1599, onde são encenadas peças de Shakespeare como ele escreveu, em inglês arcaico. Por causa do frio, a maioria dos espetáculos ocorre durante o verão. Assistir a uma peça não sai tão caro –os ingressos custam, em média, £5 e é uma oportunidade mais em conta de entrar no teatro. Já o tour por essa arena custa um pouco mais que o dobro: £10,50. Seguindo pelo calçadão às margens do rio está o moderno prédio da prefeitura, City Hall. Em formato esférico, ele não tem frente nem fundo e foi projetado para ser ecologicamente correto. Nele foram instalados painéis solares para reduzir os gastos com energia elétrica. O sistema hidráulico também permite uma redução no consumo de água. A visitação é gratuita e sempre há exposições e atividades culturais abertas ao público. A área em frente à City Hall é excelente para tirar fotos da Tower Bridge, famoso cartão -postal de Londres. A ponte foi inaugurada em 1894 e é a mais imponente do rio Tâmisa por causa das suas torres. Atravessá-la faz parte do passeio e é caminho para conhecer outros pontos da cidade. Voltando, no sentido oeste, o primeiro local turístico é a Torre de Londres. Fundada em 1078, serviu como palácio da monarquia até o século 17. O prédio também foi a Casa da Moeda e local de execução e tortura. As joias da Coroa Britânica estão guardadas nesse prédio. A pouco mais de 15 minutos a pé nas ruas paralelas ao
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rio está a Saint Paul Cathedral, igreja onde se casaram o príncipe Charles e a princesa Diana. É um dos maiores templos da Inglaterra. Do chão à cúpula são 85 metros. A entrada para conhecê-la custa £12,50 para adultos. Mas um jeito de visitar a nave principal sem gastar nada é entrar nos horários de missa. É lógico que você não terá acesso a todas as atrações, mas dá para se ter uma ideia da grandiosidade dessa igreja. Pagando ou não, fotos e filmagens são proibidas. Em uma caminhada de pouco mais de meia hora a partir da Catedral é possível chegar a Trafalgar Square, famosa pelas suas fontes. Um bom mapa pode auxiliá-lo nesse percurso. Eles são distribuídos gratuitamente nos centros de informações turísticas. É na Trafalgar Square que está a National Gallery. As escadarias desse outro museu de arte oferecem a melhor vista da praça e também dá para ver o parlamento sob outro ângulo. A entrada nessa imensa galeria é de graça. São mais de 2.300 obras do século 13 até o século passado. Na coleção há quadros de Michelangelo, Van Gogh, Monet, Botticelli, Rembrandt, Picasso, entre outros famosos pintores. A partir da Trafalgar Square, o turista caminhar até o Palácio de Buckingham depois de atravessar o parque Saint James. Essa é a residência oficial da Rainha Elizabeth. O palácio é aberto ao público somente no verão. Mais de dois milhões de visitantes ao ano ficam em frente aos portões para ver a troca da guarda. Essa é a oportunidade para os turistas conhecerem aqueles militares que vestem a farda vermelha e preta e o famoso chapéu comprido feito de pele de urso. A cerimônia acontece todos os dias às 11h e dura o menos meia-hora.
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Turismo
KENSINGTON GARDEN PALÁCIO ONDE NASCEU A RAINHA VITÓRIA FOI MORADIA DA PRINCESA DIANA Ônibus Cansado de tanto andar, nada de táxi. O transporte coletivo é bastante eficiente. Tem metrô, trem, barco, mas os ônibus são uma alternativa para conhecer Londres sem gastar muito. A dica é comprar o bilhete do dia, que custa £3,80 e dá o direito de usar os ônibus quantas vezes quiser e em todas as zonas da cidade. Por si só, esse tipo de transporte já é uma atração turística por ter dois andares. Quem quiser vista privilegiada é só ficar no andar de
cima. Outra vantagem dos ônibus é que eles funcionam 24 horas. A desvantagem é que eles são mais lentos que o metrô e o trem, mas para quem está a passeio é um tempo a mais para apreciar a capital inglesa. Com os ônibus é possível ir às atrações turísticas mais distantes, como os parques, por exemplo. Todos com entrada gratuita. São mais de 3.000 em todo o município, sendo que oito pertencem à realeza. Entre eles, estão o Hyde Park e o
Kensigton Gardens, que são vizinhos e ficam na região central. Eles têm um lago em comum, com uma diversidade de patos, cisnes e gansos. Uma das principais atrações do Kensington Gardens é o palácio onde morou a princesa Diana, mesmo local em que nasceu a rainha Vitória. A primeira vez que ele foi usado pela monarquia foi em 1689. O Kensington Gardens também é ideal para quem tem crianças. O Diana Memorial Playground é uma atração voltada só para os
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pequenos, que se divertem num espaço com brinquedos inspirados nas histórias de Peter Pan. Outro parque é o Greenwich, que oferece a melhor vista de Londres. Ele está no alto de uma colina, em uma área de 73 hectares, onde é possível ver pássaros, esquilos, raposas, veados vermelhos e o gamo, espécie de veado imortalizado como o Bambi, nas histórias de Walt Disney. No Greenwich está o Royal Observatory, um espaço dedicado ao estudo da astronomia e também um museu sobre esse tema. É nesse parque que também está o marco do Meridiano de Greenwich, que divide a terra em duas metades, a leste e a oeste. Quem está no pique de curtir Londres de um jeito menos poluente pode alugar bicicletas da prefeitura. Há decks com várias delas à disposição da população e dos turistas. A primeira meia hora de uso é gratuita. Malas cheias A capital inglesa também é famosa por ser um centro mundial para compras. Mesmo com uma moeda mais valorizada que o Real, roupas, eletrodomésticos, eletrônicos, perfumes e uma infinidade de produtos são mais baratos se comparados ao Brasil. Por isso, é sempre bom deixar reservado um espaço a mais na mala para as novas aquisições. Londres tem produtos do mundo inteiro e também lojas das famosas grifes. Na época de liquidações é possível comprar produtos de marcas conhecidas internacionalmente com até 80% de desconto. Lojas populares vendem camisetas e outras peças de vestuário por menos de R$ 5. A Oxford Street é onde está a maior concentração comercial. Essa rua reúne as mais famosas lojas de rede da Inglaterra e é onde o turista pode fazer compras com bons descontos. Apesar da economia, prepare
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SAINT PAUL CATHEDRAL PRÉDIO HISTÓRICO TEM 85 METROS DE ALTURA, DO CHÃO ATÉ A CÚPULA o bolso porque a tentação é grande. Comer em restaurantes simples também não sai tão caro. O fish & chips (peixe com batata frita) é o prato mais popular da Inglaterra e custa em média £ 7 a porção. Se você achou o preço um pouco salgado para os padrões brasileiros, experimente a comida das mais variadas nações. Com um pouco menos de dinheiro, é possível provar pratos da Índia, da Tailândia, da Etiópia, do Vietnã, da China, da Colômbia,
do Irã, enfim, a lista é bastante grande e exótica também. Mas nada mais econômico que fazer compras no supermercado, para quem tem como preparar a comida. Mas não pense em perder tempo, os mercados ingleses vendem muitos pratos prontos congelados. Algumas refeições completas com uma carne e um ou mais acompanhamentos custam £1 ou alguns centavos. Outra dica é procurar sempre pela marca própria do supermercado. Muitas vezes,
os mesmos produtos, como iogurte, pães, macarrão, lasanha, custam a metade do preço das marcas mais famosas. É uma pena que beber cerveja já não sai tão barato. O preço de uma pint, copo com pouco mais de 500 ml de cerveja, custa, em media, £4 – quase R$ 12. Mas com tanta economia durante toda a viagem, até sobra algumas libras para um brinde. Afinal, não dá para visitar Londres sem deixar de conhecer os famosos pubs, onde está a alma do povo britânico. •
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Turismo
PEQUENO NOTÁVEL
Sergipe: um tesouro escondido Menor Estado brasileiro reserva boas surpresas aos turistas; passeio pelo Cânion de Xingó é opção para quem quer desfrutar da tranquilidade do rio São Francisco Rafael Persan Aracaju (SE)
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ercada de belezas naturais, com praias de mar esverdeado e areia branca, além de grandes manguezais, que dividem espaço com prédios e avenidas, Aracaju, capital de Sergipe, o menor estado brasileiro, é ponto de partida para uma viagem que reserva inúmeras surpresas aos turistas. Para receber visitantes do Brasil inteiro e também do exterior, o Estado investiu em infraestrutura e capacitação de comerciantes por meio do projeto “Sergipe de braços abertos”, da Emsetur (Empresa Sergipana de Turismo). E isso pode ser encontrado logo quando avistamos a Orla de Atalaia. Famosa pela estrutura de dar inveja a muitas cidades litorâneas, a orla de Atalaia tem seis quilômetros de extensão e é equipada com quadras poliesportivas, parque infantil para entreter a garotada, banheiros públicos, uma Delegacia de Turismo e o Centro de Arte e Cultura, com diversos boxes de artesanato. Além disso, abriga o Oceanário, com mais de 100 espécies da fauna da costa sergipana e do rio São Francisco em 80 aquários. Des-
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taque para a criação dos tubarões lixa e tartarugas marinhas e, sem dúvida, ao osso da parte superior do crânio de uma baleia cachalote, que chama a atenção dos turistas. Ao redor do Oceanário foram construídos lagos artificiais de água doce e com fontes luminosas. O espaço conta com serviço de pedalinho, uma diversão bem bacana para toda família nos finais de tarde. Considerada a capital brasileira da qualidade de vida pelo Ministério da Saúde em 2008, Aracaju proporciona à população suporte para a prática de hábitos saudáveis –áreas de lazer, academias ao ar livre e 40 quilômetros de ciclovia. E essa tranquilidade reflete nos moradores da cidade e no turista que desfruta alguns dias no “paraíso do caju”. Em Aracaju existe um complexo constituído por três mercados, onde artesanato, iguarias típicas e produtos hortifrutigranjeiros se dividem em locais específicos. Vale à pena conferir cada espaço, entre eles, a loja do “Mago das Ervas”, que vende 400 espécies de plantas para uso em medicina popular e simpatias. Mas o diferencial do complexo de mercados é a gastronomia. Além das pimentas picantes e castanhas de caju doces e salgadas, a comida servida no restaurante “Caçarola”, que fica no pavimento superior do Mercado Antônio
PAISAGEM Cânion do Xingó, um dos atrativos turísticos de Sergipe, distante a 206 kms da capital Aracaju
Franco, é ponto de parada obrigatória. Além de experimentar a salada verde de tapioca e charque, você tem que comer o camarão de cueca, feito com leite de coco e acompanhado com arroz e pirão, e saborear a moça virgem, um sorvete de tapioca com calda de banana quente. Para quem prefere um bom ‘forrózinho’ acompanhado de alta gastronomia, a noite sergipana é cheia de opções. Em Aracaju, existe a Passarela do Caranguejo, na Orla de Atalaia. Lá, a movimentação é constante de terça a domingo e a comida é espetacular. Já o ponto de encontro mais badalado é o Restaurante e Casa de Forró “Cariri”, que serve um filé de peixe ao molho branco com banana da terra e um peixe ao molho de camarão e purê de batatas sensacionais. Mas o diferencial está nas apresentações musicais. Pode-se ouvir e dançar forró no almoço e, mais tarde, cair na gandaia no piso inferior da casa, onde a música não para e o “xenhenhém pra cá, xenhenhém pra lá” vai até altas horas. Paraíso Um oásis no meio do sertão. Essa é a definição mais adequada para o Cânion de Xingó, que fica a 206 quilômetros da capital Aracaju. O grande lago formado pelas águas do rio São Francisco entre os paredões
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rochosos, que podem chegar a 150 metros de altura, proporciona ao turista uma das paisagens mais lindas do Brasil. Localizado no município de Canindé de São Francisco, o quinto maior cânion navegável do mundo pode ser conhecido em passeio com grupos de até 180 pessoas em uma Catamarã ou em escunas, que tem espaço para seis passageiros, porém é mais rápido chegar ao Paraíso do Talhado, um espetáculo à parte durante o percurso. O Talhado, que fica em Alagoas, entre os municípios Delmiro Gouveia e Olho d’Água do Casado, na fronteira com Sergipe, é propício para o banho nas águas calmas do Velho Chico, onde se escutam apenas o cantar dos pássaros e se sente a brisa calma do local. Também é possível com o auxílio de uma pequena canoa ir até um trecho mais estreito para conhecer a Gruta do Talhado. O Cânion banha também os estados da Bahia e de Pernambuco e o Lago serve de estrutura para a Usina Hidrelétrica de Xingó, que produz 25% de toda a energia consumida no nordeste. • O repórter Rafael Persan viajou a convite da Fundação CTI Nordeste
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Fotos: Rafael Persan
CARANGUEJO Preferência nacional
NA REDE Pescador lança tarrafa na Praia do Saco, em Aracaju
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ARTESANATO Trabalho valorizado
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Paladar
Roberto Wagner
O que é melhor, vinho de corte ou vinho feito de uma casta só?
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onheço gente que, tendo começado a gostar de vinhos, diz que só compra os que sejam feitos dessa ou daquela uva. Embora respeite todos os gostos, acho isso uma grande bobagem. Esse seria um vinho de varietal, que é sinônimo de casta de uva. Mas, para começo de conversa, a legislação de todos os países exige que, para mencionar no rótulo a varietal de que é feito, o vinho precisa conter pelo menos 75 a 80% dela. Significa que é permitido o vinho conter 25 a 20% de varietal diferente da que está no rótulo. Assim, quando você compra um vinho Merlot, pode ser que ele contenha 25% de Cabernet Sauvignon, por exemplo. Essa moda de se citar o nome da varietal no rótulo só começou há algumas décadas, por exigência dos americanos. Antes, isso era desnecessário porque os conhecedores sabiam que um tinto da região da Borgonha só podia ser feito de Pinot Noir, um branco da denominação Chablis só podia ser Chardonnay, assim por diante. Mas os americanos têm preguiça de memorizar esses detalhes, querem que o rótulo informe de que uva o vinho é feito. E como eles são o maior mercado consumidor do mundo, a maioria dos produtores foi se adaptando à exigência. Isso leva muitas pessoas a assumir preferência quase exclusiva por essa ou aquela varietal. Há gente que só
VARIETAL Essa moda de se citar o nome da varietal no rótulo é relativamente nova
bebe vinho de Cabernet Sauvignon, ou só de Malbec, ou só de Syrah, e por aí vai. A esses eu gostaria de informar que todos os famosos vinhos da região de Bordeaux são produtos de assemblage, que também podemos chamar de corte ou mescla. Significa que são feitos da mistura de varietais. O corte mais tradicional de Bordeaux contém Cabernet Sauvignon, Merlot e uma terceira varietal que pode ser Petit Verdot ou Cabernet Franc. No Vale do Rhône, vinhos da denominação Chateauneuf-du-Pape podem conter até 13 varietais diferentes. O que interessa saber é que um vinho pode ser ótimo sendo feito de uma só varietal ou do corte de duas ou várias delas. Quando vir um rótulo informan-
do que o vinho é assemblage, não o considere obrigatoriamente de menor qualidade. A cada safra uma varietal pode dar uvas melhores que as de outra. Em se tratando de um vinho de assemblage, o enólogo pode, nesse caso, utilizar um percentual maior da varietal que se deu melhor naquela safra, e quantidade menor das que não se saíram tão bem naquele ano. Para dar um exemplo prático aqui do nosso país, não despreze um Miolo Seleção só porque é mais barato que um Miolo Cabernet Sauvignon. Pode ser que o enólogo tenha conseguido uma mescla melhor com o Seleção do que lhe foi possível com os 75% obrigatórios de um Cabernet de safra sofrível. •
Roberto Wagner jornalista
robertowagner@valeparaibano.com.br
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Hi-Tech GAMES
Game em 3D Nintendo lança o primeiro o console portátil com visão tridimensional onal sem a necessidade de óculos especiais; videogame custa US$ 249,99 nos EUA Yann Valter São José dos Campos
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omo era de se esperar, não demorou muito para que a tecnologia 3D chegasse ao mercado dos videogames. No próximo dia 27, será lançado nos Estados Unidos o Nintendo 3DS, o primeiro console portátil com visão tridimensional sem a necessidade de óculos especiais. O aparelho, que cabe no bolso, tem três câmeras (duas delas permitem tirar fotos em três dimensões) e acesso à internet. Ele vem com duas telas. A superior, uma ‘widescreen’ de 16:9 com tamanho de 3,5 polegadas e resolução de 800x240 pixels, exibe as imagens em 3D, enquanto a de baixo mantém a funcionalidade ‘touchscreen’ (sensível ao toque) das DS atuais. Os especialistas que testaram o brinquedo garantem: a sensação de profundidade é inegável, mesmo a olho nu. O efeito é obtido graças a uma manipulação de telas e imagens desfocadas. “Não é apenas diversão, é imersão”, declarou o presidente da Nintendo, Reggie Fils-Aime. A intensidade do 3D pode ser ajustada –ou até desligada por completo– através de um botão regulador. Vale frisar que a tecnologia funciona apenas em games criados especialmente para o console 3DS. A
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• Cartão de 2 GB
empresa japonesa já adiantou que mais de 30 jogos serão lançados nos três primeiros meses de venda do aparelho, entre eles clássicos como Mario Kart, Pro Evolution Soccer e Super Street Fighter. De acordo com os testadores, o efeito funciona de maneira incrível em alguns jogos, e nem tanto em outros. O game “The Legend of Zelda: Octarina of Time 3D” foi apontado como um dos melhores no quesito. Ao contrário, o Pro Evolution Soccer 2011 3D foi avaliado como decepcionante. O que acontece é que cada pessoa sente o efeito de maneira diferente, o que explica a necessidade do botão regulador. Alguns dos primeiros especialistas que experimentaram o produto reclamaram que a tecnologia 3D cansa a vista –os míopes seriam os principais afetados– e pode dar dor de cabeça em caso de utilização prolongada. Os games tridimensionais exigem uma atenção maior dos olhos, bem como um posicionamento específico do console diante do rosto, um parâmetro que varia de pessoa para pessoa. Aliás, a própria Nintendo desaconselha o uso da função 3D para as crianças com menos de sete anos de idade. O preço de lançamento do Nintendo 3DS nos Estados Unidos será de US$ 249,99. O console deverá chegar ao Brasil em abril. Ainda não se sabe quanto os consumidores brasileiros deverão desembolsar para adquirir o aparelho. Um detalhe interessante é que o console tem a opção
de menus em português. Por enquanto, a Nintendo está sem concorrente no mercado de console portátil com tecnologia 3D. Mas, obviamente, esta situação não vai durar muito tempo. A Sony já anunciou o lançamento no fim deste ano do sucessor do PSP, chamado provisoriamente de Next Gaming Portable ou NGP. Além da conexão 3D, o videogame portátil terá duas câmeras (uma na frente e outra atrás), acesso à internet e tela ‘touchscreen’ de 5 polegadas com OLEDs (diodos orgânicos emissores de luz). Informações complementares sobre o console e a primeira linha de games serão divulgadas em junho durante a Electronic Entertainment Expo, a E3, a maior feira internacional de jogos eletrônicos do mundo, organizada anualmente em Los Angeles, nos Estados Unidos. •
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SUPER MONKEY BALL™ 3D
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Moda&estilo TENDÊNCIAS
Highlights do Inverno Elegemos as peças-chaves apresentadas no São Paulo Fashion Week e Fashion Rio que saem das passarelas para as ruas na próxima temporada
Cristina Bedendo São José dos Campos
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epois dos desfiles da temporada de moda brasileira, é hora de listarmos as peças que, de fato, estarão em alta no outono/inverno 2011. E a principal novidade não está nas peças, mas sim na maneira de usá-las: itens que fazem parte do nosso guardaroupa há algumas temporadas aparecem em diferentes combinações. Um dos principais caminhos é o contraponto de materiais leves e pesados. Algo que já está na moda há algum tempo e que agora aparece de uma maneira diferente: saia longa plissada em tecido fluido com jaqueta de couro, por exemplo. Lãs e tricôs são combinados com rendas e outros tecidos finos, o que favorece também o mix de texturas –outra tendência certa da temporada fria. Confira os principais rumos da estação que vem por aí...
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SAIA AIA LONGA Herança erança dos anos 70,, ela voltou às araras aras no verão 2011 11 e promete ganhar nhar as ruas na próxima óxima estação. A composição mposição perfeita para ra o inverno são os modelos em tecidos cidos mais fluidos e plissados, usados com m botas mais pesadas, sadas, como os coturnos. turnos.
COMO OMO USAR: Para ara equilibrar o look, ok, a dica é apostar ostar nos casacos mais ais curtos, em couro uro ou materiais mais ais pesados. Look: ok: Ana Salazar
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VINTAGE
TRICÔS
COURO
Brocados, suéteres, rendas e outros efeitos que deixam os tecidos com aspecto de usados favorecem o estilo Vintage. Aproveite para resgatar peças do armário da sua mãe ou avó.
Desde os pontos grandes, num estilo mais vintage, aos mais fininhos, os cardigãs e vestidos em tricô prometem esquentar a temporada.
Em jaquetas, calças (principalmente, as leggings) ou saias, as peças em couro são um dos must have do inverno mais uma vez.
COMO USAR: Misture essas peças com estilo vintage com outras mais modernas, como uma calça de couro, por exemplo. Acessórios com essa pegada também são boas opções para diferenciar o look, como anéis e colares. Look: Triton
COMO USAR: Há modelos mais compridos, que remetem ao conforto, mas também há espaço para os vestidos mais curtos e grossos, que serão facilmente combinados com botas de montaria ou ankle boots. Aproveite para misturar texturas: tricô com couro ou tricô com tecidos transparentes.
COMO USAR: O material é ideal para o jogo leve x pesado que a temporada pede. Jaquetas com saias fluidas, com vestidos de renda ou musseline e peças com transparências. Já as leggings em couro são ideais para serem usadas com trench coats. Look: Iodice
Look: Coca Cola Clothing
PANTALONA
MACACÃO
Algumas marcas investiram em versões bem mais largas para as calças, em contraponto ao modelo skinny, muito usado pelas brasileiras.
Apareceu em diferentes materiais: desde o jeans até o tricô ou lã. Confortáveis, os modelos geralmente são mais soltos do corpo.
COMO USAR: COMO USAR: Em tecidos fluidos, elas dão um toque elegante para os looks de trabalho e podem ser combinadas com outras peças com transparências ou detalhes mais pesados, como as peles. Look: Huis Clos
Combine com jaquetinhas mais curtas, como as de couro. Nos pés, a melhor companhia para eles são os sapatos no estilo oxford.
CALÇA BOOT CUT OU FLARE Trata-se da tradicional calça justa, com a boca mais larga a partir da altura da canela. É um sinal de que as bocas das calças voltam a ficar mais largas, numa pegada 70’s que vem desde o verão 2011. O modelo favorece praticamente todos os biotipos, inclusive quem tem quadril mais largo, pois ajuda a equilibrar as proporções.
Look: Maria Bonita
COMO USAR: Fica ótima com botas de cano médio ou curto e sapatilhas para o dia-adia e scarpins para os looks mais finos. Look: Gloria Coelho
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Moda
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TRANSPARÊNCIAS
RENDAS
BRILHO
Nesse jogo de texturas, as peças com transparências garantem a feminilidade aos looks. As camisas com dois bolsos transparentes já nasceram hit.
Proporcionam um toque de romantismo ao inverno, mas sempre com essa mistura de materiais e a cintura marcada.
Materiais metalizados e muitos paetês já apareceram no verão 2011 e continuam no inverno em shorts e, principalmente, nos acessórios.
COMO USAR: Misture com outros materiais mais pesados, como o couro. Também são facilmente combinadas com peles e sapatos mais pesados, como os abotinados ou os mais masculinos, no caso dos oxfords
COMO USAR: Misture as peças em rendas com botas mais pesadas, que podem ser no estilo militar, como os coturnos mais curtinhos. Tudo é uma questão de equilíbrio: como a renda é leve, poste em casacos mais pesados, em couro ou em lã. Look: Samuel Cirnansck
Look: Basthianna
COMO USAR: Se a intenção é investir em algo mais discreto, acessórios são os itens mais indicados. Sapatilhas com pedrarias, oxfords e mocassins metalizados ou com glitter levantam qualquer look. Já nas roupas, misture as peças com paetês com outras mais fluidas e leves. Nos detalhes, os brilhos também aparecem mesclados aos tecidos mais grossos, como tricô e lã. Look: Maria Bonita Extra Detalhe: Colcci
CORES Tons sóbrios e típicos do inverno, como preto, cinza e marrom dividem espaço com outros mais fortes. É o caso do laranja, amarelo, vermelho, azul “bic”, tons terrosos e o camelo, uma variação mais clara do caramelo.
ALFAIATARIA + ESPORTE Traços do esporte se misturam às peças de alfaiataria, principalmente em detalhes como punhos, golas e tecidos, como o nylon. Um mix bem interessante para o dia-a-dia, que une conforto e feminilidade.
COMO USAR: Um maxitricô colorido, por exemplo, ajuda a levantar qualquer look mais sóbrio ou básico, inclusive para os homens. Look: Colcci
COMO USAR: Misture peças com transparência com outros tecidos mais esportivos, como punhos em moletom ou até mesmo uma bolsa mais esportiva. Nos pés, aproveite as ankle boots com cadarços e saltos mais grossos.
PELE Verdadeiras ou sintéticas, as peles aparecem nas golas de casacos (em sua maioria, removíveis) e nas bordas de ankle boots mais pesadas.
COMO USAR: O colete de pele promete ser uma das peças-chaves da temporada, já que o nosso inverno não é tão rigoroso para casacos inteiros com o material. Look: Ausländer Detalhe: Coca Cola Clothing
Look: Huis Clos
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Tempos ModernosArtigo
Alice Lobo
Gisele está certa? Cremes solares protegem ou envenenam a pele?
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a última vinda de Gisele Bündchen ao Brasil no final de janeiro, o tititi não ficou por conta nem do marido nem do filho ou de algum novo trabalho. O que se falava era sobre a declaração da übermodel de que protetor solar era um veneno. A notícia rodou os quatro cantos do mundo e foi destaque em renomados jornais internacionais como The Daily Mail e o recém-vendido Huffington Post. Isso sem contar a discussão nas mídias sociais, como Twitter e Facebook, e no enfurecimento de dermatologistas. A crítica ficou por conta do mal exemplo que Gisele estaria dando para milhares de jovens que a tem como modelo e seguem suas dicas a ferro e fogo. Não usar protetor usar ao se expor ao sol pode gerar queimaduras e câncer de pele. Mas a manchete neste caso era mais chocante que a declaração quando situada no contexto e depois explicada em seu blog e a uma rede de televisão brasileira. O que Gisele disse é que ela acredita que protetor solar é um veneno para sua pele pois contém químicos sintéticos e ela usa somente produtos naturais (como os cremes da sua linha de beleza Sejaa). Por isso, ela decidiu somente se expor ao sol em horários que não precisa usar o protetor, ou seja, das 5h30 às 8h, quando vai à praia e aproveita para surfar. Mas de maneira alguma disse que
quem gosta de ficar se bronzeando deve dispensar o uso de protetores ou bloqueadores solares. Se for ficar depois das 9h, a modelo recomenda a todos, sim, usar filtro solar. Mas a dúvida que fica é por que Gisele disse que protetor é um veneno e prefere não usá-lo? A composição da grande maioria do cremes solares contém ingredientes criticados por amantes de cosméticos naturais, pois são tidos como nocivos para a saúde humana. Os quatro principais a serem decorados e evitados são oxibenzona, retinil palmitato, parabenos e PABA (ácido para-aminobenzoico). O primeiro é usado para filtrar e absorver raios ultravioletas e está relacionado a causa de alergias, disfunções hormonais e danos celulares. Pesquisa realizada pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos detectou essa substância na urina de 97% dos 2500 americanos testados. E o Environmental Working Group encontrou oxibenzona em mais de 600 tipos diferentes de protetores solares. Já o retinil palmitato é um tipo de vitamina A que, segundo especialistas, contém componentes que sofrem mutação quando expostos à luz do sol e forma radicias livre na presença de raios UVA e UVB, o que aumenta o risco de câncer de pele. Durante um ano, tumores cresceram mais rápido em animais de laboratório que estavam cobertos por essa vitamina que está presente em mais de 40% dos protetores norte-americanos. O famoso parabeno foi encontrado em 60% de cremes solares nos Estados
Unidos (por aqui as fórmulas se repetem). Seu maior risco é de causar disfunções do sistema endócrino e reprodutivo, além de ter sido encontrado em tumores de mama. O último, conhecido como PABA, já é evitado há algum tempo pois causou alergias diversas obrigando sua substituição e é cancerígeno. Produtos que não usam esta substância destacam nos seus rótulos PABA Free. E aí, depois disso você tem alguma dúvida do porquê Gisele disse que protetores em geral são venenos para a pele? Sempre que se expuser ao sol, use bloqueadores solares, mas compre aqueles livres desses quatro ingredientes nocivos. •
Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br
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Moda Divulgação
PERFIL
Julia Petit: vintage moderno Blogueira é sinônimo de um estilo autêntico, com mix de peças clássicas e outras garimpadas em brechós
Cristina Bedendo São Paulo
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produtora musical e blogueira Julia Petit chama atenção pela beleza exótica e estilo eclético. Junto com seus longos cabelos ruivos, pele bem clara e muitas tatuagens à mostra, ela demonstra uma simpatia enorme com qualquer pessoa que se aproxime. E consegue ficar ainda mais linda e estilosa. À frente do blog de moda e beleza “Petiscos”, Julia conta que não é da moda, propriamente, que surgem suas inspirações para se vestir. “Me inspiro muito em cinema e pessoas de antigamente. E gosto de misturar peças modernas com outras antigas”, conta a produtora. Para isso, Julia nem sempre investe em marcas super caras e badaladas. Seu foco principal são os brechós. “Compro muito em brechó, pela internet, no Brasil e principalmente quando viajo. Gosto de ter coisas que só eu tenho, únicas”, afirma. “A roupa que eu gosto mesmo é muito básica e clássica. Mas tenho épocas de temas, sempre com as mesmas peças. É engraçado como conseguimos usar as mesmas roupas de modos diferentes”, ensina. •
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JULIA PETIT Produtora musical prefere comprar em brechós e pela internet para ter peças únicas
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Notas & fatos Modelo Kate Moss está noiva e deve se casar em julho
Robbie Williams se arrisca como pintor
Kate Moss está noiva e planeja se casar em julho deste ano, afirma o jornal “The Sun”. Segundo o tablóide, a modelo foi pedida em casamento e ganhou uma aliança de noivado da década de 1920. Moss, 37 anos, namora o músico Jamie Hince, 40 anos, desde o final de 2007. O casamento deve acontecer no dia 2 de julho. A modelo já foi noiva do músico Pete Doherty no início de 2007, mas não chegou a se casar. Seu relacionamento com Doherty era alvo dos tablóides sensacionalistas britânicos o tempo todo. Foi nessa época que um vídeo no qual a modelo supostamente fazia uso de cocaína circulou pela internet. O músico é conhecido mundialmente por sua íntima relação com as drogas. Kate Mossa também tem uma filha, Lila, 8 anos, fruto de um relacionamento com o jornalista Jefferson Hack.
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De acordo com o jornal britânico “The Sun”, o cantor Robbie Williams encontrou um novo hobby: a arte. Ele tem aprimorado seus dotes artísticos e feito retratos de famosos em sua casa, em Los Angeles. Segundo a publicação, ele tem levado a ideia tão a sério que teria construído um estúdio em sua casa. Sua primeira “musa” foi o cantor
Rod Stewart. Ele desenhou uma figura brilhante do roqueiro escocês, seu antigo rival. Anos atrás, eles brigaram por causa da ex-mulher de Stewart, Rachel Hunter, com quem Robbie se envolveu após o divórcio do roqueiro. Uma fonte disse ao jornal que realmente Robbie começou a desenhar e que seus trabalhos têm sido fabulosos.
FORTUNA
J. Cameron é o mais rico de Hollywood O diretor James Cameron lucrou com o sucesso mundial de “Avatar” nas bilheterias, tornando-se a figura de Hollywood que ganhou mais dinheiro em 2010. Cameron faturou estimados US$257 milhões no ano passado por escrever, produzir e dirigir o filme. Os cálculos foram baseados na bilheteria de US$1,95 bilhão do filme em 2010, além da parcela de Cameron ns vendas do filme em DVD e TV paga, segundo pesquisa da revista Vanity Fair, divulgada sobre as 40 figuras de Hollywood que ganharam mais no ano passado.
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Quem falou o quê?
itte
Cláudia Le MATERNIDADE
Cláudia Leitte quer ter outro filho este ano Claudia Leitte quer engravidar ainda este ano. A informação foi confirmada por Paulo Sampaio, assessor de imprensa da cantora. “A Claudia está na expectativa de engravidar neste primeiro semestre. Ela já parou de tomar pílula e tem visitado regularmente seu ginecologista, o doutor Luís Machado, lá em Salvador”, contou Sampaio. “Ela não vê a hora de engravidar”, garantiu ele, acrescentando que Claudia tem mantido o mesmo ritmo de trabalho. “Ela continua pulando e fazendo os shows normalmente”.
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FAMA
FBI investiga igreja frequentada por ator
”Bom, graças a Deus, o papai está entre nós ainda.” Lúcio Mauro Filho, ator, desmentindo ao vivo a repórter Sonia Racy no canal Globo News, que disse que o pai do ator, Lúcio Mauro, “não está mais entre nós”
”Eu me mantenho sem nenhum namorado milionário ou político” Luiza Brunet ao falar sobre boatos que já teria se relacionado com Lula e Eike Batista
A igreja americana da Cientologia frequentada por Tom Cruise é alvo de investigação do FBI por suspeitas de tráfico humano, agressão e prática de escravidão. A apuração foi revelada pelo jornalista Lawrence Wright, em artigo no The New Yorker, que aponta denúncias contra o chefe da igreja, David Miscavige, amigo e padrinho de casamento de Tom. TOP
NY Post manda Gisele calar a boca
”Adoraria estender a minha canga sem ninguém tirar fotos minhas”
Fiuk está solteiro e gravando disco solo Após três anos de namoro, o ator e cantor Fiuk e a produtora de moda Natália Frascino não estão mais juntos. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa de Fiuk. A assessoria não divulgou o motivo da separação. Atualmente, o filho de Fábio Jr. está morando em São Paulo e –fora da banda Hori– dedica-se à gravação de seu primeiro CD solo.
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Paola Oliveira, atriz, reclamando do assédio dos “paparazzi”
”Tentei por vários anos ter essa chance na Globo, mas não me foi dada” Rodrigo Faro, apresentador, desabafando sobre o fato de não ter se dado tão bem na Rede Globo quanto se deu na Record
O jornal americano “NY Post” publicou em seu site reportagem em que aconselha Gisele Bündchen, 30 anos, a “calar a boca”. Segundo a publicação, sempre que Gisele abre a boca, fala alguma coisa que não deveria. O exemplo mais recente, diz o texto, foi a declaração dada no Brasil sobre o uso de protetor solar: “Não posso colocar esse veneno na minha pele.”
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Vozes coletivas Grito Rock 2011 se consolida como o maior festival integrado e independente de música das Américas; no Vale, shows acontecem em cinco cidades neste mês Adriano Pereira São José dos Campos
S
audosistas adoram citar a era dos festivais como a grande fábrica de talentos da música brasileira. O que esses que vivem remexendo o passado não enxergam é que há algum tempo os festivais independentes exercem essa mesma função e vão muito além. Conseguem inclusive reviver o clima de cooperação dos anos 60 e 70, mas com o pé firme no chão, acompanhando as mudanças pelas quais o mundo da música passou nesses anos todos. Um bom exemplo disso se mostra neste mês em 130 cidades da América Latina, cinco delas na nossa região –Ilhabela, Jacareí, São José dos Campos, Paraibuna e Taubaté. A nona edição do Grito Rock acontece em nove países simultaneamente (Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Chile, Panamá, Costa Rica, Honduras e El Salvador), conta com 700 artistas que se apresentarão para um público estimado de 200 mil pessoas. Tudo isso acontecendo na base da colaboração e do voluntariado de coletivos de artistas locais que sabem que o “business” existe, mas que não é o fator funda-
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mental. Uma das principais provas disso é que nenhuma banda receberá cachê. Outro exemplo: um dos custos da produção de um evento desses é a estadia dos artistas. Neste modelo, bandas locais se encarregam de receber o pessoal que vem de fora no que a organização chama de “hospedagem solidária”. A alimentação ficou por conta de um patrocinador que trocou seu produto pela exposição da marca. “A ideia por trás de um festival assim é que ninguém gaste muito dinheiro mas que promova seus negócios”, diz Henrique Scalet, um dos nomes à frente do coletivo Macoisa, responsável regionalmente pelo Grito Rock. A maioria dos “negócios” gerados acontece por meio de permutas, mas principalmente pela troca de expertise entre os coletivos envolvidos. Mas isso vai além. No site do evento é possível, por exemplo, saber como foram captados recursos em outros núcleos, ou seja, existem modelos prontos para quem está com dificuldades de levantar fundos para realizar um show. Um guia de como lidar com a montagem de palco, equipamento de som, camarins, roadies e até como organizar o dia do show também está disponível do site. É o que acontece entre o coletivo Superselos, de Jacareí, na relação com o Grito Rock. “O pes-
ALIANZZA
A banda de hardcore joseense se apresenta pela terceira vez no festival de música
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ValeViver Denise Alba/divulgação
INTERCÂMBIO
A banda The Snobs sai de Paraibuna e mostra seu som em outras cidades
soal do Superselos tem muita experiência na produção de eventos. Quer dizer, eles acabam ajudando todo mundo sem custos, mas também mostram seu trabalho para um público que consome esse serviço”, explica Scalet. Bandas Essa visão de possíveis negócios no futuro é o que também move os músicos a abrirem mão do cachê para tocaram no festival. A banda Leptospirose, de Bragança Paulista, é uma das principais atrações desta edição e, mesmo com uma bagagem de turnê na Europa e três discos gravados, recebe o mesmo pagamento de todo mundo: comida, cama e nenhum dinheiro. “É um momento de troca no Grito Rock. No ano passado, por exemplo, tocamos na região de Rio Claro e São Carlos, depois voltamos muitas vezes contratados por produtores que estavam na plateia. Por conta de festivais dessa natureza acabamos tocando em outros com cachê, hotel bom e até passagem aérea. Neste ano, vamos tocar no Amapá sem receber, só conseguimos o transporte para não ficar caro para a banda”, diz Quique Brown, vocalista do Leptospirose. Não são só os músicos de Bragança que já ocupam uma posição mais “confortável” e ainda assim apostam no poder de divulgação de um festival independente. Bandas apontadas como apostas pela mídia especializada também estão no evento. É o caso do Black
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Drawning Chalks, que chegou a se apresentar no SWU em 2010, e dos cariocas do Do Amor. O The Snobs, de Paraibuna, sabe bem a diferença que faz se apresentar num festival que tem essa visibilidade. Do ano passado pra cá, o sexteto se transformou de uma banda de garagem para um grupo organizado com material promocional profissional, videoclipe e até a criação de um coletivo local, o Maiêutica, que passou a se articular nacionalmente. “Para nós foi o ponta-pé inicial para dar início a um trabalho com o coletivo que criamos e aprendermos a trabalhar com autogestão. Hoje temos um CNPJ, temos projetos, nossa banda se profissionalizou”, diz a contrabaixista Lyloo. Para a musicista, tocar no Grito Rock do ano passado serviu como um passaporte de circulação. A banda que praticamente só se apresentava em São José e Paraibuna chegou a tocar no Sul do Brasil, Rio de Janeiro e Pará. Para suprir os custos de viagens como essas, em cada parada são montadas lojinhas com produtos “snobianos”, como diz Lyloo. “São dois momentos distintos para a banda: antes e depois do Grito Rock. Aprendemos o que é ser independente. Não existe fada madrinha , tudo vem do nosso esforço e do céu só vem chuva”, completa. Grito A ideia de criar o Grito Rock nasceu com um coletivo de artistas chamado Circuito Fora
do Eixo, que unia produtores da região centro-oeste, norte e sul no final de 2005. A ideia inicial era estimular a circulação de bandas, o intercâmbio de tecnologia de produção e o escoamento de produtos nesta rota. Mas antes de tudo a intenção era ter um Carnaval com rock n’ roll. Em março de 2003, cinco bandas de Cuiabá se reuniram durante a “folia” para não escutar samba enredo. No ano seguinte o repeteco, mas com o intercâmbio de artistas da região. E assim progrediu até que, em 2007, o Grito Rock se firma como um dos projetos do Circuito Fora do Eixo e passa a ser produzido a nível nacional, em várias cidades simultaneamente. A rede cresceu e as relações de mercado se tornaram ainda mais favoráveis às pequenas iniciativas do setor da música, já que os novos desafios da indústria fonográfica em função da facilidade de acesso à qualquer informação criou solo mais fértil para os pequenos empreendimentos, especialmente àqueles com características mais cooperativas. Hoje o Circuito já está em 25 dos 27 estados brasileiros. “O Grito é hoje, sem dúvida, muito mais que uma alternativa para o Carnaval. É algo além da data foliona. Se o Carnaval no Brasil acabar de hoje pra amanhã, o Grito Rock só irá se preocupar em decidir se o Sambódromo carioca comporta ou não nossas bandas e seus gritos”, diz Renan Moreira, do coletivo Cor-
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rente Cultural, organizador local do evento em Poços de Caldas, Minas Gerais. Abrafin O “negócio” de festivais independentes no Brasil já está tão grande que existe até uma associação de classe. A Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes) reúne em seu calendário oficial 32 eventos anuais, sendo um deles o famoso Abril Pro Rock que mesmo com toda visibilidade midiática ainda se mantém nos mesmos moldes iniciais. Foi deste festival que vieram Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Los Hermanos, Mombojó e é nele que muita gente do mainstream passou a querer tocar. Segundo dados da associação, por ano, circulam mais de 600 bandas entre nacionais e internacionais nesses 32 eventos, movimentando uma quantia superior a R$ 5 milhões. Além de gerar pelo menos 3.000 empregos fixos e temporários. Esses números parecem enormes, mas quando comparados aos do mercado “formal” de música são ínfimos. Há de se levar em conta que 98% desses eventos acontecem com patrocinadores pequenos, sem bandeiras de cartões de crédito ou marcas famosas de cerveja. Quase tudo é viabilizado na base da cooperação. “A melhor definição para um festival independente é: independentemente do que aconteça, ele acontece”, diz Fabrício de Almeida Nobre, presidente da Abrafin. •
PROGRAMAÇÃO Ilhabela Dias 18 e 19 de março Estaleiro Bar Villa - Centro Das 22h às 4h Entrada: R$ 10 H | R$ 5 M 18.03 - Bristol (Pinda) 19.03 - Tuia (SJC)
Jacareí De 24 a 27 de março Espaço Educa Mais, centro de Jacareí. A partir das 14h Entrada Franca 24.03 - Pineal Som Sistema vs Sin Ayuda (Tté) + Lo Fi (SJC) + Nostálgicos (Paraibuna) + The Almighty Devil Dogs (Bauru) 25.03 - San Petter (Paraibuna) + Allianza (SJC) + Orgasmo de Porco (SJC) + Leptospirose (Bragança Paulista) 26.03 - Debutantes (Jacareí) + Pró Alcool (Paraibuna) + Alarde (SJC) + Leandro Zam-
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CABANA CAFÉ
Uma mistura interessante de sons, ou como eles dizem, ‘o futuro do pretérito’
bianchi (Caraguá) + Monndo (Campinas) 27.03 - Elísio (SJC) + D’água Preta (Paraibuna) + Sweet Side (Jacareí) + Rélpis (Araraquara) + Black Drawning Chalks (Goiânia-GO)
São José dos Campos De 24 a 27 de março Hocus Pocus, Rua Paraibuna, 838. A partir das 22hs Entrada: R$ 8 (4 ingressos R$ 25) 24.03 - Pineal Som Sistema vs Sin Ayuda (TTE) + Infraaudio (Jacareí) + The Snobs (Paraibuna) + Do Amor (Rio de JaneiroRio de Janeiro) 25.03 - Alarde (SJC) + Mão Dupla (Ilhabela) + Cabana Café (Taubaté) + The Almighty Devil Dogs (Bauru) 26.03 - Julio Rhasec & Projeto A Máquina (SJC) + Pulsaris (SJC) + Monndo (Campinas) + Tigre Dente de Sabre (Bragança Paulista) 27.03 - This Grace Found (SJC) + Orgasmo de Porco (SJC) + Bem Vindo José Antonio (Jacareí) + Allianza (SJC) + Mugo (Goiânia-
GO) + Leptospirose (Bragança Paulista)
Paraibuna De 24 a 27 de março Largo do Mercado A partir das 17h Entrada Franca 25.03 - Julio Rhasec & Projeto A Máquina (SJC) + Sawabona (Jacareí) + Rélpis (Araraquara) + Do Amor (Rio de Janeiro) 26.03 - Amplitude Valvulada (Caraguá) + Tuia (SJC) + Infraaudio (Jacareí) + Leptospirose (Bragança Paulista)
Taubaté De 24 a 27 de março Garagem Phyton, Rua Souza Alves, 418, esquina c/ Rua Jacques Félix. Centro. A partir das 15h Entrada: R$ 8 26.03 - Street Rock Rules (SJC) + In Fighting (Jacareí) + Cabana Café (Taubaté) 27.03 - The Snobs (Paraibuna) + Black Drawning Chalks (Goiânia) + Tigre Dente de Sabre (Bragança Paulista)
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rente Cultural, organizador local do evento em Poços de Caldas, Minas Gerais. Abrafin O “negócio” de festivais independentes no Brasil já está tão grande que existe até uma associação de classe. A Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes) reúne em seu calendário oficial 32 eventos anuais, sendo um deles o famoso Abril Pro Rock que mesmo com toda visibilidade midiática ainda se mantém nos mesmos moldes iniciais. Foi deste festival que vieram Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Los Hermanos, Mombojó e é nele que muita gente do mainstream passou a querer tocar. Segundo dados da associação, por ano, circulam mais de 600 bandas entre nacionais e internacionais nesses 32 eventos, movimentando uma quantia superior a R$ 5 milhões. Além de gerar pelo menos 3.000 empregos fixos e temporários. Esses números parecem enormes, mas quando comparados aos do mercado “formal” de música são ínfimos. Há de se levar em conta que 98% desses eventos acontecem com patrocinadores pequenos, sem bandeiras de cartões de crédito ou marcas famosas de cerveja. Quase tudo é viabilizado na base da cooperação. “A melhor definição para um festival independente é: independentemente do que aconteça, ele acontece”, diz Fabrício de Almeida Nobre, presidente da Abrafin. •
PROGRAMAÇÃO Ilhabela Dias 18 e 19 de março Estaleiro Bar Villa - Centro Das 22h às 4h Entrada: R$ 10 H | R$ 5 M 18.03 - Bristol (Pinda) 19.03 - Tuia (SJC)
Jacareí De 24 a 27 de março Espaço Educa Mais, centro de Jacareí. A partir das 14h Entrada Franca 24.03 - Pineal Som Sistema vs Sin Ayuda (Tté) + Lo Fi (SJC) + Nostálgicos (Paraibuna) + The Almighty Devil Dogs (Bauru) 25.03 - San Petter (Paraibuna) + Allianza (SJC) + Orgasmo de Porco (SJC) + Leptospirose (Bragança Paulista) 26.03 - Debutantes (Jacareí) + Pró Alcool (Paraibuna) + Alarde (SJC) + Leandro Zam-
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CABANA CAFÉ
Uma mistura interessante de sons, ou como eles dizem, ‘o futuro do pretérito’
bianchi (Caraguá) + Monndo (Campinas) 27.03 - Elísio (SJC) + D’água Preta (Paraibuna) + Sweet Side (Jacareí) + Rélpis (Araraquara) + Black Drawning Chalks (Goiânia-GO)
São José dos Campos De 24 a 27 de março Hocus Pocus, Rua Paraibuna, 838. A partir das 22hs Entrada: R$ 8 (4 ingressos R$ 25) 24.03 - Pineal Som Sistema vs Sin Ayuda (TTE) + Infraaudio (Jacareí) + The Snobs (Paraibuna) + Do Amor (Rio de JaneiroRio de Janeiro) 25.03 - Alarde (SJC) + Mão Dupla (Ilhabela) + Cabana Café (Taubaté) + The Almighty Devil Dogs (Bauru) 26.03 - Julio Rhasec & Projeto A Máquina (SJC) + Pulsaris (SJC) + Monndo (Campinas) + Tigre Dente de Sabre (Bragança Paulista) 27.03 - This Grace Found (SJC) + Orgasmo de Porco (SJC) + Bem Vindo José Antonio (Jacareí) + Allianza (SJC) + Mugo (Goiânia-
GO) + Leptospirose (Bragança Paulista)
Paraibuna De 24 a 27 de março Largo do Mercado A partir das 17h Entrada Franca 25.03 - Julio Rhasec & Projeto A Máquina (SJC) + Sawabona (Jacareí) + Rélpis (Araraquara) + Do Amor (Rio de Janeiro) 26.03 - Amplitude Valvulada (Caraguá) + Tuia (SJC) + Infraaudio (Jacareí) + Leptospirose (Bragança Paulista)
Taubaté De 24 a 27 de março Garagem Phyton, Rua Souza Alves, 418, esquina c/ Rua Jacques Félix. Centro. A partir das 15h Entrada: R$ 8 26.03 - Street Rock Rules (SJC) + In Fighting (Jacareí) + Cabana Café (Taubaté) 27.03 - The Snobs (Paraibuna) + Black Drawning Chalks (Goiânia) + Tigre Dente de Sabre (Bragança Paulista)
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MÚSICA
Samba de alma feminina Dudu Nobre chega às prateleiras com ‘O Samba Aqui já Esquentou’, disco voltado a histórias de amor e elogios às mulheres Elaine Santos São José dos Campos
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om um repertório voltado a histórias de amor e trejeitos femininos, num misto entre o romântico e o samba partido alto, Dudu Nobre lança seu novo trabalho, “O samba aqui já esquentou” que, segundo ele, “fosse em outras épocas já seria disco de ouro”. O CD está embalado com histórias românticas e muitos elogios à mulher. Você acha que o samba tem alma feminina? Ah se tem! A presença da mulherada é importante para todas as músicas. Acho que no dia-a-dia também, né? (risos). Sempre essa coisa de falar de relacionamento é o que vira. E você escreve suas letras dentro do que acontece na sua vida pessoal ou são histórias que você ouve falar? Tem os dois, um pouco de vida pessoal um pouco de histórias contadas por amigos. Tem de tudo um pouco. Nesse novo álbum qual é a música que fala do seu momento pessoal atual? Olha o meu momento hoje é da música ‘Quer saber da minha vida
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vai na macumba’ (risos). É o meu momento atual (risos). Quanto tempo você demorou para elaborar esse novo repertório? O repertório com a gente é rápido. É dizer: vamos gravar daqui a dois meses? Aí peço só um mês pra fazer as músicas e decidir o quê que vai rolar. Geralmente, durante o ano, eu vou estudando, vou guardando em gravador, essas coisas. E aí quando pinta a gente esquenta lá, faz a música, algumas os parceiros manda pra gente mexer, é assim, tranquilo (risos). Quando você percebe que a letra vai dar um bom samba? A gente não tem muito esse ‘time’ não. Às vezes, o samba que a gente acha que vai ser ‘o samba’, não acontece, e aquele que a não tava esperando é que dá muito certo. Nessas coisas não tem fórmula de sucesso. E qual é o samba desse CD que você aposta mais? Olha, o ‘Quer saber da minha vida, vai na macumba’, que já tá na novela (“Insensato coração”, da Rede Globo). Na verdade tem duas músicas na trilha sonora da novela, é que o pessoal gostou de duas e então pediram pra eu autorizar outro artista a interpretar a segunda música ‘É ela’. Quem canta na novela é o grupo Revelação. •
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PAIS E FILHOS
Acomodados no ninho Adultos, solteiros e com boa situação financeira continuam vivendo sob as asas protetoras dos pais: é a nova tendência mundial de comportamento
Elaine Santos São José dos Campos
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“
á morei em tanta casa que nem me lembro mais, eu moro com meus pais”. Renato Russo encantou uma geração de adolescentes com suas letras. Conseguia em poucas linhas ilustrar o universo do jovem que quer sair de casa, quer ser independente, mas que ao mesmo tempo deseja o colo dos pais. Ele só não sabia que seu público levaria isso tão a sério, afinal, os adolescentes daquela época são os adultos de hoje, e muitos deles ainda preferem viver sob as asas protetoras dos pais mesmo já tendo alcançado a sonhada “independência financeira”. Ser solteiro e morar sozinho não é mais um sonho de consumo. “O que me incentiva a não sair de casa é a referência de colo de pai e mãe todos os dias. Isso me faz bem. Sem contar é claro com o conforto de não ter preocupação de manter uma casa”, disse Mariane*. Aos 31 anos, solteira, a empresária joseense tem casa própria, mas aluga o imóvel para terceiros, e tem uma renda mensal de R$ 5.000. Mesmo assim prefere a rotina da casa dos pais a ter que manter sua independência morando sozinha. “Meus pais me dão total liberdade. Tenho vontade de ter minha casa, minhas coisas do meu jeito, mas quando tiver condições financeiras para isso”, disse. Essa mudança de comportamento é analisada por pesquisadores do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo) que apontam: solteiros com mais de 30 anos preferem a casa dos pais. Os motivos
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estão relacionados à dificuldade de imersão no mercado de trabalho e, principalmente, à renúncia ao conforto. “Temos observado esse prolongamento de pessoas mais velhas ao estado civil solteiro e a estadia na casa dos pais. Não por dificuldade financeira, mas por acomodação. É como se fosse um prolongamento da adolescência. Isso já vem sendo observado no comportamento do jovem atual. O adolescente já vem com esse pensamento de retardar a imersão à vida adulta, vista como independente, autônoma”, disse Leila Cury Tardivo, psicóloga do Departamento de Psicologia Clínica da USP. Leila afirma que a liberdade oferecida atualmente pela família faz com que o jovem prolongue ainda mais a sua estadia ao lado dos pais. “Antigamente saía-se de casa mais cedo para ter uma vida mais independente em todos os aspectos, mas principalmente no sexual. Atualmente há uma mudança de costumes que favoreceu o solteiro em permanecer mais tempo em casa. Costumamos dizer que hoje a adolescência começa aos 10 anos de idade e só termina no pós-doutorado. Não há tanta pressão da família para que o filho saia de casa e se mantenha independente.” A tendência de sair de casa mais tarde vem crescendo também na Europa. A Eurostat, órgão da união europeia, apresentou uma pesquisa envolvendo 24 países mostrando qual é a faixa etária de quem resolve morar sozinho. Os finlandeses são os que saem da casa dos pais mais cedo, em média, aos 22 anos, e os franceses, ingleses e alemães, aos 23. Já na Itália, Espanha e em Portugal é comum famílias com filhos na média de 30 anos ainda morando sob a proteção dos
EM CASA
O advogado Marcelo Basano, 42 anos, com a mãe Heda Almeida Basano, 69 anos, na casa da família, em São José
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Flávio Pereira
Na Itália, Espanha e em Portugal é comum as famílias com filhos na média de 30 anos ainda morando sob a proteção dos pais. Na Bulgária, a média chega a 35 anos
pais. Na Bulgária a média chega a 35 anos. “Há 20 anos sair da casa dos pais para morar sozinho era uma questão de autoafirmação, como se fosse uma forma de indicação de responsabilidade. Na medida em que a vida foi se tornando mais complexa, as obrigações de quem vive sozinho tornaram-se pesadas. Diante disso, o que podemos encontrar hoje é que viver em casa com a família torna-se mais prático, menos oneroso. Hoje muitos que moravam sozinhos voltaram para casa depois de encerrados seus compromissos”, disse Sueli Damerdian, professora livre docente em psicologia das relações humanas da USP. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no Brasil, os homens solteiros têm idade média de 29 anos e as mulheres, 26 anos. Mas não há dados específicos que indiquem que a maioria ainda mora com os pais. Mesmo existindo mais mulheres que homens, há mais homens solteiros que mulheres em todo o país –são 31.940 homens solteiros contra 30.345 mulheres. Sandra Emília Bottura tem na família dois filhos solteiros. Arthur, de 32 anos, e Ana Raquel, de 28. Ambos são arquitetos. Arthur viveu fora do país e há um ano voltou a morar na casa da mãe. Já Ana preferiu morar sozinha. “Tenho as duas realidades em casa e não vejo diferença. A única coisa que muda é quando o Arthur sai. Aí sim, fico preocupada. Mas os dois têm suas obrigações, responsabilidades”, disse Sandra afirmando que a única situação que ela acredita que deverá fazer falta ao filho é a responsabilidade de saber gerenciar uma casa. “Acho que isso fará falta para a maturidade dele. No demais não vejo problema algum.” “Enquanto for solteiro vou morar com ela (mãe) mesmo porque ela é sozinha em casa e me preocupo. Tenho total liberdade e ela também. Não sinto necessidade de
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mais ou menos privacidade. O que tenho é o suficiente”, disse Arthur. Morando na mesma cidade, mas em seu apartamento próprio, a irmã Ana Raquel tem outro ponto de vista. Para ela, ter um espaço só dela faz sua autoestima melhorar. “Acho que a partir do momento que alcançamos a vida adulta temos que buscar nossa independência, não só financeira, mas em tudo. Não sou contra meu irmão, é até bom para minha mãe não ficar sozinha, mas, para mim, senti necessidade de ter meu próprio espaço”, disse Ana Raquel. Aposentadoria familiar Com a saída tardia dos filhos de casa, as responsabilidades paternas vão se prolongando ao longo dos anos. A média de idade de pais que ainda têm seus filhos em casa, segundo dados da USP, varia entre 50 e 65 anos. “Para os pais a situação é bem variante. Muitos até preferem, outros precisam de mais tranquilidade. Esse prolongamento da adolescência acaba sobrecarregando os pais, que na maioria das vezes se privam de
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NA EUROPA Pesquisa realizada em 24 países pela Eurostat, órgão da união europeia, aponta que os solteiros saem cada vez mais tarde da casa dos pais:
Finlandeses
22 anos Franceses, ingleses e alemães
23 anos Italianos, espanhóis e portugueses
30 anos Bulgária
35 anos
uma aposentadoria familiar”, disse a psicóloga Leila Cury Tardivo. A aposentada Heda Almeida Basano, aos 69 anos se diz feliz em ter os dois filhos solteiros em casa: Marcelo, 42 anos, e Rico, 38 anos. Para ela, a decisão dos filhos de não saírem de casa faz com que se sinta mais segura. “Se eu mandá-los embora de casa não adianta, eles ficam (risos). Mas eu também não quero, sou muito feliz com os dois em casa. Sou sozinha e me sinto protegida com eles. Um dia talvez eles casem, mas até lá quero tê-los comigo”, disse Heda. Para os dois filhos, o fato de morar com a mãe não quer dizer falta de independência ou responsabilidade. O advogado Marcelo Basano classifica o fato de morar com a mãe como “uma opção bem resolvida”. “Meu trabalho é aqui na chácara onde moramos. Sou responsável pela administração. Temos estábulos, onde alugamos baias para cavalos particulares. Não vejo como falta de responsabilidade morar aqui. Cada um leva sua vida e, já que não casei, porque não continuar com minha família?”, disse Marcelo, dividindo a
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mesma opinião do irmão mais novo, Rico. “Não vejo nenhum problema em ter minha independência financeira e ainda assim morar na casa da minha mãe. Até tenho meu apartamento montado em São José dos Campos, mas prefiro morar com minha família. Carinho, conforto, estar na casa onde vivi toda minha infância, isso me faz me sentir bem”, disse o publicitário Rico Basano. O outro lado Para a psicóloga Sueli Damerdian, um alerta deve ser feito aos solteiros que optam em prolongar o período de convivência na casa dos pais. Segundo ela, os filhos adultos deveriam contribuir com as despesas da casa, dividindo assim as responsabilidades de um lar. “Essa pessoa não deve se tornar oportunista somente para usufruir o bem-estar. Há de compartilhar com as despesas, há de ter o bom senso de participar da vida familiar”, explica. A aposentada Célia*, 54 anos, vive um drama em casa. Tem dois filhos solteiros. O mais novo saiu de casa aos 19 anos para
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NO BRASIL Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam que os homens são atualmente a maioria entre os solteiros:
mulheres solteiras
30.345 Idade média
26 anos Homens solteiros
31.940 Idade média
29 anos
cursar faculdade e segue a vida morando sozinho, já o mais velho morou fora durante sete anos cursando faculdade e hoje, aos 30 anos de idade, voltou a morar com os pais, que reclamam da falta de privacidade. “É ruim porque criamos filhos para o mundo. O que vejo no meu filho mais velho é que ele ainda mora comigo porque não se lança. Acho realmente que ele se aproveita de uma situação. Morou no Rio de Janeiro por sete anos, voltou para casa por falta de estrutura financeira e hoje tem seu escritório em casa. É complicado falar do filho, mas meu marido acabou de se aposentar e tem muitas coisas que poderíamos fazer que ele (o filho) ainda nos prende como nos velhos tempos de criança. Não somos dois, somos três”, disse Célia. No final da mesma música que começou este texto Renato Russo repreende o adolescente dizendo que ele “culpa seus pais por tudo”. Logo em seguida, ele pergunta: “o que você quer ser quando você crescer?”. Desta vez, a pergunta fica fora de contexto. • * nomes fictícios
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CINEMA
Novo boom nacional Após um ano excelente para o cinema brasileiro nas bilheterias, 2011 recebe uma série de estreias neste mês mostrando que o mercado interno tem um potencial que já começou o ano bem explorado Franthiesco Ballerini São Paulo
O
ano de 2010 foi histórico para o cinema brasileiro. Além das estreias nacionais terem garantido um dos melhores desempenhos de mercado nas últimas décadas, foi o ano em que “Tropa de Elite 2” finalmente bateu “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976), tornando-se a maior bilheteria da história do cinema nacional, com mais de 11,2 milhões de espectadores. Mas o que esperar de 2011? Vamos demorar outras três décadas para termos um ano tão incrível comercialmente? Talvez, mas há uma série de lançamentos que prometem gerar muita discussão na mídia, tietagem dos fãs, polêmicas e, quem sabe, por consequência, bilheteria. O ano até que começou bem com uma novidade histórica da produção brasileira, o filme “Brasil Animado”, considerado o primeiro filme nacional em 3D. A bilheteria desapontou –bem como a qualidade do filme– mas ao menos abriu as portas de um mercado com um potencial interno enorme. A partir deste mês, uma lista de produções brasileiras aguardadas começa a desovar nas telas. A começar por “Lope”, uma coprodução Brasil-Espanha dirigida por Andrucha Waddington, que conta a história do
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poeta e dramaturgo espanhol Lope de Vega, ícone artístico daquele país que viveu nos séculos 16 e 17. Com a participação de Sonia Braga e Selton Mello, a produção segue o estilo hollywoodiano de narrativa, com uma boa ambientação histórica e interpretações interessantes. Infelizmente não foi bem recebido na Espanha, pois as mentes mais conservadoras e limitadas daquele país criticaram o fato da semibiografia de um ícone da cultura espanhola estar sendo dirigida por um cineasta brasileiro. “Gostei muito do trabalho, pois pude contar os primeiros anos de formação do artista, depois que ele voltou da guerra de Portugal. É o nascimento de um artista, algo praticamente atemporal”, comenta Waddington, que tirou algumas licenças poéticas, como a cena em que Lope corrige Cervantes, outro grande artista da época. “A importância de Lope, que morreu rico enquanto Cervantes morreu pobre, é enorme, pois ele fundou o teatro clássico espanhol, retirando as fronteiras entre tragédia e comédia”, diz o diretor, que fundiu cenas de aventura, drama, romance e comédia. Outra produção aguardada do cinema brasileiro é “Vips”, com promessa de entrar em cartaz ainda neste mês. Protagonizado por Wagner Moura e dirigido por Toniko Melo, o filme segue um vigarista que foi empresário, líder de facção criminosa, aviador, famoso e milionário. Baseado em fatos reais, conta a história de Marcelo, que enga-
ESPANHA
‘Lope’ traz a história do poeta espanhol numa co-produção com o Brasil
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nou autoridades, jornalistas e celebridades, usando identidades diferentes até para fugir da prisão. O filme foi o grande vencedor do Festival do Rio do ano passado, faturando quatro troféus e R$ 40 mil em prêmios. Wagner Moura ganhou o prêmio de melhor ator, especialmente por interpretar cinco personagens, dentre eles, a versão que fingiu ser o filho do dono de uma das maiores companhias aéreas do Brasil. O roteiro foi escrito por Bráulio Mantovani (“Cidade de Deus”) e Thiago Dottori. O resultado é uma produção que flui bem com o público sem deixar de ter méritos artísticos. As adaptações literárias de grandes clássicos brasileiros também prometem neste ano. Destaque para “Capitães de Areia”, dirigido por Cecília Amado, neta de Jorge Amado, autor da obra. Ambientada em Salvador nos anos 1930, mostram a rotina de menores abandonados, cujas aventuras são lideradas pelo jovem Pedro Bala. “Não é porque é do meu avô, mas o livro marcou minha adolescência. Eu lia cada página imaginando as cenas como se fosse de um filme”, conta Cecília. Os personagens são interpretados por atores desconhecidos do público e provenientes de ONGs da periferia de Salvador, como Olodum, Ilê Aiyê e Projeto Axé. “De 90 adolescentes pré-selecionados, ficaram 12, após um processo de mais de um ano. Conhecer estes meninos e meninas foi fundamental para dar realismo à história”, diz Cecília, que já havia passado por experiências semelhantes quando foi assistente de direção de “Cidade dos Homens”, na Globo. O livro foi escrito em 1937, quando Jorge Amado tinha 24 anos e era comunista ferrenho. Lido por mais de 5 milhões de pessoas no mundo inteiro, o livro tem tudo para entregar uma obra cinematográfica de carreira internacional, visto que apresenta todos os elementos narrativos que chamam a atenção de festivais internacionais – crianças, mazelas sociais, visual de cidade histórica latino-americana etc. Ainda neste universo de amizades, o filme “Bróder”, com previsão de estreia nas próximas semanas, conta o reencontro de três amigos que cresceram juntos no Capão Redondo, na periferia de São Paulo. Jaiminho (Jonathan Haagensen), jogador de futebol em ascensão, Pibe (Silvio Guindane), corretor de imóveis, e Macu (Caio Blat), jovem criminoso, são os protagonistas desta história dirigida pelo rapper Jeferson De. O filme participou de Festival de Berlim, na
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BRÓDER
Jonathan Haagensen interpreta Jaiminho, um jogador de futebol em ascensão na periferia paulistana
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Wagner Moura estrela o longa que conta a história do estelionatário que se passou por dono da Gol
mostra Panorama. “Quis mostrar que morador de favela se depara sempre com três opções na vida, se tornar jogador de futebol, bandido ou passar a vida num trabalho qualquer”, comenta o diretor, que teve R$ 3 milhões para contar a história focada principalmente no negro e sua inserção na sociedade. Vencedor do Festival de Gramado recente, não tem potencial de grande público, mas sim de alimentar grandes discussões na mídia. Embora sem nenhuma previsão de estreia, o ano pode ter também um documentário sobre a vida de Raul Seixas, com direito à reconstituição de shows históricos. Dirigido por Walter Carvalho, muitas das imagens foram cedidas por Kika Seixas, ex-mulher de Raul, mostrando o cantor com seu ex-parceiro criativo, hoje escritor Paulo Coelho. Mais para o lado comercial, puro entretenimento, está “Família Vende Tudo”, dirigido por Alain Fresnot e com Luana Piovani vivendo Jennifer, mulher que é constantemente traída pelo marido Ivan Carlos (Caco Ciocler), o “rei do xique”, gênero musical
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que mistura rock, forró, hip hop e funk. Ou seja, Luana Piovani, conhecida por ser geniosa e independente, vive uma mulher submissa e traída. No elenco ainda estão Lima Duarte, Marisa Orth, Vera Holtz, Lilia Cabral e Rosi Campos. Filmado em São Paulo, Foz do Iguaçu e Paulínia, “Família Vende Tudo” tem grande chances de ser bem-sucedido em bilheteria. Se 2011 está cheio de opções para os mais variados públicos, falta-lhe, no entanto, algum produto com reais chances de representar o Brasil no Oscar do ano que vem, bem como em outros festivais, assim como sequências que levantem a bilheteria nacional, já que não se espera o terceiro filme da saga “Se eu Fosse Você” para este ano, tampouco o terceiro “Tropa de Elite” – até porque Padilha já descartou dirigi-lo. Assim, ao menos que um destes filmes realmente surpreenda dentro ou fora do país, 2011 poderá ser lembrado como o ano de um cardápio repleto de opções, mas pouco saboroso e sem nenhuma especialidade da casa. •
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Cultura&mais Incansáveis e invencíveis
Adriano Pereira São José dos Campos
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ntre músicos e fãs de rock é comum o desafio: você já viu alguém com uma camiseta do Iron Maiden hoje? A brincadeira obviamente tem seu fundo de verdade, é quase impossível passar um dia sem ver alguém com uma camiseta da banda, mesmo que essa pessoa nem saiba de quem se trata. Iron Maiden é uma instituição que não se altera com o tempo, mantém-se fiel ao estilo criado, ao espetáculo e aos fãs. É essa a bagagem que o Ed Force One, avião pilotado pelo próprio vocalista da banda, Bruce Dickinson, traz para o Brasil em seis shows. Em São Paulo, a banda toca
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no dia 26 de março no Estádio do Morumbi. As apresentações fazem parte da turnê “The Final Frontier” e deve passar por 26 cidades em 13 países. O Brasil sempre esteve incluído nas turnês do Maiden. “É sempre ótimo voltar à America Latina, onde nossos fãs estão entre os mais apaixonados do planeta! Os fãs brasileiros são um exemplo perfeito dessa paixão e sempre sentimos uma enorme responsabilidade ao tocar ao vivo no Brasil, porque temos a obrigação de dar o nosso melhor, merecer a lealdade de todos esses fãs. É especialmente excitante nesta turnê –graças ao nosso ‘tapete mágico’ Ed Force One- a possibilidade de estar em lugares onde nunca estivemos”, diz o vocalista. A atual turnê se baseia no último disco de estúdio da banda, ‘The Final Frontier’, lançado em agosto pela EMI Records (UME
Fotos: Divulgação
nos EUA) e que se tornou um dos mais bemsucedidos trabalhos da banda, alcançando o primeiro lugar em vendas em 28 países. Aqui no Brasil, foi o álbum mais vendido na Saraiva, Livraria Cultura e FNAC durante as duas primeiras semanas do lançamento. Mesmo tendo o disco mais recente como pano de fundo, é óbvio e certeiro ouvir os “clássicos” da banda em todos os shows. Nenhum fã sairá sem “The Number of The Beast”, “Run to The Hills” e todas as outras. “Para essa nova turnê, nós temos um palco completamente novo, como muitas novidades e um set list que trará musicas de nosso último álbum, The Final Frontier, além de músicas familiares de outros álbuns que temos certeza que os fãs querem ouvir e… claro, um novo e espetacular Eddie!”, completa Dickinson.
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POLÊMICA
PAUSE
CURTIR
Ateu praticante e crítico feroz do trabalho de Madre Teresa, conheça o encrenqueiro
Acompanhe as notícias do mundo da música em www.valeparaibano.com.br/ soltaopause
A história da criação do fenômeno Facebook chega ao DVD em “A Rede Social”. Excelente pedida.
WEB
MÚSICA
SHAKIRA
CD’S & MAIS
O rebolado da loka, loka, loka
VALE DESTAQUE
O homem que ainda desafia a ciência Ozzy Osbourne faz parte de um grupo seleto de seres humanos, daqueles que conseguem passar do “além do limite” e ainda assim continuarem vivos e ativos. Tudo bem que o caminhar do “Príncipe das Trevas” é o de alguém que parece ter acabado de sair de uma overdose, mas ele é um dos poucos desse grupo que ainda lança discos, sobe nos palcos e circula pelo mundo fazendo o que sempre fez: rock and roll. No dia 2 de abril, ele se apresenta em São Paulo, na Arena Anhembi, com o show que faz parte da divulgação do álbum “Scream” (Epic), lançado em 2010. Ozzy no palco continua sendo o personagem de sempre, a diferença entre os dias de hoje e as turnês regadas à drogas e álcool de antigamente é que a produção atual é gigantesca. Metralhadoras de espuma, fundo de
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palco que parece ser um oceano em movimento, uma série de canções clássicas do Sabbath, enfim, tudo que um bom fã de heavy metal gosta de ver. Tradicionalmente, os guitarristas que acompanham a carreira solo de Ozzy Osbourne chamam a atenção. Randy Rhoads no começo, seguido de Jake E. Lee, e por último o lendário e talentosíssimo Zakk Wylde. Para “Scream”, o cantor teve que procurar um novo guitarrista. Acabou encontrando o grego Gus G., um músico jovem conhecido no meio pelo talento, mas principalmente por mostrar um timbre muito semelhante ao de Tommy Iommi, o dono das seis cordas no Black Sabbath. “Scream” não é obviamente o melhor trabalho da carreria de Ozzy, mas não deixa de ser um bom disco. Para os fãs de todas as épocas, o show serve de qualquer maneira.
SOB VÁRIOS Á ÂNGULOS Mais do que esperado, o novo CD do The Strokes já é tão comentado que vale a pena comprar PREÇO: R$ 35.-
MAIS ROCK ADOLESCENTE Avril Lavigne chega com seu quarto álbum. Será que esse também tem algum plágio? PREÇO: R$ 32.-
QUASE TÂO BOM QUANTO... O Green Day chega com duplo ao vivo às prateleiras no dia 15 deste mês PREÇO: R$40.-
É melhor um festival que se diz pop logo de cara do que um que tenha rock no nome e seja totalmente pop. Assim, pelo menos quem for ao Pop Music Festival , dia 19, no estádio do Morumbi, em São Paulo, sabe o que vai encontrar. Nomes como Ziggy Marley, FatBoy Slim, Train, os brasileiros do Chimarruts e a colombiana Shakira formam o line-up que vem sendo anunciado desde o final de 2010. No final, o evento consegue reunir um ecletismo pop. O reggae de Ziggy e dos brasileiros, o pop comercial de Train e mais comercial ainda de Shakira e o talento fica por conta de FatBoy. Vai quem quer.
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Viva a Vida
Carlos Carrasco
Se ficamos debaixo d’água é porque não enxergamos que a culpa é toda nossa
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alavra antiga, “reutilizar” sempre escutei da minha avó paterna, que devemos reutilizar as coisas. O que os antigos faziam, nada mais é o que chamamos hoje de reciclagem, não importa, se reciclamos plástico ou material orgânico, qualquer coisa pode ser reciclada. Tudo pode ser reaproveitado. Tenho uma tatuagem na nuca há 10 anos, o símbolo da reciclagem, levo isso tão à sério em minha vida, que marquei meu corpo. Se nós humanos tivéssemos essa consciência, talvez cidades não ficassem debaixo d’água, não morreriam pessoas afogadas no próprio consumo. Minha volta a São Paulo, depois de 40 dias no paraíso, foi triste, me amargou o coração ver Sampa alagada. Do meu prédio vejo a avenida Ricardo Jafet, uma das mais importantes da cidade, ficar inundada. Impressionante, há quatro anos moro neste prédio e há quatro anos que vejo a mesma coisa. Acabamos por culpar sempre o governo, mas o que fazemos para mudar isto? Tenho feito a minha parte, mas sou uma formiguinha perto de tanta geografia. Então resolvi usar este espaço, que gentilmente me cederam, para tentar pelo menos jogar uma semente de consciência. Alguns anos atrás, estive na China numa viagem linda de trabalho que me deu a oportunidade de saber um pouco mais de uma cul-
tura diferente. Quando cheguei em Beijim fiquei surpreso: que cidade limpa! Nenhum papelzinho jogado no chão, cestos de lixo e cinzeiros existiam a cada esquina que passava. Achei aquilo de uma superioridade, uma cidade com bilhões de pessoas e mantinham a cidade tão limpa quanto o hotel cinco estrelas onde estava hospedado. Fiquei curioso. Como conseguiam aquela proeza? Saí à procura de informação, descobri então que apesar do país estar em pleno desenvolvimento, e já incluso como uma das mais fortes economia do planeta, era um país de bilhões de pessoas muito pobres e que tudo que se produz ali naquele lugar, quando não se utiliza mais, é reciclado. Eles reaproveitam tudo, a indústria da reciclagem é vista por todos como a indústria do futuro. Num país onde a pobreza é enorme, eles vêem no lixo uma forma de ganhar a vida. Não é muito diferente daqui, só é mais organizado, ao mesmo tempo que nos faz pensar sobre a nossa pequenez com relação ao tamanho do Universo, também nos mostra como os materiais descartados podem ser reaproveitados. As imagens que vi naquele distante lugar, marcaram no sentido de escancarar o fato de que tudo será descartado um dia, inclusive nós mesmos. Porém, os “descartáveis” a que me refiro não são seres vivos, e sim coisas permanentes, grandes e sólidas, e que na nossa humana percepção são “imutáveis”, como carros e casas. Sim, claro, um dia, eles também acabarão! Todos e tudo um dia acabarão, se-
NATUREZA Minha volta à São Paulo, depois de 40 dias no paraíso, foi triste, me amargou o coração ver Sampa alagada rão desmontados, irão parar em algum lixo e com sorte, farão parte da pequena porcentagem dos materiais que são reciclados. Como tive essa sensação? Provavelmente pelo fato da China, transformar uma tampa de garrafa em um carro, uma lata de cerveja em um banco e uma embalagem de hamburgueres em um disco-voador que ilumina e decora uma sala de estar. Muitas vezes eles (os lixos) ainda estão, assim como nós, em grandes cidades, no meio da multidão que atravessa a rua às 6 horas da tarde de uma sexta-feira chuvosa, sem aproveitamento, inúteis, poluindo a vida. Acho que devemos pensar um pouco mais sobre o assunto, e repensar mais ainda, quando descartamos algo que não nos é mais útil. Será que não podemos recriar, recusar, reciclar? •
Carlos Carrasco cabeleireiro
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