Revista valeparaibano marco 2012

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OUSADIA

DITADURA

CINEMA

Amanda Seyfried está em ‘12 horas’, dirigido por Heitor Dhalia

Março 2012 • Ano 2 • Número 24 R$ 7,80

A CADA DUAS HORAS UMA MULHER É AGREDIDA EM SÃO JOSÉ


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Opinião

Palavra do editor

DIRETOR RESPONSÁVEL Ferdinando Salerno

A violência contra a mulher

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o mês em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, a revista valeparaibano revela uma realidade assustadora: a cada duas horas uma mulher é vítima de violência doméstica em São José dos Campos. Foram 3.592 denúncias de agressões registradas no ano passado. Mas essa cruel estatística não para por aí. Somam-se outras 1.496 ocorrências de lesões corporais dolosas, 110 casos de estupro e quatro tentativas de homicídio. Os dados fazem parte do cruzamento de informações dos principais órgãos na linha de frente do problema, a DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) e a organização não-governamental SOS Mulher. A violência doméstica em São José não difere das estatísticas em todo o país: a cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil. O número de homicídios superou a marca de 4.000 casos no ano passado. No mês passado, o STF (Supremo Tribunal Federal) reeditou a chamada Lei Maria da Penha, concedendo ao Ministério Público a prerrogativa de dar início à ação penal contra o agressor sem a necessidade da representação da vítima, como era previsto antes. Já o Senado e a Câmara dos Deputados instalaram uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) para apurar casos de omissão do poder público na aplicação da lei. Ao que tudo indica, diferentes esforços começaram a ser tomados na tentativa de minimizar esse problema que acomete mulheres de diferentes classes sociais, crenças e costumes. O número de vítimas que passou a denunciar as agressões aumentou, apesar de a violência doméstica ainda ser uma realidade velada em nossa sociedade. Em São José, cresceu 21% em relação a 2010, mas ainda está muito aquém da realidade, bem mais estarrecedora do que a que aparece nas estatísticas oficiais. Mas, acredite, nada tem mais força que a voz. E a covardia do agressor deve ser enfrentada com a coragem da denúncia.

DIRETORA ADMINISTRATIVA Sandra Nunes EDITOR-CHEFE Marcelo Claret mclaret@valeparaibano.com.br EDITOR-ASSISTENTE Adriano Pereira adriano@valeparaibano.com.br EDITOR DE FOTOGRAFIA Flávio Pereira flavio@valeparaibano.com.br REPÓRTERES Hernane Lélis (hernane@valeparaibano.com.br), Isabela Rosemback (isabela@valeparaibano.com.br) e Yann Walter (yann@valeparaibano.com.br) DIAGRAMAÇÃO Daniel Fernandes daniel@valeparaibano.com.br ARTE CAPA Ana Paula Comassetto anapaula@valeparaibano.com.br COLABORADORES Cris Bedendo, Franthiesco Ballerini, Isnar Teles, Letícia Maciel e Marrey Júnior COLUNISTAS Alice Lobo, Arnaldo Jabor, Fabíola de Oliveira, Marco Antonio Vitti e Ozires Silva CARTAS À REDAÇÃO cartadoleitor@valeparaibano.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. O valeparaibano reserva-se ao direito de selecioná-las e resumi-las.

DEPARTAMENTO DE PUBLICIDADE REGIONAL Cristiane Abreu, Mellise Carrari,

Tatiana Musto e Vanessa Carvalho comercial@valeparaibano.com.br (12) 3202 4000 RIO DE JANEIRO E BRASÍLIA

Essencial Mídia Carla Amaral e Claudia Amaral (11) 3834 0349

A revista valeparaibano é uma publicação mensal da empresa Jornal O Valeparaibano Ltda. Av. São João, 1.925, Jardim Esplanada, São José dos Campos (SP) CEP: 12242-840 Tel.: (12) 3202 4000

ASSINATURA E VENDA AVULSA Carina Montoro 0800 728 1919 Segunda a sexta-feira, das 8h às 18h FAX: (12) 3909 4605 relacionamento@valeparaibano.com.br www.valeparaibano.com.br

PARA FALAR COM A REDAÇÃO: (12) 3909 4600 EDIÇÕES ANTERIORES: 0800 728 1919

S A TIRAGEM É AUDITADA PELA

Marcelo Claret editor-chefe

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MODA

Sumário

O MELHOR DO INVERNO P68

ESPECIAL

Inimigo íntimo Em São José dos Campos, a cada duas horas uma mulher é vítima de violência doméstica; em 2011 foram 3.592 ocorrências, mas apenas 860 tiveram coragem para denunciar o seu agressor

POLÍTICA REFORMA AGRÁRIA

HISTÓRIA

MÚSICA EXCLUSIVO

Os sem-terra que deram certo P10

Memórias do Cárcere

O hype do Foster The People P92

Assentamento em Tremembé bate recorde de produção e dá exemplo de organização

Ex-militantes políticos do Vale do Paraíba visitam as celas do Dops, em São Paulo, e revivem parte de suas trajetórias na ditadura

ECONOMIA PESQUISA

Mercado imobiliário em aquecimento P20 Valor do aluguel sobe até 150% no período de quatro anos em São José ENTREVISTA PEDRO ANDRADE

“Sempre soube que não era melhor ou pior do que ninguém” P46

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P74

SAÚDE

Amor in vitro Bebê de proveta é opção cada vez mais procurada por casais inférteis P32

Em entrevista à valeparaibano, banda fala sobre a carreira e sobre a expectativa de se apresentar em abril no Brasil ESPECIAL TECNOLOGIA

Dos aviões para a Fórmula 1 P36 Ensaio Fotográfico p52 Hi-Tech p66 Cinema p88 Arnaldo Jabor p98

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0800 600 6904 O loteamento AlphaVille São José dos Campos encontra-se registrado sob o R. 02, na matrícula nº- 18.460, do 2º- Registro de Imóveis da Comarca de São José dos Campos-SP, em 20/9/2011. O loteador assumiu junto à municipalidade a obrigação de executar as seguintes obras de infraestrutura: terraplanagem, guias e sarjetas, pavimentação viária, paisagismo, rede de esgoto, rede de água, rede de drenagem de águas pluviais, rede de energia elétrica e iluminação pública e de áreas verdes, iniciando o prazo para execução, da expedição do licenciamento para o início das obras, emitido pela Prefeitura Municipal de São José dos Campos-SP, em 22/8/2011 e finalizando-as 24 meses após referida data. Os projetos arquitetônicos da área de lazer, área de apoio e portaria serão aprovados nos órgãos públicos competentes, podendo sofrer alterações sem prévio aviso.

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Política

Da Redação Justiça leva a leilão terreno do Pinheirinho Previsão é que pregão eletrônico da área de 1,3 milhão de metros quadrados seja realizado dentro de um mês

BRANCO & PRETO Sobre a Ficha Limpa, a primeira lei de iniciativa popular, que teve aprovação da maioria no Supremo Tribunal Federal

“A Lei da Ficha Limpa busca proteger os valores de moralidade e probidade na política. É uma opção legislativa legítima feita pelo Congresso”

Ricardo Lewandowski Ministro do STF

SALDO O que sobrou do acampamento sem-teto Pinheirinho após a destruição das casas em S. José

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área de 1,3 milhão de metros quadrados conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos, será leiloada em um mês. O valor inicial para os lances já foi calculado, porém não divulgado pela Justiça. O pregão virtual é aberto para qualquer pessoa interessada em adquirir o terreno, que pertence a massa falida da Selecta, do megaespeculador Naji Nahas, e abrigava 1.600 famílias sem-teto. “A perícia já foi realizada, mas não tenho o valor ainda. O terreno será vendido por leilão eletrônico que deve acontecer dentro de um mês ou no máximo um mês e meio”, disse o juiz Luiz Beethoven Giffoni Ferreira, da 18º Vara responsável pelo processo de falência da Selecta. Questionado sobre o valor especulado da gleba, R$ 85 milhões, o magistrado foi ta-

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xativo na avaliação. “Não sei de onde saiu esse valor e nem quem estimou a quantia”. Beethoven Ferreira explicou ainda as prioridades no pagamento aos credores da massa falida. “Primeiro os trabalhistas, depois crédito fiscais e sindicais”. Segundo ele, até mesmo órgãos públicos podem participar do leilão. “Teoricamente pode, mas na prática acho que nunca ouvi falar nisso”. A reintegração de posse do Pinheirinho ocorreu no dia 22 de janeiro. A ação reuniu 2.000 policiais militares e gerou 36 horas de tensão na região sul de São José. A remoção dos sem-teto causou revolta em parte da população. O caso ganhou grande repercussão na mídia, inclusive de veículos de imprensa internacional. A legitimidade e os meios usados para a desocupação da área ainda é questionada por membros do poder público.

“Essa lei é fruto do cansaço, da saturação do povo com os maus-tratos infligidos à coisa pública”

Ayres Britto Ministro do STF

“A lei foi gestada no ventre moralizante da sociedade brasileira que está agora a exigir dos poderes instituídos um basta”

Rosa Weber Ministra do STF

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Domingo 4 Março de 2012

Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB

“A questão do aborto não pode ser entendida como questão ideológica. Nós colocamos com o sentido de vida humana” Sobre a posição favorável da ministra Eleonora Menicucci (Mulheres) sobre a descriminalização do aborto

Começa processo de eleição do novo reitor da Univap

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eve início o processo eleitoral que escolherá o novo reitor da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), em São José dos Campos. Seis professores são candidatos, Disputam o cargo Airton Abraão Martin, Emília Angela Loschiavo Arisawa, Jair Cândido de Melo, Luis Carlos Andrade Aquino, Sandra Maria Fonseca da Costa e Sérgio Reginaldo Bacha. Eles defendem transparência total na gestão de recursos, a criação do ‘orçamento participativo’, a reformulação do vestibular para melhorar o nível acadêmico, o apoio à criação de novos diretórios acadêmicos, a valorização de funcionários por meio de

Governo federal anuncia corte de R$ 55 bilhões

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governo federal anunciou um corte de R$ 55 bilhões no Orçamento de 2012. O número é 10% maior que o contingenciamento anunciado em 2011, de R$ 50 bilhões, e também busca garantir mais investimentos ao longo do ano. O governo já informou que os cortes deste ano garantirão o cumprimento da meta de superávit primário (economia feita para o pagamento dos juros da dívida pública), de R$ 139,8 bilhões. O corte pode ser positivo do ponto de vista fiscal, de economia do gasto público, por exemplo. Mas há um lado negativo:

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cursos e a melhoria da qualidade de ensino. De 1992, quando foi criada, até novembro de 2011, a Univap teve como reitor Baptista Gargione Filho, que também presidiu a FVE (Fundação Valeparaibana de Ensino), mantenedora da universidade, de 1981 a fevereiro de 2011. O colégio eleitoral da Univap, composto por 100 pessoas, entre professores, funcionários e alunos, votou nos candidatos de sua preferência. O ranking foi para o Cius (Conselho Integração Universidade-Sociedade), que definirá uma lista tríplice. Por fim, a lista será encaminhada ao Conselho Curador da Fundação Valeparaibana de Ensino, composto por membros da fundação e da Univap, alunos e representantes do poder público e da sociedade civil, para eleição secreta. O processo deve ser concluído até 18 de abril. A Univap tem cerca de 8.000 alunos matriculados nos cursos de graduação e de pós, além de outros 2.300 na educação básica e no ensino médio. a possibilidade de limitações ou recuo nos investimentos estatais, uma das preocupações governamentais. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ressaltou que os investimentos deverão crescer mais do que 10% em 2012 e que, diante do cenário econômico internacional, o Brasil estará “remando contra a corrente”. Outro objetivo do corte orçamentário é assegurar o espaço para o afrouxamento da política monetária, com a redução da taxa básica de juros pelo Banco Central. Com isso, o governo pretende estimular o mercado interno a induzir o crescimento econômico, em um cenário de possível redução da demanda externa provocada pela crise da zona do euro. Os cortes preveem, segundo comunicado dos ministérios do Planejamento e da Fazenda, uma despesa obrigatória –que envolve gastos com pessoal, entre outros– menor em R$ 20,512 bilhões. Já as despesas discricionárias, que mantêm os programas dos ministérios, foram reduzidas em R$ 35 bilhões.

Dilma manda um recado aos evangélicos: é contra o aborto A presidente Dilma Rousseff mandou recado à bancada evangélica no Congresso pelo ministro da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho: é contra o aborto e ministro não tem posição individual, mas de governo. Dilma tenta acalmar os ânimos da Frente Parlamentar Evangélica, que questiona a escolha de Eleonora Menicucci para a Secretaria de Política para as Mulheres. A nova ministra é defensora de mudança na legislação relativa ao aborto. Ela própria afirma já ter passado por dois. O ministro se reuniu com o segmento evangélico para explicar declarações durante o Fórum Social, em Porto Alegre, realizado no mês passado. À ocasião, afirmou que o Estado deve fazer uma disputa ideológica pela “nova classe média”, que estaria sob hegemonia de setores conservadores. “Lembro aqui, sem nenhum preconceito, o papel da hegemonia das igrejas evangélicas, das seitas pentecostais, que são a grande presença para esse público que está emergindo”, disse. Na reunião com a Frente Parlamentar Evangélica, Carvalho disse que foi “mal interpretado” e pediu “perdão” pelo “sentimento” que suas declarações provocaram. “Houve interpretação de que o governo se armava para fazer uma guerra com as igrejas evangélicas. Isso não é verdade, pelo contrário, o governo considera as igrejas evangélicas parceiras e muito importantes.”

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Política

SEM-TERRA

Aqui deu certo Assentamento Conquista, em Tremembé, é exemplo de que a organização aliada a políticas governamentais podem sim dar resultados positivos

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Domingo 4 Março de 2012

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Fotos: Flávio Pereira

PRODUÇÃO Neste ano a colheita de poncãs deve chegar a 150 toneladas; na foto, a colheita de goiabas

Yann Walter tremembé

urante anos o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) foi alvo da direita política brasileira que o acusava de ser oportunista e baderneiro. Após anos de invasões, confrontos e propagandas ideológicas de todos os lados, hoje em dia parece até que aquele MST que se pautava por ocupar terras praticamente não existe. Mas os fatos atuais

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mostram um cenário diferente e promissor no qual a regularização de assentamentos combinada com políticas de auxílio governamentais para a prática de agricultura familiar pode sim dar resultados satisfatórios para todas as partes. Sandro Silventos Cavini, 48 anos, é morador do assentamento Conquista, em Tremembé, ocupado em 1993 e regularizado pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em 1996. Cem famílias do Nordeste, de Minas Gerais, da Bahia e do Estado de São Paulo, que representam mais ou menos 400 pessoas, estão estabelecidas em uma superfí-

cie de 1.365 hectares (13,65 milhões de metros quadrados). “Pouco mais de 20% deste total é área preservada, mas o resto é utilizado para a produção agrícola. Hoje, 60 das 100 famílias do assentamento produzem em grande escala para o comércio. Aqui temos alface, chicória, cheiro-verde, coentro, hortelã, abobrinha, quiabo, poncã, laranja baiana, laranja lima, mexericas, goiaba, lichia e limão Taiti”, enumera. Cavini e outras 36 famílias se uniram para formar a Coaafact, uma das duas cooperativas do assentamento. As quantidades escoadas pela organização são impressionantes, ainda mais

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Política

por se tratar de agricultura familiar, e não de produção industrial. “No total, a cooperativa vendeu 200 toneladas de produtos no ano passado, sendo 150 toneladas de hortaliças e 50 toneladas de frutas, somente com os programas governamentais. Acredito que outras 80 toneladas tenham sido repassadas a varejo para as feiras e os mercados”, estimou o agricultor. Grande parte da renda anual de Cavini vem de programas governamentais, também chamados de mercados institucionais. Cada família do assentamento Conquista pode escoar até R$ 13, 5 mil em produtos por ano através do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos em São Paulo). O PNAE responde por R$ 9 mil do total e o PAA pelos outros R$ 4,5 mil. “No meu lote eu produzo goiaba, poncã, laranja baiana e hortaliças. No ano passado, atingi o teto de R$ 13,5 mil só com a venda de hortaliças. Passei o resto da produção a varejo, para os atravessadores”, contou. Poncãs Para Sandro Cavini, a situação –que já é boa– ainda vai melhorar. “Em abril começa a colheita dos poncãs. Acredito que chegaremos a 150 toneladas. E no próximo ano a quantidade será maior, pois muitos pés ainda não estão produzindo. Além disso, nosso investimento em mudas triplicou”, revelou. Vale frisar que, além dos mercados institucionais, que garantem o escoamento de 50% a 60% de seus produtos, os moradores do Conquista também contam com condições geográficas favoráveis. O relevo é pouco acidentado, a terra é boa e a água, abundante. “Temos o melhor assentamento do Brasil em termos de localização”, afirma Cavini. Todos estes fatores fizeram com que o nível de vida dos assentados melhorasse significativamente. “Nos primeiros anos foi complicado. Não tivemos orientação técnica, e cometemos muitos erros. Fizemos vários investimentos que não renderam. Mas depois descobrimos que o que dá certo mesmo por aqui é a fruticultura, além do plantio de hortaliças. Quase todas as famílias que produzem em escala comercial já subiram para a classe média”, ressaltou. É claro que também existem vários percalços. Um deles é a falta de investimento do poder púbico em infraestrutura. Não há estrada asfaltada no assentamento, e o transporte das mercadorias fica difícil em época de chuva. Também não há escola, nem posto de saúde. Porém, na opinião de Sandro Cavini, o maior problema é o alto número de lotes improdutivos. “Aqui temos 60 famílias que produzem em escala comercial. Isso significa que outras

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DIFICULDADES No assentamento Nova Esperança 1, em São José, a realidade é bem diferente

No Nova Esperança 1, em São José, apenas 20 das 60 famílias produzem em escala comercial. Produção anual não ultrapassa 30 toneladas em 7 milhões de metros quadrados de área

40 produzem apenas para o varejo e para seu consumo próprio. Isso tem que mudar. O que estas famílias precisam é de uma ajuda inicial para começar a produzir em grande escala. Hoje, o assentamento Conquista vende tudo que produz. Isso é ótimo, mas temos potencial para produzir muito mais”, enfatizou. Nem todos os assentamentos sem-terra alcançam os mesmos resultados. As cerca de 300 pessoas estabelecidas no Nova Esperança 1, em São José dos Campos, passam por muitas dificuldades. Localizado na antiga Fazenda Santa Rita, o assentamento de 713 hectares (7,13 milhões de metros quadrados) foi ocupado em

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Política

COOPERATIVA Sandro Cavini na sede da COAAFACT: ‘temos o melhor assentamento do Brasil’

1998 por pouco mais de 60 famílias, procedentes em maioria do Estado de São Paulo. Destas 60 famílias, apenas 20 produzem em escala comercial. De acordo com o morador Divilane Ramos, um carioca de 40 anos radicado há décadas no Estado, a produção anual do Nova Esperança 1, regularizado em 2002, não passa de 30 toneladas. “Produzimos milho, feijão, mandioca, goiaba, laranja, limão, mexerica e um pouco de hortaliça”, destacou. Dificuldades “Nossos maiores problemas são a falta de estradas, de maquinário e de apoio técnico. A topografia do terreno é acidentada, e só temos pequenas estradas de terra. Nenhum caminhão chega até aqui. Muitos moradores têm que usar carrinhos de mão para levar seus produtos para a parte baixa do assentamento. Quando chove, fica pior. Além disso, as pessoas não conseguem plantar na hora certa porque as máquinas chegam sempre atrasadas. Precisamos delas em junho, e elas só vêm em outubro. A prefeitura cede o maquinário uma vez por ano, durante um mês. Ou seja, cada família tem direito a apenas oito horas de máquina por ano. Todo o trabalho é feito na correria”, reclamou Ramos, mencionando ainda a falta de água. “No assentamento de Tremembé, basta cavar um buraco para encontrar água. Aqui a situação é bem diferente. O clima é muito seco. Só temos água para consumo próprio. Para a irrigação, dependemos da chuva”, lamentou. Para driblar a falta de água, o carioca recomendou

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aos assentados que privilegiassem o plantio de frutas cítricas, que não exigem tanto líquido. “Eu mesmo dividi meu lote meio a meio, metade poncã e metade limão Taiti”, entregou. As dificuldades para produzir já levaram várias famílias a desistir da agricultura familiar e a tentar a sorte em outro lugar. “Havia mais famílias aqui antes”, afirma Ramos, destacando que o assentamento ainda foi prejudicado por um incêndio que devastou 17 lotes em outubro passado. “Pedimos ajuda ao Incra, mas o processo ainda está na fase das negociações”, revelou. Assim como o Conquista, o assentamento Nova Esperança 1 conta com mercados institucionais para escoar parte de sua produção. Porém, segundo Ramos, o único com o qual os moradores trabalham é o Mesa Brasil, um programa de doação simultânea conduzido pelo município em parceria com o governo federal. O teto estabelecido para este programa é R$ 3,5 mil por família e por ano. “É pouco, mas representa 40% do orçamento total do assentamento”, disse o natural de Barra Mansa. Os assentados do Vale do Paraíba discutem a criação de uma cooperativa regional para facilitar o acesso aos programas. O PAA e o PNAE se tornaram ferramentas fundamentais para os assentados de um modo geral. Em 2011, segundo o Incra, os assentamentos sem-terra responderam por mais da metade (52%) dos R$ 46,9 milhões movimentados pelo PAA em São Paulo. No ano passado, o Estado respondeu por 13% da execução do programa, que teve orça-

mento nacional de R$ 350 milhões. O Estado de São Paulo tem 115 assentamentos de sem-terras divididos em 64 municípios. Juntos, estes assentamentos têm capacidade para 10.387 famílias, segundo dados fornecidos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Cinco destes 115 assentamentos ficam no Vale do Paraíba. O Conquista de Tremembé é o maior, com 101 famílias. O município ainda tem outro de 64. O Nova Esperança 1, em São José, tem 63, e o Manoel Neto, de Taubaté, 47. Ainda existe outro em Ubatuba, com 53 famílias. “Em Taubaté tem também a fazenda Macuco, mas este assentamento começou a ser gerenciado pelo Incra no fim de 2011 e ainda está na fase da seleção de famílias”, destacou o Incra/ SP por meio de sua assessoria. De acordo com a superintendência regional do Incra em São Paulo, 54 dos 115 assentamentos participam do PAA. “Vale destacar que um fator importante ao bom desempenho desses assentamentos é a organização. Estes 54 assentamentos contam com cooperativas ou associações. As entidades viabilizam o acesso aos programas governamentais e ao mercado”, esclareceu. Sobre o PNAE, o Incra informou que não tem a lista dos assentamentos beneficiados com o programa. “O PNAE não depende só da produção dos assentamentos, mas da disposição das prefeituras em adquirir os alimentos da agricultura familiar. E são poucas as prefeituras do Estado que estão fazendo isso”, concluiu. •

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Flávio Pereira

ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Disputa polarizada Principais partidos ainda aquecem os motores para a corrida eleitoral em São José: PT e PSDB estão sem candidatos, metas e planos de governo definidos Yann Walter são josé dos campos

pouco mais de seis meses das eleições municipais, os dois maiores partidos políticos de São José dos Campos ainda aquecem os motores para a corrida eleitoral. Tanto o PSDB quanto o PT estão apenas nos preliminares, definindo quais serão as principais orientações das respectivas campanhas e, sobretudo, quais serão os candidatos à sucessão do prefeito tucano

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Eduardo Cury, que está há oito anos no comando do Paço Municipal. Para falar sobre os principais desafios dos partidos para a próxima gestão e sobre como estão os preparativos para a disputa ao Executivo, convidamos o deputado federal Carlinhos Almeida (PT) e o presidente do diretório municipal do PSDB, Alexandre Blanco, que também ocupa o cargo de secretário municipal da Juventude. Carlinhos é claramente o nome mais cotado do Partido dos Trabalhadores para a disputa, mas ainda não assumiu oficialmente sua candidatura. Blanco, por sua vez, fez questão de frisar que o processo de

escolha ainda está no início, e que nenhum nome do PSDB se sobressai em relação a outros. O certo é que Emanuel Fernandes, que governou a cidade entre os anos de 1997 e 2003, não será candidato a prefeito. Na ausência de metas definidas para as eleições municipais e detalhamentos dos planos de governo de cada partido, Carlinhos e Blanco adiantaram à revista valeparaibano as grandes linhas diretrizes de suas legendas, fizeram um balanço da gestão Eduardo Cury e destacaram os pontos fortes e os pontos fracos de seus adversários. Leia os principais trechos das entrevistas nas páginas seguintes.

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Política

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Flávio Pereira

CARLINHOS ALMEIDA Quais são as propostas do PT para São José? < As propostas vão ser apresentadas mais à frente, após consulta com os parceiros políticos e a população. A coligação somente será definida em junho, e o programa será determinado em seguida. Mas o PT vai defender propostas coerentes com a linha do partido, como transparência na administração, eficiência no atendimento ao cidadão, atendimento de grandes demandas sociais e desenvolvimento sustentável da cidade. Um dos pontos mais importantes é a democratização da gestão, e isso passa por uma participação maior da população. Precisamos de mais eficiência na administração. Hoje, as licitações da prefeitura contratam muito mal. O Teatro e o Fórum são exemplos de má gestão administrativa, e isso precisa mudar. Quais serão as principais mudanças em relação à gestão anterior? < A principal será o diálogo com a população. Hoje não existe esse diálogo. O que você achou da operação policial no Pinheirinho, que foi notícia em todo o país e em várias partes do mundo? Você acha que a imagem da administração municipal saiu muito desgastada do episódio? Você acha que a situação poderia ter sido administrada de forma melhor? Se você estivesse na prefeitura, como você teria lidado com a questão? < A questão poderia ter sido resolvida de forma menos traumática. Gerou um custo enorme, tanto para o Estado como para a prefeitura. Deveria ter tido mais diálogo, uma mediação com as famílias. O erro inicial foi deixar o problema crescer. Em 2004, ano da ocupação, o número de famílias era muito menor. Deveria ter sido feito um cadastramento, para inclusão destas famílias em um programa habitacional. Mas depois que o problema cresceu até atingir as proporções atuais, o uso da força foi privilegiado a outras opções. Eu acho, por exemplo, que se o aluguel social ti-

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PONTO FRACO “O PSDB não valoriza seus aliados, tanto políticos como na sociedade”

vesse sido oferecido aos moradores antes da operação, esta nem teria sido necessária, pois a desocupação teria acontecido de forma progressiva e pacífica. Faltaram mais negociações envolvendo União, Estado e moradores. O prefeito deveria ter comparecido às reuniões com os representantes do governo federal e estadual. Um prefeito, qualquer que seja seu partido, nunca deve se furtar de negociar para buscar uma solução social. A construção de moradias populares, tanto para os ex-moradores do Pinheirinho como para as milhares de pessoas que continuam na fila por casas na cidade, será tratada como prioridade pela administração do PT em caso de vitória nas eleições? < O programa ainda não está definido, então não posso adiantar metas e prioridades. Mas o PT vai insistir no atendimento às demandas sociais. O direito à moradia é fundamental, e este direito não está sendo atendido . A questão da saúde também será tratada como prioridade? Que medidas concretas serão tomadas para ampliar o número de médicos e diminuir a fila

de espera por consultas, exames e cirurgias no SUS? < Com certeza. A saúde é o problema social mais grave que temos na cidade. Vamos propor medidas concretas. Em sua opinião, quais são os pontos fortes e os pontos fracos do PT e do PSDB nesta disputa eleitoral? Por quê? < Os pontos fortes dos dois partidos são a identidade com o eleitorado, além de fortes lideranças e uma base eleitoral forte em São José. O ponto fraco do PT é ter que enfrentar a máquina administrativa em todas as campanhas. Já o do PSDB é que eles não valorizam seus aliados, tanto políticos como na sociedade. A prova disso é as últimas eleições para deputado. Só elegeram deputados do PSDB. Se você tivesse que resumir o legado do prefeito Eduardo Cury para a cidade, quais pontos você destacaria? < Prefiro não fazer isso, porque o mandato não acabou ainda. Mas basicamente tivemos uma repetição dos oito primeiros anos de governo do PSDB. Faltaram ideias e projetos inovadores, tanto para a população quanto para a cidade.

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Domingo 4 Março de 2012

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Adenir Brito/PMSJC

ALEXANDRE BLANCO Quais são os nomes mais cotados do partido para concorrer à prefeitura? < O processo está apenas começando. O nome do candidato será definido nos próximos dois meses. Emanuel (Fernandes) e (Eduardo) Cury vão identificar as lideranças do partido, analisar os candidatos e chegar a um consenso. O que posso adiantar é que não haverá disputa interna. O clima não é esse. Quais serão as novas propostas do PSDB para São José? < Começamos a fazer reuniões de bairro, mas ainda não definimos propostas. Mas estamos no governo há 16 anos e nossa linha de ação já é clara e conhecida. Nossa forma de atuar e nossos valores –elementos que já representam 50% de uma candidatura– são conhecidos de todos, e não vão mudar. O que vai mudar são os desafios. Vamos identificar novos desafios e elaborar novos projetos em função destes desafios.

PONTO FRACO “O PT promete e não cumpre. Foi eleito em S. José e depois perdeu credibilidade”

A construção de moradias populares, tanto para os ex-moradores do Pinheirinho como para as milhares de pessoas que continuam na fila por casas na cidade, será tratada como prioridade pelo PSDB em caso de vitória nas eleições? E a questão da saúde? < O candidato é quem vai dar o rumo, o toque da campanha, e ele será definido em abril. Em todo caso, saúde, segurança, transporte, educação e habitação sempre vão estar na agenda. A questão habitacional sempre foi prioridade do PSDB. Construímos, em média, mil casas por ano.

em um Estado de direito. Colocar a culpa na prefeitura neste caso é uma incoerência. É óbvio que a manipulação política das pessoas que invadiram o Pinheirinho em 2004 desestabilizou a cidade. Pessoas carentes foram iludidas por lideranças políticas e advogados, que lhes fizeram acreditar que invadir terras era direito delas. O PT estava no governo federal em 2004. Por que não fez nada naquela época? Teve tempo, e orçamento. Em 9 anos, o governo federal não investiu um real na política habitacional de São José. Não entregou uma casa sequer. Toda a política habitacional da cidade foi feita pelo Estado em parceria com a prefeitura. Garantir o direito à moradia também cabe ao governo federal.

Você acha que a desocupação do Pinheirinho desgastou muito a imagem do PSDB? A situação poderia ter sido administrada de forma melhor? < Todo mundo quis jogar a culpa na prefeitura, mas houve uma ordem judicial, que foi cumprida pela polícia. Foi uma determinação judicial, aplicada no âmbito de uma ação de reintegração particular. Qual é a responsabilidade da prefeitura? Não se pode questionar o poder da Justiça e da polícia, senão acaba ficando uma situação perigosa para o país. Ou você vive numa anarquia, ou vive

Em sua opinião, quais são os pontos fortes e os pontos fracos do PSDB e do PT nesta disputa eleitoral? Por quê? < Os pontos fortes do PSDB são as realizações, e o reconhecimento da população. Seguimos nos últimos anos uma linha coerente de realizações que melhorou a vida das pessoas. As realizações aumentam a credibilidade, o que é outro ponto forte. O ponto fraco do PSDB é que comunica pouco sobre estas realizações, justamente devido à percepção de que os atos são mais importantes que os discursos. O PT faz discursos, promessas, ou seja, investe mais na comunicação. Divulga

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projetos antes que eles saiam do papel. Se estas táticas lhes derem a vitória, talvez tenhamos que repensar nosso modelo. O ponto fraco do PT é justamente as poucas realizações. Foram eleitos em São José e perderam porque prometeram, não cumpriram e perderam credibilidade. Se você tivesse que resumir o legado da administração Cury para a cidade, quais pontos você destacaria? < Destacaria a estabilidade política, o fortalecimento das instituições democráticas (relacionamento com Câmara e organizações privadas e sociais) e a ética. Em 16 anos, nenhum secretário caiu por suspeita de corrupção, ao contrário do que se vê no país. Nossa ética nunca foi abalada em São José. Além disso, enfrentamos grandes desafios, como a licitação dos ônibus. Preparamos a cidade para o futuro com o Parque Tecnológico, um empreendimento que gerou renda, emprego e educação. Também podemos citar um planejamento urbano forte, com a aprovação da nova lei de zoneamento e a ampliação da malha viária. Isso sem falar da criação de pólos esportivos e culturais e da descentralização dos serviços com programas como Nosso Bairro Nossa Cidade. •

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Política

Ozires Silva

Queremos mesmo ser campeões mundiais na venda de commodities? rticulistas de várias partes do mundo têm colocado que o Brasil deveria se especializar na venda de commodities ou de produtos primariamente processados e, mesmo sem explicitar com clareza, propõem que deveríamos deixar nosso país longe dos produtos de alto valor agregado, que têm sido o propósito das nações tradicionalmente desenvolvidas e dos novos emergentes, como a Coréia do Sul e a China. Em outras palavras, exportarmos produtos a algumas dezenas de centavos de dólar por quilograma e importarmos outros, fabricados e gerando empregos em diferentes países, a vários milhares de dólares a unidade.

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É nítido o sucesso mundial dos produtos complexos, intensivos em equipamentos e componentes, como computadores, veículos, equipamentos de automação industrial, etc. Podemos ainda incluir os aviões, produzidos no Vale do Paraíba, com participação de componentes e equipamentos de empresas em várias outras localidades do Brasil e do exterior. Esses produtos, não somente aumentam o valor das transações comerciais, como respondem e participam diretamente do caráter global do comércio mundial. É importante notar algo que por vezes não mais é percebido pelas

MERCADO “O que pesa e importa é que o produto seja competitivo” populações. Não mais se aplicam os ditames das antigas políticas de conteúdo nacional (de componentes ou de mão-de-obra) em cada produto, que procuravam segmentar a densidade das participações de componentes e da mão-de-obra locais. Hoje, o que vemos são grandes parcerias ou cadeias produtivas internacionais, culminando em produtos que poderíamos de chamar de “mundiais”. Neste cenário, parece ficar claro que nenhum país, vendedor de commodities, poderá ter sucesso e trazer melhoria de padrão de vida para seus cidadãos. Não que tais produtos básicos não sejam importantes. Ao contrário, são vitais em todos os aspectos, mas, comercialmente falando devem ser produzidos e vendidos, fazendo parte de espectros de comércio amplos, com conteúdo mais variados. Conheço bem o caso dos nossos aviões, hoje fabricados e vendidos pela Embraer, e pessoalmente, dediquei-me a colocar estratégias e métodos de comercialização, para chegar a esse modelo vertical, de produção, de marketing e vendas, desde o tempo em que presidia a empresa. Naqueles tempos o governo

brasileiro colocava como política oficial, seus “índices de nacionalização”, insistindo que cada produto deveria conter um máximo de componentes nacionais. Se isso era competitivo, ou não, parecia irrelevante para as autoridades, o que no mundo moderno há visível constatação que, ao contrário, o que conta é a competitividade sistêmica de tudo o que seja produzido! O que pesa e importa é que o produto seja competitivo. E, para tanto, precisa ser produzido com base de equipamentos, peças e componentes produzidos ou adquiridos a custos e qualidade que não possam contaminar o preço do produto final. Claramente, vivemos um mundo onde a competição é entre países não mais somente entre empresas, por maiores que sejam. Se cada nação falhar em construir domesticamente um ambiente competitivo, as empresas sozinhas perdem a chance de serem vitoriosas no mercado global da atualidade. Infelizmente, isto não está sendo conseguido no Brasil e nosso país está com sua produção se tornando demasiadamente cara para os padrões do mercado mundial, associado a uma infraestrutura insuficiente que resulta também numa logística de altos custos. Temos de corrigir isso, sob pena de sermos jogados para fora da grande demanda mundial e do comércio global, cada vez mais importantes para o progresso e prosperidade. •

Ozires Silva Engenheiro

ozires@valeparaibano.com.br

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Aonde quer que você chegue, chegue linda. Uma homenagem de O Boticário ao Dia Internacional da Mulher.

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Economia MERCADO IMOBILIÁRIO

Teto de ouro Aluguel sobe até 150% em São José; Bosque e Satélite são os bairros mais valorizados; zona oeste e centro expandido seguem como áreas mais caras Hernane Lélis São José dos Campos

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‘boom’ imobiliário que São José dos Campos atravessa balançou a estrutura financeira de quem pretende alugar um imóvel nas regiões mais cobiçadas da cidade. Morar próximo aos badalados bares e restaurantes da Vila Ema, ter como vizinho o Parque Vicentina Aranha, a estrutura de luxo do Aquarius, ou a variedade de lojas e serviços nas intermediações do Bosque dos Eucaliptos e Satélite ficou até 150% mais caro nos últimos quatro anos. Nessas áreas o valor do aluguel pode chegar ao patamar de R$ 4.500, variando conforme o tempo de construção e melhorias do imóvel. O levantamento foi realizado pela Asseivap (Associação das Empresas Imobiliárias do Vale do Paraíba), que coletou dados de mercado em 55 imobiliárias e 23 corretagens particulares. A pesquisa apontou que, além da valorização, houve queda de 7,4% na oferta de casas e apartamentos para locação em São José. A cidade possui atualmente 3.550 imóveis disponíveis no mercado. Em 2008, esse número era de 3.700, o mesmo contabilizado no ano passado. Os bairros que registraram o maior acréscimo no preço ao locatário no município foram Satélite e Bosque dos Eucaliptos. Nas residências verticais a média de preço do aluguel é de R$ 2.200 para quatro dormitórios e de R$ 650 para um dormitório –um aumento de 46,6% e 18%, respectivamente,

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em relação ao valor cobrado há cinco anos (R$ 1.500 e R$ 550). Já nos imóveis horizontais o salto foi de 150% e de 20%, chegando à média mensal de R$ 2.500 para quatro quartos e de R$ 600 nas poucas unidades de um dormitório. A explicação para o reajuste, segundo a entidade, está na urbanização, facilidade de acesso e estrutura de serviço e comércio que a região recebeu ao longo dos anos, principalmente no entorno ao Vale Sul Shopping. Apesar de ter contabilizado o maior aumento, os redutos da zona sul não são os mais requisitados e muito menos os mais caros da cidade. Os bairros da área conhecida como ‘centro expandido’, que compreende basicamente Vila Ema, Vila Adyanna, Jardim Maringá e mediações, são as vedetes do mercado e os de maior valor –a demanda de clientes nessas regiões chega a 27%. Na sequência vem os conglomerados nobres da zona oeste, como Jardim Aquarius, Colinas e Urbanova concentrando 18,5% do interesse. A maior procura é por apartamentos, principalmente os de dois dormitórios, representando 37% dos contratos firmados. Marco Antônio Vasconcelos, vice-presidente da Asseivap, explica que essa inflacionada no mercado deve-se à famosa lei da oferta e procura. Com as vendas em alta devido às facilidades de crédito, a vacância de imóveis especificamente nessas áreas vêm diminuindo, ocasionando automaticamente um aumento no preço do aluguel. Além disso, a rotatividade nas moradias é pequena, uma vez que a maioria dos contratos firmados preveem a permanência do locatário num prazo de 18 a 30 meses, conforme a lei que rege o mercado imobiliário.

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Domingo 4 Março de 2012

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Fotos: Flávio Pereira

VEDETE O centro expandido é a região mais cara e desejada do mercado imobiliário de S. José

“Temos uma avalanche de crédito no mercado, impulsionando as pessoas a comprarem ao invés de alugar, mas ainda assim a procura por aluguel é grande. O problema é que praticamente toda a demanda construtiva de São José nos últimos anos foi absolvida pela compra. A tendência é que continue assim caso não haja nenhuma interferência do governo no sentido de desestimular o acesso ao financiamento”, disse Vasconcelos, ressaltando que o estudo da Asseivap não levou em consideração imóvel mobiliado, flats e casas em condomínios fechados. Denerval Machado, delegado regional do Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) de São José, acredita em uma nova mudança no mercado para os próximos anos. A tendência, segundo ele, é que a zona leste ganhe um incremento no interesse por moradia de aluguel devido à crescente expansão do comércio na região, principalmente nas áreas da Vila Industrial e Vista Verde. O centro e a zona oeste devem continuar apresentando os maiores valores ao locatário, porém a procura pode não ser tão intensa como hoje, já que nem todas as pessoas, ainda que em condições financeiras favoráveis, estão dispostas a pagar os altos valores cobrados. “A partir de março as construtoras começam a entregar novas moradias, facilitando a vida de quem está querendo mudar de casa ou apartamento. O setor passa por um ótimo momento e vai continuar assim por muitos anos, seja no aluguel ou na compra de imóveis. A urbanização dos bairros está dando uma nova cara ao mercado, o Satélite, por exemplo, é um bairro totalmente independente. Quem mora lá não precisa se deslocar até o centro para ir atrás de serviços de qualidade. Isso vai acabar acontecendo com outras regiões também”, disse Machado. Luxo Quem quiser morar em um apartamento do centro expandido, viver entre os melhores bares e restaurantes de São José, desfrutar de produtos e serviços de luxo e ostentar as demais riquezas sociais que a região oferece, terá que desembolsar por mês entre R$ 800 e R$ 2.500 –6,6% a mais que em 2006. Se a opção for por uma casa, esse valor passa a ser de R$ 700 a R$ 3.500– alta de 16,6% dentro do

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Economia

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Pesquisa de valores médios de locação residencial Aluguel de casas e apartamentos por número de dormitórios e regiões N/C - nada consta

1 dormitório 2 dormitórios 3 dormitórios 4 dormitórios CASA

APTO

CASA

APTO

CASA

APTO

CASA

APTO

CENTRO I

BelaVista /Vila Maria / região central...

580

N/C

800

750

900

900

N/C

N/C

CENTROII

Jardim Paulista / Monte Castelo / Jardim Jussara...

550

N/C

750

750

900

900

N/C

N/C

CENTRO III

Vila Adyanna / Apolo I e II / Vila Ema / Jd.Maringá / São Dimas...

700

800

1.000

900

2.000

1.400

3.500

2.500

NORTE I

Vila Rossi / Santana / Altos de Santana...

500

N/C

800

650

900

900

N/C

N/C

NORTE II

Vila Paiva e Adjacências ...

500

N/C

600

N/C

800

N/C

N/C

N/C

SUL I

Satélite A - ValeSul / Satélite B - Bosque dos Eucaliptos

600

650

850

750

1.200

1.200

2.500

2.200

SUL II

Parque Industrial / Jardim América

550

N/C

750

700

1.100

1.000

2.000

N/C

LESTE I

Vila Industrial / Tatetuba / Jd. Ismênia / Vila Tesouro

500

N/C

750

700

1000

900

N/C

N/C

LESTE II

Vista Verde / Jardim Motorama / Jardim São Vicente

500

N/C

800

N/C

1000

N/C

1.500

N/C

SUDESTE

Jardim da Granja e Adjacências...

450

N/C

650

N/C

800

N/C

N/C

N/C

LESTE III

Putim, Santa Inês, Eugênio de Melo...

400

N/C

600

600

800

N/C

N/C

N/C

OESTE I

Esplanada, Colinas...

N/C

800

N/C

850

200

1.450

4.000

2.500

OESTE II

Jardim Aquárius

N/C

900

N/C

950

2.500

1.500

4.500

2.800

OESTE III

Jardim das Indústrias, Alvorada, Por do Sol...

N/C

N/C

1.000

850

1.200

1.200

2.800

N/C

OESTE IV

Urbanova e adjacências

N/C

N/C

N/C

850

2.200

1.100

2.800

N/C

período analisado. Já para ter acesso a uma moradia na zona oeste, uma das regiões que mais cresce no município, o valor a ser pago mensalmente é ainda maior. Garantir o prestígio de ter um endereço fixo no Jardim Aquarius, Urbanova, Colinas e Esplanada –que na verdade fica na área do centro expandido, mas no estudo foi incluído na zona oeste– o futuro inquilino pode pagar até R$ 4.500 numa casa de quatro dormitórios. Há cinco anos essa quantia era 28,5% menor, em torno de R$ 3.500. Mas se a opção for por um imóvel mais ‘modesto’, de três quartos – tamanho mínimo encontrado pela Asseivap–, o valor médio será de R$ 2.500. Se a preferência foi por apartamento, o valor de quatro dormitórios fica entre R$ 2.500 e R$ 2.800. Dois e três dormitórios variam de R$ 950 a R$ 1.500. Mudança A inflação do aluguel reflete diretamente na decisão das pessoas que ainda dependem da relação locador e locatário para garantir um lar. Cada mudança no valor mensal cobrado pode exigir também a mudança de casa ou apartamento ao inquilino –muitas vezes nem sempre motivada pelo custo da taxa, mas sim pelo desejo do proprietário de aproveitar o momento para vender o imóvel. Foi o que aconteceu com o publicitário Luiz

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Júnior Araújo, de 35 anos. Depois de passar dois anos morando próximo a Avenida Cassiopéia, no Jardim Satélite, teve que arrumar as malas e procurar outro lugar para alugar. “A dona pediu para deixarmos a casa, pois ela colocaria à venda. Acho que ela percebeu a valorização da região. Hoje, moro com o meu pai há quatro meses numa casa ainda no Satélite, não foi nada fácil encontrar um novo lugar para morar nessa região. Consegui uma casa de dois quartos e garagem, moro só com o meu pai e o tamanho está excelente para gente. Negociamos muito o valor antes de fechar contrato por isso, conseguimos um bom preço. Pagamos R$ 600 por mês, mas estavam cobrando cerca de R$ 800”, disse Araújo. “Olha que meu pai é corretor e ainda sim tivemos dificuldades”.

ALTA Bairros da zona sul de São José foram os que registraram o maior acréscimo nos preços

Indicadores A pesquisa da Asseivap constatou ainda que, para garantir um contrato de locação, a preferência do locador continua sendo através de um fiador, com 55% das exigências. Títulos de capitalização ficou com 27,5% das negociações. Cerca de 80% das ofertas existentes encontram-se nas imobiliárias e administradoras. As despesas com condomínios continuam dificultando na hora de alugar um apartamento, já que o valor da taxa vem apresentando alta devido à sofisticação de alguns serviços. •

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Ciência & Tecnologia

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Fabíola de Oliveira

Anotações para recuperar a boa imagem de São José dos Campos

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aúcho de Cachoeira do Sul ele mudou-se para São José dos Campos em 1984. Veio para dirigir o Inpe, fixou residência, criou os filhos, ganhou mundo, mas daqui não mais saiu. Quando veio, já o acompanhava de longa data o parceiro maranhense que assumiu a chefia de gabinete do Inpe, para cuidar do dia a dia da instituição. Também adotou a cidade como o fizeram tantos outros forasteiros de todo o país, que integram o corpo técnico-científico, as áreas de engenharia, tecnologia e inovação dos institutos de pesquisa e empresas tecnológicas da cidade. Hoje o gaúcho Marco Antonio Raupp e o maranhense José Raimundo Braga Coelho são, respectivamente, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, e presidente da Agência Espacial Brasileira. Em meados da década de 1970 um jovem curitibano foi aprovado no ITA, formou-se, fez carreira acadêmica, exerceu cargos de liderança em algumas das principais organizações federais da área de ciência e tecnologia, e neste ano retornou a São José dos Campos. Carlos Américo Pacheco assumiu a reitoria do ITA com o compromisso de duplicar o número de vagas e com a promessa de construir um grande centro de inovação para os futuros engenheiros desta que já foi considerada tantas vezes a melhor escola de engenharia do Brasil.

PINHEIRINHO A cidade nunca teve tanta repercussão na mídia como neste episódio

Estes homens e algumas centenas de outros engenheiros, matemáticos, físicos, químicos, especialistas e professores universitários trabalham e vivem em São José dos Campos. Eles têm atualmente a faca e o queijo nas mãos para impulsionar o país a dar o salto tecnológico que nos leve a um desenvolvimento econômico e social sustentável. Não é pouco para uma cidade de médio porte como a nossa. Deveria ser o suficiente para que a opinião pública brasileira tivesse consolidada uma imagem altamente positiva dos joseenses, como, guardadas as proporções, têm os americanos e o resto do mundo em relação aos especialistas brilhantes do Vale do Silício, na Califórnia. Mas a fatalidade de um incidente de cunho social e político, como aconteceu com a desocupação do Pinheirinho, é suficiente para derrubar a possível boa impressão que se tinha sobre a imagem da cidade como polo aeroespacial.

O que acontece em uma situação como esta onde os dirigentes e as forças políticas da cidade parecem ficar paralisados, deixam para falar na última hora, reagem somente sob pressão? Pensa-se, quem não está próximo, que algo de muito errado aconteceu. E assim reagiu a imprensa de todo o país. A cidade nunca teve tanta repercussão na mídia, como teve com a desocupação do Pinheirinho. Certamente não é esta a imagem que os joseenses querem que se perpetue sobre a cidade. Mas para mudar esta imagem será necessário construir uma agenda altamente positiva de São José dos Campos, que reforce este nosso lado capaz de feitos relevantes na tecnologia e inovação de relevância para o país. A comunicação estratégica e bem planejada, poderá evitar no futuro as ações atabalhoadas para apagar incêndios depois que as fagulhas tomaram conta do palheiro. •

Fabíola de Oliveira Jornalista fabiola@valeparaibano.com.br

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INDÚSTRIA AERONÁUTICA

Golpe de mestre Embraer alia-se ao astro Jackie Chan para difundir negócios na Ásia e garantir participação no promissor mercado chinês de aviação

Hernane Lélis São José dos Campos

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Embraer espera conseguir até o final desse mês autorização do governo chinês para dar início à produção dos jatos executivos Legacy 600 e 650 na unidade de Harbin, extremo norte da China. A aeronave vai ratificar a permanência da companhia brasileira em solo asiático, disputando um mercado que deve movimentar até R$ 30 bilhões com a compra de 630 aviões do segmento nos próximos dez anos. Na tentativa de trans-

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formar parte desse montante em receita, resolveu adotar como estratégia de negócios a busca por uma identidade política e cultural para assinar novos contratos no setor. Vítima de uma série de restrições locais, a Embraer quer se defender dos “golpes protecionistas” aplicados na China aliando seu nome a um quase super herói do país, o ator Jackie Chan. Personalidade admirada e influente na terra do mandarim, Chan usará sua imagem para aproximar a população e o governo chinês da fabricante de aviões. “É uma pessoa que tem um comportamento exemplar, com valores pessoais incríveis, que pratica a caridade. Sabemos que não é isso que fará os aviões serem vendidos, mas ajuda na

propagação da marca com certeza”, disse Frederico Curado, presidente da Embraer. Com a permissão efetiva para iniciar a produção da aeronave executiva, prevista para sair até o final desse mês, Curado espera conquistar pelo menos 20% do mercado chinês. “Falta praticamente cumprir o processo de aprovação, a velocidade das coisas muitas vezes não é a que gostaríamos. Porém, é assim que o mercado funciona”, explicou o executivo, que nesse sentido não pode contar com a ajuda de seu novo aliado para acelerar o processo burocrático. “Prefiro o considerar um embaixador. Jackie tem valores muito parecidos com os da Embraer. Tem ambição, coragem, está sempre disposto a ajudar”.

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Flávio Pereira

APRESENTAÇÃO O ator Jackie Chan na sede da Embraer, em São José

Presença A Embraer atua no mercado chinês desde 2002. Anteriormente, a unidade de Harbin produzia o modelo 145, para o segmento de aviação comercial, mas a China, que está incentivando o desenvolvimento da sua indústria de aviação, não quis que a empresa continuasse produzindo no país aeronaves desse porte. Por isso, a companhia fechou acordo para produzir o Legacy, evitando o fechamento da fábrica. Outra vantagem do acordo é que a aeronave executiva possui a mesma plataforma que o modelo comercial, evitando assim elevados gastos com adaptação na linha de montagem. Jackie Chan foi o primeiro cliente a re-

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ceber a aeronave executiva na China. O ator esteve na sede da Embraer, em São José dos Campos, no último mês para participar da cerimônia de entrega da aeronave que lhe custou algo em torno de R$ 51 milhões. “Eu já estava planejando há muito tempo entrar no segmento da aviação. Não entrei antes porque a China não tinha suporte. Foi quando encontrei com os executivos da Embraer, na China, e eles me mostraram que tinham suporte no país e que eu não precisaria me preocupar com a manutenção do avião fora porque eles têm uma fabrica lá, e eu ganhei confiança”, disse Chan. Além da entrega para o mestre de Kung

Fu, a fabricante brasileira de aviões recebeu em outubro do ano passado 13 encomendas para o Legacy 650 da Minsheng Financial Leasing, uma das empresas de leasing de jatos executivos líderes na China. As entregas terão início ainda este ano e se estenderão pelos próximos cinco anos, porém o local onde esses jatos serão produzidos não foi revelado porque a liberação para montagem na fábrica chinesa ainda está em processo de aprovação. “Seremos a primeira empresa a produzir jatos executivos na China. A fábrica opera bem, a capacidade é de até 24 aviões por ano, dois por mês”, concluiu o executivo Frederico Curado. •

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Reportagem de Capa

SOCIEDADE

Dormindo com o inimigo Em São José, a cada duas horas uma mulher é vítima de violência doméstica; em 2011 foram registradas 3.592 ocorrências, mas apenas 860 tiveram coragem de denunciar seu agressor à polícia

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Fotos: Canstockphoto

Isnar Teles São José dos Campos

cada duas horas uma mulher é vítima de violência doméstica em São José dos Campos. Todos os dias pelo menos 10 procuram as redes de proteção para relatar maus-tratos praticados, na esmagadora maioria, por seus companheiros (92%). Em 2011 foram 3.592 denúncias de violência física, em média 300 por mês. Dessas, em apenas 860 casos as mulheres tiveram coragem de denunciar o agressor à Justiça. Em comparação a 2010 houve um aumento de 21% nas estatísticas da violência física contra a mulher na cidade. Os dados fazem parte do cruzamento de informações dos principais órgãos na linha

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de frente do problema, a DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) e a organização não-governamental SOS Mulher, conveniada com a prefeitura para prestar atendimento psicossocial e jurídico às vítimas da agressão. A dura realidade das estatísticas não para por aí. No ano passado foram 1.496 lesões corporais dolosas (modalidade de crime em que o agente atua com dolo, ou seja, com intenção de provocar danos à integridade física de alguém), 110 casos de estupros e quatro tentativas de homicídios. O crescimento no número de denúncias está ligado à aprovação da Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, que possibilita que agressores de mulheres no âmbito doméstico ou familiar tenham punições mais severas e prevê medidas que vão desde o seu afastamento do domicílio à pena de prisão. A farmacêutica cearense Maria da Penha

Maia Fernandes, que deu nome à lei e voz a tantas mulheres, sofreu uma série de violências. Um dia, acordou com um tiro nas costas disparado pelo marido, que a condenou a viver numa cadeira de rodas. Maria da Penha lutou durante quase 20 anos, mas só quando faltavam seis meses para o crime prescrever é que o agressor foi julgado. Isso porque ela buscou ajuda em órgãos internacionais. Ele foi condenado, mas não chegou a ser preso. No mês passado, o STF (Supremo Tribunal Federal) “reescreveu” um dos pontos mais polêmicos da Lei ao julgar procedente ação da Procuradoria Geral da República, que passa ao Ministério Público a iniciativa de dar início à ação penal contra o acusado sem necessidade de representação da vítima, como era previsto antes. A representação é um pedido formal à Justiça feito pela vítima para que a apuração do crime siga em frente, após a formalização do bo-

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Reportagem de Capa

CPMI vai apurar casos de omissão A violência doméstica também é alvo de investigação no Senado e Câmara dos Deputados, em Brasília. Uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) foi instalada em 9 de fevereiro para investigar casos de violência contra a mulher em todo o país e a omissão do poder público na aplicação da Lei Maria da Penha. Formada por 12 senadores e 12 deputados, a comissão tem dois homens entre os seus 24 integrantes. Os parlamentares terão 180 dias para apurar as denúncias. Ao final deste prazo, a CPMI pretende apontar diretrizes para a implementação e o cumprimento de políticas públicas relacionadas. As investigações propostas pela comissão foram motivadas por pesquisa nacional realizada pelo DataSenado em 2011, que novamente revelou a triste realidade da mulher brasileira. Foram entrevistadas 1.352 mulheres, em 119 municípios do país, representando as capitais e o Distrito Federal. Para 63% das entrevistadas apenas a minoria das agressões são denunciadas às autoridades e 68% consideram que o medo continua sendo a razão principal para evitar a exposição dos agressores. Apenas 19% das entrevistadas acreditam na efetividade das medidas protetivas previstas na lei. Do total de entrevistadas, 57% declararam conhecer mulheres que já sofreram algum tipo de violência doméstica. A que mais se destaca é a violência física, citada por 78% das pessoas ouvidas. Em segundo lugar aparece a violência moral, com 28%, e por último, a psicológica com 27%. Das mulheres agredidas, 32% ainda convivem com os maridos e, destas, 18% continuam a sofrer violência. Dentre as que vivem com o agressor e ainda são vítimas de violência doméstica, 20% revelaram sofrer ataques diários.

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letim de ocorrência e exame de corpo de delito. “Isso já deveria ter ocorrido há muito tempo. Era um entrave a forma como essa questão vinha sendo tratada. O Estado não poderia deixar de assumir seu papel. Não entendíamos porque apenas a violência contra a mulher ainda era a única a ser validada por uma representação”, disse Maria da Penha, que atendeu a reportagem da valeparaibano momentos antes de embarcar de Fortaleza (CE) para São Paulo, onde seria homenageada no Carnaval pela Escola de Samba Vai-Vai. “Mais importante que essa decisão do Supremo é a sociedade saber que qualquer um, qualquer cidadão pode denunciar a violência contra uma mulher”. Maria da Penha afirmou ainda que a criação de novos juizados de violência contra a mulher no país é fundamental para agilizar os processos e possibilitar um maior acolhimento. “As varas criminais continuarão a atender um número grande de mulheres, mas não têm estrutura necessária para lidar com todos os aspectos que envolvem a questão”, declarou. Assim como Maria da Penha muitas mulheres foram vítimas da violência doméstica e sofreram caladas durante muito tempo. A cozinheira J.S.R., 59 anos, para fazer com que as agressões físicas do marido tivessem um fim se valeu da lei. “Ele me bateu muitas vezes. Hoje não me agride mais fisicamente porque sabe

que pode ser preso, mas as agressões psicológicas e morais ainda continuam. Eu sou a prostituta, a vagabunda. Na boca dele o meu nome é esse”, conta ela, que está casada há 36 anos. Apenas neste ano teve coragem para denunciar e processar o agressor. Ela ainda aguarda uma decisão da Justiça. “Uma coisa eu aprendi. Nunca deve haver uma primeira vez”, diz. A violência doméstica em São José não difere das estatísticas em todo o país. Pesquisa feita no ano passado pela Fundação Perseu Abramo, de São Paulo, em parceria com o Sesc (Serviço Social do Comércio), projetou uma chocante informação: a cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil. O número de homicídios superou a marca de 4.000 casos no ano passado. Fragmentos Para as redes de apoio, os números são apenas “fragmentos” de um problema social com volume e densidade de casos bem mais estarrecedores do que os que aparecem nas estatísticas. “O número de mulheres que passou a ter coragem de denunciar as agressões aumentou, apesar de ainda ser uma realidade bem velada na nossa sociedade”, diz Maria Cláudia Botelho da Luz, coordenadora da SOS Mulher. Segundo Maria Cláudia, apesar da existência da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) e de

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DRAMA

pre diziam que casamento era para a vida toda. Eu cresci ouvindo isso e acreditava.

STF “reescreve” lei contra violência

Os filhos presenciavam as agressões?

O STF (Supremo Tribunal Federal) julgou procedente, em 9 de fevereiro, a ADI 4424 (Ação Direta de Inconstitucionalidade), proposta pela Procuradoria-Geral da República, que revê os artigos 12 (inciso I); 16 e 41 da Lei Maria da Penha. Em seu princípio básico, a ação defende que a violência contra mulheres não é questão privada, mas sim merecedora de uma ação penal pública. A maioria dos ministros acompanhou o voto do relator, ministro Marco Aurélio de Mello, que passa ao Ministério Público a prerrogativa de dar início à ação penal sem necessidade de representação da vítima, como era previsto antes. O artigo 12 da Lei Maria da Penha considerava, até então, que as ações penais públicas contra os agressores estavam “condicionadas à representação (pedido formal na Justiça) da ofendida. Marco Aurélio de Mello afirmou que “a mulher é eminentemente vulnerável quando se trata de constrangimentos físicos, morais e psicológicos em âmbito privado e a Justiça deve tratar os desiguais de forma desigual para que haja igualdade real e que a abstenção do Estado na promoção da igualdade de gêneros implica situação da maior gravidade político-jurídica.” O único voto contrário foi do presidente do STF, Cezar Peluso, que afirmou que é preciso respeitar o direito das mulheres que optam por não apresentar queixas contra seus companheiros. “Isso significa o exercício do núcleo substancial da dignidade da pessoa humana, que é a responsabilidade do ser humano pelo seu destino. O cidadão é o sujeito de sua história, é dele a capacidade de se decidir por um caminho, e isso me parece que transpareceu nessa norma agora contestada.”

Flávio Pereira

< Sim. Todos os três. Tentou se separar dele antes? < Nos separamos algumas vezes, mas não legalmente. Voltei a morar com a minha mãe e levei meus filhos. Passou um mês e meu marido foi atrás. Me disse que ia mudar seu jeito e eu acreditei. Logo em seguida começou tudo de novo. Depois ele saiu de casa, mas voltou arrependido e eu novamente aceitei. A mulher sempre tem esse sentimento de que as coisas vão melhorar. Só que agora não tem mais volta. Ouvi uma frase na televisão que me marcou: não há maldade que o homem faça que a mulher não permita. Então não pode acontecer uma primeira vez. Quando fez o boletim de ocorrência? < Faz pouco tempo. Quando ele disse que ia comprar uma arma.

Casada há 36 anos J.S.R., 59 anos, sofreu agressões do marido por 33 anos. Só agora teve coragem para denunciá-lo. Fez boletim de ocorrência, quando o agressor disse que compraria uma arma e representou contra ele depois de ser mantida presa dentro da própria casa. Ainda assim, não gostaria de vê-lo preso. “Eu nunca tive um marido, mas ele sempre foi um bom pai.” Por razões financeiras, ainda convive com o agressor e aguarda decisão da Justiça. Casos como de J.S.R. engrossam as estatísticas da violência contra a mulher no Brasil. Pesquisas mostram que o medo é preponderante quanto à decisão da vítima em processar o agressor. Quando começaram as agressões? < Praticamente desde que nos casamos. Mas, de uns dois anos para cá, as coisas pioraram. Ele começou a ter atitudes de quem realmente não está bem da cabeça.

Como foi o atendimento na Delegacia da Mulher? < Fiquei mais de duas horas esperando. Eu fiz o boletim de ocorrência e tive que voltar outro dia porque a delegada não estava para assinar. Após o boletim a senhora fez a representação contra ele? < Fiz porque ele começou a me trancar dentro de casa. Colocava cadeados nos portões, nas janelas, nas portas. Eu ficava presa o dia todo. E a decisão judicial? < Até agora não tem. O que a senhora espera da Justiça?

< Para falar a verdade eu não sei. Não gostaria que ele fosse preso. Só quero poder viver novamente. Se eu vegetei até agora, daqui para frente eu quero viver. Essa página eu virei na minha vida. Isso é o mais importante. Já conhecia a Lei Maria da Penha?

< Sim, mas não como conheço hoje. Que atitudes? < Ele disse que iria comprar uma arma e passou a me trancar dentro de casa. Qual o motivo das agressões? < É machismo. Sou o homem, eu mando, eu faço. Isso ele repetia. Foi a criação que ele teve. Eu fui criada na roça e meus pais sem-

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O que a senhora gostaria de dizer para outras mulheres em situação semelhante? < Que não se calem mais e que não deixem acontecer a primeira vez. Às vezes por vergonha e para manter a família muitas sofrem caladas. Se eu tivesse continuado calada estaria sem trabalho e talvez inválida numa cama.

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Reportagem de Capa

Rede de proteção ainda tem falhas Em sua recente tese de mestrado na Escola de Enfermagem da USP (Universidade de São Paulo), Angelina Lettiere, especialista em questões de saúde pública, quis compreender como as mulheres convivem com a violência doméstica e identificar falhas nas estratégias de proteção empregadas pelos serviços públicos de saúde em sua comunidade. O cenário escolhido para sua pesquisa de campo foi o Instituto Médico Legal de Ribeirão Preto (SP), onde as mulheres fazem exame de corpo de delito requisitado pela autoridade policial, após registrar boletim de ocorrência. “Observamos que o acolhimento das mulheres nos serviços de saúde ocorre de maneira fragmentada e pontual, pois os profissionais ainda não estão preparados para atender de maneira integral esta demanda”, diz Angelina. Segundo a pesquisadora, os vínculos estabelecidos com a rede pública se reduzem a serviços de pronto-socorro e com maior evidência ao tratamento psicoterapêutico. “Isso significa que as soluções são paliativas e limitantes no atendimento de suas necessidades, o que torna a rede de apoio à mulher frágil e desestruturada”, afirma. Para a pesquisadora, ainda ocorre uma dicotomia entre aquilo que é preconizado e o que é vivenciado no cotidiano das mulheres em situação de violência. “As instituições ainda não realizam efetivamente seu papel protetor. Essa dicotomia pode sofrer influência de dois modos, um pela precária estrutura e outro por parte da falta de recursos humanos como treinamento, sensibilização profissional para a questão, disposição do profissional em realmente cumprir seu papel e o atendimento humanizado”, conclui.

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Da última vez que ele me agrediu usou um cigarro para queimar meus dois braços. Fui à delegacia, mas não tive coragem de encarar as pessoas ali. Sentia muita vergonha. “Valquíria”, agredida pelo marido

outros órgãos ligados à questão da violência doméstica, muitas mulheres ainda se sentem constrangidas para buscar apoio e a maior parte sequer o faz. “Mesmo em ambiente onde elas deveriam contar com o acolhimento, não se sentem à vontade para isso. Muitas vezes passam por sete, oito atendimentos aqui conosco para ter certeza de que realmente desejam levar o caso às autoridades”, afirma. Valquíria, nome fictício, sabe bem o que é isso. “Da última vez que ele me agrediu usou um cigarro para queimar meus dois braços. Fui à delegacia, mas não tive coragem de encarar as pessoas ali. Sentia muita vergonha”, declarou. A mulher está separada do agressor há dois anos. Ela tem um filho de quatro anos e meio. A revista valeparaibano procurou a delegada de Defesa da Mulher em São José dos Campos, Carla Torres Salgado, mas ela disse que não daria entrevista. Os números de casos na DDM foram repassados pela Delegacia Seccional de São José dos Campos. Políticas públicas Os especialistas no assunto procurados pela reportagem são categóricos ao afirmar que faltam políticas públicas eficientes para lidar com a questão. Para eles, a Lei Maria da Penha

garante questões fundamentais de segurança e acolhimento, mas o poder público ainda não é capaz de transformá-la em uma efetividade. “O acolhimento das mulheres em situação de violência doméstica nos serviços públicos de saúde ocorre de maneira fragmentada e pontual. Os profissionais ainda não estão preparados para atender de maneira integral esta demanda. A conduta é a de não acolhimento às suas necessidades”, afirma a pesquisadora da USP de Ribeirão Preto (Universidade de São Paulo), Angelina Lettiere. Para a feminista e coordenadora da ONG “Maria, Maria” e do projeto “Promotoras Legais Populares”, Maria Amélia de Almeida Teles, de São Paulo, a lei rompeu com esta conivência que torna a violência doméstica e familiar invisível. Para ela, no entanto, sua aplicação tem sido dificultada pela prática “misógina e arrogante” do poder público, que ainda autoriza o agressor a ser violento ao protelar a adoção das medidas protetivas. “Quem de nós nunca ouviu o velho ditado: em briga de marido e mulher não se mete a colher? Esse pensamento vigora até hoje. Não é só na Justiça que a omissão ocorre. Os serviços auxiliares também são lentos, morosos e priorizam a burocracia a um atendimento adequado con-

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Números de 2011

2.962 1.496

Boletins de ocorrência

Lesões corporais dolosas

110 4 Estupros

Tentativas de homicídio

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Prisões em flagrante forme determinação legal. E para piorar este quadro faltam serviços sociais, psicológicos e jurídicos para dar suporte integral às vítimas e suas famílias. Há carência de centros de atendimento, casas abrigo e defensores públicos. Há muito o que se fazer para que a lei seja de fato um instrumento para romper e erradicar a violência doméstica e familiar”, conclui. “Temos um número reduzido de varas especializadas, poucos investigadores nas delegacias de defesa da mulher e uma estrutura de abrigos que ainda não permite que a proteção à mulher seja uma efetividade”, declara a deputada federal Jô Moraes (PCdoB), presidente da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), criada em fevereiro deste ano para investigar a violência doméstica contra a mulher em todo o país. Caso à parte Apesar de um número ainda restrito de ações mais específicas para combater a violência contra a mulher, o secretário de Desenvolvimento Social de São José dos Campos, João Francisco Sawaya de Lima, disse que a cidade pode ser considerada “um caso à parte”. Ele afirmou que a prefeitura não recebe verbas estaduais ou federais para a execução dos

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projetos de atendimento à mulher agredida e que as verbas repassadas são próprias. “Neste ano, apenas para a ONG SOS Mulher, a prefeitura destinou R$ 317 mil, fora a manutenção dos atendimentos no abrigo municipal e no Creas (Centro de Referência Especializado em Assistência Social). Além disso, as mulheres nestas condições recebem aluguel social, que dá mais ou menos R$ 500 por mês”, disse o secretário. Sobre a possível criação de um juizado especial na cidade para julgar casos de violência contra a mulher, prevista em lei, Lima foi enfático: “Temos que pensar primeiro em ações preventivas e de acolhimento. Quando esses casos chegam à Justiça, muitas famílias já foram dizimadas porque a violência não é apenas contra a mulher”, declarou. Já o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em São José, Júlio Aparecido Costa Rocha, diz que pelo número de ocorrências a cidade já deveria ter um juizado deste porte. “Se existe uma Delegacia de Defesa da Mulher, não há razão para que não haja um juizado. E não adianta culpar apenas o Judiciário. A sociedade como um todo precisa estar mais envolvida numa questão tão complexa como essa”, declarou. •

Atendimentos feitos pela ONG SOS Mulher

2.375

Atendimentos psicossocial e jurídico

1.349

Mulheres atendidas

Denuncie SOS MULHER (12) 3941-3003 DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) (12) 3941-4140 (12) 3921-2372

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Saúde

MEDICINA

Amor in vitro Bebê de proveta é opção cada vez mais procurada por casais inférteis que sonham com a paternidade. Apesar dos obstáculos culturais, Vale do Paraíba já dispõe das técnicas mais avançadas de reprodução assistida

Letícia Maciel são josé dos campos

stamos em 1978: a notícia sobre o nascimento do primeiro bebê de proveta dá a volta ao mundo e relança o debate sobre a ética na ciência. A chegada de Louise Brown, no hospital de Oldham, na Inglaterra, confirmava o êxito de um procedimento de fertilização in vitro e abria a possibilidade de novos tratamentos para casais com dificuldades para procriar. A Igreja Católica, a comunidade acadêmica e a opinião pública questionavam o direito de os pesquisadores manipularem embriões em laboratório. Hoje, 34 anos depois, a reprodução humana assistida ainda é um assunto complexo e obscuro, cercado de mistérios e tabus. Mas estes obstáculos não impediram os avanços nesta área da medicina. Está aí uma especialidade da ginecologia que caminha a passos largos, inclusive no Vale do Paraíba. Apenas em São José dos Campos são cinco grandes clínicas atendendo casais com problemas para engravidar, a pioneira delas tendo sido inaugurada há 15 anos. “Já dispomos de todas as técnicas de reprodução humana aqui na região e, inclusive, somos referência para outros estados e países. Somente aqui na clínica, fazemos centenas de procedimentos por ano”, afirmou o ginecologista Fernando Macedo, especialista em reprodução humana da Reproferty. Para os casais que tentam engravidar há um ano, com relações sexuais frequentes e sem o uso de métodos contraceptivos, existem basicamente três tipos de tratamento artificial:

E

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o mais simples deles é a inseminação, em que o espermatozóide é injetado no óvulo da mulher, dentro do útero, por meio de um cateter. Mais complexos, porém com maiores chances de êxito, são a Fertilização In Vitro (FIV) e a Injeção Intracitoplasmática de Espermatozóide (ICSI). Na FIV, os óvulos e os espermatozóides são colocados em um vidro de laboratório e eles fecundam sozinhos. Na ICSI, o espermatozóide pré-selecionado é injetado no óvulo com o auxílio de uma injeção. Cada tentativa de inseminação, dê certo ou não, custa em torno de R$ 3.000, enquanto a Fertilização in vitro e a ICSI, saem por R$ 15 mil, em média, com os medicamentos necessários. O valor do tratamento somado à expectativa do casal para engravidar, sem dúvida, gera muita ansiedade. Tânia Maria Iamauti e o marido Fábio Rodrigues do Prado, 37 anos, de Caraguatatuba, são testemunhas desta situação. “Nós tivemos que tentar duas vezes e sentimos muita ansiedade. A primeira vez não deu certo e a segunda seria a última tentativa”, conta Tânia, que hoje é mãe de Pedro Iamauti Prado, 4 anos. “Eu tinha cistos no ovário e tentei retirálos, sem sucesso. Depois de duas cirurgias, descobri que minhas trompas estavam obstruídas. Fiquei muito triste porque sonhava em ser mãe. Então decidi procurar um especialista. Apesar do receio de alguns familiares, meu marido sempre me apoiou”, conta a bancária, de 36 anos. De acordo com profissionais da área, a infertilidade é sempre do casal, nunca de apenas uma das partes. Estima-se, desta forma, que em 33% dos casos o problema esteja na mulher, em 33%, no homem, e nos demais a causa não é aparente. A idade conta, principalmente para o público feminino. O auge da vida fértil

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Divulgação

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Saúde

da mulher está entre os 18 e 28 anos. A partir dos 35 anos, os óvulos perdem qualidade, podendo apresentar alterações como a Síndrome de Down. Para os homens, a palavra estéril praticamente não pode mais ser usada. “Quando o espermograma dá negativo, podemos buscar no testículo um número suficiente de espermatozóide para cada óvulo que obtemos”, explicou Fábio Biaggioni Lopes, da Fertility, de São Paulo. Entre as mulheres, os empecilhos mais comuns para engravidar são miomas no útero, cistos no ovário, endometriose, trompas obstruídas e infecções. Já entre os homens, os entraves são associados à baixa quantidade de espermatozóide, infecções e doenças infectocontagiosas como a Aids. Além disso, a vasectomia, a caxumba e o uso de drogas podem tornar o homem infértil. Tratamento Atualmente, porém, quando um casal está mesmo determinado a ter um filho, não há nada que possa impedi-lo. Janaína Dias, 34 anos, e Baduí El Jales, 47 anos, não mediram esforços para realizar o sonho. Eles se orgulham ao apresentar Pedro Vitor Dias El Jales, que nasceu há dois anos por fertilização in vitro realizada em uma clínica de São José. Quando os dois se conheceram, Janaína havia perdido um filho de cinco anos que passara quatro anos em coma, em decorrência de um erro médico. Baduí havia saído de um casamento com dois filhos já adolescentes e uma operação de vasectomia. Acontece que Janaína, logo na primeira semana de namoro, dividiu com Baduí o desejo inegociável de engravidar. Obstinados, começaram a buscar informações sobre tratamentos. “Procuramos mais de uma clínica. A maneira como o especialista apresenta o tratamento é muito importante. Na primeira consulta, o médico disse que não concordava com o descarte de embriões por princípios religiosos. Mas desconfiamos que, na verdade, as razões fossem financeiras”, conta Janaína, antes de explicar como funciona o tratamento. Após tentarem, sem sucesso, a reversão da vasectomia, eles decidiram iniciar o tratamento para a fertilização in vitro. Janaína tomou hormônios para estimular a ovulação. Em menos de um mês, fez 13 óvulos, contra um para cada mulher em situação normal. “Eu fiquei feliz de ver aquele cachinho de óvulos. Em seguida, tomei uma injeção para o amadurecimento dos óvulos. Quando o médico foi retirá-los do meu útero, eles colheram também os espermatozóides do Baduí por um

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procedimento de pulsão no testículo, que é feito com uma injeção”, relata Janaína. Quando um casal se prepara para engravidar, muitos óvulos podem ser fecundados no laboratório. Como apenas três ou quatro embriões são transferidos para o útero da paciente, os demais ficam sem destino. Nestes casos, há basicamente três opções: jogar os embriões no lixo, doar para casais inférteis desconhecidos de outras cidades ou pagar para congelar os embriões para uso futuro do próprio casal. O congelamento de embriões custa, inicialmente, R$ 5.000, além da semestralidade de R$ 600 para mantê-los guardados em laboratório. Uma vez colhidos os gametas, eles são colocados em uma proveta para a formação dos embriões. Ali eles ficam por um período de dois a cinco dias para a verificação da fecundação e do desenvolvimento inicial. Quando os embriões estão formados, eles são transferidos para o útero da mulher. A partir daí, a gestação passa a ocorrer naturalmente.

Preconceitos Há 10 anos atuando nesta área, o ginecologista Antônio Carlos Costa Franco, especialista em reprodução humana da Clínica Embryolife, em São José, revela que a grande maioria dos pacientes chega envergonhada ao consultório. “Existe muita falta de informação sobre a infertilidade. Os pacientes têm preconceitos e temem que as pessoas relacionem a infertilidade à sexualidade, ou seja, pensem que o homem é impotente. Isso é um mito e a infertilidade é mais comum do que muitos imaginam”, acrescentou. Diferentemente dos casais citados na reportagem, os pacientes que recorrem à reprodução assistida fazem questão de manter sigilo sobre o tratamento, alegando preconceitos entre parentes e amigos, proteção ao filho e também questões religiosas. A Igreja Católica, por exemplo, tem dogmas que condenam estes procedimentos, sobretudo o descarte dos embriões que não são usados na gravidez. “Não vejo motivo para esconder este processo

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Flávio Pereira

FUTURO Óvulos fecundados podem ser congelados para que o casal tenha novos filhos

do Pedro e dos outros. O Pedro foi muito desejado, desde o início. Neste caso, o homem está apenas usando sua inteligência para promover a vida e construir uma família”, defende Janaína. Janaína e Baduí usaram seus próprios gametas. O que acontece, no entanto, com muitos casais, é que o homem nem sempre tem espermatozóides. Na novela “Fina Estampa”, transmitida pela TV Globo, os personagens de Julia Lemmertz e Dan Stulbach descobriram que precisavam de doadores, e é exatamente este tipo de situação que ainda gera muita polêmica. Por preconceito, Paulo não aceitou ter um filho com sêmen de outro homem, como acontece com muitos na vida real. O Brasil tem três grandes bancos de sêmen que devem ser controlados para que espermatozóides de um mesmo homem não sejam fecundados a menos de 100 km de distância um do outro. Isso evita que filhos de casais próximos tenham as mesmas características e corram o risco de se casar na vida adulta. Afinal, eles serão irmãos de

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sangue. Outro risco seria a mãe genética tentar encontrar seu filho depois de muitos anos e brigar por ele na Justiça. No drama da Globo, a doadora ficou sabendo do destino de seu óvulo por uma conduta antiética da médica, interpretada por Renata Sorrah. Na realidade, os doadores nunca devem saber para quem seus gametas foram doados. Sentimento Corajosos e determinados, Janaína e Baduí confessaram que teriam recorrido ao banco de sêmen sem nenhum receio, se tivesse sido necessário. Para eles, não existe tabu, machismo ou problema de saúde que possa inviabilizar o sonho de ter filhos.“A herança genética de um bebê nunca vai ser maior do que uma vida inteira de convivência, de amor e de bons exemplos. Nada pode ser maior do que o vínculo de amor que se desenvolve em uma família quando um filho nasce”, diz Janaína. Os bancos de sêmen oferecem um catálogo para os casais escolherem as características

que desejam para seus bebês, desde cor dos olhos, tipo de cabelo e estatura, até gosto por música e outros hobbies. Assim, os pais podem escolher gametas com traços próximos aos seus. Os doadores de sêmen assinam termos de consentimento abdicando de seus direitos de paternidade e não devem saber para quem seus espermatozóides foram doados. O descarte e a doação de embriões, o uso de espermatozóides pós-morte e a barriga de aluguel são as partes mais delicadas da reprodução humana assistida. Apesar de acompanhar muito bem a evolução científica e tecnológica nesta área, o Brasil não tem leis que regulamentam estas questões. “O Brasil não tem leis definidas para a reprodução humana assistida, o que eu considero um atraso. Nós que atuamos nesta área procuramos seguir as normas e os preceitos éticos do conselho federal de medicina, da sociedade brasileira de reprodução assistida”, alerta Franco. Gays Tampouco existem leis proibindo tratamento entre homossexuais. Nestes casos, os homens precisam de barriga de aluguel com óvulo, e as mulheres, de sêmen de doador. Como a legislação brasileira proíbe barriga de aluguel, alguns casais recorrem a parentes de segundo grau, como primas. Nestes casos, os envolvidos devem procurar respaldo com advogados especializados em direito reprodutivo e direito embrionário, para que mais tarde a mãe de aluguel não tente tomar o filho da mãe de sangue.“Por lei, a mãe do bebê é quem o pariu. Então, a prima, no caso, dá a luz e renuncia ao filho para passá-lo à mãe. O material genético é do casal, mas quem deu à luz foi a prima”, esclarece Franco. Outra questão ainda indefinida envolve o número de embriões que devem ser colocados no útero da mulher. De acordo com a revista médica The Lancet, uma das mais conceituadas no mundo, o indicado é no máximo dois embriões por útero, independentemente da idade da mulher. Gravidez de múltiplos, seja resultado de processo natural ou artificial, sempre representa risco para as mães e os bebês, que podem nascer prematuros e com baixo peso. Hoje, os médicos decidem com o casal quantos embriões podem transferir para o útero da paciente. Assim como a grande maioria dos casais que recorrem à reprodução humana assistida, Tânia e o marido queriam que o filho tivesse as características físicas de suas famílias. Mas uma alternativa para quem tem dificuldades para engravidar é a adoção, apesar de este processo ainda ser muito burocrático no Brasil. •

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Especial

AUTOMOBILISMO

Voando nas pistas Conhecemos o primeiro e único carro brasileiro de F-1 desenvolvido pelos irmãos Fittipaldi em parceria com a Embraer, em São José, uma passagem pouco conhecida na história da fabricante de aviões

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Fotos: Flávio Pereira

CARRO Wilson Fittipaldi ao lado do FD-01, o primeiro e único carro de Fórmula 1 brasileiro

Hernane Lélis São Paulo

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uem nasceu e cresceu ouvindo que São José dos Campos é a capital da aviação, graças a um grupo de visionários engenheiros que fundaram a Embraer, dificilmente consegue imaginar que a empresa também ajudou a decolar um ousado projeto de automobilismo. Trata-se do pri-

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meiro carro de Fórmula-1 brasileiro, idealizado pelos irmãos Emerson e Wilson Fittipaldi, que deixou os hangares da companhia há 37 anos para voar nas pistas dos principais circuitos mundiais. Hoje, mesmo após o acidente que marcou sua estreia, o veículo é considerado um ícone da indústria nacional. O sonho sobre rodas dos Fittipaldi começou a ganhar formas na década de 70, quando Emerson sagrou-se bicampeão mundial de Fórmula-1. A euforia do título contagiou a família do “Rato Voador”, como era chamado à época, e motivou seu irmão mais velho, Wilson,

a tirar do papel um antigo projeto –desenvolver um carro genuinamente brasileiro para competir na principal categoria do automobilismo. Para conseguir tal feito, precisou contar, além de dinheiro, com a ajuda de alguém que compartilhasse de ideias tão visionárias quanto às suas. O nome para a empreitada não poderia ser outro: Ozires Silva, fundador da Embraer. No início de 1974 Wilson visitou a companhia, em São José, com o projeto embaixo do braço. “Não me lembro com detalhes, mas certamente foi uma surpresa. Afinal, fazíamos aviões e não automóveis, mas aquele

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Especial

pioneirismo do Wilsinho me sensibilizou, defendo a nacionalização de produtos. Vi que tudo aquilo tinha alguma semelhança com a criação da Embraer”, lembrou Ozires. Após uma reunião de oito horas com os Fittipaldi, o então presidente da fabricante de aviões, ofereceu um túnel de vento para os testes aerodinâmicos do monoposto, materiais, técnicos e equipamentos para seu desenvolvimento. Dias depois a Embraer já começou a receber os desenhos dos aerofólios feitos pelo projetista Ricardo Divila, um dos principais nomes da F-1 na época. A empresa joseense confeccionava os modelos e depois testava no túnel de vento aerodinâmico do antigo CTA (Centro Técnico Aeroespacial). Uma galeria de ótimas características para a análise das asas do Fórmula-1, fornecendo, segundo Wilson, dados precisos sobre sua funcionalidade. Num dos testes, por exemplo, o carro brasileiro provocou menos formação de vácuo na traseira, o que dificultaria a ultrapassagem dos adversários na reta. “A empresa nos forneceu todo o material na quantidade de que realmente necessitávamos, não só para a carroçaria como para as mangas de eixo, argônio para a solda e materiais de outras especificações”, disse Wilson, recordandose ainda que formou a equipe contando com a cooperação de pelo menos seis profissionais da Embraer, alguns até com a responsabilidade de treinar mecânicos e outros especialistas. “Nenhum tinha conhecimento em automobilismo. Passamos por alguns momentos interessantes sobre isso já que alguns pontos de vistas eram divergentes”, explicou o veterano piloto. “O sonho do Wilson era construir um carro brasileiro para a Fórmula-1. O Ozires e a Embraer ajudaram muito, tudo o que a Embraer conhecia e sabia para ajudar na estrutura e no chassi do carro ela ajudou. Foi uma parceria muito feliz para nós. O Ozires foi muito importante nessa história. Sem a Embraer, teríamos uma dificuldade ainda maior para construir o carro, correndo o risco de tecnicamente ele ser inferior”, afirmou Emerson Fittipaldi. Apresentação Depois de 356 dias de trabalho, desde a reunião na Embraer, o primeiro carro de Fórmula-1 brasileiro deixou a oficina e seguiu para Brasília, onde foi apresentado ao então presidente da República, Ernesto Geisel, no Salão Negro do Congresso Nacional. O modelo surpreendeu até mesmo os mais otimistas e entusiastas do esporte que estavam no evento. A maioria das pessoas acreditava que o carro verde e amarelo de essência –sua cor na verdade era

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NOSTALGIA Uma vez por ano os irmãos colocam a máquina na pista de Interlagos, em São Paulo

prata para remeter ao açúcar, do patrocinador Copersucar– seria apenas uma simples cópia disfarçada de algum protótipo europeu ou uma mistura dos carros de corrida da época. O FD-01, como foi batizado, tinha quase 600 quilos –o mínimo naquele ano de campeonato era 575 quilos. Mas uma das principais novidades do veículo era a posição do piloto, que guiava praticamente deitado para garantir um centro de gravidade mais baixo. Outra característica singular era do radiador. Não exposto, reduzia a área de atrito contra o vento. As tomadas de ar embutidas na carroceria também chamavam atenção, pois contribuíam para dar mais penetração aerodinâmica ao modelo. “Foi um grande marco na história da Fórmula-1, um carro totalmente novo”, afirmou o jornalista Lemyr Martins, autor do livro “Fitti-1 - O Fórmula 1 brasileiro”. Estreia Quando deixou o boxe 27 do autódromo de Buenos Aires, na Argentina, Wilson Fittipaldi sabia que estava a poucos segundos de entrar para história. Alinhou-se na última posição do grid com o mesmo orgulho de quem estava na pole. Da 23ª colocação, ganhou uma posição antes mesmo da largada, pois JeanPierre Jarier, da Shadow, quebrou nas voltas de alinhamento. Confiante no desempenho do carro, com a sorte demonstrando estar ao seu lado e com a experiência que tinha ao volante, Wilsinho acreditava que iria até o fim da

corrida naquele 12 de janeiro de 1975. Pontuar entre os dez melhores seria difícil já que máquinas fantásticas estavam na pista, como a McLaren de seu irmão Emerson Fittipaldi, a Ferrari de Niki Lauda e a Lotus de Ronnie Peterson. Ainda sim, Wilson começou a ganhar posições logo na primeira volta, passando na frente do Surtees de John Watson. Na segunda volta, ganhou mais uma posição quando a McLaren de Jochen Mass teve problemas. Logo outras baixas aconteceram e Wilsinho se sentiu verdadeiramente na corrida quando recebeu a placa de boxe, sinalizando que estava no 18ª lugar e na décima primeira volta. O piloto brasileiro observou o carro melhorar à medida que o tanque de combustível esvaziava. Tudo corria bem até que na décima terceira volta Wilson sentiu uma chicoteada na parte de trás do veículo. Uma peça da roda direita havia se quebrado fazendo com que perdesse o controle da direção, atravessasse a pista e batesse contra o guard rail. Um incêndio tomou conta do FD-01, consumindo e chamuscando toda a traseira do monoposto. O fogo foi rapidamente controlado, mas a estreia do Fórmula-1 brasileiro acabou juntamente com aquelas chamas. “O desempenho na prova estava bom, mas deu problema mecânico numa manga de eixo traseiro. Quebrou como quebram vários carros, não tinha o que se fazer”, disse Wilsinho ao recordar-se do fatídico

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dia. A única felicidade para a família Fittipaldi na Argentina ficou por conta da vitória de Emerson no GP. O “Rato Voador” estava na terceira colocação no momento do acidente –atrás de Carlos Reutemann, da equipe Brabham, e James Hunt, da Hesketh, após receber a informação do ocorrido com o FD-01, disparou e garantiu o primeiro lugar com a gana de quem queria homenagear o esforço do irmão. “Corrida é um esporte muito ingrato, às vezes você está ganhando e quebra uma juntinha, vaza óleo do radiador e você perde o Grande Prêmio na última volta. É preciso estar preparado para esse tipo de problema. Era a primeira vez da equipe e do carro em uma corrida de verdade. A história total dos sete anos de Fórmula-1 que a gente teve com a nossa equipe foi bem satisfatória, tivemos resultados excelentes”, afirmou Emerson, referindo-se principalmente ao segundo lugar obtido em 1978 no Grande Prêmio do Brasil –melhor colocação da equipe Fittipaldi no torneio mundial.

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Garagem Depois do acidente em Buenos Aires, a equipe preferiu utilizar um segundo protótipo de carro que estava praticamente finalizado e encostar o FD-01 por anos. Em 1977 o veículo foi enviado à Embraer, em São José, para fazer uma instalação elétrica de teste. Graças a isso, o carro não seguiu com os outros três modelos posteriores para a Inglaterra, onde foram vendidos em um leilão. Meses depois um dos mecânicos de Wilson resolveu buscar o monoposto na empresa e guardá-lo em sua garagem em São Paulo na intenção de um dia restaurá-lo. Missão que só tornou realidade quando a Dana, uma empresa fornecedora de peças automotivas com unidade em Taubaté, resolveu adotar a empreitada em 2004, reformando todo o FD-01. “Ele anda, levamos até Interlagos para dar uma volta pelo menos uma vez por ano. Tenho um carinho grande por esse veículo. É o mais especial da família de carros que tivemos na equipe Fittipaldi”, disse emocionado Wilson.


Especial

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carro brasileiro? < Muito mais fácil que há 30 anos, sem dúvida. Se foi possível há três décadas, hoje com fornecedores e mão-de-obra fica ainda mais fácil. O maior problema é o custo.

ENTREVISTA HONRA Emerson Fittipaldi venceu a corrida em que o irmão pilotava o FD-01 e se acidentou

O que pensa sobre Sebastian Vettel? < É um piloto extraordinário, fantástico. Está em um carro muito bom nos últimos dois anos. Um carro que dominou o campeonato. Eu o comparo muito com o Webber, ele está sempre muito à frente do Webber. Isso é um parâmetro bom para a gente. É um bicampeão com muito mérito. O Vettel é mais piloto ou a Renault é mais carro? < A Red Bull é um carro muito competitivo, mas ele como piloto é extraordinário. Por isso, fiz a comparação com o Webber, já que usa o mesmo carro e não anda lá na frente. Vejo o Vettel com muito talento, por isso, põe o carro onde põe, teve recorde de pole na última temporada. O que mudaria hoje na Fórmula-1?

< Um regulamento mais restrito para

Se você ainda se sente desanimado em acompanhar mais uma temporada de Fórmula-1 devido às baixas dos pilotos brasileiros e a sequência de vitórias de um jovem alemão, saiba que este ano pode surpreendê-lo. Ao menos é o que aposta o bicampeão mundial da categoria, Emerson Fittipaldi. A poucos dias do início da maior competição de automobilismo, ele acredita que as maiores chances para o Brasil estão nas mãos de Felipe Massa, ainda que para isso tenha que enfrentar Fernando Alonso, “o mais completo, sem dúvida” e Sebastian Vettel, “extraordinário, fantástico”. Qual a expectativa para a temporada? < Acho que a Fórmula-1 esse ano vai ser interessante. A mudança do regulamente já deixou mais competitiva, com mudanças de líderes e de posições. Tenho uma perspectiva muito boa para esse ano em termos de competição. Qual o melhor piloto de Fórmula-1? < O Fernando Alonso. Ele é o mais com-

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pleto, sem dúvida. O que espera de Felipe Massa esse ano?

< Acho que ele vai andar muito melhor do que andou no ano passado porque vai se adaptar melhor aos pneus, que foi uma dificuldade devido ao seu estilo agressivo de pilotagem, diferente do Fernando. O Massa tem um desgaste maior do pneu que o Fernando tem. Ele vai conseguir adaptar mais o carro ao seu estilo do que conseguiu no ano passado. Vai andar bem. Qual sua aposta entre esses jovens pilotos brasileiros? < Têm dois que andam muito bem. Os dois de Brasília: Felipe Nasr e Felipe Guimarães. Aceleram muito. Falta apenas apoio no Brasil para que cheguem à Fórmula-1, como por exemplo, a Petrobras adotar o mesmo programa que é feito na França pela Shell e que o Hugo Chaves tem com a petrolífera PDVSA. As petroleiras ajudam a levar um piloto desde o kart à Fórmula-1. É possível hoje ter uma equipe e um

baixar o custo, parecido com os carros da Indy. Com isso você tem equilíbrio maior de equipe e chances para pilotos do mundo inteiro com talento chegarem à Fórmula-1. Não com dinheiro e talento. Hoje é um grande problema chegar à Fórmula-1 por causa do custo, é tão caro que as próprias equipes têm que tomar uma decisão entre o melhor piloto ou o que trás mais patrocínio para a equipe. Pode ser o que vem acontecendo com o Bruno Senna? < Isso é você que está falando. O Bruno Senna tem muito talento, mas não tem experiência. É um cara que mostrou, por exemplo, no Grande Prêmio do Brasil, classificou em oitavo no grid. Na minha opinião isso é espetacular, aquele carro não era para estar em oitavo. Falta experiência em corrida, tem pouca quilometragem, mas uma cabeça excelente. O Bruno tem talento, não é o caso de muito pilotos sem talento na Fórmula-1. O que acha da formação de piloto no Brasil? < Acho que a estrutura tinha que ter mais incentivo no kart para chegar à Fórmula-1. Isso é que está faltando. •

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NOVAS ÁREAS VERDES E CICLOVIAS VÃO MELHORAR AINDA MAIS A QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO.

O futuro de São José não é uma promessa. Três novos parques serão construídos, no Alto da Boa Vista, Eugênio de Melo e Urbanova. Com eles, a área de parques aumentará em mais de 50%, garantindo mais opções de lazer, entretenimento e ar puro para toda a cidade. Além disso, em breve será alcançada a marca de 80 quilômetros de ciclovias construídas. E muito mais vem por aí, oferecendo mais mobilidade a partir de uma alternativa saudável de locomoção, e tornando São José uma das cidades com mais ciclovias do Brasil. Esta é a São José que estamos fazendo hoje, construindo o amanhã.

SÃO JOSÉ: FUTURO EM CONSTRUÇÃO.

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Mundo IMIGRAÇÃO

Destino Brasil Vivendo um momento econômico favorável, país virou uma oportunidade para imigrantes Yann Walter São José dos Campos

Brasil sempre foi conhecido mundo afora por sua natureza exuberante e seu povo acolhedor, mas o crescimento econômico registrado nos últimos anos, quando quase todo o resto do planeta estava submerso na crise mundial, transformou o país em um verdadeiro Eldorado para imigrantes de todo o planeta. Até pouco tempo, o brasileiro saía para os Estados Unidos, a Europa e o Japão em busca de uma vida melhor. Hoje, a situação é diferente. Haitianos, sul-americanos, mas também europeus e asiáticos, estão aportando em massa ao Brasil para aproveitar as diversas oportunidades que o país oferece. É claro que nem todos conseguem. Assim como muitos brasileiros no exterior, parte destes novos imigrantes se depara com a dura realidade do preconceito e dos baixos salários. Mas apesar dos problemas e das dificuldades de adaptação, a maioria persevera na tentativa de alcançar o ‘sonho brasileiro’, a versão verde e amarela do ‘American Dream’. De acordo com os dados mais recentes do Ministério da Justiça, mais de um milhão e meio de estrangeiros trabalhavam legalmente no país em dezembro de 2011, o

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que corresponde a um aumento de 57% em relação a dezembro de 2010. A maior parte deste aumento se deve à chegada de trabalhadores dos países vizinhos. “O Brasil está se tornando um verdadeiro pólo de atração na América Latina”, constatou Marina Novaes, advogada do Cami (Centro de Apoio ao Migrante), uma ONG com sede em São Paulo. O Estado é disparado o que recebe o maior número de estrangeiros: são quase 772 mil, ou seja, mais da metade do total. O número de bolivianos, maior comunidade estrangeira latino-americana do país, cresceu 77% nos dois últimos anos, chegando a 62 mil. É claro que este total não inclui os imigrantes ilegais, não contabilizados pelo ministério. Segundo estimativa do consulado da Bolívia, 300 mil bolivianos vivem hoje no Brasil, sendo 250 mil em São Paulo. A grande maioria trabalha na indústria da confecção, em condições precárias. “Muitos moram no local onde trabalham. São pagos por peça costurada, e chegam a trabalhar 16 ou 17 horas por dia para ganhar R$ 500”, disse Marina Novaes. Segundo a advogada, muitos destes bolivianos são camponeses que foram buscar trabalho em La Paz ou Cochabamba, mas que, diante da falta de oportunidades, acabaram migrando para São Paulo. Além do preconceito, o maior problema destes imigrantes é a barreira do idioma, que os torna mais vulneráveis à exploração

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Fotos: divulgação

BRASILEIA Haitianos que entraram ilegalmente no Brasil buscam regularização em órgãos públicos do Acre

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Mundo

trabalhista. “Os peruanos e os paraguaios têm a mesma dificuldade. Ao menos os bolivianos contam com o apoio da comunidade deles, que é muito forte em São Paulo”, ponderou a representante do Cami. Crescimento De acordo com o Ministério da Justiça, a comunidade peruana no Brasil foi a que registrou o maior crescimento entre 2009 e 2011: o número de trabalhadores peruanos documentados no país triplicou, passando de 6 a 19 mil. Já os paraguaios foram de 11 a 19 mil. Muitos deles também trabalham na confecção, e os demais são ambulantes. “A maioria dos peruanos trabalha com artesanato”, disse Marina Novaes. Para o boliviano, o sonho brasileiro se concretiza após anos de trabalho pesado, quando ele consegue juntar o dinheiro necessário para abrir a própria confecção. Os que alcançam este objetivo geralmente migram da capital para a Grande São Paulo, onde os aluguéis são mais baratos. As oficinas de costura que empregam a maior parte dos imigrantes bolivianos pertencem a brasileiros, mas também a outros bolivianos e a asiáticos, sobretudo chineses e coreanos. O número de chineses que entram legalmente no Brasil para residir também está em franca expansão: de 28,5 mil em 2009, passou para cerca de 40 mil. De acordo com o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, a maior presença de chineses é um fenômeno que ocorre em todo o mundo, principalmente nos países com os quais a China mantém fortes relações comerciais. Muitos são trabalhadores qualificados que vêm para setores econômicos específicos, como o petróleo e o gás e a indústria automobilística. Apesar do forte crescimento das comunidades sul-americanas, os estrangeiros legais mais representados no Brasil continuam sendo os portugueses. Segundo o Ministério da Justiça, o número de lusos residentes no país já é superior a 300 mil. Eles são em maioria comerciantes, empresários, arquitetos, engenheiros e advogados. A facilidade com o idioma faz com que Portugal também seja o destino predileto dos brasileiros que emigram para o Velho Continente. Aliás, o bom momento econômico do Brasil, impulsionado, entre outros fatores, pelo crescimento do pré-sal e pelas obras de infraestrutura ligadas à organização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, leva muitos europeus a tentarem a sorte no país. Além dos portugueses, os

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BOLIVIANOS Imigrantes da Bolívia já têm até uma feira semanal na capital paulista onde realizam encontros

espanhóis estão chegando cada vez mais ao Brasil, mostrando uma inversão do fluxo migratório predominante nas últimas décadas. De 2009 para cá, o número de cidadãos da Espanha residentes no país aumentou mais de 70%, estabelecendo-se acima dos 80 mil. Assim como os portugueses e, em menor medida, os argentinos e os chilenos, formam o contingente da mão-de-obra estrangeira qualificada, e ocupam os mesmos empregos. A tendência é que este movimento se amplifique, até porque a crise econômica na Europa está longe do fim. Haitianos Sul-Americanos, asiáticos e europeus representam a maioria dos estrangeiros residentes no Brasil, mas vários outros grupos também escolheram o território brasileiro como moradia. Fugindo da miséria que assola seu país

desde o violento terremoto que matou mais de 200 mil pessoas em janeiro de 2010, milhares de haitianos já entraram ilegalmente pelas fronteiras do Norte alimentando, inclusive, um tráfico internacional de pessoas operado por coiotes mexicanos. Segundo informações do Ministério da Justiça, o esquema funcionaria da seguinte forma: ainda no Haiti, os mexicanos oferecem passagens aéreas para Quito, no Equador, país que tem uma tradição de cidadania global e não exige visto de nenhum país do mundo. De Quito, os haitianos seguem pelo Peru de carro, ônibus ou caminhão e vão até Tabatinga, no Amazonas, e Brasileia, no Acre. A viagem custaria entre US$ 2 mil e US$ 5 mil. A maioria dos quatro a cinco mil haitianos que entraram no Brasil nos últimos meses está concentrada nestas duas cidades. Muitos seguiram dali para Manaus (AM),

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MAPA DA IMIGRAÇÃO LEGAL NO BRASIL PORTUGUESES UGUESES

300 mi mil il HAITIANOS IANOS

ESPANHÓIS ES

4,5 M MIL IL

8 80 0 MIL L

PERUANOS

19 MIL CHINESES

40 MIL

BOLIVIANOS

PARAGUAIOS UAIOS

62 MIL

19 MIL IL

e algumas dezenas já chegaram até aos Estados de São Paulo e Santa Catarina para trabalhar principalmente no setor da construção civil. “Os haitianos que saem de Manaus já foram regularizados e têm emprego esperando por eles no Sudeste ou no Sul do país”, disse Marina Novaes, do Cami. O governo brasileiro decidiu em janeiro adotar medidas mais restritivas para estancar o fluxo constante e ininterrupto de haitianos. A fronteira do norte foi fechada para liberar apenas 100 novas entradas por mês, mediante a concessão de um visto humanitário válido exclusivamente para os cidadãos do Haiti. Em paralelo, as autoridades brasileiras pediram ajuda à polícia peruana para coibir a ação dos coiotes. De acordo com a presidente Dilma Rousseff, que viajou à ilha em fevereiro, todos os haitianos que já estão no Brasil serão regularizados.

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Mais de 1,5 milhão de estrangeiros, sendo M 772 mil em São Paulo, em dezembro de 2011

Legislação Apesar das últimas restrições aplicadas à entrada dos haitianos, o Brasil tem uma das leis de imigração mais abertas do planeta. Além das oportunidades econômicas, este é sem dúvida outro fator que incentiva muito os migrantes na hora de escolher seu país de destino. Nossos vizinhos ainda contam com o acordo de livre residência assinado em 2009 pelas nações do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e pelos países associados –Chile e Bolívia. Peru e Equador firmaram o pacto no fim do ano passado. “Em virtude deste acordo, todos os migrantes destes países podem solicitar o estatuto de residente no Brasil, mesmo que tenham entrado no território ilegalmente. Basta provar que não cometeram nenhum crime aqui ou em seu país de ori-

gem. Se este pré-requisito for cumprido, eles conseguem um visto provisório de dois anos. Depois, para obter a residência permanente, devem comprovar que estão trabalhando legalmente no país há pelo menos dois anos”, explicou a advogada Marina Novaes. Vale lembrar que os estrangeiros permanentes no Brasil gozam dos mesmos direitos civis e econômicos que os brasileiros, inclusive o direito ao trabalho e à livre iniciativa. Outro fator importante é a concessão, de tempos em tempos, de anistias pelo Ministério da Justiça. A última delas, ocorrida em 2009, permitiu a legalização de 45 mil estrangeiros que estavam no Brasil em situação irregular. De acordo com a advogada do Cami, 34 mil foram no Estado de São Paulo, e 17 mil beneficiaram bolivianos. •

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Entrevista Fotos: divulgação

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Dois Pontos >Pedro Andrade se prepara para publicar um livro com base na vivência que conquistou em Nova York, de onde apresenta o Manhattan Connection

“Sempre soube que não era melhor ou pior do que ninguém” Isabela Rosemback São José dos Campos

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oi por acaso que o então adolescente Pedro Andrade, 32 anos, ingressou na carreira de modelo para, dali, ganhar o mundo e alcançar a notoriedade que tem hoje como apresentador de três programas televisivos em Nova York (EUA), incluindo o brasileiro “Manhattan Connection”. E, considerando que o convite para integrar o elenco da atração da Globo News surgiu após ele ter sido entrevistado por seus apresentadores, seria fácil dizer que a sorte sempre conspirou a seu favor. Uma dedução rápida, mas também injusta. Focado em desbravar os prazeres gastronômicos, artísticos e de entretenimento que a cidade norte-americana proporciona àqueles que a contemplam, o belo carioca acumula qualidades e realiza, nesta boa fase de sua carreira, uma vontade antiga de exercer a profissão para a qual estudou em três anos de faculdade. “Tenho orgulho do trabalho que exerci no mundo da moda, mas meu ofício agora é o de apresentador e jornalista”. Em entrevista à revista valeparaibano, Andrade confessa que dividir a bancada com Lucas Mendes, Caio Blinder, Ricardo Amorim e Diogo Mainardi é estimulante. “Trabalhar com profissionais desse calibre, de diferentes opiniões, só me motiva a melhorar”, afirma o brasileiro, que tem ganhado status de celebridade e que também apresenta a atração “1st Look” na rede NBC. Está prevista para este mês, ainda, a sua estreia na rádio Eldorado com o programa “Conexão América”.

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Ao ser convidado para a entrevista no Manhattan Connection, você chegou a criar a expectativa de virar colaborador da atração? Como foi receber a proposta para integrar a bancada do programa? < Não tinha a menor ideia de que haveria um convite para uma presença permanente. O Lucas Mendes já conhecia meu trabalho na NBC e decidiu me chamar para uma entrevista. A resposta do público foi tão positiva que decidiram me convidar. Sempre adorei o Manhattan Connection e fazer parte do time é lisonjeante. Quando cursou jornalismo, pensava em atuar na área de cultura, variedades e entretenimento, como é o seu foco atual, ou tinha outros planos? O que pensa sobre ter seguido essa direção? < O jornalismo é uma profissão abrangente. As possibilidades são infinitas. Eu sempre fui interessado em cultura, arte e entretenimento. No entanto, aprecio o cunho mais sério e necessário do ofício. O Manhattan Connection reúne o que há de melhor dessas ramificações trazendo informações úteis e divertidas. É exatamente o estilo de jornalismo que sempre quis fazer. A atração também aborda temas políticos. Isso exige mais de você como profissional? Qual o seu sistema de trabalho, de modo a conciliar temas e outros programas que apresenta em Nova York? < Apresentar e co-produzir três programas não é tarefa fácil. Meu calendário demanda muita disciplina e dedicação. Gostaria de ter mais tempo para relaxar, mas, no atual momento, é praticamente impossível tirar férias. O trabalho de pesquisa e estudos, tanto pro Manhattan

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Fotos: divulgação

PERFIL NOME: Pedro Andrade IDADE: 32 anos NATURALIDADE: Rio de Janeiro

PROFISSÃO “SEMPRE FUI INTERESSADO EM CULTURA, ARTE E ENTRETENIMENTO. NO ENTANTO, APRECIO O CUNHO MAIS SÉRIO E NECESSÁRIO NO OFÍCIO DO JORNALISMO”

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ESTADO CIVIL: Solteiro PROFISSÃO: Apresentador de TV

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Entrevista

BRASIL “Apesar de curtir muito a minha vida em Nova York, sou apaixonado não só pelo Rio de Janeiro, mas pelo Brasil inteiro”

Connection quanto para os outros programas, é tão cansativo quanto as muitas horas de gravação. Mas não reclamo. Faço o que gosto e isso é uma benção. Quais os trabalhos que considera marcantes em sua carreira, até o momento, e por quê? < Essa é uma pergunta difícil. Não acredito mais em atalhos. Todas as etapas na carreira de um profissional fazem toda a diferença no resultado final. É claro que me divirto muito cobrindo museus, festas e restaurantes, mas cada uma das matérias em que trabalhei, de certa forma, me tornaram o apresentador que sou hoje. O fato de ter interrompido os estudos para se dedicar à carreira de modelo internacional te ajudou e te prejudicou em que aspectos e momentos ao longo de sua trajetória profissional? < Não me arrependo de ter largado a faculdade no terceiro ano para investir na carreira de modelo. Tinha a certeza de que aprenderia mais viajando o mundo do que sentado numa sala de aula. Não estou, de forma alguma, menosprezando a importância das universidades. Tanto que, mesmo quando me sustentava por meio do trabalho que exercia no mundo da moda, sempre soube que era um jornalista trabalhando como modelo, e não o contrário. A minha decisão foi baseada numa circunstância em que me vi com uma oportunidade nas mãos que talvez nunca mais teria a chance de usufruir. Nas reportagens que faz, há muitas dicas gastronômicas. Esse trabalho ampliou o seu paladar, ou sempre foi aberto a experimentar diferentes pratos? Gosta de cozinhar? < Por incrível que pareça, não sei nem fazer sopa de pacote. Sou uma verdadeira negação na cozinha. No

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entanto, tenho um paladar apurado graças à quantidade de comidas que experimento durante as minhas gravações. Talvez por não me atrever no fogão, como diariamente fora, o que acaba servindo como um ótimo laboratório para o meu trabalho. Quando gosto muito de um lugar, ele imediatamente entra para a minha lista de estabelecimentos que têm de ser divulgados. Ter esses quadros voltados ao entretenimento te fez conhecer uma Nova York diferente da com que estava acostumado? O que o surpreendeu nesses garimpos pela Big Apple? < Existe um mito de que a vida em Nova York é uma correria sem fim. Mas quem realmente constrói uma vida na cidade, sabe que a Times Square e a Estátua da Liberdade são tão presentes na rotina do nova iorquino quanto o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar são para o carioca. Nova York é uma cidade absolutamente encantadora e cheia de vida. Seja lá qual for o seu interesse, em Manhattan você acha do bom e do melhor. É um grande imã para gente interessante e interessada. Acredito que a sua vida em Nova York deva ser bem diferente da que tinha no Rio de Janeiro. A que teve de se adaptar e do que sente falta? < Apesar de curtir muito a minha vida em Nova York, sou apaixonado não só pelo Rio, mas pelo Brasil inteiro. Sinto falta da comida, da minha família, do jeito descompromissado do brasileiro, da ginga, do samba, dentre outras qualidades impossíveis de serem encontradas em outro lugar do mundo. O que gosta de fazer nas horas vagas? < Horas vagas são raríssimas no meu cotidiano, mas, quando posso, gosto de passear com o meu cachorro,

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NA BANCADA Os apresentadores do Manhattan Connection Caio Blinder, Lucas Mendes e Pedro Andrade, em Nova York

um buldogue francês chamado Miles. Também gosto de correr às margens do rio Hudson, de interagir com o público que acompanha o meu trabalho através das redes sociais, de comer fora... Essas coisas. Você conta que passou por momentos difíceis quando chegou aos EUA. O que crê ter sido decisivo para que você revertesse esse quadro? O que aprendeu com essas experiências? < Sempre tive uma tenacidade imbatível. Levantei após cada queda sem me dar por derrotado. Nova York é uma das cidades mais competitivas do mundo, mas sempre soube que eu não era melhor ou pior do que ninguém. Meu destino dependia das minhas escolhas e perseverança. Porta na cara dói, mas não mata ninguém. Considera Nova York uma cidade tolerante com imigrantes? Acredita que os EUA já deram um passo à frente com relação ao preconceito com os que chegam de países emergentes? < Acredito que Nova York é uma cidade que gira em torno da liberdade social. Ninguém está muito preocupado com o jeito como o próximo leva a vida. Isso evita uma postura crítica e pobre de espírito. Um bom exemplo é o metrô da cidade, onde se encontram todas as raças, religiões, cores, estilos, orientações sexuais, culturas e idades. Ninguém deve nada a ninguém e todos se respeitam. Como deveria ser no mundo inteiro. O mesmo você diria dos europeus, considerando a temporada que passou em cidades como Londres, Paris e Milão? Por quê? < É complicado generalizar uma cultura, mas confesso que os milaneses e os parisienses não são os povos mais acolhedores do mundo. Porém, qualquer comporta-

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mento pode ser aturado com bom humor. As três cidades têm seus atrativos, e voltaria a todas elas como turista. Não como morador, provavelmente. Hoje, considera que chegou aonde queria? < Tenho grandes planos. Essa postura satisfeita, às vezes, me parece comodismo. Acho que a vida é um grande aprendizado e a gente tem de estar sempre tentando crescer e melhorar. Ainda há muito chão pela frente. A sua vida pessoal tem sido exposta, desde que você ganhou notoriedade. Notas sobre namoros e outras especulações passaram a figurar em sites como os de celebridades. O assédio te incomoda ou interfere no seu trabalho? Como lida com isso? < Desde muito cedo decidi separar a minha vida pessoal da profissional. Sou jornalista e apresentador. A partir do momento em que o público está mais interessado no que faço em casa do que no que faço diante das câmeras, existe uma troca de valores. O que importa é a história que estou contando, o fato que estou relatando e o meu entrevistado, e não a minha vida pessoal. Esses dez anos em Nova York lhe dão segurança para pensar em novos projetos, como escrever um livro? Quais seriam esses planos e qual a previsão para que eles sejam postos em prática? <Já estou escrevendo um livro e pretendo publicá-lo ainda em 2012. Minha rotina profissional me deu uma vivência única e rara em Nova York, por isso seria um desperdício não usufruir desse aprendizado. Pensa em voltar para o Brasil? Em que condições? < Pela proposta certa, voltaria, sim. Eu estou sempre aberto para novas possibilidades. •

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PÓS-GRADUAÇÃO

UNITAU

NOVOS TEMPOS PEDEM NOVOS OBJETIVOS


acom.unitau

especialização

especialização

BIOCIÊNCIAS

CIÊNCIAS EXATAS

Análises Clínicas Apicultura para Educação a Distância Atendimento de Enfermagem nas Emergências Intra e Pré-hospitalares Atividade Física e Saúde no Envelhecimento Odontopediatria Radiologia Odontológica e Imaginologia Terapias de Reabilitação nos Distúrbios Neurológicos da Criança e do Adolescente Transtornos de Aprendizagem, Neurologia Infantil e Terapias Avaliação, Controle, Regulação e Auditoria em Saúde Biologia Marinha Disfunção Têmporo-mandibular e Dor Orofacial Endodontia Enfermagem do Trabalho Enfermagem em Estomaterapia Enfermagem em U.T.I. Gestão de Resíduos Industriais, Urbanos e Rurais Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde Gestão em Processos de Envelhecimento: Ênfase em Saúde Gestão Interdisciplinar do Meio Ambiente Implantodontia Medicina do Trabalho Ortodontia Prótese Dentária Saúde da Família Saúde Pública Saúde Pública com Ênfase em Gestão de Saúde Saúde Pública com Ênfase em Saúde da Família Saúde Pública com Ênfase em Vigilância Sanitária Vigilância Sanitária

Automação e Controle Industrial Engenharia Aeronáutica Engenharia da Qualidade Seis Sigma - Green Belt Engenharia de Segurança do Trabalho Engenharia de Soldagem Gestão de Energia Gestão de Processos Industriais Projeto Mecânico Qualidade Lean Seis Sigma Black Belt Vibrações Mecânicas

MBA Advanced Executive MBA (Pós MBA) Gerência de Logística Integrada e Operações Gerência de Produção e Tecnologia Gerência de Projetos Gerência de Recursos Humanos Gerência de Tecnologia da Informação Gerência Empresarial (MBA Executive) Gerência Estratégica de Marketing Gerência Financeira e Controladoria Gestão Ambiental Integrada Gestão Integrada da Qualidade com Ênfase na Formação de Auditores Gestão Contábil, Auditoria e Controladoria

MESTRADO

especialização

CIÊNCIAS HUMANAS Administração de Recursos Humanos: Ênfase em Desenvolvimento Organizacional Administração Financeira e Auditoria Assessoria, Gestão da Comunicação e Marketing Comunicação e Marketing Político Direito do Trabalho e Processual do Trabalho Direito Ambiental e Urbanístico Educação, História, Cultura e Sociedade Gestão Escolar para Formação de Profissionais para Administração, Planejamento, Inspeção, Supervisão e Orientação Educacional para a Educação Básica Gestão Estratégica de Negócios Gestão Tributária Gestão, Políticas Sociais e Formação de Profissionais para a Educação Básica Leitura e Produção de Gêneros Discursivos Língua Inglesa: Tópicos em Ensino e Aprendizagem Língua Portuguesa: Gramática e Uso Linguagens Artísticas Integradas: Formação e Prática Literatura Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo Política Social e Trabalho Social com Famílias Psicopedagogia

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Engenharia Mecânica Planejamento e Desenvolvimento Regional Ciências Ambientais Desenvolvimento Humano: Formação, Políticas e Práticas Sociais Gestão e Desenvolvimento Regional Linguística Aplicada Odontologia

DOUTORADO Odontologia

PÓS-DOUTORADO Odontologia

MATRICULE-SE.

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Ensaio fotográfico

Fernando Banzi Repórter Fotográfico

Havana Hot Wheels O regime comunista de Cuba é refletido nos carros que circulam pela capital: a impressão que se tem, vendo as fotos do fotógrafo joseense Fernando Banzi, é que o tempo parou nessas relíquias sobre rodas

QUENTE A frente de um Cadillac vermelho em uma noite do verão cubano

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Domingo 5 Setembro de 2010

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Ensaio

ANOS 60 Não fosse pelo carro da polícia ao fundo, a foto poderia muito bem retratar uma outra época

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Domingo 4 Março de 2012

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TRANSPORTE Os ônibus são raros no país, o mais comum são caminhões adaptados

INTERIOR Caminhões transportam leite pelas estradas que levam para longe de Havana

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REVOLUÇÃO Sob os olhos de Che Guevara, o carro passa em frente ao prédio do Ministério do Interior

Ensaio


Formar pessoas competentes na vida acadêmica, no mundo do trabalho e na vida social são objetivos de toda escola. Fazer a diferença é o nosso desafio! Comece escolhendo uma ótima escola.

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Coisa & Taltigo

Marco Antonio Vitti

A Luz e a Sombra na batalha diária em busca de uma sociedade melhor

O

grande psiquiatra e psicoterapeuta analítico Carl Gustav Jung discordou de seu colega Sigmund Freud, assumindo que a libido, não é somente sexual, mas, engloba a totalidade da psique. Com isso, escreveu um livro visceral: “Os Tipos Psicológicos”, no qual descreve a maioria de seus conceitos que até hoje permanecem vivos. Especialistas dizem que se o século 20 foi de Freud, o século 21 é de Jung. Jung chama de “Persona”, a função psíquica que todos temos, para que possamos nos relacionar socialmente. Atualmente, na segunda dezena do século 21, vemos o mundo sendo dominado pela “Persona” e pela “Sombra”. A persona é um termo que Jung foi buscar na mitologia do teatro grego, que utilizava máscaras para desempenhar seus papéis para proteger seu verdadeiro Eu e para que a plateia entrasse de cabeça na peça teatral, uma vez que as mulheres não podiam ser atriz naquela época. Daí o termo Personalidade. Todos temos várias personas, ou seja, diversas máscaras para sobrevivermos adequadamente. Podemos ver que a maioria das pessoas usa somente uma persona, e muitas vezes patologicamente. Geralmente a maioria das pessoas, principalmente as que ocupam cargos públicos, ou seja, atendem pessoas, se identifica com a profissão que exerce, patologicamente. Mas, vamos à “Sombra”. O que é

SÉCULO 21 “Vivemos hoje em todo mundo uma realidade sombria, isto é, uma realidade sem luz, sem princípios” “Sombra”? Jung considera os aspectos desagradáveis e imorais que todos temos, e que quando fingimos que não temos, por serem dolorosos e vergonhosos, formam o lado sombrio de nossa persona e também de nossa personalidade, que a grande maioria prefere esconder, e, o que é pior, as torna inconscientes. Tornando-as inconscientes passam a viver sombriamente suas personas patologicamente. Diz Jung: “A Sombra e a Persona, não esclarecidas se tornam patológicas, doentias”. Vivemos hoje em todo mundo uma realidade sombria, isto é, uma realidade sem luz, na qual os valores, os princípios que regem a espécie humana, deixam de existir. E qual o momento que todo mundo acha que não tem sombra? Ao meio dia. Quando a luz incide sobre nossa cabeça e a sombra se encontra sob nossos pés. Todos então nos sentimos iluminados, sem defeitos, e para piorar, acreditamos que somos luz. Por isso, a mídia jornalística incomoda tanto; uma vez que ela lida tanto com luzes e sombras. Vou citar quatro fatos apontados pela mídia recente. A Cracolândia: local habitado por pes-

soas que vivem nas trevas, na sombra, excluídos da luz, não da falsa luz das celebridades, mas, da luz da vida. Nossos políticos, que nada entendem de drogas e como não sabem que a cura de um vício se conquista com amor, confiança, compaixão, usam aparatos bélicos, bombas de efeito moral e jatos de água para expulsar pessoas doentes, sem lhes dar o mínimo calor humano, que é o princípio da luz para resgatá-los da escuridão. E onde se escondem os políticos nesta hora, na escuridão mais negra de suas almas. Outro caso: a mulher supostamente grávida de quadrigêmeos, com uma barriga que mais parecia uma bola de pilates. Como nenhum médico examinou sua barriga? Seu marido não viu? Até a mídia entrou de araque. Na psiquiatria este tipo de falsa gravidez é chamada e tratada como: Pseudociese (falsa gravidez). Mais uma vez a Sombra agindo no coletivo. A reintegração de posse do Pinheirinho: um terreno adquirido de forma sombria, e que por tal somente poderia terminar de forma escura e escusa, com a expulsão de moradores, grileiros, políticos que posam de comunistas em um mundo que até onde o comunismo surgiu, não é mais comunista. A queda dos prédios do Rio de Janeiro onde todos que tentam explicar suas atitudes, mas revelam sua sombra. Enquanto isto, os políticos se escondem onde? Na sombra e água fresca do dinheiro extorquido da população, em paraísos fiscais. •

Marco Antonio Vitti Especialista em biologia molecular e genética vitti@valeparaibano.com.br

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AMÉRICA CENTRAL

Coração da cultura maia A Guatemala ainda guarda um tempo que aguça a curiosidade de pesquisadores do mundo todo, isso tudo emoldurado por paisagens e belezas naturais indescritíveis Marrey Júnior Guatemala

O

coração da cultura maia ainda pulsa na Guatemala. Apesar da colonização espanhola e das influências dos norte-americanos, conhecer o país ainda é fazer uma viagem a um local onde parece que o tempo foi congelado. Estima-se que pelo menos 60% da população de 13 milhões de habitantes do território nacional sejam de indígenas descendentes dessa antiga e famosa civilização pré-colombiana. A Guatemala fica na América Central e tem como países vizinhos o México, Belize, Honduras e El Salvador. O território é pouco maior que a Inglaterra.

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É comum encontrar famílias que vivem como décadas atrás. Andando pelo interior do país ainda é possível ver costumes antigos preservados. Aliás, a riqueza turística está longe das grandes cidades, quanto menor e menos famoso o povoado, maiores são as tradições. É lógico que muitas dessas cidades já viraram rota dos turistas, mas mesmo assim é possível presenciar um pouco de como é a vida dos descendentes dos maias. Chichicastenango, no altiplano guatemalteco, é um desses lugares. A cidade parece isolada no tempo e no espaço do resto do mundo. Ela fica mais charmosa quando as estreitas ruas de pedra são envolvidas pela neblina. O cenário é mágico. Como em todo país onde o catolicismo é predominante, as igrejas são quase sempre atração turística. Em “Chichi”, como é conhecido carinhosamente esse município de 50 mil

habitantes, chama a atenção o sincretismo religioso dentro desses templos. Na Igreja de Santo Tomás, por exemplo, a fusão das culturas europeia e indígena é latente. Construída em 1540 sobre os restos arqueológicos de um templo pré-hispânico, é um símbolo da arquitetura colonial na região de Quiché. Nas escadas que dão acesso ao seu interior, sacerdotes chamados de chuchkajaues fazem rezas e defumam o ambiente com incensos feitos de espiga de milho. Mulheres oferecem flores aos antigos ancestrais. Dentro do templo, famílias inteiras fazem rodas em frente ao altar em busca de proteção religiosa. Elas acendem velas, deixam flores e até comida e bebida alcoólica no altar. Na maioria das vezes, a missa é rezada na língua nativa. Esse foi o jeito encontrado para a catequização da população indígena, que acredita no

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Fotos: Marrey Júnior

xamanismo, aceitar a religião vinda pelos conquistadores espanhóis. Eles também renomearam outros símbolos da crença maia. Maria, por exemplo, é associada com a lua e as estrelas e Deus, ou Jesus Cristo, representa o sol. A cidade também é famosa por ter uma das maiores feiras-livres do país. Ela acontece às quintas e aos sábados. Produtores rurais de todos os vilarejos da região trazem suas mercadorias para Chichicastenango. Eles chegam na noite anterior para deixar tudo pronto para o dia seguinte. A montagem da feira já é uma atração. Nesse grande mercado aberto na rua é possível encontrar de tudo. Legumes e frutas típicas como o jocote, a granadilla (uma fruta parecida com um maracujá pequeno), a anona (que aparenta ser da mesma família da pinha e da atemoia), entre outras. A variedade de pimentas é grande. Também há muita comida,

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roupa, artesanatos –entre os mais originais estão máscaras esculpidas em madeira. Vilas típicas População ainda mais típica é encontrada nas vilas às margens do Lago Atitlán. Esse é sem dúvida um dos atrativos naturais mais importantes da Guatemala. A cor verde esmeralda é um convite para o banho, mesmo quando a temperatura é baixa. A partir das estradas que dão acesso a ele, é possível ter belas vistas panorâmicas do lago e os três vulcões que ficam às margens: o Tolimán, o Atitlán e o San Pedro. Além das praias lacustres, o que chama atenção dos turistas são os povoados ribeirinhos, onde dialetos maias ainda são as línguas mais faladas. Muitos nem sabem o espanhol. Apesar da cultura castelhana não ter influenciado muito a vida desses habitantes,

grande maioria dos vilarejos ao redor do Lago Atitlán têm nomes bíblicos: Santa Catarina Palopó, San Antonio Palopó, San Lucas Tolimán, Santiago Atitlán, San Pedro La Laguna, San Juan La Laguna, San Pablo La Laguna, San Marcos La Laguna, Santa Cruz La Laguna e San Francisco Panajachel. As roupas usadas pelos moradores de cada uma dessas cidadezinhas chamam a atenção. Segundo eles, a partir do vestuário dá para se identificar a qual local eles pertencem. As mulheres usam saias com tecidos de estampas geométricas ou com listras e blusas com bordados de plantas e animais. Até os homens têm roupas típicas, geralmente as calças são listradas e uma faixa colorida serve de cinto. Quem pensa que somente os escoceses usam saia tem uma surpresa. Em alguns vilarejos próximos ao lago, essa indumentária tipicamente feminina tam-

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Turismo

bém é amplamente utilizada pelos homens. A fumaça que dá para ser vista de longe nessas vilas também surpreende. Boa parte dos moradores ainda usa fogões a lenha. Muitas crianças são vistas pelo caminho carregando pesados feixes. Roças também fazem parte desse cenário. A plantação mais comum é a de milho, base principal da alimentação guatemalteca. Existe até uma lenda maia em que se acreditava que os homens foram criados a partir dessa planta. O império maia abrangia além da Guatemala e partes do México, Belize, El Salvador e Honduras. É no norte do território guatemalteco que está uma das maiores heranças deixadas por essa civilização: a antiga cidade de Tikal. Ao contrário de outras famosas ruínas desse avançado povo pré-colombiano como Chichén Itzá e Uxmal, no México e em Copán, em Honduras, Tikal fica no meio de uma densa floresta tropical. Vista do alto, a sensação que se tem é que as pirâmides brotam sobre a vegetação. Para visitar os templos é necessário caminhar em trilhas no meio da mata. No caminho é possível ouvir os sons dos bichos que habi-

tam a floresta, entre eles, mais de 300 espécies de pássaros, macacos, insetos e sapos. O Parque Nacional de Tikal tem uma extensão de 576 quilômetros quadrados e foi considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 1979. Em maia, Tikal significa lugar das vozes. Acredita-se que os primórdios dessa cidade data do século 4 antes de Cristo. O auge foi entre aproximadamente entre 300 e 900 depois de Cristo, onde estudiosos estimam que mais de 100 mil pessoas viviam nesse conjunto de construções. Depois disso, por motivos ainda inexplicados, se deu o declínio dessa avançada civilização pré-colombiana. Tikal ficou adormecida por quase mil anos. Os primeiros registros oficiais da existência foram de 1848, quando o corregedor do departamento de Petén, Modesto Méndez, e o governador Ambrosio Tut fizeram uma expedição para registrar esses monumentos. Mas há indícios de que Tikal tenha sido visitada antes disso por outros nativos e também por missionários europeus.

É na Plaza Mayor que está o centro desse parque arqueológico. Nela estão os templos I e II, as acrópolis Norte e Central, além de um grande número de altares e monumentos. Nessa praça se concentra um grande número de turistas. É nesse local que nativos fazem ritos religiosos em homenagem a seus antigos ancestrais. Frente a frente ficam os templos I, conhecido como “O Grande Jaguar” com 45 metros de altura, construído em por volta do ano 700, e o templo II, chamado de “Templo das Máscaras”, com 38 metros de altura. A maior aventura fica para quer apreciar a vista de todo o parque a partir do templo IV, o da “Serpente de Duas Cabeças”. Ele mede 70 metros de altura. Para chegar até o topo é necessário subir em uma inclinada e estreita escada de madeira. Esse monumento proporciona uma das mais belas visões do parque. O turista que visita Tikal tem que gostar de andar e ter forças para subir muitas escadas. Por isso, é recomendado que se vá com um calçado bastante confortável. Boné, protetor solar e garrafas de água também são itens indispensáveis

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Quanto mais presente, melhor. Mês das mulheres no Serramar. No dia 08, as primeiras 2 mil mulheres que visitarem o shopping vão ganhar um lindo pingente da Cia da Prata.

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Turismo

CULTURA A vestimenta indica de qual vilarejo é cada pessoa; os homens usam saias

na mochila. Faz calor nessa região da Guatemala. A temperatura média ultrapassa 25 graus. O departamento de Petén abriga ainda outros 10 sítios arqueológicos de grande importância, mas de acesso um pouco mais complicado. Pesquisadores de várias partes do mundo fazem outras escavações para encontrar outras antigas cidades maias perdidas no meio da floresta. Piscinas naturais Os amantes da natureza têm em Semuc Champey outro destino obrigatório na Guatemala. O acesso é bastante difícil, mas empresas de turismo fazem o transporte em veículos 4X4. Quem quer economizar e interagir com a população local vai na caçamba de caminhão, parecido a um “pau-de-arara”. Esse é o único meio de transporte que chega até a entrada do parque. Semuc Champey, ou na língua indígena “água que some”, tem no próprio nome a explicação sobre o que é essa atração turística. São sete piscinas naturais cuja tonalidade varia do verde esmeralda ao turquesa, formada por um desvio do caudaloso Rio Cahábon. O leito do rio segue em uma caverna subterrânea. As pedras de formação calcária e porosa filtram essa água que formam as piscinas. As piscinas naturais ficam em um estreito vale cercado por montanhas. No alto, há um mirante para que se possa contemplar esse es-

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petáculo formado pela natureza. O cansaço da trilha é compensado pelo banho nesses poços. Há até pequenas cascatas para fazer massagem nas costas. Rio abaixo é possível fazer a exploração da gruta de K’an ba , além da contemplação da formação rochosa, é possível nadar no interior dessa pequena caverna e divertir nos tobogãs formado pelas pedras mais lisas. Outra aventura para quem tem fôlego e gosta de fortes emoções é a escalada do vulcão Pacaya, um dos que recebem mais visitantes por ser próximo da capital. Grupos de turistas seguem em filas indianas rumo ao topo a 2.500 metros do nível do mar. O passeio é um pouco perigoso. Alguns turistas com calçados menos resistentes chegam a perder a sola do sapato por causa das altas temperaturas e das rochas incandescentes. O calor do esforço físico se funde ao das lavas, principalmente quando há fortes erupções. Esse vulcão está há mais de 50 anos em atividade. A Guatemala tem quase 300 vulcões ou estruturas de origem vulcânica. Joia colonial Os vulcões e montanhas emolduram a beleza de uma das primeiras cidades das Américas: Antígua. Apesar de um grande terremoto que devastou grande parte das construções em 1773, a cidade tenta preservar e restou do que foi construído entre os séculos 16 e 17. Igrejas, mosteiros, casas, pequenos palá-

cios, tudo que restou é preservado sob um rígido trabalho de conservação. Até mesmo o que virou ruína é atração. Nas fachadas, influências do Barroco e da Renascença, mas o que chama a atenção é o colorido das paredes. Um belo exemplo arquitetônico a ser visitado é a Casa de Santo Domingo, o hotel mais charmoso da cidade. Erguido em 1642, as grossas paredes de pedra resistiram às intempéries passadas pelo município. Apesar de já ter sido uma das mais importantes cidades da América Central, atualmente Antígua respira tranquilidade. É por causa dessa sensação de paz que turistas do mundo inteiro preferem ficar nela à caótica capital. Pelas ruas, artistas tocam músicas, fazem artesanatos e se inspiram no casario para fazer quadros. Antígua virou pólo estudantil de estrangeiros do mundo inteiro que desejam aprender espanhol. Alguns outros turistas aproveitam o romântico cenário para se casar. Belos cenários para o álbum não faltam. E não é só na antiga cidade colonizada pelos espanhóis que maravilhosas imagens ficam na recordação. Todas as belezas desse país ficam gravadas no coração de quem o visita. Nem mesmo algumas situações de extrema miséria conseguem apagar toda a simpatia, o acolhimento e toda história construída por esse povo que se orgulha de ser herdeiros dos antigos maias. •

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Hi-Tech NOVIDADES

3Defeitos Tecnologia ainda enfrenta a resistência de consumidores; preço, desconforto e ausência cia a de conteúdo são os principais problemas Hernane Lélis São José dos Campos

O

s efeitos criados pela tecnologia em três dimensões parecem ter mexido mais com a imaginação do que com a vontade dos consumidores em ter um dos aparelhos que oferecem o recurso. Dois anos após a chegada dos primeiros televisores 3D ao mercado brasileiro, os fabricantes ainda penam para evitar que os mostruários virem locais de lazer para as pessoas e tornem-se pontos de vendas nas lojas. A dificuldade em emplacar a “novidade”, segundo especialistas, passa por três encalços: o alto custo dos equipamentos, adaptação do usuário ao sistema e a pouca oferta de conteúdo no formato. Apesar das reações de surpresa e deslumbramento com as projeções nas salas de cinema, os consumidores estão preterindo o uso da tecnologia dentro de seus lares. Diversas pesquisas de mercado apontam que as TVs 3D não representam ainda nem 10% das vendas no Brasil, perdendo espaço inclusive para as smart TVs, que oferecem acesso à internet e custam menos que a concorrente. Hoje, um televisor de LED de três dimensões com 46 polegadas custa, em média, R$ 3.900. Já outro aparelho do mesmo fabricante com as mesmas características, mas sem a tecnologia 3D saí por R$ 2.700. “Os fabricantes estão reduzindo o preço

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só que ainda é caro r paraa a maioria io i d dass pessoas. O desconforto onforto onf forto é outro o problema. probllema. l Quem tem o costume, s , por exemplo, ex o de assistir TV deitado eitado d no sofá s f vai a ter que u se sentar para enxergar enxerrgar alguma alggguma coisa. co oisa Alguns o Allguns l televisores escurecem r a tela dependendo d p de da posição,, além m disso,, os óculos u podem o incomodar. Mass é que questão eestão d de temp tempo, po a p tecnologia está procurando do see adaptar pt às necessidades do consumidor, agora, cabe be ao consumidor também se acostumar com a novidade”, explicou Carlos Roberto Benfatti, docente do Senac e especialista em Tecnologia da Informação. A falta de interesse pelo produto pode ser atribuída ainda à pouca programação que existe no formato, desencorajando os consumidores a investirem no produto. Do outro lado, como o valor dos aparelhos é acessível apenas a uma pequena parcela da população, as emissoras e produtoras de vídeos ficam desestimuladas em produzir conteúdo no formato, uma vez que o material alcançará um contingente pequeno de consumidores. “É muita novidade em um curto período. Até pouco tempo se discutia se o plasma era melhor que a LCD. O conteúdo 3D será produzido conforme a demanda de consumidores for aumentando. Por isso, cabe aos fabricantes continuarem investindo”, disse Benfatti

Desconforto o t A maioria i dos o aparelhos r 33D requer q ou uso de óculos, o que acaba sendo um incômodo para quem quer se divertir em casa. Além isso, muitas pessoas relatam que os efeitos tridimensionais causam mal-estar e desconforto durante a exibição de um filme, por exemplo. Outra queixa muito comum é a necessidade de concentração na tela, uma vez que alguns expectadores possuem o hábito de assistir televisão enquanto realizam outras tarefas, como navegar na web, arrumar a casa e até mesmo ler um livro. Pesquisa realizada pela NPD Group, companhia global de estudos de mercado, aponta o desconforto dos óculos

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Domingo 4 Março de 2012

como o principal p i p l motivo vo de rejei rejeição, ej ç , supep rando n atéé o preço ç e a falta a de conteúdo. c ú údo Novos produtos Mesmo preteridas, as linhas de produtos compatíveis com 3D foram aumentando nesses últimos anos. Monitores, notebooks, câmeras fotográficas, filmadoras, celulares e vídeo-game ganharam o recurso. Entre os novos produtos, a maior vantagem é que a maioria dispensa os óculos, porém pecam na qualidade das imagens dependendo do tamanho da tela a ser visualizado –com exceção do Blu-Ray. Assim como as TVs, os novos aparelhos também enfrentam dificuldades para emplacar no

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mercado. r Máquinas M q n fotográfi ogg cas a lançadas çad a R$ 1.700 1 hoje o já saem a das a lojas por R$$ 699. Tudo para ara cconquistar onquiiistar o público p público. o s a maior maior baixa baixa foi fo da No caso dos games, nçou u em Nintendo. A empresa japonesa llançou fevereiro do ano passado o Nintendo 3DS e seis meses depois reduziu o preço do console portátil de US$ 250 para US$ 170 para tentar alavancar as vendas. Sem atingir o resultado esperado, a companhia diminuiu a projeção anual de vendas do aparelho de 16 milhões a 14 milhões de unidades no mundo. Para piorar a situação do console no mercado, pesquisa realizada pelo site norte-americano Playr2.com constatou que 28% de seus visitantes não se im-

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pressionaram p i m com o Nintendo e 33DS. D Nesse s grupo, po 44% acham a tecnolo o ogi giaa desdessde d a tecnologia e 51% concluiu necessária ss co oncluiu que não nãão querem querreem saber de 3D nos nos jogos. jogo os. “Acho Ach ho que no futuro futu u isso vvai mudar. d O 3D vaii entrarr no co o cotidiano tecnologia d di ano od das pessoas e conforme f r a tecnolo te l s dos óculos óculos é um fator f for avançando. O uso que incomoda, tira a sensação dee conforto conf e mobilidade, seja jogando vídeo-game ou vendo TV. O Nintendo 3DS tirou os óculos, mas a qualidade da imagem não é tão boa e necessita que o usuário fique com o aparelho em determinada posição para não perder o efeito”, disse Guilherme Tsubota, sócio diretor da 8D Games, especializada no desenvolvimento de jogos digitais. •

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Moda&estilo ALTA TEMPORADA

O melhor do inverno Selecionamos para você as principais tendências da próxima temporada e como usá-las desde já! Cris Bedendo São José dos Campos

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pós a temporada de desfiles e lançamentos das coleções para a temporada Outono/ Inverno 2012, é hora de selecionarmos os temas e peçaschaves que devem compor os looks da estação fria. Em relação às modelagens, as formas da temporada ficam em torno da silhueta 50’s, com cintura marcada e um estilo bem comportado, composto por saias na altura do joelho e midi (no meio da panturrilha). Muitas camisas delicadas e super femininas, além de estampas em poás de diversas formas, complementam esse estilo. Outra referência forte para o inverno 2012 é a década de 1960, com modelagem mais reta, limpa e levemente evasê. Nomes como Balenciaga e Pierre Cardin são ícones dessa época e inovaram com esse estilo de modelagem. Mas também há espaço para a silhueta alongada dos anos 90 e formas minimalistas, principalmente nos looks monocromáticos em tons terrosos, mostarda e branco. E mais: o visual andrógino, em alta nas últimas temporadas, tem suas referências garantidas para o inverno 2012 em composições que mesclam os universos masculino e feminino. Os blazers com a lapela alongada típica do smoking e os sapatos com shape masculino, como os slippers e mocassins, estão entre os principais destaques desse movimento.

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Entre os materiais, o inverno promete misturas de texturas. A renda, onipresente no guarda-roupa das antenadas há algumas estações, aparece combinada com jeans, couro, veludo e tecidos mais esportivos, como o moletom. Entre esses materiais, destaque também para o veludo, presente na maioria das coleções em peças inteiras (principalmente com brilho, como o molhado ou cristal) ou apenas nos detalhes de casacos, calças e blusas. Os acabamentos metalizados também merecem destaque: verniz, couro metalizado, glitter e paetês prometem deixar a temporada mais interessante, principalmente por conta dessa ótima proposta de mistura de texturas. Apesar das calças mais retas ou curtinhas fazerem parte da wish list da temporada, são as saias que prometem ser a peça-chave do inverno. Retas, rodadas, com cintura marcada, midi, longa ou curta, a peça garante ótimas combinações com camisas e tricôs com comprimento mais curto ou na altura da cintura. Um dos principais modelos é a saia lápis com barra godê, ideal para quem não tem volume no quadril. A cartela de cores, um dos quesitos que mais interessa a cada nova estação, conta com ótimas coordenações de tons fechados e outros mais vibrantes, principal novidade do inverno. Os principais são o vinho (agora chamado de burgundy), vermelho vibrante, amarelo queimado (mostarda, açafrão, ele ganha vários nomes), azul klein, marrom, camelo, preto, tons terrosos, branco, off white, rosas e verdes em diferentes intensidades. •

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TEXTURAS A mistura de materiais como couro, renda, jeans e verniz deixam os looks mais interessantes, principalmente os monocromáticos ou tom sobre tom. À esquerda, camisas com laçarotes e blusas mais comportadas, combinadas com saias rodadas ou lápis, garantem o toque retrô da temporada

BRILHO Tecidos com acabamento metalizado, como couro e verniz são onipresentes nas coleções, assim como o glitter e os paetês, em cores como prata, cobre, dourado e azul metálico. À esquerda, ele está de volta. Junto com o couro, o veludo é o material eleito para o inverno 2012, em diversas versões: cristal, molhado ou cotelê, tanto nos detalhes como em peças inteiras, super sofisticadas

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Tempos ModernosArtigo

Alice Lobo

O turismo que pode render um mundo melhor para a humanidade

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ova York é um dos destinos preferidos dos brasileiros quando o tema é férias ou ainda fazer compras. Não há quem não fique deslumbrado com a Quinta Avenida ou com um passeio pelo Central Park. Quando o assunto é arte, o The Metropolitan Museum e o Guggenheim são endereços presentes nos roteiros. Para crianças ou interessados em ciências em geral, os museus de História Natural e o Science Hall garantem a diversão. Isso sem falar dos prédios com lindas vistas e áreas descoladas da cidade. Mas o que muitos desconhecem, ou não dão tanta importância, é para uma das atrações que mais me agrada na Big Apple: a visita ao headquarter da Organização das Nações Unidas. Eu já tinha feito este passeio, mas no mês passado fui de novo com duas amigas e meu sobrinho. Apesar de terem perfis e interesses totalmente diferentes –uma publicitária, uma advogada e um estudante de 14 anos–, os três adoraram o programa. Por apenas US$ 16 e sem precisar agendar horário com antecedência, é possível fazer um tour guiado de uma hora e meia e ver a Assembleia Geral, a sala do Conselho de Segurança e conhecer a história, como funciona e vários projetos da ONU e de suas agências afiliadas. Desafios humanitários, sociais e ambientais são embasados em duras realidades e buscam

CAIXA Projeto reúne atividades para 40 alunos de regiões deficientes em educação

uma solução plausível para ameaças que vivemos hoje em dia. Um exemplo interessante é o “School in a Box”, em que uma caixa com atividades para 40 alunos é enviada para lugares sem escola para incentivar a educação ou ainda para áreas que sofreram com algum abalo natural ou guerra civil e as crianças perderam seus locais de estudo. Apesar da dura realidade que é mostrada, como por exemplo dados para apresentar a urgência dos “8 Objetivos do Milênio”, o saldo da vista é algo positivo e inspirador. Mostra que tem gente lutando por um mundo melhor e que cada um pode fazer a sua parte, literalmente. Além do apoio de governos e empresas, a ONU tem alguns programas para pessoas físicas ajudarem, seja com dinheiro ou com sua inteligência e tempo. Isso mesmo. O site www. freerice.com, por exemplo, é um jogo

online de perguntas sobre 15 diferentes assuntos. A cada resposta certa, 10 grãos de arroz são doados para o World Food Program das Nações Unidas para acabar com a fome no mundo. Além de se divertir você está ajudando um dos maiores problemas globais. Se apenas 0,01% da população mundial respondesse corretamente uma pergunta 70 milhões de grãos seriam doados. Enfim, além de engajar a população civil de uma maneira interativa, a visita à ONU ainda oferece acesso a exposições temporárias de fotos ou arte que ficam no lobby do prédio. A entrada da ONU fica na Primeira Avenida entre as ruas 45 e 46. Crianças menores de 5 anos não podem entrar e, dependendo da agenda de atividades, o prédio pode ser fechado. Por isso, consulte sempre o website visit.un.org. Anote e não perca este programa! •

Alice Lobo Jornalista alice@valeparaibano.com.br

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Daniel Radcliffe diz que ele e Pattinson não são bons atores

Notas & fatos

Para o ator Daniel Radcliffe , ele e o seu colega de profissão Robert Pattinson ainda têm um longo caminho para percorrer até conseguirem chegar aos grandes padrões de atuação de Hollywood. Segundo ele, os dois são somente nomes conhecidos, mas ainda precisam melhorar em seus trabalhos. “Pessoas como eu e o Rob Pattinson somos os grandes nomes do momento e rentáveis –seja lá o que isso signifique. Existem muito poucos atores que quando dizem sim para alguma coisa podem significar um sinal verde para o filme. Eu acho que, provavelmente, George Clooney, Brad Pitt e Johnny Depp são os três únicos neste tipo de negócio, e isso vem de carreira longas e são universalmente respeitados como atores e profissionais. Portanto, há um longo caminho para percorrermos antes que possamos estar nesta fase”, disse.

Kate Moss cobra cachê de R$ 600 mil como DJ Festeira de carteirinha, a modelo britânica Kate Moss aparentemente decidiu lucrar com seu passatempo favorito e agora pode ser contratada para tocar em festas como DJ. Desde que se lançou no negócio, a loira vem recebendo ofertas que muitos DJs profissionais jamais sonham em receber. No mês passado, ela embolsou 250 mil libras (678 mil reais) para um trabalho de apenas meia hora em evento de uma grife. “Kate amou comandar as pick-

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ups em Paris e ela quer mais. Ela vai manter suas apresentações em festas glamorosas, shows exclusivos”, contou uma fonte ao site internacional The Sun. “Ela tem conversado com as pessoas desta indústria e eles disseram que ela pode cobrar muito dinheiro por isso. Kate acha seu preço razoável e tem dito às pessoas que há quem pague. No entanto, ela só vai tocar seus discos favoritos, sem dúvida, nenhuma solicitação brega”, acrescentou a pessoa próxima à modelo.

JORGE AMADO

Giovanna Lancelotti em ‘Gabriela’ A atriz Giovanna Lancellotti foi convidada para compor o elenco da trama, que está sendo escrita por Walcyr Carrasco. O convite partiu do diretor da novela, Mauro Mendonça Filho, segundo afirma a assessoria da atriz. “Ela realmente foi convidada sim e topou. O papel que a Giovanna fará na trama será da Lindinalva, mas é a única coisa que sei, por enquanto”, explicou a assessora . As gravações de Gabriela devem começar neste mês e a trama pode estrear ainda neste primeiro semestre.

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Harry REALEZA

Príncipe Harry visita o Brasil neste mês O príncipe Harry visitará o Brasil de 9 a 11 março como parte da celebração do Jubileu de Diamante se sua avó, a rainha Elizabeth 2ª, para apoiar os interesses do Reino Unido no país. No Rio de Janeiro, o príncipe participará do lançamento de uma campanha no Pão de Açúcar, um evento de esportes em uma praia e de atividades em uma comunidade carioca. Em São Paulo, ele jogará uma partida de polo para arrecadar fundos para sua instituição de caridade. Os detalhes da programação, como data e horário de cada evento, ainda não foram divulgados.

Quem falou o quê? ”Tenho provas de que ela é e sempre foi prostituta de luxo, e se utilizava de sua profissão para tirar vantagens de pessoas bem-sucedidas e desavisadas” Evaldo Ulinski, empresário, sobre Val Marchiori, com quem teve dois filhos gêmeos

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Maria Paula vai filmar em Nova York Depois de ser o filme mais visto de 2011, com quase 4 milhões de espectadores, Maria Paula e Ingrid Guimarães já se preparam para gravar a segunda parte do filme De Pernas para o Ar. “No final do primeiro filme a minha personagem liga para a personagem da Ingrid e diz que os americanos estão interessados na empresa. A continuação será em Nova York. Vamos filmar em maio e junho”, explicou Maria Paula.

”Meu dragão reagiu. Vomitei fogo”” Rita Lee , sobre o conflito o com a polícia no show dee despedida da sua carreira, ra em Aracaju (SE)

”Não dá mais para brincar de bicha maluca vestida de mulher.” Rogéria sobre evitar os blocos de rua no Carnaval

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ValeViver HISTÓRIA

Memórias do cárcere Visitamos o Memorial da Resistência, o antigo Dops, em São Paulo, acompanhados de ex-militantes do Vale do Paraíba que foram presos e torturados nas celas que guardam a vergonha do Golpe de 64 Isabela Rosemback São José dos Campos

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s opressoras paredes cinza das celas que, há quatro décadas, tornaram nebulosos longos dias da vida de presos políticos da ditadura militar, não mais intimidam os jornalistas Luiz Paulo Costa e Paulo de Tarso Venceslau –ambos do Vale do Paraíba. Ainda assim, abafam entre elas as desconfortantes histórias sofridas no período em que ficaram à mercê da truculência que tentava desestabilizar os movimentos contrários ao regime –que, em 31 de março de 1964, dava os primeiros sinais do golpe que viria a ser oficializado no dia seguinte. Em visita à antiga sede do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), onde hoje funciona o Memorial da Resistência, em São Paulo, os ex-militantes recobram a lembrança dos momentos de tensão por que passaram, quando confinados, e avaliam os resultados da luta popular que resultou na redemocratização do país após os anos de domínio das Forças Armadas.

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Embora tenham atuado em frentes distintas, durante o período compreendido entre meados das décadas de 1960 e 1980, ambos os ativistas –de Taubaté e de São José dos Campos, respectivamente– experimentaram o amargor de serem por diversas vezes interrogados e mantidos em cárcere nas dependências do prédio onde funcionava o setor de inteligência da repressão. “Ainda que, no início, o Dops concentrasse a parte burocrática dos processos, eu também fui torturado nele, pela equipe comandada pelo delegado Sérgio Fleury. Meu caso ficou emblemático, porque, até então, quem vinha da Operação Bandeirantes não era torturado”, conta Venceslau, referindo-se ao órgão do Exército que daria origem ao violento DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna). Costa, entretanto, não chegou a ser torturado no Dops, mas não deixa de ter más lembranças ao entrar novamente na cela para onde foi transferido após passar um período de mais de dois meses em outras unidades prisionais, em 1964. “Fui trancado sozinho, embora naquela época houvesse beliches, e não colchões no chão como agora. Mas via

muito movimento nas celas mais à frente. Ouvia muita gritaria, um horror”, classifica. Costa afirma que ficou ali por mais 15 dias. De pé ao lado da porta de sua cela –uma estrutura reforçada, de madeira, com apenas uma pequena janela protegida por grades, à altura dos olhos–, explica que era por ali que recebia refeições. “O que serviam era horrível. Uma pasta, mas que não dava para comer”. Caminhando para o fundo do cômodo, onde, em um pequeno anexo, é preservada uma privada ao nível do chão, ele demonstra como fazia ao receber a comida. “Nos primeiros três dias eu não conseguia nem dormir, e tinha medo que descobrissem que eu não estava me alimentando. Eu jogava a comida no vaso e apertava a descarga. Mas era tão ruim, que não descia. Até que teve uma hora em que a fome apertou e eu passei a comer com facilidade”, conta. Venceslau, ao chegar ao corredor onde hoje são mantidas apenas quatro das celas da época, hesita antes de entrar na de número três. “Eles tiraram as outras, mas na primeira vez em que estive preso no Dops fiquei aqui”, recorda-se. Diferentemente dos demais, esse cômodo preserva inscrições de presos fincadas na camada espessa de tinta cinza que

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Fotos: Flávio Pereira

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Na antiga sede do Dops, algumas frases e nomes de presos políticos estampam as paredes

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ValeViver

ENCONTRO

Paulo de Tarso, Silvio Salinas e Luiz Paulo Costa: lembranças compatilhadas

cobre as paredes. São nomes de prisioneiros, frases e outras inscrições que reforçam a resistência e a ideologia dos que por elas passaram. Para Venceslau, entretanto, fica claro que ali não houve uma preocupação em manter os registros originais. “Isso aqui tudo foi feito depois, com certeza. A escrita está mais para artes plásticas”, critica, questionando inclusive a veracidade das datas reproduzidas e se houve mesmo a passagem de alguns dos prisioneiros, cujos nomes estão cravados na estrutura, por aquela cela. “Na em que eu fiquei, por exemplo, limparam todas as inscrições que tinham deixado. Lembro que havia uma que dizia ‘ao vencedor, as batatas’. Me chamou a atenção porque era assinada por um militante, sendo que esta frase é do Machado de Assis”, ri Costa. Em determinados momentos do encontro, engrossado pela presença do ex-aluno do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) Silvio Roberto de Azevedo Salinas – desligado em 1965 e anistiado em 2005, pela instituição–, a descontração se faz presente. A troca de ideias sobre companheiros ou militares linha-dura da época, além de histórias de militância, contribui para romper com a hostilidade oculta que o ambiente carrega. “Mas isso não me incomoda. Eu já sou muito

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bem resolvido com essa fase da minha vida. Além de ter voltado muitas vezes aqui, como preso político, eu acompanhei a montagem e desmontagem deste espaço”, afirma Venceslau. Para Salinas, que hoje mora em São Paulo, as recordações lhe trazem imagens de um Dops cheio de gente, e de uma luz constante que iluminava a cela em que aguardou por alguns dias a sua soltura, em 1964. “Essa luz acesa era perturbadora. Fiquei aqui uma semana, preso junto com um professor e sem ser ouvido. Vim para o Dops depois de atender a um chamado do reitor da época e me deparar com militares, que me trataram bem. Ao chegar aqui foi que caiu a minha ficha. O nível de excitação era alto, ficava estressado. Aí um dia respondi a um interrogatório genérico e fui solto. Eles não tinham informação nenhuma sobre nada”. Ainda no memorial, ao avançarem para um estreito corredor com teto gradeado e que, por efeito de um espelho fixado ao fundo, dá uma falsa impressão de ser mais extenso do que realmente é, Venceslau confirma a agonia que é ficar enclausurado sem perspectivas. “Quando era chamado, aqui, para o banho de sol, era um alívio. Os chamados eram aleatórios e por alguma razão desconhecida, mas era quando eu via o céu, tomava um ar”.

O dia do golpe Com a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, o vice João Goulart assume o poder no país, após manobras que tentaram afastá-lo do cargo. Visto como representante da ameaça comunista no Brasil, pelas Forças Armadas, por políticos e por representantes da sociedade civil, uma nova conspiração é posta em prática em 31 de março de 1964, quando tropas de Minas Gerais marcham para o Rio de Janeiro em adesão ao golpe que derrubaria o governo em 48 horas, elevando os militares ao poder. “Eu estava em São Paulo participando de um congresso que discutia a fundação da Confederação Nacional dos Servidores Públicos, como representante da associação da classe em São José. Quando Minas se declarou independente e as tropas do Segundo Exército começaram a sair às ruas de São Paulo, chovia muito. Entendemos que a situação era delicada. Fomos dispensados e cheguei em São José por volta da meia-noite. A cidade estava tranquila”, recorda-se Luiz Paulo Costa. “Cheguei a ligar para um conhecido do ITA, que disse que não havia nada. Mais tarde, quando fui preso, tocaram essa ligação para mim. Por isso desconversou. A linha estava grampeada”, completa. Em 1º de abril, Paulo de Tarso Venceslau

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diz que estava no então CTA (Centro Técnico Aeroespacial) e que nem poderia imaginar que a militância o aguardava para os próximos anos. “Eu morava em São José durante a semana. E por um bom período a gente via militares conversando com um grupo de engenheiros gaúchos, que eram legalistas. No dia, propriamente dito, percebi a movimentação no campo de aviação. Mas para mim não teve nenhuma emoção, porque meu pai se deslocou de Taubaté e me botou no carro, dizendo que as coisas estavam esquentando. Eu não era militante nem nada”, diz. Luiz Paulo Costa, que na época trabalhava no setor de Relações Públicas do CTA, conta que nesse dia, depois que se apresentou ao então diretor do IPD (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento), passou por ele um oficial esbravejando contra os golpistas. “Ele dizia que não derrubariam João Goulart e eu fiquei quietinho, porque poderia ser um provocador. Depois soube que era João Carlos Gomes de Oliveira, que pegou um avião Beechcraft do CTA e decolou com uma tripulação para resistir ao golpe de Estado”. Desse dia em diante, a vida dos dois, e de mais milhares de brasileiros, tomaria novos rumos. Aos poucos, Paulo de Tarso Venceslau assumiria uma postura crítica frente ao regime militar, culminando em sua participação na organização do sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, em 1969 –um dos episódios mais importantes da resistência. Do engajamento às torturas “A minha história é diferente da do Luiz Paulo, porque ele era [simpatizante] do Partidão e eu me considerava independente”, compara Venceslau. “Até porque a formação da minha casa era de direita, meu pai era integralista. Virei comunista sem ser do partido comunista. Minha militância começou pela vivência prática, vendo as barbaridades que ocorriam no CTA, como perseguições políticas. As reuniões de legalistas na base militar, uma área federal, tinham de ser clandestinas, era muito louco. Depois trabalhei em uma empresa privada que contava com equipes do Dops para cobrar pequenos comerciantes, que eram espancados para pagar dívidas. Então minha formação se deu pela vivência prática, o que me levou a ser preso pela primeira vez em 1966, no largo da Concórdia”, conta. Estudante de Economia na USP (Universidade de São Paulo), ele, entre outros 400 estudantes, foi levado ao Dops durante um movimento estudantil. “Cantando ‘liberdade, liberdade/ abra as asas sobre nós’”, ressalta Venceslau. “Na hora em que você é preso não

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INSTALAÇÕES

Hoje o local é bem menos hostil do que na época mais severa do regime

acredita, acha que é um sonho. Mas na primeira porrada você acorda ali mesmo”. A primeira prisão de Luiz Paulo Costa se deu mais cedo, em 15 de abril de 1964 –seu primeiro contato com a truculência militar. “Fui levado ao capitão e, ao começar a fumar, levei um tapa no rosto que o cigarro voou longe. Mas naquele momento não havia tortura física, apenas a psicológica. Eu falava em Constituição e me respondiam que já a tinham rasgado. O absurdo é que não tinham nada contra a gente, repetiam especulações que eram pura imbecilidade”. Ficou 15 dias na base aérea de Itapema, no Guarujá, respondendo a um inquérito seguido do outro. “Ficava em um cubículo que só tinha uma caminha de praia e um penico. Depois me mandaram para o navio Raul Soares, uma carcaça rebocada e fundeada na ilha de Barnabé,

em Santos. Diziam que era porque as cadeias da cidade estavam abarrotadas, mas era uma inverdade. Aquilo era para atemorizar a população da baixada santista, onde se concentrava a força sindical mais combativa do Brasil”, avalia. Costa compara a base aérea, para onde voltou após dois meses, com um centro de concentração nazista, ainda que não tenha informação sobre extermínios. Dali, chegaria pela primeira vez ao Dops. “A sorte é que me deixaram aos cuidados de um delegado que era de São José dos Campos, que, terminando o inquérito, me passou um sermão e dispensou. Depois nunca mais voltei, a não ser pelas inúmeras vezes que era convocado a prestar depoimentos”. Foi em 1975 que os métodos condenáveis dos militares, para a obtenção de informações nos “Anos de Chumbo”, chegariam até ele.

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Após 37 anos, caso Herzog ganha novos contornos m uma das fotos de maior repercussão divulgadas durante a repressão no Brasil, o jornalista Vladimir Herzog, morto em 25 de outubro de 1975 nas dependências do DOI-Codi, aparece enforcado por uma corda que sugeria um suicídio. Esta versão de morte reforçada pelo Exército, entretanto, logo foi contestada e o caso tornou-se um dos mais emblemáticos do período –sendo apontado, inclusive, como um dos responsáveis pelo enfraquecimento do regime. Agora, 37 anos mais tarde, a história começa a ganhar novos contornos após o pronunciamento do autor da imagem.

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Arrancado de sua casa, em São José dos Campos, Costa foi levado ao DOI-Codi. “Foram os piores nove dias da minha vida. Era choque, cadeira do dragão (cadeira de zinco usada em sessões de choque)... Carregavam-me de um lado para o outro. Em alguns momentos, ficava consciente, em outros, inconsciente. Achei que estava morto, por isso me recusei a transcrever uma carta que os militares me propuseram em troca da liberdade. Era tortura institucionalizada e com requintes de crueldade. As pessoas que estavam ali eram anormais. Pessoas normais não fariam o que eles faziam com as pessoas”, descarrega. Paulo de Tarso foi apresentado à Oban (Operação Bandeirante) em 1969, um ano após o decreto do AI-5 (Ato Institucional 5), que dava poder quase absoluto aos militares. Ele foi pego

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Silvaldo Leung Vieira foi localizado recentemente pela imprensa em Los Angeles (EUA) e explicou que, quando fez a foto, tinha 22 anos e era estudante de fotografia da Polícia Civil. Admite e lamenta ter sido usado para manipular os fatos e mostrase disposto a contribuir com a Comissão da Verdade –criada em novembro de 2011 pela presidente Dilma Rousseff para apurar casos de violação dos direitos humanos ocorridos entre os anos 1946 e 1988. Herzog se apresentou espontaneamente no DOI-Codi, no dia em que foi morto, após ser procurado por agentes da repressão. Testemunhas dizem que, ao prestar depoimento, foi cruelmente torturado e morto. Embora ainda haja setores das Forças Armadas que adotam a versão do suicídio, a União foi condenada em 1978 pela morte do jornalista. Luiz Paulo Costa afirma que estava preso na mesma época e credita a ele a sua soltura às pressas, em um momento em que seu estado de saúde era gravíssimo. “Sobrevivi a isso graças ao Herzog, que não conheci em vida. Entrei no DOI-Codi em um domingo, 19 de outubro, e ele no sábado, 25. O pegaram, torturaram e mataram. Foi a mesma turma que acabou com as minhas condições físicas. Era a mais violenta. Ele morreu no sábado e, logo na segunda-feira, me liberaram. Não sabia que ele tinha morrido. Apenas tinha ouvido, em momentos em que recuperava a lucidez, os berros e barulhos que eles tentavam abafar com o som alto do rádio, mas que a gente ouvia”.

em uma emboscada em São Sebastião, quando ia buscar a família de um companheiro preso. Venceslau havia acabado de participar com ele do sequestro do embaixador norte-americano, em troca da soltura de presos políticos, e isso lhe custou cinco anos e meio de liberdade. “Eu era da direção da ALN (Ação Libertadora Nacional), em São Paulo, e fiz a ponte entre ela e a MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro). Haviam prendido os líderes estudantis Wladimir Palmeira, Luiz Gonzaga Travassos e José Dirceu, além de outro de menor expressão. Chegamos a fazer planos para libertá-los que, felizmente, não foram realizados. Seriam um desastre. Até que tiveram essa ideia da captura, mais factível e menos aventureira. Era a primeira vez que isso acontecia na história contemporânea, e o sucesso foi mito grande, desproporcio-

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nal à nossa capacidade de organização de tudo. A gente não tinha estrutura para a repressão que se desencadeou a partir disso”, conta . O primeiro dia na Oban, para Venceslau, é considerado um dos seus dois piores momentos de militância. “Foi uma barbaridade. Choque, choque, choque, pau de arara, pau de arara, pau de arara. Muita porrada e coisa desconexa. Chegou uma hora em que eu senti a fragilidade chegando, então inventei uma história. Disse onde eu morava e eles estouraram um aparelho na rua Sergipe, em São Paulo. A tortura diminuiu substancialmente. Os policiais disputaram dinheiros e armas encontrados, que nunca constaram nos meus processos”, aponta. Também foram inúmeros os repiques – quando era submetido a mais torturas em situações em que policiais tinham acesso a novas informações ou em que sofria represálias. “Mas esses eu já estava tirando de letra. A segunda coisa terrível foi o afogamento. A sensação era terrível, tinha hora em que vomitava sangue. A pior das torturas. Queriam que saíssem de mim informações que eles já tinham. Então era aquele prazer mórbido deles”, diz Venceslau, que chegou a ver pedaços de massa encefálica de Virgílio Gomes da Silva, morto pela repressão, na parede de uma cela. Em dezembro de 1974, enfim, foi solto. E, após o enfraquecimento da luta armada, pode assistir, na década seguinte, à queda do regime. Fim da ditadura Para Luiz Paulo Costa, o desfecho político do período foi o resultado de um cruzamento de ações. “Mas nunca aderi à luta armada e sempre previ que ela seria uma aventura. Achava que a luta pela redemocratização do país seria difícil e se daria por meio da acumulação de forças pacíficas. Não poderíamos ir para o campo do adversário, que era o do enfrentamento armado. Tínhamos de trazê-lo para o nosso campo, o da política, que ali eles seriam derrotados. Como de fato aconteceu, com o maior movimento da história brasileira, que foi o Diretas Já”. Paulo de Tarso Venceslau tem outra visão. “Apesar do preço altíssimo que a gente pagou, essa aventura foi educativa, produtiva. Hoje ninguém tem ilusões a respeito de limites. Sindicatos, Justiça, liberdade de expressão e movimentos sociais têm limites. E isso tudo é uma construção para a qual, de certa forma, a resistência ao golpe acabou contribuindo. Na luta armada, eu não acreditava em democracia. Havia um projeto de poder revolucionário, e que também não era democrático. Mas ali a gente aprendeu que a democracia é muito mais importante que a aventura”. •

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COMPORTAMENTO

Hábito consciente Veganos formam o grupo de vegetarianos que mais cresce no Brasil; não basta abrir mão de uma dieta sem carne, a discussão vai muito além do prato Isabela Rosemback São José dos Campos

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ão é utopia, mas sim filosofia de vida. Pode-se arriscar dizer que é a arte de ler rótulos ou de descobrir novos sabores. Também foge do estigma de radicalismo, para ser justificado como uma questão de “ética” –o conceito, aqui, entendido como preservação dos direitos dos animais. E, para complicar, frente a essas e a outras defesas de seus seguidores sobre o que é o veganismo, a polêmica sobre este hábito adotado por eles ganha voz com os protestos dos amantes de carne, que alegam ser impossível abdicar de produtos com componentes de origem animal no mundo de hoje. Os veganos, como são chamados os que aderem a essa corrente, são apontados pela SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira) como o grupo de vegetarianos que mais tem crescido no Brasil. Eles não aderem apenas a uma dieta que exclui qualquer ingrediente de procedência animal –como carne, ovo, leite e mel–, mas também abominam produtos de empresas que fazem testes em animais, além de usarem componentes extraídos deles, ou que patrocinem qualquer evento que fira os seus direitos, a exemplo dos rodeios. “Essa é uma atitude radical não no sentido pejorativo, mas no de chegar às raízes. É assumir uma postura contra a violência e a favor da saúde, do meio ambiente e da ética com animais. Os intolerantes existem

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até entre os vegetarianos, mas isso não é geral. Sei que há quem não aceite o veganismo ou que recrimine quem só deixa de comer carne, mas temos de continuar na luta, respeitando os estágios de cada um”, afirma Marly Winckler, presidente da SVB. Marly comemora a penetração do pensamento vegano em todas as regiões do país. Ela cita, ainda, uma pesquisa realizada pelo Ibope que aponta que 9% dos brasileiros são vegetarianos. Consultado, o instituto apresentou uma pesquisa realizada no Brasil para o estudo Target Group Index, entre 2010 e 2011, que mostra que 4% dos entrevistados concordaram totalmente com a frase “Eu sou vegetariano”. Dentro dessa comunidade, a presidente da SVB diz que o grupo de veganos é o que tem apresentado maior crescimento nos últimos anos. “A grande maioria de veganos é formada por pessoas que migraram de outros grupos vegetarianos. Mas, entre os jovens, percebo que há mais transições diretas da dieta usual para a vegana, porque eles já cresceram inseridos em meios em que a informação circula mais rápido. A internet tem sido usada fortemente para furar bloqueios, derrubar mitos e criar uma rede de auxílio mútuo para quem decide seguir esses hábitos”, avalia. Conectados De fato, as redes sociais e os sites especializados têm se tornado cada vez mais a base de apoio para quem escolhe o caminho do chamado consumo consciente. Exemplo dessa procura é a fan page do site vegano

Redes sociais e os sites especializados têm se tornado cada vez mais a base de apoio para quem escolhe o caminho do consumo consciente

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Fotos: Flávio Pereira

CARDÁPIO

Nátalia de Lima Santos, 24 anos, que criou o bufê vegano, exibe comidas sem derivado de animais

ViSta-se, referência entre os vegetarianos, que é “curtida” por mais de 8.000 seguidores. Os compartilhamentos das informações postadas no mural também já ultrapassaram o número de 3 milhões. “A ideia é mudar a cabeça das pessoas. Diariamente, soltamos imagens com frases sobre veganismo. E o que postam contra o que difundimos acaba gerando algo positivo, porque respondemos com uma imagem bem parecida com a original, mas com informações do nosso contexto. Com isso acabamos envolvendo pessoas de fora na

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discussão”, afirma Fabio Chaves, 29 anos, criador do projeto hoje apontado como o mais acessado entre os vegetarianos. De acordo com Chaves, o site recebe cerca de 4.000 acessos únicos por dia e foi listado entre os 5.000 portais de notícias mais acessados no Brasil pela Amazon.com. No mês passado, uma de suas ações foi lançar o reality show “VVV” (Vou Virar Vegano), que pode ser acompanhado pela internet. “Também devemos reativar até o ano que vem a rede social dele, que era muito acessada. O grupo que mais bombava era o de

vegetarianos solteiros”, conta. Mas buscar um companheiro que seguisse o mesmo ideal que o seu não foi problema para a joseense Natália de Lima Santos, 24 anos. O fato de namorar um vegano durante a sua introdução à dieta facilitou a adaptação dela a esse novo estilo de vida, ao qual aderiu há um ano, após cinco sem comer carne. Ainda assim, a internet tornou-se uma forte aliada para acessar listas de empresas que poupam os animais. “Tem marca que tem o melhor leite de soja, por exemplo, mas que é de um grupo que testa

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animais em outros produtos. Então não compro. Meus remédios são homeopáticos. Enfim, a minha vida é pesquisar. É uma questão de ler rótulos para saber o que vou comprar”. E essa dificuldade em encontrar produtos e alimentos variados para este nicho foi o que criou uma boa oportunidade de negócios para ela. “Sou relações públicas e trabalho com organização de eventos. Um dia, uma empresa pediu para servir salgados veganos e ninguém fazia. Chamei um sócio e fizemos. Desde então, suprimos essa demanda e recebemos, inclusive, encomendas para casamentos. Queremos crescer, mas é difícil encontrar quem cozinhe bem esse tipo de comida”, conta. Natália diz que cerca de 30% do público das empresas que ela atende são ovolactovegetarianos (que não comem carne, mas admitem ovo ou derivados do leite). “A transição para o veganismo é muito difícil. No começo, quase comi um pão de queijo, mas resisti. Você muda a consciência, e filmes sobre os maus-tratos a animais me ajudaram a me fortalecer”, afirma. Para dar sabor às suas comidas, ela usa produtos vegetais ou químicos –como essência de bacon–, além de temperos naturais. Seus queijos são feitos com amêndoas, soja, mandioquinha ou macadâmias, e os nutrientes da carne são substituídos pelos do feijão, do grão-debico, da soja e da lentilha. Saúde Para o nutricionista Eric Slywitch, membro da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira), esse tipo de dieta só oferece dificuldades aos veganos no meio social. “Isso caso eles não convivam com vegetarianos. Mas contribui com a melhoria da saúde, pois se associa com a menor prevalência de obesidade, de doenças cardiovasculares, de diabetes e de diversos tipos de câncer”, defende. Slywitch explica que quem só adere à alimentação sem derivados animais é chamado apenas de vegetariano estrito. Também afirma que a eles e aos veganos não é preciso ingerir suplementos para a compensação de proteínas. “O reino vegetal já oferece todas as proteínas necessárias. A crença de que a carne é essencial à saúde não tem fundamento científico, e o seu consumo está associado ao excesso desses nutrientes”, afirma. A exceção à substituição dos alimentos está na vitamina B12, encontrada em alimentos de origem animal. Neste caso, o nutricionista admite o uso de suplementos. “De 50% a 60% dos vegetarianos apresentam carência dessa vitamina. No entanto, mais de 50% dos brasileiros que comem carne têm essa mesma deficiência.

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ROUPAS

A bióloga Bianca Lucchesi parou de usar roupas de lã e couro por conta da opção vegana

Toda atividade intelectual gasta vitamina B12, e nossa vesícula biliar a retira do sangue para lançá-la no intestino. É necessário uma reciclagem diária e, quem não for eficiente nela, perde muito B12”, esclarece. A professora do departamento de Nutrição da Unitau (Universidade de Taubaté), Fabíola Nejar, diz que o Conselho Regional de Nutrição divulgou, recentemente, um parecer favorável às dietas vegetarianas. Mas recomenda aos adeptos delas acompanhamento profissional. “As refeições devem permanecer balanceadas. Se tirar a carne, tem de acrescentar ao prato leguminosas e as folhas verde-escuras, que são ricas em vitaminas”, diz. Fabíola admite que a ciência aponta ser possível viver sem carne. “Embora estudos mostrem que o homem sempre foi onívoro. Excluir a carne mexe com aspectos culturais e sociais, por isso acho delicado recomendar essa dieta a todos. Não concordo, ainda, com o uso de artifícios químicos para dar sabor aos alimentos. Isso força as papilas a uma função maior, que não é fisiológica”, pondera.

Alternativas Em São José dos Campos, o restaurante Lotus é apontado pelos veganos como uma boa opção para quem quer seguir a dieta vegetariana estrita. Comandado pelo chinês Wang Taoming, 38 anos, o estabelecimento comercializa também comidas congeladas e embutidos direcionados a esse público, grande parte deles a base de soja. No bufê, a estimativa é de que 50% das saladas e 40% dos pratos quentes respeitam as restrições deste grupo. “Estamos caminhando para trabalhar 100% com pratos que não levam ovo ou leite. Para melhor balancear a refeição, temos incluído mais castanhas e grãosde-bico no que preparamos. Os veganos ainda são minoria, mas temos clientela vegetariana”, diz Taoming. “Aparecem, geralmente, budistas ou praticantes de ioga que romperam com os derivados animais”, complementa o vegetariano. Estes últimos não são o caso da bióloga Bianca Lucchesi Targhetta, de São José dos Campos, que aderiu espontaneamente ao

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veganismo em 2009, depois de uma primeira tentativa em 2008. “Tive o primeiro contato com essa linha de pensamento na faculdade, em 2003, e deixei de comer carne em 2004. Questionei por que cuidava de cachorros, mas comia vacas. Também pensei nos danos ambientais. Quando aderi, passei a olhar os ingredientes de tudo e, se não estivessem especificados, eu mandava e-mail para as empresas”, conta. O processo natural a conduziu para cuidados extras nas compras em outros setores. “Parei de usar roupas de lã e de couro. Precisei me organizar, fazer uma listinha. Hoje em dia, quando vou comprar tênis, cheiro tudo e olho bem a costura. O mesmo olhar atento tenho na hora de escolher cosméticos. Há veganos que se empenham a ponto de fazerem desodorante e outras coisas em casa”, afirma. Todos os adeptos ouvidos pela reportagem concordam, porém, que é extremamente difícil ter controle sobre a composição de todos os bens consumidos e utilizados no dia a dia. Mas, nem por isso, vacilam diante da sensação

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GOSTO Para dar mais sabor aos alimentos, utiliza-se produtos vegetais ou químicos

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de dever cumprido. “A orientação é para que evitemos ao máximo qualquer tipo de sofrimento aos animais. Haverá momentos em que você terá de ceder. Mas sempre que possível, se tiver outro produto afim que não seja agressivo, por que não optar por ele? O veganismo é uma filosofia de vida contra a violência aos animais e ao planeta”, afirma Mônica Buava Caliman, 26 anos, diretora do Instituto Nina Rosa, que é famoso por seu ativismo em defesa dos animais e por seus projetos educativos voltados ao tema e ao vegetarianismo. “Acreditamos que as crianças devem ser orientadas nesse sentido, porque elas têm um olhar mais sensível aos bichos, são mais abertas a novas ideias, além de estarem formando o seu caráter. Porém, não têm autonomia sobre o que comem e demoram para entender de onde vem uma carne ou do que é feito um hambúrguer. Talvez não haja um exemplo positivo em casa. Mas as catástrofes e crimes pedem urgência para uma mudança de atitude e têm provocado o desejo de mudança”, finaliza Mônica. •

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COMPORTAMENTO

Não é coisa de novela Assim como a Pereirão de “Fina Estampa”, profissionais da área da construção assumem papel de maridos de aluguel e fazem consertos domésticos; mulheres administram franquias

Isabela Rosemback São José dos Campos

P

ara continuarem a acompanhar a novela “Fina Estampa” (Globo) com conforto, nos últimos meses muitos moradores da região tiveram de contar com a ajuda de um “Pereirão” para garantir uma sala fresquinha, com a instalação de novos ventiladores, ou mesmo para ligar a televisão em uma tomada adaptada aos novos padrões de plugues elétricos exigidos no país. Enquanto na Barra da Tijuca recriada pelo autor Aguinaldo Silva a atriz Lília Cabral dá vida à batalhadora Griselda, faz-tudo que era chamada pelo apelido quando ainda vestia o seu macacão, aqui na região a profissão de “marido de aluguel”, como ficou conhecida, é realizada por diferentes nomes –inclusive de mulheres. Os serviços oferecidos por esses guardiões do lar variam desde a troca de uma lâmpada até reformas mais complexas em residências de clientes pertencentes a um grupo heterogêneo, ainda que em grande parte feminino. Já os profissionais da região, fugindo à tendência da novela, são em sua quase totalidade homens. Mas há exceções: em São José dos Campos, as empresárias Heilane e Rita de Cássia lembram a nova fase da protagonista de “Fina Estampa”, que passou a administrar uma firma composta por profissionais especializados. À frente da unidade recém-aberta da franquia Praquemarido, na Vila Ema, Heilane Goulart Costa, 37 anos, comanda a sua equipe de maridos de aluguel e já se deparou com algumas brincadeiras comparando a fictícia Griselda a ela. “Já gritaram ‘Pereirão!’ para mim na rua, quando eu estava panfletando. Mas, apesar de termos inau-

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gurado a loja em dezembro, já havíamos fechado negócio com a franquia em julho, antes de a novela estrear”, afirma. Rita de Cássia Valentim Corrêa, 30 anos, abriu há dois meses a sua loja da franquia Super Marido, no centro da cidade, e também nega ter sido influenciada pelo folhetim. “Mas ele ajuda muito na divulgação. Quando as pessoas têm dúvidas sobre os serviços que oferecemos, eu digo logo que é igual à Pereirão.” Nos dois casos, as vantagens para os proprietários e para os clientes são apontadas principalmente pelo fato de as duas empresas contarem com o suporte das sedes das franquias, que oferecem treinamento aos funcionários e dão garantia de serviço. “Além disso, as pessoas têm medo de deixar qualquer um entrar na casa delas. Contratando dessa forma, elas se sentem mais seguras, porque há uma supervisão acessível. Elas não dependem apenas do profissional, sentem que têm a quem recorrer”, define Rita de Cássia, reforçando que ela e o sócio, o marido Clauber Reis da Costa, 42 anos, pretendem dobrar a equipe de dois funcionários em breve. Já Heilane é casada com Rodrigo Aguiar Costa, 33 anos, e lidera com ele uma equipe de oito profissionais especializados em tipos diferentes de reparo em residências.

”Já atendi uma cliente dizendo que o marido não estava dado conta” Luiz Henrique, marido de aluguel

“Eu brinco que tenho muitos maridos. E as clientes brincam dando graças a Deus a isso, porque dizem que os delas estão lá e não fazem nada”, diverte-se. Demanda O perfil de clientes traçado pelas empresárias e por outros profissionais do ramo consultados pela reportagem pode ser resumido a famílias que têm pouco tempo livre para cuidar da casa. Em muitos casos, são mulheres que trabalham e têm maridos que, ou se eximem de fazer algumas tarefas, ou estão viajando por causa do emprego. “Mas tem gente de todas as idades e regiões, até os homens fazem contato”, pondera Heilane. Ela conta que, só no último bimestre, o maior volume de atendimentos foi para a instalação de ventiladores em residências, mas que pinturas de imóveis e vazamentos em telhados também figuraram em peso entre as solicitações. “Além disso, instalamos muitos varais, luminárias e até pregamos quadros. Estamos começando a oferecer serviços de jardinagem e, mais à frente, vamos oferecer manutenção de piscina”, adianta a franqueada da Praquemarido. Rita de Cássia, da Super Marido, conta que já recebeu pedidos como os de levar o televisor de uma cliente ao conserto, de fixar espelhos em paredes e de apertar dobradiças em armários. “Apesar de que, quando inauguramos, anunciamos uma promoção para higienização de sofás em um site de compras coletivas e tivemos um bom retorno”. Uma das primeiras clientes de sua loja foi a terapeuta Rosane Strobel, 54 anos. Há três anos morando sozinha, ela disse que viu nessa oferta uma oportunidade de deixar a sua casa em dia. Além de trocarem uma lâmpada, os maridos de aluguel contratados trocaram o sifão de uma pia, fizeram reparo em uma torneira e consertaram uma

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Flávio Pereira

EMPRESA

Heilane Goulart, à frente da franquia Praquemarido, em São José

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ValeViver Flávio Pereira

SUPER MARIDO

Rita de Cássia já recebeu pedido para levar um televisor ao conserto

maçaneta solta do imóvel. Tudo isso em cerca de uma hora e meia. “Meus filhos saíram de casa e eu não consigo fazer essas coisas. O teto é alto, então até trocar uma lâmpada para mim é difícil. Gostei da ideia, porque não precisei nem comprar as peças que tiveram de ser trocadas. O preço foi acessível e ainda lavaram os panos que usaram. Eles foram melhores que um marido”, arrisca em tom de graça. “As pessoas solicitam muito esses reparos pequenos porque são coisas que elas vão deixando acumular na casa delas, e que pedreiros e outros profissionais geralmente não querem perder tempo fazendo”, esclarece Rita de Cássia. O músico, luthier e comerciante Marcelo Mariano da Silva, 46 anos, que há um ano também oferece serviços como “Maridão” durante o dia, afirma que emplacou nesse ramo justamente por ouvir reclamações de clientes sobre a falta de comprometimento de algumas pessoas que atuam na área. “Às vezes dizem que eu sou o terceiro que tentam, porque os outros erraram o dia da visita ou nunca apareceram”. O problema para ele –que mantém outras

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CUIDADOS Alguns cuidados são recomendados tanto para quem quer trabalhar no ramo como para quem quer contratar o serviço.“Esse profissional deve se enxergar como um gestor. Ele vende soluções, então não pode se negar a fazer serviços pequenos. É bom que ele cadastre clientes e faça contatos frequentes, para saber se precisam de algo, além de separar as finanças pessoais das de negócio”, sugere Eduardo Nascimento Jesus, analista do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo) em São José dos Campos. Ele explica que há alternativas ao trabalho autônomo que oferecem vantagens. “Ele pode ser um empreendedor individual, que paga imposto de, no máximo, R$ 37,10 por mês e tem direito a benefícios previdenciários”, simplifica. Já aos contratantes cabem outras recomendações: “Verifiquem o histórico do prestador de serviço, os equipamentos que ele usa como proteção e a garantia que ele oferece”.

atividades e, ainda assim, não deixa de atender às solicitações–, é que nem todo serviço que surge tem valido a pena. “Sempre tive habilidade nesse ramo e comecei por acaso, para ocupar o tempo ocioso atendendo a pedidos das amigas da minha mulher. Mas muito do que surge é mínimo. E como estamos com novos projetos para o bar, não vou dar conta de continuar ”, afirma ele, que está prestes a abandonar a profissão. Silva também lamenta a falta de valorização desse trabalho. “Às vezes você é chamado para ver um vazamento de torneira. Leva três minutos para resolver, mas você sai de casa, compra a borrachinha, gasta gasolina e aplica o seu conhecimento. Na hora que dá o preço, como R$ 20, muitos clientes choram: ‘Tudo isso?!’”, desabafa. “Eu poderia dizer ‘Então por que não pede para o seu marido?’”, brinca. Aliás, esse é outro ponto delicado na profissão –o ciúme dos homens de família. “Já atendi muitos casos em que a mulher só podia marcar a minha visita quando o marido estivesse em casa. E alguns deles chegam a ficar monitorando o serviço, dando palpites. Não é simples, tem de ter jogo de cintura”, avalia Silva, descontraído.

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Bom humor Ainda que possam despertar desconfianças, o fato de serem chamados de “maridos de aluguel” torna inevitável a esses profissionais encararem brincadeiras dos mais diversos tipos. Heilane, mesmo, conta que já foi surpreendida por um grupo de jovens se oferecendo para serem seu marido, mas pondera que também já foi abordada por um senhor que se sentiu ofendido com a proposta da empresa. “Ele estava bravo, dizendo que era um marido e não um quebra-galho. Aí expliquei tudo para ele”, diz, levando a história na esportiva. O marido de aluguel Luiz Henrique de Brito Costa, 33 anos, de Jacareí, vê o bom humor como parte do negócio. “Muitas pessoas me ligam rindo. Já atendi uma cliente, por exemplo, brincando que o marido não estava dado conta e perguntando se eu daria. A gente até brinca, mas eu também imponho respeito”, afirma ele, que já passou por saias justas. “Já recebi ligações de mulheres procurando

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outro tipo de serviço, ou sugerindo algo extra, mas deixo claro que eu estou fora. Por isso que, quando ligam, eu pergunto logo o que a pessoa procura e explico bem com o que trabalho”. Ele acredita que foi assim, sabendo dosar simpatia com profissionalismo, que a sua clientela cresceu a ponto de, hoje, ele ter uma firma paralela que trabalha exclusivamente com montagem de redes elétricas para empresas. “O trabalho de marido de aluguel me projetou para uma coisa diferente, por isso reservo tempo para ele. Seria antiético deixar os meus clientes antigos ou enviar outra pessoa para fazer esses reparos em residências”, conclui. Luiz Henrique Costa conta que é formado em elétrica e que assumiu a profissão após ser demitido da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica), em um corte de pessoal há três anos. Começou em São José dos Campos, distribuindo cartões de visitas no salão de cabeleireiros que a então namorada, hoje sua mu-

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lher, mantinha. Agora, conta que já tem uma carteira de mais de 40 clientes que recorrem a ele na hora do sufoco. “Pensei que só faria serviços elétricos, hidráulicos, de pintura e de jardinagem. Mas passei a fazer de tudo um pouco, pela necessidade do mercado. Esse serviço gerou uma expectativa que me surpreendeu, sem contar que gosto desse contato com as pessoas. Não voltaria a trabalhar em fábrica, com a mesma rotina sempre. Hoje, eu monto a minha agenda e aprendo mais a cada dia”, disse. Rodrigo Costa, da Praquemarido, também se diz satisfeito em ter deixado para trás a sua padaria, após mais de dez anos de atividade, para assumir a nova profissão. “Já havia trabalhado, em 2000, no mesmo segmento de reformas e manutenções de casas e acho um trabalho gostoso, porque a cada hora estou em um lugar. É bem dinâmico, corremos bastante. Ainda mais agora, que o mercado está aquecido na região”, afirmou. •

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CINEMA

Thriller ’brasileiro’ O longa ‘12 horas’ chega aos cinemas do mundo neste mês com a direção assinada por Heitor Dhalia Franthiesco Ballerini São Paulo

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história é sobre a jovem Jill Parrish, vivida pela nova estrela de Hollywood Amanda Seyfried, que chega em casa e percebe que sua irmã desapareceu. Ela acredita que quem a raptou foi o serial killer que tentou raptá-la dois anos antes e não conseguiu. Agora, contra a vontade da polícia, ela começa uma caçada atrás do criminoso, em cenas de perseguição típicas dos filmes de suspense de Hollywood. E o que isso tem a ver com o Brasil? Nada. Exceto por dois detalhes: o filme, “12 Horas”, chega às telas brasileiras dia 16 de março e foi dirigido por um brasileiro, Heitor Dhalia, diretor dos brasileiríssimos (e premiados) “O Cheio do Ralo” (2007) e “À Deriva” (2009). Este é o primeiro trabalho internacional de Dhalia, seguindo a tendência que levou diretores como Walter Salles, Fernando Meirelles e José Padilha a também toparem ser contratados para fazerem filmes que não têm nada a ver com eles, mas que, por sua vez, os dão a chance de experimentar de dentro como funciona a milionária máquina hollywoodiana. Não há muito o que falar do filme, a não ser o fato de ser bem produzido como todas as outras produções de suspense e aventura que tiveram um orçamento na casa das dezenas de milhões. Fora isso, a história é tão previsível quanto quase todos os filmes comerciais norte-americanos –você saberá o final da trama antes dos 10 minutos de filme. E todas

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as atenções estão para Amanda Seyfried, a loirinha sensual que tem topado fazer personagens ousados –lê-se, com isso, papéis que a mostrem seios de fora ou de vilã, nada mais além– para tentar alcançar o andar das estrelas cult que podem escolher papéis melhores –como Natalie Portman, por exemplo. O que interessa saber mesmo é sobre a experiência deste recifense de 41 anos, fã de Luiz Gonzaga, em um trabalho num universo que claramente não têm nada a ver com ele. Sobre isso e outras curiosidades, Dhalia respondeu em uma entrevista exclusiva à revista valeparaibano. O diretor passou um ano entre Los Angeles e Portland (EUA) para concretizar este que foi, de certa forma, um sonho antigo: ter uma experiência cinematográfica em Hollywood. O filme é uma co-produção de Sidney Kimmel, produtor mão-forte de filmes como “Sinedóque, Nova York” (2008) e a produtora que vem crescendo nos EUA, a Summit, dona da saga “Crepúsculo” e do vencedor ao Oscar “Guerra ao Terror”. Como conta na entrevista abaixo, Dhalia não teve poder sobre o filme, ao contrário das produções que fez no Brasil. Como de praxe em Hollywood, antes do corte final, foram feitas quatro exibições ao público (previews) para avaliar sua eficiência com a audiência. Além de trabalhar em algo que não controlava criativamente, Dhalia também teve o desafio de dirigir em outra língua, já que mal falava inglês até pouco tempo atrás. Tanto que ele nem foi ao Festival de Toronto, em 2005, representar seu primeiro filme, “Nina,” porque não falava o idioma. Mas foi este filme que abriu seu caminho em Hollywood, pois

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ESTRELA

Amanda Seyfried, uma estrela em ascensรฃo sem muitos pudores em cena

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‘Eu nĂŁo fui para Hollywood inocente, achando que controlaria o ďŹ lme’

“Ninaâ€? fez sucesso em Toronto e Dhalia foi entĂŁo encontrar um agente em Los Angeles, para quem sĂł dizia ‘yes’ e quase nada entendia. Mesmo assim, voltou ao Brasil com um agente em Hollywood e a missĂŁo de aprender inglĂŞs. Antes de conseguir algo concreto, ainda foi ao Festival de Cannes apresentar â€œĂ€ Derivaâ€?, cujo sucesso o ajudou ainda mais a de fato fechar um contrato em Hollywood. Cannes fez com que Dhalia recebesse dezenas de roteiros, como a biografia do escritor Scott Fitzgerald. Mas os produtores de Hollywood sĂł toparam bancar mesmo “12 Horasâ€?, cujo orçamento, US$ 19 milhĂľes ĂŠ muito maior do que Dhalia jĂĄ havia trabalhado antes na carreira. Heitor Dhalia fala Ă revista valeparaibano sobre as vantagens e os problemas de entrar no sistema de Hollywood. Dirigir em Hollywood significa, quase sempre, abrir mĂŁo da criação da histĂłria, sendo um diretor de roteiro e produção de terceiros. Para quem sĂł fez filmes autorais atĂŠ hoje, nĂŁo foi algo frustrante? <NĂŁo fui para Hollywood inocente, achando que controlaria o filme, por isso nĂŁo me decepcionei. Fui bem consciente do que eu estava me metendo. Mas quando vocĂŞ entra neste sistema, ĂŠ muito mais drĂĄstico do que vocĂŞ imaginou, fazer o filme de um produtor, nĂŁo seu. Mas Hollywood ĂŠ bem heterogĂŞnea, com produtores diferentes, atitudes diferentes. Os produtores com os quais trabalhei sĂŁo muito controlado-

res, mĂŁos pesadas, que jĂĄ fizeram vĂĄrios filmes. Dei uma estranhada, mas acabei me adaptando. Estes produtores se metem em absolutamente tudo, do casting Ă direção de fotografia e continuidade. A autoria, neste caso, ĂŠ de quem paga o filme, nĂŁo de quem dirige. Na montagem, o corte ĂŠ totalmente a vontade do produtor, jĂĄ na filmagem eu tive pouco mais de maleabilidade. Acredito que, com o tempo, o diretor vai ganhando mais confiança dos produtores, fazendo mais filmes, mas isso nĂŁo ĂŠ uma garantia. Quais sĂŁo as experiĂŞncias positivas em entrar no sistema hollywoodiano? <O bom ĂŠ trabalhar com estrutura industrial que nĂŁo tem nem de perto no Brasil. O know how, dinheiro, capacidade de produção incrĂ­veis. Sets cuja produção nĂŁo se tem acesso em nenhum lugar do mundo. Cada profissional sabe exatamente o que tem que fazer no set, vocĂŞ nĂŁo precisa se preocupar em ensinar ninguĂŠm. AlĂŠm disso, ĂŠ interessante experimentar o que ĂŠ indĂşstria, aprender o que ĂŠ isso, algo baseado em pesquisa de audiĂŞncia, com uma relação muito prĂłxima com o pĂşblico. Aqui no Brasil os diretores autores fazem o filme para eles mesmos, mesmo querendo atingir um pĂşblico. LĂĄ todos pensam na audiĂŞncia o tempo todo, todos os profissionais no set –do roteirista ao continuĂ­sta– estĂŁo com a vontade do pĂşblico em mente. Isso nĂŁo deveria ser mais frequente no cinema brasileiro a fim de que atinja-

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PREVISÍVEL

A trama de ‘12 horas’ não é nada surpreendente, mas o longa serve como diversão

mos um público mais significativo? <Sim, deveria ter mais isso no Brasil. Mas o bom é ter os dois mundos. O ideal é uma mistura desses dois universos. Os filmes do Oscar vivem os dois mundos, com grau de liberdade e estrutura de produção imbatíveis. São condições perfeitas para realizar uma obra-prima. Desenvolvimento de roteiro autoral aliado a ótimos profissionais e infraestrutura a favor de transformar tudo em imagem. Acha que existe um preconceito de cineastas brasileiros trabalharem como contratados, sem envolvimento autoral? <Sim, existe um preconceito, mas como não temos uma indústria cinematográfica, raramente existe convite de diretor contratado. Quando algum cineasta é chamado para dirigir uma obra sem envolvimento autoral, eles aceitam e o preconceito cai rapidinho. Você dirigiu a Amanda Seyfried, uma das estrelas em ascensão de Hollywood na atualidade. Como foi trabalhar no ‘star system’, o sistema de estrelas que governa as produções dos estúdios? <É interessante esse sistema. Ele gera um Olimpo, cria semideuses, que ganham uma fortuna por trabalho aos 20 e poucos anos de idade, nunca tendo trabalhado antes. Alguns deles perdem a noção de realidade com isso. Fez dinheiro para vida toda no início da própria vida. É um mundo de fantasia, se desconectam

do real. Tem gente que vai e não volta mais, ou seja, nunca mais tem contato com a realidade. A Amanda é bem tranquila, está começando ainda, é bastante pé no chão. Gostei muito de trabalhar com ela. Conversávamos bastante, ela é bem fofa. Nas horas de espera no set de filmagem, ela costumava fazer tricô, gorros para o pessoal do elenco. Mas não pense que isso é fruto de relações de amizade, como se cria nos sets brasileiros. Tudo é bem profissional, todos são colegas de trabalho, ninguém é melhor amigo de ninguém. Aqui no Brasil, tento também manter uma distância profissional, não virar amigo, ser cortês, mas não virar questão de cinema comunidade, coisa de família. Produções de grande escala, como as de Hollywood, não têm tempo para amizades. A Amanda Seyfried cresceu neste sistema, sabe como atuar neste sistema e não confunde as coisas. Seu próximo projeto é em Hollywood ou no Brasil? <Quero voltar a filmar em Hollywood, já tenho projetos sendo oferecidos. Mas em março, começo a produção de “Serra Pelada”, com Wagner Moura e Seu Jorge, com filmagens previstas para julho. Ou seja, estou com Brasil na veia, um grande filme nacional. Para fazer público e ainda ser um filme artístico, vai ser um delírio. Em Hollywood já negocio outros, tudo ainda muito cedo para adiantar. Por enquanto tenho que transpor uma montanha de ouro antes de voltar a Hollywood (risos). •


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MÚSICA

Caçulas do mercado Em apenas dois anos, o Foster The People já tem carreira mais experiente do que muitos veteranos; em entrevista exclusiva, a banda revela a expectativa de vir ao Brasil Adriano Pereira São José dos Campos

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ocê gosta de música, escreve alguns jingles (músicas grudentas de comerciais), chama alguns amigos para montar uma banda e, em menos de um ano, depois de lançar o primeiro single, sua vida muda completamente com a explosão de um hit de verão. Não estamos falando de Michel Teló, longe disso. A história que já soa como um clichê nesse mundo interligado por redes sociais é do trio californiano Foster The People, que depois de bombar no mundo com a canção “Pumped Up Kikcs” já figura como atração certa nos maiores festivais de música espalhados pelo mundo. Em abril, mais um para a lista da banda, o Lollapalooza Brasil. Em 2009, depois de passar por toda a via sacra hollywoodiana (festas, drogas e uma carreira sólida inexistente) Mark Foster chamou os amigos Mark Pontius e Cubbie Frank para formarem a banda. Escrever músicas para comerciais de TV pode não ser o melhor trabalho do mundo, mas deu a noção exata para o músico do que o mercado consome, mesmo que seja com uma roupagem indie. “Definitivamente aprendi muito escrevendo jingles”, diz Foster. No começo de 2010, a banda disponibilizou “Pumped Up Kicks” em seu site oficial. Uma canção cercada de polêmica escrita do ponto de vista de um adolescente problemático e homicida. Foi o bastante para chamar a atenção de uma revista especializada e que para uma

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multidão de jovens elegesse a música como a trilha sonora do verão norte-americano. Foi suficiente também para que as gravadoras decidissem colocar a banda no mainstream. Eles receberam propostas de quase todas as majors, mas o contrato foi assinado com a Columbia, e o primeiro disco veio no início de 2011. “Torches” saiu do forno já considerado como um dos principais lançamentos do ano. Em entrevista exclusiva para a revista valeparaibano Mark Foster, fala sobre a expectativa de vir ao Brasil, carreira e planos para a banda caçula do show bizz. Você já disse em entrevistas que os Beach Boys foram uma influência para a banda. Sua banda tem a alegria californiana em comum com o grupo de Brian Wilson, mas o que mais pode definir o som do Foster The People? < Nós gostamos de pensar que estamos à esquerda do centro do pop, mas sempre acho difícil encontrar uma categoria de música para enquadrar os grupos da atualidade. Existem tantas bandas sendo influenciadas por tantas coisas diferentes, o que acaba saindo como definição parece sempre algo muito simplório.

BRASIL

A banda toca no dia 8 de abril, na edição brasileira do Lollapalooza

a tendência de comparar com algo que já foi feito para tentar entender melhor o que está acontecendo no momento. O que inspirou “Pumped Up Kicks”?

< Os garotos estão cada vez mais novos, perAs pessoas parecem ter uma necessidade de comparar vocês com grupos que surgiram na mesma época sem que exista qualquer relação musical. O que vocês sentem sobre isso? < Sem problemas. Sinto que essa é a maneira com a qual as pessoas aprenderam a se relacionar com a arte em geral. Você tem

dendo a cabeça e saindo em matanças. Isso estava realmente me incomodando, e eu estava tentando entender por que isso estava acontecendo tanto. Eu queria contar essa história e entrar na cabeça de um garoto que está ficando louco. Essa música é sobre isolamento, sobre ser um pária e ver o mundo pelos olhos desse personagem. Não é sobre ele ir mesmo e fisicamente

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Domingo 4 Março de 2012

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Divulgação

fazer uma coisa, é sobre o seu estado mental. Vocês imaginavam que a música iria correr o mundo e trazer o grupo ao Brasil em tão pouco tempo? < De maneira alguma. Nenhum de nós esperava ter a vida que temos hoje. Isso é sensacional!

No palco vocês não parecem estar forçando uma alegria, algo ensaiado, quer dizer, parece algo natural. Vocês estão se divertindo de verdade? < Nós piramos nos nossos shows. É um dos melhores empregos do mundo. Como não poderíamos estar aproveitando esse momento?

o que as pessoas gostam e não gostam, mas é muito importante não ficar preso nisso e deixar que críticas alterem o seu processo decisório. Quando você começa a se apoiar nos elogios isso torna-se um problema e você pode aniquilar o artista que vive dentro de você.

Como é a dinâmica na banda? < É algo bem saudável. Nós já éramos grandes amigos antes de formar a banda, então é bem fácil para nós manter o grupo envolvido. Se temos algum problema entre nós vamos para um bar e resolvemos a questão.

Os blogs especializados colocam vocês como a grande revelação de 2011. Como vocês reagem a esse tipo de comentário? < Acho importante encontrar um balanço saudável quando olhamos para esse tipo de coisa. É bom manter um olho nessa repercussão e ver

< É algo ótimo. A vida é curta, certo? É impor-

O sucesso repentino é algo bom ou ruim?

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tante apenas tomar decisões inteligentes e manter sua cabeça um passo à frente de tudo. Se sentem pressionados a fazer novo disco com a mesma marca de “Torches”?

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ValeViver Flávio Pereira

< Talvez um pouco, mas não estamos deixando que isso nos afete de uma maneira negativa. Estamos numa posição bastante favorável atualmente e o objetivo é usar essa energia para testar os limites criativos no processo de composição do próximo disco. Estar na estrada foi fantástico no último ano, mas estamos ansiosos para entrar debaixo do nosso capuz e escrever novas canções. Vocês trabalharam com o produtor inglês Paul Epworth no primeiro disco. Por que a escolha e existe a possibilidade dele produzir o novo álbum? <Ele foi um dos primeiros nomes que todos nós tínhamos em mente. Somos fãs do seu trabalho. Ele realmente nos desafiou como músicos no estúdio e nós gostamos muito disso. Era tudo sobre nos unir com a música e conseguir um bom desempenho com convicção. Ele adora música e é um cara inspirador. Não há planos de trabalhar com ele novamente, mas também não há nenhuma razão para não acontecer. Podemos ter uma ideia de como será o próximo disco? < Tem elementos musicais dos quais falamos, você sabe, elementos que envolvem a natureza percussiva que os nossos shows adquiriram durante 2011. Queremos trazer mais disso para o novo álbum –um tipo de experimento, fazendo alguma coisa diferente, alguns truques estranhos de estúdio; simplesmente se divertindo com isso. Mas a gente nunca sabe até começar o trabalho de fato, então é o que veremos quando começarmos. PALCO

Podemos esperar canções inéditas nos shows? O que vocês esperam do Brasil? < Tocaremos muitas músicas novas. E esperamos do Brasil nada além do melhor! •

São José dos Campos - Rua Serimbura, 174. Vila Ema. (12) 3941 1196 Mogi das Cruzes - Rua Cel Santos Cardoso, 47. Centro. (11) 4794 8480 Rua Prof. João Cardoso Pereira, 281. Pq. Monte Líbano. (11) 4726 7512

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‘É o melhor emprego do mundo, por que não seria divertido?’, diz Mark Foster

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O ALARGAMENTO SOB A DUTRA, A MODERNIZAÇÃO DO ANEL VIÁRIO E O NOVO VIADUTO KANEBO JÁ SÃO REALIDADE.

O futuro de São José não é uma promessa, mas uma realidade que se consolida dia após dia. Com sua capacidade inicial triplicada, o Anel Viário facilita o acesso a todas as regiões da cidade, com tranquilidade e segurança. O Viaduto Kanebo, por sua vez, já está sendo duplicado. Serão 500 metros de extensão, agilizando o acesso para a região sul. E as obras de alargamento da Avenida Jorge Zarur, sob a Via Dutra, estão entregues. São 9 pistas que integram a ligação Dutra-Carvalho Pinto. Esta é a São José que estamos fazendo hoje, construindo o amanhã.

SÃO JOSÉ: FUTURO EM CONSTRUÇÃO.

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ValeViver

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A VOZ

SOLTA O PAUSE

GÊNIO

Se vende como a única biografia totalmente documentada e pesquisada de Frank Sinatra; será?

Acompanhe as notícias do mundo da música por meio do blog http://soltaopause.com.br

Show intimista gravado nos estúdios da BBC, em Londres. Um registro sensacional da genialidade

WEB

Fotos: Divulgação

RODA VIVA

Renato Russo, eu sou seu pai O ex-vocalista e letrista da banda britânica The Smiths chega ao país para três shows

Adriano Pereira São José dos Campos

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ouca gente gosta de lembrar disso, principalmente os fãs que colocam Renato Russo sob o holofote da genialidade, mas o líder e vocalista do Legião Urbana era uma cópia tupiniquim do Morrissey, sempre foi. E quem quiser conferir (ou for uma viúva do cantor brasileiro) poderá fazer isso neste mês, em três shows que acontecerão em São Paulo (dia 11, no Espaço das Américas), Porto Alegre (dia 7, Pepsi on Stage) e Rio de Janeiro (dia 9, Fundição Progresso). Ex-líder da banda The Smiths, o britânico já fez mais sucesso que hoje em dia. É esse passado que fez com que os shows da atual turnê de Morrissey tivessem seus ingressos esgotados. Não é para menos, a banda formada em Manchester, em 1982 , é considerada por muitos como a banda de rock alternativo mais importante do cenário da música independente dos anos 80. Durou ape-

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nas cinco anos, mas deixou uma marca indelével na história do rock. Tanto que criou sua “filial” no Brasil. Dos trejeitos, passando pelas roupas, até os cabelos e às melodias, Renato Russo nunca negou a influência. Alguém se lembra da flor vermelha nas lapelas de ambos artistas? Nessa turnê, Morrissey criou um repertório que é uma seleção de sucessos de toda a sua carreira. A compositora norte-americana Kristeen Young, com seis álbuns em seu currículo, será a convidada especial de Morrissey em sua turnê pela América do Sul. Essa é a segunda vez que o cantor vem ao Brasil. Em 2009, Morrissey lançou mais um disco de músicas originais que chamou de “Years of Refusal”. Os concertos de Morrissey ficaram célebres devido ao número de pessoas que constantemente invadiam o palco para poderem tocar seu ídolo. O cantor é um adepto entusiasmado do vegetarianismo e, no começo da carreira no The Smiths, também se proclamava um celibatário. Então tá!

CD’S & MAIS

A volta de Chico aos palcos

VALE DESTAQUE THE MARS VOLTA “Noctourniquet” As típicas experimentações de Cedric Bixler-Zavala e do guitarrista alucinado Omar Rodríguez-López estão de volta

KAISER CHIEFS “Start The Revolution Without Me” A espera por um “inédito” deve ficar para a próxima. São várias do anterior e pouca coisa nova

PAUL WHELLER “Sonik Kicks” Participações especiais de Noel Gallagher e Graham Coxon no 11º álbum do músico

Um dos nomes mais importantes da história da MPB faz seu aguardado retorno aos palcos. Sem se apresentar desde o lançamento do álbum “Carioca”, em 2006, o compositor apresenta a turnê “Chico”, que também dá nome ao seu novo CD. Com 45 anos de carreira e 40 discos lançados, Chico Buarque traz em seu repertório os maiores sucessos dos mais de 400 títulos de suas obras. O resultado é um concerto com clássicos de todos os momentos de sua trajetória. Vale destacar que esta é somente a sexta turnê apresentada pelo cantor nos últimos 36 anos. A banda de apoio segue formada por João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Wilson das Neves (bateria), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (contrabaixo) e Marcelo Bernardes (flauta e sopros). Até o dia 25 no HSBC, em São Paulo/ www.ingressorapido.com.br.

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Ponto Final

Arnaldo Jabor

Meninos, eu vi...

A

cabou o Carnaval e tenho de recomeçar a pensar sobre o país. Dizer o quê? O Brasil está difícil de entender nesta mistura de atraso e modernização que o mundo demanda. Nada do que já vi se compara à indefinição angustiante de hoje. Nossas crises eram mais nítidas e nos chocavam pela obviedade. Já vi tantas mudanças políticas... Eu vi as empregadas gritando, a cozinheira chorando, o rádio dando a notícia: “Getúlio deu um tiro no peito!”. Anos depois, ouvi, no estribo de um bonde: “O Jânio renunciou!” Como? Tomou um porre e foi embora depois de proibir o biquíni e brigas de galo. Ali no bonde, entendi que os ‘bons tempos’ da utopia de JK tinham acabado, que alguma coisa suja estava a caminho. Depois, meninos, eu vi o fogo queimar a UNE, onde chegaria o sonhado ‘socialismo tropical’, em abril de 64, quando fugi pela janela dos fundos, enquanto o general Mourão Filho tomava a cidade, dizendo: “Não sei nada. Sou apenas uma vaca fardada!” Eu vi, como num pesadelo, a população festejando a vitória da ditadura; vi a capa do “O Cruzeiro” com o Castelo Branco, o novo presidente da Republica de boné verde, feio como um ET. Depois, vi a tristeza dos dias militares, Brasil ame-o ou deixe-o, a Transamazônica arrombando a floresta, vi o rosto embotado de Costa e Silva, a gargalhada da primeira perua Yolanda mandando o marido fechar o Congresso, vi na TV, numa

noite imunda de dezembro, o decreto do AI-5, o fim de todas as liberdades. Depois vi o Médici, frio como vampiro, com sua mulher do lado, magra, infeliz, torcendo pela Copa do mundo de 70, Pelé, Tostão, Rivelino e porrada, tortura, sangue dos amigos guerrilheiros heróicos e loucos, sentindo por eles respeito e desprezo, pela coragem e pela burrice de querer vencer o Exército com estilingues. Não vi, mas muitos viram, meu amigo Stuart Angel morrendo com a boca no cano de descarga de um jipe, dentro de um quartel, enquanto, em São Paulo, Herzog era pendurado numa corda e os publicitários enchiam o rabo de dinheiro com as migalhas do “milagre” brasileiro, enquanto as cachoeiras de Sete Quedas desapareciam de repente. Depois, eu vi os órgãos genitais do General Figueiredo, sobressaindo de sua sunguinha preta, ele fazendo ginástica, seminu para a nação contemplar e, mais tarde, ele devolvendo o país falido para pagarmos a conta da dívida externa. Vi as grandes marchas pelas “diretas” que não rolaram e, estarrecido, vi um micróbio chegando para mudar nossa história, um micróbio, vírus, sei lá, andando pela rua, de galochas e chapéu, entrando na barriga do Tancredo Neves e matando o homem diante de nosso desespero, e vi então a democracia restaurada pelo bigodão do Sarney. Vi o fracasso do Plano Cruzado, depois eu vi a volta de todos os vícios nacionais, o clientelismo, a corrupção, o país ingovernável, a inflação chegando a 80% ao mês. Vi a decepção com a democracia, pois tudo tinha piorado. Vi o Collor vindo de longe, fazendo

‘cooper’ em direção ao nosso destino, bonito, jovem, fascinando os otários da nação, que entraram numa onda política de veados esperançosos: “Ele é macho, bonito e vai nos salvar!”. Logo vi o Collor confiscar a grana do país todo, vi a sinistra careca de PC, vi Zelia dançando o bolero “Besame Mucho” com Bernardo Cabral na cara do país quebrado. Vi depois a guerra dos irmãos Collor, Fernando contra Pedro culminando com a campanha pelo “impeachment”, vi tanta coisa, meninos, e depois eu vi, por mero acaso, por uma súbita cisma de Itamar Franco, e vi o FHC chegar ao poder, com a única tentativa de racionalidade política de nossa história nesse antro de fisiológicos e ignorantes. Depois vi a tomada do poder pelo PT e tive a maior decepção ao ver que jogaram o país numa rota regressista, criando um novo patrimonialismo de Estado: a aliança entre velha esquerda e velha direita, senhores feudais e pelegos. Vi depois o governo se transformar num showmício para o bem do Lula. Depois, recentemente, vejo a sucessora Dilma tentando governar, mais lucida e mais honesta que seus aliados, ocupada o tempo todo em desfazer as armadilhas que seu chefe deixou. É difícil analisar nosso momento. É duro para um comentarista político. A economia vai bem, por sorte apenas. Dilma é legal, seria. Mas é muito grande a ambivalência entre Estado e sociedade, entre pelegos e democratas, entre boas intenções e dependência de alianças sujas. E vejo que não sei o que vejo. •

Arnaldo Jabor Jornalista e cineasta

jabor@valeparaibano.com.br

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ParabĂŠns aos alunos e professores pelo resultado no ENADE/2010, publicado em novembro de 2011. INSCRIÇÕES ABERTAS 0 00 010 000 Ĺ– YYY.unip.br &$0386 6­2 -26e '26 &$0326 5RG 3UHVLGHQWH 'XWUD NP 3LVWD 6XO


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