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Adriana Pardo Malta
PESADELOS NO AFEGANISTÃO
Nasci mulher, Cresci mulher. Sonhei sonhos: amores, estudos, profissões. Desde o início, percebi sombras no meu caminhar. Às vezes, perto Às vezes, distante... Uma noite adormeci e amanheci com o sol encoberto pela tinta vermelha. Cores desbotadas se apossaram do meu dia e eu voltei a dormir. Pesadelos! Sim, eram pesadelos! Vi minha mãe professora ser retirada da sala de aula. Vi minhas irmãs queimarem seus diplomas e seus uniformes. Vi minhas tias se esconderem desesperadamente em lugares insalubres. Vi minhas amigas tentando fugir para destinos desconhecidos e descoloridos. Vi minha filha ser entregue aos soldados americanos!
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Com todas as minhas forças, tentei acordar!
Vi que o meu corpo fora coberto novamente pela vestimenta opressora e eu só conseguia enxergar os meus olhos. E pelos meus olhos, vi a minha alma livre, liberta. Eles não conseguiram encobrir a minha alma. Eles! Sempre eles! Elas! Sempre elas! No distanciamento dos pronomes, a eterna segregação dos direitos. Na diferenciação dos artigos, o significado covarde da superioridade. Mas, alma sempre será alma. Definitivamente: Alma! Então, percebi que não estava a dormir. E não era um pesadelo! Meu corpo anestesiado pelo horror do cenário sombrio, me alertava: Não é hora de dormir. O dia ainda envolto por nuvens empalidecidas, continuava a amanhecer. E eu permanecia mulher!