idealização milton dos santos
“Não me importo quem é “ele” – personagem dos meus contos: um padre, um funcionário, uma criatura boa ou um escroto. O que é importante para mim é o fato que ele é um homem e como tal está passando pelos mesmos sofrimentos na vida”. leonid andreyev
U
m dos incontestáveis clássicos da literatura russa, Leonid Andreyev (1871-1919) se tornou um grande escritor esquecido, no meio da avalanche de publicações dos escritores russos no Brasil nas duas últimas décadas. Apenas uma coletânea Judas Iscariotes e outras histórias (2004), composta de seis obras de Andreyev, foi publicado nas últimas décadas. Certamente é uma grande lacuna no mercado editorial das traduções da literatura russa. Nosso projeto tem como objetivo principal preencher esta lacuna.
“andreyev tem sua própria página não somente na história das narrativas literárias russas, mas também, e não menos importante, na história espiritual da nossa terra.” Georgy Chulkov
L
eonid Andreyev surgiu na literatura, ao final de século XIX quando, em 1898, foi publicado seu primeiro “conto natalino” Bargamot e Gueráska que logo chamou atenção dos leitores, que sentiram na criação do jovem escritor uma proximidade com a obra de Tchekhov e Górki. Este último, ao perceber “revoltas dentro da alma humana” como o tema central da escrita de Andreyev, ajudou muito a rápida carreira literária do jovem colega, considerando-o publicamente como um “homem de rara originalidade e talento e muito corajoso na sua busca de verdade”.
Amigos: NI Pirogov, VV Stasov, IY Repin e M Gorky, Kuokkala, 1905
Em pé: LN Andreyev, PT Chirikov; sentados: M Gorky, IA Bunin, FI Chaliapin, S Skitalets, ND Teleshov
Porém, o leitmotiv da “revolta”, tão importante também na criação de Górki, é tratado por Andreyev de maneira diferente: seus textos são fortemente marcados pelo pessimismo social, e o escritor não vê nenhuma possibilidade de resolver as profundas angústias existenciais que, a seu ver, são parte integrante da trágica condição da vida humana. Nesse sentido Andreyev foi um representante fiel do novo século XX com todas suas crises humanísticas e metafísicas. Talvez por causa dessa consonância com a atmosfera da nova era, ele se tornou um dos contistas russos mais lidos no início do século XX.
“leonid andreyev está entre as mais originais e controversas vozes que vieram da rússia no início do século xx”. Richard Davies
“procurei-te na angústia e na dor. procurei-te e achei-te. salva-me! livra-me de mim mesmo! tira-me este encargo, mais pesado do que uma montanha. não ouves como ruge o peito de judas iscariotes sob esse peso? ” Judas Iscariotes
“e, cercado pela escuridão e pela imensidão vazia, o homem tremia desesperançado ante o horror do infinito.” Lázaro
“o vasto vazio que cerca o universo não foi preenchido com coisas vistas, com sol, lua ou estrelas; estendeu-se ilimitadamente, penetrando tudo, desunindo tudo, corpo de corpo, partícula de partícula” Lázaro
“o conhecimento do horrível não é o horrível, e a visão da morte não é a morte. aos olhos do infinito a sabedoria e a loucura são o mesmo, pois o infinito as desconhece.” Lázaro
“é de uma intuição surpreendentemente fina. por tudo que se refere aos aspectos mais sombrios da vida, às contradições da alma humana, às fermentações no domínio dos instintos, ele é de uma espantosa perspicácia.” Máximo Gorki
A
primeira coletânea dos contos publicada em 1901 na editora Znánie teve uma repercussão tão grande entre os leitores russos que durante cinco anos ela foi reeditada 12 vezes, bem como as tiragens dos livros de Andreyev, que na época chegavam a trezentos mil exemplares. Seus contos e novelas Silêncio (1900), O abismo (1902), Na neblina (1902), Vida de Vassíli Fivéiski (1904), Riso vermelho (1904), Judas Iscariotes (1907) despertavam o interesse cada vez maior dos leitores, tornando-se verdadeiros best sellers. Em 1907, Andreyev começou a escrever para o teatro e seus textos teatrais foram encenadas pelos melhores diretores russos: Konstantin Stanislávski e Vsevolod Mayerhold. Na peça Czar fome (1908) e na novela antimilitarista O riso vermelho (1907) Andreyev, o primeiro entre os russos, introduz uma linguagem expressionista nas formas subjetivas, gritantes que fazem nos lembrar o famoso quadro O grito do expressionista norueguês Edvard Much.
“a cada curva, a cada passagem de nível, o apito soava: o maquinista temia esmagar alguém. não era atroz que se empregassem tantos cuidados, tanto empenho, numa palavra, toda a atividade humana, para conduzir homens à forca? a coisa mais insensata do mundo se realizava sob um aspecto singelo e razoável.” Os sete enforcados
“o sonho se aproxima. o trem parou. um estranho entorpecimento invadiu os condenados. não sofriam. pareciam levar uma vida inconsciente. ausentara-se o seu ser real e sensível. só o seu fantasma se movia. falava sem voz. andava em silêncio. saíram.” Os sete enforcados
“os vagões corriam. gente, sentada neles, como de costume, viajava como sempre se viajou. depois haveria uma parada, como sempre: ‘cinco minutos de parada’. e então viria a morte, a eternidade, viria o grande mistério.” Os sete enforcados
“o anjinho havia descido do céu onde estava sua alma e introduziu um raio de luz no quarto cinza, impregnado de fumo, e na alma negra do homem que havia sido despojado de tudo: amor, felicidade e vida.” O anjinho
“a essência do talento de andreyev é constituída por uma sensibilidade extrema, uma grande audácia na descrição dos lados negativos da realidade, das melancolias e dos tormentos da vida.” Sergei Persky
S
empre o principal personagem de Andreyev é o ser humano, sem distinções de classe social e de nacionalidade, ou seja um personagem arquetípico que se encontra em uma situação excepcional ou “situação-limite”, como um meio século mais tarde diriam os existencialistas francesas – Albert Camus e Jean Paul Sarte, que desenvolveram também nas suas obras, vários temas que foram o foco da criação Andreyeviana. Andreyev confessa: “Não me importo quem é “ele” – personagem dos meus contos: um padre, um funcionário, uma criatura boa ou um escroto. O que é importante para mim é o fato que ele é um homem e como tal está passando pelos mesmos sofrimentos na vida”. Tal, como os escritores simbolistas, Andreyev recusava as descrições da vida cotidiana com todos os seus minúsculos e “típicos” detalhes, o que lhe interessa é o mergulho na essência metafísica da existência.
Andreyev, como nenhum outro escritor russo do início do século XX, conseguiu refletir todas as “questões malditas” da existência humana, revelando a irracionalidade do mal dentro da natureza humana e abrindo e expondo as feridas e a dor da alma humana, por meio de uma linguagem literária expressiva, plena de trágicos contrastes e de imagens simbólicas. Interpretando as ideias filosóficas de Schopenhauer e mergulhando nos abismos do “homem subterrâneo” de Dostoiévski, o escritor é contundente em sua crítica da solidão humana na sociedade urbana. Seu universo literário é tão intenso e denso que não deixa ninguém impassível: sua obras provocam e tiram os leitores da zona de conforto. Em uma das suas últimas obras SOS Andreyev escreve: “Assim como um telegrafista no navio que no meio de escuridão está afundando, manda o último pedido: “Socorro! Rápido! Estamos afundando! Salvem-nos!”, eu, movido pela fé na bondade do homem, lanço ao espaço e à escuridão meu clamor sobre as pessoas que estão afundando... A noite é escura... E o mar está assustador! Mas o telegrafista acredita e, teimoso, chama, chama até o último minuto, até o último fogo apagar e até seu telégrafo ficar mudo para sempre”.
“em leonid andreiev encontramos os traços mais característicos da alma russa tradicional: a ternura, a profundidade da piedade humana, a imensa comiseração pelos humilhados, ofendidos, desamparados. [...] ‘os sete enforcados’ contém algumas das páginas mais sublimes de toda literatura russa.” Wladimir Jankélévitch
“uma breve paz e tranquilidade manifestavam-se no rosto esgotado do homem cujos dias terminavam e na valente carinha daquele que acabara de começar a viver.” O anjinho
“para começar minha vida terrestre eu queria casar-me com uma boa mulher e fazer o bem com ela, mas desde que li seus livros, não sei mais se o casamento é um bem ou um mal.” A conversão do diabo
“o diabo passou dois anos mergulhado nos livros, tendo uma dificuldade louca em tentar descobrir o que era o bem e como praticá-lo de maneira a não causar nenhum mal.” A conversão do diabo
“Não consigo me acostumar com a guerra. Meu cérebro se nega a entender e explicar uma coisa que é sem sentido em sua essência.” O riso vermelho
leonid andreyev nasceu em
9 de agosto de 1871, na pequena cidade de Orel, na região central da Rússia. Desde infância, tinha duas paixões – desenho e leitura. Seu talento em artes plásticas é revelado não apenas em pintura e ilustração (em 1913, a exposição de seus quadros recebe elogios de críticos), mas também quando, já no auge do seu sucesso literário quando a partir de 1907, ele, um dos primeiros na Rússia, se dedica à fotografia colorida – famosos autocrómos de Lumière. Jovem, Andreyev é leitor apaixonado de Lev Tolstói (Em que está minha fé, de Tolstói, tinha influência grande na formação do futuro escritor). Seu filósofo predileto era o alemão Artur Schopenhauer (1788-1860), em particular, sua obra “O mundo como vontade e representação” que, em muito, definiria o universo ideológico e filosófico da criação andreyeviana. Em 1891, deixou sua cidade e foi estudar em São Petersburgo e lá cursou a Universidade. Seu pai faleceu e a família ficou à beira de pobreza. Foi o período de muitas privações e sofrimentos na vida de Andréiev. Em 1893 foi expulso da Universidade de São Petersburgo pela
para saber mais sobre leonid andreyev:
inadimplência, mas conseguiu uma bolsa de estudos na Universidade de Moscou onde se formou em direito. Começou a escrever seguindo a grande tradição do realismo russo do século XIX, mas logo encontrou o seu estilo original, próprio da estética modernista que começava a se manifestar nas letras e artes russas no início do século XX. Suas obras literárias e dramáticas lhe renderem um grande sucesso não apenas na Rússia, mas também no exterior onde muitos de seus contos e novelas foram publicados e traduzidos mesmo durante sua vida. As duas trágicas derrotas nacionais – da Primeira Revolução Russa e da Guerra Russa-Japonesa – abalaram muito o escritor e intensificaram ainda mais o seu pessimismo em relação à possibilidade de mudanças no seu país. Torna-se um antirrevolucionário convicto e não apoia a revolução dos bolcheviques em outubro de 1917. Decide exilar na Finlándia, na sua grandiosa casa, construída segundo próprio projeto em Kuokkala, onde morre de ataque cardíaco em 12 de setembro de 1919. [elena vássina]
Sobre a vida e obra: leonid-andreyev.blogspot.com.br Sobre sua obra publicada em português: issuu.com/leonidandreyev
publicação
memorial descritivo gráfico
Formato fechado: 160 x 210mm Formato aberto: 320 x 210mm Lâminas: 100 (400 páginas) Papel: Pólen soft 80g, 1x1 cores (miolo); Cartão TP Premium Imune 300g, 4x0 cores (capa) Acabamentos: Laminação Fosca, Impressão de Verniz Off Set - Frente, Corte/Refile, Corte/ Vinco, Empastado Cartão Paraná; Guarda em Colorplus Preto 120g Tiragem: 1.000 exemplares
orçamento
Tradução (400 págs) R$ 20.000 Revisão da tradução R$ 5.000 Coordenação e apresentação R$ 10.000 Projeto gráfico e editoração R$ 7.500 Tratamento de imagens R$ 2.000 Revisão de textos (1) R$ 2.600 Revisão de textos (2) R$ 1.200 Preparação de textos R$ 2.800 Edição de textos R$ 3.000 Produção gráfica R$ 2.000 Impressão R$ 25.000 TOTAL R$ 81.100
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“ele quer me amedrontar, mas eu não tenho medo.” Liev Tolstoi