3 minute read

Prefácio1

Next Article
Prefácio3

Prefácio3

PREFÁCIO 1

Que você possa sentir da mesma forma essa rica vivência.

Advertisement

Quando Tell, ou ainda o Tristan Tell entrou em meu estúdio para gravar suas músicas em 2016, eu soube imediatamente que ali estava uma profundidade insondável. Todos os dias nos deparamos com o raso, então o profundo acaba sempre se destacando. Esse relevo se confirmou e iluminou quando ele se pôs a cantar suas composições. Sinto que ficamos amigos instantaneamente e isso ia ficando evidente à medida em que discordávamos franca e cordialmente sobre os mais diversos assuntos. Conversa de gente que já se conhece, sabe?

E quando o Tell me pediu que escrevesse o prefácio de seu segundo livro, eu fui tomado de alegria e assombro: “E agora, o que eu poderia dizer sobre a poesia proveniente de uma alma que viveu tanta coisa, que experienciou o que talvez eu jamais tenha sequer imaginado?”

Mas foi depois de ler o livro que realmente faltaram as palavras. Só consegui lhe escrever: “Estou sem palavras, Tell. Assombrado, arrebatado.” Mas não passou muito

tempo até que a ebulição profunda causada pela poesia quisesse encontrar expressão. Poesia? Ah sim, com certeza poesia, mas antes, palavra crua e direta que te acerta a testa com um estralo e te faz ver estrelas! Não é de lirismo enfadonho e nem de feios e pesados arroubos de violência apelativa - algo tão comum hoje em dia - que é feito esse impactante “Tez de Amianto”, mas de verdade! Não é desprovido de beleza, mas contém apenas a beleza da verdade nua e crua, e para quem sabe enxergá-la. É texto que se lê sem se apegar à minúcias, pois ao ler, a realidade das experiências reais das coisas instantaneamente se faz sentir.

Já na segunda página, ao ler: “Desvairadamente, este crânio se coroa de chamas em cataclismo imenso, em arrojo lacônico. Assim sendo, apesar das faíscas, um coração de odre cheio, guarnecido de álibis, aproxima-se da prancha e o salgado mãe está pela frente todos os dias, azul, azulinho, profundo, nefasto.” A identificação fulminante despertada pelo texto me faz imediatamente lembrar de meu primeiro encontro com o Tell, lá em 2016, no meu estúdio... Fico com a estranha impressão de que eu participei de alguma forma, em algum nível, das experiências que de certa forma compõem esse livro, ou que o fizeram emergir. E eis que já chegando ao final do livro, já tomado por um certo senso de descrença por ter a responsabilidade de escrever o prefácio de uma obra tão singular - e antagonicamente com uma sensação de identificação tão forte que me fez vir à mente a pergunta que o compositor faz na música “Certas Canções” (de Milton e Tunai): “Como não fui eu que fiz?” Ora, tivesse eu a capacidade de expressar de forma tão única as experiências recolhidas em uma vida igualmente única, e com certeza escreveria o mesmíssimo “Tez de

Amianto”. Ironias à parte, não posso deixar de citar mais uma passagem que é a síntese da realidade atemporal, e ao mesmo tempo irremediavelmente atual que o Tell traz à tona em seu livro. “(...) foram ali presentes diante do fluxo da vida carregando o excesso de um mundo sem trilhos brilhantes e pontes pênsil sobre o desfiladeiro da fé fertilizadas por ‘achismos.”

Ao terminar de ler o livro eu senti como que se houvesse adicionado às minhas próprias experiências de vida uma parte da rica vivência de quem o escreveu. Como se agora eu conhecesse lugares, pessoas, aflições e alegrias que na verdade não foram realmente vividas pela minha pessoa. É meu desejo que cada um dos leitores possa sentir da mesma forma essa rica vivência!

Por Wilk Ottoni Azambuja @wilkazam

Músico e Produtor Musical

This article is from: