SER FELIZ EM CASTELO BRANCO

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VIAGENS AO VIRAR DA ESQUINA

Ser feliz em

CASTELO BRANCO


SER FELIZ EM CASTELO BRANCO Vivi em Castelo Branco durante 2 anos, na minha adolescência. E fui feliz. Diz-se que nesse caso, não deveria voltar. Voltei!

A cidade vista do Barrocal

Algumas vezes passei por lá, sem me deter demasiado. O suficiente para perceber que neste tempo, a cidade mudou muito. Cresceu, rejuvenesceu e ganhou novos atributos. Queria conhecer essa mudança. A oportunidade surgiu com o convite feito pelo Município de Castelo Branco e pelo Turismo de Portugal para uma visita de dois dias - afinal foram 3 - integrando um grupo de comunicadores dedicados ao turismo e às viagens: jornalistas e influencers. Não tenho qualificação para estar na primeira categoria nem veleidade de ser da segunda...mas, grato pelo convite, lá fui.


COMO CHEGAR?

Chegar à capital da Beira Baixa é fácil. A A23 deixa-nos às portas da cidade. Mas...quem quer ir de autoestrada? Esqueçam! Vindos de Norte ou Sul, a EN18 é obrigatória. Quem venha de além Tejo, o percurso entre Nisa e Vila Velha de Ródão é um óptimo pedaço de diversão! A Portas de Ródão

culminar

nas

belas

Portas

de

Ródão...

Se “de cima”, então aproveite-se a passagem nas Serras da Estrela e Gardunha. Se a origem for a zona de Lisboa, recomendo a EN3 (em alguns pontos amputada pela construção da referida A23), principalmente no troço a partir de Abrantes. É um pedaço pouco conhecido mas que garanto, deixa vontade de lá voltar.

Quem vem de Norte...

Da zona Centro, basta demandar Pampilhosa da Serra, tomar a EN112 e seguir até Castelo Branco: diversão assegurada. E os que vêm de oriente? Com fronteira logo ali, escolho a entrada por Segura - passando antes pela monumental ponte romana de Alcantara - e de caminho visitar Penha Garcia e Monsanto. Ponte Romana de Alcântara


Monsanto - Panorama com a Torre de Lucano ao fundo

UM POUCO DE HISTÓRIA Há

vestígios

da

região

ter

sido

habitada no Paleolítico... Mais tarde, com D. Afonso Henriques, foi

reconquistada

1165,

que

Templo,

a

para

aos

doou que

Mouros

à

Ordem

garantissem

em do o

povoamento da região. Um documento do séc. XIII, emitido por

um

nobre

de

seu

Fernando Sanches, menciona essa

Sé Concatedral

doação referindo a herdade

de Vila

Franca da Cardosa que incluía as terras de Castelo Branco. O Papa Inocêncio III confirma a régia doação, Templários

nome

afirmando

que

“os

tinham

fundado,

na

fronteira dos mouros, uma vila e fortaleza, no sítio da Cardosa, a que chamaram Castelo Branco”. Castelo - Torre de Menagem (em ruína)

D.


O período de maior desenvolvimento deu-se no Séc. XVI, tendo-lhe D. João III atribuído o título de Vila Notável, com a fixação de muitos judeus sefarditas entretanto expulsos de Espanha. D. José I elevou-a a cidade em 1771. E HOJE?

Castelo Branco terá, cerca de 35 mil habitantes. Capital da Beira Baixa, é sede de um dos maiores municípios do País, que a leste, confina com Espanha e a sul é limitada pelo Rio Tejo.

Paços do Concelho

Governo Civil

Caixa Geral de Depósitos Crédito e Previdência

Banco de Portugal

Da cidade sorumbática que conheci para a actualidade, as diferenças são imensas. Apostas acertadas na industrialização e a instalação do politécnico trouxeram o dinamismo necessário. O resto veio por acréscimo.


Também a oferta cultural multiplicou a capacidade atractiva da cidade.

Cine - Teatro Avenida

Centro de Cultura Contemporânea

Arte urbana

E essa vertente foi o âmago da nossa visita. Venham daí...

Mural alusivo às Invasões Francesas

A VISITA A CASTELO BRANCO Os anfitriões proporcionaram-nos uma visita guiada aos pontos mais relevantes da cidade. Foram inexcedíveis na disponibilidade e simpatia. Já o S. Pedro estava de candeias às avessas, com uma ou outra trégua. No final, a pé e sózinho “perdi-me” nas ruas de Castelo Branco.


Parque do barrocal Começámos por aqui, onde estão as origens mais remotas da cidade. É uma reserva de natureza no seu estado puro situada dentro do perímetro urbano e que, desse modo, permite o seu fácil usufruto pelos albicastrenses.

Um parque dentro da cidade

A natureza em estado puro

Passadiços e miradouros

As silhuetas de granito que vamos observando à medida que avançamos pelos passadiços recordam-nos que foi daqui que foram retiradas as pedras que ajudaram a moldar algumas das mais vetustas construções da cidade, sendo o principal exemplo o Castelo dos Templários (do qual resta apenas uma ruína).


O Castelo dos Templários

O granito e a flora autóctone

São visitáveis apenas 11 dos 40 hectares do

parque

e

nele

podemos

também

observar exemplares da fauna e flora autóctone. O Observatório dos Abelharucos é uma das construções

icónicas

e

feita

propositadamente para birdwatching.

Observatório dos Abelharucos

Túnel dos Lagartos

O Túnel dos Lagartos, que atravessamos durante o percurso, é outra das marcas visuais. Museu Cargaleiro Mestre Manuel Cargaleiro nasceu perto (no concelho de V. V. de Ródão) mas foi em Castelo Branco que sedeou a Fundação e o seu Museu. Devo dizer que foi para mim, a maior surpresa e o ponto alto da visita a Castelo Branco.


Museu Cargaleiro - Edifício 1

Museu Cargaleiro - Edifício 2

Não sou conhecedor de arte. Não domino estilos, muito menos técnicas. Por isso o meu padrão é: “gosto ou não gosto”. E neste caso gostei imenso. O Museu apresenta, em dois edifícios distintos, exemplares da colecção de faiança reunida ao longo do tempo pelo Mestre, onde as peças das cerâmicas “Ratinha” e “de Triana” têm lugar de destaque, sem esquecer as palanganas faiança

pintados

dimensões Cerâmica Ratinha

Cerâmica Ratinha

(pratos e

familiares)

de com e

muitas outras.

Cerâmica Ratinha - Guitarrista

Merecem

destaque

particular as 3 peças da autoria de Pablo Picasso

3 peças da autoria de Pablo Picasso


Cerâmica de Triana

Cerâmica de Triana

“Esta era a porta da vizinha que eu nunca conheci”

Doou também à Fundação muitas das suas obras mais simbólicas que estão no 2º edifício. Moderno,

tem

um

percurso

apreender

as

várias

fases

que da

permite

construção

artística de Cargaleiro e melhor perceber a sua obra. Aí pudemos apreciar a sua versatilidade: o desenho, a gravura, a pintura ou até a azulejaria e tapeçaria (a reprodução de uma obra

sua

em

Tapeçaria

de

Portalegre

notável).

Jogos cromáticos e figuras geométricas

Cargaleiro em Tapeçaria de Portalegre

é


Desenhos

Panorâmica da exposição

A obra e os materiais

Sugiro

que

optem

pela

visita

guiada. Vale a pena! Até porque o visitante é convidado a partilhar a sua

própria

interpretação

das

obras expostas. Esta

liberdade

diferentes

visões

e

partilha é

uma

de

forma

mais rica de viver a arte e de a Jarra em cerâmica

sentir.


Panorâmicas dos desenhos

Bordado de Castelo Branco É a forma de expressão artística mais tradicional desta terra, parte da identidade de Castelo Branco e das suas gentes. Por exemplo, os dotes das noivas tinham obrigatoriamente que conter, pelo menos uma peça, geralmente uma colcha. Actualmente, é uma arte em perigo de extinção, pelo que o papel do Centro de Interpretação

do

Bordado

de

Castelo

Branco é fundamental na sua preservação. Visitámo-lo de seguida. Para lá da arte das bordadeiras, a matéria-prima é local: as muitas amoreiras da região favorecem a criação do bicho-daseda e assim, a extracção da seda natural que depois de tingida dá a linha que pelas mãos de artistas constroem os desenhos e efeitos característicos. A base do bordado é em tecido de linho caseiro, que também aqui é produzido a partir de plantações de linhaça.

As matérias primas


Tear

Exemplares em Bordado de Castelo Branco

Bordado tradicional

Brasão da cidade (Paços do Concelho)

A arte das bordadeiras


O papel deste Centro na preservação da arte é fundamental. Quer sob o ponto de vista de ensino (assim haja aprendizes) quer para a dar a conhecer aos visitantes. Outra vertente fundamental, é o apoio a novas formas de expressão, preservando a essência, mas partindo para a utilização em peças de vestuário, por exemplo. Em exibição alguns exemplares saídos da criatividade de estilistas de renome que dão um novo alento a esta arte.

Novas formas de expressão do Bordado de Castelo Branco


Bordado de Castelo Branco na moderna arquitectura urbana

Jardim do Paço Episcopal É o principal ex-líbris de Castelo Branco, pelas suas características únicas e pela forma magnífica como é conservado. Foi mandado construir pelo Bispo de Guarda e Castelo Branco, D. João de Mendonça,

nos

idos

de

1720,

que

inspirado numa estadia por paragens italianas,

quis

criar

um

jardim

de

inspiração barroca.

Panorâmica

Jardim do Paço - Panorâmica da Entrada

Megalomania bem!

do

Bispo...mas

ainda


Está dividido em 4 patamares. A Entrada

(de

construção

mais

recente, já do Séc XX), o Jardim do Buxo - cheio de simbologia católica, onde podemos observar os jogos de água que simbolizam as Chagas de Cristo - o Jardim Alagado e o Plano Superior. Todos

estes

patamares

estão

unidos por escadarias que são Painel alusivo ao fundador do Jardim do Paço

bordejadas representam

por

estatuária

os

Apóstolos,

que os

Doutores da Igreja ou os Reis de Portugal. São também muitos os jogos de água que o animam.

Jardim do Buxo - pormenor

Jardim do Buxo - jogos de água

Jardim Alagado - Panorâmica

Jardim Alagado - Pormenor


Jogos de água

Escadaria - panorâmica

Escadaria dos Reis de Portugal

Jardim do Paço Episcopal - panorâmicas

Escadaria dos Doutores da Igreja


Estatuária - panorâmica

Pormenor

A sina de um País

Plano Superior

Paraíso

Ligação do Jardim do Paço ao Jardim Municipal

Todo o Jardim é um referencial à simbologia da época, desde a forma às imagens que o adornam.


PARA LÁ DA CULTURA

Mas Castelo Branco tem mais, muito mais para oferecer. Aqui vão alguns exemplos: Kartódromo de Castelo Branco

Foi-nos

proporcionado

um

agradável

momento

de

convivio

e

diversão:

os

participantes nesta visita puderam em saudável e divertida competição, exercitar os seus dotes de condução na pista do Kartódromo de Castelo Branco. Quem ganhou a corrida? Todos, pela animação e bons momentos vividos.

Gentlemen - Start your engines!

O principal é a diversão

O sabor da vitória...

Foto de grupo


Piscina - Praia

Piscina - Praia - panorâmica

É uma infra-estrutura situada nos limites da urbe (atendendo à época estava encerrada). Um espaço amplo, aprazível, com uma piscina-praia artificial, onde os albicastrenses poderão usufruir de um pouco de frescura nos tempos de canícula.

Piscina - Praia - panorâmica

Piscina - Praia - pormenor

O Azeite da Região

Tivemos a oportunidade de visitar em pormenor o olival e o lagar onde é produzido o azeite Fio da Beira. É um produto que, utilizando processos produtivos modernos sem recurso a olival intensivo, respeita a utilização das castas Galeça e Cobrançosa.

tradição regional, nomeadamente com a


Um produto regional de excelência numa região muito rica neste domínio. E ainda houve tempo para a receita de uma sobremesa bem a propósito: Rodelas de laranja, adoçadas com mel e temperadas com um fio generoso de azeite. Fio da Beira - pormenor do olival

PERDI-ME NA CIDADE Depois da visita organizada fiquei mais um dia. Queria fotografar a cidade e sentir o seu pulsar sem os constrangimentos de estar incluído num grupo. Percorri as suas ruas, primeiro à noite - para conhecermos uma terra temos que a ver no escuro - e depois no dia seguinte.

Onde todos os caminhos se cruzam

Cidade pacata

Avenida do Liceu - ao fundo a Estação da CP

A encosta do castelo vista do Jardim Municipal


À noite...


A cidade espraia-se primeiro nas encostas do Castelo e depois em espaços mais planos. Por essa razão, caminhar é fácil e agradável, seja pelas ruas mais estreitas da zona antiga, seja por alguns dos arruamentos mais modernos.

Pelas ruas da cidade

A CAMINHO DO LICEU - QUARENTA E MUITOS ANOS DEPOIS E foi também com alguma emoção que voltei a percorrer o caminho que diariamente fazia, de casa até ao liceu, já lá vão mais de 40 anos.


E à porta do Liceu Nun’Álvares revi-me na imagem dos estudantes que conviviam no intervalo entre aulas.

NOTAS FINAIS Em jeito de conclusão: - Castelo Branco quer - disse-nos o Presidente do Município - novos habitantes. Com todas as condições da vida moderna e os novos regimes de trabalho remoto, porque não optar por melhor qualidade de vida? Fica a sugestão. - No Turismo, tem condições para ser um pólo de atracção importante, até pela proximidade a Espanha. A oferta hoteleira não é numerosa mas tem qualidade. E destaco o Hotel Meliá Castelo Branco, onde fiquei. É excelente! Pela qualidade das instalações, pela inexcedível simpatia do seu pessoal e...pela fabulosa vista sobre a cidade. - Os Albicastrenses são boa gente! Acolheram-me como filho há muito tempo. Voltaram agora a receber-me como visitante de forma ímpar. E aqui a palavra tem que ser dirigida aos anfitriões que tudo fizeram para que nos sentíssemos em casa. E sentimos!


Um enorme obrigado ao Munícipio de Castelo Branco, ao Turismo de Portugal e à Associação Forum Turismo que me proporcionaram esta visita. Como se diz por esta zona, bem-haja!

(versão alargada da crónica publicada na Revista Motociclismo #05 do mês de Maio de 2022)

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