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Sumário

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Anexo

Anexo

01 repensar

02 habitar 03 aproximar 04 conceituar 05 colaborar!

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Resumo....................................................................9 Sumário..................................................................11 Introdução...............................................................12

Suplemento à história..............................................16 Nem tão silenciosa..................................................18 Cidade feminista......................................................33

Anjo do lar...............................................................40 O direito universal....................................................44 A porta de entrada....................................................47 Território Celeste......................................................50 Mulheres que movimentam.......................................54

Análise urbana........................................................62 Processo participativo..............................................76 À deriva.................................................................100

Conceitos..............................................................116 Estudos de Caso....................................................120

Proposta projetual..................................................138

Considerações finais..............................................191 Referências............................................................192 Anexo....................................................................200

INTRODUÇÃO

“Trabalhos que eram e são produzidos na academia muitas vezes são visionários, mas essas ideias raramente alcançam pessoas.”, Hooks (2020, p.45), essa foi uma das primeiras inquietações que geraram esta pesquisa, o grande incômodo era como transpor a barreira existente entre o mundo acadêmico e o mundo real? Como construir pontes que utilizassem os saberes da academia para benefício de pessoas reais? Esse incômodo, somado à inquietação com o retrógrado pensamento machista que ainda vigora na sociedade, resultou no presente trabalho final de graduação.

Entendendo que o espaço é uma construção social, propõe-se a questionar se os valores arcaicos de uma sociedade patriarcal não se manifestam no que hoje é conhecido como cidade e malha urbana. A constante associação da mulher ao espaço privado, à esfera doméstica e reprodutiva, resultou na desconsideração dela no planejamento urbano, e consequentemente no planejamento de espaços públicos, tal fato, repercute

até os dias de hoje nas experiências que as mulheres têm na urbe. Compreendendo que diversas vezes elas foram silenciadas, o processo participativo foi a forma que o trabalho encontrou de escutá-las em busca de sororidade.

Habi(tático) porque se trata de estratégias, táticas, em um contexto habitacional, que através de intervenções urbanas, pontuais, pautadas na escuta de mulheres, almeja provocar melhorias no cotidiano dos moradores. Para tanto, o TFG se apoiou em 5 eixos, que podem ser entendidos como pilares: Repensar, Habitar, Aproximar, Conceituar e Colaborar. O primeiro pilar, Repensar, busca reverter a invisibilidade histórica das mulheres e trazer à tona a necessidade de se ter novas formas de se pensar a cidade. O segundo, Habitar, pretende explicitar a imposição do papel doméstico a ela, e demonstrar a necessidade de assegurá-la o direito à moradia digna. Já o terceiro, Aproximar, traz a leitura urbana em diferentes níveis de aproximação com o território trabalhado. O quarto pilar, não menos importante, Conceituar, mostra os conceitos e estudos de caso que dão suporte para a elaboração do futuro projeto. E por fim, Colaborar, depois de todo um processo transformador, o quinto pilar, que na realidade não é um pilar, é uma laje, e bem apoiada, apresenta a proposição urbana construída a partir da escuta e escora de todos os anteriores.

“Você não pode controlar todos os fatos que acontecem em sua vida, mas pode decidir não ser diminuída por eles. Tente ser um arco-íris na nuvem de alguém. Não se queixe. Faça todo o esforço possível para modificar aquilo que você não gosta. Se não puder mudar algo, mude a maneira como pensa. Talvez você encontre uma nova solução.” (ANGELOU, 2019, p.16)

repensar

SUPLEMENTO À HISTÓRIA

Seria uma ambição à qual não me atrevo, pensei, ao procurar nas prateleiras por livros que não estavam lá, sugerir para os alunos daquelas universidades famosas que reescrevessem a história, ainda que, para mim, com frequência ela pareça estranha como é, irreal, desequilibrada; mas por que eles não poderiam acrescentar um suplemento à história, dando a ele, lógico, um nome imperceptível, de modo que as mulheres pudessem nele figurar sem impropriedades? (WOOLF, 2019, p.68).

Parece ilógico credibilizar com total veracidade histórias contadas por apenas um ponto de vista, ainda mais quando se tratam de histórias da construção da sociedade, como Adichie (2020, p.26) diz, em sua obra O perigo de uma história única, “A história única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é que sejam mentira, mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne a única história”. Como a própria autora afirma, o grande problema de se ter uma história única é que ela acaba se tornando uma história sobre o poder que está “nas mãos” de quem a conta, e dessa forma, se torna a versão definitiva dos fatos.

No entanto, ainda seguindo com as reflexões de Adichie (2020, p.32) é preciso acreditar que “As histórias foram usadas para espoliar e caluniar, mas também podem ser usadas para empoderar e humanizar. Elas podem despedaçar a dignidade de um povo, mas também podem reparar essa dignidade despedaçada”. Por isso, é tão importante que se conte histórias, que se narre todos os fatos, por todas as perspectivas, todos os ângulos e todas as pessoas, registrar os acontecimentos é uma forma de escutar os silenciados e reparar aqueles que foram anulados.

A história do silêncio é indissociável da história das mulheres (SOLNIT, 2019). É indissociável porque ele ecoou durante muito tempo, como Perrot (2007) conta, para se escrever a história é preciso documento, ves-

tígio, fonte, e a forma que a presença da mulher nos espaços foi constantemente desconsiderada pela sociedade fez com que se tivesse pouco material para formulação de um relato.

Outro fator citado por Perrot (2007) que contribuiu para essa vasta invisibilidade foi a sua menor frequência em espaços públicos, aqueles que por muito tempo eram os merecedores de registro. O confinamento das mulheres dentro do espaço privado, a sua direta associação a esfera doméstica e reprodutiva, somados ao sistema estrutural patriarcal fez com que elas diversas vezes reduzissem a sua existência e liberdade para sobreviver debaixo de um teto com quatro paredes.

Respondendo a Woolf (primeira citação do texto) e ao seu ensaio produzido em 1928, atualmente, a historiografia busca resgatar as memórias e reparar as apagadas, muito já foi feito, o suplemento à história já começou a ser escrito, mas os registros ainda seguem desequilibrados. Como o sugerido, o presente trabalho, dentro de uma Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, almeja contribuir para essa inversão da valores intrínsecos a academia, no suplemento aqui escrito, as mulheres vão sim figurar sem impropriedades, mas desta vez bem perceptíveis e audíveis.

Dito isto, é preciso repensar. É preciso repensar tudo o que até hoje foi contado, e principalmente, o que deixou de ser. É preciso repensar o porquê da invisibilidade de certas parcelas da sociedade. É preciso repensar onde estavam as protagonistas de diversas histórias e feitos. É preciso parar, repensar, e contar novas histórias.

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