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Mulheres que movimentam
É imprescindível creditar autoras de grandes feitos, mais imprescindível ainda é dar nome para aquelas que tanto continuam fazendo. Dentro dos movimentos sociais, mais especificamente dentro do movimento de moradia, as mulheres sempre representaram um número significativo do total de participantes. Elas não são apenas números que dão volume, elas são destaque, são os verdadeiros agentes de progresso.
No entanto, em uma sociedade machista e patriarcal, o rompimento da invisibilidade da mulher ainda é uma questão a ser resolvida até mesmo nos movimentos populares, “frequentemente as análises ignoram que os principais atores nos movimentos populares eram, de fato, atrizes” (SOUZA-LOBO, 1991 apud Gohn, 2007, p.45). Atrizes não coadjuvantes, mas sim protagonistas, que enxergavam a importância de se entender a moradia como um lar que permite o desenvolvimento individual e familiar.
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Fotografia 9: Marcha mulheres Paulista. Fonte: Folha Press. Graça Xavier, coordenadora da União dos Movimentos de Moradia Nacional, liderança do movimento da Região Sudeste, integrante da Secretaria de Mulheres da União dos Movimentos de Moradia, conta como sobre a importância das mulheres na liderança e essa visibilidade: 80% da composição dos movimentos de moradia são mulheres, pois na década de 1980 a base era literalmente quase toda composta por nós mulheres, mas as coordenações executivas eram quase todas compostas por homens, mesmo eles sendo minorias nas bases. Contudo, atualmente esses papéis foram invertidos, pois hoje somos a maioria tanto na base quanto nas coordenações executivas, pela primeira vez após 30 anos somos maioria na coordenação executiva e com um olhar diferenciado para as questões de gênero, fruto de uma grande articulação e formação para que as mulheres assumam de fato uma agenda feminista de em55

poderamento e protagonismo na construção do direito a uma cidade com inclusão social. (ALMEIDA, 2019, n.p) Hoje em dia são elas as grandes líderes, as que atuam na coordenação, as que promovem os atos, as que organizam as ocupações, as que constroem nos mutirões, são elas a grande maioria não só na base, mas no “topo” dos movimentos.
Cientes do impacto que a participação no movimento representa na vida das mulheres, as lideranças e suas integrantes se atentaram a necessidade de criar um espaço de troca e informação que desse suporte as discussões sobre as questões que pautam as suas lutas, pessoais e coletivas, como violência doméstica, feminismo, tabus, direito à cidade, direito à moradia, políticas públicas específicas, entre outras. Assim, em 1999, surgiu a Setorial de Mulheres da UMM-SP, que logo depois, em meados dos anos 2000, foi renomeada para Secretaria de Mulheres da UMM-SP, como atualmente é conhecida, sendo então um local de apoio, discussão e empoderamento, em que gênero, raça, e classe são tratados como ponto de partida e prioridade.
Desde a sua fundação, a Secretaria de Mulheres já promoveu o debate sobre diversos temas, ela realiza rodas de conversa para todas as mulheres, com o intuito de expandir informações e levar discussões essenciais para as regiões periféricas e para macro regiões, onde a UMM-SP também atua, como no litoral em Santos, Praia Grande e no interior, como Campinas e Ribeirão Preto. É importante dizer que essas inquietações não ficam apenas em discussão, elas também se transformam em ação, a Secretaria faz trabalhos solidários, como arrecadação de cestas básicas, para dar suporte a mulheres mães, chefes de famílias, desempregadas, e vítimas de violências doméstica.
Além do trabalho social, a Secretaria já conquistou vitórias políticas que auxiliam a garantia do direito à
Fotografia 10: Entrega de cesta AMMRS no Jd. Celeste. Fonte: UMM-SP, agosto de 2020. moradia a todas as mulheres. No município de São Paulo, a lei nº 13.770/2004, projeto da Secretaria, foi regulamentada pelo Decreto nº 45.987/2005, prevê a adoção de medidas do poder executivo municipal para a priorização do atendimento da mulher beneficiária em programas de habitação de interesse social. Também obtiveram sucesso na promulgação da Lei Nacional de Habitação de Interesse Social (Lei 11.124/2005), que recomenda o registro de titularidade no nome da mulher dos imóveis produzidos ou financiados pelo poder público.

A atuação da Secretaria de Mulheres da UMM-SP, é mais que um exemplo de empatia, é a manifestação da sororidade, aliança de mulheres, na realidade, é a manifestação da necessidade da construção da “verdadeira sororidade, tal que levasse em consideração as necessidades de todas as envolvidas”, Hooks (2020, p. 37). A presença das mulheres nesses debates proporcionados pelo movimento, faz com que elas se sintam parte de 57
um todo, de um grupo que a conduz a luz de reivindicar os seus direitos e se reconhecer como uma cidadã ativa, “Indivíduos empoderados formam uma coletividade empoderada e uma coletividade empoderada, consequentemente, será formada por indivíduos com alto grau de recuperação da consciência do seu eu social, de suas implicações e agravantes.”, Berth (2020, p.52). E, para as mulheres, ter a consciência de que a partir do seu locus social se pode sim impor a sua voz e provocar grandes mudanças, é libertador.

Fotograifa 11: Mulheres em movimento. Fonte: UMM-SP, 2019.

