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Processo participativo

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Estudos de Caso

Estudos de Caso

proc. participativo

COL.LECTIU PUNT 6

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Apenas a leitura de mapas não é o suficiente para uma aproximação real com o território, a ferramenta que a pesquisa encontrou para romper com o paradigma da neutralidade no planejamento urbano, foi o processo participativo, que funcionou como um porta voz para as mulheres do território, dando voz as suas necessidades, e possibilitando a elaboração de um projeto pautado em carências reais. Para tanto, foi preciso buscar novas estratégias de leitura urbana que compreendessem as especificidades de cada gênero e acreditassem nas mudanças que podem acontecer a partir da escuta da base da pirâmide social.

Essa busca calhou no Col. Lectiu Punt 6, uma cooperativa de Barcelona, composta por arquitetas, urbanistas, sociólogas, que desde 2005, se propõem a realizar projetos que repensem a forma patriarcal e capitalista que até hoje as cidades foram projetadas, e também a demonstrar a necessidade de se repensar os espaços públicos de uma maneira cotidiana e inclusiva, em ou-

Figura 14: Logo coletivo feminista. Fonte: Col.Lectiu Punt 6.

Figura 15: Guia Espaços para a vida cotidiana. Fonte: Col.Lectiu Punt 6. Figura 16: Guia Mulher trabalhando. Fonte: Col.Lectiu Punt 6.

tras palavras, ela pratica o urbanismo feminista.

A cooperativa desenvolve manuais com metodologias de leitura segundo a perspectiva de gênero, e nesses manuais constam roteiros de como desenvolver oficinas participativos, dados que podem ser coletados em questionários, fichas a serem preenchidas por participantes, entre outras maneiras de se estruturar um diagnóstico eficaz.

Portanto, para a realização do presente trabalho, foram escolhidos dois manuais que serviram de apoio para uma aproximação real com o território em questão. O primeiro foi o Espaços para a vida cotidiana, que possui três eixos principais, Diagnóstico Urbano Participativo, através de ferramentas qualitativas sensíveis ao gênero considerando experiências pessoais, Avaliação do Espaço Urbano, por um indicadores de qualidades urbanas, e por fim, Avalição da Gestão Urbana, com indicadores para análise transversal de gênero em um determinado contexto socioespacial.

O segundo manual adotado foi o Mulheres trabalhando, que tem como objetivo empoderar mulheres, considerando todas as suas pluralidades, para que elas se tornem agentes de mudança dentro da própria cidade. Os seus principais eixos são Informação, explicar o porquê um urbanismo sob a perspectiva de gênero, Descrição e Análise, compartilhamento das características físicas dos espaços para análise, Compartilhamento de Experiências, contar experiências pessoais de diferentes vivências na urbe, e por último, Continuação do trabalho realizado, avaliação e apresentação das propostas elaboradas.

O que é o urbanismo feminista? Por Col.Lectiu Punt 6.

PORTAL CELESTE

O intitulado Portal Celeste, consiste na compilação de toda metodologia proposta pelo Col. Lectiu Punt 6 que poderia ser aplicada no Jardim Celeste, considerando as diferenças de contexto socioespacial e a presente pandemia. O Portal, foi a estruturação de uma estratégia de leitura urbana, pensada minuciosamente por mim, e pela minha fiel parceira de trabalho, Aline Araújo.

Para que se que possa compreender o território da maneira mais inteira possível, o Portal Celeste contém três etapas, tendo duas já ocorridas. A primeira, foi através de um questionário online, para coleta de informações socioeconômicas das mulheres do bairro. A segunda, foi a dinâmica presencial, em que se realizou uma oficina de escuta com as moradoras do bairro, a fim de se entender as percepções e vivências pessoais que refletem no seu deslocamento e apropriação do espaço urbano. E por último, a terceira etapa, que irá ocorrer, consiste em uma devolutiva, a apresentação do projeto elaborado para o bairro a partir dos apontamentos relatados.

PRIMEIRA ETAPA

É relevante dizer que, como já mencionado anteriormente, o histórico de irregularização fundiária do bairro reflete até hoje na disponibilização de dados em ferramentas de pesquisa, como por exemplo, o comumente utilizado Geosampa, as informações são sempre incompletas, vindas pelas “bordas”. Por este motivo, a primeira etapa foi de extrema importância para conhecer o real perfil das moradoras. No total foram 18 respostas ao questionário, portanto, todas as informações e gráficos estão apoiadas nestas respostas. IDENTIDADE DE GÊNERO

Mulher Cis ( se identifica, em todos os aspectos, com o gênero atribuído ao nascer em função do seu sexo biológico.)

Homem Trans (não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento)

Gráfico 1: Identidade de Gênero Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário. FAIXA ETÁRIA

16-31 anos 31-45 anos 46-60 anos mais de 60 anos

Gráfico 2: Faixa etária Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário. COMO SE IDENTIFICA

16,7%

44,4%

Negra Branca Parda

38,9%

Gráfico 3: Como se identifica Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário. 81

FILHOS E RESPECTIVAS IDADES

Gráfico 4: Filhos e Respectivas Idades Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário.

Por meio das respostas percebidas pode-se conhecer um pouco mais sobre o território, tratando da questão de gênero 94,4% se reconhecem como mulher-cis (17 pessoas) e 5,6% como homem trans (1 pessoa). As respostas demonstraram que se autodeclaram 44,4% pardas, com a predominância de faixa-etária de 31 a 45 anos, e apenas uma das pessoas não possuí filhos. ESCOLARIDADE

5,6%

38,9%

Médio completo Superior completo Não alfabetizada Fundamental completo

Gráfico 5: Escolaridade Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário. TRABALHO

Não trabalha Trabalho informal Trabalho formal (CLT, PJ, MEI)

Gráfico 6: Trabalho Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário.

CONTRIBUIÇÃO FINANCEIRA PARA CASA

22,2%

Integralmente Parcialmente

77,8%

Gráfico 7: Contribuição Financeira para Casa Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário.

50% das respostas indicaram ensino médio completo e 38,9% ensino superior também completo. Em relação a emprego, 38,9% trabalham em regime CLT, PJ, ou MEI, e 22,2% trabalham em situação informal, informações que comprovam mais uma vez, a certeza da jornada dupla na vida das mulheres. Um dado interessante é que 38,9%, responderam que não trabalham, pode-se deduzir, que são as mulheres que mesmo que não estejam trabalhando fora de casa, talvez aposentadas, provavelmente exercem um trabalho doméstico não remunerado dentro do seu próprio espaço privado. E apesar de algumas respostas afirmando não exercer um trabalho, todos disseram contribuir financeiramente em casa, sendo 77,8% integralmente.

MEIOS DE LOCOMOÇÃO NO DIA A DIA

Gráfico 8: Meios de Locomoção no Dia a Dia Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário.

TEMPO GASTO EM TRANSPORTE POR DIA

5,6% 1h/1h30 30/45 minutos 2h/3h mais de 5h

Gráfico 9: Tempo Gasto em Transporte por Dia Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário. PARADAS NO TRAJETO DIÁRIO No quesito mobilidade, as respostas despontam em relação ao uso de transporte público e ao caminhar a pé, 83,3% utilizam metrô e trem e 61,1% caminham a pé, enquanto o uso de carro particular é equivalente a apenas 16,7%. O número de horas gastos com locomoção é predominantemente de 1h/1:30h com grande incidência de 2h/3:00h. Quando questionado se no trajeto diário existem “paradas” antes de chegar ao destino, a maioria das respostas foram “mercado” e “creches e escolas”, tais respostas evidenciam a presente associação da mulher com obrigações da casa e da esfera reprodutiva.

Gráfico 10: Paradas no Trajeto Diário Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário.

VOCÊ SE SENTE SEGURANÇA AO CAMINHAR NO SEU BAIRRO? Parcialmente, somente du5,6% rante o dia Não, em nenhum horário

Sim, todos os horários VOCÊ ACREDITA QUE A FALTA DE SEGURANÇA ESTÁ RELACIONADA AO FATO DE SER MULHER?

Sim

Não

Gráfico 11: Pergunta sobre Segurança Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário. QUAIS LUGARES VOCÊ NÃO SENTE SEGURANÇA?

Gráfico 12: Pergunta sobre lugares não seguros Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário. Gráfico 13: Pergunta sobre Segurança e Mulher Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário.

Com relação aos espaços públicos, 72,2% das respostas afirmam que se sentem parcialmente seguras para caminhar em seu bairro, apenas durante o dia, e 61,1% associam essa insegurança ao fato de serem mulheres. Foi pedido a indicação de lugares que bairro que não aspirassem segurança, e o nome de duas ruas foram frequentemente citados, a Rua Menino do Engenho e a Rua Memorial de Aires.

O BAIRRO TEM ESPAÇO PARA LAZER/SOCIALIZAÇÃO?

Não Sim

Gráfico 14: Bairro Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário.

QUAIS EQUIP. VOCÊ SENTE FALTA NO BAIRRO? QUAIS EQUIP. PODEM MELHORAR?

Gráfico 15: Equipamentos que Faltam no Bairro Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário. Gráfico 16: Equipamentos que Podem Melhorar Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário.

Tratando de equipamentos urbanos e lazer, as respostas são quase unânimes, 88,9% dos participantes afirmam não achar que o bairro ofereça lugares para descanso ou socialização. E quando perguntando qual equipamento mais sentiam falta, as respostas mais ditas foram as de equipamentos relacionados a cultura e áreas de lazer, tanto para adultos quanto para crianças, como centro cultural, bibliotecas, parquinho, e um resultado surpreendente, foi a lixeira apontada como equipamento que faz falta.

QUAIS LUGARES VOCÊ USA PARA DESCONSTRAIR?

Gráfico 17: Lugares para Descontrair Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário. SUGESTÕES PARA MELHORIAS No final do questionário foi pedido que todos os participantes dessem sugestões de melhorias para o bairro, e foi nítida a insatisfação dos moradores em relação as ocupações que ocorreram na antiga praça do Jardim Celeste, foram feitas sugestões de realocação das pessoas para que se aproprie novamente do espaço e crie espaços de usos comuns. Outros apontamentos foram em relação a iluminação insuficiente, e a quantidade de entulhos na rua.

Gráfico 18: Sugestões para Melhorias Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente com base em dados respondidos no questionário. Iluminação Ponto de ônibus Realocação da ocupação da praça Parquinho para crianças Limpeza / lixo Criação de pontos de lazer e cultura Segurança / posto policial Transporte Saúde Manutenção Área verde

SEGUNDA ETAPA

O maior instrumento deste trabalho foi o real processo participativo. É imprescindível a compreensão de que o principal meio para viabilização de um projeto sob uma perspectiva de gênero é a escuta, logo, a segunda etapa foi uma oficina presencial com as moradoras, as verdadeiras usuárias daquele espaço.

Figura 17: Convite para oficina. Fonte: Elaborado por Aline Araújo e Victória Vicente. Fotografia12: Dinâmica Fonte: Foto de Victória Vicente.

A primeira atividade da oficina foi o preenchimento de uma ficha para a compreensão dos trajetos diários de cada mulher. Nessa ficha eram solicitadas informações sobre os deslocamentos e as tarefas cotidianas das participantes, como por exemplo, horários, modais de transportes, e espaços públicos que frequentavam.

Fotografia13: Dinâmica Fonte: Foto de Victória Vicente.

A partir dela foi possível elaborar mapas com as distâncias reais percorridas por essas mulheres, e ver o quanto elas se locomovem na cidade, cada uma a sua rotina, umas apenas no bairro, outras no Centro, a sua maneira cada uma vai se descolocando por toda São Paulo.

Fotografia 13: Dinâmica Fonte: Foto de Débora Sanches.

Fotografia 14: Dinâmica Fonte: Foto de Débora Sanches.

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