MOSTRA Vテ好EO NAS ALDEIAS
um olhar indテュgena VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION THROUGH INDIAN EYES
VÍDEO NAS ALDEIAS Mari Corrêa (diretora), Vincent Carelli (diretor), Altair Paixão, Carlos Alberto Ricardo, Henri Arraes Gervaiseau, Lucila Meirelles, Nietta Lindenberg, Renato Gavazzi, Sérgio Bloch, Vera Olinda Sena. REALIZADORES INDÍGENAS
Durvalino Chagas (Piratapuia), Edimar Cordeiro (Piratapuia), Leonardo Ferraz (Tukano), Roberto dos Santos Ferreira (Baré), Takumã (Kuikuro), Amuneri (Kuikuro), Marica (Kuikuro), Asusu (Kuikuro), Maluki (Kuikuro), Jairão (Kuikuro), Kimiapoprin (Panará), Paturi (Panará), Caimi Waiassé (Xavante), Jorge Protodi (Xavante), Divino Tserewahú (Xavante), Kumaré Txicão (Ikpeng), Natuyu Txicão (Ikpeng), Karané Txicão (Ikpeng), Isaac (Ashaninka), Valdete Pinhanta (Ashaninka), Jaime Lullu (Manchineri), Maru (Kaxinawá), Araduwa (Waimiri), Iawusu (Waimiri), Kabaha (Waimiri), Sawá (Waimiri), Wamé (Atroari), Sanapyty (Atroari), Winti (Suyá), (Makuxi), (Yanomami), Aldaiso Vinya (Yawanawá), Paulo (Yawanawá) COORDENAÇÃO DA MOSTRA
Mari Corrêa, Sérgio Bloch, Vincent Carelli PRODUÇÃO
Guilherme Whitaker ASSISTENTE DE COORDENAÇÃO
Olívia Sabino ASSISTENTES DE PRODUÇÃO
Joana Carelli, Marcilene da Silva, Rafael Fonseca, Poliana Paiva e Bárbara Lito TEXTOS
Jean-Claude Bernadet, Isaac Pinhanta, Vincent Carelli, Mari Corrêa, Ruben Caixeta, Ivana Bentes, Nietta Lindenberg, Ailton Krenak OFICINA DE VÍDEO
Leonardo Sette e Mari Corrêa TRADUÇÃO PARA O INGLÊS
Sarah Bailey, Lucia Duncan, Gregoire Debailly, Roman Matz AGRADECIMENTOS
Betty Formaggini, Bia Saldanha, Dora Nascimento, Kristian Bengtson, Zita Carvalhosa, Patrícia Monte Mor, Kleber Mattos, Suzana Grillo, Cláudio Romero, Luis Augusto de Azevedo, Vera Olinda Sena, Nietta Lindenberg, Elizabeth Weatherford, Carlos Alberto Ricardo, Dominique Dreyfus, André Villas Boas, Carlos Fausto, Bruna Franchetto, Elisabeth Forseth, Lars Lavold, Henri Arraes Gervaiseau, Rita Boccato
BANCO DO BRASIL apresenta
MOSTRA Vテ好EO NAS ALDEIAS
um olhar indテュgena VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION THROUGH INDIAN EYES
20 a 25 de abril de 2004
A
Noruega é um dos poucos doadores bilaterais que tem
Norway is one of the few bilateral donors,
um programa específico de apoio aos povos indígenas.
which has a specific program of support to
Esse apoio tem como base a convenção ILO 169 das Nações Unidas e busca não só o reconhecimento dos direitos dos
indigenous peoples. This support is based on the ILO 169 convention of the United Nations, and promotes not only the
povos indígenas, como também dar condições para que estes
recognition of the indigenous people's rights,
povos tenham a possibilidade de articular e promover seus
but also the conditions for these people to
próprios interesses.
promote and articulate their own interests.
O programa norueguês para povos indígenas foi estabelecido por meio de um decreto parlamentar em 1983 e é administrado pela NORAD – Agência de Desenvolvimento e Coope-
The Norwegian program for indigenous peoples was established by means of a parliamentary decree in 1983 and is managed by NORAD – Norwegian Agency for
ração Internacional da Noruega. No Brasil, a NORAD apóia
Development Co-operation. In Brazil, NORAD
organizações indígenas e indigenistas. O fortalecimento do
supports indigenous organizations and people.
movimento indígena é prioridade para a NORAD que busca,
The strengthening of the indigenous
portanto, fornecer um apoio institucional para ONGs que te-
movement is a priority for NORAD; thus
nham compromisso absoluto com a causa. O projeto "Vídeo nas Aldeias" vem recebendo apoio da NORAD desde 1995. Tem como objetivo principal apoiar, por meio de recursos audiovisuais, as comunidades indígenas em
NORAD's main focus is to provide institutional support to indigenous associations and NGO's, in order for these to stand a chance of securing their development. The project "Vídeo nas Aldeias" (Video in
sua luta para preservar sua cultura e identidade. O trabalho
the Villages) has been receiving support from
também ajuda a divulgar a imagem e as condições de vida
NORAD since 1995. Its main objective is to
dos índios tanto nacional, como internacionalmente. Ao for-
support, by means of audio-visual resources, the indigenous communities in their quest to
mar realizadores indígenas, uma troca intercultural acontece
preserve their culture and identity. By
tanto entre as comunidades indígenas, quanto entre as não-
forming Indian video producers, an
indígenas no Brasil e no exterior, pois os filmes são feitos da
intercultural exchange occurs between
maneira deles, em suas próprias línguas, o que os tornam um
indigenous and non-indigenous communities
tesouro extraordinário. A qualidade das produções, o compromisso com o movi-
in Brazil and abroad, spreading information about the Indians and their living conditions. What makes these videos different, and an
mento indígena e a experiência adquirida pelos anos de tra-
extraordinary treasure, is that the Indians
balho com dezenas de tribos no Brasil, faz do "Vídeo nas
produce them in their own way, in their own
Aldeias" um dos parceiros mais estáveis e estratégicos da
language, and with the emphasis that they
NORAD no apoio aos direitos dos povos indígenas no Brasil.
themselves have chosen. The quality of the videos produced, the
Kristian Bengtson A S S E S S O R PA R A A S S U N T O S I N D Í G E N A S EMBAIXADA DA NORUEGA EM BRASÍLIA
commitment with the indigenous cause, and the experience acquired by the years of work with numerous tribes in Brazil: all this and more makes "Vídeo nas Aldeias" one of the most stable and strategic partners in NORAD's support to the indigenous movement in Brazil. KRISTIAN BENGTSON ADVISER FOR INDIGENOUS ISSUES E M B A S S Y O F N O R WAY I N B R A S I L I A
A
o comemorar seus quinze anos com pleno respeito à
Celebrating its fifteen years of full respect for
diversidade cultural, o Centro Cultural Banco do Brasil
cultural diversity, the Banco do Brazil Cultural
apresenta Vídeo nas Aldeias: um olhar indígena, uma oportunidade para que outras comunidades que habitam o Brasil conheçam diferentes modos de vida que integram a nossa realidade. A mostra acontece em momento propício. Está aumentando a população indígena no País. Estima-se que haja 400 mil pessoas vivendo em 614 terras indígenas. Antes de 1970, supunha-se que o desaparecimento fosse inevitável,
Center presents Video in the Villages: through Indian eyes, an opportunity for others Brazilians communities to discover different cultures and ways of life that are part of our reality. The exhibition happens at a favorable time. There is an increase of the indigenous population in the country. One estimates the population up to 400,000 people living in 614 Indian territories. Before 1970, one was expecting that its disappearance would be
mas, nos anos 1980, houve uma reversão da curva demo-
inescapable, but in the 80ties one attended to
gráfica e passou a ocorrer um crescimento anual constante
an inversion of the demographic curve and the
de cerca de 3,5%.
new trend is a 3.5% constant annual growth.
Premiados internacionalmente, muitos dos documentários trazem a imagem do índio feita pelo índio. Eles são fruto da iniciativa da organização não-governamental de
Internationally awarded, most of these documentaries show images of Indians made by Indians themselves. They are the result of a non-governmental initiative whom the exhibition
mesmo nome do ciclo, que, há 16 anos, procura ajudar gru-
carries the name. Since sixteen years, this NGO
pos indígenas, gravando o dia-a-dia nas aldeias e formando
seeks to help Indian nations by registering
realizadores. Trajetória, problemas, lutas e conquistas são
everyday life in the villages and training
temas dos roteiros.
directors. Trajectories, problems, struggles and
A história das sociedades indígenas está mudando de
victories are the themes of these films. The history of Indigenous communities is
rumo. Com direitos garantidos por leis, elas se organizam
taking another path. With rights guaranteed by
para demarcar terras e preservar a cultura. Participando do
the law, they are getting organized to obtain
processo à sua maneira, o Banco do Brasil, que abre tam-
the demarcation of their lands and preserve
bém as exposições Ticuna – Pinturas da Floresta e Yano-
their culture. Taking part of this process in its
mami, o espirito da floresta, contribui para a difusão de todas as culturas, prova de seu apreço por todas as etnias.
way Banco do Brasil, that also presents Ticuna – paintings of the forest and Yanomami, the spirit of the forest, contributes to the diffusion of all cultures, showing its valorization of all
Centro Cultural Banco do Brasil
ethnic groups. Banco do Brasil Cultural Center
índice | contents Vídeo nas aldeias, o documentário e a alteridade
8
VIDEO IN THE VILLAGES, DOCUMENTARY AND “OTHERNESS”
Jean-Claude Bernadet
Você vê o mundo do outro e olha para o seu
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YOU SEE THE WORLD OF THE OTHER AND YOU LOOK AT YOUR OWN
Isaac Pinhanta
Moi, un Indien
21
MOI, UN INDIEN
Vincent Carelli
Vídeo das Aldeias
33
VIDEO FROM THE VILLAGES
Mari Corrêa
Política, estética e ética no projeto Vídeo nas Aldeias
40
POLITICS, AESTHETICS AND ETHICS IN THE PROJECT VIDEO IN THE VILLAGES
Ruben Caixeta de Queiroz
“Câmera muy very good pra mim trabalhar”
51
“CAMERA VERY GOOD FOR ME TO WORK”
Ivana Bentes
A formação dos realizadores indígenas
64
THE TRAINING OF NATIVE FILM-MAKERS
Nietta Lindenberg Monte
Cinema de índio
72
INDIAN CINEMA
Ailton Krenak
Realizadores indígenas
73
NATIVE VIDEOMAKERS
Vídeo nas aldeias
97
VIDEO IN THE VILLAGES
Rituais e mitos
106
RITUALS AND MYTHS
Xamanismo
108
XAMANISM
Conflitos
112
CONFLICTS
Projetos amazônicos
115
AMAZONIAN PROJECTS
Índios no Brasil
118
INDIANS IN BRAZIL
Índio na TV INDIAN ON TV
129
Vídeo nas aldeias, o documentário e a alteridade JEAN-CLAUDE BERNARDET
Crítico de cinema e roteirista Cinema critic and script writer
E
m “Um dia na aldeia”, um homem pesca uma traíra. A câmera mostra o peixe dentro da água, a lança o
Vídeo nas aldeias, documentary and “otherness”
atinge, a câmera segue o movimento do pescador que traz a presa para a margem. Num outro plano, um menino caça um gafanhoto. Ele
in the river. The camera shows the fish in the
está num barco, a câmera também. Delicadamente ele
water, the arrow striking. It captures the
aproxima o barco da margem, deposita o remo, estica o
fisherman's movement as he brings his
braço em direção ao inseto, o pega, volta à sua posição inicial e mostra a presa. A câmera acompanha os movimentos do menino, corrige em direção ao gafanhoto e volta à sua posição.
prey to the bank. On another shot, a boy tries to catch a grasshopper. He is in a boat, as is the camera. Meticulously he steers the boat to the bank, puts down the oar, extends his arm towards the
Vistos no quadro do seminário Formação do Olhar de
insect, captures it, returns to his initial position
2003 em São Paulo, estes planos me encantaram. O que
and shows his prey. The camera accompanies the
eles têm de tão especial? Há uma relação íntima entre a
boy's motions, adjusts to the grasshopper and
câmera e a pessoa filmada. A câmera tem que seguir os
returns to its position.
movimentos do menino, ela também tem que se movi-
Seen in the context of the Training the Eye
mentar delicadamente para não afugentar o gafanhoto,
seminar (Formação do Olhar) in São Paulo in 2003,
tem que seguir o movimento do pescador que retira a traíra do igarapé. Essa observação atenciosa dos gestos das pessoas, esse respeito à situação em que elas se en-
these shots enchanted me. What´s so special about them? There is an intimate relationship between camera and the person filmed. The camera has to follow the boy's actions; it also
contram é algo que me parece ter sumido totalmente, ou
has to move delicately so as not to startle the
quase, do cinema documentário brasileiro. Este, grande-
grasshopper, it has to follow the fisherman's
mente dominado pelo método de entrevista, tende a se
movement as he pulls the fish from the stream.
limitar a colocar a câmera diante da pessoa que fala em
This close attention to people's gestures, this
resposta a perguntas feitas por um entrevistador. Dessa
respect for their situation is something that seems
forma privilegia-se a fala motivada pela filmagem e descar-
to me to have totally – or virtually – disappeared
tam-se quase que automaticamente as situações que não se enquadram no sistema de entrevista, ou seja, as pessoas no seu cotidiano. E a câmera, posicionada diante do falante, não tem que ficar atenta aos seus gestos, já que o que
8
In “A day in the village” a man catches a fish
from Brazilian documentary filmmaking. Greatly dominated by the interview method, the tendency in this field is currently limited to the placing of the camera in front of the person who answers questions made by an interviewer. In this way,
importa é sua fala. Ao contrário, uma observação afetuosa
speech motivated by the filming is what is
e cuidadosa marca todos os filmes produzidos por Vídeo nas
prioritized and almost automatically situations
Aldeias. Temos muito que aprender com eles.
that do not fit into the framework of the interview
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
Essa observação atenta das pessoas em suas situações
are discarded; in other words, people in their daily
corriqueiras não exclui a fala. Um registro de fala, que qua-
lives. And the camera, positioned before the
se sumiu do nosso documentário atual, é aquele em que
speaker, has no need to pay attention to his/her
as pessoas filmadas falam entre si. Mas estes filmes não
gestures, since what is important is what he/she
excluem a fala dirigida à câmera, ao contrário. Freqüentemente as pessoas comentam o que estão fazendo, um menino explica como costuma matar os peixes pescados,
is saying. By contrast affectionate and careful observation characterises all the films produced by Video in the Villagesarn from them. This close observation of people in their day-
uma mulher, como e por que trança uma determinada es-
to-day situations does not exclude speech.
teira. Qual é o interlocutor dessa fala dirigida à câmera?
A register of speech, that has almost disappeared
Os filmes produzidos por Vídeo nas Aldeias circulam entre
from our present day documentary, is one in which
as aldeias e os interlocutores são moradores de outras
the people filmed talk amongst themselves.
aldeias. O viajante que chega a um lugar que não aquele
But these films do not exclude speech directed at
onde mora e toma conhecimento de como é a vida neste
the camera; to the contrary. People frequently
lugar, e que ao mesmo tempo conta como é a vida na sua
comment on what they are doing, a boy explains
aldeia, agora, além da sua fala, pode se valer do vídeo, que funciona como um canal de troca de informações e também de sentimentos. Num filme um xavante recebe
how he usually kills the fish he catches, a woman how she weaves a certain mat. Who is the interlocutor of this speech directed at the camera? The films produced by Video in the
cinegrafistas de outra aldeia: “Sabíamos que vocês viriam
Villages circulate among the villages and the
filmar, por isso ficamos felizes, sejam bem-vindos”. O ví-
interlocutors are residents of other villages. The
deo como carta. Esse caráter missivista do vídeo é assu-
traveler that arrives somewhere other than his/her
mido claramente em “Das crianças Ikpeng para o mundo”,
place of origin discovers life in that new place,
sendo que o mundo começa nas outras aldeias: as crian-
and at the same time tells how life is in their
ças se deixam filmar para mostrar a outras crianças como
village, now, beyond speech, he can use video
vivem. Carta pede resposta. As crianças deste filme pedem
which works as a channel of exchange of
explicitamente que as crianças que virem este vídeo lhes respondam informando-as sobre sua vida.
information and also of feelings. In a film a Xavante tribesman receives cameramen from another village: “We knew that you would come
A fala, mesmo quando dirigida à câmera, nunca é ex-
and film, and so we are glad, and welcome you”.
plicativa ou analítica, ela é sobretudo descritiva. Mesmo
The video as a letter; this missive nature of the
em filmes que apresentam rituais, como “Iniciação do jo-
video is clearly adopted in “From the Ikpeng
vem Xavante” ou “O poder do sonho”, os índios descrevem
children to the world”, the world beginning in
as práticas e as várias fases das cerimônias, e quando
the other villages: the children allow themselves
explicam será conforme o seu imaginário. Nestes filmes o
to be filmed to show other children how they live.
discurso antropológico ou etnográfico não tem lugar.
Letters ask for replies. The children in this film
As imagens, os enquadramentos, os movimentos de câmera indicam que os jovens que participam das oficinas estão sendo treinados para aprender e utilizar uma linguagem. Não basta ligar a câmera diante de alguma coi-
explicitly ask the children that watch this video to answer them with information about their lives. Speech, even when directed at the camera, is never explanatory or analytical; it is above all descriptive. Even in films that present rituals,
sa. Importa o tamanho do plano mais aberto ou mais
such as “The Xavante´s initiation” or “The power
fechado, importa o ângulo. Uma questão que sempre se
of the dream”, the Indians describe the practices
coloca nas oficinas que iniciam jovens à linguagem au-
and the various phases of the ceremonies, and
diovisual é a montagem. De fato, passar da gravação das
when they explain, it is according to their
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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imagens à sua edição, implica passar para um equipa-
imagination. In these films there is no space for
mento mais sofisticado, de manejo mais complexo. Nunca
anthropological or ethnographical discourse.
se sabe muito bem qual é a participação dos monitores
The images, the framing, the camera
na edição. Vídeo nas Aldeias tem uma posição clara a este respeito. A edição de alguns vídeos é explicitamente assinada por um monitor, em outros casos o nome do monitor é associado ao de participantes das oficinas. Neste
take part in the workshops are being trained to learn and use a language. It is not enough to switch on the camera in front of something. What is important is the size of the most open
sentido um plano de “No tempo das chuvas” é importan-
or closed shot, the angle. An issue that is always
te, por mostrar uma sessão de edição em que um jovem
posed in the workshops that provide the young
está aprendendo a usar o teclado de um computador sob
people’s initiation to audiovisual language is
a orientação de uma monitora, que lhe diz que foi esco-
editing. In reality, moving from the shooting
lhido o início de determinado plano, mas que agora ele
of the images to their editing, implies moving
tem que decidir em que ponto terminará este plano. Os
on to more sophisticated equipment, one of more
monitores de Vídeo nas Aldeias não assumem uma posi-
complex manipulation. One never knows exactly
ção ingênua, conforme a qual bastaria colocar uma câmera nas mãos de alguém para que consiga retratar a sua vida, é necessário aprender a usar o equipamento e conhe-
what the participation of the trainers is in the editing. Video in the Villages has a clear stance in this respect. The credits for the editing of some videos explicitly name the relevant trainer; in
cer a linguagem. “Iniciação do jovem Xavante” explicita
other cases the trainer’s name is associated with
a postura assumida quando fala de “formação de docu-
those of participants in the workshops. In this
mentaristas indígenas”.
sense a given shot in “The rainy season” is
Esses filmes se inscrevem na temática do “outro”. O
important, for showing an editing session in
“outro” é uma preocupação recorrente no cinema docu-
which a youth is learning to use a computer
mentário das últimas décadas, desde o cinema direto e o
keyboard under the supervision of a trainer, who
cinema verdade. O “outro” filmado, o “outro” se filmando.
tells him that the beginning of a certain shot
Sempre tive a convicção de que este “outro” no documentário e em geral nas filosofias da alteridade não passava da falsa solução de um problema mal equacionado. O
had been chosen, but that now he has to decide at which point this shot will end. Video in the Villages trainers do not adopt an ingenuous position in which it would suffice to place a
“outro” é sempre designado por um sujeito, que, para fazer
camera in someone’s hands in order to portray
uso desse pronome, tem que se afirmar como sujeito,
their life. It is necessary to learn to use the
como lugar da fala, como lugar de onde parte a visão. Ora,
equipment and know the language. In “The
a afirmação desse sujeito como centro é a própria negação
Xavante´s initiation”, the approach adopted is
do “outro”, do reconhecimento da sua existência, porque
made explicit when the “training of indigenous
o nega como lugar de onde possam partir a fala e a visão.
documentary makers” is referred to.
Acredito que a filosofia da alteridade só começa quando o sujeito que emprega a palavra “outro” aceita ser ele mesmo um “outro” se o centro se deslocar, aceita ser um “outro” para o “outro”. Como sabemos, o trabalho das oficinas Vídeo nas Al-
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movements indicate that the young people who
These films are included in the theme of the “other”. The “other” has been a recurrent concern in documentary filmmaking over recent decades, since “direct cinema” and “cinema verité”. The “other” filmed, the “other” filming themselves. I was always convinced that this “other” in the
deias prevê que os vídeos circulem em diversas aldeias e
documentary and in general in philosophies of
que membros de uma aldeia filmem em outras. “Iniciação
“otherness” was no more than a false solution to
do jovem Xavante” descreve a festa da furação de orelha
a badly defined problem. The “other” is always
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
na aldeia Sangradouro, filmada por cinegrafistas desta al-
designated by a subject, that, to use this
deia bem como por cinegrafistas convidados da aldeia
pronoun, has to affirm her/himself as a subject,
Pimentel Barbosa. Um cinegrafista de Sangradouro expli-
as a place of speech, as a place from which the
ca a necessidade dessa filmagem com a seguinte frase dita
view originates. And, the affirmation of this
em português: “Tem que mostrar a cultura de outro para outro, para ele reconhecer como que é a festa dele, como que é a cultura, a língua... né?”. Uma tal afirmação – mos-
subject as the center is the very denial of the “other”, of the recognition of their existence, because it denies them as the origin of speech and sight. I believe that the philosophy of
trar a cultura de outro para outro – implica que o cine-
“otherness” only begins when the subject that
grafista Winti Suyá não só vê Pimentel Barbosa a partir do
applies the word “other” accepts being he/herself
centro que é Sangradouro, onde se realiza a festa e será
an “other” if the center is shifted, he/she
feita a filmagem, como, simultaneamente, vê a si mesmo
accepts being an “other” for the “other”.
e à sua aldeia como “outro” a partir do centro que é Pimentel Barbosa. Isso é realmente uma filosofia da alteridade.
As we know, the work in the Video in the Villages workshops predicts that the videos circulate in a number of villages and that members of a given village film in others. “The Xavante´s initiation” describes the ear-piercing festival in Sangradouro village, filmed by cameramen from this village, in addition to cameramen invited from Pimentel Barbosa village. A cameraman from Sangradouro explains the need for this shoot with the following phrase in Portuguese: “We have to show another culture to others, so they can recognize their own festival, culture, language... right?” Such a statement – show another culture to others – implies that the cameraman Winti Suyá not only sees Pimentel Barbosa from the center, which is Sangradouro, where the festival takes place and will be filmed, but simultaneously, sees himself and his village as the “other” from the center or focus which is Pimentel Barbosa. This is truly a philosophy of “otherness”.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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Você vê o mundo do outro e olha para o seu ISAAC PINHANTA
Professor e realizador Ashaninka Ashaninka teacher and film-maker
F
ui o primeiro professor da minha aldeia. Eu estudei na cidade um ano e daí fui para o projeto da Comissão
You see the world of the other and you look at your own
Pró-índio1. A partir de 93, comecei a trabalhar com educação bilíngüe, alfabetizando em minha língua mesmo, a
I was the first teacher in my village. I studied
língua materna, que é a língua Ashaninka. Só era eu como
in the city for one year and then participated
professor na minha aldeia e também foi todo o início da
in a project run by the Comissão Pró-Índio1.
organização, da criação da associação, da cooperativa…
In 1993, I began working with bilingual
Foi através da Comissão Pró-Indio, em 1998, que conhece-
education, teaching in my native language,
mos o Vídeo nas Aldeias. O curso era lá em Rio Branco
the mother tongue, which is the Ashaninka
mesmo. A gente ia até a cidade e pegava algumas imagens
language. I was the only teacher in my village
dos índios que viviam lá. Foi um curso pequeno, para quatro professores: Marú Kaxinawá, Jaime Lullu Manchineri, Aldaíso Yawanawá e eu. Fizemos a edição de um vídeo, que é o “Pega não pega”, sobre DST.
and this was the beginning of our organization, the start of the association, the cooperative... In 1998, the Comissão Pró-Índio brought us in contact with Video nas Aldeias (Video in the Villages). The workshop was in Rio Branco. We would go to the city and film the Indians
PRIMEIRA OFICINA NA ALDEIA
that lived there. It was a short workshop
Em 1999, teve uma oficina na minha aldeia, foi quando
for four teachers: Maru Kaxinawa, Jaime Lullu
a comunidade toda também participou. Foi o nosso primei-
Manchineri, Aldaiso Yawanawa and myself.
ro trabalho de vídeo. Tinha um Katuquina, um Kaxinawá,
We edited a video about STDs, called
um Manchineri, um Kulina, um Kanamari e três da nossa
“Pega não Pega”2.
aldeia Ashaninka. Antes, a gente teve uma reunião com todo mundo sobre o que a gente queria fazer. A gente falou assim: “Olha, se vocês não querem vídeo, a gente tira” e as pessoas diziam “Não, a gente quer”. A comunidade continuou a sua
The first workshop in the village In 1999, a workshop was held in my village and that was when the entire community participated. It was our first time working with video in the community. There was one participant from each
vida normal. Quando começou a oficina, a gente partiu
of the Katuquina, Kaxinawa, Manchineri, Kulina,
para o campo, para pegar as imagens. Fizemos o primeiro
and Kanamari tribes, and three participants
exercício e depois sentamos, todos os alunos, e assisti-
from our Ashaninka village.
mos. Um vê o que outro faz e pode dizer “essa imagem tá boa, essa não tá boa”. Quando a gente já trabalhou um
Before the workshop, we held a meeting with everyone to discuss what we wanted to do.
pouco a imagem, a gente começa a trabalhar o conteúdo. 1. Programa de formação de professores indígenas, realizado pela Comissão Pró-Indio do Acre.
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MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
1. The Indian Commission of Acre runs a program to train indigenous teachers. 2. “How to catch it, how not to catch it”
Aí os alunos já começam a discutir o que eles querem fil-
We said: “Look, if you don’t want video, we’ll get
mar, o que eles querem mostrar naquele filme.
rid of it.” And the people said: “No, we want to
No caso do “No tempo das chuvas”, fomos mostrar algumas atividades que acompanham o tempo das chuvas. Pegamos o meu pai e mais dois velhos da aldeia, para eles contarem o que acontece nessa época. Eles contaram a história todinha: “Olha, no tempo das chuvas, a gente faz
watch.” And so, life in the community continued as usual. When the workshop began, we set out to collect images. We did the first exercise and then all the students sat and watched. One sees what the other does and says: “Look, this shot is good, that one’s not”. When our technique had
isso, a gente não faz aquilo”. Ele falou que a gente tem
improved some, we began to work on the
que criar galinha porque às vezes cai uma chuva grossa e
content. At this point, the students began
não pode caçar, a gente mata uma galinha, come o ovo
to discuss what they wanted to film and
dela. Aí meu pai falou: “O tempo das chuvas ninguém
what they wanted to show through the film.
manda nele, quem manda é outra coisa maior, que é
In the video “In the rainy season”, we
Pawa, ele é quem manda. Por isso a gente tem que res-
wanted to show some of the activities that
peitar e tem que se organizar nós na terra.” A gente viu
happen during the rainy season. We asked my
que o depoimento deles dava para contar uma história. Então fomos pegar essas imagens que eles falaram, a gente foi para o campo e foi pegando. As pessoas são
father and the two elders of the village to tell us what happens during that season. They told the entire story: “Look, during the rainy season we do this and we don’t do that.” They said that
muito divertidas, elas lá brincando, contando histórias,
we need to raise chickens because sometimes a
fazendo seu trabalho no dia-a dia. Demorou muito tempo,
heavy rain falls and we can’t hunt, so we kill a
porque a gente não sabia mexer bem com zoom, fazer o
chicken and eat her eggs. Then my father said:
foco direito. Muitas das fitas não serviam para nada,
“No person can control the rainy season,
porque a imagem não dava para aproveitar. A gente vol-
something greater, Pawa, holds this power.”
tava e ia analisar como estava. Então foi assim, o que
Because of this we must be respectful and
construiu o filme mesmo foi o depoimento dos velhos,
organize ourselves here on earth.” We saw that their statements could be used to tell a story.
mas foi a gente que escolheu o tema. Quando a gente começou a assistir as imagens que fizemos na aldeia, me chamou a atenção a importância desse
So we filmed the scenes they had described, we went to work filming. The people are very fun – playing, telling stories, doing their day-to-day
trabalho, de descobrir coisas que estavam no meu povo ali
work. It took a long time because we didn’t
e que muita vezes eu não via no dia-a-dia. Como a gente
know how to use the zoom or how to focus
já era professor, já tinha esse trabalho de refletir sobre a
well. Many of the tapes were useless because
organização, de trabalhar a questão da cultura, da língua.
we couldn’t use any of the footage. We went
Eu comecei a observar e a me interessar também.
back and analyzed all the footage. So, this
A verdade é que quem tinha essa visão de não querer entrar nessas coisas de vídeo era eu que, como professor, estava fazendo um trabalho de fortalecimento da cultura e da identidade. Quando chegou a tv da prefeitura e a antena parabólica eu já cortei, eu não queria que de repente
is how it went, the film was constructed around the elders’ statements, but we had chosen the topic. When we began to watch the footage, I was struck by the importance of this work, of discovering things about my people that I often
o governo chegasse e implantasse isso na aldeia. Mas
overlooked in day-to-day life. Since we were
para a comunidade era uma novidade, as pessoas ficavam
already teachers, we already had the responsibility
vendo a tv, assistindo a novela... assistindo essa coisas.
of thinking about the way in which we organize
Isso foi antes da gente ter contato com o Vídeo nas
ourselves and our work, culture, and language.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
13
Aldeias. Quando chegou o vídeo lá, chegou alguma coisa
I began to observe and to become more
que pôde substituir isso. Agora a gente pode trabalhar
interested as well.
com a nossa própria imagem e com a imagem de outros
The truth is that I was the one who had not
povos. A aldeia inteira vinha assistir a sua imagem, as
wanted to get involved with video because, as a
coisas que eles mesmos tinham falado. Acontecia de você ir filmar as pessoas e algumas se esconderem, correrem. Eu falei “quando for filmar alguém e aquela pessoa fugir,
teacher, I was working to strengthen the culture and identity of my people. When the municipal government installed a TV channel and antenna in the village, I cut them off. I didn’t want the
a gente não vai correr atrás dela não, a gente deixa”.
government to come and install this in the
Algumas pessoas não queriam mostrar a sua imagem, mas
village. But, for the community, it was a novelty.
queriam assistir. Tem branco também que não quer ser
The people watched TV, soap operas... they
filmado, você bota a câmera nele e ele se esconde.
watched these things. That was before we had
As pessoas da aldeia gostam de assistir os vídeos de
contact with Video in the Villages. When video
outros povos. Mas o trabalho dos Ikpeng2, que estão to-
arrived, it was something that could substitute
dos pelados, as pessoas não queriam assistir não, algu-
TV. We could interact with images of ourselves
mas pessoas saiam, porque meu povo sempre usou roupa tradicional. Depois a gente foi entendendo, porque vimos mais de quinze povos diferentes nos vídeos e cada um
and the people of other tribes. The entire village came to see themselves and hear the things they said. You’d film people and some would run away and hide. I said: “When we film someone and
tinha uma maneira dentro da sua cultura. Os Ikpeng ti-
they run away, we’re not going to run after them.
nham uma cultura muito forte. Outros não tinham mais
We let them go”. Some people didn’t want their
nada da cultura deles mesmo. Então, o pessoal começou
image to be seen and others wanted to see their
a analisar também isso: aquele que já não tem mais nada,
images. There are White people also who don’t
aquele tem um pouco, aquele que já esta perdendo. E nós?
like to be filmed – you put a camera in front
A comunidade, quando via a sua imagem na televisão, queria olhar mais. Foi muito interessante. Na aldeia mesmo a gente fez a edição e a tradução das falas para legendar o vídeo. A gente trabalhou uns vinte dias, eu acho. Foi muito tempo porque tinha muita coisa que aprender durante o curso. A gente terminou o resto fora da aldeia, em São Paulo.
of them and they hide as well. The people in my village like to watch videos made by other indigenous peoples. But they didn’t want to see the video made by the Ikpeng, in which everyone is nude3. Some people left, because in my tribe we have always used traditional clothing. Later, after seeing more than 15 different tribes in the videos, each with a
Lá o Bebito3 fez o produto final do trabalho. Quando a
different culture, we began to understand. The
gente assistiu o vídeo pronto lá na aldeia, “No tempo das
Ikpeng had a very strong culture. Others had
chuvas”, o pessoal começou a se envolver. Foi interes-
nothing left of their own culture. So, we began
sante se ver no vídeo porque surgiu aquela questão da
analyzing this as well: tribes that have none of
festa, da música não ser a nossa. Aquilo já é de outro po-
their culture, tribes that have some, and tribes
vo, vem do contato com outra sociedade. Aí eu comecei a perceber que o vídeo podia servir para discutir a nossa cultura, organizar a escola, pensar em todo nosso sis-
that are beginning to lose their culture. And us? When the people first saw themselves on TV, they wanted to see more. It was really interesting. We edited and translated peoples’ speaking in order to make subtitles for the video
2. “Moyngo, o sonho de Maragareum” realizado por Karané, Natuyu e Kumaré Ikpeng. 3. Bebito – apelido de Valdete – é irmão de Isaac, também professor e realizador na sua aldeia.
14
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
3. This video, entitled “Moyngo, o sonho e Maragareum”, was made by Karané, Natuyu and Kumaré Ikpeng.
tema de vida. Por mais que o povo fale sua própria lín-
while we were in the village itself. We worked
gua, tenha a cultura forte, tem algo de fora que também
for about 20 days I think. It was a long time
está entrando ali e a gente não está nem percebendo.
because there was a lot to learn during the
Então o vídeo serviu muito nas discussões com a comu-
workshop. We finished the rest of the video
nidade, por exemplo, para que usar o gravador, para que serve a tv. Foram discussões grandes.
outside of the village, in São Paulo. That’s where Bebito4 worked on the final version. When we saw the finished version of “In the rainy season” in the village, people began to get involved.
A SEGUNDA OFICINA
It was interesting to see yourself in the video
Na segunda oficina, a comunidade já estava mais preparada,
because this raised the issue of the party and the
mais acostumada com pessoas andando com câmera na
music not being ours. These come from another
aldeia. A gente pegou o dia-a dia de quatro pessoas. Daí
people and are the result of contact with another
saiu um vídeo do Bebito só sobre o Shomõtsi e um outro
society. That’s when I began to perceive that
coletivo: “Dançando com cachorro”. No “Shomõtsi” deu
video could help us to discuss our culture,
para a gente ver uma outra coisa importante dentro da
organize our school, and think about our way
nossa cultura, que é a questão da aposentadoria. Ele vai lá na cidade, volta, aquele envolvimento todo lá… Surgiu essa nova discussão, por que aposentar, será que é bom
of life. Even when a person speaks their own language and has a strong culture, there is something from outside that is entering and we aren’t even noticing this. So video was valuable
se aposentar... As pessoas começaram a discutir e a par-
in our discussions with the community about
tir daí surgiu uma outra preocupação, a da relação da al-
questions like, when to use the camera, how
deia com o município4.
to use TV. These were big discussions.
Eu levei “No tempo das chuvas” para o Secretário de Educação de lá. Ele gostou e me pediu para arrumar mais
The second workshop
cópias para mostrar nas escolas do município. Eu expliquei
By the second workshop, the community
para ele um pouco do conteúdo, o queria dizer aquilo, o
was better prepared, more accustomed to people
que a gente fazia. Ele organizou os grupos e saiu mostrando o filme em cada sala de aula. Foi muito importante trabalhar ali perto da nossa aldeia, com as pessoas que
carrying video cameras in the village. We filmed the day-to-day life of four people. Bebito made a video about an elder named Shomotsi and a series: “Dancing with the dog”. In “Shomõtsi” we
discriminavam e ainda discriminam a gente, dizendo “Ah!
saw an important aspect of our society, the issue
pra que eles querem tanta terra, índio é preguiçoso...”
of retirement pensions. Shomotsi goes to the
Eles começaram a ver, através do material didático e
city and returns...It raises issues…and a new
do vídeo que eu dei para o Secretário, que a gente está se
discussion was sparked, why to retire, if this
organizando, está se planejando. Acho que eles gostaram
is good... People began to discuss this and
mais do vídeo, aproveitaram mais, porque o vídeo é uma
also the relationship between the village
coisa que você está vendo ali, está discutindo, todo mun-
and the municipality5.
do está entendendo. O vídeo traz uma coisa muita mais rica, que é você ver a pessoa falando com a sua própria palavra. O material didático é uma coisa mais fechada,
I took “In the rainy season” to the Secretary of Education of the municipality. He liked it and asked me to make copies of it to show in
mais para o professor e para quem sabe ler e escrever. 4. Bebito, Valdete’s nick name, is Isaac’s brother and also a teacher and video-maker in his village. 4. Marechal Taumaturgo é o município mais próximo da aldeia Ashaninka do rio Amônia.
5. Marechal Taumaturgo is the closest municipality to the Ashaninka village on the Amonia River.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
15
Quando eu encontro os professores não indígenas, eles
municipal schools. I explained the content
ficam comentando, querendo saber. Por mais que alguns
to him, what it meant to us, what we do.
estejam bem pertinho da aldeia Ashaninka, eles não co-
He organized screenings and showed the film to
nhecem quem é o Ashaninka, então passa um Ashaninka
all the classes. It was important for this video
lá e ele diz: “Ah! Esse Ashaninka fede, essa roupa velha...” Então quando elem viram a imagem ali, vários professores perguntaram “o que quer dizer aquilo?”. Aí sim eu
to be shown near our village to people who discriminated against us saying, “What do they want all this land for, Indians are lazy...” Through the video, they learned that we are organizing
tenho a oportunidade de explicar, porque eu sei que ele
ourselves and planning for the future. I think
quer entender. “Nosso costume é assim, vocês não tem
they liked the video more and got more out of it
isso porque vocês são diferentes. Mas nós somos assim,
than the educational materials because video is
esse é o nosso valor.”
something that you see and discuss, everyone understands it. Video is more powerful because
V Í D E O : I N S T R U M E N T O PA R A S E D E F E N D E R
No Acre tem povos que já estão com a sua língua quase extinta. Os oitenta e cinco mil hectares do nosso território já estão todos arrodeados com estrada, com tudo. Se a gente não se organizar, arranjar instrumentos para
you see and hear people speaking directly to you in their own words. Educational materials are less accessible, more for the teacher and those who know how to read and write. When I meet non-Indian teachers they comment and ask questions, wanting to know
organizar o pequeno território, a gente vai morrer sem
about us. Despite the fact that some live very
poder se defender. Esse é o grande problema de toda a
close to our village, they don’t know what it
sociedade indígena. E nós temos muitos problemas: tem
means to be Ashaninka. So an Ashaninka walks
o Peru que vem do nosso lado construindo estradas e
by and they say: “Ah! That Ashaninka stinks and
envolvendo os Ashaninka de lá, tem o assentamento do
uses old clothing...” So when they saw the video,
Incra, tem a Reserva Extrativista, enfim, a gente não
many asked: “What does that mean?” And then, I
tem mais para onde correr, então a gente tem que traba-
have the opportunity to explain, because I know
lhar aquele entorno. E os instrumentos que a gente tem de fora, para poder
they want to understand. “This is our custom. You don’t have this because you’re different. But we are like this, this is what makes us unique.”
nos defender e para segurar a nossa cultura são a escrita – ter algumas pessoas que aprendam a dialogar, falar e
Video: instrument of defense
escrever o português – e a câmera, porque você transmite
In Acre there are tribes whose languages are
a sua imagem sem precisar sair todo mundo de lá, sai
almost extinct. The 85 thousand hectares of our
uma pessoa e transmite o que está acontecendo, para as
territory are entirely surrounded by highways.
pessoas te ajudarem, te respeitarem. É daí é que vão sair
If we don’t organize ourselves andfind tools
os nossos aliados não indígenas, as pessoas que vão co-
for organizing this small territory, we will die
meçar a combater esse preconceito.
without being able to defend ourselves. This is
Então nós estamos usando o instrumento com outro sentido, assim da nossa maneira mesmo. E também para ajudar a sociedade a nos conhecer melhor, mas da maneira que a gente pensa, nós aqui e vocês aí. Nós somos
the great challenge facing all indigenous people. We have many problems: the country that borders us, Peru, is building highways and involving the Ashaninka people who live there; the land occupations of INCRA6; the extraction reserve;
desse jeito, nós temos o domínio do nosso conhecimento e seria bom que todas as pessoas daqui para frente comecem a ver isso. É bom a gente ter esse diálogo. Tem
16
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
6. National Institute of Colonization and Agrarian Reform
gente que diz: “Ah! vocês querem ser branco, né?” Todo
we have nowhere else to go, so we must work
o povo hoje domina a tecnologia do japonês, mas o ja-
within these boundaries.
ponês não é brasileiro, nem brasileiro é japonês. É a mes-
And the instruments that we have from
ma coisa, eu não sou Xavante, eu sou Ashaninka, ele é
outside our communities – to help us defend
Xavante. Mas a gente pode se organizar com o mesmo instrumento que o branco usa mas com visual diferente, você vai usar ele de acordo com a sua necessidade, com a sua maneira de pensar.
ourselves and our culture are writing – having some people learn to speak Portuguese – and the video camera – so that you can transmit your image without everyone having to leave the village. One person leaves to help inform people of what is happing in the village so that people
O QUE MOSTRAR E O QUE NÃO MOSTRAR
will help and respect us. That’s how we will win
Quando começamos a trabalhar com o vídeo, a gente co-
non-Indian allies, people who will begin to
meçou a ver que tinha que separar as coisas, por exem-
fight the prejudice against us.
plo, a questão da pajelança, o espiritual. O velho dizia
So we are using the instrument of video in a
“não, isso aqui não pode”, então a gente está começan-
different way, in our own way. We use it also to
do ver o que pode mostrar ou não para o público de uma outra sociedade. Tem os mitos que são sagrados e tem os mitos que qualquer pessoa pode contar. Por exemplo,
help society better understand us, in the way that we think, us here and you there. This is how we are, we have our own knowledge and it would be good if everyone were to begin to see this
o da coca no “Shomõtsi”. O velho conta que é uma coisa
from now on. It is good for us to have this
que Pawa deixou para os Ashaninka usarem. Para nós é
dialogue. There are people who say: “Ah! You’re
até bom divulgar isso pelo vídeo, porque as pessoas que
trying to be white”. Today, everyone uses
estão fora vão entender mais a nossa origem e vão res-
Japanese technology, but the Japanese is not
peitar a gente. Mas tem coisa que é do nosso povo mes-
Brazilian, nor is the Brazilian Japanese. This is
mo, que a gente sabe e não conta. Por isso que é bom
the same. I’m not Xavante, I’m Ashaninka and
o realizador também ser daquele povo porque vai discu-
he’s Xavante. But we can organize ourselves
tir junto com o velho o que ele pode ou não pode divulgar para outra sociedade e para outros povos. A gente aprendeu muito isso através do vídeo. A gente não per-
using the same instrument that white people use, but with a different image and purpose. You use it according to your needs and your way of organizing yourself.
tuba a vida do pajé com a câmera mas ele gosta de assistir os vídeos.
What to show and what not to show
Dentro da aldeia a gente tem trabalhado muito com
When we began to work with video we began to
a questão de outras culturas, para a gente depois olhar
see that we needed to separate things such as
para a nossa. Eu tenho usado o vídeo para toda comu-
shamanism and spiritual issues. The elders said:
nidade, é um sistema para todo mundo olhar, não é um
“No, you can’t film this.” And so we are beginning
sistema formal. Todas as crianças, os jovens... todo mun-
to see what we can and can’t show to outsiders.
do assiste e dá a sua visão, o seu ponto de vista. Uma coisa interessante foi assistir na aldeia aquele vídeo “Segredos da mata”. Nós temos também esses mi-
There are sacred myths and myths that any person can tell. For example, the coca in “Shomõtsi”. The elder tells us that Pawa gave the coca to the Ashaninka to use. For us, it is good to tell this
tos, que ninguém pode sair contando para os jovens. No
story through video, because outsiders will better
vídeo tinha o vampiro, a pessoa corta um pedaço do
understand us and respect us more. But there are
corpo, joga e vira vampiro. O velho falava: “ Ah! Esse
other things that belong to our people, things
vídeo não tem nada a ver com a nossa cultura, isso é
that we know and do not tell. For this reason, it
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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do outro, aí o outro falava: “Ah! Quem tem história de
is good for the film-makers to be from the tribe in
vampiro é Kaxinawá.” Então surgiam vários comen-
which they are filming, because they will discuss
tários, uns riam, outros ficavam mais sérios. As pessoas
with the elders what they can and can’t show to
ali não olham com preconceito. Mas a pessoa ficava
the outside society and to other tribes. We learned
refletindo e dizia “Ah! Nós também temos os nossos sonhos, nossa crença”. Você vê o mundo do outro e olha para o seu. Eu acho que o vídeo também pode ajudar a transmitir
this through video. We do not disturb the shaman’s life with the video camera, but he enjoys watching the videos. Within the village we have discussed other cultures in order for us to then look at our
para o jovem esse conhecimento. Daqui a cinqüenta
own culture. I’ve used video with the entire
anos, você pode mostrar para um jovem e vai ser muito
community, it is a way for everyone to observe,
bom a gente ver a imagem dos nossos velhos que já mor-
it is not a formal system. The kids, youth,
reram há muito tempo. Imagina ver a imagem de um
everyone watches, and everyone gives their
velho contando uma história de maneira tradicional,
vision, from their perspective.
daqui há sessenta anos. Então é bom começar a registrar já. A escrita é uma coisa boa também, você pode registrar. Mas a escrita já não traz tanto, como a imagem. A
Something interesting happened in making “Jungle secrets”. The student and the elder began to discuss: “Son, what is this? No one can see this.” The student said: “We need to see this
imagem traz a pessoa falando lá mesmo, é a pessoa con-
because we have this as well.” We have the same
tando, é aquele velho mesmo que você vê. Então a ima-
myths that nobody can tell to youth. In the
gem é muito bom por causa disso.
video, there is a vampire, a person cuts off a part of the body, throws it, and becomes a vampire.
O V Í D E O PA R A T R O C A R E X P E R I Ê N C I A S
Eu considero que o vídeo também é uma forma de pesquisa para você organizar a questão social, organizar os trabalhos. Hoje a gente tem um trabalho de sistema agroflo-
The elder said: “Ah! This video has nothing to do with our culture, this is from another.” And the other said: “The Kaxinawa have a vampire story.” Many people commented, some laughed, others were more serious. The people had no prejudices.
restal, de repovoamento de pequenos animais, como por
But the person kept thinking and said “We have
exemplo os tracajás. Naquele vídeo “No tempo das chu-
our own dreams and beliefs as well.” You see the
vas”, você vê as pessoas tombando a palheira e hoje isso
world of the other and you look at your own.
já virou discussão. “Olha, nós estamos trabalhando com sistema agroflorestal, com manejo, e precisamos ver de
Exchanging experiences through video
que maneira a gente pode se organizar para não derrubar
I also see video as a way of doing research in
mais palmeiras”. A gente já tem várias imagens de pes-
order for you to organize social issues and work.
soas subindo e tirando buriti, tirando açaí sem derrubar.
Today, we practice sustainable agriculture, we
O vídeo foi muito importante nesse sentido de registrar
raise small animals such as the Tracaja turtles. In
o nosso projeto, de poder mostrar para as outras aldeias.
the video “In the rainy season”, you see people
O Divino5 viu o nosso trabalho de manejo, de uso de recursos e disse “Nós precisamos ter também esse trabalho na nossa aldeia, de que maneira a gente pode fazer?”
cutting down palm trees and today we are debating that practice. “Look, we are doing sustainable agriculture and land management, and we must find ways of organizing ourselves so
O vídeo é uma porta de incentivos, de você ver expe-
that we don’t destroy more palm trees.” We have
riências novas e querer fazer também, organizar a sua
filmed people cutting the bark of the Buriti tree, harvesting the Acai fruit without destroying the
5. Divino Tserewahú é realizador Xavante da aldeia Sangradouro (MT).
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MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
tree. It was important for us to document this
produção, reflorestar, enriquecer a sua alimentação,
project so that we could show it to other
seus recursos naturais. A gente está usando esses instru-
villages. Divino7 saw our resource management
mentos, essa maneira de se comunicar, exatamente para
and said, “We need to do this in our village,
atingir essas outras aldeias que estão nessa situação. Mas
how can we do this?”
o importante não é só conhecer o Ashaninka, o importante é conhecer de que maneira nós estamos defendendo nosso povo, a nossa terra. O nosso sistema de organi-
Video stimulates interest and motivation, you see new experiences and want to do them as well, to begin your own production, to reforest, to diversify your diet and your natural
zação pode servir de exemplo para outros, como o sistema
resources. We are using this tool, this way of
de organização deles pode servir para nós. É uma troca
communicating, in order to reach other villages
através do vídeo, porque muitas vezes a gente não pode
that are in similar situations. It is important to
ir até lá, mas o vídeo vai lá.
understand the Ashaninka people, but it is more
Isso mostra que o vídeo vai ajudar a gente a planejar
important to understand the ways in which we
nossa caminhada, no mesmo instante pesquisando tam-
are defending our people and our land. The way
bém, aprofundando os conhecimentos.
we organize ourselves may serve as an example for others, just as their way may help us. This exchange happens through video because we
O VÍDEO E A MUDANÇA
cannot always go to the other place, but the
Por mais que a gente trabalhe a cultura, trabalhe a língua,
video can. This shows how video will help us
a gente vai mudar, algo vai mudar ali dentro, como já mu-
to plan our future path, while at the same
dou. Só a escola já é uma coisa diferente. O vídeo também
time we research and deepen our knowledge.
é uma coisa diferente. Mas a questão não é ser diferente, a questão é como utilizar a imagem. Se a pessoa conta
Video and change
uma história, através do vídeo, você pode incentivar várias
No matter how much we strengthen our culture
crianças a querer aprender aquela história.
and language, we are going to change; something
Dentro da escola, o vídeo pode ajudar muito a pessoa refletir sobre si mesma, porque o contato trouxe muita desorganização para o nosso povo, e se você não encontrar uma alternativa de reflexão, para você olhar seu valor, isso acaba.
will change inside our villages, just as changes have already occurred. School in itself is something different. Video is also something different. But the question is not that video is different, it is how to use video. If someone tells a story of something through video, many
A gente pensa muito, a gente discute muito, a gente
children may be encouraged to want to learn that
analisa. O que é ser diferente? Só de observar a sala de
thing. In school, video can help a person reflect
aula e fora da sala de aula, você encontra muita coisa que
on themselves, because contact with the outside
é diferente. O que é cultura, o que é intercultural, o que
world has weakened our tribe, and if you don’t
é ser bilíngüe? A língua não é a cultura, ela é um instru-
find a way of reflecting, of seeing your self-
mento de transmissão da cultura. Quem perde a língua
worth, your culture dies.
parece que perdeu toda a cultura, mas não é. Ela faz parte, mas a cultura é algo muito maior. A cultura você vai inventando de acordo com a necessidade, de acordo com a convivência, com a mudança do planeta, e para
We think a lot, we discuss a lot, and we analyze. What does it mean to be different? In just observing the environment inside and outside of the classroom, you find many differences. What is culture, what is multi-
nós também é assim... ela mudou. Você vai enriquecendo, e para você enriquecer, você tem que segurar aquilo que é do passado.
7. Divino Tserewahú is a video-maker of the Xavante tribe, from the village of Sangradouro.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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Hoje, ser muito tradicional, oral, não vale nada para
cultural, what does it mean to be bilingual.
esse mundo mais global, que é o mundo da sociedade dos
Language is not culture; it is an instrument
brancos. Mas para nós isso vale muito. A gente tem muito
through which to transmit culture. It seems that
orgulho dos nossos conhecimentos, dos nossos mitos, da
those who lose their language lose their culture,
nossa crença. Um pequeno desenho de um chapéu deste tamanhozinho tem um significado porque ali ele conta uma história muito grande. E de que maneira a gente pode
but this is not true. Language is an integral part, but culture is something much bigger. You invent culture according to necessity, to your lifestyle, and changes in the planet. And it is this way for
segurar aquilo, para que não se perca? Esse é um grande
us as well... our culture changed. You strengthen
desafio nosso. A nossa roupa é uma coisa muito significa-
your culture and to do so you must hold onto
tiva para o nosso povo. Será que se a gente deixar de usar,
what you had in the past.
a gente vai ser o mesmo Ashaninka ou será que vai ser
Today, to be very traditional, of an oral
diferente? A gente pensa, ninguém sabe. Nem o historia-
culture, is worthless in this global world. But for
dor sabe. Ele pode imaginar como vai ser. Será que a es-
us, this is of great value. We are very proud of
crita vai mudar a gente? Já mudou, a gente já viu a mu-
our knowledge, of our myths, of our beliefs. A
dança, o contato com outra sociedade já mudou. Se o vídeo vem ajudar a gente a se organizar, se ele traz alguma mudança, somos nós que estamos mudando,
small design of a hat of this size is significant because it tells a big story. How can we preserve this, so that it is not lost? That is our great challenge. Our clothing is very significant for our
não é ninguém que vem de lá de fora. Alguém pode vir
people. If we stop using this clothing, will we
só nos orientar como usar, mas quem vai usar esses ins-
be the same Ashaninka or will we be different?
trumentos somos nós. E se houver alguma mudança, so-
We think about this, but nobody knows.
mos nós mesmos que estamos fazendo ela acontecer. Então a gente quer entender tudo isso, a gente quer
A historian can imagine how it will be, but does not know. Will writing change us? It has already
entender esse processo, porque a gente só vai se defen-
changed us, we have seen the change, and
der quando entender esse processo e esses instrumentos.
contact with another society has already
O computador, a escrita, a tv e o vídeo são instrumentos ideais para aprofundar o nosso conhecimento.
changed us. If video is to help us to organize ourselves, if it in itself represents a change, it is us who are changing, not someone who comes from the outside. Someone from outside our village may teach us how to use video, but it is us who are making this change. So we want to understand this process, because we will only be able to defend ourselves when we understand this process and these tools. The computer, writing, and TV are ideal instruments for us to use in deepening our knowledge.
20
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
Moi, un Indien VINCENT CARELLI
Indigenista, documentarista e fundador do Vídeo nas Aldeias Film-maker and founder of Video in the Villages
Moi, un Indien
P R I M E I R O S C O N TAT O S
Quando, aos dezesseis anos, aterrissei pela primeira vez na aldeia Xikrin, no sul do Pará, descobri que o mundo
First contacts
era muito mais diverso e fascinante do que eu tinha sus-
When, at the age of sixteen, I landed for the first
peitado até aquele momento. A partir do instante em que avistei, ao longo da pista, aquelas silhuetas escuras de jenipapo e em seguida senti aquele cheiro de resina perfumada e de urucum, passei a ter uma nova percep-
time in a Xikrin village, in the south of the State of Pará, I discovered that the world was much more varied and fascinating than I had suspected until that moment. From the minute I saw the dark silhouettes painted with genipap beside
ção da humanidade. A fotografia se tornou para mim
the landing strip and then caught the smell
uma necessidade de compartilhar esse novo mundo que
of perfumed resin and urucum, I gained a
eu descobria.
new perception of humanity. Photography
Aos vinte anos eu já morava na aldeia Xikrin, e meu envolvimento com os índios passou a ser total. Eu simplesmente queria ser índio, mas os índios queriam um amigo que lhes desse as chaves de compreensão do que se passava ao redor deles, os ajudasse a se defender das doenças que maltratavam a aldeia. Quanto maior era o meu envolvimento, menos tempo me sobrava para foto-
became a need to share this new world that I was discovering. At the age of twenty I was already living in the Xikrin village. At this time, the guerrilla warfare of Araguaia had begun in the region. In the village, my involvement with the Indians became total. I simply wanted to be Indian, but the Indians wanted a friend who could give
grafar. Eu aprendi desde então que arte e militância difi-
them the keys to understanding what went on
cilmente andam juntas. Aqueles povos com os quais eu
around them, to help them defend themselves
mais convivi e trabalhei foram aqueles que eu menos fo-
from the diseases that maltreated the village.
tografei. Naquela época acontecia na região a guerrilha
The greater my involvement, the less time was
do Araguaia.
left for photography. I learnt then that art and activism rarely go together. The groups with whom I spent most time and worked with were
A M I L I T Â N C I A I N D I G E N I S TA
Do livre convívio na aldeia resolvi entrar para a Funai, na ilusão de poder ajudar melhor. Mas, rapidamente, ficou claro o quanto o paternalismo autoritário do governo, a famosa tutela do índio, era altamente perni-
the ones that I photographed least.
Indigenous advocacy From living freely in the village as I had been, I decided to join Funai, in the illusion of being
cioso para os índios, politicamente desmobilizador. Não
able to help more, but I soon saw how the
seria o Estado que iria mudar a situação dos índios, mas
Brazilian government’s authoritarian paternalism,
eles é que teriam que retomar o seu destino em mãos.
the famous tutelage of the Indian, was extremely
Do indigenismo de Estado, migrei para o indigenismo
dangerous for the Indians, in its capacity to
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
21
alternativo, ou para a subversão, como se dizia naquele
disarm them politically. It was not going to be
tempo de ditadura.
the State that would change the situation of
Fundamos, com mais alguns colegas da faculdade, o Centro de Trabalho Indigenista (CTI), que foi inovador na sua contestação do poder abusivo da tutela do Estado sobre o Índio. Lutamos por direitos básicos, como a possibilidade dos índios constituírem advogados indepen-
Indians, but they themselves who must take their destiny in their own hands. From the State Indian Service migrated to the alternative form of working with indigenous groups, or to subversion, as it was known in these times of dictatorship. We founded, with several other colleagues from
dentes nas disputas com o Estado, direitos que anos de-
the faculty, the Centre for Indigenous Advocacy
pois foram incorporados na Constituição de 1988. Par-
that was innovator in its challenging the abusive
ticipávamos do movimento geral da sociedade civil bra-
power of the State tutelage over the Indian.
sileira em busca de alternativas.
We fought for basic rights, such as the possibility
Trabalhei também dez anos na construção de um
of the Indians to obtain independent lawyers in
banco de imagens para as publicações “Povos indígenas
disputes with the State, rights that years later
no Brasil“ do CEDI. Me fascinava o trabalho de coletar
were to be incorporated into the Constitution
estes fragmentos de história de povos que estavam sofrendo processos de transformação tão violentos e tão rápidos e a possibilidade de devolver às novas gerações
of 88. We took part in the general movement of Brazilian civil society in search of alternatives. I also worked for ten years in establishing an image bank for the publications in CEDI1’s series
estes registros da sua história. Naquela época, o cineas-
“Indigenous Peoples in Brazil”. I was fascinated
ta Andréa Tonacci tinha procurado o CTI, com a proposta
by the work of collecting these history fragments
da “Inter Povos”, um projeto de comunicação intertribal
of peoples that were suffering such violent and
através do vídeo. Naquele tempo, o vídeo era ainda uma
swift transformation processes and by the
novidade. A idéia não vingou. Quando surgiu o VHS cam-
possibility of passing on to the new generations
corder, resolvi retomar aquela idéia, e assim começou o
these records of their history. At that time, the
Vídeo nas Aldeias.
film-maker Andréa Tonacci had sought our
Ele surge no bojo de uma relação acumulada ao longo de anos, uma relação de vida, centrada em torno de uma cooperação entre índios e não índios para tentar enfren-
organization, with the proposal “Inter Peoples” an intertribal communication project using video. At that time video was still a novelty. The idea did not take off. When the VHS camcorder appeared,
tar problemas vitais como demarcação ou invasão de
I decided to take it up again, and thus the Video
reservas, encontrar meios de subsistência e integração
in the Villages project began within the Center for
na economia nacional, ou formas de negociação com o
Indigenous Advocacy.
governo para ter acesso à saúde e educação. A propos-
It was born in the midst of a relationship
ta era oferecer instrumentos que lhes permitissem ter
developed over years, a lifelong relationship
acesso às suas imagens, elaborar e recriar a sua própria
centred around a cooperation between Indians
imagem. O procedimento adotado, em que a totalidade
and non-Indians to try and address vital problems
das imagens produzidas era imediatamente exibida em público, permitia que a câmera passasse a ser um objeto apropriável por eles. A presença da câmera criava ou instigava o fato que ela estava documentando. E é por
such as land demarcation or freeing the reserves from intruders, finding means of subsistence and integration in the national economy, or forms of negotiating with the government to obtain access to health and education. The proposal was to
esta razão que não somente as pessoas não tinham uma relação incômoda com a câmera, como também interagiam com ela, muitas vezes se dirigindo explicitamente
22
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
1. Ecumenical Information Center / Centro Ecumênico de documentação e Informação
e diretamente a ela. A câmera não era um objeto trans-
offer them instruments that could permit access
parente, ela era um dos atores em cena.
to their images, to the design and recreation of their own image. The procedure to be adopted, in which all the images produced were to be
A MINHA APRENDIZAGEM
1987. Eu comecei a fazer vídeo aos 36 anos, e concebi este projeto dentro desta perspectiva de intervenção e militância que orientava a minha vida. Eu nunca teria
immediately exhibited in public, would permit the video camera to become an object that they would appropriate. The presence of the camera created or instigated the fact that it was recording. And
imaginado naquela época que chegaríamos a formar reali-
this explains why, people were confident with the
zadores indígenas. A minha aprendizagem da linguagem
camera, but they also interacted with it, very
cinematográfica se deu ao mesmo tempo em que oferecia
often addressing it explicitly and directly. The
a possibilidade de registro e de acesso às imagens de ou-
camera was not a transparent object; it was
tros povos para lideranças que eu admirava por sua visão
one of the actors on stage.
de futuro, pelo seu discurso de resistência. As lideranças mais tradicionais foram, desde o início, as mais entusiastas desta novidade tecnológica e eu realmente colocava a minha câmera a serviço de seus discursos.
My learning process 1987. I started making video films at the age of 36, and conceived this project within the perspective of intervention and activism that has
Logo na primeira experiência, realizada entre os Nam-
orientated my life. I would never have imagined
biquara, tivemos uma receptividade enorme por parte dos
at that time that we would train indigenous film-
índios: a rotina registro/exibição, foi gerando um feed-
makers. My learning of film language had
back imediato. Os índios assumiram rapidamente a dire-
been with this background of offering a chance
ção do processo e a única coisa que eu tive que fazer foi
to record things of importance and to provide
me deixar conduzir por eles, que passaram a se produzir
access to the images of other groups for the
tal como eles gostariam de se ver e de serem vistos na
leaders I admired for their vision of the future,
tela. O resultado foi o vídeo “A festa da moça”. Foi assim
their discourse of resistance. The most traditional
que o trabalho com os índios, que começou com um caráter experimental e que foi desenvolvido com recursos técnicos totalmente amadores, foi tendo a sua continuidade assegurada através da sua autodocumentação, reali-
leaderships were, from the outset, the most enthusiastic about this technological novelty and I truly placed my camera at the disposal of their speeches. Straight away in the first experience, held
zada com recursos cada vez mais profissionais e para um
among the Nambiquara, we received a tremendous
público cada vez mais amplo.
amount of receptivity from the Indians: the
O curta intitulado “Vídeo nas aldeias” (o terceiro da
routine shooting/showing, generated an
série), por exemplo, foi editado às pressas em fins de
immediate feedback. The Indians rapidly took
1989, às vésperas da minha primeira viagem aos Estados
control of the direction of the process and the
Unidos em busca de apoio financeiro para o projeto. Mas
only thing that I had to do was to allow myself
uma vez pronto, ele acabou extrapolando sua finalidade imediata e se tornou um autêntico portfolio do projeto, ganhando uma enorme divulgação nos meios interessados em projetos alternativos de comunicação.
to be lead by them, who began to ‘produce themselves’ as they liked to see and to be seen on the screen. The result was the video “The girl’s celebration”. It was thus that work as such with the Indians, that began in an
As fundações americanas (Guggenheim, MacArthur,
experimental manner and was carried out with
Rockefeller, Ford) foram as primeiras a apoiarem o projeto.
technical resources that were totally amateur,
A partir de 1995, a Cooperação Internacional da Noruega se
gradually acquired the guarantee of its continuity
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
23
interessou em apoiar financeiramente o trabalho, o que nos
through its self-documentation, achieved with
deu mais estabilidade para começarmos a traçar uma estra-
more and more professional resources and for a
tégia a longo prazo. Nesta caminhada, a Virginia Valadão,
growing public.
antropóloga e coordenadora do Centro de Trabalho Indigenista, foi a grande articuladora da sobrevida do projeto, além de ter nos deixado aquele lindo vídeo que é “O banquete dos espíritos”, que custou quatro anos de trabalho. Aprendi fazendo, intuitivamente. Nos dez anos de par-
The short film entitled “Video in the villages” (the third in the series), for example, was edited in haste in late 1989, on the eve of my first trip to the United States in search of funding for the project. But once ready, it ended up outgrowing its immediate purpose and became a genuine
ceria com o editor Tutu Nunes, também aprendi muito. Ele
portfolio for the project, gaining large
deu uma embalagem moderna às minhas filmagens, editan-
publicity in circles interested in alternative
do a maioria dos vídeos de minha autoria, e fez com que
communication projects.
eles alcançassem a divulgação que alcançaram.
The North American Foundations (Guggenheim, MacArthur, Rockefeller, Ford) were the first to
DE APRENDIZ A REALIZADOR: AMPLIANDO A DISTRIBUIÇÃO
Com o apoio das fundações americanas, decidi produzir uma descrição mais consistente sobre o projeto e, em 1990,
Cooperation of Norway began to be interested in funding the work, which gave us greater stability, enabling us to begin to design a long-term strategy. Virginia Valadão, anthropologist and coordinator of
comecei a trabalhar com os índios Waiãpi. Na parceria que
the Center for Indigenous Advocacy, was the main
estabeleci com a antropóloga Dominique Gallois, que co-
articulator of the project’s survival. Furthermore,
nhecia bem a língua dos Waiãpi, surgiu a possibilidade de
she left us this beautiful film “The banquet of the
trazer para os vídeos a efusão de discussões e comentários
spirits” that required four years of work.
provocada pelas projeções. A Dominique estabelecera um
I learnt by doing: intuitively. In ten years of
diálogo filosófico com o seu principal informante Waiwai,
partnership with the editor Tutu Nunes, I also learnt
um autêntico intelectual Waiãpi, e este diálogo foi trans-
a lot. He gave a modern wrapping to my footage,
posto para o vídeo. Este trabalho resultou no vídeo intitulado “O espírito da TV” (o quarto da série), que trouxe para a tela o entusiasmo dos índios com a nova descoberta e toda a gama de reflexões que os vídeos traziam à tona. Editado numa linguagem muito mais moderna, abo-
editing the majority of the videos of my authorship and contributing in large part to their success.
From trainee to film-maker: broadening distribution With the support of the US foundations, I decided
lindo a locução e deixando os índios se expressarem
to produce a more consistent description of the
espontaneamente em sua própria língua, o vídeo mos-
project and, in 1990, I started working with
tra como as projeções induzem discussões que envol-
the Waiãpi Indians. In the partnership that
vem, entre outros temas, uma redefinição da sua pró-
I established with the anthropologist Dominique
pria identidade em relação aos outros e, ao mesmo tem-
Gallois, who knew the Waiãpi language well,
po, o crescimento de uma consciência pan-indígena nacional a partir da semelhança dos processos históricos que cada grupo atravessou desde o contato e dos pro-
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support the project. As of 1995 the International
arose the possibility of bringing to the videos the wealth of discussions and commentaries provoked by the screenings. Dominique established a philosophical dialogue with her main informant
blemas que todos compartilham no momento. E como
Waiwai, a genuine Waiãpi intellectual, and this
não poderia faltar, toda a questão política da manipu-
dialogue was transposed into the film. This
lação da imagem: quem vai nos ver e como eles deve-
resulted in the video entitled “The spirit of TV”
riam nos ver, etc.
(the fourth of the series), that brought to the
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
Este vídeo abriu espaços muito mais amplos de distri-
screen the Indians’ enthusiasm with the new
buição, saindo do “gueto” dos festivais indígenas e etno-
discovery and the full range of reflections that
gráficos, dos departamentos de antropologia e comunica-
the videos brought to the surface.
ção. O boca a boca, a difusão nas universidades, o efeito multiplicador de festivais mais tradicionais, as mostras especiais e as retrospectivas foram ampliando progressivamente o espectro de difusão dos vídeos. O trabalho com os
Edited in a much more modern style, abolishing voice over and letting the Indians express themselves spontaneously in their own language, the video shows how the projections induce discussions that involve, amongst other
índios foi se expandindo para novos grupos e, ao mesmo
themes, a redefinition of their own identity in
tempo, ganhando novas formas. Cada grupo foi identifican-
relation to others. At the same time, we see
do, através dos vídeos, aqueles com os quais eles tinham
the growth of a pan-indigenous awareness on the
mais afinidade, pela proximidade lingüística e cultural.
basis of the similarity of the historical processes
Nós então produzimos alguns encontros entre eles,
that each group has been through since contact,
o que resultou nos vídeos “A arca dos Zo’é” e “Eu já fui
the problems that all share at present. It also
seu irmão”, que, como “O espírito da TV”, são construí-
enlightens the whole political issue of the
dos exclusivamente a partir das falas dos índios. “A arca dos Zo’é”, talvez pela sua estrutura narrativa, mas sobretudo pelos flagrantes que ele consegue trazer pa-
manipulation of the image: who is going to see us and how should they see us, etc. This video opened more opportunities for distribution, emerging from the “ghetto” of
ra a tela, dando ao público um insight de uma relação
indigenous and ethnographic festivals, from the
entre índios, obteve um grande sucesso. Isso gerou um
departments of anthropology and communication.
renovado interesse por parte de festivais internacio-
Through word of mouth, dissemination in the
nais e redes públicas de televisão de diversos países
universities, the multiplying effect of the more
em exibir a trilogia, como passou a ser chamado o con-
traditional festivals, special showings and
junto destes vídeos.
retrospectives, the spectrum of dissemination of the videos was gradually broadened. Work with the Indians spread to new groups and, at
O FEEDBACK DO PÚBLICO
Ao submeter os vídeos à apreciação de um público que eu desconhecia quando os elaborava, percebi claramente como o conjunto de imagens contidas nestes documentários mexia com um espectro de sentimentos, de valores éticos
the same time, gained new forms. Each group identified, through the videos, those with which they felt most affinity, through linguistic and cultural proximity. We then began to produce a number of
e morais, de conceitos e idéias que extrapolam o “con-
encounters between them, which resulted in the
teúdo objetivo”, a mensagem explícita dos vídeos.
videos “Meeting ancestors” and “We gather as
Enquanto o público parece esperar que os índios se
a family”, that, like “The spirit of TV”, are put
comportem como vítimas, podendo assim expressar sua
together exclusively through the Indians’
compaixão e sua solidariedade por eles, descobrimos que,
testimonies. “Meeting ancestors” was a big
ao contrário, os índios pensam a sua estratégia de representação parecendo fortes, até agressivos, em relação aos colonizadores, ou invasores. A maioria dos documen-
success, thanks to its narrative structure, but above all, through the snapshots that it manages to bring to the screen, giving the public an insight of a relationship between Indians. This
tários ou reportagens de TV produzidos no Brasil sobre
generated a renewed interest from international
índios tende, por um lado, à mistificação do “bom sel-
festivals and public television networks from
vagem” e, por outro, a este tom fatalista: eles estão per-
several countries in showing the trilogy, as
dendo suas terras, sua cultura, sua língua, etc.
this group of films became known.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
25
Sempre me pareceu fundamental mostrar justamente o oposto: primeiro, os índios não vivem chorando pelas ta-
On making the videos available for a public
belas, muito pelo contrário, a alegria, a brincadeira, o
that I didn’t know when I made them, I clearly
humor, são marcas do convívio entre eles – uma carac-
perceived how the collection of images contained
terística que já foi taxada de “ingenuidade, inocência do selvagem”. Em segundo lugar, eles não são vítimas passivas neste processo, mas têm plena consciência da mu-
in these documentaries provoked a range of ethic and moral reactions, concepts and ideas that went beyond the “objective content”, the explicit message of the films.
dança pelo qual estão passando. Há toda uma discussão
While the public seemed to expect the Indians
e uma dinâmica interna em andamento entre as gera-
to behave like victims, thus being able to express
ções, incorporando algumas coisas de fora, rejeitando
compassion and solidarity for them, we discovered
outras, preservando a memória de tradições e abando-
that, on the contrary, the Indians think through
nando outras.
their representation strategy, appearing strong, even
Quando tentamos desfazer o mito do “bom selvagem” e a retórica da vítima, mostrando as coisas de uma forma diferente, fatalmente atingimos aspectos muito sensíveis como alcoolismo, sexualidade, violência... em torno dos quais se cristalizaram os estereóti-
aggressive, in relation to the colonisers or invaders. The majority of TV documentaries or reports produced in Brazil about Indians tend, on the one hand, to mystify the “good savage” and, on the other, to adopt this fatalistic tone: they are loosing their lands, their culture, their language, etc…
pos negativos em relação aos índios. A questão de apa-
I always thought it vital to show precisely
recer bêbado, por exemplo, é discutida pelos próprios
the opposite: first, the Indians do not spend their
índios no vídeo “O espírito da TV”. Um distribuidor ca-
lives moaning and groaning, quite the opposite;
nadense recusou o vídeo dizendo que eu havia desres-
merriment, fun and games are elements of their
peitado os índios ao incluir a cena e que o público ca-
living together - a characteristic that has been
nadense condenaria o vídeo como politicamente in-
labelled “the ingenuity, innocence of the savage”.
correto. Discordo. No primeiro vídeo feito pelos pró-
Secondly, they are not passive victims in this
prios Waiãpi para mostrar para o público não índio, eles aparecem completamente bêbados do começo ao fim. Simplesmente porque o vídeo é sobre festas, e conforme o próprio autor explica, para os Waiãpi, estar bêbado numa celebração é uma atitude socialmente e
process, but have a full awareness of the changes they are undergoing. There is a discussion and internal dynamics underway among the generations, incorporating some external things, rejecting others, preserving the memory of traditions and abandoning others.
culturalmente valorizada. O que me pareceu interes-
When we attempt to undo the myth of the
sante foi justamente mostrar como há uma discussão
“good savage” and the rhetoric of the victim,
consciente se desenvolvendo em relação a auto-repre-
showing things from a different perspective, we
sentação.
inevitably touch upon very sensitive issues such as
Alguém ficou chocado com a violência da “matança gratuita” dos garimpeiros contido no pequeno segmento de dramatização interpretado pelos Enauênê Nauê no vídeo “Antropofagia visual”. Acho engraçado que tenhamos incorporado, como a coisa mais natural do mundo, cente-
26
Public feedback
alcoholism, sexuality, violence... around which the negative stereotypes in relation to the Indians are crystallised. The Indians themselves in the video “The spirit of TV” discuss the question of appearing drunk, for example. One Canadian distributor refused the video saying that I had disrespected
nas de filmes onde se matam índios a três por quatro e
the Indians in including the scene and that the
nos sentirmos chocados com a matança de dois garim-
Canadian public would condemn the film as
peiros invadindo uma reserva indígena. O público parece
politically incorrect. I disagree entirely. In the first
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
não se dar conta da intensidade e da violência dos con-
video made by the Waiãpi themselves for a non-
flitos na Amazônia de hoje. O choque pode ser às vezes
Indian public, they appear completely drunk from
uma boa maneira de cair na real.
start to finish. Simply because the video is about
Para uma grande maioria das pessoas, os índios são uma ficção na qual ela projeta os ideais de sabedoria e equilíbrio, harmonia com a natureza, de coletividade, etc. Estas pessoas gostariam que este sonho permanecesse intocado, os índios preservados numa espécie de zoológico humano ou, pelo menos, que as mudanças nestas socie-
festivals; and as the author himself explains, for the Waiãpi, to be drunk in a celebration is a socially and culturally valued attitude. What seemed interesting to me was exactly that: to show how there is a conscious discussion going on in relation to self-representation. Someone was shocked by the violence and
dades fossem retardadas ao máximo. Infelizmente esta
“needless killing” of the gold prospectors
ideologia permeia toda a nossa sociedade e pode ter impli-
contained in the short section of drama interpreted
cações concretas graves em diversas circunstâncias. Toda a
by the Enauênê Nauê in the video “Video
política indigenista oficial no Brasil compactua com este
cannibalism”. I find it strange that we have
tipo de concepção e por isso o governo está sempre ten-
incorporated, as the most natural thing in the
tando distinguir os índios “autênticos”, “puros”, dos índios ”civilizados”. E, através desta distinção, excluir os ditos “aculturados” da legislação de proteção ao índio para en-
world, watching hundreds of films where Indians are killed right left and centre and find shocking the killing of two gold prospectors invading an indigenous reserve. The public does not seem to be
quadrá-los numa cidadania básica. Mas quem são os autên-
aware of the intensity and violence of the conflicts
ticos? Os pelados. Se tiver carteira de identidade não é
in the Amazon of today. Shock at times can be a
mais índio, se morar na cidade não é mais índio!
good way of “waking up” to reality.
As comunidades indígenas estão submetidas a proces-
For the great majority of people, the Indians are
sos brutais de mudança. E não é somente uma pressão
a fiction in which they project ideals of wisdom and
por mudanças vinda de fora mas, a cada geração que se
balance, harmony with nature, collective living, etc.
sucede, há um movimento interno renovado por mudan-
and these people would like this dream to remain
ças. Creio que o verdadeiro dilema está em saber em que direção pode acontecer esta mudança. Os índios vão se transformar em mendigos ou vão se integrar economica-
untouched, the Indians preserved in a kind of human zoo or, at least, that the changes in these societies be retarded as much as possible. Unfortunately this ideology runs through our entire
mente de alguma forma? Vão ser integrados um a um, co-
society and can have serious and real implications
mo quer o modelo capitalista, ou vão se integrar enquan-
in a number of circumstances. All the official
to grupo, mantendo a sua organização interna? Vão ex-
indigenous policies in Brazil reinforce this kind of
plorar seus recursos naturais segundo o modelo preda-
conception and hence the government is always
tório que está em volta deles ou vão experimentar solu-
trying to distinguish the “authentic”, “pure”,
ções ambientalmente sustentáveis? Estes são os desafios
Indians from the “civilised” Indians. And,
que estão colocados.
through this distinction, to exclude the so-called
No caso específico do vídeo, algumas aldeias já tinham acesso às grandes redes de televisão quando o projeto vídeo chegou. Mas a maioria não. Hoje quase todas têm. O problema não é incorporar novos objetos, novo
“acculturated” Indians from legislation that protects the Indian to encompass them in basic citizenship. But who are the authentic ones? Those still naked; if having an ID card is no longer being Indian, if living in the city is no longer being Indian!
costumes e sim como assimilá-los. Se uma nova tecnolo-
The indigenous communities are submitted to
gia como o vídeo pode ser incorporada e ser usada para
brutal transformation processes and it is not only a
se autovalorizar, qual é o problema? Isto torna os jovens
pressure for changes coming from outside, but with
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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muito orgulhosos de si: eles também sabem usar o instru-
each succeeding generation, there is an internal
mento do branco para filmar suas coisas, invertendo o
movement renewed for changes. I believe that the
processo de invasão da televisão.
real dilemma is in knowing in which direction this change can happen. Are the Indians going to
PROGRAMA DE ÍNDIO
O reconhecimento internacional alcançado por alguns vídeos nos levou a muitos festivais, e neles descobrimos
turn into beggars or are they going to integrate economically in some way? Are they going to be integrated one by one, as the capitalist model desires, or are they going to integrate as a group,
que o desenvolvimento da mídia indígena era um movi-
maintaining their internal organisation? Are they
mento emergente no planeta, desde experiências como
to exploit their natural resources according to the
a nossa e outras na América Latina até as de cineastas
predatory model that is everywhere around them,
indígenas do primeiro mundo, formados em faculdades
or are they to try out environmentally sustainable
de cinema.
solutions? These are the challenges posed.
Com a abertura na legislação das TVs públicas regionais, fomos convidados pela Universidade Federal de Mato Grosso a fazer um programa “sobre” os índios. Até aquele momento, não nos tinha ocorrido tal possibilidade, mas imediatamente propusemos fazer um programa “com” os
In the specific case of the video, some villages already had access to the big television networks when the video project arrived. But the majority did not. Today almost all do. The problem is not to incorporate new objects, new customs but how to assimilate them. If a new technology such as
índios. Assim, entre 1995 e 1996, produzimos o “Progra-
video can be incorporated and be used to raise
ma de Índio”.
self-esteem, what is the problem? This makes
Todas as vezes que projetamos o programa nas aldeias,
young indigenous people proud of themselves:
os olhos da audiência brilharam de satisfação. O profes-
they also know how to use the white-man’s tool
sor indígena Leonardo Tukano, do Rio Negro, me disse a
to film their things, inverting the process of
este respeito: “De todos os filmes de índio que nós pas-
invasion by the television.
samos para os alunos, foi o Programa de Índio que gerou o maior interesse. Meus alunos não querem nem ouvir falar em tradição, para eles isto é a encarnação do atraso. Nem os pais dos alunos querem que seus filhos “andem
Indian Program2 The international recognition achieved by some of the videos took us to many festivals, and in them we discovered that the development of the
para trás”. Mas um índio apresentador de televisão, repór-
indigenous media was a movement that was
ter, cinegrafista, despertou neles um súbito interesse:
emerging in various parts of the planet, from
então era possível ser “moderno”, “civilizado”, e ser “índio”
an experience such as ours and others in Latin
ao mesmo tempo!
America to those of indigenous film-makers from
Olhando à nossa volta, pelo mundo, percebemos o quanto é viável e necessário termos um programa feito por índios na TV brasileira. Os Sami na Noruega, os Inuit e os índios no Canadá, os aborígines da Austrália, da Nova Zelândia, têm seus canais de televisão. O desenvolvimento de uma mídia indígena é um processo mundial, um movimento da história. Dar visibilidade às minorias étnicas
the first world, trained in film schools. With the new legislation of public regional TVs, we were invited by the Federal University of Mato Grosso to make a programme “about” Indians. Until then, such a possibility had not occurred to us, but we immediately proposed to make a programme “with” the Indians. Thus, between 1995 and 1996, we produced the Indian Program.
através dos meios de comunicação de massa tem um caráter estratégico para estes povos, para que sejam reconhecidos e respeitados.
28
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
2. The original term in Portuguese, Programa de Índio also has the connotation of ‘wasting time’ (sic).
Every time we screen this programme in
U M A N O VA P E R S P E C T I VA
A avaliação que os próprios índios fizeram da experiência
the villages, the audience’s eyes shine with
do Programa de Índio e o movimento geral que eu vinha
satisfaction. As the indigenous teacher Leonardo
acompanhando nos outros países, como Bolívia e México,
Tukano, from the Rio Negro, told me: “Of all
que já investiam em oficinas de capacitação, nos colocavam diante de um novo desafio. Em 1997, reunimos no Xingu mais de trinta índios de diversas partes do Brasil, com os quais já trabalhávamos e que se conheciam atra-
the films about Indians that we show our pupils, it was the Indian Program that generated the most interest. My pupils don’t even want to hear about tradition, for them this is the incarnation of what is old-fashioned and out. Neither do the pupils’
vés da rede de videotecas que instalamos em suas aldeias.
parents want their children to walk backwards”.
O encontro permitiu um intercâmbio direto entre eles,
But Indian TV presenters, reporters, cameramen,
mas ainda nos faltava um método de ensino.
struck a sudden interest among them: so it was
Convidamos a realizadora Mari Corrêa, que trazia uma longa bagagem em processos de formação em cinema, para assumir a coordenação das oficinas de capacitação. As oficinas surtiram resultados imediatos e surpreendentes. Mari fez com que o projeto desse uma guinada radical e definitiva, com uma nova proposta de linguagem e o timing da sua edição, em sintonia fina com
possible to be “modern”, “civilised”,and to be “Indian” at the same time! Looking around us at the world, we perceive how feasible and necessary having a program made by Indians on Brazilian TV is. The Sami in Norway, the Inuit and the Indians in Canada, the Aborigines of Australia, and the Maori of New Zealand, all have their television channels. The
o tempo indígena. Em 2000, a criação da ONG Vídeo nas
development of an indigenous media is a world
Aldeias expressa esta nova perspectiva do trabalho e se
process, an historical movement. To give visibility
torna uma escola de cinema para índios, ampliando sua
to the ethnic minorities through the mass media
rede de alianças e parcerias com o movimento indígena
has a strategic importance for these peoples, for
e com ONGs que cooperam com ele.
them to be recognised and respected.
Para mim, a passagem de realizador para professor foi extremamente estimulante. Hoje temos o privilégio de compartilhar a intimidade das cenas que eles filmam e nos mostram e podemos observar como cada povo responde de uma maneira particular aos exercícios propos-
A new perspective The evaluation that the Indians themselves made of the experience of the Indian Program and the general movement that I had been accompanying in other countries, such as Bolivia and Mexico,
tos. O processo de tradução das falas e dos depoimen-
which already invested in training workshops,
tos que eles recolhem nas suas línguas nos revela todo
posed a new challenge to us. In 1997 we brought
uma nova compreensão de suas respectivas culturas.
together in the Xingu over thirty Indians from
Nunca aprendi tanto sobre cinema e sobre os povos com
various parts of Brazil, with whom we already
os quais trabalhamos. É gratificante ver que as sementes
worked and that knew each other through the
que plantamos germinaram e passaram a dar seus pró-
network of video libraries that we installed in
prios frutos. É gratificante ver que o projeto finalmente
their villages. The meeting permitted a direct interchange between them, but we still
encontrou a sua vocação.
needed a teaching method. We invited the film-maker Mari Corrêa, who
U M A P O L Í T I C A C U LT U R A L PA R A O S Í N D I O S
already had a long experience in the cinema
O Vídeo nas Aldeias tem sido, até hoje, financiado exclu-
training process, to be in charge of the workshops
sivamente por agências estrangeiras. É sintomático e
coordination. The workshops lead to immediate and
condizente com a realidade em que vivemos um projeto
surprising results. Mari gave a radical and definitive
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
29
como este nunca ter recebido nenhum apoio do governo
turn to the project with a new language proposal
brasileiro.
and the timing of her editing in tune with the
É necessário que o Estado e a iniciativa privada acreditem no potencial criativo dos povos indígenas, invistam na divulgação destas culturas e estimulem o diálogo intercultural. Para tanto, é preciso investir em formação de novos talentos, em produção de novos trabalhos. Os índios, munidos destas novas linguagens e tecnologias,
Indian timing . In 2000, the creation of the NGO “Video in the Villages” expresses the new work perspective: becoming a cinema school for Indians and amplifying its network of alliance and partnership with others NGO and Indian organizations. For me, the move from film-maker to teacher
produzem obras absolutamente originais nos campos das
was extremely stimulating. Today we have the
artes plásticas, da literatura e do cinema. É preciso usu-
privilege of sharing the intimacy of the scenes
fruir, vivenciar a riqueza cultural indígena deste país e
that they film and show us and we can observe
deixar de vê-la como coisa do passado.
how each group responds in a particular way
Desde a época em que fizemos o “Programa de índio”,
to the exercises proposed. In the process of
temos esta perspectiva em mente mas, para que isso
translating the testimonies that they collect
aconteça, é necessário que o movimento indígena se articule em torno deste tema e exija que o governo estabeleça uma política e aloque recursos para tal.
in their languages a new understanding of their respective cultures is revealed to us. I never learnt so much about cinema and about the people with whom we work. It is gratifying to see that seeds
Olhando retrospectivamente para os trinta e tantos anos
that we sowed have germinated and begun to
que se passaram, constatamos com satisfação uma certa
produce their own fruit. It is gratifying to see
evolução na relação do Estado com os índios. O modelo cen-
that the project has finally found its vocation.
tralizador da FUNAI, herança da ditadura militar, alimentou a cultura de um certo apartheid indígena, em que o todo o
A cultural policy for the Indians
país lavava as mãos. ”Índio? Isso é problema da FUNAI!”
Video in the Villages has, to date, been funded
Nos anos oitenta e noventa, quando as associações indíge-
exclusively by foreign agencies. It is symptomatic
nas começaram a surgir, encontraram uma enorme resistência dos poderes públicos. Os cartórios diziam: “Registro de associação indígena, só com autorização da Funai”. O movimento indígena se articulou, sobretudo local-
out a project such as this, that we have never received any support from the Brazilian government. It is necessary that the State and the private sector believe in the creative potential of
mente e regionalmente. Novas categorias profissionais
indigenous peoples, invest in the dissemination
se formaram, especialmente a dos professores e agentes
of these cultures and stimulate intercultural
de saúde indígenas, e agora toda uma geração começa a
dialogue. To this end, we must invest in the
ter acesso à universidade. O Brasil como um todo se
training of new talents, in the production of new
democratizou. Em 1988, a Constituição brasileira veio
programmes. The Indians, armed with these new
sacramentar algumas conquistas importantes, embora
languages and technology produce pieces of work
boa parte do país ainda não as tenha digerido. Pouco a pouco, saímos do modelo centralizador de um único órgão com o monopólio da questão indígena, para um modelo plural, onde novas possibilidades de interlocu-
30
and consistent with the reality in which we carry
that are absolutely original in the fields of art, literature and cinema. It is vitally important to make full use of and experience the wealth of indigenous culture in this country and stop seeing it as a thing of the past.
ção se apresentam para os índios, dependendo do tema
Since the time in which we made the Indian
especifico que eles queiram tratar: educação, saúde,
Program, we have had this perspective in mind,
meio ambiente.
but for this to happen it is necessary for the
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
O Ministério da Educação tomou para si a questão da
indigenous movement to articulate this issue and
educação indígena e o Ministério da Saúde fez o mesmo,
demand that the government establish a policy
permitindo com que as organizações indígenas passas-
and provide resources for this.
sem a ser interlocutoras de políticas públicas. O Ministério do Meio Ambiente criou uma linha de crédito especial para que as populações indígenas possam propor e financiar seus programas de proteção ambiental.
Looking retrospectively at the thirty odd years that have passed, we observe with satisfaction a certain evolution in the relation of the State with the Indians. FUNAI’s centralising model, an inheritance from the military dictatorship, has
Falta o Ministério da Cultura assumir a sua parte e es-
nurtured a certain indigenous apartheid, in which
tabelecer com os índios um diálogo para definir uma po-
the entire country has washed its hands. “Indian?
lítica cultural. O Ministério da Cultura ainda se comporta
That is a problem for FUNAI!” In the 80’s and
hoje como os cartórios de dez anos atrás: “projeto cultural
90’s, when indigenous associations began to
de índio, só com autorização da Funai”. O maior patrimô-
emerge, they encountered an enormous resistance
nio dos índios é cultural, cultura viva, não só para eles
from the public powers. The registry offices said:
mas para milhões de brasileiros que não fazem idéia do
“An indigenous association can only be registered with an authorisation from Funai”.
que se passa neste país.
The indigenous movement did its networking, above all locally and regionally. New professional
O S I G N I F I C A D O D E S TA M O S T R A
categories were trained, specially those of
E A ABERTURA DE UM NOVO CICLO
indigenous teachers and health agents, and now
A idéia desta mostra é apresentar para o público estes
an entire generation begins to have access to
novos autores que estão dando uma contribuição original
university. Brazil as a whole became democratic. In
e renovadora, real expressão da diversidade cultural deste
1988, the Brazilian Constitution consecrated some
país. Concluímos o ciclo do Vídeo nas Aldeias e abrimos
important victories, although a large part of the
um novo, o Vídeo das Aldeias. A idéia de intercâmbio de
country has not digested them. Little by little, we
informação entre as aldeias persiste no projeto, mas ago-
have left the centralising model of the only organ
ra os índios têm a possibilidade de realizar e assistir seus próprios trabalhos.
with the monopoly over indigenous affairs, for a more plural model, where various new possibilities for interlocution are offered to the Indians,
Nossa postura ainda é militante, pois continuamos
depending on the specific theme that they want
colocando o projeto a serviço do movimento indígena.
to deal with: education, health, environment.
Nosso trabalho é convencer as lideranças do movimento
The Ministry of Education took over the
indígena que a arte é uma poderosa arma de transfor-
question of indigenous education and the Health
mação, ela reflete sua identidade e traduz uma emoção
Ministry did the same, causing the indigenous
estética que pode ser compartilhada por pessoas de ou-
organisations to become interlocutors of public
tras culturas. Neste sentido, é mais eficaz do que o ví-
policies. The Ministry for the Environment created
deo panfletário, vídeo relatório ou vídeo assembléia. O
a special line of credit for indigenous populations
vídeo pode ser um instrumento poderoso de conscientização, se não for usado de forma utilitária e com uma linguagem burocrática.
to be able to propose and fund their programmes for environmental protection. What is needed is for the Ministry of Culture to assume its part and establish with the Indians a
Precisamos de muito mais diálogo intercultural, para o
dialogue to define cultural policy. This Ministry
Índio deixar de ser um corpo estranho, um estrangeiro
still behaves today like the registry offices of ten
em sua própria terra. A ausência da temática indígena no
years ago: “an Indigenous cultural project, can
sistema educacional brasileiro e a reprodução dos eternos
only happen with Funai’s authorisation”. The great
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
31
clichês e preconceitos na mídia, perpetuam este estra-
patrimony of the Indians is cultural, live culture,
nhamento, esta ignorância.
not just for them but also for millions of Brazilians
Os índios podem participar da modernidade, querem
who have no idea what goes on in this country.
ser incluídos neste país e gozar de cidadania plena, desde que sua identidade e diferença sejam respeitadas. É preciso apoiar a produção indígena contemporânea e difundi-la no sistema educacional de uma maneira efetiva. Por
The meaning of this exhibition and the opening of a new cycle The Idea of this showing is to present to the public these new authors that are giving an original and
ser uma ínfima minoria, o acesso aos meios de comuni-
refreshing contribution, a real expression of Brazil’s
cação é estratégico para eles. A temática indígena pre-
cultural diversity. We concluded the cycle of Video
cisa estar nas nossas escolas, precisa estar na mídia, mas
in the Villages and opened a new one, Video from
representada por eles mesmos, com este olhar próprio
the Villages. The Idea of an interchange of
que faz toda a diferença.
information among the villages continues in the project, but now the Indians have the chance to produce and watch their own works. Our attitude is activist because we continue to place the project at the service of the indigenous movement. Our work is to convince the leaders of this movement that art is a powerful tool for transformation, it reflects their identity and translates an aesthetic emotion that can be shared by people of other cultures. In this sense, it is more efficient than the pamphlet video, the report video or the video of meetings. Cinema may be a powerful instrument for raising awareness, if it is not used in a utilitarian way and with a bureaucratic language. We need much more intercultural dialogue, for the Indian to stop being a cuckoo in the nest, a stranger in his/her own land. The absence of the indigenous theme in the Brazilian educational system and the reproduction of the eternal clichés and prejudices in the media, perpetuate this distance, this ignorance. The Indians can and want to take part in modernity, to be included in this country, enjoy full citizenship, if their identity and difference are respected. It is vital to support contemporary indigenous production and disseminate it in the educational system in an effective way. Being a tiny minority, access to the means of communication is strategic for them. The indigenous theme needs to be in our schools, in the media, but represented with their own eye, which makes all the difference.
32
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
Vídeo das Aldeias MARI CORRÊA
Documentarista e diretora do Vídeo nas Aldeias Film-maker and director of Video in the Villages
E
ntrei no Vídeo nas Aldeias em 1998 para dar início às oficinas de formação. Anos antes, quando conheci o
Video from the Villages
projeto, ainda não se falava em formar realizadores indí-
I joined Video in the Villages in 1998 to begin
genas. “Ao contrário do que vocês fazem nos Ateliers
the training workshops. Years before, when
Varan1, nós aqui não editamos as imagens dos índios,
I first came across the project, there had been
eles assistem suas imagens no bruto.” – me explicou o
no talk of training indigenous film-makers. “To
Vincent. Minha experiência era radicalmente outra.
the contrary of what you do in the Ateliers Varan1,
Na época, eu estava realizando um filme no Xingu e sonhava em desenvolver com os índios de lá o mesmo tipo de trabalho que se fazia nos Ateliers Varan, onde eu tinha me formado e, desde então, participava como instrutora. A descoberta da linguagem cinematográfica, de forma intimista e artesanal, foi uma experiência
here we don’t edit footage of the Indians, they watch their own images in the rushes” Vincent explained to me. My experience was radically different. At the time, I was making a film in the Xingu region and dreamed of developing with the Indians there the same kind of work as that of the Varan
intensa, uma verdadeira iniciação ao filme documen-
Studios, where I was trained and, subsequently,
tário, que produziu uma mudança radical na minha
worked as instructor. The discovery of film
forma de ver e querer fazer filmes. O conceito e o méto-
language, in an intimiste and handcrafted style,
do de aprendizagem dos Ateliers Varan punham o do-
was a powerful experience, a true initiation to
cumentarista iniciante diante de um leque de questões
the film documentary, which produced a complete
éticas, políticas e filosóficas que iam muito além do
turn-around in my way of seeing and of wanting
manuseio do equipamento. Era um aprender fazendo,
to make films. Varan’s concept and learning
quebrando a cara e refletindo. Lá eu descobri que fazer
method placed the newly-trained documentary
filmes é pôr-se em risco, é estar aberta ao real e ao
maker before an array of ethical, political and
imprevisível, se despindo de idéias pré-concebidas. Quando participei como instrutora de uma oficina Varan com os Kanak, povo tradicional da Nova Caledônia, pude ver que aquela forma de trabalhar era bastante ade-
philosophical issues that went far beyond the manipulation of equipment. It was learning by doing, making mistakes, and reflecting. There I discovered that making films is to put oneself at risk, to be open to what is real and to the
quada a povos de tradição oral e trazia resultados sur-
impredictible, stripping off pre-conceived ideas.
preendentes. Naquele pequeno território francês, onde os
When I took part as an instructor in a Varan
Kanak viviam sob um apartheid feroz porém velado, o
workshop with the Kanak, a traditional population
vídeo conseguiu erguer a auto-estima das comunidades
in New Caledonia, I was able to see that this way
1. Os Ateliers Varan, com sede em Paris, é uma escola de realização de documentários através de oficinas de formação.
1. The Ateliers Varan, based in Paris, is a school for documentary filmmaking through training workshops.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
33
envolvidas com a oficina e criar um canal de diálogo
of working was suitable to people with an oral
entre gerações, estimulando a curiosidade dos jovens
tradition and brought surprising results. In that
Kanak por sua própria cultura, e assim aproximando-os
small French territory, where the Kanak lived
dos velhos, detentores do saber tradicional. Ficou claro
under a fierce but veiled apartheid, the video
para mim que aquele método poderia ser adaptado à realidade dos índios que conhecia no Brasil, que também viviam alguns aspectos da mesma problemática relacionada à identidade. Em 1998, fui convidada pelo Vídeo nas Aldeias a coor-
managed to raise the self-esteem of the communities involved in the workshop and create a channel for dialogue between generations, stimulating the young Kanaks’ curiosity about their own culture, and thus drawing them closer to the elders, the holders
denar as oficinas de formação, depois de uma primeira
of the traditional knowledge. It became clear
experiência organizada pelo projeto no Parque do Xingu,
to me that this method could be adapted to
com índios de diversas etnias. Começamos no Acre, em
the reality of the Indians I knew in Brazil, who
parceria com a Comissão Pró-Índio (CPI-AC), uma oficina
also experienced several aspects of the same
para quatro professores indígenas. Em quinze dias conse-
problems relating to identity.
guimos produzir um pequeno vídeo, o “Pega não pega”, ainda bem rudimentar na sua forma. Neste primeiro contato com a linguagem cinematográfica, a edição foi um passo essencial para que os participantes se iniciassem na
In 1998, I was invited by Video in the Villages to coordinate the workshops, after a first experience organized by the project in the Xingu Park with Indians from various ethnic groups. In Acre, and in partnership with the
construção narrativa específica do documentário, pela
Comissão Pró-Índio (CPI-AC), we began a
observação de outros filmes na mesa de edição mas, so-
workshop for four indigenous teachers. In a
bretudo, pela prática de edição de seu próprio filme.
fortnight we managed to produce a small video,
Esta primeira experiência nos mostrou que, se quisés-
albeit basic in format. In this first contact
semos dar maior consistência ao trabalho e obter melhores
with film language, the editing was a crucial
resultados, era preciso desenvolver uma formação a longo
element in helping the participants master the
prazo. Porque se aprender a usar uma câmera pode ser fácil, aprender a fazer filmes é uma outra história.
documentary’s specific narrative construction, through the observation of other films on the editing table, but, above all, through the practical editing their own film.
FILMAR O NADA
This first experience showed us that, if we
Durante um encontro que promovemos com os realizado-
wanted to give the work more consistency and
res em São Paulo, lembro-me de uma discussão sobre
obtain better results, we would have to develop
quais seriam os assuntos que eles gostariam de tratar em
a long-term training scheme. Because learning to
seus filmes. O tema recorrente era o de “filmar a cultura”:
use a film camera may be simple, but learning
filmar a cultura para não perdê-la, para mostrar para os
to make films is another story.
mais jovens, para o homem branco respeitar mais. Nesta conversa, e em muitas outras antes e depois desta, cultura é muitas vezes identificada exclusivamente como ritual, é festa tradicional e ponto. Começamos a questioná-los
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Filming nothing During a meeting that we promoted with indigenous film-makers in São Paulo, I remember a discussion over which topics they would like to cover in
sobre esta idéia: então um povo que não faz mais sua
their films. The recurrent theme was “filming the
festa tradicional não tem mais cultura? O conceito de
culture”: filming the culture to avoid losing it,
cultura foi se ampliando na medida em que aprofundáva-
to show to the younger people, to the whites for
mos a discussão: falar sua língua, o jeito de cuidar dos
them to respect us more. In this conversation,
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
filhos, de fazer sua roça, de preparar sua comida, as coisas
and in many others before and after it, culture is
em que se acredita, as histórias, os valores… foram apa-
very often identified exclusively as ritual, it is
recendo como elementos e manifestações de cultura. A
traditional festivals and that’s all. We began to
certa altura, um dos participantes, um índio Terena, visi-
ask them about this idea: so a group that has no
velmente aliviado, disse: “Na minha aldeia não se faz mais festa tradicional e só os velhos falam a nossa língua. Estava achando que não ia ter o que filmar, que não tinha filme para fazer lá.”
more traditional festivals has no more culture? The concept of culture was broadened as we deepened the discussion: to speak the language, the way in which children are cared for, the vegetable garden, food preparation, the things
Numa outra ocasião, uma conversa por rádio com Kumaré Ikpeng apresentava um sentido semelhante:
one believes in, the stories, values… appeared as elements and manifestations of culture. At a
– Kumaré, o que você está filmando aí?
certain moment, one of the participants, a
– Nada, estou parado.
Terena Indian, visibly relieved, said: “In my
– Por quê? Acabaram as fitas?
village there are no more traditional festivals
– Não, porque não está acontecendo nada.
and only the elders speak the language. I was
Na entressafra das festas tradicionais que ocorrem praticamente todos os anos na sua aldeia, Kumaré considerava que a trivialidade do dia-a-dia não apresentava nada digno
thinking there was nothing to film, no film to be made there.” On another occasion, a radio conversation with Kumaré Ikpeng presented a similar feeling:
de ser registrado. Embora eu estivesse ciente da impor-
– Kumaré, what are you filming there?
tância destas manifestações culturais coletivas e do legí-
– Nothing, I’ve stopped.
timo desejo de tê-las registradas, percebia que a focalização
– Why? Have the tapes run out?
exclusiva no tema ofuscava uma boa parte dos aspectos
– No. Because nothing is happening.
mais atuais de sua cultura. Como se, na reverência ao tra-
In the intervals between the traditional
dicional, a um passado de “índio puro”, termo que mesmo
festivals that happen practically every year in
alguns deles já usam, rejeitassem parte de seus traços
his village, Kumaré considered that the triviality of everyday life had nothing worthy of being
culturais do presente. Como despertar o interesse deles por aspectos impalpáveis, mais sutis ou mesmo “invisíveis” da cultura?
recorded. Although I was aware of the importance of these cultural manifestations of the group and of the legitimate desire to have them recorded,
Aqueles que se revelam nos gestos simples do cotidiano,
I perceived that the exclusive focus on the theme
nos instantes imprevisíveis da vida e que escapam do
concealed a good many of the more current
dogma do etnicamente correto? Como torná-los parte da
aspects of their culture. A reverence to tradition,
composição do real?
to a past of “pure Indian”, a term that even some
Oficina na aldeia Ashaninka em 1999. Chovia muito. As câmeras úmidas demoravam a funcionar e eram poucas as atividades na aldeia. Depois da edição de “Wapté Mnhõnõ” e “Moyngo”2, dois filmes baseados em rituais, eu queria muito experimentar com eles a idéia de filmar o tal do “nada” a que se referia Kumaré. Sugeri um novo exer-
of them already use, as if they rejected part of the present day cultural traces. How to awake their interest for more subtle, impalpable or even “invisible” aspects of the culture? Elements revealed in the simple gestures of daily life, in life’s unpredictable instants that escape from the dogma of ethnic
cício: retratar o cotidiano de uma pessoa da aldeia onde
correctness? How to make them part of the
cada um escolheria alguém – homem, mulher ou criança
composition of the real?
2. “Wapté Mnhõnõ, iniciação do jovem Xavante” e “Moyngo, o sonho de Maragareum”.
Heavy rain. The damp cameras were slow to work
A workshop in an Ashaninka village in 1999.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
35
– com quem tivesse alguma afinidade ou que despertasse
and village activities scant. After editing “Wapté
neles um interesse particular. Na busca de seus “perso-
Mnhõnõ” and “Moyngo”2, two films based on
nagens”, surgiam pessoas com um incrível senso da ima-
rituals, I very much wanted to try out with them
gem, verdadeiros atores natos. Um deles estava cons-
the idea of filming the so-called “nothing” that
truindo uma canoa com a ajuda de seu tio, outro organizando a coleta de côco murumuru, e ainda outra tecendo uma cusma3 para o marido. Voltavam no fim do dia para
Kumaré referred to. Then I suggested a new exercise: to portray the day of a person in the village, where each would chose someone – man, woman, or child – with whom they had some
assistirmos e comentarmos juntos a filmagem de cada
affinity or that triggered a particular interest for
um. Marú Kaxinawá havia trazido um extenso material
them. In the search for their “characters”, people
sobre o trabalho na roça de seu personagem. Registro de
appeared with an incredible sense of image, real
observação meticulosa onde podíamos perceber o cuida-
born actors. One of them was building a canoe
do e a precisão que tinha em acompanhar cada gesto de
with his uncle’s help, another organising the
seu personagem, como se, de tão familiares, fossem tam-
collection of murumuru coconuts, and a third
bém seus.
weaving a cusma3 for her husband. They returned
Quando enfim o trabalho da roça terminou e seu personagem voltou para a casa, a filmagem foi interrompida. “Por que parou, Marú?” “Porque ele foi comer e depois
at the end of the day for us to watch and comment together each one’s footage. Marú Kaxinawá had brought a long piece on his character’s efforts in the vegetable garden. A record of meticulous
descansar. Não ia acontecer mais nada”. Insistimos para
observation where we could see the care and
que ele, da próxima vez, filmasse os momentos onde jus-
precision he had in following each of his
tamente “nada” acontecia. No dia seguinte, o “nada” es-
character’s gestures, as if, from being so familiar,
tava lá: ao compartilhar com a família o prato de maca-
they were also his own.
xeira cozida com peixe, fluía entre Marú e Kowiri, no
When the work in the field finally ended and his
ritmo manso do balanço da rede, uma deliciosa con-
character went home, the film was interrupted.
versinha sobre coisas corriqueiras da vida, causos en-
“Why did you stop, Marú?” “Because he went to eat
graçados sobre caçadas, mulheres, aventuras passadas. A câmera, tranqüila e próxima, movia-se do prato de comida investido pelas mãozinhas das crianças para o rosto
and then rest. Nothing else was going to happen”. We insisted that, next time, he filmed the moments when precisely “nothing” happened. The following day, the “nothing” was there: in sharing with the
de Kowiri. No fundo do plano, mulheres enchendo e de-
family the dish of sweet cassava cooked with fish,
pois servindo a cuia de caissuma. Assistíamos, entusias-
between Marú and Kowiri, in the gentle swinging
mados, ao início de uma cumplicidade entre eles, de um
of the hammock, flowed a delicious little chat over
verdadeiro diálogo, enfim, os primeiros sinais do surgi-
life’s little incidents, funny hunting tales, women,
mento de um filme.
past adventures. The camera, calm and close,
Como teria sido possível filmar essa cena de longe usando o zoom? Como teria sido possível filmar essa conversa se Marú tivesse preparado uma lista de perguntas para fazer ao seu personagem? O resultado teria sido idêntico ao que estamos habituados (e cansados) de ver
moved from the plate of food clutched by the children’s tiny hands to Kowiri’s face, In the background, women filling and then serving the bowl of caissuma. We watched, enthusiastically, the beginning of a complicity between them, a real dialogue, in other words, the first signs of the film.
em filmes sobre índios (e não só sobre índios): um olhar distante com perguntas convencionais e respostas previ-
3. Túnica usada tradicionalmente pelos Ashaninka.
36
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
2. “Wapté Mnhõnõ, the Xavante’ initiation” and “Moyngo, the dream of Maragareum”. 3. Tunic traditionally used by the Ashaninka.
síveis, a voz em off de um narrador onipresente, explican-
How could we have filmed this scene from a distance using the zoom? How could we have
do generalidades sobre como-vivem-os-Ashaninka.
filmed this conversation if Marú had prepared a list FILMAR O REAL NÃO É FILMAR A REALIDADE
Ao contrário destes filmes que querem equivocadamente explicar como são os índios, a proximidade que resulta desta outra forma de se posicionar permite à pessoa fil-
of questions to put to his character? The result would have been identical to what we are used to (and tired of) seeing in films about Indians (and not just about Indians): a distant eye with conventional questions and predictable answers, the
mada fazer parte da construção do filme, interagindo com
voice over of an omnipresent narrator, explaining
o “filmador”. Ela escolhe o que quer mostrar de si e como
generalities about how-the-Ashaninka-live.
quer se mostrar, assim como também faz o realizador quando seleciona o que vai registrar. Isso não tira nada
Filming the real is not filming the reality
de sua espontaneidade, porque está à vontade diante de
Contrary to these films that wrongly want to explain
uma câmera que não lhe “rouba” a imagem. Ao ver estes
how the Indians are, the closeness that results from
filmes, não estamos portanto diante da “verdadeira reali-
this other way of filming allows the person being
dade” dos índios, mas de uma interpretação constituída de pelo menos dois olhares: o da pessoa que filma e da que consente em ser filmada.
filmed to join in the construction of the film, interacting with the “filmer”. He/she chooses what they want to show of themselves and how they want to appear, in the same way as the film-maker when
Acho que filmar é mais fácil do que editar, e estou me
they select what they are going to record. This in no
referindo ao documentário. A edição é fase mais com-
way detracts from the spontaneity of the “filmee”,
plexa do processo de fabricação deste tipo de filme, já
because they feel at home in front of a camera that
que o real foge do nosso controle, resiste ao nosso domí-
does not “steal” the image. On seeing these films,
nio e, por mais que quisermos, não temos poder sobre
we are therefore not faced with the Indian’s “true
ele. É o momento delicado de escolher, articular e cons-
reality”, but with an interpretation constituted of
truir o filme a partir do emaranhado do material bruto,
at least two points of view: that of the person filming and that of who consents to being filmed.
do real fragmentado e desordenado. Passar pelo processo de edição com eles, experimentando possibilidades, cortando ou alongando planos, cons-
I think that filming is easier than editing, and I am referring to the documentary. The editing is the most complex part of the production of this
truindo seqüências, articulando-as entre si, é, sem dúvida,
kind of film, since the real escapes from our control,
a etapa crucial do aprendizado. É neste momento que
resists our domination and, no matter how much
conseguem ter uma visão mais ampla do trabalho que fi-
we want, we have no power over it. It is the
zeram conferindo, através da edição, novos significados
delicate moment of selecting, putting together
a ele. E é também quando escolhem o que fará, ou não,
and constructing the film from the mesh of the
parte do produto final: que falas e que cenas guardar, o
raw footage, the fragmented and disordered real. Going through the editing process with them,
que e onde cortar, o que mostrar e não mostrar. Muitas vezes nos perguntaram se são os índios que editam seus filmes. Se considerarmos que editar não se restringe a apertar os botões de uma máquina, então podemos
trying out possibilities, cutting or extending shots, constructing sequences, putting them together in their own order, is, without doubt, the crucial stage of the learning process. It is at this moment that
afirmar que são eles que editam, com a nossa ajuda e con-
they manage to have a wider vision of the work they
selhos, seus filmes. É claro que, no início de um processo de
have done, conferring, through the editing, new
aprendizado, a participação do editor/instrutor é muito mais
meanings to it. And it is also when they choose
intensa, porém, na medida em que vão se familiarizando
what will belong, or otherwise, to the final product:
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
37
com o processo de edição e se afirmando como realizadores,
which testimonies and scenes to keep, what and
a relação entre eles toma a forma de um diálogo, própria à
where to cut, what to show and what not to show.
relação que conhecemos entre o(a) realizador(a) e seu edi-
We are often asked if it is the Indians that edit
tor(a). Mas, mesmo no início do aprendizado, nada é mais evidente para nós, e para eles, de que o que poderia tornar a relação desigual pelo nosso domínio da técnica, é compensado pelo maior conhecimento e intimidade que eles
pressing buttons on a machine, then we can affirm that it is they who edit – with our help and advice – their films. It is clear that, at the beginning of a learning process, the participation of the
têm com a sua cultura. E não é nenhum exagero dizer que
editor/instructor is much more intense; however,
aprendemos com eles mais do que aprendem conosco.
as they become more and more familiar with the
Talvez porque seus filmes causem um forte impacto
editing process, and are empowered as film-makers,
pelo que trazem de novo, e talvez ainda porque muita
the relation between them takes the form of a
gente não imagina que os índios possam produzir tra-
dialogue, the relationship we know between the
balhos com tanta qualidade, paira às vezes no ar uma
film-maker and his/her editor. But, even at the
certa dúvida quanto à verdadeira autoria destas obras.
beginning of the apprenticeship, nothing is clearer
Isto revela, muitas vezes, e no melhor dos casos, uma visão ingênua que se tem sobre os índios, como sendo seres inocentes e facilmente manipuláveis, e, na pior
to us, and to them, that what could make the relation unequal through our mastery of the techniques, is compensated by the greater knowledge and intimacy that they have with their
das hipóteses, um forte preconceito contra eles, por-
culture. And it is no exaggeration to say that we
que seriam incapazes de dominar com tanto brilho a
learn more with them than they with us.
tecnologia e a arte dos não-índios. Entretanto, não podemos esquecer que são realizado-
Perhaps because their films cause a big impact by what they bring that is new, and perhaps also
res aprendizes e que num processo de formação, a inter-
because a lot of people do not imagine that the
ferência ou a influência dos instrutores é real e, no nosso
Indians can produce such high quality work, at
caso, plenamente assumida. Desde que comecei a traba-
times a certain doubt about the true authorship of
lhar no Vídeo nas Aldeias, defendi uma certa forma de trabalhar e uma certa forma de fazer filmes, o que gerou, naturalmente, muitas discussões entre nós. A opção que
these pieces of work hangs in the air. This reveals, very often, and in the best cases, the ingenuous view that people have about Indians, as innocent and easily manipulated beings, and in the worst
fizemos pelo documentário foi porque achávamos, e con-
cases, a strong prejudice against them, because
tinuamos a achar, que este gênero, em oposição ao vídeo-
they would be incapable of mastering with such
clip, às reportagens e a todo o fast-food que consumi-
talent the technology and art of the non-Indians.
mos pela tv, era o que permitiria fazer uso da linguagem
Nonetheless, we cannot forget that they are
cinematográfica e o que propiciaria um trabalho de pes-
trainee film-makers and that in a training process,
quisa e questionamento mais profundos sobre identi-
the interference or the influence of the instructors
dade, cultura, relação com o “outro” e a construção de sua
is real and, in our case, fully assumed. Ever since
própria imagem. Assumimos não só um gênero mas um estilo. Vincent já usava, de certa forma, a linguagem do “cinema direto”:
38
their films. If we consider that editing is not just
I started working in Video in the Villages, I have defended a certain form of working and a certain way of making films, which has generated, naturally, many discussions amongst us. The option
seus filmes tinham a característica de forte participação
we took for the documentary was because we
dos índios na sua feitura, sem locuções alienígenas, que-
believed, and continue to believe, that this genre,
brando, por esta forma de fazer e pelo seu conteúdo, a
in opposition to the video-clip, to film reports and
distância abissal que sentimos dos índios nos filmes
all the fast-food that we consume via the TV, was
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
etnográficos mais clássicos. Era também próximo do esti-
what permitted making use of film language and
lo de filme que eu havia aprendido a fazer e a ensinar.
what would provide a more thorough research and
Portanto, o que passamos a desenvolver nas oficinas de
deeper questionings over identity, culture,
formação, refletia nossa opção por este gênero e estilo
relationships with the “other” and the construction
de filme. Acho inútil, equivocado e mesmo perigoso não se posicionar claramente como instrutores, escamotean-
of their image. We took on board not only a genre but a style. Vincent already used in a certain way the language
do-se por trás de um discurso pseudo-liberal que defen-
of « direct cinema » : his films had the
deria a neutralidade num processo de formação, seja ela
characteristics of strong indigenous participation in
qual for. Ao contrário, acho fundamental evidenciar a
their making, without alien look liking narratives,
proposta de trabalho junto às pessoas que pretendemos
breaking, through this approach and content, the
formar, o que não nos obriga a ser dogmáticos ou auto-
abysmal distance that we felt from the Indians in
ritários. Uma postura clara permite que cada um faça com mais liberdade suas próprias escolhas, desenvolvam seu senso crítico e sua autonomia.
the more classic ethnographic films. It was also close to the style of film that I had learnt to make and to teach. However, what we began to develop in the training workshops, reflected our option for
E por falar em liberdade e autonomia, quando inicia-
this genre and style of film. I think in a training
mos a formação de realizadores indígenas e decidimos,
process of whatever nature it is useless, wrong, and
em 2000, fundar a ONG Vídeo nas Aldeias, pensei que
even dangerous not to take a clear stance as
talvez até pudéssemos mudar seu nome para Vídeo das
instructors, hiding behind a pseudo-liberal
Aldeias. Afinal, estávamos dando uma grande guinada nos
discourse in defence of neutrality in a training
rumos do projeto, criando condições para que os índios pudessem enfim se expressar por si mesmos, através de seus filmes.
process whatever it is. On the contrary, I think it is essential to make the work proposal clear to the people that we intend to train. This doesn´t oblige us to be dogmatic or authoritarian. A clear posture
De 1998 para cá, desta feliz e tumultuada parceria
permits each one to take up its own choices with
com Vincent, vários filmes de autoria indígena surgiram.
greater freedom, to develop a critical sense and
Eles são, ao meu ver, a mais bela prova de que escolhemos
autonomy.
um bom caminho. Por ser ainda uma experiência recente e economicamente frágil, é cedo para falar em autonomia dos realizadores indígenas. O Video das Aldeias está se construindo, no ritmo do balanço das redes. Este é o nosso grande sonho, um sonho realizável.
And, speaking of freedom and autonomy, when we began the training of indigenous film-makers and we decided, in 2000, to found the NGO Video in the Villages, I thought that perhaps we could change its name to Video from the Villages. After all, we were causing a sudden turn in the paths of the project, creating the conditions for the Indians to express themselves at last, through their films. From 1998 to the present date, from this happy and tumultuous partnership with Vincent several films of indigenous authorship appeared. They are, in my opinion, the most beautiful proof that we chose a good path. Because it is still a recent and economically weak experience, it is early to speak of the autonomy of the indigenous film-makers. Video from the Villages is developing, in the rhythm of the swinging hammocks. This is our great dream, a dream that can be brought to life.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
39
Política, estética e ética no Projeto Vídeo nas Aldeias RUBEN CAIXETA DE QUEIROZ
Professor Adjunto de Antropologia da UFMG, co-diretor do festival FORUMDOC.BH Assistant Professor of Anthropology at the Federal University of Minas Gerais and co-director of the Documentary and Ethnographic Film Festival FORUM.DOC
E
m 1987 nascia na cidade de São Paulo o Projeto Vídeo nas Aldeias como um desdobramento das ativi-
dades do Centro de Trabalho Indigenista. Tal projeto tinha a finalidade de incentivar os índios a realizarem e a observarem sua própria imagem além de buscar a forma-
In 1987, in the city of São Paulo, the Project Video in the Villages was born as a branch of the activities of the Centro de Trabalho
ção de uma rede de troca de experiências entre os diver-
Indigenista (Centre for Indigenous Advocacy).
sos grupos indígenas. Estas se inseriam particularmente
The project’s aim was to encourage Indians
no campo da política, ou seja, no processo de organiza-
to make and observe their own image,
ção e luta dos índios em busca de seus direitos territo-
in addition to forming a network for the
riais, em busca de seu reconhecimento étnico face à so-
exchange of experience among the various
ciedade hegemônica e aos interesses colonizadores cir-
indigenous groups. This experience
cunscritos no âmbito de uma política integracionista do
particularly focused around the field of
Estado nacional.
politics, i.e. on the process of organization
Ora, num país no qual tanto a esquerda quanto a direita creditam a uma grande rede de televisão uma contribuição essencial na formação desta identidade nacional – emissora de TV que, através de seus programas veiculados nos quatro cantos do país, leva o sotaque e os problemas existenciais de uma classe média-alta paulistana
and struggle the Indians were involved with in the search for their territorial rights, in search of the ethnic recognition in the face of a hegemonic society and the colonizing interests surrounding the sphere of the Brazilian State integration policy. Indeed, in a country in which both the
ou carioca aos olhos e ouvidos daqueles que habitam até
left and the right credit a giant TV network
mesmo uma aldeia no meio da floresta amazônica –, não
with a vital contribution towards creating
deixa de ser digno de destaque um Projeto voltado, num
this national identity – a TV company that,
primeiro momento, para criar as condições necessárias à
through its programmes transmitted to the
expressão de modos particulares de vida através do uso
four corners of the country, takes the accent
da imagem e do som, e, num segundo momento, para a
and the existential problems of a São Paulo or
formação de realizadores indígenas. Contudo, nunca foram fáceis a execução desta proposta e a sua aceitação pelo público. De um lado, temia-se que os índios (mais uma vez) não fossem capazes de
40
Politics, aesthetics and ethics in the Project Video in the Villages
Rio middle class to the eyes and ears of even those who inhabit a village in the depths of the Amazonian forest –, a Project addressing, in the first instance, the creation of the conditions necessary for the expression
dominar a linguagem audiovisual e oferecessem um pro-
of particular ways of life through image and
duto de baixa “qualidade” e, de outro lado, temia-se que
sound, and, in second place, to the training
o vídeo (a imagem, a televisão) introduzido no seio das
of indigenous film-makers, is certainly worthy
comunidades indígenas funcionasse como um vírus desin-
of note.
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
tegrador de uma tradição cultural original. Na verdade, os
Nonetheless, neither the execution of
dois temores escondiam e escondem um velho precon-
this proposal, nor its acceptance by the public
ceito sempre presente na sociedade ocidental, no caso, a
have ever been straightforward. On the one
sociedade brasileira, que, ao mesmo tempo, alega a inca-
hand, was the fear that the Indians (once
pacidade “natural” dos índios (para o pensamento e as artes) e afirma como universal os valores e a estética do homem branco.1
again) were not capable of mastering the audiovisual language and would offer a low “quality” product and, on the other, that the video (the image, the television) introduced
Em 1997, dez anos depois da criação do Projeto Vídeo
in the midst of indigenous communities would
nas Aldeias, acontecia na cidade de Belo Horizonte a
function as a disintegrating virus upon the
primeira edição do FORUMDOC.BH (Festival do Filme
original cultural tradition. In reality, both
Documentário e Etnográfico). Nada mais justo que imagi-
fears concealed and conceal an old prejudice
nar este evento apresentando uma retrospectiva dos tra-
that is always present in western society, in
balhos realizados por aquele Projeto, debater com Vin-
this case Brazilian society, that, at the same
cent Carelli e Dominique Gallois as idéias e as práticas
time, alleges the Indians’ “natural” incapacity
desta proposta inovadora no Brasil de uso do vídeo pelas
(for thought and the arts) and states as
comunidades indígenas como instrumento para a valo-
universal, White1, or non-Indian, values
rização da identidade étnica e como recurso na conquista de seus direitos. Num dos debates que seguiram à projeção dos vídeos, lembramos que um dos espectadores
and aesthetics. In 1997, ten years after the Video in the Villages Project was created, in the city of Belo Horizonte took place the first edition
colocou exatamente a questão da legitimidade de levar
of the FORUMDOC.BH (Documentary and
para os índios um instrumental técnico e ideológico do
Ethnographic Film Festival). Nothing more
mundo ocidental e se isto não significaria corromper as
perfect than to imagine this event presenting
suas formas tradicionais de comunicação baseadas na
a retrospective look at the works carried out
oralidade. A resposta de Vincent Carelli seguiu no senti-
by that Project, debate with Vincent Carelli
do de demonstrar que, pelo bem ou pelo mal, muito mais
and Dominique Gallois the ideas and practices
pelo mal, uma infinidade de “produtos” e micróbios ti-
of this innovator project in Brazil of the use
nham sido levados pelos brancos para os índios, a começar pelo machado de ferro e a passar pelas epidemias, sendo que, é verdade, o instrumental videográfico seria
of video by the indigenous communities as a tool for valuing ethnic identity and as a resource in the conquest of their rights.
apenas mais um deles, e não era o dos piores. Ao contrário, tinha-se a intenção de que ele pudesse ser uma
1. Façamos justiça, entre os “brancos”, sempre encontramos aqueles que afirmaram, como o poeta Rimbaud Eu é um outro ou o cineasta Jean Rouch, Moi, un noir e, assim, fizeram dos outros a essência da sua arte. Vale lembrar também que certos intelectuais e artistas ocidentais deixaram de lado o padrão estético macho-europeu-ocidental e a “qualidade” em favor do ruído, do imponderável, do desmedido, do defeito, como diz o artista James Ensor num banquete em sua homenagem promovido pela La Flandre Litéraire em 1923: “Sim, os defeitos são as qualidades, e o defeito é superior à qualidade. Qualidade significa uniformidade no esforço para atingir certas perfeições comuns, acessíveis a todos. O defeito escapa às perfeições uniformes e banais. O defeito é, pois, o múltiplo; ele é a vida e reflete a personalidade, o caráter do artista; humano, o defeito é tudo e há de salvar a obra.”
1. To be fair, among the “Whites”, we can always find those who state, like the poet Rimbaud “I is another” or the film-maker Jean Rouch, Moi, un noir and, thus, make the others the essence of their art. It is also worth remembering that certain intellectuals and western artists have given up the male-westernEuropean aesthetic standard and “quality” in favor of noise, of the unthinkable, the un-measurable, the fault, as the artist James Ensor says in a banquet in his honor promoted by La Flandre Litéraire in 1923: “Yes, the faults are the qualities, and the fault is superior to quality. Quality means uniformity in the effort to reach certain common perfections, accessible to all. The fault escapes uniform and banal perfections. The fault is, thus, the multiple; it is life and reflects the personality, the character of the artist; human, the fault is everything and must needs save the work.”
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
41
arma na mão dos índios contra a ameaça de sua destrui-
In one of the debates that followed the
ção física e cultural que sempre pairou no ar desde o
projection of the videos, we remember that
primeiro contato com o homem branco. Uma segunda
one of the spectators posed precisely the
questão, esta mais indignada, foi apresentada por outro
question of the legitimacy of taking the
espectador a propósito de Segredos da Mata (1998): ele via neste vídeo produzido pelos índios Waiãpi um pastiche de obras como o filme Alien. É verdade, os Waiãpi
Indians technical and ideological equipment from the western world and if this would not corrupt their original forms of communication, based on oral tradition.
tinham visto este filme, como respondeu Dominique
Vincent Carelli replied demonstrating that,
Gallois, e o tinham muito apreciado, assim como, não só
for good or for bad, much more for bad, an
os Waiãpi, outros grupos indígenas são fissurados nos
infinity of “products” and microbes had
filmes encenados em torno das lutas marciais do tipo
been taken to the Indians by the Whites,
Kung Fu ou Bruce Lee. Nas duas questões, o mesmo temor
starting with the axe and going through the
estava presente: os índios não devem ser corrompidos por
epidemics; the truth being that the
nossas tecnologias e concepções estéticas e, ao mesmo
video equipment represented just one
tempo, devem ser mostrados ou devem mostrar aquilo que imaginamos ser a essência deles: portadores de penas, arcos e flechas, caminhando de forma integrada na
more of them, and not among the worst. To the contrary, the intention was that it would provide a weapon in the hands of the Indians against the threat of their
selva, ou, guerreiros, para não dizer preguiçosos e trai-
physical and cultural destruction that has
çoeiros. É como se nós pudéssemos tudo copiar dos ou-
always hung in the air since the first
tros, enquanto aos índios estivesse reservado o lugar da
contact with the White man.
repetição daquilo que sempre foram ou, pior, daquilo que
A second question, this one more
sempre imaginamos que
foram2.
Porém, evidente é que este tipo de inquietação nunca teve lugar no âmbito do Vídeo nas Aldeias, pois, como cito alhures (Gallois e Carelli apud Queiroz, 1998: 44-45), este Projeto, afetado pela perspectiva de uma certa antropologia hermenêutica ou dialógica, “parte da pre-
indignant, was presented by another viewer about “Jungle Secrets” (1998): he saw in this vídeo produced by the Waiãpi Indians a pastiche of works like the film Alien. In reality, the Waiãpi had seen this film, as Dominique Gallois replied, and had much appreciated it, just as other
missa de que as identidades indígenas são, hoje, mais
indigenous groups are hooked on films
disseminadas que exclusivas, construídas a partir de tra-
acted out on the basis of the martial arts
dições fragmentadas e, sobretudo, a partir de influências
like Kung Fu or Bruce Lee. In both
transculturais. Por outro lado, a antropologia dos movi-
questions, the same fear was present: the
mentos étnicos evidenciou que a forma mais eficiente de
Indians should not be corrupted
fortalecer a autonomia de um grupo é permitir que se
by our technologies and aesthetic
reconheça, demarcando-se dos outros, numa identidade
conceptions, and, at the same time, should be shown or should show what we imagine to be the their essence:
2. Isso nos faz lembrar de uma anedota segundo a qual alguns funcionários da FUNAI, no seu digno trabalho junto aos “índios isolados”, de tempos em tempos, passam nas suas aldeias recolhendo certos objetos como panelas de alumínio que os indígenas conseguiram obter no contato não permanente com o mundo dos brancos. Entre a cruz e a espada, não é incomum que estes mesmos índios sejam assediados por missionários evangélicos propagando-lhes a “palavra de Deus” e os conclamando a abandonar os seus “costumes bárbaros”.
42
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
bearers of feathers, bows and arrows, walking in an integrated way in the forest, or, warriors, not to mention their lazy and treacherous natures. As if we were permitted to copy from others, while the Indians were left with the place of the repetition of
coletiva. Neste processo dinâmico, a revisão da própria
everything they always were, or worse, what we
imagem e a seleção dos componentes culturais que a
imagined that they were2.
compõem resultam de um trabalho de adaptação constante. A cultura – que não é feita apenas de tradições – só existe como movimento, alimentado pelo contato com a alteridade.”
However, it is evident that this kind of concern has never had a place in the environment of “Video in the Villages”, since, as I quote elsewhere (Gallois and Carelli apud Queiroz, 1998: 44-45), this Project, affected by the prospect of a certain
Ao ver os filmes e ao ler os textos produzidos no contexto do Vídeo nas Aldeias, constatamos uma crítica
hermeneutic or dialogic anthropology, “part of the premise that indigenous identities are, today,
explícita a dois tipos de pensamento: um “arquivista”, o
more disseminated than exclusive, built from
outro “relativista”. No primeiro caso, é questionada aque-
fragmented traditions and, above all, from trans-
la forma de registro de imagens e coleta de informações
cultural influences. On the other hand, the
com a finalidade de as “conservar” em bibliotecas e mu-
anthropology of the ethnic movements has
seus. Ao contrário, é demonstrado, os saberes indígenas
witnessed the fact that the most efficient form
são respeitados e multiplicados na medida em que são
of strengthening a group’s autonomy is to permit
colocados em ação e em construção permanente de tal forma que a “tradição” é vista como um processo criativo e adaptativo.
that it recognizes itself, standing out from the others, in a collective identity. In this dynamic process, the reviewing of a self-image and the selection of its cultural components result in a
No segundo caso, ao criticar o relativismo radical, colo-
work of constant adaptation. Culture – that does
ca-se em risco uma posição cômoda que protege o etnólo-
not just consist of traditions – only exists as a
go e o cineasta por trás de seu caderno de campo ou da
movement, fed by contact with “otherness.”
sua câmera. De forma diferente, menos que observar, bus-
Seeing the films and reading the texts
ca-se neste Projeto construir um processo comunicativo no
produced in the context of the Video in the
qual, cabe sim ao antropólogo ou cineasta recolher as
Villages Project, we find an explicit criticism
práticas e sistemas de pensamento dos índios e os trans-
of two kinds of thought: one “archivist”, the
mitir à sociedade hegemônica, mas também cabe-lhes o desafio de oferecer aos índios as informações sobre a sociedade ocidental, responder às suas demandas de inter-
other “relativist”. The first case challenges the kind of recording of images and collating of information that aims to “conserve” them in libraries and museums. To the contrary, it
venção, introduzir em suas aldeias as técnicas modernas
demonstrates, indigenous wisdom is respected
que sejam úteis aos seus projetos. Ou seja, mais que ob-
and multiplied while it is put in action, and in
servador, nesta nova perspectiva, é atribuído ao antro-
permanent construction in such as way that
pólogo-cineasta o papel de tradutor intercultural.
“tradition” is seen as a creative and
Parece-nos evidente que uma preocupação política se
adaptive process.
encontra na raiz deste Projeto, que não poderia ser considerado como um mero tipo de registro videográfico. Longe de nós querermos separar a estética da política. Porém, podemos dizer que esta dupla combinação se apresenta em dosagens distintas nos “vídeos nas aldeias”: num primeiro conjunto deles a dimensão política e ética se sobressai em relação à dimensão estética e êmica, enquanto num segundo conjunto se passa o inverso. Citaríamos como exemplo do primeiro tipo de vídeo os
2. This reminds us of an anecdote in which several of FUNAI (the official organ for indigenous affairs) in their worthy work with the “isolated Indians”, from time to time, went through their villages collecting certain objects such as aluminium saucepans that the Indians had managed to obtain in their non permanent contact with the world of the Whites. Between the devil and the deep blue sea, it is not rare for these same Indians to be hassled by evangelical missionaries propagating the “word of God” among them and calling them to abandon their “barbarian customs”.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
43
títulos Eu já fui o seu Irmão (1993), Placa não fala (1996) e Ou vai ou racha (1998). Durante um processo de
relativism threatens a comfortable position
afirmação étnica ou numa situação de conflito pela posse
that protects the ethnologist and the film-maker
da terra, onde se verifica uma luta desigual entre brancos
behind their notebook or camera. In a different
e índios, onde uma parte dos primeiros é detentora do controle sobre os meios de comunicação e do sistema de governo do país, onde uma parte dos últimos mal fala o
way, rather just observing, this Project seeks to build a communicative process in which it is for the anthropologist or film-maker to gather up indigenous practices and patterns of thought and
português, quando por eles solicitados, antropólogos ou
transmit them to hegemonic society, but their
cineastas, têm o dever de colocar sua influência e seu
role is also the challenge of offering the Indians
instrumental técnico a favor da parte mais fraca, a favor
information about western society, respond to
dos índios. Neste contexto, o “Vídeo nas Aldeias” é um
their demands for intervention, introduce into
projeto militante, necessário, que se insere de forma cla-
their villages the modern techniques that are
ra dentro de um movimento do cinema militante larga-
useful for their projects. In other words, more
mente presente na história do documentário.
than observer, this new prospect, the role of
Contudo, uma “opção política pelos mais fracos” não é suficiente para resolver todos os problemas éticos envolvidos num tipo de projeto pautado no emprego dos
intercultural interpreter is attributed to the anthropologist-film-maker. It seems clear to us that a political concern is at the root of this Project, that cannot be
recursos audiovisuais junto às populações indígenas. No
considered as a mere kind of video record. Far
processo de filmagem sempre aparecem dilemas quase
from wanting to separate aesthetics from politics,
intransponíveis: O quê mostrar e o quê não mostrar para
nonetheless, we can say that this double
os brancos? O quê dissimular e o quê não esconder? Como
combination is presented in distinct doses in
simplificar para se dar a entender o que é dito ou ence-
Video in the Villages: in an initial grouping of
nado? Como dar prosseguimento a estas experiências par-
their films the political and ethical dimension
ticulares e como elas afetarão as comunidades indígenas
stand out in relation to the aesthetic and êmica
tratadas (filmadas), tanto na sua composição interna quanto na sua relação com o mundo exterior, seja este mundo o dos brancos ou aquele de outras comunidades
dimension, while in a second series the opposite is shown. We will quote as example of the first kind of video the titles “We gather as a family” (1993), “Signs don’t speak” (1996) e “It´s now or
indígenas? Tais questões surgiram, por exemplo, nas pro-
never!” (1998). During a process of ethnic
duções levadas a cabo entre os Xavante de Mato Grosso e
affirmation or in a situation of conflict over land
os Waiãpi do Amapá. Por isso mesmo é que, num ensaio,
tenure, where an unjust struggle between Whites
Vincent Carelli (1995: 50), ao constatar a incompatibili-
and Indians can be seen, where a part of the
dade entre o “olhar” (a linguagem, a estética) dos índios
former has control over the country´s means of
e o “olhar” do público ocidental, justifica assim a con-
communication and system of government, where
cepção de dois produtos: um destinado aos indígenas e
a part of the latter hardly speaks Portuguese,
outro ao grande público. No entanto, se nos parecem óbvias as especificidades lingüísticas, culturais e estéticas do lado dos índios, como nos parece justa a tentati-
44
In the second case, the criticism of radical
when they are so requested, anthropologists and film-makers, have the duty to place their influence and their technical equipment at the disposal of the weaker part, in favour of the
va de produzir algo que atenda a este universo, nos pa-
Indians. In this context Video in the Villages is a
rece muito mais difícil e questionável concretizar uma
– necessary – activist project, that has an
realização videográfica que atenda ao gosto do grande
obvious place in activist cinema, broadly present
público a partir das narrativas e linguagens indígenas. Na
in the history of the documentary.
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
tentativa de satisfazer o gosto deste público, os vídeos
However, a “political option in favour of the
da primeira fase do Projeto estão recheados de uma boa
weakest” is not enough to resolve all the ethic
dose de ingredientes do cinema clássico3. Aliás, o próprio
problems involved in a kind of project with the
Vincent Carelli (1995: 50) comenta: “Eu sempre tive a
use of audiovisual resources together with
preocupação de produzir algo de atrativo para o público: isto é, uma bela fotografia, cortes no movimento, uma montagem acelerada para um público habituado a uma
indigenous populations on its agenda. On the shoots there are always almost insurmountable dilemmas: What to show and what not to show the Whites? What to dissimulate and what not
cultura visual elaborada no estilo televisual. Um toque de
to hide? How to simplify to help understand what
humor é sempre fundamental.”
is said or enacted? How to carry on with these
Em desacordo com esta opção dos trabalhos da primeira
personal experiences and how will they affect the
fase dos “Vídeos nas Aldeias”, argumentávamos num arti-
indigenous communities portrayed (filmed), both
go aqui já citado (Queiroz, 1998: 48) que não devíamos
in their internal composition and in their relation
buscar a acomodação da estética indígena naquela da
with the outside world, whether this be the
sociedade ocidental, mas, ao contrário, devíamos buscar
world of the Whites or that of other indigenous
uma confrontação entre estas diferentes estéticas, entre os diferentes pontos de vista, que era necessário forçar o mundo ocidental ao reconhecimento de que há outras
communities? Such question appeared, for example, in the productions concluded among the Xavante of Mato Grosso and the Waiãpi of Amapá. For this very reason it was that, in a rehearsal,
maneiras de ver o mundo, de viver e de pensar, e, em de-
Vincent Carelli (1995: 50), faced with the
corrência, há uma outra maneira de realizar filmes para
incompatibility between the indigenous “eye”
além daqueles tão lugar comum da televisão, da descrição
(language, aesthetics) and that of the western
científica, da reportagem, da colagem e da fusão dos ví-
public, thus justifies the conception of two
deo-clipes, da publicidade e da vídeo-arte.
products: one destined for the indigenous and
Diante desta crítica parcial, vimos com satisfação o surgimento de uma segunda fase no Vídeo nas Aldeias, na qual aquela preocupação excessiva em atrair o público foi deixada de lado, ou seja, a função espetacular deixa de existir como eixo norteador da sua produção. Nesta nova
the other to the greater public. Nonetheless, if the linguistic, cultural and aesthetic specificities on the Indians‘ side seem obvious to us, as we consider just the attempt to produce something that attends this universe, we think it is much more difficult and questionable to carry out a
safra de vídeos destacamos obras-primas como No Tempo
video production that addresses the tastes of the
das Chuvas (2000) e Shomõtsi (2001)4. Aqui, sem exage-
greater public from the indigenous narratives and
ro, reencontramos alguns traços, planos e espaços de ci-
styles. In the attempt to satisfy the taste of this
neastas como Antonioni ou Ozu. Ou seja, filmar o tempo
public, the videos from the first phase of the
de espera e o espaço vazio torna-se tão ou mais impor-
Project are filled with a good dose of ingredients
tante que filmar a ação. E eis que os realizadores indíge-
from classical cinematography3. In fact Carelli
nas reencontram o ocidente e o oriente, mas não mais no
himself (1995: 50) comments: “I was always concerned in producing something attractive for the public: that is to say, beautiful photography,
3. Este é especialmente o caso dos vídeos A arca dos Zo’é (1993), Yãkwa, o banquete dos espíritos (1995), Morayngava (1997) e Segredos da mata (1998). 4. Estes e outros vídeos realizados pelos índios foram premiados em importantes festivais de cinema documentário. A razão disso, acreditamos, não se deve a nenhum critério estabelecido pelo corpo de jurados que fosse pautado na política de afirmação étnica, mas no simples mérito em termos de beleza estética e de conteúdo.
cuts in the movement, an accelerated editing for
3. This is specially the case for the videos Meeting ancestors (1993), Yãkwa, the banquet of the spirits (1995), Morayngava (1997) and Jungle Secrets (1998).
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
45
cinema clássico e sim naquele muito mais reflexivo, no cine-
an audience used to a visual culture designed
ma moderno. Arriscaria a dizer que esta mudança de estru-
in the tele-visual style. A touch of humour
tura narrativa e concepção cinematográfica tenha sido re-
is always essential.”
sultado do ingresso no Projeto de Mari Corrêa, uma documentarista formada na França sob a influência do cinema moderno e de cineastas como Jean Rouch.5 No entanto, há uma outra razão para o surgimento de uma nova fase no
In disagreement with this option of the works of the first phase of the Video in the Villages, we argued in an article already quoted here (Queiroz, 1998: 48) that we should not seek the accommodation of the indigenous aesthetics
Projeto: a maior parte dos vídeos passa a ser realizada pelos
within that of western society, but, on the
próprios indígenas formados em oficinas de capacitação do
contrary, we should seek a confrontation between
Projeto. Ou seja, os índios absorvem as informações a
these different styles, between the different
respeito de uma técnica e de uma cultura do cinema e as
points of view, that it is important to force the
empregam no seu contexto local para construir obras que
western world to recognize that there are other
são portadoras não só de uma voz interna, mas, diria, de um
ways of perceiving the world, of living and of
corpo em movimento, de um pensamento indígena.
thinking, and, as a result, there is another way
Não sabemos se estes vídeos realizados pelos índios empolgam o grande público. De qualquer forma, penso, a função deles seria menos divertir e informar do que traduzir um mundo (outro) vivido, portanto possível, e também
of making films beyond those so common-place on television, the scientific description, the report, the sticking, pasting and blending of video-clips, publicity and video-art. In the light of this partial criticism, we see
imaginar um mundo. É verdade que mesmo o “cinema mo-
with satisfaction the appearance of a second
derno” nunca caiu nas graças do grande público, muito
phase in the Video in the Villages Project, in
menos da televisão, mas, pelo menos (seria isto um conso-
which that exaggerated concern over attracting
lo?), ele nos faz pensar e não trata o público como me-
the public was left to one side, i.e., the function
díocre. De fato, na maioria das vezes, como lembra Jean-
of the spectacle is no longer the central thread
Louis Comolli, o espectador é imaginado como um ser
in their production. In this new harvest of
infantil, “a quem se oferece claques visuais e sonoras, que é pego pela mão para ser guiado, que é desprezado seja por excessos de explicações redundantes, seja por dissimulação
videos we draw attention to masterpieces, such as “The Rainy season” (2000) and “Shomõtsi” (2001)4. Here, without exageration, we rediscover some traces, shots, and spaces of
de causalidades e de complexidades... Digamos que se trata
film-makers such as Antonioni or Ozu. In other
então de espetáculo e não de cinema. O espectador que
words, filming the waiting time and the empty
nós supomos, ao contrário, [...] é um espectador perfeita-
space become such as, if not more important
mente apto a ver, a sentir, a compreender, que é capaz de
than filming the action. And it is thus that the
fazer alguma coisa com o que vê. Um espectador que seja
indigenous reencounter the west and the east,
também um cidadão, responsável, tendo consciência de
no longer in classic cinema but in one that is
sua responsabilidade.”6 Na guinada do Projeto, ao levar
much more reflexive, in modern cinema. I would risk saying that this change in the narrative framework and cinematographical conception has
5. Cabe esclarecer que antes de 1999 a edição da maior parte dos “vídeos nas aldeias” era assinada por Tutu Nunes, enquanto Mari Corrêa assina a edição dos trabalhos mais recentes. 6. Esta citação, traduzida por nós, é uma fala de Jean-Louis Comolli publicada numa coletânea organizada por Marie José Mondzain (2002) em homenagem ao filósofo francês Jean-Toussaint Desanti, falecido recentemente, que desenvolveu para as artes e as ciências o rico conceito de Voir Ensemble.
46
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
4. These and other videos made by the Indians were awarded in important documentary film festivals. The reason for this, we believe, is not due to any criterion established by the jury formed that could be based in a policy of ethnic affirmation, but on that of simple merit in terms of aesthetic beauty and on content.
o espectador a sério, e, conseqüentemente, ao levar o
resulted from the entrance of Mari Corrêa in
sistema de pensamento indígena a sério, observamos que
the Project, a documentary film-maker trained
os “vídeos nas aldeias” deixaram de lado o espetáculo em
in France under the influence of modern
favor do risco do real.
cinema and of film-makers such as Jean
Ao colocar o espetacular em segundo plano, são as situações do cotidiano e o tempo fraco que tomam a cena. Em Kinja Iakaha, um dia na aldeia (2003), Das crian-
Rouch5. Nonetheless, there is another reason for the appearance of a new phase in the Project: the majority of the videos begins to be made by the very Indians who were
ças Ikpeng para o mundo (2001), Shomõtsi (2001) e No
trained in the Project’s workshops. In other
tempo das chuvas (2000), verificamos o abandono de um
words, the Indians absorb the information
projeto político ou estético pré-determinado, de tal for-
with respect to techniques and a film culture
ma que nestes vídeos, como diria Jean-Louis Comolli
and use it in their local context to build
(2001), as mulheres e os homens que aceitam a entrar na
pieces that are not only carriers of an
situação e na relação estabelecidas pelo filme, nelas
internal voice, but, I would say, of a body in
interferem e para elas transferem, com singularidade,
movement, of an indigenous way of thinking.
“tudo o que carregam consigo de determinações e de dificuldades, de pesado e de graça, de sua sombra”. O que o realizador indígena filma, tal como todo bom documen-
We don´t know if these videos made by the Indians excite the greater public, but I think that their task is less to entertain and inform than to translate a another world
tarista, é “também algo que não é visível, filmável, não
lived, thus possible, but also to imagine a
é feito para o filme, não está ao nosso alcance, mas que
world. It is true that even “modern cinema”
se encontra lá com o resto, dissimulado pela própria luz
never fell into grace with the large public,
ou cegado por ela, ao lado do visível, sob ele, fora do
much less that of television, but, at least
campo, fora da imagem, mas presente nos corpos e entre
(would this be a consolation?), it makes us
eles, nas palavras e entre elas, em todo o tecido que
think and not treat the public as mediocre.
trama a máquina cinematográfica. Filmar os homens reais
In fact, in the majority of times, as Jean-
no mundo real representa estar tomado pela desordem dos modos de vida, pelo indivisível do mundo, aquilo que do real se obstina a enganar as previsões” (Comolli,
Louis Comolli reminds us, the spectator is imagined as a childish being, “to whom are offered visual and sound clapboards, that is taken by the hand to be guided,
2001: 105-107). Impossibilidade do roteiro. Necessidade
that is disdained either by excesses of
dos realizadores indígenas do Vídeo nas Aldeias, que
redundant explanations, or by the
trazem ao espectador não só um outro olhar, não só a
dissimulation of causalities and
parte minoritária de um mundo, a parte maldita, mas
complexities... Let us say, then, that it is a
também uma outra ontologia. É necessário tão somente
spectacle and not cinema. The spectator that
lhes dar boas câmeras de vídeo e lhes preparar minima-
we suppose, to the contrary, [...] is a viewer
mente para manipular este instrumental técnico, que eles
perfectly apt to see, to feel, to understand,
nos revelam um outro mundo possível, talvez invisível para o ocidente, mas imaginável pelo espectador reflexivo e que quer colocar em dúvida seus valores e seus cor-
that is able to do something with what he/she sees. A spectator that is also a citizen, responsible, being aware of their
pos diante de outros valores e de outros corpos. O espectador dos “vídeos nas aldeias” realizados pelos indígenas, bem como aquele do cinema moderno, nunca deve esperar um personagem “destinado” e um mundo
5. It should be clarified that before 1999 the editing of most of the “videos in the villages” was signed by Tutu Nunes, whereas Mari Corrêa signs the editing of more recent works.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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acabado, único, pois, para citar o sociólogo Pierre
responsibility” 6. In the Project’s turnaround, in
Bourdieu (1998: 11-12), ali as imagens simplistas e uni-
taking the spectator seriously, and, consequently,
laterais são substituídas por uma representação complexa
taking the system of indigenous thought
e múltipla, fundada na expressão das mesmas realidades em discursos diferentes e às vezes inconciliáveis; e à maneira de romancistas como Faulkner, Joyce ou Virgínia Wolf, é necessário abandonar o ponto de vista único,
seriously, we observe that Video in the Villages have left the spectacle to one side in favour of the risk of the real. In placing the spectacle in second plan, it is the day-to-day situations and the weak time that
central, dominante, em suma, quase divino, no qual se
take the scene. In “Kinja Iakaha, a day in the
situa geralmente o observador e também o leitor (o
village”(2003), “From the Ikpeng children to the
cineasta e também o espectador), em proveito da plura-
world” (2001), “Shomõtsi” (2001) and “The rainy
lidade dos pontos de vista coexistentes e “às vezes dire-
season” (2000), we can witness the abandonment
tamente concorrentes”.
of a predetermined political or aesthetic project,
Como disse Ismail Xavier a propósito do cinema de Eduardo Coutinho, mas o que valeria também para os “vídeos nas aldeias” da última safra, especialmente Shomõtsi (2001) e No Tempo das Chuvas (2000), “a duração é a condição para que se possa compor um olhar e
in such a way that in these videos, as Jean-Louis Comolli (2001) would say, the women and the men who agree to take part in the situation and in the relation established by the film, interfere in both and transfer to them, with distinction, “all the determinations and difficulties, the
uma escuta capazes de satisfazer às demandas de uma
weight and grace they carry, their shadow”. What
descrição fenomenológica, com uma abertura para o
the indigenous film-maker shoots, like every good
acontecimento e uma compreensão não escorada em ca-
documentary maker, is “also something that is
tegorias predefinidas” (Xavier, 2003: 59). Na mais impor-
not visible, or filmable, it is not made for the
tante obra sobre o documentário brasileiro, Jean-Claude
film, is not at our reach, but is found there with
Bernardet (2003: 282) disse que no Brasil o cinema dire-
the rest, dissimulated by the light itself or
to trouxe à tona um universo verbal até então desco-
blinded by it, beside the visible, under it, outside
nhecido na tela, que à fala dos locutores, aos diálogos escritos dos personagens de ficção, vinha se contrapor um português múltiplo falado fora do domínio da norma
the field, outside the image, but present in the bodies and among them, in the words and between them, in the entire cloth woven by the film machinery. To film real men in a real world
culta, onde o espectador podia, enfim perceber a diver-
represents being taken over by the disorder of
sidade de sotaques, de prosódias, de sintaxes. Neste ins-
ways of life, by the undividable in the world,
tante, o crítico ainda não tinha em mãos os novos filmes
what from the real is determined to fool
produzidos pelos realizadores indígenas, pois neles não
predictions” (Comolli, 2001: 105-107). The
só as falas (sotaques) são outras, mas o mundo é outro,
impossibility of a script. The need that the
não é mais aquela ficção dos poderosos, como diria
indigenous film-makers in the Video in the
Deleuze a propósito dos filmes Pour la suite du monde de
Villages Project convey to the spectator is not
Pierre Perrault e Moi – un noir de Jean Rouch. Se o Brasil de hoje está impregnado da “toda-ficção de tudo” das
just another eye, not just the minority part of a world, the cursed part, but also another ontology.
telenovelas e dos reality shows, nele ainda há lugar para a imaginação fabuladora dos personagens e documentaristas como aqueles do Vídeo nas Aldeias. No ano de 2004, quando perdemos um dos nossos ancestrais totêmicos, Jean Rouch, como ele mesmo gosta-
48
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
6. This quote, translated by us, is a text by Jean-Claude Comolli published in a review organized by Marie José Mondzain (2002) as a tribute to French philosofer Jean-Toussaint Desanti, recently desapeared, who developped for arts and sciences the rich concept of Voir Ensemble.
va de falar a propósito de Vertov e Flaherty, veremos,
All they need is to be given a good video camera
como recompensa, a mostra de realizadores indígenas no
and minimal preparation to manipulate this
Rio de Janeiro, pois foi o próprio Jean Rouch (1979)
technical instrument, and they reveal to us
quem declarou: “Amanhã será o tempo do vídeo colorido
another possible world, perhaps invisible to the
autônomo, das montagens videográficas, da restituição instantânea da imagem registrada, ou seja, do sonho conjunto de Vertov e Flaherty, de uma câmera tão ‘partici-
west, but imaginable by the reflective spectator that is prepared to place in doubt their values and bodies before other values and other bodies. The viewer of the Video in the Villages made by
pante’ que ela passará automaticamente para as mãos
the Indians, like that of modern cinema, should
daqueles que até aqui estavam na frente dela. Assim, o
never expect a “destined” character and a
antropólogo não terá mais o monopólio da observação,
finished, unique, world, since, to quote the
ele mesmo será observado, gravado, ele e sua cultura.”
sociologist Pierre Bourdieu (1998: 11-12), there the simplistic and unilateral images are substituted by a complex and multiple representation, founded in the expression of the same realities in different and, at times, irreconcilable discourses; and in the style of novelists such as Faulkner, Joyce or Virginia Wolf, we need to abandon the single, central, dominant, in essence, almost divine point of view, in which the observer and also the reader (the cameraman and also the viewer) is generally placed, to delve into the plurality of coexistent and “at times directly concurrent” points of view. As Ismail Xavier said about the cinema of Eduardo Coutinho, but which is also valid for Video in the Villages of the last harvest, in particular “Shomõtsi” (2001) and “The Rainy Season” (2000), “the duration is the condition by which a sensitive ‘eye’ and ‘ear’ can be composed, capable of satisfying the demands of a phenomenological description, with an opening for the happening and an understanding that is not propped up by predefined categories” (Xavier, 2003: 59). In the most important work on the Brazilian documentary, Jean-Claude Bernardet (2003: 282) said that in Brazil direct cinema brought to light a verbal universe previously unknown on the screen, in which to the words of the speakers, to the written dialogues of the characters of fiction, was counter-posed a multiple Portuguese spoken outside the realms of the civilized norm, where the viewer could, at last perceive the range of accents, of prosodies, of syntaxes. At this moment, the critic did not yet
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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REFÊRENCIA BIBLIOGRÁFICA | Bibliographic References
have in his hands the new films produced by the indigenous film-makers, since in them not only
BERNARDET, Jean-Claude. 2003. Cineastas e Imagens do Povo. São Paulo, Editora Companhia das Letras.
the speech (accents) are others, but the world is
BOURDIEU, Pierre. 1997. A Miséria do Mundo. Petrópolis, Editora Vozes.
powerful, as Deleuze was to say about the films
CARELLI, Vincent. 1995. “O programa e os documentários: duas dimensões distintas e complementares do projeto Vídeo nas Aldeias.” Mimeo.
Pour la suite du monde by Pierre Perrault and
COMOLLI, Jean-Louis. 2001. “Sob o risco do real”. In Catálogo do Forumdoc.bh.2001 – 5o Festival do Filme Documentário e Etnográfico. Belo Horizonte.
of today is impregnated with the “all-fiction of
another, it is no longer that fiction of the
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in it there is still a place for the fabling
QUEIROZ, Ruben Caixeta de. 1998. “Comunicação intercultural: Vídeo nas aldeias”. In Geraes. Revista de Comunicação Social. N. 49. pp. 44-49.
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ROUCH, Jean. “La caméra et les hommes”. In FRANCE, Claudine. Pour une anthropologie Visuelle. Paris-La Haye-New York.
totemic ancestors, Jean Rouch, as he himself
XAVIER, Ismail. 2003. “Indagações em torno de Eduardo Coutinho e seu diálogo com a tradição moderna.” In Catálogo do Forumdoc.bh.2001 – 5o Festival do Filme Documentário e Etnográfico. Belo Horizonte.
imagination of the characters and film-makers In the year 2004, when we lost one of our liked to call Vertov and Flaherty, we see, in compensation, a showing of films by indigenous film-makers in Rio de Janeiro, since, as it was Jean Rouch himself (1979) who declared: “Tomorrow will be the age of the autonomous colour video, of video montage, of the instantaneous restitution of the recorded image, in other words, of the joint dream of Vertov and Flaherty, of a camera so ‘participative’ that it is automatically passed to the hands of those who up until now have been in front of it. Thus, the anthropologist will no longer have the monopoly of the observation, he/she themselves will be observed, recorded, together with their culture.”
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MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
“Câmera muy very good pra mim trabalhar” IVANA BENTES
Pesquisadora de cinema e comunicação, professora da Escola de Comunicação da UFRJ, coordenadora adjunta do Curso de Pós Graduação da ECO-UFRJ Film and communication researcher, teacher at the School of Communication of Rio de Janeiro Federal University (UFRJ), assistant coordinator of the Post Graduation Course of the ECO-UFRJ
N
um momento em que as questões em torno da po-
“Camera very good for me to work”
tência das imagens – como forma de conhecimento
e pensamento, como comunicação e estranhamento radi-
At a time when the issues over the power of the
cal do outro e de si – tornam-se decisivas para se pensar
image – as a form of knowledge and thought, as
a cultura contemporânea, o projeto Vídeo nas Aldeias,
communication and complete separation from the
coordenado por Mari Corrêa e Vincent Carelli, ganha uma
other and from oneself – become decisive to think
dimensão singular. Para além do pioneirismo, esse proje-
about contemporary culture, the project Video
to, que existe desde 1987, chega em uma etapa decisiva e
in the Villages, coordinated by Mari Corrêa and
radical, ao apresentar, não apenas a produção de vídeos da equipe do projeto sobre os índios no Brasil, mas ao formar
Vincent Carelli, gains a unique dimension. Beyond pioneering, this project, initiated in 1987, reaches a decisive and radical stage, on presenting, not
uma geração de realizadores indígenas que vêm fazendo
just the production of the project´s crew about
uma espécie de “auto-etnografia” ou auto-documentário,
Indians in Brazil, but the training of a generation
em que os próprios índios registram e editam suas ima-
of indigenous film-makers that have been
gens, passando de objetos a sujeitos do discurso.
producing a kind of “self-ethnography” or self-
Ao descolar a câmera da mão dos antropólogos e cineastas profissionais e formar realizadores indígenas, a primeira questão que podemos sublinhar é a do deslocamento de poder e uma reflexão decisiva sobre a produ-
documentary, in which the Indians themselves record and edit their images, moving from objects to subjects of discussion. On releasing the camera from the hands of anthropologists and professional cameramen, and
ção do saber. Quem tem a câmera tem o comando e a
training indigenous film-makers, the first issue we
simples posse pelos índios desse instrumento de obser-
can underline is that of transferring power and
vação, intervenção e comunicação pode produzir um ou-
a decisive reflection about the production of
tro pensamento ou dar visibilidade a uma outra lógica
knowledge. Whoever has the camera is in charge
visual e mental.
and the simple handling by the Indians of this
A experiência do projeto com o audiovisual mostra ainda a possibilidade de se passar da cultura oral ao audiovisual, sem a necessidade de um domínio da cultura letrada, campo por excelência do saber ocidental, das ciências so-
instrument for observation, intervention and communication can produce another way of thinking or raise the profile of another visual and mental logic. The project’s audiovisual experience also shows
ciais e da própria antropologia. Ao introduzir o vídeo, uma
the possibility of moving from an oral culture to
nova tecnologia, no cotidiano das aldeias, o projeto tam-
the audiovisual, without the need for a mastery
bém põe em questão a idéia de “pureza”, “isolamento”,
of written culture, a western field of knowledge
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
51
“conservação” que condenaria essas comunidades múl-
‘par excellence’, in the social sciences and in
tiplas e singulares a uma espécie de estado de “museu”,
anthropology itself. On introducing video, a new
um museu da humanidade, lugar comum reiterado mesmo
technology, into village life, the project also
entre antropólogos, indigenistas e ecologistas. Em Vídeo nas Aldeias se Apresenta, realizado por Mari
“conservation” that would condemn these multiple and unique communities to a kind of “museum”
Corrêa e Vincent Carelli (2002), os autores registram essa
status, a museum of humanity, an expression
experiência de descoberta e aprendizado da câmera, dos
often repeated even among anthropologists,
planos, dos princípios da narrativa e da edição pelos
activists and ecologists.
índios em formação e as questões sobre essa passagem da
In Video in the Villages presents itself, made by
“inocência” à auto-consciência pela imagem. A questão
Mari Corrêa and Vincent Carelli (2002), the authors
interessa não apenas para se pensar o uso das imagens
record this experience of discovery and learning of
na antropologia, na etnografia ou nas ciências sociais, mas dá visibilidade aos impasses em torno do documen-
the camera, of the shots, principles of the narrative and of editing by indigenous trainees and the issues over this passage from “innocence” to self-
tário contemporâneo que vêm problematizando temas
awareness through the image. The question is of
como a produção da auto-imagem, a fabulação, a cons-
interest not just for thinking about the use of
trução do real, a nossa relação com a imagem do outro,
images in anthropology, ethnography or in the
temas recorrentes em toda uma série de filmes.
social sciences but to give visibility to the impasses
Mas antes de analisar esses trabalhos feitos pela pri-
around contemporary documentary that has found
meira geração de realizadores indígenas formados pelo
difficulties in areas such as the production of the
projeto, já encontramos uma série de questões em dois vídeos clássicos, realizados por Carelli e que sintetizam a estética, propostas e potencial do projeto Vídeo nas Al-
self-image, story-telling, the construction of the real, our relation with the image of the other, recurrent themes in an entire series of films. But before analysing these pieces of work made
deias: O Espírito da TV (1990), de Vincent Carelli e A Arca
by the first generation of indigenous film-makers
dos Zo’é (1993), realizado em parceria com Dominique
trained by the project, we already find a series of
Gallois. Ao levar uma televisão, um videocassete e uma
questions in two classic videos, made by Carelli
câmera de vídeo para a tribo dos Waiápi, em O Espírito da
and that synthesise the aesthetics, proposals and
TV, a equipe do projeto Vídeo nas Aldeias desencadeia
potential of the Video in the Villages project: “The
uma reflexão original sobre a função da imagem numa sociedade, captando a emoção e lucidez do grupo diante
spirit of TV” (1990), by Vincent Carelli and “Meeting ancestors” (1993), made in partnership with Dominique Gallois. In taking a television, a VCR and
de suas próprias imagens e das imagens de outra tribo,
a video camera to the Waiápi tribe in “The spirit of
trazida pelo aparelho de TV.
TV”, the Video in the Villages project team triggers
“É bom conhecer os outros pela TV”, diz um índio
an original reflection over the function of the image
Waiápi diante das primeiras imagens que lhes chegam da
in a society, capturing the emotion and clarity of
tribo dos Zo’é (norte do Pará), revelando numa frase, a
the group in the face of their own images and those
ética da TV e da janela eletrônica em que o mundo vem
of another tribe, brought via the TV screen.
ao nosso encontro antes mesmo que o desejemos e com toda a segurança da mediação. É desse confronto tecno-antropológico que, em O Es-
52
challenges the idea of “purity”, “isolation”,
“It is good to get to know others through the TV”, says one Waiãpi Indian on seeing the first images that they see of the Zo’é tribe (northern Pará State), revealing in one phrase, the ethics of
pírito da TV, as mais diferentes funções da imagem e do
TV and of the electronic window through which
registro eletrônico vão surgindo com sua lógica própria.
the world comes to our encounter even before we
“Não tive imagens dos meus parentes; agora, com a TV,
so desire and with all the safety of mediation.
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
os jovens verão os velhos”. O registro do vídeo é um
It is from this techno-anthropological
suplemento de memória, meio de transporte “que traz a
confrontation that, in “The spirit of TV”, the
pessoa e a sua fala”. A televisão, verdadeira terapia e ví-
most varied functions of the image and of the
cio entre nós, também tem entre os Waiápi uma função mágica: poltergeister doméstico, canal aberto que trans-
electronic record appear with their own logic. “I had no images of my relatives; now, with the TV, the young will see the old”. The video record
porta o corpo e os espíritos da tela para a realidade e vi-
is a memory supplement, means of transport “that
ce-versa. Assistindo a um ritual mágico de outra tribo, o
brings the person and their voice”. The television,
pajé Waiápi se apressa em montar guarda diante do apa-
veritable therapy and vice among us, also has
relho de TV dizendo: “Eles [os espíritos] não vão passar
among the Waiápi a magic function: a domestic
daqui, vieram pela TV, mas não vão passar”.
poltergeist, an open channel that transports the
O zelo pela sua imagem, a intuição de sua importância, também se mostra crucial para o grupo filmado. “Não queremos que vejam imagens dos índios bêbados”; “Não
body and the spirits from the screen to reality and vice-versa. Watching a magic ritual from another tribe, the Waiápi shaman hastily stands guard in front of the TV screen: “They [the spirits] will not
é bom mostrar que somos poucos”; “É bom mostrar que
pass here, they came through the TV, but they
ficamos perigosos quando bebemos, que arrancamos e co-
won’t get through”.
memos cabeça de branco, bem gostoso”. A imagem é in-
The zeal for their image, the intuition over its
vestida e vivida em todos os níveis, meio de reconheci-
importance, also appears crucial for the group that
mento e estranhamento do outro. Diante das imagens dos
is filmed. “We don’t want them to see images of
Zo’é, os Waiápi forjam parentescos e distâncias: “Têm a
drunken Indians”; “It is not good to show that there
mesma fala, a mesma pele, mas os lábios são diferentes”. A função pedagógica da imagem, de registro e trans-
are only a few of us”; “It is good to show that we get dangerous when we drink, that we tear off and eat White-man´s head, so tasty!” The image is
missão de rituais, mitos e histórias, também aparece. Em
produced and experienced at all levels, a means
A Arca dos Zo’é, quinto documentário da série, o vídeo
of recognition of and distancing from the other.
torna-se instrumento antropológico e elo decisivo no
Seeing the images of the Zo’é, the Waiãpi forge
processo de pensamento e conhecimento. Os Waiápi deci-
relationships and distances: “They speak the same,
dem encontrar-se com a tribo que conheceram pela TV, os
and have the same skin, but their lips are different”.
Zo’é e levam o vídeo para documentar e confrontar ritos e mitos, numa meta-antropologia em que um grupo passa de objeto a sujeito de conhecimento. Devir antropológi-
The teaching function of the image, of the recording and transmission of rituals, myths and stories, also appears. In “Meeting ancestors”, the second documentary of the series, the video
co dos próprios índios, que colocados numa posição de
becomes an anthropological tool and decisive link in
comando, de produtores das imagens de seus “parentes”
the process of thinking and knowledge. The Waiãpi
tornam-se os observadores participantes, analistas, “teó-
decide to meet the tribe that they saw on the TV,
ricos” dessa situação.
the Zo’é and take it to record and compare rites
A Arca dos Zo’é é um dos mais intrigantes trabalhos sobre o encontro, comunicação e estranhamento entre duas tribos indígenas (os Waiãpi e os Zo’é), mediados pela imagem que cria nos Waiãpi o desejo de conhecimento do ou-
and myths, in a meta-anthropology in which a group passes from object to subject of knowledge. Anthropological homework for the Indians themselves, who, placed in a position of command, of producers of the images of their “relatives”
tro. Acompanhamos uma experiência original do ato de
become participating observers, analysts,
olhar em que índios de duas tribos se reconhecem, se di-
“theoreticians” of this situation.
ferenciam, se comparam primeiro pelas imagens, para depois trocarem impressões, palavras e finalmente objetos.
“Meeting ancestors” is one of the most intriguing pieces of work on the encounter, communication
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
53
Na visita aos parentes, ao constatar que os Zo’é andam nus, as mulheres e os homens com os orgãos sexuais à
Waiãpi and the Zo’é), mediated by the image that
mostra, o narrador Waiãpi, cuja tribo usa tanga de pano,
arouses in the Waiãpi the desire to meet the other.
fica envergonhado, a princípio, mas logo acostuma: “Fui dormir com vergonha e acordei sem vergonha”. As tantas
We follow a unique experience of the act of looking, in which the two tribes recognize each other, make distinctions, comparing themselves first through
diferenças (língua, ornamentos, simpatias, medicina, ar-
the filmed images, in order to then exchange
tefatos) criam a necessidade do narrador Waiãpi dizer:
impressions, words and finally objects.
“Eu também sou índio” e alertar os “parentes” mais isola-
On visiting relatives, and finding that the Zo’é
dos sobre um futuro comum a essa condição: a poluição
go naked, women and men with their sexual organs
dos rios pelos brancos, a exploração dos garimpeiros, as
showing, the Waiãpi narrator, whose tribe uses a
doenças, epidemias e mortes que podem vir com o homem
loincloth, gets embarrassed at first, but soon gets
branco, que a tribo dos Zo’é ainda pouco conhece. As imagens da TV trazem para os Zo’é o conhecimento
used to it: “I went to sleep with shame and awoke without it”. The many differences (language, ornaments, superstitions, medicine, artefacts)
de perigos inimagináveis, como tratores do garimpo esca-
create a need for the Waiãpi narrator to say: “I am
vando a terra e arrancando árvores, mas também as ima-
also an Indian” and to alert the most isolated
gens que fazem rir dos “parentes” dançando numa festa
“relatives” over a future shared by this condition:
em que todos beberam muita caissuma, e modos de viver
the pollution of the rivers by the Whites, the
e de fabular que disparam sua imaginação.
exploitation practiced by prospectors, the diseases,
Grandes e pequenas descobertas, como o fascínio das índias pelo pano vermelho da tanga dos Waiãpi, o material liso e metálico da fuselagem de um avião monomotor
epidemics and death that can come with the Whites, that the Zo’é tribe hardly knows yet. The TV images bring the Zo’é the knowledge of unimaginable dangers, like the prospectors’
ou a idéia de troca entre esses iguais-diferentes, como na
tractors digging the earth and ripping up trees,
partida final em que se encomendam pano, arco, um pé
but also images that make them laugh at their
de bananeira.
“relatives” dancing in a festival in which they all
Quando o Waiãpi leva um Zo’é pela mão para ver suas imagens na TV e explicar o que vêem, surge uma nova dificuldade: “Como é televisão na nossa língua? Não sei”. As diferenças de “grau” entre uma tribo e outra (nus ou com tanga, formas diferentes de caçar, tecer, preparar a
drank a lot of caissuma, and ways of living and of telling tales that fired their imagination. Discoveries great and small, like the Indian women’s fascination by the red Waiãpi loincloth, the smooth and metallic material of the fuselage of a plane, and the idea of exchange between these
comida, etc.) se tornam menores diante do grande outro,
same-differents, such as in the final departure
“o branco”, curiosamente o aparato tecnológico, o equi-
when they ask for cloth, bows, a banana tree.
pamento que possibilita o contato e comunicação entre
When the Waiãpi take a Zo’é by the hand to
as tribos isoladas, passa rapidamente de objeto de es-
see their images on the TV and explain what they
tranhamento a objeto de fascinação e uso cotidiano.
are seeing, a new difficulty arises: “What is
A televisão como rede de troca simbólica, a câmera como mediadora do encontro e descoberta do outro ganha nesse filme um sentido que será desdobrado nos de-
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and shyness between two indigenous tribes (the
television in our language? I don’t know”. The differences in “degree” between one tribe and another (naked or with a loincloth, different ways of hunting, weaving, preparing food, etc.)
mais vídeos da série. Em Antropofagia Visual (1995),
all became less next to the big other, “the
Vincent Carelli mostra como os índios Enauênê Nauê, do
White”, curiously the technological equipment,
norte Mato Grosso, reagem com performances e encena-
the tool that permits contact and communication
ções, humor e comicidade, à chegada dos cineastas e da
between isolated tribes, is soon transformed from
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
câmera. Mais do que isso, ver TV e ver ficção na TV cria
object of distancing to object of fascination
um desejo de encenação e performance.
and daily use.
A apropriação da câmera pelos índios é o novo diferencial desse projeto. Da observação à participação e intervenção, esses novos sujeitos do discurso invertem os pon-
Television as a network of symbolic exchange, the camera as a mediator for the encounter and discovery of the other, gains in this film a sense that will be unfolded in the other videos of the
tos de vista tradicionais da antropologia, o que marca a
series. In “Video cannibalism” (1995), Carelli
nova fase do projeto que vem formando videastas índios.
shows how the Enauênê Nauê, from northern Mato
Ao lado do tradicional discurso de denúncia, em que os pró-
Grosso, react with performances, sketches and
prios índios tratam dos seus interesses, um uso “instru-
humour, to the arrival of the film-makers and the
mental” do vídeo, vemos surgir um desejo de fabulação e
camera. More than this, seeing TV and fiction on
ficção sobre o cotidiano, um desejo de linguagem.
TV creates a desire for theatre and performance.
É claro que o processo de formação dos realizadores indígenas, a compreensão do poder das imagens e o seu
The idea of appropriation of the camera by the Indians is truly the hallmark of this project. From observation to participation and intervention, these
domínio passam pelo aprendizado dos códigos e formas
new subjects of the discourse invert traditional
de narrar e que não há nada de “natural” ou neutro nessa
points of view of anthropology, which marks the new
alfabetização audiovisual, pois são passadas instruções
phase of the project that has been training Indian
precisas sobre corte, planos, construção de um ponto de
film-makers. Alongside the traditional discourse of
vista, construção de um “personagem”, etc. Dois vídeos
denouncement, in which the Indians themselves
são importantes para se acompanhar essa formação e o
address their interests, an “instrumental” use of
que ela teria de indutora da linguagem usada: Índio na TV (2000), de Vincent Carelli e Vídeo nas Aldeias se Apre-
video, we see appearing a desire for storytelling and fiction about everyday life, a desire for language. Clearly the process of training indigenous film-
senta, de Mari Corrêa e Vincent Carelli (2002), sobre o
makers, the comprehension of the power of the
próprio projeto.
images and its mastery involve the acquisition of
Em Índio na TV, os índios são confrontados com as
the codes and ways of telling and that there is
imagens da mídia e da população sobre o que os brancos
nothing “natural” or neutral in this audiovisual
acham que eles são, e devolvem suas próprias imagens
teaching, since precise instructions on cutting,
num interessante embate performático de uma equipe de
shots, the construction of a point of view, and of
realizadores indígenas, com câmeras nos ombros e um entrevistador (o índio Hiparendi) na estação de metrô da
a “character”, etc are given. Two videos are important to follow this training and what it can offer in induction into the language used: “Indian
praça da Liberdade em São Paulo. Isso, no dia 18 de se-
on TV” (2000), by Vincent Carelli and “Video in
tembro de 2000, aniversário de 50 anos da TV no Brasil.
the Villages presents itself”, by Mari Corrêa and
Nesse vídeo, as imagens de aldeias e tribos de todo o
Vincent Carelli (2002), about the project itself.
Brasil são exibidas em telas simultâneas diante dos pas-
In “Indian on TV”, the Indians are confronted
sageiros do metrô, enquanto uma equipe entrevista os
with images of the media and the population over
transeuntes sobre a imagem do índio na mídia.
what the White think they are, and “give back”
As entrevistas são feitas sob o impacto de um cinegrafista e entrevistador índio no coração da cidade e os
their own images in an interesting contrast of performances from a team of indigenous filmmakers, with cameras on their shoulders and an
passantes falam sobre o que a TV mostra sobre esses mes-
interviewer (the Indian Hiparendi) in the tube
mos índios e o que poderia se ver de novo na TV. As falas
station in Liberty Square in São Paulo. This on
trazem à tona todos os clichês em torno do índio no
18th September 2000, the 50th anniversary of
imaginário social brasileiro.
TV in Brazil. In this video, images of villages
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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Dois tipos de programas parecem marcar esse imaginário, na época da filmagem, a novela das sete Uga Uga,
on simultaneous screens for the underground
exibida na Globo, cujas imagens também passam no te-
passengers, while the team interviews the passers-
lão, em que um índio louro de olhos azuis, branco e forte é apresentado como o bom selvagem a ser civilizado, e as narrativas de programas como o Globo Repórter. Diante dessas imagens e das imagens de tribos gra-
by about the image of the Indian in the media. The interviews are performed under the impact of an indigenous cameraman and interviewer in the heart of the city and the passers-by talk about what the TV shows about these same
vadas pelo projeto Vídeo nas Aldeias algumas conside-
Indians and what new things could been seen on
rações: e se as tribos tivessem um canal de TV próprio?
TV. The testimonies bring to light all the clichés
Reconhecimento da alteridade (cultura, costumes), de
around Indians in the Brazilian social imaginary.
lutas (pelas terras), mas também a necessidade da ficção como construção de subjetividade. Quem sabe uma novela só com índios? São propostas que aparecem nos depoimentos. Os clichês do que é “ser índio” no nosso imaginário
Two kinds of programmes seem to highlight this imaginary, at the time of shooting, the 7 O’Clock soap Uga Uga, exhibited on TV Globo, scenes from which are also shown on the screen, in which a blonde Indian with blue eyes, white and strong, is presented as the good savage to be
social aparecem de forma bem mais assustadora em certos
civilised, with the narrative in the style of
depoimentos do Vídeo nas Aldeias se Apresenta. Precon-
programmes like Globo Repórter.
ceito social e racial, os índios são considerados como preguiçosos, inadaptados ao trabalho, selvagens, agressivos, infantis, necessitados de tutela e proteção, ou relacionados a tudo o que “não presta”, uma sub-humanidade des-
Faced with these images and those of tribes recorded by the project Video in the Villages, viewers raise several considerations: and if the tribes had their own TV channel? Recognition of the otherness (culture, customs), of struggles (for their
tituída de encanto ou encarnação do puro exotismo: nus
land), but also the need for fiction as a construction
ou de tanga, falando uma língua incompreensível e fazen-
of subjectivity. Who knows, a soap just with
do com a boca uh! uh! uh!
Indians? Such proposals appear in the testimonies.
Esse vídeo é importante como documento da meto-
The clichés about what “being Indian” is in our
dologia de formação dos realizadores indígenas, sua des-
social imaginary appear in a more startling way in
coberta do que alguns brancos pensam sobre eles, a per-
certain testimonies in the film “Video in the Villages
cepção da imagem e da câmera como lugar de poder, de troca, de encontro, e até o desejo de imitar, fazer “o mes-
presents itself”. Social and racial prejudices: the Indians are considered lazy, maladapted to work, savage, aggressive, infantile, in need of tutelage and
mo” que os brancos, como o Programa de Índio, feito e
protection, or related to everything that “is no
exibido na TV de Cuiabá e outras emissoras com índios de
good”, a sub-humanity destitute of enchantment or
paletó, gravata e maquiagem, imitando os apresentado-
the incarnation of pure exoticism: naked or in
res de telejornais.
loincloths, speaking an incomprehensible language
O mais interessante, entretanto, é acompanhar o aprendizado da imagem e da linguagem do vídeo. A experiência de olhar pelo visor e descobrir a que distância do outro (de longe, de perto) se pode chegar, a vergonha do contato
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and tribes from all over Brazil are exhibited
and making the sound uh! uh! uh! This video is important as a document/record of the training methodology of the indigenous filmmakers, their discovery of what some Whites think about them, the perception of image and the
visual com o outro e o momento que a câmera se torna
camera as a place of power, of exchange, encounter,
“invisível. Ou ainda, a troca das imagens entre as tribos
and even the desire to imitate, to do “the same” as
como novo ritual de conhecimento. A descoberta de como
the Whites, like the Indian Programme, made by
cada tribo ou índio reage diante das imagens de si mesmo,
and exhibited on the TV of Cuiabá and other
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
de outras tribos, de ancestrais. O fascínio diante das ima-
broadcasting stations with Indians in suits, ties
gens da Comissão Rondon, de 1917, e a descoberta da eter-
and make-up, imitating the tele-news presenter.
nidade e ressurreição pelas imagens. A imagem como lugar da memória e comunicação com o passado e com o futuro. “Memória muito curta. Não vi meus ancestrais. Vou guardar imagem para os meus netos”.
The most interesting thing, however, is to monitor the learning of the video image and language. The experience of looking through the viewfinder and discovering what distance from the other (from afar, close to) one can reach, the
O desenvolvimento da formação, com a prática da
embarrassment of the visual contact with the other
edição (onde cortar, pergunta a professora para um rea-
and the moment in which the camera becomes
lizador indígena), a construção de narrativas e a possi-
“invisible”. The discovery of how each tribe or
bilidade de fazer encenações e ficção, traz as questões
Indian reacts on seeing their own images, of other
mais fascinantes.
tribes, of their ancestors. The fascination with the
O lugar do realizador é um lugar de poder. E isso fica claro na pergunta: Por que só homens filmam? São
images of the Rondon Commission, of 1917, and the discovery of eternity and resurrection through images. The image as a place in the memory and
poucas as realizadoras indígenas. Questões que vão
communication with the past and the future.
chegar até o direito autoral e a negociação das ima-
“Very short memory. I did not see my ancestors.
gens, quando os índios são informados do “valor” real
I’m going to keep the image for my grandchildren”.
da sua imagem. Consciência de um capital imaterial
The development of the training, with the
que durante décadas foi pilhado sem criar nenhum
practice of editing (where to cut, asks the teacher
constrangimento. As imagens de índios que circulam
to an indigenous film-maker), the construction
no mundo inteiro em jornais, revistas, cinema, TV são parte desse espólio.
of the narratives and the possibility of acting out scenes and fiction, brings more fascinating questions. Acting out death in combat, where
Nos diferentes trabalhos realizados pelo projeto Ví-
some Indians laugh and others pretend
deo nas Aldeias, o tom didático, instrumental, se im-
completely, produces a certain shock among
põem, mas o que seriam questões aparentemente sim-
them faced with the power of the imitation.
ples ou óbvias, ganha estatuto perturbador num se-
The film-maker’s place is a one of power; this
gundo momento. Perguntas como: Por que os livros de
becomes clear in the question: Why do only the
história falam dos índios com o verbo ser no passado?
men film? There are few indigenous women that
Como se já estivessem todos mortos e não tivessem futuro. Como mudar isso?
film. Questions that will reach the rights of authorship and the negotiation of the images, when the Indians are informed of the real “value”
Nesse contexto os vídeos dos realizadores indígenas
of their image; awareness of an immaterial capital
ganham um outro estatuto, por tornar a colocar essas cul-
that has accumulated for decades without
turas no eterno presente das imagens e da narrativa audio-
creating embarrassment. The footage of Indians
visual, de forma muito próxima da experiência de eterno
that circulates in the whole world in papers,
presente dos ritos e mitos das narrativas orais e com um
magazines, cinema, TV are part of this spoil.
diferencial: a possibilidade de criar redes, fazer mídia, trocar informações, imagens, valores, entre eles, num tipo de miscigenação, multiculturalismo que mal tinha sido vis-
In the different films made by the Video in the Villages project, the instrumental teaching tone is adopted, but what would be apparently simple or obvious questions, gain a disturbing status at a
lumbrado pela antropologia. Através das imagens as tribos
second glance. Questions such as: Why do the
se vêm de fora (auto-imagem), conhecem outras tribos,
history books speak of the Indians with the verb
entram em contato com o mundo do branco, constroem
to be in the past? As if they were all already
suas próprias imagens e chegam ao intercâmbio com tribos
dead and had no future. How to change this?
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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estrangeiras, fora do país. E o que pode acontecer quando os índios se tornam mídia? Essa é uma das mais intrigantes questões do audiovisual contemporâneo, a entrada no circuito da informação de um contingente de subjetividades. Uma outra questão
film-makers gain another status, by again placing these cultures in the eternal present of images and of audiovisual narrative, in a way that is very close to the experience of the eternal present in the rites and myths of the oral narratives and with a
se impõe, qual o valor estético desses vídeos? Que quali-
difference: the possibility of creating networks,
dades, que potencial expressivo trazem?
making media, exchanging information, images,
E aqui as questões de linguagem se avolumam, sobre-
values, among them, in a kind of mixing of blood,
pondo-se, do clássico Nanook, o esquimó, passando pelo
multiculturalism that had hardly been imagined by
cinema de Jean Rouch, o realizador-antropólogo, e che-
anthropology. Through the images the tribes see
gando às experimentações do documentário contemporâ-
themselves from outside (self-image), see other
neo, em que esses novos sujeitos do discurso recebem ou tomam as câmeras e passam a produzir. Trata-se de um processo histórico, para além do contexto indígena, sobre o qual não nos deteremos aqui,
tribes, come into contact with the world of the Whites, construct their own images and reach interchange with foreign tribes, abroad. And what can happen when the Indians become media? This is one of the most intriguing questions
destacando também que não há nada de “natural” nes-
posed by contemporary audiovisual material,
se processo e sua viabilização. Transformar os índios em
entry into the information circuit of a contingent
cinegrafistas e realizadores, nos parece estratégico no
of subjectivities. Another question that comes
projeto Vídeo nas Aldeias, que já tem a participação de
up is, what is the aesthetic value of these videos?
antropólogos, indigenistas e profissionais da imagem, com seus interesses específicos, e vem criando um cam-
What qualities, what potential for expression do they bring? And here the questions of language accumulate,
po e mercado novos, renovando as lutas políticas a par-
overlapping, from the classic “Nanook, the
tir da questão tecnológica e da qualificação dos índios
Esquimo”, though the films of Jean Rouch, the
para um trabalho decisivo no capitalismo cognitivo: a
film-maker-anthropologist, and reaching the
produção de imagens.
experimentations of the contemporary documentary,
O desafio, nos parece, é fazer do vídeo um instrumento de reconfiguração de forças e de produção de subjetividade, de compreensão, explicação, interpretação do mundo, onde para além da relação entre os próprios ín-
in which these new subjects of the discourse receive or take the cameras and begin to produce. This is an historic process, going beyond the indigenous context, into which we will not delve here, but also stress that there is nothing “natural”
dios, nós mesmos podemos nos ver como alteridade. “Quan-
in this process and its feasibility; transforming the
do os cineastas são índios, índios somos nós”, como diz
Indians into cameramen and film-makers, seems to
a antropóloga Sylvia Caiuby Novaes.
us strategic in the Video in the Villages project, that
Em Wapté Mnhõnõ: Iniciação do Jovem Xavante, de
already has the participation of anthropologists,
1999, são quatro videastas Xavante e um Suyá do Mato
indigenists and visual arts professionals, with their
Grosso que usam a câmera para registrar o ritual de furação
specific interests, and has been creating a new field
das orelhas de jovens Xavante. A primeira impressão é que já vimos essas imagens em inúmeros registros de festas
and market, renewing the political struggles from the technical standpoint and that of the qualification of the Indians for a decisive
indígenas nas televisões culturais ou no Globo Repórter,
contribution of work in cognitive capitalism:
mas o fato dos cinegrafistas serem índios, Divino Tsere-
the production of images.
wahu, Bartolomeu Patira, Caimi Waiassé, Jorge Protodi e Winti Suyá, vai criar situações inusitadas e novas.
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In this context, the videos made by indigenous
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
The challenge, we believe, is in making video a tool for reprogramming strengths and the
Esse vídeo tem um formato híbrido. É tradicional se
production of subjectivity, of comprehension,
pensarmos o uso dos letreiros informativos, dos depoi-
explanation, interpretation of the world, where,
mentos para a câmera, falas em off com legendas. Ao
beyond the relation between the Indians, we
mesmo tempo abre espaço para que seus realizadores índios se apresentem, comentem as dificuldades de filmagem num trabalho de longa duração, de 1996 a 1998 e realizado com intimidade, de “dentro”.
can see ourselves as the others. “When the cameramen are Indians, Indians we become”, as the anthropologist Sylvia Caiuby Novaes puts it. In “Wapté Mnhõnõ: the Xavante´s initiation”, of 1999, are four Xavante caneramen and one Suyá
As falas dos participantes dos rituais se referem à
from Mato Grosso that use the camera to record
presença bem-vinda da câmera. “Eu entendo a impor-
the ear piercing ritual of young Xavantes. The first
tância da imagem”, diz um dos condutores do ritual. A
impression is that we have seen these images in
fala dos índios mais velhos legitima a presença da câ-
inumerable records of indigenous festivals on
mera e do vídeo como memória suplementar e testemunho. Numa das partes do ritual de iniciação dos ado-
cultural television programmes or the documentary Globo Repórter, but the fact that the cameramen are Indians, Divino Tserewahú, Bartolomeu Patira,
lescentes à vida adulta, quando se deitam rapidamente
Caimi Waiassé, Jorge Protodi and Winti Suyá, will
com a futura esposa, o ato simbólico tem toda a comu-
create new and different situations.
nidade como testemunha do compromisso futuro e tam-
This video has a hybrid format. It is traditional
bém, sublinha o condutor, um olho testemunhal suple-
if we think of the use of informative lettering,
mentar: a câmera e os visitantes.
people speaking to the camera, voice over with
Os cinegrafistas índios comentam opções e lamentam oportunidades perdidas: filmar os animais vivos antes da caçada e não apenas mortos ou a necessidade de um dos cinegrafistas abandonar as filmagens para ajudar o afilha-
subtitles. At the same time it opens space for the Indians film-makers to present, and comment on the difficulties of filming a long length piece, between 1996 and 1998 and made with intimacy, from “inside”.
do numa prova de corrida, etc. As imagens, nem muito rá-
The participant in the rituals refer to the
pidas, nem lentas, tentam sintetizar um percurso no tem-
welcome presence of the camera. “I understand
po, acompanhando dois anos de uma série de aconteci-
the importance of the image”, says one of the
mentos rituais numa edição final de 75 minutos.
conductors of the ritual. The speech of the older
As imagens captam aspectos múltiplos dessa longa duração: toda a dureza das provações por que passam os adolescentes, embates corporais, isolamento, frio, a dor
Indians legitimises the presence of the camera and the video as a supplementary memory store and witness. At one point in the initiation ritual for the adolescent youths into adult life, when
da furação da orelha, vergonha da nudez (mulheres que
they quickly lie down with the future wife, the
tem que tirar o sutiã), conformidade com a tradição,
symbolic act has the entire community as witness
mas também o humor, o lado lúdico e brincante dos jo-
to the future commitment and also, as the guide
vens dentro do rio, no banho, nas corridas e o sentido
underlines, an additional and supplementary
crítico de algumas falas: “Os velhos são ruins, vão matar
eye: the camera and the visitors.
a gente de frio”. Os valores em jogo são a construção do adulto Xavante e o ideal de virilidade, coragem, fortaleza, ensinado com duras provações corporais a cada
The Indians cameramen comment on options and lament missed opportunities: filming the live animals before the hunt and not just dead, or the need for one of the cameramen to abandon the
menino. E ainda reprimendas e provações de limites, co-
shoots to help his godson in a racing contest, etc.
mo nas belas imagens de “bateção de água” em que os
The images, not very fast, nor slow, try to synthesise
jovens produzem barulho e agitação nas águas do rio
a passing of time, accompanying two years of a
por horas seguidas, num esforço exaustivo. Ao final des-
series of ritual events in a final 75 minute edition.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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ses dois anos de um mundo recriado pela imagem, a mensagem sintética de um dos cinegrafistas, Caimi Waias-
time: all the toughness of the tests which the
sé: “Agora que vocês já sabem tudo sobre a nossa vida,
adolescents have to go through, physical shocks,
podem ir cuidar da de vocês”. Entre os vídeos mais originais dos realizadores indíge-
isolation, cold, the pain of the ear-piercing, shame of the nudity (women who have to take off their bra), conformity with tradition, but also the
nas, podemos destacar os que tratam do cotidiano das
humour, the beautiful side and the playfulness
aldeias. Nem rituais, nem festejos, o dia a dia numa tem-
of the young people in the river, bathing, in the
poralidade outra, num mundo outro, capaz de surpreen-
races and the sense of criticism of some of the
der o espectador. Alguns desses vídeos fazem lembrar as
comments: “These old guys are bad, they’re going
propostas do cinema contemporâneo iraniano, na sua
to kill us with cold”. The values at stake represent
sofisticada “simplicidade” e “transparência”.
the construction of the adult Xavante and the ideal
O vídeo Shomõtsi, do realizador índio Valdete Pinhanta, é uma obra-prima na forma como capta o tempo do coti-
of virility, courage, strength, taught with tough trials on the body to each boy, and further reprimands and tests of limits, such as the beautiful
diano do seu tio Shomõtsi, que ele escolheu como “per-
images of “beating the water” in which the youths
sonagem” de uma crônica da aldeia, na fronteira do Brasil
make a noise and agitation in the waters of the
com o Peru. Narrado pelo sobrinho cinegrafista, em voz off,
river for hours at a time in an exhausting effort.
o vídeo alterna essa fala com som ambiente, música de
At the end of these two years of a world recreated
flauta, sons da mata, da aldeia, do rio e as falas do tio com
by the image, the synthetic message of one of the
outros índios ou com o próprio cinegrafista (“não filma
cameramen, Caimi Waiassé: “Now that you know
meu saco”, “faz careta para a câmera”, “sorria, o buraco da filmadora está te vendo”).
everything about our life, you can look after yours”. Amongst the most original of the videos of the indigenous film-makers, we can highlight those
O que se registra é um cotidiano lento, de quase de-
that cover the daily life in the villages. Without
sacontecimentos, acordar, passar o urucum no rosto, ir pra
rituals, or festivities, the day-to-day in another
roça com os filhos, mascar coca e fumar tabaco, ir tomar
time frame, in another world, capable of surprising
banho no rio, beber caissuma. Os finais de semana são mais
the viewer. Some of these videos remind us of the
enfeitados, com dança, caissuma, tocar flauta e flertar com
proposals of contemporary Iranian films, in their
as mulheres. Uma parte do registro é a ida de Shomõtsi à
sophisticated “simplicity” and “transparency”.
cidade para receber sua aposentadoria, de canoa, com a neta e outros índios. Como o dinheiro não chegou no posto
The video “Shomõtsi”, by the Indian film-maker Valdete Pinhanta, is a masterpiece in the form in which it captures the day-to-day life of his uncle
resolvem fazer um tapir na beira do rio e esperam três dias,
Shomõtsi, that he chose as “character” of a village
fazendo fogo, comendo mandioca e no final, sem alimentos,
chronicle, on the border between Brazil and Peru.
comendo graças ao cinegrafista que compra comida.
Narrated by the cameraman nephew, in voice over,
A conversa na beira do rio parece acompanhar o fluxo
the video alternates this voice with background
vagaroso das águas e gira em torno do apego dos bran-
noise, flute music, sounds of the forest, of the
cos e comerciantes ao dinheiro. “O papel do dinheiro é
village, the river and his uncle’s conversations
forte. Não desmancha como o papel comum, que é feito bolacha, pode molhar, lavar, secar”. Falam da inutilidade do dinheiro para os índios, algo que não se pode levar
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The images capture many aspects of this long
with other Indians or with the cameraman himself (“don’t film my balls!”, “make a face at the camera”, “smile, the camera hole is watching you!”). What ones sees is a slow series of daily events,
“para o céu” e que não precisam para viver. O dinheiro
of almost non-events, awakening, rubbing on red
recebido por Shomõtsi, R$ 302 reais, é quase todo gasto
urucum face colour, going to the vegetable garden
na hora, e a comitiva do tio do cinegrafista volta para a
with the children, chewing coca leaf powder and
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
aldeia, feliz de sair da cidade e do tempo de espera por
smoking tobacco, going to bathe in the river,
um bem que não valoriza. “Aqui termina meu filme, mas
drinking caissuma. The weekends are more colourful,
a vida continua”, diz o narrador. A edição de Mari Corrêa deixa o tempo fluir, escorrer, colocando o espectador numa situação de imersão no mundo, talvez insuportavelmente outro, de Shomõtsi.
with dance, caissuma, flute-playing and flirting with the women. One part of the film is Shomõtsi’s trip to the city to receive his pension, by canoe, with his granddaughter and other Indians. As the money had not arrived, they decide to camp at the river
Esse tempo ganha outras qualidades no vídeo Das
bank and wait for three days, making fires, eating
Crianças Ikpeng para o Mundo (2002), filmado por três
manioc and finally, without food, eating thanks to
jovens cinegrafistas: Natuyu Txicão, Karané Txicão e Ku-
the cameraman that buys something to eat.
maré Txicão. A idéia do encontro pela imagem é realizado através de quatro crianças Ikpeng que mostram sua aldeia para a câmera, tendo como interlocutores e respondendo a uma “video-carta” das crianças da Sierra Maestra em Cuba.
The conversation at the riverbank seems to follow the slow flow of the waters and circles around how covetous the Whites and the salespeople are over money. “The money paper is strong, it doesn’t fall apart like ordinary paper, that is like crackers, you can get it wet, wash and
O vídeo funciona como um dedo apontado para o real e
dry it”. They speak of the uselessness of money
um olhar direto que fala para o interlocutor distante. “Meu
for the Indians, something you cannot take “to
nome é... Vamos mostrar nossa aldeia”. “Este é o nosso ca-
heaven” and that you don’t need to live. The
cique”. “Esta é a mulher do cacique”. “Essa é a minha casa”.
money received by Shomõtsi , R$ 302 Reals, is
Toda a fala das crianças se dirige aos interlocutores virtuais,
almost all spent at the time, and the cameraman´s
sempre mostrando o presente, a forma de fazer e agir dos antepassados e perguntando “como vocês fazem aí?”. As
uncle’s party goes back to the village, happy to leave the town and the time waiting for an asset they do not value. “Here my film ends, but life
falas recorrentes são: “era assim que nossos avós dormiam,
continues”, says the narrator. Mari Corrêa’s editing
faziam redes, batiam o timbó”... etc. “É assim que as mu-
lets the time flow, slip by, immersing the viewer in
lheres fazem, cozinham enquanto os homens vão pescar,
Shomõtsi’s, perhaps unbearably another’s, world.
fazem mingau, é assim que usam as conchas para raspar
This timing gains other qualities in the video
mandioca,” etc. E finalizam sempre: “e as mulheres aí?” Ou
“From the Ikpeng children to the world” (2002),
“Como vocês fazem os seus brinquedos? Ensinem pra gen-
filmed by three young cameramen: Natuyu, Karané and Kumaré Txicão. The idea of the children´s
te”... etc. Toda a curiosidade e frescor do grupo de meninas e me-
encounter through images is presented through the eyes of four Ikpeng children who show the
ninos que apresentam a aldeia, os adultos e outras crian-
camera their village, having the children of
ças, é captado por uma câmera que acompanha, anda,
Sierra Maestra in Cuba as their interlocutors
observa, participa das brincadeiras de muito perto, crian-
and answering a “video-letter” from them.
do intimidade e confiança com os narradores. As cenas dos
The video functions like a finger pointing to
banhos de rio, da pesca com timbó, das correrias com
the real and a direct eye that speaks to a distant
medo de onça, da brincadeira com aviãozinhos de madeira,
interlocutor. “My name is...We are going to show
os risinhos e fabulações típicas das crianças, dão ao vídeo um caráter singular. O mundo dos adultos índios se torna
our village”. “This is our chief”. “This is his wife”. “This is my house”. All the children’s talk is directed at the virtual interlocutors, always
distante e as crianças surgem como senhoras do seu tempo
showing the present, how things were and were
e da sua fala na aldeia, o que pode ser apenas um efeito
done by their ancestors and asking “how do you
do vídeo, mas cria um fascínio especial e uma intimidade
do this there?”. The recurrent comments are: this
difícil nos documentários tradicionais.
is how our grandfathers slept, made hammocks,
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
61
O tom de crônica também marca o vídeo Kinja Iakaha: um dia na aldeia (2003), direção coletiva de
make things, cook while the men go and fish, they
Araduwá Waimiri, Iawusu Waimiri, Kabaha Waimiri, Sana-
make the manioc porridge, this is how they use
pyty Atroari, Sawá Waimiri e Wamé Atroari. Nesse vídeo, diferentes dos demais, o tempo da narração de vários
shells to grate the manioc, etc. and they always end by saying “and what about the women there?” Or “how do you make your toys? Teach us...“ etc.
acontecimentos simultâneos na mesma aldeia cria uma
All the curiosity and freshness of the group of
sensação de atividade febril e incessante. Os meninos
girls and boys that present the village, the adults
que saem para pescar a pedido do pai, a mãe e filha que
and other children, is captured by a camera that
tecem esteiras, os homens que vão caçar, as mulheres
follows, walks, observes, participates in the games
que preparam comida, o grupo que vai extrair fibras e
closely, creating intimacy and trust with the
casca de árvores para trançados , as meninas que sobem
narrators. The scenes of river bathing, of fishing
no pé de açaí, as crianças que brincam de arco e flecha e inventam brincadeiras. São muitos grupos e perso-
with timbó poison, of the scampering away for fear of a jaguar, of playing with little wooden planes, the typical giggles and stories of the children, give
nagens que agem ao mesmo tempo, mostrando o mundo
the video a unique quality. The world of the adult
do trabalho de forma lúdica. No meio do vídeo uma
Indians becomes distant and the children appear as
chuva forte desacelera o tempo e pára uma parte das
masters and mistresses of their time and of their
ações e os homens se voltam para trabalhos dentro das
voices in the village, which may be just an effect
casas, onde podem esperar passar a chuva Os perso-
of the film, but which creates a special fascination
nagens sempre falam com os cinegrafistas e para a câ-
and intimacy rare in traditional documentaries.
mera explicando o que estão fazendo e relacionando esse presente com a tradição. Mais uma vez a intimidade e cumplicidade entre os
The chronicle style also characterises the video “Kinja Iakaha: A Day in the Village” (2003), jointly directed by Araduwá Waimiri, Iawusu Waimiri, Kabaha Waimiri, Sanapyty Atroari, Sawá Waimiri
personagens e os seis cinegrafistas também índios criam
and Wamé Atroari. In this video, as distinct
um diferencial na captação. As câmeras entram em ca-
from the others, the narration time of several
noas, correm de vespas, estão nos ombros de cinegrafis-
simultaneous happenings in the same village
tas que se deslocam com desenvoltura no meio de uma
creates a sensation of feverous and incessant
caçada e conseguem criar um ambiente, uma aldeia quase
activity. The boys that are sent out to fish by their
arquetípica e simultaneamente singular. O resultado sem dúvida não vem de nenhuma espon-
father, the mother and daughter that weave mats, the men that go to hunt, the women that prepare the food, the group that goes to extract fibres and
taneidade ou milagre. Pode-se vislumbrar a dinâmica de
tree bark for plaiting, the girls that climb up the
oficinas repetidas, participação da comunidade na esco-
açai palm, the children playing at bow and arrows
lha de temas, a construção dos personagens escolhidos e,
and inventing games. They are many groups and
em outros vídeos até a experimentação com encenações
characters that act at the same time, showing the
e desenho animado. Nos parece decisivo ainda o trabalho
world of work in an artistic way. In the middle of
de edição do material, nem sempre feito pelos realiza-
the film a big rainstorm slows things down and
dores indígenas, mas pelos professores das oficinas, como Mari Corrêa. Esse cinema e fabulação indígenas abre um campo de cruzamento entre cinema, etnografia e antropologia que faz pensar. “Câmera muy very good pra mim trabalhar”, a afirmação do índio Divino Tserewahú é uma aposta na
62
beat the fish-poison bark. This is how the women
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
stops some of the actions and the men go back to activities indoors, where they can wait for the rain to pass. The characters always talk to the cameramen and to the camera explaining what they are doing and relating this present to tradition. Once again the intimacy and complicity among the characters and their six – also Indian –
imagem não apenas como representação de si para os ou-
cameramen creates a difference in the shooting.
tros, mas radicalmente como a descoberta de uma forma
The cameras get into canoes, run from wasps, are
de pensamento audiovisual, uma aldeia audiovisual glo-
carried on the shoulders of cameramen moving
bal, em que a singularidade dos índios brasileiros se encontra com a singularidade e vigor do documentário e das questões do cinema contemporâneo.
deftly in the middle of a hunt and manage to create an environment, a village that is almost archetypical and at the same time unique. The result undoubtedly does not come from any spontaneity or miracle. One can picture the dynamics of repeated workshops, community participation in the choice of themes, the construction of the chosen characters and, in other videos even the experimentation with acting and animation. We still find the work of editing the material decisive, not always done by the indigenous film-makers, but by the workshop teachers, like Mari Corrêa. This indigenous cinema and storytelling opens a field of overlap between film, ethnography and anthropology that makes one think. The Divino Tserewahú statement “Camera very good for me to work”, is a bet in the image not just as a representation of oneself for others, but radically as a discovery of a form of audiovisual thought, a global audiovisual village, in which the uniqueness of the Brazilian Indians blends with the uniqueness and vigour of the documentary and the issues of contemporary film.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
63
A formação dos “realizadores indígenas” NIETTA LINDENBERG MONTE
Educadora e fundadora do Programa de Formação de Professores Indígenas da Comissão Pró-Índio do ACRE Educationist and founder of the Indigenous Teachers Training Program at the Comissão Pró-Índio – Acre
P
arte de uma rede de organizações não-governamentais com atuação em terras indígenas, o VÍDEO NAS
The training of “indigenous film-makers”
ALDEIAS constrói sua trajetória particular no cenário do novo indigenismo brasileiro ao apresentar uma renovada
Part of a network of non-governmental
proposta educativa junto aos povos indígenas e à socie-
organizations that work in indigenous territory,
dade brasileira e internacional. Seu trabalho tem obtido
Video in the Villages has built a path of its
reconhecimento como marco de referência original não só pelo rico acervo etnográfico que acumulou em 18 anos, mas pelos processos educacionais interculturais que estão na origem e nos fins de sua produção audiovisual. A partir de 1997, uma prática sistemática e inovadora
own in the scenario of the new Brazilian indigenous support movement on presenting a fresh educational proposal together with indigenous groups and Brazilian and international society. Their work has obtained recognition as a source of reference not just original for the wealth of its ethnographic
de formação de realizadores indígenas, entre 23 povos em
archive accumulated over 16 years, but also for the
4 estados da Amazônia Legal, vem implicando na forma-
intercultural educational processes that run through
ção de um público diversificado dentro e fora das fron-
its audiovisual production, from start to finish.
teiras brasileiras, com a divulgação e comercialização das
Since 1997, a systematic and innovator
obras resultantes desse processo educacional.
practice of training indigenous film-makers, in 23 groups over 4 states of the legally defined
UMA VIA EM MÃO DUPLA
O trabalho da entidade tem como objetivo mediar e fo-
Amazon (Amazônia Legal), has resulted in the informing and educating of a varied public with in and beyond the Brazilian frontiers, with the
mentar o domínio técnico, artístico e crítico do vídeo como
dissemination and commercialisation of the
linguagem e tecnologia, assim como incentivar entre povos
works resulting from this educational process.
indígenas processos reflexivos sobre suas identidades e a diversidade lingüística e cultural. A partir de meios contemporâneos como o vídeo e a te-
The work of the organisation aims to mediate
levisão, a extensa obra acumulada pelo VÍDEO NAS ALDEIAS
and encourage the technical, artistic and critical
é um importante exemplo do potencial de comunicação
mastery of video as a medium and technology, in
intercultural entre diferentes povos e do uso social e escolar das línguas e culturas indígenas para sua valorização e transmissão: “A difusão de audiovisuais sobre a temática indígena nas
64
A two way route
addition to stimulating reflexive processes among indigenous groups about their identities, language and cultural diversity. Through the use of modern devices such as video and television, the extensive film archives
línguas originais nas escolas das aldeias ajuda a concre-
of Video in the Villages are an important example
tizar o direito, reconhecido internacionalmente, a uma
of the potential for intercultural communication
educação diferenciada com um currículo próprio. Para as
among different groups and of the social and
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
crianças indígenas, o acesso a este material é de impor-
school use of indigenous languages and cultures
tância fundamental para enfrentar a invasão cultural glo-
for their valorisation and transmission:
balizante transmitida pela televisão, e da qual se tornam
“The dissemination of audiovisual material
espectadoras passivas”. (CARELLI, CORREA, MONTE, 2003)
on indigenous themes in the original languages in the village schools has helped enforce
Por outro lado, as atividades da entidade estão voltadas a desenvolver uma educação intercultural em via dupla, atingindo setores da sociedade brasileira e mundial:
the internationally recognised right to an education that is differentiated, with its own curriculum. For indigenous children, access to this material is fundamentally important
“A partir da apropriação e do uso dos meios audiovisuais,
to counteract the cultural invasion of
pretende-se propiciar o protagonismo e uma visibilidade
globalisation transmitted by television, which
maior (dos povos indígenas) na sociedade brasileira para
turns them into passive spectators”.
um melhor conhecimento da sua realidade e de suas cul-
(CARELLI, CORREA, MONTE, 2003)
turas.” (CARELLI, CORREA, 2002) At the same time, the groups’ activities address the development of a two-way intercultural
INFLUENCIANDO POLÍTICAS
education, reaching sectors of Brazilian and
PÚBLICAS INTEGRADAS
Nos finais dos anos 90, o VÍDEO NAS ALDEIAS realizou, em parceria com o Ministério de Educação, a série “Ín-
world society: “from the appropriation and use of audiovisual resources, the intention is to create protagonists/
dios no Brasil”, veiculada pela TV Escola (canal de ensi-
generate a higher profile (among/of indigenous
no a distância), o que garantiu a capacitação de um am-
peoples) in Brazilian society for a better knowledge
plo grupo de professores da rede pública. O MEC esteve
of their reality and of their cultures.”
a cargo da distribuição de 10.000 cópias desta série no
(CARELLI, CORREA, 2002)
sistema nacional de ensino e da difusão anual por satélite a uma rede de 50 mil escolas. Também distribuiu 110 mil livros com textos sobre os temas tratados pela série: Língua, História, Direitos, entre outros. Alguns canais públicos brasileiros como a TV Cultura e a TV Educativa têm, por outro lado, difundido os vídeos realizados pela entidade.
Influencing integrated public policies At the end of the 90´s, Video in the Villages, in partnership with the Ministry of Education, made a series “Indians in Brazil”, transmitted via TV Escola (channel for distance learning), which guaranteed the training of a large number of public school teachers. MEC was responsible for the distribution of
No ano 2002, seguindo a mesma linha de integração
10.000 copies of this series in the national school
com políticas públicas, o documentário "Agenda 31" foi
network and the annual distribution via satellite to
realizado para a Secretaria de Coordenação da Amazônia
a network of 50 thousand schools. It also distributed
do Ministério do Meio Ambiente, em parceria com as
110 thousand books with texts on subjects covered
ONGs – Comissão Pró-Índio do Acre, CPI/AC, e Associa-
by the series: Language, History, Rights, among
ção do Movimento dos Agentes Agroflorestais do Acre, AMAIAC. Tratou-se de apresentar e divulgar a formação dos agentes agroflorestais indígenas acreanos, AAFIs, importante e inovadora experiência que vem incentivan-
others. Several public Brazilian channels such as TV Cultura and TV Educativa have also transmitted the videos produced by the organisation. In 2002, following the same approach of integration with public policies, the documentary
do a gestão comunitária responsável de terras indígenas
"Agenda 31" was made for the Ministry of the
dentro dos princípios de sustentabilidade econômica, eco-
Environment’s Amazonian Coordination
lógica e cultural.
Department, in partnership with the NGOs-
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
65
O documentário foi realizado com a colaboração de al-
Comissão Pro-Indio, Acre, CPI/AC, and Acre’s
guns dos realizadores, agroflorestais, professores indígenas
Association/ Movement of Agro-forestry Agents,
e assessores do projeto acreano: muitas de suas imagens
AMAIAC. This involved presenting and disseminating
foram gravadas pelo professor e realizador Maru Kaxinawá.
the training of the Acrean indigenous agro/food-
Ele documentou com sua câmera de vídeo o processo de autodemarcação de parte do território Kaxinawá feito pioneiramente com o plantio de árvores frutíferas durante a “oficina itinerante” destinada à formação de 22 agentes agroflorestais pela CPI/AC. Maru registrou todo o trabalho
forestry agents AAFIs, an important and innovator experience that has been encouraging the community administration responsible for indigenous lands within the principles of economic, ecological and cultural sustainability. The documentary was made with the
de demarcação por meio da linguagem audiovisual e pela
collaboration of several of the indigenous film-
escrita detalhada de seu diário:
makers, agro-forestry agents, indigenous teachers
“Hoje se deu continuidade ao plantio de mudas de cas-
and advisors of the Acrean project: much of the
tanha e foram plantadas 114 mudas numa extensão de
footage was recorded by the teacher and film-
4 km. Eu filmei as atividades desde o inicio. Na parte da tarde, fiz entrevistas com alguns agentes agroflorestais sobre o trabalho com os marcos verdes”. (KAXINAWÁ, Maru, 2001)
maker, Maru Kaxinawá. He documented with this video camera the pioneer self-demarcation process of part of the Kaxinawá territory made with the planting of fruit trees during the “itinerant workshop” aimed at training 22 agro-forestry agents by the CPI/AC. Maru registered the entire
“Agenda 31” pretende fazer refletir e difundir algumas das experiências impulsionadas em comunidades indígenas
demarcation process through audiovisual language and detailed descriptions in his diary:
por jovens lideranças durante sua “formação em serviço”
“Today the planting of Brazil nut saplings
nas terras indígenas: o manejo agroflorestal, a criação de
continued and 114 were planted in an extension
animais silvestres, a demarcação de suas terras, a inte-
of 4 km. I filmed the activities right from the
gração entre currículo escolar, cultura e meio ambiente.
start. In the afternoon, I carried out interviews
Sua função institucional, como produto do Ministério do Meio Ambiente em sua parceria com ONGs como o VNA, a
with some of the food-forestry agents about the work with the green markers”. (KAXINAWÁ, Maru, 2001)
CPI/AC e a AMAIAC, foi divulgar e legitimar as experiências socioambientais e educacionais desenvolvidas em
“Agenda 31” aims to stimulate reflection and
escala local por essas entidades, com seu potencial de
disseminate some of the experiences triggered in
influência em políticas públicas integradas e intersetoriais
indigenous communities by young leaders during
para a Amazônia e outros biomas brasileiros.
their “on-service training” in indigenous lands: food forest management, the rearing of wild animals, the
O VÍDEO NAS ESCOLAS E NA SOCIEDADE
demarcation of their lands, the integration between
Desta maneira, o trabalho do VÍDEO NAS ALDEIAS tem
the school curriculum, the culture and the
construído, ao longo dos anos, uma marca diferenciada em sua ação audiovisual: expressa exemplarmente processos educativos interdisciplinares (ao articular diversos
66
environment. Its institutional function, as a product of the Ministry for the Environment in its partnership with NGOs such as VNA, CPI/AC and AMAIAC, was to publicise and legitimate the social/environmental
tipos de conhecimentos) e interculturais (ao propiciar a
and educational experiences developed on a local
relação informada entre povos diferenciados). Em algu-
scale by these organisations, with their potential for
mas escolas indígenas onde seus professores estão envol-
influencing integrated and cross-cutting public
vidos com os programas de formação, é significativa a
policies for the Amazon and others Brazilian biomes.
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
relação estabelecida entre as problemáticas históricas, o
The video in schools and in society
currículo escolar e o vídeo, como atesta o professor-rea-
Thus, the work of Video in the Villages has
lizador Isaac Ashaninka:
developed, over the years, a distinctive style
“Cada vez que fazemos um trabalho em vídeo e mostramos ao nosso povo, é um enriquecimento muito grande: olha, isso aconteceu daquela maneira, hoje está acontecendo desse jeito. Os próprios alunos que estão estudando, que vêem a gente falar do mundo, da vida, das pes-
in its audiovisual actions: it expresses, in an exemplary manner, educational processes that are interdisciplinary (in articulating various kinds of knowledge) and intercultural (on propagating an informed relation among differentiated groups). In some indigenous schools where the teachers
soas, através do vídeo, eles sabem o que aconteceu, o
are involved in training programmes, the relation
que está acontecendo e o que pode vir a acontecer”
established between the historical problems, the
(ASHANINKA, Isaac 2001)
school curriculum and the video is significant, as the teacher-film-maker Isaac Pinhanta confirms:
Por outro lado, o uso do vídeo nas escolas indígenas por professores, muito deles também realizadores, vem sendo um recurso didático de grande relevância no desenvolvi-
“Each time we do a piece of work in video and show it to our people, it is a source of great enrichment: look, this happened in that way, today it is happening in this way. The pupils
mento curricular:
themselves that are studying, that see us
“Esse trabalho com vídeo tem como objetivo não só registrar nossas culturas, mas também servir dentro de nos-
speaking of the world, of life, of people, through video, they know what happened, what is
sas escolas como um material didático para trabalhar com
happening and what can happen.”
nossos alunos” (KAXINAWÁ, Maru 2001).
(ASHANINKA, Isaac 2001)
On the other hand, the use of the video in
A AUTORIA E A CO-AUTORIA
Na proposta do VÍDEO NAS ALDEIAS e em outros traba-
the indigenous schools by teachers, many of them
lhos, a formação e capacitação de indivíduos e coletivi-
also film-makers, has become a teaching resource
dades estão fundadas na concepção da “autoria”, experimentada em programas de formação dos professores e dos agroflorestais na Amazônia brasileira desde os anos 80. Nestes programas, a autoria é importante alavanca da ação educacional, não só derivando de uma ideologia,
of great relevance in the development of the curriculum: “this work with video has as its objective not just the recording of our cultures, but also serving within our schools as teaching material for work with our pupils” (KAXINAWA, Maru 2001).
mas implicando em nova prática política e de linguagem. Esta objetiva a emergência da voz e da palavra de su-
Authorship and co-authorship
jeitos e coletividades silenciados ao longo da história
In the Video in the Villages proposal and
colonial, conforme testemunho do professor acreano Ma-
in other works, the training of individuals and
na Kaxinawá:
groups is founded on the concept of “authorship”,
“O tempo presente dos índios é formado por várias situações conquistadas pelas comunidades ao longo dos últimos 30 anos. Com muita luta e dificuldades, estamos tentando mostrar quem somos.” (KAXINAWÁ, Mana, 1996).
experimented with teacher training programmes and in the agro-forests of the Brazilian Amazon since the 80’s. In these programmes, authorship is an important lever for educational action, not just arising from an ideology, but also implying a new political practice and language.
Nesse processo histórico, os realizadores indígenas vêm constituindo, junto aos professores, agentes de saúde e
This targets the emergence of the voice and words of subjects and groups that have been silenced
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
67
agentes agroflorestais, novas categorias sociais em for-
throughout colonial history, as the teacher Mana
mação, visando desenvolver capacidades para atuarem
Kaxinawá from the state of Acre testifies:
em cenários complexos interculturais. Fazem parte de
“The present moment for the Indians consists of a
uma geração envolvida em programas educativos e políti-
number of situations achieved by the
cos desenvolvidos desde os anos 80, a partir da luta pelos direitos à diferença. Grande parte destes atores tem
communities over the last 30 years. With much struggle and hardship, we are attempting to show who we are.” (KAXINAWÁ, Mana, 1996).
desempenhado, dentro de suas sociedades e fora delas, importante papel de lideranças com legitimidade cres-
In this historical process, the indigenous film-
cente para a ação cultural. Funcionam como mediadores
makers have been constituting, together
e intérpretes de conhecimentos específicos – festas, ri-
with the teachers, health and food-forestry agents,
tuais, narrativas míticas e histórias recentes buscando
new social categories social in training/ formation,
um elo de continuidade entre as novas e velhas gerações.
aiming to develop capacities to intervene in
Do ponto de vista dos povos indígenas, a sua experiência da autoria se tornou parte das lutas pelos direitos à igualdade política-social e à diferença cultural. Tal autoria vem traduzindo o princípio político “da autodeterminação dos povos” no campo lingüístico-cultural. Por
complex intercultural scenarios. They are part of a generation involved in educational and political programmes implemented since the 1980’s, originating in the struggle for the rights to be different. A great many of these actors have fulfilled, within their societies and beyond them,
meio dela, exercem o direito ao protagonismo de sua his-
an important role of leadership with growing
tória atual, de suas relações com “os outros”, da defi-
legitimacy for cultural action. They function as
nição de seus projetos presentes e futuros, orientados
mediators and interpreters of specific knowledge –
pelo sentido do passado e da tradição.
festivals, rituals, mythical narratives and recent
Por outro lado, a experiência de autoria indígena tem possibilitado a expressão coletiva e dinâmica de identidades históricas, apoiada em suportes e meios de comunicação apropriados no contato com outros povos, como foram a escrita alfabética e, mais recentemente, a câmera de vídeo, o computador e em alguns casos, a internet. Uma coletânea cada vez mais incrementada de produtos
stories, seeking a link of continuity between the new and old generations. From the point of view of the indigenous peoples, their experience of authorship has become part of the struggle for their rights to political and social equality and to cultural difference. Such authorship has been translating the political principle “of people’s self-
artísticos e culturais advindos de programas de formação é
determination” in the linguistic-cultural field.
produzida, editada e distribuída por organizações indíge-
Through it, they exercise the right to be
nas e de apoio. Alguns destes formam parte de uma nova
protagonists of their current history, of their
linha de fomento público aos processos educativos entre
relations with “the others”, of the definition
populações tradicionais. Livros, jornais, desenhos e pintu-
of their current and future projects, oriented
ras, vídeos, CDs, esculturas, mobiliário, formam um impor-
by the sense of the past and of tradition.
tante acervo de autoria indígena contemporânea no Brasil.
On the other hand, the experience of indigenous authorship has permitted the collective and dynamic expression of historical
O USO SOCIAL E ESCOLAR DA
68
identities, backed by appropriate means of
PRODUÇÃO DE AUTORIA
communication and support in contact with other
Tais obras constituem um patrimônio material e intelec-
groups, as with the alphabetic script and more
tual produzido e usado pelos povos indígenas nas al-
recently, the video camera, the computer and
deias em contextos específicos como as escolas, ou em
in a few cases, the Internet.
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
outras práticas sociais cotidianas. Atualmente, não é
An evolving collection of artistic and cultural
rara a organização de sessões de vídeo nas malocas, nas
products resulting from training programmes is
escolas e nos centros culturais de algumas aldeias; a
produced, edited and distributed by indigenous
leitura individual ou coletiva de livros de histórias e
and support organisations. Some of these form
cantos tradicionais; a escrita de textos em línguas indígenas e/ou português por crianças, jovens e adultos indígenas, visando à comunicação à distância ou à ela-
part of a new line of public interest towards educational processes among traditional populations. Books, newspapers, drawings and paintings, videos, CD, sculptures, pieces of
boração de livros, jornais e revistas indígenas de veicu-
furniture, represent an important stock of
lação local, regional ou nacional.
contemporary indigenous authorship in Brazil,
A produção e a “leitura” dessas obras, baseadas em
fruit of their educational-cultural practices.
falas e imagens da vida social, cumprem grande importância na proposta curricular da formação de professores, de agentes agroflorestais e também, mais recentemente, de realizadores indígenas. Tais obras resultam de estudos e pesquisas sobre alguns dos temas de interesse dos povos e comunidades indígenas, que são, quase sempre selecionadas, editadas e distribuídas em pequena ou gran-
The social and school use of the production of authorship Such pieces of work constitute a material and intellectual patrimony produced and used by indigenous peoples in the villages in specific contexts such as schools, or in other daily social practices. Currently, the organisation of video
de tiragem, incentivando os processos de reflexão sobre
sessions in the communal house, schools and
as identidades e as diversidades nas “escolas da floresta”
cultural centres of several villages is not rare;
e “das cidades”.
the individual or collective reading of books of
Nas escolas, os estudantes e formadores passam a cons-
traditional stories and songs; or the writing of texts
truir novos significados para as áreas de estudo do cur-
in indigenous languages and/or Portuguese by
rículo escolar. Tem sido possível por meio do vídeo, em
indigenous children, young people and adults, for
alguns contextos indígenas e não indígenas, a realização
the purposes of long distance communication or the
de estudos sobre os condicionamentos históricos que afetam a natureza e a sociedade, registrando-se e interpretando-se as práticas culturais, sociais e espirituais con-
preparation of indigenous books, newspapers, and magazines for local, regional or national circulation. The production and the “reading” of these works, based on testimonies and images of social
temporâneas dos povos indígenas sob diferentes aspectos
life, are of vital importance in the curricular
e perspectivas. Entre estes, realce foi dado à visão das
proposal for teacher training, and that of food-
crianças e jovens de uma sociedade como os Ikpeng, na
forest agents and also, more recently, of indigenous
obra prima “Das crianças Ikpeng para o Mundo”, um dos
film-makers. Such works result in studies and
resultados das oficinas de formação na Terra Indígena
research on some of the themes of interest to
Xingu, MT, dirigido por 3 jovens professores deste povo.
indigenous peoples and communities, that are,
E, em “Shomotsi”, pode-se documentar alguns dias da
almost always selected, edited and distributed in
trajetória particular de um velho Ashaninka, do Acre, no premiado vídeo dirigido por seu sobrinho, o professor Valdete Ashaninka. Ou ainda foram representadas as rela-
small or large numbers, stimulating the processes of reflection over the identities and diversities in the “schools in the forest” and “in the cities”. In the schools, the students and trainers begin
ções entre as estações do ano e a vida sócio-cultural dos
to construct new meanings for the areas of study
Ashaninka, no vídeo “O tempo das Chuvas”, fruto da au-
in the school curriculum. It has been possible
toria coletiva de 6 povos indígenas acreanos reunidos em
through video, in some indigenous and non-
oficina; ou ainda se pode refletir sobre a vigilância e a
indigenous contexts, to carry out studies on
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
69
fiscalização de terras indígenas, como no vídeo "Vamos à
historical conditionings that affect nature and
luta" realizado por Divino Xavante sobre a difícil con-
society, recording and interpreting contemporary
quista da Terra “Raposo, Serra do Sol” pelos Macuxi, em
cultural, social and spiritual practices of indigenous
Roraima. Nestes e em outros vídeos, os realizadores e seu
people under different aspects and perspectives.
público constroem informações e opiniões sobre os fatos reportados e produzem novos sentidos e valores para e sobre os povos indígenas.
Among these, the vision of the children and young people in a society such as the Ipkeng were enhanced in “From the Ipkeng children to the world”, one of the results of the training workshop in the Xingu Indigenous Land, coordinated by 3
D O S T E M P O S D O S A N T I G O S AT É H O J E
young teachers from this tribe. And, in “Shomõtsi”,
Forma-se, pois, uma geração de “intelectuais” e artistas
a few days in the particular story of an old
indígenas, socialmente legitimados para narrarem e da-
Ashaninka man, from Acre, can be followed, in the
rem significados à sua história e para a documentação e
awarded video directed by his nephew, the teacher,
interpretação contínua de aspectos da tradição.
Valdete Pinhanta. Or, likewise, the relations
Entre os documentos elaborados por estes professores, agroflorestais, realizadores, artistas, muita importância tem sido conferida à narração histórica dos “tempos da maloca” ou “dos antepassados”, obtidas através da
cultural life of the Ashaninka was represented, in the video “The rainy season”, fruit of the collective authorship of 6 indigenous groups from the state of Acre together in workshops; or again one can
atividade de investigação junto aos “mais velhos”: uma
reflect on the a vigilance and inspection of
já significativa bibliografia e videoteca de narrativas,
indigenous lands, as in the film “The struggle goes
cantos, rituais, depoimentos diversos, foram reunidos a
on!” produced by Divino Tserewahú on the tough
partir da tradição oral, elaborados enquanto texto, de-
conquest of the area “Raposo Serra do Sol” by
senho, fala e imagem, editados e difundidos com o
the Macuxi. In these and in other videos, the
apoio da ação de organizações indígenas e/ou indige-
film-makers and their public put together
nistas. Este processo é exemplificado por algumas obras
information and opinions about the reported facts
da coleção do VÍDEO NAS ALDEIAS como “Moyngo, O Sonho de Maragareum”, 2001. Esta apresenta um ritual dos Ikpeng, a partir de registro realizado por Kumaré e
and produce new feelings and values for and about indigenous peoples.
From old times until now
Kanaré Ikpeng sobre a cerimônia de iniciação dos meni-
A generation of indigenous “intellectuals” and
nos: a comunidade decide, em uma das oficinas de for-
artists is thus formed, socially legitimated to
mação de realizadores indígenas, encenar o mito que
narrate and give meaning to their story and to
representa a origem do cerimonial. Também é o caso de
the on-going documentation and interpretation
“Wapté Mnhõnõ”, 1999. Este documenta a iniciação dos
of aspects of their tradition.
jovens Xavante e elucida o significado conferido ao ceri-
Among the documents drawn up by these
monial por membros da aldeia, obra que também foi
teachers, food-forest agents, film-makers, artists,
realizada durante as oficinas de formação. Outro conjunto de obras tem se voltado à valorização e documentação de práticas cotidianas vividas atual-
70
between the seasons of the year and the social-
much importance has been conferred to the historical narration of the “times of the maloca” or “of the ancestors”, obtained through the activity of investigating, together with the “oldest”: an
mente como parte de sua vida social: pescarias, caça-
already significant bibliography and video library of
das, preparação dos ciclos agrícolas, produção para
tales, songs, rituals, a range of testimonies, have
auto-sustentação e comércio, ações de saúde e edu-
been gathered from oral tradition oral, put together
cação. Estas práticas cotidianas são documentadas pelos
into text, drawings, testimonies and footage, edited
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
alunos/realizadores em suas terras ou em outras, inde-
and disseminated with the help of the action of
pendente das atividades de oficinas, ao usarem durante
indigenous and/or indigenous support organisations.
o ano as câmeras distribuídas pelo programa ou adquiri-
This process is exemplified by some of the works
das pelas comunidades, dando sentido social e educativo
from the Video in the Villages collection, such as
ao uso do vídeo nas aldeias. Monta-se assim o acervo de uma filmografia doméstica e familiar, ao mesmo tempo de caráter histórico original. Narrativas e eventos regu-
“Moyngo, the dream of Maragareum”, 2001. This presents an Ikpeng ritual, from the footage recorded by Kumare and Kanare Ikpeng of the initiation ceremony of the boys: the community
lares ou extraordinários no cotidiano e na vida social
decides, in one of the training workshops for the
são contados e captados pela câmera de vídeo pelo olhar
indigenous film-makers, to act out the myth that
atento dos realizadores: festas, encontros e reuniões po-
represents the origin of the ceremony. There is
líticas, viagens de formação e intercâmbio, visitas entre
also the case of “Wapte Mnhõnõ”, 1999. This film
povos e aldeias, cursos de formação.
documents the initiation of the young Xavante and
Tais produtos educativos e culturais, ao mesmo tempo coletivos e individuais, formam uma nova série de obras e documentos nas línguas indígenas e, em alguns casos em português, com apoio na imagem, nas palavras e seus novos e antigos sentidos, a serem transmitidos,
elucidates the meaning conferred to the ceremony by members of the village, a work also put together during the training workshops. Another group of films addresses the valuing and documentation of daily practices currently experienced as part of indigenous social life:
intercambiados e compartilhados entre diferentes povos
fishing, hunts, the preparation of the planting
e gerações.
cycles, production for self-sustenance and commerce; health and education actions. These daily practices are documented by the
REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS | Bibliographic References
pupils/film-makers in their lands or in others, over and above the workshop activities, as they use
ASHANINKA, Isaac, “Depoimento – avaliação”, arquivo VÍDEO NAS ALDEIAS, Olinda, 2003
throughout the year the cameras distributed by
CARELLI, Vincent, CORREA, Mari “Relatório de Atividades”, VÍDEO NAS ALDEIAS, Olinda, 2002
providing social and educational use for the video
CARELLI, Vincent, CORREA, Mari e MONTE, Nietta, “Vídeo nas Aldeias se Apresenta”, VÍDEO NAS ALDEIAS, Olinda, 2003
the programme or acquired by the communities, in the villages. Thus film archives of domestic and family life are collated, in addition those of the
KAXINAWÁ, Adalberto Maru, “Diário de trabalho – Viagem a terra Kaxinawá do Jordão”, Rio Branco, 2001
original historical nature. Stories and ordinary or
MONTE, Nietta, “Escolas da Floresta, entre o passado oral e o presente letrado”, Editora Multiletras, Rio de Janeiro, 1996
villages are told and captured by the video camera
______, “Novos Frutos das Escolas da Floresta, registros de práticas de formação”, Autora-Editora, Rio de Janeiro, 2003
encounters and political meetings, training trips
extraordinary events in daily and social life in the by the sharp eye of the film-makers: festivals, and interchange visits among peoples and villages, training courses. These educational and cultural products, at the same time collective and individual, form a new series of works and documents in the indigenous languages and, in some cases in Portuguese, with help in the images and words and their new and old meanings, to be transmitted, interchanged and shared among different peoples and generations.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
71
Cinema de Índio AILTON KRENAK
Diretor do Núcleo de Cultura Indígena e apresentador da série Índios no Brasil Head of the Indigenous Culture Center and presenter of the serie “Indians in Brazil”
F
oi a primeira chegada até Rio Branco, no Acre, que me
Indian cinema
botou diante de uma pessoa lendária naquelas para-
gens de rios e florestas na Amazônia: Sueiro Kaxinawá,
It was the first time I was going to Rio Branco,
pai de Siã Huni Kui, o primeiro índio que pegou uma câ-
in the Acre state, when I met a legendary person
mara na mão cheio de idéias na cabeça e fez um
of this area: Sueiro Kaxinawá, father of Siã Huni
documentário sobre a vida de índios e seringueiros nas beiras de rio da floresta, o nome deste filme “Tinton Renê – o rio de muitas voltas”. Puro cinema de Índio. Subindo
Kui, the first Indian that took a camera in his hand with an idea in his head and shooted a documentary on the life of Indians and rubber tapers on the banks of the forest river. The name
de canoa, naquelas rabetas, parando nas colocações, a
of the film is “Tinton Renê – the meandering river”.
câmara era uma viagem nas luzes e sombras da floresta,
Pure Indian cinema. Going with motor boat,
invocando os seres invisíveis,abrindo a boca do rio para
stopping at houses, the camera makes a travel
o mundo civilizado. Um grito da Rainha da Floresta, Ma-
through lights and shadows of the forest, invoking
pinguary, Ayuaka, Cipó. Cinema de Índio.
invisible beings, opening the mouth of the river to
O velho Sueiro Kaxinawá naquele encontro em Rio Branco me contou de sua luta pela terra indígena Kaxinawá, me deu presentes, e naqueles dias me mostrou as primeiras visões do Cipó, bebida dos Huni Kui- Kaxinawá. Eu, diante de tanta visão da beleza e esplendor da floresta, ouvi do
the non Indian world. A shout of the queen of the forest, Mapinguary, Ayuaka, Cipo (hallucinogenic liana). Indian cinema. The old Sueiro Kaxinawá told me his struggle for the indigenous land “Kaxinawá”, gave me presents and show me my first liana visions drinking
meu padrinho Sueiro, uma explicação para minhas visões:
Huni Kui- Kaxinawá. Faced to so much visions
Txai, isto é cinema de índio, é assim que a gente vê as
of the splendor and beauty of the forest, I heard
coisas da floreta.
the explanation from my godfather Sueiro: “Txai, this is the Indian cinema, that’s the way we see
Vídeo nas Aldeias, é isto Txai – Cinema de Índio!
the forest.” Video in the Villages, is this, Txai, Indian cinema!
72
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
realizadores indígenas a recente produção audiovisual de autoria indígena
native videomakers the recent native documentary production
“Filmar é a minha profissão, é para isso que eu nasci... não foi para trabalhar de machado, eu não nasci para plantar. É isso que eu sempre digo para a minha mulher”.
“Making videos is my profession, I was born for it... I wasn’t born to work
Divino Tserewahú
with an axe nor plant fields. And this is what I always tell my wife.”
29 anos, Xavante da aldeia de Sangradouro (município de General Carneiro, Mato Grosso), seguiu o trabalho iniciado pelo irmão: durante anos, Divino registrou cerimoniais e eventos para o público da aldeia. Em 1995 ele parti-
29 YEARS OLD, IS A XAVANTE FROM THE SANGRADOURO
cipou da equipe do “Programa de Índio” e no
VILLAGE (MUNICIPALITY OF GENERAL CARNEIRO, MATO
seu primeiro trabalho para o público não Xa-
GROSSO STATE), HE FOLLOWS THE WORK INITIATED BY
vante – “Obrigado Irmão” –, Divino narra a sua
HIS BROTHER: FOR YEARS, DIVINO REGISTERED MOSTLY
iniciação de videasta. Líder do coletivo de
CEREMONIES FOR THE VILLAGE. HE PARTICIPATED IN THE
autores de “Wapté Mnhõnõ, A iniciação do jo-
PRODUCTION OF “INDIAN PROGRAM” AND HIS FIRST
vem Xavante”, premiado em vários festivais,
WORK FOR A NON XAVANTE AUDIENCE WAS “THANK YOU
Divino realizou mais dois documentário sobre
BROTHER”, DIVINO NARRATES HIS INITIATION AS A
rituais de iniciação Xavante, “Waiá Rini, o po-
VIDEO MAKER. HE WAS THE LEADER OF THE COLLECTIVE
der do Sonho” (2001) e “Aprendiz de curador”
PRODUCTION “WAPTÉ MNHÕNÕ, THE XAVANTE´S INITIATION”
(2003). Em 2002, Divino fez uma reportagem
WHICH WON AWARDS IN VARIOUS FESTIVALS. RECENTLY,
sobre os índios Makuxi que resultou no vídeo
DIVINO MADE ALONE TWO MORE DOCUMENTARIES ABOUT
“Vamos à luta!”
XAVANTE INITIATION RITUALS – “WAI´Á RINI, THE POWER OF THE DREAM” (2001) AND “TRAINEE CURATOR”
Vídeos
74
(2003) AND IN 2002, HE DID A REPORT ABOUT THE
■
PROGRAMA DE ÍNDIO 1, 2, 3, 4
MAKUXI FIGHT FOR THEIR LAND DEMARCATION
■
HEPARI IDUB´RADÁ, OBRIGADO IRMÃO
“THE STRUGGLE GOES ON!”
■
WAPTÉ MNHÕNÕ, A INICIAÇÃO DO JOVEM XAVANTE
■
WAI´Á RINI,O PODER DO SONHO
Videos
■
VAMOS À LUTA!
■
INDIAN PROGRAM 1, 2, 3, 4
■
DARITIDZÉ, APRENDIZ DE CURADOR
■
HEPARI IDUB´RADÁ, THANK YOU BROTHER
■
WAPTÉ MNHÕNÕ, THE XAVANTE’S INITIATION
■
WAI´Á RINI, THE POWER OF THE DREAM
■
THE STRUGGLE GOES ON!
■
DARITIDZÉ, TRAINEE CURATOR
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
realizadores indígenas | native videomakers
HEPARI IDUB’RADA, Obrigado irmão Desde a primeira vez em que viu uma câmera de vídeo nas mãos de seu irmão, Divino Tsere-
HEPARÍ IDUB'RADÁ, Thank you brother
wahú, teve certeza de que seria “filmador”.
S INCE
Hoje, Divino domina a linguagem e as técnicas
1HIS BROTHER´S HAND, DIVINO TSEREWAHU KNEW
de gravação e edição e nos conta a trajetória
THAT HE WOULD BE A FILMMAKER. TODAY, DIVINO
de seu trabalho em parceria com a sua comu-
DOMINATES THE LANGUAGE OF VIDEO AND ITS
nidade.
FILMING AND EDITING TECHNIQUES. HE TELLS
THE FIRST TIME HE SAW A CAMERA IN
ABOUT THE DEVELOPMENT OF HIS WORKS IN 17 MIN., 1998 | DIREÇÃO E IMAGENS: DIVINO TSEREWAHÚ |
PARTNERSHIP WITH HIS COMMUNITY.
EDIÇÃO E ROTEIRO: TUTU NUNES 17 MIN., 1998, | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: DIVINO TSEREWAHÚ | EDITION AND SCRIPT: TUTU NUNES
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
75
Divino Tserewahú
WAPTÉ MNHÕNÕ, Iniciação do jovem Xavante Documentário
sobre a iniciação dos jovens
Xavante, realizado durante as oficinas de ca-
WAPTÉ MNHÕNÕ, The Xavante’s Initiation
pacitação do projeto Vídeo nas Aldeias. A con-
A
vite de Divino, da aldeia Xavante Sangradouro,
OF YOUNG XAVANTE INDIANS, REALIZED DURING A
4 Xavantes e um Suyá realizam, pela primeira
TRAINING WORKSHOP. INVITED BY DIVINO, ONE SUYÁ
vez, um trabalho coletivo. Durante o registro
AND FOUR XAVANTES INDIANS SHOOT COLLECTIVELY
do ritual, diversos membros da aldeia eluci-
FOR THE FIRST TIME. AS THE RITUAL GOES ON,
dam o significado deste complexo cerimonial.
VARIOUS MEMBERS OF THE VILLAGE EXPLAIN
DOCUMENTARY ABOUT THE INITIATION RITUAL
THE SIGNIFICANCE OF THIS COMPLEX CEREMONY.
Prêmios ■
■
TROFÉU JANGADA, PRÊMIO DA OCIC – BRASIL
Awards
(ORGANIZAÇÃO CATÓLICA INTERNACIONAL DE CINEMA)
■
CATHOLIC FILM ORGANIZATION), 6TH INTERNATIONAL
RIO DE JANEIRO, 1999
ETHNOGRAPHIC FILM FESTIVAL, RIO DE JANEIRO, 1999
PRÊMIO MANUEL DIÉGUES JÚNIOR NA
■
6ª MOSTRA INTERNACIONAL DO FILME ETNOGRÁFICO, ■
PRÊMIO NO X INTERNATIONAL FESTIVAL OF
BEST DOCUMENTARY AWARD, XTH INTERNATIONAL FESTIVAL OF ETHNOGRAPHIC FILMS, NUORO, ITALY, 2000
ETHNOGRAPHICAL FILMS, NUORO, ITÁLIA, 2000 ■ ■
MANUEL DIÉGUES JUNIOR AWARD, 6TH INTERNATIONAL ETHNOGRAPHIC FILM FESTIVAL, RIO DE JANEIRO, 1999
RIO DE JANEIRO, 1999 ■
JANGADA TROPHY, OCIC AWARD (INTERNATIONAL
NA 6ª MOSTRA INTERNACIONAL DO FILME ETNOGRÁFICO,
ANACONDA AWARD, BOLIVIA, 2000
GRAN PRÊMIO ANACONDA, BOLÍVIA, 2000 75 MIN., 1999 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY:
76
75 MIN., 1999 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: CAIMI WAIASSÉ,
CAIMI WAIASSÉ, DIVINO TSEREWAHÚ, JORGE PROTODI,
DIVINO TSEREWAHÚ, JORGE PROTODI, WINTI SUYÁ |
WINTI SUYÁ | PRODUCTION: BARTOLOMEU PATIRA |
PRODUÇÃO: BARTOLOMEU PATIRA | EDIÇÃO: TUTU NUNES
EDITION: TUTU NUNES
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
realizadores indígenas | native videomakers
WAI’Á RINI, O poder do sonho A
festa do Wai’á, dentro do longo ciclo de
cerimônias de iniciação do povo Xavante, é
WAI’Á RINI, The power of the dream
aquela que introduz o jovem na vida espiritual,
W ITHIN
no contato com as forças sobrenaturais. O di-
CEREMONIES OF THE XAVANTE PEOPLE, THE WAI’Á
retor Divino Tserewahú vai dialogando com o
CELEBRATION IS THE ONE THAT INTRODUCES YOUNG
seu pai, um dos dirigentes deste ritual, para
MEN TO SPIRITUAL LIFE AND PUTS THEM IN CONTACT
revelar o que pode ser revelado desta festa
WITH SUPERNATURAL FORCES. FILMMAKER DIVINO
secreta dos homens, onde os iniciandos pas-
TSEREWAHÚ INTERVIEWS HIS FATHER, ONE OF THE
sam por muitas provações e perigos.
LEADERS OF THIS RITUAL, TO DISCLOSE WHAT CAN
THE LONG CYCLE OF INITIATION
BE REVEALED ABOUT THE SECRET CELEBRATION OF
Prêmios ■
PRÊMIO NACIONALIDADE KICHWA, IV FESTIVAL
MEN. MEANWHILE, THE INITIATED GO THROUGH MANY TRIALS AND TRIBULATIONS.
CONTINENTAL DE CINEMA E VÍDEO DAS PRIMEIRAS NAÇÕES DE ABYA YALA, EQUADOR, 2001 ■
Awards
PRÊMIO ANACONDA, II ANACONDA 2002, BOLÍVIA ■
PRIZE KICHWA NATIONALITY, IV FIRST NATIONS FILM AND VIDEO FESTIVAL OF ABYA YALA, EQUADOR, 2001
65 MIN., 2001 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA:
■
ANACONDA AWARD, II ANACONDA 2002, BOLIVIA
DIVINO TSEREWAHÚ | EDIÇÃO: VALDIR AFONSO 65 MIN., 2001 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: DIVINO TSEREWAHÚ | EDITION: VALDIR AFONSO
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
77
Divino Tserewahú
Vamos à luta! Em
abril 2002, os índios Makuxi da reserva
The struggle goes on!
Raposa Serra do Sol comemoram 25 anos de
IN
luta pelo reconhecimento definitivo da reser-
RAPOSA SERRA DO SOL RESERVE COMMEMORATE
va. Divino Tserewahú, realizador Xavante, vai
25 YEARS OF STRUGGLE FOR THE FINAL RECOGNITION
ao encontro dos seus “parentes” e registra as
OF THEIR RESERVE. DIVINO TSEREWAHÚ GOES
comemorações e a demonstração de força do
TO MEET HIS “RELATIVES” AND REGISTERS THE
exército de fronteira para intimidar os índios.
COMMEMORATIONS WHILE THE ARMY DEMONSTRATES
Divino manifesta a sua surpresa diante de tal
ITS STRENGTH AT THE BORDERS TO INTIMIDATE THE
confrontação.
INDIANS. THE DIRECTOR HIMSELF IS AMAZED BY
APRIL 2002, THE MAKUXI INDIANS IN THE
SUCH A CONFRONTATION. 18 MIN., 2002 | REALIZAÇÃO E FOTOGRAFIA: DIVINO TSEREWAHÚ | EDIÇÃO: LEONARDO SETTE
18 MIN., 2002 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: DIVINO TSEREWAHÚ | EDITION: LEONARDO SETTE
78
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
realizadores indígenas | native videomakers
DARITIZÉ, Aprendiz de curador Com a divulgação do seu vídeo “Wai´a rini, o
DARITIZÉ, Trainee curator
poder do sonho” em outras aldeias Xavante, os
S INCE
moradores da Aldeia Nova da reserva de São Mar-
RINI, THE POWER OF DREAM” IN OTHER XAVANTE
cos pediram ao Divino que filmasse o mesmo
VILLAGES, THE PEOPLE OF ALDEIA NOVA FROM THE
ritual em sua aldeia. “Aprendiz de curador” des-
SÃO MARCOS RESERVATION ASKED DIVINO TO MAKE
creve o cerimonial do Wai´á, no qual os jovens
A FILM ON THE SAME RITUAL, THE WAI´Á CEREMONY.
são iniciados ao mundo espiritual para desen-
IN THIS CEREMONY THE YOUNG MEN ARE INITIATED
volver o seu poder de cura. Filmar numa aldeia
INTO THE SPIRITUAL WORLD TO DEVELOP THEIR
que não é a sua é uma nova experiência para
CURATIVE POWER. A NEW EXPERIENCE FOR HIM WHO
este realizador, e uma oportunidade para se
HAS TO SHOOT IN A DIFFERENT VILLAGE BUT ALSO
aprimorar no trabalho de edição.
A WAY TO TRY NEW TRACKS AND TO DEVELOP
THE SCREENING OF HIS FILM “WAI´A
HIS EDITING SKILLS. 35 MIN., 2003 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: DIVINO TSEREWAHÚ | EDIÇÃO: DIVINO TSEREWAHÚ E LEONARDO SETTE
35 MIN., 2003 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: DIVINO TSEREWAHÚ | EDITION: DIVINO TSEREWAHÚ AND LEONARDO SETTE
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
79
“O que eu espero, é que o vídeo dentro da aldeia não fique como uma estátua, parada lá. Espero que o vídeo seja bem aproveitado, para passar coisas legais, para movimentar a aldeia.”
“What I hope is that video doesn’t turn into something static, like a statue in the village. I hope that video will be well used so that it can show good things about us
Caimi Waiassé
and help the village to grow.”
25 anos, Xavante da aldeia de Pimentel Barbosa (município de Água Boa, Mato Grosso), começou muito jovem a trabalhar com uma câmera
25 YEARS OLD, IS A XAVANTE FROM THE PIMENTEL
de vídeo. Por anos registrou para a sua comu-
BARBOSA VILLAGE (MUNICIPALITY OF ÁGUA BOA IN
nidade as cerimônias, os encontros, as visi-
MATO GROSSO STATE). HE BEGAN WORKING WITH
tas... No seu primeiro vídeo para um público
VIDEO CAMERA WHEN HE WAS STILL VERY YOUNG.
maior – “Tem que ser curioso” –, Caimi narra a
FOR YEARS, HE HAS REGISTERED CEREMONIES,
sua trajetória de videasta. Caimi integrou a
MEETINGS AND VISITS FOR HIS COMMUNITY. IN HIS
equipe do “Programa de Índio”, na TV Univer-
FIRST VIDEO FOR A MAJOR PUBLIC – “ONE MUST BE
sidade em Mato Grosso e da realização de “Wapté
CURIOUS” –, CAIMI COMES BACK ON HIS TRAJECTORY
Mnhõnõ, A iniciação do jovem Xavante”, além
AS A VIDEO MAKER. CAIMI JOINED THE CREW OF
de realizar um vídeo sobre saúde bucal para as
“INDIAN PROGRAM”, AT TV UNIVERSITY IN MATO
aldeias Xavante. Hoje, Caimi é também profes-
GROSSO STATE AND THE PRODUCTION OF “WAPTÉ
sor da sua aldeia.
MNHÕNÕ, THE XAVANTE´S INITIATION”. CURRENTLY, CAIMI IS ALSO A TEACHER AT HIS VILLAGE.
Vídeos
80
■
PROGRAMA DE ÍNDIO 1, 2, 3, 4
Videos
■
TEM QUE SER CURIOSO
■
INDIAN PROGRAM 1, 2, 3, 4
■
WAPTÉ MNHÕNÕ, A INICIAÇÃO DO JOVEM XAVANTE
■
ONE MUST BE CURIOUS
■
WAPTÉ MNHÕNÕ, THE XAVANTE´S INITIATION
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
realizadores indígenas | native videomakers
Tem que ser curioso Caimi Waiassé fala sobre a sua iniciação ao
ONE MUST BE CURIOUS
vídeo na aldeia Xavante de Pimentel Barbosa
C AIMI
em Mato Grosso. Este vídeo nos dá a oportu-
OF VIDEO IN HIS VILLAGE OF PIMENTEL BARBOSA
nidade de ver um videasta fazendo uma retros-
IN MATO GROSSO, BRAZIL. THIS MOVIE IS AN
pectiva da sua trajetória. Um belo documento
OPORTUNITY TO SEE A DIRECTOR COMING BACK
sobre como um realizador aprende a dominar o
ON HIS FIRST STEPS, FROM THE FIRST RUSHES
seu instrumento para expressar a sua visão de
TO A MORE ELABORATED WORK. A BEAUTYFUL
mundo. “Através da câmera, tive a oportuni-
DOCUMENT ON HOW A DIRECTOR DOMINATES ITS
dade de conhecer vários tipos de cultura, vá-
TOOL TO EXPRESS ITS PERCEPTION OF WORLD.
rios povos indígenas, tanto aqui no Brasil
”THROUGH THE CAMERA, ONE GETS THE
como fora.”
OPPORTUNITY TO KNOW SEVERAL TYPES OF
WAIASSÉ COMMENTS ON HIS DISCOVER
CULTURES, SEVERAL TYPES OF INDEGENOUS 16 MIN., 1997 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: CAIMI WAIASSÉ |
PEOPLE, IN BRAZIL AS WELL AS ABROAD.”
ROTEIRO E EDIÇÃO: TUTU NUNES E CAIMI WAIASSÉ 16 MIN., 1997 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: CAIMI WAIASSÉ | SCRIPT AND EDITING: TUTU NUNES AND CAIMI WAIASSÉ
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
81
Natuyu Yuwipo Txicão 17 anos, Ikpeng do Parque do Xingu no Mato Grosso, é a primeira mulher a integrar a equipe do Vídeo nas Aldeias. Iniciada na oficina de 1999, Natuyu foi a grande revelação da oficina de 2001, sendo a aluna mais jovem do projeto. Ela é co-autora da Vídeo-carta das crianças Ikpeng e da refilmagem do ritual Moyngo. 17 YEARS OLD IKPENG INDIAN FROM THE XINGU PARK IN MATO GROSSO STATE, NATUYU IS THE FIRST WOMAN TO INTEGRATE THE VIDEO IN THE VILLAGES’ TEAM. INTRODUCED TO VIDEO DURING THE WORKSHOP IN 1999 AS THE YOUNGEST STUDENT OF THE PROJECT, SHE BECAME THE GREAT REVELATION AT THE 2001 WORKSHOP. CO-AUTHOR OF THE “FROM THE IKPENG CHILDREN TO THE WORLD” AND THE RE-FILMING OF THE MOYNGO RITUAL.
82
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
realizadores indígenas | native videomakers
Kumaré Txicão
Karané Txicão
26 anos, Ikpeng do Parque do Xingu no Mato
21 anos, Ikpeng do Parque do Xingu no Mato
Grosso. Depois de sua iniciação ao vídeo em
Grosso, já participou de três oficinas no Xingu
1997, Kumaré e seu companheiro Karané regis-
e de três oficinas de edição. Com Kumaré reali-
traram o cerimonial de iniciação e tatuagem
zou seu primeiro vídeo, “Moyngo, o sonho de
das crianças de sua aldeia, o “Moyngo”. Na ofi-
Maragareum”. Karané também participou, jun-
cina de 99, os Ikpeng encenaram o mito de
to com Kumaré e Natuyu, da filmagem do ritual
origem desta festa. O filme “Moyngo, O sonho
Wagré em 2001, bem como da vídeo-carta das
de Maragareum”, misto de ficção e documen-
crianças Ikpeng.
tário, foi sua primeira realização. Em 2001, com a participação de Karané e Natuyu, filmou o
KARANÉ IS A 21 YEARS OLD IKPENG INDIAN FROM
ritual Wagré e o vídeo “Moyngo” foi remontado
THE XINGU PARK IN MATO GROSSO STATE, WHO
em 2002. Na oficina de 2001, Kumaré, Karané
HAS ALREADY PARTICIPATED IN THREE WORKSHOPS
e Natuyu também realizaram a vídeo-carta das
IN XINGU AND THREE EDITING WORKSHOPS.
crianças Ikpeng.
HE REALIZED HIS FIRST VIDEO “MOYNGO, THE DREAM OF MARAGAREUM” TOGETHER WITH KUMARÉ.
KUMARÉ IS A 26 YEARS OLD IKPENG INDIAN FROM
KARANÉ ALSO PARTICIPATED, WITH KUMARÉ AND
THE XINGU PARK IN MATO GROSSO STATE. AFTER HIS
NATUYU IN THE MAKING OF THE WAGRÉ RITUAL
INITIATION TO VIDEO IN 1997, KUMARÉ AND HIS FRIEND
VIDEO IN 2001, AS WELL AS THE VIDEO-LETTER
KARANÉ REGISTERED THE INITIATION AND TATTOOING
OF THE IKPENG CHILDREN.
CEREMONY OF THE CHILDREN OF HIS VILLAGE, THE “MOYNGO”. DURING THE 1999 WORKSHOP, THE IKPENG PEOPLE STAGED THE ORIGIN MYTH OF THIS CELEBRATION.
Vídeos
THE FILM, “MOYNGO, THE DREAM OF MARAGAREUM”, A
■
MOYNGO, O SONHO DE MARAGAREUM
MIXTURE OF FICTION AND DOCUMENTARY WAS HIS FIRST
■
MARANGMOTXÍNGMO MÏRANG, DAS CRIANÇAS IKPENG PARA O MUNDO
REALIZATION. IN 2001, HE FILMED THE WAGRÉ RITUAL WITH THE PARTICIPATION OF KARANÉ AND NATUYU. THE
Videos
VIDEO WAS RE-EDITED IN 2002. DURING THE 2001
■
MOYNGO, THE DREAM OF MARAGAREUM
WORKSHOP, KUMARÉ, KANARÉ AND NATUYU ALSO
■
MARANGMOTXÍNGMO MÏRANG,
REALIZED THE VIDEO-LETTER OF THE IKPENG CHILDREN.
FROM THE IKPENG CHILDREN TO THE WORLD
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
83
Natuyu Yuwipo Txicão | Kumaré Txicão | Karané Txicão
MOYNGO, O sonho de Maragareum Durante uma oficina de vídeo, a comunidade Ikpeng resolve encenar o mito de origem do
MOYNGO, The dream of Maragareum
cerimonial de tatuagem das crianças. O herói
D URING
mítico, Maragareum, sonha com a morte cole-
COMMUNITY DECIDES TO ACT OUT THE MYTH OF
tiva dos habitantes da aldeia do seu compadre
THE ORIGIN OF THE TATTOOING CEREMONY. THE
Eptxum. Ao chegar nesta aldeia, ele encontra
MYTHICAL HERO, MARAGAREUM, DREAMS ABOUT
de fato todos mortos. Ao cair da noite, Mara-
THE COLLECTIVE DEATH OF THE INHABITANTS OF
gareum, escondido na maloca, presencia e
EPTXUM´S VILLAGE. ARRIVING IN THIS VILLAGE, HE
aprende o cerimonial do Moyngo realizado pe-
FINDS IN FACT EVERYONE DEAD. AS NIGHT FALLS, HE
los espíritos dos mortos.
HIDES IN THE HUT, AND OBSERVES AND LEARNS THE
A VIDEO WORKSHOP, THE IKPENG
MOYNGO CEREMONY FROM THE SPIRITS OF THE DEAD. 44 MIN., 2003 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: KUMARÉ, KANARÉ E NATUYU IKPENG | EDIÇÃO: LEONARDO SETTE
44 MIN., 2003 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: KUMARÉ, KARANÉ AND NATUYU IKPENG | EDITION: LEONARDO SETTE
84
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
realizadores indígenas | native videomakers
MARANGMOTXÍNGMO MÏRANG, Das crianças Ikpeng para o mundo Quatro crianças Ikpeng apresentam sua aldeia Sierra Maestra em Cuba. Com graça e leveza,
MARANGMOTXÍNGMO MÏRANG, From the Ikpeng children to the world.
elas mostram suas famílias, suas brincadeiras,
F OUR
suas festas e seu modo de vida. Curiosas em
ANSWERING A VIDEO-LETTER FROM THE CHILDREN
conhecer crianças de outras culturas, elas pe-
FROM SIERRA MAESTRA IN CUBA. THEY SHOW
dem para que respondam à sua vídeo-carta.
THEIR FAMILIES, THEIR TOYS, THEIR CELEBRATIONS
respondendo à vídeo-carta das crianças da
IKPENG CHILDREN INTRODUCE THEIR VILLAGE
AND THEIR WAY OF LIFE WITH GRACE AND
Prêmios ■
■
MENÇÃO HONROSA DO JÚRI OFICIAL DO CINESUL 2002,
FROM OTHER CULTURES, THEY ASK THAT THEIR
RIO DE JANEIRO
VIDEO–LETTER BE ANSWERED.
PRÊMIO MELHOR DOCUMENTÁRIO, II ANACONDA 2002, BOLÍVIA
■
LIGHTHEARTEDNESS. CURIOUS TO KNOW CHILDREN
Awards
PRÊMIO REVELAÇÃO, TROFÉU TATU DE PRATA, XXIX ■
HONOURABLE MENTION BY THE OFICIAL JURY,
JORNADA INTERNACIONAL DE CINEMA DA BAHIA, 2002. CINESUL 2002, RIO DE JANEIRO ■
PRÊMIO MANOEL DIEGUES JÚNIOR, 9ª MOSTRA ■
BEST DOCUMENTARY, II ANACONDA 2002, BOLIVIA
■
NEW TALENT AWARD, THE SILVER TATU, XXIX JORNADA
INTERNACIONAL DO FILME ETNOGRÁFICO DEZEMBRO 2003, RIO DE JANEIRO
INTERNACIONAL DE CINEMA DA BAHIA, BRAZIL, 2002 35 MIN., 2001 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: KUMARÉ, KARANÉ E NATUYU YUWIPO TXICÃO | EDIÇÃO: MARI CORRÊA
■
MANOEL DIEGUES JUNIOR AWARD, 9TH INTERNATIONAL ETHNOGRAPHIC FILM FESTIVAL, RIO DE JANEIRO, BRAZIL, 2003
35 MIN., 2001 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: KUMARÉ, KARANÉ AND NATUYU YUWIPO TXICÃO | EDITION: MARI CORRÊA
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
85
Isaac Pinhanta 28 anos, é do povo Ashaninka e mora na
38 anos, nascido em Pampa Hermossa, no Perú,
aldeia do rio Amônia, afluente do rio Juruá
professor formado pela Comissão Pró-Índio do
(município de Marechal Taumaturgo no Acre).
Acre, Jaime mora na aldeia Jatobá, no rio Iaco
Professor formado pela Comissão Pró-Índio do
(município de Sena Madureira no estado do
Acre, Isaac é presidente da OPIAC – Organiza-
Acre). Ele já participou de três oficinas do pro-
ção dos Professores Indígenas do Acre. Ele tra-
jeto e trabalha atualmente no registro da me-
balha com o seu irmão Valdete, num documen-
mória dos poucos anciões do seu povo que
tário sobre o trabalho de manejo de recursos
recordam das tradições. Em março 2001, Jaime
naturais da comunidade Ashaninka. “O profes-
viaja com Valdete Pinhanta, para rever os seus
sor indígena é um pesquisador da cultura do
parentes Manchineri do Perú com a missão de
seu povo, e o vídeo é mais um instrumento
registrar a cultura do seu povo ainda viva lá e
nesta pesquisa”.
trazer as imagens para o Brasil.
28 YEARS OLD, ISAAC IS AN ASHANINKA INDIAN
38 YEARS OLD, JAIME WAS BORN IN PAMPA
AND LIVES IN A VILLAGE ON THE AMÔNIA RIVER,
HERMOSSA IN PERU. HE IS A PROFESSOR GRADUATED
A BRANCH OF THE JURUÁ RIVER IN THE STATE OF
BY THE ACRE PRO-INDIAN COMMISSION AND LIVES
ACRE. HE IS A PROFESSOR GRADUATED BY THE
IN THE JOTOBÁ VILLAGE ON THE IACO RIVER IN THE
ACRE PRO-INDIAN COMMISSION. ISAAC SAYS:
MUNICIPALITY OF SENA MADUREIRA IN THE STATE
“AN INDIGENOUS TEACHER IS A CULTURAL
OF ACRE. HE HAS ALREADY PARTICIPATED IN THREE
RESEARCHER OF HIS PEOPLE AND THE VIDEO
WORKSHOPS AND CURRENTLY IS WORKING ON
IS ANOTHER TOOL IN HIS RESEARCH.” ISAAC IS
REGISTERING THE MEMORY OF A FEW OF HIS PEOPLE’S
WORKING ON A THESIS ABOUT THE 100 YEAR-
ELDERS WHO REMEMBER THEIR TRADITIONS. IN
HISTORY OF HIS PEOPLE WHICH IN ADDITION TO
MARCH 2001, JAIME WENT BACK WITH VALDETE
BEING WRITTEN WILL ALSO BE MADE INTO A VIDEO.
PINHANTA TO SEE HIS RELATIVES THE MANCHINERI
HE IS ALSO WORKING WITH HIS BROTHER VALDETE
OF PERU, AND RECORD HIS PEOPLE’S CULTURE
ON A DOCUMENTARY ABOUT THE ASHANINKA
THERE AND BRING THE IMAGES BACK TO BRAZIL.
COMMUNITY’S HANDLING OF NATURAL RESOURCES.
86
Jaime Lullu Manchineri
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
realizadores indígenas | native videomakers
Maru Kaxinawá 25 anos, Maru nasceu na aldeia Nova Fronteira, no rio Purús (município de Santa Rosa do Purús no Acre). Professor formado pela Comissão PróÍndio do Acre, já participou de três oficinas de vídeo, sendo co-autor de dois vídeos: “No tempo das Chuvas” e “Dançando com Cachorro” e participou da realização do vídeo “AGENDA 31” sobre os agentes agroflorestais indígenas do Acre. É atualmente tesoureiro da UNI-Acre (União das Nações Indígenas). 25 YEARS OLD, MARU WAS BORN IN THE NOVA FRONTEIRA VILLAGE, ON THE PURÚS RIVER IN THE STATE OF ACRE. HE IS A PROFESSOR GRADUATED BY THE ACRE PRO-INDIAN COMMISSION. HE PARTICIPATED IN THREE WORKSHOPS, AND COPRODUCED TWO VIDEOS: “THE RAINY SEASON” AND “DANCING WITH A DOG”. HE PARTICIPATED TO THE PRODUCTION OF “AGENDA 31” AND IS ACTUALLY TREASURER OF UNI-ACRE (NATIVE PEOPLE ASSOCIATION OF THE STATE OF ACRE, BRAZIL).
Vídeos ■
NO TEMPO DAS CHUVAS
■
DANÇANDO COM CACHORRO
Videos ■
THE RAINY SEASON
■
DANCING WITH A DOG
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
87
Isaac Pinhanta | Jaime Lullu Manchineri | Maru Kaxinawá
No tempo das chuvas Crônica do cotidiano da comunidade Ashaninka
The rainy season
na estação das chuvas a partir dos registros
A
realizados durante a oficina de vídeo na aldeia
DURING THE RAINY SEASON RECORDED DURING A
do rio Amônia no Estado do Acre. A cumplici-
WORKSHOP IN A VILLAGE ON THE AMÔNIA RIVER IN
dade entre os realizadores e os Ashaninka faz
THE STATE OF ACRE. THE INTIMACY BETWEEN THE
o filme ir além da mera descrição das ativida-
FILM MAKERS AND THE ASHANINKA COMMUNITY
des, refletindo o ritmo da aldeia e o humor de
MAKES THE FILM GO BEYOND A MERE DESCRIPTION
seus habitantes.
OF ACTIVITIES, REFLECTING THE RHYTHM OF THE
DAILY CHRONICLE OF THE ASHANINKA COMMUNITY
VILLAGE AND THE HUMOR OF ITS INHABITANTS.
Prêmio ■
PRÊMIO MANUEL DIEGUES JÚNIOR NA 6ª MOSTRA
Award
INTERNACIONAL DO FILME ETNOGRÁFICO,
■
RIO DE JANEIRO, 2000
MANUEL DIEGUES JÚNIOR, 6TH INTERNATIONAL ETHNOGRAPHIC FILM FESTIVAL, RIO DE JANEIRO, BRAZIL, 2000
38 MIN., 2000 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: ISAAC E VALDETE PINHANTA, TSIROTSI ASHANINKA,
38 MIN., 2000 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: ISAAC
LULLU MANCHINERI, MARU KAXINAWÁ |
AND VALDETE PINHANTA, TSIROTSI ASHANINKA,
EDIÇÃO: MARI CORRÊA
LULLU MANCHINERI, MARU KAXINAWÁ | EDITION: MARI CORRÊA
88
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
realizadores indígenas | native videomakers
Dançando com cachorro Bandeirão, Mato, seu filho, e Kowire, seu irmão,
Dancing with a dog
são os três Ashaninka do rio Amônia cujo coti-
B ANDEIRÃO,
diano está descrito neste documentário. A quie-
KOWIRE ARE THE THREE ASHANINKA INDIANS FROM
tude nos seus roçados e da mata durante a se-
RIO AMÔNIA, WHOSE DAILY LIFE IS DESCRIBED
mana contrasta com a algazarra do futebol e
IN THIS DOCUMENTARY. DURING THE WEEK,
das festas do fim de semana, quando todos se
THE TRANQUILITY OF THEIR FIELDS AND FOREST
encontram na aldeia principal.
CONTRASTS WITH THE NOISE OF THE SOCCER
HIS SON MATO AND HIS BROTHER
GAMES AND THE WEEKEND PARTIES, WHEN 44 MIN., 2001 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: MARU KAXINAWÁ,
EVERYONE GETS TOGETHER AT THE MAIN VILLAGE.
ISAAC PINHANTA, JAIME LULLU MANCHINERI | EDIÇÃO: MARI CORRÊA, VALDIR AFONSO
44 MIN., 2001 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: MARU KAXINAWÁ, ISAAC PINHANTA, JAIME LULLU MANCHINERI | EDITION: MARI CORRÊA, VALDIR AFONSO
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
89
Araduwá Waimiri
Iawusu Waimiri
16 anos, reside na aldeia Maré
31 anos, residente na aldeia
42 anos, líder fundador da al-
no alto rio Camanaú, afluente
Curiaú no rio Camanaú, afluen-
deia Cacau no rio Camanaú
do rio Negro, no estado do
te do rio Negro no estado do
afluente do rio Negro, no es-
Amazonas. Araduwa é o mais
Amazonas. É professor de sua
tado do Amazonas. Kabaha já
jovem aluno do projeto e já
comunidade e participou em
participou de duas oficinas de
participou de duas oficinas
2002 de sua primeira oficina
vídeo na sua área e deu uma
de vídeo. Ele está sendo tam-
de vídeo.
contribuição significativa na
bém capacitado para ser professor de sua comunidade.
edição de “Um dia na aldeia”. 31 YEARS OLD, IAWUSU LIVES IN THE VILLAGE CURIAÚ,
AGE 42, KABAHA IS THE
16 YEARS OLD, ARADUWA
ALSO ON THE RIVER CAMANAÚ,
FOUNDING LEADER OF
LIVES IN THE VILLAGE MARÉ,
IN THE STATE OF AMAZONAS.
THE VILLAGE CACAU, LOCATED
ON THE UPPER CAMANAÚ RIVER,
HE IS A TEACHER IN HIS
ON THE RIVER CAMANAÚ,
OFFSHOOT OF THE RIVER NEGRO,
COMMUNITY AND, IN 2002,
IN THE STATE OF AMAZONAS.
IN THE STATE OF AMAZONAS.
PARTICIPATED IN HIS
HE PARTICIPATED IN TWO
HE IS THE YOUNGEST OF THE
FIRST VIDEO WORKSHOP.
VIDEO WORKSHOPS IN HIS
PROJECT’S STUDENTS AND HAS
REGION AND GAVE A SIGNIFICANT
ALREADY PARTICIPATED IN
CONTRIBUTION TO THE EDITING
TWO VIDEO WORKSHOPS. HE IS
OF “A DAY IN THE VILLAGE”.
ALSO BEING TRAINED TO BE A TEACHER IN HIS COMMUNITY.
90
Kabaha Waimiri
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
realizadores indígenas | native videomakers
Sawá Waimiri
Wamé Atroari
Sanapyty Atroari
33 anos, líder indígena da
47 anos, líder indígena da al-
33 anos, reside na aldeia Mai-
aldeia Mynawa, na BR 174 com
deia Iawara, no rio Alalaú com
kon, alto rio Alalaú, no estado
o rio Alalaú, na divisa dos es-
a BR 174, na divisa dos esta-
do Amazonas. É líder indígena,
tados do Amazonas e Roraima,
dos do Amazonas e Roraima,
já participou de duas oficinas
Sawá já participou de três ofi-
Wamé também já participou
de vídeo e trabalha também
cinas, a primeira no Xingu em
de três oficinas, a primeira no
como professor de sua comu-
1997 e duas na reserva Wai-
Xingu em 1997 e duas na re-
nidade.
miri Atroari, e realiza trabalhos
serva Waimiri Atroari. Seu pro-
de registro de sua cultura.
jeto é realizar um documen-
AGE 33, SANAPYTY LIVES IN
tário sobre o ritual de inicia-
THE VILLAGE MAIKON, ON THE
ção dos jovens meninos.
UPPER ALALAÚ RIVER, IN THE
AGE 33, SAWÁ IS AN INDIGENOUS
STATE OF AMAZONAS. HE HAS
LEADER OF THE VILLAGE MYNAWA, ON THE HIGHWAY BR 174, NEAR
AGE 47, WAMÉ IS AN INDIGENOUS
PARTICIPATED IN TWO VIDEO
THE RIVER ALALAÚ, AT THE
LEADER OF THE VILLAGE IAWARA,
WORKSHOPS AND ALSO WORKS AS
BORDER OF THE STATES
LOCATED ON THE RIVER ALALAÚ,
A TEACHER IN HIS COMMUNITY.
AMAZONAS AND RORAIMA.
NEAR THE HIGHWAY BR 174,
SAWÁ, WHO HAS PARTICIPATED
AT THE BORDER OF THE STATES
IN THREE WORKSHOPS – THE
AMAZONAS AND RORAIMA.
Vídeo
FIRST IN THE XINGU IN 1997
HE PARTICIPATED IN THREE
■
AND TWO ON THE WAIMIRI
WORKSHOPS, THE FIRST IN
ATROARI RESERVATION – WORKS
XINGU, IN 1997, AND TWO
Video
TO DOCUMENT HIS CULTURE.
OTHERS ON THE WAIMIRI
■
ATROARI RESERVATION.
KINJA IAKAHA, UM DIA NA ALDEIA
KINJA IAKAHA, A DAY IN THE VILLAGE
HIS PROJECT NOW IS TO PRODUCE A DOCUMENTARY ABOUT THE INITIATION OF THE YOUNGSTERS.
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
91
Araduwá Waimiri | Iawusu Waimiri | Kabaha Waimiri | Sawá Waimiri | Wamé Atroari | Sanapyty Atroari
KINJA IAKAHA, Um dia na aldeia Seis
índios de diferentes aldeias Waimiri e
Atroari, na Amazônia, registram o dia-a-dia de
KINJA IAKAHA, A day in the village
seus parentes da aldeia Cacau. Estes registros,
S IX
sintetizados em “Um dia na aldeia”, nos trans-
VILLAGES, LOCATED IN THE AMAZON, DOCUMENT
portam para a intimidade do cotidiano indígena
THE DAY-TO-DAY LIFE OF THEIR RELATIVES IN THE
com a sua interação intensa com a natureza.
CACAU VILLAGE. THESE IMAGES, STITCHED TOGETHER
INDIANS OF DIFFERENT WAIMIRI AND ATROARI
IN “A DAY IN THE VILLAGE” TRANSPORT US TO
Prêmios ■
PRÊMIO DE MELHOR FILME NO MOSTRA COMPETITIVA
INTIMATE SCENES OF THEIR LIFESTYLE AND THEIR INTENSE RELATIONSHIP WITH NATURE.
NACIONAL NO FORUMDOC.BH.2003 – 7º FESTIVAL DO FILME DOCUMENTÁRIO E ETNOGRÁFICO DE BELO HORIZONTE, DEZEMBRO 2003
Awards ■
■
BEST DOCUMENTARY, FORUMDOC.BH. 2003, 7TH
MENÇÃO ESPECIAL NA 9ª MOSTRA INTERNACIONAL DOCUMENTARY AND ETHNOGRAPHIC FILM FESTIVAL, DO FILME ETNOGRÁFICO, RIO DE JANEIRO 2003 BELO HORIZONTE, BRAZIL, DECEMBER 2003
40 MIN., 2003 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: ARADUWÁ WAIMIRI, IAWUSU WAIMIRI,
■
HONOURABLE MENTION, 9ª INTERNATIONAL ETHNOGRAPHIC FILM FESTIVAL, RIO DE JANEIRO, BRAZIL, 2003
KABAHA WAIMIRI, SANAPYTY ATROARI, SAWÁ WAIMIRI E WAMÉ ATROARI | EDIÇÃO: LEONARDO SETTE
40 MIN., 2003 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: ARADUWÁ WAIMIRI, IAWUSU WAIMIRI, KABAHA WAIMIRI, SANAPYTY ATROARI, SAWÁ WAIMIRI E WAMÉ ATROARI | EDITION: LEONARDO SETTE
92
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
realizadores indígenas | native videomakers
Valdete Pinhanta 25 anos, Ashaninka do rio Amônia, afluente
25 YEARS OLD, VALDETE IS AN ASHANINKA
do rio Juruá no município de Marechal Tauma-
INDIAN FROM THE AMÔNIA RIVER, A BRANCH
turgo no Acre, Valdete é professor de sua al-
OF THE JURUÁ RIVER IN THE STATE OF ACRE.
deia, formado nos cursos da Comissão Pró-
HE IS A PROFESSOR AT HIS VILLAGE AND CONTINUES
Índio do Acre em Rio Branco. Além de professor
HIS STUDIES AT THE ACRE PRO-INDIAN COMMISSION
e realizador de vídeo, Valdete é um talentoso
IN RIO BRANCO. IN ADDITION TO BEING A TEACHER
desenhista. Já participou de três oficinas de
AND A VIDEOMAKER, VALDETE IS ALSO A TALENTED
vídeo, duas na sua aldeia e uma na aldeia
CARTOONIST. HIS SECOND MOVIE “SHOMÕTSI”
Yauanawá. Seu segundo vídeo sobre o cotidi-
WAS A SUCCESS THANKS TO HIS SENSIBILITY AND
ano do seu tio “Shomõtsi”, fez sucesso pela
POETICAL SENSE. TODAY, VALDETE IS WORKING ON
sua sensibilidade e seu senso poético. Valdete
A DOCUMENTARY ON ALTERNATIVE TEACHING IN THE
agora prepara um documentário sobre o ensino
VILLAGE OF YAUANAWÁ AND ANOTHER ONE ON THE
diferenciado na aldeia Yauanawá e outro sobre
NATURAL RESSOUCES OF THE ASHANINKA TERRITORY.
o trabalho de manejo de recursos naturais do território Ashaninka. Vídeos ■
NO TEMPO DAS CHUVAS
■
SHOMÕTSI
Videos ■
THE RAINY SEASON
■
SHOMÕTSI
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
93
Valdete Pinhanta
SHOMÕTSI Crônica do cotidiano de Shomõtsi, um Asha-
SHOMÕTSI
ninka da fronteira do Brasil com o Perú. Pro-
S HOMÕTSI
fessor e um dos videastas da aldeia, Valdete
THE BORDER OF BRAZIL AND PERU. THE MOVIE
retrata o seu tio, turrão e divertido.
IS A REPORT ON HIS DAY TO DAY LIFE AND HIS
IS AN ASHANINKA INDIAN LIVING ON
JOURNEY TO THE NEIGHBOURING CITY TO GET HIS
Prêmios ■
PRÊMIO UNESCO, 8ª MOSTRA INTERNACIONAL DO FILME
PENSION. IT’S ALSO AN OPPORTUNITY FOR VALDETE TO PORTRAY HIS HARD-HEADED AND WITTY UNCLE.
ETNOGRÁFICO, RIO DE JANEIRO, BRASIL, 2001 ■
GRANDE PRÊMIO ”RIGOBERTA MENCHÚ TUM”, NA
Awards
CATEGORIA COMUNIDADE NO FESTIVAL PRESENÇA ■
UNESCO AWARD, 8TH INTERNATIONAL ETHNOGRAPHIC
AUTÓCTONE, MONTRÉAL, CANADÁ, 2002 FILM FESTIVAL, RIO DE JANEIRO, BRAZIL, 2001 ■
MENÇÃO HONROSA DO JÚRI OFICIAL DO CINESUL 2002, ■
“RIGOBERTA MENCHÚ TUM AWARD”, IN COMMUNITY
RIO DE JANEIRO CATEGORY, FESTIVAL PRESENÇA AUTÓCTONE, ■
PRÊMIO “RIGOBERTA MENCHÚ”, II ANACONDA 2002,
MONTRÉAL, CANADÁ, 2002
BOLÍVIA ■ ■
PRÊMIO ESPECIAL DO PÚBLICO INDÍGENA, II ANACONDA
HONOURABLE MENTION BY THE OFICIAL JURY, CINESUL 2002, RIO DE JANEIRO
2002, BOLÍVIA ■ ■
MELHOR DOCUMENTÁRIO DA MOSTRA COMPETITIVA
“RIGOBERTA MENCHÚ AWARD”, II ANACONDA 2002, BOLIVIA
NACIONAL DO FORUMDOC.BH.2002, MINAS GERAIS ■
SPECIAL AWARD FROM THE INDIGENOUS PUBLIC, II ANACONDA 2002, BOLÍVIA
42 MIN., 2001 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: VALDETE PINHANTA ASHANINKA | EDIÇÃO: MARI CORRÊA
■
BEST DOCUMENTARY AT THE FORUMDOC.BH.2002, MINAS GERAIS, BRAZIL
42 MIN., 2001 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: VALDETE PINHANTA ASHENIKA | EDITION: MARI CORRÊA
94
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
realizadores indígenas | native videomakers
Winti Suyá 32 anos, Suyá do Parque do Xingu, Mato Grosso,
32 YEARS OLD, WINTI IS A SUYÁ INDIAN FROM
Winti se incorporou ao projeto em 97, na pri-
XINGU PARK IN MATO GROSSO STATE WHO JOINED
meira oficina nacional, já com experiência
THE PROJECT IN 1997 DURING THE FIRST NATIONAL
anterior. Tem participado de várias produções
WORKSHOP, AFTER PREVIOUS VIDEO EXPERIENCES.
em outras aldeias, como Xavante e Ikpeng, onde
HE HAS PARTICIPATED IN VARIOUS PRODUCTIONS
é co-autor dos vídeos “Wapté Mnhõnõ, A inicia-
IN OTHER VILLAGES SUCH AS XAVANTE AND
ção do jovem Xavante” e “Moyngo, O sonho de
IKPENG, AND IS CO AUTHOR OF TWO VIDEOS:
Maragareum”. Hoje Winti é membro da diretoria
“WAPTÉ MNHÕNÕ, THE XAVANTE´S INITIATION” AND
da ATIX, Associação Terra Indígena Xingu, sobre
“MOYNGO, THE DREAM OF MARAGAREUM”. CURRENTLY,
a qual realizou o documentário “SOS Rio Xingu”.
WINTI IS A MEMBER OF THE BOARD OF ATIX, THE XINGU INDIGENOUS LAND ASSOCIATION, ON WHICH
Vídeos
HE MADE A DOCUMENTARY CALLED “SOS XINGU RIVER”.
■
WAPTÉ MNHÕNÕ, A INICIAÇÃO DO JOVEM XAVANTE
■
MOYNGO, O SONHO DE MARAGAREUM
Videos
■
SOS RIO XINGU
■
WAPTÉ MNHÕNÕ, THE XAVANTE’S INITIATION
■
MOYNGO, THE DREAM OF MARAGAREUM
■
SOS XINGU RIVER
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
95
Winti Suyá
SOS Rio Xingu O
Parque do Xingu, criado em 1961, quando
SOS Xingu River
o Mato Grosso ainda era uma grande mata,
F OUNDED
deixou fora dos seus limites as cabeceiras do
STILL A VAST FOREST, THE XINGU NATIONAL PARK
rio Xingu e de todos os seus formadores. Qua-
LEFT OUT OF ITS BOUNDARIES THE HEADWATERS
renta anos mais tarde, o processo de ocupação
OF THE XINGU RIVER AND ALL OF ITS TRIBUTARY
e desmatamento começa a chegar junto do
STREAMS. FORTY YEARS LATER, THE PROCESS OF
Parque, e revela a incrível fragilidade ambiental
COLONIZATION AND DEFORESTATION BEGINS TO
deste oásis. A ATIX – Associação Terra Indígena
SET INTO THE PARK, REVEALING THE INCREDIBLE
Xingu, em parceria com o IBAMA e o ISA –
ENVIRONMENTAL FRAGILITY OF THIS OASIS. THE
Instituto Sócio Ambiental, tentam disciplinar
XINGU INDIGENOUS LAND ASSOCIATION (ATIX), IN
a ocupação do seu entorno para tentar salvar
PARTNERSHIP WITH THE BRAZILIAN ENVIRONMENTAL
o Parque e garantir a sobrevivência dos seus
INSTITUTE (IBAMA) AND THE SOCIAL-ENVIRONMENTAL
habitantes.
INSTITUTE (ISA) ARE TRYING TO CONTROL THE
IN 1961, WHEN MATO GROSSO STATE WAS
SPREAD OF THIS OCCUPATION AND SAVE THE RIVER, 33 MIN., 2002 | REALIZAÇÃO: WINTI SUYÁ |
IN ORDER TO GUARANTEE THE SURVIVAL OF
IMAGENS: WINTI SUYÁ, KARANÉ E KUMARÉ TXICÃO |
THE INHABITANTS OF THE PARK.
EDIÇÃO: LEONARDO SETTE 33 MIN., 2002 | REALIZATION: WINTI SUYÁ | PHOTOGRAPHY: WINTI, KARANÉ, AND KARANÉ TXICÃO | EDITION: LEONARDO SETTE
96
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
vídeo nas aldeias O vídeo como veículo de troca de informação e de conhecimento recíproco entre as aldeias de diferentes povos. Os vídeos contam também a trajetória do projeto desde a sua proposta inicial até a sua forma nos dias de hoje
video in the villages The video as a medium of information exchange and mutual knowledge between villages of different people. These movies tell also the trajectory of the project since its initial proposal until its curent shape
A festa da moça O
encontro dos índios Nambiquara com a sua
The girl’s celebration
própria imagem durante um ritual de iniciação
C HIEF
feminina. A “moça nova“ permanece reclusa
BOTH THE PROCEEDINGS AND THE SHOOT ITSELF,
desde sua primeira menstruação, até as aldeias
DESCRIBES THE NECESSITY OF STRENGTHENING THE
aliadas virem celebrar o fim da sua reclusão. Ao
GIRLS OF HIS VILLAGE BY SECLUDING THEM AFTER
assistirem suas imagens na TV, eles se decep-
THEIR FIRST MENSES. AFTER SEVERAL MONTHS,
cionam e criticam o excesso de roupa. A festa
THE VILLAGE THROWS A PARTY, WITH SINGING,
seguinte é realizada e registrada com todo o
FEASTING, AND THE SYMBOLIC ABDUCTION OF
rigor da tradição. Eufóricos com o resultado,
THE GIRL BY AN ALLIED VILLAGE. WHEN THE
eles resolvem retomar, diante da câmera, a fu-
NAMBIQUARA OF MATO GROSSO SEE VIDEOTAPE
ração de lábio e de nariz dos jovens, costume
OF THEMSELVES PERFORMING THIS RITUAL,
que haviam abandonado há mais de vinte anos.
THE EXCESS OF WESTERN CLOTHING MAKES
PEDRO MÃMÃINDÊ, WHO CONDUCTED
THEM UNCOMFORTABLE. THE RITUAL IS THEN 8 MIN., 1987 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI |
RE-ENACTED WITH TRADITIONAL BODY PAINTING
EDIÇÃO: CLEITON CAPELOSSI, VALDIR AFONSO E ANTONIO JORDÃO
AND ADORNMENT. EUPHORIC, THEY RESOLVE TO TAKE UP THE LIP AND NOSE-PIERCING OF BOYS AGAIN IN FRONT OF THE CAMERA, RE-ESTABLISHING A TRADITION ABANDONED FOR OVER 20 YEARS.
18 MIN., 1987 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI | EDITION: CLEITON CAPELOSSI, VALDIR AFOSO AND ANTONIO JORDÃO
98
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
vídeo nas aldeias | video in the villages
PEMP A saga dos índios Parakatêjê/Gavião para man-
PEMP
ter sua identidade cultural e sua autonomia
T HIS
política frente aos megaprojetos de desenvol-
OF THE PARAKATÊJÊ (GAVIÃO) DURING THEIR 25-
vimento implantados pelo governo no sul do
YEAR STRUGGLE TO MAINTAIN AUTONOMY IN THE
Pará. Os índios conquistaram sua indepen-
FACE OF HUGE DEVELOPMENT PROJECTS IN THE
dência econômica exigindo indenizações das
SOUTH OF PARÁ – FROM THE INITIAL RECOVERY
estatais por estes projetos. Kokrenum, líder
OF THEIR LANDS IN 1957,TO THEIR CURRENT
do grupo e um dos poucos depositários das
NEGOTIATIONS WITH GOVERNMENT. AGAINST THIS
tradições, luta incansavelmente para “segu-
BACKGROUND, “PEMP” SHOWS THE PARAKATÊJÊ’S
rar” este patrimônio cultural para as próximas
MOST PRECIOUS PROJECT – THE PRESERVATION
gerações. Agora ele tem no vídeo o seu me-
OF THEIR CEREMONIES AND SONGS – AND HOW
lhor aliado nesta empreita.
KOKRENUM, CHIEF AND KEEPER OF THE GROUP’S
MOVIE TRACES THE RESISTANCE AND STRATEGY
TRADITIONS, USES VIDEO TO TRANSMIT THEM 27 MIN., 1988 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI |
TO FUTURE GENERATIONS.
EDIÇÃO: TUTU NUNES 27 MIN., 1988 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
99
Vídeo nas aldeias Uma apresentação do projeto Vídeo nas Aldeias
Video in the villages
no seu início, mostrando como quatro povos
AN
indígenas diferentes (Nambiquara, Gavião, Tiku-
PROJECT, THIS SHORT DOCUMENTARY SHOWS HOW
na e Kaiapó) incorporaram o uso do vídeo nos
FOUR DIFFERENT AMAZONIAN NATIVE GROUPS
seus projetos políticos e culturais.
(NAMBIQUARA, GAVIÃO, TIKUNA AND KAIAPÓ)
OVERVIEW OF THE VIDEO IN THE VILLAGES
HAVE EMBRACED VIDEO AND INCORPORATED
Prêmio ■
PRÊMIO DO JÚRI POPULAR NO 14º GUARNICÊ DE
IT IN THE SERVICE OF THEIR PROJECTS FOR POLITIC AND ETHNIC AFFIRMATION.
CINE E VÍDEO, MARANHÃO, 1991
Award ■
10 MIN., 1989 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI |
PUBLIC’S AWARD AT THE 7TH GUARNICÊ VIDEO AND FILM FESTIVAL OF MARANHÃO, BRAZIL, DECEMBER 1989.
EDIÇÃO: TUTU NUNES 10 MIN., 1989 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNESO
100
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
vídeo nas aldeias | video in the villages
O espírito da TV As emoções e reflexões dos índios Waiãpi ao
The spirit of TV
verem, pela primeira vez, a sua própria imagem
B EGINNING
e a de outros grupos indígenas num aparelho
TV AND VCR IN THEIR VILLAGE, THE SPIRIT OF TV
de televisão. Os índios refletem sobre a força
DOCUMENTS THE EMOTIONS AND THOUGHTS OF THE
da imagem, a diversidade dos povos e a seme-
WAIÃPI AS THEY FIRST ENCOUNTER THEIR OWN TV
lhança de suas estratégias de sobrevivência
IMAGES AND THOSE OF OTHERS. THEY VIEW A TAPE
frente aos não índios.
FROM THEIR CHIEF’S FIRST TRIP TO BRASILIA TO
WITH THE ARRIVAL BY CANOE OF A
SPEAK TO THE GOVERNMENT, NEWS BROADCASTS,
Prêmios
AND VIDEOS ON OTHER BRAZILIAN NATIVE PEOPLES.
■
SOL DE OURO, 8º FESTIVAL RIO CINE, BRASIL, 1992
THE TAPE TRANSLATES THE OPINIONS OF INDIVIDUAL
■
TERCEIRO PRÊMIO, 9º VÍDEOBRASIL, SÃO PAULO,
WAIÃPI ON THE POWER OF IMAGES, THE DIVERSITY
BRASIL, 1992
OF NATIVE PEOPLES, AND NATIVE PEOPLES’ COMMON
PRÊMIO NO LATIN AMERICAN VÍDEO FESTIVAL,
STRUGGLES WITH FEDERAL AGENTS, GOLDMINERS,
■
NY, E.U.A., 1992 ■
TRAPPERS AND LOGGERS.
PRÊMIO NO IV FESTIVAL DOS POVOS INDÍGENAS, PERU, 1992
■
Awards
PRÊMIO EM VÍDEO E TELEVISÃO, VIII FESTIVAL DE CINEMA LATINO AMERICANO, TRIESTE, ITÁLIA, 1993
■
GOLDEN SUN, 8 TH RIO CINE FESTIVAL, BRAZIL, 1992
■
THIRD AWARD, 9TH VIDEOBRASIL, SÃO PAULO, BRAZIL, 1992
18 MIN., 1990 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI | ■
BEST DOCUMENTARY, IV INDIGENOUS PEOPLE
EDIÇÃO: TUTU NUNES FILM FESTIVAL, PERU, 1992 ■
VIDEO AND TV AWARD, VIII LATINAMERICAN FILM FESTIVAL, TRIESTE, ITALY, 1993
18MIN., 1990 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
101
A arca dos Zo’é Os índios Waiãpi, que conheceram os Zo’é através
MEETING ANCESTORS
de imagens em vídeo, decidem ir ao encontro
C HIEF
destes índios recém contactados no norte do
A RECENTLY CONTACTED GROUP WHOM THE WAIÃPI
Pará e documentá-los. Os Zo’é proporcionam
MET THROUGH VIDEO. THE ZO'É ARE CURRENTLY
aos visitantes o reencontro com o modo de
EXPERIENCING PHENOMENA OF CONTACT THAT
vida e os conhecimentos dos seus ancestrais.
THE WAIÃPI EXPERIENCED TWENTY YEARS AGO.
Os Waiãpi, em troca, informam os Zo’é sobre
THE ZO'É AFFORD THEIR VISITORS THE CHANCE TO
os perigos do mundo branco que se aproxima,
RE-ENCOUNTER THE WAY OF LIFE AND WISDOM OF
que os isolados estão ansiosos por conhecer.
THEIR ANCESTORS. THE WAIÃPI, ON THE OTHER
WAI-WAI GOES A TRIP TO MEET THE ZO'É,
HAND, BRING THE ZO'É INFORMATION ON THE
Prêmios ■
SOL DE OURO, 9º FESTIVAL RIO-CINE, BRASIL, 1993
■
JVC PRESIDENT’S AWARD, 16º TOKYO VÍDEO FESTIVAL, JAP ÃO, 1 9 9 3
■
MELHOR CURTA METRAGEM, 16º FESTIVAL INTERNACIONAL
DANGERS OF THE WHITE WORLD THAT THIS ISOLATED GROUP WAS EAGER TO UNDERSTAND.
Awards ■
CINÉMA DU RÉEL, PARIS, FRANÇA, 1994 ■
MELHOR VÍDEO, II MOSTRA NACIONAL DE CINEMA
SOL DE OURO (FIRST PRIZE), 9TH RIO-CINE FESTIVAL, RIO DE JANEIRO, BRAZIL, 1993
■
E VÍDEO DE CUIABÁ, BRASIL, 1994
JVC PRESIDENT’S AWARD, 16TH TOKYO VIDEO FESTIVAL, TOKYO, JAPAN, 1993
■
PRIX DU COURT MÉTRAGE, 16ÈME FESTIVAL
22 MIN., 1993 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI E
INTERNATIONAL DE FILMS ETHNOGRAPHIQUES ET
DOMINIQUE GALLOIS | FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI |
SOCIOLOGIQUES / CINÉMA DU RÉEL, PARIS, FRANCE, 1994
EDIÇÃO: TUTU NUNES
■
BEST VIDEO, II NATIONAL FILM AND VIDEO FESTIVAL, CUIABÁ, BRAZIL, 1994
22 MIN., 1993 | DIRECTION: VINCENT CARELLI AND DOMINIQUE GALLOIS | PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES
102
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
vídeo nas aldeias | video in the villages
Eu já fui seu irmão Um documentário sobre o intercâmbio cultural
We gather as a family
entre os Parakatêje do Pará e os Krahô do To-
T HIS
cantins, que embora falem a mesma língua,
BETWEEN THE PARAKATÊJÊ (GAVIÃO) OF PARÁ AND
nunca haviam se encontrado antes. Kokrenum,
THEIR “RELATIVES,” THE KRAHÔ OF TOCANTINS.
líder dos Parakatêjê e preocupado com a desca-
KOKRENUM, THE CHARISMATIC CHIEF OF THE
racterização do seu povo, resolve ir conhecer
PARAKATÊJÊ, ORGANIZES A VISIT TO THE KRAHÔ,
uma aldeia Krahô, que conserva muitas de suas
WHO SPEAK THE SAME LANGUAGE AND MAINTAIN
tradições. Um ano depois, os Paraktêjê retri-
THEIR TRADITIONS. THE 50 YOUNG PARAKATÊJÊ
buem o convite. No final, os chefes selam um
HE BRINGS ALONG PARTICIPATE IN A CEREMONY
pacto de amizade entre os dois povos.
CONSISTING OF SINGING, BODY-PAINTING AND
TAPE DOCUMENTS A CULTURAL EXCHANGE
PREPARATIONS FOR THE LONG, STRENUOUS RELAY
Prêmio ■
RACE THROUGH THE SAVANNAH. THE FOLLOWING
MELHOR VÍDEO (JÚRI POPULAR), TROFÉU SÃO LUÍS
YEAR, THE PARAKATÊJÊ RETURN THE INVITATION
E TROFÉU JANGADA NO 17º GUARNICÊ DE
AND THE KRAHÔ TRAVEL TO KOKRENUM’S VILLAGE.
CINE-VÍDEO, MARANHÃO, 1994
THE TWO CHIEFS DISCUSS CULTURAL ISSUES AND SEAL A PACT OF FRIENDSHIP BETWEEN
32 MIN., 1993 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI |
THEIR GROUPS.
EDIÇÃO: TUTU NUNES
Award ■
BEST VIDEO (PUBLIC’S AWARD), SÃO LUIS TROPHY AND JANGADA TROPHY AT THE 17TH GUARNICÊ VIDEO AND FILM FESTIVAL, MARANHÃO, BRAZIL, 1994
32 MIN. 1993 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
103
Antropofagia visual O projeto Vídeo nas Aldeias introduz o vídeo
Video cannibalism
entre os índios Enawene Nawe, grupo ainda
T HE
isolado no norte de Mato Grosso. Extrovertidos,
VIDEO AMONG THE ENAUÊNÊ NAUÊ INDIANS, A
os índios reagem à presença da câmera com
GROUP STILL ISOLATED IN THE NORTH OF MATO
um espírito performático surpreendente: muita
GROSSO. THESE INDIANS ARE VERY EXTROVERTED
palhaçada e uma encenação de ataques dos
AND RESPOND WITH A SURPRISING, HIGH-SPIRITED
seus vizinhos, os Cinta-Larga. A medida em que
PERFORMANCE INCLUDING A LOT OF CLOWNING
se acostumam a assistir filmes de ficção, eles
AROUND AND A REENACTMENT OF AN ATTACK THEY
resolvem produzir o seu...
SUFFERED AT THE HANDS OF THEIR NEIGHBORS,
VIDEO IN THE VILLAGES PROJECT INTRODUCES
THE CINTA-LARGA, NOT LONG AGO. HAVING BECOME 17MIN., 1995 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI | FOTOGRAFIA:
USED TO WATCHING MOVIES ON VIDEO, THEY
AILTAIR PAIXÃO, VIRGINIA VALADÃO E VINCENT CARELLI |
DECIDE TO PRODUCE THEIR OWN...
EDIÇÃO: TUTU NUNES 17 MIN., 1995 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | PHOTOGRAPHY: AILTAIR PAIXÃO, VIRGINIA VALADÃO AND VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES
104
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
vídeo nas aldeias | video in the villages
Vídeo nas Aldeias se apresenta Apresentação da trajetória recente do Vídeo nas Aldeias, suas oficinas de formação e a pro-
Video in the Villages presents itself
dução indígena. Criado em 1987, o projeto co-
V IDEO
meçou a introduzir o vídeo em comunidades
RECENT PROGRESS, ITS INDIGENOUS WORKSHOPS
indígenas que produziam registros para consumo
OF TRAINING AND PRODUCTION. FOUNDED IN 1987,
interno. Em 1995, a abertura de um espaço na
THE PROJECT BEGAN WITH THE INTRODUCTION
TV educativa de Cuiabá, levou o projeto a pro-
OF VIDEO IN INDIGENOUS COMMUNITIES THAT
duzir o “Programa de Índio”, uma experiência
PRODUCED DOCUMENTARIES FOR THEIR OWN
inédita na televisão brasileira. Desde 1997, o
PURPOSES. IN 1995, THE OPENING OF A SPACE
Vídeo nas Aldeias investe, através de oficinas
ON EDUCATIONAL TV IN CUIABÁ, LED THE PROJECT
nacionais e regionais, na formação da primeira
TO PRODUCE THE "INDIGENOUS PROGRAM", AN
geração de documentaristas indígenas.
ORIGINAL EXPERIENCE FOR THE FIRST TIME ON
IN THE VILLAGES PRESENTS ITS
BRAZILIAN TELEVISION. SINCE 1997, VIDEO IN THE 33 MIN., 2002 | REALIZAÇÃO: MARI CORRÊA
VILLAGES HAS BEEN INVESTING IN THE FORMATION
E VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: MARI CORRÊA
OF THE FIRST GENERATION OF INDIGENOUS DOCUMENTARY FILMMAKERS, THROUGH THE USE OF NATIONAL AND REGIONAL WORKSHOPS.
33 MIN., 2002 | REALIZATION: MARI CORRÊA AND VINCENT CARELLI | EDITION: MARI CORRÊA
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
105
rituais e mitos Documentários sobre rituais e encenações de mitos pelos próprios índios.
rituals and myths Documentaries about rituals and myths performed by the Indians themselves.
rituais e mitos | rituals and myths
YÃKWÁ, O banquete dos espíritos Um documentário em quatro episódios sobre o mais importante ritual dos índios Enawenê
YÃKWÁ, The banquet of the spirits
Nawê, o Yãkwa. Todo ano, ao longo de sete me-
T HIS
ses, os espíritos são reverenciados com alimen-
THE YÃKWA, THE MOST IMPORTANT RITUAL OF
tos, cantos e danças.
THE ENAUÊNÊ NAUÊ INDIANS. FOR SEVEN MONTHS
IS A FOUR-PART DOCUMENTARY ABOUT
EVERY YEAR, THE SPIRITS ARE VENERATED WITH
Prêmios ■
”SELECTED WORK” NO 18º TOKYO VIDEO FESTIVAL,
OFFERINGS OF FOOD, SONGS AND DANCES SO THEY WILL PROTECT THE COMMUNITY.
JAPÃO, JANEIRO 1996 ■
PRÊMIO PIERRE VERGER DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
Awards
DE ANTROPOLOGIA, BRASIL, JULHO 1996 ■ ■
MELHOR DOCUMENTÁRIO – 12º RIO CINE FESTIVAL,
SELECTED WORK - 18TH TOKYO VIDEO FESTIVAL, JAPAN, JANUARY 1996
BRASIL, JULHO 1996 ■ ■
PRÊMIO DO JÚRI POPULAR – TVE FESTIVAL RIO CINE –
PIERRE VERGER AWARD, BY THE BRAZILIAN ANTHROPOLOGIST’S ASSOCIATION, BRAZIL, APRIL 1996
JULHO 1996 ■ ■
MELHOR VÍDEO DA XXIII JORNADA DE CINEMA
BEST DOCUMENTARY – 12º RIO CINE FESTIVAL, BRAZIL, JULY 1996
DA BAHIA, OUTUBRO 1996
54 MIN., 1995 | DIREÇÃO E ROTEIRO: VIRGINIA VALADÃO |
■
PUBLIC’S AWARD – RIO CINE FESTIVAL, BRAZIL, JULY 1996
■
BEST VÍDEO, XXIII JORNADA DE CINEMA DA BAHIA, SALVADOR, BRAZIL, OCTOBER 1996
FOTOGRAFIA: ALTAIR PAIXÃO E VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: TUTU NUNES 54 MIN, 1995 | DIRECTION AND SCRIPT: VIRGINIA VALADÃO | PHOTOGRAPHY: ALTAIR PAIXÃO AND VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
107
Segredos da mata Quatro fábulas sobre monstros canibais narradas
Jungle secrets
e interpretadas pelos índios Waiãpi da aldeia
F OUR
de Taitetuwa. “Fizemos o vídeo”, dizem eles,
AND PERFORMED BY THE WAIÃPI INDIANS. “WE HAVE
“para alertar os incautos. Até um não-índio
MADE THE VIDEO”, SAY THE WAIÃPI, “TO TEACH
pode ser devorado por estes monstros ao en-
PEOPLE TO BE MORE CAREFUL WITH MONSTERS
trar na mata”.
THEY NEVER HEARD ABOUT. EVEN A WHITE MAN
TALES ABOUT CANNIBAL MONSTERS NARRATED
CAN BE EATEN AS HE GOES INTO THE FOREST.”
Prêmios ■
■
PRÊMIO DE PRATA NO 20º TOKYO VÍDEO FESTIVAL,
Awards
JAP ÃO, 1 9 9 8
■
PRÊMIO VITRAL DADO PELO MOVIMENTO NACIONAL DE VÍDEO DE CUBA NO VI FESTIVAL AMERICANO DE CINEMA E VÍDEO DOS POVOS INDÍGENAS, GUATEMALA, 1999
“SILVER AWARD”, 20TH TOKYO VIDEO FESTIVAL, JANUARY, 1998
■
VITRAL AWARD, NATIONAL ORGANIZATION OF VIDEO AND FILM OF CUBA, VI INDIGENOUS FILM AND VIDEO FESTIVAL OF THE AMERICAS, GUATEMALA, 1999
37MIN., 1998 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: DOMINIQUE GALLOIS E VINCENT CARELLI |
37 MIN., 1998 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY:
EDIÇÃO: TUTU NUNES
DOMINIQUE GALLOIS AND VINCENT CARELLI | EDITION:TUTU NUNES
108
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
xamanismo A relação do xamanismo com a medicina moderna e as novas tecnologias
xamanism The relationship between shamanic tradition, modern medecine and new technologies
Morayngava Morayngava, o “desenho das coisas”, Yngiru,
Morayngava
a “caixa das almas”, os filmes, sonhos dos pa-
M ORAYNGAVA,
jés. Assim os Asurini definem o vídeo recém
YNGIRU, “THE BOX OF THE SPIRITS”, THIS IS
chegado em sua aldeia. Ao descobrirem que é
HOW THE ASURINI DEFINE VIDEO, AND THE
possível guardar suas imagens, os velhos la-
CAMERA WHICH HAS JUST ARRIVED IN THEIR
mentam não ter gravado seus antepassados,
VILLAGE. THE FILMS ARE JUST LIKE XAMAN DREAMS.
mas resolvem registrar a iniciação de um pajé,
AFTER DISCOVERING THAT IT IS POSSIBLE TO STORE
tradição ameaçada pelos novos tempos.
THEIR IMAGES, THE OLD MEN LAMENT THAT THEY
THE “DESIGN OF THINGS”,
NEVER STORED IMAGES OF THEIR ANCESTORS 16MIN., 1997 | DIREÇÃO : REGINA MÜLLER
AND DECIDED TO REGISTER THE INITIATION OF A
E VIRGINIA VALADÃO | FOTOGRAFIA:
XAMAN, A TRADITION THREATENED BY NEW TIMES.
VIRGINIA VALADÃO | EDIÇÃO: TUTU NUNES 16 MIN., 1997 | DIRECTION: REGINA MÜLLER AND VIRGINIA VALADÃO | PHOTOGRAPHY: VIRGINIA VALADÃO | EDITION: TUTU NUNES
110
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
xamanismo | xamanism
O corpo e os espíritos No Parque Indígena do Xingu, médicos e pajés
The body and the spirits
tentam conciliar medicina moderna e xamanis-
IN
mo. O filme enfoca esse convívio: a tentativa
SHAMANS TRY TO RECONCILE MODERN MEDICINE AND
de diálogo intercultural e o confronto de cos-
SHAMANISM. THE FILM FOCUSES ON THIS EXCHANGE:
movisões antagônicas. Para o pajé Prepori, o
THE ATTEMPT AT INTERCULTURAL DIALOGUE AND THE
filme se torna uma forma de testamento oral
CONFRONTATION OF ANTAGONISTIC VISIONS OF THE
destinado aos seus filhos, netos e descenden-
COSMOS. FOR THE SHAMAN PREPORI, THE FILM
tes, instrumento contra o esquecimento de
BECOMES A FORM OF ORAL TESTIMONY ADDRESSING
suas tradições. Do lado da equipe médica, o
HIS CHILDREN, GRANDCHILDREN AND DESCENDANTS,
Dr. Douglas, coordenador do Programa de Saú-
A TOOL AGAINST THE LOSS OF THEIR TRADITIONS.
de, reflete sobre a inevitável interferência que
FROM THE SIDE OF THE MEDICAL TEAM, DR. DOUGLAS,
provoca a medicina no universo indígena, sua
COORDINATOR OF THE HEALTH PROGRAMME, REFLECTS
eficácia e seus limites. O filme questiona as
ON THE INEVITABLE INTERFERENCE THAT PROVOKES
possibilidades desse diálogo entre culturas.
THE INDIGENOUS MEDICINAL UNIVERSE, ITS
THE XINGU INDIGENOUS PARK, DOCTORS AND
EFFECTIVENESS AND ITS LIMITS. THE FILM
Prêmios ■
PRÊMIO DE MELHOR DOCUMENTÁRIO EM VIDEO
QUESTIONS THE POSSIBILITIES OF THIS DIALOGUE BETWEEN CULTURES.
NO FESTIVAL BILAN DU FILM ETHNOGRAPHIQUE / MUSÉE DE L’HOMME, PARIS, 1996
Awards ■
54 MIN., 1996 | DIREÇÃO E EDIÇÃO: MARI CORRÊA |
BEST VIDEO DOCUMENTARY AT THE BILAN DU FILM ETHNOGRAPHIQUE / MUSÉE DE L’HOMME, PARIS, 1996
PRODUÇÃO: LES FILMS DU VILLAGE 54 MIN., 1996 | DIRECTION AND EDITION: MARI CORRÊA | PRODUCTION: LES FILMS DU VILLAGE
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
111
conflitos Conflitos fundiários e de expansão da frente econômica envolvendo áreas indígenas na Amazônia
conflicts Conflicts caused by land fights or economic expansion involving indigenous areas in Amazon
conflitos | conflicts
Boca livre no Sararé Em 1991, mais de seis mil garimpeiros invadem
Free-for-all in Sararé
a reserva dos índios Nambiquara do Sararé.
M ORE
Ao mesmo tempo, madeireiras saqueiam suas
PROSPECTORS HAVE INVADED THE RESERVE OF
matas ricas em mogno, madeira em extinção
THE NAMBIQUARA OF SARARÉ, WHILE LOGGERS
na Amazônia. Pressionando o Banco Mundial,
RAID THEIR MAHOGANY RICH FORESTS, STEALING
com o qual o governo de Mato Grosso negocia
WOOD WHICH IS BECOMING EXTINCT IN AMAZONIA.
um empréstimo, consegue-se a retirada dos
ONLY PRESSURE ON THE WORLD BANK, WITH WHOM
invasores. Mas o roubo de madeira prossegue
THE GOVERNMENT OF MATO GROSSO IS NEGOTIATING
e a volta dos garimpeiros pode ocorrer a qual-
A LOAN, COULD HAVE BROUGHT PROSPECTING
quer momento...
TO A CLOSE... BUT THE PILLAGE OF THE
THAN SIX THOUSAND GOLD AND MINERAL
FOREST HAD CONTINUED. 27MIN., 1992 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI, MAURIZIO LONGOBARDI E VIRGÍNIA VALADÃO |
27 MIN., 1992 | DIRECTION: VINCENT CARELLI,
EDIÇÃO: TUTU NUNES
MAURIZIO LONGOBARDI AND VIRGÍNIA VALADÃO | EDITION: TUTU NUNES
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
113
Ou vai ou racha! 20 anos de luta Em abril de 1997, os índios Macuxi do norte de Roraima comemoram vinte anos do movi-
It's now or never! Twenty years of struggles
mento pelo reconhecimento da área indígena
IN
Raposa Serra do Sol onde vivem cerca de treze
RORAIMA, CELEBRATE TWENTY YEARS OF STRUGGLES
mil índios. Para a festividade, os estudantes
TO HAVE THEIR RESERVATION "RAPOSA SERRA
da escola indígena encenam os episódios mais
DO SOL" RECOGNIZED BY THE GOVERNMENT.
importantes de sua história e de sua luta, co-
THE INDIANS STUDENTS OF MATURUCA’S COLLEGE
mentados por seus protagonistas. O documen-
REPRESENT THEIR HISTORY FROM THE OLD DAYS
tário foi concluído com a participação dos ha-
TO NOW AND THE ELDERS GIVE THEIR TESTIMONIES.
ABRIL 1997, THE MAKUXI INDIANS OF NORTH
bitantes da aldeia Maturuca, sede da resistência Macuxi, durante uma oficina de edição e de
Award
desenho animado.
■
DOCUMENTARY AWARD, NATIONAL ORGANIZATION OF VIDEO AND FILM OF CUBA, VI FESTIVAL
Prêmio ■
AMERICANO DE CINEMA E VÍDEO DOS POVOS INDÍGENAS, GUATEMALA, 1999
PRÊMIO VALOR DOCUMENTAL DA ORGANIZAÇÃO NACIONAL DE CINEMA E VÍDEO DE CUBA, NO VI FESTIVAL DE CINEMA E VÍDEO DOS POVOS INDÍGENAS, 1999, GUATEMALA
31 MIN., 1998 | DIRECTION: MARI CORRÊA AND VINCENT CARELLI | EDITION: MARI CORRÊA
31 MIN., 1998 | REALIZAÇÃO: MARI CORRÊA E VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: MARI CORRÊA
114
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
projetos amazônicos Projetos de proteção ambiental e experiências inovadoras de desenvolvimento sustentável em áreas indígenas na Amazônia
amazonian projects Environmental protection projects and innovative experiences of sustainable developpement in indigenous areas of Amazon
Placa não fala Os índios Waiãpi narram sua história desde os
Signs don't speak
primeiros contatos com uma frente garimpeira
T HE
na década de 70, até a demarcação de suas
FROM THE FIRST CONTACTS TO THE DEMARCATION
terras, concluída em 1996. Numa experiência
OF THEIR LAND, CONCLUDED IN 1996. IN THIS
piloto do Projeto de Demarcação de Terras
INNOVATIVE EXPERIENCE OF NATIVE LAND
Indígenas, os Waiãpi dirigiram e executaram
DEMARCATION, THE WAIÃPI EXECUTED THE
os trabalhos demarcatórios. Eles fazem aqui
DEMARCATION WORK THEMSELVES. THEY REFLECT
uma reflexão sobre a evolução de seu con-
ON HOW THEY CHANGED THEIR CONCEPT OF
ceito de território desde antes do contato até
TERRITORY FROM THE OLD DAYS UP TO NOW.
WAIÃPI INDIANS NARRATE THEIR STORY
os dias de hoje. 27 MIN., 1996 | DIRECTION: DOMINIQUE GALLOIS 27 MIN., 1996 | DIREÇÃO: DOMINIQUE GALLOIS E
AND VINCENT CARELLI | PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI |
VINCENT CARELLI | FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI |
EDITION: TUTU NUNES
EDIÇÃO: TUTU NUNES
116
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
projetos amazônicos | amazonian projects
Agenda 31 “Nós, os Agentes Agroflorestais Indígenas do
Agenda 31
Acre, estamos começando a reflorestar as Terras
“W E,
Indígenas de fartura e alegria para todos os
ACRE, ARE BEGINNING TO REPLANT OUR INDIGENOUS
seres viventes”. Combinando conhecimento tra-
LAND WITH PLENTY AND HAPPINESS FOR ALL LIVING
dicional e pesquisa de novas tecnologias, o
BEINGS”. BY COMBINING TRADITIONNAL KNOWLEDGE
programa de formação de índios agentes agro-
AND NEW TECHNOLOGIES, THE TRAINING PROGRAM
florestais no Acre tem trazido uma nova cons-
FOR THE FOREST INDIGENOUS AGENTS IN ACRE STATE
ciência de manejo ambiental, revertendo o pro-
BRINGS A NEW CONSCIENCE OF ENVIRONMENTAL
cesso de degradação dos recursos naturais das
MANAGEMENT, INVERTING A PROCESS OF DAMAGING
reservas indígenas.
OF NATURAL RESSOURCES IN THE INDIGENOUS
THE ENVIRONMENTAL AGRICULTURE AGENTS OF
RESERVES. 49 MIN., 2003 | DIREÇÃO: MARI CORRÊA E VINCENT CARELLI | FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI E MARU KAXINAWA |
49 MIN., 2003 | DIRECTION: MARI CORRÊA AND
EDIÇÃO: MARI CORRÊA | REALIZAÇÃO: MINISTÉRIO
VINCENT CARELLI | PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI
DO MEIO AMBIENTE
AND MARU KAXINAWA | EDITION: MARI CORRÊA | REALIZATION: MINISTRY OF THE ENVIRONMENT
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
117
índios no brasil A série de dez programas educativos “Índios no Brasil”, produzida para renovar o curriculum escolar, é apresentada pelo líder indígena Ailton Krenak, e mostra, sem intermediários, como vivem e o que pensam os índios de nove povos dispersos no território nacional
indians in brazil A serie of ten educational programs designed for the Brazilian distance learning channel. Presented by the Indian leader Ailton Krenak,“Indians in Brazil” shows, without intermediaries, what nine Indian people think and how they live
índios no brasil | indians in brazil
Quem são eles? O primeiro programa da série traz à tona, por
Who are they?
meio de entrevistas com populares em diversas
T HROUGH
partes do país, o desconhecimento e os estereó-
THE FIRST PROGRAM OF THE SERIES SHOWS US
tipos do senso comum sobre a realidade indígena
THE MISUNDERSTANDING AND COMMON SENSE
que está na base do processo de discriminação
STEREOTYPES THAT PEOPLE HAVE ABOUT THE
sofrido por estas comunidades. O índio é aquele
INDIAN REALITY. IS AN INDIAN SOMEONE WHO
que anda pelado no mato? O índio está aca-
GOES NAKED THROUGH THE JUNGLE? IS THE INDIAN
bando? O índio está deixando de ser índio? Os
BECOMING EXTINCT? IS THE INDIAN ABANDONING
nove personagens escolhidos para representa-
HIS CULTURE? THE NINE INDIANS, CHOSEN TO
rem seus povos vão rebatendo um a um estes
REPRESENT THEIR PEOPLE, ARE GOING TO DEBATE
equívocos.
THESE MISUNDERSTANDINGS ONE BY ONE.
18 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |
18 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI |
EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA /
EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA /
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
MINISTRY OF EDUCATION
INTERVIEWS WITH ORDINARY PEOPLE,
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
119
Nossas línguas Relata a repressão histórica às línguas indígenas
Our languages
praticada ao longo destes 500 anos por inter-
R ELATES
médio das missões religiosas, dos funcionários
LANGUAGES CARRIED OUT FOR THE PAST 500 YEARS
de governo ou da população não índia. E, apesar
BY RELIGIOUS MISSIONARIES, GOVERNMENT
de toda esta repressão, os índios resistiram:
OFFICIALS AND THE NON INDIAN POPULATION.
ainda são faladas mais de 180 línguas indígenas
IN SPITE OF ALL THIS REPRESSION, THE INDIAN
no Brasil. A Constituição de 1988 finalmente
HAS RESISTED: THERE ARE STILL MORE THAN
lhes reconhece o direito à diferença e ao en-
180 INDIGENOUS LANGUAGES SPOKEN IN BRAZIL.
sino de suas línguas em suas escolas, como
THE CONSTITUTION OF 1988 HAS FINALLY GIVEN
vemos na Escola da Floresta do professor Joa-
INDIANS THE RIGHT TO BE DIFFERENT AND TEACH
quim Kaxinawá no estado do Acre.
THEIR LANGUAGE IN THEIR OWN SCHOOLS, AS
THE HISTORIC REPRESSION OF INDIGENOUS
WE SEE AT THE FOREST SCHOOL OF PROFESSOR 20 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |
JOAQUIM KAXINAWÁ IN THE STATE OF ACRE.
EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA / MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
20 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA / MINISTRY OF EDUCATION
120
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
índios no brasil | indians in brazil
Boa viagem Ibantu! Para vivenciarem a diversidade cultural, quatro
Have a nice trip Ibantu!
jovens, de diferentes regiões do Brasil, são
F OUR
convidados a viajarem até a aldeia dos Krahô,
BRAZIL WERE INVITED TO VISIT THE VILLAGE OF THE
situada no estado do Tocantins. Os jovens che-
KRAHÔ IN THE STATE OF TOCANTINS TO EXPERIENCE
gam cheios de expectativas e idéias preconce-
CULTURAL DIVERSITY. THE YOUNGSTERS ARRIVED
bidas. Os Krahô os recebem de braços abertos
FULL OF EXPECTATIONS AND PRECONCEIVED IDEAS.
e a integração é imediata. Os jovens participam
THE KRAHÔ’S RECEIVED THEM WITH OPEN ARMS AND
das cerimônias e dos trabalhos realizados na
INTEGRATION WAS IMMEDIATE. THE YOUNGSTERS
aldeia. Têm o corpo pintado com urucum e je-
PARTICIPATED IN CEREMONIES AND DAILY ROUTINES.
nipapo. São batizados e recebem nomes indí-
THEY HAD THEIR BODIES PAINTED WITH ANNATTO
genas. A despedida é pura emoção.
DYE AND JENIPAPO. THEY WERE BAPTIZED AND
TEANAGERS FROM DIFFERENT REGIONS IN
GIVEN INDIGENOUS NAMES. THE DEPARTURE
Prêmio ■
IS A HEARTBREAK.
PRÊMIO DA ABDEC, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DOCUMENTARISTAS NA 6ª MOSTRA INTERNACIONAL
Award
DO FILME ETNOGRÁFICO, RIO DE JANEIRO, 2000 ■
ABDANDC AWARD, BRAZILIAN DOCUMENTARY ASSOCIATION, 6TH INTERNATIONAL ETHNOGRAPHIC FILM FESTIVAL,
18 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |
RIO DE JANEIRO, BRAZIL, 2000
EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA / MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
18 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA / MINISTRY OF EDUCATION
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
121
Quando Deus visita a aldeia
122
Os mesmos jovens visitam a tribo dos Kaiowás,
When God visits the village
no Mato Grosso do Sul, esperando encontrar algo
T HE
similar à aldeia dos Krahô. Mais uma vez suas
TRIBE IN MATO GROSSO DO SUL STATE, HOPING
expectativas caem por terra. Já nas primeiras
TO FIND SIMILARITIES WITH THE KRAHÔ VILLAGE.
impressões os jovens sentem as diferenças: as
ONCE AGAIN THEIR EXPECTATION ARE SHATTERED.
casas dispersas, já não existem mais matas ao
THE YOUNG PEOPLE FEEL THE DIFFERENCE ALREADY
redor e as pessoas estão maltrapilhas. Para além
IN THEIR FIRST IMPRESSION: THE HOUSES ARE
das aparências, eles descobrem a intensa vida
SCATTERED, THERE IS NO FOREST NEAR THE VILLAGE
religiosa dos Kaiowá e a opressão de que são
AND THE PEOPLE LOOK WASTED. HOWEVER, BEYOND
vítimas por parte dos colonos que tomaram as
THESE APPEARANCES, THEY DISCOVER AN INTENSE
suas terras. No final, eles concluem que cada
RELIGIOUS LIFE OF THE KAIOWÁ AND THE
povo indígena é único, tão diferente entre si
OPPRESSION WHICH THEY ARE VICTIMS TO ON
como o povo japonês do alemão.
PART OF THE SETTLERS THAT TOOK THEIR LAND.
18 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |
18 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI |
EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA /
EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA /
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
MINISTRY OF EDUCATION
MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
SAME YOUNGSTERS VISIT THE KAIOWÁS
índios no brasil | indians in brazil
Uma outra história O Brasil foi descoberto ou invadido? O filme de
Another history
Humberto Mauro de 1940 dá a sua versão sobre
W AS
o Descobrimento do Brasil. Mas os índios são
THE NATIVE PEOPLE ARE UNANIMOUS IN CLAIMING
unânimes em afirmar que o país foi invadido
THAT THEIR COUNTRY WAS INVADED, BECAUSE THEY
porque eles já estavam aqui. Dependendo do
WERE ALREADY THERE. DEPENDING ON THE POINT OF
ponto de vista de cada um, existem várias ver-
VIEW, THERE ARE VARIOUS VERSIONS OF BRAZILIAN
sões da história do Brasil, e aqui os índios con-
HISTORY. THE WORKBOOKS OF INDIGENOUS SCHOOLS
tam as suas. A cartilha de história das escolas
IN ACRE, FOR EXAMPLE, DIVIDE THE HISTORY IN
indígenas do Acre, por exemplo, divide a his-
FOUR PERIODS: THE PERIOD OF THE HUT, BEFORE
tória do Brasil em quatro períodos: o tempo das
CABRAL’S ARRIVAL; THE PERIOD OF ESCAPING,
malocas, antes da chegada de Cabral; o tempo
WHEN INDIANS WERE MURDERED FOR THEIR LAND;
das correrias, quando os índios foram caçados à
THE PERIOD OF CAPTIVITY, WHEN THEY WERE USED
bala para a ocupação dos seus territórios; o
AS SLAVES TO TAP RUBBER TREES; THE PERIOD
tempo do cativeiro, quando eles foram usados
OF THEIR RIGHTS, WHEN THEY FINALLY CONQUERED
como mão de obra escrava no corte de seringa;
THEIR RIGHTS TO OWN LAND AND PURSUE
e finalmente o tempo dos direitos, quando final-
THEIR OWN CULTURE.
BRAZIL DISCOVERED OR WAS IT INVADED? ALL
mente conquistaram o direito à terra e à sua cultura própria.
17 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA
17 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA / MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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Primeiros contatos O processo de conquista iniciado por Cabral
First contacts
prossegue, com a ocupação do Planalto Central
T HE
na década de 50 e da Amazônia na década de 70.
HASN’T STOPPED AND PROCEEDED WITH THE
Retratados em imagens históricas da “pacifi-
OCCUPATION OF THE CENTRAL HIGHLANDS IN
cação” de tribos do Mato Grosso, Rondônia e
THE 50’S AND THE AMAZON IN THE 70’S. ARCHIVE
sul do Pará, assistimos à catástrofe do contato
SHOOTS SHOW THE “PACIFICATION” OF THE XAVANTES
que dizima as suas populações. Para concluir,
PEOPLE, THE CINTA LARGA PEOPLE IN RONDÔNIA
o caso de pequenos grupos atropelados pelo
STATE AND THE PARAKANAS IN THE SOUTH OF
desenvolvimento no sul de Rondônia, até um
PARÁ STATE AND HOW THIS CATASTROPHIC CONTACT
único sobrevivente de um povo que se recusa
DECIMATED ITS POPULATION. FINALLY, WE SEE
ao contato até os dias de hoje.
THE CASE OF SMALL GROUPS UNDERMINED BY
CONQUERING PROCESS INITIATED BY CABRAL
THE DEVELOPMENT OF THE SOUTHERN REGION 19 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |
OF RONDÔNIA STATE UP TO THE LAST SURVIVOR
EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA /
OF A PEOPLE THAT REFUSES TO MAKE
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CONTACT IN THE YEAR 2000.
19 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA / MINISTRY OF EDUCATION
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MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
índios no brasil | indians in brazil
Nossas terras Nos últimos 20 anos a maior parte das notí-
Our territories
cias sobre os índios foi sobre a questão de ter-
IN
ras, o maior problema na relação entre índios
NEWS ABOUT INDIANS DEALS WITH THE QUESTION
e brancos. Muita gente diz que “o índio tem
OF LAND, THE PRINCIPAL PROBLEM BETWEEN
muita terra”. Os grandes territórios indígenas
INDIANS AND WHITES. MANY PEOPLE SAY THAT
se encontram na região amazônica, e correm o
“THE INDIAN HAS TOO MUCH LAND.” THE BIG
risco de se tornarem as únicas reservas flo-
INDIGENOUS TERRITORIES ARE LOCATED IN THE
restais deste país. Em compensação, nas áreas
AMAZON REGION AND RUN THE RISK OF BECOMING
mais colonizadas, os índios perderam quase
THE LAST FOREST RESERVES OF BRAZIL IN A FEW
tudo e travam uma luta incessante para a re-
DECADES. IN COMPENSATION, INDIANS ARE LOSING
conquista do espaço mínimo necessário ao
ALMOST ALL THEIR LAND IN MOST SETTLED AREAS
crescimento de suas populações.
AND ARE INCESSANTLY FIGHTING TO RECOVER THE
THE LAST TWENTY YEARS, THE MOST PART OF
SPACE NECESSARY FOR THE GROWTH OF THEIR 20 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |
POPULATION.
EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA / MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 20 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA / MINISTRY OF EDUCATION
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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Filhos da terra Como
os índios se relacionam com os seus
Mother earth
territórios ancestrais? O uso sustentável dos
H OW
recursos da natureza é um conceito milenar
TERRITORY OF THEIR ANCESTORS? THE SUSTAINABLE
das populações indígenas. Agora, ingressando
USE OF NATURAL RESOURCES IS A MILLENNIAL
na economia de mercado, muitos povos desen-
CONCEPT OF INDIGENOUS PEOPLE. CURRENTLY,
volvem experiências de desenvolvimento sus-
BY JUMPING ON THE MARKET BANDWAGON, MANY
tentável com a exploração não predatória dos
INDIAN NATIONS HAVE DEVELOPED SUSTAINABLE
recursos da floresta, inspirada na filosofia dos
EXPERIENCES OF NON-PREDATORY EXPLOITATION
seus antepassados.
OF FOREST RESOURCES, WHICH WERE INSPIRED
DO INDIGENOUS PEOPLE RELATE TO THE
BY THEIR ANCESTORS’ PHILOSOPHY. 18 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA /
18 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI |
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA / MINISTRY OF EDUCATION
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MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
índios no brasil | indians in brazil
Do outro lado do céu A religiosidade e o sentido místico da cultura
The other side of heaven
indígena, tendo como referência as tribos Yano-
T HE
mami (RR), Pankararu (PE) e Maxacali (MG).
SENTIMENT OF INDIGENOUS CULTURE, USING
No caso da tribo Maxacali, o índio José Ferreira
AS A REFERENCE POINT THE YANOMAMI (RORAIMA
discorre sobre o conceito de religiosidade para
STATE), PANKARARU (PERNAMBUCO STATE), AND THE
a sua etnia. Acreditam em seres espirituais
MAXACALI (MINAS GERAIS STATE). JOSÉ FERREIRA
bons, que vivem acima do céu, e ruins, que
MAXACALI EXPLAINS THE RELIGIOUS CONCEPT
vagam pela terra. Os bons protegem os índios
OF HIS ETHNIC GROUP. YANOMAMI SHAMANS,
da tribos e exterminam doenças. Os xamãs da
TRUE SPIRITUAL DOCTORS, EXPOUND THE
tribo Yanomami, verdadeiros “médicos espiri-
RELATIONSHIP BETWEEN THE WORLD OF MAN
tuais” tratam da relação do mundo dos homens
AND THE FORCES OF NATURE. THE CELEBRATIONS
e com as forças da natureza. Também são mos-
OF THE PANKARARU’S EVOKE THE ENCHANTED
tradas as festas realizadas pela tribo Pankararu,
SPIRITS THAT PROTECT THEM.
RELIGIOUSNESS AND THE MYSTICAL
onde os índios invocam os espíritos encantados que os protegem.
18 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA /
18 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |
MINISTRY OF EDUCATION
EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA / MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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Nossos direitos Depoimentos sobre os direitos já conquista-
Our rights
dos e legitimados pela constituição atualmente
S TATEMENTS
vigente: o direito à terra, à saúde, ao ensino
LEGALIZED AND IN FORCED BY THE ACTUAL
de suas línguas e à livre organização de suas
CONSTITUTION: RIGHT TO LAND, HEALTH,
comunidades. Lideranças indígenas reiteram a
EDUCATION IN ITS OWN LANGUAGE AND FREE
necessidade de se respeitar os direitos con-
ORGANIZATION OF THEIR COMMUNITIES.
quistados pelos povos indígenas. Há depoi-
INDIGENOUS LEADERS REITERATE THE NECESSITY
mentos do líder da federação das Organizações
OF RESPECTING THE RIGHTS ALREADY GAINED
Indígenas do Rio Negro (FOIR), Pedro Garcia e
BY NATIVE PEOPLES. THERE ARE STATEMENTS
lideranças das tribos indígenas Kaiowá, Kaxi-
FROM THE LEADER OF THE FEDERATION OF
nawá, Yanomami, Ashaninka e Kaingang.
INDIGENOUS ORGANIZATIONS FROM RIO NEGRO
ABOUT THE RIGHTS ALREADY GAINED,
(FOIRN), PEDRO GARCIA AND LEADERS FROM 17 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |
INDIGENOUS TRIBES SUCH AS KAIOWÁ, KAXINAWÁ,
EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA /
YANOMAMI, ASHANINKA AND KAINGANG.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 18 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA / MINISTRY OF EDUCATION
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MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
índio na tv Como o índio é tratado na TV e como poderia ser a participação indígena na televisão brasileira
indian on tv How Indians are showned by Brazilian TV. Analyse and alternative propositions
Programa de índio 1, 2, 3, 4 O projeto realizou, em conjunto com a TV Uni-
Indian program 1, 2, 3, 4
versidade do Mato Grosso (UFMT), uma expe-
T HE
riência inédita na TV brasileira: a abertura de
MATO GROSSO UNIVERSITY (UFMT), REALIZED AN
um espaço genuinamente indígena numa tele-
ORIGINAL EVENT FOR THE FIRST TIME ON BRAZILIAN
visão pública. Cada programa traz: o retrato de
TV: GIVING TELEVISION SPACE FOR AN AUTHENTIC
um povo; o perfil de uma personalidade indí-
INDIGENOUS PROGRAM ON PUBLIC TELEVISION.
gena; matérias de atualidade sobre educação,
THE STUDENTS OF THE PROJECT PARTICIPATED
conflitos fundiários, cultura e meio ambiente;
ACTIVELY IN THE ELABORATION AND PRODUCTION
entrevistas de rua onde o povo expressa a sua
OF THE PROGRAMS WITHOUT EVER HAVING CONTACT
visão sobre o índio e a respostas das comuni-
WITH TELEVISION PRODUCTION BEFORE.
PROJECT, TOGETHER WITH TV CHANNEL OF
dades. Os alunos do projeto participam ativamente na elaboração e produção dos programas,
EACH PROGRAM 26 MINUTES, 1995/1996 |
tomando, pela primeira vez, contato com a lin-
DIRECTION: GLORIA ALBUES AND VINCENT CARELLI |
guagem televisiva. 26 MIN. CADA PROGRAMA, 1995/1996 | DIREÇÃO: GLORIA ALBUEZ E VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: TUTU NUNES
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MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA
EDITION: TUTU NUNES
índio na tv | indian on tv
Índio na TV No dia 18 de setembro de 2000, aniversário
Indian on TV
de 50 anos da TV brasileira, Hiparendi Xavante
ON
exibe vídeos indígenas na estação de metrô da
OF BRAZILIAN TV, HIPARENDI XAVANTE SHOWS
Praça da Liberdade em São Paulo, e entrevista
INDIGENOUS VIDEOS IN THE UNDERGROUND STATION
os passantes sobre a presença do índio na TV.
OF THE PRAÇA DA LIBERDADE (FREEDOM SQUARE)
18TH SEPTEMBER, 2000, THE 50TH BIRTHDAY
IN SÃO PAULO, AND INTERVIEWS PASSERS-BY ABOUT
Prêmio ■
THE PRESENCE OF THE INDIAN ON TELEVISION.
MELHOR DIREÇÃO E PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI PARA O PROJETO VÍDEO NAS ALDEIAS,
Award
XII CINE CEARÁ, FORTALEZA, 2002 ■
BEST DIRECTION AND SPECIAL PRIZE OF THE JURY FOR THE PROJECT VIDEO IN THE VILLAGES,
5 MIN., 2000 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI |
XII CINE CEARÁ, FORTALEZA, 2002
EDIÇÃO: TUTU NUNES 5 MIN., 2000 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES
VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES
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PROJETO GRÁFICO
Traço Design EDIÇÃO DE VINHETA
Leonardo Sette FOTOS
Mari Corrêa, Jorge dal Ben FOTOLITO
Rainer IMPRESSÃO
Sol Gráfica
patrocínio e realização
apoio