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e-vilacondense 007 AGOSTO / SETEMBRO 2013

10 VILA DO CONDE MOTIVOS

PARA VISITAR

“UM OLHAR SOBRE VILA DO CONDE” POR ABEL MAIA


e-vilacondense 008 AGOSTO / SETEMBRO 2013

CAPA Fotografia de Johny Farias Título Aqueduto Local Igreja de Santa Clara Julho 2013

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03 EDITORIAL OLHAR SOBRE 05 “UM VILA DO CONDE” Por Abel Maia

11 CRÓNICA Ser diferente MOTIVOS 17 10PARA VISITAR

VILA DO CONDE

29 FOTOVILA “Pôr do Sol” 33

VILA DO CONDE PELA LENTE DE ... Daniel Lima

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O MUNDO QUE NÓS PERDEMOS 6 O maravilhoso em terras do Ave no período pombalino

POR CÁ... 63 ACONTECEU 1º Campeonato do Mundo de Surfski

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DO 71 INVENTÁRIO ESPÓLIO DO MOSTEIRO DE SANTA CLARA Parte IV

71


Alexandre Maia Diretor e-vilacondense alexandre.maia@lexart.com.pt

Chegou, enfim (muitos dirão), o mês de agosto, o “meu querido mês de agosto”! Apesar de cada vez menos, este continua a ser, no nosso imaginário, o mês das férias, das idas à praia, das feiras e das festas um pouco por todo o país, e Vila do Conde não é exceção. Também por cá temos as nossas próprias tradições de verão e bons motivos para visitar esta cidade. E foi a pensar nisso que, através de um inquérito realizado online, pedimos a vilacondenses e a todos aqueles que conhecem a cidade que elegessem os

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dez melhores motivos para visitar Vila do Conde. Apresentamo-los, com orgulho, nesta edição, certos de que há muitas mais razões para visitar e descobrir Vila do Conde. Convidamos ainda, nesta edição, Abel Maia, presidente dos Bombeiros Voluntários de Vila do Conde, para partilhar o seu olhar sobre a cidade; e foi também o que pretendemos com as fotos de Daniel Lima, que nos transmite as suas impressões de Vila do Conde através da lente da sua máquina fotográfica.


EDITORIAL

Aproveitamos também nesta edição para refletir sobre a diferença, numa crónica de Mónica Sousa, e para recordar o 1º campeonato do mundo de Surfski, que se realizou nas nossas praias, pelas lentes de Marco Santos e Mónica Sousa. Como já vem sendo habitual, continuamos a conhecer mais alguns dos tesouros existentes no Mosteiro de Santa Clara através do inventário elaborado por Mónica Sousa e Valquíria Costa, e damos por encerrada a análise do mundo

que perdemos com a investigação do maravilhoso em terras do Ave levada a cabo por Hélder Guimarães. Repete-se ainda o concurso Fotovila; nesta edição damos destaque ao pôr do sol em Vila do Conde e desafiamos os nossos leitores a darem uma caminhada na marginal, registarem fotograficamente o pôr do sol e partilharem connosco esses momentos.

Neste querido mês de agosto, continue a descobrir Vila do Conde!


UM OLHAR SOBRE VILA DO CONDE POR ABEL MAIA

Escrever sobre Vila do Conde, ‘na visão que tenho da cidade de Vila do Conde e do seu concelho, descrevendo algumas das vivências e os locais que mais aprecio’, como me foi proposto – é pretexto para expressar memórias que remontam à minha meninice e adolescência e para testemunhar o gosto 
que tenho em ser um cidadão desta ‘terra de luz e de brilho’, como dizia Rui Belo. Nato em terras de Angola, - filho de vilacondenses que migraram para o então ultramar português, em busca de melhor vida - conheci Vila do Conde em 1969. Apenas memórias de férias fugazes ficaram. O Largo do Laranjal, a Azurara onde vivia a Avó materna, próxima da sua belíssima e milenar Igreja Matriz. As ruas antigas e estreitas, muito diferentes da Benguela a régua e esquadro que, sobretudo, então conhecia.
 Com a independência das colónias e a guerra

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fratricida dos angolanos, como pano de fundo, cheguei a Vila do Conde no dia 24 de Junho de 1975, com os meus tenros 15 anos e um pouco ainda menino ‘selvagem’ da vida solta e do calor de África. Está bom de ver, o meu deslumbramento adolescente à mistura com o medo de quem é desgarrado do seu passado africano e se vê, em terra nova, de algum modo hostil aos chamados retornados. As festas Joaninas foram a minha receção. O Monte e a Praça, que dividiam saudavelmente o meu pai e a minha mãe. A ida à praia, pela mão do Rancho do Monte, foi um batismo inesquecível numa terra que era tema de conversa em família desde que nasci. As saudades e lembranças de meus pais e o encantamento com que falavam da sua beleza, sempre fizeram com que Vila do Conde estivesse no meu imaginário. Por isso digo, em abono da verdade, sou vilacondense, sem ter nascido em Vila do conde.


Igreja Matriz de Azurara - Š AMVC


Depois veio a continuação do ensino secundário na escola do atual parque desportivo da avenida Júlio Graça, o convívio e o enraizamento na minha definitiva consagração a esta terra. O remo no Fluvial, a canoagem na escolinha da Direção Geral dos Desportos, no Ginásio e no Kayak, o futebol nas camadas jovens do Rio Ave Futebol Clube, muito contribuíram para este enraizamento. Logo após, Coimbra chamou-me por 5 anos, mas Vila do Conde era a minha terra. Por aqui fiquei e é aqui que me sinto bem e onde felizmente está toda a minha família direta. ‘Sorte a minha’, como me dizem muitos

amigos de outras paragens: - Tens sorte, moras numa terra linda, bem preservada, segura e apelativa pela qualidade de vida que oferece. Há quem, por razões oblíquas à verdade, teime em negar esta realidade. Por tudo isto e pela apetência natural fui-me envolvendo na sua vida cívica. Primeiro no desporto, depois no movimento associativo e por fim na vida politica. Tenho o grato prazer de conhecer profundamente a sua essência, as suas pessoas e instituições, o seu património, as suas virtualidades e as suas debilidades. Com o prazer de trabalhar no centro da “vila”, diariamente percorro as suas artérias milenares. Sempre com o rio e o mar, como limites visuais que me adocicam o olhar.


O aqueduto e o mosteiro de Santa Clara, como não podiam deixar de ser, são vistas e visitas diárias nos meus percursos. A matriz e o casario que dali se vislumbra, em todos os sentidos cardeais, são autênticos postais que ficam na retina de qualquer visitante. Caminhos de uma urbe

que se faz calma e encantadora. O centro da juventude, a capela da senhora da guia, a lindíssima marginal marítima, a capela do socorro, a alfândega régia, a nau, o auditório municipal, os paços do concelho, o centro de memória, entre outros marcos emblemáticos de um património rico e superiormente recuperado. O encanto permanente tenderia a desvalorizar o que de bom temos, mas procuro sempre reavivar o prazer de viver em Vila do Conde.


Š Paulo Renato


Um pouco mais a norte, a Caxinas mais antiga, à mistura com a mais recente, dá a ideia de um bulício de gentes de trabalho e da história feita a azulejos de gente humilde mas briosa, orgulhosa das suas casas, das suas ruas e da sua religiosidade, espelhada numa Igreja que é o seu orgulho, com contorno de barco e sobranceira ao mar das riquezas e da desgraça.
 Freguesias banhadas todas com mantos de verde, onde a produção de leite é rainha, e muitas com manchas florestais que são pulmões para todos nós. Casarios dispersos, na orla das estradas que vão ter a núcleos e a centros urbanos, maiores ou mais pequenos que são o orgulho e o ponto de encontro dos seus habitantes.

Um conjunto que pela sua história, riquezas, património e localização geográfica são um orgulho que importa preservar e desenvolver harmonicamente. 
Assim sejamos capazes.

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CRÓNICA SER DIFERENTE POR MÓNICA SOUSA Professora de História 3º Ciclo e Secundário; Formadora Cursos Profissionais, CEF´s e EFAS.

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Atualmente a sociedade vive mudanças profundas, o paradigma social que conhecemos desde o 25 de Abril está a ser reequacionado e os que mais perdem são os mais vulneráveis. Desde o meu ano de estágio que trabalho com crianças com necessidades educativas especiais, em dez anos verificaramse grandes mudanças principalmente na legislação, na linguagem aplicada, e nos benefícios das crianças com necessidades educativas especiais permanentes. Turmas cada vez maiores não ajudam o processo de integração e o desenvolvimento destas crianças. Tive casos em que numa turma de vinte e oito alunos dois tinham necessidades educativas especiais. E o que são alunos com necessidades educativas especiais permanentes? 015 e-vilacondense São alunos que apresentam limitações significativas ao nível da atividade 13 e-vilacondense

e participação, num ou vários domínios da vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais de carater permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, da linguagem, de mobilidade, de autonomia, do relacionamento interpessoal e da participação social. O trabalho do professor tornase cada vez mais difícil, é difícil sentirmos que passamos a maior parte do nosso tempo de trabalho e pessoal dedicados a papéis, preenchimento de relatórios, em reuniões, numa burocracia infindável, e o tempo é cada vez mais escasso para preparar as aulas e criarmos atividades específicas para os alunos com mais dificuldades. Estes alunos exigem intervenções bastante individualizadas, cada caso é um caso, cada aluno é um aluno, é o Pedro ou a Inês, é a Sara ou o Sérgio, é


uma pessoa e não apenas um número! É um sentimento de impotência avassaladora, já não temos tempo para os nossos alunos, nem para a nossa família. Cada vez mais a sociedade e sucessivos governos desvaloriza o nosso papel na sociedade. Mas apesar de todas as vicissitudes aqueles que ainda vão resistindo ao avassalador despedimento coletivo de professores que atualmente se verifica continuam a voltar as suas atenções para as crianças mais vulneráveis, é uma cruzada diária que travámos juntamente com Professores do Ensino Especial, Psicólogos, Assistentes Sociais, Sociólogos. As pequenas vitórias e desilusões das crianças com necessidades educativas são também as nossas vitórias e desilusões, o esforço é coletivo, as crianças de hoje são os adultos de amanhã e é isso que nos guia e não nos deixa desistir!

A História da Humanidade está marcada pelo estigma da diferença, na Grécia e Roma Antigas ou Esparta onde se cultivava “o corpo são em mente sã” muitas crianças com deficiência eram mortas à nascença. Durante o século XX houve outro grande retrocesso nos direitos das crianças e minorias com a execução de deficientes e crianças nas camaras de gás durante a 2ª Guerra Mundial. A Humanidade não pode esquecer o seu passado, nem apagá-lo com uma simples borracha, devemos ter respeito pelo passado coletivo e evitar que erros do passado se voltem a repetir! Nos momentos mais difíceis, esquecem-se valores, descuida-se os mais vulneráveis. Com a evolução da sociedade, a imagem da diferença tem sido alterada numa perspetiva mais integradora e positiva, embora esta mudança face à pessoa com deficiência tenha sido morosa, nem


sempre feita de um modo linear e ainda hoje as pessoas com limitações físicas ou cognitivas sentem o estigma da diferença. As limitações marcam a pessoa na sua dimensão individual e social mas não na dimensão humana. A 3 de dezembro, assinala-se o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, data promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), com a finalidade de sublinhar a necessidade de uma maior atenção por parte da sociedade civil e do poder político para os assuntos relacionados com a deficiência. Pretende-se também mobilizar a sociedade civil e as entidades com poder para se movimentarem em torno da defesa da dignidade, dos direitos e o bemestar das pessoas. Entre estes direitos estão a integração das pessoas com deficiência, quer na vida política, social, económica e cultural. O trabalho de Instituições como o MADI (Vila do Conde) ou o MAPADI

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(Póvoa de Varzim) mostra-se fulcral para a formação e integração das pessoas com limitações físicas e cognitivas. Uma das histórias que mais me marcou durante o meu percurso profissional enquanto professora foi a do Rui. O Rui era um menino de 12 anos, com limitações físicas e motoras. O Rui era muito bom aluno, tinha excelentes notas às diferentes disciplinas, gostava de estudar e tinha uma cultura geral assinalável. O Rui dava altas gargalhadas quando o seu teste era o melhor da turma, o Rui sentia-se bem e feliz a estudar e junto dos professores. Mas as suas limitações físicas eram incompreendidas pelos seus colegas. O ano letivo acabou e eu mudei de escola, dois anos depois recebo a seguinte mensagem: “O Rui morreu, o seu coração parou”. O Rui tinha 14 anos. Este texto é para ti, Rui, e para todas as crianças especiais e únicas como tu.


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10 Ao longo destes dois meses, através de uma votação que decorreu online, pedimos aos vilacondenses e a todos que conhecem ou já visitaram Vila do Conde que nos dissessem quais as razões pelas quais a nossa cidade deve ser visitada. A participação foi ampla e as respostas muito diversificadas, comprovando que Vila do Conde é uma belíssima cidade, cheia de cultura, tradição e personalidade, que começa a ser incontornável no roteiro turístico do norte do país. Desta forma, e com os votos de todos os participantes, elegemos as dez melhores razões para visitar, passear, deambular e caminhar por Vila do Conde. Certamente, estas não serão as únicas razões pelas quais a nossa cidade deve ser conhecida; são só algumas, um cheirinho do que ainda está por descobrir. Agradecendo todas as contribuições, aqui estão os dez melhores motivos para visitar Vila do Conde, segundo quem melhor conhece a cidade. Visite Vila do Conde, e deixe-se encantar!

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MOTIVO

VILA D


OS PARA VISITAR

DO CONDE


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MOSTEIRO DE

O Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde foi fundado por D. Afonso Sanches (filho bastardo de D. Dinis) e sua esposa, D. Teresa Martins, pela carta régia de sete de Maio de 1318. Segundo Monsenhor José A. Ferreira, D. Afonso Sanches e D. Teresa Martins terão passado por Vila do Conde quando regressavam de uma romaria a S. Tiago de Compostela e, “ou por [devoção] imitação da Rainha Santa Isabel, que no ano anterior tinha fundado em Coimbra o Mosteiro de Santa Clara, ou por devoção e sympathia para com esta Ordem (...), edificou e dotou n’esta sua villa outro Mosteiro da mesma Ordem”. O facto é que a edificação deste mosteiro em muito veio enriquecer a cidade de Vila do Conde, e este edifício constituise hoje um dos ex-libris da cidade, visitado e admirado por todos os que a visitam. Hoje envolto numa polémica de restauração e preservação, ou a falta dela, não deixa de ser dominante no horizonte de Vila do Conde.

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E SANTA CLARA


FEIRA NACIONAL DE A

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Ocupando um espaço privilegiado numa vasta área ajardinada no centro da cidade, contando com a presença de duas centenas de artesãos, grande parte dos quais demonstrando ao vivo o seu saber nas mais diversas expressões do artesanato - da cerâmica à cestaria, dos instrumentos musicais à arte pastoril ou dos bordados às rendas de bilros - e cobrindo a totalidade das regiões portuguesas, a Feira Nacional de Artesanato é uma tradição de verão em Vila do Conde e motivo para a visita de gente de todos os cantos do mundo.

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ARTESANATO

IGREJA MATRIZ

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A Igreja Matriz de Vila do Conde é o mais amplo templo do centro histórico. Mandada erigir em 1496 pelo povo, teve o alto patrocínio do Rei D. Manuel quando, em 1502, passou pela Vila. O pórtico, exlibris do manuelino, ostenta, ao centro, a imagem do patrono da cidade – S. João Baptista. O interior, em três naves, capelas absidiais, transepto e capelas do transepto, apresentam retábulo dourados em estilo joanino.


NAU QUINHENTISTA

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A recriação da nau portuguesa do século XVI, mandada construir nos estaleiros Samuel e Filhos, domina a zona ribeirinha de Vila do Conde. Além de proporcionar o embelezamento desta serve para dar a conhecer a realidade dos marinheiros da época dos Descobrimentos através de visitas guiadas.

PRAIAS

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O litoral de Vila do Conde, banhado pelo Oceano Atlântico, oferece aos banhistas uma extensão considerável de praias, reconhecidas pela sua qualidade e beleza, apesar de fustigadas pelo vento norte quase todo o verão. Para colmatar essa habitual nortada é possível recorrer às tradicionais barracas de sombra com o seu pano listado azul e branco ou verde e branco. Esta marginal é também ideal para um passeio de fim de tarde para admirar o pôr do sol. 23 e-vilacondense


IGREJA ST. CLARA

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Exemplar gótico do século XIV, a Igreja do antigo Mosteiro de Santa Clara, atesta, pela austeridade da pedra, o poder das freiras de Santa Clara, donas da Vila. A visitar destaca-se o belíssimo

panteão dos fundadores/capela da Conceição em estilo manuelino onde estão sepultados os fundadores do mosteiro, assim como o túmulo de D. Brites Pereira, filha de S. Nuno Álvares Pereira e o claustro com vista para o Mosteiro de Santa Clara.


ZONA RIBEIRINHA

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A zona ribeirinha de Vila do Conde destacase pela harmonia visual proporcionada pelo enquadramento do rio, do casario, do verde dos jardins e dos monumentos que brotam ao longo do percurso. Neste espaço, que no passado acolheu os estaleiros navais de Vila do Conde, é possível passear na Praça da República, visitar as exposições patentes no Auditório Municipal, ficar a conhecer a Nau Quinhentista, a Casa do Risco e a Alfândega Régia, almoçar ou jantar num dos muitos restaurantes e bares da zona, admirar a Capela do Socorro, e seguir caminho pela doquinha, na praça D.João II, até à Sra. da Guia, onde o rio abraça o mar.

© Paulo Marta

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© Paulo Marta


TAPETES

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A festa do Corpo de Deus é uma manifestação religiosa com fortes tradições em Vila do Conde, que, de quatro em quatro anos, une a população num esforço e numa demonstração grandiosa de fé e bairrismo, na construção de magníficos tapetes de flores que ornam as ruas por onde passa a procissão. Estes tapetes, que se estendem pelas principais ruas do núcleo histórico vilacondense, são autênticas obras de arte com quase três quilómetros de extensão, que desde há muito suscitam a admiração e atraem a Vila do Conde milhares de turistas para os contemplar.


DOCARIA CONVENTUAL

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Os doces conventuais são uma tradição s e c u l a r em Vila do Conde. Os Conventos e Mosteiros foram, desde cedo, os grandes impulsionadores destas tradições, e Vila do Conde é disso exemplo, com os Mosteiros de Santa Clara e Vairão. O Mosteiro de Santa Clara, onde a arte de doçaria atingiu o maior esmero e perfeição, foi uma verdadeira

escola. Entre diversas especialidades, destacam-se os doces de ovos.

CURTAS

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O Curtas Vila do Conde é o pretexto para trazer não só o cinema à cidade mas também muitos turistas e visitantes. Incontornável nos roteiros de festivais de cinema, proporciona à cidade dinamismo, movimento, e um crescendo cultural que se prolonga pelos oito dias do festival.

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CONCURSO DE FOTOGRAFIA

TEMA AGOSTO

“PÔR DO SOL” 077 e-vilacondense 29 e-vilacondense


REGULAMENTO 1. Tema Livre nos procedimentos técnicos a empregar, deverá obedecer a um tema genérico “Vila do Conde” e ao sub-tema do mês, definido no site e na revista e-vilacondense, registando qualquer pormenor, situação ou acontecimento, desde que ocorridos dentro do concelho de Vila do Conde. 2. Obras O número máximo de fotografias a apresentar por concorrente é uma. A dimensão mínima é 21cm por 30cm, sendo requisito a orientação vertical. 3. Prazos e formas de entrega Os trabalhos deverão ser enviados através de e-mail para o endereço fotovila@vilacondense.pt até ao dia 15 de cada mês. O e-mail deverá conter os seguintes dados. - Nome do fotógrafo; - Título da fotografia; - Local da fotografia; - Data da fotografia (mês e ano) 4. Prémios 1º Prémio - Utilização da fotografia como capa da revista e-vilacondense com os devidos créditos do autor. 2º e 3º Prémio - Publicação da fotografia na revista e-vilacondense com os devidos créditos do autor. 5. Juri O juri sera composto por todos os utilizadores do nosso site (www. vilacondense.pt), através da atribuição de uma classificação (rating) a cada fotografia. Os premiados serão os trabalhos que obtiveram a classificação mais alta até ao dia 25 de cada mês. Os trabalhos premiados ficam propriedade do Vilacondense - Roteiro Online, o qual se reserva o direito de os poder utilizar no nosso site www.vilacondense.pt e na revista e-vilacondense sempre que entenda conveniente, referindo sempre os respetivos direitos autorais. Quaisquer informações adicionais podem ser solicitadas através do e-mail fotovila@vilacondense.pt.



PREMIADOS JUlHO 1º LUGAR Johny Farias Título Aqueduto Local Igreja de Santa Clara Julho 2013

BREVEMENTE EM WWW.VILACONDENSE.PT

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VILA DO CONDE PELA LENT DANIEL LIMA 081 e-vilacondense 33 e-vilacondense


TE DE ...


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© AMVC

Em pleno século das luzes, os nossos antepassados maravilhavamse com diversas coisas. As construções humanas, a natureza ou aquilo que consideravam ser obra do sobrenatural ou divino, foi sendo mencionado ao longo das Memórias Paroquiais, principalmente pelos párocos memorialistas mais inquisitivos e causavam neles, e nas populações, grande temor, admiração e reverência. Nesta viagem pelo mundo que nós perdemos vamos ao encontro desses vestígios, muitos dos quais nos deparamos, neste mundo que é tão nosso. Por vezes, tropeçamos nesse património material e imaterial e não lhe prestamos a reverência que lhe é devida. No mês em que o roteiro vilacondense desafiou os vilacondenses a identificarem os motivos pelos quais o concelho deve ser visitado, parece oportuno que se esclareçam as maravilhas do mundo que nós perdemos. 45 e-vilacondense


O MUNDO QUE NÓS PERDEMOS 6 O maravihoso em terras do Ave no período pombalino POR HÉLDER GUIMARÃES Mestre em História Contemporânea Investigador do CITCEM


O MARAVILHOSO HUMANO Sendo o atual concelho de Vila do Conde um território marcado pela proximidade do mar e de cursos fluviais, com elevações que permitiam a fixação da população em relativa segurança e conforto. Por isso, existem vestígios arqueológicos da presença humana um pouco por todo o território concelhio, desde a época castreja. Um dos locais mais emblemáticos e talvez mais místicos do concelho de Vila do Conde é o monte da Cividade, em Bagunte. Situado numa das mais altas elevações do concelho, a Cividade de Bagunte impressiona pela sua proximidade ao Rio Ave e porque dele se vislumbra o mar e a terra. Numa época tão perigosa, era fundamental que as populações tivessem acesso aos recursos aquíferos que serviam para abastecer a população de água e de

outros recursos que do rio se extraíam. Por outro lado, do alto do monte a população podia controlar movimentos adversos e minorar os efeitos dos perigos que vinham pelo mar ou pela terra. A preocupação pela segurança marítima será uma constante ao longo deste artigo. Note-se que o monte da Cividade está em linha com a foz do Ave 1., com o castro de Terroso e com Braga, sendo possível a comunicação entre eles. Na segunda metade do século XVIII, quando se produzem as Memórias Paroquiais, o Monte da Cividade já tinha sido abandonado há muito. Naquela época não passavam de ruínas, esquecidas pelo tempo e pela terra que sepultava esta memória. No entanto, não deixa o Cura de S. Simão da Junqueira de as referir na Memória

© AMVC

1. Onde os arqueólogos pensam ter existido um castro denominado de “S. João”, onde, no século XIV, o infante Afonso Sanches e sua mulher D. Teresa Martins tinham seu castelo e mandaram edificar o Mosteiro de Santa Clara

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Paroquial. Reportava-se a existência de uma cidade no monte da Cividade, que o sacerdote identificava como Brachal ou Brachelense ou Azeviso e “hoje com pouca corrupção o castelo de Argifonso”. Era uma notícia de um achado arqueológico de um dos povoados castrejos mais importantes da região, que naquela época só apareciam “alguns vestígios”. Como podemos supor, o Pároco não tinha formação para identificar os vestígios visíveis nem os localizar no tempo. A Arqueologia era, no século XVIII, ainda uma ciência a dar os primeiros passos. Testemunho mais tardio é o que nos é dado pelo Abade de Retorta, onde se supunha existir um antigo paço medieval de Soeiro Mendes da Maia. Como todos sabemos, após o período Romano, vieram os Suevos e os Visigodos, até que, em 711,

chegaram os muçulmanos que, numa conquista fulgurante, varreram a Península Ibérica até que em 718, um punhado de nobres das Astúrias sustêm esta invasão, infligindo aos muçulmanos a sua primeira derrota em Covadonga. De Pelágio, chefe militar, descendem as monarquias Ibéricas que se formaram nos séculos seguintes até à conclusão definitiva da Reconquista Cristã, pelos Reis Católicos em 1492. As vicissitudes do Reino de Leão e Castela no processo de Reconquista, leva os soberanos do reino cristão e encomendarem conquistas aos nobres da sua corte. Assistia à empresa destes nobres o direito de presúria, isto é, o direito de posse e administração das terras reconquistadas aos mouros. Os Senhores da Maia aparecem na circunstância de uma reorganização do território empreendidas pelos


monarcas leoneses, após a decadência da primeira nobreza portucalense e da última vaga de invasões muçulmanas a norte do rio Douro, protagonizadas por Almançor no final do século X. É neste contexto que aparece associado à história do concelho de Vila do Conde o nome de Soeiro Mendes da Maia “o bom”. Descendentes de Ramiro II de Leão (900-965), o primeiro antepassado dos Senhores da Maia a vir para esta região foi Aboazar Lovesendes (960-?), governador da região do Entre Douro e Lima. O seu filho, Trastamiro Aboazar (980-?) foi o primeiro senhor da Maia e trisavô de Soeiro Mendes da Maia, “o bom” (1060-1108), cujo paço, segundo se achava tradição e escritos em livros antigos, era em Retorta. Este nobre é contemporâneo do governo do conde D. Henrique de Borgonha e sua mulher a condessa D. Teresa, de quem foi protetor e autoridade máxima do condado Portucalense durante as ausências do conde. Por isso, volvidos muitos séculos da sua vida e morte, a fama deste homem ainda era reconhecida pelo Abade de Retorta, que o tinha como “fidalgo dos grandes do seu tempo”. E de facto, era-o, não só pelas suas façanhas, como pelas atitudes de seus irmãos: Gonçalo Mendes da Maia, o Lidador 2, e D. Paio Mendes, Arcebispo de Braga e a maior autoridade religiosa da região portucalense. Nesse sentido, a memória da

sua residência em Retorta, onde provavelmente habitou com a esposa Gontronde Moniz (1060 -?), era tido com a reverência que hoje devotamos a um monumento. Mas denotamos dos escritos do Abade uma grande desilusão com o estado do paço, porque as suas paredes, que outrora tinham sido morada e acolhido gente ilustre, serviam em 1758 de corte para o gado. Práticas do mundo que nós perdemos… más práticas que, no fim de contas, o povo português nunca abandonou. A Igreja Matriz de Vila do Conde também era uma maravilha da construção humana. O Prior descreve-a, com orgulho e com muita precisão: assente em duas naves com vistosas arcarias, sendo que a a sul ficavam os retábulos de S. José 3, Almas e Nossa Senhora da Conceição. Da parte Norte existiam os retábulos de Nossa Senhora da Piedade, Santo António e o Santo Crucifixo, com invocação da Senhor da Paciência 4. Havia, as capelas a sul do cruzeiro da invocação de Nossa Senhora da Boa Viagem e a norte deste de Nossa Senhora dos Anjos. Nas capelas fronteiras às naves estavam os retábulos do Santíssimo Sacramento a sul e a norte de Nossa Senhora do Rosário. E no cruzeiro os altares de S. Gonçalo 5 e S. Pedro 6. Na capela mor ficava a imagem do Primorozo Baptista, padroeiro da Igreja, e da Virgem da Expetação, com o título de madre de Deus e o Arcanjo Gabriel. A Igreja

2.Na demanda por se descobrir quem é o Conde que originou o topónimo Vila do Conde, procurou-se entre os membros da família da Maia uma explicação. Talvez, daí, que se tivesse dado nome de Rua do Lidador em homenagem a este nobre. Também existe uma rua denominada conde D. Mendo em honra do fidalgo que residia em Retorta. No entanto, o topónimo de Vila do Conde é mencionado no documento de Flâmula Pais, de 953, que, portanto, é anterior a esta geração de nobres portucalenses. 3 Hoje do Coração de Jesus. 4 Hoje conhecido como Senhor do Bonfim 5 Onde hoje está instalada a imagem de S. José 6 Onde hoje está instalada a imagem de Nossa Senhora de Fátima

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Igerja Matriz de Vila do Conde Š AMVC


estava apetrechada com coro, e duas sacristias (uma paroquial e outra privativa da capela do Santíssimo Sacramento), uma torre sineira toda de pedra de cantaria, terminada em zimbório onde estavam três sinos, o relógio e uma sineta chamada “garrida” de “excelente voz”. Acedia-se à torre por uma escada de caracol “de admirável robusteza”. A grandiosidade da colegiada Matriz de Vila do Conde, impunha este templo como o maior da região e do futuro concelho de Vila do Conde. Segundo o Prior as naves tinham sessenta e seis passos de cumprimento e de largo vinte e nove, enquanto a capela-mor tinha vinte e seis passos por treze passos de largo. Curiosamente, pouco é reportado sobre o belíssimo portal da fachada. Apenas algumas referências ao escudo de Vila do Conde, uma nau que navegava, com as velas insufladas e embandeirada com as armas reais, as mesmas armas

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que se viam na frontaria da Câmara ladeadas por duas esferas armilares, na época “tudo belamente dourado”. As armas da Vila, podiam-se contemplar no pórtico da Igreja Matriz entre duas imagens, que o Prior recolhia como tradição serem as da Póvoa e Rates. Relativamente à antiga Igreja Matriz de Vila do Conde, a Memória Paroquial de 1758 vem trazer alguma confusão à historiografia local. A maioria dos historiadores locais pensa que antiga matriz se situava no monte, centro nevrálgico de Vila do Conde no período medieval. Mas o Prior Camelo Falcão encontrava-a na antiga capela de S. Tiago que “é tradição que foi Igreja Matriz, está situada nas margens do rio no vasto areal que a cerca pela parte do mar”. Justificava o pároco esta teoria, uma vez que era da administração pública e que o Prior tinha nelas algumas funções como na Matriz, como a publicação dos banhos e mais


exortações públicas e a ela se dirigiam as procissões das ladainhas 7. A capela da Senhora da Guia, que era já na época considerada “antiquíssima” e que havia tradição de que era, inicialmente, dedicada a S. João da Barra e fora Igreja Paroquial de Navais e que era oratório dos príncipes fundadores de Santa Clara. À arquitetura religiosa juntava-se a civil. Por exemplo a ponte que servia de travessia do Rio Ave só existia em Bagunte, onde as margens do rio eram mais estreitas. A ela se refere o Prior de Vila do Conde como uma ponte de “cantaria junto à capela de nossa Senhora da Ajuda distante uma légua desta Vila”. Essa ponte ainda existe e é conhecida por ponte “D. Zameiro” e faz parte de uma via medieval e caminho de Santiago conhecido por via veteriz que

ligava o Porto a Barcelos e Esposende. Quanto ao castelo da foz do Ave, dizia o Prior ter sido projetado pelo “insigne” engenheiro italiano Filipe Tércio, com cinco baluartes e “tão admirável disposição que todos jogam ao mar”, postigo para o lado do mar e para a “terra com disposição de ponte levadiça, fosso”. Mas em 1758 ainda não estava acabado. Faltavam as terraplanagens e a conclusão de um dos baluartes, obra que nunca se concluiu. No interior destacavase o poço, a casa do governador e guarnição “com bela formação e arquitetura civil”. Prova da vivacidade desta construção militar era a presença do seu governador Luís Inácio Pereira Coutinho de Vilhena, fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de S. João de Jerusalém e Sargento Mor de Auxiliares.

5. Note-se que esta capela de Santiago não passa hoje de memória histórica. No lugar onde estava edificada esta capela e seu cemitério existe hoje o Ténis e os jardins da Júlio Graça. A capela foi reconstruída pelos anos trinta na esquina da atual avenida do Ferrol e é conhecida por Igreja de Nossa Senhora do Desterro. No seu interior pode-se admirar uma imagem de S. Tiago Mata-Mouros.

Forte S. João Baptista © AMVC



Relativamente a outras construções de caráter militar, também havia notícia de que existiu uma Torre 8 e umas casas num sítio chamado Castelo Velho. Mas tudo sem grandes certezas. Por fim, como maravilha da construção humana reporta-se o notável aqueduto dos arcos que traziam a água para o mosteiro de Santa Clara, desde a fonte de Santo António em Terroso até ao Mosteiro de Santa Clara. Os arcos eram de elevadíssima estatura, diminuindo até ao lugar da arca. Antes da construção do aqueduto o abastecimento de água ao mosteiro

fazia-se por uma grande nora “fábrica da fundação do convento”, da qual se descia por “dilatados degraus de pedraria” e impunha admiração pela altura. “Obra magnífica, e custosa, e para o serviço dela entravam os criados por uma porta, que ainda hoje se vê tapada, para a parte da terra (…).” Não foi à toa que as freiras empregaram as suas fortunas e conhecimentos pessoais para que tal obra se realizasse. O aqueduto construído no século XVIII maravilhava os vilacondenses daquela época, como ainda hoje nos causa sensação.

8. A antiga rua da Torre é a atual rua do Socorro. A torre, provavelmente existia no sítio onde hoje se ergue a capela de Nossa Senhora do Socorro, edificada em 1603 por Gaspar Manuel.

Aqueduto © AMVC


O MARAVILHOSO NATURAL A água era um dos recursos mais estimáveis do mundo que nós perdemos. O território do futuro concelho de Vila do Conde era abundante em cursos de água, sendo o principal o rio Ave. Mas as águas dos rios eram muitas vezes consideradas impróprias para consumo pela sua falta de salubridade: nela se lavavam as roupas, dela se alimentavam os animais imundos, nas suas torrentes apareciam animais mortos e outras imundícies pelas quais os homens do mundo que nós perdemos consideravam o risco, pelo perigo de contágio das doenças, que era abastecer-se das suas águas. Por isso, recorriam às fontes. Apesar da abundância de fontes em todas aldeias de Bagunte, o Abade invocava uma, a Fonte Nova, perto da igreja que era conhecida pelo seu fluxo abundante de água. Mesmo no ano de 1753, ano em que parece ter havido grande carência de água por ter sido “dos mais áridos” em toda a província do Entre-Douro-eMinho, durante o qual “se viu falta de 55 e-vilacondense

água, até então nunca conhecida”, nunca deixou de jorrar água da Fonte Nova de Bagunte. Também em Vila do Conde, centro populacional mais importante, havia em 1758, “três fontes de água saudável”. O Prior refere que havia falta de fontes em lugares públicos. Mas das três que existiam, uma se destacava pelas suas qualidades “contritivas”. Tratava-se da fonte das Donas, propriedade do Mosteiro de Santa Clara. Já o mar e a foz do rio Ave eram vistos como uma fonte de oportunidades e de perigos, comos e têm vindo a relatar durante este artigo. Oportunidades, porque pela posição estratégica, do mar vinha o comércio e a riqueza. Mas pelo mar vinham também os perigos de uma costa mal defendida pelas autoridades portuguesas e, portanto, causa de muita insegurança em virtude de ataques de piratas e corsários. A referência a oportunidades e perigos é uma constante ao longo das Memórias Paroquiais das


Penedo de Guilhade - Mindelo

Paróquias da costa Atlântica. Mas havia um problema que se constituía em entrave ao perigo e, sobretudo, às oportunidades. Em Azurara, por exemplo, dizia-se que era “porto de mar, cuja barra corre de Norte a Sul, defendida pela Natureza com algumas pedras pela parte do mar”. O porto, permitia a entrada de pescarias do alto, caravelas de Setúbal, considerando o vigário que “só pode admitir navios de pouca maior grandeza”. Tal ficava a dever-se ao assoreamento da barra. Em Vila do Conde, observava o Prior um acidente natural no mar, que identificava como uma “serra”. E entre os muitos penedos um surgia como um monte, onde era costume açoitar os mouros e os piratas que acometiam uma costa difícil de guardar. E era de tal forma largo o penedo, que, por informação de algumas pessoas inteligentes na arte, ali se poderia ter levantado uma fortaleza que defenderia a costa e a barra do perigo de

invasão, em linha com o castelo. Como é costume entre as gentes marítimas, os penedos também têm nome. E a esse penedo chamavam-lhe o “Guilhade”. Em Mindelo o “Guilhade” também causava admiração. Penedo de rocha dura que o mar só galgava no ímpeto das tempestades de Inverno. Referiase, ainda, na Memória de Mindelo que este penedo servia para refúgio para os Biscainhos no tempo que andavam em guerra contra os ingleses. Quanto ao mais, o pároco que avistava a barra de Vila do Conde, com o seu castelo e as torres da igreja da Póvoa, mais não via por estar Mindelo “cercada de pinheiros bravos e em lugar baixo” e pela praia com um extenso areal e juncal marinho 9. Quanto à possibilidade de ter um porto de mar, a praia de Mindelo não oferecia grandes condições naturais, porque, dizia o pároco, “é de muita pedra [e] só se entra em barcos miúdos como é lagosta, congro, e faneca.”10

9. Ainda hoje existem estes extensos pinhais e as dunas que constituem um excelente passeio à beira-mar. 10. Talvez por isso se explique que, em 1832, a esquadra Liberal ao acercar-se à costa, tenha desembarcado no Mindelo e não em Mindelo. Todo o extenso areal a Norte de Leça da Palmeira até à foz do Rio Ave, inclusive Pampelido, é conhecido no Porto pelo Mindelo. Tal como refere o Pároco da freguesia de Mindelo, era impossível construir-se, aqui, um porto. Como podemos, pois, supor que uma esquadra fundeasse ao longo da costa da freguesia de Mindelo?


Capela Nossa senhora do Socorro © AMVC

As memórias foram concebidas para se ter uma ideia geral de um país que se levantava de uma catástrofe natural. O terramoto, tido como castigo divino pelos muitos pecados dos portugueses, causou, por isso os portugueses não conheciam as verdadeiras causas de tão violento abalo. Se, para muitos, as causas do terramoto de 1755 eram atribuídas a um castigo divino que chegava pela natureza ímpia da sociedade portuguesa, para alguns o fenómeno tinha explicações naturais. E, não obstante as referências a meros prejuízos, algumas destas memórias apontaram sinais da natureza, que precederam a catástrofe. Tal foi o caso do Pároco de Vila Chã que escreveu “No dia do terramoto se não sentiu ruina alguma só o mar na vazante retroceder em termos que os homens velhos dizerem verem pedras que nunca foram vistas e na enchente chegar a parte onde nunca chegou (…).” Os sinais apresentados são consistentes com o fenómeno vulgarmente designados por tsunami: o mar recua para níveis 57 e-vilacondense

anormais e após a onda a maré chega a lugares inauditos. A onda provocada pelo terramoto foi apenas mencionada em Vila Chã, sem grande alarmismo. Lembremo-nos que as povoações ribeirinhas não estavam no século XVIII, propriamente na orla costeira. Antes, e como já anteriormente se afirmou, as povoações, ainda que vivessem da pesca (complementada com a agricultura), viviam em povoados recuados em relação ao mar, por motivos de segurança. Outras fontes, coevas do terramoto podem ser citadas. No livro que escreveu sobre o Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde, em 1982, Joaquim Pacheco Neves dedicou um capítulo ao terramoto de 1755. Nele se transmite um relato, da escrivã do Mosteiro, D. Maria do Salvador, do que sucedeu nessa manhã de 1 de novembro de 1755. E deste relato, que se transcreve neste artigo, referimos três aspetos: o primeiro é que a mentalidade das freiras atribuíam a este fenómeno ao sobrenatural, pois, perante o terramoto se diz que as freiras


corriam desordenadas “pedindo perdão a Deus das culpas” e se atribuía a Deus, mais que aos arquitetos, a sustentação da Igreja de Santa Clara, sem estragos de maior. Termina o relato, D. Maria do Salvador expressando a vontade de não “se perder em o sepulcro do esquecimento a memória do terramoto de que Deus nos livrou.” Em segundo lugar, o relato importa pela quantidade e qualidade de dados relativos ao fenómeno natural: a hora em que ele ocorreu (9h30m); o estrondo que parecia submergir todo o mosteiro; a violência do terramoto que fez o coro tremer “com uma força tão desordenada que parecia uma nau despenhada em o mar”; da violência do tsunami, pois o mar tudo inundou até ao promontório do Socorro e por força da “ira dele de frente da Capela quebravam as ondas que por duas vezes chegaram às azenhas”, o que nos faz supor que houve, não uma, Igerja de Santa Clara © AMVC

mas duas vagas; a periodicidade após o primeiro abalo, ficando a terra trémula durante todo aquele dia e repetindose as réplicas, com muita frequência durante o ano de 1756, e chegando a sentir-se em 1757. Por fim, ele é esclarecedor quanto à desorganização provocada na corte com a ruína do convento do Calvário, onde “morreram muitas” e as freiras de Santa Clara as acolheram com tanta caridade. No mundo que nós perdemos, o maravilhoso natural tinha, pois, um significado ambíguo: se, por um lado, era sinal de importância vital, como era o caso da água das fontes, dos rios e do mar, por outro lado, significava morte e castigo. Morte que os nossos antepassados não sabiam identificar corretamente as causas. Daí que o terramoto de 1755 teve um amplo significado reflexivo e revestiu-se de um caráter fantástico.


RELATO DO TERRAMOTO DE «Em o segundo triénio da M.R.M. Abadessa D. Teresa Mº de Távora, eleita em 8 de Maio de 1755, em o primeiro dia do mês de Novembro do sobredito ano às 9 horas e meia da manhã estando as religiosas em o coro cantando terça para principiar a missa do dia, estando sol claro e sem ventos, principiou um tremor de terra tão repentino e com estrondo tão horroroso que parecia que submergia todo o convento; as religiosas que estavam em os ofícios todas os desampararam fugindo para os coros e buscando refúgio em o mesmo perigo por que neles e nos templos foi donde sucederam os maiores estragos em Lisboa. Mas como se ignorava o perigo permitiu o céu que o não houvesse; nele se persistiu enquanto durou a maior força do terramoto, que seria de um quarto de hora pouco mais ou menos, pedindo perdão a Deus das culpas e esperando acabar as vidas em o mesmo coro na Sua presença. Um religioso que estava dizendo missa pôs-se em o meio da Igreja e absolvendo a todas e chamando saíssem as religiosas para fora do coro, ao que se não atendeu que a confusão das vozes era de sorte que só nele se ouvia. (…) tremendo o coro com uma força tão desordenada que parecia uma nau despenhada em o mar, não houve o mais leve perigo nem estrago considerável em o convento. Caiu uma das cruzes de cristal que estão em o Santuário ao chão, nada do cristal quebrou e só se amassou a prata do pé da cruz e podendo fazer mal a duas religiosas que estavam cantando os versos da Terça diante da estante grande, foi como sombra que as não ofendeu caindo muito perto delas. Entrou o mar até ao Socorro e por permissão da ira dele de frente da Capela quebravam as ondas que por duas vezes chegaram às azenhas mas logo desceram; esta inundação das águas não causou menos susto e maior seria se não se desse em o mesmo dia o título de Mentira a mesma


1755 EM VILA DO CONDE Verdade; passado o pº(rimeiro) terramoto ficou todo o dia a terra trémula e eles (os abalos) repetindo mas com entrepolações; não se cuidou em comer que o susto o não permitiu; (…) e pondo-nos mais fáceis para sair para o meio do claustro quando repetia o terramoto, o que sucedia muitas vezes; quando se prognosticava o havia de haver grande, vinha a comunidade de religiosas e moças para a portaria e lá passou a maior parte delas três noite das do mês de Dezembro com excessivo frio, esperando se caía alguma coisa do convento para sair dele para fora (…) mas pela Divina Misericórdia não saíram as Religiosas da Clausura, que havendo em uma das três noites um terramoto grande foi tão breve que não deu tempo de fugir do perigo e nada caiu do convento; muitas mais noites se passaram em o Coro de Baixo e algumas religiosas nas portas da cerca padecendo repetidos sustos e vivendo em um contínuo tormento (…); Ficou a terra trémula todo o ano e nas luas repetindo terramoto com mais ou menos duração e estrondo que o primeiro; e ainda na era de 1757 se sentiram alguns mas breves. (…) Das ruinas e estragos de Lisboa vieram para este mosteiro quatro religiosas das do Calvário, que o seu ficou arruinado e mortas muitas. Chegaram à portaria. Chegaram à portaria a 23 do mês de Junho do mesmo ano duas com decreto para as recolher e com 20.000 reis de tença cada uma que lhe deu o mesmo Senhor para o sustento e mais gastos. (…) mais escrevera a quem o vir que eu fiz esta lembrança para que não ficasse sepultada em o sepulcro do esquecimento a memória do terramoto de que Deus nos livrou.” D. Maria do Salvador, escrivã do Mosteiro em 1755, Cit. Por NEVES: 1982, pp. 171-176


Milagre da Brengรกria - Tela existente na sacristia da Igreja de Santa Clara


O MARAVILHOSO FANTÁSTICO Muitas são, com certeza, as lendas que povoaram o imaginário dos nossos antepassados. Apenas uma é contada nas Memórias Paroquiais pelo Prior, Francisco Camelo Falcão. Na Igreja de Santa Clara existia um painel, defronte ao altar de S. João Evangelista, um painel que representava uma galé de mouros que levava cativos. E o prior considerava ser do templo em que a barra era ampla e profunda, portanto navegável. Ora, um dos cativos encomendando-se a Santa Clara, esta logo lhe apareceu no tombadilho da galé e animando os cativos a revoltarem-se, enquanto conduzia a embarcação pela barra dentro. Infelizmente muitas outras histórias foram omitidas nestas memórias. Mas há uma lenda que é contada por Pacheco Neves no Livro “O Mosteiro de Santa Clara” e que não resisto a contar: trata-se da lenda da D. Berengária, abadessa do Mosteiro de Santa Clara. Refere Pacheco Neves que, na época em que as abadessas eram eleitas vitaliciamente, e tendo morrido a madre abadessa, as freiras, reunidas em capítulo, decidiram eleger uma simplória, para que o seu governo não fosse respeitado, e pudesse reinar dentro da clausura a desobediência. A escolha recaiu sobre Berengária, uma simples e pobre mulher. Logo na altura de prestar homenagem à nova abadessa, as demais freiras zombaram da sua autoridade. Berengária, com a autoridade que lhe havia sido conferida, clamou pelas sete abadessas mortas que a haviam precedido no cargo e, dos seus túmulos na igreja

se levantaram das tumbas para beijar a mão da nova superiora. As demais, contritas, seguiram o exemplo e aceitaram obedecer. Esta lenda tem, de facto, um fundo de verdade! Pensase que o Governo de D. Berengária terá coincidido com o período 1383-85, época em que forjava a independência nacional em D. João, mestre de Avis. E D. Berengária não teria sido uma freira qualquer e simplória. Teria vindo do Mosteiro de Entre-os-Rios como delegada da nova dinastia para impor a sua autoridade no Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde. Lembremonos que a grande maioria das freiras de Santa Clara eram fidalgas, cujas famílias tinham sido partidárias da infanta D. Beatriz, a pueril esposa do rei de Castela. Nesse sentido, a lenda da D. Berengária tinha, inclusivamente, um propósito político: a velha ordem, representada nas abadessas defuntas, veio legitimar o poder da nova ordem representada por D. Berengária e da dinastia de que era representante. Assim, a História assume um papel legitimador do poder e da política, e é em seu nome e por ela que os homens incomuns não se perdem da memória. A busca por estes lugares mágicos, quer sejam produção humana, da natureza ou do domínio da fantasia podem constituir excelentes percursos neste Verão.

BIBLIOGRAFIA

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ACONTECEU POR Cร ...

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FOTOGRAFIA DE MARCO SANTOS / Mテ誰ICA SOUSA


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TISTA / PRAIA DO SECA Mónica Sousa

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O MUNDO DE SURFSKI

TISTA / PRAIA DO SECA Marco Santos

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INVENTÁRIO DO ESPÓLIO DO MOSTEIR INVENTARIAR PARA PRESERVAR Parte IV

POR MÓNICA SOUSA E VALQUÍRIA COSTA Licenciadas em História-variante Arqueologia - FLUP

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RO DE SANTA CLARA

O Mosteiro de Santa Clara na sua caminhada histórica e religiosa, foi constituindo um património artístico de elevada qualidade e que sublinha a grandeza de outros tempos. Numa sociedade cada vez mais globalizada e dinâmica importa inventariar e preservar para se continuar a fazer memória do passado glorioso e fecundo. Continuamos a nossa caminhada de inventariar o espólio que pertenceu ao Mosteiro de Santa Clara, detentor de um considerável património de arte sacra que deve ser conservado e preservado permitindo aos vilacondenses conhecer, apreciar e valorizar ainda mais o seu património.

Imagem gentilmente cedida por D. Olinda Lopes da Cunha


VIRTUDES

Datação: Séc. XVII-XVIII Material: Esculturas de vulto redondo, em madeira dourada.. Estado de conservação: Razoável. Dimensões: Alt.53 cm; Larg. 22 cm Descrição: Esculturas de vulto redondo, em madeira dourada, monocromáticas. Todas apresentam as mesmas características escultóricas que nos remetem para um único artista. As quatro esculturas simbolizam as quatro virtudes: prudência, justiça, fortaleza e temperança. As esculturas são representadas esculpidas de pé, em posição frontal, com a cabeça ligeiramente virada para um dos lados, uma das pernas ligeiramente fletida e com ambos os pés visíveis e calçados com sandálias. Os braços são representados levantados ou fletidos, em posições muito teatrais (duas das esculturas apresentam a mão esquerda cortada). Estes movimentos dos membros inferiores e superiores

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quebram a rigidez da escultura, dandolhe harmonia. As expressões faciais são semelhantes, apresentando as quatro esculturas uma suavidade no olhar e a boca ligeiramente aberta. Os cabelos, levemente ondulados, estão apanhados atrás. Vestem longas túnicas, com cintura ligeiramente subida, marcada por uma faixa e mantos que caiem formando várias pregas assimétricas que dão movimento à escultura. As imagens lembram a teatralidade, mostrando em atitudes vivas os seus atributos, denunciando-se pelo movimento das vestes e poses. Esta teatralidade absorve-nos os sentidos. Estampa de 2003.




RELICÁRIO Datação: Meados séc. XVIII Estado de conservação: Razoável. Dimensões: Alt. 68 cm; Larg. 46 cm

Descrição: Relicário de meados do século XVIII, em estilo rococó. Apresenta uma moldura em talha dourada (fragmentada no topo) com um fundo pintado em vermelho e decorado com pequenos motivos vegetalistas dourados. A talha é trabalhada com concheados, rocalhas e motivos fitomórficos e vegetalistas e delimita todos os perfis do quadro, reflectindo com mestria o estilo próprio da época. Assemelham-se a ondas flutuantes que saem para fora dos remates superiores. O quadro está protegido por um vidro delimitado com uma moldura dupla, fina e reta. O fundo do quadro é em tecido vermelho e todo decorado em papel recortado dourado, formando vários elementos decorativos

vegetalistas. No centro do quadro um pedaço de cera ovalado e moldado representa o “Agnus Dei”, sendo ladeado por outros quatro pedaços de cera, também ovalados e trabalhados, representando outros motivos religiosos de difícil interpretação, mas de dimensões menores (o inferior apresenta-se ligeiramente fragmentado). O rococó caracteriza-se pelo uso de uma ornamentação mais delicada, refinada e fantasista do que o fausto do barroco. Busca inspiração nos elementos naturais como as conchas, rochas e ondas do mar, assumindo uma certa assimetria e formas orgânicas. Estampa de 2003.

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REPOSTEIRO

Datação: Séc. XVIII-XIX Estado de conservação: Razoável. Dimensões: Alt. 250 cm; Larg. 176 cm

Descrição: Reposteiro de forma retangular, em tecido de feltro de lã vermelho, com aplicações e bordados polícromos, de uso muito comum no século XIX. As aplicações são feitas com tecidos recortados de cor verde, amarela e branca que são aplicados ao feltro vermelho através de bordados de cor vermelha e branca. Estas aplicações e bordados representam motivos vegetalistas e florais que contornam todos os limites do reposteiro,

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formando uma moldura ou cercadura. No centro do reposteiro destacam-se as armas reais portuguesas: o escudo real encimado por coroa aberta, elaboradas na mesma técnica de aplicações de tecidos e bordados, destacando-se aqui as cores branca e azul. O forro do reposteiro é em tecido azul celeste. Bom estado de conservação. Estampa de 2003.




NICHO

Datação: Séc. XVII - XVIII Material: Madeira Estado de conservação: Bom. Dimensões: Alt. 182 cm; Larg. 117 cm

Descrição: Nicho em madeira com motivos florais, de estilo ecléctico, com arco polilobado, típico do estilo gótico e molduras típicas do barroco. O interior tem decorações contemporâneas em papel brilhante às riscas de cor verde e vermelho, sobre o qual está uma impressão em papel dourado do busto de S. João Bosco. Esta intervenção atual incluiu também a aplicação, no perfil inferior do nicho, de uma pequena

trave de madeira com seis lâmpadas. Estas alterações recentes provocam um grande contraste entre a peça original e o uso que lhe foi atribuído, desvalorizando a riqueza artística e histórica da peça. Estampa de 2003.

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QUADRO Datação: Séc. XVII - XVIII (?)

Estado de conservação: Mau.

Material: Pintura a óleo sobre tela

Dimensões: Alt. ?; Larg. 260 cm


Transcrição da legenda: “[…] SOROR C […] VAS […] AMADA / […] MATINAS HVA N […] A SOR […] N VA A […] DOV AT […] PU O TANGIA SNO AO TEDEVMLAVDAMVS E PARE SENDOLHE SER AMATINAS S[…] COM COSTVMADO ECHECA / […] SO ACNO VIONOMESMO […] / ES AMAGD DEV AEM M […] EM BONO […] SCOROSANGELICOS […]OQ SVC […] DEO NO ANNO DE […]

Descrição: Pintura a óleo sobre tela, sem moldura, que se localizava acima da porta da capela do 1º andar. Encontrava-se em mau estado de conservação, dificultando a sua interpretação e leitura da legenda que possui em dourado no limite inferior. O quadro é elaborado em dois registos. No registo superior encontrase a figuração da Santíssima Trindade. O fundo, com espaços laterais ocupados com nuvens escuras e querubins a tocar instrumentos musicais e a entoar cânticos, deixa antever a luz dourada na zona central que emana da pomba: Espírito Santo, no espaço central e superior. Abaixo da pomba encontra-se Deus Pai, com Cristo à sua direita com manto vermelho e cruz fina apoiada no seu ombro direito. No registo inferior são representadas freiras clarissas em oração. Usam hábito e manto pretos e véu branco. Estampa de 2003.

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Praça José Régio, 168 4480-718 Vila do Conde 252 645 983


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Diretor Alexandre Maia Editores Alexandre Maia - alexandre.maia@lexart.com.pt Hélder Guimarães - memorias@vilacondense.pt Grafismo Alexandre Maia Revisão Paula Miranda Colaboradores Textos Alexandre Maia Hélder Guimarães Mónica Sousa Valquíria Costa Abel Maia Fotografia AMVC - Arquivo Municipal de Vila do Conde Alexandre Maia Hélder Guimarães Mónica Sousa Valquíria Costa Dr. Flores Gomes Marco Santos António Maia Daniel Lima Paulo Marta Publicidade publicidade@vilacondense.pt Contactos 919 748 989 info@vilacondense.pt Apartado 170 4481-910 Vila do Conde Propriedade Alexandre Maia | Vilacondense - Roteiro Online Sede: IMANcowork Rua 5 de Outubro, 523 Vila do Conde ISSN 2182-8709 Leitores Média mensal de 370


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