Jornal Frente & Verso - Julho 2018 #000

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EDUCAÇÃO: O fechamento de escolas em todo Brasil faz parte de um projeto político e econômico com ligações internacionais e, não à toa, tem sido executado neste conturbado período histórico que vive o Brasil - PG 03

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CRÔNICA BUZIANA: Essa geração

CULTURA CANÁBICA: Se algum avanço existe é por iniciativa

se perdeu entre o velho, o novo e o

da sociedade, como a Marcha da Maconha e o enfrentamento

indecifrável. Para não dizer passa-

de pacientes que têm se socorrido no Judiciário - PG 07

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geiro - PG 04

NT E V E R SO

TODA A SUPERFÍCIE DO PAPEL

EDITORIAL: Acreditamos no poder do texto e das palavras, na prática da leitura como instrumento civilizatório, de desenvolvimento social e humano. Criamos

um jornal para ser absorvido para além do imediatis-

mo das redes e das manchetes da chamada grande mídia. Um espaço para a construção do pensamento

e do encontro de diferentes olhares sobre as grandes questões globais ou locais. O Frente e Verso é Búzios

no mundo e o mundo em Búzios. Uma conexão, um intercâmbio, um porto rico nesse pedaço de litoral da América do Sul - PG 02


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EDIÇÃO 00 – ANO 01 – JULHO 2018

EDITORIAL

Zarzuela

TODA A SUPERFÍCIE DO PAPEL Estamos na frente. Estamos no verso. Misturando linhas e imagens, notícias e ideias, informação e reflexão em Armação dos Búzios. Uma cidade é o registro da sua história, do seu tempo, da atualidade dos seus debates. Uma cidade é o que circula nas suas ruas e também no pensamento dos seus moradores e visitantes. Uma cidade é o que é e também o que se espera dela. É rascunho e arte final. Esboço e execução. É o que se cria todos os dias.

Temos o compromisso de distribuir notícia e opinião no espaço público, sem restrições, compreendendo a cidade como uma prática coletiva e constante. Queremos amplificar as vozes menos ouvidas, promover os encontros e fortalecer laços, queremos celebrar a diversidade e construir pontes, encontrar consensos sem temer dissensos. Queremos provocar e apontar saídas, compartilhar vivências e utopias. Trazer o que se vive, mas também o que se sonha.

Política, cultura, urbanidade, democracia, meio-ambiente, ciência, turismo, filosofia, direitos humanos, solidariedade, entretenimento, integração. O jornal Frente e Verso é uma iniciativa independente para oferecer conteúdos de qualidade aos leitores de Búzios e região, promovendo o acesso ao conhecimento, à formação crítica, intelectual e transformadora de toda a população.

Nossas cores são o preto e o branco, nossa escolha é a comunicação impressa, nosso ritmo é o necessário para a publicação do que importa. Nossa escrita é extensa, nossa forma é generosa, nosso convite é o de uma leitura dedicada e serena. Reunimos nessa missão pessoas e opiniões de diferentes lugares em Búzios. O Frente e Verso nasce de quem atua na área artística ou educacional, de quem está na iniciativa privada ou no terceiro setor, de pessoas e suas personalidades que, em comum, dividem a esperança de uma cidade mais viva, justa e igualitária.

Acreditamos no poder do texto e das palavras, na prática da leitura como instrumento civilizatório, de desenvolvimento social e humano. Criamos um jornal para ser absorvido para além do imediatismo das redes e das manchetes da chamada grande mídia. Um espaço para a construção do pensamento e do encontro de diferentes olhares sobre as grandes questões globais ou locais. O Frente e Verso é Búzios no mundo e o mundo em Búzios. Uma conexão, um intercâmbio, um porto rico nesse pedaço de litoral da América do Sul.

Deixamos a você nossas páginas e a experiência de um jornal que se veste por inteiro. Na frente. No verso. Em toda a superfície do papel.

EXPEDIENTE FRENTE E VERSO É UMA PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS. JORNALISTA RESPONSÁVEL: Artênius Daniel - Contra Regras (DRT/MG 08816JP) COLUNISTA: Alexandre Santini, Bento Ribeiro Dantas, Gustavo Guterman, Hamber Cannabico Carvalho, Leandro Araújo, Léa Gonçalves, Luisa Barbosa, Manolo Molinari, Pedro Campolina, Sandro Peixoto, Tiago Alves Ferreira, Tonio Carvalho. TIRAGEM: 3.000 PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Vinicius Lourenço Costa - Vico Design ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: Contra Regras Produção e Comunicação ENDEREÇO: Feira Livre Periurbana da Búzios, Praça da Ferradura, Centro, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000 FALE COM A FRENTE E VERSO: frenteverso@contraregras.com.br

“SEM MÚSICA, A VIDA É UMA VIAGEM ATRAVÉS DE UM DESERTO” PAT CONROY

LÉA GONÇALVES

Radialista, DJ e programadora musical

Mês de setembro chegando e com ele algumas novidades do mundo da música, está programado o lançamento do álbum do multiinstrumentista e dançarino Prince, intitulado: “Piano e microphone: 1983” as músicas foram gravadas em um estúdio em sua casa, Chanhassem, Minessota, EUA o formato é intimista e incluem canções que até hoje fazem sucesso: 17 days; Purple Rain; A Case Of You (Joni Mitchel) mesmo sendo famoso por odiar covers, esta música sempre fez parte dos seus shows; Mary Don’t You Weep - uma música rara do século 19 que na década de 60 e 70 foi gravada por James Brown e Aretha Franklin e também foi trilha sonora do filme do Spike Lee “Blakkklansman”; Strange Relationship; International Lover; Wednesday; Cold Coffee & Cocaine; Why The Butterfliesu

Este é um material que estava guardado em fita cassete em seu lendário “o cofre”. Uma tocada que flui igual da 1ª à 7ª música. Uma mistura improvisada de uns dos principais nomes do funk, soul e dance music… outra novidade fica por conta do formato CD + LP delux com fotos inéditas do artista e encarte escrito pelo engenheiro de Prince, Don Batt. Finalizando esta coluna: o jazzman John Coltrane lança duas músicas: “Untitled Original 11383” e “Untitled Original 11386”, duas composições inéditas recém-descobertas e incluídas em “Both Directions at Once: The Lost Album”, disco perdido do saxofonista que foi lançado em 29 de junho, 55 anos depois da gravação. Um verdadeiro e raro achado, um presente para os amantes do jazz. A coluna Zarzuela gostaria de saber quais são as dez melhores músicas de todos os tempos? lea.leadj@gmail.com

Teatro TONIO CARVALHO Autor, ator e diretor teatral

FUTURO, QUE FUTURO? Um espaço destinado a reflexões, informações, troca de ideias relacionadas às artes cênicas, é o que nos oferece a Editoria da revista “Frente e Verso”. A prática teatral acompanha a história da Humanidade desde sempre a partir de rituais primitivos que, ao longo dos séculos, foram se estruturando em culturas as mais diversas, tanto no Ocidente quanto no Oriente, permanecendo em constante transformação com formas e conteúdos os mais distintos. Um espectro muito amplo para uma pequena coluna. Entretanto, desde já nos perguntamos: uma coluna de ou sobre Teatro: para quê? Para quem? Com que propósito, com qual objetivo? São indagações entre nós, Editoria e muito especialmente com os nossos futuros leitores. Aceitamos ideias, sugestões, críticas, etc. Sendo assim, para este primeiro

número, abrimos o espaço cedido para afirmar, de minha parte, que terei a responsabilidade de assinar a coluna, que acredito no poder que o Teatro sempre exerceu, através da relação entre seus intérpretes e o público, o de ser fio condutor para a investigação do Homem enquanto ser reflexivo, pensante, sensível, imaginativo, político, em todos os tempos. O Teatro é e sempre foi o espaço onde desejos, imaginações, fantasias, utopias, e sentimentos os mais complexos e antagônicos se encontram. Entre tantos outros. Assim, podemos observar que a sua prática tem, como conteúdo intrínseco, um caráter pedagógico. Daí, a sua importância fundamental na formação de jovens - uma plateia futura tendo em vista a ação criadora da espécie humana para uma sociedade mais justa. Por aí pensamos em seguir...


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PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS

Guanabara

Educação

TUBARÕES À VISTA! LUISA BARBOSA

A MERCANTILIZAÇÃO DO ENSINO MÉDIO NO BRASIL fechadas 231 escolas públicas somente no Estado do Rio de Janeiro. Segundo denúncia feita pelo Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe-RJ) 95 mil matrículas deixaram de ser ofertadas em todo o estado. Por outro lado, cresce o número de jovens de 16 a 29 anos que não estudam nem trabalham. Entre 2012 e 2016 saltou de 4 para 6,3 milhões o número de jovens desempregados no país. De acordo com dados do IBGE, deste total, 19% dos homens não estudavam nem trabalhavam. Entre as mulheres o percentual é de 32,7%.

Professora doutora de filosofia e sociologia do C. M. Paulo Freire e do C. E. João de Oliveira Botas

Como nos lembra em prosa e poesia o dramaturgo e poeta alemão Bertold Bretch, “desconfiai do mais trivial, na aparência singelo”.

O francês Émile Durkheim (18581917), um dos maiores pensadores da modernidade, defendia a necessidade de uma educação laica e universal, gerida fundamentalmente pelo Estado. [i] Por ter a educação uma função coletiva, a fim de adaptar crianças e jovens ao meio social, o Estado deveria conduzi-la no sentido oposto aos interesses particulares que regem as vontades individuais ou comerciais. Com sua teoria funcionalista, [ii] Durkheim não estava interessado em mudanças ou convulsões sociais. Ao contrário. Acreditava que aquela prerrogativa era um dos elementos fundamentais para a garantia da harmonia social. O pensador francês não viu mas, de certa forma, previu que a educação poderia tornar-se uma mercadoria extremamente lucrativa, voltada a interesses de grupos econômicos. Não poderia, certamente, imaginar o tamanho e a força de tais grupos.

O fechamento de escolas em todo Brasil faz parte de um projeto político e econômico com ligações internacionais e, não à toa, tem sido executado neste conturbado período histórico que vive o Brasil. Aliado a tudo isso, e não por acaso, está a chamada Reforma do Ensino Médio (aprovada em 2017) que em sua Base Nacional Curricular Comum garante apenas português e matemática como disciplinas obrigatórias. Em maio deste ano, a Folha de São Paulo também publicou a intenção do Ministério da Educação em liberar até 40% do Ensino Médio para a função EAD.[iv]

A maior empresa privada do mundo no ramo da educação, a Kroton Educacional, tem mais 1,185 milhão de estudantes presenciais e 819.000 na modalidade Ensino a Distância (EAD). Está envolvida na distribuição (atacado e varejo), importação e exportação de livros didáticos e revistas. E quer ser ainda maior. Tenta, desde 2014, adquirir a rede Estácio, que atua no

ensino superior. A aquisição, no entanto, tem sido rejeitada pelo Cade, órgão antitruste brasileiro, que em sua avaliação considerou a operação como de risco à formação de monopólios e homogeneização da educação em patamares de qualidade mínimos, dada a sensibilidade deste mercado para a formação de mão de obra, conforme publicou a revista Valor Econômico. O negócio estava avaliado em 5,5 bilhões de reais. [iii] Mas o impedimento do Cade em relação a fusão das gigantes no ensino superior não se manteve no ensino médio. A empresa acaba de adquirir o grupo Somos (ex Abril Educação), líder no segmento da educação básica com escolas e editoras de material didático. Assim, o ensino básico passará a representar 28% do faturamento da Kroton, que já avisou estar apenas no começo de sua empreitada neste novo quinhão do mercado. Conta apenas com um pequeno problema: de 8 a cada 10 estudantes de ensino médio no Brasil estão na rede pública. Mas, ao que tudo indica, não por muito tempo. De acordo com os dados do Censo Escolar divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em 2017, entre 2010 e 2017 foram

Há tubarão de ensino no mar, isso é fato, mas como também nos lembra Brecht, “nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar”. Mudemos. i. Durkheim, Émile. Educação e Sociologia. SP; Melhoramentos, 1952 ii. O funcionalismo (do Latim fungere, ‘desempenhar’) é um ramo da antropologia e das ciências sociais que procura explicar aspectos da sociedade em termos de funções. iii. Publicação de 28/06/2017 Para ter acesso a ela acesse http://www.valor.com.br iv. Governo Temer quer liberar até 40% do ensino médio a distância https://www1. folha.uol.com.br/educacao

LEANDRO ARAÚJO

Jornalista

A GREVE, A RUA E A COPA A menos de um mês para a Copa do Mundo só se falava em outra coisa. A paralisação dos caminhoneiros proporcionou a muita gente alguns dias de folga compulsória. Onde deveria haver congestionamento, havia um fluxo tímido. Nos pontos de ônibus, alguns infelizes aguardavam mais que o normal para entrar em viaturas lotadas. Em certo cruzamento da rua Cachambi, velhos estabelecimentos abriram como sempre. Há muitos anos os comerciantes não viam tanto movimento àquela hora da manhã. No bar, um bebum fundamental garantiu ao colega de copo: “Tá cheio por causa da greve”. Uma antiga rua de paralelepípedos costumava ser o ponto de encontro da torcida canarinho do bairro, mas nos últimos anos não havia mais decoração de Copa do Mundo. A rua fora asfaltada para desafogar o trânsito da av. Suburbana. Naqueles dias de greve não houve tráfego. Um trabalhador de folga ficou à vontade para sentar-se no meio-fio. Relembrou as Copas da infância, os cachorros-quentes, os milhos cozidos que sobravam das festas juninas, as primeiras bicadinhas nas cervejas e quentões. Os blocos de carnaval fora de época em dia de vitória, meio samba, meio baião. Os dias que começavam cedo e acabavam tarde. Um vizinho, amigo da época de moleque, vinha subindo a ladeira pelo meio do asfalto: “Fala mestre! Tá vazio aqui”, disse. “Pois é” Apertaram as mãos. “Vem cá, tu sabe se a loja de tintas do Seu Néri ainda tá aberta?”.

O projeto Cidade Biblioteca é uma iniciativa sem fins lucrativos de promoção da cultura, da leitura e do acesso ao conhecimento em Búzios. Nosso sonho é que os livros estejam sempre ao alcance das mãos, seja na procura do ócio, na espera do café, do transporte público ou do pôr-do-sol. Os livros transformam o intelecto e a sensibilidade, fazem do mundo um lugar melhor. O Cidade Biblioteca promove ações como saraus, clubes de leitura, distribuição de livros pelos espaços públicos, bibliotecas itinerantes.

DOE SEU TEMPO. DOE SEU LIVRO @cidadebiblioteca cidadebiblioteca@gmail.com

SÁBADOS

SÁBADOS

1a QUARTA-FEIRA DO MÊS - 04/07

Feira Livre Periurbana de Búzio

Feira Livre Periurbana de Búzio

Praça Santos Dumont

11h às 12h

8h às 13h

19h às 21h


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EDIÇÃO 00 – ANO 01 – JULHO 2018

CRÔNICA BUZIANA SANDRO PEIXOTO

Empresário e jornalista

BÚZIOS COMO ELA É Reza a lenda que a aldeia de Armação dos Búzios é uma cidade cosmopolita afinal, aqui residem mais de 50 nacionalidades. Mais de um por nação, é claro. No caldeirão buziano, a etnia argentina é a mais expressiva. Seguidos de italianos, alemães e uruguaios. Esse número nos leva a crer que, essa miscelânea forjou em pouco mais de trinta anos - tempo em que a Aldeia se transformou no sexto destino turístico internacional do Brasil - uma sociedade mais aberta. É bom lembrar que antes de virar sinônimo de férias e lazer, o distrito de Cabo Frio era apenas um lugarejo igual a tantos do Brasil com praias paradisíacas e famílias de pescadores tradicionais. Antes da chegada dos turistas - nacionais ou de fora - a rotina da aldeia era casa, trabalho e igreja. Não havia livrarias, bancas de jornais ou sequer televisão, o rádio era a única forma de informação externa. Foi o Pastor Gentil, da Assembleia de Deus quem liberou a TV para suas ovelhas. Isso no final dos anos 70. A verdade é que com a chegada dos “de fora” o lugar mudou de maneira radical principalmente na questão econômica. O dinheiro deixou de vir do mar e começou a chegar na carteira dos cariocas e dos niteroienses que, antes da Ponte Rio/Niterói, eram os que mais vinham para a região.

Barcos de pesca deram espaço aos táxis marítimos Essa nova realidade moldou toda uma geração. Se os pais arriscavam suas vidas no “mar novo” seus filhos passaram a viver na sombra e água fresca dos ganhos dos turistas. Essa geração, no entanto, nem aprendeu os ofícios do mar nem sequer foram à escola. Não digo todos é claro! Sem a necessidade de se buscar peixe, quem era velho se aposentou e quem era novo foi para praia beber cerveja e fumar maconha. Essa geração se perdeu entre o velho, o novo e o indecifrável. Para não dizer passageiro. Sem tradição herdada e sem estudos, parte considerável da socie-

CIDADE

A VEZ DA CIDADE Ao iniciarmos esta coluna, não poderíamos deixar de, parabenizar a criação desse novo veículo de informação, além claro, de agradecer a abertura de espaço para o debate a cerca de um tema, tão relevante em nosso dia a dia, que é o urbanismo.

PEDRO CAMPOLINA Arquiteto

É de fundamental importância para construção (...), de um pensamento crítico em nossa sociedade que possamos discutir com liberdade as forças, vetores, e atividades, que a compõem e fazem da cidade uma grande zona de conflito, onde não raro, grupos dominantes tentam limitar o debate e impor seus interesses, onde o direito à cidade é negado, e a cidade é produzida apenas como fruto do mercado, cada vez mais segregada e excludente.

dade buziana foi alijada de qualquer discussão futura da cidade. Apenas e tão somente, aqueles que se meteram na política à época da emancipação tiveram vez, e voz. E mesmo assim, esses também já saíram do jogo. Não se prepararam para a nova realidade. Se acostumaram a vencer pedindo votos dos parentes e deram com os burros n’água com a nova realidade politica aonde a maioria dos votantes é imigrante. Sem a tradição do mar no curriculum, sem o dinheiro do turismo e dos aluguéis (afinal os filhos

Para compreendermos o acelerado processo de transformação que Búzios vem passando precisamos de uma visão holística e não saudosista. Podemos notar que o modelo político de planejamento e gestão implantados na cidade, tem se mostrado ineficiente e ultrapassado, principalmente por não incorporar ao sistema de planejamento, a participação da população, deixando escapar a oportunidade valiosa de fazê-la sentir-se corresponsável neste processo. Abordaremos temas fundamentais para a produção de uma cidade de qualidade, relacionando boas práticas de urbanismo, como arquitetura, habitação, meio ambiente, mobilidade, entre outros, discutiremos

dos pescadores casaram e tiveram outros filhos e a grana ficou pequena) e sem o poder politico os nativos perderam espaço na discussão sobre o futuro politico da cidade. Eis uma verdade que trago á tona sem nenhuma satisfação: não existe atualmente nenhuma discussão sobre o futuro da península com um nativo à mesa. Por preconceito, se afastaram dos “de fora” que hoje mandam na cidade. Voltemos a vaca fria e a fantasia da Búzios cosmopolita. A cidade pode ser considerada cosmopolita em apenas duas ruas. A saber: Rua das Pedras, Turíbio de Farias. Talvez ainda a Orla Bardot e adjacências. Fora disso, o que impera é o obscurantismo. O preconceito e a ignorância - também conhecida como simples falta de conhecimento específico. Eu, por exemplo, sou totalmente ignorante em pescaria em alto mar. O buziano contemporâneo é por consequência um ser primitivo. E isso não é uma ofensa nem uma sentença. Apenas uma constatação. Felizmente a nova geração (resultante da união entre nativos e imigrantes - do Brasil ou de alhures) tem todas a chances de mudar essa realidade. Findo o ciclo extrativista e da bonança dos alugueis, eis que a Era de Aquarius finalmente chegou com a educação. Hoje, os buzianos - nativos originais ou não - têm acesso a escola desde o ensino fundamental até a faculdade. Será essa nova geração que terá enfim a capacidade de transformar a velha aldeia de pescadores onde o peixe seco era a melhor iguaria numa cidade onde seja oferecida no jantar o tradicional Bonito Escalado e também sashimi de Dourado. Quando a multiculturalidade chegar à mesa, Búzios será enfim cosmopolita.

as dificuldades em produzir políticas públicas eficazes, capazes de fazer a cidade prosperar e alavancar sua vocação ambiental e turística. Trataremos também dos atributos que fazem de Búzios uma cidade especial, sua paisagem, sua escala humana, com construções de apenas dois pavimentos, o “estilo Búzios”, e o rigor da legislação edilícia, que limita a criação arquitetônica. Enfim, esperamos que esta discussão esteja ao alcance de todos, moradores, veranistas e turistas, com seus hábitos, costumes, e vivências, que de alguma forma colaboram para que a cidade seja uma grande construção coletiva.


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PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS

Política cultural

3) CULTURA VIVA. A Política Nacional de Cultura Viva, consolidada através da Lei 13.018/2014 e regulamentada entre 2015 e 2016, conta hoje com Pontos de Cultura nos 27 estados e em mais de 1.000 municípios brasileiros. É necessário garantir a utilização dos recursos disponíveis nos convênios vigentes com estados e municípios, garantir o pagamento dos editais já realizados, a publicação de novos editais e a plena aplicação do Termo de Compromisso Cultural e do reconhecimento dos Pontos de Cultura autodeclarados, instrumentos previstos e regulamentados na Lei Cultura Viva.

UMA AGENDA MÍNIMA PARA A CULTURA BRASILEIRA

ALEXANDRE SANTINI

Dramaturgo e gestor do Teatro Popular Oscar Niemeyer de Niterói A sociedade brasileira sofre as consequências de uma grave ruptura institucional. O golpe parlamentar promovido por uma espúria coalizão político-jurídico-midiática, revelou-se uma aventura inconsequente que gerou traumas profundos na recente experiência democrática brasileira. O Brasil está diante de um cenário de profundas incertezas quanto ao futuro. Quais estratégias devem ser adotadas para a continuidade das políticas públicas que obtiveram êxito e alcançaram o patamar de políticas de Estado no Brasil? Dirijo esta reflexão aos trabalhadores e trabalhadoras da cultura. O setor cultural tem sido abatido há décadas por sucessivas interrupções e descontinuidades das políticas públicas.

Na cultura, a instabilidade não começou em 2016, e, infelizmente, faz parte de uma “triste tradição” da cultura política brasileira. Neste sentido, sugiro abaixo alguns tópicos que poderiam constituir, neste momento de crise, uma agenda mínima para as políticas culturais no Brasil. 1) CONFERÊNCIA NACIONAL DE CULTURA-CNC. A convocação da IV Conferência Nacional de Cultura-CNC, de caráter ordinário, está atrasada em pelo menos um ano e meio, e a sua realização é condição básica para o funcionamento do Sistema Nacional de Cultura-SNC. A etapa nacional deverá ser precedida pelas Conferências municipais e estaduais, e

muitas delas já estão ocorrendo em cidades e estados brasileiros, apesar da ausência da convocação da etapa nacional e da paralisia no funcionamento do Conselho Nacional de Políticas Culturais-CNPC, que descumpre dispositivo constitucional consagrado nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal. 2) PLANO NACIONAL DE CULTURA-PNC. O PNC estabelece metas quantitativas e qualitativas para as políticas culturais no Brasil até 2020, frutos de intensos debates que contaram com ampla participação de gestores culturais dos três níveis da federação e dos mais diversos segmentos da sociedade civil. A plena observância às metas do PNC deve ser a bússola orientadora para qualquer ação de governos.

4) RECOMPOSIÇÃO ORÇAMENTÁRIA. A situação do MinC hoje é de quase falência, e o orçamento atualmente disponível não garante sequer a manutenção física da estrutura e das ações do ministério e suas entidades vinculadas. É urgente a recomposição do orçamento da pasta ao patamar mínimo de 1% do orçamento geral da União, em valores que permitam dar as condições básicas para a continuidade dos programas, projetos e ações do Ministério da Cultura. Evidentemente, esta é uma relação incompleta de temas prioritários para uma agenda mínima. As políticas para o audiovisual e para as artes são essenciais, e os segmentos relacionados a estes setores contam com uma sólida trajetória na construção e formulação de planos e diretrizes para suas respectivas áreas. Construir e defender uma agenda mínima para a cultura não se traduz em apoio, adesão ou mesmo reconhecimento de legitimidade a qualquer governo ou gestores de turno. Mas é necessário que o setor cultural retome imediatamente o debate sobre as políticas públicas para o setor em nível nacional, e que, para além da conjuntura, sejamos capazes de olhar para o horizonte, garantindo a manutenção das políticas de Estado, apropriando-se de décadas de construção coletiva e dando efetividade aos mecanismos existentes de controle e participação social.

Praça da Ferradura, Centro Armação dos Búzios Rio de Janeiro, Brasil SÁBADO DE 7H ÀS 15H Hortifrutigranjeiro, alimentação, DJ Léa, artesanato e livros QUINTA-FEIRA DE 19H ÀS 23H Alimentação, DJ Léa, música ao vivo e artesanato

@feiraperiurbanadebuzios


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EDIÇÃO 00 – ANO 01 – JULHO 2018

Cinema

DE HISTÓRIA, CINEMA E OUTRAS COISAS

GRAND CINE BARDOT Quinta-feira às 21h Sexta-feira às 21h Sábado e domingo às 19h e 21h Valor: R$ 30,00 @grancinebardot.buzios

CINE CLUB GRAND CINE BARDOT Sexta-feira às 19h 06, 13, 20, e 27 de julho Valor: R$ 10,00 @segundas.projecoes

CINECLUBINHO CINE KIDS CASAS BRANCAS Domingo às 17h 01 e 15 de julho Valor: R$ 5,00

Travessa dos Pescadores, nº 88, Centro, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000

LIVROS

TIAGO ALVES FERREIRA Produtor cultural

Da poesia Autora: Hilda Hilst Editora: Companhia das Letras Pág.: 584 A intensa e prolífica atividade literária de Hilda Hilst se desdobrou em livros de ficção e em peças de teatro, mas foi na poesia que ela deu início à sua

Nesta modernidade da comunicação que a gente vive, o cinema tem mudado bastante as suas características e os filmes se assistem em casa, no sofá familiar, comendo batatas fritas, no meio do barulho, telefones tocando e cachorros latindo. Temos Netflix e outras redes que nos oferecem seriados de todo tipo, baixamos filmes, paramos e recomeçamos mais tarde, gravamos e assistimos em outro momento, e por aí vai. Mas me pergunto, é isso que é cinema? É essa a ideia dos produtores, diretores, roteiristas e de todo aquele mundaréu que investe tanto tempo, às vezes anos inteiros, na realização dum filme? Eu responderia que não. Cinema, para mim, continua sendo numa sala escura, fechada, silêncio total, sem comida nem bebida, todos atentos e com os olhos fixos na telona. Um ritual para o qual a gente se prepara com alguma antecedência. Um momento de encontro a compartilhar com outras pessoas que, na maioria das vezes, não conhecemos, mas com quem mostramos um interesse comum. E que também envolve divertimento, lógico, que ninguém é de ferro! Em definitiva, um PROGRAMÃO, assim, com maiúsculas. E de quebra, imperdível e enriquecedor! Quantas vezes andamos pelas ruas de Istambul, pelas estradas da Inglaterra, pelas praias do México naquelas imagens inesquecíveis, quem não esteve alguma vez em Paris ou Washington vibrando desde a poltrona? O cinema nos aproxima a outras culturas assim como também às diversidades. Quando vim morar em Búzios o deslumbre da descoberta dissimulava a carência dum filme. Dava até a impressão que você mesmo era o principal protagonista de cenas maravilhosas em cenários deslumbrantes. Naquela época quase ninguém tinha TV, e quem tinha só pegava um ou

carreira. Ao longo de 45 anos, entre 1950 e 1995, a poeta publicou em pequenas tiragens graças ao entusiasmo de editoras independentes. Agora, a Companhia das Letras reúne, pela primeira vez, toda a lavra poética da autora de Bufólicas em um só livro, que inclui, além de mais de 20 títulos, uma seção de inéditos e fortuna crítica. A poesia de Hilda - que ganha forma em cantigas, baladas, sonetos e poemas de verso livre - explora a morte, a solidão, o amor erótico, a loucura e o misticismo. Ao fundir o sagrado e o profano, a poeta se firmou como uma das vozes mais transgressoras da literatura brasileira do século XX.

dois canais. Algumas pousadas, como Casas Brancas, tinham uma pequena sala com arquibancadas de alvenaria e almofadas espalhadas e lembro de ter assistido alguma vez a um jogo ou filme. Algum tempo depois a garagem da Pousada dos Hibiscus virou cinema, com ingresso pela praia dos Ossos, por iniciativa de Bernard Castejá, filho do dono. Cadeiras iam se acrescentando na medida em que o público chegava e a tela era daquelas de enrolar. Alguns finais de semana ele projetava filmes antigos, desenhos de animação e as célebres “sessões bandeja” em que no meio do filme de suspense, na hora agá, ele arremessava uma bandeja de latão no chão, provocando um grito de espanto geral, assim como um pulo generalizado. Bem divertidas aquelas sessões! Todo mundo viajando... na maionese! Éramos vários os que nos interessávamos por cinema e, saudosos, tentávamos reviver as cenas marcantes, os diretores, os atores preferidos, pelo seu talento ou a sua beleza, e assim, passávamos horas rememorando Bergman, Fellini, Visconti, Truffaut, Kubrick, o novo cinema americano. Com amigos do peito, como Mario Paz, com quem compartilhávamos uma longa trajetória de vida e de cinema, lembrávamos sempre da sala na qual tínhamos assistido a tal ou qual filme, como quem lembra de um espaço transcendental, e o nome do cinema adquiria um lugar nobre nos créditos do filme, logo depois do título e do diretor. Claro, “Um homem e uma mulher” assistimos no Imperial, não foi?” Aqueles templos escuros eram um mergulho nas profundidades de nossas fantasias no melhor estilo freudiano, o sonho dentro do sonho. Na saída, demorávamos um bom tempo em dirigir-nos a palavra, às vezes várias quadras do caminho

1 Drible, 2 Dribles, 3 Dribles - Manual do Pequeno Craque Cidadão Autor: Marcelo Rubens Paiva Ilustrador: Jimmy Leroy Editora: Companhia Das Letrinhas Pág.: 112 Drible não é lá uma palavra muito fácil de se dizer, já a sua execução, pra quem consegue, traz uma sensação muito boa. Joca que o diga: era o maior craque da sua cidade. Mas, quando seu pai é promovido e tem de mudar de cidade com a família, o menino perde seu posto. Para reconquistar a fama, ele vai passar por muitos desafios.

MANOLO MOLINARI

Historiador Rosarino Buziano

de volta, tal vez porque custava voltar à realidade. Nos tempos idos sala de cinema era boa até para namorar, sempre tinha algum casal apertadinho na última fileira que não estava nem aí para o que acontecia na tela ou então encontrava inspiração nas beijocas apaixonadas que trocavam os heróis da película. Mas agora, e ainda bem, a censura “social” ficou para atrás e já ninguém precisa do “escurinho do cinema” para largar as suas paixões nem de Greta Garbo como fonte de alento. Como Cabo Frio só tinha uma sala e era voltada só para o pornô – exibia ano após ano, invariavelmente “Sem vaselina”- a opção era ir ao Rio, às vezes só pelo dia, para assistir um filme que, dito seja, nem sempre era bom! Com o passar do tempo, graças a uma oportunidade longamente procurada e a inquebrantável vontade do Mario, Búzios teve finalmente seu cinema, o Grande Cinema Bardot, que abriu suas portas numa sessão altamente emotiva, com “Manhattan” de Woody Allen e Gershwin estourando os ouvidos e provocando o choro de quem teve a sorte de viver o momento. A sala estava uma joia, tudo brilhando de novinho, e, como o dinheiro tinha ficado curto na reta final, todos os amigos do dono e fãs de cinema contribuímos na compra das poltronas que ainda hoje levam nossos nomes. No dia seguinte começava o primeiro festival de cinema de Búzios, organizado pelo mesmo pessoal que dirige o festival do Rio, com (sob) o slogan CINEMA É NOSSA PRAIA. Uma festa em todos os sentidos que ainda ocupa o primeiro lugar no calendário cultural da cidade e chega nesse ano à 24a edição. Desde então os formatos e os sistemas de projeção têm se transformado várias vezes, e já não é mais preciso ir até a Rodoviária da 1001 para pegar as latas com o filme. Mas a qualidade na escolha dos títulos exibidos nos fins de semana continua sendo a mesma.

Léxico familiar Autora: Natalia Ginzbur Tradução: Homero Freitas de Andrade Editora: Companhia das Letra Pág.: 256 “Neste livro, lugares, fatos e pessoas são reais. Não inventei nada”. Na Europa dos anos 1930, inúmeras famílias foram obrigadas a deixar seu lar. É nesse cenário que se inscrevem as memórias de Ginzburg. Nelas, o vocabulário afetivo de um clã de judeus antifascistas se contrapõe a um mundo atravessado pelo autoritarismo. Trata-se de uma história de resistência.


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PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS

Cultura Canábica

HAMBER CANNABICO CARVALHO Ativista da maconha medicinal

terno e gravata e jogando na vala quem continuará sempre pobre e servil, oferecendo suas vidas em troca de trabalho, aos patrões do asfalto que se refestelam com dinheiro sujo, protegidos pelo sistema. Comparando com a pequena agricultura brasileira que é quem coloca comida em nossas mesas, quem se lasca é quem produz e comercializa e quem enriquece é o atravessador. Quando eu era moleque, no interior do Rj, tinha um tio que era criador de curió e que tinha por hábito dar sementes de maconha para seus passarinhos para mantê-los saudáveis e afinar o canto, adquiridas de um vizinho que produzia sementes para as lojas de rações.

VAI UM BASEADO AÊ? Fico impressionado de ver a galera que gosta de dar um 2 nas ruas, praças e logradouros públicos de Búzios cantando a maior marra de que a maconha tem quer ser liberada, mas não questiona a origem de seu prensado. Botam o dinheiro pra comprar o bagulho sem pena e sem dó, fingindo que a parada é da boa e não traz consigo a violência, a criminalidade e a morte de inocentes embutidos em seu lazer e prazer. Pagam o preço do “estica”, pois se acovardam em comprar na boca pra não tomar um sacode. Se submetem a polícia corrupta que pede um arrego pra não levar pra delegacia, por conta de um baseadinho.

Por outro lado, os policiais que cumprem seu dever, sabem que o procedimento padrão irá desmobilizar uma guarnição completa por mais de 3 horas, pelo menos aqui em Búzios, deixando setores da cidade desguarnecidos em virtude da burocracia imposta pelo estado e que o usuário será liberado algumas horas depois para responder em liberdade. Seguem o protocolo e ainda serão esculachados pelo usuário no mesmo dia, com aquele indefectível sorriso de deboche: Viu? Não deu em nada!!! Fico tentando entender essa lógica capitalista e de mercado que incentivamos, em troca de prazer, enriquecendo quem banca o tráfico de

Shopping Aldeia da Praia, Avenida José Bento Ribeiro Dantas, nº 5350, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000 Fone: (22) 98111-7510

Certa vez ele me levou para comprar e a galera estava curtindo o maior churrasco no quintal e dando um 2, sem a menor preocupação. Lembro perfeitamente quando meu tio perguntou quem estava fazendo aniversário e o dono do quintal falou: Tem aniversário não, esta semana um senhor da capital chegou aqui me oferecendo um dinheirão pela plantação. Vendi tudo e ele ficou de pegar mais na próxima colheita. E as sementes você vai ter? E o cara respondeu: só pra plantar, pois o cara quer o pé inteiro com raiz e tudo. Sinceramente não acredito que o uso recreativo será liberado pelos Ministros do STF ou por iniciativa do Congresso ou do Governo Federal, pois o que está na pauta não é a questão da moralidade, da nossa cultura, do proibicionismo, da saúde pública ou do tráfico, o buraco é mais embaixo. O que está em jogo é o agronegócio comandado pelos Estados Unidos e Europa, nas férteis e promissoras terras brasileiras, onde o cultivo da maconha se estende por todo ano, ao contrário deles que tem que apelar para o caríssimo cultivo indoor, devido às condições climáticas.

ZANINE

O próprio cultivo para uso medicinal, vem sendo bombardeado incessantemente pelo monopólio da indústria farmacêutica estrangeira, com a complacência do Ministério da Saúde e da ANVISA e se não fossem as iniciativas de pacientes, junto ao judiciário de 1ª instância, ainda estariam submetidos a pagar R$ 2.800,00 por um remédio importado para aliviar o sofrimento de quem precisa. Nem viajando na fumaça dá pra entender: A ANVISA reconhece a planta como medicinal, mas nos obriga a importar o medicamento à base de maconha, cuja plantação ainda que para fins medicinais e cultivada individualmente, ainda é proibida no país. Meu sentimento é de que o sistema não vai se posicionar tão cedo nestas duas vertentes, recreativa e medicinal, simplesmente por conta da ausência de uma estratégia política e de mercado. Falta coragem. Se algum avanço existe é por iniciativa da sociedade, como a Marcha da Maconha e o enfrentamento de pacientes que têm se socorrido no Judiciário. A iniciativa para mudar esta realidade tem que partir do seio da sociedade, onde cada usuário, recreativo e medicinal, coloque sua cara a tapa, cultive sua própria planta e autodiscipline seu uso, fugindo assim da dependência do tráfico e do despreparo do poder de polícia do Estado. O hábito, somado à jurisprudência consolidada e as informações técnicas e sociais que o país possui através das entidades de pesquisa, já podem servir de arcabouço para elaboração de normas consuetudinárias, fonte do direito brasileiro. A solução vem das ruas, da pirâmide social que vivemos, pois de cima, o bagulho já vem malhado.

06 a 29 de julho exposição Inspira Búzios Circuito das Artes

FUNCIONAMENTO: SEGUNDA-FEIRA A SEXTA-FEIRA DE 9H ÀS 18H, SÁBADO, DOMINGO E FERIADO 11H ÀS 18H @nucleodedancaodiliacuiabano

Estrada da Usina (ao lado da Prefeitura), Centro, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000 - Fone: (22) 2623-6502


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EDIÇÃO 00 – ANO 01 – JULHO 2018

Roda Cultural do C.U.B. Coletivo Urbano Buziano Batalha do Quilombo DATA: 9 e 23 de julho, segunda-feira

CircoLo Social

HORA: 18h às 22h LOCAL: Praça Velha da Rasa

Educar e transformar

@coletivourbanobuziano

Memória Buziana

Os modernos mini dicionários, tem como finalidade as consultas rápidas, normalmente só indicam as definições de uso corrente. Assim temos para a palavra - armação - no mini Houaiss: “estrutura de sustentação, situação montada, golpe.” No mini Aurélio: “ato ou efeito de armar, peça ou conjunto de peças que servem para sustentar, revestir, fixar, reforçar, unir, as várias partes de um todo. Conjunto de armários, balcões duma loja.” No vocabulário do futebol também usamos, o meia armador, aquele que faz a armação das jogadas. Como vemos, o uso atual e corriqueiro da palavra - armação - nada tem a ver com o nome da nossa cidade. No entanto devemos nos lembrar que o nome do lugar onde está situado o nosso município foi atribuído em 1750; Armação das Baleias de Búzios. Devemos portanto, procurar nos dicionários mais antigos os significados do vocábulo - armação - para encontrar as origens do nome da cidade. Antonio Moraes e Silva de 1813: “A ação e o trabalho de armar navios para navegação mercantil ou de guerra. Pescaria, são as redes, caniçadas e o mais que se arma para pescar.” Frei Domingos Vieira de 1873: “Apresto, aparelhamento das embarcações, em pesca, é a disposição das redes e mais aparelhos para apanhar o peixe.”

@SocialCircoLo

Gastronomia

ORIGENS DA ARMAÇÃO DOS BÚZIOS Armação dos Búzios, um nome incomum para uma cidade. Apesar de ser um nome que contenha seu significado, ele não está claro, como por exemplo um nome de santo; S. Paulo, de um lugar; Rio de Janeiro, ou em honra de uma pessoa; Petrópolis. A palavra - armação - tem hoje, em seu uso diário, um sentido muito diferente do que o mesmo termo definia no passado. Mesmo entre os habitantes do lugar, criou-se uma certa confusão sobre o seu real significado. Para dirimir qualquer dúvida, vamos nos socorrer dos bons dicionaristas.

Estrada da Usina Velha, nº 179, Centro, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000

BENTO RIBEIRO DANTAS

Escritor

Candido de Figueiredo de 1899: “Equipamento de navios, petrechos de pesca.” Acresce ainda que devemos nos lembrar, que no passado as baleias eram classificadas como peixes. Só no grande e moderno Aurélio de 2004 vamos encontrar, entre os muitos significados da palavra: “local onde se aparelhavam ou aprestavam navios para a pesca da baleia. As armações foram comuns nos litorais baianos, fluminense e catarinense.” A outra parte do nome de nossa cidade também é alvo de confusão e desconhecimento. O Buzio é a concha de um molusco gastrópode encontrado em toda nossa costa, do nordeste a S. Paulo, bastante grande, de 35 a 40 cms. No passado usado pelos pescadores como megafone para ampliar a voz. A confusão se dá com o Buzo, também uma concha de molusco, mas muito menor. Os buzos são muito mais conhecidos e comumente utilizados em jogos populares, e em jogos de adivinhação. No livro da historiadora Myrian Ellis, “As Feitorias Baleeiras do Brasil Meridional”, encontramos vários sítios da costa brasileira, que no século XVIII usavam a designação de Armação, tinham a mesma finalidade e o mesmo uso. Por exemplo: a Armação de S. Domingos, em Niteroy, a Armação da ilha da Gipoia, na baía de Angra dos Reis, Armação de S. Sebastião, na ilha do mesmo nome. No litoral de Sta. Catarina, elas foram mais numerosas, ainda encontramos locais denominados Praia da Armação e ponta da Armação. Portanto, a nossa “Armação” de origem, era um local onde se preparavam e equipavam os barcos para caçar baleias. O acréscimo “dos Búzios”, certamente por serem os mesmos facilmente encontrados no local, identificava sua localização geográfica.

SOBERANIA ALIMENTAR E O PODER DA GASTRONOMIA Ao abrir um restaurante ou simplesmente fazer compras para sua família, uma pessoa tem a possibilidade de escolher, através do seu poder de compra, quem será beneficiado. Este é um dos reflexos da (re)evolução do ato de cozinhar. Finalmente estamos pensando sobre nossas atitudes cotidianas e nas suas consequências. Ponderar como o ato de adquirir uma alface (ao escolher a barraca de um feirante local) pode ou não espelhar na economia da sua região, demonstrando não somente esta nova realidade apresentada, como também nos fazendo perceber que as nossas atitudes têm o poder da mudança. Foi em 1996 que o movimento internacional de agricultores, A Via Campesina, pela primeira vez apresentou o conceito da soberania alimentar como sendo “o direito de cada nação a manter e desenvolver os seus alimentos, tendo em conta a diversidade cultural e produtiva”. Em resumo, ter soberania plena para decidir o que se cultiva e o que se come. Porém, não se pode dizer que hoje as sociedades possuam sua soberania alimentar. Para pessoas de baixo poder aquisitivo, por exemplo, a comida sem aditivos químicos ou agrotóxicos, é cara e, por tal, de difícil acesso nos grandes centros urbanos. Se então não houver uma relação de responsabilidade daqueles que trabalham pela e com a Gastronomia, em lutar pelo direito à comida de verdade e ela ser possível para todos, estaremos fadados a nos tornar cozinheiras e cozinheiros com status de “bobos da corte”, com a única e exclusiva função de repetir receitas para agradar a alguns poucos endinheirados que nos tomam como peças decorativas. O direito humano à alimentação adequada está contemplado no artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos

GUSTAVO GUTERMAN

Professor do curso de Gastronomia do Instituto Federal Fluminense de Cabo Frio

Humanos de 1948. Tal direito consiste no acesso físico e econômico de todas as pessoas aos alimentos e aos recursos, como emprego ou terra, para garantir esse acesso de modo contínuo. Ao afirmar que a alimentação deve ser adequada entende-se que ela seja adequada ao contexto e às condições culturais, sociais, econômicas, climáticas e ecológicas de cada pessoa, etnia, cultura ou grupo social. Pensando nesta relação da comida, fazem-se cada vez mais necessárias as discussões políticas e sociais, estruturadas na sustentabilidade da cultura alimentar. Entretanto, não se iludam, pois há discursos vazios, puramente publicitários, advindos de alguns profissionais e empresas, que em se valendo do amadurecimento da cozinha profissional brasileira, propagam responsabilidade social sem planejamento ou continuidade produtiva. Não há mais tempo nem espaço para políticos, empresas e pessoas ignorarem os impactos das suas escolhas. Além de aproximar o campo da cidade, essa relação pode tornar a população mais informada sobre meios de produção e manejos indevidos de defensivos agrícolas, caso eles ocorram. Este processo de conscientização e parceria é algo que deve ser construído com alicerces promovidos por instituições de ensino de gastronomia e programas de políticas públicas condizentes. Estas políticas começam com a demanda de uma sociedade e dela, além das necessidades apresentadas, muitas vezes encontramos soluções que envolvem medidas simples e em geral coletivas. Além de alterarem profundamente a relação da sociedade com a comida, promovem a manutenção e cuidado com os espaços públicos, demonstrando enfim a importância da gastronomia como uma ferramenta social.


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