P U B LI CAÇÃO PO L ÍT ICO - CU LTU R A L, GAS TR O N Ô M I CA E L I TE R Á R I A DE AR M AÇ ÃO DO S B Ú Z I O S
TEATRO (DO) ABSURDO: Congelados em 2019, sem perspectivas de aborto futuro e em movimento oposto às sociedades socialmente mais avançadas,
JANEI RO 2019
chegou-nos a informação de que um grupo de atores da governança pátria, destituídos de
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talento, conseguiu regredir 50 anos. - PG 05
COLAGEM CINEMATOGRÁFICA: Vamos dar uma melhorada nesse primeiro dia do ano, que já vai a caminho de ser chato e preocupante. Às 19 horas da tarde, com ou sem ressaca, vamos nos juntar para abraçar o Cinema Bardot. - PG 14
ESPECIAL DE FIM DE ANO CULTURA POLÍTICA: A platéia lotada já esperava impaciente o início do espetáculo. Tim Maia dá mais um de seus esporros no técnico de som pedindo mais grave, mais agudo, mais retorno, mais tudo! As luzes se apagam, toca o terceiro sinal e se acendem as luzes da ribalta. Abra suas asas, solte suas feras, o show vai começar! Feliz 2019! - PG 13
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EDIÇÃO 006 – ANO 01 – JANEIRO 2019
EDITORIAL
traços & troços MATTIAS
Chargista
PRA FRENTE, COM MAIS VERSOS O ano de 2018, que está virando 2019, virou o ano do nascimento do Frente e Verso. O marco zero desta iniciativa, alimentada pela busca da reflexão e do pensamento crítico em um momento de perigosos reducionismos discursivos e civilizatórios no Brasil e, talvez, pelo mundo. A trilha dos acontecimentos do ano velho mostra que, no ano novo, o exercício da publicação de ideias, do encontro de diferentes olhares, da escrita extensiva e responsável será não apenas um contraponto interessante mas, de fato, necessário ao novo estabilishment da boçalidade. Vamos para frente com este espaço, com cada vez mais versos. Fica o agradecimento reiterado a quem embarcou e remou junto nessa largada, em especial os colunistas que abraçaram o projeto e depositaram aqui os seus melhores parágrafos. Pessoas inquietas e totalmente fundamentais para a cidade de Búzios na sua atual cena de agitação como Hamber, Sandro e Luisa, aos quais se juntaram muito mais gente para o recheio das páginas. Com isso, o Frente e Verso tornou-se uma realidade, apoiada agora pelo time dos seus primeiros assinantes e por todos que, mensalmente dedicam seus valiosos minutos para levá-lo ao colo. Nosso compromisso é ampliar os conteúdos e possibilidades do jornal, daqui em diante, a partir das expectativas de quem o escreve e de quem o lê. Inclusive, nesta edição já estreamos uma nova coluna voltada a poemas de poetas buzianos, com a métrica de Dudu Pererê lubrificando o entre das coisas. Aceitamos sugestões para engrossar e enriquecer esse espaço nas próximas publicações porque, afinal de contas, o que os déspotas não aguentam mesmo é poesia. Parece que vamos precisar. Também ingressamos na campanha pelo Teatro Municipal/Centro Cultural Multiuso em Búzios, promovendo a petição que já está circulando nas redes e que pode ter um impacto vivificador para os artistas e o público local em um momento de resistência desse setor. Vale lembrar que, em 2019, o Brasil passa a lidar com a extinção do Ministério da Cultura e com entraves
acentuados para a universalização do acesso à arte e à diversidade. Búzios, nesse contexto, sofre também seriamente com a possibilidade de apagamento do Gran Cine Bardot, principal e mais antigo projeto audiovisual da Região dos Lagos, que chegou a interromper a sua programação regular de quinta a domingo no mês de dezembro. Se o Bardot fechar as portas, o município perde não apenas a possibilidade de formação cultural e complemento educacional para a população de todas as idades, mas também um patrimônio imaterial que já faz parte da história da nossa cidade e deveria ser protegido como tal por razão de interesse público. A bem dizer, nossa cidade carece de uma política bem mais estruturante na área cultural, que dê conta das demandas da juventude local, dos turistas, trabalhadores, das comunidades tradicionais, das manifestações populares que estão aqui e fazem viver a nossa identidade. Re-existimos, como bradou nosso colunista Tonio Carvalho, com os espetáculos de fim de ano “Entre Poesias e Castanholas” do Núcleo de Dança Odília Cuiabano e “Jornada” do CircoLo Social, as rodas de rima do CUB, saraus de poesia do AmArte Búzios, as ações de estímulo ao livro e à leitura do Cidade Biblioteca e tantas outras manifestações de resistência cultural da cidade. O Frente e Verso esteve presente. Profetizamos inclusive, em edição anterior, a vitória do nosso parceiro Theo Fresia, agora campeão brasileiro de surf e que já está montando a sua escola muito antes do que previmos. Nossa gente surpreende na sua capacidade de re-existir. Da nossa parte, continuaremos contribuindo com os nossos versos e prosas. Que o ano novo possa reedificar as nossas forças para a defesa da cultura, da pluralidade, das liberdades, da democracia, dos direitos humanos, das nossas formas diversas de expressão. Desejamos a melhor das viradas para todas as amizades e parcerias. E que, no final das contas desse enredo torturoso, a grande virada ainda seja a nossa. Feliz 2019.
Verso em frente DUDU PERERÊ
Poeta
POR QUÊ O POEMA? A gente tenta dizer e cai na retórica A gente tenta alcançar e ultrapassa a Coisa A gente tenta dividir para classificar A gente tenta entender e fica aquém da Coisa. No meio das coisas há o Entre O Entre é fundamental para o bom funcionamento das coisas. Aí é que entra o lance da Poesia : Para lubrificar o Entre das Coisas
EXPEDIENTE FRENTE E VERSO É UMA PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS. JORNALISTA RESPONSÁVEL: Artênius Daniel - Contra Regras (DRT/MG 08816JP) COLUNISTAS: Alberto Bloch, Alexandre Santini, Bento Ribeiro Dantas, Dudu Pererê, Gessiane Nazario, Gustavo Guterman, Hamber Cannabico Carvalho, Hélio Coelho, Leandro Araújo, Léa Gonçalves, Luisa Barbosa, Manolo Molinari, Maria Fernanda Quintela, Pedro Campolina, Sandro Peixoto, Sheila Saidon, Tiago Alves Ferreira, Tonio Carvalho. CHARGE: Mattias. REVISÃO: Maria Cristina Pimentel TIRAGEM: 3.000 – Distribuição gratuita PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Vinicius Lourenço Costa - Vico Design ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: Contra Regras Produção e Comunicação ENDEREÇO: Feira Livre Periurbana de Búzios, Praça da Ferradura, Centro, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000 FALE COM A FRENTE E VERSO: frenteverso@contraregras.com.br
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PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
Educação
OVO DE SERPENTE
“- Vosso nome senhor, francamente. - Francamente, meu nome é Cina. - Despedaçai-o! É conspirador! - Eu sou o poeta Cina! Eu sou o poeta Cina! - Despedaçai por causa dos seus maus versos. - Não sou o conspirador Cina! - Pouco importa; tem o nome de Cina. Tiremos-lhe do coração apenas o nome e deixemo-lo ir. - Despedacemo-lo! Despedacemo-lo! Fogo! Tições!” Júlio César, Willian Shakespeare, Ato III, Cena III
Foi um ano de muito aperreio, amargura. Já começou com desespero. Mas virou potência. Ver tanta gente boa junta, descumprindo a ordem de fechar escola, dizendo não, valeu até a pena. O Ensino Médio em Búzios não acabou. Tem curso noturno no Colégio Municipal Paulo Freire e no INEFI. Tem Intervalo Poético no Botas. Tem Sarau na Praça toda segunda-feira. Tem gente iluminando a escuridão. Tem gente. Durante a ocupação pacífica dos estudantes contra o encerramento progressivo do Ensino Médio municipal, em janeiro de 2018, foram muitas as demonstrações de solidariedade e apoio, de coletivos e diferentes grupos da cidade. Foi professor promovendo aulão preparatório para o ENEM, roda de rap do CUB, circo, teatro, dança, anarco-funk, sarau, educação ambiental. Toda essa gente que fez a escola brilhar, também mostrou a necessidade de melhorar essa instituição. Torná-la um espaço lúdico, por ser do pensar. Agradável, por ser do saber. Mostrou que devemos nos envergonhar do índice de 60% de jovens em idade escolar fora da escola e pensar que o problema não é individual, de um aluno que não quer estudar, mas coletivo.[i]A
evasão em Búzios é muito superior à do sudeste (37%) e mesmo a nacional (45%). Por isso é preciso saber que o problema do abandono escolar é de todos nós: desde o comerciante que exige de um jovem estudante uma jornada incompatível com o horário da escola (não seria o caso de mudar o horário escolar, considerando o perfil de uma cidade turística como a nossa?); até o diretor, que insiste em um modelo de colégio inadequado à realidade (não seria o caso de garantir o cumprimento da Lei de Diretrizes e Bases e realizar eleição para diretor?). A vida real é um aprendizado contínuo e a história mostra que se permanecemos sempre parados, no mesmo lugar, morremos. Terminamos o ano letivo vivos, com o coração cheio, e a sensação de dever cumprido. Mas até o momento não sabemos quantas vagas serão ofertadas nos Colégios de Ensino Médio do município e o período de matrícula – de 22 a 25 de janeiro – é extremamente curto. Incompatível com uma cidade que amarga os mais altos índices de evasão. A matrícula no C.M. Paulo Freire ainda tem um vício de origem, que é a chamada “classificação”, uma espécie de seleção dos melhores alunos do Ensino Fundamental II. Ora, numa situação
LUISA BARBOSA
Professora doutora de filosofia e sociologia do C. M. Paulo Freire e do C. E. João de Oliveira Botas
de escassez de vagas, a classificação poderia até ser um critério defendido por alguns. Mas numa condição de abundância, não. Classificar por que, se sobram vagas nos turnos da tarde e da noite? Por que superlotar o turno da manhã? No Segundo Ato da Tragédia “Júlio César”, de William Shakespeare, Brutus considera o ditador romano como um “ovo de serpente” que, se chocado, cresceria malevolamente. Por isso era urgente matá-lo ainda na casca. No Terceiro Ato da mesma peça, após o assassinato de César, o poeta Cina[ii]é confundido com o conspirador Lucius Cinna e é também brutalmente assassinado pela multidão.
a juventude, é crime contra a cidade e as gerações futuras. É ovo de serpente. Cada um deve estudar na escola que preferir e a escola precisa ser a melhor possível. Há vagas. Que vivam os poetas.
i. De acordo com ação movida pelo Ministério Público contra o município em 2016. ii. Ovidio incluiu o poeta Cina em sua lista de célebres poetas e escritores eróticos (Tristia 2.435).
Precisamos de uma grande campanha pelas matrículas no Ensino Médio estadual e municipal porque lugar de estudante é principalmente na escola. Negar vaga no ensino público é mais que um crime contra
Biblioteca Pública Municipal Francisca Maria de Souza Funcionamento: segunda-feira a sexta-feira de 8h às 17h Praça da Ferradura s/n, Ferradura, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil CEP 28950-000 Fone (22) 2623-2510
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EDIÇÃO 006 – ANO 01 – JANEIRO 2019
CRÔNICA BUZIANA SANDRO PEIXOTO
Empresário e jornalista
O SER HUMANO E SUAS IDIOSSINCRASIAS Todos os erros e acertos de uma sociedade tem raiz na figura dos indivíduos que formam esta mesma sociedade. É a soma dos erros e acertos dos indivíduos que torna uma sociedade mais ou menos justa, honesta ou corrupta, pobre ou rica, forte ou fraca. O indivíduo é no fim das contas, o único responsável pelo destino da sociedade em que vive. Quanto mais bárbaros os indivíduos, mais bárbara será a sociedade. Quanto mais honestos os cidadãos, mais honesta será sua sociedade e assim por diante. Faça um exercício crítico. Olhe bem para seu prefeito. Veja se ele é res-
ponsável. Se é honesto. Se trabalha em benefício do povo, se é respeitoso com você, se lhe devolve os impostos pagos via obras e serviços, e se faz jus ao salário que recebe todos os meses. Se for, parabéns, certamente você também é assim. Afinal o líder nada mais é, que um reflexo dos liderados. Porém, se acaso seu líder for corrupto, irresponsável, muquirana, sem vergonha, se não te respeita, se gasta o dinheiro dos contribuintes de forma desonesta com amigos, olhe bem para dentro de si mesmo e veja se você não e igualzinho a ele. Afinal ele foi posto naquele lugar por você.
sequência mudar a si mesmo e o mundo em que vive. Mudando seus padrões de comportamento, você vai perceber que o mundo ao seu redor também mudará. Portanto: saia dessa letargia. Assuma seu lugar perante a sociedade. Grite. Se liberte dessas correntes que lhes foram impostas e aceitas por comodismo. Pare de aceitar as coisas como lhes disseram que elas são.
O especialista em Inteligência Emocional Rodrigo Fonseca afirma que tudo começa e termina na pessoa. Termina em você, que está nesse momento lendo esse texto. Só você pode mudar as coisas e por con-
à luz apenas aquilo que está à altura das obras publicadas por Vinicius.
LIVROS Jorge Amado: uma biografia Autora: Joselia Aguiar Editora: Todavia Páginas: 640
Poemas esparsos Autor: Vinícius de Moraes Organizador: Eucanaã Ferraz Editora: Companhia das Letras Páginas: 256 Um dos mais populares autores de todos os tempos, Jorge Amado foi lido com igual satisfação nos cinco continentes. Marcou não só as letras latino-americanas, mas também a política, os costumes, a TV e o cinema nacional. A primeira, mais completa e atualizada biografia do grande escritor brasileiro Jorge Amado (1912-2001), com acesso exclusivo a documentos de família e cartas de parentes, amigos e outros escritores, além de exaustivas entrevistas e pesquisas no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, o livro retraça a vida emocionante de um dos mais populares escritores universais do século XX. Autor de clássicos brasileiros como “Capitães da Areia”, “Jubiabá”, “Tieta do Agreste” e “Gabriela, Cravo e Canela”, com livros que se tornaram sucesso do cinema e da TV, Jorge tem aqui sua vida - de homem, escritor, político, celebridade - recontada com elegância, precisão e fluência quase romanesca.
Talvez aquela figura que você rejeita, seja mais do que apenas um reflexo da sociedade em que você vive. Seja sua própria representação. Uma espécie de clone seu. Certamente por uma questão de sobrevivência, de auto-compaixão ou de simples cegueira, você relute em aceitar esse fato. No problems. Sua reação ao óbvio não mudará as coisas. Só as perpetuará por mais tempo.
Poemas esparsos é um livro surpreendente. Força, beleza, humanidade e apuro estético - comuns a todas as obras de Vinicius de Moraes acham-se aqui numa configuração imprevista: uma seleção de poemas inéditos, ou publicados postumamente, a que se juntaram aqueles que não foram incluídos na Nova antologia poética. O volume cobre um vasto período da produção do poeta: do início dos anos 30 a meados dos 70. Ao morrer, em 1980, Vinicius de Moraes deixou alguns livros inconclusos, e grande número de poemas já finalizados, alguns dos quais chegaram a ser publicados na imprensa. Este volume resulta de uma longa e minuciosa pesquisa em livros, jornais, revistas, arquivos e manuscritos. Não se trata, porém, de um levantamento com caráter documental: dispensaram-se esboços, exercícios, textos inacabados ou claramente recusados pelo autor, a fim de que viesse
No final, o leitor encontrará também, agrupados na seção “Arquivo”, um estudo do percurso poético de Vinicius de Moraes assinado por Ferreira Gullar, crônicas de Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade que festejam e recordam o amigo, bem como um longo depoimento, inédito em livro, de Caetano Veloso.
TIAGO ALVES FERREIRA Produtor cultural
vro, vocês vão encontrar mais informações sobre a vida e obra de cada um dos artistas.
Pequenos Artistas - Coleção de Livros Editora: Ciranda Cultural A arte é fundamental para que nos coloquemos no mundo enquanto sujeitos, expressando nossas subjetividades, habilidades e individualidades e contribuindo para um olhar mais crítico e sensível sobre o mundo. Pensando nisso, essa coleção vai apresentar três grandes artistas aos pequenos: Claude Monet, Edgar Degas e Vincent Van Gogh. Preparem-se para viajar por suas obras e conhecer um pouco de suas vidas e estilos artísticos, em um delicioso momento de leitura. Ao final do li-
Monet Quando o pequeno Philippe vai passar alguns dias na casa de sua tia, ele conhece Claude, um incrível pintor que se preocupava em capturar a luz e as cores de tudo o que via, transformando-as em lindas pinturas. Degas A pequena bailarina Marie nos apresenta seu amigo Edgar, um talentoso pintor que adora retratar o dia a dia das bailarinas em suas pinturas. Van Gogh Quando o grande pintor Vincent se muda para a cidadezinha de Arles, ele conhece a pequena Paula, que o acompanha em seu passatempo favorito: retratar os jardins e belas paisagens.
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PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
Teatro
TEATRO (do) ABSURDO TONIO CARVALHO
Autor, ator e diretor teatral
Congelados em 2019, sem perspectivas de aborto futuro e em movimento oposto às sociedades socialmente mais avançadas, chegou-nos a informação de que um grupo de atores da governança pátria, destituídos de talento, conseguiu regredir 50 anos. Aportaram em 1969 e é de lá que conosco se comunicam. O estado físico geral é bom apesar da viagem no tempo. Apenas meio atordoados, zumbizados. No momento, preparam-se para apresentar o que chamam de projeto de governo e, para tal, pretendem utilizar um espetáculo baseado nos princípios do Teatro do Absurdo. Entretanto, sem conhecimento intelectual, informativo ou cultural, baseiam-se apenas no popular conceito da expressão: “meu deus, que absurdo!”. Pobre Ionesco! Mas o espetáculo não pode parar. Assim, seguem na produção tendo como referência o modelo trumpista: “The show must go on!” Go on pra onde é que não sabem. Nem nós o sabemos. Faz parte da geleia geral que assola o país. Reunidos em algum local soturno do Planalto Central, ensaiam, improvisam e esperam chegar à cena com um espetáculo razoável ao qual chamam de “Missão de Deus”. Sendo assim, resta-nos apresentar os personagens e as respectivas premissas que defenderão durante os quatro anos em que estarão se exibindo nos palcos da mãe pátria em nome do Senhor (deles!). Como de praxe, espetáculos deste nível e teor sempre privilegiam mais machos que fêmeas. Entretanto, para negar a regra, temos no grupo uma muito bem dotada mulher: a Dona de Casa com muita honra, Da Maresnumtaprapeixe, fêmea com útero e ovário, seios e demais partes cujo habitat é na cozinha, lugar que é tradicionalmente delas - embora hajam tantos “chefs de cuisine” masculinos, e de onde elas nunca deveriam ter saído. A não ser para fazer compras e distribuir marmitas. Um segundo membro (ops!), o douto Rick, emérito educador nômade que joga pesado na escola sem partido e sem sexo com expe-
riência em seleções colombianas também de onde nunca deveria ter saído. Ao seu lado, encontramos um outro membro (ops!) do grupo, o Arnesto (que não nos convidou prum samba pois não mora no Brás!). Embaixador sem embaixadas mas que poderá treinar embaixadinhas com o emérito supracitado. Sendo bom aprendiz, quem sabe deixará de confundir relações exteriores com propostas do outro mundo tipo ETriores ao defender alianças sanguessuga com o heroíno da marvel fazendo tudo o que o pato donald mandar. No coro, para dar força aos membros (ops!) do grupo, colaboram os 3 Bebês: o Bebê 1, o Bebê 2 e o Bebê 3. Todos nascidos de mesma proveta: um programa idealizado para os de Q Isso, minha gente?! Os BBB! Tão engraçadinhos que estão sendo carinhosamente tratados como “Os 3 Patetas”! Uma injusta e desrespeitosa homenagem aos talentosos originais do cinema. Sempre na expectativa de novos e originais argumentos para a salvação nacional, selecionamos, dentre as inúmeras bem intencionadas baixarias ocorridas, durante os ensaios na caverna dos paridos em 69 (ops!), alguns trechos, pérolas protagonizadas talvez como uma ópera bufa ou uma revista tipo “Tem bububu no bobobó”, ou uma tragicomédia Global, uma Record(ista) Bíblica “Foi deus quem me deu pois somos fiéis e Ele também” ou uma pantomima gagá toma lá da cá onde “Nada é meu é tudo de um amigo meu”! Seja agora ou ora ora, em 69, tudo sempre enfiado goela abaixo aos perplexos espectadores com Atos e atitudes Institucionalizadas adaptados à cada época que faz corar de vergonha um pavilhão de sorriso verde amarelo.
Então, vamos lá! Prá frente ou pra trás, Brasil! (Para ser cantado com o Hino da Copa de 70) Personagens: DM - Da Maresnumtaprapeixe ER - Emérito Ricky AM - Arnesto Morrão DV - Desambientado Viés ATO ÚNICO DM - Homem é homem! Mulher é mulher! (Os BBBês gritam e batem palminhas.) DM - Tive esta iluminação quando ia tomar veneno aos pés de uma goiabeira! ER - Goiabeira macho ou goiabeira fêmea? Alguma controvérsia de gênero? DM - Fêmea, pois vi Jesus sobre ela! Foi incrível! Não quebrou galho nem pisou nas folhinhas! AM - (rasgando convites) Goiaba branca, convidada! Vermelha, convidado desconvidado! DV - Demorei mas cheguei. Me ambientando! Vamos preservar o que deve ser preservado. Talvez por outro viés! Um método moderno, preservativo! AM - Precisamos usar a linguagem do amor, da fé e do patriotismo! DM - A goiabeira era verde e amarela! Uma visão! ER - Goiaba vermelha é uma anormalidade! Minorias são frutinhas suspeitas!Na escola sem partido frutas vermelhas serão banidas! DA - Como pastora não posso aceitar dúvidas acerca de gêneros! Mulher foi criada para procriar e o Homem para prover, proteger!
ER - Doutrinar é prática autoritária! DA - O único partido da escola sem partido é o partido de Deus! O meu Deus! O deus da goiabeira! DV - Os direitos humanos não são para os desumanos. Por isso, os índios têm que ser tratados como humanos! Fazem parte do meio ambiente. AM - Nosso alinhamento político, social, econômico, religioso, cultural, tecnológico tem que estar intimamente ligado ao poder do Norte! Temos que salvar o Ocidente! DA - Está na hora da Igreja governar este país! A minha Igreja! DV - Sem alarmismo climático! AM - Uma embaixada prá cá, outra pra lá... Temos que preservar os valores do Ocidente! ER - Alarmismo só na escola doutrinária! Escola sem partido é a nossa meta! Os BBBês, tomados de furor, rasgam e queimam textos teatrais, poemas, romances, jornais, letras de música, livros de arte, de ciência... Foi um bom improviso. Está tudo bem ensaiado. Daqui a pouco todos subirão ao palco. A patuleia aguarda ansiosa pelo espetáculo e espera que texto, atores, cenários sejam condizentes com a concepção do todo, pois a iluminação, prometem, será Divina.
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EDIÇÃO 006 – ANO 01 – JANEIRO 2019
Guanabara
Ar dos Búzios
LEANDRO ARAÚJO
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WHITE CHRISTMAS BLACK CARNIVAL, (UM POUCO MAIS SOBRE O NATAL BRASILEIRO) Além da lenda urbana de que o Papai Noel seria uma criação da Coca-Cola, há uma outra que diz que o bom velhinho chegou ao Brasil por influência norte-americana, na época da Segunda Guerra Mundial. Não foi bem assim: o Papai Noel chegou ao país por influência francesa (em francês, “natal” é “noël”).
a previsão. O Papai Noel ganhou o Brasil e o mundo. Contudo, ainda que hoje esteja onipresente no imaginário da criançada do Oiapoque ao Chuí, o bom velhinho nunca perdeu seu aspecto alienígena. Ainda há gente que estranha sua presença, mesmo após tanto tempo visitando os lares brasileiros.
Na virada do século XIX pro XX, no comecinho da República, o Brasil queria ser França; e o Rio de Janeiro, a Paris dos trópicos. No cais do porto da Praça Mauá desembarcava um verdadeiro pacotão de importações para “civilizar” o país e tirar o ranço lusitano do recém destituído Império: desde modelos urbanísticos que basearam a Reforma Pereira Passos, até os últimos padrões de comportamento e estética europeus.
Outros personagens foram importados quase à mesma época, mas diferente do Papai Noel, vieram de mala e cuia. No final do século XIX, na tentativa de civilizar o “bárbaro” carnaval dos entrudos, cucumbis e batuques, a nascente burguesia brasileira começou a fundar sociedades carnavalescas nos moldes dos carnavais de Nice e Veneza. Copiou seus cortejos de carros alegóricos, corsos, lança-perfumes e batalhas de confetti. Trouxe para os salões e ruas cariocas personagens como o Pierrot, o Arlequin, a Colombine, e o mais importante de todos, o Rei Momo, figura mitológica grega, à época popular no carnaval espanhol.
No Centro do Rio de Janeiro dos recém-abertos boulevards, elegantes cocottes flanavam em grupos aos olhares dos gentleman que, a despeito do calor infernal, envergavam paletots de fino corte e grosso tecido. Nos períodos de Natal e revéillon, passou a ser comum ver nas vitrines das magazines chic, ao lado do último grito da mode importada, bonsbons natalinos decorados com a figura de um velhinho bonachão, barbudo e encasacado. Os jornais e revistas de costumes, como a Fon Fon, publicavam traduções de folhetins dos principais jornais europeus, incluindo contos sobre um tal Papá Noël que descia pelas chaminés e deixava presentes e doces aos meninos comportados. O então modismo não se instalou sem estranhamento. O jornal “O Paiz”, de 31 de dezembro de 1909, publicou na primeira página o seguinte texto: “Os jornaes já se enchem de historias, em que vai figurando cada vez mais um enjoativo Papá Noel, tão enjoativo quão insupportavel, contrario a tudo quando póde nascer espontaneamente no espirito brazileiro. As crianças e o povo, elle também eterna criança, nunca lhe darão vida, em todo este grande e vasto Brazil, a não ser aqui e ali”. Mais de cem anos depois, vemos que Curvello de Mendonça, autor deste libelo regionalista, errou feio
O carnaval, possivelmente a maior expressão da antropofagia brasileira, comeu o Rei Momo com farofa. Botou ele pra sambar no ritmo dos baticumbums de Angola e telecotecos Nagô, coroou o rei grego com a diadema do rei Congo, vestiu-o com o mais belo esplendor de arte plumária Tupinambá e confiou a ele as chaves das cidades. O Papai Noel, talvez por sua identificação com o frio, talvez pelo alcance global, não passou pelo mesmo processo de antropofagização e esculhambamento. Não tirou cidadania. Todos conhecem o CEP do homem, o pólo norte – ele pode até dar seus voos pelo hemisfério sul, mas é só de passagem. Já o Momo, Pierrô, Arlequim e Colombina, assim como os clóvis e bate-bolas de subúrbio, são coisas nossas sim, senhor.
QUILOMBO DE BAÍA FORMOSA CONTA SUA HISTÓRIA PERCORRENDO TRILHAS DE SEUS ANTEPASSADOS Os caminhos ainda estão lá e revelam muita história. Apresentam a vida e cultura de homens e mulheres que aqui chegaram em navios negreiros trazidos do continente africano, contam a própria história de nascimento de Búzios e de construção do nosso país. Seguindo por trilhas no meio da mata densa, quilombolas da Baía Formosa, em Búzios, refazem os caminhos de seus antepassados e passo a passo, literalmente, vão revelando detalhes de sua cultura, história e conhecimento da natureza, para quem se dispuser a caminhar com eles. Diversos são os caminhos. Várias trilhas que cortam o bairro da Baía Formosa, fazem parte do roteiro quilombola. Com diferentes graus de dificuldade, as trilhas estão sendo preparadas para receber turistas em grupos guiados. Gente interessada em aventura, natureza, e muita cultura. Trilha Manoel e Cezarina Situada no Parque Estadual da Costa do Sol, a trilha batizada Manoel e Cezarina, inicia próxima à estrada Búzios-Cabo Frio e leva à praia do Kalunga. Logo no início, um belo e instigante presente da natureza, um círculo de pedras de quartzo, tão brancas quanto lindas. Dispostas ali, há milhões de anos, energizam com sua beleza e deixam os visitantes encantados. Seguindo para dentro do parque, a paisagem surpreende a todo instante, numa mistura de mata atlântica com restinga e espécies de clima semiárido, como o cerrado. Orquídeas, pitas, cactos, jabuticabeiras, aroeiras, um mangue paraíso dos guaiamuns, e de repente um mar de bromélias, e um mar de espadas de São Jorge. Aí se aprende que essas últimas são espécies invasoras, pois foram trazidas no porão dos navios negreiros, servindo de forro para deitar, e porque eram parte importante dos rituais africanos. - Olhem aqui, a gente usa para artesanato e cestaria. É o cipó branco. Se raspar assim com o facão, ó, fica branquinho. Esta fruta é sabão de macaco. Você esfrega e faz espuma que nem sabão – se adianta Beth, guia e uma das responsáveis pela abertura das trilhas para o público, e pela união dos quilombolas
MARIA FERNANDA QUINTELA
Jornalista
de Baía Formosa em torno da valorização e manutenção de sua cultura. Juntando os seus, Beth conseguiu que a comunidade quilombola erguesse com muita garra a bandeira de suas origens, e também a sede do quilombo. Aliás, essa é mais uma etapa do passeio. Última e deliciosa etapa. Um almoço com sabor de roça, feito no fogão à lenha pilotado com vontade por Lucineia, Marisa e Lenice, na atual sede do quilombo, regado a café tirado no coador de pano. Mas isso é a recompensa final, ainda tem chão pela frente, só estamos no meio do passeio. Cinco pedras arrumadas no meio do caminho são o mistério da trilha. Elas significam que algo foi enterrado ali. Provavelmente pessoas. Velhos e crianças. Os diferentes tamanhos das pedras indicam isso, explica a guia. Mais chão, e a vegetação muda radicalmente. A praia se aproxima. - Bem-vindos à praia do Kalunga – grita Beth, já esperando ouvir as exclamações de alegria e deslumbre total pela estupenda maravilha que é o lugar. Kalunga é palavra africana que significa mar, imensidão e também linha do mundo dos mortos. - É a travessia dos mortos. Dois mundos, montanha de um lado, rio no meio, montanha do outro lado. É o que a gente encontra aqui, neste lugar – e a guia aponta para o mar. Realmente. É o que vemos lá. Mas não é só. Tem as pedras que contam a história de separação dos continentes. Mais um ponto de ligação com a África. Localizada no limite da rachadura das placas que formavam os continentes, Búzios tem as rochas por testemunha do que ocorreu há 200 milhões de anos. Pedras de diferentes cores e texturas formam um bloco único, que parece moldado por alguém, devido ao traçado absolutamente reto das pedras. Local que é ponto de pesquisa da geóloga Kátia Mansur da UFRJ. Tão precioso quanto o refrescante mergulho nas águas limpas de Kalunga. Um prazer a mais. Imperdível.
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PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
Roda Cultural do C.U.B. Coletivo Urbano Buziano
CircoLo Social
@coletivourbanobuziano
Educar e transformar
Estrada da Usina Velha, nº 179, Centro, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000 @SocialCircoLo
BAMBUZAL
SOLSTÍCIO (OU JUÍZO FINAL) “(...) Ao final, só resta ao homem (estará equipado?), a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo. Pôr o pé no chão do seu coração. Experimentar, Colonizar, Civilizar, Humanizar O homem Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene, insuspeitada alegria De con-viver.” O Homem, As Viagens, Carlos Drummond de Andrade Escrevo neste solstício de verão, prestes a ver a lua clarear o mar – tranquilo como o vento. Ao contrário dos movimentos intensos que fizeram 2018 tremer, esse fim de tarde é sereno e manso, cheio de encantamentos. Lembrei-me da virada de 2017 para 2018. Também era Lua Cheia, quando fomos para a beira do mar na Marina, ver os fogos e celebrar a passagem. Aquele cenário de maré seca com a Lua desenhando um rio prateado no meio do mar fez meu filho exclamar: “– Que lindo pai, dá vontade de mergulhar!”. Nem pensei duas vezes, fomos pra dentro d´água e recebemos aquela bênção morna nos braços de Iemanjá enquanto o espetáculo colorido rabiscava o céu estrelado. Entre essas duas Luas Plenas, houve várias novas, minguantes e crescentes ao longo do giro da Terra em torno do Sol. E não só as marés sofreram as influências desses ciclos poderosos, mas nossas águas internas também: nossas emoções, nossos pensamentos e sentimentos, nosso corpomente. E quanta água rolou! Quanta lágrima caiu, quanto suor se derramou. Quantas máscaras caíram, quantos laços se romperam, quantos tecidos ruíram abalando muito do que havia sido tecido
junto...Num determinado momento, como no título do livro de Leandro Karnal, parecia que o ódio nosso de cada dia colocava todos contra todos. O brasileiro cordial sucumbiu à enxurrada de fake news e, ao invés de mostrar o seu valor, essa gente bronzeada optou por ficar na superfície, a nutrir a intolerância, a focar na divergência e se lixar pra convergência. Mas, como ensinou Jung em seu “Memórias, Sonhos e Reflexões”: “O mundo em que penetramos ao nascer é brutal e cruel - ao mesmo tempo é de uma beleza divina. É uma questão de temperamento acreditar no predomínio do que faz sentido ou do que não faz sentido. Se este último dominasse de maneira absoluta, o aspecto sensato da vida desapareceria cada vez mais, em função da evolução. Mas não é, ou não me parece ser o caso. Como em toda questão de metafísica, ambos são provavelmente verdadeiros: a vida é sentido e não-sentido, ou possui sentido e não-sentido. Tenho a ansiosa esperança que o sentido prevalecerá e ganhará a batalha”. Essa esperança moveu Mestres do viver, como Martim Luther King, que pregava que “nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós. Não está apenas em
um de nós: está em todos nós”. E conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo. E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros (...)”Devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito, e inspirar esperança onde há desespero.” Palavras sábias, certamente inspiradas por um espírito realmente cristão. No Sermão da Montanha, as palavras atribuídas a Jesus também são nesse sentido. Aliás, toda vida do Mestre de Nazaré, como conhecemos, foi nesse sentido: viver com fé e coragem, dividir o pão, enaltecer o Amor, viver uma vida simples com o pensamento elevado, prezando a comunhão, a bondade e a compaixão. Sim, ao invés da prisão do medo e da raiva, ao invés de armarmo-nos com pré- julgamentos e pré-conceitos, amemo-nos com o cuidado, o afeto, a bemquerência. Leonardo Boff reconta muito bem uma Fábula/Mito latino interessante em seu livro “Saber Cuidar”: “Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco do barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Jú-
HÉLIO COELHO FILHO Professor de Tai Chi
piter. Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado. Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome. Enquanto Júpiter e Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão generalizada. De comum acordo pediram a Saturno (Cronos) que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa: “Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura. Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer. Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver. E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil”. Que em 2019 possamos gestar novas formas de viver, de pensar, de sentir, interagir, integrar, reunir, crescer, promover crescimento, acolher, cuidar, perdoar, evoluir. Que sejamos sonhadores férteis, cheios de esperança, confiança e coragem. Como diz a canção, bem brasileira: “O sol há de brilhar mais uma vez/A luz há de chegar aos corações/ Do mal será queimada a semente/O amor será eterno novamente/É o Juízo Final/A história do Bem e do Mal/Quero ter olhos pra ver/A maldade desaparecer”. Feliz Ano Novo! Nota: Junte-se a nós na campanha por um Teatro Municipal/Centro Cultural Multiuso em Armação dos Búzios. Sua assinatura é fundamental! Procure no Google: Avaaz Teatro em Búzios, abra o link e assine. Muito obrigado.
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EDIÇÃO 006 – ANO 01 – JANEIRO 2019
Preto no branco
ENTREVISTA - SILVA Silvano Nascimento e Manolo Molinari em entrevista ao Frente & Verso
U
ma cidade inteira, com gente diversa, de várias partes do mundo, em volta de um único Bar. O Bar, que durou 32
anos, participou como personagem icônico da luta pela emancipação de Búzios, “elegeu” um vice-prefeito e fez história.
Por dias, tentamos conseguir o telefone do Silvano, fundador do lendário Bar Nascimento. Depois, ao conseguí-lo, ligamos por vários dias, também sem sucesso. Ninguém atendia o telefone celular. “É meu vizinho, vou na casa dele!” disse nosso querido ex-coveiro, fundador do Frente & Verso e agora empresário de sucesso, Sandro Peixoto. Silvano não tem Facebook, Whatsapp, Instagram, nem telefone celular (o número que tínhamos era da esposa, Dionir). É uma pessoa à moda antiga. Difícil de encontrar no contato virtual, mas tremendamente fácil no real. Quando chegamos próximos a sua casa, a poucos metros da Praça Santos Dumont, ele estava saindo. Conversou com um amigo na rua e sugeriu que entrássemos “está muito quente hoje, vamos lá pro ventilador”. Silvano mantém um empreendimento de locação de suítes na sua casa, que é gestado pelas filhas: “Fiz e dei para elas. Eu não mexo com isso não. São das minhas filhas. Eu quero só que pague as despesas.”, ri. “O empreendimento ajuda porque assim elas não precisam de mim”.
Na porta de entrada da casa, um passarinho na gaiola nos fez lembrar da estética viva que decorava o Bar Nascimento: passarinhos por todos os lados, troféus de futebol e os cactos que enfeitavam o telhado do bar e faziam, com suas raízes, chover muitas vezes mais dentro do que fora do Nascimento. “Tenho ainda dois passarinhos para ter o que fazer de manhã” - ri novamente. Esse é o Silvano. Tranquilo na vida. Satisfeito com o que já fez e conformado com as mudanças inerentes a toda sociedade: “Agora quero é ajudar a cuidar dos netos. Não tenho nenhum outro plano para o futuro”.
Silvano e seus biriteiros. Na foto: Urgel, Silvano, Hélio, Saloni, Soca Capitão, Jeguinho e Cid.
Conte-nos sobre a sua vida, a sua origem, das suas lembranças de infância Eu sou de uma família daqui. Morava no miolo da Praia dos Ossos, onde não tinha quase nada, só o Bar do Manoel Português que, claro, era vascaíno. O Luizinho Arnaldo, da casa da Praia Azeda, foi o primeiro – e durante muito tempo o único – que passava de carro. Eu me lembro bastante de, quando criança, ir curtir o carnaval. Aqui os blocos eram por bairros. Cada um fazia o seu carnaval. O Bloco Alcino, o Alvorada. Depois o Bloco “Ai meus Ossos”. Naquela época eu era criança, mas acompanhava tudo. O Bar Nascimento foi, por 32 anos, um ícone da sociedade buziana. Ponto de encontro onde moradores e frequentadores da cidade se reuniam para falar de futebol, política, do cotidiano local... Onde muita gente se encontrava no próprio Bar pela manhã para falar do que tinha acontecido no próprio Bar pela noite. Qual foi o segredo do sucesso do Bar Nascimento? O segredo? Muita, muita disposição para trabalhar e cerveja bem gelada. Não tinha comida não: era só ovo cozido, linguiça, biscoito e muita birita. O melhor do Bar era a cerveja gelada. Tomar uma cerveja quente, Deus me livre! O Bar que não tem uma cerveja gelada acabou. Mas, para mim, o Bar era tipo uma escravidão. Eu chegava de manhã e só saía à noite. Às vezes falam: “você não podia ter vendido o Bar”. Claro que eu podia. Eu ainda fiquei 32 anos no Bar com pena de fechar. 32 anos!! Quantos anos a pessoa precisa para aposentar: 35 anos. Eu já estava a 32! E senti que estava na hora. No meu Bar tinha uma tábua que sempre para entrar no balcão
eu precisava passar por baixo. Na época eu brincava que no dia em que eu não conseguisse mais passar debaixo da tábua eu fecharia o Bar. Mas acabou que foi antes (ri). Para quem está curtindo é bom, é fácil. Mas para quem trabalha é difícil. Não é fácil não. O que o motivou a montar o Bar Nascimento na Rua Turíbio? Desde muito novo e até hoje, na minha vida, eu só trabalhei no comércio. Trabalhava em vendinhas, mercearias... Eu comecei lá na Armação, na esquina dos Ossos, na mercearia que funcionava onde a Negra Branca tem hoje uma loja. O ponto era de um japonês, pai de Dail do táxi e depois a Branca comprou dele. Aí eu fui trabalhar com o dono de uma mercearia em Cabo Frio. Ele tinha um caminhão que trazia mercadoria de Macaé e ia distribuindo... Mas então o meu compadre me chamou para fazer um Bar em sociedade lá no bairro de São Cristóvão, em Cabo Frio. Lá onde tinha o estádio. Mas a sociedade não deu certo. Não era um negócio para dois, só para um. Aí eu fiz uma reforma na casa da minha mãe, na Turíbio, e levei todo o material do Bar de Cabo Frio. Minha mãe até hoje mora lá, nos fundos. Eu fundei o Bar em 1979. Foi a época boa de Búzios. O pessoal comprava cigarro, cachaça, tudo com dólar. A moeda de Búzios era dólar. A primeira loja que eu comprei, aquela ali da sorveteria Trento, foi em dólar. Se eu não tivesse dólar, na época, teria que trocar e comprar. Porque o dono queria receber em dólar. Meu pai era pescador. Aquele tipo de pesca que levava 15 ou 20 dias fora.
PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
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ANO NASCIMENTO nestidade, e sim de convivência. Você antes via as pessoas 10 vezes na rua. Hoje, você não encontra ninguém. Você vai na Turíbio e não vê um conhecido. Principalmente, no verão. Você vai na Praça hoje e não tem um Maia (família tradicional de Búzios). O último que morreu foi o Paulo do Cartório. Mas antes era todo mundo conhecido. Dos pouquinhos que a gente tinha já perdemos um mucado, que morreram. Você, hoje, em dia, tem até amigos, mas não sabe quem são os filhos, quem são os netos. Há pouco tempo, sofremos com o falecimento do Mica, dono de um mercado que ainda agregava o espírito despojado daquela Búzios do passado. Recentemente, também soubemos da possibilidade de fechamento do Cine Bardot, um cinema de resistência cultural, onde ainda, hoje, se pode entrar até de sunga. Você acha que os símbolos da cidade estão acabando? Essa mudança que está acontecendo é muito forte, mas ao mesmo tempo é natural. O comércio quando perde o cabeça é meio difícil continuar. Tudo muda. Tudo acaba. Eu acho que a cidade está boa assim. Eu sou conformado.
A pesca chamada “mar novo”. Era muito sofrimento esse tipo de pesca. Ele dizia que enquanto a gente tivesse sob o domínio dele, ele não queria que ninguém fosse pescador. Então eu fui para o comércio, um irmão meu foi para a construção... ninguém se meteu com pesca. Agora é fácil: você vai pescar de manhã, pesca e volta, para almoçar o peixe fresco que pescou no dia. Mas naquela época era duro. Tinha a responsabilidade para trabalhar muito e pagar as despesas. A vida era dura. Como o meu pai ficava muito tempo fora, e a gente não tinha dinheiro, colocávamos tudo no caderno: a mercearia, o Barbeiro, o peixe que a gente comprava... era tudo no caderno do fiado. Depois, quando o meu pai chegava, acertava. E você no Bar Nascimento manteve a cultura do fiado... Ih... muita coisa. Eu dizia que o prejuízo pequeno era o melhor que tinha: porque a pessoa não voltava para pendurar outra vez. Tinha que pagar a conta antiga. Eu acho que o controle do comerciante hoje nem se compara com o de antigamente. Hoje vender fiado, no caderno... não tem mais como. Como você vai vender fiado se você nem sabe onde o cara mora? Antigamente, a gente sabia onde as pessoas moravam, trabalhavam.... hoje, o comerciante que faz isso vai quebrar. Não se trata de ho-
E do que mais tem saudades do tempo do Bar Nascimento? Saudade? Saudade eu sinto mesmo é do futebol. Quando eu fechei o Bar, a primeira coisa que eu fiz foi parar com o time. Toda semana, vinha alguém aqui “vamos voltar, vamos jogar”. Mas eu dei todas as camisas. E olha que as camisas têm a ver com o nome do time: o Clube dos 500. Porque todo mundo ia dar 500 cruzeiros para comprar o uniforme. Aí veio a ideia de dar o nome “500” como nome do clube, que durou 29 anos. E por que fundar um clube de futebol? Eu fui diretor da SEB. Era muito engajado na cidade: futebol, Festa de Santana... a política foi no susto. Eu não esperava que isso poderia dar em alguma coisa. Meu time mesmo era o Clube dos 500 que foi fundado porque as pessoas mais velhas, que não tinham mais condição de jogar no primeiro quadro, queriam continuar jogando. Então, passaram a jogar no veterano. Fizemos uma reunião lá no Bar mesmo e escolhemos o nome do time. Nem sabíamos que tinha um clube com o mesmo nome em Caxias. Muito depois fomos saber. Em Cabo Frio, quando abri o Bar, lá em São Cristovão, também formei um time que chegou até a jogar contra a SEB. O jogo empatou! O Bar era também um encontro do futebol. Eu acho que a primeira televisão de Búzios foi a de lá do Bar, que era para ver futebol. A TV tinha um ângulo bom para a rua. Eu me lembro que desde a Copa de 1982, eu já tinha televisão no Bar. E de lá
para cá, a festa da Copa era só no Bar. A festa fechava a rua.
vontade de continuar. Foi aquilo ali e pronto. Agora eu quero descansar.
Você foi o vice-prefeito da emancipação e também vice-prefeito na eleição seguinte. Como foi a sua experiência e a sua entrada na política institucional da cidade? Qual foi o principal legado dessas gestões? No primeiro mandato, o legado foi o número de escolas que nós fizemos. Foi muito bom para a cidade a quantidade de escolas que nós construímos. Isso era a nossa prioridade. Mas Búzios só teve um mandato bom, que foi o primeiro. Na época, todo mundo queria trabalhar pela cidade. Tudo acontecia. Búzios não era nada. Era um distrito esquecido de Cabo Frio. Mas, na época da emancipação, as pessoas pensavam no próximo. Eu, quando entrei na política, só pensava no próximo. E entrei por acaso. Claro que o Bar era um espaço de muita discussão política. Era o ponto de encontro das manifestações, das idas à ALERJ (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), onde se abria a faixa da manifestação antes de entrar no ônibus... Mas eu entrei na política por acaso. Quem ia ser o vice era o Manuelzinho da Loja Marisol. Mas o Manuelzinho era de outro partido e ficou sem poder concorrer. Aí eles lembraram de mim. Na época, eu era muito conhecido em Búzios por causa do Bar. O pessoal da política e do futebol vivia lá. E quando eu fui trabalhar em Cabo Frio tinha me filiado ao PDT (Partido Democrático Trabalhista). Foram então procurar quem era filiado ao Partido para poder sair de vice. Eu estava na Festa de Santana, ajudando a organizar, e aí chegaram os candidatos, o Mirinho... e perguntaram se eu era mesmo filiado. Eu disse que sim. Então perguntaram se eu queria ser vice. Eu pensei umas duas vezes e aceitei. E não me arrependo. Foi um aprendizado. Tiveram algumas coisas que às vezes a gente não engole muito e tem que se afastar... Quando fui vice-prefeito, eu estava com 45 anos e não consegui nada, financeiramente, com a política. Todo o patrimônio que eu tenho hoje era o que já tinha antes de entrar para a política. Eu só pensavam em fazer o bem ao próximo.
A sua participação política, de alguma forma, influenciou o fechamento do Bar Nascimento? De uma forma sim. Eu não pude mais dar tanta atenção ao Bar como eu dava antes de ser político. E quando eu fechei o Bar ficou tudo lá, os troféus, as mesas, até a cadeira que eu sentava. Cada troféu... um mais bonito que o outro... Mas eu também não teria onde colocar. A pessoa que comprou o Bar disse que ia manter, mas acabou derrubando tudo. O Bar era tapado de cacto, era tudo aberto. As pessoas paravam para tirar foto. Era uma coisa linda aqueles cactos no telhado. Mas quando chovia era terrível. Diziam que chovia mais dentro do Bar do que fora, por causa das raízes dos cactos, que jogavam água dentro do Bar (ri). Eu tinha ainda muita gaiola de passarinho. Meu Bar era enfeitado de passarinho. Eu já tive 18 gaiolas. De vez em quando tinha gente que também tomava banho com a água do passarinho, quando passava embaixo da gaiola.
Hoje, a gente vê cada coisa com o vice. Mas minha relação de vice sempre foi muito boa, ainda que ache que tenha sido quebrada uma corrente. Depois dos dois mandatos eu pensei que eu seria o candidato a Prefeito, mas não fui. Uma corrente foi quebrada. Não digo que foi um pacto ou um trato quebrado, porque não teve trato. Mas uma corrente foi quebrada. Minha colaboração tinha acabado. E você nunca pensou em se candidatar? Não, porque a política na minha vida foi apenas uma coincidência. Eu não tinha
As pessoas iam para lá também levar os seus passarinhos para passear. Mesmo com medo da fiscalização. Outros iam jogar no bicho. O jogo do bicho sempre foi proibido mas o Soca Capitão, que também já faleceu, tinha um ponto de bicho em frente ao Bar, onde agora é a loja do Girão. O ponto era em frente, mas o Soca fazia o jogo no Bar também. Quando queriam jogar, ele fazia o jogo em qualquer lugar. Depois que o Bar fechou muitos frequentadores migraram lá para o Bar do Sossego. Mas a maioria dos biriteiros morreram, muita gente foi embora. Muita gente morreu. Outros ficaram perdidos. E o que tem achado da política atual da cidade? Eu não estou acompanhando não mas as coisas estão meio paradas... Essa história de trocar toda hora prefeito e vice atrapalha... Você gostaria de acrescentar alguma coisa à entrevista? Eu, esses dias, encontrei uma foto do Bar, onde eu estou com os meus biriteiros na porta. A foto deve ter uns 15 anos mais ou menos. Tem o meu irmão Urgel; o Hélio, que é vizinho do Bar até hoje, mora naquele sobradinho que tem a farmácia em baixo. Ele fica sentadinho lá, encostado na pilastra, todo dia, até hoje (você pode passar lá agora que ele vai estar lá). Tem o Saloni, que era centroavante no meu time, e faleceu. O Soca Capitão, que era bicheiro e meu vizinho. O Jeguinho, que era funcionário da SEB. E o Cid, que também era jogador do clube dos 500. Eu já vivi muitos momentos bons em Búzios, mas já agora quero mesmo é descansar.
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Gastronomia
DENOMINAÇÃO DE ORIGEM DESCONTROLADA mas e se transforma em uma das maiores representações de um povo. O artigo, segundo da lei 7180, cita que a gastronomia é cultura material e imaterial, reconhecida como patrimônio de grupos familiares, imigrantes, migrantes, povos e comunidades tradicionais, como os indígenas, os quilombolas, as comunidades de matriz africana ou de terreiro, os extrativistas, as caiçaras e os pescadores artesanais. Esta passagem demonstra então a importância da gastronomia no contexto representativo dos grupos citados.
Por definição, cultura é um conjunto de fatores que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano na sociedade da qual é membro. A lei nº 7180 de 28 de dezembro 2015 estabeleceu, no âmbito do estado do Rio de Janeiro, o marco referencial da gastronomia como cultura. Cultura também é definida pelas ciências sociais como um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração em geração. Percebe-se com isso que a cultura está longe de ser um comportamento pré-determinado de um grupo de indivíduos, e sim a soma de suas ações em períodos do tempo que em geral está intimamente ligado a suas crenças e condições sócio ambientais que os cercam. Entendendo que a fome é um dos instintos mais poderosos que pode nos obrigar a ter comportamentos extremos, talvez o principal rito que nos conecta a todas as sociedades da história da humanidade seja a alimentação. E neste ato, que nos primórdios da civilização tinha por característica exclusiva, a sobrevivência da espécie, com o passar do tempo se transformou em uma prática multifacetada. Com características sociais, políticas, religiosas, afetivas e econômicas. Diante destas questões, é possível afirmar que o conceito de cultura alimentar nasce de uma necessidade básica humana,
Massimo Montanari, uma das maiores referências em história da alimentação nos conta no seu belíssimo livro COMIDA COMO CULTURA que intelectuais, artistas e políticos se juntaram ao findar da segunda guerra mundial com a exclusiva missão de reerguer seu país de forma cultural. E hoje o mundo consome pizzas e massas, referenciando sua história e origem. No que tange o sagrado, é possível citar o exemplo da trilogia do azeite, vinho e pão. A Idade Média foi marcada por uma contínua preocupação por parte da Igreja em simbolizar no cotidiano alimentar, suas crenças. Temos com isso, nestes três alimentos, a representação perfeita para a Santíssima Trindade. Entende-se que no contexto religioso estes insumos representam a crença de um povo. Respeitar esse contexto é vital pois mora na cultura, a história de um povo. Já para as comunidades tradicionais, como os indígenas, os quilombolas, as comunidades de matriz africana ou de terreiro, outros alimentos possuem valores simbólicos e religiosos, que merecem a mesma atenção e respeito. ARTE Movimentos artísticos entre pintores famosos, nos presentearam com jóias como A Gioconda (em italiano, La Gioconda, “a sorridente”), de Leonardo da Vinci, ou comumente conhecido como Mona Lisa. Este quadro é provavelmente o retrato mais famoso na história da arte, senão, o quadro mais famoso e valioso de todo o mundo. Poucos outros trabalhos de arte são tão controversos, questionados, valiosos, elogiados e comemorados. Com incontáveis reproduções e desconstruções, todas as possibilidades remetem diretamente a obra de Da Vinci. Não
há quem reivindique a autoria deste patrimônio da humanidade. Este silêncio é uma das maiores formas de respeito a este gênio. Na gastronomia, as interpretações de pratos são formas de homenagear e respeitar. Relembrar povos e suas origens em uma mesa é talvez a forma mais bonita de perpetuar seus valores e história. Muito tem se falado sobre apropriação cultural nas mais diversas áreas, inclusive na cozinha. CULTURA A Apropriação Cultural é uma maneira de descrever quando uma pessoa, ou grupo de uma cultura hegemônica adota aspectos de uma cultura que não é a sua e os usa sem referência ou relação com aquela cultura “emprestada”. Entende-se que para ser denominado apropriação é necessário que parta de uma cultura hegemônica em detrimento a uma cultura marginalizada, pois está justamente no fato dela ser segregada, o risco de sua extinção. No processo de dinâmica social em que vivemos, há muito o que ser conversado a respeito do tema, mas o que parece ser inegável é que se a cultura representa a história de um povo, respeitar suas referências é impedir que suas origens se percam. A cultura não nega a diversidade, ela tem por premissa justamente perpetuar cada nuance. Por isso novas formas de expressão serão sempre bem-vindas, caso não tenha por objetivo apagar a história. Desta forma a oposição a apropriação cultural seria justamente a diversidade de culturas. EDUCAÇÃO É perceptível então a necessidade escolas de gastronomia refletirem sobre as culturas gastronômicas como alicerces para uma formação profissional, transbordando as questões operacionais e provocando o pensamento social, cultural e cidadão destes futuros formadores de opinião. Assim quando nos pusermos a entender os processos que nos limitam e ultrapassa-los através do conhecimento, nada mais nos parará. Descobriremos que é justamente por intermédio do pensamento crítico e construtivo das questões que nos cercam, que teremos a capacidade, enquanto cozinheiros(as), de realmente modificar a sociedade
GUSTAVO GUTERMAN
Professor do curso de Gastronomia do Instituto Federal Fluminense de Cabo Frio a qual pertencemos. Proteger preceitos históricos e religiosos é uma forma de nos perpetuarmos e passarmos adiante as futuras gerações nossas origens.
Contudo, ainda estamos em uma sociedade que promove pré-conceitos, baseados em falta de conhecimento histórico-cultural, revelando um racismo velado (que se desdobra em incontáveis mazelas), o ódio a minorias sociais e um carente instinto investigativo do que fomos e para onde vamos. Como possível resultado desta ignorância, estaremos fadados a viver as mazelas passadas, como citou o controverso filósofo irlandês Edmund Burke - “Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”. Imagine que lindo seria cozinheiros e cozinheiras conhecendo profundamente suas culturas originárias, as reverenciando e reproduzindo para o mundo. E por meio desta deferência, fossem estes profissionais, os guardiões de um povo com suas receitas e histórias, numa troca sincera de hábitos e costumes com outras etnias, extravasando a sensação de pertencimento e afeto com sua gastronomia. Com isso, assim como Mona Lisa se transformou num marco referencial para pintores, estes preparos, técnicas e pratos se tornem inspirações para novas criações, abrindo mão de releituras e dando passagem para a criação no seu mais inspirador e original conceito. Obs: O título do artigo é uma provocação que faz referência ao selo de Denominação de Origem Controlada ou (DOC) . Um sistema de denominação utilizado para certificar vinhos, queijos, manteigas e outros produtos agrícolas de alguns países europeus. Esta designação é atribuída a produtos produzidos em regiões geograficamente delimitadas, que cumprem um conjunto de regras consignadas em legislação própria.
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PUBLICAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL, GASTRONÔMICA E LITERÁRIA DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
Convidado
ALBETO BLOCH
Arquiteto, doutor em Urbanismo
O X, O Y E O Z, DO PROBLEMA to estão dispostos a modificar a Lei Orgânica Municipal, se utilizando de argumentos que não fazem sentido.
Orgânica Municipal que impede a construção em praças, e ignoraram o imenso valor urbanístico desse ambiente natural que tem um papel fundamental para a biodiversidade e para a oferta de áreas públicas de lazer, atividades esportivas, recreacionais e educacionais. Levei diversos amigos que tem casa em Búzios há mais de 20 anos para conhecer a Lagoa de Geribá, e eles ficaram impressionados com o tamanho dela e com o fato de que nunca tinham visto essa lagoa apesar de circularem sempre por ali, da Praia de Geribá à peixaria de Manguinhos, ou ao Porto da Barra. Esse é o X do problema, porque uma lagoa que não participa da paisagem da cidade e não se torna uma área de lazer corre o risco de ser poluída, aterrada, e até desaparecer. A ideia de construir uma Unidade de Saúde na Praça do Farol, situada nas margens da lagoa, poderá ser a pá de cal que vai acabar com a visibilidade pública dessa lagoa. Quando a paisagem natural não é valorizada pelo poder público ela acaba sendo desconsiderada até pelos moradores que dão as costas para ela. Temos hoje duas lagoas que fazem parte da paisagem buziana, a dos Ossos e a da Usina, contribuindo para tornar esses lugares mais especiais. A lagoa de Geribá é muito maior do que essas, e a realização
do projeto do Parque Lagoa de Geribá com ciclovia e caminho para pedestres de 2,0 Km de extensão e integrando Manguinhos e Geribá irá valorizar não só a vida dos moradores como também a atividade turística nesses bairros. É claro que é complicado reconhecer a falta de planejamento e mudar o lugar já escolhido para a obra, mas o que tem que ser considerado pelos que desenvolveram o projeto é que vai custar muito mais caro para a cidade e seus moradores dar prosseguimento à implantação da Unidade de Saúde na Praça do Farol que é a entrada principal do Parque Lagoa de Geribá. Podemos mudar a construção da UBS para outro lugar, mas não podemos mudar a lagoa de lugar.
E agora chegamos ao Z do problema: A forma de gestão que prevalece nas cidades brasileiras quando são tomadas decisões de planejamento e de investimentos públicos. Nesse caso da construção da Unidade de Saúde na beira da lagoa, os vereadores que querem prosseguir com esse gravíssimo erro de planejamen-
Para convencer alguns moradores locais disseram que as pessoas “endinheiradas” que moram perto da lagoa não querem a UBS no bairro porque elas não precisam se utilizar dos serviços públicos de saúde e que elas não se importam com as pessoas com menos recursos. A verdade é que esse conflito não existiu: a maioria absoluta dos que se manifestaram na audiência pública foram favoráveis à construção da UBS no bairro, mas em outra localização que não impedisse a realização do Parque Lagoa de Geribá, que irá valorizar a vida e a saúde de todos moradores do bairro, de todas as faixas de renda. O objetivo desse artigo é chamar a atenção dos leitores desse jornal sobre a importância da participação da sociedade no processo de decisões sobre os investimentos a serem realizados nos espaços de uso público em Búzios, pensando sempre em uma evolução sustentável para todos os que nasceram ou escolheram morar aqui. Saudações buzianas!
Então, esse é o Y do problema: Com o isolamento das diferentes secretarias que deveriam participar do planejamento da cidade cada uma enfoca apenas a sua especialidade e os gestores perdem a visão da cidade como um todo. Daí, quando decidiram sobre a localização da Unidade de Saúde desrespeitaram a Lei
O projeto Cidade Biblioteca é uma iniciativa sem fins lucrativos de promoção da cultura, da leitura e do acesso ao conhecimento em Búzios. Nosso sonho é que os livros estejam sempre ao alcance das mãos, seja na procura do ócio, na espera do café, do transporte público ou do pôr-do-sol. Os livros transformam o intelecto e a sensibilidade, fazem do mundo um lugar melhor. O Cidade Biblioteca promove ações como saraus, clubes de leitura, distribuição de livros pelos espaços públicos, bibliotecas itinerantes.
QUINTA-FEIRA
SÁBADOS
SEGUNDA-FEIRA - 07/01/2019
Biblioteca Municipal
Feira Livre Periurbana de Búzio
Praça Santos Dumont
17h
DOE SEU TEMPO. DOE SEU LIVRO
8h às 13h @cidadebiblioteca
19h às 21h
cidadebiblioteca@gmail.com
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EDIÇÃO 006 – ANO 01 – JANEIRO 2019
CIDADE
CONVERSANDO SOBRE A CIDADE cidade tão grande como o Rio sofre esse processo de maneira ainda mais agressiva.
PEDRO CAMPOLINA Arquiteto e urbanista
A migração da população brasileira para as cidades fez com que nos anos 70 a maior parte da população se tornasse urbana e não mais rural. Segundo dados do último CENSO 2010 realizado pelo IBGE, mais de 84% da população brasileira vive hoje em áreas urbanas. Esse movimento sócio territorial, que vem acontecendo nas últimas décadas, impacta diretamente a capacidade de gestão dos municípios. Grande parte da dificuldade está em conciliar esse crescimento da demanda com a qualidade urbanística. Búzios, por ser um município jovem, tão atraente e estar perto de uma
O licenciamento urbano é um importante instrumento legal de apoio ao desenvolvimento urbano e, em Búzios, estima-se que a informalidade na ocupação chegue a 95% das construções. Essa difícil relação da população com os ritos formais que a prefeitura exige tem várias razões e consequências. Foi nesse contexto que o IAB-Núcleo Búzios, em parceria com o Conselho dos Arquitetos e Urbanistas do Rio de Janeiro (CAU-RJ), promoveu, no dia 30 de novembro, um seminário sobre Licenciamento Urbano, com o objetivo de discutir o tema e buscar possíveis soluções para o problema. O encontro foi bastante proveitoso e rico em debates, pois contou com a presença dos presidentes do CAU-RJ e IAB-RJ, de membros do poder executivo e do legislativo de nossa cidade, e convidados que contribuíram muito, mostrando boas práticas de licenciamento urbano e nos contextualizando em relação a outros lugares.
O debate foi amplo, passando pela carência de planejamento da cidade, onde as ações da prefeitura são tomadas sem uma visão holística. Falou-se da difícil relação do arquiteto urbanista, que tem como objeto de estudo as cidades e, no entanto, baixa representatividade nas tomadas de decisão das ações públicas frente aos políticos. Sobre nossa legislação, no que diz respeito a arquitetura, foi por vezes classificada como ultrapassada por ser restritiva demais, inibindo tentativas de inovação e criatividade, além de dificultar o processo de licenciamento. Em relação aos tributos, Búzios tem taxas muito acima de outros municípios, o que gera ainda mais dificuldades para a população se regularizar. Parte do problema também passa pela eficiência no processo de licenciamento. Um projeto sem grande complexidade pode levar facilmente 6 meses para ser aprovado. Essa morosidade gera várias complicações, desde o enclave econômico sobre a construção civil, menor arrecadação do município e até o estímulo à construção informal.
Esse evento teve por objetivo, além do debate, a redação de um documento a ser elaborado pelas entidades participantes, com pedidos à prefeitura de melhorias em relação ao tema. Foram elencadas diretrizes de maior importância a partir dos debates: Revisão da legislação edilícia, urbana e tributária, visando a uma legislação mais acessível e condizente com as realidades da população. Revisão do fluxograma do processo de licenciamento visando maior agilidade. Melhorias na infraestrutura da prefeitura, passando pela gestão, pessoal e tecnologia. Outro ponto a se destacar foi o pedido do presidente do CAU-RJ, Jeferson Salazar, para que seja incluída, no documento, a implementação em Búzios da lei de assistência técnica nº 11.888, que assegura às famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social.
Diálogos Quilombolas GESSIANE NAZARIO
Quilombola da Rasa e doutoranda em Educação pela UFRJ
TIO MANOEL E A DIÁSPORA DA RASA Este mês, viajei a Brasília para participar de um evento científico e aproveitar para conhecer um tio avô, de 92 anos de idade, que conhecia apenas a distância e por ouvir falar. No último dia do evento, pela manhã, fui até a casa de sua filha onde combinei de encontrá-lo. Confesso que fiquei ansiosa em poder ver e abraçar o irmão mais velho de meu avô de quem ouvira tanto a vida inteira. Estava sentada no sofá quando minha prima disse: ele chegou! Sua voz e aparência eram idênticas a de meu avô. Não pude me conter e chorei. Um sentimento misto de felicidade e revolta por só ter a oportunidade de conhecê-lo a essa altura da vida, já adulta. Abraçamo-nos, nós e as gerações quilombolas simbo-
lizadas neste encontro maravilhoso. Ele me olhou e disse: você é neta do meu irmão! Como você está minha filha? Que bom te conhecer! A partir daí fiquei ouvindo meu tio por duas horas: sua trajetória e como ele chegou até Brasília. Titio me contou sobre sua avó Bibiana e sua tia Tertela que eram filhas de Madalena, uma mulher africana que veio nos braços de sua mãe num dos navios de José Gonçalves para ser escravizada nas terras da antiga Fazenda Campos Novos. Entre relatos do trabalho de lavrar a terra, pedir esmola junto com Madalena para sobreviver, a situação precária em que viviam após começar o processo de expulsão de suas terras até uma experiência frustrada na es-
cola para aprender a ler e ser espancado pela professora portuguesa; impressionou-me ele se lembrar de tudo com riqueza de detalhes. Para mim, além de viajar no tempo, foi como dar continuidade ao nosso processo de reconstruir nosso tecido histórico que foi rasgado pelo racismo do Estado, ao contribuir com a privação das condições de cidadania das famílias dos ex-escravos da Fazenda Campos Novos. Minha revolta reside no fato de que assim como meu tio, muitas famílias da Rasa tiveram de se separar e sair de seu lugar de origem em busca de sobrevivência, já que os fazendeiros os expulsavam para lotear as terras, ocasionando o que podemos cha-
mar da diáspora de muitos Negros da Rasa. Essa injustiça ainda não foi reparada. Tio Manoel, seus irmãos, parentes e amigos, hoje quilombolas da Rasa, esperam a reparação por terem sido privados de ir à escola, de aprender com dignidade, de viver em paz com seus familiares, de viverem de suas plantações, privados de saberem de onde vieram, quais eram suas raízes... Querido tio: por você, por Madalena, por Bibiana, por Tertela e todos os quilombolas do Brasil, RESISTIREMOS.
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cultura Política
ESPECIAL DE FIM DE ANO
por ninguém mais ninguém menos do que o maluco beleza: Raul Seixas abre o set descendo pelos ares em uma carruagem alada, no grande efeito especial da noite, misturando versos de “Asa Branca” e “Blue Moon of Kentucky” em uma levada de rythim n’blues, como nos tempos do Elvis Presley fan club da Bahia. Depois chama Cazuza e Celso Blues Boy para uma canja histórica, dividindo os vocais em “Expresso da noite” e “Marginal”, 2 pérolas do underground carioca dos anos 80. Raul ainda voltava pra apoteose final - o malucão queria fechar com “Rock do Diabo”, mas Tim vetou: “corta essa aí ô Raulseixas, vai pegar mal com a direção da casa”. Irreconhecível esse Tim Maia! Raul então encerraria o bloco com Belchior, em um dueto inédito onde emendariam 2 clássicos: “metamorfose ambulante” e “apenas um rapaz latino-americano”.
ALEXANDRE SANTINI
Dramaturgo e gestor do Teatro Popular Oscar Niemeyer de Niterói
A confusão era tremenda, mas normal daqueles momentos que antecedem o início de um grande show. Reunir uma seleção brasileira de gigantes da MPB para uma celebração de final de ano parecia ótima ideia, mas não era moleza. Acabou sobrando pro síndico, organizar a bagunça. “Não tem caô mermão, no final sobra pra preto, pobre e gordo carregar o piano. É F*#@!” . E dando uma talagada num pote de água benta e uma baforada num baurete colhido nos campos do Senhor, Tim Maia do Brasil adentrou o palco onde a banda Seroma Racional tentava se ajeitar em meio à enorme parafernália de cabos, microfones, metais, percussão e cordas pra todo lado. Tim estava gordo como sempre, mas renovado, a pele rejuvenescida, os olhos brilhavam como nos velhos tempos da Rua Matoso na Tijuca. Meio nervoso, se sentindo uma baiana de acarajé dentro daquela bata branca, Tim comeu umas laricas - toucinho do céu, papo de anjo, arroz doce, canjica - cuidadosamente preparadas pela legião de arcanjos e querubins, a postos para qualquer eventualidade. Começou a repassar mentalmente o repertório - “50% esquenta sovaco e 50% mela cueca” - daquela noite inesquecível, que faria o especial de fim de ano Roberto Carlos ficar parecendo uma festa de formatura. Abririam os trabalhos com “A Festa de Santo Reis”, segundo Tim: “pra já pagar o jabá dos patrocinadores”. Depois a Seroma (as sílabas iniciais de Sebastião Rodrigues Maia) atacava um pout-pourri com “Imunização Racional (Que Beleza)”, “Guiné Bissau,
Moçambique e Angola” e por fim “Primavera (Quando o inverno chegar)”, pra fechar o primeiro bloco numa relax, numa tranquila, numa boa. O escrete da Seroma nesta formação especialíssima reunia o supra-sumo dos instrumentistas da MPB. Na bateria Wilson das Neves. O naipe de metais sob o comando do maestro Paulo Moura. Celso Blues Boy na guitarra, Francisco Tenório Jr. (Tenorinho) no piano e Taiguara nos teclados. Reforçando a cozinha, um recém chegado de peso: Arthur Maia, diretamente de Nikity, estreando na área, garantia o suingue e a pulsação do contrabaixo, para o deleite do Tião Maia da Tijuca. O coro de vocalistas era divino - e infernal: Elke Maravilha, Jovelina Pérola Negra, Belchior e Cazuza. O maestro Villa Lobos deu uma força, escrevendo arranjos vocais entrosa-
Shopping Aldeia da Praia, Avenida José Bento Ribeiro Dantas, nº 5350, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000 Fone: (22) 98111-7510
dos e preciosos. Além de cantar no coro, fariam números solo ao longo do espetáculo, cujo roteiro e direção cênica estavam a cargo de Luiz Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli, com cenografia e iluminação assinadas por outra dupla de ouro e de Hélios: Oiticica e Eichbauer. Haveria um bloco todo dedicado à turma da Bossa Nova, cuidadosamente preparado por Miéle e Bôscoli, recheado de participações especiais: Vinícius, Tom e Elis atacavam com “Canto de Ossanha”, para logo emendar com “Regra 3” e fechando o pout-pourri, “Águas de Março” e a clássica “Garota de Ipanema”. No bis, Elis convidaria Jair Rodrigues e Simonal para relembrar os tempos do “Fino da Bossa” com uma versão atemporal de “Na tonga da mironga do kabuletê”. O penúltimo bloco, uma homenagem ao rock brasileiro, seria comandado
Para o bloco final, Tim Maia do Brasil voltava com tudo pra fechar a conta e passar a régua: “Do Leme ao Pontal”, “Sossego” e “Não quero dinheiro (só quero amar)”, uma saraivada de hits pra não deixar ninguém sentado na cadeira. Para o bis, voltariam todos os artistas convidados para um encerramento apoteótico com “Festa de Arromba”, em homenagem a Roberto e Erasmo Carlos. Completando a ficha técnica do show, destaque para a equipe audiovisual: Glauber Rocha e Mário Carneiro comandavam direção e fotografia; na ilha de edição ao vivo tabelavam Borjalo e Carlos Manga; produção de Walter Clark, textos de Dias Gomes e Janete Clair, e como apresentadores Leila Diniz e Luiz Carlos Maciel. A platéia lotada já esperava impaciente o início do espetáculo. Tim Maia dá mais um de seus esporros no técnico de som pedindo mais grave, mais agudo, mais retorno, mais tudo! As luzes se apagam, toca o terceiro sinal e se acendem as luzes da ribalta. Abra suas asas, solte suas feras, o show vai começar! Feliz 2019!
ZANINE
FUNCIONAMENTO: SEGUNDA-FEIRA A SEXTA-FEIRA DE 9H ÀS 18H, SÁBADO, DOMINGO E FERIADO 11H ÀS 19H @nucleodedancaodiliacuiabano
Estrada da Usina (ao lado da Prefeitura), Centro, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro, Brasil, CEP 28950-000 - Fone: (22) 2623-6502
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EDIÇÃO 006 – ANO 01 – JANEIRO 2019
COMUNICADO
Cinema e histórias
Informamos aos nossos amigos e espectadores do Grand Cine Bardot que, por motivos de dificuldades financeiras originadas pelo não recebimento de recursos comprometidos, nos vemos obrigados a interromper nossa programação normal, de quinta a domingo, como realizada durante os últimos 25 anos.
Nos encontramos impossibilitados de continuar as atividades comerciais do que acreditamos ser uma significativa referência de excelência e qualidade da nossa cidade, sem antes resolver estas dificuldades.
Outrossim, agradecemos o permanente apoio de todos aqueles que, com sua presença e opinião, ajudaram a ser possível acreditar que, através do Grand Cine Bardot, Cinema era a Nossa Praia.
O Frente & Verso convida todos os moradores e frequentadores da cidade para um grande abraço no Grand Cine Bardot dia 1 de janeiro (terça-feira) às 19h. Vista branco. Que venha um ano novo! Cinema é a nossa praia!
Travessa dos Pescadores, nº 88, Centro, Armação dos Búzios, Rio de Janeiro.
MANOLO MOLINARI
COLAGEM
Historiador Rosarino Buziano
CINEMATOGRÁFICA Nessa altura do ano a gente se pergunta como é que foi. Bom ou ruim? A verdade é que nem tanto nem tão pouco. Estamos muito atrelados a datas, festividades e ao “eterno retorno” que nos cria a impressão de recomeçar tudo de novo. Sem dúvida existe um tempo natural, que o diga o calor desse verão se não for assim, mas o resto é tempo social, convenções humanas para diferentes fins, trabalho, lazer, que algum faraó ou alguns papas decidiam encurtar ou alongar e até a Revolução Francesa reformulou, suprimindo o domingo e, portanto, o ritual religioso, do “decadi”, semana de dez dias, e começando desde o ano I (em lugar de 1792), para instaurar um tempo novo, uma Era diferente, de igualdade. Mas não é bem disso que eu quero falar. Vou tentar ser positivo. O que eu quero resgatar deste ano problemático que ainda não foi embora, é que teve uma boa safra de cinema, pelo menos para mim, que muitas vezes me dou o trabalho de rever filmes velhos enquanto espero as estreias do Cinema Bardot, que mantiveram, como é de praxe, seu nível de sempre. Outro dia assisti “Beijos proibidos” (“Baisers volés” que, na realidade, quer dizer beijos roubados) do saudoso François Truffaut, uma comédia deliciosa, feito no ano 1968 e atuado por Jean Pierre Léaud, fazendo o papel de Antoine Doinel, “alter ego” do diretor, algo assim como Jean Louis Trintignant no papel de Simon Duroc o foi de Claude Lelouch. Esse, o 68, foi também um ano complicado, porém mais interessante que o 2018, onde, pelo menos, a imaginação estava mais “na moda”, tanto que os estudantes da Sorbonne, entre suas pichações, pediam ou melhor, exigiam, “a imaginação ao poder” (“l’imagination au pouvoir”) e “sejamos realistas, exijamos o impossível” (“soyez realistes, demandez l’impossible”). No começo do filme, ao som de uma música inesquecível de Charles Trenet que minha mãe cantava muito bem e eu desafino ainda (“Que reste-t-il de nos
amours?”), a câmera foca a entrada da cinemateca de Paris que anuncia sua próxima reabertura e o filme é dedicado a Henri Langlois, seu diretor na época. Cinema que homenageia cinema. E pensando nesse mesmo ano pulo, assim, por arte de mágica, ao “Os sonhadores” (“I sognatori” em italiano, “Innocents” em francês), do recentemente falecido Bernardo Bertolucci, que chegou a conhecer o Cinema Bardot na sua vinda ao Brasil, e trata justamente de três jovens, um norte-americano e dois franceses, que buscam identidades, sexo e amor trancados num apartamento durante o mês de maio do 68 em Paris, enquanto fora rola a guerra de paralelepípedos entre estudantes, operários e policiais nas ruas do bairro Latino. O filme começa com eles se encontrando na saída da famosa cinemateca e, ao longo da fita, eles brincam de adivinhar nomes de filmes fazendo representações. Mais cinema que homenageia cinema. E mais outro golpe com a vara do condão que levo escondida e caio na última sessão do último Festival de Cinema de Búzios, um filme argentino, “O anjo” (“El ángel”), de Luis Ortega, filho de Palito (famosíssimo cantor daquela época), que me deixou de boca aberta e queixo caído pela genialidade, pela atuação do rapaz, pela direção e pela bela feitura. O filme trata sobre o caso real de Robledo Puch, garoto novo, assassino e ladrão que por lá aconteceu no ano 70, mas com uma cripto-história por trás, que fala sobre uma classe média empobrecida e afastada do poder, durante uma das ditaduras militares (a do general Levingston) e parece preanunciar a violência e a loucura que tomaria conta do país poucos anos depois. Imperdível! Bravo pelo Festival, que teve outros acertos como “Colette”, o filme de Spyke Lee e outro sobre Amazônia de Cristiane Torloni! Muito obrigado! E para acabar, e sem sair da minha surpresa nem da minha poltrona personalizada na fileira 5, soube que o Bardot, NOSSO cinema, está com
algumas pendengas e corre risco de fechar as portas, caso não se resolverem favoravelmente e depressa. Tiro, então e por último, da minha cartola, a lembrança de um dos primeiros filmes de Peter Bogdanovich, também produto dos anos 70 que, chamava-se, “A última película” (“The last picture show”), uma história de jovens dos anos 50 que também estão à procura deles mesmos e do sexo (gente! Até pareceria que o sexo não é tão velho assim!), numa cidadezinha pacata de Texas, cujo cinema vai acabar fechando.Não queria que isso acontecesse com a gente. Vamos dar uma melhorada nesse primeiro dia do ano, que já vai a caminho a ser chato e preocupante. Às 19 horas da tarde, com ou sem ressaca, vamos nos juntar para abraçar o Cinema Bardot. E vamos convidar Mario e a Ana Elisa também, se quiserem entrar na parada e ficar no meio!!! Vamos pedir apoio para que o cinema continue. Sabemos que se trata de um empreendimento particular, mas a cultura é um bem público, material ou imaterial, de todos nós. Assim, igual como falei do tempo natural e do tempo social. Nossas praias naturais são Brava, Azeda, Geribá, etc. mas a praia social é, neste caso, o Cinema Bardot, o da Rasa e todas as instituições voltadas para a cultura! Todos convidados, amigos e visitantes! Prefeito, venha também e dê uma ajuda para resolver nosso problema. Talvez ganhemos até um filminho! SEJAMOS REALISTAS E EXIJAMOS O IMPOSSÍVEL!!! MUITAS FELICIDADES PARA TODOS, QUERIDOS LEITORES DO FRENTE E VERSO!!! NOS VEMOS LÁ!
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Cultura Canábica
HAMBER CANNABICO CARVALHO Ativista da maconha medicinal
SONHANDO E PLANTANDO O PRÓPRIO REMÉDIO A fitoterapia sobrevive no fundo dos quintais e não há regulamentação que consiga disciplina-la. A regulamentação do uso de nossas plantas medicinais tem mais servido as indústrias farmacêuticas do que a quem realmente precisa. Aprendi com minha mãe e com minha avó a simplicidade da utilização das ervas medicinais. Quando adulto, conheci pajés, xamãs, rezadeiras, benzedeiras e com o povo da Umbanda e do Candomblé as técnicas de extração e os benefícios dos princípios ativos das plantas. Raramente vou a farmácia pra procurar alívio para as minhas dores e infortúnios. Por mais que sejamos urbanos, as plantas nos rondam, em vasos, jardineiras ou no cantinho de nosso terreno. Leio muito, pergunto aos mais velhos e aos feirantes de Búzios, sobre a utilidade de hortaliças e temperos, tanto os convencionais, como os não convencionais. Este mês, tivemos na feira uma magnífica degustação de Plantas Não Convencionais, promovida pelo Instituto Federal Fluminense-IFF e pilotada pelo meu irmão e chefe preferido Gustavo Guterman, onde aprendi que as plantas mais que alimentos, são remédios vivos, com quase nenhuma manipulação. Desde os 40 anos que estudo as propriedades da Cannabis, sempre sob o olhar simplório e com a mesma cumplicidade dos elementais, que buscam na natureza não somente a cura pra si, mas antes de tudo, para aqueles que não possuem conhecimento e precisam de conforto para o
Palestra sobre plantas não convencionais promovida pelo IFF, na Feira Livre Periurbana
espírito e a matéria. Miram a doação como troca de energia para continuarem seu caminho nesta dimensão. Não importa quem governa a terra, a natureza sempre será a Rainha e é ela quem aponta os atalhos para desviarmos da lógica de quem pressupõe que detém o poder. Esses segredos jamais serão desvendados pelos mais bem preparados cientistas, pois são relatados no momento em que nos integramos com a flora e a fauna existente ao nosso redor. Muitos se assustam com o governo que virá e que representa mais do mesmo. Foi assim na Idade Média, na obscuridão do conhecimento, mas
nada que a morte conseguisse evitar, pois os segredos, as alquimias, as soluções e as poções mágicas sempre ultrapassam a história da humanidade, pois, quando não são cunhadas em pápiros, são transmitidas pela tradição oral. O ano de 2019, será mais uma etapa mensurada pelo tempo, nos relógios e nos calendários do comércio, nada mais que isso. A transformação continuará a existir e a luta pela aceitação e liberação da maconha como remédio, vai avançar, não pelo poder constituído, mas pela razão direta de quem precisa e sabe do seu poder de cura. O medo
e o preconceito de sua utilização, estão sendo substituídos pelo alívio das dores e o reequilíbrio que ela promove em nosso organismo, em suas funções vitais. Nada cairá do céu, apenas a chuva e a luz do sol pra alimentar a luta daqueles que possuem a coragem e a sabedoria pra vencer mais este desafio. Plante sempre, não compre jamais. Faça seu próprio remédio!!!
Vixi, exagerei no beck.
Praça da Ferradura, Centro Armação dos Búzios Rio de Janeiro, Brasil SÁBADO DE 7H ÀS 15H Hortifrutigranjeiro, alimentação, DJ Léa, artesanato e livros QUINTA-FEIRA DE 19H ÀS 23H Alimentação, DJ Léa, música ao vivo e artesanato
@feiraperiurbanadebuzios
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EDIÇÃO 006 – ANO 01 – JANEIRO 2019
EU FINANCIO O
PARTICIPE DO FINANCIAMENTO COLETIVO Este espaço é dedicado as pessoas que mensalmente contribuem para que o Frente e Verso possa ser publicado e distribuído gratuitamente. www.catarse.me/frenteeverso
Aline Codeço Mesquita Antônio Araújo Artênius Daniel Bruno Viana Carla Rimes Clarice Cruz Terra Cris Anila Paramita Fabio Ferreira Fernando Máximo Gessiane Nazario Glamour Zero Gustavo Guterman Hélio Coelho Filho Júnia Prosdocimi Kênia Rocha Leandro Silva de Araújo Luisa Barbosa
Memória Buziana
Zarzuela
PAISAGEM Parte 2 Terminamos a última coluna sobre paisagens com a Ilha Feia, que de feia não tem nada. Voltamos a ela. Situa-se mais ou menos a mesma distância da Armação, 2.6 milhas, mas mais a oeste. Em sua ponta leste encontramos alguns cabeços, 3 ou 4, pequenas pontas de pedra, onde se quebram as ondas, o fundo é bastante acidentado, alternando areia branca com grandes blocos de pedra incrustados de abundante vida marinha. Nestas pedras, várias tocas escondem muitos pequenos peixes e no passado as lagostas. Podemos ver também belos corais, é o seu trecho mais bonito. Também é possível nadar, tanto de num lado como do outro da ilha. Do lado de fora, encontramos muitas pedras e uma pequena laje a algumas centenas de metros da ilha. Podíamos ver garoupas e muito ocasionalmente, ariscas grandes, caranhas negras. Do lado de terra, o costão até a prainha, tem fundo de areia com panoramas diversos e muitos peixes pequenos. Na ponta oeste existe uma pequena laje que era frequentada por badejos e grandes meros. A laje do Coelho, não é um lugar bonito. Pequena e sem graça. Deve ser enquadrada no capítulo de exótica. Situada a uma milha da praia e ao norte da boca do rio Una e ao sul da do rio São João. Estes rios depositam no fundo, do mar, uma grande quantidade de areia e lama. Quando vento nordeste levanta as ondas, mesmo as menores, estas revolvem estes depósitos. A água do mar, que é raso em volta da laje, fica extremamente turva. São necessários vários dias seguidos de calmaria, para que a água fique limpa. O Cabo Búzios não é famoso pela falta de ventos, portanto, só em poucos dias por ano, pode-se mergulhar na laje do Coelho, sem literalmente bater com a mascara de mergulho na pedra
Luisa Regina Pessôa Manuel Molinari Márcio Careca Maria Cristina Pimentel Marlene Gonçalves Gouveia Pap Antonio Pedro Campolina Rosecleide Barbosa Roselay Barbosa Sheila Saidon Tchum Tiago Alves Ferreira Valéria Cardoso Magalhães Vinícius Costa
BENTO RIBEIRO DANTAS
Escritor
Mas o que fazia a laje do Coelho ser excepcional era a concentração de grandes meros. Uma vez, a cerca de 45 anos atrás, mergulhando com meu particular amigo Dr. Antar Padilha, contamos mais de 7 meros de mais de 50 kg., inexplicável para um lugar pequeno, raso, liso, sem tocas e locais de proteção. Ocasionalmente também podíamos encontrar grandes robalos e um raro camurupim. Hoje, dificilmente vamos avistar os grandes meros, eles se escondem em locais mais profundos e o seu numero diminuiu ao ponto de estarem ameaçados de extinção. A praia Brava não tem este nome sem motivo, do lado de fora da baia de Búzios e de frente e exposta ao vento, dominante, o nordeste. Normalmente é varrida pelas ondas, especialmente seu lado esquerdo, de quem da praia olha o mar. Provavelmente por este motivo apresenta o fundo mais bonito e cheio de vida marinha. Nos dias de vento sudoeste, que vem de terra, ela fica abrigada, de águas claras e calmas. Pode-se nadar por todo costão esquerdo até a ponta do Criminoso. Vamos encontrar muitas tocas, plantas, corais e peixes, garoupas, e ocasionalmente um rombudo, nome que os mergulhadores dão ao grande pampo sernambiquara, por sua cara, digamos, “rombuda”. A finalidade desta crônica não é a de servir de guia de mergulho. Muitos outros lugares em Búzios e nas ilhas tem paisagens submarinas que valem a pena, como o entorno da ilha Branca. O nosso propósito é o de passar algumas experiências de beleza e paz que só podem ser conseguidas mergulhando.
“Sou mulher, sou pobre, sapatão, mãe solteira, preencho todas as lacunas. Tem de saber lidar com o preconceito” Cássia Eller
LÉA GONÇALVES
Radialista, DJ e programadora musical Nas últimas semanas, foi viralizado, via WhatsApp, um áudio acompanhado dos dizeres “Escutem essa música em anexo com fone de ouvido. É a nova música do A. R. Rahman composta em tecnologia * 8D * * Ouça apenas usando fones de ouvido * É a primeira vez que você vai ouvir uma música com a cabeça e não com os ouvidos. Você vai sentir a música vindo de fora e não dos fones de ouvido. Sinta a realidade, sinta a magia, aproveite o poder da música”. Seguindo essas instruções, lá fui eu ouvir o áudio, achando que se tratava de mais uma piada das amigas e para minha surpresa comecei a escutar a música e a sensação foi maravilhosa, o som dava voltas, flutuava pela minha cabeça. Confesso que não conhecia essa tecnologia, mas dando uma pesquisada, descobri que não era nenhuma novidade, foi criada na década de 80 pelo cientista argentino Hugo Zucarelli. Som 8D ou áudio ambisônico foi introduzido em videogames e na tecnologia de realidade virtual. Já no mundo da música, diversas bandas e artistas utilizaram a técnica com a proposta de oferecer uma experiência tridimensional e imersiva. Pink Floyd com o álbum “The final cut”, Lou Reed gravou três álbuns: “Street Hassle”, “Live: Take No Pri-
soners” e “The Bells”, O Pearl Jam empregou a técnica em algumas canções do disco “Binaural”, entre elas, a música “Of the Girl”. Virou febre na internet e a técnica pode ser apreciada em diversos canais do YouTube; alguns exemplos: Queen - Don’t stop me now, Beyoncé - Halo, Maroon 5, card b - Girls like you, Ariana Grande - God is a woman, Lana Del Rey - Young and beautiful e tantos outros. Coloque seu headphone e sinta o som, a experiência será incrível.
Até a próxima. Mande-nos uma mensagem, participe conosco: A coluna Zarzuela gostaria de saber quais são as dez mais de todos os tempos? lea.leadj@gmail.com http://facebook.com/lea.leadj Para os inscritos no Catarse, este mês estará disponível no Spotfy uma playlist com músicas em 8D.