Nem parece que do primeiro número até chegar a esse décimo já se foram cinco anos, tempo que nos permitiu colar em trocentos rolês, conhecer pessoas, bandas, quebradas, compartilhar, aprender e vivenciar diversas situações. E por mais importante que o Punk seja em nossas vidas, o que é um acontecimento nesse micromundo quando comparado ao que acontece no macro. É insignificante, mesmo que vivamos em uma bolha. Afirmar que boa parte do mundo caminha para o buraco é redundante. Guerras, terrorismo, epidemias, o pensamento autoritário ganhando força no mundo enquanto a liberdade vai se tornando um sonho mais distante para muitxs, mudanças climáticas, desigualdade social, fome e uma lista de mazelas que parece não ter fim. A ideia de mundo mais justo e igualitário vai se tornando cada vez mais utópica frente a tantos problemas causados pela política e pelo capital. E o Bra$il, aquela ilha imaginária democrática, de boa convivência, cordialidade e tolerância, abençoada por deu$ e bonita por natureza (como diz um sucesso da mpb) também caminha para o buraco. Desde a “redemocratização”, uma parcela da população (sobretudo a classe mérdia) parece não entender as conquistas sociais, trabalhistas e civis, não entendendo que essas conquistas também são para ela. Ao invés de assimilarem de maneira positiva as mudanças que ocorreram, ao que parece passaram os anos mantendo seus ódios adormecidos, disfarçando entender e aceitar essas mudanças, talvez até esboçando um apoio forçado. Mas isso acabou em outubro, quando a capitão liberou toda forma de intolerância. A partir daí, com base em uma moral que não é a de todo mundo e que vem sendo gradativamente posta como verdade absoluta, o esgoto do inconsciente tomou a forma de palavras escritas e faladas, agressões e o que mais for possível para intimidar quem for consideradx diferente sob o prisma dessa moral que agora tenta guiar a vida da sociedade “de bem”. E a partir de primeiro de janeiro de 2019, uma nova etapa se inicia em nossas vidas, ao que parece, nenhum pouco fácil. O liberalismo econômico andando de mãos dadas com o moralismo nos costumes, amparado pelas botas e armas da jagunçada, sob o olhar vigilante dos três podres poderes e com a benção de deu$. Parece loucura, mas parte da população usou de um direito democrático (que vem provando ter pouca serventia nessa terra) que é o voto para eleger um candidato com discurso autoritário, que deseja levar o país ao obscurantismo. É x brasileirx provando que se tropeçar, cai pra trás. Os dias cinzentos que se avizinham exigirão muito daquela parte da sociedade que não vai concordar com os futuros desmandos do eleito. A resistência do lado de cá, se existir, terá que ser forte e inteligente, porque o lado de lá deve cair em cima de nós com sua mão pesada. E do fundo de nossos corações livres, desejamos força, sabedoria e cautela à todxs e, em especial, a todo mundo envolvido com o Punk. Toda a teoria política adquirida em anos de rolês deverá ser usada com perspicácia, racionalmente e sem espaço para atitudes emocionadas. Sejamos fortes, solidárixs e que ninguém fique para trás. Façamos por nós mesmxs!
Agradecimentos: Kledson, Gilmar (ARD), Zäká Räpunk (Subversão da Cultura), Tamires, Angelita & Ratas Rabiosas, Paulinha, Ká & Co, Fran, a quem ainda procura zines em uma época que nem os livros são valorizados, a todxs envolvidxs direta e indiretamente com essa edição, porque se o fato de escrever é resistência, que dirá acreditar nessa arte marginal e a todxs xs punks que de alguma forma somaram com nós nesses cinco anos. Paz entre os zines, guerra à burrice literária. Guerra à pseudos intelectuais da direita histérica brasileira. Êra Punk!!!
Este zine é dedicado a Emerson Calherani (Sifilis), Stefan Pettersson (Diskonto, Uncurbed etc), Samuel Garrido (Subterror), Lenon, Silvão Almeida, Rafael Fernandes (Velhos Bohêmios), Mudinho Punk, Canal (Carolina Punk), Kevin Garrido, Sérgio “Bifes” Curto (Simbiose e Dr. Bifes & os Psicopratas), Lesado, Pete Shelley (Buzzcocks), Stan Lee, Moa do Katendê e a todas as recentes vítimas da violência política no Bra$il.
“Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer.” Conceição Evaristo
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Trilha sonora deste número: Dëstërro, Cluster Bomb Unit, Generacion Suicida, Sick of it All, Ekkaia, Ofensa, Crucifix, 013, Masshysteri, Misfits, Sistemas de Aniquilacion, Escato, Terveet Kädet, Kaos 64, Raw Power, Cwill, Capital Scum, Sickoids, Pennywise, The Bitchfits, The Mob, Dischaos, Agathocles, Vivisick, Warcry, Bastards, Massacre, Social Distortion, Alarm, Vitamin X, Ripcord, Wind in his Hair, Fall of Efrafa, Disköntroll, Las Sexpeares, Under Threat, Abuso Sonoro, Detestation, Youth Brigade, Câmbio Negro HC, Dead Fish (antigo), The Rival Mob, Declínio Social, Mukeka di Rato e Discharge.
O CRIMINOSO ÉS O ELEITOR, O MANÍACO DO VOTO, O QUE ACEITA O QUE É; O QUE, PELO BOLETIM DE VOTO, SANCIONA TODAS AS MISÉRIAS; O QUE, AO VOTAR, CONSAGRA TODAS AS SUAS SERVIDÕES Por Albert Libertad, Proclamação do jornal “L’anarchie”, março de 1906 És tu o criminoso, ó Povo, já que és tu o Soberano. É, é verdade, o criminoso inconsciente e ingênuo. Votas e não vês que és vítima de ti mesmo. Contudo, não reparaste ainda por experiência própria que os deputados, que prometem defender-te, como todos os governos do mundo presente e passado, são mentirosos e impotentes? Sabe-lo e queixas-te disso! Sabe-lo e nomeia-los! Os governantes, quaisquer que sejam, trabalharam, trabalham e trabalharão pelos seus interesses, pelos das suas castas e das suas súcias. Onde foi e como poderia ser de maneira diferente? Os governados são subalternos e explorados: conheces algum que não o sejas ? Enquanto não tiveres compreendido que só a ti cabe produzir e viver à tua maneira, enquanto suportares – por medo – e fabricares – por crença na autoridade necessária – chefes e diretores, fica também a sabê-lo, os teus delegados e os teus amos viverão do teu labor e da tua patetice. Queixas-te de tudo! Mas não é tu o autor das mil chagas que te devoram? Queixas-te da polícia, do exército, da justiça, das casernas, das prisões, das administrações, das leis, dos ministros, do governo, d os financeiros, dos especuladores, dos funcionários, dos patrões, dos padres, dos proprietários, dos salários, dos desempregados, do parlamento, dos impostos, dos fiscais da alfândega, dos possuidores de rendimentos, da carestia dos víveres, das rendas dos prédios rústicos e urbanos, dos longos dias de trabalho na oficina e na fábrica, da magra ração, das privações sem conta e da massa infinita das inequidades sociais. Queixas-te, mas queres a manutenção do sistema em que vegetas. Revoltas-te, por vezes, mas para recomeçar sempre no mesmo. És tu que produzes tudo, que lavras e semeias, que forjas e teces, que amassas e transformas, que constrói e fabricas, que alimenta e fecundas! Porque não consomes até à saciedade? Porque és tu o mal vestido, o mal alimentado, o mal abrigado? Sim, porque és o Zé Ninguém sem pão, sem sapatos, sem morada? Porque não és o senhor de ti mesmo? Porque te curvas, obedeces, serves? Porque és tu o inferior, o humilhado, o ofendido, o servidor, o escravo? Elaboras tudo e nada possuis? Tudo é por ti e tu nada és. Engano-me. És o eleitor, o maníaco do voto, o que aceita o que é; o que, pelo boletim de voto, sanciona todas as misérias; o que, ao votar, consagra todas as suas servidões. És o criado voluntário, o doméstico amável, o lacaio, o serviçal, o cão que lambe o chicote, que rasteja diante do pulso teso do domo. És o chui, o carcereiro e o bufo. És o bom soldado, o guarda portão modelo, o locatário benévolo. És o empregado fiel, o servidor dedicado, o camponês sóbrio, o operário resignado com a sua própria escravatura. És o carrasco de ti mesmo. De que te queixas? És um perigo para nós, homens livres, para nós anarquistas. És um perigo de igual modo que os tiranos, os senhores que crias para t i próprio, que nomeias, que apoias, que alimentas, que proteges com as tuas baionetas, que defendes com a tua força de bruto, que exaltas com a tua ignorância, que legalizas com os teus boletins de voto – e que nos impõem com a tua imbecilidade. É bem o Soberano que bajulam e levam à certa. Os discursos lisonjeiam-te. Os cartazes prendem-te a atenção; gostas das parvoíces e que te façam a corte; satisfaz-te, enquanto aguardas que teque te fuzilem nas colônias, te massacrem nas fronteiras, à sombra ensanguentada da tua bandeira. Se línguas interesseiras lambem à volta da tua real bosta, ó Soberano!; se candidatos sedentos de posições de chefia e atafulhados de banalidades escovam o espinhaço e a garupa da tua autocracia de papel; se te embriagas com as lisonjas e as promessas que te vertem os que sempre te traíram, te enganam e vender-te-ão amanhã: é porque te pareces com eles. É porque não vales mais que a horda dos teus famélicos aduladores. É porque, não tendo podido elevares-te à consciência da tua individualidade e da tua independência, és incapaz de te emancipar por ti mesmo. Não queres, portanto, não podes ser livre. Vamos, vota bem! Tem confiança nos teus mandatários, acredita nos teus eleitos. Mas deixa de te queixar. Os jugos que suportas, és tu mesmo que vos impões. Os crimes de que padeces, és tu que cometes. És o senhor, és o criminoso e, ó ironia!, és o escravo, és a vítima. Nós, saturados da opressão dos amos que nos dá, saturados de suportar a sua arrogância, saturados de suportar a tua passividade, vimos chamar-te à reflexão, à ação. Vamos, tem um bom movimento: despe o hábito estreito da legislação, lava o teu corpo rudemente, a fim de que rebentem os parasitas e a bicharia que te devoram. Só então poderás viver plenamente. O CRIMINOSO É O ELEITOR!
VOCE É CORAJOSX NÃO DÊ AO SEU CORPO E MENTE PENSAMENTOS NEGATIVOS Por Karl Straight Não pense que suas dificuldades e dores podem acabar com sua esperança. Não dê ao seu corpo e mente pensamentos negativos. Quantas vezes as aparências enganam e o que pensamos ser um erro é o que está correto. Não se esqueça de que o aprendizado dura a vid a toda e a cada dia vivemos novos momentos. Procure aprender também em todas as ocasiões e não despr eze o bom conselho. A felicidade não depende de outras pessoas, mas apenas de nós. Tenha a fortaleza de ânimo para resistir a todos os embates e tempestades que surgirão pelo caminho. Não dê tanta importância às pedras colocadas pela intriga, pela inveja, ignorância e pelo ciúme. Ande de cabeça erguida confiantemente e vencerá todos, ou pelo menos uma parte, dos obstáculos. E se as pessoas machucarem você, se lembre que as cicatrizes serão luzes que marcarão suas vitórias. Plante sementes de luta e de igualdade e viva bem com sua consciência. Caminhe alegre pela vida, não se deixe vencer pelas adversidades, tenha confiança e seja corajosx.
SERES HUMANOS SERES HUMANOS E TODA A SUA COMPLEXIDADE, COM SEUS MEDOS E DESEJOS Por Karl Straight O inimigo comum de todxs nós é o egoísmo e a ganância. E isso é o que causa a ignorância, a cólera e o descontrole que são a origem de todos os problemas. Se você quer transformar o mundo, experimente em primeiro lugar mudar o seu interior pessoal e realizar pequenas mudanç as. Essa atitude se refletirá em mudanças positivas no seu mundo pessoal. Desse ponto em diante as mudanças se expandirão e em proporções cada ve z maiores e mais intensas. Tudo que fizermos produz efeito e causa algum impacto. Se existe amor, há também esperança de existirem pessoas verdadeiras, há esperança de igualdade, de fraternidade e paz. Se não há mais amor em você, se continuar a ver as outras pessoas como suas inimigas, não importa o conhecimento ou o nível de instrução que você tenha, pois haverá apenas decepções e sofrimento. O ser humano vai continuar julgando e subjugando as pessoas, mas maltratar e insultar x outrx é algo sem propósito. O fundamento de toda a prática da vida é o amor.
O EMBURRECIMENTO DA CLASSE MÉRDIA BRASILEIRA DOS MESMXS CRIADORXS DE “MELHOR JAIR SE ACOSTUMANDO”, VEM AÍ O MAIOR SUCESSO DE 2019: “MELHOR JAIR SE ARREPENDENDO” Por Juänito Após as Jornadas de Junho de 2013, emergiram dos bueiros da "direita" brasileira, motivados pelo não ganho da eleição do ultra não traficante do helicóptero com meia tonelada de cocaína, menino do Rio Aécio Neves e a campanha "Fora Querida”, a mais nefasta e acéfala onda de apoliticismo degenerado "sem partido" a favor dos partidos mais corruptos da história partidária brasileira. Surge desde pastor a favor da pena de morte, anticristo, antipobre a favor dos bons costumes com um monte de B.O. nas costas como agressão à mulher, estupro, pedofilia, cheio dos moralismos, a liberais privatistas a favor do mercado e livre comércio que fazem do Estado seu salário e estabilidade econômica, que é contra o Estado na "ideologia" ,se é que sabem o que é, mas não larga o alto escalão da vida pública, do tipo "pra mim Estado, para os pobres mercado". Urge desse momento histórico a direita que acha que nazismo é de esquerda, fundados academicamente em Olavo de Carvalho, Lobão, supostos "economistas" da escola de Chicago, Austríaca, anticiências e afins. Direita essa que influenciou desde o tiozinho da fábrica que cansou do PT porque os partidários esquecem-se do trabalho na quebrada (de base) quando estão com o caneco do poder na mão, a jovens que nunca tiveram sequer aulas de História no seu ensino básico e cagam regras falando que a ditadura é invenção petralha. Nessa salada de cocô com fezes vencidas que a escória mais repugnante surge: A CLASSE MÉRDIA COMO PANO DE FUNDO PARA QUE GRUPOS NAZI/FASCISTAS SAIAM DAS SUAS TUMBAS, porque nem os "nazistas raiz” reconhecem os white pardos latinos paga pau de americano. (Continua)
AI MEU DEU$ DO CÉU, COMO É BOM SER PASSA PANO A GALERA LIXOSA QUE AFIRMA TER ALGUM ENVOLVIMENTO COM O PUNK E APOIOU O CANDIDATO FECAL É UMA VERGONHA. TÃO VERGONHOSO QUANTO FOI VER UM PESSOAL PASSANDO PANO, DEFENDENDO, TENTANDO JUSTIFICAR O INJUSTIFICÁVEL, COMO SE ESSAS PESSOAS FOSSEM ESSENCIAIS AO PUNK. VERGONHA ALHEIA É POUCO PARA TODA ESSA GENTE Por Treva O título desse texto é uma paráfrase de uma música do MC Rodolfinho, “Ai meu deus do céu, como é bom ser vida loka”, trazendo para a triste realidade punk que antecedeu a eleição presidencial de 2018. Já faz algum tempo que diversas pessoas (uma minoria insignificante) dentro do Punk, vêm demonstrando simpatia pelo candidato da extremadireita, o “coiso”. Uma postagem aqui, um compartilhamento acolá, um pouco de bílis em algum comentário e a vida foi seguindo. Apesar da preguiça cognitiva demonstrada por esse pessoal, o fato de ser de banda, das antigas, amigx de todo mundo ou simplesmente a brodagem inclusiva que é uma característica do Punk, serviu como barreira contra possíveis esculachos ou denúncias. Pois é, o ovo da serpente estava sendo chocado, mas era melhor fazer de conta que nada estava acontecendo e assim tudo continuaria em paz. Em um passado recente, essas pessoas, mesmo gerando incômodo com suas postagens, eram bem recebidas em gigs e em qualquer outro evento, já que eram vistas apenas como pessoas sem noção (independente da idade) e que em algum momento entenderiam ou relembrariam a proposta libertária do Punk. Só que isso não aconteceu. Os meses foram passando, a polarização política tomou ares de transtorno mental e já não seria mais possível manter a política de boa vizinhança com esse pessoal. Quem acreditou que ainda poderiam aprender algo com o Punk, quebrou a cara. Essa galera que vinha há anos alienada dentro do Punk, emburreceu mais e perdeu a vergonha de ser abestada. Ser antipetista não é justificativa para apoiar alguém que demonstra desprezo pela vida humana e não humana, que deseja um estado policialesco, com uma sociedade militarizada e alicerçada em valores não condizentes com a liberdade e que nunca teve a capacidade para debater e apresentar um programa de governo. Ser antipetista (na real somos ou deveríamos ser contra qualquer político), é postura da maioria dxs punks e nunca foi, não é e nem será justificativa para votar em alguém com um discurso baseado no ódio ao que considera diferente, e isso incluiu a nós punks.. Justificar essa monumental cagada dizendo ser contra a corrupção do partideco dos trabalhadores é algo tão raso que deveria ser proibido. Gente que aparentava ser esclarecida usando esse tipo de argumento é pro cu cair da bunda. Só faltou falarem da conspiração orquestrada pela China, Rússia e Cuba visando uma dominação comunista no país e no restante da América Latina, que o kit gay realmente existiu ou que a Terra é plana. E com relação ao resto da diarreia discursiva do candidato, vão negar simpatia ou apoio até o fim dos tempos sempre que forem questionadxs e mesmo quando não forem. Aliás, isso tem sido prática comum de quem votou naquele trambolho e não quer ganhar o carimbo de intolerante. É começar uma conversa sobre qualquer amenidade e antes de completar o trigésimo segundo de papo a outra pessoa já está a se defender, dizendo não concordar com tudo, que tem amigxs isso e aquilo, que não é preconceituosa. Outro dia, lendo um texto sobre política e psicanálise, o autor afirmava que na psicanálise a negação não solicitada gera suspeita. Isso explica muita coisa sobre o eleitorado do bozonaro. Mas apenas criticar esse pessoal como se o restante do Punk não tivesse responsabilidade é hipocrisia. Todxs nós temos alguma responsabilidade nessa situação. O Punk não é grupo fechado onde seja necessária inscrição prévia e isso permite a presença de pessoas aventureiras, desinteressadas de questões que vão além do som, visual ou doses homeopáticas de violência. Aceitamos passivamente que pessoas “mais espertas” digam o que é ou não relevante ao Punk; privilegiamos a música, gigs e deixamos de lado o estudo, a leitura, a troca de informações, esquecendo-se de alimentar os cérebros e fortalecer o viés ideológico que o Punk carrega consigo desde o início; deixamos essa função apenas para a grande rede, esquecendo que ela, mesmo sendo de grande valia, não faz nada s ozinha. O ensino no país é ruim e o fato da pessoa ter acesso à internet não se traduz em conhecimento, proceder ou algo do tipo, por isso a necessidade de eventos com trocas de ideias, oficinas e uma maior interação. Se a política fosse realmente forte no Punk, o pessoal com mais idade que é simpático ao chafariz de chorume e congêneres já teria vazado há tempos, pois se sentiriam incomodados com a forte e real presença política. E com relação ao pessoal mais jovem, provavelmente teriam um contato rápido e superficial, para logo seguirem em busca de outros rolês mais condizentes com suas ideias. Olha o tanto de problema que teria sido evitado sem grande esforço de nossa parte. E aí, dias antes do primeiro turno, com a polarização transformando boa parte da população em zumbis, o pessoal s impático ao capitãozinho, como a democracia permite, decidiu expressar suas opiniões e conhecimentos adquiridos via WhatsApp. Mesmo sendo em quantidade insignificante, foi o suficiente para fazer da bolha Punk um lugar insuportável. Pessoas que conhecíamos , agora postavam absurdos reacionários com a convicção de que a ruptura prometida pelo capitãozinho era a coisa mais radical do mundo. Não era mais possível manter a política de boa vizinhança e o prédio começou a tremer. Meio que do nada, quem ainda tinha um pouco de bom senso e prezava minimamente a coerência, decidiu criticar e excluir/bloquear essas pessoas. Muitas já davam pistas sobre sua “endireitização” há anos, nem deveriam ser adicionadas, não deveriam ter a tranquilidade para colar no rolê sem ser cobradas, não deveriam ter suas bandas convidadas para tocar em gigs porque o lugar dessa galera é bem longe do Punk. E na boa, depois de sei lá quanto tempo mantendo contato com elas, fazendo de conta que nada viam, cumprimentando e dando tapinha nas costas, decidiram radicalizar e pagar de integridade anunciando pra geral que estavam excluindo esse entulho. Foi necessário ver o candidato fecal liderar as pesquisas, ver a aproximação de um grande desastre político para a nossa jovem e sempre debilitada democracia para que a parcela de punks passadorxs de pano entendesse que era necessário tomar partido, que era necessário radicalizar na postura e romper com quem não presta. Antes tarde do que nunca, mas tomar essa atitude em um momento de crise aguda e medo do que está por vir, anunciando com muita pompa, faz parecer uma atitude vazia, talvez mais uma preocupação em não se queimar do que coerência política. Ou pode ser a eterna busca por curtidas em rede social que tanto infla egos. Também não adianta ter excluído ou bloqueado esse pessoal simpático ao “coiso”, anunciado em horário nobre, para depois de alguns meses tudo voltar a ser como era antes, com todo mundo na maior amizade. Porque, com ele na presidência, vai ser muito difícil nossa vida voltar a ser como era antes e esse pessoal que sempre pagou de simpatia no rolê, mesmo com suas ideias tortas, tem responsabili dade nisso. Esse pessoal
não difere de quem enfrentamos e desprezamos nas ruas escuras das cidades. Ambos votaram no mesmo candidato e isso deve ser lembrado quando aparecerem mostrando seus dentes como se o Punk fosse consultório odontológico. Na boa, é muito bom ter som todo fim de semana, só que isso não basta. Som por som já se mostrou insuficiente na formação contracultural e política de quem se envolve com o Punk, dando chance para vícios sociais impregnarem onde não deveria. Precisamos reaprender sobre política, sobre o Punk, sobre apoio mútuo e respeito, sobre militância e autogestão. A vida é um eterno aprendizado e é muita arrogânci a acreditarmos que uma meia dúzia de livros (ou de parágrafos) radicais que lemos durante a vida seja suficiente para nos ajudar na batalha diár ia contra o sistema, o capital e o que mais surgir pela frente. É necessário abandonarmos posturas quase dogmáticas e arcaicas que nada somam na atualidade e buscarmos por novas maneiras de viver intensa e radicalmente o Punk. Faz-se urgente descolar o Punk dessa galera curva de rio se desejamos mais 10, 40, 50 ou 300 anos de caos. Caso contrário, vai sobrar muito pouco disso que um dia foi conhecido como Movimento Punk.
MEMÓRIA ROLESÍSTICA: SARCÓFAGO & D.R.I. IMAGINAR UM ROLÊ COM DUAS BANDAS TÃO DISTINTAS PODE PARECER LOUCURA, BRISA DE QUEM SE CONSIDERA ECLÉTICO MUSICALMENTE, MAS NOS AINDA CONFUSOS ANOS 90 ISSO ACONTECEU. UM PEQUENO PEDAÇO DA HISTÓRIA DO UNDERGROUND E, EM ESPECIAL, DO PUNK E DO METAL Por Treva Se ainda hoje um som reunindo essas duas bandas causa espanto em parte considerável de punks e headbangers, imagina como foi isso em 1990. Foi algo que ninguém entendeu, causando surpresa e muito falatório. Naquela época, punks e bangers viviam as turras nas ruas da Grande SP (e em boa parte do país) e nem tinha a polarização polí tica como desculpa. O lance era a rivalidade entre os rolês, gangues influenciadas pelo filme Warriors (Os Selvagens da Noite em português), algo imaturo, mas que com frequência terminava em violência. Mesmo com a maioria das pessoas envolvidas nos confrontos optando pela luta corporal (havia armas circulando, mas em número reduzido), era o suficiente para complicar a vida de muita gente e tumultuar vários rolês. Então, quando foi anunciada à vinda do D.R.I. surgiu muita especulação sobre possíveis brigas. Sem redes sociais, o boca-a-boca fazia o serviço sujo, criando situações, distorcendo a verdade e tumultuando como fosse possível. Apesar de entendermos que nem tudo que era dito tivesse um fundo de verdade, ambos os rolês tinham certeza que tretas seriam inevitáveis. Os responsáveis pelo rolê do D.R.I. no país foi uma conhecida loja de discos de Sampa e um gringo espertalhão (que continua a faturar suas moedas por aqui). Naquela época, uma banda vir para o Bra$il de maneira independente era algo complicado e, na maioria das vezes, apenas as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro eram agraciadas com eventos. A banda estava em turnê divulgando o álbum “Thrash Zone” e apareceu por aqui para se apresentar em São Paulo e Rio (dias 17, 18 e 19 de agosto), com duas apresentações em São Paulo e uma no Rio, que acabou sendo transferida para São Paulo. O l ocal escolhido foi o Projeto SP, pico grande e com fácil acesso. Imaginem um grande galpão, até bem simples, mas altamente funcional, com uma pista e palco gr andes e um mezanino para a galera que não podia se misturar com a gentalha. O lugar era cara do underground paulistano da metade dos anos 80 em diante e por lá passaram artistas nacionais e internacionais de diversos estilos como Motörhead, Toy Dolls, Iggy Pop, Stanley Clarke, Sepultura, Golpe de Estado, Stray Cats, Nasty Savage, Cazuza, Testament (cuja apresentação terminou em pancadaria entre bangers e equipe de segurança, além da quebradeira no local) entre tantos outros. Mas nesse rolê, o que realmente causou um frenesi foi a banda convidada a abrir para os gringos, o Sarcófago. A banda estava matando a pau com o lançamento de seu segundo play, “Rotting”, e ouso dizer que ela era o divisor de águas no metal, separando o pessoal qu e escutava metal por embalo da galera que realmente vivia a cena. Não tenho certeza, mas acho que essa foi a primeira vez da banda em SP e era a chance de ver o que de mais violento e radical o metal brazuca tinha a oferecer naquele momento. No dia do som, preocupado com as possíveis tretas, eu que era um jovem banger, achei melhor seguir sozinho sem me arriscar. P erto do local, caminho rápido e de olhos bem abertos até aproximar-me da rua onde ficava o Projeto SP. E vem a primeira surpresa: mesmo sendo um sábado, o movimento era pequeno. Pensei que talvez fossem as dezenas de metros que me separavam da entrada é que favoreces sem a minha impressão negativa. Mas chegando ao local, confirmei que não estava errado, tinha pouca gente, o que ajudou a manter a tranqu ilidade, sendo a maioria headbangers, alguns punks, uns skatistas e só. Rolou um exagero (e vontade de ganhar dinheiro) ao marcarem três datas em um local com capacidade para cerca de 4000 pessoas. Enquanto não chegava a hora do início das apresentações, a maioria permanecia do lado de fora trocando uma ideia, esperando p or amigxs tendo como trilha sonora o Sarcófago, que devia estar passando o som. Nisso, a empolgação só aumentava, já que boa parte dxs presentes estava lá para ver a banda mineira. Os minutos foram passando, a música continuava e as conversa também, quando, do nada, o silêncio do lado de dentro se faz presente, fazendonos acreditar que a passagem de som havia sido encerrada. E aí vem a segunda surpresa da noite: alguns bangers descabelados e suados aos gritos de “Sarcófago é foda!” saem de dentro do pico. Todo mundo se entender o que estava acontecendo, tentando conversar com essas pessoas que sem querer nos ignoravam devido a sua excitação. Com muito custo, entendemos que a tal passagem de som na verdade tinha s ido a apresentação do Sarcófago e que apenas um punhado de pessoas teve a oportunidade de ver. A í, virou um rebosteio, porque todo mundo queria informação, falando com funcionários da casa ou procurando o responsável pelo rolê. Sem respostas, vemos essa galerinha feliz dizer “tchau” e seguir rumo a suas casas, sem nem cogitar ver os gringos.
Com aquela mistura de fúria e decepção, adentro ao local que continuava bem vazio (não passavam de 1500 pessoas presentes), a inda com esperança de que tudo tivesse sido um mal entendido e que o metal da morte rolasse para nossa alegria. E eu não era a única pessoa com essa mistura de sentimentos. Como normalmente acontece, a esperança durou pouco. Do nada, alguém anuncia em inglês o D.R.I. e o barulho começa. A frustraç ão inicial logo desaparece frente à energia que vinha do palco. Mesmo o pessoal que foi para ver o Sarcófago se entrega ao mosh pit e se o local estivesse lotado, a parada teria sido um caos. No palco, mesmo com a influência punk presente em letras e músicas, o que víamos era uma banda de metal na presença de palco e no visual. Boa parte das pessoas se aglomerou no gargarejo, dando a impressão de que o lugar estava mais cheio e favorecendo o mosh pit. Headbangers, punks e hardcores (assim era chamado o pessoal que usava visú mais próximo da galera do skate e curtia uns punks/hc ) agitavam como se o mundo fosse acabar e sem tretas. Na real, o atropelho que vinha do palco impediu que a galera arrastona se lembrasse de briga r. E nem parecia que momentos antes, muitas dessas pessoas lamentavam ter perdido a banda de abertura. Em pouco mais de uma hora a banda mostrou o porquê de ser tão conceituada no metal e no punk, com uma apresentação visceral e que passou pelas várias fases de sua trajetória. Lembro-me que muita gente ficou impressionada com a presença do vocalista Kurt Brecht, que agitava de maneira “estranha” e pouco bangueava, Em uma publicação da época foi comparado a um Joe Cocker tresloucado, o que só fui ente nder anos depois vendo um vídeo do tiozião hippie. Ao final da apresentação, entre palhetas e baquetas que eram arremessadas ao público, muita gente pedia para o guitarrista Spike jogar sua camiseta, que era muito foda por sinal, com o personagem de desenho animado Tazmania comendo o símbolo da paz. Infelizmente, o cara foi ligeiro e não jogou a camiseta. Findo a noite barulhenta, hora de seguir para casa. Antes, aquela parada básica na frente do local para trocar impressões sob re o rolê e, claro, o assunto girava em torno da nossa decepção por não termos visto o Sarcófago. Ainda tinha gente cobrando explicação de quem aparecesse pela frente com cara de funcionárix da casa ou envolvidx na organização, mas de nada adiantou. Dias depois é que as fofocas começaram a pipocar, dando contra de uma briga entre integrantes do Ratos de Porão e Sarcófago na noite anterior, com direito a um braço fraturado de integrante da equipe do D.R.I. Se tudo que disseram e ainda dizem sobre essa treta é verdade, não sei. Só quem estava lá e presenciou a querela é que sabe a real. De resto, é só conversa fiada. Depois da última rodada de conversa, hora de seguir de volta para casa. Como não rolou briga antes e nem durante a apresentaç ão, todo mundo relaxou e seguiu tranquilo, sem sustos. Mesmo com tantos anos passados e com o D.R.I. retornando várias vezes ao país, essa primeira passagem continua a ser a mais lembrada, infelizmente, pelo episódio envolvendo as bandas cujos integrantes trocaram massagens nos bastidores, acontecimento que contr ibuiu muito para queimar o filme do país quando o assunto era a competência para organizar eventos independentes.
ARD 34 ANOS DE BANDA NÃO É POUCA COISA. SE SOMARMOS A ISSO O FATO DE SER PUNK E INDEPENDENTE, RESIDIR NO BRA$IL E TER QUE ENFRENTAR AS DIFICULDADES QUE SÃO INERENTES A UM PAÍS DE TERCEIRO MUNDO, SÓ COM MUITA PERSISTÊNCIA PARA MANTER A CORRERIA. É SOBRE ISSO E MUITO MAIS QUE TROCAMOS UMA IDEIA COM GILMAR, FUNDADOR E ÚNICO MEMBRO REMANESCENTE DESSA VETERNA BANDA Por Treva & Juänito VP – A história da banda tem início em 1984 com o nome de Stuhlzapfchen Von N. Após mais de três décadas na atividade, mudança do nome para ARD e tendo passado por diversos momentos políticos, econômicos e culturais, alguns bons e outros ruins, tem valido a pena essa insistência no Punk ou em algum momento a vontade é chutar o balde e largar tudo? Gilmar – O plano é acabar a banda quando os problemas do mundo se resolverem... rs... é a vontade de largar tudo que nos faz prosseguir, por mais paradoxal que seja a fala. Mas daí, pensamos: o que iremos fazer se perdermos esse canal de diversão e realização pessoal tão legal? VP – Qual a atual formação da ARD? Gilmar – Atualmente somos um trio. Gilmar na voz e baixo, Sávio na bateria e Virgílio na voz e guitarra. Maurício (segunda guitarra) n os acompanhou na tour por várias questões importantes, sendo uma delas o fato de ser um cara do bem e batalhador voraz da cena underground. VP – Apesar dos 34 anos de existência, a banda não possui tantos lançamentos. Além dos problemas econômicos do país que acabam por resultar em problemas estruturais para quem vive o Punk, o que mais colaborou para que a banda tivesse essa discografia mais enxuta? Gilmar – Basicamente falta de grana mesmo pra pagar gravações e as dezenas de entradas e saídas de membros na banda, acaba literalmente quebrando todo o serviço anterior e até a nova formação pegar a consistência boa de palco e criação, a gente acaba se acomodando com as velhas canções etc. Tenho uma centena de letras e cifras pra uns 10 lançamentos... rs. VP - Dos lançamentos da banda, qual o mais significativo? Gilmar – Causas Para Alarme, definitivamente.
VP – Independente do estilo, é comum vermos tributos sendo lançados quando a banda já encerrou as atividades. Mas com o ARD foi diferente, com o CD “ Honra ao Mérito - Vol. 1 – Tributo ao ARD” sendo lançado em 2006. Qual a sensação de ver o material pronto e ouvir suas músicas regravadas por diversas bandas? Gilmar – Muito emocionante viver para sentir o prazer de ter um tributo dedicado à sua banda. Felipe CDC me perturbou muito até eu aceitar. O resultado foi além do imaginável. Cada banda participante deu seu tempero especial às nossas músicas. Confesso que chorei ouvindo algumas delas. Infelizmente o projeto do CDC parou, por falta de recursos. VP – Tempos atrás vimos notícias sobre um futuro Split com o Rattus. Em que pé está esse lançamento? Gilmar – Hehehe (risos amarelos e sem graça). Então, o material está gravado, a parte do Rattus está impecável, é um extrato do Turta mesmo antes dele ter sido lançado. O do ARD precisa de alguns pequenos ajustes de mixagem etc. O plano original era lançar o Brothers in Boots pelo selo local GBG, mas nosso amigo passou por vários perrengues financeiros e acabou desistindo, pois ele queria lançar no formato digipack. A banda conseguiu negociar os direitos de lançamento, porém, apesar de tentarmos vender para vários selos, ninguém de fato bateu o martelo. Infelizmente está parado por estes motivos. A falta de grana continua sendo o maior deles. Estamos abertos a selos interessad os. Quem sabe agora depois da bem sucedida na Rússia, não apareça algum selo interessado. VP – Em 2017 e 2018 a banda esteve fazendo turnês pela Europa, inclusive tocando em lugares mais distantes como Rússia, Estônia e Mongólia. Como foram essas duas turnês e quais as maiores diferenças entre lá e cá quando o assunto é o Punk? E para matar nossa curiosidade, como foi o rolê na Mongólia? Gilmar – A primeira vez que tocamos mais vezes fora de casa. Logo a Europa dos sonhos de todas as bandas undergrounds (acho eu). A Iced Calangos Tour 2017 foi totalmente organizada por mim e Virgílio. Eu cuidei dos contatos e Virgílio das passagens (bancamos as passagens). Ficamos 24 dias viajando, visitamos 09 países e tocamos em 06 deles. Foram 16 shows ao todo – 05 na Rep. Tcheca, 06 na Finlândia, 02 na Rússia, 01 na Suécia, 01 na Dinamarca e 01 na Estônia. Enfrentamos frio de – 20°C com sensação térmica de -30°C aprox.. Foi uma grande aventura musical, alimentar e de fortalecimento de amizades sinceras e camaradagem na estória do faça você mesmo, ou como chegamos a conclusão: faça você mesmo, mas façamos juntos somos imbatíveis! Tommpa do Rattus, Kjell do Bob Malmström, Otto do Força Maca bra, Sarya do Antimelodix, Fabbe na Suécia, Denis Alekseev da Rússia, Anton do Rövsvett na Suécia e Dinamarca, Lembit e Mikko do Hot Kommunist, Marco e Jukka do Eristetyt e Severi do Riistetyt e John Blogs do Terveet Kädet/Kuroishi foram nossos maiores apoiadores. A Trans Siberian Tour 2018 – Rússia, Mongólia e Finlândia (Estônia entrou no roteiro de show já na Europa durante a tour) foi 98% organizado por Denis Alekseev, russo que ficou nosso fã e apostou alto. Fizemos todo o planejamento da viagem na sua van Gazela da Morte (Ga zelle of Death), um ícone de resistência DIY na Europa, especialmente na Rússia. Foram 20 shows: 16 na Rússia, 01 na Mongólia, 01 na Estônia e 02 na Finlândia. A turnê dos sonhos, todos os paradigmas sobre a rudeza e dureza do povo russo foram quebrados. Maiores fãs do ARD de todos os tempos. Inimaginável viajar a terras tão distantes e ouvir um coro de fãs desconhecidos, o nome de sua banda. Não tem preço. Quando se trata da música extrema na Europa, independente do estilo, lá as bandas são vistas, respeitadas e aceitas pelo que são e representam. A cena é sempre cheia de curiosos, fãs de música extrema ou simplesmente gente que curte sair e ver bandas estranhas falando línguas estranhas. Compram todo seu merch e fazem questão de doar o troco, raramente azaram pra entrar de graça, te pagam bebidas, qu erem te levar pra casa se possível. O som é impecável, luz de primeira e banda suporte sempre interessada em fazer o evento acontecer. Nunca vimos uma banda tocar e sair antes do fim do evento. E mesmo quando isso rolava, algum membro da banda vinha nos pedir desculpas por te rem que sair antes e davam o real motivo. Não creio ser possível comparar com a cena no Brasil. É lamentável o que vivemos hoje. O show na Mongólia foi estranho... kkk... depois de viajar 3 noites e 2 dias sem descanso (2.601 km aprox..), chegamos em cim a da hora do nosso show. Arena montada em volta de um shopping center, uma área pra umas 150 pessoas com um grande telão (circo montado pra copa do mundo de futebol). Tocamos para umas 80 pessoas comuns e uns 5 bêbados que se divertiram muito. Além da banda, é claro. Mas mesmo assim, até lá vendemos material da banda. Eu como grande fã dos cantos harmônicos de garganta, saí um pouco desapontado. O mais importante, fomos a primeira expressão artística do Brasil a se apresentar naquele país. Só isso já valeu o sacrifício. VP – Poderia citar algumas bandas com as quais dividiram o rolê na gringa? Gilmar – Para não sermos injustos, vou citar aqui todas as bandas das duas turnês juntas. Rattus, Buried Cities, Knocking Bones, Rövsvett, Eristetyt, Riistetyt, Slapshot, Öoviil, Aknóól, Mustelma, Pojnah, Kohu 63, Necro Monastery, Death Race, Lahenyök, Idiot Ikon, Corroder, Juggling Jugulars, Juice Normaali, Hunters, God Given Ass, Kyre & Dunnart, Mired, Hauta, Obscure Cumask, Burning Flag, Camphora Monobr omata, Fatum, Mpa3b, Andreas Söderstrom, Kadonnut Manner, Juugu Paaya, Ovet Doors, Testaa Rosso, Throw up Bodies, Wrestling, Visto, Silver Speed, Harhaisku, Smoke Alarm, The Carnival, Hero Dishonest, Raamattu, Fun, Romotus, Jourkkohauta, Uhrit, MDC, Yacøpsæ, Opaba, Leopardi, Hopelake, Shoe Shine Six, Wim Borth, Scrap Monsters, Cashlot, You’re Next, Siberia, Veturheim, Rape Tape, Cekta Kidz, Ingeborga, Ykpon Pogokon, Menarch, Yoskr, Vinterfög, Hot Kommunist, Agressive Life, Sound of Cracking Heaven, Wbbi, Pa3gutibi4, Jar Npotnb, Chaos Reunion, The Elite Erections, Kitnec, Veturheim. VP – Bandas com muito tempo de estrada estão sujeitas a mudanças na formação e, algumas vezes, essa mudança resulta em alteração no som/letras/postura ou na energia. Após tantos anos na batalha e diversas mudanças na formação, tendo Gilmar como único integrante que permanece desde o início, a banda mantem suas características originais. Alguma vez rolou uma vontade de experimentação sonora ou nas letras? Gilmar – De fato a banda já deu umas investidas mais crossover, com Pitadas de English Dogs com Suicidal Tendencies, ou uma fase estra nha com 2 vocais livres quase beirando a Raimundos (meus amigos) que acho uma merda de som apelativo. Mas respiramos e vimos o rumo torto que estávamos seguindo, reajustamos, limpamos os solos exaustivos e voltamos ao cruzão old scool original da banda. O que nos ren deu muitos bons elogios pela coragem de ir e voltar ilesos. Sobre letras, eu queria mesmo era falar de amor, flores, viagens pelas belas paisagens da Terra. Mas o sangue inocente continua a jorrar, sejam de plantas, animais selvagens, domésticos ou de humanos em luta constante por vaidad es. Então, não tem como mudar a temática. A paz é possível? Sim, mas ela precisa, definitivamente, nascer dentro de cada um, antes de sairmos por aí pagando
de mestres revolucionários. Minha ação precisa atingir antes de tudo, meu lar, meus familiares e se depois disso eu sair inteiro e convicto, posso tentar mudar o mundo externo. VP – A temática da banda desde o início trata de assuntos sócio-políticos, mas com um entendimento mais amplo, abordando temas como meio ambiente, transgenia, belicismo, questões indígenas etc. Esses temas, entre outros, tem sido pouco abordados, seja em letras de músicas, zines ou em grupos de estudo (se é que isso ainda existe). Mesmo com toda a informação disponível graças à internet, parece que o aprendizado no Punk tem sido raso, nivelado por baixo em boa parte das vezes, sempre falando dos mesmo s assuntos e de forma superficial. O que fazer para mudar isso? Gilmar – O que falta realmente é leitura de mundo, não só de livros específicos, documentários e blá blá blá blá. Temos que sair da situação de conforto e ver o mundo fora da caverna metafórica de Platão. O punk se tornou algo muito superficial, principalmente porque parou no tempo. Perdeu-se na trilha, porque havia muitas atrações de cada lado do caminho, que deixou de ser longo e perigoso. Tudo veio à mão, com um simples clique de mouse ou em uma tela de celular moderna. Parecemos, a grande maioria, cachorros correndo atrás do rabo. Como há enxurradas de informações nos afogando diariamente e a cada segundo, o mais fácil é ignorar, mas isso tem um preço muito cruel. De vanguarda, passamos a reles marionetes de um sistema esperto que mantem-se a frente ditando regras e nos fazendo engolir a força tudo o que ele acha que devemos possuir pra nossa felicidade. Isso é bem claro pra quem tem a visão de fora da caverna, uma visão apurada, ativada a partir de uma leitura de mundo, que pede, por exemplo: um contato real com o mundo real. Mas isso exige coragem e determinação. VP – Nos últimos anos, o Punk ficou um tanto confuso. Para muita gente, o discurso e a prática cotidiana não tem caminhado juntos, para outras pessoas uma subdivisão sonora vira um rolê à parte e por aí vai. Dividir e criar intrigas parecem ser a regra e como resultado acontece eventos com pouca gente prestigiando, surgem novas rixas que não levam a nada e um movimento que em alguns momentos parece ideologicamente perdido. Por que tem sido tão difícil convencer essas pessoas que apenas nós perdemos com tudo o que está acontecendo? Gilmar – Estou devorando o livro mais importante de todos os tempos para nos entendermos enquanto punks ativos. Apesar das contradições provocativas no livro Eles nos devem uma vida, Penny Rimbaud (Crass) sabe exatamente o que tem acontecido com o mundo punk desde os anos 80, quando ele lá atrás já dizia que o punk já era... Recomendo muito e urgentemente. Esta questão é assunto para uma gr ande entrevista, um bate papo com vários representantes da cena no mundo todo. O punk vive desde seu surgimento, uma espécie de autofagia estúpida. Sempre estivemos propositadamente à margem de uma sociedade hipócrita, não por não a entendermos ou por sermos aceitos por ela, mas por razão de auto sobrevivência. Infelizmente o sistema nos enganou, nos iludiu e nos sufocou em nossa própria gravata. Nosso ego sobressaiu e perdemos o jogo. Impossível recuperar, sequer entendemos o sentido puro do anarquismo. VP – Antigamente tudo era punk rock. Depois veio o hardcore e na sequência, uma leva de subdivisões, algumas diferenciadas na música, postura ou visual. Essa multiplicação de estilos deixou o Punk mais rico culturalmente, mas, em algum momento, perdeu um pouco daquela unidade inicial existente, o que acabou por gerar certa desunião, com pessoas reiv indicando para si e sua panela a patente do que é o Punk. De uns tempos para cá é possível notar algumas ações pontuais visando buscar essa unidade um pouco perdida e tendo bom retorno por parte dxs punks. Focar no que se tem em comum e respeitar as diferenças é o caminho para alcançar essa união? Essa união é realmente necessária ou é um fetiche, algo que visa apenas diferenciar-se de outros grupos tidos como “menos organizados, produtivos e independentes”? Gilmar – A meu ver, a frase mais verdadeira da cena punk mundial e, que serve como uma baliza para distinguir os falsos dos verdadeiros ativistas punk é “Faça Você Mesmo”, o famoso Do it yourself é uma armadilha para o ego. A frase é uma metáfora profunda que exige inteligência e uma boa dose de abstração do mundo interno, para que sua prática não ceda às delícias egóicas requeridas pelos egos inflamados, presentes e vorazes de cada um de nós. Um exemplo bem fácil de entender. Ajudei a organizar a tour da banda Doom da Inglaterra, famosa por suas convicções anarquistas, vegetarianas e antibelicistas. O movimento anarcopunk achou por bem, diante de suas crenças rasas, agitar em toda a turnê da banda a invasão dos picos, afinal, eles queriam ver o show da banda que eles gostavam e por razões capitalistas, estavam cobrando ingresso, uma condição sinequa, passagens internacionais nacionais, hospedagem, alimentação, traslado, dedicação total de 03 ativistas e membros de bandas (ARD e Juventude Maldita), super engajados em fazer o melhor e, inclusive, evitando a prática de preços abusivos pelos produtores locais. Resultado final do agito anarcopunk denominado avalancha: 4 mortos esmagados no Chile e duas tragédias maiores evitadas no Brasil e na Bolívia. A banda e nós produtores da turnê, além dos produtores locais, fomos julgados, condenados e estamos sofrendo perseguições até hoje pelos anarco. Afinal, quem é mesmo o inimigo? VP – O fato do Bra$il ser um país enorme faz com que tenhamos uma produção contracultural proporcional. Uma infinidade de bandas das mais variadas vertentes, zines, espaços alternativos, gravadoras, distros, coletivos e muita gente agilizando gigs pelas quebradas do país. Mas isso parece não ser o suficiente para que tenhamos uma cena forte e estruturad a, com turnês de bandas gringas e locais pelas diversas regiões ou um grande festival. O que ainda falta para que isso seja uma realidade? O problema do Punk seriam xs punks, como algumas pessoas afirmam? Gilmar – O capitalismo nos venceu, pelo menos é o que parece. Antes, ninguém tinha equipamento de qualidade para organizar as gigs, er a um role insano pra levantarmos equipamentos de todos os envolvidos e realizarmos os eventos, com som de baixa qualidade, pouca d ivulgação e muita perseguição por parte dos senhores do poder. Atualmente, temos os melhores equipamentos, os melhores meios de divulgaçã o, as bandas super ensaiadas, visuais à mão nas lojas de departamento, enfim, um mar de opções à disposição. É como falei acima em alguma resposta, estamos nos consumindo diariamente, alimentados por nossas vaidades insaciáveis. VP – Durante a trajetória, ARD viveu diversas situações que influenciam diretamente na produção contracultural, desde a falta de estrutura nos anos 80 até chegar aos dias de hoje, com tudo digitalizado e impessoal. A internet é uma ferramenta de extrema importância, com ela qualquer material produzido, seja áudio, vídeo ou literatura, pode ser divulgado/compartilhado infinitas vezes e para localidades distantes, sem grandes problemas ou custos. Adquirir conhecimento, estabelecer contatos, ficou incrivelmente mais fácil. Em contrapartida, parece que muita gente que se diz envolvida com o Punk foi afetada de maneira nociva pela tecnologia, ficando anestesiadas, sem participação efetiva e real, vivendo de rolês virtuais, resignando-se a uma vida de consumidor(a) voraz frente a tanta
informação disponível, mas que as descarta com facilidade. Como fazer para evitar que isso venha a se tornar a realidade do Punk? Gilmar – Infelizmente a queda é vertiginosa, não podemos ficar embaixo de um elefante caindo de um prédio, por mais baixo que seja. A esperança: ver de fora para poder se ver de verdade. Isso tem a ver com estranhamento, identidade e identificação. Termos mui to bem usados na psicologia do comportamento humano, diante de uma rede de relações à disposição. VP - O Punk sempre evolui e desconstrói rótulos geração após geração, por ser uma cultura/contracultura que critica de uma forma geral tudo que é produzido na arte/política, seria como a arte contra a arte ou o Punk contra o Punk. Qual a opinião da banda quanto a essa reflexão de mudar nosso movimento para mudar o mundo, olhar para nossa cultura antes de falar da cultura alheia? Gilmar – Parafraseando o rapper MV Bill, a quem prezo muito a visão de mundo e escrita reflexiva, “Não acredito em movimento negro, sou um negro em movimento”. O movimento não é nada, enquanto não nos movimentarmos como peças individuais no jogo. ARD aprendeu dema is sobre isso, nos dois últimos anos, enfrentamos a tudo e a todos e saímos da situação de conforto. Da bandinha que faz um sonzinho, pra tocar num barzinho, pra alegrar os amiguinhos. Vemo-nos hoje como uma banda brasileira super respeitada na Europa e que ainda sofre pra tocar no quintal de casa. O que faremos diante dessa cruel verdade? Seguiremos acreditando no que temos feito, se o reconhecimento só será pos sível lá fora, qual o problema? É lá fora que iremos focar a ação. Uma hora o jogo muda e seremos vistos por mais gente aqui. Sem ressalvas nem ressentimento. “A grama do vizinho será sempre melhor e mais atrativa.” VP – A política é parte fundamental do Punk, mas também é possível que ele seja diversão? Gilmar – Diversão é parte fundamental da arte. Seja ela de qualquer ramificação. A ela é aliado o prazer, outra mola mestra de nossa existência. A política punk, no meu ponto de vista, é uma das mais difíceis de ser praticada. Por exigir muita leitura de mundo, visão de águia e, principalmente, desprendimento. Não precisamos de rótulos pra sobreviver em um naufrágio, ou sabemos nadar bem e usamos as ondas com sabedoria, ou usamos algum artifício para flutuar, usando a mesma sabedoria para singrar as ondas, ou morremos. Outros virão e dificilmente a espécie humana conseguirá por fim a si mesma. VP – Durante todos esses anos, vários rolês devem ter ficado na memória, fazendo parte da história da banda. Poderia citar alguns? Gilmar – Todos tiveram sua importância no momento que aconteceram. Abrir pro Rattus em nossa cidade foi um passo gigantesco em nossa estória de banda. Abrir os shows do Rövsvett, MDC, Slapshot também nos marcou muito profundamente. Assim como abrir o último show do Cólera no DF com Redson. Estamos no momento curtindo os prazeres tardios do rolê na Sibéria e Europa. Tocar no sul do Brasil foi muito importante. VP – Para encerrar, o Split “Ataque as Hordas do Poder” é um registro histórico. Hoje, quando você olha para ele, o que sente? Mud aria algo? Gilmar – Eu acho que faria só com o Stuhlzäfchen Von N, pra testar pra valer nossa estória. Confesso uma coisa: as vozes dobradas não foram intencionais, eu as faria de novo dando uma boa atenção na mixagem. O resto é história. VP – Bom, é isso e muito obrigado pela atenção. Gostaria de acrescentar algo? Gilmar
–
Agradecemos pela qualidade das perguntas e visão especial do zine sobre importantes aspectos do nosso sofrido país. Estamos à
disposição para tocar onde nos chamarem. Só precisamos das passagens e acomodações. O dinheiro não pode mov er o mundo. Sonhamos ainda em tocar no Norte e Nordeste do Brasil. Vida longa de paz e prosperidade ao VP. https://ardband.bandcamp.com/
https://pt-br.facebook.com/ardhc/
RATAS RABIOSAS A PRESENÇA FEMININA SEMPRE FOI UMA CONSTANTE NO PUNK, MAS ISSO NÃO SIGNIFICA LIBERDADE PARA PARTICIPAR ATIVAMENTE. FELIZMENTE, UMA NOVA (OU NEM TÃO NOVA) GERAÇÃO DE MULHERES ROMPEU DE MANEIRA RADICAL COM ESSA POSTURA, RECUSANDO SEREM APENAS ESPECTADORAS E PARTICPANDO ATIVAMENTE DO PUNK ATRAVÉS DE ZINES, BANDAS, DISTROS, COLETIVOS E ESTANDO ENVOLVIDAS COM TODAS AS CORRERIAS QUE SE FAZEM NECESSÁRIAS PARA MANTER O PUNK CIRCULANDO E CAUSANDO. AO MACHO FRUSTRADO, ACEITA QUE DÓI MENOS Por Hannah & Treva VP – Quando surgiu a banda, influências e formação? Angelita - A banda surgiu em agosto de 2013, quando a Angelita resolveu aprender a tocar baixo e chamou sua amiga Lary pra montar a band a. Elas convidaram mais duas garotas, pro vocal e guitarra. Nossas influências são o punk rock hispânico, hardcore brasileiro e bandas riot girl como Bulimia e Kaos Klitoriano. VP – Meses atrás vocês lançaram o primeiro CD, o “Sonidos de Combate”? Conte-nos sobre ele. Angelita - Começamos a tirar esse trampo do papel para se tornar realidade quando mudamos a formação para um power trio, com a chegada da Amanda para guitarrista da banda. Fizemos sons novos, juntamos uma grana e fomos atrás de selos que acreditassem no nosso som e na nossa mensagem. Foi muito legal, pois em 24 horas, 11 selos de várias cidades pelo país entraram em contato a fim de nos apoiar. Quem fez toda a
arte e diagramação foi nossa amiga Luanda Soares, que é uma grande ilustradora e também é punk e feminista, como nós. Lançamos o CD com 13 músicas em uma gig inesquecível, com a presença das bandas parceiras Vozes Incômodas (fundada pela nossa guitarrista Amanda há 16 anos, e que voltou à ativa tempos atrás) e o Ódio Social que acompanha nossa trajetória desde que começamos. VP – Em uma época onde a regra é baixar música sem gastos, é viável lançar material físico, ainda mais sendo uma banda nova? Angelita - Até o momento o retorno tem sido bastante positivo, pois no encarte do CD reunimos muitas fotos de momentos legais, além da arte da Luanda na capa e a diagramação remeter ao nosso zine Ratazine. Era um sonho nosso ter um trampo físico, mas em breve colocaremos disponível nas plataformas digitais. Talvez nosso segundo C D já seja lançado diretamente na internet, pois verdade seja dita, reduz bastante os gasto$. VP – Qual a temática abordada nas letras? Angelita - Abordamos temas que giram em torno de toda a vivência na periferia, ou seja, violência policial e doméstica, a maioridade pen al, empoderamento feminino, machismo na cena underground e na sociedade em geral. VP – Além da parte musical com a banda, vocês estão envolvidas em outras atividades como zine, revista, programa de rádio e oficinas musicais. Qual a importância dessas ferramentas para divulgar o feminismo e demais pautas progressistas? Angelita - Acreditamos que as mídias ajudam a potencializar a mensagem que se quer passar. Tanto em nossos Zines, quanto na Rádio Antena Zero, onde eu, Angelita, apresento há um ano um programa voltado para bandas e cantoras femininas; nas oficinas de bateria ministradas pela Lary e também em seu trampo como editora na revista Hi Hat Girls (voltada para mulheres bateristas), prevalecem o incentivo à busca de informação, liberdade de expressão, fomento à cultura e a quebra de padrões impostos a todas as mulheres pelo patriarcado. VP – Para uma banda nem sempre é fácil ou interessante manter a coerência entre as letras e a prática cotidiana. Isso é realmente algo difícil como algumas pessoas dizem? Angelita - Não é difícil não. Se você realmente faz uma música falando sobre aquilo que acredita e vive, isso é um reflexo do seu dia a dia. Sabemos que muitos o fazem por moda e realmente não reproduzem nas ruas e na vida cotidiana o que cantam em suas letras. Mas esses são facilmente identificados, não soa verdadeiro, e logo a máscara cai, principalmente quando se trata de temas como política e disseminação de preconceito. VP – Nos últimos anos o feminismo voltou a ser debatido no Punk, diversas bandas femininas ou com a participação de mulheres surgiram, assim como zines, blogs e coletivos, dando mais voz a essas mulheres e gerando questionamentos sobre situações que inocentemente considerávamos destruídas (ou simplesmente ignorávamos) dentro do Punk, mas que ainda estão presentes como assédio, violência etc. Com base na vivência de vocês, o que acham da situação das mulheres no Punk? Angelita - Fazemos parte da geração que viveu o riot girl no início dos anos 2000 e também passamos pelos anos de marasmo sobre o assunt o, até o ressurgimento dos debates sobre o machismo na cena. Nossa banda surgiu nesse revival da iniciativa Riot Girl, e temos muito orgulho de influenciar outras minas pelo Brasil afora, aliás, em setembro desse ano fomos para Fortaleza participar de um grande festival feminista. De uns anos pra cá, muitas bandas com a participação feminina e que levantam a bandeira do feminismo surgiram, o que ajudou a esquentar os debates. Sim, melhorou bastante, temos apoio e tudo o mais, porém ainda está longe de ser o ideal. Recentemente fomos atacadas por um integrante de uma ~banda de machos babacas~ que desmereceu nossa caminhada, disse que fazemos 3 shows por ano e para 5 pessoas. Ele disse que se a gente chorasse bastante ele nos convidaria daqui a cem anos para fazer par te do festival dele!! HAHAHAHAHAH. Esse tipo de coisa ainda acontece bastante, os caras se veem ameaçados com o avanço do protagonismo das minas. Não aceitam que estamos ativas, organizando e participando de eventos de cunho feminista ou não. VP – De tempos em tempos surgem discussões acaloradas sobre o pogo/mosh pit e a participação ou não de mulheres. O pogo/mosh pit pode ser fator de união, com mulheres e homens agitando juntxs na roda com camaradagem e respeito ou o “brutamontismo ignorante” é a regra e vai ser cada vez mais comum a realização de eventos voltados quase que exclusivamente para mulheres, também visando a integridade física delas na roda? Angelita - A criação de eventos específicos para mulheres é importante quando se pensa em criar um espaço de cumplicidade para troca de ideias e experiências, porém são exceções. O que temos visto nos rolês que frequentamos são as minas cada vez mais ativas na roda de pogo e quando ocorre de algum cara (bem desavisado) usar de mau caráter para empurrar, machucar ou até tirar uma mina da roda ou mostrar que ‘esse não é seu lugar, vai pra trás segurar a jaqueta do namorado” (como era antigamente costume das mulheres que frequentavam sons) ele sempre é cobrado. Sendo assim, cada vez mais as minas ganham seu espaço e os caras vão se adaptando ao noss o novo jeito de curtir: LIVRES! VP – Anos atrás era comum no Punk a informação e conhecimento ser compartilhado através de letras de músicas, zines, grupos de estudo, palestras em gigs e até mesmo por conversas. A pessoa aprendia meio que na marra, tirava as dúvidas na hora e isso também ajudava a afastar aquele pessoal curva de rio que só curtia o som e não se identificava com a proposta política. Hoje, o apre ndizado é quase que totalmente adquirido solitariamente através da internet e isso dá margem para interpretações erradas. Será que o aprendizado compartilhado e a convivência somada à força da internet possa ser a solução para manter vícios sociais nocivos longe do Punk? Angelita - A internet tem seu lado bom, pois ficou mais fácil a troca de ideias com pessoas que moram longe, porém, também polarizou algumas coisas que são originalmente das ruas, do contato pessoal, e em grupos, como conversas em coletivo e debates sobre temas vari ados, como você
citou, a internet dá brecha para interpretações erradas. Acredito que talvez seja um pouco tarde para pensarmos em manter os vícios sociais nocivos longe do punk, porém caso haja o interesse de cada indivíduo, há modos de buscar sim o resgate às raízes sem deixar de aproveitar os benefícios que a internet propõe, a fim de expandir ideias, som, etc. Um exemplo disso é que estamos conversando em um zine virtual, não é mesmo? Rsrsrsr VP – O Bra$il passa por um momento politicamente conturbado. Em tempos sombrios, onde uma parcela da sociedade perdeu a vergonha de nutrir ódio a outras pessoas, como lidar com essa questão no cotidiano? Angelita - Acredito que chegamos em um momento em que informação é essencial para não ser mastigado por essa onda de intolerância. Ah, autodefesa também é muito importante, pois todos sabemos de casos onde pessoas estão sendo agredidas e violentadas pelos ditos ‘cidadãos de bem’, então estar informadxs e atentas, cuidar umas e uns dos outrxs já é um bom começo. VP – O que as integrantes da Ratas Rabiosas diriam para outras mulheres punks que tenham interesse em começar uma banda? Angelita - Não ligue para o que os outros -principalmente se forem homens- irão dizer ou pensar. Vá em frente, pois você será inspiradora para outras garotas, você irá abrir muitas portas e não só para você. Vale a pena, garota! VP – Galera, muito obrigado pela atenção. Gostariam de acrescentar algo? Angelita - Agradecemos o contato do Vivencia Punk e desejamos a todas as minas que nos leem que sigam fortes, sempre empoderadas e empoderadoras! Estamos juntas!!!! https://pt-br.facebook.com/RabiosasRatas/ https://soundcloud.com/ratas-rabiosas https://www.youtube.com/channel/UCU2Mw4tg6cHQ9AlwtUmZ3DQ
GIGS Por Treva & Treva e Tamires* Dia da Música... Versão Punk Infernal: Vozes Incômodas, A Creche, Cruel Face – 01/07/2018 – Centro Cultural Zapata – São Paulo/SP A Copa do Mundo segue rolando (seguia, já que vocês estarão lendo isso de dezembro em diante), com a torcida brasileira dando vexame ao envolver-se em casos de assédio, machismo, homofobia e até trocando uns tabefes com torcida adversária (lembrando que quem foi à Copa não são xs integrantes das organizadas normalmente acusadxs de violência nos estádios daqui e nem xs e xpulsxs em nome da elitização do esporte). Quem estava lá é a classe mais abestada... ooops, digo, abastada. Aquela que adora bater panela, pagar pau para a Europa, mas quando está aqui faz justamente o contrário do que viu lá. E até o momento que digito essas linhas, a única coisa interessante sobre a seleção verde e amarelo foi ver o Neymala criando um novo esporte, o “cai-cai bol”, mostrando que além de desportista, o zé ruela é um baita ator. Apesar de ser inverno, o tempo estava bom, som gratuito em local de fácil acesso com três bandas punks diferentes entre si e que correm por fora. O resultado disso foi uma galera em bom número, incluindo muitx jovens colando no evento. Com aquele atraso chato que já é uma característica dos eventos na cidade, a barulheira começou com Vozes Incômodas. A banda já tem uns bons anos de estrada e materiais lançados, mas eu nunca tinha visto ao vivo. Manja aquele punk/hc ‘80 feito aqui na terra dos golpes e que tanto gostamos? É por aí que vai o som da banda, mas sem soar como uma cópia barata. Na sequência teve A Creche, banda da nova geração, que faz um som que nos remete ao hardcore punk estadunidense tipo Minor Th reat, Circle Jerks, Dwarves etc. Assim como na Vozes Incômodas, a banda conta com participação feminina, o q ue contribuiu para aumentar a presença de garotas mais jovens que sentem-se representadas ao verem outras garotas detonando em bandas. Além do som foda, xs integrantes são bem humoradxs e fizeram diversas piadas entre os sons. Encerrando a noite barulhenta, Cruel Face. Logo no início da apresentação o local estava vazio, já que o pessoal saiu para fumar, beber ou para trocar uma ideia. Fiquei pensando se iriam permanecer lá e ignorar a banda ou entrariam para prestigiar. Felizmente rolou a s egunda opção e no decorrer dos minutos o Zapata voltou a encher. A banda é uma das velhacas do grindcore brazuca e conta com integrantes experi entes e com passagens em diversas bandas e isso significa brutalidade certa. Assim como ocorreu nas outras bandas, a galera agitou pouco, preferindo aplaudir entre os sons. Rolê em companhia de parça de milianos, bandas bacanas, gratuito, que prezou pela diversidade de estilos dentro do Punk, algo cada vez mais incomum de vermos na Grande SP, presença da galera em bom número e sem incidentes. Tem sido difícil, mas de vez em nunca surge esperança de dias melhores para o Punk. Masters of Noise-Edição Especial – 15/07/2018 – Centro Cultural Zapata – São Paulo/SP E depois de muita discussão sobre a diversidade étnica francesa X a simpatia pelo nazismo por parte de croatas, a Copa do Mun do chegou ao fim, para alegria de muitxs e tristeza de outrxs. Com relação ao debate, vale lembrar que a França é um dos países ond e a xenofobia é mais forte atualmente, com xs imigrantes sendo consideradxs cidadãs/cidadãos de décima classe; já xs croatas serem ou não simpatizantes de nazis... bom, muita gente daqui que desceu a madeira nelxs não dá conta nem dos nazis daqui e ficam s e incomodando com xs de lá. Fora isso, tem a galera lixosa daqui adicionada e, pior, corre quando vê um nazi... na televisão. Então, humildemente, acho que é muita vontade de passar vergonha debater algo que não se combate de maneira eficaz, seja no meio social ou nas sombras. O Masters of Noise já é um tradicional evento que reúne bandas de metal e punk, com ênfase nas mais porradas, que acontece no mês dezembro e sempre de graça. E agora rolou essa edição especial, aproveitando que algumas bandas de outros estados estavam de rolê por SP. Além de
bandas de outras quebradas, a mistura de estilos e presença de bandas com integrantes mulheres ajudou com que um pessoal em bom número comparecesse para apoiar o evento, misturando punks de diversas idades, alguns headbangers e muitas mulheres que colam para a poiar as que estão em bandas. Prevendo um possível atraso, aproveitei o meu direito à preguiça dominical até o último momento e como resultado, cheguei no fim da apresentação da banda Profundezas. Pelo nome fica fácil imaginar que se trata de uma banda de metal, mais especificamente aquele sujão, sem firulas e que emana o agradável perfume de enxofre. Sem embaço entre as bandas, é a vez da Maldita Ambição mandar o seu recado. Mostrando que a Baixada Santista continua sendo l ocal de surgimento de bandas bacanas, os rapazes detonaram seu hardcore com pegada crust enquanto preparam um novo lançamento ainda para esse ano, já disponibilizando a capa e um som. De Porto Alegre, a próxima banda a detonar foi a Devastadoras. A velha escola do Punk brazuca continua a influenciar e gerar muito trampo bom e as garotas destruíram. Hardcore sem frescura, nervoso e com vocal cavernoso. Mesmo com o pessoal parado (uma constante em eventos por aqui), todo mundo curtiu a apresentação e ao término de cada música os aplausos se faziam presentes. Na sequência teve o trio Joe, de BH e na boa, foi uma grata surpresa. Não conhecia a banda, mas o trio mandou muito bem. Mesm o com uma parte do pessoal ficando do lado de fora, quem permaneceu para ver a banda não se arrependeu. Ouso dizer que o som é uma mistura explosiva de Ramones com The Distillers, com som no talo e feito para pogar loucamente. Vindo da região do ABC, Condenados completou a noite de agradáveis surpresas sonoras. Outra banda que nunca tinha visto (acho ) e que bebe na fonte da velha escola, alternando sons rápidos e outros um pouco desacelerados. Estava tudo muito bacana, mas a barriga estava roncando, a carcaça já dava sinais de cansaço e decidi seguir rumo ao meu cafofo. Ainda teria a banda Lokaut, mas parece que ela encerrou as atividades na véspera do evento. Rolê bacana, gratuito, com bandas que eu nunca tinha visto e que surpreenderam pela energia, pessoal compareceu e ninguém arr astou. E desse tipo de rolê que precisamos. FEMINISMO NO PUNK E ANARCO FEMINISMO–ORIGENS NO BRASIL – 27/07/2018 – GOOD VIBRATIONS – SÃO PAULO/SP Antes da internet, a forma que punks tinham para adquirir conhecimento era lendo zines e livros, participando de grupos de es tudos, prestando atenção nas letras das músicas, em conversas e nas trocas de ideias (conhecidas no mundão como palestras) que aconteciam em gigs. O tempo passou, muita coisa mudou e o saber, o aprendizado e a troca de experiências deram lugar à arrogância intelectual e aos cliqu es patológicos. Palestra, debate, troca de ideias, não importa o nome dado. Esse tipo de evento foi de extrema importância na formação política e contracultural de uma parcela significativa de punks dos anos 80, 90 e até do começo dos 2000, quando começou um processo de despolitização que em parte parece ter sido friamente calculado por um punhado de pessoas espertas e que perdura até a atualidade. E hoje, com a frieza da inter net e com toda a confusão nela existente, esse tipo de evento volta a ser necessário se desejamos um Punk mais real, pessoal, político e menos panfletário. Esse papo teve como “trocadora de ideias” a Maria Helena, punk de milianos e muito envolvida com a cena anarco desde o fim dos anos 80. E para prestigiar e trocar experiências, uma galera em bom número compareceu nessa noite de sexta-feira. Importante ressaltar que era apenas a troca de ideias, não havia participação de bandas. Frente a um grupo formado majoritariamente por mulheres jovens e nem todas envolvidas com o Punk, mais algumas pessoas da ant iga que apareceram para somar, Maria Helena contou um pouco de sua história pessoal, envolvimento com o Punk, como foi seu contato com o feminismo, como rolavam as movimentações, as dificuldades para colocar questões como o feminismo e LGBTfobia como pautas pres entes no Punk da época e vários “causos”, sendo que alguns são para fazer-nos corar de vergonha. Mesmo estando um pouco nervosa (justo, já que ela não é uma palestrante profissional), o papo fluiu tranquilo e ela soube manter o interesse das pessoas. Após sua fala, o micr ofone esteve à disposição de quem quisesse fazer alguma pergunta ou falar algo, o que gerou depoimentos bacanas. Encerrando o evento, rolou uma discotecagem da própria Maria, que serviu de trilha sonora para boas conversas. Uma coisa é certa, apesar do discurso na ponta da língua, o Punk ainda tem falhas que devem ser discutidas e combatidas. O Punk não é uma ONG e nem vai salvar o mundo, mas pelo menos deve ser coerente com o que diz, saudável e seguro para as pessoas dispostas a vivenciar essa alternativa. Se nem isso conseguimos construir e manter, significa que falhamos feio e é melhor deixar o radicalismo de lado e ser apenas mais um estilo de rock. TUMULTO FEST – 28/07/2018 – SÓTÃO ESTÚDIO & BAR – SÃO PAULO/SP E o fim de semana continuava a milhão. Depois de um rolê produtivo na sexta, no sábado era a vez de ver Vozes Incômodas, BCAP, Satanlivre e Älä Kumarra, porque também gostamos de barulho. Rolê gratuito, fácil acesso (perto de terminal de ônibus e estação de trem), bandas bacanas e a chance de conhecer mais um espaço. Não tinha como nem porque ficar em casa. Devidamente acompanhado por dona Encosto, quando chegamos ao local já estava rolando a Vozes Incômodas. Não estava lotado, já que no mesmo dia tinha outros eventos pela cidade, mas uma galera em bom número compareceu para prestigiar o rolê. Outra coisa que vale citar é que o local fica fora da região central. Rolê no centro da cidade é legal, fácil acesso para todxs, mas o mundo não gira em torno de uma única região da cidade e é importante que aconteça movimentações culturais em outras quebradas. Voltando a banda, mandaram muito bem, detonando um hardcore punk do jeito que gostamos. Mesmo com o pessoal apenas assistindo, todo mundo curtiu, deixando isso claro com aplausos. Inclusive acho que essa foi a última participação da vocalista Mila, que dias depois anunciou sua
saída. Após a participação da banda, fui notar que o Sótão possui duas janelas, uma no bar e outra no corredor, permitindo que as pessoas que estejam nesses locais vejam as bandas na tranquilidade, tipo um aquário. E falando na parte estrutural do Sótão, o lugar é show de bola. Pequeno, limpo, com lugar para as pessoas sentarem e som legal. Assim que terminou o som da Vozes Incômodas e as pessoas foram circular, tratei de me postar em frente à janela do corredor, visando garantir um visão privilegiada. Mas para minha tristeza, dona Encosto começou a sentir-se mal e achamos por bem sair fora. Com aquela dor no coraçãozinho, desci as escadas do lugar rumo à rua e segui de volta para o cafofo sem ver as outras bandas. Pois é, a resenha está bem sem vergonha, mas a ideia é mostrar que apesar do pesares, sempre tem som com bandas que correm por fora e em diversas localidades da cidade. Mesmo na UTI, o Punk persiste. SUFOCADOS FEST – 17/08/2018 – 74 CLUB – SANTO ANDRÉ/SP Final de semana com a Grande SP parecendo uma filial do Polo Norte, tamanha a friaca. E como se não bastasse o frio, tinha uma garoa persistente, o que faz dessa condição climática a melhor para um rolê embaixo do cobertor e acompanhado por um café. Mas mesmo eu sendo um baita bunda mole quando o assunto é frio, procurei a coragem perdida em algum canto e segui para o ABC para ver esse rolezinho maroto. Enquanto sacolejava no trem, me preocupava com o horário achando que chegaria atrasado e perderia alguma banda. Para minha surpresa, chego ao local e nada de som rolando. Aí, dado o horário já avançado para quem é de outra cidade, bateu a preocupação ao pensar que o rolê terminaria tarde e eu não conseguiria fazer as baldeações necessárias para chegar ao cafofo. E claro, ainda tinha o frio para zoar de vez. A despeito da qualidade das bandas e de uma delas ter vindo de longe, a galera deu uma ramelada e não compareceu como deveria. Entendo que o frio estava forte e isso com certeza afugentou muitas pessoas, mas... Depois de um atraso básico, o barulho começou com a Cruel Face. Tudo caminhava bem até que uma corda da guitarra morreu e foi aquele embaço para trocar. Enquanto o relógio caminhava na mesma velocidade dos sons da Cruel Face, meu desespero aumentava ao pensar no perrengue que enfrentaria para voltar a minha tão quentinha casa. Depois de minutos em guerra com a corda, com a guitarra e com a afinação, o guitarrista Alex desistiu da treta e deu por encerrada a participação da banda. Pausa rápida, logo na sequência vem a Santa Muerte. Trio feminino de thrash metal, as garotas mandaram bem, mostrando que mesmo com as adversidades que a cena metal enfrenta quando o assunto é igualdade, nada nem ninguém irá parar as mulheres em busca de respeito e igualdade. E para quem acha que o metal com participação de mulheres está restrito a banda Nervosa, melhor ficar atento porque tem muita coisa rolando. Encerrando o rolê, teve a banda Klitores Kaos. Manolxs, satisfação máxima em ver uma banda razoavelmente nova e que veio de tão longe (Pará) mostrar o quanto o Punk é diverso e presente nas infindáveis quebradas desse país de merda. As garotas estiveram em SP para somente duas apresentações (essa e outra na capital paulista) e, mesmo nervosas, mandaram muito bem, um set pequeno com sons delas e covers de Bulimia e Menstruação Anárquica, além de muita troca de ideia entre os sons. Terminada a barulheira, hora de sair em desabalada carreira para pegar o trem. A pressa era tanta que quase me custou caro ao dobrar a esquina correndo e dar de cara com uma viatura que já foi reduzindo a velocidade. Naquele momento, a última coisa que precisava era levar um enquadro, então meti o biruta e continuei correndo, passando batido pelos vermes. Mesmo com a correria, não consegui fazer a baldeação e meu maior medo se tornou realidade: uma boa caminhada com temperatura baixa e garoa. Tenho um tremendo respeito por quem ainda insiste em organizar gigs e/ou manter espaços dedicados a música autoral independente, mas esses atrasos constantes que acontecem servem como fator desanimador para colar em gigs. O respeito ao horário e com quem utiliza transporte público deveria ser uma parte das preocupações de quem de dispõem a organizar eventos ou ceder seu espaço. E na boa, isso faz toda a diferença. Mesmo com alguns perrengues, o rolê foi show de bola. BOLL PARTY – 25/08/2018 – O BECO SOUNDSTUDIO – SÃO PAULO/SP Sabadão, temperatura amena e som perto de casa para me fazer feliz. Mas antes fui conferir a exposição Jamaica Jamaica! no Sesc. Não que eu curta a música jamaicana, mas como era de graça, em lugar legal, pareceu-me um bom rolê de casal para fazer... mas nem deu tempo. Foi a minha segunda tentativa em ver a exposição e pela segunda vez dona Encosto (a.k.a. Tamires) lançou mão de sua habilidade em ser pé de breque e estragou meu barato. Enquanto caminho tranquilamente pelo ambiente lendo umas paradas sobre a Jamaica, sou surpreendido pela mestra em “pé de brequismo” esbaforida, dizendo que tinha show do Jorge Aragão em outra unidade do Sesc ali perto. Minha reação foi a de perguntar “desde quando você curte samba?” e emendando com “e o que eu tenho a ver com isso?”. Mas de nada adiantou e adeus à exposição, que por sinal, era o penúltimo dia. E com aquela má vontade básica, sigo rumo ao show. Gosto musical é igual tóba, cada pessoa tem o seu e usa da maneira que melhor lhe agradar, mas samba está incrivelmente longe de ser algo que eu curta. Na boa, sou um velho chato que basicamente escuta barulho e nada mais, e isso é o suficiente para me fazer feliz. Então, fica fácil imaginar que às 1h20min de show do sambista tenha sido um saco no meu mundinho de três (ou menos) acordes. Terminado o show, hora de vazar porque tinha som do jeito que gosto. Desovo a sambista de final de semana em casa e sigo para um novo espaço, O Beco Soundstudio. Lugar novo naquelas, porque antes de abrigar eventos, já era conhecido de ensaios e gravações por diversas bandas da cena. Ao chegar, vejo uma galera do lado de fora e isso sempre serve como indicativo de boa presença de punks, o que felizmente aconteceu. Bem diferente de boa parte dos rolês, nesse o clima estava leve, com as pessoas conversando e sorrindo, inclusive durante as apresentações das bandas. E na boa, esse clima leve somado à energia que as bandas emanaram em suas apresentações, fez desse rolê um dos melhores do ano. Sorte de quem estava presente.
Com aquele atraso básico e que dessa vez me ajudou a não perder a primeira banda, anoite barulhenta começa com Mollotov Attac k. Devido ao atraso, o set não teve enrolação e foi pau. Entre goles de birita e homenagens ao baixista/vocalista Bollaxa que fazia aniver sário algumas horas à frente, o trio detonou dentro da pequena sala. Uma pausa rápida para a arrumação e é a vez da Alto Nível de Insanidade. A banda já tem uns anos de estrada, mas essa foi a primeira vez que a vi (se a memória não estiver a me trair). Outra apresentação cheia de energia e contando com a participação das punks present es pogando de leve na salinha, mostrando mais uma vez o quanto é importante a participação feminina, seja em bandas, agitando ou em qualquer outra correia relacionada ao Punk. Como o quase aniversariante da noite também toca na banda, mais algumas homenagens. E para fazer suar os olhos desse que escreve essas linhas porcas, mandaram um cover do Sick of it All. Com as horas avançando rapidamente, 1984 já começou a apresentação de maneira acelerada. A banda esteve sumida por uns tempos , mas voltou com nova formação, contando com a baixista Angelita (das Ratas Rabiosas). Pode não ter nada a ver, mas continuo achando que o 1984 é o encontro exato entre o hardcore punk europeu com o estadunidense, algo como uma trombada entre Kaaos e Minor Threat. Foda! Mas como nem tudo são flores, o álcool pode ser uma boa companhia, mas também pode atrapalhar o discernimento e nessas uma pessoa também quis fazer seu show. Como ainda tinha o Manicômio para tocar, ninguém estava muito interessado em falatório e a pressa dxs integrantes do 1984 era evidente. Mesmo assim a pessoa insistiu em pegar o microfone para lançar uma ideia e acabou criando um climão, rolando uma discussão que envolveu várias pessoas. Como a idade traz a sabedoria, ao invés de resolver tudo na gritaria e, consequentemente, no tapa, o diálogo falou mais alto e tudo foi resolvido de maneira aparentemente tranquila. E como o sábado já tinha virado domingo e algumas pess oas deixavam o local, o Manicômio acabou sendo prejudicado e não tocou. Rolê show de bola em um espaço maneiro, e com fácil acesso, com bandas que mandaram muito bem e pessoal em clima amistoso. Fica aqui a torcida para que o local passe a fazer parte do circuito de gigs na cidade. SURRALMADO – 22/09/2018 – CENTRO CULTURAL DA JUVENTUDE – SÃO PAULO/SP Sabadão, temperatura agradável, início da primavera (o que significa que logo o verão tá na área e volto a ser um cara feliz) e um baita som gratuito reunindo as bandas Surra e Desalmado. Tudo de bom! Para quem nunca teve a oportunidade de colar no CJJ (como é mais conhecido), o local é um centro cultural na zona norte paulistana e, como tal, é palco de diversas atividades sempre gratuitas e com excelente estrutura. Nele já se apresentaram muitos nomes conhecidos da música, incluindo bandas punks como Cólera, Restos de Nada, Limp Wrist, Los Crudos entre outras. Mesmo estando um pouco afastado da região central, é fácil para chegar, com diversas linhas de ônibus que fazem ponto final em um terminal na rua de baixo. Então, a distância n ão é desculpa para não colar. Apesar de ser evento gratuito e com bandas fodas, a galera deu uma ramelada e não compareceu em número elevado. Não que o local estivesse vazio, mas era para estar lotado. Tudo bem que aconteciam gigs em outras partes da cidade, mas punks e bangers (e rockeirada doida em geral) que acreditaram nesse rolê não tiveram do que reclamar com apresentações fudidas, som do jeito que também merecemos e banquinhas c om materiais para todos os bolsos Mesmo sabendo que no local não acontecem atrasos, demorei a sair de casa e perdi uns 10/15 minutos do violento baile. Ao chegar, quem estava detonando era o Desalmado. Até aí normal, banda no palco e galera agitando, tudo correto. Do nada, surge a Surra destruindo tudo e foi nesse momento que entendi o que estava rolando e que esse não seria um som no molde tradicional. O equipamento das duas bandas estava no palco e elas se alternavam tocando dois ou três sons de cada vez, dependendo da duração e contando com a participação dos integrantes da banda que se encontrava “em descanso”, fazendo jus ao nome do evento. Coisa de louco! Meses antes, Test e Deaf Kids se uniram e fizeram um evento chamado Deaf Test, que foi nesse mesmo esquema (só que esse vi apenas em vídeo). E foi assim por cerca de 1h30m, com as duas bandas se alternando, galera agitando muito e tomando o palco em várias oportunidades. Sem dúvida uma apresentação que merece acontecer outras vezes e em outras localidades. MULHERES CONTRA BOLSONARO – 29/09/2018 - LARGO DA BATATA – SÃO PAULO/SP* Quando você estiver lendo essa resenha (se é que alguém lê isso), já saberemos o tamanho do desastre pós-pleito. Independente do resultado, o que se avizinha a partir de primeiro de janeiro de 2019 não é nem um pouco animador. O cheiro forte de decomposição política que a corja eleitoreira exala continuará a fazer com que nossas narinas sofram e esse tende a ser o menor dos males. Após 50 anos da Marcha dos 100 mil, realizada no Rio de Janeiro, novamente parte da população volta às ruas em luta pela demo cracia, em contexto diferente, mas que guarda semelhanças. Organizado pela página Mulheres Contra Bolsonaro (que chegou a ser hackeada e ganhou uma maior notoriedade), fizeram um trampo bonito. A quantidade de pessoas presentes ao ato contra o repugnante candidato à presidência varia conforme o veículo de informação, mas é algo entre 200 e 500 mil pessoas. Podem falar o quiser, mas é muita gente, tornando essa a maior manifestação política ocorrida durante esse período eleitoral, seja carreata, comício ou qualquer outro tipo de micagem. Para melhorar, atos aconteceram em dezenas de cidades do país e até do exterior, nos dando alguma esperança de sobrevida a combalida democracia. Seguíamos de metrô rumo ao ato e notamos que no sentido contrário muitas mulheres já retornavam, dando a impressão de que o ato já estivesse encerrado. Descemos uma estação antes visando facilitar nossa saída do metrô e evitar possíveis imprevistos com o braço armad o do estado e vimos uma movimentação intensa, com muita gente indo ou voltando pela rua, bares cheios, rodas de conversas pel as calçadas e uma aparente calmaria. Chegando ao Largo da Batata, impressionava o tamanho da multidão. Obviamente, a grande maioria eram mulheres, mas também havi a muitos homens, famílias, pessoas de todas as idades (foi especialmente gratificante ver muitas mulheres idosas), muitxs punks avulsxs, headbangers, góticxs, comunidade LGBT+ e diversos coletivos, incluindo alguns conhecidos pela militância pelega. E claro, não poderia falt ar a militância
partidária, distribuindo material de candidatxs e entoando aqueles cantos que embrulham o estômago. Na boa, essa ex-querda partidária e a parte do eleitorado que simpatiza com o “coiso” deveriam ser estudados pela ciência e quem conseguisse desvendar o mistério ganhari a o prêmio Nobel. E no caso específico do pessoal da ex-querda partidária, que galera mais sem vergonha!!! O ato era suprapartidário, mas é de provocar náusea ver esse pessoal com suas bandeiras fazendo campanha política e falando sobre união do campo progressista. Pois é, a m esma exquerda que hoje fala em luta pela democracia, em um passado muitíssimo recente pedida por repressão e punição em manifestações com as quais não concordava ou que não teve espaço para cooptar. Isso é se aproveitar do momento político e da memória curta da popu lação. Não esquecemos as declarações da ex-querda sobre as manifestações de 2013/2014, nem a traição aos princípios de luta, ausência de autocrítica e por aí vai, gerando uma lista grande de vacilos. No mais, não precisa ser cientista politico, social ou filósofx para entender que boa parte do desastre atual é de reponsabilidade da ex-querda partidária e, em especial, do pt. Mas voltando ao ato, além da grande quantidade de pessoas, outras duas coisas chamaram a atenção: a ausência da população pob re/periférica e o pequeno número de policiais. Uma rápida e não muito atenta olhada na multidão para ver que ela era homogênea, basicamente classe média. Não que isso seja um problema, muito pelo contrário, mas diz muito sobre a capacidade do tal campo progressista em dialogar c om a população mais marginalizada. Quem estava presente são pessoas que veem a democracia como mantenedora de suas liberdades e, em um primeiro momento, sofreriam perdas com um governo autoritário. Já para a população periférica, democracia é apenas uma palavra bonita, mas com pouco ou nenhum sentido real. Para quem não pode reclamar, que convive com a falta de direitos básicos e que só percebe a presença do estado através da munição letal que sai das armas de policiais, 1964 nunca foi passado, continua sendo uma triste realidade. Para es sa parcela da população, direitos básicos como saneamento, transporte, educação, moradia e uma vida menos coagida pela polícia são pautas importantes e que pouco lembradas. Enquanto o campo progressista ignorar a população periférica e suas demandas emergenciais, falando bonit o e sobre coisas que muitas vezes ninguém entende ou que estejam distantes da realidade dessa população, vai continuar dando espaço par a que populistas de direita ganhem mais espaço. X oprimidx assumindo x discurso do opressor por negligência da ex-querda. Já a presença reduzida de efetivo policial foi uma jogada política, visto que o picolé de chuchu (também conhecido pelo apelido de Geraldo Alckmin), com sua pretensão de residir em Brasília, deve ter avisado para o governador em exercício e para o comando das ratazanas cinzentas não atrapalharem o ato, para que ele pudesse surfar nele um pouco. Falando em surfar no ato, todxs os candidatxs de ex-querda estiveram presentes, distribuindo sorrisos e promessas. Gente falsa é mato na política. O ato, incialmente concentrado no Largo da Batata desde as 15h00minhs, seguiu pela Avenida Brigadeiro Faria Lima, Avenida Rebouças até chegar a Avenida Paulista cerca de cinco horas depois. Durante o trajeto, nenhum episódio de violência, apenas algumas discus sões com motoristas que queriam passar pelo meio da marcha. Gritos de apoio vinham das janelas de ônibus e até de apartamentos da rica vizinhança e muitos veículos passavam buzinando. Muitas dessas manifestações de apoio eram falsas, bastava observar o semblante de quem “a poiava” para notar um sorrisinho debochado na sequência, mas muitas eram verdadeiras, de pessoas que não poderiam estar presentes, mas que se sentiam representadas por aquele mundaréu que tomava por completo as ruas. A caminhada terminou em frente ao MASP, transformando a Paulista em uma área de lazer em plena noite de sábado. Com tantas pessoas ainda chegando, as duas pistas foram tomadas e fechadas ao trânsito. A impressão era de que uma brisa de esperança pairava no ar, u m desejo de democracia e justiça com o qual a população não está realmente acostumada. E se essa marcha surtirá efeito real contra a popularidade do chafariz de chorume, só esperando pelos próximos dias para saber. Ele não, ele nunca. MULHERES CONTRA O FASCISMO – 06/10/2018 – MASP – SÃO PAULO/SP* Uma semana após o primeiro ato, véspera de primeiro turno e também de outro aniversário da revoada da galinhada integralista na Praça da Sé em 1934, outro grupo de mulheres organiza mais uma manifestação contra aquela coisa que insistem em chamar de mito. Lutar contra a convicção política do eleitorado adquirida através de grupos do WhatsAap tem se mostrado tarefa das mais difíceis. Não há livros de História, dados, explicações, conversas e bom senso que convença as pessoas que o messias não é um messias e que a defecação oral do mesmo não é condizente com uma ideia de país minimamente civilizado. É tanta convicção política que faz qualquer estudiosx do assunto sen tir-se imbecil, desprovidx de argumentos. Na boa, nós também queríamos ter toda essa convicção, mesmo que fosse apenas para assuntos mais banais. Depois das gigantescas manifestações que ocorrem pelo país e até na gringa, ficou no ar a esperança de que elas influenciasse m as pessoas na escolha de outros candidatxs, desistindo de apoiar o projeto de barbárie do candidato fecal. Infelizmente, essa esperança durou pouco, mais precisamente até a divulgação da primeira pesquisa. Por mais incrível que pareça, o doido aumentou a distância que o separa d e ourtxs candidatxs, fazendo muita gente cogitar uma vitória no primeiro turno, algo que felizmente não ocorreu. O jeito é respirar fundo e continuar lutando. E foi em um clima estranho, difícil de explicar, entre o ânimo da luta e a preocupação com o desastre iminente, que rolou o s egundo ato. Organizado pelas Mulheres Antifas, esse teve uma adesão bem menor. Talvez, a soma de um sentimento não muito otimista, notícias fal sas veiculadas por quem apoia o candidato (coisas como o ato ser falso ou que pessoas mascaradas agrediriam que estivesse por lá) , um discurso mais radical e combativo por parte das militantes e o tempo chuvoso e frio, tenham sido a desculpa para que muita gente não aparecesse. Graças aos afazeres domésticos, chegamos bem atrasadxs e a marcha já seguia rumo ao Centro. E na boa, a cami nhada dessa galera foi na base da corrida. Na Paulista, nem sinal; na Consolação, nem sinal. E era tanta gente procurando pela marcha que já estava rolando uma segunda, com as pessoas que não encontravam a principal. Inclusive teve gente desistindo no meio do caminho. Depois de uma caminhada rápida, encontramos o ato já no ponto final, em frente ao Teatro Municipal. Assim como nós, muitas pessoas vinham chegando e encorpando o final da manifestação. Palavras de ordem contra o “coiso” eram entoadas a plenos pulmões pelxs presentes. E diferente do ato da semana anterior, esse foi mais heterogêneo, contando com maior presença de uma militância mais radical e periférica, juntamente com a classe média, punks, rockeirada em geral e a sempre presente ex-querda partidária fazendo sua micareta. O que nos aguarda em um futuro próximo está longe de ser algo bom. Acreditar em qualidade de candidatxs é como acreditar no c oelhinho da páscoa, no papai noel ou em deus. Mas nessa eleição o nível foi para algo além do esperado, com um oceano de chorume nunca antes visto nem
navegado. E para o segundo turno sobrou o cultuador da ditadura ou o pau mandado (que pelo menos não tem um discurso de ódio). Melhor se tivéssemos uma terceira opção, tipo explodir uma bomba nuclear no país e mandar tudo isso aqui pelos ares. Ele não, ele nunca. MASSACRE CRUST – 14/10/2018 – CENTRO CULTURAL ZAPATA – SÃO PAULO/SP Organizado pela Central Underground, esse rolê foi FODA! Isso mesmo, com letras maiúsculas. Em meio a tantos rolês que a galera passa a maior parte do tempo do lado de fora sem ver as bandas, com pouco mais de uma dúzia de insistentes presentes e conversas rolando apenas em panelas, esse foi como deveria ser sempre: comparecimento de punks, bandas bacanas, pessoal agitando de boa, muitas conversas , presença de pessoas que não via há algum tempo e que felizmente continuam punks, materiais a preços acessíveis e clima de camaradagem. Tudo isso em um momento complicado no país, com a democracia (que nunca foi plena e nem para todxs), levando porrada de tudo quanto é lado e ficando cada vez mais fragilizada nas garras de uma direita raivosa que deseja levar o país ao obscurantismo e de uma ex-querda que se vê como salvadora. E pensar que talvez esse tenha sido um dos últimos rolês feitos em tempos “democráticos”. Acostumado com os atrasos, saí de casa tardão e perdi a primeira banda, Maldita Ambição. E isso pode ser considerado algo legal, porque mostrou que o rolê tinha começado no horário, algo difícil de acontecer na cidade e que faz muita gente desistir de colar e s empre prejudica alguma banda, principalmente as que encerram os eventos. Respeitar o horário também ajuda a fazer com que o rolê seja mais legal e mostra consideração com quem cola ou toca. Foi o tempo certo para chegar, cumprimentar conhecidxs, bolar uma ideia rápida e no palco começava o barulho com a novata Vas en Käsi. Manolxs, que bagulho impressionante! Se você curte velocidade, partes mais lentas com doses cavalares de peso, um pouco de melod ia e letras sérias que fogem do “vamos destruir o sistema e chutar o saco do bozonaro”, sugiro conferir o som da banda. É neocrust para deixar qualquer pessoa completamente abestadx. Na sequência teve os cariocas do Uzômi. A banda estava fazendo um pequeno rolê por SP comemorando seus 23 anos de correria e em cima da hora foi convidada a participar do rolê. Sorte nossa, porque a apresentação dos rapazes foi foda! Eu, mergulhado na ignorância, só conhecia a banda de nome e foi uma baita surpresa. Mesmo com seu som destoando um pouco da linha do fest, o crossover da banda agradou g eral, com uma apresentação energética, fazendo o pessoal começar a agitar timidamente e terminar tacando o foda-se. Sem embaço entre as bandas, a próxima foi a Nuclëar Fröst. Já tive a oportunidade de vê-lxs algumas vezes e sempre foi foda, mas dessa vez foi brutal. Sei lá, acho que todo o clima do evento influenciou na apresentação das bandas, que deram o máximo de si. A mistura do que o punk e o metal têm de mais sujo e violento resultou em muita brutalidade vinda do palco. E encerrando a tarde/noite barulhenta, Warkrust. Primeira vez dxs gaúchxs em SP, assim c omo Uzômi, aproveitaram o feriado prolongado para algumas apresentações na capital e em cidades próximas. E a parada foi fodida! Depois de ver as bandas que tocaram antes mand ando muito bem, seria até aceitável que a Warkrust passasse meio que batido. Mas foi justamente o contrário, a banda destruiu tudo. A avalanche crust resultou em breja indo pelos ares, gente caindo no palco e alguns capotes na roda. Muitas vezes o pessoal ignora a última banda a se apresentar, mas dessa vez não rolou, com todo mundo ficando até o fim do evento e agitando muito. E a satisfação era visível na cara dxs integrantes da banda e nas nossas. Em um feriado prolongado com diversos rolês, foi bacana ver o pessoal colando em bom número e prestigiando todas as bandas, em um clima de camaradagem que poderia ser a regra e não a exceção. A noite do pretume foi foda! MULHERES CONTRA BOLSONARO – 20/10/2018 – MASP – SÃO PAULO/SP Na reta final dessa eleição, esperança e medo se alternam como sentimentos que norteiam uma parcela da população. Segundo as pesquisas, o “coiso” continua com ampla vantagem e reverter esse quadro parece mais difícil a cada dia. Na real, a pelegada da ex-querda cagou, sentou em cima, rolou, passou no cabelo, no rosto e por fim, comeu. E quando digo isso sobre a ex-querda partidária, incluo sindicatos e movimentos sociais servis. Uma sucessão interminável de erros que começou no primeiro mandato do quatro dedos e que nunca cessou. Agora, na iminência de um grande desastre político, essa ex-querda tenta convencer a todxs sobre a necessidade de união. Ué, não foram xs representantes dessa ex-querda que se uniram com o que de pior a política brasileira defecou na esfera municipal, estadual e federal em troca de governabilidade? Não foram xs representantes dessa ex-querda que trocaram a luta pelas facilidades da conciliação de classes? Quem andou de mãos dadas com capital durante esses anos? Quem, mesmo com a negat iva de boa parte da população, insistiu em megaeventos que serviram para que poucxs ganhassem muito dinheiro com a corrupção? Quem pedia aos berros por repressão e punição para as pessoas que se manifestavam nas ruas durante as Jornadas de Junho de 2013? Quem criava factoi des (atualmente conhecidas como fake news) sobre as manifestações de 2013 em diante? No mandato de quem foi aprovada uma lei que serve apenas para endurecer a repressão quando houver novas manifestações? Quem perseguiu xs rebeldes que se organizavam horizontalmente (para desespero da pelegada que não tinha controle da rebelião), tentando a todo custo criminalizar e erraadicá-lxs? Quem deixou de lado as propostas de mudanças concretas para tornar o país mais justo e igualitário para lançar migalhas disfarçadas de benesses à população? Quem ignorou a voz que vinha das ruas (mesmo que seja das ruas de quem tem alguma grana), das periferias, dos quilombos, das terras indígenas e das áreas rurais? Quem insistiu na candidatura de um cara que no começo estava apenas enrolado com a justiça e que acabou in do para o xilindró e mesmo assim continuou sendo o supremo candidato, como se não houvesse ninguém com alguma competência para substituí -lo? Quem, enquanto oposição, sempre teve propostas de mudanças e que, ao se tornar situação, as deixou de lado? Quais sindicatos e movimentos sociais que sempre estiveram atrelados à estrutura da ex-querda partidária, ousou romper com a mesma, mandando tudo e todxs tomar no cu e seguir caminhando com as próprias pernas? Na boa, esse pessoal ramelou muito e tem imensa responsabilidade por tudo que está acontecendo. E antes que apareça alguém para lembrar a redução da pobreza em anos passados, eu sei disso. Mas acho muito pouco vindo de um partido que sempre se colocou como representante máximo (dá-lhe ego!) da esquerda e porta voz da classe trabalhadora e das alas progressistas da sociedade. E na boa, se eu for criticar essa cambada vai ser melhor pensar em livro ao invés de zine.
Mas como o mundo não para, sempre girando e nos surpreendendo, quando chegamos à beira do precipício, essa mesma ex-querda ressurge, como uma fênix, se colocando como a única saída democrática. Pois é, a ex-querda pelega, como num passe de mágica, passou a ser a voz das mudanças, da justiça, da igualdade e da democracia. É pro cu cair da bunda. E o que todo esse blá blá blá fuleiro tem a ver com o ato contra o capitãozinho? Entonces, assim como os dois anteriores, o ato era suprapartidário, mas como o primeiro turno já era passado e xs outrxs candidatos da ex-querda já tinham dado adeus à disputa, sobrou o office boy do lula e assim o ato ganhou um contorno de comício. Alçado como salvador da democracia, o professor de fala tranquila passou a ser a opção de quem não tem opção. É a História nos pregando peças, em parte, graças a nossa falta de memória e capacidade de artic ulação. Novamente uma multidão de pessoas compareceu ao ato, mostrando a força das mulheres em se posicionar contra o ”coiso”. Além d elas, muitas famílias, crianças, idosxs, gente envolvida com o hip hop, punk, coletivos e a militância do pt a encher o saco. O ato continuou tendo uma característica mais heterogênea, o que é importante. Em boa parte do trajeto, os gritos e cantos foram de apoio ao candidato petista, sendo que em diversos momentos pessoas tentavam em vão puxar outros coros, que logo eram encobertos pela cantoria da militância. Durante o trajeto, luzes piscavam nos apartamentos, gritos de apoio vinham de janelas, assim como xingamentos e objetos eram arremessados nxs manifestantes. Encorajadxs pelas pesquisas e com a garantia da segurança do lar e da bundamolice de quem estava na rua, simpatizantes do capitão ousaram avacalhar com o ato. As tentativas falharam e o ato continuou. Até a pm estava de boa, com os lixos parados em rodas de conversas e rindo à vontade. Somente no fim do ato, quando já estávamos na Praça da Sé, três inúteis da ss paulista decidiram esculachar ambulantes que estavam no local. Alguma correria, uns gritos e o resultado foi uma grande vaia para os puliças que saíram de fininho. É bom aproveitar toda essa educação da pm paulista, porque, se tudo der errado, logo ela voltar a ser uma máquina de gerar violência em manifestações. Antes do encerramento do ato, eu e dona Encosto decidimos sair fora, caminhar um pouco pelo Centro, aproveitando essa merreca de liberdade que ainda temos e que talvez vá para o vinagre em breve (nota: quando você estiver lendo isso, já terá consciência de que o capitãozinho foi ou não eleito presidente). Como disse um candidato durante o primeiro debate, “a democracia é uma delícia”, frase que concordo t otalmente. Infelizmente, muita gente não provou corretamente essa delícia e está disposta a tirá-la do cardápio. Essa delícia fará falta. DEAF KIDS, FLICTS, THE VARUKERS – 31/10/2018 – JAI CLUB – SÃO PAULO/SP Dois rolês fodásticos no mesmo mês é para acabar com o coraçãozinho de qualquer pessoa. Pois é, pode parecer difícil, pode até parecer lenda urbana, mas rolou. Depois da maravilha que foi o Massacre Crust duas semanas atrás, teve essa outra boniteza de rolê que foi no mesmo esquema: p unks saíram do mundinho virtual, muitas conversas, fotos, sorrisos, clima de camaradagem e bandas fodas. São situações tão simples, mas que no decorrer dos últimos anos nos descostumamos e quando temos a chance de estar em um rolê onde tudo isso acontece, causa um encantamento. The Varukers não é a banda que mais curto, mas ao vivo é sempre muito foda e os integrantes são umas figuras. E como o valor do ingresso estava razoável, era certeza colar. Nisso, os dias foram passando e eu não comprei o ingresso, até que na véspera do r olê, aloprei com os problemas da vida e decidi não colar e economizar umas moedas. Tudo tranquilo, sem remorso, mas no dia do som decidi dar uma conferida em um site que tem o costume de sortear ingressos e não é que meu nome estava lá. Aos 40 minutos do s egundo tempo, descubro que ganhei um ingresso para ver The Varukers tocando praticamente ao lado de casa. É muita felicidade! Primeiro rolê após a eleição do milico da reserva para ser presidente do país, esse foi um dos assuntos nas conversas. Não tem como não pensar em como será a vida a partir de primeiro de janeiro de 2019, visto as declarações nada amistosas do eleito e de seus cupinchas. Temos muito com o que nos preocupar, até porque a História está aí para nos lembrar com era a vida dxs punks nos anos finais da ditadura militar. E enquanto conversávamos sobre o futuro, uma manifestação contrária às ideias do capitãozinho eleito era reprimida pela ss paulista, dei xando claro o que vem pela frente. E entre diversos assuntos, com variadas pessoas, o tempo foi passando e perdi a banda que iniciou a noite barulhenta, Deaf Kids. As conversas estavam tão boas, que além do Deaf Kids, perdi boa parte do set do Flicts. Ao entrar no local, que estava bem ch eio, tive a oportunidade de ver a parte final da apresentação da banda. Apesar de não o tipo de som que eu normalmente escuto, é legal, tem letras bacanas e não tem o que criticar, afinal é punk rock. E só para constar, o horário foi respeitado para fazer com que o evento terminasse cedo e não prejudicasse quem dependia do transporte público, já que era uma quarta-feira. Eu sei que muita gente reclama de gigs em dias úteis, mas se queremos realmente um circuito independente de turnês, eventos em dias úteis terão que se tornarem comuns. Imagina uma banda com 15 datas só para os finais de semana. É sem condição. Mas voltando ao som, sem embaço The Varukers começa sua apresentação. E que apresentação! Casa cheia, banda empolgada, um pog o cabuloso rolando, com o pessoal agitando muito, inclusive mulheres. E isso é muito legal, porque o pogo deve ser fator de união e não de desrespeito. E dá-lhe roda aberta (mesmo com o local não sendo grande), gente pegando o microfone para cantar ou simplesmente subindo ao palco e mergulhando. Mulheres, homens, pessoas da nova e da velha geração agitando juntas como se não houvesse amanhã. E eu, que há tempos não ingeria uma gota de álcool, depois de compartilhar umas brejas e vinhos, fiquei balão e passei a acreditar que tin ha 20 anos de novo. O resultado foi desastroso: terminei a noite todo malacafento, com camiseta destruída, coluna escangalhada e uma série de hematomas no corpo, com destaque para um roxão horrível próxima à virilha que até agora não entendi como aconteceu. Ainda bem que a pessoa com a qual divido a vida manja dos rolês, porque justificar um roxo como esse é bem difícil. Na boa, se a pancada tivesse sido um pouco mais para o lado, teria perdido boa parte do rolê e aquela marchinha de Carnaval cuja letra diz “a pipa do vovô não sobe mais” passaria ser minha mús ica favorita e autobiográfica. E no horário previsto, deu-se encerrada a apresentação dos gringos. A parada estava tão bacana que poderiam continuar com o barulho por mais umas horas que ninguém arredaria pé do local. E foi mais ou menos isso que rolou, com o pessoal permanecendo no local aproveitando a discotecagem enquanto foi possível e depois no boteco ao lado. Apesar do cansaço e de quinta-feira ser dia útil, a pressa foi deixada de lado em troca de mais algumas boas conversas que ficaram mais animadas ainda após vermos que o Palmeiras tinha levado outra bicuda na Libertadores e vai continuar sem Mundial.
A vida de punks não é uma maravilha por diversos motivos. Mas são noites como essa, com boas conversas, revendo pessoas, agitando ao som de bandas legais, que faz a nossa vida suportável. É em eventos como esse que renovamos nossas energias e crenças no Punk enquanto manifestação contracultural e fomentadora de laços de camaradagem que podem durar a vida toda. Êra punks! BRUTAL GRIND FEST XXIII – 17/11/2018 - CASA DOS FUNDOS – SÃO PAULO/SP* Final de semana estrumbado de rolês na cidade e isso significa dor de cabeça para escolher em qual col ar, habilidade em matemática, magia ou milagre para fazer a multiplicação das moedas e, se possível, capacidade para estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo. E scolhido o rolê, sigo muito bem acompanhada pela dona Encosto rumo à Casa dos Fundos, um novo e simpático local que abriu na cidade, localizado no bairro de Santana, com fácil acesso por ônibus ou metrô. O rolê do Terror Revolucionário em SP foi agilizado pela Nata (Manger Cadavre?) e teve gigs em Sumaré, Santo André e São Paul o, contando com apoio de várias pessoas, em mais uma prova de que com união, muita coisa pode ser feita no underground. O evento estava marcado para começar às 18h20minmin e isso significava que daria tempo de ver todas as bandas e seguir para a zona leste da cidade para ver Força Macabra e Kovaa Rasvaa. Mas um atraso de uma hora se fez presente, sabotando o desejo de dois rolês no mesmo dia. Pelas conversas, mais pessoas que tinham a intenção de ver as bandas gringas, viram a ideia naufragar. E enquanto os ponteiros do relógio seguiam apressados, sobrou aproveitar o tempo bom no quintal do local, entre conversas e alguns mimos (muito obrigado Felipe CDC). E aqui vai um adendo: apesar do discurso de desconstrução, respeito, solidariedade e bla blá blá, ainda rola muito comportamento escroto, inclusive com relação às pessoas que não fazem parte de rolês e por qualquer motivo colam em um evento. 2018 e ainda é um tal de olhar feio, ignorar, entre outras atitudes estúpidas, e isso vale para o Punk, metal ou qualquer outra cena. Galera sem cérebro que não consegue entender que se uma pessoa cola no evento é porque nutre alguma simpatia pela música, ideias, posturas etc. Ninguém é obrigadx a pagar de simpati a, mas um pouco de educação ajuda muito. É entender que essa pessoa muito provavelmente estará ao nosso lado quando tentarem nos queimar com matérias tendenciosas ou notícias falsas, não se deixando enganar facilmente já que conviveu e conheceu um pouco do que vem a ser o Pu nk, e por isso a atitude do Felipe foi muito bacana, demonstrando educação e simpatia. Sem palavras! Com o coração acelerado pelo horário que fazia questão de seguir correndo, o coitado desembestou na velocidade ao ver a primeira banda, a Utsu. A dupla (guitarrista e baterista) contou com os vocais de Hugo (Xic o Picadinho/Dead Cops) e Mario (Óbitto), em uma estreia foderosa. Além de ser a primeira apresentação dos rapazes, aproveitavam para lançar o CD. A parada estava tão foda que a banda ainda mandou covers de Terrorizer e Nasum, pra demolir tudo de vez. Sem embaço, a próxima foi a Desalmado. Nem tem o que falar da apresentação, porque foi a mesma brutalidade de sempre. Unindo veloc idade, peso, algumas partes mais lentas e muita ideia entre os sons. Não é à toa que a banda vem ganhando cada vez mais destaque no metal e no Punk. Já estando resignado em perder o rolê com as bandas finlandesas, melhor relaxar e esquecer o relógio. Ainda bem, porque o que veio na sequência foi uma lindeza. Em um espaço pequeno, que mal cabia banda e equipamentos, Terror Revolucionário fez uma apresentação absurda. A galera que esteve comportada até o momento, deixou as boas maneiras de lado e tacou o terror. Assim como foi nas bandas ant eriores, os sorrisos estavam presentes na galera, nada de cara fechada e pose de fodão. E enquanto a banda detonava seus sons, a molecada agitava no minúsculo espaço, pegando o microfone para cantar ou surfando no pessoal. Na boa, Terror Revolucionário foi um atropelo. Encerrando o barulhento evento, teve Bodhum. Outra banda do RJ, que caminha pelo lado mais veloz da (anti) música, apresentando um grind metalizado. A parada estava boa, mas como já tínhamos feito várias correias durante o dia, o cansaço bateu e achamos melhor s eguir rumo ao cafofo. Outro evento bacana, mostrando que apesar das dificuldades, o underground continua vivão, criando, compartilhando e unindo. IX FEIRA ANARQUISTA DE SÃO PAULO – 18/11/2018 – TENDAL DA LAPA – SÃO PAULO/SP Continuando os rolês no mega feriado (dia 15 em uma quinta-feira e dia 20 em uma terça-feira, com muita gente enforcando a sexta e a segunda), aconteceu mais uma edição da Feira Anarquista de São Paulo, organizada pela Biblioteca Terra Livre, Ativismo ABC, Centro de C ultura Social e NELCA. Em meio ao turbilhão político no qual temos vivido nos últimos meses, euzinho, na maior inocência, achei que a feira desse ano fosse bombar, com trocentos expositorxs, filas gigantescas para participar das rodas de conversa, dificuldade para apreciar e tentar escolh er o que levar para casa. Não que estivesse completamente vazia, mas poderia estar bem mais cheia, já que a fala atual é de “união da esquerda contra o projeto autoritário do capitão”. O problema é que todo mundo continua a viver em suas bolhas, inclusive a esquerda “revolucionária”. Cada grupo com suas pautas específicas e lutas, conclama a participação de outros grupos (participação que basicamente nunca acontece) e ele mesmo também não particip a de outras lutas que não sejam do seu interesse. Assim, falar em união da esquerda se torna uma piada, ou pior, algo impossível de acontecer. Soma-se a isso o fato do anarquismo ser “muito radical” para essa esquerda gourmertizada que circula por aí, acostumada a hierarquias, textões acríticos, que acredita em cirandas como forma de confrontação e por aí vai. Também não podemos esquecer que em um evento como a Feira Anarquista, o conhecimento (gerado e compartilhado) é o principal foco, e novamente a coisa complica, porque a esquerda tradicional acred ita possuir todo o conhecimento necessário para a sua pretensa revolução e qualquer outro ponto de vista é ignorado/sabotado/deslegitimado/descartado. E pra encerrar, é fato que o brasileirx não curte livros, nem escutar e conversar (de uns anos pra cá|), e é justamente isso o que mais tem na Feira. Mas é aquilo, quem deseja informação, corre atrás e foi isso que uma galera ligeira fez. Mesmo não estando lotada, muita gente compareceu, participou das conversas, trocou materiais, interagiu e fez com que a parada funcionasse com razoável tranquilidade. O temor de muita gente de
que pudesse rolar algum tipo de repressão não se concretizou. Banquinhas de editoras e coletivos apresentavam uma infinidade de títulos de livros e fanzines, fazendo a alegria de quem estava com a saúde financeira em boas condições. E quem não estivesse com grana, podia aproveitar para pegar materiais que estavam sendo distribuídos gratuitamente. Tudo estava funcionando bem, mas a presença de skinhedas do coletivo Rash juntamente om algumas pessoas e coletivos extremamente tóxicos envolvidos em fofocas, agressões estúpidas e que foram recentemente denunciados por práticas pouco anarquistas, gerou um desc onforto em parte dxs presentes. Talvez a ideia da união da esquerda tenha sido fator motivador para que a Rash colasse, mas infelizmente com ela veio (inconscientemente ou não) a toxicidade de um pessoal junto. Foi cômico ver pessoas desfilando pra lá e pra cá com semblante fechado e peito estufado parecendo pombo em época de acasalamento. Inclusive rolaram algumas discussões mais acaloradas, mas sem a necessidade de chegar às vias de fato, o que demonstra maturidade das partes envolvidas. Na real, nesse meio tem um bolinho de pessoas que c urte passar vergonha e tem feito isso com maestria nas últimas edições da Feira. Talvez tenha faltado uma maior malandragem de rua por parte da organização a fim de evitar essas situações. No mais, acreditar ou não nessa galera vai de cada pessoa, mas a distância exist ente entre conversa bonita e mundo real é imensa e não vai ser com postura marrenta ou passando vergonha que isso irá mudar. Enfim, no geral esteve tudo bacana e a contento. Só nos resta aguardar os próximos capítulos da novela autoritária para sabermos se será possível ou não uma edição da Feira em 2019. XV MARCHA DA CONSCIÊNCIA NEGRA – 20/11/2018 – SÃO PAULO/SP* Para quem imaginou que com a eleição do “coiso” as mobilizações sociais contra o seu projeto autoritário fossem ganhar força, a decepção tem sido uma constante nesse primeiro momento. Na verdade, era só ter prestado atenção na redução de manifestantes nas três marchas que ocorreram contra o chafariz de chorume antes das eleições, para ter uma ideia do que viria. Logo após selado o destino catastrófico via urna, a ex-querda correu avisar que seria a resistência, soltou uma meia dúzia de discursos bonitos e emocionados para, na prática, fazer o que aquilo que é de se esperar: nada, ou na melhor das hipóteses, muito pouco. Os dois primeiros atos convocados pela pelagada reuniram aquela galera cirandeira e/ou bunda mole. Com tanta gente que pode ter seus direitos atropelados pelo futuro governo, a adesão ao ato foi bem abaixo do esperado e, como de praxe, acabou levando uma corrida da polícia no final. E que e ssa galera entenda, a polícia sempre foi violenta em manifestações, mas a previsão é que a parada piore a partir de janeiro, o que significa que cada vez menos pessoas estarão nas ruas para ouvir o guiverme boulos e semelhantes falar. Por isso, imaginamos que a Marcha da Consciência Negra desse ano tivesse uma participação menor do que em anos anteriores. Só não esperava que tivesse diminuído tanto. Sei lá, quantidade não significa qualidade, mas foi triste ver tão poucas pessoas, cerc a de 3000 (desculpem, não somos bons em “achômetro” nem “olhômetro”). As justificativas para isso são várias, desde a apatia que domina as movimentações sociais, passando pela direitização da sociedade que consequentemente enxerga qualquer manifestação política vinda de minorias como al go à esquerda e que deve ser combatido, até chegarmos ao fato de que o feriado da Consciência Negra serve para que brancxs descansem enquanto negr xs trabalhem ou mesmo a falta de grana para chegar ao ato. Ainda assim, acredito que muita gente preferiu aproveitar o feriado, esquecendo que a partir de janeiro o que já é ruim tende a piorar. Mas é direito desse pessoal também não participar, devem ter seus motivos e respeitamos sua escolha. Também não podemos esquecer que rolaram os outros eventos no mesmo horário, com atrações musicais nacionais e internacionais, o que ajuda e muito a diluir a força da marcha. E que fique claro, não somos contra esses eventos culturais, tudo vem a somar, mas poderia ser realizado em outro horário ou dia. A concentração começou por volta das 13h00min em frente ao Masp, e a caminhada começou lá pelas 16h, seguindo pela Avenida Paulista, Rua da Consolação, Rua Xavier de Toledo até o encerramento em frente ao Teatro Municipal. Diferente de outros anos, nesse o sembl ante de todxs era de seriedade, sem sorrisos fáceis, sem oba-oba ou de ficar tirando foto fazendo beiço de peixe para colocar em rede social. Pra esse tipo de atitude já temos o Carnaval. Manifestação é coisa série, é enfretamento, é ruptura, é política. E já passou da hora da ex-querda entender isso. E falando nesse defunto, tirando algumas poucas bandeirolas e meia dúzia de duas pessoas presentes, cadê a ex-querda (candidatxs e militância) para apoiar o povo preto? Na hora de falsas promessas durante a campanha eleitoral, na hora de distribu ir santinhos, adesivos e de pedir votos ao candidatx que “luta” contra a intolerância, se lembram das pretas e dos pretos, mas depois, fodam-se! Na boa, por isso digo que essa ex-querda é uma vergonha e está onde merece. A marcha seguiu bonita, sempre com cantos pela liberdade e tolerância, contra a polícia, com muitos discursos e sempre provocando aquela reação nojenta em numa parcela da população que faz questão de ficar com semblante imbecilizado ao ver um número maior de neg ras e negros nas ruas reivindicando direitos. Sacomé, o pensamento é “como essa negrada ousa abandonar a senzala pra colar na casa grande?” Pois é, colamos na casa grande e ainda vamos chutar suas bundas. E diferentemente de anos anteriores, que o efetivo policial era gran de e ostensivo, com xs vermes demonstrando todo o seu ódio através do olhar, dessa vez surpreendeu com o reduzido efetivo, que só esteve pres ente na frente e atrás da marcha, mantendo uns bons metros de distância, o que foi ótimo para a qualidade do ar que respiramos, nos poupando da fedentina exalada pelas ratazanas cinzentas. Talvez tenha vindo alguma ordem lá de cima para evitar qualquer situação que pudesse coloc ar a polícia como seletiva racialmente e socialmente. E tudo transcorreu bem e de maneira tranquila até chegarmos ao Teatro Municipal, onde rolaram os últimos discursos e a marcha foi dada por encerrada, com a galera seguindo para suas quebradas ou ficando de rolê pelo Centro. ARTE E CULTURA NO PARQUE – 16/12/2018 – CASA DE CULTURA DO BUTANTÃ – SÃO PAULO/SP Domingão com aquele calor que eu tanto amo e que se dependesse da minha vontade, nunca iria embora. Além disso, tinha esse baita evento gratuito que contava com a participação de quinze bandas cujos estilos iam do metal ao hardcore, passando por algo mais alternativo. As bandas participantes do evento foram PMA Trio, Projeto Trator, Santa Muerte, Sistema Sangria, Inhuman Penitence, Matricis, One True Reason, Ratas Rabiosas, Ódio Social, Nuclëra Fröst, Vazio, Cruel Face, Fear of the Future, Questions e Gritando HC. Ufa! Pela quantidade, qualidade das bandas e variedade de estilos, fácil acesso ao local e por ser um dos últimos rolês do ano e, pior, um dos últimos antes do muito provavelmente lazarento 2019, imaginei que fosse estrumbar de pessoas. Não que estivesse vazio, mas poderia ter mais gente.
Sei lá, se tem rolê o pessoal não aparece, se não tem vão reclamar. Vai entender! Talvez o pessoal viva uma brisa de que algo semelhante aos grandes festivais europeus aconteça por aqui e estão a esperar. Só pode ser isso. Inicialmente estava previsto que as bandas se apresentariam em dois palcos, mas isso acabou não rolando. Não sei o motivo, mas o jeito dado foi que todas se apresentassem em um único palco, encurtando um pouco o set para que nenhuma fosse prejudicada e para que o event o terminasse cedo. Quando cheguei, quem estava no palco era a Santa Muerte. E isso significava que tinha perdido PMA Trio e Projeto Trator. Voltando a Santa Muerte, a parada é thrash metal feito por mulheres, mostrando a representatividade feminina no metal. Sem embaço, veio Sistem a Sangria, banda que circula com frequência pelos buracos da Grande SP e nem precisa de explicação. E sem tempo para respirar, a Inhuman Penitence, que fazia sua estreia e conta com uma galera que está ou esteve envolvida com as bandas Nuclëar Fröst e Social Chaos, fazendo uma mescl a fudida de death com crust. Como sou velho, foi inevitável fazer uma pausa para hidratar a carcaça, tomar um ar e trocar uma ideia com pessoas queridas. E nisso, perdi boa parte da apresentação da novata Matricis, punk/hc detonado apenas por mulheres, mostrando que a presença feminina no Punk é u ma realidade e não tem mais desculpa para convidar apenas bandas com homens. Na sequência, uma banda que só conhecia de nome, a One True Reason, que foi uma agradável surpresa com seu hardcore cheio de energia, lembrando os bons tempos da Verdurada. E a parada continuou cheia de energia com a Ratas Rabiosas, que a cada apresentação fica mais foda. Outra pausa para interação e forrar a barriga porque saco vazio não para em pé, e quando retorno quem está no palco é o Ódio Social, que também detonou, o que foi uma constante com as bandas que vi. Uns minutos para respirar e Nuclëar Fröst começa seu debulho. Nem tem o que falar da banda que já não foi falado por outras pessoas, o bagulho é monstro. Apesar de estar quieto no meu canto, nessa altura do campeonato minha carcaça já dava sinais de desgaste e o meu desejo era que as bandas se apresentassem o mais rápido possível para acabar logo e eu voltar para o cafofo. Nisso, o cheiro de enxofre toma conta do lugar com a banda de black metal Vazio, que mesmo destoando um pouco do restante das participantes do fest, mandou muito bem. Cruel Face veio na sequência, mandando aquele grind que tanto gostamos, mas como o cansaço já estava mais impregnado na minha pessoa do que vocação para ro ubalheira em político, depois de alguma confabulação com as pessoas que estavam juntas, foi decidido vazar do rolê. Ainda tinha algumas bandas (Fear of the Future, Questions e Gritando HC) para tocar, mas o cansaço e uma ameaça de chuva acelerou nossa retirada. Apesar do lugar não ter lotado como poderia e do problema com um dos palcos, o evento foi muito massa. O espaço é bacana, o equipamento estava legal, tinha banquinhas vendendo materiais e rangos, galera ficou de boa, sem estresse, pessoas que há tempos não via colaram. Enfim, foi um ótimo rolê para encerrar o ano e fica a expectativa para 2019, já que muita coisa pode mudar para pior com essa nova quadrilha que está prestes a se encastelar em Brasília. Quem viver, verá.
ZINES Por Treva DA MEMÓRIA À RUA Em tempo de pouca ou nenhuma leitura e de emburrecimento acelerado, qualquer iniciativa de livros ou zines é de grande valia. E o compa Kledson tem compartilhado com quem tem interesse, diversos trampos escritos que servem para nos manter informadxs sobre as mo vimentações latinas. Em 20 páginas, o zine traz alguns textos e reflexões acerca dos acontecimentos que envolveram Mauricio Morales, o Punky Mauri, morto por um artefato explosivo quando o jovem o colocava na escola de gendameria (a uma escola de formação de oficiais da polícia ou uma bosta do tipo). O caso teve grande repercussão na mídia e no meio político chileno, desencadeando uma onda de perseguições a anarquistas. Os textos discorrem sobre esse acontecimento, mas também sobre outros casos semelhantes, sendo uma homenagem ao Punky Mauri e a outras pessoas que se encontram sequestradas pelo estado ou mortas. Também rola um pouco de História, para entendermos o contexto atu al do país vizinho e alguns textos em homenagem ao Punky Mauri feitos por grupos distantes, mas que estão próximos pelas lutas que escolheram. “Que a memória grite no fogo dos próximos distúrbios.” SUBVERSÃO DA CULTURA Manja aquele papo “sejamos a nossa própria mídia?” Pois é, o zine já foi a melhor maneira para adquirirmos informações políti cas e contraculturais sobre tudo que rolava mundo afora, mas com os avanços tecnológicos caiu em desuso. Fora isso, muita gente prefere apoiar sites ou blogs musicais, mesmo que isso signifique pouco espaço para o Punk e é justamente por isso que bate aquela felicidade quan do aparece algum zine novo circulando. E o Zäká, responsável por esse zine, também está na correria com o coletivo Raw Punk Z.O. e está tocando no Armistício. Mesmo com muita gente torcendo o nariz para zines virtuais ou compartilhados no mundo virtual, são i negáveis as vantagens quando pensamos em economia de moedas e no alcance do compartilhamento, o que com o zine em papel é quase impossível na atualidade. E deve se r pensando nisso que o Zäká tratou de disponibilizá-lo também no mundo virtual. E na boa, se não fosse assim, talvez nem ficássemos sabendo desse trampo.
Nesse primeiro número constam entrevistas legais com as bandas Armistício e E.D. I (Escravos da Ignorância) e textos, tudo naquele esquema visual que é uma característica dos zines punks e que tanto amamos: a desconstrução visual, que deixa o zine com uma estética muito foda. Subversão da Cultura preza pela valorização do Punk, algo que muitas vezes tem sido deixado de lado em nome de uma pretensa e rudição política que acaba nem saindo do lugar. Que voltemos a ser a nossa própria mídia. https://issuu.com/zakarawpunkzo/docs/subvers_o_da_cultura_by_z_k_.pptx MULHERES DO ROCK – O ROCK DO DF E DO ENTORNO SOB O PONTO DE VISTA FEMININO Esse livro show de bola a Encosto (aka Tamires) ganhou do Felipe CDC num som do terror Revolucionário aqui em Sampa. E ela, na maior boa vontade (ou nem tanto) topou socializar a parada. Lançado em 2010 por inciativa do Zine Oficial, teve patrô do Ministério da Cultura (esse que agoniza) e conta com relatos de seis mulheres que de variadas maneiras, estiveram/estão envolvidas com o rock na região. São elas: Alice (Gulag), Andréia (Valhalla), Bianca (Buli mia), Ludmila (Estamira), Márcia (Headbanger’s Attack) e Zanny (Flammea). As 160 páginas do livro foram devoradas em algumas horas. Ao invés de alguém, como observadorx, contar como foi a participação feminina nas cenas, as convidadas contam em suas próprias palavras. E como não são escritoras profissionais, os depoimentos são leves, tipo uma conversa entre amigxs, bem humorados e repletos de causos interessantes que prendem a atenção, fornecendo uma ampla visão do que foi e é o underground do DF e região. As críticas também estão presentes, afinal, são mulheres compartilhando suas vivências em um ambiente que, infelizmente, continua sendo um local de muito machismo. A única reclamação é o fato de ter poucas fotos, mas isso nem de longe desmerece toda a correria que deve ter rolado para fazer esse livro. Não sei o quanto esse trampo foi divulgado, mas é o tipo de iniciativa que, dentro do possível, deveria ter sido copiada a ro do em tudo quanto é quebrada desse país. CORINGÃO ANTIFA Apesar de todo o lixo que ainda rola nas arquibancadas do Bra$il com a conivência de clubes, de grande parte da torcida (incluindo as organizadas) e imprensa, tem uma galera a fim de ser o contraponto a isso, semeando palavras de respeito, igualdade e rebeli ão nas arquibancadas. A iniciativa ainda é pequena quando pensamos no tamanho e complexidade do futebol, mas os exemplos são vários e vão de norte a sul, de leste a oeste no país. Mesmo não sendo frequentador assíduo de estádios, vejo essas autointituladas “torcidas antifascistas” como coletivos e não como torcidas, em decorrência de seu tamanho, forma organizacional, postura e viés político. Parece rolar um fetiche com o termo antifascista e com algumas torcidas europeias notoriamente de esquerda e aí uma galera oriunda de rolês meio que passou a viver de viagem, fazendo uma militância virtual ao invés de se fazerem presentes nas arquibancadas, já que em várias oportunidades são vistos em matérias midiáticas afirmand o temer represálias de torcedorxs dos seus próprios times. Enfim, cada grupo luta conforme seu culhão. Esse informativo da Coringão Antifa, pelo que está escrito foi bolado por mulheres e para as mulheres (sim borocos, homens ta mbém podem ler e, se possível, entender o que está escrito). Todo o texto tem uma temática voltada às mulheres e suas pautas, deixando claro pelo que lutam e o que não querem em suas vidas, em linguagem simples e de fácil entendimento, principalmente para aqueles seres humanos que fingem ignorar toda a problemática que envolve ser mulher, na arquibancada ou na vida cotidiana. AFRONTE O RACISMO De uns tempos pra cá surgiram diversos coletivos nas mais distantes quebradas, cada um se organizando conforme seu viés ideol ógico e lutando por pautas específicas, mas todos tentando convergir em uma luta contra grupos reacionários que tentam impor suas vontades goela abaixo dxs outrxs. E na boa, conhecer todos esses coletivos passa a ser missão quase impossível. E nessas tomei contato cm o coletivo Af ronte, que aparentemente está espalhado por várias cidades da república das bananas e tem em suas fileiras uma parcela da juventude indignada. Esse informativo estava sendo distribuído durante a XV Marcha da Consciência Negra e o assunto é luta antirracista, relembrando acontecimentos (bons e ruins) que tiveram importância na luta da população negra, críticas ao capitãozinho e um chamamento à luta. Se você ficou interessadx em saber mais sobre a correria da garotada, se liga em https://pt-br.facebook.com/afrontenacional/ ou https://instastalker.com/profile/afronte.nacional/
SUBTERROR “O QUE TE FAZ SUPORTAR O PESO DE TANTAS MENTIRAS? O MUNDO A SUA VOLTA ESTÁ APODRECENDO. O MUNDO A SUA VOLTA. O QUE TE FAZ ACREDITAR QUE AS COISAS POSSAM MELHORAR?” Por Treva & Hannah Esclarecendo logo de cara: isso não tem a pretensão de ser uma biografia porque não sou gabaritado para tal afazer e as informações disponíveis são poucas. A parada aqui esta mais para uma tentativa de contar um pouco sobre a correria da banda para quem não conhece e, principalmente, uma homenagem ao Samuel. Então, vai ter buracos no texto que já é pequeno e vai faltar informação, mas é isso.
Mesmo com todas as dificuldades inerentes ao Punk terceiro mundista do qual fazemos parte, a quantidade de bandas que continu am a surgir é impressionante. Do punk rock ao grindcore, sempre tem pessoas criando, produzindo, compartilhando e agilizando diversas correrias, fazendo com que o Punk não pare. E foi nesse ambiente que surgiu a Subterror. Brasília, a capital federal do Bra$il, também conhecida por Ilha da Fantasia. Só de escutar falar o nome já sentimos calafrios. Lugar de onde as facções criminosas mais detestáveis controlam o país, legislando em causa própria e fazendo da vida da população sempre um po uco pior. É ótimo imaginar uma bomba caindo onde esse pessoal fica encastelado e mandando tudo pelos ares, consumindo tudo e todxs em chamas. Mas Brasília não é só corja política e corrupção, também tem o conjunto arquitetônico que continua a encantar as pessoas e tem muita banda foda. Claro, ninguém aqui está pensando naquelas bandas da playboyzada bunda mole que ainda acredita que começaram o Punk no centro-oeste. A Subterror surgiu no segundo semestre de 2009 e contava com Luan nos vocais, Harry na guitarra, Berns no baixo e Samuel na b ateria. Tendo como influências o Punk japonês, sueco, crust, grind e metal porrada dos anos 80 e 90, o som dos rapazes acabou resultando em um crust altamente metalizado (um pouco menos no início), com muito peso, partes mais lentas e letras que passavam pelo político, filosófico e existencial, sempre com aquela pegada pessimista. Em 2011 lançam o CD demo intitulado “Desespero” com quatro sons e produção a cargo de Capaça, do Violator. Era para serem cinco sons, mas a música título foi perdida. Mesmo sendo uma banda nova e o CD ser demo, já demonstrava a força de seu som e letras. De uma relação de amizade iniciada em uma rede social que já caducou, pouco mais de um ano após a demo sai o Split 7’’ com a banda húngara Do You Think I Care?, material esse mais bem gravado que o anterior e novamente tendo como produtor o Capaça. E nesse período acontece uma mudança na formação, com Berns deixando a banda e Luan assumindo também o vocal, consolidando a formação como trio até o encerramento das atividades. Da camaradagem e apoio mútuo com o poderoso Defy, sai em 2013 outro Split 7’’, “Human Beings Should Have Never Envolved... At All!!”, com dois sons de cada banda. Você consegue imaginar tanta brutalidade em um compacto? Nesse lançamento o som já dava sinais de mu dança, estando mais metalizado. E com o compacto pronto, as duas bandas embarcaram em uma turnê europeia de 17 datas, passando por Itália, Suíça, Alemanha, França, Bélgica, Holanda, República Checa, Eslováquia, Hungria e Croácia, vivendo outra realidade no underground, s ervindo de aprendizado e de força questionadora para quem vive todos os perrengues da música subterrânea em um país como o Bra$il. No ano de 2014 começam a gravar seu primeiro full-lenght por uma gravadora (Black Hole Productions) e em 2015 sai “Antropomortum”, com produção foda que ficou na responsabilidade da própria banda e de Jera Cravo (conhecido por trampar com bandas barulhentas) e com uma das capas mais fodas da música torta dessa parte do planeta, feita por Hal Rotter (Rotting Graphics). A mudança sonora iniciada n o Split com a Defy, agora estava completa, com a banda nos apresentando uma poderosíssima fusão de crust com death metal, e nas letras sorumbátic as, mas questionadoras. Com o CD lançado, hora de cair na estrada, dentro da realidade brasileira de bandas independentes. E durante os próximos dois anos a banda compartilhou suas músicas onde fosse possível. Passaram por Brasília/DF, Goiânia/GO, Rio de Janeiro/RJ, Santo André/SP, Santo s/SP, São Paulo/SP, Belo Horizonte/MG, Campo Grande//MS entre outras cidades, sempre em companhia de bandas bacanas como Gerações Perdidas, Armagedom, Beton, Ruinas, Facada, Violator, Nuclëar Fröst, Helvetin Viemärit, What I Want, Fear of the Future, Deaf Kids, Sum mer Saco, MIasthenia, Vader, Distanásia, Subcut, mostrando a versatilidade da banda em dividir o rolê na tranquilidade com banda punk e metal. Em 2016, participam da coletânea “Brasília Hardcore Volume 4 – From Enslavement To Estrutural” da Brasilia Hardcore Mixtapes, com a música “Fanatismo do Pior”. Além disso, a Subterror tinha a intenção de lançar o “Antropomortum” em vinil e gravar alguns sons para sair em um Split com a banda argentina Ruinas, mas que acabou não rolando. Apesar da boa receptividade que o CD obteve e de diversas gigs, no início de março/2017 a banda anuncia o encerramento das atividades. Pessoal pego de surpresa, sem entender como uma banda bacana parava de tocar enquanto tanta porcaria insistia em permanecer n o rolê. Sem perder tempo, Luan e Samuel (juntamente com um ex-integrante do Beast Conjurator) montam outra banda, a Burial Temple, focada no death metal. Sobre o guitarrista Harry, não consegui descobrir se continua envolvido com a música barulhenta. Infelizmente, aos 04/07 desse ano, as cenas punk e metal recebem a triste notícia do falecimento do jovem Samuel. Outra perda significativa para a música subterrânea. E quem teve a oportunidade de conhecer o Samuel (que não foi o meu caso), diz que a perda foi dupla, al ém do músico, havia uma pessoa muito bacana. Com certeza fez, faz e fará falta para quem o c onheceu pessoalmente ou apenas seus trabalhos. Through the day... Waiting here. Always failing to remember why we came, I wonder why we came.
https://www.facebook.com/Subterror/
subterrorcrust@gmail.com
https://subterror.bandcamp.com/
POESIAS MARGINAIS Por Hannah, Karl Straight* e Juänito** ELE NÃO, ELE NUNCA! O pesadelo vai começar
Nossos direitos querem retirar
Com a democracia querem acabar
E a resistência está a se preparar
E a resistência deve se articular
E por ela a resistência irá lutar
Ele não, ele nunca!
Ele não, ele nunca!
Ele não, ele nunca!
DAY NO PRETÉRITO PERFEITO Eu fernando Holiday
Ele fernando holideu
Vós fernando holidestes
Tu fernando holideste
Nós fernando holidemos
Ele fernando holideram
ILUSÕES* Quem deste amor fingir juízo
Por isso sorrirei da dor deste abandono
Sem saber do mal que me causou
Não sei onde ela se perdeu
Fingindo não deixará de ver a dor que sinto
Neste mundo de amor e de ilusões
O fato de amar sempre nas ilusões deste mundo
Sei que também fui um tolo em não mostrar o que sentia
Por mais que não quisesse ver teu culto
Agora sinto essa angústia de não vê-la mais
Ainda me segue por caminhos tão escuros
Talvez para a alegria dos meus futuros sonhos
Dos momentos que a dor valia como a flor que era minha
Mentirei para mim mesmo
O momento que a perdi na minha tola ilusão Mas sinto que tenho que vagar nesta triste dor Que a fiz sentir um dia Sinto agora o que você sentiu naquele momento Quando a deixei
CONHE SER** Informar
Escondido no olhar
Conhecer
Espalhar
Espalhar
Conhecer
Conhe ser
Informar
Espalhar
A verdade escondida Presa no ar
Para info-amar O fato oculto ATIVISMO DE CHILIQUE**
Pego me olhando
Será que esse virtual toca multidões?
E sobre protestos postando
Meu perfil é bacana
De causas nobres compartilhando O clique passa e a vida rastejando
Quem o descreve pensa e logo não se engana
Padecendo de verdade
Que atrás dessa imagem que queremos criar, passar, cultuar
Padecendo de olho no olho
Ainda mora um ser
Padecendo de rua
Que luta, goza, sofre E ama
Eu vejo atos, fatos, mobilizações
QUANDO SOMOS VIDA** Quando somos vida deixamos os rótulos
Nem ecologista, punk ou sindicalista
Quebramos os modos
Não somos homens, não somos mulheres
Quando somos vida interagimos
Deixamos tudo de lado
Não somos trans, bi ou homo
Quando somos vida nem o ego é agredido
O preconceito, aquele jeito Quando somos vida deixamos as ideias de lado Quando somos vida pelo que lutamos de lado
O gênero não consuma o fato
Quando somos vida não somos feministas
Tudo se funde em um só ato
Nem humanistas tampouco anarquistas
Apenas na essência de existir
Quando somos vida o problema antes até mesmo que tenha aparecido Quando somos vida não temos classe, raça, religião e muito menos nação Quando somos vida nos ligamos ao mundo numa profunda interação
PASSANDO** Passando
Na mente ideias vão levando
Vagando
Sem rumo na cidade caminhando
Andarilhando
Rios
Por cada viela sentindo calafrios
Pelas ruas que logo vão se acabando A BOMBA II*
Vazios
Crianças, pedintes, sem grana e sem dios
Frios
Afastados de tudo, os sentimentos mais sombrios
Se as guerras acabassem haveria união e paz?
Encontrar o caminho quase impossível
Nosso mundo não seria destruído
O que o mundo cheio de erros faz para o ser humano?
seguro
parece
A terrível bomba atômica A radioatividade significa terror, ruína e calamidade
Nesse labirinto, O mundo é um palco
E nele somos apenas atores e atrizes
O fim atômico se aproxima
Nesse exato momento, eu e você
Conflitos que trazem a guerra
Qual o motivo?
Estamos envolvidos nessa guerra
A bomba foi lançada
O que está acontecendo? FRÁGIL REBELDIA*
Coloco-me em seu lugar
Converta-me e submeta-me às suas mentiras e egoísmo
Massacre minha frágil rebeldia
Você diante de si mesmo De seus conflitos e desejos
Até que eu abra mão de minha vida Seja verdadeiro
Massacre minha frágil rebeldia Levante e caminhe
Força e atitude