Vivência Punk N° 6

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A sociedade brasileira como um todo está doente, muito doente. O nível de gravidade dessa doença muda conforme determinadas variáveis que não cabe aqui explicar pela falta de espaço. Mas o foco vai ser na parcela da sociedade que mais tem feito feio (intelectualmente falando) que é a parte branca (ou não, ainda que em menor número), temente a deu$, heterossexual, que paga impostos e acredita/apoia a meritocracia; as chamadas pessoas de bem, aquelas que dizem ser exploradas e enganadas pela quadrilha esquerdista. A lavagem cerebral que durou décadas deixou efeitos desastrosos no caráter dessa parcela da população e, entre outras coisas, também conseguiu matar sua capacidade de se indignar e se solidarizar com o drama de outras pessoas. Focada apenas na manutenção de privilégios, no consumo de bens materiais e em exibir suas existências vazias em redes sociais ou colunas de fofocas, olham para a parcela da população desprovida de qualquer bem como um ônus a ser chutado para bem longe, no máximo olhando para essas pessoas como mão de obra barata e necessária para servir a parcela mais abastada. Essa capacidade de olhar apenas para o próprio umbigo é o que motivou milhares de pessoas a irem às ruas fazer ‘política’, clamando pelo fim da corrupção e por cadeia para integrantes de quadrilhas criminosas, mas sabemos que estão nas ruas apenas reclamando por terem sido enganadxs com a falsa promessa de poder aquisitivo alto e consumismo exagerado. Choraram, reclamaram e bateram panela porque querem comprar o último modelo de celular, querem a roupa daquela grife exclusiva, necessitam desesperadamente trocar de carro ou moto, querem aquela viagem ao exterior, mas em nenhum momento clamam por igualdade social. Muito pelo contrário, é favorável a manutenção dessa desigualdade, sendo contrária a política de cotas para afrodescendentes e indígenas no ensino e no serviço público, contra a reforma agrária, contra o feminismo, contra o uso racional das riquezas naturais, contra o aborto, contra a descriminalização das drogas (mesmo quem usa, porque hipocrisia é mato na vida dessa gente), contra o estado laico, contra tudo aquilo que poderia vir a ajudar a republiqueta a ser um lugar mais justo. Talvez prefiram manter a desigualdade a fim de se autoestimar ao ver que existe muita gente com menos, o que não seria de se estranhar em uma sociedade doente. Como era de se esperar, essa parcela considerável da população aceitou bovinamente o papel de massa de manobra e apoiou o golpe em cima da quadrilha esquerdista. Só não esperava ver a podridão continuar firme e forte. A quadrilha que assumiu o poder é tão suja quanto a anterior e vai continuar legislando em causa própria enquanto o pessoal da bateção de panela assiste perplexo (ou não) os primeiros escândalos do governo interino. Sai um governo de coalizão totalmente apodrecido e entra outro em avançado estado de decomposição. Mudam alguns nomes e rostos, permanecem os conchavos e falcatruas, e o roteiro desse filme desastroso continua a ser o mesmo. O otimismo inicial da coxinhada rapidamente cedeu lugar à resignação, entendendo ter dado um tiro no pé e que tudo irá continuar como antes. Talvez a nova quadrilha até consiga arrumar um pouquinho a economia nos próximos meses na tentativa de acalmar os ânimos da população, mas parece difícil. E assim como a quadrilha anterior, essa continua preocupada em encontrar meios de calar as massas, em como minar qualquer tentativa de rebelião e deixa claro que haverá punição para quem ousar deixar o rebanho. Nós punks, longe de sermos xs donxs da verdade ou exemplo de qualquer coisa (afinal, o Movimento ainda tem problemas a serem resolvidos urgentemente), nos permitimos nutrir bons pensamentos em relação à corja política e por isso desejamos do fundo de nossos corações negros que TODA essa corja morra. E que morra com ela também quem apoia esse jogo sujo, de religiosos a militares, de artistas a viúvxs da ditadura. Queimem desgraçadxs! No mais, aguardamos ansiosamente ver o circo realmente pegar fogo e que venha o pior! Não estamos 100% preparadxs, mas também não estamos dormindo.

Agradecimentos: Inarai & Rebeldia Incontida, Gustavo & Blatta Knup, Jhad & Zine Berro Clandestino, Gabriel Sossai (ficou foda a capa), Pudim & Futebol é Guerra, Tamires (por transformar o ato de atrapalhar em arte... hunf!), as pessoas que colaboraram em todas as edições, à galera responsável pelas imagens que usamos e nunca creditamos por não sabermos quem são, ao pessoal que de alguma maneira apoiou o zine, a todxs xs punks que vivem o Punk, correm por ele e não se deixam levar por falácias ou modismos e a vida, porque sem ela não há motivos para lutar. “A autoridade é supostamente baseada na sabedoria, mas desde moleque pude ver que a autoridade era apenas um sistema de controle e não possuía nenhuma sabedoria inerente. Eu percebi, rapidamente, que ou você torna-se o poder ou é esmagado por ele.” Joe Strummer Fanzines anteriores: https://issuu.com/vivenciapunk/docs/capa_-_c__pia

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Este zine é dedicado ao Caveira (outro punk que nos deixou), ao grande Muhammad Ail e as vítimas da intolerância religiosa em Orlando. Estejam em paz!


NOSSAS VIDAS Por Karl Straight Você gostaria de viver uma vida excepcional e satisfatória? Acho que quase todas as pessoas responderiam sim a esta pergunta. Lembro-me de uma estória narrada por um professor no tempo de escola a respeito de um de seus antigos alunos. No primeiro dia de aula, numa recepção de boas vindas de professorxs e alunxs, um rapaz falou de repente, “vou fazer da minha vida excepcional!” Ele foi em frente saindo-se muito bem tanto na vida pessoal quanto na profissional. E isso sempre me chamou a atenção nesse jovem. Ele queria viver uma vida excepcional, queria que sua vida fosse especial e no fundo do seu ser, ele desejou tudo de bom. Eu acredito que viver uma vida deste tipo é possível para qualquer pessoa que tome esta decisão, independente das circunstâncias. No entanto isso não é fácil para ninguém. Nesse fanzine que escrevo alguns textos com outrxs amigxs, falo com precisão que a vida é ao mesmo tempo difícil e cheia de conflitos. É um enorme desafio, ou como diz minha definição predileta da vida, “a vida é uma série de situações que envolvem as soluções de problemas.” As vitórias ou derrotas de nossas vidas dependem da eficácia com que enfrentamos e solucionamos os problemas que temos diante de nós. E todas estas dificuldades e problemas podem ser bastante complexos. Como disse certa vez uma pessoa sábia, “não existem problemas simples depois do jardim da infância.” Podemos receber procedimentos e ter metas a seguir, sistemas e fórmulas para tornar nossa vida melhor. No entanto, respostas complexas raramente resolvem problemas que nos cercam todos os dias. A melhor maneira de lidar com o processo de mudança é por meio de pequenos passos, um de cada vez, e fazer isso com paciência e ponderação. Acredito que cada mudança da vida, cada parte de nossa caminhada começa dentro de nós, no coração e na mente. A verdadeira mudança acontece bem no fundo de nossos sentimentos, atitudes e ideias. Uma ideia que recebi certa vez numa conversa com amigxs em uma festa onde discutíamos resoluções para o ano novo que se aproximava. Isso foi no fim de ano e esta pessoa me disse que é mais provável alcançar a vitória quando tomamos uma única resolução, nos concentramos exclusivamente e dedicamos a ela bastante tempo e paciência. E isso me fez pensar em várias ocasiões onde tomei a decisão de continuar escrevendo textos e poesias. E também de perder algumas pessoas que haviam me magoado de certa maneira. Em todos os casos, um coração paciente pode fazer grande diferença. Sua vida pode mudar radicalmente para melhor quando você toma a decisão de dar passos simples e determinados. Tome a decisão de adotar uma atitude positiva. Decida por algo que faça diferença em todas as circunstâncias. Recuse-se a desistir, apesar de todos os obstáculos.

ACABE COM SEUS MEDOS Por Karl Straight Temos o potencial de continuar a crescer enquanto vivemos. No entanto, com muita frequência, nós empacamos. Pedimos desculpas, oferecemos justificativas e não fazemos nenhum progresso. O que nos impede de avançar em direção aos nossos desejos? Normalmente, o simples medo está na essência de tudo. Enquanto permitimos que o medo domine nossas vidas, não conseguimos avançar. O medo nem sempre se manifesta no suor das mãos, nas lágrimas, nos tremores ou em outros sinais de grande emoção. O mais comum é que ele exerça em silêncio sua força incapacitante, de maneiras mais difíceis de discernir. O medo está atuando quando dizemos a nós mesmos coisas negativas. Palavras podem ser elementos inibidores, uma força incapacitante que enfrentamos na vida. Pense onde as suas palavras negativas estão exercendo a força entorpecente e imobilizante que te impede de avançar na direção que deseja, na direção de viver o desejo do seu coração. Isso acontece em algum momento na vida de todos nós. Podemos resolver esse problema, é uma questão de como organizamos nossa mente, de como administramos nosso dia a dia, de como nos orientamos, do que fazemos com o precioso tempo que temos. A verdade é que você pode sentir que não está perseguindo seu sonho de maneira ideal. A paixão é sempre uma moeda de duas faces, de um lado está a alegria, do outro a dor. Mas você já sentiu paixão por alguma coisa que não envolvesse dor? Você deve a si mesmo lutar contra a frustração e ir atrás de seus sonhos. Acabe com seus medos e não se surpreenda se a sua vida ficar muito melhor. Empurrar limites e experimentar coisas de uma nova maneira. Pessoalmente, acredito nesse meu pensamento: parte do motivo pelo qual as pessoas não perseguem apaixonadamente seus ideais e sonhos é o fato de terem sido vítimas de desilusões. Olhe ao seu redor, comtemple o céu, respire o ar, sinta o mundo a sua volta, compartilhe com outras pessoas sua caminhada, cada momento e cada hora da sua vida.


O ODOR FÉTIDO QUE SEMPRE SENTIMOS NA PRESENÇA DA POLÍCIA, PRINCIPALMENTE QUANDO NOS MOSTRAM O QUE É A DEMOCRACIA À BRASILEIRA Por Treva Esse relato é um dos muitos que surgiram sobre a brutal repressão que ocorreu no segundo ato contra o aumento das tarifas em Sampa no dia 12/01/2016. Não é diferente de tantos outros relatos que vemos com frequência desde o início dos anos 2000, quando começaram as movimentações antiglobalização. Não é mais nem menos importante do que qualquer outro, pois acredito que todos têm a mesma importância quando o assunto é violência policial. Independente da pauta reivindicatória, a mão pesada do estado terrorista se faz presente, brutalizando e coagindo quem ousar enfrentá-lo, deixando claro que as únicas maneiras de reivindicar algo são entrando naquele curral ordinário e apertando uma tecla qualquer ou reclamando em casa, com a bunda no sofá. Isso é democracia para a classe política brasileira, independente da sigla ou linha ideológica e vão fazer tudo que for possível para manter as coisas como estão. A princípio a ideia era de um texto anônimo, obviamente por questão de segurança. Um relato que tivesse aparecido do nada seria mais seguro, mas talvez não passasse credibilidade. Perguntei a algumas pessoas sobre isso e obtive diferentes respostas e justificativas. Mas todas terminaram dizendo que compartilhar o ocorrido seria de grande valia. Sem contar que em determinados momentos da vida, apertar a tecla do “foda-se” é inevitável. Claro, esse relato não vai fazer diferença na atuação da polícia, ninguém vai ser punido por abuso ou algo que o valha. Talvez, e bem talvez, o fato do relato ser sobre todo um rolê e seus desdobramentos, de estar presenciando toda a brutalidade cometida pelo estado contra a população em outra situação e por ângulos diferentes daqueles que estou acostumado, a chance de ouvir a diarreia que saía de maneira ininterrupta da boca dxs policiais, possa gerar algum interesse de leitura. Enfim... No dia da manifestação, tinha pensado em seguir caminhando até o local, observando o movimento e pensando na vida, mas como o horário já estava em cima, decidi pegar o metrô. Fazer catracaço sozinho é bem estranho e em uma estação onde existe uma espécie de porta na catraca, complica muito. Apesar da vontade, o funcionário pelego estava postado bem ao lado das catracas, fazendo-me desistir da ideia. Desci uma estação antes e segui pela Avenida Paulista, trânsito parado e muita gente caminhando apressada e com semblante preocupado. Ao chegar perto da Praça do Ciclista entendi o porquê do caminhar apressado e do semblante preocupado das pessoas que via indo em sentido contrário ao meu. Um número absurdo de policiais fechava a avenida, blindados, dezenas de viaturas e motos, helicópteros e até a rota (conhecia por sua alta letalidade em ações). Sim, o estado estava preparado para uma batalha que por motivos óbvios, já sabíamos quem venceria. Nenhuma novidade no tamanho do aparato repressivo ao lembrarmos que dias antes, no primeiro ato, rolou um violento confronto que resultou em alguns vermes com a cabeça e cara quebradas e, em especial, um P2 safado que levou um lindo e merecido sacode da molecada (até o filho de 17 anos de um verme ajudou no sacode. Infelizmente, dias depois, foi entregue pelo próprio pai à justiça. Lixo e mau caráter até em família). Tão certo quanto 2+2=4, seria imaginar que a tropa estava disposta a dar o troco com juros e correção monetária para vingar os que apanharam. Vendo que a avenida estava fechada e que aparentemente rolava uma revista em que queria entrar para participar do ato, decidi procurar outra brecha. Enquanto caminhava, encontrei várias pessoas que também tentavam furar o cerco policial, mas sem sucesso. Depois de andar por uns quinze minutos, passando por diversos grupos de vermes, pensava na medíocre existência delxs ali paradxs, sedentos de sangue. Na periferia, quando a polícia cai, sempre tem retaliação, só que vidas humanas são perdidas. Sabia que hoje seria algo parecido, só que sem a perda de vidas, pelo menos por enquanto. Próximo da Avenida Paulista, encontrei uma companheira que me arrumou uma garrafinha plástica com álcool, que pode ser usado para limpar pequenos ralados decorrentes de quedas ou para atear fogo em barricadas improvisadas. Conversamos rapidamente, um abraço e palavras de encorajamento de ambos os lados. Chegando à avenida, no lado oposto de onde tinha vindo incialmente, vi que também não conseguiria entrar sem ter problemas com a polícia. Fiquei sentado na praça em frente, observando, sentido a tensão no ar. Quebrando o gelo, um cidadão que disse ser funcionário de uma empresa de ônibus, começou a comer minha ideia com aquele papo furado de sempre, “que estudante já tem passe livre e por isso não podem reclamar” ou “que deveriam lutar por saúde e contra a corrupção”. Nisso, pergunto ao cidadão porque ao invés de ficar dizendo por quais motivos àquelas pessoas deveriam lutar, porque ele mesmo não organiza um pessoal do bairro, junta mais algumas pessoas e começa uma movimentação no bairro que reside? O tiozão olhou com cara desconfiada, mas continuou a falar. Interrompi o papo furado dizendo que o fato dxs estudantes terem passe livre não significa que não possam ser solidárixs a quem não tem e vai ter que arcar com mais R$ 0,30 em cada viagem. O tiozão desbaratinou e voltou a conversar com o outro cara que o acompanhava. Nisso, começou uma movimentação, aparentemente as pessoas tentavam caminhar e eram impedidas. Isso deve ter durado poucos segundos, por que na sequência começou a chuva de bombas e tiros. As pessoas que estavam na praça correram e isso chamou a atenção de vermes que devem ter achado que aquelas pessoas também participavam da marcha e lançaram algumas bombas na direção da praça e na rua. Aproximei-me do ponto de ônibus que ficava em frente e de lá pude ver a animosidade que acontecia. Bombas, tiros, borrachada em todo mundo. Uma bomba dispersante explodiu muito perto de onde estava, momento em


que peguei minhas bolinhas de gude e passei a arremessá-las na direção da polícia e, em especial, de um verme que atirava bombas. Apesar de ter um estilingue comigo, naquele momento era impossível usá-lo sem correr o risco de ferir manifestantes. Acredito que não existe esse papo de manifestação pacífica, simplesmente porque o estado está em guerra contra a população e não é de hoje. Se existisse a menor possibilidade desta ou de qualquer outra manifestação ser pacífica, não seria necessária a presença ostensiva da polícia. É fato, o estado não tem o controle sobre a polícia e acaba por endossar suas ações violentas e repressoras usando o discurso sem vergonha de estar defendendo a democracia ou o direito de ir e vir das pessoas. Se isso é defender a democracia, tremo só de imaginar o que seria defender um regime autoritário. E já que sempre foi, é e continuará a ser permitido que capatazes do governo brutalizem em manifestações, me permito, sem constrangimento, me defender desses ataques com as armas que estiverem ao meu alcance. Revidar é um dever de quem cola em manifestações, porque no dia a dia ninguém leva xingo ou bicuda sem revidar. E porque seria de outra forma em uma manifestação? Pois é, e enquanto exercia o meu direito de defender-me, a casa caiu para este que vos bosteia. Senti um tranco por trás, algo quase erótico, e lembrei que o tiozão falador de antes disse que tinha lido sobre diversos assaltos no último ato. Achei que estava sendo assaltado e coloquei a mão para trás procurando minha carteira. Até rolou uma apalpada no meu algoz (que no momento ainda não sabia que era um verme). Só quando percebi o braço em volta do meu pescoço e a força com que passou a apertar movido pelo desejo de amassar minha traqueia/laringe é que entendi ser um verme e que tinha rodado. Tudo isso em segundos. Logo outro verme apareceu ajudando na imobilização. Ao começar a ser arrastado para longe da muvuca, tentando de alguma forma me soltar, senti minhas calças molhando. Pronto, detido e ainda por cima, mijado. Antes fosse! Era a garrafinha com álcool que tinha estourado e molhava minhas calças. Nisso, lembrei que nos meus bolsos ainda tinha bolinhas de gude e um estilingue e que precisava me livrar daquilo. Enquanto me arrastavam em direção a uma viatura, dispensei a garrafa e boa parte das bolinhas. No chão, com sei lá quantos pés e mãos me segurando (e olha que sou chassi de grilo), escuto um verme dizendo que eu estava ‘apredrejando policiais’. Pouca ideia, me levantaram e levaram para a viatura. Muita gente da imprensa não corporativa se aproximou para saber meu nome, e como era difícil entenderem o que eu falava devido à porta do táxi já estar fechada, somado ao barulho das bombas e gritaria, encostei um documento no vidro que foi filmado e fotografado, além dos avisos para manter a calma e que não seria deixado para trás. Escuto uma mulher perguntar para onde seria levado e os vermes dizem não saber. Bora passear de táxi. Por mais de uma hora fiquei andando de táxi, e como sou vip, fiquei sozinho, no melhor estilo Uber. E aí só me restou ter calma e pensar no que fazer com os pertences que restavam nos bolsos. Minha sorte foi não ter sido algemado de início, e xs pangarés da viatura decidiram me deixar sem algemas, desde que ficasse com as mãos para baixo. Enquanto o táxi andava e parava, com xs ocupantes adrenalizadxs pela caçada, consegui prender as três bolinhas de gude que sobraram no velcro que prendia os cassetetes e o estilingue muquiei ao lado de uma espécie de caixa de metal que existe no reservado para quem é vip. Na realidade, meus pertences estavam porcamente escondidos, simplesmente porque na área vip do táxi não existe lugar para esconder qualquer coisa. Nos vários momentos que paravam a viatura, ficava a apreensão de abrirem a porta e verem o que não deveriam ou sentirem o cheiro de álcool na minha roupa. Mas como estavam alucinadxs, nas poucas vezes que abriram e foram falar algo comigo, não notaram. Enquanto passeava, entendi que a polícia gosta de agir feito capitão do mato, caçando as pessoas. O confronto por si só parece não ser do agrado da tropa, até porque podem levar um prejú. Mas quando a massa dispersa, aí começa a diversão. Vi agressões em toda a extensão na Rua da Consolação até chegar a Praça Roosevelt, onde tinha acabado de rolar uma correria e ainda tinha muita fumaça e gás. No rádio, sempre informes sobre onde tinha manifestantes, onde tinha alguém suspeito (ainda que estive sozinhx) e lá vai o táxi na correria. E essa correria começou a dar problemas, porque as bolinhas escapavam do velcro e ao caírem, faziam barulho. E lá vou eu, na maior cara de pau, prender novamente as desgraçadas no velcro. Na real, era na parte de trás do velcro, numa pequena folga entre o velcro e a tal caixa de metal, onde quase metade da bolinha ficava aparente. Do táxi, presenciei a covardia que ocorreu na Rua Sergipe e adjacências. Vontade de chorar ao ver manifestantes sendo atropelados por motocicletas que circulavam em alta velocidade pelas calçadas e ao tentarem escapar correndo pelas ruas, tinham as dezenas de viaturas que muitas vezes faziam manobras arriscadas que poderiam atropelar que estava em fuga. E dálhe bomba, tiros, porradas e xingamentos. Vi moradorxs dos prédios abrindo o portão para ajudarem manifestantes. Foi nesse momento que o nojo que sinto por policiais atingiu um nível desgraçadamente insuportável e desejava com todo o ódio possível que uma doença extirpasse do planeta essa raça maldita. Via jovens de quinze anos no máximo correndo desorientados e exaustos, enquanto xs vermes riam. Inclusive escutei da fossa bucal de um deles a máxima, ‘amo muito tudo isso!’ Pois é, nesse momento lembrei-me do jovem de treze anos que matou os pais policiais aqui em São Paulo. Na boa, esse moleque é um herói! E não posso esquecer-me da imprensa não corporativa, que passou maus bocados nessas ruas. Não havia distinção entre manifestantes, imprensa ou pessoas do bairro. Todxs eram inimigxs da tropa sedenta de sangue. Apesar de serem desprovidxs de qualquer humanidade, policiais não são desprovidxs de burrice. Jogaram tantas bombas nas ruas do bairro de Higienópolis, que uma rajada de vento estragou a festa dos lixos. Era verme com o olho lacrimejando, tossindo, tendo náuseas, coisa mais linda de se ver. Um privilégio! Muitxs entraram nas viaturas, mas já era tarde e tiveram que conviver com o gás lacrimogênio. Outros caminharam de olhos fechados e trombando com as viaturas paradas e teve verme que quase caiu com a motocicleta. É bom respirar isso, né bando de arrombadxs? Também passei mal, mas vê-los na mesma situação valeu o preço.


Pouco antes de deixar Higienópolis, queriam desesperadamente saber quem foi o verme que me pegou. Ninguém sabia, as notícias eram desencontradas. E gansando o papo, ficou no ar que queriam armar para cima da minha pessoa, tentar empurrar algum b.o. nervoso. Foi quando um deles disse que cheguei à viatura sem estar algemado e que fui filmado e fotografado à exaustão. A tenente pestilenta que era dona do táxi resmungou algo que não entendi e disse que não ia dar em nada, que era necessário encontrar o responsável pela minha detenção. Mais um pouco de conversa, um verme aparece afirmando que fui algemado e quando questionado sobre quem era o responsável, disse não saber. Outro disse que cheguei sem algemas, ficaram no debate, provavelmente lamentando e um veio falar comigo. Perguntou o que aconteceu, contei a minha estória triste e frisei que não fui algemado. Cara de decepção, porta fechada. Antes de seguir com o passeio, um verme pergunta o que fiz e ao ser informado sobre a minha periculosidade, pergunta se não é possível dar uma detonada na minha pessoa, recebendo uma negativa e ouvindo que fui fotografado e filmado sem estar algemado e sem ferimentos. Decepção na face nojenta do verme. Claro, isso também faz parte do terror psicológico que adoram fazer, mas conhecendo o modus operandi da corporação, não é difícil acreditar em um fim mais trágico. E bora passear novamente. O táxi rodou mais alguns minutos em alta velocidade, sendo escoltado por duas motocicletas (perigosão o panaca aqui!). Na Marginal Tietê, com o trânsito ruim de sempre, como fazer para arrumar uma brecha e andar em alta velocidade? É só jogar uma bomba de efeito moral que o trânsito melhora. É ser muito lixo, jogar bomba porque quer circular na avenida em alta velocidade. Depois de muita correria, finalmente chegamos a delegacia. Muitas motos e viaturas, muita conversa, mas não vi do lado de fora ninguém da imprensa ou advogados e nem detidxs. Fiquei alguns minutos na viatura e dizem que estou lá apenas para averiguação. Novamente vieram perguntar o que tinha acontecido e contei a mesma estória triste, que estava vendo o tumulto, quando uma bomba estourou muito próxima no momento que estava com uma bala na mão e a arremessei automaticamente. Fiz questão de frisar que era uma bala sabor frutas vermelhas, e não é porque sou comunista. Para não ficarem dúvidas, mostrei as balas. Pegaram meus dados, perguntaram sobre as tatuagens e me falaram para descer da viatura. Fui para o outro lado da calçada, rolou uma revista de leve e fiquei no aguardo. Escuto a conversa de dois vermes dizendo que um garoto foi detido com um estilingue e 80 bolinhas de gude. Eles riem, pensando na possível merda que aguardava o rapaz. Observo a frente da delegacia, penso onde está o socorro para quem chegou ou vai chegar lá. Alguns minutos de espera e entregam meu documento. Estou liberado. Respiro fundo, penso no jovem que estava lá e sigo a passos rápidos para o Centro da cidade. Na Avenida São João, escuto o barulho do helicóptero e das bombas. Passo por centenas de vermes que ostentavam sorrisos de felicidade por terem rasgado a constituição e chutado com força essa frágil democracia. Chego ao Anhangabaú onde está rolando outro confronto, com números e equipamentos desproporcionais para os lados que se enfrentam. Não tem muito que fazer e o pouco de pessoas acabam se dispersando. Encontro algumas pessoas conhecidas, conversas rápidas, fico feliz em saber que já sabiam que tinha sido detido (aquela sensação de que não seria deixado para trás é reconfortante), continuamos ouvindo bombas estourando e o metrô permanece fechado, com a cambada de urubus escrotxs na frente, com aquela cara de pau mandando. Torço para que essxs malditxs que trabalham no metrô também morram, porque são uns lixos. E pensar que até pouco tempo atrás tinha gente que defendia esses pelegxs nas greves. Que morram! Depois de muita reclamação, pedidos desesperados, abriram a porta e permitiram a entrada. A postura corporal dos urubus era de afronta a quem utiliza o metrô, como se elxs fossem donxs daquela merda. Vendo a cara de pouco caso com a situação daquelxs jovens que também estiveram lutando por algo mais justo para os familiares daquelxs pelegxs do metrô, a vontade era de metralhar todxs elxs. É a síndrome de pequeno poder, onde a pessoa acredita ter um pouco de autoridade e que isso lhe dá o direito de pisar nas outras. Entro sujo, cansado, triste, com o ódio redobrado e tendo a certeza de que não vai ter arrego. No trem, penso que está na hora de rever como lidamos com essas lutas. É necessária uma real convergência entre os diversos movimentos sociais para que a massa nas ruas seja maior e mais forte. Não é possível apenas que pequenos grupos protagonizem lutas que são do interesse de todxs, não adianta apenas caminhar, caminhar e esperar a mão pesada do estado desabar sobre a cabeça de todxs. Outros modos de lutar se fazem necessários, aliados aos tradicionais. Acredito que essa mudança não aconteça para o próximo ato ou mesmo para o próximo ano, mas é algo que deve ser estudado e discutido. Se dará certo é outro papo, mas não custa tentar. O estado estudou, discutiu, investiu pesado e mudou suas táticas desde as Jornadas de Junho, por isso estamos tendo dificuldade em enfrentá-lo. Está na hora do lado de cá também mudar. Isso que chamam de democracia não nos interessa. Votar não é democracia plena, tampouco ter o direito de escolher que filme assistir ou que música ouvir. Democracia é algo bem mais amplo e que estamos longe, muito longe de conhecer e viver. Vivemos um embrião de democracia, frágil pela pouca idade e já corroída pelo autoritarismo. Para atingirmos a democracia plena levará um bom tempo, com muita luta, suor, lágrimas e sangue. Governador e prefeito, psdb e pt, os dois lados da mesmo moeda, ambos são cúmplices na tragédia do dia 12, assim como foram cúmplices na tragédia que ocorreu em 13 de junho de 2013. Permitiram o aumento da tarifa em um momento de crise econômica, desemprego, inflação e esperam que ninguém reclame, que ninguém cobre. São dois lixos, nada mais que isso. O governo diz que os atos são violentos e por isso, reprimidos, e que se fossem pacíficos nada disso aconteceria. Só pra constar, pacífico é o oceano, e não moramos no oceano. Violento é o estado! Violência é o que ele fez com a população ao longo de décadas. Transporte, saúde, educação, habitação, serviços públicos ineficientes, questão ambiental deixada de lado, desigualda-


de social gritante. Também é violência o salário que a corja política recebe mensalmente enquanto a imensa maioria da população vive com baixos salários. Vidraça de banco, rede de fast-food, carrão importado ou policiais (são robôs, então...), nada disso sendo danificado sangra ou sente dor. Quebrá-los pode ser entendido com um grito de revolta, de rebelião, de que estamos de saco cheio de vocês, de tudo que fazem e que estamos retomando o controle de nossas vidas. E se alguém merece punição, encarceramento, são vocês, políticos! Vocês são xs criminosxs, nós apenas estamos aqui lutando por uma vida mais justa e tentando tumultuar suas medíocres existências. E aos juristas boçais, políticos profissionais e jornalistas sem vergonha que pedem por mais repressão e criminalização da luta social (em especial de quem pratica a ação direta), vão à merda! Vocês são uns inúteis e sabem disso. Pagam pau para as diversas lutas que ocorreram no mundo, mas agora que é no quintal de casa, defecam pela boca. Em outros quintais pode haver confronto, pode ter molotov, porque lá são manifestantes lutando por causa justa, mas aqui são vandâlxs. Voltar para o banco escolar ninguém quer. Melhor continuar espalhando matéria fecal líquida saída de vossas bocas. E fica a dica: pessoas podem ser sequestradas pelo estado, não as ideias. No mais, agradeço de coração a todas as pessoas que fotografaram e filmaram minha detenção e que naquele momento demonstraram preocupação com o que poderia vir a acontecer. Vocês salvaram minha pele! Tenham certeza que o trabalho de vocês é de extrema importância para a luta como um todo. E agradeço também a quem ficou preocupado e foi atrás de informação, deixou recado, ligou, mandou sinal de fumaça. Às vezes pode não parecer, mas prezo demais a amizade de vocês e desculpa por mais essa dor de cabeça. Mas não é a primeira e, provavelmente, não será a última. Só nos resta o ódio. A quebradeira não vai ter fim!

MESMO INVISÍVEIS PARA A MAIORIA DAS PESSOAS, CRIANÇAS CONSEGUEM SER CRIANÇAS EM MEIO AO COTIDIANO EMBRUTECEDOR DE QUEM VIVE EM SITUAÇÃO DE RUA NA METRÓPOLE CINZA Por Treva Tempos atrás estava fazendo um rolezinho básico com minha companheira na região central da cidade de São Paulo. Apesar de bonita, contando com dezenas de equipamentos culturais, transporte, bares, restaurantes e casas noturnas, da enorme quantidade de escritórios, lojas, instituições de ensino, dos milhares de pessoas que todos os dias circulam pela região, continua sendo um lugar esquecido e desprezado pela maioria da população. O centro da cidade passou por um processo de abandono e deterioração iniciado décadas atrás e hoje, mesmo com as tentativas de requalificação que apenas fomentam a gentrificação da área, excluindo e expulsando pessoas, continua a ser evitado. Resumidamente, as pessoas acreditam que a região central seja um antro de violência, prostituição, mendicância, sujeira, tráfico e consumo de drogas. Triste a ignorância, mas é isso que acontece com quem passa muito tempo lendo determinadas revistas semanais ou assistindo certos telejornais. Mas deixando de lado a explicação do porque não é comum passear pelo Centro, estávamos caminhando e observando as construções antigas, as pichações e grafites, o corre-corre de quem parece estar sempre com pressa, a falta de áreas verdes e a consequente ausência de aves, o trânsito sempre caótico e as pessoas que, assim como nós, acreditam que o Centro é um lugar bacana para aproveitar. Nisso chegamos a Praça da República, famosa por sua feira de artesanato, pela paquera que rola e por ter sido palco de um brutal assassinato cometido por skinheads anos atrás, motivados pela homofobia. Nessa praça existe um lago artificial com algumas carpas, tartarugas, uma boa quantidade de lodo e um pouco de embalagens plásticas que insistem em permanecer no lago graças à falta de educação das pessoas. Na maior parte do tempo a fonte não funciona e o lago fica vazio, sendo raridade vê-lo cheio. E nesse dia, por sorte, ele estava cheio. A surpresa maior não foi ver o lago cheio, apesar de que isso já seria um evento e a quantidade de pessoas paradas a observar as poucas carpas e tartarugas que batalham para sobreviver na água razoavelmente suja demonstrava isso. A grande surpresa foi ver cinco crianças que não passavam dos doze anos, divertindo-se horrores na água. Mergulhavam, pulavam da beirada do lago e do chafariz, saíam da água encolhidas, com frio, e logo pulavam para dentro. Sorriam, gritavam, se abraçavam, apostavam corrida, talvez sonhando em ser um nadador e com o futuro que isso poderia lhes fornecer. Conseguiam ser felizes com tão pouco, não se importando com o fato de estarem nadando em águas não tão limpas, compartilhando o espaço com carpas, tartarugas e com a sujeira deixada por quem ali passa diariamente. A felicidade, os sorrisos, as risadas, tudo era contagiante, nos fazendo lembrar o quão medíocre pode ser nossa existência, sempre reclamando de tudo e todxs, sem sair da zona de conforto. Por cerca de dez minutos observamos, na maior parte do tempo em silêncio, aquelas crianças. A felicidade momentânea que sentiam era proporcional ao vazio que eu sentia. Vinha à mente todo aquele papo academicista revolucionário que muitas vezes (talvez na maioria das vezes, não sei), não serve para nada, a não ser se autoestimar frente amiguinhxs coxinhas ou futurxs anarquistas pelegxs que aceitam lideranças. Obviamente não é obrigação de punks salvarem o mundo, mas não deixa de ser frustrante ver tanta leitura, tanta teoria, tanto estudo, não sendo usado, ou quando usado, em benefício próprio ou de cupinchas. È o meio libertário agindo da mesma maneira que a classe política.


Essas cinco crianças, juntamente com tantas outras que perambulam pela região central e em outras áreas da cidade, fazem parte de um pequeno contingente invisível e desprezado pela sociedade, esquecido pelo poder público e quando lembrado é apenas para ser brutalizado pela polícia militar e guarda civil metropolitana. Essas crianças passam a maior parte de sua existência longe dos olhos dx cidadão/cidadã de bem, aquelx que frequenta micaretas contra o governo, mas quando questionado sobre qualquer assunto, libera litros de matéria fecal líquida pela boca. Essas crianças são lembradas apenas quando cometem crimes que são noticiados na grande mídia, com suas matérias sensacionalistas, instigando a população a acreditar que encarceramento e redução da maioridade penal seja a solução ao invés do combate a gritante e vergonhosa desigualdade social que insiste em se fazer presente no país. Ou quando surge alguma notícia sobre doar a região central para a iniciativa privada, que obviamente considera essa criançada, demais moradorxs em situação de rua, ocupas e quem sobrevive do comércio informal como indesejáveis, atrapalhando o antigo sonho de transformar a região em um grande salão de festas para a classe média e alta paulistana. Ver aquelas cinco crianças e seus sorrisos, apesar de toda a dificuldade que encontram para sobreviver na cidade mais rica do país e uma das maiores do mundo, me faz pensar em quantas crianças não estão na mesma situação e o quanto devem sofrer diariamente. Tenho certeza que isso que chamam orgulhosamente de sociedade falhou, ainda falha e vai continuar a falhar com as crianças. E antes que venham com aquele papinho boçal de que “tão na rua porque querem, preferem roubar a ter que trabalhar. E já que tá com dó, leva pra sua casa!”, sinto muito informar, mas ninguém em sã consciência vai querer morar na rua por escolha própria, passando fome, frio, tendo sonhos destruídos sistematicamente e sujeitas a todo tipo de violência vinda por parte da jagunçada do estado ou de pessoas que simplesmente as odeiam e querem vê-las longe de seus comércios, ruas de lazer ou residências. Essas crianças, jovens e adultos que passam suas vidas a perambular pelas ruas são, em maior ou menor grau, vítimas de um sistema que desde a época colonial funciona (se é que podemos dizer que o sistema algum dia funcionou) de maneira estranha, servindo aos interesses de pessoas que detêm o poder. Mesmo que a pessoa tenha feito alguma escolha errada que a levou às ruas, isso não serve para justificar que a mesma viva nas ruas como se isso fosse algo normal, porque não é. Se a pessoa, independente do motivo, tem nas ruas sua casa, é necessário que ela tenha meios para conseguir sair e isso é de responsabilidade do estado. Depois de anos morando nas ruas a pessoa está doente, fragilizada, sem forças e esperança em superar toda a complexa problemática em que está inserida, necessitando de ajuda e apoio, e se continua na rua é por incompetência e/ou negligência do estado. O tal estado de bem estar social deveria valer para toda a sociedade e não apenas para quem tem como pagar. Mas voltando às crianças, fiquei com meus pensamentos imaginando o que fariam após a brincadeira no lago, que roupa seca vestiriam, o que comeriam para saciar a fome, onde descansariam depois da brincadeira? Tentei me colocar na mesma situação, mas durou pouco de tão horrível que é apenas imaginar passar por esses percalços. Também me lembrei das pessoas que dizem que crianças são o futuro, que se emocionam ao ver a imagem do menino je$u$, que sorriem ao ver crianças na televisão, que mimam exageradamente suas crias e de outras pessoas, adubando o terreno fértil da imbecialização para que no futuro se tornem cópias mal feitas de projenitorxs reacionárixs e insensíveis. Essas mesmas pessoas tão emotivas frente a crianças limpas, bem vestidas, saudáveis e educadas (ou nem tanto), não titubeiam em bostejar seu ódio contra crianças que não têm nada e não contam com ninguém a não ser elas mesmxs. Por essas crianças, ninguém tem interesse em bater panela. Do mesmo que jeito que chegamos, partimos, não sem antes olhar para trás. Uma sensação de derrota, de incapacidade de mudar a realidade se fez presente. A imagem, ao mesmo tempo feliz e triste, de crianças sorrindo ao nadarem em um lago artificial e sujo, sob os olhares afetuosos e outros de desprezo e indignação, permanece em minha mente, assombra meus pensamentos. De que adianta tanta teoria se não conseguimos mudar minimamente a realidade, sequer colocamos em prática (e quando digo prática, é prática real e não colar em sonzinho mequetrefe achando que isso é revolução). Não será do dia para noite que uma situação que possui raízes muito antigas deixará de existir, mas um país com tanta aspiração a ser protagonista no mundo não pode aceitar conviver com tanta desigualdade, e um rolê com tanta teoria política precisa ser mais presente na correria. Mesmo em um ambiente tão hostil, embrutecidas pela vivência, essas cinco crianças conseguiam sorrir, conseguiam ser afetuosas entre si. Naquele momento mágico para elas, eram apenas crianças sendo crianças, com a vida sendo generosa e com o mundo parecendo mais acolhedor e menos violento. Temos muito a aprender.

MARCHA ANTIFASCITSTA 2016 EM SÃO PAULO: A LUTA CONTRA A DIREITA E PELA DEMOCRACIA AO LADO DE GRUPOS PELEGOS. SUPERAÇÃO DE DIVERGÊNCIAS EM NOME DE UM BEM MAIOR? COOPTAÇÃO DA LUTA? PREGUIÇA COGNITIVA? Por Treva Em meio à polarização política que já vinha se fazendo presente há algum tempo e que tomou ares de guerra civil no mês de março, sendo responsável por uma alteração nos ânimos da massa bovina comumente chamada de sociedade civil e que gerou


cenas patéticas de diarreia intelectual e violência típica de filme pastelão, com diversas organizações criminosas lutando entre si para ver quem ficaria com o poder e com a massa bovina, em boa parte do tempo, fazendo feio nas ruas, surgiu a notícia da Marcha Antifascista 2016, um possível sopro de bom senso frente ao crescente discurso de ódio de quem é contra o governo federal, mas até muito recentemente recebia de bom grado as benesses vindas do mesmo, ou alguém vai dizer que os grandes eventos e a redução de tributos em diversos produtos e bens supérfluos são presentes para o proletariado? Esse texto não é uma tese, é apenas a minha opinião baseada na vivência e não em livros ou aprendizado em sala de aula, e justamente por isso pode ter alguns pontos equivocados ou mesmo estar na sua totalidade equivocado. O antifascismo teve quase que totalmente seu sentido esvaziado nos últimos anos. O passado de estudo, militância e confrontação foi trocado por discursos decorados e confrontos contra a escória nazifascista apenas em busca de ibope nas ruas. Tretar com pilantras é motivo para bostejarem em redes sociais em busca de popularidade. Claro, existem pessoas comprometidas com a luta, mas a impressão que a maioria passa é de estarem envolvidas com algo caricato e em busca de alguma notoriedade. Sem contar que muitxs dessxs super antifascistas têm o rabo preso e fica difícil acreditar em pessoas que mantêm algum tipo de contato com quem dizem combater nas ruas ou até mesmo fizeram parte desses grupelhos em um passado não muito distante e, como num passe de mágica, mudaram completamente sua visão política e suas atitudes. Também não faltam antifascistas de classe média que mandam muito bem nas ideias, falam bonito e fazem militância em condomínio fechado, ajudando na elitização e divulgando o antifascismo gourmet. Fora isso, temos o eterno problema organizacional, com falta de diálogo entre os diversos grupos, nada de estudo e outras tantas falhas que insistimos em manter, tendo como consequência a falta de base ideológica que limita o entender/questionar e combater de maneira eficaz o lixo direitista. Apesar dos problemas relatados, é inspirador ver uma manifestação antifascista nas ruas de São Paulo (mais conhecida nos últimos anos como Tucanistão, a cidade que funciona como laboratório de práticas autoritárias) em uma época onde discurso e posturas reacionárias ganham força. Como vemos em qualquer lugar do mundo, crise econômica tem como resultado crise intelectual, onde parte da população permite que seus monstros interiores ganhem vida e se manifestem. E aqui não foi diferente, com a intolerância antes mantida muito bem guardada dentro de casa, agora se sentindo suficientemente segura para deixar sua zona de conforto e sair às ruas sem medo, aproveitando o repentino engajamento político-micaretístico da população classe mé(r)dia branca, temente a deu$ e heterossexual. Tá, eu sei que pessoas que não se enquadram nesse perfil estiveram presentes nas manifestações contra o governo federal (a maioria para trabalhar vendendo algo), mas venhamos e convenhamos, em número infinitamente reduzido e apenas como figurantes, porque sabemos com quem ficou o protagonismo. Mas voltando a marcha, ao acompanhar a página do evento e ver as postagens e debates que surgiam, a alegria inicial deu espaço a preocupação e preguiça. Aparentemente a ideia era promover uma convergência de toda a esquerda para juntos mostrar que existem pessoas que não concordam com o viés reacionário que existe nas manifestações contra o governo federal. Mas como é possível realizar uma marcha antifascista contra a direita e pela democracia com a participação de sindicatos, grupos estudantis, partidos e lutadorexs sociais cooptadxs pelo aparelho estatal? Como ficar ao lado de pessoas que pouco tempo atrás aplaudiam a repressão em cima de manifestantes contrárixs a realização da copa do mundo e o roubo que isso gerou? As dezenas de textos publicados em sites de partidos ou na mídia esquerdista criminalizando o bloco negro e toda forma de ação direta radical, até mesmo a horizontalidade nas manifestações foi questionada como se fosse necessária uma liderança ou um mártir para se reivindicar algo. E o apoio a brutal repressão ocorrida durante as manifestações contra o aumento da tarifa do transporte público em Sampa e em outras localidades? Não podemos esquecer a reforma agrária, questão ambiental, indígena e quilombola, negligenciadas pelo governo federal sempre permissivo para atos de violência contra quem ousa enfrentar o agronegócio. Não podemos esquecer a presidente, que assumiu postura servil perante interesses estrangeiros ao sancionar a lei antiterrorismo, que gera polêmicas ao facilitar a punição de movimentos e lutadorxs sociais por deixar nas mãos da corja de delegadxs, ministério público e judiciário o entendimento sobre o que é ou não terrorismo quando alguém for detido. E o 8 de março, com militantes estúpidas agredindo mulheres que se recusaram a colocar como pauta principal a manutenção do mandato da dilminha. Essa esquerda que desde 2013 tenta deslegitimar ou cooptar qualquer manifestação, felizmente na maioria dos casos sem sucesso, aplaudiu e pediu por repressão e punição quando seus pares eram questionados, fechou os olhos para diversas demandas populares, virando as costas para sua base e agora, quando estão vendo seu projeto de perpetuação no poder ruir, pedem união em nome da democracia? É muita escrotidão! Essa democracia que a canalhada esquerdista diz defender é pouca coisa diferente da democracia que a organização criminosa direitista defenderia e ofereceria ao dócil rebanho. E isso não é democracia, são migalhas. O que essa corja política entende por democracia é bem diferente do que eu almejo para minha vida e para as pessoas que estimo. O buraco político e social que se encontra o Bra$il é, em boa parte, culpa do pt e de toda a esquerda que não titubeou ao fazer conchavos com a bancada evangélica, do agronegócio e com toda a sorte de canalhas do meio político e empresarial, trocando sua história, militância e honestidade por uma fácil governabilidade, agora questionada e combatida por quem antes lhes dava apoio. E é com a participação dessa esquerda putrefata que pensam em marcha antifascista? Não sou cientista político nem social, mas isso me parece um tanto quanto incoerente, com um baita cheiro de coisa podre. Sem contar que essa falácia sobre a direita estar tentando dar um golpe é mais do mesmo, porque golpe por golpe, direita e esquerda estão visando unicamente o poder e como sempre, usando a população como massa de manobra para alcançarem seus objetivos. Outro ponto que assustou foi o chororô skinhead na página do evento. Esse rolê insiste em ser aceito por punks, libertárixs e esquerdistas em geral, mas faz muito pouco para convencer as pessoas que são dignxs de confiança. Mantendo a tradição burrona inaugurada por carecas décadas atrás, a única coisa que sabem fazer é ameaçar quem diz não concordar com sua presença. Pois é, na página de um evento político e com a pretensão de ser um contrapeso à onda reacionária que invade o


cotidiano, skinheads reclamavam de pessoas que não xs aceitam e deixavam claro que iria ter ‘madeirada e facada’ (com o aval e sem nenhum questionamento por parte de quem cuidava da página) caso desafetos comparecessem ao ato. Como participar de uma manifestação antifascista ao lado de uma garotada altamente idiotizada que não consegue entender que ninguém é obrigadx a aceitá-lxs como uma espécie de salvação da luta antifascista, como se a presença deste rolê fosse de muita importância, dando mais credibilidade à marcha? Esqueceram que a luta antifascista não começou mês passado e tampouco com skinheads. Esse discurso chulo e raso, na maioria das vezes se utilizando apenas de ameaças e intimidação como forma de impor seu rolê goela abaixo de outras pessoas é muito semelhante ao feito por skinheads de extrema-direita. Apologia à violência gratuita em uma página de evento político só serviria para deslegitimar a marcha e, de quebra, torrar mais um pouco o filme (se é que ainda existe algum filme para queimar) desse rolezinho abestado. Essa postura birrenta já comprometeu o Movimento Punk na Grande SP (e em outras quebradas do país) e não satisfeitxs, agora querem comprometer as diversas lutas que se dão fora dos rolês. Quer somar, soma! Mas seria bom deixar de lado esse apego à violência e fazer um esforço mínimo em busca de informação para poderem debater e argumentar quando questionadxs, sem a necessidade de usar como autodefesa a intimidação ou ameaças, porque essa postura pseudo fodona há tempos não amedronta ninguém. Só elxs acreditam que são tão intimidatórixs, enquanto o resto do mundo está defecando montes para essa valentia virtual. Como disse o filósofo Umberto Eco, “as redes sociais deram voz aos imbecis”, e no caso de skinheads, isso tem sido confirmado com uma constância surpreendente nos últimos anos. Também foi comum ver postagens e debates acalorados sobre qual rolê seria o protagonista na marcha. Triste, muito triste, provando que o nível intelectual desses rolês, que muitas vezes se consideram a vanguarda da militância, está bem abaixo do esperado. Essa marcha, teoricamente, era um ato político cuja organização envolveu diversos grupos de esquerda, podendo ou não ter vínculos com alguns rolês. Mas isso de jeito algum significava que a marcha era desse ou com daquele rolê, como muita gente inocente ou má intencionada tentou fazer parecer. Era um ato político aberto à participação popular e não algo restrito às cenas. Diferentemente da marcha antifascista ocorrida em 2014, que aparentemente surgiu de forma espontânea e livre de pelegos, essa teve uma tolerância partidária que chegou a assustar. Lendo suas propostas, justificativas e postagens, ficava fácil acreditar que por detrás da página existiam militantes esquizofrênicxs cooptanto uma luta com a qual não se identificavam/importavam, desesperadxs para salvar o eterno sindicalista e a eterna guerrilheira, ainda que o discurso fosse o de combater as ideias reacionárias e elitistas que estão sendo divulgadas pela direita fedorenta. E antes que alguém venha dizer que sou golpista, se dependesse da minha vontade, colocava todo esse lixo político de direita/esquerda (se é que ainda existe alguma diferença) em uma nave espacial rumo ao infinito e no meio do caminho a explodiria para ter certeza que ninguém sobreviveria. Se nós não merecemos esse pessoal aqui, convém não facilitar e permitir que a vida extraterrestre tenha contato com a corja política brasileira. E o que causou estranheza foi ver punks empolgadxs com a marcha, como se fosse o início de uma contrarrevolução. Talvez até tenha sido, mas é uma contrarrevolução orquestrada por uma burguesia travestida de esquerda e visando sua permanência no poder, apenas isso. E desde quando punks apoiam o peleguismo partidário? Participar dessa manifestação é, em última instância, ter concordado com uma série de situações que cotidianamente denunciamos através de músicas, publicações e mensagens em nossas roupas. Essa rusga entre a esquerda caquética e a direita recalcada visa o poder, e apenas o poder, não existindo outras preocupações. A classe política brazuca desde sempre vem legislando em causa própria e vai continuar agindo dessa maneira enquanto a população permitir, e é nesse mar de lama que muitos punks mergulharam apenas para dizerem que estão fazendo política? Nessa guerra por poder, a massa de manobra formada por petralhas e coxinhas são os dois lados da mesma moeda, burguesia interessada em privilégios e que nos últimos meses vêm inundando o cotidiano com matéria fecal líquida formada no cérebro e liberada pela boca. Enquanto punks e anarquistas, acredito que tenhamos o entendimento de que nenhum governo trabalha para quem está na parte de baixo da pirâmide social, que nenhum político presta e sua existência só nos causa nojo e alimenta nosso ódio. Se coxinhas e petralhas acreditam, com mais ou menos intensidade, na classe política e que é possível que a mesma em algum momento trabalhe para a população, é preguiça cognitiva. E bicuda no rabo de todo esse pessoal! O clima de histeria dizendo que o país é uma Cuba de tamanho continental e que somos a próxima Venezuela, alimentado por quem deseja o poder, tem o seu equivalente avermelhado. Governistas e simpatizantes dizem que estamos à beira de um colapso, com todas as garantias trabalhistas, civis e afins indo para o vinagre e com o apoio de parte da sociedade. Nada diferente do que sempre vimos, ou alguém acredita que essa postura reaça surgiu recentemente com o embate político das organizações criminosas? Essa postura, esse preconceito, sempre existiu, só deixou de ser velado. E quem é da esquerda e não sabia disso é porque não faz parte dos grupos marginalizados justamente porque a esquerda brasileira sempre foi burguesa. O direito ao aborto, a real criminalização da violência de gênero e de orientação sexual, a reforma agrária, o combate à desigualdade social, o estado laico, os direitos humanos e não humanos entre outras questões pontuais ainda não fazem parte de nossa realidade graças a esse governo dito de esquerda e covarde, que lá trás fez conchavos justamente com as bancadas contrárias a uma pauta progressista. A culpa dessa onda reacionária tem nome e não é o meu. Ao invés de trabalharem para toda a sociedade e dando atenção especial para a parte baixa da pirâmide social, ficaram lambendo as classes mais abastadas, correndo atrás de arrumar uma maneira de se perpetuarem no poder e legislando em causa própria. Um dia a casa tinha que cair. Essa crise política não dividiu o Bra$il, ele sempre esteve dividido. Desde que xs saqueadorxs portuguesxs aqui chegaram, a divisão foi estabelecida entre quem tem e quem não tem. Cinco séculos se passaram e essa divisão permanece muitas vezes maquiada, outras vezes nem tanto, com a maioria sendo gado e uma minoria cuidando e observando o rebanho. E ao menor sinal


de movimentação no rebanho, sabemos o que acontece. No fundo, as duas massas bovinas são a mesma merda, uma massa burguesa (talvez com algumas poucas exceções) gritando por seus interesses, só mudando as cores, com pessoas enroladas em trapos vermelhos e outras enroladas em trapos verde e amarelo. E acredito que a maioria das pessoas, aquelas que sobrevivem diariamente e formam a grande parte da população, não se enxergam em nenhuma das duas massas bovinas, felizmente. Punk é liberdade e cada pessoa segue sua consciência e trilha sua caminhada. Se x punk acreditou que essa marcha possuía algum significado, que era realmente válida a participação, bacana. Melhor participando nessa marcha do que na outra que contou até com grupos intolerantes. Questionamentos sempre fizeram parte do punk desde o seu surgimento e questionar essa marcha e outras que possivelmente virão a acontecer é essencial. Não é porque a palavra ‘antifascista’ estava presente no nome que ela realmente era uma marcha antifascista. Que fique claro, meu questionamento acerca da marcha é se teve alguma validade a participação, se houve ética e coerência em algo aparentemente tão pelego e que, mesmo indiretamente, apoiava o governo petista e fazia de conta que não perceber toda a podridão que envolve esse embate entre as quadrilhas políticas. Guardada as devidas proporções, o Punk estaria agindo como o pt, que trocou seu discurso e militância por uma vida mais fácil no governo, estaríamos trocando nossa independência e coerência para participar de algo um tanto quanto vazio. E pelo fato de sermos punks deveríamos estar atentxs a essas jogadas, porque essa marcha foi uma jogada que tentou atrair pessoas que sempre se posicionaram contrárias à política partidária, para fazerem número nas ruas. O Movimento Punk é povo, lutamos ao lado do povo e não defendendo oportunistas, parasitas ou a burguesia interessada no poder e na manutenção de privilégios. POR UM MOVIMENTO PUNK MAIS POLITIZADO, COERENTE E COM AUTOCRÍTICA FODAM-SE AS BANDEIRAS PARTIDÁRIAS SEJAM ELAS VERMELHA OU VERDE E AMARELO! QUE AMBAS QUEIMEM NO FOGO INSURRECIONÁRIO JUNTAMENTE COM A PELEGADA ERGAMOS A BANDEIRA NEGRA E ESPALHEMOS O CAOS

COM UM SINDICALISMO ULTRAPASSADO E CORPORATIVO, A FLASKÔ SURGE COMO ALTERNATIVA E UM NOVO HORIZONTE NA LUTA PROLETÁRIA NO BRASIL. UMA EMPRESA SEM PATRÕES. SIM, AI ESTÁ ELA! Por Juänito Em uma geração onde o corporativismo ou ativismo patronal está em alta, onde a desconfiança e união fabril perante os sindicatos se encontra em extrema desconfiança, uma empresa situada em Sumaré contraria a tendência de que a luta de classes contemporânea é lutar por melhor participação nos lucros ou cargos de estabilidade. É fato que o chão de fábrica está rachado pela extrema divisão de cargos no qual os trabalhadores estão submetidos. Hoje, para a pessoa ter o registro sobre a função na qual exerce, é explicitamente burlado pelas empresas onde jogam toda a responsabilidade de um gestor para uma pessoa que mal tem o registro de auxiliar, encontraram brechas em uma CLT desatualizada que estacionou na era Vargas e que não protege de fato o trabalhador. Antes de entrar a fundo no exemplo da Flaskô, essa analogia se torna necessária para entender um pouco do por que a luta proletária está tão segregada e desunida. Claro, há raras exceções de pequenos sindicatos que realmente fazem a parada toda acontecer. Tudo isso também é reflexo histórico onde pela alta pressão contra a Ditadura Vargas, o movimento operário ganhou de “presente” a consolidação de seus direitos para abafar todo aquele movimento forte que se deu início de 1900, na época das grandes greves de 1910 e 1917. Não foi conquistado por luta e sim por uma jogada de marketing monstra para fazer acreditar que com “certos direitos” nós ganhamos a batalha e pena que a massa acabou esquecendo-se da luta, que mais uma vez teve o papel forte da mídia e a propaganda política. Não podemos esquecer de citar o forte movimento operário nos anos 80 que teve papel fundamental na política do país, onde o Brasil achou a saída para abafar esse movimento com uma “suposta queda da ditadura” e a criação das diretas já!, eleições e promessas de democracia que desvinculou os operários na criação de partidos, desvinculado o movimento operário, tirando a atenção das fábricas e soando tipo “agora vocês podem lutar e jogar nosso jogo, vocês tem o partido dos trabalhadores”. Um dos motivos que também quebrou o espírito de união foi a jogada das empresas oferecendo melhores cargos e salários para poucos, assim criando e consolidando um novo meio de segregação perante os trabalhadores, que em vez de ser o estopim para novas lutas, em tese os trabalhadores não querem colocar seu trampo em risco já que ele é tão refém da empresa que não abdica de uma “certa estabilidade e bom salário”. Geralmente são pessoas que perderam seu ganha pão e dificilmente acharão outro a altura e muitas vezes preferem compadecer do que lutar (não vamos falar de egoísmo e essas coisas de sistema e tal, se não dá pano pra manga e muda todo o foco do texto). Em um momento onde a luta proletária fragmentada e nada representada por sindicatos e uma “crise” que não é nossa e sim uma imposição proposital das grandes corporações para enfraquecer a economia, gerar desemprego e concluir o ciclo do capitalismo que enriquece a cada crise para manter-se vivo, reformular seu jogo político e colocar no poder quem legisla aos seus interesses


(nada que um governo que se diz de esquerda não faça), terceirizar cada vez mais nosso suor e, principalmente, aumentar cada vez mais a burocratização, criando um inimigo irreal, um patrão invisível com o qual não se pode quase lutar e o trabalhador(a) fica ainda mais desamparado, não tendo a noção de quem é seu inimigo real. Não é à toa que muitos intelectuais afirmam que o capitalismo é um inimigo invisível que entra na nossa vida sem que percebamos. Assim, apontando alguns fatores ou motivos que nos fazem ficar inertes e apáticos para lutar contra tudo isso, a Flaskô e sua gestão formada totalmente por operários surgem como um exemplo de que nem tudo está perdido e que essa luta direta sem o aparato do estado ou sindicato qualquer nos faz refletir que ocupar as fábricas é uma saída para essa tal “crise” que tanto se fala e uma alternativa concreta na luta contra o patronato. Como ela, diversas empresas estão abrindo falência para assim não pagar seus impostos e deixar seus funcionários chupando dedo, brecha essa na legislação que sempre pesa para o lado do mais fraco, e que é mais que direito de todos que trabalham nessas empresas virarem os seus respectivos donos, com o processo de lutar para regularizar e tomar as atividades. Quem tiver interesse em conhecer mais a fundo o histórico da Flaskô: http://www.fabricasocupadas.org.br/site/index.php/10-anos. Estão envolvidos em diversas ações coletivo-culturais (eventos abertos para comunidade, esporte, skate, saraus) e seguem apoiando outras iniciativas de ocupação de fábricas, a exemplo da Mabe de Campinas, que abriu falência e lhes ofereceram solidariedade aos que ocuparam e estiveram na resistência contra a truculência da polícia para a desapropriação. Em 2014, no Primeiro Congresso Latinoamericano de Fábricas Ocupadas que aconteceu na Argentina, trabalhadorxs reforçaram suas experiências mostrando assim vários tipos de segmentos e lutas em diversos ramos de atividades ou trabalhos. Mais informações: http://www.fabricasocupadas.org.br/site/index.php/videos/3476-hasta-la-victoria-flasko-visita-fabricas-recuperadasna-argentina-2014. A fábrica situada na cidade de Sumaré/SP está ocupada desde 2002, quando começam os primeiros vestígios de greve e luta contra seu devido patrão. Hoje são 14 anos na luta, no vai e vem de desapropriação, ações judiciais para confirmar judicialmente que a fábrica é de todxs que nela trabalham, ressaltando artigos de lei (art. 2° da Lei 4.132, de 10 de setembro de 1962), importantes para assim formalizar a luta. Sabemos que leis na prática são interpretadas para um lado e que outro sempre sai perdendo, porém é importante usar desse artifício contra todo esse sistema legislativo e se tem lei que conforta a luta, por que não usá-la? Apoiaram a ocupação para a criação de moradias populares no terreno próximo a fábrica, está aberta a visitação e trocas de experiências a quem identificar-se com essa iniciativa de autogestão, de sua força de trabalho. Fica assim a perspectiva de qual é seu embasamento político ou inspirações. Marxista? Quem sabe? Influenciados pelo anarcossindicalismo? Talvez? Fica a curiosidade em entender se ocuparam e lutam pela necessidade de manter seus empregos e pela ligação que possuem com o suor de suas atividades ou se são pessoas comuns, lutadorxs do cotidiano que optaram colocar em prática ser donx do seu meio de produção. Qual é a combustão dessa brasa que ascende e se torna uma das primeiras fábricas sobre o domínio dxs trabalhadorxs em certo lugar de SP? O que aspiram e desejam? Resposta que aflora em nosso subconsciente e nos une, mesmo que em simples palavras que aqui não tem por motivo sintetizar nada, apenas transformar uma ideia em escrita e que você possa desfrutar juntamente conosco de práticas que nos une.

CURDISTÃO: RESISTÊNCIA, FUTEBOL E VIOLÊNCIA Por Nino Thomazini Texto originalmente postado no blog Futebol é Guerra-Março/2016 O Sul da Turquia, assim como parte do Irã, Iraque, Armênia, Azerbaijão e Síria, correspondem ao Curdistão, região composta por cerca de 28 milhões de habitantes de origem étnica curda. Até então, o maior povo sem nação do mundo. Diversas organizações surgiram para reivindicar a criação de um Estado próprio e unificado, sendo o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), o mais representativo entre elas – tratado como terrorista pelo Estado turco, EUA, União Europeia e OTAN. Os conflitos entre PKK e o governo da Turquia são intensos, somado ao interesse de expansão do Estado Islâmico sobre área do Curdistão, gerando ainda mais atritos. Em suma, uma região altamente sensível e em constante ebulição. Mas um relevante combustível notabiliza-se como desafogo e resistência: o futebol. Em 2012, ano dos mais sangrentos para o povo curdo, com mais de 650 mortos registrados, contanto população, guerrilheiros e soldados, a Copa do Mundo VIVA (torneio que reúne seleções desassociadas à FIFA) foi disputada no Curdistão, e vencida pelos próprios anfitriões, com forte adesão e comprometimento dos torcedores locais, como era de se supor. Um grande marco para o povo curdo, podendo ver-se desvinculado às tensões além das quais uma partida de futebol pode proporcionar, mesmo que provisoriamente. Já o Amedspor SK, clube da terceira divisão da Turquia, chama a atenção pela recente escalada. Localizado no sudeste do país, e ao norte do Curdistão, a equipe da cidade de Diyarbakir alcançou o feito de chegar as quartas de final da Copa da Turquia de


2016, eliminando o tradicional Bursaspor, fora de casa. Ainda houve tempo para a partida terminar em confusão generalizada, devido aos cânticos nacionalistas e provocativos direcionados aos curdos, que soavam da arquibancada do clube local. Pra piorar, o adversário seguinte seria o poderoso Fenerbahçe. A eliminação foi inevitável. Um 3x3 e outro1x3. Nada mal. Certamente, grande motivo de orgulho para o povo curdo, outrora homenageado pela mudança de nome do clube. Como resgate à parte da cultura e idioma local, o ex-Diyarbakir Belediye Spor passa a ter o nome atual, já que Amed é a nomenclatura usada pelos curdos ao se referirem à cidade. Ainda no sudeste da Turquia, outro clube curdo segue em evidência, mas não apenas pelos bons resultados a nível nacional conquistados em um passado recente: trata-se do Cizrespor. Em 2014, o clube rubro-verde, ainda disputando a quinta divisão do futebol turco, conquista o histórico feito de ser a primeira equipe amadora a classificar-se para a fase de grupos da Copa da Turquia. As aspirações não poderiam ser tão audaciosas e o clube não passa pelo primeiro período da competição. Fato que não diminui o longínquo percurso do clube curdo e a condecoração de seu povo. Ratificando a crescente fase, no ano seguinte, logra o acesso para a quarta divisão local. Seus feitos, por si só, merecem total reconhecimento, mas ainda cabe uma espécie de “bônus de valorização” por todos os aspectos extracampo que envolvem o dia-a-dia do clube. A tumultuada cidade de Cizre está localizada próxima à fronteira com a Síria, zona repleta de conflitos. A cobiça do Estado Islâmico, a resistência curda e a intervenção do Estado turco são seus componentes. Ainda em 2015, o governo da província de Sirnak, decreta toque de recolher na cidade, após dezenas de mortos em mais confrontos, entre civis contabilizados. Atualmente, outra grave crise política entre governo da Turquia e membros do PKK assola a região e, consequentemente, afeta o clube curdo. Devido aos combates, o Cizrespor está impossibilitado de disputar qualquer partida oficial. Em uma condição de vice-versa, futebol e população foram abruptamente separados, sem qualquer consentimento entre as partes. Como fraseou Eduardo Galeano, “o futebol é a única religião que não têm ateus”. Dessa feita, que também inexistam pecadores capazes de privá-lo e o esporte bretão continue sendo capaz de transmitir apego e resistência ao povo curdo. https://www.facebook.com/futeboleguerra/

https://medium.com/futebol-%C3%A9-guerra

REBELDIA INCONTIDA Por Treva e Juänitö VP – Quando surgiu a banda, formação e quais foram as influências? A banda surgiu no final de 1991. As principais influências foram as bandas punks nacionais da época. Passou por várias formações e teve muitas outras influências até chegar na atual formação que conta coma Inaraí (vocal), Junior (guitarra) Helo (baixo) e Lucas (batera). VP – Recentemente a banda lançou um CD com o sugestivo nome de “Resistência & Ativismo”. Conte-nos um pouco sobre esse trampo. Já havíamos lançado outros trabalhos, mas dessa vez resolvemos lançar um CD com uma melhor qualidade estética. Nesse trabalho colocamos cinco sons novos e regravamos outros sete com a formação atual. VP – Quais temas vocês retratam nas letras? Nossas letras abordam as desigualdades e injustiças desse mundo atroz, a luta pelo fim do conformismo social, a busca eterna pela liberdade. VP – Quais outros lançamentos a banda possui? Temos duas demos em fita K7, “Democracia” e “Punk Drunk Core”, um CD intitulado ¨Retratos da Humanidade¨ e dois splits, um com a extinta banda The Drunk e outro com a banda Contraste , intitulada “Dinheiro Não Traz Felicidade, Para Aqueles que Tem o que Comer”. VP – Rebeldia Incontida está na correria a alguns anos. Na opinião de vocês, o que mudou no punk nesse período? O punk não mudou, achamos que o que aconteceu foi que o movimento era composto na sua maioria por pessoas que não sabiam o que queriam realmente, e hoje mais ainda por essas pessoas superficiais, que não levaram a sua revolta e contestação para um lado ideológico e prático nas suas vidas. Hoje o movimento está praticamente reduzido à estética e música, misturando vertentes antes totalmente antagônicas. Grande parte do movimento atual se diz apolítico. Na nossa opinião, uma pessoa apolítica é uma pessoa que se auto anula, um inútil. Ainda existem PUNKS com ideologia, mas somos uma pequena parcela.


VP – A questão de gênero tem proporcionado debates acalorados no Punk nesses últimos tempos. Por terem uma mulher no vocal, acreditamos que a luta feminista também seja um tópico importante para vocês. Como enfrentar esse problema que é o machismo/sexismo entre outras formas de preconceitos, que teimam em permanecer no punk? Mesmo tendo duas mulheres na banda, mantemos o ideal libertário e igualitário. Lutamos contra todas as formas de preconceito. VP – A região do ABC sempre produziu bandas, zines e foi palco de diversos eventos bacanas no decorrer dos anos. E hoje, como está o Movimento Punk na região? O movimento está reduzido, mas permanece fiel aos seus ideais. Quanto a zines, existem alguns coletivos que produzem materiais de qualidade. Faltam espaços para as bandas, mas nos organizamos e conseguimos fazer alguns eventos em bares da periferia, sempre somando com bandas de outras regiões que tenham a mesma postura ideológica. VP – Já que isso aqui é um zine, vocês tem alguma indicação de leitura, sejam de fanzines que circulam no ABC ou algum livro que tenha servido de inspiração para a banda? Escritos Revolucionários – Errico Malatesta Assim Falava Zaratustra – Nietesche Zine Cultural Revolta VP – O punk na Grande SP parece passar por uma crise de identidade, com algumas pessoas rejeitando o termo, outras aceitando qualquer bandinha bostenga como se fosse punk, relacionando-se com pilantras ou desperdiçando muita energia defendendo e fazendo correrias para “subculturas de rua” que não somam nada (ou somam muito pouco) ao movimento ou promovendo uma confusão ideológica. O que acham dessa fase? Voltando ao que falamos na quinta pergunta o movimento esta fútil, com pessoas de meia medida. Podemos dizer que o sistema está conseguindo transformar o movimento em um produto, como faz com tudo que o incomoda. VP – Muita gente que se acha esperta insiste em dizer que o punk pode ser apolítico. Existe espaço para o apoliticismo no punk? O que nos diferencia dos animais é o pensar, o expressar, a política, por isso não deveria existir um só ser humano apolítico. VP - Aproveitando o gancho e fazendo analogia ao nome do CD, como vocês veem toda a agitação política que tem sido frequente desde 2013 e a participação de punks nas manifestações e nas diversas frentes de lutas sociais? Essas manifestações foram expressivas, mostrando que uma grande parcela da população está descontente, mas falta uma trajetória, um objetivo a se alcançar, um comprometimento real; mas tendo o nível cultural que o Brasil tem foi de muita importância. Quanto a participação de Punks, acho que é uma “obrigação”, não só dos Punks, mas de todos que lutam por um mundo melhor, é uma obrigação moral. VP – Atualmente nos deparamos com punks trilhando uma carreira acadêmica, uns estudando e alguns até defendendo teses e TCCs sobre o movimento/cenas de inúmeras épocas. Como encaram esse meio em que o punk está circulando? Conhecimento nunca é demais, punk em si é a externação de um sentimento de ódio, mas as pessoas são livres para pensar e agir da maneira que querem, desde que respeitem o outro, não existindo direito sem deveres, nem deveres sem direitos. VP – O espaço é de vocês. E obrigado pela entrevista. Agradecemos o convite e esperamos que seja benéfico aos que lerem estas humildes palavras. E aos fúteis que acrescente algo e faça refletir sobre sua existência. Viva o Punk! Saudações Libert@rias dos Rebeldes Incontidos https://www.facebook.com/Rebeldia-Incontida-298960166808453/?fref=ts

BLATTA KNUP Por Treva VP – Quando surgiu a banda, formação e quais são as influências?


Em 2013, eu (Gustavo) e Helo, começamos a viajar juntxs pelo Brasil e sentíamos a necessidade de relatar nossas vivências, ideias, etc. Então juntamos algumas poesias que tínhamos e musicamos. A nossa primeira apresentação foi no Encontro Anarco Punk do Nordeste em 2013. Nessa época tínhamos apenas duas músicas. O Blatta Knup é eu no baixo e Helo na bateria e vocal. Acho que a maior influência são as bandas Anarco Punks da América Latina, mas tudo aquilo que gostamos acaba influenciando um pouco (ex. D-beat, pós-punk, Crust, entre outrxs). VP – Duo não é uma formação tão comum no punk. O fato de serem apenas duas pessoas facilita ou complica no processo criativo e nas apresentações? Eu particularmente acho muito mais fácil de se manejar em duas pessoas. Helo e eu temos uma química muito boa e conseguimos nos encontrar e entender o que o outrx quer rápido. Um exemplo foi no dia da gravação do nosso material em que nós criamos uma música, fizemos a letra, tudo minutos antes de gravar. VP – Blatta Knup tem tido a oportunidade de participar de diversas gigs em diferentes localidades, inclusive tocando em países vizinhos. O fato de ser uma banda itinerante ajuda? E por onde vocês já se apresentaram? Estar em movimento e não estar “preso” a nenhuma localidade facilita a nossa locomoção, o fato de ser um duo ajuda tanto nos custos de passagens quanto na facilidade para viajar de carona. Nós tocamos no Nordeste do Brasil (Campina Grande(PB), Natal(RN), Simões Filho(BA), Alagoinhas(BA), Cruz das Almas(BA), Fortaleza(CE), no Sul do Brasil (Pelotas(RS), Porto Alegre(RS)), Uruguai e Argentina (Córdoba e Buenos Aires). VP – O que vocês podem nos contar sobre as várias cenas que conheceram? Cada lugar novo é um universo, com suas peculiaridades, bandas, causas em que a galera tá mais envolvida, etc. Não sei como responder esta pergunta, o Brasil é gigante e falar de todas as localidades que viajamos é muito amplo. Tinha escrito um textão, mas acho que eu poderia comprometer as organizações que eu citaria, então vou deixar assim. P.S. Em todxs lugares que passamos tem uma forte movida para xs presxs politicos, okupas/squat, resgate da terra e muita publicação. *Córdoba tem uma movida muito forte dentro da questão QUEER PUNK. (achei massa ressaltar isso). Acho que isso é o que “posso” contar...*risos* VP – Ser uma banda punk que coloca em prática o faça você mesmx proporciona liberdade de escolha para tocar, onde tocar, com quem se relacionar ou com quem trampar. Mas em um país com uma cena ainda carente de estrutura, isso pode resultar em algumas dores de cabeça. Na opinião de vocês, quais são as carências que o punk enfrenta aqui e como mudar a situação? Eu vejo que o “problema” foi sempre a falta de engajamento, o ganguismo, a falta de autocritica, a de fazer e não esperar pelx outrx, fazer do Punk mais que riffs e gritos. VP – Nesses diversos rolês que fizeram, viram algo que realmente chamou a atenção e serve de incentivo, algo que ajude a acreditar que o punk vive e resiste? Sempre que estou com meus comp@s conspirando um zine, uma banda, em volta de uma fogueira tocando, okupando casas, fazendo feiras, se autocriticando, eu vejo que o Punk vive e resiste. Porém, uma coisa que me impressionou, a quantidade de zines, livretos, banquinhas, etc. que tem nas gigs na Argentina (metade da galera tinha sua banca de materiais em quase todos lugares que tocamos). VP – Algumas pessoas podem estranhar o fato da banda não possuir guitarrista, mas escutando o som vemos que não faz diferença. O peso, a distorção e a sujeira estão presentes. Qual a manha para não deixar o som com buracos? Num tem manhã nenhuma, eu mal sei tocar contrabaixo. A única coisa que faço é usar um pedal de guitarra (de preferência Metal Zone) pra sujar, porque o som do baixo sozinho é muito limpo e gostamos de fazer barulho. VP – A banda tem uma preocupação muito forte com as letras e com toda a mensagem que passam. Diferente de muita gente que canta/escreve sobre “antifascismos”, mas vivem cada vez mais inseridos no sistema e reproduzindo vícios sociais, o Blatta Knup também ataca a moral. Em tempos de ideias reacionárias, atacar a moral se torna necessário. Como ser efetivx nesse ataque? Então, a efetividade acredito que reflete primeiro em nós mesmxs, é o mais importante! Conseguir identificar os dogmas opressores e rejeitá-los é o primeiro passo, porque todos esses medos e condutas sociais estão estruturados dentro de nossas cabeças e estão refletidos nas ações do dia-a-dia. Sempre falamos muito em autocritica porque acreditamos que mudando nós mesmxs podemos estar dispostxs a construir novas coisas!


Eu acho essencial se autocriticar, fazer apontamentos sobre posturas de “amigxs”, rever com quem se anda, rever amizades, boicotar machistas, denunciar, atacar e contra-atacar. VP – Nos últimos tempos, discussões sobre orientação sexual e gênero voltaram a estarem presentes no punk em decorrência de uma série de episódios infelizes. Quando muita gente acreditava que determinadas posturas haviam sido desconstruídas no punk, vimos que continuam presentes, e por que não, enraizadas. Porque ainda é difícil para algumas pessoas lidar com essas questões de gênero e sexualidade mesmo estando envolvidas com o punk e com toda a informação que circula no mesmo? Mais uma vez a necessidade de se autocriticar, se rever, pois fomos criados pra reproduzir o sistema patriarcal e se nós não nos revolucionarmos, não chegaremos a nada. Num adianta colocar um patch escrito “antimacho” e não rever seus privilégios e atitudes. A informação de nada é útil se não houver real interesse da pessoa no assunto. O Punk não está fora do sistema, ele faz parte de tudo isso e reproduz o sistema dentro dele, se não lutarmos para destruir o sistema dentro de nós, não conseguiremos destruir o que está ao redor. VP - A banda tem uma forte ligação com squats. Muita gente já leu, ouviu falar, mas não possui uma vivência nesse ambiente. Conte-nos um pouco sobre a vivência de vocês em squats e o que essa vivência agregou em suas vidas? Gosto muito da ideia do Hakim Bay em ZAT (Zona Autônoma Temporária), naquele espaço estamos tentado reconstruir nossas vidas o mais próximo daquilo que acreditamos e desconstruir o que nos foi imposto, desde o banheiro seco pra fazer adubo, as trocas de ideias, as desconstruções de relações e gênero... etc. Mas não podemos deixar isto como uma coisa a parte, a vida no squat não pode cair no cotidianismo, tentamos organizar coisas fora deste espaço também para não viver numa bolha. A vivência em squats agregou pra mim muita coisa, principalmente a coragem de tentar retomar a minha vida. Uma vivência coletiva é super enriquecedora tanto individualmente como coletivamente. Há uma troca, uma fluídez muito saudável, mas também não são só flores né, imagina uma casa cheio de punk(risos)!! VP – Não sei como acontece em outras regiões, mas em SP existe um pessoal que cultua bandas, beirando a idolatria. Não importa o que integrantes de certas bandas postem ou digam, nem quanto cobrem para se apresentarem. Tudo é válido e permitido para esses semideuses e sempre existirá um séquito de fãs fazendo “fanzices” para defendê-los de qualquer crítica. Como lidar com essa questão, já que teoricamente o punk deveria prezar pela horizontalidade e igualdade? Desde os anos 80 isso acontece, o punk foi consumido pela mídia e a lógica de mercado, gerando assim ídolos. Eu num sou ninguém pra dizer o que cada um deve fazer, eu fico triste, falta apoio para as bandas sinceras que acreditam realmente no D.I.Y. Acho que nos resta continuar a nos organizar com quem nos afinamos, tentando fazer tudo com o coração e verdadeiro..... VP – Em algumas localidades o punk parece viver uma crise de identidade. O viver o punk com seu radicalismo, urgência e militância foi trocado por uma apatia que visa uma boa convivência entre diferentes panelas, a manutenção de privilégios de um pequeno grupo de pessoas que se acham espertas, da aceitação/reprodução e perpetuação de vícios sociais nojentos sem que isso venha gerar questionamentos. Mesmo tendo uma postura totalmente contrária a essa situação, em algum momento a banda pode vir a ser colocada nesse balaio de gato punkeka, onde todo mundo acredita que qualquer coisa seja punk. Como lidar com essa situação? E como combater essa apatia e hipocrisia? Noooossaaa, pesada essa questão... mas é complicado falar de uma maneira geral, já que a gente tá ai nos corres da vida e essas coisas não se tem muito o “controle” saca... eu boto fé que no convívio, a gente vai conhecendo quem tá correndo com nós e é mais ou menos assim, ou tu tá abertx a ouvir criticas e refletir sobre as paradas todxs os dias, assim contribuindo também para a desconstrução de outres, ou tu é um ignorante que se acha dono da verdade absoluta, confortável demais em seus privilégios, vomitando uma par de bosta por ai... e aí, dessas pintas nóis tenta ficar longe né, porque se não vai agregar, construir algo, o sistema já tá ai pra nos foder... VP – O espaço é de vocês. E valeu pela entrevista. Gracias a todes por acreditarem e contribuírem com esse projeto que é o Blatta Knup. Ele apesar de simples, é feito para todes nós........ Estamos aí pra trocar ideia sempre que quiserem, temos página no facetruque, bandcamp, e-mail, correio (basta buscar).

http://blattaknup.bandcamp.com

blattaknup@hotmail.com

https://www.facebook.com/blattaknup/


NO VIOLENCE Por Treva No Violence foi uma das bandas mais importantes e influentes de hardcore da republiqueta, tendo sua imagem fortemente ligada à cena straight edge (quando ela existia e não era dominada por imbecis). Formada em abril de 1989, tinha Ruy Fernando nos vocais, Fábio Cursio na guitarra, Jefferson no baixo e Luís na bateria. E para quem acha que esse papo de metalpunk é a última novidade do radicalismo, fiquem sabendo que Fábio e Luís tocavam em uma banda de death metal antes de migrarem para a No Violence. A influência metálica que ambos traziam fez com que a banda inicialmente pensasse em tocar algo influenciado pelo grindcore e hardcore bagaceira inglês. Jefferson saiu da banda poucos meses depois de sua criação, dando lugar a André Luis, que trouxe novas influências, mais voltadas ao hardcore estadunidense. O ano de 1990 foi cheio de mudanças na formação e no som. Fábio e Luís deixam a banda, dando lugar a Scud e Eduardo, que permaneceram por pouco tempo, permitindo o retorno de Luís à bateria e a chegada de Fred (guitarra), oriundo da banda de thrash metal Megaforce (quem bangueava pelos buracos da cidade na época deve lembrar-se dessa banda). Ainda nesse ano rolaram as primeiras apresentações, na época tocando um lance mais crossover e metálico, deixando um pouco de lado a velocidade. Vira o ano e 1991 reserva mais mudanças na formação e no som, com Fred saindo e em seu lugar entrando Rogério. Em 1992 gravam a primeira demo, “Nothing has Changed”, que acabou sendo regravada meses depois por não terem gostado do resultado final. Na época a banda voltou a soar mais rápida e adicionaram um segundo guitarrista, Eduardo Minduim. Essa regravação recebeu o nome de “Never Give It Up” e vinha com um fanzine, tendo uma tiragem superior a 500 cópias. Se pensarmos que era uma época que não existia internet, que tudo era compartilhado pessoalmente, é muita coisa. E dessa demo tape cederam um som para um vídeo de skate de uma conhecida marca internacional que tinha chegado ao país há pouco tempo. Em 1993 gravaram quatro sons que saíram na coletânea “Fun, Milk and Destroy”, de 1994, que também contava com as bandas Intense Manner of Living, Muzzarelas, Kangaroos in Tilt e Lethal Charge. Esse play foi lançado pela Devil Discos, na época uma das grandes gravadoras independentes do país e uma das poucas a arriscar gravar bandas punk/hc. Ainda em 93 gravaram alguns sons que saíram em um 7’’nos Estados Unidos, de nome “Social Justice”, lançado pela Sound Pollution Records (de um doido do Hellnation). Nessa época, Eduardo Minduim deixa a banda e quem retorna é Scud. No ano seguinte a banda grava quatro sons que sairiam em um split com os portugueses do X-Acto, mas como a gravadora portuguesa deu para trás, o CD ficou de molho e só foi lançado em 2006 pelo selo do Ruy, o Our Voices Records. 1995 começa com baixa, Luís e Rogério deixam a banda, sendo substituídos por Ricardinho e Marquinhos (ex- Hatred). Além dessas mudanças, a banda adicionou a vocalista Silvana. E com essa formação, gravam em 96 a demo “To Whom It May Concern”. Lembro que nessa época eu colaborava com um zine punk/metal chamado Arrepio e ficou sob minha responsabilidade resenhar essa demo. Na época eu estava debandando da cena metal por diversos motivos, mas a minha trilha sonora ainda era Dorsal Atlântica, Sarcófago e coisas do tipo, e ao escutar a demo, não entendi bulhufas. Mas uma coisa marcou, as letras, que eram muito boas e totalmente fora do universo banger que eu estive inserido por tanto tempo. E como não poderia deixar de ser, outra mudança, com Silvana deixando a banda ainda naquele ano. Permanecendo como quinteto, no final de 97 a banda grava dois sons que saíram na coletânea argentina “Sudamerica Hardcore”. Nesse mesmo ano Scud sai e dá lugar a Douglas (ex-Parental Advisory). Em meados de 98, André Luís deixa a banda e é substituído por Juninho (ex-Self Conviction). Com essa formação rolou a turnê conjunta com o X-Acto, que passou por SP, ES e MG. Foram cerca de doze gigs em três semanas, e se pensarmos em como ainda hoje é difícil organizar um rolê graças à falta de estrutura que insiste em permanecer no punk, imagina como era no final dos anos 90. E tem uma molecada bunda mole que reclama, mesmo com todas as facilidades existentes na atualidade. Juninho ficou na banda até final de 98, participando esporadicamente de algumas gigs nos meses subsequentes. Mesmo sem baixista fixo, em 1999 gravam o primeiro CD, que recebe o nome de “Consensus”, lançado em 2000 pela Cope Fogo Gravações. Ainda em 99, Tatiana (Infect) assume as quatro cordas e no ano seguinte entra André (ex-Self Conviction) na outra guitarra, com a banda voltando a ser um quinteto. Com essa formação, em 2011, gravam as músicas que fariam parte do split com o Abuso Sonoro. As músicas que a No Violence gravou para esse 7’’ também saíram em uma coletânea na França. E como a sina permanece, seguem as mudanças. Em 2002, Douglas deixa a banda para se dedicar ao seu novo projeto (Life is a Lie) e em 2003 quem sai é André, que vai tocar n’O Inimigo, deixando a vaga para Podrinho (War Inside). Essa nova formação grava o CDr intitulado “Queime Hollywood, Queime”. No ano de 2004 sai o CD “Invencível”, lançado pela Cospe Fogo. Assim como no anterior, “Queime Hollywood, Queime”, as letras estão em português, facilitando o entendimento. Nada contra quem canta em inglês, mas a banda tinha letras muito bacanas que mereciam ser plenamente entendidas por todxs. Esse foi o último lançamento da banda, que veio a encerrar suas atividades no ano seguinte.


No Violence tem importância tanto pelo som quanto pelas letras. Apesar de tantas mudanças em sua formação, navegaram com tranquilidade por diversos estilos, mas sempre pendendo para a rapidez e bagaceirice que tanto curtimos e com letras que sempre nos faziam refletir, informando e questionando, como deve ser o punk/hc. Xs integrantes seguiram com outras bandas e projetos, mas deixaram uma história bacana que influenciou/influencia muita gente. https://www.facebook.com/No-Violence-1597340577199367/?fref=ts

FANZINES, INFORMATIVOS & PANFLETOS Por Treva - Berro Clandestino Zine N° 01: trampo show de bola feito por uma galera de Barra do Garças (MT). Esse zine saiu impresso e tem para baixar em versão PDF, sendo essa a que tive acesso. Pois é, enquanto muita gente nos grandes centros fica fazendo rolê em casa, fortalecendo o underground apenas em rede social, uma galera ligeira de localidades mais distantes agilizam as paradas e fazem mil correrias, atropelando todas as dificuldades inerentes ao submundo da música. Esse zine está atrelado ao evento de mesmo nome que rolou em agosto passado e contou com as bandas Rusga!, Scümclã, Morbus e Abádom. Além de entrevistas inteligentes com as bandas participantes do fest, tem resenhas do Homicide, Baixo Calão e Facada e uns poemas cabulosos. A parte gráfica é muito bacana, tratada com esmero. Segundo o Jhad, um dos responsáveis pelo zine, a ideia é dar sequência nesse trampo e que outro número sai entre abril e maio. Ficamos na torcida e no aguardo. Segue o link para baixar o trampo http://www.4shared.com/office/3zrxCI0qba/Berro_Clandestino_Zine_-_Ed01A.html - Assata Shakur N° 0: trampo foderoso feito pelo pessoal da campanha Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto. Pra quem não sabe, essa campanha começou em 2005 e é uma articulação do movimento negro baiano, lutando contra a violência policial que tem promovido um massacre na juventude negra baiana e em todo o país e cobrando reparação aos familiares de vítimas da violência estatal. E se você pensou em manifestações exóticas e coloridas, errou feio. O bagulho aqui é militância, nada de peleguismo ou micaretas que imploram por direitos. Aqui o papo é a violência revolucionária. O jornal é uma homenagem aos mortos na chacina da Vila Moisés, ocorrida em 2015, com textos que retratam a postura da campanha, sem o costumeiro pedintismo social, sem propostas de conluios com a classe dominante, apenas empoderamento de negras e negros e o chamamento à luta, seja ela pacífica ou não. Com uma impressão de 1000 exemplares a custo de três dilmas ou temers (dependendo de quando você estiver lendo vai ser o nome da moeda), também disponibilizaram na net, facilitando pra quem mora em quebradas distantes e na disseminação das ideias e propostas da campanha. Segue o link para leitura https://gatopretocomunicacao.files.wordpress.com/2016/04/jornal_assata.pdf. Em tempos de luta antifascista atrelada a todo lixo pelego existente, é inspirador ver pessoas colocando em prática uma luta sem a necessidade de pagar de simpatia com quem não presta. - O.A.L.A.P.: pequeno panfleto feito pelo pessoal do coletivo Atitude Punk, tratando sobre as desavenças estúpidas que insistem em se fazer presentes no Punk da Grande SP. Para quem é de outra quebrada, o texto pode nem fazer muito sentido, mas para quem vive por aqui é real. Não tem endereço de contato. - Protesto Subúrbio: mais um pequeno panfleto que também tece críticas ao Punk atual da Grande SP, vazio, sempre em panelas e que passa muito tempo fazendo rolê na net, esquecendo que o mundo real e o Punk não estão na tela de um computador. Triste constatar que isso é uma verdade em SP. O endereço de contato é revoltapunk@hotmail.com. - Machismo Não é Escondido: esse é o nome do texto e não do panfleto/informativo. Mas como não tinha outro, resolvi por conta própria deixar aqui como se fosse o nome para facilitar a vida. O trampo é de autoria do coletivo Juntas na Luta e é sobre machismo e como ele tem negado o protagonismo feminino na História, transformando a mulher em uma peça decorativa. Muita gente ainda reclama do feminismo, mas ele se faz cada vez mais necessário quando pensamos em igualdade. Sem igualdade entre gêneros, não adianta brisar sobre antifascismo, anticapitalismo, porque está tudo interligado naquela estrutura podre que tanto desejamos destruir. O e-mail é juntasnaluta@gmail.com e você também pode acompanhar pelo https://www.facebook.com/juntasnaluta e pelo blog http://juntasnaluta.blogspot.com.br/. - Salve Punkaida, Vamos Africanizar?: outro panfleto que uso o título do texto para identificar o trampo. Texto muito bacana que trata de um assunto sempre ignorado no Punk que é a presença de negrxs. Inocentemente acreditamos que o Punk era um lugar livre de preconceitos, mas estamos vendo que isso ainda não é realidade. Com a imensa quantidade de pessoas escrotas que parasitam no Punk, o utilizando como diversão nos finais de semana, mantendo o cérebro desligado boa parte do tempo e com a gradual despolitização do Punk nos últimos anos, vícios sociais continuam a sujar o movimento e se faz necessário martelar em alguns pontos como preconceito de gênero, orientação sexual e racismo. Voltando ao informativo, o mesmo traz um texto sobre empoderamento de punks negrxs e toca em um ponto crucial, que é a busca desesperada de referências nas cenas de países do primeiro mundo, esquecendo que uma das características mais bonitas do Punk é a sua imensa capacidade de adaptação em qualquer lugar do mundo, em qualquer quebrada. Texto foda e vale uma reflexão. Não tem endereço de contato.


- Em Memória de Edson Néris, Nem um Passo Atrás Contra o Fascismo!: panfleto feito e distribuído pelo Movimento Anarcopunk de São Paulo durante a Jornada Antifascista de 2015, é um breve relato sobre o caso Edson Neris. Para quem não sabe do que se trata, Edson foi assassinado por skinhedas em uma praça na região central de São Paulo por ser homossexual. Foi brutalmente espancado por cerca de trinta integrantes de uma das conhecidas quadrilhas intolerantes que circulam pelas ruas da Grande SP, tendo múltiplas fraturas e sofrendo hemorragia interna. O caso teve ampla repercussão na mídia corporativa e entre movimentos sociais. Desse triste acontecimento surgiu a Jornada Antifascista, evento organizado anualmente pelo MAP-SP. Interssadxs em mais informações, dá um confere no link http://anarcopunk.org/mapsp/ ou entre em contato pelo e-mail info@anarcopunk.org ou pelo esquema antigo de carta, Caixa Postal 665, CEP 01032-970, São Paulo/SP. - Racismo Não se Justifica, se Combate e se Destrói!!: panfleto feito em conjunto por três grupos da cidade de Itapira/SP, que são ACR-Anarquistas Contra o Racismo, ACNI-Associação da Consciência Negra de Itapira e Movimentação Anarco-Punk de Itapira. O texto dá uma rápida pincelada em diversos pontos, explicando de forma simples o que é raça, preconceito, discriminação e racismo, servindo para elucidar algumas dúvidas que a pessoa eventualmente tenha sobre o tema. Não tem endereço de contato. - O Extermínio da População Negra Ontem e Hoje: panfleto feito pelo Centro de Memória da Brasilândia, traça de forma resumida um panorama da situação da população negra desde a escravidão até os dias de hoje, sem esquecer que o estado é o inimigo e o responsável pelo extermínio. Endereço de contato é centrodememoriabrasilandia@gmail.com - Punk Aê! Êra: mais um panfleto do coletivo Atitude Punk. Simples, escrito à mão e com várias mensagens pedindo por mais consciência e menos tretas entre punks. 2016 e ainda temos que falar sobre união e respeito... até quando vai ser assim? Não tem endereço de contato. - Vergonha Alheia N°1 e N°2: zines feitos pelo coletivo Vergonha Alheia, o N° 1 traz textos simples e até um pouco inocentes, escritos à mão e diversas colagens, focando críticas a onda reacionária que saiu do armário juntamente com as manifestações contra o governo dilma. Já o N° 2 mantém o esquema textos escrito à mão e colagens, mas foca suas críticas no sistema de ensino, tendo textos mais bem escritos e indicações de leitura. O e-mail do pessoal é vergonhaalheia@riseup.net e tem a página na rede social https://www.facebook.com/colvergonhaalheia/. - Zine Mundo N° 12: esse zine é de outubro/2015 e é feito pelo Coletivo Anarco Punk Contraste. Segue naquele esquema que tanto gostamos, com textos e colagens que tratam sobre a liberdade de escolha dentro do Punk, críticas ao capitalismo e religião, apoio ao Exército Zapatista e uma capa linda, com um parasita de cabeça raspada dentro de um cesto de lixo com os dizeres “mantenha o underground limpo”. Assim seja! O endereço é Caixa Postal 23070, CEP 20921-970 - Ação Coletiva N°1: boletim informativo no estilo jornal, esse primeiro número saiu em Novembro/2015 com tiragem de 5.000 exemplares e é gratuito. A publicação é uma parceria entre os coletivos Ativismo ABC, Biblioteca Terra Livre, Centro de Cultura Social e Núcleo de Estudos Libertários Carlo Aldegheri. Nesse primeiro trabalho, contam a história e relatam algumas ações promovidas pelos diversos coletivos envolvidos. Interessado em adquirir uma cópia ou conhecer melhor o trampo dos coletivos? Segue os contatos: nelcarloaldegheri@gmail.com, ativismoabc@riseup.net, ccssp@ccssp.com.br, bibliotecaterralivre@gmail.com.

Gigs Por Treva e Juänito*

2016 Punks: Igreja Punk do F.D.S., Fear of The Future, Lixomania, Invasores de Cérebros – 09/01/2016 – Centro Cultural Zapata – São Paulo/SP Primeiro rolê do ano, virando à noite, bandas bacanas e muita chuva servindo de motivação para ficar em casa. Mas como o rolê estava prometendo, melhor calçar o pisante furado e seguir para o som. Para algumas pessoas presentes, o rolê já tinha começado no dia anterior, no primeiro ato contra o aumento das tarifas do transporte público. Muitxs punks estiveram presentes, sendo a linha de frente da manifestação e ajudando a galera mais de boa a conseguir escapar da chuva de bombas e tiros. Felizmente, três vermes ficaram feridos e isso por si só já valeu a manifestação. Mas voltando ao rolê sonoro, esse som seria a volta dos Invasores de Cérebros com a antiga formação e para comemorar, convidaram Lixomania, Fear of the Future e Igreja Punk do F.D.S. para somarem. Acostumado com os eternos atrasos, não botei fé no flyer que avisava que o barulho começaria às 23h30min e quebrei a cara, chegando ao final da Igreja Punk do F.D.S. Falaram-me que a Igreja é tipo um projeto do pessoal do Excomungados para tocarem sons do primeiro EP. Pois é, teve gente da banda que não apareceu, fizeram um bem bolado e tocaram mais toscamente que o normal. É tão tosco que é legal. Na sequência teve Fear of the Future, que no momento que você estiver lendo essa resenha, já


estará com seu disco lançado. Infelizmente, muita gente preferiu ficar do lado de fora papeando enquanto os rapazes se apresentavam e isso também rolou na apresentação da Igreja. Pagar 15 dilmas e ficar do lado de fora sem ver as bandas me parece algo idiota, talvez inconscientemente olhem para as gigs como uma simples relação de consumo do tipo “pago pra ver quem eu quiser, se quiser e já era! Lixomania foi foda! Buscando na memória, não me lembro de ter visto a banda, o que é vexatório. O pessoal que costuma ficar do lado de fora, dessa vez optou por entrar assim que escutaram os primeiros acordes. A apresentação foi energética, galera agitando muito, cantando, no maior clima de festa, como sempre deveria ser quando punks estão juntos e sem inimigxs por perto. Além dos sons próprio, tocaram vários sons de outras bandas para finalizar a apresentação em grande estilo. E encerrando a madrugada barulhenta, Invasores. A primeira vez que vi a banda foi em 1995, na festa de uma revista muito bacana que tinha na época (100 Tribos) e de cara já ficou claro que a banda via o punk como uma arma a ser usada contra a apatia. E de lá para cá a postura continuou a mesma, apesar das mudanças na formação. E ver uma banda cujos integrantes não são adolescentes é muito legal, nos lembra de que apesar de falarem que o punk é juvenil, ele é para toda a vida, desde que a pessoa queira isso. Esse primeiro rolê do ano foi foda! Fora as bandas, foi muito bacana encontrar pessoas que não via há tempos e poder conversar tranquilamente, ver na roda homens e mulheres de diversas idades agitando juntxs e ver que o punk continua vivo no subterrâneo da cidade. Tuna, Deaf Kids, Alarm, La Fraction – 22/01/2016 – Centro Cultural Zapata – São Paulo/SP Bom, a exemplo do primeiro rolê do ano, esse começou na véspera para algumas pessoas presentes, com outra manifestação contra o aumento das tarifas do transporte público e que, para não variar, terminou em brutal repressão por parte do estado. São Paulo vive um momento estranho, onde paira no ar uma fedentina autoritária perpetrada pelo (des)governo estadual do psdbosta, que não larga o osso há duas décadas e que anda de mãos dadas com o (des)governo municipal do partido dos traidores, ambas administrações desastrosas e intransigentes com relação às demandas populares. E no atual momento político da cidade, ser punk, usar visual e colar em eventos pode passar a ganhar uma conotação mais radical em vista dos últimos acontecimentos e pelo caos que tem sido semeado na cidade cinza. Se no punk não tivesse tanta gente pamonha que gasta seu tempo trocando a fralda de rolê que não é o seu, fazendo beicinho por causa de terceiros que pouco ou nada somam ou colando com quem não presta e se achando líder de qualquer merda, seria o momento do punk estar em peso nas ruas e de maneira mais organizada, participando ativamente da luta social (não que salvar o mundo seja uma obrigação de punks). Mas... Esse rolê tinha tudo para ser maravilindo, já que tinha bandas legais e uma galera em boa quantidade na porta. Mas rolou um atraso chato que atrapalhou a vida de muita gente e deu uma zicada no rolê, fazendo com que várias pessoas não entrassem ou saíssem antes do término. Só para ter uma ideia, o evento terminou quase 01h00min e mesmo com a cidade possuindo diversas linhas de ônibus que circulam a noite inteira, elas não atendem a totalidade de bairros, dificultando o retorno para casa depois de um determinado horário. Sem contar que sábado é dia útil para muita gente. Outra coisa, galera reclama dos preços, mas quando tem algo com preço condizente com a nossa realidade, cadê essas pessoas? Quatro bandas bacanas, sendo duas francesas, seria motivo mais que suficiente para que mais pessoas tivessem colado no som, mas é melhor fazer rolê na net. Pois bem, a má vontade com o atraso foi atenuada pelas ótimas conversas, coisa rara hoje em dia quando pensamos em gig punk, com muita gente posuda, marrenta, futriqueira, que insiste em impregnar no bagulho, enlameando a correria dxs outrxs. E graças a essas boas conversa, perdi a apresentação do Tuna e parte do Deaf Kids. O pouco que vi da banda demonstra que continua em forma, mandando aquela mistura de hardcore/d-beat e crust quebrado, cheio de ruídos e distorção. E tinha umas luzes piscantes que deixavam o bagulho mais estranho, meio psicodélico. Na sequência teve Alarm. Aaahhhhh... Alarm. Estão de rolê pela América do Sul desde meados de dezembro/2015 (segundo o site da banda) e na republiqueta foram apenas quatro gigs. Estiveram tocando aqui pela primeira vez em 2014 e tem um som muito foda! Punk rock simples, melódico, dançante, vocal dividido entre uma garota e um cara, resultando em amor à primeira vista! Enquanto tocavam, minha vontade era estar sozinho no lugar para sair dançando e pulando sem ninguém me aporrinhando. O pessoal, apesar de estar curtindo horrores, ficou apenas assistindo de boa, sem pogo. Mas a banda é tão legal que nem o pogo fez falta. Com o horário avançando rapidamente, algumas pessoas saíram fora, deixando o lugar um pouco mais vazio para a próxima banda, La Fraction. Mas xs integrantes da banda parece não terem se importado com isso. Estão na batalha desde 1988, e por aí é possível ter uma ideia de que não são adolescentes. Acho isso de extrema importância, por que muitas vezes (aqui no Bra$il, pelo menos) o punk parece ser visto como algo juvenil, uma época da vida e não é bem assim que a coisa funciona. Bandas com pessoas mais velhas nos fazem lembrar que o punk pode ser para toda a vida e que todo mundo vai envelhecer (menos eu). A simpática vocalista Magali conversou em espanhol, facilitando o entendimento das ideias que mandava entre os sons, enquanto a banda coesa detonava um punk rock energético. Estava tudo tão legal que encerram a apresentação e o pessoal pediu para continuarem tocando. Nisso mandaram mais dois sons. Coisa linda! Quase 01h00min, o momento era de pensar em como voltar para casa, mas com a certeza de que valeu a pena ficar e prestigiar esse evento. E para quem não colou, só lamentos!


A Ferramenta – 29/01/2016 – Viaduto do Chá – São Paulo/SP Essa não foi uma gig punk propriamente dita, mas teve tudo a ver com o punk. O rolê foi organizado pelo Coletivo Autônomo dos Trabalhadores Sociais (Catso) e a ideia era dar visibilidade às pessoas em situação de rua e, em espacial, ao pessoal que está na Tenda Alcântara, uma ocupação que fica embaixo de um viaduto na região central. Para isso, rolou uma pequena exposição, a exibição de um documentário muito foda (que não lembro o nome), aula de yoga e terminou com a apresentação d’A Ferramenta. E tudo isso rolou na rua, bem na frente do prédio onde fica mocozado o safado do prefeito. Vai dizer que isso não é punk? E punk também foi o atraso, graças ao gerador que insistiu em não funcionar. Mas como só tinha gente ligeira por lá, fizeram um gato direto da prefeitura e o evento rolou sem maiores problemas. Como o bang era um ato político e não uma gig, a quase totalidade das pessoas presentes tinha envolvimento com a luta do povo de rua. Também tinha pessoas que estavam de passagem e pararam para ver o doc e a banda e poucxs punks. Talvez com uma maior divulgação, mais pessoas tivessem comparecido. Mas como quantidade não significa qualidade, o rolê foi show de bola do mesmo jeito. Depois de muita briga com o gerador, este acabou vencendo, se recusando a funcionar. Alguns minutos de confabulação, um pouco de caradurismo e gato feito. Uma rápida apresentação e começa a projeção, com imagens e depoimentos fortes, mostrando o quanto o poder público é ausente e quando se faz presente, é visando a higienização da região central. E tudo isso sendo projetado em uma parede da prefeitura da cidade, entre mastros com os trapos que simbolizam o país, o estado e a cidade. Lindo! Terminada a projeção, um rápido intervalo e começa a apresentação da banda A Ferramenta. Foi muito bacana ver uma banda de hardcore tocando em um evento como esse. De uns tempos para cá, parece que o punk tem esquecido seu lado político e militante, tornando qualquer apresentação uma simples relação de consumo. Ver uma banda da cena tocando em um ato e na rua é gratificante e nos dá esperança de dias melhores para o punk. Enquanto a banda tocava, a molecada dançava do jeito que queria, como se não houvesse amanhã. Devido ao atraso, acabei não ficando até o final, já que tinha que seguir na caminhada. Rolê cabuloso, político, com informação, troca de ideia, aprendizado e com boa música. E foi ótimo ver banda do rolê participando do evento, mostrando que o punk é político sim, apesar dxs atrasa-lados. O punk segue existindo, resistindo e contra-atacando. Untermensch, Atos de Vingança, Sistema Sangria, Escafismo, Epidemia – 14/02/2016 – Centro Cultural Zapata – São Paulo/SP Verão, calor, pancadas de chuva que alagam a cidade, carnaval, milhares de pessoas nas ruas atrás de blocos, Sidney Magal no bairro, gelinho de catuaba, confusão, Bowie em versão carnavalesca, Beto Barbosa, Fafá de Belém, ter a chance de presenciar cenas dos mais variados níveis de loucura e dar alguns vexames básicos. Dias maravilhosos! E depois de três semanas (sim, porque o papo de quatro dias de folia é passado!) de ziriguidum na cachola, rolê punk. Pois é, os chilenos da Epidemia e os argentinos da Escafismo vieram fazer um rolezinho bem na época das festividades do Momo e devem ter curtido horrores (ou ficado assustados frente tamanha baderna e tanto calor). Mas antes da música rápida que tanto gostamos, tinha a despedida do carnaval com o Bloco da Diversidade, organizado pelo pessoal da Parada do Orgulho LGBT, provando que as festividades do Momo também podem ter um viés político, crítico e solidário. Na certeza de que o som ia atrasar, fui conferir o bloco e tirar uma onda. Cheguei esbaforido ao pico com quase duas horas de atraso e, para minha surpresa, a primeira banda tinha acabado de começar seu set. A outra surpresa desagradável foi ver pouca gente prestigiando o evento. Tudo bem que dias antes tinha rolado Zex, o clima de feriado ainda dominava a cidade e muita gente estava viajando, mas é triste ver bandas que vieram de longe tocar para poucas pessoas enquanto muitas estão em casa masturbando seus computadores e se idiotizando a cada minuto. E nem estou falando do povo coxinha, estou falando de punks (ou pessoas que acreditam ser punks). Enfim, mais do mesmo quando o assunto é apoio ao rolê. A primeira foi Undermensch, que toca um death/grind consistente. Infelizmente se apresentaram para quase ninguém, já que a maioria das pessoas presentes estava do lado de fora. Sem embaço, Atos de Vingança sobe ao palco e começa sua apresentação sem a participação do baixista Aranha, que ainda não havia chegado. Mesmo assim, a dupla Diego e Marcelo compensou a falta das quatro cordas com muito peso na guitarra e bateria. No meio do curto set (reduzido devido ao atraso), o baixista chegou e a coisa continuou a funcionar muito bem, com a banda encerrando o barulho com a sempre linda versão de United Forces do S.O.D. em português. Sistema Sangria é uma das bandas que mais tem se apresentado por Sampa. Sempre na correria, interagindo com outras bandas da cena (independente de subdivisão sonora), acabam sempre sendo convidados para participar dos eventos. Recentemente tiveram uma mudança na formação, com a saída do vocal Antonio e retorno do antigo vocalista Jesher. E na boa, nada mudou! A banda continua a mesma, som rápido e energético, sem frescuras.


Com o horário já bem avançado para um domingo, é a vez dos argentinos da Escafismo. Tanto Escafismo quanto Epidemia são ilustres desconhecidos da grande maioria das pessoas por aqui. Infelizmente, o elevado grau de bestagem que atinge uma parcela do rolê faz com que as pessoas acreditem que as bandas do hemisfério norte são melhores, fazendo com que muita gente não preste atenção ao que ocorre na América Latrina. Triste, pois perdem as bandas que se arriscam a tocar no país e perde a cena que deixa de trocar experiências. Mas voltando a Escafismo, a banda faz um powerviolence quebrado, em alguns momentos até meio experimental. Sei lá, enquanto se apresentavam, fiquei imaginando que se o Fugazi fosse powerviolence, seria tipo Escafismo. Não é o tipo de som que curto, mas foi muito legal ver a banda. E fechando a noitada, os chilenos da Epidemia com seu hardcore mais básico. Devido ao horário, algumas pessoas já tinham saído fora, deixando o lugar ainda mais vazio, sendo possível manobrar um caminhão no local. Vi umas cinco ou seis músicas e também saí fora. Rolê bacana, com a oportunidade de conhecer outras bandas que dificilmente teríamos a chance de ver se não fosse a tão combalida rede de apoio e ao DIY praticado aos trancos e barrancos nesse rolê/cena/movimento em crise. Skate Punk Destruction: Test, Social Crisis, Downhatta, Mollotov Attack, Sistema Sangria – 21/02/2016 – Pista de Skate da Saúde – São Paulo Em meio a essa crise de identidade que insiste em permanecer no punk da Grande SP, fica nosso respeito por quem ainda teima em organizar eventos. Entendo a dificuldade que é organizar a parada em um país que passa por uma crise econômica, rolê pouco estruturado entupido de gente pamonha que apenas reclama nas redes sociais, fala sobre união, mas fica em casa punhetando o computador e quando sai, fica agindo feito feijoada, não saindo da panela. É claro que tem eventos que acabam sendo porcarias, mas até esses têm um trampo louco por trás e com certeza quem agilizou esperava que tudo corresse as mil maravilhas. Que trampo ingrato! E todo esse blá blá blá inicial é só para dizer que o pessoal que deveria ter colado nesse evento gratuito, com várias bandas bacanas, mais uma vez ramelou na missão. Está certo que tinha outro evento acontecendo na cidade, mas mesmo assim é decepcionante. Pouco tempo atrás era comum ter vinte punks se encontrando em algum lugar para juntxs seguirem até o local do som e hoje, se vacilar, não aparece vinte punks no som. O que parece ter acontecido foi um retrocesso, o punk de movimento retrocedeu para uma cena e dessa retrocedeu para um rolezinho vazio, não muito diferente de qualquer outro estilo musical. União, apoio, camaradagem, palavras que parecem estar em extinção entre nós. Os motivos para esse retrocesso todos nós sabemos (ou deveríamos saber), só não sabemos ou não temos interesse em mudar a situação. Reclamamos da sociedade e do bundamolismo impregnado na população, mas temos agido da mesma maneira quando o assunto é o punk. Se nós que vivemos o bagulho, que nos autointitulamos punks, não conseguimos mudar o que está errado nesse micromundo, que moral teremos para reclamar do macro? Às vezes acontece um evento que nos enche de esperança com relação ao futuro do punk, mas essa sensação de que iremos virar o jogo logo passa ao nos depararmos com o parasitismo que virou regra. Deixando as reclamações de lado e indo ao que interessa, apesar de não ter tanta gente como seria esperado, o rolê foi bacana. Para quem não sabe, essa pista de skate fica embaixo de um viaduto e isso, por si só, já proporciona uma cara underground ao evento. Confiando no sempre presente atraso, demorei a sair de casa e ainda fui sossegadamente caminhando até o local e quebrei a cara, perdendo o Test. Quando cheguei, quem estava arrumando o equipamento eram os chilenos do Social Crisis. Apesar de a banda ser desconhecida, acabou sendo uma grata surpresa com seu hardcore misturando elementos da velha e nova escola. Apesar da galera não estar agitando, aparentemente o pessoal da banda estava feliz pelo rolê e inclusive fizeram algumas filmagens para um futuro clipe, momento em que o pessoal lembrou que estava apenas “assistindo” a uma banda de hardcore e agitar é melhor do que assistir. Além dessa gig em Sampa, tocaram em Santos e em Santo André. Downhatta veio a seguir, com sua mistura foderosa de passagens rápidas e lentas com muito peso. Apesar de ter retornado há poucos meses, já participaram de algumas gigs e estão divulgando seu trampo. Na sequência teve Mollotov Attack mandando muito bem com seu hardcore, mas a exemplo do aconteceu anteriormente e que seria a cara do rolê, a galera ficou de boa apenas assistindo. E encerrando à tarde barulhenta, Sistema Sangria. Infelizmente a chuva decidiu atrapalhar e mesmo não estando forte, foi o suficiente para que começasse a cair água do viaduto para a pista, bem na parte que estava o equipamento. Mesmo mudando as paradas um pouco para o lado, a banda optou por encurtar sua apresentação a fim de evitar problemas com a aparelhagem. E com isso o som terminou antes da 20h00min, o que facilitou para quem morava mais distante (se é que tinha alguém de longe por lá). Apesar das reclamações, o rolê foi bacana, rendeu algumas boas conversas e a chance de rever pessoas que há tempos não via. Xico Picadinho, Skarnio, Misa Histerica, Fear of the Future – 27/02/2016 – Centro Cultural Zapata – São Paulo/SP Ainda na sofrência por dias antes ter perdido Guerrilla Poubelle em Carapicuíba graças ao chuvaréu que alagou parte da Grande SP, passei os dias seguintes bancando meteorologista para evitar surpresas desagradáveis vindas do céu. A previsão era de chuva forte durante todo o dia, mas felizmente ela só veio à noite, facilitando minha ida ao rolê. Misa Histerica estava em turnê por diversos países da América do Sul e pela terceira vez se apresentava na republiqueta. Em SP foram algumas gigs, todas em cidades razoavelmente próximas, o que poderia ser usado para justificar a pouca presença de


pessoas nessa gig, somado ao fato de outros eventos estarem rolando na cidade. Mas sabemos que isso é só uma desculpa esfarrapada e que o buraco é mais embaixo. Bom, com aquele atraso característico e chato que insiste em se fazer presente em qualquer gig na capital paulistana, Xico Picadinho começou o barulho de forma brutal. Os moleques tocam um grind metalizado, com influências de black e death metal, além do punkão sujo de sempre. O bagulho é medonho (no bom sentido) e quem gosta de velocidade e peso vai curtir. Apesar da brutalidade sonora, o pessoal não agitou e isso foi uma constante em todas as bandas. Parece que logo estarão lançando material, por isso fiquem atentxs. Na sequência, o veterano Skarnio detonando aquele hardcore influenciado por metal que as bandas dos anos 80 faziam com facilidade sem soarem modistas. Pausa para arrumar o palco e o projeto Misa Histerica começa seu set. O bang é levado à frente pelo Luis, responsável pelas baquetas e vocais e o resto está programado naquela maquininha cabulosa que não sei do que se trata. É totalmente diferente assistir a uma apresentação da Misa Histerica, com a palco vazio tendo só o batera e rolando tamanho barulho. Por isso o punk é tão legal, mesmo que o zé porva diga que está estagnado, ele se reinventa e continua a surpreender. E fechando a noite barulhenta, Fear of the Future, já com play lançado e divulgando o trampo. Como a fome apertava e o medo de pegar chuva falava mais alto, acabei saindo fora antes do término da apresentação, mas não sem antes vê-los dedicando Decapitate! (The Traitors) aos que ontem se diziam punks e hoje lambem botas de quem não presta ou mesmo se tornaram alguém que não presta. Sintomático. Mais um rolê bacana com bandas legais, preço decente, material à venda e prestigiado por poucas pessoas. Até quando o punk irá suportar isso? Vermes do Limbo, Hierofante, Test – 05/03/2016 – Passagem Literária da Consolação – São Paulo/SP Lançado seu mais novo material, o CD ‘Espécies’, a banda Test inovou e ao invés de realizar uma única apresentação para lançar o CD, fez dezoito em pouco mais de vinte dias e em diversas localidades de Sampa e cidades vizinhas. É o faça você mesmo colocado em prática e sem complicação. Para o encerramento da turnê, escolheram um lugar atípico, que é a passagem subterrânea que liga os dois lados da movimentada Rua da Consolação. Lugar legal, que de vez em quando é fechado por falta de manutenção. Faz um tempo que a passagem está aberta e sem ter problemas, tornando-se um ponto turístico na cidade pra quem curte street art e ponto de garimpação de livros, já que lá tem um sebo. E para somar no evento, chamaram as bandas Vermes do Limbo e Hierofante. Hmmm... se você é hipster e curte sons modernosos (ainda que feitos com referências antigas), com certeza iria amar as duas bandas. Ambas têm suas qualidades e quem estava presente parece ter curtido. Eu é que não sei o que escrever pelo simples fato de não escutar esse tipo de som. Sim, podem me chamar de ranzinza e de cabeça fechada. Após um atraso que foi bom para que desse tempo de mais pessoas chegarem (senão as bandas teriam se apresentado para pouquíssimas pessoas), as duas bandas convidadas fizeram suas apresentações. Sem enrolação, Barata e João arrumam o equipamento e logo começam mais uma destruição. Apesar da violência sonora, ninguém agitou porque o local não comporta uma roda. Têm transeuntes de passagem, umas vidraças que protegem uma exposição, texto baixo com lâmpadas e as estantes onde estão os livros. Qualquer movimentação brusca ali e seria acidente certo. Mesmo assim foi bacana, diferente ver o pessoal apenas olhando uma banda detonando músicas tão brutais. Infelizmente o set foi um pouco curto, mas nada que prejudicasse a apresentação. Evento show de bola em local de fácil acesso, que mesmo não sendo a intenção da banda, soma nessa luta pela reapropriação do espaço público por parte da população, colocando a música tosca no lugar de onde ela nunca deveria ter saído, que é a rua. Depois de tanta brutalidade sonora, hora de voltar pro cafofo caminhando tranquilamente pela Paulista e observando o movimento nesse final de tarde/início de noite de verão. Desculpe Aturá-los: Destino Cruel, Histeria Coletiva, 1984, Esquizofrenia, Periferia S.A. – 12/03/2016 – São Paulo/SP Como quase todo mundo sabe, o Movimento Punk na Grande SP passa por um momento razoavelmente conturbado, com muitas discussões, boicotes, fofocas e tudo de ruim que é possível, e isso tem dificultado a movimentação das pessoas envolvidas com o Punk, minando boa parte das atividades. Por outro lado, esse pode ser o momento ideal para isolar em definitivo xs trastes e seguir adiante, vivendo o presente, pensando no futuro e olhando o passado para não esquecermos onde erramos e para não repetirmos novamente esses erros. Como dizem por aí, “errar é humano, insistir no erro é burrice.” E esse evento organizado pelo coletivo Ameaça Punk pode resumir muito bem o que está escrito no primeiro parágrafo. O pessoal organizou um fest muito foda, com bandas bacanas (e fugindo da repetição básica que é comum), preço decente (também pediram um quilo de alimento para doação), virando à noite, longe da região central, com comes e bebes e tentando manter o ambiente seguro e saudável para todxs. Sem contar que o espaço tinha muito a cara do punk, um salão de festas que fica embaixo de um comércio. Espaço amplo, arejado e que a galera presente em ótimo número, aparentemente soube respeitar e valorizar. O evento começou às 18h00min com discotecagem e as bandas começaram o barulho por volta das 21h00min.


A primeira banda foi Destino Cruel (não confundir com a banda argentina), apenas com um mês de existência. Apesar do nervosismo da estreia, a banda mandou bem. Infelizmente pouca gente viu, já que a maioria se encontrava do lado de fora conversando ou ainda estavam chegando. Já com mais gente no local e sem embaço entre as bandas, teve Histeria Coletiva mantendo viva a tradição finlandesa de música rápida, tosca e brutal. Como se não bastasse a violência das próprias músicas, tocaram uns covers de Kaaos e Riistetyt para ferrar com tudo. Na sequência teve 1984, que continuou mantendo o clima quente, com a galera agitando. A banda é muito boa, algo como o encontro certeiro do hardcore europeu com o estadunidense. Só vendo para entender. Bandas fodas, boas conversas, risadas, clima tranquilo e ainda tinha muito rolê pela frente. Esquizofrenia, que fazia tempo que não se apresentava, quase fez o lugar cair. Foi lindo ver punks de diversas idades agitando juntos e sem maldade. E fechando a noite, Periferia S.A. tocando na quebrada onde seus integrantes começaram no punk lá na década de 80. O bicho pegou, banda tocando com energia e o pessoal agitando muito. Após o término das bandas, o rolê continuaria com discotecagem a cargo da Ameaça Sonora. Como nem sempre as coisas funcionam do jeito esperado, duas tretas rolaram, mas o pessoal do coletivo interveio apaziguando os ânimos, aparentemente de maneira coerente e satisfatória. Mesmo isso não tira os méritos do evento, com a presença de muita gente (lembrando que na mesma noite havia outros três eventos na cidade), todo mundo interagindo de boa, punks de diversas idades e diferentes quebradas, alguns bangers e até criança fazendo a alegria do pessoal. Lembrou eventos que rolavam anos atrás, quando todxs nós acreditávamos sermos amigxs e sabíamos respeitar nossas diferenças enquanto punks, sem necessidade de apelar para o mau-caratismo. Enfim, quem colou curtiu. E fica a torcida para que o evento também tenha sido satisfatório para o pessoal do coletivo e que sirva de motivação para organizarem outros na mesma pegada. E como estava escrito na página do evento, “Subúrbio punk vivo! Cidade punk viva! Êra!” Desgraciaddo, Social Chaos, Periferia S.A., Simbiose -22/03/2016 – Centro Cultural Zapata – São Paulo/SP Galera adora pagar pau pro rolê gringo falando sobre as turnês que acontecem, as pessoas que participam e apoiam, de como tudo é extremamente estruturado e funciona lindamente bem. Mas ficar pagando pau até o fim dos tempos não vai ajudar em nada quem está aqui no tóba do mundo e um bom começo seria as pessoas colarem em eventos que ocorrem durante a semana, porque banda de outras quebradas fazendo turnê apenas nos finais de semana é inviável. Só na cabeça de gente sem noção é que isso funciona. Muitas vezes é treta colar porque as responsabilidades falam mais alto e isso é plenamente justificável, mas tem muita gente que não cola porque é mala e acha que tudo tem que ser no fim de semana. Mas dessa vez um pessoal em bom número compareceu em plena terça-feira para prestigiar as bandas daqui e os patrícios da Simbiose, que tocavam por aqui pela segunda vez, passando por SP, RJ e MG. Sinal dos tempos? Espero que não, e sim que isso seja uma mudança, um amadurecimento das pessoas envolvidas. É ótimo rolê no fim de semana, mas se sonhamos com bandas excursionando de maneira independente no Bra$il, apoiar eventos que rolam em dias úteis é fundamental. Contando com aquele atraso chato e sempre presente, não botei fé no horário e acabei perdendo a primeira banda, Desgraciaddo. Ao chegar, quem já estava no palco arrumando o equipamento era a Social Chaos. Com o som no talo, a banda fez uma apresentação foda, mesmo sem a participação do guitarrista Renato, que estava lesionado. Na sequência teve Periferia S.A., que também fez uma apresentação foda. Entre os sons, Jão aproveitou para fazer comentários sarcásticos sobre a atual conjuntura política e social, rendendo algumas risadas entre xs presentes. Devido ao horário um tanto quanto adiantado e ao número de bandas que participaram do evento, encurtaram o set. Preocupado com horário, prevendo que não veria toda a apresentação da Simbiose e por esse motivo, praguejando em pensamento contra o mundo, a banda sobe ao palco depois de pequeno embaço (mas que pelo horário pareceu uma eternidade). Rolaram alguns problemas no som, o que ajudou em outro embaço e fez com que demorasse um pouco pra apresentação engrenar. Quando viram que a coisa não ia mesmo melhorar, desencanaram e detonaram. Infelizmente, como já se tornou comum nos eventos que rolam durante a semana, o pessoal ficou apenas assistindo, sem agitar. Do jeito que a coisa está, logo ninguém vai lembrar como é agitar em um som. E como tinha previsto anteriormente, a terça-feira já tinha virado quarta e estava na hora de sair fora, mesmo com a banda principal ainda no palco. É chato ficar reclamando disso com frequência, mas essas falhas acontecem em boa parte dos eventos e ajudam na desmotivação que as pessoas têm em colar. Todas as bandas são bacanas, merecem respeito e têm sua importância no rolê, mas não custa nada ter uma preocupação com o horário de início do som, com o tempo que cada banda vai tocar e até mesmo com o intervalo entre elas. Uma banda que vem de outro estado ou país vê o local com uma galera legal e quando sobem ao palco, vão vendo o lugar esvaziar gradativamente e por causa de horário, deve ser um tanto quanto frustrante. E também é chato pra quem colou com a intenção de ver uma banda que muito dificilmente irá se apresentar por aqui em um futuro próximo. Por mais que sejamos desocupadxs, nem sempre estamos dispostxs a vira à noite no meio de semana. O tal apoio à cena também passa por questões como o horário de término de eventos em dias úteis. Apesar da reclamação, o rolê foi bacana. Pessoas que há tempos estavam sumidas apareceram, boas conversas, risadas e muito barulho.


Dia de Cultura Punk IV: Dischaos, Helvetin Viemarit, Blatta Knup – 26/03/2016 – CICAS – São Paulo/SP Sábado com tempo bom, feriado prolongado, enquanto muita gente estava em casa (incluindo punks) colocando em prática os dizeres que estão escritos no mais conhecido livro de contos fantásticos que se tem notícia, quem é sagaz colou nesse evento. E na boa, esse evento foi um daqueles que nos fornece ânimo e esperança em dias melhores para o Movimento Punk, com música barulhenta, materiais à venda (incluindo rango) com preço decente, boas conversas, informação compartilhada e sem a presença da turma adepta da zé povinhagem e da choradeira. E para a felicidade geral, mesmo sendo feriado e tendo outros eventos na cidade, uma galera em bom número compareceu para prestigiar e colaborou com a doação de um quilo de alimento. Depois de dois ônibus quebrados e a sensação momentânea de que deveria ter ficado em casa escutando Sarcófago em homenagem ao morto do feriado, chego ao local e, para minha felicidade, o evento atrasou. Logo eu que sempre reclamo dos intermináveis atrasos, dessa vez fui beneficiado por ele. Devido à falta de energia elétrica no local, apenas a oficina de horta tinha rolado. E enquanto o evento não reiniciava, hora de aproveitar a claridade que ainda persistia no local e conferir a exposição fotográfica sobre as ocupas na Europa e depois fui dar um rolezinho pelo entorno, perdendo alguns minutos vendo a batalha de pipas que acontecia no campo de futebol ao lado. É vendo esse tipo de coisa que entendemos o quanto é grande a cidade e como vários mundos existem nela. Quebradas onde as crianças não sabem o que é uma pipa e outras quebradas que crianças não sabem o que é um tablet. Isso é a cidade cinza. Depois de um embaço, gambiarra com gerador, finalmente a coisa voltou a rolar com a exibição de um mini doc sobre a ocupação La Solidaria (Uruguai). Tinha outro doc para rolar, sobre o Squat Toren (Fortaleza/CE), mas como saí para conversar, nem sei se foi exibido. Quando retornei, Dischaos já estava no palco arrumando o equipo. A banda encerrou suas atividades tempos atrás, mas como um de seus ex-integrantes estava em turnê por SP com sua atual banda, a Blatta Knup, ficou fácil realizar essa reunião em comemoração aos dez anos de barulho. Mas antes da barulheira começar, o guitarrista Dükka (e uma das pessoas responsáveis pelo evento) se desculpou pelo atraso. Caramba, faz muito tempo que não vejo isso, educação e respeito para com quem cola no evento. Na boa, mas muita gente que organiza eventos ou possui um espaço podia tentar aprender algo com essa atitude ao invés de ficar na net apenas chorando a falta de apoio. Sacomé, muita gente que se acha esperta mais interessada (ou apenas) nas poucas dilmas que ainda temos na carteira do que em um underground funcionando de maneira mais saudável. Voltando ao Dischaos, nem parece que a banda estava parada, tamanho barulho que fizeram. Além dos integrantes originais, quem socorreu a banda no baixo foi o Hugo (N.Ó.I.A./Dead Cops/Xico Picadinho). É uma pena que bandas fodas encerrem suas atividades enquanto uns cacarecos insistem em ficar impregnando no rolê, mesmo que tenham pouca ou nenhuma relevância no punk atual, com integrantes intelectualmente limitdxs e adeptxs do bostejamento virtual. Na sequência teve Helvetin Viemärit, que estava parado a mais de um ano e retornou nesse evento. Apesar do hiato, a violência continua a mesma. Finlândia na tóra com músicas rápidas, vocais gritados e muita tosqueira. Encerrando o evento, Blatta Knup. Colocando em prática o faça você mesmo, a banda conseguiu agilizar um rolê bacana pelo sudeste, com várias datas em diferentes localidades. Essa era a primeira vez que a banda tocava em SP e era também a primeira data do rolê. Com uma formação atípica, o duo Gustavo (baixo e vocal) e Helô (bateria e vocal) apesar de não terem músicas tão rápidas, faz um barulho monstro e entre os sons, sempre mandavam várias ideias explicando a letra ou questionando algo de podre. Alguns problemas no equipamento tentaram atrapalhar, mas a banda tirou de letra. Muito bacana ver várias manas agitando e todo mundo prestando atenção ao que era dito entre os sons. Enfim, baita roel que chutou longe o marasmo do feriado e mostra que o Punk segue vivo e resistindo, sendo independente, solidário, divertido e político, sem ser chato ou doutrinário. É o punk sendo apenas punk. Social Chaos, Ruinas – 11/05/2016 – CIAM – São Paulo/SP Rolê no meio de semana, longe pacas (pra quem mora na zona sul) e frio. Tudo contra, mas nada que um pouco de força de vontade não resolva. Apostando no costumeiro atraso que rola em quase todos os eventos, demorei a sair de casa e ainda decidi ir caminhando da estação de metrô até o lugar, na tentativa de economizar algumas moedas. Não adiantou nada, porque gastei boa parte da sola do meu pisante, o que acabou dando no mesmo prejuízo, e ainda teve a dona encrenca (que me acompanhou) reclamando horrores da caminhada. Graças a toda essa esperteza, cheguei ao lugar na reta final do evento, perdendo Social Chaos e boa parte da apresentação da banda Ruinas. Para quem não sabe, Ruinas é da Argentina, tocam um crust/stench arrastadão e extremamente pesado, tem lançados uma demo e um split com Avitacion 101 e estiveram fazendo um rolê bacana com oito gigs pelo sudeste e centro-oeste. Apesar de todos os problemas que ainda persistem no Punk, é gratificante ver pessoas agilizando as paradas de maneira totalmente independente e tentando fugir do óbvio, seja nas bandas convidadas para participar, nos locais dos eventos ou nas cidades escolhidas para estarem no roteiro. Na boa, Bra$il é muito grande para ficarmos apenas com eventos em SP e RJ ou contando sempre com aquela meia dúzia de bandas que lutam com toda a força para manter a panela e alguns míseros privilégios. Muito provavelmente pelo fato da banda ser desconhecida e pelo rolê ser no meio de semana, acabou colando pouca gente. Como mencionei linhas acima, perdi Social Chaos e parte considerável da Ruinas. Os poucos minutos de barulho que presenciei


mostram uma banda coesa, usando e abusando do peso e da lentidão, com a vocal Rocio detonando tudo com seu gutural. Mesmo perdendo muito da apresentação dxs hermanxs, ainda assim valeu a pena ter colado e conhecido outra banda. E dando 22h00min o som terminou. Hora de encarar a mesma caminhada no sentido contrário, mas dessa vez, para compensar, rolou uma paradinha em um fliperama para gastar as moedas economizadas na caminhada e passar um pouco de vergonha jogando num pinball do Metallica, encerrando a noite barulhenta. 21 Anos do Coletivo Atitude Punk – 14/05/2016 – Comunidade Cultural Quilombaque – São Paulo/SP Em comemoração aos 21 anos de atividade do coletivo Atitude Punk, o pessoal organizou um festival bruto de dois dias, um em Sampa e outro em Santo André, contanto com a colaboração do coletivo Cultural Revolta, mostrando que mesmo em tempos difíceis onde intrigas, inimizades, patifaria e competição se fazem presentes de modo insistente, cooperação e apoio mútuo ainda existem e podem fazer a diferença. E para melhorar, agilizaram o fest de Sampa no Quilombaque, no bairro de Perus, quebrada com histórico de luta popular contra o capital especulativo e que também foi palco de um dos muitos episódios tristes da ditadura, com a descoberta de uma vala clandestina no cemitério do bairro. E o espaço onde rolou o fest é show de bola e já recebeu vários eventos punks nos últimos anos, ficando ao lado da estação de trem, sem vizinhança para reclamar do barulho e como entrada foi solicitada a doação de 1 kg de alimento não perecível. Um evento realmente Punk. A comemoração de sábado começou por volta das 17h00min e contava inicialmente com quinze bandas (incluindo reggae e rap), mas por motivos que desconheço teve gente que acabou não se apresentando. Como minha carcaça não aguenta mais tantas horas de rolê, fui chegar por volta das 23h00min. Enquanto seguia de trem e observava a paisagem que mudava de torres residenciais glamorosas para construções um “zilhão” de vezes mais simples, lembrei que uma década atrás, nessa mesma época, São Paulo tinha suas ruas lavadas com sangue de inocentes mortos pela polícia em respostas aos ataques promovidos pelo PCC. A jagunçada do estado, covarde como sempre, ao invés de investir sua fúria corporativa contra quem os atacou, descontou na população pobre e periférica, promovendo um massacre com 505 civis mortxs contra 59 jagunços. Dias e noites de ruas desertas, noticiário tendencioso e, no fim, o julgamento moral das pessoas que perderam a vida e a impunidade para policiais. Como já é de costume, a violência vindo de quem, pelo menos teoricamente, deveria ser responsável por combatê-la, e deixando uma metrópole acuada (sim, porque a violência que amedrontou a população foi a violência policial responsável pela totalidade das mortes de civis, enquanto a tal organização criminosa que também ajudou a amedrontar as pessoas atacou apenas a jagunçada). Indo para pensamentos mais amenos, também me lembrei dos tempos que era comum juntar trinta ou mais punks para juntos seguirem para algum no som periferia, coisa rara de acontecer na atualidade. Quando cheguei ao local quem estava se apresentando era a Rebeldia Incontida. Banda foda, que passa longe das tendências “punkísticas” que muitas vezes norteiam musicalmente as bandas, detonando apenas punk/hc sem frescuras e mandando muita ideia entre os sons. Na sequência teve Indaíz, banda de reggae, estilo musical que sou um completo ignorante e, para completar, nesse momento começou uma conversa interessante que dividiu a atenção. De orelhada e visão periférica, a banda parece ter agradado o pessoal com seu som tranquilo e mensagens de resistência. Com intervalos rápidos entre as bandas, é a vez da Revolta Popular. Fazia muito tempo que não via a banda, o que acabou gerando uma surpresa. Punk político, muito focado na questão indígena e negra, que também se reflete no som. Entre os sons, muitas mensagens de respeito entre punks, de luta e resistência, lembrando-nos que o Punk vai além do visual e da música, é militância. Uma colocação que chamou atenção foi referente a punks e filhxs, que o pessoal pode e deve levar a criançada nos sons, mostrando que infância e gig punk não são coisas antagônicas. Essa colocação se torna mais interessante quando nos lembramos de várias pessoas que mesmo com a chegada da maternidade/paternidade não abriram mão da militância e de outras tantas que fazem justamente o contrário, abrindo mão de suas crenças e usando uma criança como desculpa para justificar a sua entrega ao sistemão. Na sequência teve Invasores de Cérebros, foda como sempre. Já disseram e escreveram tudo que poderiam sobre a banda. É o Punk político, urgente e perigoso, aquele que incomoda até punks. Madrugada, frio aumentando, era a vez dos Condenados, que se apresentaram como trio, sem a participação da vocalista Natália, mas tiraram de letra. A próxima foi o Esgoto, cujas apresentações são sempre bacanas, com aquele punk rock que faz todo mundo pogar de boa e cantando junto. Devido ao horário avançado, o pessoal já estava cansado ou já tinha apagado, fazendo com que muita gente estivesse jogada pelos cantos, prejudicando um pouco as últimas bandas. Desobedient’s começou seu set como um trio, sem a participação do baixista, mas nada que atrapalhasse a molecada barulhenta. Na reta final o baixista chegou, subiu ao palco e participou no que foi possível. Nada mais punk. E encerrando a madrugada barulhenta, teve Charume. Devido ao sono, fome e frio, vi umas poucas músicas e saí fora. Coisa típica de velhote bunda mole. Mais um evento foda organizado pelo pessoal da Atitude Punk, mostrando que ainda é possível fazer a parada acontecer de maneira independente e sem roubar ninguém. Convidaram bandas legais de diferentes estilos dentro do Punk justamente pra ninguém reclamar e ainda convidaram algumas de outros estilos, mas que acabam tendo a ver com o Punk e também formam a trilha sonora da periferia. O único ponto negativo fica para algumas pessoas que insistem em achar que evento punk é ringue e cortam a brisa de quem está lá apoiando e se divertindo, querendo pagar de malvadão/malvadona e arrastando tretas sem sentido, ao invés de gastar a energia acumulada nos punhos e nas facas em cima das pessoas que realmente merecem e que todxs nós sabemos que são. Mesmo nessa parte chata o pessoal do coletivo tirou de letra e conseguiu resolver a situação.


No mais, rolê bacana que também serviu para rever algumas pessoas que há tempos não via. Parabéns ao coletivo pelo aniversário, pelo evento e ficamos aqui na torcida para que tenha mais 21 anos de militância no Punk e somando com eventos bacanas. Virada Cultural 2016 – Palco Test – 21/05/2016 – São Paulo/SP Pensar que a ética do faça você mesmo que a banda Test coloca em prática tenha resultado em palco oficial na Virada Cultural é algo que merece respeito e impressiona, já que vivemos tempos reacionários onde o ‘diferente’ não é bem visto. A despeito do funcionamento do evento que mais pareceu uma festa hipster em um estado policialesco, o Palco Test (dividido em três palcos, sendo dois para o barulho e um para música experimental) funcionou do mesmo jeito independente, sem pitacos alheios, sem puliça e com muita gente que a prefeitura e bocós da hipsterlândia gostariam de não ver e ouvir. Pois é, mas estávamos lá novamente, gostem ou não. A Virada é um ótimo evento para colar com pessoas que tenham os mesmos interesses, caso contrário não funfa direito e ninguém fica feliz por perder o que realmente estava interessando. E como sou vacilão, fui acompanhado com quem não curte barulho e acabei perdendo boa parte das bandas. Por outro lado, isso me proporcionou a chance de circular pelas ruas, observar a fauna e ver alguns artistas que em outra situação seria muito difícil. Enfim, por isso a resenha está bem sem vergonha. A noitada fria começou com a banda Letall, novo projeto que envolve pessoas conhecidas do underground paulista. Punk rock agressivão, como o vocal característico de Gepeto (Ação Direta). Caminhar uns poucos metros em direção ao outro palco para ver Cristo Bomba detonando com o som no talo e a galera agitando muito. Aí, fui obrigado a fazer uma pausa na tão sonhada maratona de música torta para dar aquele rolezinho básico pelo centrão, mas voltei a tempo de ver Facada destruir. Apesar de o equipamento ter pisado na bola com a banda, a apresentação foi destruidora. Infelizmente o álcool já fazia efeito e os zé ruelas de sempre que acreditam que mosh pit é ficar com a asa aberta tentando acertar o rosto de alguém deram o ar da graça. Depois que um pau no cu desse leva uma surra, sai por aí choramingando dizendo que punk é violento. Violento é não conseguir respeitar quem está ao seu lado agitando. Na sequência teve Guro, banda que o ignorante aqui nem sabia da existência. Outra pausa para circular, abastecer o estômago e quando volto quem está destruindo tudo é a Institution. Hardcore metalizado e moderno na linha Terror, não é bem o que eu escuto em casa, mas foi foda! A próxima banda tem um nome que tem tudo a ver com o local do palco, N.Ó.I.A. Detonaram seu grindcore na rua e agradaram a quem estava por lá. Outra pausa para circular e retorno a tempo para ver Downhatta. Manolxs, que som monstro! O peso da banda é impressionante. Mesmo dividindo a atenção entre a apresentação da banda e um bate papo, fiquei de queixo caído. Correr para o outro palco porque o barulho está terminando e quem está tocando é D.E.R. Outra apresentação monstra para deixar todo mundo assustado. Nesse momento, com o dia clareando, muita gente já tinha saído fora, mas quem resistiu não ficou decepcionado. E terminando a apresentação, também decidi seguir meu caminho porque o cansaço estava falando mais alto e não vi quem organizou todo o bang, o Test. Mesmo perdendo diversas bandas, o que pude ver realmente valeu a pena. Galera em ótimo número, aparentemente sem tretas, tudo funcionando direitinho, nada para reclamar. No geral, a Virada continua bem vazia, provavelmente graças às matérias sensacionalistas sobre episódios de violência ocorridos em anos anteriores (apesar de acreditar que nesse ano tinha mais pessoas do que ano passado). Outra coisa, por mais que digam que espalhar a Virada para toda a cidade é o melhor para democratizar o evento, continuo com a impressão que isso nada mais é do que uma tentativa de manter a população periférica distante do evento, já que pobres nos dias de hoje são mais do que nunca indesejáveis. Sinto falta das pessoas caminhando para todos os lados, rostos diferentes, gente dando vexame, outras dormindo pelas calçadas, aquele clima meio carnavalesco que propiciava um ‘enfiar o pé na jaca’ que foi tão emblemático nas primeiras viradas, enquanto nessa rolava um clima meio blasé, com muita gente posuda desfilando. Na real, a Virada Cultural 2016 foi o reflexo do atual momento político do Bra$il, com muita gente gritando ‘fora temer’ durante os shows, enquanto outras pessoas faziam beicinho de reprovação aos gritos, uma convenção hipster cercada por um aparato policial (pm e gcm) que em muitos casos era opressivo (juuuura?), que passava boa parte do tempo fitando com maldade as pessoas e importunando trabalhadorxs ambulantes que tentavam ganhar algum dinheiro sem o cabresto da prefeitura de ‘exquerda’ ou dando geral em quem não estivesse dentro do padrão esperado para o evento. É a São Paulo reacionária, mesmo quando se propõe a ser vanguardista. Enfim, mas um evento que é a cara atual da cidade, com tudo aquilo que ainda possui de bom e com tudo aquilo de ruim que ela tem mostrando nesses últimos tempos. Dia Livre de Carne: Adhaga, Dissidentes, Ghetto Hardcore – 22/05/2016 – Quilombo Fortaleza – São Paulo/SP* Em maio ocorreu na região da Bela Vista, centrão de SP, o evento que faz alusão à luta de dois anos do espaço. Logo pela manhã de sábado, 21 de maio, estava ansioso pra que a semana logo passasse e chegasse o dia 24 no qual completaria 3.1 anos de discórdias e não conquistas de vida, eis que um conhecido compartilha naquela rede que muitos possuem a divulgação de um evento de sua banda Adhaga, e o que chama a atenção? A proposta de uma oficina de serigrafia, bate-papo e um rango vegan, chamativa que vai e foi além de som e divertimento. O que chamou a fundo a atenção foi o fato de ser em um espaço onde a proposta é libertária, envolvendo cultura e onde as pessoas que gerem são moradorxs do lugar, resistindo no dia a dia às


ameaças de grupos reaças que rodeiam o lugar, tretas com proprietário, com os cães de guarda do governo, com vizinhxs chatxs , de tudo que é contra a proposta de uma vida “não capitalista”. Outra coincidência foi a de que nós do Vivência Punk já estávamos de olho em falar sobre o local por simpatizar com a proposta e também porque tem a ver com punks e cultura libertária. Umas semanas atrás até fizemos um cata louco de zines, escolhemos bem e encaminhamos para o Quilombo Fortaleza, porém o maninho com que foi feito o contato estava na correria dando um trampo e na oportunidade era um feriado. Acreditamos que estaria suave, sem problemas, entregamos os zines para um outro mano que nos atendeu. Depois das idas e vindas, enfim crio coragem e sigo em um domingo para o evento, com tela e mais uns materiais na mão para socializar com o espaço. Pois bem, na chegada aquele movimento típico de rolê, pessoas na porta e algumas ao redor e já simpatizava, já que eram membros das bandas na qual conhecia pela vida afora. Fui recepcionado por um morador que logo foi me envolvendo sobre a casa, trocando pensamentos, aos poucos fui interagindo com as outras pessoas e o melhor do evento (pra mim), o rango, feito por outro morador que mandou bem no arroz, feijão preto, berinjela e abobrinha. Na boa, salvo a larica, logo começou a primeira banda, Adhaga, e seu hardcore positivo. Seu vocal envolvendo o público presente, feito por um casal envolvido nas bandas e da ocupa, foi pouco pro tamanho, mas muito pela recepção e proposta. Assim, uns agitaram e outros não, aquela firula de sempre. Nos intervalos da banda, reparava no espaço muito bem estruturado, a biblioteca com muita coisa libertária, a arte interna destacando o recorte de zines na parede à esquerda próxima da porta, os sofás aconchegantes, a mesa, a cozinha, ressalva ao telhado que ao arrumarem com o tempo e fizerem um esquema para captação de água de chuva vai ficar massa. Pra dois anos há muita evolução, não conheci desde o começo, mas fiquei feliz por ser um lugar encantador e simples como toda revolta tem que ser. Assim já descolaram uma geladeira e um saco de boxe que foi descartado nas proximidades. Enfim entra a banda Dissidentes com seu punk rock crú e objetivo, sem frescura, com letras claras e na lata. Confesso que conheço o trampo deles desde 2004 e no dia foi repertório só com as novas, a aparelhagem era bacana (nem vou falar muito de aparelhagem porque não manjo nada), sei que o retorno e as distorções estavam massa, tudo ok! Incrivelmente o único imprevisto foi a falta de um pedestal que foi contornado com um suporte de ventilador e já era, tudo resolvido. Antes da última banda, trocamos um vai e vem e chamou a atenção o bar com a chamativa “Bar Kunin”, simpático nome, ao cachorro massa que se chama Rattu, graça de cachorro e muito bem cuidado. Logo o Ghetto Hardcore entra e faz seu som que vai do metal distorcido a um hc pesadão, chamando a atenção a música Ruas e Guetos, que remete a realidade social na qual vivemos. Enfim acabam as bandas e mais um vai e vem de ideias bem acolhedoras, ideias breves, mas que foi de tamanha reciprocidade que parecida que já xs conhecia há muitos anos. Logo me despedi do casal e assim cada umx seguiu seu caminho e mais uma noite de domingo ia chegando ao fim quando nos deparamos com um casal de espanhóis que estavam no mesmo propósito e curiosidade sobre o local, logo sacaram um adesivo “FCK SPN”, queria um, mas valeu! A serigrafia não rolou, mas comentaram de outra ocupa chamada Casa Amarela, lá na Rua da Consolação e que se pá lá vai rolar um tipo de oficina ou projeto de serigrafia, que indaga-nos a conhecer mais um espaço de vida harmoniosa em coletivo. Eis que será um bom motivo para visitar, somar e resenhar. A conclusão sobre o rolê foi de que EXISTE ALGO A MAIS ALÉM DE MÚSICA. PUNK É SIM MAIS QUE BARULHO, É SIM UMA POSTURA POLÍTICA PERANTE A VIDA e quem discorda, estamos aí pra somar e debater, que prevaleçam as atitudes sobre os argumentos, que reflitamos juntos sobre as ações tomadas. NÃO HÁ PROTESTO SEM AÇÃO NEM AÇÃO SEM REFLEXÃO. Como diz o ditado das ruas no meio dxs pichadorxs,”QUEM FAZ MAIS (POLÍTICA), CHORA MENOS! Abraço Quilombo, saudamos os dois anos de resistência. Ódio Social, Armagedom, Rövsvett – 26/05/2016 – Morpheus Club – São Paulo/SP A semana da Parada do Orgulho LGBT sempre muda a cara da cidade cinza. Por uns poucos dias ela ganha cor, um pouco mais de liberdade, respeito e dignidade, tornando-se uma cidade mais justa e humana, motivos mais que suficientes para estar nas ruas. Agora, se ainda tem rolê foda, aí é para chorar. Depois de trinta anos, finalmente a banda Rövsvett vem para sua primeira turnê no Brasil, passando por SP, RJ, MG, PR e BSB, num total de dez gigs. Em tempos de crise econômica e com tudo organizado na base do faça você mesmo, nada mau esse rolê. Enquanto seguia para o som lembrei que no dia seguinte teria Panzer Bastard e que isso poderia dividir o pessoal, talvez resultando em dois eventos meia boca. Ao descer na estação de metrô, noto que sou o único seguindo para o som, o que me faz pensar estar certo sobre a tal divisão. Encosto num canto estratégico enquanto espero um camarada e nisso algumas pessoas começam a surgir, dando esperanças de que não fique vazio o rolê. Nesse ínterim, rola o primeiro indicativo que o rolê seria bacana, graças a uma patetice ocorrida na estação e, felizmente, presenciada por poucas pessoas. Em tempos de intrigas, qualquer desencontro bisonho ganha ares de treta. Mas rendeu boas risadas. E nisso, mas pessoas começam a chegar, ficando claro que muita gente ia colar para prestigiar o evento. Conversa boa, risadas e nisso perco parte considerável da apresentação do Ódio Social. Diferentemente do que tem acontecido na maioria das gigs, muita gente entrou logo de cara para prestigiar as bandas, favorecendo o Ódio que não se apresentou para as paredes. Vi a reta final da apresentação, mas fica claro que a banda evoluiu muito nesses últimos tempos, estando muito coesa.


Uma pequena pausa e é a vez do Armagedom. Já tive a oportunidade de ver a banda algumas vezes, mas nem sempre me agradaram. Mas dessa vez foi diferente, detonando um set energético, mesmo com o equipamento tentando atrapalhar em alguns momentos. Apesar da frieza do pessoal que não agitou, o bagulho ficou louco no palco, dando a impressão que ficaria pequeno para os gringos. E ficou! No encerramento, Javier assume os vocais e detonam dois sons do disco Silêncio Fúnebre, numa prévia do que viria a ser a apresentação especial em comemoração aos trinta anos do lançamento que aconteceria umas semanas depois. Foi fodástico! E para encerrar a noite e o feriado no asilo punk, Rövsvett. Ao subirem no palco, um clima de nostalgia impregnou no local, deixando o pessoal das antigas com aquele semblante abestado comum em quem está feliz. Com a complicada tarefa de tocar depois do arregaço feito pelo Armagedom, a apresentação começou um pouco morna, com alguns problemas no som, que foram sendo amenizados no decorrer dos minutos. A banda também foi se soltando (talvez o cansaço da viagem estive pesando um pouco) e da metade para frente a coisa engrenou. Infelizmente o pessoal continuou de boa, apenas assistindo e aplaudindo entre os sons. No encerramento, mandaram Iron Fist do Motörhead, que quase fez uma discreta lágrima escorrer de meus olhos juvenis. Mesmo sem pogo, todo mundo curtiu muito e pediram para a banda voltar, pedindo atendido e que rendem mais dois sons. Apesar da falta do pogo descontrolado que com certeza teria deixado tudo mais legal, o evento foi tudo de bom, com casa cheia, sem tretas, pessoas legais (diz aí Primo, menos a Débys né), todo mundo interagindo, material à venda e bandas fodas. É isso que faz o Punk valer a pena. SP Music na Rua: QG Imperial, Arcanjo Ras, Skarrapatos K.O, Escombro HC, Invasores de Cérebros – 28/05/2016 – Largo do Paisandú, São Paulo/SP Final de mês estrumbado de eventos com Virada Cultural, Rövsvett, Panzer Bastard, Feira de Discos, SP Music na Rua, Bicicultura, Parada do Orgulho LGBT e outros eventos espalhados pela Grande SP. Pois é, uma vez tanto e outra vez nada. Uma década atrás (e quase na mesma data), Invasores de Cérebros se apresentava no mesmo local em um evento que também contou com a participação das bandas Final Fight, Phobia e Cólera. Punks em grande número tomaram de assalto o local, num evento memorável. Na época o rolê ainda não estava tão dividido como é hoje, sendo que a pessoa era punk ou pilantra e os lixos lambe saco de pilantras ainda estavam se estruturando. Bons tempos. Pois é, uma década depois e com um ar de nostalgia presente, rolou esse evento gratuito contando com a participação de bandas de diferentes estilos, mas sem a mesma quantidade de público e com muita tensão no ar, já que os lambe saco de pilantras se tornaram uma escrota realidade e o Punk encontra-se dividido em grupos que não se entendem. Como não tenho gosto musical eclético, não vi as três primeiras atrações. Ao chegar, quem ainda estava no palco era Skarrapatos K.O, mas como ali perto estava rolando a Bicicultura 2016, fiquei por lá apreciando a competição de bmx. Pouco tempo depois quem subia ao palco era o Escombro HC. Hmmmm, sei lá, apesar do discurso de luta contra o poder, de igualdade entre as pessoas e do lema “hardcore por um mundo mais digno”, essa estética rueira, um tanto quanto macho-core não me agrada por lembrar muito as crews e bandas de bunda moles existentes na cidade, com suas carteiras sempre cheias (como é de praxe pra boyzinho e teteias), postura vida loka de condomínio, alta simpatia a quem não presta e covardia ímpar quando estão em maior número. Manja esse papo furado de “hardcore acima de tudo”, que tolera até aquilo que o estilo inicialmente se propôs a combater? Pois é, é bem por aí que vai o hardcore bundelho de SP. Pode nem ser o caso da banda, mas é difícil desvincular a imagem da mesma dessa molecada bocó (uma rápida bisbilhota no mundo virtual para ver que tá todo mundo junto e misturado). Quanto ao som, não é rápido, com muito peso, grooveado e com algumas passagens mais aceleradas. Encerrando o fest, tivemos Invasores de Cérebros. Semanas antes, num ato de infelicidade de algumas pessoas envolvidas com o Punk, rolou um afago em duas gangues que nada somam ao mundo, criando um tremendo rebosteio no já cambaleante Punk paulistano. Talvez por ingenuidade ou falta de conhecimento sobre o Punk atual, esse afago fez com essas gangues se sentissem no direito de colar nas gigs e que deveriam ser entendidas e aceitas. Como o buraco é mais embaixo e envolve política e proceder, o que seguiu foi uma baita polêmica, culminando com a possibilidade de um grande confronto nesse evento. Mas qual foi a surpresa ao constatarmos que ninguém apareceu, nem os lixos e nem quem corre pelo que é certo, deixando o evento em total tranquilidade. Claro, tinha uns sacos de vacilo que volta e meia dão uma lambidinha no saco da pilantra, mas nada que representasse perigo (apenas vergonha alheia). Até o Forest Gump do rolê estava presente, com aquela pose típica de quem deve no rolê, mas não assume. Bom, focando na apresentação da banda, o clima era festivo, porque além de comemorar uma década de participação naquele evento inicial, também era aniversário do Ariel. Por isso mesmo fizeram uma apresentação energética, repleta de mensagens de rebelião e enaltecendo o Punk que ainda persiste apesar dos problemas. Mandaram sons que não costumam constar no set ou que nunca tocaram para felicidade de quem estava presente. O som bem que tentou atrapalhar, mas não conseguiu. O Centro da cidade representa muito para o Movimento Punk paulistano, porque foi justamente na região que ele tomou corpo e um evento gratuito com uma banda tão representativa quanto Invasores nos faz olhar para o passado, encarar o presente, para questionar o que almejamos para o futuro. Apesar dos problemas, estamos aqui, o Punk é nosso e nenhum pilantra ou pessoa má


intencionada vai tirá-lo de nós. Sabemos quem é quem nas ruas e não vamos permitir que umas poucas pessoas detonem uma história de décadas.

POESIAS SUBVERSIVAS Por Juänito Vida Virtual Hoje todos se conectam

E as dores?

Todos compartilham

Ninguém mais se conecta

Todos participam

Em uma olhada simples e direta

Uma vida on-line Numa rede social

O desabafo é artificial A vida é artificial

Todos compartilham

Eis a pergunta

Uma vida real

Como voltar de uma realidade encarada assim?

E ninguém nem aí?

Como voltar desse mundo virtual?

Que o coração pode partir Que o sorriso pode cair

Criamos dois mecanismos de fugir da nossa verdade

E que a vida assim não pode mais fluir

Um são as redes

Ninguém mais compartilha

Outra é maquiar nosso cotidiano

Abraços, afetos, amores

Dia a dia, ano a ano.

Onde foram os sentidos Repensa Busca o que não tem lugar

As pessoas que passam e não temos percebido

A dúvida explícita no ar

Fazer perguntas a um (eu) doido(a) varrido(a)

As coisas mudam e não tem hora pra parar

Explicar com palavras o que já tenha ido

Repensa o que não foi dito

Repensa, enxerga

Busca a fundo o que não é permitido

O que se desajusta

Aquela frase que não tenha lido

Justamente pode se consertar

Reflex A ponte que nos leva para dentro de si mesmos

Perceber e admirar a gota de cada nascente d’água

É saber ouvir a batida do coração da terra,

Olhando sua queda frágil e macia

Revelar a riqueza verdadeira do nascer de uma manhã fria

Olhar os pássaros que com tanta naturalidade explodem gestos de liberdade

Sendo esquentada pelo vento quente do sol Vem de dentro, é instinto


Não negai as origens caipiras

Domesticação, diga não!!!

Sim, por que não?

Da terra eu vim

Não negai as origens indígenas

O barro soprou a vida de cinzas

Sim, tantos lobos, tantas sussuaranas

Quero fertilizar o solo, nada de desperdício

Já paramos pra pensar que conseguimos até prender seus instintos neles mesmos

Do pó viemos para o pó voltar!

Agropunk Agroecologia é resistência no campo

Plantar para colher

É a simplicidade de quem cultiva o plantio com a vida

Agroecologia sem remédio

Onde nada se perde

A luta contra “ter”

O ciclo se repete

É uma movimento social

E o orgânico se procede

Na qual teme o capital

Agroecologia é plantar no solo com alegria

Já o agropunk que planta

Não dá pra alimentar o mundo assim dizia

É autônomo, livre e horizontal

É pura utopia

Seu patrão é a natureza

O pequeno agricultor que alimenta nossa mesa

E zelar por todas as vidas seu ideal

Sem veneno

Resista agropunk!

Dia após dia

Seja no campo ou na cidade Seu trabalho quem dignifica

Semear a resistência

A alimentação que remete à liberdade

João João sem bandeira

Sua bandeira a liberdade

Desbravando a fronteira

Assim ele disse sem barreira e sem vaidade

O mundo é tão infinito Demarcá-lo é besteira

As divisões que enxergamos É de frente pra trás

Uma linha imaginária

Veja as crianças imaginando além do horizonte

Divide nações

É de dentro pra fora

Que muro é esse?

É assim que se faz

Que separa milhões

Um sábio um dia disse Que a pátria é o mundo



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