Vivência punk n° 9

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A democracia plena nunca foi uma realidade no país e 1964 não é passado, pelo menos não para as populações que se encontram marginalizadas há mais de cinco séculos, desde que o primeiro invasor oriundo do velho continente aportou nessa terra. Vivemos tempos estranhos, com a ventania reacionária soprando forte na terra dxs bananas. Censura, histeria moral baseada em valores religiosos, intolerância, ataques a direitos civis e trabalhistas, repressão a qualquer manifestação discordante da ordem estabelecida, punitivismo, leis que atendem aos interesses de grupos econômicos em detrimento dos interesses da população, poder judiciário partidarizado e contra o povo entre outras tragédias. A escalada autoritária, germinada no mandato petista, parece não ter fim e se quem dizia ser pelo povo a iniciou, então imagina a felicidade de quem é contra o povo, com uma vida de pilhagem incrivelmente facilitada com todas essas leis e jagunços a sua disposição. A canalhada que em boa parte do tempo apoiou o pt em seus anos de governança, hoje, com o partido aniquilado no espectro político, aproveita a oportunidade para fazer uma faxina política na tentativa de extirpar toda a esquerda e pautas progressistas, contando com amplo apoio da mídia corporativa, do empresariado e de uma parcela significativa da população, reafirmando o caráter reacionário de diversas instituições. Em 2013, durante uma manifestação do Movimento Passe Livre na cidade de São Paulo, o embrião da escória direitista deu o ar da graça. Ao verem um grupelho de sem cérebros arrancando bandeiras de partidos e de coletivos, gritando palavras de ordem carregadas de ódio, muita gente entrou em choque, afirmando que o golpe estava por vir e que a democracia começava a ruir. Bom, quem afirmou isso são aquelas pessoas adeptas da ex-querda cirandeira, que conhece todos os problemas que assolam o país, mas estão sempre man tendo distância dos mesmos, estudando e buscando soluções de longe, mas de muito longe. Já para quem vive nos bolsões de pobreza, que luta pelo direito à terra, pelos direitos humanos e não humanos, pela preservação do meio ambiente, que luta por serviços públicos decentes entre outras questões importantes, a democracia sempre foi algo distante, quase uma lenda. A esquerda tida como combativa se tornou ex-querda, sedenta de poder, desejosa de conseguir encontrar a fórmula mágica que permitiria sua perpetuação no comando de tudo e todxs. O outrora partido dos trabalhadores não mediu esforços, jogando no lixo sua história em troca de favores, em conluios, sendo mais do mesmo no jogo político. Para quem acreditava que finalmente chegara o momento da reforma agrária, de políticas ambientais sensatas, da taxação de grandes fortunas, do debate inteligente sobre a descriminalização de entorpecentes, da legalização do aborto, de um estado realmente laico, do serviço militar e voto não obrigatórios, da redução de salários e benefícios de pessoas com cargos políticos entre tantas outras coisas importantes para que a republiqueta fosse um país justo, ficou a ver navios. O que foi dado para a população foi uma falsa sensação de melhor poder aquisitivo, discursos bonitos aos ouvidos, alguns megaeventos e uma pequena redução no nível de pobreza que afeta parte considerável da população. Muito pouco para um partido que sempre prezou pelo falatório radical, que quando esteve na oposição sempre apontou os dedos para os desmandos da classe política e sua costumeira incompetência. Muito pouco foi feito por quem passou tanto tempo correndo atrás do poder e que se vislumbrava como a salvação da nação bovina. De resto, foram as mesmas práticas políticas vigentes há séculos por aqui, baseadas no “toma lá da cá”, atendendo aos interesse de alguns em detrimento dos interesses de muitos. O mais louco de tudo isso é ver, depois de alguns anos, a reviravolta que ocorreu. O empresariado que sempre sorriu fácil para o quatro dedos e para sua sucessora, virou as costas quando percebeu que não conseguiria tudo aquilo que desejava; a massa bovina que acreditou ter acendido socialmente em um passado muito recente e que tanto foi enaltecida em discursos fabricados, também virou às costas, estressad a com a perda de poder aquisitivo e bombardeada com informações duvidosas sobre os governos e escândalos de corrupção, como se essa prática no país tivesse começado com o pt; xs aliadxs, prevendo o tombo que iria acontecer e pensando em como salvar a própria pele, trataram de tentar desvencilharse do partido e assumiram postura de oposição, em uma nítida demonstração de falta de caráter, deixando claro a quase todxs que a política é uma verdadeira imundície. Como diz o dito popular, “um gambá cheira o outro” e isso mostrou ser uma verdade no campo político partidário. O partido dos trabalhadores e parte da esquerda que o apoiou cegamente nesses anos é tão responsável pelo atual caos político quanto a mídia suja ou a oligarquia. Essa maneira viciada de fazer política é que o levou a ser destroçado moralmente e politicamente e, de quebra, levando consigo quase toda a esquerda e qualquer pauta progressista. Sem mágoas, mas esse é um vacilo que vão ter que carregar por muito tempo. Fica o desejo que esse desastre político sirva de lição. É uma oportunidade única para a ex-querda partidária voltar a ser esquerda combativa, se reorganizar, se reencontrar politicamente, entender que a democracia deve ser praticada nas relações com outros grupos e/ou lutadorxs sociais, reaprender sobre as lutas que deve defender, entender que o mundo mudou e que novas formas de luta surgiram e que nem sempre as vias tidas como legais, pacíficas ou partidárias são o melhor caminho, aceitar que a horizontalidade existe e que ela funciona, reconhecer que todas as lutas são importantes e devem ser apoiadas e respeitadas. E, talvez o principal, aceitar que a esquerda é ampla e multifacetada no que se refere a pautas e formas de organização e ação, não ficando restrita a meia dúzia de siglas que representam partidos políticos e suas estruturas hierarquizadas que tentam a todo custo cooptar grupos autônomos ou deslegitimar lutas quando suas siglas não são protagonistas. Já foi a época que a luta era centralizada no partidão e ele era tido como a voz do povo, com algum salvador da pátria no papel principal. A história continua a ser escrita e a “democratura” segue em direção a um regime autoritário. Mas queremos acreditar que existe o contraponto e que a chama insurrecionária cresce em cada pessoa, tornando-se grandes labaredas, que há de se tornar um incêndio descontrolado e rebelde. O amanhã a NÓS pertence.

Agradecimentos: Rodney Silva (Renegados Pelo Sistema), Daniel (Sodanuhka zine), Márcio Crux (Equipe Reduzida), Penha Maria da Silva, Thiago Dutra (zine [DES] União), Raoni (Ataque de Tubarão - desculpa qualquer erro), Jhad (Rusga!), Kledson, Tamires.e as pessoas responsáveis pelas imagens que usamos e não creditamos por não sabermos quem são xs responsáveis. Este zine é dedicado a Santiago Maldonado, Frango (Fogo Cruzado) e Wesley “Bart”, Eduardo “Calopsita”, Sérgio “Rato Punk”, André “Grilo”, Baiano (Baga) , Luiz “Kakusheisha Punx” e André Zim. Que a terra lhes seja breve. “O escravo que mata o senhor , seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa.” Luiz Gama


NATUREZA HUMANA A NATUREZA HUMANA: O NOSSO PENSAR, SENTIR E AGIR QUE NEM SEMPRE TEMOS A CAPACIDADE OU INTERESSE EM COMPREENDER Por Karl Straight As nossas preocupações são como doenças em nosso íntimo, são muito mais difíceis de combater e nos pedem disciplina e vigilância diária para combatê-la. Queremos almofadas, mas oferecemos pedras; desejamos saúde ou remédios que curem nossas doenças, mas oferecemos veneno para que sigam com suas misérias e enfermidades. Tudo isso demonstra a deficiência/ineficiência do que somos e como somos ao mesmo tempo em que mostra o quanto somos equivocados no que diz respeito à natureza humana. É preciso que seja ampliada as condições para evolução do ser humano para que viva em um mundo justo e igualitário, libertando-se dos dogmas de uma sociedade decadente e hipócrita. Pelas ações que você realiza é possível demonstrar e transmitir sua visão de mundo, podendo estar agindo e pensando de modo negativo a respeito de si mesmo e de outras pessoas. Essas circunstâncias, muitas das quais não percebemos, faz com que você sinta-se mais confortável usando uma venda nos olhos, ao invés de assumir responsabilidades. Se você parar para refletir, verá que as pessoas sempre assumem seus papéis na sociedade, independente dos quais são. Exatamente como um jardim pode ser cuidado, o mesmo vale para você e o seu modo de agir e pensar. A cada momento em nossas vidas nos deparamos com situações novas, vivemos emoções diferentes e temos a necessidade de lidar com elas. A capacidade que temos de refletir em nossas atitudes sobre os elementos do ambiente nos tornam diferentes uns dos outros.

SUA VIDA É IMPORTANTE APROVEITAR OS BONS MOMENTOS DA VIDA, POR MAIS SIMPLES QUE SEJAM Por Karl Straight Saiba viver os belos momentos de sua vida, aproveitando os minutos de alegria e sem pressa de novamente mergulhar nos dias e noites agitadas da vida. Tenha prazer na simplicidade de seu repouso físico. Olhe a paisagem ao seu redor, contemple o céu e as estrelas, aprecie os caprichos da mãe natureza, colha em todos os jardins as belas flores da liberdade, respeito, igualdade e outras que sejam importantes. Saiba viver integralmente os belos momentos da vida, usando em todos os seus atos e palavras, carinhos e gentilezas. Plante as sementes da liberdade por onde quer que você passe e não julgue pequena demais sua vida. Há plantas e flores que nascem e crescem nos mais áridos desertos Os bons pensamentos produzem alegria e alimentam a liberdade cada dia mais.

13 DE JUNHO DE 2013: NÃO ESQUECEMOS! ATENDENDO AOS PEDIDOS DE VÁRIOS SETORES (INCLUÍNDO A EX-QUERDA PARTIDÁRIA PELEGA), A MÃO PESADA DO ESTADO ATINGIU COM BRUTALIDADE MANIFESTANTES QUE PARTICIPAVAM DE UM ATO CONTRA O AUMENTO DAS TARIFAS DO TRANSPORTE PÚBLICO NA CIDADE DE SÃO PAULO, MOSTRANDO COMO FUNCIONA A DEMOCRACIA BRASILEIRA Por Treva Só para deixar bem explicadinho, esse texto é apenas o relato do que vi e vivi. Não tem academicismo, não tem firula ou pretensão sociológica nem jornalística, até porque não tenho bagagem para isso. Muito provavelmente você vai achar que é um relato tendencioso, emocionado e que não consegue ser isento e eu entendo, se pá até concordo. Só não vale dizer que é mentiroso, porque tem dezenas de vídeos e textos mostrando o que aconteceu nessa tarde/noite e tem muito em comum com o que está escrito nas próximas linhas. No mais, no meu pequeno mu ndinho punk anárquico não existe como não ser tendencioso quando o assunto é a relação de forças entre lutardorxs sociais e suas demandas x estado e seu projeto autoritário. Sem mais. Era uma quinta-feira e esse era o quarto ato convocado pelo Movimento Passe Livre de São Paulo contra o aumento das tarifas do transporte público. Mesmo com o trabalho incansável da mídia corporativa e de partidos políticos visando criminalizar as manifestações e deslegitimar a pauta e com a sempre presente violência promovida pela corja que usa farda, o número de manifestantes só aumentou desde o primeiro ato, até chegar aos milhares nesta data. Naquele fim de tarde, enquanto seguia rumo ao local de concentração, pude notar a tensão no ar, sendo visível nos semblantes das pessoas que estavam no metrô. A impressão que tive era de que todo mundo tinha muita pressa em estar o mais longe possível de onde o ato pudesse passar,


a fim de evitar os transtornos habituais como o fechamento das estações de metrô (praticada utilizada pela empresa que visa imp edir que manifestantes deixem a região de confronto), bloqueio de ruas e da violência policial, que em casos de grandes manifestaç ões, não faz distinção entre quem participa ou não. Além da tensão, do medo e da pressa que me fez ter certeza do quanto x brasileirx é bunda mole e merecedor de ser achincalhado cotidianamente, os olhares eram incômodos. Parece que parte dxs usuárixs do metrô possuíam um scanner que lhes permitia saber quem eu era, para onde estava indo, o que pensava e o que iria fazer. Alguns desses olhares eram simpáticos, quase um olhar d e apoio; outros indiferentes e, por fim, tinham aqueles que eram de reprovação. Em comum, esses olhares tinham a capacidade de aumentar o desejo de rebelião e o meu desprezo por isso que chamam de sociedade com seus valores e maneira servil de viver. Enquanto seguia no trem lotado, pude observar dezenas de urubus (como são carinhosamente conhecidos xs seguranças do metrô devido a sua fantasia preta) espalhadxs pelas plataformas das estações e, em várias delas, com policiais. Isso me fez perceber que essa manifestação não seria como as outras. O prefeito na época (eleito pelo pt) e o governador (psdbosta) uniram-se para enfrentar as cobranças que vinham das ruas e para isso apoiaram-se em um amplo aparato midiático e policial. O resultado era fácil de imaginar. Quando o metrô para na estação Sé, a mais movimentada da cidade, a quantidade de policiais na plataforma olhando para dentro dos vagões como quem procura por algo é impressionante. O clima de repressão estava lá, na cara de todo mundo. Inclusive ouvi relatos referentes à molecada sofrendo abordagem na plataforma pela suspeita de estarem indo a uma manifestação, o que se foi verídico, fere o direito de ir e vir e a garantia à liberdade de expressão e de protesto. Desço do trem ostentando cara de tonto e sigo desbaratinado entre a multidão, faço a baldeação e logo estou na estação Anhangabaú e assim que as portas se abrem, uma multidão desce eufórica rumo a outro ato. A quantidade de adolescentes era imensa, muitxs provavelmente com 12 ou 13 anos, todxs debutando na arte de escapar da violência policial e aprendendo, da pior maneira possível, que para a classe dominante, democracia é apenas uma palavra bonita. Também pessoas mais velhas, algumas que devem ter lutado nas ruas durante a ditadura e isso era algo gratificante de ver. Toda essa galera aparentava tranquilidade, alegria, cantavam, esboçavam sorrisos, fotografavam e filmavam. Nem imaginavam que esses momentos estavam com os minutos contados e que logo dar iam lugar ao terror. Ao sair da estação, nova surpresa desagradável: uma fileira de policiais com aquele semblante de robô cheir adaço, observava a movimentação. Encontro um parça, reclamamos da fedentina que vinha da fileira de policias e comento sobre ter a sensação de ser “scanneado” pelas pessoas no metrô, sensação essa compartilhada pelo parça. Encontro mais conhecidxs, convers as rápidas que terminam naquele “se cuida!” básico e seguimos rumo ao ato. Pelas ruas da região central, pessoas circulavam apressadamente, veículos buzinavam incessantemente como se isso ajudasse a e scapar do trânsito sempre caótico, o aparato repressivo estava por todos os lados, posicionado e pronto para a brutalidade; no céu, helicópteros da imprensa e da polícia, que iluminava o asfalto, serviam de guia (a caminhada já havia começado e estávamos atrasados) para que achássemos a massa que seguia rumo à Rua da Consolação. Foram poucos minutos de caminhada tranquila, tanto que ainda nem tínhamos chegado ao ato e de uma rua próxima escutamos o bar ulho das primeiras bombas. As pessoas que também seguiam rumo à manifestação paravam assustadas e temendo pelo pior. Do nada, um mar de pessoas desce correndo pela rua, gente caindo, outras já em choque e chorando. Subimos a rua e a confusão é total, com a multidão correndo atabalhoadamente tentando se proteger da chuva de bombas e de balas de borracha. Olho para os lados procurando o parça e vejo um repórter do plim-plim vacilando sozinho com o microfone em mãos, tateando o ar e tropeçando nas pessoas enquanto tenta se afastar da nuvem de gás lacrimogênio. Agradeço em pensamento o velho noel pelo presente antecipado de natal, engato a primeira marcha e quando já iniciava a caminhada rumo a uma voadora no repórter, vejo o parça que estava comigo socorrendo uma senhora e com toda a tristeza do mund o, desisto da voadora e o ajudo a tirar a mulher daquela confusão. Descemos a rua com a mulher, várias pessoas vêm em nossa direção para ajudar, no que a deixamos com uma galera que tinha água e vinagre. Enquanto retornávamos rumo à confusão, foi o momento de vestir aquele agasalho na cor que polícia, políticos, mídia e pelegada em geral odeiam, cobrir o rosto com uma camiseta umedecida em vinagre e seguir para outro enfrentamento. Ao retornar ao local onde o ato parou, era impressionante a quantidade de bombas de efeito moral e gás lacrimogênio lançadas pelos pau mandadxs do estado. Uma nuvem de fumaça e gás pairava no ar, enquanto a multidão dividia-se, parte descendo a rua sentido Minhocão, outra indo para a Praça Roosevelt e a última tentando retornar pelo mesmo caminho e também enfrentando bombas e tiros de bala de borracha. Sigo para onde parte da manifestação encontrava-se parada, tentando algum diálogo com a polícia. A resposta à tentativa de diálogo veio em forma de mais bombas e tiros a esmo, desrespeitando qualquer tratado de segurança com relação ao uso de armas men os letais. Os tiros de balas de borracha eram disparados a curta distância e mirando acima da cintura, resultando em pessoas com ferimentos no rosto e cabeça. A resistência de manifestantes em permanecer frente a frente com a polícia em uma tentativa de manter a continuidade do ato durou pouco. A violência policial fez com essas pessoas também recuassem, dando a deixa para o início do chuvaréu de pedras e garrafas em direção aos lixos fardados. Um bloco negro até que coeso e muito apetitoso garantiu um mínimo de tempo para que as pessoas pudessem recuar. Inclusive, por um momento, a saraivada de pedras e garrafas fez com os policias desse alguns passos para trás. Apesar da gana do bloco negro, f altou molotovs, rojões e mais pessoas dispostas a fazer a polícia recuar de verdade. Sei lá se foram segundos ou minutos, mas a alegria de ver a policia recuar durou pouco, talvez pela chegada de mais vermes ou pelo cansaço dos braços e a dificuldade em respirar, o bloco negro também recuou e acabou se dividindo junto com a multidão. Vou para a Praça Roosevelt, tomada por manifestantes ainda esperançosos de que a violência estatal cessasse, mas isso não aco nteceu. Com a chegada de reforço, a tropa avançou, entrando na praça e dando sequência ao vergonhoso espetáculo de violência. Boa parte das pessoas estava perdida, não sabiam como proceder ou para onde correr. Esse grande bloco de manifestantes dividiu-se em vários, um descendo a Rua Augusta, outro subindo, um tentando escapar pela Consolação e o último (no qual eu estava) seguindo pela Radial Leste/Oeste. Ao passar pela Augusta, olho nos dois sentidos e vejo uma enorme quantidade de giroflex iluminando a rua. Depois fico sabendo que quem tentou usar a Augusta como rota de fuga, principalmente quem subiu a rua rumo à Paulista, foi barbarizadx pela polícia, que naquele momento já contava com a participação da cavalaria, da rota e força tática na repressão. Estou em um grupo inicialmente numeroso que usa para escapar a via que passa embaixo da Rua Augusta. É inevitável par ar o trânsito, algumas


pessoas seguram cartazes com mensagens contrárias ao aumento e começam as discussões entre motoristas e manifestantes. Não sei o que aconteceu porque continuei a caminhar, já que a ideia era chegar até a Avenida Paulista. Pelos celulares notícias chegavam so bre prisões, locais de confronto e do quanto o braço armado do estado usava de violência. Era tanta notícia ruim que muitas pessoas foram desisti ndo pelo caminho, assustadas com tudo o que estava acontecendo. Na moral, nem tiro a razão delas. Enquanto subíamos pelas ruas do bairro do Bixiga e Bela Vista, para minha surpresa, em diversos locais ouvíamos palavras de apoio. Em um boteco simples, um senhor ofereceu água e até cigarros. De resto, apenas celulares filmando a caminhada das janelas das resid ências. A única crítica recebida veio de uma senhora que repetiu o mantra do pedintismo “manifestação tem que ser pacífica”. Com os nervos a for da pele, iniciou-se um bate-boca entre manifestantes e essa senhora, que se garantindo na idade avançada, decidiu “agressivar” verbalmente e acabou recebendo um caminhão de ofensas das mais variadas, além de algumas cusparadas, que muito provavelmente simbolizavam o desprezo de manifestantes para com esse papo de pacifismo. Essa caminhada deve ter durado entre 20 e 30 minutos e ocorreu sem problemas, já que o efetivo policial estava concentrado na área mais central e na Paulista. Conforme nos aproximávamos da Paulista, o número de m anifestantes ia reduzindo. Acho que umas 400/500 pessoas estavam no início e gradativamente foram dispersando devido ao cansaço e medo, até chegar a um número reduzido, talvez umas 100 pessoas. A diferença é que esse pequeno grupo era formado quase que totalmente por pessoas a petitosas e dispostas a chutar a cabeça ou a bunda de policiais. Chegamos a uma rua paralela à Avenida Paulista. Rua arborizada com belos prédios residenciais, cafés, restaurantes e um dos hotéis cinco estrelas mais conhecidos da cidade. Enquanto seguíamos por essa rua, manifestações de repúdio começaram a ecoar vindo das jan elas dos apartamentos de alto padrão. A resposta, inesperada por aquelas pessoas, veio em forma de xingamentos e pedradas. Nesse momen to, o pequeno grupo decidiu promover uma pequena reforma na rua. Foi uma saraivada de pedras nos vidros de guaritas de prédios de luxo, nos carros bacanudos que estavam estacionados e até no totem do hotel chique, que ficou detonado. Novas barricadas foram montadas visan do atrapalhar a circulação de viaturas, enquanto o helicóptero da polícia já iluminava a rua. Foi aí que motocicletas da pm apareceram desviando das barricadas e avançando contra o pequeno grupo. Lixo foi arremessado em direção aos lixos motorizados que não titubearam em sacar suas armas de fogo, atitude básica de quem é covarde e frouxo. O grupo se dispersou, correndo para diversos lados. Eu desci a rua do hotel e como já estava de saco cheio de correr, pulei no jardim e lá fiquei por alguns minutos, observando o vai e vem da polícia, escutando alguns gritos e barulhos de bombas. Minha ideia foi genial, mas a tranquilidade foi embora ao notar uma viatura circulando em baixa velocidade e iluminando a rua com lanternas. Estava sozinho e se fosse pego, com certeza teria problemas. Mas o jardim do hotel estava bem cuidado, com uma cerca viva rob usta que dificultava a visão de quem estava passando, além de eu estar trajando roupas pretas. Senti-me o homem invisível. Depois de alguns minutos saio do jardim. O bom senso me dizia para ir embora, mas a vontade de afrontar foi maior e segui par a a Paulista. O trajeto era curto, apenas dois quarteirões. O cheiro de gás estava espalhado por toda a região, o barulho das sirenes e bombas continuava. Ao chegar próximo à avenida, um pequeno grupo de pessoas que não participavam da manifestação estava parado e sofrendo com o efeito da nuvem de gás lacrimogênio. Dou uma de João sem braço e pergunto por que estão lá e uma pessoa responde dizendo que a polícia está a gredindo qualquer pessoa. Fico cabreiro com a resposta, mas sigo em frente por mais alguns metros e a visão que tive assim q ue cheguei à esquina era desoladora: uma nuvem de gás cobria a avenida, balas de borracha e até latas de gás lacrimogênio espalhadas pelo chão. Viatur as e motocicletas circulavam em alta velocidade nos dois sentidos, dando tiros e arremessando bombas em todas as direções e a cavalaria completava a barbárie, com um cavalo em cima de outro cavalo emporcalhando a avenida com estrume. Tentem imaginar que coisa mais cheirosa estava o l ocal, com o agradável aroma que misturava estrume de cavalo e gás lacrimogênio pairando no ar. Insisto em caminhar pela avenida, mesmo ciente dos riscos. A pulsante avenida, cartão postal de uma São Paulo que não existe, parecia um lugar fantasma, sem vida. O silêncio era cortado apenas pelo barulho das sirenes, das bombas ou dos gr itos de manifestantes ousadxs que conseguiam chegar ao local. Transeuntes estavam acuados nos comércios que xs abrigaram ou em agências bancárias, já que as estações de m etrô foram fechadas, a polícia bloqueou a avenida nos dois sentidos e circular a pé era temeroso. Interessante, a pm paulista alegou que a operação foi visando impedir que manifestantes bloqueassem a Paulista, então ela tomou a dianteira e bloqueou por conta própria e ainda barbarizou quem estava por lá. Conversando com outrxs manifestantes, sou informado que ainda tem gente tentando chegar ao local que seria o término do ato, mesmo com todo o policiamento a dificultar tal ação. Nisso, encontro uma conhecida e, juntamente com sua amiga, decidimos tentar chegar ao l ocal caminhando por uma rua paralela. A ideia foi boa, porque essa rua já está nos Jardins, bairro elegante da região. Lá, as viaturas circulavam em ve locidade reduzida e com a sirene desligada. O que lembrava toda a confusão era o trânsito e o caminhar apresado das pessoas. Tudo estava bem, quando vemos uns 50 metros a frente uma viatura entrando na rua. Os lixos nos viram, ficaram olhando enquanto caminhávamos tentando aparentar tranquilidade e, claro, zero participação na manifestação, o que deve ter dado certo e a viatura foi embora sem nos importunar. Depois de alguns minutos, retornamos à Paulista, próximo ao local onde seria o encerramento do ato. A fedentina continuava, assim como bombas e sirenes. Ficamos ali parados ao lado de um grupo de pessoas bem vestidas e que nada tinham a ver com a manifestação. Enquanto a cavalaria passava toda posuda exibindo um cavalo em cima de outro e ambos a cagarem por onde passavam, os aplausos começaram. Entreolhamo-nos estarrecidos, sem entender como alguém podia aplaudir essa escória chamada pm. Mas o susto inicial deu lugar a alegria ao escutar as palavras de desgravo destinadas à corporação. As palmas eram irônicas e começaram tímidas, mas logo encorparam. Assobios e apupos tamb ém se fizeram presentes e até alguns xingamentos entre dentes (ninguém seria idiota de xingar em alto e bom som depois de presenciar o massacre promovido pelas ratazanas cinzentas). E aqui abro um parêntese: a quase totalidade da brutalidade foi promovida pela pm, mas também ouve ajuda da polícia civil e da guarda civil metropolitana. Desde o início das manifestações, prefeito e governador deram declarações tentando deslegitimar a reivindicação, ameaçando aumentar a repressão e cobrando rapidez do judiciário para punir “baderneirxs”. O res ultado foi município e estado unindo suas forças repressivas e trabalhando muito bem em conjunto. No caso do governador, ele é um bosta reacionário que nam ora discretamente à direita, mas o prefeito poderia ter disfarçado um pouco, já que era de partido de ex-querda. No fim, como diz a letra de “Inimigos por Natureza” do Seek Terror, “.... não há lugar para vocês... a juventude sem futuro não tem nada a perder... nossas botas m arcarão nosso ódio em suas cabeças... nem direita nem esquerda: inimigos por natureza!” Voltando ao que interessa, depois de alguns minutos por lá, vimos que seria impossível para qualquer grupo tentar encerrar o ato ali com todo aquele aparato policial raivoso e decidimos descer a Rua da Consolação rumo ao Centro, onde talvez tivesse estações abertas. Pela rua a movimentação repressiva continuava intensa, com um sobe e desce de viaturas encarando as pessoas que estavam circulando. No trajeto


encontramos manifestantes que eram avisadxs sobre a situação da Paulista, uma avenida sitiada. Chegamos de boa ao centro da cidade, ainda com barricadas, fogo e muita destruição. O policiamento continua pesado, mas conseguimos passar sem problemas, nos despedimos e cada pessoa segue seu caminho. Depois de mais de quatro horas de correia, finalmente adentro a estação de metrô. Urubus que pareciam pombos com o peito estufado pagavam de autoridade, fitando as pessoas e até batendo boca com outras. Caminho pelos corredores rumo à plataforma e percebo os olhares, mas dessa vez foram amigáveis, já que eram de outras pessoas que também estiveram na manifestação. As trocas de olhares entre as pessoas pareciam ser em busca de apoio, talvez uma tentativa de entender que democracia é essa que brutaliza quem dis corda do estado. Na claridade da plataforma, vejo que estou sujo e cheirando a vinagre. Sem pudor, olho em volta e vejo pessoas em situação semelhante, igual e até pior q ue a minha. Vi pessoas com roupas rasgadas, sujas de sangue, com um pé descalço. Em pensamento digo “bem-vindxs a democracia à brasileira!” Vinte minutos depois, finalmente chego ao meu destino. Antes de sair do vagão, um adolescente que também estivera passando por apuros, naquela tarde/noite faz um sinal de positivo quando passo por ele para sair do vagão. Retribuo o gesto, saio feliz por estar a alguns poucos minutos de casa. Aí, como eu gosto de procurar sarna para me coçar, lembrei que naquela noite haveria coleta de lixo. Depois de tudo, eu ainda pensando em montar barricadas no bairro só pelo prazer de tumultuar. Mas ao chegar à escada rolante, minha ideia foi frustrada ao ver luzes vermelhas piscando. Que merda!!! Longe de onde foi o ato, parada bem em frente a uma estação que nem em horário de pico tem m ovimento, tinha um carro da polícia. Ao sair da estação, já pouco me lixando com o mundo, encaro com ar de desdém os gambés que retribuem a encarada. Desço a rua tranquilamente, tentando disfarçar olho para trás e vejo que eles continuam a me observar. Ando mais uns bons me tros e quando a distância é razoável, aproveito o fato de a rua ser contramão para eles e grito a plenos pulmões: meganhas!!!! Nessa hora, nem Usain Bolt seria páreo para minha velocidade. Gasto a energia que não tenho nessa corrida e logo estou na segurança do cafof o. Assim que entro em casa, vejo minha progenitora com cara de quem comeu algo estragado acompanhando o noticiário da guerra que muitxs acreditavam que o Bra$il estivesse livre. Porque a ação da polícia foi uma operação de guerra, de caça a inimigxs, ainda que essxs inimigxs sejam pessoas que pagam os salários dessxs passa-fome. Ela diz que algumas pessoas ligaram me procurando, incluindo familiares reaças que provavelmente estavam interessados em saber se dessa vez a polícia tinha dado um jeito na minha pessoa. Recuso o convite materno para acompanhar a falácia midiática e vou dar sinal de vida para quem estava preocupadx comigo e procurar saber se xs amigxs estão bem, se alguém rodou ou está ferido. Felizmente, todo mundo está bem. Nas horas subsequentes ao ato, denúncias pipocavam na mídia corporativa, na independente e nas redes sociais. A violação de direitos constitucionais foi uma constante, com relatos de transeuntes na região da Paulista sendo agredidxs, uso de gás lacrimogênio vencido desde 2010, policial danificando viatura para acusar manifestantes, detenções antes mesmo de o ato começar, cerca de 240 pessoas detidas e 100 feridxs (incluindo jornalistas da mídia corporativa, sendo que três foram atingidos por balas de borracha na face), jornalist as sendo detidos e agredidos. O caso mais grave ocorreu com o fotógrafo Sérgio Silva, atingido no olho por uma bala de borracha, sendo que posteriormente veio a perder a visão. Só para constar, ele moveu uma ação contra o estado pedindo uma indenização, que foi negada pelo tribunal de (in) justiça de São Paulo. Despois dessa manifestação, a opinião mídia e da classe política mudou completamente, o que resultou na mudança da opinião pú blica. Questionamentos sobre os excessos promovidos pela jagunçada e apoio a pauta do MPL se tornaram comuns poucas horas após o encerramento do quarto ato. Não demorou para que a gestão municipal e estadual cancelasse o aumento, dizendo atender ao clamor popular. Só que não! A sequência de manifestações e o substancial aumento de participantes, a violência policial, o baile que o comando da pm levou ao não saber como lidar com a organização descentralizada, o despreparo do poder público em compreender o que é a democracia, o fortalecimento do balck bloc entre outras coisas, levaram a um rápido desgaste político que não era interessante para nenhum dos dois vermes políticos, que vislumbravam candidaturas em eleições futuras, por isso mudaram de ideia e aceitaram cancelar o aumento. Depois disso, muita coisa mudou p ara pior, mas isso não é assunto para esse texto meia boca. Essa noite marcou uma ruptura no processo democrático, com o estado deixando claro que a democracia só é permitida e válida p ara aquelxs que estão acima. Já para xs que estão abaixo, sobra a servidão e resignação. Caso ousem questionar e lutar por direitos, o estado usará a força para acabar com o princípio de insurgência. Os mecanismos de repressão foram aprimorados e o braço armado do estado ganhou novos equipamentos, aprendeu novas técnicas e recebeu carta branca para abusar da força quando bem entender. Do lado de cá da barricada ainda persiste a ideia de manifestação pacífica, caminhadas com cantorias e pulinhos, no máximo uma desobedienciazinha civil, como se isso fosse capaz de fazer estremecer a estrutura de poder. Não que essas táticas não devam ser usadas, muito pelo contrário. Mas acreditar que apenas elas podem ser usadas é fortalecer o estado e seu monopólio no uso da violência. Assim como ocorreu do lado de lá da barrica da, do lado de cá também deve haver aprendizado de novas técnicas de luta e aprimoramento das antigas, para serem usadas conforme a necessidade de cada momento e lembrando que autodefesa não é violência. A violência ocorrida nessa noite com o aval da gestão municipal e estadual, contou com o apoio incondicional da gestão federal, que na época era do pt. Sim, o partido que se diz dxs trabalhadorxs, que se vê como o representante da esquerda, foi conivente com todos os excessos promovidos pelas forças de segurança pública em todo o país, inclusive oferecendo apoio se necessário. A única preocupação era que a onda de manifestações não arranhasse a imagem do partido nem da presidente, duas grandes e fedidas bostas. Acredito que essa noite tenha marcado profundamente a vida de muitas pessoas. Uma parcela significativa da população, sobretudo jovens que acreditavam viver em uma democracia e que foi para as ruas exercer um direito garantido na Constituição, descobriu que a cart a magna nada mais é do que um amontoado de ideias que normalmente não são levadas em conta, que a democracia ainda é jovem e frágil, que a classe política é um lamaçal que cuida apenas dos próprios interesses e o pior, que 1964 ainda não terminou. Ter acesso à internet, escolher que filme assistir, aonde ir, qual música escutar ou apertar teclas para escolher meliantes para cargos políticos não se traduz em democracia. No mais, fica a lembrança de um muro pichado que vi tempos depois onde estava escrito “- amor + molotov no choque”. É bem por aí.


GRITOS DE AGONIA – UMA HISTÓRIA DO MOVIMENTO PUNK HARDCORE EM BELÉM DO PARÁ AOS FALARMOS SOBRE BELÉM NOSSA IGNORÂNCIA NOS REMETE A FLORESTA AMAZÔNICA, AÇAÍ, ALGUMA FESTA RELIGIOSA OU RITIMOS MUSICAIS CONSIDERADOS EXÓTICOS POR PARTE DA INTELECTUALIDADE. MAS TEM MUITA COISA ACONTECENDO POR LÁ, INCLUSIVE NO PUNK. É SOBRE OS 35 ANOS DE EXISTÊNCIA DO PUNK NA CIDADE QUE TROCAMOS UMA IDEIA COM MÁRCIO CRUX DA EQUIPE REDUZIDA, A RESPONSÁVEL PELO DOCUMENTÁRIO QUE TRAZ À TONA ESSA HISTÓRIA DE RESISTÊNCIA Por Treva VP – Olá pessoal! Começando com a pergunta básica, quando surgiu e quem são as pessoas envolvidas com a Equipe Reduzida? MC - A Equipe Reduzida começou no curso de Cinema da UFPa, um grupo de seis amigos que se juntaram para produzir as próprias ideias no campo do audiovisual. São seis pessoas de diferentes idades e com experiências de vidas bastante singulares, mas que curiosamente o cinema aproximou e tornou amigos. Cada um tem seu campo de atuação preferido dentro do cinema, mas desempenha uma ou mais funções na equipe quando estamos em produção, por ser uma coisa ainda meio que recente a guerrilha ainda dita as regras no grupo, mas buscar uma profissionalização e um espaço no mercado de Belém é o objetivo de todos. VP – Como surgiu a ideia do documentário? MC - Realizar um documentário sobre o movimento punk hardcore da cidade é um desejo antigo, circulando dentro da cena ao longo dos anos percebi a carência de registros, principalmente dos anos 80 e 90 sobre o assunto. Muito dessa história está apenas na memória de seus agentes, bandas que não gravaram nenhuma musica, shows que marcaram a cidade sem nenhum tipo de registro. Só a partir dos anos 2000 a coisa começou a ficar melhor com o acesso mais fácil a mídias e a tecnologia, são pessoas dedicando a sua vida a algo ao longo de t rês décadas e meia e sem receber nada. A cena punk hardcore de Belém é muito influente dentro da cultura local, mas pouco valorizada, o documentário vem nessa ideia de, além de fazer um resgate histórico e homenagear quem está ai batalhando há 35 anos, mostrar dentro dessa relação com a cidade de Belém, esse enclave no meio da selva amazônica cheia de provincianismos que o punk hardcore também faz parte de sua cultur a local e merece ser valorizada como tal. Outras cenas ao redor do Brasil já produziam seus registros documentais e Belém estava f icando pra traz, não é a primeira tentativa de realizar um doc da cena, pelo menos outras duas ou três já ocorreram, mas infelizmente por algum motivo não vingaram. Achamos que agora, até pelo momento político que o país atravessa, que conhecer um pouco sobre punk hardcore e suas possibilidades é essencial para todos. VP – O nome Gritos de Agonia seria referência a uma coletânea lançada nos anos 90 com bandas da cidade? MC - Isso, o documentário faz referência a Demo Tape Gritos de Agonia e Desespero com as bandas Delinquentes, Gestapo, Contraste Social e Anomalia. Buscamos sempre resgatar a memória do movimento dentro de todas as ações que envolvem o projeto, é uma forma de val orizar e preservar essa memória. VP – Registrar 35 anos de história demanda pesquisa, tempo e muita paciência. Como funciona essa parte da produção? MC - O Processo de pesquisa começou na própria experiência de vida observando essa cena ao longo de 20 anos, na academia a pesquis a tem um modelo a ser seguido que, pela carência de material audiovisual dessa manifestação, acaba ficando tudo dentro da oralidade. Dividimos em quatro momentos de importância e relevância esses 35 anos e nesses quatro momentos escolhemos as pessoas mais importantes par a conversar. Paralelo a essas pessoas, ouvimos outras pessoas da cultura e da sociedade local e nacional para compreender como eles enquanto sociedade vê esse movimento de Belém. São 35 anos, é um período grande como muita gente atuando, produzindo ou confrontando essas ideias. Por ser um documentário de guerrilha feito sem grana a coisa se torna um pouco mais lenta, mas nos adaptamos a isso também pra conseguir extrair o máximo de qualidade audiovisual pro projeto. VP – Como tem sido a receptividade ao doc por parte das pessoas envolvidas com o Punk/HC na cidade? MC - O Projeto só existe por que as pessoas da cena, punks ou não, apoiaram a causa. Não se consegue fazer nada sozinho, e o apoio de muitas pessoas como o Sandro-k (ex-baixista da Baby Loyds), Jayme Katarro do Delinquentes ou o Beto Fares da Rádio Cultura. São pessoas que vivem o movimento e a cultura local como todo 24 horas por dia e um projeto como esse cativa. É a história de vida dessas pessoas e dessa cidade, há uma expectativa que é normal, isso é bom, as pessoas se dedicam mais. VP - Qual a previsão de lançamento? Existe a intenção de divulgá-lo em mostras independentes? MC - A previsão de finalização do doc é em Abril, logo no começo de maio devemos fazer as sessões de estreia pra convidados e logo em seguida a aberta ao público. A ideia é circular com ele o máximo que for possível, desde festivais mais fechados do audiovisual até mostras mais libertárias. Queremos que as pessoas conheçam essa história, é pra isso que estamos fazendo. VP – Além da campanha de financiamento coletivo realizada, contam com mais algum apoio ou arcam com tudo? MC - Depois do financiamento coletivo muita gente veio perguntar se ainda poderia contribuir com o projeto, nós passamos um número de uma conta e quem se disponibiliza a ajudar pode contribuir por lá. De resto é a grana do próprio bolso e com alguns apoios, por exemplo. Montamos uma banda tributo que vai tocar algumas versões de clássicos do punk local, a banda ensaia no estúdio do Jayme Katarro que en trou de parceria conosco. Não há grana envolvida ai, mas o apoio é fundamental para que um dos projetos se realize. Todo mundo se ajuda quando dá. VP – Além de resgatar a história do rolê na cidade, esse registro também serve para colocar Belém no mapa da produção contracultur al que vem sendo criada e compartilhada há décadas e sempre à margem da cultura oficial e até mesmo do underground. Seria uma maneira de “reescrever” a história, inserindo fatos que o discurso oficial faz questão de ignorar?


MC - Uma das teses que permeia o doc é a da “Cidade Invisível” do Professor Flávio Nassar da UFPa, ele fala justamente disso, dessa cidade que é a cidade real, mas que a cidade oficial faz questão de encobrir. A ideia de que o punk também é uma cultura local é absurda quando pensamos em carimbó ou outros gêneros regionais. Não é uma questão de conflito cultural com o regional, mas simplesmente de ignorar mesmo o jovem que se manifesta através do punk hardcore. Não sei se reescrever a história é o termo correto, mas acho que mostrar o ponto de vista dessa galera que está num movimento de resistência e contracultura há 35 anos fará muito bem pra cidade e quem sabe não sirva de inspiração pra outras pesquisas e trabalhos com outros gêneros marginalizados na cidade como o Metal, o RAP, o Reggae, o Skate, o movimento Drag en tre tantos outros. VP – Atrelada ao documentário, existe uma banda que faz releituras de sons importantes da cena paraense. Conte-nos um pouco sobre isso. MC - O projeto Gritos de Agonia não acaba no documentário, temos ideias que passam pela valorização, resgate e debate sobre esse m ovimento e sua importância em Belém. A Banda vem nesse rumo, um resgate histórico de músicas das bandas locais ao longo de 35 anos com o forma de valorização da cena local. Ela é composta por pessoas que fazem parte do movimento punk em diferentes épocas. A idei a é fazer um registro tanto para um possível futuro CD quanto colocar nos extras do DVD na forma de clips, cada um dos sons escolhidos. Quando se f ala em punk se pensa inicialmente em comportamento e música, é impossível dissociar isso, mesmo o punk sendo algo muito maior. Em Belém o movimento existe por causa das bandas, as pessoas se conhecem por causa das bandas, não homenagear essas bandas seria um erro de nossa parte. Tentamos abarcar o máximo de estilo ao longo das décadas, não dá pra fechar com todo mundo, mas esperamos que as músicas que selecionamos representem bem o que é feito na cidade. VP – A Equipe Reduzida é formada por pessoas que vivem o audiovisual. No que isso facilitou e complicou no desenrolar das ideias para o projeto? MC - Sem dúvidas isso só facilita, trabalhar com quem compreende as suas ideias e que veste a camisa dentro de um projeto só ajuda. O documentário é um dos projetos da Equipe Reduzida, esse ano estamos planejando outras coisas também, e em todos os casos todos estão sempre prontos a participar. Essa é a vantagem de ter um grupo, muita coisa que teria que ser desenrolada a gente já tem na mão e ec onomiza um bom tempo dentro do processo criativo e de produção. VP – Uma das dificuldades para quem se aventura a produzir documentários musicais independentes no Brasil é a falta de registros audiovisuais da metade da década de 90 para trás. Como lidaram com essa dificuldade? MC - Realmente esse é dos maiores entraves dentro da pesquisa, a escassez de material é absurda. Diferente d e cenas como a de São Paulo que tem um vasto acervo audiovisual nos anos 80 e 90, aqui no norte a coisa é mais complicada. Suprimos essa carência com tudo qu e conseguimos de acervo pessoal, fotos, recortes de jornais, cartazes de show, gravações ao vivo de shows, tudo que cai na nossa mão serve pra ilustrar uma época. Mas o principal mesmo fica por conta da oralidade, das pessoas contarem as suas versões da história, é por ai que a ge nte já sabia que seria o caminho, e por ser um documentário histórico clássico é até normal que siga esse caminho. VP – Nos últimos anos, com a popularização da web, ficou muito mais fácil conhecer bandas, fanzines, filmes e qualquer outra produ ção cultural que esteja sendo criada em qualquer canto do mundo. Mesmo assim, muito pouco é comentado sobre o Punk/HC de Belém e de outras cidades do norte brasileiro, com o “noticiário” sendo dominado pelo que acontece em algumas cidades do sudeste e do su l. Na opinião de vocês, porque isso ainda acontece? MC - Estamos geograficamente distante do centro midiático do País e isso dificulta qualquer aventura de banda local fora de Belém. Na verdade ir de uma cidade pra outra aqui é longe e caro. Nos anos 80 a cena de Belém teve um contato com as bandas da Finlândia, o Nordes te também é um parceiro muito forte, mas o que acaba com Belém é essa dificuldade de intercâmbio entre as bandas de diferentes cidades. Muita banda nasce e faz sua história aqui dentro e é isso, não sai da cidade ou se sai é aqui pela região, não é simples pensar: “Amanhã vamos fazer um show em São Luiz, na outra semana em Natal, se der no outro mês a gente vai em São Paulo”, isso não existe, sair de Belém é caro demais e a coisa acaba ficando presa aqui dentro. Belém não é a ilha de Lost que ninguém sabe que existe, mas essa dificuldade em sair pra outros espaços e trocar essa ideia acaba impedindo muita coisa de acontecer por aqui dentro do movimento punk. Nos anos 2000 a coisa deu uma m elhorada e mais bandas aportaram na cidade, mas continua sendo tão difícil como há 30 anos atrás. Isso falando de música que o principal expoente do movimento, outras manifestações às vezes são tão diminutas no sentido da exposição que acabam passando batido dentro da própria cidade. Ai já uma culpa da cidade que não quer que essas pessoas se manifestem. O Punk em São Paulo já foi um problema e hoje faz parte da cultura local, lá o punk apresenta programa de rádio, programa de tv, tem restaurante, lojinha e bem visto dentro de uma cadeia produtiva cultural, aqui ainda estamos caminhando para isso. VP – Como é criar e produzir cultura de maneira independente e, em especial, audiovisual, em Belém do Pará? MC - O audiovisual no Brasil é independente de certa forma, tirando alguns polos como Recife, Rio Grande do Sul e Brasília, tá todo mundo tendo se estabilizar e criar uma cadeia produtiva dentro da sua cidade. De certa forma fazer cinema passa pelo “faça você mesm o” do punk, tem que escrever edital, fazer freela, andar com o projeto de baixo do braço vendendo ele de porta em porta, não é muito diferente de outros lugares. Em Belém, nos últimos quinze anos, iniciou-se o processo de construção desse mercado local que ainda é muito tímido, com a criação do curso de cinema isso tende a se fortalecer. Tem uma geração nova e contestadora vindo aí que não está a fim de falar de carimbó ou de coisas que outras pessoas já falaram, são pessoas que querem retratar problemas urbanos, problemas da sua realidade social e o cinema de Belém vai crescer muito se seguir esse gancho. Os olhos do mundo ainda estão voltados para a Amazônia de certa forma, somos uma das portas de e ntrada desse mundo desconhecido. Se as boas ideias forem aproveitadas a cidade pode sim se tornar um polo audiovisual dentro do Norte do país, o que seria muito bom pra região. VP – Quais dicas dariam para quem tem a intenção de realizar um documentário musical de maneira independente? MC - A base de tudo é a organização. Eu acredito que o primeiro passo é conhecer o seu tema e se interessar de verdade por ele. Eu vivo o movimento punk da minha cidade há vinte anos e conheço seus dilemas e problemas e isso dá certa base pra falar sobre ele. Se não houver essa


proximidade com o tema, não tem jeito. É se organizar e pesquisar pra conseguir delimitar as nuance de estilo ou movimento a ser explorad o. Trocar ideias com as pessoas, conversar, conhecer sua cidade, frequentar os locais culturais que a cidade te oferece, criar um círculo que te ajude a desenvolver a tua ideia e que acredite naquilo que está sendo proposto, isso é fundamental pra um projeto existir, é muito difícil propor algo conhecendo apenas a própria rua de casa, tem que se aventurar por ai. O resto é trabalho, organização e trabalho. Se você tem preguiça não faça cinema, arrume um outro emprego qualquer hehehehe. VP – Galera, muito obrigado pela atenção e ficamos na expectativa de ver o trampo finalizado e rodando pelas diversas quebradas do país. Gostariam de acrescentar algo? MC - Agradecemos pelo espaço, gostaríamos de agradecer as pessoas que colaboraram no Catarse dentro do financiamento coletivo. A t odos que doaram material de arquivo pra gente, aos parceiros Jayme Katarro do Fábrika Stúdio, a Keila Monteir o do Coisa de Ninguém e a Regina Silva e ao Beto Fares da Rádio Cultura, O Saddy lá de Macapá com a Corujas Lab, o Felipe Pamplona no Núcleo de Produção Digital que n os ajudam em diversas fases do projeto. O Projeto é uma parceria da Equipe Reduzida com a Abunai Produções do grande amigo Sandro-k que vem dando suporte na produção junto com a gente, ao Zé Lukas, Felipe Martins, Planária, Matheus e o Ricardo da banda S.F.A.N.E. por acr editarem na ideia. São essas pessoas que tornaram possível esse projeto, e claro, as pessoas que anonimamente estão nessa batalha ao longo desses 35 anos, valeu por não desistirem das suas ideias! https://pt-br.facebook.com/docgritosdeagonia/

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RUSGA! TUDO COMEÇOU NOS ANOS 80 COM A BRIGADADO ÓDIO. DE LÁ PARA CÁ MUITA BANDA SURGIU COMO ROT, HINFAMY, DEADMOCRACY, STOMACHAL CORROSION, VIOLENTA DIZIMAÇÃO ENTRE TANTAS OUTRAS, MOSTRANDO QUE A REPUBLIQUETA TERCEIRO MUNDISTA È ALTAMENTE CAPACITADA PARA PRODUZIR ANTIMÚSICA. O ESTILO, MESMO MUITAS VEZES INCOMPREENDIDO, ATRAVESSOU AS DÉCADAS E CONTINUA A PRODUZIR BANDAS BRUTAIS. NESSE PAPO COM O GUITARRISTA JHAD FALAMOS SOBRE BARULHO, POLÍTICA, MEIO AMBIENTE E EM COMO É VIVER O UNDERGROUND Por Treva VP – Começando com a pergunta básica, quando surgiu a banda, formação e influências? Jhad: Em primazia, agradeço brutalmente o espaço neste artefato zinístico alcunhado Vivência Punk. Então, o Rusga! surgiu em 2011 c omo um duo, remanescente da finada banda de hardcore crossover thrash AVC, comigo (guitarra/vocal) e com o Ricardo Morais (bateria). Logo, no mesmo ano, entrou o Hidalgo (Boneco de Macumba) no vocal, o qual saiu da banda em 2014. A partir deste momento a banda seguiu com a formação original até o início de 2015, que foi quando o Virgílio Gatto (ex-Terrorgasmo/Curitiba-PR) assumiu os vocais. A título de curiosidade, nós conhecíamos o Virgílio apenas pela internet quando fizemos o convite para ele integrar os vocais do Rusga!, já que nós somos da interiorana Barra do Garças-MT e ele, na época, morava na capital mato-grossense Cuiabá, a cerca de 500km de distância. Atualmente ele está situado em Tangará da Serra-MT, a cerca de 800km. As influências da banda sempre foram diversas e, com a entrada do Virgílio, ficaram ainda mais diversificadas, já que ele veio da escola goregrind, que era o tipo de som que ele fazia com a finada banda dele. Eu e o Ricardo, ascendemos juntos em questão de sonoridade, então erigimos influências que partem do punk rock (Garotos Podres, Ramones, Misfits, etc.), perpassam o hardcore (Black Flag, Bad Brains, DFC, Ratos de Porão, etc.) e findam no grind (Facada, Hutt, Magrudergrind, Wormrot, etc.), que é a nossa proposta essencial. VP – Quais os materiais já lançados? Jhad: Todos os materiais do Rusga! foram lançados com a etiqueta Pikillerec, selo D.I.Y. que eu criei para lançá-los, exceto 3 compilações que participamos, em que uma foi lançada pelo finado selo Obsolete Productions do grande amigo Anderson Gordo de Itapevi-SP, outra foi um release coletivo entre as bandas participantes e, por última, a outra eu mesmo organizei, a qual foi lançada, por enquanto, apenas na Itália e no Nepal. Até o momento a discografia do Rusga! conta com os seguintes materiais: - Rusga! – Demo S/T (2013) / CD-R e Tape - Rusga!/Scümclã – Barulho Caseiro (2016) / Split Tape - Fuck Your Hope Compilation (2016) / Tape - Rusga!/Agamenon Project (2016) – In Grind We Noise / Split Tape - Rusga!/Money Hater – Polución Tóxica (2016) / Split Tape e mini CD-R - Horrendous Grindcore: Freak Compilation (2017) / CD - Rusga!/Noise – Ao Vivo no Ensaio Aberto: Porrada na Orelha 7 (2017) / Split Tape - 6 Way to Grindzone: Grindcore Compilation (2017) / CD-R - Rusga!/Jäpürä Noise Project – 2 Way to Grind Power Trio (2017) / Split Mini CD-R - Rusga!/Cachorro da Duença – S/T (2017) / SplitMini CDR Além dos materiais físicos, também participamos de algumas compilações digitais, com destaque para a “Latin America Noise Vol . 1” organizada pelo selo Brutal Basarabia da Moldávia (Europa). Para esse ano de 2018, vai sair um single sound que gravamos em 2017, o qual está previsto para sair numa espécie de Split/Single em LP 7 com nossos amigos grindeiros da banda goianiense Leech Eclipse. Não obstante, ainda temos em planos uma compilação em CD do Rusga! que reunirá todos os sons que saíram em splits em 2016 e 2017, além da participação de mais duas compilações nacionais, o “Brazilian Tribute To Nasum” (com 2 covers) e o volume 2 da compilação “Horrendous Grindcore: Freak Compilaton” (com 4 sons) organizada pelo camarada Glésio Torres (Old Grindered Days Records/Petrolina-PE). P.S. O Split com Jäpürä Noise Project foi produzido e lançado pelo Pikillerec em parceria com o Aragrind Ricardistr o (Aragarças-GO) e Nöise Mesmo Records (Campo Grande-MS). O Split com Cachorro da Duença foi produzido e lançado pelo selo Resistência Underground Distro & Prod. (Caruaru-PE) em parceria com o Pikillerec, Libertinus Records (Caruaru)-PE e Vômito de Gato Distro (Natal-RN). VP – Muitas bandas de grindcore têm como característica a produção quase que ininterrupta de sons, resultando em lançamentos nos diversos formatos existentes. A que vocês atribuem isso?


Jhad: Isso é verdade! Penso que essa questão está atrelada a um complexo de fatores, sobretudo, em relação à proposta sonora e ideo lógica. O Grind se debruça em diversas vertentes, desta forma, em síntese temos Grind Old School, Noise Grind, Death Grind, Crust Grind, Blac k Grind, Punk Grind, Thrash Grind, Hardcore Grind, Gore Grind, Mince Grind, Fastcore Grind, Powerviolence Grind, Noisecore, etc. P ara mim, a razão de ser do Grind, está na despreocupação total com fórmulas de composição, isto é, não existe errado ou certo, assim, naturalment e vamos na contramão do padronizado, pois o Grind é uma sonoridade instintiva, intuitiva, questões as quais, facilitam as composições, já que, no caso do Rusga!, não somos músicos, mas apenas um power trio aficionado por barulho. Essa questão de lançamentos consecutivas, num cur to espaço de tempo e em diferentes formatos, para mim, é mais evidente em bandas de grind com essência old school e/ou inclinações noisecore, como por exemplo, a japonesa Sete Star Sept e Napal, que é uma máquina de produção, essa banda não para, em que, além de lançamentos e m mini CD, CD, CD-R, Tape, LP (5, 7, 10 e 12 polegadas), tem lançamento também em Cartridge e Diskette, lembra dos cartuchos de vídeo game e disquetes de computador? Então! Orra, tô ficando velho! Hahaha... Outro dia, mostrei um CD para um adolescente de 14 anos, e ele não conseguiu abrir a capa do CD. Isso foi intrigante!

VP – Mesmo não sendo fácil para ouvidos destreinados entender o que está sendo vociferado durante as músicas, Rusga! optou por cantar em português. O idioma usado para passar a mensagem faz alguma diferença? E qual a temática abordada nas letras? Jhad: Então, cantar em português não foi opção, já que é nosso idioma nativo e somos monolíngues. Particularmente, minha preferênci a são bandas que vociferam suas ideias em português, assim, se alguma banda compõe em português e pretende passar alguma mensagem, é mais provável que seja efetiva no seu propósito comigo. Sobre as temáticas abordadas nas letras do Rusga!, berramos sobre as leviandades e infâmias da existência humana que constituem suas ruínas internas, catalisadas por atitudes e sentimentos como a arrogância, rancor, inveja, vingança e toda devassidão que faz jus a tendência para a negatividade que, quase sempre, se mostra ser um estado perene no ser humano, que levam o ser a decadência espiritual e o direciona a uma vida de desprazeres, dissabores e mazelas.

VP – Rusga! é de Barra do Graças/MT. Esse “isolamento” de alguma maneira influencia no som e letras? Jhad: Eu diria que não haja uma influência expressiva, até porque, acho complexo falar em isolamento ou mesmo em “isolamento” em te mpos de globalização, à qual é resultada do período tecno-científico-informacional em que vivemos. Não obstante e, desta forma, além da internet que nos conecta virtualmente com outros lugares do país e do globo em apenas um click, nós temos conexões in locus com outras localidades do Brasil. Eu morei no Distrito Federal brasileiro onde se encontra nossa capital nacional por cerca de 2 anos, entre 2008 e 2010, onde, além de inúmeras gigs de bandas brasilienses, cheguei a sacar shows de bandas de outros estados e países. O vocalista Virgílio é natural de São Paulo capital, morou em Presidente Prudente-SP, Curitiba-PR, Cuiabá-MT e, atualmente, mora em Tangará da Serra-MT, além de ter tocando nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul com sua antiga banda. O batera Ricardo, por conta de uma doença cardiovascular congênita, leva uma vida pendular Barra do Garças-MT/São Paulo-SP desde que nasceu, já que tem um acompanhamento perene no Instituto do Coração das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

VP – Imagino que para muitas pessoas o underground de Barra do Garças e região seja completamente desconhecido. Poderiam falar um pouco sobre o que tem rolado na cidade e região, indicando algumas bandas e publicações para quem tiver interesse em conhecer um pouco da produção de outras localidades? Jhad: Atualmente, o underground sonoro barra-garcense se encontra com pouca expressão, com média de 1 evento por ano. Nós somos os únicos da cidade que fazemos grindcore, com o Rusga! e com outros projetos paralelos entre nós mesmos. No momento, o Rusga! não está ensaiando ou fazendo show, por conta de uma fratura no braço que nosso baterista sofreu. Entre 2000 e 2007, Barra do Garças -MT, teve uma cena Black Metal bem ativa, em que rolou eventos com a presença de bandas forasteiras de Black Metal e Death Metal, de outras localidades de Mato Grosso, de Goiás, do Distrito Federal e de São Paulo. Aqui surgiu a primeira banda de Black Metal do estado, trata-se do WinterMoon, que apesar de inativa atualmente, é bem conhecida nacional e internacionalmente. Além de tocar no Rusga! e dirigir o selo Pikillerec, eu também edito zines com foco na cena local, estadual e regional, são eles: Berro Clandestino Zine; A Mosh In Brazil (Fanzine Colet ivo) e Aragrind Rotten Sound Zine. Este último, especificamente, trata-se do resultado de 2 anos de pesquisa sobre o submundo sonoro de Barra do Garças-MT. Quem se interessar por algum zine, é só entrar em contato através do e-mail: rusgagrind@gmail.com . VP – É impossível falar sobre a região Centro-Oeste e não mencionar o Pantanal e o Cerrado e todos os problemas que envolvem esses biomas. Sendo moradores da região, o que acham do embate entre o ecológico e o econômico quando o assunto é a preservação ou a exploração racional dos recursos? Jhad: Como cidadão mato-grossense e, sobretudo, como professor de Geografia, essa é uma questão muito pertinente sobre Mato Grosso e que, naturalmente, muito me preocupa. Você usou uma palavra muito contundente para descrever o que anda ocorrendo com o Cerrado e Pantanal, pois a palavra embate descreve bem a relação entre o fator econômico e o natural (recursos naturais), já que, o que há, indub itavelmente, é um verdadeiro choque, em que a natureza está sendo arruinada freneticamente com a expansão da fronteira agrícola (potencializada pela Lei de Biossegurança), questão a qual, é bem evidenciada numa simples viagem pelo estado ou simples observação de imagens de satélit es – olhem pelo Google Earth, onde os terrenos observados além das margens das rodovias estão assoladas por desertos verdes (soja, milho , algodão, etc.) ou pastos desérticos (bovinos). Não tem volta, ecossistemas foram e estão sendo devastados e, dentro deste cont exto, animais silvestres e vegetação nativa são varridos, isso sem falar do massacre ao pequeno produtor rural e aos povos indígenas, que são tripudiados, tendo suas terras invadidas e destruídas pelo Capital. Exploração racional dos recursos é uma falácia apropriada pelo agronegócio, pois não há como ser racional quando se trata de latifúndios monocultores que produzem em escala exacerbada mirando o mercado externo com a mera f inalidade de lucro, ao passo que quem, verdadeiramente, alimenta as mesas do nosso país é a agricultura familiar, que responde com cerca de 70% dos alimentos consumidos. Mato Grosso é o maior produtor brasileiro de soja, o que parece bom, mas o que pouca gente sabe, é que o agronegócio pouco contribui com a receita orçamentária do estado (veja Lei Kandir/isenção de ICMS), já que, para este ramo, existe uma poderosa bancada parlamentar de nível estadual e federal, em que são criados mecanismos legais que são usados como rota de fuga dos tributos, bem como evasão da legislação ambiental. Como exemplo de parlamentar da bancada agrícola, lembremos da figura Maggi (Blairo), um dos maiores produtores de soja do mundo, que foi de Governador de Mato Grosso a senador federal e, agora, é o ministro da Agricultura. Veja só, como lutar contra isso? Só com uma bancada parlamentar de proteção ambiental tão forte quanto! Em síntese, o Agronegócio (setor primário) junto com a In dústria (setor secundário), são os setores que menos geram empregos, que menos pagam impostos, que mais destroem o meio ambient e e pouco respondem por isso e, como cereja do bolo, são os que mais lucram! O agronegócio goza! A indústria graceja! E a natureza ou é ameaçada ou sangra ou jaz sepultada! Complicado! Preocupante! Não?! VP – Mesmo com a facilidade em obter informações que a internet trouxe, muita gente besta ainda acha que o underground existe apenas em meia dúzia de cidades, não tendo interesse em conhecer outras cenas e pessoas. Isso pode ser consider ado bairrismo ou é a


preguiça que veio com a comodidade virtual? Jhad: Vejo essa questão como algo mais complexo do que parece. Nosso país é muito extenso, territorialmente falando e, dentro disso, falar em underground brasileiro é falar em um universo insondável. É muita banda boa existente, surgindo e muita coisa acontecendo, apesar de não parecer, é difícil acompanhar tudo o que tem, o que surge e acontece, sobretudo, de forma qualitativa. Isso, sem falar da influência internacional, que é uma constante nos países subdesenvolvidos como o Brasil, onde há um certo saudosismo as bandas gringas, em detrito das bandas nacionais. Não compartilho disso, pois, atualmente, bandas que cantam em nosso idioma nativo, me chamam mais a atenção. Nem tento levantar hipóteses do que ocorre com outras pessoas, o que me importa é que eu procuro saber o que anda acontecendo no underground das demais localidades brasileiras, da américa latina e do mundo, para tanto, faço uso da web para isso, na procura de saber o que rola e como acontece alí e acolá, principalmente, no que se refere ao que ocorre de grind, moeção, barulho! Além disso, também faço contato via web, cor reio eletrônico, troco cartas e faço escambo de materiais com bandas e selos de todas as regiões do Brasil: Centro-Oeste (MS; GO; DF); Norte (AM; AP); Nordeste (CE; PE; BA); Sul (RS, SC, PR); Sudeste (MG; SP; RJ; ES). Os zines que eu edito e os materiais do Rusga! que lancei estão presentes em todas as regiões brasileiras. Só não consegui enviar material para fora do país, por enquanto.

VP – O fato do Bra$il ser um país com dimensão continental dificulta a realização de turnês para uma banda independente. Como lidar com isso? Já rolou apresentação em outro estado? Jhad: Verdade, a dimensão continental brasileira é um entrave. A dimensão dentro de Mato Grosso é um problema. No caso do Rusga!, t anto em apresentações dentro do nosso estado quanto fora, lidamos da seguinte maneira: viajamos por conta própria, ou seja, c om recursos próprios. Chegamos até mesmo, além de bancar nossas passagens, ajudar a custear um evento no qual tocamos em outro estado. A questão é essa, é bem por aí, não há muito o que maquinar, é partir para o FAÇA VOCÊ MESMO ou morrer esperando! Tocamos 5 vezes fora de nossa cidade, sendo 3 vezes em Mato Grosso (Cuiabá e Sinop) e 2 vezes em Goiás (Goiânia e Anápolis), em que, apenas uma vez recebemos ajuda de custo para as passagens.

VP – O grindcore parece continuar a ser um estilo razoavelmente incompreendido por aqui. Para parte dxs punks é metal demais e para parte dxs headbangers é punk demais, fazendo com que o pessoal muitas vezes opte por ignorá-lo. Qual seria o espaço do grindcore em ambas as cenas? Jhad: Realmente, a incompreensão faz parte do contexto do Grind, como diria nosso vocalista Virgílio: Ou você ama ou odeia. Na realidade, para mim o Grindcore tem um espaço próprio, assim como o Punk Rock, o Hardcore, o Crustcore e o Metal e suas vertentes tem seus es paços e públicos específicos. E, geralmente, o espaço do grind é um lugar de confluências, onde vários estilos se encontram. Grindcore é isso, não é para qualquer um, mas ao mesmo tempo é para todos, desde que realmente goste de barulho ou ao menos esteja disposto a compreender a mensagem da moeção.

VP – O underground é cheio de problemas e, por vezes, desanimador. Imagino que para uma banda residente fora dos centros urbanos mais tradicionais, essa batalha seja muito mais difícil. O que motiva o pessoal a insistir na banda? Jhad: Então, para mim, o underground é uma rota de fuga das aflições diárias, dentro do qual me alivio através da interação e suporte ao submundo sonoro via selo Pikillerec, por meio da edição de zines ou através do fazer grindcore com o Rusga! e com bandas paralelas, berrando e moendo os substratos e os ecos das angústias cotidianas. O underground é uma espécie de dimensão onde acontece a sessão descarrego do massacre rotineiro! Hahaha...

VP – Desde o ano passado, o fantasma da censura voltou com mais força a assombrar toda forma de arte. Diversos criminosos políticos, seja na esfera municipal, estadual ou federal, tentam impor leis, algumas mais explícitas e outras nem tanto, que visam estab elecer formas de censura. O que fazer em um momento tão crítico para a liberdade artística? Jhad: O medo é um excelente motivo para limitar a criatividade. Temos que compreender que as leis defendem a liberdade. Arte é expr essão, não é subversão, ou talvez seja, depende do ponto de vista, mas se for ou não, qual o problema? O que se tem no momento é um mero terrorismo, ameaça, opressão infundada, potencializada, sobretudo, pelos veículos midiáticos sensacionalistas. Geralmente, quem sofre com a censura, são as manifestações artísticas e culturais que lidam com patrocinadores. Que temem o cancelamento das entradas dos fomentos. Aí é uma questão de escolha. No underground, onde impera a ética do faça você mesmo, penso que não haja complexidade em lidar com censura. Voc ê faz e pronto, se tiver que responder, que seja.

VP – Nesse ano teremos eleição para diversos cargos da politicagem verde e amarela. Ainda que tenhamos o entendimento que o sufrágio universal como única possibilidade democrática de mudanças é uma farsa e que existe política além do voto, o que voc ês esperam dessa eleição? Jhad: No momento, minha posição é de incredulidade. Sobre as eleições de 2018, o que temos é um vindouro obscuro, nublado, não dá p ara saber o que vai acontecer. Minha preocupação é se realmente teremos eleição! Será que teremos mais um golpe?

VP – Com quais bandas vocês gostariam de dividir o palco? Jhad: Eita, pensa numa lista extensa. Pra mim, as primordiais, seriam as bandas que estabelecemos contato através de splits, compil ações e por meio das redes sociais: Skarros e Gorempire (Cuiabá-MT), RxDxF (Sinop-MT), What I Want, Agamenon Project, Terror Revolucionário e Seconds Of Noise (Brasília-DF), Jäpürä Noise Project (Campo Grande-MS), Cachorro da Duença (Caruaru-PE), Lepra (Recife-PE), Leech Eclipse e Ressonância Mórfica (Goiânia-GO), Lascados e Drunk Experience (Anápolis-GO), A Vala Comum (Formosa-GO), Baga (Rio de Janeiro-RJ), Herege (Iúna-ES), Mata Borrão (Belo Horizonte-MG), Sengaya (São José-SC), Desgraceria (Maringá-PR), Chubasa! (Curitiba-PR), Plague Rages, N.O.I.A. e Xico Picadinho (São Paulo-SP), Violent Illussion e Noise (São Carlos-SP), SxFxC (Lima-Peru), Badak Milita (Indonésia), Wakk Thuu (Nepal)...


VP – O espaço é de vocês. E muito obrigado pelo papo. Jhad: Nós que agradecemos. Vida longa ao Vivência Punk! Quem tiver afim de trocar uma ideia a mais é só fazer contato através do e-mail: rusgagrind@gmail.com . Tamo junto! Grind Abraço!

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ATAQUE DE TUBARÃO EM UMA REGIÃO MAIS CONHECIDA POR PRODUZIR MÚSICA SERTANEJA, O PUNK TAMBÉM SE FAZ PRESENTE RESISTINDO, EXISTINDO, INDEPENDENTE, SEM PERDER A ÉTICA E A POSTURA COMBATIVA Por Hannah, Treva e com revisão especial feita por Raoni O Paraná é sempre lembrado por suas belas paisagens naturais, por ter uma capital que é tida como modelo de urbanismo, pela qualidade da terra vermelha que é ótima para a agricultura, por produzir muita música sertaneja de FM e, pasmem, por ter gente que acredit a não ter havido escravidão por lá e isso diz muito sobre o conservadorismo presente na região. Ainda que em uma rápida olhada o estado possa parecer monocultural graças à música sertaneja que parece dominar tudo, isso não condiz com a realidade. E o norte paranaense representa muito bem essa situação. É o berço de diversas duplas, cantores e cantoras do estilo e com shows rolando aos montes, mas a região também possui uma ampla cena independente que vai do hip hop ao metal, passando pela surf mu sic, psychobilly, indie , punk etc. A prova da efervescência musical da região está diversidade de bandas e estilos, nos festivais, eventos e em espaços que resistem bravamente em cidades como Londrina, Arapongas, Paraíso do Norte, Maringá e Jandaia do Sul. E é justamente em Maringá que surge o Ataque de Tubarão (só para constar, a cidade está distante do litoral). Criada em 2010, tinha na formação Francisco (guitarra e vocal), Raoni (baixo e vocal) e Guilherme Morais (bateria). No início a ideia era se divertir cantando sobre filmes que os rapazes curtiam, tudo emoldurado por um som rápido com alguma influência de surf music.. Em 2011 a banda lança seu primeiro registro, “EP ‘11”. As letras, apesar de críticas, ainda tinham um ar de tiração de sarro. A banda segue nos rolês, se apresentando em diversos lugares da região e em muitos casos, com bandas e artistas de estilos completamente diferentes. Nesse período, Guilherme deixa a banda e em seu lugar entra Iuri. Após três anos e vários rolês, tendo a chance de conhecer outras realidades e tendo contato com as diversas lutas sociais que permeiam (ou deveriam) nosso existir, lançam “Ataque de Tubarão”, mais bem produzido e mostrando um amadurecimento nas letras, focado no p olítico e social, tratando de temas incômodos para a sociedade, unindo inteligência e ironia. Na boa, a pessoa tem que ser foda para condensar uma ideia batuta em uma letra tendo 30, 50 ou 75 segundos de música para explanar a real. E já que as letras estão tratando de situações pesad as, o som também passou por uma mudança, tornando-se mais rápido e caótico, um powerviolence com um quê de grind, mas mantendo algo de praiano em alguns riffs, O CD saiu em uma tiragem inicial de apenas 22 cópias, sendo que algum tempo depois mais 18 foram feitas (fora mais alg umas feitas pelo Velho Rabugento Distro & Zine). Ainda em 2014, a banda participa da coletânea “Compilation Vol. 2” organizada pelo Noisecore Chann el, ao lado de diversas bagaceiras do mundo tipo Teething, Rusco, Excess, Interiora entre outras. Nesse período rola uma mudança na formação com a entrada de Ariel Vieira no baixo, que permanece na banda até o ano seguinte, permitindo que Raoni se concentrasse apenas nos vocais. Em 2015 participam da coletânea ‘”Noise From Hell-Compilation Vol. 12”, novamente dividindo o lançamento com bandas de diversos lugares do mundo, entre elas Perfume de Cera, Ransom Call, Zilzalaha, Karrak entre outras e do 4 way split “Turbia Triple Frontera”, lançado em cassete e que conta com a participação das bandas Sarcoma de Kaposi, Brigada King Kong e Talacatus. Inclusive foi nesse split que rolou a única gravação com a participação do Ariel Vieira na música ‘Floripondio’, um cover da Talacatus. Para surpresa geral, no finzinho de 2015 anunciam que estarão de férias por tempo indeterminado devido à mudança de cidade de dois integrantes e o quanto isso dificultaria a manutenção das atividades do Ataque. Antes da pausa estava previsto a gravação de alguns sons para lançamento de um 3 way split com Catholic Youth (atual Damn Youth) e Kapitalistik Dëth e uma apresentação de despedida. Logo no início de 2016 acontece a gig de despedida que contou com a participação das bandas Comsequência, Desgraceira, Distan äsia, Proletas, Brian Oblivion e seus Raios Catódicos e Draw the Line. Ufa! Com clima de festa e sem espaço para tristeza, o rolê contou com a participação de Pablo (vocal do DCH) cantando “Pesadelo”, som de sua própria banda. Para felicidade de muita gente, rolaram diversos registros fotográficos e audiovisuais do rolê e que acabaram por resultar no mini documentário “Bocudo, Agressivo, Rápido”, trampo feito pelo Andye Iore. Ainda tem outro vídeo programado para sair, esse com as filmagens feitas por um amigo da banda, o Álvaro Sasazaki. Inclusive tem dois vídeos já disponibilizados no Youtube. Pouco mais de um ano após o início das férias, a banda avisa sobre o seu próximo lançamento, “Fita Preta”. Para melhorar aind a mais, depois de alguns meses surge notícias de uma mini turnê em Santa Catarina e Paraná que, infelizmente, acabou não rolando devido a um problema de saúde com o batera Iuri. Mais alguns meses de silêncio que repentinamente é quebrado com a disponibilização de “Fita Preta” n o bandcamp da banda, que reúne os sons que deveriam ter saído no 3 way split com Catholic Youth e Kapilalistik Deth (que obviamente não rolou) e uns sons ao vivo captados pelo Álvaro Sasazaki na gig de despedida (só por curiosidade, esses sons eram para ter saído em outro 3 way, dessa vez com DCH e Pode Pá, mas as bandas acabaram). E lindxs, que parada brutal! É o Punk do jeito que deveria ser sempre, questionando, criticando sem meias palavras. Numa época em que é comum vermos o pessoal “dasantinga e dasnova” defecando com os dedos em rede social, bandas can tando sobre situações que na realidade não se importam e ver que a politização do Punk é tida por muita gente como desnecessária ou artigo de luxo, esse lançamento foi um sopro de vida, que juntamente com outras tantas paradas criadas e compartilhadas pelas quebradas do país, mostra que


o Punk pode continuar combativo. Para 2018 e para os anos vindouros fica a expectativa de que o Ataque de Tubarão faça algumas apresentações esporádicas, já q ue a banda faz parte de uma importante renovação do Punk , principalmente aquele com forte pegada política, sendo um dos antídotos para evitar que o mesmo caia na mesmice e que a falta de coerência seja uma regra e não a exceção. Ficamos na torcida. https://ataquedetubarao.bandcamp.com/ https://www.facebook.com/AtaqueDeTubarao/ https://www.youtube.com/channel/UCcpUpa9szZCmcvu4Ysq1IRA

RESENHAS GIGS Por Treva - Treva & Tamires* MAU SANGUE, RASTILHO, DEATH BY STARVATION, AHNA, DEAF KIDS – 01/10/2017 – MORFEUS CLUB – SÃO PAULO/SP Após duas semanas, 17 apresentações que passaram por BSB, GO, SP, MG, RJ, SC, RS e PR, chega ao fim a turnê da banda canadens e Ahna. Esse trampo monstro foi organizado pela Grind Your Mind Records, provando mais uma vez que o faça você mesmx continua sendo o caminho a ser seguido e que ficar em rede social chorando falta de apoio é bem a mais, já que basicamente o Punk nunca teve apoio. Ainda sob efeito da frustração por ter perdido Active Minds na semana anterior, fui afogar as lágrimas nesse rolê. Antevendo algum atraso, decidi alimentar minha preguiça dominical e chegar depois do horário marcado para início do barulho. Mas para minha surpresa, mesmo com meu providencial atraso, a parada ainda não tinha começado. Domingão, início de mês e grana curta, mas isso não impediu que uma galera em boa quantidade colasse no rolê. Depois de um em baço, a primeira banda a pisar no palco foi a novata Mau Sangue. Unindo influências de punk, metal, post-punk e sei lá mais o que, ao vivo a banda soa muito pesada, bem metal e com letras focadas no feminismo, na luta contra a homofobia e afins, com a guitarrista/vocalista Karine sempre mandando uma ideia entre os sons. O destaque ficou para “Corpos Abjetos”, que trata sobre a transfobia (assunto pouco debatido entre libertárixs) e me fez lembrar algumas pessoas ditas antifascistas, que dizem não ser homofóbicas, mas que destilam transfobia em rede social e muita gente faz de conta que não vê em nome da boa vizinhança. Sacomé, a pessoa até pode sair do rolê lixo, mas o rolê lixo nunca sairá da pessoa. Vergonha! Na sequência outra banda razoavelmente nova, Rastilho. Putz, que bagulho foda! A banda reúne pessoas que já estiveram/estão envolvidas em outros projetos foderosos, o que já é meio caminho andado para que esse seja bacana. Manja aquele crustpunk sem firula, que dá vontade de aumentar o volume até o18 para infernizar a vizinhança batedora de panela? É por aí que a coisa vai. M as não é só isso, tem as letras. Tá, eu sei que é difícil entender o que as pessoas estão cantando ao vivo, mas quando alguém decide trocar uma ideia e falar sobre do qu e se trata a letra, muda tudo. Você nunca esteve num rolê que tenha tido uma troca de ideias entre os sons? Não esquenta, você não é a única pessoa. Isso caiu em desuso, bandas escrevem letras no piloto automático e cantam sobre sentimentos, vivências e ações que elas não mais acredi tam (se é que um dia acreditaram). Imaginei xs punks adeptos do zé ruelismo (não notei se estavam presentes) escutando os comentários feitos pela vocalista Elaine e torcendo para o mundo acabar ou para abrir um buraco no chão para se jogarem. A exemplo da Mau Sangue, Rastilho é o tipo de banda que veio para incomodar esse “punk” chulézento que se faz muito presente de uns anos para cá. Um baita cheiro de enxofre toma conta do lugar, indicando que a Death by Starvation já estava na área. Nunca tinha visto a banda e a crueza sonora realmente impressiona. Uma avalanche de black metal pouco chegado a firulas, alternando rapidez e partes desaceleradas, tudo com um peso descomunal e aquele clima 666 que tanta gente curte, incluindo punks. Em um passado não muito distante, quando uma banda gringa vinha fazer um rolê na r epubliqueta gerava interesse, mesmo que fosse desconhecida. O pessoal queria ver bandas ao vivo, conhecer outros sons e pessoas, mas agora os tempos são outros e muita gente sai de casa apenas se tiver show do Ramones, Sex Pistols ou The Clash por 400 golpes. Entendo que muitas coisas ruins (distância, horários, tretas etc) afastam as pessoas das gigs, mas nem quando tem algo honesto esse pessoal larga a rede social e sai de casa. Enfim, mesmo des conhecida de muita gente, Ahna fez um rolê bacana pelo país, mostrando seu death influenciado pelo crust (ou seria crust influenciado pelo death) em diversas localidades. Ao vivo o som é bem metal, talvez até um pouco genérico, com destaque para os sons que são cantados pela bateris ta/vocalista e que lembraram Sacrilege. Apesar de todo mundo parado (também foi assim nas bandas anteriores), a galera estava curtindo a barulheira. Durante a apresentação da Ahna, parte do pessoal começou a sair fora devido ao horário. Terminado o som dxs gringxs, decido f azer a mesma coisa e seguir de volta ao lar e fico sem ver Deaf Kids. O foda desses atrasos é que sempre a última banda sai prejudicada e qu em cola fica sem ver alguma banda. Atrasos parecem ter se tornado algo normal, mas não são e isso também é um dos motivos que soma para fazer muita gente desistir de colar nas gigs. Mesmo com o atraso, o rolê como um todo foi bacana. Colou uma galera legal, material diverso e com preço para todos os bolsos , bandas novas unindo som foda e senso crítico aguçado e banda gringa para o pessoal conhecer. É tudo que curtimos e que faz um domingo qualquer se tornar especial.


MEMÓRIAL DO HOLOCAUSTO – 15/11/2017 – MEMORIAL DA IMIGRAÇÃO JUDAICA E DO HOLOCAUSTO – SÃO PAULO/SP São Paulo é a 10ª cidade com a maior comunidade judaica no mundo e a segunda na América Latina, atrás apenas de Buenos Aires. Assim como outras comunidades, influenciou culturalmente, politicamente e economicamente a cidade, para o bem e para o mal. Sua pr esença na terra do pau brasil remonta de séculos, com xs primeirxs migrantes chegando poucos anos depois do saqueador pedrinho cabral. Inaugurado no dia 12/11, o Memorial do Holocausto é uma exposição permanente que fica no Memorial da Imigração Judaica, um prédio com três andares, misto de centro cultural e religioso, onde surgiu nos anos de 1910 a primeira sinagoga da comunidade no estado de Sã o Paulo. Por aí é possível imaginar o tanto de histórias que o lugar tem. E antes que alguém pergunte, só vi o Memorial do Holocausto, porque eu e Dona Encosto chegamos em cima da hora e o local fecha às 17h00min. Então, bora ver o que estava mais interessando no momento. Em um país onde investir em educação de qualidade nunca foi prioridade da corja política e com uma mídia corporativa que atende apenas aos interesses das quadrilhas que se alternam no poder e nada informam, é fácil imaginar que muita gente nunca tenha ouvido falar no holocausto. E foi justamente por isso que a comunidade decidiu criar o memorial, para que evitar que tamanha tragédia caísse no esquecimento. Pode parecer bizarro, mas muita gente não sabe do que se trata o holocausto, como começou e no que resultou. Mesmo com a tão celebrada tec nologia, a ignorância ainda se faz presente, com a web sendo resumida a bate papos e curtidas. Por mais que já tenha assistido a diversos documentários e lido sobre o assunto, ao ver a entrada do Memorial o ar foi embora. Uma sensação estranha, pesada, sem explicação. Fico alguns segundos fitando a entrada e logo percebo uma garota sentada no chão aos prantos. Olho ao redor e vejo semblantes sérios, tensos. Por ser feriado e novidade na cidade, o local estava cheio, rolando algum incômodo para que fosse possível ler tudo ou olhar os detalhes. Mas nada que atrapalhasse o rolê cultural. O memorial, mesmo não sendo grande, é muito bem organizado. Reúne diversos textos explicativos, reprodução de imagens/locais e de situações e exibição de vídeo, enquanto ao fundo uma música melancólica serve como trilha sonora. Tudo está em ordem cronológica, facilitando para que qualquer pessoa leiga no assunto entenda o que aconteceu. Na saída, diversos folhetos com títulos do tipo “O que você sentiu” ou “Oque deseja para o futuro” entre outros, estavam à disposição de quem desejasse deixar uma mensagem. Neste dia, havia um rabino acompanhando xs visitantes e fornecendo explicações sobre cada uma das partes do memorial, intercalando com histórias sobre a tragédia. Ao término, o rabino disse para as pessoas presentes algo como “é necessário informar as pessoas sobre o que aconteceu e confrontar, mesmo que agressivamente, quem ousa negar o ocorrido.” Olhei para Dona Encosto com aquele sorriso de canto como quem diz “tá vendo, ele falou que é pra descer a madeira nos lixos”. E já que a ideia é evitar que um fato histórico tão triste caia no esquecimento e confrontar quem ousar negá-lo, também estamos aqui para lembrar a tragédia palestina. Lembrar-se de uma e esquecer ou naturalizar a outra não é ético, já vimos no que pode resultar esse tipo de atitude. Em tempos de ascensão da direita fedorenta, com ameaças de censura, fundamentalismo evangélico, leis restritivas, preconceitos sendo naturalizados e golpes, a inauguração do memorial veio em boa hora, sendo um importante equipamento cultural e educacional neste momento e lembrando à todxs, principalmente a própria comunidade judaica, sua postura esquerdista que esteve presente em momentos difíc eis da história brasileira e em diversos outros países. Vladimir Herzog agradece. Para quem acha que o excesso de eventos apenas com bandas se tornou um tanto quanto vazio devido ao contexto político atual e tem procurado outros rolês (e mais instrutivos) para fazer, essa é uma boa opção. Além do Memorial, vale um rolê pelo bairro do Bom Retiro que possui diversos equipamentos culturais, observar xs moradorxs , a mistura étnica e aproveitar para comer algo típico em um dos inúmeros bares e restaurantes do bairro. 14ª MARCHA DA CONSCIÊNCIA NEGRA – 20/11/2017 – SÃO PAULO/SP Ano após ano, a carne mais barata do mercado continua a ser a carne negra. Sábia Elza Soares, que cantou como ninguém essa nossa realidade. E a cada ano, a marcha parece ser mais desesperadora frente ao extermínio e encarceramento em massa da população negra, princ ipalmente a jovem, sem que isso venha a gerar indignação na sociedade, sem apoio dxs intelectuais brancxs, sem que nada mude, independente de quem esteja no poder. Como bem disse uma militante, o poder é nosso inimigo, seja de esquerda ou direita. E como o poder é nosso inimigo, esse ano foi treta. Desde o bostejamento virtual da escória direitista, passando por negras e negros midiáticos (ou não) que em algum momento de suas medíocres existências perderam a capacidade de racionar, a marcha foi alvo de ataques. Talvez o mais notório tenha sido perpetrado pelo prefeito da cidade, aquele robozinho aspirante a presidente da republiqueta e que tem semblan te de quem está sofrendo com disfunção erétil. Doriana, mala que é, tentou atrapalhar a marcha querendo proibir que ela tivesse início na Avenida Paulista e com presença de carro de som, em frente ao MASP, usando como justificativa um termo de conduta costurado pelo ministério público (aquele pessoal engomadinho que passou a representar os interesses do estado e da elite em boa parte do tempo) que permite apenas três eventos na avenida durante o ano (Parada LGBT, São Silvestre e Réveillon). Nisso, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) não enviou representantes para as reuniões prévias, que são preparatórias para o evento e a prefeitura ameaçou multar em quase 6.000 golpes a organização da marcha. Fora a ameaça de multa, o aparato da “puliça militá” era dos grandes, com a tropa ostentando aquela cara que mistura sede de sangue com abestalhamento. Mas o povo preto já está acostumado com a pm a infernizar a vida e com a política que nunca chega até quem precisa e peitou o banana da prefeitura e a jagunçada que só sabe obedecer. Mas antes da marcha, uma rápida passada no Festival Feira Preta, que dessa vez foi gratuito. Para quem não faz ideia do que é, essa feira é um encontro de empreendedores negrxs, com muita moda, culinária, literatura, artesanato, debates e música. Se for possível deixar o radicalismo de lado, podemos enxergar essa feira como um evento político, uma mostra não estereotipada do que a comunidade negra vem fazendo além do futebol ou música. Claro, olhando ao redor e de maneira crítica fica a sensação de que tudo não passa de uma ode ao capitalis mo e um desejo de ser/estar inseridx nessa máquina de moer pessoas. Se o sistema capitalista é uma realidade e é o desejo consciente ou inconsciente da grande maioria das pessoas, incluindo a população negra (ainda que esse mesmo sistema seja o principal responsável por toda a tragéd ia que envolve nosso povo há séculos), não sou eu que vou roubar a brisa das pessoas. A mim, cabe torcer para que essxs negrxs tenham uma relação mais saudável com tudo o que envolve o capitalismo, desde a relação entre empregadorx e empregadx até o momento de aproveitar os lucros, numa relação pautada pelo respeito ao próximo e sempre lembrando o que esse sistema fez ao nosso povo, para assim não repetir o erro com outras


pessoas. Outra coisa: bacana a Feira Preta ser gratuita, com atividades em mais pontos da cidade e durando três semanas, mas o fato de ter evento no mesmo dia da marcha e ainda ter apresentações musicais gratuitas (tinha até Afrika Bambaataa, mas que não se apres entou) ajuda a diluir a marcha e isso o próprio estado já vem tentando fazer a algum tempo. Acredito que jamais foi a intenção da organizaç ão da Feira Preta, mas é a real e seria legal rever isso, tentar chegar a um consenso que fosse bom para todo mundo. Depois da feira, bora seguir para a marcha. Tendo como lema “Contra o Racismo e o Genocídio: por um Projeto Político de Vida para o Povo Preto”, um pouco antes de começar a caminhada rolaram muitos discursos de lutadorxs sociais, artistas, apresentações improvisadas de rap e muita garoa. E a parada foi linda! É emocionante ver a negrada reivindicando direitos, não tendo vergonha de seu fenótipo que é sistematicamente ignorado quando o assunto é beleza, sem se intimidar pelo olhar sanguinário da ratazana cinzenta que sempre está à espreita. Pelo menos uma vez ao ano, a São Paulo que deu certo ao olhar do senso comum, a São Paulo cartão postal com seus prédios modernos e pose de primeiro mundo também é nossa! E lá fomos nós, com garoa e vento frio, mas com muito calor humano. Uma pluralidade de entidades da sociedade civil e de coletivos presentes, incluindo alguns extremamente pelegos e outros que ficaram conhecidos pela sua bundamolice durante e depois das Jornadas de Junho/2013. Sério, essa molecada bem nascida, bem criada e bem alimentada que paga de esquerda e fica nas manifestações fazendo batuque e cantando musiquinhas contra a polícia é muito chata. Canta contra a polícia, mas quando a primeira bomba explode, recolhem suas faixas, dão as mãozinhas e saem correndo. Provavelmente muita gente dirá que a luta pelo reestabelecimento da democracia (se é que aquilo que existia antes do golpe pode ser chamado de democracia) envolve a participação de diversos grupos, mas que é osso a turar a esquerda pelega e partidária isso é! Sacomé, em época de estado de exceção o discurso é sempre o de união, ainda que seja com quem não presta. Claro, nem tudo são flores na marcha. Se 54% da população é negra (segundo dados do IBGE), pergunto onde estão essas pessoas? Na marcha é que não estavam. Entendo que a pobreza infelizmente tem cor e isso justifica a ausência de muita gente. Mas isso por si só não é o suficiente para explicar o porquê de não ter mais pessoas. Acho que nessa equação podemos colocar a apatia como fator principal, algo que atinge a população em geral e a mantém inerte. Outra coisa que gera um incômodo (e isso é um comentário extremamente pessoal) é a ausê ncia de punks. Sim, aquela galera que ama dizer ser politizada, antirracista, libertária e por aí vai, esteve sumida nessa marcha. Tinha algumas poucas pessoas (sempre as mesmas), mas em um rolê até que numeroso, ramelaram na atitude. Sei lá, talvez o fato de não ter chapação ou quebradeira tenha sido fator desanimador para muita gente; talvez estivessem em casa fazendo militância virtual ou em algum som. Sacomé, o que está escrito em nossas roupas, o que é cantado em letras, o que está escrito em zines ou o que falamos não é necessariamente o que fazemos no cotidiano e esse abismo entre teoria e prática explica e muito o porquê de tantas pessoas vazarem do Punk. Vivemos tempos sombrios, com a liberdade escapando como areia entre os dedos e só o fato de alguém dizer que é punk não faz disso uma luta. Não adianta admirar o pess oal das antigas que peitou a ditadura, não adianta pagar pau para as ações diretas que acontecem na gringa e depois compartilhar vídeo e notícia na rede social favorita, porque isso até criança faz. Esse rolê vazio, desprovido de rebelião é deprimente, é algo que enoja. Também não posso esquecer a ausência da galera que se considera a vanguarda da luta antifascista, que sempre estão na linha de frente... do teclado. Para não dizer que não tinha representante, tinha um doidinho sozinho, travestido de pessoa comum, carregando uma bandeira e só. Muito pouco para quem fala tanto em rede social. Deixando a cagação de regras, voltemos à marcha. Ela seguiu de boa até chegar ao Centro, sempre vigiada pela puliça e imprens a. O encerramento foi na frente do Teatro Municipal, que estava cercado por grades. Mesmo assim xs manifestantes tomaram por completo a escadaria e ocuparam um palco que lá estava e sem uso. Os seguranças do teatro tentaram impedir que o pessoal ocupasse tudo, mas foi em vão. Mais alguns discursos, mais gritos de ordem e a marcha é dada por encerrada. Parte das pessoas continua no local conversando, revendo antigas e novas amizades, parte segue para a Feira Preta e outrxs seguem rumo às suas casas. A luta continua.

VI FESTIVAL DO FILME ANARQUISTA E PUNK – 02 & 03/12/2017 – CENTRO DE CULTURA SOCIAL – SÃO PAULO/SP Em um ano que inocentemente acreditei ser uma ótima oportunidade para aproveitarmos as comemorações dos 40 anos do Punk e questi onar diversos assuntos importantes, o que vi em boa parte do tempo foi uma tentativa de mercantilização promovida por oportunistas interessadxs em surfar ondas bravas que nunca surfaram (ou tentaram décadas atrás) ou de pessoas envolvidas com o Punk, mas talvez um pouco i nebriadas com uma aura de importância que o aniversariante ganhou perante a cultura “oficial”. Até a mídia corporativa, a mesma que criminaliza movimentos sociais, que defende a revogação de direitos civis e trabalhistas, que criminaliza e pede punição para adeptxs da ação direta radical, deu atenção à data na reta final e pasmem, não foi rechaçada. Pergunto: onde está o radicalismo Punk de outrora? Obviamente muita coisa bacana rolou pelo país e isso faz com que ainda seja possível acreditar em um Punk realmente independe nte, coerente e politizado. E um desses eventos foi esse festival de filmes organizado pela Do Morro Produções e Anarco Filmes, que chegou a sexta edição. Imaginem, sexta edição de um evento organizado de maneira independente, por punks, sem fins lucrativos, onde é possível tomar conhecimento da produção audiovisual que punks e anarquistas tem criado e compartilhado pelas quebradas do mundo não é pouca coisa. E para melhorar ainda mais, dessa vez o evento rolou no Centro de Cultura Social, lugar antigo e histórico para o anarquismo e para o Movimen to Punk, além do fácil acesso para chegar ao local e possível fator inibidor de patifarias. Diferente das outras edições onde os filmes eram exibidos em salas diferentes, tudo rolou no mesmo espaço e numa cacetada só. Doze registros divididos entre curta, média e longa metragem em dois dias, fora as oficinas sobre autodefesa digital e a prática do cineclube. Também rolava uma exposição com cartazes de diversos festivais de filmes anarquistas e punks que acontecem no mundo e de algumas artes criadas por Gee Vaucher (Crass). E para matar a fome do pessoal durante a maratona, muita pipoca e rangos veganos da No Cruelty Vegan Food. No sábado rolou Punky Mauri: Formosamente Violento (Chile), 16A 2015-Doom no Chile (Chile), La Forma: Videofanzine de Contracultura (Equador), No Gods No Masters Fest 2017 (Bra$il), Ovarian Psycos (Estados Unidos), Andale! (Bra$il), She’s a Punk Rocker (Inglaterra) e a oficina sobre autodefesa digital. Estava muito interessado em ver o Punky Mauri e o 16A 2015 e digo, foi pesado. Punky Mauri é sobre Mauricio Morales, anarquista que faleceu em decorrência da explosão de uma bomba que o mesmo carregava e que desencadeou uma onda repr essiva contra anarquistas, punks e ocupas no Chile. Já o 16A 2015 é sobre a tragédia que aconteceu durante a gig do Doom, uma homenagem aos cinco jovens que vieram a falecer. Com depoimentos de familiares, fotos e a imagens daquela noite que entristeceu o Punk e das atividades realizadas


em memória dos jovens, serve como outra visão do acontecido, um contraponto ao discurso oficial promovido por quem organizou a parada. Em ambos registros a empatia acontece pelo fato de entendermos que poderia ser com qualquer umx de nós e isso deveria servir para nos fazer questionar certas pequenices que vemos/fazemos no rolê. Pausa na maratona, saio fora para resolver algumas coisas e retorno a tempo de assistir She’s a Punk Rocker, longa feito por uma integrante do Rubella Ballet e que mostra a presença feminina no Punk, com mulheres duronas, ativas em suas lutas e produções. Isso lembrou um filme convencional, Tank Girl, baseado na HQ de mesmo nome e que influenciou muitas mulheres na cena punk e metal durante a década de 90, servindo de incentivo à presença feminina nas rodas e nas tretas. No domingo a maratona contava com Dias de Cultura Punk em Fortaleza (Bra$il), Espaço Korpo Sem Órgãos – Autonomia e Autogestão (Bra$il), Mais Amor (Bra$il), Noise and Resistance (Alemanha), Caoticidade (Bra$il), Curdistão: Garotas em Guerra (França) e a oficina sobre cineclubes. Estava muito a fim de ver o Dias de Cultura Punk, mas ele foi o primeiro a ser exibido e cheguei atrasado, quando já estava em andamento a exibição do Espaço Korpo Sem Órgãos. Interessante notar que uma quantidade absurda de documentários relacionados ao Punk prod uzidos mundo afora sempre mencionam como fonte de problemas aquele rolezinho que insiste em parasitar o Punk, e nesse aqui não foi diferente. Será uma conspiração orquestrada pelos sectárixs do mundo? Na sequência teve Mais Amor, curta doidão que usa o sarcasmo para quest ionar esse papo de mais amor enquanto o poder econômico/políticodesse a madeira sobre nossas cabeças, e Noise and Resistance, que é uma lindeza! Ver aquelas cenas provoca um recalque do tamanho do universo, mas também serve de motivação para colaborar na melhoria da situação por aqui. Ainda teria a oficina e mais alguns docs a serem exibidos, mas como tinha afazeres domésticos a minha espera, saí fora. Essa edição nos mostrou que ainda é possível organizar eventos de maneira colaborativa, sem foco nas moedas, prezando por um Punk político, independente, que compartilha informações e que aproxima as pessoas, sejam elas punks ou não. BRUTAL GRIND FEST APÓIA AS MINAS II: EM EXTINÇÃO, MAU SANGUE, RASTILHO, ESKRÖTA, S.F.C. – 20/01/2018 – GOOD VIBRATIONS – SÃO PAULO/SP Felizmente 2017 já é passado. O ano terminou de maneira um tanto bostenga para o Punk na minha humilde opinião. Perdemos a chance de aproveitar a comemoração de 40 anos do Punk para questionar e exercitar a autocrítica, deixando-nos levar por um ufanismo típico da população em época de Copa do Mundo. A coisa ficou tão estranha que em alguns momentos parecia que o rolê buscava reconhecimento da cultura e mídia “oficial”, esquecendo que o Punk corre por fora, sempre à margem. Só faltou a galera aparecer no “plim plim”, naquele program a exibido nas noites de domingo. E se essa comemoração já foi chata e vazia, fico imaginando como será quando completar 50 anos... só vergonha! Descu lpem a sinceridade (ou chatice, dependendo do ponto de vista de cada pessoa), mas comemoração serviu mais para levantar defuntxs d o que para qualquer outra coisa realmente útil e necessária, como buscar a resolução de problemas ou pensar em algo construtivo para o presente e futuro. Fazer o quê, né? Mas chegou 2018 e neste ano não tem comemoração, não tem mais motivos para as pessoas ficarem massageando seus egos. Vão ter que fazer suas correrias novamente, sem olhares interessados da grande mídia, sem apoio e sem reconhecimento. Quem aproveitou bastante e se lambuzou no melado se deu bem, mas a fartura acabou. E depois de alguns meses sem colar em som, hora de tirar a poeira da carcaça e seguir para rua que é felicidade. Em um fim de semana estrumbado de rolês na cidade, a dificuldade era escolher em qual colar. Infelizmente, o excesso de rolês em um mesmo fim de semana é um problema de difícil solução. Para algumas pessoas, isso mostra que existe uma organização de eventos descentralizados em todas as queb radas da cidade, enquanto que para outras isso mostra a falta de diálogo entre as pessoas envolvidas na organização desses eventos e que essa grande quantidade dilui a presença dxs punks, tendo comparecimento sempre bem aquém do esperado. Enfim, é complicado. Já vi g ente propondo um calendário ou sugerindo uma maior interação entre organizadorxs para evitar a situação, mas nada de concreto rolou e pelo jeito isso vai continuar acontecendo. Escolhido qual evento colar, era só torcer para a chuva não atrapalhar. O rolê tinha tudo para ser bom, com bandas bacanas e pertinho do cafofo. Mas ele não foi bom, foi maravilindo! Lembra-se dos rolês onde era possível conhecer pessoas, rever outras tantas, com muitos abraços e sorrisos? Não? Pois é, foi assim o Brutal Grind. Ao seguir pela avenida onde fica o local já era possível ver punks e headban gers circulando, o que indicava que a movimentação estava acima da média. Quando cheguei o pessoal do Rastilho já estava arrumando o equipamento e isso significava que tinha perdido Em Extinção e Mau Sangue. Com o lugar cheio e um tremendo calor, a banda fez uma apresentação brutal, tanto no que diz respeito à música quanto nas ideias. A política, tão esquecida pelas bandas nesses últimos anos, mais preocupadas em ganhar curtidas em rede social e tocar em qualquer espaço e c om qualquer banda (entendedorxs entenderão), é algo presente nas letras e na postura da banda, que faz questão de colocar o dedo na ferida e tirar as pessoas da zona de conforto. Na sequência teve Eskröta, banda do interior de SP e razoavelmente nova, mas que já faz estrago por anda passa com seu crosso ver. Som para punks e bangers treinarem para a maratona de São Silvestre no circle pit. As garotas já gravaram algumas músicas para um futuro lançamento, o que prova que a renovação está aí, só falta apoio por parte de quem diz viver o underground. E encerrando fudidamente o rolê, S.F.C. O trio peruano está no país pela terceira vez, sempre fazendo uns rolês monstros na base do faça você mesmx e passando batido por muita gente que prefere ficar parada no tempo. Com uma formação atípica (sem contrabaixo), o trio detonou um grind brutal, agrando geral. Além de bandas fodas, teve interação entre as pessoas, comida e bebida, banquinha com materiais legais e exposição de ilustrações feitas por Rayra Costa (Em Extinção). Um rolê supimpa, mostrando a forçadas mulheres que estão envolvidas com o underground e nos dando esperança de dias melhores no rolê.


AMORFO, DESALMADO, BESTA – 08/02/2018 – CENTRO CULTURAL ZAPATA – SÃO PAULO/SP Entre o pré e o Carnaval propriamente dito, teve esse rolê monstro que serviu para deixar de lado o glitter e aquele adorno de chifres que acendem, dar um descanso para os ouvidos e para a carcaça que tanto sacolejou atrás de bloco pelas ruas centrais da cidade. D urante os festejos do Momo é comum a “rosckeirada” intransigente destilando veneno, ignorância e preconceito com relação à festa e dessa vez não foi diferente, com muita bosta boiando no mar fecal das redes sociais, com aquele discurso raso sobre a qualidade musical da festa (só para lembrar, gosto é igual cu, cada pessoa tem o seu) e muita gente indo além, acusando a festa e suas/seus participantes de apoiar a degeneração, a corrupção e que ao invés de 1milhão de pessoas na rua fazendo baderna, poderiam estar cobrando o governo ou trampando para gerar mais riquezas para a nação. Essa parcela de pessoas que tanto reclama do Carnaval poderia se unir e ir para as ruas contra o governo e não ficar esperando que outras façam isso para elas e no próximo ano, ao invés de ficar em casa reclamando da festa, peça para seus/suas senhores/sen horas de engenho que lhe permitam trampar durante o feriadão para gerar mais riqueza. Tá resolvido! Em mais uma empreitada totalmente independente, Desalmado e Besta (em sua segunda passagem pelo país) fizeram uma turnê que p assou por diversas cidades de SP, do litoral ao interior, e ainda rolou uma esticada ao RJ. Não tenho banda, não organizo som, mas a real é que não adianta ficar esperando apenas por convites, porque aí fica difícil. As bandas devem assumir para si a responsabilidade de organizar seus sons e se rolar de alguém dividir o trampo é ótimo, caso contrário o lance é apertar a tecla do foda-se e seguir caminhando porque o underground é treta em qualquer lugar do planeta e mais ainda em um país de terceiro mundo. Mesmo sendo em uma quinta-feira, o evento atraiu uma galera em bom número (praticamente só headbangers), mostrando que o grindcore continua produzindo muito barulho e gerando interesse. Lembrando que as bandas fizeram diversas apresentações em SP e que tin ha feriado chegando, mas quem gosta de barulho gosta em qualquer situação e isso foi comprovado mais uma vez. Com um pequeno atraso, a primeira a banda a se apresentar foi a Amorfo, que é razoavelmente nova (2015), mas tenho visto seu nome com certa em frequência em flyers. Transitando entre diversos estilos de música torta e rápida, faz um som modernoso e até meio polido, ora mais metal ora mais punk, com letras em português que retratam as tretas do dia a dia. A galera foi enchendo o local aos poucos e apesar da calmaria na pequena pista, o pessoal estava curtindo e demonstrava isso aplaudindo entre os sons. Na sequência teve Desalmado, que dias antes tinha lançado o CD, “Save us from Ourselves”. Manolxs, que atropelo! Unindo veloc idade, peso e mais algumas influências do mundo da música torta, os rapazes continuam seguindo a trilha da brutalidade e fizeram a galera agitar. Para matar a sede que de quem pirou nos novos sons ou queria conhecer, tocaram algumas músicas, mas deixaram a maior parte para serem deto nadas dias depois quando iriam lançar oficialmente o CD. Depois da apresentação do Desalmado, tudo indicava que tinha ficado pequeno para os lusitanos da Besta. Pois é, mas os rapazes não se intimidaram e também quebraram tudo com seu grind sem firulas e com a galera agitando muito. Bacana ver as mulheres agitando juntas e os caras respeitando, aparentemente entendendo que a roda é lugar de confraternização e não para assédio ou demonstração de forç a física. O vocalista da banda é uma figura, visual de banger, várias vezes cuspiu para cima, pegava com a mão e mandava para dentro... coisa agradável de ver. Outro rolê massa, com bandas legais, material diverso, organizado de maneira independente e com bom retorno por parte de quem curte barulho. E o ano ainda está no começo. MARIELLE PRESENTE! – 15/03/2018 – SÃO PAULO/SP Segundo minha progenitora, décadas atrás meu progenitor decidiu que seria melhor mudar de bairro, trocando um típico bairro d a zona norte por um na zona sul e que, na visão dele, tinha uma melhor qualidade de vida e mais a oferecer a minha pessoa (uma criança na época). Muito provavelmente, essa perspicácia do velho é o que me deu chance de estar vivo, entre a quarta e quinta década de vida (algo cada dia mais raro em se tratando de homens negros) e não ser mais um número na estatística da violência urbana e, em especial, da letalidade policial. Devido aos diferentes caminhos que nossas vidas seguiram, ainda não tive a oportunidade de agradecê-lo pela escolha inteligente e que tem feito toda a diferença entre morrer precocemente, ter uma sobrevida ou chegar a envelhecer. O mês de março tem sido nauseante quando o assunto é a tão afamada democracia racial, com o Bra$il mais uma vem mostrando sua verdadeira face. Um boyzinho “universiotário” fotografou um aluno negro e compartilhou a imagem com a legenda “achei um escravo” e um professor de ensino superior posta em rede social “odeio pretos e pardos” (P.S.: ainda teve o ensaio fotográfico de uma debutante onde o t ema era a escravidão e a dita cuja pagava de sinhazinha cercada de escravxs; o assassinato de cinco jovens em Maricá/RJ que voltavam de um show de rap, todos envolvidos com música, sendo que dois deles eram vinculados a um determinado partido de esquerda e davam aulas em um projeto social e o nazistonto que esfaqueou um jovem em uma escola de Sampa ao ser questionado sobre suas crenças racistas). Seria difícil imaginar que poderia piorar, mas piorou e muito! Na quarta-feira, 14/03, uma chuva forte e com muitas descargas elétricas caiu na cidade no início da noite, com duração de algumas horas. Com a energia oscilando bastante, o inseparável companheiro que atende pelo nome de computador ficou desligado (continuo vivendo sem celular), dando espaço para a conversa real e para a leitura. Uma triste coincidência, o livro era “A Guerra Não Declarada na Visão de um Favelado”, do Eduardo, que tem muito a ver com o que viria saber, ver e viver nas próximas horas. Logo ao acordar ligo o computador, entro em um portal de notícias qualquer e vejo a primeira notícia. Duvidando da credibilid ade do portal, vou procurar informações em fontes confiáveis e veio a confirmação: duas pessoas mortas e uma ferida em um atentado político. Mar ielle Franco, negra, mãe, oriunda da periferia, feminista, lésbica, denunciante da violência policial, defensora dos direitos h umanos e da igualdade racial, conseguiu fugir da imagem estereotipada que o país tem da população negra e se tornou vereadora no Rio de Janeiro, mantendo s eus princípios de luta; Anderson Pedro Gomes, o motorista, assassinado enquanto trabalhava, enquanto ganhava seu sustento. Além das duas vítimas fatais, uma assessora ficou ferida, mas está fora de perigo. E antes que alguém sem noção venha com aquele papo de “olha o Treva, tá locão defendendo parasita de partido”, migues, eu quero que a política partidária se exploda, mas se vocês não conseguem ver além disso e entender em qual contexto aconteceu essa execução e o que ela representa social e politicamente falando e, em especial, para a populaç ão pobre, negra e


periférica que resiste no país pacífico mais violento do mundo (como diz Eduardo), significa que está faltando leitura, conhecimento, reflexão, autocrítica ou algumas aulas de reforço escolar para aprender um pouco de interpretação de texto ou ainda procurar algum r olezinho fútil, porque o Punk não é lugar para vocês. Sem mágoas. A notícia dessa execução foi um baque. Se não estiver passando informação errada, a cada 21 minutos uma pessoa negra é assass inada, especialmente xs jovens, sem que isso venha causar comoção social ou preocupação política. É um entre tantos dados sobre a vergonha que é o Bra$il. E se uma pessoa que exercia cargo político e que tinha visibilidade dentro e fora do gueto não escapou dos projéteis, imagina xs outrxs que não possuem tal visibilidade. O terrorismo de estado é forte, organizado, age sem piedade, sem medo da justiça e com a certeza da impunidade. Esse terrorismo estatal segue presente em nosso cotidiano, sempre com alguém disposto a nos humilhar (na melhor das hipóteses ) ou a nos matar. Com a confirmação do ocorrido veio aquele momento que dá um branco na ideia, o pensamento some e fica apenas um vazio. Mas é isso que a escória deseja, que essa sensação de vazio seja permanente, mas nunca foi, não é e nem será. Depois de procurar algum as informações, conversar com algumas pessoas, fico sabendo que um ato em homenagem a Marielle e ao Anderson será realizado no vão livre do MASP. Mesmo entendendo a gravidade do ocorrido, tinha dúvidas sobre um comparecimento maciço em decorrência da letargia que acomete a população, inclusive aquelas pessoas que se dizem militantes ou ativistas. Minhas dúvidas foram desfeitas ao chegar e ver uma pista da avenida cartão postal da cidade já tomada por manifestantes. Dona Encosto e eu caminhamos entre as pessoas observando boa parte delas com semblantes sérios ou tristes, algumas com olhares distantes, com lágrimas nos olhos, outras com expressão de raiva ou indignação, muitos cartazes e bandeiras. A dor não era apenas por M arielle e Andersom, mas por todxs que já sucumbiram e por todxs que ainda irão sucumbir. Aparentemente, esse é o nosso destino, uma das poucas possibilidades permitidas para afrodescendentes que não estão jogando futebol ou cantando. Era visível o choque e a vontade d e mostrar que o recado passado pelos executores foi recebido, entendido, mas que não seria aceito. Não é de hoje que a parcela que representa mais d a metade da população vem morrendo sem causar constrangimento à nação. Estamos morrendo desde que o primeiro navio negreiro partiu da África em direção da nova colônia portuguesa. O que vivemos hoje tem raízes profundas, de séculos atrás e se tornou uma situação tão na turalizada e relativizada pela parcela privilegiada da população (independente da etnia), que passou a ser natural a morte de negras e negros nas cidades da grande democracia racial. E você aí deve estar pensando “pô, e o cortejo?” Aquela pequena multidão que vi ao chegar não parou de aumentar, tornando-se uma massa de indignadxs. Pessoas caminhavam apressadas rumo ao MASP, boa parte tinha acabado de sair de seus trampos, outras paravam em frente aos bares que tinham televisores ligados e que estavam sintonizados em alguma emissora bostenga que mostrava os últimos acontecim entos. Negrxs, brancxs, asiáticxs, famílias com crianças, muitxs punks, comunidade LGBTQIA, refugiadxs, galera do hip hop, entidades de luta, professorxs da rede municipal (que no dia anterior foram agredidos pela gcm e pela pm durante uma manifestação) coletivos pelegos e não pele gos, pessoas de partidos de ex-querda (a mesma que nunca teve coragem para cobrar o poder público de maneira contundente sobre a matança de negrxs, incluindo gestões de ex-querda na esfera municipal, estadual e federal) e até a playboyzada estava presente. Lá pelas 19h, o cortejo começou a caminhar rumo ao centro da cidade e a parada foi linda. Ver beleza na tristeza pode parecer uma incoerência, mas é possível. E foi estranho ver o aparato assassino do estado em número reduzido (o que permitiu uma melhora na qualidade do ar, li vre da fedentina exalada pela polícia) e com pouca pose de robocop. Sei lá, não acredito que policial tenha discernimento, sequer acredito que tenham alguma humanidade, m as como são pau mandado e o governador picolé de chuchu tem a pretensão de conseguir ir morar em Brasília, deve ter rolado aquele aviso básico para não tumultuarem e ficou tudo em paz. Melhor, só se não tivesse nenhuma ratazana cinzenta por lá. Enquanto caminhava tentando observar tudo que acontecia ao redor e refletia sobre os eternos porquês da vida, a tristeza voltou a se fazer presente. Sensação de cansaço, de desesperança ao imaginar quantxs mais irão cair pelas mãos do estado assassino e com a coni vência da classe política, mídia e de setores da população que perderam a capacidade de raciocinar. Lembrei-me das pessoas que conheci em algum momento da vida e veio a dúvida sobre qual destino tiveram; lembrei-me das histórias sobre a escravidão contadas por familiares e passadas de geração em geração; lembrei-me de Palmares e dos quilombos que ainda lutam; lembrei-me das situações desagradáveis a que estamos sujeitos cotidianamente; lembrei-me de como é ruim caminhar tendo um alvo preso na cabeça ou na nuca. Olhei e, com um aperto no peito, pensei em qual daquelas pessoas seria a próxima vítima da violência estatal. O cortejo seguiu até a Praça Roosevelt, com um grupo indo até o Teatro Municipal. Durante a caminhada, flores, velas e gritos de “Marielle presente!”, “Anderson presente!”, cantorias que pediam o fim da polícia militar entre tantas outras. Após o encerramento, muita gente continuou por lá conversando, trocando experiências em busca de força para continuar a viver e lutar, procurando um ombro amigo para compar tilhar a dor ou simplesmente esperando o torpor passar para seguir rumo à quebrada. E como tem gente besta nessa terra, um lixão decidiu afrontar o pessoal que foi até o Teatro Municipal gritando “isquinrrédi” e fazendo mais algumas micagens. O chorume ambulante, usando peita de banda das antigas que sempre foi pilantra, mas que agora se diz punkeka, levou uns tabefes que o fez perder o rumo. O tiozão abriu o bico (e muito provavelmente o boga também) na frente das câmeras, mas não t eve jeito e foi a ao chão. Saiu de lá amparado por algumas pessoas que evitaram o pior para ele. Apanhou pouco. O estado que existe dentro do estado não medirá esforços para nos silenciar, usando os métodos mais sórdidos para atingir tal objetivo. A nós, cabe recusar esse destino que nos oferecem, lutando com as armas que temos à disposição, compartilh ando conhecimento e trabalhando a solidariedade e o apoio mútuo. Viver é um aprendizado, e mesmo nos momentos de dor imensurável é possível extrair algo que nos ajude na guerra em que estamos inseridxs. Força pá nóis! Kruda, Test – 20/03/2018 – Good Vibrations – São Paulo/SP Véspera de feriado prolongado, muita gente deixando a cidade, outras tantas correndo atr ás de ovos de chocolate para saciar a gulodice ou preocupadas em manter tradições referentes a uma fábula de louco que está por aí a mais de dois mil anos. E se tem algo que me deixa feliz é rolê em feriado santo, já que a parada parece ficar mais herege ainda.


Mesmo com previsão de tempo bom durante o feriado e com diversos rolês na Grande SP e em cidades próximas, uma gelara aparece u para prestigiar as bandas Test e Kruda. Claro, poderia ter mais gente, mas é aquilo, tanta gente espalhada nos rincões dessa terra torta sonhando com um rolezinho com bandas legais e quem tem isso com frequência acaba não valorizando. Coisas da vida. O local da barulheira foi o Good Vibrations, simpático restaurante vegano localizado no bairro de Vila Mariana, na zona sul da cidade. Espaço agradável, próximo à estação de metrô e terminal de ônibus, tem sido palco de apresentações de diversas bandas dos mais variados estilos da música independente e em uma cidade que carece de espaço para a música autoral e independente, isso acaba sendo um sopro de vida. Foi nesse clima e com um pouco de atraso que a novata banda Kruda começou seu set, fazendo um thrash/speed feroz e cantado em por tuguês. O trio conta com integrantes conhecidos por outros trampos na cena Punk, o que deve facilitar as coisas para elxs. Sem enrolação, foi a vez do Test. É impressionante a capacidade que a banda tem de gerar brutalidade sonora em qualquer espaç o, com qualquer quantidade de pessoas. E novamente fiquei observando o batera Barata. Sei lá, o cara é tipo meu crush baterístico, não canso de gastar a vista vendo seu desempenho e alimentando meu recalque. Ver o Barata arrebentando seu kit em uma alternância de velocidade e pancadas violentas me faz ter a certeza que jamais teria competência para ser batera, mesmo já tendo tentado a sorte. Perto dele, além de incompetente, seria tachado de batera mão de alface e isso ninguém merece. Como eram apenas duas bandas, o rolê terminou cedo e ainda deu tempo para ficar um bom tempo jogando conversa fora até o pico fechar. E pensar que ainda era quinta-feira e tinha mais rolê no feriado. Dischavizer, Skarnio, Downhatta – 31/03/2018 – Good Vibrations – São Paulo/SP Continuando a saga de profanar o feriado, teve esse rolê com três bandas fodas e preço do jeito que eu amo. Nem a chuva que caiu na cidade foi capaz de atrapalhar. Na mesma data, só que em 1964, os milicos destituíam do poder (com amplo apoio da classe média, setores religiosos e mídia corporativa) o presidente eleito João Goulart, mergulhando o país no obscurantismo por 21 anos. Olhando ao redor e vendo tudo o que acontece no país, a situação do passado parece com a atual, fazendo muito sentido o comentário de um compa durant e uma conversa nesse rolê: “Será que no próximo 31 de março teremos ou poderemos ir a algum som?” Eu quero acreditar que sim, mas a direção que a republiqueta parece seguir me assusta, deixando aquela pulga atrás da orelha em alerta máximo. Como disse anteriormente, uma forte chuva desabou na cidade, atrasando a minha saída. Se existe algo que me deixa pistola no mundo é sair com chuva, já que não tenho guarda chuva e geralmente meus pisantes que estão em uso tem algum furo na sola, tornando desanim adora qualquer saída de casa. Mas a água deu uma trégua e lá vou eu. Devido ao atraso cheguei ao final da apresentação do Dischavizer. O duo está com as malas prontas para fazer um rolê na Europ a em abril (obviamente quando você estiver lendo isso, os rapazes já detonaram por lá e voltaram) e acho que essa foi a última apresentação antes de partirem em direção do velho continente. Sem enrolação, na sequência teve a veterana banda Skarnio, que fez uma apresentação foda e ainda contou com a participação especial do primeiro vocalista em um som. Uma banda com tantos anos de atividade e que influenciou/influencia muita gente, mas que não tem o merecido apoio de boa parte da cena que prefere apoiar banda cover de si mesma que vive de passado ou bandas ruins de rolês bostas. Triste. Fechando o rolê semi-pascoal, Downhatta. Manolxs, essa banda é um absurdo. Imagina o peso do metal, umas levadas NYHC em cima de um crust. É mais ou menos por aí que a parada segue e ao vivo o som parece uma parede esmagando quem está present e. Na minha juventude headbanger aprendi que peso e velocidade são coisas bem diferentes e isso também vale para o Punk. Apesar da chuva e dos diversos rolês que aconteciam no feriado, uma galera em boa quantidade apareceu, o que foi bom para as bandas, para o espaço e para quem colou, já que normalmente isso resulta em boas conversas e fortalece a interação, algo que está meio em desuso por aqui. É Tudo Verdade-Festival Internacional de Documentários: Auto de Resistência – 13/04/2018 – Instituto Moreira Salles – São Paulo/SP Em um passado não muito distante, o Punk funcionava como um lugar onde era possível adquirir conhecimento musical e político. Faniznes, informativos, grupos de estudo, rodas de conversa, palestras em gigs e letras de músicas apresentavam um mundo novo cheio de possibilidades, onde a liberdade e a igualdade eram os ideais a ser atingidos. Pois é, bem antes da net e das redes sociais, o ato de compart ilhar era prática comum no Punk, mas nos últimos anos, com as mudanças tecnológicas e seu impacto na vida cotidiana, nem o Punk conseguiu manter essa característica de “trabalho de base”. Hoje, muitxs dxs jovens que chegam ao movimento são arrogantes, acreditam que dar uma “googlada” é o suficiente para serem xs super punks e muita gente mais velha, também arrogante, prefere acreditar ser oráculos de sabedoria. Aí, a saída é procurar eventos que tenham teor político e que possam agregar conhecimento e fornecer experiências. E foi assim que descobri esse rolê foda aos 40 minutos do segundo tempo. Gastando minha vida de forma inútil na frente do computador, dei de cara com esse evento dedicado ao cinema documental, e ao ler uma pequena sinopse e ver o trailer do filme, entendi que não po dia perder. Eram duas sessões, a primeira seria treta conseguir estar presente, mas para a segunda estava tranquilo. Sigo em companhia de Dona Encosto rumo ao IMS, um centro cultural localizado na Avenida Paulista, o que é indicativo de glamour. Prédio modernoso, gente descolada circulando pelos diversos ambientes, quase todo mundo ostentando um ar intelectualizado e eu lá tentando impregnar o ambiente com fuleiragem. Como a exibição era gratuita e com retirada de ingresso uma hora antes, tratei de acelerar para chegar um pouco antes e garan tir a entrada. Mas quase não deu certo, pois o auditório onde rolaria a exibição era pequeno para o público que se avolumava na fila. Claro que punk t em que se foder e os ingresso terminaram antes de chegar a nossa vez. Após a frustração inicial, um funcionário avisa que serão dis tribuídos mais oito ingressos e Dona Encosto trata de contar quantas pessoas estão à sua frente... sete é o resultado. Punk tem que se foder mesm o! A distribuição dos ingressos termina nela, para tristeza das muitas pessoas que estavam na fila. Justamente ela, que veio botando defeito no filme, dizendo que


não estava interessada, conseguiu o ingresso. Como ela não estava realmente interessada no filme, rolou aquele debate para qu e eu entrasse enquanto ela esperava, mas não teria graça, viemos juntos para assistir juntos, então seria melhor passar o ingresso para outra pessoa. Nisso, dois rapazes se aproximam, estando na mesma situação que nós e um deles oferece seu ingresso. Goooollll do Corin thians!!! Agradecemos a gentileza e agora era aguardar o início da sessão. Se existe algo escroto em cinema é sentar nas primeiras filas e ter que ficar olhando para cima. Mas como punk tem que se fod er (não cansamos disso), foi isso que rolou. Demoramos um pouco para entrar e o resultado foi que sentamos na segunda fila. Melhor que nada. Antes do início, uma rápida trocar de ideias com o organizador do festival e com o casal que dirigiu o documentário. E manolxs, que trampo foda! Ver um filme com essa temática na véspera de completar um mês do assassinato de Marielle Franco ajudou para que tudo ficasse mais intenso. O filme começa com os dois pés na cara, sem tempo para respirar. Acredito que para a maioria do público, majoritariamente branc o, com cara de bem nascido e bem criado, ver aqueles relatos e imagens de extrema violência perpetrada pelo braço armado do estado deve ter sido de perder o rumo. Abro aqui um parêntese: quando o rapaz me deu o ingresso, num momento de escrotidão achei justo que eu entrasse, já que sou negro e auto de resistência é o nome “técnico” usado pela polícia para designar assassinatos sem motivos, principalmente de negras e negros, ao invés de genocídio ou extermínio, palavras que soam muito pesadas e imorais para um país que tem pretensão de conseguir uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mas a real é que o que foi mostrado no filme eu ou qualquer outrx negrx já conhecemos, com meno r ou maior intensidade e intimidade, bem diferente daquele pessoal bonito e descolado, que adora dizer ser de esquerda. É bom elxs verem e entenderem o que acontece na periferia e com a população afrodescendente em geral, porque ficar fazendo ciranda em ato enquanto a bala est oura a carne negra não dá em nada. Esse pessoal de esquerda vai ter que fazer muita, mas muita ciranda para blindar o corpo das principais vítimas do terrorismo estatal, e isso antes de pedir apoio para suas/seus candidatxs, que obviamente, se eleitxs, irão esquecer rapidamente os corpos de pele escura destroçados pela munição da polícia. Em 104 minutos, o filme mostra depoimentos de familiares, vítimas, promotorxs e de alguns lixos que respiram, intercalando co m imagens de ações policiais de extermínio. É tudo muito pesado, feito para incomodar, para tirar as pessoas de suas zonas de conforto e gerar reflexões, mostrando um país pretensamente emergente, mas que boa parte da população é criminalizada devido a sua condição financeira e cor da pele, e isso justifica a sua eliminação sempre de maneira violenta e incriminadora. Ao término do filme, entre aplausos e algumas palavras de apoio, era possível ver o semblante atordoado daquele povo bonito que estava presente, com várias pessoas chorando. Pois é lindxs, bem vindxs à realidade cotidiana da negrada. Não adianta fazer ciranda em ato ou curtir reggae, rap, samba, falar que tem amigxs negrxs e que não é racista, porque isso não muda o fato que o estado (com letra minúscula mesmo porque eu desprezo essa bosta) continua eliminando pessoas negras em escala industrial, no melhor padrão ISSO 9001. E até o amorzinho, que nem queria ver o filme por estar cansada de presenciar tanta tragédia com xs nossxs, reconheceu a “foderosice” do mesmo. Após o filme, rolou uma troca de ideias com xs responsáveis pela parada e com representantes das Mães de Maio. Papo pesado, crítico, emocionado e que fez com que as pessoas que não choraram durante a exibição do filme desabassem em lágrimas. O papo estava tã o foda que poderia seguir por horas, mas não era possível, inclusive estourando o horário de funcionamento do lugar. Fica a esperança de que o filme seja capaz de provocar questionamentos em quem o veja e que isso resulte em mudanças comportamentais e até em escolhas políticas. Somos todxs responsáveis por exigir e lutar pelo fim dessa polít ica estatal violenta que criminaliza a pobreza e a cor da pele. MAU SANGUE, NUCLËAR FRÖST, RASTILHO – 06/05/2018 - DISSENSO LOUNGE – SÃO PAULO/SP Depois de uma semana meia boca graças a um resfriado, veio à melhora bem a tempo de não perder esse rolê batut a que reunia bandas da nova geração. O local do rolê é no centro da cidade, mas não tão próximo a estações de metrô ou trem, o que pode desanimar algumas pessoas, mas é de boa para chegar. Depois de caminhar uns 15 minutos por ruas completamente desertas da parte comercial do Bom Retiro, eu e Dona Encosto chegamos ao local. A primeira surpresa (já vista naquela paradinha de visualização de ruas, mas que passou batido) é que o es túdio fica em um prédio e no quarto andar. A segunda surpresa, e a mais importante, foi ver que o local é show de bola! Limpo, espaçoso, tem mesas e cadeiras, sofás, Wi-Fi, som foda e até banheiro limpo. A finesse no local era tanta que me deixou emocionado, levando Dona Encosto a me lembrar p ara deixar de ser tonto. Mas o que ela não entende é que depois de tanto tempo só frequentando os buracos mais sinistros, estar em lugar com infraestrutura decente realmente causa estranheza e emoção, tanto que logo que chegamos um camarada veio cumprimentar e disse “Bem vindo ao primeiro mundo”. Chegamos um pouco depois do horário previsto para início do barulho, mas deu tempo de ver a Mau Sangue com sua poderosa mistura de metal, punk e post-punk, com letras fodas e, assim como rolou durante a apresentação do Rastilho, teve uma troca de ideias venenosas focadas no feminismo e na resistência LGBTQIA. Podemos classificar a banda como punk ou metal e isso pouco vai importar, porque o que vale é ver essa nova geração de bandas que estão surgindo terem uma postura realmente questionadora, sem ficar em cima do muro, sem pretensões de rock star e novamente olhando para a música como uma ferramenta para a divulgação de ideias. Alguns minutos para o descanso e é a vez da Nuclëar Fröst. Fazia algum tempo que não via a banda e vê-la tocando com um equipamento foda é outra coisa. A mistura entre o que de mais sujo o punk e o metal produziram fica incrivelmente mais brutal. Eu nunca fui de l igar para a qualidade do som, mas é impossível negar que um bom equipamento faz a diferença para qualquer banda independente do estilo. E para fechar a noite, Rastilho. Apesar de ser razoavelmente nova, conta com integrantes com muita experiência em outras band as fodas e isso fica visível na presença de palco, nas letras, músicas e nas artes do merch. Estavam lançando o primeiro CD, “O Prego e o Caixão” e acredito que ainda vamos escutar muita coisa boa vindo dessa galera. Se você está lendo esse número do zine, provavelmente já leu outras d uas resenhas de apresentações do Rastilho e que está escrito nelas também vale para ess a, por isso nem vou esticar o chiclete para não virar pagação de pau. Rolê nota 10 em pleno domingão, com bandas novas e que não tem medo de assumir uma postura libertária, todas contando com a p articipação de mulheres, boas conversas, evento começando e terminando no horário, rolando uma solidariedade com arrecadação de roupas para xs


desabrigadxs da ocupação que existia no centro da cidade e desabou após um incêndio e presença zero de pessoas tóxicas que contaminam o ambiente. Ratas Rabiosas, Dischavizer – 02/06/2018 – Good Vibrations – São Paulo/SP Final de semana com a cidade bombando graças a Parada do Orgulho LGBT, temperatura agradável, mas o recalque esteve disparado em boa parte do tempo por não ter conseguido ingresso para uma das quatro apresentações da Elza Soares ( vê-la na Viarada Cultural não conta) aqui perto de casa. Ver a diva se apresentando no bairro não é algo que acontece duas vezes na vida. Mas para amenizar minha sofrência, descobri esse rolê também no bairro, com bandas legais e preço camarada. Mas o que era para ser mais um rolê bacana tornou-se foda com a companhia de dois amigos de milianos, sendo que um deles não via há mais de seis anos. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, de todo o perrengue, é gratificante reencontrar alguém depois de uns bons anos e ver que a ideia continua a mesma e que o estado não conseguiu destruir uma postura. Velhote, seja bem vindo ao mundão. É nóis que tá! !! A rolê começou com a banda Ratas Rabiosas, que continua divulgando seu primeiro CD intitulado “Sonidos de Combate”, lançado recentemente. O trio detonou um punk/hardcore que mantém viva a tradição de som rápido com vocais gritados, divididos entre as três integrantes. E ainda tem as letras, certeiras nos questionamentos e que causam tremedeira nos borocos desesperados em manter seus privilégios dentro ou fora do Punk. As garotas têm feito diversas apresentações pela Grande SP e essa nova formação funciona muito bem. Na sequência teve o duo Dischavizer, recém-chegado de um rolê pelo velho continente. Mesmo sendo nova, tem se apresentado com frequência e ainda conta com integrantes com muita bagagem de som, o que facilita as coisas. Não sei se foi o rolê na gringa, a alegria de tocar em casa ou as duas coisas, mas a apresentação foi brutal. Peso, velocidade e som no talo, do jeito que gostamos e deve ser. Ratas Rabiosas e Dischavizer são pertencentes a uma nova geração de bandas bacanas que surgem para dar fôlego a uma cena que muitas vezes parece depender de “medalhões” e que tem medo do novo, preferindo mais do mesmo, ainda que esse mesmo seja irrelevante na atualidade. 22ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo – 03/06/2018 – São Paulo/SP* Depois de semanas com sol, temperatura agradável e sem chuva, o mau agouro da galera reaça surtiu efeito e o tempo mudou radicalmente, com frio e garoa. Como se não bastasse, as notícias falsas pipocaram na grande rede, dando conta que não haveria o evento devido à falta de combustível para os trios. Mas não adiantou o mau agouro nem as notícias falsas, porque a Parada 2018 foi sucesso outra vez. E o sucesso é traduzido, capitalistamente falando, no sorriso do setor terciário. O dinheiro que a Parada movimenta faz a alegria da cidade, principalmente da região central e serve de cala boca momentâneo para muita gente que torce o nariz para a comunidade LGBTQIA e suas demandas. Mas o sucesso também pode ser visto na quantidade absurda de pessoas que participaram, o que gera uma indagação: com o gigantismo d o evento, diversas questões surgem e será que a organização terá força para manter a Parada como e onde está, sem perder o viés político e combativo? Esperamos que sim, mas a dúvida é pertinente. Como é de praxe em todos os anos, tem uma galera que não pode ver uma vergonha vacilando sozinha que já corre na direção d a coitada e se joga de braços abertos na mesma. As redes sociais propiciaram mais um festival de baboseiras vindas de comunistas, anarquistas e libertárixs que se acham experts em lutas sociais e que não aceitam (ou não possuem capacidade intelectual para entender) que cada grupo tem suas demandas específicas e formas de lutar. Para essa comunidade, a festa, a música, a pegação, esse carnaval fora de época é par te de sua luta, como reivindicam direitos e cabe a outras pessoas fazer algum esforço para entender. É realmente uma aporrinhação todo ano ver as mesmas besteiras sendo ditas e escritas por uma galera que sequer faz parte da comunidade LGBTQIA, que talvez sequer conheça alguém com outra orientação sexual ou que nunca tenha participado da Parada ou de qualquer outro ato político, mas permanece em suas zonas de conforto bostejando aquela diarreia revolucionária de internet. No atual contexto político e lembrando que a república das bananas é o país que mais mata LGBTs no mundo, colocar três milhões de pessoas na principal avenida da cidade para reivindicar direitos básicos como não serem assassinadxs é um ato político que merece respeito. E você aí, super-herói ou super-heroína das revoluções e movimentações sociais virtuais, que gosta de cobrar atitude de outras pessoas, que fala ou escreve até dar câimbra na língua ou no dedo, que tal levantar esse rabicó do sofá e fazer algo ao invés de esperar que outras pessoas façam por você? Que tal apoiar quem está na correia? Seu papo politicamente vazio de “por que essa galera não se manifesta contra isso ou contra aquilo” é de um nível intelectual muito próximo ao de uma ameba. Esticando um pouco o chiclete só para mostrar a falta de entendimento sobre a Parada, vale ressaltar que durante toda a semana aconteceram diversos eventos na cidade como a 16ª Feira Cultural LGBT, a 1ª Marcha do Orgulho Trans de São Paulo, a 16ª Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais, festas, sh ows, inauguração de exposição no Museu da Diversidade, premiações e oficinas relacionadas à luta da comunidade. A Parada é cereja do bolo, o encerramento em grande estilo de uma semana movimentada politicamente e culturalmente e duvido que seu rolê/coletivo ou pseud o movimento social consiga fazer uma mínima parte disso tudo. O choro é livre, mas um pouquinho de bom senso e empatia é útil. Bom, voltando a Parada propriamente dita, a muvuca começava nos trens do metrô e já era indício que havia muita gente nas ruas. Mas tinha tanta gente, mas tanta gente que até para sair da estação estava complicado. Caminhar perto da muvuca era quase impossível e o jeito foi aproveitar o pouquíssimo espaço entre os blocos para caminhar e tentar conseguir um lugar decente para observar. Logo vimos u ma mureta na esquina da Paulista com a Consolação e lá ficamos um bom tempo. Observando a Parada e vendo seu gigantismo, notamos que ficou mais difícil ver personagens que são essenciais na festa como as drag queens, fetichistas e pessoas fantasiadas. O mar humano que toma conta das ruas acabou diluindo um pouco esse lado alegre, colorido e montado das pessoas. E do nada, notamos que o trio que se aproximava trazia como destaque a Anitta e com ela vinha uma histeria adolescente. Depois de um tempo no mesmo lugar, seguimos por ruas paralelas com grande movimentação. A Parada estendeu seus tentáculos para as ruas vizinhas e até os bares estavam cheios. Entre caminhadas por ruas próximas e momentos de participação meio que de canto, rolo u o questionamento de onde estará toda essa galera mais jovem que tem colado na Parada. Será que daqui cinco anos ainda estarão presentes, terão entendido as mensagens ditas durante os vários discursos ou lembrarão estes momentos como uma fase da vida a ser esquecida? A organização faz questão de manter o tom político, mas será que essa garotada está absorvendo a ideia? É claro que esse dia é para diversão, mas um dia de


diversão e liberdade quase plena e os outros 364 dias do ano com medo, será que é bom negócio? Esses questionamentos tomaram nosso tem po enquanto olhávamos o caminhar lento de veículos e da multidão, quando começa a tocar É o Tchan e a conversa séria chega ao fi m. Mais uma caminhada por ruas próximas e para nossa tristeza, deparamos com dois rapazes feridos a faca. A aglomeração em volta dos dois logo chamou a atenção dos gambés, que ficaram por lá com aquela cara de desdém. Sacomé, na ideia dos lixos fardados são apenas duas bichas feridas, ninguém se importa. A demora da ambulância em chegar fez com que outros gambés aparecessem, esses mais proativos e t rataram de prestar algum socorro. Antes que alguém pense em crime de ódio, o lance foi furto, segundo disse um d os rapazes. Esse episódio deu uma baqueada na alegria, que junto com a friaca, acelerou o processo de retorno ao cafofo. No mais, fica a torcida para que os dois estejam bem. Antes de vazar circulamos onde era o encerramento da Parada e caminhamos um pouco pelo centrão abarrotado de pessoas que lotavam os bares, lanchonetes e calçadas. E novamente rolou a decepção em ver a Praça da República fechada por tapumes e com forte polic iamento visando impedir a invasão como ocorreu ano passado. É triste ver um local emblemático para a comunidade ser fechado justamente no dia que ela reivindica seus direitos. O poder público e a iniciativa privada amam o dinheiro gerado pelo evento, mas não suportam ver a p egação, a troca de afeto e carinho ou o tesão das pessoas. Não foi à toa que prefeito lixão foi vaiado logo no início da festança quando tentou discursar. E por falar em lixo, apareceram várixs candidatxs de ex-querda a cargos políticos prestando seu apoio e todo aquele bla blá blá conhecido. Pior que elxs, só uma galera pamonha carregando faixas pedindo a liberdade do quatro dedos, mas que foram ignorados pela maioria dxs participantes. Essa exquerda pelega não aprende! Apesar do que apareceu na mídia corporativa, que sempre usa de sensacionalismo ao comentar a Par ada, ela foi sucesso total. Mesmo com o episódio do esfaqueamento, dos furtos ocorridos, de algumas brigas e dos muitos atendimentos médicos, isso não torna o evento problemático. Mais de três milhões de pessoas circulando por determinadas ruas por horas e horas, com certeza gera problemas, mas são pequenos perto do tamanho que o evento atingiu. Algumas coisas podem ser melhoradas e outras discutidas com o poder público (como esticar em mais uma hora o evento para evitar que os trios tenham que acelerar e ficar muito próximos e a liberação da Praça da República), talvez um maior cuidado no que diz respeito ao livre arbítrio das pessoas e por aí vai. Enfim, mesmo com o país caminhando a passos rápidos para uma temporada sombria, as cores se fizeram presentes nesta semana e, em especial, neste domingo. A Parada continua sendo a maior do mundo e isso nos traz um fio de esperança com relação a um futuro próximo.

ZINES Por Treva 14ª Marcha da Consciência Negra Esse pequeno jornal foi distribuído durante a Marcha da Consciência Negra/2017. Nele constam diversos textos com pautas relacionadas à luta do Movimento Negro. Ainda que não os textos não tenham sido assinados (imagino que tenham sido escritos em grupo), é de fácil leitura e esclarecedores, ideal para ler enquanto aguardava o início da marcha. Os textos têm como ponto de partida uma crítica ao racismo estrutural vigente no país e suas consequências diretas sob a popu lação negra. Sobram críticas a alckmin e doria (governador e prefeito de São Paulo, respectivamente), reforma trabalhista, violência policial no cotidiano e sobre o massacre do Carandiru, violência física e psicológica e outros que convocam a população, independente de cor, a lutar contr a o racismo. VI Festival do Filme Anarquista e Punk Durante o festival rolou o lançamento deste que é o primeiro zine relacionado ao evento. Gratuito, vem com informações sobre o evento, oficinas que seriam realizadas e resenhas de todos os filmes exibidos. Para maiores informações, festival@anarcopunk.org ou https://anarcopunk.org/festival/. Anarquismo e Audiovisual #1 Outro zine que foi distribuído durante o Festival do Filme Anarquista e Punk. Em suas 14 páginas, o zine trata do audiovisual dentro do contexto punk e anarquista, com textos explicando a origem do festival, a aproximação do anarquismo com o cinema aqui e na gringa, o q ue vem a ser um audiovisual anarquista e por aí vai, além da indicação de leitura e de filmes. Contato: festival@anarcopunk.org ou https://anarcopunk.org/festival/ e para baixar http://www.mediafire.com/file/zs9pfqw8juae1q6/ANARQUISMO+E+AUDIOVISUAL+1.pdf Informativo do Centro de Cultura Social Uma das características do Festival do Filme Anarquista e Punk é a grande e variada quantidade de material à disposição das p essoas, para todos os gostos e bolsos. Esse informativo estava em uma mesa repleta de material distribuído pelo CCS e era solicitad a uma contribuição voluntária de qualquer valor para ajudar a cobrir os gastos. Entonces, esse informativo é do próprio CCS e conta um pouca de sua história ( só para ter ideia, a parada começou em 1933) e a origem do ateneu. Se você é daquelas pessoas que já se encheu do rolê tóxico de Sampa, com suas gigs vazias de sentimento e camaradagem, das bandas de sempre, da relação promíscua entre pessoas e quem não presta, fica a sugestão: cole no CCS, porque ainda há esperança de tran sformar o discurso em prática. O endereço é Rua general Jardim, 253, sala 22, Vila Buarque, pertinho do metrô República ou então vai de net www.ccssp.com.br, ccssp@ccssp.com.br ou https://pt-br.facebook.com/CCSSP33/ .


Bloco Autônomo Quem tem o hábito de colar em manifestações na cidade de São Paulo já deve ter visto ou ouvido falar do Bloco Autônomo, grupo que reúne anarquistas e comunistas que rejeitam vínculos com a pelegada frequentadora de manifestações. Nesse informativo, conclamam a classe trabalhadora a unir-se contra o estado e suas reformas e tecem críticas aos partidecos políticos e a uma possível eleição geral (sabemos a quem isso interessava). O e-mail é blocoautonomosp@riseup.net, na rede social https://www.facebook.com/blocoautonomosp/ ou pessoalmente em alguma manifestação. Para Mudar Tudo – Um Chamado Anarquista Talvez você já tenha visto uma galera compartilhando o link em sua rede (anti)social favorita e saiba do que se trata. Caso c ontrário, sugiro dar uma conferida. Este livreto é uma compilação de pequenos textos elaborados em conjunto por diversos grupos espalhados pelo globo, a convite do coletivo Crimethlnc. Os textos nos convidam a fazer uma reflexão sobre o que desejamos, como, quando e onde mudar. Apesar do assunto s ério, a leitura é leve e rápida, valendo também para as pessoas que não são anarquistas, mas que almejam mudanças significaivas. Para conhecer um pouco mais da proposta, clica em http://paramudartudo.com/ ou se tiver interesse em incluir seu coletivo, fazer sugestões ou críticas escreva para o e-mail paramudartudo@riseup.net Sodanuhka #9 Para as pessoas que acham não haver bons zines circulando, sinto em informar, vocês estão por fora. Ainda que a quantidade tenha diminuído consideravelmente comparada com anos atrás, tem muita gente insistindo nesta parte da cultura punk, mantendo a característica do material impresso e também compartilhado na grande rede, o que facilita na divulgação e economia de moedas. Um dos melhores zines em atividade é o Sodanuhka, que chega ao seu número 9. Disponibilizado em dezembro do ano passado, esse número traz entrevista com Rastilho e P.R.O.B.L.E.M.S., indicações de filmes que passam longe do circuito comercial, tem poesia e um texto muito bacana da Karine Campanille (das bandas Mau Sangue e Kultist) que trata da mobilidade urbana. O único “ponto negativo” continua sendo o fato do zine ter poucas páginas, mas com a crise econômica e mesmo com o desinteres se relacionado à leitura por parte de muitxs punks, fica fácil entender o porquê não aumentar o número de páginas. Mas qualquer reclamação sobre isso ou por outro motivo, dferr29@yahoo.com.br. (Des)União Passados 20 anos desde sua primeira edição, ano passado saiu este zine feito pelo Thiago (da banda EDI). Como está escrito logo na primeira página, “zine é muito importante dentro da cultura punk e espero que voltem a circular nas ruas!” É bem por aí a ideia! O trampo vem com uma entrevista muito bacana com o Jaaka, conhecido por seu envolvimento com a Casa Punk Recs e com as bandas Luta Armada e Pós Guerra, tem algumas resenhas de materiais das bandas Campo Minado, The Virus, Cólera, Choque Cultural entre outr as e textos. Aragrind Rotten Sound Zine N° 1 Enquanto muitas pessoas que residem nos centros urbanos mais tradicionais ficam a reclamar sobra a estrutura da(s) cena(s), mendigando espaço e oportunidade ao invés de assumirem para si a responsabilidade de fazer acontecer, em locais mais distantes a galera não perde tempo com choradeira e coloca em prática o faça você mesmx. A cada novo contato, em cada nova informação recebida, mais acredito qu e o underground vive e, apesar de todos os problemas estruturais conhecidos, produz muita contracultura de qualidade. Esse zine é do ano passado e é mais uma empreitada do Jhad, da banda Rusga! É gravadora, bandas, zines... o cara não para! Es se trampo cabuloso é resultado de uma pesquisa de dois anos para mapear bandas da região de Barra do Graças (MT) entre os anos de 1990 a 2017. Cada banda aparece com diversas informações como nome dos integrantes, lançamentos, influências e por aí vai. E como a ideia era m apear o underground da região, abrange do Punk ao Metal, passando por seus diversos subestilos. Trampo extremamente bem feito e de importância para o underground da região e de fora dela também, que merece ser visto/lido por quem diz se importar com contracultura. E para você não ficar aí lambendo os beiços, segue o link para baixar (aproveita e baixa também os dois números do Berro Clandestino). O link para sua felicidade é https://www.4shared.com/office/LB34gHjIei/Aragrind_Rotten_Sound_Zine_-_E.html Solidariedade Anarquistas Perseguidxs Pela “Operação Érebo” Dificilmente alguém envolvido com o Punk não saiba do acontecido, mas como tudo por aqui está muito estranho (intelectualment e falando) e nisso incluo o Punk, melhor uma rápida explicação. No final de outubro do ano passado, o braço armado do estado gaúcho realizou uma patética operação policial chamada “Érebro” (teria ficado melhor se chamasse “Sem Cérebro”) em busca de provas incriminatórias contra anarquistas de Porto Alegre, referentes a ações q ue ocorreram anos atrás. Como a polícia é uma instituição pau mandada pelo estado e este não tem nada para fazer, desenterraram esses acontecimentos, armaram uma ação hollywoodiana e com ampla cobertura midiática. Como já sabemos, estado + polícia + mídia corporativa trabalhando juntos, o resultado é que não podem ver uma vergonha de bobeira que já querem passar. A mediocridade foi tamanha que garrafas pets foram mostradas como sendo material para preparo de coquetéis molotovs. Fico aqui com meus botões a imaginar cena tão bizarra: manifestantes entram em confronto com “puliça” e arremessam bombas incendiárias feitas com garrafas pets; estas cairiam próximas dxs robocps, talvez quicassem uma


ou duas vezes, distraindo-xs e isso teria o efeito de desencadear uma crise de labirintite e elxs ficariam desnorteadxs. É o melhor que consigo imaginar usando esses artefatos tão perigosos e engenhosamente preparados. Esse material começou a ser divulgado esse ano, sendo distribuído gratuitamente no mundo real e compartilhado no mundo virtual. Nele, consta breve explicação sobre a tal operação e alguns textos explicativos, sempre deixando claro que a luta vai continuar. Como diz no material, “Somos o que somos e nisso não vamos retroceder: somos anarquistas, amamos a liberdade e sim, desprezam os a todos os valores e instituições que compõem essa máquina de guerra chamada capitalismo, civilização.” Isso diz muito sobre o trampo e sobre a postura dxs anarquistas porto alegrenses e de qualquer outra quebrada. Estamos em todo lugar! A Plebe Nº 98 Conhecido informativo da Federação Operária de São Paulo (fundada em 1905), normalmente distribuído em manifestações não partidárias/pelegas, eventos anarquistas e gigs punks. Este número saiu em maio deste ano e traz textos sobre o 1º de maio, algumas informações sobre a reativação da FOSP-COB e críticas a atual letargia da população frente aos desmandos da canalhada política. Para maiores informações, entre em contato através do e-mail profosp@bol.com.br

RENEGADOS PELO SISTEMA FIM DE TUDO Por Treva Enquanto muita gente, bisonhamente, continua vivendo o Punk como se ele fosse uma realidade apenas em uma dúzia de seis cidad es, outras tantas pessoas vivem o Punk em suas quebradas, organizando gigs, gravando, distribuindo zines ou mantendo webradios, col aborando para manter vivo o underground e, em espacial, a rebelião Punk, sem se importar com modismos ou panelas das cidades mais “centrais ”. Surgida em meados de 2006, a banda Renegados Pelo Sistema é uma dessas que entende o real sentido do “faça você mesmx” e o coloca em prática na cidade de Manaus/AM. Tendo como influências Cólera, Restos de Nada, Lixomania, Invasores de Cérebros e até Dorsal Atlântica, tem como integrantes Rodney Silva (guitarra e vocal) e João Paulo Maquiné (bateria), contando com a ajuda de amigos de outras bandas para ocupar o posto de baixista nas apresentações. Os garotos já gravaram dois CDs, “Retrato de um País”, de 2010 e “Fim de Tudo”, de 2016. Este último conta com 11 sons que nos remete aos anos 80, onde mandam um punk/hardcore com letras simples, mas bem escritas, que retratam a vivência cotidiana. Nesse trampo, o baixo ficou nas mãos de Cristian Oliveira e ainda teve a participação de Jeferson Carneiro nas guitarras, que por sinal foi quem produziu o primeiro trampo da banda. Com uma produção bem acima da média, a gravação ficou muito boa, com vocal e instrumentos audíveis, além de uma preocupaçã o com a parte gráfica, com capinha caprichada com o logo da banda. O CD é foda no todo, trazendo de volta uma simplicidade que já f oi uma característica do Punk, mas que hoje está um pouco sumida. Além da banda, estão envolvidos com a Marginal Distro, que cuida do material dos Renegados Pelo Sistema, agiliza gigs e também trampa com coletivos musicais, fomentando a cultura independente em Manaus e região. Mesmo com todos os problemas que estão atrelados a viver em um país de terceiro mundo, o Punk está espalhado por todos os can tos da republiqueta, criando, compartilhando, corroendo os bons modos e vomitando verdades na cara da sociedade. Sair da bolha e procurar conhecer o que está sendo feito pelas quebradas do país é valorizar a cultura que diz fazer parte e certeza de conhecer muita coisa boa. https://www.facebook.com/Renegados-PELO-Sistema-1511816999039779/?ref=br_rs https://www.facebook.com/Marginal-Distro-603565206513686/

https://renegadospelosistema.bandcamp.com/releases

POESIAS Por Hannah, Karl Straight* & Penha Maria da Silva** CAGANDO E ANDANDO Tô tomando Activia

O FIM* Sentimentos de desespero

Tô tomando Johnnie Walker

São como nuvens negras que nos atormentam

Tô cagando... tô andando

Em dias de frio e tempestade

Eu tô cagando e andando pro lula

Dizendo que o fim está próximo


ILUSÃO E LIBERDADE* Quem deve recorrer à ilusão para ver os sonhos?

Respiro esperança

Quem deve conhecer o coração para depois lutar?

Repete-se com vários povos

Seria eu? Ou você? Não sei!

Sofrimento de oprimidos

Serão aqueles que acreditam na verdade?

É chegado o momento e chagada a hora

Eu descobri uma nova meta em mim

Lute!

Liberdade de ser eu assim

Falsas atitudes, falsas situações

Liberdade de dizer o que quero, o que há em mim

Fato diário, fato diverso

Caminho através dos meus poros MÃE GENTIL**

Se está no seu lar

Onde está o direito do não?

Ou lá fora, em outro mundo

Onde se escondeu o respeito pelo não?

Mulheres com cicatrizes por dentro e por fora

Não quero mais você

Ora bolas, ora bolas

Eu não lhe amo mais

Se o Brasil é pátria amada “mãe gentil”

Eu não posso continuar

Onde está a gentileza com as filhas deste solo chamado Brasil?

Eu não quero, não quero ficar

Gentileza pelo direito do sim

O não é manchado de sangue

Pelo respeito do não

O não que é símbolo de morte

Eu não quero! Eu não vou, eu não sou

O não que transforma amor em ódio

Eu não aceito! Eu quero respeito!

O não que mata, o não mais forte

Viver sem medo, viver do meu jeito

Não, não, não

Pátria amada Brasil!

Não, sinônimo de violência

Que o seu solo seja reflexo de vida, não de morte

Que é contra a sobrevivência

Que não seja mais tingido pelo sangue de suas mulheres

Querem o quê?

Das mais fracas até as mais fortes

Que as mulheres só digam sim, aceito, amém

De suas mães, suas esposas, suas namoradas

Que as mulheres percam a vida,

Suas sobrinhas, suas filhas, suas enteadas...

Pois não serão de mais ninguém

Enfim, que a justiça seja feita

E as leis? Estas leis, do não contra o bem

Ou de quem tem mais sorte.

O que querem?

Trilha sonora dessa edição: Electric Funeral, Paranoid, Poison Idea, Alerta!, Dead Kannedys, Restos de Nada, Inocentes (antigo), The Clash, Rot, Agathocles, Warkrust, Antimaster, Disaster, Dischaka, Extreme Noise Terror, Deserdados, Kulturkamph, Sick of it All, R.I.P., Anti-Flag, Alarm Signal, Krigshöt, Ruidosa Inmundicia, Sex Pistols, Korrosive, Mardröm, Anger Burning, Kaaos, Dag Nasty, Operation Ivy, Life Chain, Death Invocation, Argue Danmnation, Uutuus, Desperata Skrik, Vaaska, Last Chaos, Ulster, Execradores, Terveet Kädet, For Fuck Sake, Lapinpolthajat, Dominatrix, Abrasive Wheel, MG 15, Chuva Negra, Agent Orange, Final Conflict, The Killing Flame, 7 Seconds, Madball, Reiketsu, morne e Aus-Rotten

Mulheres trocando de maquiagem Por hematomas profundos? Trocando sorriso por angústia, medo, Trocando de assunto? Mulheres dormindo com seu maior inimigo Sem saber onde está o perigo? Se está no acordar ou no sono profundo

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