Drops de Junho

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DROPS

de

JUNHO

joão F



N

os caminhos se contradizem uns aos outros outro homem já procurou o algoritmo para suas pesquisas & respostas, mas num passe mágico ele mudou.

pode o inferno ser tão escuro e me deixar em calmaria? a vida aqui é fácil : o chá é servido às cinco, sem falta ao meio dia jogo golzinho com o diabo, mais tarde apostamos corrida.

todas as fontes secaram, o mar recuou vieram os exterminadores, apareceram os heróis, muitos deles sozinhos, vindo de longe; das terras onde os lagartos

vez ou outra cai alguém aqui comigo e é por isso que vivo nesse ciclo.

comem pedras e os cães cospem de fogo. penso no meu hamster correndo morto ou vivo deixou de existir o mundo, perdão pelos meus pecados, o resgate humano custa pesadas carnificinas.

não mais resolvemos problemas nos lobbys dos vapt-vupt, com infinitas senhas e minutos de espera.

no infinito dos giros da roda, talvez eu seja o capeta de lá do lado de fora.

só eu sei o que é girar e cair como a bomba

de Hiroshima pra no final falhar e sorrir como que dizendo: “ufa”,

é preciso ser ágil, as bruxas rondam nosso caminho recitando poemas em seus tablets, um simples feitiço não tocará o nosso ombro é preciso ser informatizado e enfrenta-las através da tela de um Windows.

mas isso não me tira a dúvida da cabeça por que deus, por mais que eu peça pra estourar nas paradas de sucesso você me bota pra baixo nas rimas de José Décio?


reparo em cada música que toca. um sinal, um chiado que nos rege, penso que isso chega a ser um maquinista rumando ao oeste em seu trem.

estou certo de que me preparei bem pra qualquer guerra que venha a ter

ou pra algum convite de chá às cinco com a rainha, nesse dia estarei trajado de vermelho dos pés à cabeça,

tudo corre, tudo se desenrola rápido uma figura não é mais estável

meus sapatos seguirão o ritmo e não irão esquecer

diante de nós,

da dama da noite arrancando sopro a sopro

aparece e some

meu coração ainda pulsante.

incessantemente.

sinto que estou caindo numa rede de pequenos costumes fora dos meus padrões, é proibido dormir de calça e sempre me acordam, sem falta, quando o galo canta.

as coisas em movimento se deformam, como vibrações no espaço, assim, o cavalo não tem quatro patas:

mas no fundo, ainda bem baixinho escuto o violino arranhar nos fios de cobre da caixa de som gritando para o mundo suas incompletudes.

tem vinte e quatro.


Far West urbano do outro lado da rua o vizinho me espera com sua Glock à espreita dentro do bolso.

deste lado de cá

o quadro não é aquilo dos cubistas não é a enumeração analítica

um vigia mira na cabeça do pé do vizinho com sua M92.

de Braque, estou parado no meio é, pois, a própria vida

do círculo de fogo,

intuída dentro e fora do objeto

sem mexer nem a ponta

destruindo a concepção estática

do cabelo, simplesmente

de fluidez.

estático como concreto.

a priori, eis o abismo

tenho medo de levantar

de nossas leis tradicionais que fazem do escarro uma ponta extrema e imodesta

bandeira branca e bancar o correto, ou correr, acho que já não adianta. mil e uma ideias passam por minha cabeça nesse instante.

dos costumes reais. é engraçado pensar que uma bala chega à quatrocentos quilômetros por hora, imagine o estrago disso no cora

são mil coices de burro.


I foi por burroughs que acendi meu primeiro cigarro ana Cristina me deixa confuso

apenas pra testar e

mais do que qualquer outro poeta

acreditar que fui ousado

acima de tudo, leio ana e estou noutra

por alguns minutos.

sintonia almoço nu desde então

além de beethoven ou mozart

para que minha vó se acostume

bem que eu queria entender cada versículo

com o corpo

daquilo

além das mensagens bíblicas.

bem que eu devia estar lá no dia

assim como os

quando ela decidiu não dar mais nenhuma pista

ayahuasca

pajés tomam entro em contato com meu

e pegou qualquer ônibus que partia

para além de seus últimos suspiros.

fico bem triste por não ter como

II agradeço pelo feriado de corpus christ por nos lembrar que o homicídio sempre esteve presente em nossas mesas.

espírito animal e me corvo

agradeço pelo fim do mês

diante das cidades grandes

que traz o salário e o pão que

e sua maquinaria imparável.

enche barriga.

lhe enviar um e-mail dizendo que o rosa

agradeço pelo tiro de revolver

é a cor que me toca assim

que partiu a cabeça em duas

como a teus pés a cidade grande parece

e fez dessa cena a visão implacável

pequena para nós dois.

de todas as noites.


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