Apunhalados

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apunhalados joĂŁo, Le Pife


“outra batida, um sussurro e uma longa espera. então, após um minuto, uma pequena luz bruxuleou dentro da casinha de Faber. após outra pausa, a porta dos fundos se abriu.” - Fahrenheit 451


[ justificativa I ]

porque eu sou apenas um filho de uma mãe e de um pai um menino que não se distrai no mistério da virgem. desde sempre magro com cabelos cacheados e dentes à mostra sem asas, mas com a cabeça sempre disposta a viajar pra longe & desvendar o que eles escondem a mais de mil anos porque sou um homo-sapiens, não mais que isso, tenho sede por contos e lendas antigas. quero saber o que houve até chegar onde cheguei, quero entender o que aconteceu a serpente e onde foi parar o resto do paraíso.

escrevo porque suspiros não bastam, porque preciso, antes de tudo, do antídoto capaz de barrar a mediocridade de andar pra lá e pra cá com a boca aberta e os pulmões enchendo de ar. escrevo, porque minha boca dói quando os músculos se enrijecem e transam palavras que saem apenas no silêncio das folhas em branco entretanto, tudo isso é conversa pra boi dormir.



[ enirce ]

passei pela escotilha, mas um suspiro me fez cambalear, estava quase saindo do hangar quando pensei em todos os outros que ficaram de longe, protegendo pra que ninguém me visse, percebi que minha fuga seria injusta, então abri os olhos e pensei: isso realmente aconteceu?

noites rosa cor de nuvem quando chove, cheiro de terra molhada e orvalho na subida da manhã. memórias do sítio do Tota quando ia pegar leite logo cedo e ouvia minha Tia gritar um “cuidado” que me acompanha até hoje.


[ o brilho das luzes elétricas ]

ao ouvir as palavras da mãe, ficou claro para Gregor que o pai entendera errado a mensagem. Imediatamente ergueu uma cadeira que estava ao lado e depois correu para o pai – nesse momento foi-se a capacidade de Gregor de enxergar. foi quando as mãos de sua mãe lhe alcançaram a nuca que ela implorou para que poupasse a vida de seu marido.

[ um copo de leite ]

o som ficou muito alto então vieram dois malucos com cassetetes em mãos e deram na cara do primeiro que encontraram na frente. ficamos olhando o sangue pingar do porrete; bastou um segundo e estávamos todos trocando murros e pontapés. um típico horrorshow.


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