Revista Vox Objetiva 34

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Cosmopolita sim, uai!

aBrIL/12 • Edição 34 • Ano IV • Distribuição gratuita

Investimentos em alta e fácil adaptação colocam BH na rota de imigrantes profissionais

Elegância eterna

Londres verde e amarela

Primeira reportagem da série “Retrô e vintage”: a moda que não se perde no tempo

Um “palácio de cristal” reservado para os atletas brasileiros na terra da rainha


Todos os 26 estados têm dívidas e 25 devem principalmente à União. Em Minas, você está pagando R$ 4,1 bilhões por ano e a dívida não para de crescer, pois os juros são muito altos, o que impede a realização de mais obras e ações. Só pra você ter uma ideia, R$ 1 bilhão a mais nos cofres do Estado permitiria a construção de mais 1.000 quilômetros de estradas, ou mais 37.000

casas populares, ou escolas para mais 399.000 alunos, ou mais 5.000 Unidades Básicas de Saúde. A dívida está sangrando o Estado. Renegociação já. Junte-se à Assembleia de Minas nesta luta.

Saiba mais em www.almg.gov.br



Expediente

A Revista Vox é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro - Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060.

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32) • Editor e jornalista responsável Carlos Viana • Editora adjunta Sandra Carvalho • diagramação e arte Graziele Martins • Capa Fernanda Carvalho • Reportagem André Martins Paulo Filho • ESTAGIÁRIOS Fernanda Carvalho Bianca Nazaré • CORRESPONDENTES Greice Rodrigues -Estados Unidos Ilana Rehavia - Reino Unido • diretoria Comercial Solange Viana • anúncios comercial@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 • ATENDIMENTO jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 www.voxobjetiva.com.br • REVISÃO Versão Final • tiragem 30 mil exemplares Os textos publicados em forma de artigos, produzidos por colunistas convidados, expressam o pensamento individual e são de responsabilidade dos autores. Todos os direitos reservados. Os textos publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores.

Editorial

CARLOS viana Editor-Chefe carlos.viana@voxobjetiva.com.br

Resultados em lugar de discursos Na última semana de abril, com alarde menor do que o esperado, a presidente Dilma anunciou um dos maiores e mais ousados planos para a melhoria da mobilidade em nosso país. Cinquenta e um grandes centros receberam a confirmação de que os projetos para metrôs e veículos leves sobre trilhos vão receber o financiamento necessário para que se tornem realidade nas ruas e avenidas lotadas de carros e congestionamentos. Para Belo Horizonte, o Governo Federal liberou a ampliação da linha Eldorado-Venda Nova, a finalização da linha dois, Barreiro-Carlos Prates, e o início dos cálculos para a linha três subterrânea, Lagoinha-Savassi. Além dos R$2 bi em recursos, foi confirmada a boa notícia da autorização para que os trens da CBTU, em Minas, passem a correr sob a responsabilidade de uma parceria público-privada. O vencedor da licitação deve investir outro R$1 bi em recursos próprios para viabilizar todo o projeto. Durante a solenidade no Palácio do Planalto, Dilma repetiu a receita bem-sucedida de uma popularidade que chega a quase 70% - recorde para um presidente em segundo ano de mandato. Em meio às notícias de escândalos envolvendo políticos de todos os motes, a presidente fez o que os brasileiros querem: apresentou resultados no lugar de discursos vazios e retóricos; mostrou que as crises devem ficar restritas aos locais onde surgiram e que é preciso tomar as decisões que o país precisa. Respostas que têm mostrado ao mundo que somos capazes de organizar um Brasil que chama a atenção das grandes nações. Em uma reportagem especial do repórter André Martins, Vox Objetiva mostra que essa confiança em dias melhores ultrapassou nossas fronteiras. BH agora é também a capital dos imigrantes. Profissionais que, ao desembarcar aqui, fazem-nos relembrar o quanto somos maiores que os escândalos e os problemas que marcam nosso cotidiano. Dizer quanto tempo viveremos esse período de prosperidade é uma tarefa difícil. Assim como os novos imigrantes que chegam admirados com nossas montanhas, precisamos acreditar e viver a cada dia a esperança e a alegria de um caminho novo.


MetrOpolIS • OLHAR BH

Tempus Fugit Fernanda Carvalho

Uma coleção diferente no reduto boêmio da capital dos mineiros. Os discos e relógios foram presentes dados ao Seu Rocha por fregueses. Até mesmo Lô Borges, os integrantes do Skank e do Sepultura estão representados na parede. Nascido em 1961, o tradicional Bar do Bolão é cartão-postal do bairro Santa Tereza. São 24 horas diárias do clássico espaguete e do Rochedão, cerveja e muita prosa.

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sumário Stock.xchng

Fernanda Carvalho

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verbo.............................................................

SOCIEDADE • ATUALIZAÇÃO

DO CDC

Propostas destacam prevenção do superendividamento e comércio eletrônico

entrevista • MARY ARANTES

Estilista e curadora do Minas Trend Preview fala sobre o valor da leveza

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Capa.......................................................................... economiA •

bh de todas as nações

Entenda por que Belo Horizonte tem atraído profissionais de outros países

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metropolis..............................................

metropolis.............................................. Política • ELEIÇÕES 2012

Bastidores do início da corrida pela Prefeitura de Belo Horizonte

Artigos............................................................................. POLÍTICA • Paulo Filho Partidos unidos como réus na CPI do Cachoeira.....................

JUSTIÇA • Robson Sávio

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METEOROLOGIA • Ruibran dos Reis

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A possível realidade de desertos no Norte de Minas................

Violência juvenil denuncia falhas do poder público...............

IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira Aprenda a se defender das construtoras................................

PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci Temperamento: descubra qual é o seu..................................

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CRÔNICA • Joanita Gontijo Sensibilidade no museu das paixões acabadas.....................

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SALUTARIS........................................................................

CAVALOS • ÚLTIMA MODA Acessórios de luxo agregam valor ao esporte................

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Reprodução/HBO

Fernanda Carvalho

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Salutaris..................................................

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Primeira reportagem da série mostra looks atuais que marcaram época

Fernanda Carvalho

retrô e vintage • PASSADO ETERNO

kultur.......................................................... TV • GUERRA DOS TRONOS

Segunda temporada da série começa morna na HBO

Divulgação

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Salutaris.................................................. esporte • CRYSTAL PALACE

Tudo sobre a casa da delegação brasileira nas Olimpíadas de Londres Fiat/Divulgação

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Vanguarda.............................................. veículos • A SAGA DO

FIAT 500

Entenda por que o preço do importado da Fiat caiu drasticamente

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kultur.......................................................... MÚSICA • TRINTA ANOS SEM ELIS

Maria Rita relembra trajetória de vida e de carreira da mãe para os fãs de BH

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VERBO

A leveza do feito a mão Por mais que os meios tenham evoluído, Mary Arantes cultiva os antigos modos e faz arte com a moda. Esse é o novo nome do Minas Trend Preview Texto e Fotos Fernanda Carvalho Bijuterias para todos os lados. De várias cores, estilos e formatos. Cada uma é quase única, com detalhes a mão e muita história para contar. A moda mais artesanal, quase “fora de moda” atualmente, foi preservada pela marca Mary Design e conta com um público cativo Brasil afora. Nascida no Vale do Jequitinhonha, Mary Arantes começou a fazer moda aos 17 anos, quando já morava na capital mineira. Com poucas condições financeiras, a menina, filha de alfaiate, fazia desde cedo as próprias roupas. As colegas se encantavam com o que viam, e o futuro da jovem começava a ser traçado.

quer salientar. Então, por exemplo, eu fiz uma coleção sobre o Guignard. Ele não tem parentes em lugar nenhum do mundo mais. Se você não começa a falar dele para uma geração mais jovem, daqui a um tempo ninguém vai saber quem foi Guignard. Eu falei de ecologia sobre o Frank Gardner, que não é brasileiro, mas que defende a nossa causa mais do que qualquer um da gente; falei dos pássaros do Brasil,... Acho que ninguém compra só produto mais. As pessoas compram uma história atrás de um produto. Essa fala vai por meio do release, da imprensa e de..., sei lá... Se eu conseguir passar o que eu estou fazendo para 1.000 clientes, já está valendo a pena.

As pessoas estão mais ligadas ao emocional do que a apenas um produto vazio

O estilo único e fascinante da designer de moda a levou a assumir a direção criativa do Minas Trend Preview do primeiro semestre deste ano. Em uma grande e luxuosa sala, repleta de bijuterias expostas e organizadas, Mary contou um pouco da própria trajetória e da marca à VOX OBJETIVA, além de avaliar o evento mineiro.

Em que você costuma buscar inspiração? Em tudo. Eu falo que tudo que eu como, quando eu bebo, quando eu viajo, o que eu leio e o que eu respiro vira produto um dia, com certeza. Eu escrevo, sou poetisa e costumo anotar frases que podem virar temas. Mas acho que a minha maior fonte de inspiração é o Brasil: essa cultura tão diversificada. Eu costumo dizer que quem tem uma marca, tem uma bandeira que deve ser levantada para as questões que

É essencial que um produto de moda conte uma história em vez de fazer um produto unicamente de massa? Eu acredito que sim. Eu tenho certeza de que isso nem sempre é possível. Existem vários tipos de moda. Mas, no nosso caso, que é um produto mais elaborado, vendido em lojas mais sofisticadas, onde você tem uma abordagem mais direta com o cliente, acho extremamente válido. Percebi isso uma vez que fui comprar um quadro. Foi uma das primeiras coisas que adquiri com o meu dinheiro - eu estava na Savassi, numa galeria de arte superbonita. Sabe quando você bate o olho e fala: ‘Esse quadro tem que ser meu’? Na hora, eu não comprei como uma colecionadora que leva um produto de um cara que era estrelado.



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Por acaso, esse cara era estrelado, mas eu percebi que aquela mulher me falava daquele quadro, contando a história dele: se era abstrato, se era moderno, se era isso, se era aquilo. Quando você compra uma obra de arte, você leva essas referências com você para casa. Aí eu perguntei: ‘por que eu não posso colocar isso nos meus colarezinhos e nas minhas bijuterias’? Então muitas vezes sinto o que a gente chama de venda emocional. Fizemos um colar uma vez em que tinha escrito uma frase de uma poetisa portuguesa que se chama Florbela Espanca: ‘e para te encontrar foi que eu nasci’. Então as pessoas se encantavam com a frase e compravam o colar por causa da frase, sabe? Foi isso que eu percebi: que as pessoas estão muito mais ligadas ao emocional, na relação que aquilo tem com a vida pessoal delas, do que com apenas um produto vazio.

Como você fez para crescer no mercado da moda? O meu processo foi muito gradual, porque eu era uma pessoa de uma família muito humilde. Então não poderia ter sido diferente. Eu falo que se existiam assessoria de imprensa, consultores, essas coisas na época, não me falavam nada, porque eu não tinha dinheiro para pagar. (Risos) Quem trabalha com ‘biju’ são firmas de valor barato. Então a gente nunca tem capital para fazer grandes coisas. Foi um processo muito intuitivo. Contou imensamente com a participação do meu marido, José de Paula, médico, e que também abandonou a profissão depois de sete anos para remar o barco comigo. Ele tinha, sim, essa noção de empresa, de empreendedorismo. Eu tenho certeza de que, se não fosse por ele, a gente não tinha chegado onde chegou, porque artista é artista; não sabe muito fazer conta. Por isso foi um processo gradual, de nunca dar um passo maior que a perna, mas sabendo também arriscar na hora certa. Eu acho que moda e risco estão muito próximos.

questionando essas coisas, pegando o que é do mundo. Porque o grande laboratório do estilista é o mundo, né? É converter toda essa aspiração das pessoas em forma de produto e devolver para o mercado. Eu acho que é isso que o criador faz.

Atualmente é muito raro encontrar moda feita a mão. É possível unir o artesanal à grande produção? Tenho absoluta certeza, porque é isso que eu faço. A gente produz de 15 mil a 18 mil peças por mês. Desde quando eu comecei, na minha primeira coleção, eu quero fazer diferente, ser diferente. Eu tenho um apreço sem tamanho pelo que é feito a mão. As minhas bonecas de pano eram feitas a mão; meu pai costurava. Eu costumo dizer que são coisas que não estão dando mais mudinha, sabe? A mãe faz crochê; a filha já não quer, porque está fazendo curso de informática. Então, se a gente não plantar essas mudinhas nas gerações que estão vindo e valorizar essa cultura do feito a mão, daqui a um tempo a gente não vai ter mais isso. E o feito a mão é único, porque, por mais que seja repetitivo, tem as diferenças pessoais. O sentimento de cada um no dia, o tamanho do bordado, o ponto, é diferente um do outro.

Se não valorizarmos o feito a mão, a gente não vai ter mais isso

Você sempre liga a sua produção ao lado social? Em alguns casos, sim. Eu sinto falta disso: essa fala universal. Eu falei da ecologia, dos pássaros do Brasil, que era essa questão de descobrir que ainda se mata pássaro para comer, sabe? Eu estou sempre

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Mas como você consegue fazer com que esse processo dê certo? Por exemplo: eu produzo um anel na metalúrgica, mas a parte de cima eu faço a mão ou eu faço meio a meio. A gente tem colares que são feitos dois por dia, entendeu? Nessa planilha de dois por dia, eu tenho o preço da mão de obra de quatro horas em cada uma. Então eu cobro mais caro. E vai vender menos, porque a peça é mais cara. Um empresário costuma pensar em produzir 100, 200 por dia. Só que eu acho que tem quem pague o preço por esse preciosismo do feito a mão. E é nele que eu quero me firmar cada vez mais.

Como você analisa a moda em Minas? Você acha que ela tem uma produção própria forte e consolidada? Eu acho que a moda em Minas sempre foi forte. Exatamente por ser esse celeiro de arte, de bordado, crochê... É como se a gente tivesse meio que imerso entre as montanhas e isso não saísse daqui, sabe? Essas


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freiras e os colégios de freiras... Minhas irmãs todas estudaram nesses colégios e elas aprendiam tudo: a bordar, costurar, pintar. O que eu acho que aconteceu com a moda em Minas, que perdeu um pouco para o Rio-São Paulo, é que a gente perdeu essas feiras e todos esses movimentos que aconteceram aqui. As coisas foram se acabando, e a gente deixou esse espaço vazio. A gente também quase não tem editorias de moda. As grandes revistas são quase todas de fora. Então é muito mais fácil para uma revista Elle, Marie Claire, por exemplo, pegar uma mercadoria na esquina do que me ligar para eu mandar o meu colar. Mas eu acho que esse lugar que a gente está falando tem sido retomado com o Minas Trend Preview. E eu tenho certeza de que a gente precisa manter isso para trazer jornalistas de fora; trazer essas pessoas para que elas vejam o que a gente está fazendo escondido aqui entre as montanhas.

Falando nisso, essa é a sua primeira curadoria do Minas Trend, e o tema dessa décima edição é a leveza. Como essa temática foi escolhida? Para o Dr. Olavo, presidente da Fiemg, um dos pilares da gestão dele é a sustentabilidade. Então o que foi passado para mim é que fosse trabalhado esse tema. E eu fiquei pensando de que forma eu poderia falar dessa palavra que a maioria das pessoas acha que é gasta, mas que, na verdade, não existe hoje na moda. Eu acho que se existirem dez degraus, a gente está antes do primeiro. Então a palavra deve ser falada até que se torne um gesto leve, porque, quando a gente faz as coisas de forma forçada, não existe leveza. E eu queria passar que não é só ser leve na sustentabilidade; é ser leve como ser humano: nas relações empresariais, nas relações com as pessoas, na forma de viver, cumprimentar ao entrar no elevador,... Eu falo que educação ficou parecendo coisa fora de moda, sabe? Uma das coisas que me levaram a escolher esse tema também foi a filosofia do bambu, que eu li muito sobre ela, eu gosto muito desse lado zen da vida. E tudo o que eu lia sobre o bambu, a relação era muito parecida com o empresário. O bambu leva de sete a oito anos para crescer. Primeiro ele vai enraizar. Depois, de seis a sete semanas, ele Lorem Ipsum Dolar sit cresce 20 metros deamet uma vez. Quando existe muito consectetur adipiscing elit. vento, um vendaval, uma tempestade, ele se curva, Praesent malesuada urna mas não se quebra. É o que se chama de resiliência. ornare libe. Então é muito interessante mostrar para o empresário que, para ele crescer, ele tem que enraizar. Tem que ter uma base sólida também nas dificuldades, como em

meio às crises que já tivemos com planos econômicos, agora enfrentando a crise da China, da Índia, o dólar barato, os clientes indo para os Estados Unidos fazer compras,... Isso tudo é difícil para gente. Mas temos que ter essa resiliência do bambu, sabe? Temos de saber nos flexionar diante das dificuldades, mas continuar firmes na terra.

Uma novidade do Minas Trend é a moda infantil. As crianças estão se interessando mais pela moda ou existe apenas uma imposição, uma “ditadura” do mercado da moda determinando o que elas devem usar? Eu acho que a própria mídia, a internet e, principalmente, a televisão coloca essas crianças nesse circuito fashion, desde sempre. Eu conheço meninas que, desde pequenas, não querem mais saber de vestido rodado como as mães de antigamente vestiam. Elas querem se vestir como mocinhas, com uma roupa diferenciada ou similar à da mãe. Se isso é interessante ou não, eu não estou aqui para fazer essas críticas, né? (Sorrisos) Eu adoro a criança de vestido rodado, mas, com certeza, essas concepções não existiriam, se não houvesse esse apelo de moda, de novidade, do que é fashion, do que é interessante também para as crianças. E a gente está acreditando muito, porque é sempre uma abertura de mercados, assim como um dia a gente pode resolver trabalhar, sei lá, beach wear, under wear,... Então o Minas Trend está só crescendo e, com isso, você vai trazendo uma diversificação de clientela também.

Mary destaca o artesanato em suas peças .........................................................................................................................

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ARTIGO - POLÍTICA

pAULO fILHO Jornalista e consultor de Comunicação Social paulojfilho@ig.com.br

Juntos no banco dos réus Há quase 30 anos, um mineiro, ícone das pregações de autoajuda e motivação, enveredou pelo campo da política. Seu slogan era: “a crise é de caráter”. Teve seu momento de glória, foi eleito deputado estadual. Não me lembro se foi reeleito. De qualquer forma, sua mensagem colou - a crise era de caráter e continua sendo. Em 2004, o país conheceu o contraventor Carlinhos Cachoeira. Ele mesmo tornou público um vídeo em que o petista Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, intimava a ele que fizesse o pagamento de propina de cerca de R$ 1 milhão. O vídeo foi o capítulo inicial de uma série de denúncias e “vendetas” que gerou a investigação de um dos maiores e mais rumorosos casos de corrupção na política nacional, batizado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) e um dos corruptos beneficiados, como “mensalão”.

porque sua prisão vem acompanhada da divulgação de um sem-número de empresários e políticos de vários partidos envolvidos com seus negócios. O volume é tão grande que alguns cardeais do PT, Lula à frente, apostam na CPI do Cachoeira como estratégia para abafar a repercussão do julgamento do mensalão, previsto para este ano. Um tiro que pode sair pela culatra. Cachoeira e sua teia de negócios escancaram uma verdade absoluta: a corrupção no Brasil perpassa e iguala os partidos, dando razão ao ditado “são todos farinha do mesmo saco”. No rol dos envolvidos, já foram citados, desconsiderando peixes pequenos, um senador do DEM, Demóstenes Torres, um governador do PSDB, Marconi Perillo, um governador do PT, Agnelo Queiroz, uma autoridade do Planalto, Olavo Noleto, pelo menos cinco deputados federais (dos partidos PSDB, PT, PPS, PTB e PP) e Fernando Cavendish, dono da Delta Construções – empreiteira com o maior número de contratos com a União para obras do PAC. Apenas do governo federal, a Delta recebeu, em 2011, cerca de R$ 884 milhões. Em 2012, de janeiro a abril, foram cerca de R$ 156 milhões recebidos para obras do PAC. E isso é apenas a ponta do iceberg, já que, além dos contratos com a União, a Delta tem compromissos com 23 estados e o DF.

A corrupção no Brasil iguala os partidos, dando razão ao ditado “farinha do mesmo saco”

Naquele episódio, hoje em processo de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), a denúncia era a de que o governo Lula comprava, com dinheiro desviado dos cofres públicos, o voto de congressistas. Apesar de grande e rumoroso, o “mensalão” do governo petista não pôde ser chamado de original. Como apontaram as investigações, o know-how do esquema era daqui de Minas, do governo tucano de Eduardo Azeredo, dos nossos “publicitários” e dos nossos banqueiros. De repente, o Cachoeira volta em grande estilo ao noticiário nacional. Preso na operação Monte Carlo, ele e alguns de seus operadores estão, desde fevereiro, em um presídio no Rio Grande do Norte. E em grande estilo,

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Como se vê, a CPI do Cachoeira pode esclarecer como funciona esse mosaico pluripartidário da corrupção, no qual o verniz ideológico serve apenas para dar lustro às caras de pau. E tomara que Carlinhos fale, solte as palavras em cascata e seja sonoro como uma cachoeira.


Metropolis • SOCIEDADE

Nas mãos do Congresso Atualização do Código de Defesa do Consumidor aguarda tramitação. Superendividamento e comércio eletrônico são os temas principais Sandra Carvalho

Sandra Carvalho

A auxiliar de serviços gerais Helena Xavier fez um empréstimo de R$ 1.400 em um banco de Belo Horizonte. O objetivo era ajudar a pagar a mensalidade atrasada e a rematrícula do filho na faculdade. Ela dividiu o valor do empréstimo em 24 prestações de R$ 89. Em dois anos, Helena vai pagar 50% do valor a mais, só de juros. Até aí, tudo normal para um país de juros altíssimos. Mas o que deixou Helena indignada foi a surpresa que ela teve: a cobrança de três parcelas do empréstimo de uma só vez. O débito foi realizado na conta bancária de Helena, assim que o salário dela, no valor de meio-salário-mínimo (R$ 311), foi depositado, no quinto dia útil de abril. “Não sobrou dinheiro para nada, nem para a comida”. Após entrar em contato com o banco, a faxineira entendeu o que se passava. “Eles disseram que cobraram de mim duas parcelas atrasadas, além da parcela que estava vencendo em abril, porque no dia em que elas venceram não havia dinheiro na minha conta. O problema é que o banco ficou com todo o meu dinheiro do mês. Só não entendo por que não debitaram essas parcelas atrasadas antes na minha conta, nas datas em que havia dinheiro. Deixaram para cobrar tudo de uma só vez, engolindo todo o meu salário. O valor, que já era pouco, agora é nada”. Problemas como o de Helena poderão ser evitados, caso três anteprojetos concluídos recentemente, que alteram o Código de Defesa do Consumidor (CDC), entrem em tramitação e virem lei. Uma das mudanças propostas trata do superendividamento e da renegociação de dívidas. Na legislação atual, o credor pode exigir o pagamento integral da dívida atrasada, como aconteceu com Helena, que teve três parcelas debitadas na conta de uma só vez e viu o salário ir embora. Com a nova proposta, o credor pode debitar apenas o mínimo de 30% da renda do consumidor. Dessa forma, fica garantido que o devedor terá dinheiro para sua subsistência. É o chamado mínimo existencial.

Código de Defesa do Consumidor tem 21 anos de vigência .........................................................................................................................

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Metropolis • SOCIEDADE

Essa e várias outras medidas relacionadas com o superendividamento, muitas vezes provocado pela oferta excessiva de crédito, estão presentes nas propostas. O comércio eletrônico também terá seu lugar e pode entrar como a grande novidade no código. É que, quando a legislação foi criada, em 1990, não existia essa modalidade de compra e venda. Os três anteprojetos foram elaborados por uma comissão de juristas a pedido da presidência do Senado. O parlamento acatou as reivindicações e os estudos apresentados por entidades e órgãos de defesa do consumidor. As propostas foram apresentadas ao presidente da Casa Legislativa, senador José Sarney (PMDB/AP), no dia 14 de março, véspera do 21º aniversário de vigência do CDC. Um mês depois, as propostas foram encaminhadas para a avaliação de comissões da Câmara dos Deputados, a fim de se tornar um projeto a ser votado pelos congressistas.

entrando em uma bola de neve, já que as empresas são muito inflexíveis”, afirma. Um dos pontos que ele destaca na proposta de prevenção do superendividamento (veja quadro abaixo) é a chance de desistência de empréstimos contratados em até sete dias após a contratação. “Muitas vezes, as pessoas fazem empréstimos sem analisar as condições direito, comportamento muitas vezes estimulado por quem empresta. Se puder desistir, ela pode chegar em casa, pensar melhor, pesquisar melhor ou ser alertada por um amigo ou um parente sobre os juros e desistir a tempo”, afirma.

“Transparência: palavra de ordem, seja na questão do superendividamento, seja no comércio eletrônico”

Outro ponto que merece um olhar diferente na opinião do jurista é o item que propõe o fim do preço à vista idêntico ao preço Marcelo Barbosa a prazo. “Se algo custa R$ 1.000 em dez prestações de R$ 100 a Coordenador do Procon da ALMG prazo, tem que custar menos à vista. Quando o comerciante “Temos esperança de que os legisladores se sensibilizem e vende o produto pelo mesmo preço à vista e a prazo, ele está votem as mudanças propostas o mais rápido possível e, de enganando o consumidor. O que se propõe é transparência preferência, sem alterações no texto”, afirma o coordenador nessas negociações”, diz Barbosa. E ele acrescenta: do Procon Estadual, Marcelo Barbosa. Ele conta que o “matematicamente falando, mil é igual a dez vezes cem, superendividamento é talvez o fator mais preocupante. mas, comercialmente falando não é assim. O valor de “A oferta de crédito de uns anos pra cá aumentou muito. R$1.000 parcelado pode ser igual a R$ 800 à vista”.Para Boa parte da população não sabe lidar com isso e acaba a defensora pública Adriana Burger, que deu consultoria

Principais propostas

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Prevenção contra o superendividamento: - Valor cobrado da dívida não pode ser superior ao mínimo existencial (30% da renda do consumidor) em empréstimos consignados; - consumidor deve ser informado pelo fornecedor sobre o custo total e a descrição dos elementos que compõem o preço; - o fornecedor deve detalhar: taxa efetiva mensal de juros, taxa dos juros de mora e o total de encargos previstos para o atraso no pagamento; - esclarecer, aconselhar e advertir adequadamente o consumidor sobre a natureza e a modalidade do crédito oferecido, assim como sobre as consequências do inadimplemento; - proibido formular preço para pagamento a prazo idêntico ao

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do pagamento à vista; - proibido fazer referência a crédito “sem juros”, “gratuito”, “sem acréscimo”, com “taxa zero” ou expressão de sentido ou entendimento semelhante; - proibido indicar que uma operação de crédito poderá ser concluída sem consulta a serviços de proteção ao crédito ou sem avaliação da situação financeira do consumidor; - proibido ocultar os ônus e riscos da contratação do crédito, dificultar sua compreensão ou estimular o endividamento do consumidor, em especial se for idoso ou adolescente; - o consumidor poderá desistir da contratação do crédito consignado em um prazo de sete dias.


MetrOpolIS• SOCIEDADE

técnica à comissão jurídica do Senado ao lado de colegas defensores de vários estados, o Brasil está atrasado na questão da prevenção do superendividamento. “Vários países preveem em suas legislações cláusulas que previnem esse problema há muitos anos. Um dos modelos é a França, que criou leis nesse sentido há mais de 20 anos”, destaca. Para Adriana, a pressão popular será fundamental para que se tenha agilidade na tramitação e aprovação da atualização do CDC no Congresso. “É claro que tem o tempo de apreciação previsto nos regimentos das casas legislativas, mas é preciso que população, imprensa e entidades de defesa dos consumidores acompanhem passo a passo a tramitação e cobrem de seus representantes no Senado e na Câmara agilidade em todo esse processo”. COMÉRCIO ELETRÔNICO NA MIRA Em dezembro, o funcionário público Eduardo Pinheiro comprou o tão esperado presente de Natal: um computador novo e mais potente. A compra foi feita em um site famoso em venda de eletrônicos. Pinheiro pagou o valor à vista. Uma semana depois, recebeu um computador que simplesmente não funcionava. Imediatamente entrou no chat da empresa para reclamar. Inicialmente, um funcionário lhe instruiu a devolver o computador pelos Correios para a empresa consertar o produto. Indignado, Pinheiro disse que pagou por um produto novo e não por um produto consertado. Então ele afirmou que, por causa do comportamento da empresa, estava desistindo da compra.

Com muito custo, a empresa concordou em devolver a ele o valor pago e marcou via chat uma data para o reembolso. Chegado o dia, nada da devolução. “Entrei novamente no chat para reclamar e, para piorar, o funcionário voltou atrás e insistiu que eu deveria receber o computador consertado e que essas eram as regras da empresa, algo que não estava claro no site. Informei que se meu dinheiro não fosse depositado no dia seguinte faria um vídeo sobre o problema e o divulgaria na internet. Como não me devolveram no prazo, fiz o vídeo e o coloquei na rede. Já nas primeiras horas, eram centenas de acessos. No outro dia, meu dinheiro estava na conta”, contou. Para evitar problemas como esse, um dos anteprojetos propostos pelo Senado trata do comércio eletrônico – um item que não existia, quando o CDC foi criado e que hoje representa nada menos que 40% de todas as transações comerciais do país. Contratos transparentes e muito bem-explicados e informações disponíveis de forma clara nos sites formam o princípio básico de toda a legislação proposta (veja quadro). “É importante lembrar que o nosso código sempre previu o comércio a distância, mas de forma genérica. O que vimos foi a necessidade de criar uma legislação que trate das situações específicas do comércio eletrônico”, informa Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Associação Nacional de Defesa do Consumidor, a Proteste, que também contribuiu com os estudos que resultaram nos anteprojetos.

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Comércio eletrônico: - Obrigatoriedade da identificação da empresa, endereço, contato de e-mail ou telefone e cadastro no Ministério da Fazenda no site; - deixar visível e claro o preço do produto com descrição de taxa de entrega, disponibilidade de entrega, prazo de entrega e condições de pagamento; - informar validade do preço e da oferta; - detalhar características do produto ou serviço, validade e disponibilidade em estoque; - informar e manter ativo contato para que o consumidor faça reclamações ou alterações no pedido;

- confirmar imediatamente o recebimento de comunicados do consumidor; - encaminhar via de contrato ao consumidor; - não enviar mensagem de propaganda ao consumidor, a menos que ele autorize; - o consumidor pode desistir da compra em um prazo de sete dias, a contar do recebimento do produto ou da prestação do serviço ou da data da contratação - fica proibido o compartilhamento dos dados do consumidor, a menos que ele autorize. Fonte: Senado

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MetrOpolIS • Capa

Uma capital de todos Saiba por que Belo Horizonte atrai tantos estrangeiros e quem são as pessoas que escolheram a cidade como segunda casa André Martins Praça Sete, 18h. O que motiva as milhares de pessoas em frenético vaivém é chegar em casa após a sempre indesejada segunda-feira. Não é preciso ser muito observador para identificar rostos com traços raramente vistos por aqui. O bom “mineirês” deixou de ser o único idioma da capital. Não é nenhuma Torre de Babel, mas, nas ruas já se ouvem conversas atravessadas e burburinhos em línguas estrangeiras. Foi-se o tempo em que a capital de Minas era local em que apenas os belo-horizontinos se encontravam e conseguiam estabelecer vínculos afetivos até mesmo com lugares e esquinas. Beagá é também o pedaço de chão que muitos estrangeiros escolheram para fincar raízes. De uns anos para cá, a cidade, a exemplo das megalópoles mundiais, ganhou novas facetas, personagens e línguas. Hoje Belo Horizonte é o que se pode chamar de uma cosmópole.

conhecimento técnico e prático. Os ramos que mais empregam são o de tecnologia, mineração e siderurgia, onde se observa a forte atuação de norte-americanos e europeus. Já o setor de construção civil registra grande presença da mão de obra latino-americana. Ser mais globalizados e heterogêneos é, de acordo com a antropologia, a tendência que se estende aos conglomerados urbanos. “Mais rápido ou menos, as cidades tendem a ser cada vez mais complexas numericamente e pluriculturais”, enfatiza o professor do Departamento de Antropologia e Sociologia da UFMG, Marcel Freitas.

Grande parte dos negócios de siderurgia e mineração em Minas passam por BH

O presidente da empresa Despachatur, Ivan Luiz Rocha Vale, ratifica o aumento anual do fluxo de estrangeiros na capital, bem como da emissão de vistos. “Só em consultas para a regularização de estrangeiros pela empresa, houve um aumento de 156%. Fazendo uma projeção com os números do ano passado, o crescimento de mercado deve ser de, no mínimo, 30% em 2012”, detalha. O perfil de quem chega a Beagá para tentar a vida é promissor: a maioria é jovem, mas possui grande

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A gradual entrada estrangeira em solo brasileiro se deve à efervescente economia do país - um chamariz para o empresariado internacional. Além do vasto e estratificado mercado consumidor, o Brasil, como grande negociador de bens primários, tornou-se um dos melhores locais para a injeção de capital.

Nos setores de investimentos, Belo Horizonte ocupa um lugar de destaque, por ser centro administrativo de um Estado com economia diversificada e com tradição na produção mineral. Muitos dos negócios de siderurgia e mineração movimentados no Estado, via de regra, passam por escritórios e sedes instalados aqui. Outro fator de ordem econômica que tem forçado a migração estrangeira, principalmente a europeia, é a crise na Zona do Euro. A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República estuda formas


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Gabriel Nunes e Castro

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Luíza Villarroel

de vista arrojados”, explica o docente, destacando a troca de papéis entre o Brasil e os países tidos como desenvolvidos. “Até há algumas décadas era sempre o contrário. Nós é que íamos beber na fonte da cultura europeia”. Um lugar de oportunidades Moderna, mas com certo ar provinciano. Em Belo Horizonte, o tradicional e o novo se emaranham, dando origem a uma mistura muito harmônica. Aqui a prosa é boa, e o povo, acolhedor. O clima é agradável. De tão bela, a vista do contraste entre céu e montanhas acabou nomeando o Antigo Curral del-Rei. Belo Horizonte é uma cidade de negócios. Grande, sim, mas com problemas em escala reduzida, se comparada a São Paulo e Rio de Janeiro.

de atrair a mão de obra estrangeira qualificada que está na Europa. O desemprego recorde em várias nações do Velho Mundo tem forçado o êxodo de uma leva de estrangeiros em direção ao Brasil, todos em busca de estabilidade financeira. “Dia desses, encontrei dois portugueses em um restaurante aqui da capital. Achei interessante quando um deles disse que em Portugal não se ganha mais dinheiro e que o Brasil era como os Estados Unidos deles”, relembra Vale. Os bons ventos da economia têm feito o Brasil assumir uma posição que nunca se pensou que pudesse. Na Despachatur havia recentemente a demanda de uma filial de rede de fast food instalada em Belo Horizonte para a regularização de 250 haitianos e angolanos dispostos a trabalhar na capital. O Brasil tem sido também um destino procurado para trocas acadêmicas e científicas. “Na UFMG, por exemplo, existem diversos pesquisadores da Itália, Bélgica, Espanha à procura de inovações e pontos

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Foi a junção de parte ou de todos os atrativos que a capital possui que pesaram na escolha de diversos estrangeiros. Para muitos deles, BH não é apenas dos mineiros; mas deles também. A VOX OBJETIVA foi à procura dos “gringos” belo-horizontinos de coração. Conheça um pouco da história de vida deles e saiba por quais razões eles escolheram Belo Horizonte. DO LONGÍNQUO ORIENTE No início da década de 50, o clima entre as duas Coreias era de tensão. A iminência de um grande conflito fazia com que diversos coreanos se dispersassem pelo mundo, buscando tranquilidade e melhores oportunidades de trabalho. O norte-coreano Jung Sung Lee, hoje com 66 anos, lembra-se vagamente de quando, aos quatro, embarcou de navio com os pais rumo à Coreia do Sul. Não imaginava o menino que, 19 anos depois, partiria em voo fretado, com mais 33 famílias, para o Brasil – um destino visado pelo surto desenvolvimentista iniciado com Juscelino Kubitschek. Desembarcou em São Paulo e lá permaneceu por dez anos, trabalhando no ramo têxtil. A milhas de distância, por intermédio de uma tia, Sung Lee conheceu, por fotos e cartas, a esposa Keum Ja Lee Kang. Por muito tempo, o namoro se resumiu às correspondências que demoravam dias a fio para chegar


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ao destino. Depois de muita espera, eles se conheceram e trocaram alianças na terra da garoa. A vinda para Belo Horizonte aconteceu em meados de 1980. Era a alternativa mais interessante para se desvencilhar da poluição, insegurança e do competitivo mercado de São Paulo. Hoje o casal comercializa peças do vestuário feminino. Ainda têm dificuldades com a língua portuguesa, mas não trocam o Brasil por lugar nenhum. “O povo de Belo Horizonte é receptivo e de bom coração”, opina Sung Lee. LONGe Da guerra No início da década de 70, na véspera de completar 18 anos de idade, o português Fernando Meira se viu diante de um grande impasse. Era hora de se apresentar ao exército lusitano e defender o país das investidas das colônias restantes que buscavam a independência. O jovem preferiu não se alistar. Como boa parte dos rapazes, que via colegas, amigos e familiares voltarem ao país sem vida ou com marcas perpétuas das guerras, Fernando resolveu fugir.

A maior consequência pela decisão, foi ter que viver como desertor em países vizinhos, entrando em Portugal esporádica e clandestinamente. “Numa dessas idas ao meu país, encontrei uma brasileira, mineira, que tinha ido a Portugal com o avô. Criamos um namorinho. Foi quando decidi vir para o Brasil com eles”, relembra. Foram 12 horas de viagem aérea de Paris ao Rio de Janeiro e mais outras 12 horas de ônibus, da capital fluminense a Governador Valadares. Passado o Carnaval de 1973, Meira deixou o Leste do Estado e foi tentar a vida em Belo Horizonte, onde trabalhou em agências de turismo e companhias aéreas. Mesmo sozinho e com pouco estudo, o jovem deu início a uma história de sucesso na capital, terra de povo “cativante”, segundo ele. Hoje o empresário é presidente da Câmara Portuguesa de Comércio em Minas Gerais e dono da maior agência de turismo no Estado. “Quando converso com jovens daqui, costumo dizer que sou mais mineiro do que eles. São 40 anos neste lugar”, destaca.

André Martins

Fernando Meira, português, chegou à capital sem grandes expectativas; hoje ele comanda uma das maiores agências de turismo do país ..............................................................................................................................................................................................................................................................

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Françoise Nicols/Divulgação

Inicialmente pensaram em investir na importação de brinquedos educativos, mas a ideia não vingou, devido às dificuldades impostas pelo governo. Como tiveram experiências no ramo da hotelaria e da gastronomia, optaram por criar um espaço que fosse o pedaço da França em Belo Horizonte: um bistrô e uma casa de vinhos com inauguração prevista para o final de agosto ou o início de setembro. “Aqui a ideia que se tem é que a gastronomia francesa é sempre chique. Não faremos alta-gastronomia. Pensamos em um espaço legal, com uma comida mais despojada e com preço bom”, explica. Há quase dois anos em Belo Horizonte, Watel conseguiu formar uma opinião a respeito do paradoxal povo de Beagá. “É tradicional, mas sempre aberto às inovações. Por essa razão, Belo Horizonte é uma cidade de negócios”, entende. um quase mineiro

Philippe Watel vai “implantar” um pedacinho da França em BH .........................................................................................................................

De acordo com Meira, o empresariado português tem visualizado potencial e, por isso, vem investindo em Belo Horizonte, primordialmente nos setores imobiliário, de construção e de tecnologia. escolha pelo bem-estar Em 2004, o francês Philippe Watel erguia um hotel num paraíso tropical chamado Morro de São Paulo, no leste da Bahia. Ele administrava, e a esposa, chef de cozinha, comandava o restaurante. A dificuldade surgiu, quando a filha do casal completou a idade escolar. A única opção era matricular a criança em instituições da capital, Salvador, mas era praticamente inviável se distanciar do hotel. Pensando unicamente no bem-estar da filha, o casal colocou o empreendimento à venda e se mudar. A opção mais adequada foi pela cidade da esposa, Belo Horizonte. A família chegou no dia 1º de maio de 2010. Os seis meses posteriores foram dedicados ao descanso. Watel e a esposa, entretanto, quebravam a cabeça para chegar a uma ideia de negócio arrojado que pudesse dar retorno.

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O português ainda não “sai” de maneira fluida como o francês que o belga Michel Vreysen utiliza para se fazer entender a parte de seus contatos telefônicos. Mas idioma não é problema. Em Belo Horizonte desde 2009, ele tem se saído muito bem no processo de adaptação à vida que escolheu. Hoje ele não abre mão da escolha. “Já sou quase um mineiro”, brinca. Separado e sem perspectivas profissionais na Europa, o belga decidiu Arquivo pessoal

O belga Michal Vreysen encontrou várias oportunidades aqui .........................................................................................................................


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tentar a vida em outro lugar. Em plena expansão no ramo da siderurgia e mineração, o ensolarado Brasil foi o país em que o empresário decidiu apostar as fichas. E deu certo. Em 2010, com ajuda de um sócio, criou uma empresa, com sede no bairro Anchieta, que importa do Velho Continente tecnologias e materiais inovadores. E em 2011, com a ajuda de uma mineira, com quem se casou recentemente, deu sumiço à solidão, o que lhe fez muito bem. Vreysen tem um carinho especial por Belo Horizonte por razões que vão desde a geografia até as facilidades cotidianas. “Gosto das montanhas, das trilhas. Neste bairro onde moro há padarias, farmácias e estabelecimentos comerciais próximos de casa. Eu venho trabalhar a pé, moro a sete minutos do escritório. Por isso, posso deixar o carro na garagem a semana inteira. A qualidade de vida que tenho aqui é muito boa”, pontua. Os filhos do primeiro casamento e os netinhos ficaram na França. Vreysen é, segundo ele mesmo, um “vovó ausente”. “Essa é a parte ruim”, opina. Mas ele não se arrepende de nada. Nos olhos há uma satisfação plena por tentar de novo. Em breve, ele espera receber todos para lhes apresentar as belezas naturais de Minas. Quem sabe decidam se juntar a ele? lUGAR para chamar de casa

em que trabalhava em Copenhague para fazer parte do departamento de consultoria tributária. “Lembro o dia em que, do vigésimo andar do edifício na avenida Rio Branco, avistei a Baía de Guanabara. Eu tinha saído de um frio ‘danado’ na Dinamarca. Pensei: ‘é aqui que eu quero morar’”. Seis meses depois, estava no Brasil. Em 1990, Lund descobre a capital mineira por meio da namorada e futura esposa, uma belo-horizontina. Após duas passagens pelos Estados Unidos, o advogado retorna ao Brasil, estabelecendo-se em Beagá. “Para níveis internacionais, Belo Horizonte é uma cidade grande. Mas, ao mesmo tempo, nunca deixou de ter esse ar de cidade menor. Eu optei pela capital mineira pela qualidade e vida que ela oferece. Além disso, esta é uma cidade de negócios, interessante para a minha área de atuação. Poucas pessoas ocupam esse espaço”, explica o advogado. Hoje Lund se considera um cidadão “internacional e brasileiro” e se diz integrado à cidade que escolheu para chamar de sua. “As pessoas me perguntam se eu sonho em português. E eu digo: ‘provavelmente sonhe em português’. Eu sonho também com o desenvolvimento de Minas Gerais e de Belo Horizonte. Aqui é a minha segunda casa, se já não virou a primeira”, arremata. André Martins

O primeiro contato do dinamarquês Michael Lund com o Brasil aconteceu em 1965, aos 6 anos de idade. Era uma visita ao país da mãe. Naquela época, a nação vivia diversas transformações, a começar pela capital federal que, mesmo inacabada, conseguia impressionar. O menino voltou para a Dinamarca, cresceu, formou-se em direito e se especializou na área tributária. Parecia que, como todo dinamarquês tradicional, cumpriria um roteiro de vida pré-estabelecido: trabalharia em grandes corporações, assegurando o conforto em um país frio, mas com um altíssimo padrão de vida. O tempo passou, os pais de Lund se aposentaram e, como haviam acordado, voltaram para o Brasil de modo definitivo. Em 1988, numa visita ao país, Michael recebeu a proposta do escritório brasileiro da empresa

Dinamarquês Michael Lund se sente plenamente integrado à capital .........................................................................................................................

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Artigo • Justiça

ROBSON SÁVIO REIS SOUZA Filósofo especialista em segurança pública robsonsavio@yahoo.com.br

Juventude e violência: violadores ou violados? Para responder ao aumento do crime, muitos governantes habitualmente tratam de implantar reformas incrementais nos órgãos do sistema de Justiça criminal. Porém, esses “remendos novos num pano velho” mantêm um Judiciário seletivo, polícias violentas e pouco preparadas para as novas modalidades de crime, sistemas prisional e de medidas socioeducativas ineficientes, dentre outros tantos problemas. A violência juvenil denuncia a incapacidade de o poder público enfrentar o grave problema da criminalidade urbana. Tratando os jovens como violentos, as políticas de prevenção contra o crime abordam a mocidade como um problema social, esquecendo-se de que os maiores déficits de acesso aos direitos de cidadania estão justamente nessa faixa etária.

as respostas possíveis para todos os jovens que não conseguem entrar, por exemplo, no mercado de trabalho. Até programas pretensamente inovadores trazem em sua concepção e execução os ranços discricionários em relação à juventude. Algumas das políticas de prevenção, por exemplo, funcionam como instrumentos de controle, disciplinando e docilizando os jovens, delimitando seus espaços sociais, selecionando-os e catalogando-os como perigosos.

A violência juvenil denuncia a incapacidade do poder público de enfrentar o grave problema da criminalidade urbana

É exatamente depois da conclusão do ensino fundamental que os jovens enfrentam todas as agruras da inserção na sociedade de consumo. A baixíssima cobertura do ensino médio, a escassez de ensino profissionalizante, os gargalos que impedem o ingresso no trabalho impossibilitam milhões de jovens de terem acesso aos direitos fundamentais de cidadania que lhes ampliariam as possibilidades de êxito. Como as políticas sociais são precárias para esse público, a solução sai da agenda política e entra, enviezadamente, no âmbito da Justiça. Assim, repressão, criminalização da juventude pobre e estigmatização social acabam sendo

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Em vez de se preocuparem com o acesso dos jovens aos direitos de cidadania, à melhoria de todo o sistema de segurança pública (polícias, sistema prisional, Judiciário etc.), à participação democrática da sociedade nas estratégias de enfrentamento da violência urbana e na articulação de ações que visam propiciar aos atores comunitários a participação ativa na resolução dos problemas relacionados com a criminalidade, tais políticas não resolvem os problemas. Ao contrário, elas os tamponam.

Prova disso são os altos índices de crimes juvenis que persistem no Brasil. Por tudo isso, é possível afirmar que as ações de repressão, de contenção social e de criminalização dos jovens e o recrudescimento penal não são suficientes para a construção de sociedades pacíficas. Como lemos na Bíblia, “a paz é fruto da justiça” e parte do problema da violência, especialmente da violência juvenil. Não é problema da polícia; é um problema político.

Metrópo



Metropolis • POLÍTICA

Situação sui generis Corrida pela prefeitura de BH está mais voltada para questões políticas do que para os problemas da cidade Paulo Filho

Guilherme Dardanhan/ALMG

A sucessão na prefeitura de Belo Horizonte está desenhando uma situação sui generis no ambiente político da cidade. A discussão e os embates sobre o pleito passam longe das questões administrativas e dos problemas reais que a capital enfrenta. A retórica de alguns dos principais atores envolvidos no processo é povoada de frases feitas, que vão do nada ao lugar-comum e destilam dissimulação e desfaçatez. Nesse cenário, o imbróglio que toma conta das páginas dos jornais locais é a escolha do vice do atual prefeito. Isso ocorre como se a reeleição fosse fava contada. Tendo os interesses da cidade e de sua população como referência, até hoje ninguém foi convincente ao tentar explicar o porquê dessa “ampla aliança”, que uniu petistas e tucanos em torno de um cristão novo na política eleitoral e na seara pessebista. Miguel Corrêa ou André Quintão? Virgílio Guimarães ou Marco Antônio Rezende? Alguém do Patrus ou alguém do Pimentel? O filho do Virgílio? E por que não ceder a vaga a alguém do Roberto Carvalho? Assim ele pode desarmar a resistência e voltar para dentro, garantindo a unidade petista, que por sua vez seria a garantia de uma reeleição fácil para o “blocão”. Até o momento, o cenário para a eleição em Belo Horizonte está colocado da seguinte forma: Marcio Lacerda (PSB) vai disputar a reeleição. Tudo indica que ele terá um vice indicado pelo PT, com o aval do grupo aecista. O PTB lançou o deputado federal Eros Biondini, que na eleição passada compôs como vice na chapa do deputado federal Leonardo Quintão (PMDB). O DEM tem falado em lançar o deputado estadual Gustavo Corrêa. As candidaturas de PTB e DEM dão pistas, como é praxe dessas

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Sávio Souza Cruz vem conseguindo apoio dentro do PMDB .........................................................................................................................

legendas, que são balões de ensaio para valorizar o “passe” em uma composição mais perto da eleição (e depois da posse). No PMDB, Quintão, de novo, e o deputado estadual Sávio Souza Cruz estão colocados. E pelo PV, o deputado estadual Délio Malheiros garante que é candidato, dessa vez, com o aval das três instâncias da legenda. Fora desse quadro está o vice-prefeito, Roberto Carvalho. Nesta fase do processo, Carvalho está com status ampliado e figurando como um dos principais atores da sucessão. O atual vice é presidente do PT municipal e grande liderança dos filiados do partido (cerca de 40%) que são contra a


Metropolis • política

aliança encabeçada pelo prefeito Marcio Lacerda. O engraçado nisso é que, em 2008, o atual líder obstinado da dissidência, Roberto Carvalho, foi um obstinado aliancista. Com a banda tocando dessa forma, é provável que a reeleição do atual prefeito não seja “um passeio” como querem fazer crer alguns. Se na eleição passada não foi, nada garante que nesta será. Nos movimentos que estão sendo feitos pelas candidaturas, destacam-se os dos deputados Sávio Souza Cruz e Délio Malheiros. Sávio Souza Cruz tem conseguido se articular bem dentro do PMDB e angariado o apoio de pesos-pesados do partido. Recentemente um manifesto assinado pelos ex-senadores Ronan Tito e Hélio Costa e pelos ex-deputados Aluísio Vasconcelos e Armando Costa defendeu e lançou o nome de Sávio como candidato da legenda à prefeitura de Belo Horizonte. O manifesto foi divulgado em um almoço que reuniu a bancada do PMDB. Dentre outras coisas, o texto defende o deputado e o aponta como o de melhor perfil e biografia para a empreitada: “Em nosso entendimento, o PMDB deve, neste novo momento, desfraldar com renovado empenho sua bandeira em favor da liberdade, da democracia, e da justiça social, realçar seus princípios históricos e consolidar-se como partido de efetiva oposição ao governo do estado e à estratégia aliancista instituída por ele na PBH”.

o deputado Sávio Souza Cruz tem conquistado espaços importantes em outros nichos. Outro encontro teve grande repercussão na mídia local: um almoço de Sávio e parte da bancada do PMDB da Assembleia com o vice-prefeito Roberto Carvalho (PT) e o deputado estadual Rogério Correia (PT). Os sinais de que a dissidência petista pode caminhar com a candidatura do PMDB foram claros. Basta que a chapa seja encabeçada por Sávio Souza Cruz. Essa tendência está nas entrelinhas das declarações dos dois petistas. Além dos dois dissidentes, participaram do almoço o ex-deputado federal Armando Costa e os deputados estaduais Antônio Júlio, Vanderlei Miranda e Adalclever Lopes. “pv terá partido” Já o deputado Délio Malheiros garante que sai candidato a prefeito de Belo Horizonte. E, segundo ele, com o apoio integral de todas as instâncias do seu partido, o PV, coisa que não ocorreu no pleito passado. “Eu era candidato em 2008, e na Lia Priscila

Também se manifestaram publicamente favoráveis ao deputado o ex-governador e atual deputado federal Newton Cardoso e o senador Clésio Andrade, recém-filiado ao PMDB. O fato de que o lançamento de Quintão no pleito passado teve o “dedo” do Palácio da Liberdade, que apontou para mais uma candidatura “mais amiga”, reforça o apoio dos caciques da legenda à candidatura de Sávio Souza Cruz. Essa é uma leitura feita por muitos que acompanham a política no estado. Além de avançar internamente no seu partido,

Délio Malheiros se declara o candidato oficial do PV .........................................................................................................................

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Metropolis • política

convenção do meu partido, minha candidatura foi inviabilizada por conta de forças políticas. Quando era vereador, fui o terceiro mais bem votado na cidade. Na eleição para deputado, também fiquei em terceiro, em Belo Horizonte. Minha candidatura era natural. Eu só não fui candidato a prefeito, porque gestões dos grupos que estavam no poder no governo do estado, no governo federal e na própria prefeitura interferiram no PV para jogar contra a minha candidatura, inclusive com o oferecimento de cargos”. Passados quase quatro anos, Délio Malheiros vê hoje a situação e as possibilidades bastante diferentes, “porque, primeiro, não havia no partido uma atuação, nos seus três níveis, para que houvesse uma candidatura própria - e agora há”, garante. “Eu fui escolhido presidente do PV municipal por unanimidade. Nós, que defendemos a candidatura própria, temos o controle das questões formais que dizem respeito a essa candidatura, coisa que não tínhamos”. Ainda segundo Malheiros, a Executiva Nacional do PV deixou claro que Belo Horizonte é prioridade para o PV. “Aqui é a capital onde o PV

tem as maiores chances na disputa, e a Executiva Estadual também tem essa visão”. Reforça esse posicionamento a votação alcançada em Belo Horizonte pela ex-senadora Marina Silva – na época, no PV –, na última eleição presidencial. “Foi a candidatura que teve mais votos na cidade. Ganhou a eleição aqui no primeiro turno, mesmo sem grande tempo de TV, com pouco dinheiro e sem grandes apoios políticos no estado e na cidade”. Para o deputado Délio Malheiros, esse é um sinal inequívoco de que os belo-horizontinos têm maior consciência política, muito acima da média nacional. “Esse eleitor não abre mão de sua autonomia e da sua independência na hora de votar”, garante.

A Executiva Nacional do PV deixou claro que Belo Horizonte é prioridade para o partido

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A esse raciocínio o deputado junta outro, potencializando as suas possibilidades numa disputa: “o PV é o único partido no país que, além de não atrapalhar, ajuda na conquista do eleitor. O partido representa uma causa nobre, não tem máculas, nem pessoas envolvidas em falcatruas e trapaças e tem como referência a Marina. Mesmo ela não estando mais no nosso partido, é quase certo que ela apoie nossa campanha em Belo Horizonte”, afirma.

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Artigo • IMOBILIÁRIO

kÊNIO DE SOUZA PEREIRA Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br

Aprenda a se defender das construtoras Há construtora que se aproveita do desespero de famílias que sonham em sair do aluguel ou da casa dos parentes. Essas empresas forçam o comprador a pagar despesas indevidas para dar a posse do apartamento que a pessoa comprou e pagou. Algumas situações são inimagináveis. Um exemplo é o Spazio Dell’ácqua, na Vila da Serra. O empreendimento deveria estar concluído em abril de 2010. Mesmo com esse atraso, a construtora tem insistido na cobrança de taxas de condomínio e IPTU dos compradores. Eles não têm a posse do apartamento, que está pendente de conclusão há dois anos, mas vêm recebendo cobrança.

tantas tentativas de receber o apartamento que nunca está com o acabamento adequado, são vencidos pelo cansaço. Acabam deixando de cobrar a devida reparação pelos defeitos que demonstram má qualidade da obra. Em abril, o Ministério Público, por meio da Promotoria de Defesa do Consumidor, notificou a Even para entregar o DVD da Assembleia Geral de Condomínio realizada no dia 15 de fevereiro de 2012. O objetivo era verificar se a ata montada pela construtora subtraiu diversas reclamações dos compradores. Os protestos registram a verdadeira situação de vários apartamentos, que ainda estão em obra. A situação demonstra que a taxa de condomínio, o IPTU e o juro de 1% ao mês sobre o saldo devedor não podem ser cobrados dos compradores. Apesar das diversas reclamações e notificações, a Even simplesmente não responde aos compradores nem às indagações que este colunista fez para sua diretora, para a advogada Priscila e para sua Assessoria de Imprensa, antes da redação deste artigo.

A venda a preço fechado obriga a construtora a entregar o apartamento com documentação apta a cartórios e a agentes financeiros

E mesmo tendo vendido o apartamento a preço fechado, a Even tem cobrado até as despesas da abertura da matrícula no Cartório de Registro de Imóveis. A venda a preço fechado obriga a construtora a entregar o apartamento com a documentação apta para ser aceita pelo Cartório de Notas ou Agente Financeiro – condição necessária para efetivar a transferência da propriedade para o comprador. Esse pagamento sempre é feito pela construtora, pois é despesa decorrente da regularização da obra, sem a qual não pode vender as unidades. Vários são os compradores que relatam se sentir coagidos, pois alegam que foram forçados a assinar documentos em que renunciam ao direito de cobrar a multa de atraso de 1% do valor total atualizado do imóvel, por cada mês de atraso. Outros, diante de

Diante dos problemas com a compra de imóveis e a dificuldade de os compradores obterem a reparação dos vícios de construção, a OAB-MG vai promover o XII Encontro Imobiliário. O evento está programado para o dia 19 de junho de 2012, no auditório da rua Albita nº 250 - Cruzeiro, em BH. Inscrições no site www.oabmg. org.br/sites/imobiliario.

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SALUTARIS • série retrô

Passado no presente Os anos 2000 começaram com uma mescla de estilos de várias décadas. Hoje o design antigo faz cada vez mais parte do dia a dia das pessoas Fernanda Carvalho Acordou com o despertador vermelho vibrando em cima da cômoda que era da bisavó. Levantou-se e colocou o vestido preferido: preto de bolinhas brancas. Sentou-se na poltrona comprada na loja de móveis antigos do bairro, enquanto colocava os óculos circulares e calçava o sapato fechado com bico arredondado. Ligou o aparelho de toca-discos e escolheu o LP “Let it be”, dos Beatles, para fazer de trilha sonora, enquanto terminava de se arrumar. Tirou o telefone do gancho e girou, número por número, até começar a chamar na casa da amiga. Apressada, pegou a inseparável câmera analógica novinha, desceu as escadas do prédio correndo e encontrou seu New Beetle na garagem. Estava atrasada para a aula de lindy hop na academia de dança da Savassi. Sim. Essa é uma cena cada vez mais próxima da realidade. Na decoração, na moda, na música, na fotografia,

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SALUTARIS • série retrô

nos automóveis e até mesmo na dança, o presente parece estar no passado. A nova geração busca sempre mais os anos vividos pelos ancestrais: está na primeira década do milênio 2000, mas vive uma mescla de tudo que existiu e existe, desde meados de 1900. A explicação para o fato, segundo a psicóloga clínica Kátia França, está na necessidade que todo ser humano tem de pertencimento.

com aspectos que fazem parte do presente, mas que são do passado ou remetem a essas outras épocas. A partir desta edição, até setembro, o leitor vai acompanhar o retrô e o vintage inseridos na moda, na decoração, na música, nos carros, na fotografia e na dança.

O anseio por fazer parte de um grupo vem do desejo por segurança. “Quando a gente procura uma coisa do retrô e do vintage, a gente encontra esse aconchego. É no passado que vamos buscar nossa identidade”, explica Kátia. É por meio desse retorno que o ser humano descobre a história, não somente dos seus antepassados, mas dos antigos líderes, pensadores, cantores e de tudo o que colaborou para que o mundo chegasse a ser como é.

Nas ruas, passado, presente e futuro se misturam nas roupas. Os cortes retos de Coco Chanel, os decotes profundos dos vestidos de noite da década de 1930, os adoráveis chapéus dos anos 40, a feminilidade estampada dos estilos Marilyn Monroe e Audrey Hapburn de 50, o hippie de 1960: todas as décadas estão presentes em uma só.

vestuário pós-moderno

O vestuário como reflexo da identidade do homem. Desde o Antigo Egito era assim. Cleópatra se enfeitava E quem nunca ouviu a frase: “no meu tempo era bem com pedras preciosas e joias de ouro. diferente,... Era muito melhor!”? A Era uma mulher determinada, assim nostalgia que escolta a humanicomo mostravam as roupas que usava. Retrô é aquilo que dade faz parte de um estado quaEntretanto, para o crítico de moda e se constante de insatisfação. Para você tenta reproduzir a psicóloga, essa deveria ser uma inspirado em conceitos professor do curso de design de moda da UFMG, Tarcisio D’Almeida, foi soexceção. “A regra tinha que ser do passado mente na segunda metade do século ‘estar satisfeito’. O que a gente vê XIX, com o surgimento da alta-coshoje é justamente o oposto. DeviVintage é o que tura, em Paris, que surgiu o conceito do a esse consumismo exagerado, realmente é completo de moda como um sistema e sobretudo o jovem se torna insaantigo, fabricado no não meramente como vestimenta. tisfeito”, reflete. passado, e que você

usa hoje

Atos como o de mostrar fotos aos filhos e netos ainda se conservam, mas estão cada vez mais raros. Não há necessidade de se levantar para trocar o canal da TV, nem mudar o lado do disco LP para ouvir as outras faixas. Afinal, tudo é virtual. Mesmo assim, Kátia atenta para a importância dessa tradição de relembrar comportamentos e analisar as diferentes atitudes dos vários tempos. A nova geração busca aquilo que não teve a chance de viver. “O que não significa que eu vou procurar o passado e esquecer o presente. É preciso saber misturar as épocas, percebendo que elas são apenas diferentes. Nenhuma é melhor que a outra”. Diante desse cada vez maior retorno ao passado, a VOX OBJETIVA inicia uma série de seis matérias relacionadas

Atualmente, para D’Almeida, a “novidade” no ramo da moda passou a ser o “calcanhar de Aquiles”. “Quando afirmo isso, quero dizer que a constante busca pelo novo não necessariamente implica afirmar que esse novo seja de fato inédito. O que ocorre, em grande parte, são releituras”. O filósofo francês, autor do livro “A era do vazio”, Gilles Lipovetsky, batiza os tempos atuais de a era humorística. De acordo com ele, o bom gosto da alta-costura foi superado pelo prêt-à-porter (pronto para usar) ao estilo alegre. O chique agora não é mais estar na última moda, mas ter uma “originalidade hipernarcísica” ou ser descontraído. Afinal, segundo Lipovetsky, atualmente ninguém precisa ser nada além de si mesmo, mas sempre com humor.

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SALUTARIS • série retrô

Reprodução

Audrey Hepburn marcou a história da moda com o visual de Bonequinha de Luxo ........................................................

“Então, quando você vai a um brechó, em geral encontra moda vintage. Mas a moda o tempo todo faz movimentos e faz retrô; reedita algumas peças.” Cris Guerra, blogueira na área de moda

Fernanda Carvalho

Cris Guerra revisita as décadas passadas com os looks do Brechó Brilhantina

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Na década de 60, o movimento hippie surgiu nos Estados Unidos como uma contracultura. Difusores do “paz e amor” e adoradores da natureza, o grupo criticava o uso de bombas nucleares e qualquer tipo de guerra. As roupas nessa época eram um reflexo dos anseios desse grupo. Atualmente o que acontece é diferente. Segundo a personal stylist Cristina Zanetti, essa vontade agora é particular. Ocorreu uma individualização do comunicar por meio de roupas. De acordo com Lipovetsky, o retrô é adaptado a uma sociedade personalizada que deseja desfazer os enquadramentos e ser flexível. “Se o modernismo foi baseado na aventura e na exploração, o pós-modernismo repousa sobre a reconquista, a autorrepresentação humorística no que concerne aos sistemas sociais, narcísica em relação aos sistemas psíquicos”, afirma o filósofo em “A era do Vazio”. Ele avalia que, ao contrário do que aconteceu no movimento hippie de 1960, na moda atual os sentidos estão desconectados das roupas. Agora a lógica é do “inédito pelo inédito”. A moda foi “expurgada de todo o significado cultural”.

Fernanda Carvalho

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Cristina concorda com Lipovetsky. Para ela, a moda hoje é muito mais comercial do que conceitual. Tarcisio D’Almeida acrescenta que o mundo da moda se entregou

Blogueira ap a dia e combi

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SALUTARIS • série retrô

Fernanda Carvalho

posta na moda conceitual em seu dia ina os estilos

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Reprodução

Marilyn Monroe em “O pecado mora ao lado” - ícone da feminilidade na década de 1950

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Fernanda Carvalho

“O importante não é ser original e, sim, harmônico”, aconselha Cris Guerra.

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às regras do mercado e se esqueceu “do seu espírito autônomo de criar artisticamente”.

gosta de guardar e acompanhar a história que contamos em cada nova coleção”, afirma.

Mas, ao contrário da maioria existente no mercado, algumas empresas tentam conservar essa arte. Com a intenção de unir praticidade ao lucro, a J Gean surgiu há cerca de 30 anos com uma “tecnologia de construção” diferente: um pouco mais rústica. Depois de cinco anos de vida, a empresa agregou o estilo retrô aos calçados. “Os produtos vão atendendo cada vez mais a esses anseios das nossas consumidoras, que são aquelas que querem produtos com aquele retrô bem antigão e as que querem um ar de retrô em um salto, por exemplo, mas com aplicações de cores e desenhos altamente modernos”, analisa o gerente de vendas da J Gean, Everton Lourenço.

Romântica e delicada ou rebelde e diferente da maioria, mas, de qualquer forma, “fora dos padrões”. Segundo Cristina, essas são as características predominantes em quem segue a tendência retrô e vintage. Ela aconselha para quem busca esse vestuário: “não existe uma fórmula para misturar peças de épocas diferentes. Depende muito da personalidade de quem usa. Eu só acho que tem que misturar. Tem que tomar cuidado para não ficar com cara de novela de época”.

De acordo com o gerente, o retrô faz parte do DNA da empresa. “A moda é cíclica, mas o que a gente analisa é o porquê desse retrô estar mais forte. O público feminino está cada vez mais politizado, preocupado com questões ambientais e com o conforto. As formas retrôs respeitam mais a fisiologia da mulher. Nós vislumbramos que o retrô ficará na crista da onda mais uma, duas ou três coleções, no máximo. Mas a nossa consumidora é cativa, coleciona os produtos J Gean. Ela

Lugares para encontrar esse vestuário não faltam. Além das marcas que utilizam o conceito retrô nas criações, muitas lojas se apossam das roupas fabricadas no passado e as revendem. É o caso dos brechós, uma das opções preferidas da blogueira Cris Guerra. “Se a gente parar para pensar, a gente é sempre uma bagagem, um conjunto de tudo que viveu nesse século XX, porque todas as décadas se inspiram nas passadas. Essa coisa da tendência também já não existe. Hoje a gente tem na rua pessoas com todas as preferências. Mas o que eu bato sempre na tecla é que o importante não é ser original e, sim, harmônico. Por isso que eu aconselho a ter no conjunto sempre uma peça mais clássica”.

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SALUTARIS • ESPORTE

O samba vai para o sul de Londres Saiba tudo sobre o Crystal Palace, o quartel-general da delegação brasileira para a Olimpíada de 2012 Ilana Rehavia, de Londres Enquanto Londres se prepara para virar a capital mundial do esporte, durante os Jogos Olímpicos de 2012, em um canto no sul da cidade só se fala em Brasil. Rodeado por um belo parque de 200 hectares, o Centro Esportivo Nacional Crystal Palace faz os últimos ajustes para se tornar uma espécie de quartel-general de 144 integrantes da delegação brasileira, antes e durante a Olimpíada. Mesmo a meses do início dos jogos, a presença verde e amarela já é sentida no enorme complexo esportivo. Cartazes com o logotipo do Time do Brasil e do Rio 2016 estão sendo espalhados por toda parte. O chef de cozinha do Crystal Palace arruma as malas para passar uma temporada no Brasil para aprender os segredos da nossa culinária. E, em meio ao ainda gélido inverno europeu, um recéminaugurado espaço para vôlei de praia traz um pouco do clima das areias cariocas para o frio londrino. Inaugurado em 1964 e tombado pelo patrimônio histórico britânico, o centro esportivo foi sede de vários eventos importantes, como o Campeonato Mundial de Pentatlo Moderno e o Campeonato Mundial de Karatê. A área recebeu seu nome por causa do antigo Crystal Palace (Palácio de Cristal) – uma enorme estrutura de vidro e ferro construída para a Grande Exposição de 1851, no Hyde Park. No ano seguinte, a estrutura foi transferida para o sul de Londres. Em uma noite de novembro de 1936, porém, a bela construção foi destruída por um incêndio. Hoje restam apenas ruínas.

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Anfitriões: centro esportivo está enfeitado com as cores do Brasil ..........................................................................................................................

Os atletas brasileiros vão chegar ao Crystal Palace um mês antes do início dos jogos para realizar treinos e aclimatização. Quando as competições começarem, em 27 de julho, os esportistas se mudam para a Vila Olímpica. No


SALUTARIS • ESPORTE

Fotos Crystal Palace/Divulgação

Moderno, o centro esportivo Crystal Palace oferece pista de atletismo de 400 metros dividida em oito raias ..............................................................................................................................................................................................................................................................

lugar dos atletas, no centro esportivo, vão ficar os membros da delegação não credenciados para as acomodações oficiais, como médicos, auxiliares técnicos, treinadores e fisioterapeutas. Ter um espaço exclusivo para a preparação antes e durante uma olimpíada é prática comum de países com forte tradição olímpica, mas uma novidade para o Brasil. Neste ano, apenas outros quatro países – os gigantes esportivos Estados Unidos, Rússia, Austrália e Alemanha – terão estruturas parecidas. “Isso faz parte da evolução da preparação das missões olímpicas brasileiras, que vem melhorando desde Atlanta 1996”, diz Marcus Vinícius Freire, superintendente executivo de esportes do Comitê Olímpico Brasileiro, o COB. Freire explica que o Crystal Palace foi escolhido por reunir instalações esportivas de alta qualidade para o treinamento simultâneo de várias modalidades. O complexo acomoda 144 pessoas

em 87 quartos em seu hotel, chamado The Lodge. Para os treinos, o espaço dispõe de uma pista de atletismo de 400 metros e oito raias certificadas pela Associação Internacional de Federações de Atletismo, IAAF na sigla em inglês, com capacidade para 16,5 mil espectadores, entre outras instalações para a prática do esporte. Há também três piscinas e uma série de ginásios cobertos que podem ser usados para várias modalidades, como basquete, vôlei, handebol, badminton, ginástica, artes marciais e esgrima. O complexo conta ainda com campos oficiais de futebol e hóquei sobre grama natural e sintética, quadras de tênis e squash e salas de musculação e condicionamento. O centro também será sede do acompanhamento de biomecânica, bioquímica, psicologia e análise de performance em vídeo. Com pouco mais de dois meses pela frente até a chegada dos brasileiros, a equipe do Crystal Palace

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SALUTARIS • ESPORTE

amada pelos brasileiros. Tanto que ele esteve no Brasil em abril para praticar e testar suas novas habilidades. A ideia é oferecer aos atletas uma alimentação parecida com a que estão acostumados em casa para reduzir ao máximo o desconforto de treinar e competir em outro continente. “Nós aproveitamos uma estada da federação brasileira de natação por aqui, em junho do ano passado, para testar o menu que será servido. E o cardápio foi bem recebido pelos esportistas e treinadores”, conta o gerente Barnes. Sua maior surpresa? “O arroz e feijão chamou a nossa atenção por serem tão diferentes do que comemos aqui na Inglaterra.” Além da infraestrutura, a localização é um ponto que contou a favor para a escolha do complexo pelo COB. O Crystal Palace fica a 20 quilômetros do Parque Olímpico. O local é ligado à região de Stratford, onde acontece a maioria dos eventos, pelo novo serviço de Overground – trens de superfície integrados ao sistema de metrô de Londres.

Descanso: dormitórios ficarão protegidos do assédio público ..........................................................................................................................

vai fazendo os ajustes necessários para receber a delegação em um evento tão importante. “Estamos muito animados para a chegada do Time do Brasil”, diz Russ Barnes, gerente-geral do Crystal Palace. Ele conta que a principal preocupação é garantir que as instalações estejam preparadas para atender a todas as modalidades que vão treinar por lá. “São muitos esportes diferentes, cada um com várias exigências específicas de suas federações.” Esportes à parte, o Crystal Palace quer agradar aos atletas também pelo estômago, com a culinária brasileira dominando o cardápio. Acostumado a criar iguarias nutritivas para esportistas de alto nível, o chefe de cozinha do centro está agora aprendendo os segredos da comidinha caseira tão

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O plano é que o Crystal Palace reproduza o conceito da Vila Olímpica durante a permanência dos brasileiros, sendo fechado ao público para garantir que os atletas tenham tranquilidade e privacidade, com um forte esquema de segurança 24 horas por dia. Para quem se animou a conferir de perto o quartel-general do Time do Brasil, porém, a boa notícia é que o COB estuda a possibilidade de abrir alguns dos treinos para a torcida. Por enquanto, os preparativos continuam para transformar o sul de Londres em um pedacinho do Brasil. Quando a escolha do complexo foi anunciada pelo Comitê Olímpico, em abril de 2011, a imprensa e as autoridades inglesas fizeram coro ao entusiasmo dos funcionários do Crystal Palace. O prefeito, Boris Johnson, comemorou dizendo que o centro esportivo foi escolhido por uma equipe “que tem alguns dos melhores atletas do mundo”. Já o jornal inglês Daily Mail resumiu em sua manchete a expectativa de muita gente: “o samba vem para o sul de Londres!”.


ARTIGO • PSICOLOGIA

maria angélica falci Psicóloga clínica e especialista em Saúde Mental angelfalci@hotmail.com

Qual o seu tempero? Desde a infância, ouvimos falar sobre o temperamento de “fulano”, que “ciclano” é assim mesmo, tem “gênio” difícil, e crescemos ouvindo sobre o tal temperamento. Mudanças significativas acontecem quando descobrimos que isso existe mesmo. Ter essa consciência faz toda a diferença nas relações. O termo “temperamento” deriva do latim e significa ‘mistura em proporções’, como tempero mesmo. Sua raiz instintivo-biológica está na personalidade, e a melhor notícia é que podemos trabalhar para amenizá-la, transformá-la, suavizá-la e amplificála. O temperamento define as reações básicas das pessoas mediante os obstáculos e desafios da vida. Existem quatro tipos considerados temperamentosraiz. Isso significa que você apresenta um temperamento muito forte, mas pode ter traços oscilantes de outros. Os temperamentos apresentam pontos fortes e de melhoria. Não existe um que seja melhor. Existe, sim, a necessidade de que eles interajam de forma harmoniosa.

‘diretores de cinema’ ou até mesmo os ditadores. Às vezes passam um ar de serem impetuosos e impiedosos, por serem mais frios, além de incontroláveis e inatingíveis. Pessoas com temperamento melancólico pensam muito para tomar decisões. Tendem a ser detalhistas, muito organizadas e precisam se sentir muito bem ambientadas para ficar à vontade. Fazem amigos, mas não com facilidade. Tendem a valorizar as belas artes e a ficar fechadas em si mesmas. São donas de um intelecto em potencial. Toleram mal as falhas, os erros e não apreciam muito as posições de liderança e evidência. Precisam se sentir constantemente valorizadas pelo que executam. Caso contrário, ficam estressadas e feridas. Algumas prezam o sofrimento como parte criativa, como os poetas e músicos.

“Temperamento” deriva do latim e significa “mistura em proporções”

O temperamento sanguíneo é o mais receptivo. É aberto, comunicativo, extremamente sociável e preza pelas boas relações, mas fica machucado, quando se sente excluído. São pessoas destacadas em seu meio, com ótimo nível intelectual, curiosas e criativas. Geralmente tomam decisões pela emoção e por impulsos. Tendem a abraçar muitas coisas ao mesmo tempo e correm o risco de cair na dispersão e superficialidade. O temperamento colérico é ardente, dinâmico e desbravador. Quando as pessoas com esse perfil decidem fazer algo, dificilmente alguém as impedirá. Não se deixam levar por influências nem por pressões e não analisam muito suas decisões. Pegam o que precisam à sua frente e doam suor e sangue para alcançar objetivos. Geralmente alcançam grande sucesso. São como aqueles

O temperamento fleumático é considerado coerente, porque as pessoas com essa natureza conseguem controlar melhor as emoções. Dificilmente têm explosões de raiva ou de risos. São calmas, serenas e apreciam fazer amigos, mas não se envolvem nem passam muita afetividade. Os fleumáticos não invadem as pessoas e passam um ar de indolentes, indiferentes, distantes, frios, calculistas e pretensiosos. Muitas vezes, guardam tanto suas emoções que podem ficar sufocados. Essa breve descrição foi feita para explicar que a existência das relações saudáveis depende da interação desses quatro temperamentos. Quando conhecemos o nosso temperamento, podemos otimizar forças e superar dificuldades com maestria. Quando conhecemos o temperamento dos outros, somamos habilidades para lidar com as diferenças e, consequentemente, vamos somar relações sem sofrimento.

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SALUTARIS • CAVALOS

Na passarela... Cavalos, cavaleiros e amazonas desfilam grifes famosas de acessórios que agregam valor e luxo à prática do hipismo Bianca Nazaré Além de ser um esporte belíssimo, o hipismo se destaca pela elegância. Não só os cavaleiros montam impecáveis. Até os cavalos ganham tratamento e acessórios de alto luxo. Pode-se dizer que o valor de um cavalo é diretamente proporcional aos gastos com acessórios, como selas, protetores e tratamentos. E esse mercado vem ganhando o Brasil, devido ao crescimento do esporte no país e ao destaque internacional de cavaleiros e amazonas, como Rodrigo Pessoa, Luiza Tavares de Almeida e Doda Miranda. As principais marcas de roupas e acessórios de hipismo que circulam no país ainda são internacionais. Por isso mesmo, o valor da importação pesa no bolso. Além disso, há uma padronização das roupas de hipismo da Europa e dos Estados Unidos no Brasil, regiões que têm claramente o clima totalmente diverso do brasileiro. Foi essa dificuldade que incentivou a amazona brasileira Isabela do Valle a criar a primeira grife de moda equestre brasileira: a Dressur.

Dressur é mais do que uma marca de roupas para montar a cavalo. Antes de tudo, é uma marca de moda. Mas de moda para montar a cavalo adequada ao estilo e ao clima do Brasil”, defende a empresária amazona. Ela diz que as vendas se concentram em São Paulo e Minas Gerais – polos do hipismo no Brasil. Em Minas, uma figura simpática e sincera se destaca nos treinamentos e nas competições. A amazona e estudante de veterinária Paula Xisto Câmara, de 21 anos, chama a atenção sempre que surge na hípica Chevals, em Nova Lima. Ela é conhecida por caprichar no modelito, tanto no Isabella Queiroz

A palavra Dressur vem do alemão e significa adestramento – nome da modalidade que Isabela disputa. Ela diz montar desde os 10 anos de idade e afirma que esse é o diferencial da marca. “Acho que um dos diferenciais da Dressur é que a marca foi criada por quem realmente monta e entende cada peculiaridade e necessidade da roupa equestre”. A grife foi criada há aproximadamente dois anos, em São Paulo, mas Isabela diz que é um projeto antigo. “O estilo da Dressur é a releitura do mais clássico estilo equestre às tendências atuais da moda. A

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Paula Xisto: elegância nas roupas de montaria .........................................................................................................................


SALUTARIS • CAVALOS

próprio quanto no visual dos cavalos. “Todo mundo fala: ‘nossa: a Paula é superchique! É a Gisele Bündchen da montaria’. O pessoal fica mexendo comigo, porque eu compro coisas boas”, diz ela rindo da situação.

Hermès/Divulgação

Paula pratica hipismo desde os 5 anos. Ela usa marcas especializadas no esporte, famosas pela qualidade e pelo preço: capacete GPA, culote Pikeur ou Instep, botas sob medida da empresa brasileira D’Lacerda e blusa Dudalina. Tudo isso sai a aproximadamente R$ 3.500. “Eu sou o tipo de pessoa que prefere comprar uma coisa mais cara, que dura mais, do que três blusas baratas que não duram nada. Eu escolho a marca pelo conforto e pela beleza das roupas. Afinal, o hipismo é um esporte elegante”. Segundo a amazona, os preços variam conforme a durabilidade, qualidade e elasticidade do tecido. Paula Xisto também dedica esses cuidados aos três cavalos que possui. Com a égua branca, Robertha, por exemplo, ela usa sela e manta preta da grife do cavaleiro brasileiro Rodrigo Pessoa. O preço da sela varia entre R$ 3.000 e R$ 4.000. A diferença entre uma sela “mais em conta” e uma Rodrigo Pessoa, segundo ela, é a qualidade. “A diferença das selas varia conforme o gosto do cavaleiro. Há selas sobre as quais as pessoas dizem ser maravilhosas, mas, quando vou montar, não me adapto. Ora acho muito macia, ora muito dura, ora não se adapta à minha perna. O tipo de sela vai depender do conforto do cavaleiro”, explica. grife francesa Auge do luxo para um cavalo, porém, menos comum de ver equipando um animal no Brasil: esta é a famosa sela luxuosa da grife francesa Hermès. A marca tem uma filial no shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Os preços dessa sela variam entre R$ 24 mil e R$ 34 mil. “Já vi uma pessoa que usa Hermès, em São Paulo. Eu acho que ela é mais marca do que conforto. Peguei

Sela da Hermès: última moda, custa cerca de R$ 34 mil .........................................................................................................................

no couro e achei muito duro, mas não cheguei a montar”, diz a amazona mineira. Na realidade, selas do tipo Hermès são mais comuns em cavalos de alta performance. Além dos acessórios caros, os cavalos ganham tratamentos de beleza. Alguns produtos, como xampus e condicionadores, deixam o pelo do equino tão macio e cheiroso quanto a pele de uma amazona. O cavalo negro de Paula, o Umidwar, é um exemplo. O pelo dele reluz e é incrivelmente macio, resultado dos produtos Classic Horse que Paula faz questão de usar no banho diário deles. “Às vezes eu acho que o pelo dos cavalos fica melhor do que o meu cabelo. Eu mesma uso o produto, às vezes”. A justificativa para tanto glamour, segundo Paula, é chamar a atenção. “Não é a mesma coisa ver uma mulher com um culote, uma blusa da Preserve a Natureza para fora da calça e uma outra com uma blusa bonita, cinto combinando e sela e manta do cavalo da mesma cor da blusa, tudo combinando”, finaliza.

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SALUTARIS • receita

Fetuccine ao camarão ingredientes:

modo de preparo:

160g de fetuccine cozido

Refogar no azeite a cebola, adicionar o camarão e, logo após, os filamentos de abobrinha. Adicionar a massa e o molho de tomate. Corrigir o tempero a gosto.

40g de casca da abobrinha cortada em tiras 150g de camarão 7 Barbas

Fonte: Villa Madalena Unidade Vespasiano

80 ml de molho de tomate 30g de cebola repicada Azeite

Petrônio Amaral/Rede Gourmet/Divulgação

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SALUTARIS • vinhos

Licorosos: prazer em degustar Danilo Schirmer Os vinhos licorosos são famosos e apreciados em várias partes do mundo. Com sabores, aromas e produção peculiares, são sinônimo de sofisticação. É o tipo indicado para sobremesa, mas também vai bem como aperitivo, se for servido gelado. Existem alguns tipos de licorosos que se destacam no mercado: Jerez, Sauternes e Porto. O vinho do Porto é o mais popular dos licorosos. Pode ser tinto ou branco. Sua graduação alcoólica pode alcançar os 18° GL. Pode ser classificado quanto ao método de elaboração utilizado, ao tempo de amadurecimento, à safra excepcional e ao armazenamento, porque continua envelhecendo na garrafa durante anos. Os mais conhecidos são o Ruby e o Tawny. Nas categorias especiais, destacam-se o LBV, os Tawnies Envelhecidos e os Vintage. Produzidos na região do Douro, em Portugal, o vinho do Porto ganhou esse nome por ter sido comercializado em larga escala na cidade do Porto.

sugestão, vai o vinho licoroso Casa Valduga 1875, que é muito bem recomendado por sommelieres e apreciadores. O vinho maturou durante quatro anos em barricas de carvalho francês, chegando à graduação alcoólica de 18°GL. As uvas utilizadas são Cabernet Sauvignon e Merlot da mesma safra.

O vinho licoroso de Sauternes, originário da região localizada ao sudoeste de Bordeaux, na França, é um vinho branco e doce. Seu método de elaboração ocorre com a podridão nobre, que nada mais é do que a ação de um fungo na fase final de amadurecimento da uva. O fungo desidrata a uva de forma que o teor de açúcar se eleva. O vinho alcança uma graduação alcoólica próxima de 14% e açúcares residuais entre 7% e 8,5%. Existem dois tipos de Sauternes: o tradicional, com envelhecimento mais longo e açúcar residual mais elevado, e o moderno, com envelhecimento mais curto, menos doce. O Jerez é produzido na Espanha, em Jerez de La Frontera, extremo sul. É um vinho branco e doce que também passa pelo processo de desidratação da uva, porém, o amadurecimento ocorre sob um véu de fungos, conhecido como “levedura da flor”, em tonéis de madeira. A desidratação continua sob o sol, onde as uvas são envoltas em um plástico-filme, acelerando a desidratação. O resultado é alta concentração de açúcar. No final da fermentação, o vinho recebe o acréscimo de destilado e segue para o envelhecimento nas barricas. O Brasil também produz bons vinhos licorosos. É possível encontrar exemplares de colheita tardia e fortificados. Como

MorgueFile

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Artigo • meteorologia

Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo Professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com

Deserto mineiro: uma possível realidade De acordo com o estudo encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente ao governo de Minas Gerais, um terço do território mineiro pode virar “deserto” nos próximos 20 anos. O estudo foi publicado em março de 2011. Pelo que está sendo observado, além do empobrecimento do solo, as chuvas estão diminuindo na região. A estação chuvosa nas regiões Norte e Nordeste de Minas Gerais começa no final de outubro e termina em março. A cidade de Porteirinha apresenta o menor índice pluviométrico anual: 650 mm. Em Bocaina de Minas, no Sul do estado, a precipitação anual chega a 2.100 mm.

A massa de ar Tropical Marítima, que atua entre o Brasil e a África, é o principal fator responsável pela baixa pluviosidade nas regiões Norte e Nordeste do estado. A massa de ar é formada pela circulação geral da atmosfera. Portanto, vai continuar atuando e influenciando no clima em Minas Gerais nos próximos milhões de anos.

A área desertificada tende a aumentar nos próximos anos, devido ao aquecimento global

Ao fazer uma análise das estações chuvosas nas regiões Norte e Nordeste do estado, nos últimos 10 anos, pude verificar que o volume de chuva está cada ano menor em relação à média esperada e que está aumentando o número de dias sem chuva dentro da estação chuvosa. Se realmente não forem tomadas medidas drásticas para inibirem o processo, mais de 2 milhões de pessoas na região Norte e nos vales do Jequitinhonha e Mucuri vão sofrer o impacto direto da desertificação. No total, são cerca de 142 municípios que começam a sofrer com a desertificação. Além da baixa pluviosidade, os outros fatores responsáveis pelo fenômeno são o

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desmatamento, a monocultura e a pecuária intensiva.

Os cenários apresentados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas - IPCC aponta que a área desertificada tende a aumentar nos próximos anos devido ao aquecimento global. Assim, cabe a nós tomarmos medidas urgentes para evitar ou minimizar a catástrofe prevista para o nosso estado.


Notas É pop! Como faz todos os anos, a revista americana “Time” divulgou, no início da segunda quinzena de abril, a lista das 100 pessoas mais influentes do mundo. Três brasileiros foram lembrados. O empresário Eike Batista figura na 57ª colocação – quatro posições à frente de Barack Obama. A presidente Dilma Rousseff ocupa a 82ª posição. A grande surpresa ficou por conta da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, considerada a 75ª personalidade mais importante do mundo. Confira a relação completa em http://ti.me/HQ5J06.

Político não sabe usar twitter Uma pesquisa divulgada pela empresa de consultoria Burson-Masteller revelou que os políticos brasileiros ainda não sabem usar o twitter. A falta de interatividade com o internauta se deve à falta de equipes de comunicação que dominem a lógica do microblog. O estudo foi realizado em todos os países do G-20.

.................................................................................. Roberto Stuckert /ABr

Cura da calvície?

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Queda de juros Pelo menos quatro bancos privados – Bradesco, Itaú, HSBC e Santander – reduziram suas taxas de juros no crédito a pessoas físicas e empresas. As instituições tomaram essa medida depois que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, por ordem da Presidência, diminuíram suas taxas. Analistas afirmam que a decisão dos privados mostra que, num primeiro momento, o governo ganhou a batalha. É que quando a Presidência pediu a redução das taxas, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) apresentou uma pauta de reivindicações do setor mais lucrativo da economia. Mas, dias depois, o país assistiu à adesão dos maiores bancos ao pedido do Planalto.

Cientistas da Tokyo University of Science fizeram nascer fios de cabelos humanos nas costas de um camundongo sem pelos. Além de ser uma esperança para tratar a calvície, o resultado representa um avanço nas terapias com células-tronco. Os pesquisadores criaram folículos – parte da pele onde os pelos nascem – a partir de células-tronco da pele de humanos e os transplantaram nas costas do camundongo. Tokyo University of Science

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Vanguarda • VeÍculos

Cinquecento “popular” Acordo renovado em março salva a Fiat e garante importação da versão mais barata do Fiat 500: “el mexicano” Bianca Nazaré A Fiat apostou ao trazer para o Brasil um carro considerado popular na Europa. O pequeníssimo Fiat 500 (Cinquecento) rodou pela primeira vez por aqui em 2009. Importado da Polônia, o modelo prometia ser o mais novo carrão da montadora. Realmente seus 3,5 metros de comprimento encantaram os brasileiros. Porém, popular mesmo foi só a vontade de possuí-lo. A versão de entrada custava quase R$ 60 mil e fez muita gente correr a pé.

Tecnologia de Gestão Comercial de Negócios Automotivos, do Centro Universitário Newton Paiva, Pedro Henrique Viana Espeschit, diz que há pontos a serem analisados no novo pacto. Segundo ele, seria bom para o país, porque pode manter e gerar empregos internamente, valorizar o produto nacional, proteger o parque industrial brasileiro a médio e longo prazos, além de aumentar a produção na indústria de autopeças.

Mais barata, a versão de entrada do novo Fiat 500, fabricado no México, chegou por aqui em setembro de 2011 custando a partir R$ 40.590. Bem mais barato por causa da isenção do Imposto de Importação (II) entre os países. Para dar uma ideia de como isso se refletiu no mercado brasileiro, somente as vendas de janeiro a abril deste ano representam o dobro do total das vendas entre 2009 e 2011. Somente neste ano foram vendidas 5.783 unidades do Fiat 500 mexicano no país.

“O problema dessas medidas é que elas afetam os consumidores negativamente e beneficiam as montadoras. Isso provoca o aumento no preço médio dos carros, porque há um limite na demanda de mercado”, diz Mauro Sayar Ferreira, economista e professor do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG. Sayar atuou no Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2004.

Até o início de abril, o total de vendas do novo 500, no Brasil, é de 10.399 unidades, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Sucesso que a Fiat não vem obtendo nos Estados Unidos, mercado onde a empresa esperava vender 50 mil unidades, em 2011, e na qual emplacou menos da medade. O preço mais baixo do Fiat 500 deve ser mantido, graças à assinatura do novo acordo de complementação entre Brasil e México, ocorrida em 29 de março deste ano. O acordo impõe limites de exportação isenta do Imposto de Importação entre os países durante três anos. “Pegou-nos de surpresa, mas a revisão do acordo entre os países foi melhor do que seria, se o quebrássemos”, informou a Fiat por meio de nota. Mas há quem discorde. O coordenador do curso de

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A ideia de déficit na balança comercial pregada pelo governo seria uma ilusão, segundo o professor Sayar, porque um segmento não afetaria a economia como um todo. “O governo manteve esse acordo por causa da pressão de montadoras instaladas no Brasil. Por causa do lobby, o mercado não se abre, porque as empresas automotivas não querem maior concorrência. É assim que conseguem

FICHA TÉCNICA Motor: 1.4 EVO, 100 cv, Torque - 13,4 Kgfm a 4.250 rpm ......................................................................................................................... Câmbio: 6 marchas (Mecânico) / 5 marchas (Dualogic) ......................................................................................................................... Direção: Elétrica com pinhão e cremalheira ......................................................................................................................... Comprimento: 3,5 m ......................................................................................................................... Velocidade: 182 km/h. Faz de 0 a 100 km/h em 10,5s ......................................................................................................................... Peso: 930 kg (Mecânico) e 935 kg (Dualogic)


Vanguarda • VeÍculos

encarecer o valor dos carros no país”, enfatiza Sayar. Por enquanto, o preço do Fiat 500 mexicano, que chegou mais barato, vai contra a afirmação do especialista. Mesmo assim, o professor diz que o baixo custo do Cinquecento, por exemplo, não seria permanente. impostos: vilões da história Segundo a Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), até chegar ao consumidor, um automóvel importado custará em média 2,7 vezes o preço do original, em dólar ou euro. A importação de veículos fora do Mercosul, isento do Imposto de Importação, recebe tributos que elevam consideravelmente o custo final do veículo no mercado. Além da cobrança de 35% relativa ao II, há a cobrança de IPI, ICMS, PIS e Cofins. Os tributos representam de 27% a 36% do valor final do automóvel. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o Brasil é o país com o maior número de tributos incidentes sobre o preço final dos carros: 30,4%. A Itália tem o percentual de 16,7%, a Espanha, 15,3%, o Japão, 9,1% e os Estados Unidos, 6,1%. Apesar disso, Sayar aponta que as montadoras conseguiriam diminuir os preços dos veículos, cuidando da administração interna da empresa. “Por que se dá um reajuste tão alto para a categoria, que recebeu o maior aumento salarial do ano passado, quando se precisa diminuir o preço dos veículos?”, questiona. Como se posicionou a Fiat, é melhor esperar para ver como o mercado vai reagir com o novo acordo entre Brasil e México.

PAGOU CARO, MAS É SATISFEITO Quem comprou um Fiat Cinquecento 2009 pode estar trincando os dentes com o preço do novo. Esse não é o caso do gerente de vendas, que será identificado como M.A.. Ele comprou a versão Sporting Dualogic, em setembro de 2010, por R$ 55 mil. M.A. conseguiu esse preço por meio de um acordo feito com a Fiat. Se não fosse por isso, teria gasto entre R$ 60 mil e R$ 65 mil pelo Fiat 500 polonês. “O valor de mercado do meu 500, hoje, está por volta de R$ 40 mil. Ter um veículo desse nível de qualidade, custando R$ 40 mil, é muito bom, principalmente porque eu pretendo trocar o meu pelo novo 500. Então esse fator vai compensar a desvalorização do meu carro”, diz ele. Para M.A., o Cinquecento encanta pela funcionalidade. “Nunca tive um veículo tão agradável de dirigir. O modelo consegue combinar todas as características de um carro de luxo com a praticidade de um compacto”. O proprietário ainda revela que o Fiat é perfeito até mesmo para o uso em viagens com duas pessoas. “Não vai faltar espaço para nada. No banco da frente, você esquece que está em um automóvel pequeno. O desempenho é muito bom. Esse modelo tem um motor 1.4 de 100hp, mas acelera a níveis próximos de um carro médio de 130 ou 140 cavalos”, destaca. Fiat/Divulgação

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vanguarda - TECNOLOGIA

Fora do roteiro Mesmo o novíssimo iPad tendo sido homologado pela Anatel na primeira quinzena de abril (o procedimento libera a comercialização do produto em território nacional), a grande e esperada novidade da Apple segue sem previsão de lançamento no país. A última lista de nações que vão receber o iPad 3 inclui os vizinhos Venezuela, Uruguai e Colômbia. Especula-se que o aparelho chegue por aqui no início de maio, mas a Apple não confirma. A terceira geração do tablet é um verdadeiro objeto de desejo. Tem tela de Retina de 2048 x 1536 pixels de resolução, câmera de 5 megapixels, um processador ainda mais ágil que o do último tablet da empresa e conta, ainda, com a tecnologia 4G.

Apple/Divulgação

Google promete lançar os óculos do futuro A Google tem um novo projeto que pode transformar o modo como utilizamos a tecnologia. No início de abril, a empresa anunciou a criação do Project Glass para a elaboração dos óculos do futuro. O projeto estaria em fase experimental. A empresa lançou um vídeo para simular o funcionamento do aparelho, que pode ter a tecnologia de realidade aumentada. Com os óculos, o usuário poderia ouvir música, fazer pesquisas pela internet, localizar endereços pelo Google Maps, fazer ligações telefônicas, enviar mensagens, além de tirar fotos e postá-las na web. Tudo isso por comando de voz. Há especulações de que os óculos sejam lançados este ano. Google/Divulgação

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Mais cinematográfica

A Google segue ampliando o número de parcerias com estúdios de cinema. A Paramount e a MGM acabam de fechar acordo com a empresa. O acervo cinematográfico da Google se torna ainda mais robusto, fazendo-a se consolidar no mercado de filmes on-line. Ainda não há previsão de lançamento do serviço no Brasil.

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KULTUR • agenda cultural

BH Tattoo Convention A segunda edição do evento, com expositores de diversas partes do mundo, acontece entre os dias 18 e 20 de maio, no MinasCentro. A entrada custa R$ 20 para não estudantes. Mais informações: 3466-8091. http://www.bhtattooconvention.com.br/

Bienal do Livro Fernando Morais, Pedro Bandeira e Thalita Rebouças são alguns dos importantes nomes que participam do evento entre 18 e 27 de maio. Com a entrada inteira no valor de R$ 8, a Bienal acontece no Expominas. Mais informações: 3223-4500.

Divulgação

Roger Hodgson No dia 27 de abril, Belo Horizonte recebe o ex-vocalista do Supertramp, Roger Rodgson. Em 2010, o também compositor de músicas famosas, como Give a Little Bit e Breakfast in America, Divulgação chegou a gravar quatro faixas do novo CD no Chevrolet Hall, onde se apresenta novamente em abril. O ingresso custa R$ 200 a inteira e pode ser comprado na bilheteria do Chevrolet ou no portal Tickets for Fun. Mais informações: 3209-8989.

Ana Carolina A cantora traz a Belo Horizonte o projeto Ensaio em Cores. Ana Carolina canta e mostra quadros de sua autoria, pintados com o tema de suas músicas. A apresentação só de mulheres também tem a participação da renomada pianista brasileira, Délia Fischer. O show está marcado para o dia 4 de maio, no Chevrolet Hall. O ingresso de arquibancada custa R$ 80, a inteira. Mais informações pelo telefone 3209-8989

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KULTUR • TV

O sujo jogo do poder Apesar de inicialmente morna, segunda temporada de “Guerra dos Tronos” estreia na HBO sob grande expectativa André Martins No material de divulgação da primeira temporada de “Guerra dos Tronos” – seriado norte-americano baseado na série “As Crônicas de Gelo e Fogo” – os personagens-chave aparecem sentados em um trono metalizado. Ele é a simbologia máxima do poder e da coerção, sendo moldado a partir da fusão das espadas de homens que um dia ousaram desafiar o rei. O aspecto do trono, espetado e frio, sugere que aquele não é um local confortável. A despeito disso, ficam claros a cobiça e o desejo dos homens de possuí-lo. É em torno dessa incessante busca pelo poder máximo dos Sete Reinos de Westeros – uma terra fictícia criada pelo escritor George R. R. Martin – que a narrativa de “Guerra dos Tronos” ganha sustentação. Para atingir esse objetivo uno, famílias vão conspirar entre si. Vão fazer acordos,

conchavos amorais e questionar o significado da palavra lealdade. Em linhas gerais, farão uma dança das cadeiras com espadas em punho. Com a misteriosa morte do braço direito do rei Robert Baratheon, o senhor das terras de Winterfell – ao norte –, Eddard Stark torna-se a mão do rei – o maior título de confiança real. A descoberta de um segredo ocultado pela rainha Cercei e o irmão gêmeo, Jamie, desencadeia uma guerra entre as famílias Lannister e Stark. A situação se torna insustentável, quando o rei morre e o jovem e impiedoso Joffrey Baratheon herda a coroa. Paralelamente à instabilidade política em Porto Real, capital de Westeros, a primeira temporada de “Guerra

Fotos HBO/ Reprodução

Eddard Stark, o senhor de Winterfell, um dos personagens mais marcantes da primeira temporada da série ..............................................................................................................................................................................................................................................................

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KULTUR • TV

dos Tronos” apresenta os acontecimentos no além-mar, a leste do território, onde estão os dois remanescentes da linhagem do dragão – da casa Targaryen, ocupante do trono até a subtração dele por Robert Baratheon. Em busca de reconquistar o poder, Viserys Targaryen vende a irmã Daenerys a um chefe de tribo nômade de cavaleiros, Khal Drogo, e recebe em troca o juramento de ter um exército a seu favor na batalha de reconquista. A porção ao norte de Winterfell é destacada na série pela ação dos chamados caminhantes brancos, mortos que habitam as terras gélidas do extremo norte da ilha. Uma extensa e alta muralha isola a região. Esse lugar sombrio é o destino de homens condenados à reclusão perpétua por terem cometido crimes, como estupro e roubo. A fuga das imediações da muralha vale a decapitação do desertor – como evidenciam as cenas que abrem o episódio piloto. Toda a primeira temporada de “Guerra dos Tronos”, concluída no início do segundo semestre de 2011, transita entre os pontos geográficos citados. Depois de quase um ano de espera, a segunda temporada da série estreou no canal HBO. Não com o mesmo vigor do desfecho da primeira – o que costuma ser normal em se tratando de séries, nas quais geralmente o clímax se encontra não no meio, mas no último episódio de cada temporada. Esse segundo momento de “Guerra dos Tronos” deverá engrenar à medida que o confronto entre as tropas reais e os homens que lutam pela casa Stark se aproxima. Além disso, haverá as investidas de Daenerys para honrar a memória de seu povo com o auxílio dos dragões, seres que todos acreditavam estar extintos. Independentemente da natural falta de ritmo do início da segunda temporada da série, é preciso destacar os muitos e inegáveis acertos da obra – desde o figurino exuberante até a participação notável da totalidade do elenco, que dá vida a personagens intrigantes e multifacetados. características marcantes Há quem possa pensar que “Guerra dos Tronos” apresente similaridades com a saga “O Senhor dos Anéis”. Mas há diferenças consideráveis entre as duas obras literárias que inspiraram os filmes de Peter Jackson e dos episódios da

A bela Daenerys, a última da casa Targaryen, tentará reunir um grande exército e retomar o trono que um dia pertenceu a seu pai .........................................................................................................................

série. Entre as diferenças marcantes estão os elementos fantásticos presentes aos montes no livro de Tolkien, ao passo que Martin aparenta ser mais realista, sem abandonar por completo, é claro, a fantasia. Outra característica que diferencia as duas obras é o tom da narrativa. Enquanto os filmes da trilogia do anel alternam momentos de tensão e comicidade – com situações e personagens cômicas –, o seriado não tem respiros, nem sequer um romancezinho tórrido que possa abrandar o clima turbulento e instável entre as casas que digladiam entre si.

“Guerra dos Tronos” é uma série voltada para o público adulto, porque contém cenas fortes com violência física e sexual e por tratar de temas enfrentados como tabus, como a homossexualidade e o incesto. O mais intrigante, porém, é perceber as verdadeiras motivações dos personagens em prosseguirem firmes na missão de tomar o trono. É a vaidade e o egoísmo humano retratados na telinha de forma plástica e caprichosa.

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KULTUR • cinema KULTUR • MÚSICA

Fernanda Carvalho

Maria Rita encantou fãs ao interpretar as músicas da mãe em show no Parque das Mangabeiras ..............................................................................................................................................................................................................................................................

O viva à Elis Pela primeira vez, Maria Rita viaja Brasil afora com um show em que ela interpreta só músicas que fizeram sucesso com a mãe e emociona um público que nunca se esqueceu da Pimentinha do Brasil Fernanda Carvalho “De repente, hoje de manhã, em São Paulo, o coração de Elis parou. Calou-se a voz. E o Brasil começou a chorar”. Era assim que, no dia 19 de janeiro de 1982, o jornalista Sérgio Chapelin anunciava a morte de uma das mais consagradas vozes do mundo. Completamse 30 anos desde o dia em que milhares de brasileiros ficaram quase 24 horas na fila esperando para ver Elis Regina pela última vez. O Brasil se chocou com a notícia e caiu em lágrimas. Maria Rita guarda a lembrança desse dia como a única de sua mãe, quando, com apenas quatro anos, viu Elis, linda, deitada, descansando tranquilamente.

desafio de reviver a história da mãe.

Depois de três décadas, Maria fez a Pimentinha do Brasil renascer. Demonstrando que parte da mãe sempre estará com ela, a cantora entrou com cara e coragem no projeto Nivea Viva Elis. Provou, inclusive para si mesma, que estava pronta para lidar com o

Ao contrário do que aconteceu nos outros estados, vergonhosamente, em Belo Horizonte o público teve número limitado. Por algumas exigências da comunidade local, apenas 10 mil ingressos foram entregues para o tão aguardado show no Parque das

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Foi na cidade natal de Elis que a homenagem começou. Em Porto Alegre, uma semana após o que seria o aniversário de 67 anos do mito da MPB, Maria Rita entrou no palco como um anjo: toda de branco, com um manto caindo dos braços como asas, cabelos enrolados e um misto de determinação e medo no olhar. Com sorrisos nervosos que muito lembram a mãe, um pouco de choro contido, expressões fortes e muita música, o Viva à Elis passou por Recife, antes de chegar à capital dos mineiros.

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KULTUR • MÚSICA

Mangabeiras. Se Elis estivesse viva, ela faria um deboche em alto e bom tom: “(o ser humano) tá cada vez mais down no high society”. Depois de quase cancelado, o show seguiu o mesmo repertório das outras cidades. Das 65 músicas pré-selecionadas por Maria Rita dos mais de 40 discos lançados por Elis, quase 30 canções, que fizeram parte do DNA da gaúcha, foram interpretadas pela filha. Uma escolha que pode ter parecido estranha aos ouvidos de muitos, mas que foi a ideal para relembrar todas as fases da protagonista do show. Os 10 mil presentes tiveram a chance de “reviver” a trajetória da cantora, passando pelo seu jeito de criança feliz, indo à mulher politizada, relembrando os maiores amigos, amores e mais admirados compositores. Uma surpresa para os fãs veio logo de início: na música “Imagem”, a voz de mulher forte e intrépida de Elis surge defendendo o “cantar o que é nosso”. Durante quase todo o show, bolinhas de sabão distribuídas ao público estampavam o céu. Bastões de plástico acompanhavam os aplausos ao fim de cada música. E Maria Rita relembrava a mãe não apenas com as músicas, mas contando histórias. “Essa música (O Bêbado e Nivea Viva Elis/ Divulgação

a Equilibrista) passa por uma das características mais fortes da personalidade da minha mãe, que era seu envolvimento social e consciência política aguda. Um senso crítico que há muito não se vê. Minha mãe acreditava – e eu cresci com esse valor dentro de casa – que o artista, por ter um canal aberto e direto com o seu público, tem a obrigação de estabelecer, no mínimo, um diálogo, de fazer pensar, de instigar”, relembrou antes de cantar Menino e Onze Fitas. Interpretar Elis não seria nem tarefa fácil, nem para qualquer um. Comparada insistentemente com a mãe pelos antigos fãs, Maria Rita conseguiu cumprir a tarefa com brilhantismo. Afinal, ao contrário do desejo de muitos, Maria Rita interpretou Elis sem deixar de ser Maria Rita, assim como Elis sempre foi Elis, mesmo cantando músicas de outros. Muitos dizem que os shows de Elis eram também teatro. Talvez o fossem, mas apenas um pouco. Ela, de fato, era extremamente expressiva. Mas as caras e bocas do furacão Elis talvez representassem mais. Eram reflexos do que se passava dentro dela: dos sentimentos e pensamentos. Ao mesmo tempo em que era transparente e não tinha receio de se mostrar verdadeiramente, era um enigma. Como ela mesma disse: “eu não tenho a menor intenção de ser simpática a algumas pessoas. Me furtam o direito inclusive de escolher. (...) Quando descobrirem que estou verde, já estarei amarela. Eu sou do contra. Sou a Elis Regina Carvalho Costa que poucas pessoas vão morrer conhecendo”. Maria Rita pouco conviveu com a mãe, mas ouve seu nome e suas histórias a cada esquina que vira. No show, ela demonstrou que a história de Elis foi passada para ela não somente por vozes, mas pelo sangue. Nas mais de duas horas de duração do show, o público de todo o Brasil teve a chance de se aproximar da voz mais ressoante do país. Maria Rita deu a certeza aos fãs de que a cantora gaúcha não se foi em 1982. Ela permanece viva, agora, mais do que nunca. Afinal, Elis sempre será a eterna Elis.

A homenagem continua...

Elis Regina era expressiva e intensa em suas interpretações .........................................................................................................................

Além dos shows de Maria Rita, o evento em homenagem a Elis contará com uma exposição itinerante que começou por São Paulo. Ela traz mais de 500 fotos da cantora, assim como entrevistas, pôsteres, vídeos, ingressos dos shows, objetos pessoais, um documentário com depoimento de vários artistas, revistas e jornais da época. Em Belo Horizonte, a exposição chega apenas no dia 27 de novembro ao Palácio das Artes.

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CRÔNICA

Joanita gontijo Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com joanitagontijo@yahoo.com.br

Mágoas na parede O Museum of Broken Relationships fica na Croácia. Reúne pelo menos 700 objetos doados por pessoas que romperam namoros e casamentos. Bichos de pelúcia, corações, vestidos de noiva e até uma prótese de perna poderiam ter ido para o lixo, mas viraram peças de uma coleção que conta histórias de paixão e sofrimento. A matéria sobre o assunto me impressionou não só pela curiosidade de haver em um canto do mundo um acervo de “dores de cotovelo”, mas porque eu nunca soube o que fazer com as mágoas. Falo daquelas “contrariedades” que, mesmo discutidas no calor das emoções ou nos momentos em que a poeira já baixou, não se dissolvem. No lugar do consenso, ficam apenas dois pontos de vista que insistem em se manter com os narizes empinados, cheios de razão – cada um com a sua, claro! Quando a relação “já era”, acredito que as mágoas tendem a sumir, ao menos para as pessoas que decidem seguir em frente. Mas e quando a história de amor está longe do fim e o desejo de ficar junto é muito maior do que a vontade de desistir? Nesse caso, o que fazer com os ressentimentos resistentes? Onde colocar o desgosto que não foi perdoado, porque não houve arrependimento e nem alguém que se penitenciasse por ele?

No fundo da gaveta da memória não acho recomendável. É um lugar pouco arejado, onde nada circula ou se recicla. Há grandes chances de que a mágoa seja coberta por fungos e apodreça com o amor e o respeito. Mantê-la presente como um enfeite no meio da casa também não me parece seguro. Mesmo longos beijos e abraços apertados podem ser interrompidos, se um dos dois esbarrar naquele objeto tosco. A ideia de um museu ganhou minha simpatia! Imagine um espaço onde você possa pendurar nas paredes as grosserias dele por causa de ciúmes insanos; encostar no canto a traição que ela jura ter justificativa; pintar uma tela com tons tão frios quanto os abandonos recorrentes! Nesse templo, que visitaríamos às vezes, estariam expostos o melhor e o pior de nós e o passado com lições para construir uma vida mais leve. Se mesmo durante esse passeio, seu convidado não entender nada do que viu nem aprender o que seria bom repetir ou evitar, não se incomode. Também há quem conheça acervos artísticos e históricos e não se emocione jamais. Reconhecer o que há de belo e intenso nas obras de arte ou nos sentimentos alheios não é para qualquer um. Apenas pra quem tem sensibilidade.

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BRT: menos tempo no trânsito, mais tempo com a família.

“Pra ficar menos tempo no trânsito, vale a pena o sacrifício.” D. Maria de Lourdes Venâncio – Cozinheira

BH tem hoje 1 milhão e meio de veículos nas ruas. Para melhorar o transporte e dar mais fluidez ao trânsito, a Prefeitura está trazendo o BRT. Um novo sistema de transporte coletivo, com corredores exclusivos e ônibus maiores que vão levar mais pessoas, com mais rapidez e segurança. E as obras estão em ritmo acelerado. Agora, é a vez da Área Central. A Prefeitura pede desculpas pelo incômodo, mas garante: a cidade toda vai ganhar. Modernas estações.

Corredores exclusivos nas avenidas Antônio Carlos, Pedro I, Vilarinho e Cristiano Machado.

Passagem pré-paga, piso nivelado com as portas dos ônibus e informações em tempo real. Mais conforto e acessibilidade.

Imagens ilustrativas

Obras já adiantadas na Antônio Carlos e Cristiano Machado. A próxima etapa está começando na Santos Dumont e na Paraná.

Estação do BRT na Área Central

Ônibus maiores

Corredor exclusivo do BRT na av. Antônio Carlos

Imagens ilustrativas

Obras na av. Cristiano Machado

Obra em parceria com os governos estadual e federal.

Alto desempenho, maior eficiência.

Ônibus com maior capacidade de transporte, mais rapidez e segurança.

O BRT vai melhorar a fluidez no trânsito e trazer mais qualidade de vida para a nossa gente.

Informações

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indústria sustentável. este é o nosso compromisso.

O Sistema Fiemg acredita que uma indústria sustentável se constrói através da competitividade, da inovação e da responsabilidade. Ser sustentável é ser competitivo. É produzir mais e melhor. É conquistar o mercado global e se preparar para um mundo cada vez mais exigente. Ser sustentável é ser inovador. É investir em novas tecnologias. É incentivar estudos e pesquisas para o desenvolvimento de novos processos, produtos e serviços. Ser sustentável é ser responsável. É fazer da economia verde e da preservação da natureza uma realidade. É buscar processos de produção cada vez mais limpos. É promover a educação em todos os níveis e lugares. É investir em cultura, esporte, saúde e lazer. A sustentabilidade é assim: está na maneira como pensamos o mundo. No caminho que escolhemos para a nossa indústria.

Um investimento da indústria


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