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projeto deve gerar conhecimentos técnico-
no espaço e tempo, o processo de
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Assim, na sua concepção global, o macro científicos que possam contribuir para a melhoria nas formas de organização social das comunidades de modo a propiciar, por meio do uso e conservação dos recursos naturais, a melhoria nos níveis de qualidade de vida das populações humanas. O compartilhamento intercomunitário de recursos genéticos vegetais também é uma prática
corrente
entre
os
agricultores
tradicionais amazônicos, o que contribui para a segurança alimentar das comunidades e constitui um importante papel na conservação, na dispersão e no resgate de espécies vegetais cultivadas. É extremamente importante que os projetos de
Apoio financeiro:
desenvolvimento junto aos agricultores na Amazônia estabeleçam como premissa de
industriais como a cana-de-açúcar, soja, algodão e café, tem conduzido, direta ou indiretamente, os pequenos produtores rurais a
Sandra do Nascimento Noda
níveis crescentes de empobrecimento e perda
(Organizadora)
de suas terras. A possibilidade da manutenção das unidades produtivas rurais familiares implica na necessidade da existência de um sistema de preservação dos recursos naturais. As degradações dos recursos hídricos, como
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poluição, erosão e assoreamento de cursos d'água, pesca predatória, construções de barragens e desflorestamentos são eventos que quebram cadeias alimentares e cortam ciclos reprodutivos, destruindo as fontes permanentes de recursos naturais, secularmente utilizadas pelos populações amazônicas.
adquiridos no mercado, pois, algumas
coletivizadas e permanentes, sejam proces-
necessidades básicas são atendidas, muitas Programa Temático
sistemas produtivos, do aumento da auto-
vezes precariamente, por meio da aquisição de produtos somente disponíveis fora das
suficiência no atendimento das necessidades
unidades de produção.
alimentares, do acesso aos requisitos básicos
São os casos dos alimentos industrializados,
em educação, saúde, energia, lazer, universali-
combustíveis, roupas, remédios e dos serviços
zados e disponibilizados pelo Estado e da Realização:
políticas sobre o futuro social, econômico e
NERUA
ambiental. São, a partir dessas referências, que
Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico
das Águas.
especialização no monocultivo de espécies
viabilizar o acesso aos produtos e serviços
conquistas graduais do bem estar social,
discutem a Agricultura Familiar na Amazônia
variações,
renda monetária aos agricultores permitindo
comunidades para que, a partir daí, as
os autores dos capítulos que compõe este livro
pequenas
alternativas econômicas capazes de gerar
organização social das famílias e das
autonomia dos comunitários nas suas decisões
com
Entretanto, há necessidade de se criar
trabalho a necessidade de elevar os níveis de
sadas em função da sustentabilidade dos
Brasil,
inexistentes nas comunidades rurais como atendimento médico, educação, energia e transporte.
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Copyright © 2007
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Sandra do Nascimento Noda
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Sandra do Nascimento Noda Hiroshi Noda Ayrton Luiz Urizzi Martins Danilo Fernandes FOTOS
Arquivo NERUA CAPA / PROJETO GRÁFICO
KintawDesign REVISÃO
Cláudia Adriane Souza FICHA CATALOGRÁFICA
Guilhermina de Melo Terra – CRB-396-11
A278 Agricultura Familiar na Amazônia das Águas / Sandra do Nascimento Noda, organizadora – Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007. 208 p. ISBN 978-85-7401-298-8 1. Agricultura – Amazônia. I Noda, Sandra do Nascimento. CDU 631(8113).
Tiragem: 1.000 exemplares
NERUA – Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico E-mail: nerua@inpa.gov.br Site: http://nerua.inpa.gov.br (92) 3643-1859 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas – CPCA Av. Efigênio Sales, 2239, Aleixo, CEP: 69060-020 Caixa Postal: 478 Fone: (92) 3643-1859 Manaus-Amazonas-Brasil
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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 CAPÍTULO 1 UMA EXPERIÊNCIA METODOLÓGICA PARA O ESTUDO DA AGRICULTURA FAMILIAR NA VÁRZEA DO SOLIMÕES-AMAZONAS INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 ESTRATÉGIA OPERACIONAL DO DIAGNÓSTICO DE CAMPO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 IMPLEMENTAÇÃO DOS ESTUDOS IN LOCO: MÉTODO UTILIZADO NOS LEVANTAMENTOS PARA O DIAGNÓSTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20 COMPOSIÇÃO DO BANCO DE DADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22 CAPÍTULO 2 CONTEXTO SOCIOECONÔMICO DA AGRICULTURA FAMILIAR NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23 O CONTEXTO E INSERÇÃO ECONÔMICA DA AGRICULTURA E PECUÁRIA REGIONAL . . . . .24 CADEIAS PRODUTIVAS EM AGRICULTURA E PECUÁRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 OCUPAÇÃO E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA PRODUÇÃO REGIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . .30 COMPONENTES DO SISTEMA DE PRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 ROÇA OU CULTIVOS DE ROÇA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS COMPONENTES EM PECUÁRIA . . . . . . . . . . . . . . . . .39 O PRINCIPAL DO SISTEMA ECONÔMICO E DA SUSTENTABILIDADE REGIONAL . . . . . . . . .43 O SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS DA AGRICULTURA, EXTRATIVISMO E PECUÁRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55 OS TIPOS DE AGENTES DE COMERCIALIZAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56 COMPOSIÇÃO FAMILIAR DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .64 LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .66 CAPÍTULO 3 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DOS SOLOS DE VÁRZEA EM DIVERSOS SISTEMAS DE USO DA TERRA AO LONGO DA CALHA DOS RIOS SOLIMÕES-AMAZONAS INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO ALTO RIO SOLIMÕES . . . . . . . . . .69 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO MÉDIO RIO SOLIMÕES . . . . . . . .71 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO BAIXO RIO SOLIMÕES . . . . . . . . .73 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO MÉDIO RIO AMAZONAS . . . . . . .75 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO BAIXO RIO AMAZONAS . . . . . . . .78 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO ESTUÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . .81 TEORES MÉDIOS DE NITROGÊNIOS E MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO . . . . . . . . . . . . . . . .82 EFEITO DO USO DA TERRA SOBRE A FERTILIDADE DO SOLO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .84 CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86 LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87
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CAPÍTULO 4 AGRICULTURA E EXTRATIVISMO VEGETAL NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .91 CARACTERIZAÇÃO FITOTÉCNICA DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DA VÁRZEA DO RIO SOLIMÕES-AMAZONAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93 INFLUÊNCIA DO PULSO DAS ÁGUAS NA CONSTRUÇÃO DAS PAISAGENS AGRÍCOLAS E NA DIVERSIDADE GENÉTICA VEGETAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109 MANEJO DOS RECURSOS DISPONÍVEIS E COEFICIENTES FITOTÉCNICOS. . . . . . . . . . . . .124 INDICADORES DA SUSTENTABILIDADE SOCIAL, ECONÔMICA E AMBIENTAL DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .127 CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .132 LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .134 CAPÍTULO 5 CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOS FITOSSANITÁRIOS NOS DIFERENTES SISTEMAS DE USO DA VÁRZEA AO LONGO DA CALHA DOS RIOS SOLIMÕES-AMAZONAS INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .147 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .154 LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .164 CAPÍTULO 6 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA DAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS E DO ABASTECIMENTO DO MUNICÍPIO DE PAUINI INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .167 A INFRA-ESTRUTURA DAS COMUNIDADES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .171 RELAÇÕES SOCIAIS DE TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .172 O MANEJO DO ECOSSISTEMA PARA A PRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .175 NAS PRAIAS E ENCOSTAS DA RESTINGA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .175 TERRA-ALTA OU TERRUÃ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .177 RESTINGA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .177 CANTEIRO SUSPENSO OU JIRAU . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .178 CRIAÇÃO ANIMAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .178 RECURSOS FLORESTAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .181 RECURSOS PESQUEIROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .182 O MERCADO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .183 LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .185 CAPÍTULO 7 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE TRABALHADORES RURAIS E URBANOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO DE PAUINI INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .191 HORTICULTURA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .192 MANEJO E CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .194 SISTEMAS AGROFLORESTAIS TRADICIONAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .195 MANEJO ECOLÓGICO DE PRAGAS E DOENÇAS DE PLANTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .196 UTILIZAÇÃO DA MADEIRA REGIONAL PARA MOVELARIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .197 PISCICULTURA FAMILIAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .199 TÉCNICAS DE CONSERVAÇÃO E PROCESSAMENTO DO PESCADO EM UNIDADES FAMILIARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .200 CRIAÇÃO DE ABELHAS SEM FERRÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .203 LITERATURA CITADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .207
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APRESENTAÇÃO
A Amazônia Centro-Ocidental mantém, ainda, sua vegetação natural quase totalmente preservada, graças às formas de produção praticadas pelos agricultores tradicionais familiares. Essas apresentam níveis de sustentabilidade socioambiental e de suficiência alimentar evidenciados pela capacidade de manter grande parte da exuberante biodiversidade e a integralidade dos ecossistemas. A visão dos agricultores tradicionais é a mesma daquela revelada nos estudos científicos de Harald Sioli sobre o diversificado e complexo universo das várzeas amazônicas, onde o pulso das águas explica o ritmo e harmonia da produção e reprodução biológica. O agricultor tradicional é polivalente e os recursos acessados no processo produtivo são os disponíveis nos ambientes explorados e a cronologia da produção agrícola e de reprodução ambiental são os ciclos naturais. A jornada de trabalho da família é distribuída em atividades agrícolas, de manufatura e extrativismo (caça, pesca, coleta de produtos vegetais na floresta e capoeira), geralmente, praticado nas áreas de uso coletivo. Além dos recursos naturais existentes, a força de trabalho é o único fator de produção, necessitando, portanto, uma administração criteriosa da sua utilização. Os níveis de auto-suficiência na produção de alimentos são propiciados pela produção diversificada. O compartilhamento intercomunitário de recursos genéticos vegetais também é uma prática corrente entre os agricultores tradicionais amazônicos, o que contribui para a segurança alimentar das comunidades e constitui um importante papel na conservação, na dispersão e no resgate de espécies vegetais cultivadas. O estímulo à agricultura especializada pode provocar transtornos na organização social da produção e colocar em risco, ou mesmo inviabilizar a segurança alimentar das famílias. Dois exemplos podem ser citados, um ocorrido nas várzeas dos rios Amazonas e Solimões, onde os produtores familiares, estimulados pelo governo, passaram a canalizar as atividades agrícolas na produção de juta e malva e o outro, da população indígena Sateré-Mawé que, incentivada por organizações não- governamentais, passaram a produzir guaraná para exportação em detrimento da produção de alimentos para autoconsumo. Em ambos os casos, as intervenções, conduziram as comunidades para a agricultura especializada provocando crises de abastecimento de alimentos.
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No Brasil, com pequenas variações, no espaço e tempo, o processo de especialização no monocultivo de espécies industriais como a cana-de-açúcar, soja, algodão e café, tem conduzido, direta ou indiretamente, os pequenos produtores rurais a níveis crescentes de empobrecimento e perda de suas terras. A possibilidade da manutenção das unidades produtivas rurais familiares implica na necessidade da existência de um sistema de preservação dos recursos naturais. As degradações dos recursos hídricos, como poluição, erosão e assoreamento de cursos d’água, pesca predatória, construções de barragens e desflorestamentos são eventos que quebram cadeias alimentares e cortam ciclos reprodutivos, destruindo as fontes permanentes de recursos naturais, secularmente utilizadas pelas populações amazônicas. Muitas vezes as intervenções promovidas pela extensão rural de órgãos oficiais, organizações não governamentais e outras causam mudanças danosas nas formas de organização social da produção nas comunidades, resultando em fortes pressões sobre os recursos naturais essenciais, inviabilizando a sustentabilidade do sistema produtivo. José de Souza Martins (2000) avalia o pesado débito da sociologia rural a serviço da difusão de inovações, cuja prioridade era a própria inovação... legando aos filhos que chegam à idade adulta os efeitos de uma demolição cultural que nem sempre foi substituída por valores sociais includentes, emancipadores e libertadores... legando aos filhos o débito social do desenraizamento e da migração para as cidades ou para as vilas pobres próximas das grandes fazendas de onde saíram, deslocados que foram para cenários de poucas oportunidades e de nenhuma qualidade de vida”. Entretanto, há necessidade de se criar alternativas econômicas capazes de gerar renda monetária aos agricultores permitindo viabilizar o acesso aos produtos e serviços adquiridos no mercado, pois, algumas necessidades básicas são atendidas, muitas vezes precariamente, por meio da aquisição de produtos somente disponíveis fora das unidades de produção. São os casos dos alimentos industrializados, combustíveis, roupas, remédios e dos serviços inexistentes nas comunidades rurais como atendimento médico, educação, energia e transporte. É extremamente importante que os projetos de desenvolvimento junto aos agricultores na Amazônia estabeleçam como premissa de trabalho a necessidade de elevar os níveis de organização social das famílias e das comunidades para que, a partir daí, as conquistas graduais do bem-estar social, coletivizadas e permanentes, sejam processadas em função da sustentabilidade dos sistemas produtivos, do aumento da auto-suficiência no atendimento das necessidades alimentares, do acesso aos requisitos básicos em educação, saúde, energia, lazer, universalizados e disponibilizados pelo Estado e da autonomia dos comunitários nas suas decisões políticas sobre o futuro social, econômico e ambiental.
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A partir de 1995, o NERUA – Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico – vem conduzindo, no Estado do Amazonas, um macroprojeto piloto de desenvolvimento sustentável, do qual o projeto Tecnologias para o Desenvolvimento e Sustentabilidade do Município de Pauini, implementado com o apoio financeiro da FAPEAM – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, por meio do Programa Temático, é um dos componentes. Na sua concepção global, o macroprojeto objetiva gerar conhecimentos técnicocientíficos que possam contribuir para a melhoria nas formas de organização social da Agricultura Familiar em relação ao manejo, utilização alimentar e econômica dos recursos naturais de modo a garantir a segurança alimentar nas sociedades rurais e proporcionar instrumentos tecnológicos e de gestão que possam contribuir para a formulação de políticas públicas compatíveis com o desenvolvimento sustentável regional. O projeto conta com a participação de pesquisadores do INPA e de outras instituições de pesquisa e ensino como a Universidade Federal do Amazonas, Universidade Luterana do Brasil/Centro Universitário Luterano de Manaus, Universidade de São Paulo/Instituto de Eletrotécnica e Energia e EMBRAPA Amazônia Ocidental, além de agricultores familiares das comunidades rurais. O intuito é o de propiciar, por meio do uso e conservação dos recursos naturais, a melhoria nos níveis do bem-estar social das populações humanas. São a partir dessas referências que os autores dos capítulos que compõem este livro discutem a Agricultura Familiar na Amazônia das Águas. A temática abordada, por ser revestida de importância e oportunidade para o avanço do conhecimento técnicocientífico e, muito além para a importante tarefa de evidenciar os saberes tradicionais como pauta da reflexão sobre o desenvolvimento regional, no livro, foi dividida em duas partes. Ambas congregam o esforço compartilhado de pesquisadores, bolsistas e parceiros das áreas do conhecimento das Ciências Agrárias e Ambientais, em construir um conhecimento permeado pelo diálogo interdisciplinar para a compreeensão e explicação do complexo espaço da Amazônia das Águas e a Agricultura Familiar. Na primeira parte os estudos apresentam uma visão analítica da dinâmica agrária e ambiental na calha do rio Solimões-Amazonas, em que as mais importantes contribuições do conhecimento científico em Ciências Agrárias têm orientado a discussão e apreensão da complexa configuração da realidade produtiva na Amazônia das Águas. O Capítulo 1 apresenta a estratégia metodológica utilizada para a pesquisa de campo multidisciplinar, organizada com o intuito de apreeender parcelas da complexidade da realidade da Agricultura Familiar regional. No Capítulo 2, se procede a uma incursão na dinâmica socioeconômica que conforma os sistemas produtivos no ecossistema de várzeas, quanto à compreensão das relações existentes para fornecer subsídios
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à política pública de desenvolvimento econômico e social mais eficiente, justo e equânime, em que o uso dos recursos naturais seja sustentável. O Capítulo 3 apresenta uma descrição das principais características químicas dos solos de várzea e os possíveis efeitos da unidade de paisagem e dos diferentes tipos de uso da terra sobre o estoque de nutrientes nestes solos. A perpectiva foi a de fornecer conhecimentos sobre o impacto dos sistemas de uso da terra sobre a qualidade do solo. No Capítulo 4, se caracterizam as unidades de produção familiar por meio de indicadores fitotécnicos e pelas formas de organização espacial de uso e manejo dos recursos mobilizados no processo produtivo em Agricultura e Extrativismo Vegetal. Nos estudos sobre a Agricultura Familiar na Amazônia das Águas muito pouco tem sido estudado o papel e a influência dos problemas fitossanitários nos sistemas de uso e manejo da terra para a produção agrícola. Assim, no Capítulo 5, é apresentada uma caracterização dos principais problemas fitossanitários em cultivos de várzea e as metodologias de manejo empregadas pelos agricultores, com a intenção de minimizar as lacunas por ventura existentes. Na segunda parte, os Capítulos 6 e 7 apresentam as ações práticas de uma estratégia para o desenvolvimento e sustentabilidade regional e local, por meio da implementação de tecnologias adequadas no Município de Pauini, no Estado do Amazonas. O intuito dos trabalhos era a atuação junto aos agricultores familiares para a otimização da produção em consonância com a conservação dos recursos e, respeitando e valorizando os diversos saberes tradicionais. A forma de conhecimento e prática social ocorreu pela pesquisa institucional disponibilizada por meios de comunicação e difusão para o assessoramento técnico-científico na Agricultura Familiar municipal. Assim, a proposta do NERUA exposta neste livro pretendeu estabelecer uma plataforma científica e técnica interdisciplinar para contribuir na formulação de propostas de desenvolvimento e sustentabilidade, principalmente em áreas onde os ecossistemas naturais representam ambientes propícios para a implantação de políticas de conservação e uso econômico dos recursos naturais, baseadas no incremento dos níveis de bem estar social e qualidade de vida das populações humanas.
Hiroshi Noda
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CAPÍTULO 1
UMA EXPERIÊNCIA METODOLÓGICA PARA O ESTUDO DA AGRICULTURA FAMILIAR NA VÁRZEA DO SOLIMÕES-AMAZONAS Sandra do Nascimento Noda1 e 4 Ayrton Luiz Urizzi Martins2 e 4 Hiroshi Noda3 e 4 Maria Silvesnízia da Silva Paiva4 Lúcia Helena Pinheiro Martins4
INTRODUÇÃO A discussão aqui escrita, na forma de apresentação de uma estratégia metodológica, foi orientada pela intenção de apreender os conceitos utilizados no estudo das representações sociais associadas aos aspectos produtivos, socioeconômicos e técnicos em agricultura, extrativismo vegetal e pecuária nas várzeas da calha do Solimões-Amazonas. Tal processo, imbuído de caráter técnico-científico, funciona como quadro explicativo das ações sociais expressas em diferentes momentos de execução do estudo pelos membros do grupo de trabalho, como pressupostos teórico-metodológicos gerais e específicos sobre os meios para atuação junto aos agricultores familiares. Inicialmente, como os escritos sobre a produção nas várzeas apontam para o fato da não delimitação possível, em termos epistemológicos, sobre o espaço de referência e, principalmente, sobre quais organizações sociais que aí vivem, empreendeu-se uma breve discussão sobre alguns textos metodológicos possíveis de serem utilizados na construção do suporte explicativo, das atividades realizadas por atores sociais. Atores que vivificam uma realidade diferenciada e pouco detalhada nos seus preceitos de maneira a fornecer uma
1. Universidade Federal do Amazonas – Faculdade de Ciências Agrárias (UFAM/FCA). 2. Universidade Luterana do Brasil – Centro Universitário Luterano de Manaus (ULBRA/CEULM). 3. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). 4. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).
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base de sustentação para as descrições e análises. A perspectiva foi a de identificar a existência de categorias sociais diferenciadas, com características e perspectivas de desdobramentos de suas práticas culturais contrastantes. A abordagem teórica escolhida foi a sistêmica pela percepção da existência de interdependências entre os componentes bióticos e abióticos que participam dos ecossistemas, tendo como base conceitual a apresentada por Morin (1998), onde em seu conteúdo fundamental estão os conceitos de sistema, interações e organização do sistema. Este princípio forneceu, ao longo do trabalho, o instrumental lógico para compreensão dos processos de transformação, regeneração e auto-regulação dos sistemas ambientais onde recai a responsabilidade sobre os atores sociais. A metodologia teve como estratégia adotada o reconhecimento das áreas de várzeas estudadas, compreendidas pela calha do rio Solimões-Amazonas nos Estado do Amazonas e Pará, como de predominância de atividades em Agricultura, Extrativismo Vegetal e Pecuária, utilizadora dos recursos por meio de um processo cognitivo em acordo com a experiência histórico-cultural dos indivíduos e as influências externas de caráter social, político e econômico. As estratégias de ação do estudo foram desenvolvidas em localidades representativas dos diferentes tipos de várzeas. A metodologia de trabalho variou de acordo com os objetivos e metas propostas, sendo que o caráter temático integrado e interdisciplinar permeou todas as estratégias selecionadas para a ação de diagnosticar. Os pressupostos principais foram de que há poucos registros na literatura científica retratando de maneira qualitativa e precisa como os atores sociais “ribeirinhos” contemporâneos são afetados pelos ambientes de várzeas, com o pulso das cheias e quais, em conseqüência, são as suas estratégias adaptativas e as escolhas tecnológicas adotadas. Faz parte do conhecimento técnico-científico regional que os fatores naturais são críticos na determinação da disponibilidade e abundância de recursos e nas escolhas sobre a alocação do tempo produtivo. E, que fatores sociais são igualmente importantes afetando, em muitas situações, o acesso aos recursos ou a disponibilidade de força de trabalho e de capital necessários para a exploração agropecuária. Assim é que, dependendo de suas estruturas de oportunidades econômicas (terra, capital, informação e mão-de-obra), famílias de uma mesma localidade podem estar mais ou menos suscetíveis aos rigores impostos pela flutuação dos recursos naturais. A ocorrência de determinada atividade produtiva, com comprometimento de mão-de-obra e de áreas de solo pode se dar em
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detrimento de outras atividades a serem executadas na mesma época/local. Qualquer processo de intensificação ou especialização econômica, como por exemplo, a produção comercial agrícola e a pesca comercial, podem engendrar conflitos na alocação de tempo para atividades que necessitem de ajustes (JOCHIM, 1971). A demanda de trabalho nas atividades agrícolas tradicionais, por outro lado, não se distribui uniformemente durante o ano, o que permite que exista tempo disponível para outras atividades, como a pequena criação animal, a pesca e a caça para consumo alimentar. Além disso, mulheres e crianças podem trabalhar ativamente em todas as atividades de condução da lavoura, permitindo um melhor aproveitamento de mão-de-obra, e possibilitando a geração de um excedente de produção, sem o comprometimento de outras atividades. O conjunto destes princípios permitiu formular a estratégia metodológica para atendimento do objetivo em pauta.
ESTRATÉGIA OPERACIONAL DO DIAGNÓSTICO DE CAMPO A execução do diagnóstico de campo ocorreu através de levantamentos multitemáticos e temáticos, organizados sob abordagem sistêmica e estratégia interdisciplinar de atuação em casos, pela utilização do método estudo de caso (GIL, 1991; GREENWOOD, 1973; YIN, 2001) e suas técnicas na perspectiva de pesquisa qualitativa diante da realidade complexa e emergente das atividades de Agricultura, Extrativismo e Pecuária nas várzeas do SolimõesAmazonas. Os levantamentos temáticos (Agricultura e Extrativismo, Pecuária, Socioeconomia, Fitossanidade e Solos) e a descrição dos processos produtivos e seus respectivos pontos de estrangulamento ocorreram mediante duas táticas para aprofundamento dos conhecimentos. A primeira, denominada pelo grupo de pesquisa de horizontalização multitemática e a segunda, verticalização temática. Ambas trabalharam com a visão dos atores sociais em situação de vivência e relato da experiência política e social do “aqui” e “agora”, nas atividades produtivas nas várzeas. A tática de horizontalização multitemática ocorreu com a aplicação da técnica de questionário-formulário característica da pesquisa qualitativa. A utilização desta técnica permitiu a homogeneização da linguagem da equipe de
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trabalho interdisciplinar, pois são diversas e múltiplas as visões estabelecidas pelo transitar em diferentes especialidades do conhecimento científico. O uso do questionário-formulário pela equipe interdisciplinar buscou superar o problema de meras respostas a meras perguntas, que podem estar facilmente desfocadas em sentido hermenêutico. Este instrumento não deixa de necessitar de categorizar o material, ou seja, formalizar, mas por ter conteúdo mais dinâmico, subjetivo, dialético na mão, pode-se formalizar com maior flexibilidade e perceber a trama não linear do fenômeno. Nesse caso, como descrito por Demo (2000), o interesse pela representatividade estatisticamente garantida perde seu lugar, porque se quer perceber a intensidade e não a extensão do fenômeno. Assim, trabalhou-se com pequenos grupos sociais que apesar de jamais serem representativos das sociedades inteiras, podem sim ser “exemplos” bem contextualizados mais aproximados da intensidade do fenômeno, onde traços mais comuns são captados permitindo procedimentos de controle intersubjetivo para termos outros ângulos da análise e, sobretudo da crítica. A estrutura do questionário-formulário tomou em conta algumas condições no processo de transformação dos depoimentos em informação e argumento. Respeito manifesto por atitudes de prestar atenção, reconhecimento de conhecimento, de consideração à experiência foram o tom permanente nos momentos de contato para os diagnósticos. Vale ressaltar, o fato dessa modalidade técnica de pesquisa de campo com o instrumental do questionário-formulário não permitir generalizar extensivamente, mas intensivamente, por trabalhar com análise do discurso. A seleção das unidades de amostragem para a horizontalização foi executada a partir da caracterização dos nucleamentos populacionaiscomunidades e das propriedades individuais nas áreas geográficas compreendidas pelos municípios. Para tal, foram levantadas hipóteses de trabalho com consulta prévia realizada nas sedes dos municípios a várias instituições e organizações sobre localização e logística necessária para a orientação da seleção amostral (Figura 1). Instituições como Secretaria de Produção, IBAMA, BASA, Prelazia, CPT, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Organizações Não-Governamentais foram visitadas. A partir da freqüência de menções às localidades onde ocorriam concentrações de atores sociais em atividades produtivas nas áreas de várzea, foi possível traçar as relevâncias. Tal atitude foi tomada conforme os preceitos da hermenêutica, onde o mais intenso é mais significativo do que o mais
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extenso, sendo o diferente (as diferenças manifestas no linguajar sobre algum fenômeno vivificado) e não as repetições (as regularidades manifestas para cada unidade de pensamento) o eco da intensidade. Importante mencionar a análise do pesquisador na desconstrução das falas, elemento essencial para o entender de seus meandros. Esse comportamento veio a requerer a formação de grupo de trabalho experiente, nas temáticas escolhidas, para abordagem dos fenômenos ocorridos na produção nas áreas de várzea. O questionário-formulário elaborado pelo grupo de trabalho interdisciplinar teve como conteúdo anotações e registro dos ambientes acessados pelos agricultores e/ou criadores, atividades realizadas nas áreas de acesso ou posse, dentre outras. O levantamento em unidades rurais a partir deste instrumento permitiu observar nos discursos: (a) componente do sistema de produção; (b) unidade de paisagem; (c) tamanho da área; (d) tempo de ocupação; (e) tempo de uso; (f) tipo de sistema, cultivo, manejo e/ou extração; (g) espécies cultivadas/extraídas; (h) preparo e manejo do solo; (i) insumos utilizados; (j) sanidade vegetal e animal; (l) características do solo; (m) dificuldades/problemas nos sistemas de produção e (n) finalidade de uso e destinação da produção.
FIGURA 1.
Localização cartográfica das unidades de produção para visitas de coleta de dados na Calha do Rio Solimões-Amazonas. Brasil, 2003/4.
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Na prática, as coletas de dados na horizontalização multitemática foram realizadas através de visitas efetivadas por dois pesquisadores do grupo de trabalho para cada localidade visitada (Figura 2). Para cada região foram escolhidas unidades amostrais nos municípios que foram visitados obedecendo a seguinte forma: a.
b. c.
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Cada uma das equipes (no mínimo seis por viagem) fez o levantamento de duas unidades amostrais por dia durante dois dias consecutivos; A cada dia, no retorno das visitas, as equipes faziam suas anotações no Relatório Diário de Campo (Figura 3 A); e A seguir os resultados anotados eram discutidos e avaliados em reuniões por toda equipe, sendo anotadas as avaliações e sugestões em relatórios-atas de campo (Figura 3 B). Nas reuniões, utilizando-se de técnica de seleção das principais características (do manejo produtivo das unidades de paisagem, da organização social, etc.), foi selecionada entre as unidades amostradas na horizontalização, uma que contemplasse o maior número de caracteres com os quais seria possível qualificar e quantificar uma unidade de produção agropecuária representativa dentro do conjunto das unidades amostradas (a verticalização).
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FIGURA 2. Localização geográfica dos estudos de caso da horizontalização multitemática. Estados do Amazonas e Pará, 2003/4.
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FIGURA 3.
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Atividades realizadas na embarcação antes e após as atividades de campo: (A) organização e registro de dados de campo; e (B) reunião de discussão de dados da horizontalização para efetivação da verticalização Calha do Rio Solimões-Amazonas. Brasil, 2003/4.
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Na horizontalização multitemática foram realizados 249 estudos de caso em unidades produtivas representativas das estratégias produtivas, organizativas e econômicas. Já na verticalização temática foram realizados 191 estudos de caso distribuídos pelas equipes de agricultura e extrativismo, socioeconomia, fitossanidade, solos e pecuária, conforme os dados dispostos na Tabela 1, totalizando 440 estudos de caso. TABELA 1.
Número de estudos de caso da verticalização temática ao longo da calha do Solimões-Amazonas. Estados do Amazonas e Pará, 2003/4.
EQUIPES
ESTUDOS DE CASO
SOCIOECONOMIA
25
AGRICULTURA E EXTRATIVISMO
26
PECUÁRIA (CRIAÇÃO ANIMAL)
29
FITOSSANIDADE
32
SOLOS (PEDOLOGIA)
79
TOTAL
191
As unidades amostrais foram nomeadas com o termo identificador de “região” num senso de localização geográfica para ocorrer a sistematização dos dados. Assim, as unidades amostrais foram localizadas e agrupadas como: • • • • • •
Região do Alto Solimões, abrangendo os municípios de Benjamin Constant; Tabatinga, São Paulo de Olivença e Atalaia do Norte; Região do Médio Solimões, abrangendo os municípios de Alvarães, Maraã, Tefé e Coari; Região do Baixo Solimões, abrangendo os municípios de Manacapuru; Careiro da Várzea e Iranduba; Região do Médio Rio Amazonas, abrangendo os municípios de Itacoatiara e Silves; Região do Baixo Rio Amazonas, abrangendo os municípios de Parintins, Óbidos; Oriximiná e Santarém; e Região do Estuário do Rio Amazonas, abrangendo o município de Gurupá.
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IMPLEMENTAÇÃO DOS ESTUDOS IN LOCO: MÉTODO UTILIZADO NOS LEVANTAMENTOS PARA O DIAGNÓSTICO A operacionalização do trabalho de campo traz consigo a necessidade de que as estratégias adotadas sejam cerceadas por método, nos levantamentos in loco de dados empíricos. A escolha recaiu no método Estudo de Caso, cujo quadro de referência teórica é articulado dentro de uma problemática, onde a informação circunstanciada é interpretada e adaptada às diferentes modalidades do conhecimento. Gil (1991) afirma que o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo, exaustivo, de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir conhecimento amplo detalhado do caso. A partir da análise do discurso e técnicas agronômicas, trabalhou-se nos casos as diversas fontes de evidência dos fenômenos (YIN, 2001), para caracterizar-se a ocupação do espaço social e de produção, enquanto mecanismo sociocultural de adaptação humana aos habitats que compõem o sistema de várzea para avançar no sentido de construir uma descrição mais criteriosa dos sistemas sociais das agriculturas das várzeas. A observação direta e crítica e o envolvimento analítico para a interpretação ocorreu numa influência fenomenológica. A busca foi a de interpretar os fundamentos do conhecimento na vida cotidiana. Conhecimento conforme apontam Berger e Luckmann (1997) “...que dirige a conduta da vida diária...”. A vida diária que se apresenta como uma realidade interpretada pelos entrevistados e subjetivamente dotada de sentido na medida em que forma um mundo coerente. No desenrolar das entrevistas, a vida cotidiana vivificada através do trabalho foi o fio condutor da estratégia metodológica. Para tal fez-se uma distinção epistemológica nos sistemas cognitivos dos sujeitos – o que é observado e o que observa, ou seja, as visões de mundo emic e etic. Interpretações emic refletem categorias cognitivas e lingüísticas dos povos nativos. As interpretações etic são aquelas desenvolvidas pelo pesquisador para fins de análises (POSEY, 1996). Nos discursos, os componentes do sistema de produção foram apresentados como categorias de análise possíveis de serem agrupadas como sistema classificatório. O mesmo apresenta-se a partir de seus componentes característicos relacionados com as práticas e técnicas de manejo dos solos nos atos de cultivar espécies da flora para a vivência característica de agricultor(a).
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Nas visitas, os informantes abordados por vezes eram os chefes de família, outras membros adultos e jovens das famílias. Apesar das anotações no questionário-formulário utilizado pelo grupo de trabalho ter como identificador uma pessoa, este procedimento somente tem validade para a leitura e inserção da unidade produtiva no banco de dados. A complementação das informações ocorreu através de diversos e diferentes informantes, cujos discursos foram anotados nos diários de campo e nos relatórios diários de campo. Estes dados foram utilizados como suporte nas análises e composição e estruturação das fichas de identificação da unidade amostral organizadas para disponibilização, acompanhamento e futuras incursões comparativas em trabalhos sobre as várzeas. Na verticalização temática foram utilizados procedimentos metodológicos específicos para cada área temática que serão descritos nos capítulos seqüentes.
COMPOSIÇÃO DO BANCO DE DADOS O banco de dados foi composto pela tabulação dos dados constantes nos questionários-relatórios utilizados para a Horizontalização Multitemática e a Verticalização Temática. A partir dos questionários-relatórios as informações foram digitalizadas no programa Access compondo um Banco de dados alfanumérico. A composição foi compatível com as unidades trabalhadas no formato de subtemas relativos aos propostos nos levantamentos e diagnóstico. Posteriormente foram organizadas planilhas (Fichas) com dados alfanuméricos de fácil leitura para socialização dos conteúdos, de maneira a se ter instrumental para avaliação das práticas e usos das várzeas para Agricultura, Extrativismo e Pecuária.
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LITERATURA CITADA BERGER, P.I.L.I.; LUCKMANN, T. A Construção Social da Realidade: Tratado de Sociologia do Conhecimento. Trad. Floriano de S. Fernandes. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. 248p (Antropologia, 5). DEMO, P. Metodologia do Conhecimento Científico. São Paulo, SP: Atlas, 2000. 216p. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo, SP: Atlas, 1991. 207p. il. GREENWOOD, E. Metodologia de la Investigacion Social. Buenos Aires: Paidós, 1973. 126p. JOCHIM, M. A. Strategies for Survival: Cultural Behavior in an Ecological Context. New York: Academic Press, 1971. 233p. POSEY, D. A. Os povos tradiconais e a conservação da biodiversidade. In: PAVAN, C. (Org.). Uma estratégia latino-americana para a Amazônia. São Paulo: UNESCO, 1996. v. I. 348p. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2.ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. 336p.
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CAPÍTULO 2
CONTEXTO SOCIOECONÔMICO DA AGRICULTURA FAMILIAR NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA Sandra do Nascimento Noda1 e 4 Ayrton Luiz Urizzi Martins 2 e 4 Hiroshi Noda3 e 4 Fidel Matos Castelo Branco 4 Marco Antonio Freitas de Mendonça1 e 4 Maria Silvesnízia Paiva Mendonça4 Elione Angelin Benjó4 Rosana Antunes Palheta4 Antonia Ivanilce Castro da Silva4 Jucélia Oliveira Vidal4
INTRODUÇÃO Através de visitas às unidades amostrais foram efetivadas observações diretas que compuseram o levantamento socioeconômico. Estas observações variaram com atividades formais e informais de coleta de dados, representando uma importante fonte de evidência no estudo dos casos. Nos levantamentos, as técnicas informais corresponderam a reuniões de sensibilização sobre as atividades do levantamento. Nestas eram explicados os objetivos do projeto e os procedimentos adotados nos levantamentos. Nas reuniões eram convidados os membros das famílias moradoras nos locais, e ocorreram anotações dos principais fatos históricos, econômicos, sociais, políticos e culturais. Após isso eram feitas caminhadas nos lugares produtivos para observação visual da unidade amostral e os significados dados para cada
1. Universidade Federal do Amazonas – Faculdade de Ciências Agrárias (UFAM/FCA). 2. Universidade Luterana do Brasil – Centro Universitário Luterano de Manaus (ULBRA/CEULM). 3. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). 4. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).
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lugar. Na continuidade da visita, buscava-se um lugar de melhor disposição, escolhido pelo informante, para dar termo à aplicação das técnicas formais representadas por: a) questionário-formulário socioeconômico constituído de perguntas abertas, fechadas e de reforço; b) entrevistas semi-estruturadas por roteiro prévio para obter-se informações referentes aos processos representativos, o imaginário social e cultural e as explicações dos entrevistados; c) croquis das unidades de paisagem através de procedimento participativo dialógico do (s) informante (s); e d) diário de campo (anotação de informações adicionais).
O CONTEXTO E INSERÇÃO ECONÔMICA DA AGRICULTURA E PECUÁRIA REGIONAL A economia apresentada na calha do Solimões-Amazonas está orientada basicamente para as atividades de Agricultura e Extrativismo, com o uso e o manejo dos recursos naturais. Poucas são as inversões de recursos financeiros dados serem baixos os níveis de geração de emprego e renda monetária nas unidades produtivas, o que em conseqüência promove baixa circulação de moeda. A racionalidade do sistema produtivo está assentada em geral sobre três subsistemas básicos apresentados na representação (Figura 1) e descritos como: Subsistema de auto-suficiência e sustentabilidade familiar – A unidade de produção é constituída por uma intrincada e articulada rede de atividades produtivas assentadas, basicamente, na força de trabalho familiar e freqüentemente, no acesso às quantidades suplementares deste fator de produção, através das relações de solidariedade estabelecidas dentro dos grupos sociais (relações de ajuda mútua). A unidade de produção relaciona-se com o ambiente externo através das atividades executadas pelo mercado de fatores pela compra de bens, máquinas, implementos e insumos e ao mercado de produtos pelo abastecimento de produtos agrícolas e extrativos. Recentemente, e de maneira crescente, está ligando-se ao sistema estatal mediante a transferência de recursos do governo federal pelos programas de municipalização e universalização dos serviços e o sistema de crédito oficial. Subsistema de produção agrícola e extrativa comercial – As principais atividades deste subsistema localizam-se nas atividades extrativas de fruteiras como o açaí (frutos, vinho e palmito), pupunha (frutos e palmito), agrícolas de
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fruteiras como banana, cupuaçu, cacau, melancia, goiaba, tucumã, manga, mamão, etc.; essências madeireiras e pescado. A quantificação do valor monetário gerado por essas atividades é problemática pela falta de registro e controle dos procedimentos comerciais. A quantificação da proporção dos recursos que permanecem ou são reinvestidos na região foi dificultada pela indisponibilização regular de informações de exportação e venda comercial local ou regional. Um exemplo significativo é a falta de fiscalização sobre a arrecadação do imposto que incide sobre a circulação de mercadorias regionais. Subsistema estatal – Este subsistema compreende os fluxos econômicos gerados pelos investimentos e transferências dos governos federal e estadual através dos programas oficiais de fomento à produção e a canalização de recursos financeiros da cooperação internacional pelos fundos obtidos por diversas organizações governamentais e não-governamentais, instituições de pesquisa, ensino, extensão, etc.
FIGURA 1.
Sistema Econômico na Agricultura e Extrativismo Regional.
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Diferentemente das ocorrências nas atividades em Agricultura e Extrativismo, na Pecuária são realizadas inversões de recursos financeiros e os níveis de geração de emprego assalariado e renda monetária nas unidades produtivas são mais elevados e ocorre maior volume de circulação de moeda, estando o sistema produtivo assentado em quatro subsistemas básicos: Subsistema de diversificação para complementação à sustentabilidade familiar – Baseada na força de trabalho familiar, a unidade de produção é agrícola com o componente criação animal sendo considerado como complementar para obtenção de renda em casos de emergência (doenças na família, enchentes severas, perdas na produção, etc.). A criação de gado neste subsistema normalmente é de gado bovino e tem a função de funcionar como uma espécie de poupança. O tamanho médio dos rebanhos é, geralmente, em torno de 20 cabeças, confirmando o caráter familiar da atividade. A unidade de produção relaciona-se com o ambiente externo através das atividades executadas pelo mercado com a compra de produtos pecuários. Recentemente, e de maneira crescente, está ligando-se ao sistema estatal mediante a atuação do sistema de crédito oficial. Subsistema de produção empresarial familiar – Muitas são as unidades produtivas de gado bovino e bubalino nas várzeas cujo planejamento e administração das atividades são executados por empreendedor familiar. São famílias tradicionais proprietárias de terras que têm características de dedicação às atividades por herança. As principais atividades deste subsistema localizam-se nas atividades das subcadeias produtivas locais de gado de corte (cria/recria/engorda) e de leite e derivados. Subsistema empresarial de pecuária de corte e leite – As unidades produtivas estruturaram-se a partir de atores sociais advindos dos setores secundário e terciário que aplicam recursos próprios em pecuária, comprando terras, implantando pastagens e introduzindo gado. Uma parte desses investidores vem do setor primário após passarem por processos de produção bem sucedidos no comércio ou na política local. É o caso também, dos investidores em pecuária oriundos das cadeias agropecuárias com períodos de passagem nas áreas urbanas como donos de casas comércio, lojas de produtos agropecuários, compradores e transportadores de gado, técnicos do setor agropecuário governamental. A fazenda de gado neste subsistema pode funcionar como uma atividade secundária uma forma de investimento para profissionais liberais, políticos, industriais, etc. Com o desejo de serem
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fazendeiros captam financiamentos públicos e investem conjuntamente com recursos financeiros próprios. Subsistema estatal – Este subsistema compreende os fluxos econômicos gerados pelos investimentos e transferências dos governos federal e estadual, através dos programas oficiais de fomento à criação animal e a serviços de controle sanitário, principalmente para o rebanho bovino e bubalino no Estado do Amazonas. São os incentivos fiscais e as políticas de crédito mencionadas como os principais elementos motivadores para os pecuaristas. A canalização de recursos financeiros da cooperação internacional pelos fundos obtidos por diversas organizações governamentais e não-governamentais, instituições de pesquisa, ensino e extensão rural revertem-se em grande parte em estudos técnicos-científicos.
FIGURA 2.
Sistema Econômico na Pecuária Regional.
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CADEIAS PRODUTIVAS EM AGRICULTURA E PECUÁRIA As cadeias produtivas em Agricultura e Extrativismo e Pecuária nas várzeas do Solimões-Amazonas estabelecem padrões sociais e econômicos de uso e manejo dos solos onde a função social da propriedade e a necessidade de conservação ambiental estão em permanente disfunção. Se de um lado ocorre a necessidade do abastecimento dos mercados de produtos e fatores impondo padrões na quantidade, regularidade e qualidade na oferta de produtos, de outro estão os sensos de conservação da diversidade social (várias culturas com preceitos técnicos produtivos) e biológica (diversas espécies da flora e fauna), necessários de permanecerem para contrapor-se a extinção e por-se a favor da manutenção e preservação dos ambientes de várzea na calha do Solimões-Amazonas. Outra questão relevante que vem promovendo disfunção é o constante processo de concentração fundiária recorrente da produção em pecuária e o acesso às áreas florestadas ou produtivas nas atividades em agricultura e extrativismo. Na realidade atual a coerência vivificada de situação de abundância e de acesso irrestrito aos recursos não está mais ocorrendo. A situação vem sendo agravada exponencialmente com o processo de concentração fundiária e apropriação ilegal por pecuaristas, fazendeiros e empresas madeireiras, que buscam produzir em áreas onde ainda existe cobertura florestal. Com o aumento e diversificação das redes de funções das cadeias produtivas essas áreas adquirem outras características de valoração econômica, promovendo modificações estruturais nos setores de produção organizados com a inclusão das áreas de várzeas, cuja apropriação privada é de difícil consolidação com a atual legislação fundiária brasileira. As redes de funções das cadeias produtivas na agricultura e extrativismo e na pecuária distribuem-se em diversos níveis de atuação econômica e com uma série de inter-relações mantidas entre vários atores sociais. Estes, ao atuarem, dão formação às paisagens e processos específicos de conservação ambiental, e ao operarem, possibilitam a geração de emprego e renda. A operacionalização das redes de funções ocorre desde o nível local reunindo agricultores familiares, passando pelos pequenos aglomerados urbanos e sedes dos municípios do interior (Atalaia do Norte, Benjamin Constant e São Paulo de Olivença, Maraã; Careiro da Várzea, Iranduba, Silves, Oriximiná e Gurupá) interligadas às cidades economicamente mais importantes (Tabatinga, Tefé, Coari, Manacapuru, Itacoatiara, Parintins, Óbidos e Santarém), até as capitais dos Estado, (Manaus e Belém).
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O funcionamento da rede abrange diversas categorias de produtores e comerciantes atuando em diferenciados produtos com elevado grau de especialização, manifesto de diferentes formas nos locais de circulação dos produtos, principalmente nos mercados dos pequenos centros urbanos e das grandes cidades. Exemplo significativo é a produção de artesanato com matéria-prima oriunda da agricultura e do extrativismo incentivada por ações governamentais e organizações não-governamentais. Artefatos produzidos nos municípios onde a indústria do turismo ecológico e folclórico participa na formação de redes de funções de cadeias produtivas específicas têm representado importante significado na geração de emprego e renda, envolvendo atores sociais representantes da indústria doméstica e de cooperativas e associações populares, co-participantes muitas vezes do denominado mercado justo nacional e internacional. Outros exemplos são as frutas tropicais (oriundas em grande parte dos sítios das várzeas e do extrativismo), essências florestais, produtos olerícolas, carne e leite. Estes geram e movimentam recursos em torno de subprodutos importantes relacionados às indústrias de transformação de produtos de origem nas áreas produtivas das várzeas. O mercado de couro em Tefé, Coari, Itacoatiara, Parintins e Santarém se encontra em plena ascensão e em processo de regulamentação para ocorrer arrecadação de impostos e retornos financeiros para os produtores nos municípios. Em Itacoatiara, este mercado vem promovendo modificações no processo de beneficiamento, com vistas a atender as exigências externas por produtos com padrões de primeira qualidade. Em Iranduba, Itacoatiara, Parintins e Santarém é crescente o mercado de leite com oferta de laticínios especializados (iogurte, queijo, manteiga, etc.) e subprodutos, como vísceras, vendidas separadamente nos mercados e feiras municipais, e sebo que vem sendo utilizado, associado às frutas e essências florestais, para a fabricação de cosméticos com o incentivo de organizações e programas sociais governamentais ou não. Não há dúvida de que as hortícolas e a carne representam o principal desses produtos. No caso das hortícolas, representadas pelas fruteiras e olerícolas, a venda incentivada pela demanda de abastecimento urbano concentrado nas sedes dos municípios vem promovendo a consolidação de produções nas várzeas oriundas tanto da pequena agricultura como da empresa familiar, ambas representantes da Agricultura Familiar (LAMARCHE, 1997) nas várzeas do Solimões-Amazonas.
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OCUPAÇÃO E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA PRODUÇÃO REGIONAL A intervenção nas áreas de várzeas foi, num primeiro momento, marcada pelo extrativismo (NODA, 1985), passando em seguida por um progressivo processo de transformação, incorporando a natureza ao cotidiano do homem como meio de subsistência e produção, ou seja, alimentos, fibras como a juta (Corchorus capsularis) e a malva (Pavonia malacophyla), móveis cerâmicas e ferramentas. Os processos correspondentes ao primeiro momento são considerados de natureza primitiva e/ou primeira natureza, conforme conceituado por Marx (1980) apud Noda (1985), transformada em segunda natureza. Assim, entendida como sendo a representação resultante da distribuição e/ou organização espacial em acordo com a lógica humana de cultivar através de modos, formas ou sistemas, construir moradias, estruturar caminhos e meios de comunicação sobre superfícies naturais. A organização espacial é assim o resultado, no presente, do processo social de produção de grupos de atores sociais, mas, tem velado dentro de si uma condição para o futuro, pois refletirá as características de quem a criou, isto é, a reprodução dos próprios grupos. A organização espacial reflete ainda a natureza da produção e do consumo de bens materiais, como também o controle exercido sobre as relações que emergiram das relações sociais ligadas à produção. A história verbalizada pelos atores sociais ao longo da calha do Solimões-Amazonas tem a dimensão espacial que emerge do cotidiano das pessoas, sendo tal dimensão o “locus” onde estão desenvolvendo-se os processos sociais de afirmação e reafirmação de valores, gostos e objetivos. É um espaço que condiciona cotidianamente os diversos e atuais papéis desempenhados e as diferentes paisagens, construídas no exercício e localização das atividades e fenômenos humanos (TUAN, 1980). Espaço este contraditório, onde ocorre a destruição das formas espaciais existentes, a criação das resistências e a reconstrução de formas e conteúdos espaciais dotados de dimensões e significados diferentes pela aquisição da experiência. O espaço é produzido, reproduzido, recriado, configurando-se não apenas sociedade, localidade ou “comunidade, mas também e, principalmente, como possibilidade” de ser o lugar de construção e reconstrução da vida em situação rural (NODA, 1997). Tal situação expressa um sistema de espaços relacionais e temporalidades, onde coexistem diferentes e múltiplos
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subsistemas produtivos que contextualizam as interações que forjam as diferentes paisagens. Desta maneira, pode-se verificar a existência de uma intencionalidade na organização dos recursos nos sistemas de produção na agricultura, extrativismo e pecuária que proporcionam mudanças nos espaços da paisagem e, conseqüentemente, na qualidade de vida das pessoas. Isso se dá pela estreita relação existente entre sociodiversidade e biodiversidade, onde as formas de organização dos grupos de atores sociais normalmente são originárias no contato, percepção e aquisição de hábitos pela experiência cotidiana de vida em determinado ambiente natural e, podem ser geradas como resposta às características ecológicas e ambientais existentes (NEVES, 1992). O conceito apresentado por Tuan (1980) em sentido amplo, como “...sendo os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material...” permite observar-se o fato das formas de organização social, além de poderem ser geradas como resposta às características ambientais as mesmas, podem provocar mudanças na biodiversidade original de uma paisagem. Corresponde, portanto, a um sistema espacial de ocorrência da biodiversidade, formas de organizações sociais (sociedades) com características diversas permitindo observar a sociodiversidade correspondente. Desta maneira os espaços societários estudados representam não somente a historicidade na construção antrópica das paisagens através da utilização de técnicas de produção, mas também as características das diversas organizações societárias resultantes desta historicidade, isto é, os sistemas de produção nas várzeas.
COMPONENTES DO SISTEMA DE PRODUÇÃO Nos discursos dos atores sociais entrevistados ao longo da calha do Solimões-Amazonas, os componentes do sistema de produção foram apresentados como “categorias de análise” possíveis de serem agrupadas num sistema classificatório. O mesmo apresenta-se a partir de seus componentes mais característicos e relacionados com as práticas e técnicas de manejo dos solos, nos atos de cultivar espécies da flora na vivência de agricultor(a). O sistema de produção tem como base, práticas agroflorestais de produção caracterizadas pelo manejo das terras numa integração, simultânea e seqüencial, entre árvores e/ou animais e/ou cultivos agrícolas. Os fatores de produção combinados com a utilização de técnicas convencionais e
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tradicionais, influenciam no funcionamento do sistema produtivo. Assim, o sistema agroflorestal de produção em agricultura, extrativismo e pecuária apresenta-se através dos seus componentes principais:
ROÇA OU CULTIVOS DE ROÇA Geralmente, no sistema agroflorestal de produção o principal fornecedor de alimentos energéticos para a sustentação diária dos agricultores são os produtos oriundos das roças ou cultivos de roça. São as paisagens onde parcelas são cultivadas anualmente, em regime de monocultura, rotação ou consórcio. Vários são os arranjos paisagísticos encontrados, onde a produção de diversas espécies pode ser verificada, ocorrendo diversidade de variedades intra e interespécies, manifestando diversidade biológica. As principais plantas cultivadas são as cultivares venenosos, denominadas “mandioca”, e as não-venenosos, “macaxeira”, ambas variedades de Manihot esculenta Crantz e a banana (Musa sp.) (Figura 3). Estas corroboram para a venda e fornecimento de alimentos. A farinha de mandioca é o principal produto agrícola comercializado e em grande parte, o produto que alimenta e permite a manutenção econômica nos períodos de cheia dos rios.
FIGURA 3.
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Componente “Roça” típico em área de várzea, apresentando a mandioca como cultura principal. Calha Amazonas-Solimões/AM, 2003/04.
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Outras espécies são cultivadas de forma consorciada com a mandioca e outras espécies ou como cultivos solteiros como jerimum (Curcubita maxima Duch. Ex. Lam.), maxixe (Cucumis anguria L.), melancia (Citrullus lanatus (Thunb.) Matsumura & Nakai), cará (Dioscorea trifoliata Kunth), batata-doce (Ipomoea batatas L.), milho (Zea mays L.), ariá (Calatea allouia (Aubl.) Lindl.), abacaxi (Ananas comosus (L.) Merr.) e cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.). Os cultivos ocorrem em pequenas áreas à semelhança de cultivos em mistura sem obedecer as técnicas de alinhamento e espaçamento agronômico entre espécies e variedades, o que vem a caracterizar o plantio tradicional em miscelânea.
Cultivos Nos espaços sociais produtivos, denominados regionalmente cultivos, podemos encontrar espécies cultivadas em consórcios ou como cultivos solteiros. Estes últimos ocorrem em espaços obedecendo às técnicas de alinhamento e espaçamento agronômico entre espécies e variedades, o que vem a caracterizar o plantio numa racionalidade de organização das espécies, de maneira a utilizar melhor os espaços numa combinação espacial e temporal em acordo com o ecossistema de várzea, o ciclo produtivo e a arquitetura de cada cultivo. Podem ser observados os seguintes cultivos: • Cultivos Solteiros – Podem ocorrer nas áreas de várzeas baixas ou praias ou cultivadas em tabuleiros ou balcões suspensos, grande parte dos cultivos solteiros concentram-se nas espécies folhosas de olerícolas, pimentas e temperos. Ocorrem nas proximidades dos centros urbanos e das cidades como oferta de produtos para o abastecimento do mercado hortifrutigranjeiro. • Cultivos em Consórcio – As áreas normalmente apresentam cultivos de hortaliças (onde cada cultivo ocupa espaço determinado e definido). • Cultivos em Canteiros Suspensos – Como estratégia de diversificação e ampliação da capacidade produtiva do sistema de produção. Destaca-se a produção de hortaliças em tabuleiros, verificada em comunidades dos municípios de Parintins e Oriximiná, onde são cultivadas espécies para abastecer o mercado local como couve (Brassica oleraceae sp.), alface (Lactuca sativa sp.), pimentão (Capsicum annuum), tomate (Lycopersicum
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esculentum), coentro (Coriandrum sativum), chicória (Erygium foetidum), cebolinha (Allium fisculosum), pimentas diversas (Capsicum sp.), maxixe (Cucumis anguria) entre outras. Tal estratégia visa reproduzir as condições ideais de produção, alternativa aos efeitos da sazonalidade das áreas de várzea, e “criar” novos espaços para produção e elevar o “valor de uso” da terra, sendo verificada em cerca de 50% das famílias entrevistadas. Geralmente próximo às casas, caracteriza-se por canteiros suspensos construídos de madeira, preenchido com solo da várzea e esterco de gado disponíveis no local (Figura 5). Alguns tabuleiros já vêm recebendo tratamento especial com sistema de irrigação e cobertura com plástico para controlar excesso de água no período das chuvas. Também se constitui, num componente onde a mão de obra feminina é de extrema importância.
FIGURA 4.
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Componente “Cultivo Solteiro” em área de várzea. Calha Solimões/AM, 2003/04.
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FIGURA 5.
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Cultivo em “Canteiros Suspensos” em área de várzea. Calha Solimões/AM, 2003/04.
Componente Pousio As terras deixadas em “descanso” para recuperação após alguns anos de produção são reconhecidas como sendo as de Pousio. Esta prática denominada regionalmente de “descanso da terra” obedece ao senso de conservação dos recursos naturais (vegetal e animal) para uso agrícola posterior, sendo, bastante difundida nas áreas de várzea. A técnica de Pousio se dá para formação de capoeiras e caracteriza-se pela ocorrência de heterogeneidade, estratificação e organização das comunidades florísticas para a manutenção da vida. Tem como função principal, a de reposição dos nutrientes e reconstrução da paisagem florística nos locais utilizados para os plantios e/ou de roça. São reconhecidas duas vertentes para a técnica do Pousio nas várzeas regionais, conforme descrito por Noda et al. (1995). A primeira é do pousio tradicional, praticado pelo conhecimento dos níveis de produtividade dos plantios e/ou plantios de roça. A Segunda é a do pousio melhorado, com o plantio de fruteiras regionais com espaçamentos amorfos e distantes para a evitalização de arbustivas, gramíneas, etc. (Fichas de Identificação das Unidades Amostrais da Verticalização).
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Sítio ou Quintal A apresentação deste componente normalmente encontra-se associada às moradias e, em muitos casos, fornece um volume de produção que é excedente da total para o mercado (NODA e NODA, 1994). Normalmente, estão organizados espacialmente cultivos de espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas de valoração utilitária (NODA, 2000) em: • •
•
• •
Alimentar: valor atribuído pela disponibilidade das espécies como fonte de alimentos para os animais e os seres humanos. Medicinal: valor atribuído às espécies em relação à disponibilidade em obter-se extratos utilizados na medicina popular regional; Madeira: valor atribuído às espécies em relação ao uso em construções de moradias, dos equipamentos comunitários, de casas de farinha e cercados para os animais; Ornamental: valor agregado às espécies pela satisfação da sensibilidade estética, da contemplação e do senso de beleza; Outros: onde estão incluídas as categorias artesanato; veneno; e calafeto.
Extrativismo Vegetal As atividades são realizadas obedecendo ao senso de utilização e valoração utilitárias com processos de conservação baseados na economicidade. As atividades extrativas são realizadas na floresta que constitui um elemento permanente da paisagem. Os produtos extraídos são alimentos, condimentos, remédios, aromáticos, gomas e fibras. O uso das áreas florestadas se dá de maneira a compor o esquema de produção em sistema agroflorestal. O extrativismo vegetal é uma atividade historicamente executada tanto por agricultores familiares como por latifundiários tradicionais e empresas familiares. Grande parte dos produtos extraídos participa de cadeias produtivas específicas como as da madeira de lei, castanha, açaí e óleos essenciais cujas funções são reguladas pelo avanço das relações comerciais de exportação. O extrativismo de madeira tem a dupla função de ser para a comercialização e obtenção de recursos monetários (manutenção das famílias, compra de equipamentos e produtos industrializados) e para construção
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(moradia, canoa, escola, igreja, “casas de farinha” – fornos para torrefação de farinha de mandioca). O extrativismo nas várzeas está vinculado a um sistema de comercialização, através de financiamento de atravessadores, montado por exportadores. Vários produtores são financiados pelo exportador, antes do período da safra principalmente, a da castanha-do-Brasil, cuja safra dá-se no período de abril a junho. O açaí, cujo período de safra coincide com o da castanha, tem um amplo consumo, pelas próprias famílias dos produtores, sendo a outra parte comercializada através dos atravessadores, intermediários, etc.
Extrativismo Animal Dois importantes subcomponentes nas várzeas representam o extrativismo animal, cujas práticas estão muito presentes no dia-a-dia de agricultores e extratores; a caça e a pesca. A carne de caça é o alimento protéico, depois do peixe, mais importante para a população nas várzeas e atualmente nas áreas urbanas pelo hábito alimentar oriundo dessas localidades, dado o processo de circulariedade cultural pela migração espacial e setorial e pelo comércio regional, apesar da ilegalidade do consumo urbano das espécies de caça. Nas maiores cidades, o comércio de animais oriundos da caça é executado ilicitamente, mas é do conhecimento público a oferta irregular, porém, constante de produtos oriundos da caça, principalmente os quelônios como iguaria do hábito alimentar característico da cultura amazônica. Muitas são as cerimônias ilustres e importantes realizadas por famílias tradicionais, políticos, profissionais liberais e membros da sociedade local, onde espécies de quelônios são oferecidas numa variedade de pratos que chega até quatro formas de apresentação (sarapatel, assado, guisado e a farofa). A caça é praticada nas áreas de floresta não somente da propriedade, mas, também, em áreas adjacentes. É explorada tanto nos ambientes de terrafirme como nas várzeas, sendo que quase a totalidade dos animais caçados são para autoconsumo, havendo, esporadicamente, comercialização do excedente. Há, porém, a prática crescente de incentivar a caça por comerciantes, tradicionais compradores desses animais, nas sedes dos municípios. Outro público consumidor e fornecedor de animais oriundos da caça são os atores sociais envolvidos nas atividades de turismo (restaurantes e hotéis) e no comércio de carnes exóticas.
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Os animais com maior participação na atividade são o tatu (Dasypus sp.), o pato-do-mato (Cairina Moschata) e a paca (Agouti paca). Outras espécies de animais silvestres como capivara (Hidrochaeris capivara), cutia (Dasyprocta aguti) e jacaré (Melanosuchus niger) foram mencionados com menores valores de ocorrência e localidades, porém, manifestando valores significativos sobre a participação da caça na alimentação dos agricultores. Importante observar a necessidade de medidas severas e sérias quanto ao extrativismo animal. Não bastam somente medidas repressivas e fiscalizatórias quando se tem como componente na cadeia produtiva atores da indústria do turismo e o hábito alimentar, o assunto merece propostas mais sérias, principalmente como estratégias de compensação pelo incentivo à criação de animais silvestres e conservação das matas, em grande escala, organizados pelos poderes municipais. A pesca é realizada no conjunto da bacia hidrográfica, dandose preferência, dependendo do período do ano, ao rio principal, igarapés ou lagos. O extrativismo, na sua versão animal, tem na pesca a sua principal manifestação social e cultural. A pesca é uma prática que vem sendo desenvolvida nas várzeas dos Estados do Amazonas e Pará por séculos, pelos moradores de diferentes etnias e os mestiços que vêm ocupando predominantemente as margens dos cursos-d’água, sempre observando os hábitos tradicionais da pesca, aprimorando os utensílios e adequando-os às suas necessidades de maior produção por tempo disponível à atividade. Atualmente, vem ocorrendo fricção entre grupos de pessoas pertencentes às sociedades locais, principalmente quando o acesso aos recursos pesqueiros é coletivo e se tem uma situação de abundância de pescado, porém, quando os recursos estão escassos, por motivo de perda ou transformações de habitats, ocorre mobilização política e social. As desconexões são, principalmente, na pesca de peixes de grande porte e elevado valor econômico e no conseqüente aumento de pessoas dedicando-se a essa modalidade de extrativismo. Nas sociedades locais observadas, essas práticas impuseram a necessidade de mecanismos de defesa, muitos dos quais em acordo com os limites reconhecidos como privados e essenciais à reprodução cultural, mas também à sobrevivência e reprodução biológica. As espécies mais freqüentemente mencionadas nas entrevistas foram: pirarucu (Arapaima gigas), matrinchã (Brycon sp.), tucunaré (Cichla sp.), tambaqui (Colosssoma macropomum), traíra (Hoplias malabaricus), aracu (Leporinus fasciatus), pacu (Mylossoma sp), aruanã e sulamba (Osteoglossum
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bicirhosum), pescada (Plagioscion sp.), curimatã (Prochilodus nigricans), surubim (Pseudoplatystoma fasciatum), jaraqui (Semaprochilodus sp.), piranha (Serrasalmus eigenmanni) e sardinha (Triportheus sp.). Nas sociedades locais a pesca artesanal de pequena escala é uma das principais atividades econômicas dos agricultores familiares, podendo ser acompanhada e complementada pela atividade agrícola na obtenção de renda monetária. Na calha do Solimões-Amazonas, em todo o seu comprimento, foram encontrados pescadores comerciais e/ou donos de embarcação responsáveis, na atualidade, por grande parte dos conflitos com os pescadores artesanais pelo acesso aos ambientes lóticos de pesca na confluência de igarapés com o canal principal do rio. São os atores sociais representantes da função comercial na cadeia produtiva da pesca que contratam serviços e trabalhadores e disputam o direito de colocar seus equipamentos de pesca (malhadeiras) nas proximidades das desembocaduras dos igarapés para capturar os cardumes que migram dos lagos para o rio. Outro importante representante da função comercial são os donos de peixarias, supermercados e comerciantes urbanos de feiras ou mercados municipais. São os denominados proprietários das “Peixarias” que atuam como armadores de pesca e que também são responsáveis pela exportação do pescado para outras regiões do país. A comercialização de grande parte do pescado desembarcado nas sedes dos municípios é negociada por grupos de pequenos empresários familiares do setor, principalmente aqueles que possuem a concessão de “pedras” nos mercados e feiras municipais. Existem comerciantes compradores da produção de pescadores individuais rurais e urbanos com quem mantêm uma relação de clientela.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS COMPONENTES EM PECUÁRIA A contextualização da atual situação da Pecuária e de seu uso e manejo dos solos foi realizada a partir do enfoque produtivo onde os componentes mais característicos permitem ter-se uma visão horizontalizada de seu comportamento nas várzeas regionais. Os componentes principais podem ser divididos em dois grandes grupos:
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Animais de Pequeno Porte Na atualidade produtiva das várzeas, a pecuária de animais de pequeno porte tem dupla significância. Muitas são as atividades participantes das redes produtivas e comerciais ligadas à cadeia produtiva de aves, ovos e carne de caprinos e ovinos para o abastecimento de centros urbanos e as atividades criatórias nos sítios dos agricultores familiares, que lançam mão dessa atividade como complementação alimentar e de renda eventual. As formas de produção normalmente utilizam animais de pequeno porte (aves, suínos e caprinos) quando empresariais familiares, através de processos técnicos de confinamento. Os animais são alimentados com ração balanceada, exigindo instalações especializadas com construções específicas e, passando pelos processos de manutenção assemelhados aos de criação bovina nos períodos das cheias dos rios. Em conformidade aos preceitos técnicos, essas criações localizam-se mais próximas aos centros urbanos para minimizar a influência dos fatores estruturais como o isolamento dos produtores dos mercados consumidores, as dificuldades de transporte e de conservação dos produtos, a falta de energia, dificuldade de acesso aos insumos, dentre outras. As aves são criadas em granjas com equipamentos (gaiolas, comedouros, incubadoras, etc.) diferenciados por ser no regime intensivo a criação, pois se destina ao comércio de frango regional, muitas vezes mais valorizado monetariamente, bem como ao fornecimento de ovos nas cidades de pequeno, médio e grande porte. Praticamente quase todas as sedes dos municípios estudados possuem produção de ovos, sendo pouco o abastecimento advindo de importação de outras localidades. As formas de produção, quando alocadas nas agriculturas familiares, diferenciam-se no manejo dos animais. Geralmente, os mesmos são alimentados com restos de alimentos das refeições familiares, ração, milho, frutas caídas no chão e processamento de produtos (crueira, da farinha de mandioca). A criação destes animais é considerada como alternativa alimentar na época da cheia onde o peixe fica mais escasso. As aves são criadas soltas (produção extensiva tradicional) para consumo porque há dificuldades na obtenção de ração e/ou outros alimentos. Nos períodos de cheia dos rios, esses animais, às vezes são levados para terrafirme, podendo ainda ser vendidos ou presos em maromba. Geralmente, as
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instalações são o puleiro (pode até ser o galho de uma árvore) ou o galinheiro, que servem para os animais passarem a noite. Os animais de pequeno porte costumam ser um componente importante do sistema de produção familiar. Além da função alimentar, os mesmos podem funcionar como uma espécie de ativo facilmente mobilizável para satisfazer necessidades imediatas, principalmente nas situações de dificuldade, através da venda ou de outra relação de troca simples. A criação de aves caracteriza-se por ser doméstica e é realizada nas áreas de sítios, terreiros e/ou quintais dos agricultores familiares. Nestas áreas ocorre normalmente a presença de galinhas e patos. Não consta nas informações sobre a comercialização dos animais de pequeno porte que haja contribuição para a formação de renda monetária.
Animais de Grande Porte Nos estabelecimentos empresariais familiares e fazendas, a produção de animais de grande porte caracteriza-se pela criação de bovinos e bubalinos para fornecimento e participação nas cadeias produtivas de corte e leite. As formas, de produção apresentam-se como sendo a atividade da pecuária a principal, sendo reduzida a área agrícola e a atividade extrativa pela conversão de significativas parcelas de terras em pastagens. A principal alimentação dos animais é o capim, que pode ser plantado ou natural. As áreas de capim plantadas são pequenas, sendo a maior parte natural. Nessas formas de produção o leite é vendido ou transformado nos próprios estabelecimentos, tomando-se um cuidado maior com a qualidade e a sanidade do rebanho. A unidade familiar administra as atividades e parte da venda dos garrotes é aplicada no processo produtivo e na contratação de mão de obra assalariada. Neste caso, as fazendas especializadas na criação de bovinos e bubalinos concentram a maior parte dos rebanhos regionais de várzeas, principalmente nos municípios do Careiro da Várzea, Itacoatiara, Parintins, Oriximiná e Santarém. Quando ocorrem outras atividades estas estão afetas à criação de animais de pequeno porte e desempenham funções acessórias e complementares à produção bovina e bubalina. É o caso da suinocultura, aproveitando o soro do leite, a ovinocultura e caprinocultura, que se utilizam das mesmas pastagens que o gado, e a produção de milho para alimentação animal. As fazendas de gado são estabelecimentos heterogêneos no que se refere ao caráter da atividade da pecuária e ao grau de tecnologia adotado.
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Normalmente, são moradores nas sedes dos municípios e integram-se a outras atividades da cadeia produtiva da pecuária e em outros setores da economia. As áreas dos agricultores familiares com pasto plantado caracterizam-se por não haver preparo da área, sendo o capim plantado ou replantado onde ocorreu enchente com cobertura total do terreno. Normalmente, o capim utilizado é o “brizante” (Brachearia brizanta) introduzido, porém, adaptado à região. A criação de gado caracteriza-se por ser uma atividade que aproveita os campos naturais no período em que as terras não se encontram alagadas com a transferência dos animais para área de terra-firme no período de subida das águas. Os agricultores familiares possuem plantel constituído basicamente de gado bovino, mais adequado ao sistema agroflorestal, tendo em vista que o gado bubalino provoca profundas alterações no sistema natural e de produção. O número médio de animais por família é bastante reduzido, daí a atividade assumir, na visão dos produtores, um caráter de “poupança”, principalmente por apresentar alta liquidez. Nas situações de emergência, a família consegue colocar com facilidade o produto no mercado, gerando a renda monetária necessária para a situação. A manifestação quase que unânime das famílias entrevistadas quanto aos prejuízos que os agricultores familiares vêm tendo com os “estragos” resultantes da presença de grandes criadores de búfalos nas proximidades é um fato marcante e de grande preocupação. A queda da produção pesqueira e a perda de produção nas roças e sítios, por ação desses animais, foram outros problemas apontados. Entretanto, algumas localidades têm conseguido, por meio de organizações apoiadas por instituições governamentais e não-governamentais, reduzir o problema. Geralmente, os agricultores familiares cercam uma área do terreno onde fica a casa e o sítio. Em espaço de terreno contíguo existe uma área comum em que o gado de todos os comunitários pasta junto. O sal é utilizado na complementação alimentar do animal, sendo a raça predominante a mestiça, onde não ocorre controle sobre a reprodução dos animais. Não existe um reprodutor por proprietário ou programação de época de cobertura das vacas. O gado bovino é criado para o consumo e como fonte de renda onde o senso predominante é o de funcionar como “poupança”. Os animais são criados soltos, ocorrendo por vezes a instalação de curral, sendo seus resíduos (esterco) utilizados no cultivo de hortaliças. Na época da cheia, na grande maioria, são levados para áreas alugadas em terrenos de terra-firme. Pode ocorrer sociedade na criação do gado bovino, onde somente o lucro é dividido entre os sócios e se houver perdas, estas recaem sobre o criador. Por isso, os
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criadores fazem o possível para reproduzir o gado. O dístico de agricultor familiar representa de maneira os tratos e o manejo extensivo do gado bovino, sem controle técnico ou preocupação técnica com o pasto e a reprodução do plantel.
O PRINCIPAL DO SISTEMA ECONÔMICO E DA SUSTENTABILIDADE REGIONAL Os dados disponíveis de produção agropecuária de várzea sobre a calha do Solimões-Amazonas são bastante escassos. Quando existentes não consideram as diferenças em nível de microrregião o que pode comprometer qualquer iniciativa de proposição de políticas públicas adequadas. Daí o motivo que levou à aplicação de estratégias que pudessem estabelecer, a partir de banco de dados de campo, uma estratificação dos sistemas de produção presentes no espaço em questão. A diversidade de produtos originados da produção agropecuária em áreas de várzea é um importante fator que garante a sustentabilidade dos sistemas de produção nestes espaços. As incertezas resultantes das condições de mercado (preço e demanda) bem como das variações sofridas na produção em função das condições ambientais (enchente, seca, problemas fitossanitários...) levam à manutenção desta diversidade, favorecendo a adaptabilidade do sistema a estas perturbações. Daí o porquê, da tendência por produtos que garantam, inicialmente, a auto-suficiência da família. Os dados referentes à importância qualitativa que cada componente do sistema de produção assume, quanto aos aspectos de auto-suficiência e sustentabilidade familiar (consumo e troca) e de produção agrícola e extrativa comercial (venda) nas Microrregiões estabelecidas para análise, reforçam esta tendência. A freqüência relativa da manifestação oral dos informantes entrevistados (Figuras 6, 7, 8, 9, 10 e 11) indica certo padrão para boa parte da calha do Solimões-Amazonas, tendo os componentes roça, cultivo e pesca como principais na produção para consumo e troca, com exceção para a microrregião 6, onde o ecossistema com influência diária da maré, dificulta o acesso a áreas adequadas ao cultivo de grande parte das espécies cultivadas. Neste caso específico, apenas a pesca é comum aos demais, ressaltando-se também o componente sítio. Já os demais componentes assumem grau de importância diferenciado em cada microrregião.
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FIGURA 6.
Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 1 (Benjamin Constant; Tabatinga, São Paulo de Olivença e Atalaia do Norte), 2003/04.
A importância que cada componente representa na geração de renda monetária também parece acompanhar a análise anterior. Entretanto, alguns componentes destacam-se por apresentarem maior freqüência para a finalidade "venda", como é o caso da criação de animais de grande porte (bovino e bubalino), cultivo de hortaliças em tabuleiros, extração vegetal madeirável e não-madeirável e pesca. O primeiro ocorre em praticamente todas as microrregiões, assumindo papel de poupança no caso de pequenos criadores, em função da alta liquidez. Já o extrativismo vegetal e pesca, estão associados à disponibilidade do recurso e a existência de uma rede de comercialização estruturada. Já a produção de hortaliças em tabuleiros corresponde a uma estratégia adaptativa voltada a atender uma demanda específica. De um modo geral, pode-se observar a tendência de retorno ao sistema diversificado daqueles produtores que, principalmente por estímulo do governo, se especializaram em determinadas atividades produtivas, com destaque ao extrativismo vegetal e animal. A especialização levou, na maioria das vezes, a uma redução do estoque do recurso e a uma redução do nível de auto-sustentabilidade do produtor.
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FIGURA 7.
Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 2 (Alvarães, Maraã,
Freqüência Relativa
Tefé e Coari), 2003/04.
FIGURA 8.
Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 3 (Manacapuru, Careiro da Várzea e Iranduba), 2003/04.
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Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 4 (Itacoatiara e Silves), 2003/04.
Freqüência Relativa
Figura 9.
FIGURA 10.
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Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 5 (Parintins, Óbidos, Oriximiná e Santarém), 2003/04.
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Figura 11.
Importância qualitativa do componente do sistema de produção na área de várzea da microrregião 6 (Gurupá), 2003/04.
A organização social e espacial da produção nos sistemas de produção na várzea sofre a influência de diversos fatores. O estudo identificou 28 variáveis que interferem nesses sistemas, registrados em forma de freqüência relativa de manifestações dos informantes ao longo da calha, com destaque para: o acesso à terra; assistência técnica; conflito social; efeito das enchentes; baixo estoque de recursos naturais; disponibilidade de insumos; ação do intermediário; efeito da seca; disponibilidade de mão-de-obra; mercado para o produto; problemas de sanidade animal e vegetal; preço do produto; financiamento da produção; condições do solo. A análise de componentes principais e a análise de agrupamento foram utilizadas como instrumentos de definição de zonas homogêneas a partir de critérios socioeconômicos, de sorte a definir problemáticas específicas de cada microrregião, o que possibilita subsidiar políticas públicas nos níveis regional e municipal, considerando as limitações e potencialidades de cada microrregião. Por meio da análise de componentes principais foram extraídos os fatores que refletissem as interferências, principalmente externas, que mais afetam o sistema de produção na área de estudo. A análise foi realizada inicialmente por microrregião onde foram efetivamente empregadas apenas as
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variáveis que apresentaram autovalores superiores a 0,7, conforme critério adotado por Jolliffe (1986). A análise de agrupamento discriminou para a microrregião 1 – Alto Rio Solimões – a formação de três grupos (Figura 12). O primeiro, formado pelos componentes (1) criação de animais de grande porte, (9) sítio, (3) cultivo e (10) hortaliças no sítio, sofre grande influência da variável "preço". Na região do Alto Solimões é constante a influência do preço de produtos procedentes do Peru e Colômbia. Outra característica local que afeta o preço de produtos do sítio, principalmente frutos (cupuaçu, abiu, sapota, mapati...) é a grande oferta destes produtos "in natura" para uma demanda bastante reduzida e a falta de condições para o beneficiamento local dos produtos. Apesar das alternativas de mercado, Benjamin Constant, Tabatinga e Letícia, a sazonalidade característica de produtos como melancia, milho e macaxeira, acarreta uma oferta superior à demanda local, forçando uma queda no preço do produto. Com a deficiência do sistema regional de transporte e escoamento da produção, o preço elevado do frete e o nível de organização mais elevado das redes de comercialização quando comparado ao dos produtores rurais da região, grande parte desta produção nem chega ao mercado, gerando elevada taxa de perda para o produtor. A variável ambiental "enchente" também constitui-se um dificultador para a produção local. Em função desta caracterísitica, algumas variedades de espécies vegetais foram localmente desenvolvidas para melhor adaptarem-se aos regimes das águas. O grupo 2, formado pelos componentes resultantes das atividades extrativistas (2) caça, (4) exploração de madeira, (7) pesca e (5) extração vegetal, tem na variável redução e distanciamento do estoque de recursos naturais como principais influências. A forte pressão sobre os recursos naturais é resultante, em grande parte, pela fragilidade da fronteira com outros dois países. A exportação clandestina de peixes para a Colômbia e a atuação, no Brasil, de agentes de madeireiras localizadas em território Peruano, vêm provocando a continuidade da sobreexploração desses recursos. Outra espécie vegetal bastante procurada por atravessadores é o camu-camu, produto exclusivamente de origem extrativista.
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FIGURA 12.
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Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 1, tendo por base as variáveis que interferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância Euclediana).
As diferenças existentes nas legislações ambientais dos três países fronteiriços vêm desencadeando descontentamento da população residente em território Brasileiro, que sentem-se desfavorecidos, o que muitas vezes resulta em descomprimento à lei e envolvimento em redes de exploração e comércio ilegal de produtos extrativistas. Em função da proximidade das sedes dos municípios e da concentração da população ribeirinha, a fauna vem se distanciando cada vez mais, prejudicando a caça de subsistência nas comunidades. Algumas iniciativas puderam ser verificadas na microrregião como tentativas de reverter o atual quadro. Como exemplo, vale destacar a criação de animais silvestres e a revitalização de áreas de mata e capoeira próximas às comunidades com espécies atrativas da caça. O grupo 3, formado pelos componentes (6) criação de animais de pequeno porte e (8) roça, apresenta como principal variável de interferência os aspectos de sanidade (animal e vegetal), que por sua vez, também está fortemente relacionada com o período das chuvas intensas e subida das águas. Apesar do preço ter um peso expressivo para o componente roça, o mesmo não ocorre para o outro componente, tendo em vista que o mesmo se destina mais para consumo da família.
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Na microrregião 2 – Médio Rio Solimões – foi possível verificar a formação de dois grupos (Figura 13). O primeiro, composto por um grande número de componentes, (2) caça, (10) cultivo de hortaliças no sítio, (4) exploração de madeira, (5) extração vegetal, (3) cultivo e (11) cultivo em tabuleiros. É altamente influenciado pela variável distância, que para caça e extração vegetal e de madeira, relaciona-se com a disponibilidade do recurso, já para os demais representa a dificuldade de acesso à água no período de seca. Como na microrregião anterior, no grupo 2 composto pelos componentes (7) pesca e (9) sítio, o nível de organização das redes de comercialização locais também desfavorecem os produtores quando do momento de comercialização da produção. A desvantagem nas negociações e a falta de alternativas de mercado, refletem no preço final do produto, chegando a atingir níveis onde nem mesmo o trabalho é devidamente remunerado. O transporte da produção também representa um fator limitante comum a estes componentes, e contribuem para a situação de desvantagem mencionada anteriormente. Apesar de não constituirem um grupo pelo nível de similaridade adotado, os componentes (8) roça e (6) criação de animais de pequeno porte, foram os que totalizaram as maiores freqüências relativas de dificuldades, com destaque para o efeito das enchentes, predadores, indisponibilidade de insumos e recursos financeiros e preço.
FIGURA 13.
Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 2, tendo por base as variáveis que interferem no processo de produção, expressas em frequência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância Euclediana).
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Na microrregião 3 – Baixo Rio Solimões – pode-se observar a formação de dois grupos, ficando isolados os componentes (7) pesca, (3) cultivo e (8) roça (Figura 14). O grupo 1, formado pelos componentes (1) criação de animais de grande porte e (9) sítio, apresentaram como variáveis que mais influenciaram o efeito das enchentes e o conflito social. A subida das águas limita a área disponível tanto para criação de gado como para cultivo de espécies perenes (no sítio). O conflito social é resultante da competição por espaço, já que o gado causa danos às espécies cultivadas nas áreas de sítios e de roça. Quando este dano ocorre em áreas vizinhas geram-se conflitos que são freqüentes na microrregião. O grupo 2, formado pelos componentes (2) caça, (4) extração de madeira, (5) extração vegetal, (6) criação de animais de pequeno porte e (10) hortaliças do sítio, caracteriza-se por componentes de menor expressão em termos de produção tanto para consumo como para venda na microrregião. Dois subgrupos podem ser verificados ainda, um determinado pela distância cada vez maior do recurso (caça e extração), e o outro pela limitação de área e falta de assistência técnica (criação de animais de pequeno porte e produção de hortaliças nos sítios).
FIGURA 14.
Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 3, tendo por base as variáveis que interferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância Euclediana).
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Os componentes (3) cultivo e (8) roça, que não se agruparam aos demais, representam as principais atividades de geração de renda na microrregião, abastecendo a sede de importantes centros urbanos do Estado (Manaus, Manacapuru e Iranduba). Em função da importância que assumem, apresentaram as maiores totalizações para a freqüência relativa das variáveis identificadas. Para a microrregião 4 – Médio Rio Amazonas – o grupo 1, formado pelos componentes (2) criação de animais de grande porte, (3) caça, (5) extração de madeira e (8) pesca, sofrem influência com maior intensidade das variáveis conflito social e transporte, principalmente em relação à criação de animais de grande porte e pesca (Figura 15). Já o grupo formado por (4) cultivo e (10) sítio apresenta como limitações comuns a necessidade de recursos financeiros, preço do produto e mercado, além de aspectos de sanidade vegetal. Ressalta-se que as justificativas para estas variáveis são, em grande parte, as mesmas apresentadas nas microrregiões anteriores.
FIGURA 15.
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Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 4, tendo por base as variáveis que interferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância Euclediana).
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No caso da microrregião 5 – Médio Rio Amazonas – os componentes (10) sítio e (11) cultivo de hortaliças em sítios, agrupados em 2, sofrem forte influência das variáveis relacionadas ao ambiente (enchente, seca, invasoras, pragas e doenças) que exigem mais do manejo (Figura 16). Entretanto fatores como mão-de-obra, preço, mercado, transporte, necessidade de insumos e acesso à terra também são determinantes no agrupamento. Já o grupo 1, formado por (2) criação de animais de grande porte, (6) caça, (3) extração de madeira, (5) extração vegetal e (12) cultivo em tabuleiros, apresenta a distância como variável comum, seja no sentido de acesso ao recurso ou à água para irrigação. O transporte é responsável pela maior similaridade entre os componentes criação de animais de grande porte e caça, já a redução do estoque de recursos é responsável pela similaridade entre extração de madeira e extração vegetal.
. FIGURA 16.
Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 5, tendo por base as variáveis que interferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância Euclediana).
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Na microrrerião do Estuário (Figura 17), o Grupo 1 está formado pelos componentes (1) caça, (2) cultivo, (9) cultivo de hortaliças em sítios, (3) exploração de madeira e (4) extração vegetal, e tem as variáveis distância do mercado, custo do transporte, preço do produto e mercado como dificuldades comuns. A alternativa de mercado é bastante limitada pela distância dos centros consumidores, se restringindo a poucos compradores que determinam o preço do produto, principalmente daqueles de maior expressão local, como o palmito e fruto de açaí e a madeira. Já o Grupo 2, formado por (7) roça e (8) sítio, apresenta as variáveis mão-de-obra e recurso financeiro como principais fatores limitantes, além das plantas invasoras que tornam o processo ainda mais exigente de mão-de-obra. Grupo 3, formado pelos componentes (5) criação de animais de pequeno porte e (6) pesca se assemelham pela necessidade de insumos e, conseqüentemente, mais recursos financeiros. O camarão é o principal produto da atividade pesqueira. Várias famílias dependem da atividade para gerar renda monetária. Entretanto, o produto utilizado como isca na captura do camarão (farinha de babaçu) é importado do Maranhão representando o principal custo da atividade. A limitação de terras adequadas para o cultivo de algumas espécies para alimentação de animais de pequeno porte também força esta necessidade de maior investimento para o desenvolvimento da atividade. O manejo desses animais também é dificultado pelas características ambientais da região.
FIGURA 17. Análise de Cluster dos componentes do sistema de produção na Microrregião 6, tendo por base as variáveis que interferem no processo de produção, expressas em freqüência relativa. (Método de Ligações Completas e Distância Euclediana).
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A variável ambiente (inundação diária das terras) representa um fator limitante para as atividades (2) cultivo, (5) criação de animais de pequeno porte, (7) roça, (8) sítio e (9) cultivo de hortaliças nos sítios, exigindo dos produtores maiores gastos com alimentação básica. Já a dificuldade de transporte e o preço do frete, forçam o produtor a comercializar a produção no próprio local, tornando-o ainda mais dependente dos agentes de comercialização local.
O SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS DA AGRICULTURA, EXTRATIVISMO E PECUÁRIA O sistema de comercialização se estabelece a partir de relações de contato com os centros urbanos e as grandes cidades localizadas próximo das áreas das várzeas na calha do Solimões-Amazonas. O mercado local está organizado através de relações estabelecidas para reter e selecionar o excedente produzido nas sociedades locais. Na circulação dos produtos de origem agroflorestal, através das relações entre compradores-comerciantes e produtores-vendedores, ocorre o processo de comercialização nos espaços de feira, beira dos rios, mercados municipais e comércios diversos. Os primeiros vendem produtos como farinha, frutas, hortaliças, etc., de forma a terem dinheiro para comprar mercadorias não produzidas nas sociedades locais, mas necessárias ao consumo das famílias. Os produtores levam suas mercadorias no mercado urbano e aí compram os produtos para complementar suas necessidades criadas a partir das relações de contato comercial. Os principais atores sociais que participam do processo de comercialização, que podem ser denominados genericamente de intermediários, encontram-se em diferentes locais, sendo os principais as beiras dos rios nas moradias dos produtores, os portos, as feiras e mercados e em constante movimento em suas embarcações fluviais. Uma característica interessante no volume de negócios oriundos da comercialização dos produtos são os locais de concentração de venda.
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TABELA 2.
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Principais locais de venda dos produtos nas microrregiões estudadas. Estados do Amazonas e Pará. Brasil. 2003/4.
Local de Vendas N= 25
REGIÕES (%) Alto Rio Solimões
Médio Rio Solimões
Baixo Rio Solimões
Médio Rio Amazonas
Baixo Rio Amazonas
Estuário
Total Geral
Áreas de Produção
2,3
11,0
41,4
5,3
23,9
91,7
28,7
Áreas de Produção e Sede
3,0
0,0
0,0
12,0
4,6
8,3
3,9
Sede Mercado ou Beira
94,7
89,0
58,6
82,7
71,5
0,0
67,4
Total
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
Na Tabela 1, os dados mostram os locais de venda, conforme as informações obtidas, concentrados nas sedes dos municípios com a média de 67,4 % e nas proximidades das áreas de produção e moradia dos agricultores com a média de 28,7%. Esse fato deve-se, em grande parte, pela presença dos intermediários (marreteiros, atravessadores e marchantes) com características de atuação profissional próximo aos seus fregueses.
OS TIPOS DE AGENTES DE COMERCIALIZAÇÃO A tipologia aproximada dos agentes de comercialização compradores nas cidades e/ou que têm contatos com os agricultores, a partir das entrevistas, aponta como os principais para os produtos oriundos da Agricultura, do Extrativismo e da Pecuária, por ordem de importância de ocorrência nas citações, os intermediários (42,6%) e os marreteiros (23,3%) ( Figura 18) é importante observar que percentuais assemelhados para consumidor direto e patrão, este último remanescente da época dos plantios de fibras e produtos do extrativismo como madeira. Juntando-se os dados de consumidor e associação infere-se que o nível de organização social para a comercialização ainda é baixo.
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FIGURA 18. Participação relativa dos principais tipos de compradores mencionados nas áreas pesquisadas nos Estados do Amazonas e do Pará. Brasil, 2003/4.
O papel de importância dado ao intermediário é por, normalmente, ser o dono do meio de transporte usado para movimentar os produtos a serem comercializados numa relação com práticas diferentes, dependendo do volume de recursos financeiros que possui e do grau de confiança dos produtores, adquirido após vários anos de atuação local. Nas sociedades locais trabalhadas existe um intenso tráfego de embarcações cuja função social é a de intermediar o processo de comercialização através de viagens. A malha de tipos de compradores (comerciantes intermediários) é um componente forte para a não percepção, por parte dos agricultores, sobre o processo de apropriação dos seus excedentes gerados na produção. Assim, como também, a não identificação da participação do capital industrial na região pesquisada. O capital comercial, enquanto promotor da circulação das mercadorias no esquema definido pela apropriação dos excedentes, é o responsável pela posição resultante da sua articulação com o capital industrial em seu movimento de acumulação e concentração. Órgãos governamentais de comercialização que atuam no mercado de produtos para compra e armazenamento têm pouca relevância na intervenção do processo de comercialização nas áreas pesquisadas, a não ser, órgãos ligados à assistência técnica que se encontram em fase de rearticulação nos municípios do Estado do Amazonas. A aproximação entre as áreas de produção e os centros urbanos é um fator de grande importância, mesmo nas áreas de várzeas, onde há
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disponibilidade de meios fluviais de escoamento da produção. A questão é que os produtores de localidades mais distantes e com menores alternativas nas condições de acesso aos centros comerciais, têm maiores gastos com o item transporte para a comercialização, constituindo-se um fator de limitação. Os principais produtos que participam das redes de comercialização podem ser observados nas tabelas 3 e 4. Na tabela 3, os principais percentuais estão para as hortaliças (32,6%) e as frutas (29,5%). Observa-se na tabela 4, que as espécies cultivadas mais mencionadas foram: banana (Musa sp.), couve (Brassica Oleracea var. acephala), cacau (Theobroma cacao), limão (Citrus sp.) e melancia (Citrullus vulgaris), com freqüências superiores a 10%. TABELA 3. Participação relativa dos principais produtos comercializados mencionados nas localidades pelos agricultores. Estado do Amazonas e Estado do Pará. Brasil, 2003/4. Região (%) Produtos
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Alto Rio Solimões
Médio Rio Solimões
Baixo Rio Solimões
Médio Rio Amazonas
Baixo Rio Amazonas
Estuário
Total Global
Artesanato
0,0
0,0
0,0
0,0
2,4
0,0
0,8
Carne
0,0
0,0
0,0
0,0
14,3
8,3
5,4
Coleta e extração
0,0
5,0
0,0
0,0
0,0
16,7
2,3
Extração
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
8,3
0,8
Farinha
16,7
10,0
3,4
0,0
0,0
0,0
3,1
Fibra
0,0
5,0
0,0
0,0
4,8
0,0
2,3
Fruta
33,3
30,0
55,2
25,0
9,5
41,7
29,5
Galinha
0,0
0,0
0,0
0,0
4,8
0,0
1,6
Grãos
16,7
5,0
10,3
10,0
4,8
0,0
7,0
Hortaliça
0,0
35,0
20,7
50,0
45,2
0,0
32,6
Macaxeira
0,0
0,0
3,4
5,0
0,0
0,0
1,6
Medicinal
0,0
0,0
3,4
5,0
2,4
0,0
2,3
Ovos
0,0
0,0
0,0
5,0
0,0
0,0
0,8
Pescado
33,3
10,0
3,4
0,0
9,5
16,7
8,5
Queijo
0,0
0,0
0,0
0,0
2,4
8,3
1,6
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TABELA 4.
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Participação relativa das principais espécies comercializadas mencionadas nas localidades pelos agricultores. Estados do Amazonas e Pará. Brasil, 2003/4.
ESPÉCIE CULTIVADA
(%)
ESPÉCIE CULTIVADA
(%)
Abacate Açaí Banana Cacau Caju Coco Cupuaçu Goiaba Jenipapo Limão Mamão Manga Maracujá Marimari Melancia Quiabo Repolho Pimenta-de-cheiro
2,6 2,6 18,4 10,5 2,6 5,3 5,3 5,3 2,6 10,5 5,3 7,9 7,9 2,6 10,5 7,1 4,8 4,8
Abóbora Alface Alfavaca Berinjela Cariru Cebolinha Cheiro-verde Chicória Chuchu Coentro Couve Feijão-de-corda Jambu Jerimum Maxixe Pepino Pimenta Pimenta-queimosa
2,4 4,8 2,4 2,4 2,4 4,8 7,1 2,4 2,4 2,4 11,9 7,1 4,8 9,5 9,5 2,4 2,4 2,4
Os produtos que compõem o item coleta e extração são o açaí-doAmazonas (Euterpe precatoria), açaí-do-Pará (Euterpe oleraceae), madeira das espécies ucuúba (Virola subifera), ucuúba-preta (Virola michelii), mulateiro (Peltogyne paniculata) e cedro (Cedrela huberi), e palmito de açaí (Euterpe sp.) e pupunha (Bactris gasipaes). A atuação dos agentes de intermediação é favorecida pela produtividade do trabalho, alienada na comercialização dos produtos. Ou seja, há a produção de excedentes pelo sobretrabalho familiar em ambiente favorável (várzeas férteis e próximas dos centros comerciais) e frugalidade na maneira de viver por parte dos agricultores familiares, que proporciona a partilha dos excedentes por diferentes agentes do capital comercial. Os consumidores são atores sociais importantes no processo de comercialização dos produtos. Quando possível, em períodos de escassez de certos produtos, os produtores conseguem vender seus produtos diretamente para os consumidores urbanos nas áreas próximas aos mercados e feiras. A venda efetivada diretamente é mais vantajosa aos produtores, porém, mais difícil de ocorrer durante todo o ano, pois o tempo necessário de permanência
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no local de comercialização, provoca custos adicionais com despesas de estadia e alimentação. Algumas Prefeituras Municipais intervêm e influenciam na comercialização dos produtos, ao participarem da organização da comercialização nos mercados e feiras de produtores. A explicação dada, além dos mecanismos de organização social, foi a de que o abastecimento local é praticamente realizado, em termos de produtos alimentares perecíveis, pelos produtores regionais impossibilitados de adquirirem equipamentos para conservação dos alimentos. Quanto aos tipos de compradores particulares, deve-se destacar o comerciante local como o comprador mais importante, seguido dos comerciantes do mercado, supermercado, barco de linha, dono de flutuante e dono de açougue. Os intermediários denominados localmente de “Atravessadores” têm, na atualidade, menor participação no volume dos produtos agroflorestais comercializados. Estes intermediários deslocam-se à guisa de intermediar a comercialização de produtos agrícolas ou de extração florestal com seus “fregueses“. Os atravessadores especializaram-se na comercialização de produtos com sazonalidade de produção. Este agente não aplica seu capital, financiando, com dinheiro, os agricultores. Quando muito, adotam um esquema de crediário que os favorece. A extração dos excedentes através do contato mais direto com pequenos comerciantes e com os “atravessadores” tem relativa facilidade de acesso aos produtores, seja através de embarcações e/ou caminhões (Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru e Santarém). A comercialização de pescado, em alguns locais, é incentivada pela proximidade aos grandes centros urbanos, estimulando o surgimento de atravessadores que vêm até às comunidades em busca da produção. Em alguns casos, dependendo da disponibilidade de transporte, o próprio ribeirinho leva o fruto de sua pescaria para os mercados e frigoríficos. A relação mantida com os comunitários se dá quando estes com embarcação própria vêem com o intuito de executarem a venda de seus produtos nas feiras. A alocação dos comunitários nas áreas de feiras é, nos dias de hoje, bastante restrita e a sua permanência, apesar de ser financeiramente vantajosa para os mesmos, é diminuta. Ligado principalmente à cadeia produtiva de gado de corte, o marchante tem como característica principal a de ser responsável pela compra dos animais de grande porte (gado bovino e bubalino). Muitas vezes, os marchantes são
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também, produtores, ou seja, grandes pecuaristas locais por vezes associados em cooperativa e donos dos frigoríficos que comercializam carne nessas localidades ou importam o produto de outros Estados. Existe uma rede de importadores e comerciantes de carne, tanto no Estado do Amazonas como no Pará, associados a comerciantes de outras localidades e outros Estados brasileiros.
COMPOSIÇÃO FAMILIAR DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO Nas unidades de produção amostradas nas regiões da Calha do Rio Solimões-Amazonas, o trabalho, a produção, o consumo, a educação, a saúde, etc. estão organizados através de relações e redes de parentesco. A família caracterizada pelo grupo doméstico compreende várias gerações e mesmo parentes colaterais com os respectivos cônjuges e filhos. Grande parte das unidades de produção tem na estrutura de famílias extensas a sua constituição básica. Os parentes na estrutura das famílias nucleares são caracterizados pelos cônjuges e os seus dependentes que compartilham uma moradia e, áreas de produção e trabalho é que constituem as unidades de produção e consumo. As famílias nucleares, enquanto unidades de produção e consumo, só se constituem assim quando possuem as benfeitorias básicas. Em conformidade com a cultura regional, cada família nuclear só se constitui como tal quando possui: Uma moradia (casa) para todos os seus membros; Áreas para produção de fruteiras, plantios anuais e criação de animais de pequeno porte ao redor da moradia, denominados de terreiros, sítios e/ou quintais onde estão estruturadas as construções das casas de farinha, os locais de abrigo dos animais e jiraus de plantios suspensos; e Áreas para produção em roças ou roçados, plantios e criação de animais. A unidade, com seus componentes, toma todas as decisões importantes sobre o que, onde e de que maneira produzir e o destino da produção. Já o que caracterizaria uma Comunidade é uma associação de unidades de produção familiar, estreitamente vinculadas e interdependentes entre si que atuam conjuntamente como uma unidade econômica básica. A família nuclear ou extensa organiza o trabalho familiar nas regiões pesquisadas sob dois “tipos” de trabalho: o trabalho utilizado na Agricultura, Extrativismo vegetal e na Pecuária e o trabalho doméstico. A família enquanto
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unidade de consumo é que determina a quantidade e a forma – se caseira ou não – do trabalho necessário à manutenção familiar. Desta maneira, as crianças e os jovens do sexo masculino participam das atividades de plantio, tratos culturais e colheita, nos processos de trabalho que utilizam técnicas tradicionais ou não. Com o chefe da família fica a responsabilidade da comercialização dos produtos e a socialização sobre os processos de trabalho não caseiro. O trabalho doméstico fica a cargo da mulher (esposa), após os trabalhos na Agricultura ou de uma filha mais velha, que prepara a alimentação familiar e, como tarefa, cuida dos irmãos mais novos. Nas regiões amostradas, normalmente as unidades familiares de produção reconhecem as atividades como trabalho, enquanto o trabalho feminino, doméstico ou não, assim como o dos filhos é considerado “ajuda”, mesmo nas situações onde os trabalhos femininos e das crianças se dão através de tarefas equivalentes ou iguais a dos homens. Como as relações com a cidade mantidas através da comercialização de produtos e mercadorias são extremamente desiguais, ocorre que a quantidade de trabalho empregado ultrapasse as necessidades de consumo familiar, havendo a intensificação da produção através da utilização do trabalho das crianças e dos jovens. Nesse processo é que está se dando o contato com a cidade e a produção de forças de trabalhos para o mercado. Ou seja, o senso social mantido no processo de trabalho socializa as crianças e os jovens muito além de sua cultura étnica, pois são levados para uma prática agroflorestal cuja lógica recebe a interferência externa dos mecanismos de reprodução do capital. A questão da reprodução familiar implica na incorporação das crianças e dos jovens no processo produtivo. Esses comportamentos dão outra perspectiva ao número de filhos que compõem as famílias. Isto acontece principalmente por implicarem nas condições de aumento ou não no emprego de forças de trabalho necessárias para a produção agrícola, especialmente por ocasião do plantio e na colheita e para as tarefas do extrativismo vegetal e animal, onde ocorre a dupla jornada do trabalho das mulheres, das crianças e dos jovens. Na figura 19 podem ser observados os dados agrupados mostrando para as regiões diferenças significativas no processo migratório de membros das famílias que moram fora da unidade produtiva. Importante observar para o Médio Solimões a inexistência de menção para filhos morando fora, muito pelo aumento nas demandas por produtos após a implantação do pólo de atuação do
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gasoduto pela PETROBRAS S.A. O fato vem permitindo o ativamento econômico na região.
FIGURA 19.
Número de residentes no local e fora e a relação de sexo dos membros das famílias nas regiões amostradas na calha do Rio Solimões-Amazonas. Brasil, 2003/4.
Estes dados sugerem processos migratórios uma vez que do total do número de pessoas o número de homens residentes é menor do que de mulheres residentes. Entretanto, inferências mais consistentes dependem de dados sobre saúde, emprego e distribuição populacional e, para orientações de políticas públicas de organização e distribuição do trabalho e emprego nas localidades amostradas deve-se levar em conta os percentuais de participação por sexo e idade na composição da mão de obra familiar por atividade e especialidade de trabalho executado na agricultura. Assim é porque as tarefas são divididas pelo sexo e idade nas atividades nos sistemas de manejo em agricultura, extrativismo vegetal e pecuária. No processo de expansão das relações capitalistas na agricultura ocorre uma demanda por mercadorias oriundas da economia urbana, dentre as quais os insumos “modernos”, a energia elétrica, os bens de consumo industrializados e os serviços. Isso implica no aprofundamento da divisão social do trabalho no campo e na cidade, aumentando a procura da força de trabalho em função do aumento da demanda pelos produtos urbanos. Os processos de mobilidade assim decorrem da expansão das relações capitalistas
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de produção e podem ocorrer quando o objetivo é o de aumentar-se a produtividade do trabalho, cujo resultado pode ser a expropriação dos trabalhadores rurais proprietários ou não da terra. Normalmente, os aumentos de produtividade se dão pela conjugação da utilização intensiva do trabalho familiar com o uso capitalista da terra, dada a sua localização próxima aos mercados e com bons índices de fertilidade natural e pelo uso de fertilizantes químicos, máquinas e equipamentos industriais, matrizes genéticas melhoradas, etc. As diferenças e variedades dos componentes naturais da divisão social do trabalho é que vão possibilitar a produção de trabalho excedente e sua apropriação capitalista, ocorrendo assim, modificações nos processos de trabalho e em conseqüência no sistema de produção. Essa realidade passa a requerer a necessidade de controle sobre a força de trabalho, para torná-la móvel no tempo e no espaço em resposta à lógica imposta pelo capital ao trabalhador. A história dos processos de desenvolvimento das diferentes regiões, no que diz respeito a oferta de oportunidades sociais e econômicas, mostra que os mesmos promoveram mobilizações espaciais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Os atores sociais formadores da Agricultura Familiar ao atuarem produtivamente dão formação às paisagens e processos específicos de conservação ambiental, e ao operarem, possibilitam a geração de emprego e renda. As redes de funções das cadeias produtivas na agricultura e extrativismo e na pecuária distribuem-se em diversos níveis de atuação econômica e com uma série de inter-relações mantidas entre vários atores sociais. A operacionalização destas redes de funções pode promover processos de conservação dos recursos naturais, em conformidade ao contexto de ocorrência, desde o nível local reunindo agricultores familiares, passando pelos pequenos aglomerados urbanos e sedes dos municípios do interior (Atalaia do Norte, Benjamin Constant e São Paulo de Olivença, Maraã, Careiro da Várzea, Iranduba, Silves, Oriximiná e Gurupá) interligadas às cidades economicamente mais importantes (Tabatinga, Tefé, Coari, Manacapuru, Itacoatiara, Parintins, Óbidos e Santarém) até as capitais dos Estados (Manaus e Belém).
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Em nível local e regional os processos de conservação dos recursos pelos agricultores e suas famílias são os característicos do sistema de produção tradicional, que tem como base práticas agroflorestais de produção caracterizadas pelo manejo das terras numa integração, simultânea e seqüencial, entre árvores e/ou animais e/ou cultivos agrícolas. Os fatores de produção combinados com a utilização de técnicas, influenciam no funcionamento do sistema produtivo. A análise efetivada permite inferir o fato de que uma estratégia para o desenvolvimento regional e local implica na criação e implementação de tecnologias adequadas que induzam a otimização da produção em consonância com a conservação dos recursos, respeitando e valorizando os diversos saberes tradicionais. Duas formas de conhecimento e prática social deverão formar um sistema integrado de ação sociopolítica e pesquisa tecnológica. A primeira, a dos incrementos tecnológicos advindos do conhecimento cultural repassado por meio das gerações nos processos de adaptabilidade, organização e conservação dos ecossistemas regionais. A segunda, pela prática institucional de pesquisa interdisciplinar disponibilizada por meios de comunicação e difusão técnico-científica, para contribuir na formulação de propostas de desenvolvimento e sustentabilidade, principalmente, em áreas onde os ecossistemas naturais representam ambientes propícios para a implantação de políticas de conservação e uso econômico dos recursos naturais, baseadas no incremento dos níveis de bem- estar social e na melhoria do processo produtivo e de vida das sociedades no contexto amazônico.
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LITERATURA CITADA JOLLIFFE, I.T. Principal Component Analysis. New York: SpringerVerlag. 1986. 271p. LAMARCHE, H. A agricultura familiar. Volumes 1 e 2. São Paulo: UNICAMP. 1997. 336p. il. NEVES, W. Sociodiversidade e Biodiversidade: Dois Lados de Uma Mesma Equação. São Paulo: USP. 1992. 27p. NODA, S. N. As relações de trabalho na produção amazonense de juta e malva. 1985. 135f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo. Piracicaba, 1985. NODA, S. N.; PEREIRA, H. S.; CASTELO BRANCO, F. M; NODA, H. Trabalho nos Sistemas de Produção Familiares na Várzea do Estado do Amazonas. In: NODA, H.; SOUZA, L. A. G.; FONSECA, O. J. M. Duas Décadas de Contribuições do INPA à Pesquisa Agronômica no Trópico Úmido. Manaus: MCT/INPA. 1997. p. 241-280. NODA, H.; NODA, S.N. Agricultura familiar tradicional e conservação da sociobiodiversidade amazônica. Interações. 2003. 4(6): 55-66. TUAN, Y. Topofilia: Um Estudo da Percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente. São Paulo: DIFEL. 1980. 288p.il.
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CAPÍTULO 3
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DOS SOLOS DE VÁRZEA EM DIVERSOS SISTEMAS DE USO DA TERRA AO LONGO DA CALHA DOS RIOS SOLIMÕES-AMAZONAS Sônia Sena Alfaia1 Acácia Lima Neves2 Gilberto de Assis Ribeiro1 Juan Daniel Villacis Fajardo3 Katell Uguen4 Marta Iria da Costa Ayres3
INTRODUÇÃO A várzea do complexo Solimões-Amazonas corresponde a aproximadamente 1,5 a 2% do território da Amazônia brasileira. Embora esta área represente uma fração pequena da área total dos ecossistemas amazônicos, a qualidade e a quantidade dos sedimentos quaternários, depositados periodicamente por ocasião da subida e descida das águas, confere aos solos de várzea um alto potencial para a produção agrícola (FALESI, 1967; RODRIGUES e OLIVEIRA, 1996; FURCH, 1997; CRAVO et al., 2002), ainda que o processo de reposição de nutrientes pela inundação e a garantia de sustentabilidade de agrossistemas não esteja bem estudado (OLIVEIRA et al., 2000). Levantamentos geológicos e pedológicos pioneiros, desenvolvidos em áreas de várzeas amazônicas pelo Projeto RADAM ainda durante os anos 60 e 70, são as referências principais para a caracterização e a classificação dos solos de várzea, representados principalmente por Gleissolos e Neossolos
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). 2. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). 3. Bolsista de DTI/MCT/PCI, (INPA). 4. Bolsista FDB/LBA, (INPA).
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Flúvicos (Projeto RADAMBRASIL, 1975, 1976a, 1976b, 1977a, 1977b, 1978a, 1978b). Os fluxos unimodal (Região do Alto Solimões até a Região do Baixo Amazonas) e polimodal (Região do Estuário) das águas causam grandes variações nas propriedades físico-químicas do solo, na dinâmica de sua biota e na ciclagem de nutrientes (JUNK et al., 1989; TEIXEIRA e CARDOSO, 1991; FURCH, 2000; ADIS e JUNK, 2002). A magnitude dessas variações é determinada pela freqüência e a extensão do período de inundação, pelo volume de sedimentos depositados, pela cota do terreno e pelo uso do solo enquanto este fica descoberto. Na Ilha do Careiro-AM, Alfaia e Falcão (1993) observaram maiores concentrações de nutrientes em solos de áreas menos elevadas (várzea baixa) que em solos de áreas mais elevadas (várzea alta), o que pode ser explicado pela freqüente deposição periódica de sedimentos na várzea baixa, uma vez que novas deposições em várzea alta só ocorrem quando a inundação é grande. Em geral, a várzea alta pode estar sujeita, ou não, a 1,0-2,5 m de alagação durante um período de 2 a 4 meses, enquanto a várzea baixa pode ser coberta por até 5,0 m de água, durante um período de 4 a 6 meses (AYRES, 1993). Na Amazônia, a maioria dos estudos sobre o impacto da agricultura na qualidade do solo foram feitos principalmente para as áreas de terra-firme. Atualmente, pouco se conhece a respeito do impacto dos sistemas de uso da terra sobre a qualidade do solo em áreas de várzea. Neste trabalho descrevemse as principais características químicas dos solos de várzea do rio SolimõesAmazonas e os possíveis efeitos da unidade de paisagem e dos diferentes tipos de uso da terra sobre o estoque de nutrientes nestes solos. A amostragem do solo foi efetuada em diferentes sistemas de uso da terra em área de várzea ao longo da calha dos rios Solimões-Amazonas. Nas diversas comunidades de várzea visitadas, foi, inicialmente, aplicado o questionário para produtores escolhidos ao acaso. Com base nas respostas a questões como tempo de uso da área, tipo de sistema de uso da terra (roça, capoeira, chavascal, mata, etc.) e unidades de paisagem (várzea alta, várzea baixa, campo, igapó, etc.) presentes na propriedade, além da diversidade de cultivos, foram selecionadas as propriedades onde seriam realizadas as coletas de solo para as análises químicas. Um total de 65 diferentes sistemas de uso da terra foi amostrado em seis regiões ao longo da calha dos rios SolimõesAmazonas: Alto Rio Solimões (8), Médio Rio Solimões (9), Baixo Rio Solimões (8) Médio Rio Amazonas (11), Baixo Rio Amazonas (25) e Estuário (4).
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Em cada sistema de uso da terra foi demarcada uma área de aproximadamente 45 m x 30 m que foi subdividida em três parcelas. Caso a área selecionada apresentasse dimensões menores, a área total do sistema de uso foi dividida em três parcelas iguais. As parcelas assim definidas correspondem às repetições. Em cada parcela foram coletadas seis subamostras de solo para as profundidades de 0-10 e 10-20 cm, as quais foram misturadas para formar uma única amostra representativa (amostra composta). Para a profundidade de 20-40 cm, por apresentar mais uniformidade, foram coletadas apenas três subamostras por parcela para formar uma amostra composta. O pH, P, K, Ca, Mg e Al foram determinados de acordo com os métodos descritos pela EMBRAPA (1997). O pH do solo foi determinado em H2O na proporção solo: solução de 1:2,5. Os cátions Ca2+, Mg2+ e Al3+ foram extraídos com KCl 1N e o P e o K+ foram extraídos com duplo ácido (H2SO4 0,0125 M + HCl 0,05 M). Os cátions (Ca2+ Mg2+ e K+) foram determinados por um espectrofotômetro de absorção atômica. O P foi determinado por espectrofotometria utilizando o molibdato de amônio. O C orgânico foi determinado pelo auto-analizador de Carbono, Hidrogênio e Nitrogênio de marca Carlo Erba. Para interpretação dos resultados, foram consideradas separadamente as determinações químicas para os diferentes usos da terra dentro de cada comunidade amostrada, bem como para as profundidades de 0-10, 10-20 e 2040 cm. Adotou-se o delineamento inteiramente casualisado, com três repetições e a significação dos dados foi determinada pela análise de variância e teste de Tukey a 5% de probabilidade.
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO ALTO RIO SOLIMÕES Nesta região, mais de 95% das amostras de solo apresentaram valores de pH considerados médios (Cochrane et al, 1985), variando de 5,1 a 6,9 (Tabela 1). A várzea alta apresentou em média pH maior que a várzea baixa. Ao contrário dos solos de terra-firme, nesses solos, os valores de pH aumentam com a profundidade do solo. Com relação às concentrações de Ca e Mg trocáveis, os valores observados situam-se bem acima do nível considerado
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alto, variando respectivamente de 9,4 a 17,7 e 2,3 a 4,9 cmolckg-1. Não foi observado um efeito muito claro da unidade de paisagem nem do sistema de uso da terra sobre os teores de Ca e Mg trocáveis. O Al trocável apresentou uma concentração bastante baixa nos solos amostrados, variando de 0,00 a 0,42 cmolckg-1 (Tabela 2). Não houve efeito da unidade de paisagem na concentração desse elemento no solo e embora não significativo, os sistemas de floresta e capoeira apresentaram os maiores valores de Al no solo. Os teores de K trocável situaram entre valores considerados médios a alto, variando de 0,17 a 0,75 cmolckg-1, enquanto que os valores de P foram extremamente elevados (70 a 197 mgkg-1). Não foram observadas diferenças significativas entre os solos de várzea alta e de várzea baixa, assim como não foi observado um efeito muito claro do uso da terra na concentração de P e K. TABELA 1.
Valores médios do pH em água e dos teores de Ca, Mg (cmolckg-1) na região do Alto Solimões.
Unidade Sistemas de de uso da 0-10 Paisagem terra (cm)
pH em H2O 10-20 (cm)
Ca 20-40 (cm)
0-10 (cm)
10-20 (cm)
Mg 20-40 (cm)
0-10 (cm)
10-20 (cm)
20-40 (cm)
Teresina IV (Tabatinga-AM) V. Baixa V. Baixa
1
Capoeira 2
5,2 c
5,9
6,0
16,9 a
15,9
15,0 a
3,8 b
3,8 ab
4,1 a
6,2 a
6,2
6,3
17,7 a
15,4
13,9 a
3,9 b
3,2 b
3,2 ab
V. Baixa
3
Roça
5,7 b
5,9
6,1
14,4 b
10,9
9,5 b
2,9 c
2,5 c
2,3 b
V. Alta
Sítio4
6,2 a
6,2
6,2
15,9 ab 14,2
14,2 a
4,9 a
4,1 a
4,1 a
Cultivo
Sapotal (Tabatinga-AM) V. Baixa V. Baixa V. Baixa V. Alta
Floresta
5,4 b
5,3 b
5,7 b
15,1 a
14,2 a
15,2
4,5 a
4,3
4,6
5
5,1 b
5,2 b
6,3 ab
11,8 b
12,8 ab
12,9
3,8 b
3,8
4,4
6
5,5 b
6,1 a
6,2 ab
14,8 a
14,3 a
16,3
3,8 b
3,8
4,6
7
6,3 a
6,7 a
6,9 a
9,4 c
11,5 b
15,3
3,3 b
3,6
3,1
Roça Roça Roça
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 5 anos, 2 – Cultivo de Milho x Banana de 4 meses, 3 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses, 4 – Sítio de ± 50 anos, 5 – Roça de 1 mês, após a derruba sem queima de uma capoeira de 20 anos, 6 – Roça de Mandioca x Milho de 2 meses, 7 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses.
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TABELA 2.
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Teores de Al, K, (cmolckg-1) e P (mg kg-1) na região do Alto Solimões. Al
Unidade de Paisagem
Sistemas de uso da terra
V. Baixa
K
0-10 (cm)
10-20 (cm)
20-40 (cm)
0-10 (cm)
Capoeira1
0,38 a
0,29 a
0,20
0,30 b
V. Baixa
Cultivo2
0,05 b
0,05 b
0,03
V. Baixa
3
Roça
0,14 b
0,08 b
V. Alta
4
Sítio
0,03 b
0,07 b
V. Baixa
Floresta
0,26
0,09
0,09
V. Baixa
5
Roça
0,09
0,16
V. Baixa
Roça
6
0,06
V. Alta
Roça
7
0,03
10-20 (cm)
P 20-40 (cm)
0-10 (cm)
10-20 (cm)
20-40 (cm)
0,26 ab
0,28 a
74 b
70 c
82 b
0,75 a
0,30 ab
0,26 a
112 ab
108 b
127 a
0,13
0,25 b
0,21 b
0,17 b
97 ab
127 a
144 a
0,04
0,57 ab
0,34 a
0,29 a
129 a
123 ab
118 a
0,38
0,38
0,36
112 b
106 b
123 c
0,01
0,43
0,35
0,32
105 b
111 b
144 bc
0,04
0,19
0,58
0,35
0,32
127 b
166 a
169 ab
0,00
0,09
0,35
0,29
0,24
197 a
184 a
190 a
Teresina IV (Tabatinga-AM)
Sapotal (Tabatinga-AM)
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 5 anos, 2 – Cultivo de Milho x Banana de 4 meses, 3 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses, 4 – Sítio de ± 50 anos, 5 – Roça de 1 mês, após a derruba sem queima de uma capoeira de 20 anos, 6 – Roça de Mandioca x Milho de 2 meses, 7 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses.
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO MÉDIO RIO SOLIMÕES Nesta região, os valores de pH do solo situaram-se entre teores considerados de baixo a médio, variando de 4,4 a 6,5. De maneira geral, os solos de várzea baixa apresentaram menor pH que os de várzea alta (Tabela 3). Assim como observado nos solos do Alto Solimões, florestas e capoeiras, mesmo quando situadas em várzea alta, também apresentaram valores de pH significativamente menores que outros componentes do sistema. Todas as amostras analisadas apresentaram teores de Ca e Mg trocáveis situados acima do nível considerado alto, variando respectivamente de 5,7 a 17,5 e 1,9 a 10,9 cmolckg-(1). Somente em uma das comunidades amostradas foi observado efeito do uso da terra sobre o teor de Ca, em solo de várzea alta sob floresta, que apresentou valores inferiores aos demais sistemas amostrados (Tabela 3). Com relação ao Mg, de maneira geral, não foi observado um efeito significativo da unidade de paisagem nem do manejo da terra sobre os teores desse elemento.
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TABELA 3. Unidade de Paisagem
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Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmol kg-1) na região do Médio Solimões. C
Sistemas de uso da terra
pH em H2O 0-10 cm
10-20 cm
Ca 20-40 cm
0-10 cm
10-20 cm
Mg 20-40 cm
0-10 cm
10-20 cm
20-40 cm
Paraná de Tefé (Tefé-AM) V. Baixa V. Baixa
1
Capoeira 2
Cultivo 3
4,4 b
4,7 b
5,2 b
17,5
11,8
12,5
3,2
2,6
3,4
4,6 b
5,1 ab
5,8 a
12,9
11,9
13,1
2,6
2,7
3,5
4,9 a
5,7 a
6,0 a
11,8
10,5
12,4
2,4
2,6
3,2
V. Alta
Roça
V. Baixa
Floresta
4,8 c
5,9
6,2
9,5
13,1
13,8
6,6 a
10,3
10,9 a
V. Baixa
4
Cultivo
5,6 b
5,6
6,0
10,2
12,2
12,4
3,1 b
3,8
4,3 b
V. Alta
Sítio
6,0 a
6,2
6,2
10,4
9,7
10,2
3,2 b
3,1
2,9 b
Boa Vista (Tefé-AM)
São Francisco (Coari) 5
5,7 b
5,8 ab
6,1
9,5 b
9,2 a
6,2 ab
1,9 b
1,9
2,2 b
Floresta
4,9 c
5,6 b
5,9
5,7 c
5,9 b
5,9 b
2,9 a
4,5
5,5 a
Roça6
6,2 a
6,4 a
6,5
10,9 a
8,2 ab
7,4 a
3,0 a
2,3
2,3 b
V. Baixa
Roça
V. Alta V. Alta
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 8 anos, 2 – Cultivo de Milho de 4 meses, 3 – Roça Macaxeira x Mandioca de 4 meses, 4 – Cultivo de olerícolas (horta) de 2 meses, 5 – Roça de Macaxeira de 3 meses, 6 – Roça de Macaxeira de 5 meses.
O Al trocável no solo dessa região apresentou valores que variaram de baixo, em área de roça (0,01 cmolckg-1) a elevado em área de floresta (2,15 cmolckg-1). A elevada concentração desse elemento dá-se principalmente na camada superficial, decrescendo acentuadamente nas camadas inferiores (Tabela 4). Não foram observadas diferenças significativas entre os solos de várzea alta e de várzea baixa. As concentrações nas áreas de florestas foram significativamente mais elevadas do que as áreas cultivadas. Os teores de K nessa região situaram entre valores considerados baixos a alto, variando de 0,11 a 0,56 cmolckg-1. Não foi observado um efeito significativo da unidade de paisagem nem do manejo da terra sobre os teores de K no solo. Os teores de P variaram de baixos a elevados (2 a 251 mgkg-1). Também não foram observadas diferenças significativas entre os solos de várzea alta e de várzea baixa. Os menores valores foram obtidos em área de floresta, no município de Coari, e os maiores valores em área de sítio, no município de Tefé (Tabela 4).
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TABELA 4.
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Teores de Al, K, (cmolckg-1) e P (mg kg-1) em duas comunidades nos Município de Tefé e Coari, na região do Médio Solimões-AM. Al
K
Unidade de Paisagem
Sistemas de uso da terra
010 (cm)
10-20 (cm)
V. Baixa
Capoeira1
0,85
0,63
0,65
0,35 b
0,93
0,98
0,97
1,13
1,00
0,93
20-40 (cm)
0-10 (cm)
10-20 (cm)
P 20-40 (cm)
0-10 (cm)
10-20 (cm)
20-40 (cm)
0,34
0,32
58 b
81 c
88
0,56 a
0,42
0,37
64 ab
102 b
150
0,42 ab
0,32
0,32
84 a
133 a
142
Comunidade do Paraná de Tefé
V. Baixa
2
Cultivo 3
V. Alta
Roça
V. Baixa
Floresta
1,30 a
0,18
0,10
0,26
0,19 b
0,18
105 c
93 b
112 b
V. Baixa
4
Cultivo
0,05 b
0,13
0,07
0,50
0,32 a
0,22
142 b
103 b
113 b
V. Alta
Sítio
0,06 b
0,07
0,06
0,33
0,19 b
0,17
251 a
245 a
245 a
V. Baixa
Roça5
0,09 b
0,07
0,01
0,21
0,15
0,12
187 b
164 b
154 b
V. Alta
Floresta
2,15 a
1,96
0,94
0,18
0,11
0,09
6c
3c
2c
0,01 b
0,01
0,01
0,27
0,12
0,15
245 a
229 a
209 a
Comunidade de Boa Vista (Tefé)
São Francisco (Coari)
V. Alta
6
Roça
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 8 anos, 2 – Cultivo de Milho de 4 meses, 3 – Roça Macaxeira x Mandioca de 4 meses, 4 – Cultivo de olerícolas (horta) de 2 meses, 5 – Roça de Macaxeira de 3 meses, 6 – Roça de Macaxeira de 5 meses.
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO BAIXO RIO SOLIMÕES Na Região do Baixo Rio Solimões, os valores de pH do solo situaramse entre teores considerados baixos a médio, variando de 4,6 a 6,2 (Tabela 5). A várzea alta apresentou um valor de pH significativamente mais elevado que a várzea baixa e os menores valores foram obtidos nos componentes floresta e capoeira. Todas as amostras de solo apresentaram teores de Ca e Mg trocáveis situados acima do nível considerado alto, variando respectivamente de 6,2 a 24,7 e 2,1 a 6,4 cmolckg-1. Não foi observado um efeito da unidade de paisagem nem do sistema de uso sobre os teores de Ca e Mg trocáveis no solo.
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
73
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TABELA 5.
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Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolckg-1) em duas comunidades nos Municípios de Manacapuru e Careiro da Várzea, na região do Baixo Solimões-AM. pH em H2O 102020cm 40cm
Ca 1020cm
010cm
Mg 1020cm
2040cm
7,1 b
3,1 ab
2,1
2,1
13,6 b
12,7 ab
5,0 ab
6,5
5,6
11,7 b
14,1 ab
5,6 a
4,9
5,4
24,7 a
15,5 a
2,9 b
4,2
4,5
Unidade de Paisagem
Sistemas de uso da terra
010cm
V. Baixa
Roçado1
5,0 b
5,7 a
6,2 a
10,7
6,2 c
V. Alta
Floresta
4,8 b
5,0 b
4,9 b
12,4
4,8 b
4,9 b
13,5
5,9 a
5,9 a
10,9
010cm
2040cm
Comunidade do Espírito Santo (Manacapuru-AM)
2
V. Alta
Capoeira
4,7 b
V. Alta
Roça3
5,8 a
V. Baixa
Capoeira4
4,7 c
4,9 c
-
12,3 a
11,2 ab
-
5,22 a
5,33
-
5
5,0 b
5,5 b
-
10,1 ab
12,9 a
-
4,45 ab
5,44
-
6
4,6 c
5,2 c
5,1
9,8 ab
9,7 ab
11,3
3,08 b
4,49
3,95
6,0 a
6,1 a
6,0
8,6 b
6,8 b
7,2
3,93 ab
3,82
3,49
Comunidade de São Lazaro (Careiro da Várzea-AM)
V. Baixa V. Baixa V. Alta
Cultivo
Cultivo Sítio
7
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Roça de macaxeira de 2 meses implantada após a derruba e queima de uma capoeira de 8 anos, 2 – Capoeira de 15 anos, 3 – Roça de Macaxeira e Milho de 3 meses, 4 – Capoeira de 30 Anos, 5 – Cultivo de Milho de 3 meses, 6 – Cultivo de Malva de 2 meses, 7 – Sítio de ± 50 anos.
TABELA 6.
Teores de Al, K, (cmolckg-1) e P (mgkg-1) na região de Baixo Solimões-AM. Al
K
Unidade de Paisagem
Sistemas de uso da terra
010cm
V. Baixa
Roçado1
0,25 b
0,08 b
0,08 b
0,65
0,50
V. Alta
Floresta
2,99 a
2,51 a
2,66 a
0,58
1,84 a
1,60 a
2,14 a
0,66
1020cm
2040cm
010cm
1020cm
P 2040cm
010cm
1020cm
2040cm
0,53
72 b
143 a
153 a
0,54
0,53
31 c
9c
9d
0,69
0,71
49 c
49 b
Comunidade do Espírito Santo (Manacapuru-AM)
V. Alta
Capoeira
2
V. Alta
3
Roça
0,05 b
V. Baixa
Capoeira4
2,24 a
2,43 a
-
0,82
0,72
5
0,88 c
0,18 c
-
0,88
6
0,05 b
0,05 b
0,50
0,46
0,41
57 c 111 b
124 a
127 a
-
11 c
7d
-
0,79
-
52 b
41 c
-
Comunidade de São Lazaro (Careiro da Várzea-AM)
V. Baixa
Cultivo
V. Baixa
Cultivo
1,64 b
1,30 b
0,61
0,74
0,64
0,64
58 b
62 b
75
V. Alta
Sítio7
0,00 d
0,06 b
0,06
0,67
0,58
0,54
112 a
138 a
146
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Roça de macaxeira de 2 meses implantada após a derruba e queima de uma capoeira de 8 anos, 2 – Capoeira de 15 anos, 3 – Roça de Macaxeira e Milho de 3 meses, 4 – Capoeira de 30 Anos, 5 – Cultivo de Milho de 3 meses, 6 – Cultivo de Malva de 2 meses, 7 – Sítio de ± 50 anos.
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O teor de Al trocável variou de baixo a elevado (0,00 a 2,99 cmolckg-1). Não foi observado um efeito da unidade de paisagem sobre os valores de Al no solo. As áreas com floresta, capoeira e cultivo de malva apresentaram as maiores concentrações desse elemento (Tabela 6). Todos os teores de K nessa região situaram-se acima dos valores considerados altos, variando de 0,41 a 0,88 cmolckg-1. Não foi observado um efeito significativo da unidade de paisagem, bem como do manejo da terra sobre os teores de K no solo. Os teores de P variaram de médio a elevados (7 a 153 mg kg-1), os menores valores foram obtidos em área de floresta e de capoeira.
CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO MÉDIO RIO AMAZONAS Nesta região, o pH do solo variou de baixo a médio (4,6 a 7,2). Os solos de várzea baixa apresentaram menor pH que os de várzea alta. Os menores valores de pH foram obtidos em área de capoeiras. Todos os sistemas amostrados apresentaram teores de Ca e Mg trocáveis acima do nível considerado alto, com o Ca variando de 6,8 a 12,2 e o Mg de 1,4 a 5,9 cmolckg-1. Os valores de Al trocável variaram de baixo a elevado (0,0 a 4,1 cmolckg-1). As maiores concentrações ocorreram em solo de capoeira (Tabela 8). Os teores de K variaram de médio a elevado (0,15 a 1,24 cmolckg-1). Não foi observado um efeito significativo da unidade de paisagem sobre a concentração de K. Observou-se ainda uma tendência deste elemento de diminuir com a profundidade. Os teores de P variaram de baixos a elevados (2 a 158 mg kg-1). Os menores valores foram obtidos em áreas de pastagens.
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TABELA 7.
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Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolckg-1) na região do Médio Rio Amazonas. pH em H2O
Unidade de Sistemas de Paisagem uso da terra
0-10 cm
10-20 cm
Ca 20-40 cm
0-10 cm
10-20 cm
Mg 20-40 cm
0-10 cm
10-2 cm
20-40 cm Comuni
dade de Nossa Senhora de Nazaré (Itacoatiara-AM) V. Baixa Capoeira1
4,6 c
5,0 d
5,4 b
7,8 bcd
9,8 ab
10,8 a
2,4 a
3,8 a
4,4 a
V. Alta
Sítio2
5,8 b
6,0 a
6,0 a
7,3 d
6,9 c
6,8 c
1,9 a
1,8 b
1,7 b
V. Alta
Cultivo3
7,2 a
5,8 ab
5,8 a
10,5 a
7,3 c
8,1 bc
3,0 b
1,9 b
2,0 bc
V. Alta
Roça4
6,9 a
5,6 bc
5,8 a
10,0 ab
7,5 bc 8,6 abc
3,2 b
2, b
2,6 bc
V. Alta
Roça5
6,7 a
5,5 c
5,7 a
9,7 ab
8,9 abc
9,9 ab
3,3 b
2,3 bc
2,6 c
V. Alta
Pastagem6
5,7 b
5,8 abc
6,0 a
7,5 cd
9,9 a
8,1 bc
2,3 a
2,9 c
2,6 bc
Comuni dade de
Santa Maria (Silves-AM) V. Baixa
Capoeira7
4,9 c
5,6 a
5,9
8,6
10,8 a
12,2
2,9 a
3,9 a
4,4 a
V. Baixa
Roça8
5,3 bc
5,5 a
5,8
9,7
8,8 b
9,4
2,8 a
2,4 bc
2,6 b
V. Baixa
Cultivo9
6,2 a
6,0 b
6,1
7,6
9,7 ab
9,5
1,4 c
1,8 c
1,7 b
V. Baixa
Cultivo10
5,0 c
5,6 b
6,1
9,7
10,3 ab
9,9
2,5 ab
2,7 b
2,7 b
5,8 ab
6,1 b
6,2
9,5
9,4 ab
8,9
2,1 b
2,1 c
2,2 b
V. Alta
11
Sítio
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 15 anos, 2 – Sítio de ± 50 anos, 3 – Cultivo de Milho de 3 meses, 4 – Roça de Mandioca de 3 meses, 5 – Roça de Mandioca x Milho de 3 meses, 6 – Pastagem de Braquiária de 7 anos, 7– Capoeira de 8 anos, 8 – Roça com 1 mês implantada após derruba e queima da Capoeira de 8 anos, 9 – Cultivo de Feijão-de-praia de 3 meses, 10 – Cultivo de Milho x Melancia de 3 meses, 11 – Sítio de ± 50 anos.
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TABELA 8.
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Page 77
Teores de Al, K, (cmolckg-1) e P (mgkg-1) na região do Médio Rio Amazonas. Al
Unidade de Sistemas de Paisagem uso da terra
0-10 cm
10-20 cm
K 20-40 cm
0-10 cm
10-20 cm
P 20-40 cm
0-10 cm
10-20 cm
20-40 cm
Comunidade de Nossa Senhora de Nazaré (Itacoatiara-AM) 1
4,13 a
1,77 a
0,67 a
0,25 c
0,25cd
0,22
35 c
30 a
26 c
Sítio2
0,05 b
0,16 b
0,05 b
0,25 c
0,17 d
0,15
115 ab
97 b
113 a
V. Alta
Cultivo3
0,02 b
0,09 b
0,12 b
0,96 b
0,55 a
0,29
149 ab
107 b
97 ab
V. Alta
Roça4
0,02 b
0,18 b
0,11 b
1,24 a
0,40 abc
0,27
150 ab
98 b
80 b
V. Alta
Roça5
0,00 b
0,20 b
0,18 b
1,23 a
0,35 c
0,28
158 a
90 b
83 ab
V. Alta
Pastagem6
0,08 b
0,09 b
0,05 b
0,32 c
0,25 cd
0,26
109 b
86 b
106 ab
V. Baixa
Capoeira
V. Alta
Comunidade de Santa Maria (Silves-AM) V. Baixa
Capoeira7
2,59 a
0,42 b
0,21 ab
0,27 bc
0,24 a
0,27 a
34 d
47 c
49 d
V. Baixa
Roça8
0,43 b
0,35 b
0,27 a
0,56 a
0,25 a
0,25 a
81 c
83 b
92 bc
V. Baixa
Cultivo9
0,05 b
0,05 c
0,05 b
0,20 c
0,25 a
0,26 a
143 a
120 a
118 a
V. Baixa
Cultivo10
0,22 b
1,54 a
0,24 ab 0,41 ab
0,23 a
0,23 ab
68 c
69 bc
9c
V. Alta
Sítio11
0,06 b 0,14 bc 0,08 ab 0,22 c
0,16 b
0,18 b
111 b
108 a
117 ab
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 15 anos, 2 – Sítio de ± 50 anos, 3 – Cultivo de Milho de 3 meses, 4 – Roça de Mandioca de 3 meses, 5 – Roça de Mandioca x Milho de 3 meses, 6 – Pastagem de Braquiária de 7 anos, 7 –– Capoeira de 8 anos, 8 – Roça com 1 mês de implantada após derruba e queima da Capoeira de 8 anos, 9 – Cultivo de Feijão-de-praia de 3 meses, 10 – Cultivo de Milho x Melancia de 3 meses, 11 – Sítio de ± 50 anos.
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CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO BAIXO RIO AMAZONAS Os dados de pH do solo obtidos na região do Baixo Rio Amazonas (Tabela 9) situaram-se entre valores considerados baixos a médio (4,3 a 7,1) e de maneira geral a várzea alta apresentou um pH mais elevado que a várzea baixa. Os menores valores foram obtidos nos solos de floresta e capoeiras. Todas as amostras de solo analisadas apresentaram teores de Ca trocável situado acima do nível considerado alto, variando de 4,6 a 11,8 cmolckg-1. Em geral, os solos de várzea baixa apresentaram maiores valores de Ca que os de várzea alta. Com relação aos teores de Mg trocável, os valores observados situaram-se também acima do nível considerado alto (1,7 a 8,5 cmolckg-1). Ao contrário do Ca, não se observou um efeito da unidade da paisagem sobre os teores de nutriente no solo. Os maiores valores de Mg foram obtidos em solos de floresta e capoeiras. Nesta região, o Al trocável variou de baixo (0,0 cmolckg-1) a extremamente elevado (7,6 cmolckg-1). Não se observou efeito da unidade da paisagem sobre a concentração do Al e em alguns sistemas amostrados observou-se um aumento na concentração desse elemento com a profundidade. Assim como para as outras regiões amostradas, as áreas de floresta e capoeiras foram as que apresentaram as maiores concentrações desse elemento (Tabela 10). Os teores de K variaram de baixo a alto (0,1 a 1,5 cmolc kg-1), e não se observou efeito da unidade da paisagem sobre os teores desse nutriente (Tabela 10). Os sistemas de florestas e capoeiras foram os que apresentaram as menores concentrações de K no solo. Os teores de P variaram de médio a elevados (4 a 113 mg kg-1). Não se observa um efeito significativo da unidade da paisagem sobre os teores de P no solo. Assim como para o K, as concentrações de P nas áreas de floresta e capoeiras foram significativamente menores que as observadas em outros sistemas de uso da terra.
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Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
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TABELA 9.
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Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolckg-1) na região do Baixo Rio Amazonas. Ca
pH em H2O
Unidade de Paisagem
Sistemas de uso da terra
V. Baixa V. Alta V. Alta V. Alta
Capoeira1 Cacoal2 Murinzal3 Pastagem4
4,6 b 5,6 a 5,4 a 5,3 a
V. Baixa V. Baixa V. Baixa V. Baixa
Floresta Capoeira5 Cultivo6 Cultivo7
4,4 b 4,7 a 4,9 a 4,9 a
V. Alta V. Alta V. Alta V. Alta V. Alta
Floresta Capoeira8 Cultivo9 Cultivo10 Cultivo11
4,8 bc 4,4 c 4,8 bc 5,6 a 4,4 c
V. Baixa
Cultivo12
5,7
V. Baixa V. Baixa V. Baixa
Cultivo13 Murinzal14 Pastagem15
5,3 5,3 5,0
V. Alta
Roça16
5,9
V. Baixa V. Alta
Cultivo17 Seringal18
4,8 b 5,5 ab
5,7 5,9 9,6 ab 8, b Ilha de São Miguel (Santarém) 5,3 b 5,6 b 9,8 10,3 5,5 b 5,8 ab 7,3 8,4
Cultivo19 Pastagem20
5,2 ab 6,0 a
5,7 ab 6,5 a
0-10 (cm)
10-20 (cm)
20-40 (cm)
0-10 (cm)
10-20 (cm)
São Sebastião do Boto (Parintins) 5,0 c 5,4 b 5,0 c 6,2 b 5,9 a 6,4 a 5,8 b 6,1 b 5,6 ab 6,3 a 6,9 a 8,3 a 5,5 b 6,3 a 4,6 c 5,8 b São Sebastião do Saracura (Parintins) 4,6 b 4,9 b 8,4 7,6 4,9 b 5,4 a 8,9 8,6 5,4 a 5,6 a 7,2 6,7 5,3 a 5,8 a 7,7 8,4 Nossa Senhora da Conceição (Oriximiná) 5,2 a 7,1 a 5,4 b 5,1 ab 4,6 b 4,9 b 7,1 ab 5,9 ab 4,8 b 4,9 b 8,8 a 8,1 a 5,5 a 5,4 b 7,5 ab 7,7 a 4,3 c 4,5 b 7,9 ab 7,3 ab Piracão-Era de Cima (Santarém) 5,5 5,7 7,6 b 8,5 ab 5,1 5,8 5,7
5,7 6,0 6,8
9,8 ab 8,3 ab 11,3 a
8,7 ab 8,1 b 11,7 a
Mg 20-40 (cm)
0-10 (cm)
10-20 (cm)
20-40 (cm)
5,9 b 7,3 ab 9,6 a 5,5 b
2,6 a 2,1 b 2,4 ab 1,9 b
3,4 a 2,1 b 2,5 b 2,5 b
3,7 a 2,5 b 3,0 ab 3,1 ab
6,5 7,9 8,5 9,9
4,1 a 2,9 b 1,9 c 2,7 bc
4,5 a 3,2 b 1,7 c 2,9 b
3,9 a 3,3 ab 1,9 b 3,3 ab
6,9 ab 5,5 b 7,0 ab 8,0 a 7,9 a
2,9 ab 4,3 a 3,0 a 3,6 ab 3,0 a 3,0 abc 2,5 ab 2,5 bc 2,1 b 2,0 c
8,5 a 4,4 b 2,8 b 2,6 b 2,5 b
8,3
2,3 b
2,2
2,2
11,7 9,2 11,8
2,6 ab 2,7 ab 2,6 ab
2,2 2,2 2,4
2,8 2,7 2,0
8,8
3,0 a
2,2
2,6
11,4 a 8,2 b
3,1 ab 2,1 b
3,4 2,9
3,7 3,0
6,0 a 9,3 6,3 11,1 a 3,1 ab 2,8 3,3 6,6 ab 9,8 8,7 10,0 a 3,3 a 2,6 3,0 Arapemã (Santarém) V. Baixa 5,4 b 5,6 b 5,7 b 8,2 b 8,6 10,8 2,5 b 2,5 2,9 Cultivo21 V. Baixa 5,6 ab 5,6 b 6,0 ab 10,8 a 10,2 8,6 2,9 a 2,7 2,3 Roça22 6,2 a 6,6 a 6,6 b 11,1 a 11,3 9,8 3,0 a 2,7 2,3 V. Baixa Murinzal23 Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 50 anos, 2 – Plantio de Cacau com 20 anos, 3 – Murinzal de 20 anos, 4 – Pastagem de Capim-Colônia de 20 anos, 5 – Capoeira de 15 anos, 6 – Cultivo de Juta de 2 meses, 7 – Cultivo de Malva de 3 meses, 8 – Capoeira de ± 55 anos, 9 – Cultivo de Milho de 4 meses, 10 – Cultivo de Milho de 4 meses mecanizado, 11 – Cultivo de Tomate de 4 meses, 12 – Capoeira de ± 76 anos, 13 – Pastagem de Capim Terra-e-Água de 7 anos, 12 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim, 13 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com canarana, 14 – Murinzal de 3 anos, 15 – Pastagem de 20 anos, 16 – Roça de mandioca de 8 meses, 17 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim, 18 – Seringal de ± 70 anos, 19 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim, 20 – Pastagem de 7 anos, 21 – Cultivo de Milho de 2 meses, 22 – Roça de Mandioca de 4 meses, 23 – Murinzal de 10 anos. V. Alta V. Alta
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TABELA 10. Teores médios de Al, K (cmolckg-1) e P (cmolckg-1) na região do Baixo Rio Amazonas. Al
Unidade de Paisagem
Sistemas de uso da terra
V. Baixa
K 20-40 cm
0-10 cm
10-20 cm
P
0-10 cm
10-20 cm
20-40 cm
0-10 cm
10-20 cm
20-40 cm
Capoeira1
3,44 a
2,62 a
2,81 a
0,22 ab
V. Alta
Cacoal2
0,09 c
0,07 b
0,04 b
0,24 ab
0,15 b
0,14 ab
46 c
24 c
8c
0,17 b
0,12 b
99 a
89 a
100 a
V. Alta V. Alta
Murinzal3 Pastagem4
0,34 bc 0,52 b
0,18 a 0,18 a
69 b 89 ab
81 ab 79 b
87 ab 73 b
5,16 a
0,28 b 0,06 b 0,34 a 0,13 b 0,25 b 0,04 b 0,13 b 0,24 a São Sebastião do Saracura (Parintins) 6,87 a 7,56 a 0,14 b 0,32
V. Baixa
Floresta
V. Baixa
Capoeira5
0,22
10 c
8c
4c
3,75 b
3,83 b
3,15 b
0,31 b
0,29
0,20
13 c
10 c
V. Baixa
6
9c
Cultivo
0,64 c
V. Baixa
Cultivo7
1,35 c
0,30 c
0,09 c
0,62 a
0,45
0,32
102 a
112 a
112 a
0,23
68 b
74 b
64 b
V. Alta
Floresta
3,87 a
2,37 b
0,11 c
0,24 d
0,17 d
0,13 c
19 c
7d
4c
V. Alta
Capoeira8
4,03 a
4,48 a
4,82 a
0,28 cd
0,33 b
0,24 bc
23 c
16 c
10 bc
V. Alta
Cultivo9
0,67 bc
1,18 bc
1,23 c
1,47 a
1,30 a
1,04 a
35 b
28 b
26 b
São Sebastião do Boto (Parintins)
0,39 c 0,15 c 0,31 b 0,23 Nossa Senhora da Conceição (Oriximiná)
V. Alta
10
Cultivo
0,05 c
0,14 c
0,14 c
0,48 bc
0,35bc
0,30 b
96 a
104 a
103 a
V. Alta
Cultivo11
2,22 b
2,56 b
2,80 b
0,54 b
0,32 a
0,26 b
42 b
32 b
25 b
Piracão-Era de Cima (Santarém) V. Baixa
Cultivo12
0,14
0,23 ab
0,23
0,49 b
0,18 b
0,39
105
103
103
V. Baixa
13
0,43
0,58 a
0,14
0,69 ab
0,50 ab
0,33
87
92
96 104
Cultivo
14
V. Baixa
Murinzal
0,45
0,17 ab
0,16
0,84 a
0,32 ab
0,50
76
110
V. Baixa
Pastagem15
0,46
0,02 b
0,02
0,54 b
0,44 ab
0,55
95
138
93
V. Alta
Roça16
0,06
0,54
100
95
91
V. Baixa
Cultivo17
0,13 b
0,13 b 0,05 0,65 ab 0,53 a Ilha de São Miguel (Santarém) 0,05 0,00 0,71 0,37
95 a
V. Alta
Seringal18
0,66 a
0,51
V. Alta V. Alta
Cultivo19 Pastagem20
0,10 b 0,00 b
0,10 0,00
V. Baixa
Cultivo21
0,06
0,22
V. Baixa V. Baixa
Roça22 Murinzal23
0,13 0,05
0,10 0,02
0,21
0,42
0,03 0,69 0,00 0,68 Arapemã (Santarém) 0,06 0,38 b 0,08 0,00
0,30 b 0,64 a
0,53
91 b
96
0,32
0,26
31 c
61
32 b
0,51 0,46
0,39 0,32
88 b 113 a
99 112
91 a 106 a
0,42
0,24
88 b
87 b
112
0,22 0,29
0,37 0,23
104 a 91 b
113 a 112 a
95 106
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 50 anos, 2 – Plantio de Cacau com 20 anos, 3 – Murinzal de 20 anos, 4 – Pastagem de Capim-Colônia de 20 anos, 5 – Capoeira de 15 anos, 6 – Cultivo de Juta de 2 meses, 7 – Cultivo de Malva de 3 meses, 8 – Capoeira de ± 55 anos, 9 – Cultivo de Milho de 4 meses, 10 – Cultivo de Milho de 4 meses mecanizado, 11 – Cultivo de Tomate de 4 meses, 12 – Capoeira de ± 76 anos, 13 – Pastagem de Capim Terra-e-Água de 7 anos, 12 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim, 13Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com canarana, 14 – Murinzal de 3 anos, 15 – Pastagem de 20 anos, 16 – Roça de mandioca de 8 meses, 17 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim, 18 – Seringal de ± 70 anos, 19 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim, 20 – Pastagem de 7 anos, 21 - Cultivo de Milho de 2 meses, 22 – Roça de Mandioca de 4 meses, 23 - Murinzal de 10 anos.
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CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO SOLO NA REGIÃO DO ESTUÁRIO Na região do Estuário, os valores de pH do solo situaram-se entre teores considerados médios, variando de 5,5 a 5,9 (Tabela 11). Não se observou influência da unidade da paisagem nem do sistema de uso da terra sobre o pH do solo. Todas as amostras de solo analisadas apresentaram teores de Ca trocável situado acima do nível considerado alto, variando de 9,24 a 14,33 cmolckg-1. Também não se observou efeito da unidade da paisagem sobre os teores de Ca no solo. Os valores mais elevados foram obtidos em área de floresta. Os teores de Mg trocável observados situaram-se acima do nível considerado alto (2,7 a 3,4 cmolc kg-1) e não se observou efeito da unidade da paisagem sobre os teores trocável no solo. Os maiores valores de Mg foram obtidos em área de floresta. TABELA 11. Valores médios do pH em água e dos teores de Ca e Mg (cmolckg-1) na região do Estuário. pH em H2O Unidade de Sistemas de Paisagem uso da terra 0-10cm 1020cm
Ca 2040cm
0-10cm
Mg 1020cm
2040cm
010cm
1020cm
2040cm
Santa Maria (Gurupá-PA) V. Baixa
Floresta
5,8
5,8
5,9 a
14,33 a 13,02 a
12,42
3,21 a
3,12
3,42
V. Baixa
Cacoal1
5,6
5,6
5,5 b
11,97 b 10,54 b
10,52
2,90 ab
2,99
3,10
V.Baixa
2
Cultivo
6,0
5,7
5,6 ab
9,81 b
9,24 b
9,84
2,66 b
2,77
3,37
V. Alta
Açaizal3
5,7
5,7
5,8 ab
11,80 b 10,76 b
9,41
2,77 ab
2,90
2,90
1 – Plantio de Cacau de 60 anos, 2 – Cultivo de Milho de 2 meses após derruba e queima de capoeira de ± 40 anos, 3 – Plantio de Açaí de 5 anos.
O Al trocável apresentou valores que se situaram no nível considerado baixo (0,03 a 0,43 cmolckg-1). Não se observou o efeito da unidade de paisagem nem do componente do sistema sobre a concentração desse elemento no solo (Tabela 12). Os teores de K nessa região variaram de médio a alto (0,19 a 0,35 cmolckg-1). Também não se observou o efeito da unidade de paisagem, na camada superficial do solo, as maiores concentrações foram obtidas em áreas de floresta. Os teores de P variaram de baixo a elevados (0,6 a 72 mgkg-1). Os valores de P nos solos com açaí e cacau foram significativamente menores que os encontrados nos de outros componentes. Os resultados mostraram que o
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desmatamento e queima de uma capoeira de ± 40 anos de idade para implantação de um cultivo de milho aumentou significativamente o teor desse nutriente no solo. TABELA 12. Teores médios de Al, K (cmolckg-1) e P (cmolckg-1) na região do Estuário. Al Unidade de Paisagem
Sistemas de uso da terra
0-10 (cm)
K
P
10-20 (cm)
20-40 (cm)
0-10 (cm)
10-20 (cm)
20-40 (cm)
0-10 (cm)
10-20 (cm)
20-40 (cm)
Santa Maria (Gurupá-PA) V. Baixa
Floresta
0,06
0,10
0,14
0,35 a
0,24
0,26 ab
7b
43 b
30 b
V. Baixa
Cacoal1
0,13
0,43
0,43
0,19 c
0,20
0,30 a
5 bc
2c
3c
V. Baixa
Cultivo2
0,03
0,22
0,32
0,31 ab
0,23
0,24 ab
18 a
72 a
59 a
V. Alta
Açaizal3
0,13
0,26
0,42
0,25 bc
0,22
0,19 b
1c
26 b
3c
1 – Plantio de Cacau de 60 anos, 2 – Cultivo de Milho de 2 meses após derruba e queima de capoeira de ± 40 anos, 3 – Plantio de Açaí de 5 anos
TEORES MÉDIOS DE NITROGÊNIOS E MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO Na Tabela 13 são apresentados os resultados dos teores médios de nitrogênio (N) e matéria orgânica do solo (MOS) em 28 sistema de uso da terra de 7 comunidades ao longo da calha dos rios Solimões-Amazonas. Somente na região do Alto Solimões e na camada superficial os valores foram médios. No Médio e Baixo Solimões, e também no Estuário, os valores de N e de MOS foram em geral médios e baixos e nas demais regiões amostradas os valores foram baixos (Tomé Jr., 1997). Não se observou um efeito muito claro da unidade de paisagem, no entanto, em quase todas as regiões, as concentrações de N e MOS foram significativamente maiores nas áreas de florestas e capoeiras. Nos diversos sistemas de uso da terra amostrados observou-se que os valores de N e da MOS foram bastante baixos nas áreas cultivadas, porém, significativamente mais elevados nas áreas de florestas e capoeiras (Tabela 13).
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TABELA 13. Valores médios dos teores (%) de N e MOS em sete comunidades ao longo da calha dos rios SolimõesAmazonas. Unidade de Paisagem
Sistemas de uso da terra
N (%) 0-10cm
10-20cm
MOS 20-40cm
0-10cm
10-20cm
20-40cm
Teresina IV (Tabatinga-AM - Alto Solimões) V. Baixa
Capoeira1
0,17
0,09
0,08
3,03
1,31
1,19
V. Baixa
Cultivo2
0,16
0,10
0,09
3,04
1,71
1,40
V. Baixa
Roça3
0,16
0,09
0,05
2,67
1,26
0,82
V. Alta
Sítio4
0,16
0,08
0,09
3,34
1,64
1,40
0,96
Paraná de Tefé (Tefé-AM) V. Baixa
Capoeira5
0,21 a
0,09
0,07
4,56 a
1,36 a
V. Baixa
Cultivo6
0,16 b
0,08
0,07
2,90 b
1,12 ab
1,08
V. Alta
Roça7
0,12 b
0,07
0,06
1,94 c
0,81 b
0,87
V. Baixa
Roça8
0,10 b
0,02 c
0,02 b
1,50 b
0,23 c
0,14
V. Alta
Floresta
0,20 a
0,13 a
0,13 a
2,81 a
1,41 a
1,58
V. Alta
Capoeira9
0,16 a
0,09 b
0,09 a
2,67 a
0,99 ab
1,25
V. Alta
Roça10
0,05 c
0,05 c
0,07 ab
0,68 c
0,59 bc
0,95
V. Baixa
Capoeira11
0,14 a
0,07 a
0,07 a
2,37 a
0,98
0,99 ab
V. Baixa
Roça12
0,13 a
0,08 a
0,06 ab
2,16 a
1,17
0,82 bc
V. Baixa
Cultivo13
0,04 c
0,05 b
0,05 ab
0,67 b
1,05
1,07 a
V. Baixa
Cultivo14
0,08 b
0,05 b
0,04 bc
1,96 a
1,03
0,77 bc
V. Alta
Sítio15
0,07 bc
0,05 b
0,02 c
1,90 a
1,22
0,64 c
0,64
Espírito Santo (Manacapuru-AM - Médio Solimões)
Comunidade de Santa Maria (Silves-AM - Baixo Solimões)
São Sebastião do Saracura (Parintins-AM - Baixo Amazonas) V. Baixa
Floresta
0,12 a
0,08 a
0,06 a
2,22 a
0,95
V. Baixa
Capoeira16
0,13 a
0,08 a
0,05 ab
2,31 a
1,11
0,62
V. Baixa
Cultivo17
0,08 b
0,05 bc
0,05 ab
1,38 b
0,78
0,63
V. Baixa
Cultivo18
0,04 c
0,04 c
0,04 c
0,93 b
0,60
0,52
0,89
Piracão-Era de Cima (Santarém-PA - Baixo Amazonas) V. Baixa
Cultivo19
0,06 b
0,06
0,06
0,95
0,86
V. Baixa
Cultivo20
0,07 b
0,07
0,06
1,36
1,11
1,12
V. Baixa
Murinzal21
0,09 ab
0,05
0,06
1,65
0,85
1,11
V. Baixa
Pastagem22
0,13 a
0,08
0,05
2,26
1,36
0,76
V. Alta
Roça23
0,08 b
0,06
0,05
1,46
0,93
0,80
Santa Maria (Gurupá-PA - Estuário) V. Baixa
Floresta
0,18 a
0,14
0,10
3,62 a
2,42
1,55
V. Baixa
Cacoal23
0,18 a
0,12
0,08
3,06 ab
1,73
1,06
V. Baixa
Cultivo24
0,12 b
0,12
0,10
2,30 b
1,99
1,74
V. Alta
Açaizal25
0,16 ab
0,12
0,08
2,75 ab
1,97
1,20
Médias na mesma coluna, para uma mesma comunidade, seguidas de letras desiguais diferem significativamente entre si (P<0,05; Teste de Tukey). 1 – Capoeira de 5 anos, 2 – Cultivo de Milho x Banana de 4 meses, 3 – Roça de Mandioca x Banana de 4 meses, 4 – Sítio de ± 50 anos, 5 – Capoeira de 8 anos, 6 – Cultivo de Milho de 4 meses, 7 – Roça Macaxeira x Mandioca de 4 meses, 8 – Roça de macaxeira de 2 meses implantada após a derruba e queima de uma capoeira de 8 anos,9 – Capoeira de 15 anos, 10 – Roça de Macaxeira e Milho de 3 meses, 11 – Capoeira de 8 anos, 12 – Roçado com milho de 1 mês implantado após derruba e queima de uma capoeira de 08 anos, 13 – Cultivo de Feijão-de-praia de 3 meses, 14 – Cultivo de Milho x Melancia de 3 meses, 15 – Sítio de ± 50 anos, 16 – Capoeira de 15 anos, 17 – Cultivo de Juta de 2 meses, 18 – Cultivo de Malva de 3 meses, 19 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com murim, 20 – Cultivo de Milho de 3 meses após pousio com canarana, 21 – Murinzal de 3 anos, 22 – Pastagem de 20 anos, 23 – Roça de mandioca de 8 meses, 23 – Plantio de Cacau de 60 anos, 24 – Cultivo de Milho de 2 meses após derruba e queima de capoeira de ± 40 anos, 25 – Plantio de Açaí de 5 anos.
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EFEITO DO USO DA TERRA SOBRE A FERTILIDADE DO SOLO Nas seis regiões amostradas, os valores de pH variaram de baixo a médio. A várzea alta apresentou um valor de pH mais elevado que a várzea baixa. De maneira geral, os valores de pH foram maiores nas áreas cultivadas do que nas florestas e capoeiras, sugerindo que o principal fator para elevação do pH nestes sistemas de uso da terra é devido ao processo de queima da vegetação através da ação das cinzas. Os resultados mostraram que os teores de Ca e Mg ao longo da calha do rio Solimões-Amazonas situaram-se acima do nível considerado alto e que esses nutrientes não são limitantes em solos de várzea, confirmando o observado na literatura (FURCH, 1997; OLIVEIRA et al, 2000; CRAVO et al, 2002). Os dados demonstraram que, dentro de uma mesma localidade, a variação da concentração desse nutriente nos diferentes sistemas de uso da terra foi pequena e insiginificante dada a alta disponibilidade desses nutrientes nos ecossistemas de várzea. Em média, as maiores concentrações de Ca foram obtidas na região do Alto Solimões e as menores na região do Baixo Amazonas. Com relação ao Mg, as maiores concentrações foram encontradas na região do Baixo e Alto Solimões, enquanto que as menores, na região do Baixo Amazonas. Nas seis regiões estudadas, as concentrações de Al na maioria das amostras analisadas foram muito baixas nas áreas cultivadas e significativamente elevadas nas áreas de florestas e capoeira. Os resultados observados mostram que nos outros sistemas de uso da terra, a derruba-queima da vegetação diminui a concentração de Al no solo, conforme tem sido observado em solos de outros locais da Amazônia (Sanchez et al., 1983; Smyth & Bastos, 1984). Na região do médio rio Amazonas, no município de Silves (Tabela 8), observou-se uma acentuada redução do teor de Al no solo após a derruba e queima de uma capoeira de 8 anos para implantação de uma roça. Apesar da maioria das amostras analisadas apresentarem concentração elevada, em alguns casos, o K situou-se abaixo do nível considerado crítico, mostrando que esse nutriente em algumas áreas de várzea pode-se tornar limitante. De maneira geral, as áreas de sítios, capoeiras e florestas apresentaram as menores concentrações de K nos solos. O P na maioria das amostras analisadas situou-se muito acima do nível considerado alto, mostrando a alta disponibilidade desse nutriente nas áreas de várzea. Foi observado que, geralmente, os teores de P foram maiores nas roças e significativamente menores nas áreas de florestas e capoeira. A região do Estuário apresentou a menor concentração de P, principalmente os sistemas de cacoal e açaizal,
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apresentando teores abaixo do nível crítico (COCHRANE et al, 1985), enquanto que as maiores concentrações foram obtidas nas regiões do Alto e Médio Solimões. Nas áreas onde foram determinados os teores de N, a maioria das amostras de solo apresentou valores muito baixos, confirmando que este elemento é um dos principais fatores limitantes para a produção primária na várzea, tanto na fase terrestre como na fase aquática (JUNK e PIEDADE, 1997; KERN e DARWICH, 1997; CRAVO et al., 2002). Estudos realizados em solos de várzea alta do Rio Solimões mostraram evidências de deficiências de N quando se cultiva por anos consecutivos, sem que ocorra inundação da área (JUNK e PIEDADE, 1997; KERN e DARWICH, 1997; CRAVO et al., 2002). Os agricultores de várzea também utilizam formas de manejo tradicionais de uso da terra, praticadas por outras populações da Amazônia, substituindo florestas e capoeiras de diversas idades por cultivos de ciclo curto, como no caso de mandioca e milho, que são abandonados após 2 a 4 anos para a recomposição da fertilidade do solo através da prática do pousio. Considerando que nos solos de várzea o N é o principal nutriente limitante da produção e que os agricultores não fazem uso de fertilizantes químicos, a matéria orgânica do solo é, portanto, a principal fonte natural de N para as plantas. Nos diversos sistemas de uso da terra amostrados observou-se que os valores de N e da MOS foram bastante baixos nas áreas cultivadas, porém, significativamente mais elevados nas áreas de florestas e capoeiras (Tabela 15). Na região do Baixo Amazonas, foi observada em diversas unidades de produção familiar a prática do pousio com o uso das gramíneas murim (Paspalum fasciculatum) e a canarana (Echinocloa polystachya) para a recuperação da fertilidade do solo. Os resultados mostraram que esse tipo de manejo promoveu um pequeno incremento do teor da matéria orgânica do solo (Tabela 13). Além da ciclagem de nitrogênio através de gramíneas, o solo de várzea pode ter adição de nitrogênio pela fixação de N atmosférico nas leguminosas que ocorrem naturalmente nas várzeas da Amazônia (Salati et al.,1983). Em todas as unidades de produção familiar amostradas foi observado que os agricultores não fazem uso das leguminosas, e não têm o conhecimento do benefício dessas espécies como fornecedoras de nitrogênio para as plantas. Nesse sentido, é importante fazer um levantamento da ocorrência nessas áreas de espécies de leguminosas com potencial fixador de nitrogênio para serem utilizadas como componentes dos sistemas de produção em área de várzea. Kreibich et al (2003) observaram que o fluxo de N mineral no solo a 0-20 cm foi maior próximo de espécies leguminosas que nãoleguminosas, indicando uma alta disponibilidade de N e a importância das leguminosas na fixação desse nutriente também em áreas de várzea.
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CONCLUSÕES • Todos os sistemas de uso da terra amostrados apresentaram teores de Ca e Mg situados acima do nível considerado alto, confirmando a alta disponibilidade desses nutrientes nos ecossistemas de várzea. • Embora as florestas e capoeiras mantenham níveis elevados de fertilidade, neste ambiente também pode ser verificado acidez elevada e valores tóxicos de Al trocável, ao contrário da maioria dos outros sistemas de cultivo que apresentaram baixas concentrações desse elemento. • O P na maioria das amostras analisadas, situou-se muito acima do nível considerado alto, mostrando a alta disponibilidade desse nutriente nas áreas de várzea. • Apesar da maioria dos solos analisados apresentarem concentração elevada, em alguns casos, o K situou-se abaixo do nível considerado crítico, mostrando que esse nutriente em algumas áreas de várzea pode-se tornar limitante. • Na maior parte dos sistemas de uso da terra estudados, os níveis de C e N no solo foram baixos, confirmando que o N é um dos principais nutrientes limitantes para a produção agrícola em área de várzea na Amazônia.
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Projeto RADAMBRASIL. Departamento Nacional da Produção Mineral. Folha SB.21 Tapajós; geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 1975. v. 7. 418 p. RODRIGUES T. E., OLIVEIRA, R.C. Solos de várzea da Amazônia: Uso e potencialidade. Anais da Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas. Manaus: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1996. p. 215-222. SANCHEZ, P.A., VILLACHICA, J.H., BAND, D.E. Soil fertility dinamics after clearing a tropical rainforest in Peru. Soil Science Society American Journal, 1983. 47:1171-1178. SMYTH, T.J., BASTOS, J.B. Soil fertility changes in a typic acrorthox by slash-and-burn clearing of the standing vegetation. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 1984. 8:127-132. TEIXEIRA, M. F., CARDOSO, A. Modificações das características químicas de solos inundados. Belém: FCAP, 1991. 38 p. TOMÉ Jr, J.B. Manual para Interpretação de Análise de solo. Guaíba: Agropecuária Ltda, 1997. 247 p.
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CAPÍTULO 4
AGRICULTURA E EXTRATIVISMO VEGETAL NAS VÁRZEAS DA AMAZÔNIA Hiroshi Noda1 e 2 Francisco Manoares Machado1 e 2 Danilo Fernandes da Silva Filho1 e 2 Lúcia Helena Pinheiro Martins2 Elisabete Brocki3 e 2 Marco Antonio de Freitas Mendonça4 e 2 Jucélia de Oliveira Vida2 Ayrton Luiz Urizzi Martins5 e 2 Maria Silvesnízia Paiva Mendonça2 Antonia Ivanilce Castro da Silva2
INTRODUÇÃO Este estudo sobre os fatores que interferem na produção agrícola e no extrativismo foi realizado utilizando-se dois tipos de informações: i. dados de “horizontalização multitemática”, e os dados de “verticalização temática”, realizada em vinte e seis unidades de produção, consideradas como unidades amostrais regionais no conjunto das amostras inter-regionais. As unidades de produção agropecuária da várzea do rio AmazonasSolimões foram caracterizadas por meio de indicadores fitotécnicos e pelas formas como os agricultores usam e manejam os recursos mobilizados no processo produtivo. A abordagem de verticalização temática levou em conta o intervalo entre as localidades para uma distribuição uniforme das amostras ao longo da calha Solimões - Amazonas, em pelo menos duas unidades de produção em cada uma das regiões e municípios: duas no Alto Solimões (município de Tabatinga e Benjamin Constant); quatro no Médio Solimões 1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). 2. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA). 3. Universidade Estadual do Amazonas (UEA). 4. Universidade Federal do Amazonas – Faculdade de Ciências Agrárias (UFAM/FCA). 5. Universidade Luterana do Brasil – Centro Universitário Luterano de Manaus (ULBRA/CEULM).
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(municípios de Tefé e Coari); três no Baixo Solimões (municípios de Manacapuru, Iranduba e Careiro da Várzea); três no Médio Amazonas (municípios de Itacoatiara e Silves); quatro no Baixo Amazonas (município de Parintins); três no Baixo Amazonas (municípios de Oriximiná e Óbidos); cinco no Baixo Amazonas (município de Santarém); e três no Estuário (município de Gurupá). A coleta de dados foi realizada a partir da aplicação de questionários específicos, entrevistas abertas e fechadas semi-estruturadas, elaboração de diário de campo e croqui da área, levantamento planaltimétrico da unidade rural, coleta botânica e levantamento florístico dos componentes sítio, terreiro e extrativismo vegetal. Os aspectos levantados para caracterização da unidade rural de produção estão relacionados com: a) identidade do agricultor, dados da família e da propriedade; b) histórico da área; c) dados da produção (componente roça ou cultivos); d) componente sítio (espécies, usos, quantidade, plantada/tolerada); e) componente extrativismo vegetal, intensidade da atividade (época do ano, espécie, tempo de deslocamento e número de pessoas envolvidas). Complementando aplicação dos questionários-formulários foram elaborados relatórios diários de campo. O observador elaborou um relatório sobre os aspectos relevantes que não eram contemplados no instrumento de coleta de dados ou aspectos que, apesar de serem quesitos do mesmo, não possibilitavam destaque necessário devido às condições específicas da amostra. Para melhor visualização dos componentes do sistema de produção foram elaborados croquis das áreas por meio de mapas esquemáticos representativos e levantamentos planaltimétricos, onde se procurou alocar espacialmente os elementos das paisagens e os ambientes acessados e utilizados pelos produtores. Aquelas espécies vegetais não possíveis de identificação no campo foram coletadas seguindo os procedimentos padrões de Fidalgo e Bononi (1984) e Di Stasi (1996). As amostras foram descritas, prensadas, acondicionadas em sacos plásticos em álcool e secas em estufas com cerca de 40°C no Laboratório de Genética e Melhoramento de Plantas da CPCA/INPA, sendo posteriormente identificadas e incorporadas no Herbário do INPA. Os espaços dos sítios foram esquadrejados em áreas de 10x10 m para identificação e alocação das espécies cultivadas e mantidas. As atividades comumente denominadas como sendo de extrativismo vegetal foram trabalhadas a partir de descrições feitas sobre os ambientes
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acessados e produtos obtidos na atividade; as espécies vegetais extraídas e suas formas de manejo; as formas de processamento e comercialização de produtos de origem extrativista e a importância econômica, atual e potencial, dos produtos e subprodutos oriundos do extrativismo vegetal.
CARACTERIZAÇÃO FITOTÉCNICA DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DA VÁRZEA DO RIO SOLIMÕES-AMAZONAS A unidade de produção familiar na várzea do rio Solimões-Amazonas é um sistema complexo que envolve a aplicação de diferentes atividades de trabalho nos recursos naturais disponíveis e é, basicamente, constituído por diferentes paisagens do ambiente explorado: áreas de restinga com vegetação agrícola permanente (sítios), áreas de restinga, baixadas e praias com vegetação agrícola temporária (roças e plantios de espécies de ciclo anual), capoeiras (áreas de pousio) com preponderância de espécies lenhosas ou gramíneas, chavascais caracterizando a presença de áreas baixas com solos mal drenados, florestas, lagos, rios e igarapés. A floresta e os ambientes aquáticos fazem parte dos ambientes explorados pelo produtor de várzea, pois são os locais onde são executadas as atividades de extrativismo vegetal e a pesca artesanal. Esses resultados coincidem com aqueles obtidos por Noda et al. (2001) nas áreas de várzeas de agricultores familiares da calha do SolimõesAmazonas, no Estado do Amazonas e por WinklerPrins (2003) na Ilha de Ituqui, Santarém (PA), que concluíram existir uma mistura de controle privado e comunal em áreas de pequenos produtores. Nos sistemas de produção adotados pelos agricultores familiares da várzea da calha Solimões-Amazonas, a entrada de insumos externos, como fatores de produção, é extremamente limitada. Os produtos gerados, de maneira geral, são resultantes da somatória do trabalho, predominantemente familiar e uso e manejo dos recursos naturais disponíveis ao produtor. Esses resultados coincidem com aqueles já relatados por Noda e Noda (2003) e que podem ser apresentados esquematicamente (Figura 1).
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Figura 1.
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Fatores envolvidos no processo produtivo na agricultura da várzea do rio Amazonas-Solimões. (Adaptado de Noda & Noda, 2003).
Os produtos gerados pela unidade de produção têm três destinos: autoconsumo, dentro da unidade de produção; o compartilhamento dentro do grupo social com qual se relaciona (comunidade); e, em terceiro, o mercado onde o valor de uso do produto adquire o respectivo valor de troca mercantil tornando possível, desta forma, sua transformação em moeda. A parte não consumida pela unidade de consumo é compartilhada por outros membros da comunidade, através de uma rede cultural, social e econômica (IBGE, 2004). São as relações econômicas não-monetarizadas estabelecidas, no âmbito das relações sociais, pela prática da ajuda mútua entre membros do mesmo grupo social (comunidade) e, no âmbito da economia, por meio das relações de reciprocidade envolvendo doações e recebimentos de produtos. As relações sociais de ajuda mútua envolvem mecanismos de doação e recebimento de trabalho como mutirão, troca de dia, roças e hortas comunitárias. Essas práticas, culturalmente mantidas pelos membros da comunidade, contribuem significativamente para a estabilidade e permanência das comunidades rurais. O produto excedente não consumido é colocado no circuito do mercado formal gerando renda monetária, o que permite a aquisição de bens não produzidos pela unidade de produção (NODA e NODA, 2003).
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A Tabela 1, construída a partir do levantamento realizado em 249 amostras de unidades de produção, ao longo da várzea do rio SolimõesAmazonas, apresenta os componentes agrícolas dos sistemas de produção da várzea e descreve as Unidades de Paisagens (ambiente onde a prática agrícola ocorre); os Componentes do Sistema de Produção (espaço onde ocorre a atividade associada à técnica de produção); Área de Cultivo (dimensão da área cultivada); Espécies Cultivadas (espécie agrícola) e Finalidade (destinação dada ao produto). Levando em conta a nomenclatura utilizada pela maioria dos agricultores adotou-se a denominação Roça a lavoura onde o constituinte principal fosse a mandioca ou macaxeira (Manihot esculenta Crantz); Cultivos para as lavouras em consórcio ou monocultivos onde não aparecem a mandioca ou macaxeira; e Hortaliças para os cultivos envolvendo as espécies olerícolas e medicinais. Roça ou Cultivos – neste componente, os agricultores utilizam o solo para cultivar espécies anuais durante alguns ciclos e a mandioca é a espécie com maior presença devido sua importância até para a sustentabilidade biológica e social da unidade de produção. Os cultivos de espécies alimentares são realizados na forma de consórcios ou monocultivos, mas com prevalência dos primeiros, tendo em vista necessidade de diversificar a produção uma vez que a destinação desses produtos é, basicamente, para o consumo dentro da unidade de produção. Os produtos alimentares colocados no mercado são hortaliças, quando há possibilidade de rápido acesso aos centros consumidores localizados nas sedes municipais, frutos como, por exemplo, banana, goiaba, manga, alimentos processados para alimentação humana cuja conservação permite maior espaço de tempo de comercialização (exemplo, farinha de mandioca), alimentos para animais (milho) e produtos para fins industriais (fibras de malva e juta). As espécies cultivadas são as anuais, variando quanto ao período necessário para completar o ciclo desde o plantio até a colheita. Excepcionalmente, quando o local de cultivo ocupa áreas mais elevadas podem-se encontrar espécies perenes consorciadas com as anuais. O plantio dessas espécies obedece a uma seqüência na qual as espécies mais tardias são plantadas logo após a descida das águas, ocupando as cotas mais elevadas e as mais precoces ficando para o final do período de plantio, ocupando as áreas de cotas menos elevadas. A mandioca ou macaxeira são cultivadas separadamente ou em consórcio, a denominação mais utilizada é roça. As roças ocupam as áreas de cotas mais elevadas das unidades de produção que recebem diferentes designações: restinga, lombada, vazante ou
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praia. A amplitude de variação das áreas ocupadas por esse componente, em toda a calha Solimões-Amazonas situa-se entre 0,02 ha, em Maraã no Médio Solimões até 2,57 em Silves, no Médio Amazonas. As espécies que compõem os consórcios são hortaliças, frutíferas, principalmente banana, milho, espécies medicinais e até espécies arbóreas como abacate, açaí e graviola. A produção é destinada ao consumo pela unidade de consumo (componentes da família e demais pessoas da família não envolvidas na produção) e, também, para venda. Sítio, Terreiro ou Quintal – esse componente ocupa a parte mais elevada do terreno e, geralmente, localiza-se próximo à moradia do produtor. Neste estudo foram encontradas 287 espécies cultivadas no componente sítio (Apêndice 1). Nessa área estão, também, localizadas a maioria das construções da propriedade, a casa de farinha, os currais, chiqueiros e galinheiros. A vegetação principal é constituída por espécies perenes frutíferas. São cultivadas, também, hortaliças, espécies medicinais e eventualmente, essências florestais. Nesse local são criados os animais domésticos de pequeno porte, sendo o conjunto intensivamente manejado pela mão–de-obra familiar, especialmente mão-de-obra feminina e infantil. A participação do trabalho masculino restringe-se a eventuais capinas. Segundo constataram Lima e Saragoussi (2000), esse é o local por onde são avaliadas e introduzidas as espécies novas e em muitos casos, é o componente que fornece o maior volume da produção excedente total colocada no mercado. A área média ocupada por esse componente, ao longo da calha do rio Solimões – Amazonas variou entre 0,10 ha em Uricurituba, no Médio Amazonas até 5,80 em Itacoatiara, também, no Médio Amazonas. O número de espécies cultivadas e ou protegidas dentro desse componente é bastante elevado: 83 no Alto Solimões; 37 no Médio Solimões; 65 no Baixo Solimões; 103 no Médio Amazonas; 223 no Médio/Baixo Amazonas; e 92 na região do Estuário.
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0,94
1,01
2,34
-
vazante lombada, restinga, vazante lombada, restinga, vazante lombada, restinga, vazante restinga, vazante 0,62
roça
cultivo
roça
sítio
sítio-hortaliças
cultivo
0,6
-
sítio-hortaliças
0,17
roça
sítio
-
x
-
pousio
restinga
-
capoeira
pousio
-
vazante
cultivo
Área média (ha)
Unidades de Paisagem
Componentes do Sistema
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Finalidade Consumo Venda
alfavaca, algodão, arruda, boldo, bredo, capim santo, cariru, catinga de mulata, chicória, cravo, cuia mansa, hortelã, japana (branca, roxa), maravilha, melão (amarelo, azul), milho do campo, mucuracaá, mutuquinha, onze horas, pepino (da região, verde), pimenta (de cheiro), pobre velho, rosa, samambaia, (tomate colombiano, regional, yoshimatsu)
abacate, açaí, bacaba, buriti, cacau, camu-camu, cana-de-açúcar, canela, coco, cupuaçu, goiaba, graviola, ingá, jambo, laranja, laranja da terra, limão (galego, tangerina), mamão, mangaba, maracujá
banana (caipira, caipirona, chifre de boi, inajá, maçã, pacova, peruana, prata, roxa, sapo), macaxeira (açaí, casca-roxa, guaruda, nambrezim, olho verde, pagoão, poré, samaúma), mandioca
cebolinha, cilantro (colombia), cipó, coentro, goiaba (branca, vermelha), jerimum (caboclo, de leite, jandaia) maxixe (da região, pepino), melancia (de anoba, japonesa, maxixe, paulista), milho (pé-de-boi), repolho
boldo, cebolinha, pimenta (de cheiro), pimentão, tomate
abiu, açaí, algodão, araçá, bacuri, banana, buriti, cacau, caju, cana-de-açúcar, capim santo, coco, corama, cubiu, cuia, cupuaçu, cupuí, goiaba, graviola, ingá, ingá-cipó, jambo, jenipapo, laranja, limão, mamão, manga, melancia, seringa, taperebá
abacaxi, açaí, bacaba, banana (caipirona, chifre de boi, comprida, inajá, maçã, pacova, peruana, prata, seda), cacau, caju, cana-de-açúcar, coco, cupuaçu, graviola, ingá, limão, macaxeira (casca roxa, pagoão, pirapitinga), mandioca (macachurá, pagoão, pagoinha), manga, mapati, melancia, milho, pepino, pimentão, tomate
alface, banana, cedro (vermelho), coentro, feijão (de praia), jerimum, mamão, maracujá, maxixe, melancia (paulista, peru), melão peru, milho (duro, mole, pé-deboi, peru), pimenta (de cheiro) pimentão (doce), tabaco, tomate
batata, jerimum, mandioca (pagoão), milho
banana
Espécies (*)
21:41
São Paulo de Olivença
Benjamin Constant
Atalaia do Norte
Município
Componentes agrícolas dos sistemas de produção da várzea do Rio Solimões-Amazonas, trecho Tabatinga, AM - Gurupá-PA. 2003-2004.
26.03.08
1
Microrregião
TABELA 1.
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97
98
Coari
1,96
sítio
-
lombada, restinga, vazante
pousio
2,49
0,75
capoeira
cultivo
lombada, restinga, vazante
beiradão, praia, restinga, vazante
-
roça
restinga
sítio
x
0,02
vazante
cultivo -
-
lombada, restinga, vazante
sítio-hortaliças
roça vazante
0,73
sítio
0,65
lombada, restinga, vazante
roça
lombada, restinga, vazante
1,54
lombada, praia, restinga, vazante
cultivo
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Finalidade Consumo Venda
arroz, banana (caipirona, comprida, duas pencas, sapo), cacau, caju, castanha-de-macaco, coentro, cubiu, feijão, fruta-pão, ingá, jenipapo, jerimum, macaxeira (caniço, pão, poré, vitória), mamão, mandioca (pagoão, peruana), manga, maracujá, maxixe, melancia, milho, pepino, pimenta, pimentão, tomate abacate, abacaxi, abiu, açaí, acerola, aninga, araçá boi, azeitona (roxa), bacaba, banana (caipira, peruana, prata), buriti, cacau, caju, cana-de-açúcar, castanha, castanha de galinha, cedro, coco, cubiu, cuia, cupuaçu, curua, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá (açu, cipó, do metro), jambo, jenipapo, jerimum, laranja, limão, mamão, mandioca, manga, maracujá, maxixe, mucuracaá, pepino, pião (branco, roxo), pimenta, pimentão, pupunha, seringa, tomate (liso, regional), urucum
abacate, abacaxi, abiu, açaí, acerola, araçá, ata, bacaba, banana (prata), batata-doce, benjamim, biribá, buriti, cacau, caju, cana-de-açúcar, capim santo, castanha (de macaco, do pará), caxinguba, chicória, coco, corama, cuia, cupuaçu, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá, jambo, jenipapo, jucuba, laranja, lima, limão, macaxeira, mamão, mandioca, manga, maracujá, mari, marirana, mastruz, paricarana, pião (roxo), pitanga, pupunha, quiabo, seringa, tangerina, taperebá, urucum
abacaxi, ananás, banana (caipira, comprida, curta, inajá, maçã, missouri, pacova, prata), cana-de-açúcar, cará, cariru, cebolinha, chicória, cubiu, feijão de praia, jerimum, juta, macaxeira (açaí, baié, calai, manteiga, pão, peruana), malva, mandioca (4 meses, amarelinha, angelina, camarão, casca-roxa, pacu, tucumã), maxixe, melancia, melão, milho (4 meses), pepino, pimenta (ardosa, de cheiro), tomate
alface, banana (pacova, prata), barba de bode, batata-doce, berinjela, cacau, cariru, cebolinha, cedro, chicória, coentro, couve, feijão (branquinho, coquinho, de metro, manteiguinha, vermelinho), hortelã, jerimum (de leite), malva, mangarataia, mari, maxixe, melancia (japonesa), melão, milho (da emater), mungumba, pepino, pimenta (de cheiro), pimentão, quiabo, repolho, seringa, tacacazeiro, tomate (mãode-onça, paulista, regional), urucuri
açaí, banana, caju, coco, fruta-pão, laranja, limão
banana (comprida, pacova), macaxeira (pão), mandioca (calai, siaçá, valdevina)
alface, cariru, cebolinha, couve, milho, pepino, tomate
amor-crescido, boldo, cariru, cebolinha, cecília, chicória, cibalena, cidreira, coentro, cravo, cravo-dedefunto, cróton, cubiu, cumaruzinho, elixir-paregórico, hortelã, malva santa do , dente, malvarisco, maxijulio, palma, papoula, pimenta (de cheiro), pimentão, rosa, vassourinha
cacau, feijão, melancia, milho (3 meses, dente-de-cavalo), pimentão (doce), tomate
Espécies (*)
21:41
2
Tabatinga
1
Área média (ha)
Unidades de Paisagem
Componentes do Sistema
26.03.08
Alvarães
Município
Microrregião
04_agricultura.qxp:Layout 1 Page 98
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
Iranduba
restinga, vazante
cultivo
restinga, vazante
vazante
sítio-hortaliças
roça
restinga, vazante
sítio
praia, restinga, vazante
cultivo beiradão, vazante
restinga, vazante
sítio-hortaliças
roça
restinga, vazante
1,4
lombada, restinga, vazante
roça
sítio
0,47
lombada, restinga, vazante
cultivo
0,58
0,76
-
0,75
0,35
0,85
-
1,88
-
restinga
0,35
0,33 0,83
restinga, vazante
restinga, vazante vazante
cultivo roça
0,45
sítio-hortaliças
lombada, restinga, vazante
sítio-hortaliças
Área média (ha)
sítio
Unidades de Paisagem
Componentes do Sistema
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Finalidade Consumo Venda
banana (missunga), feijão, jerimum, macaxeira, mandioca (4 meses, olho-roxo, olhuda, paum), maxixe, melancia (paulista), milho (anão)
feijão (de metro), goiaba, jerimum (caboclo, de leite), malva (do idam), mamão (havaí), maracujá, melancia (holandesa, japonesa), milho, pepino (igarapé, jóia, verdão), pimenta (de cheiro), tomate (são sebastião)
arruda, boldo, cebolinha, chicória, hortelã, malvarisco, pimenta (ardida, de cheiro)
banana (comprida, maçã, maçaroca), batata, feijão (barrigudinho), jerimum, macaxeira (manteiguinha, pacu), mandioca (olho-roxo, pirarucu, poré), melancia, milho açaí, acerola, banana (maçã, pacova, prata), cacau, caju, cana-de-açúcar, coco, cuia, goiaba, graviola, ingá (açu, de macaco), jenipapo, jerimum, laranja, manga, munguba
batata-doce, cana (fita), cebolinha, chicória, coentro,couve, jerimum (de leite), malva, maracujá, mastruz, maxixe, melancia, melão, milho, pepino, pimentão, quiabo, repolho
cariru, cebolinha, chicória, coentro, jerimum, maxixe, pimenta (de cheiro), pimentão, quiabo, repolho, tomate
alface, banana (baié, bananinha, caipira, capim, chifre de boi, guariba, inajá, maçã, pacova, pacovinha, prata), macaxeira (açaí, mantegona, pagoinha, pão, tambaqui), mandioca (baixotinha, grelo-roxo, olhoroxo, tambaqui, tortanga, valdevina), maxixe, melancia, melão, milho, pimenta, tomate abacate, abiu, açaí, araçá (boi), azeitona, bacaba, banana (comprida), bodó, buriti, cacau, caju, coco, comigo-ninguém-pode, cuia, cupuaçu, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá (açu), jaca, jambo, jenipapo, jucá, laranja, lima, limão, macacaúba, manga, marirana, pupunha, puruí, samaúma, seringa, sucuri de planta, taperebá, urubucaá, urucum
alface, cebolinha, chicória, coentro, couve, jerimum, maracujá, maxixe, melancia (chinesa, japonesa), melão, milho (de assar), pepino, pimenta (ardosa, comprida, murupi, redonda, de cheiro), pimentão, tomate
açaí (do pará), cedro, melancia, milho (duro) banana (comprida), cariru, macaxeira, mandioca (olho-roxo, valdevina), milho abiu, açaí, araçá, bacaba, banana, buriti, cacau, caju, coco, cuia, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá, jaca, jambo, jenipapo, limão, mamão, manga, pupunha, puruí, taperebá, urucum
amor-crescido, arruda, brinco de moça, cacau, capim-santo, cará (roxo), cariru, cebolinha, chicória, cidreira, coentro, corama, couve, cuia, feijão, goiaba, hortelã, mangarataia, mariana, mastruz, maxixe, melancia, mucuracaá, pimenta (de cheiro), pimentão, tomate (mão-de-onça)
Espécies (*)
21:41
Careiro da Várzea
Tefé
Maraã
Município
26.03.08
3
2
Microrregião
04_agricultura.qxp:Layout 1 Page 99
99
100
Silves
vazante praia, restinga, vazante
sítio-hortaliças
10
2,57
baixio, beiradão, massapê, vazante
cultivo
pousio
-
restinga, vazante
5,8
1,03
sítio-hortaliças
restinga, vazante
x
x
praia, restinga, vazante
roça
sítio
-
pousio
açaí, cacau, feijão (de praia), jerimum (de leite), maxixe, melancia, milho (dente-de-cavalo), tomate
acerola, alface, alfavaca, amor-crescido, capim (cidrão), capim santo, cebolinha, chicória, cipó-alho, citrus, coentro, couve, cuminho, goiaba, hortelã (grande), jerimum, mangarataia, mastruz, maxixe, mucuracaá, pião (branco, roxo), pimenta (ardosa, malagueta, murupi, olho-de-peixe, de cheiro), pimentão, quiabo, samadaru, saratudo, taioba, tomate, trevo (roxo)
abacate, açaí (verde), acerola, algodão (roxo), azeitona, babosa, bacaba, bacuri, banana, cacau, caju, cana-de-açúcar, catoré, caxinguba, coco, cuia, cupuaçu, feijão, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá (açu), jambo, jenipapo, jerimum, laranja, limão, macaxeira, mamão, manga, maracujá, mastruz, melancia, pimenta (malagueta), pupunha, puruí, quiabo, saratudo, seringa, tangerina, taperebá
abacate, açaí, banana, batata, cacau, feijão (de corda), goiaba, graviola, jerimum, macaxeira (6 meses, pão), mamão, mandioca (4 meses, 6 meses, branca, curuá, juaca, vermelha), melancia, milho, pepino, pimentão, tomate
alface, cacau, cebolinha, coentro, couve, feijão (de corda), jerimum, macaxeira, malva, mandioca, maracujá, maxixe, melancia (holandesa), milho, seringa
x
beiradão, restinga, vazante
cultivo
1,24
alecrim, alfinete, arruda, boa-noite, bredo, canarinho, capim santo, cebolinha, chicória, coentro, corama, cravo-de-defunto, jerimum, mangarataia, mastruz, perpértua, pimenta (de cheiro, de mesa), riso do padre
restinga, vazante
sítio-hortaliças
abacate, açaí (am, jussara, pa), bacaba, banana, buriti, cacau, caju, cana-de-açúcar, coco, cuia, cupuaçu, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá (açu), jambo, jenipapo, laranja, lima, limão, mamão, manga, seringa, urucum
banana, caupi, jerimum (caboclo), macaxeira, malva, mamão, mandioca (olho-roxo, orana, zulhudinha), maracujá, melancia, milho
cebolinha, cominho, couve, jerimum banana, batata, cebolinha, couve, feijão (branco), jerimum, malva, mamão, maracujá, melancia, milho, pastagem, pimenta, pimentão
açaí (am), banana (encharcada), caju, carambola, coco, cupuaçu, goiaba, jambo, jerimum, limão (caiano), manarana, manga, pimenta (de cheiro), pitomba
Espécies (*)
restinga, vazante
x
x
Finalidade Consumo Venda
sítio
0,5
0,5 0,79
roça
1,67
-
0,49
Área média (ha)
pousio restinga, vazante
vazante
sítio
cultivo
Unidades de Paisagem
Componentes do Sistema
21:41
Itacoatiara
Manacapuru
Município
26.03.08
4
3
Microrregião
04_agricultura.qxp:Layout 1 Page 100
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
praia, restinga, vazante
cultivo
sítio
restinga, vazante
-
tabuleiro
0,8
1,5
0,97
x
-
0,05
0,26
0,93
-
-
5,38
0,8
Área média (ha)
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Finalidade Consumo Venda
acerola, alfavaca, algodão, ata, banana, bandeira-do-divino-espírito-santo, berinjela, cacau, capim santo, cariru, castanha (sapucaia), cebolinha, chicória, coco, comigo-ninguém-pode, couve, cuia (mansa), goiaba, graviola, jaca, jambo, laranja, limão, macaxeira, mamão, manga, mangarataia, maracujá, mastruz, pau mulato, pimenta (malagueta, de cheiro), pimentão, quiabo, samambaia
abiu, abobrinha, acerola, algodão, arruda, aruazeiro, ata, azeitona, bacuri, banana (branca, grande, prata), benjamim, cacau, caimbé, caju, cajurana, cana-de-açúcar, capim santo, castanha (do pa, sapucaia, de macaco), castanhola, catauari, cidreira, coco, cuia, esturaque, feijão (feijãozinho), frutapão, goiaba, hortelã, ingá, jaca, jambo, jambu, jauarí, jenipapo, laranja, limão, maguari, mamão, mandioca, manga, maracujá, marajá, mari, marimari, mastruz, melão (maxixe), murrão, mutinha, papoula, paricá, pião (branco, roxo), pitomba, pixonera, quiabo (de metro), rosa, rosenga, sacuí, seringa, socoró, tajá, taperebá, tarumã, uruazeiro, urucum, urucuri
banana
abóbora, batata, chuchu, feijão (campeã, de metro, leite, manteiguinha, pingo de ouro), jerimum, juta (branca), melancia (branca, pintada, rajada), milho ("toda manhã" embrapa, dente-de-cavalo, duas espigas, feira da cidade), pimentão, repolho, tomate
cebolinha, couve
bandeira de são francisco, boldo, cebolinha, chicória, erva cidreira, favinha seca, loucura, pião (roxo), pimenta (de cheiro), tajá, tomate
banana, couve, jerimum, macaxeira, mamão, mandioca, maxixe, melancia, milho, quiabo
alface, arroz, banana, cacau, cebolinha, couve, feijão (leite, manteiga), jerimum, mamão, maxixe, melancia (japonesa), milho (quarentinha), pepino, pimenta (de tempero), quiabo, tomate
alface, alfavaca, catinga-de-mulata, cebolinha, chicória, cidreira, cominho, couve, crajiru, maxixe, pepino, pimentão, quiabo, tomate
abacate, abacaxi, açaí, alfavaca, banana (branca), buriti, cacau, café, caju, capim santo, carambola, castanha (de macaco), coco, cuia, cupuaçu, cutitiribá, fruta-pão, goiaba, graviola, ingá, jaca, jambo, jenipapo, laranja, lima, limão, mamão, manga, maracujá, palma ornamental, pião (roxo), pimenta (malagueta), quiabo (de metro), tabaco, tangerina, taperebá, tomate, tucumã
alfavaca, ananás, banana (branca, pacova, prata), cacau, caju, capim santo, cará, feijão, hortelã, ingá, jerimum, macaxeira, mamão, mandioca, maracujá, maxixe, melancia, melão, milho, pimenta (de cheiro), tomate
Espécies (*)
Page 101
roça
vazante
vazante
roça
sítio-hortaliças
praia, vazante
cultivo
restinga, vazante
restinga
sítio-hortaliças
sítio
0,1
sítio restinga
massapê, restinga
sítio
restinga, vazante
restinga, vazante
roça
sítio-hortaliças
Unidades de Paisagem
Componentes do Sistema
21:41
Oriximiná
Óbidos
Urucurituba
Município
26.03.08
5
4
Microrregião
04_agricultura.qxp:Layout 1
101
102
Santarém
roça
praia, restinga, vazante
praia, restinga, vazante
restinga
tabuleiro
cultivo
restinga, vazante
sítio-hortaliças
0,51
0,62
0,05
-
x
x
x
x
x
x
x
x
x
abóbora, acerola, banana (baixinha, baixota, branca, casada, casca verde, degenerada, grande, inajá, pacova, pacovi, peruana, pirauá, prata, roxa, sapo), breu, cana-de-açúcar, coco, cuia, feijão, goiaba, ingá grande, jerimum, laranja, limão, macaxeira (água nossa, amarela, amarelinha, branca, manteiga, pão, vermelha, xavica), mandioca (cari, 7 meses, amarelinha, bodó, boi branco, boizinho, branca, branquinha, cordeira, dorotéia, dourada, flor-de-boi, gordura, guia verde, macambira, milongues, peixe-boi, redonda, roxinha, tambaqui, vermelinha), manga (cipó), maxixe, melancia, milho, pimenta, taperebá, tomate
abóbora, alfavaca, cebolinha, couve, feijão (de leite, grão pequeno, manteiguinha, vermelho, vinagre, de praia), grama de várzea, jerimum (de leite), juta, maxixe, melancia (japonesa), melão, milho (40 dias, 45 dias, baié, baixinho, quarenta, quarentinha), pimenta (amarela), quiabo, repolho, seringa, tomate
acerola, ajirum, alfavaca, arruda, banana, capim santo, catinga-de-mulata, cebolinha, chicória, coentro, cominho, couve, feijão (de corda), hortelã (hortelãzinho), jambú, jerimum, mamão, maracujá, maxixe, mucuracaá, pimenta (de cheiro), pimentão, tomate, urucum
alfavaca, algodão, árvore de natal, boldo comprido, cana (da índia), capim santo, carapari, cebolinha, chicória, cidreira, coentro, comigoninguém-pode, corrente menino jesus, couve, crajiru, crista de galo, cuia mansa, feijão (de metro), hortelã (grande, hortelanzinho), jerimum, lavadeira, mangarataia, mastruz, onze horas, pião (batuque, roxo), pimenta (de cheiro), pimentão, sena, terezinha, tomate, trevo (roxo), urubucaá, vai-e-vem, vindica
abacate, abiu, açaí, acerola, algodão, araçá (boi), azeitona (roxa), bacaba, banana, buriti, cacau, caju, camu-camu, cana-de-açúcar, castanha (de galinha, sapucaia, de macaco), caxinguba, coco, cuia, cupuaçu, feijão, fruta-pão, goiaba, goiabarana, graviola, ingá (cuia, sapo, xixica), jaca, jambo, jenipapo, jerimum, laranja, limão, macaxeira, mamão, manga, maracujá, mari, marimari, marimari-de-cachorro, marinema, marizinho, munguba, pião (branco), pimenta, puruí, seringa, tamarindo, taperebá, urua, urucum
banana (baixota, branca, casada, cearense, de 2 cachos, grande, inajá, nativa, pacova, pacovi, prata, roxa, sapo), feijão, jerimum (de leite), macaxeira (amarela,branca, casca-roxa, coari, manteiga, menina), mandioca (auaçú, flecha, joão grande, taira), maxixe, melancia, milho, pepino
alfavaca, banana (baixota, casada, de 2 cachos, pacovi, prata, sapo), batata-doce, cebolinha, chicória, feijão (de praia, do idam, quarentão), jerimum (caboclo, de leite), juta (branca), macaxeira (casca-roxa), malva, mamão, mandioca (flecha, joão grande, taira), maracujá (branco), mastruz, maxixe, melancia (grande, holandesa), milho (dente-graúdo, pirantã), pimenta (murupi, de cheiro), pimentão, repolho, tomate
abóbora, alface, alho, berinjela, cebolinha, chicória, coentro, couve, jambú, jerimum, maxixe, pepino, pimenta (de cheiro, pimentinha), pimentão, salsa, tomate
alface, alfavaca, alho, amor-crescido, anador, arruda, babosa, capim santo, catinga-de-mulata, cebolinha, chicória, cidreira, coentro, coramina, couve, cróton, dedo de adão, elixir parigórico, emenda osso, esturaque, hortelã (grande, hortelãzinho), jambú, jerimum, mangarataia, mastruz, maxixe, melancia, mucura-acá, pião (branco, roxo), pimenta (ardida, de cheiro), pimentão, quiabo, tomate (santa clara), boldo
Espécies (*)
21:41
5
0,76
0,48
restinga, vazante
roça
restinga, vazante
0,91
aba, praia, restinga, vazante
cultivo
sítio
0,25
restinga, vazante
tabuleiro
x
Finalidade Consumo Venda
26.03.08
Parintins
0,53
restinga, vazante
Unidades de Área Paisagem média (ha)
sítio-hortaliças
MicrorComponentes Município região do Sistema
04_agricultura.qxp:Layout 1 Page 102
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
lombada, restinga, vazante restinga, vazante
vazante
restinga, vazante
1
tabuleiro
roça
sítio
sítio-hortaliças
tabuleiro
x
1,14
1,82
0,8
1,33
x
0,37
1,41
Área média (ha)
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Finalidade Consumo Venda
amor-crescido, cebolinha, chicória, coentro, cominho, couve, pimentão
alecrim, alfavaca, alho de planta, amor-crescido, anador, arruda, bacaba, catinga-de-mulata, cebolinha, chicória, cibalena, cidreira, cipó-alho, coentro, corama, couve, cuminho, hortelã, jambu, japana, lágrima de nossa senhora, mangarataia, meracilina, papoula, pepino, pimenta (de cheiro), pimentão, pirarucu, sucuruju, tomate
abacate, abacaxi, abiu, açaí, andiroba, araçá, azeitona, bacuri, banana, batata doce, biribá, cacau, caju, camutinha, cana-de-açúcar, carambola, castanha, cibalena, coco, cuia, cupuaçu, fruta-pão, goiaba (araçá), graviola, ingá, jambo, jenipapo, laranja, lima, limão, macucu, mamão, manga, maracujá, marajá, mari, melancia, miriti, munguba, murupitá, pau-mulato, paxiúba, pião (branco), pimentão, piracuuba, pitomba, pupunha, samaúma, taperebá, ucuúba, virola
abóbora, açaí, ananás, ária, arroz, banana (prata), batata doce, cana-de-açúcar, cará, feijão, goiaba, limão, macaxeira, mamão, mandioca, maxixe, melancia, milho, pau mulato, pimenta, samaúma
açaí, arroz, arroz agulinha, banana, cacau, cana-de-açúcar, feijão, limão, melancia, milho
couve
abóbora, alecrim (do campo, do norte), alface, alfavaca, algodão roxo, amor crescido, araçá, arruda, bajé, boldo, cana mansa, capim santo, cará, cará roxo, catinga-de-mulata, cebolinha, chicória, cidreira, coentro, corama, coramina, couve, cuia, diabinho, elixir paregórico, espinafre, folha grossa, hortelã, hortelã grande, jambú, japana, jerimum, mangarataia, maracujá, marupazinho, mastruz, melancia, melhoral, mucuracaá, mutuquinha, ouriço, paçoquinha, pau-de-angola, pepino, piaçoquinha, pião branco, pião roxo, pimenta (ardósa, malagueta, de-cheiro), pimentão, pinhão, repolho, sabugueiro, sangue cristo, saratudo, sucuriju, tomate, vick, vinagreira, vindicá, volta pra mim
abacate, açaí, acerola, algodão, amor-crescido, ananás, aninga, araçá, araticum, arruda, ata, azeitona, bacaba, bacuri, banana (baixinha, branca, casca verde, grande, grossa), cacau, cacauí, café, caju, cana-deaçúcar, carambola, castanha (sapucaia), catauari ,cidreira, cipó, coco, crajiru, cuia, cumaru, cupuaçu, curumim, cutitiribá, espírito santo, esturaque, folha grossa, fruta-de-conde, fruta-pão, goiaba (verde, vermelha), graviola, ingá, jaca, jambo, jenipapo, jucá, laranja, lima, limão, macaxeira, maguari, mamão, mandioca, manga (cipó, maçã, mangará, rosa), maracujá, mari (gordo), marimari, mastruz, mungubarana, murici, murua, pau brasil, pião (branco, roxo), pimenta (do reino), pitomba, pupunha, romã, rosa, sapoti, seringa, socoró, tabaco, tajá, tamarindo, tangerina, taperebá, tarumã, urucum
Espécies (*)
(*) Variedade ou clones 1 – Alto Solimões, 2 – Médio Solimões, 3 – Baixo Solimões/ Alto Amazonas, 4 – Médio Amazonas, 5 – Médio/Baixo Amazonas e 6 – Estuário
cultivo
restinga, vazante
restinga, vazante
sítio
sítio-hortaliças
Unidades de Paisagem
Componentes do Sistema
21:41
Gurupá
Santarém
Município
26.03.08
6
5
Microrregião
04_agricultura.qxp:Layout 1 Page 103
103
04_agricultura.qxp:Layout 1
26.03.08
21:41
Page 104
Os resultados obtidos neste estudo são compatíveis com aqueles registrados por Lima e Saragoussi (2000) que encontraram, na Amazônia Central, sítios ocupando em média 0,36 hectare e com a predominância de árvores frutíferas. No Baixo Solimões, Bahri (1993) encontrou sítios como uma conversão de antigas plantações de seringueiras e cacaueiros. Estudos com sítios da várzea amazônica, realizados por outros autores como Guillaumet et al. (1990), Lima (1994), Anderson et al. (1999) e Lima & Saragoussi (2000), encontraram, em média, 125 espécies entre plantas arbóreas, arbustos e herbáceas, bastante próximo da média encontrada nesta pesquisa (100 espécies, com amplitude variando entre 37 espécies no Médio Solimões até 223 espécies no Baixo Amazonas). O sítio além da sua importância como fornecedor estável de produtos alimentares à unidade de consumo familiar exerce um papel ecológico relevante. De acordo com Guillaumet et al. (1993), a alta diversidade vegetal inter e intraespecífica, com disposição em vários estratos, parecem contribuir para a diminuição da propagação de doenças e pragas. Os sítios exercem, também, um papel importante na conservação e amplificação da biodiversidade agrícola. Segundo Lima (1994) e Lima e Saragoussi (2000), novas cultivares e novas espécies são introduzidas e testadas, e as de uso corrente pela família são mantidas, como um recurso para a restauração das roças e outros tipos de plantios, inclusive com estratégias próprias para fazer frente às enchentes. Essas áreas funcionam como refúgio (bancos de germoplasma “in situ“ ou áreas onde ocorre a preservação de recursos genéticos) de plantas de origem indígena como o ariá (Callathea allouia), cubiu (Solanum sessiliflorum), taioba (Xanthosoma spp.), cará-do-ar (Dioscorea alata), cará (Dioscorea trifoliata) e plantas medicinais, sendo essa diversidade mantida através de troca de sementes, mudas e, mais raramente, estacas, com vizinhos, parentes e amigos, e através da compra ou busca das mesmas nas comunidades urbanas, próximas ou longínquas (LIMA, 1994 e LIMA e SARAGOUSSI, 2000; NODA, 2002, NODA et al., 2002; NODA et al. 2003; WINKLERPRINS, 2003; NODA e NODA, 2004). Os sítios constituem, também, um espaço privilegiado de socialização do grupo familiar, abrigando não só momentos de lazer, como também os jogos e a iniciação às atividades agrícolas das crianças. Atividades como fabricação e conserto de apetrechos de pesca e instrumentos agrícolas, preparação de hortaliças para a comercialização e atividades de pós-colheita ocorrem nesse local.
104
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
04_agricultura.qxp:Layout 1
26.03.08
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Capoeira ou área de pousio – o pousio da terra é uma técnica tradicional de manejo do solo praticada de maneira generalizada pelos agricultores da várzea. São terras que permanecem em repouso durante certo período e voltam a ser reutilizadas para o cultivo de espécies anuais. Eventualmente, essa capoeira pode ser enriquecida com plantio de espécies frutíferas perenes, em áreas com cotas mais elevadas. Esse componente ocorre praticamente em todas as unidades de produção da várzea da calha do rio Amazonas-Solimões. A partir de tais resultados concluiu-se que a forma de produção em roças com posterior descanso para encapoeirar, é uma técnica de manejo do solo, em escala familiar, que permite, em termos de recursos pedológicos, uma reconstrução do ambiente natural. Segundo Silva (1991); Pereira (1992;1994) e Noda et al. (2002), a função das áreas de pousio é a reprodução das qualidades físicas, químicas e biológicas dos solos, que após algum período de uso agrícola são deixadas em descanso (pousio). Após um período, mínimo de oito meses a dois anos, é obtida uma área de cultivo com a fertilidade renovada e com taxas de ocorrência de pragas, doenças e plantas invasoras reduzidas. No estudo realizado por Noda (2000) foi observado que nas capoeiras de seis anos, correspondentes às áreas de antigas roças, apresentavam teores de C e N próximos aos da mata, o que permitiu a autora presumir a reconstituição dos recursos pedológicos aos níveis daqueles encontrados na mata natural. Essas constatações explicam a importância e a eficiência da técnica de pousio, principalmente, nas áreas de cota mais elevadas onde os processos de deposição de nutrientes pelas inundações são menos intensos. Entretanto, o pousio é uma técnica que vem caindo em desuso devido ao avanço da pecuária na várzea. Noda et al. (1995), encontraram freqüência da adoção do pousio entre 30% a 68%, com o tempo de descanso variando entre as microrregiões, dependendo do tamanho da área apropriada, da vegetação remanescente e da utilização para pecuária. Nas microrregiões do Baixo Solimões, Alto Amazonas e Médio Amazonas observaram que o tamanho da área apropriada não constituía fator determinante na decisão de se adotar a técnica de pousio, mas encontraram uma forte correlação entre a expansão da bovinocultura e a diminuição da freqüência de uso desta técnica pelos agricultores familiares. Segundos aqueles autores, com o incremento da pecuária e das áreas utilizadas na atividade, havia ocorrido uma diminuição nas áreas disponíveis para os cultivos nas roças, provocando a necessidade de reutilização das mesmas em um menor espaço de tempo. Nas regiões onde a pecuária é uma atividade
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econômica muito importante a situação tende-se a agravar. WinklerPrins (2003) menciona que na região do Baixo Amazonas, na Ilha de Ituqui, no município de Santarém, o pousio é pouco praticado. Extrativismo vegetal – a extração de produtos vegetais é uma atividade realizada na floresta ou na capoeira. Os produtos extraídos são alimentos, condimentos, remédios, aromáticos, gomas e fibras e são obtidos em 144 espécies (Apêndice 2). As atividades relacionadas ao extrativismo animal são constituídas, principalmente, pela pesca artesanal que é realizada no conjunto da bacia hidrográfica, dando-se preferência, dependendo do período do ano, ao rio principal, igarapés ou lagos. O peixe é o mais importante e fundamental fonte de proteína das populações ribeirinhas. Daí a importância das iniciativas no sentido da manutenção e preservação de lagos, por agricultores familiares, em algumas localidades como apontam os trabalhos de McGrath et al. (1991 e 1993) e Noda et al. (2000a e 2000b). Em relação à caça de animais silvestres, os sítios e arredores, parecem ser os locais preferidos para a captura dos animais, mesmo que não sejam áreas de cobertura vegetal natural, já que estes localizam-se nas restingas mais altas, local importante para o refúgio dos animais na época da enchente. Segundo Noda et al. (2001), na região do Médio Amazonas, o principal ambiente de caça é o lago de várzea, pois os numerosos lagos daquela região formam extensos espelhos d’água, que dominam completamente a paisagem durante a enchente, sendo, talvez por isso, as espécies aquáticas o tipo de caça mais freqüente. Criação de animais de pequeno porte – normalmente, os animais de pequeno porte (aves, suínos, caprinos e ovinos) são criados extensivamente nas áreas dos sítios e, geralmente, alimentados com restos derivados do processamento de produtos, por exemplo, raspa de mandioca ou milho produzido na unidade de produção. McGrath (1991) e Hiraoka (1992) destacam que, tradicionalmente, a estratégia de subsistência do homem da várzea envolveu a criação de pequenos animais, a pesca, a agricultura, a pecuária e o extrativismo florestal, sendo que a importância relativa de cada uma dessas atividades, ao longo do tempo, refletiu os ajustes feitos pelos ribeirinhos em relação às oportunidades da economia regional. Via de regra, os animais que permanecem até a época da cheia são mantidos naquele período em marombas (instalações construídas em áreas elevadas para manutenção de animais de criação) ou são levados para terrafirme na hipótese dos produtores locomoverem-se para aquele ambiente.
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Os procedimentos e as técnicas de produção adotados pelos agricultores da várzea do rio Solimões-Amazonas evidenciam uma enorme contribuição cultural da agricultura tradicional. Na Figura 2, tomando-se como base o modelo proposto por Noda e Noda (1994), é apresentado, esquematicamente, o fluxo de produtos e serviços envolvidos entre os componentes do sistema de produção. Observa-se que o sistema produtivo pode ser aglutinado dentro de um núcleo que poderia ser designado como sendo um sistema agroflorestal “tradicional”, composto pelos seguintes componentes: i. Roças e Cultivos (cultivo de espécies anuais em monocultivo ou consórcios); ii. Sítio (cultivo de espécies perenes, hortaliças e medicinais); iii. Capoeira (pousio simples ou melhorado); iv. Extrativismo vegetal e animal (extração de alimentos, condimentos, remédios, aromáticos, gomas e fibras, caça e pesca); v. Criação (animais de pequeno e grande porte). O núcleo produtivo interage com o ambiente externo (mercado de fatores) através da aquisição de insumos para o processo produtivo, principalmente ferramentas, equipamentos e insumos e, também, de alguns alimentos consumidos ou bens necessários à manutenção da família, mas não produzidos dentro da unidade de produção. A interação da unidade de produção com a comunidade, no que se refere ao processo produtivo, acontece através das relações sociais de ajuda mútua (troca de trabalho), troca de insumos, principalmente, propágulos (sementes e mudas) e pela prática da economia da reciprocidade (troca de produtos, principalmente, alimentos). A interação com o mercado externo ocorre quando os produtos gerados pela unidade de produção, após a transformação dos mesmos em mercadorias e o estabelecimento dos respectivos valores de troca, são convertidos em moeda (NODA e NODA, 2003).
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Direção do Fluxo
Produtos e Serviços Envolvidos
1 —> 3
Ferramentas, máquinas e insumos
3 —> 4
Alimentos, combustível, madeira, remédio
3 —> 5
Alimentos “in natura” e processados, madeira e outros produtos da floresta
3 —> 2
Alimentos, sementes, mudas
2 —> 3
Sementes, mudas e força de trabalho
1 —> 4
Alimentos, combustível, vestimentas, remédio
FIGURA 2.
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Fluxo de produtos e serviços entre os componentes produtivos no sistema de produção na várzea do Solimões-Amazonas. (Adaptado de NODA & NODA, 2002).
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INFLUÊNCIA DO PULSO DAS ÁGUAS NA CONSTRUÇÃO DAS PAISAGENS AGRÍCOLAS E NA DIVERSIDADE GENÉTICA VEGETAL Na Tabela 2 é apresentada a posição topográfica dos componentes dos sistemas de produção agrícola nas unidades levantadas no sentido da calha do Solimões-Amazonas, trecho entre os municípios de Tabatinga, no Alto Solimões do Estado do Amazonas e Gurupá, no Estuário do rio Amazonas, no Estado do Pará. A partir de dados do Nível Médio Histórico do rio SolimõesAmazonas nos municípios de Coari, Manaus, Parintins, no Estado do Amazonas e Santarém, no Estado do Pará, registrados pelo Departamento Nacional de Águas (Barthem & Fabré, 2004) foram estimadas as cotas da lâmina d’água nos respectivos municípios nos doze meses do ano. A partir desses dados construiu-se um gráfico com as linhas de cotas médias anuais históricas que correspondem, neste estudo, às regiões abrangidas pelos respectivos municípios. Os pontos obtidos nos levantamentos de campo, nas respectivas datas de observação, foram graficamente alocados na linha correspondente às marcas dos níveis médios históricos do município. A partir desses pontos, foram estabelecidas as projeções das datas de início e final do período de inundação e o período disponível para uso do solo em atividades agropecuárias (Tabela 3). Uma unidade de produção localizada em Coari (Amostra 6) é um bom exemplo de como o manejo das plantas é condicionado pelo ciclo das águas e pela adaptação genética de cada espécie vegetal aos ambientes onde é cultivada (Figuras 3, 4 e 5). Pode-se observar que entre as espécies anuais não adaptadas a ambientes úmidos, as que ocupam áreas mais baixas são as de ciclo curto como o milho, tomate e hortaliças de folhas. Já as de ciclo mais longo, como a mandioca, ocupam áreas mais elevadas. Os sítios e as áreas de plantio de espécies frutíferas lenhosas não adaptadas a ambientes úmidos ocupam a áreas mais elevadas, preferencialmente, as não inundáveis. Nessa mesma localidade, o sítio está situado em área não inundável, levando-se em conta as médias históricas do pulso das águas. É interessante observar que o período de inundação, de 83 dias, da área da horta corresponde à diferença de 0,83 metro entre a cota mais baixa da horta (6,08 metros), no trecho H – G, e cota mais alta da área do sítio (7,72 metros), no trecho E – F (Figura 3).
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FIGURA 3.
Planta baixa e perfil de uma unidade de produção familiar em Coari, na várzea do Rio Solimões, com os cultivos que ocorriam em dezembro de 2003. Amostra Nº 6.
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FIGURA 4.
Leito parcialmente seco no paraná da Ilha do Ariá no período da vazante (dezembro de 2003), Coari/AM.
FIGURA 5.
Área de cultivo de hortaliças (alface, cebolinha e tomate) localizada entre as cotas 6,08-7,20 metros. Coari/AM.
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111
112
3 16.10.2003
18.10.2003
Paraná do Careiro/Careiro da Várzea
8
9
13.10.2003
09.12.2003
08.12.2003
04.12.2003
03.12.2003
Ilha do Baixio/Iranduba
7
Costa do Marrecão/Manacapuru
São Francisco/Coari
6
Boa Vista/Tefé
4
Santa Rosa/Coari
Paraná de Tefé/Tefé
3
28.11.2003
25.11.2003
Data da Observação
9,50 - 9,27
Várzea baixa
Várzea Baixa
8,77 (G) - 9,24 (H)
8,85 (E) - 9,24 (F)
9,50 - 9,27
Restinga Baixa
Várzea Alta
9,50 - 9,27
Restinga
2,10 (C) - 4,51 (D)
9,50 - 10,61
Vazante
6,08 (G) - 7,20 (H)
Lombada Restinga Alta
4,70 (A) - 7,36 (B)
Lombada
7,38 (E) - 7,72 (F)
Lombada/ Restinga
Restinga
Lombada
6,39 (C) - 9,34 (D)
Vazante
Vazante
Vazante
Restinga
Vazante
Restinga
Restinga
Restinga
Vazante
Restinga
9,00 (A) - 10,16 (B)
Várzea Alta Várzea Baixa
Restinga Restinga
Restinga
6,82 - 7,03 4,27 - 5,65
7,45 - 7,57
Várzea Alta
Restinga Vazante
Restinga
Restinga
Vazante
Lombada
Lombada
Sítio
Roça
Cultivo
Cultivo
Cultivo
Cultivo
Cultivo
Cultivo
Horta
Sítio
Cultivo
Sítio
Horta Cultivo
Sítio
Criação Roça
Sítio
Bananal
Roça
Sítio
Criação
Unidade de Componente Paisagem
Restinga Baixa Restinga Baixa
5,87 - 6,87 3,88 - 4,63
6,33 7,14 7,72 - 7,91
Baixa Restinga
Terreiro Baixada
6,90 - 7,16
Lombada
7,72 - 7,91
7,14 - 7,16
Lombada Alta
Restinga
Amplitude de Cota em relação à lâmina d'água (m)
Denominação Local
açaí, acerola, banana, cacau, caju, coco, cupuaçu, graviola, goiaba, ingá, laranja, limorana, mamão, manga,
macaxeira, banana
tomate, milho
malva, melancia, jerimum
malva
malva
macaxeira, mamão, milho, banana, caupi
malva
repolho, quiabo, melão, jerimum, tomate, mandioca, macaxeira
açaí, acerola, bacaba, banana, cacau, coco, genipapo, goiaba, graviola, laranja, limão, manga, pupunha
maxixe, tomate, malva, milho, cebolina
banana, cacau, goiaba, jambo
couve, coentro, melancia, cebolinha, tomate, pimentão, milho milho, melancia
açaí, acerola, bacaba, banana, cacau, caju, cuieira, cupuaçu, graviola, goiaba, jambo, laranja, lima, limão, cravo, tangerina, manga, pupunha
galinha milho, mandioca, macaxeira, melancia
abacate, abiu, açaí, banana, coco, cupuaçu, genipapo, goiaba, ingá, jambo, laranja, macaxeira, mamão, mapati, sapota
banana peruana
mandioca, milho
abacate, açaí, banana, cacau, cuieira, goiaba, ingá, jambo, laranja, limão, tangerina, manga, pupunha, taperebá, urucum
porco
Espécies Cultivadas
21:41
5
Deus Ajuda/B. Constant
2
Teresina/Tabatinga
Local/Município
26.03.08
2
1
1
MicrorAmostra região (Verticalização)
TABELA 2. Posição topográfica dos componentes dos sistemas de produção agrícola de várzea na calha Solimões-Amazonas, trecho Tabatinga, Am - Gurupá, PA.
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Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
06.11.2003
07.11.2003
11.11.2003
03.02.2004
07.02.2004
05.02.2004
15.02.2004
10.02.2004
13.02.2004
Ilha do Risco/Itacoatiara
Costa do Rebojão/Silves
Igarapé do Boto/Parintins
Paraná de Parintins/Parintins
Costa do Saracura/Parintins
Vila Roberta/Óbidos
Paraná do Cachoeri/Oriximiná
Baixo Trombetas/Oriximiná
11
12
13
14
15
16
17
18
Data da Observação
Paraná do Serpa/Itacoatiara
Local/Município
10
Amostra (Verticalização)
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
Vazante
1,08 - 1,30
Várzea Baixa
Praia
Restinga
Terra-Firme
0,00 - 3,24
Restinga
Restinga
Restinga
Restinga
Aba Vazante
Restinga
Restinga
Terra-Firme
2,36 - 2,37
Praia
3,09 - 3,37
Terra Plana Terra Plana
2,55 - 2,95
Várzea Baixa
3,44 (I) - 3,50 (J) 1,93 (K) - 2,86 (L)
Teso Teso/Baixo
1,44 (C) -2,36 (D) 0,00 (E) - 1,44 (F) 3,44 (G) - 3,50 (H)
Aba Teso
3,69 (A) - 3,80 (B)
Restinga Alta
Restinga Restinga
Restinga
Vazante Beiradão
Restinga
Restinga
Plantio
Sítio
Cultivo
Cultivo
Sítio
Terreiro
Cultivo/Pasto
Terreiro
Cultivo Roça
Roça/Horta
Sítio
Pasto Horta
Sítio
Cultivo Pasto
Sítio
Sítio
Roça Pasto
Sítio
Componente
milho, malancia, feijão
feijão abacate, goiaba, genipapo, laranja, mamão, mangueira, tangerina, umari, banana
jerimum, banana
bacuri, banana, cacau, carambola, castanha de macaco, castanha sapucaia, cuieira, genipapo, goiaba, jambo, limão, mamão, mangueira, mari, marimari, seringueira, taperebá, urucum
acerola, banana, castanha sapucaia, coco, cuieira, genipapo, ingá, laranja, mamão, mari, tucumã
milho macaxeira araticum, azeitona, banana, genipapo, goiaba, ingá, limão, mamão, mari, urucum malva/pastagem
macaxeira, jerimum, maxixe
abiu, açaí, acerola, apuí, araçá-boi, bacaba, banana, buriti, cacau, cacauí, caferana, cajá, castanha de macaco, coco, cuieira, cupuaçu, fruta-pão, genipapo, graviola, goiaba, ingá, jambo, limão, limorana, mangueira, mari, marimari, murici, mutamba, seringa, tapereba, tapeba
tomate, repolho
abiu, acerola, azeitona, banana, cuieira, graviola, goiaba, ingá, jambo, laranja, manga açaí, bacaba, bacabão, banana, buriti, cacau, cajá, castanha de macaco, cuieira, genipapo, goiaba, graviola, ingá, jambo, laranja, lima, limão, manga, tapeba, urucum milho, jerimum capim (terra e água, murim) abacate, acerola, ata, caju, cuieira, genipapo, graviola, goiaba, jambo, laranja, tangerina, mamão, tamarindo, uruá, urucum
açaí, bacaba, banana, cacau, caju, cuieira, aupuaçu, genipapo, goiaba, jambo, jatobá, limão, manga, seringa, urucum mandioca, macaxeira, milho, jerimum, melancia
Espécies Cultivadas
21:41
Restinga Baixa
3,40 - 3,79 3,40 - 3,79
3,40 (A) - 3,79 (B)
Restinga Alta Restinga Alta Restinga Alta
6,69 - 6,70 5,56 - 6,69
6,60 - 7,96
Várzea Alta Várzea Baixada
7,70 - 8,06
Restinga Restinga
Restinga
7,75 - 8,17 7,40 7,90 6,39 - 7,40
Unidade de Paisagem
Amplitude de Cota em relação à lâmina d'água (m)
Várzea
Várzea
Denominação Local
26.03.08
5
4
Microrregião
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113
114
25
Fortaleza/Gurupá
24
Ilha Santa Bárbara/Gurupá
02.03.2004 (11:55 horas)
Rio Cojuba/Gurupá
23
06.03.2004 (10:30 horas)
1,26 (M) - 1,40 (N) 0,98 1,03 0,98 - 1,03 1,98 -2,17
Restinga Teso Teso Restinga/Baixi o
Várzea Baixa
Várzea Baixa 0,00 - 0,14
0,00 - 0,14
1,99 - 2,00
Cultivo
1,26 (K) - 1,40 (L)
Restinga
Lombada Alta
Sítio
0,00 (I) - 1,34 (J)
Restinga
Restinga
Praia
Sítio
Cultivo
Roça
Sítio
Roça
Sítio
Roça
Sítio
Praia
Restinga
0,88 (G) - 1,34 (H)
Cultivo
Cultivo
Restinga
Vazante
Vazante
1,25 (E) - 1,54 (F)
1,45 (C) - 1,60 (D)
Sítio
Sítio
Componente
Várzea Baixa
Várzea Baixa
Vazante
Várzea Baixa
Unidade de Paisagem
Terra-Firme
2,32 (A) - 2,40 (B)
Amplitude de Cota em relação à lâmina d'água (m)
Terra-Firme
Denominação Local
abacate, açaí, banana, caju, cuieira, fruta-do-conde, goiaba-araçá, ingá, limão, manga
arroz, milho, cana-de-açúcar, açaí
milho, macaxeira, ária
abacate, açaí, bacaba, biribá, cacau, caju, coco, cuieira, graviola, goiaba, ingá, limão, manga, seringa.
milho, arroz, maxixe, melancia, jerimum, feijão
açaí, acerola, banana, cacau, coco, genipapo, graviola, goiaba, ingá, jambo, laranja, manga
mandioca, milho, feijão, melancia, jerimum
açaí, acerola, banana, coco, cuieira, fruta-pão, graviola, goiaba, ingá, mamão, manga
mandioca acerola, araçá, banana, cacau, caju, castanha-de-macaco, coco, cuieira, curumanzeiro, fruta do conde, graviola, goiaba, ingá, mamão, manga, mari, pupunha, seringa, tucumã, uichi, urucum mandioca, juta
acerola, ata, azeitona, banana, buriti, cacau, caju, cuieira, cumaru, cupuaçu, fruta-pão, graviola, goiaba, ingá, jambo, laranja, lima, limão, manga, mari, murici, pajurá, pitomba, pupunha, tucumã, urucum acerola, banana, caju, castanha-sapucaia, catoari, cuieira, fruta-doconde, genipapo, graviola, goiaba, ingá, mamão, manga, sapoti, uichi, urucum milho
Espécies Cultivadas
21:41
04.03.2004 (09:00 horas)
27.02.2004
Região do Tapará/Santarém
22
Boca de Cima do 21.02.2004 Aritapera/Santarém
20
Costa do 24.02.2004 Aritapera/Santarém
18.02.2004
Lago Grande Curuaí/Santarém
19
21
Data da Observação
Local/Município
Amostra (Verticalização)
26.03.08
6
5
Microrregião
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Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
Data
Cota
C
D
E F
A
B
C
D
E
F
1
1
1 1
2
2
2
2
2
2
A B
1 1
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
28/11/03
28/11/03
28/11/03
-410
-398
-425
-417
-425
21/0304
19/03/04
27/03/04
22/03/04
27/03/04
19/03/04
Não Prevista Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista Não Prevista
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Não Prevista Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista Não Prevista
01/05/04
01/05/04
01/05/04
01/05/04
01/05/04
01/05/04
01/05/04 01/05/04
01/05/04
01/05/04
01/05/04 01/05/04
Data
108
118
92
102
92
118
-15 -97
-99
-82
-97 -99
Cota
21/03/04
19/03/04
27/03/04
22/03/04
27/03/04
19/03/04
Não Prevista Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista Não Prevista
Inicio
09/06/04
10/06/04
05/06/04
08/06/04
05/06/04
10/06/04
Não Prevista Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista Não Prevista
Final
Previsão de início e final de inundação
Ano Todo Ano Todo 11/06/04 até 18/03/05 06/06/04 até 26/03/05 09/06/04 até 21/03/05 06/06/04 até 26/03/05 11/06/04 até 18/03/05 10/06/04 até 20/03/05
Ano Todo
Ano Todo
Ano Todo Ano Todo
Nos Pontos
11/06/04 até 18/03/05 (280 dias)
09/06/04 até 21/03/05 (285 dias)
11/06/04 até 18/03/05 (280 dias)
Ano Todo (365 dias)
Ano Todo (365 dias)
Ano Todo (365 dias)
Área Total
Previsão de período não inundado
Roça
Sítio
Bananal
Roça
Sítio
Criação
Componente
mandioca
abacate, abiu, açaí, banana, coco, cupuaçu, genipapo, goaiaba, ingá, jambo, laranja, macaxeira, mamão, mapati, sapota
banana peruana
mandioca, milho
abacate, açaí, banana, cacau, cuieira, goiaba, ingá, jambo, laranja, limão, tangerina, manga, pupunha, taperebá, urucum.
Suíno
Espécies cultivadas
21:41
28/11/03
28/11/03
-398
-541 -622
-624
-608
-622 -624
Cota
Máximo
26.03.08
28/11/03
25/11/03 25/11/03
25/11/03
25/11/03
25/11/03 25/11/03
Data
Ao nível do solo
Lâmina d'água em relação ao nível do solo (cm)
Observado
BENJAMIN CONSTANT E TABATINGA
Local (*)
TABELA 3. Efeito da altitude (em relação à lâmina d'água do canal pincipal de drenagem) sobre a composição florística dos componentes do sistema de produção agrícola. Várzeas do Rio Solimões-Amazonas.
04_agricultura.qxp:Layout 1 Page 115
115
116
E
F
4
4
C
D
E
F
G
H
5
6
6
6
6
5
5
A
B
5
09/12/03
09/12/03
09/12/03
09/12/03
08/12/03
08/12/03
08/12/03
08/12/03
09/12/03
08/12/03
07/12/03
06/12/03
05/12/03
04/12/03
06/12/03
05/12/03
04/12/03
-720
-608
-772
-738
-934
-639
-1016
-900
-427
-363
-703
-682
-757
-745
-463
-388
-687
-597
Cota
29/06/04
17/05/04
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
18/05/04
Não Prevista
Não Prevista
28/03/04
17/03/04
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
04/04/04
29/03/04
Não Prevista
06/05/04
Data
Zero
Zero
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Zero
Não Prevista
Não Prevista
Zero
Zero
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Zero
Zero
Não Prevista
Zero
Cota
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
01/07/04
01/07/04
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
01/07/04
01/07/04
01/07/04
01/07/04
Data
Máximo
10
110
-55
-20
-210
105
-195
-170
226
278
-52
-38
-114
-93
202
261
-18
70
Cota
29/06/04
17/05/04
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
18/05/04
Não Prevista
Não Prevista
28/03/04
17/03/04
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
04/04/04
21/03/04
Não Prevista
06/05/04
Inicio
01/07/04
07/08/04
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
07/08/04
Não Prevista
Não Prevista
05/08/04
09/08/04
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
01/01/04
08/08/04
Não Prevista
11/07/04
Final
Previsão de início e final de inundação
02/07/04 até 28/06/05
08/08/04 até 16/05/05
Ano Todo
Ano Todo
Ano Todo
08/08/04 até 17/05/05
Ano Todo
Ano Todo
06/08/04 até 27/03/05
10/08/04 até 16/03/05
Ano todo
Ano todo
Ano todo
Ano todo
12/07/04 até 05/05/05 Ano todo 09/08/04 até 28/03/05 02/02/04 até 03/04/05
Nos Pontos
08/08/04 até 16/05/05 (282 dias)
Ano Todo (365 dias)
08/08/04 até 17/05/05 (283 dias)
Ano Todo (365 dias)
10/08/04 até 16/03/05 (218 dias)
Ano todo (365 dias)
Ano todo (365 dias)
09/08/04 até 28/03/05 (229 dias)
12/07/04 até 05/05/05 (296 dias)
Área Total
Previsão de período não inundado
Horta
Sitio
Plantio
Sitio
Cultivo
Horta
Sítio
Roça
Criação
Componente
repolho, quiabo, melão, jerimum, tomate, mandioca e macaxeira
açaí, acerola, bacaba, banana, cacau, coco, jenipapo, goiaba, graviola, laranja, limão, manga e pupunha
maxixe, tomate, malva, milho e cebolinha
banana, cacau, goiaba e jambo
milho e melancia
couve, coentro, melancia, cebolinha, tomate, pimentão, milho
açaí, acerola, bacaba, banana, cacau, caju, cuiera, cupuaçu, graviola, goiaba, jambo, laranja, lima, limão-cravo, tangerina, manga, pupunha.
milho, mandioca, macaxiera e melancia
galinha
Espécies cultivadas
21:41
COARI
D
4
A
4
B
D
3
C
C
3
4
B
3
03/12/03
Data
Ao nível do solo
Lâmina d'água em relação ao nível do solo (cm)
26.03.08
4
A
3
TEFÉ
Local (*)
Observado
04_agricultura.qxp:Layout 1 Page 116
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
B
C
D
8
8
8
18/10/03
18/10/03
16/10/03
16/10/03
Data
E
F
G
H
9
9
9
-885
-924
-877
-924
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Zero
Zero
Zero
Zero
Cota
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
Data
-135
-80
-135
-90
310
548
30
290
Cota
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
22/04/04
19/02/04
09/06/04
30/04/04
Inicio
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
03/09/04
26/09/04
03/08/04
31/08/04
Final
Ano Todo
Ano Todo
Ano Todo
Ano Todo
01/09/04 até 29/04/05 04/08/04 até 10/06/05 27/09/04 até 18/02/05 04/09/04 até 21/04/05
Nos Pontos
Ano Todo (365 dias)
Ano Todo (365 dias)
27/09/04 até 18/02/05 (145 dias)
01/09/04 até 29/04/05 (241 dias)
Área Total
Previsão de período não inundado
Sitio
Plantio
Plantio
Plantio
Componente
açaí, acerola, banana, cacau, caju, coco, cupuaçu, graviola, goiaba, ingá, laranja, limorana, mamão e manga
macaxeira e banana
tomate e milho
malva, melancia, mandioca e jerimum
Espécies cultivadas
21:41
18/10/03
18/10/03
18/10/03
18/10/03
22/09/04
19/02/04
09/06/04
30/04/04
Data
Previsão de início e final de inundação
26.03.08
9
-451
-210
-736
-470
Cota
Lâmina d'água em relação ao nível do solo (cm) Observado Ao nível do solo Máximo
CAREIRO DA VÁRZEA
A
8
IRANDUBA
Local (*)
04_agricultura.qxp:Layout 1 Page 117
117
118
A
B
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
L
13
13
14
14
14
14
14
14
15
15
15
15
15
15
PARINTINS
Local (*)
05/02/04
05/02/04
05/02/04
05/02/04
05/02/04
05/02/04
07/02/04
-286
-193
-350
-344
-350
-344
-144
Zero
-236
12/04/04
21/03/04
27/05/04
21/05/04
27/05/04
21/05/04
16/03/04
07/02/04
31/03/04
18/03/04
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
10/05/04
Data
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
Zero
Cota
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
30/06/04
Data
100
365
15
15
15
20
220
360
135
220
-15
-5
-15
30
Cota
12/04/02
21/03/04
27/05/04
21/05/04
27/05/04
21/05/04
16/03/04
07/02/04
31/03/04
18/03/04
Não Prevista
não Prevista
Não Prevista
10/05/04
Inicio
20/08/04
05/09/04
19/07/04
19/07/04
17/07/04
19/07/04
10/09/04
02/10/04
31/08/04
12/09/04
Não Prevista
Não Prevista
Não Prevista
09/08/04
Final
Previsão de início e final de inundação
21/08/04 até 11/04/05
06/09/04 até 20/03/05
20/07/04 até 26/05/05
20/07/04 até 20/05/05
18/07/04 até 26/05/05
20/07/04 até 20/05/05
11/09/04 até 15/03/05
03/10/04 até 06/02/05
01/09/04 até 30/03/05
13/09/04 até 17/03/05
Ano Todo
Ano Todo
Ano Todo
10/08/04 até 09/05/05
Nos Pontos
06/09/04 até 20/03/05 (196 dias)
20/07/04 até 20/05/05 (305 dias)
20/07/04 até 20/05/05 (305 dias)
03/10/04 até 06/02/05 (127 dias)
13/09/04 até 17/03/05 (186 dias)
Ano Todo
10/08/04 até 09/05/05 (275 dias)
Área Total
Previsão de período não inundado
Plantio/Pasto
Sitio
Plantio
Plantio
Plantio / Horta
Sitio
Sitio
Componente
malva e pastagem
araticum, azeitona, banana, jenipapo, goiaba, ingá, limão, mamão, mari e urucum
macaxeira
milho
macaxeira, jerimum e maxixe
abiu, açaí, acerola, apui, araçá boi, bacaba, banana, buriti, cacau, cacauí, caferana, cajá, castanha-de-macaco, coco, cuieira, cupuaçu, fruta pão, jenipapo, graviola, goiaba, ingá, jambo, limão, limorana, mangueira, mari, mari-mari, murici, mutamba, seringueira e taperebá
abacate, acerola, ata, caju, cuieira, jenipapo, graviola, goiaba, jambo, laranja, tangerina, mamão, tamarindo, urua e urucum
Espécies cultivadas
21:41
07/02/04
07/02/04
-144
-380
-369
-379
-340
Cota
Lâmina d'água em relação ao nível do solo (cm) Ao nível do solo Máximo
26.03.08
07/02/04
07/02/04
07/02/04
03/02/04
03/02/04
Data
Observado
04_agricultura.qxp:Layout 1 Page 118
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
L
M
N
20
20
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
20
20
20
21
21
21
21
23
23
23
23
27/02/04
27/02/04
27/02/04
27/02/04
24/02/04
24/02/04
24/02/04
-140
-126
-140
-126
-134
Zero
-134
-88
-154
-125
-160
-145
-240
-232
Cota
13/04/04
07/04/04
13/04/04
07/04/04
07/04/04
24/02/04
07/04/04
22/03/04
08/04/04
31/03/04
14/04/04
05/04/04
08/05/04
07/05/04
Data
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Zero
Cota
31/05/04
31/05/04
31/05/04
31/05/04
31/05/04
31/05/04
31/05/04
31/05/04
31/05/04
31/05/04
31/05/04
31/05/04
31/05/04
31/05/04
Data
Máximo
110
130
110
130
130
250
130
120
120
150
95
130
30
40
Cota
13/04/04
07/04/04
13/04/04
07/04/04
07/04/04
24/02/04
07/04/04
23/03/04
06/04/04
31/03/04
14/04/04
05/04/04
08/05/04
07/05/04
Inicio
09/08/04
12/08/04
09/08/04
12/08/04
11/08/04
16/09/04
11/08/04
20/08/04
11/08/04
15/08/04
06/08/04
12/08/04
07/07/04
09/07/04
Final
Previsão de início e final de inundação
17/09/04 até 23/02/05 12/08/04 até 06/04/05 13/08/04 até 06/04/05 10/08/04 até 12/04/05 13/08/04 até 06/04/05 10/08/04 até 12/04/05
12/08/04 até 06/04/05
10/07/04 até 06/05/05 08/07/04 até 07/05/05 13/08/04 até 04/04/05 07/08/04 até 13/04/05 16/08/04 até 30/03/05 12/08/04 até 07/04/05 21/08/04 até 21/03/05
Nos Pontos
13/08/04 até 06/04/05 (237 dias)
13/08/04 até 06/04/05 (237 dias)
17/09/04 até 23/02/05 (160 dias)
21/08/04 até 21/03/05 (213 dias)
16/08/04 até 30/04/05 (258 dias)
13/08/04 até 04/04/05 (235 dias)
10/07/04 até 06/05/05 (301 dias)
Área Total
Previsão de período não inundado
Plantio
Sitio
Plantio
Sitio
Plantio
Plantio
Sitio
Componente
mandioca, milho, feijão, melancia e jerimum
açaí, acerola, banana, coco, cuieira, fruta-pão, graviola, goiaba, ingá, mamão e manga
mandioca e juta
acerola, araçá, banana, cacau, caju, castanhade-macaco, coco, cuieira, curumanzeiro, frutado-conde, graviola, goiaba, ingá, mamão, manga, mari, pupunha, seringueira, tucumã, uichi e urucum
mandioca
milho
acerola, banana, caju, castanha sapucaia, catuari, cuieira, fruta do conde, jenipapo, graviola, goiaba, ingá, mamão, manga, sapoti, uichi e urucum
Espécies cultivadas
21:41
24/02/04
21/02/04
21/02/04
21/02/04
21/02/04
21/02/04
21/02/04
Data
Ao nível do solo
26.03.08
(*) Local: Números de 1 a 23 – Amostra da verticalização; Letras seqüenciadas em pares - Pontos de maior e menor cota
A
20
SANTARÉM
Local (*)
Lâmina d'água em relação ao nível do solo (cm)
Observado
04_agricultura.qxp:Layout 1 Page 119
119
04_agricultura.qxp:Layout 1
26.03.08
21:41
Page 120
Dos oito sítios amostrados nessa pesquisa quatro estão em áreas inundáveis somente na ocorrência de enchentes acima dos níveis da média histórica e estão localizadas na região de Coari, Manaus e Parintins. Um sítio de Parintins apresentou o maior número de espécies frutíferas arbóreas (32 espécies) e a segunda em área ocupada pelo sítio (1,75 hectares), situada em uma faixa de terreno (50x350 metros) de cota mais elevada (entre 3,69 e 3,80 metros, na data da observação). Todos os sítios permanecem com as áreas livres da inundação, no mínimo, por 213 dias, mesmo estando localizados em áreas sujeitas a inundações nos anos em que os níveis da enchente situam-se na média histórica. Entretanto, as enchentes acima das médias históricas é um fator que limita o cultivo de espécies perenes menos adaptadas aos ambientes úmidos. Na figura 6, onde são apresentadas as espécies frutíferas cultivadas e freqüência de ocorrência na unidade de produção da localidade de São Francisco Padre Lima, município de Coari, algumas espécies muito valorizadas como a laranja e o coco são cultivadas no sítio, mas com baixa frequência. Unidades de produção localizadas em áreas sujeitas às inundações apresentam significativa participação de espécies frutíferas arbóreas geneticamente adaptadas aos ambientes de solos encharcados. Por exemplo, em uma unidade de produção da Costa do Aritapera, no município de Santarém, cujo sítio localiza-se em uma área sujeita à inundação durante 152 dias (Tabela 3), das 21 espécies encontradas 14 são adaptadas aos ambientes úmidos, segundo FAO (1986) e Purseglove (1982). Espécies mais sensíveis aos ambientes de solos encharcados (do gênero Citrus, de maneira geral, cupuaçu, pupunha, abacate), de acordo com FAO (1986) e Purseglove (1982), raramente são encontradas nos sítios sujeitos às inundações, pois o desenvolvimento é extremamente prejudicado. Pela Tabela 1 é possível comparar dois sítios, um localizado em área de várzea do Igarapé de Parintins (Amostra 14), no município de Parintins e o outro localizado em área de terra-firme, no Lago Grande de Curuaí (Amostra 19), no município de Santarém. A unidade de várzea apresenta 32 espécies frutíferas arbóreas, enquanto a de terra-firme apresenta 27 espécies. A maior diversidade genética no sítio de várzea deveu-se à presença de espécies pouco tolerantes aos ambientes úmidos (bacaba, coco, cupuaçu, fruta-pão, jambo, limão), ao passo que o sítio de terra-firme não apresenta espécies de várzea como o açaí, castanha-de-macaco, jenipapo e taperebá.
120
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
FIGURA 6.
Distribuição espacial de espécies agrícolas no sítio. Localidade: São Francisco Padre Lima. Ilha do Ariá. Coari. 09.12.2003. Amostra Nº 6.
04_agricultura.qxp:Layout 1 26.03.08
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
21:41 Page 121
121
04_agricultura.qxp:Layout 1
26.03.08
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Pela comparação entre as unidades de produção localizadas na mesma região, mas com diferenças no tocante à altitude em relação à lâmina d’água pode-se inferir que a agrodiversidade é maior nas áreas menos sujeitas às inundações. Por exemplo, no Baixo Solimões, a unidade de produção localizada no município de Iranduba, ocupando áreas agricultáveis entre 145 a 241 dias por ano e a outra localizada no município de Careiro da Várzea, com áreas não inundáveis nos anos em que os níveis médios históricos são observados, verifica-se que, enquanto no primeiro somente é possível serem cultivadas espécies anuais com ciclo, no máximo, de 8 meses, na segunda são cultivadas espécies frutíferas arbóreas pouco tolerantes aos solos encharcados como cupuaçu, laranja e mamão. Nas áreas de roças e de cultivo de espécies de ciclo curto, os resultados mostram que, como já apontaram autores como Guillaumet et al. (1990 e 1993), os plantios são efetuados de acordo como a descida das águas iniciandose com as de ciclo mais longo, como a mandioca e macaxeira, a seguir as espécies de ciclo mais reduzido produtoras de grãos e as hortaliças (feijão, milho, melancia, jerimum) e deixando para o final do período de semeadura aquelas de ciclo mais curto e que necessitam de água no processo de beneficiamento (juta, malva). As praias, nos locais onde ocorrem, muitas vezes são aproveitadas para o plantio de batata-doce e feijões. Os trabalhos de Pinto (1982) e Noda (1985) apontam que desde a Segunda Guerra Mundial, a estratégia de manejo dos recursos pelo homem da várzea tem se desenvolvido em relação à produção da juta, com a pesca e a pecuária de pequena escala funcionando como importantes atividades complementares. Cada uma dessas atividades concentra-se em um habitat particular, permitindo assim que os “varzeiros” explorem simultaneamente diferentes zonas ecológicas da paisagem da várzea. Os autores relatam que os espaços denominados restingas foram os locais favoráveis à ocupação humana e à produção de juta, os lagos de várzeas sempre serviram como principais áreas de pesca, e as pastagens naturais usadas para a pecuária no período de águas baixas. Na região do estuário, no município de Gurupá, a diferença de cota das águas entre o pico da enchente e a seca máxima é de 2 metros, levando-se em contas os níveis médios históricos. Os resultados sugerem que o efeito do pulso das águas naquela região, aparentemente, não é relevante como nas demais regiões estudadas. Tomando como indicadores a presença de espécies frutíferas arbóreas observamos que todas as unidades de produção amostradas no
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município de Gurupá, apresentam espécies pouco tolerantes aos solos encharcados (gênero Citrus) tanto em um sítio localizado em área com cota entre 1,98-2,17 metros, na data de observação, como naquelas de cota menores. Uma característica marcante dos sítios daquele município é alta freqüência do açaí (Euterpe oleracea Mart.) e, ao contrário do que ocorreu nas demais regiões levantadas, a freqüência relativamente baixa da mandioca nas roças. Levando-se em conta as limitações impostas pela localização topográfica (altitude) dos sítios, podemos observar que algumas espécies são características de determinadas regiões. Por exemplo, o mapati (Pourouma cecropiaefolia Mart.) aparece somente no extremo oeste (Alto Solimões), enquanto espécies como castanha-de-macaco (Couroupita guianensis Aubl.) e castanha sapucaia (Lecythis pisonis Camb.), começam aparecer a partir de Silves indo na direção leste até Santarém, no Baixo Amazonas. Como já frisaram Lima (1994) e Lima & Saragoussi (2000), os sítios são os locais onde novas cultivares e novas espécies são introduzidas e testadas e as de uso corrente pela família são mantidas, como um recurso para a restauração das roças e outros tipos de plantios, inclusive com estratégias próprias para fazer frente às enchentes. Desse modo, nos casos em que não ocorram limitações quanto à adaptação ambiental de espécies, seria interessante incentivar um processo de compartilhamento de recursos genéticos entre as regiões para elevar os níveis de biodiversidade dos sistemas agrícolas. Segundo Begossi (2001), a apropriação dos espaços anfíbios das áreas de várzea, pelos agricultores familiares é apresentada como representação social dos mecanismos de adaptação às características peculiares desse ambiente. A autora aponta para a questão do nível das águas ser normalmente, um importante aspecto da vida dos caboclos, pois sua subsistência, baseada na agricultura de pequena escala e na pesca, está adaptada e realiza-se sob o ritmo dos pulsos das águas. Por outro lado, Denevan (2001) apresenta o homem que ocupa a várzea como um indivíduo que desenvolveu estratégias adaptativas peculiares, principalmente, nos aspectos de utilização dos recursos naturais aquáticos e terrestres. O habitante da várzea faz uso do solo para atividades agrícolas, pecuárias e extrativistas numa racionalidade de ocupação do espaço em acordo com o ecossistema. Com o fenômeno das enchentes dos rios, as atividades produtivas obedecem a uma lógica temporal, aliada a racionalidade espacial apontada, no que diz respeito aos efeitos de suporte a fertilização dos solos e aos ciclos produtivos dos vegetais (Noda et al., 2001).
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MANEJO DOS RECURSOS DISPONÍVEIS E COEFICIENTES FITOTÉCNICOS Em toda a calha Solimões-Amazonas, o cultivo da mandioca e macaxeira é realizada sob a forma de consórcio com hortaliças, feijão, milho, banana e outras fruteiras ou em monocultivo e a produção destinada ao consumo e venda. O cultivo de mandioca é comum a todas as regiões na Amazônia (Peroni, 1998). As cultivares contendo altos teores de ácido cianídrico (venenosas) são denominadas mandioca e as com baixos teores (não venenosas) macaxeira, ambas da espécie Manihot esculenta. A mandioca é um componente básico do sistema de produção agrícola na Amazônia devido sua dupla finalidade: subsistência e comercialização. A farinha de mandioca é, praticamente, o único produto agrícola que não é comercializado in natura. Assim como os povos autóctones da Amazônia, o pequeno produtor transforma quase toda a sua produção de mandioca em farinha utilizando-se de processos inteiramente artesanais. A mandioca é plantada quando as águas baixam e a colheita é realizada no sexto mês. Quando ocorrem cheias grandes ou antecipadas, pode haver perda de parte da produção. A amplitude de variação do rendimento ficou entre 1,25 a 2,70 toneladas/ha e o maior rendimento em farinha foi estimado para o Médio Solimões com 3,60 a 4,00 t/ha. A produtividade em raízes, estimada na região do Médio Amazonas foi de 10 t/ha. A maior variabilidade genética da espécie na várzea foi encontrada no Baixo Amazonas com 19 variedades de mandioca e 8 de macaxeira. Em área de terra-firme adjacente à várzea, em Santarém, no Baixo Amazonas, foram encontradas 13 variedades de mandioca e 2 de macaxeira. Em três unidades de produção, em Oriximiná e Óbidos, a mandioca e ou macaxeira não foram cultivadas no ano agrícola 2003/2004. Os agricultores visitados naquelas localidades informaram que parte do atendimento às suas necessidades em farinha de mandioca é suprida por parentes que fazem o cultivo na terra-firme. Gurupá, no Estuário, foi onde a diversidade genética em termos de variedades (clones) de Manihot esculenta Crantz se mostrou mais pobre, com apenas uma variedade mansa (macaxeira). O milho é produzido em monocultivo e o rendimento estimado em grãos variou de 640 kg/ha (Alto Solimões) até 2 t/ha (Médio Solimões). Para a produção em espiga verde, o rendimento estimado foi de 2.000 a 4.800 unidades/ha em consórcio e 15.000 unidades/ha em monocultivo e são
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cultivadas 3 variedades. A produção é destinada ao consumo e venda. Quando é plantado, também, em consórcio com arroz, jerimum, melancia, melão, tomate ou mandioca. Em Parintins, no Baixo Amazonas, foram encontradas em duas unidades de produção a maior diversidade genética em banana (16 espécies ou variedades) cultivadas em monocultivo e consórcio. De maneira geral, a diversidade é grande e os rendimentos estimados em cachos variaram de 60 unidades/mês/ha em consórcio e 400 a 1000 unidades/mês/ha em monocultivo por unidade de produção. O feijão caupi foi encontrado sendo plantado em uma unidade de produção e sua colheita destinada para a venda e o rendimento foi estimado entre 1 a 2 t/ha. O feijão de metro é cultivado em consórcio para consumo e venda e o rendimento estimado é de 10 maços/semana, na região do Médio Amazonas. Em duas unidades de produção foi detectado o cultivo de espécies industriais para extração de fibras. O cultivo da malva é uma espécie industrial que está voltando à várzea do Estado do Amazonas sendo detectada nos município de Tefé, Iranduba e Parintins. Em Tefé, o rendimento da malva é estimado em 1 t/ha de fibra. Em Santarém foi encontrado um cultivo de juta, em uma área de 1 hectare e o rendimento esperado foi de 2 t/ha. Geralmente, as unidades de produção de todas as regiões possuem sítios onde são cultivadas espécies arbóreas frutíferas, hortaliças e medicinais. Duas unidades, em Tefé e Iranduba, não possuíam sítios por estarem localizadas em áreas baixas e, portanto, sujeitas às inundações todos os anos. No Paraná do Serpa, em Itacoatiara, foi encontrado o maior sítio de toda a área levantada neste estudo (19.600 m2), onde as presenças de seringueira e cacau predominam, evidenciando ser uma antiga área de produção dessas duas espécies. No município de Santarém, a banana sempre é uma das principais ocorrências. Provavelmente, algumas espécies são enfatizadas em função da sua comercialização. Em Tapará, no município de Santarém, localiza-se o menor sítio com 957 m2 e com 19 espécies frutíferas arbóreas. Animais de pequeno porte (galinhas, patos, paturi, ganso e porco) são criados na área do sítio e destinados ao consumo e venda. Em Parintins, foi constatada, também, a criação de abelha sem ferrão (16 colméias). A olericultura é uma prática generalizada, sendo a produção destinada ao consumo e venda. As espécies olerícolas mais cultivadas são o tomate, pimentão, couve, mastruz, cebolinha, coentro, alfavaca, pimenta, pepino, maxixe, feijão de metro, jerimum, repolho, melão, chicória e jambu. Segundo
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Pahlen et al. (1979) as várzeas são as áreas onde ocorrem as maiores produções de hortaliças que abastecem parte da demanda, principalmente as espécies não convencionais, das cidades amazônicas. Em Itacoatiara, Parintins e Oriximiná, algumas hortaliças são produzidas em canteiros suspensos e destinadas, principalmente, para comercialização. Nos municípios localizados no interior dos Estados do Amazonas e do Pará, mesmo no período da cheia, as sedes são abastecidas com hortaliças da várzea, produzidas em canteiros suspensos em substrato composto por esterco de gado e restos de tronco de árvores acondicionados em estruturas de madeira, que permanecem acima do nível d’água nas enchentes (IDAM, 2002; Prefeitura Municipal de Parintins, 2004; Prefeitura Municipal de Oriximiná, 2002 e 2003). O município de Parintins é abastecido com olerícolas como tomate, maxixe, pimentão, alface, feijão de metro e berinjela, obtidas com essa técnica e produzidas nas comunidades rurais localizadas ao longo do Paraná do Limão (Silva Filho et al., 2001). Em Gurupá, todas as unidades de produção cultivam hortaliças somente para consumo. O pousio da terra é uma técnica tradicional de manejo do solo e utilizada de maneira generalizada pelos agricultores da várzea. As áreas de pousio podem ter cobertura vegetal com espécies arbóreas (capoeira) ou com gramíneas. O extrativismo vegetal é, também, uma atividade geralmente adotada e em Gurupá apresenta expressão econômica importante, principalmente com o manejo do açaí para produção de frutos e palmito. Em relação ao uso do solo para pecuária foi observado que no Alto Solimões nenhuma área interna das unidades de produção é destinada especificamente para a criação bovina ou bubalina (pastagem cercada). Na região do Médio Solimões, a estimativa da área média de pastagem cercada das unidades de produção é 2,01%. Já na região do Baixo Solimões, próxima à Manaus, a estimativa da área média de pastagem cercada das unidades de produção é 18,90%. No Médio Amazonas, os valores sobem para 58,10%; no município amazonense de Parintins, no Baixo Amazonas com 64%; no Baixo Amazonas, no Estado do Pará, abrangendo os municípios paraenses de Oriximiná, Óbidos e Santarém, com 66%, e em Gurupá, 64%. Esses resultados evidenciam que a expansão das áreas de pastagem e criação de gado na várzea do rio Solimões-Amazonas expande-se do sentido leste-oeste.
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INDICADORES DA SUSTENTABILIDADE SOCIAL, ECONÔMICA E AMBIENTAL DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO FAMILIAR A estimativa da sustentabilidade social, econômica e ambiental do processo produtivo foi obtida através da avaliação de parâmetros relacionados aos níveis do atendimento estável às demandas da unidade de consumo, em termos de alimentos e demais produtos agropecuários destinados ao autoconsumo e geração de renda monetária. Foram estimadas as conseqüências econômicas, sociais e ambientais relacionadas ao uso e manejo dos recursos disponíveis e das técnicas agrícolas adotadas na produção agropecuária utilizando-se parâmetros que permitissem mensurar a fração da contribuição individual de cada indicador, em número de nove, na sustentabilidade econômica, social e ambiental de unidade de produção agrícola. Os indicadores são: a. Quantidade, diversidade e qualidade da produção agrícola e extrativista; b. Fatores empregados no processo de produção; c. Sustentabilidade econômica, social e ambiental do processo produtivo; d. Evidências de desenvolvimento econômico e social da unidade de produção; e. Ocupação em atividades de trabalho fora a unidade de produção; f. Mobilidade de trabalho de membros da unidade de produção; g. Nível de satisfação de alimentos demandadas pela unidade de consumo; h. Geração de renda monetária pela venda da produção e i. Nível de sustentabilidade ambiental do processo produtivo. Com isso, foi possível estruturar um arcabouço de conhecimentos no sentido de analisar, interpretar e entender os aspectos fundamentais que levam ao produtor decidir sobre a sua permanência na atividade agrícola, no local onde executa as atividades produtivas, na contribuição do produto gerado na unidade de produção para o desenvolvimento econômico, social e ambiental, tendo como referências sua família, seu grupo social, sua comunidade, município e Estado e, ao mesmo tempo, as experiências ocorridas no tocante ao uso do solo, na várzea da calha Solimões-Amazonas, para a produção agrícola e pecuária; os impactos ambientais, sociais e econômicos resultantes dessas experiências na perspectiva da avaliação e reformulação dos atuais programas de pesquisa e extensão voltadas para o desenvolvimento do setor agrícola. A análise conjunta para nove indicadores de sustentabilidade social, econômica e ambiental no âmbito de toda a calha Solimões-Amazonas é apresentado a seguir:
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Quantidade, diversidade e qualidade da produção agrícola e extrativista: de maneira geral, as unidades de produção conseguem níveis satisfatórios quanto à produção agrícola e extrativista e algumas apresentam níveis elevados quanto à quantidade, diversidade e qualidade de produção agrícola. Em relação ao cultivo da mandioca, alimento calórico básico dos agricultores da várzea, ao contrário do que ocorre na terra-firme, as cultivares utilizadas na várzea são, preferencialmente, precoces. Isso porque, na várzea, os agricultores não podem “armazenar” as raízes tuberosas, postergando a colheita, como fazem os agricultores de terra-firme com suas cultivares tardias (Noda, 1985). A falta de espaço físico para a agricultura e as restrições ambientais para a agricultura (área de pastagem e de baixa altitude (várzea baixa) interferem na quantidade e na diversidade da produção para consumo e venda. Algumas unidades de produção ressentem da falta de espaço para os plantios e outras ocupam áreas de várzea baixa.
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Fatores empregados no processo de produção: força de trabalho familiar; propágulos produzidos na própria unidade de produção, o que torna o processo produtivo altamente autônomo. Eventualmente alguns insumos, principalmente sementes, são fornecidos pelo órgão municipal de extensão. Eventualmente são usados agroquímicos, inseticidas na olericultura e herbicidas no controle de ervas invasoras na pastagem. A fertilização é, preferencialmente, feita com adubos orgânicos.
•
Sustentabilidade econômica, social e ambiental do processo produtivo: as unidades de produção, com poucas exceções daquelas que se dedicam exclusivamente à pecuária ou que situam-se em locais muito baixos, utilizam a restinga alta para o cultivo de espécies frutíferas arbóreas. Algumas situadas em locais mais elevados, menos sujeitos às inundações anuais, conseguem manter espécies frutíferas pouco tolerantes aos solos encharcados. As unidades que apresentam a limitação de uso do solo o ano todo, por estarem situadas na várzea baixa, geralmente apresentam boas colheitas das espécies anuais (mandioca, milho,
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melancia, feijão e hortaliças) na época da vazante em função da refertilização natural promovida pelas enchentes anuais. Algumas unidades de produção ocupam grande parte das áreas agrícolas como pastagem para criação de gado bovino, principalmente na parte oriental da calha Solimões-Amazonas. Supõe-se que essa forma de manejo do solo seja inadequada em função da perda de variabilidade biológica, além de aumentar os riscos de degradação do solo (compactação) devido ao pisoteio do gado. •
Evidências de desenvolvimento econômico e social das unidades de produção: parte da produção de alimentos é consumida pela unidade de consumo e parte é vendida, evidenciando entrada de renda monetária na unidade de produção. A malva e juta são espécies industriais cultivadas com o intuito de gerar renda monetária. Ocorre, também, entrada de renda monetária na unidade de produção propiciada pela venda da produção de hortaliças e, algumas comunidades devido à proximidade de centros urbanos, como Manaus, tem facilitada a comercialização da produção. A produção diversificada é uma estratégia que permite suprir as necessidades da unidade de consumo e gerar renda monetária pela venda da parte excedente da produção. Essa renda monetária pode suprir as demandas em produtos não gerados pela unidade de produção e propiciar o acesso aos serviços não disponíveis nas comunidades. Algumas unidades de produção, com aumento das freqüências de ocorrência a partir do Baixo Solimões em direção ao Baixo Amazonas, estão estruturadas fisicamente para a produção pecuária, sendo que a racionalidade dessa estrutura física é fundamentada no sistema de produção na qual o animal criado (boi) constitui uma “poupança”, ou seja, uma mercadoria de alta liquidez, possível de ser transformada em moeda em curto prazo. A geração de renda monetária é, basicamente, propiciada pela venda de hortaliças, frutos, como o cacau e outros produtos alimentares e animais de pequeno porte (galinhas). Outra parte da produção agrícola é consumida pela unidade de consumo.
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Ocupação em atividades de trabalho fora das unidades de produção: com exceção das atividades relacionadas aos processos de “ajuda mútua” comunitária, toda a força de trabalho é utilizada na unidade de produção familiar.
•
Mobilidade de trabalho de membros das unidades de produção: não há evidências de venda de força de trabalho. Segundo Noda (1985), em comunidades formadas por famílias extensas é comum que se estabeleçam relações de trabalho tradicionais (ajuda mútua), do tipo parceria ou mutirão. Em se tratando de famílias nucleares isoladas, eventualmente, a solução adotada pode ser a contratação de trabalhadores assalariados temporários visando, em ambos os casos, multiplicar temporariamente a força de trabalho da unidade de produção, para em menor tempo, processar toda a produção de mandioca.
•
Nível de satisfação de alimentos demandadas pelas unidades de consumo: boa e diversificada, em alguns casos excelentes. A restrição na produção de alimentos pode ser devida à extrema suscetibilidade às enchentes, o que impossibilita o cultivo de espécies fruteiras perenes. Há suprimento de alimento de origem vegetal e animal. A produção vegetal e animal permitem alcançar a satisfação das necessidades alimentares da unidade de consumo. Os sistemas de produção podem gerar quantidade de renda monetária e de produtos que satisfazem as necessidades básicas da unidade de consumo. A pesquisa do IBGE (2004), denominada Pesquisa de Orçamento Familiar, mostra essa característica da agricultura familiar, no âmbito brasileiro.
•
Geração de renda monetária pela venda da produção: pela venda da produção excedente e da produção destinada exclusivamente à comercialização. Os principais produtos comercializados são farinha de mandioca, feijão, milho, banana, hortaliças, frutas, fibras (malva e juta), látex e pequenos animais de criação. O processo produtivo polivalente favorece a manutenção de alta diversidade biológica proporcionando a sustentabilidade ambiental. A existência de áreas com florestas naturais, permite a prática do extrativismo.
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Nível de sustentabilidade ambiental do processo produtivo: Boa em função de biodiversidade e pela existência de áreas ainda com florestas naturais, onde é praticado o extrativismo vegetal (coleta de jenipapo, taperebá, castanha de macaco, ingá), plantas medicinais e madeira para construção e combustível. A manutenção da variabilidade genética da mandioca e das demais espécies agrícolas pelos produtores da várzea tem funcionado como uma estratégia adaptativa à diversidade ambiental amazônica, pois tem permitido a produção estável desse alimento imprescindível às populações humanas, tanto na várzea como na terra-firme. Martins (2001) chama atenção sobre a grande importância dos fatores biológicos e culturais inerentes às formas de produção dos caboclos que, além de manter, vem gerando e amplificando a variabilidade genética da espécie.
A área de pousio com capoeira é, também, utilizada para o extrativismo vegetal coleta de frutos, plantas medicinais e madeira para construção e combustível. A transformação de grande parte das unidades de produção em áreas de pastagem, reduzindo a biodiversidade, provavelmente vem acarretando efeitos negativos ao nível de sustentabilidade ambiental. O processo produtivo voltado ao mercado, praticado com o monocultivo de espécies anuais, poderá comprometer a sustentabilidade social, econômica e ambiental. A manutenção da paisagem natural é um fator importante para a sustentabilidade ambiental, em longo prazo. A forma de produção (exploração não destrutiva dos recursos disponíveis) adotada pelas unidades de produção é interessante sob o ponto de vista ambiental, pois concilia o uso econômico de um recurso existente e cuja conservação é fundamental para a sustentabilidade dos processos produtivos.
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CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES A análise dos dados obtidos permitiu, numa primeira aproximação e sob o ponto de vista do uso e gestão dos fatores canalizados na produção, das tecnologias empregadas, no âmbito do manejo dos recursos ambientais utilizados na produção pelos agricultores de várzea, no sentido amplo, um resultado na seguinte direção:
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•
O assentamento e a permanência do agricultor na várzea do rio Amazonas-Solimões deu-se através de um processo adaptativo do homem ao ambiente amazônico quando entendido no sentido do termo “adaptação” como satisfação às demandas mínimas da reprodução biológica e social;
•
A análise das técnicas de cultivo agrícola e o manejo dos recursos disponíveis permitem inferência que a agricultura praticada pelos produtores familiares de várzea é sustentável, na medida em que seja entendida como um processo contínuo e estável de produção, no qual a entrada de nutrientes no sistema, em grande parte, é promovida pela sua reciclagem;
•
Ao contrário do que tem ocorrido nas áreas de assentamento dirigido, a agricultura na várzea do rio Solimões-Amazonas não vem promovendo o corte de matas primárias para a instalação das lavouras devido ao uso de técnicas tradicionais de recuperação da fertilidade dos solos (pousio), que associado à ocupação de áreas diminutas para a produção agrícola (roças, plantios e sítios), permite uma atividade agrícola sustentável, sob o ponto de vista ambiental, propiciada pelos ciclos de consumo (agricultura) e entrada de nutrientes (pousio) no sistema de produção;
•
As técnicas de produção adotadas pelos produtores é mais limpa quando se compara com aquelas praticadas pela agricultura “moderna” tendo em vista o uso restrito de agroquímicos;
•
O nível de diversidade biológica nas unidades de produção agropecuária da várzea do rio Solimões-Amazonas é muito
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elevado levando-se em conta o observado na agricultura de monocultivo de outras regiões brasileiras. Nos sítios da região do Médio/Baixo Amazonas foram encontradas 223 espécies de plantas cultivadas ou protegidas. •
Os produtores de várzea produzem quantidade e qualidade de produtos agrícolas capazes de satisfazer suas necessidades em alimentos das unidades de consumo familiar. Por outro lado, o manejo dos ambientes naturais, responsáveis por parte do suprimento de alimentos fundamentais, permite aos produtores a prática do extrativismo animal e vegetal sustentáveis a partir de uma cronologia baseada nos ciclos biológicos naturais (estoques pesqueiros e extrativismo vegetal na floresta);
•
A geração da renda monetária, através da comercialização de produtos agrícolas, pode ocorrer de duas formas: venda do excedente da produção não consumida pela unidade de consumo (por exemplo: farinha de mandioca, frutos na época de safra, animais de pequeno porte) e pela venda da fração da produção destinada à comercialização como algumas frutas (banana, manga, goiaba), grãos (milho, feijão, arroz) e fibras (malva e juta) e produtos do extrativismo (frutos e palmito de açaí);
•
As unidades de produção da várzea produzem, na atualidade, quantidade de produtos agrícolas capazes de contribuir para o abastecimento das áreas urbanas. Esse aspecto pode ser constatado pela diversidade e quantidade de produtos gerados que, pela impossibilidade de dispor de um mercado consumidor, não são comercializados;
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APÊNDICE 1. Espécies encontradas no componente sítio do sistema de produção na calha do Rio Solimões-Amazonas. Amazonas-Pará. 2003-2004.
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46.
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Denominação Regional Abacate Abacaxi Abiu Abiurana Açafroa Açaí-do-Amazonas Açaí-do-Pará Acerola Agave Alecrim Alfavaca Algodão Algodão-branco Algodão-roxo Amendoim Amor-crescido Anador Angelim Anilina Apuí Araçá Araçá-boi Araticum Arnica-de-planta Arruda Arumã Ata Azeitona Babosa Bacaba Bacabão Bacabinha Bacuri Banana Batata-doce Begônia Beldroega Benjamin Biribá Boca-de-lobo Boldo Boldo-da-folha-peluda Boldo-da-índia Brasileirinho Breu Brinco-de-dama
Espécie Persea americana Mill. Ananas comosus (L.) Merr. Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk. Micropholis sp. Curcuma longa L. Euterpe precatoria Mart. Euterpe oleracea Mart. Malpighia glabra L. Agave sp. Rosmarinus officinalis L. Ocimum campechianum Mill. Gossypium barbadense L. Gossypium hirsutum L. Gossypium arboreum L. Arachis hypogaea L. Portulaca pilosa L. Coleus barbatus Benth. Hymenolobium sp. Cissus sp. Ficus sp. Psidium guianense Pers. Eugenia stipitata McVaugh. Annona montana Macfad. Arnica montana L. Ruta graveolens L. Ischnosiphon ovatus Körn. Annona squamosa L. Syzygium jambolanum (Lam.) DC. Aloe vera (L.) Burm. f. Oenocarpus bacaba Mart. Oenocarpus sp. Oenocarpus minor Mart. Platonia insignis Mart. Musa sp. Ipomoea batatas (L.) Lam. Begonia palmata D. Don Portulaca oleracea L. Ficus sp. Rollinia mucosa (Jacq.) Baill. n.i. Peumus boldus Molina Plectranthus barbatus Andrews Plectranthus sp. Caladium humboldtianum Schott Protium sp. n.i.
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47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77. 78. 79. 80. 81. 82. 83. 84. 85. 86. 87. 88. 89. 90. 91. 92.
26.03.08
Denominação Regional Buriti Buscopam Cacau Cacauí Cachorro-pelado Cacto Café Caferana Caju Cama-de-jesus Camarão Camu-camu Cana-de-açúcar Canela Capim-santo Capim-santo-da-folha-miúda Carambola Caranã Cariru Castanha Castanha-de-macaco Castanha-sapucaia Catauari Catinga-de-mulata Cauaçu Caxinguba Cebolinha Cedrorana Celósia Chicória Cibalena Cidreira Cipó-alho Coco Coentro Coirama, diabinho Cola-osso Comigo-ninguém-pode Cominho Condessa Corrente Couve Crajiru Cravo Cravo-da-índia Cravo-de-defunto
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Espécie Mauritia flexuosa L. n.i. Theobroma cacao L. Theobroma bicolor Bonpl. n.i. Opuntia sp. Coffea arabica L. Picrolemma sprucei Hook. f. Anacardium occidentale L. Pilea microphylla (L.) Liebm. Justicia brandegeana Wassh. & L.B. Sm. Myrciaria dubia (Kunth) McVaugh Saccharum officinarum L. Aniba sp. Cymbopogon citratus (DC.) Stapf Pectis elongata Kunth Averrhoa carambola L. Mauritiella armata (Mart.) Burret Amaranthus sp. Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl Couroupita guianensis Aubl. Lecythis pisonis Cambess. Crataeva benthamii Eichler Leucas martinicensis (Jacq.) R. Br. Calathea lutea Schult. Ficus insipida Willd. Allium fistulosum L. Cedrelinga cateniformis (Ducke) Ducke Celosia argentea L. Eryngium foetidum L. Artemisia verlotiorum Lamotte Lippia alba (Mill.) N.E. Br. Adenocalymma alliaceaum Miers Cocos nucifera L. Coriandrum sativum L. Kalanchoe calycinum Salisb. Piper sp. Dieffenbachia amoena Bull. Pectis elongata Kunth Annona sp. Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen Brassica oleraceae var.acephala DC. Arrabidaea chica (Humb. & Bonpl.) B. Verl. Dianthus caryophyllus L. Caryophyllus aromaticus L. Tagetes patula L.
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93. 94. 95. 96. 97. 98. 99. 100. 101. 102. 103. 104. 105. 106. 107. 108. 109. 110. 111. 112. 113. 114. 115. 116. 117. 118. 119. 120. 121. 122. 123. 124. 125. 126. 127. 128. 129. 130. 131. 132. 133. 134. 135. 136. 137. 138.
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26.03.08
Denominação Regional Crisântemo Crista-de-galo Croton Cubiu Cuia Cuia-mansa Cumaru Cumaruzinho Cupuaçu Cupuarana Curuatá Curuminzeiro Dendê Dipirona Elixir-paregórico Embaúba Envira Estrela-do-mar Esturaque Farinha-seca Feijão-de-metro Feijó Felicidade Figatil Flexeira Fruta-pão Goiaba Goiaba-araçá Goiaba-do-igapó Graviola Hortelã Hortelã-grande Hortelãzinho Inajá Ingá Ingá-açu, Ingá-chinelo Ingá-boi Ingá-cipó Ingaí, Ingá-da-mata Ingá-grande Ingá-de-macaco Ingá-pequeno Ingá-sapo Ingá-xixica Ixora Jaca
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Espécie Chrysanthemum spp. Celosia cristata L. Codiaeum variegatum (L.) A. Juss. Solanum sessiliflorum Dunal Crescentia cujete L. Polyscias sp. Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. Justicia pectoralis Jacq. Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum. Theobroma subincanum Martius in Buchner n.i. Muntigia calabura L. Elaeis guineensis L. n.i. Piper cavalcantei Yunck. Cecropia sp. Rollinia sp. n.i. Styrax sp. Licania micrantha Miq. Vigna unguiculata (L.) Walp. Cordia sp. n.i. Chelidonium majus L. Setaria sp. Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg Psidium guajava L. Psidium sp. Psidium sp. Annona muricata L. Mentha arvensis L. Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. Mentha piperita subsp. citrata Briq. Maximiliana maripa (Aubl.) Drude Inga sp. Inga cinnamomea Spruce ex Benth. Inga sp. Inga edulis Mart. Pithecolobium duckei Huber. Inga sp. Inga fagifolia G. Don Inga sp. Inga sp. Inga heterophylla Willd. Ixora sp. Artocarpus heterophyllus Lam.
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139. 140. 141. 142. 143. 144. 145. 146. 147. 148. 149. 150. 151. 152. 153. 154. 155. 156. 157. 158. 159. 160. 161. 162. 163. 164. 165. 166. 167. 168. 169. 170. 171. 172. 173. 174. 175. 176. 177. 178. 179. 180. 181. 182. 183. 184.
26.03.08
Denominação Regional Jacarandá Jambo Jambu Jantem Japana Japana-roxa Jarina Jasmim Jasmim-de-estudante Jatobá Jenipapo Jerimum Jibóia Jucá Jurubebão Juruzeiro Lágrima-de-n.sra. Laranja Laranja-da-terra Lima Limão Limão-caiano Limão-cravo Limão-galego Limão-tangerina Limorana Lombrigueiro Loucura Macacaúba Macambo Macaxeira Malva Malvarisco Mamão Mandacaru Manga Mangarataia Manjericão Manjerona Manjironinha Manjuba Mapati Maracujá Maracujá-do-mato Mari-amarelo, umari Marirana
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Espécie Dalbergia spruceana Benth. Eugenia malaccensis L. Spilanthes acmella L. Plantago major L. Eupatorium ayapana Vent. Eupatorium triplinerrve Phytelephas macrocarpa Ruiz & Pav. Jasminum officinale L. Jasminum sp. Hymenaea courbaril L. Genipa americana L. Cucurbita maxima Duchesne Scindapsus aureus (Linden & André) Engl. & K. Krause Caesalpinia ferrea Mart. Solanum crinitum Lam. n.i. Coix lacryma Bertoni Citrus sinensis (L.) Osbeck Citrus auratifolia L. Citrus aurantifolia Swingle Citrus limon (L.) Burm. Averrhoa bilimbi L. Citrus sp. Citrus sp. Citrus sp. Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud. Ficus maxima Mill. Lagestroemia indica L. Platymiscium sp. Theobroma bicolor Bonpl. Manihot esculenta Crantz Urena lobata L. Pothomorphe umbellata (L.) Miq. Carica papaya L. Cereus giganteus Engelm. Mangifera indica L Zingiber officinale Roscoe Ocimum basilicum L. Origanum majorana L. Majorana sp. n.i. Pourouma cecropiaefolia Mart. Passiflora edulis Sims. Passiflora nitida Kunth Poraqueiba sericea Tul. Couepia ulei Pilg.
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185. 186. 187. 188. 189. 190. 191. 192. 193. 194. 195. 196. 197. 198. 199. 200. 201. 202. 203. 204. 205. 206. 207. 208. 209. 210. 211. 212. 213. 214. 215. 216. 217. 218. 219. 220. 221. 222. 223. 224. 225. 226. 227. 228. 229. 230.
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Denominação Regional Mari-de-cachorro Mari-gordo Marimari Mari-sarro Marrequinha Marupá Marupazinho Mastruz Maxixe Melancia Melindro-rosa Milho Mucajá Mucuracaá Munguba Muruci Murici-da-mata Mutamba, pojo Mutuquinha Muúba Onze-horas Oriza Pajurá Palma Papoula Paricá Pau-de-angola Pau-mulato Pepino Pião-barrigudo Pião-branco Pião-roxo Pimenta Pimenta-ardida Pimenta-doce Pimentão Pingo-de-ouro Piquiá Pirara Pirilima Piripiri Pitomba Pobre-velho Pojo Ponto-alívio Primavera
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Espécie n.i. n.i. Cassia leiandra Benth. Cassia grandis L. n.i. Virola sp. Eleutherine plicata Herb. Chenopodium ambrosioides L. Cucumis anguria L. Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai Impatiens sp. Zea mays L. Acrocomia sclerocarpa Mart. Petiveria alliacea L. Bombax munguba Mart. & Zucc. Byrsonima chrysophylla Kunth Byrsonima crispa A. Juss. Guazuma ulmifolia Lam. n.i. n.i. Portulaca sp. Pogostemon patchouli Pellet. Couepia bracteosa Benth. n.i. Hibiscus sp. Pithecellobium niopoides Spruce ex Benth. Piper sp. Calycophyllum spruceanum (Benth.) Hook. f. ex K. Schum. Cucumis sativus L. Jatropha sp. Jatropha curcas L. Jatropha gossypiifolia L. Capsicum sp. Capsicum sp. Capsicum chinense Jacq. Capsicum annuum L. Duranta repens L. Caryocar villosum (Aubl.) Pers. n.i. n.i. n.i. Talisia esculenta (A. St.-Hil.) Radlk. Costus spicatus (Jacq.) Sw. Guazuma ulmifolia Lam. n.i. Bouganvillea sp.
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231. 232. 233. 234. 235. 236. 237. 238. 239. 240. 241. 242. 243. 244. 245. 246. 247. 248. 249. 250. 251. 252. 253. 254. 255. 256. 257. 258. 259. 260. 261. 262. 263. 264. 265. 266. 267. 268. 269. 270. 271. 272. 273. 274. 275. 276.
26.03.08
Denominação Regional Pupunha Pupunharana Puruí Quebra-pedra Quiabo Repolho Romã Rosa Rosa-menina Sabugueiro Sacaca Salvia-de-marajá Samambaia Samaúma Sangue-de-cristo Santa-luzia Sapateira Sapota Sapoti Sara-tudo Sena Seringa Socoró Sororoca Tacana Tachi Tajá Tajá-cauã Tajá-papel Tamanqueira Tamarindo Tangerina Tanimbuca Tapeba Taperebá Tarumã Tento Terezinha Tomate Trevo Trevo-raimundinha Trevo-roxo Trombeta Tucumã Uirapuru Uixi
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Espécie Bactris gasipaes Kunth Duckeodendron cestroides Kuhlm. Alibertia edulis (Rich.) A. Rich. ex DC. Phyllanthus niruri L. Hibiscus esculentus L. Brassica oleracea L. Punica granatum L. Rosa sp. Rosa sp. Sambucus nigra L. Croton cajucara Benth. Lippia grandis Schau Nephrolepis sp. Ceiba pentandra (L.) Gaertn. n.i. Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) C.V. Morton Dystovomita brasiliensis D’Arcy Quararibea cordata (Bonpl.) Vischer Manilkara zapota (L.) P. Royen n.i. Cuphea antisyphilitica Kunth Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg. Mouriria guianensis Aubl. Ravenala guyanensis Petersen Gynerium sp. Tachigali paniculata Aublet. Philodendron sp. Caladium sp. Caladium sp. Moronobea coccinea Aubl. Tamarindus indica L. Citrus nobilis Lour. Buchenavia sp. n.i. Spondias mombin L. Vitex sp. Ormosia sp. Portulaca grandiflora Hook. Lycopersicon esculentum Mill. Trifolium arvense L. Hyptis sp. Hyptis atrorubens Poit. Datura sp. Astrocaryum aculeatum G. Mey. n.i. Endopleura uchi (Huber) Cuatrec.
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277. 278. 279. 280. 281. 282. 283. 284. 285. 286. 287.
26.03.08
Denominação Regional Uruá Urubucaá Urucum Urucuri Vai-e-vem Vassourinha Vence-tudo Vick Vindicá Violeta-em-planta Zeduária
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Espécie Cordia alliodora (Ruiz & Pav.) Oken Aristolochia silvatica Barb. Rodr. Bixa orellana I Attalea minor Mart ex Spreng. n.i. Scoparia dulcis L. n.i. Faramea corymbosa Aubl. Alpinia nutans (L.) Roscoe Viola odorata L. Curcuma longa L.
APÊNDICE 2. Espécies que ocorrem no componente extrativismo vegetal, coletadas na capoeira, mata de várzea e mata de terra firme na calha do Rio Solimões-Amazonas. Amazonas – Pará. 2003-2004. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30.
144
Denominação Regional Abacate Abacaterana Açaí-do-Amazonas Açaí-do-Pará Acapu Acapurana Anani Andiroba Anuerá Apetã Araçá Aroeira Assacu Aturimã Bacaba Bacuri Bacuri-do-mato Bicudo Buriti Bussu Caapeba Caimbé Caju Caju-da-mata Cajurana Camapu Canela-de-velho Capim pariri Carapanaúba Carauaçuzeiro
Espécie Persea americana Mill. Licania sp. Euterpe precatoria Mart. Euterpe oleracea Mart. Vouacapoua pallidior Ducke Campsiandra angustifolia Spruce ex Benth. Symphonia globulifera L. f. Carapa guianensis Aubl. Licania macrophylla Benth. n.i. Psidium guianense Pers. Astronium lecointei Duckei Hura crepitans L. n.i. Oenocarpus bacaba Mart. Platonia insignis Mart. Rheedia sp. n.i. Mauritia flexuosa L. Manicaria saccifera Gaertn. Piper umbellatum L. Curatella americana L. Anacardium occidentale L. Anacaridium sp. Sumaba guianensis Aubl. Physalis angulata L. n.i. n.i. Aspidosperma carapanauba Pichon Symmeria paniculata Benth.
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31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. 74. 75. 76.
144 B
Denomi n ação Regional Castanha Castanha de macaco Castanha sapucaia Castanharana Catauari Cauaçu Caxinguba Cedro Cepetuzeiro Chichuacha Ciganeira Cipó escada-de-jabuti Cipó mata-cavalo Cipó titica Cipó tuíra Cipó-bota Copaíba Cumaru Cupuaçu Curuá Embaúba Envira Espeteiro Espinheiro Faveira Frutinheira, Murta Goiaba araça Ingá Ingá-açu, Ingá-chinelo Ingá-de-igapó Ingaí, Ingá-da-mata Ingá xixica Itaúba Jacareúba Jataúba Jatobá Jauari Jenipapo Jupati Jurema Jurubeba Lacre Louro Louro-de-igapó Louro-amarelo Louro-cheiroso
Espécie Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl Couroupita guianensis Aubl. Lecythis pisonis Cambess. Micropholis sp. Crataeva benthamii Eichler Calathea lutea Schult. Ficus insipida Willd. Cedrela odorata L. n.i. Salacia gigantea Loes. n.i. Bauhinia cupreonitens Ducke n.i. Heteropsis aff. Spruceana Schott Calycobolus ferrugineus Choisy Sciadotenia toxifera Krukoff & A.C. Sm. Copaifera multijuga Hayne Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum. Ananas lucidus Mill. Cecropia sp. Rollinia sp. Casearia gossypiosperma Briq. Acacia polyphylla DC. Vatairea sp. Myrcia fallax (Rich.) D.C. Eugenia sp. Inga edulis Mart. Inga cinnamomea Spruce ex Benth. Inga sp. Pithecolobium sp. Inga heterophylla Willd. Mezilaurus itauba (Meisn.) Taub. ex Mez Calophyllum brasiliense Cambess. Guarea guidonia (L.) Sleumer Hymenaea courbaril L. Astrocaryum jauari Mart. Genipa americana L. Raphia taedigera Mart. Pityrocarpa pteroclada (Benth.) Brenan Solanum sp. Vismia guianensis (Aubl.) Pers. Ocotea matogrossensis Vatt. Nectandra amazonum Nees Aniba hostmaniana (Nees) Mez. Ocotea sp.
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77. 78. 79. 80. 81. 82. 83. 84. 85. 86. 87. 88. 89. 90. 91. 92. 93. 94. 95. 96. 97. 98. 99. 100. 101. 102. 103. 104. 105. 106. 107. 108. 109. 110. 111. 112. 113. 114. 115. 116. 117. 118. 119. 120. 121. 122. 123. 124.
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Denominação Regional Louro-jacaré Louro-inamuí (mamuí) Macacaúba Maçaranduba Mamão Manaiará Manga Maparajuba Maracaraneira Maracujá-do-mato Marajá Mari-amarelo, umari Maria-mole Mari-sarro Matá-matá Mata-pasto Maúba Maubarana Merapixuna Moela de mutum Mucuba Muiratina Mulungu Munguba Muruci Murumuru Pajurá Palha-branca Papa-terra Paracaxi Paracuúba Paricá Pau-mulato Pau-verônica Pau-preto Paxiubinha Piquiá Piranheira Piriquiteira Pitombarana Punã Pororoca Samauma Sapupira Saracura Sardinheira Seringa Socoró
Espécie Licaria sp. Ocotea cymbarum H.B.K. Platymiscium sp. huberi (Ducke) Chevalier Carica papaya L. Gapipea sp. Mangifera indica L. Manilkara amazonica (Hub.) Standl. n.i. Passiflora nitida Kunth Bactris maraja Mart. Poraqueiba sericea Tul. Commelina nudiflora L. Cassia spruceana Benth. Eschweilera albiflora (DC.) Miers Cassia alata L. Licania mahuba (Kuhlm & Samp.) Kistern. Paypayrola sp. n.i. Lacunaria jenmanii (Oliv.) Ducke n.i. Maquira sp. Erythrina fusca Lour. Bombax munguba Mart. & Zucc. Byrsonima chrysophylla Kunth Astrocaryum murumuru Mart. Couepia bracteosa Benth. Attalea attaleoides (Barb. Rodr.) Wess. Boer Posoqueria latifolia (Rudge) Roem. & Schult. Pentaclethera sp. Mora paraensis (Ducke) Ducke Pithecellobium niopoides Spruce ex Benth. Calycophyllum spruceanum (Benth.) Hook. f. ex K. Schum. n.i. Swartzia sp. Attalea attaleoides (Barb. Rodr.) Wess. Boer Caryocar villosum Aubl. Pers. Piranhea trifoliata Baill. Trema micrantha (L.) Blume Pseudima frutescens (Aubl.) Radlk. Iryanthera sp. Dialium divaricatum Vahl Ceiba pentandra (L.) Gaertn. Hymenolobium pulcherrimum Ducker. Ampelozizyphus amazonicus Ducke Ruprechtia brachysepala Meisn. Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg. Mouriria Guianensis Aubl
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125. 126. 127. 128. 129. 130. 131. 132. 133. 134. 135. 136. 137. 138. 139. 140. 141. 142. 143. 144.
Denominação Regional Sucuúba Taboca Taboquinha Tachi Tamanqueira Tamaquaré Taperebá Tarumã Turimã Uamiú Ucuúba Uixi Unha-de-gato Uruazeiro Urucum Urucurana Urucuri Arumã Vassourinha Virola
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Espécie Himatanthus sucuuba (Spruce ex Müll. Arg.) Woodson Guadua sp. Panicum zizanioides H.B.K. Tachigalia paniculata Aubl. Moronobea coccinea Aubl. Caraipa punctulata Ducke Spondias mombim L. Vitex sp. Laetia sp. n.i. Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. Endopleura uchi (Huber) Cuatrec. Uncaria tomentosa (Willd. ex Roem. & Schult.) DC. Cordia alliodora (Ruiz & Pav.) Oken Bixa orellana L. Sloanea sp. Attalea phalerata Mart. ex Spreng. Ischnosphons sp. Scoparia dulcis L. Virola sp.
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CAPÍTULO 5
CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOS FITOSSANITÁRIOS NOS DIFERENTES SISTEMAS DE USO DA VÁRZEA AO LONGO DA CALHA DOS RIOS SOLIMÕES-AMAZONAS Rosalee Albuquerque Coelho Netto1 Luiz Alberto Guimarães de Assis1 e 2
INTRODUÇÃO Doenças e pragas podem causar mortalidade de plantas, reduzir a produtividade, diminuir a população de espécies hospedeiras ou impedir o cultivo de determinados cultivares. As condições ambientais predominantes na Amazônia, temperatura e umidade elevadas, são favoráveis para muitos agentes fitopatogênicos e insetos/pragas, no entanto, quando uma grande diversidade de espécies vegetais são cultivadas em uma mesma área, reduz-se a probabilidade de perda total da colheita em decorrência de problemas fitossanitários (SCHROTH et al., 2000). Poucos estudos foram realizados sobre a ocorrência de doenças e pragas nos cultivos da Amazônia (LOURD et al., 1988, SANTOS e GALVÃO, 1989, LOURD, 1993) e menos ainda relacionando o tipo de solo com a ocorrência de problemas fitossanitários. Em áreas de várzea, há evidências de que a severidade de doenças causadas por patógenos de solo é maior do que em terra-firme (LOZANO, 1992, YONEYAMA e STEIN, 1995, LOURD et al., 1987, COELHO NETTO e NUTTER, 2002, COELHO NETTO et al., 2003) enquanto que as doenças de parte aérea, ao contrário, têm menor severidade (LOURD et al., 1987, PAIVA e NODA, 1992). No manejo de problemas fitossanitários na várzea, as principais estratégias sugeridas são o uso de cultivares resistentes, rotação de culturas e 1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). 2. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).
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plantio de material sadio (KITAJIMA et al., 1979, LOZANO, 1992, NODA e MACHADO, 1993). Apesar de algumas dessas estratégias serem adotadas pelos agricultores (Pereira, 1994), o uso de agrotóxicos tem se intensificado (JICA-IDAM, 2002, WAICHMAN et al., 2002). O objetivo do trabalho foi levantar os principais problemas fitossanitários em cultivos de várzea e as metodologias de manejo empregadas pelos agricultores. Para isso, foram realizadas entrevistas baseadas em questionário. Inicialmente foram entrevistados 249 agricultores sobre dificuldades na condução dos cultivos. Entre esses, 32 foram selecionados, com base na diversidade de culturas da propriedade e nas dificuldades citadas. Nas propriedades dos agricultores selecionados foram realizadas coletas de plantas ou partes de plantas com sintomas de doenças ou de ataque de pragas e, posteriormente, foi feita a identificação dos agentes fitopatogênicos e das pragas encontradas. Nas 249 entrevistas aplicadas inicialmente foram citadas 28 dificuldades como ataque de predadores (mucura, onça, gavião, jacaré, cobra, capivara), preço baixo dos produtos, falta de recursos financeiros, transporte e ocorrência de pragas e doenças referidas como mal, perseguição, febre, pinta, mela, entre outras. Pragas foram citadas por 24,5% (61) dos entrevistados, sendo a sétima dificuldade mais freqüentemente citada. A ocorrência de doenças foi citada por 21,7% (54) dos entrevistados, sendo a oitava mais citada. A freqüência com que pragas e doenças foram citadas variou entre os municípios. Na Figura 1 são apresentados os percentuais com que os entrevistados se referiram à ocorrência de pragas e doenças nos municípios em que pelo menos oito entrevistas foram aplicadas; Benjamin Constant, AM (17), Careiro da Várzea, AM (8), Coari, AM (24), Gurupá, PA (17), Iranduba, AM (9), Itacoatiara, AM (22), Manacapuru, AM (9), Oriximiná, PA (21), Parintins, AM (27), Santarém, PA (46), Silves, AM (14), Tabatinga, AM (8) e Tefé, AM (9). A ocorrência de pragas foi citada como uma dificuldade, principalmente pelos agricultores dos municípios de Tabatinga (50%), Benjamin Constant (35%), Manacapuru (33,3%), Tefé (33,3%) e Santarém (32,6%). Doenças foram citadas como dificuldades, principalmente pelos agricultores de Tabatinga (50%), Silves (35,7%) e Tefé (33,3%). Na Figura 2 são apresentados os percentuais de citação de pragas e doenças em cada região analisada (Região 1: Alto Solimões, municípios de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, e Tabatinga; Região 2: Médio Solimões, municípios de Alvarães, Coari, Maraã, e Tefé; Região 3: Baixo Solimões, municípios de
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Careiro da Várzea, Iranduba e Manacapuru; Região 4: Médio Amazonas, municípios de Itacoatiara, Silves e Urucurituba, Região 5: Baixo Amazonas, municípios de Óbidos, Oriximiná, Parintins e Santarém e Região 6: Estuário, município de Gurupá. Observou-se uma tendência de queda na referência a pragas e doenças da Região 1 – Alto Solimões para o baixo Amazonas, com um ligeiro aumento na Região 4 – Médio Amazonas. A falta de assistência técnica se referiu à assistência para manejo de pragas e doenças, manejo do rebanho, crédito e outras. Observa-se, na Figura 2, que falta de assistência foi referida em percentuais baixos na Região 1 (Alto Solimões), apesar da ocorrência de problemas fitossanitários ter sido a mais alta. A falta de assistência técnica foi referida em percentuais maiores na Região 3 (Baixo Solimões), formada pelos municípios de Careiro da Várzea, Iranduba e Manacapuru, exatamente a região mais próxima à Manaus, onde os agricultores aparentemente têm maior facilidade de contato com órgãos de assistência técnica. O uso de agrotóxicos como inseticidas, herbicidas e fungicidas foi avaliado em 249 entrevistas com a pergunta sobre o uso de insumos. Apenas 48 entrevistados (19,3%) citaram agrotóxicos como um insumo utilizado para a produção. A utilização desses produtos pelos agricultores, no entanto, foi bastante concentrada nos municípios de Careiro da Várzea (62,5%), Itacoatiara (50%), Iranduba (44,4%) e Parintins (37%) (Figura 3) que são, também, municípios que têm a produção de hortaliças com uma atividade agrícola importante. O uso de inseticida foi citado por 70,4% dos que utilizam agrotóxicos, herbicidas por 14,8%, veneno, por 11,1%, agrotóxico por 1,85% e fungicida por 1,85% dos entrevistados. A utilização desses produtos, no entanto, principalmente no caso dos inseticidas, não se restringia aos cultivos e, nesses valores, estão incluídos também os agrotóxicos utilizados para combate de pragas da criação de gado. Quando se analisa o uso de agrotóxicos por microrregião (Figura 4), verifica-se um aumento do percentual de uso nas Regiões 3 (Baixo Solimões – municípios de Careiro da Várzea, Iranduba e Manacapuru) e 4 (Médio Amazonas – municípios de Itacoatiara, Silves e Urucurituba), em comparação com as demais. Na Região 3, 42,3% dos entrevistados utilizavam esse insumo e, na Região 4, 36,8%. Na Figura 4 pode-se verificar também que a citação de falta de assistência técnica acompanha a do uso de agrotóxicos, ou seja, nos locais onde o uso de agrotóxicos é mais intenso, houve mais referências à falta de assistência técnica e, apesar disso, o uso de agrotóxicos, na maioria das vezes, se iniciou por recomendação do comerciante ou de um técnico da extensão.
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O questionário para levantamento específico de problemas fitossanitários foi aplicado em 32 propriedades onde foram também diagnosticadas as pragas e doenças presentes nos plantios. Observou-se uma grande diversidade de problemas fitossanitários. Mais de 100 ocorrências de doenças ou pragas foram registradas em 34 espécies hospedeiras (Tabela 1). A importância das pragas e doenças variou para cada microrregião, dependendo da importância da cultura para o agricultor e do destino da produção. Por exemplo, a antracnose da mangueira (Mangifera indica L.), causada por Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc (Figura 5), era, ou não, considerada um problema pelo agricultor, dependendo se a produção se destinava à comercialização ou para o consumo familiar. No caso de consumo familiar, a antracnose não era considerada relevante e sequer citada entre os males que atingiam as culturas da propriedade. Em meio aos problemas citados, alguns se destacaram pela prevalência como as doenças da bananeira (Musa sp.), Sigatoka amarela (Figura 6), causada por Mycosphaerella musicola Leach observada em 84,4% das propriedades visitadas, Sigatoka negra (Figura 7), causada por Mycosphaerella fijiensis Morelet observada em 40,6% das propriedades e a murcha bacteriana da bananeira, ou Moko (Figuras 8 e 9), causada pela bactéria Ralstonia solanacearum (Smith) Yabuuchi et al., observada em 65,6% das propriedades visitadas. Em culturas como mandioca (Manihot esculenta Crantz), a podridão das raízes, causada por um complexo de fungos como Phytophthora spp. e Pythium spp. (Figura 10) foi observada em 31,2% das propriedades, em cacau (Theobroma cacao L.), a vassoura-de-bruxa (Figura 11) causada por Crinipellis perniciosa (Stahel) Singer foi observada em 25% das propriedades e em tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.), a murcha bacteriana (Figura 12), causada pela bactéria R. solanacearum (Smith) Yabuuchi et al., foi observada em 25% das propriedades. O fato da doença ou praga ter alta prevalência (porcentagem de propriedades onde a doença foi diagnosticada, em relação ao total de propriedades amostradas), não significa, necessariamente, que o problema é importante para o agricultor. Esse foi, por exemplo, o caso da mancha de Curvularia em milho (Zea mays L.), causada por Curvularia spp. e da mancha de Corynespora em mamoeiro (Carica papaya L.), causada por Corynespora cassiicola (Berk & Curt) Wei, ambas presentes em 22% das propriedades visitadas porém sem causar perdas significativas.
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Doenças que causam morte do hospedeiro como o Moko da bananeira, a podridão das raízes da mandioca ou a murcha bacteriana do tomateiro foram consideradas pelos produtores as mais importantes não só pelos danos causados, mas também pela dificuldade de controle. A podridão das raízes da mandioca, apesar da baixa incidência, não foram observadas mais de 5% de plantas doentes em cada plantio, teve alta prevalência nas propriedades da região do Alto Solimões, sendo observada em todos os plantios visitados e sendo motivo de preocupação para os agricultores. O Moko da bananeira foi observado em todas as regiões visitadas, porém, a incidência, percentual de plantas doentes em cada plantio, foi baixa, duas ou três touceiras por plantio. Um agricultor em Iranduba, no entanto, relatou abandono de cultivo de bananeira por doença que, pela descrição dos sintomas, era provavelmente o Moko. O abandono da cultura em decorrência da alta incidência da doença, observada em anos anteriores, pode levar a uma subestimação da importância da mesma em levantamentos de ocorrência. O cultivo de banana das variedades Maçã e Prata, muito apreciadas na Região, porém, altamente suscetível a doenças, vai se tornando cada vez mais raro, tanto pelas perdas sucessivas nas colheitas como por perda do material propagativo. Só recentemente estudos sobre o uso de agrotóxicos começaram a ser realizados com agricultores na várzea do Amazonas (WAICHMAN et al., 2002). Nessas áreas, o uso de agrotóxicos tem sido freqüente no manejo dos sistemas agrícolas (PEREIRA et al., 1998). Na Tabela 2, os 19 agrotóxicos citados pelos 32 agricultores entrevistados estão listados. Entre os entrevistados, 81,25% (26) usavam agrotóxicos. Desses, 88,5% (23) usavam inseticidas, 34,6% (9) usavam herbicidas e 27% (7) usavam fungicidas. O carrapaticida Barrage® (Fort Dodge) foi o agrotóxico mais citado, sendo utilizado por 34,6% (9) dos agricultores. Roundup® (Monsanto) ou Glifosato foi citado por 26,9% (7) e Diazinon® (Syngenta) e Folidol® (Bayer) (inseticidas organofosforados) foram citados por 19,2% (5) dos entrevistados. Dos 12 inseticidas citados, oito (66%) eram do grupo dos organofosforados, e os demais, cada um de um grupo químico diferente: carbamato (1), piretróide (1), clorociclodiano (1), sulfonamida fluoroalifática (1). Barrage®, um piretróide a base de cipermetrina, apesar de ser indicado para tratamento de carrapatos e de mosca-do-chifre em gado (Rodrigues et al., 2002), é utilizado pelos agricultores da várzea para controle de formigas, pulgões e besouros em diversas culturas. Para os agricultores, o Barrage®, além de eficiente, possui a vantagem de ser vendido em frascos pequenos (20 ml) que, por serem baratos, podiam ser adquiridos mais facilmente. O uso do herbicida ou
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mata-mato Roundup® ou Glifosato trazia, segundo os agricultores, grande economia de tempo e trabalho na capina das áreas de cultivo, o que permitia aumentar a área plantada, mesmo com a escassa mão-de-obra disponível. Geralmente, os agricultores começaram a utilizar herbicida seguindo orientação de técnicos do serviço de extensão. Verificou-se, em alguns casos, a utilização de produtos inadequados para o controle de problemas fitossanitários como, por exemplo, o uso de mistura de Agrinose® (Agripec) (fungicida a base de oxicloreto de cobre) e Folidol® (inseticida organofosforado), citada por dois produtores de Manacapuru, para combater a queda das flores do maracujazeiro. Esse tratamento possui um provável efeito negativo na população de mamangabas (Himenoptera: Bombidea), os insetos polinizadores das flores do maracujazeiro, podendo agravar o problema da queda de flores. Outro exemplo foi o uso de fungicida à base de oxicloreto cobre para o controle de podridão-branca (Sclerotium rolfsii Sacc.), em pimentão (Capsicum annuum L.), citado também por um produtor de Manacapuru. Fungicidas a base de oxicloreto de cobre têm demostrado baixa eficiência na inibição de S. rolfsii (DAS e PANDA, 1997). Entre os agricultores entrevistados que usavam agrotóxicos (26), metade relatou problemas de intoxicação com esses produtos, ocorridos com eles próprios ou com membros da família. Os problemas de saúde mais comuns foram dor de cabeça citada por 61,5% (8) e tontura, citada por 46,2% (6) dos entrevistados (Tabela 3). Ardor nos olhos, enjôo e manchas na pele foram citados, cada um, por 15,4% (2) dos usuários. Um dos agricultores já tinha precisado de atendimento hospitalar em decorrência de intoxicação com agrotóxicos. O combate a formigas (Himenoptera: Formicidae) foi a principal justificativa para o uso de agrotóxicos nas propriedades, pulgão (meruxinga) (Homoptera: Aphididae) e cascudinho (Coleoptera: Chrysomelidae) também foram considerados problemas que justificavam o emprego de controle químico. O equipamento para aplicação de agrotóxicos, predominantemente usado, foi o pulverizador costal próprio ou emprestado de vizinhos, citado por 77% (10) dos que foram perguntados. A utilização de frasco de desodorante (1), bomba de matar carapanã (1) e garrafa plástica com buraquinhos (1), foram também citados pelos agricultores entrevistados como equipamento usado para aplicação de agrotóxicos. O Equipamento de Proteção Individual (EPI) é empregado parcialmente pelos agricultores. Dos 26 agricultores usuários de agrotóxicos, do total de 32 entrevistados, quatro não utilizavam qualquer proteção e preparavam a calda ou
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aplicavam os agrotóxicos vestidos geralmente de bermuda, camisa de manga curta, boné e sandália. A maioria dos que utilizavam agrotóxicos (85%), no entanto, tomava alguns cuidados na manipulação dos produtos mas nenhum dos entrevistados tinha ou usava todos os EPIs recomendados. Bota e chapéu foram os equipamentos mais usados, citados por 69,2% (16) dos usuários entrevistados. Camisas de manga comprida e calça foram citadas por 61,5% (16) dos usuários e luvas de borracha por 19,2 (5). Um dos agricultores usava um saco plástico, em lugar da luva, para manipular os produtos (Tabelas 4 e 5). Considerando o alagamento periódico das áreas de várzea, o descarte das embalagens vazias de agrotóxicos torna-se um problema ainda mais sério do que em áreas de terra-firme. Nas propriedades visitadas, as embalagens vazias de agrotóxicos são queimadas em 34,6% (9) dos casos, jogadas no mato, em 23,1% (6) dos casos, enterradas em terreno de várzea, em 11,5% (3) dos casos, jogadas no rio, em 7,7% dos casos (2), entre outras (Tabela 6). Um agricultor alegou enterrar as embalagens em área de terra-firme, para evitar contaminar a água nas enchentes. Sobras de calda de agrotóxicos são geralmente deixadas no pulverizador para uso posterior e, quando descartadas, são jogadas na beira do roçado ou no rio. O conhecimento de defensivos naturais como calda de tabaco e sabão foi citado por 34,4% (11) dos 32 agricultores entrevistados, porém, apenas 18,7% (6) já usaram ou usam esse tipo de produtos, de vez em quando. Dois dos entrevistados tinham feito curso sobre defensivos naturais com agentes da extensão. A baixa eficiência das preparações foi o principal motivo para a não adoção desses produtos. Em nenhuma das propriedades em que agrotóxicos eram utilizados esses eram armazenados de forma segura Apesar de 38% (10) dos agricultores entrevistados alegarem que guardavam os defensivos em local exclusivo para isso, em 15,4% (4) esse local era dentro de casa. O armazenamento de agrotóxicos foi comum em sacolas plásticas amarradas em árvores, na viga da casa, ou em outros lugares 23% (6), escondidos fora de casa 15,4% (4), em cima dos canteiros 3,8% (1), em cima da casa 3,8% (1) ou trepado 3,8% (1). Já na preparação da calda dos agrotóxicos foram citadas medidas como uma tampinha ou até a água ficar esbranquiçada.
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CONCLUSÃO Os agricultores da várzea do Solimões-Amazonas convivem com mais de uma centena de pragas e doenças em seus plantios. As culturas de bananeira e mandioca, presentes em praticamente todas as propriedades visitadas, foram as mais freqüentemente afetadas por problemas fitossanitários. A complexidade dos sistemas de cultivo contribui para que a severidade das doenças e pragas não seja elevada, de maneira geral. A falta de assistência técnica é um problema generalizado e não são adotadas medidas de manejo para a maioria dos problemas fitossanitários. Poucos agricultores conhecem métodos alternativos de manejo e, mesmo quando os conhecem, não os adotam pela baixa eficiência alcançada. O uso de agrotóxicos vem se expandindo sem que seja acompanhado por treinamento dos usuários sobre como, quando, o que utilizar, como armazenar e descartar os agrotóxicos o que pode acarretar em aumento as intoxicações dos usuários e contaminações ambientais.
FIGURA 1.
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Percentual de referência a pragas e doenças nos cultivos, pelos agricultores da várzea do SolimõesAmazonas, nos municípios, onde pelo menos oito entrevistas foram aplicadas.
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FIGURA 2.
Percentual de referência a pragas e doenças e falta de assistência técnica nas Regiões 1 - Alto Solimões (Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Tabatinga); 2 – Médio Solimões (Alvarães, Coari, Maraã, Tefé); 3 – Baixo Solimões (Careiro da Várzea, Iranduba, Manacapuru); 4 – Médio Amazonas (Itacoatiara, Silves, Urucurituba), 5 – Baixo Amazonas (Óbidos, Oriximiná, Parintins, Santarém) e 6 – Estuário (Gurupá) pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas.
FIGURA 3.
Percentual de referência ao uso de agrotóxicos, pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas, nos municípios, onde pelo menos oito entrevistas foram aplicadas.
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FIGURA 4.
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Percentual de referência ao uso de agrotóxico e da falta de assistência técnica nas Regiões: (1) Alto Solimões (Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Tabatinga); (2) Médio Solimões (Alvarães, Coari, Maraã, Tefé); (3) Baixo Solimões (Careiro da Várzea, Iranduba, Manacapuru); (4) Médio Amazonas (Itacoatiara, Silves, Urucurituba), (5) Baixo Amazonas (Óbidos, Oriximiná, Parintins, Santarém) e (6) Estuário (Gurupá) pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas
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Alface (Lactuca sativa L.)
Banana (Musa sp.)
Banana (Musa sp.)
Banana (Musa sp.)
Banana (Musa sp.)
Cacau (Theobroma cacao L.)
Cacau (Theobroma cacao .
Caju (Anacardium occidentale L.)
Chicória (Eryngium foetidum L.)
Citros (Citrus spp.)
Couve (Brassica oleracea L. var. acephala) Couve (Brassica oleracea L. var. acephala) Feijão caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.) Feijão caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.)
1.
2.
3.
4.
5.
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6.
7.
8.
9.
10.
11.
Goiaba (Psidium guajava L.)
Graviola (Annona muricata L.)
Mamão (Carica papaya L.)
Mandioca/ Macaxeira (Manihot esculenta Crantz) Mandioca/ Macaxeira (Manihot esculenta Crantz) Mandioca/ Macaxeira (Manihot esculenta Crantz)
16.
17.
18.
19.
21.
20.
Goiaba (Psidium guajava L.)
15.
14.
13.
Podridão das raízes
Mancha parda pequena
Mancha parda grande
Mancha de Corynespora
Broca do fruto
Mosca-das-frutas
Antracnose
Virose (Mosaico)
Meruxinga (Pulgão)
Meruxinga ou ova (Pulgão)
Mancha de Alternaria
Geotrichum sp. ou Phytophthora spp. e Pythium sp.
Cercosporidium henningsii (Allesch.) Deigton
Cercospora vicosae Muller et Chupp.
Corynespora cassiicola (Berk & Curt) Wei
Cerconota anonella Sepp. (Insecta: Lepidoptera: Stenomidae)
Anastrepha spp. (Insecta: Diptera: Tephritidae)
Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc.
Vírus
Insecta: Homoptera: Aphididae
Insecta: Homoptera: Aphididae
Alternaria sp.
Liriomyza sp. (Insecta: Diptera: Agromyzidae)
Cercospora sp.
Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Sacc.
Crinipellis perniciosa (Stahel) Singer
Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Sacc.
Mycosphaerella fijiensis Morelet (Paracercospora fijiensis (Morelet) Deighton)
Mycosphaerella musicola Leach (Pseudocercospora musae (Zimm.) Deighton)
Ralstonia solanacearum (Smith) Yabuuchi et al.
Castnia sp. (Insecta: Lepidoptera: Castiniidae)
Insecta: Homoptera: Aphididae
Agente causal
10(31,2)
5 (15,6)
7 (21,9)
7 (21,9)
5 (15,6)
5 (15,6)
4 (12,5)
4 (12,5)
7 (21,9)
4 (12,5)
4 (12,5)
4 (12,5)
5 (15,6)
7 (21,9)
8 (25)
9 (28,1)
13 (40,6)
27 (84,4)
21 (65,6)
10 (31,2)
4 (12,5)
n. (%)
21:42
Minador
Mancha de Cercospora
Antracnose
Vassoura-de-bruxa
Antracnose
Sigatoka Negra
Sigatoka Amarela
Moko
Broca do Pseudocaule
Meruxinga (Pulgão)
Doença
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12.
Hospedeiro
Principais doenças e pragas observadas em cultivos da várzea do Solimões-Amazonas, seus respectivos hospedeiros e número de propriedades onde o problema foi observado.
Num.
TABELA 1.
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Manga (Mangifera indica L.)
Maxixe (Cucumis anguria L.)
Melancia (Citrullus lunatus (Thung.) Mansf ) Melancia (Citrullus lunatus (Thung.) Mansf ) Melancia (Citrullus lunatus (Thung.) Mansf )
Milho (Zea mays L.)
Milho (Zea mays L.)
Pimentão (Capsicum annuum L.)
Pimenta (Capsicum sp.)
Quiabo (Abelmoschus esculentus L.)
Tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.) Tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.)
1.
2.
3.
6.
7.
8.
9.
10.
11. Murcha bacteriana
Ralstonia solanacearum (Smith) Yabuuchi et al.
Corynespora cassiicola (Berk & Curt) Wei
Cercospora sp.
Ralstonia solanacearum (Smith) Yabuuchi et al.
Ralstonia solanacearum (Smith) Yabuuchi et al.
Curvularia spp.
Helminthosporium turcicum Pass.
Insecta: Homoptera: Aphididae
Vírus
Corynespora cassiicola (Berk & Curt) Wei
Rhizoctonia solani Kühn
Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc.
Agente causal
8 (25)
4 (12,5)
7 (21,9)
6 (18,7)
5 (15,6)
6 (18,7)
5 (15,6)
4 (12,5)
6 (18,7)
5 (15,6)
4 (12,5)
6 (18,7)
n. (%)
21:42
Mancha de Corynespora
Mancha de Cerdospora
Murcha
Murcha
Mancha de curvularia
Helmintosporiose
Ova (Pulgão)
Mosaico (virose)
Mancha de Corynespora
Mancha foliar
Antracnose
Doença
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12.
5.
4.
Hospedeiro
Num.
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TABELA 2.
Agrotóxicos usados por agricultores da várzea do Solimões- Amazonas, Brasil, com seus respectivos grupos químicos, classes toxicológicas e percentual de propriedades em que são utilizados .
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TABELA 3.
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% 61,5 46,2 15,4 15,4 15,4 7,7 7,7 7,7 7,7 7,7 7,7 100 50 50
N.º 26 18 16 16 18 5 4 1 2 4
% 100 69,2 61,5 61,5 69,2 19,2 15,4 3,8 7,7 15,4
Cuidados adotados pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas antes ou depois da aplicação de agrotóxicos
Cuidados adotados Total de usuários de defensivos Aplicação contra o vento Banho após a aplicação Lavagem das roupas após a aplicação Tomar leite após a aplicação Lavar as mãos após a aplicação Tomar café reforçado antes da aplicação
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N.º 8 6 2 2 2 1 1 1 1 1 1 26 13 13
Equipamentos de proteção para aplicação ou preparação de calda de agrotóxicos utilizados pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas.
Equipamento Utilizados Agricultores que usam defensivos Bota Calça comprida Camisa de manga comprida Chapéu Luva Máscara Saco plástico (servindo como luva) Viseira Nenhum equipamento TABELA 5.
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Sintomas de intoxicação por defensivos, relatados pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas.
Sintomas apresentados Dor de cabeça Tontura Ardor nos olhos Enjôo Manchas na pele Ardor no rosto Coceira na pele Corpo grosso Febre Tosse Vômitos Agricultores que utilizavam defensivos Relataram já ter passado mal Nunca passaram mal TABELA 4.
21:43
N.º 26 22 21 15 3 1 2
% 100,0 84,6 80,8 57,7 11,5 3,8 7,7
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TABELA 6.
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Procedimentos de descarte de embalagens vazias de agrotóxicos adotados pelos agricultores da várzea do Solimões-Amazonas.
Procedimentos de descarte adotados Total de usuários de defensivos Queima Joga no mato Enterra Amontoa Joga na água Enterra em terra-firme Joga num buraco Joga no lixo Joga no sanitário
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
N.º 26 9 6 3 3 2 1 1 1 1
% 100 34,6 23,1 11,5 11,5 7,7 3,8 3,8 3,8 3,8
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FIGURA 5.
Sintoma de antracnose em folhas de mangueira.
FIGURA 7.
Sintoma de Sigatoka negra em folha de bananeira.
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FIGURA 6.
FIGURA 8.
Sintoma de Sigatoka amarela em folha de bananeira.
Sintoma de Moko em bananeira.
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FIGURA 9.
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Sintoma de Moko em pseudocaule de bananeira.
FIGURA 11. Sintoma de vassoura-de-bruxa em fruto de cacaueiro.
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FIGURA 10.
Sintoma de podridão em raiz de mandioca..
FIGURA 12.
Sintoma de murcha-bacteriana em tomateiro.
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LITERATURA CITADA COELHO NETTO, R.A.; NUTTER, F. Relative risk of Moko disease of banana in flooded versus non-flooded plantations in Brazil. In: INTERNATIONAL CONGRESS OF PLANT PATHOLOGY, 8, Christchurch, NZ. Proceedings... Christchurch: APPS, 2003. 358p. COELHO NETTO, R.A., PEREIRA, B.G., NODA, H. BOHER, B. Caracterização de isolados de Ralstonia solanacearum obtidos de tomateiros em várzea e em terra firme no estado do Amazonas. Fitopatologia Brasileira, 2003. 28(4):362-366. DAS, S.R., PANDA, S.N. Evaluation of fungicides against Sclerotium rolfsii causing collar rot of tuberose. Orissa Journal of Horticulture, 1997. 25(1): 46-48. JICA – IDAM. Estudo para melhoria da qualidade de vida das populações rurais através da agricultura, gestão e manejo racionais dos recursos naturais do Estado do Amazonas República Federativa do Brasil – Relatório Principal. Manaus, 2002. KITAJIMA, E.W., NODA, H., LIN, M.T., PAHLEN, A.V. der. Levantamento preliminar de viroses de plantas cultivadas nos arredores de Manaus, AM. Acta Amazônica, 1979. 9(4): 633-640. LOURD, M. Os principais patógenos das plantas cultivadas na Ilha do Careiro. Amazoniana, 1993. 12(3-4): 565-576. LOURD, M., ALVES, M.L.B., BOUHOT, D. Análise qualitativa e quantitativa de espécies de Pythium patogênicos nos solos da região de Manaus. II. Solos de várzea. Fitopatologia Brasileira, 1987. 12(3): 215-218. LOURD, M., NODA, H. ALVES, M.L.B. Principais fungos e bactérias patogênicos das plantas olerícolas na região de Manaus. Fitopatologia Brasileira, 1988. 13(1): 25-27. LOZANO, J.C. Overview of integrated control of cassava diseases. Fitopatologia Brasileira, 1992. 17(1): 18-22. NODA, H., MACHADO, F.M. Progresso na seleção de progênies de tomate resistentes à murcha bacteriana através da avaliação epidemiológica da doença. Acta Amazônica, 1993. 23(2/3): 107-114.
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PAIVA, W.O., NODA, H. Research on onion in the brasilian Amazon Region. Onion Newsletter, 1992. 4:14-16. PEREIRA, H.S. Dialogando com a paisagem: uma análise ecológica da agricultura familiar da várzea do Rio Solimões-Amazonas. Relatório do subprojeto – Estudos dos sistemas de produção utilizados pelos pequenos produtores familiares da várzea do Estado do Amazonas. Manaus: SHIFT, CNPq/IBAMA/BMFT, CKSC-Forschngszentrum geesthacht GMBH, 1994. 38p. PEREIRA, M.C.N, GUIMARÃES, R.R., CARDOSO, M.O., CAVALCANTE, H.L. Caracterização dos sistemas de produção em duas comunidades de várzea baixa no município do Careiro da VárzeaAM. Manaus: Embrapa/CPAA, 1988. 20 p. (Embrapa – CPAA. Documentos, 21). RODRIGUES, S.R., SANCHES, C.S., FIALHO, E.M.L.M., ISMAEL, A.P.K., BARROS, A.T.M. Comercialização e uso de produtos inseticidas para controle da mosca-dos-chifres em Aquidauana, MS. Corumbá: Embrapa Pantanal, 23 p. (Embrapa Pantanal, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 32). Disponível em: <http://www.cpap.embrapa.br/publicacoes/online/BP32>. Acesso em 08 jul. 2004. SANTOS, J.R.M., GALVÃO, E.U.P. Avaliação de doenças em germoplasma de arroz em várzea e em terra-firme no Amazonas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 1989. 24(12): 1483-1488. SCHROTH, G., KRAUSS, U., GASPAROTTO, L., DUARTE AGUILAR, J.A., VOHLAND, K. Pests and disease in agroforestry systems of the humid tropics. Agroforestry Systems, 2000. 50: 199-241. WAICHMAN, A.V., RÖMBKE, J., RIBEIRO, M.O.A., NINA, N.C.S. Use and fate of pesticides in the Amazon State, Brazil. Environmental Science and Pollution Research, 2002. 9(6): 423-428. YONEYAMA, S., STEIN, R.L.B. The ecology of Fusarium disease in black-pepper in Brazil. (3). The relationship between disease occurrence and soil type. Proceedings of the Kanto Tosan Plant Protection Society, 1995. 42: 167-168.
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CAPÍTULO 6
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA DAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS E DO ABASTECIMENTO DO MUNICÍPIO DE PAUINI Sandra do Nascimento Noda1 e 3 Gilberto de Assis Ribeiro2 e 3 Hiroshi Noda2 e 3 Jorge Emídio de Carvalho Soares2 Fidel Matos Castelo Branco3 Manoel de Freitas Mendonça Neto3
INTRODUÇÃO As modificações que ocorrem no sistema de produção tradicional utilizado pelos caboclos da Amazônia estão intrinsecamente relacionadas ao processo de modernização da agricultura regional associado aos processos sociais e econômicos de mobilidade e assentamento de agricultores de origem diferenciada na região (NODA et al., 1997). A conciliação entre o auto-reconhecimento, fortalecido pelas vocações e práticas tradicionais e propostas de alternativa econômicas nem sempre é uma tarefa fácil. Para que se estabeleçam propostas efetivas de gestão participativa é fundamental o conhecimento das principais variáveis que influenciam os sistemas produtivos tradicionais (PEREIRA et al., 2006). Em face disto, as instituições de pesquisa, ensino e extensão têm procurado atenuar as conseqüências negativas oriundas da atividade humana na região, com a geração de conhecimentos científicos. E como conseqüência, o estudo das interações ecológicas, sociais e econômicas envolvidas no processo
1. Universidade Federal do Amazonas - Faculdade de Ciências Agrárias (UFAM/FCA). 2. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). 3. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico (NERUA).
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produtivo contribui para o desenvolvimento sustentável nas áreas de produção agrícola da região. Este trabalho teve por objetivo o estudo dos componentes sociais e produtivos dos sistemas de produção utilizados pelos agricultores familiares das áreas de várzea do município de Pauini, com o intuito de avaliar as modificações adaptativas desses sistemas ao contexto socioeconômico. O estudo foi desencadeado quando a Prefeitura Municipal de Pauini ao implantar sua AGENDA 21, procurou em 2003 o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA, celebrando um Termo de Cooperação Técnica para implementação das atividades programadas. Nessa parceria reúnem-se as demandas de um Município com o terceiro mais baixo IDH do país (0,382). De outro lado, há uma Instituição que acumula cinqüenta anos de Pesquisas sobre a Amazônia. O INPA, por intermédio do Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico – NERUA, dispõe de recursos tecnológicos, que podem alavancar transformações no Município. Entretanto, recursos desse tipo são condições necessárias, mas não suficientes para alavancar o Desenvolvimento Sustentável. Também são imprescindíveis outros tipos de recursos, que não se encontravam disponíveis nas duas instituições da parceria constituída financeiros, materiais, etc. Por isso, o INPA/NERUA e a Prefeitura de Pauini, consultaram o governo do Estado, convidando-lhe para integrar a parceria. Diante desses fatos foi efetivado convênio com a Fundação de Amparo à Pesquisa – FAPEAM, através da chamada IV – Tecnologia Social para o Desenvolvimento Sustentável do Edital Temático, permitindo assim, catalisar o aproveitamento das potencialidades já constituídas, beneficiando a população local, profundamente carente. Assim, o trabalho proposto, em Pauini, teve o caráter de uma proposta-piloto, efetivada por meio de cursos, consultorias e treinamentos visando capacitar formadores e técnicos, com a intenção de obter subsídios para programas e políticas públicas. A área municipal, de cerca de três milhões de hectares, merece atenção especial quanto a sua verdadeira vocação tanto regional quanto local. Assim, propôs-se a realização de diagnóstico socioeconômico e agroecológico de Pauini para ações práticas em organização e processos educativos junto às sociedades locais. Tornar essa informação disponível é a base para que governo e população local discutam o planejamento e o ordenamento municipal. O município de Pauini (Figura 1) situa-se na mesorregião n.º 4, microrregião n.º 011, código municipal n.º 0350 conforme a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Distante de Manaus 915 km em
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linha reta. Área territorial de 42.651 km2, população de 19.295 hab., com população rural de 17.037 hab. e densidade demográfica de 0,44 hab./km2 (IBGE, 2000). Do ponto de vista climático, o território estudado, por suas precipitações anuais (2500-3000 mm) e sua umidade ambiental, está dentro de uma das mais úmidas da Amazônia; a temperatura média anual é de 26,5º C (GALAN DE MERA e VICENTE ORELLANA, apud RODRIGUES, 2002). O clima é tropical chuvoso e úmido. A dinâmica de ocupação é essencialmente agrícola, com culturas temporárias com mandioca, abacaxi, arroz, etc. Quanto à pecuária, é basicamente da criação de bovinos, onde a produção de carne e leite destina-se ao consumo local.
FIGURA 1.
Localização Geográfica do Município de Pauini. Estado do Amazonas. Brasil.
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Pauini tem uma área de 4.344.717 hectares, sendo que 1.147.005 hectares (26,4%) de seu território estão em terras indígenas e 273.206 hectares (6,9%) estão na FLONA do Rio Purus, uma unidade de conservação de uso sustentável. No total, o município possui 1.420.211 hectares (33,3%) com uma destinação específica. A maior parte desta área está próxima à confluência do Rio Pauini com o Rio Purus, estando às cabeceiras do Pauini sem destinação estabelecida (IBGE, 2000). Foram realizadas visitas técnicas em cinco comunidades ribeirinhas parceiras no Projeto TEDES (Tecnologias para o Desenvolvimento e Sustentabilidade do Município de Pauini) com finalidade de efetuar um diagnóstico socioeconômico das localidades e caracterizar o uso agrícola da terra para propor atividades socioeducativas e tecnológicas visando promover melhorias no sistema de produção do município, em bases sustentáveis, através da otimização do manejo dos recursos naturais disponíveis com a introdução de tecnologias e produtos capazes de melhorar a eficiência produtiva e econômica das comunidades locais, sem comprometer a segurança alimentar e respeitando as formas de organização social das localidades. As comunidades visitadas foram: Ajuricaba, Atalaia, São Pedro, Pauriã e Içá. A metodologia adotada foi o “Estudo de Caso”, tendo como estratégia a execução de um diagnóstico rápido e participativo para conhecer as tecnologias associadas à produção agrícola local. Segundo Greenwood (1973), este método “consiste no exame intensivo, tanto em amplitude como em profundidade da unidade de estudo empregando todas as técnicas disponíveis para ele”. Foram enfatizadas a identificação das populações e sua forma de organização para execução dos trabalhos, acessarem a terra, o conhecimento, a tecnologia e o produto obtido, suas formas de manejo produtivo, destino da produção obtida, bem como os problemas relacionados à produção agrícola e ao mercado consumidor. Dessa maneira foram programadas as seguintes atividades: - Caracterização do sistema de produção agrícola das comunidades; - Identificação das demandas relacionadas com a atividade agrícola; - Caracterização do mercado de produtos agrícolas do município; - Implantação e acompanhamento do modo de condução e manejo de hortas comunitárias nas comunidades rurais ribeirinhas locais. Os dados foram obtidos através da aplicação de questionários e entrevistas, estruturados com perguntas abertas e fechadas, aos agricultores familiares do município e em locais como feiras, mercados e mercearias nos
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bairros e nas áreas centrais da cidade. Os questionários foram aplicados por equipes de duas pessoas, onde um seguia o roteiro elaborado e o outro procedia às observações e anotações complementares no diário de campo, realizava os registros fotográficos e elaborava croquis dos plantios. A amostra foi aleatória, obedecendo aos seguintes critérios: visitas a 5% dos agricultores familiares por localidade e/ou comunidade; avaliação das atividades através de reunião relâmpago in situ para retomar, caso necessário, mais 5% dos produtores das localidades a serem entrevistados. Foi considerado suficiente, quando o número de questionários aplicados apresentava informações que começavam a se repetir, em conformidade aos condicionantes do método “Estudo de Caso”. Durante o trabalho, sempre que possível, buscou-se manter a interdisciplinaridade entre os pesquisadores no intuito de obter informações para futuras pesquisas. À noite eram realizadas reuniões de intercâmbio de informações juntamente com os comunitários, versando sobre as principais demandas e dificuldades dos agricultores em relação ao trabalho agrícola e situação socioeconômica.
A INFRA-ESTRUTURA DAS COMUNIDADES No aspecto da infra-estrutura, cada comunidade apresenta, basicamente, uma escola que atende a 4.ª série do Ensino Fundamental, habitações de madeira cobertas com telhas de zinco ou palha, igreja, casas de farinha e paiol. A água é coletada diretamente do rio, transportada em baldes e armazenada em recipientes tipo camburões; não apresentam esgoto sanitário; o sistema de iluminação é baseado em grupos geradores movido a óleo diesel. O transporte comunitário é realizado em canoas impulsionadas por motor tipo rabeta. Existe um sistema de radiofonia, funcionalizado com energia solar fotovoltaica, instalado em localidades estratégicas com o intuito de facilitar a comunicação entre as comunidades ribeirinhas e a sede do município. Todas as comunidades têm televisão com antena parabólica, normalmente, instaladas nas escolas. A Prefeitura Municipal de Pauini em parceria com o Governo do Estado do Amazonas promoveram doações de motores tipo rabeta, grupos geradores, casas de farinha e kits ferramenta a todas as famílias das comunidades ribeirinhas do município, através da Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento do município.
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Segundo Alencar (2005), as deficiências na prestação de serviços públicos na área social, particularmente a falta de escolas ou de cursos de Ensino Médio nas comunidades ribeirinhas, são as principais causas da migração de famílias da várzea em direção às sedes municipais. Devido à dificuldade de encontrar trabalho na área urbana retornam à várzea para cultivar roças e proceder à pesca, realizando um deslocamento sazonal. O autor conjectura que ao migrarem para a área urbana rompem com um modelo de reprodução social característico das sociedades camponesas, deixando de repassar um conhecimento tradicional e não preparam os filhos para dar continuidade a uma tradição de trabalho com a terra. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) estimulou as comunidades a organizarem associações. Alguns comunitários são associados ao Sindicato de Trabalhadores Rurais e à Associação de Pescadores do município de Pauini. Com relação à ação da pastoral da Igreja Católica nas comunidades ribeirinhas, desde a década de 1960, vêm incentivando a formação de comunidades nas localidades do interior. A idéia, posteriormente, foi sendo assumida por lideranças locais e o desdobramento desse movimento de cunho religioso-social fez com que as comunidades viessem a se constituir na principal referência de pertencialismo socioespacial (PANTOJA, 2005). Blum (2001) defende que a filosofia da vivência em grupos sociais, para melhorar a resolução de problemas através da soma de forças e mentes deve ser constante preocupação dos agricultores e que a forma democrática de atuação grupal, o estudo das lideranças, a noção de dinâmica de grupo e o estímulo à forma participativa de planejamento, decisão e execução devem ser incentivados em todas as comunidades rurais.
RELAÇÕES SOCIAIS DE TRABALHO O trabalho agrícola é feito por famílias extensas, caboclas, descendentes de seringueiros que, de uma forma ou de outra, têm acesso aos meios de produção, à terra e aos equipamentos, combinados em sistemas de uso de múltiplas estratégias, em diferentes ambientes, que possibilitam a segurança alimentar e a reprodução social. No período do extrativismo da borracha, os seringueiros arrendavam estradas dos patrões para “riscar” seringa pagando com o produto e por estrada. Com o “fracasso” da economia extrativista passaram a plantar roça e fruteiras
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regionais diversas. Naquela época, as pessoas trabalhavam no verão na extração de seringa, em dezembro na fabricação de farinha e no inverno na extração da castanha. A terra foi acessada através da posse simples, com base na permanência histórica nas colocações locais, após o declínio da exploração extrativista de seringa. As propriedades não são divididas e as áreas de produção agrícola são usadas individualmente pelas unidades familiares. As áreas de praia são usadas ano a ano pelos mesmos grupos domésticos. Cada comunidade e/ou unidade familiar define seu território e estabelece critérios para acesso aos recursos naturais neles existentes. Quando o trabalho é organizado pela família, nuclear ou extensa, a força de trabalho familiar apresenta-se assentada em dois tipos de trabalho: o trabalho utilizado na produção agroflorestal e o trabalho realizado por meio de serviços domésticos. Como a unidade de consumo é a família, é ela quem determina a quantidade e a forma – se caseira ou não – do trabalho necessário à manutenção familiar (NODA et al., 1997). O emprego e a distribuição da força de trabalho, numa unidade familiar, são fatores extremamente importantes na manutenção da sustentabilidade do sistema produtivo. Qualquer impacto ambiental que resulte em dificuldades adicionais ao produtor familiar, para a produção agrícola ou para obtenção de algum produto extraído do ambiente natural (peixe, caça, madeira, etc.) causa, como conseqüência, a necessidade do emprego de força de trabalho adicional (NODA et al., 2001). No aspecto organizacional, as comunidades improvisam, sendo raras as contas, controles e anotações para o planejamento das atividades. Blum (2001) argumenta que a maioria dos agricultores não faz controle de receitas e despesas; não faz análise dos custos, portanto, não conhece as margens brutas, os lucros e as relações benefício/custo. Eles percebem que estão empobrecendo ou apenas se mantendo na atividade, mas não conseguem detectar a fonte dos seus problemas; desconhecem quais são as atividades mais lucrativas e que deverão ser incentivadas e quais são as deficitárias e que deverão ser eliminadas ou reduzidas, observando sempre o sistema de produção. O trabalho produtivo nas comunidades visitadas é baseado na ajuda mútua nas modalidades de mutirão, troca-de-dia e parceria. A “união” costuma ser feita para execução de atividades que demandam maior quantidade de mão-de-obra como plantio, colheita, farinhada, etc.
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Eventualmente contratam pessoas de outras comunidades como diaristas para ajudar nas atividades pagando com produtos, principalmente a farinha e o feijão. Em algumas praias, situadas nas áreas indígenas, os índios cobram arrendamento dos agricultores ribeirinhos, que normalmente são pagos com uma pequena parcela do produto cultivado. O conhecimento usado no manejo dos componentes de produção (sítio, roça e canteiro suspenso ou jirau) é basicamente o culturalmente acessado. Para esses componentes as comunidades não recebem, no momento, assistência técnica. O material propagativo utilizado nos plantios (semente, muda, estaca, etc) é compartilhado entre os agricultores e entre as localidades, inclusive com as comunidades indígenas. Na origem a obtenção de alguns desses produtos como o feijão, por exemplo, relaciona-se com agentes externos como “um negociante que trouxe o feijão da EMATER de Boca-do-Acre”, etc. Algumas sementes usadas no componente horta são compradas, ou então, doadas pela Secretaria de Produção do município. As relações de trabalho de ajuda mútua, denominadas regionalmente de mutirão, ajuri, e/ou puxirum, apontam para a inexistência de uma formalização, de uma regulamentação, dessas relações. A característica principal é o conhecimento do processo produtivo agrícola e extrativista. Apresentam-se como sendo o produto das necessidades econômicas dos agricultores familiares. A relação de troca de dia é considerada como ajuda mútua dada às bases em que se dá o contrato social. Não ocorre remuneração, pois esta relação vem suprir as necessidades de dinheiro dos agricultores familiares que não possuem a quantidade necessária para assalariar temporariamente. As relações de parceria se dão quando a força de trabalho familiar não é suficiente e não possuem recursos para pagar serviços de terceiros (NODA et al., 1997). Nas comunidades ribeirinhas de Pauini a renda familiar resulta das atividades de agricultura, criação animal (bovinos, ovinos, suínos e aves) e do extrativismo animal (caça e pesca) e vegetal (madeira, cipó, vara, palha, frutos, etc.). Outros rendimentos têm origem na aposentadoria e de benefícios dos programas sociais do Governo Federal (bolsa-escola, bolsa-família, etc.). De acordo com Alencar (2005), a economia em comunidades ribeirinhas é baseada na diversificação de atividades e na utilização de estratégias econômicas que combinam a exploração de diferentes recursos, onde o somatório da renda gerada por cada uma delas permite a reprodução das famílias.
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Os agricultores familiares do município levam os produtos oriundos da atividade agrícola para comercializar no mercado de Pauini, ou então, o fazem diretamente com os “marreteiros” (regatões) na própria localidade. A negociação com estes últimos é quase sempre à base de troca por outros produtos alimentícios (arroz, café, óleo, sal, etc.). No mercado de Pauini a comercialização se dá, comumente, a dinheiro com base no preço atualizado de mercado. Segundo NODA et al. (2001), a atuação dos marreteiros como agentes sociais de comercialização é favorecida pela produtividade excedente do trabalho familiar, alienada na comercialização dos produtos. Em decorrência da falta de registros de produção os agricultores entrevistados citaram as espécies por eles cultivadas, sem precisar a área plantada e até mesmo a produção obtida. Nas análises que seguem trabalhamos as áreas e produção média dos principais cultivos declarados nas entrevistas.
O MANEJO DO ECOSSISTEMA PARA A PRODUÇÃO As comunidades visitadas apresentam ambientes predominantemente de várzea baixa. Compreendendo um mosaico paisagístico identificado pelos comunitários como terra-alta ou “terruã”, restingas ou “lombadas”, encostas da restinga, praia, igarapé, chavascal, queimada, centro, capoeira, com exuberância vegetal e presença de água doce proveniente do rio Purus. As áreas conhecidas como terra-alta são aquelas alagadas apenas por grandes inundações como a ocorrida em 1997, normalmente, estão localizadas nas terras pertencentes às comunidades indígenas. De acordo com a classificação de Castro apud Alencar (2005), que utiliza como critério a topografia do terreno, as comunidades visitadas poderiam ser classificadas como comunidades insulares, consideradas àquelas localizadas em ilhas de várzea, sem acesso às áreas de terra-firme.
NAS PRAIAS E ENCOSTAS DA RESTINGA O preparo da área pode iniciar antes da inundação (janeiro/fevereiro) ou depois através de uma limpeza da vegetação, principalmente o murim (Paspalum fasciculatum Willd. ex Flüggé) e canarana (Panicum spectabile Nees ex Trin.). Quando o rio recua e as áreas ficam livres de vegetação, os
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agricultores fazem o coveamento para o plantio seguindo métodos tradicionais e culturalmente acessados. De acordo com o conhecimento tradicional de alguns agricultores ribeirinhos locais, o tipo de vegetação pré-existente influencia no sedimento retido e depositado: “o murim retém mais areia e a canarana retém mais barro”. O capim-de-burro (Cynodon spp.) é tido como indicador do local onde pode plantar mandioca sem ter maiores problemas com a enchente. De acordo com a experiência tradicional dos agricultores ribeirinhos locais: o plantio costuma ocorrer no período de maio a julho (no verão) dependendo da descida do rio; a área plantada está diretamente relacionada ao tamanho e a qualidade da praia que sai a cada ano; o local de plantio é determinado pelo tipo/qualidade do solo que foi depositado. A mandioca, por exemplo, precisa de solo mais “areiusco” ou “barreado” (areia misturada com um pouco de barro), pois quando plantada em solo barrento vegeta em detrimento da produção das raízes. O jerimum não “prospera” na areia fina da praia, logo, deve ser cultivado em locais mais altos como as encostas e restingas, onde o solo é mais barreado. O principal cuidado após o plantio é o combate às “perseguições”. A casca da árvore conhecida localmente por “cabaçaqué” raspada e colocada na água com milho e feijão, é usada para combater ratos (Rattus spp.) que atacam milho, feijão, melancia e macaxeira. Além do rato, o milho costuma ser atacado pela graúna (Molothrus spp.) e a maracanã (Propyrrhura spp.). O feijão sofre com a paquinha (Gryllotalpidae), e a perseguição do marreco (Dendrocygba spp.), do pássaro xexéu (Cacicus spp.) e do rato. Para combater a saúva (Atta spp.) utilizam iscas feitas com sementes de gergelim. As colheitas são feitas manualmente antes que o rio atinja a plantação. O transporte interno das áreas de produção para as moradias é feito manualmente ou através de canoas quando as áreas de plantio estão localizadas nas praias circunvizinhas da comunidade. O armazenamento dos produtos in natura (milho e feijão) ou processados (farinha de mandioca) é feito em latas e tambores diretamente nas casas e pelo menos um guarda em paiol. As sementes destinadas ao plantio são colocadas em garrafas (PET, vidro, etc.) e vedadas com cinza e cera de abelha para evitar a ação de gorgulhos. As melhores manivas de mandioca e ramas de batata-doce são selecionadas e plantadas na terra-alta com a finalidade de manutenção dos propágulos vegetativos.
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TERRA-ALTA OU TERRUÃ Segundo as informações coletadas, o preparo da área cultivada no ecossistema de terra-alta ocorre, geralmente, no mês de junho. As operações de preparo dependem do tipo de vegetação pré-existente. Numa área de mata, envolve a broca, derrubada, queima e coivara. O plantio normalmente é realizado no mês de agosto, iniciando com a mandioca e depois com as demais culturas, algumas como a banana, por exemplo, são colocadas nas beiras, outras pelo meio da roça. A terra-alta também é utilizada para manutenção de propágulos vegetativos de mandioca e batata-doce. Além dos cultivos agrícolas, neste ecossistema também são formados campos para pastoreio bovino, que são utilizados durante o período de alagação. Os tratos culturais envolvem capinas e combate às “perseguições” como a saúva, o rato, a paca e a cutia. A colheita é feita manualmente e o desmanche, ao contrário da roça na praia, pode ser feita aos poucos desde que a inundação não atinja a plantação. O transporte interno dos produtos é feito manualmente através da mata até a beira do rio ou ao local de processamento próximo à habitação.
RESTINGA A restinga, onde estão localizadas as moradias, além das plantações, também é usada, em algumas comunidades, como campo de pastoreio para a criação de bovinos. Os tratos culturais identificados no componente foram a roçagem e a construção de cercados em torno de alguns plantios a fim de evitar que o gado danifique as plantas. Um trato cultural observado, nas plantas associadas à moradia, é a construção de aterrados na tentativa de deixar as plantas cultivadas fora do alcance das águas do rio, na ocasião da cheia. Após o uso, dois ou três anos de cultivo, a área da roça é manejada com fruteiras ou deixada em pousio (encapoeirar), por dois anos no mínimo, para então voltar a ser usada. Enquanto a terra “descansa” abrem um outro “buraco” na mata para implantar novo roçado. As principais espécies cultivadas nas restingas dos sítios das cinco comunidades ribeirinhas visitadas são: abacate, abacaxi, açaí, ariá, banana, cajá, coco, cupuaçu, goiaba, laranja, lima, limão, mandioca, manga, plantas ornamentais e medicinais diversas.
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CANTEIRO SUSPENSO OU JIRAU Os canteiros suspensos estão localizados na frente, nas laterais ou nos fundos das habitações. Costumam cultivar nos jiraus cebolinha, chicória, coentro, couve, pimenta-doce, tomate e pequenas plantas medicinais e ornamentais. O plantio é feito do final de maio até julho. A renovação do substrato é feita anualmente, quando têm disponibilidade de estrume de boi e paú-da-mata. As regas são realizadas nas horas mais frescas do dia. Uma estratégia utilizada para evitar a entrada de animais é cercar os canteiros com varas e/ou partes de malhadeira. Os homens atuam, basicamente, na construção dos canteiros, cercado e transporte do adubo. O “cuidado com as plantas” é feito pelas mulheres juntamente com as crianças, que “ajudam” na tarefa de carregar água do rio em baldes e/ou panelas para “molhar” o plantio.
CRIAÇÃO ANIMAL Nas comunidades ribeirinhas, a criação de animais domésticos para alimentação é baseada na criação de aves, suínos, ovinos e bovinos. Inicialmente, os animais foram obtidos por herança e posteriormente em troca de produtos, serviços e até mesmo pagamento em dinheiro proveniente de reserva feita com trabalho em extração de madeira e fabrico de farinha. O manejo alimentar, sanitário e reprodutivo da criação é fundamentado em bases tradicionais. Os animais são criados soltos, alimentando-se livremente na comunidade, fazendo proveito de restos de alimentos, frutas do quintal e da mata, raspas de mandioca e subprodutos do fabrico da farinha e pastoreio natural. Alguns produtos que aparecem como componente do sistema agrícola como o melão, a melancia e o milho também são usados na suplementação alimentar da criação. As instalações são rudimentares. Na época da enchente, o gado é acondicionado em marombas e os animais menores em chiqueiros suspensos. Os animais de pequeno e médio porte são criados apenas para atender as necessidades de consumo familiar, enquanto a criação bovina, além desta, apresenta outras finalidades como pagamento de serviços terceirizados e vender numa situação de “aperreio”. Alguns criadores de boi vendem diretamente para os açougueiros de Pauini, que por sua vez, buscam os animais
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na comunidade, levando-os abatidos, pagando à base de troca com outras mercadorias. O manejo do gado costuma ser feito pelos criadores das comunidades estabelecendo a “união” para algumas atividades como construir curral, vacinar contra a febre aftosa, cuidar dos animais na maromba e fazer cerca em torno dos plantios. Algumas vezes contratam serviços de terceiros pagando com troca-de-dia. Os animais bovinos criados nas comunidades foram identificados como sendo mistura de animais pé-duro com nelore. Onde o pé-duro é considerado como bom de produção de leite e o nelore é tido como ruim de leite. No verão, os bois são criados soltos, freqüentando a mata e o campo no entorno da comunidade. Segundo os criadores entrevistados, na mata-alta os animais alimentam-se, basicamente, com frutos de gameleira (Ficus spp.), taperebá ou cajá (Spondias mombin L.) e caxinguba (Ficus spp.) dentre outros. Na mata-baixa e beiras do rio, onde ocorre maior incidência dos raios solares, alimentam-se com capim natural, embaúba (Cecropia spp.) e rama “gurdião”. No campo, os animais alimentam-se com urtiga (Fleurya aestuans (L.) Gaudich. ex Miq.), capim barba-de-bode (Aristida spp.), capim-gordura (Melinis minutiflora P. Beauv.) é o preferido, capim-de-burro e o murim quando novo. A suplementação da alimentação é feita com o fornecimento de sal comum “só pra dá saliva no gado”, que é comprado em fardos atendendo, também, às necessidades da família e salga do pescado. No inverno, período da alagação, entre os meses de fevereiro até abril, os animais são suspensos em marombas. Nesse período, a alimentação fornecida à criação bovina é suprida, principalmente, com canarana, folhas e “olho” da embaúba. Alguns criadores conduzem seu rebanho para campos formados na terra-alta ou terruã. No manejo da criação bovina, a apartação dos animais é feita por conta própria. Para abreviar o período do aleitamento colocam uma “tabuleta” no nariz dos bezerros. A castração dos machos é feita a partir de um ano e pouco de idade visando à engorda dos animais. Os animais não são ferrados (marcados) e nem divididos por categoria, a monta é livre e não há divisão de pastagem, os animais são criados todos juntos. Alguns criadores da várzea, com o intuito de formarem campo nas restingas para o pastoreio bovino, obtiveram sementes de capim braquiário (Brachiaria spp.) com criadores da terra-firme, mas a água matou o capim. Como invasoras das pastagens, identificaram o “mata-pasto” e o “pau-de-
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leite”, “mas as imundícies são tantas que não sabem nem dizer o nome”. As plantas invasoras das pastagens são desmoitadas, anualmente, com terçado e enxada como forma de controle. Foi mencionada uma planta tóxica denominada comumente como “tingüi”, cuja semente é depositada no solo depois da alagação e “brolha” no campo, para o controle procedem ao arranque. A doença de maior ocorrência na criação de gado é denominada localmente como “seca dos animais”. Não têm problema com carrapato. Nos últimos dois anos (desde novembro de 2004) vacinaram contra febre aftosa. A vacina é fornecida pelo IDAM (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas) e a aplicação é feita por um conhecido de Pauini que foi treinado por um veterinário do próprio Instituto. Várias são as espécies de plantas tóxicas que crescem associadas às pastagens, algumas delas foram abordadas por Tokarnia et al. (1979); uma delas, também, denominada popularmente em Roraima por “tingui” é a Coutoubea ramosa Aubl., pertencente à família Gentianaceae. Os estudos experimentais realizados com esta espécie em bovinos, apresentaram sintomas que consistiam em anorexia, andar lerdo, manifestações de dores abdominais, diminuição da atividade do rúmen, taquicardia, polipnéia, superfície do corpo fria e morte. Esta planta, mesmo dessecada, após 4 meses e meio, continuou a apresentar efeitos tóxicos. Como “perseguições” da criação animal foram relatados o morcego, a onça, a cobra e o jacaré-açu. Para combater as infecções causadas por mordida de morcego passam óleo de andiroba (Carapa guianensis Aubl.) no local mordido. Para curar bicheiras, estrepes e golpes nos animais utilizam remédios obtidos no Posto da SUCAM (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública Ministério da Saúde). De acordo com o conhecimento tradicional local, a fruta da gameleira (Ficus spp.) que é consumida espontaneamente na mata, também, serve como um vermífugo natural para os animais. A criação de animais domésticos costuma ser um componente importante da agricultura familiar. Além de função alimentar os mesmos podem funcionar como uma espécie de “ativo” facilmente mobilizável para satisfazer necessidades imediatas da família, principalmente nas situações de “aperreio”, mediante venda ou de outra relação (NODA et al. 2001).
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RECURSOS FLORESTAIS Nas visitas técnicas realizadas foi possível constatar que os ribeirinhos entrevistados extraem produtos florestais madeireiros e não-madeireiros, apenas para atender à demanda das famílias na própria comunidade. Os recursos extraídos da floresta são divididos entre as famílias que se juntam para obtê-los. Produtos como o vinho de açaí são processados artesanalmente na própria comunidade e divididos entre as famílias. Aqueles que extraem a castanha-do-Brasil, normalmente, comercializam com os regatões em troca de produtos industrializados. A madeira extraída é utilizada para a confecção de casas, canoas, cercados e lenha para uso doméstico e alimentação dos fornos na ocasião do fabrico de produtos da mandioca. Os entrevistados argumentaram que “para achar a madeira está ficando cada vez mais longe” e “antigamente, no tempo da MANASA (Madeireira Nacional S.A.), tá com uns 25 anos, tinha muita jacareúba”. Vale ressaltar que a madeira do rio Purus foi bastante explorada nos anos 80 até 2002 pelas madeireiras MANASA e Gethal Amazonas. Nas entrevistas foi possível relacionar 23 espécies madeireiras que são regularmente utilizadas pelos ribeirinhos, dentre as quais as mais citadas foram: acariquara (40%), jacareúba (40%), jitó (60%), lacre (60%), maçaranduba (60%), mulateiro (40%) e paracuúba (50%). Foram citados 20 produtos florestais não-madeireiros utilizados comumente pelos comunitários ribeirinhos, dentre eles os mais freqüentes foram: açaí (89%), andiroba (56%), cacau (67%), castanha-do-Brasil (56%), lenha (100%) e mel-de-abelhas (56%). O período em que utilizam maior quantidade de lenha situa-se entre dezembro a março. As espécies relacionadas que são mais utilizadas para lenha foram o mulateiro e a paracuúba, sendo a primeira considerada como melhor. Um entrevistado na comunidade Atalaia comentou que “tá mais distante a lenha, porque já usaram muita”. Outro na comunidade Içá relatou que “paumulato (mulateiro) ainda tem uma porção deles”. Durante as observações de campo foi possível constatar que o mulateiro apresenta grande potencial de estabelecimento nas restingas das localidades, cresce rápido e em grande quantidade. A extração madeireira afeta, a cada ano, uma área muito maior de floresta primária do que todos os outros usos da terra juntos, mas esses efeitos são difíceis de serem detectados porque não resultam na remoção completa do dossel. Com a inexistência de um planejamento da exploração florestal, em
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função da auto-ecologia das espécies, e a falta de um plano de corte para cada espécie a ser explorada, corre-se o risco de perda da variabilidade genética e, numa condição mais drástica, pode ocasionar a extinção das espécies de interesse (VIEIRA et al., 1993:48). Sistemas sustentáveis invariavelmente requerem que a proporção da madeira que é colhida em cada ciclo seja limitada. Deixar a madeira de valor na floresta aumenta os lucros futuros, independente da atração de deixar árvores do ponto de vista da sustentabilidade (FEARNSIDE, 2003).
RECURSOS PESQUEIROS A pesca nas localidades visitadas é realizada, fundamentalmente, para o atendimento do consumo familiar, comercializando apenas o excedente. É executada com apetrechos confeccionados artesanalmente (anzol/linha, caniço, espinhel, flecha, malhadeira e tarrafa) e canoa a remo, por vezes, impulsionada com motores de rabeta quando necessitam realizar grandes deslocamentos. Os locais da atividade são no rio Purus, lagos e igapós próximos às comunidades. Durante as entrevistas foram listadas 35 espécies de peixes que são regularmente aproveitadas pelas famílias ribeirinhas, dentre estas, as mais citadas pelos entrevistados foram: branquinha (56%), cará (44%), curimatã (56%), jundiá (44%), mandi (67%), pacu (100%), piau (56%), piranambu (44%), sardinha (100%) e surubim (78%). Dentre os apetrechos de pesca os que mais concorrem para a captura das espécies comentadas nas entrevistas são a malhadeira (91%), o anzol/linha (66%) e a tarrafa (63%). A população das comunidades de peixes muda, radicalmente, durante o ano, de acordo com as flutuações do nível da água. Os métodos pesqueiros também se adaptam às diferenças na profundidade da água e aos movimentos dos peixes. Muitos peixes aparentemente desovam quando as águas sobem. Outros desovam nos lagos e ao longo das restingas. Porém, a mais espetacular corrida de peixes, conhecida como piracema, ocorre quando as águas começam a baixar, é nesse momento que ocorre a formação de cardumes de várias espécies que migram rio acima. Tais migrações volumosas atraem a atenção de vários predadores, contribuindo para o aumento no número de espécies piscícolas que podem ser capturadas para a alimentação (SMITH, 1979). Algumas comunidades ribeirinhas do município de Pauini tiveram que lutar junto ao IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
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Naturais Renováveis) pela preservação do lago do Içá. A preservação durou quatro anos (2000 a 2004) e durante esse tempo tiveram atrito com os pescadores comerciais, principalmente, os “vindos de fora”. Segundo Batista et al., (2004), a ação deficiente do poder público como gerenciador dos recursos pesqueiros e a exclusão da pesca como prioridade nos programas governamentais de gerenciamento de recursos naturais da região permitiu o aumento descontrolado da explotação. As normas de ordenamento pesqueiro existentes, consideradas, na maior parte das vezes inadequadas às características regionais são, na prática, pouco cumprida e deficientemente fiscalizadas. Para McGrath et al. (1993) apud Batista et al. (2004), os ribeirinhos reivindicam a posse dos peixes nos seus lagos, do mesmo modo que os proprietários de terra reivindicam a posse de caça em suas terras. De acordo com os autores, esta noção de posse dos recursos pesqueiros dos lagos é menos aplicada aos rios, sendo geralmente reconhecido que o peixe do rio pertence a quem o pescar.
O MERCADO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS O abastecimento de Pauini com produtos alimentícios é caracterizado, basicamente, pela importação de produtos provenientes do Rio Branco/AC (cereais, açúcar, café, tabaco, frutas, hortaliças, frango congelado, etc.). Proprietários de mercadinho, mercearia e de embarcação (freteiros) encomendam de frigoríficos, empacotadoras ou representantes comerciais do município de Rio Branco que abrem crédito para pagamento com cheque prédatado (trinta, quarenta e sessenta dias) ou ordem bancária. Os compradores pagam frete, imposto e assumem o risco por perdas. Dependendo do produto, vendem diretamente ao consumidor ou repassam para outros comerciantes dos bairros de Pauini dando prazos menores para o pagamento. No verão, os produtos são transportados, via terrestre, até o município de Boca do Acre para então serem embarcados para Pauini. Os barcos não possuem câmaras frias para transportar produtos perecíveis, no máximo caixas de isopor. No inverno os produtos podem ser transportados via fluvial direto de Rio Branco. A tecnologia de conservação adotada no comércio local é o de acondicionamento em freezers e expositores. A perda de produtos como uva, maçã, tomate, pimentão e repolho é considerada grande.
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A produção agrícola das localidades ribeirinhas contribui basicamente com o suprimento de farinha de mandioca (seca, d’água e de tapioca), molho arubé, banana (prata, maçã e comprida), mamão, maracujá, limão e produtos florestais não-madeireiros (açaí, bacaba, castanha, etc.). Os agricultores da terra-firme (cidade e colônia) contribuem com colorau, cheiro-verde, farinha, macaxeira, tucumã, cupuaçu, graviola e produtos da criação de bovinos (queijo, leite e carne). Nos mercados, os produtos são expostos em bancadas, acondicionados em sacos, paneiros e ao ar livre. As unidades de medidas usadas para comercialização são o quilograma, litro, lata, alqueire, saca, paneiro, palma, cacho e por unidade (cento, dúzia, dezena). O pescado é acondicionado em caixas de isopor e exposto sobre bancadas de alvenaria revestida com azulejos. A carne bovina não é vendida por corte específico. A maior parte da carne bovina comercializada é originada de Boca do Acre. Os preços são tabelados por quilo sem a diferenciação por parte do animal ou do tipo de peixe. A inexistência de uma atividade agrícola que atenda às demandas das populações locais no Estado do Amazonas faz com que grande parte dos produtos alimentares seja importada de outras regiões do país, que normalmente são transportados de áreas distantes, majorando o preço dos alimentos e tornando-os de difícil acesso pelas populações de baixa renda, contribuindo assim para o aumento da deficiência nutricional em calorias, proteínas e vitaminas na região (NODA et al., 1997).
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LITERATURA CITADA ALENCAR, E. F.. Políticas públicas de (in)sustentabilidade social: o caso de comunidades da várzea do alto Solimões, Amazonas. In: LIMA, D. (org.). Diversidade socioambiental nas várzeas dos rios Amazonas e Solimões: perspectivas para o desenvolvimento da sustentabilidade, Manaus, PROVÁRZEA/IBAMA, 2005. p. 59-99. BATISTA, V. S., ISSAC, V. J., VIANA, J. P. Exploração e manejo dos recursos pesqueiros. In: RUFINO, M.L. (ed.) A pesca e os recursos pesqueiros na Amazônia brasileira, Manaus, PROVÁRZEA/IBAMA, 2004. p. 63-151. BLUM, Rubens. Agricultura familiar: estudo preliminar da definição, classificação e problemática. In: TEDESCO, J.C. (org.) Agricultura familiar: realidades e perspectivas. Passo Fundo: UPF, 2001. p. 57-104. IBGE. Características das populações de dos domicílios: Resultados do universo. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2000. 243 p. FEARNSIDE, P. M. Biodiversidade nas florestas amazônicas brasileiras: riscos, valores e conservação. In: FEARNSIDE, P. M. A floresta Amazônica nas mudanças globais. Manaus: INPA, 2003. p. 19-39. GREENWOOD, E. Metodologia de la Investigacion Social. Buenos Aires: Paidós, 1973. 126 p. NODA, S. N., NODA, H., AZEVEDO, A. R., MARTINS, A. L. U., PAIVA, M. S. Agricultura familiar: a organização espacial na produção e no turismo. Parcerias Estratégicas, 2001. 12:84-111. NODA, S. N., PEREIRA, H. S., CASTELO BRANCO, F. M., NODA, H. O trabalho nos sistemas de produção de agricultura familiar na várzea do Estado do Amazonas. In: NODA, H., SOUZA, L.A.G., FONSECA, O.J.M. (orgs.). Duas décadas de contribuições do INPA à pesquisa agronômica no Trópico Úmido. Manaus: INPA/MCT, 1997. p. 241-280. PANTOJA, M. C. A várzea do Médio Amazonas e a sustentabilidade de um modo de vida. In: LIMA, D. (org.). Diversidade socioambiental nas várzeas dos rios Amazonas e Solimões: perspectivas para o desenvolvimento da sustentabilidade. Manaus: PROVÁRZEA/IBAMA, 2005. p. 157-205.
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Principais espécies cultivadas nos sítios de cinco comunidades ribeirinhas do município de Pauini. Nome popular
Nome científico
Espécies arbóreas/lenhosas Abacate Persea americana Mill. Açaí Euterpe spp. Azeitona Olea europaea L. Bacaba Oenocarpus bacaba Mart. Cacau Theobroma cacao L. Caju Anacardium occidentale L. Coco Cocos nucifera L. Cupuaçu Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum. Fruta-pão Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg Goiaba Psidium guajava L. Graviola Anona muricata L. Ingá Ingá spp. Jambo Eugenia malaccensis L. Laranja/limão Citrus spp. Mamão Carica papaya L. Manga Mangifera indica L. Pupunha Bactris gasipaes Kunth Seringueira Hevea brasiliensis Muell. Arg. Urucum Bixa orellana L. Espécies arbóreas/herbáceas Abacaxi Ananas comosus (L.) Merr. Ariá Calathea allouia (Aubl.) Lindl. Batata-doce Ipomoea batatas (L.) Lam. Banana Musa spp. Cana-de-açúcar Saccharum officinarum L. Cebolinha Allium schoenoprasum L. Chicória Erygium foetidum L. Feijão-de-metro Vigna sinensis (L.) Savi ex Hassk. Feijão-de-praia Vigna unguiculata (L.) Walp. Jambu Spilanthes oleracea L. Jerimum Cucurbita maxima Duchesne Macaxeira/mandioca Manihot esculenta Crantz Maracujá Passiflora edulis Sims Maxixe Cucumis anguria L. Melancia Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai Milho Zea mays L. Pepino Cucumis sativus L. Pimenta-doce Capsicum spp. Pimenta-malagueta Capsicum spp. Pimenta-murupi Capsicum spp. Pimentão Capsicum annuum L. Quiabo Hibiscus esculentus L. Taioba Colocasia antiquorum Schott Tomate Lycopersicon esculentum Mill. Vinagreira Hibiscus sabdariffa L. Alface Lactuca sativa L. Repolho Brassica oleracea L. Beterraba Beta vulgaris L.
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
Família botânica
Freqüência (%)
Lauraceae Arecaceae Oleaceae Arecaceae Sterculiaceae Anacardiaceae Arecaceae Sterculiaceae Moraceae Myrtaceae Annonaceae Leguminosae Myrtaceae Rutaceae Caricaceae Anacardiaceae Arecaceae Euphorbiaceae Bixaceae
33 75 33 42 67 67 58 58 33 75 33 42 58 67 50 75 75 58 33
Bromeliaceae Marantaceae Convolvulaceae Musaceae Poaceae Liliaceae Apiaceae Fabaceae Fabaceae Asteraceae Cucurbitaceae Euphorbiaceae Passifloraceae Cucurbitaceae Cucurbitaceae Poaceae Cucurbitaceae Solonaceae Solonaceae Solonaceae Solonaceae Malvaceae Araceae Solonaceae Malvaceae Compositae Brassicaceae Chenopodiaceae
50 25 75 83 25 75 83 17 100 17 67 100 33 50 83 75 17 83 25 25 33 33 8 42 8 8 8 8
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Nome popular
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Nome científico
Espécies arbóreas/lenhosas Cenoura Daucus carota L. Pimenta roxa Capsicum spp. Pimenta-olho-de-peixe Capsicum spp. Espécies medicinais Amor-crescido Portulaca pilosa L. Agrião Nasturtium spp. Anador Artemisia voluntorium Lam. Boa-noite/bom-dia Capim-santo Cymbopogon citratus (D.C.) Stapf. Cravo Tagetes patula L. Crista-de-galo Celosia argentea L. Croto Hibiscus spp. Erva-cidreira Melissa officinalis L. Gergelim Sesamum indicum L. Hortelã Mentha piperita L. Jucá Caesalpinia ferrea Mart. Malvarisco Althaea officinalis L. Mangarataia Zinziber officinalis Roscoe Manjericão Ocimum basilicum L. Mastruz Chenopodium ambrosioides Bert. ExStend Onze-horas Portulaca spp. Oriza Pogostemon heyneanus Benth. Papoula Hibiscus spp. Pinhão-branco Jatropha curcas L. Pinhão-roxo Jatropha gossypifolia L. Primavera Não identificada Rosas Rosa cinnamomea L. Sabugueiro Sambucus spp. Sacaca Cróton cajucara Benth Coirama Kalanchoe spp. Mucuracaá Petiveria alliaceae L. Coité Crescentia spp. Elixir paregórico Piper Callosun Ruiz & Pav. Manjirioba Senna occidentalis (Linn.) Link. Alecrim Rosmarinus officinalis L. Ampicilina Não identificado Espada-de-são-jorge Sansevieria spp. Cordão-de-frade Leonitis nepetifolia L. Bananeira brava Musa spp. Orquídea Epidendrum spp. Boldo Vernonia spp. Saratudo Byrsonima intermedia L. Trevo-roxo Hyptis spp. Casadinho Não identificado Saia-de-velha Não identificado Carmelitana Lippia spp. Girassol Helianthus spp.
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Família botânica
Freqüência (%)
Apiaceae Solonaceae Solonaceae
8 8 33
Portulacaceae Brassicaceae Asteraceae
67 75 17 17 58 25 8 8 67 42 42 42 50 17 33 58 42 8 8 42 50 17 42 25 8 33 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8
Poaceae Asteraceae Amaranthaceae Malvaceae Lamiaceae Pedaliaceae Lamiaceae Fabaceae Malvaceae Zingiberaceae Lamiaceae Chenopodiaceae Portulacaceae Lamiaceae Malvaceae Euphorbiaceae Euphorbiaceae Não identificada Rosaceae Caprifoliaceae Euphorbiaceae Crassulaceae Phytolaccaceae Bignoniaceae Piperaceae Caesalpiniaceae Lamiaceae Não identificado Liliaceae Lamiacea Musaceae Orchidaceae Asteraceae Malpighiaceae Lamiaceae Não identificado Não identificado Verbenaceae Asteraceae
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Principais produtos extraídos da floresta e utilizados em cinco comunidades ribeirinhas do município de Pauini. Nome popular Açaí Acariquara Amapá Ambé Andiroba Angelim Angico Araçá Araçá-boi Assacu Bacaba Bacabinha Bacuri Borracha Cacau Capeba Carapanaúba/Paracanaúba Carauari (palha) Castanha-do-Brasil Cedro Cipó-titica Copaíba Copaíba Faveira Itaúba Jacareúba Jatobá Jitó Jutaí Lacre Louro-amarelo Maçaranduba Maparajuba Maracujá-de-rato Mari-mari Mel Mulateiro Palha Paracuúba Patauá Pinhão-roxo Piquiá Piranheira Quina-quina Samaúma Saratudo Sorva Sucuba Sucupira Surucuima Uchi Unha-de-gato Urucuri Virola ou Ucuúba
Nome científico Euterpe oleracea Mart. Minguartia guianensis Aubl. Brosimum spp. Plilodendron spp. Carapa guianensis Aubl. Vários Anadenanthera spp. Psidium araca Raddi. Eugenia stipitata Mc Vaugh. Hura crepitans L. Oenocarpus bacaba Mart. Oenocarpus minor Mart. Moronobea spp.
Família botânica Arecaceae Olacaceae Moraceae Araceae Meliaceae Fabaceae Fabaceae Myrtaceae Myrtaceae Euphorbiaceae Arecaceae Arecaceae Clusiaceae
Theobroma cacao L. Piper marginatum Jacq. Aspidosperma nitidum Benth. Ex Müll. Arg. Bertholletia excelsa H.B.K. Cedrella fissilis Vell. Hetteropsis spp. Copaifera multijuga Hayne Copaifera spp. Vatairea guianensis Aubl. Ocotea megaphylla (Meisn.) Mez. Calophyllum brasiliense Cambess. Hymenaea courbaril L. Guarea tuberculata Vell. Hymenaea spp. Vismia spp. Ocotea spp. Manilkara huberi Ducke. Manilkara inundata Ducke. Passiflora spp. Poraqueiba sericea Tul.
Sterculiaceae Piperaceae Apocynaceae Arecaceae Lecythidaceae Meliaceae Araceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Lauraceae Clusiaceae Fabaceae Meliaceae Fabaceae Clusiaceae Lauraceae Sapotaceae Sapotaceae Passifloraceae Icanicaceae
Calycophyllum spruceanum (Benth) Hook f. ex K. Schum
Rubiaceae
Lecointea spp. Oenocarpus bataua Mart.
Fabaceae Arecaceae
Caryocar villosum (Aubl.) Pers. Piranhea spp. Aspidosperma nitidum Benth. Ceiba pentandra (L.) Gaertn. Justicia cf. monandra L. Couma utilis (Mart) Muell. Arg. Himatanthus sucuuba (Spruce) Woodson Diplotropis martiusii Benth. Não identificada Endopleura uchi (Huber) Cuatrec. Uncaria tomentosa Willd. Scheelea spp. Virola surinamensis (Rol.) Warb.
Caryocaraceae Euphorbiaceae Apocynaceae Bombacaceae Acanthaceae Apocynaceae Apocynaceae Fabaceae Não identificada Humiriaceae Rubiaceae Arecaceae Myristicaceae
Agricultura Familiar na Amazônia das Águas
Freqüência (%) 89 40 11 10 67 30 33 10 11 10 33 11 30 44 67 11 44 10 56 11 10 10 78 22 10 40 78 60 11 60 10 60 10 11 11 56 40 33 50 22 11 11 30 22 20 11 10 33 10 11 22 67 22 10
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Principais espécies piscícolas capturadas no ecossistema pesqueiro de cinco comunidades ribeirinhas no município de Pauini.
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Nome popular
Nome científico
Família botânica
Acari Amarelo Aruanã Bacu Bico-de-pato Branquinha Peixe-cachorro Cangati Caparari Acará Acará-açu Cuiú Curimatã Filhote Jeju Jundiá Mandi Mapará Matrinchã Pacu Pescada Piaba Piau Piranambu Piranha Pirapitinga Pirarara Sardinha Surubim Tainha/Saúna Tambaqui Tamoatá Traíra Tucunaré
Pterygoplichthys pardales Pellona spp. Osteoglossum bicirrhosum Lithodoras dorsalis, Megalodoras sp. Sorubim lima Potamorhina spp. Acestrorhynchus, Hydrolycus, Rhaphiodon Parauchenipterus galeatus Psedoplatystoma tigrinum Vários Astronotus occelatus Pseudodoras niger Prochilodus nigricans Brachyplatystoma filamentosum Hoploerythrinu unitaeniatus Rhamdia quelen Pimelodus, Pimelodella, Rhamdia Hypophthalmus spp. Brycon spp. Mylossoma spp. Plagioscion, Pachypops, Furcraeus Várias Várias Pinirampus pinirampu Pygocentrus nattereri, Serrasalmus spp. Piaractus brachypomus Phractocephalus hemioliopterus Triprotheus spp. Pseudoplatystoma fasciatum Mugil incilis Colossoma macropomum Hoplosternum spp., Callichthys callichthys Hoplias malabaricus Cichla spp.
Loricariidae Clupeidae Osteoglossidae Doradidae Pimelodidade Curimatidae Charicidae Auchenipteridae Pimelodidae Cichlidae Cichlidae Doradidae Prochilodontidae Pimelodidae Erythrinidae Pimelodidae Pimelodidae Hypophthalmidae Charicidae Serrasalmidae Sciaenidae Várias Anostomidae Pimelodidae Serrasalmidae Serrasalmidae Pimelodidae Charicidae Pimelodidae Mugilidae Serrasalmidae Callichthyidae Erythrinidae Cichlidae
Freqüência (%) 33 22 22 33 11 11 56 11 11 11 44 33 33 56 22 11 44 67 33 33 100 33 11 56 44 11 11 11 100 78 11 11 11 22
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CAPÍTULO 7
QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE TRABALHADORES RURAIS E URBANOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO DE PAUINI Sandra do Nascimento Noda1 Hiroshi Noda2 Jorge Emídio de Carvalho Soares2 Isaac Sidney Benchimol2 Manoel Pereira Filho2 Rogério Souza de Jesus2 José Ribamar Benício de Castro2 Hélio Conceição Vilas Boas2 Maria Albanira Araújo Pena3 Jucélia Oliveira Vidal3
INTRODUÇÃO Segundo Fearnside (2002), os projetos de desenvolvimento propostos na Amazônia raramente são formulados com base na informação técnica sobre sustentabilidade potencial, impacto ambiental, ou mesmo rentabilidade econômica. Daí a necessidade urgente de redirecionar os processos que estão transformando as florestas da região em formas não-sustentáveis de desenvolvimento. As análises atuais sobre os usos dos solos da Amazônia indicam que os procedimentos adotados na produção agrícola sejam não apenas adequados tecnicamente, mas ambiental, econômica e socialmente sustentáveis. As formas de produção utilizadas pelas populações tradicionais da Amazônia constituem o referencial mais próximo do que seria um sistema de produção auto-suficiente e sustentado. Os impactos causados ao ambiente natural são, em escala, muito menores do que aqueles produzidos por grandes empreendimentos agropecuários (NODA et al., 2002). Ações sociais
1. Universidade Federal do Amazonas (UFAM). 2. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). 3. Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônicos (NERUA).
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participativas que contribuam com a elevação da escolaridade no ambiente rural podem contribuir para a socialização dos povos. Através do levantamento socioeconômico do projeto Tecnologias para o Desenvolvimento e Sustentabilidade do Município de Pauini – TEDES, realizado em Pauini, em cinco comunidades ribeirinhas do rio Purus e na sede do município, foram identificadas as necessidades primordiais dos moradores das localidades, servindo como base para a demanda de cursos de capacitação e treinamento. Os cursos foram ministrados com o intuito de contribuir para a formação de agentes multiplicadores no município de Pauini. Os cursos ministrados, segundo a demanda focalizada, foram: • • • •
Horticultura; Utilização de Madeira Regional para Movelaria; Piscicultura familiar; Técnicas de conservação e processamento do pescado em unidades familiares de produção; • Criação de abelhas sem ferrão.
HORTICULTURA Foram realizadas atividades de treinamento e capacitação em horticultura para os moradores da sede do município e em cinco comunidades parceiras localizadas nas áreas de várzea do rio Purus, totalizando 97 pessoas. Durante as atividades foram ministradas aulas teóricas e práticas dando enfoque ao cultivo de hortaliças (convencionais e não-convencionais), produção de mudas, técnicas de cultivo e uso de plantas medicinais, sistemas agroflorestais e técnicas alternativas para prevenção e controle de pragas e doenças das plantas cultivadas nas localidades. As hortaliças por constituírem um grupo de plantas ricas em substâncias nutritivas podem contribuir para amenizar o desequilíbrio nutricional das populações da Amazônia. Entretanto, na região, predominam solos de baixa fertilidade que, junto com as condições climáticas de temperatura e umidade elevadas, compõem ambientes limitantes ao cultivo de grande parte das hortaliças convencionais. Por outro lado, algumas hortaliças não-convencionais compreendendo espécies nativas e introduzidas, são adaptadas a essas
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condições ambientais e podem contribuir decisivamente para a melhoria da dieta das populações da região (CARDOSO, 1997). No cultivo de hortaliças foram abordados: os conceitos, a importância da hortaliça, tipos, classificação, formação de mudas, construção de canteiros e técnicas de cultivo. Em cada comunidade foi construído um viveiro de mudas para a agricultura familiar, onde foram realizados treinamentos. Os viveiros foram cobertos e cercados com palha a fim de evitar insolação direta, impacto de gotas de chuvas e entrada de animais domésticos (sugestão dada pelos agricultores). Para fins didáticos, os viveiros foram divididos em duas partes iguais, sendo, em uma das partes, construídos dois canteiros medindo 1x6 m cada, onde um deles foi utilizado para demonstração da sementeira e o outro para as técnicas de cultivo. Na outra parte do viveiro foram empilhados restos vegetais com o intuito de demonstrar técnicas de preparo e manipulação do composto orgânico. Nas aulas foram apresentadas técnicas para utilização de copinhos de jornal como recipientes para produção de mudas, quebra de dormência de sementes (por exemplo: pré-germinação de sementes de alface) e preparação de substrato para enchimento de sacos de plástico, copinhos e leitos de canteiros de semeadura, usando-se misturas de argila, areia de praia e paú-damata (material lenhoso decomposto) na proporção 3: 2: 1. Na ocasião dos treinamentos foram utilizadas e distribuídas sementes de algumas hortaliças convencionais (alface, cebolinha, coentro, maxixe, pepino, pimentão, quiabo e tomate, cultivar Yoshimatsu) e não-convencionais (bertalha, feijão-de-metro, cubiu e feijão-de-asa). Em quatro das comunidades ribeirinhas que participaram dos treinamentos em horticultura foram feitas visitas técnicas com o intuito de verificar a adoção das tecnologias introduzidas por meio dos cursos ministrados. Foi constatado que apenas uma surtiu o interesse na formação de uma horta coletiva. Nas demais, as famílias manifestaram interesse em fazer plantios individuais. Porém, todos se prontificaram em dar continuidade ao cultivo de hortaliças, pondo em prática as novas orientações adquiridas a partir dos meses de maio e junho (verão) de 2007, uma vez que as fortes chuvas ocorridas no inverno haviam danificado os canteiros construídos diretamente no solo (Figura 1).
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MANEJO E CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS As plantas são fontes importantes de produtos naturais biologicamente ativos, muitos dos quais constituem em modelos para a síntese de um grande número de fármacos. Um aspecto menos discutido na questão da devastação das florestas tropicais refere-se à perda do conhecimento, acumulado por milênios, sobre o uso medicinal tradicional das plantas destas florestas pelas populações a elas associadas. Essa devastação provoca a migração dessas comunidades, normalmente para os centros urbanos, provocando o rompimento do fluxo de conhecimento adquirido e acumulado ao longo do tempo (GUERRA e NODARI, 2002). De acordo com Elisabetsky (2002), freqüentemente argumenta-se que a cultura popular identifica sintomas, mas não caracteriza ou entende as doenças como são caracterizadas pela medicina, por isso, tais informações não servem de base para ajudar a desenvolver novos medicamentos. A autora observa, também, que o método etnofarmacológico permite a formulação de hipóteses: H0= o remédio não cura a “enfermidade”; H1= o remédio cura a “enfermidade”. Essas hipóteses devem ser testadas com todos os controles e rigores da ciência, levando em consideração toda a informação – modo de preparo e posologia incluso – que traz o conhecimento tradicional. Nos cursos foi ressaltada a importância das plantas medicinais, produção de mudas, tratos cultuais, colheita, secagem, conservação, armazenamento, formas e cuidados no preparo das ervas. Foram registradas as plantas medicinais presentes nas comunidades e nos arredores (ver a relação no capítulo anterior), bem como suas formas de preparo e ocorrendo trocas de informações entre os participantes sobre o uso de diferentes plantas para determinados tipos de enfermidades. Vale realçar que a Comissão Pastoral da Terra – CPT local vem desenvolvendo atividades nesse sentido junto às comunidades do município. Em um estudo etnobotânico realizado por Rodrígues (2002) foi constatado que as comunidades de Pauini utilizam 108 plantas medicinais, das quais 53 são originárias da Amazônia, 21 da Europa e 23 da Ásia. Segundo o autor, o elevado percentual (51,85%) de plantas alóctones e o desconhecimento de outras plantas medicinais importantes na Amazônia, indicam que as comunidades introduziram no território elementos de outras culturas. Convém aportar que as plantas medicinais relacionadas no diagnóstico do Projeto TEDES tende a complementar a relação obtida por Rodrígues (2002) e viceversa.
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SISTEMAS AGROFLORESTAIS TRADICIONAIS Os agricultores tradicionais do município, como os de outras regiões da Amazônia, adotam práticas de cultivo que podem ser classificados como sistemas agroflorestais. A ampla diversidade de cultivos, anuais e perenes, consorciados com espécies florestais, em arranjos espaciais e temporais, garantem a estabilidade do suprimento em alimentos para a manutenção das famílias. Foram promovidas discussões participativas sobre sistemas agroflorestais, formação e composição dos quintais, plantio de árvores junto com os cultivos anuais e espécies florestais mais adequados para consorciação com os cultivos temporários. Durante as discussões, os agricultores familiares relataram que o principal entrave para a sobrevivência das plantas, das espécies que compõem o pomar caseiro das comunidades ribeirinhas, era o aterramento pela enchente. Foi elaborada uma lista das principais espécies arbóreas de interesse, sugeridas pelos próprios participantes, para a composição de plantios agroflorestais nas áreas de várzea e que não apresentam problemas com a alagação, são elas: cedro, copaíba, andiroba, açaí, samaúma, buriti, urucuri, manga, urucum, cupuaçu, ingá, cajá, jambo, caju, graviola, bacuri, jenipapo, araticum (Rollinia mucosa (Jacq.) Baill.), jatobá, angico, angelim, macacaúba, cacau, castanha, goiaba, coco, maçaranduba, embaúba, mulateiro, jitó, jacareúba, gameleira, jauari (Astrocarium jauari Mart.), manixi (Brosimopsis oblongifolia Ducke). De acordo com o conhecimento etnobotânico dos agricultores familiares ribeirinhos locais: samaúma, jacareúba, buriti, urucuri, mulateiro e o jitó toleram o aterro provocado pela enchente. O mulateiro apresenta um crescimento rápido e tem grande potencial para uso como lenha, ocorrendo com muita facilidade nas várzeas das localidades. A embaúba fornece paú (material lenhoso decomposto usado como fertilizante orgânico) de ótima qualidade e, além disso, é utilizada na alimentação bovina. Observações realizadas pelos agricultores sugerem que as embaubeiras chegam a viver mais de vinte anos nas várzeas das localidades e, também, colonizam as áreas com bastante facilidade. Conforme Benatto et al. (2006), o manejo de espécies anuais e perenes em sistemas agroflorestais requer, por parte de quem maneja, o conhecimento sobre as espécies e a dinâmica do ecossistema no qual está inserido. O autor ressalta que as inter-relações entre as espécies e destas com o ambiente ao longo do tempo, determinam o momento e a freqüência das intervenções de manejo e a dinâmica da sucessão do sistema.
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MANEJO ECOLÓGICO DE PRAGAS E DOENÇAS DE PLANTAS As condições ambientais prevalecentes nas várzeas amazônicas, geralmente, são favoráveis ao aparecimento e estabelecimento de insetos pragas e microorganismos fitopatogênicos que causam perdas substanciais à produção agrícola. O emprego de pesticidas químicos tem sido a forma usual de combate às pragas e doenças e o uso irracional e indiscriminado desses produtos tem contribuído para o aumento dos custos de produção, além de causar sérios danos ao meio ambiente e à saúde humana. Em vista disto, alternativas de controle vêm sendo buscadas, estudadas e testadas, experimentalmente, com resultados satisfatórios nas instituições de pesquisas brasileiras. Para o manejo de pragas e doenças das plantas cultivadas adotou-se uma abordagem levando em conta o uso de controle agroecológico de pragas e moléstias, com o emprego de caldas alternativas (calda bordalesa, extratos vegetais, etc.), cuidados no preparo, utilização de EPI (equipamento de proteção individual), utilização de armadilhas e controle biológico. Dentre as caldas alternativas apresentadas, alguns dos participantes conheciam e faziam uso dos extratos de fumo e de pimenta malagueta. Outro material alternativo comumente utilizado pelas comunidades é a semente do gergelim (Sesamum indicum L.), como isca, para o combate às formigas cortadeiras (Atta spp). Durante os treinamentos houve participação ativa dos comunitários através de troca de informações, sugestões e execução dos trabalhos. No final, os participantes concordaram que as abordagens realizadas foram de grande valia para a conscientização sobre a melhoria da produção agrícola, com a inclusão de novas tecnologias, para a sustentabilidade da produção e preservação ecológica das espécies potencialmente nativas das localidades.
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UTILIZAÇÃO DA MADEIRA REGIONAL PARA MOVELARIA Em termos metodológicos foram realizadas visitas técnicas e um diagnóstico socioeconômico em nove movelarias situadas na sede do município. Os dados da pesquisa foram obtidos através de entrevistas e questionário. Foram realizadas vistorias e avaliações nas instalações das empresas, procurando encontrar os pontos de estrangulamento na produção e na qualidade final do produto. O trabalho de diagnóstico e caracterização do setor moveleiro revelou que as movelarias de Pauini trabalham com um sistema de produção sob encomenda. O baixo nível de renda da população proporciona uma clientela com baixo poder aquisitivo obrigando, conseqüentemente, as empresas a comercializarem seus produtos com vendas a prazo. As oficinas moveleiras apresentam a distribuição dos espaços arranjados desordenadamente acarretando a diminuição da capacidade de produção, além de proporcionar o aumento dos custos operacionais, levando essa atividade à ineficiência econômica. Todas as empresas operam na economia informal, não havendo o registro de Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) do Ministério da Fazenda. O consumo médio de cada movelaria é de 2m3 de madeira serrada. Em termos efetivos, nenhuma das empresas efetua qualquer tipo de controle de qualidade. A maioria encontra-se em condições de funcionalidade precária, em decorrência dos seus equipamentos serem obsoletos e, por conta disso, apresentarem problemas tecnológicos. As principais máquinas e equipamentos utilizados no processo desse setor são: serra circular, tupia, furadeira, lixadeira, torno e esmeril. Todas as máquinas e equipamentos existentes são em pequeno número, caracterizando o desaparelhamento e o caráter quase que artesanal da atividade. Vale ressaltar que os operários especializados (marceneiro, carpinteiro, etc.) obtiveram essa especialização através da prática, sem qualquer tipo de treinamento formal.
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FIGURA 1.
Treinamento em olericultura em comunidades rurais do município de Pauini.
FIGURA 2.
Curso de Capacitação Técnica em movelaria aos marceneiros e carpinteiros do município de Pauini.
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Com a aplicação dos cursos de capacitação e treinamento, abordando técnicas em movelaria, marcenaria e conservação da madeira, juntamente, o acompanhamento dos trabalhos, foi constatado que os conhecimentos adquiridos surtiram efeito na melhoria da qualidade dos móveis, aumento na demanda, melhor utilização e aproveitamento da madeira empregada na fabricação dos produtos, além disso, contribuiu para a elevação da auto-estima dos moveleiros e marceneiros da cidade (Figura 2).
PISCICULTURA FAMILIAR O curso de piscicultura foi ministrado para 08 moradores de Pauini, com níveis de escolaridade declarada variando de nível primário ao segundo grau completo, com elevado índice de freqüência e interesse pelos temas enfocados em cada aula do curso. O curso foi dividido em dez aulas, com média de 3 horas de duração por aula, e tentou-se apresentar as aulas em uma linguagem mais simples, de forma que todos os alunos pudessem entender o conteúdo do que se estava apresentando. As dez aulas foram: Instalações em piscicultura; Noções de anatomia e morfologia de peixes; Criação de peixes em tanquesrede; Noções de controle da qualidade da água; Criação de pirarucu; Criação de matrinxã; Criação de tambaqui; Noções de reprodução de peixes; Nutrição e alimentação de peixes; Construção de tanques e viveiros. À medida que o curso se desenvolveu, foram aproveitadas as oportunidades que surgiram para discutir com os alunos sobre a situação do município em relação ao cultivo de peixes. A oferta de peixes no mercado é sazonal: na época da piracema, a pesca nas imediações da cidade é farta e os preços muito acessíveis, uma característica do rio Purus. Mas em outras épocas a pesca é pouco produtiva, chegando a faltar peixes na cidade, e o pouco peixe encontrado nesta ocasião é muito caro. Durante o curso foi promovida uma excursão a um criadouro de peixe na cidade. Esse criadouro era um tanque escavado aproveitando uma nascente existente nos fundos do quintal, onde eram criadas algumas espécies de peixes da região. Foram capturados alguns exemplares para mostrar aos visitantes, sendo constatado que visualmente os animais estavam bem, inclusive um juvenil de pirapitinga (Piaractus brachypomus) mostrado, que apresentava um bom porte, indicando um manejo adequado.
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Os maiores entraves para a piscicultura local são a falta de formas jovens, para serem oferecidas aos criadores para a engorda, e a grande distância dos locais onde são produzidas estas formas jovens (Manaus-AM e Rio Branco-AC) dificultam sua importação. Outra dificuldade é a obtenção de rações para peixes e os custos elevados, procedentes também de outras localidades. Apesar destas dificuldades, alguns moradores da cidade insistem em contornar estes problemas e criar peixes para consumo. Em razão da sazonalidade da oferta de peixes em Pauini, procura-se estimular a criação de peixes nativos em cativeiro. Para viabilizar a piscicultura na região devem ser equacionados os problemas da falta de formas jovens de peixes para engorda e a dificuldade de obtenção de rações para peixes. Uma das formas aventadas seria o treinamento de um técnico da cidade em reprodução induzida de peixes e, ao mesmo tempo, a implantação de um pequeno laboratório de reprodução de peixes para a região. Ressalta-se também a necessidade de realização de treinamentos para o preparo de alimentos alternativos com matérias-primas de origem vegetal e animal disponível no local, e produção artesanal de ração peletizada.
TÉCNICAS DE CONSERVAÇÃO E PROCESSAMENTO DO PESCADO EM UNIDADES FAMILIARES As perspectivas de melhores condições socioeconômicas na região Amazônica estão diretamente relacionadas à geração de conhecimentos científicos e tecnológicos e a adoção de políticas públicas que promovam o uso sustentado de suas riquezas naturais. O setor pesqueiro vem respondendo positivamente, ao contribuir fortemente no suprimento alimentar da população do Estado, tanto nas áreas rurais como na zona urbana e assume papel importante como fonte abastecedora da Capital. Porém, sua potencialidade não é totalmente conhecida, pois, na realidade, não existe um acervo de conhecimento científico abrangente e sistematizado, ocasionando o aproveitamento de somente algumas espécies de peixes dentre as centenas existentes. Por outro lado, a atividade pesqueira, mesmo nos dias atuais, é realizada utilizando-se métodos que dificultam o manuseio do pescado durante sua captura, transporte, distribuição e o consumo final levando, muitas vezes, ao desperdício na produção.
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A pesca no Amazonas é muito seletiva, recaindo sobre algumas espécies de peixes historicamente preferidas pela população. A pesca é realizada nos lagos com redes de arrasto, perturbando o meio ambiente e, principalmente, com redes de cerco no leito dos rios. Os barcos de pesca, chamados de “geleiras”, adquirem o pescado que é capturado em canoas e estocado em urnas isoladas termicamente entre camadas de gelo para ser transportado para as grandes cidades ou para as indústrias de beneficiamento do pescado. O problema tem início na execução da arte de pescar, geralmente inadequado, compremetendo a sua qualidade inicial do pescado. Além disso, o pescado fica exposto ao sol e ao vento antes de ser estocado nas geleiras, onde outra vez sofre manuseio inadequado, com exposição a batidas, pisaduras e ao calor, sendo acondicionado em caixas com mais de dois metros de altura, sem divisões horizontais, ocasionando grande desperdício na camada inferior, onde o pescado armazenado no fundo da urna sofre forte pressão provocada pelas camadas de pescado situadas acima. É um grande desafio tecnológico mudar esse panorama tradicional da pesca, manejo e transporte do pescado. Não existe ação governamental para alterar essa situação, que pode ocasionar perdas de até 30% do pescado capturado. Além da perda de produto, o longo tempo de duração de viagem nas geleiras prejudica sua qualidade, muitas vezes chegando na cidade ou indústria já com a qualidade prejudicada. O grupo de pesquisa sobre tecnologia do pescado da Coordenação de Pesquisas em Tecnologia de Alimentos (CPTA) do INPA já realizou vários estudos visando medir a perda de qualidade do produto desde a captura até sua distribuição e aquisição pelo consumidor. Mudar o comportamento do pescador e do atravessador tem sido o maior desafio. Por outro lado, a cidade de Manaus recebe anualmente cerca de 60 mil toneladas de pescado, sendo destinada a metade para a industrialização e o restante para o consumo local, inexistindo um local adequado para efetuar o desembarque de pescado, com as dependências necessárias ao recebimento, classificação, comercialização e frigorificação do excedente da produção desembarcada. Apesar do peixe ser um recurso abundante na região, a atividade pesqueira é problemática, pois além de antieconômica, visto que gera desperdício, pode ser prejudicial à saúde pública em função da perda de qualidade do produto. Os barcos ficam atracados ao longo da margem do rio, vendem o pescado somente pela parte da noite durante vários dias, provocando a imobilização tanto do barco como do pessoal, gerando perdas financeiras e perdas do produto, que ao final, muitas vezes, pode ser descartado.
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Com base nessa realidade, a Coordenação de Pesquisa em Tecnologia de Alimentos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia tem realizado estudos sobre a viabilidade da introdução de métodos alternativos de processamento e de conservação daquelas espécies ainda inexploradas, subexploradas ou de baixo valor comercial, por meio do desenvolvimento de novos produtos, que possibilite a sua captura em maior escala e, conseqüentemente, sua industrialização. Numa primeira fase, o grupo de pesquisa sobre produtos alimentícios de origem animal do INPA intensificou as pesquisas sobre peixes de água-doce capturados na natureza, tais como: estudos sobre a qualidade da produção, das alterações bioquímicas “post mortem” e sobre o processamento de novos produtos utilizando tecnologias apropriadas. Atualmente, realiza pesquisas visando o aproveitamento tecnológico dos peixes procedentes da piscicultura, nas quais estuda o manuseio adequado, as alterações bioquímicas e estabelecimento do tempo de vida útil em gelo. Futuramente deverão ser realizados estudos de comercialização e marketing, para completar a cadeia de pesquisas sobre produtos de pescado. A transferência de tecnologia tem sido intensificada. Nos últimos anos, tanto profissionais autônomos como microempresas têm solicitado informações e treinamento de pessoal nos laboratórios e unidades piloto de processamento da CPTA. Pessoal de pequenas indústrias, restaurantes, distribuidores de peixes e produtores artesanais têm sido beneficiados com essas experiências. Nesse sentido, o Município de Pauini apresenta grande potencial e interesse no aproveitamento tecnológico da sua produção pesqueira. No curso sobre Tecnologia do Pescado, participaram 27 pessoas residentes no município de Pauini. Inicialmente foi dado um enfoque geral sobre o manuseio e a qualidade do pescado, seguido pela apresentação das tecnologias que julgamos mais adequadas para a produção pesqueira local. Foram abordados temas sobre: defumação do pescado a frio, salga seca e em salmoura, fabricação de piracuí, fishburguer e fabricação de sabão a partir de óleo de peixe. Esperamos ter contribuído para despertar os produtores locais para o emprego de tecnologias simples para o aproveitamento do pescado, com observação das boas práticas de manuseio (Figura 3).
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Curso de Tecnologia de Processamento do Pescado realizado no município de Pauini.
CRIAÇÃO DE ABELHAS SEM FERRÃO A prática da criação de abelhas sem ferrão é milenar entre os povos indígenas, onde muito do que se emprega atualmente nos meliponários é resultado de anos no trato com as abelhas (NOGUEIRA-NETO, 1997). Ainda se observa na criação tradicional onde a derrubadas de árvore da floresta para extração dos cortiços com o objetivo de se retirar o mel ainda é uma realidade latente em nossa região. As abelhas sem ferrão são importantes polinizadores na floresta Amazônica, cada espécie de planta tem uma ou mais espécie de abelhas responsáveis pelo eficiente transporte do pólen das anteras para o estigma das flores. Estima-se que as operárias das colônias de abelhas nativas são responsáveis por 40 a 90% da polinização, conforme o ecossistema, garantindo a perpetuação das espécies nativas de plantas (KERR et al., 1996). Se não pensarmos em colaborar no conhecimento e domínio da técnica da criação das diferentes espécies de abelhas que existem, ainda, em cada região e no país, possivelmente, muitas espécies serão extintas (CARVALHO, 2002) e para que se possam salvar as melíponas, que são as abelhas mais perseguidas
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devidos a seu delicioso mel, há necessidade de se saber corretamente o seu processo reprodutivo (KERR et al., 1996). A tecnologia implantada para criação desses insetos racionalmente é recente na Amazônia já que em outras regiões, como no Nordeste, a comercialização de ninhos em caixas racionais apropriadas ao seu desenvolvimento é uma realidade que está mudando, efetivamente, a vida de pequenos e médios produtores rurais. (KERR et al., 1996). Existem mais de 23.000 espécies de abelhas, sendo que a minoria é representada por espécie de hábitos sociais. As abelhas sociais pertencem à família Apidae. Esta é dividida em três subfamílias; Apinae, Meliponinae e Bombinae. As Meliponinae são divididas em duas tribos: Meliponini, com o gênero Melípona com cerca de 50 espécies e Trigonini, com vários gêneros representados em toda região tropical do globo, contando com cerca de 300 espécies e são conhecidos no Brasil como abelhas sem ferrão ou abelha indígenas (SILVEIRA et al., 2002). Os Meliponíneos, em sua maioria nidificam em cavidades de árvores (oco), e algumas fazem seus ninhos no chão. Apresentam ferrão, mas não funcional, pois são atrofiados e não apresentam bolsa de veneno. Estas abelhas se defendem de seus predadores, dependendo da espécie, por meio da camuflagem da entrada, de fortes mordidas, uso de resina para imobilização e algumas espécies, como Oxytrigona tataira, em condições de ameaça liberam uma substância cáustica sobre o inimigo (KERR, 1996; KERR et al., 1996). São insetos que apresentam desenvolvimento homometábulo, por possuir metamorfose completa. As abelhas de gênero Melípona, à organização interna do ninho, não apresentam ou constituem células reais, ou seja, os machos, as operárias e a rainha de desenvolvem dentro de células de igual tamanho (NOGUEIRA-NETO, 1997). Os machos apresentam papel reprodutivo e, em pouquíssimos casos, realizam atividades de trabalho dentro da colônia (BUSTAMANTE, 2006). As fêmeas se dividem em castas: operárias e rainha. A rainha é responsável pela postura, conseqüentemente, pela perpetuação da colônia e organização dentro da colônia. As operárias constituem a casta que realiza a quase totalidade dos trabalhos dentro de uma colônia, desde a limpeza da colônia até o forrageamento, ou seja, coleta de néctar e pólen (KERR et al., 1996). A estrutura de uma colônia de Meliponini é formada de discos de cria sobrepostos contendo ovos, larvas, e imagos, envoltos geralmente por camadas de lâminas de cera denonimada de invólucro, circundados por potes de mel e pólen. Essas abelhas podem ser criadas racionalmente em caixas de madeira para
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produção de mel, pólen, própolis, cera ou mesmo novos enxames. Tal atividade é denominada Meliponicultura. As caixas de madeira permitem a manipulação das colméias para produção e colheita dos produtos das colônias as quais inclusive, podem ser multiplicadas racionalmente de maneira induzida a fim de formar novas colônias (NOGUEIRA-NETO, 1997). A caixa-modelo INPA 2005 é composta de cinco módulos sobrepostos (lixeira, ninho, sobreninho, melgueira e tampa), com as seguintes características: • •
•
•
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Lixeira – é o local onde as abelhas depositarão lixo, fezes e resto de alvéolo de cria, sua medida é 21x21x1 cm; Ninho – É onde as abelhas construirão os discos de crias e, algumas vezes, também poderão colocar potes de alimento, medindo 21x21x7 cm; Sobreninho – neste compartimento, as abelhas construirão discos de crias, à medida que a colônia for crescendo e necessitar de espaço. Tem as seguintes dimensões: 21x21x7 cm e apresenta um furo de ventilação por onde ocorrerá a troca gasosa; Melgueira – local destinado ao armazenamento de potes com mel e pólen, tem 5 cm de altura interna com 2 pequenas tábuas separadas entre si, deixando espaços que servirão de ligação com o sobreninho, sua medida é 21x21x7 cm; Tampa – fecha a parte superior da colônia, tem duas ripas pregadas nas extremidades, que servirão no auxílio na hora da abertura da colônia apresentando as seguintes dimensões: 21x21x3 cm.
O Município de Pauini apresenta grande potencial para a criação de abelhas nativas, sabendo que existem várias espécies de Meliponíneos na região e um pasto meliponicola exuberante, com uma riqueza de florada em diversos meses do ano, proporcionando às abelhas a coleta de pólen e néctar durante as estações do ano. O gênero de abelha escolhido foi a Melípona por apresentar no município uma riqueza de espécies bastante variada, na qual é nativa da localidade e adaptada a região, sem que haja introdução de espécies de outros municípios. Foram coletadas previamente algumas abelhas para posterior identificação das mesmas, na qual se foi constatado o gênero Melípona. O curso foi realizado para 30 participantes residentes do município, dando enfoque geral no manejo e biologia das abelhas. Para as atividades de transferências das abelhas do cortiço (tronco de árvore oco), para caixa racional
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modelo INPA 2005, os mesmos foram selecionados de árvores mortas, caídas ou que possivelmente iriam ser cobertas com as águas de possíveis enchentes comumente na região amazônica. Em uma área de aproximadamente 01 hectare, foram encontrados 05 colônias de Melíponas spp. distanciadas entre si de, aproximadamente, 50 a 100 metros, mostrando o potencial de riqueza biológica a serem trabalhadas (Figura 4).
FIGURA 4.
Curso de Criação de abelhas sem Ferrão. Técnica de mudança da colméia de abelhas. Pauini.
O processo de multiplicação trabalhado foi o do “Método de Perturbação Mínima”, que consiste multiplicar a colônia de abelha sem que haja manipulação direta da mão do meliponicultor com os discos de cria. No processo de multiplicação foi transferido o sobreninho com crias nascentes para cima de um ninho vazio com lixeira e posto um sobreninho vazio sobre o ninho com a postura nova; no processo foi utilizado a melgueira devido não apresentar vantagem na multiplicação. Na sede do município foi instalado um meliponário com 07 colônias de Melípona seminigra, pelo qual se deu início a criação racional de abelhas sem ferrão. Outro dado importantíssimo a ser relatado é que na comunidade de Limeira, pertencente ao município de Lábrea próximo ao município de Pauini, a criação de abelhas já é uma realidade, onde vários comunitários se dedicam à criação das mesmas, já há algum tempo, embora seja de forma tradicional sem o uso de técnicas recomendadas ou padronização de caixas racionais para o seu manejo adequado.
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LITERATURA CITADA ASSIS, M.G.P. Criação prática e Racional de Abelhas sem Ferrão da Amazônia. Amazonas: Dulce Gusmão/SEBRAE, 2001. 46p. BENATTO, L., CORBELLINI, L.M., MERTEN, G.H. Experimentação em manejo de sistemas agroflorestais: o caso do assentamento 19 de Setembro – Guaíba/RS. In: Anais do IV Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia: Etnobiologia e Compromisso Socioambiental. Porto Alegre: SBEE, 2006. p. 29-30. CARDOSO, M. O. Hortaliças não-convencionais da Amazônia. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1997. 150 p. CARVALHO, G.A., SILVA, A. C., KERR, W. E. Relatório BASA. Manaus, 2001. ELISABETSKY, E. Etnofarmacologia como ferramenta na busca de substâncias ativas. In: SIMÕES, C. M. O., SHENKEL, E. P., GROSMANN, G., MELLO, J.C.P. de, MENTZ, L. A., PETROVICK, P.R. (orgs.) Farmacognosia: da planta ao medicamento. Florianópolis: UFSC, 2002. p. 91-103. FEARNSIDE, P.M. Modelos de uso da terra predominantes na Amazônia: um desafio para a sustentabilidade. In: RIVAS, A., FREITAS, C.E. de C. (orgs.) Amazônia: uma perspectiva interdisciplinar. Manaus: EDUA, 2002. p. 103-154. GUERRA, M.P., NODARI, R.O. Biodiversidade: aspectos biológicos, geográficos legais e éticos. In: SIMÕES, C.M.O., SHENKEL, E.P., GROSMANN, G., KERR, W.E. Biologia e manejo da Tiúba: a Abelha do Maranhão. São Luís: EDUFMA, 2002. 156p. KERR, W.E., CARVALHO, G. A., NASCIMENTO, V.A. Abelha urucu: Biologia, manejo e Conservação. Belo Horizonte: Fundação Acangaí, 1996. 143 p. MELLO, J. C. P. de, MENTZ, L. A., PETROVICK, P. R. (org.) Farmacognosia: da planta ao medicamento. Florianópolis: UFSC, 2002. p. 13-26. NODA, S. do N., NODA, H., MARTINS, A.L.U. Papel do processo produtivo tradicional na conservação dos recursos genéticos vegetais. In: RIVAS, A., FREITAS, C.E. de C. (orgs.) Amazônia: uma perspectiva interdisciplinar. Manaus: EDUA, 2002. p. 155-178. NOGUEIRA-NETO, P. Criação Racional de Abelhas Indígenas sem Ferrão. São Paulo: Nogueirapis, 1997. 445 p. OLIVEIRA, F., KERR, W.E. Divisão de uma colméia de Jupará (Melipon compressipes manaosensis) usando-se a colméia e o método de Fernando Oliveira. Manaus: INPA, 2000. 10 p. RODRÍGUES, A.G. Estudio etnobotânico de las plantas medicinales utilizadas por las comunidades indígenas y caucheras en el municipio de Pauini, Amazonas, Brasil. Madrid: Universidad de San Pablo CEU, 2002. 86 p. SILVEIRA, F. A, MELLO, G.A.R., ALMEIDA, E.A.B. Abelhas Brasileiras: Sistemática e Identificação. Belo Horizonte: Brochura, 2002. 253 p.
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Esta obra foi composta em Manaus pela KintawDesign, em Times 11/13 e impressa em dezembro de 2007.
CAPA
Livro AG Familiar.qxp:CAPA Livro AG Familiar
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No
projeto deve gerar conhecimentos técnico-
no espaço e tempo, o processo de
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Assim, na sua concepção global, o macro científicos que possam contribuir para a melhoria nas formas de organização social das comunidades de modo a propiciar, por meio do uso e conservação dos recursos naturais, a melhoria nos níveis de qualidade de vida das populações humanas. O compartilhamento intercomunitário de recursos genéticos vegetais também é uma prática
corrente
entre
os
agricultores
tradicionais amazônicos, o que contribui para a segurança alimentar das comunidades e constitui um importante papel na conservação, na dispersão e no resgate de espécies vegetais cultivadas. É extremamente importante que os projetos de
Apoio financeiro:
desenvolvimento junto aos agricultores na Amazônia estabeleçam como premissa de
industriais como a cana-de-açúcar, soja, algodão e café, tem conduzido, direta ou indiretamente, os pequenos produtores rurais a
Sandra do Nascimento Noda
níveis crescentes de empobrecimento e perda
(Organizadora)
de suas terras. A possibilidade da manutenção das unidades produtivas rurais familiares implica na necessidade da existência de um sistema de preservação dos recursos naturais. As degradações dos recursos hídricos, como
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poluição, erosão e assoreamento de cursos d'água, pesca predatória, construções de barragens e desflorestamentos são eventos que quebram cadeias alimentares e cortam ciclos reprodutivos, destruindo as fontes permanentes de recursos naturais, secularmente utilizadas pelos populações amazônicas.
adquiridos no mercado, pois, algumas
coletivizadas e permanentes, sejam proces-
necessidades básicas são atendidas, muitas Programa Temático
sistemas produtivos, do aumento da auto-
vezes precariamente, por meio da aquisição de produtos somente disponíveis fora das
suficiência no atendimento das necessidades
unidades de produção.
alimentares, do acesso aos requisitos básicos
São os casos dos alimentos industrializados,
em educação, saúde, energia, lazer, universali-
combustíveis, roupas, remédios e dos serviços
zados e disponibilizados pelo Estado e da Realização:
políticas sobre o futuro social, econômico e
NERUA
ambiental. São, a partir dessas referências, que
Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico
das Águas.
especialização no monocultivo de espécies
viabilizar o acesso aos produtos e serviços
conquistas graduais do bem estar social,
discutem a Agricultura Familiar na Amazônia
variações,
renda monetária aos agricultores permitindo
comunidades para que, a partir daí, as
os autores dos capítulos que compõe este livro
pequenas
alternativas econômicas capazes de gerar
organização social das famílias e das
autonomia dos comunitários nas suas decisões
com
Entretanto, há necessidade de se criar
trabalho a necessidade de elevar os níveis de
sadas em função da sustentabilidade dos
Brasil,
inexistentes nas comunidades rurais como atendimento médico, educação, energia e transporte.