Cada um Vive como Quer

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Rodrigo Bentivenha

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Copyright © 2017 by Rodrigo Bentivenha Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor.

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Editoração eletrônica e Revisão: Planeta Azul Editora Capa: Vinícius Soares

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária Juliana Farias Motta CRB7/5880 B476c Bentivenha, Rodrigo Cada um vive como quer / Rodrigo Bentivenha. -- Rio de Janeiro : Planeta Azul Editora, 2017. 188 p. . ; 14x21 cm . ISBN: 978-85-69870-69-2 1. Romance brasileiro. I. Título. CDD B869.3 Índice para catálogo sistemático: 1. Romance brasileiro

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Agradecimentos

Agradeço a Lucas Cartaxo pelo ótimo trabalho de revisão, a Jonatas Brisotti, Marco Antônio Vieira, Allan Bratfisch Car­neiro, Moisés Negromonte, Paulo de Almeida Jr. e equipe do blog TEXTículos., Maria Luisa Dalmaso, Felipe D. Mori, Edu­ardo Alvarez, Cabelo e Jacqueline da Casa Amarela Rock Bar e seus frequentadores, Wendell Cristiano, Alberto S. Simon Jr., e toda a Galera do Mal do Conjunto dos Metalúrgicos, Cassio Borghi, Paola Bueno e toda a Confraria do Caneco, ao Tik Mais Batidas, a Renato Tardivo e Cleny Labate pelas valiosas sessões de psicoterapia, Solange Santana, Nalva Ribeiro, Ci­belle Martins e toda a equipe do Cursinho Educamais, Pres­tes Vestibulares, Cursinho Municipal de Carapicuíba, Fabricio Nickel, Rei Bass, as bandas Edu Dias & Os Luxuosos, Marcio Pignatari & Os Takeus, Cris Stuani & banda, Do Santo, Nervo­sa, Subversilvas, Hallucynosis, Hatematter, No Way, Krisiun, Antíqua, Le Mustache 80, Troll e A.V.C., aos professores e funcionários da Escola Estadual Jd. Cipava II, Ingrid Faria de Carvalho, Paulão Montejano, Michelle Gilli, Luiz e Jaqueline Souza, Gabriel Castro e Detalhe na Pele Estúdio de Tatuagem, Rodrigo Melão de Camargo, Walter Bellinazzi Jr., Marcelo Ro­sário da Silva, Márcia Sofia Figueiredo, Flavio P. Silva, Lisiane Pohlman, Leandro Medina Moreno e toda a turma de 2001 da Geografia – USP. Todos vocês, direta ou indiretamente, contri­buíram muito para que este trabalho fosse realizado. Por fim, gostaria de agradecer a todos que reservarem um tempo de sua vida para ler esta porcaria aqui. Valeu!!! Cada Um Vive Como Quer | 5

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Sumário

Capítulo 1

No qual recebo um visitante inesperado e o ponho para correr............ 9

Capítulo 2

No qual tenho uma conversa com meus irmãos..................................26

Capítulo 3

No qual eu e Rita discutimos a relação de uma forma muito positiva.......36

Capítulo 4

No qual converso com minha mãe......................................................44

Capítulo 5

No qual volto ao trabalho...................................................................53

Capítulo 6

No qual há uma reunião de família....................................................64

Capítulo 7

No qual revejo alguns amigos.............................................................74

Capítulo 8

No qual viajo para São Tomé das Letras e, duas semanas depois, vou ao Rock in Rio........................................................................84

Capítulo 9

No qual acontece o Osasco Rock Fest................................................101

Capítulo 10

No qual meu irmão me faz uma visita..............................................108

Capítulo 11

No qual visito meu antigo bairro......................................................117

Capítulo 12.................................................................................. 132 No qual paro para refletir.................................................................132

Capítulo 13

No qual vou ao show do Meshuggah, presto o concurso público PEB II e vou à Casa Amarela no domingo à noite..................................141

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Capítulo 14

No qual tenho uma experiência de quase morte................................150

Capítulo 15

No qual temos o final do ano letivo e as festas de fim de ano.............161

Capítulo 16

No qual há o casamento de Álvaro e Denise......................................177

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Capítulo 1

No qual recebo um visitante inesperado e o ponho para correr

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embro-me bem do dia em que começou toda essa ba­gunça na minha vida. Foi durante as férias de julho e eu estava me queixando do marasmo, do tédio daque­les dias. Se eram emoções fortes o que eu queria, foi exata­mente o que aconteceu. Era uma manhã de sexta-feira. Quer dizer, nem tanto, afinal já passavam das onze horas, mas eu havia acabado de acordar. Estava engolindo algumas frutas como desjejum quando o filho do meu locador (moro numa casa de fundos, alugada) bateu na porta e disse que havia alguém no portão querendo falar comigo. Quando cheguei ao portão, veio a surpresa. Eu não estava preparado para aquela visita, não naquele momento – e com certeza não estaria por um bom tempo também. Era um se­nhor, já nos seus sessenta e poucos anos, com uma aparência de quem conheceu dias melhores no passado: vestia uma camisa polo e uma calça jeans surrada, um boné de alguma loja, a qual no momento eu não dei importância, e botas de operário, essas em melhor estado que o resto. “Oi, pai”, saudei-o e o convidei a entrar. Passamos pelo corredor lateral à casa, não sem ouvir os latidos do pas­tor alemão do proprietário, e entramos na construção de fun­do, onde moro, Cada Um Vive Como Quer | 9

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cuja única entrada é pela cozinha. Puxei um banco de três pernas para ele sentar, e fiz o mesmo em outro banco. “Então é aqui que você tá morando?”, perguntou. “É pe­ queno, mas arrumadinho. Muito caro o aluguel?”. Respondi que estava dentro do meu orçamento e o con­ videi a conhecer todo o imóvel: a sala de estar, com um sofá usado de três lugares, a TV com um aparelho de blu-ray, uma mesa de centro com um notebook em cima, uma es­tante baixa cheia de livros, quadrinhos e alguns Dvd’s, e o banheiro que fica entre essa sala e o meu quarto, o qual apresentei por fim. Lá, uma cama de solteiro, guarda-rou­pas de duas portas, uma cômoda baixa, um suporte para o radio-relógio, cesto de roupa suja e mais livros, quadrinhos e Dvd’s espalhados. “Puxa, nada fora do lugar”, ele comentou. “Mas você sempre foi o mais organizado da família mesmo”. Voltamos para a sala, e a gata, que nesse meio tempo entrou e deitou no sofá, saiu correndo em direção à cozinha. “E esse aí, mora com você?” “É uma fêmea, pai”, respondi. “É a Ramona, a dona da casa”. “Eu sempre pensei que você, morando sozinho, teria um cachorro, não um gato”. Comentário desnecessário que deixei passar em bran­co. Resolvi falar sem fazer rodeios: “O que o senhor quer, pai?” “Como assim?” “Vamos falar francamente: o senhor passou dois anos sem dar notícia alguma, e me aparece agora, assim, de re­pente. Se tivesse bem, não daria as caras. Então fala logo o que o senhor quer?” “Nossa, quanta gentileza! Cadê sua educação?” “Você esperava o que, uma festa de recepção? Dois anos sem nem um telefonema pra ninguém da família e quando aparece tá esse farrapo que eu tô vendo agora. Magro, com uma cara de quem não dorme direito há um mês, e vestindo roupa que parece ter mais de cinco anos de uso contínuo. A última vez que eu te vi, você tava bem diferente, ainda com aquela biscate do lado”. 10 | Rodrigo Bentivenha

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“Olha lá como você fala comigo!”, indignou-se. “Eu ainda sou teu pai!” “E eu tô na minha casa que eu banco sem precisar de você!”, retruquei no mesmo tom. “E tô vivendo muito bem, desde que você decidiu trocar a família por uma buceta!” Ele respirou fundo, engoliu em seco procurando achar as palavras certas para falar, mas estava visivelmente se segu­rando para não avançar em mim. Eu, do meu lado, con­servava-me relativamente calmo, esforçando-me para mostrar que era o dono da situação. Aquele era um acerto de contas e precisava realmente acontecer. Como disse, não estava preparado para aquilo, mas já que havia começado, estava disposto a ir até o fim. “Eu vim aqui em paz, querendo conversar com você...” “Conversar o quê?”, interrompi. “Depois de dois anos sem dar sinal de vida!” “Você vai ficar repetindo isso o dia todo?” “Vou, porque parece que o senhor não tá entendendo o que acontece. Tá um trapo humano! Quando tava bem e com dinheiro não se preocupou em vir conversar comigo! E outra coisa, como ficou sabendo onde eu moro?” “Seu tio, quer dizer, o Osmar, casado com a sua tia Ma­ riângela...” “Eu conheço, não precisa explicar quem é”. Eu real­mente não estava disposto a facilitar para ele. “Ele apareceu na loja onde eu trabalho.” “Loja do quê? Onde?” “Materiais para construção, lá no Jardim d’Abril.” E tirou um cartão do bolso e me entregou. “Tem meu celular atrás.” “Já procurou o Álvaro e a Bruna?” “Ainda não. Osmar me deu o telefone do Álvaro, mas eu quis falar com você primeiro.” “Puxa, a que eu devo a honra de ser o escolhido para receber o seu Norberto?” “Eu já me arrependi!”, explodiu ele. “Não tem condição de conversar com você!” “E você já não sabia disso? Queria de verdade uma recep­ ção carinhosa?” Cada Um Vive Como Quer | 11

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“Pode deixar, já vou embora. Tenho que voltar a trabalhar.” Acompanhei-o até o portão e ele foi embora sem se despedir. Fiquei alguns minutos olhando a Avenida João de Deus, no bairro Jardim Ipê, em Osasco, onde fica minha casa. Nenhum movimento fora do comum, carros e ônibus passando, o comércio funcionando normalmente, pedestres pelos dois lados da calçada. O reencontro que se deu para bagunçar minha vida não afetou a rotina de mais ninguém, o mundo continuava do mesmo jeito, como se esse colóquio entre meu pai e eu fosse uma coisa qualquer. E de fato foi, a não ser para mim e para o resto da minha família. “Tá tudo bem, Enzo?”. Era a voz da Dona Carmem, es­posa do meu locador (ela me mataria se eu a chamasse de “Dona” na frente dela). “Não, não tá não”, respondi. “Minha vida a partir de agora vai virar do avesso.” “Sei que não é da minha conta, mas quem era aquele senhor?” “Meu pai. Apareceu depois de dois anos sem dar um si­nal de vida. E já tinha largado a família por outra mulher seis anos antes.” Realmente, não era da conta da Dona Carmem, nem de ninguém. Mas, com certeza, ela ouviu os gritos, e como eu moro de aluguel no fundo da casa dela, achei por bem ex­plicar assim, em poucas palavras, o que aconteceu. Também porque sabia que era o melhor jeito de evitar novas pergun­tas. Pedi licença, voltei para casa e liguei direto no celular de Álvaro, meu irmão mais velho. Atendeu uma voz de mulher, que deduzi ser de Denise, a noiva dele. “Denise, é o Enzo.” “Oi, Enzo.” Sempre simpática, pensei comigo, mesmo ao atender um brucutu como eu. “E aí, por que você não vem na minha casa?” “Eu vou logo mais”, respondi. “Aliás, acabou de aconte­cer uma coisa que vai me fazer ir até aí, falar com o Álvaro pessoalmente. Mas, primeiro, preciso falar com ele por te­lefone mesmo. Por favor, linda, é coisa muito séria, e me descul­pe se estou sendo 12 | Rodrigo Bentivenha

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ríspido contigo, mas nem tô conse­guindo digerir o que aconteceu. Beijo pra você, e o mala do meu irmão não sabe a sorte que tem de ter te conhecido.” Eu detesto dar satisfação assim, a torto e a direito, mas como Denise daqui a alguns meses vai fazer parte dessa fa­mília caótica que é a minha, não é mal nenhum prepará-la para o que viria a seguir. “Fala, mano”, disse o Álvaro ao celular. “O pai apareceu”, respondi. “Apareceu como?” “Aqui, na minha casa. Acabou de ir embora.” “Assim, de repente?” “É.” “E o que ele disse?” “Pouca coisa. Eu cobrei satisfação pelo tempo que ele passou sem dar notícias, ficou puto comigo e foi embora.” “Mas por que você fez isso?” “Caralho, Álvaro! Ele some por dois anos e aparece um dia na minha casa, sem mais nem menos, e quer ser recebido com champanhe! Que fosse procurar você, então.” “Enzo, não precisa ficar nervoso. Tô tentando enten­der o que aconteceu.” “Então tá, escuta: seu Norberto Cantagagli, nosso pai, que saiu de casa há oito anos, pra morar com a amante e há dois não dava nem um sinal de vida, apareceu hoje na minha casa. E não tá bem, tá mais magro, envelhecido, abatido e disse que trabalha num depósito de materiais para construção aqui do lado, no Jar­ dim d’Abril. Deixou até um cartão com o número dele, anota aí.” Passei o endereço da loja, telefone e o número do celular do nosso pai escrito no verso. “Se você quiser falar com ele, liga em um desses telefones que te passei. Mas já te aviso, fica esperto. Se ele tives­se bem, não teria aparecido.” “Enzo, que coisa horrível você tá dizendo! É o nosso pai.” “Ele pôs a gente no mundo. Agora, quanto a ser pai, isso é discutível. Pelo menos pra mim. Eu, no seu lugar, esperaria ele fazer contato antes de procurá-lo.” Cada Um Vive Como Quer | 13

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