Subindo e Descendo, Descendo e Subindo o Morro

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Ruy de Oliveira Costa

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Direitos autorais, venda e distribuição cedidos pelo autor à Planeta Azul Editora www.planetazuleditora.com.br | e-mail: planetazul2014@yahoo.com.br Copyright © 2014 by Ruy de Oliveira Costa Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-8255-111-0

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A sombra do passado carregado de lembranças, contrasta com o presente que segue a vida adiante em meio a tantos pensamentos, a tantas cabeças pensantes. Lá no alto da serra em que o morro seria teu berço, nascia por esclarecimento de si mesmo um ser contraditório, moleque avesso as travessuras, aglomerações, tímido, pacifista, sonhador, um ser que ama buscando ser amado.

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Dedicatória

Aos incentivadores, aos amigos, aqueles que me denominam poeta e escritor, as pessoas que acreditam em mim, no meu trabalho que no fundo é um lazer onde cultivo a essência hereditária da veia poética de Djalma de Oliveira Costa;( O Djalma Sabiá) meu pai, cito-o particularmente a esta dedicatória. Ruy de Oliveira Costa

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Agradeço ao Deus, aos amigos incentivadores, agradeço as pessoas que por ventura nem ficticiamente citei, porque estará me dando a chance da sequência da obra; enfim agradeço a todos os meus colegas de trabalho que desde a primeira obra exclusivamente independente apostaram em mim. Ruy de Oliveira Costa

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Sumário

Parte I • 13 Parte II — Revivendo • 27 Flashes do Passado • 35 Um Pouco da Esquina • 36

Parte III • 39 Euvira • 51 Família • 60 Salgueiro — Samba-Enredo 1976 Djalma Sabiá VALONGO • 61 Contato Tânia • 64 Jacob • 65 Ruy • 66 11

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Sempre Alerta e Obediente • 69 Despedida de Solteiro • 72 N’água • 74 Ao Amigo Malandro • 77 A Missão • 82 Arnold Santos (Odé Citalangê) • 84 Alguns Encontros • 85 Ruy Devagar • 87

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Parte I

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assim começa mais uma tentativa, passa os segundos, os minutos, as horas, as ideias vão e vem, e na solidão dos caminhos da vida a mente viaja e cria imagens da ilusão e materializa na plasticidade da imaginação coisas do passado. A pobreza que se viveu, a riqueza que se viu e sonhou ter, a inocência, a maldade, o amor, a paixão e, infelizmente, a ambição que retrata tudo e todas as raízes e sentimentos que se valorizam e se desvalorizam, as desigualdades, a desonra um mesclado de coisas que a mente e os olhos não conseguiam arquivar, trabalhar corretamente. Porque pensar ou falar no submundo que pouco viu e sequer viveu? Era mais fácil começar pela família, sempre tento começar pela família, de qualquer maneira ia começar com tristeza, parece que ela perseguiu-me, mais que o sorriso venha na cara. Mas tinha tudo para ser alegre, mesmo na pobreza; apesar de não aturar o barulho do samba, de morar numa vila de casas cujo banheiro era coletivo e defecar nele tinha que ter muita coragem, para dar de cara com o vazo cheio, urina para tudo quanto é lado, merda no chão, repugnante! Ali, na ladeira onde seu Silva plantou uma amendoeira, ali onde havia muita matança de porco, jogo de cartas com aqueles velhos adultos. Gostoso era o banho de tina de barril dados pela Lili e Marlene num revezamento em que uma alisava e a outra uns cascudos dava, porque, às vezes, relutava devido a fria água, o bom é que cuidavam de mim, e fazem parte de minha vida. 15

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Como falar de tantas coisas sem se atropelar, como querer se lembrar de coisas que já vão longe? Prefiro fugir das datas, posso até dizer algumas se preciso for ou lembrar, como falar de pai e mãe? Toca-me a saudade, toca-me uma mutante verdade, não há como cobrar sentimentos, atitudes. Vingança nem pensar, justiça, de preferência a divina. A natureza humana diversificada como é, tende a confusão, no momento em que ela surge parece o sinônimo da verdade e com o passar do tempo, professor doutorado de paciência e resignação, o tempo esclarece a confusão, onde, às vezes, mais nada se pode fazer e quando pode o orgulho, a vaidade e a prepotência que se enraíza na índole humana que insiste em valorizar em demasia o que tem prazo para terminar, insiste em evoluir a mesma, a vida tem que se preservada no limite da lógica natural das coisas. Na verdade, viver em comunidade pobre tipo o morro chega a ser uma virtude; no tempo em que lá se viveu, a família tinha sua respeitabilidade preservada, inclusive pelo submundo. Trabalhador era trabalhador, vagabundo era vagabundo, malandro era malandro, polícia era polícia e bandido era bandido; essa última já dizia Lucio. Malandro era malandro, bandido é bandido, os que viviam as margens da lei desde a vagabundagem dita do vadio até o assassino; todavia, havia por muitos a reflexão que pairava sobre alguns deles, que por questões moralistas e até ignorantes iam as vias de fatos para resolver as mesmas. O fato é que Devagar perdeu muitos conhecidos e amigos que transformariam a vida do lugar, e os motivos quando não por imposição de vontade e arrogância, era por mulher, jogo de bola, a famosa pelada e ou para marcar território e ou pela perda da consciência devido às drogas existentes na época. A tristeza era ver amigos em derradeira confusão onde a perda de qualquer um era uma dor, muitos poderiam ser poupados, mas na impossibilidade do querer das pessoas ficava difícil controlar. Por fim, para cessar a confusão e descansar Deus de tanta petição, celebrava-se a vida com festas e pagodes. Como dizia o poeta popular, que se insere na história como um dos mila16

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gres deste tempo, devido à simpatia e carisma e o dom de versar divinamente que lhe era concedido, “Deus já devia estar de saco cheio”. (Almir Guineto). Mas a virtuosidade vagava por entre aquelas vielas, caminhos, becos, terreiros, várzeas, berço de musicalidade, poetas como seu Djalma Sabiá, Geraldo Babão, Noel de Oliveira, Anescar, dentre tantos que lá germinaram; violeiros, percursionistas como Luís Carlos que compôs “pela dona do primeiro andar” nos anos 70, Pedrinho do repinique, Vanderlei Duarte (o Berinjela) e Francisco Serra (Chiquinho) que integraram um grupo musical de muito sucesso nos anos 60 e 70, Almir Serra e outros; técnicos eletrônicos como Renato, Francisco do caminho largo, Bráulio Leal, alfaiates como Walter, Gerson, e Dalmir que também era compositor; atletas como Luís Carlos Basílio também poeta e compositor; Osmar de Souza Nunes, jogador do América que jogou em Portugal; Paulo Paixão, hoje professor na área da educação física, Marcos David jogador atuou na Colômbia e Venezuela, professora autodidata dona Jurema, Lazaro professor nos E.U.A , a estes cito-os mas existiam muitos outros virtuosos cidadãos. Tenho saudade dos bondes, do jardim da infância, das professoras, do posto médico; por incrível que pareça, saudades e lembranças se misturam, mas na palavra fácil de algumas pessoas que lembro farei-me entender, aprendi muito com adultos, velhos e malandros que muitas vezes conversava, ou ouvia as conversas, lá na ladeira, na subida de uma das entradas do morro, quantas conversas, vovó, vovô, seu Honório, dona Nadir, Marrom, seu Benedito, seu Bin, dona Isabel, Lalinha. Incrível! Fica difícil acreditar que uma pessoa de sentimentos e comportamentos pacifistas tenha tido tanta diversidade de relacionamento, mas todos têm, porque não eu? E assim vivi onde nasceu e morreu muito malandro, vagabundo, gente de família, trabalhador. Vivi onde se revelaram grandes nomes do samba, da musica popular do pagode, no esporte. 17

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Ò Tijuca, Saens Pena, Salgueiro querido, época boa, onde malandros, vagabundos ou qualquer marginal não saia da linha principalmente com as famílias consideradas, onde o trabalhador, as meninas moça em especial não eram assediadas por qualquer meliante. Muito pobre comeu e bebeu sem ter medo de ficar com rabo preso com ninguém; malandro neste tempo também tinha um Q de humanidade, o que a letra da música, que Jorge cantava referente ao Charles era notório. Aqui não se busca idolatria, o fanatismo, o sensacionalismo, as lembranças não estão sendo forçadas, a escrituração está fluindo a ponto de lembrar das paixões infantis, sobre a Cristina, filha da dona Julieta; da Gininha, disputadíssima neta da dona Isa; do seu Anacleto, do armazém da beiradinha do ladrão, da Débora irmã do Jorge Luiz que estudou no Prudente de Moraes, e lá no prudente a Cristina Paraguai irmã do Valteno e por serem todos platônicos até da minha professora se não me engano, Gloria Regina veio a minha paixão infantil, seguidamente isto remete a lembrança de alguns camaradas, como Raimundo e Renato que nunca mais os vi, mas com certeza o carinho da lembrança é imenso. Só faltou a mãe deles me adotar, gente muito fina, o levado Levi, o levado Zé Maria, o intelecto Jorge Caeiro, Albino, Frederico, em suma, toda a turma da santa professora dona Sonia que me ratificou como gente com suas aulas, seu comportamento, seu carinho, seu amor, aqui a minha homenagem, pois foste por demais especial para mim, às vezes me dava uma vontade de te chamar de mãe igual chamava a minha, as lágrimas neste momento destas escrituras até ameaçam cair. Mas vida que segue, Deus é quem manda ou gente o segue, ou tudo desanda. —Reflexo do pensamento de Devagar. Dona Giselda, outra professora fora de série, sem desmerecer todas as outras que segundo minhas reflexões adultas consideram que aquelas professoras do Prudente de Moraes marcaram em cada vida daqueles alunos, as diretoras donas Vanda, Silvia ou Terezinha minhas altas considerações; a dona Vanda tida como um terror para muitos alunos mostrou, por diversas vezes com 18

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muitos colegas bagunceiros, um comportamento humanitário que muitos pais contrariados não imaginavam. O hino nacional cantado no pátio regido pela professora Carolina, que saudade dos aromas que a própria saudade nos traz! Com alguma repetência, saí da escola, fui tentar a sorte no colégio 1º de maio fazendo o teste de admissão, o que consegui na 2ª tentativa. Muita gente para lembrar, professora Maria Elisa, muitos colegas, Jorge Luiz, Batista, Rosangela, Jussara, Manoel, Jorge Robson e tantos outros que peço desculpa por ora não lembrar. Quantas caminhadas do colégio para casa, da casa para o colégio, nestas caminhadas os vislumbres nas ruas, algumas silenciosas, outras barulhentas, cabeça pensante oscilante entre tristeza e alegria sob as trilhas sonoras de músicas nacionais e ou estrangeiras, na verdade um sonhador, um amante platônico. MPB dos anos 50, 60, 70, — às vezes ouvidas somente na mente de Devagar. Sob a plástica do pensamento, em seu tom abstrato, com os olhos fixos em um ponto qualquer as lembranças entrecortadas vão aparecendo, remetendo às vezes a um passado longínquo, às vezes recente, tentando excluir algumas coisas, entretanto sem colocar outras, como sem coragem para rever mesmo em memória algumas passagens. Para quem veio do morro, a mescla de momentos bons e ruins, mesmo que indiretamente são equivalentes, a infância de participar de uma pelada (jogo de bola), de uma festa em família, bailes espalhados pelo morro, como as festas e bailes do Renato junto à casa de dona Fia, os bailes do Waltér, quando na época de festas juninas na aldeia, no campo no alto do morro, terreiro grande, caminho largo e alguns muito recatados por serem de famílias tradicionais do morro como do seu Zeca, do seu Mocidade, do seu Geraldo pai do Geraldinho, festa na casa do seu Celinho e tantas confraternizações, as mais populares geralmente envolvia a presença da malandragem e vagabundagem onde raramente não acabava bem, pela manhã ouvia-se o comentário; — mataram fulano! Sabe quem morreu? E assim seguia-se a vida. 19

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