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Gomes Santos
percepçþes e encontros
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Copyright © 2016 by Gomes Santos Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor.
Planeta Azul Editora.
www.planetazuleditora.com.br e-mail: planetazul2014@yahoo.com.br Rua Dr. Olinto de Magalhães, 152 F. Vidigal – Rio de Janeiro – RJ – 22.450-250 Tels.: (21) 2239-1179/ 99613-9632 Editoração eletrônica e Revisão: Planeta Azul Editora Capa: Vinícius Soares
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária Juliana Farias Motta CRB7/5880 S237v Santos,Gomes Visões à janela : percepções e encontros / Gomes Santos . -- Rio de Janeiro : Planeta Azul Editora, 2016. 136 p. ; 14x21 cm .
ISBN: 978-85-69870-22-7 1. Poesia brasileira. I. Título. II. Título: percepções e encontros CDD B869.1 Índice para catálogo sistemático: 1. Poesia brasileira
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Ă€ Andrea, filha, primeira leitora.
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Ao ânimo, não me falte, inspiração esteja por chegar.
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Sumário
Acesso........................................................................13 De uma janela em Sevilha...........................................14 Festa de São Firmino..................................................16 O pórtico ..................................................................19 Duas cidades...............................................................22 Um cantar .................................................................25 Chegada da estação.....................................................28 Manacá.......................................................................30 Praça pública...............................................................31 Pecadilhos ..................................................................32 Esboço precário..........................................................34 História em quadrinhos..............................................35 Cardápio inseguro.......................................................41 Aniversário da confraria..............................................42 Bossa .........................................................................43 Gosto antigo...............................................................44 Momento...................................................................47 Vernissage ..................................................................49 Entre estações.............................................................51 Retorno a Paris..........................................................55 Parceiras na travessia....................................................67 Decisão.......................................................................71 Encontro fortuito........................................................74 |9|
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Arrependido...............................................................78 Sozinho......................................................................80 Encontros...................................................................83 Recordação do Douro................................................87 A última viagem a Coimbra........................................97 Viagem de bonde ......................................................105 Mercado dos vidros....................................................115
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Anos a fio debruçado n’alguma janela de veres, ouvires e sentires, sem pressa responder, aqui despertados.
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Acesso
Torcer tramela, forçar, abrir, afastar teias pegajosas, chuva de letras dificulta o entender. Alcançar o antecedente, quebra-cabeças, peças embaralhadas, dedos gastos tocá-las, míope certificar-se local pousar. Cada qual disputa, pés fincados, lugar achar, tanto faz cenário: becos, ruelas, muros gastos ou repintados, dunas, alcovas, firmamento, lá. Cativo momento, promessa de calendário desfaz ilusão, gargalhar da quimera outro lado do sonho sem acesso, janela fechar distraído, jamais desculpas derramar. | 13 |
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De uma janela em Sevilha
Cristal reflete perfumes, seio insubmisso exala magnólia, robe reluta revelar detalhes. Uma, duas, três cartas semiabertas, cantoneira escura acolhe, xale carmim em cascata tenta alcançar pétalas brancas, exiladas no piso. Punhal de luz corta a sala, atinge espreguiçadeira, calor intima descerrar drapeado de sedas, agradecida, penugem cintila na perna esguia. Presa aos dedos, cigarrilha, brasa tímida atiçada pulsa, flocos de leveza azulada brotam dos lábios em espirais esparsos. Notas de lamento percorrem o corpo, dupla de taças antigas comungam confidencias, regozijo da carne insuficiente consolidar afeto. Na sacada, gerânios indolentes ao sol guardam aromas pra madrugada distante, | 14 |
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guitarras em sustenidos da esquina, notas cavalgam pelas palmas másculas de cantantes. Sonolenta, balbucia displicente: – Olé!
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Festa de São Firmino
Tinha um, depois dois, três, quatro, cinco, seis, sete... se mais, não contei. Touros, chifres como guidões de bicicleta de corrida ao contrário, em disparada, ziguezagues, lanças pontiagudas, correria, bizarra linguagem instiga a multidão, em algazarra insultuosa ao risco. Verdadeira tauromaquia à solta, popular, festiva pela frente, atrás, lados, envolvente cheiro animalesco, suores copiosos crescentes. Uma vaquinha, ao menos não contada, discriminada, ausente, desencontrada, ali. Cornos ávidos, galope pelas ruas escorregadias, obstáculos humanos saltados com tropeços, corpos embolados, membros à granel, uivos de estímulo, ardor. | 16 |
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Longe da correria, enfurnados por grades, janelas, biombos, vadios em cantos e becos assim ficaram, desencantados da alegria, mudos, acabrunhados uns poucos. Da festa, picar em círculo, picadeiro congestionado de gentes. Gordo no encierro emula toureiro, berloques, salamaleques, pingentes, na indumentária deste, ausentes. Branco da pureza domina, laço vermelho é rasgo de sangue, amarrado à cintura ou pescoço, emoldura gritos, gargalhadas e impropérios afogam gargantas. Da festa, o santo ausente, pendente milagre, peito rasgado, cabeça pisoteada, corpo lançado pra cima, farrapo esgarçado, pelo pé puxado, milagre de sanfermines escapar ileso quem se arrisca. Olhar descrente pra moça sozinha na sacada, tantas palavras musicais ao redor, festa de São Firmino exala alegria, mulheres lindas sobre ombros másculos. Aquela, lá, preparou-se: saia rodada e rendas, xale da bisavó, argolas de prata verdadeira, pente de tartaruga prende coque. Mão em concha toca seio esquerdo oculto, comprime coração, lágrima seca. Calor humano avassalador derrete a timidez | 17 |
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dos que saem da igreja, engajados no pecado da folia. Inebriante nuvem de pólen orgíaco instiga prazeres imediatos. Por que ela? Descuidada, parceiro escapuliu, sentir corpos na intimidade do anonimato, engolido pela turba. Atira amargura, não pétalas, rosa amassada onde espinhos fustigam. Bajula a morte trazida a galope: – Que venga la muerte! Clamor rouco, respondido com sorrisos alheios e perfumes. Repete histérica, expondo os seios: – Que venga la muerte y nos leve a los dos!
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