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Direitos autorais, venda e distribuição cedidos pelo autor à Planeta Azul Editora www.planetazuleditora.com.br | e-mail: planetazul2014@yahoo.com.br Copyright © 2012 by Rosane Fantin Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-98792-66-8
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Ao meu amor...
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I
no U
ltimamente, ao parar sentado em qualquer lugar, surgia uma imensa vontade de criar raízes e nunca mais levantar, tão cansado andava. A paternidade podia ser algo adorável, mas também muito cansativo. Invejava as mulheres que conseguiam levar adiante sua vida, envolvidas com trabalho, cuidados com os filhos e a casa. Lembrou como achava graça das queixas frequentes das amigas de Cristina que a procuravam para desabafar. Viam em sua mulher um exemplo a seguir. Sempre tão organizada, cuidando de duas meninas pequenas, do marido e da casa, além de trabalhar como psicopedagoga em uma clínica de bairro, duas vezes por semana. Nestes dias, contava com a ajuda de sua mãe, D. Celina, que, naquela época, sempre estava disposta a ajudar a filha, reconhecendo o seu esforço em atuar na profissão que escolhera sem descuidar de seu lar. Cristina... Ele a conhecera no cursinho pré-vestibular. Sempre atenta e preocupada em anotar tudo que era dito pelos professores, tinha seus cadernos como os mais procurados para copiar. Foi assim que se aproximara dela pela primeira vez. O estudo foi a desculpa que usou para se aproximar da simpática garota de óculos, que sempre tinha um sorriso a distribuir aos colegas. Tornaram-se amigos. Apenas depois dos resultados das provas, durante a festa 7
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dos “bixos”, no pátio do cursinho, entre um abraço e outro, surgiu o primeiro beijo com gosto de tinta e sabor de vitória... As risadas infantis tiraram Leonardo de suas reminiscências e o trouxeram de volta ao agitado corredor, entre as salas de aula de balé de suas filhas. Uma das turmas acabara e as garotinhas, em suas malhas e saiotes cor-de-rosa, esvoaçavam pelo ambiente, correndo ao encontro de suas mães. Sentia-se estranho sendo o único homem do lugar. Pelo menos naquele horário não era possível identificar outro espécime masculino além dele. – Papai! – Gritou Tati, sorridente, de mãos dadas com uma amiguinha, aprendiz de bailarina. Pareciam gêmeas, com seus longos cabelos presos num coque, envolvidos pela rede de crochê rosa, e por uma larga tira elástica da mesma cor, que arrematava o penteado evitando que fios de cabelo rebeldes caíssem em suas testas. – Oi, meu amor! – Respondeu alegremente. Tatiana, ou Tati, como todos a chamavam, estava agora com quatro anos e lembrava muito Cristina, na mesma idade. Era inteligente, perspicaz e muito bem humorada. Fazia amizades facilmente, pois adorava uma boa conversa. Sua voz só não era ouvida quando caía exausta em sua cama, depois de um dia de atividade intensa. – Papai, essa é a Fernanda. Ela também tá dançando como eu. – Oi! – Saudou a menininha cheia de sardas e olhos indiscretos – Você que é o pai da Tati? – Sim. Sou eu mesmo. – E a mãe dela? Onde tá? – A minha mãe tá no céu, Fernanda – interferiu Tati com um sorriso triste nos lábios – É o papai que cuida de nós agora. – Ah... – Falou a menina admirada, com jeito de quem não tinha entendido bem o que a amiga tinha dito. – Nanda! – ouviu-se a voz da mãe da menina –, estava te procurando. Temos de ir logo para casa, lindinha. A mãe de Fernanda era uma mulher jovem, talvez uns vinte e oito anos, um pouco acima de seu peso ideal, vestindo uma calça jeans branca, que marcava desfavoravelmente suas coxas e quadris, e uma camiseta multicolorida, que deixava ver todos os 8
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seus excessos alimentares. Enquanto dirigia a fala para a filha, os olhos gulosos focavam-se em Leonardo e em suas mãos, estranhando, e ao mesmo tempo admirando, a presença de um pai numa escolinha de balé. – Oi, tudo bem? Sou a mãe da Fernanda. Meu nome é Sandra. Ela começou as aulas na semana passada e ainda não conheço todas as mães... Isto é, os pais... – Começou a gaguejar, por mostrar-se confusa em sua apresentação. – Muito prazer. – Cumprimentou-a sorrindo, buscando tranquilizá-la. – Devo parecer um ET aqui no meio de tantas mulheres. – Imagina! Hoje em dia, com tantos casais separados está ficando comum ver os pais acompanhando os filhos em locais onde antigamente só eram vistas mães. – Retorquiu soltando um risinho abafado. Havia notado a ausência de aliança na mão esquerda de Leonardo. – Tem razão. – Concordou, numa tentativa de evitar que a conversa continuasse e ele fosse obrigado a revelar seu estado civil atual. Já bastava o esclarecimento dado por Tatiana à amiga. Além do mais, Sandra fizera questão de balançar a mão esquerda nua, em frente aos seus olhos, diversas vezes, naqueles poucos segundos. Ainda assustava-se com o avanço de mães separadas das amigas de suas filhas no Jardim de Infância. Parece que bastava a elas saber que era viúvo, para o assédio começar. Infelizmente não estava interessado em substituir Cristina tão cedo. Fazia pouco mais de um ano que ela se fora e ainda preferia a recordação dela ao seu lado na cama. – Bem, temos de ir, não é mesmo, Tati? A Marina já deve estar terminando a aula também. – Tem outra filha aqui? – Perguntou Sandra, curiosa. – Sim. Ela tem 6 anos e está em outra turma. – Mas que amor... – Comentou, lançando um olhar ainda mais interessado sobre ele. – Até logo, então. – Despediu-se rapidamente e, pegando na mão de sua caçula, que disparou alguns resmungos de contrariedade, dirigiu-se para a sala de Marina. 9
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Ao chegar lá, as meninas ainda davam seus últimos passos de dança. Estranhou a presença de uma nova professora. Perguntou-se o que teria acontecido com a outra. Não tinha sido avisado sobre a mudança. De qualquer forma esta parecia levar jeito com crianças, pois todas elas a obedeciam sem pestanejar. – Muito bem, garotas. A aula chegou ao fim. Espero que tenham gostado e que eu tenha conseguido substituir bem a professora Ana. – Falou a esguia bailarina, de cabelos louros, presos num coque no alto da cabeça, tez dourada e dona de uma voz doce e sensual. Devido a sua posição, entre as outras mães, Leonardo não pode ver seu rosto com muita precisão, mas pareceu-lhe ter belos traços, além de um corpo admirável. Algumas das meninas correram até ela para despedirem-se com um beijo, inclusive Marina. Logo, se voltaram para a porta ampla onde as mães ficavam a espera do término da aula. – Papai! Oi, Tati! – Exclamou Marina, correndo ao encontro de Leonardo e da irmã. – Viu a professora nova, papai? Ela é super boa. Nos ensinou um monte de passos. O nome dela é Bruna. – Está bem, meu anjo – podando a enxurrada de palavras da filha, que quando estava excitada, falava sem parar –, temos de ir agora. Papai tem um encontro com uma cliente e preciso deixar vocês com a vovó Celina agora. Bruna continuava cercada por algumas alunas. Ele gostaria de falar com ela para pedir explicações sobre a mudança não comunicada, mas desistiu ao olhar o relógio. Tinha apenas trinta minutos para deixar as filhas na casa de D. Celina e correr até o escritório de arquitetura para encontrar a sua cliente. Atrapalhado com Tati, Marina e suas mochilas pela mão, pedindo licença às mães e suas pequenas bailarinas, que faziam o maior estardalhaço no meio do estreito corredor, conseguiu sair da academia. No caminho, evitou Sandra, que, assim que o viu, veio em sua direção, com os dentes a mostra. Com um sorriso forçado e um até logo, deixou a mulher de boca aberta, frustrada com a fuga desabalada de seu alvo. “Só o que me faltava, ser cantado por uma das mães da aula de balé”, pensou irritado. 10
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– Léo! – Ouviu uma voz feminina chamá-lo. – Droga! O que vai ser agora? – Grunhiu entre dentes antes de perceber que quem o chamava era uma das antigas amigas de Cristina. Ela tinha uma filha na turminha de Marina. Se fosse outra hora, teria o maior prazer em conversar com ela, pois era uma pessoa muito agradável. – Oi, Cláudia! Tudo bem? – Sentiu-se culpado por ter pensado mal dela. – Pode conversar agora? – Infelizmente, estou morrendo de pressa. Tenho um encontro com uma cliente em meia hora, e ainda tenho de deixar as meninas na casa da minha sogra. – Está bem. Eu ligo prá você mais tarde. Não é nada tão importante assim. – Desculpe, mas ... – Disse encabulado. – Não se preocupa. A gente se fala depois. Tchau! – Ai, papai! Tá apertando a minha mão. – Reclamou Tati. – Desculpe, filhinha. – Respondeu diminuindo a pressão sobre a rechonchuda mãozinha. Atravessaram a rua, na direção da caminhonete prata. Acomodou as filhas nas respectivas cadeirinhas e colocou-lhes os cintos de segurança. Fechou a porta e correu para assumir a direção. Olhou o relógio novamente, fazendo cara de espanto. Como estes ponteiros podem se mexer tão rápido? Perguntou-se. Na maior velocidade possível, considerando a segurança de sua diminuta família, se deslocou pelos dez quarteirões que o separavam da casa de D. Celina. Graças a Deus ela tinha aceitado ficar com as gurias enquanto ele atendia a sua cliente. Agradeceu a Cristina por ela ter conseguido, quatro anos antes, descobrir aquele conjunto comercial à venda, próximo a casa de sua mãe, onde ele estabeleceu seu escritório. Lembrou de como ficou preocupado com a proximidade da sogra, ao saber do endereço. No final das contas, tinha sido uma ótima escolha. Faltavam cinco minutos para o seu encontro quando praticamente desovou as filhas na casa da avó e saiu correndo, deixando a senhora falando sozinha, com as netas saudosas agarradas em seu pescoço. Depois teria tempo para desculpar-se pela 11
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saída abrupta. Certamente ela ficaria dias a fio comentando com as amigas da rodinha de chá semanal sobre como ele era um pai desalmado e descuidado, que na primeira oportunidade se livrava das crias para “cair na gandaia”, como ela gostava de dizer, e de como ela estava exausta criando as netas. “Pobre da minha filha”, falaria arrematando o show de queixas. Por sorte, conseguiu chegar ao escritório ao mesmo tempo em que sua nova cliente. Era uma senhora elegante, não muito alta, aparentando cinquenta anos de idade. – Boa tarde. Como vai a senhora? – Boa tarde. Muito bem, obrigada. – Então, vamos entrar, por favor. – Disse polidamente, indicando a entrada de sua sala. Há quase quatro anos montara ali o seu trabalho, um serviço de projetos arquitetônicos. Era um conjunto com duas salas amplas para os projetos, uma sala de reuniões, cozinha e banheiro. Desde seu início até agora, não tinha do que se queixar. Serviço nunca faltava e o nível socioeconômico dos seus clientes vinha melhorando a cada temporada, o que era um bom sinal. Tinha um sócio, seu amigo de longos anos, Aírton. No momento, ele estava na serra, fiscalizando as obras de construção de um novo shopping em Canela. Venceram a concorrência instaurada pela prefeitura e agora tinham que correr para ficar dentro dos prazos estabelecidos. Como Aírton estava solteiro e sem filhos, tinha sido naturalmente escolhido para assumir esta empreitada. Não fosse seu colega, com a morte de Cristina, o escritório teria despencado. Airton tornara-se mais que um simples amigo. Tornara-se um verdadeiro irmão. No escritório, ainda contava com a ajuda de uma secretária e de dois estagiários que cursavam o último ano da faculdade de Arquitetura. No horário em que marcara com sua cliente, o seu pessoal já não estava mais, pois costumavam encerrar suas atividades às 17 horas. Tão logo se despediu da senhora, que partiu plenamente satisfeita com o projeto de sua nova cozinha, fechou a sala e correu para a garagem do prédio. Já passava das dezenove horas. Ainda precisava pegar as meninas, dar banho e jantar e colocá-las 12
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na cama. Em geral, o que vinha depois era a melhor parte do dia. Ficar quieto, sem perguntas a pipocar em seus ouvidos, sem as intermináveis discussões quanto a propriedade deste ou daquele brinquedo e, o melhor, sem perguntas sobre Cristina. Tati ainda tinha esperanças de que o papai do céu desse umas férias para a mamãe e a liberasse para passear aqui na Terra. Sorria, quando parou no sinal, já próximo da casa de sua sogra, pensando o que seria de sua vida se não tivesse aqueles dois anjinhos bagunçando a sua vida e dizendo a todo instante o quanto o amavam. – É muito bom, Cris... Mas não é fácil. – Disse em voz alta, mantendo o sorriso e arrancando o carro, imaginando-a ali ao seu lado. – As coitadinhas estão mortas de cansaço – foi a frase que ouviu de Celina assim que a porta se abriu, – Como você estava demorando, acabei dando o jantar para elas. – Ah, D. Celina, que ótimo. – Agradeceu abraçando a sogra e dando-lhe um beijo na face, realmente surpreso e agradecido por ter eliminado uma das tarefas mais difíceis para ele. Pelo menos tinham comido algo mais saudável que os lanches que costumava preparar. – Nada como uma comidinha de avó... Estavam agora na sala de estar do apartamento e nem sinal das meninas. – Na verdade, eu tinha umas pizzas congeladas e preparei uma para elas. O sorriso de Leonardo tornou-se amarelo, imaginando que tinha se precipitado em seus elogios. – Elas adoram pizza. Que bom... Obrigado por me adiantar o serviço. Agora só falta o banho e cama. – Sendo sincero em seu agradecimento e reconhecendo que apesar do detalhe da pizza, ela havia abolido uma de suas preocupações . – Queria que me desculpasse por minha saída meio corrida daqui, mas tinha um compromisso no escritório e estava em cima da hora. – É, imaginei... Leonardo, reconheço que nunca nos entendemos muito bem... – O que é isso, D. Celina? De onde a senhora tirou isso? – Se não fosse arquiteto, poderia ser ator. 13
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– Eu sei, eu sei... Só quero que saiba que admiro muito a sua dedicação às minhas netas, mas acho que você precisa de alguém. – Neste ponto Leonardo ficou perplexo. Nunca pensara que a mãe de Cristina pudesse ter esta preocupação. Arrumar uma nova mulher para ele? – Não acha que está na hora de arrumar uma babá? – Continuou ela, mais uma vez demonstrando a precipitação de Leo a respeito da sogra. – Sei que a sua mãe não pode mais ajudá-lo como no início e eu... Também estou com problemas de saúde... Você sabe... O que acha? – O que acho?... D. Celina? Onde estão as duas? – Perguntou subitamente preocupado por não ouvir as vozes de sua duplinha. – Estão lá na saleta vendo televisão. Não se preocupa. E não mude de assunto. – Arrematou aborrecida. – Eu já pensei nesta história de babá, mas sabe como tenho medo de deixá-las com uma pessoa estranha. – disse resolvido a não irritá-la. – A minha primeira e última experiência foi, digamos, desastrosa. Além disso, ouve-se falar tanta coisa, como maus tratos, sequestros... – Explicou ele. – Pode deixar comigo – disse com determinação –, vou encontrar alguém com boas referências e mando procurá-lo. Está bem? – Está bem, D. Celina. – Concordou para encerrar logo aquela conversa. Estava ansioso para pegar suas filhas e buscar o sossego de seu lar o mais breve possível. – Marina, Tati! Onde estão os meus anjinhos? – Papai! – Ouviu os gritinhos vindos em sua direção através do corredor que desembocava na sala onde estavam. – Vovó nos deu pizza e refrigerante, papai. Estava muito bom! – Explicou Marina. Era do mesmo sabor que aquela que você fez ontem. Quatro queijos. Leonardo quase podia sentir o olhar reprovador de Celina queimando em suas costas, como se apenas ele tivesse a obrigação de prover comida saudável em sua casa e ela não. Será que estava imaginando coisas e sendo injusto com a mãe de Cristina? Duvidava disto. 14
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– Que bom, Marina. Que tal irmos para a nossa casa? – Ah, papai, deixa a gente ficar mais um pouquinho... – Implorou Tati. – Amanhã vocês têm de acordar cedo para ir à escola, portanto têm de dormir cedo. – Vai contar historinha? – Chantageou Marina. – Vou... – Oba! – Exclamaram quase ao mesmo tempo, colocando-se ao lado dele. – Tchau, vovó! – Puxa, este papai deve contar uma historinha como ninguém. – Observou ciumenta. – Boa noite, minhas queridas. – Dando-se por vencida e abraçando-as –, Léo, assim que tiver uma pessoa, eu telefono. – Muito obrigado, D. Celina. Uma boa noite para a senhora – despediu-se e, repentinamente, lembrou algo –, onde estão as mochilas? – Esqueceu que a gente deixou elas no carro, papai? – Lembrou Marina. – É mesmo. Que cabeça a minha... – Observou cansado –, então vamos... Mal tinha acabado de colocá-las para dormir, quando o telefone da sala tocou. – Léo? – Sim, ele mesmo. Quem é? – É a Cláudia. – Oi, Cláudia. Tudo bem? Desculpe a pressa de hoje à tarde. – Lembrando do encontro dos dois na escola de balé. – A gente está sempre correndo mesmo. Não se preocupe... Mas o que eu queria era convidar você para sair com a gente. – Sair? – Perguntou surpreso com o convite inesperado, já pensando numa maneira de esquivar-se do mesmo. – É. Encontramos o Airton, o seu sócio, lá em Canela, no último fim de semana, e ele nos disse que você está precisando de um pouco de diversão. Só anda do trabalho para casa e vice-versa, cuidando das meninas... – Pois é... – Precisaria ter uma conversa com seu sócio, pensou. – Mas sabe como é. Ando meio cansado para sair de casa. 15
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Quando termino o dia, só penso em me deitar e dormir. Além do mais, não tenho com quem deixar as gurias. – Ah, mas isso já está resolvido. Eu tenho uma baby-sitter ótima, que sempre cuida da Fabiana quando o Fabrício e eu queremos sair à noite. Nossa menina já está com dez anos, mas ainda não fico segura de deixá-la sozinha quando saímos. Então pensei que a babá poderia ficar com as três, aqui em casa. A Fabiana vai adorar brincar com a Marina e a Tati. O que acha da ideia? “Ela planejou tudo, nos mínimos detalhes”, concluiu intimamente. – Puxa, Cláudia, fico muito agradecido com a sua preocupação, mas... – Ainda tentava escapulir. – Não tem que agradecer nada. Você precisa arejar um pouco, rapaz. Olha, o Fabrício vai falar. – Interrompeu a conversa e passou o telefone para o marido. – Oi, Leo! Tudo bem, parceiro? – Falou o homem numa familiaridade até então desconhecida por Leonardo. – É só um jantar para colocarmos a conversa em dia, beber um vinho, relaxar... Que tal? – Oi, Fabrício. – Tentava lembrar-se do rosto do inesperado “parceiro”, mas não conseguia formar uma imagem em sua mente. A última vez que o vira fora no velório de Cristina. – Muito obrigado pelo convite... – Que tal este fim de semana? Sábado está de bom tamanho prá você? –Insistiu o “parceiro” do outro lado da linha. – Está bom. – Respondeu imaginando qual seria o tamanho ideal do sábado. – Claro! Vai ser bom sair e relaxar um pouco. – Desistiu de resistir ao convite. – Então está combinado. Esperamos vocês no sábado, às 20h30min. Sabe o endereço, não? – Sim... Acho que sim. – Confirmou, imaginando que encontraria o endereço na caderneta de Cristina, onde ela sempre mantinha endereços e telefones de todos os parentes e amigos. – Então, até sábado, Leo! – Despediu-se depois de confirmar seu endereço. – Até! –Saiu ainda incerto da situação em que estava se metendo. Na verdade, tinham saído juntos, uma ou duas vezes 16
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quando Cris era viva. Conhecia melhor a Cláudia, devido às suas visitas frequentes em sua casa, levando ou não a filha para brincar com as suas. Depois pensou melhor e começou a achar que seria bom mudar de ambiente para variar, inclusive para as garotas. Eles eram um casal muito simpático e estavam querendo fazer uma boa ação levando um “pobre viúvo” para passear. Depois de tantos meses de clausura, estava na hora de viver um pouco, ainda que sair para jantar com um casal praticamente desconhecido não era bem o que ele imaginava como definição de viver. Rezava para que não houvesse mais desconhecidos nesta pequena reunião beneficente.
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