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Thiago Santos
CONTOS DE SÃO PAULO
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Copyright © 2018 by Thiago Santos Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor.
Planeta Azul Editora.
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Editoração eletrônica e Revisão: Planeta Azul Editora Capa: Zélia Guerra de Oliveira Costa ilustração: Google CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros – RJ S237c
Santos, Thiago
Contos de São Paulo : história do nosso cotidiano / Thiago Santos. -- Rio de Janeiro : Planeta azul editora, 2018.
152 p. ; 14 x 21cm . ISBN: 978-85-54151-33-1
1. Contos brasileiros – São Paulo (Cidade).I. Título: história do nosso cotidiano CDD B869.3 Índice para catálogo sistemático: 1. Contos brasileiros - São Paulo (Cidade)
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Dedicatória
Dedico este meu segundo livro a todos aqueles que serviram de inspiração para as histórias nele contadas. Ao Lano, por seu apoio, amor e carinho incondicional, e por sempre acreditar em mim. À Paty Simões, por ter sido minha cobaia, e ter aprovado de primeira esse meu livro; e também por ter me incentivado a publicá-lo. E, claro, à minha mãe e ao meu pai, que sempre acreditaram em mim.
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Agradecimentos
Só tenho a agradecer primeiramente a Deus e a minha família por todo apoio e carinho depositados em mim sempre.
À Planeta Azul Editora, que mais uma vez acreditou e me ajudou a realizar esse sonho de levar essa minha cria a várias pessoas. Agradeço a você, leitor, que está lendo este livro; espero que se divirta e se emocione com as histórias nele contadas.
Agradeço a todos os que conhecem minhas histórias, e que de alguma forma divulgam e compartilham. Muito obrigado.
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Prefácio
São os altos e baixos da vida que nos levam a grandes conquistas, grandes descobertas, grandes aprendizados. Passamos por momentos bons, momentos ruins, que nos fazem pensar, refletir, e que nos ajudam a entender nossa missão aqui na terra. Momentos esses do nosso cotidiano, retratados aqui nesses contos. Quantas pessoas já foram traídas, tiveram seus sonhos frustrados, tomaram decisões erradas? Tantas outras já sentiram ciúmes, viveram aventuras sexuais, tiveram grandes desafios, tiveram que batalhar muito, até mais que outras pessoas? Quem já teve seu segredo revelado e foi até as últimas consequências para que ninguém mais o descobrisse, quem já se arrependeu de algo ou se vingou por algum motivo?! Quem já sofreu bullying, teve depressão, teve amigos e superou todas as adversidades, quem já foi trocado por outro e achou que era o fim de tudo?! Histórias como a minha, como a sua... Contos de São Paulo retrata momentos tristes, engraçados, reais; e talvez não tão reais assim do nosso cotidiano. CONTOS DE SÃO PAULO | 9 |
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Sumário
Prefácio..................................................................................................... 9 A Beata de Mogi das Cruzes..............................................................13 A Vingativa de Poá...............................................................................25 O Tímido de Guaianases....................................................................31 O Cara Normal do Itaim Paulista....................................................36 A Batalhadora de São Miguel...........................................................42 O Segredo das Irmãs da Vila Matilde.............................................50 A Dona de Casa da Penha..................................................................62 A Sonhadora de Guarulhos...............................................................72 O Insaciável do Tatuapé.....................................................................83 O Garoto do Belém ..............................................................................88 A Estudante de Santo André.............................................................92 A Solitária da Sé....................................................................................99 A Traída do Arouche........................................................................ 105 A Rainha da Vieira de Carvalho.................................................... 111 A Patricinha do Tucuruvi............................................................... 124 O Abandonado da Faria Lima........................................................ 131 A Guria de Curitiba........................................................................... 138 O Último Conto do Escritor de São Paulo.................................. 148 CONTOS DE SÃO PAULO | 11 |
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Uma paixão improvável, inesperada. Um amor impossível... O destino, às vezes, gosta de nos pregar peças e mudar todo o curso de nossas vidas. Foi o que aconteceu com...
A Beata de Mogi das Cruzes Mogi das Cruzes – 1890 – Boa tarde, Padre Ozório. – Boa tarde, Coronelzinho! Era um sábado, à tarde, ensolarado na região de Mogi das Cruzes, quando na estrada que dava acesso a fazenda “Jequitibá Rei”, Leonardo encontrou Padre Ozório em sua carroça. O sol castigava o dia, o padre estava com um chapéu muito grande, mas ineficaz para esconder a vermelhidão de seu rosto, realçando um belo par de olhos azuis. O padre era muito querido em toda região e era também conhecido por acalmar os ânimos nas grandes brigas entre fazendeiros locais, fazendo pontes entres famílias rivais, fazendo até que Dom Brás tomasse uma boa cachaça junto a Bento Manuel, seu grande inimigo de infância. Leonardo herdara as terras de seu pai, o grande coronel Patápio Benício, um grande cultivador de cacau, morrera numa emboscada sem nada ser roubado, a não ser seu bem mais precioso: a vida. CONTOS DE SÃO PAULO | 13 |
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Seu filho Leonardo cresceu para ser o sucessor de seu pai que sempre lhe dizia: – Aprenda tudo que puder comigo, filho, mas aprenda ainda mais a amar cada grão desta terra porque tudo que temos vem dela, e tudo isso será seu um dia. Padre Ozório foi quem deu a benção final ao coronel Patápio, que muito apegado a tudo que possuía, não parecia querer partir para o mundo dos espíritos e deixar suas posses, mas quando chega a hora da partida, não há o que fazer, e o coronel então se foi, deixando mulher e seu único filho como herdeiros de tudo aquilo. – Padre, convido você a se sentar e descansar um pouco desse sol, naquela plantação. – e apontou uma árvore com galhos arredondados que formava uma convidativa sombra. – Embora eu tenha muito que fazer, aceito o convite do Coronelzinho. Ambos sentaram-se à sombra da árvore, e começaram a lembrar de altas histórias das terras da fazenda “Jequitibá Rei”. – Me lembro muito bem de ver seu pai ainda construindo as cercas junto com os empregados. Mesmo sendo dono de tudo, ele jamais deixou tudo nas mãos dos empregados, tudo que você vê nesta enorme fazenda tem literalmente o suor de seu pai. – Me contento muito ao saber disso, eu não sabia. – Seu pai era um homem modesto, não gostava de contar vantagem nem de dizer de suas benfeitorias. – Me parece um homem cheio de mistérios. – Nem tanto, Coronelzinho, ele apenas era encabulado demais para contar as coisas boas que fazia, e são muitas viu? Que ele me perdoe a traição de lhe contar, mas vê aquela construção lá pelas bandas da fazenda de Zé Bodoque? – O convento das freiras? Conheço. – Seu pai doou todo o material para construir, emprestou os empregados e mantinha o orfanato com provisões. Os olhos de Leonardo encheram-se de lágrimas, muito emocionado disse: THIAGO SANTOS | 14 |
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– Me orgulho muito de meu pai. – Faz muito bem, Coronelzinho. – Me chame de Leonardo, não precisa essa formalidade entre nós. – Eu lhe chamo assim não por formalidade ou pelo seu título, e sim porque foi assim que eu o conheci. Sua mãe entrou em trabalho de parto e já estava a muitas horas sofrendo com a dor, e você não nascia. Mandaram me chamar na paróquia onde eu residia, e eu vim correndo. Ao chegar nesta fazenda, vi todas as mulheres reunidas em frente à entrada principal da casa grande a rezar o terço pedindo a Deus, nosso Senhor que ocorresse tudo bem. Eu cheguei e me juntei a elas em oração, e vinte minutos mais tarde seu pai abre a porta com você, acomodado num lençol branco, dizendo a todos os presentes: – É um “Coronelzinho”!! Leonardo prestava atenção e ficava cada vez mais orgulhoso de seu pai, passou os olhos pelo convento das freiras, e notou uma casinha ao lado, então perguntou: – Padre, aquela casinha pertence ao convento? – Não, não, aquela é a casa de Quitéria. – Uma casa no meio do nada? – Sim, mas ela já não mora mais ali. Isso é uma longa história que o Coronelzinho não vai gostar de ouvir. – Agora fiquei curioso, temos tempo até o sol ficar menos forte, então me acompanhe num copo de cachaça, enquanto me conta a história. Leonardo serviu o padre, que a essa altura, no meio do nada, não pensou duas vezes em tomar de uma vez quase metade da garrafa de cachaça ofertada pelo jovem amigo, e deu início a narrativa: “Quitéria era muito bonita, chamava a atenção por ser branca e ter uma longa cabeleira preta.” Sempre muito séria, do tipo que não encarava um homem nos olhos e lhes respondia sempre com poucas palavras, ela era como gostava de dizer, moça direita. Durante toda sua vida ia à igreja para a primeira e a última missa do dia, não importando o que lhe CONTOS DE SÃO PAULO | 15 |
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acontecesse. Mesmo sob forte chuva, Quitéria estava na igreja de Santa Luzia, a padroeira dos olhos, às seis da manhã e às nove da noite. Pontualmente. E também sempre dava uma pequena quantia em dinheiro, como dízimo. Dinheiro que ganhava bordando e costurando as fardas do exército. De tão direita que era, certa vez lhe pregaram uma peça, mandando para a jovem Quitéria costurar todas as cuecas possíveis dos jovens soldados. Ela encarou aquilo como uma humilhação, e mais humilhada ainda se sentia se não entregasse o serviço, pois sem ele não teria pagamento nem como dar o dízimo nas missas que frequentava diariamente, sem faltar. Entregou o serviço e escreveu ao chefe do quartel agradecendo a oportunidade de trabalho que lhe havia dado, mas que não voltaria a costurar roupa íntima de homens. Ele aplicou uma punição severa ao batalhão, e mandou o Sargento Farnel ir à casa de Quitéria para pedir desculpas formalmente, e lhe entregar uma cesta com provisões para ela. Farnel bateu três vezes à porta da casa simples, e então Quitéria perguntou quem era ao se apresentar como soldado do batalhão, ela não abriu a porta e disse para o soldado encontrá-la em frente à igreja, onde todos poderiam vê-la e não maldar sua pessoa. Assim foi feito. Farnel pediu desculpas a Quitéria, que nem o olhava nos olhos, tão constrangida estava diante de um homem, ele então colocou a mão em seu queixo e disse: – Não te acanhes, bela flor. Quitéria ruborizou, principalmente de vergonha, mas também de raiva pela ousadia do rapaz. Saiu em disparada, atravessou a praça ganhando ainda mais velocidade na ladeira que dava acesso a sua casa, mas antes que lá chegasse, caiu e machucou bastante os joelhos e o queixo. Fanel viu a cena e tentou ajudá-la, quando recebeu um forte tapa em seu rosto: – Achou que porque eu caí teria a chance de tocar-me novamente, soldado? Pois eu não sou o tipo de mulher que permite tal ousadia! Não havia forma de o soldado conseguir explicar que não era nada daquilo, Quitéria chegou em casa e trancou-se. THIAGO SANTOS | 16 |
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