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Copyright © 2017 by Domingos Majela Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor.
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Editoração eletrônica e Revisão: Planeta Azul Editora Capa: Zélia de Oliveira
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária Juliana Farias Motta CRB7/5880 M233m Majela, Domingos Meio século de histórias vividas / Domingos Majela. -- Rio de Janeiro : Planeta Azul Editora, 2017. 136 p. ; 14x21 cm .
ISBN: 978-85-69870-55-5
1. Autobiografia. 2. Autobiografia na literatura. I. Título. CDD 808.06692 Índice para catálogo sistemático: 1. Autobiografia 2. Autobiografia na literatura
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Seja você, o motorista de seus caminhos. Érick Ramos
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Dedicatória Dedico este livro in memorian aos meus pais. Ao meu primo Lau, que foi meu inspirador. A minha esposa Iraci Silveira Aos meus filhos Domingos Mateus, Paloma Rosa e Manuela Rosa. Aos meus filhos de consideração, em especial a Carolina Borges. Aos meus padrinhos Jamiro e Margarida. Aos meus irmãos, aos cunhados e cunhadas, aos sobrinhos e sobrinhas , aos tios e tias , primos e primas. Aos amigos e amigas, por fazerem parte de minha vida e terem me incentivado a deixar registradas algumas histórias de minha vida.
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Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, por ter a família e a vida que tenho e ter me proporcionado o prazer e a alegria de deixar registradas as minhas histórias. Agradeço também a várias pessoas que me incentivaram e ajudaram, de alguma forma, a realizar esta obra, em especial minha esposa Iraci Silveira, minha filha Paloma Rosa e todos meus familiares e amigos. Deixo registrado também, que ao visitar minha prima Rosangela Mateus, a mesma me emprestou um livro, e através deste cheguei a esta editora. Serei eternamente grato a todos, pelo incentivo e apoio.
Gostaria de agradecer também ao meu sobrinho Matheus Abreu, por ter cedido seu computador para conclusão desta obra; e ao meu amigo Gilberto Palmares, pelo prefácio.
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Prefácio
Taxista e intelectual Há muitos anos, tenho amizade especial por taxistas. Talvez, porque, como trabalhador de telecomunicações, após a privatização do setor, ter assistido a milhares de demissões, nas antigas Embratel e Telerj. Dos demitidos, muitos se tornaram taxistas para sustentar suas famílias. Agora, tenho o privilégio de escrever o prefácio deste livro, do meu belo companheiro Domingos Majela. Domingos, meio século de vida, trabalhando desde os 12 anos, foi dedetizador e garçom. Mas foi como taxista, há décadas, que formou sua identidade profissional. Trabalhador do volante, carregando vidas e emoções, quantas aventuras presenciou? Quantas terão sido as vezes que terá subido à Rua Barão de Petrópolis, na madrugada, rumo a sua residência, em Santa Tereza? A Santa Tereza, de muitas subidas e acessos, que abriga a classe média, como também comunidades populares. Meio Século de Histórias Vividas • 11
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Mas ele não é um taxista como muitos de seus colegas. Ele é, e será sempre representante da alma mineira. Mora no Rio, mas torce pelo Cruzeiro. Mora no Rio, mas o espaço onde, com sua extensa família, festeja e celebra a vida é o Sítio Zim Fulô. Quem o assiste, como já fiz, enxerga ali, um recanto mineiro. É católico e petista. Ou será petista, por ser católico, banhado pela Teologia da Libertação? Essa variedade rica de influências, inclusive de seu filho, filhas e esposa, forma a sua personalidade. Tenho a certeza de que quem tiver a chance de ler este livro, verá meio século de uma vida venturosa, do mineiro taxista Domingos Majela. Vamos à leitura, então. Pois Domingos, cruzeirense, taxista, católico, petista e também intelectual, com extrema sensibilidade, colocou no papel sua rica história. Gilberto Palmares Capixaba, Deputado Estadual–RJ.
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Sumário
Melhor emprego.............................................................................................................17 Falando ao telefone.......................................................................................................17 Casa giratória...................................................................................................................18 Surdo e mudo...................................................................................................................18 Dormindo ao volante....................................................................................................19 Confusão de corridas....................................................................................................19 Envelope esquecido......................................................................................................21 Passeio com a mala.......................................................................................................22 Golpe na madrugada.....................................................................................................23 Cesta básica......................................................................................................................23 Roubo no semáforo.......................................................................................................24 Roubo do Vectra.............................................................................................................25 Resgate do celular..........................................................................................................27 Cheque roubado.............................................................................................................28 Uberaba..............................................................................................................................29 Atolado em Maricá........................................................................................................31 Cadê o passageiro?........................................................................................................32 Loucura na loja ...............................................................................................................33 PM assaltante...................................................................................................................34 Tanguá x Tinguá.............................................................................................................34 Estar em uma área perigosa pode ser bom?......................................................35 Coincidências...................................................................................................................36 Passageiro envergonhado..........................................................................................37 Regina Duarte..................................................................................................................37 Meio Século de Histórias Vividas • 13
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Celebridade ao lado......................................................................................................38 De olho na loira...............................................................................................................39 Uma senhora, um bebê e a babá..............................................................................39 Patrão na justiça.............................................................................................................40 Dez vezes mais................................................................................................................40 Seis anos depois.............................................................................................................41 Autorização para casamento.....................................................................................42 Casamento sem padre?................................................................................................42 Mico na Sorveteria.........................................................................................................43 Aplausos I .........................................................................................................................43 Aplausos II........................................................................................................................44 Incêndio I...........................................................................................................................45 Incêndio II.........................................................................................................................45 Corrupto?..........................................................................................................................46 Repelente caseiro ..........................................................................................................47 220 volts............................................................................................................................49 Dois gatos e uma galinha............................................................................................50 Vaquinha de presépio...................................................................................................50 Tia Santinha.....................................................................................................................51 Mistério no ponto..........................................................................................................52 Vinte e cinco anos depois...........................................................................................52 Recorde de cruzeirenses.............................................................................................53 “Corrida a pé?”................................................................................................................54 Mala paraense.................................................................................................................54 Marcelo Matos.................................................................................................................55 Paraty..................................................................................................................................57 Abandono de cachorro................................................................................................58 Caranguejo.......................................................................................................................59 Dinheiro no bolso...........................................................................................................60 Repórter da Band ..........................................................................................................60 Falta do Marcelinho......................................................................................................61 Ai, meu tênis.....................................................................................................................61 Robson ...............................................................................................................................62 CPMF...................................................................................................................................63 Esporte inventado.........................................................................................................64 Envenenamento..............................................................................................................64 Doce de figo......................................................................................................................66 Maitê Proença..................................................................................................................67 Nelson, que não é o da Capetinga, é o protagonista desta história .........68 Briga?..................................................................................................................................68 Ou eu ou a bola................................................................................................................69 Vicente, 50 anos .............................................................................................................69 Pomba.................................................................................................................................70 14 • Domingos Majela
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45 anos depois................................................................................................................71 Maracanã I.........................................................................................................................72 Maracanã II.......................................................................................................................73 Sonho do Chico................................................................................................................74 Último porre.....................................................................................................................75 Cinema de graça.............................................................................................................76 Sacola esquecida............................................................................................................76 Caixa desconfiado..........................................................................................................77 Primeiro porre................................................................................................................78 Acusação falsa.................................................................................................................78 Meu coração ....................................................................................................................79 Denise Frossard..............................................................................................................80 Nome do porco................................................................................................................81 Natal pelo celular...........................................................................................................82 Resgate de balão.............................................................................................................82 Panela de pressão..........................................................................................................83 Golpe do telefone...........................................................................................................84 Noite perdida...................................................................................................................85 Coincidências entre Domingos.................................................................................85 Discussão ecológica......................................................................................................86 Destino: Rio de Janeiro................................................................................................86 Olha o avião!.....................................................................................................................87 Primeira televisão..........................................................................................................87 Lembranças......................................................................................................................87 O que é chope?................................................................................................................88 Treze jogadores..............................................................................................................89 Assinatura em branco..................................................................................................90 Poeira..................................................................................................................................90 O Garçom...........................................................................................................................91 Pasta Manu.......................................................................................................................92 Global..................................................................................................................................92 Primo famoso...................................................................................................................92 Alemanha, tetra...............................................................................................................93 Rifa.......................................................................................................................................94 Menina esquecida..........................................................................................................94 Confusão entre Domingos..........................................................................................95 Vale do Reobote..............................................................................................................96 Surpresa na passagem.................................................................................................97 Vicentinho e Suzana Vieira........................................................................................97 Julieta-ta-ta ......................................................................................................................98 Confusão entre Majelas...............................................................................................98 Com quem parece?........................................................................................................98 Papo na caixa...................................................................................................................99 Tabajara..............................................................................................................................99 Meio Século de Histórias Vividas • 15
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Baile no Batatal............................................................................................................101 Camisa do Atlético......................................................................................................102 Promessa........................................................................................................................102 Bois passando...............................................................................................................102 Origem do jogo do bicho..........................................................................................103 Zé Geraldo I...................................................................................................................103 Horário de verão I.......................................................................................................104 Horário de verão II.....................................................................................................105 Horário de verão III....................................................................................................105 Ensino médio I.............................................................................................................106 Querido Mestre............................................................................................................107 Confeitaria Colombo..................................................................................................108 Raça Azul F. C................................................................................................................110 Guaçui..............................................................................................................................112 Sete de setembro de 1990 ......................................................................................114 24 horas de histórias.................................................................................................115 Devolução I....................................................................................................................116 Devolução II...................................................................................................................116 Tim....................................................................................................................................117 Cega com visão.............................................................................................................118 Espírito natalino..........................................................................................................118 Noventa anos................................................................................................................119 Noite estranha..............................................................................................................120 Vinte e um anos...........................................................................................................121 Rio Comprido................................................................................................................121 Família desfeita............................................................................................................122 Material escolar...........................................................................................................123 Pau de Folha..................................................................................................................123 Escola Jenny Gomes...................................................................................................124 Pau de Folha II..............................................................................................................125 Mico, na reza.................................................................................................................128 Quarenta minutos.......................................................................................................129 Alemão cruzeirense?.................................................................................................129 Além Paraíba.................................................................................................................130 Juju....................................................................................................................................131
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Melhor emprego Quando eu tinha quinze anos, resolvi procurar emprego. Fui a vários anúncios e em um desses encontrei o melhor emprego do mundo. O trabalho seria dividido com outro garoto de mesma idade. Eu e o colega faríamos companhia a um senhor aposentado. Segundo ele, sofria do coração e, por isso, necessitava de ter sempre alguém ao seu lado para avisar ao médico, caso passasse mal. Eu e o garoto alternaríamos o horário da escola para que sempre um de nós estivesse com o senhor. Não lembro onde ele foi — à praia, ao banco, ao supermercado, ao cinema, sempre estaria, pelo menos um em sua companhia, e assim seria nosso trabalho. A folga, a cada quinze dias. Cheguei em casa muito feliz por ter arrumado um emprego tão bom. Preparei a mochila, pensando que no seguinte começaria um novo ciclo. Mas quando meu pai chegou do trabalho e foi informado pela minha mãe deste suposto trabalho, imediatamente me chamou e perguntou detalhes. Ao ouvir atentamente como seria, deu a ordem para que eu desarrumasse a mochila, pois jamais autorizaria que realizasse tal atividade. Chorei muito e só quando me tornei adulto, tomei ciência de que, naquele momento, meu pai preservara meu caráter.
Falando ao telefone
Estava no aeroporto Santos Dumont, quando atendi um casal vindo de São Paulo, indo pra Copacabana. Enquanto o funcionário colocava as malas no carro, eles embarcaram. A mulher vinha falando ao telefone com a mãe e contando sobre a viagem. Pois bem, peguei o Aterro do Flamengo e ela continua falando, chegamos em Copacabana e ela não desligava a ligação. Quando chegamos à rua que eles moravam, já não estava aguentando mais. Contava todos os detalhes da viajem, e aí ela disse a última frase antes de desligar: “Mãe, Meio Século de Histórias Vividas • 17
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vou desligar porque já estou chegando em casa, depois ligo de novo pra contar o resto.” Quando ela disse isto e desligou o telefone, o marido verbalizou a esposa exatamente o que eu pensei: “Tem certeza que você não contou tudo.”
Casa giratória
Essa história foi contada pelo amigo Herlens Marinho. Estava ele levando uma passageira a Jacarepaguá e tudo transcorria normalmente. Até que Herlens fez o seguinte comentário com a passageira (PS). Poxa vida, ainda não almocei e estou com tanta fome que até estou vendo aquela casa rodando. A PS sorriu e disse que ele poderia estar com muita fome, mas não estava vendo nada anormal. Porque naquela casa morava um engenheiro alemão, e por ele ser muito branco, projetou uma engenharia que fazia a casa girar, de acordo com o sol.
Surdo e mudo
Não tenho informações se esse taxista ainda trabalha. Tínhamos aqui, no Rio de Janeiro, um taxista surdo e mudo. A maioria dos passageiros do ponto onde ele trabalhava, já o conhecia e quando chegava um PS que não o conhecia, o funcionário da cooperativa explicava-lhe a situação e pedia para que escrevesse no papel, o local do seu destino. Assim, o taxista trabalhava diariamente. Até que um dia chegou um passageiro cego, e este taxista era o primeiro da fila. O funcionário explicou todos os detalhes e o mesmo disse o seu destino. O funcionário escreveu no papel e passou ao taxista surdo e mudo, inclusive confirmando que o PS era cego. Depois de tudo esclarecido, o taxista partiu ao destino. Chegando ao local exato, discriminado conforme estava no papel, surgiu um grande problema. O taxista não conseguia falar o valor da corrida e PS não conseguia ver. Diante do impasse, o taxista 18 • Domingos Majela
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viu um guarda e começou a buzinar até chamar a sua atenção. Até que o guarda percebeu algo errado e se aproximou perguntando o que estava acontecendo. Neste momento, o PS cego perguntou se era o guarda, explicando a situação. O guarda resolveu a questão, e ficaram todos felizes.
Dormindo ao volante
Em abril de 1999, eu trabalhava no turno da noite. Em uma bela sexta-feira, virei a noite trabalhando, quando eram aproximadamente 7h., estava subindo a rua das Laranjeiras, e queria fazer a última corrida. Quando cheguei à curva, depois do hospital de cardiologia, dormi ao volante e subi à calçada, atropelando um canteiro de plantas de tubos de ferro. Quando acordei, não entendi porque o carro estava parado. Passei a marcha e acelerei, foi quando percebi que o veículo estava desligado. Dei partida e tentei sair, mas o carro não saía do lugar. Abri a porta para ver o que estava acontecendo e a mesma não abria. Foi neste momento que comecei a desconfiar que tinha batido com o carro. Forcei a porta e saí, ao olhar para o pneu, tomei um susto, porque estava completamente danificado e a roda toda contorcida, nem pra ferro velho servia. Fiquei desesperado e muito triste. Reboquei o veículo para a oficina e fui para casa, mas antes passei numa banca de jornal, e quando vi a manchete do jornal fiquei mais tranquilo, porque no dia anterior, um mecânico foi fazer um teste com o carro que ele consertou e quando chegou numa curva, a roda soltou e ele matou um garoto de 4 anos. Foi aí que percebi que o meu problema não era nada.
Confusão de corridas
Contando mais uma da época que eu era responsável pela radiofonia. No horário de 0h. às 5h59min, tinha um esquema de plantão voluntário. As corridas solicitadas neste Meio Século de Histórias Vividas • 19
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horário eram prioridade dos plantonistas. À 1h., foram solicitadas duas corridas para o mesmo endereço, de uma rua de Botafogo. A primeira chamada não entrou nenhum plantonista e entrou outro colega; na segunda ocorreu no mesmo, ou seja, não entrou nenhum plantonista. A central passou as duas corridas e parecia que estava tudo bem. Quando a segunda viatura foi atender o chamado, entrou na frequência e disse que um colega da cooperativa tinha passado lá e levado seu passageiro. O colega, que supostamente levou o passageiro, entrou na frequência e disse que tinha de fato pego um passageiro naquele endereço, e perguntou se era esse o problema. O colega que perdeu a corrida ficou muito irritado e começou a brigar na frequência. Eu ainda estava trabalhando e ouvi toda modulação, solicitando que parasse a discussão até que se apurassem os fatos. Chamei os dois para comparecerem à Central. O que perdeu a corrida chegou primeiro, e queria brigar quando o outro chegou. Disse ao colega que, com violência, ele se tornaria culpado. Perguntei ao colega o motivo de ele ter pegado o passageiro do outro. Ele me respondeu dizendo que tinha parado pra tomar uma sopa e logo depois, por coincidência, passou no local e o PS deu sinal pra ele. Não me convenci, e fui perguntar ao outro colega que atendeu ao primeiro passageiro, e o testemunho dele foi insuficiente. Não estava convencido ainda, mas também não podia dar uma punição a um colega, injustamente. Resolvi ir ao endereço onde aconteceu a confusão. Cheguei ao prédio e pedi ao porteiro desculpas pelo horário impróprio e o solicitei uma explicação para o fato. Ele me respondeu que estava jantando e chamou o vigia que estava no momento. O vigia me explicou que primeiro chegou um carro e o taxista desceu do táxi, foi à portaria e pediu pra avisar que já tinha chegado. Quando os passageiros desceram, foram na direção do táxi parado e viram o outro táxi passando direto; deram com a mão e gritaram: “é aqui, é aqui”, e o táxi parou e embarcaram. Logo depois, chegou outro táxi dizendo que levaram os passageiros dele. O relato do vigia foi determinante para esclarecer o mis20 • Domingos Majela
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tério. O colega que levou o segundo passageiro, de fato, estava falando a verdade. Porque os passageiros deram sinal pra ele, pensando que era o táxi que iria buscá-los. Este colega, que não sabia de corrida alguma tripulou normalmente. Essa história e a outra do envelope servem de exemplos para que não sejamos injustos com ninguém. Antes de darmos alguma punição, temos que ouvir todas as partes envolvidas.
Envelope esquecido
Eu era responsável pela radiofonia da Cooperativa Mourisco Center, que atendia o Botafogo Praia Shopping. Uma vez, eu viajei a São Paulo, e no dia seguinte encontrei com a presidenta do Conselho de Ética e Disciplina, no posto de combustível; e ela veio me dizer que era pra eu dar uma punição no colega 002 (Roberto Ferreira). Primeiro, perguntou se não sabia do acontecido, expliquei que não sabia de nada porque estava viajando. Segundo relato dela, o colega tinha que ser punido porque fez uma ladainha danada no rádio. Disse a ela que averiguaria os fatos. Cheguei à cooperativa e fui procurar alguma anotação no livro de ocorrência. Não constava nada, perguntei a operadora que estava no horário que ocorreu o fato. A mesma narrou com todos os detalhes o que tinha acontecido. Para confirmar, perguntei ao 002 (Roberto), que contou a mesma versão e tinha ainda um outro colega envolvido, que também ratificou. O que aconteceu foi o seguinte: Um passageiro de SP pegou a viatura 030 (Januário), no Shopping, indo para o fórum e esqueceu um envelope. Quando este passageiro chegou ao fórum, deu falta do envelope, e este continha informações muito importantes para a audiência. Desesperado, o passageiro que era de SP e não conhecia nada no RJ, começou a pedir ajuda e alguém teve a ideia de ligar para o Shopping e pedir o telefone da cooperativa. Ao ligar, disse que era importantíssima a devolução do envelope, em pouco tempo. A operadora anunciou na radiofonia, perguntando quem tinha Meio Século de Histórias Vividas • 21
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levado um PS ao fórum. A viatura 030 (Januário) pronunciouse dizendo que o envelope estava em seu veículo, mas que estava tripulado, indo para São Conrado. Foi aí que entrou o colega 002 (Roberto), e se prontificou a alcançar a viatura 030, pegar o envelope e leva-lo ao fórum. A operadora autorizou que fizesse tal operação. Para facilitar, o colega 002 solicitou uma autorização para modular diretamente com o 030, e foi autorizado. Eles foram modulando da rua São Clemente até a Lagoa, onde, enfim, o 030 foi alcançado e entregou o envelope ao 002, que foi imediatamente ao fórum para devolução do envelope para o PS que estava aguardando, faltando poucos minutos para a audiência. Após o término da audiência, o PS ligou para a cooperativa novamente, quase chorando, agradecendo muito a atenção de todos, e queria dar até uma gratificação, porque com as informações que continham naquele envelope conseguiu ganhar a ação de mais de R $ 500.000.00.
Passeio com a mala
Neste dia foi incrível o que aconteceu, eu fazia ponto nos Aeroportos Galeão e Santos Dumont e Rodoviária Novo Rio. Era raríssimo eu atender alguém que não tivesse bagagem. Estava no Santos Dumont, quando embarcou um rapaz sozinho, com uma mochila e uma mala. O funcionário da cooperativa colocou sua mala no porta-malas e a mochila o PS levou consigo dentro do táxi. A corrida era paga antecipadamente. Ao chegarmos ao destino, o passageiro saiu do carro com a mochila e se esqueceu da mala, eu também esqueci. Do local, fui para o Galeão. Um tempo depois tripulei para Xerém, só que o passageiro não tinha mala. Voltei ao Galeão, almocei e demorei pra tripular para Tijuca, que também não tinha malas. Fui pra rodoviária e tripulei duas vezes, sem levar bagagem. Um pouco depois, após o descanso, voltei ao Santos Dumont. Quando chegou minha vez, o funcionário abriu meu porta-malas e me perguntou se a mala que ali se encontra22 • Domingos Majela
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va era minha, e eu respondi que nem sabia que tinha alguma mala ali. Então, o funcionário disse que aquela mala era de um passageiro que estava desesperado, querendo chamar a polícia porque sua mala tinha sumido.
Golpe na madrugada
Uma vez, passando pelo Andaraí, um rapaz jovem deu sinal pra mim e pediu que o levasse ao bairro Realengo. Durante o trajeto, contou-me a história de sua vida, e quase chorei. Era madrugada, por volta das duas da manhã. Ao chegar ao local, ele me pediu que eu parasse um pouco antes de sua casa; segundo ele, seus avós, com quem morava, tinham um sono muito leve. Quando ele chegou na frente da sua casa, invés de passar pelo portão, pulou o muro; e minutos depois continuou tudo escuro como antes. Passaram mais de cinco minutos, desci do carro e fui dar uma olhada na casa. Na lateral da casa, tinha uma área que no final tinha um muro. Tinha algumas pessoas na rua, e fui perguntar se eles conheciam o rapaz que morava naquela casa. Eles me disseram que na tal casa só morava um casal de velhos, e que o muro da área tinha acesso à outra rua. Fiquei P. da vida e voltei amargando esse prejuízo.
Cesta básica
Não me lembro onde peguei nem onde deixei o passageiro, que ocorreu o fato que contarei a seguir. Começamos a conversar, e comecei a reclamar da vida. Contando tudo de errado que aconteceu comigo nos últimos dois anos. Enfim, depois de contar um monte de histórias tristes, chegamos ao final da corrida. O passageiro pagou-me a corrida normalmente, mas estava levando para casa três cestas básicas, que juntava pra levar de uma vez. Quando desci do carro e fui tirar do porta-malas suas cestas básicas, aconteceu um fato Meio Século de Histórias Vividas • 23
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inusitado. Tirei a primeira e a coloquei na calçada, fiz o mesmo procedimento com a segunda cesta. Quando fui retirar a terceira e última cesta básica, o passageiro disse que aquela era pra mim, porque minha situação não era nada boa. Fiquei todo sem graça e arrependido de ter contado tantos detalhes da minha vida, mas aceitei e o agradeci muito.
Roubo no semáforo
Em junho de 2015, parei no sinal da Av. Presidente Antônio Carlos com a Franklin Roosevelt, às 23:30 horas falando ao telefone, com o aparelho do lado direito, pois estava carregando. Não avancei o sinal, vinha carros da rua Franklin Roosevelt; de repente, veio um moleque e tomou meu telefone, deixando-me apenas com o carregador na mão. Saí correndo atrás deles, eram três. Voltei para o carro e fiz um retorno proibido, indo atrás deles. Quando chegaram na pista do Aterro, pegaram à esquerda, que era contramão, não imaginavam que eu iria continuar a persegui-los. Atravessaram o canteiro pra outra pista e eu fui atrás, seguiram na contramão, e eu atrás. Atravessaram o canteiro de novo, e eu na cola deles. Atravessaram pela terceira vez o canteiro, e eu cantando pneu, jogando o carro em cima deles. Já desesperados e cansados, dividiram-se, indo um pra um lado e dois para o outro, optei em continuar a perseguição para o lado que foram dois. Seguiram para um gramado, que separa a pista do aterro da rua e dá acesso ao posto de combustíveis e a casa de espetáculo Vivo Rio. Este gramado é bem amplo e acima do nível das pistas; não pestanejei, meu carro era um Doblô e forcei um pouco, mas consegui subir, para desespero deles. Depois de tanta perseguição, abortaram a missão, e jogaram na grama o meu celular. Este celular estava predestinado a não ficar comigo, um mês depois coloquei o carro para pintar e fui pegar um ônibus. Entrei com o celular no bolso e fiquei o tempo todo colocando a mão no bolso para certificar-me de que o telefone estava lá. Ao descer do ônibus lotado, passei 24 • Domingos Majela
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pelo tumulto e ao colocar os pés na rua, notei a falta do celular, era tarde demais, o ônibus fechou as portas e foi embora. Fiquei com cara de tacho, e cuspindo maribondo.
Roubo do Vectra
No dia 6 de novembro de 2003, estava cansado além do normal, porque havia quatro noites em que dormia pouco, e por isso prometi a mim mesmo que iria embora mais cedo, neste dia. Mas meu destino foi alterado, um passageiro que morava perto da minha casa, pediu que eu o atendesse às 21h., em Botafogo. No horário marcado, cheguei ao local e o passageiro demorou muito pra descer. Como esta seria a minha última corrida, fiquei esperando. Quando ele desceu, já eram 21h40min, e o levei pra sua casa. Ao deixá-lo, meu GNV estava acabando, e fiquei numa dúvida cruel se abastecia ou seguia para casa. Ao chegar à esquina da rua Guaicurus com Barão de Petrópolis, decidi abastecer, e no caminho do posto, o GNV acabou e passei pra gasolina. Ao me aproximar do posto, um rapaz com uma lata de cerveja na mão deu sinal pra mim. O primeiro pensamento que veio em minha mente foi pra não parar, porque meu GNV já tinha acabado. Aí veio o segundo pensamento, vou parar, de repente, ele deve estar indo perto de algum posto. Quando parei, ele me perguntou se poderia levá-lo a Ricardo de Albuquerque. Respondi que não, porque já estava na gasolina e não compensava. Mas ele insistiu, dizendo que tinha que trabalhar no dia seguinte, então resolvi levá-lo. No trajeto, ele tirou um cochilo e pediu para que eu o acordasse quando se aproximasse do local. Quando entramos no bairro, acordei-o, e começou a me guiar. Percebi que estava entrando numa favela e fiz os procedimentos de costume. Desliguei os faróis, abri os vidros e acendi a luz interna. Até então tudo transcorria dentro da normalidade, mas ao me aproximar do final da rua, ele tentou apagar a luz interna, achei estranho, mas já era tarde. Anunciou o assalto e tomou Meio Século de Histórias Vividas • 25
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meu dinheiro, e retirou a chave da ignição. Pedi a ele pra eu pegar uma pochete com documentos e cartões de crédito e talões de cheques que estavam no porta-malas. Na época, eu usava um crachá pendurado no pescoço, e quando abri o porta-malas, ele me mandou entrar no porta-malas e comecei a lutar com ele, porque tentou me colocar a força. Consegui me soltar das suas mãos, abaixei o pescoço e o cordão ficou na mão dele, e saí correndo. Logo depois, liguei pra polícia, enquanto eu falava com a polícia, ele vinha em minha direção, dirigindo meu próprio carro e saí correndo novamente. Jogou o carro em cima de mim, mas tinha uma árvore, e eu consegui passar. Continuei correndo e ele esperou um espaço bem amplo pra me pegar, fiquei sem saída e pulei um muro de uma casa que tinha umas telhas francesas atravessadas, e eu quebrei algumas telhas e me cortei da canela até o pescoço. Os donos da casa demoraram 10 minutos para entenderem de fato a situação. Não sabiam se eu era o bandido, um maluco ou a vítima. Ao perceberem que eu era vítima começaram a me ajudar, deram-me água e ligaram para a polícia e pra minha cooperativa. O meu amigo Augusto, da Cooperativa Mourisco Center, foi até o local, na rua capitão Mario Barbedo nº 555, e me resgatou, levando-me para a delegacia, onde já se encontrava o meu outro amigo, o Valcir, que me levou para casa. Ao chegar em casa, às 03h30min da manhã, minha esposa Iraci já estava desconfiada que tinha acontecido algo muito ruim. Entrei em desespero e chorei a noite toda. Agoniada, minha esposa ligou pra minha mãe e para o tio Layr, que chegaram em minha casa às 7h, da manhã e começaram a conversar comigo, fazendo com que me acalmasse e voltasse ao normal. Horas depois, recebi uma ligação da cooperativa dizendo que tinham encontrado o carro. Não fiquei com trauma, mas este foi meu pior momento no táxi.
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