O Perigo Mora em Casa

Page 1


Miolo Perigo.indd 2

05/07/2016 12:42:02


Rafael Di Moreira

Miolo Perigo.indd 3

05/07/2016 12:42:02


Copyright © 2016 by Rafael Di Moreira Todos os direitos desta edição reservados.

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. Planeta Azul Editora.

www.planetazuleditora.com.br

e-mail: planetazul2014@yahoo.com.br Rua Dr. Olinto de Magalhães, 152 F.

Vidigal – Rio de Janeiro – RJ – 22.450-250 Tels.: (21) 2239-1179/ 99613-9632

Editoração eletrônica e Revisão: Planeta Azul Editora Capa: Thiago Ribeiro

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária Juliana Farias Motta CRB7/5880

M838p Moreira, Rafael Di

O perigo mora em casa / Rafael Di Moreira . -- Rio de Janeiro : Planeta Azul

Editora, 2016.

256 p. ; 14x21 cm .

ISBN: 978-85-69870-28-9

1. Romance brasileiro. 2. Prosa brasileira. I. Título.

Índice para catálogo sistemático: 1. Romance brasileiro

CDD B869.3

2. Prosa brasileira

Miolo Perigo.indd 4

05/07/2016 12:42:02


Ninguém vive de ilusão, mas de ilusão também se vive. Rosa Maria

Miolo Perigo.indd 5

05/07/2016 12:42:02


Miolo Perigo.indd 6

05/07/2016 12:42:02


Dedico a minha intitulada Mamis Adelma, por todo o tempo gasto com correções, termos médicos etc. E, claro, os meus presentes que essa São Paulo me deu, em meio a milhões de gente pude encontrar pessoas tão maravilhosas e especiais: Luiz Felipe e Luana. Enfim, muitíssimo obrigado!

Miolo Perigo.indd 7

05/07/2016 12:42:02


Miolo Perigo.indd 8

05/07/2016 12:42:02


Dedico este livro à minha mãe e minha avó, que me ajudaram a tornar estas historias palpáveis. Amo vocês!

Miolo Perigo.indd 9

05/07/2016 12:42:02


Miolo Perigo.indd 10

05/07/2016 12:42:02


Em

uma noite fria, Eva, uma mulher alta, magra, cabelos chanel e ruivos, olhos verdes que se destacavam com a sua pele, saía apressada do hospital onde trabalha como médica ortopedista, uns dos mais nobres de São Paulo. Estava muito cansada, pois acabara de cobrir dois plantões, mas estava feliz já que estaria agora de férias! Caminhava, agora num ritmo mais acelerado, já que uma tempestade se avizinhava, passou pela a portaria e com um gesto singelo acenou para o porteiro e se despediram. Ao sair, a fina garoa que caia, transformou-se em uma forte tempestade; então correu até uma padaria que ficava em frente ao hospital, sentou-se em um banco de madeira e pediu um café. Enquanto esperava, ficou olhando para a chuva e os relâmpagos que caíam do céu. Acho melhor pedir um táxi, decidiu ela. O café chegou, quando Eva solveu um gole sentiu uma pontada forte no peito e a dor foi tão intensa que ela deixou cair a xícara no chão e sentiu sua cabeça rodopiar. Deve ser o cansaço, concluiu ela. Assim que pagara o café, o táxi chegou e ela saiu correndo com a bolsa sobre a cabeça para não se molhar. Entrou no táxi e passou as instruções para o motorista. Eva estava angustiada com alguma coisa, mas o quê? Ela fazia essa pergunta para si mesma, mas não conseguia obter respostas. O táxi parou em frente a uma enorme mansão, recoberta por muros de plantas e um grande portão de ferro no bairro dos jardins, uns dos mais nobres de São Paulo. Eva pagou o taxista e desceu apressada. Um vulto passou correndo, mas Eva nem se deu conta. Eva vasculhava a bolsa na procura da chave do portão, mas um vento forte bateu e o portão se abriu soltando um ranger, ela estranhou O Perigo Mora em Casa • 11

Miolo Perigo.indd 11

05/07/2016 12:42:02


já que não era de costume ficar aberto o portão. Subiu o jardim sinuoso, que dava para a porta principal da casa, olhou indecisa para a maçaneta e a girou; para a sua surpresa a porta abriu. Um trovão ensurdecedor, seguido de raios riscavam o céu. Eva percorreu os olhos pela sala imensa com dois sofás de couro, uma mesa de centro com tampo de vidro e alguns porta-retratos espalhados pela casa. Colocou sua bolsa no sofá e caminhou até a cozinha, abriu a geladeira e tirou uma jarra de vidro. Solveu um gole de água, foi quando a cozinha se iluminou com um raio, seguido de um trovão e um barulho abafado vindo do andar de cima, ela sentiu o medo inundar seu peito, pois todos haviam saído. Eva respirou fundo e olhou para a escada conservada, de madeira maciça e sentiu-se dominar pelo medo, se alguém estivesse ali? – Perguntava-se ela. Pegou um vaso de flores que ficava no corrimão da escada e subiu cautelosamente, a cada passo soltava um rangido. Olhava a todo o momento para trás para ver se ninguém a seguia; com semblante apático e desesperado continuou a subir a escada. Sentiu o gosto amargo do medo dominar seu corpo quando terminou de subir a escada. E caminhou pelo corredor que havia várias portas. Eva, com o vaso pronto para a defesa, abriu a porta do banheiro, nada. Soltou um fundo suspiro. Caminhou dois passos e abriu a porta do seu quarto lentamente, olhou pela porta entreaberta e não viu nada, mas quando a porta abriu completamente, ela deixou cair o vaso no chão e seus olhos juntamente com seu corpo petrificara, seus olhos estavam fixados na sua cama, Robert, seu filho mais novo, um jovem de cerca de dezenove anos estava seminu, entre lençóis com um tiro no peito e olhos arregalados, o sangue ainda esgueirava-se pelo buraco da bala, na frente dele, um homem aparentando ser mais velho do que ele, também estava morto com um tiro no peito e seminu. Eva olhou para o quarto e tinha móveis arrastados, roupas jogadas ao chão. Ela quis gritar, mas sua voz morrera na garganta, suas mãos tremiam, fez um gesto como que fosse entrar no quarto, mas sentiu sua visão ficar turva e virou-se para escada. No primeiro degrau, com as mãos na cabeça, Eva olhou para baixo e quando pisou no primeiro degrau a escada duplicara na sua mente e caiu rolando os dois lances de escada; parou quando seu corpo bateu na mesa de centro da sala, e ficou estatelada no chão sangrando. Rafael Di Moreira • 12

Miolo Perigo.indd 12

05/07/2016 12:42:02


Suzana entrou no banheiro correndo e lavou as mãos que estavam sujas de sangue, olhou para o espelho e viu sua imagem, apavorada, seus cabelos ruivos bagunçados e olhos verdes que pareciam estar querendo esconder alguma verdade, mas o quê? Suzana terminou de lavar as mãos e retocou a maquiagem, e disse de si para si mesma: – Ninguém precisa saber disso. Pegou sua bolsa, ajustou seu vestido longo e justo, com um decote na parte de frente, e caminhou lentamente. Ao sair da casa, tinha uma enorme piscina aquecida, rodeada por várias pessoas dançando, música alta, luzes que piscavam a todo instante e muita bebida. Suzana olhou como se procurasse alguém e se sentou em uma enorme espreguiçadeira à beira da piscina. Um garçom aproximou-se dela, que indagou preocupada. – Você avistou o meu noivo por aí, ou sabe se ele perguntou por mim? – Desculpe senhora, mas eu não sei quem é o seu noivo. Suzana levantou-se indignada e retrucou. – O meu noivo é o Antônio, o aniversariante, aquele que pagara seu salário... – Perdão senhora, mas eu também não o vi. Aceita um drink? Suzana sorriu e aceitou. Antônio, um homem de porte físico forte, cabelos cacheados e boa aparência, descia do carro preocupado e com alguns arranhões no braço, falava ao telefone e podia-se escutar ele falar de maneira ríspida. – Escuta aqui, se você está pensado que eu estou pagando barato pelo serviço... Eu sei que deveria dar um jeito nela também, se é que você me entende... Mas não houve tempo e agora não posso mais falar... Abraços para você e depois resolvemos esse serviço. Antônio desligou o telefone. E seu semblante que estava carrancudo e assustador se transformaram em um ar doce e um sorriso angelical como se tivesse vestido uma máscara que a qualquer momento poderia cair. Chegou à festa e foi ovacionado por todos, seguido de abraços e presentes. Procurava Suzana por todos os lados até que sentiu uma mão acariciar seu ombro, virou-se e disse olhando nos olhos de Suzana. – Onde você estava, estive te procurando todo o tempo? O Perigo Mora em Casa • 13

Miolo Perigo.indd 13

05/07/2016 12:42:02


– Aqui, não sai nenhum momento, e você onde esteve? – Suzana passou os olhos pelo braço dele e disse. – O que foi isso no seu braço? Por acaso esteve com alguma vagabunda... – Disse irritada. Antônio deixou cair a máscara e disse: – Eu fui comprar umas bebidas que haviam acabado e quando estava saindo tropecei e ralei meu braço num arbusto. Agora, quando eu sai, você não estava aqui, por onde esteve? Suzana sentiu a face ficar rubra e disparou coçando a cabeça. – Eu não saí, já disse, talvez tenha ido ao seu quarto ou ao banheiro... – Mentiu ela. Uma mulher com microfone disse com muito entusiasmo. – Antônio, cadê você eu vim aqui só pra te... Dar um feliz aniversário e venha aqui agora porque chegou a hora dos parabéns. Antônio fitou-a por um instante e colocou a máscara novamente, voltando a ser uma pessoa ingênua e doce. Suzana pegou nas mãos dele e saíram com um largo sorriso. Ficaram atrás de uma mesa grande com um bolo de pasta americana, com o formato do rosto dele e começaram a cantar parabéns. Lara, uma mulher branca, olhos escuros e cabelos loiros, estava a uma quadra da casa de Eva, deixou-se cair no chão e chorava sem parar, sua fisionomia estava apavorada e sentia muito medo, mas medo do quê? Seu telefone disparou a tocar, ela o pegou e apareceu no visor do celular: Paula. – Amiga, eu fiz o que tinha que ser feito. – Desligou o telefone. Abriu sua bolsa e olhou para um revólver e desatou a chorar. Suzana e Antônio se despediam dos convidados que deixavam a festa, enquanto os outros desmontavam a iluminação e a decoração. Suzana pegou um copo de espumante e disse com um sorriso. – Acho que agora podemos sair, estou louca para voltar para a minha casa. – Por que agora, por acaso estava se escondendo de alguém? Suzana engasgou com o espumante e disse rubra. – Escondendo... Não é que... É que minha mãe devia estar cansada. – Demorou a responder. – Tudo bem, mas aguarde que antes tenho que resolver uns problemas. Rafael Di Moreira • 14

Miolo Perigo.indd 14

05/07/2016 12:42:02


Suzana assentiu com a cabeça e deixou-se cair desalenta em uma cadeira. Roberta uma mulher de uns vinte e sete anos, com uma beleza exuberante, corpo com curvas sinuosas, olhos verdes penetrantes e cabelo loiro, vestindo um macacão preto com um colar de ouro que emoldurava seu belo rosto, parou atrás de Suzana e depois dos cumprimentos disse com a voz doce e marcante. – Infelizmente não deu tempo de chegar à festa... – Que pena, a festa foi uma maravilha, foi muito divertida, aceita um drink? – Não obrigada, vim apenas parabenizar o aniversariante, já estou de partida estou muito cansada hoje, o movimento foi puxado. – Espere que o Antônio já esta voltando e vamos para casa juntas. As duas continuaram a conversar animadamente, até que Antônio chega e os três partem no carro. – Roberta, eu não entendo como uma mulher feito você, pode querer trabalhar em uma pizzaria, é um emprego tão... – Procurava uma palavra certa. – Com o perdão da palavra: subalterno. Suzana deu uma cotovelada nele. Roberta, com a voz polida, respondeu. – É simples, ninguém fica sem comer, beber. Pizzaria é um negócio muito rentável, para você ter uma ideia, o dono da franquia onde eu trabalho, tira em valor líquido cinquenta mil, mensais. Isso porque ela não divulga devidamente o comércio. Estou aprendendo a administrar, pois quero ter a minha e isso funciona como um estágio. – Como é mesmo o nome da pizzaria onde você trabalha? Toda vez você acaba esquecendo de falar, quero comer umas pizza lá. Roberta hesitou, e o seu telefone tocara e atendeu prontamente. – Claro, a mercadoria vai chegar amanhã, fique tranquilo, está tudo certo... Ah, hoje as vendas foram um sucesso... Eu disse que se tirasse aquele funcionário, as coisas começariam a fluir... Outro pra você também, querido, até amanhã. Antônio olhou pelo retrovisor e sorriu com um ar desconfiado. A viagem seguiu, calados, todos cansados e desanimados; Antônio estacionou o carro em frente a uma bela mansão, com um jardim sinuoso, subiram apressados e quando chegaram a grande porta de madeira. Roberta disse a Suzana. O Perigo Mora em Casa • 15

Miolo Perigo.indd 15

05/07/2016 12:42:02


– Irmã, você sabe onde estão as suas chaves, não estou encontrado as minhas. Suzana balançou o molho de chaves e abriu a porta, quando entraram e viram o corpo de Eva estendido ao chão, sangrando, ficaram congeladas, sem conseguir esboçar a menor reação; Antônio quebrou o clima e disse apavorado. – Suzana vai buscar lá em cima, no quarto da sua mãe, os documentos dela para levá-la ao hospital. – Virou-se para Roberta e disse. – Vá buscar um pano limpo para estancar o sangue. – Minha mãe, o que aconteceu com você? Fala comigo, você não pode me deixar! – Disse Roberta aos berros, se atirando ao chão. Antônio sacudiu Roberta e disse com agressividade. – Vai buscar logo o pano! Agora não é hora de chorar, vai Roberta! Roberta maquinalmente saiu chorando até à cozinha. Antônio olhou para a sogra e disse: – Droga, tinha que ser tudo hoje! Suzana abriu a porta do quarto da mãe, passou os olhos em tudo, em perfeito estado, subiu em cima da cama, pegou uma caixa de madeira e tirou alguns documentos, desceu, saiu do quarto e quando desceu o primeiro degrau, escutou um grito; era de sua mãe que dizia com a voz um pouco confusa. – Ajude o Robert, ele está em perigo! Por favor, ele vai morrer. – Como assim, mãe, esqueceu que ele está na praia com os amigos! – Respondeu Suzana. – Não! Ele está no meu quarto, com um tiro no corpo. Suzana olhou para Antônio e Roberta com um olhar apavorado. – Ela está delirando por causa da pancada, faça vista grossa ao que ela disse. Suzana terminou de descer as escadas e disse seria. – É, você têm razão, e se ele tivesse também eu teria notado. Minutos depois a ambulância chegara e Eva continuava a gritar, seus gritos se misturavam com a dor e a angustia. Os enfermeiros colocaram-na no leito, enquanto berrava de dor. Com as primeiras análises, Eva havia fraturado o braço e na mesma noite fizera a cirurgia. A cirurgia foi um sucesso e ela ficara em observação no hospital, e dormia tranquilamente devido a medicação. Passado alguns dias, era a alta de Eva, estava triste e calada, tinha medo de tocar no assunto do Robert. Rafael Di Moreira • 16

Miolo Perigo.indd 16

05/07/2016 12:42:03


Assim que Eva chegara em casa, foi recebida com muita euforia, mas em sua cabeça não pensava em outra coisa: O que aconteceu com Robert? Essa pergunta consumia sua mente e a pergunta foi inevitável. – Minha filha, onde está o Robert? Foi Suzana que respondeu ríspida. – Mãe você não vai voltar com esse assunto ou vamos achar que você está... – Louca?! Eu juro que o vi na minha cama... Suzana pegou-a pelo braço e a conduziu até a sala de visitas, fechou a porta de vidro e disse: – Mãe você criou toda essa história devido a pancada da escada... Eva abriu a boca, mas fechou novamente quando Suzana fez um sinal com a mão para que ela parasse. – Três dias depois que você foi ao hospital, recebemos essa mensagem na secretaria eletrônica, e pode checar a data, se tiver duvidas que estejam mentindo. Suzana apertou o botão do telefone, e uma voz masculina disse: Oi mãe, aqui quem fala é o Robert, estou ligando para te informar que está tudo bem comigo, eu vou ficar mais uns dias aqui na praia, não fique preocupada, está tudo bem. Ah! Nem adianta ligar no meu celular porque deixei cair no mar... Beijos do seu filho que te ama, Robert até mais. Fim da gravação. *** Eva estava pálida e suas mãos, juntamente com o seu corpo, começaram a tremer, está gravação foi um golpe baixo, ao menos ela pensara assim. Foi uma possível comprovação que estava louca. Mas eu tenho certeza que o vi, pensava ela. – Mas... Eu juro que eu o vi... Tenho certeza do que estou falando, você tem que acreditar em mim, filha. – Mãe, acalme-se! Você ouviu a mensagem que ele mesmo deixou enquanto você estava no hospital, eu sei que a pancada às vezes deixa lesões, a médica disse, em breve ele estará aqui, e você vai ficar normal. – Mas pode ser que ele tenha deixado antes da morte dele, filha, eu juro, eu juro que eu o vi. O Perigo Mora em Casa • 17

Miolo Perigo.indd 17

05/07/2016 12:42:03


– Mãe, para! Esta mensagem foi deixada alguns dias depois que você estava no hospital, pare com essa loucura. – Me respeite, você está falando com sua mãe! Eu já disse que não estou louca, tenho certeza de que o vi, morto, ao lado de outro homem; vou repetir esta história até o fim, que droga! – Disse com a voz embargada. – Está bem, mãe, não fiquemos discutindo, porque não vai levar a lugar algum, vai descansar que você deve estar cansada e esqueça essa história. E tem mais, esqueceu que fui eu que te socorri naquela noite, quando cheguei, subi no seu quarto e não tinha ninguém, o quarto estava limpo e sem nada. – Alguém deve ter levado enquanto eu estava desacordada na sala. – Chega mãe, por favor, vai descansar que ainda deve ter medicação na sua veia, vai dormir um pouco. Eva iria responder, mas achou melhor ficar calada, não iria adiantar falar, elas nunca iriam acreditar no que ela estava falando, achou melhor ficar quieta. Eva saiu desalenta e um pouco confusa, subiu para seu quarto e se lembrou daquela cena aterrorizante, tinha que arrumar um jeito de provar que estava em sã consciência, mas como ele deixara aquela ligação depois do ocorrido, se soubesse ao menos aonde era a praia, poderia verificar, mas ela tinha certeza de que havia visto o filho e outro homem mortos em sua cama, não estava delirando. Eva ficou pensativa e acabou pegando no sono. Quando acordou, já era noite e todas suas filhas haviam saído. Eva aproveitou que estava sozinha e começou a vasculhar seu quarto tentando procurar alguma evidência para provar que o que estava falando era verídico, olhou em todos os cantos mais não achou nada; e caiu na cama triste, até que escutou o barulho da campainha tocar e desceu para ver quem era. Chegando à porta olhou para todos os lados e não tinha ninguém, sentiu o coração disparar e quando olhou para o chão viu uma carta; rapidamente a pegou e trancou a porta e na carta estava escrito. “Eu sei tudo o que você quer saber sobre seu filho, e onde ele está; se quiser saber, venha sozinha no endereço abaixo. Se você estiver acompanhada, vou saber, assinado alguém“. Eva estremeceu-­se toda, e escondeu a carta; ficou com medo de ser uma armadilha, mas se não fosse? Tinha que fazer alguma coisa, Rafael Di Moreira • 18

Miolo Perigo.indd 18

05/07/2016 12:42:03


ficou algumas horas pensativa e resolveu ir até o endereço que marcara no celular para não esquecer. Chegando lá, era uma casinha na penumbra e modesta, foi entrando com passos curtos, abriu a porta com cuidado para não fazer barulho e quando entrou viu umas fotos que não vira antes; era de seu filho, estava com armas nas mãos; foi entrando e vasculhando tudo, com medo, até que achou um relógio que dera ao seu filho em seu aniversário, e ele havia lhe dito que foi roubado. Como estava ali? O telefone tocou e ela levou o maior susto. Quando atendeu o telefone, ouvira o seguinte: – Vá embora deste lugar! Ela se assustara, será que estava sendo observada mesmo, ou apenas era um trote? Saiu correndo com medo e sua blusa enganchou em um prego da porta, tirou e foi correndo embora muito assustada. Em uma casa, alguém observava tudo. Em seu carro, estava muito nervosa e nem se lembrara de que esquecera: as fotos. Só após algumas quadras, ficou receosa de voltar àquele lugar que tanto assustara, mas era o fio da meada para provar que ela não estava louca. E agora, o que fazer? Passado alguns instantes, resolveu voltar e resgatar. Sem descer do carro, notara que havia pessoas dentro da casa, ficou dentro do carro e de uma distância segura tentou observar, e teve a ideia de filmar com seu celular. Eles perceberam que estavam sendo gravados, eram três pessoas estavam de roupa preta e da cabeça aos pés não dava para distinguir quem eram, eles saíram em disparada na sua captura. Eva ligou o carro, mas como estava nervosa não conseguiu, pois ficou apavorada e o carro morria enquanto eles se aproximavam, até que o carro ligou para seu alívio e saiu em alta velocidade, indo direto para casa. Chegou desesperada e foi direto para seu quarto. Deitou na cama, trêmula e inquieta, não pensava em outra coisa ao não ser provar que viu seu filho morto, na sua cama. Nesta noite, foi dormir quando já estava quase amanhecendo. Eva acordou com Roberta dizendo calmamente. – Mãe, você está bem? – Estou filha, por quê? – É que eu acordei com você gritando, chamando o Robert, e fiquei preocupada, está tudo bem mesmo? – Perguntou desconfiada. O Perigo Mora em Casa • 19

Miolo Perigo.indd 19

05/07/2016 12:42:03


– É claro que estou bem, e se estou falando que estou bem é porque estou bem, mas agora até você vai achar que eu estou louca. – Disse ela um tanto irritada. – Desculpe, mãe, é que você anda tão esquisita que achei que estava precisando de ajuda, não toco mais neste assunto. – Acho bom, proíbo de tocarem neste assunto. – Como quiser, não falo mais nenhuma palavra, dona Eva. – Disse num tom irônico. Roberta desceu as escadas e chamou Suzana no canto da sala, e disse. – Você tem notado como a mamãe anda toda hora falando do Robert, dizendo que ele está morto, ficou assim após a pancada, acho que deve ter ficado louca; é ate melhor interná-­la em uma clínica. – Disse com um sorriso no canto dos lábios. – Acho mesmo que ela tenha ficado com alguma sequela da pancada, mas é muito cedo para pensarmos em interná-­la. Acabou de chegar do hospital, deve estar sob efeito de medicações e daqui algumas semanas, Robert volta de viagem e tudo voltará a ser como antes. – Assim espero, de maneira alguma desejo que minha mãe fique em um sanatório como uma louca; logo mamãe, uma mulher tão determinada, mas também não deve ser fácil, não é? Acabou de perder o marido. – Disse com um tom sínico. – Não esta fácil para ninguém, mas a vida continua, água parada estraga. Eva desceu as escadas e elas param de falar, ficaram olhando­para ela com um ar de curiosidade que fez Eva ficar sem jeito. Para quebrar o clima, Paula disse. – Então, vamos tomar um cafezinho fresquinho, acabei de fazer, o que acha? – Vamos, estava morrendo de saudades do seu cafezinho, minha filha. Ficaram ali, comendo e conversando, colocando a fofoca em dia. Depois que todas haviam ido embora, Eva resolveu fazer alguma coisa para provar que não estava louca, subiu para seu quarto, ligou sua câmera no notebook e ficou vendo repetidas vezes, até que percebeu que havia uma tatuagem no tornozelo de um deles, pegou um CD e salvou as imagens, tentado montar um dossiê. Ficou deitada na cama, pensaRafael Di Moreira • 20

Miolo Perigo.indd 20

05/07/2016 12:42:03


tiva, até que seu rosto brilhou. Teve uma ideia, pegou o telefone e ligou para um amigo. – Alô tudo bem, gostaria de falar com o André, ele está aí. – É ele quem fala, quem está falando? – Oi André, lembra-se de mim, é Eva, preciso da sua ajuda. – É claro que lembro, como vou me esquecer de você, o que você precisa de mim? Pode falar, se tiver ao meu alcance. ­Vai estar, mas estas coisas não dão para falar por telefone, preciso que venha aqui, o mais rápido possível, se não te atrapalhar, é claro. – Seu desejo é uma ordem, daqui uns trinta minutinhos, estarei aí, é só aguardar. – Estou te esperando, até logo mais. Passado trinta minutos André chega à casa de Eva, que o aguardava ansiosa. ­ – Então, a que devo a honra do seu chamado, minha querida? Eva relatara tudo o que acontecera , e concluiu: – Então preciso da sua ajuda ainda consegue uma copia desta mensagem de Voz, e descobrir se esta foi feita por ele neste dia, ou foi gravada em outro dia e colada para parecer que foi nessa data. ­– Com certeza, mas isso pode demorar alguns dias. – Tudo bem, mas não pode ser mais do que três dias. ­Este é meu prazo, não passarei deste. Mas alguma coisa, madame. – Brincou ele. – Mais uma coisa que te peço, não conte para minhas filhas porque elas acham que estou ficando louca, e só venha quando eu te ligar. – Está certo, agora se me permite, deixe­-me fazer meu serviço. – Eva esboçou um largo sorriso e viu as esperança renovar. Tudo na casa transcorreu da mesma maneira. Eva se escondendo e fazendo seu trabalho à surdina. Passados os três dias marcados, André telefona a Eva, que atendera rapidamente. – Não posso falar agora, minhas filhas ainda estão tomando café. Te ligo daqui alguns minutos. Deixe­-as sair primeiros, depois nos falaremos.­ – Mas não se esqueça de me ligar o assunto é muito sério, mais sério do que eu. Eva deu uma sonora gargalhada; no exato momento em que Eva ria, Roberta chega à portado quarto e pergunta: – Posso saber do que a senhora estar rindo mamãe? – Eva ficou pálida e escondeu o celular debaixo do travesseiro, sem que ela notasse. ­De... Nada que é do seu interesse, não posso mais rir? O Perigo Mora em Casa • 21

Miolo Perigo.indd 21

05/07/2016 12:42:03


– Claro que pode, mas desde que tenha um motivo sensato, ou se não vou achar que está enlouquecendo de vez. – Disse ela debochada. Eva ficou rubra e perdeu o controle e começou a gritar. – Cala esta boca menina, eu não estou louca, você que está querendo me deixar, eu sou sua mãe, e o mínimo que mereço é respeito e consideração, só porque caí da escada não significa que tudo que fizer eu esteja louca. Suzana e Paula subiram as escadas com presteza por causa da gritaria; vendo as irmãs chegarem, Roberta fez-se de vítima e fingiu que estava chorando. – O que foi que houve aqui para estar essa gritaria toda. – Perguntou Suzana. – Eu vim perguntar se ela queria um suco, ela começou a falar do Robert, e a me ofender. – Simulou que estava chorando Roberta. – É mentira! Sua irmã começou a me provocar me chamando de louca, já disse um milhão de vezes e ainda repito eu não estou louca, e vi seu irmão morto em cima da minha cama ao lado de outro homem. – Chega mãe! Estou começando a concordar com Roberta, ele não está morto e se começar novamente com essa história, vou ser obrigada a interná-­la em uma clínica para que possa se recuperar dessa sua lesão. Eva começou a chorar sentidamente, soluçava sem parar e com a voz suplicante disse: – Por favor, filha, precisa acreditar no que estou dizendo, tenho certeza do que estou falando. É só uma questão de tempo e você vai ver. – Então como você me explica o fato de ele ter ligado depois dessa suposta morte que você tanto fala? – Não sei... Quem o matou deve tê-lo feito gravar antes e colocado na caixa postal só para ganhar mais tempo. – Mãe, eu juro que estou tentando ao máximo não interná-­la, mas você tem que se segurar, senão, não vai dar. Roberta deu um largo sorriso. Elas despediram­-se e saíram, Eva deixou­-se cair em depressão, na cama, e chorou compulsivamente. Passadas algumas horas, Eva deu um salto da cama e decidiu reagir, pegou o celular e ligou para André que atendeu prontamente. – Achei que tinha se esquecido de mim, deixe-me falar; acabei de concluir o que você me pediu, quando posso ir aí entrega a mercadoria? Rafael Di Moreira • 22

Miolo Perigo.indd 22

05/07/2016 12:42:03


– Agora! Passados alguns instantes, ele chegou e Eva esperava por ele, apreensiva. – E então, conseguiu o que eu te pedi? – Consegui, tudo o que você me pediu, está preparada para que eu tenho a falar? – É claro, diga logo. Ele relata tudo detalhadamente e, por fim, disse: – Resumindo de maneira popular, consegui a gravação da mensagem eletrônica e estudei a voz que foi gravada e meus estudos mostram que essa mensagem foi montada em partes, de fato é seu filho que deixou esta mensagem, mas não neste dia que foi deixada. A mensagem foi gravada em um dia e ligaram em outro, agora por que não sei. – Isso prova ainda mais minha tese que ele foi morto, porque se ele estivesse mesmo vivo não iria deixar gravada uma mensagem e depois mandar colar em outro dia, mas isso eu resolvo. Muito obrigada, não sabe o bem que me fez, muito obrigada mesmo. Eva abraçou­-o emocionada, e deu um suspiro de alívio. Pegou uma bolsa de pano que estava ao seu lado e entregou para ele. ­ – O que é isto? – É uma pequena gratificação por tudo que me fez, infelizmente não posso pagar mais, porque daí levantaria suspeitas das minhas filhas. – Não precisa, tudo que fiz foi por nossa amizade, não vou aceitar.­ – Faço questão e não aceito não como resposta, está feito. Ou pega ou vou ficar muito chateada. ­ – Está bem, já que insiste, não farei esta desfeita. Ficaram conversando até quando Eva olhou para o relógio e se assustou com a hora. – Desculpe, mas você precisa ir embora, minhas filhas estão prestes a chegar e não quero que lhe vejam. Só mais uma coisa, em hipótese alguma, diga às minhas filhas que lhe pedi este favor, nem se elas ligarem te implorando, posso contar com sua discrição? – É claro, nem se elas me oferecessem o mundo, jamais a trairia, pode ficar tranquila que jamais falarei a ninguém, nem sob tortura. Boa sorte e tudo de bom pra você. Quando precisar, é só chamar. Ele foi embora e Eva ficou com o semblante mais leve, como se tivesse tirado um peso das costas, mas sabia que ainda faltava muito para conseguir estabelecer suas metas. O Perigo Mora em Casa • 23

Miolo Perigo.indd 23

05/07/2016 12:42:03


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.