1ª. Edição 2018
Hood Id 2017 Mari Sales Todos os direitos reservados. Criado no Brasil. Capa: Gisele souza Revisão: Bebel Lye Diagramação Digital: Mari Sales Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Dedicatória Essa história só existe por causa da insistência da amiga e companheira de profissão Sabrina Lucas. Obrigada por nunca desistir de mim e saber exatamente onde apertar os botões.
Sinopse Sabrina é uma profissional da área de TI que está tentando sobreviver aos trinta dias de férias repentinas do seu chefe setorial. Sua primeira atividade será ajudar o mais novo CEO da empresa, que possui um sotaque irresistível e olhos hipnotizantes. Enrico Zanetti assumiu a posição de CEO de forma repentina, depois que seu pai foi afastado por causa de um infarto. Em poucos dias de presidência descobriu que a empresa possui um rombo em suas finanças, e agora está disposto a encontrar o responsável a qualquer custo. Com a ajuda do setor de TI, Enrico descobrirá não só o responsável pelas falcatruas em sua empresa, mas também uma mulher competente, destemida e que, aos poucos, despertará seus sentimentos mais profundos e nem um pouco profissionais. No meio dessa complexa investigação, Enrico e Sabrina descobrirão afinidades, traição e amor.
Prólogo Enrico Zanetti
Sabia que algo do tipo aconteceria mais cedo ou mais tarde. Meu pai, que tanto me quis na presidência de sua empresa, agora conseguiu pela força das circunstâncias. Já estava no Brasil há muito tempo para descobrir o quanto Enrico, o homem que compartilhava não só meus genes, mas também o nome, não se cuidava e abusava com soberba de tudo o que era viciante: bebidas, tabaco e mulheres. Ele havia infartado em sua casa, em uma noite nem um pouco coerente para um homem de sua idade e posição. Uma de suas acompanhantes havia ligado para mim perguntando o que deveria fazer com o homem caído quase desfalecido no sofá. Muitas vezes me perguntava o que minha mãe vira nesse homem, além da beleza, para se relacionar. Ainda bem que há muito tempo eles se separaram e, há outro tanto, não se falavam. Também não entendia como meu pai conseguiu se casar mais duas vezes e ainda por cima, engravidar uma delas. Se não gostava de relacionamentos ou compromisso, por que firmar um? Caspita, preferi eu mesmo ligar para a ambulância do que explicar para aquela pessoa do outro lado do telefone que essa era uma emergência e que
em vez de gastar o dinheiro do meu pai com roupas, deveria gastar com estudo e bom senso. Nem um pouco entusiasmado em assumir a empresa que meu pai e seu sócio mantinham, tive que deixar minhas tarefas de lado e arregaçar as mangas para me inteirar da situação atual dela. Enquanto meu pai trabalhava de manhã e “curtia a vida adoidado” durante a noite, seu sócio Lauriano era obcecado pelo trabalho e por ganhar dinheiro. Não sei como deram certo, esse era um mistério que eu não tinha interesse em desvendar. Supermercados Zanetti era uma rede de mercados famosa no estado e nas cidades do interior. Com três estabelecimentos na capital e outros dez, cada um em uma cidade interiorana, a empresa possuía credibilidade pelo tempo de existência, faria vinte anos em poucas semanas. Havia uma sede oficial onde ficava toda a parte administrativa e financeira. A marca Zanetti sempre me interessou. O potencial dela era magnífico, mas a forma arcaica que meu pai e seu sócio a dirigiam me desanimava a presidi-la. Havia pouco investimento em tecnologia e muito desperdício de recursos financeiros com propaganda impressa. Depois de muita insistência por parte do meu progenitor, abandonei a minha empresa de investimento em bolsa de valores para dar uma chance aos Supermercados Zanetti. Mal sabia que em menos de dez dias, teria que assumir completamente, já que a saúde do meu pai estava debilitada. Como se não bastasse a enfermidade do meu pai, os pais de Lauriano estavam a beira da morte, fazendo com que ele abandonasse repentinamente seu posto, sem se importar com as consequências. Enquanto assumia meu posto de CEO na empresa, me atualizava por telefonemas sobre o estado atual do meu pai no hospital, através da enfermeira contratada
para
acompanhá-lo
enquanto
estivesse
internado.
Nossa
aproximação não iria acontecer de forma tão simples, não seria sua enfermidade que me faria perdoá-lo por suas atitudes com minha mãe e comigo.
Seria responsável apenas pelo patrimônio que minha mãe poderia herdar e nada mais. Havia cursado Administração na Itália e Economia no Brasil, então com meus conhecimentos acadêmicos e por experiência própria, fiz o levantamento de relatórios financeiros e qual não foi minha surpresa quando descobri que a empresa estava com muitas dívidas, no negativo entre receitas e despesas. Depois de reuniões com os responsáveis administrativos e financeiros, descobri que algo muito podre estava acontecendo debaixo dos narizes do meu pai e de seu sócio: alguém estava roubando a empresa. Tentei realizar uma auditoria própria, para isso chamei Alex, o responsável de TI, para auditar todos os sistemas e operações realizadas na empresa. Sabia que o sistema era desenvolvido internamente, não sabia o quanto era restrito e o nível de segurança com as senhas de acesso. Porém, o homem mais me enrolou do que me forneceu alguma coisa concreta. Não consegui entender como Alex se mantinha efetivo na empresa com tão pouca assistência que prestava para seus superiores. Tratando-a como se fosse minha empresa, passei quase dia e noite mergulhado em números, relatórios e estatísticas. Para quem tinha uma vida pessoal movimentada com saídas todos os finais de semana, depois de quase um mês eu estava quase surtando, porém focado em meu objetivo. Iria corrigir essa empresa e mostrar para o meu pai o quanto seu filho bastardo era “mimado”, como ele costumava dizer nas poucas vezes que nos vimos quando eu ainda morava na Itália. Em meio a minha determinação e orgulho, uma mulher de cabelos presos, olhos curiosos e sorriso encantador cruzou meu caminho e me ajudou a desvendar esse mistério ao mesmo tempo em que bagunçava o meu coração.
Capítulo 1 — TI, boa tarde. — Ligação do senhor Zanetti para o senhor Alex. — mal abro a boca para dizer que meu chefe Alex saiu de férias hoje, sem mais nem menos e a voz do mais novo presidente da empresa soa ao meu ouvido. — Alex, recebi novamente aquele e-mail com informações sobre a empresa estar com o nome negativado, mas aperto na palavra e nada acontece. Será que é vírus? Você não tinha arrumado isso? — diz enfurecido o todo poderoso Enrico Giovanni Zanetti, CEO da empresa Supermercados Zanetti. Não queria reparar, mas seu sotaque italiano me fez arrepiar. Não o conheci pessoalmente, já que havia assumido o comando da empresa há pouco tempo, além do mais Alex sempre me deixava de lado quando havia reuniões setoriais. Sempre fui a segunda no comando no setor de TI, mas seu lado arrogante só me permitia executar ordens. — Bom dia, senhor Zanetti. — cumprimento-o animada e solicita, empolgada para realizar minha primeira tarefa sem meu chefe me excluir. — Alex saiu de férias hoje, mas posso ajudar no seu... — Quem autorizou as férias do chefe do Departamento de TI? Até ontem tínhamos ações combinadas a serem feitas. — indigna-se.
Caramba, sou a moça da TI, não uma vidente, meu lado irônico responde na minha mente. Porém, minha boca responde: — Não tenho essa informação, senhor, mas se estiver precisando... — Quem está no lugar dele? É aquele rapaz de cabelo comprido e que só veste roupa preta? Chame-o. — corta-me novamente, sem nenhuma paciência ou educação. Entorto minha boca em uma careta, pensando que o CEO poderia ser educado tanto quanto era charmoso com esse sotaque. Decido por não responder e, assim, não prolongar a conversa infrutífera. Estico meu braço para oferecer o telefone a Caio, o cabeludo que só veste roupas pretas, nosso funcionário multiuso que nem implorando ficaria no lugar de Alex. Com o pouco de tempo a frente da empresa, senhor Zanetti – o filho – era conhecido por ser acelerado, impiedoso e muito sério. Alex parecia ter a confiança dele, uma vez que diariamente ligava para falar sobre nossos sistemas, acesso e infraestrutura. Para meu desgosto, meu chefe direto se mostrava muito prestativo. No entanto, assim que o telefone era desligado, ele fazia careta, resmungava obscenidades e fazia tudo de malgrado. Tentei oferecer auxílio, mas nunca me deixou ajudá-lo, dizia que esse atendimento deveria ser feito apenas por pessoas qualificadas como ele. Idiota. Estava acostumada com o machismo e preconceito do meu chefe desde quando estagiei. Não lembrava quando foi o início de sua implicância comigo, porque desde sempre me portei profissionalmente e muito fui competente. Recusava-me a acreditar que tudo isso era por causa da minha postura e ele tinha algum tipo de insegurança. Para sobreviver, ignorava-o, já que havia muito a se aprender nessa empresa, que tinha iniciado uma equipe de desenvolvimento interno, algo raro quando se existia tantas empresas de desenvolvimento de software competentes e com produtos excelentes. Além do mais, o salário era razoável e era complementado com muitos outros benefícios.
— Quem é? — meu colega de trabalho e amigo pergunta com um sussurro receoso. Caio é o típico nerd, antissocial, introvertido e muito inteligente. Não sai dessa sala e não conversa com ninguém a não ser por mensagens de texto. Foi contratado pela velocidade que programa linhas de código e pela habilidade em gerenciar uma rede de computadores de uma grande empresa como a Supermercados Zanetti. A empresa tinha treze estabelecimentos, era próspera e muito rentável, mesmo com toda essa crise financeira. Até porque, ninguém ficava sem comer, não é mesmo? — O todo poderoso. Atenda. — sibilo, tentando regular o volume da minha voz para que meu interlocutor não escutasse. Chacoalho minha mão para insistir que atenda, mesmo sabendo que era em vão. Caio ficou mais de um mês sem falar comigo quando foi contratado. Ele era muito tímido e seu jeito estranho me assustou no início. Depois que comecei a pressioná-lo com mensagens pelo nosso comunicador interno, ele se soltou. Falamos sobre todos os assuntos nerds e no final, quando falou pela primeira vez comigo, disse que eu era digna de ter sua amizade. Além de tudo, ele se achava o filho de Einstein. No final, o importante era que tinha um bom coração e nunca me diminuiu perante os outros, como nosso chefe gostava de fazer. — Porra, não vou falar com ele. — Excêntrico, Caio se levanta e me deixa sozinha com o telefone na mão. Os dois técnicos júniores também observaram seu colega se levantar sem cerimônia. Seus olhos estavam arregalados e o jovem Anderson estava com a boca aberta. Maldita hora em que meu chefe saiu de férias. Coloco o telefone no meu ouvido e enfrento a fera. — Senhor, desculpe a demora, mas Caio, o rapaz que solicitou, acabou de sair às pressas para o banheiro. — digo com humor mal contido e sorrio vingada para meus dois acompanhantes.
Vitor, o outro técnico, tosse para esconder o riso enquanto Anderson apenas se volta para os seus afazeres. Os três trabalhavam em uma ilha de mesas, enquanto eu e meu chefe trabalhávamos em mesas individuais. Os servidores ficavam separados por uma divisória metade vidrada. — E quem é você? — sua entoação de voz muda suavemente. Apesar de manter o tom de ordem, existia certa curiosidade. Precisaria fazer um curso rápido de italiano, porque esse idioma me fazia arrepiar completamente. — Sou Sabrina, estou no lugar de Alex enquanto está ausente. Então, quanto ao seu problema... — Você não é a estagiária? — pergunta confuso e tento controlar minha mente para não convergir essa pergunta para o lado pessoal. Muitos achavam que eu era estagiária, pois era baixa, 1,60m de altura e tinha rosto de menina. Além do fato de não ser homem, porque em algum lugar no universo masculino, tecnologia e mulher não combinavam. Ou era só meu chefe não perdendo a oportunidade de me rebaixar para o novo CEO. Não duvidava de nada quando se tratava de Alex. — Senhor Zanetti, deixei de ser estagiária há três anos. — Oh, tudo bem. — escuto seu respirar profundo e fecho meus olhos ao imaginá-lo fazendo isso perto de mim, dizendo essas palavras cheias de sotaque ao pé do meu ouvidor. Controle-se, repreendo-me mentalmente. — Preciso que resolva o problema desse e-mail, perco muito tempo analisando algo que não preciso. Se for vírus, não deveria estar recebendo. Alex solicitou fundos há duas semanas para instalar algo que resolvesse qualquer problema de vulnerabilidade na rede. — voltou para seu tom impaciente na última frase. Olho para o lado, vejo o servidor abandonado em cima da mesa do meu chefe há dias e suspiro frustrada. Desde quando o equipamento chegou estou cobrando sua implantação, o que já deveria ter sido feito, mas Alex nunca levava em consideração nada do que eu falava. O filho da mãe saiu de férias, me deixou com esse pepino na mão e sem antes me instruir. Eu não tinha domínio sobre o assunto, mas junto com Caio, daríamos um jeito.
Sempre dávamos um jeito! Custava deixar de ser egoísta? Para Alex, era um insulto imperdoável. Por que eu aceitava tudo isso? Tentava lembrar minha motivação de vir trabalhar e aguentar... Ah, certo, os benefícios. — Sobre o servidor, precisarei verificar a documentação de Alex para verificar como foi implantado ou o que falta ser feito. — Apesar de o meu chefe ser idiota, não iria jogá-lo ao leão italiano. Tudo isso poderia voltar-se contra mim. — Mas para não receber mais esse tipo de e-mail, posso usar uma solução alternativa. — Meu computador não pode servir de experiência para essa solução alternativa. Sei o que vocês da informática fazem, a tal da gambiarra. — continua bravo. — Não aceito esse tipo de solução. — Fecho os olhos e respiro fundo para não responder algo de forma ríspida, uma vez que me ofendeu. Não fazia gambiarra! Tudo bem, fazia um pouco... Às vezes... Nas emergências... Não queria fazer feio no meu primeiro dia chefiando meu setor, nunca utilizaria o computador do dono para tais coisas, até porque, a pressa era dele, não minha. Então, com o coração cheio de boas intenções e postura profissional, continuo falando com o CEO com a intenção de mostrar o quanto era competente para estar naquela função.
Capítulo 2 — Senhor Zanetti, posso garantir ao senhor que tenho experiência suficiente para que essa solução alternativa não se enquadre nas gambiarras. Trabalho na Supermercados Zanetti há cinco anos e em nenhum momento a empresa sofreu algum ataque virtual. — Queria ajudar, mas não aceitaria esse desmerecimento gratuito, mesmo com sotaque irresistível. — Não acredito! Você trabalha conosco há cinco anos? — questionou surpreso e eu esperava do fundo do coração que não fosse pela minha capacidade ou por ser mulher. O CEO da empresa era muito perspicaz e estava fazendo várias reuniões com todos os setores e sobre funcionários, não estava entendo o motivo de ele estar tão desinformado sobre mim. As últimas três filiais abertas da empresa, praticamente fui sozinha implantar o sistema, instruir os funcionários que iriam usá-lo e cabear toda a estrutura. Não tinha medo de colocar a mão na massa se fosse economizar para a empresa. Com alicate de climpar, passava os cabos de rede pelos conduites e ligava-os no patch panel e switch. Tínhamos uma empresa que fazia esse serviço para nós, por ser algo técnico e não tecnológico, mas irritava-me a falta de cuidado que eles tinham, além da insubordinação comigo, como se não tivesse informação técnica o suficiente para saber qualificar um serviço desses.
Amava minha profissão, mas odiava o preconceito com as mulheres. Até parece que na faculdade não ensinava que o primeiro algoritmo a ser processado por uma máquina foi feito por uma mulher, Ada Lovelace. — Sim, desde o quinto semestre da minha faculdade de Ciência da Computação. — respondo cansada. O pai desse homem tinha assinado meu relatório de estágio supervisionado, tinha entregue uma cópia para o RH e ele não sabia sobre a quantidade de tempo que eu trabalhava na empresa? Por um lado, isso realmente me magoou, porque me dedicava para a Supermercados Zanetti como se fosse minha, mesmo que meu colega de trabalho fosse um pouco louco e meu chefe, um idiota. O dono da empresa, mesmo que há pouco tempo no cargo, não saber sobre mim mostrava que todos os meus esforços estavam sendo gastos à toa. Enfim, às vezes achava que já tinha superado todos os tipos de idiotice de Alex, mas mesmo não estando presente, ele aprontava. — Estranho. Por que Alex nunca mencionou você na nossa reunião de avaliação de desempenho? — há um tom perigoso em sua voz que faz meu coração acelerar. Ele estava bravo comigo por causa do meu chefe? Esperava, profundamente, que não. Talvez seja porque uma mulher conseguiu ser melhor do que o cuzão do meu chefe, meu pensamento cáustico tenta dominar minha boca, mas consigo responder com cautela e ironia. — Não tenho conhecimento sobre isso. O senhor deveria falar diretamente com meu chefe o motivo dele esquecer uma funcionária — ironizo. — Está tentando dizer como devo fazer meu trabalho? — exasperado, o sotaque italiano ficou acentuado e me fez fraquejar. Não sabia qual era o problema do meu corpo, já que minha cabeça sabia muito bem que além de velho, ele parecia ser egocêntrico. Nessas horas agradecia por não participar de reuniões com o CEO da empresa, pois não saberia lidar com toda essa mescla de sentimentos que estava sentindo. Uma hora me irritava, outra me excitava.
Imaginei-o de pé coordenando uma reunião, direcionando ordens e cobrando resultados. Ele era inteligente o suficiente para que ninguém o questionasse, só concordasse. Quão excitante isso não seria? Assustada com a direção dos meus pensamentos, não controlo meu tom de voz nervoso ao dizer: — Por favor, senhor, me desculpe! Disse isso apenas como uma observação, não tive a intenção... A linha fica muda. Desligou o telefone na minha cara! Merda! Dessa vez eu poderia ter me afundado sem a ajuda de Alex. Respiro fundo, solto um grito contido na garganta e envio uma mensagem no celular de Caio, informando que não havia mais risco. Se algum dia achei que Alex era idiota, me enganei, porque ele era um grande e enorme verme! Olho para os dois técnicos e os vejo focados em seus computadores. Bom, eles sabiam o que era melhor para eles nesse momento de irritação minha. Com uma caneca de petrolão, vulgo café, na mão, o safado do meu colega nem conteve o sorriso quando me viu bufar. — Você sabe, se não fosse pelo plano de saúde e vale refeição, eu estaria longe daqui — digo amarga. — Ser masoquista cansa. — Achei que eu era a única motivação para você ficar aqui — diz magoado ao sentar na sua cadeira muito confortável. Esquecia o quanto era sensível e não percebia o sarcasmo nas minhas falas. Caio possuía todos os requisitos de nerd preenchido. — Sim, dinheiro não valeria nada se não fosse sua companhia diária e suas observações espirituosas. — Sorrio na tentativa de conter os danos. Caio enrubesce e volta sua atenção para o computador.
Acreditava que essa vergonha fosse com as mulheres em geral e não apenas comigo. Não havia nada que me atraísse nele, apesar de seus gostos serem muito semelhantes aos meus. Era um bom amigo, aguentava-me reclamar e levantava minha moral sempre que me sentia incapaz. Olho para o relógio e vejo que não passava das quinze horas. A tarde seria longa, já que ficaria de plantão os trinta dias de férias de Alex, um dos ônus da empresa era se recusar a pagar horas extras para funcionários que não possuíam cargo de confiança. Isso queria dizer que até as vinte e duas horas, estaria confinada nesta sala cheia de computadores, bits, bytes e metal, muito metal. — O pessoal vai jogar um pouco de RPG on-line hoje — Caio convida. — Bora pessoal? — Estou dentro — Anderson concordou. — Assim que sair daqui também vou — Vitor também concorda. — Trinta dias de plantão, meu amigo, sem folga no sábado e domingo, esqueceu? — Sem tirar meus olhos do meu monitor, começo a verificação de um incidente alertado pelo meu sistema gerenciador da rede interna. O computador SZ0005 está em risco. Quando clico com o botão em cima do ícone para saber de quem é o equipamento, o telefone toca. — TI, boa tarde. — atendo e apoio o telefone no meu ombro, sem interromper o que estava fazendo na minha área de trabalho. — Estou tentando trabalhar e alguém está me bloqueando, não consigo fazer mais nada no meu computador, está tudo travado! Ligue para Alex agora, acabe com as férias dele. — esbraveja o CEO. Ele realmente deveria estar furioso e com problemas de continuar o seu serviço, pois fez uma ligação direta e seu tom beirava o antiprofissional. — Hoje não é meu dia... — reclamo baixo, suspirando profundamente e contando até dez ao mesmo tempo em que identifico que o computador ameaçado é justamente o do senhor Enrico Zanetti. Que maravilha!
Tudo isso porque o preguiçoso e egoísta do meu chefe não deixou que fizesse o serviço no servidor novo. — O que você disse? Suas palavras atingiram diretamente meu baixo ventre, seu tom zangado e impaciente era um afrodisíaco. Poderia um homem tão nervoso e impaciente parecer atraente? Acho que eu estava ficando louca. — Poderia fazer tudo por acesso remoto, mas como o senhor está com pressa, não acredito ser a melhor opção. Por favor, aguarde que em menos de cinco minutos estarei na sua sala para resolvermos isso da melhor forma possível. — impiedosa e sem pensar nas consequências, desligo o telefone na cara do dono da empresa, bloqueio a minha máquina e levanto da mesa determinada. — Caralho, mulher, você vai lá? — Caio pergunta nervoso. Senhor Zanetti era temido quando estava de bom humor, imagine impaciente e irritado. Mas como cara feita e voz alta nunca me intimidaram, estava confiante. — Vou. Por quê? Você quer ir no meu lugar? — Nega minha pergunta retórica com a cabeça. — Não se preocupe, mostrarei a ele com quantos peitos se faz uma profissional de TI. Pego meu crachá em cima da mesa, coloco no pescoço e sigo pelas escadas do edifício. Estávamos no subsolo e senhor Zanetti estava no quarto e último andar. Antigamente, senhor Torres também estava lá, mas, assim como o senhor Zanetti pai, agora estava ausente. Quando a empresa foi assombrada pela notícia de que os dois sócios estavam ausentes e que ninguém assumiria as rédeas, muitos comentavam que seríamos demitidos em massa, não pagariam nossos direitos trabalhistas e todo esse terrorismo. Um dia depois, senhor Zanetti – o filho – apareceu e colocou um fim nessa rádio pião com muitas reuniões e exigências. Enquanto subia as escadas, arrumava meu cabelo levemente loiro preso em um rabo de cavalo. Ajeitei minha blusa na cintura, para cobrir um pouco da minha calça jeans escura e o decote, que era levemente solto. De
cara limpa e o coração cheio de boas intenções, subi com passos firmes e determinados até o homem que precisava da ajuda da TI. Só esperava que meus sentimentos indevidos pelo meu CEO não aflorassem no momento errado.
Capítulo 3 — Espere, senhorita. Você precisa ser anunciada antes. — Toda engomada e impecável, a secretária do senhor Zanetti, senhorita Mirela, barra minha entrada com um aperto forte da sua mão em meu braço. Loira, linda e escultural, todos falavam dela, de sua beleza e capacidade, inclusive que fazia trabalhos extras e nada profissionais com o dono da Supermercados Zanetti. Bem, não me importava com nada disso, quem era eu para julga-la? O andar possuía uma grande recepção com sofás e mesas de centro. Na frente de um grande corredor, havia uma mesa que tampava quase toda a passagem. Isso queria dizer que, para seguir até a sala do todo poderoso e o sócio, era necessário passar pela sua secretária, mais conhecida como ‘leão de chácara’. Olho para a porta, depois para sua mão e franzo a testa. Merda, essa mulher fazia musculação? Estou identificada com o crachá, nunca precisei de tanta cerimônia para entrar em uma sala. Lembro que todos os atendimentos para a diretoria, quem fazia era meu chefe Alex. Como essa foi sua primeira vez a ficar trinta dias ausente e, pelo jeito, não avisou a ninguém, eu estava assumindo suas tarefas diárias. Pelo visto, por aqui era tudo muito burocratizado. Sem cerimônia, empurrou-me até a frente de sua mesa, sentou-me na cadeira e me olhou com ar de desafio.
— Nome e setor. — ordenou. — Sabrina, setor de TI. — controlei a rispidez na minha voz. Pegou o telefone e sem desviar sua atenção de mim, falou com nosso patrão. — Senhor Zanetti, a senhorita Sabrina do setor de TI está aqui e gostaria de entrar. Devo autorizar sua passagem? — completamente profissional, o leão de chácara apenas disfarçou sua insatisfação, presente em sua voz, em me ver. Não autorize minha entrada e deixe seu chefe enlouquecido por causa de um e-mail, penso irritada, apenas porque na minha cabeça poderia responder do jeito que quisesse. Cerrando meus olhos e fazendo minha cara mais ameaçadora, cruzo meus braços e imagino o que faria com ela se eu fosse uma mestra gedi. Ela poderia ser forte, mas eu teria o poder da mente a meu favor. — Por favor, me acompanhe. — Desliga o telefone, se levanta e me guia até a sala do homem com o sotaque mais irresistível. Dois toques suaves na porta, senhorita Mirela abre e levemente me empurra. Estava confiante até que o ver me deixou completamente... atraída. Não bastava seu sotaque italiano mexer com minhas entranhas, agora sua aparência também. Já o havia visto antes, de longe, em fotos, estagnado, mas agora, em seu local de trabalho, completamente absorto nos papéis em suas mãos e na ligação em seu telefone celular, tornei-me inexplicavelmente fascinada por sua postura rígida e presença dominante. Assumia, nesse momento, que tinha uma fraqueza e essa era: homens influentes, dominantes e competentes em suas áreas de trabalho, assim como ele, senhor Zanetti. Ninguém precisava apresentá-lo como chefe, porque tudo nele demonstrava poder. Seu relógio grande, sofisticado e prateado mostrava claramente que tinha muito dinheiro. Seu corte de cabelo volumoso, penteado
para trás e sem nenhum fio de cabelo solto, sua barba rala e devidamente aparada indicavam que cuidava da sua aparência tanto quanto da empresa. Senhor Zanetti ainda não notou a minha presença, estava escutando alguma coisa que não o agradava pelo telefone, pois seu semblante denota irritação. Será que tinha a mesma reação ao falar comigo? Dou um passo a frente e nossos olhares se encontram, fazendo-me parar meu progresso em sua direção. Ele me observa de uma maneira diferente, avaliando, esperando meu próximo movimento. Não sei explicar, mas algo nesse homem me faz querer desafiá-lo. Não faço nenhum movimento, coloco meus braços para trás, levanto uma sobrancelha e o aguardo finalizar sua ligação. Estou intimidada e também atraída para trabalhar com uma pessoa assim. Não demora muito para sua voz rouca e irritada soar: — Quero todas essas informações no meu e-mail agora. — ordena e desliga o telefone, sem desviar seus olhos dos meus. Sua impaciência não sumiu de suas feições e parecia direcionada a mim. Um momento de um constrangedor silêncio aconteceu antes dele levantar uma sobrancelha com uma pergunta soturna, o que eu queria parada daquele jeito. Recobro meus sentidos, respiro fundo e desvio meu olhar para seu equipamento computacional, que era um notebook grande, porém muito fino, um dos mais modernos da empresa. Meus olhos brilharam e meu lado nerd vibrou ao constar que estarei manuseando tal máquina. — Sou Sabrina do setor de TI, estou no lugar de Alex. Falamos a pouco sobre seu e-mail e um possível risco de vírus. Vim resolver o problema. — Ignoro seu escrutínio e sigo em direção ao lado da sua mesa, onde estava o notebook aberto. Sem cerimônia, inclino meu corpo, coloco minha mão no seu mouse sem fio e o olho de lado.
— Posso? — Peguei-o olhando para o meu modesto decote, mas que nesta posição estava destacado. Abaixei meu olhar para minha blusa, constei que não revelava nada demais e voltei a fitá-lo, dessa vez, seus olhos estavam nos meus com um brilho diferente, intenso. Meu estômago encheu-se de fadas arruaceiras, causando um leve rubor na minha face. Sempre mantive minha postura indiferente a determinados olhares, já que muitos acreditavam que na informática só havia mulheres feias e eu não era de se jogar fora, com seios fartos, quadris padrão e coxas levemente grossas. Minhas curvas eram acentuadas e meu rosto era delicado, de menina, um dos meus maiores problemas quanto a acreditarem que tinha vinte e quatro anos e não dezoito. — Sente-se numa das cadeiras. — Enrico ordenou com traços de rouquidão. Não conseguia mais vê-lo como senhor, sem intimidade, pelo menos não na minha mente poluída de luxúria. Seria desejo? Não sabia, mas meu corpo interpretou assim, porque meu ventre se contraiu. Para disfarçar meu leve desconforto, resolvi obedecêlo. Antes que me sentasse, falou novamente: — Traga a cadeira aqui, quero acompanhar o que você fará no meu notebook. — Sentado de forma relaxada e empurrando a cadeira suavemente para o lado, o olhar que me deu não ajudou em nada a recuperar minha postura profissional. Se a fofoca era verdade, sobre o relacionamento não oficial do CEO em exercício com a secretária, entendia completamente o que a senhorita Mirela sentia e não a julgava. Se não fosse pelo meu orgulho e convicções pessoais, até eu faria trabalho extra. Controle-se, repreendo-me. Já não bastava me julgarem por ser uma mulher na TI, agora seria julgada por dormir com o dono da empresa. Onde estaria minha dignidade? E minha competência? Com um suspiro baixo, trago a cadeira para o outro lado da mesa, ao lado dele e me sento preparada para resolver a ocorrência do computador e
sem nenhum preparo para a ameaça que estava ao meu lado, quase que fungando no meu pescoço. Enrico havia se inclinado para frente, perto de mim, observando como um falcão minhas ações no seu equipamento. Faço um barulho na minha garganta, ajeito-me na cadeira e começo a narrar minhas ações. Já que queria acompanhar, não faria nada sem que ele soubesse antes. — Esse é o e-mail que você... — corrijo-me rapidamente — que o senhor abriu. Quando coloca o mouse em cima da palavra que está sublinhada e em azul, aqui embaixo — aponto para o local com minha outra mão — aparecerá o endereço que ele te encaminhará. Percebe que é um endereço suspeito, sem “.com.br” e sem nenhuma referência a empresa que te enviou o e-mail? — Viro meu rosto para ele e percebo seu olhar em mim. Engulo a saliva e parece que desce rasgando minha garganta. Enrico está completamente me secando, não chegando a me deixar desconfortável, apenas envergonhada. Era um olhar avaliativo e arrisco a dizer que era até admirado. Céus, isso era real? Estava despertando o interesse do dono da empresa? O desejo desse homem lindo e imponente?
Capítulo 4 Com uma respiração profunda e disfarçada, decido voltar minha atenção para a tela à minha frente, ignoro as reações do meu corpo e continuo: — Não sei qual foi o outro e-mail que recebeu, mas quando algo assim surgir, faça essa análise antes de clicar no link. Se for suspeito, apenas exclua desta forma. — Faço a exclusão e vou até o canto inferior direito da tela com o mouse. — Vou criar uma regra na ferramenta de e-mail para enviar para lixeira este tipo de correspondência. E... Apenas por desencargo de consciência, vou abrir o programa de antivírus e coloca-lo para avaliar e analisar seu disco rígido. — Hum... — murmura de forma insinuante, fecho meus olhos para não pensar nas coisas que “rígido” poderia me lembrar e que provavelmente o lembraram. Merda! Não adiantou nada, pensei em tudo e sendo dele! Seus braços me envolvendo, suas mãos me segurando pelo quadril, seu corpo empurrandome contra a parede, seu membro provocando meu sexo... Senti meu rosto esquentar e novamente mexo-me na cadeira para encontrar o meu juízo que parecia ter me abandonado. Custava dizer apenas HD? — Essa parte demora um pouco. Precisará utilizar sua máquina enquanto isso ou poderá esperar concluir? — pergunto sem olhá-lo e fico
clicando com o mouse, abrindo e fechando programas, apenas para não cometer uma loucura. Tinha certeza que babaria se o olhasse novamente. Por que esse homem intimidava, provocava e comandava, com agilidade? Tudo isso eram atributos que eu valorizava em uma pessoa, principalmente em um homem. — Quanto tempo? Não tive a oportunidade para responder, pois o seu celular tocou. Ele se levanta rapidamente da cadeira e seguiu para o canto mais afastado da sala, onde uma grande janela com as persianas levantadas estava. Acredito que seja para eu não escutar a conversa. Solto a respiração que não sabia que estava presa e me acomodo mais tranquilamente na cadeira, quase que esparramada. Olho para o lado e o vejo de costas, uma mão no bolso do seu impecável terno e a outra segurando o aparelho com tensão. Eram sussurros alterados, quase ríspidos. Com minha imaginação fértil e nem um pouco preguiçosa, vi-me levantando, envolvendo meus braços por trás e apoiando minha cabeça em suas costas, numa tentativa de acalmá-lo. Parecia sempre tenso, em alerta, acreditava que precisava de um momento de descanso. Relaxe, homem! Abruptamente ele vira a cabeça para trás e eu me endireito rapidamente na cadeira, voltando a minha posição anterior. Pega no flagra, finjo estar completamente compenetrada na minha tarefa de esperar o antivírus fazer sua magia. Ainda bem que seu notebook era muito moderno e contava com um HD SSD, que queria dizer que gravar e recuperar informações era muito mais rápido que no HD convencional, inclusive uma varredura de antivírus. Pela minha visão periférica vi Enrico sentar e trazer sua cadeira novamente quase colada a minha. Seu corpo estava bem próximo ao meu e sua respiração atingia meu pescoço, que estava exposto por causa do cabelo preso em um rabo de cavalo.
Sua face não expressava nenhuma emoção diferente de seriedade e frustração. Era completamente profissional e minha mente pecaminosa queria saber se essa postura era em todas as áreas da sua vida. — Por que você acha que devo relaxar? — com um sussurro e muita tranquilidade, Enrico me questiona sem mudar sua expressão facial e me faz fechar os olhos por vergonha. Caramba, havia pensado alto! Tentando não demonstrar o quanto me afetava, dei de ombros e o olhei de lado. Estava nervosa e com o coração acelerado. — Foi apenas um pensamento alto. Já que falei com você por telefone duas vezes e nas duas e em todos esses telefonemas você pareceu soltar fogo pelas ventas. — comecei a divagar e não parei. Tinha um problema e era de falar pelos cotovelos quando estava desconfortável com a situação. — Por mais que os assuntos sejam aborrecidos, é importante tratar com tranquilidade para não ser influenciado pelos seus sentimentos à flor da pele. Minha mãe sempre diz que não podemos fazer nada de cabeça quente e muito menos demonstrar nossas emoções, que isso pode... — sou interrompida com um dedo nos meus lábios e um olhar divertido. Enrico tinha esses olhos castanhos que me lembravam a areia da praia, chocolate quente e... — Acho que já acabou. — como uma carícia na minha pele, sua voz me faz arrepiar. Indica a tela do notebook com o olhar, afasta sua cadeira e levanta, sem nenhum propósito. Volta para o mesmo canto que ficou ao telefone anteriormente, de costas para mim e desta vez, com as duas mãos escondidas nos bolsos da calça e seu olhar perdido no horizonte. O que acabou de acontecer entre nós? Só poderia ser coisa da minha cabeça, deveria parar de alimentar minha imaginação. Com a intenção de fugir dessa situação nem um pouco típica, confiro por linhas de código se o vírus ainda existe e assim que constatei que não, fechei todos os programas, reiniciei o notebook e me levantei rapidamente.
— Concluí tudo o que precisava fazer no seu equipamento. Nada foi danificado ou violado. Qualquer coisa, não hesite em me chamar. Até mais! — anunciei minha saída e a conclusão do serviço. Enrico não fez nenhum movimento ou se despediu de mim, completamente absorto no que quer que passava em sua mente. Porém, diferente do início de nossa interação, sua expressão facial era pensativa. Todo o nervosismo e tensão havia sumido, sendo substituídos por um leve relaxamento. Será que ele está pensando nas minhas palavras? Eu o afetava tanto quanto ele me afetava? Iludida, saio de sua sala e passo pela senhorita Mirela sem me despedir. Ela também não pareceu reconhecer minha saída e não desviou a atenção de sua tarefa no computador. Descendo as escadas, refaço meu rabo de cavalo e penso em tudo o que acabou de acontecer. O novo CEO da empresa parecia muito sério, mas com sutileza deu indícios que queria se aproximar de mim. Ou será que tudo foi uma ilusão da minha cabeça? As pessoas querem acompanhar o que fazemos em seu computador, ficar do lado, quase colado no meu pescoço era nada mais que uma posição coincidente de sedução. Precisava de férias ou de um pouco de consolo, estava sendo controlada e dominada pelos meus hormônios e instintos primitivos. Um homem bonito nunca tinha me afetado tanto. Era algo diferente, uma atração que ia muito mais da aparência, muito além do seu olhar. Meu último namoro durou apenas três meses, o suficiente para que meu companheiro conseguisse que eu abrisse as pernas durante uma semana e depois me dispensou. Camilo não era nada parecido com Enrico, era divertido, descontraído e tinha cara de menino tanto quanto eu tinha de menina.
Lembro que resolvi dar uma chance para nós dois, uma vez que nunca havia namorado e meus irmãos tinham mania de espantar todo e qualquer pretendente. Então, quando eles começaram a trabalhar e não tiveram mais tempo de infernizar a irmãzinha aqui, consegui um pouco de liberdade. Bem, com Camilo eu preferia que eles continuassem a assediar, porque evitaria todo o drama que sofri com nossa separação. Não era apaixonada, mas me sentia uma fracassada no quesito mulher. Ele foi meu primeiro homem, tínhamos vinte e um anos e muita energia. Céus, faria três anos que estava solteira? Fazia tanto tempo assim sem ter contato íntimo? Não, houve outros homens que beijei, mas nenhum valeu a pena investir para ter relações sexuais. Pelo menos até conhecer Enrico. Ele estava fora do meu alcance, apesar da minha mulher interna dizer que eu podia tudo e qualquer coisa. Era isso, minha interminável seca de homens estava me deixando interessada pelo homem que menos deveria me atrair, o todo poderoso CEO da Supermercados Zanetti. Nesse dia, fui para casa cheia de pensamentos impróprios e sonhei com todo o poder de fogo que Enrico poderia me oferecer dentro de quatro paredes.
Capítulo 5 — TI, bom dia. — Era o primeiro telefonema do dia. Nem havia passado cinco minutos que sentei minha bunda na cadeira, o aparelho de tortura auricular soou. Como sempre, Caio estava atrasado. Pontualidade não fazia parte das suas múltiplas habilidades tecnológicas e as broncas sobre isso nunca o incomodaram, já que nunca foram descontados de seu salário. Já os outros dois programadores estavam pontualmente acomodados em suas estações de trabalho, focados em suas atividades. Éramos cinco no setor de TI, Alex era o chefe, Caio era o arquiteto, analista e responsável pela infraestrutura; Anderson e Vitor eram focados unicamente na programação e atendimento não urgentes. Minha parte cabia de tudo um pouco, porque desde que entrei para empresa, me disponibilizei a aprender e fazer tudo. Também estava focada no atendimento in loco e nas filiais. Diferente dos outros, precisava sempre ser pontual, pois Alex fazia questão de descontar meus atrasos e me recriminar. Porém, horas-extras eram apenas investimentos de minha parte para crescer profissionalmente, ou seja, não me pagava. Sim, meu chefe era um grande idiota.
— Ligação do senhor Zanetti para a senhorita Sabrina. — reconhecendo a voz do leão de chácara, respiro profundamente e aguardo o italiano que abalou meu dia anterior e, pelo jeito, iria abalar hoje novamente. Fui para casa de ônibus, como sempre e minha mente estava nesse homem. Quando cheguei à minha casa, não consegui jantar, meu estômago estava alterado e meu corpo incomodado. Revoltada comigo mesma, peguei o pior livro da minha biblioteca de e-books do meu e-reader para tentar dormir na marra. Não sei se foi uma boa opção, porque os sonhos que tive só aumentaram minha ânsia por esse italiano.