Mari Sales 1ª. Edição 2019
Copyright © Mari Sales Todos os direitos reservados. Criado no Brasil. Edição Digital: Criativa TI Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário Dedicatória Sinopse Capítulo 1 Gabriela Capítulo 2 Gabriela Capítulo 3 Gabriela Capítulo 4 Gabriela Capítulo 5 Gabriela Capítulo 6 Gabriela Capítulo 7 Gabriela Capítulo 8 Anderson Capítulo 9 Gabriela Capítulo 10
Gabriela Capítulo 11 Gabriela Capítulo 12 Gabriela Capítulo 13 Gabriela Capítulo 14 Gabriela Capítulo 15 Gabriela Capítulo 16 Gabriela Capítulo 17 Anderson Capítulo 18 Gabriela Capítulo 19 Gabriela Capítulo 20 Gabriela Capítulo 21 Gabriela Capítulo 22
Gabriela Capítulo 23 Gabriela Capítulo 24 Gabriela Capítulo 25 Gabriela Capítulo 26 Gabriela Capítulo 27 Luciana Capítulo 28 Anderson Capítulo 29 Anderson Capítulo 30 Gabriela Epílogo Gabriela Sobre a Autora Outras Obras
Dedicatória Para Gabriela Canano, apaixonada pela cultura mexicana e dona de um coração gigantesco. Obrigada por me acolher no seu mundo literário, você me faz muito bem!
Sinopse Anderson Medina, dono da Meds Cosméticos, não conseguia descansar por conta de problemas no trabalho e o término do seu noivado. Frustrado, ele toma um porre e logo em seguida vai atrás de remédios em uma drogaria para dormir. Acostumado a comprar tudo e todos, ele se surpreendeu quando a farmacêutica Gabriela o ajudou em um momento humilhante sem pedir nada em troca. Ela não queria seu dinheiro. Como Anderson não conseguia tirar Gabriela da cabeça e tinha um enorme problema de marketing nas mãos, voltou para a drogaria em busca de resolver suas pendências com um contrato de casamento. Ele buscava não perder mais dinheiro e também se vingar da sua ex-noiva. Gabs tentou fazer sua parte sem se envolver emocionalmente, mas não conseguiu controlar os sentimentos que eram singelamente retribuídos pelo CEO que não acreditava que o amor vinha de graça.
Capítulo 1 Gabriela
Quando vi o pessoal do meu turno ir embora junto com o dono da Drogaria, precisei me controlar para não xingar alto e jogar tudo para o ar. Não deveria estar nesse plantão, minha carga-horária de trabalho tinha extrapolado o máximo estipulado pela lei. Mas por algum motivo, aqui estava eu, trabalhando de graça. Sabia que meu patrão precisava me pagar hora extra ou um pagamento exclusivo para o plantão, mas desde que comecei a fazer pós-graduação e precisei usar sábado e domingo para assistir as aulas, aceitei trocar essa falta com plantão.
Onde eu estava com a cabeça? No final das contas, entrei em um ciclo vicioso, me desanimei e só sabia aceitar, já que não tinha nenhum outro emprego à vista. Não poderia me dar ao luxo de ficar desempregada, eu era sozinha, sem nenhum parente para me dar suporte quando precisava. Amigos? Eu tinha vários, mas exclusivos para as baladas, festas e dividir o Uber para voltar para casa, apenas isso. Não sabia explicar se era eu que me fechava para algo mais profundo ou eles que não se importavam. Ninguém sabia do meu sofrimento trabalhista a não ser eu, eu mesma e meu cantinho, que me escutava falar sozinha quando tinha uma folga. Eu vivia para trabalhar. A colega de trabalho que ficava comigo passava mais tempo olhando para o celular do que arranjando alguma coisa para fazer. Saí detrás do balcão e fui ajeitar os produtos nas gôndolas que ficavam com produtos de fácil acesso e que não precisaria de uma orientação mais avançada de um farmacêutico. A madrugada já estava no auge quando cheguei na parte dos produtos de beleza. Enquanto ajeitava-os e tirava o pó, lembrei do meu objetivo quando resolvi cursar a faculdade de farmácia, trabalhar em uma multinacional com produtos dermatológicos. O que me fascinou foi a parte de testes e o quanto essa área poderia evoluir, como por exemplo, deixar de usar animais para isso. Sentia que tinha sido traída por mim mesma, entrei no mercado de trabalho de uma forma desesperada para me bancar, uma vez que minha bolsa de estudos havia terminado. Desde então, há mais de cinco anos estou na mesma rotina de trabalhar em Drogarias que não pagam corretamente as horasextras e plantões. Quando minha vida iria mudar, ou melhor, em que momento eu arriscaria ir atrás do meu sonho? Olhei para a janela de vidro quando um carro entrou no estacionamento sem cuidado. Olhei as horas, era mais de uma da manhã, minha colega de trabalho estava no caixa, olhando para o celular e ignorando tudo ao redor. Como
sempre, eu teria que lidar com o bêbado em busca de um remédio para curar a ressaca ou o enjoo causado pelo excesso de álcool. Fui para o balcão do fundo e fiquei protegida por ele enquanto o homem entrava, de cabeça baixa e cambaleando. Ele olhou para alguns produtos e atenta para que não houvesse furto, já que descontariam do meu salário, acompanhei-o com o olhar se aproximar. Suas roupas tinham marcas que se destacavam, eram de grife. Dei uma olhada novamente no carro e ofusquei o sarcasmo que estava prestes a sair. Algum riquinho ou filhinho de papai estava bêbado no meu turno, algo raro, já que o bairro não costumava receber visitas tão luxuosas. — Como posso ajudar, senhor? — abordei falando alto e sua mão ergueu na altura do meu rosto para indicar que estava incomodado. — Um banheiro — resmungou. — Na porta à sua esquerda — respondi respirando fundo e orando para que a bagunça ficasse para a moça da limpeza quando eu saísse do meu plantão. Esse tipo de faxina era demais para mim. — Me ajuda? — Ergueu a cabeça vagarosamente e me fez segurar a respiração em expectativa. Os olhos claros me surpreenderam e ajudaram com que meus pulmões voltassem ao normal. A careta que ele fazia, como se qualquer movimento fosse difícil para ele me alertou que eu poderia limpar vômito no balcão se não agisse rápido. Dei a volta, segurei seu braço e o guiei até o banheiro. Ele não me deixou fechar a porta, ajoelhou no chão sem muita delicadeza e soltou tudo o que estava no estômago quando abriu a tampa do vaso. Virei de costas e respirei pela boca, para que o embrulho no meu estômago não me fizesse acompanhá-lo. Esse era o mal de fazer plantões como o meu, em pleno final de semana. Bêbados e pessoas que só queriam bagunçar cruzavam o meu caminho e faziam com que eu continuasse evitando amizades mais íntimas.
Escutei o barulho da descarga, depois da torneira da pia e me arrisquei espiar por cima do meu ombro para ver o que ele fazia. Limpava o rosto e a nuca, pelo menos tinha noção de como deveria se recompor sozinho. — Sinto muito — murmurou. Resolvi encará-lo de frente, coloquei as mãos para trás e ergui a sobrancelha. — Pelo menos você esperou chegar ao banheiro. Está melhor? — Tudo fazia parte do protocolo de atendimento. Mesmo que eu quisesse explodir alguém, continuava sorrindo e mostrando simpatia. — Confesso que nunca saberei quando estarei melhor. — Colocou água na boca para tirar o amargo que ficou e apontei para o enxague bucal que tinha numa prateleira acima. — Ótimo. — Se acha que não vai mais vomitar, tenho algo que você pode tomar que ajudará com a ânsia. — Não. — Fez gargarejo, limpou as mãos e saiu do banheiro. Aproveitei para pegar o aromatizador de ambiente em aerossol e passei para disfarçar o cheiro horrendo. Quando virei, lá estava o cliente, me olhando com culpa. Se não fosse pelos seus olhos claros, tinha certeza que não sorriria. — Sinto muito — falou novamente e o ajudei a se sentar em uma das cadeiras para a fila preferencial de atendimento. — Tudo bem. Você não quer remédio para enjoo, então, como posso ajudar? — Estou com uma receita — resmungou inclinando na minha direção e tirando do bolso de trás do jeans escuros um papel. — Preciso desse remédio. Quando meus olhos identificaram o significado do garrancho do médico, arregalei meus olhos e hesitei. Era um tarja preta e não deveria, em hipótese alguma, ser misturado com álcool. Conferi o nome para quem seria a receita e lá estava o nome masculino, Anderson. Um homem tão rico precisava de um calmante tão forte? — Você é Anderson?
— Se está preocupada que irei misturar o remédio com bebida, fique despreocupada. Eu só preciso dormir e esquecer da vida. Hoje eu não deveria ter bebido. — Tudo bem. Mas na dúvida, vou salientar o que você já sabe. Esse remédio com álcool pode potencializar o efeito além de causar danos cardíacos. — Ele segurou no meu braço para que não me afastasse. Seu olhar era curioso e o meu, assombrado. — Vou buscar o remédio, depois preciso preencher um formulário com seus dados. — Você será bem recompensada. — Faça isso no caixa. Da minha parte é apenas atendimento. — Sorri forçado, fui até a parte onde os medicamentos tarja preta estavam e busquei o que ele precisava. A única compensação extra que eu necessitava nessa vida era ser remunerada de forma justa pelo trabalho que prestava e ponto final. Um cliente riquinho, bêbado e precisando de calmante não poderia trazer isso. Foi interessante saber como o destino poderia me surpreender.
Capítulo 2 Gabriela
Depois de pegar seus dados, de assinar o papel para a fiscalização e ficarmos em um silêncio constrangedor, o cliente foi até o caixa pagar pelo produto. Por mais que minha vontade era de o acompanhar com o olhar, me obriguei a ficar de frente para o computador e passear pela grande lista de estoque que existia na tela. Percebi uma sombra perto de mim e assustei quando ergui o olhar e lá estava o homem estendendo a mão para mim. — Sou Anderson Medina. — Ele até parecia mais sóbrio. Claro, depois de soltar tudo de ruim no vaso, qualquer um se recuperaria.
— Olá, sou Gabriela — cumprimentei um pouco sem graça e temendo o rumo que daria essa apresentação. Eu deveria saber quem era ele? — Eu ainda quero te recompensar de alguma forma. Não é todo dia que alguém acode uma pessoa rica como eu e não aceita minha gorjeta. Tive que sorrir com escárnio, tirar minha mão da dele e morder a língua, porque a vontade era de falar tanta coisa... dinheiro resolveria muita coisa na minha vida, mas ele não me guia, nem me comandava. Não era à toa que trabalhava com remuneração inadequada, tinha situações que não sabia explicar o motivo, eu só fazia. De graça. Será que eu era a única no mundo que agia por impulso, sabia o quanto era errado e mesmo assim fazia? — Sinto muito que está cercado de pessoas em busca de compensação financeira. Apesar dos meus pais não estarem mais presentes na minha vida, eles deixaram uma boa educação, principalmente ajudar o próximo, se não for me aleijar. — Vi Anderson arregalar os olhos e dei de ombros não me importando com seu assombro. — Todo mundo precisa de dinheiro. Não quero ficar em dívida com você. — Senhor Anderson Medina, você não me deve nada. Tenha um bom resto de noite. — Controlei a raiva e me afastei, continuando atrás do balcão. Será que ele achava que algum dia iria cobrar algo dele? Ele me seguiu, respirou fundo várias vezes enquanto fiquei de costas olhando para as embalagens dos remédios. Era só o que me faltava, um bêbado da madrugada que encarnou em mim. — Pegue o dinheiro e faça uma doação. Eu não me importo, desde que aceite. — Percebi que tirava a carteira do bolso, virei em sua direção e dessa vez, quando toquei sua mão para impedir que pagasse minha ajuda de boa-fé, senti algo diferente. Seria minha raiva passando para ele? Apertei suas mãos e respirei fundo antes de despejar todas as minhas justificativas:
— Mesmo que eu doe esse dinheiro, você irá manchar meu ato de compaixão por um bêbado. Meu patrão pode me demitir por justa causa se ver essa gravação. — Apontei para a câmera em cima da minha cabeça e ele pareceu envergonhado. — Eu não te conheço e sendo rico ou pobre, eu ajudaria da mesma forma. Faz parte da minha função de farmacêutica. — Eu vi você olhando para o meu carro lá fora. — Ajeitou a postura e nossas mãos continuaram do mesmo jeito. — Sempre olho para fora. Estou apenas eu e minha colega, a drogaria já foi assaltada uma vez e te garanto, não é nem um pouco emocionante. — Porra, e ninguém coloca seguranças aqui? — Ele afastou sua mão da minha, guardou a carteira e passou alisou os cabelos olhando para tudo ao seu redor. Olhei para a minha colega no caixa e para variar, estava focada no celular. — Está tudo certo, senhor. Pode ir para casa tranquilo. — Você é farmacêutica? — Inclinou para olhar meu crachá e dei um passo para trás. — Sim, eu sou. Posso te ajudar em mais alguma coisa? — tentei soar profissional, para ver se essa conversa estranha mudasse de rumo, mas ele apoiou os braços no balcão e suspirou. — Me faz entender o motivo de não querer meu dinheiro. Eu poderia te pagar um salário três vezes maior do que seu empregador, o que ele tem que eu não tenho? — Você ainda está bêbado. — constatei quando vi seu olhar vagar para longe de mim. — Claro que estou. Nunca falaria ou entraria numa briga como essa. Eu quero, eu compro. Simples. Coloquei minhas mãos no balcão perto dos seus braços, sorri com pena e seu olhar desfocado encontrou o meu. O homem que achava que tudo poderia se comprar precisava entender uma dura realidade. Tudo bem que era provável que nem se lembrasse disso no outro dia, mas eu jogaria em sua cara o que aprendi de forma inversa.
— Anderson, nem tudo nessa vida precisamos pagar para ter. Caráter e respeito, por exemplo, aprendemos em casa ou na rua, mas não recebendo por isso. — Coloquei uma mão no seu ombro e percebi que retesou o corpo, perturbado com minhas palavras. — Vá para casa, esqueça o que aconteceu hoje e saiba que você não me deve nada. Você já pagou pelo seu remédio, não tome misturado com bebida alcoólica e durma com os anjos. Como não reagiu, dei a volta no balcão, acompanhei-o para fora da drogaria, até seu carro e o ajudei a se sentar no banco. A partir daqui, não era responsabilidade minha, por mais que uma fisgada no peito me fez querer ir atrás de um motorista para ele. Fechei a porta, virei as costas e deixei uma oração para seu anjo da guarda. Ele precisaria não só voltar seguro até sua casa, mas também de um pouco de amor verdadeiro e dinheiro não ajudaria com isso. — Você saiu? — Camila perguntou quando entrei de volta e bocejei exausta. Escutei o barulho do motor do carro e dei de ombros para aquela que só pensava no celular. — Ajudei um cliente a ir até seu carro. Não viu que ele estava bêbado? — Era mais fácil ter chamado um Uber. E se ele provocar um acidente e culpar a drogaria? — questionou indignada, olhei-a com assombro e depois fiz uma careta, dispensando sua preocupação. Por que ela mesma não atendeu o bêbado? — Está tudo certo. Fui para atrás do balcão, me sentei no banco que havia escondido e coloquei minha cabeça na parede, bocejando novamente. Deveria ter aceitado o dinheiro do presunçoso, ele havia roubado o pouco de energia que eu tinha para terminar meu turno. Depois de atender mais três clientes, os colegas de trabalho chegaram para iniciar o turno da manhã e pude seguir para casa, dormindo no ônibus e quase perdendo meu ponto.
Normalmente eu tomava banho para dormir, hoje, de tão exausta que havia ficado, tirei a roupa, fechei a janela e dormi de calcinha e sutiã. Meus sonhos tiveram muito a ver com um certo homem bonito, rico e que queria me comprar para ser sua escrava. Até em pensamento eu não escapava da minha sina de trabalhar de forma irregular.
Capítulo 3 Gabriela — Eu preciso descansar, senhor Guerra. Estou o mês inteiro fazendo plantão e descansando só um dia na semana. — Quando pediu horário especial para fazer a especialização, tive que colocar outra pessoa no seu lugar. Você aceitou essa condição, Gabriela. — Mesmo com seu tom controlado, sabia que estava perdendo a paciência.