Escolha Perfeita - Degustação

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Mari Sales 1ª. Edição 2019


Copyright © Mari Sales Todos os direitos reservados. Criado no Brasil. Edição Digital: Criativa TI Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.


Sumário Dedicatória Sinopse Capítulo 1 Murilo Capítulo 2 Maria Augusta Capítulo 3 Maria Augusta Capítulo 4 Murilo Capítulo 5 Maria Augusta


Capítulo 6 Maria Augusta Capítulo 7 Maria Augusta Capítulo 8 Murilo Capítulo 9 Murilo Capítulo 10 Maria Augusta Capítulo 11 Maria Augusta Capítulo 12 Maria Augusta Capítulo 13 Murilo Capítulo 14 Maria Augusta Capítulo 15 Maria Augusta Capítulo 16 Murilo Capítulo 17 Murilo


Capítulo 18 Maria Augusta Capítulo 19 Maria Augusta Capítulo 20 Murilo Capítulo 21 Maria Augusta Capítulo 22 Murilo Capítulo 23 Murilo Capítulo 24 Maria Augusta Capítulo 25 Maria Augusta Capítulo 26 Maria Augusta Capítulo 27 Maria Augusta Capítulo 28 Murilo Capítulo 29 Maria Augusta


EpĂ­logo Maria Augusta Agradecimentos Sobre a Autora Outras Obras


Dedicatória Para Maria Augusta, leitora querida e especial, que me deu oportunidade desde o primeiro lançamento. Você mora no meu coração!


Sinopse Nem sempre a vida de Murilo Antunes foi assim. Sua família agora era apenas ele e sua filha de cinco anos, que cuidava com muito carinho e proteção. Ele não deixaria que o abandono da mãe afetasse a criança que não tinha culpa pelas escolhas maternas. Ele seria autossuficiente. Ter uma rotina agitada como advogado e sensei, era quase certeza de que Murilo deixaria algo passar. O olhar observador e quase triste de Iara chamou atenção de Maria Augusta, professora de balé e curiosa de plantão. Envolvidos em uma competição de Judô, em plena comemoração da escola do dia dos pais, Guta e Murilo se veem envolvidos através de Iara. Primeiro ela se apaixonou pela criança e depois, sem perceber, já estava completamente admirada por esse pai dedicado e amoroso. Será que Murilo daria brecha para a aproximação dela? Não importava a resposta, uma vez que Guta estava disposta a tudo por conta da forte conexão que sentiu por eles.


Capítulo 1 Conhecer-se é dominar-se, dominar-se é triunfar. Jigoro Kano

Murilo

Sem conseguir tomar meu próprio café da manhã, coloquei Iara no banco de trás do carro, em cima do seu assento adaptado e fechei o cinto de segurança em seu corpo. — Pai, que horas são? Vamos nos atrasar. Era sempre a mesma coisa, todo dia era sempre a mesma pergunta e buscando paciência de algum lugar desconhecido, respirei fundo, dei a volta no carro e sentei no banco do motorista olhando para o painel e conferindo o


horário, 8:30hs. Iara precisaria estar na apresentação de dia dos pais em dez minutos, nunca daria tempo. — Está tudo sob controle, filha. Todos a bordo? — perguntei entusiasmado e me contentando com seu sorriso banguela. — Sim capitão papai! Vivia apressado, atrasado e acelerado. Não bastava trabalhar para o meu pai no período da manhã, alguns dias de tarde eu comandava o treino das turmas de Judô da escola que minha filha fazia parte e de noite, em outra instituição independente. Iara sempre estava comigo quando não estava estudando, ela já se acostumou e repetia para mim mesmo que estava fazendo meu melhor. Que Deus reconhecesse todo o esforço que eu fazia para suprir o que lhe faltava, sua mãe. Ilara era uma mulher maravilhosa e até alguns meses atrás, continuava no meu coração, com amor e dor por sua partida. Para minha filha, contei que sua mãe tinha ido viajar e estava muito ocupada com o trabalho, mas a verdade era que minha esposa tinha nos abandonado há dois anos. Com sua partida, entrei em modo tensão. Tirando os domingos de manhã, não me lembrava em que momento parei e tomei uma cerveja com Breno, meu amigo e colega de profissão. Ele me cobrava, sempre estava presente na minha vida, seja por telefone, no trabalho ou algumas vezes nas aulas noturnas de Judô. Estava dedicado em tempo integral como pai, porque Iara precisava de mim e não de uma babá para falsamente cobrir-lhe de afeto emprestado. Sentia-me culpado pelas atitudes da mulher que um dia amei, desde o momento que a engravidei com apenas dezessete anos, tendo eu vinte e cinco anos. Recém-formado, com um bom emprego ao lado do meu pai, eu enchia os olhos das mulheres que me envolvia e foi em uma balada que a conheci e me apaixonei.


Ilara nunca me falou diretamente, nem precisou, porque sua atitude de fazer uma mala e ir embora dizendo que buscaria sua felicidade profissional era o suficiente para acreditar que eu tinha estragado sua vida. Apesar desse sentimento enraizado no meu peito, nunca abaixei a cabeça ou me vitimizei, a não ser quando estava sozinho ou tomando banho. Sozinho com uma menina de cinco anos, eu tentava fazer o papel de pai e quando precisava, assumia o de mãe. Estacionei o carro rente a calçada, tirei minha filha do carro e com ela no colo, corri para dentro do teatro, onde aconteceria a apresentação do dia dos pais. Porra, eu já sabia que iria chorar, por isso colocava o celular na minha cara, para ocultar as lágrimas. — Que bom que Iara chegou, a turma dela será a próxima — a professora, que já me conhecia pelos atrasos e correria, tirou a menina do meu colo e andando, a levou por uma lateral do palco e eu fiquei de pé, encostado na parede, olhando a apresentação atual. Ser pai era padecer no paraíso. Sabia que eu era uma exceção à regra, que Breno, inclusive, me chamava de frouxo por não ir ao cartório e me separar oficialmente de Ilara, ou mesmo alienar minha filha quanto a mãe que nos abandonou. Como faria isso, se a conexão que eu tinha com essa mulher ainda era forte? Na verdade, estava enfraquecendo, pouco a pouco, me tornando indiferente a tudo o que se passou. Ela não voltaria, minha vida seria cuidar da minha filha, ser cobrado pelo meu pai, para assumir o escritório e bajulado pela minha mãe, que se esforçava sempre em não maldizer sobre a sua nora fujona. Nunca cogitei ir atrás dela, não valeria a pena reforçar o que já sabia. Éramos todos cobradores e devedores numa relação que teve fim abruptamente. Difícil não querer apontar culpados, ainda mais por saber que em algum momento, Iara irá querer saber a história completa e eu não saberia dizer sem ser a verdade do jeito como ela foi. Sabia que seria odiado pela minha filha, então, faria de tudo para aproveitar enquanto ela me amasse incondicionalmente, como todos os meus acertos e defeitos.


Atrapalhado com meus pensamentos, percebi que a minha filha estava no palco logo que a música começou a tocar. Apressei em pegar o celular, colocar para filmar e me deixar entregar a emoção de ver aquele pedaço de gente dizendo, com música e dança, o quanto me amava e me admirava. Eu amava essa criança com todas as minhas forças. Enquanto filmava, recebi uma mensagem de um dos meus alunos de Judô, precisando da minha presença na competição. Minha cabeça estava tão aérea, pensando na minha história de vida, que tinha esquecido completamente que teríamos o campeonato hoje. Bem, exagero da minha parte dizer que esqueci, uma vez que estava com minha roupa esportiva para colocar o judogui 1 por cima. Assim que a apresentação terminou, limpei as lágrimas dos meus olhos, me recompus e fui até a lateral do palco pegar Iara. Ela assistia e participava de todos os treinos que eu comandava. Estava se adaptando, via o quanto estava empenhada em querer aprender o esporte que eu tanto gostava. Teria muito orgulho se ela seguisse meus passos. Depois que Ilara se foi, meu bote salva vidas era ensinar outras crianças e minha própria filha a arte criada por Jigoro Kano. Não importava tamanho ou a força, mas sim habilidade e dedicação. Claro que isso não agradava meu pai, que me queria para ser seu herdeiro, mas eu administrava melhor a cobrança dele pelo meu sucesso profissional do que minha própria mente, quando queria se afundar em culpa. — Você pode pegar Iara para mim? — aproximei de uma professora que não conhecia, mas parecia vigiar a porta com atenção. — As crianças estarão liberadas depois que terminar todas as apresentações. — A mulher forçou um sorriso para mostrar delicadeza na sua dispensa, o que me fez aumentar a seriedade.

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judogui é o kimono de luta utilizado para os treinos de Judô.


— Minha filha já se apresentou, eu tenho outro compromisso. — O olhar julgador não foi disfarçado por ela, que abriu a boca para dizer algo, mas Clotilde, que me conhecia, apareceu e interrompeu: — Você precisa ir para competição, não é mesmo? — Olhei para a mulher que não queria me entregar Iara e depois para a outra professora. — Joaquim vai assim que terminar as apresentações. — Sua filha poderia esperar também — a outra falou e ignorei enquanto Clotilde ia encontrar Iara. Ninguém sabia o que era melhor para minha filha que não fosse eu, as pessoas tinham que parar de palpitar sem serem requisitadas. Cabisbaixa, Iara se aproximou de mim e abraçou minha cintura. — Você estava linda, minha filha. — Abaixei para pegá-la no colo e ela deitou a cabeça no meu ombro, estendendo a mão para alguém. — Está tudo bem, princesa. Tchau — aquela mulher acariciou a mão de Iara e eu caminhei com pressa, em direção ao carro, para seguirmos até a competição. Quando a coloquei no seu assento, alisei seu rostinho e beijei sua testa. — O que foi, filha? — Nada. — Suspirou e me olhou com uma careta. — Eu terei que competir? — Você falou que não queria, não dá para participar agora. — É, não quero mesmo, vou só assistir. Deixei essa conversa para ser explorada em outro momento, mesmo sabendo que na correria do dia de hoje, eu a esqueceria. Poderia ter deixado-a com meus pais, contratado uma babá, mas não confiava em ninguém para olhar minha filha. Com preocupação e orgulho, segui para o shopping, onde aconteceria o evento e como todos os dias, segui o fluxo da vida que fui obrigado a escolher.


Capítulo 2 A maneira de treinar depende de uma ação consciente, mas o objetivo do treinamento é conseguir o domínio da técnica, o que é inconsciente. Jigoro Kano

Maria Augusta — Que cara é essa, irmã? — Clotilde me abordou assim que as apresentações do dia dos pais encerraram. Peguei na mão de Joaquim e seguimos para fora do teatro, onde outras professoras ficariam responsáveis por arrumar tudo. — Sei que não podemos julgar, mas estou indignada com aquele pai.


— Com o sensei Murilo? — ela questionou assustada, olhou para baixo com a intenção de conferir se o filho estava atento e depois para mim. — O que aconteceu? — Ele não poderia ter esperado até o final da apresentação? — Aproximei dela e falei baixo: — Conversei com a Iara, tenho observado seu comportamento, ela é muito retraída. — Você não sabe da missa um terço. — Revirou os olhos enquanto caminhávamos com pressa até o seu carro. — Mãe, o papai já viu o vídeo? — o pequeno perguntou quando foi colocado dentro do carro. Domingos, o marido da minha irmã, estava em uma viagem à trabalho e voltaria apenas no final do dia. — Já vou enviar. Calma. Estamos indo para a competição de Judô. — Viva! — ele levantou as mãos para o ar e vibrou, me fazendo sorrir para o sobrinho de seis anos. — Sensei Murilo é pai solteiro — minha irmã falou depois que fechou a porta. — Por isso que Iara é mais tímida e retraída, porque a mãe abandonou os dois. — Como assim? — Ela colocou a mão na minha boca e me repreendeu com o olhar, conferindo se alguém tinha escutado algo. Senti meu coração acelerar, não só por sentir tristeza por ela, mas também por perceber que o pai havia virado uma fortaleza. — Não diga para ninguém. Eu sei, porque um dia precisei de um advogado e fui à empresa dele. Conversamos e ele se abriu comigo. — Sensei advogado? — questionei entrando no carro e ela dando a volta para sentar à frente do volante. — Sim, essa parte eu não sei, já que as aulas de Judô não devem dar tanta renda quanto o trabalho de advogado, mas isso é tudo o que sei e você irá só observar.


— Por que Iara não faz balé como as outras meninas da sua idade? — questionei por curiosidade, uma vez que o olhar da menina, quando a aprontei para a apresentação, era um grande conhecido meu. Não era de uma criança triste ou abandonada, mas de alguém que estava sendo obrigada a fazer algo que não queria. — Iara faz Judô comigo, tia — foi Joaquim quem respondeu e uma troca de olhar com minha irmã foi o suficiente para encerrarmos o assunto. Estava indo para a tal competição e reencontraria os dois. Não sabia explicar meu interesse súbito nesses dois, mas sempre escutei minha intuição e continuaria agindo da mesma forma. Abri meu próprio estúdio de balé clássico assim que formei em Fisioterapia. Mamãe nunca se frustrou por eu ter seguido meus sonhos ao invés da graduação, na verdade, uma profissão ajuda a outra, me sinto uma professora completa. Com mais de quinze anos praticando balé, porém, sem ambição de uma carreira como bailarina, percebi que minha verdadeira paixão era ensinar. Com alunas de três a cinquenta anos, eu mantinha um ritmo de trabalho confortável, até que a vaga na escola da minha irmã surgiu, há uma semana. Parecia o destino me obrigando a ficar mais próxima da minha família, uma vez que tão focada no meu mundo profissional, deixava de participar das reuniões de família. Ah, mas eu estava sempre envolvida com a família dos outros, das mães que obrigavam as filhas a praticarem balé mesmo que não queriam, ou aquelas que se sacrificavam apenas para pagar a mensalidade e ficavam nas cadeiras, observando as aulas. Eu conhecia o olhar de quem não gostava de balé e era esse olhar que a pequena Iara me deu quando estendeu sua mão para mim. Isso me fez recordar de outras vezes, quando buscava as crianças em sua sala de aula e apenas poucas alunas ficavam de fora, incluindo ela. Será que o tal sensei Murilo não sabia que a filha queria fazer balé e não Judô? Audácia da minha parte pressupor isso, eu sabia e para tirar minhas


dúvidas, ficaria com minha irmã na competição de Judô e buscaria a menina para saber mais do seu interesse. — Pega o quimono dele no porta-malas — Clotilde me pediu quando parou o carro, corri para trás e trouxe a mala com o que ela pediu. Rapidamente mudou de menino em homenagem ao dia dos pais para um judoca. Sorri ao vê-lo radiante caminhar na nossa frente enquanto seguíamos para onde seria a competição. Era assim que uma criança se sentia quando praticava um esporte que gostava e não tão cabisbaixa quanto Iara. Minha animação foi abalada quando vi a quantidade de pessoas na área onde aconteceria as lutas. Barulho, pessoas passando e muita agitação me fizeram entrar em modo séria até encontrarmos a equipe técnica, ficharmos o Joaquim e esperarmos a vez dele na arquibancada. Assim que sentei, meus olhos buscaram o sensei e a sua filha. — Meu Deus, está lotado demais! — minha irmã resmungou e acenei em concordância. — O que foi? — O quê? — perguntei confusa e ela sorriu para mim, negando com a cabeça. — Você quer saber mais deles, não é? Desde pequena você é assim, encucava com algo, só parava quando sabia todos os mínimos detalhes. — Olhei-a divertida. — Foi assim com o balé, com o corpo humano... — Está vendo coisas, irmã. Foca nas lutas, daqui a pouco é a vez de Joaquim — desconversei, porque essa era a verdade e não queria assumir. Eu era a irmã mais nova, curiosa e que seguia seus passos. Ela se tornou pedagoga, depois se casou com Domingos e construíram uma família. Mesmo com meus vinte e seis anos, não tinha essa ambição de casar e ter filhos, uma vez que o balé me completava e as crianças que eu lidava supria essa necessidade. Como sempre, minha família nunca me cobrou nada além de ser feliz e eu era.


Voltando a minha busca, não precisei de muito para encontrar o homem e a criança que queria saber mais. Acenando para nós, no caso, para Joaquin, saímos da arquibancada e os acompanhamos até um canto, onde mais judocas estavam. — Oi professora — Iara me cumprimentou com um sorriso tímido e depois minha irmã.


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