Piratas Moto Clube (Mulheres no Poder Livro 3) - Degustação

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Sinopse Ser o presidente do Piratas Moto Clube nunca tinha passado pela cabeça de Richard Collins, um homem respeitado e de valores tradicionais. Ele assumiu o posto de chefe de família muito cedo e isso trouxe sequelas para sua confiança. Apesar disso, ninguém sabia que debaixo daquela postura firme e cheia de argumentos morava um homem assombrado pelas suas limitações. Nina está envolvida em todos os assuntos dos seus amigos, principalmente quando Richard, seu Lorde da vida, está em causa. Quando ele precisa de proteção extra, além do que já tem por causa de JFreeman, ela não só se voluntaria, mas decide investir, finalmente, na sua atração pelo homem que é o verdadeiro príncipe de terno e gravata. Apesar de serem de mundos diferentes e com convicções completamente opostas, as circunstâncias colocarão à prova tudo o que acreditam, inclusive seus próprios medos. As aparências trazem julgamentos precipitados e as histórias de família mal contadas também. Existem muito mais segredos pirateados do que ocultos nessa história.


Prólogo Richard Eu não mudei, pensei enquanto ofegava por causa do esforço físico da minha corrida noturna. Não era um hábito, mas quando minhas crises de ansiedade resolviam aparecer, essa era a única forma de me acalmar. Meu dia no escritório foi tenso, precisava extravasar. Kevin, meu segurança, há muito não me acompanhava nesses momentos, por causa da pulseira que carregava. Ela não só passava minha localização, mas também meu ritmo cardíaco e tinha um botão de pânico. Contudo, durante o horário comercial, ele era minha sombra. Corria pelo meu bairro, no máximo dois quilômetros de distância do apartamento que morava, orientação obrigatória do meu segurança a ser seguida. Até hoje não consegui me livrar dele, tanto pelo meu receio de ser sequestrado novamente quanto pela preocupação da minha irmã. Rachel não morava mais comigo. Agora, senhora do ex-presidente do Aranhas Moto Clube, morava rodeada de luxo e segurança. Victor, meu cunhado, não era mais um bandido e começou a nos ajudar no escritório. Ele era nosso detetive particular, logo, conseguir informação extraoficial era com ele mesmo.


Nossa arrogância e ego, necessários em nossa profissão, estavam abalados pelo que nos aconteceu, mas a recuperação estava a todo vapor. Rachel conseguiu muito mais rápido do que eu, já que tinha um fã vinte e quatro horas com ela, solidificando o que todo mundo já sabia, que ela era uma mulher poderosa. Sorrio enquanto faço uma curva na rua, sem perder o ritmo da corrida. Minha irmã finalmente conseguiu um homem que a dominasse e amasse na mesma intensidade que sua arrogância. Meu cunhado tinha sorte por tê-la ao seu lado e as ameaças foram devidamente feitas quando ele chegou ao nosso apartamento com suas malas, pronto para ficar. Victor Aranha era intimidante, mas eu era o irmão mais velho. Focado em meus devaneios, não percebo que sigo direto para o local onde acontece uma briga. Estou a duas quadras de distância e desacelero meus passos. Poucos segundos foram necessários para um homem da briga apontar uma arma e atirar no peito de outro. O som era oco, provavelmente o atirador usou um supressor, conhecido popularmente como silenciador. Estava a uma quadra de distância agora, eles não poderiam me ver por causa da pouca iluminação, mas eu conseguia vê-los. — Como? — falo baixo e assustado. Todo o esforço para controlar minha ansiedade foi em vão no momento em que vejo as duas pessoas que ficaram de pé subirem em suas motos, abandonando o homem baleado estirado no chão. Será que as motos continuariam a me perseguir? Quatro meses se passaram desde o meu rapto e o barulho dessas máquinas ainda faziam meu coração bater acelerado. Com minha necessidade de extravasar minha ansiedade, segui correndo até o homem baleado. Olhei para os lados e percebi que estava afastado do meu apartamento, para dentro do bairro, onde há pouco movimento de pessoas e carros. Aperto o botão do pânico no meu pulso, para chamar Kevin e me ajoelho ao lado do corpo. Estou sem celular, então, ele é meu único socorro. O homem era mais velho, barba espessa e cabelos compridos presos em uma bandana azul. O homem parecia um pirata moderno. — Droga! — praguejei assim que atestei que esse homem era um integrante do Piratas Moto Clube, justamente por causa do lenço na cabeça e a tatuagem em seu braço, o símbolo do clube. Olhei para seu peito encharcado de sangue, mas oculto pela camiseta preta e coloquei minha mão para estancar o sangramento. Ele vestia um colete de couro e tinha certeza que atrás estaria o mesmo símbolo da tatuagem.


Reparei um pouco mais na sua roupa e precisei aproximar meus olhos para confirmar o que estava lendo. — Perez Pres. Esse homem é... — Vingança! — o moribundo abaixo da minha mão falou e tossiu, cuspindo sangue. — Quem fez isso com você? — Aproximei meu ouvido da sua boca, na ansiedade de saber quem o executou. Eu tinha visto as duas pessoas, mas não saberia dizer suas características, apenas que vestiam roupas parecidas com a dele. — Traidor... Vingança... — gemeu. Afastei meu rosto enquanto ele tossia mais e com grande esforço, levantou o braço e removeu sua bandana da cabeça. — Vingança! — disse enérgico e direcionou sua mão para mim, ofertando o símbolo que o caracterizava como Pirata. — Por favor, se acalme, a ajuda está a caminho. Seria melhor o senhor me dizer quem eram as pessoas, se você os conhecia, do que qualquer outra informação solta. Eu sou bom com negociação, não com charadas. — Tento manter a calma, quando o que mais quero é não parar de perguntar. Ele quer que eu o vingue? Ele tem um traidor em seu Moto Clube? Quem é? O que aconteceu? — Richard! — escuto meu segurança gritar assim que se aproxima de mim, a pé. Tento virar meu rosto para responder, mas o homem que estou tentando socorrer me puxa para perto dele com uma mão na minha camiseta. Era a mesma mão que segurava o lenço azul. — Não deixe... com que... — Tossiu um pouco. — Me prometa! Não deixe o Piratas morrer! — Mais tosse. — Pelo sangue e pela irmandade, tome sua bandana, Pirata! — Ele me soltou, fechou os olhos e deixou a mão cair ao seu lado. — Richard, o que aconteceu? — Kevin, com seu porte físico avantajado e musculoso agachou do meu lado e observou a cena. — O que Perez está fazendo estirado no chão? Antes de respondê-lo, peguei a bandana que me foi ofertada e respirei fundo. Esse homem queria vingança e pelo visto, seu Moto Clube estava em perigo. Ele não respirava mais, não sentia nenhum movimento debaixo da minha mão. Perez havia morrido e novamente, presenciei e não evitei o pior. Pelo sangue e pela irmandade, tome sua bandana, Pirata! — Kevin, eu vi duas pessoas abordarem esse homem, atirando à queima-roupa. Eles fugiram de moto, não reparei qual era o modelo ou a placa, só sei que presenciei esse atentado e agora o homem me fez prometer não deixar o Piratas morrer. — Olho para meu segurança, que encarava o homem


no chão enquanto tinha um celular no seu ouvido. — Eu só estava correndo, porque meu dia foi uma merda, aquele advogado da outra parte era um esnobe que me fez mendigar até conseguir um acordo decente para o meu cliente. Estava estressado... — Calma, Richard! — ele me interrompeu colocando uma mão no meu ombro e apertando, enquanto a outra guardava seu celular. Minha crise de ansiedade começou a tomar conta das minhas ações e meu segurança já havia presenciado várias delas. Depois do meu sequestro, tudo o que lutei para esconder, o tanto que fiz para me portar como forte e centrado foi jogado pelo ralo. Não passava de um homem fraco e descontrolado. Pensei que a atividade física na academia e boxe poderiam fazer com que minha confiança retornasse, mas foi em vão. Eu era um bom advogado, mas um homem descartável. — Eu preciso... — Você vai respirar fundo e eu vou cuidar de tudo. Já avisei meus superiores, esse caso não é de polícia. — Como assim? Você não ligou para o socorro médico? Para a polícia? Kevin, pelo... — Esse é o presidente do Piratas Moto Clube. Conheço esse homem, porque foi ele que conseguiu meu emprego na ESP Trent. Ele é honesto e ajudou muita gente, não merecia esse fim. Mas, se ele foi executado, então... — Seu olhar era sombrio e suas feições eram de raiva. Kevin foi afetado pelo o que aconteceu com o presidente. — Então o quê? — Apertei o tecido na minha mão, sentindo minha raiva transpassar a ansiedade. Esse homem não merecia morrer, já que Kevin relatou que nada justificava seu assassinato. — Então, acabou de começar uma guerra e somos os principais suspeitos.


Capítulo 1 Nina — Acha que não sei? Você sonha comigo na sua cama... — provoquei Jack um pouco antes de virar uma dose de tequila e engolir todo o líquido de uma vez. Eu sempre tive resistência para bebida alcoólica, algo que meu pai odiava. — Se você continuar dançando desse jeito, te levarei à força até o banheiro e te mostrarei do que sou capaz. — Transbordando desejo e com os olhos semicerrados, Jack me cobiça. Estávamos em um dos bares gerenciados pelos Piratas Moto Clube, era noite de sexta-feira, momento do meu happy hour com meu amigo não colorido. Depois de nosso momento carência no Arizona, enquanto o pai de Valentine se despedia desse mundo, nos tornamos amigos, nossas diferenças foram esquecidas. Bem, Jack queria me transformar numa Valentine antes de Doc, mas como já conhecia os dois lados da moeda, tanto do rejeitador quanto do rejeitado, fiz questão de ser a perdição para esse aproveitador. Dentro de mim havia um fogo que estava doido para ser apagado por Jack. Ele era lindo, com todos os pré-requisitos para bad boy e tinha uma moto.


Mas mais do que meu fogo, eu era orgulhosa, nunca seria a última opção de alguém. Eu era a pessoa que afastava os homens depois de uma boa noite de sexo e não o contrário. Com Jack, isso mudaria e com certeza me faria rastejar por ele. Nem morta! Outro ponto que pesava muito ao me envolver com Jack era o código de amigas. Valentine não se importava com seu amigo, se não me engano, a relação entre eles acabou completamente. Mas para mim, homem ou ex de amiga minha era santo, porque se fosse mulher, ainda correria o risco de eu pegar. Porque sou dessas... Coloco meus braços em volta do pescoço de Jack, que estava sentando em um dos bancos do bar e sorrio. Quando ele se aproximou para querer me beijar, soltei dele, virei de costas e continuei a dança bem sensual. — Você está fazendo isso de propósito — rosnou no meu ouvido e fugi da sua pegada. Virei de frente para ele, afastada o suficiente para continuar a dançar de forma sensual. A música estava baixa, mas meu nível de provocação estava alto. Com calça preta de couro, blusa branca colada no corpo e mostrando meu sutiã azul marinho cheio de tiras, deixei muitos homens babando no bar até Jack afastá-los. Empata-foda. — Claro que estou, Jack. Adoro ver sua cara de gato quando vê um pássaro. — Pisquei um olho para ele, bati minha mão no balcão e chamei a atenção do barman: — Mais uma dose, amigo! — Vamos para minha cama, só essa noite — como todas as sextasfeiras, ele mendigava. — Me deixe fazer fio terra, então irei. — Sorrio de orelha a orelha quando ele faz uma careta de nojo. Essa é sempre a minha resposta. Esses homens brutos repudiavam qualquer coisa que envolvesse seu orifício protegido. Falo isso apenas para afastá-lo. — Um dia vou aceitar sua proposta e farei fio terra em você também. Cheguei bem próximo a ele, colei meus lábios no seu ouvido e sussurrei: — É a minha posição preferida. Senti suas mãos na minha cintura e ele abriu suas pernas para me acomodar. Sua ereção estava evidente e com certeza teria caído nas suas garras, mas não me importava mais, porque uma antiga vagabunda conhecida


adentrou o bar e meu sangue gelou de ódio. Sabia que ela estava com os Piratas, mas vê-la de verdade me fez ferver. Lena, a ex-senhora de John Savage, dos Selvagens e ex-senhora de Clin, do extinto Aranhas. — Está sentindo isso? — Jack moveu seu quadril no meu e bati minha mão na sua cabeça, para que me soltasse. — Qual seu problema, Nina? — Meu problema é ter a confirmação de que essa mulher está entre vocês! — Bati no seu ombro com a mão aberta e olhei irritada para ele. A brincadeira de provocação acabou. Sentei no banco ao lado e tomei a dose que estava me aguardando. — Para com essa picuinha, Nina. Lena está apenas se divertindo com alguns irmãos. Quem é você para julgar? Olhei para Jack e tive vontade de chutar suas bolas. Julgar? Não, eu queria era fazer picadinho dessa mulher. — Não estou julgando ninguém aqui, Zé Mané! Ela esteve envolvida com atentados contra Val e Rachel, minhas amigas. Coincidência? — perguntei irritada. — Vai me dizer que você acha que ela é uma mente maligna? Quem estava envolvida com o atentado eram seus homens e não ela — zombou Jack e encarou Lena. Com simpatia, a loira acenou para nosso lado e minha vontade era de levantar o dedo médio. Um homem apareceu afobado no bar e um alvoroço começou a se formar. Jack levantou do seu banco e seguiu em direção ao tumulto, comigo o seguindo. — Vamos para a sede e lá confirmaremos sua informação — escutei um dos braços direito de Perez, o presidente do Piratas Moto clube, dizer ao recém-chegado. Em alerta, olhei para todos os lados, guardei a localização de Lena e as características físicas do rapaz com a informação que precisava ser confirmada. Pele dourada, cabelos longos, pouca barba e porte médio. Talvez uns trinta anos e não parecia ser membro de nenhum Moto Clube da cidade. Apesar dos problemas do MC não serem da minha competência, eu tinha um fraco e esse era ajudar as pessoas que estimava. Jack parecia ser um idiota, mas tinha conseguido um lugar cativo no meu coração. — Fique aí, depois continuaremos nossa conversa, Nina — Jack me dispensou falando por cima do seu ombro e vejo todos os irmãos e senhoras seguindo para fora do bar. Se ele pensa que consegue me impedir de saber o que realmente está acontecendo, está terrivelmente enganado.


Acompanhando o fluxo, sigo para fora do bar e monto na minha moto esportiva. Piratas não seguia com um padrão de motocicletas, apesar de a maioria ser estradeira. Eles saíram um a um para longe e fiz um percurso alternativo para chegar até a sede do Moto Clube. Minha intuição dizia que algo ruim aconteceu e tinha tudo a ver com algum conhecido. Porque tudo o que acontecia ao meu redor, tinha a ver comigo. O que eu poderia fazer? Eu era um ímã de confusão e aventura! Meu celular vibra na minha calça e aciono no meu capacete o fone bluetooth. — Quem me incomoda? Não é o momento — saúdo com pressa enquanto cruzo quadras desertas. Precisava chegar à sede e descobrir o que estava acontecendo. — É Kevin. Perez está morto — o segurança pessoal de Richard, meu braço direito na ESP Trent, anunciou e precisei parar minha moto, pois quase perdi o controle dela. Então, essa era informação que eles precisavam saber? Falar com ele me lembrou do único homem que sonhei em casar, seu protegido. Quando conheci Richard e seu jeito cortês de tratar as mulheres, entreguei meu coração de bandeja para ele sem saber. Brincava muito com ele e com seu jeito tímido perto de mim. Ele era meu Lorde. Nunca teria chance com esse homem e tentava ao máximo não persegui-lo. Apesar da perua da irmã dele já ter me passado tudo o que precisava saber para conquistá-lo, eu tinha medo da sua rejeição. Enquanto estivesse no controle da brincadeira, ninguém sairia ferido, muito menos o meu coração. — Como você sabe, Kevin? — Com a moto parada ao lado do meio fio, minha respiração começa a acelerar, imaginando a sua resposta. — Richard presenciou a execução do presidente do Moto Clube e está coberto de sangue tentando salvá-lo. Somos as únicas testemunhas. — Mas ele está vivo ou está morto? Richard identificou algum dos assassinos? — Fechei os olhos, buscando controle e orientação pela minha intuição. Era boa em trabalhar sob pressão, só precisava pensar rápido. — Perez está morto. Já liguei para Tom e os meninos da limpeza. Não podemos omitir esse corpo, já estamos sujos demais. Richard... — ele respira de forma audível — ele está tentando controlar sua crise de ansiedade. Droga. Ir para o moto clube ou para o Lorde?


Sem pensar muito, liguei a moto, dei instruções para Kevin e segui para onde meu coração mandou.


Capítulo 2 Nina Havia chegado um pouco antes da van da minha empresa. Era toda preta e tinha um desenho indicando limpeza. Meus meninos eram sarcásticos até no serviço mais delicado. O ato de limpar era sumir com provas que incriminassem nossos protegidos. O serviço de segurança particular era apenas para clientes com a ficha limpa e a limpeza era um meio de evitar a burocracia dos advogados. Que Rachel não me escute! Saio da moto, tiro o capacete com pressa e corro em direção a Richard. — E aí, Lorde. Não cansou de fortes emoções? — Como meu cartão de visitas, fiz uma piada e mostrei meu melhor sorriso para o homem que estava ficando verde, provavelmente segurando a ânsia de vômito. Seus olhos encontram os meus e um misto de sentimentos me invade ao encará-los. Ele estava com medo e muita vergonha. Derrota, esse seria o verdadeiro sentimento expressado. Ele ainda estava ajoelhado ao lado do corpo e não sabia se o removia dali ou o deixava fazer por conta própria.


— Nina, temos o perímetro cercado e estamos prontos para remover o corpo. — Tom, o ex-membro do Aranhas Moto Clube se aproxima e me faz encará-lo. Olhos claros, cabelos loiros e porte atlético, ele me aborda como se eu fosse a autoridade. Ganhou meu respeito e uma posição de comando quando, na sua primeira missão, levou uma bala pelo nosso cliente. Ele era competente e sua palavra valia muito. O tipo de homem que colocava na chefia de olhos fechados. — Espere minha direção, vou chamar meu contato no Piratas. — Viro para Kevin e Richard. — Vocês estão bem? — Suavizo minha voz e recebo uma careta do meu colaborador. — Eu cuido dele, chefe — Kevin me dispensou, com certeza na intenção de preservar o pouco de macheza de Lorde. — Não sou nenhum moleque. — Irritado, Richard se levanta com as mãos cheias de sangue e olha para sua roupa, sem saber o que fazer para limpá-las. — Precisa de ajuda com os Piratas? Eu vou depor, direi a minha versão e o pouco que me restou de reputação como advogado servirá de peso nas minhas palavras. Olho suas mãos trêmulas e percebo o grande esforço que ele está fazendo para assumir tal responsabilidade. Queria dizer que não precisava se portar com bravura, que seu temor, a ansiedade, não eram vergonha. Na verdade, isso mostrava o quanto era forte por viver com aquilo há tanto tempo. Mas vivia com homens, sabia como eles funcionavam e não me permiti aliviar, por mais que meu coração quisesse abrandar. — Ótimo, iremos precisar. — Sorri quando ele segurou a respiração, provavelmente para evitar vomitar ao constatar que iria encarar um monte de motociclistas irritados. Virei minhas costas para ele, peguei meu celular e liguei para Jack. O homem não me atendeu na primeira ligação e insisti feito uma namorada ciumenta. — Atende logo, Zé Mané! — resmunguei quando estava indo para a quinta ligação. — Nina, não é um bom momento — ele atende depois de vários toques e suspiro aliviada. — Oh, meu amigo, é o momento oportuno. Eu e meus rapazes estamos com Perez — não fiz rodeios e falei com toda a seriedade que tinha. — O quê? — Escutei ele falar com as pessoas ao seu redor e depois continuou: — Nina, você não é assim, Perez está desaparecido... por que está com você? — Eu não fiz nada, estou protegendo a testemunha. Vou te mandar a localização, ESP Trent está bloqueando o perímetro, mas irei autorizar você e


dois membros de alto escalão para conversarmos. — Olhei por cima do meu ombro para Richard e fiz uma oração. Isso era muito pior do que Rachel se envolvendo com o mafioso Victor. — Ele está morto, não é? — Escutei um alvoroço na linha e tenho certeza que o caos estava dominando a sede do Moto Clube. — Jack, você me conhece, eu protejo. Kevin é uma das testemunhas também e você sabe o quanto ele respeitava Perez. Todos respeitavam Perez. — Então, deixe que todos os Piratas vejam por seus próprios olhos o que aconteceu. — Jack, diferente dos Piratas, eu confio na minha equipe. No momento que vocês receberam Lena, mesmo que seja só para diversão, minha confiança no Piratas se resumiu a você. — Ele tentou me interromper, então continuei com mais firmeza na voz: — Eu não arriscarei perder ninguém da minha equipe porque vocês não acreditam nas testemunhas. Sei o quanto podem ser violentos em ocasiões extremas. Venha você e outros dois. — Ainda com esse papo, Nina? Ela é apenas uma vadia... — Bufa com frustração. — Eles não irão aceitar. — Bem, estou acionando os Selvagens e todos os seus parceiros. E... Ah! — Sorrio com malícia, porque eu tinha uma carta na manga. — A segunda testemunha é Richard Collins, cunhado do Victor Aranha. Ele pode ter perdido seu posto de mafioso, mas sabe o quanto ele ainda tem poder. — Você não joga limpo — Jack resmungou e tentou acalmar quem estava ao seu lado. — Pelo contrário, eu coloco todas as cartas na mesa. Venham logo, tenho tudo sob controle para encaminhar o corpo para onde vocês quiserem. — Estamos a caminho. Encerro a ligação, envio a localização e volto para onde Tom, Kevin e Richard estavam. — Bem, três Piratas estarão aqui para avaliar a situação antes de remover o corpo. Por segurança extra, acionarei meus contatos com outros Moto Clubes e Victor. — Olhei para Richard, que já balançava sua cabeça em negação. — Deixe minha irmã e seu homem fora disso. Eles já passaram por muito. Sei me cuidar, conversarei com os Piratas, não precisa desse alarde todo. — Parecia zangado comigo. Imagino-me colocando meus braços em seu pescoço, beijando a sua boca e dizendo um enorme não, seu teimoso contra seus lábios. Porém, preciso me contentar com:


— Tudo bem, você se vira sozinho, mas não eu. — Pisquei um olho para ele, olhei para Tom, como um sinal para avisar os homens sobre os três visitantes e peguei meu celular. — Mulher teimosa. Eu sei negociar, trabalho com isso, se você já se esqueceu. — Ele se aproxima de mim e não resisto ao rolar meus olhos. Homens e seus egos. — Lorde, eu não esqueço nada que tem a ver com você. — Percebo seu desconforto e completo a ligação para minha amiga. — Hei, Vadia! — Oi, Nina, você sabe que horas são? — resmungou sonolenta. — Bem, diferente de você, não tenho um corpo quente e sarado igual do Doc para dormir antes da meia-noite. — Pare de enrolar, diga o que quer. — Seu amor, seu apoio... — Não resisto à brincadeira, mas suspiro quando escuto um rosnado. — Uau, muito brava? Tudo bem, tudo bem, é o seguinte. Preciso do seu apoio à ESP Trent como Selvagem, porque estamos no meio de algo grande aqui. — Oh, Nina, o que aconteceu? — Escuto o farfalhar de tecido e imagino que ela esteja se levantando da cama. — Preciso de alguns minutos, já vou acionar nossa rede. Amava minha amiga, porque mesmo não sabendo o que aconteceu, ela iria me apoiar e confiava em mim. — Tirando o assassinato do presidente Perez, sua ex-madrasta está se esfregando nos Piratas. — Afasto-me de Richard e olho para todos os cantos do bairro, gravando possíveis rotas de fuga ou esconderijos. Minha mente funcionava como um segurança vinte e quatro horas por dia. — Como é que é? Volta e sem gracinhas. Assassinato do pres... — Eu brinco, Vadia, mas não minto. Pres Perez foi assassinado. Richard Collins testemunhou o ocorrido e não há nenhuma outra pessoa para confirmar a versão dele a não ser seu segurança, que é meu funcionário Kevin. — Quando eu acho que não poderia piorar... — fala baixo e suspira. — Precisa de mim aí? Algum dos rapazes? — Você, presidente do Selvagens, eu preciso apenas do apoio. Envie Rock, se ele estiver livre. Vou precisar de apoio extra, já que não engulo Lena. — Pegue uma senha, irmã. Só espero que Jack não se envolva com ela. Você sabe que pode confiar nele como pessoa, só não como... — Parceiro, deixou subtendido. — Ah, não se preocupe, Jack faz algo como isso e ele será um homem sem bolas. Sei que posso confiar nele, só não no seu pau. — Viro para encarar


os dois homens de longe e vejo os punhos de Richard fechados, buscando controle. — Já estou enviando reforços. Me ligue se precisar de mais alguma coisa. — Pode ter certeza que sim. Desligo e faço uma nova ligação, dessa vez, para a presidente do Moto Clube que um dia fiz parte. — Ninoca, está a caminho? A festa começou agora... — Martinha, preciso de você... Porque, diferente de certas pessoas orgulhosas, eu não tinha vergonha de pedir ajuda, fazia questão de me armar até os dentes.


Capítulo 3 Nina Depois de ligar para Rachel e escutá-la surtar com Victor, para não se envolver em mais confusão além do que o normal, escuto motos se aproximando e constato ser Jack e outros dois membros do Piratas. Guardo meu telefone no bolso de trás da calça e os acompanho até o corpo do seu presidente. — Boa noite, irmãos — cumprimento os recém-chegados como se eles fazem no clube. — Porra... — barbudo e com longos cabelos mesclados entre preto e branco, o homem xinga cada vez mais que encara o corpo no chão. Ele parecia ter a mesma idade que Perez tinha, acima de quarenta anos e usava um lenço azul em volta do seu pulso. — Quem é o suspeito? — o outro homem, mais jovem, menos barba e menos cabelo, porém não menos irritado, pergunta olhando para Kevin e Richard. Sua bandana estava em seu braço, também da cor azul. — Não há suspeitos aqui. Vocês me conhecem, podem confiar na minha palavra. — Encaro Jack com ferocidade, que usava seu símbolo de pirata azul, preso ao seu colete do Moto Clube.


— Nina, esses são Connor, o vice-presidente e seu filho Max — ele disse olhando para mim e depois falou para seus companheiros: — Não é momento para desfazer alianças e sim, fortalecer — Jack intercede. — Vamos escutar as testemunhas antes de tirarmos conclusões precipitadas. Vejo pela minha visão periférica Richard se aproximar e todos os meus sentidos ficam em alerta. — Boa noite, senhores. Eu sou Richard Collins, presenciei o... — O homem mais velho avança para cima dele e acerta um soco em seu rosto. Tanto eu, como Jack e Max tentamos segurar o agressor. — Você está louco? — grito na cara de Connor antes de verificar meu Lorde. Vejo Richard cambalear para trás e ser socorrido por Kevin. Ele ergue seu rosto e uma marca no seu queixo aparece. Ele tenta revidar, mas é impedido. — Calma, calma... — Kevin diz de forma conciliatória. — Eu não matei seu chefe! — Richard esbraveja enquanto é segurado. Nunca o vi tão descontrolado. — Quem me garante? Só tem você aqui e está coberto de sangue! Você desonrou um Pirata e pagará com a vida! — Connor responde à altura. — Foram motociclistas que o executaram! Eram dois, todos vestidos de preto. — Richard parecia começar a manter a calma, se livrou do aperto de Kevin de forma bruta e se aproximou de nós. Connor ainda estava contido por Jack e Max, um em cada braço. Eu, que estava ao lado dos motociclistas, me postei do lado de quem eu apoiava: Richard, meu Lorde. Minha vontade era segurar na sua mão e lhe dar toda a força que precisava. Olhei para seu perfil e vi que a última coisa que ele precisava era de apoio afetivo na frente de homens de pavio curto. — Richard está aqui para colaborar com toda a informação que vocês precisarem, mas queremos garantia e proteção. Selvagens, Vênus e Aranhas nos apoiam. — Vênus? Aranhas? — Connor riu sem humor e se soltou depois de garantir que estava mais calmo. — Mulher, que tipo de aliados você tem? Fantasmas? Escutei o barulho de moto esportiva se aproximar e sorri quando vi a familiar Kawazaki preta e verde. Depois de ser oficialmente a mulher do expresidente do Aranhas Moto Clube, Rachel se tornou mais adepta às motos e adrenalina. Seu lado rebelde começou a ganhar voz. — Bem, acho que você também tem mediunidade, porque vai ver um fantasma.


— Não precisava disso, Nina — Jack diz enquanto Victor e Rachel saem da moto e vêm em direção à sua família. Ele sabe o quanto o apoio dessas pessoas pesa nas suas ações. — Bem, Jack, intuí que precisava de apoio e pelo visto estava certa. Observei enquanto Rachel abraçava seu irmão e conferia o rosto machucado. Vestida em jeans e blusa preta, contrastou com as roupas formais que tanto estava acostumada a vê-la. Observei Victor trocar algumas palavras com Kevin e então, veio até nós. Em sua roupa preta de couro de motociclista, não parecia um excriminoso, mas um ator famoso de alguma série de sucesso. Ele não havia perdido a pose imponente e o olhar mortal. — Acho bom ter uma boa explicação para essa briga desnecessária. — A voz irritada do ex-presidente do Aranhas Moto Clube me fez erguer as sobrancelhas. Olha quem não perdeu as raízes. Connor e Max se afastam e vão em direção ao corpo, ignorando Victor, que voltou a ficar perto de sua mulher. Kevin acompanha a perícia dos dois enquanto divido minha atenção entre Richard e Jack. — Perez era muito respeitado e influente. Connor e Max eram os mais próximos e estão de cabeça quente. — Jack olha para Victor com respeito e preocupação. — Não tenho interesse em desfazer nenhuma aliança enquanto não soubermos o que realmente aconteceu. Só peço paciência. Olhei para minha amiga com apreensão, que respondeu com o mesmo olhar. Olhou rapidamente para seu irmão, com a intenção de perguntar como ele estava e respondi com um sorriso apertado, ou seja, não muito bem. — Onde está a bandana? — Max perguntou alto em seu lugar e todos viraram para encará-lo. — Esse é o item mais precioso do Moto Clube, onde está? Richard, com tranquilidade, colocou o braço atrás de seu corpo e mostrou um pedaço de pano azul sujo de sangue. Com pressa e raiva, Max tomou da sua mão e apertou com força. — Você não merece tocar nosso símbolo — Connor menosprezou Richard. — Longe de mim desrespeitar qualquer cidadão. — Ergueu as duas mãos em rendição. — Não há muito que contar, eu estava caminhando quando cheguei próximo a essa esquina e vi uma discussão. Parei para observar, quando um deles apontou uma arma e atirou, mas o som foi abafado. Eram dois contra Perez... — Fechou os olhos e colocou a mão em seu rosto, forçando a memória. — Um lenço! — Abriu os olhos com rapidez e apontou


para a bandana de Perez. — Um deles estava com uma enrolada em seu braço, era marrom ou laranja... — Marrom... — Max olhou para Jack e seu pai demonstrando algum conhecimento compartilhado entre eles. Pelo que conhecia, as cores das bandanas dos Piratas tinham a ver com sua posição no clube. Azul para os membros da diretoria, vermelho para os irmãos que não possuíam cargo efetivo na empresa, marrom para os transitórios, e verde para os membros honorários, como era o meu caso. O uso do acessório era obrigatório apenas nos eventos oficiais no Moto Clube. Ou seja, quem executou o presidente era apenas alguém de passagem. — Por que não fez nada? Apenas deixou que ele morresse, seu covarde! — Connor avançou um passo em direção a Richard e não pensei duas vezes em me colocar na sua frente e colocar meu dedo indicador na sua cara. — Escuta aqui, aloprado, estamos do mesmo lado. — Cutuquei seu peito duas vezes e continuei, nem um pouco intimidada pelo olhar de ódio dele: — Se você começar a desrespeitar ou acusar algum dos meus amigos, diga adeus às festas com mulherada, porque seu pau e suas bolas serão removidos do seu corpo! — Você sabe com quem está falando? — O vice-presidente segurou meu dedo com força e quase chutei entre suas pernas em reflexo à agressão. Vejo Richard com intenção de intervir e decido acabar com a discussão, mas Jack interrompe toda a minha intenção, bancando o herói e esmurrando seu superior. — Não toque na minha mulher! — Jack! — Surpresa e indignada com sua presunção em me rotular como dele, afasto-me vendo os dois discutindo enquanto Max e Kevin tentam apartar. Meus olhos encontram os de Richard e algo dentro de mim torce ao ver decepção. Minha vontade era entrar no meio da briga e ajudar Connor a surrar Jack. — Nina, você está com Jack? Não vai fazer nada? — Perua, estou me controlando para não ajudar com a surra em Jack, então, não provoque. — Sorrio com preocupação para ela e volto a encarar os olhos que ainda me assombrariam durante a noite. Eu não sou dele, queria gritar, mas não podia. — Mais alguma coisa para nos contar? — perguntei alto, para roubar um pouco da atenção dos brigões para nós. — Ele ainda estava vivo quando você se aproximou.


— Antes de morrer, Perez me entregou sua bandana, disse “vingança” e... — Respirou fundo e encarou os homens que haviam parado de brigar para escutá-lo. — “Pelo sangue e pela irmandade, tome sua bandana, Pirata!”.


Capítulo 4 Richard — Ele te entregou a presidência? — Jack, o homem que possuía Nina, perguntou com espanto. Saber que a mulher que me atormentava e instigava já estava com outro quase me fez vomitar. Sentia-me indigno e incompetente, a escória da cidade. Tudo bem que um lado meu estava aliviado, por achar que ela não daria mais em cima de mim, mas outro, o mais importante, partiu em pedaços. Ela era a única pessoa que me tratava indiferente aos meus ataques de pânico, eu a tinha em muita autoestima. — Ele não falou isso para você! — Connor, o homem que eu queria ter forças o suficiente para acabar com o rosto, novamente me provocou. Ele me olhava a todo o momento, com desprezo e suspeita, nem um pouco intencionado a colaborar. Homens como esse eu tive o desprazer em cruzar nos tribunais e na vida. Ele esperava o momento certo para humilhar e mostrar sua razão com voz alta e punhos. Eu tinha a melhor solução para tratar com pessoas descontroladas.


— Estou aqui para colaborar, não tenho intenção nenhuma de me intrometer nos assuntos do Moto Clube. Posso ajudar em mais alguma coisa? — Faço meu papel de conciliador, mas no fundo, preciso voltar para casa, me envolver em um banho gelado e lamentar tudo o que estava acontecendo. A ansiedade era um monstro que me corroía por dentro e, às vezes, conseguia emergir para a superfície. Ninguém precisava presenciar a minha fraqueza, ver minha muralha de controle desmoronar. — Lorde, vou te levar pra casa. Mesmo que eles quisessem mais alguma coisa, eu não concordaria. — Nina se aproximou de mim, mas meus olhos transmitiram o que minha boca não conseguia, eu queria distância dela. A última coisa que precisava era que ela presenciasse minha ruína e deixasse de me tratar como igual. — Eu vou andando da mesma forma que vim aqui. Kevin irá comigo — dispenso-a e não espero ver seu olhar intrigado, olho para minha irmã e digo baixo: — Por favor, não a deixe vir. Rachel era a única pessoa para quem eu mostrava meu lado fragilizado. Ela era minha irmã, nosso relacionamento ia muito além do sangue, compartilhávamos segredos. Nossa cumplicidade era grande e eu sabia que podia contar com ela nesse tipo de emergência. Quando virei minhas costas para todos os outros motociclistas, encarei meu cunhado, que apenas balançou a cabeça de modo afirmativo. Com sua anuência, segui para longe enquanto minha mente e coração estavam ainda junto deles. Uma discussão começou, escuto as vozes de Nina e Jack, para meu desgosto. Assim que me afasto uma quadra, deixo que minhas mãos tremam e meu estômago revire. Ando mais uma quadra e inclino meu corpo para expulsar tudo do meu estômago. Uma, duas vezes, até que alguém bate nas minhas costas e me assusta. Era Kevin. — Vamos lá, vou te acompanhar. — Cordial como sempre, ele ignorou meu estado e apenas seguiu ao meu lado, olhando para todos os lados, atento como um segurança. — Eu estava... — Você está bem? — ele me cortou. — Sim, mas... — Então, assunto encerrado. Se não tiver remédio em casa, eu busco pra você. Iremos adotar o protocolo de proteção extra por uma semana, tudo


bem? — ainda andando, ele falou e suspirei resignado. Esse era o momento em que teria uma sombra até no meu banheiro. Merda. — Eu quero poder tomar banho sem você me olhando, caralho! — reclamo, mas há um tom de brincadeira no fundo. Isso aconteceu assim que voltamos do Arizona, quando Victor foi preso. O protocolo exigia que não houvesse barreiras quanto ao acesso do segurança ao segurado, ou seja, não haveria mais portas fechadas, a não ser a da rua. — Devo me preocupar com sua atração por mim? — perguntou com zombaria e comecei a relaxar. Muitos tinham essa mania de acharem que eu era homossexual por causa do meu jeito cavalheiresco de tratar as mulheres. Já estava acostumado e normalmente entrava na brincadeira. — Só quero poder tocar uma punheta sem brochar por causa dessa sua cara peluda antes de gozar — falei com meu tom mais bruto e rimos alto ao mesmo tempo em que nos aproximávamos do meu apartamento. Entramos na recepção sem trocarmos nenhuma palavra. Escolhemos as escadas para subirmos e quando chegamos ao meu apartamento, Kevin revistou todos os cômodos antes que eu entrasse. Fui direto para meu quarto, removi toda minha roupa e segui para a ducha. As portas estavam abertas, mas sabia que Kevin não entraria sem ser chamado, então, sentei no chão com as pernas dobradas, encostei minhas costas no azulejo frio, fechei meus olhos e soltei a respiração que parecia estar presa desde quando me afastei de Perez. Nina era uma mulher fantástica, intimidante o suficiente para que minha crise de ansiedade voltasse com toda fúria. Apesar de nunca lutar contra o diagnóstico que tive depois da morte dos meus pais, a ansiedade foi tratada com remédio e exercícios mentais para melhorar minha autoestima. Como uma ciência não exata, havia momentos que eu ficava bem, outros não. Rachel sempre foi meu apoio, tentava não me tratar diferente por isso e quando precisei, ela esteve ao meu lado para dizer o quanto eu era bom, para que não duvidasse do meu potencial. Era uma merda esses momentos. Sempre fui confiante e determinado, porém, depois de sentir o peso de cuidar da minha irmã, de ser o chefe da família tão cedo, tudo isso não passou de superfície. Enquanto andava com o nariz empinado e consolava minha irmã nas noites solitárias, por dentro, eu queria fugir. — Tudo bem? — Escuto a voz de Kevin, firme e alta, mas facilmente identificável em sua posição na sala.


— Tudo bem! — Outra coisa que o protocolo de segurança extra exigia era isso, constantemente dizer “tudo bem”. Não reclamava da companhia, era bom não ser o único responsável e dividir isso com um homem que costumava me tratar como outro homem era muito melhor. Por ser como sou, nunca tive amigos homens. As mulheres sempre me rodearam, eu era bonito, sempre as tratei bem e inclusive, as fazia felizes na cama. Amava o corpo feminino e tudo o que poderia fazer com ele, mas nenhuma delas queria algo além disso. Já tive o desprazer de ter minha bunda chutada, porque minha namorada achava que eu não era bruto o suficiente, que o cuidado que eu tinha com meu cabelo e minha pele era muito gay. Inclusive, ofereceu que eu fosse apenas amante, já que tudo o que ela sonhava em um homem, eu era entre quatro paredes. O que essa mulher esperava de mim? Que puxasse seu cabelo e batesse na sua bunda para dizer que a amava na frente de todos? Não me considero um metrossexual, mas como lido com pessoas, uma das coisas fundamentais é ter uma boa aparência, que transmita confiança e seriedade. Levanto e termino meu banho com minha ansiedade querendo explodir novamente. Pensar em tudo o que fui e passei, tudo o que se tornava um gatilho para que ela ressurgisse das cinzas me descontrolou. Sem alternativa, enrolo minha toalha na cintura e busco pelos meus remédios. Não estava com forças o suficiente para que relaxasse e controlasse esse monstro dentro de mim. — Tudo bem? — Escuto a voz de Nina e minhas mãos começam a tremer. Merda. O que ela está fazendo aqui? — Espera, Nina! — Minha irmã rebate e entra no meu quarto. Coloco a mão onde prendi a toalha e virei com um olhar chateado. Minha irmã parecia outra, suas roupas a mostravam muito mais feliz e entregue ao seu amor. Ela era feliz. — Irmã... — pedi sua ajuda novamente e ela se aproximou com pressa. — Richard, está além de mim e de você agora. — Ela me abraça e não se importa de se molhar. — Quando você foi embora, Victor e os Piratas conversaram. — Ela se afastou e fez uma careta. — Bem... do jeito que você imagina o que é conversar para esses brutamontes. Enfim... haverá uma assembleia no Moto Clube, eles irão deliberar sobre sua possível aceitação ao Piratas. — Eu não tenho interesse em fazer parte disso, eu... motos...


Minha mão começou a tremer e me afastei da minha irmã. Olhei para o vaso e respirei fundo várias vezes. Tínhamos companhia, eu não queria me expor assim. — O que eu posso fazer por você, irmão? — Baixo e com urgência, minha irmã coloca a mão nas minhas costas para me confortar. — Tire essa mulher daqui! — solto com raiva e alto. A última pessoa que eu queria que me visse tão frágil era ela. Não ela.


Capítulo 5 Nina Faço uma careta para Victor e Kevin quando escuto o que não queria. Richard não me queria por perto e tentava controlar a onda de rejeição que tentava me assolar. Sabia que era a crise de ansiedade falando por ele, mas era inevitável, meu coração não era de ferro. — Você sabe... — Victor tentou falar, mas levantei a sobrancelha e o desafiei a continuar. Não precisava que ninguém se justificasse por ele. — A perua te ensinou a consolar? — Usei minha ironia e ele sorriu com maldade para mim. Ele estava pensando besteira, por isso me adiantei. — Não responda, seu pervertido. — Você acha necessário ter mais alguém para ficar aqui? — Kevin começa com o assunto sério e tento ignorar a minha vontade de invadir o quarto que estava com a porta aberta. Não havia mais som, Richard e Rachel não conversavam mais. — Tom se disponibilizou a estar aqui conosco daqui duas horas e Rock, do Selvagem, estará aqui também. Precisamos organizar uma estratégia sobre a presidência do Piratas. Se Richard decidir reclamar seu posto, uma guerra poderá ser iniciada.


— Mas se Perez foi morto, com certeza o seu sucessor legítimo tem interesse nisso. Precisamos investigar. — Kevin olhou para Victor e ele cruzou os braços à sua frente. — Você sabe que assuntos internos do Piratas Moto Clube não são nossos, Kevin. — Perez era muito mais que um presidente, chefe, você sabe disso. Mesmo que não intercedamos, Richard ficará vulnerável, então... será nosso problema. Droga, isso era verdade. Não havia como escapar, estávamos envolvidos até o pescoço nisso. — Preferi não revelar nada na frente dos convidados, mas tenho um contato no Piratas que poderá nos dizer o que realmente está acontecendo nesse Moto Clube — Victor interrompe meus pensamentos. — Você pode sair da bandidagem, mas ela não sai de você, né, motoqueiro? — provoco e olho em direção ao quarto. O que está acontecendo lá? Será que ele está esperando que eu vá embora para vir aqui? Chega de pressão, iria aliviar para ele hoje. — Preciso resolver alguns assuntos na empresa, depois eu volto. — Olho de forma significativa para os dois, ameaçando que se algo acontecer com Lorde, eles pagarão. — Tchau, Perua! — grito, corro para fora do apartamento e fecho a porta. Solto o ar dos meus pulmões e desço as escadas com a arma em mãos. Segurança, nesse momento, era prioridade e... precisava ter algo para pensar além do amor não correspondido. Gostava muito desse cara, um dia ele ainda iria aceitar minhas indiretas. Eu não era tão ruim assim, era? Como não tinha ameaça, segui para minha moto, guardei a arma e parti para a sede da ESP Trent. Sorri quando o vento começou a bater no meu corpo. Estar sobre uma moto em alta velocidade era arriscado, alucinante e muito libertador. Para alguém como eu, que se intimidava com pouca coisa, era o remédio para qualquer mal. Apesar de já ser muito tarde, a minha empresa funcionava vinte e quatro horas. A segurança pessoal não tinha horário nem dia para ter uma crise, precisávamos sempre ter plantonistas. Estaciono a moto na parte subterrânea do prédio, pego o elevador e vou até o último andar. Eram vinte andares, porém, apenas metade era exclusivo para a ESP, a outra metade eram salas comerciais alugadas.


Saio do elevador e sigo para minha sala. O último andar era onde ficava a presidência, as salas seguras e a central de comando. Passei a recepção vazia, um corredor, virei à direita e no final dele, a sala. Era apenas um local para eu distrair minha mente e relaxar, apesar do meu pai fazer questão de eu ter uma mesa e cadeira de escritório aqui. Com um sofá-cama, alguns equipamentos de ginástica e um saco de areia para o treino com socos, minha sala era praticamente minha casa. Meu apartamento estava abandonado há algum tempo, desde quando Jack me ligou e falou que a Valentine estava lutando pela presidência do Selvagem Moto Clube. Amava minha vida! Removi minha roupa no caminho para o banheiro. Aqui não tinha banheira, então, iria relaxar com uma ducha. Não era qualquer jato de água, mas uma cachoeira, onde as costas e ombros eram devidamente massageados enquanto me limpava. Evitei ao máximo me lembrar do homem pelo qual sempre tive interesse, Richard, meu Lorde Inglês. Quando terminei o banho, meus pensamentos foram para ele e rolei os olhos para sua última frase dita em voz alta. Ele me queria longe, mas mal sabia ele que precisava de muito mais para me afastar. Lembro-me da primeira vez em que o vi, com uma namorada qualquer, e Rachel, em um restaurante. Minha amiga parecia desconfortável na mesa, mas Lorde parecia não perceber o incômodo. Eu cumprimentei minha amiga e a salvei de ficar de vela, porém, enquanto conversava com Rachel, observava todos os movimentos de seu irmão. Ele era cuidadoso, atencioso e muito romântico. O jeito delicado que tocava sua namorada, o tom brando que usava para perguntar o que ela desejava tinha mexido com meu coração. Ninguém percebeu meu interesse, até porque, era muito bem treinada para não ser detectada. Não pensei em investir, afinal, Richard era comprometido. Mas... sempre tive esperança de conseguir pegá-lo em um momento oportuno e esse era agora. Com um armário cheio com minhas roupas, escolhi uma calça e blusa folgada, peguei o controle da televisão e passeei pelos canais. Olhei para o celular de tempo em tempo, esperando alguma atualização, mas nada veio. Ainda em alerta, decidi fechar os olhos e dormir, já que a semana pretendia ser longa e, sem disposição, não conseguiria ter um bom desempenho.


Parecia que tinha acabado de fechar os olhos quando o barulho da porta se abrindo com força me acorda e com um pulo, fico em posição de ataque. — Pra que tudo isso, pai? — Relaxo e sento no sofá, que tinha mexido para que virasse uma cama. — Até quando você irá utilizar os serviços da empresa para bancar a amiga legal?


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