Rodrigo (Família Valentini Livro 6)

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Família Valentini – Livro 6 Mari Sales 1ª. Edição


Copyright © Mari Sales Edição Digital: Criativa TI _____________________________________________ Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. _____________________________________________ Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios – tangível ou intangível – sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.


Sinopse Thárcyla estava fadada a trabalhar sem fim por conta de uma dívida que não era sua. Depois de ser remanejada de uma empresa para outra, ela lidaria com o último Valentini e também, com seus demônios profissionais. Ela não estava pronta para ceder e concluir esse círculo sem lutar contra. Mas quando as coisas tinham que acontecer, o universo conspirava. A resolução dos mistérios da família Valentini estava no fim e dependia de Thata resolver seus próprios problemas e esquecer as pessoas a sua volta ou ajudar seu novo chefe, Rodrigo, a libertar sua mãe para seguir sua própria vida. Era tempo de seguir o coração. O encerramento tão aguardado, as cenas omitidas e todos os pontos finais chegaram. Estão prontos para saber como tudo começou e como tudo terminará?


Dedicatória À minha querida amiga Thárcyla, que muitas vezes é a última a chegar, mas nunca é a menos importante, obrigada. Não importa o que passamos nem as vozes que nos atormentam, a verdade é única e se resume em amor e gratidão por ter me escolhido para betar. Nunca esqueça que seu brilho é único e lindo!


Antes da história de Rô e Thata começar, vamos saber um pouco mais do que aconteceu com a família! Capítulos Bônus


Capítulo 1 Alberto Estava nessa sala há mais tempo do que queria, na verdade, me prenderam e não entendo com qual poder jurídico elas conseguiram fazer isso. Não me deram oportunidade para acionar nenhum dos meus advogados ou contatos, estava encurralado. Meus negócios ilícitos estavam muito bem orquestrados por debaixo dos panos, minha vingança contra os Valentini estava para se concretizar, tudo corria na mais perfeita harmonia, mas... Como eles tinham contato com a SAI, a mais temida organização por pessoas como eu? Seus nomes esquisitos e ações contra corrupção davamlhes a reputação de impiedosas e cruéis, além dos apelidos normais para mulheres que não estavam em seu lugar, na cozinha. Apanhei do meu filho, finalmente conheceu minha verdadeira face e agora, estava retornando para sua família de sangue, como nunca premeditei. Uma merda que investi trinta anos naquele pervertido para vê-lo me dar as costas na primeira dificuldade. Antonio deveria ser inescrupuloso como eu, mas por algum motivo, o idiota tinha um coração. — Você tem uma visita — a voz de mulher, em tom zombeteiro soou pelo autofalante da sala de interrogatório que estava. A porta se abriu mostrando uma Laila desalinhada e completamente perturbada. Ainda estava sentado, amarrado e feito refém. Duas vezes por dia era encaminhado para um banheiro e me serviam comida, o básico. Dormia no chão e acordava cedo demais para ficar nessa posição na cadeira.


Tentei me sujar, dar trabalho para que essas vadias limpassem, mas tomei do meu próprio veneno quando me deixaram nu, deitado em cima do meu próprio excremento e só depois de muito tempo é que vieram me limpar e alimentar. Há quantos dias estava aqui? Com certeza, para mim, pareciam anos. Humilhado, não tinha mais poder sobre a minha vida. Tudo por causa dela, Vivian Valentini, a mulher que abriu suas pernas para mim, porém nunca me aceitou como seu verdadeiro homem, o único que a fez sentir de verdade o que era prazer. Que se fodesse, assumia que queria o seu amor, os seus bens e sua vida. Tomei seu filho, ameacei e a forcei a ter relações comigo... mas nada adiantaria se Frank ainda estivesse vivo e quisesse me humilhar, uma vez que expus meus sentimentos para ele. Sua mulher deveria ser minha! — Você acabou com a minha vida! — Laila gritou e avançou em minha direção dando tapas e me arranhando. Minhas mãos e pernas amarradas na cadeira me impediam de rebater nessa louca. — Sua puta, para de me bater! — Tentei desviar o tanto que conseguia. — Meu pai não quer mais falar comigo, minha mãe exige que me interne em uma clínica psiquiátrica e Antonio me expulsou do clube! — Ela me deu um tapa de mão aberta no rosto o deixando ardido e deu dois passos para trás. — Contratei aquela traficante que tinha vínculo com a namorada de Carlos Eduardo para sequestrar alguém da família, fiz ligações ameaçando os irmãos, tentei seduzir Antonio, me entreguei a você, fiz tudo o que você mandou, porque me garantiu que me daria Benjamin de volta. E o que aconteceu? — Ela me bateu no rosto e minha vontade era de dar o troco em maior intensidade. — Estamos arruinados e ainda por cima, sem dinheiro! Apesar do desespero, nenhuma lágrima escorria dos seus olhos. Fria e calculista, ela era tão igual a mim quanto eu a ela.


— Você só está preocupada que terá que se prostituir para sobreviver, já que não serve para nada além de abrir as pernas! — Cuspi na sua roupa de grife e ela gritou de nojo. — Seu desgraçado, me prometeu dar tudo o que queria se fodesse com você e agora está cuspindo onde comeu? Por sua causa sou suspeita de tráfico de pessoas e corrupção! — Fez um gesto de birra, como se fosse uma criança e sorri com escárnio, o que fez com que algum arranhado, feito por suas unhas enormes, ardesse perto do meu olho. — Falei o que precisava para te levar para cama e fazer com que você perturbasse a família Valentini. Sei que você e seu pai armaram para ele, mas eu tinha muito mais poder de fogo e precisava fazer mais estragos. — Cadê seu fogo agora? — zombou e voltou a me bater. — Eu deveria te matar, se não fosse meu medo dessas agentes secretas. Ri alto e bati minha testa em seu nariz com força, o que a fez gritar, dar passos para trás e cair no chão. O sangue escorrendo a transformou em uma mulher medonha e não linda e inabalável como sempre se portou. — Socorro, ele me bateu! — Você está fodida tanto quanto eu, Laila. Agora vai apodrecer no inferno ao meu lado. Deveria ter vestido a máscara de vítima e ido chorar para o seu papai, mas tenho certeza que foi orgulhosa demais para isso. — Eu não nasci para ter menos do que mereço. Benjamin não deveria ficar com aquela menina sem graça! — Depois começou a resmungar sobre o nariz e o quanto ficaria marcada pelo o que fiz. — Vadia, você merece apenas isso. Tenho nojo! — E você também, Alberto Mendes — falou em tom sombrio, recompôs a compostura, se levantou e caminhou até a porta. — Se sou vadia, você também será, do grande Leon Ventura. Ela deu dois toques na porta e a mesma se abriu. Essas batidas foram as que perdi do meu coração assim que ela pronunciou o nome do homem mais cruel e corrupto da América Central. Nunca planejei que fosse meu


inimigo, mas Frank tinha feito as conexões certas e para que conseguisse algumas posses, precisava ter aliados... e um deles era justamente um dos inimigos de Leon Ventura. — A mensageira está histérica, muito obrigada por causar todos esses transtornos. — Uma mulher completamente vestida de preto, sem exibir seu rosto, entrou na sala e mudou minhas amarras de fixas para móveis. Seria transferido. — Quanto você precisa? Posso te fazer milionária, só não me leve para Leon Ventura. Sabe o que ele faz com seus inimigos? Tiram suas peles como se fossem cordeiros no abate. — Que sádico, não? — falou com ironia, me forçou levantar e me puxou, mas resisti. — Economize saliva e não me dê trabalho, não sou corruptível. — Dez milhões? Cinquenta? — implorei e ela forçou que andasse. — Ficaria até tentada se você ainda tivesse esse dinheiro. Até o atual momento, seu saldo na conta é quase zero. Você é um homem sem posses e agora, uma presa para o cara mais malvado que você. — Chega de conversa, Rigel. Hora do show — outra mulher, com os mesmos trajes negros, falou da porta e me forçou a sair. Nunca tive medo de morrer, não criei uma ruga de preocupação com as atrocidades que fiz o sequestro de um recém-nascido, as ameaças com Vivian, a morte de Miguel e Frank, as corrupções... mas agora, só o que queria era poder escapar dessas duas que me tinham muito bem preso. — Se dizem do bem, acabam com os vilões, mas estão fazendo um acordo com o diabo! — Comecei a espernear, mas uma picada no meu braço me fez cair no chão. Tranquilizante. — De vez em quanto é bom ter o diabo devendo um favor para os anjos da guarda — a outra mulher falou e me arrastaram pelo corredor, depois pelas escadas.


Nรฃo tinha mais forรงa, apenas as lรกgrimas, que nunca achei que existiam, escorreram pelos meus olhos. Era meu fim e ele seria muito, mas muito doloroso. Quase me fez arrepender do que fiz a minha vida.


Capítulo 2 Ray No casamento do Ben e da Ray... Tendas no gramado, família, amigas, irmãos de Ben e convidados de cunho profissional faziam parte da festa. A cerimônia do padre e juiz de paz aconteceu, tiramos milhões de fotos, cortamos o bolo e agora, estávamos apenas eu e Ben no salão, dançando uma valsa suave e digna de final feliz dos contos de fadas. Meu final feliz de livro. — Você está linda, meu amor — Ben sussurrou no meu ouvido enquanto dançávamos apaixonados no salão. Meu riso veio sem freio e como sempre, ele conseguia me centrar com seus lábios nos meus. Suave e atencioso, esse homem conseguia me fazer flutuar com muito pouco. Suspirei depois do beijo e encarei seus olhos apaixonados. Céus, estava casada com um homem feito, um poderoso CEO, completamente fora da minha realidade. Satisfeita, isso foi tudo com o que sonhei. — Te amo, Ben — falei depois que uma lágrima escorreu e claro, ele rapidamente limpou. — Por que eu? — Não se preocupe, farei questão de dizer todos os dias, quando acordar e quando dormir, o quanto é carinhosa, cheia de manias, que ilumina o meu dia com seus risos nervosos e seus choros por causa de alguma leitura. — Beijou meus lábios suavemente. — Foi a luz no meu caminho quando tudo


parecia nublado e escuro, a flor que coloriu meu jardim e a mulher que conseguiu preencher todo o espaço vazio que existia no meu coração. No embalo da valsa, me apaixonei um pouco mais, se fosse possível, pelo homem que me encontrou futricando em sua biblioteca. Nem em meus sonhos

mais

cheios

de

esperança

conseguiria

imaginar

que

isso

desencadearia não só minha união, mas de Letícia e Cadu. — Será que você olharia para mim se não estivesse na sua biblioteca? — Deixei a dúvida me dominar. — Nossa biblioteca, meu amor. — Deu um selinho. — Não irei forçar sua aceitação quanto ao patrimônio que tenho, mas vou te corrigindo aos poucos. Vai dar tudo certo. — Não respondeu minha pergunta — insisti, porque meu coração batia forte e minhas inseguranças queriam mostrar as garras, mesmo que a razão começasse a gritar para os quatro ventos: vocês já se casaram, pare de achar que amanhã ele não vai te amar mais. Ele me afastou, fez com que desse uma volta no meu eixo e depois me puxou para o seu corpo. O vestido era perfeito, como sempre sonhei e o marido... será que algum dia iria acostumar a dizer que tinha marido? Que era a senhora Valentini, esposa do irmão mais velho? — Com essa bunda e esse cabelo preso em um rabo de cavalo, eu a olharia a quilômetro de distância — falou sedutor, beijou meu pescoço e suspirou perto do meu ouvido. — Queria aproveitar nossa festa até o último momento, mas me comunicaram para que saísse imediatamente. Vamos antecipar nossa lua de mel? — O quê? Por quê? E assim Benjamin anunciou para todos os convidados que tínhamos um voo nos esperando e saímos quase que correndo de nossa própria festa. Sabia que algo iria acontecer, meu coração e o olhar de Letícia dizia muito sobre isso, mas deixei os questionamentos para quando estivesse apenas eu e Ben no carro. Amava saber das coisas, mas odiava essa parte da ação onde eu poderia morrer, ou alguém que amava poderia se ferir.


Ainda com meu vestido de noiva, mas sem o volume por debaixo da saia, entrei no pequeno carro do meu marido e seguimos apressados para longe. — Um dos seguranças nos segue com nossas malas. — Agora me conte o que está acontecendo de verdade — pedi colocando a mão na sua perna. — Vai ficar tudo bem. SAI nos orientou para que ficássemos longe, porque uma ameaça estava por aparecer no meio da festa. Apesar de ter falado sobre um voo, não iremos para o aeroporto. — Oh, céus, iria nos matar? — Não sei, meu amor — beijou minha mão —, mas não vou arriscar, não agora que estamos casados. — Quero ver se ainda vai me querer acordando descabelada e com um bafo horroroso — falei com minha crise de risos em ação. Não disse nada enquanto guiava com sua mão na minha. Aproveitei o silêncio para me controlar, suspirei ao perceber que estávamos indo em direção ao porto e me conformei que nada seria igual a partir de hoje. Quem tinha dinheiro para alugar um barco luxuoso? Benjamin Valentini. Dificuldade financeira? Zero. Dúvidas sobre minha profissão? Muitas. Só precisava controlar minha ânsia de auto sabotagem, já que tudo parecia seguir para o caminho da resolução. — Já andou de barco? — Quer dizer, aquela embarcação que cabe umas quatro pessoas e andamos no rio? Ele estacionou o carro, o segurança apareceu perto de nós e seguiu para a grande embarcação, iluminada e cheia de balões com corações em um canto.


— Passaremos nossa primeira noite como senhor e senhora Valentini sobre o mar. Quero te amar sobre a lua e te fazer minha como um verdadeiro cavalheiro. Apertei sua mão, andamos passo a passo até o local esperado e um homem nos cumprimentou um tanto acanhado. — Levarei os senhores até perto da ilha e de lá, voltarei para o continente, onde aguardarei ser chamado para que traga a embarcação de volta. — Seremos só nós dois, meu amor. Eu te amo Rayanne que gosta de ser chamada de Ray. Minha pele inteira se arrepiou e antes que não me permitisse ser quem eu era, virei para ele e pulei em seus braços, envolvendo os meus no seu pescoço e beijando sua boca com desejo latente. Ele era meu. Benjamin Valentini era meu marido e iríamos passar uma noite apaixonada em alto mar. Fui pega no colo, entramos na embarcação e nos acomodamos em um banco onde a lua nos iluminava e a brisa refrescava. Nesse momento, minha mente teve um estalo, as ideias começaram a surgir e quase surtei rindo com o que minha cabeça planejava fazer assim que encontrasse papel e caneta... ou um celular. Precisava escrever! *** Depois do encontro das Joaninhas Valentes com Vivian Valentini... Meu celular não parava com as notificações, mas enquanto estivesse com minhas amigas, não poderia olhar e surtar como toda vez que acontecia ao receber uma mensagem desse aplicativo. — Ray, você está muito inquieta — Paula constatou dentro do carro que nos levava até o aeroporto. Um jato particular de Arthur nos aguardava para voltarmos para casa.


— Estou no carro com duas grávidas, será que é contagioso? — brinquei e me bati mentalmente como sempre fazia a cada piada sem graça que soltava. Oh! Droga, estava criando novos hábitos nervosos. Não poderia piorar? — Só contagia se a pistola de Benjamin fazer o serviço aí — Letícia falou do banco da frente e o motorista engasgou com a saliva. — Calma, moço, você já vai se livrar de nós. — Estou preocupada com Thata que não respondeu nossas mensagens hoje. Ela precisava estar com a gente — Paula comentou e colocou a mão na barriga. — Caramba, eu me sinto tão grávida, mesmo sem os sintomas. — E eu... bem, ainda estou em choque, preciso saber como Cadu vai reagir para poder dizer aliviada que estou grávida. Serei mãe, quão surreal isso poderá ser? — Senhora, se me permite intrometer na conversa... — o motorista falou com cautela e Letícia movimentou a mão desconsiderando sua preocupação. — Pode falar, sem papas na língua. — Se o pai dessa criança não assumir o bebê, dê um pé na bunda dele e vai ser feliz. Cansei de ver minha mãe implorando para meu pai fazer o papel dele na família, o que a fez esquecer do seu papel de mãe. — Fez uma pausa dramática e olhou para todas de relance. — Amo meus pais, mas não faço questão nenhuma deles na minha vida. Não seja assim para o seu bebê. Escutei Paula soluçar e Letícia fungar. Coloquei meu dedo na boca e de nervoso, comecei a arrancar minhas unhas como se fosse uma necessidade igual água. Que loucura! O homem tinha razão, mas esses hormônios de grávidas era um tanto... fora da casinha. Paramos no aeroporto, saímos do automóvel e me permiti liberar os dedos para rir alto e descontrolada da situação, não pelo relato chocante do motorista.


— Você ri, né? — Letícia bateu no meu braço e tentei me controlar. — Sua hora vai chegar, você também vai ser mãe. — Estou muito bem, obrigada. Meus planos para filhos é só quando finalmente achar uma carreira profissional. O celular queimou na minha mão quando Letícia revirou os olhos e Paula me abraçou de lado ao mesmo tempo que me forçou a andar com ela. — Cuidado, que se colocar tantos pré-requisitos para executar alguma coisa, talvez ela nunca aconteça. — Paula se aproximou do meu ouvido e sussurrou. — Sei que você está escondendo algo. Se precisar desabafar, estou aqui. Engoli em seco e acenei mordendo meu lábio inferior antes que o riso virasse choro. Precisava contar para alguém, falar sobre minhas descobertas pessoais, mas me sentia tão ridícula. Será que me julgariam? Será que Ben me aceitaria? Depois do nosso check-in e entrada na sala de embarque, cada uma mergulhou no seu mundo virtual e eu, no meu. Primeiro fui falar com Benjamin. Ray>> Como estão as coisas aí? Estou com saudades. Ben>> Quando acho que Arthur vai entrar naquele helicóptero, ele faz outra loucura e quase nos leva a morte. Hoje o vi nadar sem nenhum equipamento para o mar a dentro e só fomos perceber quando de noite ele voltou, exausto e chamando por Paula. Quando falamos da nossa mãe, ele diz que é muito cedo para esse reencontro e some de nós. Ben>> Também estou com saudades. Ray>> Oh, Ben. O que será que ele pensa? Estamos esperando para embarcar, Paula parece aflita. Ben>> Ele não pegou no celular e a última mensagem enviada foi de Eduardo avisando que estava tudo sob controle.


Ben>> Como foi com minha mãe? Às vezes percebo que mudei meu foco completamente. De determinado a unir a família para dar cabo dos meus irmãos. Ray>> Sua mãe está bem, é um amor de pessoa. Ela nos contou o quanto sofreu, só se afastou para proteger vocês. Achava que esse assunto também era delicado para Ben, porque não me respondeu, mesmo tendo visto a mensagem. Suspirei e tentei ver algo sobre o irmão mais novo. — Paula, alguma novidade de Tutu? — perguntei baixinho e ela sorriu com tristeza. — Não, amiga e nem quero saber, para falar a verdade. Preciso sentir seu coração, só assim a gente vai conseguir conversar e eu, contar o que se deve. — E se dona Vivian fosse para a ilha? — Letícia inclinou o corpo e falou com uma cara de quem teve a melhor ideia do mundo. — Gente, perfeito, vou falar com Josi e Alci sobre isso, já que Thata parece que sumiu do mapa. — Será que dará certo? — perguntei receosa e voltei a olhar para o celular na minha mão. Quantas notificações! Avisei que ia no banheiro e lá, abri finalmente o aplicativo que tanto queria, esquecendo um pouquinho de Ben e todos os assuntos complicados da família que me afligiam. “Amei esse capítulo, posta mais.” “Mulher, você quer me matar? Quando terá outro capítulo?” “Gente, que lindo, que amor, quero mais!” Com as mãos suando e coração acelerado, respondi todas as mensagens e me debati sobre liberar ou não o próximo capítulo da história, que já estava escrito, mas não tinha publicado.


Escritora. Com aquela viagem da lua de mel em um barco, tive a maior inspiração da minha vida e comecei a escrever uma história de amor de infância. Tudo a ver? Não sabia, mas precisei por no papel o que meu coração gritava. Publiquei os capítulos em uma plataforma, apenas para ter aonde salvar, uma vez que escrevia pelo celular e não foi surpresa quando leitores apareceram e hoje, quase um mês depois, estavam alvoroçados querendo mais. Com pseudônimo, morrendo de vergonha das pessoas saberem sobre mim, estou levando essa vida dupla e quase morrendo do coração de tanto nervoso que passava a cada capítulo postado. Terminei de conferir os comentários das minhas publicações e voltei a ver as mensagens de Ben enquanto seguia até minhas amigas. Ben>> Deveria ter reunido meus irmãos mais cedo. Acho que Antonio poderia ajudar com Arthur também. Ray>> Já que Maomé não vai à montanha, que tal fazer o contrário? Sua mãe poderá ir até a ilha. Ben>> Não poderia ter ideia melhor. Tão óbvio. Eu te amo, mulher! Vou falar com Eduardo e Antonio, melhor ideia possível. Você é fantástica! Ray>> Quem teve a ideia foi Letícia, eu só repassei. Sentei ao lado de Paula, que suspirou e inclinou sua cabeça no meu ombro. Ben>> Não me importo, você é minha e isso é tudo o que preciso para que seja a melhor pessoa do mundo. Te amo, estou te esperando, dormir sem você em meus braços é uma merda. — Achei que iria sentir falta dessas trocas de mensagem carinhosas, de declarações de amor, mas não, só queria o Arthur direto e racional de volta.


— Tutu vai sair dessa. Ainda mais com reforços, não terá quem não se renda. — Você e os apelidos piores do que Josi inventa — Paula falou tentando rir. — Amor de família cura tudo! — Letícia declarou e deitou a cabeça no ombro de Paula. — Só espero que minha mãe não surte quando contar da minha gravidez e que não vou casar. As duas voltaram a posição ereta e iniciaram uma discussão calorosa e amigável sobre filhos, final de ano em família e como os pais reagiriam a novidade. Ray>> Você pensa em ter filhos? Ben>> Não estou ficando mais novo, mas faremos tudo no seu tempo. Eu te espero, minha Ray. Ray>> Não estou preparada, mas serei titia. Ben>> Como assim? Quem está grávida? Ray>> Ops, falei demais, não conta para ninguém, você saberá quando chegarmos. Te amo. Ben>> Não me importaria se fosse você a grávida. Te amo.


Capítulo 3 Letícia Depois da visita a chácara dos Valentini, onde Josi e Antonio se esconderam... Minha cabeça estava em Josi e sua resistência com Antonio quando embarquei no avião com Cadu ao meu lado. Apesar de ter falado que iria morar com ele, em outra cidade, iria apenas testar as novas águas e o novo emprego. Falando em trabalho, meu ex-chefe se arrependeu amargamente de me ter dado férias. Quando apareci no escritório, depois que voltei da casa dos meus pais, com meu pedido de demissão, sem cumprir aviso prévio, deixei-o sem fala. Os fofoqueiros da contabilidade não me deram uma segunda olhada e os encarei lembrando que ninguém falaria mal de Ray e o casamento com Ben. — Está pensando em quê, pequena ousada? — sussurrou sedutor no meu ouvido. Enquanto estava no assento da janela de um voo comercial, ele estava no do meio e ninguém ao seu lado. Não duvidava que tinha comprado apenas para não ter plateia para sua sedução. — Antonio e... — Porra, deixa meu irmão de lado e pense apenas em mim — resmungou, tirou meu cabelo do caminho e beijou meu pescoço. — Antonio e Josi — falei empurrando-o, o passageiro do outro lado do corredor estava de olho em nós e eu, bem delicada, encarei feroz até ele virar


a cara. — Se queria pegação, que alugasse um jatinho particular — sussurrei zangada. — A sua amiga precisa relaxar. — Ajeitou na cadeira, suspirou e fechou os olhos. — Não misturar negócios com o lado pessoal. — Como você? — Belisquei sua barriga e ele abafou uma reclamação, mas não a cara feia para mim. — Ela tem sentimentos e não sabemos até que ponto Antonio está envolvido com Alberto e os negócios podre dele. — Já tenho pessoas o investigando, não seremos feito de trouxa, muito menos pelo meu próprio sangue. — E você querendo empurrar minha gêmea para ele. Sem noção — resmunguei, cruzei meus braços e senti um rebuliço na minha barriga. Droga, será que fizemos um filho? A última coisa que precisávamos era isso, mas... só de pensar em rejeitar um ser inocente me lembrava de Antonio e toda essa confusão. — Lá vai você com os pensamentos longe. Pare de se preocupar com os outros, cidade nova, vida nova. — Vai me dar um cartão sem limite para gastar? — brinquei e ele tirou a carteira do bolso para fazer isso. — Era só uma brincadeira, não quero seu dinheiro. — É ele que pagará seu salário. — Guardou a carteira. — E será ele que me sustentará. — Eu vou te sustentar. Inclinei meu corpo para minha boca ficar perto do seu ouvido e sussurrei: — A única coisa que você vai sustentar é meu corpo contra a parede no momento que entrarmos no seu apartamento. Ele tomou minha boca com fome e precisei tomar a iniciativa para afastar, senão protagonizaríamos um atentado ao pudor.


— Porra — resmungou arrumando a calça na virilha. Ri de seu desconforto e voltei meu olhar para as nuvens do lado de fora da janela. — Não acho que seu pai fez o que está escrito nos relatórios policiais. — Ele não fez, existe uma passagem no diário da minha mãe que indica que ela mentiu para proteger quem mais ama. Desde o nascimento de Arthur, ela se sustentou com base em mentiras. — Será que foi Alberto? — Deitei minha cabeça no seu peito e ele me abraçou com força, me consolando e também a si mesmo. — É o único capaz de tal atrocidade, mas não há nada sobre Miguel, o tio de Ray. Ele ainda é uma incógnita nessa tragédia. — O importante é que Capela está do nosso lado e está ajudando a encontrar sua mãe. Ela estava no quarto e viu tudo. — Minha mãe... por muito tempo achei que não fosse nada além de uma recordação. Meus avós não falavam sobre meus pais, aprendemos a seguir a vida sozinhos. — Não precisa mais, eu estou aqui — falei e bocejei. — E me sinto o homem mais sortudo desse mundo, porque com você, minha família também veio junto. Família. Será que estávamos preparados para formar nossa própria? ***


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