
4 minute read
As Multifaces da Aviação Agrícola, e o Seu Papel para o Agronegócio
por Jeferson Luís Rezende
O campo se transformou nos últimos tempos num complexo de negócios que envolve atividades com moderna tecnologia embarcada.
Agricultura de precisão deixou de ser apenas uma frase, para se tornar um objetivo dentro da porteira: do plantio à colheita, a fim de que a produção de alimentos seja mais eficiente e sustentável.
Neste cenário onde ficam os aviões agrícolas? Afinal, em algumas regiões do país, onde eles deveriam estar reinando absolutos pelos campos, simplesmente desapareceram.
A possível verdade a este respeito (“possível” porque é difícil entender e explicar o fato), está ligada a adoção de máquinas terrestres próprias pelas fazendas, que acabam se descolando do uso da tecnologia aérea, e com isso, inviabilizando a presença das Empresas Aeroagrícolas.
Mas enfim, qual a tecnologia é melhor... o produtor rural está certo em se cercar de grandes autopropelidos?
O Paraná – celeiro do Brasil na produção de grãos é um dos lugares onde menos se voa...e onde, provavelmente, mais deve existir autopropelidos por ha. Até algumas regiões do Mato Grosso também declinaram do uso das máquinas voadoras, e outras ainda no cerrado não viram a chegada retumbante dos aviões.
Ora, se o avião é tão eficiente (ou até mais) do que o equipamento terrestre; se ele é mais rápido; se ele pode operar em seguida as chuvas; e, se ele não transfere vetores ou patógenos de uma área para outra, o que está havendo?
Provavelmente o que houve foi falta de cuidado/capricho de parte de alguns operadores em algumas regiões, que fizeram o produtor enxergar o lado errado da atividade. Mas, principalmente, houve falta de MARKETING: de levar a mensagem da aviação agrícola para a ponta, para o agricultor...para a cooperativa...para as revendas de químicos... para os ambientalistas...para o mundo fora da porteira de maneira geral. Lembrem-se que a propaganda é a alma do negócio. Veja o caso de marcas famosas como a Coca-Cola ou a Red Bull.
A indústria de máquinas terrestres é poderosa e sabe fazer a coisa acontecer. Possuí centenas de revendas espalhadas pelo país, com os seus vendedores visitando regularmente os “nossos clientes”. Por outro lado, a indústria aeronáutica ainda não aprendeu falar a mesma língua do homem do campo. Ainda não entendeu como funcionam as coisas dentro da porteira e o que de fato é preciso por lá. Observem, por exemplo, um folder de um avião agrícola: nele estão contidas informações aeronáuticas basicamente, e pouco ou quase nada de informações agrícolas?!
Enfim, em tempos de pandemia com o COVID, e tempos da chegada de nuvens de gafanhotos pelas beiradas do Brasil, talvez, possamos virar o jogo e tornar a aviação agrícola novamente a grande ferramenta de aplicação fitossanitária dos nossos campos. Lugar de onde ela jamais deveria ter saído.
Na cultura do Milho estimamse perdas ao redor de 7% por amassamento do equipamento terrestre, o que equivalem a 3.996 sacas numa boa safra de verão em 300 hectares ou, algo em torno de R$ 175.800,00 (US 32.800,00) !!!!
Na cultura da Soja as perdas podem ser um pouco menores é verdade, algo em torno de 3% em média, por amassamento, mas, não menos importantes. Numa área com topografia mais acidentada, com presença de corredeiras de água... ou curvas de nível, o trato cultural terrestre sofrerá interferências mecânicas importantes. Os balanços das barras e a troca de velocidade operacional irão reduzir a qualidade da aplicação. O avião, por não tocar o solo, consegue realizar a missão de maneira mais harmônica e eficaz.
Outras culturas também podem e são beneficiadas pela qualidade e rapidez do tratamento aéreo.
Mais recentemente, algumas regiões começaram a semear nabo forrageiro sobre a Soja em final de ciclo, a fim de ganhar precocidade e reduzir compactações. Mais um serviço com qualidade que a tecnologia aeragrícola presta para o campo.

Então, depois de demonstrados os problemas e as virtudes da aviação agrícola, o que podemos levar desta mensagem que de fato ajude fomentar a atividade e o seu crescimento. Importante lembrar que as aplicações aéreas representam menos de 20% do total de defensivos pulverizados nas lavouras. Portanto, há muito para crescer! Mas há também a chegada do herbicida DICAMBA, que vai exigir muito de todos os operadores, sejam eles terrestres ou aéreos (não sabemos se esta tecnologia permitirá aplicações por aviões). Os herbicidas representam atualmente o maior número de entradas na lavoura de soja.
A grande mensagem que desejamos deixar é de que: sim, a aviação agrícola é uma extraordinária ferramenta de apoio ao homem do campo.
Precisamos olhar para dentro do negócio: operadores e fabricantes, para enxergar onde eventualmente estamos errando (se estamos errando mesmo ou, se o mercado por qualquer motivo, deseja outra coisa).
E, no caso específico dos operadores (das Empresas Aeroagrícolas), entender que os aviões particulares das fazendas não são os verdadeiros inimigos do negócio. Muitos assim enxergam. Mas, ao contrário, se tiver avião voando sobre a lavoura, a boa mensagem... a propaganda e o fomento ao uso desta tecnologia estará lá.
Mas ainda assim, entender que ambos: aéreo e terrestre sem complementam e podem operar em conjunto. Um cobrindo a deficiência ou limitação operacional do outro.



Como vocês estão vendo é realmente difícil entender e explicar “por que” algumas regiões trocaram os serviços aéreos pelos terrestres. Mas não é difícil imaginar que possivelmente todos que labutam no segmento aeroagrícola podem contribuir para virar esta história, e retomar o seu lugar ao sol.
Quem sabe os gafanhotos em 2020 darão um nova e virtuosa proa para a aviação agrícola, como ocorreu em 1947. Sucesso a todos e bons voos!
Foi piloto agrícola, instrutor de voo e prof. universitário.
Consultor em tecnologia de aplicação e representante técnico de vendas ind. química.