
3 minute read
Fernão Capelo | Dr. Rogério Ribeiro Cardozo
Produção, Progresso e Conservação
Sabe-se que as abelhas são os maiores e melhores polinizadores existentes desde tempos remotos e que as mesmas são extremamente sensíveis a qualquer mudança dentro do seu ecossistema. Elas são responsáveis pela polinização de 73 por cento das plantas utilizadas direta ou indiretamente na alimentação humana e também na alimentação animal.
Alguns mistérios envolvendo as abelhas e seus ecossistemas acabam por vezes prejudicando a imagem dos produtores agrícolas indevidamente no que tange ao manejo da lavoura e ao uso de defensivos agrícolas, tanto por via terrestre quanto pela pulverização aero agrícola.
Um dos problemas que incidem sobre os apicultores é que de tempos em tempos aumenta a taxa de mortalidade do inseto prejudicando as colméias, a produção de mel e seus derivados e conseqüentemente a produção agrícola. Esse fenômeno ocorre a nível mundial e estudos estão sendo desenvolvidos para determinar a real causa desse aumento no índice de mortandade das abelhas, porém ainda não se têm resultados conclusivos para tais estudos.
Ouvindo as demandas dos apicultores e agricultores, e sabendo da importância de se interferir o mínimo possível nos ecossistemas impactados surgiu no interior do Estado de São Paulo uma iniciativa que está unindo esses atores para estudar e evitar a mortandade de abelhas.
O Projeto Colméia Viva – Mapeamento Participativo de Abelhas é uma iniciativa do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), com o apoio do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) e tem parceria participativa da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Participam ainda dessa iniciativa e da pesquisa 10 produtores e a Usina São João de Araras – SP. O objetivo é o de promover a conscientização sobre a importância da existência de uma relação harmônica entre os apicultores e os produtores agrícolas, pois ambos dependem das abelhas para manter sua sobrevivência.
Os apicultores são orientados a colaborar informando sobre a localização das colméias e também a comunicar à equipe do Projeto caso percebam mortandade de abelhas acima do normal. Aos agricultores cabe a adoção de uma série de boas práticas entre as quais avisarem aos apicultores sobre a aplicação de defensivos agrícolas com três dias de antecedência. Ao serem alertados, os apicultores devem proteger devidamente suas colméias. Segundo pesquisadores do Centro de Estudos de Insetos Sociais do departamento de Biologia da Unesp de Rio Claro – SP, o resultado até agora é a redução ao índice zero na mortandade de abelhas nas áreas impactadas pelo projeto, quando da utilização das boas práticas definidas pelo mesmo. A pulverização aérea de defensivos agrícolas é o foco estudo do projeto, pois a mesma costuma ser caracterizada como a vilã responsável pela mortandade de abelhas. Tal imputação está sendo desmistificada por esse estudo.
Os projetos de coexistência que aliam produtividade, proteção ambiental e desenvolvimento sustentável entre a apicultura e a agricultura têm demonstrado que a utilização dos preceitos de boas práticas pode ocorrer harmonicamente. Tal fato se torna explícito com os resultados obtidos no estudo citado acima onde nas áreas de domínio da Usina São João, em Araras – SP, após um ano da implantação do projeto Colméia Viva, a mortandade de abelhas em decorrência do uso inadequado de produtos fitossanitários foi reduzida a zero.
Informação e conscientização sempre foram as melhores armas para criar hábitos e conseqüentemente criar cultura. Destacar a importância da existência e da sobrevivência das abelhas para a polinização e para a manutenção da biodiversidade deve ser uma atitude constante alem de buscar apontar as responsabilidades de todos os envolvidos na busca por uma convivência em harmonia.
A distribuição de panfletos, cartazes e outros meios de divulgação estão acontecendo a nível nacional buscando levar essas informações ao maior número possível de pessoas refletindo a preocupação do setor aero agrícola e de defensivos agrícolas com a preservação dos enxames, com a saúde das abelhas e a coexistência entre a apicultura e a agricultura da maneira mais sustentável possível.