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Papo de Cabine | Bill Lavender

PAPO DE CABINE

Bill Lavender bill@agairupdate.com

40 anos de AgAir Update

AgAir Update vem trazendo notícias de aviação agrícola para pilotos agrícolas há bastante tempo, no mínimo há 40 anos. Tenho estado envolvido com a publicação na maior parte destes anos. Está sendo desafiador encontrar a origem. A publicação é provavelmente ainda mais antiga, mas eu simplesmente não tenho nenhum registro anterior a 40 anos. Eu sei, de memória, que June Ayres, esposa de Fred Ayres (um dos proprietários anteriores da Thrush Aircraft), por algum tempo editou o AgAir Update para a Georgia Agricultural Association, e acredito que depois disso os Dixons, na época empresários aeroagrícolas no sul da Geórgia, seguiram fazendo isso por um tempo.

Em algum ponto bem no início dos anos 1980, começou meu envolvimento com o “boletim” de uma página impressa nos dois lados. Eu fazia parte da diretoria da GAAA (Georgia Agricultural Aviation Association) e era empresário aeroagrícola desde 1979. Eu não sabia nada a respeito de publicação. Eu não sabia datilografar. Eu era um piloto agrícola! Bom, era trabalho voluntário, e nenhum dos outros diretores da associação sabia mais do que eu a respeito do negócio editorial.

Um amigo muito próximo, que vinha de uma família do jornalismo, veio me ajudar, para minha sorte. Ele me convenceu a transformar o boletim em formato A4 em um jornal. O maior problema para mim era encontrar conteúdo suficiente para preencher o mínimo de impressão, que eram oito páginas. De duas páginas pequenas para oito páginas grandes. Nunca me esquecerei de meu amigo jornalista dizendo, “Vamos completá-las com fotos”. É claro, ele estava motivado a me ajudar com este projeto porque sua empresa gráfica faria a impressão do jornal. Hoje, com mais de 100 páginas na edição americana, o desafio continua sendo o mesmo! Os custos de impressão e postagem aumentaram quando mudei de um boletim para um jornal. Eu precisava achar uma fonte de receita para cobrir estas despesas. A GAAA e eu fizemos um acordo de que se eu garantisse que todos os membros da GAAA recebessem uma assinatura gratuita, eu poderia assumir a propriedade da publicação, com suas receitas e despesas. Foi um tempo de muita preocupação. Felizmente, eu não dependia do AgAir Update para meu sustento, pois eu ainda voava agrícola.

Depois de mudar para o formato de jornal, uma das primeiras coisas que fiz foi expandir a base de assinantes para a Flórida e o Alabama, os dois outros estados da SouthEastern Aerocultural Fair (SEAF – Feira Aerocultural do Sudoeste). Nesta época, as assinaturas eram gratuitas.

Eu tinha recrutado alguns anunciantes, especificamente a Southeastern Aircraft Sales & Service, Thrush, Air Tractor, AirSouth Insurance, e alguns outros, os quais continuam sendo anunciantes em AgAir Update após estes quase 40 anos. Expandi a base de leitores para incluir os estados sulistas do Texas para o leste, até o oceano Atlântico.

Em torno de 1990, com o sucesso no sul dos EUA e demanda de assinaturas no resto do país e em partes do mundo, tornei a publicação mundial através de assinaturas pagas. Não demorou para que os países latinos se interessassem pelo AgAir Update. Foi quando nossa jornada pelas Américas do Sul e Central começou, no início dos anos 1990. Ter unido a comunidade aeroagrícola mundial através do AgAir Update, é o que considero uma de minhas melhores realizações durante meus 49 anos de aviação.

O ano 2000 chegou, e eu tive de tomar uma decisão. Até então, eu não tinha tirado um salário de AgAir Update, dependendo de meu trabalho como piloto agrícola e outras iniciativas empresariais para ter uma renda. Eu tinha 47 anos e não estava ficando mais jovem. Eu tinha de decidir entre voar agrícola e o trabalho no AgAir Update, que consumia muito mais do meu tempo. Foi quando eu pendurei meu capacete de piloto agrícola empregado. Eu tinha completado uma carreira aeroagrícola de 27 anos. Isso foi há 22 anos atrás. Sim, pode fazer as contas. Vou completar 70 anos de idade este ano. Como isso aconteceu?

Para minha sorte, meu filho, Graham, se criou tanto na aviação agrícola como no negócio editorial, desde os seus 15 anos, 27 anos atrás. Graham trabalhou comigo durante seu segundo grau na escola. Ele foi para a faculdade por dois anos, depois voltou para trabalhar em tempo integral para o jornal. Como acontece frequentemente em um relacionamento profissional entre pai e filho, nem sempre concordávamos. Ele partiu para buscar seu caminho na segurança pública, trabalhando como bombeiro, paramédico e por fim como paramédico aéreo em um helicóptero. Depois de cerca de oito anos, Graham se cansou da área médica e quis voltar a trabalhar para o AgAir Update, cerca de 13 anos atrás. Fico muito feliz por esta decisão dele. Ele ajudou a expandir a publicação, fazendo-a crescer em conteúdo e em formato de publicação. De todas as coisas que Graham fez pelo AgAir Update, uma das mais notáveis foi ter sido responsável pelo formato atual, de revista.

Em 1o de janeiro de 2021, vendi AgAir Update e sua publicação afiliada, AerialFire, para Graham. Eu já tinha começado a passar o comando das operações para ele alguns anos antes, mas agora estou me aproximando ainda mais da aposentadoria. Ainda participo da publicação de AgAir Update, através de meu editorial, alguns artigos e em aconselhamento baseado em minha arduamente adquirida experiência. E continuarei a editar as duas edições latinas de AgAir Update. Não tenho nenhum arrependimento sobre como tudo evoluiu e continua a evoluir. Quarenta anos de AgAir Update tem sido uma verdadeira bênção.

Comandante Bernardi – A Eterna Lenda

Por Juliana Turchetti Coppick

Laudelino Bernardi nasceu em 03 de outubro de 1940 em Tuparendí, no noroeste do Rio Grande do Sul. A mãe, que era professora municipal no interior gaúcho, se separou do marido quando Laudelino ainda era criança. Sendo o mais velho dos nove filhos, com apenas 9 anos de idade ajudou a mãe a criar e a sustentar os irmãos desde a infância até a época de faculdade. Sua batalha não foi em vão. Hoje todos os irmãos têm ensino superior completo e são dentistas, professores, psicólogas e bancários. Seu Avô paterno Ferdinando Bernardi veio da região de Treviso, na Itália, por volta de 1865.

Na juventude Bernardi foi estudante, músico profissional (ajudou a fundar a banda “ OS ATUAIS” que existe até hoje) e jogador de futebol. Formou-se em Contabilidade e após se tornou professor. Na década de 60 ingressou no Banco do Brasil onde como bancário, passou por todas as funções e residiu em diversas cidades do noroeste do RS, como Três Passos, Três de Maio e Santo Ângelo.

No final da Década de 60 casou-se com Venina Maria Bernardi, então funcionária pública do Estado do RS. No início da década de 70 nasceu seu filho único Pelópidas Bernardi.

Na década de 70 ingressou na aviação civil, fazendo os cursos de Piloto Privado, Piloto Comercial, Instrutor de voo e passou por todos os cargos de diretoria tornandose presidente do Aeroclube de Santo Ângelo RS. Senhor Bernardi foi o responsável pela modernização e aquisição de muitas aeronaves novas e construção de um edifício no centro para escritórios e alojamentos para aquela instituição de aviação, também pela formação profissional de centenas de aviadores que voam nas mais conceituadas companhias aéreas até hoje, tanto da aviação comercial como da agrícola. Durante toda sua carreira, o Comandante Bernardi se manteve ativo na diretoria do Aeroclube de Cachoeira do Sul – RS, como conselheiro fiscal, onde também se formou Piloto de Planadores, no início da década de 90.

Na metade da década de 70, conjuntamente com as atividades de aviação que exercia no Aeroclube de Santo Ângelo –RS, e as atividades profissionais no Banco do Brasil S/A, formou-se em Direito, recebendo o título de Advogado, pela Faculdade de Direito de Santo Ângelo – RS.

No final da década de 70 ingressou na carreira de Piloto Agrícola, fazendo em São Paulo, na cidade de Sorocaba, no CENEA – Centro Nacional de Engenharia Agrícola, o curso CAVAG – Curso de Aviação Agrícola.

Em seguida resolveu empreender. Pediu demissão do Banco do Brasil e fundou a Aero Agrícola Santos Dumont Ltda.

Foi precursor na implantação da aviação agrícola no Brasil e Rio Grande do Sul, e suas mais modernas técnicas de aplicação aérea de herbicidas, inseticidas, fungicidas, adubação em cobertura e semeaduras de culturas por avião, em uma época que os agricultores não tinham nenhuma possibilidade de salvar suas culturas de pragas, a não ser pela aviação agrícola.

Sempre foi pioneiro na atividade de aviação agrícola das mais modernas técnicas de aplicação aérea, novos equipamentos e a Aero Agrícola Santos Dumont foi a 1ª. Empresa do RS a usar na década de 90 o balizamento de lavouras por satélite, eliminando a necessidade de balizamento humano por bandeirinhas.

No início da década de 80 iniciou os trabalhos de aviação agrícola na região das missões, e, em seguida, dadas as oportunidades que surgiam e a boa qualidade da empresa, foi convidado a trabalhar em Cachoeira do Sul – RS, por lideranças do agronegócio local da época (Dr. Júlio Castagnino, Eng. Mota Lima, entre outros.).

Na mesma época, com a expansão do plantio do arroz e a tecnificação dessa cultura, construiu hangares e instalou filiais em Santo Ângelo, Passo Fundo, Tupanciretã, São Sepé, São Gabriel, Rosário do Sul, Alegrete, São Vicente do Sul e outros locais. Nessa época a empresa mantinha cerca de 12 aeronaves agrícolas EMBRAER IPANEMA e CESSNA atendendo desde o centro até o oeste do estado do Rio Grande do Sul principalmente a cultura do arroz; sendo responsável por plantio de arroz, adubação em cobertura com ureia e aplicação dos agroquímicos necessários à salvação das lavouras gaúchas. Na época a empresa tratava quase 200.000 hectares por ano/safra agrícola.

Na metade da década de 80, com a excelente recepção que teve na cidade, e o bom acolhimento da comunidade agrícola para a empresa, decidiu instalarse definitivamente em Cachoeira do Sul, RS, cidade que escolheu para construir o maior hangar que existe na região, para 12 aeronaves. Todas as instalações foram homologadas pela ANAC, certificadas pelo MAPA – Ministério da Agricultura e Pecuária e licenciadas ambientalmente pela FEPAM – Fundação Estadual do Meio Ambiente. A empresa é pioneira no cumprimento da legislação que protege o meio ambiente no Brasil, sendo modelo para Universidades, Faculdades e órgãos de ensino da área agrícola, recebendo mensalmente visitas de estudos sobre o tema Aviação Agrícola.

A Empresa também homologou na ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil o único centro de manutenção de aeronaves autorizado da região. Até hoje a Aero Agrícola Santos Dumont permanece como a única oficina homologada da cidade e região. A oficina é uma divisão da empresa dedicada a manutenção e conservação das aeronaves da frota da empresa, dentro dos rígidos padrões dos manuais de manutenção e controles da ANAC. A empresa dedica-se desde essa época, também ao comércio de aeronaves e suas partes e componentes. Na época o Comandante Laudelino certificou-se como Técnico em Manutenção de Aeronaves junto ao CREA/RS – Conselho Regional de Engenheiros e Arquitetos e ANAC.

No início da década de 90, com o conhecimento e know how adquiridos pelo pioneirismo na atividade de aviação agrícola, decidiu implementar a 1ª. Escola privada de aviação agrícola – CAVAG – Curso de Aviação Agrícola do Brasil, e até hoje mantém-se como a mais bemconceituada escola do Brasil. O Comandante Laudelino, nessa época certificou-se como piloto de Bimotores e foi nomeado examinador de pilotos credenciado pela ANAC, tornando-se autoridade aeronáutica regional. Com o crescimento da agricultura brasileira e mundial, a formação de pilotos agrícolas segue esse ritmo e a escola já formou até hoje cerca de 1.000 Pilotos Agrícolas. ➤

Cmte. Bernardi com sua esposa Venina Bernardi e seu filho Cmte. Pelópidas Bernardi.

Nossa escritora Juliana quando se formou com a turma LX – CAVAG Julho 2013.

Para a escola foram adquiridas aeronaves de instrução e agrícolas, sendo usadas em torno de 6 aeronaves nessa divisão.

Nessa atividade, são formados pilotos para todo o Brasil e todos os continentes do Mundo, tendo passado pelas salas de aula da empresa pilotos da África, Angola, Europa, Espanha, Estados Unidos, Republica Dominicana, Colômbia, Bolívia, Equador, Panamá, Costa Rica, Argentina, Uruguai e Paraguai, dentre outros países; a escola detém fama mundial como a melhor instituição de ensino da área da Aviação Agrícola.

No início da década de 2.000 Cmte. Bernardi foi fundador da primeira empresa de aviação agrícola do Paraguai e participante da implementação da aviação agrícola nesse país, a pedido das autoridades aeronáuticas locais, que pediram socorro para a agricultura que muito se desenvolve naquele país. Ajudou e colaborou também com a aviação agrícola do Uruguai.

Por volta de 2009, decidiu dedicar-se também a formação primária de pilotos, implementando e homologando a Aero Agrícola Santos Dumont junto a ANAC para os cursos iniciais de aviação, de Piloto Privado, Piloto Comercial e Instrutor de Voo de Avião. Nessa divisão, a empresa forma pilotos de todas as regiões do Brasil, que para Cachoeira do Sul se deslocam para tornarem-se profissionais da aviação civil. São utilizadas em torno de 6 aeronaves nessa atividade de instrução de voo. É hoje a única escola homologada ANAC da cidade e região. Bernardi tinha como hobby participar das feiras de aviação pelo mundo, principalmente nos Estados Unidos da América. Dotado de um incrível espírito empreendedor e visionário, participou de centenas de cursos de capacitação em aviação, feitos no Brasil e exterior.

Medalha Mérito Santos Dumont – Homenagem recebida em 2015 pelo Cmte. Laudelino Bernardi.

Homenagem.

Um momento que resume bem a importância desse homem que se tornou uma lenda na aviação ocorreu em 2015, quando foi condecorado com a Medalha Mérito Santos Dumont, uma honraria reservada a um seleto grupo de profissionais que tenham prestado destacados serviços à Aeronáutica. Segue um breve trecho de seu depoimento na época: “Tudo que fiz na aviação e continuarei fazendo, sempre foi pela magnitude que é a arte de voar, de poder transmitir aos idealistas o pouco

Na foto a família do Comandante Bernardi com a primeira turma de 2022 - CAVAG XCVI. Venina Bernardi com o filho Cmte. Pelópidas Bernardi, sua esposa Roberta Bonamigo e os filhos Pitágoras e Penélope. Em destaque na foto também os funcionários e os atuais dirigentes da Aero Agrícola Santos Dumont: Acemar Alves coordenador administrativo, Maikel Miotto coordenador do CAVAG e Gilberto Tatch coordenador de manutenção.

que sei, o desejo de sentir útil ao meu semelhante. Tenho a convicção que sempre plantei sementes boas e continuarei fazendo, enquanto o Aviador Maior me der vigor e sustentação.”

Eu, Juliana, me formei Piloto Agrícola pela Aero Agrícola Santos Dumont na turma de número 60 (LX), em 2013. Me recordo desse período como um dos mais intensos e desafiadores da minha carreira. No dia da minha formatura, Seu Bernardi (como nós o chamávamos) me deu um firme apertão de mão e me disse “Guria, tu venceste uma parada. Parabéns! ”.

Mantivemos contato e ele havia prometido me dar a honra de contar sua história para a coluna Lendas Vivas. Na ocasião da última edição, quando fizemos a matéria com o Cmte Tito, o Cmte. Bernardi me enviou um vídeo dizendo que “pagaria a dívida” dele comigo. Infelizmente não deu tempo e duas semanas depois, no dia 3 de março de 2022 nosso querido Laudelino Bernardi partiu para o voo eterno. Mas Sr. Bernardi não deixou somente saudade. Ele deixou um legado único.

Essa incrível biografia do Cmte. Laudelino Bernardi nos foi gentilmente cedida pelo autor e também filho de Laudelino, Pelópidas Bernardi.

Continuidade.

Foi com muita alegria que recebi a notícia, diretamente do Cmte. Pelópidas Bernardi, de que a Aero Agrícola Santos Dumont seguirá firme e forte... formando pilotos e mantendo sua inestimável contribuição à Aviação. A empresa agora está se transformando em um moderno CIAC- CENTRO DE INSTRUÇÃO DE AVIAÇÃO CIVIL nos novos e modernos moldes da ANAC

Pelópidas, além de aviador formado é também empresário e proprietário da PBA Parts, que vende aeronaves e peças aeronáuticas. A esposa Roberta Bonamigo Bernardi exerce a função de supervisora administrativa financeira das atividades da PBA. Os netos do Comandante Bernardi, os jovens Pitágoras (16) e Penélope (13) já estão começando a formação de Aviadores.

A partida de uma personalidade tão importante como o Cmte. Laudelino Bernardi muito entristece a comunidade aeronáutica, mas seu exemplo de dedicação e amor à aviação ficarão para sempre na memória daqueles com quem interagiu.

Que o nosso grande amigo, mentor e aviador possa descansar em paz e certamente seus ensinamentos manterão viva a sua memória. Certamente seus bons conselhos serão eternos companheiros de voo de muitos aviadores e aviadoras pelo mundo afora!

Juliana Ap. Turchetti Coppick “Veni vidi vici”.

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