A Colônia da Princesa. - Everaldo Araújo

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ORELHA O autor parte da necessidade de oferecer ao público, um livro que reúna a História particular da origem da povoação que resulta no município de Colônia Leopoldina. A presença física do imperador D. Pedro II na Colônia, as providências dos primeiros administradores para manter a importante povoação em constante intercâmbio com os Centros Administrativos da Província e do país na época, as lutas intestinas, os primeiros engenhos, a produção agrícola, as limitações das comunicações, o abastecimento da povoação, as primeiras construções, as demarcações das terras são contados com documentos que estão inseridos neste conjunto. A pesquisa é o marco principal da obra, a qual leva ao leitor minúcias de um passado secular que está espalhado no tempo, no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, no Arquivo Público de Alagoas e em Petrópolis (RJ), entre outras fontes. A tradição também é respeitada principalmente no que tange à religiosidade do povo e a um tesouro pré-explorado, mas que o misticismo e as histórias contadas à orelha transmitem um temor aos viventes em prosseguir na batalha pelo bem fabuloso, encravado no interior de uma grande montanha em rochas. Trata-se de um trabalho sério realizado pelo valoroso e abnegado filho da terra e que encontrou esta fórmula como a melhor, para homenagear seus ancestrais. As gerações futuras terão como encontrar em um só compêndio o passado que era disperso, sobre Colônia Leopoldina, a partir de 1851 até os dias atuais. Braz de Aguiar Jornalista

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EVERALDO ARAÚJO SILVA

A COLÔNIA DA PRINCESA

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Dedicamos este trabalho à Casa Imperial Brasileira, em lembrança à Sereníssima Princesa Dona LEOPOLDINA Teresa Francisca Carolina Xavier de Paula Michaela Gabriela Rafaela Gonzaga – Duquesa de Saxe.

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À memória dos nossos bisavós e avós, paternos e maternos:

ANTÔNIO ALEXANDRE DA SILVA e ANTÔNIA MARIA DA CONCEIÇÃO

ANTÔNIO JOAQUIM DO NASCIMENTO e TOMÁSIA DO LIVRAMENTO SILVA

JOSÉ ANTÔNIO DA SILVA e MARIA DO LIVRAMENTO SILVA o0o MANOEL BELARMINIO SILVA e ANA MARIA DA CONCEIÇÃO

ANTÔNIO DO NASCIMENTO e MARIA ANTÔNIA DA CONCEIÇÃO

PEDRO ERASMO DE ARAÚJO e MARIA ANTÔNIA DA CONCEIÇÃO

Meu preito de saudade à minha mãe, MARCIONILA ARAÚJO DA SILVA (1906 – 1982)

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Trechos de uma antiga e anônima inscrição, datada de 1864, encontrada numa Igreja em Boston, nos Estados Unidos da América do Norte, cujo título significa: aspiração ou aquilo que se deseja. DESIDERATA “Siga tranquilamente, entre a inquietação e a pressa, lembrando-se de que há sempre paz no silêncio. Tanto quanto possível e sem humilharse, mantenha-se em bons termos com todas as pessoas. Fale a sua verdade mansa e claramente. E ouça a dos outros, pois eles também têm a sua própria história. ... Apesar de todas as falsidades, decepções e desencantos, o mundo é bonit...”

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SUMÁRIO

PREFÁCIO / NOTA DO AUTOR / I - PRELÚDIO HISTÓRICO / II - MARCOS INICIAIS /  A Demarcação /  Instalação Oficial /  Homenagem aos pioneiros / III - REVELAÇÕES DA HISTÓRIA /  Extinção da Colônia Militar Leopoldina /  Episódios Adjacentes / IV - A VILA DE LEOPOLDINA / V - A CIDADE DE LEOPOLDINA /  Os Interventores /  Sequência Histórica / VI - ASPECTOS DA RELIGIOSIDADE / VII - A CULTURA LEOPOLDINENSE / VIII - O TESOURO DA SERRA AZUL / IX - SUA GEOGRAFIA / X - CALEIDOSCÓPIO / CONCLUSÃO / BIBLIOGRAFIA

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PREFÁCIO

Chegou-me às mãos o livro a ser proximamente editado pelo bancário Everaldo Araújo Silva, o qual leva o título A Colônia da Princesa. Pretende o autor, com a publicação dessa obra, render justa homenagem à terra onde nasceu e mantém as raízes de família. Apresenta-se a mesma como um trabalho vazado na historiografia setorial. Quando publicado, o Príncipe herdeiro do Terceiro Império do Brasil comprometeu-se em vir participar da solenidade do lançamento, a ser efetuada na própria cidade de Colônia Leopoldina. Empenhase o historiador Everaldo Araújo em dar o maior brilhantismo a essa efeméride, para a qual estão sendo convidadas todas as autoridades do Estado. No conteúdo da obra, busca o autor, pelas pesquisas concretizadas, responder à afirmação de alguns estudiosos, que assim se externam: “Até hoje permanece ignorada a época em que se formou o primeiro núcleo populacional, que de origem à atual cidade de Colônia Leopoldina”. Como leopoldinense, portador da sólida cultura humanística, o autor encontra as bases da construção político-social do seu município, reportando-se aos fins do século XVIII, quando na área ocupada existia um engenho, cercado por proprietários de pequenas glebas. Densificou-se esse centro populacional em meado do século XIX, quando foi criada pelo magnânimo Imperador Dom Pedro II a COLÔNIA MILITAR, através do Decreto no 729, de 09 de novembro de 1850. Ao ser instalada, em 20 de fevereiro de 1852, passou a ser o aquartelamento um polo de convergência de imigrantes curiosos e de alguns desarrumados alagoanos. Em sendo férteis as terras polarizadas, que se situam na zona fisiográfica da mata, não tardou o povoamento em constituir-se num compacto canavial. Os vales do Jacuípe e do Taquara são artérias vivas que cortam o território municipal, fertilizando boa parte do mesmo e oferecendo importante e incalculável riqueza telúrica. Baseados em notícias daquele tempo, dizem alguns cronistas que Dom Pedro II esteve em visita à Colônia Militar, quando da excursão imperial ao Nordeste, terminada em janeiro de 1860. Contestam certos historiadores essa jornada do monarca à região divisória de Alagoas/Pernambuco. Diz, porém, a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, com destaque, o seguinte: “Em 05 de janeiro de 1860 a Colônia recebia o Imperador Dom Pedro II, cuja visita deixou traços inapagáveis e constituem, para os leopoldinenses, o ponto alto das reminiscências históricas da sua terra. Sua Majestade, que ali pernoitou, hospedou-se na

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antiga casa da diretoria, hoje não mais existente. Como lembra da visita do imperador, há na cidade duas árvores conhecidas como castanholas, plantadas pelo mesmo”. Em sendo extinta a Colônia Militar, em 1867, continuou Leopoldina a agrupar-se, convertendo-se em próspero distrito do município de Porto Calvo. Pela Lei no 985, de 20 de junho de 1923, foi elevada à categoria de cidade. O Decreto Lei estadual no 2.909, de 31 de dezembro de 1943, definiu que passasse a ser chamada Colônia Leopoldina. O nobre senador Eusébio de Andrade, homem de letras e poeta, costumava dizer que Colônia Leopoldina, sua terra-berço, era a Princesa Imperial da Fronteira. Como verdadeiro jardim, na plenitude verde dos canaviais, Colônia Leopoldina é atualmente um dos pontos mais indicados para converter-se em polo turístico.

Professor MEDEIROS NETTO Vice-Presidente Nacional da Academia Brasileira de História

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Sereníssima Princesa Dona LEOPOLDINA – Duquesa de Saxe. Nascida no dia 13 de juho, de 1847, no Palácio da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão (Rio de Janeiro). Seu casamento com o Príncipe Luis Augusto Maria Eudes, ocorreu no dia 15 de dezembro de 1864. Tiveram quatro filhos varões. Faleceu em Viena, capital da Áustria, no dia 07 de fevereiro de 1871, aos vinte e quatro anos incompletos, vítima de febre tifóide.

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NOTA DO AUTOR

Estamos em plena estação da primavera do ano de 1982 e com tudo o que essa estação tem direito, sol, céu azul, flores e a amenidade própria desse tempo e com todos estes ingredientes chegamos também à motivação e à inspiração para escrever este livro, provocando naturalmente aquele estado de expectativa e excitação muito característico e natural que antecede ao nascimento de um membro da nossa família, nascimento esse circunstanciado e com direitos assegurados à primogenitura literária, portanto, com traços marcantes de felicidade, alegria e grande esperança no seu futuro... O desejo, o querer e a pretensão do autor é alcançar com suavidade o compasso e a harmonia apropriados para enveredar pelos campos do estudo dos fatos sociais e históricos que se desenrolaram no tempo e refazer o elo que faltava na corrente desse tempo, escrevendo sobre a cidade de COLÔNIA LEOPOLDINA. 11


Sempre nos fascinou aprender o que aconteceu e como aconteceu o passado e apesar da vontade de ouvir, ler, pesquisar, etc., descobrimos as histórias que não nos contaram, respeito à memória dos imperiais personagens e das grandes e reais figuras que aqui nasceram ou vieram de outros recantos e andaram pelos nossos caminhos e beberam da água do rio Jacuípe aplacando suas sedes e trabalharam, e também descansaram seus corpos ao abrigo das intempéries no palácio sono dos justos. Também reverenciamos os continuadores e batalhadores de hoje, que por certo tomarão conhecimento da história da Princesa e poderão assumir o compromisso com as gerações futuras de lhes ensinar que o passado foi nobre aqui. Desejamos escrever sem, contudo, abrigar o rigor das normas e das leis, com as quais as ciências estão intimamente ligadas à História, sendo o nosso compromisso somente com a verdade histórica para reavivar as lembranças da nossa terra. Daqui por diante iniciamos a caminhada por este novo rumo da vida; não sabemos como será... Vamos começar esta nova jornada propondo estabelecer uma relação entre o passado e o presente, através da pesquisa e da busca do conhecimento dos fatos que nos antecederam, procurando a reconstrução lógica do passado que à luz dos acontecimentos contemporâneos ilumina com singular intensidade. O conhecimento do nosso passado é condicionado pelos meios de aproximação: onde os documentos são mudos, o passado se cala; onde eles significam, o passado é significativo; onde eles são um eco deformado, o passado também é deformado. A interdependência une no tempo e no espaço os homens que vivem e que viveram nas grandes épocas de crise ou de apogeu e assim sendo, a vida n os reserva surpreendentes estágios, acontecimentos e lições que servem para nos retemperar e recompor o nosso posicionamento diante da nossa própria fragilidade e limitação e assim poder observála no doce enlevo de uma criança, na plena atividade explosiva da juventude, no fascínio e no romantismo da adolescência, no vigor e na capacidade produtiva do adulto e na ternura da lembrança do tempo vivido na velhice; tais situações, são os componentes das diversas fases da nossa vida. Emoldurando este quadro de composição ora clássica ora modernista e por vezes surrealista, vivemos todas estas modificações possíveis e imagináveis representando uma variedade enorme de papéis, que pode ter um magistral desempenho, chegando até ser apoteótico ou ter um desempenho medíocre; apesar do grande esforço que impomos a nós mesmos para levar a bom termo a tarefa que nos cabe realizar com singular perfeição. Nascimento implica em vida. A vida implica em necessidade e as necessidades implicam em ser satisfeitas por fatos concretos ou abstratos. Como pelo amor, segurança, trabalho, reconhecimento, estímulo e também acreditar em si mesmo e nos outros. Esta é a 12


nossa profissão de fé. E agora embalamos acalentado sonho de tantos anos e começamos a sentir a forma, o conteúdo e a cor, que são as dimensões imaginadas por nós, para retratarmos o nascimento ou surgimento da COLÔNIA MILITAR LEOPOLDINA, sem, contudo deixar de reconhecer as limitações do autor, isto sem a tal da falsa modéstia. Utilizamos vários recursos para elaboração deste trabalho. Ouvimos fontes orais, consultamos documentos, recebemos conselhos e como decorrência natural temos a base, que é o sustentáculo de toda a estrutura que desejamos construir ou edificar solidamente e assim esperamos que este lançamento esteja devidamente estruturado para abrigar no seu conteúdo, ensinamentos às gerações de hoje e às do amanhã. A matéria é merecedora de um tratamento relevante, caminharemos através dos fatos sociais, econômicos, religiosos, políticos e culturais. A todos que nos estimularam e proporcionaram meios para a realização desta obra, deixamos registrado os nossos agradecimentos. Também, consignamos particularmente, o nosso imorredouro preito de elevada gratidão e respeito àqueles que não se sensibilizando com este trabalho de pesquisa, se omitiram; dando margem para que fosse reformulado com ânimo forte uma nova trajetória desta nova peregrinação por caminhos cheios de obstáculos... mas, nem mesmo a omissão ou a indiferença de muitos, não foram suficientes para abater a nossa fé e esperança, e este livro não deixou de ser publicado. Registramos, com profunda gratidão de aprendiz da história, a disponibilidade e os aconselhamentos dados pelo eminente professor, pesquisador, historiador e diretor do Arquivo de Alagoas, Dr. Moacir Medeiros de Sant’Ana. O Arquivo Público de Alagoas tem, sob sua guarda com esmerado cuidado, as relíquias do patrimônio histórico do nosso Estado e só assim podemos ter às mãos os documentos que nos serviram de fonte viva para as descobertas sobre o “fio da meada” que buscávamos encontrar desde os tempos de estudante (nos idos de 1950 a 53), do Colégio Diocesano de Garanhuns, no Estado de Pernambuco; o tradicional “TEMPLO SAGRADO DE LUZ E SABER”, lá da Praça da Bandeira. E, através de um despretencioso contato telefônico, o professor Moacir nos fez chegar às origens que tanto desejávamos, com profundidade e logicamente com as respectivas provas documentais, sobre a Imperial povoação deste extremo norte do atual Estado de Alagoas. Basicamente, o conteúdo do nosso trabalho é o resultado da pesquisa realizada em várias fontes bibliográficas, através dos quais procuramos dar para o tempo presente o significado do nosso passado histórico.

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No Arquivo Público de Alagoas, consultamos, dentre outros, os documentos do período compreendido entre os anos de 1851 a 1867, constantes dos maços 31 e 32, estante 09, do seu precioso acervo. O início da nossa secular história particular. Os documentos apresentados são cópias fiéis dos originais manuscritos. A ortografia foi atualizada e a pontuação respeitada. E.A.S.

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I – PRELÚDIO HISTÓRICO

Os aglomerados humanos para se fixarem à terra numa determinada região ou localidade, sempre dependeram de procedimentos e processos aleatórios ou de prévia determinação. Tanto num quanto no outro caso, o aparecimento de um arruado é simplesmente ditado pela vontade ou interesse das pessoas que procuram um abrigo e sua alimentação para assim poder garantir sua sobrevivência e a dos demais integrantes do grupo. A fixação espontânea pode ser o resultado de vários fatores sociais, como motivos da atividade política (para fugir à represália dos vencedores), religiosa (a devoção, o fanatismo ou outra manifestação de crença e fé tributada à gratidão e reconhecimento por algum fato extraordinário), militar (para defender o território de ataque iminente ou só por medida de segurança ou ainda para pacificar uma região sacudida pela violência) ou puramente instintiva para sobreviver. O homem depende fundamentalmente da terra para suprir suas necessidades básicas; daí, no decorrer do tempo o aglomerado que podemos chamar de “arruado” poderá passar por várias fases como, de simples lugarejo, para ser elevado a categoria de distrito, vila e alcançar 15


foros de cidade. As cidades podem ser classificadas como de pequeno, médio e grande porte, dependendo do número de habitantes, bens e serviços produzidos e tantos outros elementos que servem para avaliar sua classificação. Os processos, modos, procedimentos e maneiras do homem se fixar à terra são os mais variados possíveis, podendo ser levado em consideração o atrativo que a localidade ou região possa oferecer aos seus ocupantes. Estes atrativos são de ordem puramente racional ou emocional, tendo em vista que a natureza exerce sua influência no tocante às belezas naturais (panorama, paisagem, etc.), a fertilidade do solo, a riqueza mineral, o clima, a existência de cursos d’água e tantos outros aspectos que possam influenciar na tomada de decisão ou escolha do local ou sítio para se instalar e permanecer. Vamos utilizar a nossa imaginação e recorrer então ao artifício de recuar no tempo obedecendo à contagem regressiva. Estamos no passado longínquo do ano de 1500, portanto, no começo do século XVI na movimentada fase dos descobrimentos marítimos, onde os portugueses singravam mares nunca d’antes navegados procurando achar, encontrar, descobrir e este era o propósito de todos os envolvidos neste processo de busca. Sob o reinado de D. Manoel I, Portugal preparou uma Armada para tirar proveito do que já anteriormente Cristóvão Colombo o fizera descobrindo o caminho marítimo para as Índias. Esta Armada era composta de treze navios de diferentes tonelagens, incluindo-se logicamente alguma caravelas, então o rei nomeou para comandá-la, na condição de capitão mor, o fidalgo Pedro Álvares Cabral, alcaide mor de Azurara e senhor de Belmonte, pelas suas boas qualidades, pois, esta missão implicava em múltiplos desempenhos, por ser diplomática, comercial e, eventualmente, militar. Após ouvida a missa celebrada na Ermida do Restêlo, em Belém, com a presença do rei, a expedição zarpou no dia 08 de março do ano de 1500, para dar cumprimento ao que foi previamente estabelecido; descobrir um novo caminho para as Índias, de preferência, mais curto que o de Colombo; porém, outro feito estava para acontecer. Está registrado na carta de Caminha, que no dia 23 de abril, foi avistado “um grande monte, muito alto e arredondado”, o qual recebeu o nome de Monte Pascoal. Descoberto o Brasil com ou sem intencionalidade, a posse da nova terra coube a Portugal, começando aí o chamado período Colonial, que durou 315 anos. Para melhor conhecimento da nova terra, vieram expedições de reconhecimento do litoral, dando nomes de acordo com o santo de cada dia (16 de agosto, o Cabo de Santo Agostinho; 04 de outubro, o Rio São Francisco; 1 o de

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novembro, Baía de Todos os Santos e assim por diante); expedições colonizadoras, de guardacostas, etc. Estabeleceu-se o regime de Capitanias Hereditárias, porém, não houve o sucesso esperado, daí foi criado o Governo-Geral. As implicações administrativas foram crescendo. A Colônia era palco de lutas sangrentas dos colonizadores contra os índios, de ambos contra invasores franceses, holandeses e espanhóis. Os jesuítas catequisavam os índios, fundavam cidades, criavam escolas e também eram envolvidos nas lutas. Os engenhos de açúcar floresciam em Pernambuco e em São Vicente. A criação de gado se interiorizava. Os bandeirantes penetravam além da linha de Tordesilhas, o Brasil crescia. Maurício de Nassau governava parte do Nordeste e um sentimento nativista nascia nos Montes Guararapes. A Inconfidência Mineira filosofou em termos republicanos. A Colônia era vice-reino. o0o

Decorridos três séculos, iniciamos nossas andanças no século XIX, no ano de 1808. Face a política de Napoleão Bonaparte, Imperador dos franceses, pretendendo se impor a todos os países da Europa continental e lançando mão do bloqueio à Inglaterra, que nada mais era senão o fechamento de todas as relações comerciais com o império britânico, Portugal por motivos óbvios não deu cumprimento integral ao Imperador dos franceses, pelo que sofreu a invasão de seu território pelas tropas de Napoleão; comandando tal invasão estava o general Junot. Com o perigo da invasão a Portugal, o Príncipe Regente D. João veio abrigar-se a salvo das hostes napoleônicas em terras brasileiras. Sua chegada foi no dia 22 de janeiro de 1808. Uma nova fase apresenta-se ao destino da Colônia com sua elevação à categoria de Reino Unido ao de Portugal e Algarves, fato acontecido no dia 16 de dezembro de 1815. O Brasil viveu um surto de progresso, com a criação da Escola Superior de Medicina, a Academia Militar, e a Imprensa Régia. O comércio foi beneficiado com a abertura dos portos às nações amigas; a indústria também progrediu. A permanência de D. João aqui no Brasil foi de 27 anos e foi nesta sua passagem pelo Brasil que o mesmo Príncipe Regente houve por bem separar ou desmembrar da Província de Pernambuco o atual Estado de Alagoas, isto a 16 de setembro de 1817. Por razões de sérias dificuldades políticas em Portugal, retorna à metrópole, não mais o Príncipe

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Regente e sim o Rei D. João VI, porque, com o falecimento de D. Maria I, processou-se sua elevação ao trono. Seu retorno a Portugal foi no dia 26 de abril de 1821. Ficou como regente o príncipe D. Pedro de Alcântara Francisco Antônio Carlos Xavier de Paula Miguel Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon. O curso da história reservou para D. Pedro a condição de protagonista da nossa Independência, marcada com o fato histórico de 07 de setembro de 1822, à margem do riacho Ipiranga, em São Paulo, quando ecoou o grito de “Independência ou Morte”. Tornou-se aos 24 anos de idade, o imperador D. Pedro I. E o seu reinado durou aproximadamente 10 anos. Foi o que podemos chamar de um período de grandes lutas, tanto no campo diplomático, como no campo de batalha, pois, o reconhecimento da nossa Independência foi tarefa cansativa e demorada. A eclosão de revoltas em vários pontos do Império, foi uma constante: a Confederação do Equador, a Guerra Cisplatina, que se estendeu também à Argentina, quando no fragor da luta a 24 de novembro de 1826, D. Pedro recebeu a notícia da morte de Arquiduquesa da Áustria e Imperatriz do Brasil D. Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo-Lorena, com quem havia se casado a 09 de abril de 1817, resultando dessa união o nascimento de 07 filhos, dentre os quais, o segundo Imperador do Brasil. As segundas núpcias de D. Pedro I foram celebradas por procuração,  caso idêntico ao do primeiro casamento – no dia 30 de maio de 1829, com D. Amélia Augusta Leuchtenberg de Bragança. A impetuosidade que marcou sua trajetória como Monarca e com a simplicidade dos fortes, D. Pedro I assim deu por finda sua participação no cenário politico: “Usando do direito que a Constituição me concede, declaro que hei mui voluntariamente abdicado na pessoa do meu amado e prezado filho, o Sr. D. Pedro de Alcântara. Boa Vista, 07 de abril de 1831. 10o da Independência e do Império”. Pela confiança depositada no Patriarca da Independência, quis D. Pedro I assegurar para o seu filho a orientação de José Bonifácio de Andrade e Silva, na qualidade de tutor do Príncipe D. Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Gonzaga, nascido no Palácio da Boa Vista, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, no dia 02 de dezembro de 1825; estava, portanto, com seis anos de idade quando foi iniciado o Segundo Reinado. O período, entre a abdicação de D. Pedro I e a proclamação de D. Pedro II, ficou conhecido como Período Regencial, findado no dia 23 de julho de 1840, quando perante a Assembleia Geral Legislativa, presidida pelo Marquês de Paranaguá, foi D. Pedro II

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proclamado Imperador Constitucional do Brasil, com a idade de 14 anos e sete meses e seu reinado durou cinquenta e oito anos (1831 e 1889). O reinado de D. Pedro II teve três fases distintas: de 1850 a 1863 foi a fase de apogeu do Segundo Reinado; de 1864 a 1870 foi de guerras externas e de 1871 a 1889 de decadência. No dia 30 de maio de 1843, o Imperador casou-se com D. Teresa Cristina Maria de Bourbon e tiveram quatro filhos: D. Afonso; D. Isabel, a Redentora; D. Leopoldina e D. Pedro Afonso. Com base em tudo quanto possa servir para a análise histórica do Segundo Reinado, podemos afirmar sem sombra de dúvida que este período foi de grande evidência para a pátria brasileira, pelo progresso alcançado, virtualmente pela magnanimidade do pensamento e atitudes desenvolvimentistas advindas da ação política, administrativa e liberal do Imperador, visto possuir a estrutura de profundo conhecedor dos problemas de cada região e com a proficiência dos sábios promoveu através de medidas eficazes as soluções que mais se adequavam aos problemas conjunturais que afligiam o imenso Império. Foi governante na mais profunda concepção do termo e deu provas insofismáveis pelas acertadas posições definidas e com características peculiares atinentes à agricultura, ao desenvolvimento comercial, fazendo com que a exportação superasse com larga margem, a importação, dando oportunidade para que a balança comercial se posicionasse ao nosso favor, até o advento da República. A navegação à vapor, a construção das primeiras estradas de ferro e de rodagem favoreceram o crescimento extraordinário do mercado interno.

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II – MARCOS INICIAIS

Na conceituação de que “a história é a testemunha ocular dos fatos ocorridos através do tempo”, nada mais lógico, do que a sua utilização para no nosso caso, vivenciarmos retornando às origens e sentir o acolhimento individual ou coletivo, para as propostas da busca, para o reencontro com uma realidade imaginada, mas, não sentida; na maioria das vezes. A nossa busca é tridimensional, pelas direções que tomamos para encontrar a história em qualquer altura da vida, na largura do tempo, enfeixando os acontecimentos e na profundidade de suas tradições orais ou escritas. Sendo que este conjunto nos dá o posicionamento de uma realidade próxima, sentida pela emoção de sabermos que ainda estamos inteiros, plenos de satisfação, porque a qualquer momento podemos tocar com as mãos o passado longínquo e abrigá-lo ao nosso alcance para matar a saudade quando assim desejarmos fazê-lo. O homem, como entidade sensível que é, deixa extravasar todo o sentimento incontido no mais escondido do seu SER e manifesta claramente sua tendência em cultuar e reverenciar a terra que lhe serviu de berço, pois, assim entendemos a estabilidade do homem 20


dentro dos princípios do civismo que aflora com exuberância e grandeza no solene momento de reflexão do que seja o seu lugar de origem. Há 132 anos, teve início a nossa história e bem podemos afirmar que a região era percorrida por tribos indígenas, como boa parte da Província de Alagoas, nada nos põe dúvida quanto a isto, pois, o rio, as metas e a relativa proximidade com o litoral indicam fortemente esta afirmativa. A Província de Pernambuco, pródiga em lutas armadas, concorreu para que os vencidos naturalmente procurassem distância dos vencedores embrenhando-se pelo interior para ficar a salvo do revide dos mais fortes e está constatado, através de documentos, que o aparecimento de grupos extremados nesta região fez com que o Governo Imperial criasse uma Colônia Militar com a função de protegê-la do ingresso nestas bandas, de tais grupos armados. Há citação de que Vicente Ferreira de Paula foi participante ativo da revolta que foi uma continuação da Abrilada e da Cabanada que duraram de 1832 a 1835 e as Províncias de Pernambuco e das Alagoas foram palcos de mais um movimento pela restauração de D. Pedro I. Os restauradores foram apoiados por escravos fugidos, camponeses e pelos índios do Jacuípe (Grupo Jacuíbe). Além do já citado Vicente Ferreira de Paula, também chefiava pequenos grupos de combatentes destes mesmos movimentos, Manuel Afonso de Melo, Antônio Timóteo, João Batista de Araújo e Alexandre Gomes de Oliveira. Os constantes movimentos armados, que perduraram com outros nomes, fizeram com que o governo tomasse sua posição de defesa e assim houve por bem, o Imperador D. Pedro II, com o Decreto no 729, de 09 de novembro de 1850, criar a Colônia Militar. criada estava a Colônia, o passo seguinte seria a demarcação do local para a sua instalação, feito ocorrido de acordo com o Termo Declaratório que a seguir é transcrito:

A Demarcação “Termo declaratório de marcação do terreno em que se tem de fundar a Colônia Militar desta Província das Alagoas – Aos vinte e seis dias do mês de fevereiro do ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus cristo de mil oitocentos e cinquenta e um, trigésimo da Independência e do Império do Brasil, sob o glorioso Reinado do Senhor Dom Pedro Segundo, e a Presidência do Exmo. Conselheiro Dr. José Bento da Cunha e Figueiredo, nesta cidade de Maceió Capital da Província das Alagoas, em os Paços da Câmara Municipal, onde foi vindo o Juiz Municipal Suplente e interino dos Feitos da Fazenda Pública, Luís Corrêa de 21


Menezes comigo Escrivão dos ditos Feitos abaixo nomeado, e o Dr. Procurador Fiscal da Tesouraria da Fazenda Geral Fernando Affonso de Mello, compareceu o Capitão do Imperial Corpo de Engenheiros Christiano Pereira de Azeredo Coutinho, que em virtude das ordens Imperiais havia sido encarregado de medir e demarcar nas matas de Jacuípe outrora ocupados pelo famigerado Vicente Ferreira de Paula, e outros salteadores, uma légua quadrada de terras, para nela se fundar uma Colônia Militar segundo o disposto no Regulamento de 09 de Novembro de 1850, e aí perante o dito Juiz e Procurador Fiscal declarou o mesmo Capitão Engenheiro que mediu, e demarcou como de fato medida e demarcada se acha para fundação da dita Colônia nesta Província uma légua quadrada de terras na margem direita do rio Jacuípe pela maneira seguinte.  Da boca do riacho denominado Pimenta na margem direita do rio Jacuípe, onde para sinal, e como ponto de partida mandou-se assentar um marco de sucupira lavrado em quatro faces com seis palmos de altura deu princípio o referido Engenheiro no dia 16 de janeiro de 1851 a medição da frente da légua quadrada de terras para a Colônia Militar da Província das Alagoas, e partindo do mesmo marco a rumo de O.S.O. com diversos repiques a rumo N.N.O. por causa das muitas voltas do leito do rio fazendo para isso uso de uma bússola topográfica, mediu cento e setenta e cinco braças craveiras com uma corrente graduada, rio acima até um ponto da margem direita do mesmo rio, onde mandou assentar um marco de Imbiriba preta lavrado em quatro faces com seis palmos de altura e um enquadrado, o qual marco ficou existindo entre duas grandes árvores de Louro na distância de três braças de cada uma delas fazendo-se em torno do referido marco e das mesmas árvores uma derrubada para ser o lugar mais facilmente reconhecido, e aí parou por ter escolhido esse ponto para extrema ocidental das terras da Colônia – Voltando ao marco de sucupira na boca do mencionado riacho Pimenta continuou o Engenheiro a medição da linha da frente pela mesma margem rio abaixo, fazendo os repiques necessários a rumo de S.S.E. para salvar as voltas do leito do rio, e ao rumo E.N.E. mediu com a mesma corrente duas mil quatrocentos setenta e cinco braças até atravessar o riacho denominado – Engenho de Cima ou Macaco – e continuando mediu mais quinhentas e vinte e cinco braças com as quais completaram-se as três mil de linha de frente, findando-se a medição em um ponto a margem direita do rio que é externa oriental das terras, onde mandou se cravar um m arco de Pau d’Arco, lavrado em quatro faces com seis palmos de altura e um enquadro distante da margem cinco braças e a beira da estrada que do lugar do marco conduz a Povoação de Jacuípe. Achando-se assim medida a frente passou-se a medir as extremas principiando pela extrema ocidental onde se encontra o marco de Imbiriba preta, e assentando a Agulha correu-se o rumo S.S.E. para o 22


interior das terras, medindo quinhentas e noventa e cinco braças até as fraldas da serra denominada de Teixeira ou Pripiri onde encontrou a linha uma grande pedra escalvada. Daí continuou ela subindo a serra e mediu-se mais oitenta braças até o alto da dita serra – Deste ponto continuou a mesma linha por terreno montanhoso e mediram-se mais no mesmo rumo de S.S.E. seiscentos e dez braças até o fundo de uma grota onde tem origem o riacho Pimenta, continuando mediram-se mais oitocentos e noventa braças até atravessar um riacho sem nome mediram-se mais setenta e cinco braças e tornou a linha acostar o mesmo riacho sem nome mediram-se mais setecentas e cinquenta braças, e com elas completaram-se as três mil da extrema ocidental, em uma grota que ficou denominada grota funda – batendo a linha de encontro a uma grande pedra escalvada posta no meio do leito do riacho Manguaba, cabeceiras do rio do mesmo nome, de forma irregular, semelhante a uma castanha com cinquenta palmos proximamente de comprimento sob trinta e altura, a qual pedra ficou servindo de marco extremo por não se poder confundir com nenhuma outra pelas suas dimensões e fez-se em torno da mesma pedra uma derrubada para mais clareza – Passando a linha da extrema oriental do lado de Macaco, marco de Pau d’Arco cravado a cinco braças da margem do Jacuípe na beira da estrada partiu-se a rumo S.S.E. para o interior das terras medindo doze braças até encontrar uma grande árvore de Pau d’Arco que ficou em pé para sinal e continuando mediram-se trezentas e três braças no mesmo rumo até encontrar a margem esquerda do riacho denominado – Engenho de Baixo – em seguimento mediram-se mais mil quinhentos e vinte braças até o riacho denominado Secco: e depois mais mil cento e sessenta braças com as quais se completaram as três mil da extrema oriental em um taboleiro denominado pelos caçadores – taboleiro de Maraiá – existente entre as cabeceiras do Riacho Secco; e aqui cravou-se um marco de maçaranduba, lavrado em quatro faces com seis palmos de altura e um enquadro fazendo-se em torno do mesmo marco para melhor se reconhecer uma derrubada. Este marco ficou distante da margem esquerda do rio Manguaba quinhentas braças proximamente e a duzentas do caminho que pela serra do Lino comunica o Macaco com o lugar denominado – Onça – Aqui no dia 11 de fevereiro de 1851 deu o Engenheiro por finda a medição e demarcação de uma légua quadrada de terras para a Colônia Militar da Província das Alagoas na forma das ordens do Governo Imperial as quais terras ficaram bem extremadas tendo pela frente o rio Manguaba – Declarou mais o mesmo Capitão Engenheiro que na dita légua quadrada fica designado o lugar preciso para assento da Povoação da Colônia na extrema ocidental junto a boca do riacho denominado Pimenta com os espaços necessários como determina o artigo 4o do citado Regulamento e fora aprovado pelo Exmo. 23


Presidente da Província – E para o todo tempo constar manda o sobredito Juiz em virtude da ordem do mesmo Exmo. Presidente com data de ontem lavrar este termo e dele extrair cópias autênticas para os registros públicos especialmente para a Secretaria de Governo, Tesouraria de Fazenda, Câmara Municipal e Tesouraria Provincial e no mesmo termo se assinaram o Juiz, Procurador Fiscal, e o Capitão Engenheiro e eu José Baptista Pinto, Escrivão dos Feitos da Fazenda Pública o escrevi – Luiz Corrêa de Menezes – Fernando Affonso de Mello – Christiano Pereira do Azeredo Coutinho – Está conforme – O Escrivão dos Feitos – José Baptista Pinto. Confere. Secretário do Governo, José Alexandrino Dias de Moura.

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Termo declaratório da demarcação da légua quadrada, onde seria fundada a Colônia Militar Leopoldina.

PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO

A sucessão dos fatos caminha ao sabor do tempo para dar evidência à história. O cumprimento da ordenação cronológica representa o desencadeamento dos detalhes (a análise) para compor o quadro histórico e também viver hoje o que aconteceu ontem com a prova documental que dá prosseguimento a nossa história representada pela transcrição do 25


REGULAMENTO ESPECIAL DA COLÔNIA MILITAR LEOPOLDINA, conforme o texto original atualizado. “O presidente da Província, de conformidade com o artigo 24 do Regulamento de 09 de Novembro de 1850, determina que na Colônia Militar Leopoldina se observe o seguinte:

Regulamento Especial Capítulo 1o Da Colônia e seu Distrito Artigo 1o: Fica estabelecida na conformidade do Artigo 1o do Regulamento de 09 de Novembro de 1850, uma Colônia Militar denominada Leopoldina na légua em quadro, demarcada e medida a margem direita do rio Jacuípe, pela maneira indicada no termo que vai transcrito no fim deste Regulamento. Artigo 2o: É distrito da Colônia não só a légua medida, mas também toda a mata que se estende desde o lugar chamado – Salto – até a embocadura do rio Taquara, seguindo a margem direita deste até suas vertentes na serra dos Pilões e aqui por linha reta até o lugar da Imprensa seguindo depois pelas vertentes que deitam águas para os rios Camaragibe e Manguaba até S. Bernardo – (art. 15 do citado Regulamento). Capítulo 2o Dos Empregados da Colônia do Diretor Artigo 3o: Ao Diretor da Colônia pertence, além das atribuições que competir por Lei e Regulamento Militares: § 1o Propor ao Presidente da Província tudo quanto for conducente ao aumento da Colônia (artigo 22 do dito Regulamento de 09 de Novembro) dando-lhe parte de todas as ocorrências. § 2o Expelir da Colônia e seu distrito com prévia aprovação do Presidente da Província, os que se tornarem nocivos ao bom regime e tranquilidade da mesma Colônia (artigo 14 do mesmo Regulamento). § 3o Propor ao Presidente da Província a demissão do Capelão e do Facultativo (médico) da Colônia, quando se tornarem omissos no cumprimento dos seus deveres.

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§ 4o Visitar, e promover, quanto em si couber, a introdução de melhoramento nos métodos de plantações, e preparação dos produtos agrícolas, como principal base da futura prosperidade da Colônia. § 5o Indicar que oficinas públicas convirá estabelecer-se na Colônia à vista da fertilidade do terreno, abundância de águas, e variedade de madeiras de construção naval, edificação e marcenaria. § 5o Determinar no distrito da Colônia, mas fora da légua quadrada, o lugar em que houver de consentir morar algum indivíduo pacífico, trabalhador e bem morigerado, que se queira empregar na agricultura com bom resultado público e particular (artigo 15 supracitado). § 7o Distribuir o serviço militar da Colônia de modo que nem os colonos fiquem privados de desfrutar os dias que lhes permite o Artigo 11 do Reg. de 09 de Novembro e nem venha a sofrer a polícia do Distrito da mesma Colônia. Haverá, porém exercícios gerais nos últimos oito dias dos meses de Junho a Dezembro de cada ano; e não poderão ser diferidos se não com a aprovação do Presidente da Província. § 8o Na distribuição dos trabalhos não militares ou policiais, o Diretor atenderá a conveniência da ocasião para que os três dias que em cada semana cabem aos colonos, sejam dados ou sucessiva ou interpoladamente, na mesma, ou em outras semanas, conforme for mais conveniente ao Serviço Público, e interesse dos colonos. § 9o Fazer sair de quando em quando algumas partidas em diligência para explorar as matas, e prender os criminosos, e vadios que forem encontrados. Para o que conservará sempre em depósito a porção de munição que for suficiente, que sob sua imediata responsabilidade requisitará ao Presidente da Província. § 10 Prestar o auxílio que momentaneamente lhe for requisitado pelo Diretor da Colônia vizinha, ou qualquer autoridade legal, dando imediatamente parte ao Presidente da Província. § 11 Fazer matricular os colonos, e os moradores do distrito da Colônia, e registrar a sua receita e despesas, e todos os objetos que lhe pertencerem, assim como toda correspondência oficial. Artigo 4o: Em consequência da disposição do § antecedente haverá na Colônia os seguintes livros, abertos e rubricados pelo Inspetor da Tesouraria da Fazenda: um para matrícula geral dos colonos, que deverá ser feita com declaração da idade, profissão, estado, com quantos filhos, tempo de praça, época de engajamento, e por quanto tempo, deixando-se 27


espaço suficiente para notar-se todos os socorros que receberem, nascimento dos filhos, óbitos, casamentos, deserções e mais que convier mencionar: Um para arrolamento de todos os habitantes do distrito da Colônia, com especificação de profissão, idade, estado: Um para a receita e despesa da Colônia: Um para o registro da correspondência oficial com o governo, e outro para a de diferentes autoridades: e finalmente um livro para a entrada e saída dos objetos da Colônia. Artigo 5o: O Diretor da Colônia terá especial cuidado em conservar sempre abertas as picadas das linhas de demarcação da légua em quadro, não consentindo que alguém se estabeleça ou abra roçados sobre as ditas linhas, e sim de um ou de outro lado, para que nunca se perturbem os limites da terra demarcada. Artigo 6o: O diretor da Colônia não mandará fazer despesa alguma que tenha de correr pelo Ministério do Império, sem prévia autorização do Presidente da Província, sobre pedido motivado. Artigo 7o: Nenhum colono ou habilitador no distrito da Colônia, poderá levantar casa, ou fazer plantação alguma senão nas terras que forem destinadas, e previamente demarcadas por ordem do Diretor da Colônia, sobre tudo dentro da légua em quadro (artigo 5o do Reg. de 09 de Novembro). Artigo 8o: Na distribuição, e demarcação destas sortes de terras, ter-se-á muito em vista a reserva das madeiras de lei, e as que forem derrubadas nos lugares dados para arranchamento pertencerão ao Estado.

Do Ajudante ou Imediato Artigo 9o: O ajudante substituirá o Diretor nos seus impedimentos, seguindo em tudo suas instruções (art. 17 do mesmo Reg.). § 1o Dar-lhe-á parte por escrito de todas as falhas, e omissões que encontrar nos Empregados e na ordem do serviço: para o que,

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§ 2o Visitará amiudadas vezes as oficinas, e quaisquer laboratórios da Colônia, e nessa ocasião aclivará o serviço. Servirá de recebedor dos dinheiros e pagador das despesas da Colônia e seus empregados. § 3o Conferirá com o escrivão todos os papeis de expediente da Colônia, como relações demonstrativas, folhas de pagamento, pondo-lhes o – conferido – e rubricando-as. § 4o Cuidará muito em que sejam observados todos os Regulamentos da Colônia.

Do Escrivão

Artigo 10: Ao Escrivão compete: § 1o Escriturar os livros da Colônia, tê-los em boa ordem, especialmente no que disser respeito a contabilidade, que será feita sempre debaixo da direção do respectivo Diretor e pelo método o mais simples possível, e finalmente encarregar-se da correspondência oficial, e mais, papéis que pertencerem ao arquivo da Colônia, e que estarão debaixo de sua guarda, e responsabilidade. § 2o Ser também o encarregado do Depósito, e por isso responsável pela sua guarda, e arrecadação, não consentindo que entrem ou saiam quaisquer objetos dos armazéns, sem ordem por escrito do Diretor, que será registrada e arquivada. § 3o Cuidar também em inspecionar os trabalhos da Colônia para participar ao Diretor tudo que tiver fora de ordem.

Artigo 11: Haverá em depósito nos armazéns a porção de ferramentas necessárias para ser distribuída pelos colonos, devendo consistir em machados, enxadas, foices, ferros de cova, terçados e a ferramenta própria de carpintaria para o serviço da Colônia.

Artigo 12: O pedido destes objetos será feito pelo Diretor da Colônia e de que se fará carga no livro competente.

Do Capelão

Artigo 13: O Capelão a bem de ser obrigado a celebrar Missa todos os Domingos e Dias Santos, também se encarregará:

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§ 1o De ensinar as primeiras letras (artigo 19 do referido Regulamento) pelo método mais fácil, e geralmente adotado nas escolas públicas, escolhendo para isso as horas do descanso dos colonos que trabalharem braçalmente, e as costumadas nas escolas, para os meninos dos colonos, que não tiverem trabalhos corporais. § 2o De imbuir todos os colonos nos princípios da Religião explicando-lhes os seus mistérios e sua moral; usando o Catecismo de Montpellier no ensino da Doutrina Cristã, no que deverá ser mui solícito. § 3o Fazer todos os Domingos e dias Santos suas homilias, inspirando aos Colonos amor ao trabalho e horror ao crime, usando de cores que demonstrem as vantagens que resultam do trabalho, e as desgraças que nascem da ociosidade, mãe de todos os vícios, sem deixar de falar na obediência às Autoridades constituídas. As horas dos exercícios religiosos serão marcados com prévia aprovação do Diretor. § 4o Zelar a Capela, guardar as suas alfaias, e conservá-las sob sua imediata responsabilidade. § 5o Ser obrigado a dar conta ao Diretor todos os meses, do progresso dos discípulos, fazendo as observações, que entender necessárias em relação ao aproveitamento civil e religioso dos colonos.

Artigo 14: Os utensílios e mais objetos necessários para as aulas, assim como as alfaias da Capela serão fornecidas à pedido do Diretor sob proposta do Capelão.

Do facultativo (Médico)

Artigo 15: A enfermeira da Colônia estará debaixo de vigilância, e imediata inspeção do Facultativo, a quem compete: § 1o Visitá-la todos os dias, ao menos duas vezes. § 2o Aplicar os medicamentos necessários aos enfermos. § 3o Ter para isso uma botica (farmácia) convenientemente provida (artigo 20 do Regulamento de 09 de Novembro) fazendo ao Diretor, e este ao Presidente da Província, os pedidos necessários, de que far-se-á carga no livro competente. § 4o Dirigir o enfermeiro que será sempre de sua escolha. § 5o Dar conta todas as semanas ao Diretor, do estado da enfermaria, indicando as medidas sanitárias a tomar, e fazendo no princípio de cada ano um relatório geral das 30


observações que tiver colhido à cerca da salubridade do lugar, para ser remetido ao Presidente da Província.

Artigo 16: Na aplicação dos remédios, e direta o Facultativo seguirá o que a tal respeito se achar disposto no Regulamento dos Hospitais Regimentares, e for aplicável.

Artigo 17: Compete ao Facultativo participar ao Diretor todas as infrações dos Regulamentos da Colônia. Capítulo 3o Dos Colonos

Artigo 18: Serão considerados colonos, e como tais sujeitos às ordens do Diretor da Colônia: § 1o Os oficiais inferiores e mais praças de Pré, que forem engajados na forma do Regulamento de 09 de Novembro de 1850. § 2o Os operários necessários para o trabalho da Colônia. § 3o Os que por consentimento do Diretor morarem no distrito da Colônia.

Artigo 19: Os colonos engajados serão obrigados: § 1o A fazer todo o serviço que for determinado pelo Diretor, em observância ao Artigo 11 do Regulamento citado. § 2o A prestar o serviço militar, de que necessitar a Colônia, do qual não serão escusos se não em virtude de ordem do Presidente da Província, precedendo informação do Diretor.

Artigo 20: Logo que o colono tenha preenchido seu tempo de serviço, declarará ao Diretor, se quer ou não continuar a residir na Colônia, dirigindo seu requerimento, que depois de informado pelo Diretor será levado ao Presidente da Província, a fim de poder continuar a ser contemplado como colono, com direito de propriedade à terra que lhe foi distribuída.

Artigo 21: Tendo o colono continuado a cultivar o terreno por esforço de três anos com bom comportamento, e aproveitamento, findos estes requererá ao Presidente da Província com informação do Diretor, o competente título de propriedade, que lhe será logo conferido 31


com declaração das circunstâncias ocorridas, e das confrontações do terreno dado; e desde então poderá dispor dele como seu; direito que fica radicado em sua família, se continuar a residir na Colônia (artigos 5o e 7o do Regulamento de 09 de Novembro).

Artigo 22: Se antes de findar os três anos do artigo antecedente, tiver o colono de retirar-se da Colônia deve requerer ao Diretor que lhe ateste se o faz por ser expelido, ou porque motivo. E sendo-lhe favorável a declaração, ficará com direito por si ou por seus herdeiros necessários que residirem na Colônia, a cobrar as benfeitorias que tiver feito.

Artigo 23: Para verificar se o valor das benfeitorias, o colono as alegará em petição dirigida ao Diretor, o qual nomeará um árbitro, e o colono outro, e ambos um terceiro que será obrigado a conformar-se com o laudo de um dos dois no caso de discordarem: aquilo que for vencido será declarado à margem do requerimento pelo Escrivão da Colônia, e assinado pelos árbitros, para ser remetido ao Presidente da Província, que depois de ouvido o Procurador Fiscal, mandará pagar logo as ditas benfeitorias pelo modo que lhe parecer mais justo, salvo o recurso da parte para o Governo Imperial.

Artigo 24: Este mesmo processo terá lugar a respeito do colono a quem se der o terreno já cultivado, e cujas benfeitorias deve ele retribuir nos termos do Artigo 8o do Regulamento, ficando porem entendido, que se lhe dará posse da sorte de terras depois de pagas as benfeitorias, ou de se obrigar por elas pelo modo que por despacho determinar o Presidente da Província, ouvido o Diretor da Colônia.

Artigo 25: Se o colono retirar-se da Colônia sem deixar família ou sem obter a declaração do Artigo 22, julgar-se-á ter renunciado o seu direito à benfeitorias, as quais neste caso reverterá em benefício da Fazenda Pública, fazendo-se disto menção nos Registros da Colônia, para que não haja mais reclamação.

Artigo 26: A cada colono, que possuir terras, se dará por uma só vez a seguinte ferramenta: uma enxada, uma foice, um machado, um ferro de cova e um terçado ou facão de mato; se tiver filho maior de 14 anos, se lhe dará a mesma ferramenta. Só no caso de ter o colono perdido (antes de findar o seu tempo) a ferramenta por causa extraordinária independente de sua vontade se lhe fornecerá outra. 32


Artigo 27: Os colonos de terceira classe (artigo 18 deste Regulamento) não estão sujeitos a outro serviço que não seja o militar em casos extraordinários para manutenção da polícia e tranquilidade da Colônia. Capítulo 4o Disposições Gerais

Artigo 28: No quartel deverá haver prisão cômoda para detenção dos que delinquiram dentro do Distrito da Colônia. Artigo 29: Além dos livros do artigo 4o haverá um especial para se lançarem os termos de demarcação dos terrenos concedidos na Colônia, e registro de alguns atos mais extraordinários.

Artigo 30: No fim de cada ano mandará o Diretor formar mapas da despesa e da receita geral da Colônia, sua produção estatística para ser enviados ao Presidente da Província.

Artigo 31: No caso de estabelecer alguma oficina, ou cortes de madeiras por conta do Estado, haverá uma escrituração particular pelo método, que for indicado pelo Presidente da Província.

Artigo 32: Quando o Ajudante substituir o Diretor acumulará as obrigações que lhe são especiais.

Artigo 33: Depois de se acharem pelo Diretor contratados os operários necessários para os trabalhos, se procederá a instalação da Colônia no dia que for mandado pelo Presidente da Província, celebrando-se Missa, na qual assistirão o Diretor, todos os Encarregados da Colônia, operários e mais colonos com o destacamento em forma, fazendo o Capelão uma oração análoga a este solene ato, findo o qual dará o Diretor Vivas à Religião Católica Apostólica Romana, ao Imperador, e à Família Imperial, e em particular à Sereníssima Princesa a Senhora D. Leopoldina, Protetora da Colônia seguindo-se depois três cargas de mosquetaria. 33


Artigo 34: Deste ato se lavrará um termo para ser assinado por todas as Autoridades, que se acharem presentes, e Empregados da Colônia e dele se extrairá cópia para ser remetida ao Presidente da Província, ficando o original no arquivo da Colônia. Artigo 35: Melhorada que seja a estrada que vai de Porto Calvo para Colônia, tratarse-á de medir e levantar o plano da futura povoação, segundo o modelo no 1, deixando-se à margem do rio Jacuípe uma praça de .......... palmos de comprimento e ........ de largura, onde se levantará em primeiro lugar a casa do Diretor que terá .......... palmos de frente e ......... de fundo: em segundo lugar a Capela com invocação de N. S. do Carmo e debaixo do plano 2 o depois o quartel, segundo o modelo no 3. Mais logo a casa do Capelão, do oficial imediato ao Diretor, Enfermaria e um Armazém.

Artigo 36: Acabados estes trabalhos cuidará o Diretor em abrir uma estrada do ponto da Colônia à Vila da Imperatriz passando pelo Galho do Meio, e outra da mesma Colônia à Colônia Militar da Província de Pernambuco de combinação com o respectivo Diretor para que as despesas sejam comuns.

Artigo 37: O diretor da Colônia convidará aos proprietários, por junto de cujos terrenos atravessarem o socorro que couber em suas forças e facilitarem quanto for possível a consecução de um benefício que lhe toca vir de perto”.

Palácio do Governo em Maceió, 20 de março de 1851 José Bento da Cunha e Figueiredo Presidente da Província

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Regulamento Especial da Colônia e seu Distrito.

Instalação Oficial

Com as formulações do Decreto Imperial criando a Colônia Militar, a marcação do terreno onde ia ser a mesma localizada e com a redação do REGULAMENTO ESPECIAL normatizando tal Estabelecimento, inclusive determinando as condições para a sua instalação, 35


e que na verdade tal fato veio acontecer no dia 22 de fevereiro de 1852, de acordo com o registro da ocorrência; estamos sem dúvida nenhuma na expectativa de como se desenrolou este fato histórico que está devidamente comprovado pelo Termo de instalação, o qual é transcrito a seguir: “Termo de instalação da Colônia Militar Leopoldina e Colocação da primeira pedra da Capela da mesma.

No ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e cinquenta e dois, trigésimo da Independência e do Império, aos vinte dias do mês de fevereiro do dito ano na Colônia Militar Leopoldina situado à margem direita do rio Jacuípe onde presente se achava o Exmo Sr. Presidente da Província o Conselheiro José Bento da Cunha e Figueiredo procedeu-se a instalação da mencionada Colônia celebrando-se Missa a que assistiram não só o mesmo Exmo Sr. Presidente e o Diretor da dita Colônia e mais autoridades como também todos só Empregados, operários e mais colonos achando-se o Destacamento em forma e fazendo o Capelão uma oração análoga ao ato que sendo feito com toda a solenidade, fora vindo dando o Diretor da Colônia, Vivas a Religião Católica Apostólica Romana a S.M. o Imperador, a Família Imperial e a Sereníssima Princesa a Senhora Dona Leopoldina Protetora da Colônia: deram-se ao depois três descargas de Mosquetaria ficando por esta forma instalada a mesma Colônia Leopoldina. E na mesma ocasião fora colocada pelo mesmo Exmo Sr. Presidente da Província a primeira Pedra da Capela da Colônia perante todos os assistentes à instalação sendo a mesma Pedra benzida pelo Missionário Capuchinho Frei Luís da Grava com todas as cerimônias do estilo, servindo de Padrinhos os Comendadores Jacintho Paes de Mendonça e José Paulino de Albuquerque Sarmento, o Diretor Geral dos Índios José Rodrigues Leite Pitanga e o Dr. Lúcio Soares de Albuquerque Eustáquio. E para constar mandou o Diretor da Colônia o 1o Ten. João da Gama Lobo Bentes lavrar este Termo que assinado pelo Exmo Presidente da Província por ele Diretor e mais autoridades e pessoas acima mencionadas. E eu Felix Justiniano de Albuquerque Escrivão da dita Colônia o escrevi – José Bento da Cunha e Figueiredo – João da Gama Lobo Bentes – Jacintho Paes de Mendonça – José Paulino de Albuquerque Sarmento – José Rodrigues Leite Pitanga – Lúcio Soares de Albuquerque Eustáquio – Francisco de Meira Lima – José Adolfo de Barros Corrêa – Manoel Joaquim de Mendonça Castello Branco – Christiano Pereira de Azeredo Coutinho – Bernardo Joaquim Corrêa – Aprígio da Silva Pinto – Ignácio Manoel da Costa Espinosa – 36


João Antônio dos Santos Pacheco – Luiz Antônio Guerreiro Drago – Antônio José Dias Marins – Macário José de Omena – Manoel Valentin de Araújo – Pedro Manoel da Costa Júnior – José Carlos da Silva – Armindo José Rêgo – João Nunes da França – Francisco Ferreira da Silva – Frei Antônio da Pureza e Vasconcelos – Manoel da Cunha e Figueiredo – Fr. Luís Misso Capo.”

Confere O Diretor João da Gama Lôbo Bentes

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Termo da instalação da Colônia Militar Leopoldina, datada de 20 de fevereiro de 1852.

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Homenagem aos Pioneiros

Com o desencadeamento dos fatos já descritos estamos, desde então, vivendo com toda a intensidade o andamento da nossa história onde bem podemos aquilatar as grandes dificuldades de uma época de desbravamento, com característica de uma epopeia, pois, este solo que nós pisamos está juncado de tradições, de grandioso exemplo para as gerações que sucederam aos heroicos pioneiros, cujos nomes estavam no anonimato e que agora são apresentados: 2o Sargento Apolinário Nonato Gomes, cabo Francisco José da Silveira e Antônio José Cardozo, Anspeçada Manoel Francisco 2o e Daniel Joaquim Lopes, soldados Antônio Ferreira da Silva, João Francisco Pereira, Ignácio Ferreira da Guia, Antônio Joaquim de Sant’Anna, João Evangelista de Souza, Calixto Vergolino da Paixão, Germano da Silva, Bernardino Caetano, Felix Francisco, Tranquilino Antônio d’Azevedo, Francisco Xavier d’Araújo, Maximiano Barbosa, Manoel Paulo, Christovão Barbosa d’Oliveira, Manoel Joaquim, Nazário Francisco, Anspeçada Manoel Joaquim de Farias, Cabo Joaquim Miguel, soldados Manoel Antônio e Bazílio Manoel, 1o Sargento Jozé do Patrocínio, 2o Sargento João Ferreira do Espírito Santo, Furriel Manoel Jerônimo Rodrigues, Cabo Boaventura dos Santos, soldados Raymundo João da Mata e Reinaldo Martins, Anspeçada Vicente Jozé Fernandes de Medeiros, soldados Jozé Raimundo, Firmino Vieira do Nascimento, Manoel Jozé 3o, Antônio Martins, Antônio Francisco Ribeiro, Policarpo Vieira da Costa e Julião Antônio.

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III – REVELAÇÕES DA HISTÓRIA

1851 É um procedimento normal a colocação de nome; dar uma denominação a tudo que existe e é do nosso conhecimento; como dar nome às pessoas, ruas, cidades, etc., e como não poderia deixar de ser, a Colônia Militar recebeu um nome Imperial e nobre o da Sereníssima Princesa D. LEOPOLDINA Teresa Francisca Carolina Xavier de Paula Michaela Rafaela Gonzaga de Bourbon e Bragança – Duquesa de Saxe , pelo seu casamento com o Príncipe D. Luiz Augusto Maria Eudes, Duque de Saxe, da nobreza Alemã. Terceira filha do Imperador D. Pedro II e da Imperatriz D. Teresa Cristina Maria de Bourbon. Sua vida não foi longa, pois, aos vinte e quatro anos de idade faleceu (1847 – 1871). Quando da criação da Colônia Militar (1850), estava com três anos de idade. Portanto, a nossa sequência histórica obedece ao andamento cadenciado das ocorrências, que são dignas do registro pelas provas documentais e verdadeiramente capazes de testemunhar essa projeção refletida aos nossos olhos, nos dias de hoje.

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Para nos situarmos no contexto administrativo da Colônia Militar Leopoldina, necessário se faz estabelecer inicialmente a composição de sua estrutura. O Imperador, o Presidente da Província das Alagoas, o Diretor da Colônia com jurisdição sobre a légua quadrada onde estava a mesma localizada e logicamente sobre os colonos, que eram divididos em três categorias, de conformidade com o REGULAMENTO ESPECIAL – Capítulo 3o – Artigo 18: 1o) os chamados oficiais inferiores, sargento, cabo, etc. e praças de primeira linha, que executavam o policiamento da Colônia e seus distritos e ainda eram os responsáveis pela limpeza; 2o) os operários (carpinteiros, ferreiros, oleiros, etc.) e 3o os moradores que por consentimento do Diretor, moravam no distrito, eram basicamente os agricultores. Devemos nos lembrar que, mesmo antes da instalação solene e oficial, já estavam os pioneiros para cuidar da infraestrutura é tanto, que há documentos de 1851, relatando que o 1 o tenente d’Artilharia do Exército, bacharel João da Gama Lobo Bentes e seu primeiro diretor em termos oficiais, chegou a esta Colônia no dia 28 de abril de 1851 e quem lhe fez a passagem do cargo foi o Alferes Manoel Sabino de Mello. O rio Jacuípe era utilizado como uma via natural de acesso, pois há relato da chegada de barcaças com materiais destinados à Colônia, tais materiais eram enxadas, foices, facões, armas de fogo, mantimentos e tantos outros de extrema necessidade para sua sobrevivência e a dos colonos. Estava assim o quadro existente na época, havia somente uma casa de morada, duas outras que serviam de quartel e seis palhoças. O terreno ainda cheio de troncos, muita madeira cortada. Dentro de pouco mais de um mês da chegada do tenente Lobo Bentes, suas providências já se faziam notar. Contava a Colônia com cerca de oito casas pertencentes aos colonos e dera início à olaria e à casa que iria servir de morada para o diretor. E outras providências foram tomadas, como a abertura de uma estrada entre a Colônia e o lugar – Cavaco. A estrada tinha a extensão de quinhentas braças em linha reta, em decorrência do tempo invernoso e esse foi o local melhor encontrado para atravessar o rio Jacuípe, sendo que para a citada construção, foram retirados os trabalhadores que estavam construindo uma estrada cujo ponto inicial era em Jundiá. Outra edificação que estava na dependência de tijolos e telhas, era a capela e como solução prática encontrada foi a edificação de um nicho, construído de madeira. O prenúncio de rigoroso inverno determinava urgência em construí-lo. Com tal desenvolvimento, a

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despesa mensal foi calculada entre 900$000 a 1:000$000 (novecentos a um conto de reis), sem incluir os colonos. A equipe de trabalho era composta de trinta e um trabalhadores avulsos, dois oleiros e dois carpinteiros. Estava para ser contratado ainda um mestre pedreiro e um ferreiro. A composição militar da Colônia estava assim constituída: 01 oficial comandante do destacamento, o alferes Manuel Sabino de Mello, que foi substituído naquele mesmo ano pelo 1o tenente João da Gama Lobo Bentes, bacharel em matemática pela antiga escola militar da Corte, pertencia a arma de artilharia e era oficial da Imperial Ordem da Rosa, Cavaleiro da Ordem de São Bento de Aviz e o primeiro diretor da Colônia, 20 subalternos que compunham o 3o Batalhão de Artilharia e mais 34 subalternos que integravam a Guarda Nacional, totalizando por conseguinte 55 militares. Estava assim formada a população militar da Colônia. Está registrado que o acampamento ficava nas imediações do “riacho do Matto”. O desejo do comandante do destacamento, Alferes Manuel Sabino de Mello, para elevar esse pequeno contingente militar, está contido numa correspondência sua dirigida ao presidente da Província, onde através de uma exposição de motivos alegava ... “é conveniente que V. Exa quanto antes, complete na Colônia o número de 150 praças de linha; porque só assim poder-se-á conseguir fim a que se propõe o governo com a criação da mesma, e tanto mais porque se aproxima o tempo em que descem as madeiras e precisa-se de força para obstar o contrabando, que segundo me consta, se tem feito sempre em grande escala nas matas que hoje pertencem ao distrito da Colônia”. Este pedido jamais foi atendido pelo presidente da Província, conselheiro José Bento da Cunha e Figueiredo. Os trabalhadores engajados tinham como pagamento a diária de $150 réis, para a execução de suas tarefas, de onde deduzimos que o empreendimento Imperial, como nunca teve seu rendimento próprio, iria onerar os cofres públicos, tendo em vista que a sua administração, regime e economia correram sempre por conta dos cofres do Estado. A vida da Colônia corria de acordo com as durezas e vicissitudes daquela época difícil e de muito trabalho, pois estava tudo para ser feito, o desbravamento das matas, as construções para abrigar a quantos chegavam, o transporte dos materiais necessários e essenciais para fazer o que previamente fora traçado. Os fatos acontecidos na Colônia Militar eram detalhadamente informados de imediato ao presidente da Província, e esta determinação contida no seu Estatuto era

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prontamente obedecida pelos que tivessem a responsabilidade de dirigi-la; dando margem ao considerável número de documentos ainda hoje existentes. O primeiro atestado de óbito, fato ocorrido acidentalmente numa caçada nas imediações da Colônia, da qual participavam um de menor idade e a mulher do soldado Maximiano Barbosa, assim está registrado na íntegra:

ATO DE VISTORIA Aos vinte e seis dias do mês de novembro de 1851, tendo pelas duas horas da tarde examinado o cadáver de Antônia Maria da Conceição, segundo a ordem do Diretor, achei o seguinte: uma solução de continuidade sobre o nipocôndrio esquerdo proveniente de dezesseis caroços de chumbo os quais tendo tomado a direção da cavidade do peito resultou a morte da mesma, é o que tenho a afirmar.

Colônia Leopoldina, 26 de Novembro de 1851 Antônio José Dias Martins 2o Cirurgião

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Primeiro atestado de รณbito, verificado no dia 26 de novembro de 1851.

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Foi neste primeiro ano de atividade preparatória para a sua instalação, que chegou nestas terras o religioso franciscano frei Antônio da Pureza de Maria, cujo nome de batismo era Antônio da Pureza e Vasconcelos, que anos mais tarde secularizou-se. E aqui chegou por determinação do imperador, para servir como capelão. Consta do documento relativo a sua nomeação, o seguinte:

Sua Majestade o Imperador há por bem Nomear ao Religioso Francisco Frei Antônio da Pureza de Maria para o lugar de Capelão da Colônia Militar (ilegível) das Alagoas. E para sua salva e guarda se passou a presente. Palácio do Rio de Janeiro em 17 de Fevereiro de 1851. Visconde de Montalegre

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Nomeação do capelão, frei Antônio da Pureza de Maria, pelo visconde de Montalegre, Ministro de Estado de S.M. o imperador D. Pedro II.

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(Verso e anverso)

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Com a aproximação da instalação oficial da Colônia, o capelão dirigiu-se através de correspondência ao diretor 1o tenente Lobo Bentes, nestes termos: Passo às mãos de V. Sa o requerimento incluso documentado para que V. Sa tenha a bondade de enviá-lo ao Exmo Senhor Presidente a fim de que o mesmo Exmo Senhgor haja de tomar em consideração o despacho do Exmo Bispo de Pernambuco, no qual me priva de exercer as funções de meu ministério; pois tendo de ser lançada a primeira pedra para edificação da Igreja, acho-me inibido pelo referido despacho para benzer o lugar em que tem de edificar-se a mesma segundo o expresso na Constituição do Bispado, por serem tais bençãos privativas do Bispo, ou de pessoa a quem delegue. Portanto muito convém uma solução definitiva, para que não apareçam dúvidas na ocasião. Deus Guarde a V. Sa Colônia Militar Leopoldina 29 de Dezembro de 1851 Frei Antônio da Pureza Capelão

Este episódio foi solucionado como atesta o termo de instalação, com a benção da pedra fundamental ministrada pelo missionário capuchinho, Frei Luís da Grava.

1852 O ano de 1852 foi pródigo tanto em realização, quanto em emoções vivenciadas por quantos mourejavam e defendiam o lado da Província e atual Estado de Alagoas. O fato mais significativo foi a solene instalação da Colônia Militar Leopoldina, no dia 20 de fevereiro de 1852, assim nós leopoldinenses de hoje não podemos deixar de nos lembrar de tão significativo momento que foi registrado oficialmente para que a nossa memória histórica não ficasse perdida ou sujeita a mirabolantes hipóteses, suposições ou interpretações, pois, não existe a menor dúvida de que e como aconteceu. A nossa evocação e reverência só nos causam a plena satisfação dos que sabem em que chão estão pisando e porque o estão pisando. Com a realização oficial de sua instalação estava assim, sendo dado cumprimento ao que estabeleciam os artigos 33 e 34 do Estatuto Especial, que era a lei maior dentro dos limites geográficos da Colônia. As ocorrências iam sendo informadas a quem de direito, os registros oficiais estavam sendo preparados para quando se precisassem deles. O trabalho incansável ia sendo desenvolvido pelos que se dispuseram enfrentá-lo com sacrifícios e dificuldades incontestáveis. As medidas de ordens administrativas eram tomadas com o rigor do detalhe matemático e assim corria o tempo com os afazeres específicos de cada circunstância. Teriam os colonos de executar suas tarefas militares, de prosseguirem com as construções e edificações e ainda de se iniciarem nas lides agrícolas 49


com o plantio e cultivo das lavouras de subsistência, é bem verdade que de forma rudimentar, mas indispensáveis à própria alimentação.

1853 A partir de 1853, tiveram início os pedidos de dispensa, remanejamento e de algumas braças quadradas de terra para a fixação de alguns colonos. Como é o caso do colono João Evangelista de Souza, que por haver completado o tempo em que se obrigou a servir no exército e desejando voltar para o seio de sua família na Província do Grão Pará, atual Estado do Pará, requereu a sua baixa do serviço ativo; outro colono de nome Francisco José da Motta, morador no lugar chamado de Canto Escuro, distrito da Colônia Militar e com o desejo de ali se estabelecer, em razão de ter uma numerosa família, também requereu por aforamento perpétuo um terreno de quinhentas braças quadradas, onde já estava edificada sua morada no centro do terreno. Encontramos na época a figura do vice-diretor, o que é indício de crescimento do quadro de pessoal, seu ocupante era o tenente Luiz Antônio Guerreiro Drago, que se desincumbia de suas atribuições, observando à risca o já mencionado o estatuto; era, portanto, mais um componente militar a servir aos propósitos do imperial empreendimento. No ano de 1853 foi registrado o único ato de promoção, quando o diretor, capitão Lôbo Bentes, elevou ao posto de Cabo de Esquadra, o alferes Calisto Borges Soares. Também foi registrada a chegada do Dr. Joaquim da Silva Araújo e Amazonas, nomeado interinamente Facultativo (médico) da Colônia. Em meados do ano foi comunicado oficialmente ao presidente da Província a escassez de gêneros alimentícios de primeira necessidade, ao tempo em que são pedidas as providências governamentais para a solução do grave problema existente. A lavoura sofria bastante com as pesadas chuvas caídas na região, dando margem à frustração da colheita do que já se h avia inicialmente plantado, com bastante perigo de estragar também as construções em andamento. Nessa época respondia pelos destinos da Província de Alagoas, o vice-presidente Dr. Manoel Sobral Pinto, pois o conselheiro Dr. José Bento da Cunha e Figueiredo estava indo ocupar o cargo presidente da Província Pernambuco de onde era natural e lá havia realizado seus estudos acadêmicos na antiga Faculdade de Direito de Olinda; onde sua instalação data de 1828. Além do cargo de presidente de Província, foi também conselheiro do Estado, ministro de Negócios do Império e publicou a História da Cólera, em Pernambuco e o 50


relatório da Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária do Município da Corte, entre outras. Morreu na cidade do Rio de Janeiro, em 1891. Ocorreram na Colônia Militar os fatos sociais comuns à vida de qualquer localidade em formação ou núcleo já formado, como: nascimentos, mortes, violências, doenças, chegada e saída de pessoas, os temores dos perigos a qualquer investida de bandos que se refugiavam pelas matas circunvizinhas, deserções, enfim, todas as nuances de comportamento do próprio homem em circunstâncias do seu próprio meio. Há o comunicado do diretor da Colônia ao presidente da Província da deserção do operário Francisco José do Rêgo, que posteriormente foi localizado no Engenho Cabo na Província de Pernambuco.

1854 Data de 1854, precisamente do dia 28 de agosto a informação de que ... “tendo mandado vir por devoção a Imagem da Padroeira desta Colônia para ser colocada na Capela, e desejando que esta oferta conste nos arquivos da mesma Colônia, vou por isso rogar a V. Ex a que se digne permitir que da mesma Imagem se façam os competentes lançamentos no livro respectivo e de tudo se lavre um termo...”. Esta correspondência foi enviada pelo diretor da Colônia ao vice-presidente, no exercício da presidência da Província, Dr. Roberto Calheiros de Mello, pois o presidente de então era o Dr. Antônio Coelho de Sá e Albuquerque. A conotação deste registro deixa-nos a viva impressão do sentimento de religiosidade daqueles que nos antecederam e plantaram as sementes da crença e da fé neste recanto do imenso Brasil, tanto que o efeito multiplicador dos exemplos deixados pelos nossos antepassados, bem demonstram a boa índole e o sentimento de solidariedade da nossa gente. Como os meios de transporte e comunicação da época eram precários, nada mais natural do que a verificação da demora sofrida no intercâmbio das notícias recebidas e na comunicação das providências tomadas na Colônia, tendo em vista que o correio era feito por intermédio da Vila de Porto Calvo; mesmo assim, o diretor da Colônia não deixou de reiterar ao presidente da Província, uma solução para o caso específico. Chega à Colônia o Facultativo (médico), designado para prestar seus serviços profissionais aos moradores da mesma Colônia; seu nome é Dr. Pedro Joaquim dos Santos, que abnegadamente procurou minorar os sofrimentos físicos de todos quantos precisaram de seus préstimos.

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Vimos pela condução epistolar que o diretor da Colônia, capitão João da Gama Lobo Bentes, então já promovido a esta patente, que era também possuidor de tato diplomático na condução dos assuntos que lhes estavam afetos, demonstrando a formação polivalente de um nobre com a cortesia e o desembaraço peculiares a sua condição de formação na Corte com a de militar preparado para os duros combates de sua arte, deixando transparecer a figura do estrategista na conquista do território sob as suas diretrizes. Estava a Colônia com a sua organização baseada nos colonos de 1a classe, que eram as praças de primeira linha, os de 2a classe eram os operários e os Guardas Nacionais, que também eram admitidos como trabalhadores e em caso de necessidade tomavam parte em ações militares e por fim os de 3a classe que era formada pelos lavradores que moravam no distrito ou circunscrição do território da Colônia, e era sob esta forma de sociedade que com o decorrer dos anos vamos encontrar a continuidade da nossa formação cívica, profissional, religiosa e cultural, traduzida pela espontaneidade e temperamento laborioso e ricamente ilustrada pelos fatos que delinearam e nortearam os nossos fundadores, fazendo chegar aos contemporâneos toda ênfase de um trabalho calcado na disciplina e na valorização dos feitos dos nossos antigos povoadores. Testemunha ocular dos fatos ocorridos através do tempo nos oferece valiosos subsídios para percorrermos a trajetória descrita pela magnitude destes feitos concretizados pela ação do realismo palpável, concreto e fortemente veiculados nestas revelações históricas, colhidas na fonte que preservou e capacitou a sua veiculação para a sua exposição às gerações de hoje. Nos documentos do ano de 1854, verificamos haver sido mencionado nomes de localidades que ainda hoje são conhecidos dos atuais moradores, como: Pilões, Roçadinho, Imprensa; que já recebiam os colonos lavradores para aí exercerem suas atividades agrícolas. Foi no corrente ano que aconteceu também uma apreensão de contrabando de madeira no lugar chamado de Pé de Serra e a quantidade de madeira aprisionada e posta à disposição da Fazenda Nacional, foram 24 pranchões de Amarelo e 68 tábuas da mesma madeira. A população em dezembro de 1854, incluindo todo o território da Colônia, era de 1.500 a 1.600 habitantes e as edificações atingiram a 13 casas de boa construção. Do total dos habitantes, 315 eram moradores na sede da Colônia. A capela já se achava com 32 palmos de pé direito, a estrada para a Vila de Porto Calvo estava com 07 léguas concluídas. E nos

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documentos pesquisados ficamos sabendo que nesse ano, integravam a população cerca de meia centena de escravos.

1855 O ano de 1855 foi também repleto de fatos que merecem o seu registro nestas páginas. No início desse ano, os operários da Colônia, Manoel João do Nascimento e Leopoldino d’Albuquerque Maranhão pedem suas dispensas do serviço ativo por terem completado o tempo de seus engajamentos. Já os operários Manoel Francisco Jatobá, Francisco Avelino, André Nunes Vianna, Eusébio da Costa e Manoel Paulino d’Albuquerque requerem para tornar efetiva a concessão dos lotes de terras que compete a cada um dos requerentes. No mês de abril a capela estava em condições de receber o forro, portas e janelas. O sino era requisitado ao Governo Provincial. Para atender às necessidades dos servidores de transporte de carga, também foram pedidas duas juntas de bois. Nesse meio tempo o facultativo diagnosticou que a população da Colônia é violentamente atacada pela epidemia devastadora da Cólera (Cholera morbus). Doença infecciosa aguda e contagiosa. Sua transmissão é feita pela poluição de águas com fezes contaminadas pelo seu agente, um bacilo encurvado sob a forma de vírgula (Vibrio comma), descoberto pelo cientista alemão Robert Koch, em 1883. Ataca o tubo gastrintestinal, apresentando um quadro clínico febril, cólicas e constantes evacuações, vômitos e cãibras, levando o doente ao definhamento, motivo pelo qual é elevado o seu índice de mortalidade. As instalações sanitárias da Colônia eram precaríssimas, a enfermaria estava instalada numa das salas de um antigo barraco que servia de oficina. O Dr. Pedro Joaquim dos Santos deixa registrada, através de correspondência ao presidente da Província, a imperiosa necessidade de um hospital, porém, sua bravura superou a luta em campo aberto contra o insidioso mal e nem por isto deixou de apresentar um trabalho sobre os meios convenientes para impedir a invasão da terrível doença. Escreve o médico... “Atendendo-se ao clima frio e demasiado úmido desta Colônia, acho não desvantajoso o uso de fogueiras, que concorrendo para desbravar as matas, terão de destruindo a atmosfera sempre úmida aniquilar os germes mórbidos que nela se contenham.

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As medidas de higiene pública, bem como o asseio e limpeza das ruas, dos leitos dos rios; e os esgotos das águas estagnadas ou paludosas, deixam de ser por mim reclamadas a V. Exa aquelas por serem feitas de melhor maneira possível; estas por não se darem os objetos que as reclamam. A propagação da vacina vai se tornando sobremaneira sensível nesta Colônia: seu facultativo tendo por vezes testado a vacinação e a revacinação nem um proveito tirou desse trabalho pela má qualidade do pus”. A par da evolução de epidemia que só foi debelada no ano seguinte, o ritmo de vida da Colônia desacelerou, porém, sem afetar os trabalhos de rotina. Data de 06 de outubro de 1855 o pedido do capitão Lobo Bentes, diretor da Colônia, ao vice-presidente para que por seu intermédio chegue a S. Exa Revma o referido pedido de licença para construir uma capela no lugar – Pé de Serra – com a evocação de São João da Mata. O capitão Lobo Bentes recebe um pedido de colaboração do atual presidente da Província de Pernambuco, o conselheiro Dr. José Bento da Cunha e Figueiredo, através do presidente da Província das Alagoas, de acordo com a transcrição a seguir: “Segundo o que convencionei com o Exo presidente das Alagoas encarrego a V. Mce. de entendendo-se com o diretor da Colônia de Pimenteiras, tratar da demarcação da légua em quadro da mesma Colônia, sendo auxiliado nesse trabalho pelo capitão Basílio de Amorim Bizerra, que com V. Mce. seguirá – juntas achará as duas plantas que V. Mce. requisitou à secretaria desta presidência – Deus Guarde a V. Mce. – Palácio do Governo de Pernambuco em 07 de novembro de 1855.  Assinado, José Bento da Cunha e Figueiredo – S. Capitão João da Gama Lobo Bentes – diretor da Colônia Leopoldina.

Conforme João da Gama Lobo Bentes Capitão Diretor

É também deste final de ano, um requerimento do capelão da Colônia, em que pede que lhe sejam pagos seus soldos de acordo com a novíssima tabela dos oficiais do Corpo Eclesiástico. O então presidente da Província Sá e Albuquerque, através de ofício dirigido ao presidente do Conselho do Império, Marquês do Paraná (Honório Hermeto Carneiro Leão), em maio de 1855, questionou e criticou o desempenho da Colônia Militar, onde afirmou ser o caráter da Colônia, misto, ou seja, militar e agrícola, e deseja saber se é conveniente que 54


assim permaneça. Questionou ainda sobre o perigo da junção da agricultura, do comércio e dos deveres militares exercidos cumulativamente pelas mesmas pessoas. Indagou o que convirá, se o caráter agrícola ou militar? O seu pensamento era que o caráter misto não seria o mais indicado para o seu desenvolvimento, pois as armas quase em completa mistura com a lavoura viverão em ócio, desnaturar-se-ão. Este episódio ocorreu depois de sua visita à Colônia Militar Leopoldina e a de Pimenteiras em Pernambuco que iria ser demarcada com a colaboração do capitão Lobo Bentes, conforme anteriormente já foi mencionado. o0o

1856 Iniciamos o quarto ano da instalação da Colônia Militar Leopoldina, pois estamos ingressando no ano de 1856, ainda sofrendo os efeitos causados pela Cólera, que havia se alastrado pelos lugares próximos à Colônia, como: Pé de Serra, deste distrito e Riacho de Mato do lado da Província de Pernambuco. Num só dia foram recolhidos à enfermaria quatro doentes, provenientes deste último lugar, com o falecimento de um do s doentes. Nos lugares Roçadinho e Taquara também deste distrito, tem aparecido vários casos, muito embora que de caráter benigno. A população encontrava-se verdadeiramente em situação aterradora pela continuada falta de alimentos. Como não podia deixar de ser, o trabalho assistencial da enfermaria, era dado em tempo integral e por esta razão o Dr. Pedro Joaquim dos Santos dirigia-se ao presidente da Província em dramático apelo para ser despachado para cá os medicamentos indispensáveis ao tratamento da doença e ainda requeria o fornecimento de quatro lampiões e azeite, assim como, a roupa necessária e os aprestos de cozinha e despensa. Face ao pedido do médico ter sido do dia 03 de fevereiro, ele acusa o recebimento do que solicitou, no dia 13 de março, portanto, com o intervalo de 38 dias. Assim, bem podemos imaginar como era difícil os meios de transporte e comunicação em 1856. Na sua correspondência de 13 de março destinada ao presidente da Província, assim ele se expressou: ... “Quase todos os remédios ofereciam suficiente sofisticação para serem repudiados. Dentre eles muito se pronunciavam três botijas de uma mistura, cujo nome não pode dar, nem jamais achei quem m’a podesse denominar. Dos vinhos quer do Porto, quer do Madeira seco, algumas garrafas ofereciam qualidade diversa das outras sendo assim mesmo esse o gênero que mais me agradou. Ainda insisto pedindo a V. Exa amido (goma) por ter 55


mandado o respectivo Farmacêutico farinha do reino em vez de amido substâncias que se distinguem por seus caracteres físicos e químicos”... Há um comunicado do diretor da Colônia, onde ele expressa ao presidente da Província, que parece já ter declinado bastante a epidemia de Cólera que com tanto furor assaltou a Colônia, seu distrito e todos os lugares vizinhos pertencentes a Província de Pernambuco. Estava assim, bem mais otimista o quadro de saúde pública da Colônia e o Dr. Pedro Joaquim dos Santos expressa com ênfase a ajuda que recebeu de dois abnegados e esforçados “lidadores atléticos”, que sem esmorecer prestaram sua grande colaboração. E os mencionam como dois heróis, um foi o capelão, o antigo frei Antônio da Pureza de Maria e atual padre Antônio da Pureza e Vasconcellos, que além de prestar-se infatigavelmente em seu ministério, se incumbia ainda, devotamente em consolar aos que precisavam de consolo e também ajudava a medicar aos doentes e do seu bolso comprava o escasso alimento de que tanto necessitavam; o oubro herói foi mencionado como sendo o mestre da oficina de carpintaria, Francisco André Avelino, que sempre estava onde quer que o médico fosse, ele também ali estava, com abnegação e verdadeiro sentimento de solidariedade aos que sofriam. No decorrer de dois meses, o médico cuidou de 235 doentes portadores da Cólera. Foi elevado ao cargo de subdiretor da Colônia Militar, o alferes Augusto Pereira Ramalho, que iria permanecer à frente dos destinos da Colônia, quando por ocasião da ida do capitão Lobo Bentes para prestar sua colaboração na demarcação da Colônia de Pimenteiras, na Província de Pernambuco. Ocorreu por padecimento de moléstia no peito, o falecimento do colono Cabo de Esquadra, Boaventura dos Santos, a 31 de agosto do ano em curso. Ficou devidamente oficializada a secularização, isto é, deixou de pertencer a ordem religiosa dos franciscanos, o então frei e agora padre, Antônio da Pureza e Vasconcelos, pelo que se deu ciência às autoridades competentes da ocorrência, porém permaneceu aqui como capelão até julho de 1862.

1857 No ano de 1857 fora criada a Inspetoria Geral das Medições da Província e o primeiro técnico a ser proposto para o cargo de agrimensor foi Manoel de Souza Braga. A finalidade de tal inspetoria era proceder a demarcação das terras que iriam integrar o futuro patrimônio do Estado. Realmente foi executado este trabalho. Por ato oficial foi elevado ao posto de 1o sargento o 2o cadete, 2o sargento, escrivão da Colônia Tito Augusto d’Albuquerque Porto Carreiro. 56


Após haver sido debelada a epidemia no ano anterior, o médico Dr. Pedro Joaquim dos Santos requereu licença para tratamento de sua saúde bastante abalada e foi procurar os meios que a Província da Bahia podia lhe oferecer, de lá pediu sua demissão por não ter mais condições de retornar à Colônia, foi então substituído pelo Dr. Dias Cabral, mencionado no Relatório do Alferes Augusto Pereira Ramalho. As condições da Colônia descritas pelo diretor em exercício, nos dá hoje uma visão panorâmica dos feitos até então, deixando larga margem de segurança para crermos que a parte construída achava-se justamente a partir dos locais do antigo prédio da Prefeitura, pois, ouvimos o testemunho de pessoa que conheceu as ruínas da casa da diretoria da Colônia; onde hoje existe o prédio da Câmara de Vereadores, também havia edificação da época e as demais construções no mesmo alinhamento em direção ao rio Jacuípe, pois confere com a menção contida no Relatório ... “acham-se colocadas na face oriental da Praça de D. Pedro” ... e o local da capela é onde está hoje a Igreja Matriz, serve também de comprovação o lado em que os pés da castanhola foram plantados e ainda hoje existentes. Com referência à capela, não estava ainda concluída, porém, neste ano formalizou-se uma relação dos objetos necessários para a mesma; como frontais com cores branca, encarnada, roxa e verde, esta peça que é de pano serve para ser colocada a frente do Sacrário e as cores indicavam as épocas litúrgicas (festas da Virgem Maria, o tempo de Pentecostes, a Semana Santa ou ofícios fúnebres e para o Advento o tempo que precede ao Natal); um turíbulo de latão com naveta e colher (para incensar o altar e usado também em várias outras cerimônias religiosas); duas alvas (vestimenta usada por sobre a batina, por ocasião da celebração da Missa); quatro toalhas para o altar; doze sanguinhos (paninho com que o padre enxuga o cálice); doze corporais (pano sobre o qual o padre coloca o cálice e a hóstia no altar); dois manípulos pequena estola que o padre colocava no braço esquerdo para celebrar a missa); dois amitos (pano litúrgico que era colocado nas costas do padre por ocasião da sua preparação para celebrar a missa); uma custódia para exposição do Santíssimo Sacramento; seis castiçais; um lampião pequeno; um véu para os ombros, usado por ocasião da bênção do SS.; uma capa de asperges, usada por ocasião da aspersão da água benta com rituais próprios; encadernação do missal que naquela ocasião estava deteriorado pela ação da umidade.

1858 O ano de 1858 se inicia com um primoroso relatório da diretoria da Colônia, elaborado pelo subdiretor, no exercício do cargo de diretor, o alferes Augusto Pereira 57


Ramalho, dirigido ao presidente da Província, Dr. Ângelo Thomaz do Amaral, com data de 02 de janeiro, onde relata que: “Tendo em data de 1o de Dezembro do ano de 1856 sido nomeado Inspetor Geral das Medições desta Província o respectivo diretor desta Colônia o – Senhor capitão d’Artilharia do Exército, bacharel João da Gama Lobo Bentes, tomei conta da administração dos trabalhadores da diretoria, na qualidade de subdiretor dela, em data de 1o de janeiro de 1857 e é por isso que venho hoje cumprir com o que ordena o regulamento de 09 de Novembro de 1850, dando a V. Exa conta do estado, progresso e aumento desta Colônia. Antes porem, de dar princípio, peço a V. Exa que se digne de relevar as lacunas e imperfeições deste meu trabalho, tão superior às minhas forças, devido a mesquinhez de minhas ideias e luzes. Pelos últimos relatórios do digno diretor desta Colônia há de estar V. Exa a par dos limites deste distrito e por isso acho desnecessário afirmar a V. Exa que esta bela povoação situada no centro das matas, onde antigamente crusaram impunes as nefandas hordes de Vicente de Paula, fica fronteira ao lugar denominado – Riacho do Mato – a margem direita do rio Jacuípe. Confina seu distrito pelo lado do Norte, com a Colônia de Pimenteiras, pelo Sul com a Vila de Passo de Camaragibe, e pelo lado do Leste com a Vila de Santa Maria. Conta hoje um distrito de subdelegacia, cujos limites são os mesmos que se acham designados para o distrito da Colônia, sujeito, porém, a delegacia de Porto Calvo. Permita-me V. Exa que levante minha débil voz em favor dos habitantes deste lugar. O digno diretor desta Colônia em seu último relatório patenteou a necessidade de ser aqui criado um juízo de paz, a fim de evitar-se que essas pessoas sofram em seus interesses. É óbvio, Exmo. senhor que o pessoal hoje desta Colônia reclame em seu grêmio a presença desse juiz; visto que muito sofrem seus interesses, tendo de recorrer à Vila de Porto Calvo, de cuja comarca faz parte este distrito, em negócios desse juízo, não obstante distar daqui doze léguas. Passarei a dar contas agora do adiantamento material, além do que consta dos relatórios passados, para os quais chamo a atenção de V. Exa. Assim obrigado, principiarei pela

Capela.

Esta magnífica obra acha-se quase concluída; restando apenas o branqueamento de parte da frente e interior, além do forro do corpo da Igreja e coro que, por falta de operários carpinteiros, ainda não se acha concluído. A falta de operários, fornecimento de ferros e outros objetos deram lugar ao atraso em que ela hoje se acha. As torres mandadas levantar

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pelo digno diretor – capitão Bentes – acham-se quase prontas com as respectivas cúpulas, cruzes e mais necessário. Está-se branqueando por dentro.

Cemitério

Esta obra acha-se em andamento já está cercada de embiriba os respectivos lados e fundo se acha-se fazendo o muro de frente, onde tem de ser colocado o respectivo portão, que tem de dar ingresso a capela que futuramente se há de edificar. Contém todo o quadro 960 palmos.

Hospital

Esta obra ainda não foi encetada. Provisoriamente se recolhem os doentes em uma das salas do antigo barracão que servia de oficina. A insuficiência do número dos doentes que presentemente se acham recolhidos dá lugar a que se continue outras obras anteriormente predestinadas. Logo que estas estejam concluídas será ele o primeiro a fazer-se.

Quartel A pequena casa denominada – Quartel, além de pequena exige algum conserto. A falta de uma cadeia a que dá lugar que sejam recolhidos no pequeno xadrez toda sorte de presos seja qual for o seu delito. Por agora limito-me a nada fazer até que se possa de novo construí-lo com as comodidades precisas e de conformidade com o plano.

Casas

Existem devidamente acabadas 29 casas, das quais 18 são de propriedade particular. Todas, a exceção unicamente de 04, são feitas de tijolo e com toda a segurança. Quatro delas, além de mais seis que se acham em começo, acham-se colocadas na face oriental da Praça de Dom Pedro. Todas elas são de uma boa construção e elegante aparência.

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Julgo não ser desarrazoado lembrar a V. Exa a necessidade de serem nessa praça colocados seis lampiões. Essa despesa pouco avultará no orçamento provincial e terá a utilidade de abrilhantar uma das melhores praças das vilas e povoados desta Província.

Pontes

Acha-se concluída, faltando unicamente assentamento das respectivas varandas e bancos, que por falta de carpinteiros já não se há feito, a elegante ponte sobre a florescente e bela localidade, denominada Pé da Serra. As demais por ora não reclamam a atenção desta diretoria. Todas se conservam no mesmo pé de andamento.

Estradas

Mandei fazer uma estrada que dê ingresso ao cemitério, acha-se em andamento. Pretendo plantar arvoredos em suas faces laterais para não só dar um lenitivo aos viajantes que pretenderam visitar esse estabelecimento, como oferecer um passeio aos habitantes desta Colônia. Ainda se continua acarretar com a árdua tarefa de trazer sempre limpas e asseadas as estradas que daqui partem para alguns povoados, e a que segue para Vila de Santa Maria, passando pela enorme serra de São João que á se acha com 07 léguas e 60 palmos de largura; tendo, além disso, alguns pontilhões. Tenho demonstrado a V. Exa o adiantamento deste estabelecimento em todos os sentidos para onde se volva as vistas, tendentes a seu brilhantismo e aperfeiçoamento material; mas esquecia-me do ponto principal – do primeiro que deve ocupar a atenção de um governo – de um país ilustrado, a

Instrução Primária

É sobre este ponto que primeiro deveria ter feito os olhos, porque sem instrução jamais poder-se-á ter cidadãos pacíficos, morigerados, industriosos, religiosos e dignos de seu país. Esta necessidade já há muito foi sentida pelo digno diretor desta Colônia, como se

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dignará V. Exa de ver em seus relatórios, existentes sem dúvida no arquivo da secretaria dessa presidência. O Exmo. Senhor Doutor José Antônio Saraiva, quando presidente desta Província, compenetrado desta palpitante necessidade, em sua fala dirigida a Assembleia Provincial, em 08 de março de 1854, a fez sentir e pediu a criação de uma cadeira de Instrução Primária para aqui. Permita-me V. Exa que eu inste nesse pedido. Esta pequena despesa que acarretará mais o cofre provincial não será baldada e antes pelo contrário é proveitosa e cheia de esperanças para o futuro, por que assim animará aos habitantes de alguns lugares vizinhos a concorrerem para o meio de educação para seus filhos. A criação de outra cadeira do sexo feminino também é palpitante e de grande interesse; mas por ora limito-me só a pedir a do sexo masculino.

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Segurança Individual

Felizmente atenta a boa índole dos morigerados habitantes que povoam esta Colônia, e seus arrabaldes, tenho a satisfação de cientificar a V. Ex a que continua ela inalterável e que dia a dia cessaram as intrigas, e traições tomam outro norte, porque já se convencem que nem o punhal, nem o bacamarte dão lenitivos aos agravos e paixões. Pouco a pouco se convencem que sobre eles existem autoridades que valem seus interesses ao passo que punem seus crimes e delitos. De todas as comunicações oficiais se reconhece a veracidade do que venho de expor. Era preciso que a ideia assassina por uma vez baqueasse da escaldada mente desses povos sem crença, nem lei – desses povos déspotas que habituados aos crimes só conheciam o punhal e o fuzil como desabafo de suas criminosas paixões, tornando-se desta forma réus de homicídio quer direta, quer indiretamente. Felizmente podemos, sem susto de errar, dizer que esse tempo já passou e que jamais volverão a ensanguentar nossos dias e enegrecer as páginas de nossa história.

Salubridade

Depois da extinção do terrível açoite porque passamos nenhuma outra epidemia tem grassado nesta Colônia. Com a demissão concedida ao facultativo deste estabelecimento, Doutor Pedro Joaquim dos Santos, veio a notícia de ter sido nomeado em sua substituição o Doutor João Francisco Dias Cabral. A habilitação, dedicação e desejos que em si reúne esse digno médico dá-nos esperanças e nos faz crer que nada tenhamos de sentir a ausência daquele. O serviço sanitário marcha regularmente.

Força de Linha

As praças que compõem este pessoal são em todas 26, inclusive os inferiores. É por demais sem dúvida limitada esse número e por mais de uma vez se tem reconhecido sua insuficiência.

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Conta hoje esta Colônia alguns distritos que devem ser policiados, mas deixa-se de o fazer pelo embaraço que há em distrair-se qualquer número de praças, ainda que limitado, para esse fim. Não havendo aqui estafetas torna-se sempre de necessidade comissionar-se uma pessoa que seguramente transporte a correspondência oficial; e essa pessoa é necessariamente um soldado. O serviço de olaria é quotidianamente por eles desempenhados. Quase sempre existem alguns doentes e já vê V. Exa que com tão mesquinha força jamais se poderá atender aos reclamos do serviço, se não aqueles que, por sua gravidade, devam chamar a séria atenção da autoridade que tem sobre si o encargo do bem-estar e segurança de seus munícipes. O regulamento de 09 de novembro de 1850 que rege a Colônia Militares dá autorização para ser em cada um deles destacados até 150 praças de pré. Infelizmente até hoje não tem sido cumprido nesta parte aquele regulamento. Por esta sucinta exposição e pelo mapa no 2, que levo a consideração de V. Exa entrará V. Exa no verdadeiro conhecimento da força existente nesta Colônia: e espero que V. Exa compenetrando-se desta verdade expedirá suas sábias ordens, a fim de seguirem para aqui mais algumas praças para o regular serviço de polícia, segurança individual e tranquilidade pública.

Colonos

Consta hoje esta Colônia e seu Distrito de 1765 habitantes sendo 144 escravos repartidos em 355, fogos (casas). Comparado por tanto esse número com o que apresenta o relatório do ano próximo findo vê-se a diferença para menos de 543 habitantes; devido isso a terem falecido 23 e as contínuas mudanças que fazem já para a povoação da Água Preta, a fim de avizinharem da estrada de ferro, e já em procura de terrenos onde possam fazer plantações sem serem necessárias essas derrubadas de matas tão proibidas pela Lei de Terras. Em visto, pois destas razões que exponho, está claro que muito há sofrido a agricultura. Os pequenos roçados que então existiam não poderão florescer pela escassez das chuvas nos meses de julho e agosto pretéritos. Julgo ser ocasião para lembrar a V. Ex a a expedição de suas ordens para que sejam demarcadas as terras que a essas pessoas são pertencentes, segundo o que dispõe o regulamento em vigor. O digno diretor deste estabelecimento já em relatório do ano de 1856, fez sentir essa necessidade. Cumpre pois, reiterar a V. Exa esse pedido. Limitado é o número dos colonos engajados para os deveres e

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afazeres desta Colônia, espero que neste corrente ano poderei dar um lenitivo a esses embaraços que tanto prejudicam ao andamento de suas obras.

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Secretaria

O expediente desta repartição corre regularmente. Felizmente os seus livros se acham escriturados com zelo, devido isso aos bons desejos e asseio do hábil empregado que serve de escrivão desta Colônia. Julgo ter desta forma cumprido como me era possível, e que de mim exige o regulamento deste estabelecimento. Terminando este meu trabalho, de novo solicito de V. Exa desculpar as lacunas que nele encontrar: devido unicamente à tibieza de minhas ideias. Deus Guarde a V. Exa Ilmo. e Exmo. Senr. Dr. Ângelo do Amaral. Presidente da Província. No cumprimento do Diretor Augusto Pereira Ramalho Alferes Sub Diretor

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RelatĂłrio anual do diretor da ColĂ´nia para o presidente da ProvĂ­ncia das Alagoas, datado de 08 de dezembro de 1860.

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Estamos trafegando no tempo e ainda nos encontramos no ano de 1858, contando já com oito anos de trabalhos desde a sua criação e alguns resultados práticos que dão evidência da conquista obtida por tão poucos na quantidade numérica, porém, de tantas qualidades. Muitos desses pioneiros realizaram anonimamente o grande feito de legar para a posteridade, uma herança materializada pelas realizações difíceis, chegando a suplantar a si próprios na luta desigual, enfrentando toda a sorte de obstáculos e superando-os com o pouco ou quase nada que lhes eram oferecido como meios essenciais para levar adiante o propósito de dominar a terra e fazê-la produzir. Não podemos nos esquecer da contingência comportamental de um grupo heterogêneo como o que compunha a Colônia e todas as reações da pessoa humana que ali estava ativamente participando e vivenciando uma expectativa de vida melhor num futuro próximo. Suas paixões e violências, as suspeitas, as intrigas, os desenganos e todos os componentes inerentes ao próprio homem, logicamente que tiveram seus afloramentos e exteriorizações com maior ou menor intensidade, somente que não invalidam nem diminuem nosso preito de consideração e apreço por todos que colonizaram esta terra. O futuro que eles imaginaram é para nós o presente, doado a custa de suas vidas. A movimentação do dia a dia é uniformemente variável, chegam uns, saem outros; nascem, lutam, vencem e morrem. A comunidade cresce lentamente. A principal atividade econômica a que se dedicam os colonos é a agricultura; plantam algodão, cana de açúcar, feijão, milho, mandioca em pequenos roçados cuja extensão a vista alcançava. Ainda não existia uma escola, o aprendizado era feito espontaneamente sem a obrigatoriedade do comparecimento às aulas, já há indícios de pequeno comércio de secos e molhados, os meios de comunicação (estradas) ainda estavam com poucas léguas concluídas, mas não deixava de haver os caminhos, as trilhas que davam a indicação de se poder ir e vir com a frequência que se fazia necessária. Neste ano reassumiu as funções de diretor, o capitão Lôbo Bentes, que havia se desincumbido da demarcação da légua quadrada da Colônia de Pimenteiras, na Província de Pernambuco. E registrou-se o caso de captura do “terrível facínora” José Francisco Patury, que por denúncia de que estava escondido nas matas próximas e que na prática de seus crimes, incluía a de seu próprio irmão, ocorrido em Cruatá, localidade pertencente a Bonito em Pernambuco.

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É deste ano os requerimentos de João Manuel da Costa, Izabel Maria d’Oliveira e Thereza de Jesus, ao presidente da Província, Dr. Ângelo Thomaz do Amaral, pedindo que lhes sejam legitimadas as posses a que dizem ter direito no sítio Macuca, o que lhes foram concedido anos depois. Além dos requerentes mencionados, também assim procedeu Francisco Leite da Silva, morador do sítio chamado Laranjeira, onde também no decorrer de 1858, chegou com sua família e ali construiu casas de morada e de fazer farinha; Joaquim Antônio de Britto, de nacionalidade portuguesa e que no futuro iria constranger vários posseiros das imediações, com atitudes agressivas para expulsá-los. A área pleiteada pelos requerentes era em termos de 500 braças quadradas. O 2o cadete, 1o sargento Tito Augusto d’Albuquerque Portocarreiro, já no final deste ano, requereu uma licença para tratamento de sua saúde na Província de Pernambuco, ficando a Colônia sem o seu escrivão, pois, não mais voltou a esta localidade. o0o

1859 Na contagem progressiva do tempo, somos alcançados no alvorecer doa no de 1859 e o mesmo não foi diferente dos anteriores, pois a sucessão, o desencadeamento e a finalização dos acontecimentos, variavam só na forma porque no conteúdo assemelhavam-se bastante. Continuavam os colonos requerendo a legalização da posse de pequenas glebas, chegavam novas famílias e retiravam-se outras tantas depois de decorrido o prazo contratual de sua permanência. Muitos solicitavam a baixa definitiva e outros pediam um novo engajamento e assim era a prática constante, a rotina diária. O clima úmido e a estação invernosa eram muito temidos por todos. As chuvas chegavam a alcançar o ano seguinte e com muita intensidade. Perdiam-se as plantações, sem esquecermos de outros prejuízos materiais. Havia grande dificuldade de transitar para fora de seus limites. Era absurdamente desesperadora a torrencialidade das chuvas quer pelas inundações e transbordamento dos rios, quer pelos desabamentos do que se havia construído. Sem nenhum exagero podemos dizer que se havia construído. Sem nenhum exagero podemos dizer que o mundo se enchia de água e a movimentação diminuía sensivelmente em decorrência das forças da natureza. Em fevereiro deste ano, o médico Dr. Dias Cabral, requer à S. M. o Imperador, sua demissão do cargo que vinha exercendo e foi morar em Maceió. 68


Notícias existem de que por empréstimo dos herdeiros do falecido comendador José Paulino de Albuquerque Sarmento, foi colocado um sino na torre do lado oeste da capela, lado este exatamente como o é ainda hoje. As matas forneciam a madeira necessária para os empreendimentos e na região destacavam-se: massaranduba, amarelo, gararoba, mucuri, sapucaia, sucupira e outras variedades. Dois pequenos engenhos já figuravam como um sinal de desenvolvimento, muito embora que a produção de ambos não fosse ainda expressiva, mas já denunciava que no futuro a atividade básica local seria a da agroindústria. A população recenseada estava assim composta: menores de 18 anos, 280 homens e 235 mulheres; de 19 a 25 anos, 257 homens e 200 mulheres; de 26 a 35 anos, 156 homens e 108 mulheres; de 36 a 45 anos, 131 homens e 79 mulheres; de 46 a 60 anos, 130 homens e 56 mulheres; de 61 a 80 anos, 60 homens e 31 mulheres; os nascidos de janeiro a dezembro de 1859 e que estavam vivos, 34 meninos e 39 meninas; os escravos eram 80 homens e 40 mulheres. Os homens totalizavam 1.128 e as mulheres 788, o que dava o total geral de 1.916 habitantes. O número de casas existentes no território da Colônia era de 376. O quadro de empregados era o seguinte: 01 diretor, o bacharel e capitão de artilharia, João da Gama Lobo Bentes; 01 subdiretor, o alferes Augusto Pereira Ramalho; médico, este cargo estava vago; 01 capelão, o padre Antônio da Pureza e Vasconcelos; escrivão, este cargo também estava vago; 20 colonos de 1a linha; 09 operários contratados; 35 trabalhadores. Este quadro totalizava 67 pessoas. No dia 05 de setembro desse ano, foi comunicada oficialmente ao governo da Província, a visita de suas majestades imperiais D. Pedro II e D. Tereza Cristina e achava-se na presidência o 2o vice-presidente comendador Jacintho Paes de Mendonça, proprietário de vários engenhos em Porto Calvo, dentre eles o Engenho Novo. Transmitiu o governo em 30 de setembro do mesmo ano ao conselheiro Manoel Pinto de Souza Dantas, baiano de nascimento. Dentro do programa de visitas estava incluída a Colônia Militar Leopoldina; que mereceu encaminhamento de ofício por parte do recém-empossado presidente, ao diretor capitão Lôbo Bentes, para que ficasse na expectativa e tomasse as devidas providências com relação a estrada que ligava a Colônia à Vila de Porto Calvo. A comissão de recepção para a viagem do Imperador, ao norte da Província, estava constituída pelas seguintes figuras de expressão social, política e econômica: tenente coronel José Inácio de Mendonça, Dr. Jacinto Pais Pinto da Silva, Manoel de Almeida Costa, major Emídio Jorge de Lima, tenente coronel

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Pedro de Alcântara Buarque, comendador Jacintho Paes de Mendonça, Francisco Luiz dos Reis e Joaquim Buarque dos Reis. O dia 31 de dezembro de 1859 envolveu com circunstância e pompa a chegada à capital da Província das Alagoas, Maceió; dos imperiais visitantes e de sua comitiva, que desembarcaram ainda na parte da manhã, em seguida rumando para a Igreja Matriz, atual Catedral Metropolitana (da qual participou dentre muitos obreiros, Frei Luis da Grava, aquele que benzeu a pedra fundamental da capela da Colônia Militar Leopoldina, anos atrás); onde assistiram a bênção inaugural e o “Te Deum”, prolongando-se estas solenidades até perto das duas horas da tarde. O provisório Palácio Imperial foi o sobrado do comendador José Antônio de Mendonça, que mais tarde, isto é, a 14 de março de 1860, seria agraciado com o título de Barão de Jaraguá. Está esse prédio situado na Praça D. Pedro II, defronte à Catedral de Maceió, sendo hoje o local onde estão o Arquivo Público de Alagoas e a Biblioteca Estadual. Chegava assim a véspera do ano novo.

1860 Ano de 1860. A Colônia Militar Leopoldina estava fervilhando. Havia a grande expectativa da presença de Sua Majestade o Imperador, por estas paragens. Dentro de seu modestíssimo aspecto de povoação ainda muito insipiente, sobressaía a exuberância dadivosa e espontânea da natureza e dos colonos, para que o olhar do magnânimo visitante repousasse sem nenhum incômodo em tão humilde lugarejo. Há uma distância no tempo e no espaço, de 122 anos a nos separar desse real acontecimento e de muita honra para nós leopoldinenses de ontem e de hoje. Estava o imperador D. Pedro II, com 35 anos de idade, em pleno vigor de suas energias. Era de elevada estatura, porte elegante e irradiante simpatia. A vibração foi tão intensa que a sua repercussão ainda ecoa fortemente na nossa história dos dias atuais. O professor e historiador alagoano, Abelardo Duarte, no livro Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina nas Alagoas, menciona entre os fatos ligados à visita imperial, que “cumpria o imperador um programa cansativo, mas que tolerava bem disposto”. A imperatriz não participou desta visita, ficou na capital da Província. Às duas horas da madrugada de 03 de janeiro, embarcava D. Pedro II, com sua comitiva a bordo do “Apa”, rumando para a Vila de Porto de Pedras, onde fez rápida visita, demorando-se cerca de duas horas e meia na localidade. Em seguida prosseguiu sua viagem em direção a Porto Calvo, aonde chegou por volta das cinco e meia da tarde, visitou as igrejas 70


e estabelecimentos públicos, bem como os lugares onde foram travados combates com os holandeses. Às cinco horas da tarde de 04 de janeiro, partiu o imperador e sua comitiva para pernoitar no Engenho Novo, de propriedade do comendador Jacintho de Mendonça. Sua chegada à Colônia Militar Leopoldina ocorreu às dez horas da manhã do dia 05 de janeiro de 1860. A permanência do imperador D. Pedro II e ilustre comitiva não foi longa, sua estada durou aproximadamente dezoito horas. De acordo com o professor Abelardo Duarte, autor do já citado livro sobre a imperial visita a Alagoas, há o registro do fato de uma anotação no diário de S. Majestade sobre a localidade: “Bonita posição na margem direita do Jacuípe que corre muito perto do povoado. Boa igreja e casa da diretoria – quartel em construção que servirá também de cadeia”. O imperador não deixou de ir ao lado da Província de Pernambuco, atravessando o rio Jacuípe, fato este transmitido pela professora do m eu curso primário, D. Cila (Narciza da Rosa Lima Braga) e confirmada através de prova documental. Na casa da diretoria da Colônia, foi onde pernoitou o imperador visitante. Ainda hoje existe o marco da sua visita. São dois pés de castanholas, dos quatro por Ele plantados. Árvore de elevado porte e que na época de sua floração exala um cheiro característico, chegando a incomodar aos moradores das proximidades. A visita de D. Pedro II terminou ao alvorecer do dia 06 de janeiro, pois, assistiu a celebração da missa às quatro horas da madrugada e às quatro e meia já estava novamente cavalgando em direção à Vila de Porto Calvo, com uma ligeira parada no Engenho Novo, fazendo o mesmo itinerário do dia 04, em sentido contrário. Assim, estava encerrada a visita de S.M. o imperador D. Pedro II à Colônia Militar de Leopoldina. Por essa época a princesa D. Leopoldina estava com 13 anos de idade. A Colônia voltava agora ao seu ritmo normal, mas a satisfação daquela pequena população teria sua perpetuação através das gerações que se sucederam e ainda hoje é lembrada tão honrosa visita. Os atos de rotina estabeleciam o dia a dia dos moradores do local. Em março, foi enviado ao presidente da Província o pedido de demissão do subdiretor, o alferes Augusto Pereira Ramalho. O soldado João Francisco Manoel requer ao comandante das armas do Pará a nota de seus assentamentos. Este foi um dos soldados brasileiros que lutaram na Guerra do Prata (Uruguai). O capelão estava com seus vencimentos atrasados e recorria a quem de direito a atualização do que a nação lhe devia. A Colônia, já por esse tempo, tinha a sua feira, o que 71


veio beneficiar aos seus moradores, tendo em vista o alto preço dos gêneros comercializados antes dessa feira. Somente a carne verde não foi vencida com redução de preço como os demais artigos; o quilo era vendido a 6$400 rs. (seis mil e quatrocentos réis), o que era considerado extorsivo para a época. Os três engenhos existentes produziam de 4 a 5 arrobas de açúcar. A capela ainda não estava concluída, faltava-lhe o ladrilho, coro, púlpito e parte do altar mor. Em Riacho do Mato formou-se a título de aldeia de índios, onde se reunia “um coito de homens suspeitos” e os seus integrantes não eram propriamente índios e sim, mestiços, especialmente de descendentes de escravos que ameaçavam a segurança e a tranquilidade pública pelas suas atitudes de menosprezo a lei e a autoridade constituída e o líder desse agrupamento era Manuel Valentino dos Santos, de acordo com um dos relatos do capitão Lobo Bentes. Estava sendo esperada a nomeação do novo médico da Colônia, o Dr. João Nepomuceno Gonçalves e como ainda não havia chegado a população não tinha nenhum remédio para combater os seus males, a notícia desta nomeação foi aguardada ansiosamente e esperada por todos como uma garantia para a diminuição dos seus padecimentos. O diretor não deixou de oferecer ao Governo Provincial as soluções para os problemas existentes, como por exemplo: “o aumento de força de 1a linha; a subdivisão da légua quadrada; a introdução destas famílias de colonos vindos da Europa, com a proposição destas famílias ocuparem os lotes disponíveis; a criação de uma escola de primeiras letras para o sexo masculino e a criação de um distrito de paz com os mesmos limites da Colônia”. Havia por parte dos dirigentes que passaram pela Colônia a preocupação de uma administração superar a anterior e nunca deixaram de solicitar os melhoramentos necessários, entretanto estes desejos nem sempre foram realizados. Ainda no decorrer de 1860, o colono Manuel da Cunha e Silva requer o favor da revalidação ou legitimação da área em que já trabalhava há anos, no lugar denominado Taquara. Terminava assim mais um ano de vida da Colônia.

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Árvore (Castanhola) plantada pelo Imperador D. Pedro II, quando de sua estada na Colônia Militar Leopoldina, em 05 de janeiro de 1860.

1861 1861 – no dia 1o de janeiro entrou em gozo de licença o capelão da Colônia o padre Antônio da Pureza e Vasconcellos, de acordo com Portaria do presidente da Província, Dr. Pedro Leão Vellozo. Também neste início de ano apresentou-se e imediatamente entrou no exercício de suas funções o subdiretor da Colônia Militar, alferes Leopoldino Venâncio Honorato da Costa. Para tratamento de sua saúde, o 1o escrevente Euclides Barboza solicita 30 dias com o respectivo ordenado, tendo em vista ainda não haver chegado o médico nomeado. Já havia prenúncio de crise financeira, pois os meses de maio e junho do ano anterior ainda não havia sido pagos aos mestres das oficinas, Francisco André Avelino e Ignácio Pires Ferreira, bem como aos operários, Martinho José de Sanct’Anna, André Nunes Vianna, José Nunes de Sanct’Lago, Francisco Joaquino, Vicente de Paula Romangueira e Antônio José Corrêa, e ainda estava na expectativa o furriel Manuel Jeronymo Rodrigues, apontador colono. Dentro da légua quadrada ou nove mil braças quadradas estava o patrimônio da Colônia, a Lei Provincial no 601, de 18 de setembro de 1850, que proibia a derrubada de matas, estava na medida do possível sendo exigido o seu cumprimento, porém, nem sempre era efetivamente dado o seu cumprimento, pela carência de pessoal para exercer a fiscalização desejada. A agricultura era basicamente voltada para o plantio de mandioca, feijão, milho, arroz e o algodão que figurou como um ponto forte na economia da Colônia; foi abandonado o seu cultivo, sendo a principal causa a queda de preço. A população havia crescido pouco em relação a última estatística. A Colônia estava com uma população de 2.027 habitantes e as moradias ascendiam ao número de 396 fogos (casas). A população foi assim distribuída e contada, pelo sexo, idade e estado civil: menores de 18 anos, 283 homens e 255 mulheres; de 19 a 25 anos, 261 homens e 263 mulheres; de 26 a 35 anos, 179 homens e 131 mulheres; de 36 a 45 anos, 136 homens e 79 mulheres; de 46 a 60 anos, 129 homens e 60 mulheres; de 61 a 90 anos, 60 anos e 29 mulheres. Nascidos de janeiro a dezembro: 35 meninos e 34 meninas. Os escravos estavam assim numericamente distribuídos: 77 homens e 36 mulheres. Quanto ao estado civil, a estatística demonstra o seguinte: solteiros, 569 homens e 345 mulheres; casados, 486 homens e 442 mulheres; viúvos, 105 homens e 80 mulheres. Os óbitos verificados no período: 04 homens e 04 mulheres; 74


menores, 08 meninos e 05 meninas. O total estava assim caracterizado: 1.160 homens e 867 mulheres, perfazendo 2.027 habitantes. O crescimento populacional foi em decorrência do nascimento de 69 crianças e da entrada de 42 pessoas que vieram para o distrito. Encontravase por esse ponto à frente dos destinos da Província o vice-presidente Dr. Roberto Calheiros de Mello. Em abril desse ano, o capitão diretor, Lobo Bentes pediu a Assembleia Geral Legislativa a sua transferência da arma de artilharia para o Corpo do Estado Maior de 2 a classe e assim lhe foi atendido. Em maio já havia assumido a presidência da Província o Dr. Antônio Alves de Souza Carvalho e já estava recebendo a comunicação de que o último cavalo pertencente a Fazenda Nacional e que servia nessa Colônia havia morrido. A situação ficou mais difícil ainda, a condução natural em que se locomoviam deixou de existir. O inverno começava dando mostras de que iria ser rigoroso e era a repetição já comum dos anos anteriores. O muro do cemitério desabou. É bom lembrar que esse muro era de taipa; o quartel que já estava em ponto de receber o telhado também foi avariado e ainda a capela e a casa da diretoria. Já na expectativa da conclusão da capela, fato que não se realizou. O diretor enviou um orçamento das despesas que seriam necessárias para a conclusão de diversas obras da Colônia, iniciando pelo orçamento da capela:

03 grades de ferro para as sacadas das janelas do coro, tendo cada uma 09 polegadas de largura, 4 1/’ de altura por 3 1/2’ polegadas de saque, a 4$000 rs. (quatro mil réis) o palmo .............................................................. 118$500 09 pares de gonzos com parafusos para as três portas principais, sendo 03 pares maiores para a porta do centro, a 12$000 rs. (doze mil réis) o pai .................................................................................................................... 108$000 06 aldrabões para as três portas principais e as três janelas do coro, a 10$000 (dez mil réis) ................................................................................................. 60$000 06 ferros pedrezes reguláveis de caixa para as vidraças das janelas do coro, a 1$200 rs. (hum mil e duzentos réis) ............................................................... 7$200 52 ditos singelos, sendo 26 de (ilegível) a $800 rs. (oitocentos réis) ............................. 41$600 09 pares de fichas amarelas para as vidraças das janelas do coro, a $800 rs. (oitocentos réis) ............................................................................................ 7$200 03 tranquetas par aas referidas janelas, a 1$000 (hum mil réis) ..................................... 3$000 10 fechaduras de boca inglesa, a 2$000 rs. (dois mil réis) .............................................. 20$000 15 grozas de parafusos sortidos, a 2$000 rs. (dois mil réis) ........................................... 30$000 50 pares de dobradiças de oreis, a $500 rs. (quinhentos e sessenta réis) ........................ 28$000 500 pregos – caibral – a 1$000 rs. o cento (hum mil réis) ................................................ 5$000 500 pregos – caixar – a $450 rs. o cento (quatrocentos e cinquenta réis) ......................... 2$250 75


2.000 500 1.000 1.000 50 06 04 02 01 01 04 04 08 01

dúzias de assoalho, a $400 rs. o cento (quatrocentos réis) ......................................... 8$000 dúzias batel grande, a $500 rs.(quinhentos réis) ........................................................ 2$500 dúzias de (ilegível) grande, a $ 240 rs. (duzentos e quarenta réis) ............................ 2$400 dúzias de (ilegível), a $200 rs. (duzentos réis) ........................................................... 2$000 alqueires de cal, da medida nova, postos na Colônia, a 8$000 rs. (oito mil réis) o alqueire ............................................................................................. 400$000 arrobas de gesso fino, a 5$500 rs. (cinco mil e quinhentos réis) ............................... 33$000 dúzias de alvaiade fino, a 8$000 rs. (oito mil réis) .................................................... 32$000 dúzias de (ilegível), a 9$600 rs. (nove mil e seiscentos réis) ..................................... 19$200 arroba de roxo terra .................................................................................................... 4$000 libra de azul ultra-mar ................................................................................................ 1$600 libras de pó preto a $240 rs. o pacote (duzentos e quarenta réis) ............................... $960 arrobas de óleo de linhaça, a 16$000 rs. (dezesseis mil réis) ..................................... 64$000 libras de sulfato de zinco, a $600 rs. (seiscentos réis) ............................................... 4$800 arroba de cola ............................................................................................................. 25$600 transporte do material até a Colônia........................................................................... 35$000 Total ........................................................................................................................... 1:065$860 (hum conto, sessenta e cinco mil, oitocentos e dez réis) Orçamento do Quartel ................................................................................................ 1:065$230 da casa da Sub diretoria ........................................................................... 779$090 para o Cemitério ....................................................................................... 400$000 Total geral .................................................................................................................. 3:788$130

Este orçamento importou em três contos, setecentos e oitenta e oito mil cento e trinta réis. Devido as pesadas chuvas, na noite de 18 de junho, caiu uma parte do quartel e quem expediu o comunicado sobre a ocorrência, foi o alferes Leopoldino Venâncio da Costa, subdiretor encarregado da administração. Podemos verificar os ganhos do pessoal, pago pelos cofres públicos, mensalmente, de acordo com a folha de pagamento:

Gratificação ao Diretor .............................................................................................. 50$000 Vencimento do Sub Diretor ....................................................................................... 36$000 Vencimento do Capelão ............................................................................................. 107$000 Salário de 01 Mestre Carpinteiro a 3$000 rs. e 20 oficiais (ajudantes) a 2$000, sendo um alterado .......................................................................................... 166$000 Salário de 01 Mestre Pedreiro a 3$200 rs. e 3 oficiais a 1$600, sendo alterado ...................................................................................................................... 241$600 Gratificação a 01 apontador colono ........................................................................... 10$000 Diárias de 160 a 22 trabalhadores, sendo 11 alterados .............................................. 95$680 Total ........................................................................................................................... 706$280

76


Estava havendo sem dúvida, por parte da presidência da Província uma análise das despesas efetuadas com a manutenção da Colônia; considerando o período orçamentário do ano de 1852 quando da sua instalação oficial, até o final de 1861, os investimentos elevavamse a alta soma de 320:613$184 rs. representando tais despesas, uma média de 35:623$690 rs. por ano, o que foi muito significativo para a época. Naturalmente o governo provincial despertou para uma nova realidade de contenção de despesas e procurou aplicar as medidas corretivas para não elevar tanto o ônus orçamentário da fraca economia provincial. No dia 23 de outubro o capitão Lôbo Bentes, encaminha um abaixo assinado dos colonos, pedindo ao presidente da Província, licença para que fosse organizada uma confraria ou irmandade de Nossa Senhora do Carmo, fato marcante do espírito religioso dos residentes na Colônia. É do final deste ano, a solicitação de Manuel do Nascimento Junior, para que lhe fosse vendido um lote de terra de 25 braças quadradas no lugar chamado Limeira. Os fatos que ocorreram durante o ano de 1861 foram puramente rotineiros, sem grandes impactos nem dramaticidade, pois, a vida já estava mais ou menos ajustada às contingências locais. Assim a Colônia chegava ao dia 31 de dezembro de 1861. Mais um ano findava-se; certamente com desejos e pedidos ao criador que o Ano Novo fosse bem melhor e assim as esperanças não morriam, ao contrário, sempre eram realimentadas e a confiança nos poderes de Deus nunca deixaram de ser recorridos pelos colonos que tinham uma eficiente assistência religiosa, como bem podemos lembrar do texto do Estatuto Especial, onde estava escrito que o capelão era responsável pela explicação dos mistérios da religião e que em suas pregações inspirasse o amor ao trabalho e horror ao crime e demonstrasse na prática as vantagens advindas de tais ensinamentos.

1862 Ano Novo, nova vida. Assim o calendário indicava o começo de 1862 no passo da veloz corrida do tempo. As terras públicas estavam sendo medidas pelo agrimensor Manuel Cândido Rocha de Andrade. Em obediência ao aviso número 07, de 24 de julho de 1861, expedido pelo Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, o qual havia sido criado em 28 de julho de 1860; o diretor da Colônia Militar Leopoldina, capitão João da Gama Lôbo Bentes, faz publicar um edital que levava ao conhecimento público a notícia de que se achava aberta a venda de lotes de terra na faixa de 250 braças quadradas, com prazo de pagamento em até seis anos e estava esclarecido que a formação do preço obedecia a determinados requisitos, como 77


sua localização e posicionamento em relação aos pontos cardeais, a proximidade de curso d’água, etc., e variava de 1$651 rs. a 1$143 rs. a braça quadrada. Também estava constando do edital o prazo para a venda dos primeiros lotes, cujo início era a partir de 18 de maio no período de 30 dias e, para ser concretizada essa operação, seria indispensável um fiador para garanti-la. O conteúdo do edital também deixa transparecer indubitavelmente ser essa venda de terras, uma maneira de atrair o ingresso de colonos nacionais no seu distrito, era uma forma de concretizar-se a ocupação territorial da légua quadrada demarcada pelo capitão do Imperial Corpo de Engenheiros, Cristiano Pereira de Azevedo Coutinho, para a instalação da Colônia. Os primeiros colonos que se candidataram e inscreveram-se para comprar terras, foram: Felipe Nery da Trindade, Euclydes Barbosa Cordeiro de Mello e Francisco André Avelino. Estava à espreita para um novo ataque à população a temível epidemia de Cólera. Em fins de abril e início de maio deste ano, voltou a atacar com incontrolável furor nova onda que viria dizimar parte da população. Agora a Colônia estava inteiramente a mercê dos fatos, pois, não existia médico para enfrentá-lo como em 1855 e 56. Os colonos ficaram entregues à própria sorte, morrendo à míngua, sem a devida assistência médica. O médico Dr. João Nepomuceno Gonçalves, nomeado desde 07 de dezembro de 1860, conforme determinação do Ministério do Império, o conselheiro Ângelo Moniz da Silva Ferraz, Barão de Uruguaiana, nunca se apresentou na Colônia. O primeiro caso de morte registrado nos anais da nossa história, neste período foi a do soldado colono Dionízio Gouthier. Por motivos de cansaço e doença, no mês de maio, o capelão padre Antônio da Pureza e Vasconcellos pediu sua exoneração do cargo para o qual fora nomeado em 17 de fevereiro de 1851. Tendo em vista a vaga em aberto, candidatou-se a ela o padre Francisco do Rêgo Baldaia, que morava na povoação chamada Bolão, próxima à Colônia Militar, porém, não logrou êxito no seu desejo, porque no dia 13 de dezembro, chegava o padre franciscano, frei Boaventura de Santa Maria, nomeado para o cargo de capelão dessa Colônia. No final do ano circulou informação da soltura do conhecido guerrilheiro, Vicente Ferreira de Paula e a notícia deixou seriamente preocupado o diretor, capitão Lôbo Bentes; sendo personalidade indesejada, fora o citado guerrilheiro um dos cabeças de vários movimentos de rebeldia e reconhecidamente sanguinário, participou das sedições como a “Abrilada” e “Cabanada”, sendo tais movimentos irrompidos durante a Regência Trina de cuja composição faziam parte, José da Costa Carvalho, João Braulio Muniz e Francisco de 78


Lima e Silva, pai do futuro Duque de Caxias. A Regência foi uma solução à menoridade de D. Pedro II e os descontentamentos políticos manifestaram-se através de lutas para repor no trono imperial o abdicador dele, D. Pedro I. Tais revoltas tiveram grande repercussão nas Províncias das Alagoas e de Pernambuco e os integrantes destes grupos de rebeldia eram escravos foragidos, lavradores e índios do grupo Jacuíbe. A “Cabanada” abrigava os cabanos, os quais só foram dominados no ano de 1835, com a interferência do bispo de Olinda, D. João da Purificação Marquês Perdigão, que veio até bem próximo à futura Colônia Militar Leopoldina persuadir estes guerrilheiros a deporem suas armas, explicando-lhes que já não havia mais sentido sua luta pelo restabelecimento de D. Pedro I no trono, pois, ele havia morrido em 1834. O principal chefe, Vicente Ferreira de Paulo foi preso anos mais tarde e mandado para a ilha de Fernando Noronha, onde cumpriu longa pena. Mas, com a notícia do seu retorno para a Província de Pernambuco, houve tamanha apreensão, pois, sua valentia ainda era comentada e temida, depois de tantos anos. Então o capitão Lôbo Bentes dirigiu-se ao presidente da Província das Alagoas, comunicando-lhe com riqueza de detalhes a informação confidencial que lhe fora trazido do Recife e ainda era descrito ao governo provincial, como “terrível”, “célere” e tantas outras adjetivações. Havia toda certeza à expectativa de sua volta para Riacho do Mato, e há documentos mencionando seu requerimento ao presidente da Província de Pernambuco, dizendo que ainda tinha direito à posse daquelas terras onde havia deixado como seu preposto, o índio Manuel Valentino dos Santos e o retorno era temido do lado de cá do rio Jacuípe, pelo diretor da Colônia, que não dispunha nem de armas nem de n úmero de pessoas suficientes para enfrentar o inimigo disposto a perturbar a ordem publica. Porém, tudo não passou de ameaças. Houve realmente o retorno do malvisto Vicente Ferreira de Paula, contudo, o temor era maior do que a realidade. As suas andanças eram enormes, era visto em Jundiá, Jacuípe, Cavaco, São Bernardo, Porto Calvo, Riacho do Mato e até em Sirinhaém, em Pernambuco, mas nenhum ataque à Colônia ele realizou. Assim foi feita a comunicação do capitão João da Gama Lôbo Bentes, ao presidente da Província, anexando o requerimento do temido Vicente Ferreira e que esse diretor havia recebido do Recife por certidão: “diz Vicente Ferreira de Paula, que estando na posse das terras devolutas do Riacho do Mato, do termo de Bonito, desde o ano de 1833, fizera ali edificar a sua custa uma capela e diversas casas de morada, construídas de taipa, com cercados para gado, casa de farinha e outros melhoramentos na sua própria casa. Acontece 79


porém, que no ano de 1850, uma força do governo tomou de assalto sua propriedade, por ocasião de sua retirada daquele lugar e em seguida o suplicante, fora levado preso para a cidade do Recife, sendo daqui deportado para Fernando de Noronha, passando ali um longo período sem nenhum processo ou sentença condenatória que reconheça ser o suplicante criminoso; afinal foi posto em liberdade por ordem do governador imperial, sendo que durante a sua ausência e reclusão, suas propriedades ficaram em completo abandono. Agora porém, que se acha em liberdade e carente de recursos para sobreviver, quer entrar na posse de sua dita propriedade”.

Recife, 5 de novembro de 1862 Olavo Senna – Escrivão Estava assinado. Vicente Ferreira de Paula Conforme João da Gama Lôbo Bentes 1863 Prosseguindo esta peregrinação através do tempo, vamos amanhecendo na entrada de mais um ano. Ingressamos no décimo terceiro ano da Colônia, desde a sua criação. Estamos no alvorecer do ano de 1863 e podemos descortinar, numa visão panorâmica, a realização marcante e definida dos contornos de uma povoação em crescimento. Há sem sombra de dúvidas movimento de crescimento, que pode muito bem ser traduzido por dinamismo. A composição numérica é um forte indicador do relativo progresso material para esse núcleo em ascensão em termos comparativos com o Brasil do século XIX. Serve de amostragem para se consolidar um conhecimento de como viverem nossos possíveis ascendentes e genearcas, distantes dos nossos dias por apenas 119 anos. No período compreendido de 1850 a 1863, assim evoluiu a história do Brasil e a universal: teve início a administração do gabinete conservador presidido pelo Visconde de Olinda, Pedro de Araújo Lima; cuidou-se da organização dos Corpos de Saúde do Exército e da Armada; foi aprovado contrato com a Sociedade Colonizadora de Hamburgo (Alemanha), para o estabelecimento de colonos em Santa Catarina; reorganizou-se a Guarda Nacional; regulamentou-se o imposto do selo e respectiva arrecadação; aprovou-se a Lei de 04 de setembro de 1950, que extinguia o tráfico de escravos, conhecida como Lei Eusébio de Queiroz; reorganizou-se os cursos de Medicina e Jurídicos; foi autorizada a organização do segundo Banco do Brasil; havia a luta armada da qual o Brasil participava contra os uruguais, a chamada Guerra do Prata; o visconde Olinda fora substituído na presidência do conselho 80


pelo marquês de Monte Alegre; foi construída a primeira estrada de ferro brasileira, pelo Barão de Mauá, da cidade do Rio de Janeiro até a raiz da serra de Petrópolis; criou-se o Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas; depois de 14 anos de oposição, retorna ao poder o Partido Liberal; criou-se o Imperial Instituto de Meninos Cegos, atual Instituto Benjamim Constant; foi adotado o sistema métrico decimal; houve a regulamentação dos serviços de telégrafos e a dos registros de nascimento, casamento e óbitos; e foi contratada com o Barão de Mauá, a iluminação do Rio de Janeiro, a gás. Na França era criado um fundo de aposentadoria para os velhos; foi promulgada uma nova Constituição para a Argentina; nos Estados Unidos foi fundado o Partido Republicano; a primeira fábrica de tecelagem de algodão iniciou suas atividades na Índia; Ferdinand Lesseps, engenheiro francês começou a construção do Canal de Suez, no Egito; aconteceu na Itália o movimento de libertação e unificação do país, conseguido com muita luta e enormes perdas de vidas humanas; a França ocupou a Síria; Abraham Lincoln foi eleito presidente dos Estados Unidos; irrompeu a Guerra Civil nos Estados Unidos; os poloneses rebelaram-se contra a dominação russa e surgiu na Alemanha a Associação Geral dos Trabalhadores Alemães. Esta apresentação panorâmica de forma sintética é para termos ideia de como era o mundo de então. Voltemos nossa visão para a légua quadrada na qual situa-se a Colônia Militar Leopoldina e nela vamos encontrar em construção, a capela, o quartel e quatro casas. Achavam-se construídos o cemitério, seis casas de tijolo, quatro casas de taipa e a frente de tijolo, três casas totalmente construídas de taipa, uma olaria e dois fornos para secagem de tijolos. Este era o acervo pertencente à Fazenda Nacional, em se tratando de edificações públicas; os meios de comunicação (locomoção) que se compunham de quatro pontes, cinco pontilhões, dezoito estivas, nove léguas de estradas em demanda à Vila da Imperatriz (atual União dos Palmares), cinco léguas em direção a Vila de Porto Calvo devendo se esclarecer que são doze léguas a distância entre a Colônia e a citada vila e uma légua de estradas para a Colônia de Pimenteiras, na Província de Pernambuco. Quanto as edificações particulares vamos encontrar treze casas de tijolo e nove de taipa com as respectivas frentes de tijolo. A população era de 2.949 almas, sem contar com os 138 escravos existentes. O quadro de funcionários compunha-se de um capitão diretor, um alferes (antigo posto militar correspondente ao atual 2o tenente), subdiretor; um capelão; o cargo de médico ainda encontra-se vago, como também o de escrivão. Praças da 1a linha ou colonos de 1a classe: um 1o sargento, um furriel (antigo posto militar entre cabo e sargento), dois anspeçadas (antigo 81


posto militar acima de soldado e sob as ordens de cabo) e sete soldados. Operários engajados ou colonos de 2a classe; um mestre carpina, um oficial de carpina, um oficial de pedreiro e treze guardas nacionais, totalizando 30 pessoas os pertencentes ao quadro de pessoal da Colônia. Neste final de ano era presidente da Província das Alagoas, Dr. João Marcelino de Souza Gonzaga, a quem o capitão Lobo Bentes relatou um episódio ocorrido com ele exatamente no dia 09 de dezembro de 1863. Estava o diretor da Colônia na capital da Província tratando de assuntos de interesse da mesma junto às autoridades competentes. Havia dado por concluída sua missão e estava de volta ao seu posto de comando, porém, o presidente Dr. João Marcelino mandou providenciar duas passagens no vapor Mamanguape, passagens estas por conta do Ministério da Guerra, até a Vila de Porto de Pedras. Quanto as passagens, uma seria para o capitão Lobo Bentes e a outra para seu ordenança, um soldado, que sempre o acompanhava nas viagens e principalmente quando alguém designado por esta autoridade, viajava a Maceió para apanhar o dinheiro do pagamento das despesas realizadas na Colônia. O comandante do navio, quando chegou nas imediações da Vila de Porto de Pedras, mandou num pequeno bote deixar o capitão e seu ordenança, juntamente com toda bagagem, numa praia muito deserta e muito distante daquele porto. Sua aflição não foi maior porque por ali passava casualmente um jangadeiro navegando nas proximidades da praia; fretou a jangada e só assim pode chegar ao destino que marcavam as passagens.

1864 Data do início do ano de 1864, a solicitação de Ignácio de Barros Lins Wanderley, morador no distrito desta Colônia, para comprar seis lotes de terra, e neles construir uma engenhoca para fabricar açúcar e rapadura. A respeito do solicitante a informação é de que era casado e possuidor de numerosa família, além de trabalhador e de bons costumes. Os terrenos que desejava comprar eram baratos devido a sua localização numa região montanhosa e por isso bastante acidentado, julgando-se, portanto, de difícil venda. Após os despachos e outras formalidades foram medidos e demarcados, passando a integrar a nascente exploração do cultivo da lavoura canavieira nestas terras reconhecidamente férteis. As questões fundiárias já se iniciavam, muito embora a relação habitantes/lotes de terra, fosse imensamente desproporcional, pois havia mais terra disponível do que a 82


capacidade ocupacional, mesmo assim, surgiu a primeira contenda judicial, quando o cidadão português Joaquim Antônio de Britto foi preterido no seu desejo de adquirir mais alguns lotes nas imediações do sítio Macuca, onde morava desde 1858, indo atingir também pequenos posseiros até em Canto Escuro. A demanda judicial já se encontrava em juízo competente entre ele que se dizia posseiro e André Vicente de Lima que se dizia proprietário dos lotes comprados legalmente com título legítimo do primeiro possuidor em 1851. Esta questão estendeu-se à posseira, viúva Maria José do Nascimento, que ali morava também desde o ano de 1851. A atitude de Joaquim Antônio de Britto, com relação a sua vizinha, foi registrada como “arbitrária”, queimando o roçado e consequentemente causando grande prejuízo à posseira. Não escapou também outra posseira de nome Marianna Rosa de Oliveira, tendo sofrido igual tratamento com a queima de suas roças. As vítimas recorreram ao presidente da Província através da autoridade da Colônia, capitão Lôbo Bentes, culminando com a intimação do incendiário a sua presença, ficando estabelecido que o respeito a propriedade alheia seria cobrada a qualquer custo por aquela autoridade. Com este posicionamento os ânimos foram apaziguados e a vizinhança do colono de origem portuguesa procurou refazer o plantio das lavouras de subsistência com a paz garantida sob a proteção do capitão Lôbo Bentes. No decorrer do mês de março, foi recebido uma cópia do aviso número 02, expedido pela Primeira Diretoria do Ministério dos Negócios de Guerra, datado de 20 de janeiro de 1864, onde solicitava do diretor da Colônia, informações e esclarecimentos urgentes sobre três itens a respeito do seu desenvolvimento, no que foi cumprido prontamente. Foi informada a existência de três pequenos engenhos para a fabricação de açúcar, sendo um deles de propriedade do colono de 2a classe, Francisco André Avelino em terreno que lhe fora concedido e confirmado pelos despachos da presidência da Província, datados de 10 de fevereiro de 1855, 06 de maio de 1857 e 16 de novembro de 1860, de acordo com seus requerimentos de 1o de fevereiro de 1855, 02 de abril de 1857 e 04 de outubro de 1860, respectivamente. Estando assim o diretor da Colônia cumprindo o que determina o artigo 22 do Regulamento Geral. Havia também, além dos engenhos, duas máquinas destinadas ao beneficiamento do algodão, sendo uma delas movida por tração animal, pertencente ao colono de 1a classe, exfurriel Guilherme Manuel Martins d’Albuquerque e a outra, movida por força hidráulica (água), seu proprietário era o colono de 2a classe, ex-operário da Colônia, Martinho José de Sanct’Anna. 83


O crescimento populacional era comparado com a época se sua instalação ocorrida no dia 20 de fevereiro de 1852, quando o seu distrito tinha apenas uns duzentos e tantos habitantes radicados nos quarteirões de Jacuipinho, Roçadinho e Taquara de Pilões, únicos locais que eram povoados. Entretanto, em março de 1864, a população total da Colônia era de 3.057 habitantes o que não deixava de ser um importante núcleo populacional e a decorrência deste número de pessoas, foi analisado pelo capitão Lôbo Bentes, opinando “se esse número ainda não é mais elevado, como desejamos, prende-se a falta de garantia sobre os terrenos cultivados pelos colonos, tendo em vista a rigidez do regulamento sujeitando os colonos ao regime militar e que com muita razão, tem o povo brasileiro natural aversão”. Ressalta porém, o diretor, afirmando que “felizmente nesta Colônia, o regime não prejudicou aos seus habitantes e esta razão deveu-se a prudência e a objetividade com que foi usado o regulamento, pois desde a sua criação foi adotado um regime que não comprometeu nem prejudicou a segurança nem a tranquilidade dos colonos”. Quanto ao terceiro item, era inteiramente voltado para o comércio e as vias de acesso deste local. A liberdade de concorrência comercial existia de fato nesta Colônia e em seu distrito, e tanto isto prova que havia nesta povoação seis casas de negócio de secos e molhados, pertencentes aos comerciantes Antônio José do Nascimento, Guilherme Manuel Martins d’Albuquerque, Maria Alexandrina da Conceição, Evaristo Alves de Lima, Sabino José de Souza e Caetana Maria de Jesus. O diretor dissera que jamais procurou dificultar a livre iniciativa; sempre incentivou este setor de atividade quando resolveu instalar uma feira semanal aos sábados, onde compareciam centenas de pessoas, inclusive sábados, onde compareciam centenas de pessoas, inclusive moradores da Província de Pernambuco. As relações comerciais eram processadas entre a Colônia e a estação ferroviária de Una, atual Palmares, no Estado de Pernambuco e chegando mesmo a haver quem se deslocasse até ao Recife para efetuar suas compras. Uma abordagem que levou mais de um século para se concretizar, é relativa a necessidade de uma estrada mesmo que não fosse perfeita, mas que tivesse fácil e seguro acesso entre estes dois pontos, a Colônia e a estação de UNA, pois a vereda existente devia ser ampliada e melhorada, para facilidade da comunicação, esta distância era de 07 léguas. Aí está a razão do vínculo tão estreito e ainda hoje existente entre esta parte de Alagoas, com várias cidades pernambucanas, pois remonta ao século passado esta afinidade. Assegurou o diretor capitão Lôbo Bentes que “nenhuma das colônias militares estabelecidas no império, conseguiram ainda chegar ao grau de prosperidade que tem atingido 84


a Colônia Militar Leopoldina”. E afirmou categórico, “esta mesma Colônia teve, em janeiro de 1860, a subida honra de receber em seu grêmio o Nosso Adorado Monarca – o Senhor D. Pedro II, que por si observou o seu estado de prosperidade”. Em agosto deste mesmo ano, já figuravam os 21 primeiros compradores de terras dentro da légua quadrada da Colônia Militar; assinando os termos de contratação e recebendo no mesmo dia os títulos provisórios de seus respectivos lotes: 01 – Francisco Pereira da Gama Campos, um lote, ao preço de 109$380 rs. assinando o contrato em 09 de agosto; 02 – Angelino José de Lima, um lote; 03 – João José da Costa, um lote; 04 – Antônio Vicente da Silva, um lote; 05 – Manuel da Motta Victor, um lote, assinando o contrato no dia 10 de agosto; 06 – João Baptista Carneiro, um lote, assinando o contrato no dia 22 de agosto; 07 – Roza Maria da Conceição, um lote, ao preço de 156$250 rs.; 08 – Antônio de Campos Carneiro, um lote, ao preço de 156$250 rs. assinando o contrato no dia 23 de agosto; 10 – Severino Ferreira Gomes, um lote; 11 – Francisco André Avelino, dois lotes, ao preço de 312$500 rs.; 12 – José Jeronymo de Mendonça, um lote ao preço de 156$250 rs.; 13 – Lourenço Paes da Paixão, um lote, assinando o contrato no dia 24 de agosto; 14 – José Lourenço da Silva, um lote; 15 – Antônio Tavares do Nascimento, um lote; 16 – Lucas José de Farias, um lote; 17 – Joaquim dos Santos Guimarães, um lote, assinando o contrato no dia 25 de agosto; 18 – Domingos da Silva, um lote; 19 – Carlos José da Silva, um lote, ao preço de 109$380 rs.; 20 – Cyríaco José de Farias, um lote, ao preço de 156$250 rs.; 21 – Joaquim de Britto, quatro lotes, ao preço de 437$520 rs. assinando o contrato no dia 26 de agosto. Estava a direção da Colônia dando assim, cumprimento ao que estabelecia o aviso número 07, de 24 de julho de 1861, originário do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, quando regulamentava e estabelecia a medição de demarcação das terras públicas, para que fossem expostas a venda aos colonos que desejassem se fixar e cultivar seu próprio patrimônio. No decorrer do último mês do ano, a afluência de candidatos inscrevendose para a aquisição do seu lote de 250 braças quadradas, era bastante significativa. O último a se inscrever neste ano foi o colono Manuel Francisco Ximenes, propondo a compra de dois lotes de terra no sítio chamado Riacho Tapado, tendo em vista que já morava nessa localidade há mais de sete anos. Terminava mais um ano de grande movimentação e implantação de medidas beneficiadoras à população residente na Colônia Militar Leopoldina, porém um fato que viria prejudicar o Brasil e consequentemente esta Colônia, estava acontecendo no apagar das luzes do ano de 1864; o Brasil recebia com grande impacto a declaração de guerra pelo Paraguai, 85


que durou seis anos e trouxe consequências maléficas para o império. Logicamente que a repercussão do estado de beligerância só chegaria aqui muitos meses depois do seu início, levando-se em consideração a demora nas comunicações com especialidade quando se tratava de interiorizá-las.

1865 O tempo corria implacável sem esperar por ninguém, passava e trazia na correnteza dos fatos marcantes da vida da Colônia, uma infinidade de situações, como: denúncias, apropriações indébitas, movimentos de insatisfação, abaixo assinados para tirar pessoas que não estavam sendo do agrado dos colonos, mortes violentas por assassinatos, mudança do diretor e tantos outros. 1865 não foi monótono. A movimentação estava encadeada de tal sorte, que só havia redução de atividades por ocasião da estação invernosa, aí então havia recesso obrigatório. O período invernoso segurava a todos em seus abrigos. A primeira atividade de ordem administrativa ocorreu com o requerimento de Damázio Ferreira da Costa, solicitando a compra de dois lotes de terras e prontamente deferido o seu pedido, onde hoje existe o povoado de Monte Alegre. Ainda era presidente da Província o desembargador João Baptista Gonçalves Campos. Os atos administrativos prosseguiam com a entrega, pelo capitão Lôbo Bentes ao agrimensor Manuel Cândido Rocha de Andrade, dos objetos pertencentes a extinta Inspetoria Geral de Medições, para que o referido técnico desse prosseguimento ao seu trabalho de medir e demarcar os lotes de terras tão requeridos pelos colonos. Consta de documentos da época que tais objetos eram dois livros de registro de ofícios, um livro de juramento e títulos para usá-lo quando da venda dos lotes aos candidatos inscritos, um teodolito que é um instrumento de medição geodésica, uma bússola, duas correntes empregadas nas medições, dois barômetros de FORTIN, um termômetro de vidro, três níveis de bolha de ar, duas pranchetas para desenho, quatro esquadros, duas réguas, quarenta machados, dez enxadas, vinte e oito foices, três terçados, dois graminhos, duas enxós de ribeira e uma de fuzil, quatro prumos de chumbo e um maço de papel de holanda para ser utilizado quando da venda de terras. Esta relação é uma demonstração da organização existente para com os materiais sob a guarda do diretor da Colônia. De acordo com o aviso do Ministério da Guerra, datado de 08 de março de 1865, foi dispensado do cargo de diretor o capitão da Arma de Artilharia, João da Gama Lôbo Bentes, 86


que passou a servir no corpo do 3o Batalhão de Artilharia em Maceió. Sua permanência à frente dos destinos da Colônia foi de cerca de 14 anos de bons serviços prestados. Sua competência ficou registrado nos anais da história como hábil administrador e de excelente formação militar, tanto que anos mais tarde, já no atual século, seria homenageado pela Intendência Municipal, com a colocação de seu nome numa das ruas de Leopoldina, fato hoje desconhecido por muitas pessoas da localidade; sendo o seu nome posteriormente substituído apagando assim da lembrança dos leopoldinenses, a memória de quem tanto trabalhou pelo seu desenvolvimento, desde o nascimento da Colônia Militar Leopoldina, porem, este nome será relembrado a partir deste trabalho. Em 1o de abril entrou no exercício do cargo de diretor interino da Colônia, o alferes Augusto Pereira Ramalho, substituto eventual em oportunidades já citadas, o qual, com a passagem do cargo, também recebeu o inventário dos bens pertencentes a Fazenda Nacional. O armamento compunha-se de sessenta armas e quarenta e sete baionetas, todos em mau estado. Pediu o alferes Pereira Ramalho para que lhe fosse permitido enviar dito armamento para Porto Calvo ao agente de rendas para que o mesmo efetuasse o pagamento do transporte e de lá remetesse por via marítima para o depósito de artigos bélicos em Maceió, a fim de que pudessem ser consertados. Do inventário consta o arrolamento de todos os bens existentes na sede da Colônia. Foram discriminados os objetos eclesiásticos, utensílios da farmácia, prédios, armamentos e munições, instrumentos de geografia, material de secretaria, semoventes (animais), artigos de pintura, marcenaria, carpintaria, de pedreiro, de ferreiro, instrumentos rurais e materiais de construção. Dentre os primeiros atos burocráticos de recém-empossado diretor, consta seu indeferimento ao que requereu o colono Antônio José Leocádio dos Santos Galante, onde o suplicante esclareceu o desejo de comprar no sítio Laranjeiras no lugar chamado Bastiões, um lote de terras. Na informação registrada pelo diretor, dizia que o terreno já havia sido vendido, razão pela qual recebeu a negativa do alferes diretor, além do que é o peticionário “reputado criminoso de morte” e nessa ocasião estava preso na cadeia da Vila do Passo de Camaragibe. Ao término do primeiro semestre o quadro de pessoal da Colônia estava assim constituído: o cargo de diretor, vago; subdiretor interino o alferes reformado, Augusto Pereira Ramalho; capelão frei Boaventura de Santa Maria e neste cargo vencia soldo de alferes; médico, vago desde 1859, como também o de escrivão. Totalizava este quadro 14 pessoas, incluindo os soldados. A população era de 3.106 homens livres e 151 escravos, dentre os primeiros havia doze carpinteiros, um marceneiro, quatro pedreiros, dois sapateiros e três 87


alfaiates. Até o meio do ano havia morrido 43 pessoas e nascido oitenta crianças, as esperanças para que no futuro dessem continuidade aos trabalhos iniciados por seus pais. Embora os ofícios religiosos fossem realizados na capela a sua conclusão ainda não tinha sido feita. As obras do quartel estavam, há bastante tempo, paralisadas. A casa principal de povoação era a da diretoria e já se tinha nesse tempo a ideia de que a mesma poderia no futuro servir de casa de “Câmara” e também como local para júri, muito embora estivesse estragada na parte de trás, razão pela qual encontrava-se fechada aguardando o material pedido, bem como os recursos financeiros necessários para restabelecer essa parte danificada pelas chuvas e também pela ação do tempo. Das doze casas existentes, cinco estavam alugadas e rendiam à Colônia 240$000 rs. (duzentos e quarenta mil réis) anualmente. A ponte existente em frente à capela e sobre o rio Jacuípe, servindo de via de acesso à Província de Pernambuco, necessitava de reparos, pois lhe faltavam seis vigas novas em seu lastro e um pequeno conserto em um dos paredões danificados pela forte correnteza do rio na estação invernosa. O cemitério iniciado em 1856, estava dando plenamente para enterrar os mortos, era, portanto, uma das poucas edificações que ninguém tinha nada do que reclamar, todos que lá se achavam dormiam o sono dos justos mansa e pacificamente. As atividades básicas da Colônia derivavam, como já vimos, para a segurança e para o plantio das lavouras essenciais a alimentação dos próprios colonos, com acréscimo do cultivo do algodão e da cana de açúcar. Até agora não mencionamos a criação de gado, pois de acordo com as normas existentes havia rigorosa proibição quanto a formação de um rebanho bovino, tendo em vista “ser o lugar destinado somente a agricultura”. Apesar dessa proibição, consta o registro da existência de algumas vacas, cabras, ovelhas e porcos pertencentes a colonos, o que servia para complementar sua modesta alimentação, com o leite e a carne dos pequenos animais abatidos nas grandes ocasiões. Estava iniciando seu período de governo na presidência da Província o Dr. Esperidião Eloy de Barros Pimentel. Já no segundo semestre, precisou se ausentar o diretor interino da Colônia, para tratar de assuntos ligados a sua administração com o novo presidente, portanto seu destino seria a capital da Província e na inexistência de um substituto legal, deixou respondendo pelos seus destinos o capelão frei Boaventura, fato que se repetiu várias outras vezes quando de suas ausências da direção pela qual era o responsável direto. Não podemos deixar de mencionar que o número de casas existentes no seu território, elevava-se para 573, dando, por conseguinte, uma média de cerca de cinco pessoas para cada 88


casa, representando uma expressiva taxa de ocupação por unidade habitacional, onde a população era de 3.257 pessoas. Com a chegada do mês de setembro abrimos um parêntese para nos situarmos em pleno teatro de operações militares em decorrência da guerra com o Paraguai. Tal situação representava um pesadelo de proporções gigantescas para o Imperador D. Pedro II, tanto foi verdade que sua saúde física foi seriamente abalada com este conflito armado. Suas convicções eram diametralmente opostas ao estado de beligerância. Era amante da paz, profundamente apegado ao respeito entre as nações, era por índole um pacifista e no emaranhado da política internacional, não teve escolha senão proteger a integridade do império, defendendo-o da agressão desencadeada por Francisco Solano Lopez, sucessor familiar no governo da República paraguaia. Com a marcha dos acontecimentos, o Rio Grande do Sul foi outro ponto do território brasileiro a ser invadido pelas forças militares adversárias, foi motivo suficiente para o deslocamento do próprio imperador à área conflagrada. Sua chegada ao Rio Grande foi no dia 11 de setembro e no dia 18 do mesmo mês, D. Pedro II assistiu em Uruguaiana, cidade do extremo sul do Rio Grande, a rendição das forças paraguaias, derrotadas pelo exército brasileiro. O término da guerra só ocorreu em 1o de março de 1870, quando foi morto pelo cabo Chico Diabo, em Cerro-Corá, fronteira de Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul, com o Paraguai; o comandante chefe do exército agressor, Francisco Solano Lopez. Por iniciativa do presidente do Conselho de Ministros do Império, o senador Francisco José Furtado, foi o organizador da formação de batalhões que durante o período da guerra iria complementar o efetivo das forças combatentes, os chamados “Voluntários da Pátria”, e a Província das Alagoas contribuiu alistando e enviando 3.600 homens para os campos de batalha. Assim está sendo fechado o parêntese, com o relato desse período, do qual participaram vários moradores da Colônia Militar Leopoldina e de suas imediações como os índios do lugar chamado Cocal, hoje pertencente ao município de Joaquim Gomes, deste Estado. É no mês de outubro a existência da subdelegacia do distrito onde sua extensão abrangia uma área de treze léguas e o subdiretor interino, informava à presidência da Província, que tendo em vista a grande afluência de moradores ocorrido ultimamente para se fixarem nos arredores dessa povoação, motivados pela venda de lotes de terrenos feitos nos dois últimos anos; foi apresentada pelo alferes Augusto Pereira Ramalho a sugestão para dividir em dois o distrito desta subdelegacia e uma terceira subdelegacia seria criada e que ficaria subordinada a delegacia da Vila de Porto Calvo. Esta proposta foi motivada pela 89


dificuldade de executar o policiamento na área das treze léguas. A Colônia ficaria comi sua base territorial para efeito de cumprir as atribuições de subdelegacia, da seguinte forma: de São Bernardo até Canastra, seria a 1a divisão e a partir da Cova da Negra até Imperatriz, incluindo Roçadinho, Taquara dos Pilões e Boca da Mata, seria a 2a divisão e já propunha de imediato a indicação do subdelegado da 2a divisão, o cidadão major Claudino José da Costa Agra, proprietário e morador em Roçadinho. O final deste ano foi marcado por sérias intrigas domésticas culminando com a exoneração do subdiretor interino, o que aconteceria no terceiro trimestre do ano seguinte.

1866 Data do começo deste ano uma referência à Sereníssima Princesa, a Senhora Dona Leopoldina, protetora da Colônia, contando então 19 anos de idade e já estava casada com o príncipe D. Luiz Augusto Maria Eudes, Duque de Saxe, o que lhe acrescentou mais este título nobiliárquico, o de Duquesa de Saxe. O capitão João da Gama Lobo Bentes havia sido promovido ao posto de major. Há uma descrição do ainda subdiretor, quanto a prodigalidade e dadivosa terra da Colônia, quando ele documenta que “os terrenos são regados por numerosos riachos e também cobertos de matas, sendo esta terra de prodigiosa fertilidade”. A situação da edificação da capela era o que podemos chamar de inconclusa, pois o crédito de 1:065$810 rs. (hum conto sessenta e cinco mil oitocentos e dez réis), solicitado no ano de 1961, não foi liberado e por falta de dobradiças e gonzos, suas portas principais estravam sustentadas por alguns pregos e escoras de madeira, o que deixava uma preocupação constante por parte dos seus frequentadores, pois a qualquer momento poderia haver alguém acidentado, mas nada houve quanto a esta preocupação. A imagem de Nossa Senhora do Carmo, a padroeira da Colônia havia sido colocada nessa capela por devoção do ex-diretor, major Lôbo Bentes, o sino tomado por empréstimo aos herdeiros do comendador José Paulino d’Albuquerque Sarmento, fora substituído por um doado pelo comendador Jacintho Paes de Mendonça. A população aumentava consideravelmente de ano para ano. No ano anterior a população era de 3.257 habitantes, enquanto que no início deste já h avia 3.309 almas. O número de casas que era de 573 passou a 582, isto em poucos meses. Frisamos que estes dados eram os do compreendido território da Colônia, isto é, na légua quadrada. A agricultura voltou a prosperar, com especialidade a do algodão. O número de engenhos existentes ascendia para quatro, sendo todos movidos por força hidráulica. 90


No dia 08 de março aconteceram dois fatos distintos que foram devidamente registrados. O primeiro foi a concessão de uma licença de oito dias, solicitada pelo capelão frei Boaventura para “ir receitar-se” na capital da Província. O segundo foi uma ocorrência puramente policial, assim documentada: “Tendo nesta data por vota das quatro horas da tarde, o índio de nome Tibúrcio, baixo, beiços grossos, rosto redondo sem barba, peitos altos e espáduas largas, pertencente a intitulada aldeia do Riacho do Mato – Província de Pernambuco. Vindo a esta Colônia armado de faca de ponta e cacete, descarregou uma forte bordoada no inspetor do 2o quarteirão, Manuel Francisco Jatobá, por haver este advertido ao índio. Em seguida ao ato de agressão, fui juntamente com alguns soldados ao seu encalço para prendê-lo, porém, mais adiante tive notícias de que ele fora encontrado no caminho de Trombetas para dali seguir para a praça de Pernambuco, a fim de como voluntário ir ara o sul. Peço ao Exmo. Sr. Presidente desta Província que solicite ao presidente da Província de Pernambuco, a sua captura”. Este documento ainda foi assinado pelo subdiretor interino, o alferes reformado Augusto Pereira Ramalho. Aos 26 dias do mês de abril de 1866, houve mudança na direção da Colônia, foi demitido do cargo o alferes Augusto Pereira Ramalho e para esta diretoria fora nomeado pelo vice-presidente em exercício, Dr. Galdino da Natividade e Silva; o tenente Olavo Eloy Pessoa da Silva já com certa aclimatação na Colônia Militar Leopoldina. Em junho do ano em curso, o agrimensor Manuel Candido Rocha de Andrade, encarregado das medições e venda das terras publicas, comunicou ao novo diretor, que deixara de prosseguir nos seus trabalhos por motivos óbvios, as copiosas chuvas caídas naquele inverno. O policiamento estava em precaríssima situação numérica, pois, não havia como determinar a vigilância da cadeia, por rigorosa falta de soldados para este fim; tornando-se muito difícil exercer o policiamento em tal circunstâncias, o que por certo concorreu para a passagem a seguir descrita: “É registrado no dia 29 de junho de 1866, o episódio da prisão de José de tal, escravo de Antônio José do Nascimento, morador no povoado, por desobedecer publicamente ao diretor. Acontecimento este ocorrido no dia da feira, no começo desta quinzena. Prossegue o diretor, tenente Olavo. Acontece que na véspera de São João, pelas 11 da noite, fui vítima de um atentado por parte de pessoas do lado de Pernambuco e não tive como reagir, pela ausência de armamento de grosso calibre e longo alcance. Este fato está ligado à prisão do escravo a que me referi anteriormente. Contando 18 anos de vida militar, inclusive com participação na memorável Batalha de Monte Caseros, nunca sofri o que acabo 91


de sofrer. Foi para mim uma situação deplorável pela incapacidade de revidar aos tiros dos desrespeitadores da lei e da ordem vindos da margem esquerda do rio Jacuípe. Pelo que suplico a V. Exa as providências que a situação atual requer”. Passado este episódio, foi o diretor nomeado pelo presidente da Província, recrutador do distrito, onde existe a afirmação do tenente Olavo de que “já efetuei a prisão de cinco recrutas, sendo que o mais moço deles poderá muito bem ser mandado para servir na Armada (marinha de guerra)”. Fora criada nessa época a figura do comandante superior desse distrito, sendo seu primeiro ocupante o comendador Jacintho Paes de Mendonça. Já em outubro, por razões administrativas foi exonerado o tenente Olavo, do cargo de recrutador do distrito. Em outubro houve um breve período de ausência do tenente Olavo, quando requereu uma licença para ir a capital “procurar medicalmente” melhorar de alguma forma dos seus padecimentos que se vinham agravando. Mais uma vez frei Boaventura assume o cargo de diretor, por ainda não haver sido designado outro militar para o cargo de subdiretor da Colônia. Por motivos de incompatibilidade com várias pessoas de certo destaque da Colônia, houve uma representação popular contra o diretor, tenente Olavo Eloy Pessoa da Silva, assinada por dezenas de moradores deste distrito, como negociantes, agricultores e proprietários; onde expunham suas alegações e solicitavam da presidência da Província a saída desta autoridade do cargo de diretor da Colônia. Era presidente da Província o Dr. José Martins Pereira de Alencastro.

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Recenseamento anual da Colônia Militar Leopoldina, no ano de 1860.

Extinção da Colônia Militar Leopoldina

No ano de 1867 a Colônia Leopoldina estava caminhando para completar seus 17 anos de existência; contagem esta levando-se em consideração a data de sua criação através do Decreto de número 729, de 09 de novembro de 1850, de S.M. o Imperador D. Pedro II, que naquela época estava prestes a fazer 25 anos de idade. Vimos no decorrer destas revelações históricas, que as causas ou os motivos que deram origem a sua criação, praticamente haviam cessado. A Colônia cumprira a sua destinação. O Império estava atravessando séria crise econômico-financeira em função dos elevados gastos com a Guerra do Paraguai. Havia urgência em suprimir determinados tipos de despesas. A povoação estava consolidada, não podia regredir. A semente fora plantada, germinara e frutificara, podendo a partir de então, muito bem caminhar, seguindo seu próprio rumo. Fora bem nascida em termos de cuidados e tratamentos especiais que lhes deram os governantes, desde o imperador oferecendo o nome de uma de suas filhas à Colônia e vindo posteriormente em janeiro de 1860, até aqui conhecer de perto a sua criação, demonstrando com este ato o carinho e a afeição ao núcleo de distinto e privilegiado título nobiliárquico, com a imperial denominação de Colônia Militar “LEOPOLDINA” e este distante lugar foi merecedor de muita atenção e distinta consideração. Seus diretores deram o melhor de si para cumprir com dignidade a difícil missão de conduzir os destinos do nascente núcleo de povoamento, enfrentando com a coragem dos fortes e o heroísmo dos legendários gregos, qualidades essencialmente nobres e próprias dos grandes homens que deixaram seus nomes registrados e perpetuados pela história; com a denotada deliberação de fixar pessoas e desenvolver este ponto tão distante do litoral, que era o lugar preferido para a criação de um povoado. Interiorizar um empreendimento desse porte, exigia desprendimento e total convicção naquilo que iriam construir. Faltava-lhes tudo. Tinham que desbravar e dominar o meio-ambiente agressivo, inóspito e de difícil acesso. A contribuição dos primeiros colonos engajados para prestar seus serviços nunca deverá ser relegada a um segundo plano, pois, as circunstâncias de então eram grandiosamente adversas, mas nem por isto se furtaram de participar do pioneirismo dos “bandeirantes” de 1606, quando iniciaram a penetração pelo interior do Brasil, rumo ao oeste. O desempenho de cada um daqueles heróis anônimos, só nos faz sentirmos orgulhosos e legítimos continuadores da herança legada aos leopoldinenses, aos alagoanos e aos brasileiros, pelo que lhes somos profunda e eternamente agradecidos e reconhecidos pela magna lição de 94


vida e plena dedicação à causa que abraçaram. Porém, mais um ano começava na Colônia Militar Leopoldina e os fatos administrativos e sociais prosseguiam com a sua jornada rotineira. Chegavam e saíam pessoas; os nascimentos e as mortes; o amor e o ódio invadindo a quantos lhes fossem suscetíveis; o trabalho e o descanso diários; os dias e as noites aconteciam imutáveis dentro dos padrões do ter e haver ou do ser e estar. Era este o quadro emoldurado pelo verdejante vale do Jacuípe. No dia quatro de janeiro, houve uma representação do diretor em exercício, o alferes reformado Augusto Pereira Ramalho, que a vinte e seis de dezembro do ano anterior havia assumido o cargo, em decorrência da exoneração do tenente Olavo Eloy Pessoa da Silva. Tal representação foi contra o tenente coronel comandante do Batalhão da Guarda Nacional de Lage do Canhoto, atual São José da Lage: tendo em vista, estar essa alta patente, abusando de sua autoridade, cometendo ingerências e subordinando sob suas ordens até os moradores do lugar chamado Rocadinho, que pertencia política e administrativamente à diretoria da Colônia. Ainda no decorrer do mês de janeiro, mais uma vez ficou respondendo pelos destinos da Colônia, o capelão frei Boaventura, por motivo de viagem do seu diretor à capital da Província, para tratar de assuntos ligados à administração local. A Colônia havia sido elevada a condição de Distrito, com a Lei de número 321, de 05 de julho de 1861, compreendendo os mesmos limites da respectiva subdelegacia e pertencente ao Termo da Vila de Porto Calvo e a composição política, social e administrativa da Colônia estava organizada e composta por dois distritos e quatorze quarteirões, com os seus respectivos inspetores de quarteirões. Compunham o primeiro distrito nove e o segundo, cinco quarteirões. Os primeiro e segundo quarteirões eram formados pela própria povoação da Colônia, com 335 colonos e 84 casas. Seus inspetores eram Francisco Antônio d’Albuquerque e Manuel Francisco Jatobá. O terceiro quarteirão, chamava-se Sapé, com 110 colonos e 25 casas, sendo seu inspetor Manuel Lopes Barboza. A distância da sede era de meia légua. O quarto era São Bernardo, com 13 colonos e 25 casas. Seu inspetor era Manuel Clemente Rodrigues. Distante três léguas. O quinto era Porto da Folha, com 235 colonos e 53 casas, cujo inspetor era Manuel Francisco da Silva e a distância para o povoado da Colônia era de duas léguas. O sexto quarteirão era Macuquinha, com 257 colonos e 57 casas. Ficava a uma distância de uma légua. Seu inspetor era Francisco André Avelino. O sétimo, Manaia, com 206 colonos e 39 casas. Distava duas léguas e o inspetor deste quarteirão era Luiz de Mendonça Lima. O oitavo chamava-se Maricas, com 125 colonos e 22 casas. O inspetor era Bernardino Vieira. A distância deste quarteirão para a sede da Colônia era de quatro léguas. O 95


nono, Taquara, com 125 colonos e 22 casas. Ficava a meia légua. Seu inspetor era Manuel José de Souza. A população deste 1o distrito, era de 1.516 habitantes, com 325 casas. O 2o distrito, com mais cinco quarteirões, estava assim discriminado: o décimo era o lugar conhecido por Cova da Negra, com 429 colonos e 80 casas. Seu inspetor era Joaquim Henrique da Silva. Ficava a quatro léguas de distância. O décimo primeiro, Pilões, com 722 colonos e 51 casas. Tinha como inspetor, João Francisco Peixoto e ficava a oito léguas. O décimo segundo era Boca da Mata, com 105 colonos e 17 casas. Seu inspetor chamava-se Carlos Maciel da Costa. Distava da Colônia nove léguas. O décimo terceiro quarteirão era Roçadinho, com 382 colono se 65 casas. Seu inspetor era o colono Sabino da Costa Agra. Ficava a nove léguas de distância. E o décimo quarto era o lugar chamado de Imprensa, com 155 colonos e 65 casa, sendo seu inspetor, Pedro Gome da Silva e estava à uma distância de oito léguas da sede da Colônia. A população deste 2o distrito, era de 1.793 habitantes, com o total de 247 casas. No mês de julho de 1867, a diretoria da Colônia era posta a par das “críticas circunstâncias” em que se achava o país, portanto, foi esta notícia um prenúncio de modificações que logo mais iriam ser postas em prática pelo Governo Imperial, através do Ministério da Guerra. No dia nove de setembro é recebido por parte do vice-presidente em exercício, Dr. João Francisco Duarte, um ofício juntamente com o aviso do então Ministro da Guerra, Ângelo Muniz da Silva Ferraz, que formava o Gabinete de Governo presidido pelo Marechal de Campo, Luiz Alves de Lima e Silva – Duque de Caxias. O citado aviso, vinha dando ciência da extinção da Colônia Militar Leopoldina e estava datado de 18 de julho de 1867 e a partir de cuja data prevalecia a sua extinção e ainda continha a informação da EMANCIPAÇÃO da Colônia ora extinta. Daí por diante, os fatos marcaram a entrega de todos os bens nacionais ao chefe da 1a Seção da Tesoureira da Fazenda, Tito d’Abreu Fialho. Foram devidamente relacionados e de uma dessas relações constam em seus 22 itens, o seguinte: 01) Capela de Nossa Senhora do Carmo, localizada na Praça de Dom Pedro, tendo sido iniciada no ano de 1852 (local da atual Matriz de igual devoção e cujas torres foram em parte aproveitadas da antiga Capela Imperial); 02) Casa grande, a qual serviu de residência do diretor, com quatro janelas de frente, de forma ogival e uma porta central, com 16 palmos de altura (esta descrição lembra o formato das janelas do prédio da prefeitura, localizada à Rua 15 de Novembro); 03) quartel, contendo três celas. Estando o mesmo desocupado por não haver sido concluído, sua localização é informada como na Rua do Jacuípe; 04) cemitério, 96


fora do povoado duzentas braças, no rumo noroeste; 05) caixão de uma casa que seria destinada para a residência do vice-diretor. Situada na Praça de Dom Pedro com a Rua dos Prazeres; 06) casa pequena; 07) casa residencial do atual diretor. Situada na Rua dos Presidentes, esquina com a Praça de Dom Pedro; 08) casa residencial do capelão; 09) casa situada na Rua dos Presidentes, alugada a José Damaceno por 5$000 rs.; 10) casa onde funciona a secretaria, quartel e prisão; 11) casa residencial, alugada ao agrimensor Manuel Cândido Rocha de Andrade; 13) casa residencial, alugada a Josino Francisco; 14) casa sem repartimento, onde está instalada a oficina de carpintaria; 15) casa sem repartimento, servindo de depósito (almoxarifado); 16) casa residencial, situada na Praça de Dom Pedro, alugada ao coletor Joaquim Maurício Wanderley, por 6$000 rs. (provavelmente a casa onde morou por muitos anos, D. Preta); 17) casa residencial, alugada ao marceneiro Antônio d’Amorim; 18) frente de uma casa; 19) alicerce de uma casa; 20) frente de uma casa, cujo início é de 1858; 21) dois fornos para queimar tijolos; 22) olaria. Com data de trinta e um de dezembro, o subdelegado Manuel Cavalcanti Walcacer informou à presidência da Província que existe na extinta Colônia Militar, 55 casas de tijolos e 60 de palha, 09 casas de comércio, 02 padarias, 01 mercearia, 01 ferraria, 01 carpintaria, 02 oficinas de sapateiros e 01 loja de alfaiate, acrescentando ainda na sua informação, que esse povoado “presta-se para uma boa cidade”. Era presidente da Província o Dr. Antônio Moreira de Barros. Informou também o subdelegado Manuel Cavalcanti Walcacer, que “contém estre distrito, 13 léguas de extensão, da cachoeira do Salto no rio Jacuípe até as vertentes do rio Taquara, sendo sua população de 3.558 almas, distando 15 léguas para a Vila de Imperatriz (União dos Palmares) e 12 léguas para a Vila de Porto Calvo”. Consta do relatório de encerramento de suas atividades, que o dispêndio desde a sua criação até 18 de julho de 1867, foi de 367:752$642 rs. (trezentos e sessenta e sete contos, setecentos e cinquenta e dois mil, seiscentos e quarenta e dois réis); alcançando as despesas consequentemente, a média anual de 21:632$510 rs. (vinte e um contos, seiscentos e trinta e dois mil quinhentos e dez réis). Ficou então esse distrito, subordinado política e administrativamente à Vila de Porto Calvo, cerca de 34 anos, desde a extinção da Colônia Militar até sua elevação a categoria de Vila e município, pela Lei número 321, de 12 de junho de 1901. O tempo prossegue na sua ininterrupta marcha para o amanhã, oferecendo fatos já consolidados e estratificados para merecerem figurar e integrar a nossa História Particular, capacitando assim a composição de um grande e primoroso painel policrômico do qual podemos extrair a interpretação sóbria e despretensiosa ou elaboramos ilações das mais 97


nobres e altivas conceituações do que nos proporcionaram os nossos antepassados, construindo um elo de ligação perene, forte e indestrutível que serve ainda nos nossos dias atuais de rumo ou orientação para o amanhã que eles pensaram atingir e que também nós não iremos atingi-lo, da mesma forma que os nossos descendentes e assim por diante, pois esta é a imagem da cadeia da sucessão dos fatos que são intermináveis.

Episódios Adjacentes

O período que vai de 1868 a 1899, ou seja, ao término do século XIX, não foi estático. A vida prosseguiu e os fatos adjacentes continuaram a se desencadear sistematicamente. O término da Guerra do Paraguai em 1870, no dia 1o de março; teve elevado custo, tanto em dinheiro, quanto em perdas de vidas. Morreram 85 mil paraguaios, sete mil argentinos e uruguaios e 33 mil brasileiros, não deixando a história de reconhecer que os perdedores “também eram valentes”. Os acontecimentos iam solapando a estabilidade do Império. Desencadeou-se o incômodo conflito entre a igreja e o Estado, com a questão dos bispos de Olinda e de Belém do Pará, D. Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira e D. Antônio de Macedo Costa, respectivamente, e a chamada Questão Religiosa durou de 1872 a 1875. A campanha pela abolição da escravatura reuniu nomes consagrados como os de Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, José Carlos do Patrocínio, Antônio de Castro Alves, Rui Barbosa, André Rebouças, José Mariano e tantos outros que se bateram pela nobre causa da libertação dos escravos, ocorrido com a conhecida Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, e assinada pela Regente Imperial a princesa D. Isabel Cristina Leopoldina Augusta Michaela Gabriela Gonzaga de Bragança e Orleans – Condessa d’Eu (1846 – 1921), também chamada a Redentora. Há documento de 1884, hoje no Museu Imperial de Petrópolis, no qual consta um pormenorizado estudo sobre a abolição gradual da escravidão, realizado pelo próprio imperador, pelo que demonstra sua favorabilidade ao que se imperial filha assinou. A redação desta lei é a seguinte: Artigo 1o – É declarado extinto a escravidão no Brasil. Artigo 2o – Revogam-se as disposições em contrário. Logicamente que houve severas críticas ao ato legal firmado pela princesa Isabel e dentre os críticos destaca-se Martinho de Campos, que segundo o próprio, esta lei foi feita por aqueles que pertenciam ao “partido dos que não tinham nada a perder”. 98


Como herdeira presuntiva do trono, a princesa Isabel exerceu por três vezes a Regência do Império quando das viagens de D. Pedro II ao exterior. A primeira foi de 25 de maio de 1871 a 30 de março de 1872; o imperador fazia também sua primeira viagem à Europa; o segundo período regencial foi de 26 de março de 1876 a 26 de setembro de 1877, quando S. Majestade viajou aos Estados Unidos da América. Assistindo a uma exposição internacional, tomou conhecimento da invenção de Alexandre Graham Bell, o telefone; sendo adquirido pelo imperador este maravilhoso meio de comunicação, instalando um na Corte (Rio de Janeiro) e outro em Petrópolis. A terceira e última Regência foi no período de 30 de junho de 1877 a 22 de agosto de 1888, pois o imperador fez sua segunda viagem à Europa, para tratar da sua saúde combalida. O agravamento da situação política foi determinado pela célebre Questão Militar, que culminou com a Proclamação da República no dia 15 de novembro de 1889, quando o marechal Manuel Deodoro da Fonseca assumiu o governo, com o título de Chefe do Governo Provisório. Estava encerrada a fase da Monarquia Constitucional do Brasil, com a entrega da mensagem do Governo Provisório da República ao imperador D. Pedro II, solicitando a saída do país da família imperial, fato ocorrido no dia 16 de novembro; sendo portador dessa mensagem o major Solon Ribeiro. O banimento da família imperial, vigorou até 1920, quando foi revogado pelo presidente Epitácio Pessoa. Após esta peregrinação pelos episódios adjacentes, voltemos ao distrito de Leopoldina onde entra em cena a figura do engenheiro Carlos de Mornay, o projetista e construtor da segunda estrada de ferro do Brasil, que ligava a cidade do Recife à estação de Una (Palmares) e foi também de sua autoria o projeto de uma estrada de ferro começando em Penedo à margem esquerda do rio São Francisco e que atravessaria a então Colônia Militar Leopoldina, ideia esta de 1855 mais ou menos e que não chegou a ser iniciada a sua execução. No período compreendido de 14 de novembro de 1871 até 14 de março de 1873, este engenheiro fez parte da comissão de determinação de lotes de terra para os Voluntários da Pátria na extinta Colônia, segundo o historiador professor Moacir Medeiros de Sant’ana, em Contribuição à História do Açúcar em Alagoas. Ainda do mesmo autor, há o relato de que com a grande seca de 1877, houve a intenção dos governos Imperial e Provincial, de aproveitar a extinta Colônia para abrigar aos flagelados desta e de outras Províncias que chegaram a atingir o expressivo número de 30 mil pessoas emigradas, mas tudo não passou de especulação de um projeto, pois pela análise feita, havia a demonstração de sério inconveniente, a ausência de estrada de rodagem partindo da extinta Colônia e ligando vários 99


pontos dessa Província; a única estrada que havia era através da Vila de Porto Calvo e que se tornava impraticável transitá-la no inverno. Com a necessidade de gente para trabalhar na lavoura, o governo imperial autorizou à presidência da Província das Alagoas contratar, pelo espaço de 15 a 20 anos a imigração de colonos estrangeiros pelo que fora formada a Associação de Colonização em Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Em 07 de julho de 1876, estava o Governo Provincial das Alagoas autorizado a fundar uma Colônia Industrial e Agrícola e a ex-Colônia Militar Leopoldina era uma das alternativas para tal fim. O seu território foi analisado como os mais apropriados para essa nova tentativa, pois foram levadas em consideração sua posição topográfica, a constituição do seu solo e ainda a proximidade da estação de Una, em Pernambuco. Estava concluído o projeto do seu regulamento, bem com a denominação desse novo empreendimento, que passaria a chamar-se “Conde d’Eu”, em homenagem ao príncipe e marechal de exército, Luiz Felipe Maria Fernando Gastão d’Orleans – Conde d’Eu, neto do rei Luiz XVIII, da França e Príncipe Consorte pelo seu casamento em 15 de outubro de 1864 com a herdeira do trono brasileiro, a princesa Isabel. A finalidade principal desse novo empreendimento seria garantir a migração de brasileiros e estrangeiros e ainda acomodando os índios dos aldeamentos extintos dentro da Província e ainda absorver a população sem propriedade, porém essa tentativa não logrou êxito. Nascia a 15 de março de 1881, a menina Narciza da Rosa Lima Braga, na Vila de Porto Calvo e que se dedicaria no futuro a educação de várias gerações de leopoldinenses, consagrando-se como educadora emérita pelos seus dotes intelectuais. A 18 de fevereiro de 1888, nascia em Passo de Camaragibe, José Teotônio do Rego e vindo para essa terra, casou-se, constituindo numerosa família e além de político foi comerciante durante mais de 60 anos, faleceu aos 89 anos de idade, a 1o de junho de 1977. Filha do casal Juvêncio da Rocha Ramos e Ana Portella Ramos, nasceu no dia 03 de agosto de 1895 a menina que na pia batismal recebeu o nome de Maria Augusta, dentre tantos outros filhos do primeiro e segundo matrimônio do coronel Juvêncio, sendo que do terceiro, não houve descendência. No dia 16 de outubro de 1909, aos 14 anos de idade, casava-se a adolescente Maria Augusta Portella Ramos com José Teotônio do Rego, cuja celebração ainda foi na antiga capela da extinta Colônia, tendo como ministro de Deus o padre Antônio, de origem 100


estrangeira. Vinha este sacerdote, mensalmente de Porto Calvo para atender aos católicos do povoado. Hoje (1982), Maria Augusta Ramos Rego vive em pleno estado de lucidez, aos 87 anos de idade, cercada pelos seus descendentes, frutos do seu grandioso amor ao jovem Zeca Rego. A vida social do distrito de Leopoldina era movimentada, comemora-se com muita euforia o ciclo junino, a festa da Padroeira do dia 16 de julho, o Natal e os eventos domésticos como aniversários, batizados e casamentos. As atividades agropecuárias prosseguiam num ritmo crescente, dentro da capacidade instalada do povoado. Aqui não chegou logo a notícia, mas no seu exílio em Paris, morreu no dia 05 de dezembro de 1891, o ex-imperador D. Pedro II, aos 66 anos de idade. Amargando quase três anos de banimento da terra que lhe serviu de berço e também dois anos de sua viuvez, pois a ex-imperatriz D. Tereza Cristina havia falecido na cidade de Porto em Portugal, a 28 de dezembro de 1889. O distrito de Leopoldina registra no ano de 1892 a venda do engenho Pé da Serra de São João da Mata, pelo capitão João Bezerra Chaves, ao coronel Sebastião Alves da Silva, avô de Joaquim Monteiro da Cruz, seu atual e próspero dono, próspero porque iniciou a policultura do arroz, milho, banana, cana, melancia, jerimum ou abóbora, feijão e cacau. A experiência de mais de quarenta anos, confere a Joaquim Monteiro o título de Doutor “honoris causa” em agronomia, tal o volume de conhecimentos e realizações no setor agrícola, levados a efeito. Foi o primeiro engenho banguê a vapor, da região. Comprado o engenho “Pé da Serra de São João da Mata”, seu nome foi mudado para engenho São Sebastião. Sucedeu ao coronel Sebastião Alves da Silva, em 1927, seu filho Guilherme Alves da Silva, pai de Joaquim Monteiro da Cruz. Guilherme Alves da Silva foi proprietário de vários outros engenhos em Pernambuco. Homem culto e influente na política do vizinho Estado, já é falecido, porém a sua viúva D. Ritinha goza de boa saúde física e mental na expressiva marca dos seus 98 anos de idade, o que sem dúvida há grande expectativa para ser comemorado o seu centenário de nascimento. Para termos uma ligeira ideia a respeito do que seja tradição, forma aparentemente subjetiva, mas fortemente presente em seja qual for o tempo e circunstância; ainda hoje este engenho é conhecido e chamado pelo seu antigo nome.

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O primeiro engenho a vapor desta localidade. Engenho São Sebastião, antigo Pé de Serra de São João da Mata.

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Moendas do Engenho São Sebastião, hoje “fogo morto”.

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O século XIX estava chegando ao seu término e já havia passado pela presidência da República, os seguintes governantes: marechal Manoel Deodoro da Fonseca, marechal Floriano Vieira Peixoto, Prudente de José de Morais e Barros e Manuel Ferraz de Campos Sales. Como curiosidade histórica não podemos deixar de nos referir ao elevado número de presidentes provinciais, pois cerca de 61 presidentes governaram Alagoas de 1 o de julho de 1824 a 14 de novembro de 1889, sendo o nome do primeiro, D. Nuno Eugênio de Lossio e Seiblitz e do último do regime monárquico foi Manuel Victor Fernandes de Barros. Superou essa Província as demais, em número de presidentes. Chegamos ao final do século XIX com sonhadas expectativas para o futuro do distrito de Leopoldina, acreditando na sua já formada tradição, na capacidade dos seus filhos empreendedores e na conquista de sua recondução às mais legítimas aspirações políticas, social, cultural e econômica da pequena povoação que ingressa em um novo século.

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IV – A VILA DE LEOPOLDINA

Mesmo com uma retrospectiva, damos curso às revelações históricas desta imperial povoação plantada no setentrião do solo alagoano. Estamos ingressando no ano de 1900 abrindo nossas páginas para o século XX, contudo nada contra indica remontarmos ao ano 1861, quando pela lei número 372, de 05 de julho, foi criado o distrito, correspondente aos mesmos limites da respectiva subdelegacia pertencente ao termo da Vila de Porto Calvo. Lei esta sancionada pelo presidente da então Província de Alagoas, Dr. Antônio Alves de Souza Carvalho. Esta retroação é meramente didática e retroalimentadora dos pontos marcantes da nossa história. Há para nós, uma data muito particularmente significativa neste começo de século, qual seja, 17 de julho de 1900, quando nasceu, no engenho Macuca, o menino Filadelfo José da Silva, o qual seria no futuro, o pai e mestre para nós, que somos seu filho. Recebemos dele, valiosa colaboração informativa para este nosso trabalho.

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1901 O ano de 1901 foi de suma importância para a nascente Vila de Leopoldina, em virtude de haver sido agraciada com a sua elevação à categoria de vila e município, através da Lei no 321, de 12 de junho deste mesmo ano, a qual é transcrita a seguir: Lei no 321 de 12 de junho de 1901

Eleva à categoria de vila e município a povoação de Leopoldina, cria foro civil e judiciário e estabelece limites. Bacharel Euclides Vieira Malta, governador do Estado de Alagoas: Faço saber que o Congresso decreta e eu sanciono a lei seguinte: Artigo 1o Fica elevada à categoria de vila e município a povoação de Leopoldina. Artigo 2o É criado o foro civil e judiciário no referido município, cujo limites ficam sendo os do atual distrito de Leopoldina com o de Jundiá partindo da ponte do Frio e seguindo a estrada que vai para o engenho Onça até encontrar o município de Camaragibe. Artigo 3o O município de Leopoldina fica pertencendo, na parte judiciária, ao de Porto Calvo. Artigo 4o É igualmente criado um tabelionato de notas e escrivaninhas do civil, crime, comercial, órfãos e ausentes, júri e mais anexos. Artigo 5o A instalação do novo município será feita de acordo com as disposições legais aplicáveis à espécie e somente depois de verificada a existência de prédio com acomodações necessárias ao funcionamento do Serviço Público, quando as condições financeiras do Estado permitirem. o

Artigo 6 Fica restabelecido o art. 2 da Lei no 1.063, de 16 de julho de 1889, revogam-se as leis e disposições em contrário.

O Secretário de Estado dos Negócios do Interior assim faça executar. Palácio do Governo em Maceió, 12 de junho de 1901, 13o da República.

Euclides Vieira Malta Joaquim Paulo Vieira Malta 107


Publicada na Secretaria dos Negócios do Interior, aos 12 de junho de 1901.

O Diretor Manuel de Araújo Nunes Cahet “Coleção de Leis e Decretos do Estado de Alagoas promulgados em 1901. Maceió – Empresa d’A Tribuna; 1902, página 32.”

Ainda era presidente da República nessa oportunidade o Dr. Manuel Ferraz de Campos Sales e governava o Estado de Alagoas o Dr. Euclides Malta, cujo período de mandato se estendeu até 1912, alternando o poder com seu irmão Dr. Joaquim Paulo Vieira Malta. Inclusive dentro deste período foi o Dr. Euclides Malta senador da República. A chamada oligarquia Malta só foi apeada do poder quando foi eleito o coronel Clodoaldo da Fonseca, para o período de 1912 a 1915. Estava a ex-Colônia e o ex-Distrito em circunstâncias políticas bem aquinhoada com a outorga do novo “status” de Vila Municipal de Leopoldina. Em consonância e dando cumprimento ao artigo 5o da lei que lhe concedeu a sua emancipação política, foi solenemente instalado o novo município no dia 16 de julho de 1904, portanto, um novo marco para a vida histórica deste lugar debruçado às margens do rio Jacuípe. O primeiro intendente eleito para o novo município de Leopoldina foi o capitão Francisco Domingos de Barros Lessa, pernambucano e radicado com sua família em Água Preta, lugar situado no Estado de sua naturalidade, porém não chegou a tomar posse no cargo de intendente. Viera para Alagoas entre os anos de 1896 e 97, passando a residir no território que se constituiria o nosso município; sendo por duas vezes eleito juiz distrital. Faleceu no Engenho São Sebastião a 18 de agosto de 1904. Esta notícia está publicada na coluna “Pelo Interior” do Jornal “GUTENBERG”, de 02 de setembro de 1904, página 2.

1904 A Intendência Municipal de Leopoldina iniciou suas atividades políticoadministrativas e legislativas a partir do dia 02 de agosto de 1904, sendo investido no cargo de intendente, o tenente da Guarda Nacional Ludovico da Costa e Silva e o vice, o farmacêutico homeopata, João Evangelista da Silva, primeiros a assumirem tais cargos. Constituíram o primeiro Conselho Municipal, os cidadãos: comendador João Felix Pereira, 108


Manoel José de Arieira Vianna, João Luiz da Silva, Sabino José de Souza, Manoel Henrique de Luna e Miguel da Silva Pellico. O primeiro Secretário da Intendência foi Olâmpio Barbosa d’Almeida. A primazia legislativa é do ato datado de 02 de agosto de 1904, foi a Lei número 01, o CÓDIGO DE POSTURAS PARA O MUNICÍPIO DE LEOPOLDINA, contendo dez títulos com sessenta e cinco artigos, cujos títulos damos conhecimento:

Título

I – Dos empregados e suas atribuições.

Título II – Das rendas do município. Seção 1a – aferição Seção 2a – alvarás de licença Seção 3a – cordiação Seção 4a – dívida ativa Título III – Das despesas. Título

V – Da polícia municipal.

Título VI – Da agricultura. Título VIII – Das armas proibidas. Título IX – Dos cemitérios públicos. Título

X – Da saúde pública.

Não faltando as Disposições Gerais. Esta é a lei básica e fundamental que antecedeu todas s existentes até hoje, dando origem e consequentemente consagrando a nova etapa da nossa história. O prédio, onde funcionou a Intendência Municipal, ficava entre o da prefeitura que foi concluído por volta de 1923 e o da antiga cadeia pública, onde hoje nesse local existe o prédio de 1o andar, no qual funciona a Câmara de Vereadores do município. A frente do prédio da intendência ficava voltada para o lado do poente. Está aí, portanto, a descrição de sua localização para os que não o conheceram. No decorrer do segundo semestre do ano de 1904, foram tomadas várias providências legislativas para o aperfeiçoamento político, social e econômico da nova vila municipal do Estado de Alagoas. O governador Dr. Joaquim Paulo Vieira Malta assinou em 08 de julho do já referido ano, a portaria em que nomeava para Comissário de polícia do município de Leopoldina, o cidadão Alfredo Figuerôa de Medeiros, que mais tarde seria um dos intendentes 109


municipais da vila, até a eclosão da renovação de 1930. Na mesma portaria também designava parara o cargo de juiz substituto Bernardo Augusto de Lima Braga no quadriênio de 1o de julho de 1904 a 30 de junho de 1908, com os respectivos primeiro e segundo suplentes, Francisco Afonso Marroquim e Manoel Bezerra (sic) da Costa Muniz, onde seu nome correto é Manoel Borges da Costa Muniz. A portaria governamental do dia 18 de julho do mesmo ano, publicada no jornal A Tribuna, de domingo 28 de agosto, está assim redigida: “O governador Dr. Joaquim Paulo Vieira Malta exonera o cidadão Ludovico da Costa e Silva no cargo de comissário de polícia do município de Porto Calvo, conforme pedido, visto ter se mudado para fora do mesmo município”.

Joaquim Paulo Vieira Malta Governador Otávio Rocha de Lemos Lessa Secretário do Interior Portanto, é um dado esclarecedor a respeito da origem do primeiro intendente municipal de Leopoldina. Outra informação inédita para os leopoldinenses, também pulicada no jornal Gutenberg, é com relação a primeira sessão inaugural do júri, ocorrida a 19 de outubro de 1904. Pelo ato do governador de então, que tomou o número 276, datado de 21 de julho desse mesmo ano, foi elevada à categoria de Recebedoria e Subrecebedoria de Leopoldina. No jornal A Tribuna, que era o órgão oficial do Partido Republicano, foi publicado no mês de setembro um pronunciamento do nosso conterrâneo o senador estadual Dr. Euzébio Francisco de Andrade, sobre a situação política deste Estado. Em tal pronunciamento o senador reafirmava também a sua fé de ofício nos propósitos filosóficos do Partido Republicano, muito embora deixasse transparecer a sua não concordância com os irmãos Malta. Além de político atuante, foi o senador Euzébio, advogado, professor, escritor, jornalista e proprietário do citado jornal Gutenberg. Era filho do agrimensor Manuel Cândido Rocha de Andrade e de Leopoldina Pimentel Goulart de Andrade; nascido na então Colônia Militar Leopoldina, no dia 15 de abril de 1866. Relembramos que seu pai foi o topógrafo encarregado da medição, demarcação e venda dos lotes de terras aos colonos que se habilitaram comprá-los. O leopoldinense em questão era irmão do não menos famoso intelectual, professor, escritor, poeta e jornalista Aristeu de Andrade, patrono do grupo escolar local, porém este foi nascido na cidade de Maceió. 110


A situação política na capital do Estado era de intensa expectativa pelos debates e pelos artigos inflamados contra os irmãos Malta, que assim mesmo governaram o Estado de Alagoas até parte do ano de 1912. Data de 1904 os pedidos dos opositores à chamada oligarquia Malta, de intervenção do governo federal, para destituí-los do poder. O jornal A Tribuna era vendido a $ 100 rs. (cem réis) o exemplar e nele eram publicados todos os atos oficiais do governo estadual, pois, ainda não existia o Diário Oficial. A par da organização municipal com suas leis, decretos, etc., o seu desenvolvimento econômico, embora modesto, mas já se fazia notar, com preponderância na área rural onde proliferavam os engenhos de açúcar e as fazendas de criação de gado. O comércio era também de suma importância para a insipiente economia, com objetiva demonstração de franca expansão deste setor ativo e participante de qualquer comunidade. Os destacados proprietários rurais e senhores de engenho da época, foram: Guilherme Alves da Silva, do engenho São Sebastião, primitivo Pé da Serra de São João da Mata; Manoel Henrique de Luna, do engenho Canto Escuro; o arrendatário de Meira Lins (família pernambucana do Recife), João Francisco da Silva, conhecido como João Chico, do engenho Macuca; coronel Joaquim Luiz da Silva, do engenho Livramento; coronel Ludovico da Costa e Silva, do engenho Santo Antônio; comendador João Felix dos engenhos Porto Rico, Porto Alegre e Estrela do Sul; Amapá pertencente à família Marroquim; Caetano Buarque de Gusmão, do engenho Onça, atual fazenda Belo Horizonte, cujas terras fazem parte do município de Novo Lino, desmembrado que foi, do primitivo território de Colônia Militar; Alfredo Figuerôa de Medeiros, conhecido como o “Marinheiro do Bernardo”, por ser português o proprietário dos engenhos São Bernardo e Costa; Luiz de França Torres Galindo, do engenho Capoeira dos Reis; Salustiano de Barros Lins, o coronel Salu, do engenho Ouro Preto; José Juvêncio de Matos, do engenho Lua Nova; Gustavo Fittipaldi d’Oliveira, do engenho Mundo Novo; Manuel Borges da Costa Muniz, do engenho Jericó e tantos outros que legaram à posteridade a legenda do seu trabalho e da formação destes patrimônios, integralmente voltados para a atividade da agroindústria canavieira; fonte principal de divisas dos dias atuais como indicador da distribuição do Imposto sobre Circulação de Mercadorias, uma das grandes e representativas fontes de recursos destinados aos municípios industrializados. Houve destaque também para a lavoura algodoeira, que representou para o município, expressivo volume comercial até o início dos anos 20. A decadência desta lavoura foi motivada pelas constantes e agressivas pragas da lagarta rosada, frustrando sua safra 111


média anual de 06 mil fardos de 75 quilos, para em 1923 ser reduzida a apenas 20 fardos, de acordo com o pesquisador e historiador professor Moacir Medeiros de Sant’ana no seu livro Contribuição à história de açúcar em Alagoas. Quando do auge da safra algodoeira, a Vila de Leopoldina chegou a ter instalada e em plena atividade na sua sede, três bolandeiras, que são máquinas para descaroçar o algodão. O mercado comprador era o de Pernambuco, tendo em vista melhores facilidades de transporte. Mas a atividade agrícola estava também representada pelas significativas colheitas de café, fumo, mandioca para fazer a chamada farinha de roça, milho e feijão.

1905 É de 24 de julho de 1905, o decreto número 01, com o seguinte teor:

O Intendente do município de Leopoldina, chefe do Governo Municipal, na forma da lei, Decreta: Artigo Único – Que sejam os ordenados dos empregados municipais, baixados com o abatimento de 10% sobre seus vencimentos. Artigo 2o – Revogam-se as disposições em contrário. O Intendente, Ludovico da Costa e Silva O Secretário Olâmpio Barbosa d’Almeida

A lei número 02, de 04 de agosto de 1905, tem a seguinte redação:

O Intendente do Município de Leopoldina, Tenente Ludovico da Costa e Silva, Chefe do Governo Municipal, na forma da Lei: Tendo baixado o Decreto número 01, de 24 de julho de 1905, e sendo aprovado pelo Conselho Municipal, em sessão da mesma data, acima declarada, ele sanciona a seguinte: Artigo 1o – Que os ordenados dos empregados municipais, sofram o desconto de 10% sobre seus vencimentos. Artigo 2o – Revogam-se as disposições em contrário. Secretaria da Intendência Municipal de Leopoldina, em 05 de agosto de 1905. Ludovico da Costa e Silva Intendente Olâmpio Barbosa d’Almeida Secretário

Os atos continuam a surgir, dando a configuração legal para o prosseguimento da administração do município.

1906 No ano de 1906, ocorreu um fato de grande significação pessoal, com o registro de 08 de abril do mencionado ano, nasceu no engenho Canoas, em Água Preta no Estado de 112


Pernambuco, Marcionila Araújo da Silva, que viria ser a mulher de grande força moral e difusa luz interior que nos geraria em seu abençoado ventre materno de mãe e mestra. Mais ocorrências de ordem administrativa eram postos em prática na vida da municipalidade leopoldinense que se iniciara com um minguado orçamento, mas nem por isto, seus dirigentes de amorfinaram. Prosseguiram trabalhando com afinco e zelo. A vila municipal necessitou ser rezoneada ou redimensionado o seu território político.

1907 Data de 16 de março de 1907 uma nova legislação de alcance político-social, com reestruturação intra limites, dividindo a vila em 03 circunscrições, com os respectivos procuradores da intendência nomeados por este decreto. Faziam parte da 1a Circunscrição, os seguintes quarteirões: Cinza, Capoeira dos Reis, Gavião, Limão Doce, Capim de Planta, Serra do Teixeira, Marinheiro, Canto Escuro e Macuca. A 2a Circunscrição, abrangia: Porto da Folha, Araguary, Pau d’Alho, Cachoeira Grande, Riacho dos Porcos ou Caneca, Lino do Leitão, São Bernardo, Estreito, Cousas Boas, Engenho Costa, Pau Amarelo, Lua Nova, Chapéu Virado e Souza. A 3a Circunscrição era composta pelos seguintes quarteirões: Santa Mônica, Serra de São João, Riacho de São João, Riacho da Lenha, Limão, Laranjeiras, Facão, Riachão, Mãe Teresa, Monte Alegre, Manaia e Sagui. Os procuradores ou inspetores nomeados foram: da 1a Circunscrição, Laurindo Gonçalves Ferreira; da 2a Vicente José de Macena e o da 3a José d’Oliveira. O orçamento municipal elaborado para o exercício de 1907, era de 5:517$753 rs. (cinco contos, quinhentos e dezessete mil, setecentos e cinquenta e três réis). Em termos comparativos com a média anual orçamentária da ex-Colônia (21:632$510 rs.), apresenta uma redução aproximada de três quartos do que teria recebido a Colônia Militar, por ano, até sua extinção. E, por conseguinte, um forte indicador da modesta economia de escala da vila, nos primeiros anos de sua emancipação. Em janeiro de 1907, ocupava a presidência do Conselho Municipal, Ludovico da Costa e Silva e o cargo de intendente era exercido pelo ainda capitão da Guarda Nacional, Juvêncio da Rocha Ramos. Foi no corrente ano que aqui esteve em visita pastoral, D. Antônio Castilho Brandão, Bispo de Maceió.

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1908 Em maio de 1908, o vice-intendente em exercício era Manoel Borges da Costa Muniz e o conselheiro municipal estava assim constituído: presidente, Ludovico da Costa e Silva; demais componentes, Gustavo Fittipaldi d’Oliveira, Victor Monteiro dos Santos Freire, Manoel José de Arieira Vianna, Antônio José Gonçalves Bêcco, Manoel Francisco Cavalcante de Mattos e Manuel Balbino d’Almeida. O intendente Manoel Borges da Costa Muniz deixou dentre outros melhoramentos urbanísticos o Mercado Público Municipal, ainda existente nos dias atuais.

1909 Em janeiro de 1909, o intendente municipal era Leodino Silva. O secretário da Intendência Municipal, a partir de setembro de 1910, foi Benedito Lázaro de Albuquerque Sobreira. O ano de 1909 marca a chegada, na Vila, do menino Alfredo de Paula Cavalcanti, nascido em Maragogi a 12 de outubro de 1903, estando na época de sua chegada, com cerca de 07 anos de idade. Veio acompanhando o casal Dr. Anastácio de Paula Cavalcanti, seu tio, padrinho e pai adotivo, muito embora José Bonifácio de Paula Cavalcanti sobrevivesse ao seu irmão Dr. Anastácio. A família está ligada por lações de parentesco a Pedro Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque – Visconde de Camaragibe. Alfredo Cavalcanti cresceu participando ativamente da vida local. Esta era a sua bem amada terra. Com seu tino lúcido e por atavismo, foi um dos grandes empreendedores, quer no campo comercial, agrícola e politico partidário, destacando-se pela sua empolgação à terra que o recebeu ainda criança. Casou-se com Maria Loureiro Cavalcanti (Maroca), descendente da velha e tradicional boa cepa lusitana, pertencente a família Loureiro. Seus pais estabeleceram-se comercialmente no povoado de Sertãozinho de Baixo, localidade próxima, porém situado em Pernambuco. Esta mulher era dotada de grande dinamismo, profundo sentimento religioso e aguçada consciência política. Ao lado do marido, dirigiu e participou de memoráveis campanhas políticas eleitorais do município. Marcou com muita propriedade sua passagem por este lado da vida. Faleceu a 18 de fevereiro de 1977.

1910 Sob o ponto de vista religioso, o ano de 1910 deverá se perpetuar na lembrança de quantas gerações ainda possam vir. É um marco bastante forte para o arraigado espírito 114


religioso do povo católico de Leopoldina; a chegada do reverendíssimo padre Francisco Gerardt, da Congregação Religiosa dos Padres do Sagrado Coração de Jesus. Nascido a 12 de maio de 1881, na cidade de Swalmen, na Holanda; quando da sua chegada à Leopoldina estava com 29 anos de idade. Vocação incontestável de missionário, capacidade empreendedora de arquiteto, engenheiro e mestre de obras; sensibilidade prodigiosa como músico, escultor e pintor; sem haver recebido o grau de doutor, no entanto, era excelente médico clínico e tantas eram suas qualidades e aptidões que lhe será dedicado um capítulo à parte. Foi o construtor das igrejas de Leopoldina, Sertãozinho de Cima e de Jundiá, quase que simultaneamente. Até a sua chegada, toda assistência religiosa era recebida através dos padres que moravam em Porto Calvo. Cônego Machado, padre Antônio, padre Ivo e tantos outros, que se deslocavam mensalmente daquela paróquia até Leopoldina. Havia muito trabalho para ser executado pelo padre Francisco. Ele morou durante vários anos na atual casa residencial do marchante Antônio Barros (Toinho), à Rua 16 de Julho. A capela construída na época da Colônia Militar estava ruindo e o início da construção da atual Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo foi por volta doa no de 1913. Tomou parte ativa neste empreendimento o irmão leigo pertencente a mesma congregação religiosa do padre Francisco; seu nome era Henrique Aleixo Neelemans, chamado Irmão Aleixo; também nascido na Holanda e mais moço do que o primeiro, cerca de dez anos. Portanto, padre Francisco chegou aqui com 29 e o irmão Aleixo com aproximadamente 19 anos.

1911 Estamos caminhando para o ano de 1911. Registraram os documentos municipais que em 31 de dezembro do ano em referência, o intendente da Vila de Leopoldina era Gustavo Fittipaldi d’Oliveira.

1912 Com o Decreto Estadual de número 536, datado de 12 de janeiro de 1912, foi criado o Juizado de Direito do município, o qual foi revogado pelo número 976, de 31 de julho do mesmo ano. É do período do mandato do intendente Gustavo Fittipaldi a Lei no 15, de 24 de dezembro de 1912, cujo teor transcrevemos a seguir: O Conselho Municipal de Leopoldina decreta:

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Artigo 1o – A rua onde foi posta no dia 29 de novembro deste ano a última estaca dos estudos do ramal da estrada de ferro nesta Vila, passa a denominar-se, Avenida Clodoaldo da Fonseca. Artigo 2o – Revogam-se as disposições em contrário. Sala das sessões do Conselho Municipal de Leopoldina, 24 de dezembro de 1912. José Juvêncio de Mattos – Presidente José Hermínio da Silva Victor Monteiro dos Santos Freire Próspero Prescilino da Silva José Ludovico da Costa e Silva Gustavo Fittipaldi d’Oliveira - Intendente Mais uma vez é mencionada a construção de uma estrada de ferro atravessando o território de Leopoldina, mas este projeto também não foi realizado.

1913 No dia 08 de janeiro de 1913 estava a frente dos destinos municipais de Leopoldina o intendente Juvêncio da Rocha Ramos Junior. A Lei de no 20, datada de 22 de dezembro de 1913, estabelecia a receita para o exercício de 1914, orçada em 8:000$000 rs. (oito contos de réis). Como podemos reconstituir o aspecto da Vila de Leopoldina do ano de 1913, senão através de depoimentos dos seus mais antigos moradores? E assim ouvimos várias descrições a esse respeito. A capela já começava a ser demolida para no mesmo local ser construída a igreja atual. Pelas dimensões de suas torres parcialmente aproveitadas, podemos avaliar o porte da antiga construção colonial. As construções estavam no quadro da Praça D. Pedro II, em frente à igreja, do lado direito e em direção ao rio Jacuípe. A cadeia pública e o paço da intendência, que funcionou até setembro de 1921 e mais algumas pequenas construções do lado esquerdo a antiga casa onde morou a família Souza, do maestro Sabino Souza, que localizava-se na Praça D. Pedro II, esquina com a atual Rua 16 de Julho; no local do Grupo Escolar Aristeu de Andrade era o terreno da residência do cidadão conhecido por Midu ou Mindu; prosseguindo pela rua hoje denominada 16 de Julho, ficava uma pequena casa de duas portas de frente que durante a construção da Igreja Matriz, serviu para nela ser oficializados os atos litúrgicos até a conclusão da referida Matriz; mais abaixo ficava a residência do coronel Juvêncio da Rocha Ramos, sendo que esta casa posteriormente funcionou como 116


escola particular, agência dos Correios e Telégrafos e também como residência. A primeira Agência Postal estava localizada numa das salas da casa da família Souza e seu agente foi Neco Souza, irmão do maestro Sabino. Neco Souza foi uma figura humana, que por haver sofrido a perda da Senhorita Helení, era assim como ele referia-se ao seu malogrado caso de amor na cidade do Rio de Janeiro, veio recolher-se como que num retiro espiritual, na Vila Leopoldina. Exerceu naquela cidade a profissão de Guarda-Livros. Era galanteador, culto e trajava-se com rigorosa elegância, sempre de roupa escura, fraque ou casaca, chapéu, bengala e polainas. Obrigatoriamente todas as tardes desfilava pela Vila, compondo sua caracterização com um velho e desbotado jornal debaixo do braço, assim foi transmitido o perfil desse cidadão. Na atual Rua 15 de Novembro poucas eram as casas construídas. Este era o aspecto panorâmico de uma época bem distante da Vila de então, havendo naturalmente outras ruas.

1915 Em 14 de janeiro de 1915, estava na Intendência Municipal o cidadão João Evangelista da Silva, que fora o primeiro vice-intendente quando da instalação da Vila como município autônomo, política e administrativamente, porque sob o aspecto judiciário ficou ligada a Porto Calvo. O Conselho Municipal estava assim constituído: Manoel Henrique de Luna, presidente; José Teotônio do Rego, José Xavier de Souza, Augusto José da Silva, José Ludovico da Costa e Silva e Macário José Sabino. A Lei municipal de no 31, no dia 31 de julho de 1915, aprovou a denominação das ruas de Vila de Leopoldina, de acordo com o seu artigo 2o. São as seguintes: A praça onde está edificada a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, representando tradições antigas; denominar-se-á Praça Pedro II, compreendendo todo o quadro ficando a igreja no centro da praça. A rua que vai da bolandeira até a porteira de Sebastião de Almeida; Rua Major Lôbo Bentes, em atenção ter sido o fundador da antiga Colônia. A atual Rua do Comércio; Rua 15 de Novembro, como memória a Proclamação da República. A antiga Rua do Comércio; Rua 16 de Julho, como homenagem ao dia da inauguração do município. A Rua do Cemitério; Rua da Boa Vista. A rua onde mora a senhora Anna Izaias como é conhecida; Rua da Alegria. A rua que vai da casa de Manoel do Rego até a porteira do engenho Santo Antônio, em atenção a antiguidade do engenho deste nome; Rua Santo Antônio. Uma rua que tem aberta

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novamente que é conhecida por Fava Dura; Rua do Sol e a rua que fica por trás da Rua 15 de Novembro; Rua Nova. Esta era a realidade da Vila composta por nove ruas e todas com os seus respectivos nomes. E os atos prosseguiam sendo registrados nos anais da municipalidade.

1917 A 08 de janeiro de 1917, é investido no cargo de intendente o coronel da Guarda Nacional, Juvêncio da Rocha Ramos, para mais um período de governo municipal. Estava o coronel Juvêncio com 60 anos de idade, nascera em Maceió, no ano de 1857. O Conselho Municipal, através da Lei número 46, de 12 de junho de 1917, decretou que o intendente do município ficava autorizado a concorrer em nome da Vila de Leopoldina, com a quantia de 200$000 rs. (duzentos mil réis), para as festas do primeiro centenário da emancipação política do Estado de Alagoas. É também um dos atos deste período, em que foi aberto no orçamento vigente para 1917, um crédito para gratificar mensalmente com 30$000 rs. (trinta mil réis), ao professor da cadeira do sexo masculino, da Vila de Leopoldina, Annibal Cardozo. Foi uma demonstração de sensibilidade à cultura, às letras e à abnegação do mestre, mesmo no distante ano de 1917. A Lei número 48, de 12 de junho desse ano, concede ao padre Francisco Gerardt S.C.J. independente de quaisquer impostos, o terreno necessário na Praça Pedro II, na parte traseira da Igreja de Nossa Senhora do Carmo para edificação da casa que servirá para residência paroquial. Ressaltamos que, no local do terreno doado, existia uma pequena casa cujo proprietário seria indenizado pelo padre Francisco, de conformidade com a referida lei.

1918 Por decreto do governo diocesano de Maceió, o Exmo. e Revmo. Sr. bispo D. Manoel Antônio de Oliveira Lopes concedeu a 18 de dezembro de 1918, provisão de capelão, com jurisdição paroquial até 31 de dezembro de 1918, em favor do Revmo. padre Francisco Gerardt, da congregação de padres do Sagrado Coração de Jesus.

1919 É empossado no mês de janeiro de 1919, como Intendente Municipal, Severino Rozendo de Araújo. Teve o recém-empossado grandes dificuldades iniciais no campo de saúde pública com as epidemias de varíola e influenza, a dizimadora “gripe espanhola”, que 118


tantas vidas ceifou. O município contribuiu com recursos da ordem de 1:605$100 rs. (hum conto, seiscentos e cinco mil e cem réis), para atender aos mais necessitados e seus familiares, acometidos por tão devastadora onda epidêmica. O município efetuava o pagamento de 30$000 rs. (trinta mil réis) mensais para o professor da cadeira do sexo masculino, de acordo com a Lei número 47 e com a de número 58, também oficializou o ensino primário às crianças do sexo feminino e a dotação mensal para pagamento de uma professora era de 14$000 rs. (quatorze mil réis). A receita orçada para o exercício de 1918 foi de 8:000$000 rs. e cuja arrecadação atingiu a 12:819$620 rs. Os investimentos dessa administração foram bem expressivos. Com a remodelação do mercado público da Vila, os gastos foram de 1:333$860 rs. A ponte localizada no engenho São Sebastião, na estrada que vai para São José da Lage, foi reparada com o custo de 69$000 rs. A cadeia pública estava necessitando de reparos urgentes e nela foram gastos 199$020 rs. Na construção de um pontilhão e cavagem na estrada que vai para Macuca, foram gastos 25$240 rs. Despesas com a compra de materiais para o Paço Municipal (era o prédio da prefeitura que estava sendo construído), 821$200 rs. Havia uma previsão de que seu término seria para 1919, no entanto não foi cumprido o cronograma estabelecido; cujo início de construção foi no ano de 1917. Outros melhoramentos foram realizados, como na ponte sobre o rio Jacuípe, reparos nas boeiras das ruas 16 de Julho, Major Lôbo Bentes e do Sol e o início da construção do matadouro para abate de reses.

1920 A 20 de janeiro deste ano, figurava no cargo de intendente o coronel Joaquim Luiz da Silva e imediatamente dirigia ofício ao Secretário do Interior, Dr. Augusto de Oliveira Galvão, solicitando do governo estadual as condições financeiras para construir uma nova ponte sobre o rio Jacuípe e um novo prédio para a cadeia pública. O orçamento para o ano de 1921 estava assim aprovado: a receita de 13:686$480 rs e igual valor para as despesas municipais. A 18 de outubro de 1920, o Conselho Municipal dirigiu-se ao governador José Fernandes de Barros Lima enviando-lhe a ata da apuração geral das eleições havidas no dia 07 do mesmo mês. Era presidente do órgão legislativo o coronel Juvêncio da Rocha Ramos. Ainda a presidência do referido Conselho Municipal encaminha ao Dr. Fernandes Lima a ata da sessão extraordinária, na qual foi votada por unanimidade a moção que indicava e proclamava candidato à reeleição o mencionado governador. Esta reunião extraordinária foi 119


realizada às 12 horas do dia 1o de dezembro de 1920 e que estiveram presentes os seguintes conselheiros: Juvêncio da Rocha Lemos, João Francisco, Augusto Silva, Macário Sabino e Manoel Araújo. Deixou de comparecer a citada reunião por motivo de doença o conselheiro Sabino Souza. O intendente Joaquim Luiz da Silva esteve também presente a citada reunião. O reconhecimento das firmas dos conselheiros que assinaram a moção enviada ao Dr. Fernandes Lima, foi efetuado pelo tabelião público interino, José Monteiro Freire.

1921 Para o biênio compreendido de 07 de janeiro de 1921 a 07 de janeiro de 1923, foram eleitos para a intendência, Joaquim Luiz da Silva, com 105 votos, enquanto que o coronel Juvêncio teve somente 01 voto; para o Conselho Municipal, major Manoel Henrique de Luna, capitão José Ludovico da Costa e Silva, com 106 votos cada um; para o cargo de viceintendente, foi eleito o major Sabino José de Souza, com 105 votos, cabendo a João Francisco da Silva, apenas 01 voto. Para juiz do 1o Distrito, Izidoro Roberto de Luna, obtendo 105 votos, enquanto que Manoel Francisco da Silva obteve 104 e Antônio Francisco da Silva, apenas 03 votos. Para juiz do 2o Distrito, o tenente Eliziário Olympio Carneiro Gama, com 105 votos e seu concorrente João Cavalcante Bandeira de Melo, obteve 104 votos. No dia 07 de janeiro de 1921, prestou a promessa legal e assumiu a Intendência, Joaquim Luiz da Silva, bem como os demais eleitos.

1922 A comarca foi restaurada através do Decreto número 976, de 16 de maio de 1922, sendo solenemente instalada no dia 25 de janeiro de 1923, numa quarta-feira, pelo governador Dr. Fernandes Lima, portanto, onze anos após haver sido extinta. 1922 foi um marco, pela grandiosidade das comemorações do primeiro centenário da nossa Independência. A Vila de Leopoldina também engalanou-se para comemorar condignamente este evento, evidentemente que dentro de suas modestas possibilidades, porém não ficou alheia aos acontecimentos nem às manifestações evocativas do dia 07 de setembro de 1822, dia da Independência do Brasil. O ritmo de vida era cadenciado e com objetivos bem definidos, traçados pelos responsáveis dirigentes dos destinos da Vila municipal. Estava ocupando uma cadeira na Câmara dos Deputados Estaduais, o coronel Juvêncio da Rocha Ramos.

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V – A CIDADE DE LEOPOLDINA

1923 Foi um ano repleto de grandes emoções em decorrência de fatos relevantes na história desenvolvida através dos anos, deste núcleo iniciado como a Colônia Militar Leopoldina, distrito de Porto Calvo, Vila e município estavam prestes a ser levada à categoria de cidade. Estamos numa distância de setenta e um anos da instalação da Colônia, cinquenta e seis anos de sua extinção e dezenove anos da instalação da Vila. No decorrer desse ano, registrado para a posteridade tomar ciência da sua evolução política. No dia 07 de janeiro de 1923, prestou a promessa constitucional perante o Conselho Municipal e assumiu a intendência, Antônio Barbosa da Silva, por se encontrar doente o coronel Juvêncio Ramos, eleito para o cargo. Aguardava-se com a expectativa natural dos grandes acontecimentos a festiva e solene instalação da comarca de Leopoldina. No dia 24 de janeiro do ano em curso, chegava já ao anoitecer a comitiva governamental, composta pelo Dr. José Fernandes de Barros Lima, governador do Estado; Dr. Moreira Lima, Secretário de Estado dos Negócios do 121


Interior; deputado federal, Costa Rego; Dr. Ernandi Basto, intendente da capital (falecido em Barra de São Miguel, neste Estado no dia 10 de outubro de 1982); deputado estadual Artur Accioly, companheiro de câmara e amigo do coronel Juvêncio Ramos; tenente coronel Manoel Pinto, comandante da polícia militar; Dr. Luiz da Rocha Cavalcante, engenheiro do Estado; coronel Carlos Lyra da usina Serra Grande e tantas outras autoridades que estavam em Leopoldina para prestigiar este acontecimento. O percurso da viagem foi por via férrea de Maceió a São José da Lage, e esta cidade com ligeiras paradas em Piquete, atual Ibateguara e no povoado de Canastra, cuja chegada neste local foi em torno das 15:30 horas, sendo a comitiva recebida pelo major Gregório Alves Caldas, figura de projeção da região. Estava esperando pelos ilustres componentes desta comitiva, também em Canastra, seis “cabriolets” conduzindo o coronel Antônio Barbosa, vice-intendente em exercício; Joaquim Luiz da Silva, Bonifácio Ribeiro, Francisco Luna, Epaminondas Ramos, José Valença, João Francisco da Silva, Gustavo Fittipaldi, Miguel Coelho, Abides Borges de Borba, Aristheu Ramos, Izidoro Luna e Manoel Aristides. No engenho São Sebastião, o capitão Severino Rozendo de Araújo reuniu-se à comitiva com outros amigos. Quando da passagem do governador do Estado, neste engenho, foram queimadas muitas girândolas em festiva manifestação de alegria e apreço a tão ilustre visitante. A entrada da Vila, foi ao encontro do cortejo oficial uma comissão de senhoritas da sociedade local. Estava também compondo a recepção, a brilhante e harmoniosa Filarmônica 16 de Julho, da qual foi seu fundador, organizador e regente, o maestro Sabino Souza. Na linha de frente estavam também os membros da comissão dos festejos, Benedito Lázaro de Albuquerque Sobreira, capitão José Ludovico da Costa e Silva, João Oliveira e Manoel José da Silva. Os conselheiros major Manoel Henrique de Luna, presidente do Conselho Municipal; Antônio Oliveira, Eliziário Carneiro Gama, Vicente Macena, Juvêncio Ramos Júnior, Francisco Vieira, Martiniano Araújo e José Teotônio do Rego. O jantar foi oferecido pelo coronel Juvêncio à comitiva, na sua residência. No dia 25, uma quarta-feira, às 7:30 da manhã a comitiva assistiu missa celebrada em frente da igreja recentemente construída em estilo romano, cujo celebrante foi o padre Francisco, externando na ocasião seu agradecimento ao governo estadual pela grande ajuda oferecida para a conclusão do templo católico; ainda não aberto para os atos litúrgicos. Na parte da manhã houve a instalação da Comarca. O povo enchia as dependências do edifício da Intendência aplaudindo delirantemente o desenrolar da solenidade. O governador do Estado em meio a atenção de todos erguiu-se para declarar que estava reinstalada a Comarca de Leopoldina, restaurada pelo Decreto número 976, de 16 de maio de 1922. No decorrer da 122


cerimônia executou a Filarmônica 16 de Julho, vários números musicais. Dentre tantos oradores discursaram Benedito Sobreira, o deputado Costa Rego, o juiz empossado Dr. Antônio Buarque de Lima, o promotor público Dr. Anastácio de Paula Cavalcanti, coronel Juvêncio Ramos e o vice-intendente em exercício Antônio Barbosa. Após ligeiro descanso, houve as despedidas e estava regressando a comitiva governamental, que tanto brilho e movimentação causaram na pequena Vila. O percurso de 50,5 quilômetros entre Leopoldina e São José da Lage foi realizado em mais ou menos três horas de viagem, tendo em vista que a estrada não estava totalmente concluída. Esperava o governador poder concluí-la até março do mesmo ano de 1923, sua contratação foi com o coronel Carlos Lyra, com o custo para os cofres públicos de 431:700$000 rs. O engenheiro fiscal das obras d’arte foi o Dr. Frans Schmidt. Casou viva impressão ao governador e sua comitiva o panorama descortinado quando da subida do desfiladeiro da Serra de São João, onde nasce o rio Jacuípe. A subida da estrada é pela Serra da Catita. A chegada da comitiva governamental a Maceió foi às 20 horas. Estava assim, sendo cumprida etapa por etapa no processo do desenvolvimento do município de Leopoldina, bem certo, que tais conquistas nem sempre foram duradouras, porém, também não foram os retrocessos, motivos de sua estagnação. Sempre houve metas e desejos de cumpri-los integralmente, alcançá-los totalmente, na medida do possível estava se realizando as aspirações municipais. É deste ano a notícia de que o governador de Pernambuco, Dr. Sérgio Loreto, desejava restaurar a antiga via de acesso de Leopoldina, via Sertãozinho com destino a Palmares. Para tanto determinou aquele governador que se processem aos estudos e orçamentos para o restabelecimento do tráfego pela citada estrada. Pelo que recebeu os agradecimentos do Dr. Fernandes Lima. Este foi o ano dos grandes acontecimentos para Leopoldina. Com a Lei número 985, de 20 de junho de 1923, estava elevada à categoria de cidade a Vila de Leopoldina, constante do seguinte teor: Lei no 985 de 20 de junho de 1923 Eleva à categoria de cidade a vila de Leopoldina. O Bacharel José Fernandes Lima, Governador do Estado de Alagoas. Faço saber que o Congresso Legislativo do estado de Alagoas decreta e eu sanciono a lei seguinte: Artigo Único – Fica elevada à categoria de cidade a vila de Leopoldina, sede do município do mesmo nome; revogam-se as disposições em contrário. O Secretário de Estado dos Negócios do Interior assim faça executar.

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Palácio do Governo do Estado de Alagoas, em Maceió, 20 de junho de 1923, 23o da República. José Fernandes de Barros Lima José Moreira da Silva Lima

A Vila ascendia a constelação em igualdade de condições às várias centenas ou poucos milhares de cidades existentes no país. Estamos numa nova dimensão política mais fortalecida, face às prerrogativas e à importância da nova e nobre cidade. No dia 08 de setembro de 1923, foi oficiada a bênção da nova igreja, cuja invocação permaneceu a do tempo da Colônia Militar, a de Nossa Senhora do Carmo. O Vice-intendente em exercício, no final do ano recebe e retribui ao Dr. José Moreira Lima, Secretário do Interior, os votos de Boas Festas, contidos num telegrama expedido via estação ferroviária de Maraial, em Pernambuco. Pedro Lopes Padilha era o oficial de registro civil do 1o Distrito.

1924 São decorridos vinte anos da instalação da Vila e do município de Leopoldina e um de sua elevação a cidade, pelo que se nos afigura haver sido também uma luta titânica a sua consolidação política, social e econômica, vivenciada intermitentemente pelos que dirigiram seus destinos desde a fase embrionária até os dias atuais, somos agora a cidade de Leopoldina. E os que não estão mais neste mundo dos vivos? Muitos já foram convocados para a eternidade, mas suas memórias não poderão ser relegadas a um quarto escuro e empoeirado onde jazem as provas documentais dos seus feitos e realizações alcançadas só Deus sabe com que ingentes e inéditos sacrifícios, para bem servirem a sua comunidade. Pensamos que não podemos afixar na câmara inerte do esquecimento onde ficam sonegados do conhecimento do seu povo a sua própria história, pois onde os documentos são mudos, o passado se cala. Não basta tão somente a tradição oral circulada de geração em geração, pois ela sempre nos chega deficiente, deformada e atípica, como um murmúrio ou um boato, sem nenhuma consciência histórica. Até mesmo a lenda que é uma tradição popular, um conto, uma estória fantástica e imaginosa, necessita de veiculação escrita para atravessar incólume os séculos, como especificamente no caso das lendas dos povos helênicos ou gregos.

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Possuímos uma singular história particular, que jamais chegaria a ser inserida nos livros dos grandes historiadores nacionais, simplesmente porque é particular, é própria do nosso território municipal, sua repercussão sonora deverá atingir especificamente aos seus filhos naturais, acidentais, emocionais, adotivos ou honorários desta localidade. As atividades prosseguiam dentro de sua normalidade administrativa, sem esquecermos dos obstáculos que eventualmente são encontrados na jornada do dia a dia. A Intendência já havia sido instalada no novo prédio, que também servia para o funcionamento do Tribunal do Júri. Houve na construção deste novo prédio, a participação financeira do juiz de direito, Dr. Antônio Buarque de Lima, renunciando uma demanda judiciária com o Estado, onde havia interposto recurso para o recebimento dos seus proventos deixados de pagar há vários anos, em virtude de incompatibilidade política com o próprio governo estadual. A negociação da dívida do Estado para com o Dr. Antônio Buarque de Lima, foi acertada com a doação do que lhe era devido, com a finalidade de ser revertido na construção desse novo prédio. Não lhe fazia falta o dinheiro deixado de ser recebido, tendo em vista sua sólida situação econômico-financeira, além de outros bens possuídos era proprietário do engenho São Gonçalo, em Porto Calvo. A continuidade da nossa história, revela-nos a mudança da terminologia da palavra intendente para prefeito, no ano de 1925.

1925 O prefeito de então foi o farmacêutico Bonifácio de Castro Ribeiro, que cumulativamente era o presidente da Junta do Serviço de Recrutamento Militar de Leopoldina. No âmbito da história do Brasil, vamos encontrar na presidência da República Artur Bernardes, que no período do seu mandato (1922 – 1926), governou o país sob a vigência do “estado de sítio”, em decorrência do irrompimento de revoltas em vários estados, como Rio Grande do Sul em 1923; em São Paulo que repercutiu em outros estados em 1924, resultando na formação da chamada “Coluna Prestes”, comandada pelo ex-capitão Luis Carlos Prestes, que por quase três anos percorreu o interior do Brasil, numa caminhada de milhares de quilômetros incluindo sua passagem pela Bolívia, onde se dispersou. No município de Leopoldina vamos encontrar o prefeito Bonifácio de Castro Ribeiro cumprindo as tarefas pertinentes a administração pública municipal, com a sanção de medidas legais; cuidando do orçamento e tanto outros encargos próprios da chefia do poder executivo 125


municipal. Era Secretário do Interior do governo Fernandes Lima, Dr. Ernani Teixeira Basto, que aqui esteve integrando a comitiva governamental por ocasião da instalação da Comarca, ocupando naquela ocasião, o cargo de Intendente de Maceió. Num dos expedientes do prefeito Bonifácio de Castro ao Secretário do Interior, informa quanto o executivo municipal gastou com o sepultamento do soldado da Força Pública Estadual, José Novaes da Silva, que integrava o destacamento local, 75$000 rs. Foi o prefeito Bonifácio de Castro Ribeiro quem executou no ano de 1925 a pioneira iluminação pública utilizando o álcool como combustível. Leopoldina estava iluminada, já não era necessário esperar pelas noites enluaradas para a caminhada noturna das visitas familiares. Nas calçadas podiam ser colocadas as cadeiras para uma palestra às claras, costume esse decadente pelo oferecimento dos frutos do progresso, o cinema, a televisão e outros entretenimentos. Foi sem dúvida nenhuma uma ideia brilhante. Algum tempo mais tarde a iluminação pública foi modificada no que se refere ao combustível, passou-se a usar carbureto (carboneto de cálcio).

1926 No ano de 1926, a Mesa do Conselho Municipal, estava assim constituída: presidente, Severino Rozendo de Araújo; vice-presidente, Antônio Buarque de Gusmão; 1o secretário, Alfredo Figuerôa de Medeiros e o 2o secretario, Antônio Pereira de Oliveira. O subprefeito era o cidadão Izidoro Roberto de Luna, cuja informação foi dada ao governo do Estado pelo prefeito Bonifácio de Castro Ribeiro. No mês de março do ano em curso, registrou-se o casamento religiosode Filadelfo e Marcionila. Era ministro coadjutor da Igreja Católica local o padre João van der Donk S. C. J. Prosseguia a continuidade da nossa família, contribuindo não somente com o aumento populacional, mas prestando sua parcela de colaboração ao desenvolvimento socioeconômico e cultural de Leopoldina.

1927 No ano de 1927 iniciava o governo presidencial de Washington Luis Pereira da Silva, restaurando as liberdades, pela suspensão do “estado de sítio”, interposto por Artur Bernardes. Foi daí o início da expansão rodoviária e a reorganização das finanças da nação. Governava o Estado de Alagoas o Dr. Pedro Costa Rego, alagoano de Pilar. Com vasta folha de serviços prestados a Alagoas, como deputado federal, governador e futuro senador da 126


República. Consagrado jornalista de prestígio nacional, profissão que abraçou com muita propriedade e capacidade de grande intelectual que foi. A administração prosseguia condicionada às possibilidades dos recursos disponíveis operando suas realizações, sem o comprometimento para futuras outras administrações. O contínuo passar do tempo, nos situa no ano de 1928. A conexão dos fatos nos dão o registro da sucessão do cargo de prefeito, quando no dia 07 de janeiro, Aristheu Portella Ramos comunica ao Secretário do Interior, Dr. Adalberto Marroquim, que naquela data, prestava o compromisso legal perante o Conselho Municipal e assumia o cargo de prefeito para o qual fora eleito. Foi nomeado para secretário da municipalidade, Emílio Souza, o terceiro a ocupar a Pasta. Do Conselho Municipal, participavam: na presidência, o tenente coronel Alfrêdo Figuerôa de Medeiros, José Gomes de Barros, Abides Borges de Borba, Severino Pantaleão Pereira, Severino Sefim da Costa, Inocêncio Banza de Arruda e Aristeu do Rego Mello. A partir de outubro Abides Borges de Borba assumiu a presidência do Conselho Municipal, tendo em vista que seu mandato como prefeito em exercício, pela ausência de Aristheu Ramos, por haver solicitado licença para tratamento de assunto particular, da mesma maneira assim também procedeu o subprefeito Agapito Tenório de Mendonça. O espírito empreendedor de Abides Borges levou-o como proprietário do engenho Santo Antônio, a utilizar-se da capacidade hidráulica de que dispunha sua propriedade e iluminou primeiramente o engenho e, entre 1927 e 1928, ampliou sua capacidade de fornecimento energético e passou a fornecer energia elétrica para Lopoldina criando uma empresa para esta finalidade, usando agora o motor à combustão. Havia evoluído com bastante rapidez a posição de Leopoldina. Foi o ponto de partida para o uso do rádio, em medos da década de 30. O então prefeito Alfredo Figuerôa de Medeiros morava no chalé do final da Rua Santo Antônio, bem próximo ao engenho do mesmo nome. Hoje ainda existem ruínas do chalé.

1929 No mês de abril de 1929, faleceu aos 38 anos de idade, o político, senhor de engenho e empresário Abides Borges de Borba, deixando viúva Adalgisa Freire Borges e vários filhos menores. A família Freire Borges ligou-se a várias outras, como Loureiro Cavalcanti, Santos Fittipaldi, Corte Real, Ramos, Medeiros, Bandeira de Melo, Luna, Caldas e tantas outras da 127


localidade e da região. Alguns permaneceram aqui, outros foram para os mais diversos estados da Federação e exercendo inúmeras atividades profissionais, como agricultores, médicos, engenheiros, comerciantes, industriais, etc. Em Leopoldina muito contribuíram participando ativamente de sua vida política e social, dando continuidade ao que seus antepassados iniciaram. O ano de 1929 marcou também a chegada de dois veículos automotores comprados na cidade do Recife pelo proprietário do engenho Canto Escuro, Manoel Henrique de Luna, pioneiro da era automobilística da cidade. Ambos os veículos eram da marca Ford, sendo um automóvel e um caminhão, cuja capacidade de carga deste último, era de dezenove e vinte e dois sacos de açúcar de 75 quilos, transportando do engenho para a cidade de Palmares, em Pernambuco, a safra produzida, sendo que o escoamento era feito com várias viagens por dia.

1930 O ano de 1930 traria profundas e significativas modificações para o Brasil. Uma nova forma de governo iria ser vivenciada com toda a intensidade e abrangência do poder da força totalitária de um novo regime político. No decorrer desse ano perderam os cargos, o prefeito e o subprefeito licenciados desde 07 de janeiro de 1929 por estarem residindo em outro Estado; Aristheu Ramos e Agapito Tenório, respectivamente. Continuava no cargo de prefeito, o tenente coronel da Guarda Nacional, Alfredo Figerôa e o vice-presidente do Conselho Municipal em exercício era Assenço Luiz Gonzaga Ferreira, que teve uma breve carreira política, pois sua atuação no Conselho Municipal foi de janeiro a outubro de 1930. O Conselho Municipal, estava composto por: Assenço Luiz Gonçalves Ferreira, vicepresidente em exercício; Izidoro Roberto de Luna, João Ferreira Bastos, Adalberto da Costa Barros, Orlando Alves Gouveia, Alfredo de Paula Cavalcanti e Antônio do Santos Bem. Estava no cargo de juiz municipal e de ausentes do Termo de Junqueira da comarca de Coruripe, Dr. Anastácio de Paula Cavalcanti, ex-promotor da Comarca de Leopoldina. O governador Dr. Álvaro Corrêa Paes exonera, a pedido, a professora extranumerária da primeira cadeira do sexo masculino da cidade de Leopoldina, Maria Stella Menezes de Oliveira. A partir de fevereiro estava exercendo o cargo de delegado de polícia local, o 1 o tenente de Força Pública Militar, Manoel Alípio da Silveira.

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Faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro deste ano, o desembargador Euzébio de Andrade, que além de deputado e senador estadual por várias legislaturas, esteve durante quatorze anos na Câmara Federal e nove no Senado Federal, até 1926. Foram prestados pelo governo estadual, as honras que lhe eram devidas pela sua importância e destaque no cenário nacional, portanto, um leopoldinense pouco conhecido dos seus próprios conterrâneos, com grande influência e prestígio fora dos nossos limites. A campanha eleitoral era intensa. O candidato à presidência da República, apoiado pelo governo, era o paulista Júlio Prestes de Albuquerque, tendo como candidato a vice, Vital Soares. Os candidatos opositores eram Getúlio Dornelles Varga e João Pessoa, à presidência e vice, respectivamente. Via Palmares, forma expedidos para o governador, as seguintes notícias locais: “Após festiva e brilhante recepção, o eminente senador Costa Rego fez brilhante e documentada conferência sobre as candidaturas presidenciais, arrancando por várias vezes demorados aplausos da grande assistência que enchia o salão nobre do Paço Municipal. Foram aclamadíssimos os nomes do Excelentíssimo Senhor presidente e o de Vossa Excelência”. Este primeiro telegrama foi assinado pelo prefeito, Alfredo Figuerôa. O segundo era do deputado estadual Juvêncio Ramos, com o seguinte texto: “Levo ao conhecimento de Vossa Excelência, ser inteiramente falsa a notícia aí publicada a respeito da minha atitude política. Eu e meus amigos de Leopoldina continuamos a prestar completo apoio ao governo do Estado e a ação política do senador Costa Rego”. O quadro pré-eleitoral já se achava definido por antecipação à contagem dos votos. O Estado de Alagoas compunha-se de trinta e seis cidades no ano de 1930. O eleitorado leopoldinense era de quinhentos e trinta e dois eleitores devidamente inscritos. Ocorreram as eleições e o município de Leopoldina, correspondeu a expectativa do governo, com o seguinte resultado: Júlio Prestes, obteve 299 votos; seu vice, Vital Soares, também 299 votos. Getúlio Vargas, recebeu apenas 43 votos para a presidência da República e João Pessoa, como candidato a vice, teve igual numero de votos. Passado o período agitado da campanha eleitoral, as ações do município retomam o seu ritmo normal. O orçamento para esse exercício estava composto com a receita de 22:400$000 rs.; havendo arrecadado 22:214$960 rs. e a despesa foi de 24:908$610 rs. provocando o déficit de 2:793$650 rs. A Empresa de Luz Elétrica passou a pertencer ao município a partir de dezembro de 1929; sendo necessário efetuar alguns investimentos, como a compra na cidade de Recife, de

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um motor com capacidade de força, capaz de gerar energia elétrica para a cidade. Seu custo foi de 8:400$000 rs. com pagamento parcelado. O governo do Estado contratou com Joaquim Teixeira Madalhas, a construção do edifício do Grupo Escolar Aristheu de Andrade, isto em 18 de fevereiro de 1930, vindo assim dotar a cidade, de uma excelente unidade de ensino primário. Neste período legislativo, integravam a Câmara Estadual, Juvêncio Ramos e Gregório Caldas, abastado comerciante do povoado de Canastra e também de grande influência política na região. Homem dotado de grande visão comercial e bastante viajado por países da Europa e Oriente Médio. Dando prosseguimento ao agitadíssimo ano de 1930, devemos nos situar no universo político brasileiro, com a Aliança Liberal desencadeando a partir do Rio Grande do Sul uma ofensiva de natureza revolucionária, com a adesão de vários estados brasileiros, entre os quais os do Nordeste, com o objetivo de impedir a posse dos eleitos à presidência e vice-presidência da República, Júlio Prestes de Albuquerque e Vital Soares. O candidato eleito era originário do Estado de São Paulo e apoiado pelo governo de Washington Luis, motivos que foram suficientes para a eclosão do movimento armado, acrescido do assassinato de João Pessoa no Recife. A Revolução de 1930 foi iniciada no dia 03 de outubro, no Rio Grande, sob a chefia civil de Getúlio Vargas, e militar do tenente coronel do exército nacional, Pedro Aurélio de Góes Monteiro; culminando com a deposição do presidente Washington Luis, em 24 de outubro, quando faltavam apenas vinte e dois dias para o termino de seu mandato. Com este fato instalou-se uma juntar militar com os generais Augusto Tasso Fragoso, João de Deus Mena Barreto e contra-almirante José Isaías de Noronha. Estava assim terminada a primeira República. O período que a história registra como a “Era de Vargas” teve início com a sua posse no dia 03 de novembro de 1930, como o Segundo Governo Provisório da República, que durou até 29 de outubro de 1945, quando foi deposto pelas Forças Armadas, sob a influência do seu ex-Ministro da Guerra, general Góes Monteiro. Entre o começo e fim deste período, decorreram aproximadamente quinze anos. A Revolução ora mencionada alcançou no cargo de prefeito da cidade de Leopoldina Alfredo Figuerôa de Medeiros, que num ato de total desprendimento à sua vida foi sozinho esperar na ponte sobre o rio Jacuípe a chegada das tropas mobilizadas para a ocupação de pontos estratégicos do Estado de Alagoas, porém, não chegaram a desembarcar no território leopoldinense. 130


Findava aí a atuação deste líder de grande coragem pessoal e um dos grandes benfeitores deste município.

Os Interventores

Em 16 de outubro de 1930 foi aclamado, perante o povo concentrado em frente ao Palácio do Governo em Maceió, pelo general comissionado Juarez Fernandes Távora, líder revolucionário e chefe do Governo Provisório do Norte do Brasil, que lhe valeu a denominação de “Vice Rei do Nordeste”, o Governo Provisório de Alagoas. Para interventor federal fora indicado o Dr. Hermílio de Freitas Melro; secretário do Interior, Dr. Orlando Valeriano e o secretário da Fazenda, Dr. Alfredo de Maya. Com o Decreto no 03, de 20 de outubro, foi dissolvido o Congresso Estadual, os conselhos municipais e ainda extinto os cargos de subprefeito. Em 24 de outubro foram nomeados pelo Governo Provisório, para prefeito municipal de Leopoldina, Laurentino Gomes de Barros e para o cargo de delegado, Gustavo Fittipaldi d’Oliveira. Constam dos registros da municipalidade, que no dia 25 do mês e ano corrente, por determinação do general Juarez Távora foi indicado e estava assumindo nesta data, o cargo de Prefeito Provisório, o coronel Laurentino Gomes de Barros, que nomeou imediatamente para a função de secretário e tesoureiro, Augusto de Carvalho Portella. Então teve início o período de governo municipal do coronel Laurentino, cujo término verificou-se em 29 de janeiro de 1942, com a duração de cerca de onze anos. Inicialmente foram tomadas as medidas necessárias por parte do novo prefeito, que fossem adequadas a sua administração com base nesta realidade social, política e econômica, emergente; com seu posicionamento na análise e na crítica histórica do que foi feito e como iria desenvolver sua administração pública eminentemente voltada para e pela terra de adoção. O vai e vem dos fatos e das ocorrências, limitam algumas vezes a capacidade e a potencialidade de uma pessoa, de uma comunidade e em escala ampliada, a de um povo, de acordo com a formulação da teoria sociológica de Giambattista de Vicco, cientista social italiano, quando expôs seu pensamento político no século XVIII e que foi um dos fundadores do historicismo cultural.

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A Comarca instalada há oito anos atrás, estava sendo extinta, através do Decreto no 1.500, de 02 de maio de 1931. Leopoldina voltava a ser Termo Jurisdicionado à Comarca de Porto Calvo, por razões de ordem técnica. Mais uma vez estava acontecendo idêntica situação, quando da criação do juizado de direito, em 12 de junho de 1912 e a respectiva revogação do decreto instituído, com outro, datado de 31 de julho do mesmo ano, portanto não chegou a ser instalado. Em decorrência da situação vigente, houve a necessidade do exército recrutar para o serviço militar os jovens da classe de 1909. De acordo com as determinações da 13a Circunscrição de Recrutamento, sediada em Maceió, o décimo sexto Distrito era o de Leopoldina, assim procedeu o recrutamento e nesse ano de 1931, foram servir ao exército brasileiro, Maximiniano Lourenço, Antônio Corda e Valério Alexandrino de Souza, todos oriundos deste município. O Grupo Escolar Aristeu de Andrade, assim denominado por ato oficial do interventor federal Hermillo de Freitas Melro e em atendimento ao diretor do ensino público que ofereceu esta sugestão; achava-se em funcionamento, recebendo a matrícula dos primeiros alunos desta unidade de ensino primário pertencente a rede estadual. Para o exercício de 1932, era aprovado o orçamento municipal, na ordem de 22:267$000 rs. (vinte e dois contos, duzentos e sessenta e sete mil réis), a receita prevista. A família Gomes de Barros estava morando no engenho Amapá desde aproximadamente 1913, o qual ainda hoje é pertencente a membros da família. Por certo é local de gratas e inesquecíveis recordações para a numerosa família criada em tão esplêndido cenário. Dentre os doze filhos do casal Laurentino e Amália, dois nasceram no território leopoldinense; foram Antônio e Jarbas Gomes de Barros. O primeiro nascido no dia 03 de março de 1915 e o segundo em 19 de maio de 1916. Antonio Gomes de Barros formou-se em Agronomia pela Escola de Agronomia do Recife, em 1938 e Jarbas, em direito pela tradicional Faculdade de Direito do Recife, no ano de 1939. Antônio Gomes de Barros foi deputado estadual por várias legislaturas, tendo a sua origem política na extinta U.D.N. (União Democrática Nacional), chegando ao cargo de vice-governador do seu Estado natal, no período de 1975 a 1978 no governo de Divaldo Suruagy. Prestou relevantes serviços, tanto no campo profissional, quanto no político-partidário, sendo sua agremiação e também extinta ARENA. Faleceu de mal súbito em setembro de 1976, não chegando a concluir seu prazo de vice-governador. 132


A tradição de nobreza forjada pelos exemplos de dignidade e pelas lições de vida do patriarca Laurentino Gomes de Barros são indicadores de que soube conduzir com elevada qualidade de homem sábio, prudente e de larga visão administrativa, os destinos da municipalidade leopoldinense, legando aos seus descendentes todo o acervo contido no seu elevado por de homem público e profundamente devotado a esta cidade. Desenvolveu sua administração dentro do rigor econômico-financeiro das possibilidades municipais, com adiantado senso da prestação de serviços marcantes e benefícios duradouros, que pudessem alcançar as futuras gerações, perpetuando seu nome na consagração da histórica Leopoldina. Cuidou com especial dedicação da educação e instrução sob a responsabilidade do município, criando escolas rurais. Construiu o matadouro público, dotando a cidade de um prédio municipal que atravessou dezenas de anos servindo aos que se dedicaram ao abate do gado bovino. Dinamizou ampliando e bem conservando as estradas municipais. Cuidou da assistência social com desvelo e redobrado interesse pelos menos favorecidos, enfim, governou o município com proficiência e apurado zelo. Em 27 de julho de 1937, foi nomeado para o cargo cumulativo de secretário e tesoureiro, Mário Lima Braga. Homem de larga folha de serviços prestados a cidade, como funcionário público municipal, professor, advogado de ofício ou advogado dos pobres e diretor da secretaria da Câmara Municipal de Vereadores e tantas outras atividades que exerceu com muita competência. Por ato do interventor eleito, Dr. Osman Loureiro de Farias, Mário Lima Braga foi nomeado adjunto de promotor público do Termo de Leopoldina. Em 22 de outubro de 1937, foi decretado Estado de Guerra, sendo seus executores em Alagoas, o governador Osman Loureiro, tenente coronel Augusto de Oliveira Góes, comandante do 20o BC e o capitão de corveta Plínio Fonseca de Mendonça Cabral. Novamente foi o coronel Laurentino, reconduzido ao cargo de prefeito de Leopoldina, em dezembro do ano descrito. Por este motivo, recebeu entre outros, o seguinte telegrama da classe representativa local: “Temos o maior prazer em saudar o ilustre coestaduano, pela acertada escolha feita pelo Dr. interventor federal, da pessoa de Vossa Excelência, para continuar no governo deste município. Expressando assim nossa satisfação, confiamos na vossa operosidade como prefeito deste município, como já demonstrastes em vossa gestão anterior. Abraços de cordialidade e sinceras felicitações: a) Mário Lima Braga, José Teotônio do Rego, Elisiário Gama, José Augusto do Nascimento, Jose Joventino Jatobá, Francisco Alfredo do Rego Barros, Benedito Lázaro de Albuquerque Sobreira, Alfredo de Paula 133


Cavalcanti, Filadelfo José da Silva, Antonio Joaquim Diniz, Francisco Ferreira de Amorim, Antonio Luiz da Silveira, Rafael Saturo de Souza, Francisco Santana e Silva e Edmundo Lima”. Os signatários desta manifestação de apreço pela recondução do coronel Laurentino ao cargo de prefeito eram comerciantes, proprietários rurais, funcionários públicos, pecuaristas e políticos locais. Era juiz de direito municipal, Dr. Jeronymo Accioly de Gusmão Lins Filho, conhecido e chamado pelo apelido familiar de Doutor Gila. A tradicional festa religiosa da cidade não é a da padroeira, Nossa Senhora do Carmo a 16 de julho, tendo em vista ser na estação do inverno. A festa de grande repercussão e constante no calendário da vida sócio-religiosa é a tradicional Festa de São Sebastião, mártir cristão, italiano de nascimento que passou a maior parte de sua vida em Roma, no tempo do imperador Diocleciano. Foi soldado do exército romano e por ser cristão e propagar a sua fé, foi denunciado, preso e condenado à morte. Os arqueiros encarregaram-se de cumprir a execução crivando-o de flechas, porém, não morreu. Apesar dos apelos recebidos, foi apresentar-se ao imperador, que desta vez modificou a pena capital. Agora seria açoitado até morrer. Foi sepultado pelos cristãos nas catacumbas, junto de outros mártires. No ano de 1938 a festa do glorioso mártir São Sebastião foi realizada de 18 a 27 de janeiro. Sendo os juízes patronos: coronel Laurentino Gomes de Barros; coronel José Pessoa de Queiroz, na usina Santa Terezinha, no município de Água Preta, em Pernambuco, e seu filho Dr. José Adolfo Pessoa de Queiroz; coronel Ligarião Benício de Luna Freire; coronel Manoel Henrique de Luna; coronel Ezequiel Siqueira Campos, da usina Porto Rico; Coronel João da Silva Santos; coronel Gustavo Fittrpaldi d’Oliveira; Dr. Anastácio de Paula Cavalcanti e o major Cristovam Dionízio de Holanda Cavalcanti. Os noiteiros: Dia 18, Isabel Lins da Silva; dia 19, Arimá Cavalcanti Luna; dia 21, Maria Luna da Silva; dia 22, Osmarina Freire; dia 23, Maria Helena Borges; dia 24, Madame Joaquim Monteiro da Cruz; dia 25, Madame Ezequiel Siqueira Campos e dia 26, Madame coronel Laurentinio. A comissão dos festejos era composta pelos seguintes membros: presidente, Izidro Roberto de Luna; vicepresidente, Alfredo de Paula Cavalcanti; secretário, José Vicente Soares; tesoureiro, Alcides de Luna freire; procuradores, Manoel Caetano da Silva e Gilberto de Paula Cavalcanti. Havia a quermesse presidida por Losinha Freire, auxiliada por Olympia Santos, Salomé Galvão, Lealze Loureiro, Nair Freire, Hilda Loureiro e Maria das Mercês Luna da Silva. E outras atrações programadas foram, carvalhada, carrossel, prisão do amor e dois animados bailes ao som de uma “Jazz Band”. Pela manhã do dia 27, houve missa solene 134


celebrada pelos padres João van der Donk S.C.J., João Cremers S.C.J. e Afonso Wijnhoven S.C.J. Com a realização também, de uma grandiosa procissão, pelas principais ruas da cidade. E até os dias atuais, anualmente no mês de janeiro, há os festejos em homenagem a São Sebastião, sem perder o brilho e o realce da exuberante alegria ordeira e a grande demonstração da arraigada fé cristã na igreja. Iniciava no dia 30 de janeiro de 1942, com a posse do segundo prefeito nomeado, coronel Manoel Pinto d’Oliveira Santos, uma nova administração municipal, dando continuidade aos postulados filosóficos de conteúdo político e administrativo às diretrizes maiores da Interventoria estabelecida. Trabalhou de conformidade com as possibilidades orçamentárias num ritmo de manutenção da estrutura por ele encontrada e participou dos esforços de guerra, porquanto o Brasil declara guerra à Alemanha e seus aliados no dia 22 de agosto de 1942. As dificuldades eram grandes com o início do racionamento de gêneros alimentícios e outros artigos, que eram abastecidos pelo comércio, através da cidade do Recife. Mas não se chegou a passar fome. Foi designado pelo prefeito, para o cargo de secretário da municipalidade, em 30 de outubro de 1942, Manoel Borges, neto e filho de destacas figuras, partícipes dos destinos políticos de Leopoldina. Seu avô, Manoel Borges da Costa Muniz, foi intendente nos idos de 1908 e seu pai, Abides Borges de Borba, também é merecedor do crédito político pelo seu desempenho como membro do Conselho Municipal. Em decorrência desta herança recebida, Manoel Freire Borges não foi omissão ao atavismo histórico e participou ativamente da arte política, chegando a cumprir seu mandato como deputado estadual. É possuidor de sólido embasamento cultural, porém dentro de sua modéstia e simplicidade monástica, preferiu dedicar-se aos afazeres da vida política e prosseguir sua brilhante participação no campo político. O prefeito Manoel Pinto, por motivo de saúde, teve seu período de governo à frente dos destinos do município, somente cerca de um ano e nove meses. A previsão da receita municipal para o ano em curso foi de Cr$ 70.000,00 (setenta mil cruzeiros), porém excedeu em Cr$ 9.577,30 (nove mil quinhentos e setenta e sete cruzeiros e trinta centavos). É plenamente reconhecível que o padrão monetário não era mais o mil réis e sim o cruzeiro, proveniente da reforma monetária ocorrida no governo Vargas. Tomou posse como terceiro mandatário nomeado, o jornalista Amadeu de Aguiar, no dia 30 de outubro de 1943. 135


Teve uma semelhança com seu antecessor, com relação ao período de governo; relativamente breve. Não foi além de um ano e sete meses. Nem por esta razão foi menos dinâmico que seus predecessores, porém levando-se em consideração o fator tempo, evidentemente que não pôde deixar obras de grande vulto que viesse marcar com pedra, cal e cimento a sua curta trajetória, como prefeito de Leopoldina. Podemos retratá-lo como diplomático muito moderado e que se relacionou muito bem com a sociedade local. Para o seu período de governante municipal, designou para o cargo o secretário Déa Aguiar. O Decreto-Lei número 2.999, de 31 de dezembro de 1943, assinado pelo interventor federal, capitão Ismar de Góes Monteiro, fixa a divisão administrativa e judiciária do Estado de Alagoas, sem poder haver alteração do que estava sendo decretado, no decorrer de quatro anos. A divisão do enunciado, compreendia: 20 comarcas, 33 termos, 33 municípios e 81 distritos, ao tempo em que fixava os limites dos municípios existentes, resultando ainda na mudança dos nomes de várias localidades (municípios e cidades), dentre outras Limoeiro de Anadia, ex-Limoeiro; Assembleia, ex-Viçosa; Conceição do Paraíba, ex-Capela; Manguaba, ex-Pilar; União dos Palmares, ex-União e LEOPOLDINA passou novamente a chamar-se COLÔNIA LEOPOLDINA. Os estabelecimentos dos seus limites: com Porto Calvo. Começando no rio Jacuípe, na confluência do Riacho Trincheira, segue por esta acima até o engenho Aquidaban; deste ponto prossegue pela estrada ao sítio Pau Amarelo e daí ao engenho Costa, continuando pela estrada ao sítio Souza e em seguida a Brejinho, limitando nessa extensão com o município de Porto Calvo.  Com Passo de Camaragibe. De Brejinho, por uma reta que passa ao norte de Serrinha e daí seguindo rumo oeste vai encontrar o rio Camaragibe, no lugar denominado Coimbra, na divisão com o município de União dos Palmares, limitando nessa extensão com o município de Passo de Camaragibe.  Com São José da Lage. Deste ponto segue por uma reta até alcançar o pico da Serra da Canastra, donde prossegue, na mesma direção ao rio Taquara, no local denominado Flexeiras, limitando com o município de São José da Lage.  Com o Estado de Pernambuco. Pelos limites fixados na forma do Convênio Interestadual de 23 de julho de 1943. O adjetivo pátrio de quem é natural ou habitante da nossa cidade de Colônia de Leopoldina e de Leopoldina, cidade situada na zona da mata do Estado de Minas Gerais, que também recebeu tal denominação numa homenagem à princesa quando de sua criação

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municipal em 1854 e de Santa Leopoldina, atual cidade e antiga Colônia de Santa Leopoldina no Estado do Espírito Santo, inaugurada no ano de 1825; são chamados de leopondinenses. No dia 24 de maio de 1945, foi empossado o quarto prefeito nomeado, Joaquim Monteiro da Cruz. Com vocação e declarada paixão para as lides agrícolas no antigo engenho Pé da Serra, atual São Sebastião, que é uma das propriedades mais enriquecidas e atualizadas da região, tanto pelas técnicas assimiladas pelos padrões tradicionais, como pelas pesquisas agronômicas que vem desenvolvendo ao longo de quarenta e cinco anos à frente do engenho São Sebastião e como ele próprio revela, foi político acidentalmente, mas governou o município com muita categoria e zelo público. Esteve apenas um ano e três meses no cargo de prefeito desta cidade. O secretário nomeado foi João Correia da Silva, da época da posse deste prefeito. Quando Joaquim Monteiro da Cruz afastou-se do cargo de prefeito, foi substituído pelo secretário municipal José Marques Araújo, a partir de 04 de agosto de 1947. O registro histórico do aspecto político-administrativo da chamada Segunda República (1930 – 1945), é devido por três períodos:  o Governo Provisório, de 03 de novembro de 1930 a 16 de julho de 1934;  o Governo Constitucional, de 17 de julho de 1934 a 10 de novembro de 1937;  o Estado Novo, até 29 de outubro de 1945. Do primeiro período, as primeiras providências foram de combate à corrupção administrativa; a criação dos ministérios da Educação e Saúde Pública; ocupando o cargo, Francisco Campos e o do Trabalho, Indústria e Comércio, cujo titular foi Lindolfo Collor; a reforma do ensino; a criação de sindicatos e a enérgica regressão à Revolução Constitucional de São Paulo, de 09 de julho de 1932. Do segundo período, a promulgação de nova Constituição, a 16 de julho de 1934 e no dia 17, a Assembleia elegeu Getúlio Vargas, por voto indireto, presidente da República; a instituição do salário mínimo; a criação de institutos de previdência social; o levante comunista de 27 de novembro de 1935; a dissolução do Congresso Nacional, em 10 de novembro de 1937. Do terceiro período, a outorga de mais uma Constituição, cujo autor principal foi o jurista Francisco Campos; a criação do Ministério da Aviação; a formação da Companhia Siderúrgica Nacional (Volta Redonda); declaração de guerra em 22 de agosto de 1942, a Alemanha, Itália e Japão.

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Com a vitória dos aliados, o Estado Novo perdia consistência e no dia 29 de outubro de 1945, os generais Góes Monteiro, Cordeiro Farias e Álcio Souto, depuseram Vargas. O governo foi confiado ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro José Linhares. A 02 de dezembro de 1945, houve a realização da eleição, cuja vitória foi a do candidato do PSD o general Eurico Gaspar Dutra à presidência da República. Esta eleição foi realizada também para Assembleia Constituinte. Assumindo o cargo de presidente da República, o eleito, em 31 de janeiro de 1946. Tinha início a terceira República (1945 – 1964).

Sequência Histórica

A normalização já havia sido restabelecida com a posse presidencial em janeiro do ano de 1946. Faltavam ainda as eleições nos estados e municípios, para os cargos de governador e prefeitos. Ainda no decorrer do ano em referência, o interventor federal, Antonio Guedes de Miranda, dispensa a pedido, João Correia da Silva, das funções de adjunto de promotor público do Termo de Colônia Leopoldina, pertencente à comarca de Porto Calvo. Os atos municipais foram os de rotina administrativa e puramente de manutenção da vida pública da cidade, sem maiores fatos dignos de registro. O trabalho e a vida ordeira de seus habitantes prosseguiam dentro das características próprias da pequena cidade, com o comércio, a agricultura, a moagem dos engenhos e a natural expectativa voltada para o quadro político estadual e municipal, com a movimentada articulação de quem era ou quem poderia ser... Estava definida a data em que se realizariam as eleições para governador, deputados estaduais, vereadores, etc. No dia 19 de janeiro de 1947, numa sexta-feira, as urnas estavam aguardando os tão desejados votos. Foram registrados no Tribunal Superior Eleitoral, onde partidos políticos, do Partido Social Democrático ao da Esquerda Democrática, lógico que no interior os mais divulgados eram três ou quatro siglas partidárias. Para o governo do Estado, saiu vitorioso o candidato Silvestre Péricles de Góes Monteiro. A instalação da Assembleia Legislativa ocorreu em 10 de março de 1947 e a posse do governador eleito, foi no dia 29 do mesmo mês e ano. Dentre várias outras mensagens de felicitações ao novo governador, encontra-se publicada no Diário Oficial do mês de abril, a citação do recebimento do telegrama enviado

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por Celeste Lima Santana e Silva, diretor do grupo escolar e esposa do destacado comerciante e proprietário rural, Francisco Santana e Silva, um dos líderes do PSD local. A eleição para prefeito seria realizada no mês de outubro deste mesmo ano, quando saiu vencedor deste pleito, o cidadão Durval Gonçalves. Muito embora seu nome não fosse conhecido e não tivesse nenhuma vinculação com o município, pois, sua vinculação inclusive familiar, era com Porto Calvo, devido à proximidade do engenho Tigre, de propriedade da usina Santa Terezinha e no qual morava pela sua condição de administrador deste e de vários outros engenhos; fato este que não dificultou em nada a sua penetração nas hostes políticas de Colônia Leopoldina, devido ao bom trabalho em apresentá-lo e a divulgação do seu nome, feito por Alfredo de Paula Cavalcanti e o meritório esforço de sua esposa, Maria Loureiro Cavalcanti, Dona Maroquinha, como era carinhosamente chamada pelos leopoldinenses. A posse de Durval Gonçalves, no cargo de prefeito, foi no dia 30 de abril de 1948. Sendo escolhido para as funções de secretário da prefeitura o nome do professor Edson Matos, nascido em Traipu, cidade ribeirinha do São Francisco, porém casado com Graziela Fabrício, cuja família era de Ibateguara. A segunda restauração da Comarca de Colônia Leopoldina ocorreu com a Lei número 1.473, de 17 de setembro de 1949, sendo designado o Dr. José Soriano Neto para o cargo de juiz de direito. No decurso do seu período de governo, compuseram a Câmara de Vereadores, dentre outros: Alfredo de Paula Cavalcanti, Filadelfo José da Silva, Aloísio Tavares Cordeiro, José Vicente Soares, Osvaldo Luiz Lessa e Elias Carneiro Basto, que num esforço conjunto, renunciaram aos seus subsídios e a cidade foi beneficiada com a aquisição do seu primeiro ônibus ligando Colônia Leopoldina a Palmares, no Estado de Pernambuco, diariamente. A inauguração deste evento foi no segundo semestre do ano de 1950, como também, o primeiro cinema instalado precariamente no salão nobre da prefeitura local, foi um empreendimento dos comerciantes Filadelfo José da Silva e Sérgio Muniz de Araújo, e que posteriormente funcionou no antigo prédio da empresa municipal de Força e Luz. Durval Gonçalves demonstrou grande capacidade administrativa e tornou-se um dos filhos adotivos desta terra, pela demonstração do grande vínculo afetivo. Quando do término do mandato de Durval Gonçalves, foi sucedido em 1951 por Alfredo de Paulo Cavalcanti, cuja tradição política foi consolidada quer como prefeito ou não, pois sempre liderou a marcha do progresso leopoldinense, durante várias décadas da nossa 139


história. Desenvolveu seu operoso mandato, com larga demonstração de visão do futuro, antevendo o julgamento da história e deixou marcas do seu dinamismo administrativo, dotando Colônia Leopoldina de verdadeira infraestrutura para as administrações que lhe viessem suceder. Em 1955 foi empossado como prefeito do município, Manoel Barbosa de França. Cauteloso e profundamente analisador do que podia e do que devia executar administrativamente, deu provas suficientes de que governou e registrou sua passagem sob o incondicional prestígio dos seus munícipes, deixando perpetuada a sua memória respeitável e respeitada por todos, integralmente. Fora eleito aos trinta e seis anos de idade para a Assembleia Legislativa Manoel Freire Borges, ocupando a vice-presidência do Palácio Tavares Bastos e como tal, enfrentou o difícil período do processo contra o governador Muniz Falcão; seu mandato foi de 1955 a 1958. Retornou ao cargo de prefeito eleito para o quadriênio 1961 a 1965, Alfredo de Paula Cavalcanti. Foi sucedido por Antonio Lins da Rocha, eleito para o cargo de prefeito, cujo mandato foi de 1966 a 1970. Em cujo período foi inaugurado a agência do Banco do Estado de Alagoas S.A. Havendo este mandatário contribuído notadamente para o engrandecimento deste seu torrão adotivo, participando de eventos marcantes para o município. Soube conquistar e fazerse correspondido pela sua capacidade de liderança. Em 1971, José Luiz Lessa recebeu o cargo para dirigir a terra que lhe serviu de berço e deixar bem caracterizado o seu devotamento a causa pública, herdada certamente dos seus antecessores familiares, tendo em vista haver seu pai, João Luis da Silva e seu tio Joaquim Luiz da Silva, participado deste mutirão cansativo e desgastante, mas honroso e dignificante, desde os primeiros momentos da Vila de Leopoldina. Industrial do açúcar, empresário e grande benfeitor do município, sendo destacado pelo preparo e base cultural de que é possuidor. Seu período de governo municipal foi atípico, em razão da diminuição em um ano para que houvesse a coincidência da diminuição em um ano para que houvesse a coincidência de mandatos em todos os níveis, não vingando tal proposição na esfera federal. Governou até 1973. O secretário indicado foi o professor Hercílio Costa Araújo. De 1974 a 1977, obteve Antônio da Rocha seu segundo mandato de governo municipal, sendo indicado para a secretaria da municipalidade, José Gomes de Lima.

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De 1978 a março de 1983, foi eleito José Gomes de Lima, que demonstrou também sua operosidade e vocação para a administração pública. Estamos, portanto, nos dias atuais. Cabe aqui o seguinte esclarecimento: com relação a citação sintética dos mandatos dos últimos trinta e quatro anos. Os fatos para serem registrados como decorrência histórica levam anos e anos, ficando na expectativa do assentamento da poeira do tempo para que os mesmos sejam apurados e depurados com a finalidade de não se cometer erro ou injustiças quando da descrição ou narração dos feitos e acontecimentos, todavia o curto espaço de trinta e quatro anos é considerado como tempo presente, pelas normas da historiografia.

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VI – ASPECTOS DA RELIGIOSIDADE

A religião católica foi implantada a partir dos primeiros instantes da instalação da Colônia Militar Leopoldina e do lançamento da pedra fundamental da capela dedicada a invocação de Nossa Senhora do Monte Carmelo ou Nossa Senhora do Carmo, sendo objeto de menção do Regulamento Especial da Colônia nos artigos 13o e 14o. Para efeito de ilustração, informamos que a Constituição de 1824, estabelecia que a religião oficial do Brasil seria a Católica Apostólica Romana, embora a existência de outras fosse permitida no Império e o regime chamado do PADROADO estabelecia a competência do imperador para a indicação dos sacerdotes para os cargos eclesiásticos e consequentemente, o clero era pago pelo Estado, além do que, os documentos vindos do Vaticano, só teriam aplicação no Brasil quando houvessem obtido o beneplácito imperial. Fato que não deixou de provocar conflitos entre os governos espiritual e o temporal. Vimos no início, que o primeiro capelão nomeado pelo governo de S.M. o Imperador D. Pedro II foi o frei Antônio da Pureza de Maria, pertencente a Ordem Religiosa Franciscana; fato este do dia 17 de fevereiro de 1851 e de acordo com sua correspondência 142


dirigida ao diretor da Colônia, comprova a sua presença aqui, no mês de dezembro deste mesmo ano de sua nomeação. Frei Antônio da Pureza de Maria, que após sua secularização passou a chamar-se padre Antônio da Pureza e Vasconcelos, foi substituído no cargo de capelão por frei Boaventura de Santa Maria, que se apresentou ao diretor da Colônia no dia 13 de dezembro de 1862 e que permaneceu até a extinção da referida Colônia Militar. A continuidade da assistência religiosa aos moradores do pequeno povoado é um fato comprovado, pois no ano de 1871 esteve aqui realizando missões, o frei Venâncio Maria de Ferrara, missionário de origem italiana. Também é fato de comprovação dos seus aspectos religiosos através da Lei Provincial, número 1.054, de 27 de junho de 1889, portanto, às vésperas da Proclamação da República, quando foi criada a freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Leopoldina, no município de Porto Calvo. Esta lei foi assinada pelo primeiro vicepresidente em exercício, da Província das Alagoas, bacharel Messias de Gusmão Lyra. Estando limitada ao Norte pelos rios Jacuípe e Taquara; a Leste pelo distrito de Jacuípe até o rio Manguaba na foz do riacho Tipi, até encontrar o engenho Promontório; ao Sul pelo rio Camaragibe a partir do sítio Mutum até o engenho Petrópolis e a Oeste os limites da freguesia de São José da Lage. Mesmo com a chegada da República, o aspecto religioso não foi relegado, tendo em vista o prosseguimento dado pelos padres de Porto Calvo, que mensalmente percorriam mais de vinte e quatro léguas a cavalo, para assistirem a este povoado. Data do ano de 1910, a chegada do missionário holandês, pertencente a ordem religiosa dos padres do Sagrado Coração de Jesus sendo seu fundador o padre João Leão Dehon, que abriu o primeiro Seminário no seu país de origem, a França e logo disseminava a ação voltada para consagrar sua obra ao “Coração que tanto amou aos homens e deles só recebeu ingratidão e indiferença”. Em poucos anos estavam os primeiros padres sendo enviados para exercerem seu apostolado, na Holanda, Bélgica, Alemanha, Espanha, Portugal e daí passou a ação apostólica para outros continentes.

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Estátua do reverendíssimo padre Francisco Gerardt S.C.J. construtor da atual Matriz.

O missionário chegado na antiga Vila de Leopoldina era o padre Francisco Gerard S.C.J. Durante três anos, alicerçou a sua ideia de construir uma igreja e o local seria o da antiga capela da Colônia Militar, que estava sendo arruinada pela ação devastadora do tempo, desta só restando as duas torres aproveitadas com modificações para dar uniformidade ao estilo arquitetônico. Foram iniciados no ano de 1913, os trabalhos que se prolongariam até 1923. Veio juntar-se ao gênio criativo e empreendedor do padre Francisco, o irmão leigo, de nome Aleixo e também de nacionalidade holandesa; ambos foram incansáveis, sublimando todos os obstáculos realizando obras que os imortalizaram. Foi bastante significativa a ajuda da comunidade transportando pedras, tijolos, madeira, telhas e tudo mais que compõe uma construção. Eram verdadeiras romarias caminhando léguas e léguas, conduzindo o que fosse preciso, sem denunciar o cansaço, a fadiga ou qualquer outra fraqueza humana. Estavam todos fortemente preparados para o extenuante trabalho. Há fatos até hoje contados por quantos participaram destes longos anos de verdadeira mortificação, como o que ocorreu quando estavam carregando o madeiramento das matas próximas da Vila e num determinado pararam para descansar, com a autoridade e o respeito que devotavam, obedeceram às ordens do padre Francisco para não colocar a madeira no chão e ele próprio foi carregado adicionalmente sentado sobre a madeira levada nos ombros do povo e ainda hoje revelam que não sentiram nenhum peso, chegando ao destino após longa caminhada plenamente dispostos. As pedras eram tiradas do engenho Serra Azul, distante cerca de três léguas e lá ocorreu a descoberta de uma botija (tesouro com presumível riqueza em ouro e prata de objetos e imagens saqueadas no período da invasão holandesa, 1624 – 1648) pesquisada tanto por padre Francisco como pelo irmão Aleixo, fato que será relatado com título próprio. A permanência do irmão Aleixo se prolongou até o ano de 1918, que por haver contraído a febre amarela, foi se tratar na cidade do Recife e de lá voltou para a Holanda, pois, refeito da doença tropical, optou para ir prestar seus serviços no continente africano, no exCongo Belga, atual Republica Democrática do Congo, deixando na cidade de Leopoldville, hoje Kinshasa, a igreja que serve de Catedral, no estilo da igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Colônia Leopoldina, obedecendo a mesma escala. Irmão Henrique Aleixo Neelemans S.C.J. faleceu na cidade holandesa de Asten, no dia 08 de março de 1974, porém, ainda possuído de relativa lucidez, desenhou a pedido do padre Adriano Langen S.C.J., hoje vigario da Paróquia de Jaraguá, em Maceió; o mapa do conhecido tesouro existente na localidade da 145


Serra Azul, este desenho é do ano de 1972, quando vivia na casa dos religiosos da ordem do Sagrado Coração de Jesus, na mesma cidade de Asten. Tanto o povo da Vila e do município de Leopoldina, quanto os governos dos estados de Alagoas e Pernambuco, contribuíram com doações de inestimável valor para a conclusão do grandioso templo católico. Em 18 de dezembro de 1918, D. Manoel Antônio de Oliveira Lopes, Bispo de Maceió, concedeu provisão de capelão ao padre Francisco. De 28 de agosto até 08 de setembro de 1923, foram celebradas missões e muito ato penitencial, sendo ministrados a milhares, os sacramentos do batismo, crisma, casamento e o da eucaristia. No dia 08 de setembro de 1923 houve a solene bênção da igreja e a sagração do seu altar mor, cuja pedra de três metros de comprimento por sessenta centímetros de largura e vinte de espessura, foi trazida para tal finalidade de Serra Azul e a escolha foi ainda do irmão Aleixo. Hoje não se tem indicação desta pedra, face às várias reformas havidas na arquitetura da igreja. A permanência de padre Francisco, como capelão, foi até 1924, contando desde 1923 com a colaboração de padre Antônio Int’Groven S.C.J. No decorrer de cinquenta e nove anos, marcaram suas passagens como pastores e ministros de Deus, os seguintes sacerdotes: padre Jerônimo Elohof, quando ocorreu a bênção do sino, fundido nas forjas da usina Santa Terezinha, decorrente da sugestão do jovem comerciante Alfredo de Paula Cavalcanti; a solenidade da bênção foi no dia 20 de fevereiro de 1925, neste mesmo ano chegava padre João van der Donk. Em 1927 voltada padre Francisco Gerardt para uma curta permanência de alguns meses, sendo substituído por padre Inácio Bloensast; no ano de 1932 chegavam os padres José Cobben e Jerônimo. Padre Leonardo van der Crommenacker permaneceu de junho de 1933 a junho de 1935, com a chegada de padre Egídio von Will, neste mês e ano. No dia 31 de maio de 1936, ladrões entram na igreja e roubam o Santíssimo Sacramento, profanando esta casa de Deus. Em 1938, padre João Brugman deixa o cargo de coadjutor, sendo substituído por padre João Cremers. Em novembro de 1938, vem padre Francisco pregar as missões que regularmente ocorrem nesta localidade.

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Cumprindo o período de permanência de dez anos afastado da família, padre Egídio, viaja à Holanda em março de 1939, sendo substituído provisoriamente por padre Xavier Theut e este por padre Dionízio. Após seis meses, retorna esta cidade, padre Egídio, que permaneceu até fevereiro de 1947. Com o decreto do governo arquidiocesano de Maceió, de 08 de fevereiro de 1947, é declarada a ereção canônica da paróquia amonível de Nossa Senhora do Carmo, de Colônia Leopoldina, nos termos dos cânones 1.427, 1.428 e 454 § 3, do Direito Canônico. Estando o decreto em referência, assinado pelo arcebispo metropolitano, D. Ranulfo Farias. Assume a paróquia, como vigário, padre Paulo Punt, que neste mesmo ano viajou à Holanda, sendo substituído por padre Hermano Berkens. Em 06 de janeiro de 1948, o conterrâneo da família Loureiro Souza, frei Tomé de Leopoldina, O.F.M. (da Ordem Franciscana dos Capuchinhos), é saudado à sua chegada pelo jovem da nossa comunidade, José de Araújo Luna; celebrando então a sua primeira missa na terra do seu nascimento. No dia 17 de março deste mesmo ano reassume a paróquia, padre Paulo, que havia retornado da Holanda. Sua substituição aconteceu em 21 de junho pelo padre José Cobben. Padre Teodoro Rietveld tomou posse em 13 de março de 1948, permanecendo até 09 de março de 1960, quando o novo vigário nomeado foi o padre Afonso Wynhoven. Pelo crescimento dos trabalhos aqui chegou como vigário cooperador, padre Jaime Custen, cuja permanência foi de alguns meses. Mais um leopoldinense chegava ao sacerdócio no final do ano de 1948, padre Manoel Balbino da Silva, filho adotivo de Elisiário Carneiro Gama e de Vicentina Gama, havendo celebrado sua primeira missa na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, no final do mês de dezembro. No dia 14 de agosto de 1953, às oito horas da manhã, ocorreu o falecimento de padre Francisco, após celebrar missa no engenho Florescente, no município de Água Preta. Estava com 72 anos de idade. Não podemos desvincular dos traços biográficos deste sacerdote, a figura do seu fiel acompanhante, conhecido hoje em vários estados do Nordeste, pela divulgação das obras e da vida do santo homem que foi em vida. Chama-se Manoel Anselmo Germano, nascido no engenho Gama, no ano de 1909, mas por este nome ninguém o conhece, pois Manezinho sim, é o famoso peregrino viajor e conhecedor com riqueza de detalhes da vida de padre Francisco. 147


É também um misto de devoto que desenvolveu a sua própria teologia e também um pregador espontâneo, naturalmente tendendo para o misticismo. Sua figura cordial e seriamente compenetrada de sua missão salvadora é sem dúvida o nômade, e mais um a exercer sua divulgação diante de governador de Estado, juízes, prefeitos e o povo em geral. Além do que foi dito é ainda poeta, e numa alusão à terra que a todos recebe de volta, Manezinho, assim se inspirou e expressou sua veia política: “Minha santa avó querida e mãe do primeiro homem a noite cheira a açucena tua autoridade é suprema tudo que tu cria tu come”

Em maio de 1954, foi a vez da chegada do padre Cristiano Langbruger, substituído temporariamente padre Afonso, que permaneceu aqui como vigário, até 1961. Em 31 de dezembro de 1962, chegava padre Jorge Polman, que havia sido militar antes do seu ingresso no seminário, lá na Holanda, lutara na Guerra da Indonésia, possessão holandesa a sudeste da Ásia, no arquipélago malaio. Durante esta guerra de 1945-49. Além da votação sacerdotal é renomado astrônomo, como seu nome conhecido internacionalmente. Foram seus colaboradores, padres Júlio Poroca de Lucena e Jorge Custódio, ambos com a permanência de meses ou pouco mais de um ano. Em março de 1965, esteve aqui padre Lourenço Hegers, em seguida padre João van der Back, este de nacionalidade belga. Em 1968, pela segunda vez chegava padre Teodoro Rietveld que foi coadjuvado durante vários anos por padre Adriano Hoogboon, havendo este festejado suas bodas de ouro de sacerdócio em 1973 e poucos anos depois, por questão de saúde voltou a Holanda e lá faleceu. A permanência de padre Teodoro foi até o fim do ano de 1974, sendo então o último da congregação dos padres do Sagrado Coração de Jesus a exercer o vicariato nesta paróquia. No ano de 1975 a assistência eclesiástica foi revezada pelos canadenses da Ordem de São Pedro, os padres Silvestre Vredegoor e Bernardo Stauber. A paróquia já não tinha seu vigário residente e padres vindos de Maceió, prosseguiram semanalmente vindo à Colônia, para dar assistência religiosa aos católicos; dentre outros, padre Delfino Barbosa Neto. Até que padres da Congregação Salesiana (ordem religiosa fundada por São João Bosco, na 148


Itália), assumiram a Paróquia, sendo a nomeação do último padre desta ordem, entre fins de 1980 e início de 1981. Padre Jurandyr Azevedo Araújo, que hoje é missionário em Angola, na África. Em setembro de 1981, foi nomeado Vigário, o sergipano de Estância, padre Cícero Leite da Cruz, que tem realizado um incansável apostolado. Por razões de segurança do prédio da igreja, foi necessário proceder a retirada de todo o madeiramento do ar e também houve uma total reestruturação interior inclusive a construção de novo altar mor. Trabalho este bastante dispendioso, recebendo integral apoio da comunidade local. Foram dez meses de exaustiva movimentação para angariar donativos e executar a reforma interna. No dia 26 de setembro de 1982, recebeu a igreja matriz, a bênção litúrgica através do bispo da Diocese de Estância, Estado de Sergipe, D. José Bezerra Coutinho e a sagraç~/ao do novo altar foi levada a efeito pelo arcebispo metropolitano de Maceió, D. Miguel Fenelon Câmara, no dia 03 de outubro de corrente ano. Após os atos religiosos foi inaugurada a estátua de padre Francisco Gerardt, no espaço compreendido entre a igreja e a casa paroquial. Enquanto a matriz estava em obras, os atos religiosos foram realizados no salão da Escola Paroquial. Ressaltamos a ação pastoral e sócio religiosa das irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus vindas do longínquo Estado do Rio Grande do Sul e chegadas aqui por volta de 23 de abril de 1973. É um belo e esplendoroso trabalho que vêm desenvolvendo estas servas de Deus. As primeiras que se fixaram nesta cidade, foram: madre Nazaré Missio, irmãs Terezinha Stodoni, Zélia Fronza e Ana Maria. Assim foi descrita a história religiosa desta terra.

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Igreja de Nossa Senhora do Carmo.

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VII – A CULTURA LEOPOLDINENSE

Os costumes e a instrução de um povo estão intimamente ligados ao processo de aprendizagem pela transmissão dos mais velhos (pessoas ou instituições) aos mais novos. A família, os companheiros de trabalho, os professores, o esporte, a igreja e a escola são as linhas de propagação de toda a herança cultural, formada por elementos dos mais diferentes valores. Isto posto, só nos resta desenvolver o tema com a arrecadação do que nos foi transmitido por todas as fontes ou linhas condutoras e propagadoras e registrá-lo para os que hão de vir, dando continuidade ao que recebemos e iremos retransmitir. Os costumes nada mais são do que os hábitos ou atitudes consagradas pela tradição e transmitidos de geração a geração. Todo o conjunto de manifestações espontâneas vamos encontrar nas artes e nas letras que em épocas passadas não foram registradas pelo pouco ou nenhum valor dado e também pela falta de incentivo, pois tais coisas não eram e não são merecedoras do estímulo e de reconhecimento, o que é lastimável. Colônia Leopoldina, nos anos vinte, teve a sua Filarmônica 16 de Julho, obra da sensibilidade musical do maestro Sabino Souza, que dentro da própria família chegou quase a compor a primeira orquestra da 151


então Vila e dentre outros que figuraram como músicos, temos Otávio de Luna Freire, que posteriormente foi comerciante em Garanhuns e no Recife, dedicou-se ainda a criação de gado e foi também industrial do setor têxtil, na cidade de Propriá, Estado de Sergipe. No segundo mandato de Alfredo de Paula Cavalcanti (1961 – 65), como prefeito, foi criada a segunda banda musical, que numa homenagem ao maestro Sabino Souza, lhe fora dado seu nome a essa corporação musical. O destaque nas artes plásticas foi Dagmar Loureiro; embora que anadoristicamente, há inúmeras paisagistas e pintoras clássicas, como Alba Ramos e sua irmã Nadir, que vocacionada para a vida religiosa ingressou no convento das irmãs franciscanas, com o nome de irmã Maria da Sagrada Face; Lourdes Santana Santos, Zilda Santana, Mercês Luna, Edleuza Silva e tantas outras que se mantiveram no anonimato, pela ausência do indispensável apoio e divulgação dos seus dotes artísticos. No campo literário o destaque maior é do político, escritor, advogado e jornalista Euzébio Francisco de Andrade, que atuou nestes espaços a partir do final do século passado, até os anos vinte deste século, notadamente em Maceió e no Rio de Janeiro, aonde veio a falecer em fevereiro de 1930. Suas obras literárias entre outras: O crime de Jaraguá, romance; A flor de lis, comédia. Para o devido esclarecimento, dizemos que sua obra está disseminada em jornais, nos anais do Parlamento, nas revistas de jurisprudência e arquivos judiciários. Também se fez merecedor de figurar no rol dos literários, mais um filho desta cidade, que se projetou na cidade pernambucana de Garanhuns, como professor de francês, latim, português e literatura brasileira; na política chegou a exercer o mandato de vereador por aquele município; na advocacia agigantou-se nas causas cíveis e criminais, tornando seu nome uma legenda em todo o agreste meridional do vizinho Estado de Pernambuco. Compositor musical bissexto, poeta de fecunda imaginação, escritor de crônicas e também de livros didáticos versando sobre o idioma pátrio. Homem culto, modesto e um grande benfeitor do ensino. Seu nome é Levino Epaminondas de França, mestre e amigo. Severino Pinto de Araújo, revelação da geração mais recente no campo da literatura, com a publicação de livros de poesia e contos. Neto de Severino Rozendo de Araújo, antigo intendente e que por várias vezes integrou o Conselho Municipal da Vila de Leopoldina. Filho de Sérgio Muniz de Araújo e Rita Pinto de Araújo, estes hoje residem no Paraná e o nosso poeta é funcionário público federal, na cidade de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro; além da veia literária, iniciou em Maceió a carreira de radialista, na recém-inaugurada Rádio Progresso de Alagoas. É também ex-aluno do velho casarão da Praça da Bandeira, em 152


Garanhuns, o Colégio Diocesano, que na nossa época era dirigido pela magnânima figura deste imortal educador, monsenhor Adelmar da Mota Valença. Manoel Ferreira Campos, conhecido pelo apelido de Zezinho Romão, revelação de brilhante inteligência e esforçado autodidata. Aprendeu o idioma inglês em 1965 ou 1966, foi aos Estados Unidos da América do Norte e lá ensinou matemática durante o período de sua permanência como bolsista do programa Aliança para o Progresso. Visitou Miami, Chicago, Nova Iorque, dentre outras cidades. Outro nome que merece ser mencionado, é o do poeta popular, cujos versos improvisava; não deixando consequentemente nenhum escrito para a posteridade. Foi José Geraldo, que aos domingos, vinha à cidade e entre uma “lapada” e outra recitava suas criações poéticas, no que tinha ouvintes cativos às suas loas. No tocante ao ensino do primeiro grau, tivemos e havemos de ter figuras que marcaram profundamente sua transitória passagem por este mundo, dedicando-se com a verdadeira vocação e grande cabedal de conhecimentos transmitidos e bem assimilados por gerações e gerações, tanto nas antigas escolas particulares, quanto no estabelecimento de ensino público, o Grupo Escolar Aristeu de Andrade. A homenagem, a reverência e o dever de gratidão, são insignificantes, diante de pessoas verdadeiramente devotadas a causa do ensino, nesta terra da antiga Colônia Militar Leopoldina. Hoje quem faz a chamada somos nós. Narcisa da Rosa Lima Braga, Dona Cila, manteve por cerca de cinquenta anos, a sua Escola Particular Santa Terezinha, havendo lecionado em determinadas épocas em fazendas, como São Bernardo, porém, na sua existência na cidade de Colônia Leopoldina, ensinou as primeiras letras a várias centenas de alunos, preparando-os intelectual, disciplinar e moralmente para os duros embates da vida futura. Seu tipo físico denotava uma aparente fragilidade, alta e esguia, saias compridas, voz de timbre rouco, fumante de cigarros Yolanda. Era altiva e rigorosa disciplinadora. Um fato marcante, foi quando no término da Segunda Guerra Mundial (07 de maio de 1945), por ocasião da chegada da notícia. Estávamos em plena aula e alguém ouviu através do rádio e espalhou rapidamente; com o toque festivo dos sinos da Matriz e pessoalmente foi comunicado o fato; imediatamente Dona Cila mandou todos os alunos ficarem de joelhos e rezarmos, em seguida fomos dispensados do restante do horário. Nesta época a mestra estava com sessenta e quatro anos de idade, dos quais, mais de quarenta já dedicados ao ensino

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primário. Num determinado período, seu filho Mário Lima Braga, também lecionou nesta mesma escola. O professor Mário Braga (1901 – 1954) era a bem acabada figura do autodidata; conhecia os idiomas francês, espanhol, holandês e traduzia textos latinos; tocava vários instrumentos, desde o violão, órgão e bombardino. Prestou relevantes serviços à comunidade local, com o seu elevado nível intelectual. Narcisa da Rosa Lima Braga nasceu em Porto Calvo a 15 de março de 1881 e faleceu nesta cidade no dia 05 de novembro de 1954, aos setenta e três anos de idade. Homenageamos a tantas outras mestras do talento e do porte de Dona Cila, nas pessoas de Argelita Sobreira, Regina de Assis Figueiredo, Celeste de Lima Santana e Silva, Osmarina Freire e Edleuza Araújo Silva, atual diretora do Grupo Escolar Aristeu de Andrade. Desde o ano de 1961, a cidade tem seu Colégio Normal Padre Francisco, pertencente a rede da Campanha Nacional de Educandário da Comunidade, formando a mocidade estudiosa leopoldinense; havendo passado pela direção deste colégio, vários abnegados à causa do ensino, como padre Jorge Polman; o juiz de direito, Dr. Neider Alcântara, sendo atualmente seu diretor, o tabelião público e homem das ciências jurídicas e sociais, Antônio Luna da Silva. A rede municipal de ensino é constituída por dezenove escolas, cuja diretoria do Ensino Municipal é Edlene Silva Maciel, uma das formadas da primeira turma que concluiu o curso normal no colégio em apreço. É também mantido pelo poder municipal a Escola de Artes e Ofícios Costa e Silva, funcionando ainda vinte e seis postos do Mobral, no território leopoldinense. As manifestações folclóricas também constituem o acervo cultural da nossa cidade, como o coco de roda dependente da maestria do sempre lembrado Pedro Alfenim, o reisado vindo do tempo de Edmundo, o pastoril, a tradicional zabumba, presente em todas as festividades religiosas, que prosseguem com maior ou menor brilhantismo dependente das circunstâncias e da motivação; sem podermos deixar de registrar a passagem nesta cidade de major Bonifácio Silveira, nome de projeção no Estado de Alagoas pelo que fez em Maceió, precisamente no bairro de Bebedouro, quando assumia a responsabilidade dos festejos natalinos, os do ciclo junino e os carnavalescos, figurando hoje nos anais da história do Estado de Alagoas. Muito contribuiu com a sua capacidade dinâmica e a perene alegria para o cultivo e preservação das tradições folclóricas da Colônia Leopoldina, esse leopoldinense honorário. 154


As figuras de Manoel Paraíba e Chico Machado estão ligadas a arte pirotécnica. Os fogos de artifício eram engenhosamente preparados com a requintada perícia e a excelente qualidade dos seus produtos artesanalmente fabricados. Os foguetórios alegravam os dias de festas, as noites de maio, as celebrações de Santo Antônio, São João e São Pedro e ainda anunciavam os nascimentos, pois dependendo do número de foguetes sabia se havia sido menino ou menina o recém-nascido. Nos parece que as explosões eram bem mais fortes que as dos fogos de outras localidades. Hoje ambos são falecidos, não deixando sucessores, mas sim, continuadores dos seus ofícios de fogueteiros afamados. Eis o que podemos retratar sobre a nossa cultura e as nossas tradições populares.

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Grupo Escolar Aristeu de Andrade (SENEC).

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VIII – O TESOURO DE SERRA AZUL

Como todo lugar rico em fatos, ocorrências e circunstâncias, também possuímos e prezamos as nossas estórias, veiculadas pela tradição oral e uma delas é a do tesouro existente em Serra Azul, local distante umas quatro léguas das boas e de lá é que foram extraídas as pedras utilizadas para a construção da igreja de Colônia Leopoldina, carregadas em romaria pelos fiéis penitentes sob as severas ordens de padre Francisco Gerardt, durante vários anos. Houve a partir de mais ou menos 1916 até princípios de 1918, a formação da dupla de arqueólogos, padre Francisco e irmão Aleixo, dando início ao estudo e as pesquisas do sítio ou local onde havia marcas, sinais e inscrições passadas desapercebidos aos menos avisados, porém eles resolveram decifrar o enigma estabelecido pela nossa modesta esfinge. Há quem conte que houve sonhos reveladores da riqueza depositada nas entranhas daquele monumental monte de pedras, riquezas estas constituídas de ouro e prata dos saques presumivelmente levados a efeito pelos invasores holandeses, que chegaram a dominar boa parte territorial do nordeste brasileiro, trafegando com intensa movimentação do Maranhão às barracas do rio São Francisco, tanto pelo litoral quanto pelo interior, para se colocarem a 157


salvo das investidas dos nativos que instintivamente praticavam a guerrilha desconcertante e devastadora para as forças “batavas”, numérica e adestradamente superiores às da colônia lusitano-espanhola. Pois bem, o terreno pesquisado por ambos foi um hectare, coberto por espessa vegetação e rodeada de mangues. Cautelosamente foram se aprofundando no túnel escavado na rocha viva, porque a medida que os nossos dois arqueólogos avançavam, foram descobrindo indicações de perigo de morte e outros detalhes que indicavam surpresas incríveis, como armadilhas capazes de provocar instantâneo esmagamento com o despencamento de enormes pedras sobre quem ousasse penetrar e querer desvendar os segredos do seu exato conteúdo. Prosseguindo neste meticuloso trabalho, foram encontrados sinais que indicavam terríveis explosões, caso fosse deslocada determinada pedra que vedava a passagem para uma terceira ou quarta câmara no interior do rochedo. Encontraram também a indicação de que em determinado labirinto interior havia uma considerável quantidade de água capaz de arrastar tudo quanto se lhe antepusesse, tamanho o volume armazenado no seu interior para obstar o ingresso do curioso que tentasse chegar mais perto do bem guardado tesouro. Terrivelmente bem protegido, por tantas e tão engenhosas armadilhas capazes de surpreender aos que desconhecessem os sinais pouco esclarecedores encontrados nas paredes de suas múltiplas galerias. Estavam os dois pesquisadores verdadeiramente absortos e dedicavam tempo integral e exclusividade absoluta e tão empolgante mister. De segunda a sexta-feira, eles viviam para descobrir novas e sensacionais achados, explorando meticulosamente palmo a palmo toda a extensão já percorrida, em busca de novas informações ou confirmações dos sinais indicativos, soberbamente analisados e decifrados, o que lhes dava relativa margem de segurança a tão arriscada atividade. Naturalmente foi despertado o interesse por parte de alguém, em apossar-se sozinho das preciosidades, logo que fosse possível. Foi então, urdida uma trama tipo assim, saque com violência na tomada do já tão divulgado tesouro, ou botija como chamavam. A perspectiva de riqueza assumiu características de cobiça e desejos escusos. Os sonhos se repetiram mostrando o ouro transformado em imagens e outros objetos sacros, porém a percepção do desenrolar dos fatos foram sentidos por padre Francisco, pois agora o perigo estava do lado de fora daquela enorme rocha. Ao cabo de um ano e meio de arriscadas pesquisas tudo foi abandonado pela dupla de arqueólogos, alegando padre Francisco que havia perdido o roteiro, não era mais possível continuar o tão arriscado trabalho; permanecendo até hoje oculto e inacessível. 158


O irmão Aleixo contraiu a febre amarela e teve que se afastar também deste empreendimento, indo ao Recife e de lá seguindo para seu país de origem, a Holanda. Mesmo decorridos cinquenta e quatro anos, em 1972 ele reconstituiu o mapa que publicamos, feito em atendimento ao pedido de padre Adriano Langen, que traduziu e permitiu a sua publicação neste livro; embora esteja datado de 1918, pois foi tão somente uma recordação para matar a saudade de tudo que ele deixou aqui. No item 10, irmão Aleixo descreveu que a tampa de proteção era composta por três pedaços que juntos formam uma só pedra assentada num triângulo equilátero, com sulcos bem profundos. Na conclusão, escreveu ainda, “que na minha opinião pessoal e pelo posicionamento, formato e caracteres, houve um culto religioso muito antigo, expresso em pedra. Trabalhei aqui um ano e meio. Descobri estas pedras, que pelas posições em que foram encontradas e o meticuloso trabalho para gravá-las, demonstra uma simbologia como que indicando o pedido de proteção contra as forças da natureza”. O sonho acabou. Somente para termos uma ligeira ideia a respeito do final, circulou nos quatro cantos da então Vila de Leopoldina, que a paralisação dos trabalhos de pesquisa, foi em decorrência de ordens emanadas do superior da congregação religiosa a qual pertenciam. Até nossos dias a tradição do tesouro é mantida, mesmo não havendo sido encontrado nenhum sinal indicativo, real. Aí misturam-se a tradição, a fé e outros componentes para se manter viva a sua veracidade. Há os que aventureiramente escavam alguma parte, outros com cargas de dinamite tentam encontrar o que acreditam existir, e assim, até hoje continua o segredo e o mistério a respeito do tesouro de Serra Azul.

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Mapa desenhado por irmĂŁo Aleixo, sobre a localidade da botija ou tesouro de Serra Azul.

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IX – SUA GEOGRAFIA

Esta ciência relativamente atual teve seus fundamentos empíricos no passado remoto, ao tempo dos Caldeus e Assírios e caminhou apresentando sua crescente evolução influenciado pela participação dos egípcios, após o que, os gregos também deram sua valiosa contribuição aos conhecimentos ligados a esta matéria, isto a uns oitocentos anos a.C. Sua evolução foi lenta e gradativa a partir dos filósofos gregos da Escola Jônica, onde pontificaram Tales de Mileto afirmando a redondeza da terra; Anaximandro demonstrando o primeiro mapa mundi e Heráclito de Mileto escrevendo uma Geografia, após vários anos de viagem. Os romanos, os árabes e tantos povos legaram seus conhecimentos que com o passar dos séculos foram sendo desenvolvidos e aprimorados com o enriquecimento contributivo de cada um e de todos os estudiosos do assunto, resultando na geografia científica dos dias atuais. Assim tornou-se tão abrangente, que se fez necessário estabelecer divisões particularizadoras, como a geografia física, humana, urbana, política, econômica, etc.

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A nossa, especificamente, abrange as características próprias dentro dos nossos limites territoriais. O município de Colônia de Leopoldina está situado na zona fisiográfica da Microrregião da Mata Alagoana, com área territorial de 314 Km2, ocupando o 35o lugar no Estado. Distante da capital, 119 Km. Limita-se ao N – com Maraial e Água Preta, no Estado de Pernambuco; ao S – Joaquim Gomes; ao L – Novo Lino; ao O – Ibateguara. As respectivas distâncias de Colônia Leopoldina aos municípios limítrofes, são: 30,54,54,17 e 36 Km. Está a 155 metros acima do nível do mar. Suas coordenadas geográficas de latitude Sul, 8o 54’ 47’’ e as de longitude Oeste de Greenwich, 35o 43’ 34’’. Seu clima é temperado, com máximas de 39o e mínimas de 27o, com elevada umidade relativa do ar. A bacia hidrográfica deste município é constituída pelas águas do rio Jacuípe, cujas nascentes ficam na altaneira Serra de São João, provocando uma cachoeira chamada Catita, com grande potencialidade para aproveitamento e instalação de uma usina hidrelétrica; pensamento muito antigo de vários prefeitos, porém não passou de projeto. Suas terras dão banhadas também pelos riachos Barragem, Selador, Gavião, Pé da Serra e Manguaba, na divisa com o município de Joaquim Gomes. Sua rede lacustre é composta pela lagoa da Roça e açude do engenho Santo Antônio e da antiga usina Porto Rico, hoje Destilaria Porto Alegre. Seu sistema orográfico compõe-se pelas Serras do Teixeira, do Leite, Urubu e Catita. O reino vegetal é pouco preservado pela ação devastadora do próprio homem no contínuo desmatamento agredindo a pródiga natureza; contudo há proprietários que mantém reservas florestais constituídas por madeiras de boa qualidade. As riquezas minerais conhecidas são: a argila e as pedreiras. O reino animal sofreu com o desequilíbrio ecológico ocasionado pela destruição do seu habitat natural, porém em pequena quantidade, encontram-se o tatu, a paca, o caitetu e o tamanduá. Os meios de transportes e comunicação de que dispõe a cidade de Colônia de Leopoldina são: ônibus em vários horários diariamente interligando esta cidade com Maceió, Palmares e Recife, além dos inúmeros carros de aluguel, mais em função dos passageiros com destino aos sítios e fazendas, e às mesmas cidades já referidas; quanto as comunicações, são feitas através da Agência da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e do posto da TELASA – Telecomunicações de Alagoas S.A. Como aglomerados urbanos, temos o povoado de Monte Alegre, Usina Taquara e a destilaria Porto Alegre.

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A população do município é de 14.916 habitantes, com a seguinte distribuição: 7.599 homens e 7.317 mulheres. Na área urbana, ou seja, na cidade, a população é de 6.921 habitantes, sendo 3.399 homens e 3.522 mulheres. Na área rural que inclui os sítios, fazendas e outros aglomerados, a população é de 7.995 habitantes, composta de 4.300 homens e 3.695 mulheres. O número de votantes é de 5.696 eleitores devidamente registrados nesta 24a Zona Eleitoral. A União Desportiva dos Amigos de Leopoldina – UDAL é o clube social da cidade, que foi idealizado, projetado e cultivado pelo ilustre filho desta terra, Antônio Luna da Silva, que não medi sacrifício e dotou a cidade de um bom local para a realização de suas reuniões sociais e esportivas. A cidade também possui um posto de gasolina, um hotel, uma modesta casa de exibição cinematográfica, um Clube de Mães e um Clube de Jovens. A Comarca tem na pessoa de Dr. Eduardo José de Andrade, seu juiz de direito; integrando ainda o sistema judiciário, dois cartórios. As distâncias de Colônia Leopoldina a: Maceió, são 119 Km; Recife, 220 Km; Brasília, 2.854 Km; Rio de Janeiro, 2.362 Km e São Paulo, 2.762 Km. Sua economia está assentada na exploração da agroindústria do açúcar e do álcool, representando outros componentes expressivos, números e valores no contexto econômico bem como a banana e fruticultura. Em menor escala, o arroz, cacau, jerimum, melancia, feijão e milho. Esta é a nossa geografia física, humana, urbana, política e econômica.

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Usina Taquara S/A. Implantada por José Luis Lessa na década de 50.

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Topografia do Engenho Santo AntĂ´nio.

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X – CALEIDOSCÓPIO

A sucessão rápida e cambiante de impressões e sensações deixadas bem nítidas pelas pessoas e fatos que compuseram o grande mural da nossa vida, nos faz querer deixar registrados com verdadeiro respeito e imorredouro afeto, quer pela amizade, quer pela simples aproximação ou ainda mesmo pelo distanciamento imposto nas mais diversas circunstâncias de tempo ou de local em que se desenrolaram as ações marcantes. Nossos pais Filadelfo e Dona Maçu, há mais de cinquenta e seis anos casados. Como frutos desta união, vivem seus cinco filhos: Edvaldo, Edileuza, Everaldo, Emiraldo e Edlene; souberam crescer na escola de valores editada pelos próprios homens e suplantaram todas as grandes dificuldades de suas vidas e nos deram de si próprios o amor, a proteção, a permanente assistência e grandiosos exemplos de renúncia, abnegação e desprendimento; fortaleza e aceitação com resignação às vicissitudes que a vida nos pode reservar. São verdadeiramente sábios em seus ensinamentos de princípios morais, fé e conduta de vida, nos seus aspectos mais profundos e abrangentes.

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Papai aos oitenta e dois anos, alquebrado fisicamente, mas, muito inteiro espiritualmente, continua a sua brilhante missão terrena. Mamãe aos setenta e seis anos de idade, mutilada pelos efeitos da precária saúde, perdeu a visão biológica, porém a sua visão interior é resplandecente, multicolorida, tem a mais pura imagem do seu Deus e descortina plena e satisfatoriamente todo o mundo que a rodeia. É a nossa veneranda luz. Foram exíguos o número de tios e primos, mas guardamos a lembrança da velha tia Avelina que nas noites calmas, quase sempre sem iluminação elétrica por deficiência do velho motor, ela povoava a nossa imaginação contando estórias de trancoso, era a sua obrigação noturna, com desincumbência magistral. Arlinda, de Sinhá Clara tomou o seu lugar, quando a nossa tia saiu de Colônia Leopoldina para ir morar na cidade de Maceió. O primeiro grande impacto com a figura do esqueleto e seu afiado alfange, foice ou sei lá mais o que, a morte; foi no enterro do nosso texto irmão Emanoel, nascido, mas não vivido, que resultou numa dor sofrida, mas sem entendê-la, naturalmente. Dos amigos de infância e de escola, Joás Gondim Guimarães; filho do coletor estadual, também chamado Joás, que foi transferido deste para a cidade de São José da Lage em meados ou final do ano de 1944 e no mês de fevereiro de 1945, chegou a notícia de sua morte, vítima de desastrada queda de uma árvore, também nos causou grande pesar, pela nossa convivência de intensa movimentação e perturbação a muita gente grande. Dos colegas de escola, faziam parte da mesma geração: Zito de Luis Tomé, Basto, Zeca e Terezinha; Durval e Petrúcio de José Luis; Jodival Sobreira, Dora e Maria Eliza; Geraldo Magela; Antônio Lins da Rocha que vinha diariamente da usina Porto Rico a cavalo; Napoleão e Geraldina Timóteo; Nivaldo e Milton Caetano; Gláucia Loureiro; Nino e Murilo Oliveira; Iraci Amâncio; Adeildo Moura; Dilson Lessa; José de Almeida, lá da rua das Pedrinhas; Gilda, Gilene e Gilvan Barros; Zé Menino; Geraldo Sobreira; Zuí de Freitas Guerra; Inalda, esta era de Escada ou Ribeirão; Célia Fabrício e Lourdes Máximo. Ao término de cada Festa de São Sebastião, sentíamos saudade daquela movimentação com a compra de bugigangas, espiando o baile e quando alguma menina nos interessava, também dançávamos; a liberdade de ir e vir sem aquele estabelecimento rígido de horário a cumprir; a chegada da banda de música, vindo geralmente de Catende, eram três dias que marcavam muito e quando tudo acabava ainda ficávamos ouvindo de vez em quando pedaços de músicas, bem distante.

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Nos anos quarenta, aos domingos à noite, íamos ao engenho Riacho do Mato e na casa de Seu Neco Caetano e Dona Malila, seus filhos, Tonho Luna, Ceça, Dora, Geraldo e Terezinha, recebiam os convidados para dançar ao som do rádio, cujo programa musical tinha o nome de “Tabarra”, patrocinado por uma marca de sabonete, se não me engano era Vale Quanto Pesa. Ressaltamos que o rádio era à bateria. Até 1960, não tínhamos o serviço de abastecimento d’água o que só aconteceu no período do segundo governo municipal de Alfrêdo de Paula Cavalcanti, construído pela Fundação Serviço de Saúde Pública – SESP; até então, o abastecimento do precioso liquido era feito através das botadeiras d’água. Uma lata daquelas de querosene, na cabeça e a ida e vinda constantes do rio ou da cacimba para as casas residenciais. Anos a fio fizeram esta prestação de serviço à cidade de Colônia de Leopoldina, Maria Herculano, a quem quisemos muito bem em vida e a quem reverenciamos a sua memória; Maria Joana, que bateu o recorde por querer esvaziar o rio Jacuípe, fez muito bem o seu interminável e cansativo trabalho; Júlia, Luzia e tantas outras mulheres que deram o sustento às suas casas, educaram seus filhos honrosamente com o seu próprio trabalho, estas mulheres simples, porém dotadas de elevada responsabilidade para como s seus dependentes, são merecedoras de nossa lembrança. Severino de Freitas e Dona Filó, nossos vizinhos enquanto moramos nas proximidades do rio Jacuípe, guardamos deles nítida recordação. Seu Artur e Dona Auta, moradores do outro lado do rio, no engenho Riacho do Mato, na simplicidade de suas vidas souberam estabelecer um elo com esta cidade. No silêncio eloquente de Seu Artur e no dinamismo a toda prova de Dona Auta, nos marcaram desde a infância pelo que sempre foram, grandes amigos. Lucas Clemente, Anizio e Carminha, a nossa reverência às suas memórias. Cada qual desempenhou seu papel nas suas passagens por este vale de lágrimas, com grande e significativo louvor pela estreita amizade e pela vinculação de parentesco, quando da união de Carminha e Emiraldo. Os dias de domingo, tinham a conotação festiva, pela grande movimentação por ser dia de festa. Missa logo cedinho. Mais tarde íamos percorrer a extensão da Rua 15 de Novembro, entre as toldas, caçuás de frutas, sacos de farinha, feijão e outros produtos; comprar alguma coisa do nosso interesse e ir por obrigação ao estabelecimento comercial auxiliar Papai, nas suas lides de comerciante. À tarde, o passeio, a conversa sem compromisso; quando havia jogo de futebol, lá íamos nós; namorar quando foi chegado o tempo de namoro e assim chegava o dia de irmos ao cinema, com boa frequência e aqueles intervalos para enrolar e desenrolar as partes do filme. 168


O Hotel Santa Terezinha; Colônia Leopoldina viu sobreviver durante várias décadas, o Hotel de Dona Quitéria Fagundes. Lutou bravamente, educou seus seis filhos, com a sua bravura indômita para ser vencedora e hoje está colhendo os louros de sua vitória e duradoura carreira no setor hoteleiro. Seu exemplo foi dignificante, de mulher corajosa e mãe de família devotada aos seus. Este hotel marcou época na cidade, não houve concorrência que diminuísse sua afluência, sempre esteve com os seus espaços ocupados. Fez parte da vida socioeconômica de Colônia Leopoldina. Pedro Alfenim e Seu Elói eram proprietários dos únicos carrosséis que se armavam nas épocas de festa. Cada qual com o seu batuque ao som de sanfona, triângulo e tambor. Para ajudar a clarear um pouco mais, ambos usavam as tradicionais máquinas de carbureto que desprendiam uma chama bastante azulada. Enfeitavam com bandeirolas e outros adornos o que também faziam os adultos, geralmente casais de namorados. Agora chegamos ao fim deste CALEIDOSCÓPIO sentimental, havendo ainda muitas impressões e sensações, mas ficarão guardadas, porém nunca esquecidas.

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CONCLUSÃO

Percorremos juntos mais de um século de nossa história. Chegamos ao final do desenvolvimento das nossas sensações pelo acompanhamento descrito no tempo e no espaço, através dos fatos que constituem o nosso acumulado trajeto, com expressa e irrestrita caracterização da domesticidade e do privativo desenrolar da história leopoldinense. Demos uma sequência cronológica, que é o desencadeamento ritmado do dia a dia, ou do ano a ano dos acontecimentos e da vivência que teve como palco, este fértil vale do Jacuípe, fronteira natural das unidades desta federação, Alagoas e Pernambuco. Foi para nós, que nos lançamos neste arrojado empreendimento, o período mais significativo da nossa vida. Pesquisando, anotando, estudando, revendo e narrando os vários aspectos que compõem o quadro desde a origem até nossos dias, destes episódios tempos. O cansaço, as noites não dormidas, as intermináveis horas de trabalho, deram nova dimensão e direcionamento a nós, aprendiz da historia. Recebemos estímulo, apoio e a devida atenção de algumas pessoas, mas também recebemos a omissão, o desinteresse e a sonegação de informações de outras. Tudo valeu a pena, porque no primeiro caso nos confortamos e no segundo nos superamos, pelo fortalecimento da nossa crença naquilo que nos propomos realizar. Fomos vencedores. Este modesto trabalho irá representar para a nossa comunidade um ponto de referência. Não somos mais os anônimos transeuntes da massa humana informe e sem coesão, temos domicílio reconhecidamente histórico. Temos os nossos valores expostos e identificadoras de uma comunidade ativa e participativa no contexto. Temos nobreza! Há uma citação bíblica merecedora de ser muito bem analisada e de grande significado ... a eterna mesmice. “Geração vai e geração vem; mas a terra permanece para sempre. Levanta-se o sol e volta ao seu lugar onde nasce de novo. O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; volve-se e revolve-se, na sua carreira e retorna aos seus circuitos. Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr. Todas as coisas são canseiras, tais que ninguém as pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir. O que foi, é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol”... Elesiastes, 4-9

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REFERÊNCIAS

Na fase de pesquisa para a elaboração deste trabalho, consultamos os acervos das seguintes entidades: Arcebispado de Maceió. Arquivo da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo (Colônia Leopoldina) Arquivo Público de Alagoas. Biblioteca Pública do Estado de Alagoas. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Delegacia de Maceió. Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Prefeitura Municipal de Colônia Leopoldina.

FONTES MANUSCRITAS

COLÔNIA MILITAR LEOPOLDINA. Correspondências expedidas, 1851 a 1867, maços 31 e 32, est. 9, do APA. INTENDÊNCIAS E CONSELHOS MUNICIPAIS, 1919-23, 1924-29, maços 76 e 77, est. 5, do APA. LIVRO DE TOMBO – Paróquia de Nossa Senhora do Carmo. FONTES IMPRESSAS Livros AVELAR, Hélio de Alcântara. História administrativa e econômica do Brasil. FENAME – Fundação Nacional de Material Escolar, Ministério da Educação e Cultura. Rio de Janeiro, 1970. DUARTE, Abelardo. Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina nas Alagoas. SERGASA – Serviços Gráficos de Alagoas S.A. Maceió, Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, 1975. ENCICLOPÉDIA BARSA. Companhia Melhoramentos de São Paulo. Indústria de Papel. Encyclopaedia Britannica Editores Ltda., 1970. MELO, Agenor Bandeiras de. Brasil: 150 anos de Independência. DIVULBRÁS Livros Ltda. Rio de Janeiro, 1972. SANT’ANA, Moacir Medeiros de. Contribuição à história do Açúcar de Alagoas. Recife. Instituto do Açúcar e do Álcool – Museu do Açúcar, 1970. SOUZA, Octávio Tarquínio de. A vida de D. Pedro I. História dos fundadores do Império do Brasil. Coleção Documentos Brasileiros, n. 71. Livraria José Olympio Editora. Rio de Janeiro, 1972. VASCONCELOS, Barão de. & VASCONCELLOS, Barão Smith de. Arquivo nobiliárquico brasileiro. Lausanne, Suíça, 1918. VIANNA, Hélio. História do Brasil. Edições Melhoramentos. São Paulo, 1967. 171


Jornais DIร RIO OFICIAL, Maceikรณ, anos de 1923, 1924, 1926, 1936, 1937, 1938, 1945, 1946 e 1947. GUTENBERG, Maceiรณ, anos de 1902 e 1904. JORNAL DE ALAGOAS, Maceiรณ, anos de 1926, 1930, 1938, 1945 e 1946. A TRIBUNA, Maceiรณ, anos de 1901, 1902, 1903, 1904 e 1905.

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