Colônia Leopoldina 30 anos de Lutas Populares por Mudanças e Cidadania - José Francisco de Melo Net

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José Francisco de Melo Neto

COLÔNIA LEOPOLDINA - 30 anos de lutas populares por mudanças e cidadania (1983-2013)

Colônia Leopoldina-Alagoas 2013


COLEÇÃO - COLÔNIA LEOPOLDINA

SÉRIE 1 - Filosofia e História Volume 1 - História imperial e pós-modernidade (alguns elementos de discussão) Alexandre Gilberto Sobreira Sílvio César da silva de Carvalho SÉRIE 2 - Geografia Volume 1 - Colônia Leopoldina (Al): situações político-ambientais Maria Betânia Alves dos Passos Marília Gabriela da C. Gomes José Francisco de Melo Neto Volume 2 - Colônia Leopoldina (Al): situações político-ambientais (v. II) Andréa Marques Silva Elizabete M. do N. G. Veloso Paulo Edson de Araújo Valquíria Maria da Silva José Francisco de Melo Neto SÉRIE 3 - Sociologia e Política Volume 1 - Colônia Leopoldina: 30 anos de lutas populares por mudanças e cidadania (1983 - 2013) José Francisco de Melo Neto


APRESENTAÇÃO

A resistência política, em suas diferenciadas expressões, constitui as não concordâncias de agrupamentos políticos aos ditames de grupos dominantes, sendo produto das contradições do mundo da vida. Também adquire formas variadas, nos diversos lugares onde se realiza, sempre expressando relações de classes sociais. Em especial, na cidade de Colônia Leopoldina, apresenta-se também como ambiente rico de sugestões político-administrativas ao poder público local. A construção concreta de exercícios de cidadania crítica e ativa. Este livro procura apresentar e destacar esses momentos por meio de documentos escritos, portanto, aqueles que precisam não ser esquecidos, fatos dignos de registros, para contribuir com a história do lugar. Uma história para além dos simples indícios de fatos e de mera visão linear da vida, sem as suas contradições. O livro é um registro desses documentos, com a intenção de contribuir à historia da cidade de Colônia Leopoldina, município localizado na Zona da Mata Norte, do Estado de Alagoas, a partir do olhar daqueles que estão fora das decisões políticas dominantes mas que contribuem, decididamente, para a vida política local. Não expressa, como se vê, um mero registro para uma história geral do município, mas assinala expressões escritas da resistência de setores populares que se colocaram em oposição à política dominante local com importantes sugestões para a administração local. É uma contribuição para a organização, cada vez mais forte, de um setor que luta por liberdade pelos seus dizeres, os seus pensares e os seus agires, os setores populares da sociedade. É um esforço e desejo de contribuição às políticas outras que se mostravam e permanecem como alternativas a um poder alicerçado no latifúndio e na cultura da cana, expressando as perspectivas dominantes da sociedade alagoana e do país. É um registro dos registros escritos de agrupamentos populares da cidade, que aparentemente parece não esboçarem qualquer tipo de resistência ao estabelecido, mas que sempre permanecera viva. A pouca existência de qualquer movimento social expressivo popular, traduzida pelo baixo nível de organização social, característica da região e da cidade, não significa a inexistência de contradições políticas em uma região das mais esquecidas pelas


políticas públicas, durante décadas. Contraditoriamente, é um município cercado por duas usinas de açúcar, na Zona da Mata nordestina, com a presença desse operariado e do trabalhador do corte da cana. Situa-se em uma região das mais ricas, economicamente, onde vive um povo dos mais pobres do País. Povo este que tem sido rebaixado ao nível menor as suas condições de cidadania, devido, entre outros aspectos da vida social, a extremada concentração de terras e de riquezas em tão pouquíssimas mãos. Inicialmente, este livro contém esparsos textos, quase perdidos e totalmente esquecidos nos dias de hoje, acentuadamente aqueles da década passada, até os cinco primeiros meses do ano de 2013 que, sem desejos de se ter interpretação única dos mesmos, coloca-os à disposição do leitor para que formule os seus próprios entendimentos, podendo, inclusive, disporem-se ao trabalho de contribuição à busca da cidadania de tantos outros. O papel deste livro é trazer à luz expressões escritas que puderam ser resgatadas de grupos políticos, não necessariamente partidários, de origens populares, que traduzem a não passividade do povo da região, a terra onde corre sangue indígena cumaru, um dos povos antigos moradores das cercanias do Rio Jacuípe, e sangue negro, dos antepassados de Zumbi.

Colônia Leopoldina, maio de 2013. O organizador.


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO. 1. INTRODUÇÃO. 2. TRILHAS INDICIÁRIAS TEXTUAIS DAS LUTAS POPULARES. TEXTO - 1. Convite à reunião partidária – PMDB. TEXTO - 2. Documento de desportistas (Nova Geração). TEXTO - 3. Documento de Grupos Culturais. TEXTO - 4. A difícil arte da política de oposição e de esquerda, em cidades do interior. TEXTO - 5. Colônia Leopoldina: ação cultural no meio rural. TEXTO - 6. Colônia Leopoldina: eleições e lições. TEXTO - 7. Manifesto do Movimento Colônia e Cidadania – MCC. TEXTO - 8. Ata de reunião do Movimento Colônia e Cidadania (1). TEXTO - 9. Ata de reunião do Movimento Colônia e Cidadania (2). TEXTO - 10. Colônia Leopoldina - propostas para a cidade. TEXTO - 11. Vereador é para lutar. TEXTO - 12. Afinal, em quem votar? TEXTO - 13. Colônia Leopoldina: análise de conjuntura política. TEXTO - 14. Carta do MCC à Prefeita. TEXTO - 15. Entrevista com Luciano e Maurício. TEXTO - 16. Entrevista com o Vereador Antônio Timóteo (PT). 3. CONSIDERAÇÕES 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1. INTRODUÇÃO

A cidade tem sua origem em uma colônia militar. Esta fora fundada às margens do Rio Jacuípe com a finalidade de combater perdedores das lutas pernambucanas, embrenhados nas matas da região. Tendo sido, anteriormente, habitada por índios, por antigos escravos, situada no raio de 100 Km das terras de Zumbi, região de quilombolas, as suas serras como a da atual Serra do Catita foram passagens e trilhas de negros em busca de liberdade. Com a instalação da Colônia Militar, nos anos de 1852, surge um povoado que veio depois a tornar-se a atual cidade de Colônia Leopoldina, com aproximadamente 20 mil habitantes, trazendo consigo uma síntese de todas as virtudes e mazelas, produtos culturais dessa tradição. O nome atual é uma homenagem à Princesa Leopoldina, expressando a lembrança de uma passagem do Imperador Dom Pedro II por essas terras, em 5 de janeiro de 1860, tendo sido parte de uma visita às terras de Porto Calvo, fazendo parte dessas terras. Uma visita que muito marcou a vida desse povoado e expressivo fato histórico. Mas a colônia militar encerrara as suas atividades, acompanhado forte decadência econômica e mantendo-se sob jurisdição da cidade de Porto Calvo. Como se vê, uma lugar inventado para combate a “revoltosos” e, necessariamente, trazendo consigo todos os germes de conservação, à época, pela conservação da monarquia e, hoje, até hoje, pela conservação do status quo dominante, germinado desde a origem do povoado. Ainda houve uma outra visita de uma pessoa pertencente à família real, o Dom Pedro de Orleans e Bragança a Colônia Leopoldina para o lançamento do livro do leopoldinense Everaldo Araújo Silva. Um livro1 marcado pela perspectiva histórica fatual, intitulado A COLÔNIA DA PRINCESA, também expressa a simpatia do autor pelas ideias monarquistas, isto pelos idos dos anos de 1983. Nessa esteira de fatos educacionais, também ocorre, em 1998, o lançamento do livro do pesquisador e

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Ver: A Colônia da Princesa. Everaldo Araújo Silva. Maceió, 1.ed. Igasa, 1983.


professor titular da Universidade Federal da Paraiba, José Francisco de Melo Neto, denominado ORGANIZAÇÃO POPULAR, editado pela Editora da Universidade Federal da Paraíba. Este livro é produto de suas pesquisas que mostram os processos de organização do povo, em particular, a evolução do conceito de partido no Partido dos Trabalhadores (PT), em suas lutas para se viver melhor e mais feliz. É com estes fatos de início da década de 1980, com o declínio da ditadura militar, que se inicia um grande esforço de democratização das relações entre as pessoas, entre as pessoas e as instituições, bem como entre as instituições, em síntese, entre a Sociedade e o Estado. Os mais de vinte anos de silêncio, impostos por aqueles ditadores, contribuíram para criar diferenciados processos organizativos políticos, a partir, principalmente, dos maiores aglomerados humanos e da pressão social, produto de instituições da sociedade civil. Por outro lado, em regiões mais afastadas dos grandes centros, como é o caso da cidade Colônia Leopoldina, nas terras de tradições dos canaviais, das casas-grandes e senzalas, da usinagem e escravidão, arrastaram-se e, ainda, continuam em seus lentos processos de promoção de cidadania, em busca dos mais elementares direitos. As imposições do silêncio geram o medo, perdurando ainda. A destruição dessas amarras passa a cobrar maior nível de exigência para a promoção do sujeito e do outro e expõe as relações de alteridade de forma mais aguda. A quebra dessas referências forja caminhos tortuosos de busca de mudanças. Nesses ambientes, as mudanças são esforços de Hércules e com disposição de tão poucos políticos ou grupos de políticos. No Brasil, isto significa os esforços de mudanças, iniciados pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB e depois PMDB), por setores eclesiais da denominada teologia da libertação, pela criação do Partido dos Trabalhadores (PT) e Central Única dos Trabalhadores (CUT), expressando um forte movimento de massas de trabalhadores e, mais presentemente, com o governo do Partido Social Democrático Brasileiro (PSDB), aprofundado, ainda mais, nos Governos do PT. Sentimentos que, de forma diferenciada, passaram a ser iniciados, também, por essas bandas. Os esforços de mudanças localizados em ambientes do interior geográfico, todavia, foram acontecendo de forma muito lenta e gradual, com pouca visibilidade pela própria comunidade onde aconteciam. A região da Zona da Mata, em todo o Nordeste, tem sido profícuo no aparecimento desses movimentos. Mas, aquilo que marca é que o sentido de mudança expressa, apenas, trocas de nomes de figurantes de gestores públicos. Qualquer análise pode mostrar que, quando houve alguma mudança, isto


significa, tão somente, que não passou de simples permutas de pessoas com as mesmas intenções de dominação e da promoção do medo. Na região dos canaviais, em boa parte, ainda perdura a cultura da dominação escravocrata, reproduzida, ainda hoje, em filhos e netos dos antigos senhores das terras e das forças políticas locais, mudando-se pequenas coisas para que tudo se permaneça, mesmo que estejam defendendo distintas siglas partidárias. Diga-se, inclusive, que essas siglas, muito pouco ou nada dizem em nível local, do ponto de vista ideológico e político. O que realmente se põe a cabo são os individuais interesses desses gestores públicos. Interesses estaduais se apresentam sempre posteriormente às eleições de prefeitos. Juntos vão reforçar o jogo ideológico e político nacional dos grupos dominantes nesse cenário, devido à profunda debilidade organizativa dos setores sociais das pequenas cidades praticamente em todo interior do país. Neste livro, apresentam-se produtos escritos de grupos situados à margem desse esquema geral de dominação, produtos de suas análises críticas, em busca de mudanças no ambiente municipal da cidade de Colônia Leopoldina. Traduzem desejos de resistência ao estabelecido. Seus desejos são os algos elementares de conquistas cidadãs, com resultados ainda muito pequenos. Contudo, expressam o movimento político de resistência local, geradores de suas próprias e pequenas lutas que, com suas forças, procuraram apresentar suas propostas e seus desejos. Expressam também seus fluxos e refluxos, tentando sobreviver e conviver como movimentos sociais populares que na expressão de Alder Júlio Ferreira Calado2, " seguem constituindo uma parte decisiva entre os protagonistas dos processos de mudança social". Esses esforços, todos juntos, certamente não foram em vão. Mas, claramente sem ser produto unicamente desse esforço político, que se pode chamar de resistência, consegue-se destronar um grupo político fortemente estabelecido. Grupos que se encastelaram do poder por ciclos de 12 anos, alguns de forma ininterrupta. A vitória da mudança que assume o governo local, nesse ano de 2013, passa a exercer um tipo de política que dificilmente escapará da tradição do estabelecido, considerando suas dificuldades gerenciais, bem como as suas dificuldades de realizar suas propostas pela falta de quadros políticos para a sua efetivação, entre outros aspectos. 2

Ver: Organização Popular - a construção do conceito de partido no Partido dos Trabalhadores. José Francisco de Melo Neto. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 1998.


Os desencontros estão desde o trato com as próprias forças políticas vitoriosas, até com o anseio geral de mudanças imediatas da população. Os gestores eleitos, particularmente aqueles de oposição, encontraram prefeituras em situação de penúria financeira deixadas por seus antecessores. Situação resultante, ora pelo total desleixo para com a prestação de contas de convênios, atrasos em prestações, salários atrasados de servidores, impedimentos de municípios de receberem verbas federais, além de limpeza pública, ora pelo assalto direto ao patrimônio público. Tudo isto contribui para o reforço ao pensamento de que as mudanças, quando assumidas por novos gestores, têm tido significado de apenas a sustentação do município, por meio de cumprimento de leis, sem qualquer desvio das tradições dominadoras anteriormente existentes. Afinal, quem mais deseja o cumprimento das leis que não os próprios detentores da lei, expressando versão equivocada de justiça? Um governo de mudança passa a se identificar, tão somente, com gestão pública alinhada às exigências técnicas, sem a necessidade sequer de transparência pública. O aprovo de câmaras de vereadores carcomidas pela política do „toma-lá-dá-cá‟ e de tribunais que pouco verificam, in loco, as contas públicas já são significados de mudança, considerando o descalabro administrativo de boa parte de governantes. Dessa maneira, o esquecimento às mudanças prometidas em campanhas se diluem no esquecimento geral, em especial, dos eleitos em seu nome mesmo, caindo nos braços da conservação, compondo um quadro de poucas mudanças e sem qualquer tipo de transformação radical possível e necessária, como o exercício para a cidadania crítica e ativa. Mas, por essas terras, ocorreram formas de resistências variadas a partir, às vezes, de instituições religiosas, como a Igreja Católica. Se as formas de resistência estão sendo apresentadas, sacerdotes houve que externaram os desejos de mudanças mais profundas. Pelos seus caminhos próprios, contudo, sempre estiveram refletindo e realizando medidas como foi o caso do Pe. italiano Aldo Giazzon, atuando por uma década nessas terras, como vigário. Com o seu estilo de ação política e pastoral, voltase, conforme o livro Colônia Leopoldina – Situações político-ambientais II 3, “(...) às origens, eis a Igreja Católica Romana moldando e predestinando o modo de vida das pessoas, através de ideias “civilizatórias” com intuito de conversão”, Silva (2011:14).

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Ver: Colônia Leopoldina: situações político-ambientais.Andréa Marques... (et. al.). José Francisco de Melo Neto (org.). João Pessoa: Editora da Universidade Federal da Paraíba, 2011.


No intervalo de 1989 até 1997, há de se destacar o Movimento Estudantil, que teve nesta fase a expressão maior de sua resistência, particularmente com reivindicações educacioatnais, bem caracterizado no livro "A trajetória do Movimento Estudantil Leopoldinense", de José Júnior Amorim. Para o autor, os ideais estudantis, aos poucos, adquiriram " adesões expressivas entre os educandos. Essa corrente vitoriosa expandiuse e surgiu a primeira safra dos líderes estudantis nas escolas do município".4 Desse movimento social destaca-se a criação do Jornal do Estudante que chegou a promover a participação dos mesmos em Congressos da UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas). Dessa forma é que se chegou à fundação de Grêmios Estudantis, com promoção de debates estudantis, promoção de eventos culturais e participação na UESA (União dos Estudantes Alagoanos), até a criação da UMEL (União Municipal dos Estudantes Leopoldinenses) - o ponto alto da organização estudantil local, mobilizando-se em busca de biblioteca pública e, em especial, em defesa " de uma política educacional de boa qualidade". Vale destacar na esteira das lutas por cidadania, a criação do sindicato dos servidores públicos locais. Um movimento, que chegou a promover greve sem a organização e sem representação formal, é criado no ano de 2003, depois de intensas articulações e promessas de perseguição: o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Colônia Leopoldina - SINSEPMCOL. Até o ano de 2013, governos que passaram contribuíram pouco quando não combatiam diretamente os processos organizativos da sociedade, enquanto grupos variados como religiosos, monges, sindicato rural e sindicato municipal foram os responsáveis por algum nível de mobilização local, com alguma ênfase para os trabalhadores rurais, em especial na década de 1990. Já na década de 2000, aparecerem novos atores em cena na política leopoldinense - destaques à criação do Grupo Colônia e Cidadania. Este grupo se esforça por agrupar pessoas em busca de conquistas cidadãs; um grupo desejoso de se tornar um movimento permanente de lutas por cidadanias, sem cor partidária e coloração religiosa, luta para poderem se tornar vozes ouvidas pela política local. Mas, os desejos de mudanças continuavam, expressos em textos e em ações reivindicatórias específicas como pouco conhecidos. Neste livro, aparecerão aqueles textos que foram divulgados, desde convites à reunião partidária, passando por reuniões 4

Ver: A Trajetória do Movimento Estudantil Leopoldinense. José Júnior Amorim. Grafnobre, Colônia Leopoldina, Al, 2011.


de grupos, textos reivindicatórios encaminhado ao prefeito, à época, por grupos constituídos como produtos de ações culturais, além de um texto de uma pesquisa em nível de mestrado5. Os textos que vão seguindo se constituem em expressões de resistência, mesmo simbólica, traduzidos por análise de conjuntura até os três meses iniciais do Governo de mudança local, sob a tutela do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), acompanhado de uma aliança com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), o Partido Social Cristão (PSC), o Democratas (DEM) e o Partido dos Trabalhadores (PT). Uma composição de forças que fez a gestora eleita perder, desde o início, a Presidência da Câmara, tida como necessária para o cumprimento de seus planos, momentos antes de sua posse. Críticas mais severas há, passando pelo nepotismo. Em apenas 4 meses de governo, são várias as acusações de empreguismo, e as críticas sobre redução drástica de salários de servidores públicos municipais. Ora, os anos de mandato seguintes são para a recuperação de todos esses desgastes. Os textos foram mantidos em sua integralidade, mesmo que alguns já tenham sido divulgados na cidade ou em compêndios. Também estão contidos em coletânea como a Coleção Colônia Leopoldina, constituída, até o momento, de três volumes de autores da cidade ou de temáticas sobre a cidade.

QUE MUDANÇAS?

Mas, de que se trata ao se falar de mudança num ambiente de interior, na Zona da Mata Norte, no Estado de Alagoas? Claro que a resposta passa por relações entre o humano e o meio ambiente, inclusive tão degradado como mostram dois livros sobre as situações político-ambientais da cidade. Como bem mostra o livro Colônia Leopoldina, situações político-ambientais, vol I, a situação de existência humana, inclusive a local, passou por três momentos importantes da vida, como sendo sociedade coletora de caça e pesca; sociedade agrícola e sociedade industrial6. Ao que mostram as autoras, esses

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Ver: Ação cultural no meio rural – uma experiência em Colônia Leopoldina, realizada em 1982/83, dissertação de mestrado em Educação, pela Universidade de Brasília. 6

Colônia Leopoldina – situações político-ambientais, Vol I. Organização dos autores: Maria Betânia Alves dos Passos; Marília Gabriela da C. Gomes e José Francisco de Melo Neto. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.


momentos foram vividos em sua plenitude pelos povos que habitaram a região, com destaques ao momento atual, com duas indústrias açucareiras em pleno funcionamento. Mas, é importante destacar a situação precária nas relações entre a sociedade e Estado, expresso em como se processam os tratos com a Prefeitura. A figura do Gestor Público aparece como centralizadora em todas as situações relacionadas à vida da população. Uma luta por cidadania é, necessariamente, num ambiente de tal servidão e distanciamento de conquistas de liberdade, qualquer busca política. Quase qualquer atitude nessa direção pode ser apresentada como momento de mudanças importantes. É possível observar-se o quão as coisas da vida do lugar são tratadas de forma tão totalitária pelo governo de plantão. Até mesmo o desejo de se fazer um grupo de qualquer esporte passa, necessariamente, por um aprovo do poder centralizador de um Prefeito. Mesmo assim, não se conseguem esconder as relações de classes tão profundas, marcadas por aqueles que estão no trabalho do corte da cana, operários de ambas as indústrias açucareira e minifundistas: a classe trabalhadora. Pequenos comerciantes e funcionários públicos dando forma aos setores médios da sociedade e concentrando toda a riqueza e o poder político e econômico, em um ou dois usineiros do lugar. Um governo municipal se mostra, talvez, na expressão de Claude Lefort, como egocrata, em que se governa acima das regras estabelecidas, concentrando em si a potência social, aparecendo como se nada existisse fora dele mesmo. O governante local passa a ser o ego absoluto da sociedade, sem aceitar qualquer tipo de resistência7. Mas, é importante salientar que, nesse percurso da crítica, após 30 anos de políticas de resistência e busca de cidadania com os trabalhadores, o PT consegue eleger o seu primeiro vereador, dando ênfase à participação popular e compromissos radicais com a mobilização dos próprios trabalhadores. Um algo de importância relevante para os processos organizativos das pessoas, com a perspectiva de busca de cidadania e comprometido com as lutas pelas mudanças necessárias. Diante dessa situação, a condição de criticidade se põe fora de qualquer possibilidade. A capacidade de pensar criticamente desaparece por completo e, consequentemente, está destruída a condição para liberdade pessoal. Há muito está aprisionada pelas necessidades de condições materiais a que muitos estão submetidos

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Ver: História das Ideias Políticas. François Chateler e all. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2009.


assim como totalmente desaparecida. Anaina Clara de Melo, ao analisar pensadores frankfurtianos8, explicita que as dimensões de universalidade necessárias às dimensões do mundo da vida das pessoas, em ambientes dessa natureza interiorana e permeada de autoritarismos, adquirem essas condições sem existirem como tal. Isto faz com que o local seja o dominante na relação de pensar o outro e de se pensar. O mundo fica reduzido ao local. Este fica impedido de ver a dimensão de universalidade tão importante para Slavoj Zizek9, do ponto de vista conceitual, e mostra que este universal é o conteúdo que entra no ser mesmo da pessoa, e “adquire existência real” (p. 213), a construção da subjetividade, diferentemente do particular que o aprisiona e o impede da reflexão crítica. As condições de mudanças possíveis pela realização do diálogo ficam pulverizadas, subsumindo a organização dos saberes populares em prol de melhorias de suas próprias condições de vida, perdendo, conforme Roberto Mauro Gurgel Rocha10, o situar-se no mundo de forma histórica, cultural, econômica e política. Ou, no dizer de Freire 11, no estilo de educação tão opressora como acontece cotidianamente, tanto na escola como fora dela, introjeta-se no oprimido as formas distintas de expressão do opressor. As mudanças de desejo para região ou mesmo outra qualquer situação geográfica passa por mudanças de comportamento nas relações das pessoas. Ora, do ponto de vista da economia, a mudança poderia passar pelas condições de possibilidade de gerenciamento dos próprios empreendimentos econômicos, preferencialmente em regime de autogestão. Neste estilo, as pessoas tornam-se sujeitas de seus próprios mundos econômicos, lutando e administrando, sem intermediários, os seus negócios. Aí, os governos precisariam olhar com mais interesse os projetos em economia solidária como os que ocorrem em todo país e no mundo, a exemplo do que ocorreu na Usina

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Ver: Escola de Frankfurt – diálogos. Anaina Clara de Melo. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2008. 9

Ver: Menos que nada. Hegel e a sombra do materialismo dialético. Slavoy Zizek. Tradução de Rogério Bettoni. São Paulo, Boitempo Editorial, 2013. 10

Ver: Extensão Universitária – diálogos populares. Vários autores. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2002. 11

Ver: Pedagogia do Oprimido. Paulo Freire, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1987.


Catende, como mostra José Francisco de Melo Neto, no livro Usina Catende – para além dos vapores do diabo12. As mudanças, do ponto de vista da gestão pública, sugerem novas relações comportamentais entre os servidores públicos e as pessoas que precisam dos serviços públicos, particularmente no campo da saúde. O atendimento é que faz possível a transcendência desde que seja promotor do outro, em respeito à alteridade das pessoas da comunidade. Nesses escorchantes despreparos para o atendimento ao público, esse público é a classe trabalhadora, cuja situação de cidadania tem sido mais vilipendiada. Seria possível a promoção de um profícuo debate quanto aos desejos e anseios, muito para além da palavra vazia, mudança, como um algo totalmente sem seus determinantes, portanto uma mera abstração. Dessa maneira, tem pouca valia como uma perspectiva de outro estilo de se viver. Finalmente, poder-se-ia pensar as mudanças necessárias no campo da educação. Muito para além das simplórias discussões conteudísticas no interior das escolas, com os seus profissionais, se carece de uma reviravolta na própria educação. A prioridade passaria pelos princípios da educação popular, como expressão filosófica de se ver o mundo em mudança, com pedagogia e metodologia próprias, com mecanismos de avaliação específicos e distantes dos que se usam no momento. Uma educação popular que, na visão de José Francisco de Melo Neto13, é uma educação política, sem ser partidária, direcionada para conquistas cidadãs e éticas, como a luta por liberdade, solidariedade, igualdade e em busca de felicidade.

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Ver: Usina Catende – para além dos vapores do diabo. José Francisco de Melo Neto e Lenivaldo Marques da Silva Lima (orgs.). Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010. 13

Ver: Educação Popular – enunciados teóricos. José Francisco de Melo Neto. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2004.


2. TRILHAS INDICIÁRIAS TEXTUAIS DAS LUTAS POPULARES.

TEXTO 1. CONVITE À REUNIÃO PARTIDÁRIA - PMDB14

(Diretório Municipal do Partido do Movimento Democrático Brasileiro) CONVITE Os resultados das eleições terão sobre o PMDB resultados contraditórios. Se um lado há lutas em nível interno, no nível externo elas serão muito duras e difíceis de serem encaminhadas pela oposição vitoriosa. A oposição, em especial o PMDB, foi responsável pela fragorosa derrota ao PDS, o partido da exploração, em aproximadamente 10 milhões de votos a mais. Fomos os grandes vencedores no país. Temos nas mãos os mais importantes estados brasileiros. Sabemos que os vencedores nestes estados não foram os melhores na oposição do PMDB. Foram eleitos muitos namoradores do poder de Brasília. Assim, é que temos de ter claro que tem-se de se superar as divergências internas e, por outro lado, vermos as dificuldades que estes companheiros governadores terão em suas administrações. Ora, companheiros, é este saldo positivo nacional para as oposições que deverá nos mover daqui adiante. Se Colônia é dominada há muito pelo PDS, mas o país como todo quebra estas amarras e aí é que temos que acreditar em mudanças e, sobretudo sustentar e melhorar nossa organização interna do Partido para que essas mudanças aconteçam. Nesta direção é que sentimos a necessidade de iniciarmos uma melhor preparação política de todos os companheiros, nós aprendendo conjuntamente, a entendermos melhor nossa realidade. E discutindo é que aprenderemos juntos a melhor forma de nos mantermos “vivos” e intervir nesta realidade de Colônia. 14

Documento do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). No início, o partido da resistência à ditadura militar de 1964.


Daí é que segue um programa para iniciarmos uma discussão interna no nosso partido. Interna agora, mas que pensamos abri-la para toda a comunidade posteriormente. - OBJETIVOS - Reforçar a organização do partido. - Colher novas propostas para crescimento do partido. - Preparar politicamente a militância partidária. - Tornar o partido de oposição operário-popular. - CONTEÚDO DAS REUNIÕES - O POVO E A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA. - A POLÍTICA ANTES DE 64. - A POLÍTICA DEPOIS DE 64. - OS PARTIDOS HOJE. - CRONOGRAMA Dias: 7 a 10 do corrente. Horário: 20:00 às 21:30 Local: Travessa Clodoaldo da Fonseca, s/n (casa de Dedé). - ESTRATÉGIAS  Discussão em grupo.  Curtas exposições. - MATERIAL UTILIZADO  Projetor de slides  Slides  Boletim de divulgação - AVALIAÇÃO  Coletiva – Durante e no final das reuniões. Colônia Leopoldina, 3 de fevereiro de 1983.


TEXTO 2.

DOCUMENTO DE DESPORTISTAS (Nova Geração) 15 APRESENTAÇÃO As propostas para o Desporto Leopoldinense contidas neste documento são propostas apresentadas pelo grupo de atletas do NOVA GERAÇÃO ESPORTE CLUBE. O NOVA GERAÇÃO é uma equipe criada a 15 de março de 1981 e reativada a partir do segundo semestre de 1982. Sua força está em seus atletas. Existe em função dos mesmos. Suas decisões são tomadas todas em assembleias dos atletas. Tem direção, sim, mas ela existe para fazer cumprir o que todos decidiram. E fora discutindo os problemas da equipe que se chegou a discutir os problemas do esporte leopoldinense. Mas não só discutiu como também propôs o que fazer. E em assembleia marcada para esse fim, realizada no dia 19/03/83, resolveu-se encaminhar estas propostas ao executivo municipal. Finalmente, o documento foi lido e aprovado em reunião. Teve-se o cuidado de não se eliminar nenhuma proposta de nenhum atleta. O que segue é o fruto de todo empenho de todos que compõem esta equipe.

Colônia Leopoldina, 3 de abril de 1983

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Reivindicações apresentadas ao Prefeito José Luiz Lessa, proprietário da Usina Taquara, por desportistas do Time de Futebol - Nova Geração.


NOVA GERAÇÃO ESPORTE CLUBE FUNDADO EM 15 DE MARÇO DE 83 COLÔNIA LEOPOLDINA – ALAGOAS

(proposta para o esporte leopoldinense, do conjunto de atletas do Nova Geração Esporte Clube) 16.

INTRODUÇÃO Construir uma civilização que não sucumba, que não se desmorone diante da hora de não ter o que fazer se apresenta como uma das metas dos povos. Tudo isto conduz ao que se está necessitando, o imperativo para investimento em instituições que cuidem da formação do caráter das pessoas. Os clubes desportistas são ambientes também dessa educação; são ambientes onde se dá este processo educativo. É também pelos clubes que serão preenchidas as horas de lazer da mocidade. Portanto, os clubes desportistas devem ser contados nessa busca pela formação de caráter das pessoas e elevando também o senso e a necessidade de trabalho coletivo. Este imperativo se faz há muito tempo necessário haja vista que Rui Barbosa, em seu discurso no senado, em 13 de outubro de 1896, já mostrava que a grande desgraça que penetra no homem pela algibeira e arruína seu caráter é o jogo; o jogo na sua acepção usual: os naipes, os dados, a mesa-verde. Tudo isto decorrente entre outros fatores do ócio da juventude, da criança. Ainda assim, sabemos da proibição dos jovens adolescentes e crianças em estabelecimento de jogos. Mas como faremos cumprir? Os jogos estão de portas abertas nas cidades, nos campos, aonde se for. Já vivemos desde a infância nesta atmosfera. Sim, tudo isto é verdade. Isto se torna agravante em regiões como a nossa, onde as horas de lazer são horas de “não ter o que fazer”. Se elas não são preenchidas, aí sim, mais florescerá o jovem sem perspectiva de vida, uma característica observada na nossa juventude leopoldinense, comprovada por observações também dos religiosos locais. Ocupar essas horas parece-nos ser urgente tarefa para os dias de hoje.

16

Propostas definidas na reunião do dia 19 de março de 1983.


O que temos visto ultimamente é um efetivo aumento de criminalidade e de violência; e aqui está claro que não é com aumento de efetivos policiais que se resolverá o problema. O efetivo policial aqui aumentou. O que observamos é que, diante das condições sociais que se têm no país e, sobremaneira no nosso município - arrocho salarial, desemprego, concentração de renda, sobretudo nas macro empresas de caráter internacional, as condições de miséria absoluta de muitos lares leopoldinenses - os dados sobre criminalidade e violência crescem cada vez mais. Assim, precisamos ir mais além: a Colônia Leopoldina já precisa de representação de outra ordem que não a apresentada. É urgente uma dinâmica nunca vista aqui. Na ocupação das horas ociosas, faz-se necessário o esporte no seu papel também de construir a outra Leopoldina através de seus jovens. O papel da educação física advinda pelo esporte terá seu papel no aperfeiçoamento físico em qualidades particulares como SAÚDE, pela resistência às moléstias; AGILIDADE, pela agudeza dos sentidos e movimentos; VIRILIDADE, pelo desenvolvimento de vontade e consciência coletiva como em si mesmo; MORAL, pelo despertar do senso da solidariedade, iniciativa, moldando-se à perseverança no trabalho. Esta nova prática desportiva, a Nova Educação Física, como mostra o professor americano I. Fischer, em Vida Sã e eficiente, deverá preparar o homem para esta nova era. Um homem equilibrado e consciente de si mesmo, tendo claro o seu papel na sociedade; homem de iniciativa. A nova educação física, continua I. Fischer, deverá orientar para que este homem assuma parte que lhe cabe na construção de sua história. Ela deve ser objetiva, pondo fim ao antigo subjetivismo. A Nova Educação Física, o novo desporto, deverão orientar para uma consciência social, exigindo do indivíduo preocupação com o bem coletivo, como diz o professor Paulo Nogueira, em seu livro, Clubes esportivos.

O ESPORTE EM COLÔNIA LEOPOLDINA Diante das considerações de ordem geral apresentadas, temos de pisar no chão e analisar o “concreto”. O concreto para nós desportistas leopoldinenses é nosso esporte. Para tanto, observando a história do esporte local, vemos que, no fundo, ele não tem história. Ter história significa construir história. O nosso esporte, em momento algum, deixou qualquer história. Jamais escreveu-se uma única página de suas atividades.


Ao analisá-lo, vamos encontrar uma pequena citação de sua existência num trabalho da professora Anita hoje professora do Grupo Aristeu de Andrade - sobre a história de Colônia Leopoldina em que um time fora criado lá pelos findos de 1949. Daí para frente não temos notícias de sua atuação e muito menos fora escrito algo pelos seus componentes. Ainda, na busca de algo encontrar sobre nosso esporte, no livro de Everaldo Araújo Silva, A Colônia da Princesa, vamos observar que o esporte não tem citação alguma. Isto nos leva a concluir o que já afirmamos: que somos uma gente sem escrita esportiva e, portanto, sem história esportiva. Hoje, temos duas equipes básicas no município: uma é o Nova Geração Esporte Clube. Esta equipe, diante de todas as dificuldades locais, busca existir com a colaboração de seus próprios atletas. Uma iniciativa importante para o desporto da cidade. Esta equipe se reúne regularmente e discute não só as questões específicas da equipe, mas o esporte em Colônia. A outra equipe é a do Sport Club Leopoldinense. Conhecemos outras equipes de nomes desconhecidos formadas por garotos que merecem uma especial atenção por todos. O Nova Geração Esporte Clube conta com 34 atletas inscritos no seu quadro. O esporte leopoldinense tem características muito peculiares para a região da Zona da Mata. Ele está totalmente desorganizado como equipe oficialmente registrada, com estatutos, regulamento interno sem uma clareza do papel do esporte na sociedade; portanto, sem um programa expresso de atividades. Limita-se a reduzidas partidas de futebol. Além de ser reduzido a um único tipo de esporte: o futebol. Este futebol só acontece nas épocas de verão, a época da safra de cana na região. Está ligado ao ciclo econômico regional. Outra fundamental questão é que o esporte, não tendo se construído como equipe, os atletas não sustentam sua organização. Os times pertencem a A ou a B que possuem uma bola ou um terno de camisa (que já ganhou na época da eleição de algum candidato). Estes se estendem como os donos dos times e mandam como bem entendem, até que acabam a bola ou o padrão de camisas e o time está desfeito; aliás, nunca existira. O Nova Geração Clube tem tentado se construir fora deste corredor. Até agora vem se mantendo mesmo com muitíssimas dificuldades, mas se mantendo com suas mãos. Tem-se direção sim mas não se tem donos do Nova Geração, afirmam os atletas. Suas reuniões, assembleias é que decidem suas questões.


Até agora, as afirmações tem sido baseadas mais em nossas observações do dia a dia esportivo. Porém em recente pesquisa realizada sob coordenação do professor José de Melo Neto,* temos nossas observações ratificadas em dados e vejamos: Uma discussão sobre o que o Leopoldinense acha de se praticar o esporte: % Importante Sem importância

71,1 3,6

Não sabe

10,7

Não respondeu

13,6 100,0

O que vemos é que o Leopoldinense, residente na cidade, sente a necessidade do esporte na vida de seu filho, criança, jovem ou adulto. Pode não saber expressar de maneira científica, mas está claro a sua importância na sua vida. Aqui vai uma pergunta: temos então, o esporte? Vemos que no fundo, no fundo, nunca tivemos esporte no nosso município e por incrível que pareça, o leopoldinense se mostrou um desportista. Mas esta pergunta também foi discutida na mesma pesquisa e vejamos: Uma discussão sobre se existe esporte em nossa cidade: % Não

41,5

Sim

17,1

Só futebol

17,1

Não sabe

13,6

Não respondeu

10,7 100,0

*

Pesquisa orientada por equipe de quatro professores da Universidade de Brasília e processada em computação da mesma Universidade código SAU-J MELO NETO-0732-DATE:MAR 3, 1983.


Estes dados vêm nos ajudar na análise histórica feita sobre o esporte aqui. Está patente sua inexistência na nossa cidade, não só a 30 anos atrás, mas hoje mesmo não há. Uma menos exigente análise nos conduz à existência de uma rudimentar prática do futebol. Não podemos mais escantear esta questão. Não podemos mais fingir que ela inexiste. Estes dados também denunciam a existência de uma grande margem de leopoldinenses que nada sabe sobre esta questão. Estas são as questões que hoje discutimos em reuniões de desportistas do Nova Geração. Baseados em problemas que sentimos na equipe, refletimos sobre que esporte, que divertimento tem o jovem leopoldinense? Enfim, será apenas andar pelos campos o esporte da criançada? Será praticar esporte o matar o tempo na esquina do centro da cidade? Há oportunidades para diversão? Fomos refletindo, discutindo, que chegamos a sugerir propostas.

ENFIM, NESTA REALIDADE, QUE FAREMOS?

Da reflexão sobre estas questões, partimos para executar tarefas que refletiam sobre nossa própria equipe: organização interna da equipe, preparo físico... Outras questões surgiram e sentimos que não tínhamos forças para solução. São questões de ordem geral e que conduzem diretamente à intervenção da administração pública municipal. Assim, resolvemos pensar um pouco mais nas nossas reuniões e tiramos as seguintes propostas que resolvemos encaminhá-las ao Executivo local. Organizamos nossas propostas em dois aspectos17: aspectos quantitativos, e dizem respeito ao incremento em termos de quantidade do desporto local, e aspectos qualitativos, dizem respeito à melhoria do desporto. Vejamos a seguir, reivindicações sobre ambos:

a) ASPECTOS QUANTITATIVOS Primeira 18

17 18

Todas as propostas, entretanto, se interrelacionam. A ordem apresentada também reflete a ordem de prioridades.


DOAÇÃO DE UMA SEDE COLETIVA PARA OS CLUBES ESPORTIVOS EXISTENTES, MESMO SEM REGISTRO EM CARTÓRIO.

Considerações a) o espaço físico para os atletas é uma das grandes necessidades. Aqui, no campo de futebol, não se tem local de vestir a roupa do jogo. Não há local para reuniões dos times. Esta pode ser a primeira grande providência a ser tomada; b) o patrimônio desta sede seria mantido para a Prefeitura, porém, era da competência dos clubes a sua administração. Como fazê-la, é uma discussão para os times resolverem entre si; c) esta sede dará condições para que os clubes possam exercer seu papel também de educadores, questão levantada no 1o parágrafo do texto.

Segunda MELHORAMENTO

NO

CAMPO

DE

FUTEBOL

EXISTENTE,

ADEQUANDO-O PARA PRÁTICA DE VÁRIOS ESPORTES. Considerações a) com uma melhor exploração do atual campo de futebol, ampliando-o em toda sua extensão, poderão ser aproveitadas áreas laterais para prática de outras modalidades esportivas; b) há condições de implantação de modalidade de esporte que exija, inicialmente, menores despesas e, posteriormente, outros esportes com maior exigência técnica; c) diversificando, inicia-se a ocupação de nossos jovens e crianças, reduzindo o poder do “jogo de azar” como única opção que há para o lazer, na cidade.

Terceira CONSTRUÇÃO DE OUTRO CAMPO DE FUTEBOL.


Considerações a) esta reivindicação também se alicerça na pesquisa já citada, neste nível de proposta, que é mais difícil, apenas 28,1% da comunidade tem propostas, tendo esta um percentual expressivo de 7,0%, destes 28,1%; b) ampliar o espaço de futebol e incentivar a formação de mais equipes.

Quarta CONSTRUÇÃO DE QUADRAS: FUTEBOL DE SALÃO, VOLEIBOL E BASQUETEBOL. Considerações a) esta é uma proposta mais ambiciosa que as anteriores e sabemos que uma quadra apenas não soluciona nossas necessidades; b) esta proposta vem de 15% da população, que propôs algo para o esporte, segundo pesquisa citada; c) leques para várias opções para a prática do esporte amador local; d) aqui se ataca mais profundamente as questões do jogo, criminalidade, violência, considerando o processo de amizade coletiva que o esporte desenvolve.

Quinta CONSTRUÇÃO DE GINÁSIO PÚBLICO FECHADO PARA TODOS OS ESPORTES. Considerações a) esta proposta é um tanto quanto abrangente e a mais ambiciosa. Mas é uma proposta dos atletas que já vê longe. Afinal, inicia-se hoje a preparação do jovem do ano 2000;


b) o jovem leopoldinense sente a necessidade de como a cidade de Colônia se apresenta para os visitantes: como uma cidade que tem em torno de 7.000 habitantes.

O segundo aspecto de propostas relaciona-se a aspectos qualitativos, e nos conduz à melhoria do desporto:

b) ASPECTOS QUALITATIVOS: Primeira CONTRATAÇÃO DE PROFESSOR GRADUADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA.

Considerações a) a necessidade é grande de um orientador da prática desportiva: um curioso não serve. É necessário alguém que conheça a prática do desporto e que desenvolva a nova prática desportiva descrita anteriormente. O profissional dessa área é um professor de Educação Física, graduado nesta disciplina; b) este professor seria útil também às escolas do município, que têm obrigação de prática desportiva conforme a Lei de Ensino 5692/71; c) a importância desta proposta é que, desde a infância, iniciar-se-ia uma prática correta do esporte; d) um atendimento aos clubes desportivos, ao passo que os mesmos iam tendo reforço na sua função de educador; e) o desempenho desses desportistas geraria, também, futuros treinadores práticos nossos; f) de maneira indireta, contribui para as questões de perspectiva de vida do jovem leopoldinense e, subjetivamente, ocupando os lugares da violência e falta do que fazer; g) acabaria, de uma vez por todas, com o problema dos times nossos aqui: a falta de preparação física por falta de um orientador desta prática;


h) a educação esportiva dos atletas ganharia bastante com o estudo das regras e táticas dos diversos esportes; i) será imprescindível para implantação de novas modalidades esportivas.

Segunda FOMENTAR NOVOS ESPORTES. Considerações a) esta proposta diz respeito à prefeitura assumir uma campanha maciça para incentivar a população, sobretudo, a juventude, à prática desportiva. Neste processo, convocar-se-ia também a população a participar; b) toda uma campanha montada a partir das escolas existentes, proposta dada por 6,4% da população e encampada, também, pelo Nova Geração; c) um processo desta ordem, todo cidadão pode participar e aproveitar os benefícios de seu trabalho.

CONCLUSÃO Senhor Prefeito, sabemos que não será só pelo esporte que resolveremos os problemas citados do nosso município; ou ainda, executando um plano para o esporte, eles não deixarão de existir. Sabemos que não são só estes os problemas deste município. O esporte, possivelmente, nem seja prioritário para ser resolvido. Acreditamos que a educação e saúde devam estar na frente em uma ordem de prioridade. Entretanto, a educação esportiva também faz parte da prioridade EDUCAÇÃO. Sabemos também, através do “disse-me-disse”, sobre o injustificado caos financeiro por que passa este município ora sob a direção de Vossa Excelência. Por outro lado, saiba V. Exm. que, pela primeira vez, um grupo de esporte apresentou uma série de propostas para o esporte leopoldinense. Fizemos isto por entender que deverão sair dos desportistas as propostas do esporte. Estas apresentadas, sem dúvida, são bastante amplas. Merecem um maior aprofundamento. Elas servirão de subsídio para uma política desportista para Colônia,


na elaboração inicialmente de um plano do Desporto e, em seguida, estruturação de PROJETOS vários dentro deste plano geral. Aqui estão opiniões e dados. Opiniões alicerçadas, mais das vezes, com dados de nossa própria realidade. Mostramos o real da cidade. Acreditamos voltar mais vezes a discutir a questão do esporte com V. Exma. Discutir para executar. Colônia Leopoldina, 3 de abril de 1983.


TEXTO 3. DOCUMENTO DE GRUPOS CULTURAIS19

APRESENTAÇÃO A cultura leopoldinense é algo que deve preocupar a todos conterrâneos. Nossa cidade, hoje, tem um compromisso com este Estado de Alagoas, com a Zona da Mata, que não é apenas de caráter só econômico. A cultura de nossa terra terá de também exercer a sua força sobre esta região, sobre este Estado. Este papel tem que ser assumido por todos nós, pois é o espaço cultural que temos também de ocupar e que não estamos ocupando. O documento que surge é o compromisso de artistas locais que compõem a Banda de Zabumba São Sebastião, Grupo pró-reativação dos Guerreiros e Grupo de Arte em resgatar a cultura nossa que vem, pouco a pouco, desaparecendo. Aqui estão propostas, tiradas de reunião dos três grupos, que serão apresentadas também ao prefeito municipal, bem como a toda comunidade.

Colônia Leopoldina, 1 de maio de 1983

Componentes da Banda de Zabumba São Sebastião Componentes do grupo pró-reativação dos guerreiros. Componentes do Grupo de Arte.

19

Reivindicações apresentadas ao Prefeito José Luiz Lessa, proprietário da Usina Taquara, pelos Grupos vinculados à cultural local - Grupo de Zabumba, Grupo pró-reativação dos Guerreiros e Grupo de Arte.


1 – A CULTURA

Não temos interesse de, neste documento, dissecar conceitos de cultura ou mesmo questionar seus múltiplos enfoques. Trabalharemos com o conceito de cultura: tudo aquilo que o homem faz no sentido de expressar o que sente de sua realidade. Diante da situação da cultura brasileira, vamos ver que estamos diante, hoje, da conhecida “indústria cultural”. Esta indústria que compreende o conjunto de processo de produção e comercialização de mercadorias culturais. Mas, muitos dos elementos da cultura, como ideias, valores, noções, princípios etc. não podem concretizar-se como mercadorias. Para isto, a indústria cultural compreende duas ordens de produtos culturais. Uma ordem montada no livro, jornal, revista, rádio, televisão, teatro, cinema, xerox etc. Vários elementos que materializam ideias, valores etc. Uma segunda ordem que compreende o sistema de comunicação, ensino e propaganda. E aí vem uma gama de organizações físicas, empresas, estabelecimentos, técnicas em informação, processamento de dados e também comumente permutando essas técnicas, decisões e implementação. Ficamos todos sitiados dentro dessa estrutura. Complementando com dados estatísticos, vejamos:20 a) Há no Brasil, cerca de mil estações de rádio e mais de 75 de televisão; b) Imprensa escrita: em números aproximados, 280 jornais diários, 1.000 publicações mensais e semanais e 700 revistas da mais variada natureza. c) É muito comum, quando se fala da indústria cultural no Brasil, omitir-se completamente o setor da edição de livros. De fato, em termos numéricos, essa área é tão reduzida no Brasil que não entra no cálculo da cultura de massa, mesmo considerada em nossos padrões. d) A maioria esmagadora dos veículos de comunicação excetuando-se as editoras de livros e as emissoras ditas educativas, vive essencialmente da publicidade. Os jornais brasileiros dela dependem numa percentagem não inferior a 80%, e as emissoras de rádio e TV dependem da publicidade em 100%. Esses veículos colocam-se assim, claramente, numa posição de

20

O que é a Indústria Cultural. Teixeira Coelho, p. 80-83.


dependência absoluta em relação aos interesses de seus anunciantes e dos intermediários, as agências de publicidade. e) Com todos esses números, no entanto, cerca de 20% da população brasileira não ouve rádio; 50% não vê televisão e pelo menos 80% não lê jornal ou revista. f) Assim como o livro, o cinema e o teatro não são, rigorosamente, veículos de comunicação de massa no Brasil.

2 – A CULTURA DE COLÔNIA Da história da cultura leopoldinense21 podem ser observados os seguintes traços: Logo na introdução da Cultura Leopoldinense no livro de Everaldo, este leopoldinense fez a seguinte observação: “Todo o conjunto de manifestações espontâneas vamos encontrar nas artes e nas letras que em épocas passadas, não foram registradas pelo pouco ou nenhum valor dado e também pela falta de incentivo, pois tais coisas não eram e não são merecedoras de estímulo e reconhecimento, o que é lastimável”. Uma introdução que conduz à reflexão de cada leopoldinense, de cada pessoa compromissada com esta terra, sobre o papel de cada um em alterar este nosso quadro cultural. Sabemos que pelos anos vinte fora criada a Filarmônica 16 de Julho, sob a direção do maestro Sabino Souza. Esta acabou não sabemos quando. Outra banda ressurgiu na década de 60, agora com o nome do maestro Sabino Souza. Hoje também não existe mais. No campo literário, Everaldo ressalta os trabalhos do jornalista Euzébio de Andrade e Severino Pinto, porém desconhecido do nosso meio e das nossas escolas. Na arte pirotécnica, ressalta também os nomes de Manoel Praiba e Chico Machado, com seus famosos balões de maio. Esta arte também não resistiu.

21

Estes traços podem ser encontrados nos seguintes trabalhos: 1. História de Colônia Leopoldina – professora Anita Borges. Mimeo. 1975. 2. História de Colônia Leopoldina – Brochura mimeografada de autora não citada no trabalho. Casa paroquial, 1975.


As manifestações mais importantes do ponto de vista folclórico e de caráter social são, entretanto, o Coco de roda; o Reisado; os Guerreiros; A banda de zabumba São Sebastião e Pastoril e, em menor expressão, as Cavalhadas. Podemos ressaltar o trabalho de desconhecidos leopoldinenses que no anonimato têm contribuído para o sustento de nossa cultura como participantes de todas as formas de expressão cultural apresentadas. Mas o que sentimos, sem análise alguma mais aprofundada, é a seguinte constante: “o não continuar”. E vejamos: a) Década de 20 constitui-se a Filarmônica e se acaba posteriormente. b) Década de 60 retoma a Filarmônica e se acaba de novo. c) A cultura esportiva (o futebol) tem característica semelhante. d) A arte pirotécnica desapareceu com a morte dos fogueteiros. e) As cavalhadas se acabaram há muito. f) O coco de roda; o reisado; os guerreiros e pastoril estão ainda na lembrança de todos. g) A própria educação apresenta comportamento bastante estranho no nosso município. Ora, em todos os municípios temos a educação formal sempre crescente. Instala-se a 1a fase (primário), 2a fase (ginásio) e depois o 2o grau. E aí se mantém. Em Colônia, temos: até 1960, a 1a fase. Ainda nesta década, monta-se o 1o grau completo. No final da década de 60, monta-se o 2o grau. Até aqui, um percurso normal e crescente. Posteriormente, desaparece o 2o grau, ficando apenas o 1o ano e, em 1982, funciona o 2o ano de Magistério. Em 1983, volta a funcionar apenas o 1o ano do 2o grau. Uma trajetória por demais preocupantes. E o que diz a população de Colônia? Em recente pesquisa, 22 na questão cultural, em específico a escola, perguntou-se no questionário qual a opinião sobre a escola:

22

É boa

20,0%

Não é boa

61,5%

Não sabe

12,1%

Pesquisa realizada na nossa cidade e processada em computação da Universidade de Brasília, código SAU-MELO NETO 0732 – DATE: MAR 3, 1983.


Não respondeu

6,4% 100,0

Uma situação por demais preocupante, já que as populações, de certa forma, acreditam em sua escola. Aqui, não; uma situação muito complexa, portanto. O valor cultural popular também, que a constante “o não continuar”, não é a única que deve contribuir com esta situação pelo qual passa nossa cidade. O estudo será, na verdade, analisar o porquê desta constante: o fator econômico estará presente nesta análise; o processo de invasão cultural processada pela indústria cultural etc. Um trabalho que exige pesquisa profunda e muito mais sistematizada.

3 – TERÁ SENTIDO ABRIR ESTA PREOCUPAÇÃO COM A CULTURA LEOPOLDINENSE?

A resposta mais contundente vem mesmo da população local. Ao serem perguntados sobre qual a visão a respeito do fim dos folguedos populares, responderam:23 Bom se acabar

10,7%

Ruim se acabar

70,7%

Indiferente

10,7%

Não sabe

2,9%

Não respondeu

5,0% 100,0

Os traços culturais nossos fazem-nos falta e, de uma forma ou de outra, será importante serem retomados para que não nos descaracterizemos como leopoldinenses. São nossos valores que não podem sucumbir, se acabar. 23

Pesquisa citada.


Sobre como nos organizarmos de novo para resgatarmos esses valores, vejamos as propostas do povo:24 Só com o poder público Ensinar novos a dançarem

10,0% 2,1%

Reunir interessados

32,9%

Não voltar mais

8,6%

Não sabe

17,1%

Não respondeu

25,7%

Outros

3,6% 100,0

Cada resultado desse tem um significado importante. Porém, gostaríamos de ressaltar o mais expressivo, quantitativamente: reunir interessados. E, em cima dessa resposta, resolvemos reunir interessados que constituíram-se em três grupos, com características diferentes, porém, com mesmo objetivo: a cultura local. Assim formamos os seguintes grupos: de Arte, de Zabumba São Sebastião e de Guerreiros. Vejamos considerações a respeito de cada um deles.

a) Grupo de Arte Este grupo se constitui de artistas que fazem pintura e artesanato e, às vezes, fotografia. É um grupo bastante reduzido ainda, porém, aberto a qualquer um que queira contribuir para a arte local, não só este grupo como os demais. Tem executado com seus próprios recursos os seguintes trabalhos: a) 1o Amostra da arte de Colônia Leopoldina, realizada no mês de outubro passado, quando da festa da Igreja local. Esta amostra se constituiu de trabalhos de pintura (Elise Pinheiro e Fernando); artesanato (Irá) e fotografia (Silvestre e José de Melo Neto). b) 2o Amostra da arte de Colônia Leopoldina, realizada nas comemorações da Festa de São Sebastião tendo a mesma composição apenas com um detalhe de que fora apresentada também nas ruas 7 de Setembro e Mangueira. 24

Pesquisa citada.


c) Cultura de maio. Esta é a mais recente atividade do grupo que visa mostrar todos os trabalhos nas escolas da cidade, da Usina Taquara, da destilaria Porto Alegre bem como em Sertãozinho de Baixo. Está se desenvolvendo neste mês de maio.

b) Grupo de Zabumba São Sebastião Este grupo já existe de uma forma mais ou menos organizada desde 1920. Entretanto, com a ajuda do Grupo de Arte, conseguimos, com todos os componentes da Zabumba, montar um documento sobre a história desta Banda de Zabumba de São Sebastião e que fora divulgado por eles mesmos à comunidade. Sua contribuição para a cultura local dispensa esclarecimentos e ressaltamos este histórico que fora elaboração deste grupo.

c) Grupo de Guerreiros Este grupo está em formação ainda, mas muito tem buscado, com suas forças próprias, a reativação deste evento da cultura no nosso dia a dia. Hoje, está empenhado na melhor organização de si mesmo.

4 – PROPOSTAS DOS GRUPOS Em reunião coletiva dos três grupos realizada a 24 de abril passado, tiramos as seguintes propostas: DO GRUPO DE ARTE Um espaço físico para a arte: a) este local é importante pois aí concentraríamos qualquer atividade ligada à produção cultural; b) reuniões e ensaios dos grupos existentes e de outros que surgirem como de Pastoris, Samba de Coco etc.; c) seria um embrião de atelier para pintores;


d) começaríamos a montar a futura Casa da Cultura; e) local de ensaio de arte pelos professores de arte das escolas da cidade.

Verba mensal destinada à cultura: a) esta verba seria distribuída entre os grupos existentes, juntamente com aqueles que ainda surgirão, coletivamente, reunidos com um representante da prefeitura; b) é fundamental para o Grupo de Arte para manter uma programação anual de montagem: 1) circuito de arte, que seria desenvolvido durante um mês inteiro pelas ruas da cidade; 2) manutenção do Cultural de Maio, uma semana de arte pelas escolas no mês de maio; c) para a Zabumba teria aplicação na reposição de seus instrumentos e fardamento; d) no grupo dos Guerreiros teria aplicação na reposição de sua roupagem; e) até mesmo cursos de artes plásticas intensivos de mês ou meses poderiam ser assistidos por artistas locais noutros centros nordestinos.

DO GRUPO DE ZABUMBA Este grupo apenas reivindica:  Terno de roupa

Total

Calça e camisa

8

Cores Azul claro ou caqui

 Conjunto de alpercata Par

8

a) como sendo um grupo que existe há tempos, esta solicitação tem caráter puramente estético; b) com a verba destinada à cultura, este grupo participaria em ambos os eventos culturais citados.

DO GRUPO DE GUERREIROS


Este grupo apresenta também uma única solicitação: que seja autorizado o funcionamento dos Guerreiros na rua da Mangueira: a) este galpão seria mesmo na rua e daí nossa solicitação, entretanto, a rua não ficaria interditada; o espaço que fica aberto é suficiente para passagem de qualquer transporte; b) o trânsito neste local praticamente inexiste; c) acima de tudo, seria uma sede provisória e, tão logo que tivermos local apropriado, nos retiraríamos deste local.

OBS.1: Sobre a Educação Escolar, a pesquisa citada apontou que 74,1% da família leopoldinense não tem nenhuma pessoa que concluiu sequer o 1 o grau; e 20,7% tem uma pessoa apenas. Diante disto, entendemos que a questão cultural em específico a da Educação Formal, deve ser analisada sob dois aspectos: primeiro, uma resposta a esta realidade e que temos de ter a escola e as condições para todos, questão meramente quantitativa; e segundo, uma escola que inspire confiança no leopoldinense, uma questão de qualidade. É uma questão complexa e que as propostas para tal deverão sair, sobretudo, dos professores locais.

OBS.2: Quando da aplicação do questionário da pesquisa, alguém mostrou a necessidade de uma biblioteca, algo importante para a cultura local. Aproveitamos para sugerir que se faça um contato com a Fundação Roberto Marinho, a Hoschat ou Secretaria de Educação que querem incentivar o hábito da leitura em nossas crianças, campanha que está sendo apresentada pela Rede Globo: “Ciranda, Cirandinha, vamos todos ler...”. Eles doam “bibliotecas”. Seria um início.

5 - CONCLUSÕES Sr. Prefeito, conhecemos a preocupação de V.Ex. pela cultura leopoldinense como também as questões levantadas já as conhece. Está tudo, praticamente, a ser feito.


Os nossos dados são preocupantes. Preocupados também com o desmantelamento das culturas latino-americanas pela indústria cultural, nós estamos propondo ou solicitando medidas que façamos revigorar já, a nossa cansada, mas nossa, cultura. E, assim, ocupar o espaço que é nosso no cenário cultural alagoano. Acreditamos que, como leopoldinenses, possamos contribuir para a cultura do município, do Estado e, por que não dizer, para o país, já que vozes daqui já se fizeram e fazem-se ouvir neste país afora. E, para concluir, poderíamos citar um poeta venezuelano que mostra que “a história prova que a maior força de autoafirmação de um povo ante a voracidade colonialista é a presença de uma vigorosa cultura...”.25 Esta forte cultura poderá ter início no nosso aqui, nosso agora.

Agradecemos, Colônia Leopoldina, 1 de maio de 1983.

 Componentes da Banda de Zabumba São Sebastião.  Componentes do Grupo para criação dos Guerreiros.  Componentes do Grupo de Arte.

25

Citação do Jornal Leia Livros – edição abril/maio,2003.


TEXT0 4.

A DIFÍCIL ARTE DA POLÍTICA DE OPOSIÇÃO E DE ESQUERDA, EM CIDADES DE INTERIOR26

Não adianta, conservadores! O mundo se move.

As elites dominantes teimam em fazer compreender aos que atuam na política de oposição ou de esquerda que essa política é inviável para um país, para um povo e, de forma singular, para as pequenas cidades, a não ser que sejam elas mesmas as suas próprias oposições. Para elas, jamais se poderá encastelar nas mentes e nos corações do povo uma política de esquerda, cujo programa apresenta-se como uma alternativa ao modus vivendi do capitalismo – sistema que é muito bom para uns poucos. No máximo, podem admitir a existência de uma oposição singela e doce (sem liderança e vinda do açúcar) como a que se está vivendo em Colônia, seguidor de um mesmo programa político, definido por elas e, portanto, o programa político dominante. Pensar uma alternativa de viver, um jeito novo de viver e de fazer política é, para elas, uma situação impensável a todos e todas que não se situam naquele arco elitizante - os setores oprimidos da sociedade. Esses setores concretizados naqueles que padecem da opressão do judiciário, com raros e respeitosos personagens; da opressão religiosa das maiorias dominantes; da opressão étnica embutida na sociedade; da opressão de gênero estabelecida; da opressão da instituição universitária que impede a chegada desses em seus cursos; da opressão da família opressora; da opressão de vizinhos nada educados; da opressão de um Estado que lhes abandonou já faz tempo; da opressão de servidores públicos em todos as escalas do governo, sendo eles quaisquer coisa menos um servidor do povo; da opressão daqueles mesmos que até se dizem amigos e, enfim, da opressão sobre aqueles todos que vivem ou viverão da força de seu trabalho. 26

Análise política de um grupo emergente, durante eleições de 2008, base do que veio a se consolidar como Movimento Colônia e Cidadania - MCC.


Inserido nessa dimensão está o nosso município, aqui pensado como o ambiente do exercício político possível de uma oposição, vislumbrando possivelmente uma perspectiva de esquerda. Uma perspectiva de esquerda seria um exercício de governo que promovesse um planejamento participativo da equipe técnica da prefeitura com a população; um orçamento participativo, em que o gestor público não temesse a transparência de suas ações, aplicando o dinheiro aonde o povo entende que seja importante. Uma perspectiva de esquerda como aquela que possa cuidar das pessoas e não deixá-las à mercê de suas sortes. Uma perspectiva de esquerda seria a promoção da participação do povo, pois, assim, estaria conquistando a sua cidadania. Cidadania como algo a ser conquistada mas que um político de esquerda pode, perfeitamente, contribuir para esse povo avançar em seus desejos de viver como gente e com satisfação de vida. Enfim, a preparação do cidadão no sentido grego, isto é, para que atue nas definições das coisas de sua cidade, de sua polis. Em Colônia, isto seria um avanço transformador profundo que muito colocaria a cidade na vanguarda política da região norte do Estado de Alagoas. Vivam os sonhos! Mas, o que temos, concretamente, hoje, no campo da oposição e da esquerda leopoldinense? Uma difícil aritmética política com quase nenhuma ideologização, retorcendo-se para uma perfeita adequação ao status quo dominante, sendo encaminhado por nossas próprias mãos para a inexistência de oposição na cidade, tornando-se ainda inaceitável pensar-se em um governo de esquerda. Estamos nós submetidos aos desígnios dos nossos próprios acordos, dos nossos particulares interesses e mais: estamos dominados pelos dados de realidade. Estamos sem força para superar os dados da dominação e, assim, rendidos à lógica política reducionista de que fazer política é uma questão meramente financeira. Estamos abdicando da nossa capacidade de insurgência que é intrínseca ao gênio humano e nos entregando às razões externas da política. A política de oposição em Colônia vem se rendendo aos sabores das políticas de Maceió ou de Brasília, mesmo que elas precisem ser contadas, e omitindo-se no fazer da política local.

Vejamos um histórico do grupo: a) Formamos um grupo desejoso de construir uma oposição planejada e com programa de governo mesmo que, ainda, pudesse não aparecer ações de avanços de uma política de esquerda e, necessariamente, de mudanças profundas.


b) Estivemos juntos com um personagem-vereador que bem pensava a utilização do grupo para fortalecer-se como negociador do lado contrário ao grupo, e se foi. c) Veio a composição partidária do grupo e eis o que se formou: PSOL, PTB, PSDB, PT, PMDB... . d) A nossa principal figura, particularmente do ponto de vista eleitoral, foi arrastada para o PSDB por um governo de Estado que garantiu finanças para a sua campanha. e) A representação do PMDB se foi para o outro lado, tecendo as suas próprias negociatas. f) O PSOL, o partido mais solidamente estabelecido em campo ideológico, mantém-se presente a esse grupo de oposição, mas com a clareza de que será muito difícil aliançar-se com tais forças presentes. Este partido cobra mudanças profundas na sociedade, mas tal discurso soa distante das cabeças dos componentes do grupo de oposição. Para o PSOL, a política se faz em nível municipal, estadual e nacional. Portanto, não se pode pensar uma política do micro sem a perspectiva macro. Afinal, os votos de Colônia vão ajudar aos políticos do Estado e do País. g) Fomos ficando reduzidos a praticamente PSDB, PT e PTB. h) Com o comportamento eleitoral do PSDB em nível nacional votando, quase sempre, em oposição ao governo Lula, o PT se coloca na impossibilidade de uma composição local com aquele partido, sobretudo, após as votações do final de ano passado (cpmf). Compreendemos que o seu diretório regional em Alagoas dificilmente aceitará tal aliança. Ademais, a principal figura do PSDB, virtual candidata das oposições, nunca demonstrou em eleições passadas qualquer interesse pelo governo Lula. i) Na última festa da cidade, na procissão de São Sebastião, o presidente do PT acenou publicamente para outros campos políticos, justificando que PSB (partido do usineiro) e PDT (partido do prefeito) estão na base de sustentação do Governo Lula. j) Vai restando o PSDB, PSOL e PTB (partido da base do governo Lula) a continuidade de uma visão oposicionista dividida, ainda possível na política leopoldinense, contudo, por diferenciadas razões. O PSDB representa a principal expressão oposicionista da cidade, mas a sua situação no expectro ideológico o


afasta do PSOL que caminha para ter candidatura própria, mesmo que seja inexpressiva a sua votação. O PTB, tendo como figura principal um religioso que esteve ao lado da política do atual prefeito (manuilson), ainda não posicionou-se no geral, mas aguarda, em Alagoas, um forte apoio de Collor para realizar campanha, além de um apoio, mesmo informal de autoridades eclesiásticas mais altas, difícil de assim fazerem.

Diante disto, vem se ratificando a tese dominante de que a política é uma atividade exclusivamente financeira, de estranhos acordos e que o povo precisa sempre estar fora disso. Nós sabemos, todavia, que política não é sinônimo de economia e muito menos de finanças. Então, poderemos apresentar a clássica questão de esquerda: O que fazer? Célebre livro de Lenin – revolucionário russo. Pensamos, concretamente, que já estamos fazendo algo. As circunstâncias vieram determinando as opções partidárias e os acordos se sobrepondo ao grupo que tinha, tão somente, o papel de aglutinar essas oposições – uma ação que é inédita em Colônia Leopoldina. Mais uma vez, pode-se repisar as clarezas iniciais: a oposição dividida sempre foi um prato cheio para a vitória dos setores dominantes e conservadores da política. As condições objetivas postas caminham, mais uma vez, para mantermo-nos separados, tornando mais dura a difícil caminhada do fazer política local, em particular no ambiente em que as opções de vida das pessoas são mínimas ou nulas. O financeiro passa a ser o determinante na vida eleitoral e das vidas das pessoas, mesmo que isto não seja novidade no campo da teoria política e do nosso quadro cultural. Há, agora, um desafio maior ao grupo que é até onde podemos continuar, pelo menos, conversando esporadicamente. Essa continuidade de conversas é necessária para que se possa ainda haver conversas mínimas sobre a política da cidade. Não podemos alimentar a anomia, a desorganização e o não diálogo. Resta a alternativa de pensarmos definitivamente a chapa com os partidos que toparem algum tipo de acordo. Resta, ainda, o esforço de que, nessa luta, possamos eleger o maior número de vereadores que possam continuar pensando política (tomar a câmara). Os desafios postos agora são maiores mas não são insuperáveis. A dinâmica da vida nos mostra isto, mesmo que as nuvens políticas atuais estejam muito mais tenebrosas para o nosso município. Mas, será sempre importante pelo menos uma


certeza, nesse campo de tantas incertezas: O MUNDO SE MOVE E AS FLORES SEMPRE RENASCERÃO NOS JARDINS DAS NOSSAS VIDAS.

Texto para possível discussão do grupo. Colônia Leopoldina, fevereiro de 2008. Abraços.

José Francisco de Melo Neto


TEXTO 5. COLÔNIA LEOPOLDINA: ação cultural no meio rural

José Francisco de Melo Neto27

Ação cultural no meio rural28 é um trabalho fruto da experiência desenvolvida na Zona da Mata do Estado de Alagoas, no município de Colônia Leopoldina29. Uma preocupação conceitual de educação esteve sempre presente: educação como processo que envolve o educando na atuação transformadora de seu ambiente. A comunidade30 é caracterizada em seus aspectos: histórico, geográfico, econômico, educacional e cultural, social, religioso e outros. Delineiam-se estes aspectos no marco da dependência, situação que caracteriza a comunidade. O trabalho de ação cultural se desenvolve a partir da definição de uma metodologia científica, com vista à concretização de ações educativas, que façam frente a essa situação de dependência e que conduzam à organização de vários grupos sociais existentes ou emergentes com a ação educativa na comunidade. Optou-se pela metodologia da pesquisa-ação, buscando-se mostrar o conjunto de atividades educativas que foram sendo desenvolvidas, constituindo-se como ação cultural. O conhecimento da realidade local deu-se a partir de grupos já formados ou em formação, iniciando-se a definição da ação por esses mesmos grupos que são os responsáveis diretos pelo exercício daquelas práticas educativas.

27

Professor do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), atuando nos cursos de Pedagogia, no Programa de Pós-Graduação em Educação – Educação Popular – e coordenador do Grupo de Pesquisa em Extensão Popular (EXTELAR).

28

Este trabalho resultou em Dissertação de Mestrado em Educação, tendo como membros da Banca Examinadora os Professores: Dra. Hélène Le Blanch, Dr. Argemiro Procópio Filho e Dr. Messias Costa, defendida na Universidade de Brasília (UnB), com o título Ação Cultural no Meio Rural: Uma experiência em Colônia Leopoldina – Al, em 1984.

29

Essa experiência, que teve duração de dezesseis meses, foi pautada por uma visão educativa em que o homem se educa, comprometendo-se politicamente e intervindo no seu ambiente para transformá-lo.

30

Comunidade – conjunto de pessoas convivendo em um determinado espaço físico e geográfico, com um complexo de diversidades culturais, econômicas, políticas e sociais que interagem em um processo dinâmico de relações. (Secretaria de Cultura do MEC – 1980).


O trabalho educativo inicia-se pelos seguintes segmentos: Sindicato de Trabalhadores Rurais; professores do colégio da cidade; alunos do curso de magistério; professores do MOBRAL; grupo de jovens; jogadores de futebol; grupo de zabumba; „guerreiros‟ (dança folclórica) e fotógrafos. Entre vários membros desses grupos, ocorreu a coleta de dados sobre a comunidade, sendo devolvido, posteriormente, à própria. Destaca-se, nesse trabalho, a ação coletiva desses grupos quanto ao resgate de sua cultura e organização, podendo ser caracterizado, hoje, como expressão da resistência cultural de grupos de uma comunidade rural naquele determinado momento histórico.

INTRODUÇÃO

Pelo menos dois tipos de abordagem têm predominado, de certa forma, nos estudos da educação nos últimos anos: uma considera a educação como fator de mudança social e, portanto, como canal de mobilidade social; outra vê a educação numa perspectiva de investimento, num enforque econômico. Na análise em que a educação é vista como fator de mudança social esta é explicitada como mudança superficial dos problemas; não questiona a essência do sistema. Nesta concepção, a educação tem papel fundamental. Mudança aqui é entendida como uma transformação profunda, em que o sistema de produção vigente e suas relações sociais são alteradas, tendo a educação um poder importante. Nos estudos que apresentam a educação como canal de mobilidade, a função da educação se direciona no sentido de “situar” o homem socialmente. Dessa forma, além da função de formação e socialização, passa a promovê-lo na escala de prestígio. Escamoteia-se a estrutura de classes da sociedade, entendendo-se que contribui para uma mudança na sociedade. Em consequência, desenvolve-se a motivação para que o indivíduo busque essa mobilidade. Trata-se de uma dimensão que admite vários conceitos, conforme apresenta BENJAMIN (1980: 28):

Mobilidade estrutural resultante das modificações nas ofertas de ensino decorrentes das mudanças de ocupação com a industrialização; mobilidade por troca de posição onde ocorre um intercâmbio de indivíduos entre “status” devido à pouca rigidez na estratificação; mobilidade de competição onde o “status” é um prêmio conquistado individualmente com o próprio esforço do


aspirante, e também a mobilidade promocional onde a própria elite escolhe e premia os escolhidos de dentro de seu seio instituindo critérios meritocráticos e aqui o esforço não é suficiente para sua obtenção. A educação é, então, apresentada como um fator muito expressivo para a ascensão social. Nesse aspecto, busca-se a demonstração de que o critério sócioeconômico deixa de ser fator de obtenção de status para dar espaço a um novo critério: a escolaridade. No enfoque econômico, a educação é analisada de forma explícita, como investimento. Estão presentes, em cada momento, elementos como: produto, taxa de retorno, consumo, demanda e oferta. Esse investimento apresenta-se em três tipos: estatal, privado (a escola particular) e individual (auto-investimento). Dele decorrem três tipos de taxas de retorno: lucro para a nação, lucro para o setor privado e também maiores rendimentos aos estudantes quando estiverem no mercado de trabalho. A preocupação está sempre em medir os estoques na educação e, em consequência, seus rendimentos. Na visão econômica da educação, a medição da ascensão social decorre da qualificação e do rendimento, de modo que os diferentes níveis de status são gerados por diferentes níveis de especialização. A educação, enfim, assegura taxa de retorno alta para a nação bem como para o indivíduo. Ainda segundo BENJAMIN (ibid.: 41), ambos os enfoques se aproximam quando estão preocupados com “o equilíbrio e a estabilidade das estruturas, inclusive utilizando mecanismos de avaliação e controle que servirão a própria realimentação do sistema, visando seu funcionamento perfeito para que não tenha de ser modificado... Supõe-se que o sistema capitalista é o mais eficiente e procura-se analisar relações da situação vigente”. Partindo-se do pressuposto de que transformações na sociedade deverão ocorrer, a educação tem papel importante nas etapas de preparação dessas transformações como posterior a elas. Não só pode ser analisada como um fator que permite manter o status quo, como também pode ser orientada para o papel de instrumento na busca de construção da história da maioria. Dessa forma, a educação toma sua dimensão maior: a dimensão cultural. Esta passa a marcar presença em todos os setores da vida da sociedade, podendo possibilitar um desenvolvimento crítico nas pessoas a partir de suas práticas nas mais simples formas de organização como sindicato, partido político, igreja e outras instituições, ou mesmo, buscando novas formas organizativas.


Entretanto, constata-se que a prática pedagógica tem sido reduzida à sala de aula. É desenvolvida numa realidade expressa de forma estática, resistente à mudança nesse processo limitado da prática educativa. O seu planejamento não reflete suficientemente as necessidades das comunidades. Seus conteúdos e métodos não traduzem as necessidades do homem da cidade e muito menos as do homem do campo. É reforçada a ideia da educação como mecanismo assistencialista, mas pode contribuir para mudanças na vida da comunidade se utilizar a sua capacidade criadora. Para o meio rural, os conteúdos são mais alienantes, já que provêm de uma realidade urbana. Tais conteúdos, juntamente com a metodologia de ensino, contribuem para o fracasso da aprendizagem. Partindo-se do pressuposto de que a educação no meio rural deve ser diferenciada, ela também deve ser capaz de atuar para a plena realização do potencial dos indivíduos que moram e vivem no campo. O conhecimento da realidade concreta pode possibilitar-lhes uma intervenção na mesma, como agentes do seu próprio desenvolvimento. Mas, como conhecer essa realidade? E mais: uma vez conhecida, como realizar essa intervenção? Uma ação educativa só se justifica a partir do envolvimento da comunidade e a sua orientação para as possíveis soluções de problemas comunitários, ou seja, uma ação que considere necessária a participação das pessoas no processo de mudanças. Contudo, que formas podem ser utilizadas para efetivá-la no meio rural? Além do mais, essa ação educativa determinada pelo conhecimento da realidade não pode ser sinônimo de transferência de conhecimento, e sim de ato dinâmico e permanente no processo de sua descoberta. Enfim, que metodologia desenvolver para atender às expectativas de participação daquela comunidade? É possível descobrir a realidade local a partir da ação daqueles que vivem na própria região e com eles poder melhor desenvolver todo o processo de sistematização. Com esse entendimento, promoveram-se encontros informais com professores municipais e do Colégio Pe. Francisco, daquela localidade, discutindo-se questões educativas como: o abandono da escola pelo alunado, sobretudo na época da colheita da cana-de-açúcar; turmas reduzidas a menos da metade; reprovação do aluno ao final do período letivo e também as questões salariais. Registre-se que professores passam até sete meses sem receber seus salários, mesmo sendo muito aquém do salário mínimo regional.


Na reunião com a coordenação e professores do MOBRAL, os problemas apresentados foram os seguintes: índice de analfabetos considerado elevado no município; a impossibilidade de sustentação das turmas, que mal iniciam já vão se reduzindo; ou ainda a preocupação de uma professora em como alfabetizar, já que muitos não acreditam na educação do MOBRAL, nem mesmo os analfabetos. Esta preocupação com a educação também é externada pelos dirigentes do sindicato rural em relação aos seus associados. Várias pessoas apresentam também a atuação do sindicato como pouco expressiva. Os religiosos locais têm dificuldades em encontrar formas de organizar a comunidade considerando, inclusive, a comunidade com baixa motivação. Quanto ao grupo de jovens da Igreja Católica, surgem dificuldades na promoção de suas reuniões. Vários deixam o grupo por não saber mesmo qual o objetivo do grupo. Entendem, entretanto, que precisam realizar alguma prática de organização comunitária, mas não se sabe como iniciar. Mesmo assim o grupo existe. Diversas pessoas apresentaram questões de ordem político-partidária, já que não mais de quatro políticos se revezam na administração da Prefeitura há trinta anos, sendo de uma mesma corrente política. Para elas, é preciso haver uma renovação nos quadros políticos locais - também indicaram questões tais como o fim de tradições culturais como os „guerreiros‟. De posse dessas informações, a opção metodológica que se apresentou para este trabalho foi a da pesquisa-ação, por ser uma metodologia que estimula a participação e abre o universo de respostas, passando pelas condições de trabalho e vida da comunidade. Buscam-se as explicações entre os próprios participantes, que se colocam em posição de investigador. Mas, apenas procurar o conhecimento da realidade não é suficiente, pois outras metodologias também realizam isso. Entretanto, na pesquisa-ação, o participante é conduzido à produção do próprio conhecimento e se torna o sujeito dessa produção. Nesse aspecto, essa metodologia se distancia de todas as demais e se afirma como instrumento fundamental de resistência e conquista popular, posto que se reveste dessa ação educativa. Segundo OLIVEIRA (1981: 19), essa metodologia promove “o conhecimento da consciência e também a capacidade de iniciativa transformadora dos grupos com quem se trabalha”. Trata-se de uma concepção de pesquisa que, conforme PINTO (1979: 456), considera “fundamen-talmente como ato de trabalho sobre a realidade objetiva”. Ou ainda, como afirma GAMBOA (1982: 36), “busca superar


essencialmente, a separação entre conhecimento e ação, e buscando realizar a prática de conhecer para atuar”. Nesse sentido, buscaram-se as bases teóricas da metodologia escolhida para tornar possível uma maior fundamentação da mesma, podendo ser resumidas nos termos em que foram apresentados por BORDA (1974: 41): Não pode haver separação entre o pesquisador e a metodologia. Se faz necessária a militância do pesquisador já que sem a prática não será possível deduções de cunho teórico ou mesmo a validade ou não do conhecimento. Assim, como a metodologia não está separada do pesquisador, também não está dos grupos sociais com os quais se trabalha. Ela tem sua adequação ao se trabalhar no campo ou na cidade, ou ainda, quando se trata de grupos diferenciados como negros, índios, brancos ou camponeses. A metodologia evolui e se modifica em função das condições políticas locais e, logicamente, em função das correlações das forças existentes. Se forças sociais adversárias são fortes, não há porque não tratá-las como tal, sem fazer abstrações dessas situações. Essa metodologia depende ainda da estratégia global da mudança social adotada e de suas táticas, a curto e médio prazos. Não se apresenta como enumeração pura e simples de princípios sem referência do processo global de mudança. Dela têm-se ainda alguns traços que são apresentados por HALL (1981: 14) e que podem ser sintetizados assim:

A informação é devolvida ao povo, de onde a mesma surgiu bem como na linguagem e na forma cultural daquele ambiente; o povo e o movimento de base passam a estabelecer o controle do trabalho; as técnicas de pesquisa tornam-se acessíveis ao povo; um esforço consciente é necessário para manter o ritmo da ação-reflexão do trabalho; aprender a escutar e a ciência tornam-se partes do dia-a-dia da população. Mas, como a metodologia da pesquisa se desenvolveu, de forma sistemática? Para responder a esta questão, convém apresentar todo o processo metodológico, desde a preparação do pesquisador até as técnicas de avaliação da pesquisa.


a) Preparação do investigador - é a etapa inicial onde se dá o processo de aproximação do investigador31 com a comunidade escolhida, a inserção do mesmo na comunidade. Foram, então, contactados os seguintes grupos ou instituições: Colégio Pe. Francisco (administrador e adjunto); professores do colégio local; pessoas vinculadas à Igreja Católica; equipe de coordenação e professores do MOBRAL; grupo de futebol; Sindicato Rural (presidente e secretário); grupo de jovens, bem como um grupo de ação comunitária (MOBRAL) em formação, na rua da Mangueira, trabalhadores rurais, além de pequenos comerciantes. Nessa etapa, inicia-se o conhecimento da comunidade. O investigador observa como ela apresenta seus problemas, tendo como base os dados coletados de fontes faladas, vivas ou sensoriais e as observações sobre a vida diária, bem como dados oficiais da atividade econômica, social e cultural. Outros dados são coletados nas reuniões de vereadores ou em comícios das várias correntes políticas, na cidade, nos sítios e nos engenhos. As visitas e entrevistas são relatadas em pequenos informes para posterior devolução aos participantes. Essa devolução acontece durante uma reunião com praticantes do esporte local, estudantes do curso de magistério e outras pessoas sem vinculação a grupos. Nessa ocasião, expõe-se todo o material coletado, elaborandose um elenco de necessidades apresentadas. Selecionam-se aqueles problemas mais citados na coleta. A partir daí, inicia-se o estudo procurando identificar como a comunidade percebe e analisa sua realidade. Com essa sistematização inicial, efetiva-se o primeiro retorno dos resultados aos grupos ou pessoas que iniciam a investigação. Pessoas não pertencentes a grupos, nessa fase, chegam a formar grupos posteriormente. A partir daí, elabora-se um questionário32 que é devolvido aos que estão presentes nessa reunião e também a professores, religiosos e outras pessoas. b) O investigador e a comunidade – Para a aplicação do questionário, leva-se em conta que havia no município, em 1980, um total de 1.456 domicílios33 em sua sede. Nessa fase de pesquisa, de maior organização de busca das necessidades e problemas, são visitados 140 desses domicílios. A entrevista dá-se coletivamente com os residentes, nos 31

O conhecimento da cultura da região é condição para o exercício metodológico da pesquisa-ação.

32

Utilizou-se, como exemplo, o questionário aplicado no levantamento das necessidades básicas da “Invasão do Chaparrau”, no Distrito Federal em 1982, num trabalho de Educação Popular desenvolvido por um grupo de alunos do Mestrado em Educação, da Universidade de Brasília, coordenado pela Profa. Dra. Hélène Barros.

33

Domicílio – toda e qualquer residência habitada com uma ou diversas entradas ou mesmo embarcações (IBGE, IX Censo Geral do Brasil, 1980).


seus domicílios. Os questionários são aplicados em todas as ruas da sede municipal sendo, aleatoriamente, escolhidos. Os dados coletados saíram do consenso dos que se faziam presentes no momento da entrevista no domicílio. Elaborada a amostra, segue-se o treinamento de dez entrevistadores. São pessoas dos grupos de professores do MOBRAL e dos alunos do curso de magistério. Alguns critérios são utilizados para a seleção desses entrevistadores como: pertencer a algum dos grupos existentes ou em formação; poder cumprir o calendário das entrevistas. Procede-se à entrevista de domicílios selecionados, aplicando-se um questionário de dez em dez domicílios.

c) Sistematização das informações - Concluída a fase de aplicação dos questionários, inicia-se a sistematização dos dados com a finalidade de oferecê-los à reflexão dos grupo. Elabora-se, para tanto uma codificação das respostas34, utilizando-se da computação de dados como instrumento de ajuda neste trabalho. Muitas propostas ou questões levantadas são mantidas, mesmo que quantitativamente pudessem ser desprezíveis. Além disso, são utilizadas na devolução das mesmas a todos os envolvidos na investigação. Com base nos resultados encontrados confeccionam-se fichas-problema contendo dados, juízos e apreciações, que são utilizados na devolução do material aos grupos. Um dos grupos existentes encarrega-se da elaboração dessas fichas. d) Análise e interpretação dos dados – Nessa fase, são analisadas, de maneira crítica, as necessidades coletadas, extraindo as dimensões positivas e negativas das questões levantadas, encarando a realidade numa perspectiva de mudança, impulsionando os grupos à reflexão e à ação, desenvolvendo seu poder de organização e intervenção na realidade. O estímulo à reflexão e ao diálogo é o princípio fundamental de todo o processo.

Apresentaram-se todos os resultados da investigação aos grupos já existentes ou criados na comunidade, num primeiro momento. Num segundo momento, através de novas reuniões, se estabelece uma ordem de prioridade dos problemas. Prioritário é aquele problema que está ligado diretamente ao grupo inserido na pesquisa. O grupo de

34

Utilizou-se o pacote estatístico SPSS (Statistical Package Social Sciences).


esporte tratou, especificamente, das questões do esporte local, sem deixar, entretanto, de conhecer as demais questões. Aprofundam-se

as

análises

dos

problemas

mais

expressivos,

quantitativamente, em pelo menos uma reunião. Daí, discutem-se as tarefas urgentes a serem encaminhadas. Com quatro grupos chega-se a elaborar um documento contendo as propostas, ratificado posteriormente em nova reunião do grupo. Após aprovado, é encaminhado às autoridades competentes do município, através de encontro entre essas autoridades e os grupos. Em seguida divulga-se o documento junto à comunidade.

e) Avaliação - avaliação está presente no decorrer de todas as etapas do processo, desde os contatos iniciais até o final das atividades. Este trabalho também passa pela avaliação global de todo o processo, no que se refere à capacidade dos grupos de responder aos problemas concretos da vida diária. Finalmente, o documento resultante deste trabalho retorna aos grupos envolvidos no processo.

A comunidade

A dominação desenvolve sua cultura própria. Sua reprodução, entretanto, insere-se nas próprias relações imperialistas. Da mesma forma que essas relações adquirem especificidade, em cada pólo dominador e em cada pólo dominado, bem como em cada momento histórico, também vão gerando elementos culturais próprios. Como são relações específicas, vão produzindo e reproduzindo formas culturais específicas. Valores tais como promoção da eficácia, competitividade, lucro empresarial, salário como o preço justo da força de trabalho, ou ainda, a ideia de que o modelo europeu constitui o padrão da civilização ocidental para as sociedades subdesenvolvidas, são veiculadas às populações. Estes são os constituintes da cultura de dominação. Uma cultura que a dominação impõe às sociedades chamadas subdesenvolvidas ou dependentes. Para KOWARICK (1974: 34), vários são os conceitos ou significados apresentados sobre dependência. Porém, ideias básicas já estão definidas e são consensuais aos estudiosos do assunto. Por exemplo, as ideias que consideram os fatores externos provenientes de ações originadas nas sociedades centrais e aquelas que


equacionam a questão a partir das ligações que aparecem no quadro das relações entre países, salientando o domínio de um sobre o outro. Portanto, a abordagem de dependência apenas como dominação externa não é a única. Há também um tipo de análise que apresenta o pólo interno de forma dinâmica. Mas, mesmo assim, nada impede que autores deem ênfase à relação de dependência entre os pólos hegemônicos (centrais) e periféricos. Outros centram o estudo nas relações de produção, políticas, sociais e culturais no interior da nação subdesenvolvida. Não são abordadas neste trabalho as divergências entre vários enfoques ou significados da dependência. Utilizam-se, todavia, os componentes dessa dominação nas relações de produção, políticas e sociais com ênfase nos aspectos culturais. Partindo da dimensão municipal, buscam-se aspectos que caracterizam a dependência da região nas relações citadas de produção, políticas, bem como nos aspectos culturais. A teoria da dependência tem buscado explicações de caráter global, não só em relação às etapas por que passaram as formações sociais latino-americanas, mas também quanto ao futuro dessas sociedades. Em outras palavras, de posse da análise dos fatores políticos, sociológicos, econômicos e culturais, examina as relações dos “países periféricos” com os “países centrais”. Nesse aspecto, SANTOS (1976: 126) caracteriza a dependência como situação condicionante:

Um certo grupo de países tem a própria economia condicionada pelo desenvolvimento e expansão de outra economia. A relação da interdependência entre duas ou mais economias e entre estas e o comércio mundial, toma forma de dependência quando alguns países (os dominantes) podem expandir-se e auto-impulsionar-se, enquanto outros (os dependentes) só podem fazê-lo como reflexo daquela expansão... . Nessa relação entre dominantes e dependentes, os primeiros detêm o domínio tecnológico, comercial e sócio-político e impõem as condições de exploração sobre os “países periféricos” ou dependentes. Porém, sendo a dependência apresentada como situação condicionante e entendida esta situação como determinadora de limites de ação, o autor mostra que a situação não é condicionante de forma definitiva, em dois aspectos. O primeiro diz respeito às situações concretas do desenvolvimento que são formadas pelas condições gerais de dependência, bem como pelas especificidades da situação condicionada. A condição geral está, então, delimitada por essas condições. O


outro aspecto é que a situação de dependência pode mudar, “e muda de fato pela mudança das estruturas hegemônicas como dos dependentes” (ibid.: 126). Observando estes dois aspectos, FRANK (1976: 26) alerta para a ignorância sobre os países subdesenvolvidos que leva autores a acreditar na repetição histórica dos países desenvolvidos. Para ele, “a conseqüência é que a maior parte das teorias não consegue explicar a estrutura e o desenvolvimento capitalista”. Já para COHEN (1976: 48), a teoria mais convincente é a tradicional, enfocada por LENINE (1982: 87), que apresenta o desenvolvimento atual do capitalismo como resultante da fusão do capital dos grandes bancos monopolistas com o capital de grupos de industriais, também monopolistas. Por outro lado, mostra a contínua divisão do mundo como sendo a transição da política colonial que vai se estendendo sem obstáculos àquelas regiões não apropriadas por outras potências capitalistas. Para LENINE (ibid.: 87), esta é a fase do máximo desenvolvimento do capitalismo, a fase monopolista. Nessa fase, a dependência alicerça-se mais ainda não só pelas exportações de mercadorias ou produtos industriais, mas também pela exportação do próprio capital aos países dependentes. Ela surge agora com objetivos de máximo lucro na forma de ajuda econômica, mas cobrando seus juros na extração das riquezas. Para HARNECKER (1980: 25), esses países centrais “conseguem controlar o mercado, vencendo facilmente a concorrência nas pequenas indústrias nacionais, além de aproveitarem dos recursos estatais em que esses países destinam o seu desenvolvimento”. Mas as negociações econômicas, por si sós, não são suficientes para manter a extração dessas riquezas. O capital emprestado, em si, não é a sustentação para o recebimento dos juros. Para isto, os acordos econômicos e empréstimos, as mais das vezes, são antecipados por tratados ou acordos militares. Fica, então, assegurada não só a dominação gerada pelo capital, mas também a dependência política do país periférico. Uma questão, entretanto, acredita-se fundamental. Como caracterizar a dependência? Para FERNANDES (1975: 31), toda essa análise passa pela caracterização das relações de produção sob o capitalismo e elaborada por Marx. Acrescenta que os conceitos utilizados por Marx demonstram, conclusivamente, que a organização capitalista das relações de produção condiciona, morfológica, funcional e geneticamente, os processos de estratificação social geradores da sociedade de classes. Dessa forma, torna a apropriação privada dos meios de produção e a mercantilização do trabalho faces de uma mesma moeda. Ao nível estrutural, sua explicação torna-se


também válida para as sociedades capitalistas desenvolvidas, subdesenvolvidas ou em processo de transição. O autor também entende que seja necessário fazer-se uma adequação da contribuição de Marx no que diz respeito às condições, fatores e efeitos na formação e desenvolvimento da estrutura básica do pólo dominador e às classes sociais nas sociedades dependentes ou subdesenvolvidas. Essa adequação pode se dar em três aspectos: o primeiro referente à teoria da acumulação capitalista; o segundo relacionado à teoria da mercantilização do trabalho; e o terceiro voltado às contradições entre as forças produtivas e as formas de organização da produção capitalista. A teoria da acumulação capitalista, mesmo sem apresentar as mesmas condições, é perfeitamente aplicável às sociedades subdesenvolvidas. Aqui, ressaltemse as proporções, os significados e as funções de acumulação de capital. As sociedades subdesenvolvidas capitalistas não se apresentam, hoje, com todos os mecanismos, como a pilhagem da fase inicial da acumulação do capital. Não estão submetidas à destruição de suas estruturas econômicas e sociais arcaicas, mas adquirem formas de mudanças internas e até aceleradas. Isto se dá tanto no âmbito da economia rural como da economia urbana. Tal economia passa rapidamente do capitalismo financeiro, comercial, ao capitalismo industrial. Essa transição se dá nos países subdesenvolvidos impulsionados pela sua inclusão no mercado mundial. Com isto, ocorreram as transferências de capitais, técnicas e instituições econômicas. Já no sistema agrícola não ocorre nenhuma transformação radical, pois este acompanha o desempenho superior do capitalismo no setor urbano com negócios de exportação35 e com suas estruturas e técnicas econômicas superadas. Todo processo de modernização vem sendo orientado, entretanto, a partir de fora. Neste contexto, se vai definindo toda uma situação de capitalismo dependente, capitalismo instável e controlado externamente. O outro aspecto se refere à mercantilização do trabalho à entrada do capitalismo dependente do mercado mundial, significando participação do mercado de trabalho externo. Esta participação não se dá como no início da modernização, pois o nível de ocupação e serviços exige certa especialização e relevo. Essas sociedades subdesenvolvidas têm de avançar bastante para construírem um autêntico mercado de trabalho interno. A extinção do sistema colonial e a emancipação nacional pouco

35

Áreas do campo tornam-se ricas e prósperas participando dos ciclos econômicos voltados ao comércio exterior.


contribuíram para a implantação do “trabalho livre” cujo vendedor fosse o próprio produtor. As determinações capitalistas que sustentam entre si os donos dos meios de produção e os assalariados não ficam delineadas claramente36. Dessa forma, a mercantilização do trabalho evoluiu de maneira lenta e precária. Sua universalização não chega a incentivar um mercado especial, integrado regional ou nacionalmente. Isto resulta em algo também específico no nível da evolução da mercantilização do trabalho nas sociedades subdesenvolvidas. O outro ponto que merece considerações é o que diz respeito às contradições entre as forças produtivas e as formas de organização da produção capitalista. Essas contradições fornecem a chave para se entender todo o crescimento contínuo do sistema de produção capitalista. Sua destruição depende de condições estruturais e dinâmicas que, no capitalismo dependente, não chegam a fomentar a expansão das forças de produção. Por outro lado, a parte autônoma do processo de acumulação capitalista (o montante de capital nacional) termina sendo insuficiente tanto para a expansão das forças produtivas existentes como para a organização da produção. Até aqui, tentou-se analisar o fenômeno de dependência em sua forma global. Convémse analisar a maneira como esse fenômeno se expressa no município pesquisado.

COLÔNIA LEOPOLDINA

Histórico

O primeiro núcleo gerador da cidade de Colônia Leopoldina pode ter surgido com a interiorização dos grupos vencidos nas lutas armadas da Província de Pernambuco, entre o início e meados do século passado. O embrenhamento desses grupos pelo interior fez com que o Governo Imperial criasse uma Colônia Militar, com função de proteger a região contra o ingresso de grupos armados. Essa Colônia Militar tem a incumbência de combater os participantes das revoltas da “Abrilada” e da

36

Para FERNANDES (1975), um penoso e longo hiato separou o primeiro ato de modernização, com o aparecimento do Estado Nacional bem como a montagem de economia de mercado, e o período em que a própria expansão interna do capitalismo comercial e o financeiro fez pressão sobre a diferenciação da produção e organização do mercado.


“Cabanada” que duraram de 1832 a 1835, sendo palco tanto a Província de Pernambuco como a de Alagoas. Nesta sua posição de defesa “houve por bem, o Imperador D. Pedro II, com o Decreto no 729, de 09 de Novembro de 1850, criar a Colônia Militar” (SILVA, 1983: 36). Efetivamente, só a partir de 1852, com a instalação da Colônia Militar, se dá o povoamento do lugar. Em 05 de janeiro de 1860, D. Pedro II visita a Colônia Militar, sendo este um ponto alto da memória do povo leopoldinense. Em 1901, a povoação é elevada à categoria de vila e, em 1922, é instalada definitivamente a Comarca, passando, em 20 de junho de 1923, à categoria de cidade, desmembrando-se do município de Porto Calvo. É, hoje, Colônia Leopoldina. Os três poderes públicos se fazem representar na cidade e como sede da Comarca comporta o Judiciário, Executivo e Legislativo.

Aspectos geográficos

O município de Colônia Leopoldina situa-se no extremo nordeste do Estado de Alagoas, na região da Mata alagoana. Limita-se ao norte com o Estado de Pernambuco, ao sul com o Município de Joaquim Gomes, a leste com o Município de Novo Lino e a oeste pelo Município de Ibateguara. Abrange uma área de 314 km 2, constituída de um único distrito, a sede municipal. É limitado com Pernambuco pelo Rio Jacuípe, que orienta o povoamento da região. Às suas margens, localizam-se uma usina de açúcar e uma destilaria de álcool. O clima local é o predominante na Zona da Mata, tropical-chuvoso, quente no verão e frio-úmido no inverno. Como na região, o período de estiagem vai de outubro a abril, oscilando a temperatura entre a máxima de 37oC e mínima de 18oC, com uma umidade relativa em torno de 70%. A fertilidade do solo apresenta alternativas agrícolas ao município. Porém, quase toda a vegetação nativa está sendo destruída pelo avanço do cultivo da cana. Sua madeira continua sendo enviada aos pólos mais desenvolvidos, sobretudo para a cidade de Campina Grande, na Paraíba. No município apresentam-se os seguintes tipos de vegetais classificados em culturas permanentes e temporárias: a) culturas permanentes: goiaba, laranja, manga e jaca; b) culturas temporárias: cana-de-açúcar, banana, milho, inhame, mandioca e batata doce. Grande parte dessas culturas, sobretudo as permanentes, pouco contribui para a


economia local, constituindo-se em “plantações de quintais”. A densidade populacional do município é inferior à da Mata alagoana e à do Estado, representando atualmente 4,4% da população da microregião homogênea (116) a que pertence. TABELA 1 Município de Colônia Leopoldina: população residente – 1980 Pop. Hom Mulhe Pop. Urb. Total ens res Sede Mun. (residen te) 14.960

7.602

7.358

6.950

Pop. rural

Densidade dem. (Hab/Km2)

8.010

47,61

Fonte: IBGE (Sinopse preliminar do censo demográfico) Alagoas 1980.

TABELA 2 População do município de Colônia Leopoldina, da micro-região no 116, e do Estado REGIÕES

POPULAÇÃO TOTAL

URBANA

RURAL

Colônia Leopoldina

14.960

6.950

8.010

Microregião – 116

340.988

115.142

225.846

Alagoas

2.011.875

995.344

1.016.531

Fonte: IBGE (Sinopse reliminar do censo demográfico) Alagoas 1980. Mobilidade da população O deslocamento da população residente no campo para a cidade, também se observa aqui. De quase dois terços da população que residia no campo em 1970, este percentual está reduzido, em 1980, a 50%, praticamente.


TABELA 3 Município de Colônia Leopoldina: distribuição urbana e rural da população recenseada 1970

1980

No habitante

%

No habitante

%

Urbana

4.784

37,66

7.037

46,51

Rural

7.917

62,34

8.093

53,49

TOTAL

12.701

100

15.130

100

Fonte: IBGE (Sinopse preliminar do censo demográfico) Alagoas 1980. Uma característica fundamental é que esse deslocamento não alterou, no geral, a atividade que tinha cada pessoa, pois mantém a atividade agrícola, embora residindo na sede do município. Segue-se uma série de tabelas, resultantes do levantamento feito na comunidade, pelos grupos de trabalho, durante o processo de pesquisa, e cujas atividades serão apresentadas em itens posteriores. TABELA 4 Tempo de moradia na cidade37 (em anos) ANOS

%

Até 10

33,6

Entre 10-20

21,4

Entre 20-30

20,0

Acima de 30

25,0

TOTAL

100,0

Observa-se que o maior percentual dessas pessoas se encontra no setor mais pobre da cidade (Ruas da Titara e Mangueira), num total de 23,1%. Esse descolamento pode estar relacionado à situação de vida dos entrevistados e, portanto, à busca de estabilidade que pode se expressar na posse da propriedade, aqui na região do 37

Dados coletados na comunidade, no período de dezembro de 1982 a janeiro de 1983.


latifúndio. Mas, com base na consulta feita sobre por que o respondente vinha para a cidade, apresentam-se os seguintes motivos:

TABELA 5 Motivo de deslocamento para a cidade

MOTIVOS

%

Busca de outro emprego

16,0

Saúde

12,4

Educação

10,0

Casamento

4,6

Não respondeu

43,0

Outros

14,0

TOTAL

100,0

Pode-se observar que três interesses deslocam os habitantes do campo: saúde, educação e novo emprego, registrando-se que quase a metade dos entrevistados não sabe por que veio para a cidade. Entretanto, esta questão pode se inserir no avanço do capitalismo no campo, com seu avanço tecnológico e de insumos para a agricultura. A limpeza da cana, por exemplo, não é feita mais de enxada como antigamente, mas com herbicidas. Entretanto, pergunta-se: o emprego, a saúde e a educação encontrados na cidade têm atendido as suas expectativas? A solução ao desemprego apresentada pela comunidade é vaga:


TABELA 6 Solução para o desemprego

% Indústria de papel

18,6

Indústria de doce

3,6

Novas indústrias

32,9

Outros

3,6

Não sabe

26,4

Não respondeu

10,0

TOTAL

100,0

Estas respostas são desvinculadas da realidade local e decorrem apenas das propostas de campanhas eleitorais dos políticos do local.

Economia

O município é agrícola e a cana-de-açúcar representa a maior atividade econômica; a indústria está ligada à produção canavieira. O avanço agrícola prende-se à qualidade do solo (massapê) facilitando o cultivo da cana. Porém, grande limitação lhe é imposta pela pouca área existente em condições de mecanização. Portanto, o plantio e a colheita estão ligados diretamente à força braçal. Aqui, a exemplo de toda a região, há predomínio de latifúndio dedicado a essa monocultura.

TABELA 7 Município de Colônia Leopoldina: distribuição de terras segundo grupos de área

IMÓVEIS

ÁREA OCUPADA


Grupos de áreas No (ha) absoluto

%

No absoluto

%

0 - 50

208

76,76

2.961

15,46

50 – 100

24

8,86

1.542

8,27

100 – 500

26

9,59

4.942

21,15

500 – 1000

11

4,05

7.348

39,42

1000 – 2000

2

0,73

2.945

15,80

TOTAL

271

100,00

18.637

100,0 0

Fonte: IBGE – censo agropecuário de Alagoas – 1975 É marcante, ainda hoje, o avanço histórico da cana-de-açúcar nos nomes das propriedades chamadas engenhos, que são o sustentáculo da produção açucareira e que mantêm seus nomes, mesmo estando a cana-de-açúcar totalmente industrializada na área. O aumento da produtividade das unidades de produção é exigência do mercado. Faz-se urgente a adequação a novo padrão tecnológico e, consequentemente, ao uso de instrumentos mecanizados. Dessa forma, o produtor hoje, cada vez mais, está à mercê dos empréstimos que conduzem a integração de produtos ao consumo daqueles instrumentos mecanizados; e isto contribui para o fomento dos outros setores industriais que produzem esses instrumentos. Mas o acesso aos instrumentos tecnológicos não está aberto a todos os produtores. Sua utilização implica a condição de posse de fatores de produção para assegurar a hipoteca, conforme mostra NEVES (1981: 38):

Este processo de mecanização das atividades agrícolas intensificou a ruptura dos antigos mecanismos da ampliação dos recursos financeiros como diminuição das lavouras de subsistência, que possibilitavam o controle da reprodução física e social da unidade familiar sob menos dependência do mercado. Mesmo que haja uma baixa utilização dos instrumentos mecanizados devido a acidentes de terreno, hoje a agricultura utiliza-se de insumos (adubos, fertilizantes e agrotóxicos) na terra, integrando-se ao circuito da reprodução do capital industrial. A utilização desses produtos não só integra o circuito do capital das empresas industriais atuantes na transformação da matéria-prima por eles comercializada, como


outros setores industriais ligados à produção daqueles instrumentos e insumos. Assim, a economia municipal torna-se vulnerável a agentes externos, isto é, às flutuações do mercado mundial do açúcar e da tecnologia dos insumos de plantio e colheita. O cultivo da cana-de-açúcar ocupa 75,49% da área produtiva do município (Tabela 1 Anexo 1). Portanto, apenas esse produto sobressai-se naquela área deixando os demais produtos em um nível inferior à média estatística para os municípios da Zona da Mata. Dos treze principais produtos agrícolas que são produzidos no Estado e na Zona da Mata, apenas 5 são extraídos em Colônia Leopoldina. Das culturas permanentes, salienta-se apenas o cultivo de banana com uma participação do município para produção da Zona da Mata na ordem de 14,41% (Tabela 2 Anexo 1). Como não há diversificação da produção agrícola, a população tem que deslocar, de outros centros, os produtos básicos de alimentação. Este fato também é constatado (Tabelas 3 e 4 no Anexo 1) no que se refere à contribuição da pecuária para a economia municipal. Para atender ao consumo de carne, o rebanho bovino é trazido de outros municípios, afetando negativamente o consumo de todos os seus derivados. Tudo isto só faz contribuir para a dependência global dessa área.

Comércio varejista (Tabela 5 do Anexo 1)

A feira e o mercado estão no centro da cidade, oferecendo acesso a todos. Sobrevivem ainda nos “engenhos”38, os conhecidos “barracões”39, nos quais as famílias que residem nas vizinhanças se abastecem. Cria-se, aqui, um sistema de crédito e dependência simultâneos em que as pessoas dificilmente saldam suas dívidas. Os preços das mercadorias, nos barracões, também estão bem mais inflacionados. Um matadouro serve ao município no abate do gado para consumo. Suas instalações carecem de reformas, como necessário também se faz um rigoroso exame prévio nos animais que serão abatidos. O abate se dá aos sábados e a feira acontece no domingo. Mercado, matadouro e feira são administrados pela Prefeitura.

38

Não há mais engenhos na Zona da Cana, foram substituídos pelas usinas, mas sobrevivem seus antigos nomes nas propriedades.

39

Espécie de armazém que já pertencera aos donos dos engenhos, mas que hoje é arrendado a terceiros. Sua função sempre foi de fornecer gêneros alimentícios aos moradores a preço superior ao do comércio, mas a crédito.


Os gêneros alimentícios consumidos, tais como charque, leite em pó, macarrão, milho e manteiga vêm de outros municípios do Estado, sobretudo de Maceió. Vêm também de Palmares ou Caruaru, em Pernambuco. Com relação ao custo de vida, podese afirmar que cada município dessa região funciona como um “grande barracão”, pois o “custo de vida está superior até mesmo ao da capital”. O comércio varejista também é saída para muitos que conseguem uma pequena quantidade de dinheiro e com algumas garrafas conseguem montar uma bodega, driblar o desemprego e assim, “dar um jeito” de sobreviver. FRANK (1976) insere toda esta situação de dependência contextualizada na integração histórica do processo de desenvolvimento capitalista mundial. Direciona sua explicação ao fator concentrador em um único produto de exportação. Com relação à posse dos meios de produção acrescenta:

Está muito concentrada em poucas mãos (...) negando deste modo a grandes parcelas da população o acesso aos meios de produção e fontes de subsistência que não está na indústria produtiva para exportação, nem diretamente relacionada a ela, e onde são obrigados a trabalhar por salários muito baixos quando não em regime de escravidão total (1980: 30). Mesmo, internamente, as regiões como o Nordeste, Minas Gerais, Norte e também Centro-Sul converteram-se em regiões exportadoras de um único produto, incorporando-se à estrutura de desenvolvimento do sistema capitalista. FRANK (1976: 30) sustenta que o próprio desenvolvimento de São Paulo não gerou maior riqueza para as demais regiões do país. Converte em “satélites coloniais internos, descapitalizandose ainda mais, e consolidou ou até aumentou o seu subdesenvolvimento” . Também para o autor, o subdesenvolvimento dos países periféricos ou satelitizados está inserido no processo histórico de desenvolvimento do capitalismo. Em especial, a região nordestina parece comprovar uma das hipóteses do autor, segundo a qual as regiões que hoje são as mais subdesenvolvidas e aparentemente feudais são as que estiveram mais ligadas às metrópoles.

Educação


A educação é conduzida por três entidades. O antigo primário ou o ensino de 1o grau, séries iniciais, está sob a responsabilidade tanto do Estado, que tem um grupo escolar, como do município, que tem um outro grupo na rede municipal e várias vagas. As séries finais do 1o grau (5a a 8a séries) e o 2o grau (Magistério) são de responsabilidade da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC. Mesmo assim, o ensino de 2o grau encerrou suas atividades em 1979, com os cursos de Magistério e Contabilidade. Só em 1982 foi reaberto o Curso de Magistério, funcionando somente com a 1a e 2a séries. Contudo, a 2a série funcionou no 1o semestre daquele ano, sem grade curricular definida, em função da carência de professores. O alunado, de uma maneira geral, dispõe de bolsa de estudo tendo, entretanto, que pagar uma complementação, pois as bolsas não cobrem o total das mensalidades. Porém, mesmo o pagamento da complementação é empecilho ao prosseguimento do curso do jovem leopoldinense em função de suas condições econômicas adversas. Adiciona-se a esse problema econômico o descrédito à escola que há no município. Inicia-se, então, a prática de deslocamento de jovens para os municípios vizinhos: Palmares e Novo Lino. Hoje, esse processo adquire conotação de política partidária, contribuindo o poder público local para essa situação da estrutura escolar. A própria população não acredita na qualidade do ensino. Quando perguntada sobre as escolas e o colégio, as opiniões são as seguintes:

TABELA 8 Opinião da comunidade sobre as escolas % É boa

20,0

Não é boa

61,4

Não sabe

12,1

Não respondeu

6,4

TOTAL

100,0

A comunidade talvez não perceba que as contradições da escola podem manifestar-se na sua ineficiência de conteúdo, expressas no desencontro entre conteúdo urbano e conteúdo rural. Há, entretanto, um conjunto de contradições para a comunidade


que, de forma muito simples, sintetiza: “os meninos não sabem nada”. Existe solução para esta realidade? A comunidade também responde da seguinte forma: TABELA 9 Soluções apresentadas para a escola

% Construir mais escolas

11,4

Escolas de graça

10,0

Bons professores (conteúdo)

27,9

Aprova escola

11,4

Não sabe

12,9

Não respondeu

17,9

TOTAL

100,0

Vê-se que a comunidade tem suas propostas para a escola. Assumir estas propostas se faz necessário. Observa-se ainda um nível de escolaridade dos moradores da comunidade, bastante baixo, encontrando-se 65,5% dos pais e 60,4% das mães em um estágio de apenas saber assinar o nome. Todavia, o significado desses números surge com mais evidência e preocupação quando se vê que 74,1% das famílias não têm alguém que pelo menos concluiu o primeiro grau. Em relação ao segundo grau, esse índice sobe para 82,7%. Buscou-se, por fim, colher informações sobre a possibilidade de se aprender mesmo já adulto, tendo 65% respondido afirmativamente. Mas aprender o quê?

TABELA 10 Opções para estudar – escolha dos adultos % Ser motorista

3,6


Continuar estudos

17,9

Enfermagem

0,7

Mecânica

2,1

Ler, escrever e contar

25,0

Desenvolver comércio

1,4

Buscar cultura

5,7

Costurar ou bordar

4,3

Nada mais quer aprender

12,1

Não respondeu

13,6

Outros

13,6

TOTAL

100,0

Essa população pensa continuar seus estudos, quer iniciar aprendendo a ler e escrever, porém suas aspirações parecem bloqueadas pelo próprio esquema educacional que predomina na comunidade. A única opção é o MOBRAL, mas muitos expressam seu descrédito para com essa modalidade de ensino. Mesmo sem se ter percentuais desses números na análise, em possíveis trabalhos futuros, esses aspectos devem ser levados em consideração para servir, pelo menos, como início de reflexão. Os motivos para aprender não estão muito claros nas mentes dos entrevistados já que 40% não responderam nem discutiram a questão, enquanto 26,4% afirmaram simplesmente que têm necessidade de continuar; 9,3% afirmaram que já atuavam naquele setor de trabalho. Sobre o que poderiam ensinar num tipo de escola em que todos aprendessem conjuntamente, registram-se as seguintes informações:

TABELA 11 Atividades que os consultados na pesquisa podem ensinar % Comércio

2,9


Costurar

9,3

Eletricidade

0,7

Alfabetizar

18,6

Dirigir automóvel

4,3

Práticas do campo

7,1

Não sabe

16,4

Não respondeu

20,7

Outros

20,0

TOTAL

100,0

Nesse item do questionário, discute-se a ideia de que cada pessoa pode ensinar algo a outro. A discussão que este tema gera parece confundir a percepção do grupo que tem uma visão tradicional de professor. Muitos simplesmente não responderam. Uma prática educativa talvez os convenceria. Outro aspecto é o fato de que 18,6% se sentem com condições de alfabetizar. Há, portanto, uma dependência caracterizada, primeiramente, pela falta de uma escola adequada à região e também por terem que submeter-se, para alfabetização, a uma única metodologia que alguns não mais aceitam: a do MOBRAL. Enquanto isso, a escola vai mantendo o seu papel de defensora de uma pequena parcela daqueles que vão a outras localidades. Esse papel seletivo vem existindo desde a época colonial. Analisando o sistema educacional da América Latina, e em particular o do Brasil, CARNOY (1978) constata que a educação escolar, já na época colonial, atendia apenas a uma minoria para desempenhar funções profissionais. Com a independência, os liberais da América Latina introduzem algumas reformas, todas copiadas da Inglaterra ou da França. Mesmo com as reformas, pouco se mudou no sistema educacional. De um lado, não se efetiva mudança, porque as estruturas econômicas são mantidas; por outro, as próprias elites resistem. O autor mostra que a expansão - que mesmo com todos esses problemas ocorreu - estava dirigida para introduzir os indivíduos dos grupos marginais, sem escola


até então, para participar no setor moderno da economia como consumidores do excedente gerado pelo comércio de exportação. Esta é a solução encontrada pelos países industrializados para manter a sua ordem social transportada para a América Latina. Ainda assim, é limitadíssimo o acesso à escola secundária e superior, com o alunado muito tendente para o lado das crianças ricas. As camadas dominante e média são as fornecedoras da elite intelectual brasileira. Acrescente-se que a expansão da instrução primária é pequena e determinada pela economia dependente, pelo seu setor de exportação e por um sistema todo organizado para satisfazer às necessidades de consumo de pequenos grupos dos centros urbanos e das metrópoles. Não há mobilização para que a massa de negros, brancos, pobres e mestiços possa se incorporar a esse mercado. Assim, esta participação fica limitada pela própria estrutura dependente. Ainda para o autor, a dependência na educação já é marcante. Escolas Alemães (1890 – 1920) encerram suas atividades, mas é tolerada a influência da escola Norte-Americana. As escolas normais são organizadas segundo o modelo de Massachussetts e financiadas pelos Estados Unidos. O Mackenzie College, a escola de agricultura de Viçosa (Minas Gerais) e escolas profissionais para mulheres, no Rio e em São Paulo, são financiadas e seguem normas americanas. Já no Estado Novo (1937) se implanta um maior controle sobre a sociedade civil. Elabora-se um Plano Nacional de Educação. Este, entre outras normas, dispõe que é obrigação das indústrias e dos sindicatos criarem suas escolas de aprendizagem para filhos de empregados. Para TORINO (1982: 41), “a política educacional do Estado Novo não se limita à simples legislação e sua implantação. Visa, acima de tudo, transformar o sistema educacional em um instrumento mais eficaz de manipulação das classes subalternas”. Está formalmente implantada a dualidade do ensino, um ensino dirigido para as classes dominantes e outro para as classes dominadas. Saúde Os serviços de saúde também apresentam deficiências. Até 1979, o atendimento era feito por um único posto de saúde e um enfermeiro. Hoje, o município já dispõe de um hospital com cinco médicos, dois deles residentes. Mesmo assim, os tratamentos que exigem uma aparelhagem mais sofisticada, que não a que o médico normalmente utiliza, são feitos em Palmares ou Maceió. No município não há clínica


médica particular e, apenas, um odontólogo atende, duas vezes por semana, na Associação de Plantadores de Cana no município, entidade com sede em Maceió. A assistência odontológica é feita também no Sindicato Rural, porém, a um reduzido grupo de trabalhadores que sabe desse serviço, dada a pouca divulgação do Sindicato. Nas escolas, estes serviços inexistem, como inexiste também laboratório de análises clínicas. Consultada sobre os tipos de doença que as crianças apresentam, a comunidade respondeu o seguinte:

TABELA 12 Doenças que mais afetam as crianças % Verme

45,7

Disenteria

8,7

Feridas

0,7

Paralisia

0,7

Gripe

17,1

Bronquite-tosse

5,0

Não sabe

7,1

Não respondeu

3,6

Outros

11,4

TOTAL

100,0

Não há perspectiva de mudança no quadro da saúde. Não se tem plano de saúde, nada se conhece. Assim, só com a existência de um quadro de médicos, uma boa parcela da população acredita no atendimento do hospital, como demonstra a tabela a seguir:


TABELA 13 Atendimento médico local % Bom

46,6

Ruim

18,6

Regular

25,7

Não sabe

3,6

Não respondeu

5,7

TOTAL

100,0

Mas, a comunidade sabe como melhorar o quadro da saúde e apresenta as seguintes sugestões:

TABELA 14 Sugestões para melhoria da saúde % Mais médico 15,0 Especialista 5,0 Qualificar enfermeira 12,1 Aumentar atendimento 4,3 Mais equipamento 13,6 Falando com os “homens” 1,4 Conscientizar Pes. (do hospital 5,0 Acabar politicagem 2,9 Não sabe 9,3 Não respondeu 22,1 Outros 9,3 TOTAL 100,00

A efetivação de algumas dessas propostas apresentadas exige um trabalho de organização dos que atuam no setor.


Família, emprego e profissão A família leopoldinense tem em média cinco dependentes, sendo que 52,8% são dependentes menores de sete anos. A situação de emprego, em plena época do verão, tempo da colheita, é a seguinte:

TABELA 15 Situação empregatícia do(a) chefe da família % Empregado

51,4

Eventual

33,6

Aposentado

8,6

Falecido

6,4

TOTAL

100,0

Normalmente, o pai assume todos os dependentes, já que apenas 30% das famílias têm mais alguém que contribui para as despesas. A mãe, no verão, também passa a ajudar no sustento da família, mas normalmente, está em casa. TABELA 16 Situação empregatícia da mãe de família % Empregada

9,3

Eventual

8,6

Desempregada

0,7

Do lar

72,9

Falecido

3,6

Aposentado

5,0

TOTAL

100,0


Entre as profissões dos responsáveis pela família, apresenta-se a seguinte discriminação:

TABELA 17 Profissão do chefe da família % Agricultores

26,5

Barbeiro

2,9

Comerciante

12,9

Serralheiro

0,7

Pedreiro

10,0

Do lar

2,7

Aposentado

9,3

Outros

35,0

TOTAL

100,0

O número de subempregados, sobretudo na sede municipal, é considerável, mas o quadro se agrava no período de inverno (abril a agosto), quando o desemprego atinge o maior número de trabalhadores que vivem do plantio e colheita de cana. É a época de entre-safra. Esta situação é comum na região e se repete a cada ano. A tabela a seguir indica como é a vida dessa comunidade no inverno.

TABELA 18 Situação da população no inverno (março a setembro) % Muita privação

70,0

Sai para outro lugar

7,1

Igual ao verão

9,3


Não respondeu

12,1

Outros

1,5

TOTAL

100,0

Esta situação de dependência do homem em relação à monocultura torna-se ainda mais patente. Mas como se situa esse homem em termos de planejamento oficial? Para planejar a política açucareira, foi criado o Instituto de Açúcar e do Álcool (IAA). Dentre os órgãos mais importantes, encarregados de Planos de Defesa da Safra, destacase a Divisão dos Estatutos e Planejamentos (Dep), que tem os seguintes objetivos:

a) estudar as questões de ordem econômica e fornecer os elementos necessários à orientação política agro-industrial canavieira, procedendo para esse fim ao necessário planejamento; b) estudar as questões relacionadas com os custos de produção agro-industrial canavieira e com os preços de venda dos produtos oriundos e sob a alçada do IAA; c) estudar os problemas relacionados com a política do contingenciamento da produção açucareira (estabelecimento de critérios para a fixação das quotas de produção); d) estudar a situação estatística da produção e do comércio de cana, do açúcar, do álcool, da aguardente, bem como a relativa aos carburantes nacionais e ao transporte dos produtos referidos.

Observe-se, entretanto, que nenhuma incumbência apresenta, de forma explícita, qualquer preocupação com o homem da região açucareira. Este, no final, é que sofre diretamente com as oscilações do mercado de açúcar e do álcool. Analisando as dificuldades do setor açucareiro, SZMRECSANYI(1979: 433) aponta, além da baixa produtividade, a pobreza generalizada dos trabalhadores do setor, acrescentando:

O que é pior e mais doloroso, a pobreza mais ou menos generalizada das classes assalariadas ligadas ao setor, sobretudo em algumas áreas do País, com graves repercussões de caráter social, algumas vezes mesmo com reflexos desfavoráveis no conceito que desfrutamos no exterior.


Hoje, novos objetivos são definidos pelo Programa Nacional de Melhoramento da cana-de-açúcar (Planalsucar). O plantio da cana continua se expandindo alicerçado nos planos governamentais de criação de mais usinas e destilarias (Pró-Álcool). Buscase, através desse programa, obter-se rendimentos agroindustriais expressos em termos de quilos de cana-de-açúcar por hectare cultivado, rendimentos que são considerados pouco expressivos nos últimos 40 anos. O homem continua não sendo a preocupação para a zona canavieira.

Esporte Sobre a história do esporte local, pouco há registrado a respeito das possíveis agremiações que existiram, seus fins ou formas de atuação. Segundo BORGES (1975: 14), um time de futebol foi criado lá pelos idos de 1949, e nada mais se tem escrito. Existe uma equipe que informalmente está atrelada ao poder público local. Entretanto, não apresenta qualquer organização do ponto de vista formal, nem mesmo com um simples regimento interno. Dependente da ajuda do poder público e esporádicas ajudas do comércio, limita-se apenas a reduzidas partidas de futebol. Além de existir um único tipo de esporte, o futebol, ele só acontece na época do verão, período da safra de cana na região. Está, portanto, ligado ao ciclo econômico regional. Quando, às vezes, surge alguma outra equipe pretendendo se organizar, ela dependente de A ou B que possui uma bola ou um conjunto de camisas, doação de algum candidato na época da eleição. Este se torna o dono do time, até que acabem a bola. A equipe está desfeita; aliás, nunca existiu. Consultando a comunidade sobre atividades esportivas, 72,1% as acham necessárias. Porém, sobre a existência dessa prática, 41,4% afirmam que não há; 17,1% apontam unicamente o futebol e 24,3% ou não sabem ou não responderam a questão. Mas, quando perguntadas sobre o que fazer para ativar a prática desportiva, as pessoas responderam da forma indicada na tabela abaixo:

TABELA 19 O que fazer para ativar o esporte %


Iniciar nas escolas

6,4

Construção de quadras

15,0

Construção de outro campo

7,2

Sem possibilidades

1,4

Não tem propostas

70,0

TOTAL

100,0

Tradições culturais

A tradição cultural local, hoje, padece também da conhecida “indústria cultural”. A indústria cultural compreende o conjunto de pessoas de produção cultural como também dos meios de comercialização das mercadorias culturais. Constitui-se de duas ordens de produtos culturais: uma ordem montada em livros, jornal, rádio, televisão, etc. Outra que compreende o sistema de comunicação, ensino e propaganda. O município não está fora desse contexto. Porém, pelo reduzido número de exemplares de jornais que chegam à cidade, além da ausência de livrarias e bibliotecas, leva-se a concluir que a ação dessas empresas se efetiva via rádio e televisão. Esses canais de comunicação são os de Recife e Maceió, sobretudo a Rádio Cultura dos Palmares (Cidade dos Palmares). A esse respeito, assinala SILVA (1983: 195): Todo o conjunto de manifestações espontâneas vamos encontrar nas artes e nas letras em Colônia que em épocas passadas não foram registradas pelo pouco o nenhum valor dado e também pela falta de incentivo, pois tais coisas não eram e não são merecedoras de estímulo e reconhecimento, o que é lastimável. Para GRAMSCI (1979), nas manifestações da vida social e espiritual do homem comum, há uma riqueza de ver, de pensar e de expressar o que a ciência e a política desconhecem. Já IANNI (1079: 139) entende a necessidade desse conhecimento achando, entretanto, que esse povo composto de operários, camponeses e outras categorias está em processo de extinção. No entanto, afirma:


Vale a pena trabalhar com ele para conhecer como ele é no momento, quais são as suas maneiras de ser, de pensar, de trabalhar, de criar mas reconhecendo, preliminarmente, que é uma espécie que está em rápida extinção, por causa do desenvolvimento das relações do produção do tipo capitalista, por causa do divórcio acelerado entre trabalhadores e propriedades dos meios de produção.

Nesse sentido, sabe-se que, aproximadamente em 1920, foi criada a Filarmônica 16 de Julho. Não se sabe exatamente quando acabou. Em 1960, surgiu uma nova Banda Filarmônica, inexistente hoje. Na arte pirotécnica, destacam-se fogueteiros com seus famosos balões de Maio e São João - mas esta arte não resistiu. Porém, na busca de encontrar as manifestações culturais do povo, as fontes mais importantes são o coco-de-roda; o reizado, os guerreiros; a banda de zabumba São Sebastião e pastoril, bem como as festas de São João e São Sebastião, nos meses de junho e janeiro, respectivamente. Em menor expressão, estão as cavalhadas. Torna-se importante conhecer as formas de expressão popular que ainda resistem tais como: coco-de-roda ou o coco-de-umbigada, que se dança nas festas juninas; o pastoril, folguedo natalino que se dança em jornada solta, sem visar uma sequência, sendo o folguedo de maior expressão também no Estado. Estão, praticamente, extintos a cavalhada e o reizado, enquanto que há cinco anos que não se dança os guerreiros. Porém, estas festas, mesmo em processo de extinção, estão na mente do povo, o qual manifesta o desejo de que elas retornem, como se verá adiante. Além das festas juninas, destacam-se também as festas natalinas, que não apresentam organização do povo de forma definida e contínua. Já a festa de São Sebastião é a mais estruturada delas, sendo atração em toda a região. Sua organização está a cargo da Igreja Católica, com a participação da Prefeitura. Mesmo com a invasão da cultura brasileira pela conhecida “indústria cultural”, o povo ainda mantém resistência a todo este processo. Indagada como vê o enfraquecimento ou o fim dos seus folguedos populares, a comunidade emitiu as seguintes opiniões.

TABELA 20 Visão da comunidade sobre o fim dos folguedos % Bom se acabar

10,7


Ruim se acabar

70,7

Indiferente

10,7

Não sabe

2,9

Não respondeu

5,0

TOTAL

100,0

Mas a invasão cultural parece ter avançado ainda mais nos setores mais populares da comunidade. Ora, é nas ruas da Mangueira e Titara onde a preocupação com o fim dos folguedos está menor, atingindo um percentual de 53,3% dos que acharam ruim sua extinção, enquanto na comunidade toda o percentual foi de 70,7%. Mas, se nesse setor registrou-se tal índice, é lá também que se encontram pessoas mais dispostas a tocar para frente a ideia de reativação dos guerreiros e a formar um grupo para reativá-los, levando em conta as seguintes propostas:

TABELA 21 Propostas para a reativação dos folguedos % Só poder público

10,0

Ensinar novos a dançar

2,1

Reunir interessados

32,9

Não voltar mais

8,6

Não respondeu

25,7

Outros

17,1

Não sabe

3,6

TOTAL

100,0


Portanto, ainda está presente na mente da comunidade a possibilidade da reorganização desses valores culturais. É necessário que a população se reúna, já que a reativação das festividades envolve muitas pessoas. Na dança dos guerreiros, por exemplo, envolvem-se aproximadamente vinte pessoas. Por outro lado, há também uma parte da população que já não acredita mais na volta desses folguedos, não respondendo, ou por não acreditar mais em nada, ou ainda por não ver saída nesse esquema financeiro que se tem hoje. Há ainda a se registrar o paternalismo dos poderes públicos locais desenvolvendo a mentalidade de que só o poder público tem força. Se enfraquece, assim, o poder que o povo unido tem e se fortalece o sistema vigente. Mas, de que maneira é gerada essa cultura dependente no contexto das sociedades estratificadas? Estando essa região inserida nas relações capitalistas de dependência, aí também se situa a dependência cultural. A cultura capitalista, portanto, é elemento importante para a reprodução dessas relações tanto em escala nacional como internacional. Nas relações de dominação, a cultura conduz à reprodução de ideias, valores, princípios e doutrinas dessa dominação. Para PONCE (1981: 165), “a classe que domina materialmente é também a que domina com a sua moral, a sua educação e as suas ideias.” O capitalismo, sendo um modo de produção, gera historicamente o desenvolvimento dessa característica. Esse modo de produção diz respeito não só à produção material como à produção intelectual. Dessa forma, ambos se inserem no conjunto global do processo de reprodução das relações capitalistas, e, concluindo-se que “a produção intelectual é indispensável ao funcionamento e à reposição das relações do sistema, em escala nacional e mundial” (IANNI, 1979: 13). Segundo o autor, essa produção intelectual, em sentido lato, torna-se a base da cultura capitalista, tanto material como espiritual. Assim, no jogo de interesses econômicos, políticos, militares e outros da burguesia dependente, são transferidos os valores, as ideias princípios e doutrinas, elementos componentes da ideologia de dominação. Por sua vez, a ideologia da burguesia dependente tenta sintetizar essas ideias, crenças ou concepções que caracterizam a cultura da dependência, entendendo-se que esta é fortemente determinada por aquela. Portanto, as ideias da classe dominante passam a ser as ideias dominantes num momento, através de todo um processo de ideologização. Nesse sentido, Marx e Engels, apud IANNI (ibid.: 30), afirmam:


Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, também, uma consciência, e, portanto, pensam. Na medida em que dominam como classe, e determinam uma época histórica em toda a sua amplitude, é claro que esse domínio se exerce em todos os setores de sua classe, donde dominarem também, entre outras coisas, como pensadores, como produtores de ideias, e regularem a produção e distribuição de ideias na sua época. As ideias são, portanto, as ideias dominantes de sua época. A dominação dos países centrais sobre os países periféricos numa análise econômica, apresenta-se de certa forma convincente. Determinando a economia do país dependente, as ideias dos países centrais tornam-se dominantes, sendo defendidas, sobretudo, pela burguesia do país dependente. Porém, de que maneira surge essa dominação de uma classe sobre a outra no aspecto da cultura? Para se entender esta questão, faz-se necessário compreender a cultura no seu significado amplo. PINTO (1979: 122) considera a cultura como “uma criação do homem, resultante da complexidade crescente das operações de que esse animal se mostra capaz no trato com a natureza material e da luta a que se vê obrigado para manter-se em vida”. Essa capacidade de luta, de resposta à realidade cresceu de intensidade e qualidade num processo acumulativo. Todo esse conjunto de atos vai sendo transferido às gerações futuras. Os atos criativos do homem e da cultura são apenas faces de um mesmo processo, inicialmente uma face orgânica e outra de caráter social. É no desenvolvimento e aperfeiçoamento de suas qualidades orgânicas que o homem é levado a transformar sua realidade. Inicialmente se dá de forma inconsciente e depois conscientemente. PINTO (ibid.: 123) apresenta o seguinte conceito de cultura: O processo pelo qual o homem acumula as experiências que vai sendo capaz de realizar, discerne entre elas, fixa as de efeito favorável e, como resultado da ação exercida, converte em ideias as imagens e lembranças, a princípio coladas às realidades sensíveis, e depois generalizadas, desse contato incentivo com o mundo natural. Daí se conclui que o mundo adquire duas ordens da realidade, provindas de uma mesma operação de conquista do meio-ambiente: os instrumentos ainda em estado natural e depois fabricados e as ideias que surgem no pensamento com a utilização desses instrumentos sobre a natureza. Dessa forma, a cultura vem se constituir como efeito da relação produtiva do homem sobre a realidade, estando intrinsecamente ligada ao processo de produção.


Nesta visão, FREIRE (1980: 38) entende cultura como “todo o resultado da atividade humana, do esforço criador e recriador do homem, do seu trabalho por transformar e estabelecer relações de diálogo com outros homens” . Todavia, essas relações de diálogo foram afastadas, já que as riquezas estão nas mãos da classe dominante e nela se concentra também a cultura espiritual e material. Para LEONTIEV (1980: 60), as criações dessa cultura parecem até existir para todos, ressalvando, no entanto, que:

Só uma minoria ínfima tem possibilidades materiais e tempo para satisfazer os seus anseios de instrução para completar sistematicamente os seus conhecimentos e dedicar-se às artes, ao mesmo tempo, as massas especialmente a população rural, devem contentar-se com um mínimo de desenvolvimento cultural, o mínimo indispensável para que possam realizar, dentro dos limites traçados para os operários, a atividade profissional e a produção de valores materiais. Entendida como resultado também do processo produtivo, a cultura traz em si a dupla natureza de bem de consumo: enquanto resultado, tornada concreta em coisas e artefatos e subjetivada em ideias gerais de ação produtiva, e bem de produção, no sentido de subjugação da realidade pelas ideias gerando simultaneamente nova capacidade humana. Segundo PINTO (ibid.: 124), trata-se da capacidade de “idealizar em prospeção os possíveis efeitos de atos a realizar, conceber novos instrumentos e novas técnicas de exploração do mundo, e criar ideias que significam finalidades para as ações a empreender”. Portanto, o homem passa a ser ele próprio um bem de produção, porém de si para si mesmo. É de fundamental importância este conceito de que “o homem produza cultura por uma necessidade existencial, para se apropriar dela, pois é por meio dela que chega a postular as finalidades da sua ação” (ibid.: 126). Mas o que vem ocorrendo historicamente é que um grupo minoritário assume os bens de produção material e outro corporifica a força de produção (dependente). Com isso, surgem dois fenômenos: de um lado, o acervo cultural se constitui, em seu conjunto, de instrumentos de transformação da realidade; e de outro lado, as máquinas, as ferramentas, técnicas, operações manuais e criação artística e ideológica que essas operações desenvolvem e as orientam posteriormente. O grupo minoritário se apropria essencialmente dessa segunda ordem de bens materiais, entendendo que a primeira já está em suas mãos. Daí todo um enaltecimento dirigido à


posse das ideias e dos produtos dessas ideias da cultura. A primeira ordem de bens materiais é deslocada para a massa trabalhadora. Cindida está a sociedade em dois grupos essenciais e que manejam o produto da cultura. O outro resultado é que os detentores do ideal e subjetivo da cultura se apoderam também dos produtos da fabricação dos que manipulam os instrumentos materiais. Mas essa minoria (opressora) vai mais além, chegando a apouderar-se do próprio homem enquanto tal, em sua qualidade de instrumento produtivo. Esse processo teve seu auge na escravidão. Assim, tem-se o auge também de dependência individual em que o homem é transformado em um objeto material e, portanto, desumanizado.

Religiosidade

A religião católica está presente na vida da comunidade desde a instalação da Colônia Militar. Já naquela época, lança-se a primeira pedra religiosa e hoje permanece alicerçada na comunidade. A religião protestante também se faz presente, estando os seus adeptos distribuídos em duas igrejas. A igreja católica também congrega pessoas em torno de um centro comunitário, desenvolvendo atividades pastorais. O trabalho organizativo se apresenta indefinido, ao que parece, pela complexidade da composição social do município. Um grupo de três freiras desenvolve atividades de assistência em certas épocas do ano, como no Natal, com a promoção do „Natal do Pobre‟ ou atividades culturais com a mocidade católica. O grupo de jovens também se apresenta indefinido quanto ao tipo de atividade e à forma de executá-la junto à comunidade.

Política

Podem-se identificar dois grandes grupos no município: os proprietários de terra, que são os fornecedores de cana à usina; e o campesinato, os trabalhadores rurais. Há contradições no próprio grupo de fornecedores, decorrentes da sua diferente situação financeira. Isto também constitui fator gerador de conflitos. Uns utilizam as vantagens


dos financiamentos, enquanto outros não. Na busca de solução dos conflitos, acionamse os interesses político-partidários que deságuam todos nos interesses agrícolas. Já o campesinato local precisa também ser caracterizado. Nesse sentido PINTO (1981: 74) apresenta-o não como uma classe homogênea e uniforme. Há nele todo um conjunto social e complexo, constituído de frações, “cuja especificidade se origina de processo de desenvolvimento histórico da sociedade, no qual distintos modos de organização da produção conduzem à diferentes tipos de relações sociais”. Essas frações constituintes do campesinato não geram, entretanto, antagonismo entre si. Caracterizando-se o campesinato no município, é possível localizar as frações seguintes: minifundistas ou pequenos proprietários que tiram o seu próprio sustento da terra, com instrumento pouco desenvolvido tecnologicamente; arrendatários, que são grupos de camponeses sem terra; e trabalhadores volantes, que são aqueles que estão em processo de proletarização e que vendem sua força de trabalho por um salário em dinheiro. Na Zona da Mata, são chamados “curumba”, caracterizando-se por um salário de subsistência e estão à mercê da flutuação do mercado de trabalho. No entendimento de SINGER (1979), a proletarização do trabalhador rural, no Brasil, não tem gerado assalariados permanentes nas fazendas, mas transformou os colonos posseiros e moradores em trabalhadores diaristas ou volantes. Os políticos defendem suas questões pessoais. A preocupação pela solução dos problemas locais não é externada na prática. A política assume o caráter partidário, eleitoreiro, passando a ser a geradora de uma prática assistencialista às pessoas e sem qualquer programa de governo local. Na campanha eleitoral, os políticos investem em doações de terrenos, tijolos, cimento, areia, sendo nas áreas mais pobres acontecem as doações e se constroem as casas populares. Dessa forma, mantém-se a estrutura política de sempre, sustentada pela burguesia rural. Permanecem, ainda, os políticos que são invariavelmente quatro pessoas que, desde 1950, revezam-se na Prefeitura. A prática de todos é a mesma, e o clientelismo continua. O período eleitoral, aliás, é a rara oportunidade para a obtenção de favores, para o transporte gratuito em toda a fase da eleição, churrascos nos engenhos, enfim, os benefícios que uma campanha eleitoral traz. Esta começa um ou dois anos antes do esperado: dia 15 de novembro, o dia da votação. É a fase dos acordos e dos “conchavos”. Passada a fase de registro dos candidatos, está instalada a campanha. Bailes, comícios, festas de casamento e batizados estão na agenda e a eles o candidato não pode faltar. Para atender os pedidos de documentos, instalamse postos; prometem-se empregos ou viagens. Os candidatos deixam transparecer a


imagem do homem “bondoso” que tem dinheiro. O político sabe da necessidade de estar junto ao povo e conhece o dizer popular que “o pobre é cativo do agrado”. Ele tem de agradar no período eleitoral. As visitas de candidato a deputado federal ou estadual são demonstrações de “força” e “prestígio” políticos junto ao povo. No dia da eleição, é preciso muito trabalho, cuidado e dinheiro. Nada pode comprometer tantos esforços. Os transportes estão na rua para deslocar os eleitores até as urnas. Os eleitores que vêm dos sítios ou engenhos, antes de entrarem na cidade, são orientados mais um vez. Mas os cuidados não ficam só aí. Para maior segurança, instalam-se nas “bocas de urna” grupos de três ou quatro elementos para fazerem a última revisão no eleitor, tirar-lhe as possíveis cédulas de outros candidatos e entregarlhe a cédula de seu candidato. Aos mais reticentes, entrega-se a cédula eleitoral e outra cédula em dinheiro. O empenho é levado em consideração para os que pretendem atuar na manipulação das organizações públicas. É um grande investimento. Porém, não basta apenas estar no poder público e controlar essas organizações. Tratando-se de um investimento, é necessário ao político ser “habilidoso” para, com manipulações inteligentes, tirar vantagens e benefícios desse mando sobre a comunidade e também recuperar seu investimento com as devidas correções monetárias. Se o PDS local tem apoio e seus dirigentes são os usineiros e altos comerciantes, a oposição local (PMDB), sem apoio de industriais ou patrões, tem como base alguns comerciantes e alguns médios plantadores de cana. Essa oposição busca apresentar um estilo político diferente. Há, entretanto, prática política semelhante ao do PDS, entretanto, em município vizinho onde a oposição local foi vencedora. Aqui, há, ainda, por parte da população, certa desconfiança do que apresenta a oposição, já que, em épocas passadas, chegou-se, inclusive, a fazer comícios no mesmo palanque com a antiga Arena. Mesmo assim, um grupo de oposição permanece, porém, sem perspectiva de vencer, a curto prazo. As marcas da campanha eleitoral atingem todos os setores da comunidade, afetando até mesmo o religioso, que se pretende neutro nessa luta. Após as eleições, o padre falava que “os fiéis haviam se afastado um pouco das missas do domingo”.

Outros aspectos

No que se refere à habitação, existem atualmente 1.456 domicílios ocupados na sede municipal. Grande quantidade da população não dispõe de água encanada e alguns


setores da cidade ainda não dispõem de energia elétrica nem iluminação pública. Naqueles arredores, sobretudo, encontram-se as habitações com piores condições de moradia, sem água, sem energia, e sem fossa sanitária, sendo, em geral, de taipa40. Serviços como abastecimento d‟água são deficientes e inexiste um sistema de esgoto, o que agrava a saúde coletiva, sobretudo, adas crianças. Sobre a origem da água de uso doméstico, apresentam-se os índices da tabela abaixo. TABELA 22 Origem da água % Encanada 57,9 Chafariz 40,0 Cacimbão 9,1 TOTAL 100,0 A água é de qualidade discutível, apesar de ser encanada, já que raramente existe tratamento. Os reservatórios estão sempre cheios de aruá (caramujos) portadores de verminoses diversas. Ainda encontram-se cacimbões em quintais por onde também passam esgotos abertos da cidade. Porém, a maior satisfação é ter água. Do total de entrevistados, 87,1% declararam-se insatisfeitos por conta da falta d‟água. As soluções propostas pela comunidade para a solução desse problema são resumidas na tabela abaixo:

TABELA 23 Soluções da comunidade para a falta d‟água %

40

Falar com autoridades

32,9

Fazer tanques

5,7

Reunir todo mundo

12,9

Reunir e não pagar

3,6

Moradias construídas de estacas de madeira e ripas que formam um engradado sustentador do barro amassado, muito comum na zona rural.


Não sabe

10,0

Não respondeu

15,0

Outros

20,0

TOTAL

100,0

Registrou-se um expressivo percentual daqueles que não souberam, ou não quiseram responder. Sentem muito receio em dar respostas que podem ser entendidas como críticas às autoridades. Outros propõem até o não pagamento. A forma de concretizar cada proposta não deixa de ser uma grande dificuldade. Faz-se necessário também conhecer a que tipo de programa a comunidade assiste, tanto no rádio como na televisão. Os habitantes assistem, praticamente na mesma proporção, aos programas de Silvio Santos e novelas: 20,7% e 19,3%, respectivamente. Quanto aos programs de rádio, escuta-se, na Rádio Cultura dos Palmares, o “combate”, um programa que traz uma mensagem de justiceiro: quem pratica o mal deve estar na cadeia - quando há alguma crítica, não vai além de crítica ao delegado de polícia ou mais comumente ao soldado. Esse programa apresenta 29,3% de audiências e é líder absoluto no seu horário. Sem canais de expressão, a população passa a ouvir um programa que às vezes, pode identificar-se com suas aspirações: o desejo de justiça. Pode estar inculcada no homem trabalhador rural a ideia de que ele não tem força, de que ele está totalmente submetido aos poderes locais nos dizeres de que “ analfabeto é para estar calado”. Ele não mais em nenhum trabalho conjunto na localidade e quer saber se isto não vai para fora daquelas fronteiras. É como dizer que naquela região nada mais é possível. Em contrapartida, existe uma pequena parcela que ainda arrisca fazer denúncias, embora meio temeroso. Mas é a partir daí que se entende que o trabalhador ainda resiste. Aliás, na concepção de BORDA (1972), o camponês ou o operário não é nada conservador, é mesmo realista e dinâmico.

AÇÃO CULTURAL

Caracterizada a situação de dependência da comunidade, passa-se agora a apresentar todo o processo da ação cultural desenvolvido naquela realidade, bem como


de que maneira foram formados os grupos e suas atividades.

Antes, porém, são

definidas as características da ação cultural, apresentando suas diferenças com outros tipos de atividades que não conduzem à organização dos participantes e que não servem à liberdade e sim à dominação. Mas, qual será a importância dessa libertação para um povo? Para FREIRE (1980: 62), esta é a tarefa fundamental dos países subdesenvolvidos: a superação de sua “situação limite” de sociedades dependentes. Sem essa superação, elas continuarão a experiência da “cultura do silêncio”. Tal cultura não significa, entretanto, não ter a sua palavra autêntica, “mas seguir as prescrições daqueles que falam e impõem sua voz”. Na busca da superação da “situação-limite” das sociedades dependentes, pode-se desenvolver a consciência de classe. Para isto, faz-se necessária uma ação organizada em cada contexto cultural, dirigida para a transformação dessa realidade. Mas que características deve apresentar uma ação cultural que conduza ao rompimento da “cultura do silêncio”? No momento histórico da humanidade, em que o homem é desapropriado da percepção de sua cultura, surge a sociedade de classe. A ideia de dominação se impõe. A vigilância surge no sentido de extinguir todo movimento de protesto dos oprimidos. Fora do trabalho manual, as classes “superiores” tornam-se socialmente improdutivas. A partir daí, o pensamento e a linguagem, constituintes de um todo, expressam sempre a realidade do dominador. Este conjunto torna-se, dessa forma, um pensamento alienante. Todo esse pensamento chega até as sociedades dependentes imposto pela classe opressora numa prática que é culturalmente alienante. “Este modo de pensamento, dissociado da ação que supões um pensamento autêntico, perde-se em palavras falsas e ineficazes” (FREIRE, 1977: 103). A interiorização desses valores dominantes não é apenas um fenômeno individual; é um fenômeno social e cultural. Aí, a ação pode constituir a denúncia dessa interiorização e anúncio da realidade com conhecimento científico. Como diz FREIRE (1976: 75), na ação cultural, a conscientização41 constitui-se em ação de superar a consciência semiintransitiva, a ingenuidade pela consciência crítica da classe dominada.

41

Ver, a respeito do processo de conscientização e dos níveis de consciência na concepção de Paulo Freire, Educação como Prática da Liberdade. Paz e Terra, 12a. ed. São Paulo, 1981. E Ainda em Conscientização. Editora Moraes, São Paulo, 1980.


Uma ação que, partindo da consciência real, conduza à consciência possível42, ou à consciência de classe do proletariado (GOLDMAN, 1972). Uma consciência gerada dentro do processo de diálogo, de discussão ou de crítica. A crítica é necessária e deve ser vivenciada na prática. Com isto, “nossa ação involucra uma crítica-reflexão que, organizando cada vez o pensar, nos leva a superar um conhecimento estritamente ingênuo da realidade. Este precisa alcançar um nível superior com que os homens cheguem à razão da realidade” (FREIRE, 1979: 152). Mas, para isto, faz-se necessário um pensar constante que não pode estar dissociado das massas. Ao se pensar com as massas, o objetivo torna-se a libertação das massas. Sob esse ângulo, o pensar certo é não deixar as massas se expressarem. É não deixar as massas pensarem. Mas é no pensar com elas que se dá a conscientização. Aqui a prática da ação cultural e a ação antidialógica se contrapõem. A classe dominada não pratica a conscientização, pois se exige-se, na sua execução, denúncia das estruturas de dominação, e isto não é de interesse do dominador. A ação antidialógica que serve ao dominador e a ação cultural que serve ao dominado são antagônicas. A ação cultural para a liberdade traz consigo o diálogo para a construção de conhecimento com as massas. Já a ação antidialógica descarta tal possibilidade, impedindo a visão crítica da realidade. A ação antidialógica gera a dominação de classe e esconde a realidade para preservar o poder. Para isto, utiliza-se da tecnologia e da ciência. A ação cultural para a liberdade também necessita da ciência e da tecnologia, porém, para desmistificar a realidade. Para desmistificar a realidade é preciso analisá-la através de um conhecimento, que é um ato dinâmico, não se satisfazendo apenas no objeto. A realização como conhecimento verdadeiro se torna completa quando passa a incidir sobre o objeto cognoscível de transformação. Caracterizando-as mais sistematicamente, FREIRE (1979: 143) define a ação cultural e ação antidialógica com base em quatro características gerais discutidas. A ação antidialógica tem necessidade da conquista, pretende conquistar o dominado. Utiliza todas as formas possíveis para tal, das mais repressoras às paternalistas. Este ato de dominação determina as finalidades e só o dominador tem os objetivos. Os homens são cortados de sua ação no mundo; devem-se adaptar a esta realidade. Impõem, pois, a essa ordem repressora, os seus mitos com os mais diferentes 42

Ver consciência real e a consciência possível em Lucien Goldman, A criação da cultura de uma sociedade moderna. Difusão Européia do Livro, São Paulo, l972.


esquemas de divulgação, como liberdade de trabalho, conformismo com a situação de vida, a “boa sociedade ocidental”, harmonia da sociedade, preguiça dos oprimidos. É o dar “pão e circo” às massas para conquistá-las. Uma dimensão importante da ação antidialógica é a necessidade de dividir para manter a dominação das maiorias pelas minorias. Estas utilizam-se, inclusive, da violência, para manter a divisão entre as maiorias, pois sua união é ameaçadora. União e organização são conceitos perigosos para a minoria. O desenvolvimento das comunidades se dará não pelas comunidades, mas pelo treinamento de líderes que vão gerando a promoção do todo. Dividir para dominar se expressa em ações como a intervenção em sindicatos; quando não, estimulando a “criação dos sindicatos reformistas, paralelos aos sindicatos anti-imperialistas” (HARNECKER, 1980: 47). Um aspecto da divisão se expressa também na ideia de que os dominadores surgiram para salvar os homens; buscam na verdade a sua salvação individual. Sob qualquer ponto de vista da salvação, diz FREIRE (ob. cit.), equivocamse, pois ninguém se salva sozinho, e como opressores, não podem estar do lado dos oprimidos. Outra característica dessa ação antidialógica é a manipulação das massas oprimidas. Este é o instrumento fundamental da conquista. O assistencialismo é também um instrumento fundamental da manipulação que se utiliza para esconder os verdadeiros problemas da sociedade e, sobretudo, para distrair camadas populares. Da ação antidialógica faz parte, ainda, a invasão cultural. Esta, associada à manipulação e à divisão, juntas vão constituir a conquista. Uma invasão considerada como “penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos invadidos, impondo a estes sua visão do mundo, enquanto lhes freiam a criatividade, ao inibirem sua expressão” (FREIRE, 1979: 178). Nesse sentido, os invasores são os autores e atores do processo. Os invadidos vivem na ilusão de serem atores na atuação da classe dominante. Na realidade a invasão constitui, já em si, a dependência, ou torna-se um instrumento de dependência utilizado pela minoria dominante. Daí que, nesse processo, o lar e a escola, não fugindo às condições estruturais, refletem esta invasão numa sociedade de dominação. Para o invadido, é proibido pensar. Outro aspecto que caracteriza a invasão cultural, introjetado no invadido pelos instrumentos de dominação, é o “medo da liberdade”. Na problematização das situações concretas, há um “desnudar-se de seus mitos e renunciar a eles, no momento,


é uma “violência” contra si mesmos, praticada por eles próprios. Afirmá-los é revelarse” (FREIRE, 1979: 183). Mas, problematizar as relações homem-mundo aos oprimidos é componente essencial de uma ação cultural, cujo objetivo seja a superação da situação de dominação, de dependência. Para tanto, têm-se as características fundamentais desta ação, ou seja: colaboração, união para libertação, organização e síntese cultural. Na colaboração, não se tem conquista, portanto não se tem conquistado. Os homens se encontram para a transformação de sua realidade e não há imposição nem domesticação. Isto não significa que a ação cultural não conduza a nada, nem deixa uma consciência clara da realidade concreta. Seus objetivos são comprometidos com a libertação, conforme o pensamento de FREIRE (1979: 197): As massas oprimidas que se libertem, não pode pretender conquistá-las, mas conseguir sua adesão para libertação. Adesão conquistada não é adesão, porque é “aderência” do conquistado ao conquistador através da prescrição das opções deste àquele. Adesão verdadeira é a coincidência livre de opções. Não pode verificar-se a não ser na intercomunicação dos homens, mediatizados pela realidade . Enquanto a ação antidialógica mitifica a realidade, a ação cultural se impõe desvelando o mundo. Portanto, não se descobre o mundo ou o outro. Há uma busca conjunta em que todos são sujeitos dessa ação. A adesão, nesse processo, gera a confiança das camadas populares em si mesmas, superando também o “medo” de sua libertação. A união é outra característica da ação cultural e se contrapõe à divisão na ação antidialógica. A busca da união é o esforço constante de todos os oprimidos, a união entre si, caminhando para a liberdade. Todas as características da ação cultural só acontecem na práxis libertadora. Mas para essa união é imprescindível a ação na qual agentes que aderiram à busca da liberdade conheçam o porquê e o como da sua decisão. Assim não é busca de “slogan” ideológico. Não é um simples mudar de ação antidialógica para a ação cultural. É o seu comprometimento com o fim da “cultura do silêncio”,

a qual “se perpetuou no tempo através de uma relação estrutural de

dependência entre o terceiro mundo (ou sociedades-objeto) e as metrópoles (ou sociedades diretivas)” (LIMA, 1981: 89). A organização se contrapõe à manipulação. Na ação cultural, busca-se a organização do povo. Esta organização conduz à unidade da ação e nesta ação dá-se


também a organização das massas trabalhadoras. Aqui o conhecimento crítico do momento histórico da ação, da visão do mundo das massas, da clareza da contradição principal se impõe pela apresentação do que é tudo isto e de como se apresenta. Na organização, tornam-se imprescindíveis valores como a liderança, a disciplina, a decisão, a ordem, os objetivos, bem como as tarefas a serem cumpridas e que devem ser cobradas, já que a elite dominante se estrutura sempre mais para melhor coisificar as pessoas e dominá-las. Aqui, nega-se o autoritarismo, mas afirma-se a autoridade, a liberdade. Assim, na ação cultural, “a organização, implicando em autoridade, não pode ser autoritária; implicando em liberdade, não pode ser licenciosa” (FREIRE, 1979: 211). Como última característica da ação cultural, destaca-se a síntese cultural que vem em contraposição à invasão cultural. Se a invasão cultural traz consigo a conquista das massas populares e trabalhadoras, sua divisão e sua manipulação, a síntese cultural vai em direção oposta. Se no objetivo dominador da ação antidialógica vem uma ação de indução, na síntese cultural insere-se a condição de superar essa indução. Enquanto na invasão cultural os atores podem descartar a ida ao mundo invadido, destacando-se muito mais apoio meramente tecnológico, na síntese cultural os atores se integram com os trabalhadores, “atores, também, da ação que ambos exercem sobre o mundo” (ibid.: 123). Na síntese cultural, não há lugar para espectadores; não há esquemas prescritos, mas identificados na ação gerando as suas pautas. Torna-se uma ação frente a uma cultura que mantém a invasão cultural. Não nega as diferentes visões que podem ocorrer; nutre-se, aliás, delas. A ação cultural, com estas características, não significa, contudo, invocação de uma nova cultura particular própria, mas a cultura já existente, porém voltada para liberação de classe. Mas como desenvolver esta ação na comunidade?

Conhecimento da comunidade pelos grupos e suas ações

A seguir, será apresentado de que forma efetivou-se a participação da comunidade através dos grupos e como foi sendo buscado o seu fortalecimento. A busca de se conhecer a comunidade, de detectar suas necessidades é um processo que conduz à formação de grupos na própria comunidade, bem como o fortalecimento de grupos existentes. Aliás, um trabalho educativo, no campo da ação social, pode se iniciar pelo grupo já existente. Esses grupos não podem ser entendidos apenas como


formais43, já que a comunidade tem poucos (Lyons Clube e Grupo de Jovens). São, na maioria, grupos informais44. Mesmo assim, não se descartou a possibilidade de criação de novos grupos. Segue, portanto, a descrição da ação cultural realizada e a descrição dos grupos envolvidos.

Sindicato

O sindicato rural pode ser a mais importante força dos trabalhadores no campo. Neste município, congregam-se os assalariados (contratados por temporada ou jornada) das duas usinas existentes e, em menor proporção, pelos minifundistas que trabalham por temporadas em suas terras. Caracteriza-se como um sindicato que mantém a linha geral do sindicalismo rural brasileiro. Suas atividades limitam-se ao atendimento odontológico, feito duas vezes por semana, e à rara assistência jurídica. Segundo seu Presidente, poucos são os casos de assistência trabalhista, já que o trabalhador entende “que não adianta”. Ainda assim, o trabalhador volante dessa região não tem carteira assinada, como também “não quer ter”, conforme afirma o secretário do sindicato. Em contatos com esses trabalhadores, constata-se a veracidade da afirmação. Alegam que carteira assinada é como “prisão, que o sujeito tem de estar às oito horas, largar às cinco da tarde; é uma escravidão dos infernos45”. De um modo geral, a semana de trabalho inicia-se na terça-feira, já que a feira se realiza no domingo. Esses trabalhadores prestam seus serviços onde bem pretendem e onde pagarem mais. Na época da colheita da cana, falta mão-de-obra. Na entressafra, a situação é de fome. Todos estes fatores contribuem para aumentar a dificuldade do trabalho sindical. Por outro lado, a própria diretoria há doze anos se mantém na direção, sem qualquer mudança no encaminhamento das lutas dos trabalhadores. Observa-se uma total desinformação por parte da diretoria sobre o que está ocorrendo no meio sindical e até mesmo em nível de federação - rara foi a reunião a que compareceu: “Sempre as coisas se apresentam muito difícil”, segundo a direção sindical.

43

Grupo formal – aquele que está organizado com coordenador, reuniões regulares e objetivos definidos.

44

Grupo informal – aquele sem as características do grupo formal, mas que se reúne assistematicamente.

45

Depoimento de trabalhadores volantes.


Porém, combina-se com a diretoria a possibilidade de um trabalho junto à categoria no segundo semestre. Volta-se a entrar em contato com a diretoria. Num primeiro encontro, com o presidente e secretário, sugere-se o início de algum trabalho que venha a romper com essa situação, somando-se a isso o analfabetismo da categoria. Imagina-se iniciar o curso de alfabetização aproveitando-se os alunos do curso de Magistério que teriam nas suas aulas uma unidade de educação de adultos. Planeja-se em seguida, avançar-se para encontros no nível de educação sindical, abordando-se o Estatuto da Terra. Mas tudo deveria sair do encontro com os sindicalizados. O encontro não é prática comum nesse sindicato. E, ainda, vive-se o ano de campanha eleitoral e o presidente em nada concordou. Alega que “qualquer reunião aqui neste ano, eles (os políticos) entendem que é política dos partidos. O sindicato não é para fazer política.” Assim, além das dificuldades inerentes à organização dos trabalhadores no campo, o que se ressalta é o forte cunho ideológico da atual corrente hegemônica do sindicalismo rural, contrapondo-se à nova corrente de construção do sindicalismo pela base. E a vez e a voz do trabalhador? No país inteiro, o trabalhador está sem vez e sem voz. Todo o sistema contribui para que isto aconteça. Mesmo entre os sindicatos, são ainda poucos aqueles que assumem a luta de suas categorias e da classe trabalhadora. O sindicato em questão, em nenhum momento das entrevistas, foi sequer citado. Entretanto, quando a discussão sobre associações vem à tona, os entrevistados entendem a sua importância e 85,0% aprovam a necessidade associativa. Mas, mesmo naquele momento da entrevista também perguntado se participariam, 73,6% respondem afirmativamente. Porém, há distanciamento para efetivar-se tal proposta. A igreja local sofre desse afastamento das pessoas de seus grupos. “Cada um por si e Deus por todos” é um lema que precisa urgentemente ser desfeito na comunidade, resgatando-se a participação. A partir dos encontros, entende-se que seria possível o início de um grupo na comunidade pelo sindicato. Mas a ideia de reunir terminou “aterrorizando” a direção sindical. Nada significou a pesquisa para o sindicato.

Professores do colégio

O primeiro contato na comunidade dá-se com os professores locais do Colégio Padre Francisco. O colégio abrange da 5a série do 1

o

até o 2o grau. Em função dos


contatos efetuados em 1981, quando da preparação do projeto deste trabalho, ficou acertado o apoio da escola ao trabalho de pesquisa. O investigador também passa a lecionar naquela escola durante o tempo da pesquisa. Inicia-se o trabalho numa classe da 2a série do 2o grau. Como professor, iniciam-se contatos com os demais professores de todo o colégio. A administração admite a discussão de muitos problemas existentes e que perduram. Os professores, por outro lado, resignam-se diante da situação. Mas que problemas apresenta o colégio? De início, sente-se a falta de planejamento, comprovada pelos próprios professores que comentam sua inexistência. Nunca houve reunião para planejar o trabalho no colégio. Constata-se que a grade curricular do curso pedagógico é a mesma do curso científico. Surgem questões de ordem disciplinar, administrativa e, sobretudo, financeira. Somente em agosto, professores e funcionários recebem o salário do mês de março. Os professores, na verdade, estão no colégio à noite, apenas, em busca de uma complementação salarial. Observando-se a trajetória da implantação dessa escola no município, ela apresenta comportamento singular. Instala-se a 1a fase (primário) e 2a fase (ginásio), e depois o 2o grau, mantendo-se aí. Até 1960, implanta-se a 2a fase. No final da década de 60, implanta-se o 2o grau. Até aqui, tudo normal. Em seguida, desaparece o 2o grau com cursos de Contabilidade e Magistério. Permanece o 1o grau, apenas. Em 1982, inicia-se o funcionamento do curso de Magistério. Porém, em 1983, volta a funcionar apenas o 1o ano do 2o grau. Porém, o que diz a comunidade sobre a escola que tem para seus filhos? A resposta vem do questionário aplicado para detectar as necessidades básicas da comunidade. A opinião sobre a escola indica que a comunidade sente o descaso para com a educação e 61,5% opinam que ela não está boa. Conhecendo essa situação, ela é capaz de também apresentar soluções. Perspectivas de mudanças para os professores se mostram longínquas, de tal forma que não aparece claro o que fazer ou mesmo como iniciar. Porém, a partir de contatos com mais professores, sente-se a possibilidade de se promoverem encontros de atualização pedagógica. Elabora-se, com mais quatro outros professores, um programa proposto sobre: educação e sociedade (envolvendo didática para matemática, ciências, comunicação e expressão); educação no município. Esse trabalho seria executado com o pessoal da própria escola. O programa é apresentado em reunião dos professores. É a primeira reunião feita até então, com esse objetivo. Realiza-se a reunião com a presença do administrador-adjunto. Com a


definição da pauta da reunião, sugestão de todos os presentes, o programa que seria apresentado não foi necessário, já que as principais necessidades daquela escola eram: 

questão administrativa (a direção é uma interventoria desde 1976 e, portanto, deveria regularizar tal situação);

conhecimento da Lei n o. 5692/71 e da CNEC;

questão educacional (aqui entraria o programa proposto, mas não discutido).

As propostas discutidas e não encaminhadas, entretanto, conduzem ao impasse de mudança na direção do colégio. Não havia pessoas que se dispusessem a assumir a direção. O trabalho com o grupo, que apenas havia iniciado, não foi adiante.

Alunos do curso de magistério ( 2o. ano)

A escola está desprovida de qualquer forma de planejamento e organização curricular; há agravantes de ordem material como, por exemplo, a ausência de uma única folha de papel para qualquer tipo de trabalho, livro, ou mesmo, máquina de datilografia. Inicia-se o contato com a turma, composta por quatorze alunos, no mês de agosto. São consultados a respeito do curso pedagógico. As respostas dos alunos são as mais diversas: estão no curso em busca de uma mera conclusão do 2o grau e o curso tanto faz; por entender que é preciso; por não poder fazer outro; por não querer ficar parado, sem estudar; por não ter outro na cidade ou mesmo por experiência. Para serem professores apenas existem duas afirmativas. As aspirações desses alunos do segundo grau são modestas, já que não apresentam nenhum interesse em prosseguir estudos, mesmo se as possibilidades lhes forem favoráveis. Lembrando SARUP (1980: 119), no capitalismo, “a educação é realizada em circunstâncias tão alienantes que se torna um processo de desumanização”. Assim mesmo, mostra-se um esquema de trabalho procurando orientação na própria legislação de ensino em que as escolas considerem as necessidades educacionais básicas da comunidade. Enquanto avança-se em nível teórico, chega-se também a um levantamento das principais necessidades apresentadas pela comunidade. Estas questões são discutidas, assim como o questionário aplicado na comunidade, sendo analisados seus resultados parciais.


As aulas são interrompidas na escola desde o início de outubro, em função da campanha eleitoral. As aulas se tornam impraticáveis, especialmente por serem noturnas, paralisadas em função dos comícios e passeatas. Só no começo de dezembro inicia-se a aplicação do questionário para detectar as necessidades básicas da comunidade. Juntos saem à noite durante o expediente das aulas, voltando em seguida à escola para discutir-se o trabalho daquela noite. Os alunos, em sua maioria, ficam entusiasmados com a proposta do trabalho; outros ficam desconfiados sem entender mesmo o porquê, pois tudo lhes parece estranho ao seu aprendizado e conhecimento da realidade. Outros optam por outra atividade que substitua aquela de aplicar os questionários e discutir as questões levantadas. A concepção de aprendizagem, como um processo dinâmico e contínuo, é entendida pelos alunos no quadro negro; porém, sua execução abala a estrutura estática da aprendizagem veiculada pela escola. Para o ano de 1983, prevê-se um entrosamento com o trabalho do MOBRAL, em que passaria algum tempo de estágio. No entanto, descobrem-se, já no início da aplicação dos questionários, dezoito adultos que podem iniciar o processo de alfabetização em fevereiro. Inicia-se também a elaboração do material didático. Conclui-se o período letivo com uma autoavaliação final. Veja-se o primeiro parágrafo de uma delas: “alta-avaliação – 05/01/83. Primeiramente peço-lhe que não fiques com raiva com o que eu vou mi declarar... você usava um vocabulário muito auto para o nível da turma, então nós ficávamos vuando um pouco”. Da turma, cinco desistem ao longo do semestre e outros foram reprovados sobretudo em português. Como apenas duas alunas moravam na cidade, não foi mais possível o contato com todos. Não voltam quando do reinício das aulas.

Grupo do MOBRAL

Os programas pedagógicos do MOBRAL já trazem tudo pronto. Os postos nas pequenas cidades são apenas executores de tarefas já determinadas pelos programas, em geral, de nível nacional. Mesmo na execução desses programas, é mantida uma inspeção, de modo que pouco espaço resta à atividade de organização do povo. Mesmo assim, iniciam-se contatos com as professoras do MOBRAL e, sobretudo, com as


coordenadoras. Por várias vezes discutem-se as questões levantadas por elas mesmas, destacando-se as de ordem educativa. A Prefeitura mantém rigorosa fiscalização em relação às professoras do MOBRAL. Após campanha eleitoral, uma professora de outra facção política é despedida. Não importam seus treinamentos feitos. Mesmo assim, as inspetoras da região esclarecem que no MOBRAL não há política. Some-se ainda a não continuação de muitos programas educativos. Há programas como o de ação comunitária, que estão paralisados no meio das atividades. Aqui, uma campanha de filtro não foi à frente, enquanto a comunidade foi mantida nesta expectativa. Como resultado, desgastam-se as coordenadoras do programa. São comprometidos ainda outros trabalhos de base que possam surgir. Entretanto, elas estão envolvidas na aplicação dos questionários (Anexos 2 e, 3) e hoje chegam a apoiar a reativação dos guerreiros, ajudando, porém, fora de sua programação oficial. O que se observa é a desmisficação de uma possível educação popular feita pelo Estado. Sua ação não passa de mera inspeção e execução de prescrições legais, vindo a perder o significado que ele pode ter como educador do povo. Parece ser necessário descartar esta possibilidade educativa do Estado: “É pelo contrário o Estado que tem necessidade de uma muito rude educação pelo povo”(MARX e ENGELS, 1978: 89).

Esporte

Com o pessoal do futebol se dão os primeiros contatos para a ação. Conhecendo o pessoal que dirige a equipe, houve um encontro com vinte e cinco jovens do esporte local, no próprio campo. Depois do jogo, para-se por um momento e há a apresentação das ideias que se tinha para o esporte leopoldinense. Uma preocupação é, entretanto, a participação de todos que fazem o esporte. Discute-se a necessidade de aquele grupo automanter-se como equipe, além da sua própria independência financeira, de modo a quebrar o vício local, que é a Prefeitura sustentar as equipes. Fala-se da necessidade do fortalecimento da própria direção da equipe, bem como sua rotatividade. Todos concordam com estes aspectos levantados. Agora, parece que as coisas vão acontecer no futebol leopoldinense. Marca-se um outro encontro, na Câmara de Vereadores. Um jogador está presente. Mas não há desânimo, marca-se com a diretoria novo encontro, ainda na Câmara. Nesse dia chove muito e ninguém comparece. Combina-se novo encontro e


nada parece interferir para sua realização, mas também não se fazem presentes. Desânimos, sem dúvida, frente a esse grupo. Na verdade, era uma resposta muito clara e entendida, posteriormente. Esse grupo de jovens, sobretudo a direção da equipe, se constitui de moços que são funcionários municipais ou estaduais e, sobretudo, de bancários. Este grupo, no meio rural, não apresenta disposição para mudança. São assalariados estabilizados. A discussão no campo de futebol vai de encontro à situação reinante e dominada por eles. Quebrar a ligação da equipe com a Prefeitura e construir-se como equipe independente não soa bem aos seus ouvidos. A manutenção do “status-quo” é a manutenção dos benefícios do grupo. Portanto, não há por que mudar. Se se almejasse qualquer mudança por aí, esta possibilidade já estaria negada. A sua resposta negativa poderia ser prevista.

Grupo do esporte Nova Geração

Passados dois meses de atividades na comunidade e agora conhecendo mais detalhes da mesma, imagina-se como não funcionou a tentativa de organização do esporte no início. No futebol que tem tudo para se estruturar em qualquer lugar neste país, a questão da classe social interfere na organização de equipe. Mas como uma comunidade tem apenas uma equipe com população jovem tão expressiva? Assim pensando, logo se percebe que um número muito maior de trabalhadores e filhos de trabalhadores não participam da única equipe local. Tudo surge mais fácil quando se descobre ainda a existência de uma outra equipe (Nova Geração), que tinha parado suas atividades há um ano. Então, decide-se promover o reencontro dos ex-componentes.


Nova Geração Esporte Clube

Encontrados seis dos antigos participantes, prepara-se um boletim convidando seus colegas para reagruparem-se. Dois dias depois, ainda em outubro, reúnem-se quatorze, dos vinte convidados, para uma explanação sobre a necessidade de organização e união. O pessoal esteve sempre calado. A falta de prática de reunião, para discutir suas questões, é um dos maiores problemas da Zona da Mata. Daí já se discutem o treino e a composição da equipe. Marca-se o próximo encontro no próprio campo. Define-se o treino para as madrugadas, das quatro às seis horas, em função do próprio trabalho dos atletas. Dois membros assumem acordar os demais jogadores. Estava sendo introduzida a prática de reunião. Na comunidade não há grupos que mantenham

reuniões

sistemáticas.

Somente

o

grupo

de

jovens

se

reúne

esporadicamente. Passadas duas semanas, prosseguem-se os treinos e mais uma reunião com doze atletas. Nesse dia, acontece um grande comício com políticos de Maceió, bandas e passeatas; mesmo assim ocorre o encontro. Avança-se na discussão, colocando-se a necessidade de se apagar a figura do “dono do time”, uma prática normal na comunidade. A ideia é bem aceita. Assim, com o entusiasmo, compra-se coletivamente uma bola e uma outra por crediário. A equipe começa a não ter “dono”. Em reunião seguinte, é apresentada proposta de se pedir bola aos políticos (sobretudo ao usineiro).


Nesse momento, cinco deles são contrários a tal proposta, alegando que aquilo já havia sido discutido e que todos iriam assumir as despesas da equipe. Depois dos treinos, realiza-se uma partida oficial com uma equipe do mesmo nível. Afinal, uma equipe não só treina; também enfrenta adversário. É grande a alegria: o Nova Geração bate o adversário de quatro-tentos a um (4X1), em jogo que se encerra meia hora antes, quando a outra equipe não permite a cobrança de uma penalidade máxima, mesmo o juiz sendo da equipe adversária. Os atletas do Nova Geração passam a acreditar que o preparo físico é determinante para a vitória. A outra equipe não aguentava jogar naquele ritmo. No mês de novembro, os atletas reunidos aprovam o nome de Nova Geração Esporte Clube e não apenas futebol. Inicia-se a prática do “espiribol” como novo esporte, suscitando novo entusiasmo, não só para a equipe, mas também para serem solucionadas:

 a questão da existência do time como entidade dependente só de seus membros, bem como da educação esportiva (estudo de regras de jogo) pelos membros da equipe;

 a organização da secretaria do time, registrando seus atletas;  a busca de informações técnicas. As reuniões vão acontecendo todos os sábados, à tarde, no Centro Paroquial: define-se a contribuição dos atletas; escolhe-se uma comissão para dirigir a equipe; um processo de eleição é instalado. Com a participação de todos os trinta e quatro componentes, é escolhida a direção. Tomam posse o coordenador financeiro, o coordenador de patrimônio, o coordenador de secretaria e o coordenador técnico. A escalação da equipe deixa de ser definida pelo coordenador técnico e passa a ser feita coletivamente. A presença nos treinos físicos é decisiva para a escalação aos jogos, um processo que os rapazes estranham de início, mas depois aceitam com naturalidade. Um espírito novo surge na equipe que é o de sua independência e de seus atletas. Eles decidem também que o atleta do Nova Geração será unicamente da equipe. e que outros constituam equipes independentes. A organização da equipe avança mais ainda, até quando um dos coordenadores segue com outra equipe a Maceió sem autorização da assembleia deles. Reage-se bastante contra isto e, na reunião seguinte, o coordenador teve de se explicar diante de todos. Sua explicação foi mais no sentido de mostrar as falhas do outro time e de esclarecer que, daquela forma, o Nova Geração não podia continuar com o coordenador.


Ele é mantido na equipe, porém, no dia seguinte, faz-se uma nova reunião de emergência: o pessoal decide expulsar do time seu melhor atleta e único goleiro. Ele estava jogando pela outra equipe local. O grupo continua se reunindo, agora sozinho, durante todo o mês de dezembro, sem a presença do pesquisador/educador. Quando de sua volta, no dia 7 de janeiro, já havia campanha sutil encabeçada pelo jogador que foi expulso, dizendo que a equipe ia se acabar. Fazem treinos só uma vez por semana e só jogam com uma equipe. Reiniciam-se os treinos. Buscam novos jogos, pois afirmam que “time que não joga não é time”. Sempre se faz convite às reuniões através de boletins, mas poucos são lidos. A comunicação é mesmo a verbal. Mesmo assim, aproveitando-se a necessidade de novas partidas, monta-se novo boletim com o calendário dos novos encontros das equipes e surge uma nova reativação para todos. No dia vinte e sete, tem-se um grande encontro de duas equipes para se juntarem em uma única: Nova Geração e Real Esporte Clube. Um boletim foi distribuído a todos com frases dizendo: “A força maior se dá na união; as duas equipes têm condição de se tornarem juntas uma forte equipe; criar uma forte equipe só depende de nós”. Formase, então, o Nova Geração Esporte Clube. O investigador retorna à comunidade em março, com dados coletados sobre as necessidades educativas básicas locais. Sobre o esporte, prepara-se nova reunião para discutir a situação do esporte de Colônia. Dessa reunião com um grupo de vinte e seis atletas, tiram-se as propostas que devem ser encaminhadas ao Prefeito:

 a sede coletiva para os alunos esportistas (administração cabendo às equipes locais);  um ginásio público para todos os esportes;  a construção de quadras;  a construção de outro campo de futebol;  a contratação, pela prefeitura, de professores formados em educação física, pela prefeitura;

 o incentivo de novos esportes. As discussões nessas reuniões passam por pólos opostos, desde aqueles que entendem que só com mais reuniões e mais organização o prefeito atenderia ao pedido da equipe, até aqueles que entendem que o prefeito nem iria recebê-la. Acontece a nova reunião com um documento preparado, distribuído entre eles, sendo aprovado e


encaminhado ao prefeito, no dia 11 de março. Dezoito atletas fazem-se presentes nesse encontro com o prefeito. No momento há uma apresentação de fotos do time. Em seguida, distribuem-se cento e vinte cópias desse documento na cidade. A direção do time continua agora nas mãos de cinco coordenadores, pois em reunião restauram a figura do presidente criando o coordenador presidente. A base de decisão do time é, entretanto, a assembleia realizada aos sábados.

Clube de jovens

Este era o único grupo formal que havia na comunidade. São realizadas três reuniões com vinte e cinco jovens. Tais reuniões acontecem depois de uma fase de estagnação do clube, que há muito tempo não se reúne. No final do ano, após a campanha eleitoral, volta às suas atividades.

Em seguida, dá-se novo período de

recesso, retornando às reuniões em março. Nas reuniões constata-se uma evasão constante de jovens. Apesar de todo esforço dos religiosos locais no sentido de dar maior dinamismo ao grupo, ele não avança numa direção planejada. A coordenação do grupo resume suas atividades às reuniões - atividades de cunho meramente religioso (orações). Há também a necessidade de uma práxis que busque a unidade da oração com alguma prática social no meio. Inicia-se a apresentação dos “slides” fé e política. Este conjunto trata da organização política do assalariado. Mas com a organização do grupo de esporte Nova Geração, os horários das reuniões de ambos coincidem. Opta-se por reforçar a equipe de futebol.

Círculo de cultura

Passados já vinte dias na região, chega-se a contatos com várias pessoas. Discutindo sobre as questões municipais, observa-se a possibilidade de um encontro entre o pessoal interessado. Num bate-papo informal, reúne-se pela primeira vez no Salão Paroquial pertencente à Igreja Católica. Esse encontro dura pouco mais de uma hora. Aproveita-se, inclusive, para se marcar outros encontros semanais. Os componentes desse grupo exercem as seguintes atividades: barbeiro, agricultor, pedreiro, servente de pedreiro, professor do MOBRAL, pintor e artesão. Neste primeiro


encontro, o grupo não faz comentários sobre o que foi apresentado, apenas acena concordando durante a apresentação. Após os dois encontros, outros não acontecem mais, nem os componentes comentam sobre o círculo da cultura. Mas o que acontece com este grupo? A discussão que se planejou como início de um plano mais abrangente culminaria com uma prática. Aquele estudo pareceu não ser importante para eles e assim resolveram não mais se encontrar. Se, por um lado, passa-se informação aos trabalhadores, esta “desreificação teórica não basta porque não resolve o problema de superar essas limitações” (SARUP, 1980: 96). E aí, talvez, um dos membros já aponta a necessidade daquele grupo que era a de associar tudo aquilo a uma prática. Já busca uma práxis que era necessária: a união daquela discussão apresentada a um fazer; além da crítica teórica, faz-se mais urgente uma ação social associada.

Grupo de zabumba

Este é um grupo informal que já existia. A Banda de Zabumba São Sebastião se constitui de seis instrumentos: duas tabocas (pifes); um tarol; uma zabumba; um bombo (surdo) e um par de pratos. Uma característica da banda é, atualmente, a versatilidade de seus componentes quando tocam. Eles afirmam que tocam “como em sociedade”, isto é, todos os instrumentos. O indivíduo, ao iniciar sua participação ao modo de tocar dos outros, vai se afirmando em todos os instrumentos. Utilizam desse rodízio, inclusive, como momentos de descanso ao permutarem os instrumentos.


Banda de Zabumba São Sebastião

O seu repertório é bastante amplo, tocando hinos religiosos como os hinos de São Sebastião e São José. Tocam também em santas missões, romarias, procissões e forró. O tocar dos hinos dá-se em função dos Padroeiros das Comunidades em que a banda toca. A valsa, tango, dobrados, marchas e hino nacional também são tocados. “O Hino Nacional é tocado no dia 7 de setembro, a descoberta do Brasil”, como diz seu Chiquinho. Um hino muito tocado é “prá ti amada”, como diz seu Luciano, querendo dizer “Pátria amada”. Numa das reuniões observa-se que eles tocam com instrumento da Banda Marcial da prefeitura, enquanto seu instrumental original é artesanal, amarrado de corda. Os couros dos instrumentos são de bode e de gato. Levanta-se a questão dessa troca de material original. Muitos dão palpite e passam duas horas falando sobre a necessidade ou não de se voltar aos instrumentos artesanais. No final, seu Chiquinho comenta que a Banda teve um encontro em Maceió, onde se apresentaram bandas de todo o Estado de Alagoas, umas trinta a quarenta. Tocaram e se apresentaram e, finalmente, saiu vencedora uma que se apresentou com instrumentos artesanais, isto é, zabumba, bombo e tarol amarrados de cordas. Hoje muitas dessas bandas de zabumba aderem aos instrumentos novos de metal, desfigurando a verdadeira banda de zabumba. A Banda de São Sebastião adere também ao “modernismo”. A vitória da Banda em Maceió, segundo seu Chiquinho, foi


uma vitória que “foi feia, foi triste”. O Grupo cresce, entretanto, e passa a entender também que “eles tiveram valor, pois foi com o primeiro instrumento”. Chega-se a juntar todos os grupos ligados à arte local. Esses grupos reunidos fazem uma discussão sobre arte popular, alicerçando com o trabalho da própria zabumba. Em seguida, há a apresentação da Banda, uma sintonia entre o que se falava e o que se fazia na localidade. Em outra reunião, no mês de setembro, discute-se a história da Banda. Alguns se lembram de passagens importantes quando tocavam em coretos com a Banda de Música local, que hoje não existe mais. De suas apresentações em frente à igreja e outras localidades, surge a ideia de, conjuntamente, montar-se a história do grupo. Vários encontros são gravados, transcritos e discutidos até se chegar ao texto final dessa história. É a volta às origens. O texto é lido e discutido para que traduza aquilo que eles entendem como sua história. Hoje ela está escrita. Dessas discussões sobre a história, avança-se para o trabalho deles como artistas. Tiram-se várias cópias que o grupo decide encaminhar às escolas, Prefeitura e Câmara de Vereadores (Anexo 4). De que forma esse grupo demostra organização? Ora, em uma de suas apresentações em homenagem ao Padre Cícero, promoção da Prefeitura no dia 13 de novembro, o prefeito paga a eles o valor de um dia do cortador de cana, o equivalente ao corte de uma tonelada de cana. O grupo entende que este não pode ser o referencial de pagamento para a Banda Marcial que pertence à Prefeitura e então, “vamos tocar, agora, é um contrato”. Tocar com um acerto prévio, o que não acontecia. Manter seu instrumental artesanal passou a ser fator de autoafirmação do grupo. O grupo demostra organização ainda quando parte para uma listagem de entidades e pessoas que precisam conhecer melhor as atividades da Banda. O grupo, mais uma vez reunido, decide visitar outros municípios, além das Prefeituras e Câmaras de Vereadores dos municípios vizinhos, como Joaquim Gomes (Al), Ibateguara (Al), Maraial (Pe), Palmares (Pe) e Novo Lino (Al). Preocupam-se, sobretudo, com os promotores dos festejos religiosos. Saem da dimensão municipal para outros municípios. Além disto, aumentam o número de apresentações, que ocorriam apenas no final do ano, para qualquer época. Durante um dos encontros, seu Lúcio fala:

 Minha cabeça tá zinindo.  Por que, Lúcio?


 Porque com essa história toda nós vai ser chamado mermo a tocar e aí? Precisamos juntar mais o pessoá e tocar muito mais.

Agora estão também escutando os discos de outras bandas de zabumba. Ressalte-se ainda que, quebrando a prática de tocarem apenas em festa religiosa, já estão tocando em qualquer momento, por convite, e já acompanham pela cidade uma promoção de grupo de arte e exposição de quadros e fotos em várias ruas da cidade. Estão tocando para o povo “ver e apreciar”.

Grupo dos guerreiros

Esse grupo se forma de maneira diferente dos demais. Os componentes de outros grupos que participam na aplicação de questionários de pesquisa descobrem as pessoas interessadas nos guerreiros quando da aplicação dos questionários. A reativação dos guerreiros era uma dúvida, que foi explicitada quando da aplicação dos questionários. À medida que estes são aplicados, discutindo-se com as pessoas, o problema da reativação dessa festa folclórica se expressa de forma aguda. No final, descobrem-se pessoas não só sentindo falta dos traços culturais que estão se acabando, como também dispostos a enfrentar o problema. Num questionário aplicado numa bodega, com cinco trabalhadores do campo, percebe-se a disposição de um deles em ativar os guerreiros. Logo há empolgamento do pessoal da rua. E então, lança-se a ideia de possível encontro para tal fim. Ocorre o encontro e dez pessoas daquele setor da cidade participam. Essas pessoas são as pontas de lanças para a montagem e a administração do futuro guerreiro. Na reunião, discute-se sobre a situação dos moradores locais da cultura esquecida e como ia acontecendo tudo isto; a importância de um grupo para a Mangueira e também outros problemas locais. A criação de um guerreiro pode abrir condições de se montar tabuleiros e bugigangas, sobretudo cachaça, milho verde, pamonha e confeitos que poderiam servir de ajuda aos iniciadores e coordenadores da festa. Nas reuniões levantam-se questões como a de buscar um sanfoneiro, o mestre, o contra-mestre, dois embaixadores. O mais difícil, entretanto, é palha e madeira par se montar a palhoça, pois isso envolve dinheiro. Os participantes da reunião assumem o trabalho de fazer a palhoça. Mas, como arranjar o dinheiro de comprar


madeiras e palha? Antes de se conseguir isto, tem-se de conseguir a autorização da Prefeitura para instalar-se o guerreiro no meio da rua, como é necessário. Para se chegar a tal autorização, pelo menos mais dois meses se passaram. Surge outro importante trabalho do grupo de arte que havia assumido, em suas reuniões, a ajuda ao guerreiro. O grupo assume as tarefas de reuniões com esse outro grupo. Na organização de grupos, surgem tarefas que, às vezes, escapam às suas possibilidades. Como a organização ainda é muito incipiente, não é fácil a execução das tarefas. Aí se exige muito mais do pesquisador/educador e do grupo. Há tarefas que podem ser resolvidas com certa brevidade, pois esperar para que o grupo resolva sozinho, em vez de contribuir para um maior enriquecimento organizativo, contribui para um descrédito de sua força. O grupo decide encaminhar sua solicitação ao prefeito que seria empossado. Na verdade, este encontro só veio acontecer em maio com o Grupo de Arte e Zabumba conjuntamente. Juntos preparam suas propostas, e, em reunião, aprovam o documento que foi entregue e discutido com o prefeito. O espaço físico foi conseguido e hoje se dança guerreiro às quartas-feiras, aos sábados e aos domingos.

Fotógrafos

Iniciam-se no mês de Setembro os preparativos para a festa de reinauguração da Igreja Matriz. É feito convite pelo padre para reunião com os jovens e Lyons Clube, recentemente criado, para se discutir o dia da festa. O encontro se reveste de importância, por permitir que se conheçam mais jovens na comunidade com os trabalhos feitos para o MOBRAL, Igreja e Esporte. Aí também aparece um fotógrafo. Vê-se a possibilidade de como os demais (seis ao todo) podem fotografar a Igreja Matriz. Entra-se em contato com todos eles e, em particular, todos combinam e sentem necessidade de se fazer um trabalho para mostrar ao povo. Um trabalho que fosse além de retrato e monóculo, que mostrasse que fotografia também é arte. Já se imagina então uma programação de atividades com esse grupo, iniciando-se com pequenas coisas organizativas, tais como carnês de endereço dos solicitantes de monóculo, uma vez que eles perdem muitas fotos sem saber o dono. Daí programar-se-ia o trabalho de fotografia da Igreja Matriz. No próprio trabalho de fotografar, discutem-se questões técnicas e fotos até aparelhagem fotográfica. Seria


atingida a própria organização dos fotógrafos, definindo os preços dos seus trabalho, já que variam muito. Marca-se o primeiro encontro e aparece um fotógrafo apenas. Marcase com os demais o segundo encontro e nada, apenas dois aparecem. Com estes, definese o trabalho de organização deles mesmos e chega-se até a fotografar a Igreja e apresentar o trabalho do mês de outubro na praça da Matriz. Organizá-los como um grupo foi impossível. Os fotógrafos não se constituem nem mesmo como grupo informal de encontros esporádicos, nem avançam para uma maior organização, pois três deles são “intrigados”, isto é, nem se conversam.

Grupo de arte

Em contato com a coordenação do MOBRAL, as professoras descrevem as atividades que promovem. Entre os programas descritos, está o de “ação comunitária”. O programa se constitui de cursos de bordado, crochê e artesanato em corda. Descobrese o artesão, promotor do curso, um jovem vivendo isolado que não acredita naquilo que faz. Além dele, descobrem-se mais três que faziam pintura e artesanato. Todos, entretanto, nem estão pintando nem fazendo artesanato. Vê-se o trabalho de todos. No início de setembro, há uma reunião com o pessoal do MOBRAL, do esporte e com todo pessoal interessado em arte. Nesse encontro, discute-se o que se faria no dia três de outubro, quando ocorreria a festa de reinauguração e restauração da Matriz local, um momento de grande interesse para a comunidade. Nessa reunião, discute-se a forma de participação desses jovens nas comemorações. Logo em seguida, realiza-se uma reunião com o Lyons Clube, com o mesmo objetivo. Ao final do encontro, fica aprovada a participação daquele grupo de jovens para: descobrir o pessoal que tem trabalhado na cultura popular local reativá-la; e mostrar a arte de Colônia aos seus habitantes. O MOBRAL e o Lyons Clube dão apoio, inclusive financeiro. Para os presentes na reunião, foi mostrado que se inicia um refazer da cultura que estava em extinção, inclusive com o pessoal ligado às atividades artísticas que estava desmotivado e desorganizado. Parte-se daí para se mostrar o material que tinham. Continua-se com a distribuição de tarefas para serem cumpridas. Bem próximo ao dia 3 de outubro, distribui-se um convite para a amostra em todos os domicílios da cidade. Um convite à comunidade alerta para a extinção dos traços culturais locais, tais como: guerreiros,


reizados, cavalhadas, pastoris e cocos de roda. Conclamam-se todos à ação, já que não se pode assistir ao fim de tudo sem se fazer nada. Pretende-se percorrer algumas ruas da cidade com a amostra do material artístico, mas a ideia não funciona e acontece uma única apresentação em frente à Igreja, no centro da cidade. Constitui-se de artesanato, pintura e fotografia. Eles não acreditam que possam mostrar a sua arte na cidade, jamais admitem que pessoas convidadas de fora pudessem ver as suas produções de arte. Foi um trabalho marcado pelo espontaneísmo, característica das atividades populares na região. Questionados sobre o que representou esta primeira amostra de arte, os integrantes do grupo respondem: Fernando: Para nós foi muito bom, porque realmente se não fosse essa primeira amostra de arte, a gente não teria condição de formar um grupo de arte. E outra coisa, o grupo não tem condição de ser independente, a gente teria de falar com as autoridades. Elias: O artista sozinho não tem condições, a não ser que seja rico, mas o grupo tem condição de sobreviver sem ajuda de autoridade, será necessário que os artistas se ajudem. A primeira amostra ocorrida no 1o semestre foi a oportunidade de divulgar a cidade de Colônia Leopoldina. É devido a ela que o grupo está existindo. As discussões seguem em torno do tema “força do grupo” e ao que se apresenta. Se não é devido a esta amostra que o grupo está existindo, pelo menos se deve a ela um momento determinado para se sentirem com força de fazer algo como grupo. Numa reunião seguinte, entretanto, há um relatório do que foi o festival de São Cristóvão, em Sergipe. Dois dos membros do grupo de arte, estando em Maceió para vender sua produção, resolvem ir até aquela cidade onde acontecia o Festival de Arte, um encontro de toda a América Latina. O entusiasmo do grupo cresce. Outras reuniões acontecem e discussões sobre cultura popular e arte, com base em textos simples, são realizadas num desses encontros, amplia-se a discussão e chega-se a se reunir com o grupo de zabumba e alguns interessados nos guerreiros. Monta-se todo um jogo de “fotos” sobre os zabumbeiros e discute-se a cultura popular. Segue a análise do grupo sobre esse encontro: Fernando: Acho que falta muita coisa para eles se juntarem a nós, pois nosso grupo é muito “evoluído”. Eles também têm de lutar, se iniciarem. Elias: O grupo deles já existe, está reunido. Então eles venham a nós e vamos ajudar.


Irá: Mas é por causa disto que temos de dar uma força a eles. Fernando: Eles não vão poder entender, e para eles entender... Irá: Justamente que é preciso ir lá com eles. Elias: Sabe como é. A gente pode ajudar. E não deixar que os grupos morram. Concluem com um consenso geral no grupo, no sentido de que podem e devem ajudar outros grupos. Continuando o trabalho, esse grupo promove a 2a Amostra de Arte. Cada componente do grupo continua produzindo seus trabalhos. No começo de dezembro, inicia-se a aplicação dos questionários sobre as necessidades básicas e os componentes do grupo ajudam também na sua aplicação. Já no final de dezembro, novo fato desponta como outro momento cultural. É a festa de São Sebastião, tradicional no município. O grupo de arte reunido decide realizar a segunda amostra, que agora seria não mais um fazer pelo simples ato do fazer. Porém, definem-se os objetivos e a composição da amostra, mantendo-se ainda a ideia de percorrer a cidade. Tudo isto é discutido e definido coletivamente. Um boletim informativo contando o que é essa amostra de arte da Colônia Leopoldina, seus objetivos, sua composição e em que ruas passaria, foi distribuído à comunidade e divulgado na missa de domingo. Se a primeira amostra estava restrita a uma apresentação apenas, a segunda se propôs realizar quatro apresentações, das quais se concretizaram três, já que choveu em um dos dias previstos. Os objetivos são: mostrar a arte da cidade à própria cidade; levar o leopoldinense a valorizar sua arte; proporcionar discussão entre os visitantes da amostra e apresentar a arte ao povo como um momento educativo entre povo e artista. O leopoldinense pode não ter chegado a valorizar sua arte, não conseguindo o grupo atingir um dos objetivos por falta de atitudes que o demonstrem. Contudo, a arte foi mostrada ao público interessado. Se a discussão não ocorreu, como talvez o grupo todo esperasse, ela se dá pelas próprias observações do grupo quando mostra que alguns saem pegando, mexendo ou mesmo questionando “para quê é isto?” Ou “de quem é isto?”; ainda, quando se aproximam fazendo sua análise, e respondendo e saindo; ou até mesmo quando observam à distância. Mas, se nenhum objetivo foi explicitamente conseguido, pelo menos um estaria assegurado: ter tornado o evento como momento de interação povo-artista. Se por parte do povo há questionamento, dúvidas, receios, medo, desconfiança, ou não lê o boletim querendo pastoril, buscando o dono dos quadros para saber se era de “alguém”, o apoio maior vem das crianças presentes. Algo ocorre em suas mentes. Um processo


educativo processa-se nas mentes desses visitantes que pela primeira vez, veem e observam esses trabalhos na sua comunidade. Mas e da parte do grupo? O processo educativo buscado pelos artistas se expressa quando o grupo responde sobre o que representou para eles a segunda amostra de arte: Irá: Esta 2a amostra foi um duro. A segunda deu mais coragem; foi mais à frente; agiu mais e foi melhor. Melhora apresentada e estamos indo. Estes aspectos são compartilhados por todo o grupo. E ainda sobre que avanço houve (se é que houve) eles respondem:

Elias: Na primeira amostra, houve acanhamento. O pessoal nunca se reuniu e na segunda amostra a gente foi superando e não tínhamos mais acanhamento de andar com quadros e trabalhos debaixo do braço. Houve avanço assim de, sem exibição, quebrar o medo. Sem ter trabalhos diferentes mas houve avanço de querer mostrar sem medo e sem manha. Fernando: Acho que houve evolução. Agora achei os trabalhos (pintura) na primeira e na segunda muito fracos. Três meus e outros de Elias, mas é pouco para a exibição. Da próxima, iremos fazer e trazer muita coisa para mostrar lá fora.

O grupo continua a produção, mas ainda necessita de maior divulgação. Maio é mês de vários festejos religiosos. O grupo reúne-se ainda no início de abril e decide apresentar o Cultural de Maio, isto é, vai mostrar o material, a produção artística aos alunos da escola. O grupo faz visitas às escolas da cidade, Usina Taquara e destilaria Porto Alegre. Definem seus objetivos: divulgar a arte entre as crianças e jovens; incentivar a cultura artística; fortalecer o grupo, já que mantinha sua dependência a sua própria força. Do poder local (Prefeitura) não houve ajuda alguma e ainda faz questão de assim continuar. Então, prepara-se novo boletim informativo sobre o que é o Cultural de Maio, com o intuito de continuar despertando a discussão sobre a cultura local. São visitadas quatro escolas nesse mês. Se permanece todo um expediente em cada uma delas. A garotada observa o material exposto e entrega-se papel a todos para também desenvolverem seu próprio trabalho. Este é um importante encontro com os educandos que cursam a 1a fase do 1o grau, incentivando a liberdade de fazerem algo. Quebra-se o formalismo da escola, naquela ocasião.


Ainda nesse momento, o grupo coleta observações também das professoras sobre a apresentação daqueles trabalhos: Edite: precisa voltar mais vezes. Ma Rodrigues: É útil para as crianças se elevarem culturalmente. Auxiliadora: Ótimo, leva a adquirir conhecimento para todos. Cícera: É bom para o desenvolvimento para a criança ir descobrindo alguma coisa daí. Jacy: É bom para despertar a curiosidade das crianças para a arte. Conceição: É bom porque eles gostam de desenhar. Ma José: Educativo para os alunos. Joselita: Válido, pois desperta curiosidade das crianças. Lila: Tem validade pois é incentivo aos alunos. Gesilda: É válido pois a cultura é importante. Ednaura: É valido para despertar nas crianças a arte-conhecimento.

Estas são as impressões deixadas nas professoras pela apresentação nos dois maiores grupos do município. Sobre a importância ou não de se continuar com outras apresentações elas também responderam: Edite: Importante pois desperta valores artísticos. Ma Rodrigues: Continuar, sim, para o progresso. Auxiliadora: É mais cultura que se aprende. Edileuza: Precisa ir renovando as exposições para dar condição a Leopoldina de ter alguns artistas. Jacy: Já se sentia falta deste trabalho. Conceição: Voltando mais vezes para dar chance de renovar os desenhos. Ma José: Importante, pois esta amostra de arte sai da rotina. Joselita: É importante voltar pelo contato humano que há. Lila: É bom para que apareçam outras pessoas que querem fazer parte da arte. Gesilda: Deve continuar, pois é educativo. Devem lutar para continuar mostrando os trabalhos. Ednaura: É importante para as pessoas tomarem conhecimento da arte.

No desenvolvimento das atividades nas escolas, o grupo coleta também os trabalhos dos meninos nas apresentações e os mantêm como material para estudo e busca de novos garotos que podem contribuir para a arte. Mas, mesmo procurando sua


existência, dependendo apenas de si, o grupo tem necessidades que devem ser encaminhadas ao poder público local. Para tanto, tira-se ainda nas reivindicações das reuniões de abril uma lista de solicitações ou propostas para a arte leopoldinense, isto feito em conjunto com o grupo de zabumba e grupo pró-formação dos guerreiros. O documento final aprovado tem dois objetivos básicos: despertar a preocupação pela cultura local e apresentar as reivindicações dos grupos ao executivo local. Estas reivindicações saíram das reuniões e traduzem os anseios de seus participantes. Sobre este documento, afirmam: Elias: São propostas do próprio grupo, reivindicações e hoje a gente pensa em ganhar uma casa para trabalhar. Vamos mostrar as fotos de todo nosso trabalho. Pensamos sensibilizar o prefeito, já que ele é o “Leão da Cultura” (divulgação da campanha eleitoral). Fernando: Eu acho que, realmente, o prefeito vai dar apoio a nós e a gente tem de saber chegar mostrar.

Ressaltem-se aqui as propostas apresentadas pelos três grupos tiradas em reunião conjunta: grupo de arte, zabumba e guerreiros. O grupo de arte solicitou um espaço físico para arte (uma casa para trabalhar) e uma verba mensal para a cultura (essa verba seria distribuída entre os grupos existentes e os que poderão surgir). O grupo de zabumba exigiu a doação de um conjunto de roupa (conjunto azul-claro ou cáqui) e de um conjunto de alparcatas para os componentes. O grupo dos guerreiros apresentou uma única solicitação: a autorização de se montar uma palhoça na Rua da Mangueira. Estando o documento final preparado e aprovado por todos, marca-se a audiência com o prefeito. Distribuem-se cento e vinte cópias na comunidade. Na reunião com o prefeito, todo um expediente é tomado em discussões e apresentação das atividades dos grupos através de fotos. Nas questões de cunho financeiro, o prefeito discute a crise econômica do Estado e do município. Como saldo imediato, tem-se a aprovação do espaço para os guerreiros, sendo quebrado o medo que têm as pessoas de falar com uma autoridade, no caso o prefeito. Para aqueles trabalhadores, falar com o prefeito já não é obstáculo daqui para frente. Quanto às outras questões, voltariam a ser discutidas em outra ocasião.

Devolução dos dados


A partir de agora, também se faz necessário apresentar como se dá a devolução dos dados coletados na comunidade pelos grupos. Como é apresentada a situação da comunidade aos grupos de trabalhos e aos grupos que efetivamente não haviam participado da pesquisa. De posse dos dados da comunidade, parte-se para a devolução dos mesmos. Esse é um momento determinante na pesquisa em que se passa a encarar perspectivas de mudança e assim impulsionando os grupos a refletirem, de forma sistematizada a sua realidade; Um momento de reflexão e diálogo, porém, com dados da própria vida local. A importância dessa etapa está na problematização das situações apresentadas. Esse processo teve dois momentos distintos: um primeiro, onde se apresentam todos os dados levantados e se questionam, superficialmente, essas situações; e um outro momento de maior discussão dos dados - por exemplo, o grupo do esporte aprofunda mais os dados relativos ao esporte. Nos encontros em que houve pouca ou nenhuma participação dos presentes no trabalho, expunham-se os dados, levantando-se discussões sem necessariamente haver ação posterior imediata. Nos encontros com grupos engajados no processo, busca-se, além das discussões, esta ação social. O primeiro encontro de devolução desses dados se dá com o grupo de arte, zabumba e guerreiros. Os dados são analisados de forma geral e, em seguida, analisa-se parte específica de aspectos da cultura local. Como resultado desse segundo momento, chega-se a elaborar o documento já citado sobre a cultura local e, em seguida, o seu encaminhamento para o prefeito local. Paralelamente a tudo isto, promove-se, com o grupo, o Cultural de Maio. Os componentes do grupo de arte preparam cartazes de divulgação desses dados e passam a explicá-los também nos encontros que eram promovidos em algumas ruas. No encontro com o Lyons Club local se apresentam todos os dados. Uma reunião do clube foi tomada para essa discussão. Um de seus membros chega a levantar a questão de que, para a promoção de um trabalho social, não é necessária a existência de Lyons, e sim de um grupo que se comprometa com a comunidade. Foi um questionamento importante sobre a própria existência daquele grupo, que também não sabe que rumo tomar diante do desafio do trabalho comunitário. O Lyons não teve participação na pesquisa e também não assume nenhuma ação imediata.


Aos religiosos locais são apresentados e discutidos, além dos dados, a própria metodologia aplicada. É possível que estes dados venham a ser úteis para orientar o trabalho pastoral que já se prepara. Outro encontro com maior discussão ocorre na “assembléia da comunidade”, com duração de um dia. Estiveram presentes representantes de municípios vizinhos e tudo foi promovido pela Igreja com as lideranças religiosas da região. Todos os dados coletados servem como material de discussão em vários grupos, passando a ter significado para a orientação dos trabalhos de ações a serem executadas. Especialmente sobre educação, houve uma reunião com os professores da 1ª à 4ª séries dos grupos escolares do município. Discute-se a educação em geral e também a situação da educação municipal. Esse encontro pode ter sido o início de reuniões futuras sobre as questões educativas locais. São feitos, normalmente, dois outros pedidos de apresentações e discussões desses dados sobre a comunidade: um à direção do Colégio, que, pela instabilidade reinante, não se efetiva - toda a administração escolar está deixando o colégio; o outro pedido é feito à Câmara de Vereadores, mas negado pelo seu presidente, alegando ser desnecessária a divulgação dessas necessidades básicas, porque “nós vereadores quando eleitos, trouxemos o cômputo de todas as dificuldades do nosso município46”. Assim, entende o presidente reagindo a tal tipo de discussão. Para ele, quem deve discutir os problemas do município é apenas o prefeito. O grupo de arte continua sozinho, apresentando, através de cartazes, aqueles dados nas ruas da Lama, Mangueira e Cemitério. Nesses momentos, apresentam-se os dados nas cartolinas, a forma que eles mesmos escolheram para divulgação. Um total

de quatro reuniões acontece durante o mês de março. Além dos dados, os

componentes do grupo apresentam fotos da cidade e da qualidade da água, como também discutem um cartaz distribuído pela estação ecológica de Tapacurá (Pe), (os “preceitos do padre Cícero” ), que orienta para a não derrubada da mata; fogo no mato; caça e pesca; criação de bodes e bois; plantas para ração e outros aspectos da ecologia, um ponto novo da discussão assumido pelo grupo; um dos elementos do grupo apresenta também questões de saúde. Na avaliação do grupo, comenta-se que “fizemos com que eles se sentissem seguros e conversassem abertamente de seus pedidos e problemas”. Em outra rua,

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Cf. Of. Câmara Municipal de Colônia Leopoldina – no. 25/1983, de 13 de abril de 1983.


chegam a concluir que o trabalho é importante, mas muitos não têm fé em nada. Portanto, um trabalho de ação popular necessita de pessoal qualificado para entender e explicar a dinâmica do trabalho. Essa devolução de dados é determinante para uma maior disseminação dos conhecimentos da comunidade. A análise da cultura, num ângulo global, reduz o espaço de discussão meramente localizada, que é tônica até mesmo nos comícios eleitorais. Além disso, abre para uma análise mais ampla, colocando os temas locais na sua vinculação com problemas globais, numa perspectiva cultural em que ela ajuda os homens “a compreender a sociedade como um todo, e avaliar sabiamente os fins que a comunidade deve realizar e a ver a presente em sua relação com o passado e o futuro” (RUSSEL, 1978: 69). Um processo educativo que se caracteriza pela busca de transformação da realidade social e contribui para a organização dos trabalhos do campo ou da cidade. A luta para a organização da classe trabalhadora é constante. Buscar essa organização significa estar enfrentando também os ataques da classe antagônica ou de seus agentes. De coisas muito pequenas, como o simples treino de futebol, são respostas correspondentes dos opositores. Não entendem, é certo, aqueles trabalhadores que, por trás de tudo isso, existe uma dinâmica maior; mas, entendem que aquelas respostas eram para eles. Observa-se que, um mês depois de treinamentos físicos do Nova Geração, outros promovem o treinamento também de suas equipes e buscam seus atletas em casa. De início, há comentários de que o Nova Geração não iria existir e este passou a existir. Em seguida, que ia se acabar logo que o preparador físico (pesquisador/ educador) fosse embora em dezembro. Ele não acabou, apesar de sofrer forte abalo. Hoje, organizam suas atividades com sua direção própria. Mas a equipe sofre a campanha para sua extinção, como declaram os atletas Fernando e Edson: A gente estamos na dança e estamos dando mais esforço sobre a equipe. Nossa equipe não é como pensavam, que a nossa equipe era de formar e de repente se acabar. A gente teve nossa equipe sempre em ordem e queremos que o Nova Geração vá em frente. As outras equipes pensavam que o Nova Geração criava, continuava e se acabava. Pensaram enganado. Mesmo sem Zé de Melo47 nós continuou e ele não pode ficar diretamente aqui, passa fora e vem e nós na direção manteve a coisa em ordem e a nossa equipe em frente é o que a gente quer.

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Refere-se ao coordenador da pesquisa José Francisco de Melo Neto.


Eles fizeram críticas, falaram bastante, mangaram quando se jogava bola. Eles pensaram em negócio mas foi outro. Um time de perna de pau. Esse ali é um grosso. Em todo canto na praça era aquele bate-papo, mas eles pensaram enganado. O Nova Geração foi subindo devagazinho e está subindo... O grupo rompe essa fase, e nada se comenta mais de sua não existência. O campo hoje tem espaço para o Nova Geração jogar dois domingos por mês com equipes de fora e três dias na semana para treinamento. Grande discussão acontece também quando se espalha na cidade a notícia do documento que foi entregue ao prefeito. Muitas pessoas da localidade não podem entender tal coisa: primeiro, que qualquer reunião com o prefeito deveria ter sido realizada por eles, e não pelo Nova Geração. A grande correria dos funcionários que estavam na prefeitura chama atenção, pois jamais viram tanta gente reunida com o prefeito. Tudo é novidade para todo mundo. Mas a reação maior se dá por entenderem que o documento ofende os brios do esporte local. Tudo parece transparecer na verdade uma reação inconsciente ou consciente, no sentido de não aceitarem o fato de o futebol praticado estar na dependência do poder local. Adicionam-se, ainda, as reações individualizadas e comentários públicos ou não, como a do Presidente da Câmara. Mas o poder local, diante de tal tipo de mobilização que passa paralelamente ao seu poder, desperta seus agentes e prepara suas intervenções. Como representam o poder econômico e todo o grupo está bastante sensível às investidas do dinheiro, eles atacam justamente com isto. O grupo de arte que vinha funcionando às suas custas também foi sabedor de todo um esquema de cooptação para o sistema local. Em uma das reuniões, Elias afirma:

Alguém chegou ao nosso grupo e percebeu nosso desempenho e tá vendo que aqui vai subir de qualquer jeito. Existe alguém esperando que o grupo suba para depois dar apoio. Mas, a questão é política (partidária). O grupo não aceita o tipo de apoio dele. Por outro lado, há os esquemas políticos montados e para enfrentá-los, num tipo de trabalho de ação cultural, o grupo de arte ainda avalia que há falta de pessoas para num trabalho dessa ordem. É necessário que haja uma turma mais preparada para o trabalho de organização do povo, mas, em contrapartida, os “poderosos” locais não querem de jeito nenhum. Sentenciam ainda que “é muito perigoso até mesmo de vida, pois eles são mafiosos”. Esta avaliação não foge ao que se


observa hoje da ação desses “poderosos” em seus ataques à organização dos trabalhadores, chegando ao assassinato de tantos líderes classistas no campo. Mas a investida do poder local se dá com maior expressão no grupo dos guerreiros. Após a conquista do local, o espaço em plena rua para se montar a palhoça de dança, a festa podia começar. Mas, como fazer a palhoça? Como conseguir o dinheiro? E, por falta de maior agilização desse material, dois integrantes da equipe recorrem à prefeitura e são prontamente atendidos com ajuda financeira. Facilita-se não só a palhoça, mas também de forma muito rápida toda a indumentária necessária, o que levaria outra temporada de trabalho para consegui-la com a colaboração de todos. Para um grupo que se forma, tudo pode voltar à estaca zero, caso não se mantenha sua reunião frequente. Mas entende-se que a primeira instância desse diálogo educativo é nos grupos. Os momentos de interações de suas percepções facilitam a transformação das mesmas, à medida que vão se enriquecendo em conhecimento. Portanto, está aí a base primeira da instrumentalização de seus membros e de suas lideranças, no sentido de buscar as soluções para os problemas. São o elemento de controle social que leva seus membros à mudança. Nesta função o grupo exerce, sobre seus líderes, um controle permanente, para que não ultrapassem suas funções, distanciando-se dos interesses do grupo em benefício próprio (PINTO,1981:92). Assim, são esses grupos que, atuando em situação de diálogo e voltados à transformação social, irão educando seus próprios componentes. Quanto ao pesquisador/educador, um ponto que merece atenção é a questão de que os grupos têm em mente que ele deve ser a figura central do trabalho. Anular esta perspectiva dos grupos é tarefa do educador. Deve-se entender sempre que a função é de estimulação de reflexão e de ação do grupo. O pesquisador/educador deve manter permanente reflexão sobre este seu papel, para não correr o risco de se sentir, como naquela equipe de futebol, “o dono da equipe”. Tudo isso causa reação dentro dos grupos. Portanto, desenvolver uma prática em que o trabalhador vá entendendo a dinâmica social também faz parte da metodologia da pesquisa-ação.


AÇÃO CULTURAL - DISCUSSÃO

Após os contatos com a comunidade, com conhecimentos mesmo superficiais de seus principais problemas, a metodologia da pesquisa-ação se torna um instrumento, uma ferramenta para uma intervenção sistematizada na comunidade. As questões apresentadas pela comunidade, analisadas isoladamente, podem não trazer maior significado se a comunidade não estiver envolvida. A participação dos grupos ou a comunidade reforça a visão da análise dos condicionantes histórico-sociais, resultando numa concepção de ciência como processo. Essa participação, conduzindo à organização da comunidade, gera a ação. Esta ação contextualizada na globalidade de cultura está determinada aqui como ação cultural. Uma ação que busca conhecer, compreender a verdade das coisas e do ser, mas que também passe a buscar, a partir do agir, a possibilidade de transformação das condições de existência humana em todas as dimensões. Afirma Marx, em suas teses sobre FEUERBACH, que os filósofos até agora têm se preocupado em compreender o mundo, mas que a tarefa, no momento, é a de transformação deste mundo. Já, para JAPIASSU (1981: 89), surge agora duas posições delineadas: “o homem por um duplo deslocamento, vai tentar definir-se: de um lado, enquanto objeto da ciência; e do outro, enquanto sujeito da ciência”. Na presente pesquisa, durante os primeiros contatos em que se busca a formação do círculo de cultura, inicia-se todo um estudo teórico da realidade local. Este estudo, entretanto, não teve continuidade. Mesmo assim, não foi em vão. Cinco das sete pessoas que se iniciaram no círculo de cultura assumem a ação em outros grupos, já em momentos posteriores. Neste início, há uma busca no sentido de entender a realidade da comunidade, porém de forma contemplativa e, assim, faltou a prática. O conhecimento da realidade não pode apresentar-se como contemplação, ficando à margem da prática. Esse conhecimento, aliás, só existe na prática e é o “conhecimento de objetos nela integrados, de uma realidade que já perdeu, ou está em via de perder, sua existência imediata, para ser uma realidade mediada pelo homem” (VÁSQUEZ, 1977: 155). Contudo, no estudo em questão, é a partir das discussões das questões concretas com os grupos que se vai passando da teoria à ação. Esta ação se constitui da participação dos indivíduos desde os primeiros encontros. Vêm novos encontros e outros mais. Assim, o componente do grupo vai superando a mera expectativa e passa à ação, uma ação de elaboração conjunta de sua história da banda de zabumba; de convidar amigos para a organização da equipe de futebol; de ir repensando o seu tocar e


definindo a necessidade de ensaiar suas músicas ainda mais; de buscar a construção da sede de seus guerreiros; ou ainda para as atividades em pinturas ou atividades artesanais, com o intuito de promoção cultural e maior socialização da arte. Enfim, a ação vai acontecendo por meio da organização dos esforços dos indivíduos. A ação esteve presente em todo momento nas suas diferentes formas. As diferentes formas de práxis vão surgindo, à medida que avança a organização dos grupos. Dessa forma, o objeto sobre o qual o sujeito exerce a ação vai mudando quando se afirma mais a organização, e também quando se tem de agir em diferentes grupos. É no desenrolar da pesquisa, nesta busca de conhecer a realidade que o participante dos grupos vai adquirindo “sua auto-consciência e está no rumo não só de sua própria verdade, mas também na do mundo. E o reconhecimento é acompanhado pela ação. Ele procurará por sua verdade em ação, e fazer do mundo o que é essencialmente, ou seja, a realização de auto-consciência do homem.” (MARCUSE, in FROMM, 1979: 36). Assim, na busca de conhecer o mundo, o homem o constrói para si mesmo. E vai construindo sua independência individual e de classe, como afirma FROMM, tornando-se “não apenas livre de, mas também livre para” (1979: 45). Esta independência, partindo de sua auto-consciência, vem sendo formada a partir da ação da formação dos grupos na comunidade. Esta ação dos membros dos grupos vai tornandose mais complexa, mas sempre vinculada às necessidade que vão surgindo. Vai passando da simples participação com outros elementos de grupo até atingir a ação de encaminhamento de reivindicação de ordem política (CHEPTULIM, 1982: 92). Ação que, nesta pesquisa, foi concretizada com as propostas que os grupos apresentaram ao poder executivo local. Assim, vai se orientando o homem através de sua práxis, a transformar sua realidade de forma criativa. Mas, na ação de formação dos grupos, vai se desenvolvendo a consciência: desde a fase inferior da mesma, isto é, consciência comum, aquele que pensa os atos sem fazer da ação o seu objeto. A partir do nível inicial de consciência intransitiva, busca-se o rompimento da mesma para uma consciência transitiva ingênua, pela ação na realidade, para se chegar até o nível de consciência transitiva crítica. Nessa perspectiva, esclarece BARROS (1982: 13): Na medida em que cada indivíduo começa a analisar a realidade em que vive, indagando suas causas mais profundas ou os fatores que realmente a determinam; na medida em que este indivíduo em diálogo com os outros em um


círculo de cultura, questiona esta realidade com os seus companheiros, interpelando-os e sendo por eles interpelados; na medida em que eles tomam consciência de que através da cooperação podem transformar esta realidade, podem tornar-se um pouco mais sujeitos e criadores de sua história, podem fazer cultura, nesta medida este indivíduo ou este grupo desenvolve uma consciência transitivo-crítica. (BARROS, 1982: 13). Esta teoria se embasa para melhor compreender a realidade e contribuir para uma ação política. Dentre outros autores, BORDA (1972: 3) mostra como uma explicação teórica adequada à realidade facilita esta ação política e, ao mesmo tempo, como esse processo chega a ser um aporte da ciência. Para ele “sobreviverão e acumularão aqueles conceitos e técnicas até que passem pela prova de força da experiência de massas erguidas em defesa de seus interesses de classe” . Por isso, não é necessário apenas ter em seu tema de trabalho a classe operária, o proletário do campo e ligar-se ao movimento sindical. Para THIOLLENT (1981: 131), as “condições de obtenção dos dados e o processamento aos quais são submetidos – numa palavra, o dispositivo metodológico – constituem o elemento determinante de que se pode pretender alcançar”. Este dispositivo deverá ser útil à classe trabalhadora, sobretudo no sentido de promoção e fortalecimento de organização da classe para a superação dos problemas enfrentados. Mas a produção desse conhecimento se insere na lógica da produção das mercadorias. Nas condições do capitalismo, SARUP (1980: 70) entende que o processo educativo hoje se apresenta como um ato alienante, tornando-se um processo de desumanização. Outros autores também o entendem dessa forma. Por outro lado, a proposta de que cada indivíduo é responsável pela sua própria desmistificação não passa de mero idealismo. É pouco provável a sua realização, já que não será unicamente da crítica teórica que se superará a alienação. Para tanto, faz-se necessária a ação, a prática social, levando-se em conta todos os fatores locais e as circunstâncias, uma ação cultural, em que a questão de como proceder para desenvolver este processo é o problema central. Este trabalho, entretanto, pode ser realizado junto às massas. Para tanto, através da ação cultural, utilizando os procedimentos da pesquisa-ação, parte-se, na Zona da Mata, desta realidade concreta. Daí, busca-se entendê-la, busca-se o encontro com indivíduos, sendo os passos iniciais para organização dos futuros grupos. À medida que se avança com cada grupo, tem-se o cuidado permanente na percepção desses indivíduos de sua realidade convergindo para uma perspectiva de ação sobre a realidade.


Um trabalho organizativo que se inicia a partir daquilo que os indivíduos sabem, do que percebem, eleva-se a um nível de um novo conhecimento, revelando o objeto a ser transformado. Se se falha na organização do primeiro grupo de esporte; num possível trabalho educativo do sindicato rural; se ocorre um impasse no grupo de professores do colégio, no grupo de fotografias, no grupo de jovens, ou no círculo de cultura, ou ainda no grupo de MOBRAL, tudo isso passa por nova análise de circunstâncias em que se inserem estes grupos. Se com os demais grupos superam-se esses impasses, pode ter sido por conta de uma maior clareza dessas circunstâncias e melhor trato com o método de trabalho, ou ainda uma questão de tempo. Nessa ação de organização inicial, a concepção teórica de ver o povo com sinônimo de massa monolítica deve também

desaparecer. Para o campo,

sobretudo, as frações constituintes do campesinato devem ser consideradas. Mas, no trabalho com os grupos, a preocupação com a união está sempre presente. Nas reuniões, discutindo as questões concretas de grupos, discute-se também o entendimento da organização da sociedade e como cada grupo se insere nessa conjuntura. A união entre grupos no meio rural não é tarefa fácil. Além dos fatores apresentados anteriormente, soma-se ainda o analfabetismo e a ausência de auxiliares, bem como a desorganização dos operários da cidade, sem possibilidade de prestar alguma ajuda. Assim, os fatores que contribuem para sua desorganização são também fatores discutidos. De suas condições de vida saem os temas para decodificações. Todos na região padecem de insegurança da não qualificação, além da ausência de emprego. A partir daí, vislumbra-se com maior clareza a necessidade de união. Os detalhes culturais vão desde o espontâneo dos gestos, códigos, entonação de voz, expressão corporal, até a linguagem semântica de seus termos. Todos os problemas colocados têm uma finalidade educativa de desmistificar o mundo da dominação aos dominados. Com todos vão-se definindo propostas geralmente imediatas, mas que preconizam a afirmação de desenvolvimento político e social, buscando se tornar, a longo prazo, poder, e um poder em busca de hegemonia. Esta união vai se concretizando através desse processo educativo. Entretanto, não significa que eles vão receber, mas que devem repetir ou se ajustar ao esquema social, como faz a escola formal. Dessa forma, adquirindo consciência, descobrindo a sua existência, relacionando-se com o mundo, os indivíduos podem iniciar seu próprio processo de construção.


Pela ação cultural, cada vez mais se tem a necessidade e clareza de colaboração entre grupos, entre os trabalhadores para sua autodeterminação. O papel do investigador neste processo deve estar claro aos grupos. Esta figura passa a tornar-se a esperança dos indivíduos e sem ele tudo vai abaixo. Numa ação cultural, a função do investigador dá-se mais no sentido de estimular o grupo. Este é o papel de colaboração que tem o investigador: fomentar e desenvolver práticas que os levem a esta colaboração. Neste aspecto, os grupos passam a ter contato entre si: o pessoal do MOBRAL ajuda o grupo dos guerreiros; o grupo de guerreiros une-se ao grupo de zabumba; o grupo de zabumba reúne-se com o grupo de arte e o grupo de guerreiros, todos discutindo os problemas da cultural local. Como resultado dessa colaboração e discussão, hoje, o grupo de guerreiros está se apresentando às quartas, sábados e domingos. Ganha a cultura local, se fortalece a resistência à invasão cultural. Os grupos descobrem sua força também quando buscam mostrar a arte à comunidade e o grupo de zabumba fortalece as amostras com a melodia, com sua arte. É a busca pela construção das formas concretas de resistência cultural do povo. Porém, a necessidade de colaboração de consciência não se constrói do dia para a noite, como não vem pronta de fora, mas são processos que se engendram na ação desses grupos. Portanto, toda uma série de atividades vai despertando o indivíduo da sua consciência intransitiva para outro nível de compreensão, o qual deve ir além da dimensão da Zona da Mata e do Estado, atingindo uma dimensão global. Assim se desenvolve a colaboração entre os grupos, partindo daí para outras formas de ação mais políticas. A colaboração e a união vão se definindo desde o momento inicial de investigação e o conhecimento do ambiente da pesquisa. Inicia-se desde aí, nesta prática da Zona da Mata, com os grupos buscando sua organização, descobrindo outros e promovendo a colaboração e união de seus membros. Chega-se a culminar com ação eminentemente política, quando os grupos ligados à cultura e ao esporte encaminham, como grupos organizados, as propostas culturais e esportivas para o prefeito local. Visões diferentes surgem, dificuldades surgem, mas na ação conjunta tudo isto é dirimido. Ações de cunho reivindicatório, bem como sua problematização, iniciam-se desde o levantamento das entrevistas feitas pelo grupo de estudantes do Magistério e que fornece todo o roteiro para as reuniões dos grupos. Os dados dão maior sustentação às propostas encaminhadas, como o documento à autoridade local que fora distribuído.


Ação cultural, segundo FREIRE (1976), é utopia, é esperança. Ação cultural, entretanto, sendo utópica não significa ser idealista ou inexequível. Como ação, ela se constitui do anúncio e denúncia; denúncia da realidade desumana e anúncio de outra realidade onde os homens se tornarão mais humanos em sua plenitude. Tudo isto parece por demais difícil. Mudar as análises, as discussões, partidos, modelos econômicos, enfim, a estrutura social “Pode ser difícil: mas tudo isto é necessário, não há alternativa. Como também é necessário que haja coisas que não podem ser feitas do dia para a noite” (HELLER, in CHASIN, 1983: 7).


CONSIDERAÇÕES

Aqui, pode-se questionar o alcance das mudanças naquela comunidade, em termos de alteração do sistema produtivo ou quebra de dependência de classe social. Foi alterada a dependência do município à monocultura da cana-de-açúcar e obtida a diversificação da agricultura local? A resposta aos questionamentos apresentados é negativa. Não foi alterado o sistema produtivo local, nem desfeita a dependência de classe e muito menos deslocada a agricultura local da monocultura da cana. Não será apenas através de um processo de ação cultural que tudo isso ocorrerá. Mas, podemos ainda nos questionar se existe algum movimento social caracterizado por grandes mobilizações, como atos públicos, greves e outros e como ficarão os grupos após o envolvimento do pesquisador e os mesmos na comunidade. Para responder a estas perguntas, a primeira dificuldade que se tem é a caracterização, hoje, do momento social com o modelo padrão de certo tipo de movimento como: atos públicos, greves, movimento sindical e atuação partidária ou mesmo em associações de moradores. Tudo isto constitui o movimento social da classe trabalhadora, mas é necessário que também sejam recuperadas as atividades, as ações do dia-a-dia e enfocado como movimento de resistência da classe trabalhadora. O enfrentamento da classe oprimida com a realidade e sua busca pela sobrevivência fornecem as referências que podem ser úteis a uma análise prospectiva para os grupos na comunidade. Esta tentativa está expressa nas afirmações de alguns componentes dos diversos grupos quando questionados sobre a possibilidade da sobrevivência daquele grupo, mesmo com o afastamento do pesquisador. Em relação ao Nova Geração, Gizo afirma: “as outras equipes têm mais condições de praticar esporte, mas não têm aquela boa vontade que têm os atletas da Nova Geração”. Esta boa vontade a que se refere o atleta da equipe diz respeito ao desejo de que elas permaneçam. Ou ainda, quando Eraldo, o tesoureiro da equipe, envolvido nas questões financeiras, assegura que todas aquelas despesas não ficariam “nas suas costas”- “Vamos marcar uma reunião, no meio da semana, para acertar isto” - isto significa que a equipe começa a discutir suas questões. Com esta prática, pode-se estar exercitando sua sustentação futura. Indagados se o recolhimento de contribuições seria feito dentro do campo de futebol, alguns atletas discordam dessa cobrança dentro do campo e um deles sentencia: “vamos reunir todos e discutir isto direitinho. Só isto”. A discussão das questões de forma


coletiva está se tornando necessidade. É comum a equipe adversária receber uma taxa de deslocamento. Para efetivar esse pagamento, Noronha explica: “o Nova Geração não é rico mas vem organizando e trazendo os times para jogarem em Colônia e este pagamento tem de sair da equipe. Nós não gostamos de sair pela rua pedindo a um e a outro para colaborar (uma prática na região e de outras equipes). Só o Nova Geração não sai pedindo dinheiro e tudo está saindo da equipe”. Mas nem todos têm aquela boa vontade anteriormente citada. Geraldo é o atleta que também observa este aspecto e entende que o Nova Geração não será feito como deveria. No entender dele, o correto seria, todo mundo pagando certo e todos disciplinados. Porém, perguntado se a equipe acabaria após a saída do treinador (pesquisador), ele acredita que não “porque através de nós conseguirmos cinco sócios o que é muito difícil aqui. Cinco sócios que não jogam e contribuem, são dos engenho”. Se esta prática se enraizar, está assegurada definitivamente a equipe. Para ele, discute-se qualquer assunto menos o fim de sua equipe. Torna-se equipe, como prática de discussão, um grupo também de resistência a toda aquela forma de dependência local do esporte à Prefeitura. Está acontecendo um processo de autoafirmação, passando a contribuir com o esporte local, arregimentando a população local para ir ao campo de futebol assistir aos seus jogos. Os jogos do Nova Geração passam a ser o assunto das discussões da cidade. No aspecto político, ressalve-se a clareza da necessidade de manter-se a cobrança ao executivo local por parte de um dos atletas - após a entrega de um documento reivindicatório do esporte local: “temos de cobrar ao Prefeito, porque se a gente esquecer como é que a gente vai fazer este negócio?” Isto significa conquistar as propostas apresentadas. Mesmo com a pouca força organizativa e poder reivindicatório desta equipe, só a presença de seus atletas no Gabinete do Prefeito foi suficiente para que a Secretária, em plena reunião, viesse a apresentar a todos o ofício que seria enviado a Maceió (capital do Estado), solicitando verbas para uma quadra de esporte, uma reivindicação da equipe. O documento foi apresentado aos presentes não como reivindicação da equipe, mas como sendo uma preocupação do prefeito desde outros tempos. Por outro lado, os reflexos na Câmara de Vereadores são sintomáticos. No dia da entrega do documento sobre o esporte ao prefeito - também distribuído à comunidade - três vereadores se posicionam na Câmara no sentido de se ter preocupação com o esporte local. Tudo isto foram reações a determinadas ações do


grupo que podem constituir um movimento que não se enquadra nas formas de movimento social estigmatizados como os apresentados anteriormente, mas que vão se constituindo na busca da efetivação de mudanças. Do grupo de arte, salientam-se suas observações. Em uma de suas reuniões, Elias mostra que “já sustenta um papo com o povo por duas horas. Eu só não fazia isto. Mas já me empolgo mais. E vou, sozinho”. Estava se referindo às reuniões que ocorriam em várias ruas. A necessidade de todo esse trabalho continuar está expressa ainda com a primeira visita feita a Maceió para contatos com o pessoal de arte da capital. Foram ainda a São Cristóvão, em Sergipe, ou até Campina Grande, na Paraíba, observar o “atelier” do Museu de Arte local e discutir com artistas campinenses. Se antes estavam limitados ao seu município, agora já buscam outras ideias em outros centros. Fernando afirma: “para mim foi muito bom essa organização. Eu desenvolvi mais a minha arte que já fazia. Então vou incentivar os meus amigos. Espero que em breve o grupo esteja com elementos e mais organizado. E ainda acho que nós iremos descobrir através desse grupo verdadeiros artistas e cada um mostrar o que tem, como grupo então”. Ou ainda Elias que se convence de que o “artista sozinho não tem condição, é claro, a não ser que seja rico, mas o grupo tem condição de sobreviver sem ajuda de autoridades. Será necessário que os artistas se ajudem”. São afirmações que transmitem possibilidades de continuação de um grupo de arte naquela comunidade. Num momento de autocrítica, o grupo começa a observar que “vamos cuidar dos trabalhos, pois não temos nem trabalho para mostrar aqui em Colônia”. Mas o interesse maior vem ainda de Irapuan, quando entende que “o grupo de arte deve ser fortalecer e ter mais garra. Um artista deve trocar ideias, ajudar o outro, um dia chegar aonde a gente pensa chegar”. Não se sabe aonde querem chegar, mas explicitam a confiança de continuarem suas atividades como grupo de arte.

Dois

meses depois, voltando à região, o investigador constata que o grupo define-se para mais outra forma de arte: a escultura. Está também com troncos de madeira da região desenvolvendo nova forma de expressão artística que, até então, não havia sido produzido. Tudo isto vai delineando a possível sustentação do mesmo, com a saída do investigador. Com relação ao grupo de zabumba, algo vai se apresentando como mudanças quando da expectativa de atualização de suas apresentações, já que passam a escutar discos e outras bandas de zabumba como as de Caruaru (PE). Decide-se


também, assumir o instrumento original. Estão divulgando sua história na cidade e na região onde passam tocando. Tudo isto parece fortalecer bem mais a existência e consolidação do grupo. Em relação ao grupo de guerreiros, constata-se que, passados os dois meses após se deixar a comunidade em plena época de inverno, que é a de maior crise na região canavieira, o grupo de guerreiros passa a existir na palhoça no meio da rua da Mangueira e dança-se às quartas, sábados e domingos. Sua existência nessa época de chuvas é indício de sua continuação na fase da colheita que se aproxima, já que nessa época a situação econômica da comunidade se torna menos instável. Esta ação cultural deixa ainda um saldo expressivo de informações sobre a comunidade. Ela ficou conhecida bem mais do que se conhecia no que se referem às suas necessidades básicas, isto é, àquelas necessidades mais indicadas pela comunidade. Todas aquelas informações devolvidas aos grupos e mantidas, sobretudo, com o grupo de arte podem ser úteis para continuação deste processo praxeológico. Um leque de atividades em cada assunto específico, como saúde e outros, fica mais claro para uma sequência dos mesmos. Todo um trabalho está aberto. A continuação sistematizada pode se constituir em processos vários, quando se delineiam, agora, as questões que devem ser aprofundadas. Pode-se desenvolver o tema da cultura, questões educativas formais, organização esportiva, organização sindical, o professorado de 1o grau, enfim, uma ação cultural dimensionada em cada questão específica. Aprofundar estas pequenas mudanças ocorridas e refletidas em atividades que antes não existiam parece ser necessário. Assim, pode-se configurar um quadro mais expressivo de possíveis mudanças, porém, a longo prazo, acrescenta-se que, mesmo para os grupos sozinhos, não será fácil toda esta sistematização. Os religiosos, com os agentes pastorais, poderão ter mais condições de sustentar tal processo considerando, sobretudo, a disponibilidade e a prática dos mesmos. Para isto, pode ser necessária a formação de novos grupos para cada aspecto a ser estudado, como, por exemplo, para educação de 1a a 4a séries. Para possível criação de novos grupos, todos os dados coletados permanecem nas mãos desses religiosos e do grupo de arte. Contudo, algo parece ficar patente para todos os que estiveram envolvidos neste processo. Até mesmo o prefeito, no dia da entrega das propostas do esporte local, declara:

“é bom que estão

despertando”. Para o usineiro e prefeito, não se sabe o que significa “ser bom”, mas é evidente que aqueles trabalhadores e seus filhos demonstram estar se conscientizando,


“despertando” para a sua realidade. Os efeitos dessa ação cultural, do ponto de vista de organização, mesmo envolvendo todos os trabalhadores da comunidade, são limitados. O que foi feito, observa também o grupo de arte, ainda foi pouco: “Mas foi. Parece que precisa mais gente para cada grupo”. Pode-se até admitir que nenhum desses grupos vá avante com suas próprias forças. Entretanto, acredita-se também, como o grupo de arte, que “o trabalho, mesmo que não vá avante, ele não se acabou. Parou, não foi em vão”. Algumas questões de cunho acadêmico se apresentam e podem contribuir mais para o desempenho do trabalho social como, por exemplo, a necessidade de uma maior fundamentação nas próprias técnicas de pesquisa e, sobretudo, na análise epistemológica das mesmas. Isto se faz necessário para se buscar também, de forma científica, outras formas de produção do conhecimento que, mesmo podendo ser modestas, têm de ser científicas. Formas que venham considerar os aspectos determinantes em cada região, desenvolvendo técnicas de ação, orientando-se para fatos pertinentes e significativos da comunidade e que tenham como finalidade a organização, educação e ação dos envolvidos na pesquisa. Um estudo social que se busque estar combinado com a sistematização posterior para então ser devolvido aos grupos de base para a comprovação com a realidade. As formas de devolução desses conhecimentos à comunidade são desafios que, uma vez superados, se contrapõem às formas de produção especializadas, fechadas e, portanto, divorciadas da cultura do local onde foram colhidos os dados. Essa devolução se caracteriza pela clareza de exposição, para que a classe trabalhadora possa compreendê-la. Não pode ser feita apenas através dos livros ou revistas especializados, pois assim o próprio conhecimento passa a ser direcionado por critérios que estejam fundamentados num conhecimento de utilidade às comunidades. Nesse sentido, afirma THIOLLENT (1980), apenas a crítica não é suficiente, como as levadas ao empiricismo, se, as mais das vezes, são críticas apressadas sem apontar alternativas adequadas. Uma equipe de pesquisadores de várias áreas do conhecimento também pode ser necessária para um trabalho de ação cultural mais elaborado. Várias pesquisas podem ser geradas de um mesmo projeto de ação comunitária. Educadores, sociólogos, economistas, antropólogos e outros podem contribuir no conjunto da devolução de dados com uma maior fundamentação teórica de cada pesquisador. Isto será útil a uma maior compreensão da comunidade e, em consequência, uma ação social mais efetiva. E, finalmente, a pesquisa nos países periféricos ou subdesenvolvidos pode gerar uma maior autonomia dos mesmos, quando se busca construir seu instrumental próprio


de pesquisa. Esse instrumento se faz necessário, pois assim se avança para deter-se o colonialismo científico e cultural como meio de resistência à dependência econômica e política dos povos.

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TEXTO 6.


COLÔNIA LEOPOLDINA: ELEIÇÕES E LIÇÕES48

Colônia é aqui, a terra da cana-de-açúcar.

A pessoa que não tiver a proteção de seus direitos efetivamente assegurada está correndo o risco de perder sua vida, sua dignidade, sua integridade física e psíquica e todos os bens e direitos inerentes à sua condição humana (Dalmo de Abreu Dallari).

1 INTRODUÇÃO

48

Este texto é um registro das eleições de 2008 e, ao mesmo tempo, uma análise do Movimento Colônia e Cidadania - MCC. A análise mostra a visão sobre as eleições em Colônia Leopoldina, tendo sido reproduzida no ano de 2008 e editado no livro: Colônia Leopoldina – situações político-ambientais. Maria Betânia Alves dos Passos, Marília Gabriela da C. Gomes e José Francisco de Melo Neto (org.). Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.


A semana que antecede o dia da eleição, em uma cidade do porte de Colônia Leopoldina49, em Alagoas, é um convite para a compreensão daquilo que está acontecendo naquele momento, diante da complexa teia de relações sociais estabelecidas. Podem ser observadas as diferenciadas possibilidades da prática política, especialmente a política partidária, o seu exercício em uma região do interior e sua relação com a política em geral. Nessa semana,inclusive, se presencia a participação das pessoas diante das distintas condições de escolha de um representante, naquele dia de domingo, e, sobretudo, ouvir e assistir as conversas e tensões geradas pelo envolvimento emotivo do povo, bem como, as negociações que se dizem feitas, tudo em nome da política partidária. O convite que a realidade expõe provoca a compreensão de que cabe ainda o investimento na organização do povo para que possa exercer sua cidadania e avançar nas suas lutas por esta conquista mesma. Cidadania, expressão de um processo de busca nunca concluso, pois sempre se mostra como um vir a ser, com sonhos e utopias de se viver em condições humanas. O texto que segue é uma análise superficial do processo eleitoral em Colônia Leopoldina, mas que se parece muito, em boa parte, com o que vem ocorrendo em outras cidades por todo o País. A busca pela compreensão de aspectos políticos de uma cidade do porte de Colônia, em seus aspectos partidários e demais aspectos da organização da vida local, exige um zeloso cuidado na coleta de informações, principalmente quando se está vivenciando aquele momento eleitoral. Em compensação, fora desse momento, fica muito mais difícil a captação de elementos que só podem ser observados nesses dias mesmos. Foi nesse calor e momento, portanto, que se procurou entender os eventos últimos da campanha eleitoral deste ano, tentando-se ver a presença das demais organizações que compõem a vida política e social da cidade. É uma busca por elementos para uma orientação política, voltada à perspectiva do exercício de ser cidadão, não apenas na vigência dos períodos eleitorais. Ações que possam conduzir as pessoas para a participação nas coisas públicas, no seu dia-a-dia,

49

Cidade situada na Zona da Mata Norte do Estado de Alagoas, com aproximadamente 22 mil habitantes no município, com um eleitorado em torno de 14.500 eleitores. Nas terras do município, a economia é dominada pela cana-de-açúcar, estando estabelecidas duas agroindústria produtoras de açúcar e álcool, a Usina Taquara e a Destilaria Porto Alegre, respectivamente.


preparando-se para seguir as futuras políticas encetadas pelo poder público local após os resultados das urnas. Esta análise inconclusa visa50 contribuir, em particular, à organização de setores da sociedade leopoldinense, na perspectiva de poderem expressar os seus desejos de participação por meio de atividades políticas permanentes e, não somente, por meio de partidos políticos. Portanto, este é um texto permeado do esforço de se tentar compreender a política partidária local, no momento mais conflituoso, que é o das eleições, contribuindo para a ação política permanente de todos e todas, em diferenciadas organizações da sociedade civil, que insistem no desejo de se tornarem cidadãos, atuando no seu próprio local de vida. O texto contempla o quadro da política resultante das urnas, em dimensão nacional e local, as expressões políticas marcantes da campanha eleitoral em Colônia, os limites desse quadro político, o discurso de candidatos e suas dimensões táticas e programáticas, a atuação do poder judiciário, e apresenta sugestões para pessoas que, mesmo diante do desfavorável quadro político, insistem em vivenciar uma outra política que as promovam para a condição de cidadãos e cidadãs. Logo, o texto é uma tentativa de ajudar à compreensão do processo eleitoral local, contribuindo, talvez, para a organização de grupos com encaminhamentos futuros para a sua própria caminhada. Afinal, todos e todas têm o direito de viver sua cidadania com direitos humanos realizados.

2 O RESULTADO DAS URNAS NO PAÍS 51

50

Os dados aqui citados, cuja origem não estiver indicada, são todos retirados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 51 Nomes dos partidos:


O resultado eleitoral das eleições nacionais, considerando o chamado grupo do G79, um grupo de cidades com mais de 200 mil eleitores, incluindo todas as capitais dos Estados e o Distrito Federal, teve um grande vitorioso – o Partido dos Trabalhadores -, que conquistou 21 dessas cidades e eleito mais de 350 prefeitos, no cômputo total. Ao que parece, o PT vem superando a sua crise ética vivida em 2005 e 2006, mas perdeu o seu trunfo principal, a cidade de São Paulo, para o partido Democratas (Dem), este que foi o mais derrotado neste atual processo eleitoral e neste grupo de cidades. O PCdoB saltou de 10 prefeitos para 39, um crescimento expressivo e reelegendo o prefeito de Aracaju. O PSB passou de 214 para 309, aproximadamente, e o PDT, mais limitado, subiu de 311 para 344. No “bloco de esquerda”, o PSB, PDT e PCdoB adquiriram mais musculatura, podendo exercer um papel bem mais importante na sua relação com o PT e com o governo Lula. O mapa político eleitoral, saído das urnas, no entanto, tem um novo dono - o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Este partido consolidou a sua posição e venceu em 1.208 municípios, inclusive, em boa parte das cidades mais importantes do país, num total de 17 cidades. Para o seu atual Presidente Michel Temer: “Somos o maior partido do Brasil. Em 2010, vamos forte para qualquer aliança, sem nenhuma dúvida” (Folha de São Paulo, 27/10/08). O Dem (antigo PFL), entretanto, mesmo vencendo na cidade de São Paulo, fortalece a posição de Serra a postular a candidatura a presidente no ano de 2010, considerando a aliança Dem/PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). O DEM elegeu mais 4 prefeitos nesse grupo das maiores cidades do país. A partir desses dados, os grandes perdedores são os partidos que fizeram frente de oposição ao Presidente Lula mas, continuam governando 35,4 milhões de eleitores, mesmo com 10 milhões de eleitores a menos do que atualmente. O PSDB passou a administrar 5,8 milhões de eleitores, mas estava gerenciando 14 milhões em 2004, uma perda de quase 1/3 de seu eleitorado de cidades do G79. No cômputo total, o PSDB passou para 17,5 milhões. É importante observar que o partido com maior número de - PP chamava-se PPB em 1996 e 2000. Antes havia sido – PPR e PDS. - O PTB fundiu-se com o PSD em 2003 e incorporou o PAN em 2006. - O PR é resultado da fusão do PL com o PST e com o PGT (em 2003) e com a incorporação do PRONA (em 2006). - O PFL mudou de nome para Democratas (DEM), em 2007.


derrota, todavia, foi o PPS. Este partido havia eleito 5 prefeitos nas eleições passadas, perdendo todos nesta última. Mesmo diante desse estrago, de difícil perfomance eleitoral da oposição, Serra se mantém na dianteira como o centro dos candidatos da oposição em 2010.

Rendimento Eleitoral dos Partidos no G79, cidades com mais de 200 mil eleitores governa hoje PT PMDB PSDB DEM PSB PDT PP PCdoB PTB PV PPS PRB

governará

17 14 15 4 9 6 4 2 1 1 2 1

21 17 13 5 5 5 5 2 3 1 0 0

Na luta da esquerda versus a direita, ainda em nível nacional, a esquerda permaneceu tateando e pouco efetivando a unidade política. Um dos exemplos mais marcantes é a situação do Estado do Rio de Janeiro, em que a esquerda partiu dividida. Convém ainda um destaque à “frente de esquerda”, que a partir do desempenho da campanha passada (presidencial) do PSOL, PSTU e PCB vem promovendo um confronto direto com o governo Lula, com poucas análises das correlações de forças na América Latina e Brasil e, sobretudo, sem uma mais rigorosa percepção desse híbrido ou contraditório governo. Essa frente ficou em terceira posição quando da última campanha para presidente, com Heloisa Helena, mas, nestas eleições, não conseguiu manter sequer a frente de esquerda, desenvolvendo críticas intensas e fraticidas entre esses partidos. O PSTU, avesso às alianças, chegou a criticar a direção do PSOL que “realiza coligações com os partidos burgueses, que inclusive integram a base de sustentação do governo Lula”, enquanto que o PCB preferiu marcar suas posições, apresentando candidatos sem densidade eleitoral.


3 O RESULTADO DAS URNAS EM ALAGOAS E COLÔNIA

Em nível de Estado, o partido com maior expressão de candidatos eleitos a prefeito foi o PP (Partido Progressista) com um total de 21, sendo seguido pelo PMDB, com 20, e o PTB, com 17. Estes são os partidos que se apresentam com maior potencial de direções municipais, podendo mapear e definir a agenda política em Alagoas. Mesmo sendo governado pelo PSDB, que nessas eleições elegeu apenas 13 prefeitos, ao que parece, esse governo manifesta a dificuldade de realizar a sua política. A eleição no Estado, como se vê, mostra claramente que a política não está passando e não passará pelas mãos do PSDB. Alagoas apresentou uma figura com retumbante vitória eleitoral – o atual prefeito reeleito de Maceió, Cícero Almeida, em condições de posicionar-se diante dos caciques políticos do Estado e se apresentar, no futuro, como uma importante liderança em nível estadual. A esquerda continua estrangulada, contando apenas com 2 prefeitos do PCdoB, enquanto que o total de vereadores chega à casa de 24, a contar com 22 do Partido dos Trabalhadores e 2 do PSOL. Por outro lado, Heloisa Helena ressurge das cinzas como a mais votada vereadora de Maceió, iniciando pelo patamar mais baixo da representação política. Não obstante, a sua desenvoltura ainda é algo a se ver, a depender de sua definição política de construir o seu partido no Estado ou de continuar vagando no país, contribuindo à organização nacional do PSOL – Partido Socialismo e Liberdade.

Rendimento Eleitoral dos Partidos no Estado de Alagoas

Partidos

prefeitos eleitos

PP

21

PMDB

20

PTB

17

PSDB

13

PMN

7

PSC

6


PSB

5

PDT

4 (Colônia Leopoldina)

PCdoB

2

PTdoB

2

PR

2

PT

1

PRB

1

DEM

1

Como tem sido uma prática muito comum, após os processos eleitorais, é possível de se ver no futuro breve a rearrumação partidária, principalmente desses prefeitos eleitos por partido com pouca expressão estadual. Deverão ficar à espera da prometida e não realizada reforma política. A atual legislação tem dificultado a prática do troca-troca de partido, muito comum nos processos de articulação político-partidária, demonstrando o pouco papel dos partidos do ponto de vista político e ideológico sobre os seus quadros, e sem qualquer significado para os eleitores em geral. Já em Colônia Leopoldina, as eleições estiveram marcadas por três candidaturas: a do ex-prefeito Manuilson Andrade (PDT), que insiste em sua permanência com a candidatura de Lala (sua esposa) durante todo o processo eleitoral; a do usineiro José Maria (PSB), proprietário da Usina Taquara; e a candidatura da servidora pública Luciana Luna (PSDB), que não apresentou densidade eleitoral, mesmo durante a campanha.


Campanha do candidato do prefeito Manuilson (PDT).

Em nível de Estado, a coligação do candidato Zé Maria (40) – PSB/PTN/PSL/PTC/PMDB/PSC teve maior quantitativo de prefeitos eleitos, num total de 31, tendo a segunda colocada, Luciana (45), com a coligação PSDB/PTB/PPS, atingido a cifra de 30 prefeitos eleitos. Esta aliança foi fortalecida com o PTB, que contribuiu com 17 prefeitos, ao passo que o PPS não contribuiu nessa aritmética. Por outro lado, a coligação do prefeito Manuilson (12) – PDT/PV/PT/PR/DEM elegeu, em todo o Estado, apenas 7 prefeitos. Isto pode indicar a pouca articulação política, ou mesmo, uma não aceitação dessa aliança por parte do eleitorado alagoano. Esta situação suscita a pergunta: afinal, qual será o agrupamento político a ser procurado pelo Prefeito eleito Cássio? Esta resposta trará resultados imprevisíveis para a nova gestão do eleito Cássio com uma baixa condição política de soluções para questões da cidade, em especial, aquelas que não se resolvem em nível municipal. Além


do mais, poderá, no futuro, trazer algum incômodo na sua relação com o atual Prefeito Manuilson que deseja permanecer prefeito. Este quadro também mostra que poderá continuar uma centralização exagerada no governo da cidade, considerando o baixo nível de força política estadual da sua coligação. A contribuição maior nesse grupo é mesmo do PDT com 4 prefeitos (inclusive o de Colônia Leopoldina), 2 do PR e 1 do Democratas. Uma composição com baixa expressão eleitoral. Contraditoriamente, quanto à candidata Luciana, sua coligação em nível de Estado apresentou uma melhor performance, mas que não vem, necessariamente, de seu partido o PSDB, com 13 prefeitos apenas. A maior força dessa coligação passa pelo PTB com 17 prefeitos eleitos, em todo o Estado. Pessoalmente, em termos totais de votos em Colônia, Luciana apresenta uma queda expressiva em seu eleitorado, considerando as duas últimas campanhas, mesmo que esse tenha se mantido razoavelmente “cativo”.

Dia de eleições – festa na cidade.


Rendimento Eleitoral dos Partidos em Colônia

Votos

- 11.548

eleitorado

14.216

Votos Válidos - 10.546

apurado

14.216

Nulos

- 789

não apurado

0

Em branco

- 213

comparecimento

11.548

Candidatos

Coligação

1. Cássio

PDT/PV/PT/PR/DEM

Votação

seções

% Válidos

4.482

42,50

2. Zé Maria PSB/PTN/PSL/PTC/PMDB/PSC

4.454

42,23

3. Luciana

1.610

15,23

PSDB/PTB/PPS

45

Os dados podem nos indicar que, mesmo diante da dificuldade de articulação da Chapa 1, do Manuilson, este foi um candidato que jogou em campo toda a sua força política. A sua coligação atraiu vários apoios políticos no âmbito estadual, contribuindo na sua força eleitoral. A vitória, por pequena diferença, mostra o desafio grande que teve ao enfrentar os candidatos de oposição. Os resultados expõem à vista que a maioria do eleitorado de Colônia, mesmo depois de 8 anos de sua ação política, não está mais convencida dessa capacidade de administração do atual prefeito. Por outro lado, houve uma disputa acirrada por bases materiais entre dois fortes candidatos: aquele apresentado por Manuilson, que tinha a sua base na prefeitura e no seu trabalho, e a outra candidatura, a do usineiro, detinha o suporte financeiro, estando debilitado inicialmente, com problemas na usina, recobra a força total no final de campanha. Já a terceira candidatura, a de Luciana, reduziu muito o seu eleitorado. Perdeu duas vereadoras de sua base de sustentação da política local, mesmo que elas tenham tido uma expressiva votação.


Eleitores mais antigos da cidade ainda mantêm a visão de que:

Sempre têm sido assim as eleições, isto é, com a compra de votos. É importante a gente pensar para frente. ... A coisa não mudou, e, digo mais, que até piorou. Outro resultado qualquer não mudaria nada. Não se pode esquecer que eles (Manuilson e Zé Maria) sempre brigaram e sempre se juntaram (Maurício Pereira).

Observem-se os seguintes dados: Rendimento Eleitoral dos Candidatos/as a Vereadores em Colônia

- Ricado Brasilino

- PTN

- 743 votos

6,96% do eleitorado

- Paula

- PTB

- 685

6,42

- Dr. Marinho

- PPS

- 683

6,40

- Deda Messias

- PSB

- 667

6,25

- Dr. Ernane

- PDT

- 494

4,63

- Gal Fest

- PPS

- 477

4,47

- João Matuto

- PPS

- 459

4,30

- Diva do Banco

- PV

- 428

4,01

- Vitalino

- PDT

- 346

3,24

Estes são os vereadores eleitos para os próximos 4 anos.

Demais candidatos/as:

Graça Leite

- PTB

- 453

4,24

Luiz costa

- PSB

- 407

3,81

Carmelita

- PSDB

- 374

3,50

Cícero Mamãe- PDT

- 343

3,21

Rubinho

- 311

2,91

Irmã Silvania - PDT

- 282

2,64

Luciano

- 264

2,47

- DEM

- PT


Jau

- PSDB

- 251

2,35

Suzana

- PSB

- 248

2,32

Edmilson Soldado - PDT

- 243

2,28

Vavá

- 238

2,23

- PSDB

De todos/as candidatos à Câmara, dois candidatos a vereador iniciam um novo jeito de apresentar-se à cidade, não apenas pelo velho estilo de “cata-cata” de voto individual, mas apresentando programa de ação junto ao prefeito, na câmara – os candidatos Rubinho (DEM) e Luciano (PT). Destacam-se as propostas de Luciano: 1. NA AGRICULTURA – disposição de tratores aos pequenos produtores para gradear a terra e de assistência técnica em geral; ampliação do Programa Luz para Todos; reformar casas de taipa da zona rural em convênio com a FUNASA (Fundação Nacional de Saúde); implantação do Conselho da Agricultura; criação de um banco de sementes em parceria com SEAGRI (Secretaria de Agricultura do Estado de Alagoas) e com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em prol do melhoramento genético de nossos produtos. 2. NA EDUCAÇÃO – melhora da biblioteca municipal, com aumento do acervo e contratação de um profissional da área; incentivo à leitura na escola com o desenvolvimento de programas voltados à nossa realidade; implantação de uma escola integral para as crianças do município; fortalecimento da educação de jovens e adultos; implantação do ensino médio na zona rural (Porto Alegre e Monte Alegre); convênio da prefeitura com a UFAL (Universidade Federal de Alagoas) e/ou outras caso possível, para a realização de cursos superiores no município, pela via da educação à educação; apoio financeiro aos professores em forma de bolsas de estudo, a fim de que estes possam investir em sua formação por meio de cursos de especialização, mestrado e doutorado; implantação do sistema de gestão democrática nas escolas, com a eleição de direitos e conselhos escolares.

Há outros candidatos/as com menor expressão eleitoral. Estes dados, contudo, mostram que a força partidária, em termos de eleitos, apresenta a seguinte configuração:

PPS

- 3 vereadores


PDT

- 2 vereadores

PSB

- 1 vereador

PTN

- 1 vereador

PTB

- 1 vereador

PV

- 1 vereador

Tais resultados indicam uma possível dificuldade para a ação do prefeito Cássio, recentemente eleito, caso os partidos assumm a sua formulação originária partidária, ou se os eleitos, pelo menos, conheçam a vida partidária, o manifesto e o programa de seus partidos. O significado de Partido nesse eleitorado é pouco explorado e não serve para a definição do voto. Nesse caudal político, tem surgido um esboço inicial de uma futura liderança emergente: o vereador Brasilino. Este fora eleito duas vezes com a maior votação da cidade: o seu comportamento político tem sido muito mais para apoiar o prefeito ou o usineiro. Não tem realizado movimentos políticos para se tornar um importante líder local. Suas ações são muito mais de não correr risco, esforçando-se pela manutenção da sua cadeira de vereador. A vereadora Paula e João Matuto são debutantes em política, enquanto se aguardam os seus pronunciamentos. O Dr. Marinho, advogado e procurador da prefeitura, base do prefeito e bem sucedido comerciante, está em seu primeiro mandato. Poderá despertar futuras e maiores ambições na política. O Dr. Ernane, médico conceituado e professor de medicina, indo para o 5 mandato consecutivo, poderia ter sido uma esperança de mudança para a política local. A sua atividade política, contudo, tem buscado os caminhos fáceis da política, angariando postos em segundos escalões da prefeitura, ficando muito aquém daquela possibilidade e desperdiçando sonhos de mudança local. O vereador Deda Messias, caminhando para o terceiro mandato, mantém-se em seu silêncio político até o momento. A vereadora Gal Fest, agora em seu segundo mandato, tem pouco a dizer ao seu eleitorado, assim como Diva do Banco, com pequenos atendimentos pessoais, perseguindo o assistencialismo. E, finalmente, Vitalino, um obstinado músico, que em primeiro mandato, precisará definir com clareza o seu papel para além de acordes musicais. Em Colônia, o PT esteve na aliança até com o Democratas, velhos inimigos ideológicos nacionais, à medida que participou da mesma coligação com o PDT. Espremido entre duas possibilidades de aliança, considerando que ambos os partidos dirigentes das alianças PSB e PDT apóiam o governo Lula, o Partido dos Trabalhadores


opta pelo PDT e, sendo a última coligação realizada com o prefeito, pode-se dizer que este partido foi determinante na vitória de sua coligação. No entanto, o PT continua com profundas dificuldades de organização de si mesmo, estando há mais de 20 anos na ação política local, sem ter conquistado qualquer posto na Câmara de Vereadores. Não obstante, este momento eleitoral consagrou-se com a maior votação já obtida em sua história. Esses dados e o desenvolvimento do processo eleitoral em Colônia apresentam a sua primeira característica e, portanto, no mesmo caudal da política em todo o país, isto é, um total desconhecimento do que seja o partido. Não se vive o partido, não se vota em partido, apesar de se pedir votos para 12, 40 ou 45. Vota-se na pessoa. Aqui, contraditoriamente, votou-se no número 12, já que o candidato Cássio só foi oficializado na última semana de campanha. As eleições em todo o país seguiram o mesmo diapasão de total desconhecimento de partidos, haja vista as coligações realizadas. Ora, um partido político só pode ter a sua razão de existência a partir da definição de sua identidade e foi no país e em Colônia onde menos se ouviu sobre a vida dos partidos. Para Jânio de Freitas (Folha de São Paulo, 16/10/08) “as alianças tornaram-se uma bagunça quase sempre indecente; uma corrida a jazidas de ouro reabertas”. Alastraram-se alianças/coligações as mais espúrias, em termos ideológicos. A conclusão desse jornalista é que a reforma política não se apresenta como possível. Para ele, as razões são simples: se os partidos não expressam um partido é porque os políticos não são políticos. Nessa lógica, os congressistas não serão congressistas e os vereadores também não exercerão, de forma partidária, os seus mandatos na Câmara de Colônia.

4 O PROCESSO ELEITORAL – forças políticas em conflito

Como transcorreu o processo eleitoral? O discurso do atual Prefeito Manuilson insistiu para que o povo votasse no número 12, ao mesmo tempo em que pairava a dúvida se a Dona Lala seria candidata, o que se confirmou no final a sua inelegibilidade. Assume, dessa forma, um ilustre desconhecido da população como expressão política – o candidato Cássio. O Prefeito Manuilson conseguiu promover o seu secretario de finanças à condição de Prefeito da Cidade. A pergunta é: por que escolher um secretário de finanças, considerando a existência de outros bons candidatos?


Manuilson, em seu discurso de campanha, apresentou as seguintes realizações em seus 8 (oito) anos de prefeito: 1) saneamento da Vila Nova; 2) construção de Ginásio de Esportes; 3) construção do Fórum Guedes de Miranda; 4) pista de acesso à Colônia; 5) praça do centenário; 6) construção de 120 casas populares; 7) praça D. Pedro II; 8) eletrificação do bairro Belo Jardim; 9) renovação da tubulação de água da cidade; 10) calçamento do loteamento Abides Borges; 11) calçamento do bairro da Mangueira; 12) calçamento de outras 12 ruas; 13) água do loteamento Belo Jardim; 14) construção da secretaria de obras; 16) água da Vida Nova; 17) torre de celular; 18) construção do centro administrativo (com secretaria de saúde, assistência social, agricultura...); 19) construção da biblioteca municipal; 20) construção de CRAS (centro de referência de assistência social); 21) centro do idoso; 22) eletrificação de vários sítios (Mamona, Mata-verde, Macaco, Catita, Capim de planta...); 23) água nos sítios (Papa-mel, Mamona e outros); 24) novo hall do hospital; 25) construção junto com o governo do estado da barragem de Canto Escuro; 26) e outros, segundo os discursos. Destaque-se que durante toda a peleja eleitoral, era alto o nível de acusações de ambos os candidatos sobre suas vidas pessoais, ajudados pelo grau de parentesco entre o prefeito Manuilson Andrade e o usineiro José Maria Quirino, sobrinho e tio, respectivamente. O espaço para acusações do tipo – estuprador – foi delineado e posto ao vento pelo atual prefeito. A acusação de altíssimo salário (50 mil reais) ao gestor principal do município também teve o seu momento de glória nos palanques. Já a campanha de Luciana procurou manter-se no nível das apresentações de propostas.


Campanha do candidato e usineiro Zé Maria (PSB).

O candidato-usineiro Zé Maria sempre tentava resposta e, de uma forma mais tímida, disparava as suas acusações. Organizou, por outro lado, um Programa de Governo com as seguintes propostas: 1. Agricultura e pecuária – nomear um técnico de capacidade comprovada para a secretaria; adquirir uma patrulha mecanizada composta de uma patrol, um trator de esteira, dois tratores de pneus com todos os implementos, retro-escavadeira e caçambas; distribuir semente para plantio de roça de inverno (milho, feijão...etc); garantir aos produtores de leite a compra do produto a preço de mercado para merenda escolar; contratar um médico veterinário para realizar as inspeções sanitárias no matadouro público; dar assistência aos produtores rurais e incentivar a instalação de pequenas indústria para o aproveitamento das frutas nativas da região. 2. Política de valorização do funcionário público – atualizar o plano de cargos e salários; abrir vagas para os funcionários por concurso público; patrocinar cursos e treinamentos para capacitar os servidores; motivar o ingresso de servidores em cursos de nível superior; dotar os servidores de EPI(S) de acordo com as exigências da DRT; reconhecer os servidores especiais, obedecendo a classificação da DRT.


3. Obras civis de infraestrutura – construir 400 casas populares; substituir todas as casas de taipa por alvenaria (100%); criar um programa de recuperação de casas em todos os bairros; calçar 100% das ruas (asfaltar principais); recuperar o matadouro público e o mercado municipal; reconstruir o estádio de futebol; reformar o clube social; eletrificar 100% da zona rural; construir um grupo escolar com trinta salas de aula; construir mini-postos em povoados para dar apoio ao PSF.

4. Plano municipal de saúde Colônia 100% - Manter serviço de urgência ativada; convênios com hospitais e clínicas (palmares); ativar o posto de saúde de Monte Alegre; oferecer serviço de nutrologia, fisioterapia, reabilitação, fonoaudiologia e psicologia; destinar atenção aos idosos, pessoas de 3ª. Idade; ampliar o programa de saúde da família; reativar o serviço de radiologia;garantir o funcionamento do hospital com plantonistas diários; reativar o bloco cirúrgico e oferece tratamento para cirurgias-mioma, ligadura, hérnia, vesícula, cirurgia por vídeo, proctologia; implantar especialidade como cardiologia, psiquiatria, pediatria, ultra-sonografia, neurologia, dermatologia, obstetrícia; manter saúde itinerante e serviço de odontologia; abrir um banco de aleitamento materno e laboratório de exames essenciais. 5. Educação de qualidade – Colônia 100% - ampliar escola com auditório para pais e mestres, salas de informática, espaço coberto para recreação, salas de leituras, laboratório de ciências; oferecer formação continuada para professores por áreas específicas como palestras e oficinas pedagógicas; assegurar laboratório de informática comunitária, circus-espaço cultural (reservado para culminância de projetos educativos), aulas de Arte – pintura, crochê, bordado, reciclagem, dança, músicas, teatro, eventos com datas comemorativas e oferecer cursos profissionalizantes para alunos. 6. Resgatar o tradicional desfile cívico – 7 de setembro - reformar a banda marcial leopoldinense; distribuir fardamento completo ao alunado. 7. Reajuste salarial para os professores (periodicamente) - prêmio “profissional do ano da educação”.


8. Diminuição do índice de evasão e reprovação – simulador com reconhecimentos gerais (bimestral), escola tempo integral; oferecer reforço de língua portuguesa (leitura, produção de texto) e Matemática; oferecer merenda de qualidade (cardápio diferenciado). 9. Assistência especializada à educação da zona rural – oferecer melhores condições ao aluno; promover interação entre escolas da zona urbana e rural; garantir a continuidade do transporte escolar. O documento concluiu com uma frase do educador pernambucano Paulo Freire: “a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda”.

O Programa de Governo acima disposto foi pouco massificado/distribuído e, praticamente, sem discussão com a população. Isto, contudo, mostra um avanço importante para a política local quando se inicia a apresentação de propostas para a cidade. Durante a campanha, Zé Maria preferiu apresentar-se como um administrador vitorioso, que tem sempre dado certo, a exemplo do empreendimento da Usina Taquara. Ficou em segundo colocado nesta “festa da democracia”, com a diferença do primeiro colocado sendo de 28 votos. Um entendimento muito generalizado, como afirma um eleitor, é que:

... em Colônia, a política está sempre entre aspas, isto é, ela é apenas um arremedo. Quem tem dinheiro é quem manda mais. Cada um tinha força pelo dinheiro. A candidata que tinha pouco dinheiro, perdeu. Há uma indução para que o povo vote só pelo financeiro. Pessoalmente, vejo difícil mudar essa situação, mas precisamos de esperança de que essa quadro político pode mudar (Júlio Moraes).

A candidata Luciana, tentando apresentar-se por fora desse embate familiar que prendeu toda a cidade, não conseguiu organizar, de forma mínima, uma equipe para o planejamento de sua campanha, isolando-se ao ponto de ter que escolher o próprio irmão para compor a sua chapa – uma chapa familiar. A aliança PSDB/PTB/PPS não a ajudou na renovação de duas vereadoras, elegendo, contudo, três outros candidatos (PPS) e uma candidata pelo PTB mas sem a sua direção política. Esses três eleitos do


PPS estão comprometidos com o Prefeito Manuilson, e a do PTB, com o usineiro. Para alguns:

Luciana foi embora de Colônia e abandonou o seu eleitorado. Mesmo depois de um trabalho para recomposição de um grupo, ela participou poucas vezes. O Zé Maria e o Manuilson são de um mesmo tempo e de uma mesma família. Não há novidades com qualquer um deles (Silvano dos Santos).

Luciana, durante a sua campanha, procurou reforçar o seu Plano de Governo por

nossa

terra,

por

nossa

gente.

Os

seus

comícios

foram

marcados,

caracterizadamente, por apresentações dessas propostas, procurando mostrar um outro estilo de fazer política, o que lhe conferiu o terceiro lugar nessa disputa. Examine-se o Plano: 1. AÇÃO SOCIAL – Programa de Moradia Digna (construção de casas populares no sistema de mutirão participativo. A prefeitura entrará com o material e a comunidade auxiliará com a mão-de-obra. - Volta do Programa de alimentação para a população carente, com participação das entidades religiosas e não governamentais; programa de apoio à criança e ao adolescente; volta dos programas de apoio específicos aos idosos, mulheres e pessoas portadoras de necessidades especiais; volta do programa de apoio à gestante; apoio mais efetivo para fortalecimento do Conselho Tutelar Municipal; programa cidadão (tiragem de documentos); construção de núcleos comunitários para funcionamento dos programas sociais, tais como o PETI, PAC, Ciranda da criança, alfabetização solidária, bolsa escola, egressos do peti, portal da alvorada, entre outros; disponiblização de transportes de pessoas da zona rural para a feira na cidade; realização de cursos profissionalizantes através do SEBRAE, SENAI, SESC e SENAC, tais como: eletricista, encanador, padeiro, computação, cabeleireiro, mecânico de automóveis, artesãos, dentre outros; reestruturação e ampliação das creches (zona rural e urbana). 2. EDUCAÇÃO E CULTURA – Programa Amigos da Internet – todas as escolas serão contempladas com laboratórios de informática, com acesso à Rede Mundial de


Computadores – Internet, para que os nossos alunos possam pesquisar, fazer amigos e se integrar com o mundo. - recuperação das escolas municipais (urbanas e rurais); melhoria e garantia do transporte escolar gratuito, dando condições de maior segurança e conforto para todos os estudantes inclusive para Maceió, estudantes de graduação e pós-graduação; aquisição de mais ônibus escolares, mais modernos, seguros e confortáveis para o transporte dos estudantes; criação da casa do estudante universitário, em Maceió, para incentivar os nossos jovens e dar apoio a todos aqueles que estivem estudando na capital; melhoria da qualidade e da quantidade além da garantia total do fornecimento diário de merenda escolar para os estudantes, durante o período das aulas; erradicação do analfabetismo no município; garantia do fornecimento gratuito dos materiais didáticos nas escolas municipais; fardamento para todos os alunos e pessoal de apoio; resgate da banda de fanfarra do nosso município; apoio e incentivo às artes, esportes e lazer para os jovens do nosso município. 3. SAÚDE – Consórcio de Saúde – proposta de acordo com cidades circunvizinhas objetivando atender regionalmente serviços ambulatoriais, exames, cirurgias de baixa e média complexidade. - funcionamento do Programa Saúde da Família (PSF) em todas as unidades da cidade e campo; contratação de profissionais especializados na área de saúde, para melhorar o nível de atendimento à população, em especial a mais carente; volta do Programa da Saúde Bucal Coletiva, com campanhas de educação com a distribuição gratuita de escolas de dentes e fio dental e seu uso de forma correta; volta do Programa de Atendimento Oftalmológico, para que nossa população seja atendida de forma preventiva e corretiva; funcionamento efetivo do laboratório de análises, para que os médicos do nosso município possam diagnosticar com maior velocidade e segurança as enfermidades dos pacientes; criação da Casa de Apoio ao Doente em Maceió, para alojar os parentes das pessoas que estejam nos hospital da capital; implantação do Sistema de Saneamento Básico; convênios com os governos federal e estadual para a aquisição de novas máquinas e equipamentos para a modernização do nosso hospital e postos médicos; programa de saúde preventiva; valorização e fortalecimento do Programa de Agentes de Saúde; programa de redução dos índices de mortalidade infantil; reforma e ampliação da estrutura da Vigilância Sanitária Municipal; volta do


programa A Saúde Vai ao Campo; volta do programa A Saúde Vai à Feira; reabertura do Centro Cirúrgico do Hospital Maria Loureiro.

4. OBRAS, URBANISMO E AGRICULTURA

- reforma e reestruturação do campo de futebol Joaquim Luiz da Silva; apoio à vaqueirama para a reestruturação do Parque de Vaquejada Murilo Loureiro; drenagem das áreas alagadas (Vila Nova) para acabar com as constantes cheias nestas áreas nos períodos chuvosos; construção de casas populares para a população carente; construção do terminal rodoviário de passageiros; aquisição de uma patrol para execução e manutenção das estradas do município; construção de um novo matadouro público municipal; melhoramento no sistema de limpeza pública; tratamento do lixo, com incentivo à reciclagem; volta do programa Lavoura Comunitária, com a aquisição de sementes para distribuir com os pequenos produtores rurais; recuperação e ampliação da iluminação pública; criação de um cadastro numérico, para os imóveis que ainda não tenham assim como a colocação de placas identificadoras das ruas da cidade e de sinalização de trânsito; estruturar um sistema de gestão e controle ambiental do município; projeto Vamos Salvar o Rio Jacuípe; guarda municipal. Mesmo com um bom programa de governo, algo novo ocorreu para a política local: no entanto, a sua colocação pode ser justificada em decorrência de uma frágil infraestrutura político-partidária, com seus candidatos a vereador votando em outra aliança, além do isolamento político a que ficou submetida. Talvez, tenha também contribuído a sua opção pelo PSDB, dificultando alianças com partidos mais críticos da realidade brasileira, como o PT, o PSOL ou outros. Todavia, este aspecto de estar vinculado ao partido que se opõem às políticas do Governo Lula, como as bolsas do Governo Federal, não foi explorado na campanha. Mesmo que o PTB seja da base do Governo Lula, aqui, ele esteve na aliança com o PPS e PSDB, partidos que têm mantido uma oposição sistemática àquele governo. Contraditoriamente, o discurso de campanha da candidata na campanha anterior e nesta tem sido o que mais se aproxima das formulações de políticas públicas encetadas pelo atual governo federal, e, merecidamente, pode se apresentar como a liderança capaz de enfrentar a política tradicional dos dois outros candidatos.


Luciana Luna, entretanto, mantém-se como uma incógnita na política leopoldinense. Ela arrasta consigo uma prática de governo que foi muito aceita pela população - o governo de Severiano. Desenvolve um discurso voltado às mudanças necessárias propaladas por partidos de centro esquerda e esquerda brasileiros. Por outro lado, realiza alianças partidárias com aqueles que mais combatem as políticas de tentativas de avanços na política nacional quanto à participação das pessoas na vida da cidade, além de se filiar ao PSDB. Aliás, ela mesma nunca atuou em campanha para o atual Presidente Lula, tendo assumido as lutas de seus opositores, diferentemente do atual prefeito Manuilson. Deverá, porém, superar esse dilema político em futuros embates se ainda desejar continuar numa linha mais progressista do fazer política – progressista para as políticas de Colônia, mas conservadora nas opções da política geral. Duas grandes incógnitas, além disso, são os eleitos Cássio e o seu vice Meilton Luna. Ambos são jovens em idade e na política e, portanto, com desejos que, no momento, não podem ser analisados. Com o tempo, eles irão se manifestar quando no comando da prefeitura. Estão vinculados a Manuilson, mas só o tempo se encarregará de mostrar que tipo de fidelidade foi assumido por esses atores. Há análises sobre as eleições que apresentam outros elementos nada ouvidos nas maiorias das conversas sobre as eleições locais, como por exemplo:

O voto familiar não existe mais em Colônia. Os filhos não votam mais aonde desejam os pais. Esta é uma mudança significativa, a quebra desse mando familiar tem raízes feudais e que continua, ainda, no Sertão. Isto terá reflexo no futuro da cidade. Os estudantes, hoje, não estão mais presos às famílias, sendo importante para a ação política e para a majoritária futura. O povo ainda não despertou para uma política com propostas. O povo ainda está votando na mera emoção, para onde vai a sua emoção. O voto foi definido mais nas brigas, na agressão e não em torno de propostas. Se bem que isto não é uma questão apenas de Colônia. Isto mostra a importância da POLITIZAÇÃO DO NOSSO POVO. Luciana deu um salto nessa perspectiva. Os eleitores não são, contudo, inocentes. Eles vêm votar e vêm fazer um negócio naquele dia da votação. Eles, assim, não votam por aqueles que fizeram algum trabalho. Talvez, até conte um pouco, mas eles votam por


outras razões. Nesta eleição, o eleitor votou por dinheiro. Ambos candidatos gastaram muito dinheiro. Um outro aspecto que pouco vem sendo levando em conta é que a zona rural ainda define as eleições em Colônia (José Luciano Pereira).

As afirmações acima não podem ter um valor absoluto em relação ao voto, pois há visões que apontam para outras perspectivas, como a seguinte: “Vejo três comportamentos políticos em Colônia: uma minoria com consciência política; uma outra parte que é a turma do tanto faz (vota em quem vai ganhar); e uma terceira é o ´interesseiro` que vota em quem der mais. Ao meu ver, esta é uma maioria” (Severino Rocha). De uma maneira geral, a eleição em Colônia segue a marca geral da política nacional que é a ausência de uma tática política clara para os eleitores, apresentada pelas coligações ou alianças. Os militantes partidários são os que mais têm a responsabilidade pela ação coerente na política, no entanto, são eles mesmos que mais desmotivam a escolha do eleitorado nas propostas dos partidos. Essa ausência da tática política talvez tenha sido responsável, em Colônia e nas demais cidades do país, pela pouca visibilidade de eleitos de alguns partidos, sobretudo, aqueles do campo da esquerda. O PSOL, em especial, mostrou-se com baixíssima votação, com votos para duas vagas para vereadores em Alagoas, mesmo tendo sido a terceira força política na campanha para presidente. Já o PSTU não elegeu vereadores no País, e o próprio PCB retrocedeu, perdendo seus importantes mandatos. Em Colônia, de forma semelhante, sem candidatos ao executivo pelo campo da esquerda, não foi possível a apresentação de críticas, entendida como o delineamento de aspectos positivos e negativos de qualquer algo, de forma contundente ao governo nacional e ao governo local. O PT fez a sua aliança com o prefeito Manuilson (PDT), partido da base de sustentação do governo Lula. Com tal ótica ideológica, poderia também ter feito aliança com o PSB, o usineiro. O próprio PSOL desarmou a sua militância que, sem proposta eleitoral, liberou a sua militância a optar segundo os seus próprios desígnios. Aqui, PT e PSOL passam a dever formulações táticas para a política da cidade.


Ruas em região periférica da cidade

No entanto, parece ainda haver esperanças como a posição que segue: “Precisamos despertar na população o interesse de cobrar, de ser CIDADÃO. Nós precisamos ver formas de como cobrar, como CIDADÃO” (Arnaldo Sobreira). As forças em embate no município são as que se formaram em torno do Prefeito, algo constatável em todo momento político e presente na política estadual e municipal, tendo em vista o desejo de continuidade dos que estão no governo. Há um segundo conjunto de forças que veio se formando em torno do usineiro da Usina Taquara, que antes tinha apoiado o seu sobrinho, o atual prefeito Manuilson, mas agora estão em campos políticos opostos. Este fato não é novo em Colônia, lembrando que a Usina Taquara sempre teve participação direta na política municipal, desde a década de 60, com a participação do usineiro José Lessa que foi prefeito por dois mandatos. Há uma terceira composição de forças políticas fruto de processos anteriores, de sua simpatia e de sua “luz” própria que é Luciana. Lançou-se pela segunda vez à direção do executivo municipal, sendo, em ambas as tentativas, derrotada pelo grupo da usina, mesmo com


significativa expressão eleitoral. Acompanhando essas três vertentes, distribuem-se alguns pequenos grupos satélites em busca de algo para poderem se manter. Procuram as benesses do executivo, como a troca de favores e a venda de votos até por vereadores/as, quando do exercício de seus mandatos, nos momentos de aprovações de matérias de interesse do executivo, segundo comenta-se na cidade. O teatro das eleições de Colônia acontece em três ambientes físicos: a área rural, a periferia da cidade (ambientes como Vila Nova, Mangueira, Mandacaru e outras) e as ruas mais antigas. Em cada espaço físico, desenvolveram-se ações eleitorais diferenciadas. Os comícios são no centro da cidade, na área do mercado da farinha, on de também acontecem as festas dançantes popularizadas. Para esse lugar, convida-se a população para a audiência de comunicados para apresentações de quaisquer natureza e, sobretudo, para as aguardadas denúncias de ilícitas práticas políticas, desmandos, impropérios e acusações muito conhecidos pela população, mas de pouca condição de serem comprovados. A temática das denúncias atende boa parte do imaginário do povo. Nas ruas mais antigas da cidade, a tática eleitoral incentiva as visitas corpo-acorpo nas casas dos eleitores, constituindo-se como um momento de uma rápida conversa do candidato com o eleitor. Normalmente, o candidato está acompanhado de muita gente, evitando os dissabores dos pedidos de eleitores. Uma prática que tem forte apelo positivo da população. Nas áreas periféricas, o convencimento do eleitor se faz em outras bases, definindo-se muito cedo a sua opção, apelando-se para a colocação de bandeiras do candidato nas casas. Esse consentimento, segundo conversas em geral na cidade, indica acertos financeiros ou de outra natureza. Os comícios são extensos e, comumente, terminam após a meia noite, o que é um massacre às pessoas que foram conduzidas da área rural para a sua assistência. Não se tem controle de horário de cada candidato ou uma mínima definição para as temáticas que vão sendo abordadas. Não se respeita o meio ambiente, reforçando a poluição sonora. A técnica da repetição de refrões é muita utilizada. Cada um diz o que quer e no tempo que deseja, expondo-se coisas do arco da velha. Depois, fica a tarefa de recondução daqueles moradores de sítios ou engenhos, assumida pelos cabos eleitorais e militantes políticos das facções partidárias. Uma outra característica de todo o processo eleitoral é a inequívoca desorganização de campanha por parte de todos os grupos, mesmo que se gaste muito


dinheiro. A estruturação de campanha passa por doações de combustível a motos e automóveis, para assegurar o volume e o alarido aos comícios e às passeatas. Ainda, considerando todo o processo, pode-se afirmar que a segunda grande marca eleitoral neste município, espelho do país, é que foram eleições marcadas por denúncias. Denúncias não por parte de entidades representativas da sociedade civil (igrejas, sindicatos, grupos outros quaisquer) que permaneceram mudas durante todo o tempo eleitoral, como se fossem neutras. Em Colônia, houve reclamos permanentes por parte de todas as candidaturas no que se refere ao esbanjamento financeiro com vários tipos de ilícitos eleitorais, principalmente, a compra de votos, enfatizada nos dias que antecedem o domingo da eleição e no próprio dia. Ouve-se de alguns cabos eleitorais e participantes da organização de campanhas que a derrota da candidatura do Zé Maria foi devido a não liberação de mais dinheiro naquele domingo. Por outro lado, militantes da candidatura do 12 afirmaram que o pouco dinheiro do atual prefeito foi o responsável pela vitória diminuta de apenas 28 votos. Este grupo esperava diferenças de até um milhar de votos. Mas, esta não foi uma marca apenas de Colônia. No Estado da Paraíba, alguns juízes e promotores chegaram a tomar decisões polêmicas, do ponto de vista constitucional, para tentar impedir a ação de “marcadores de votos”. Em alguns municípios, os seus moradores foram proibidos de saírem às ruas durante à noite, nos dias que antecederam o dia da eleição “para não serem seduzidos com ofertas tentadoras de transação de compra de votos” (Jornal O Norte, 19/10/08, p. A5). É interessante que:

Cerca de 100 pessoas admitiram que não receberam o pagamento do dinheiro dos votos dados a um candidato a vereador. Eles chegaram a fazer protesto em via pública e alguns já foram ouvidos pelo promotor Amadeus Lopes Pereira, da 64ª. Zona Eleitoral (idem, ibidem).

Mais recentemente, nas eleições de segundo turno em Campina Grande, a segunda mais importante cidade do Estado, o prefeito reconduzido, Veneziano, declarou:

Em 2004, eu fiz referência sobre as desigualdades materiais, logísticas, mas neste ano elas tiveram peroração, dimensões e potencialização ainda maiores, conforme nós assistimos nesses últimos 100 dias de disputa, de


refrega eleitoral. Nunca tínhamos visto isso antes. O derramamento de dinheiro para se tentar arrematar, tomar das mãos dos cidadãos campinenses, um poder que não é meu, que não é do José, que não é o do homem em si, mas é o poder de uma instituição maior, que é o povo campinense decidir sobre a escolha de seu governante (Correio da Paraíba, 28/10/08, p. 3).

São denúncias que espelham o nível da campanha, em que o atual Governador Cunha Lima, cassado por duas vezes e ainda exercendo o mandato, transferiu a Administração do governo estadual para Campina Grande, e, licenciado, atuou diretamente na organização e ação político-eleitoral de seu candidato. Como se vê, denúncias de esbanjamento financeiro não faltam em todo o país. Diferentemente de outros momentos, o poder judiciário começa a despertar para uma efetiva participação em todo o processo e autuando, nas condições que lhes são postas, aqueles desmandos mais horripilantes, tornando-se um agente importante nessas eleições.

5 O PODER JUDICIÁRIO - uma quarta força

Este foi um novo componente das eleições deste ano na cidade de Colônia Leopoldina. Também em todo o país, este poder tentou aplicar a lei naquilo que lhes foi mais explícito. Para o Presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) da Paraíba, por exemplo, o desembargador Nilo Ramalho, “a campanha de combate à corrupção eleitoral foi satisfatória...” (Jornal O Norte, 19/10/08, p. A5). Ele também considera que este problema é uma questão nacional e que os tribunais nos Estados muito trabalharam na direção de impedimento de ilícitos. Para ele: “... sempre foi e ainda é uma praxe na política brasileira a prática de ilícitos eleitorais, como a compra de votos envolvendo eleitores, cabos eleitorais e candidatos” (idem, ibidem). Como se vê, isto também é do conhecimento do setor da sociedade responsável pela aplicação da lei. Ainda, para ele: “A justiça eleitoral está dando, hoje, mais oportunidade para as pessoas denunciarem. Antes, isso não acontecia. Tudo ia para debaixo do tapete” (idem, ibidem).

Ficou evidente, também em Colônia, a ação do judiciário. Este poder tem uma imagem de que sempre beneficia os mais ricos. Porém, as decisões tomadas no dia da


eleição muito contribuíram para a redução desse tipo de compreensão, combatendo a corrupção. Vários foram os cabos eleitorais detidos na nova quadra de esporte, sendo uma boa parte com prisão em flagrante. O judiciário decidiu, logo cedo, pela prisão domiciliar dos candidatos principais Zé Maria e Manuilson que, com certeza, concorreu para uma maior tranquilidade à eleição. As ações desse poder foram sentidas em todo o país. Em Colônia, há rumores de que processos estão correndo no judiciário com questionamentos dos resultados, devido à corrupção eleitoral. Na Paraíba, em João Pessoa, foi preso e só agora liberado, vinte dias após as eleições, por força de “habeas corpus”, o “votinho de ouro”, conhecido comprador e organizador de grupos de eleitores. Já o prefeito eleito da cidade de Itapororoca, também na Paraíba, está impedido de tomar posse por problemas anteriores, assumindo o segundo colocado. Em Pernambuco, o prefeito de Lagoa Grande, Jorge Roberto, teve negado seu registro de candidatura e não poderá assumir o cargo. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) poderá realizar uma nova eleição. Em todo país, aumentam os pedidos do judiciário para que a Receita Federal investigue a situação de doadores de campanhas nas eleições deste ano, procurando saber a respeito da condição de doador e os valores destinados aos candidatos e às coligações. Assim, o judiciário contribuiu como um forte aliado da sociedade para que se estabeleçam Eleições Limpas, em Colônia e em todo o País, tornando-se um importante ator, doravante, já nestas eleições e, espera-se, naquelas que ainda estão por vir.

6 DESSA SELVA ...


Flores de sonhos e utopias

Agora, o quadro político exposto precisa ser complementado por todos e todas que assim o desejarem. Ressalte-se que este é um texto inicial para discussão, mas que já cabe o desafio: O QUE FAZER? Parece que aos que não lograram êxito nestas eleições; aos que investiram para que outro tipo de política se desenvolvesse no município e pouco conseguiram; aos trabalhadores rurais sempre sofridos na produção sem apoio, praticamente; aos pequenos proprietários que não são reconhecidos em seu trabalho na pequena produção; aos profissionais que veem com clareza a redução da dimensão da Política na cidade; aos que vivem na área rural mas não veem os seus desejos contemplados nas políticas públicas do seu município; aos que residem em periferias e tanto são maltratados, durante toda a sua vida, sendo visíveis tão somente em momentos eleitorais; aos que atuam em setores religiosos e veem a ausência de valores nas pessoas e nos políticos, ou mesmo, a exploração de suas divindades; aos que atuam partidariamente, mas que mesmo assim não têm vez nem voz; aos que atuam no comércio e, mais das vezes, estão subjugados aos desejos menores de prefeitos ou empresários inescrupulosos, enfim, aos


que se sentem oprimidos em seu viver, restam os desafios de como tomar para si a condição de cidadania. O cidadão, como aquele, com possibilidades de contribuir para um melhor jeito de viver, em seu local e em sua cidade, sobretudo, diante do silêncio geral das entidades civis do lugar. Todos sabem que silenciar é uma opção política. Desse modo, alguns aspectos saltam aos olhos, como por exemplo: a luta é para que todos possam exercer a sua cidadania em todas as suas dimensões. Para isto, parece urgente a compreensão da necessidade de exercícios de autonomia das pessoas. Este tem sido um dos valores mais vilipendiados no município com a falta de respeito ao outro, quando declaradamente se promovem agressões, em suas mais variadas formas, tanto em tempos de eleições como no dia-a-dia. Para isto, pode ser sugerido o que segue:

a) ser cidadão como sendo uma conquista de todos os momentos e não apenas em tempos de eleição; b) ser cidadão de forma crítica e ativa, isto é, pensando o mundo e pensando-o em mudanças; c) realizar ações de cidadania de forma permanente, por meio de discussões de questões da cidade e da vida; d) criar um grupo, um movimento pela cidadania em Colônia, sem qualquer tipo de restrição partidária ou religiosa, para discutir, elaborar e realizar ações permanentes nessa perspectiva.

Em síntese, uma caminhada para a cidadania, com organização de ações que possam promover a participação de todos e todas na vida da cidade, na vida de Colônia. Seja como for, é necessária e possível a manutenção de sonhos, da esperança e das utopias de mudanças, na perspectiva de que dessa floresta de dificuldades, possam ainda nascer flores.


7 REFERÊNCIAS 1. ANOTAÇÕES em caderno de campo de conversas com eleitores. Colônia Leopoldina, Alagoas. Colônia Leopoldina (AL): 2008. 2. DALARI, Dalmo de Abreu. Comissão Nacional de Direitos Humanos. 50 anos da Declaração dos Direitos Humanos: conquistas e desafios. Brasília: OAB, Conselho Federal, 1998, p. 115. 3. Jornal Correio da Paraíba. João Pessoa, Paraíba. 2008. 4. Jornal O Norte. João Pessoa, Paraíba. 2008. 5. Jornal Folha de São Paulo. São Paulo, São Paulo. 2008. 6. Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Brasília, Distrito Federal. 2008.


TEXTO 7 MANIFESTO DO MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA 52 - MCC –

O MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA (MCC) encampa a necessidade política mais urgente, nos dias de hoje, que é a condição de ser cidadão. Cidadania entendida como expressão da possibilidade do indivíduo externar e viver de forma crítica e ativa a sua liberdade - condição humana de poder agir, sem qualquer tipo de constrangimento. Cidadão como uma pessoa em possibilidade de realização de seus direitos e deveres para com a sua cidade, o seu povo, o seu país e para com o mundo. Ser cidadão com direitos humanos. Este movimento pela cidadania entende que o não ter escola, saúde, emprego e alimentação; o não poder viver a vida político-partidária; o não respeitar as mulheres em suas especificidades de gênero; o não respeitar as várias expressões religiosas, as expressões de sexualidade e o meio ambiente, enfim, qualquer atitude geradora de opressão... são todas situações para a não cidadania. Todas estas circunstâncias subtraem do humano sua condição de ser gente, sua liberdade e autonomia, reduzindo, assim, a condição de vida de cada um. Este MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA não tem cor partidária ou religiosa e lutará para que todos e todas, nesta cidade e no mundo, possam tornar possível o sonho de serem cidadãos e de viverem felizes.

Colônia Leopoldina, Alagoas, 19 de outubro de 2008. A TERRA DOS NOSSOS ANTEPASSADOS INDÍGENAS E NEGROS. Assinam este manifesto: 01. Aluisio Bezerra Filho - técnico agrícola 02. Aluisio Timóteo de Sousa Neto - trabalhador do comércio 03. Arnaldo Sérgio Sobreira - professor e dirigente sindical 52

Este texto é o primeiro a ser apresentado à cidade, marcando a criação desse agrupamento político.


04. Bonifácio Alves Silva Neto - professor 05. Edvaldo Rodrigues de Moraes - comerciante 06. Gilberto Timóteo de Sousa - comerciante 07. João Batista Magalhães Sales - monge católico 08. José Alves de Sousa - monge católico 09. José Antonio Timóteo de Sousa - agricultor 10. José Francisco de Melo Neto - professor universitário 11. José Geovan de Oliveira - monge católico 12. José Luciano Pereira da Silva - estudante universitário 13. José Ronaldo Timóteo de Sousa - agricultor 14. Júlio Morais Luna - comerciante 15. Maurício Pereira de Sousa - aposentado 16. Silvânio dos Santos - professor 17. Severino Rocha - comerciante 18. Wanderléia Bezerra da Silva - estudante secundarista

(COLOCAR A FOTO DOS MONGES COM TODO MUNDO EM PÉ)


TEXTO 8 ATA 1 ATA DE REUNIÃO DO MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA

PAUTA:

- comentários sobre a conjuntura; - encaminhamentos

Presentes: Vavá do posto, Zé de Melo Neto, Silvanio, Maurício, Ivanilda, Neto Trompete, Prof. Silvio, Luciano, Wanderleia, Antonio e Aloísio. PRIMEIRO ITEM – conjuntura local. 1. Há um contentamento descontente, hoje, em Colônia (neto); 2. Há também mudanças no sentido de que a maioria anda meio bestializada, sobretudo, os mais esclarecidos, pois estão comprometidos com o poder local (Silvio); 3. Colônia está nesta mesma linha. As coisas acontecem e muita gente fica descontente, mas não reclama. Temos discutido a administração e, no mês passado, discutimos por meio de uma audiência pública. Discutimos bastante, sendo feito um abaixo assinado com mais de 600 pessoas. O pessoal estava descontente, sobretudo, com saúde e a educação. O governo mostra que vai mudar mas nada acontece. Na próxima quarta-feira, teremos nova audiência pública sobre a Ceal, a Casal e a TIM, a respeito dos problemas dessas empresas aqui no município. Há muitas pessoas que se ligam ao poder, pois o poder está ausente, moram em Maceió. Mesmo dessa forma, o governo vai indo. O São João que era para as enchentes, ninguém sabe para onde foi o dinheiro. Os prédios históricos estão se acabando. Eles (prefeitos) não são daqui e não se incomodam com isto. Exemplo são as castanholas que estão morrendo. (Maurício)


Mas as coisas não estão assim porque eles são forasteiros. Isto é algo mais profundo. Há prefeitos que foram daqui e o povo ficou à margem. Sobre as enchentes, é desejar demais que o povo de colônia sofresse a mesma catástrofe. A divulgação mentirosa de que Colônia estava nessa mesma situação não é aceitável. Aqui, sempre teve pessoas necessitadas. Hoje, há cestas básicas demais, pois aqui não tem um número tão grande de desabrigados. Talvez seja essa a enganação. Talvez sejam cestas para a eleição. A falta de compromisso é muito grande, muito grande. As coisas só vão andar se houver um grupo que ative a população, a exemplo de junho, quando movimentou-se a cidade para reivindicações. (Silvânio) 4. A política de Colônia continua conforme a análise já apresentada. Vereadores dizem que vão trabalhar, mas se rendem aos outros que não topam trabalhar. Vários estão correndo apenas para melhorar o seu emprego. Quem se dispuser a ser oposição, até poderá ser, mas hoje não temos, praticamente, oposição. Exemplo, Novo Lino é diferente, pois a oposição já foi vitoriosa várias vezes. Aqui, está se passando a ideia de que não é possível qualquer tipo de mudança. (Antonio) 5. Não temos um único vereador que se comprometa com os trabalhadores. Fala-se uma vez uma certa necessidade, mas é muito rápido. Até mesmo o regimento da câmara é arcaico e não há como o povo se expressar na Câmara. Isto deve estar beneficiando alguém. O dr. Ernande dá aula de conhecimento mas não tem comprometimento e não é combativo. Todos balançam a cabeça. Uns estão comprometidos ou com um prefeito ou com outro. E assim vai. Eu mesmo, para tomar vacina foi uma luta. Tive que ir ao ministério público. (Maurício) 6. Os alimentos para as enchentes é parte de uma política do estado e as assinaturas é para comprovar que receberam. Mas na política, os grupos se mexem: o Zé Maria se mexe e o de manuilson, também. Quem está no poder está perdendo base e busca suas articulações. Exemplo, a vinda de Ricardo ao grupo de manuilson é um exemplo. Se quisermos o poder, temos de pressionar, também. Colônia pode ter uma terceira via, considerando uma possível divisão de manuilson com o vice. Este, inicialmente, não queria nada e foi o que primeiro lançou candidatos. Marinho é o vereador que mais cresce pois tem coragem de romper, ele balança a cabeça para Manuilson mas de forma diferente. Portanto, todos estão se mexendo.


Eu participo de um time de minoria. Talvez, sejamos divisor de água, no futuro. Uma terceira via pode aparecer, mas não seria construída por esse grupo. Assim, poderemos ter uma administração no futuro. O dia 5 será um marco na política. E nunca esquecer que mesmo os governos de esquerda funcionam sob pressão, também. (Luciano ) 7. Foi colocado que Colônia estava igual aos outros municípios. Ora, foi feito um monte de mentira e isto só para se ganhar cestas básicas. A distribuição vem sendo entregue a qualquer pessoa. É um problema meramente político eleitoral (Maurício). 8. A questão partidária passa entre eles. Não somos, ainda, um grupo para sermos chamados à discussão. Há uma briga de faixada. O grupo vai se manter. A panela ali vai se manter. Quem tem de puxar as marchas são as pessoas. A opção será A ou B. isto aqui ficou igual a Ibateguara. Só com dois grupos. Não há possibilidade de mudanças com esse povo, os dois grupos. (Silvanio) 9. É isto o que acontece, mesmo. Eu vivo mais em casa. A cidade está parada. Não temos uma indústria de fazer pipoca, linguiça, etc. Só há a Prefeitura e a Usina. As informações vão de lá para cá e de cá para lá. Os vereadores, 80% são venais. O povo tem uma certa culpa pois precisa, segundo eles mesmos, estar ao lado ao poder. A cesta básica é enrolação. Muita gente ganha cesta básica mas não precisa. Eu vejo colônia entregue às baratas. Sem dono. Exemplo: um ônibus estacionou de porta aberta e até hoje, durante 3 dias, no meio da rua, e ninguém faz nada. O povo fica disputando os dois poderes. Não há outras fontes de renda. O secretário de saúde diz que tem tudo, mas isto é falso. Só funcionam para os tais de “pega bala” – babão. É isto. (Vavá) 10. A situação está clara. Os fatos estão aí. O que acontece é o que acabou-se de relatar. O que vejo: dois grupos fechados. Não há brechas, desde que o grupo se organize. Não temos espaço. Movimentos populares e sociais não têm espaços e eles não abrem. (Ivanilda) 11. Só o povo pode achar uma saída para tudo isto (neto). 12. Mas a consciência não é que resolve e somente a realidade mesma. Não tem como se despertar uma consciência se esse povo está preso nesse material – prefeitura e indústria. Não tem como escapar disto. Nós somos idealistas. Essa construção é difícil.(Silvio)


13. A consciência é a necessidade. Muitos dizem ter consciência, mas não é algo que está lá dentro. Os que sofrem mais, parece, não quererem saber de nada. A necessidade é a organização das pessoas. É a necessidade de ter mais, ter mais, que é dominante. (Silvânio) 14. Lembrar que: a) todo mundo tem consciência das coisas que faz (inclusive quem vende ou compra votos); b) todo mundo tem interesses (nós aqui temos os nossos interesses). Eles têm interesse de se utilizarem da cidade para si e nós outros interessamos por uma cidade para todos.

ENCAMINHAMENTOS:

01. acompanhar as audiências públicas (dia 14, 9 horas ) (a discussão do lixão está em pauta); 02. organizar o texto com as propostas apresentadas à cidade, que se tem registro; 03. retomar os cursos internos de educação política e de palestras gerais para a cidade; 04. Lembrar aos pequenos agricultores para venda de sua produção por meio do programa da Agricultura Familiar.

Colônia Leopoldina, 08 de julho de 2010.


TEXTO 9

ATA 2

ATA DE REUNIÃO MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA

Tivemos hoje mais um momento para o exercício da reflexão do campo político local (leopoldinense) através de seus objetos e eventos pertinentes. A reunião do MCC deste dia contou com a presença e contribuição do professor de Ciências Neto, do comerciante Sr. Vavá, do autônomo Nildo, do religioso Valdo e dos agricultores Aluísio e seu pai, o Sr. Antônio, além de minha pessoa. O desenvolvimento da reunião se fez de forma espontânea, isto é, sem qualquer programação a priori com o objeto de sistematizar ou mesmo hierarquizar tempo e discursos. Contudo, foi nesse momento de espontaneidade que se percebeu uma maior relação com alguma programação política posterior ao ato do encontro, revelando que o verbete do senso-comum de que “a qualidade as vezes é melhor do que a quantidade”se apresenta com lógica em momentos distintos, ou seja, na própria relação axiológica entre a qualidade e a quantidade. Durante o desdobramento da reunião fui tomando notas a partir dos discursos dos participantes, procurando destacar os principais pontos discursivos de cada um. Nesse sentido, a partir dessas anotações prosseguirei com a atividade de registrar os andamentos do MCC. Cabe ressaltar três coisas nesses momentos: 1) os textos relacionados aos encontros do MCC pertencem ao próprio grupo; 2) eles são produtos de percepções subjetivas, isto é, são objetos da forma como signifiquei os discursos pessoais; 3) como produtos subjetivos, talvez os mesmos não correspondam às intenções autênticas dos membros. Como já afirmado em outros momentos, não há qualquer preocupação – pelo menos no momento – de construir uma analítica dos discursos do MCC a partir dos instrumentos acadêmicos, mas tão-somente registrá-los, o que não obstrui uma posterior análise mais detalhada e refletida dos próprios discursos dos membros do MCC. Passemos agora ao quadro sinótico dos discursos construídos e proferidos na reunião:


a) Infidelidade partidária – o professor Neto, pré-candidato ao cargo de legislador para o pleito de 2012, filiado ao PT local, colocou em debate o fato de que, segundo informações de sítios eletrônicos alagoanos, haveria uma grande possibilidade do PDT em Alagoas solicitar as autoridades competentes na matéria a perda de mandato político do prefeito Cássio Alexandre e dos vereadores Vitalino e Hernane Santana, por infidelidade partidária. Acredito que essa informação divulgada na rede de computadores apresenta lógica pelo fato de que, o presidente do PDT em Alagoas é o exgovernador Ronaldo Lessa, que perdeu na disputa eleitoral desse ano para o atual governador Teotônio Vilela Filho. Inclusive, na última vez que Ronaldo Lessa esteve em Colônia, dois dias das eleições do 2º turno, iniciou seu discurso afirmando que alguns políticos locais eram traidores, referindose, principalmente, ao prefeito Cássio, que fez campanha para Teotônio Vilela; b) Possível investigação judicial sob o vereador João Matuto – ainda de acordo com o professor Neto, o MPE (Ministério Público Estadual) irá investigar o vereador João Matuto pelo fato de não declaração da verba de gabinete. Para título de esclarecimento, a verba de gabinete deve ser utilizada para despesas de custeio de capacitações, viagens e outros serviços, ambos devendo-se estar relacionados ao cargo legislativo. Acredito que o MCC poderia trabalhar nessa matéria através de solicitação dos gastos da verba de gabinete dos vereados de Colônia Leopoldina, fazendo com que a transparência exigida em Lei se torne clara e objetiva; c) O descaso político significado pelo corpo – o religioso Valdo, que participa do Conselho Municipal da Saúde, junto com o também religioso João Batista (Catita) patenteou ao grupo o fato de perceber o descaso dos vereadores de Colônia Leopoldina através da forma corporal com que eles participam das reuniões públicas da Câmara. Ou seja, os vereadores ficam despojados de qualquer gestualidade ética com o espaço onde são (ou deveriam ser) debatidos os andamentos políticos. O escamoteamento por parte da Câmara de Vereadores de Colônia em relação a sua função pública ficou evidente para o próprio Valdo no momento em que ele presenciou uma cena em que, em plena seção da Câmara, a vereadora “Gal Fest” disse “[...] o que fizerem aí eu assino”. Para ele, fica evidente também o fato de que os grandes


manipuladores da Câmara são os vereadores “Marinho” e “Hernane”. Talvez isto se deva ao grau de escolaridade dos dois, que em relação aos demais, ultrapassa a média. Dessa maneira, eles possuem maior capacidade sofista em seu aspecto negativo; d) Manipulação tecnológica com fins políticos – o professor Neto explanou um dado relevante sobre os últimos acontecimentos políticos locais. Ele disse que nos dias 24 e 25 deste mês, o sinal de TV (para aqueles que não possuem antena parabólica) foi retirado intencionalmente pelo Prefeito Cássio Alexandre na tentativa de não tornar pública as entrevistas do Promotor de Justiça, o Sr. Jorge Bezerra. Este declarou que a manifestação da terça-feira (23) foi pensada por terceiros, talvez alguém relacionado ao poder executivo municipal. Segundo Neto, o Promotor Público disse que pediu – após recolher os cartazes e encaminhar duas mulheres que supostamente lideram a manifestação – para os possíveis líderes do movimento para soletrar o que estava escrito nos cartazes, principalmente o cartaz que dizia: “FORA PROMOTOR”. Como não soletraram, deduziu o magistrado que foi possivelmente uma manobra política do executivo ou de alguém que estará correlacionado diretamente com o grupo político dominante; e) A natureza política do problema dos aluguéis – o Sr. Antônio, em seu discurso, considerou a relação estreita entre a política assistencialista praticada no município e o problema dos aluguéis, pois se o governo atual – que está no poder há 10 anos – tivesse construído casas populares não ocorreria eventos como os acontecidos nesta última semana. Desse modo, o pagamento dos aluguéis é instrumento assistencial político, ou seja, possui fins de conservação do poder; f) Apoio ao Promotor – o Sr. Antônio ainda apresentou a proposta de que o MCC deveria oferecer apoio ao MP na tentativa de desfazer o plano do Prefeito em apresentar o Promotor Público como o carrasco do momento político municipal. Ou seja, mostrar à população que o Promotor proibiu não apenas o pagamento dos 201 aluguéis, mas de todos os serviços que não tinha processo de licitação, a partir de improbidade administrativa. Não era ele que estava proibindo, mas a Lei; g) Política e comércio: problema – o Sr. Vavá, no atributo de suas palavras, tratou de um problema de sua área de trabalho, o comércio. Considera o Sr.


Vavá que o comércio leopoldinense está invadido por comerciantes pernambucanos, o que prejudica o município. O prejuízo está no fato de que o “dinheiro que deveria ficar aqui está indo parar em cidades do estado de Pernambuco”. Isto afeta o comércio e seu crescimento através de novos trabalhos que poderiam ser efetivados. Assim, o Sr. Vavá condena a inexistência de políticas alfandegárias para fazer com que parte desse dinheiro fique na cidade, por meio de capital flutuante. Acredito que, de modo inconsciente, o Sr. Vavá é contrário às mãos invisíveis que regulam as atividades

econômicas

conforme

Adam

Smith,

permanentes

no

neoliberalismo econômico; h) Um Possível Neomessianismo – no uso de minhas palavras, inicialmente comentei com o grupo uma das possíveis abordagens acerca da configuração política relacionada às eleições de 2012. Assim, é fato o reconhecimento de que, antes da decisão judicial (e mesmo depois) que proibiu a candidatura da Sra. Lala, nas eleições de 2008, houve uma estreita relação entre política e religião em nossa cidade. Dessa maneira, relembrando eventos históricos da política brasileira, naquele momento classifiquei essa relação como sendo uma neomessianismo. Isto é, sempre houve uma ligação entre o ente religião e o ente política em nossa história, sendo as mais conhecidas “Canudos” e “Contestado”, que, apesar de seus discursos diacrônicos sobre uma ligação com a política, apresentava bases ideológicas tipicamente qualificáveis como políticas. Assim, a partir do momento em que Antônio Conselheiro afirmou ser a separação da religião católica do Estado brasileiro algo prejudicial, fica evidente sua preocupação em manter o velho estado de coisas a partir da ligação entre catolicismo e império através do Padroado. Todavia, essa característica tão presente em nossa história desde épocas coloniais (só lembrando que a colônia brasileira é tomada como propriedade física pelo Estado lusitano e como propriedade espiritual pela Companhia de Jesus) parece que de tempos em tempos se apresenta com alta vivacidade, como o caso da candidata Lala. Ou seja, na época (e ainda se escutam ecos desse momento) ela teve amplo apoio das pessoas que se declaram possuidoras de algum credo religioso, principalmente entre católicos e os evangélicos. Inclusive, em sua campanha, como símbolo de marketing político, foi amplamente utilizada uma das mais influentes músicas evangélicas na época


(a qual não relembro o autor da mesma). Em síntese, este neomessianismo, neo no sentido de “novo”, pois carrega em si matizes ideológico-religiosas diferentes – conceito sem qualquer aprofundamento mais amplo – parece ainda ter capacidade de influenciar os andamentos das futuras eleições em nossa cidade, caso a Srª Lala se apresente como candidata. i) Educação política – outro aspecto que considerei no encontro foi relacionado à Educação Política. Educação Política no sentido de sistematização epistêmica da Ciência Política sem qualquer ligação com idiossincrasias partidárias. Em outros termos, seria interessante o MCC organizar encontros periódicos acerca de uma organização política educacional para a comunidade no tocante à apresentação dos principais conceitos (filosóficos, sociológicos, antropológicos e jurídicos) numa perspectiva autônoma de partidarismo. Seria um reviver de momentos sublimes da formação política de muitas pessoas de nossa cidade, quando o PT local se apresentava isento de qualquer participação do poder, ou seja, quando era oposição em nossa cidade. Esses encontros eram embasados no marxismo, apesar dos principais representantes do partido na cidade não demonstrarem domínio da teoria (essa parte ficava a cargo de São). Assim colocada, considerei que uma possível organização em torno de uma Educação Política seria produtiva no sentido de apresentar os principais conceitos para o entendimento do universo político local – a partir de conceitos gerais da Ciência Política - , possibilitando oportunidades para a vivência cidadã, que é o principal objetivo do MCC. Terminei esse argumento citando a 11º tese sobre Feuerbach de Marx, ou seja, o conhecimento e o estudo da realidade política são fundamentais para a ação revolucionaria (transformável). j) Superar a aparente ontologia política local? – nesse momento, comentei uma percepção pessoal (não exclusiva) que, nos últimos dias, tem gerado adversos posicionamentos em meios eletrônicos. Tal percepção, baseada no real, apresenta-se como uma aparente ontologia política na história brasileira. Tal ontologia se apresenta no sentido de que, normalmente, são os possuidores de capital que vencem os pleitos eleitorais. Talvez o fato histórico de um operário ser atualmente o presidente do Brasil possa se caracterizar como uma superação dessa ontologia. Mas, para os mais prevenidos, sabe-se que o PT chegou ao poder político nacional pela ligação


com alguns setores da burguesia brasileira, fato que não tinha ocorrido nos três momentos anteriores em que o PT perdeu as disputas eleitorais. Assim, a partir de uma leitura dos documentos fundantes da ideologia petista, disponíveis, por exemplo, na obra “O conceito de partido no partido dos trabalhadores”, do Dr. Profº. José Francisco de Melo Neto, talvez possam ser compreendidas algumas divergências entre o discurso original e a prática, principalmente nos últimos anos. Nessa perspectiva, para o MCC é fundamental o entendimento de que é manifesta esta ontologia política, e sendo uma essência, é conceitualmente imutável ou não transformáveis. Assim, filosoficamente, chega-se a uma aporia, no sentido desta aparente ontologia ser realmente real. Como o MCC deve trabalhar essa questão? Em suma, o encontro deste dia foi importante para a construção do sentimento de vivência da cidadania enquanto categoria indispensável para o crescimento coletivo da sociedade.

Colônia Leopoldina, 21 de novembro de 2010.


TEXTO 10 COLÔNIA LEOPOLDINA: propostas para a cidade53

Escola Estadual – Aristheu de Andrade

53

Documento repassado aos vereadores, ao prefeito e distribuído na comunidade, em janeiro de 2010.


SUMÁRIO

1. Apresentação. 2. Pontos temáticos e propostas: - Grupo 1 de propostas - de internautas (Orkut). - Grupo 2 de propostas - de dois candidatos a vereador. - Grupo 3 de propostas - do usineiro e ex-candidato a prefeito Zé Maria. - Grupo 4 de propostas - da ex-candidato a prefeita Luciana Luna. - Grupo 5 de propostas - um conjunto de proposta durante o sesquicentenário da cidade. 3. Considerações.


1 – APRESENTAÇÃO

O Movimento Colônia e Cidadania (MCC) apresenta esta brochura, um conjunto de propostas originárias dos mais variados grupos de pensamento político da cidade de Colônia Leopoldina, presentes em panfletos ou pela rede de computadores – internet, com várias propostas repetidas e, mesmo assim, mantendo-as, assegurando a originalidade dos documentos54. O grupo 1 de propostas é um esforço inicial de pessoas que pensavam, em certo momento, construírem uma alternativa política aos candidatos originários da Prefeitura ou da Usina Taquara, que já estavam em campanha para as eleições municipais de 2008. Compilaram propostas apresentadas na internet por vários/as leopoldinenses, em especial da comunidade eletrônica Colônia Leopoldina – a cidade, uma das várias comunidades existentes sobre Colônia Leopoldina.

O grupo 2 de propostas expressa a primeira tentativa na cidade, de dois candidatos a vereador de partidos distintos – Partido dos Trabalhadores (PT) e Democratas (Dem) – em apresentarem as suas propostas aos eleitores. De forma inédita e antecipada, mostraram o que seria a sua atuação na Câmara de Vereadores, se eleitos fossem.

O grupo 3 de propostas é um Plano de Governo, apresentado pelo candidato a prefeito, à época – o usineiro da Usina Taquara – José Maria.

O Grupo 4 de propostas é o Plano de Governo da candidata à prefeita, à época, Luciana Luna.

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Estas propostas foram divulgadas pelo Movimento Colônia e Cidadania (MCC) para a cidade, em 2010, constando no livro: Colônia Leopoldina – situações político-ambientais (Vol 2). Andréa Marques Silva, Elizabete M. do N. G. Veloso, Paulo Edson de Araújo e José Francisco de Melo Neto (org.). Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa: 2011.


O Grupo 5 de propostas, finalmente, é originário de conversas avulsas, presente inclusive o saudoso Everaldo Araújo Silva, escritor do livro A Colônia da Princesa. Uma coleta de propostas que se estende desde a comemoração do Sesquicentenário de fundação da Colônia Militar, núcleo gerador da cidade de Colônia Leopoldina, até os dias de hoje.

A chapa vencedora do pleito de 2008 não apresentou, durante a campanha, de forma sistematizada, qualquer conjunto de propostas.

O MCC espera que este material possa ser útil à orientação de alguma prática política possível de atores com cargos eletivos, aos estudos nas escolas sobre os movimentos políticos locais, às discussões para maior aprofundamento de soluções para a cidade e seu povo, na perspectiva de sua melhoria, contando com a sua presença, bem como, às práticas futuras de cidadania das pessoas, mantendo viva a memória política da cidade.

Colônia Leopoldina, verão de 2010.


2 – PONTOS TEMÁTICOS E PROPOSTAS


GRUPO 1 DE PROPOSTAS

(apresentadas pelos usuários da internet – Orkut)

3

NECESSIDADES DO MUNICÍPIO (PESQUISA)

- realização de uma pesquisa na cidade sobre as suas necessidades, como início de um futuro planejamento participativo; conhecimento da cidade em dados e por meio dos ditos do povo;

02.

GESTÃO DA CIDADE

1. Beleza da Cidade: 1.1. embelezamento das ruas Pe. Francisco, 15 de novembro, 16 de julho, Manoel Ferreira Lima e outras, tornando-as avenidas. É preciso retirar pelo menos 1 metro de calçadas das casas do lado sem postes e plantando árvores no meio de cada uma dessas ruas.

2. Transparência: 2.1. planejamento participativo; 2.2. orçamento participativo; 2.3. prestação de contas de forma pública para a cidade;

3. administração: 3.1. gerenciamento da prefeitura com diálogo com a população, administrando com a participação do povo;


03. LAZER E ESPORTE

1. construir mais duas quadras de exportes na cidade. 2. assegurar uma área definitiva e melhorar o campo de futebol. 3. fazer um levantamento dos pontos que podem tornar-se de lazer, em todo o município.

04. TRABALHO E RENDA (economia)

1. criação de um grupo de pessoas que possam pensar a cidade, oferecendo outras possibilidades de trabalho e renda, sobretudo aos/às jovens; 2. desenvolver grupos em condição de se organizarem em bases à economia solidária.

05.

MORADIA - acabar com casas de taipas no município, em especial na zona rural.

06.

DIREITOS HUMANOS - introduzir, nas escolas, material de divulgação sobre direitos das pessoas.

07.

FINANÇAS 1. transparência pública de todo tipo de finanças que cheguem ao município, por meio de convênios, programas ou impostos, com prestação de contas, não só à câmara de vereadores, mas à toda a cidade.

08.

AGRICULTURA


1. fazer levantamento das possibilidades da agricultura no município, além da cana. 2. organizar grupos com a possível participação do SEBRAE. 3. ter políticas de ajuda às formas de agricultura familiar que não a cana.

09.

EDUCAÇÃO 1. melhora da biblioteca existente; 2. incentivo à leitura na escola; 3. implantação da educação popular; 4. revisão do estatuto do magistério; 5. apoio financeiro ao profissional que investe em sua carreira de professor em cursos oficiais (especialização, mestrado e doutorado); 6. realização de convênios da prefeitura com universidades federais (UFAL e outras, se for o caso) para a realização de cursos de especialização gratuitos aos estudantes e em Colônia Leopoldina; 7. promoção pela prefeitura ou ajudando o sindicato a promover de encontros sobre a educação leopoldinense e definição de seus rumos; 8. iniciação da escola integral para as crianças de Colônia; 9. promoção de cursos gratuitos de educação à distância por meio de convênios com universidades públicas; 10. Realização de cursos de especialização presencial e gratuitos aos estudantes, em Colônia, com universidades federais.

10. CULTURA 1. criação de uma escola de música/fanfarra; 2. criação de grupos de teatro na cidade, com uma ajuda inicial de quem puder ajudar e que tenham a capacidade de autosustentação;


11.

TRANSPORTE - assegurar transporte para universitários para Palmares e Maceió.

12. MEIO AMBIENTE 1. construção de uma adutora para garantir água para cidade; 2. estação de tratamento de lixo regional em convênios com outros municípios;

13.

SAÚDE 1. acabar, por meio de campanhas, com todo tipo de endemia na cidade; 2. possibilitar que o hospital da cidade realize cirurgias de pequena e média complexidades.

14. ALTERNATIVAS PARA A CIDADE 1. articular grupos de teatro com costureiras para a produção das pessoas e que elas possam viver disso; 2. ver as possibilidades da economia solidária popular; 3. estudar com associações possibilidades de outras culturas, além da cana;



GRUPO 2 DE PROPOSTAS

De todos/as candidatos à Câmara, dois candidatos a vereador iniciam um novo jeito de apresentar-se à cidade, não apenas pelo velho estilo de “cata-cata” de voto individual, mas apresentando um programa de ação junto ao prefeito, na câmara – os candidatos Rubinho (DEM) e Luciano (PT). Destacam-se, aqui, as propostas de Luciano:

3. NA AGRICULTURA – disposição de tratores aos pequenos produtores para gradear a terra e de assistência técnica em geral; ampliação do Programa Luz para Todos; reformar casas de taipa da zona rural em convênio com a FUNASA (Fundação Nacional de Saúde); implantação do Conselho da Agricultura; criação de um banco de sementes em parceria com SEAGRI (Secretaria de Agricultura do Estado de Alagoas) e com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em prol do melhoramento genético de nossos produtos.

4. NA EDUCAÇÃO – melhora da biblioteca municipal, com aumento do acervo e contratação de um profissional da área; incentivo à leitura na escola com o desenvolvimento de programas voltados à nossa realidade; implantação de uma escola integral para as crianças do município; fortalecimento da educação de jovens e adultos; implantação do ensino médio na zona rural (Porto Alegre e Monte Alegre); convênio da prefeitura com a UFAL (universidade federal de alagoas) e/ou outras caso possível, para a realização de cursos superiores no município, pela via da educação à educação; apoio financeiro aos professores em forma de bolsas de estudo, a fim de que estes possam investir em sua formação por meio de cursos de especialização, mestrado e doutorado; implantação do sistema de gestão democrática nas escolas, com a eleição de direitos e conselhos escolares.


GRUPO 3 DE PROPOSTAS

Do candidato-usineiro Zé Maria – um Programa de Governo com as seguintes propostas: Agricultura e pecuária – nomear um técnico de capacidade comprovada para a secretaria; adquirir uma patrulha mecanizada composta de uma patrol, um trator de esteira, dois tratores de pneus com todos os implementos, retro-escavadeira e caçambas; distribuir semente para plantio de roça de inverno (milho, feijão...etc); garantir os produtores de leite, a compra do produto a preço de mercado para merenda escolar; contratar um médico veterinário para realizar as inspeções sanitárias no matadouro público e dar assistência aos produtores rurais; incentivar a instalação de pequenas indústrias para o aproveitamento das frutas nativas da região. Política de valorização do funcionário público – atualizar o plano de cargos e salários; admissão de vagas por concurso público; patrocinar cursos e treinamentos para capacitar os servidores; motivar o ingresso de servidores em cursos de nível superior; dotar os servidores de EPI(S) de acordo com as exigências da DRT; reconhecer os servidores especiais, obedecendo a classificação da DRT. Obras civis de infraestrutura – construir 400 casas populares; substituir todas as casas de taipa por alvenaria (100%); criar um programa de recuperação de casas em todos os bairros; calçar 100% das ruas (asfaltar principais); recuperar o matadouro público e o mercado municipal; reconstruir o estádio de futebol; reformar o clube social; eletrificar 100% da zona rural; construir um grupo escolar com trinta salas de aula; construir mini-postos em povoados para dar apoio ao PSF. Plano municipal de saúde Colônia 100% - Manter serviço de urgência ativada e convênios com hospitais e clínicas (palmares); ativação do posto de saúde de Monte Alegre; serviço de nutrologia e fisioterapia; serviço de reabilitação, fonoaudiologia e psicologia; atenção aos idosos, pessoas de 3ª. Idade; ampliação do programa de saúde da família; reativação do serviço de radiologia; funcionamento do hospital com


plantonistas diários; reativação do bloco cirúrgico; cirurgias-mioma, ligadura, hérnia, vesícula, cirurgia por vídeo, proctologia; implantação de especialidades: cardiologia, psiquiatria, pediatria, ultra-sonografia, neurologia, dermatologia, obstetrícia; manter saúde itinerante; serviço de odontologia; banco de aleitamento materno; funcionamento de laboratório; exames essenciais. Educação de qualidade – Colônia 100% - ampliação de escola – auditório para pais e mestres; salas de informática; espaço coberto para recreação; salas de leituras; laboratório de ciências; formação continuada para professores por áreas específicas – palestras; oficinas pedagógicas; laboratório de informática comunitária; circus-espaço cultural (reservado para culminância de projetos educativos); aulas de Arte – pintura; crochê; bordado; reciclagem; dança; músicas; teatro; eventos com datas comemorativas; oferecer cursos profissionalizantes para alunos. Resgatar o tradicional desfile cívico – 7 de setembro – reformar a banda marcial leopoldinense; distribuir fardamento completo ao alunado. Reajuste salarial para os professores (periodicamente) – premio “profissional do ano da educação”. Diminuição do índice de evasão e reprovação – simulador com reconhecimentos gerais (bimestral); escola tempo integral; oferecer reforço da língua portuguesa (leitura, produção de texto) e Matemática; oferecer merenda de qualidade (cardápio diferenciado). Assistência especializada à educação da zona rural – oferecer melhores condições ao aluno; promover interação entre escolas da zona urbana e rural; garantir a continuidade do transporte escolar. E, ainda, o documento conclui com uma frase do educador pernambucano Paulo Freire: “a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda”.


GRUPO 4 DE PROPOSTAS Da candidata à prefeita – Luciana Luna (Plano de Governo – por nossa terra, por nossa gente). 1. AÇÃO SOCIAL – Programa de Moradia Digna (construção de casas populares no sistema de mutirão participativo. A prefeitura entrará com o material e a comunidade auxiliará com a mão-de-obra. - Volta do Programa de alimentação para a população carente, com participação das entidades religiosas e não governamentais; programa de apoio à criança e ao adolescente; volta dos programas de apoio específicos aos idosos, mulheres e pessoas portadoras de necessidades especiais; volta do programa de apoio à gestante; apoio mais efetivo para fortalecimento do Conselho Tutelar Municipal; programa cidadão (tiragem de documentos); construção de núcleos comunitários para funcionamento dos programas sociais, tais como o PETI, PAC, Ciranda da criança, alfabetização solidária, bolsa escola, egressos do PETI, portal da alvorada, entre outros; disponibilização de transportes de pessoas da zona rural para a feira na cidade; realização de cursos profissionalizantes através do SEBRAE, SENAI, SESC e SENAC, tais como: eletricista, encanador, padeiro, computação, cabeleireiro, mecânico de automóveis, artesãos, dentre outros; reestruturação e ampliação das creches (zona rural e urbana).

2. EDUCAÇÃO E CULTURA – Programa Amigos da Internet – todas as escolas serão contempladas com laboratórios de informática, com acesso à Rede Mundial de Computadores – Internet, para que os nossos alunos possam pesquisar, fazer amigos e se integrar com o mundo. - recuperação das escolas municipais (urbanas e rurais); melhoria e garantia do transporte escolar gratuito, dando condições de maior segurança e conforto para todos os estudantes inclusive para Maceió, estudantes de graduação e pós-graduação; aquisição de mais ônibus escolares, mais modernos, seguros e confortáveis para o transporte dos estudantes; criação da casa do estudante universitário, em Maceió, para incentivar os nossos jovens e dar apoio a todos aqueles que estiverem estudando na


capital; melhoria da qualidade e da quantidade além da garantia total do fornecimento diário de merenda escolar para os estudantes, durante o período das aulas; erradicação do analfabetismo no município; garantia do fornecimento gratuito dos materiais didáticos nas escolas municipais; fardamento para todos os alunos e pessoal de apoio; resgate da banda de fanfarra do nosso município; apoio e incentivo às artes, esportes e lazer para os jovens do nosso município. 3. SAÚDE – Consórcio de Saúde – proposta de acordo com cidades circunvizinhas, objetivando atender regionalmente serviços ambulatoriais, exames, cirurgias de baixa e média complexidades. - funcionamento do Programa Saúde da Família (PSF) em todas as unidades da cidade e campo; contratação de profissionais especializados na área de saúde, para melhorar o nível de atendimento à população, em especial a mais carente; volta do Programa da Saúde Bucal Coletiva, com campanhas de educação com a distribuição gratuita de escolas de dentes e fio dental e seu uso de forma correta; volta do Programa de Atendimento Oftalmológico, para que nossa população seja atendida de forma preventiva e corretiva; funcionamento efetivo do laboratório de análises, para que os médicos do nosso município possam diagnosticar com maior velocidade e segurança as enfermidades dos pacientes; criação da Casa de Apoio ao Doente em Maceió, para alojar os parentes das pessoas que estejam nos hospital da capital; implantação do Sistema de Saneamento Básico; convênios com os governos federal e estadual para a aquisição de novas máquinas e equipamentos para a modernização do nosso hospital e postos médicos; programa de saúde preventiva; valorização e fortalecimento do Programa de Agentes de Saúde; programa de redução dos índices de mortalidade infantil; reforma e ampliação da estrutura da Vigilância Sanitária Municipal; volta do programa A Saúde Vai ao Campo; volta do programa A Saúde Vai à Feira; reabertura do Centro Cirúrgico do Hospital Maria Loureiro.

4. OBRAS, URBANISMO E AGRICULTURA - reforma e reestruturação do campo de futebol Joaquim Luiz da Silva; apoio à vaqueirama para a reestruturação do Parque de Vaquejada Murilo Loureiro; drenagem das áreas alagadas (Vila Nova) para acabar com as constantes cheias nestas áreas nos


períodos chuvosos; construção de casas populares para a população carente; construção do terminal rodoviário de passageiros; aquisição de uma patrol para execução e manutenção das estradas do município; construção de um novo matadouro público municipal; melhoramento no sistema de limpeza pública; tratamento do lixo, com incentivo à reciclagem; volta do programa Lavoura Comunitária, com a aquisição de sementes para distribuir com os pequenos produtores rurais; recuperação e ampliação da iluminação pública; criação de um cadastro numérico, para os imóveis que ainda não os tenham assim como a colocação de placas identificadoras das ruas da cidade e de sinalização de trânsito; estruturar um sistema de gestão e controle ambiental do município; projeto Vamos Salvar o Rio Jacuípe; guarda municipal.

GRUPO 5 DE PROPOSTAS NO SESQUICENTENÁRIO DE FUNDAÇÃO DA COLONIA MILITAR LEOPOLDINA UMA PROPOSTA ESTÉTICA PARA COLONIA DE LEOPOLDINA Justificativa para as propostas: - promover a ocupação dos jovens, - comemorar sesquicentenário da cidade, - incentivar a beleza da cidade (estética)

Pontos: 1. Praça D. Pedro II - fazer concha acústica em frente à Igreja Matriz, aproveitando o declive do terreno. 2. Antigo mercado público - fazer um mini-chopping nesse local, deslocando os comerciantes da Praça em frente à Igreja para este chopping.


3. Atual mercado público - transformar este mercado em mais uma quadra poliesportiva. 4. Rua Pe. Francisco, 15 de ov, e 16 de julho – Severino Ferreira de lima - transformá-las em avenidas, retirando 1 metro das calçadas do lado que não tem postes e colocando árvores no meio da rua, transformando-as em avenida. 5. Centro administrativo - construir na entrada da cidade 6. Acesso à cidade - em todo percurso dos 9 Km, da Br 101 até Colônia, plantar árvores, formando uma alameda de bambual, jaqueira, mangueira....(frutas da terra) 7. Ao redor do mercado da farinha - tirar o posto de gasolina do centro da cidade. - fazer um parque para lazer. 8. Divisória da rua do cemitério - baixar aquelas calçadas para facilitar o acesso aos idosos. 9. Construção de um centro cultural para a cidade, com bibliotecas e núcleo de informática e outros organismos voltados à cultura para possibilitar a educação superior à distância.

3 – CONSIDERAÇÕES Este esforço do MCC na divulgação destas propostas deve-se a necessidade de se mostrar que existem propostas para a cidade de Colônia, aqui apresentadas por diversos grupos. Claro que nem todas as condições de realização desse conjunto de propostas estão dadas. Nem significa, contudo, que isto aqui apresentado deva ser encaminhado pelos governos estabelecidos, até porque a mecânica política geral do país também trespassa a política local de qualquer município, consequentemente, também de


Colônia, e qualquer governo tem propostas próprias. Todavia, isto pode ser útil como um conjunto de pistas para melhoramento da cidade. O desejo é que a maior quantidade dessas propostas possa ser efetivada por qualquer governo estabelecido. São propostas públicas e, assim, propriedade de todo mundo. Mas, uma coisa parece certa: os grupos aqui mostram a existência de um conjunto variado de propostas para uma melhor organização das coisas do lugar, podendo superar o desprezo que vários políticos têm tido para com a cidade. Isto se configura como um exercício de cidadania. Oxalá, hoje, políticos haja que possam ter a humildade de assumir várias dessas sugestões, originadas de tantas cabeças, desejosas de contribuir para melhor organização de Colônia. Ninguém poderá dizer, simplesmente, que não há propostas. A sua realização será conquista da cidade, tão somente.

Colônia Leopoldina, 2010.

(COLOCAR, AQUI A FOTO DE LUCIANO)


TEXT0 11 VEREADOR É PARA LUTAR55 (eu quero seu voto para defender as seguintes propostas, junto à Prefeitura Eleições de 2012)

01. Realização de uma pesquisa na cidade sobre as suas necessidades, norteando o planejamento municipal de forma participativa; 02. Embelezamento das ruas Pe. Francisco, 15 de novembro, 16 de julho, Manoel Ferreira Lima e outras, tornando-as avenidas; 03. Nove quilômetros da entrada da cidade se tornarem uma grande alameda de plantas, frutas da região da região; 04. Efetivação do Planejamento e Orçamento municipal, com a participação da população; 05. Ajuda na prática da prestação de contas de forma pública para toda a cidade; 06. Ajuda à administração para que seja feita com diálogo com a população; 07. Recuperação do estádio de futebol da cidade; 08. Ajudar em projetos da prefeitura para construção de novas quadras de esporte; 09. Apoio logístico aos times da cidade, com a contratação de professores de educação/convênio com o Estado; 10. Criação de um grupo de pessoas que possam pensar a cidade, oferecendo outras possibilidades de trabalho e renda, sobretudo aos/às jovens; 11. Parceria com o SEBRAE com o intuito de desenvolver novas técnicas de gestão para pequenas empresas existentes no município;

55

Documento distribuído durante a campanha eleitoral, nas eleições de 2012, pelo candidato Luciano do Partido dos Trabalhadores (PT).


12. Fortalecimento e ampliação dos programas sociais do governo federal existentes no município; 13. Recuperação/reforma de casas de taipa da zona urbana e rural, em convênio com a FUNASA; 14. Instalação do conselho de direitos humanos; 15. Insistência com a necessidade de se implantar uma área para pequenas indústrias como incentivo fiscal por parte do governo municipal; 16. Contribuição para a elaboração de estudos fiscais com finalidade de incentivar instalações de empresas; 17. Criação de um Banco de semente, em parceria com a Secretaria de Agricultura do Estado e com a Embrapa, para o melhoramento da genética; 18. Implantação do Conselho de Agricultura; 19. Trator para pequenos produtores poderem gradear a terra; 20. Continuação no reforço ao programa Luz para Todos; 21. Implantação da educação popular (fortalecimento da educação de jovens e adultos); 22. Revisão do estatuto do magistério; 23. Apoio financeiro (bolsa de estudo) ao profissional que investe em sua carreira de professor em cursos oficiais (especialização, mestrado e doutorado); 24. Realização de convênios da prefeitura com universidades federais (UFAL e/ou outras, se for o caso) para a realização de cursos de especialização gratuitos e em Colônia Leopoldina; 25. Realização de convênio com universidades federais para a realização de cursos superiores em Colônia Leopoldina, pela via da educação a distância; 26. Iniciação de uma escola integral para as crianças de colônia, de forma experimental; 27. Democratização na escola – eleição de diretores e conselhos da escola;


28. Criação de uma escola de música/fanfarra; 29. Defesa da criação de uma casa da cultura; 30. Apoio a grupos de teatro na cidade, com uma ajuda inicial de quem puder ajudar e que tenham a capacidade para a sua futura autosustentação; 31. Implantação da Secretaria do Meio Ambiente para estudos da revitalização do Rio Jacuípe, com a participação de associação de meio ambiente de Colônia; 32. Ampliação do PSF; 33. Ambulância para a zona rural nos ambulatórios existentes; 34. Ajuda à prefeitura no sentido de ir aumentando gradativamente o repasse do município para a saúde, até o índice de 15% da arrecadação municipal; 35. Convencimento para a criação de um centro de recuperação de pessoas com necessidades especiais, vinculado ao município; 36. Ajuda na articulação de grupos de teatro com costureiras para a produção das pessoas e que elas possam viver disso; 37. Ajuda na criação de grupos de produção, como empreendimentos solidários populares, com a filosofia da economia; 38. Ajuda em estudos com associações sobre as possibilidades de incentivo à outras culturas na região, além da cultura da cana; 39. Sugestão para a criação de um shop municipal na área do antigo mercado público para os “boxes” situados em frente à Igreja e outros; 40. Transformação da área em torno do mercado de farinha em uma área de lazer para a cidade; (obs: as propostas estão escritas para você me cobrar depois)


TEXTO 12 AFINAL, EM QUEM VOTAR?56 VOTAR é um dever de extrema importância. Por meio do voto, cada um está, de certa forma, definindo as condições de vida de si, do povo e, em parte, daqueles que ainda virão. Reflete-se na saúde, na segurança, na agricultura e nas vidas de todos. Votar é plantar o sonho de pobres, negros, brancos, índios, crianças, homens e mulheres de terem seus direitos garantidos. Mas, afinal, neste tempo de eleições, os/as candidatas/os sempre dizem que estão do lado das maiorias sofridas, isto é, do lado do povo. Como separar o JOIO DO TRIGO no momento de votar? OS CRITÉRIOS que seguem, ajudarão os/as eleitores/as a melhor escolherem os seus representantes: 1. Informe-se do passado daquele seu candidato e veja se ele esteve sempre do lado das lutas do povo. Veja se ele sempre defendeu o interesse do povo ou é só nesse momento eleitoral. 2. Veja se o que ele promete e defende, hoje, sempre esteve defendendo antes. Se não for, esse candidato está mentindo e não merece o seu voto. 3. Finalmente, veja se ele nunca se envolveu nas falcatruas, nas safadezas, nos roubos, nas máfias da política. VOTE EM FICHA LIMPA.

BOA ELEIÇÃO PARA TODOS E TODAS.

MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA (MCC) Eleições de 2012

56

Orientação ao eleitor, distribuída na cidade, durante a campanha nas eleições de 2012, pelo MCC.


TEXTO 13 COLÔNIA LEOPOLDINA: análise de conjuntura política57

O ano de 2013, para o Partido dos Trabalhadores, pode ter dimensões emblemáticas, isto é, marcadamente com feitios petistas, devido ao número do partido saído da justiça eleitoral, o 13. Isto não significa bons e nem presságios ruins, pois a política, como arte, comumente apresenta novidades distantes de qualquer tipo de sorte ou superstições. Os resultados eleitorais e políticos são produtos de muito trabalho de organização, planejamento estratégico e doses de oportunidades, que não podem ser desperdiçadas. Em Colônia, esta máxima também é verdadeira. Cabe ao PT iniciar o seu processo organizativo, como nunca, desigual em relação aos demais partidos na cidade e combinado com o partido estadual, contando com fluidos do seu sucesso local e nacional, considerando que conseguiu eleger, pela primeira vez, um vereador após 30 anos de existência partidária no município.

Histórico

O PT, fundado em 1982, em seu processo de organização, conviveu com várias situações contraditórias em seu interior, bem como em sua interlocução com a sociedade leopoldinense. Nesse percurso, desde a preparação política com cursos de formação para os petistas originários e abandonados depois; passou pelas relações, em seus primeiros 10 anos, com o sacerdote Aldo Giazon, doador de uma casa que veio a cair, na antiga rua das pedrinhas; continua com ex-dirigentes que assumiram posturas ora mais radicais para seus momentos políticos e ora mais conservadoras, assumindo posturas efetivamente reacionárias. Ainda hoje convive com posturas nitidamente contrárias às decisões do partido, como a postura da atual Presidente, fazendo campanha

57

Uma análise elaborada para o Partido dos Trabalhadores (PT), por José Francisco de Melo Neto, em janeiro de 2013.


contrária às deliberações partidárias. É isto mesmo que o fez chegar tardiamente à Câmara de Vereadores Mas, é com esse capital político que o PT vem se construindo, num esforço de tornar-se um partido com autonomia e independência para realizar a sua própria política, num ambiente dos mais hostis de se fazer política voltada aos trabalhadores, a zona da cana do Estado de Alagoas, com todas as mazelas histórico-sociais existentes. Uma luta para se constituir em uma alternativa de poder local. Ao que se apresenta no atual momento na cidade, esta busca permanece profundamente atual, merecendo especiais cuidados nas suas relações com os demais partidos, com a sociedade local, com o partido em nível de Estado e em sintonia com o discurso do Governo nacional, que é capitaneado pela petista Dilma Roussef.

O resultado eleitoral de 2012 Com idas e vindas no quadro eleitoral da cidade58, em movimentos políticos de criação ou arrumação de partidos, distante de toda a perspectiva ideológica contida em seus manifestos e programas partidários, os partidos que vieram a participar do processo eleitoral foram – PDT, PTN, PPS, PSDB e PP

59

, sob a liderança do PSDB, partido

tomado da atual petista Luciana Luna pelo ex-Prefeito Manuilson Andrade Santos, líder da aliança política. Esta aliança, de um total de 12.418 votos apurados e 10.599 votos válidos, obteve 5.235 votos, expressos percentualmente em 49,39%. O outro agrupamento esteve em torno do PSB e mais o PTB, o PSC, o DEM e o PT, sob liderança da Paula Rocha, a prefeita eleita da mudança local obteve 5.346 votos, expressos em termos percentuais em 50,61%.

58

Todos os dados apresentados foram retirados do texto distribuído pela Justiça Eleitoral – Eleição Municipal 2012 – 1º. Turno – Resultado da Totalização – Colônia Leopoldina – Alagoas, 07/10/2012.

59

- PDT - PTN - PPS - PSDB

– partido democrático trabalhista, tendo como antigo líder Leonel Brizola. – partido trabalhista nacional. -- partido popular socialista – Partido da Social Democracia Brasileira, liderado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e no município, pelo ex-Prefeito Manuilson. - PP – partido progressista. - DEM – democratas. - PSB – partido socialista brasileiro - PTB – partido trabalhista brasileiro - PSC – partido social cristão - PT – partido dos trabalhadores


As alianças participaram da campanha eleitoral, sendo a primeira, liderada pelo Manuilson, com 18 candidatos/as a vereador, elegendo os 6 (seis) vereadores seguintes: Nomes

Votos

Franklin André Amorim

612 - PSDB

Ricardo Pereira Xavier

598 - PTN

Amaro Rodrigues da Silva

587 - PPS

Edmilson da Silva Barros

572 - PSDB

Vitalino do Nascimento

434 - PDT

Maria das Graças Costa Almeida

424 - PPS

Já a segunda aliança, liderada pela vitoriosa Paula Rocha, participou com 22 candidatos, elegendo os 5 (cinco) vereadores seguintes: Nomes

Votos

Rubens Severino da Silva

812 - DEM

Fernando Lamenha Silva

611 - PSB

Maria das Graças Leite F. de Oliveira

532 - PTB

Cícero Ramos da Silva

478 - PSB

José Antonio Timóteo da Sousa

382 - PT

Contudo, isto não significa um rigoroso posicionamento político sólido. Para cada momento ou para cada questão que for posta existirá, possivelmente, novas rearrumações de forças, haja vista o resultado final da composição da Câmara, com a vitória da atual oposição, ajudado pelo PT, que não é oposição. O quadro mostra ainda a não hegemonia de qualquer partido nessa Câmara e no eleitorado leopoldinense, que também não vota por partido ou ideologia, mas nas pessoas. Apenas nos processos eleitorais estaduais ou gerais, cada partido procurará os seus congêneres nos municípios, em busca de votos para os seus candidatos estaduais e nacionais. Se do ponto de vista partidário, os partidos que mais elegeram prefeitos, em 2012, foram PMDB (1.027), PSDB(704), PT(634), PSD(500) e PP(467), em Colônia Leopoldina, os vereadores eleitos distribuem-se quase equitativamente entre os partidos de ambas as alianças políticas. A questão partidária passa pela comunidade, sem a percepção de suas ideologias por parte dos eleitores.


Será caracterizado também o quantitativo de votos de cada partido, ajudando, assim, a uma melhor visualização da participação eleitoral de cada um deles, contribuindo para que o PT realize uma melhor formulação de políticas e possa dimensionar melhor o seu verdadeiro tamanho na comunidade e como crescer.

Resumo da Votação dos Partidos

PARTIDO

VOTOS NOMINAIS

%

1º. PSB

2.252

21,76

2º. PSDB

1.801

19,48

3º. PDT

1.145

11,35

4º. PPS

1.069

10,44

5º. PTN

951

9,28

6º. DEM

812

7,83

7º. PTB

735

8,80

8º. PT

734

7,21

9º. PSC

369

2,55

O Partido dos trabalhadores conquista, nesta eleição, a posição de penúltimo partido entre os que participaram do processo eleitoral. Começa a aparecer nesta relação, iniciando um processo que com muito planejamento estratégico, poderá galgar à posição de definição de sua política própria, precisando dar maior visibilidade a essa política, uma política que aproveite os ventos do Governo Federal enquanto está no comando o próprio partido.

A articulação política após as eleições

A Prefeita eleita inicia, então, após as eleições, as articulações políticas para a composição de seu governo. O que surge à mesa, de imediato, são as questões das contas a serem pagas. Não há eleições realizadas só por amor ou por qualquer outra virtude altruísta. Há despesas e estas precisam ser pagas. Quem então chegou com o


dinheiro? Afirmam ter sido o tesoureiro da Associação de Plantadores de Cana (ASPLANA), o seu marido. Colocou-se como o responsável para o pagamento dos possíveis débitos financeiros e eleitorais, assumindo o papel político de articulador, papel este que caberia, necessariamente, à Prefeita. Passou-se a ter uma direção política assegurada por uma espécie de Prefeito da Prefeita. Os argumentos para isso eram os mais torpes e machistas, como por exemplo, a necessidade de que estava em jogo o nome de sua esposa e que a ele caberia a tarefa de fazer política para a sua sustentação. Dos cargos discutidos, assume a Secretaria de Finanças, abrindo margem para especulação à moda de Manuilson, o ex-prefeito, que se tornara, após os dois mandatos, Secretário das Finanças do Prefeito que indicou, o Cássio. Por que precisa o esposo da Prefeita, ex-tesoureiro da campanha, tornar-se, também, o Secretário das Finanças? Mas, não é só isto. A composição política do Secretariado da Prefeita e demais funções secundárias de Coordenação passaram a ter como critério o compromisso de se fazer campanha para os seus futuros candidatos a deputado, em 2014. Com isto, fica mais claro o nível de acordo que fora feito durante a campanha, bem como a origem do dinheiro e envolvidos nas transações. Em nível de PT, o vereador eleito Antônio Timóteo, pautado por princípios de independência e de autonomia política do próprio vereador e do Partido, começa a entrar em rota de colisão com o esposo da Prefeita. Situação que chega ao quase impossível diálogo, quando o vereador apresenta-se contrário aos critérios que vêm se estabelecendo, posicionando-se contra a definição do nome de Fabiano (esposo) como Secretário de Finanças e contra as exigências de compromissos políticos eleitorais para o futuro. O vereador foi sendo colocado, pouco a pouco, às margens daquelas negociações. Se no início o PT reivindicara para si uma Secretaria, logo a perdera; passando para 4 Coordenações oferecidas pelo mesmo e depois reduzida para duas, apenas. Num momento seguinte, terminou sem qualquer participação no governo; e posteriormente, sem sequer participar das discussões que se seguiam. Assim, gera uma indisposição pessoal do vereador com o esposo da Prefeita. A política, neste momento, perde a sua essência que é o diálogo, um comando da razão, e passa para a dimensão emocional, orientada pelo coração. Mas, o coração não pensa. Desperta-se na política petista, tocada pelo vereador, um desejo de se “dar o troco”, de forma imediata, àquelas pretensões políticas do Fabiano. Para a composição da Mesa Diretora da Câmara, o PT teria a 1ª. Secretaria, deslocando-se depois para a 2ª, ficando finalmente, em uma outra reunião, fora da Chapa da Mudança. Pavimentava-se uma nova composição de forças


para a direção da Câmara – Gal fest, presidente; Antônio Timóteo 1º. Secretário; e demais membros. A disputa estava empatada em 5 a 5 e, então, pressiona-se o vereador Vitalino que em suas necessidades, admite aceitar dinheiro, traindo o lado que estava: o lado da Paula, segundo todos os comentários da cidade. Este, contudo, já estivera no time da não mudança. O Partido dos Trabalhadores que vinha, até então, atuando em prol das mudanças, fora arremessado para o oposto de sua proposta eleitoral. Uma escolha mais do que justificada, porém, profundamente aberta a ser combatida. Uma posição que exigirá muito esforço explicativo às pessoas que votaram em Antônio, vendo, no mesmo, um legítimo representante trabalhador do Partido dos Trabalhadores. Esta é mais uma nova contradição a ser somada ao rol de outras do Partido. O PT assegura, com o voto do vereador o retorno à Câmara das Viúvas do Manuilson, que ainda não digeriram a derrota. As razões políticas do vereador são legítimas, mas pouco se sustentam na perspectiva de uma política de longo prazo e dentro dos princípios petistas. Claro que, em linguagem popular, o vereador lavou a alma, mas abriu flancos complexos para o futuro político petista que, no momento, sequer há condições de se pensar.

O retorno das viúvas do Manuilson Com a eleição na Câmara, o time derrotado da conservação conseguiu atrair o petista que, zangado com os fatos ocorridos, viu-se vitorioso com essa possibilidade, reforçando a incompreensão política de um de seus antigos aliados Vitalino, que mais uma vez se fez comprado e fez vendido. Há, hoje, na Câmara, aquilo que mais foi combatido na campanha, com a ajuda do Partido dos Trabalhadores, o retorno dos que já tinham ido. Talvez, caberia ao PT assegurá-los a sua última par de terra em cova funda. Mas, nem tudo está perdido politicamente. A primeira lição do resultado da Câmara vai para o time da mudança e, em particular, para a Prefeita. Houve um erro no seu grupo de articulação, entregando ao “outro lado” novas possibilidades de continuarem fazendo política, pelo menos, por mais dois anos. Manuilson, portanto, ainda vive. Isto exigirá mais política e menos arrogância pessoal daqueles sequiosos de fazerem “mudanças” com suas únicas mãos, o Secretário de Finanças. Este não se cacifa como o melhor articulador político desse grupo. Ele conduziu o grupo a um problema


para a administração do novo. Será preciso determinação da Prefeita para a retomada dos diálogos ou negociações políticas com a sua própria base para mantê-la unida, mesmo com vereadores de sua base na outra chapa. Ao PT, sobrou o discurso de que não é da oposição, afirmado pelo vereador em seu pronunciamento de posse. Então, além de explicar-se externamente para os seus eleitores, terá problemas internos, na Câmara, quando a diretoria entender que deverá votar em bloco. Mais problemas para o futuro. Contudo, a situação contraditória é maior do ponto de vista ideológico: se na chapa 1, o PT apoiaria o presidente do Democratas, na chapa dois, reforça a política do PSDB, ambos os partidos de oposição ao Governo Dilma. Salva-se, todavia, o PT, considerando que nessa distância eleitoral, região rural do Estado, as questões ideológicas passam muito distantes das demais opções políticas. Mas, perdeu a oportunidade de mais para frente iniciar o exercício de sua política própria para esta cidade, mesmo que de forma tardia, alimentando um futuro de caminhos petistas de governar uma cidade, no interior de Alagoas, na Zona da Mata, na terra de índios, de quilombolas e de escravos negros.

O papel do vereador petista 60 O vereador Antônio terá pela frente um papel político de várias dimensões. A primeira dimensão é resolver ou esclarecer as suas últimas posições tomadas, considerando que a população continua apostando em mudança, e não havendo, ainda, maiores desgastes impostos à administração. O seu voto para a mesa diretora da Câmara gerou incompreensões. Mas, o importante também é que o mesmo encontra-se feliz e com disposição para isto. Estas são expressões em seu semblante, no dia da posse, observadas in loco. Haverá dificuldades, como já frisada, com o futuro dessa direção da Câmara, já que não se constitui como bloco político homogêneo. Mas, o vereador tem potencialidades e, com isto, é necessária uma maior organização de seu mandato. Poderá ter clareza de que o seu mandato, politicamente, será diferente dos demais vereadores, mesmo que seja este o seu primeiro. Com esta determinação, abrem-se duas dimensões: 1) na primeira, encontra-se o desejo de manutenção da autonomia petista e sua independência, diante das quinquilharias políticas que aparecerão e que ocuparão qualquer vereador a fazer

60

Estas sugestões se completam e se confundem com ações do Partido, mesmo não sendo a mesma coisa.


praticamente nada, em todo o tempo de seu mandato; 2) na segunda, o petista carecerá de manter duas frentes de atuação, a sua inserção, e agora, a do Partido, nos movimentos de reivindicação da cidade, com maior intensidade do que quando não era vereador. A outra é a busca pela interlocução com as instituições organizadas da sociedade civil leopoldinense, a exemplo de sindicatos, igrejas, associações... e outras, buscando informações, reivindicações, prestando esclarecimentos de sua postura política durante o seu mandato. Assim, é possível o delineamento claro de que o vereador Antônio estará realizando um mandato de forma diferenciada, mostrando o jeito de ser do Partido dos Trabalhadores.

Caminhos para o Partido O que cabe ao Partido dos Trabalhadores, nessa cidade? Neste momento, podese imaginar que há uma recomposição de força em seu interior e que precisará, imediatamente, ser equacionada. As forças políticas dirigentes em seu interior não lograram os votos esperados, sendo eleito um novo agrupamento que precisará contribuir mais diretamente com a vida partidária. A depender das datas internas, será preciso um novo realinhamento político, desistindo finalmente de qualquer direção que aponte para o não cumprimento das deliberações partidárias. O PT tem, finalmente, um líder na Câmara e na cidade. A tarefa acima acompanha a organização do Mandato Antônio Timóteo, firmando uma espécie de logo-marca dessa sua atuação na Câmara. O vereador eleito precisa de assessoria técnica e política para o seu melhor desempenho na Câmara. Não se pode deixar que o transformem em figura folclórica qualquer, como já tem acontecido com outros vereadores, tentando detonar essa nova experiência partidária. Antônio não é desses quaisquer: é um vereador do Partido dos Trabalhadores. Analise-se a possibilidade de que as atividades políticas petistas iniciem-se com um grande Encontro Municipal do Partido no município, quiça, se encabece um Encontro Regional Petista da Mata Norte do Estado. É o PT de Colônia abrindo suas asas para os municípios de toda a Região. Colônia e o PT podem e, entende-se que precisam ampliar a sua política para além do local, simplesmente. Imagina-se necessário que o Partido possa realizar avaliações bimestrais de sua atuação na Câmara. Manter-se avaliando a conjuntura a cada dois meses, como expressão orientadora das decisões do vereador.


Poderá ser necessária a comunicação com a sociedade leopoldinense em sua maior extensão possível. Para isto, é bom a criação de uma folha informativa do mandato de Antônio, acompanhando orientações da Câmara e ações do Partido. Antônio poderá encabeçar, juntamente com a direção petista futura, encontros com os suplentes de vereadores, discutindo questões de Câmara e do futuro político da cidade, visando ampliação do PT. Talvez, haja figuras que possam tornar-se quadros petistas. Poderá orientar-se por uma campanha de reanimação dos petistas existentes e trazer novas pessoas para o Partido. É tempo de crescimento político do PT. Pode-se pensar o convite à maior inserção da Luciana Luna e outros na vida petista. O Partido precisa preparar-se para mais e futuros aguerridos embates. Luciana é peça da política local. Esta continua sendo uma liderança importante e necessária à cidade. Será bom trazê-la para a vida política local, firmando mais a sua presença no estilo de vida do Partido. Analisar melhor a participação dos petistas para uma melhor organização do Movimento Colônia e Cidadania, como expressão de reflexões políticas sólidas para a cidade, mantendo a sua autonomia frente ao Partido. Manter a comunicação mais direta do Diretório de Colônia com os demais diretórios municipais do Partido e, sobretudo, maior inserção na vida política estadual e nacional. Talvez, com o crescimento do Partido, seria necessária a reedição dos cursos de formação política nos moldes daquilo que já se fez e se parou. As análises políticas, hoje, estão sendo dominadas pelos comentários da rede globo, tão somente. Nesses cursos, é necessária a presença de material originário petista e de material atual do Diretório Nacional, sobretudo, agora, que se prepara o 5º. Encontro do Partido dos Trabalhadores. Avante Partido!

Colônia Leopoldina, 3 de janeiro de 2013.


ANEXOS 14 CARTA DO MCC À PREFEITA61

Exma. Sra. Prefeita Paula Rocha

Sra. Prefeita:

Este Movimento Colônia e Cidadania (MCC) segue atento às políticas em desenvolvimento na nossa cidade, mantendo a sua disposição originária de contribuir para a conquista da cidadania das pessoas. Com esta perspectiva, queremos lembrar a nossa primeira carta enviada à Vossa Excelência, apresentando o nosso apoio ao Governo, no desejo de poder contribuir com propostas para as políticas da cidade. Estamos enviando esta segunda carta, após balanço de seus 100 (cem) dias de Governo que, após análise crítica, com aspectos positivos e negativos, reafirmamos a nossa disposição de apoio, na expectativa de que melhores dias virão para o município. Assim, a contribuição deste Movimento é apresentar sugestões para o seu Governo, que após a análise de V. Exma, possam ser ou não implementadas, seguindo o eixo central da vitória eleitoral, a mudança: 1. Criação de um Conselho Político de Governo, com pessoas que podem contribuir ao seu Governo, com a participação de diversos setores sociais, religiosos, partidos políticos da base sem ser vereador, gênero e idade...; 2. Reunião mensal com Secretários da Prefeitura, socializando a política, verificando metas e definindo novas políticas, informando-os das políticas gerais;

61

Esta é a segunda carta do Movimento Colônia e Cidadania entregue à Prefeita Paula, com sugestões à sua Gestão.


3. Reunião trimestral com a base de sustentação do Governo para que assuma a defesa do governo com mais e melhores informações qualificadas; 4. Reunião semestral com o Conselho Político para balanço do Governo e definições de novas prioridades; 5. Organização do Planejamento do Governo com definição de um Plano de Metas para os novos três meses; 6. Promoção do Orçamento Participativo; 7. Fomento ao funcionamento dos Conselhos e criação de outros que se façam necessários; 6. Prestação de contas de maneira didática para a população, praticando a transparência pública; 7. Divulgação para toda a população das medidas administrativas tomadas, utilizando os meios que existem na cidade: a) os carros de som explicando medidas tomadas; b) uma folha de papel impressa com a mesma finalidade e distribuída na cidade.

Reafirmando a nossa disposição nas lutas pela cidadania do povo, na cidade e no país, desejamos sucessos para os novos tempos que virão.

Atenciosamente,

Colônia Leopoldina, 21 de abril de 2013.

Maurício Pereira Membro da Coordenação

Thiago Sotero Membro da Coordenação


TEXTO 15 – Entrevista com Luciano e Maurício

Entrevista62 José Luciano Pereira da Silva e Maurício Pereira de Sousa63 1. Histórias de vidas. Maurício.

Maurício nasceu em Colônia Leopoldina, Alagoas, mas parte de sua vida passou na Califórnia brasileira, a cidade paulista de Ribeirão Preto. Na vinda para Colônia, participando de várias atividades políticas em embriões de Movimentos Sociais que aqui se iniciavam, ingressou, no Partido dos Trabalhadores (PT). Um filiado petista o convidou naquele momento. Ele não tinha qualquer vontade de se inserir na luta político-partidária e nem a conhecia. Mas, os petistas precisavam de um certo número mínimo de títulos de eleitores para a legalização do Partido e, assim, veio a assinar a ficha de filiação partidária. O pensamento era o de que, posteriormente, tiraria o nome da lista dos petistas. E aí ficou até 1988, sem participar de qualquer atividade. É quando surge a campanha de Lula. É aí que se inicia a sua atuação com pichações na cidade, devido à campanha e tomando gosto pela militância no PT. Mas, eis que ocorreu a doação de um pedaço de terra a algum agricultor, no Engenho Pé de Serra, precisamente nos anos de 1988, gerando, logo em seguida, uma ocupação no sítio Grota Dàgua, nas terras de Joaquim Monteiro. Foi uma ocupação que ocorreu de forma espontânea, envolvendo Maurício, doravante, nas questões da terra. 62

Entrevista realizada no dia 13 de maio de 2013, em Colônia Leopoldina, Alagoas, com a presença de vários participantes de Movimentos políticos, após uma reunião do Movimento Colônia e Cidadania (MCC).

63

Dois militantes e representantes de forças políticas populares, Maurício Pereira de Sousa e Luciano Pereira da Silva, ambos ex-presidentes do Partido dos Trabalhadores (PT), expõem suas vidas políticas e visões de Movimentos Sociais, da política local e nacional, desde o início da década de 1980 ao primeiro semestre de 2013, em Colônia Leopoldina, Alagoas.


Nisto, parece estar o germe da ocupação do INCRA64, em Maceió, e, logo depois, nas terras do Mandacaru, em Colônia Leopoldina. O objetivo da ocupação do Mandacaru, uma ocupação na cidade, era também avançar mais para as ocupações no campo. Este objetivo foi esquecido, posteriormente, ficando, tão somente, na ocupação deste lugar. Nesse momento, tem-se o Collor como Governador do Estado de Alagoas e seu Vice Moacir Andrade. Inicia-se um Movimento pela moradia em todo o Estado e o Sindicato Rural assume a luta de Grota dágua. Dessa maneira é que se pode afirmar que o Mandacaru foi a universidade que o Maurício não teve. Esta foi a sua escola política. Daí, foi um passo para mais participar do Movimento de ocupação de terra, tanto na área rural como em áreas urbanas, em todo o Estado. O objetivo dos Movimentos era criar ocupações e a primeira conquista seria denominada de Zumbi dos Palmares. Não foi bem o que ocorreu. Colocaram um outro na Comunidade conquistada, em Maceió, hoje denominada de Conjunto Rosane Color e Sônia Sampaio, nome das elites alagoanas. De qualquer maneira, foi assim que ele entrou no Movimento dos Sem Teto. Neste Movimento Social, ele permanece até hoje. Mas, na perspectiva da política partidária, pode-se destacar que participou de vários Partidos, considerados como de esquerda. Inicialmente no PT; por problemas internos, foi para o PSB65. Posteriormente, retorna ao PT. Com grupos petistas simpáticos ao PSOL66, viera contribuir para a sua fundação, retornando, ainda, ao Partido dos Trabalhadores, Partido em que está hoje. Segundo ele, tal qual o filho pródigo, que volta à casa, mas nem por isto deixa de manter-se no campo da crítica ao Partido e ao Governo da Presidenta da República - Dilma Roussef.

Luciano.

Nasceu em Angelim, cidade do Agreste de Pernambuco, chegando com seis anos de idade nas terras da cidade de Colônia Leopoldina. Veio como muitos que se retiravam de suas terras, por motivos econômicos, mas que sempre voltavam a visitar a família anualmente. Estabeleceu-se, finalmente, na cidade, no ano de 1986. 64 65

66

Instituto Nacional da Reforma Agrária. PSB - Partido Socialista Brasileiro. PSOL - Partido do Socialismo e Liberdade.


Começou a estudar aos 9 anos. Aos 13 anos, chegou a participar da conquista de um pedaço de terra no Movimento do, então, Mandacaru. Ficou com sua família estabelecida alí, participando da conquista daquela terra, em que todos adquiriram seu teto para morar. Neste Movimento, contudo, é que começa a sua história de vida política, a sua participação em um Movimento Social. Aos 16 anos, era delegado do Movimento Nacional dos Sem Teto. Representou o seu local e o seu local era Mandacaru. Neste momento, no Movimento do Mandacaru, além de uma Associação67 já existente, criou-se uma segunda, permanecendo até o momento. Ele se definiu por um desses grupos. Foi, então, que surge a oportunidade de participar de um curso de formação política, patrocinado pela CPT68, em Colônia. Ele trabalhou como servente e foi como servente que o seu chefe liberou-o para tal curso, durante dois dias, sem descontos em seu pagamento de final de semana. Este é o primeiro curso de formação política de sua vida, já com 19 anos. E foi na CPT e com a CPT que surgiu o Movimento de Educação Popular, em Colônia, que viera a constituirse em política de Estado e geradora de outros Movimentos que apareceram na cidade. A partir deste curso, Luciano fica na atuação educativo-popular da CPT, largando o serviço de servente de pedreiro e dando aula para crianças, na comunidade de Vila Nova (antigo lixão). Em seguida, atuou na Coordenação da Educação Popular na região, participando em Colônia, Ibateguara e Campestre, sob a coordenação da Associação da Educação Católica de Alagoas (AEC). O seu trabalho era mobilizar pessoas, contribuindo para ocupação nessa região. A primeira delas foi na Fazenda Onça, município do Novo Lino, tendo sido uma novidade no lugar e gerando, também, reações conservadoras, com seus fantasmas pistoleiros pelas fazendas da região. Saindo da Educação Popular da AEC, passou a atuar junto aos Sem Terra, durante 2 anos no MT, que é o MTL69. Mesmo de forma ainda incipiente, o Movimento político de construções de políticas populares em Colônia foi se consolidando. Esta foi uma preocupação conjunta no pensamento da Igreja Católica e no Partido dos Trabalhadores. Um Movimento que busca superação do analfabetismo. É algo político que as Associações transformaram em intervenções sociais, contribuindo com esse 67

AMM – Associação dos Moradores de Mandacaru e ADECOMA – Associação de Desenvolvimento Comunitário do Mandacaru. 68 69

CPT - Comissão Pastoral da Terra, vinculada à Igreja Católica. MT – Movimento dos Trabalhadores e MTL (Movimento de Trabalhadores por Liberdade).


legado desde a criação da primeira escola de educação de jovens e adultos, iniciada pela Igreja Católica, tendo sido assumida como uma política de Estado, estando Colônia neste trecho. É importante destacar, nas tentativas de formulações de políticas populares, aqui na região, o Movimento Estudantil. Um Movimento que esteve por fora das elites dominantes da cidade, trazendo sempre preocupações às mesmas. Luciano esteve no final de um ciclo do Movimento Estudantil em que houve o apoio do Padre Aldo Giazzon, sacerdote italiano, que passou pouco mais de uma década como vigário na cidade. Pode participar, ainda, de fortes mobilizações e com enfrentamentos com os grupos políticos dominantes locais que não queriam uma escola progressista. Foi a posse do estudante Genésio, estudante combativo que, contraditoriamente, começou a se esvaziar o Movimento dos Estudantes. Foram perseguidos não somente os próprios estudantes como, também, os seus familiares que trabalhavam na Prefeitura, com as ameaças de demissão dos mesmos. Dizia-se à época que o Governo Municipal, pressionava os familiares dos estudantes que trabalhavam na Prefeitura, ameaçando-os de demissão do trabalho. Contudo, o Movimento retoma alguns anos depois, mas com muito pouco êxito. Tudo isto como produto da mobilização pela Educação Popular, juntamente com o Movimento Estudantil que qualquer um pôde, à época, acompanhar. Algo importante de registro, num período com forte perseguição aos Movimentos locais, vem por meio do poder público, buscando abafar tais Movimentos, em especial o do Mandacaru. Não só em nível de perseguição direta a alguns, mas sobretudo, propalando o preconceito de que todo tipo de maldade que ocorria na cidade, o ponto de partida, a origem, era sempre em Mandacaru. Ser do Mandacaru virou sinônimo de discriminação e de preconceito. Como não tinham conseguido acabar com o Movimento no campo jurídico, passaram a promover o preconceito para com seus moradores. Isto pode ser vivido na Escola Aristeu, uma escola pública, mas que havia discriminação para com os alunos que moravam na região do Mandacaru, a exemplo de si mesmo, assim como do Dinho e do Silvânio que foram estudantes nesse momento. Todos puderam sentir na pele tais preconceitos, mesmo hoje, com a vitória do Mandacaru, que já tem 22 anos de existência. A partir do ano de 1999, Luciano chegou ao Partido dos Trabalhadores, mesmo que já fizesse parte das suas campanhas políticas. Este caminho foi uma construção mais longa, pois já estava na Educação Popular, na AEC, e já tinha simpatia pelo


Partido. Houve, finalmente, a sua filiação, retomando-se o trabalho social de combate à miséria com forte apoio do Pe. Aldo. Este mesmo com suas contradições na condução política desses Movimentos, contribuiu com a administração da Associação de pequenos produtores locais, denominada de ATRAPO70. Também foi marcante a sua contribuição na organização do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, em toda a Região da Zona da Mata Norte de Alagoas; ainda é destaque no seu trabalho, o de cuidar de crianças desvalidas da região. Essa Associação, com o retorno à Itália desse sacerdote, passou a ter problemas administrativos com o seu próprio pessoal, como o Florisval, o São e o Irapuan, que fizeram parte de suas diretorias. Também esteve neste momento pessoas como Beth Moreira e Ivanilda, que ficaram na linha de frente do trabalho. O Luciano também esteve participando desse agrupamento, mas sem importância central na Diretoria da Associação, promovendo o trabalho com jovens alcoólatras, além do trabalho com as crianças. Um trabalho social em que o Padre não pode deixar de ser lembrado. Foram ações políticas e que, contraditoriamente, o Governo local chegou a apoiar, pois eles mesmos nunca se dispuseram a enfrentar este tipo de trabalho social. Ainda nessa época surgiram na zona rural várias associações que foram criadas, único e exclusivamente, para adquirirem crédito rural. Aparece a ACOPAL71 que chegou a ter mais de trezentos sócios/filiados. Essa entidade chegou a falir, não dando continuidade em seu trabalho e arrastando consigo a maioria de seus sócios que quebraram, também. Este é um registro importante para os caminhos da agricultura local. A Associação fazia os Projetos para os agricultores, sumindo depois de Colônia. Se algum agricultor, com problemas no Banco, problemas de débito, fosse consultado, ele afirmaria que fez parte da Associação do Sr. Dedito que a comandava. A maior parte desse Projetos com débito no Banco se deu por aquela entidade que desapareceu da cidade. Isto se constitui como um grande sofrimento às pessoas, mas, de certa forma, expressa um Movimento de pequenos produtores e trabalhadores, que participaram de criação de associações como a Alvorada, tendo como presidente Adelmo Lins 72, com políticas muito pontuais, sem continuidade alguma, e que fizeram muito mal a essa 70

ATRAPPO - Associação de Trabalhadores e de Pequenos Produtores Rurais dos municípios próximos da Bacia Hidrográfica do Rio Jacuípe: Colônia Leopoldina, Jacuípe, Jundiá e Novo Lino (em Alagoas), Xexéu e Maraial (em Pernambuco). Foi fundada em 15 de março de 1988, em Colônia Leopoldina. 71 72

ACOPAL – Associação de Produtores Rurais e Pecuária. Ex - Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Colônia Leopoldina.


gente. São políticas de setores não dominantes que expressam desejos de acertos por parte daqueles que almejavam certa autonomia em seu modo de viver. Hoje, pode-se dizer que se vive em um novo momento desses Movimentos e em outro tempo, também. Há um novo Governo de mudanças na cidade, havendo uma prefeita do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Luciano espera que esse momento novo que a cidade está vivendo possa contribuir para não se ver nunca políticas que não ajudem aos setores trabalhadores. Este é um legado em que também Luciano participou, sempre com destaque para a Educação de Jovens e Adultos. Aguarda-se, assim, que outras políticas possam se transformar em políticas públicas e até como políticas de Estado. O programa de Educação de Jovens e Adultos é produto das políticas não dominantes e que alcançaram dimensões gerais de políticas públicas, e não apenas de pequenos grupos.

2. Visões a respeito dos Governos Dilma e Vilela73.

Luciano.

Para ele, esta é uma tarefa difícil. A presidenta Dilma é um instrumento, um Projeto que o PT acumulou durante toda a sua trajetória de vida. Dilma é produto desse Projeto. Vem executando aquilo que o Partido traçou durante a Gestão de Lula, a partir do seu planejamento. Mas, também, difere de Lula, pois este é popular, abraça todo mundo enquanto Dilma quer resultados imediatos. Ela aperta naquilo que Lula afrouxava. Ela é Projeto do PT e é a continuação desse Projeto. E é claro que um país como este precisa apresentar resultados. Para isto, tem aperto na economia. Mas, lá em baixo, nos municípios, ela promove a organização desses municípios em todo o país. Ela quer a organização dos municípios. O Governo Dilma dá condições técnicas e financeiras para se fazer planejamento. Podem ser citados exemplos vários como o do Saneamento Básico, o Plano Diretor. Qualquer um pode ir ao Ministério da Cidade. Qualquer município pode enviar Projetos com fortes

73

Teo Vilela, Governador do Estado de Alagoas. É filho do ex-senador por Alagoas, Teotônio Vilela, usineiro e figura importante na luta pelas Diretas, Já!


possibilidades de contratação de pessoal. Eles estão fazendo coisas, lá em Brasília, que fazem o Governo acontecer. Por outro lado, o Governo Vilela vive de mídia. As verbas da comunicação são quase as mesmas para a educação. É um Governo só de mídia. Um Governo do faz de conta. O Teo tem feito muitas coisas mas, tudo, através do Governo Federal. O suporte dado é para que o Estado de Alagoas saia da situação de miséria, indo para um aceitável desenvolvimento. Em seu Governo, a classe trabalhadora está ferrada e as elites permanecem muito bem. Ele é um Governo de muita conversa e poucas realizações. Um Governo que o próprio PT reclama dos tantos recursos que já lhes foram repassados, gerando certo ciúme partidário, considerando que o mesmo é do PSDB, o Partido responsável pela maior crítica ao Governo da Dilma. Mas isso, por conta do combate à pobreza que é uma luta que vem sendo travada pelo Governo, independentemente do Estado ou Partido dominante, naquele Estado. E uma das mais importantes obras do Governo Federal, com todos os problemas que poderão causar ao meio ambiente no futuro, é o Canal do Sertão, que trará mais água para o povo daquela região e outros.

Maurício. Falar de Dilma é falar da origem do PT, nos anos de 1980, das mudanças que houve no Partido. É preciso entender a política do Lula e do Chaves, pois são muito parecidas, mas diferentes, além de comparar Lula, Chaves e Dilma. Lula quando foi eleito defendia o socialismo. É um líder que veio do ABC paulista e surgiu a partir das necessidades de fundação de um Partido para levar os desejos dos trabalhadores avante. Portanto, as propostas dos três são as mesmas. Maurício não tem dúvida de que o PT vai governar o país por mais de 20 anos. Qual é a oposição? Os tucanos? Eles até que criaram mecanismos de política econômica, mas, hoje, estão fora dessa disputa geral. O Partido dos Trabalhadores, é bom que se diga, aprofundou muitas de suas políticas como a das cotas. Não há candidato para bater chapa com o PT. Mesmo assim, Maurício apresenta críticas quanto à frouxidão de Lula em relação a montar o sua plataforma de Governo após a eleição. Lula aproveitou um Meireles (que sempre foi tucano), no Banco Central, e outros parecidos. Isto nunca foi uma atitude petista. O Governo do Lula, todavia, tem importantes avanços como na educação. Ele afirmou que o filho do pedreiro e o engraxate iriam à universidade. Isto aconteceu com as cotas. Mesmo assim, as cotas são políticas emergenciais e não devem permanecer por toda a vida, não pensando na


qualidade da educação para todo mundo. As notas ruins que se tiram no vestibular pelos alunos das escolas públicas são por conta de que os professores daquelas disciplinas não sabem ou não estão ensinando nada. E assim como as cotas, seguem a mesma política, como as bolsas famílias e outros programas sociais. É preciso se ensinar a pescar, e não garantir o peixe, mesmo que nenhum brasileiro deva passar fome. Até mesmo a Bíblia lembra que cada um vai viver com o suor de seu rosto. Então, todos precisam ter oportunidades. Para ele, o Governo Dilma teve seus avanços, mas não a considera tanto petista. Dilma veio do PDT (Partido Democrático Trabalhista, do Brizola). O Lula, entretanto, achou que ela era a melhor para o Brasil, naquele momento. Assim é que o Governo Lula, mesmo com tal frouxidão, teve seus avanços. Por exemplo, a reforma agrária dos sonhos não é esta que se tem. Mas, há saúde mesmo precariamente. Na segurança, é preciso pensar mais para mudar isto. Com tudo isto, o Governo petista é diferente dos tucanos. Falo da visão política da Social Democracia e do Socialismo. O atual PT é muito social democrata. Isto não é bom. Mas, é claro também que houve mudanças com a Presidenta Dilma. O sonho, todavia, continua muito longe. Repete, ainda, que o PT, sem sombra de dúvida, governará ainda o País por 20 anos. E tem mais: haverá mais mudanças e elas não caem do céu. Tudo isto é produto das lutas da organização dos trabalhadores. Não se pode negar que o Brasil cresceu com Lula e com Dilma. Eles estão aí. Os tucanos são um atraso, por outro lado. Eles venderam tudo que o país tinha e ninguém sabe onde está o dinheiro. O que foi construído com o suor da classe trabalhadora, eles venderam tudo, sucateando-se tudo de valor: assim é o PSDB, o Partido da Social Democracia Brasileira. Já o Governo Vilela é tudo que há de atraso em Alagoas. Vilela é filho de usineiro. Seu pai, no final da vida, tornou-se progressista. O pai dele lutou com Ulissses, com Lula, com o jogador Sócrates pelas “Diretas, Já!” Mas o filho dele, o Téo Vilela, é o atraso do Estado. É populista e só faz propaganda. Diz toda hora que está fazendo, mas nada existe. É um Governo mentiroso, populista, defensor do latifúndio e dos usineiros, simplesmente. É o atraso do Estado. Quem sabe se não é também grileiro de terra? Esses fazendeiros em Alagoas têm terra demais, mas ninguém sabe como conseguiram essas terras. Até aqui, em Colônia, dizem que Nossa Senhora do Carmo tem toda a terra da região. Mas ninguém sabe. Os fazendeiros daqui são os mesmos do grupo de Collor, de Renan Calheiros e do Teo Vilela. Isto faz o Estado de Alagoas o


mais reacionário do país. É pequeno, mas cheio de coronéis e, em Colônia, eles também imperam. São a mesma corja. Eles não mudam.

3. Mudanças em Colônia Leopoldina.

Maurício.

Este tema tem várias compreensões. O que pode ser mudança para mim, não é para outro. Pode-se falar, então, da plataforma do Governo, do grupo e do povo que queria mudança. O Governo de Colônia não mudou nada. Mudança no sentido de alterar os nossos pensamentos na atuação política. A pessoa pode ter participado da campanha e a mudança dela é ter um carro "agregado" à Prefeitura. Em outras palavras, empregar o carro, para essa pessoa, pode ter havido mudança. Mas, se mudar é ter remédio, ter educação para os filhos da cidade, então, não está havendo mudança. Muitos entendem que mudança era aquilo do emprego do carro. Mudança não é oportunismo político. Mas, a busca continua para se ter mudanças em Colônia, no sentido de fazê-la diferente. Todos passaram 12 anos só com uma administração e a sociedade anestesiada diante daquilo. Acontecia uma letargia que ninguém falava nada. Apenas o Movimento Colônia e Cidadania falava e com muito cuidado. O Prefeito passava o mês inteiro em Maceió e chegava aqui pagando cachaça para todo mundo. Estavam lá todas as sujeiras jogadas na rua, aqui no pé do morro do Mandacaru. Lixo por todos os lados e nada de calçamento, e muito menos as conversas de pavimentação da cidade. É a casa de cima que tira a terra e joga na de baixo e a de baixo cuida para não arrear a de cima. É uma complicação. Tudo é culpa do Governo passado. A cidade não cuida de seu Código de Postura e muito menos havia qualquer fiscalização. A posteação é feita de forma aleatória e sem água canalizada. Colônia era uma terra sem lei. Em cada palmo da cidade tem um quebra-molas de carros, no sentido mesmo de quebrar mola. O que seria a mudança? Mudança é algo que passa pela participação popular, mesmo que ainda não seja muito clara. Pode-se pensar numa Gestão que seja popular e democrática. Pode-se pensar num planejamento participativo, num orçamento em que as pessoas decidem onde aplicar aquela parte do dinheiro público. Isto seria importante e necessário para a mudança e para a conquista da cidadania, conforme a visão do próprio


Movimento Colônia e Cidadania. O povo precisa saber o quanto de dinheiro entrou para a saúde, para a educação, para a agricultura, a questão ambiental, etc. A mudança só pode haver se existir o diálogo com a população, com os diversos segmentos da sociedade. Isto é importante. Como já foi proposto pelo MCC, é importante a proposta política, como a da construção de um Conselho Político que seria o diálogo da população com o Governo Local. Isto é mudança. Isto vai acontecer? Há dúvidas quanto a isso. Conduzir uma Gestão dessa maneira, isso seria mudança. Um exemplo maior é o da educação. Ela só muda por meio do diálogo, com parceira com os pais de alunos, os estudantes e os professores/as. Como isto não está acontecendo, então, os problemas vão continuar. A mudança é respeito aos humanos. Aliás, durante a campanha, o mote da oposição foi: "prefeito respeite o povo", dizia Paula. Estas foram as promessas. Ela não se cansou de dizer isto. Na sua Gestão, prometeu que o vice seria ativo e hoje não tem nada disso. O vice seria um ajudante na administração. Mas, cadê o vice? Está ajudando ou somente plantando cana. Um exemplo nessa direção foi a vice Heloisa Helena, em Maceió, à época no PT, que recebia os Movimentos Sociais, discutia propostas e encaminhava as reivindicações para o Ronaldo Lessa, Prefeito de Maceió, de então. Quanto aqui, em Colônia, o atual Vice-Prefeito está um zero à esquerda, na Gestão.

Luciano.

Na ótica do Partido da Prefeita, o PTB, houve mudança pois, derrubou um Governo de 12 anos na cidade - o Governo dos ex-prefeitos Manuilson e seu seguidor Cássio. Por isso, a sociedade entende que houve mudanças. O Governo de Paula é um Governo de mudança que daqui para frente precisa organizar as suas metas de governar. O cumprimento das promessas é outra coisa. Para eles, houve mudança a partir, inclusive, da mudança da equipe. Agora, toda ela é daqui do município. Trouxe os filhos da terra. Os cargos da administração são filhos da terra. Isto apresenta sentido de mudança. Mudança é processo contínuo e não apenas de curto e médio prazos. Não se faz mudança de comportamento, apenas, em uma Gestão. O Governo da Paula pode fazer mudanças com esse sentido colocado, isto é, na visão que eles defendem. A sua plataforma de mudança é algo diferente. Observe-se que o próprio PT também mudou os seus objetivos quando se abriu às coligações, com uma clara estratégica de mudança.


Aqui em Colônia, o Partido mudou seus objetivos e estratégias, fazendo alianças que possibilitaram eleger um vereador. Mudou para ver a sua estratégia funcionar. Então, nesse Governo atual, podem-se ver mudanças. A sociedade vê isto. Não se tem a mesmice do antigo Governo. O Governo está interessante mas, não apresenta mudança de comportamento. O algo novo é ter um Fabiano Amâncio fora do Governo, um Waulísio e mesmo um Prefeito fantasma, o boneco do Manuilson, que foi o ex-prefeito Cássio. Isto é mudança e o povo desejou fazer essa mudança. O povo vê mudança nesse sentido. O Governo atual não tem muito o que mostrar em termos de mudanças mais profundas. Talvez, seria bom que mudanças houvessem no sentido petista de governar, no sentido mais radical conceitualmente, buscando a mudança na raiz da sociedade. Para isto acontecer, será preciso muito trabalho, ainda. É bom lembrar que pouca gente viu o Projeto desse Governo. Não se via no Projeto nem mesmo um desejo de mudança, nesses termos anteriores, mas havia sentimento respeitoso em que o povo desejava mudança. Reafirma-se que o atual Governo tem tudo para fazer as mudanças. Tem capital humano, capital financeiro, pois não faltam verbas vindas do Governo Federal, contribuindo para se fazer mudança. Mudanças pensadas, sim, de ordem estrutural, mas não ainda, de ordem política. É difícil enxergarem-se mudanças a médio prazo. Haverão mudanças contingenciadas, com trocas de pessoas. Não se pode esquecer que a origem desse grupo que governa agora é o grupo do lado, particularmente, da entranha do Zé Maria Quirino, usineiro e tio do Manuilson, ex-prefeito que Governou a cidade por 12 anos. Na questão estrutural, há chances de se fazer mudanças. E se pode fazer maiores mudanças. O grupo do atraso não estava adormecido. A diferença da vitória foi de 128 (cento e vinte e oito) votos. Um povo que estava ligado pela questão financeira e com seus próprios negócios com a Prefeitura. O povo queria mesmo era mudar os cabos eleitorais. Mas, só uma pressão maior pode avançar e aprofundar o sentido de mudar. Algum partido pode contribuir com isto e, no caso do PT, que mudou sua estratégia, vem no sentido de implantação dessa estratégia política. Agora, já conseguiu eleger o seu primeiro vereador, com 30 anos de existência, na história política da cidade. A mudança política, no sentido de mudança de postura política ainda não se conseguirá nem agora e nem num futuro próximo. A questão que se coloca de mudar é a mudança do ser humano. Nem mesmo um PT de origem faria isto, na atual conjuntura


da cidade. Todavia, o campo está aberto para mudanças estruturantes. Mudança de postura política, nesse atual Governo, não haverá.

4. Políticas populares marcantes na trajetória de suas vidas e em Colônia Leopoldina.

Maurício.

A partir da luta do Mandacaru e da Grota Dágua, foi possível ocuparem-se vários outros lugares em Maceió e na Zona Rural da Mata, em Alagoas. Claro que houve repressão política, cachorros na rua e enfrentamento com a polícia. Mas aqui, a mais marcante foi a ocupação do Mandacaru, o Movimento Social, que ainda hoje, mais se respeita. Essa ocupação parou Colônia. Quem nasceu naquela época já está com 22 anos de idade. "Os meus filhos nasceram lá, em barraco de lona e em casa de taipa". Foi um acontecimento que teve mais repercussão. Naquela época, houve uma caminhada até Maceió. "Você, Zé de Melo, fincou aqui o PT, juntamente com outros . Você plantou esse germe". Mas houve contradições, como o apoio da Igreja Católica, que ora é boa e, em outros momentos, nem tanto. É como parente e polícia. Na confusão, se pede polícia, mas estando ela perto, incomoda.

Luciano. O mais marcante Movimento foi o da Educação popular, aqui no Município. Mandacaru foi importante, mas a sua participação foi pouca, considerando ser ainda criança. A Educação Popular contribuiu com a alfabetização das pessoas, de vários pais de família e em sua formação. Muitos deles choravam quando recebiam seus diplomas, trocando suas carteiras de identidade. Além deste, também houve o Movimento da Reforma Agrária. Aí, atuou durante 2 anos e saindo para poder estudar.

5. Forças políticas que se podem contar para mudanças, em Colônia Leopoldina.


Maurício.

No município, há o PTB, a família Lamenha e a Usina Porto Alegre que é uma composição política local vitoriosa. Mas, não se pode esquecer que facilmente pode haver divisão entre eles, alguns rachas internos. Essas forças que estão juntas hoje, amanhã podem não estar. Hoje, o Governo de Paula está com o PT, família Lamenha, Usina Porto Alegre e a depender da condução da Gestão, a composição pode dividir-se. A Usina Taquara e o PSB têm o Vice-Prefeito, cujo Presidente é o usineiro e o tio do Manuilson. Ninguém sabe o que vai acontecer. O Governo, hoje, pode não ser Governo amanhã, sem contar com parte das siglas que pensa, apenas, em se darem bem. Parte das siglas políticas pensa só para si. A política do país e a local são assim. A Presidenta Dilma, para manter a governabilidade, tem de fazer acordos. Se são acordos esdrúxulos ou não, não se está na análise do mérito. Também, a governabilidade local é na base do acordo. Existem os poderes e nem um nem outro deve querer interferir no outro. Eles precisam estar em harmonia. A interferência sempre gera problemas.

Luciano.

Destaca-se, ainda, na discussão de mudanças, que só o PT, em Colônia, colocase como uma agremiação política e ideológica. Só o PT tem esse trabalho ideológico. Os demais Partidos esquecem seus programas e se tornam simplesmente personalistas. As siglas partidárias não dizem muito. O PSB, o PTB não têm figuras históricas na cidade. Contudo, apresentam forças, nesse bloco citado, que podem ajudar. O PT é um deles que poderá canalizar essa dinâmica de mudanças. Outro agrupamento, contraditoriamente, é o pessoal que é ligado aos Democratas (DEM), em especial a família Luna. Eles são ligados à Destilaria e ao Governo do Estado, podendo trazer algum dinheiro para cidade. Agora, como parceiro para o PT, em médio e longo prazo, não se pode ver relações com o Dem. Já quanto à família Luna, isto é possível. O PSB não ajuda à mudança, mas a família Lamenha pode contribuir nessa direção - uma mudança estruturante. Assim, podem ser aliados no futuro. Então, têm-se o PT, o PTB (do senador Collor e da Prefeita) e o Dem, pela família Luna, que tem a mão no Governo do Estado.


5. Sonhos de mudanças.

Luciano.

A mudança de seus sonhos é a do sonho petista de governar. A mudança seria orçamento participativo, a implementação de ações e ferramentas com a transparência dos recursos públicos para a sociedade. Mudança é a forma petista de governar: o como será a aplicação das verbas públicas e muita discussão com o povo. Isto promoveria mudanças políticas e mudanças de mentalidade política na região, com o exercício da participação popular. A contribuição do Governo, na viabilidade de políticas que ajudem à criação e ao fortalecimento das organizações populares. Haveria o fortalecimento das entidades da região, a criação de associações que funcionem e a preparação de quadros para suas direções. Esses seriam os sonhos petistas, sedimentando popularmente a política.

Maurício.

Para Maurício, não só os sonhos petistas, pois estas são utopias. O PT, administrando Colônia, é uma utopia. O sonho é o de uma sociedade fraterna, igualitária e plural. Para isto acontecer, é preciso intercâmbio, diálogo, parceria e entendimento da administração com a sociedade, a sociedade civil organizada, como as associações e o Governo. Careceria de uma administração em que a sociedade muito orienta e define a política pela participação; pela participação desde a campanha política, pela definição da Plataforma de Governo, definindo modelos de Gestão em todos os setores da administração pública. Um secretário deveria ter competência, sim, mas ser um elo vivo com a sociedade. Seria assim, mas isto só vem com a mobilização dessa mesma sociedade. Um Governo com o exercício da crítica. Uma comunidade que siga as ações de vereadores, através de agremiações e associações. Estas só funcionarão se tiverem origem no povo e, jamais, de cima para baixo.

6. E mais uma outra questão.


Maurício.

A mudança vem a partir do momento em que o Governo discute com a sociedade, existindo um elo com a sociedade e Governo. O Executivo precisa discutir com o Legislativo e o Judiciário. Todos esses poderes precisam ser criticados. Há reivindicações que podem passar pelos Vereadores, pelo Prefeito ou pelo Ministério Público. Enfim, judiciário, legislativo e executivo com certa dinâmica conjunta e em harmonia. "... assim é que vejo o Governo de meus sonhos". Um Governo do Partido dos Trabalhadores, em Colônia, é uma utopia. Mas, as mudanças não caíram do céu. São produtos de muita organização das pessoas. As mudanças vêm se a sociedade buscar. Muita gente foi morta, outros exilados... isto em todo o mundo, em busca de mudanças, transformações, liberdade e justiça. É uma educação da sociedade, entendendo que a mudança só se dá a partir desse Movimento geral - Governo e sociedade. Um exemplo é o planejamento participativo. "Meus agradecimentos aos presentes à entrevista".

Luciano.

Um tópico que gostaria de abordar são os elementos que vêm acontecendo nestes últimos doze anos. O elemento de participação e a ausência política dos agrupamentos políticos, com exceção do PT. Essa participação política só existia de vez em quando, ou só em tempos de campanhas eleitorais. Hoje, parece diferente. Há participação na vida política simples do dia-a-dia. É um elemento novo em Colônia. As pessoas começam a participar da vida do seu lugar. As principais lideranças de Colônia estão mais presentes na cidade. Isto muda a forma de se estar na política. Isto exige do PT, por exemplo, a necessidade de se pensar mais profundamente a política local e, também, a política das Associações. Isto poderá mudar essas projeções políticas da cidade. "Agradeço ao Zé de Melo e aos colegas que estão, aqui, escutando. À Jacqueline, que organiza as mulheres; ao Thiago Sotero, que exerce cargo na Previdência Municipal e que é também do PT e coordenador do MCC; ao Prof. Bonifácio Neto, que coordena um setor da Saúde e é do PT; e ao amigo Prof. Sílvio César, membro do Movimento Colônia e cidadania - MCC, assim como eu e os demais; ao Maurício, Coordenador do MCC que dividiu esta entrevista comigo.


Colônia Leopoldina, 13 de maio de 2013. Entrevistador: José Francisco de Melo Neto (Zé de Melo). Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba.


ENTREVISTA COM ANTÔNIO TIMÓTEO74

(1º. Vereador do Partido dos Trabalhadores)

História de vida.

Nasceu em União dos Palmares, município da Zona da Mata de Alagoas, em 1964, aonde viveu com os pais até 1980. A partir desse ano, foi trabalhar na Usina Cansanção de Sinimbu, exercendo a função de Cabo Rural, passando um bom tempo nesse trabalho, atuando no campo da usina. Depois, conseguindo uma vaga de empregado em outro engenho, ainda permaneceu nessa atividade por mais três anos. Quando foi dispensado, passou a morar no atual município de Teotônio Vilela, participando das lutas políticas pela transformação do antigo distrito de Feira Nova no atual município com esse nome. Era o Movimento pela Municipalização, estando aí suas primeiras participações políticas e aí permanecendo até o ano de 1996. Lá atuava como camelô e carroça de burro, além de trabalhar como agricultor. Também trabalhou na Usina Guaxuma. De Teotônio Vilela foi morar na cidade do Cabo de Santo de Agostinho, por 8 meses. Aí, trabalhou como camelô, na feira local. Daí segue para morar em Agrestina, trabalhando no comércio no ramo de transporte alternativo, onde esteve presente nas lutas pela liberdade do transporte coletivo e na luta pela reforma agrária. Aí, conseguiuse assentar várias famílias no povoado de Santa Tereza, junto com o companheiro Zé Guegé, em Agrestina. Assim, também contribuiu para assentamentos em São Joaquim do Monte, na Fazenda Brejinho. Esse movimento dos coletivos era decorrente das dificuldades que a Prefeitura de Caruaru estava impondo para o exercício dessa atividade. Foi necessária uma interdição na rodovia por onde se chega a Caruaru, quando o Prefeito definiu a passagem de ônibus de 4 reais para 1 real, impedindo assim o funcionamento dos carros alternativos. Com a participação desse movimento e o seu carro na interdição da estrada, teve de vender inclusive uma casa para pagar as multas que foram colocadas pela Polícia Rodoviária, por conta dessa interdição. Mas, chegou-se a uma negociação 74

Antônio Timóteo – Primeiro vereador eleito pelo Partido dos Trabalhadores, em Colônia Leopoldina, nas eleições de 2012, iniciando o seu mandato em janeiro de 2013, como 1º. Secretário da Câmara. Fez campanha pelas mudanças na cidade, participando da vitoriosa eleição da Prefeita Paula Rocha.


com a mudança do Prefeito. E, hoje, tem-se um terminal em Caruaru para os 18 municípios da região. Isto só foi possível por intermédio de muita luta. Saindo de Agrestina, veio morar em Colônia, onde já trabalhava nas terras da Usina Taquara. Politicamente, pôde participar da primeira campanha da candidata Luciana Luna, em 2008. Hoje, trabalha com a agricultura familiar, participando das mobilizações desse ramo de atividade, bem como do Movimento Colônia e Cidadania – MCC. Um Movimento para que todos tenham condições de exercer sua cidadania. Nesse Movimento, passa a participar da luta por melhoria da vida dos leopoldinenses – pela qualidade da água, pela melhoria da saúde, pela criação de associações de moradores, movimento pela melhoria da energia elétrica, movimentos que ainda mantêm as suas lutas. Ainda atua no movimento pela agricultura familiar, procurando dar apoio pela Via do Trabalho. Este Movimento procura terras para a realização da Reforma Agrária. A partir de 2013, já filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 2011, começa a exercer o mandato de vereador, como 1º. Secretário da Câmara de Vereadores, após a vitoriosa campanha da mudança na política da cidade, contra a permanência de um grupo que já vinha governando por 12 anos ininterruptos. Portanto, faz parte de um Grupo Político que procura melhores condições de vida para os leopoldinenses e na luta por melhor saúde, educação e pelo combate à corrupção. Continua inserido em todos os Movimentos Sociais que já vinha participando.

Visões a respeito dos Governos Dilma e Vilela.

Na sua avaliação, o governo Dilma, do seu Partido, tem se empenhado para realizar as melhores coisas para o País. Mas, existem muitos problemas. O problema da saúde é grave, mas o governo tenta equacionar. A mobilização que está ocorrendo nesses tempos é boa advertência para toda a política e para a administração pública. A educação precisa mais investimento. Precisa-se também que os gestores públicos trabalhem com os seus corações mais voltados para a sociedade. O dinheiro público é da nação. O dinheiro da nação precisa ser corrigido e fiscalizado. O maior problema a ser enfrentado é o da corrupção. Todos os políticos precisam realizar o seu trabalho de político com honestidade. Essa mobilização popular que está ocorrendo no Brasil inteiro é para acordar os políticos brasileiros. É preciso uma maior fiscalização das verbas


federais aplicadas nos municípios. O pessoal que vem fazer fiscalização precisa fazer sem qualquer corrupção. Sem isto, é difícil a realização de uma gestão melhor. O governo Vilela, do Téo Vilela, do PSDB, estes sempre foram fortes em Alagoas. Mas, esse Governo atual tem problemas com a segurança pública, a saúde, a educação que é uma das mais fracas do país. O concurso que houve para segurança faz muito tempo. A aposentadoria do pessoal é por obesidade, por idade e não ocorre reposição desses quadros policiais. Esses problemas, por sua vez, abrem possibilidade de novas lideranças como a que já está se falando que é João Pereira, Deputado Estadual. Fala-se bastante da possibilidade de se ter uma aliança com o filho do Renan Calheiros. Mas, isso tudo significa novas lideranças com os mesmos pensamentos dos velhos políticos.

Visão a respeito do Governo Paula.

Até cinco meses atrás, eu não via mudança alguma. Mas agora, a Prefeita tem mostrado aos vereadores os projetos para a cidade e os empecilhos que precisam ser superados para que as coisas passem a acontecer. Ela tem mostrado também como está enfrentando esses impedimentos. Assim, é que haverá reformas da praça em frente ao antigo Fórum e mostrou até as dificuldades para se gastar o dinheiro da saúde. O dinheiro do matadouro, por exemplo, por não se ter iniciado a obra, teve de ser devolvido à Brasília. Isto é uma coisa que não se admite. Agora, o seu pessoal está correndo par fazer outro projeto, fazer outro matadouro. Há, com isso, por exigência do planejamento, a possibilidade de desapropriação de uma área de terra do Zé Genildo e outra desapropriação das terras da Edilene para a construção de outro colégio. Tem também o projeto para 50 moradias, além do início do saneamento básico que custará aproximadamente uns 20 milhões. Haverá necessidade de mais desapropriação para o tratamento sanitário da cidade para que a água que chegue ao Rio Jacuípe esteja limpa. Isto exigirá mais de 20 hectares para a realização da obra. Isto será uma alavanca para a cidade. Assim acontecendo, Colônia vai ficar na história. Quanto à saúde, ela tem tentado passar o Hospital para o Estado. Mas, o Estado não quer. Diante disto, a Prefeita está tentando algo pelo próprio município e isto pode acontecer breve. Esta é a avaliação. Caso tudo isto seja feito, é um avanço muito importante.


A experiência na Câmara.

A experiência na Câmara tem sido sempre com muita novidade. No início, levou muita chicotada. Há todo um processo para enquadramento dos novos que chegam ali, em especial com alguém que vem do Partido dos Trabalhadores, com a determinação de ver as coisas acontecerem. Não se conhece nada de regimento ou outros procedimentos internos. Mas a essa altura, já conhece os caminhos e procura mais aperfeiçoamento. A maioria dos vereadores se coloca sempre como seu amigo, mas não é isto não. Não há nada de amigo, e sim uma certa competição interna. O caminho é de muito cuidado para não se queimar. Como primeiro Secretário, vê muitas dificuldades da casa. São muitas opiniões e cada um pensa de uma maneira. Tomar decisão conjunta é sempre algo complicado. Claro que se aprende muito, pois essa experiência mostra os caminhos difíceis de se fazer democracia. E se alguém é vereador de oposição, fazer oposição se torna algo muito mais complicado. Mas, não é o seu caso, considerando que foi eleito nesse grupo político pelas mudanças. Os vereadores ou estão com o governo ou são contra. Não há meio termo. Hoje, os que eram de oposição estão todos com o Governo. Isto é o que vem mostrando essa experiência na Câmara dos vereadores.

Políticas populares marcantes na trajetória de sua vida em Colônia Leopoldina.

A luta pela melhoria da saúde foi importante, pois se chegou a tirar um técnico em agroperucuária que era Secretário de Saúde. Esse secretário era a cara da saúde. Nesse momento, estão sendo resolvidas algumas irregularidades que ainda permaneceram. Merece destaque, também, o movimento pela melhoria da qualidade da água. Outro movimento foi o apagão que aconteceu em toda a região. Com as denúncias dos problemas da energia na cidade, inclusive o fato de ninguém nunca explicar nada, sobretudo a Eletrobrás. Houve, então, coordenado pelo Ministério Público, uma audiência pública que foi realizada com os prefeitos dos 4 municípios envolvidos nesse apagão com os técnicos da Eletrobrás. O resultado foi a definição de que, em 2013, seria


instalada uma subestação em Arapiraca. Assim, foi possível se conseguir outro ramal de energia. Isto foi fruto da organização resultante do apagão. Outra mobilização foi a campanha de vereador na qual foi eleito vereador, o primeiro de 30 anos de existência do Partido dos Trabalhadores. Imagine um agricultor está exercendo um mandato e com compromissos com os trabalhadores. Tudo isto foram frutos dessas políticas populares e da mobilização das pessoas.

Forças políticas que se podem contar para mudanças, em Colônia Leopoldina.

Entende que o grupo político da família Lamenha tem forte entusiasmo pelo trabalho de promoção de mudanças. A conversa seria que tipo de mudança eles estariam dispostos a fazer. Talvez, haja alguns de outras forças políticas como do PSDB. Vários deles, inclusive, pensam em ir para a Rede, esse novo partido que estão falando em criar. Com esse grupo pode, talvez, conversar sobre mudanças mais profundas para o futuro.

O que seriam as mudanças para a cidade.

Mudanças para Colônia: iniciando pela Zona Rural, seria importante a busca por benefícios para agricultura familiar que não tem subsídio algum de incentivo. Começar pela melhoria das estradas, sobretudo nas épocas quando passa o inverno. Outra questão seria uma política que garantisse toda a compra da produção do agricultor familiar. Uma política que assegurasse que tudo que fosse produzido estaria garantido pela Prefeitura. A agricultura precisa dessa garantia. É preciso mudar a cultura de cana, pois aqui já se plantou abacaxi e acabou, praticamente. É possível a cultura do café, da macaxeira, superando essa prisão de só se ter cultura da cana. O município precisa entrar com técnico, inicialmente, podendo esses produtos saírem daqui prontos para o consumo. A reforma urbana precisa que seja feita com um baita planejamento para o saneamento da cidade, organização da moradia e mais loteamentos organizados com


calçamento, água, luz e escola. Hoje, se precisa de mais de 300 moradias. Aí devem ser construídos, também, colégios e creches. A saúde precisa de mais PSF e que eles funcionem mesmo. Também será necessário mais verba para o hospital e mais investimento em educação, bem como reformas e construção de mais salas de aula. Agora é uma hora certa para se avançar em mudanças. O Brasil está pedindo mudanças e espera-se que aconteça. Além dos movimentos que estão ocorrendo no país mostram isso como a Presidenta Dilma tem apontado para alguma mudança necessária. Isto precisa chegar ao Município. Têm pontos também que precisam ser mudados que estão apenas do Município. Compete ao Município, somente. Estes precisam ser feitos. Assim, pode-se ver mudança na política e no governo municipal. Repetindo: agora é uma hora certa para se avançar e se fazer algo que nunca foi feito.

Os seus sonhos para a cidade.

Sonha com uma Colônia com água, com a criação de uma barragem de grande porte para acabar definitivamente com esse problema de falta de água. Sonha com uma cidade padronizada, pois atualmente está toda fora dos padrões. Uma cidade bem sinalizada, com praças, passarelas, reformas em canteiros da cidade. Uma cidade com hospital para atender a região, sem precisar se deslocar para Maceió. A região precisa escola profissionalizante. Cuidado com o meio ambiente e recuperação do Rio Jacuípe. Cada loteamento precisa de pelo menos 20 % de área de mata e para praças. Tudo isto precisa estar atualizado pelo Plano Diretor da cidade. É a atualização do código de postura. Colônia e os seus políticos, principalmente, precisam pensar de tornar esta cidade líder na região.

E mais uma outra questão.

Encerrando, também, se destaca a possibilidade de que a região passe a sofrer ainda mais com as usinas fechando. A Usina Taquara está com problemas. A Usina Central Barreiros fechou. A Usina Catende que experimentou uma administração de


trabalhadores continua com problemas graves de gestão. Outras usinas fecharam na região. O Governo Federal precisará ajudar com outras ideias e outras culturas para a região. É preciso pensar culturas agrícolas novas.

Meus agradecimentos.

Colônia Leopoldina, 23 de junho de 2013. Entrevistador: José Francisco de Melo Neto (Zé de Melo). (Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba).


3. CONSIDERAÇÕES O que foi apresentado é o produto escrito de esforços de várias forças políticas que têm atuado, à sua maneira, nesses rincões da Zona da Mata Norte do Estado de Alagoas. Forças que não expressam as políticas dominantes do lugar mas, com certeza, têm contribuído com o seu ponto de vista próprio e crítico, para com a melhoria da política da cidade. Os movimentos sociais, seja em que dimensão se apresentem, traduzem seus pontos de vistas sobre as suas questões e procuram convencer a cidade da justeza de suas reivindicações. Os textos mostram que várias das reivindicações apresentadas passaram a ser realidade muito tempo depois. É possível, inclusive, que os reivindicantes se quer se lembrem de que aquilo foi sua reivindicação. Pode-se destacar a construção de quadra de esporte que veio se realizar muito tempo depois de a reivindicação ter sido apresentada ao governo do Prefeito José Luiz Lessa. A construção de novas escolas. A preocupação para com a superação do trabalho infantil, iniciado pelo Pe. Aldo, e mesmo com a educação de jovens e adultos, pelo movimento da Educação Popular da Associação de Educação Católica (AEC). Estas demandas transformaram-se nacionalmente em políticas de Estado. Estão hoje presentes nos orçamentos e na busca incessante por superação do analfabetismo, um dos mais altos do país. Em um momento em que o país ferve com realização de copas e de grandes mobilizações por melhores escolas, pelo passe livre para estudantes, por melhor saúde pública e, em especial, contra todo o tipo de corrupção, jovens de Colônia, mesmo que simbolicamente, realizaram também o seu pequeno protesto. Esta produção textual registra documentos para que outros pesquisadores, num futuro que pode não ser longe, desenvolvam melhores análises sobre esses movimentos que se apresentaram de baixa intensidade em suas mobilizações, naqueles momentos. Também, de forma sutil contribuíram para a definição das políticas locais, com olhares e significados diferentes por melhores condições de vida, e, quiça, possa Colônia exercer papel de liderança na região, contribuindo para uma política de qualidade social para todos, de olhos naqueles que mais necessitam, as classes trabalhadoras.


4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, José Júnior. A trajetória do Movimento Estudantil Leopoldinense. Grafnobre, Colônia Leopoldina, Al, 2011. COLÔNIA LEOPOLDINA – situações político-ambientais, Vol I. Organização dos autores: Maria Betânia Alves dos PASSOS; Marília Gabriela da C. GOMES e José Francisco de MELO NETO. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.

COLÔNIA LEOPOLDINA: situações político-ambientais. Andréa Marques... (et. al.). José Francisco de MELO NETO (org.). João Pessoa: Editora da Universidade Federal da Paraíba, 2011. ESCOLA DE FRANKFURT – diálogos. Anaina Clara de MELO (Orga.). Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2008. EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA – diálogos populares. José Francisco de MELO NETO (Org.) Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1987.

História das ideias políticas. François CHATELER e all. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2009. MELO NETO, José Francisco de. Ação cultural no meio rural – uma experiência em Colônia Leopoldina, realizada em 1982/83, dissertação de mestrado em Educação, pela Universidade de Brasília.


__________. Organização Popular - a construção do conceito de partido no Partido dos Trabalhadores. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 1998. __________. Educação Popular – enunciados teóricos. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2004.

LIMA, Lenivaldo Marques da Silva & MELO NETO, José Francisco de. Usina Catende – para além dos vapores do diabo. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.

SILVA, Everaldo Araújo. A Colônia da Princesa. Maceió, 1.eD. Igasa, 1983.

ZIZEK, Slavoy. Menos que nada. Hegel e a sombra do materialismo dialético. Tradução de Rogério Bettoni. São Paulo, Boitempo Editorial, 2013.


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