Andréa Marques Silva Elizabete M. do N. G. Veloso Paulo Edson de Araújo José Francisco de Melo Neto (org.)
COLÔNIA LEOPOLDINA (AL): situações político-ambientais (vol. 2)
COLONIA LEOPOLDINA – AL 2011
Dedicamos esta coletânea a todas as crianças
injustiçadas do país e, em especial, ao Padre Aldo
Giazzon,
Florisval Costa, Amara
Araújo, Cícera Silva, Lucimar Silva e a todos e todas que compõem ou compuseram a Horta Nossa Esperança. E, ainda, para todos/as lutadores e lutadoras por um meio ambiente sustentável e uma melhor cidade para todos e todas.
APRESENTAÇÃO
Esta Coletânea é composta por três textos, dois dos quais resultados de monografias de especialização realizadas, no Centro de Formação de Professores da Mata Sula, na cidade dos Palmares. São produtos de pesquisa de campo para atender às exigências de formação acadêmica que analisam situações políticoambientais na cidade de Colônia Leopoldina. E o terceiro texto é produto de um levantamento de propostas também para a cidade, apresentadas por diferenciadas correntes de pensamento, realizado pelo Movimento Colônia e Cidadania, divulgado pelo mesmo no ano de 2011, e que atua na cidade desde o ano de 1998. O primeiro texto desta Coletânea aborda uma das temáticas mais angustiantes e desafiadoras para o País – o problema da criança. Há uma abordagem histórica do descaso para com a criança, presente desde o início da formação do Brasil, já na época colonial até os dias atuais. Momentos em que, sob a alegação de proteger os órfãos, esta atividade tenha virado um negócio, naquela época da instauração da República. Aborda o texto, uma situação de fato, a criança no município de Colônia Leopoldina e os esforços de projetos de um sacerdote da Igreja Católica, em sua luta e disposição para contribuir com a superação do esquecimento dessas criaturas pelos seus próprios responsáveis – pais, mães, família, e, em última instância, os setores públicos. O Padre Aldo Giazzon cria uma Associação de Trabalhadores e Pequenos Produtores Rurais – ATRAPO, que com seu apoio financeiro e político busca trazer a criança para o centro das preocupações da comunidade, da sociedade e dos poderes públicos locais. O texto mostra essa caminhada, num período de 10 anos de atividades da associação, a partir de depoimentos daqueles que viveram naquele momento. O segundo texto, por sua vez, apresenta um trabalho que mostra a situação do meio ambiente do Município de Colônia Leopoldina, em especial a situação do Rio Jacuípe, que em outro tempo também serviu de fonte alimentar dessa comunidade ribeirinha, que vem morrendo, pouco a pouco, expressando
um brado forte pela defesa e reabilitação do mesmo. É uma Coletânea que dá prosseguimento a um outro livro, com a mesma denominação, sendo este a sua continuidade e o volume II, de uma Coleção de Livros sobre Colônia ou produzidos por aqueles que vivem na cidade. Espera-se que outros livros haverão de surgir, nos mais diferentes campos do conhecimento, e que seus autores possam reivindicar do poder público que as verbas do fundo de cultura, também, se prestem à produção acadêmica dos filhos da cidade e daqueles que têm pensado a cidade. Colônia Leopoldina, primavera de 2011.
Dr. José Francisco de Melo Neto Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
COLÔNIA LEOPOLDINA E CRIANÇAS DE RUA: A Associação de Trabalhadores e Pequenos Produtores Rurais (ATRAPO) – 1993 a 2000. Elizabete M. do N. G. Veloso Evilmar Maria de Oliveira Paulo Edson de Araújo
COLÔNIA LEOPOLDINA: a poluição do Rio Jacuípe. Andréa Marques Silva Valquíria Maria da Silva
COLÔNIA LEOPOLDINA: propostas para a cidade. Movimento Colônia Cidadania – MCC
COLÔNIA LEOPOLDINA E CRIANÇAS DE RUA: A Associação de Trabalhadores e Pequenos Produtores Rurais (ATRAPO) 1 - 1993 a 2000 -
Elizabete M. do N. G. Veloso Evilmar Maria de Oliveira Paulo Edson de Araújo
1
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em História do Nordeste na Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul – FAMASUL (Palmaares/PE) como requisito para obtenção do grau de especialização em História do Nordeste, no ano de 2000, tendo como orientador o Prof. Ms. Edson Hely Silva.
1. Introdução
Criança é coisa séria “A criança é o princípio sem fim. O fim da criança é o princípio do fim. Quando uma sociedade deixa matar as crianças é porque começou seu suicídio como sociedade. Quando não as ama é porque deixou de se conhecer como humanidade. Afinal, a criança é o que fui em mim e em meus filhos, enquanto eu humanidade. Ela como princípio é a promessa de tudo. É minha obra livre de mim. Se não vejo na criança, uma criança, é porque alguém a violentou antes e o que vejo é o que sobrou de tudo que lhe foi tirado. Mas essa que vejo na rua sem pai, sem mãe, sem casa, sem cama e comida, essa que vive à solidão das noites sem gente por perto, é um grito, é um espanto. Diante dela o mundo deveria parar para começar um novo encontro, porque a criança é o princípio sem fim e o seu fim é o fim de todos nós”. (Hebert de Souza)
Assim é que apresentamos este trabalho, destacando que ele menciona a trajetória das crianças no Brasil, dando enfoque à questão "criança de rua". De certa forma, nosso incentivo decorreu por conta do descaso das "autoridades" a este assunto. Resolvemos, ainda, situar a criança no Brasil em fases, a fim de questionarmos sobre como fora tratada e o que, de certa forma, para época ou grupos isolados, era algo normal e até "necessário" para o sistema vigente. É produto de monografia dos autores da conclusão do Curso de História, no ano de 2000, da FAMASUL, da cidade de Palmares, na Zona da Mata Sul de Pernambuco. Através de pesquisas bibliográficas e de campo, com visitas, produções de textos baseadas em entrevistas, montamos este texto e, assim, passamos a discutir a questão que, até então, era vista apenas como falta de estrutura familiar e descaso dos governantes. Algo que trata de gente que precisa de tudo, principalmente que duas palavras sejam postas em práticas: amor à criança. Os resultados desta pesquisa foram apresentados em três capítulos: o item 1. 2 aborda a proteção à criança no Brasil, priorizando, num processo histórico, as formas
de tratamento, o que fora criado em nível de instituições para "protegê-la" e suas lutas e conquistas, adequado à presença da Igreja Católica Romana. Esta tem muito usado de subterfúgios para desempenhar suas práticas, interligando-se às "elites" de época que só demonstram o que vinha sendo feito de positivo. No item 1.3, citaremos a criação da ATRAPO
(Associação
de
Trabalhadores
e
Pequenos Produtores Rurais), que dentre tantos projetos alicerçou a criação da Horta Nossa Esperança. Já no item 1.4, preenchemos de "emoção" ao tratarmos dos depoimentos de quem já passou pela Horta Nossa Esperança e a significância desta em sua vida. Este projeto da ATRAPO2 (Associação de Trabalhadores e Pequenos Produtores Rurais), denominado Horta Nossa Esperança, vem merecendo nosso questionamento e análise por se tratar de um tema sempre atual e polêmico ligado a crianças de rua.
2. A proteção das crianças no Brasil.
Num ambiente de contradições subtendido entre ricos e saudáveis ou pobres miseráveis, retrataremos de forma dissertativa a criança no Brasil, a qual, ficticiamente, é intitulada como progresso e futuro. Por falar em futuro, ele é quem salva-guarda, nossos anjos, num mundo hoje onde o fenômeno da globalização molda os rumos tanto dos representantes (políticos, burgueses), quanto o nosso, aparecendo um forte grau de disparidade econômica e de direitos de cidadania. Vivendo na virada de século, chegamos a pensar no que aconteceu com os conceitos sócio-culturais, uma vez que, com o desenvolvimento tecnológico, desconsideramos civilizações passadas com toda sua contribuição e prestígio O termo socialização continua sendo bastante comentado. No ambiente contemporâneo, mais ainda, é aparente e ambíguo em seus segmentos e práticas, sendo a cada momento irrelevante e inovador, constituindo-se em uma busca infinita a um conceito que se adéque a realidade.
2
Associação de Trabalhadores e Pequenos Produtores Rurais (ATRAPO), criada em 1993, sob coordenação de Aldo Giazzon, sacerdote italiano.
Na análise abordada neste estudo, enfatizaremos uma questão Colonial, que atravessou o Império e fortificou-se na República, causando muita polêmica e o desejo de reflexão acoplada à curiosidade. Estamos falando das condições que foram e são tratadas as crianças (os menores), evidenciando em sua trajetória as imposições vivenciadas num país amplamente comprometido com os interesses das elites. É válido salientar que o que hoje nossos olhos angustiam-se em ver e nossos pensamentos estarreçam em lembrar e imaginar, pode ser para a época algo "necessário" e bem aceito (mesmo que seja para quem lucrava com as práticas). É o famoso “fazei o bem e não se preocupas a quem”, sendo a Igreja Católica Romana forte instituição com poder, sobretudo político, que adapta seus interesses aos do período colonial. É necessário nos conscientizarmos de que esse estudo monográfico visa enaltecer justamente um projeto religioso comunitário em Colônia Leopoldina - AL, que, por questões de divisas estaduais, está localizado no Município de Maraial - PE. Voltando às origens, eis a Igreja Católica Romana moldando e predestinando o modo de vida das pessoas, através de ideias "civilizadoras" com o intuito de conversão. "De tal forma que quando pensamos em um anjo a imagem que lembramos e que ele é louro, rosadinho e bochechudo (nutrido) " 3. esta idéia de anjo, na cabeça da criança indígena, será que não foi muito forte? Seria este para com o indiozinho um dos primeiros sinais de civilização? Talvez não, pois a imagem que tínhamos era justamente aquela. Mas, hoje em dia isso mudou? Existe alguma criança índia ou negra retratada como anjo? Preocupações desse tipo muito ocorrem; no entanto o problema é muito mais sério, tanto a cultura dos indígenas quanto sua existência estão praticamente extintos. Temos aí várias interrogativas a se pensar sobre as relações que foram tratadas as crianças, o povo indígena, o termo sociedade e ete. Um fato curioso sobre as alienações utilizadas: encontramos claramente um dos discursos de Anchieta. "Por essas terras promissoras onde muito tinha a se fazer o amor do pai ou educador espelha-se naquele divino, no qual Deus ensinava que amar é “dar trabalhos nesta vida", servindo esta frase para freiar os vícios e os considerados pecados. Disciplina é a palavra chave nesse processo de salvação. Seria esta, talvez, a que rumava os
3
Idem, ibidem, cart 13, 1559.
ventos, em um tipo de trabalho onde as dificuldades e tentações estavam presentes a todo momento. Esses aspectos são muito questionantes, não tendo esta pesquisa o desejo de resposta, e sim de causar vigor pela busca, de forma reflexiva Se nos referirmos as instituições, observamos a questão do doar-se ... abrir mão de sua pátria mãe, para atender ao chamado divino, movidos pela fé e movidos por seus objetivos definidos. Assim é que aprofunda a discussão Philipe Ariés, em seu livro História Social da Família e da Criança. Ou mesmo, desde Anchieta, em seu Sermão de Domingo Post Pentecostes, destaca que pessoas que recebem a ajuda não entendem, não aceitam e, outras vezes, reconhecem o esforço e, por alienação ou consideração, sentem-se privilegiados. Uma instituição que, por seu pioneirismo aqui no Brasil, considera-se bastante importante, despertando curiosidade: é a Companhia de Jesus, ordem instituída em 1534 e que, para firmar-se perante o papado romano, agarrou-se com unhas e dentes na conversão dos gentios, mantendo a ideologia de que é mais fácil e promissor converter a fé cristã e, talvez, o mais interessante, que era a conversão ainda quando criança. "A natureza ora transpirava em contentamento a ponto de fazer crer que "se houvesse paraíso na terra ", ora o havia no Brasil" ora era metáfora para desordens que iam além do entrelaçamento de cipós ou troncos de bromélias mau que esta terra leva escrevia suspeitoso Nóbrega em 1559".4 Mas era necessário bom preparo, pois a prática agora seria dirigida pacificamente às crianças, sendo os jesuítas promissores talvez ao que se refere à psicologia infantil (meios, técnicas e formas para se entender o pensamento da criança) com o intuito de ajudá-la a se auto-conhecer, uma das ideias postas em práticas referenciava-se ao fato de Jesus ter sido menino e essa tese aproximava todos os "gentios" para perto do Pai, um exemplo claro se explícita na frase “Deixar vir a mim os pequeninos”. Por volta de 1550, o país foi homenageado com visitas intrigantes, apresentadas em crianças intérpretes acompanhadas de Padres Jesuítas. Essas crianças órfãs aprendiam a falar em Tupi-guarani nas escolas de Lisboa, o que facilitava o entrosamento; é o que podemos chamar de política "mano a mano", criança com 4
Lucas, 18:16 (Bíblia Sagrada).
criança se entende. Além disso, havia por parte dos jesuítas, vasta preocupação também em mandar suas sementes já brotadas para Portugal, assegurando assim a volição de sua missão. Aos órfãos, já começava a surgir a utópica preocupação estatal. O relato que temos é referente a uma autorização que D. João III (rei de Portugal) efetivou, permitindo que os órfãos recolhessem mantimentos para sua subsistência nos portos brasileiros. Nesse patamar, questões higiênicas e falta de medicina de base também eram aproveitadas no processo de "conversão" sob a forma que as epidemias só acabariam com a participação das crianças nos coros, que a doçura de suas vozes espantavam esses maus agrados. Nessas procissões, algumas crianças seguiam o ritual, deixando suas famílias para fazer parte dos que, com "paz", louvavam a Deus, e que, mesmo nos momentos tristes, demonstravam vigor. É o que chamamos de fé, onde a crença do que é bom está para vir, razão esta da humanidade manter a esperança. Tudo isso, para a criança, tinha sabor de novo, de descoberta; elas se estusiasmavam com um ambiente inexplorado, onde a natureza, o glamour e espontaneidade nos cânticos eferverciarn o desejo, tanto dos missionários - em continuar -, quanto dos gentios - de aceitar o que já consideravam, de forma subserviente, certo e digno. No entanto, efetivavam-se, mesmo assim, várias formas de resistências. Nesse entrelaçamento de ideias, em relação aos Padres Jesuítas, anexam-se objetivos diferentes, do simplesmente converter cristãos. Justamente por aí, põe-se em prática o termo educação, acoplado a manuais dirigíveis sobre condutas e regras apostólicas. No início do século XVII, é coerente citarmos as mudanças nos estudos acopladas às escolas dominicais. Surgiram várias creches vinculadas ao slogan de o saber estar junto do poder, desestimulando as práticas antigas tradicionais, que se apoiavam explicitamente em castigos violentos. Uma curiosidade referente às crianças no Brasil vincula-se as casas de “muchacho” que funcionavam como local acolhedor aos órfãos. Realizava-se esse trabalho desconsiderando por total a cultura das crianças acatadas, bem como costumes e práticas de seus antecedentes. Cabia a afirmativa de que é pela cultura de um povo que se escreve sua história. Acabe-se com a cultura, e acabarás com o respeito, o ego, as ambições e o objetivo do mesmo; e isso tudo ajuda a explicar as aculturações ocorridas no Brasil. É inaceitável a forma violenta em que isso
ocorreu, e o que acarretou para a formação do povo brasileiro. Evidentemente, nem tudo é aflição, só que a cultura popular está por um fio; é nosso dever incentivá-la, registrá-la e preservá-la. Seriam as crianças nossas fortes aliadas? Num outro patamar referente à criança no Brasil, citaremos as ações das câmaras e suas posturas perante a· sociedade, na forma de acatar as crianças expostas. A solução encontrada foi satisfatória, pois essas câmaras realizavam as adoções. Analisavam-se, criteriosamente, famílias que cuidariam das crianças e contratavam-se mães de aluguel, chamadas de amas de leite. Havia forte discriminação com crianças mulatas, muita gente lucrava ilicitamente com essa prática. Gerava-se um "outro" tipo de comércio humano, arcando com as consequências das alianças de época, onde até as contestações eram mal vistas. Se resguardando a um "Estado", citaremos Minas Gerais que, por volta do século XVIII, era a capitânia mais urbanizada da Colônia, tornando possível as irmandades tomarem para si a responsabilidade de cuidarem das crianças expostas, conforme conta, por exemplo, o Estatuto da Irmandade de Santa Ana, Vila Rica - instituição criada em 730 e preocupada em, seu artigo 2°, fundar tão logo seus recursos o permitissem, uma casa de expostos e asilo de menores desvalidos. Na prática, entretanto, as evidências demonstram o nobre senado da câmara com a função de pôr e dispor da vida das crianças abandonadas. Existia um vasto Jogo de interesses, em que tanto as irmandades quanto as câmaras contratavam criadores ou amas de leite que deveriam receber pelos seus serviços, conforme já vimos. Por várias vezes, esses ditos pagamentos atrasavam, contribuindo para aumentar o número de descontentes, que influenciava no aceleramento da taxa de mortalidade infantil. Outro fator degradante dessa história diz respeito à roda dos expostos. Tratavase de um meio encontrado pela irmandade (MISERICORDIA) de recolher as crianças abandonadas. O doadores, então, colocavam as crianças numa roda que dava direto com uma janela da Santa Casa, batendo-se no bumbum da criança e, geralmente, gritando “chora, menino!”. Nisso, "as irmãs", sem questionamento de nada, acolhiam-nas, criando-as de forma natural. Um fato curioso neste trecho citado é que a projeção da roda permitia o anonimato, acobertando essa atitude. Talvez por isto, as casas se espalharam pelo Brasil, alimentando por muito tempo os interesses dos grupos que
destas tiravam proveito. Neste ambiente, desenrola-se a história da criança no Brasil, praticamente tudo que já analisamos é metódico, projetado e injusto. As moléstias estão cada vez mais frenéticas. Mesmo esses indícios têm caráter rotulante, taxativo e opressor: mas o intuito de buscar uma outra óptica aos fatos ocorridos no passado requerem esforço, razão e desapego. Uma outra página grotesca na história do cuidar das crianças faz-se apresentar em casos de pedofilia e pederastia ocorridas neste país. Os casos não eram poucos, sendo o sexo, para a época, sinônimo de pecado. Os estupros muitas vezes ficavam em segredos, por vergonha da família. Hoje, as leis, teoricamente, são mais atuantes referente a abusos sexuais. No entanto, a prática na sua aplicação dá tanta cobertura quanto as de épocas remotas - por exemplo, só se abismavam mais quando se tratava de sexo anal (pelo vaso de trás), do contrário, era quase que normal. Geralmente o procedimento era o seguinte: alguns casos chegavam a ser julgados. Os pais apresentavam os filhos vitimados ao tribunal e muitas vezes o réu era condenado. O cumprimento da sentença era, entretanto, esquecido. Certamente, para as crianças, esses estupros mexiam não só com o corpo, mas principalmente com a mente, pois era comum haver chantagens e ameaças, tornando o sexo para elas algo muito difícil e depressivo. Na maioria das vezes, ficavam atordoados e duvidosos quanto ao que significava o sexo. As crianças só sentiam medo. Hoje, em pleno final do século XX, ainda é místico se falar em sexo, mesmo com tanto espaço na mídia, revoluções no pensamento e liberdade para que este ocorra culturalmente tranqüilo. Sempre se verifica transtorno para quem fala ou para quem ouve. Será outro aspecto do processo de aculturação? Ou mais um fruto dessa sociedade, taxativa e mascarada, que só acata o que lhe convêm? As sandices com crianças não param por aí: é intrigante pensar por que a exploração no trabalho é tão assustadora e o número de crianças nas ruas e fora da escola é tão alto. Não é fácil assistirmos reportagens e vermos crianças sendo assassinadas e matando o próximo pelo uso de drogas, pedindo esmolas ao relento, dormindo em noites de tempestade em papelões, cobertos por jornais molhados, acordando no dia seguinte e já continuando a dura missão de vir ao mundo sem seu espaço.
É revoltante sentirmos o amargo gosto de ver as crianças, sobretudo as negras, (após a Lei do Ventre Livre em 1871), perambulando pelas ruas, descobrindo o que é vir ao mundo sem preocupar a ninguém ou sem incomodar os seus responsáveis. Isso foi o início da saga que desenvolveu-se com as crianças no Brasil, ficando estas sujeitas a maus tratos, desencadeando toda uma série de violência. Neste trabalho, analisamos índices de mortalidade infantil (causas e consequências) e constatamos o descaso com que geralmente são tratados, sem falar na exploração do trabalho, bem como projetos filantrópicos (utópicos) e outros com vitórias e perspectivas. Mais
adiante,
abordaremos
o
caso
de
crianças
trabalhando. Isso vai de encontro a todos os nossos padrões e ideologias, pois lugar de criança é na escola. E isso é o que tem que ocorrer, no entanto, nossa realidade é outra. O projeto ATRAPO (Associação dos Trabalhadores e Pequenos Produtores Rurais) fundou a Horta Nossa Esperança - Maraial -PE, que molda-se no intuito de ajudar a controlar o problema de crianças nas ruas, dando-lhes educação e lazer, e requerendo dos mesmos, tanto para integração e manutenção, mediante as verbas recebidas, o apoio de forma cooperativa e comunitário, para que este participe integralmente, tornando-os útil no desenvolver de um projeto onde ele não é apenas um membro passivo que ganha tudo, e sim um forte membro com poder inclusive de decisões. É dever da família e do Estado assegurar-lhes suas necessidades, possibilitando, por direito, que estas vivam com dignidade. Só que isto não ocorre e o nosso desejo e que percebamos que entre estar só nas ruas, sujeitas ao descaso, é mais viável possibilitar-lhes uma mudança efetiva em suas vidas. Efetivamente, no Brasil, nem todas as crianças fracassaram, nem todos os destinos já traçados se realizaram. As resistências foram muitas e é preciso não nos calarmos e, de fato, preocupar-mos em desenvolver projetos concretos, baseados na realidade e valorização. Você precisa valorizar e reconhecer que a criança pensa e que deseja de você "liberdade" para crescer, defendendo e conquistando suas próprias convicções. Hoje em dia, não dá para pensar nas crianças de ruas sem associá-las ao que
chamamos de MENOR, termo que desde 1920 até hoje, passou a referir e indicar a criança em relação à situação de abandono e marginalidade, além de definir sua condição civil e jurídica, bem como os direitos que lhes correspondem. O MENOR - essa criança que passa por adulto, o delinquente, infrator - é fruto "geralmente" de uma infância atordoada. Que identidade tem o menor agindo como adulto, quando deveria vivenciar a sua infância? Longe de julgarmos, associemos o Estado que se responsabilizara para reintegrá-los à sociedade, e que, pelo grande número de menores e falta de estrutura, gerou um caos, com rebeliões nas penitenciárias, chacinas, homicídios etc., chegando, inclusive, a um extremo com a desintegração da FEBETM (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor). Esta, por volta de 1968, passou a funcionar com plena atividade e fora articulada com a participação dos dirigentes e das comunidades, com o "desejo" de remediar o problema desde a raiz. Ao longo do tempo, a FEBETM foi se mostrando cada vez mais corrosiva, ao ponto de hoje pensarmo-la como sinônimo de fracasso, angústias, mortes e etc.. Como mostra Fernando Torres Lindono, em seu livro História da Criança no Brasil, restando apenas um único tipo de integração: as drogas. Essas observações fazem juz a indícios referentes à criança no Brasil, sendo primordial destacar que nunca foi fácil para a criança mostrar sua autonomia e interesses: hoje, tantos séculos a frente de épocas passadas, indagamo-nos sobre o que mudou sobre a situação da criança no Brasil. Melhorou? Piorou? Como serão vistas as condições que oferecemos a nossas crianças no Brasil contemporâneo? Este quebra-cabeça sempre aparenta estar incompleto. Ele é um duelo, entre o adulto e a criança, cujas partes deste jogo já foram encontradas. Até hoje, todavia, não se resolveu esse problema. Todas as facções almejam os mesmos interesses e infelizmente só terminam em rupturas. Sobre os direitos das crianças e dos adolescentes, em nosso país, onde a corrupção e o oportunismo encontram mais espaço do que a honestidade, não são muito posto em prática porque não conseguem ou não querem que isto ocorra Só que nem tudo está perdido. Sementes brotaram quanto ao que somos e queremos para as crianças no país. Elas continuam de braços abertos não só para serem alvo de projetos, leis e palestras, mas para serem tocadas e possibilitadas a aprenderem
a ler, escrever e conseguirem um emprego justo, que dê margem à esperança e, também, adapte-se a um ambiente em que se aprenda não só a perder, mas também a ganhar. Esperamos que práticas como essas sejam mais constantes em nossa sociedade.
3. ATRAPO: uma alternativa de amparo a menores
Alagoas é um Estado do Nordeste do Brasil com uma das maiores densidades demográficas do país, ocupando o 30 lugar, com cerca de 2.688.117 habitantes, para uma área de 27.933 km2 (Almanaque Abril de 1999). A densidade populacional se deve, sobretudo, à cultura intensiva da cana-de-açúcar e do fumo, que absorvem muita mãode-obra barata. O Município de Colônia Leopoldina está localizado na Mata Norte do Estado de AL, a 120 Km de Maceió. A Zona da Mata é caracterizada por solos férteis e períodos de chuvas abundantes; é coberta quase exclusivamente por cana-de-açúcar (monocultura) em propriedades de grandes latifundiários e usineiros. Isto gera predominância de trabalhadores rurais, assalariados, faltando quase por completo aos pequenos proprietários as condições de se dedicarem às lavouras de subsistência. Por isso, a população, não podendo cultivar quase nada, tem que importar praticamente tudo, aumentando assim o custo de vida: a cana chega praticamente até as estradas e os trabalhadores não têm terra para plantar feijão, mandioca e outras lavouras. A cidade de Colônia Leopoldina- AL vive as consequências desta situação do Estado e também da seca, que, nos últimos anos, vem atingindo a Zona da Mata, reduzindo a produção de cana em quase 50%, gerando muito desemprego. Por isso, muitos trabalhadores que viviam do trabalho da cana-de-açúcar são obrigados a migrarem para outras cidades, à procura de um trabalho que garanta a sobrevivência. Com eles, muitos adolescentes, quando não encontram trabalho, optam pelo roubo, prostituição e drogas, vivendo nas periferias das grandes cidades e sendo vítimas de todos os tipos de violência. Mas há outros trabalhadores que procuram resistir a esta situação e tentam viver, carregando mercadorias na feira, ou catando no lixo da "cidade - ferro" (cidade dura, não igualitária, que marginaliza), juntando papel e outras coisas que podem ser aproveitadas para a venda (reciclagem). Mas quando os pais não têm nem isso, os
filhos são "obrigados" a pedir esmola na rua ou acompanhar os pais nos biscates, faltando à escola, alimentando-se mal ou não se alimentando, e aprendendo com outros várias formas de violências e passando a maior parte do tempo nas ruas. A Cidade de Colônia Leopoldina conta com uma população de 18.432 habitantes (segundo dados estimativos fornecidos pelo IBGE em 1999). Grande quantidade das casas da cidade não tem água encanada e apenas poucos chafarizes insuficientes para as necessidades da população, além de casas de pau-a-pique, mal feitas, sem sanitários e sem esgotos. Na educação, há cerca de 5.530 vagas (dados fornecidos pela Secretaria da Educação do Município no ano de 1999), mas poucos conseguem estudar, porque a maioria já trabalha aos 6 anos de idade: a taxa de analfabetismo é uma das mais altas do Estado de Alagoas. O desemprego é muito grande e quem não trabalha na cana-de-açúcar vive do comércio, ou é empregado porque entrou nos trabalhos da Prefeitura em época de eleição. No setor de saúde tem um hospital com mais ou menos 49 leitos, equipados com laboratórios e mais um posto de saúde que atendem diariamente à população do Município. Isto vale também para cirurgias ou qualquer atendimento emergencial, devido à situação de fome e falta de moradias e desemprego. As doenças mais comuns são verminoses, pneumonia, asma (devido à poeira das estradas) e o cólera sempre endêmica, devido à carência de saneamento básico. Apesar de o município estar situado na região canavieira norte-alagoana, existem pequenos produtores rurais que negociam com bananas, milho, mandioca, feijão, batata, frutas, etc. Porém, esses pequenos produtores enfrentam dificuldades de encarar a pequena produção numa região onde predomina a monocultura da cana-deaçúcar. Não é difícil perceber a dimensão dessa dificuldade, como também é do nosso conhecimento que não há incentivo à pequena produção, principalmente na área da lavoura canavieira. A partir de uma análise profunda dessa situação, nasceu a ATRAPO (Associação de Trabalhadores e Pequenos Produtores Rurais). Ela tem desempenhado um papel muito importante na comunidade leopoldinense, principalmente junto aos trabalhadores e pequenos produtores de mandioca. É importante mencionar que a ATRAPO iniciou-se em 1988, desenvolvendo os seguintes trabalhos: incentivo à pequena produção na região, apoio aos pequenos produtores e trabalhadores rurais. Isso contribuiu, e muito, com a produção e comercialização, ajudando os produtores a
saírem do domínio dos atravessadores, facilitando a troca de experiência entre os pequenos produtores e trabalhadores rurais. Ao se transformar matérias-primas em produtos, trabalhava-se a formação política e a conscientização do ser social. Hoje, a ATRAPO ampliou seu trabalho junto aos filhos dos trabalhadores rurais e meninos de rua mais carentes da cidade, desenvolvendo o que pode se chamar de educação popular paralela e a agricultura alternativa com experiência de agroflorestamento, alimentação e remédios alternativos. Esse trabalho é desenvolvido na Horta Nossa Esperança, Maraial – PE - a 3 km da cidade de Colônia Leopoldina, e é patrimônio da ATRAPO, mantendo uma área de 10 hectares. Uma casa de farinha tem atendido a diversos trabalhadores e pequenos produtores rurais da região, e é sem dúvida um grande ponto de apoio à comunidade. Ela é vista como um patrimônio do povo mais carente. De alguns anos para cá, o preço da farinha tem tido uma pequena queda, trazendo prejuízo tanto para o pequeno produtor, quanto para a ATRAPO. Mesmo assim, ela é de suma importância porque também é a única existente na cidade de Colônia Leopoldina. A casa de farinha funciona da seguinte maneira: cada pessoa que faz a farinha, colabora com uma pequena taxa em mercadorias para ajudar nos custeios da associação como luz e água, realizando a limpeza quando terminam a fabricação da farinha. A ATRAPO, no final de 1992, estava com uma diretoria sem atuação, quase sem capacidade de mobilizar os sócios. Muitos deles tinham abandonado a Associação porque exigiam dela apoio financeiro dentro do mesmo sistema dos Bancos e dos grandes atravessadores, que costumavam antecipar o dinheiro aos trabalhadores, antes da colheita. A ATRAPO não podia garantir isso, porque não havia recursos, a não ser a participação dos sócios: só tinha um galpão, a sede da ATRAPO, e um caminhão, que nos últimos meses estava sendo usado para atender as carências e as necessidades dos sócios e das comunidades, ou seja, fazer mudanças, buscar mercadorias, levar o povo da feira para casa, ajudar no transporte durante a campanha sindical. Houve aí a necessidade de se refletir sobre como levantar a Associação para que pudesse ainda servir aos trabalhadores. Durante o mês de janeiro de 1993, foi convocado um grupo de 20 pessoas para ver o que se podia fazer diante das dificuldades. Os sócios disseram que estavam precisando de terra e assim foi decidido vender o caminhão, que estava dando prejuízo, para comprar um terreno a 3 km do centro da cidade, localizado em Maraial/PE.. O plano era fazer neste terreno um
trabalho de cultura alternativa com adubos naturais como: esterco de vaca, folhas secas, casca de coco e outras substâncias vindas da parte inutilizada das plantas, frutas e verduras. Foram convocadas 08 famílias, as que mais necessitavam entre os sócios. Cada uma recebia uma quantidade de terra e, para garantir este trabalho, foram compradas enxadas e carrinhos de mãos e foi se construindo um barraco para guardar o material e servir também para vigiar a Horta Nossa Esperança. Com o tempo, constatou-se que o resultado imediato, como esperavam, não vigorou. Alguns foram embora, outros ficaram, mas depois também saíram. Após 40 dias, ficou só um trabalhador, que por já ter um pouco de experiência na agricultura, comprometeu-se também a revitalizar a associação, dentro de seus objetivos. Ele começou convidando para ir trabalhar com ele um menino, que ficava na venda da ATRAPO. Esse menino foi ajudando a prosperar, no dia da feira, vendiam-se algumas verduras e achava-se algum lucro para ele. Depois, entrou o irmão dele e mais dois meninos, que ajudavam e vendiam verduras. O trabalhador foi ensinando tudo, desde o começo, quer dizer, desde a plantação até a colheita, e eles aprendendo aos poucos. Passando nas ruas da cidade com estes meninos, eles ficaram muito conhecido, fazendo com que outros meninos pedissem para entrar e trabalhar na Horta Nossa Esperança. Alguns esperavam no caminho para pedir vaga. Em pouco tempo, já tinha 17 meninos. No entanto, foi eleita a nova diretoria da ATRAPO, com a intenção de recomeçar um trabalho motivando novamente os sócios. No mês de junho de 1993, o pessoal que trabalhava com o
Movimento
Nacional de Meninos e Meninas de Rua (M.N.M.M.R), de Maceió, visitou a Horta Nossa Esperança e prometeu material e alguma ajuda financeira. Naquela época, não tinha merenda para os meninos, só alguns frutos e abundância de verduras, que eram repartidas entre os meninos, todos os dias, suprindo assim a fome. Os meninos vinham aumentando, surgindo a necessidade de que alguém tomasse conta deles durante os trabalhos. Entrou um adolescente, que ajudava os meninos a fazer canteiros e aguar, e mais algumas pessoas disponíveis da diretoria da ATRAPO. No início de julho de 1993, já tinha mais ou menos 70 crianças: todos meninos que viviam na rua, com graves dificuldades familiares, alguns abandonados e outros filhos de sócios da ATRAPO, que tinham mais necessidades.
No dia 03 de julho de 1993, houve o primeiro encontro dos Meninos da Horta Nossa Esperança. O encontro foi realizado no centro Paroquial, convidando também as autoridades, como o Prefeito, Vice-Prefeito e a Promotora. Houve apresentações de vários trabalhos, como o grupo de capoeira, danças, teatro e etc. O pessoal do M.N.M.M.R (Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua) de Maceió - AL, coordenou os trabalhos; os meninos contaram a história da Horta Nossa Esperança com desenhos, mímicas e foram desenhadas casas, demonstrando que não tinham moradias, e carros, indicando a falta de transporte para se deslocarem para a Horta Nossa Esperança. Os meninos Iam quatro vezes ao dia, sobre o sol quente, de manhã e à tarde. O número de meninos aumentou até 216 no mês de setembro de 1993, e os rapazes da ATRA.PO ajudavam na sua coordenação. Houve também uma pequena ajuda do hospital a respeito do Cana",
atendimento destes meninos. O Projeto “Palha de
através do M.N.M.M.R, também ajudou algumas vezes com a merenda.
A Prefeitura de Colônia Leopoldina começou a dar algum apoio com doação de leite, café e pão durante 30 dias, e depois cortou a ajuda. Atualmente, não tem ajuda local, só de amigos (italianos) ligados ao Pe. Aldo (ex-Pároco da cidade de Colônia Leopoldina no período de fevereiro de 1984 a fevereiro de 1996). Nesse tempo, houve o desfile de 7 de setembro (1993), com a participação também dos meninos da Horta, Nossa Esperança: todos com camisetas desenhadas por eles, apresentando os trabalhos realizados. Ao passar do tempo, o número de crianças e de adolescentes foi aumentando na Horta Nossa Esperança. Consequentemente, diminuiu-se a perambulação pelas ruas da cidade, a marginalização, o desprezo e a violência. A estrutura da Horta Nossa Esperança é de 10 hectares de terra, mantendo uma cozinha com capacidade de servir até 100 pessoas, um refeitório com capacidade de atender a 60 pessoas, uma área de acesso a todos esses espaços com 20 metros de extensão e um campo de futebol. Além de um transporte que leva e traz diariamente os meninos da cidade até a Horta Nossa Esperança, assegurado por doações de amigos do Pe. Aldo. Atualmente, tem cerca de 70 meninos que vão para a Horta Nossa Esperança pelas manhã e tarde. O trabalho na Horta Nossa Esperança é organizado por um grupo de atividades e tem uma parte de trabalho manual e outra parte de atividades educativas
e de reflexão sobre os trabalhos feitos sobre o indivíduo, e o grupo de apoio (que discutem vários problemas individuais e coletivos que surgirem). Os grupos de atividades são os seguintes: grupo de preparação do solo, grupo de sementeira, grupo de colheita e venda, grupo de aguação, grupo que cuida dos animais, grupo de meninos menores (mamadeira), grupo de preparação de merenda, grupo de pintura e artesanato, grupo de limpeza, grupo de almoxarifado, grupo de limpeza de lavoura, grupo de adubação, grupo de esporte, grupo de recuperação (acompanhamento individual), grupo dos meninos mais carentes, grupo das mulheres, grupo de saúde e grupo de educação. Cada grupo tem um organizador principal escolhido pela assembleia dos meninos e coordenadores, mudando sempre que for necessário, dependendo da situação de cada grupo. Existem coordenadores gerais que atualmente formam o grupo e se responsabilizam por todo o trabalho da Horta Nossa Esperança Eles são onze pessoas, das quais a maioria faz parte da diretoria da Associação. Cada um tem, além das tarefas gerais, uma tarefa específica, de acordo com as capacidades, trabalho manual, educação, administração das finanças e controle das despesas, esporte, compra de material, venda de produtos da Horta Nossa Esperança, articulação com outros grupos, saúde dos meninos e atividades culturais. Esses organizadores se encontram toda semana para avaliar e refletir os problemas internos da Horta Nossa Esperança, e de dois em dois meses, para aprofundar a reflexão, objetivos e formação, visando melhorar o acompanhamento aos meninos. Quem se preocupa com toda a educação é a coordenação geral da Horta Nossa Esperança, considerado o tipo de relacionamento entre os meninos, a importância da "disciplina" e dos seguimentos da Horta Nossa Esperança, relacionando os hábitos de higiene e a agricultura alternativa. O grupo de atividades de educação se preocupa com os meninos na escola pública, incentivando as matrículas, controlando se os meninos frequentam as aulas, como vão as notas, se houve vagas para todo mundo, como está o relacionamento sobre escola e família, se a alfabetização está interligada com a metodologia apropriada, tudo isso para favorecer a compreensão do conhecimento no geral. No momento, a Horta Nossa Esperança não tem uma autonomia financeira e as ajudas do sustento de todas as atividades vem de doações de Pe Aldo Giazzon e amigos. Outra parte vem da produção agrícola da própria Horta Nossa Esperança.
Atualmente a maior parte das despesas são assim repartidas: merenda com duas vezes ao dia. transporte, professores, materiais diversos para funcionamento e responsáveis dos vários serviços extras. Dentro da terra da Horta Nossa Esperança tem várias tipos de verduras, como repolho, cenoura, pimentão, coentro, alface, tomate, beterraba, e frutas como coco, laranja, caju, mamão etc. Todos estes produtos são usados em parte para preparar a merenda dos meninos durante o dia, e outra parte é aproveitada para ser repartida com os meninos que levam as verduras para casa. A outra parte produzida na Horta Nossa Esperança é comercializada pelos próprios meninos, passando entre a população nas casas da cidade e também na feira do final da semana. Esse lucro vai servir para gastos gerais da Horta Nossa Esperança. Cultivam-se diversos tipos de hortaliças. Esses produtos colhidos são consumidos pelos meninos e, quando têm excedentes, vendem-se e se dividem com os meninos. Para se ter esses frutos, partilha-se o conhecimento que cada um tem no campo rural, praticando o jeito alternativo de trabalhar com a terra, não se usando adubos químicos. Os resultados são muito bons no fim de cada safra e isso valoriza o aproveitamento natural da terra. Há duas escolas de alfabetização: uma funciona na Horta Nossa Esperança, nos horários de manhã e tarde, e a outra na cidade de Colônia Leopoldina, à noite, além de acompanhamento aos grupos escolares, onde estão estudando os meninos que participam do dia-a-dia da Horta Nossa Esperança. Nas discussões, as crianças são incentivadas a preservar a natureza, a prática dos direitos do menor é anexada aos seus deveres, a compreender a história do povo brasileiro (formação étnica), entender o porquê das datas comemorativas, valorizando-se a agricultura diversificada, a pintura, a medicina popular; evidenciamos alguns textos políticos e questões de discriminação racial, enfatizando o misticismo do povo brasileiro. A equipe iniciou-se pela medicina tradicional e hoje estão envolvidos na medicina popular, aprendendo e ensinando diversos tipos de remédios caseiros (produtos naturais). Essa equipe está encarregada de acompanhar cada um, diariamente, no tratamento pessoal, medicinal e, sobretudo, na higiene do corpo, tendo as ervas como aliadas e indicações a médicos especialistas. As crianças da Horta Nossa Esperança participaram de um campeonato de futebol de salão em Colônia Leopoldina e jogaram algumas vezes nos sítios vizinhos. Na Horta, diariamente, praticam-se duas horas de esporte, em um simples campo que,
quando chove muito, fica alagado. Nesse meio tempo, há alguns treinos de capoeira e diversos tipos de brincadeiras que, com simplicidade, tornam a criança mais feliz e objetiva. Nos dias comemorativos, organizam-se algumas atividades esportivas como corridas de pedestres, torneios esportivos, etc. Enfatizando as comemorações, elas participaram de dois desfiles de 7 de setembro (1993/1994) com a própria banda composta pelos meninos. Para saírem nas ruas, tiveram vários ensaios coordenados pelo maestro Vitalino do Nascimento. Os dois desfiles foram atração para o público que os aplaudiram, reconhecendo os esforços dos meninos. Com a mesma banda, organizaram um carnaval no lado de fora (carnaval dos excluídos, dos desprivilegiados). Durante esse período, foram organizadas várias palestras nas datas comemorativas, como: Dia do Índio, Dias dos Trabalhadores, Carnaval, Dia das Crianças, Natal etc; também se prepararam diversas reuniões com os pais ou responsáveis pelos meninos. Para isso, a equipe de coordenação sentou-se várias vezes para avaliar e planejar novos passos, tratando-se de educação e política. Foram planejados vários debates para os meninos na Horta Nossa Esperança e nas ruas, com os pais e vizinhos dos meninos. Neste campo, participaram de várias passeatas nas ruas elaboradas pelo grupo da Horta Nossa Esperança. Esperança é uma forte palavra: talvez a que mais tenha força para enfrentar grupos isolados que só se preocupam consigo mesmo e que incomodam-se com a luta dos que sabem que, pelo esforço, dedicação e desejo, conseguem triunfar. Talvez a Horta “ Nossa Esperança”, popularmente não esteja no auge, mas com certeza está existindo e realizando um trabalho muito gratificante, que merece apreço e solidariedade
das
pessoas
que
acreditam
nela.
Defeitos
existem,
geram
descontentamento social, mas se aguardam soluções.
4. Crianças de rua – histórias de vida
Esta seção apresenta entrevistas que foram feitas com coordenadores e crianças que viveram essa experiência. Iniciaremos com o depoimento dos coordenadores, Pe. Aldo Giazzon e Florisval Alexandre Costa, para, só então, adentramos nas entrevistas de crianças que passaram por todo esse processo aqui relatado.
Coordenadores: Pe. Aldo Giazzon5.
No início da década de 90 também apareceu em Colônia Leopoldina o fenômeno dos meninos de rua", devido ao crescimento da cidade e às condições econômicas configurarem-se em desemprego e crise, intercaladas à conjuntura nacional, onde todos nós, de alguma forma, seja por descaso ou omissão, também contribuímos. O fato se caracteriza por meninos vivendo praticamente sem família ou com pais com problemas, pelo alcoolismo, separação, etc. Outro fator é o de os pais irem trabalhar e, o que recebem, não dá para arcar com as reais condições de criar os filhos. Os próprios pais apóiam, então, o fato de as crianças irem às ruas para ajudar nas despesas, ou "faturar" para complementarem o orçamento. Entre essas que voltam as casas, os outros casos são piores, pois a rua é a moradia delas – essas vivem à mercê de tudo e esperam o nada em sua vida. Diante desse quadro real, a ATRAPO (Associação de Trabalhadores e Pequenos Produtores Rurais), querendo ajudar essas categorias de pessoas, construiu a sede própria, com a finalidade de reunir os trabalhadores e debater, em seus problemas, soluções possíveis ao alcance deles. A Associação comprou um terreno para produzir verduras para o comércio, onde está situada a Horta Nossa Esperança. Com isso, a ideia seria de os meninos saírem das ruas e aprenderem uma profissão. Desta maneira, alcançariam alguns objetivos bem claros: tirar os meninos de rua e tratá-los como gente, e não como "malandros”, mostrando atenção, afeto e estima, através do diálogo e as boas maneiras, quando manifestassem atitudes de revoltas e brigas. Para isso, eles eram alimentados e vestidos, a fim de se criar todo um ambiente favorável aos estudos, pois ninguém os queriam nas escolas públicas pela rebeldia e desordem que criavam. Com a ideia de cidadania e associativismo, a ATRAPO (Associação de Trabalhadores e Pequenos Produtores Rurais), através da Horta Nossa Esperança,
5
O maior incentivador – Pe. Aldo Giazzon, nascido aos 27 de abril de 1937, em Santa Giustina, Itália, estando no Brasil desde 1971 e em Colônia Leopoldina, a partir do dia 05 de fevereiro de 1984.
poderia reintegrar a criança à "sociedade", permitindo-lhes mostrar seus afetos e ânsias até então retraídas por falta de oportunidade. Portanto, a Horta Nossa Esperança desempenha, de certa maneira, o papel da família, geralmente ausente ou insolvente. O começo deste trabalho foi bastante difícil, seja pela situação precária, na qual a gente se encontrava em nível de estruturas, seja pela pouca preparação técnico-educativa das pessoas encarregadas. O que importa é que conseguimos o objetivo, porque quem operava na Horta Nossa Esperança sentia como missão o papel que devia desenvolver. Descobrimos que o coração valia mais do que tantos estudos de psicologia e técnicas, pois os meninos de rua nunca tiveram quem os amasse de verdade.
Pe. Aldo, mais alto à esquerda, em reunião com crianças e responsáveis pela Horta Nossa Esperança, setembro /95 – Foto Dom Bosco – Colônia Leopoldina – AL
Talvez, o sentimento AMOR, tão discutido, venha a explicar muitas das condições de desprezo, rebeldia e ódio como são tratadas as crianças de rua. No entanto, compete a todos nós nos indignarmos com o que acontece, nos questionando sobre nossas ações.
Florisval Alexandre Costa6.
“Como vejo os que perambulam pelas ruas, nas estradas e nos campos, em busca de algo para sobreviver, a partir do trabalho que tive durante seis anos (1992 1998) no processo educativo de crianças na Horta Nossa Esperança, causa-me bastante orgulho, eu, filho de agricultor da Região Agreste do Estado de AL, que convivi em família de 12 irmãos, trabalhando no cultivo da monocultura do fumo no Município de Arapiraca; no início, trabalhando nas Terras do patrão e tendo que dividir a metade da produção a cada término de colheita. Em segundo momento, conseguimos trabalhar em 10 hectares de terras próprias, e nunca tinha me passado pela cabeça que criança tinha que viver procurando o que comer nas ruas. Portanto, posso dizer que foi um grande choque ao observar cenas na cidade de Colônia Leopoldina - AL e na Horta Nossa Esperança”.7 Diante das dificuldades que passavam (as crianças), o jovem Florisval Costa cansou de esperar e integrou-se nesse movimento através de sua conversação, atenção e desejo de conquista. Superou traumas, serviu de apoio, aprendeu a ouvir até coisas do tipo "Flô, tenho vontade de comer feijão, arroz, macarrão e galinha", esse era um desejo quase geral dos que chegavam. Necessidade básica. Dessa Horta Nossa Esperança brotou uma semente que germinou frutos sadios e ricos, rompeu fronteiras e se fez prosperar. Daí o fato de Florisval Costa ser tão contundente na afirmativa: "Para mim, meninos de rua não são problemas, e sim, a falta de política de emprego, reforma agrária, reforma na educação, na saúde, na habitação e salário digno, para que o trabalhador possa arcar com suas despesas ", num país onde os burgueses já têm definido o que querem e o proletariado, "muitas" vezes alienado, aceita as imposições.
6
Florisval Alexandre Costa, Presidente da ATRAPO, de 1993 a 1997, chegou à Colônia em 1992, como militante de Movimentos Sociais. Nasceu em Arapiraca - AL em 26 de julho de 1953. Chegou a Colônia Leopoldina - AL, em 19 de maio de 1992. Bastante ligado aos movimentos sociais (sindicais) foi o presidente da ATRAPO e, atualmente, faz parte da CEAPA (Centro Estadual de Assentados e Pequenos Agricultores - Maceió – AL. 7
Entrevista realizada em 11/12/1999.
Crianças ou adolescentes que passaram pelo Projeto. Ernandes Barbosa da Silva8.
"Comecei a frequentar a Horta Nossa Esperança simplesmente por curiosidade pura, para ver se era realmente como as pessoas falavam. Primeiro eu sabia que não ia ganhar o que ganhava no "emprego" anterior, que era em supermercado". A decisão de Ernandes em ingressar na Horta Nossa Esperança também se deu pelo fato de seu talento artístico para desenhos e pinturas, mas, sobretudo, para manifestar seu cansaço para com as oportunidades que a vida lhe deu, possibilitando hoje se tornar um aluno de talento, reconhecido e valorizado, pois toda a pintura atual da Horta Nossa Esperança é trabalho dele. Ele, de forma direta, continua presente, servindo de exemplo para quem tem o sonho de, quando sair, não ser tido como um qualquer, e sim, como um cidadão, uma pessoa crítica e idealizadora”.
Consideramos extremamente interessante esse depoimento, não só pela vitória final, pelo profissionalismo, mas também pelo vigor, pela lição e obstáculos superados, para que pudesse fazer valer suas convicções. A ideia, por exemplo, de estruturação foi brilhante. "Formamos um núcleo de base, era uma equipe que sentava, debatia assuntos sobre os meninos carentes da cidade e casos de violência familiar e outros". Uma vez debatidos os problemas de forma comunitária, as chances de que as soluções fossem postas em prática com mais afinco se tornam mais próximas. A ideia partira de todos, amadurecendo sonhos e almejando fortalecer o grupo, pois quando tudo vai bem, é muito fácil; o difícil é quando algo vai mal, quando as críticas desconstroem o que está por se formar. Por isso, o grupo têm que ser unido e objetivo, principalmente solidário, o que acarreta um entrelaçamento entre todos os membros atuantes. Júlio Alves da Silva9 8
Ernandes Barbosa da Silva, participou do Projeto – Horta Nossa Esperança. Nasceu em Colônia Leopoldina - AL, frequentou a Horta Nossa Esperança no período de 1993 a 1997, faz parte do M.N.M.M.R (Movimento de Meninos e Meninas de Rua) de Maceió – AL. Estuda artes plásticas e mora em Maceió, onde já apresentou vários trabalhos artísticos. Entrevista realizada em 15/12/1999. 9
Júlio Alves da Silva tem 15 anos. Nascido em Colônia e freqüentou a Horta, estudando na Escola Municipal.
"Minha mãe não trabalha. Só vive andando no mundo. Ela bebe muita cachaça,
por isso eu não gosto muito dela. Não conheço meu pai. Tenho seis tios e vivia na rua até um coordenador me chamar para ir para Horta Nossa Esperança"10. Na conversa que tivemos com este garoto, tivemos a oportunidade de ver de fato o que se passa a nível de sofrimento com a maioria das crianças de rua. Uma família tão grande que não chega a comportar ninguém, e o mais interessante é que esta criança está na Horta. Já morou em vários lugares, mas que se pudesse estaria em sua casa vivendo os sonhos e almejando que eles se tornassem realidade.
Luiz Carlos da Silva11
O relato deste jovem é tido como normal para as crianças de rua, tendo este uma família que ingere bebida alcoólica, espanca as crianças e pede esmola; quisera nós que todos eles não precisassem ter que procurar um projeto educacional para saírem deste desespero. Mas a realidade é dura e inconformante. Ao chegarem ao grupo, as crianças fazem trabalhos de integração, testes para estudo, pesquisa referente à família e debates com dinâmicas, para os garotos manifestarem seus próprios costumes. Um fato interessante citado por "Pe. Aldo Giazzon, mesmo sendo membro da Igreja Católica Romana, é que ele sempre deixou as crianças livres para manifestarem sua fé de forma ecumênica na religião que desejassem. No entanto, as influências para a religião do mesmo estavam mais afloradas. O importante é que se tenha uma crença: a de que o Deus será o mesmo ".
Valdemir de Moura12 10
Entrevista realizada em 09/11/1999.
11
Nasceu em Arapiraca – AL, e hoje com 16 anos, trabalhando e estudando no município de Colônia Leopoldina, havendo frequentado a Horta Nossa Esperança, no período de 1994 a 1997. 12
Entrevistado no dia 25/11/1999. Ele nasceu em 28 de agosto de 1985 e, atualmente, estuda na Horta
Nossa Esperança e na Escola Municipal.
Observemos o relato deste garoto, que é muito interessante, pois ele nunca foi menino de rua, mas também nunca teve uma família que se adequasse ao que consideramos de princípio. Outro fato curioso é que este garoto nunca estudou, porque não tem registro de nascimento: "Diante de tantas inconformidades, comecei a frequentar a Horta Nossa Esperança convidado por um amigo. Nessa época, eu era muito doente e fui tratado com remédios naturais. Com o passar do tempo, fiquei curado". É válido salientar que, mesmo a Horta Nossa Esperança trabalhando a medicina alternativa, ela reconhece e indica a medicina científica. Portanto, poderíamos nos questionar sobre esse fato: se não era de rua, como foi parar na Horta Nossa Esperança? Pelos mesmos motivos: falta de estrutura familiar e dificuldades no convívio social. Lá o garoto participava na "plantação de milho, feijão, gergelins, amendoim e outras plantas, inclusive fizeram agras florestas. Ele citou o estudo como algo vivo e importante para sua formação social. Pelo fato de já estar completando a idade máxima para deixar o projeto, Valdemir manifesta dois tipos de sentimento: pena e solidariedade - pena de deixar esse local onde as pessoas trabalham com seriedade e solidariedade, pois essa vaga deve estar disponível a outra criança que está numa situação pior que a dele.
José Adriano da Silva13.
É importante vermos que a decisão desta criança de frequentar a Horta Nossa Esperança é própria, pois as expressões que relatam o gosto e o desejo de estar lá são muito fortes, sobretudo esse apego a Deus: "Gosto da Horta Nossa Esperança, porque lá nós jogamos, bola, varremos o terreiro, firamos caju, nós fazemos apresentações teatrais, aprendemos a cantar música, tiramos abacaxi, maracujá, um monte de frutas, a
13
Nasceu em 15 de outubro de 1989, em Colônia Leopoldina. Vivia nas ruas e, hoje, estuda na Horta
Nossa Esperança e na Escola Municipal, mantendo ocupações para garantia de um futuro melhor. Entrevista realizada no dia 26/12/99.
gente “entrava no mofa” para brincar, uma vez nós fizemos uma casinha que simboliza o lugar onde Jesus nasceu, devendo ter respeito e paz neste local". Diante de tantas descobertas, tantas expectativas, ele cita referências, a quem não cumpre suas tarefas direito ou briga com os colega, acarretando em punições e havendo posteriormente reintegração do grupo. As professoras sempre vão a casa dos pais convidá-las para reuniões, onde falase de todos os alunos, dividindo com quem pode suas conquistas e metas desejadas. As comemorações na Horta Nossa Esperança são intensas, conforme vimos em filmes, fotos e relatos das crianças, a presença de um trabalho sério está em todo momento, e nessa concepção, nos estarrecemos com as descobertas efetivadas.
Alisson Manoel da Silva14.
Neste relato, resolvemos fazer essa entrevista com o intuito de analisarmos os pontos de vista de Alisson, garoto que frequenta a Horta Nossa Esperança e inicia relatando que "vivia na rua bagunçando, batendo na porta dos outros, dando tapas e levando, e principalmente sem querer estudar. Até que um dia, um homem foi lá em casa reclamar. Disse que eu batia e minha mãe tomasse as providências, se não ele ia bater em mim”. Pelo que ouvimos, as peraltices do menino não eram poucas, a tal ponto de a própria mãe pedir para que o referido projeto aceitasse seu filho. Após algum tempo de espera (devido à falta de vagas), foi constatado que a referida criança poderia frequentar a Horta Nossa Esperança. No entanto, o próprio aluno é bastante contundente em afirmar que "Hoje em dia, cortar cana não dá certo, ganha pouco, não dá para nada. Quem estuda ganha mais dinheiro e arruma um emprego bom em loja. Este ano passei para a 3ª série e não quero
14
Nascido em Colônia Leopoldina. Permanece na Horta Nossa Esperança, estudando na cidade e ajudando seus pais, vendendo picolé nos dias de feira-livre. Entrevistado no dia 26/12/99.
deixar de estudar, gosto muito da minha professora, respeito ela e meus amigos na Escola Antônio Lins da Rocha", Um dos programas preferidos das crianças da Horta Nossa Esperança é a viagem que realizam para Marechal Deodoro – AL, cujo trajeto possibilita conhecerem as cidades e a Horta Santa Rita, que é mais estruturada que a de Colônia Leopoldina AL por manter padaria, sorveteria, fábrica de chinelo, oficina de carro e etc. Conhecendo outras crianças nas mesmas condições, eles podem questionar o que passam e se sentem mais à vontade para se abrir e procurar melhorar em sua Horta. Sem falar no intercâmbio de moradia que fazem e "paqueras' que rolam nessa idade tão entusiasmante de descoberta, onde as mudanças no corpo confundem muito nossa mente. Estamos falando da empolgante fase da adolescência, aspectos muito debatidos nas aulas da Horta Nossa Esperança. Os irmãos de Alisson não estudam, ficam na creche e "a irmã mais velha, sempre aparece alguma coisa que atrapalha, e ela sai da escola, Quando eu crescer, disse Alisson, queria ser médico; é que eu acho bonito, porque quando as pessoas estão já morrendo, os médicos salvam”. Salvação, eis uma palavra forte que antagoniza-se com injustiças e descaso, mas que, na conjuntura, possui relação com as crianças de rua no Brasil e no mundo globalizado. O sonho de Álisson é simples: basta que ele estude, dedique-se, prepare-se para o vestibular e curse uma Faculdade. O que citamos seria o básico para qualquer criança, mas para Alisson é algo extremamente difícil, que ele considera "quase" impossível. Ainda bem que ele registrou como quase impossível, pois se depender de pessoas como Pe. Aldo Giazzon, professores da Horta Nossa Esperança e outras tantas instituições sérias e compromissadas que existem no Brasil, conseguiremos mudar o sonho de Alisson, interferindo até na fala dele, para que afirme que: “quando crescer QUERO, ser médico”. À margem de muito apoio, determinamos os depoimentos de quem tem para com a "sociedade" sua parcela de contribuição cumprida. Somos contra criança trabalhar e jamais admitiremos exploração no trabalho infantil. Somos contra, ainda, as crianças na rua e esperamos que esse estudo dê enfoque a uma autoanálise, mediante você, no processo de crianças carentes no Brasil. Reflita sobre suas expectativas e ações para com elas, para que propaguemos atos de solidariedade e dignidades como esses aqui relatados.
5. Considerações
Projetos e instituições surgem a toda hora: alguns com convicções e certezas que se prosperarão pelos ideais, e outros já predestinados ao desmoronamento, partindo apenas como alternativa política emergencial; sem falar nas distorções que ocorrem relacionados a índices econômicos emitidos a estes fins. Diante da realidade referente às crianças no Brasil e sua trajetória no contexto social, é coerente dizermos que houve muitas mudanças nos costumes das crianças indígenas e, posteriormente, africanas, abrindo assim as portas para a formação da criança brasileira que espelha a cultura atual do Brasil. Se dissermos, porém, que tudo que aconteceu na história das crianças foi fracasso, seria admitir que nenhuma luta foi vencida. E isso, felizmente, não é verdade, pois questões de estatutos, direitos e deveres das crianças passaram a existir. Portanto, nossa indignação continua pelo fato de ainda se considerar que tudo o que acontece com as crianças é normal. Surge, assim, a necessidade em divulgar a Horta Nossa Esperança, criada pela ATRAPO, e outras que se assemelham nessa atividade social e política. De ideia em idéia, foi se formando um núcleo de crianças que, acompanhadas pelos seus coordenadores, puderam relatar hoje seus sonhos, transformados em realidade. Na situação atual da Horta Nossa Esperança, a estrutura é confortável por conta de verbas emitidas por Luxernburgo. Os trabalhos desenvolvidos são de boa qualidade. No entanto, em relação às crianças, poderia se expandir mais, conforme era a produção total. Contudo, não estamos, porém, pedindo para que aumente o n° de crianças de rua. Mas acontece que ele já é gritante e continua se alastrando a cada hora em que fechamos nossos olhos e não refletimos para mudar esse quadro. As crianças devem ser respeitadas como cidadãs e devemos exigir a aplicação dos seus direitos e possibilitar oportunidades de conscientização de seus deveres. Depende de nós mudarmos o quadro. O desafio é grande, os responsáveis não se apresentam e nós ficamos de mãos atadas. Só que, nesse meio termo, esquecemos novamente das crianças, que continuam nas ruas a mercê de tudo. Se nós ainda não nos integramos a esta causa "social", a hora é esta! Urge que reflitamos sobre uma solução para a resolução da situação das crianças de rua. Até agora, esse nosso problema, enquanto cidadãos, só faz somar e multiplicar.
6. Referências bibliográficas.
ANCHIETA, J. Sermão da Domingo Post Pentecostes, 1564. Pag – 504 ARIES, Fhilippe. História Social da família e da Criança, Rio de Janeiro. Zahar, 1978. FREYRE, Gilberto. 1900 – 1987. Casa grande & Senzala, formação da família brasileira sob o regine de economia parcial / Gilberto Freyre, ilustrações em cores de Cicero dias, desenhos Antônio Montenegro – 34 ed. Rio de Janeiro, 1998. HOFFMAN, Martin. O sexo equívoco. Rio de Janeiro. Editora Civilização Brasileira, 1970, pág. 180. MARTINS, Gilberto de Andrade. Manual para elaboração de monografias e dissertações / Gilberto de Andrade – 2 ed. – São Paulo. Atlas, 1994. PRIORE, Del Mary (org.) – São Paulo. Contexto, 1991 (caminhos da história). Estatuto da Criança e do Adolescente (Conselho estadual PE de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente) – publicado no Diário Oficial em 1990. Documentos da Horta Nossa Esperança (Colônia Leopoldina – AL). (Pesquisa de campo). Almanaque ABRIL, 1999 IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Secretaria Municipal de Educação de Colônia Leopoldina – AL.
7. ANEXOS
Anexo 1 – FOTO
Estudantes concluintes de Licenciatura em Geografia preparam as suas monografias de final de curso, pesquisando o movimento de organização, gerador da HORTA NOSSA ESPERANÇA, no interior de suas instalações físicas. Jan/2000 – Foto Bom Bosco – Horta Nossa Esperança – Maraial – PE
Anexo 2 – Entrevistas ENTREVISTA 1 PADRE ALDO GIAZZON 15
"No início da década de 90, também apareceu a Colônia Leopoldina - AL, o fenômeno dos meninos de rua" com todas as características do caso: meninos praticamente sem família vivendo de expedientes na rua, ou meninos com graves carências na família, por exemplo, pai bêbado, mãe solteira com alguns filhos, padrasto batendo em filhos da esposa etc., ou simplesmente meninos e meninas cujos pais iam trabalhar no campo e deixavam em casa seus filhos o dia inteiro, muitas vezes sem algo para comer. A ATRAPO (Associação de Trabalhadores e Pequenos Produtores Rurais), querendo ajudar essas categorias de pessoas, construiu a sede própria, com a finalidade de reunir os trabalhadores e debater seus problemas para encontrar soluções possíveis ao alcance deles. Daí nasceu a casa de farinha, detrás da sede, com forno elétrico dotada de máquinas as mais modernas na época. Os trabalhadores que plantassem mandioca nas vizinhanças da cidade e que não tivessem casa de farinha própria podiam utilizar dessa casa. Muitos se serviam dela, pois era mais fácil fazer farinha de mandioca gastando menos que em outros lugares. Em seguida, foram compradas máquinas para a moagem do milho. Foi o tempo em que se produziu muito pouco milho na região, devido ao tempo seco. As paradas davam prejuízos e máquinas foram vendidas, investindo-se o dinheiro em gêneros alimentícios para os trabalhadores que não pudessem comprar por falta de dinheiro. A coisa seguia até bem, mas no tempo da entressafra da cana-de-açúcar, a venda se "quebrou”. A ATRAPO comprou um terreno para produzir verduras para o comércio, onde se situa a Horta Nossa Esperança hoje. Posteriormente, esses meninos de rua iriam aprender o cultivo para adquirirem experiência e, também, para comer do fruto de seu trabalho. 15
O sacerdote Aldo retornou à Itália, residindo, hoje, na cidade de Belluno.
Meninos de rua eram tratados como gente, e não como "malandros": mostravase atenção, afeto e estima através do diálogo e das boas maneiras, quando manifestassem atitudes de revolta e brigas; eram alimentados, vestidos, para que não tivessem mais vontade de viver de expedientes; foram iniciados nos estudos, pois ninguém os queria nas escolas públicas pela rebeldia e desordem que criavam. Com o afã de ajudar muitos meninos, preferimos a quantidade à qualidade: meninos demais, de rua e também de famílias bem sucedidas. Chegamos a ter na Horta mais de 200 meninos e meninas. Aí a gestão foi quase impossível, e não se podia conseguir as finalidades que nos eram propostas. A partir dessa observação, reduzimos o numero para 30, selecionando os meninos que tinham maiores problemas como os de rua e os que tinham problemas em casa. O certo é que dentro de alguns anos conseguimos ajudar efetivamente aqueles que mais precisavam. Recuperamos 11 dos 13 meninos de rua, percentagem nunca conseguida por outras entidades do gênero. Uma das atividades que nos comprometiam bastante foi ter contatos com as famílias ou parentes dos meninos de rua para integrá-los no seio da mesma. Tivemos resultados. Quando conseguimos mandar alguns deles para escolas públicas, a gente os acompanhava, visitando a classe e sabendo da professora qual era o proveito que estes alunos estavam conseguindo. Integramos também a comunidade de Colônia Leopoldina com festinhas, encontros, jogos, sempre na Horta Nossa Esperança. Os meninos manifestavam uma violência fora do comum, e precisavam descarregá-la. Por isso, promovemos partidas de futebol e outros jogos com outros meninos, para que acostumassem às regras do jogo e ficassem fisicamente cansados. Conseguimos um clima de família e nele se falava de tudo, mesmo das aventuras dos roubos e dos problemas com a polícia quando os meninos viviam na rua. Em fevereiro de 96, eu fui chamado para outra missão e deixei a Horta Nossa Esperança, título que foi dado pelos meninos de rua quando nos primeiros meses eles viram crescer as esperanças de uma nova vida. O nosso trabalho mereceu a estima e o elogio de uma Entidade de Luxemburgo, a qual se comprometeu em financiar a construção de um salão, de uma cozinha, um refeitório e 10 banheiros. De fato, nós trabalhávamos numa grande precariedade, porque a Horta Nossa Esperança operava numa casa onde morava o guardião do sítio. A Horta Nossa Esperança é um serviço social da ATRAPO e, como tal, não tem colaboração política. Ela ajuda meninos necessitados sem considerar de qual
partido eles são simpatizantes. Também não força para que os familiares deles votem em um partido fixado. Com os familiares dos meninos de rua e com os sócios da ATRAPO entre outras, colocávamos a reflexão sobre a situação dos pobres e dos excluídos. Nós perguntávamos: "Por que há tanta gente pobre e excluída, à margem da economia, do sistema de saúde, da ação política, mesmo tendo riquezas imensas no Brasil? Será que há tanta gente preguiçosa, incapaz, que não quer melhorar, que só pensa em cachaça e jogo? Por que tanta gente não tem uma casa própria ou um pedacinho de terra para plantar, enquanto alguns poucos tem milhares de hectares de terra e vilas na praia, além de casas luxuosas onde moram? Ninguém quer tomar o que é dos outros, mas a todos devem ser dadas oportunidades iguais. Por exemplo, os filhos dos trabalhadores mal têm o que comer e vestir, e muitos deles não podem frequentar a escola porque não têm onde comprar farda, livros, cadernos e demais coisas que a escola exige. Esta reflexão levava a uma escolha política a favor dos mais pobres. E dentre os cinco partidos que mais favoreciam os trabalhadores, o PT (Partido dos Trabalhadores) era o preferido. Éramos conscientes de que nenhum partido resolve todos os problemas da população. Porém, tem partidos que dizem ser a favor dos pobres, mas fazem todas as leis a favor dos que mais têm e podem. Depois destas considerações, cada qual escolhia pertencer ao partido que quisesse. Na Horta Nossa Esperança, recolhiam-se meninos de rua e outros, sem perguntar a qual religião pertenciam. A prova disso é a de que tivemos meninos que se diziam católicos, outros que não tinham registro religioso, um outro que era declaradamente evangélico. Nunca tivemos problemas a respeito da religião; as professoras que acompanhavam os meninos ensinavam religião nas escolas públicas, sem obrigá-los a seguir uma de modo exclusivo. Por dizerem ser quase todos Católicos Romanos, os meninos frequentavam festas e manifestações religiosas Católicas Romanas e, às vezes, evangélicas. A Horta Nossa Esperança nasceu quase por acaso. Aconteceu que eu fui convidado a ser padrinho de uma menina, cujos pais eram desconhecidos. A senhora que cuidava da menina, sendo madrinha de batismo, veio a falecer depois de dois anos que a criava. Ai, como padrinho, tomei conta desta menina e a adotei legalmente. Isto foi possível, porque não havia ainda o Estatuto da Criança e do Adolescente, Constatei o quanto era e é difícil para uma criança vencer na vida, quando faltam os pais e, sobretudo, o amor, o carinho e a confiança. A partir destas considerações, comecei a olhar com mais atenção os meninos que viviam nas ruas de
Colônia Leopoldina e imaginei ser o pai deles. O que um pai deveria fazer? Assim, no meu coração, desencadeou-se a vontade de fazer algo válido para eles, não só dar comida e roupa. Junto com a diretoria da ATRAPO, pensamos em atender aos meninos de rua, geralmente filhos de trabalhadores ou de pessoas necessitadas. A Horta Nossa Esperança, para mim, representava o lugar dos meninos de rua, a segunda casa e, para alguns, a primeira. Eles, praticamente, não tinham uma família: a Horta constituía, de certa maneira, a família, e providenciava o quanto fosse necessário para a vida, a educação, o divertimento e demais necessidades de uma pessoa normal, para que estes “meninos-problemas” se tornassem iguais aos demais e pudessem crescer como "gente”. Foi neste sentido que os responsáveis da Horta Nossa Esperança trabalhavam e vêm trabalhando. Nós não visamos um retorno econômico ou de qualquer outra espécie, se não aquele de ajudar os meninos a sair de sua situação e crescer aos poucos como os outros, na saúde, na educação, na inserção, na sociedade e no trabalho. Portanto, a Horta Nossa Esperança desempenha, de certa maneira, o papel da família, geralmente ausente ou insolvente. O começo deste trabalho foi bastante difícil, seja pela situação precária na qual a gente se encontrava, em nível de estruturas, seja pela pouca preparação técnico-educativa das pessoas encarregadas. Todavia, conseguimos o objetivo, porque quem operava na Horta Nossa Esperança sentia como missão o papel que devia desenvolver. Descobrimos que o coração valia mais do que tantos estudos de psicologia e técnicas, pois os meninos de rua nunca tiveram quem os amassem de verdade. Os educadores tiveram a capacidade de acolher, pacientar, socorrer os meninos até mesmo no ensino escolar, quando as escolas públicas não os queriam, porque criavam desordem e problemas. Para mim, a Horta Nossa Esperança teve um grande sentido, pois me ajudou também a realizar a minha missão de sacerdote, a de socorrer os mais necessitados e ajudá-los a desenvolver e caminhar com suas próprias pernas. As perspectivas da Horta Nossa Esperança foram e são de acolher meninos e meninas de rua ou "a risco", para salvá-los dos maus caminhos. Mas também para dar uma esperança na vida, para ajudá-los a crescer de maneira normal, valorizados por aquilo que tem de bom, para desenvolver as suas capacidades e para que possam, aos poucos, assumir a vida por conta deles. No início, estávamos preocupados com as estruturas necessárias para conseguir estes objetivos; agora que conseguimos isto, precisamos melhorar o atendimento no sentido da educação e da alimentação. Temos grandes dificuldades, porque as autoridades "nunca" ajudaram a Horta em nada.
“Tivemos ajudas de amigos na merenda escolar em alguns momentos, e de uma Associação dos Meninos de Luxemburgo, que investiu para construir os novos locais onde atualmente se encontram os meninos.”
ENTREVISTA 2
FLORISVAL ALEXANDRE COSTA “Como vejo os que perambulam” nas ruas, nas estradas e nos campos, em busca de algo para sobreviver, no trabalho que tive durante seis anos (1992 1998) com uma equipe de Diretores da Associação ATRAPO e voluntárias que contribuíram com o processo educativo de meninos e meninas de rua em situação de risco! "Eu, filho de agricultor da Região do Agreste do Estado de Alagoas, convivi em família de 12 irmãos, trabalhando no cultivo da monocultura do fumo no Município de Arapiraca – AL. No início, trabalhava nas terras do patrão e tinha que dividir a metade da produção a cada término de colheita. Em um segundo momento, consegui trabalhar em 10 hectares de Terras próprias, e nunca tinha me passado pela cabeça que criança tinha que viver procurando o que comer nas ruas. Portanto, posso dizer que foi um grande choque ao observar cenas na cidade de Colônia Leopoldina e na Horta Nossa Esperança". Constatamos 40 meninos sobrevivendo nas ruas da cidade de Colônia Leopoldina, sendo que, aproximadamente, 15 dessas acordavam e dormiam nas ruas, catando algo para sobreviver nos baldes de lixo, nas sobras da feira livre, nos sítios mais próximos da cidade, em quintais, roubando; esmolando nas portas de supermercados, bodegas, bares e residências de famílias. Na Horta Nossa Esperança, vimos meninos chegarem com fome e começar a catar tudo o que tinha no sítio para saciar a fome, garotos que comiam as bananas verdes que tinham tirado dos pés, aticuns verdosos, ingá, araçá, manga e goiabas, tudo isso com um só objetivo: acabar com a fome que eles carregaram como herança do próprio lar. Vocês imaginem o que consegui aprender com esses meninos(as) e o que eles me revelaram da história da vida deles; mil estripulias pintaram na vivência dessa sociedade. Contaram dos desejos que tinham de comer feijão, arroz, macarrão e galinha. Isso era o desejo da maioria deles, quando se falava da alimentação. Como profissão, a
maioria deles revelaram querer ser motorista, ter casa e casar para serem bons para seus filhos. Andar e viajar era um outro grande desejo. Escutem bem outras revelações de traquinagem: “bateram num bêbado até o mesmo desmaiar para tomar o dinheiro dele, várias vezes apanharam de adultos estranhos, padrastos, madrastas, pai, mãe, irmãos mais velhos e outros. Conheci dois desses que foram levados para o hospital com cortes profundos de até quatro pontos. Um foi na cabeça, quando insistia em pedir um pão ao filho do dono da padaria, o mesmo quebrou um copo de vidro na cabeça do menino. O outro foi quando insistia em permanecer na porta de um supermercado, o dono pegou-o pela orelha e arrastou para dentro do estabelecimento, rasgando-lhe o "pé da orelha ", pegando pontos após ter sido socorrido no hospital. Alguns deles confessaram que foram violentados sexualmente, pois um rapaz de 18 anos, juntamente com mais outros adolescentes, estupraram um de doze anos, enquanto um segurava o outro, batia com uma tabica nas cosias e o grandalhão mantinha relação sexual à força. Outro confessou também que foi obrigado a manter relações com esse tal que usou um canivete no pescoço. Enquanto outros revelaram coisas desse tipo; alguns viam suas mães transando com vários homens; esses garotos de doze a treze anos tiveram relações sexuais com mulheres bêbadas e loucas, homossexuais, e até mesmo animais etc. Eu sempre quis saber o porquê desses(as) meninos(as) tão cedo tinham certos tipos de comportamento ? O pai e a mãe, onde entram nessa história? Por que esse desprezo aos filhos? Dificilmente havia casos puramente de vagabundagem por parte dos pais. A maioria demonstra um sentimento de revolta e de frustrações da vida que viviam. Essas revoltas, junto com o medo, estavam relacionados aos patrões. Na verdade, essas pessoas têm encontrado muitas humilhações e explorações, caracterizando o poder do sistema escravista: trabalhar muito e receber quase nada pelo trabalho prestado. Deixando-os impossibilitados de atender suas demandas no que diz respeito aos compromissos de manter sua família. Faltando assim muitas vezes dinheiro do aluguel do quartinho onde moravam, o leite para os filhos, medicamentos, roupas, calçados, gás de cozinha,transporte, água etc. Outra coisa interessante é a idade que as mães começam a ter filhos. Há exemplos de mães com onze anos de idade, tendo seu primeiro filho e enfrentando a vida sozinha com suas crianças. Vamos refletir o que passa na cabeça dessas pessoas como mães, e como pessoas que vão ter que enfrentar a vida sozinha ou com ajuda de avó, mãe, do padrasto; dificilmente contam com a ajuda do pai da criança. Imagine que
comportamento vai ter uma menina que nem teve o direito de viver sua infância! Que tipo de infância ele pode dar para seus filhos? Outro problema é a construção dessa família, que normalmente vive sempre se refazendo. Por exemplo, existem pessoas que têm filhos de até cinco pais diferentes, e cada um com formações e reações diferentes. Sem contar com as reações diferenciadas que têm essas pessoas quando estão drogadas, embriagadas ou com fome. Imagine o futuro dessas crianças jogadas nas ruas, forçadas pelas mães que os obrigam a irem à rua para arrumar sua sobrevivência e ajudar na sobrevivência de seus irmãos mais novos. Sem perspectivas de escola, por serem famílias de migrantes na própria região e, às vezes, no próprio município. Observei um garoto desses, por alguns tempos. Sempre que eu entrava em alguns bares da cidade, esse garoto me pedia alguma coisa para comer. Convidei-o para fazer parte da turma da Horta Nossa Esperança e ele topou. Nos primeiros dias, ele sempre fugia do grupo e procurava as fruteiras nativas: araçá, ingá, jenipapo, etc, como também as verduras da horta para comer, pois parecia que o maior problema dele era saciar a fome. Os pais dele sempre bebiam. Encontrei um dia na feira o casal em volta de uma banca que vendia cachaça e o menino estava com eles. O menino saía de vez em quando para catar frutas ou verduras que sobravam da feira, enquanto o pai do menino conversava com alguém, a mãe, com um litro de cachaça na mão, vez por outra tomava uma dose. Terminou a feira e não compraram nada de alimento, só beberam cachaça. A noitinha o pai e a mãe do menino arriaram numa calçada próxima de uma venda. O menino colocou as mãos e os braços dentro da camisa e ficou cobrindo as pernas até os joelhos ficarem enrolados no pé da parede em cima da bolsa de feira e dormiu. Enquanto isso, os dois arriados dormiam bêbados, o cachorrinho deles ali por perto. No outro dia, ao passar pela manhã para a Horta Nossa Esperança, já tinha acordado o menino sentado na sombra do poste e o cachorro estava tentando rasgar os saquinhos de lixo que encontrava pelas calçadas. Enquanto isso, os dois aguardaram a venda abrir para "bater a buxa "(tomar outras). Imagine vocês, um garoto como esse que sofreu todas essas consequências e hoje a notícia que tenho deste rapaz é que está trabalhando e nunca tocou em cachaça. Enquanto isso, dois irmãos que tem bebem igualmente aos pais. E este é o procedimento da maioria dos que são criados assim, à margem da sociedade: reproduzem o que viveram na infância de lesura e perturbação.
Por outro lado, os governantes de diversas instâncias não têm mostrado uma preocupação em fazer política para responder certas situações em que vive a sociedade. Lá, um ou outro prefeito, governador, dos partidos comprometidos com a transformação da sociedade, têm provado à população, aproveitando os recursos que se encontram em mãos, que é possível fazer algo dando alguns passos na construção da cidadania. Por exemplo, quando alguns prefeitos têm convocado os conselhos com a participação de setores organizados da sociedade e fazem valer as parcerias entre Prefeituras e Sindicatos, Prefeituras e Igrejas, Prefeituras e Associações, para resolver problemas da comunidade - como conjuntos habitacionais em mutirões, construções de escolas, fábricas de reciclagem de lixo, resolver questões de transportes, industrialização da pequena produção, problemas de abastecimento de água, gerando assim, de fato, fonte de emprego e renda para a população – são, de fato, sinais de combate à miserabilidade que vive a população brasileira. "Para mim, meninos de rua não são problema, mas sim, a falta de política de emprego, Reforma Agrária, Reforma Urbana, enfim, reforma na educação, na saúde, na habitação e salário digno”.
Meninos pioneiros do Projeto.
ENTREVISTA 3
ERNANDES BARBOSA DA SILVA
"Comecei a frequentar a Horta Nossa Esperança simplesmente por curiosidade, para ver se era realmente como as pessoas falavam. Primeiro eu sabia que não ia ganhar o que ganhava no "emprego" anterior, que era no supermercado Rocha. Foi meio profissional, logo eu fui convidado para pintar as camisas do desfile de 7 de setembro (1993) e a bandeira da Horta Nossa Esperança. Daí comecei a ficar com equipes de artes e capoeira, fazendo oficinas. A Horta Nossa Esperança teve grande influência em minha vida em relação à convivência familiar, que não era das melhores: as discussões eram muito intensas e eu não tinha para onde ir, ou com quem conversar. Psicologicamente, eu me construí,
aprendi a conviver com dificuldades. Naquele ano de 1993, tudo começou a mudar, com relação a minha vida, construí muitas amizades e adquiri um certo conhecimento em relação às artes manuais: foi até feita uma exposição no Shopping Iguatemi (Maceió AL) com trabalhos dos meninos das oficinas de artes que lá existiam. Nesse mesmo tempo, conheci o pessoal do M.N.M.M.R (Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua de Maceió) - AL. Foi onde começou meu contato com o que sou hoje. Passaram-se alguns anos e lá estava eu na Horta Nossa Esperança, já crescido, e naquele momento com uma boa estrutura psicológica. Não deixando de falar que sempre tive uma pessoa muito amiga, que foi Ana Cláudia, pois foi através de mim que a mesma começou a frequentar também a Horta Nossa Esperança. Formamos o núcleo de base. Era uma equipe que sentava e debatia assuntos sobre os meninos carentes da cidade e casos sobre violência familiar e outro. O Núcleo de Base Raízes do Olodum era ligado ao M.N.M.M.R, onde participáramos de encontros em outras cidades. Em 1997, a Horta passou por uma reforma geral, na qual a construção foi baseada em alguns desenhos e maquetes feitas por mim e Florisval. Fiquei um certo tempo afastado, ate que fui novamente chamado para fazer a decoração. Eu conheci os financiadores da reforma da Horta Nossa Esperança, os quais seriam para mim o que se pode chamar de padrinhos. Ao verem os meus trabalhos lá na Horta Nossa Esperança, não sei, mas parece que gostaram muito. Ofereceram-me um patrocínio para estudar artes plásticas em Maceió - AL. E de cara aceitei; acertamos os detalhes e já em 1998 comecei na Escola de Artes Plásticas Edimilson Salles, onde estou até hoje me aperfeiçoando e pegando conhecimentos teóricos. Isso fez com que eu me afastasse um pouco da Horta Nossa Esperança e ficasse em contato direto com os meninos e meninas de rua de Maceió - AL, onde comecei a fazer oficina com o Movimento: oficinas de pinturas que são feitas nas ruas, na FEBEM (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor), em outros Estados, até mesmo em Brasília . Hoje sinto muita saudade de lá, das brincadeiras, das discussões e reuniões da matinha onde passava horas e horas, das pequenas brigas que tinha com Florisval. Enfim, todos me ajudaram de certa forma. Lembro-me da amiga visão da Horta Nossa Esperança, que jamais saíra da minha memória, sinto uma saudade tão grande que só quem viveu na Horta Nossa Esperança é capaz de sentir. E não há pessoa mais indicada a dedicar meu sucesso senão aquele que sempre esteve ao meu lado, sempre me atendeu e me ouviu, foi sempre amigo, irmão e pai: a você, Florisval, hoje estou quase formado em artes plásticas e já fiz exposições em vários lugares: no Shopping (Maceió - AL),
galerias, escolas etc. Carrego na mente a dignidade e o respeito com as pessoas que merecem. “Sempre com o lema da não corrupção”, vou seguindo em frente. Para todos, força sempre. “Ernandes”.
ENTREVISTA 4
JÚLIO ALVES DA SILVA
"Minha mãe não trabalha, só vive andando no mundo. Ela bebe muita cachaça, por isso eu não gosto muito dela. Não conheço meu pai, tenho seis tios: Izaias. Moisés. Zezinho, Raminho, Joãozinho e Everaldo; tenho dois irmãos: Marcelo e Leonardo; e também dois avos que são os pais da minha mãe. Eu gosto muito deles, não vivo com eles porque eles já tomam conta de meu irmão e de meus primos. Eles são aposentados, mas é muita gente para eles darem de comer. Eu fui para a rua, lá eu pedia para comer na rua com meus colegas que eram Eronildo, Valdir, Toinho, Jhonata, Gonçalo, Roque, Nil, Ede, etc. Mas, às vezes, alguns desses me batiam e me obrigavam a fazer coisas que eu não queria, Já morei em Cavaco, no Galo, Pirajá, Riacho Seco e agora estou na Horta Nossa Esperança. Eu gosto de correr de bicicleta, jogar bola, assistir televisão, de andar, de peteca (estilingue), brincar de carro, jogar ximbra (bola de gude), de brincar nas lamas com pneu e de estudar. Gosto de estudar porque, quando eu crescer e ficar rapaz, eu arrumo um emprego. E o que eu mais gosto é correr bicicleta. Quando eu crescer, quero ser motorista. Cheguei aqui na Horta Nossa Esperança através de um dos coordenadores que me chamou na rua e eu vim, porque eu queria aprender a ler e escrever. Eu gosto daqui porque como três vezes ao dia, estudo, brinco com os meninos, tem banana, acerola, laranja, jaca, pitomba, manga, abacaxi, coco, amendoim, goiaba, etc. Gosto de trabalhar, não faço às vezes por preguiça. Gosto demais daqui da Horta Nossa Esperança, dos meninos Neguinho e Adeilton, Cicera (educadora), gosto de comer arroz. Já arrumei duas namoradas aqui e eu gosto muito delas, dava beijos nelas. Não desejo mais voltar para a rua, porque lá é muito ruim: os maloqueiros davam em mim e eu tinha que pedir para comer; se minha mãe vivesse em casa eu vivia com ela".
ENTREVISTA 5 LUIZ CARLOS DA SILVA 16
"Meu pai carregava frete na feira e, de tempos em tempos, cavava cacimba. Minha mãe pedia esmola e bebia muita cachaça, enquanto meu pai, de tempos em tempos. Minha mãe morava com outro homem por nome de Nicácio, que bebia muito e batia nela. Na mesma vila (Bairro Manoel Teles), morava meu pai com outra mulher (Maria da Conceição). Vivendo assim, muito pertinho, meu pai nunca brigou com o homem da minha mãe, muita das vezes lhe oferecia comida. Todos pediam esmola (Valdemar, Nicácio, Elizabete e Maria da Conceição), como também bebiam cachaça, menos minha madrasta (Maria da Conceição). Eu também pedia esmola com eles, só que eu não morava com minha mãe e Nicácio, por causa do mau cheiro da cachaça, era demais; morava com meu pai e minha madrasta (Maria da Conceição), que batia muito em mim porque voltava tarde da rua. Muitas das vezes puxei água da cacimba para ela lavar as roupas, mas, mesmo assim, ela me batia, só não batia em irmão Luciano, porque era filho dela com outro homem. Saí muitas das vezes com Nicácio para pedir esmola em Palmeiras dos Índios – AL, onde até dinheiro arrumávamos e a mãe vivia bebendo pela rua. Eu gostava de andar com o Nicácio porque quando ele tinha dinheiro, pagava picolé, pipoca, caldo-decana, chiclete, guaraná, até cerveja, às vezes, fazendo a gente chegar bêbado em casa. Um dia Nicácio foi preso porque furou o braço de uma mulher e fui lhe visitar na prisão. Cheguei aqui através de uma carona de um caminhoneiro de Arapiraca que estava vindo para Colônia Leopoldina. Chegando aqui, fui até Sertãozinho (Distrito de Maraial - PE) para pedir comida. Lá as pessoas me disseram que essa Horta (Horta Nossa Esperança), era para meninos de rua. Foi daí que procurei o Padre Aldo e pedi para ir para a Horta Nossa Esperança. Lá eu gostava muito da comida, da escola e de andar de carro. Não queria mais voltar para Arapiraca, porque dormia no chão, tinha que pedir esmola na rua
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Mora em Saloar, PE.
todo dia e porque lá tem muitos trombadinhas. Também estive um tempo com Padre José na cidade de Craíbas, onde cheguei até a estudar no grupo escolar ".
ENTREVISTA 6
VALDEMIR DE MOURA
"Nunca fui menino de rua. Minha mãe me prendia muito em casa, não deixava sair na rua. Não tenho pai, sinto muita saudade dele. Ele morreu em 15/11/995 e passava jogo (jogo de bicho). Minha mãe se amigou com o Sebastião Tibúrcio da Silva, que é meu padrasto. Tenho cinco irmãos e eu sou o mais novo. Tenho medo de um deles, porque já peguei ele fumando maconha e só vive bêbado. Fui para Igreja Católica Romana e encontrei um menino de rua (adolescente) que era acompanhado pela Horta Nossa Esperança. Ele me convidou para ficar indo para a Horta Nossa Esperança, porque disse que lá tinha escola e futebol, que me animou bastante. Tinha muita vontade de estudar, mas na escolar pública não deixavam eu estudar porque eu não tinha registro. Ele disse que na Horta Nossa Esperança podia estudar sem registro. Daí por diante, comecei a frequentar a Horta Nossa Esperança, apesar da minha idade, eu era muito doente e pequeno; todo entrevado e cheio de ferimento, fui tratado na Horta Nossa Esperança com tratamentos naturais e com o passar do tempo fiquei curado. Participei de atividades na agricultura, plantando milho, feijão, gergelim, amendoim e outras plantas, inclusive fizemos agro-floresta. As coisas que mais gosto na Horta Nossa Esperança são estudar, fazer esportes. A Horta Nossa Esperança é um lugar importante para meninos e meninas, porque é lá que se aprende a respeitar uns aos outros, nós aprendemos a ser cidadãos diferentes, nós estudamos vários temas como: Estatuto da Criança e do Adolescente (direitos e deveres); os educadores contam a verdadeira História do Brasil e do povo Negro e Índio. Participamos de construções de oficinas, nossas aulas são bem animadas, com desenhos, músicas, brincadeiras, brincando de teatro, rezando, criando outras histórias, desenhando o nosso corpo, nós assistimos filmes, passa fita de vídeo que só leva a gente a crescer na vida (vídeo HIV, DST). Depois de assistir, as professoras davam mais uma explicação sobre o vídeo..
Estou pensando em sair da Horta Nossa Esperança, porque já completei a idade. Lá só pode ficar até os 14 anos e eu já completei. Eu saindo, vou dar chance a outro menino que também se tornará um cidadão. Foi na Horta Nossa Esperança que aprendi a ser gente. Lá tem sempre reunião com a gente e com os pais. Essa reunião é com as pessoas da Horta Nossa Esperança. Na reunião, os pais dão também opiniões, são coisas de interesse da gente e também todos os meses tem reunião só com a gente (meninos e meninas) da Horta Nossa Esperança. As professoras (Amara, Cícera e Lucimar) falam que depois de estudar é para ir para casa. Dizem também que não é para a gente se juntar com os meninos que não têm ocupação, porque eles podem levar a gente para maus caminhos, por exemplo; cheirando cola, fumando maconha ou roubando. E nós devemos procurar a paz, e não a guerra. A Horta Nossa Esperança me ensinou muitas coisas boas, as quais nunca vou esquecer. Aqui aprendi a ler, escrever, brincar e me relacionar com os outros meninos. Gosto muito da Horta Nossa Esperança, vou sentir muita falta quando tiver fora dela".
ENTREVISTA 7
JOSÉ ADRIANO DA SILVA
"Fui para a Horta Nossa Esperança porque eu quis. Tenho 6 (seis) irmãos, só (três) irmãos estudaram. Os outros não estudam porque são pequenos (não sabe a idade). Meus irmãos são Adriano Peres Barros da Silva, José Edson da Silva, Anilma Aparecida da Silva, Lucineide Barros da Silva e Luciano Barros da Silva. Gosto da Horta Nossa Esperança porque lá nós jogamos bola, varremos o terreiro, tiramos caju, fazemos apresentações, trabalhos, aprendemos a cantar música, tiramos abacaxi, maracujá, um monte de frutas. A gente entrava na mata para brincar. Lá na mata nós fizemos uma casinha que simbolizava o lugar onde Jesus nasceu. Nós fizemos uma viagem para Maceió - AL, para visitar a Horta Santa Rifa, em Marechal Deodoro – AL. Nos divertimos bastante e lá tem padaria, sorveteria, fábrica de fazer chinelo e outras coisas.
Na Horta Nossa Esperança, eu aprendo a ler e escrever; aprendi a pescar com vara de anzol de Vam; foi na Horta Nossa Esperança que eu aprendi tudo isso. Gosto da Horta Nossa Esperança porque lá é muito bom. É melhor do que ficar na rua, porque lá nós aprendemos muitas coisas boas, brincadeiras e jogos (capoeira, futebol, danças...) e também a respeitar os colegas. Os meninos que não querem obedecer, dona Amara (professora) dá uma punição para ele melhorar. Vale ficar até o final do ano, quando o outro ano começar eu volto de novo, fico lá até completar a idade, que é 14 anos. Nós chegamos na Praça D. Pedra II. É lá que a gente se reúne para pegar o transporte para ir à Horta Nossa Esperança. A saída da tarde é 13:00 horas. Isso acontece todos os dias. Quem não chega na hora certa vai de pé. Nós vamos de Kombi, ficamos até 17:00 horas, que é a hora da nossa volta. Lá na Horta Nossa Esperança tem outros meninos que vão bem cedo; eu só vou à tarde, lá eu almoço, como cuscuz com leite, tomo vitamina com bolacha e pão. Tem vezes que sai alguma briga, mas dona Amara, Cícera ou Lucimar (professoras) vão desapartar; depois tudo termina bem. Quando é dia de festa (dia das crianças), nós ganhamos brinquedos. Brincamos de quebra-pote, corrida de saco, corrida de ovo na colher. Dona Amara sempre vai na minha casa convidar meus pais para a reunião, que é para falar de coisa da Horta Nossa Esperança e da gente. Eu vivia na rua, foi a Horta Nossa Esperança que me tirou da rua, nunca quero sair de lá, porque tenho outra família".
ENTREVISTA 8
ÁLISSON MANOEL DA SILVA
"Vivia na rua bagunçando, batendo na porta dos outros, arengando com os meninos, dando tapas e levando também, e sem querer estudar. Às vezes faltava uma semana completa na escola, não gostava de estudar. Minha mãe batia em mim para eu ir para escola, mas eu não ia. Vestia a farda, chegava até a porta da escola e, quando todos os meninos entravam, eu ia para a rua e só chegava em casa na hora que as aulas
terminavam. Até que um dia, um homem foi lá em casa reclamar: disse que eu batia na porta dele e minha mãe tomasse as providências, senão ele ia bater em mim e nos outros meninos que bagunçavam comigo, o Femando e o Babá. Quando cheguei em casa, minha mãe disse: "Moço, quero ter uma conversinha com você", e foi logo me batendo, dando em mim e perguntando se eu estava bagunçando. Fiquei dizendo que não, foi daí que minha mãe falou com dona Cícera (educadora da Horta Nossa Esperança) e perguntou se lá tinha vaga. Ela disse que ia ver e, no outro dia, mandou que eu fosse para a garagem da ATRAPO às 5:00 horas da manhã. Fiquei indo todos os dias até hoje. Na Horta Nossa Esperança eu gosto de algumas pessoas: gosto de dona Cícera, porque ela tem paciência com a gente: quando a gente tá brigando, ela dá mais chance e dona Amara (educadora da Horta Nossa Esperança) quer logo mandar a gente para casa, quer tirar a gente da Horta Nossa Esperança. Gosto muito de brincar, jogar bola no campinho, me balançar no balanço do pé de manga, brinco de toca e de luta. Gosto também de merendar, comer carne moída, arroz, biscoito, leite, bolacha, frutas tiradas da horta, como caju, manga e mamão. Gosto de estudar, estou me interessando mais, já estou escrevendo mais rápido e já sei ler. "Hoje em dia, cortar cana não dá certo, ganha pouco, não dá para nada. Quem estuda ganha mais dinheiro e arruma um emprego bom em loja. Este ano passei para a 3ª série e não quero deixar de estudar; gosto muito da minha professora, respeito ela e os meus amigos da Escola Antônio Lins da Rocha ". Eles perguntaram para mim se lá na Horta Nossa Esperança é bom. Eu digo que é, mas as mães de alguns deles não deixam eles irem para Horta Nossa Esperança. Teve um que foi escondido, quando a mãe soube não gostou, ele nunca mais foi olhar; na Horta Nossa Esperança a gente ajuda o pessoal a fazer as coisas, a varrer as salas, ajudamos os grandes (pessoas mais velhas). Fomos à praia e tomamos banho de mar, olhamos a Horta lá de Marechal Deodoro= AL (Horta Santa Rita). Cícera levou comida, lanches e almoçamos na Horta Santa Rita. Gostei muito de lá, é mais bonita e tem mais coisas Tipo assim, padaria, sorveteria, fábrica de chinelo e oficina de carro. Quero sempre continuar na Horta Nossa Esperança, porque é melhor para mim: eu aprendo mais, eu estudo. Eu não quero mais voltar para rua, é muito ruim. Somos quatro irmãos, só eu estudo, dois ficam na creche e minha irmã, que é mais velha, sempre aparece alguma coisa para atrapalhar e tirar ela da escola. Quando eu crescer, queria ser médico, é que eu acho bonito, porque quando as pessoas estão já morrendo, os médicos salvam, é uma profissão boa."
COLONIA LEOPOLDINA: a poluição do Rio Jacuípe17. Andréa Marques Silva Valquíria Maria da Silva
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Monografia apresentada ao curso de Especialização em Educação Ambiental da Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul (FAMASUL – Palmares/PE) – como parte dos requisitos, para obtenção do grau de especialista em educação ambiental, em 2005, tendo como orientadora a Profª. Dra. Eugênia C. Pereira.
1. Introdução
A água é o mais importante e abundante elemento existente na natureza. Dois terços de todo o volume do planeta é coberto de água. Entretanto, a sua distribuição não ocorre de forma igualitária: água salgada em 97%, água doce com 03%, geleiras e nuvens com 2,30%, águas profundas (lençóis subterrâneos) com 0,4,7%, águas disponíveis com 0,23%. Outro agravante para o problema da água é que o seu volume sempre foi constante e o número de usuários vem aumentando geometricamente ao longo dos anos, sendo seu uso cada vez mais degradante e poluidor, prejudicando, assim, sua qualidade. O Brasil é alvo constante nos debates internacionais devido ao seu potencial hídrico. A bacia fluvial Amazônia é considerada essencial para o planeta. A concentração populacional brasileira, devido ao crescimento da ocupação, necessita da água para a sobrevivência. As principais fontes hídricas são os rios, aquíferos subterrâneos, lençóis freáticos, lagose lagoas, barragens, açudes, cisternas pluviais, que abastecem regiões, Estados e municípios. A região Nordeste é considerada a que mais sofre com a escassez de água (seca). Com as queimadas, a falta de vegetação pode provocar desertificação, o solo desprotegido se aquece, evaporando toda a água. As águas mais profundas acabam por vir á superfície, trazendo consigo vários tipos de substâncias, minerais, inclusive o ferro, formando crostas duras e impermeáveis, semelhantes a ladrilhos. Mas nem todo o Nordeste possui essas características. O Estado de Alagoas é privilegiado pelas águas da lagoa Mundaú, que está localizada na capital Maceió e, por decorrência desse potencial hídrico, originou o nome do Estado – Alagoas. Os municípios pertencentes ao Estado também possuem altas quantidades de água. Devido a essa abundância, a poluição hídrica vem provocando vários problemas ambientais. Como exemplo do fato, pode ser citado o município de Colônia Leopoldina, que ocupa uma área de 314km2, situada na microrregião da Mata norte - alagoana, distante da capital Maceió, 120km. Os mananciais abastecem a cidade, mas durante o seu percurso, através dos impactos antrópicos, poluem a água devido ao uso de agrotóxicos (pesticidas) nas plantações, que são utilizadas na proteção e tratamento de culturas e criações agropecuárias. A utilização desses produtos pode causar danos ao solo. Quando ocorrem chuvas ou ventos, o solo é arrastado, causando seu desgaste e carreamento para
o rio, contaminando-o com seus produtos químicos. O lixo urbano e esgotos também contribuem para essa poluição, pois a população ribeirinha deposita lixo na sua margem e os esgotos da cidade seguem em sua direção. Essas ações provocam o desequilíbrio da fama e flora e as substâncias poluidoras são prejudiciais à saúde da população, afetando, principalmente, o meio ambiente. Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo avaliar o impacto da poluição no rio Jacuípe e na qualidade de vida da população leopoldinense. A poluição é uma questão ambiental que está afetando todo o planeta Terra e, pode-se constatar isto em diversas cidades brasileiras onde se respira o dióxido de carbono (CO2) liberado ao ar, existem esgotos a céu aberto, rios contaminados pelos agrotóxicos e lixos, etc. Partindo desses problemas ambientais observados, diante da degradação dos ecossistemas, resolveu-se investigar a poluição do rio Jacuípe em Colônia Leopoldina (Alagoas), observando desde os materiais até o principal agente poluidor, que é o homem. Este tema vem ocasionando grande preocupação a educadores e ambientalistas. Por exemplos, Modesto (1999), diz que: Quanto melhor for a água, ou seja, quanto mais esforços forem feitos no sentido de que ela seja preservada (tendo como instrumento principal de conscientização da população a Educação Ambiental), melhor e mais barato será o tratamento desta e, com isso, a população só terá a ganhar.
Pensando em como a poluição das águas pode ser abordada no contexto social, para que as pessoas compreendam sua importância na vida humana, Abreu (1999) afirma que a poluição das águas indica que um ou mais de seus usos foram prejudicados, podendo atingir o homem de forma direta, pois é usada por este para ser bebida, para tomar banho, para lavar roupas e utensílios e, principalmente, para sua alimentação e dos animais domésticos. Além disso, abastece cidades, sendo também utilizada nas indústrias e na irrigação de plantações. Segundo Fellenberg (1980), a poluição é tudo o que ocorre com o meio e que altera prejudicialmente suas características originais, de forma a afetar a saúde, a segurança e o bem-estar; criar condições adversas às atividades sociais e econômicas; ocasionar danos relevantes à flora, à fauna e a qualquer recurso natural, aos acervos históricos, culturais e paisagísticos. Em 2002, Jorge escreveu:
Existe, na natureza, um equilíbrio biológico entre todos os seres vivos. Neste sistema em equilíbrio os organismos produzem substância que são úteis para outros organismos e assim sucessivamente. A poluição vai existir toda vez que resíduos (sólidos, líquidos ou gasosos) produzidos por microrganismos, ou lançados pelo homem na natureza, forem superior à capacidade de absorção do meio ambiente, provocando alterações na sobrevivência das espécies. A poluição pode ser entendida, ainda como qualquer alteração do equilíbrio ecológico existente.
De acordo com a Lei dos Crimes Ambientais (Art.54, Cap.V, Seção III, Da poluição e outros crimes ambientais), causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significada da flora, pode gerar sentença à penareclusão, de um a quatro anos e multa, se o crime for culposo; pena – detenção, de seis meses a m ano e multa. Vê-se que, há vários anos, tem sido muito difícil fazer com que a poluição seja neutralizada no meio ambiente. Por isso, os autores supracitados destacam a poluição com um problema que afeta todos os seres existentes. Como lançamento da agenda 21, houve o reconhecimento da importância e a atualização dos princípios fundamentais da Conferência em Tbilisi (1997), onde se discutiu sobre Educação ambiental, destacando a necessidade da conscientização pública, para garantir o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado a toda população brasileira. Sobre poluição, os PCNs (2001) colocam as comparações a respeito de ambientes reais, de diferentes dimensões da interferência do ser humano na vida da Terra. A seleção de ambientes a serem comparados é importante, pois cada estudo proporciona enfoques específicos. Exemplo: um local cultivado – jardim, pomar, horta, etc. – a ação humana transforma os processos naturais. Houve toda uma preparação do cultivo, técnicas utilizadas, erosão, problemas da seleção de sementes, controle de pragas, manejo da água, etc. Em um campo abandonado, há reocupação do espaço pelos seres vivos, podendo-se, a médio e a longo prazo, estudar os vegetais que se instalam. Na comparação entre os dois ambientes, diferentes aspectos podem ser estudados: a origem dos diferentes componentes (solo, água, seres vivos), as condições de vida dos seres vivos, as relações entre o solo, a água, a luz e o calor e as possíveis relações ecológicas que se estabelecem, podendo-se chegar, em alguns casos, a estudos de cadeias alimentares em cada um deles.
Não só os autores citados como também os PCNs de Ciências Naturais alertam para a importância da preservação do meio ambiente, que propiciará ao homem na sua interrelação com o meio em que está inserido, melhores condições de vida.
3. Referências históricas de Colônia Leopoldina
3.1 História oficial
Tanto a formação quanto a criação do município de Colônia Leopoldina são comentadas pela pessoas que residem na cidade e por aqueles que escreveram sobre sua história:
O primeiro núcleo que gerou a cidade de Colônia Leopoldina pode ter surgido com a interiorização de grupos vencidos nas lutas armada da Província de Pernambuco entre o inicio e meados do século XIX (MELO NETO, 1999:26).
Segundo os comentários dos leopoldinenses, o crescimento dos grupos das forças armadas pelo município fez com que o Governo Imperial criasse uma Colônia Militar para que protegesse a região contra a penetração de grupos armados. As pessoas mais antigas da cidade costumam comentar que, no início, Colônia era pouco povoada e quase não havia casas no local. Era um lugar arborizado e com bastante espaço para a criação de animais, como gados, ovelhas e cavalos. Suas matas serviam de refúgio para os militares vindos da província de Pernambuco que tentavam ingressar no local.
Em 1580 foi criada a Colônia Militar. Sua instalação ocorreu em 9 de novembro, conforme a determinação do seu regulamento oficial (decreto n.º 729 de 9 de novembro de 1850), pelo imperador D. Pedro II (SILVA, 1983:37).
A inauguração da Colônia Militar foi realizada através de festas, solenidades e celebrações de missa. Muitas pessoas importantes compareceram ao local, como o Presidente da Província de Alagoas, Doutor Bento Cunha Figueiredo, e funcionários do município. Conta-se que, no ano de 1860, a Colônia recebeu a visita do Imperador D.
Pedro II, que deixou traços inesquecíveis para os leopoldinenses, revelados nas lembranças históricas de sua terra. Naquela época, costuma-se, no período de visitação, deixar marco histórico. Portanto, D. Pedro II plantou uma castanhola (fig. 1). A árvore permanece na cidade há mais de um século. Tornou-se um de seus cartões de visita e abrigo para as andorinhas que, por vezes, passam uma temporada no município.
Fig.1. Foto da Castanhola (Terminaliacattapa) planta por D. Pedro II em homenagem à Princesa Leopoldina, na cidade de Colônia Leopoldina – Alagoas.
Algumas pessoas de Colônia creem que a castanhola foi plantada pela Princesa Leopoldina, filha de D. Pedro II. Porém, muitos leopoldinenses afirmam que foi o próprio Imperador. A visita de D. Pedro II terminou ao alvorecer do dia 06 de janeiro. Ele assistiu à celebração da missa às quatro horas da madrugada e às quatro e meia já estava novamente cavalgando em direção à Vila Porto, com uma ligeira parada no Engenho Novo, fazendo o mesmo itinerário do dia 04 em sentido contrário (SILVA, 1983:90).
Afirma ainda Silva (1983: 122) que, por força da Lei n.º. 321, em 05 de julho de 1861, Colônia foi elevada à categoria de distrito. Como distrito, a cidade ficou subordinada na política e na administração à Vila de Porto Calvo. Apenas em 12 de junho de 1901, pela Lei municipal n.º 321, é que a Colônia Militar foi elevada à categoria de Município. Colônia Leopoldina é hoje uma cidade. Passou a ser considerada dessa forma em 20 de junho de 1923, quando se desmembrou do município de Porto Calvo (MELONETO, 1999:26). Para os leopoldinenses e autores citados, a cidade recebeu esse nome
para homenagear a Princesa D. Leopoldina Teresa Francisca Carolina Xavier de Paula Michaela Rafaela Gonzaga de Bourbon e Bragança – Duquesa de Saxe – por causa da visita que seu pai fez ao local, o Imperador D. Pedro II. Na época, a princesa tinha 13 anos de idade.
3.2 Aspectos geográficos
O município localiza-se no extremo nordeste do Estado de Alagoas, na região Zona da Mata. Limita-se ao Norte com o Estado de Pernambuco, ao Sul com o município de Joaquim Gomes, a Leste com a cidade de Novo Lino, e a Oeste pelo município de Ibateguara. A área do município leopoldinense é de 314 km 2, formada de único distrito, sede municipal. Limita-se com o Estado de Pernambuco pelo rio Jacuípe, que orienta o povoamento da região. Às suas margens, localizam-se a Usina Taquara, produtora de açúcar e a Destilaria Autônoma Porto Alegre, que produz álcool (MELO NETO, 1999:26-27). O clima da cidade é o predominante na Zona da Mata, pseudotropical – chuvoso. Como na região o período da estiagem vai de outubro a abril, a temperatura oscila entre a máxima de 37º C e mínima de 18º C, com uma umidade relativa em torno de 70% (MELO NETO, 1999:27). O sistema orográfico (relevo) do município é formado pelas Serras do Teixeira, do Leite, Urubu e Catita. A cobertura vegetal é pouco preservada pela ação devastadora do próprio homem no contínuo desmatamento que agride a natureza, e também pelo avanço da cana-de-açúcar. Porém, alguns proprietários ainda cultivam vários tipos de plantas que servem para sua sobrevivência e como fonte de renda familiar. As riquezas minerais conhecidas do município são a argila e as pedreiras. A fauna sofreu com o desequilíbrio de seu habitat natural, mas em pequenas quantidades ainda se encontra o tatu, a paca, o tamanduá, dentre outros. Os meios de transportes de que dispõe a cidade são: ônibus particulares e da empresa São Domingos, carros particulares e de aluguéis. Entretanto, para o acesso aos sítios, alguns proprietários ainda utilizam charretes. As agências de Correios e Telégrafos, telefones, fax e acesso à internet, além da televisão e rádio, são os meios de comunicação utilizados pela população. Na primeira constituição de Colônia, havia o seguinte sobre a sua população:
Haverá na Colônia os seguintes livros, abertos e rubricados pelo inspetor da Tesouraria da fazenda: um para matrícula geral dos colonos, que deverá ser feita com declaração da idade, profissão, estado civil, com quantos filhos, tempo de praça, época de engajamento, e por quanto tempo, deixando-se espaços suficientes para notar-se todos os socorros que receberem, nascimento dos filhos, óbitos, casamentos deserções e mais que convier mencionar (SILVA, 1983:43).
De acordo com essa informação, supõe-se que, desta maneira, foram feitos os primeiros registros dos habitantes do município. O município de Colônia Leopoldina tende a crescer. Há alguns anos, os componentes do movimento dos Sem Terra, ocuparam dois terrenos da cidade, denominadas Vila do Mandacaru e Vila Nova. De acordo com o censo do IBGE de 2000, a população do município é de aproximadamente 18.247 habitantes, sendo 9283 masculinos e 8.963 femininos. A população da zona urbana é de 12.000 habitantes, enquanto que na zona rural há 6.247 habitantes.
3.3 A economia
A principal fonte de renda do município é representada pela agricultura, através da cana-de-açúcar. Além deste produto, o município destaca-se como um dos principais produtores de banana prata do Estado, tendo ainda como produtos agrícolas a mandioca, e o milho. Os mesmos são cultivados no município e alguns são vendidos nos Estados de Pernambuco e Alagoas. A pecuária apresenta pequeno desenvolvimento com a criação e comercialização de gados de raça comum e dos alimentos derivados do leite, como o queijo e a manteiga. A indústria é representada pela Usina Taquara (fig. 2), produtora de açúcar e pela Destilaria Autônoma Porto Alegre (fig. 3), que produz álcool. Há também na cidade olarias e cerâmicas para a fabricação de tijolo e telhas, panificadoras e casas de farinha, que aumentam a fonte de renda municipal.
Fig. 2 Usina Taquara – Colônia Leopoldina – Alagoas
Fig. 3 Destilaria Autônoma Porto Alegre – Colônia Leopoldina – Alagoas
O comércio local (fig. 4) dispõe de algumas lojas que se abastecem em Recife, Maceió, Fortaleza, Caruaru, São Paulo, dentre outras cidades. O movimento bancário é realizado pela agência do Banco do Brasil, única bancária no município.
Fig. 4 Vista do Comércio na zona urbana de Colônia Leopoldina – Alagoas
Muitas pessoas são empregadas através de concurso público na prefeitura e nas instituições estaduais. Outras trabalham em supermercados e lojas. No entanto, a maioria da população não possui emprego.
3.4 Bacia Hidrográfica do Jacuípe
3.4.1 Características físicas
A bacia hidrográfica deste município é constituída pelas águas do rio Jacuípe, cuja nascente fica na Serra de São João, que forma uma cachoeira chamada Catita, com grande potencialidade para aproveitamento e instalação de uma usina hidrelétrica, pensamento muito antigo de vários Prefeitos. Porém, isso não passou de projeto. Suas terras são banhadas também pelos riachos Barragem, Selador, Gavião, Pé de Serra e Manguaba, na divisa com o município de Joaquim Gomes. Sua rede lacustre é composta pela lagoa da Roça e açudes do engenho Santo Antônio, e da Antiga Usina Porto Rico, hoje é Destilaria Porto Alegre. O suprimento hídrico é satisfatório na bacia, pois a área se localiza em solo da mata úmida, recebendo águas superficiais provenientes de chuvas. Há quem diga que o rio antigamente era navegável devido a sua abundância.
3.4.2 Solos
A fertilidade do solo apresenta alternativas agrícolas ao município. Porém, quase toda a vegetação nativa está sendo destruída pelo avanço do cultivo da cana-de-açúcar. Sua madeira continua sendo enviada aos pólos mais desenvolvidos, sobretudo para a cidade de Campina Grande, na Paraíba. No município, apresentam-se como culturas permanentes a goiaba, laranja, manga e jaca; já a cana-de-açúcar, banana, milho, mandioca e batata doce são de caráter temporário. Grande parte dessas culturas, sobretudo as permanentes, pouco contribuem para a economia local, constituindo-se em “plantações de quintais”. A densidade populacional do município é inferior à da mata alagoana e a do Estado, representando atualmente 4,4% da população da microrregião homogênea a que pertence.
3.5. Exploração dos recursos naturais
A agricultura em destaque é a cana-de-açúcar que, por sua vez, desempenha a maior parte da economia. Mas com o aumento dos canaviais, houve a destruição da mata ciliar, plantando-se cana à margem do rio. Além do desequilíbrio, a retirada da cobertura vegetal deixou o nível de água mais baixo, além da diminuição dos peixes, pois, como a aplicação de inseticidas e outros agrotóxicos são lançados nas canas, os eles escorrem para o rio, deixando-o comprometido. Com isso, as espécies estão desaparecendo junto com as matas e as riquezas naturais.
3.6. Poluição resíduos sólidos
Se há uma forma de poluição que está ao alcance de todos, seja para produzi-la, seja para eliminá-la, essa é o lixo. Na Terra não existe animal que mais claramente tem deixado sinais de sua passagem, na forma de acúmulo de lixo, do que os humanos. Aliás, muito do que se conhece sobre o homem primitivo, seus hábitos alimentares, seus costumes sociais, foi descoberto através do lixo que ele deixou. Nos biomas naturais, o solo possui uma dinâmica pela qual os restos orgânicos dos seres vivos, o seu lixo, são reais e podem ser reaproveitados nos ciclos bioquímicos. Nas cidades, ao contrário, isso não acontece. A ausência de reciclagem produz acúmulo de lixo, gerando graves problemas ecológicos e de saúde pública.
3.7. Lixo urbano
O lixo urbano é constituído por todo o tipo de resíduo produzido por uma cidade. É de grande relevância e abrangência de alguns aspectos relacionados à sua origem e produção, já que se trata de produto inesgotável e que, consequentemente, irá comprometer seriamente o meio ambiente, atingindo principalmente o ar, o solo e os recursos hídricos. Acredita-se que dois fatores contribuem para o aumento do lixou urbano: o crescimento populacional e a industrialização, sendo este último o fator principal. Como a população mundial está crescendo em ritmo acelerado, inevitavelmente haverá uma grande expansão da indústria para atender a esta demanda. Consequentemente, serão gerados consideráveis volumes de lixo, que não sendo tratados adequadamente, podem contribuir significativamente para a degradação da biosfera, em detrimento da qualidade de vida do planeta. Do ponto de vista epidemiológico, em 1979, Lima mostrou, segundo sua concepção, as principais vias de acesso de agentes patogênicos oriundos do lixo (fig. 5).
VIA DIRETA
LIXO VIAS INDIRETASS
HOMEM
AR, SOLO, ÁGUA. VÍRUS, BACTÉRIAS, MOSCAS, MOSQUITOS, BARATAS, ROEDORES, CÃES, GATOS, SUÍNOS, AVES.
FONTES PRIMÁRIAS
Fig. 5 Diagrama das vias de acesso de agentes patogênicos para o homem através do lixo depositado inadequadamente. Fonte (LIMA, 1995).
É complexo definir lixo urbano e sua origem, pois vários são os fatores que podem contribuir: as variações sazonais, condições climáticas, hábitos e costumes, economia, etc. Comumente se define como todo e qualquer resíduo que resulte das atividades diárias do homem na sociedade. Estes resíduos são formados por sobras de alimentos, papéis, plásticos, trapos, couros, madeira, latas, vidros, lamas, gases, poeiras, sabões, detergentes e outras substâncias descartáveis pelo homem no meio ambiente (Lima, 1995).
3.8 Fatores que influenciam a origem e formação do lixo
Muitos são os fatores que têm influenciado na origem e formação do lixo no meio urbano. A distinção desses mecanismos é uma tarefa complexa e de difícil realização, todavia, podemos citar o número de habitantes no local, a área relativa de produção, as variações sazonais, as condições climáticas, os hábitos e costumes da população, o nível educacional, o poder aquisitivo, o tipo de equipamento de coleta, a segregação na origem, a disciplina e controle dos pontos produtores e as leis e regulamentações específicas.
3.9 A questão dos resíduos
As formas de encaminhamento da questão dos resíduos e seus problemas associados estão intimamente ligados ao estágio cultural e ao desenvolvimento tecnológico das sociedades. Desta forma, a questão parte de um primeiro nível, referente à própria existência do homem, ao seu ciclo biológico e às formas mais primitivas de organização social; e avança, em intensidade, variedade e complexidade dos elementos, para outros níveis, em função dos aspectos culturais das sociedades. A questão dos resíduos apenas parte de um contexto maior, o ambiental, do qual não podem ser dissociados. Sua complexidade pode ser percebida em função da ampla rede de inter-relações, exigindo-se, em sua abordagem, um tratamento abrangente, envolvendo desde aspectos sociais, políticos, culturais, tecnológicos e econômicos, até aspectos geográficos regionais, climáticos, ambientais entre outros. Dentre os fatores responsáveis pelo agravamento desta questão, está a destinação final dos resíduos. Por negligência das autoridades responsáveis, custos são elevados, há problemas tecnológicos e outros. Dessa forma, são frequentemente processados de forma inadequada, como no caso dos incineradores que, em geral, apenas transferem a poluição para o ar ou vão terminar em aterros sanitários de indústrias, que, sem uma elaboração criteriosa, põem em risco o lençol freático e, desta forma, o próprio abastecimento de água. Mais grave ainda é o emprego de técnicas de processamento e deposição absolutamente condenáveis, como é o caso da disposição a céu aberto, bastante difundidas em países do terceiro mundo. Nisso há sérias implicações sociais e de saúde pública. O despejo de resíduos não tratados na rede fluvial também são uma constante,
sem considerar os depósitos permanentes de resíduos perigosos, como os de caráter radioativos. A maior parte dos resíduos é produzida nos domicílios. Rico em matéria orgânica e produtos recicláveis, esse lixo possui quatro alternativas de tratamento: disposição em aterros sanitários, incineração, compostagem e reciclagem.
3.10. Resíduos radioativos
Resíduos tóxicos e venenosos contaminados com substâncias radioativas, resultantes do processo de diagnóstico e terapêutico, deverão ser acumulados e armazenados em recipientes blindados, ou em cofres de parede de chumbo, denominados poços de decaimento, por um tempo suficiente para sua inativação. O tempo para inativação completa da radioatividade será determinado pela meia vida do radioisótopo empregado no mesmo processo, e sua atividade será controlada por aparelhos especiais (contadores Geiger). Somente após a inativação completa da radioatividade dos resíduos contaminados é que os mesmos deverão ser encaminhados à coleta pública. Resíduos radioativos atingem lagos e rios, e acabam afetando o meio ambiente, deixando os seres vivos existentes no local contaminados, chegando esses contaminantes aos seres humanos. Exemplo de lixo radioativo são lâmpadas, pilhas, baterias, material de eletrônica, fertilizantes, etc.
3.11. Resíduos líquidos e pastosos
São considerados resíduos líquidos e pastosos: sangue, urina, fezes, líquido seminal, secreção vaginal e meios de cultura e similares. Todos deverão ser autoclavados e, em seguida, acondicionados em sacos plásticos duplos e encaminhados à coleta pública, quando não houver rede coletora de esgotos com tratamento atendendo o estabelecimento hospitalar. Se esta condição for atendida, esses resíduos deverão ser autoclavados e, em seguida, lançados à rede.
3.12. Resíduos lançados à margem do rio Jacuípe
Com o crescimento populacional do município, as pessoas não tinham onde morar. Então começaram a construir casas em qualquer lugar, inclusive à margem do rio, contribuindo para o seu assoreamento. Mas o rio Jacuípe não sofreu apenas com
essa modificação, pois as pessoas que vivem a sua margem transformaram o leito do rio em depósito de lixo. Com a falta de conscientização da população ribeirinha, mesmo com a coleta diária do caminhão de lixo, os mesmos continuam a depositar seu lixo no leito do rio, aumentando a poluição e ocasionando um impacto ambiental. Essa ação afeta a fauna e a flora do local, e também causa doenças à população (fig. 6).
Fig.6. População-ribeirinha do rio Jacuípe, Colônia Leopoldina – Alagoas
3.12.1 Doenças transmitidas pelo lixo no rio Jacuípe
Não é apenas ingerindo diretamente água contaminada ou poluída que se contraem doenças. Se o homem utilizar essa água para regar verduras e legumes, estará contaminado os alimentos. Além da poluição por substâncias tóxicas, as águas dos rios e lagos são frequentemente contaminadas por bactérias, vermes, protozoários, ovos e larvas de seres vivos causadores de doenças. Dependendo do tipo de poluição, os peixes e frutos também podem causar graves doenças, incluindo insetos que, ao se reproduzir, proliferam na água.
Algumas doenças relacionadas com a contaminação da água são disenteria, cólera, esquistossomose, malária, dengue, febre amarela, ascaridíase e leptospirose. Em Colônia Leopoldina observou-se que, de 1998 a 2003, algumas patologias foram constatadas no município através das águas do rio Jacuípe (Tabela I). Segundo a Secretaria de Saúde do município, a disenteria é a doença de maior ocorrência, seguida pela esquistossomose e leptospirose. Não há registro de outras doenças provocadas pelo acúmulo de lixo, como cólera, malária, ascaridíase e febre amarela. Sabe-se que a disenteria é uma doença causada por vários tipos de bactérias transmitidas pela água e alimentos contaminados. Pode provocar intoxicação intestinal, diarréia, vômito, inflamação intestinal e a desidratação. Pode ser evitada tomando medidas de saneamento básico, de higiene pessoal e de alimentos. A esquistossomose é uma doença causada por um verme achatado, chamado Schistossoma, e ataca principalmente o fígado. É transmitida através das vezes de pessoa infectada – estas, ao defecarem no chão, os ovos do parasita chegam à água; dos ovos nascem as larvas, que procuram um certo tipo de caramujo; do caramujo saem outros tipos de larvas, que penetram na pele de outra pessoa, entrando em contato com a água contaminada. Uma das formas de combate à esquistossomose é o extermínio do caramujo, que abriga as larvas do Shistossoma. Eliminando-se esse caramujo, interrompe-se o clico de vida do verme. O método usual para exterminar esse caramujo consiste em lançar substâncias tóxicas nas águas. Acontece que essas substâncias matam também os peixes e outros animais aquáticos, além de representarem um perigo para a saúde das pessoas. Uma outra alternativa, que está sendo utilizada experimentalmente em várias localidades do Brasil, é o controle biológico, isto é, o uso de um inimigo natural para extermínio do caramujo. Esse inimigo é um outro caramujo de água doce de nome Pomacea (também conhecido pelo nome popular de aruá), que devora os caramujos recém-nascidos do transmissor da doença. Pode-se também ser evitada usando-se sanitários apropriados e não se banhando em águas suspeitas.
3.12.2Poluição do lixo orgânico e inorgânico do rio Jacuípe
Tabela 1: Tipos de Patologias do Município Sistema de Informação de Agravos de Notificação Local da Instalação: Colônia Leopoldina - Alagoas Patologias
Unidade de Saúde
Período daNotificação Total
UMS Mª. L. Cavalcante PS Usina Taquara De 1998 a 2003
01
Esquistossomose Protozoário
UMS Mª.L. Cavalcante De 1998 a 2003
473
Disenteria Bactéria
UMS Mª.L. Cavalcante Durante o ano de 2003
3.044
Cólera Vírus
UMS Mª. L. Cavalcante De 1998 a 2003
108
Dengue Vírus
UMS Mª. L. Cavalcante De 1998 a 2003
160
Malária Vírus
UMS Mª. L. Cavalcante De 1998 a 2003
0
Hepatite Viral Vírus
UMS Mª. L. Cavalcante De 1998 a 2003
42
Leptospirose Bactéria
Febre amarela UMS Mª. L. Cavalcante De 1998 a 2003 0 Fonte: SINAN – Sistema Nacional de Agravos de Notificação
O lixo orgânico é uma atitude inteligente e ecologicamente correta, pois colabora para o rápido retorno da matéria orgânica ao solo. Este torna-se enriquecido, já que o adubo orgânico é puro húmus. Caso o lixo orgânico não seja utilizado para o adubo, ele pode prejudicar o solo, pois é composto por restos de alimentos que, com o passar dos dias, deteriora-se. Isso provoca odores desagradáveis, podendo degradar o solo através do chorume, líquido liberado pelo lixo orgânico, depois de sua decomposição, que afeta os lençóis freáticos, causando impacto ambiental. O lixo pode degradar o solo devido ao tempo em que passa para se decompor. Alguns materiais do lixo inorgânico, se não forem reaproveitados, ou seja, reciclados, podem provocar sérios riscos para a população. Segundo Telles (1994), o tempo necessário para a natureza degradar o lixo é demonstrado na tabela 2.
Tabela 2: Tipos de resíduos sólidos e tempo respectivo para sua degradação
TIPOS DE RESÍDUOS Jornal Embalagem de papel Casca de frutas Guardanapo de papel Corda Tecido de algodão Fósforo Ponta de cigarro Chiclete Nylon Lata de cerveja Tampa de garrafa Pilha Lata e alumínio Saco e copo Plástico Vidro Borracha Fonte: Telles (1994).
TEMPO PREVISTO 2 a 6 meses 1 a 4 semanas 3 meses 3 meses 3 a 4 meses 1 a 5 meses 2 anos 2 anos 5 anos 30 a 40 anos 100 anos 100 a 500 anos 100 a 500 anos 100 a 500 anos 200 a 450 anos Tempo indeterminado Tempo indeterminado
O lixo tem uma composição variada, sendo possível o reaproveitamento de alguns de seus componentes, como as latas, metais, vidros, plásticos e papéis. Outros entram em decomposição rápida, como restos de alimentos, folhagem. E há também os
que são inertes, como entulho de construção e borracha. Para o lixo produzido no Brasil, são considerados os seguintes percentuais em média (tabela 3).
Tabela 3: Tipos de resíduos sólidos produzidos no Brasil e respectivos percentuais
RESÍDUOS SÓLIDOS Matéria orgânica Papel e papelão Inserte (terra, cerâmica) Metal Vidro Plástico Têxtil (pano, estampa) Couro e borracha Madeira Folhas e galhos Fonte: Telles (1994).
PERNCENTUAIS (%) 50 15 10 8 6 4 3 2 1 1
3.13. Poluição das águas
A água nunca é pura na natureza, pois nela estão dissolvidos gases, sais sólidos e íons. Dentro dessa complexa mistura, há uma coleção variada de vida vegetal e animal, desde o fitoplâncton e o zooplâncton até a baleia azul (maior mamífero do planeta). Dentro dessa gama de variadas formas de vida, há organismos que dependem dela, inclusive para completar seu ciclo de vida (como ocorre com os inseto). Enfim, a água é componente vital no sistema de sustentação da vida na Terra e, por isso, deve ser preservada, mas nem sempre isso acontece. A sua poluição impede a sobrevivência daqueles seres, causando também graves consequências aos seres humanos. A poluição da água indica que um ou mais de seus usos foram prejudicados, podendo atingir o homem de forma direta, pois ela é usada por este para ser bebida, para tomar banho, para lavar roupas e utensílios e, principalmente, para sua alimentação e dos animais domésticos. Além disto, abastece nossas cidades, sendo também utilizada nas indústrias e na irrigação de plantações. Por isso, a água deve ter aspecto limpo, pureza de gosto e estar isenta de microorganismos patogênicos, o que é conseguido através do seu tratamento, desde a sua saída dos rios até a chegada nas residências urbanas ou rurais.
Diante destas possibilidades de comparar o comprometimento das águas por poluentes de diversas origens, permanece como questão a esclarecer a necessidade de se saber quais as fontes principais desta poluição.
3.13.1 Águas residuárias urbanas (esgotos)
Os esgotos urbanos contêm detritos orgânicos como restos de alimentos, sabões e detergentes. Portanto, essencialmente, são compostos por carboidratos, gorduras, material protéico, fosfatos e bactérias. O tipo e quantidade dos detritos despejados nos esgotos são aproximadamente iguais por habitante, o que justifica adotar como unidadepadrão para a quantidade de detritos desta origem o EP (Equivalente Populacional). O que pode variar consideravelmente é a quantidade de água que será contaminada por esta quantidade constante de poluentes. A contaminação das águas por esgotos urbanos traz consigo grandes problemas: 1 – contaminação com bactérias, em parte patogênicas para o homem; II – contaminação em substâncias orgânicas degradáveis por bactérias.
3.13.1.1. Contaminação com bactérias, em parte patogênicas para o homem
Sabe-se que em águas contaminadas com matérias de origem fecal, cabe à Escherichia coli um papel preponderante. Assim, é feita, em primeira linha, a contagem de coliformes e, só em segundo plano, a contagem do número total de bactérias. A quantidade de bactérias contidas em determinado volume de água é conhecida como “índice de coliformes”. Este índice é o critério mais importante na avaliação da qualidade da água. Não há critérios uniformes a respeito dos requisitos que devem ser satisfeitos para considerar a água como higienicamente pura. Existem tabelas segundo as quais a água é considerada de boa qualidade, se contiver menos de uma bactéria coliforme por 100ml de água; segundo outros critérios, a água potável não deveria conter bactérias coliformes (sendo tolerável, porem a presença de pequenas quantidades de outras bactérias, em número inferior a 100 por 100ml). Para evitar perigos de epidemias, seria desejável adotar sempre os critérios mais rigorosos.
3.13.1.2. Contaminação em substâncias orgânicas degradáveis por bactérias
Além da contaminação da água, encarada sob um ponto de vista higiênico, os esgotos urbanos criam problemas decorrentes da poluição com substâncias orgânicas como detergentes e produtos de limpeza. Como estas substâncias servem de substrato para microorganismos, a poluição da água com estes produtos provoca a colonização e o desenvolvimento populacional destes microorganismos. Águas contendo uma quantidade excessiva de nutrientes desse tipo são chamadas de eutróficas (um termo mais correto seria hipertróficas). A desejada decomposição dos materiais orgânicos em água e CO2 têm como consequência também um consumo maior de oxigênio. Em águas muito poluídas, a eutrofização é tão acentuada que os microrganismos se reproduzem velozmente, esgotando o oxigênio existente na água. Todos os demais seres vivos que necessitam de oxigênio são levados à morte e seus restos fornecem ainda mais alimentos aos microrganismos. Nessas águas, começam a se reproduzir as bactérias anaeróbias, que normalmente só existem em pequenas quantidades. Estes microorganismos decompõem substâncias orgânicas em ausência do oxigênio, com formação de metano (CH4), amônia (NH3), dissulfeto de carbono (CS2) e gás sulfídrico (H2S) - componentes assim chamados gases de putrefação. A água se transforma num lodo tipo sapropel. Os gases de putrefação são tóxicos para os seres vivos, impedindo, assim, definitivamente, a existência de vida animal aeróbia nessas águas. A passagem de decomposição aeróbia de matérias orgânicas para a decomposição anaeróbia, não apenas torna a água inútil como fonte de alimento, por causa da morte dos peixes, mas passa também a comprometer a atmosfera, pois o H2S e o CS2 são muito tóxicos para o homem. Com a generalização do uso de lavadoras elétricas, cresceu rapidamente o consumo de detergentes e materiais de limpeza. Desde então, os esgotos urbanos são também contaminados com quantidades consideráveis de fosfatos e polifosfatos, ingredientes importantes dos detergentes. Os fosfatos, dissolvidos na água, constituem frequentemente o fator limitante (= fator mínimo) para o desenvolvimento de algas e bactérias, sendo os principais responsáveis pela eutrofização da água. Fosfatos e polifosfatos reduzem também a tensão superficial da água, como o fazem todos os detergentes. Isso facilita as espumas na superfície da água. Os diferentes graus de qualidade da água, desde águas limpas a fortemente eutróficas, podem ser determinados em função da concentração de O2, ou então, tomando por base os microorganismos presentes.
3.13.2.Águas residuárias de origem agropecuária
Ao lado da contaminação das águas por detritos de esgotos urbanos, há que se considerar a grande variedade de poluentes característicos pela agropecuária. Os fatores mais importantes decorrem de: a) pecuária e armazenagem de forragem em silos; b) fertilizantes; c) praguicidas.
a) Pecuária e silos
A pecuária contribui com o despejo de uma grande quantidade de detritos orgânicos de origem animal. Estes ultrapassam frequentemente em quantidade os detritos humanos. Aos detritos propriamente ditos, devem-se acrescentar as águas de limpeza de instalação para ordenha, que contêm materiais de limpeza, resto de leite, de materiais fecais, e cujo volume é igual a cerca de 11/2 vez o total do leite obtido. Excetuando apenas estas águas de lavagem citadas por último, os detritos animais não deveriam ser lançados ao esgoto e, em hipótese alguma, deveriam alcançar águas superfícies ou lençóis subterrâneos. Estes detritos deveriam ser aproveitados para a obtenção de estrume e esterco, utilizados na adubação de diversas culturas. Entretanto, parte dos dejetos atinge as águas superficiais, e por várias razões: uma deles é o arraste dos detritos das pastagens para o rio e lagos, por ação das águas pluviais. Consequências bem sérias decorrem do despejo dos dejetos na rede de esgotos ou em canalizações que os levem às águas correntes. Estas práticas condenáveis foram surgindo em função da falta de mão-de-obra, do emprego crescente de fertilizantes e da separação cada vez mais acentuada entre atividades de criação e atividades puramente agrícola. Assim, se forem simplesmente lançados nos rios, pode haver um sério comprometimento das águas superficiais e subterrâneas. O líquido é despejado sobre o solo. Materiais liberados não aproveitáveis são muitas vezes conduzidos à rede de esgotos; o elevado conteúdo em nutrientes exibido por estes materiais e a presença de substâncias orgânicas de fácil degradação provoca a eutrofização (fertilização excessiva da água por recebimento de nutrientes – nitrogênio e fósforo – causando o crescimento descontrolado, ou seja, excessivo de algas e plantas aquáticas) das águas.
b) Fertilizantes
O crescimento demográfico levou não só a uma pecuária intensiva, mas sobretudo a uma agricultura de caráter intensivo. Para se obter em uma determinada área, anualmente, colheitas com o máximo rendimento, torna-se necessário devolver ao solo os nutrientes que lhe foram subtraídos pela plantas. Até a década de 20, predominava a adubação com detritos orgânicos produzidos na própria propriedade rural. Esta adubação com materiais orgânicos só satisfazia parcialmente as necessidades das plantas. O déficit em substâncias inorgânicas nas lavouras é coberto, hoje em dia, sobretudo com adubos inorgânicos (fertilizantes). Os adubos orgânicos são empregados mais para a formação de húmus e para melhorar a consistência do solo. Com os fertilizantes inorgânicos, são fornecidos ao solo muito íons facilmente assimiláveis pelas plantas, por exemplo: nitrogênio na forma de NO3- e NH4+, potássio como K+, fósforo como PO43- e cálcio como Ca2+. O potássio (K) e o cálcio (Ca) não podem influenciar de maneira decisiva o crescimento dos microorganismos na água e, mesmo em concentrações maiores, são considerados como não-tóxicos (isto não se aplica às grandes quantidades de K que se acumulam na mineração de cloreto de potássio). Os demais componentes dos fertilizantes podem exercer um papel muito importante no problema da poluição da água. Por isso, deve-se observar o caminho percorrido por estes componentes da lavoura até a água. Já o destino do nitrato e do fosfato no solo dependem de muitos fatores, pois quanto maior a solubilidade do fertilizante na água, mais facilmente ele é arrastado pela água da chuva. A remoção do fertilizante é retardada pela capacidade de retenção do solo e também por sua crescente força de absorção (depende, pois, da natureza do solo). Boa aeração acelera o processo de mineralização de nitrogênio orgânico e contribui assim para uma perda maior do nitrogênio inorgânico, particularmente em solos não em uso. De modo geral, o fosfato é removido em menor quantidade, pois ele é absorvido mais facilmente por argilas e óxidos presentes no solo. Além disso, uma vez no solo, os fosfatos são precipitados rapidamente na forma de fosfatos de cálcio e de ferro, pouco solúveis. Por esta razão, os solos pobres em calcário perdem o fosfato com maior facilidade.
A longo prazo, também os fosfatos insolúveis são levados pela erosão, terminando arrastados pelas águas. Embora a remoção de fosfatos do solo seja quantitativamente pequena, quando comparada com a do nitrato, o fosfato constitui o principal fator eutrofizante encontrado nos fertilizantes, pois o fosfato representa, na água, um elemento quase sempre deficitário para os organismos. A figura 7 retrata a contaminação das águas e o processo de eutrofização, consequente da deterioração da matéria orgânica. Mortandade de peixes
Águas impróprias para consumo
Contaminação da água
Contaminação da água potável NO3
Detritos animais Esterco líquido Estrume
Despejos Provenientes Da ensilagem
Praguicidas
-
Fertilizantes
-
PO4 NO3Eutrofização o Consumo de oxigênio
Mortandade de peixes
Fig. 7. Esquema das principais contribuições da agropecuária na contaminação das águas (FELLENBERG)
Compostos nitrogenados também contribuem para eutrofização, mas nestes compostos tem importância maior a ação tóxica. A concentração máxima tolerável de nitrato na água potável é de 50mg/1. Crianças recém-nascidas já mostram sinais de intoxicação com concentrações de 30 a 40mg/1. Concentrações muito elevadas de nitrato provocam, em adultos, entre outros sintomas, diarréia e dores de cabeça. Para evitar a poluição da água por componentes provenientes dos fertilizantes, a adubação com fertilizantes minerais deve ser feita observando-se uma série de medidas:
é preferível uma aplicação de menores quantidades de fertilizantes, mas com maior frequência;
enquanto as raízes das plantas não estiverem suficientemente desenvolvidas, deve-se evitar a aplicação de fertilizantes;
a quantidade de fertilizantes deve sempre ser adequada ao tipo de solo e à quantidade de chuva;
capacidade de retenção de água de absorção do solo devem ser mantidas constantes, com a aplicação de materiais adequadas (húmus) e, se necessário, melhoradas;
locais muito inclinados e facilmente afetados pela erosão não deveriam ser utilizados para fins agrícolas;
deve sempre ser evitado um excesso de aplicação de fertilizantes.
A lei Mitscherlich (fig. 7) mostra por que o agricultor é levado a uma aplicação exagerada de nitrogênio. De acordo com esta lei, a colheita é tanto maior quanto menor for a diferença entre o suprimento ideal e o real de nutrientes. FOSFATO 100%
______________
POTÁSSIO ______________
NITROGÊNIO ______________
Vê-se pela representação esquemática da Lei de Mitscherlich que, como a curva do aumento de produção por ação do nitrogênio só e aproxima lentamente da linha que representa uma produção de 100%, a aplicação de quantidades bastante elevadas de fertilizantes minerais soa relativamente pouco dispendioso. Nestes casos, uso de fertilizantes nitrogenados em grande escala é, na maioria dos casos, vantajosa. Em consequência, os nitratos podem facilmente passar do solo às águas subterrâneas.
c) Praguicidas
A constante melhoria do rendimento da produção agrícola não requer apenas o emprego adequado dos fertilizantes; exige também uma proteção geral das plantas contra os insetos, fungos e ervas daninhas. Para tanto, dispõe-se atualmente de um verdadeiro arsenal de inseticidas, fungicidas e herbicidas. Podem-se mencionar as diferentes possibilidades de contaminação das águas por essas substâncias:
despejo de restos de soluções de praguicidas;
limpeza dos recipientes e utensílios utilizados na aplicação;
contaminação do solo com o material aplicado nas plantas;
remoção das praguicidas do solo por ação das chuvas (ocorre quase sempre contaminação das águas superficiais, raramente das águas subterrâneas);
arraste a rios e lagos, pela águas pluviais (a água da chuva) contem concentração maiores de praguicidas do que o ar; a origem destas substâncias na água da chuva não está definitivamente esclarecida.
Todos estes praguicidas são mais ou menos tóxicos. Os peixes são os mais sensíveis à contaminação com praguicidas. Por isso, soam “indicadores” apropriados para a comprovação da presença de praguicidas em águas de rios e lagos. A capacidade dos peixes de se colocarem contra a correnteza é encarada como índice de água livre de tóxicos. Logo que 25% dos peixes se mostrarem incapazes disto, a água será considerada perigosa. Para prevenir a contaminação da água com praguicidas, são necessárias rigorosas medidas de controle e fiscalização para evitar o uso e armazenagem inadequada dos praguicidas, bem como os processos inconvenientes de limpeza dos utensílios usados e de eliminação das sobras. Deve ser evitada futuramente a eliminação química de ervas daninhas (como herbicidas) junto a ribeirões e canais de drenagem.
1.1.
Águas residuárias industriais
As indústrias são as maiores responsáveis pela degradação ambiental. Não respeitam as florestas e as derrubam para se utilizarem de seu local, construir seus parques industriais ou para usar a madeira. Lançam poluentes como enxofre, que geram a chamada chuva ácida, que causa danos às plantações , às florestas e indiretamente ao homem, que consome alimentos envenenados, devido a esse tipo de chuva. A indústria
produz também o “CFC”, um gás que sobe grandes altitudes e impede o processo de renovação da camada de ozônio, que é responsável pela retenção dos raios ultravioletas do sol. É também responsável pela maioria das diferentes substâncias poluentes encontradas na água, inclusive um veneno como o “DDT”, um produto químico capaz de erradicar os insetos que atacam as lavouras. Como não é biodegradável, penetra nos alimentos, envenenando, inclusive, os homens que os ingerem.
3.14.1 Água potável
A água é um dos recursos mais utilizados pela humanidade. A água potável é aquela que, na linguagem comum, chama-se de “água pura” e que, para ser consumida pelos seres vivos, deve ser clara, fresca e inodora. É a água livre de materiais tóxicos e microorganismos (bactérias, protozoários, etc) prejudiciais à saúde. Contém sais minerais, oxigênio e gás carbônico nela dissolvidos como elementos básicos. É encontrada em pequena quantidade no planeta e não está disponível infinitivamente. Por ser um recurso limitado, seu consumo deve ser planejado. Planejamento da utilização dos recursos hídricos deve ser adequado às características do manancial e às diversas finalidades a que se destina a água. É importante que se garanta água em quantidade suficiente e qualidade recomendável aos diversos tipos de consumo. Na figura 8 são demonstrados os percentuais de uso da água no mundo. Nela, observa-se que a agricultura é a atividade que mais demanda água, seguida pela indústria. Apenas 8% são usados em domicílio.
Fonte: www.via-rs.com.br/agua(1999) Figura 9: formas de uso da água no mundo e seus respectivos percentuais.
O planejamento de utilização da água deve garantir proteção aos mananciais e recuperação dos que foram prejudicados pela poluição, contaminação, etc. O uso intenso dos recursos hídricos e as modificações dos cursos das águas são fatores que causam alterações em vários ecossistemas. A água pode conter argila, areia e outras impurezas que naturalmente estão presentes nela, e que não a tornam imprópria para o consumo. No entanto, produtos químicos tóxicos, corrosivos ou microorganismos a tornam contaminada. O grande volume de dejetos químicos dos populosos núcleos residenciais é descarregado nos córregos, rios e mares, provocando a poluição nas águas. Muitos microrganismos vivem na água, sendo alguns nocivos à saúde. Há doenças transmitidas por inseto, ou larvas e outras formas de vida que se desenvolvem na água, como a leptospirose, esquistossomose, disenteria, cólera, dengue, malária, ascaridíase, febre amarela, etc. Por isso, devemos nos preocupar com a preservação ambiental das águas dos rios, pois em todas as regiões em que as reservas de águas subterrâneas se esgotarem, a solução para garantir o abastecimento de água potável será o aproveitamento da água de represas, lagos e rios. Se estas águas superficiais estiverem excessivamente contaminadas, seu tratamento será muito dispendioso. Para muitas das substâncias encontradas na água, foram propostos limites máximos de tolerância, que não devem ser ultrapassados na água potável, como se vê na tabela 4.
Tabela 4: Limites toleráveis de contaminantes inorgânicos na água
CONTAMINANTE Chumbo Cromo Cádmio Zinco Ácido sulfídrico Nitrato Sulfato Cloreto Fenóis Fonte: Fellemberg (1980)
TEOR MÁXIMO RECOMENDADO 0, 1 mg/1 0,05 mg/1 0,01 mg/1 5 mg/1 0,05 mg/1 50 – 100 mg/1 250 mg/1 200 mg/1 200 mg/1
Quanto melhor for a água, ou seja, quanto mais esforços forem feitos no sentido de que ela seja preservada, melhor e mais barato será o tratamento desta e, com isso, a população só terá a ganhar. Não se deve ignorar ações paralelas informativas, a exemplo da educação ambiental que, além de instruírem, são de cunho conscientizador. Mas parece que a preocupação dos técnicos, em geral, é sofisticar, cada vez mais, os tratamentos de água, ao invés de se aterem à preservação dos mananciais, de onde ela é retirada. Este é o raciocínio de que a técnica pode fazer tudo. Técnicas sofisticadas estão sendo desenvolvidas para permitir a reutilização da água no abastecimento público. A única medida mitigadora possível para este problema, na situação grave em que o consumo de água se encontra, foi misturar e fornecer à população uma água de boa procedência com outra de procedência pior, cuidadosamente tratada e controlada. Entretanto, o Estado de Alagoas, juntamente com o Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH) e Secretaria Executiva, resolve, em 14 de maio de 2002, dispor sobre as normas e critérios para a criação, efetivação e organização dos comitês de bacias hidrográficas, onde o Conselho Estadual de Recursos Hídricos – criado pela lei Estadual nº 5.965, de 10 de novembro de 1997, e regulamento pelo decreto nº 3.666, de 11 de novembro de 1998, no uso de suas atribuições legais, considera:
* A necessidade de regulamentação de procedimento para implantação de gerenciamento integrado de recursos hídricos do Estado; * A necessidade de padronizar os processos e estabelecer diretrizes para a instituição e organização de comitês de bacias hidrográficas; * A perspectiva imediata de formação de novos comitês exigindo orientação quanto aos aspectos formais de seu processo de funcionamentos.
Portanto, a meta imediata é preservar os poucos mananciais intactos que ainda restam, a fim de que o homem possa dispor de um reservatório de água potável para que possa sobreviver nos próximos milênios
4. MATERIAIS, MÉTODOS, ANÁLISE E RESULTADOS
Neste item, foram organizados todos os itens acima com a seguinte característica metodológica:
- Levantamento bibliográfico (utilização de revistas, livros, artigos, internet); - Levantamento de dados junto à Secretaria de Saúde; - Visita in loco para registro dos impactos causados pelos poluentes, levantando as causa onde encontra-se a poluição relativa; - Análise das informações sobre a poluição ambiente (reciclagem, catadores, fábrica); - Identificação e mapeamento dos pontos de maiores poluição; - Aplicação de entrevistas com moradores residentes da cidade, que desenvolvem atividades sobre meio ambiente; - Coleta de dados na Secretaria de Saúde sobre a análise de água para identificar o nível da poluição. Seguindo, têm-se as análises dos dados coletados por meio de questionários, aplicados à população, mostrando que o rio Jacuípe vem passando por várias transformações ambientais causadas pela poluição de suas águas, provocadas pelo despejo em seu leito dos poluentes das usinas, agrotóxicos e resíduos domésticos. Esses agentes vêm alterando as condições ambientais do rio. A população leopoldinense sente-se aflita ao ver as condições em que o rio Jacuípe se encontra, totalmente modificado. Sua fauna e flora antes diversificada, hoje está reduzida a apenas algumas espécies. Se outrora suas águas eram limpas, hoje se encontram poluídas. Essas modificações são causadas pela falta de um programa de planejamento ambiental. Se, atualmente, o rio já se encontrava nessas condições, com o passar dos anos os impactos ambientais já sofridos, provavelmente, agravar-se-ão, trazendo consequências para a biodiversidade do rio, uma vez que haverá diminuição do fluxo de água. Com essa diminuição, a água não terá força para arrastar seus poluentes, ocasionando a proliferação dos insetos e, consequentemente, aumentará o número de doenças causadas por insetos transmissores.
A seguir, são apresentados os resultados dos 15 (quinze) questionários aplicados à população leopoldinense em diversos segmentos do município, visando obter informações sobre o entendimento da população a respeito da poluição da água do rio Jacuípe. Achamos conveniente colocar cada questão com as suas respectivas alternativas para facilitar o entendimento da análise.
1) Há quanto tempo reside em Colônia Leopoldina? a.( ) 0 a 05 anos
b.( ) 05 a 10 anos
c.( ) 10 a 20 anos
d.( ) mais de 20 anos
Observe-se que 53,3% das pessoas consultadas responderam que residem no município há mais de vintes anos, 33,3% residem há mais de dez anos, 6,7% entre cinco e dez anos e 6,7% há menos de cinco anos. Identifica-se que a maior quantidade dos entrevistados na pesquisa enquadra-se no tempo de acima de vinte anos (figura 9)
Figura 9.
2) Quais as condições do rio Jacuípe quando o conheceu? a.( ) água limpa b.( ) diversidade da fauna (animais) e flora (vegetais) c.( ) água poluída d.( ) outros
Observe-se, da figura 10, que a maioria das pessoas conheceu as águas do rio poluídas e isso deve ter ocorrido porque essas pessoas se enquadram na relação das que residem no município há menos de vintes anos, onde águas do rio Jacuípe passaram por diversas transformações. No entanto, outras pessoas afirmaram que as águas do rio eram limpas, pois não existia nenhuma modificação com relação à poluição, porém residem no município há mais de vinte anos, destacando-o como era antes: suas matas ciliares
conservadas, águas em abundância, peixes de várias espécies. E, no momento, encontrase com sua vegetação devastada, o fluxo de água diminui e os peixes desapareceram, havendo mudanças que prejudicaram, completamente, sua águas e comprometendo o habitat da fauna e flora, (fig. 10).
Figura 10.
3) Atualmente, como se encontra o rio Jacuípe? a.( ) água poluída b.( ) diminuição da fauna e flora c.( ) outros d.( ) não opinou
Foi verificado que grande parte do entrevistados notou as modificações da poluição do rio, pois houve um acréscimo elevado nas plantações canavieiras localizadas às margens do rio. No entanto, a mata ciliar desapareceu juntamente com a fauna e flora, e com os agrotóxicos lançados nas plantações (praguicidas). Ao chover, seguem contaminando-o e comprometendo a biodiversidade do rio, (fig. 11).
Figura 11.
4) O que teria contribuído para que ocorresse essa(s) mudança(s)? a.( ) dejetos residenciais lançados no rio b.( ) dejetos da calda das usinas
c.( ) lixo hospitalar lançado no rio d.( ) aumento da população e.( ) outros f.( ) não opinaram
De acordo com os dados da pesquisa, podemos notar que são vários os fatores contribuintes para o desequilíbrio no ecossistema do rio. Dentre as pessoas pesquisadas, 46, 7% identificam, como o maior causador da poluição, o despejo das caldas das usinas, observando que, no período da colheita da cana-de-açúcar, as águas ficam mais poluídas, ocorrendo a mortandade dos peixes que ficam na superfície das águas, devido aos produtos químicos lançados no rio. O odor é desagradável e se tem o aumento das doenças. Mas também foi observado que o que favorece o alto índice da poluição são os objetos residenciais que seguem para o rio, como sabão, detergente, água sanitária, gorduras, sobra de alimentos, etc., provocando alterações no ambiente. Outro fator é o acréscimo populacional, apontado por 13,3% dos entrevistados, pois destacaram que anteriormente o rio não era tão poluído, mas com o aumento da população, houve mudanças, ocorrendo a alta produção do lixo, comprometendo as condições naturais do rio Jacuípe, (fig. 12).
Figura 12. 5) Como utiliza a água do rio Jacuípe? a.( ) banho b.( ) lavar animais c.( ) lazer d.( ) beber e.( )lavar roupa
f.( ) irrigação g.( ) pesca h.( ) retira areia i.( ) não utiliza
Identificou-se que 40,0% dos entrevistados, que representa um alto índice, acham que as águas do rio estão tão poluídas que só servem para lavar roupas. Alegam ainda que suas águas são impróprias para o consumo, pois houve casos de proliferação de insetos, ocasionando doenças, como cólera, dengue, esquistossomose, disenteria, febre amarela, hepatite, etc. Além de utilizarem a água para esse fim, 33,3% usam a água para lavar animais, como caninos e equinos, pois há alguns metros da margem do rio existem estribarias (criação de bovinos e equinos) que se favorecem da água para essa finalidade (fig. 13).
Figura 13.
6) Que impactos ambientais e econômicas ocorrem para a população leopoldinense, com a poluição do rio Jacuípe? a.( ) comprometimento do abastecimento d’água para a população b.( ) diminuição da fauna e flora c.( ) formação de esgotos a céu aberto d.( ) comprometimento da subsistência da população pesqueira e.( ) aumento da fome f.( ) proliferação de doenças g.( ) outros h.( ) nenhum
Nos
últimos
anos,
houve
um
acréscimo
repentino
de
doenças,
consequentemente, 46,7% das pessoas consultadas identificaram a proliferação das doenças como sendo resultado da poluição do rio que vem ocorrendo porque os resíduos do município passam para os esgotos que irão ao encontro do rio, acumulando insetos, baratas, ratos e provocando o aparecimento das doenças que afetam toda a população. Em segundo lugar, 20, 0% dos entrevistados responderam que a fauna e a flora são os mais prejudicados, pois não conseguem sobreviver devido ao alto índice de poluentes. Houve também o comprometimento da subsistência da população pesqueira, pois antigamente existiam várias espécies de peixes, onde as pessoas obtinham seus recursos financeiros, cujo índice baixou. Devido à poluição, algumas espécies foram extintas, restando apenas as espécies mais comuns. Mas muitas pessoas ainda continuam realizando pescas, principalmente com anzóis, contudo, sem obter êxito. Assim, cresce a fome no município, pois muitas pessoas sobreviviam do pescado. (Fig. 14).
Figura 14.
7) Na sua opinião, existindo prejudicados com a poluição do rio Jacuípe? a.( ) sim b.( ) não c.( ) não opinou
Para esta questão, todas as pessoas consultadas confirmaram que, com a poluição do rio, a produção sofrerá grandes danos. A análise do questionário aplicado à população leopoldinense mostrou as características ambientais do rio Jacuípe, sua importância econômica para a comunidade local e o sofrimento do rio em relação aos impactos ambientais a ele ocasionados. (Fig. 15).
Figura 15
5. Conclusão
É preocupante, no entanto, a forma como os recursos naturais vêm sendo tratados. Poucos produtores conhecem ou dão valor a esse conhecimento do ambiente em que atuam. Para uns, a maior parte dos problemas atuais pode ser resolvida pela comunidade, pois confiam na capacidade de a humanidade produzir novas soluções para a poluição. Com relação a isso, deve-se considerar que, como a realidade funciona de um modo complexo, em que todos os fatores interagem, o ambiente deve ser compreendido com todos os seus inúmeros problemas. Ele influencia na educação, saúde, saneamento, transportes, obras, alimentação, agricultura, etc. Todo cidadão tem direito a viver num ambiente saudável e agradável, respirar ar puro, beber água potável, passear em lugares com paisagens notáveis, apreciar monumentos naturais e culturais, etc. Defender esses defeitos é um dever de cidadania, e não uma questão de privilégio. Dentre os problemas socioambientais, o mais agudo, que tem adquirido enormes dimensões nas cidades, é o lixo a céu aberto. Enfim, essa situação se agrava proporcionalmente à exclusão social, ou seja, os problemas ambientais atingem diferentemente cada parcela da sociedade. Essa é uma situação insustentável pela gravidade da degradação, que não proporciona condições sanitárias minimamente satisfatórias para a vida humana.
O trabalho de valorização deve, também, incluir a preocupação com os subprodutos do sistema produtivo, já que na maior parte das vezes suas atividades acabam gerando poluição. É necessário discutir problemas de poluição e produção de lixo. Vale aqui, mais uma vez, um apanhado histórico sobre a produção de poluentes pelo ser humano, desde a Antiguidade até os dias de hoje, tentando associar cada etapa com o modelo de civilização preponderante, além de apontar para os problemas à saúde humana e ambiental que a poluição e o lixo ocasiona. Reduzir a produção do lixo é tarefa pessoal dos consumidores do poder político. Para administrar a problemática do lixo, é necessário uma combinação de métodos que vão da redução de detritos durante a produção (método mais eficiente e que pode contar com a participação direta do homem) até as soluções técnicas de destinação, como a reciclagem, a compostagem, o uso de depósitos e incineradores. A análise das condições de vida de populações a partir de informações como níveis de renda, taxa de escolarização, taxa de cobertura por água tratada e rede de esgoto, diversidade no acesso ao lazer e aos serviços de saúde, é uma forma de verificação das associações entre qualidade de vida e saúde. A água poluída contém substância tóxicas (venenosas), detergentes e partículas de agrotóxicos. Deve-se considerar também as pessoas que se contaminam, mas que lutam para conquistar uma relação à saúde e à saúde coletiva. A água ainda é contaminada com impurezas, como, micróbios causadores de doenças, larvas de insetos e vermes. Se a água poluída é contaminada pelos esgotos e não é devidamente tratada, ela contamina e polui rios, represas e qualquer outro ambiente. Muitas indústrias lançam na água dos rios grandes quantidades de resíduos tóxicos, causando graves problemas ambientais. Os esgotos domésticos e industriais despejam nos rios detergentes, formando algumas vezes uma espuma branca, responsável pela diminuição da penetração de oxigênio na água. Isso provoca um desequilíbrio ecológico de graves consequências que, futuramente, poderá acarretar a extinção de algumas espécies da fauna e da fola ali existentes
7. Referências bibliográficas DIETRICH, Schielet AL. O Estado de Bacias Hidrográficas – Uma estratégia para educação ambiental. 2ª ed., São Paulo, Rima Editora, 2002. FELLENBERG, Gunter. Introdução aos problemas da poluição ambiental. São Paulo, Editora Da Universidade de São Paulo, 1980. LEI DA VIDA – A LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS. Ministério do Meio Ambiente. Brasília, 1999. LEI Nº 5 965 – POLITICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS. Maceió (AL), 1998. MELO NETO, José Francisco de. Resistência popular: possibilidades ontem e hoje. João Pessoa, Editora Universitária/UFPB, 1999. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Meio Ambiente – 5ª a 8ª série. Secretária de Educação Fundamental, Brasília, 1998. PLANO ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS (Documento síntese). Secretaria de Recursos Hídricos. Governo do Estado de Alagoas. Maceió, set., 1998. SALES, Amaro Mendes & SILVA, João da. Impactos ambientais causados pelas águas dos rios. 2000. _____________.Enchente, causas e conseqüências. 2000. SILVA, Everaldo Araujo. A Colônia da Princesa. Maceió, IGASA, 1983. TELES, Luis Antônio Souza. Lixo; como cuidar dele. Salvador (BA), 1994.
http://www.educar.sc.usp.br/biologia/textos/m_a_txt5.html. http://www.feranet.com.br/clientes/samaeel/esgoto.html http://www.finep.gov.br/prosab/3_esgoto_usp.htm http://www.geocities.com/napavalley/1925/polu.html. http://www.linda4.o.sites.uol.com.br/br/lixo.htm http://www.uel.br/ccb/labre/mataciliar.htm http://www.via_rs.com.br/agua.
6. ANEXOS 6.1 Anexo I
QUESTIONÁRIO Nome:_________________________________________________________________ Ocupação:______________________________________________________________ Faixa etária: ( ) 10 a 30 anos
( ) 31 a 60 anos
( ) 61 a 100 anos
Sexo: ( )F
( )M
Nível intelectual: ( ) Alfabetizado ( ) Não alfabetizado ( ) Ensino fundamental ( ) Ensino médio ( ) Superior
1-) Há quanto tempo reside em Colônia Leopoldina? a.( ) 0 a 5 anos
b.( ) 05 a 10 anos
c.( ) 10 a 20 anos
d.( ) mais de 20 anos
2-) Quais as condições do rio Jacuípe quando o conhece? a.( ) água limpa b.( ) diversidade da fauna (animais) e flora (vegetais) c.( ) água poluída d.( ) outros
3-) Atualmente, como se encontra o rio Jacuípe? a.( ) água poluída b.( ) diminuição da fauna e flora c.( ) outros d.( ) não opinou
4-) O que teria contribuindo para que ocorresse essa(s) mudança(s)?
a.( ) dejetos residenciais lançados no rio b.( ) despejos da calda das usinas c.( ) lixo hospitalar lançado no rio d.( ) aumento da população e.( ) outros f.( ) não opinaram
5-) Como utiliza a água do rio Jacuípe? a.( ) banho b.( ) lavar animais c.( ) lazer d.( ) beber e.( ) lavar roupa f.( ) irrigação g.( ) pesca h.( ) retira areia i.( ) não utiliza
6-) Que impactos ambientais e econômicas ocorrem para a população leopoldinenses, com a poluição do rio Jacuípe? a.( ) comprometimento do abastecimento d’água para a população b.( ) diminuição da fauna e flora c.( ) formação de esgotos a céu aberto d.( ) comprometimento da subsistência da população pesqueira e.( ) aumento da fome f.( ) proliferação de doenças g.( ) outros h.( ) nenhum 7-) Na sua opinião, existirão prejudicados com a poluição do rio Jacuípe? a.( ) sim b.( ) não c.( ) não opniou
7.2. Anexo 2
Tabela com os resultados obtidos aos questionários Questões
Quantidade de resposta obtidas
1ª 1b 1c 1d
1 1 5 8
2ª 2b 2c 2d
6 1 8 --
3ª 3b 3c 3d
13 2 ---
4ª 4b 4c 4d 4e 4f
6 7 -2 ---
5ª 5b 5c 5d 5e 5f 5g 5h 5i
-5 --6 -1 1 2
6ª 6b 6c 6d 6e 6f 6g
-3 2 1 2 7 --
6h
--
7ª 7b 7c
15 ---
COLÔNIA LEOPOLDINA: propostas para a cidade18 Movimento Colônia e Cidadania - MCC
18
Texto distribuído na cidade, em março de 2001, como elemento de política, do Movimento Colônia e Cidadania (MCC). Este movimento foi criado no ano de 2008, por um grupo de leopoldinenses, tendo como um dos seus princípios a luta para que todos tenham cidadania, isto é, a capacidade de pensar e participar dos acontecimentos da cidade, com capacidade de desenvolver a visão crítica e ativa sobre as decisões política do lugar.
Escola Estadual – Aristheu de Andrade
1. Introdução O Movimento Colônia e Cidadania (MCC) apresenta um conjunto de propostas originárias dos mais variados grupos de pensamento político, na cidade de Colônia Leopoldina, presentes em panfletos ou pela rede de computadores – internet, com várias propostas repetidas e, mesmo assim, mantendo-as, assegurando a originalidade dos documentos. O grupo 1 de propostas é um esforço inicial de pessoas que pensavam, em certo momento, construírem uma alternativa política aos candidatos originários da Prefeitura ou da Usina Taquara, que já estavam em campanha para as eleições municipais de 2008. Compilaram propostas apresentadas na internet por vários/as leopoldinenses, em
especial da comunidade eletrônica Colônia Leopoldina – a cidade, uma das várias comunidades existentes sobre Colônia Leopoldina. O grupo 2 de propostas é um Plano de Governo, apresentado pelo candidato a prefeito, à época – o usineiro da Usina Taquara – José Maria. O grupo 3 de propostas expressa a primeira tentativa na cidade, de dois candidatos a vereador de partidos distintos – Partido dos Trabalhadores (PT) e Democratas (Dem) – em apresentarem as suas propostas aos eleitores. De forma inédita e antecipada, mostraram o que seria a sua atuação na Câmara de Vereadores. O Grupo 4 de propostas é o Plano de Governo da candidata à prefeita, à época, Luciana Luna. O Grupo 5 de propostas, finalmente, é originário de conversas avulsas, presente inclusive o saudoso Everaldo Araújo Silva, escritor do livro A Colônia da Princesa. Uma coleta de propostas que se estende desde a comemoração do Sesquicentenário de fundação da Colônia Militar, núcleo gerador da cidade de Colônia Leopoldina, até os dias de hoje. A atual administração municipal, vencedora do pleito de 2008, não apresentou, durante a campanha, de forma sistematizada, qualquer conjunto de propostas. O MCC espera que este material possa ser útil à orientação de alguma prática política possível de atores com cargos eletivos, aos estudos nas escolas sobre os movimentos políticos locais, às discussões para maior aprofundamento de soluções para a cidade e seu povo, na perspectiva de sua melhoria e com ele, bem como, às práticas futuras de cidadania das pessoas, mantendo viva a memória política da cidade.
2 – Grupos de propostas
GRUPO 1
PONTOS TEMÁTICOS E PROPOSTAS PARA UM PLANO DE GOVERNO (apresentadas pelos usuários da internet – Orkut)
01.
NECESSIDADES DO MUNICÍPIO (PESQUISA)
- realização de uma pesquisa na cidade sobre as suas necessidades, como início de um futuro planejamento participativo; conhecer a cidade em dados e por meio dos ditos do povo;
02.
GESTÃO DA CIDADE
1. Beleza da Cidade: 1.1. embelezamento das ruas Pe. Francisco, 15 de novembro, 16 de julho, Manoel Ferreira Lima e outras, tornando-as avenidas. É preciso retirar pelo menos 1 metro de calçadas das casas do lado sem postes e plantando árvores no meio de cada uma dessas ruas.
2. Transparência: 2.1. planejamento participativo; 2.2. orçamento participativo; 2.3. prestação de contas de forma pública para a cidade;
3. administração: 3.1.gerenciamento da prefeitura com diálogo com a população, administrando com a participação do povo;
03.
LAZER E ESPORTE
1- construir mais duas quadras de exportes na cidade. 2- assegurar uma área definitiva e melhorar o campo de futebol. 3- fazer um levantamento dos pontos que podem tornar-se de lazer, em todo o município.
04.
TRABALHO E RENDA (economia)
1. criação de um grupo de pessoas que possam pensar a cidade, oferecendo outras possibilidades de trabalho e renda, sobretudo aos/às jovens;
2. desenvolver grupos em condição de se organizarem em bases à economia solidária.
05.
MORADIA - acabar com casas de taipas no município, em especial na zona rural.
06.
DIREITOS HUMANOS - introduzir, nas escolas, material de divulgação sobre direitos das pessoas.
07.
FINANÇAS 1. transparência pública de todo tipo de finanças que cheguem ao município, por meio de convênios, programas ou impostos, com prestação de contas, não só à câmara de vereadores, mas à toda a cidade.
08.
AGRICULTURA 1. fazer levantamento das possibilidades da agricultura no município, além da
cana. 2. organizar grupos com a possível participação do SEBRAE. 3. ter políticas de ajuda às formas de agricultura familiar que não a cana.
09.
EDUCAÇÃO
1. melhora da biblioteca existente; 2. incentivo à leitura na escola; 3. implantação da educação popular; 4. revisão do estatuto do magistério; 5. apoio financeiro ao profissional que investe em sua carreira de professor em cursos oficiais (especialização, mestrado e doutorado); 6. realização de convênios da prefeitura com universidades federais (UFAL e outras, se for o caso) para a realização de cursos de especialização gratuitos e em Colônia Leopoldina; 7. promoção pela prefeitura ou ajudando o sindicato a promover de encontros sobre a educação leopoldinense e definição de seus rumos; 8. iniciação de uma escola integral para as crianças de colônia;
9. trazer cursos gratuitos de educação à distância por meio de convênios com universidades públicas. 10. Realizar cursos de especialização presencial, em Colônia, com universidades federais.
10.
CULTURA 1. criação de uma escola de música/fanfarra; 2. criação de grupos de teatro na cidade, com uma ajuda inicial de quem puder ajudar e que tenham a capacidade de autosustentação;
11.
TRANSPORTE - assegurar transporte para universitários para Palmares e Maceió.
12.
MEIO AMBIENTE 1. construção de uma adutora para garantir água para cidade; 2. estação de tratamento de lixo regional em convênios com outros municípios;
12.
SAÚDE 1. acabar, por meio de campanhas, com todo tipo de endemia na cidade. 2. possibilitar que o hospital da cidade realize cirurgias de pequena e média complexidades.
13.
ALTERNATIVAS PARA A CIDADE 1. articular grupos de teatro com costureiras para a produção das pessoas e que elas possam viver disso; 2. ver as possibilidades da economia solidária popular; 3. estudar com associações possibilidades de outras culturas, além da cana;
GRUPO 2 De todos/as candidatos à Câmara, dois candidatos a vereador iniciam um novo jeito de apresentar-se à cidade, não apenas pelo velho estilo de “cata-cata” de voto individual,
mas apresentando um programa de ação junto ao prefeito, na câmara – os candidatos Rubinho (DEM) e Luciano (PT). Destacam-se, aqui, as propostas de Luciano: 1. NA AGRICULTURA – disposição de tratores aos pequenos produtores para gradear a terra e de assistência técnica em geral; ampliação do Programa Luz para Todos; reformar casas de taipa da zona rural em convênio com a FUNASA (Fundação Nacional de Saúde); implantação do Conselho da Agricultura; criação de um banco de sementes em parceria com SEAGRI (Secretaria de Agricultura do Estado de Alagoas) e com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em prol do melhoramento genético de nossos produtos. 2. NA EDUCAÇÃO – melhora da biblioteca municipal, com aumento do acervo e contratação de um profissional da área; incentivo à leitura na escola com o desenvolvimento de programas voltados à nossa realidade; implanta;cão de uma escola integral para as crianças do município; fortalecimento da educação de jovens e adultos; implantação do ensino médio na zona rural (Porto Alegre e Monte Alegre); convênio da prefeitura com a UFAL (universidade federal de alagoas) e/ou outras caso possível, para a realização de cursos superiores no município, pela via da educação à educação; apoio financeiro aos professores em forma de bolsas de estudo, a fim de que estes possam investir em sua formação por meio de cursos de especialização, mestrado e doutorado; implantação do sistema de gestão democrática nas escolas, com a eleição de direitos e conselhos escolares.
GRUPO 3 Do candidato-usineiro Zé Maria - um Programa de Governo com as seguintes propostas: 1. Agricultura e pecuária – nomear um técnico de capacidade comprovada para a secretaria; adquirir uma patrulha mecanizada composta de uma patrol, um trator de esteira; dois tratores de pneus com todos os implementos; retro-escavadeira e caçambas;
distribuir semente para plantio de roça de inverno (milho, feijão...etc); garantir os produtores de leite, a compra do produto a preço de mercado para merenda escolar; contratar um médico veterinário para realizar as inspeções sanitárias no matadouro público e dar assistência aos produtores rurais; incentivar a instalação de pequenas indústrias para o aproveitamento das frutas nativas da região. 2. Política de valorização do funcionário público – atualizar o plano de cargos e salários; admissão de vagas por concurso público; patrocinar cursos e treinamentos para capacitar os servidores; motivar o ingresso de servidores em cursos de nível superior; dotar os servidores de EPI(S) de acordo com as exigências da DRT; reconhecer os servidores especiais, obedecendo a classificação da DRT. 3. Obras civis de infraestrutura – construir 400 casas populares; substituir todas as casas de taipa por alvenaria (100%); criar um programa de recuperação de casas em todos os bairros; calçar 100% das ruas (asfaltar principais); recuperar o matadouro público e o mercado municipal; reconstruir o estádio de futebol; reformar o clube social; eletrificar 100% da zona rural; construir um grupo escolar com trinta salas de aula; construir mini-postos em povoados para dar apoio ao PSF.
4. Plano municipal de saúde Colônia 100% - Manter serviço de urgência ativada; convênios com hospitais e clínicas (palmares); ativação do posto de saúde de Monte Alegre; serviço de nutrologia e fisioterapia; serviço de reabilitação, fonoaudiologia e psicologia; atenção aos idosos, pessoas de 3ª. Idade; ampliação do programa de saúde da família; reativação do serviço de radiologia; funcionamento do hospital com plantonistas diários; reativação do bloco cirúrgico; cirurgias-mioma, ligadura,
hérnia,
especialidades:
vesícula,
cardiologia,
cirurgia
por
psiquiatria,
vídeo, pediatria,
proctologia;
implantação
ultra-sonografia,
de
neurologia,
dermatologia, obstetrícia; manter saúde itinerante; serviço de odontologia; banco de aleitamento materno; funcionamento de laboratório; exames essenciais. 5. Educação de qualidade – Colônia 100% - ampliação de escola – auditório para pais e mestres; salas de informática; espaço coberto para recreação; salas de leituras; laboratório de ciências; formação continuada para professores por áreas específicas – palestras; oficinas pedagógicas; laboratório de informática comunitária;
circus-espaço cultural (reservado para culminância de projetos educativos); aulas de Arte – pintura; crochê; bordado; reciclagem; dança; músicas; teatro; eventos com datas comemorativas; oferecer cursos profissionalizantes para alunos. 6. Resgatar o tradicional desfile cívico – 7 de setembro - reformar a banda marcial leopoldinense; distribuir fardamento completo ao alunado. 7. Reajuste salarial para os professores (periodicamente) - premio “profissional do ano da educação”. 8. Diminuição do índice de evasão e reprovação – simulador com reconhecimentos gerais (bimestral); escola tempo integral; oferecer reforço da língua portuguesa (leitura, produção de texto) e Matemática; oferecer merenda de qualidade (cardápio diferenciado). 9. Assistência especializada à educação da zona rural – oferecer melhores condições ao aluno; promover interação entre escolas da zona urbana e rural; garantir a continuidade do transporte escolar.
E, ainda, o documento conclui com uma frase do educador pernambucano Paulo Freire: “a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda”.
GRUPO 4 Da candidata à Prefeita – Luciana Luna (Plano de Governo - por nossa terra, por nossa gente). 1. AÇÃO SOCIAL – Programa de Moradia Digna (construção de casas populares no sistema de mutirão participativo. A prefeitura entrará com o material e a comunidade auxiliará com a mão-de-obra.
- Volta do Programa de alimentação para a população carente, com participação das entidades religiosas e não governamentais; programa de apoio à criança e ao adolescente; volta dos programas de apoio específicos aos idosos, mulheres e pessoas portadoras de necessidades especiais; volta do programa de apoio à gestante; apoio mais efetivo para fortalecimento do Conselho Tutelar Municipal; programa cidadão (tiragem de documentos); construção de núcleos comunitários para funcionamento dos programas sociais, tais como o PETI, PAC, Ciranda da criança, alfabetização solidária, bolsa escola, egressos do peti, portal da alvorada, entre outros; disponiblização de transportes de pessoas da zona rural para a feira na cidade; realização de cursos profissionalizantes através do SEBRAE, SENAI, SESC e SENAC, tais como: eletricista, encanador, padeiro, computação, cabeleireiro, mecânico de automóveis, artesãos, dentre outros; reestruturação e ampliação das creches (zona rural e urbana). 2. EDUCAÇÃO E CULTURA – Programa Amigos da Internet – todas as escolas serão contempladas com laboratórios de informática, com acesso à Rede Mundial de Computadores – Internet, para que os nossos alunos possam pesquisar, fazer amigos e se integrar com o mundo. - recuperação das escolas municipais (urbanas e rurais); melhoria e garantia do transporte escolar gratuito, dando condições de maior segurança e conforto para todos os estudantes inclusive para Maceió, estudantes de graduação e pós-graduação; aquisição de mais ônibus escolares, mais modernos, seguros e confortáveis para o transporte dos estudantes; criação da casa do estudante universitário, em Maceió, para incentivar os nossos jovens e dar apoio a todos aqueles que estiverem estudando na capital; melhoria da qualidade e da quantidade além da garantia total do fornecimento diário de merenda escolar para os estudantes, durante o período das aulas; erradicação do analfabetismo no município; garantia do fornecimento gratuito dos materiais didáticos nas escolas municipais; fardamento para todos os alunos e pessoal de apoio; resgate da banda de fanfarra do nosso município; apoio e incentivo às artes, esportes e lazer para os jovens do nosso município. 3. SAÚDE – Consórcio de Saúde – proposta de acordo com cidades circunvizinhas objetivando atender regionalmente serviços ambulatoriais, exames, cirurgias de baixa e média complexidades.
- funcionamento do Programa Saúde da Família (PSF) em todas as unidades da cidade e campo; contratação de profissionais especializados na área de saúde, para melhorar o nível de atendimento à população, em especial a mais carente; volta do Programa da Saúde Bucal Coletiva, com campanhas de educação com a distribuição gratuita de escolas de dentes e fio dental e seu uso de forma correta; volta do Programa de Atendimento Oftalmológico, para que nossa população seja atendida de forma preventiva e corretiva; funcionamento efetivo do laboratório de análises, para que os médicos do nosso município possam diagnosticar com maior velocidade e segurança as enfermidades dos pacientes; criação da Casa de Apoio ao Doente em Maceió, para alojar os parentes das pessoas que estejam nos hospital da capital; implantação do Sistema de Saneamento Básico; convênios com os governos federal e estadual para a aquisição de novas máquinas e equipamentos para a modernização do nosso hospital e postos médicos; programa de saúde preventiva; valorização e fortalecimento do Programa de Agentes de Saúde; programa de redução dos índices de mortalidade infantil; reforma e ampliação da estrutura da Vigilância Sanitária Municipal; volta do programa A Saúde Vai ao Campo; volta do programa A Saúde Vai à Feira; reabertura do Centro Cirúrgico do Hospital Maria Loureiro.
4. OBRAS, URBANISMO E AGRICULTURA - reforma e reestruturação do campo de futebol Joaquim Luiz da Silva; apoio à vaqueirama para a reestruturação do Parque de Vaquejada Murilo Loureiro; drenagem das áreas alagadas (Vila Nova) para acabar com as constantes cheias nestas áreas nos períodos chuvosos; construção de casas populares para a população carente; construção do terminal rodoviário de passageiros; aquisição de uma patrol para execução e manutenção das estradas do município; construção de um novo matadouro público municipal; melhoramento no sistema de limpeza pública; tratamento do lixo, com incentivo à reciclagem; volta do programa Lavoura Comunitária, com a aquisição de sementes para distribuir com os pequenos produtores rurais; recuperação e ampliação da iluminação pública; criação de um cadastro numérico, para os imóveis que ainda não os tenham assim como a colocação de placas identificadoras das ruas da cidade e de sinalização de trânsito; estruturar um sistema de gestão e controle ambiental do município; projeto Vamos Salvar o Rio Jacuípe; guarda municipal.
GRUPO 5 NO SESQUICENTENÁRIO DE FUNDAÇÃO DA COLONIA MILITAR LEOPOLDINA
UMA PROPOSTA ESTÉTICA PARA COLONIA DE LEOPOLDINA
Justificativa para as propostas:
- promover a ocupação dos jovens, - comemorar sesquicentenário da cidade, - incentivar a beleza da cidade (estética)
Pontos:
1. Praça D. Pedro II - fazer concha acústica em frente à Igreja Matriz, aproveitando o declive do terreno.
2. Antigo mercado público - fazer um mini-chopping nesse local, deslocando os comerciantes da Praça em frente à Igreja para este chopping.
3. Atual mercado público - transformar este mercado em mais uma quadra poliesportiva. 4. Rua Pe. Francisco, 15 de nov, e 16 de julho – Severino Ferreira de lima - transformá-las em avenidas, retirando 1 metro das calçadas do lado que não tem postes e colocando árvores no meio da rua, transformando-as em avenida.
5. Centro administrativo - construir na entrada da cidade
6. Acesso à cidade - em todo percurso dos 9 Km, da Br 101 até Colônia, plantar árvores, formando uma alameda de bambual, jaqueira, mangueira....(frutas da terra)
7. Ao redor do mercado da farinha - tirar o posto de gasolina do centro da cidade. - fazer um parque para lazer.
8. Divisória da rua do cemitério - baixar aquelas calçadas para facilitar o acesso aos idosos.
9. Construção de um centro cultural para a cidade, com bibliotecas e núcleo de informática e outros organismos voltados à cultura para possibilitar a educação superior à distância.
3 - Considerações Este esforço vai na perspectiva de mostrar que existem propostas para a cidade de Colônia, aqui apresentadas por diversos grupos. Claro que nem todas as condições de realização desse conjunto de propostas estão dadas. Nem significa, contudo, que isto aqui apresentado deva ser encaminhado pelos governos estabelecidos, até porque a mecânica política geral do país também trespassa a política local de qualquer município, consequentemente, também de Colônia, e qualquer governo tem propostas próprias. Todavia, isto pode ser útil como um conjunto de pistas para melhoramento da cidade. O desejo é que a maior quantidade dessas propostas possa ser efetivada por qualquer governo estabelecido. Mas, uma coisa parece certa: os grupos aqui mostram a existência de um conjunto variado de propostas para uma melhor organização das coisas do lugar, podendo superar o desprezo que vários políticos têm tido para com a cidade. Oxalá, hoje, políticos haja que possam ter a humildade de assumir várias dessas sugestões, originadas de tantas cabeças, desejosas de contribuir para melhor organização
de Colônia. Ninguém poderá dizer, simplesmente, que não há propostas. A sua realização será conquista da cidade, tão somente.
Colônia Leopoldina, janeiro de 2011.