Trovas populares de Alagoas. Theo Brandão

Page 1

Théo Brandão

TROVAS POPULARES de ALAGOAS

1


OBRAS

PUBLICADAS 1 – HIGIENE ???? (Discursos ???? – 1934 2 – UMA NO DE ADMINISTRAÇÃO DO ENSINO EM ALAGOAS (Relatório) – Maceió – 1942 3 – FOLCLORE DE ALAGOAS Maceió – 1949 – esgotada – (Obra premiada pela Academia Brasileira de Letras – Prêmio João Ribeiro – 1950 e pela Academia Alagoana de Letras – Prêmio Othon Lynch Bezerra de Melo – 1949)

A PUBLICAR 4 – O REISADO ALAGOANO (1o Prêmio do IV Concurso de Monografias Folclóricas Nacionais do Departamento de Cultura da Prefeitura de S. Paulo – 1949). 5 – FOLCLORE DE ALAGOAS – 2o Volume Coleção Autores Alagoanos – Casa Ramalho Editora 6 – FOLCLORE DE ALAGOAS – 1o Volume – 2o edição Coleção Autores Alagoanos – Casa Ramalho Editora

EM PREPARO 7 – PUERICULTURA POPULAR NO BRASIL 8 – FOLGUEDOS POPULARES DE ALAGOAS

2


Théo Brandão Secretário Geral da Comissão Alagoana de Folclore. Da Sociedade Brasileira de Folclore. Da Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia. Do Club Internacional de Folclore. Da Sociedad Folklorica de Bolívia. De The American Folklore Society. Dos Institutos Históricos de Alagoas e Sergipe. Da Academia Alagoan de Letras.

Trovas Populares de Alagoas

Edições Caetá Maceio – 1951 3


Notas introdutórias

I

Dando à publicidade a presente coleção de trovas populares coligidas em Alagoas, não temos outro intuito senão continuar na divulgação do populário regional, iniciada com o “FOLCLORE DE ALAGOAS”. Denominando-a “TROVAS POPULARES DE ALAGOAS” queremos frisar que empregamos a palavra trova não no sentido, dado genericamente pelos dicionaristas, de “cantiga, loa ou canção”, mas no sentido restrito de “quadra”, isto é, de estrofe ou estância de quatro versos, tal como se registra no “Pequeno Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa”. O sentido lato de “canção, cantar”, etc., não poderia realmente caber com exclusividade, em Alagoas como no Nordeste, ao tipo de composição poética que enfeixamos nesta coletânea, exatamente porque várias outras formas estróficas ou métricas (décimas, pés quebrados, versos de seis e sete pés), diferentes das usadas nas trovas ou quadras, são também empregadas nas cantorias e descantes, atualmente, aliás, com muito maior frequência que outrora, quando, no dizer de Leonardo Mota, se “cantava de quatro pés”. Não nos restringimos, contudo, apenas à redondilha maior, isto é, à estrofe de sete pés métricos, que é incontestavelmente a forma mais espalhada e comum da quadra em língua portuguesa, tão espalhada que Mestre João Ribeiro (apud Afrânio Peixôto – I – 17) já dizia que ela era idiomática em português e de tal modo que “expressões vulgares de insulto, prece, exclamação, têm quase sempre sete pés métricos: “grandissíssimo canalha! Nossa Senhora da Glória! Tenha santa paciência!”. Incluímos também, conquanto menos frequente e quase só usada em cantos de Reisados e como estribilho de rodas e cocos, a redondilha menor, de cinco pés métricos. Notar-se-ão, contudo, algumas trovas desta coletânea que apresentam alguns versos,  geralmente o primeiro, - com números de sílabas a menos (nos. 205, 219, 833, etc.) que os demais, isto afora aquelas em que a desigualdade métrica se deve apenas à rudeza da trova e à inabilidade do cantor popular que, para remediar tal fato, ao cantor, espicha ou encolhe as sílabas de modo que ao ouvido fiquem elas dentro do mesmo tempo musical. 4


Não se incluíram, todavia, todas as cantigas em quadras de que se compõe o nosso vasto cancioneiro, sobretudo as de nossas danças dramáticas, as dos romances velhos ou dos primitivos romances sertanejos etc., mas tão somente as quadras soltas, copias ou versos gerais, como as chamava Silvio Romero, que se cantam e se recitam, sem nenhuma ligação umas com as outras e que, embora primitivamente possam ter feito parte de cantigas maiores e encadeadas, delas se desprenderam, passando a ser cantadas em oportunidades várias e a vários propósitos. Embora, como no Espírito Santo, segundo assinala o nosso amigo e confrade Guilherme Neves (11-7), e como em vários estados deve acontecer, sejam as rodas infantis os principais veículos das quadras, principalmente da redondilha maior, em Alagoas há ainda a acrescentar as nossas danças rurais de adultos (que infelizmente se tornam cada vez mais raras e desusadas); as rodas de valsar, as rodas de tropel, o coco antigo, etc. e as mais velhas “peças” de Reisado e das danças dramáticas a este último folguedo equiparáveis: os Cabocolinhos e os Guerreiros. Por isso mesmo é que resolvemos incluir as quadras soltas mais tradicionais nestes folguedos cantados, algumas de nítida origem portuguesa e evidentemente para os mesmos aproveitados; outras, formadas sobre os modelos tradicionais, ao tempo em que a quadra era ainda entre nós a forma poética preferida e usual. Aliás, convém repetir que a quadra está entre nós em plena decadência como forma poética, a sua utilização ou a sua invenção estando reduzida às rodas infantis e às danças rurais, mesmo neste último caso, somente quando aqueles que as dançam não são cantadores dignos de tal nome ou têm apenas escassos dotes poéticos. Como já o têm afirmado vários folcloristas nordestinos (L. Mota, C. Cascudo, etc.) nenhum cantador que se prese atualmente canta “de quatro pés”. A cantoria de viola, em Alagoas, como em todo o Nordeste, não dá mais, como outrora, ousada à quadra. E por sua influência os cocos, os Guerreiros, os Reisados, etc., abandonaram as redondilhas maiores e menores para somente empregar as emboladas, os pé quebrados, os sete e seis pés e sobretudo as décimas que fazem uma geral e vitoriosa carreira, invadindo todas as danças, folguedos e cantorias, sob quaisquer das suas formas: o martelo agalopado, o martelo miudinho, o gabinete, etc. Por este motivo é que bem se pode explicar o fato de que, tirantes as quadras fielmente copiadas ou ligeiramente adaptadas do cancioneiro português, a maioria das nossas trovas não apresenta a beleza, a perfeição de forma e de conceito da trova lusitana. 5


No Nordeste e igualmente em Alagoas, só cantadores medíocres ou meros amadores improvisam em quadras. As imagens brilhantes, as comparações audaciosas, os malabarismos verbais, os conceitos lapidares dos Antônio Marinho, dos Severino Pinto, dos Manoel Nenen e de tantos outros expoentes da poesia repentista dos últimos anos, não se encontram redigidos em quadras, mas nas outras formas políticas já apontadas. Não se pretende, pois, ter uma verdadeira ideia de nossa poesia popular, compulsando apenas coletâneas como a presente, em que, afora o contingente trazido da Península e em circulação sob variantes numerosas em todo o país, o que resta em grande parte é imitação mal feita e invenção pobre, insignificante e de escasso ou nenhum valor artístico, conquanto interessante como documentário. Já Afrânio Peixoto (1-13) confessara que para organizar seu florilégio de mil trovas populares brasileiras havia compulsado mais de cinco mil quadras, entre obras publicadas e coleções manuscritas, e assim mesmo tivera que suprir a poesia popular com cerca de 200 trovas de sua lavra, numa tentativa do que ele chamaria depois de “literatura experimental”. É que, como o disse Amadeu Amaral, “nem sempre os versos do povo são corretos e bonitos”, justamente porque não devem ser considerados “como produtos intencionais, autônomos e acabados de uma preocupação autoral, mas como simples reflexos de uma vasta elaboração anônima, nunca interminada e interminável” (111-127). Contudo, se bem que raramente, podem repontar aqui e ali trovas em que o processo de imitação, de deformação e de reinvenção – que constitui a essência do mecanismo de elaboração popular,  engendra obras que nada ficam a dever àquelas sobre as quais se moldaram. Tomemos como exemplo a seguinte quadra do trovário português: “Minha mãe me case cedo Enquanto sou rapariga, Que o milho sachado tarde Não dá palha nem espiga.” A quadra lusa veio ao Brasil e entre nós se popularizou na variante: “Minha mãe me case logo Enquanto eu sou rapariga; Que o milho plantado tarde Não dá pendão, nem espiga. 6


que registramos em nossa coleção (no 673); mas, de outra parte, com o mesmo sentido e talvez com maior beleza de imagem, produziu a seguinte variante (no 674): “Minha mãe me case logo Não me deixe envelhecer; Que eu não sou soca de cana, Que morre e torna a nascer. Ou então est‟outra, que Jaime Cortesão transcreve em “O que o povo canta em Portugal” (IV – 188): “Tudo o que é verde seca, Em vindo o pino do verão Só o meu amor reverdece Dentro do meu coração. e que se encontra sob a seguinte variante na trova no 1095, colhida da boca dos dois cantadores de toada: o falecido Limeira da “Boa Sorte”, e o simpático pretinho cego Otávio, de União: “Tudo quanto e verde seca Com o rigor do verão. Com chuva, tudo renova, Só a mocidade, não.” incontestavelmente muito mais bela, mais bem elaborada como imagem poética e sentido filosófico. Neste processo de elaboração popular assinale-se a adaptação de trovas portuguesas ou de quadras circulantes em outros lugares do Brasil à nossa ambiência regional, com a inclusão de modismos locais, com a construção característica da frase, sobretudo no que tange à colocação pronominal, com referências a lugares e a plantas do Brasil ou de Alagoas, conforme já tem sido apontado para outros estrados por Amadeu Amaral (III  157) e Alberto Faria (V – 412): “Oh! que pinheiros tão altos.” substituídos por 7


“Ô! que coqueiros tão altos.” “Pinheiro, dá-me uma pinha, Oh! Pinha, dá-me um pinhão.” transformado em: “Roseira, me dá uma rosa, Craveiro, dá-me um botão.” E assim por diante: “De Lisboa me mandaram Um lencinho quasi novo.” “Da Baía me mandaram Um lencinho de cajá.” “Da laranja quero um bago Do limão quero um pedaço.” “Da cana eu quero um gomo Um gomo e mais dois pedaços.” “Em cima daquele morro Passa boi, passa boiada.” “Em cima daquela serra Passa boi, passa boiada.” “Agora me vou embora Para a semana que vem.” “Vou-me embora, vou-me embora Para a semana que vem.” O que não quer dizer, ao contrário, que não existam quadras, e abundantes, em que permanecem verdadeiras reminiscências de lusismos, tanto de construção quanto de vocábulos, verdadeiras sobrevivências no puro sentido antropológico, porquanto só existentes nas citadas quadras e desusadas na linguagem comum: “Eu amava-te, menina, Se não fora um só senão.” 8


“Quem não logra o que deseja.” fato que já foi apontado com vários outros exemplos por Amadeu Amaral (III  ) e Alerto Faria (V  ). Contudo, anote-se que alguns termos e expressões que pareceram lusismos e sobrevivências puras de formas portuguesas em São Paulo, não o são para nós. Amadeu Amaral, por exemplo, considera a palavra “biqueira” como não usual na Paulicéia. Todavia, ela o é, e comuníssima, em Alagoas: casa de biqueira, etc.: “Casa velha sem biqueira, Se eu fosse o fogo queimava.” Na quase generalidade de nossas quadras, como em geral acontece na língua portuguesa, a rima mais usual e frequente é a consoante, ao contrário da rima espanhola em que há, senão predominância, pelo menos muito maior frequência da rima toante, que entre nós. Rima consoante, todavia, feita de acordo com a prosódia local, isto é, muitas vezes com supressão do l, do res finais, bem assim com outras deformações prosódicas próprias da região (escritório, famia, etc.), do mesmo modo que, considerando-se como tal a rima de palavra masculina com feminina, rimando “pé macho com pé feme”, como me dizia certa vez o velho poeta repentista Manoel Nenén, ao falar de certo cantador atrasado. Apesar disso, dessa predominância da rima consoante apontam, embora esporadicamente, quadras com rima toante: “Deus vos salve meu senhor Com sua feliz grandeza! O nosso menino Deus É de bem que se festeje.” “Aqui estou em vossa porta De coca (cócoras) como raposa, Esperando pela resposta Que de vossa boca corra.” e várias outras (quadras ns. 32, 45, 57, 154, 160, etc.). Quanto à disposição das rimas é também a geralmente usada em língua portuguesa: abcb. 97% das trovas de nossa coletânea guardam esta disposição. Encontra-se, outrossim, 9


vez por outra, a disposição abba, sobretudo em composições relativamente novas, colhidas no auto dos Guerreiros, o que supomos influência das décimas, cujos primeiros quatro versos guardam tal disposição. Duas vezes apenas ocorreu a disposição em parelha – aabb: numa trova cantada em Reisado que, como se poderá ver no apêndice comparativo, veio integralmente de Portugal, e na quadra de enumeração dos meses do ano. A forma abab ocorre também algumas vezes. Geralmente esta disposição é tida mais como erudita ou culta do que como popular e certos autores chegam mesmo a retirar tais quadras das coletâneas populares baseadas em tal constatação. De fato, na grande maioria, assim o é. É necessário desconfiar sempre da proveniência erudita da quadra de forma abab. Nas quadras, algumas existentes também em nossa coleção, identificadas por Walter Spalding (VIII – 24), Lindolfo Gomes (VI – 210) e Afrânio Peixoto (IX – 180), como de fonte erudita: “Quem inventou a partida Não entendia do amor, Quem parte, parte sem vida, Quem fica, morre de dor.” “Amas a Nosso Senhor Que morreu por toda gente, Só a mim é que não amas Que morro por ti somente.” “A saudade é calculada Por algarismos também, Distância multiplicada Pelo fator querer bem.” e que pertencem respectivamente a Alvares de Azevedo Sobrinho, Augusto Gil e Bastos Tigre, a disposição é exatamente a abab. Todavia, em outras, pelos mesmos autores identificadas, a disposição é a popular abcb: “Até mas flores se encontra A diferença da sorte, Umas enfeitam a vida, Outras enfeitam a morte.” (Melo Morais Filho apud L. Gomes – VI-209)

10


“Sou soldado, sentei praça Na gentil tropa do amor, Como sentei por meu gosto Não posso ser desertor.” (Caldas Barbosa – apud P. Costa – VII – 607)

Aliás, Leite de Vasconcelos (X – 12) diz que, embora no Norte de Portugal, no centro e na extremadura, o comum seja a quadra do tipo abcb, ao sul do Tejo, ???????? deste tipo cantam-se regularmente cantigas do tipo abab que por isso se chamam “Cantigas quadradas”. Não se pode, desta maneira, repelir uma quadra como de origem erudita, por este simples critério, mesmo porque muitas há em nossa coleção (como as de ns. 460, 487, 648, 670, 52, 53, etc.) em que a deformação prosódica regional de várias rimas não permite dúvidas quanto à sua origem popular. Além disso, na questão da origem erudita das quadras populares há ainda outro ponto a discutir: saber se realmente o imputado autor culto foi o verdadeiro autor da quadra ou se ele foi um mero estilizador ou introdutor da trova na literatura geral. É o que aconteceu por exemplo no Brasil com Juvenal Galeno, por muito tempo e por muitos autores tido e havido como o pai da célebre quadrinha “Cajueiro Pequenino”, que ele próprio confessou haver recolhido da tradição oral. É o que talvez tenha igualmente acontecido com outra célebre redondilha: “Sou soldado, sentei praça” que Pereira da Costa encontrou fazendo parte do lundú ou modinha de Caldas Barbosa: “Soldado do Amor” (VII – 607) e que talvez, penso, não tenha sido de sua invenção, mas, ao contrário, já tenha sido por ele tomada da poesia popular, sabido que o célebre Lereno empregou na sua literatura semierudita muitos elementos populares. Dúvidas semelhantes nos assaltam ainda ao examinarmos a quadra que tem o no 780, em nossa coleção: “O mar também é casado” que Leonardo Mota (XI – 271) informa ser da autoria do famoso fadista coimbrão Hilário, que a teria redigido desta forma: “O mar também tem amante O mar também tem mulher. É casado com a areia, Dá-lhe beijos quando quer.” Ora, esta quadra está não só popularizada no Brasil (em Alagoas, pelo menos, onde a colhemos) mas em Portugal, onde Fernando Pires de Lima a recolheu no Minho (XII – 100): 11


“O mar também é casado Também tem sua mulher: É casado e‟o a areia, Dá-lhe beijos quando quer.” e também na Galícia, onde a registra Laureano Prieto (XIV – 91) com a seguinte versão: “A mar é casada O também têm muller: É casada cua areia E dalle bicos cuando quer.” A quadra será realmente de Hilário e se popularizou posteriormente, estendendo-se às regiões em que foi registrada, ou, ao revés, era ela já popular e Hilário, que foi “o implantador em Coimbra do domínio e prestígio do fato estilizador, portanto, nada mais fez que elevá-la dos meios populares em que poderia ter vivido ao meio erudito em que atuou”? Dúvida igual ou talvez ainda maior surge em nosso espírito com relação à quadra “A sorte nós bem sabemos”. Esta quadra foi incluída por Afrânio Peixoto sob o no 879 em sua coleção “Trovas Populares Brasileiras” (I – 281) e mereceu de Ronald de Carvalho e de João Luso os maiores elogios, qualificada justamente pelo autor de “Toda a América” como pequena e luminosa joia. Ora, diz Afrânio Peixoto, na sua obra “Missangas” (IX – 182), que a trova é uma das dele, uma das duzentas com que ele enxertou a sua coleção citada, com o fim de obter o que chamou de “documento de literatura experimental”. Contudo, a famosa quadrinha encontra-se também na coletânea de Carlos Goes, “Mil Quadras Populares Brasileiras” (XV – 64) sob o no 131 e exatamente com a mesma redação. Ora, como a obra de Carlos Goes é 3 anos anterior à de Afrânio Peixoto, pois saiu a lume em 1916, chega-se ao dilema seguinte: ou o mestre de “Maria Bonita” publicou a quadra dando-a como popular, antes de 1916 (fato de que não temos notícia, mas sobre o qual os estudiosos poderão dar alguma informação), ou o romancista da “Esfiinge” enganou-se mais uma vez e assumiu a paternidade de uma produção que era realmente popular.

12


II

Dando notícia de uma coletânea semelhante, obtida no Estado do Espírito Santo pelo meu amigo e confrade Guilherme Santos Neves, “Cancioneiro Capixaba de Trovas Populares” (II  ) o meu igualmente confrade e amigo, Veríssimo de Melo teve oportunidade de afirmar (XV  ) que “seria quase todas as quadras que circulam no Espírito Santo são as mesmas do Rio Grande do Norte ou do Brasil, com suas variações tipicamente regionais”. O mesmo, mutatis mutandis, se poderia dizer das nossas. Não só pelo fato da migração das trovas, bem assim, dos vários gêneros folclóricos de um Estado para outro, como sobretudo porque a maioria delas é oriunda de uma fonte idêntica – a Península Ibérica, mormente o “Jardim da Europa à beira mar plantado”. Pereira da Costa, Carlos Goes, Amadeu Amaral, Alberto Faria, Osório Duque Estrada, Gustavo Barroso, Leonardo Mota, Lindolfo Gomes, Cecília Meirelles, no Brasil, Fernando Castro Pires de Lima e Nuno Catharino, em Portugal, tiveram ocasião de trazer subsídios para o estudo das afinidades ou das identidades do cancioneiro de trovas populares do Brasil com o de Portugal. Carlos Goes identificou 24 trovas pertencentes à sua coleção (XIV – 12/21) em Portugal, oito das quais se encontram sob a mesma forma ou sob variantes na presente coletânea: as de ns. 733, 960, 449, 787, 547, 744, 940 e 297. Osório Duque estrada (XVI – 273) identificou duas apenas, registradas também por nós em Alagoas, sob variantes: as de ns. 493 e 919. Pereira da Costa (VII – 585, 638) registrou no Brasil 09 trovas portuguesas, quatro delas por nós igualmente anotadas: as de ns. 118, 277, 992 e 247. Leonardo Mota (XI – 248/288; XVII – 31/41; XVIII – 152) por sua vez conseguiu descobrir 23 trovas portuguesas em nossas plagas, oito das quais encontráveis em Alagoas: 1134, 614, 1.067, 1119, 739, 390, 964 e 930. E assim vários outros folcloristas: Amadeu Amaral (III – 149), sete, das quais quatro têm variantes entre nós: 622, 476, 821 e 452; Lindolfo Gomes (VI – 206) quatro, com duas existentes em nossa coleção; a no 376 e a 1097; Alberto Faria (V – 399) duas, com uma anotada por nós em Alagoas: a no 859; Oneida Alvarenga (XIX – 58), uma igualmente registrada entre nós: a 705; Fernando Castro Pires de Lima (XII – 127), nove, das quais uma apenas registramos – a 913; Nuno Catharino (XX – X), seis, nenhuma delas encontrada em Alagoas; e por fim, Cecília Meirelles, em seus trabalhos: “Folclore Guasca e Açoriano” (XXI – 7/10), “Infância e 13


Folclore” (XXII), “Encontros” (XXIII) e “Três Cancioneiros” (XXIV), um total de 36 trovas, das quais doze registradas em nossa coleção: 153, 761, 91, 33, 323, 276, 149, 202, 1.019, 674, 690 e 1.081. Um total, portanto, de 125 trovas, das quais 43 existentes em Alagoas e registradas aqui. Examinando outras coletâneas e obras de autores de além-mar em confronto com as de nossa coleta, pudemos acrescer este número para mais 55 trovas, encontradas nas seguintes obras: “Cantares do Minho” – 1a série – F. Pires de Lima (XXV), “Tradições Populares de Entredouro e Minho” – J. e F. Pires de Lima (XII), Carlos Lopes Cardoso – “Cancioneiro Popular de Cote” (XXVI), Nuno Catharino Cardoso – “Cancioneiro Popular Português e Brasileiro” (XX), Vergílio Pereira – “Cancioneiro de Cinfães” (XXVII), M. Afonso do Paço – “Cancioneiro de Viana do Castelo” (XVIII) e em outras que a seu tempo serão citadas e das quais escolhemos as versões mais características e aproximadas das nossas, transcrevendo-as com os números que correspondem na presente coletânea num apêndice a estas notas introdutórias. Naturalmente que uma busca mais detida e cuidadosa ou o confronto com outros autores e coleções portuguesas haveria por certo de aumentar bastante o número de quadras brasileiras semelhantes ou iguais às lusas, provando que a maioria de nossas trovas têm sua origem em Portugal e demonstrando a verdade do que afirmara Afrânio Peixoto (I – 8): “não é fácil suprimir de nós o que temos de lusitanos”. E tanto não era, nem é fácil, que o mesmo Afrânio Peixoto, na sua citada obra “Trovas Populares Brasileiras”, que ele pretendia fosse uma réplica de “As mil trovas populares portuguesas”, de Agostinho de Campos e Alberto d‟Oliveira, sem repetições do que, segundo ele, “era de suspeita proveniência portuguesa”,  confessou não ter sido possível consegui-lo por erro e equivocações, que aliás foram muito maiores do que o suspeitava o ilustre acadêmico, como o poderá concluir também quem compulsar a sua obra e as anotações e registros de identidade e afinidades lusitano-brasileiras de nossas trovas, que adiante fazemos. Mas, como disse o meu prezado confrade Veríssimo de Melo (XV), não só de Portugal vieram nossas trovas. “As raízes de quase todas as nossas quadras são comuns à península ibérica de onde vieram para o continente americano, espalhando-se pelos países de formação latina”. Em vista da unidade do folclore e especialmente da poesia popular da Península, trovas portuguesas terão passado para as regiões limítrofes, sobretudo a Galícia, que tantas 14


afinidades antropológicas e linguísticas apresenta com o norte de Portugal (e não nos devemos esquecer que tempo houve em que o idioma das duas regiões era um só – o galaico-português) e vice-versa, de terras de Espanha por sua vez terão ido a Portugal e de lá vindo até nós, da mesma forma que terão ido divulgar-se na América Espanhola trovas semelhantes a portuguesas e brasileiras. Gustavo Barroso (XXIX – 197) teve oportunidade de identificar duas trovas brasileiras em Espanha, do mesmo modo que nesse país encontrou cinco trovas portuguesas através da coleção de D. Rodriguez Marin, Cecília Meirelles (XXIV) encontrou na Argentina uma trova brasileira, seis portuguesas e outra com versões brasileiras e portuguesas. Demais, conseguiu descobrir em países sul americanos versões da conhecida trova “O anel que tu me deste”, bem como as suas correspondentes galegas, antes mesmo que nós em nossa obra “Folclore de Alagoas” o tivéssemos também feito. Igualmente Leonardo Mota (XVIII – 154) identificou uma trova brasileira na Argentina, Walter Spalding (VIII – 26) outra no Peru e Pereira da Costa uma quadra do Brasil em Espanha (VII – 597). Nós mesmos, em nossa citada obra “FOLCLORE DE ALAGOAS”, no capítulo “A viagem das Trovas” através de várias obras, inclusive de uma pequena coletânea que infelizmente se extraviou de nossa biblioteca: “Las Mejores coplas españolas”, de Garcia Calderon, publicamos as versões espanholas e hispano-americanas de nove trovas, uma das quais, como dissemos, já Cecília Meirelles, em trabalho que só posteriormente haveríamos de ler, havia identificado; outra – “Eu fui lá não sei aonde” de cuja variante, corrente também no Brasil, Joaquim Ribeiro (XXX – 320) descobriu a versão holandesa, e as restantes, para as quais possuímos atualmente as correspondentes portuguesas, bem como novas versões galegas ou castelhanas. Isto sem falar no registro que fez Cecília Meirelles (XXII) da versão em língua inglesa da trova no 1.091, cujas variantes espanhola e portuguesa publicamos, nem ao de Walter Spalding (VIII – 29) de trova alemã existente no Rio Grande do Sul que semelha a no 930 de nossa coleção, ou Alberto Faria (V – 401) da versão em língua d‟Oc de quadras brasileiras que começam por “Abaixai-vos serras altas”. Alinhamos novamente no apêndice a estas notas, vinte e cinco versões em castelhano e galego de trovas existentes em nossa coleção, em vinte e três delas com suas correspondentes portuguesas, na maioria dos casos identificadas por nós próprios, mas em oito através de trabalho realizado por Fernando Pires de Lima (XII – 305 e XXXI). 15


Algumas dentre elas já haviam sido registradas em Portugal pelos autores que cito no lugar competente, e outras possuem nesse país versões anotadas por vários coletores, as quais deixamos de transcrever por vários coletores, as quais deixamos de transcrever em muitos casos, a fim de não alongar ainda mais estas notas e os seus apêndices. Antes de dar por encerradas estas notas introdutórias queremos dizer que a presente coleção de trovas populares para seguir a tradição das coletâneas brasileiras (Carlos Goes, Afrânio Peixoto, Santos Neves) e mesmo da portuguesa, de Agostinho Campos e Alberto d‟Oliveira, teria que alcançar, para merecer a publicidade, pelo menos o clássico milheiro. Contudo, a menos que fizéssemos como Afrânio Peixoto, que de sua própria lavra enxertou cerca de 200 quadras para completar o seu milheiro de “Trovas Populares Brasileiras” ou, ao contrário, selecionando e expurgando as mais imperfeitas, quando passassem de mil, não poderíamos, numa pesquisa folclórica, fixarmo-nos em um número exato. Não sendo a presente coletânea um florilégio, como as de outros autores, mas um documentário, lógico que teríamos que seguir a orientação do nosso confrade Santos Neves, incluindo todas as variantes verificadas, mesmo porque muitas delas vieram de informantes ou intermediários e fontes diversas, bem como de épocas diferentes. É que, de fato, a presente coleção de trovas não é composta somente de material nosso, nem sequer representa esforço pessoal exclusivo. As primeiras quadras, a modesta soma de cinquenta e poucas, foram reunidas há mais de 25 anos atrás, constituindo o primeiro material folclórico por nós obtido, quando ainda estudante em férias, por ocasião de uma festa regional em nossa cidade natal de Viçosa de Alagoas. A estas juntaram-se as que minha tia Augusta Brandão Sá na mesma ocasião se prontificou a nos ditar e que eram cantadas em sua mocidade (e muitas ainda hoje), aí pelos anos de 1890 a 1900, em Viçosa, quando as rodas de adultos imperavam nas casas grandes dos Engenhos ao lado do schotish e das polkas, do mesmo modo que nas senzalas e nas casas de caboclos dominavam os cocos que haveriam também um dia de subir às melhores casas das cidades do interior e do Maceió. Este material ficou esquecido entre velhos rabiscos da mocidade, durante muitos anos, até quando iniciamos propriamente a colheita e o estudo do nosso folclore. Nas coletas que então fizemos, não só de quadras, mas de todas as espécies de nosso folclore, veio juntar-se grande número de quadras obtidas de duas boníssimas e preciosas informantes: as duas irmãs Olímpia Aragão Aranda e Amélia Aragão, a primeira delas já falecida. 16


Acresceram-se a estes materiais, posteriormente, novas quadras fornecidas por minha mãe Carolina Brandão, nascida e criada na zona rural em Viçosa, ou colhidas diretamente de cantadores de roda e coco como Lídia Santana, o mateu de Reisado, Rochinha, os mestres de Guerreiro e Reizado, Manoel Lourenço, Libânio, Luis Goes, etc., isso sem esquecer o material que me foi ditado dois anos antes de sua morte por meu tio, o historiador e folclorista Alfredo Brandão, e a lista de umas vinte quadras manuscritas colhidas entre 1910 e 1920 pelo meu primo o escritor Otávio Brandão. No ano p. passado interessamos e utilizamos minhas filhas Vólia e Vera Almeida Brandão, e minhas sobrinhas Norma Vilela Brandão, Vania Albuquerque Brandão e Helenita Brandão Maia Gomes, na coleta de trovas por ocasião de minhas férias anuais na Fazenda Flor da Serra, Viçosa. Desincumbiram-se elas vitoriosamente de sua missão, conseguindo obter de empregados da Casa Grande, de moradores da fazenda, de trabalhadores rurais, sobretudo de moças, no curto prazo de uma semana, perto de 300 quadrinhas, que elevaram nossa coleção a mais de 900 peças. A estas foram por fim reunidas 173 trovas alagoanas dadas já à publicidade por vários autores alagoanos ou não: Moreno Brandão (XXXII), Alfredo Brandão (XXXIV), Leonardo Mota (XXXV – p. 203), Sílvio Romero (XXXVI pag. 252), Nery Camelo (XXXVII – pag. 106) e Osório Duque Estrada (XVI – pag. 295), das quais são dados num dos apêndices os números que tomaram nesta coleção. Exceto as quadras das coleções de Moreno Brandão, Leonardo Mota, Sílvio Romero e Nery Camelo, que foram obtidas na região do S. Francisco, e as três de Osório Duque Estrada, conseguidas em Maceió, todas as demais foram obtidas em Viçosa ou por intermédio de pessoas que lá as ouviram e lá as aprenderam. O ideal seria uma coleta em todo o Estado, tarefa a que este trabalho pretende servir de início e a incentivo para outros folcloristas de Alagoas.

Maceió, Julho de 1951

17


Apêndice n. 1 VARIANTES PORTUGUESAS DE TROVAS DESTA COLEÇÃO 113 Aceito, minha gente, Esta noite não é nada; Os que não dormir agora Dormirão de madrugada. (XXVII – p. 208)

64 Ainda depois de morta Debaixo do frio chão. Acharás teu nome escrito Dentro de meu coração. (XXVII – p. 506)

1086 O homem quando embarca Deve resar uma vez Duas, quando vai p‟ra guerra E quando se casar, três. (XLIV – pag. 55 no 152)

1134 Chamastes-me morêninha Eu não me escandalisei; Bem trigueira é a pimenta E vai à mesa do rei... (XXVII – p. 444)

285 Debaixo d‟água tem todo, Debaixo do lodo, peixe; Tu linda me há-des pedir, Pelas almas, que t‟eu deixe.

819 Os olhos do meu amor São confeitos, não se vende: São balas com que m‟atiram, Cadeias com que me prende. (XXVII – p. 447)

(XXVII – p. 311) 1042 Sete e sete são catorze, Com mais sete, vinte e um, Tenho sete namorados, Não quer bem a nenhum.

930 Eu hei de t‟amar um ano Trinta dias tem um mês. Cada semana seis dias, Cada dia uma vez. (XXVII – p. 325)

(XXVII – p. 519)

Cravo roxo, à janela, É sinal de casamento; Menina, recolha o craavo Qu‟inda não veu o seu tempo. (XXVII – p. 407

220 Casei-me com uma velha Por causa da filharada: Vai o diabo da velha Teve três de uma ninhada. (XXVIII – p. 63 no 334)

260

373 Eu amava-te menina Se não fosse um senão; Seres pia de água benta Onde todos metem a mão. (XXVIII – p. 74 no 416)

18

965 Ó pais que tendes as filhas Não faleis das malfadadas; As que estão na triste vida Também nasceram honradas. (XXVIII – p. 192 no 1036)5


428 Meu amor é pequeninho, Tem falta de criação; De dia trago-o nos braços, De noite no coração (XXVIII – p. 130 no 703)

993-994 Rua abaixo, rua acima Sempre co‟ o chapéu na mão, Namorando as solteiras Que as casadas certas „stão. (XXVIII – p. 233 no 1278)

406 Fui-me confessar e disse Que andava namorando; O padre me respondeu Que fosse continuando. (XXVIII – p. 97 no 545)

308 Da minha janela à tua, Do meu coração ao teu, No meio anda o barquinho, O guiador serei eu. (XXVIII – p. 55 no 302)

833 Manuel, Manuelsinho, Manuel enganador; Enganaste a menina Com palavras de amor. (XXVIII – p. 119 no 639)

356 Esta noite tive um sonho, Contigo minha beleza; Acordei topei-me só: Em sonhos não ha firmeza. (XXVIII – p. 69 no 386)

552 Manuel, Manuelsinho, Manuelsinho do Senhor; Mete-te a frade do Carmo Que será meu confessor. (XXVIII – p. 120 no 624)

659 Meus senhores, venham ver Coisa que nunca se viu: Minha gata pôz um ovo, Minha galinha pariu. (XXV – p. 140)

1130 Menina que sabe lêr Também sabe soletrar; Também quero que me diga Quantos peixes tem o mar. (XXVIII – p. 127 no 686)

825 Os olhos do meu amor São duas Ave-Marias; São romáris de amargura Qu‟eu rezo todos os dias. (XXV – p. 146)

205 Ô meu amor não embarques Não te botes ao navio; Olha que as ondas do mar Não são como as do rio. (XXVIII – p. 184 no 1007)

908 Quando passares por mim Deita os olhos ao chão; Podemos nos querer bem E o mundo dizer que não.

786 Ó mundo, que foste mundo! Agora já o não és; Agora já te viraste Com a cabeça p‟ra os pés.

158 A viola sem a prima À prima sem o violão, Os homens sem as mulheres, É como o caldo sem pão... (XXV – p. 61)

(XXV – p. 46)

19

(XXV – p. 148)


734 Nunca vi figueira torta Dar um figo n a raiz; Nunca vi rapaz solteiro Ter assento no que diz!

1109 Vai-te carta venturosa Vai ter àquele jardim; Pede licença, ajoelha, Dá mil abraços por mim. (XXV – p. 83)

(XXV – p. 154)

(XXV – p. 62)

779 Ó mar largo, ó mar largo, Ó mar largo sem ter fundo Mais vale andar no mar largo Do que nas bocas do mundo. (XXV – p. 45)

722 Quantos peixes tem o mar? Não sei que não fui ao fundo. Também quero que me digas Quantos olhos tem o mundo.

295 Tenho dentro do meu peito Duas zenhas a moer; Uma anda, outra desanda; Assim é o bem querer.

1908 S. João, ó S. João! Ó meu belo marinheiro! Levai-me na vossa barca Para o Rio de Janeiro! (XXV – p. 106)

(XXV – p. 101)

(XXV – p. 37)

14 Mulher, abre-me a porta. Qu‟eu estou c‟os pés na geada: Se me não abres a porta Nem és mulher, nem és nada. (XII – p. 223)

(XXV – p. 42)

312 Bemaventurada casa santa Que por Deus foste ordenada, Onde está o Cális santo E a Hóstia consagrada. (XII – p. 170)

(XXV – p. 147)

344 Esta casa cheira a breu Aqui mora algum judeu; Esta casa cheia a unto, Aqui mora algum defunto. (XXXIX – p. 73)

242 Antoninho pede, pede Com sua necessidade; Quem pede, pede chorando, Quem dá, falta-lhe vontade.

285 Tenho uma pena no peito Ao lado do coração. Tenho um letreiro que diz: Morrer sim, deixar-te não.

789 Papel com qu‟eu te escrevo Sai-me da palma da mão, A tinta sai-me dos olhos, A pena do coração.

346 Estas casas são caiadas, Por dentro, por fora não; Senhores que nela moram Deus lhe dê a salvação.

777 Ó luar da meia-noite Guarda-te lá p‟ra o verão; Bem sabes, quem tem amores Quer escuro, luar não. (XXXIX – p. 132)

20

(X – p. 388)


1095 Tudo quanto é verde seca Em vindo o pino do verão. Só o meu amor reverdece Dentro do meu coração. (IV – p. 188)

619 Nana, nana, meu menino, Quem te deu? Porque chorais? Deu-me minha avó Sant‟Ana  Oxalá te dera mais. (X – p. 83-4)

581 A moça para ser sócia Deve ter quarenta amantes: Dez tenentes, dez alferes, Dez frades, dez estudantes. (XX – p. 39 no 151)

1141 Agora me vou embora Para a semana que vem; Quem não me conhece, chora,  Que fará quem me quer bem? (XXVI – p. 13)

892 Quando eu te quiz não quizeste Tiveste opinião; Agora queres e eu não quero Tenho a minha presunção. (XX – p. 53 no 233)

756 Ó seranda, ó serandinha, Vamos nos a serandar; Vamos dar a meia volta, Se é de vira, troca opar.

767 A amora nasce da silva, A silva nasce do chão, A vista nasce dos olhos, O amor do coração.

94 A mulher e a galinha Pouco devem passear: A galinha bichos come, A mulher dá que falar.

(XX – p. 32 no 104) 755 Ô ciranda, ó cirandinha, Vamos nós a cirandar, Vamos dar a meia-volta, Meia volta vamos dar. (XL – p. 59)

(XLII – p. 143)

(XLIII – p. 31) 735 O A é a primeira letra Que se põe no abecê Quem quer bem trata por tu E não por vossa mercê. (XLIV – p. 43 no 94)

607 Pastores que andais aqui Escrevei isto a mi madre, Se não tiveres papel No bastão desta bengala.

915 Quem do meu peito saiu Grande delito causou Não venhas com falas doces Que quem saiu não entrou. (XLIV – p. 37 no 64)

1089 Queria que me dissessem Onde é que a paixão aumenta Se no coração de quem fica Se na alma de quem se ausenta. (XLIV – p. 86 no 306)

399 Eu não gosto nem brincando Dizer adeus a ninguém: Quem parte leva saudade Quem fica saudades tem. (XLIV – p. 58 no 169)

21


Apêndice n. II VARIANTES PORTUGUESAS E ESPANHOLAS DE TROVAS DESTA COLEÇÃO 33 Açucena dentro dágua Atura quarenta dias, Meus olhos fóra dos teus Não aturam nem um dia.

15 Abris aporta Si quereis abrir. Que somos de longe Queremos nos ir. (Alagoas)

Alagoas

A açucena c‟0 pé n‟água Dura mais quarenta dias; Eu sem ti, nem uma hora Quanto mais anos e dias. (Port. (XXV – p. 128)

Ora venha se ha de vir Não esteja a dilatar, Que somos muito de longe Temos muito que andar. Portugal (XLVII – p. 261)

Azucena puesta en agua Me duró cuarenta dias; Que mi amor no puede estar Sin verte un solo dia. Argentina (XLV – p. 136)

Manden Aginaldos Si los han de dare, Que somos de lonxe Queremos marchare. Galícia (XLVI – p. 420)

118 Aqui estou em vossa porta Feito um feixinho de lenha, Esperando pela resposta Que de vossa boca venha.

277 Da língua fazei tinteiro, Das asas pena aparada, Dos olhos letra miúda, Do bico, carta fechada. (Alagoas)

Alagoas

Aqui estou à tua porta Como um feixinho de lenha, A‟ espera da resposta Que de tuas mãos me venha. Portugal (VII – p. 585)

Tua boca é tinteiro, A língua pena aparada, Os olhos letra miúda, A testa carta fechada. Portugal (XXV – p. 153)

A sua porta nos ten Como un feixe de leña, A esperar pol-a resposta Que de sua man nos veña. Galícia (XLVI – p. 426)

Tu ojos son dos tinteros Tu nariz pluma cortada Tu dientes letra menuda, Tu boca carta cerrada. Argentina (XLVIII – p. 78)

358 Esta noite tive um sonho, Sonho muito atrevido. Sonhei que via na cama A forma de teu yestido.

Eu não canto por cantar Nem por bem cantar o digo; Eu canto para espalhar Paixões que trago comigo. Portugal (XXV – p. 48) (Alagoas) Yo no canto por cantar 22


Esta noite sonhei eu Um sonho muito atrevido, Sonhei que tinha em meus braços A fórma de teu vestido. Portugal (IV – p. 180) Esta noche soné un sueño Que al amor me ??????????? Que abrazaba con mis brazos La cosa que más queria. Espanha (XLIX – p. 72)

Ni por tener buena voz; Yo canto para calmar Las penas del corazón. Argentina (LI – p. 146) Unos cantam porque quieren Otros porque les dá gana; Y yo por desechar Un pesar que me acompaña. Colômbia (LII – p. 248) Eu non canto por cantar Nin por ganas que lie teña Canto por aliviar O corazón que tén pena. Galícia (LIII – p. 97)

546 Manoel por ver as moças Fez uma ponte de prata; As moças não passam nela, Manoel porque te matas? (Alagoas) S. João por ver as moças Fez uma ponte de prata; As moças não passam nela, S. João todo se mata. Portugal (XXV – p. 39) Manoel por ver as mozas Fixo unha fonte de prata; As moizas non van a ela E Manoel todo se mata.

No canto porque me oigan Ni porque mi gracia es buena, Yo canto por divertirme Y darie alivio a mis penas. Colômbia (LIV – p. 182) 1043 Si tu soubesses, ó galo. Quanto custa um bem querer, Decerto não cantarias Antes do dia amanhecer. Alagoas

Galícia (L – p. 26) Se tu supiesses, gallito, Lo que cuesta un bien querer, No cantarias tantas veces A la hora de amanhecer. Argentina (XLVIII – p. 137)

390 Eu não canto por cantar Nem por ser bom cantador; Canto por matar saudades Que tenho do meu amor. (Alagoas) Eu não canto por bonito Nem canto pra me mostrar; Com a dor que trago nalma Canto para não chorar. R. G. Sul (VII – p. 25) Nem contigo, nem sem ti. Tem remédio o pezar meu; Contigo, porque me matas, Sem ti, porque me morreu. Portugal (XLIV – p. 70) 23

720 Nem contigo, nem sem ti, Tem remédio o pezar meu: Contigo, porque me matas, Sem ti, porque morro eu. Alagoas 936 Quem morre de malo de amores Não se enterra no sagrado, Se enterra em campos verdes Onde habitam os namorados. Alagoas


Ni contigo ni sin ti, Tienen mis males remédio, Contigo porque me matas. Y sin ti, porque me muere. Colômbia (LII – p. 264)

Quem morre de mal de Amores Não se enterra no sagrado, Enterra-se em campo verde, Onde vai pastar o gado. Minas Gerais (LVII – p. 25)

781 O meu pai se chama Caco, Minha mãe Caca Maria, Arre lá com tanto caco, Sou filho da cacaria.

O mal d‟amor‟s não tem cura, Que é um mal desesperado: Quem morre de mal de amores Não se enterra no sagrado. Portugal (LVIII p. 230) Alagoas)

O meu pai chama-se Caca, Minha mãe Caca Maria, Eu sou a Caca pequena, Sou filha da Cacaria. Portugal (XXV – p. 90) A mi me dicen el Cuco A mi mujer la Cucona. A mis hijos los Cuquitos A mi suegra Cucarona. Argentina (LV – p. 260)

Si no me lo quieren crer No me enterren en el sagrario Entierren-me en esos montes En veredas del ganado. I. Canárias (LIX – p. 442) Y si yo muero de amores No me entierren en sarado, Haganme la sepoltura En un verdecico prado etc. Espanha (LII – p. 266) Por si acaso me mataren No me entierren en sagrao Entierrenme en un llanito Donde no pase ganão: etc. Colômbia (LII – p. 266)

817 Os olhos azues são falsos, Os pretos são feiticeiros, Os olhos acastanhados, São os leais verdadeiros. Alagoas Os olhos pretos são falsos, Os azues são lisongeiros, Os olhos acastanhados, São leais e verdadeiros. Portugal (XL – p. 115) Os olhos brancos son falsos Os negros namoradeiros, Vivan os olhos castaños Por firmes e verdadeiros. Galícia (LVI – p. 365)

1044 Se S. João soubesse Quando seria o seu dia, Descia do céu à terra Com prazer e alegria. Alagoas Se o S. João soubesse Quando era o seu dia, Baixava do céu à terra Com prazer e alegria. Portugal (LX – p. 63) Santo António de Lisboa Casamenteiro das velhas, Porque não casas as moças, Que mal vos fizeram ellas? Portugal (LVI – p. 333)

Si San Juan supiera Cuando era su dia, Bailarán las piedras De pura alegria. México (LXI – p. 278) 24


826 Os teus olhos, negros, negros, São gentios de Guiné; De Guiné por serem negros, Gentios por não ter fé.

Santo António de Canedo Casamenteiro das velhas Porque non casas as novas Que mal che fixeron elas? Galícia (LVI – p. 333) Alagoas

Os teus olhos negros, negros São gentios da Guiné. Da Guiné por serem negros, Gentios por não ter fé. Portugal (LXII – p. 224) Os olhos de miña dama Son negrillos de Guiné. Flecheros sin ser tiranos, Nigros sin cativos ser. Cuba (LXIII p. 739) 780 O mar também é casado É casado e tem mulher. É casado com a areia. Dá-lhe beijos quando quer.

968 Quem tiver o seu segredo Não diga a mulher casada, A mulher diz ao marido O marido às camaradas. Alagoas Não descubras o teu peito A nenhuma amiga tua: Tua amiga amigas tem Logo se sabe na rua. Portugal (LVI – p. 349) Contácheme os meus segredos A quen tanto me queria; Todo canto che escoitaba Todo canto me decia. Galícia (LVI – p. 349)

Alagoas O mar também é casado, Também tem sua mulher: É casado c‟o a areia Dá-lhe beijos quando quer. Portugal (XII – p. 100)

691 Minha mãe tão pobresinha Nada tem para me dar. De hora em hora da-me um beijo E depois põe-se a chorar. Alagoas

A mar é casada O tamén tén muller; É casada cua areia E dalle bicos cuando quer. Galícia (XIV – p. 91)

Minha mãe, de pobresinha, Não tem nada pra me dar; Dá-me beijos, coitadinha, E depois põe-se a chorar. Portugal (LVI – p. 356)

1009 S. Gonçalo de Amarante Casamenteiro das velhas. Porque não casais as novas? Que mal vos fizeram elas?

Miña mai como é moi probe Non tiña pan que me dar, Enchéume a cara de bicos Depois rompeu a chorar. Galícia (LVI i- p. 356) Alagoas

1051 Solteirinha não te cases Vai gosar tua boa vida! Que ontem vi üa casada Chorando de arrependida.

Os mociños que hai agora Sou ricos e sen diñeiro, Andan engañando as mozas Co caravel no sombreiro. Galícia (XII – p. 214) Alagoas 25


Moça solteira, não case, Logre-se da boa vida! Eu já sei de uma casada Que chora de arrependida. Portugal (XXV – p. 23 no 159)

732 No tempo em que eu te amava Rompia matos de espinho, Já hoje pago dinheiro P‟ra não ver o teu focinho. Alagoas

Solteirinha, non te cases, Aproveita a boa vida; Qu‟eu ben sei d‟unha casada Que chora d‟arrependida. Galícia (XII – p. 208)

Algum dia, p‟ra te ver, Abri as portas da rua; Agora dava dinheiro P‟ra não ver a sombra tua. Portugal (XXV – p. 46 no 451)

114 Aqui estou em vossa porta Com a mão na fechadura, Esperando pela resposta Coração de pedra dura.

Algun dia por te ver Abrin portas e ventanas; Agora por non te ver Tocal-as teño cerradas. Galícia (XXXI – p. 341) Alagoas

Passei pela tua porta, Espreitei p‟la fechadura: Tu não me abristes a porta Coração de pedra dura! Portugal (XXV – p. 43 no 45) Pasei pola tua porta Miréi pola pechadura; Non me quixeché falar Corazón de pedra dura! Galícia (XII – p. 210) 343 Estes rapazes d‟agora Quatro não valem um vintém: Falam casamento às moças, Uma cueca não têm.

368 Estes olhos têm meninas, Estas meninas Têm olhos; Os olhos desta menina São meninas dos meus olhos. Alagoas Los ojos tienen sus niñas, Las niñas tienen sus ojos, Y los ojos de las niñas Son las niñas de mis ojos. Argentina (LXIV – p. 74) 460 Garibaldi já morreu Já foi dar contas a Deus Da farinha que comeu Da cachaça que bebeu.

Alagoas Estes rapazes dagora São bonitos, trajam bem; Também é o que lhes vale, Que eles dinheiro não têm. Portugal (XII – p. 216) 142 Atirei um limãosinho Na torre da sacristia, Deu no cravo, deu na rosa, Deu no peito que eu queria. Alagoas 26

Alagoas Agualongo se murió Y el diabo se lo llevó Abajo estará pagando Las iglesias que quemô. Colômbia (LII – p. 2764) Eu ia não sei por donde Encontrei um não sei que, Fiquei assim não sei como Chorando, não sei por que. Portugal (IV – p. 181)


Da janela da botica M‟atiraram e‟ um limão, A casca deu-me no peito O sumo, no coração. Portugal (XXVII – p. 510)

Tengo un dolor non sé donde Nascido non sé de quien, Sanaré yo non sé cuando Si me cura non sé quien. Espanha (LVI – p. )

De tu ventana a la mia Me tirastes um limón, Y el limon caió en el suelo Y el agrio en mi corazón... Espanha (LV – p. )

1105 Um laço de fita verde Com três dedos de largura. Nas ancas de uma mulata Mata qualquer criatura. Alagoas

424 Eu quisera ser a rola A rolinha do sertão Para fazer o meu ninho Na palma de tua mão.

Una muchacha bonita Con un camison de fula, Hace meter a cualqueira En las patas de ina mula. (LII – p. 303)

Alagoas Quem me dera ser pombinho Ou rolinho do sertão. Que queria fazer o ninho Dentro do teu coração. Portugal (IV – p. 169)

878 Primeiro Deus fez o homem E a mulher em seguimento, Primeiro se faz a torre E depois o catavento. Alagoas

Si me volviera paloma Que gustoso viveria! Porque dentro de tu pecho Mi nido yo formaria. Espanha (XXXIII – p. 54) 382 Eu fui lá não sei aonde. Visitar não sei a quem, Sai assim não sei como Chorando não sei por quem. Alagoas

27

Primeiro fiz Deus o homem E a mulher em seguimento, Primeiro se fez a torre E depois... o catavento. Portugal (XLIV – p. 71) Primeiro hizo Diós al hombre, Y después a la mujer; Primeiro se hacen las torres Y las veletas después. Espanha (LVI – p. )


Apêndice n. III NÚMERO QUE TOMARAM NESTA COLETÂNEA AS TROVAS ALAGOANAS JÁ PUBLICADAS Moreno BRANDÃO – (XXXII) 118: 807 – 882 – 349 – 161 – 348 – 802 – 759 – 341 – 340 – 752 – 684 – 680 – 677 – 269 – 387 – 268 – 514 – 181 – 634 – 522 – 199 – 537 – 141 – 592 – 866 – 200 – 629 – 626 – 504 – 134 – 676 – 828 – 136 – 270 – 290 – 150 1048 – 67 – 484 – 481 – 120 – 236 – 534 – 485 – 938 – 403 – 379 – 244 – 146 – 154 – 501 – 505 – 457 – 907 – 908 – 348 – 641 – 528 – 305 – 883 – 645 – 658 – 639 – 500 – 572  74 – 1131 – 916 – 321 – 605 – 355 – 267 – 252 – 298 – 725 – 810 – 451 – 567 – 566 – 335 – 133 – 737 – 915 – 420 – 839 – 801 – 383 – 166 – 254 – 502  49  50 – 1011 – 1100 – 880 934 – 475  41 – 1079 – 564 – 112 – 301 – 1047 – 1110 – 1108 – 1111 – 1129 – 1089 – 1123 – 1090 – 1126 – 1015 – 1050 – 1125 – 1051 – 1056 – 1026 – 1109. Alfredo BRANDÃO – (XXIV) 18: 1083 – 598 – 586 – 993 – 262 – 471 – 631  68 – 1101 – 404 – 480 – 336 – 328 – 793 – 496 – 224 – 206 – 254. Sílvio ROMERO – (XXXVI) 9: 1066 – 111 – 124  3 – 819 – 565 – 776 – 900 – 1081. Leonardo MOTA – (XXXV) 10: 540 – 535 – 377 – 769 – 427 – 923 – 679 – 966  Nery CAMELO (XXXVII) 6: 591 – 595 – 722 – 358 – 142 - 18. Osório DUQUE ESTRADA (XVI) 3: 881 – 262 - 66.

28

1 – 657.


Apêndice n. IV TROVAS COLHIDAS EM REISADOS, GUERREIROS, DE ACALANTOS, CHEGANÇA, CANTIGAS DE CEGOS E DE LOAS E GLOSAS DE CACHAÇA REISADOS: 6  13  14  15  16  17  18  19  31  32 – 102 – 114 – 115 – 116 – 117 – 118 – 119 – 159 – 165 – 169 – 170 – 172 – 182 – 211 – 212 – 215 – 221 – 225 – 275 – 279 – 311 – 312 – 313 – 333 – 338 – 344 – 345 – 346 – 347 – 362 – 375 – 380 – 381 – 444 – 469 – 470 – 619 – 700 – 701 – 719 – 729 – 747 – 748 – 749 – 762 – 763 – 764 – 765 – 777 – 783 – 803 – 809 – 812 – 813 – 831 – 832 – 834 – 835 – 836 – 842 – 843 – 844 – 848 – 849 – 850 – 851 – 877 – 903 – 904 – 912 – 914 – 986 – 989 – 1007 – 1031 – 1032 – 1033 – 1034 – 1057 – 1103 – 1104 – 1114 – 1117. ACALANTOS: 203 – 204 – 207 – 229 – 323 – 324 – 325 – 1010 – 1012 – 1013 – 1071 – 1072. GUERREIROS: 203 – 388 – 606 – 785 – 935. CHEGANÇA 205 – 262. LOAS E GLOOSAS DE CACHAÇA: 20 – 21 – 22 – 23 – 24 – 56 – 57 – 58 – 59 – 60 – 61 – 320 – 490 – 472 – 754 – 963. CANTIGAS DE CEGOS: 309 – 310. NOTA – As demais trovas são cantadas em rodas infantis, rodas rurais de adultos, cocos.

29


TROVAS POPULAES DE ALAGOAS A 1 A alegria de quem ama É encontrar-se em noite escura; A alegria de meus olhos É ver certa criatura.

8 A bola do mei‟ do mundo Anda mais do que o vapô, Deixa um pobre moribundo; Quem eu era e agora sou.

2 A arruda tem cem galhos, Por det´ras eu arrodeio, Me ame que eu já sou sua, Deixe os amores alheios.

9 A bonina disfarçada Não abre senão à tarde. Pelos olhos se conhece Quem ama com falsidade.

3

10 A bomba é flor da noite, Só abre depois da tarde Pelos olhos se conhece, Quem ama com falsidade.

Abaixa-te, limoeiro, Deixa tirar um limão, Para limpar uma nódoa Que trago no coração. 4 A baleia deu um urro Que o mar estremeceu, Abalou toda a cidade Que a fortaleza gemeu.

11 A bonina é flor da noite, Só abre depois da tarde. Pelos olhos se conhece Quem ama com lealdade.

5 Abalei um pé de cravo Que nunca foi abalado; Estou amando um moreno Que nunca foi namorado.

12 Abre as asas, passarinho! Assombras um coração. Estás longe de minha vista Porém do sentido, não.

6 A barquinha de Noé Sete anos navegou; Mar a dentro, mar afóra, Chegou na pedra, encalhou.

13 Abri a porta, pastora, Que eu venho com alegria! <Santos Reis> foi festejado, Festejado neste dia.

7 A abelha tempo de sêca Só trabalha no agreste; Trabalha, abelha miuda, Na lição da abelha mestre!

14 Abris a porta pastora, Se queres ser festejada! Se não abrires a porta, Não sois feliz, não sois nada.

30


15

23 A cachaça é moça branca, Filha do velho Tiburço; Ela bate comigo no chão, Eu bato com ela no buxo.

16

24 A cachaça é moça branca, Filha de um velho trigueiro; Quem puxa muito por ela Fica pobre sem dinheiro.

Abris a porta Se quereis abrir; Que somos de longe Queremos nos ir.

Abris a porta Por Nossa Senhora, Que somos de longe Queremos ir s‟imbora. 17

25 a cantiga que se canta Não se deve recantar; O amor que se despreza Não se deve procurar.

18

26 A carta que te escrevi Botei um laço de fita; Eu mandei meu coração Te fazer uma visita.

19

27 A criança é moça branca, É bonita e quer casar, Para ter os seus filhinhos E p‟rá com eles dançar.

Abris a porta Por Nossa Senhóra, Viemos de longe Chegamos agora.

Abris a porta, Quem manda sou eu; Se quereis vem vê Catarina e Mateu.

Abris a porta, Fazei que quisé; Chegamos agora Os pretinh‟ dê Guiné. 20 A cachaça alegra a gente O fumar nos dá prazer; Quem não fuma, quem não bebe, Que alegria pode ter?

28 Acolá naquela serra Eu plantei uma roseira, Quanto mais a planta flora, Tanto mais o cume cheira.

21 A cachaça é moça branca, É filha da cana torta; Quem puxa muito por ela Fica caído na grota.

29 A côr branca é côr de leite, Côr morena é côr da aurora; A côr branca desmerece Côr morena toda a hora.

22 A cachaça é giribita, Filha da cana torta; Quem puxa muito por ela Não acerta com a porta.

30 Adeus, casa de farinha, Adeus, rico farinheiro! Adeus, mulata bonita, Senhôra do meu dinheiro!

31


31 A coruja à meia noite Deu um passeio na rua; Ela canta, ela grita Por estas noites de lua.

39 Adeus, beirada de rio, Logar de banho mimoso! Tua chegada é alegre. Teu arretiro é saudoso.

32 A coruja é <passo> nobre, Tem as penas de nobreza, Deita no colo das moças, Dorme na torre da igreja.

40 Acordai, meu São José, Acendei meu candieiro! Que deu luz Nossa Senhóra A Jesus Cristo verdadeiro.

33 Açucena dentro dágua Atura quarenta dias; Meus olhos, longe dos teus, Não aturam nem um dia.

41 Adeus, centro da firmeza, Oh! Rosa de Alexandria, Se a fortuna me ajudar, Te buscarei algum dia.

34 Auçena quando abre Toma conta do jardim; Tomara que meu benzinho Já tome conta de mim.

42 Adeus, coração de bronze, Que por outra me deixou! Hoje vivo desprezado Por quem tanto me estimou.

35 Açúcena quando abre Traz um cheiro de jasmim; Quando de longe tu cheiras, Que dirá perto de mim!

43 Adeus, corpo delicado, Adeus, feição de amor! Adeus, carinho de rosa, Olhos pretos matador.

36 Açucena quando nasce Logo no chão vem abrindo; Meu benzinh‟, quando me vê, Quando não fala é sorrindo.

44 Adeus, joazeiro verde, Nascido em baixa vertente! Adeus, amar impedido, Adeus, coração da gente!

37 Açucena quando nasce Vem abrindo, vem fechando, Meu amor quando me enxerga Vem todo se requebrando.

45 Adeus, oiteiro vermelho, Com trinta barreiras brancas! Coração que já amei, Já perdi as esperanças.

38 A desgraça do pau verde É ter o seco encostado; Vem o fogo, queima o sêco, E fica o verde queimado.

46 A folha da bananeira De comprida amarelou; A boquinha de meu bem De tão doce açucarou.

32


47 Acordei de madrugada, Fui varrer a Conceição; Encontrei N. Senhora Com seu raminho na mão.

55 Aguardente caianinha É feita de cana torta; Bato com ela no buxo, Ela comigo na porta.

48 A folha da jaca é dura, É dura mas é cheirosa, Eu te amo por capricho, Maltratando as invejosas.

56 Aguardente do alambique É alva que nem capucho; Bate comigo no chão, Bato com ela no buxo.

49 a garça com seu pé nágua Pode estar quarenta dias; Eu, longe do meu bemzinho, Não posso estar um só dia.

57 Aguardente é moça branca Filha da cana caiana; Eu bato com ela no buxo, Ela bate comigo na lama.

50 a garça poz o pé nágua, O bico para beber, Eu também posso ficar No ramo do bem querer.

58 Aguardente é moça branca Filha de um velho trigueiro; Quem puxa muito por ela Fica pobre, sem dinheiro.

51 Agora me alembrei De um camarada que eu tinha; A minha rêde era dele, A rêde dele era minha.

59 Aguardente era pagã, Mané Gato batizou,. O Terenço foi padrinho, E o Carito apresentou.

52 Agora sim, meu benzinho Agora sim, me alegrou; Estava cantando sósinho, Já chegou meu beija-flô.

60 Aguardente é uma doença Que se compra com dinheiro; Sempre tem a morte certa Todo homem cachaceiro.

53 Agora sim, meu benzinho, Agora sim, me alegrou; Estava cantando sósinho, Agora, meu bem chegou.

61 Aguardente, só de cana, Zinebra, só de Fokinho, Cigarro, só Meteó, Palito, só Jocopinho.

54 Agora sim, meu benzinho, Agora sim, me alegrou; Estava dançando sósinho, Chegou o meu bem, chegou.

62 A Igreja tem quatro cantos, Na porta tem um cruzeiro. Ninguém pode namorar Onde tem mexeriqueiro.

33


63 Ai, Morena, pede a Deus O que eu peço a S. Vicente: Que junte nos dois um dia Numa casinha sem gente.

71 Alecrim é venenoso Pelo bom cheiro que tem, Se de ti tenho ciúme É porque te quero bem.

64 Ainda depois de morto Debaixo do frio chão, Tu verás teu nome escrito No meu pobre coração.

72 Alecrim verde cheiroso... Ele seco cheira mais; São como as moças solteiras Quando estão com os seus pais.

65 A juriti amorosa Foi cantar na solidão; Eu só queria viver Dentro do teu coração.

73 Alecrim, verde cheiroso Na janela de meu bem; Ainda não me casei, Já me dão os parabéns.

66 A laranja de madura Caiu nágua foi ao fundo; Os peixinhos „stão dizendo: Viva D. Pedro Segundo!

74 Alecrim verde do campo Se alegra se a chuva passa; Alegria de meus olhos É ver meu bem na desgraça.

67 A laranja de madura Caiu nágua, foi ao fundo; Triste da moça donzela Que cai na boca do mundo.

75 Alecrim verde do cerro, Jasmineiro do pomar, Tu és a flor dos meus olhos, Contigo quero casar.

68 Alecrim da beira dágua, Dá-lhe o vento, está pendendo. Amigas e camaradas Por detrás „stão me vendendo.

76 Alecrim verde é cheiroso, Porém seco cheira mais. Mulher que se fia em homem Morre sêca, dando ais,

69 Alecrim da beira dágua, Dá-lhe o vento, está perdendo. Você passa por mim, não fala, É coisa que se está vendo.

77 Alecrim verde se chama Uma esperança perdida. Quem não logra o que deseja É melhor perder a vida.

70 Alecrim da beira dágua, Não se corta com machado; Se corta com canivete Do bolso do namorado.

78 Alegria de carreiro É ver seu carro cantar; Sua vara de ferrão, Seu cigarro p‟ra fumar.

34


79 Alegria eu não tenho, Tristeza comigo mora, Se eu visse quem quero bem, Tristeza eu botava fóra.

87 Amigo, passe um cigarro, Que eu também sou fumadô; A pontinha que eu trazia Caiu n‟água e se molhou.

80 Alfinete é ciúme, Agulha é variedade. Pelos lhos se conhece Quem ama com falsidade.

88 A minha gatinha parda Com três dias se sumiu. Quem achou minha gatinha? Você sabe, você viu?

81 A lua, de caminhar, Já fez caminhos no céu. Eu conheço o meu benzinho Pela aba do chapéu.

89 A moça quando é solteira Todo o mundo lhe quer bem; Mas depois dela casada: Seu marido e mais ninguém.

82 A lua de caminhar, Já fez caminhos no céu; Esse seu olhar me mata, E esse botar de chapéu.

90 a moça quando é solteira Usa fitinhas e laços; E depois que é casada Usa meninos no braço.

83

91 Amor de perto é querido, De longe mais estimado, Se o de perto me dá pena, De longe maior cuidado.

Amanhã é dia santo, Dia do Corpo de Deus; Quem tem roupa vai à missa, Quem não tem faz como eu. 84 Amanhã faz quinze dias Que meu bem foi ao sertão; Se ele voltar com vida, As almas ganham um tostão.

92 Amor é bicho, Que rói, que rói, Que tem capricho, Que dói, que dói.

85 a maré encheu, encheu, Depois de encher, vasou; Assim foi o meu amor: Quando nasceu, se acabou.

93 Amorzinho de tão longe Que vieste fazer cá? Vieste me encher de pena E acabar de me matá.

86 Amarela desgraçada, Cara de papa-pirão, Tenha vergonha na cara, Deixe meu nome de mão.

94 A mulher e a galinha Não se deixam passear: A galinha o bicho come, A mulher dá que falar.

35


95 A mulher, por natureza, Não pode ter fé segura: Quanto mais fala, mais mente, Quanto mais mente, mais jura.

103 A paca roendo o coco Veio a cotia e tomou; Quero ver dançar bonito, Como ontem se dançou.

96 Anda a roda, candieiro, Anda a roda, sem parar; Todo aquele que errar, No candieiro há de pegar.

104 a paca roendo o coco Veio a cotia e tomou; Quero ver levantar cinza, Como ontem levantou.

97 Andas atrás por saber Quem é o meu ramalhete. É um rapaz trigueirinho, Vestido de azul ferrete.

105 A paca roendo o coco, Veio a cotia e tomou: Ô, senhor dono da casa, Esta vai em seu louvô!

98 Antes eu nunca te visse, Nem te tomasse amisade, Para agora me deixares No rigor desta saudade.

106 A palha da bananeira Não está quieta sem bulir. Dois amor quando se encontram Só levam o tempo em sorrir.

99 António, boca de cravo, José, boca de jasmim! Quem quiser que tome António, Fique José para mim.

107 A palmeira de comprida Cresceu tanto que envergou; Mais envergado se veja Quem tomou o meu amor.

100 António me deu um cravo Quando veio da lição; Ao cravo hotel no peito, E a António no coração.

108 A pitanga é fruta doce, Mais doce é jaboticaba. Quem toma amores contigo, Principia e não acaba.

101 Ao amor não faço preço, Pois ele preço não tem O preço do amor se paga Amando e querendo bem.

109 A planta da cana caiana É mesmio que a salancó, Mas a cana demerara Dá semente mais milhó.

102 A onça é bicho valente Que veio de Itabaiana Valei-me Senhor S. Bento, Que a onça é sussuarana!

110 Aplantei e semeei Sementinha de dendê. Morro sempre no pecado, Querendo bem a você.

36


111 A pombinha quando vôa Bate com as asas no chão; Sinhá Aninha quando dorme Deita a mão no coração.

119 Aqui estou em vossa porta, Meio vivo, meio morto, Esperando pela resposta, Como navio no porto.

112 A pombinha quando vôa É sinal de ir ao chão; Sinhá Aninha, quando dorme, Põe a mão no coração.

120 Aqui se joga, aqui se dança, Aqui se brinca a laranjinha. Eu conheço meu benzinho Pelo nó da gravatinha.

113 Aproveita, minha gente Que uma noite não é nada! Se não dormires agora, Dormirás de madrugada.

121 A resposta desta carta Na folhinha do limão: Benzinho, mande dizer Quando encruzarmos a mão.

114 Aqui estou em vossa porta Com a mão na fechadura, Esperando pela resposta, Coração de pedra dura.

122 A rolinha de cansada Bateu com o papo na areia; Foi batendo e foi dizendo:  Triste coisa é casa alheia.

115 Aqui estou em vossa porta De cocas (cócoras) como raposa, Esperando pela resposta: De lá venha qualquer cousa.

123 A rolinha de cansada Bateu com o papo na areia. Triste sorte é a da pessoa Que vive na terra alheia.

116 Aqui estou em vossa porta Em figura de raposa, Esperando pela resposta Que de vossa boca corra.

124 A rolinha quando vôa Deixa as penas pelo ninho; Sinhá Aninha quando dorme Deita a mão no passarinho.

117 Aqui estou em vossa porta Em figura de raposa; Não quero que me dê nada Pois o dar é grande cousa.

125 A rosa estava doente, O cravo foi visitar; A rosa deu um suspiro, O cravo pega a chorar.

118 Aqui estou em vossa porta Feito um feixinho de lenha, Esperando pela resposta Que da vossa boca venha.

126 Arruda também se muda Do campo para o jardim; Vamos ver tocar o sino: Dlim, dlim, dlim, dlim, dlim, dlim.

37


127 Arruda também se muda Do campo para o deserto; De longe também se ama Quem não pode amar de perto.

135 As meninas me criminam Por eu ser muito pidão, Eu peço porque careço, E elas porque me dão?

128 Asa Branca, quando voa, No caminho ela demora; Eu vim só para te ver, Como já vi, vou-me embora.

136 As meninas sertanejas Não se sentam mais no chão; Botam queijo e rapadura No bornal de Lampião.

129 As baixadas pr‟a veado, Os altos p‟ra caitetú, O sertão pra criar gado, Pra plantar cana no sú.

137 As moças quando se juntam P‟ra falar da vida alheia, Começam na lua nova, Terminam na lua cheia.

130 As estrelas do céu brincando, Por elas peço a meu Deus: Que me tire do sentido O amor que já foi meu.

138 As nuvens pardas são chuva, As brancas são ventania, As verdes são esperança De eu te lograr algum dia.

131 As estrelas do céu correm, Eu também quero correr; Com enredo e mexerico Se aparta um bem querer.

139 As nuvens pardas são chuva, As brancas são ventania, Não se acaba a esperança De te lograr algum dia.

132 As estrelas do céu correm, Eu também quero correr; Elas correm atrás da luz, Eu, atrás do bem querer.

140 As ondas do mar me levem, Elas queiram me trazer, O bicho feroz me coma Se de ti eu me esquecer.

133 As estrelas do céu correm, Eu também quero corrê, Estrelas atrás da lua, E eu atrás de você.

141 As palmeiras „stão de luto As palhas de sentimento; Eu não sei como vai ser Este nosso apartamento.

134 As meninas de Água Branca Não cozinham mais feijão, Pois só vivem na janela Esperando o Lampião.

142 A tarde já vai morrendo Vai morrendo vagarosa, Tão triste que até parece O desfolhar de uma rosa.

38


143 Até nas flores se nota A diferença da sorte: Umas enfeitam a vida, Outras enfeitam a morte.

151 Atirei um limãosinho Na torre da sacristia; Deu no cravo, deu na rosa, Deu no peito que eu queria.

144 Atirei com uma pistola Na boca de um bacamarte; O amor que não é firme É bom que a pistola o mate.

152 Atirei um limãosinho Na menina da janela; Ela me chamou doidinho, Doidinho ando eu por ela.

145 Atirei com a ruína (?) Do reino para o Brasí, Quem por mim perdeu seu sono, De hoje possa dormi.

153 Atirei um limão verde Por cima da sacristia, Deu no cravo, deu na rosa, Deu na moça que eu queria.

146 Atirei com o dedal nágua, Me serviu de caldeirão, Suspiros que vão ao fundo, Saudades me acabarão.

154 Atrepei num jardim verde, Botei mil flores abaixo; Muita falta tem-me feito O travesseiro dos teus braços.

147 Atirei papel p‟ra cima, Papel não quis avoar, Antes esperei três anos, Hoje não posso esperar.

155 A tua boca mimosa, Quando fala para mim, Tem o perfume da rosa, Do bogari do jardim.

148 Atirei um lenço branco Nos ares, virou “çucena, Dizei-me, se quando choras, Se por mim padeces pera.

156 A Viçosa vale um conto, “Balança” não tem valia, “Flor da Serra” tem um anjo, Que a terra não merecia.

149 Atirei um limão verde De pesado foi ao fundo; Os peixinhos „stão dizendo:  Viva D. Pedro Segundo.

157 A viola pela prima, A prima pelo bordão: Não me faças relembrar Os amores do sertão.

150 Atirei um limãosinho Lá na moça da janela; Ela me chamou de doido, Doidinho ando eu por ela.

158 A viola pela prima, A prima pelo bordão; O homem pela palavra Leva a mulher pela mão.

39


159 A vinte e cinco de Dezembro Nasceu Cristo verdadeiro; Pelos Reis foi visitado No dia seis de Janeiro.

160 Azuni lenço p‟ra cima, Aparei com azeitona. Fiquei sabendo, menina, Que meu amor tu não toma. B

161 Ba, bé, bi, bo, bu, Quem quiser venha aprender, Que eu ensino facilmente Sem as letras conhecer.

168 Beija-fulô de almirante (?) Peguei a rosa no ar. Cada hora, cada instante, Meus olhos pegam a chover.

162 Bacalhau é muito bom Quando leva o seu tempero; Meio quilo de batata Leva a gente ao desespero.

169 Bendito, louvado seja Deus Menino, Deus nascido, Pelo ventre de Maria Nove meses escondido.

163 Bacalhau é muito bom Quando leva o seu tempero: Seu azeite, seu vinagre, Sua pimenta de cheiro.

170 Bendito, louvado seja O divino S. José, Que nos deu a Salvação Na barquinha de Noé.

164 Bananeira bota cacho, Também bota seu buzinho. Eu não posso me esquecer Da cara de meu benzinho.

171 Bem podes brincar comigo Sem meter a mão no seio; Depois ão venhas dizendo Tal, que sim, que foi, que veio...

165 Bate asas, canta o galo. Quando o Salvador nasceu; Cantam os anjos nas alturas: Gloriá no céu se deu.

172 Bem-tevi pousou no galho Junto da rosa amarela. Quando entrei nesta casa Vi meu amor na janela.

166 Beba fel, derrame sangue, Que eu sempre hei de te amar, Pois eleição de meu peito Só Deus a pode tirar.

173 Benzinho, fica ciente Que outra não hei de amar, Que neste mundo não vejo Quem eu bote em seu logar.

167 Beija-flor estava voando No caminho fez mudanças. Um amor perto do outro, Os olhos não tem descanso.

174 Benzinho, já me contaram Os conselhos que te dão: Tu me deixares por outra; Não me faças isso não! 40


175 Benzinho, não vivas triste, Nem queiras o que Deus não quer; Bote seu coração ao longe Que há de ser o que Deus quiser.

181 Bole, bole, sapatinho, Na fôrma do sapateiro! Assim bolem meus olhinhos Quando veem rapaz solteiro.

176 Benzinho, não vivas triste, Viva alegre se puder; Que por outra não te deixo Enquanto vida eu tiver.

182 Bom Jesus dos Passos Vem com seu madeiro; Nós vamos adorar O Santo Cruzeiro.

177 Benzinho, quando te fores, Mande-me dizer adeus, Que eu quero mandar meus olhos Na companhia dos teus.

183 Bonina branca cheirosa, Flor que abre no verão; Choro quando não te vejo, Prenda de meu coração.

178 Benzinho, quando te fores, Me escreve lá do caminho; Se não achares papel, Nas asas de um passarinho.

184 Bonina roxa lavada, Sombrinha dum bem querer, Na hora em que não te vejo Nem água posso beber.

179 Benzinho, se eu morrer Sem teus carinhos lograr, Virei do outro mundo Em tua porta penar.

185 Botei o côco no pote, Bebi água de sobejo. Penso eu que estou no ceu, Benzinho, quando te vejo.

180 Boca de cravo encarnado Cercada de pedraria! Fortuna de quem te logra, Boca de tanta valia! B 186 Cabelo preto cacheado Na rama da tiririca, Não me serve de meizinha; Quem quiser vai na botica.

188 Cabelos pretos cacheados, Cacheados, benza-te Deus; Só não lhe boto quebranto Porque sois amores meus.

187 Cabelo solto é “namoro”, Feito trança é “namorando”, Braço encruzado é “desprezo”, Mão no queixo, “está pensando”.

189 Cabelos pretos cacheados, Derramados pelas costas; Aquilo que te falei Quero saber a resposta! 41


190 Cabelos pretos cacheados, Trancelim de ouro maciço; Ou me ames com firmeza, Ou então deixemos disso.

198 Cajueiro, abaixa a galha, Deixa eu botar o meu pé; Cajueiro, quem te disse Que meu amor é José?

191 Caboclo do Lamarão, Quando se mata um boi aqui, Fiado ou com dinheiro Compra logo o chambari.

199 Cajueiro, abaixa a rama, Que eu te quero por o pé; Quero saber com certeza Se meu amor é José.

192 Caboclo não vai ao céu Nem que seja rezador; Tem cabelo muito duro Espeta Nosso Senhor.

200 Cajueiro, baixa a rama, Que eu te quero por a mão, Pois quero ter a certeza Do amor do Seu João.

193 Caçador, meu caçador, Que matou meu passarinho! Ainda ontem vim de lá, Achei as penas no ninho.

201 Cajueiro bota flor, Também bota maturi, Estas meninas dagora Tiram fogo sem fuzi.

194 Caçador que andais caçando, Matai um nambú assú; Eu também ando caçando Menina da saia azú.

202 Cajueiro pequenino Carregadinho de flor; Eu também sou pequenina, Carregadinha de amor.

195 Cachorro que engole osso Nalguma coisa se fia; Quando vejo mulher velha Tomo bença e chamo tia.

203 Cala a boca, meu menino, Cala a boca, vem dormir! Que tua mamãe foi fóra; Ela foi, logo há de vir.

196 Cada um faça por ter No bolso quatro vintém; No céu só vai quem merece, No mundo só vai quem tem.

204 Cala a boca, meu menino, Que tua mamãe já vem, Ela foi fóra comprar Panelinha de vintém.

197 Cajueijro, abaixo a galha, Deixa o meu gado passar; Meu gado já vem cansado Do sertão do Ceará.

205 Calafatinho, Calafete seu navio, Que as ondas do mar lá fóra Não são como aqui do rio.

42


206 Calango matou um boi, Retalhou, botou na teia; Lagartinha foi bolir, Calangro meteu-lhe a peia.

214 Carneiro novo na serra, Meu boi urrou na madrugada. Quem me dera dar um beijo Numa boca apaixonada!

207 Camisinha de nenén. Não se lava com sabão, Se lava com sabonete Que lavou meu coração.

215 Carreguei água no carro, Areia no meu navio... Pelejar com peito ingrato É malhar em ferro frio.

208 Campina de flor bordada, Delicioso jardim, Não simpatize ninguém, Lembra-te sempre de mim!

216 Carta, quem te perguntar Quem foi o teu escrivão, Digae que foi uma pena Tirada do coração.

209 Candeia que não tem luz Não se bota na parede. O amor que não é firme Não se tem confiança nele.

217 Casa velha sem biqueira Se eu fosse o fogo queimava. Mulher velha faladeira Se eu fosse a morte matava.

210 Candieiro de dois bicos Que alumeia dois salão, Quero que você me leve Na roda de seu baião.

218 Casa de palha é palhiço, Se eu fosse o fogo queimava. Quando vejo gente feia Se eu fosse diabo levava.

211 Canoeiro, canoeiro, Que levas nesta canoa? Levo cravo, levo rosas, Levo flores de Alagoas.

219 Casei-me com uma negrinha, Pretinha como Guiné, Cega de um olho, Manca de um pé.

212 Canoeiro, canoeiro, Que trazes nesta canoa? Trago ouro, trago prata, Trago moças de Alagoas.

220 Casei-me com uma velha Por causa da filharada; Sai-me o diabo da velha, Deu-me três de uma ninhada.

213 Caranguejo não pe peixe, Caranguejo peixe é, Caranguejo só é peixe Na enchente da maré.

221 Catirina, minha negra, A sinhá está chamando Para acender a candeia Que já está se apagando!

43


222 Catirina, minha negra, Faz tempo que não te vejo! Estava lá na cozinha, Cuzinhando caranguejo.

230 Chô, chô, pavão, Lá de cima do telhado; Deixa o menino dormir Seu soninho sossegado.

223 Catirina, minha negra, Meu senhor vai te vender Para o Rio de Janeiro Para nunca mais te ver.

231 Chora, viola, chora, Chora sem consolação! Quando tu, madeira, choras, Que dirá quem tem paixão!

224 Certas mocinhas de hoje Não vestem senão filó: Por cima, saias e bicos Por baixo, mulanbo só.

232 Chorei vinte e um dias, Três minutos, duas horas, Passei três dias sem fala Quando meu bem foi embora.

225 Chapéu de palha e muquiça Se eu fosse o fogo queimava. Gente Velha aborrecida Se eu fosse a morte matava.

233 Chove, chuva miudinha, Na copa do meu chapéu! Nossa Senhora permita Que negro não vá ao céu.

226 Cheguei no palácio, Cheguei me assentei, Cabo de uma hora Com meu bem falei.

234 Chove, chuva miudinha, Na copa do meu chapéu; Quando estou mais meu benzinho Já penso que estou no céu.

227 Chico disse que não come Carne seca com arroz; Queira Deus que ele não seja O ladrão de nossos bois!

235 Chove, chuva miudinha, Na copa do meu chapéu; Quem te criou para mim Foi direitinho p‟ro céu.

228 Chico disse que não come Carne seca com farinha; Queira Deus que ele não seja Ladrão de nossa galinha!

236 Chove, chuva miudinha, Na copa do meu chapéu; Que Padre Nosso de homem Não bota mulher no céu.

229 Chico disse que não come Carne seca com feijão; Queira Deus que ele não seja Ladrão de nosso capão!

237 Chove, chuva miudinha, Na copa do meu chapéu; Você mesmo é a causa D‟eu andar de déu em déu.

44


Chulia o besouro, Bem chuliadinho. O besouro é preto, Mas é bonitinho.

238

246 Com pena peguei na pena, Com pena de te escrever, Com pena notei a carta, Com pena não pude ler.

239 Ciúme é como tempero Que faz gostosa a comida; Tempero demais no prato! Ó que coisa aborrecida!

247 Com pena peguei na pena, Com pena pra te escrever, Com pena larguei a pena, Com pena de não te ver.

240 Coitadinha da rolinha Sentada na verde rama! Tanto chora quem padece, Quanto padece quem ama.

248 Com S escrevo saudade, Com P escrevo paixão, Com T escrevo teu nome, Dentro do meu coração.

241 Coitadinho de quem anda Fóra de seu natural!... Se um dia passa bem, Três e quatro passa mal.

249 Conforme seja a cantiga Que se deva recantar, Conforme seja o amor Que se deva namorar.

242 Coitadinho de quem pede Com sua necessidade; Quem pede, pede chorando, Quem dá, carece vontade.

250 Conselho já me deram Já vivo impressionada; Se não me casar contigo Eu te mato degolada.

243 Colega tu me ajudes Não deix‟ eu cantar sósinho, Que a viagem de dois juntos Faz encurtar o caminho.

251 Constância, minha Contância, Constante te hei de ser; Jurei de ter ser constante, Constante até morrer.

244 Com A escrevo Amor. Com E escrevo Encanto. Com J escrevo o nome De quem eu adoro tanto.

252 Coração que andas maguado, Fala comigo amoroso, Que eu não fui o culpado De tu andares penoso.

245 Como pode o peixe vivo Viver fóra dágua fria? Como posso eu viver Sem a tua companhia!

253 Coração vai visitar O mimo da formosura; Pergunta, quero saber, Se nosso amor inda dura.

45


254 Coringa foi lavar roupa, Pegou na roupa, vendeu; Não se importem com Coringa Quem paga a roupa sou eu.

260 Cravo branco na janela Certamente é p‟ra vender; Quem tem seu amor de frente Nunca se enfada de o ver.

255 Craveiro, me dá um cravo. Roseira, dá-me um botão, Menina, me dá teus braços, Que eu te dou meu coração.

261 Cravo branco na janela É sinal de casamento; Menina tira teu cravo Que p‟ra casar falta tempo.

256 Craveiro não bota outro Que a rama já murchou, Só tinha de botar este Porque era meu amô.

262 Cravo branco quando abre Parece a c‟rôa de um rei: Só comparo o cravo branco C‟ uma pessoa que eu sei.

257 Cravo branco da Baía, Choviscado de água fria! Menina, estes teus olhos São as minhas alegria.

263 Cravo branco se conhece Pelo bom cheiro que tem. Quem tem amor, tem ciúme, Quem tem ciúme, quer bem.

258 Cravo branco da Baía, Rosa Amélia do sertão, Quando moça quer casar Não procura geração.

264 Cravo branco verdadeiro Como a coroa de um rei; Só comparo cravo branco C‟ uma pessoa que eu sei.

259 Cravo branco dolorido Não agraves a ninguém! Quando agrava, não parece, Quando parece, não tem.

265 Cravo não, me chames rosa, Que meu tempo se acabou; Me chames laranja verde Daquela que não vingou. D

266 Da Baía me mandaram Quatro rosas num galhinho. O rapaz p‟ra ser bonito Precisa ter bigodinho.

268 Da Baía me mandaram Uma rede de varanda Para nela embalançar-me Com um moreno de uma banda.

267 Da Baía me mandaram Uma camisa bem feita; No punho desta camisa Tem um nome da sujeita.

269 Da Baía me mandaram Um lencinho de cajá; E mandaram perguntar Se eu queria me casá. 46


270 Da Baía me mandaram Um lencinho meio novo; Em cada ponta um suspiro; No meio: Ai, Jesus, que eu morro.

278 Da menina casa p‟ra tua Já foi entrada real, Mas agora é mata virgem, Coberta de cipoal.

271 Da Baía me mandaram Um presente num balaio; Eu pensei que era outra cousa; Um gerente papagaio.

279 Da Serra do Araripe Se avista o Joazeiro; Vamos resar o Divino Aos pés do Santo Cruzeiro.

272 Da Baía me mandaram Um presente num canudo: Um avelha descascada, Um velho com casca e tudo.

280 Da sua casa p‟ra minha Tem um caminho de cobra; Ainda tenho fé em Deus De tua mãe ser minha sogra.

273 Da Baía p‟ra Recife Também se ama e se quer bem, Quanto mais daqui p‟ra ali Que o portador vai e vem.

281 Da tua casa p‟ra minha O capim não nasce mais Que as passadas que tu deste Se era por mim, não dê mais.

274 Da cana eu quero um gomo, Um gomo e mais dois pedaços; Do teu rosto, uma boquinha, Do teu corpo, dois abraços.

282 Da tua casa p‟ra minha Tem um laço de algodão; Todo mundo pisa nele, Só eu fiquei na prisão.

275 Dai-me licença, senhora, Que eu quero me levantar! A Virgem da Conceição Ela nos queira ajudar!

283 Debaixo da água correm Duas tesouras sem eixo. Fique sabendo, menina, Que por outra não te deixo.

276 Da laranja quero um bago, Do limão quero um pedaço, Da menina mais bonita Quero um beijo e um abraço.

284 Debaixo da água corre Um peixe que sabe ler. O povo já tem inveja Desse nosso bem querer.

277 Da língua fazei tinteiro, Das asas, pena aparada, Dos olhos, letra miuda, Do bico, carta fechada.

285 Debaixo d‟água tem lodo, Debaixo do lodo, peixe. Estou amando um moreno, Quem estiver roendo, deixe.

47


286 Debaixo dágua tem lodo, Debaixo do lodo tem. Quem tem amor, tem ciúme, Quem tem ciúme, quer bem.

294 De Minas Gerais o ouro, De Montevidéu a prata, De Portugal, a rainha, Do Rio Grande, a mulata.

287 Debaixo dágua tem lodo Debaixo do lodo tem, Tem peixinho, tem marisco, Tem quem saiba querer bem.

295 Dentro do meu peito tenho Dois engenhos a moer: Um anda e outro desanda, Assim faz quem quer viver.

288 Debaixo da terra fria, Debaixo do frio chão, Tem um letreiro que diz:  Amar-te sim, deixar-te não.

296 Dentro do meu peito tenho Duas escadas de prata; Por uma sobe Cupido, Por outra desce a mulata.

289 Dei um nó na fita verde, Dei outro na verde fita, Tenho outro para dar Numa menina bonita.

297 Dentro do meu peito tenho Duas espinhas de peixe; Uma me diz que te ame, Outra me diz que te deixe.

290 Dei um nó na fita verde, Dei outro na verde rama; Tenho outro para dar Nos braços de quem me ama.

298 Dentro do meu peito tenho Duas pedras de amolar; Uma anda, outra desanda... Cousa boa é namorar.

291 De longe também se ama, De longe também se quer De longe também se ama Quando o amor é fié.

299 Dentro do meu peito tenho Três rodas de moer; Uma torce, outra destorce, Outra dá-me o que fazer.

292 De longe também se ama Fóra desta freguesia; Uma lembrança de longe É caso de alegria.

300 Dentro do meu peito eu tinha Duas rolas se criando; Uma voou, foi-se embora, Outra ficou me matando.

293 De madrugada serena Eu saí a passiá; Vou levá meu figurá Para a serra da Jurema.

301 Deodoro da Fonseca, Homem de muita valia, Em menos de meia hora Poz abaixo a Monarquia.

48


302 De que serve um pingo dágua Dentro de um rio corrente? De que serve um amor firme Longe da vista da gente?

310 Deus lhe pague sua esmola Deus lhe dê com que passar; Na hora de sua morte Deus lhe queira perdoar.

303 De Recife veio a pena De Pernambuco o papé, De Viçosa tinta verde P‟ra escrever carta a José.

311 Deus vos salve, Casa Santa, Morada do Bom Jesus; Salve torre de Viçosa Onde mora a Santa Cruz!

304 Derribaram a oligarquia, Partidos e ditadura; Criaram a democracia, Confusão e apertura.

312 Deus vos salve, Casa Santa, Onde Deus fez a morada, Onde mora o cálix bento E a hóstia consagrada!

305 Descobrindo-se à viola, Que em meu coração se enleia No braço dela verás Agigantada sereia.

313 Deus vos salve, meu Senhor, Com sua feliz grandeza! O nosso menino Deus É de bem que se festeje.

306 Desertei-me pelo mundo Fundo na mocidade; Para quando eu voltar Dar-te a capacidade.

314 Devagar se vai ao longe, É ditado muito antigo; Não perca logo a esperança Ouça logo o que lhe digo.

307 De tua casa p‟ra minha Corre um riacho no meio; Tu de lá dás um suspiro, Eu de cá suspiro e meio.

315 De Viçosa à “Boa Sorte” Eu quero mandar bater, Assentar bandeira branca P‟ra meu bem não se perder.

308 De tua casa p‟ra minha, Do teu coração para o meu Tem um tanque de água fria; A navegante sou eu.

316 De Viçosa à “Boa Sorte” Tem dois cravos para abrir; Quem me dera ser sereno Para nos cravos cair!

309 Deus lhe pague sua esmola, Deus lhe dê muita alegria, No reino do céu se veja Com toda sua famia.

317 Dicionário de flor Foi tirado no escritoro; Encruza a mão no joelho: “Sois a flor que eu mais adoro”.

49


318 Dicionário de flor P‟ra quem sabe apreciar; Rapaz de chapéu nos lhos: “Tenha dó do meu penar”.

323 Dorme, dorme, meu anjinho, Que tua mamãe logo bem; Foi lavar os seus paninhos Na cidade de Belém.

319 Dizem que a mulher é falsa. É falsa que nem papé Mas quem vendeu Jesus Cristo Foi homem, não foi mulé!

324 Dorme, dorme, meu nenén Que anjo em sonho vem; O papai foi para a roça, A mamãe saiu também.

320 Do funil quero a mortalha, Da pipa quero o caixão, Da garrafa quero a vela, Junto com o copo na mão.

325 Dorme, dorme, meu nenén, Que eu tenho que fazê: Vou lavar, vou engomar Camisinha p‟ra você.

321 Dona Bela e Senhor Pedro Ambos andam de paréia; Um parece a estrela d‟alva, E o outro, a papa-ceia.

326 Dormindo, estava sonhando... A minha alma por ti chama, Para saberes, Elisa, Em sonho também se ama!

322 Do pinheiro nasce a pinha, Da pinha nasce o pinhão, Do homem nasce a firmeza, Da mulher a ingratidão. E 327 Em cigarro de papel Fumo verde não fumega; Quando vê moça bonita Meu coração não sossega.

330 Em cima daquela serra Tem um ferreiro enterrado; Fazendo peia de ferro Para prender malcriado.

328 Em cima daquele oiteiro Há um pé de mororó; Quem quiser mangar de mim Vá mangar de sua avó.

331 Em cima daquela serra Tem um pé de papaconha; Tira um galho e lava a cara, Descarado sem vergonha!

329 Em cima daquela serra Passa boi, passa boiada; Só não mulatinha Do cabelo ca?????????

332 Em cima daquela serra Tem um velho gafoleiro; Quando vê moça bonita Faz gaiola sem ponteiro. 50


333 Em dezembro, a vinte e quatro, Meia noite deu sinal; Rompe aurora a primavera, Viva a noite de Natal!

341 Esses rapazes dagora, Quatro não valem um vintém; Pedem moça em casamento E uma ceroula não têm.

334 Em sonho também se ama, Em sonho também se qué, Em sonho também se ama, Quando o amor é fié.

342 Esses rapazes dagora, Quatro não valem um tostão; Falam casamento às moças E amarram as calças com cordão.

335 Encontrei o maribondo No caminho do sertão, Com uma carga de farinha E outra carga de feijão.

343 Esses rapazes dagora, Quatro não valem um vintém; Falam casamento às moças, Uma cueca não têm.

336 Enfiei a minha agulha Na folhinha do café; Quero ver como é que coso A camisa de José!

344 Esta casa cheira a vinho, Nela mora algum anjinho! Esta casa cheira a breu, Nela mora algum judeu!

337 Enfiei a minha agulha Na folhinha do limão, Quero ver como é que eu coso A camisa de João!

345 Esta casa é de palha, Merecia ser de téia; A gente que mora nela É bonita, não é feia.

338 Entremos, entremos Em jardim de fulô; É do Nascimento, É do Redontô.

346 Esta casa está bem feita, Por dentro, por fóra não; Por dentro, cravos e rosas, Por fóra, mangericão.

339 Espero tua resposta, Querida do coração! Quem tem a boca de cravo Não pode dizer que não.

347 Esta casa está bem feita, Só lhe falta a cumieira, Viva o dono desta casa, Mais a sua companheira!

340 Essas mocinhas dagora Só conversam em casar; Botam a panela no fogo, Mas não sabem temperar.

348 Esta estrada de ferro Foi feita com grande medo P‟ra embarcar a rapaziada Da cidade de Penedo.

51


349 Esta estrada de ferro Foi feita com grande risco P‟ra embarcar a rapaziada Das margens do S. Francisco.

357 Esta noite tive um sonho Sonho de muita alegria; Que me casavam à força Com quem eu bem o queria.

350 Esta noite à meia noite Vi cantar e vi chorar; Eram dois amantes firmes Passando as ondas do mar.

358 Esta noite tive um sonho Um sonho muito atrevido: Sonhei que via na cama A fórma de teu vestido.

351 Esta noite andei de ronda Como rato na parede; Procurei mas não achei O punho da tua rede.

359 Esta rua está molhada Como se houvesse chovido; São lágrimas de um amante Que anda por aqui perdido.

352 Esta noite choveu tanto Que a campina orvalhou Eu não sei aonde eu andava E meu sentido onde andou.

360 Estas meninas dagora Não querem senão casar; Põem a panela no fogo, Mas não sabem temperar.

353

361 Estas meninas dagora Não sabem senão casar; Botam a panela no fogo Mas não sabem cozinhar.

Esta noite eu acordei Dando suspiros e ???????? Viro de um lado p‟ro outro, Cada vez suspiro mais. 354 Esta noite não dormi Nem de dia tive sono; Somente em imaginar Que meu bem tem outro dono.

362 Esta vai por despedida, Por despedida esta vai; Minha mãe ficou sem dentes De tanto morder meu pai.

355 Esta noite saí fora, Dei uma grande topada; Abalei um pé de rosa, Que nunca foi abalada.

363 Estava na beira da praia Quando meu bem se embarcou; Era a cara mais bonita Que as ondas do mar levou.

356 Esta noite tive um sonho Contigo, minha beleza! Acordei, não achei nada; No sonho não há firmeza.

364 Estava na porta cosendo, A linha só dando um nó; Quem quiser falar comigo Venha agora que estou só.

52


365 Estava na porta cosendo, Me deram um maracujá; Debaixo dos endereços Todo o mundo é liberá.

373 Eu amava-te, menina, Se não fosse um só senão: Seres pia de água benta Onde todos pôem a mão.

366 Estava no meu cantinho Não mexia com ninguém; Foi você mexer comigo, Agora me queira bem.

374 Eu comprei uma galinha Por cinco mil e quinhentos; Bati a mão às costelas; Os pintos piava dentro.

367 Estava no pé da roseira, Balancei, a rosa caiu, Quando eu quis tomar amor Todo mundo pressentiu.

375 Eu cortei o meu cabelo Dele fiz uma fulô; Botei um laço de fita Dei de mimo a meu amô.

368 Estes olhos têm meninas, Estas meninas têm olhos; Os olhos desta menina São meninas dos meus olhos.

376 Eu de cá e tu de lá Passa um riacho no meio; Tu, de lá, dás um suspiro, Eu, de cá, suspiro e meio.

369 Estou amando um menino Lá na casa do ai dele; Ainda ninguém não sabe, Só quem sabe é eu e ele.

377 Eu entrei de mar a dentro Sete braças e sete graus; Pra que eu quero mais talento, Se em mim ninguém dá quinau!

370 Estou preso, estou preso, Estou preso pelo cordão! Me solte, meu bem, me solte, Me prenda seu coração!

378 Eu entrei na tua horta E tirei o cravo a unha. Quem toma o amor dos outros Não tem vergonha nenhuma.

371 Entrou preso nestas cadeias Não foi por matar ninguém; Foi um delito que eu tive De amar e querer bem.

379 Eu estava no meu cantinho, Não bulia com ninguém; Vieram bulir comigo, Agora me queiram bem.

372 Eu agora vou falar De um amor que já foi meu, Bonitinho como um cravo, Pretinho como um mateu.

380 Eu fui no palácio, Cheguei, me assentei, Depois de uma hora Com meu bem falei.

53


381 Eu fui ao palácio Me puz a cismar, De ver meu benzinho Tristonho a chorar.

389 Eu me queixo, tu te queixas, Qual de nós terá razão? Tu te queixas dos meus erros, Eu da tua ingratidão.

382 Eu fui lá não sei aonde, Visitar não sei a quem. Saí assim não sei como, Chorando não sei por quem.

390 Eu não canto por cantar Nem por ser bom cantador; Canto p‟ra matar saudades Que tenho do meu amor.

383 Eu fui quem tirou a flor, Raiz que estava composta, Desde o dia em que te amei Certa gente não me gosta.

391 Eu não caso com viúvo, Nem que ele venha danado Que todo homem viúvo Tem partes com o diabo.

384 Eu gosto de bacalhau Mas é feito uma fritada, Com vinho de genipapo Lá na boca da “Levada”.

392 Eu não caso com viúvo, Nem que venha o Padre Eterno, Que todo homem viúvo É castiçal do inferno.

385 Eu já achei quem me quizesse, Quem de mim tivesse dó; No mundo tem muita gente Não existe você só.

393 Eu não me fio em mulher Nem que ela esteja dormindo; Os olhos estão fechados, Sobrancelha está bolindo.

386 Eu limpei o teu terreiro, Deixei pé de bugari, Meu benzinho mora longe Mas o cheiro vem aqui.

394 Eu não quero amor de dois Que isto assim, não me convém, Ele namora cincoenta E não quer bem a ninguém.

387 Eu mandei dizer que sim, Que não era para já; Que inda ia pra Penedo Aprontar meu enxová.

395 Eu não quero amor de padre, Nem também do homem casado; Só quero bem a solteiro Que é um amor desemb‟raçado.

388 É um bê, um cê um ene. Menina eu vou dizê O nome da letra mê  Mria moça morena.

396 Eu não quero bem a negro, Nem que seja meu parente. Que negro tem o costume De fazer vergonha à gente.

54


397 Eu não quero mais amar Nem achando quem me queira: Que o primeiro amor que eu tive Botou-me sal na moleira.

405 Eu não vou na tua casa Porque tem muita barreira; Hás de vir falar comigo, Cara de besta foveira!

398 Eu não quero mais amar Nem a ti nem a ninguém, Que agora considerei: Sem amar eu passo bem.

406 Eu nasci dentro da lima, Do caroço fiz encoato. Se lhe amo é porque quero, Se lhe venero é meu gosto.

399 Eu não quero nem brincando Dizer adeus a ninguém; Quem parte, parte chorando, Quem fica saudades tem.

407 Eu nasci de sete mêses E me criei sem mamá, Bebi leite de cem vagas Na porteira do currá.

400 Eu não sei dicionário, Nem dele quero saber; Manjerona no cabelo  “eu te amo até morrer”.

408 Eu passei na tua casa, Tua mãe gritou: S. Bento! Eu não sou cobra que morde, Meus cuidados „stão lá dentro.

401 Eu não tenho medo do homem, Nem do ronco que ele tem; Que o besouro também ronca, Vai-se ver: não é ninguém.

409 Eu passei por tua casa V. o uniforme no só; Menino, casa comigo Que eu te dou outro melhó!

402 Eu não tomo café quente, Café quente me queimou. Eu só amo a côr clara Que é a cor que Deus deixou.

410 Eu perdi minha cuinha Num talinho de capim; Hei de ver como é que eu coso A camisa de Joaquim.

403 Eu não, vou na sua casa, Porque tem muita ladeira. Seu cachorro é muito bravo E sua mãe é faladeira.

411 Eu pisei na cana verde, A cana verde ringiu Quando eu fui tomar amor Papai e mamãe não viu.

404 Eu não vou na sua casa E nem você vem na minha: Você tem cachorro grande E come minhas galinhas.

412 Eu plantei e semeei Carrapicho no vestido. Ó que coisa que me abusa Só é menino enxerido!

55


413 Eu plantei e semeei Sementinha no oitão. Ô que coisa que me abusa É calunga de caminhão!

421 Eu por eles deixei tudo. Já te dei o desengano; O amor que se quer bem, Espera dez, doze anos.

414 Eu plantei e semeei Sementinha de dendê. Nas horas em que não te vejo Nem água posso bebê.

422 Eu quisera saber ler P‟ra soletrar João, P‟ra trazê-lo escrito Juntinho ao meu coração.

415 Eu plantei e semeei Semente que não nasceu. Sexta-feira faz um ano Que você p‟ra mim morreu.

423 Eu quisera saber ler Para soletrar José, Para trazê-lo escrito Na pedra do meu ané.

416 Eu plantei na minha horta Flor de sul e flor do norte. De que me serve eu te amar Se quando te vejo é por morte?

424 Eu quisera ser a rola, A rolinha do sertão Para fazer o meu ninho Na palma de tua mão.

417 Eu plantei um cravo branco Num pires em cima da mesa. A boquinha de José É um suco de beleza.

425 Eu sou cabra perigoso Quando pego a perigar; Eu sou negro sem catinga Quem quiser vem me cheirar.

418 Eu plantei um pé de couve. Nasceu um pé de quiabo. As moças são para os moços, As velhas para o diabo.

426 Eu sou dama, com efeito, Trago o ramo suspendido; Mas tu a meus pés verás O amante deus Cupido.

419 Eu plantei um pé de cravo Dentro de um caquinho de vidro; Não quero que o povo saiba Que eu tenho amor escondido.

427 Eu sou direito um canário Que canta sem remissão; Tanto canto de corrida, Como de estalo, na mão.

420 Eu plantei um pé de cravo Na touceira da tigirica. Amor de moça é rapaz, Amor de velha é tabica.

428 Eu sou pequenininha Do tamanho de um botão, Levo papai no bolso E mamãe no coração.

56


429 Eu sou sol, tu és a sombra. Qual de nos será mais firme? Eu, como sol, a buscar-te Tu, como sombra, a fugir-me?

435 Eu vi teu rastro na areia. Me abaixei, cobri com um lenço; Ouvi tua risadinha, Do chão eu fiquei suspenso.

430 Eu subi no mamoeiro Tirei um mamão inchado. Namorei um “amarelo”... Ô que papel desgraçado!

436 Eu vi teu rastro na areia. Me puz a cobrir com o lenço. Menina, quando eu te vejo Meus olhos ficam suspenso!

431 Eu venho do dá e toma E vou para o toma e dá; Nunca vi dá cá sem toma, Nem toma lá sem dá cá.

437 Eu vi teu rastro na areia. Me puz a considerar: Grande mimo em teu corpo Que teu rastro faz chorar.

432 Eu vi a lua no espelho E o sol numa gaveta. Mandei botar o meu nome Num papel de cinco letras.

438 Eu vos mando um coração Partido em quatro pedaços; Ele já vai quasi morto Acabar-se nos teus braços.

433

439 Eu vou dar a despedida Como a fulô quando cai, Que se despede da rama, Adeus, para nunca mais!

Eu vi sabiá cantar E papagaio também; Ele cantava outro dia: Grande coisa é querer bem. 434

440 Eu vou-me embora p‟ro alto Que do alto eu vejo bem; Vejo a casa de meu sogro E a morada de meu bem.

Eu vi sabiá cantando E papagaio também; Um canta e outro responde: Grande coisa é querer bem.

F 441 Faz três dias que não como E quatro que não almoço; Me lembro dos teus carinhos, Quero comer e não posso.

443 Ferreiro que fez a foice. Também fez o seu machado. Raposa que come uva Tem os dentes desbotados.

442 Faz três mêses e um dia Que uma ingrata me deixou; Por causa desta ingrata Eu fiquei sem meu amô.

444 Foi feito o Sant Cruzeiro Com machado, enxó e plaina. Seja bem aventurado Quem fez a cruz soberana. 57


445 Foi o meu posto de vidro, Meu corador de fulô, Deixei a roupa corando, Fui falar com meu amô.

451 Fui à fonte lavar roupa, Saiu-me o sol por engano; Tudo depende da sorte, Até no lavar do pano.

446 Foi o meu pos‟o de vidro, Roupa fina no vará. Beijo de moça solteira Dá para o rapaz soluçá.

452 Fui ao mato cortar lenha Santo António me chamou; Quando o santo chama a gente Que dirá os pecadó.

447 Fortaleza formidável, Fortaleza S. João; Na noite do Precursor Deu cem tiros de canhão.

453 Fui ao pote beber água sobejo é que fui beber; Não tinha sêde nenhuma, Sòmente para te ver.

448 Fortuna vai da fortuna, Fortuna para quem tem; Eu como não tenho fortuna Não quero bem a ninguém.

454 Fui a uma pescaria Lá no porto da “Quixaba” Pesquei vinte e um dias, Só pesquei uma piaba.

449 Fui à fonte beber água Debaixo de uma ramada; Eu fui só para te ver Que a sêde não era nada.

455 Fui me confessar ao padre. Confessei que andava amando; Ele deu de penitência Que eu fosse continuando.

450 Fui à fonte beber água E ela se cobriu de neve. Antes que ser mal casada Nossa Senhora me teve. G 456 Garça parda leviana, Pescoço de vai e vem, Dai um remédio a meus males Já que sabes querer bem!

458 Garibaldi foi à missa Num cavalo alazão; O cavalo escorregou, Garibaldi foi ao chão.

457 Garça parda, loura e fina. Foi criada no sertão. Quem com seu amor se casa Não procura geração.

459 Garibaldi foi à missa Num cavalo sem espora. O cavalo escorregou, Garibaldi saltou fora. 58


460 Garibaldi já morreu. Já foi dar contas à Deus, Da farinha que comeu, Da cachaça que bebeu.

462 Gosto muito de Maria Por duas coisas que tem: Tem a boca pequenina, Não fala mal de ninguém.

461 Gazumba, meu bem, gazumba, Gazumba que eu quero vê. Na beira do mar não vou, Tenho medo de morrê.

463 Grande tormento pade Quem tem amor em segredo; Passa por ele na rua, Não lhe fala que tem medo. H

464 Há certa coisa no mundo Que faz grande confusão: É o trem andar nos trilhos Sem ter perna, nem ter mão.

466 Há duas coisas no mundo Que meu coração não quer: É piolho de galinha E ciúme de mulher.

465 Há duas coisas no mundo Que atormentam um cristão: Uma casa com goteira E um cavalo chotão.

467 Hei de pegar Margarida E botá-la numa estrada; Para todos que passar: Margarida, uma umbigada. J

468 Já achei quem me quizesse E de mim tivesse dó; O mundo tem muita gente, Você não é gente só.

471 Já fiz votos de querer-te. Mil empenhos de adorar-te, Fortuna foi conhecer-te, Desgraça será deixar-te.

469 Já deu meia noite, Já ouço o sino tocar; Ao bom Jesus-Deus, Menino, Vamos todos adorar.

472 Já fui cravo, já fui rosa, Já fui do teu coração; Hoje sou a vassourinha Com que me varreis o chão.

470 Já deu meia noite, Já ouço tocar o sino; Vamos todos adorar Ao Bom Jesus, Deus-Menino.

473 Janela sôbre janela, Batente rente com o chão; Desejo falar contigo Mas não chega a ocasião.

59


474 Já perdi as esperanças, Não me queixo de ninguém; Coração que se deserta Certamente não quer bem.

477 José, beiço de fita, Sobrancelha de retrôs; Do povo que está na sala O mais bonito sois vós.

475 Já se foi, já se acabou A flor de minha afeição, A quem eu já tinha dado Alma, vida e coração.

478 Jura o sol e jura a lua. Juram as estrelas também; Jura todo o firmamento, Como eu te quero bem.

476 Já te quis, não quero mais, Já te perdi a feição; Já hoje sou vassourinha Que varri teu coração.

479 Jurubeba é “quebra-roços”. A folha, “está sustentando” Malícia, “passo-te um gato” Capim de cheiro, “te amando”. L

480 Labirinto cor de ouro, Cor de arrebique encarnado. Se tendes paixão por outro Não me tragas enganado!

485 Lagoa que não tem junco Que lagoa pode ser? O homem que não tem barba Que vergonha pode ter?

481 Lá detrás de minha casa Existe um pé de maconha, P‟ra te fumaçar o rosto, Descarado, sem vergonha.

486 Lampião nunca correu, Correu ontem na “Matinha” Numa carreira danada Num galope “almofadinha”.

482 Lá detrás de minha casa Tem um pé de carrapicho. Ainda vens falar comigo, Amarelo, pé de bicho?

487 Lá naquela gamelinha Onde meu bem se lavou Deixou uma catinguinha Que de amor me enfeitiçou.

483 Lá detrás de minha casa Tem um pé de maravilha... Estou conversando com a mãe E o sentido na filha.

488 Lá no céu tem uma nuvem Com vontade de chover. Já sei que meu benzinho Tem vontade de me ver.

484 Lá em cima daquela serra Passa boi, passa boiada. Passa gente ruim e boa, Passa minha namorada.

489 Lá no fundo do alambique Quero minha sepultura, Que ainda depois de morto Eu quero andar na fartura. 60


490 Lá vai a garça avoando Com uma peninha no bico. O povo diz que eu sou feio Mas meu benzinho é bonito.

498 Lá vem a lua saindo Como toalha de renda. Meu amor anda em demanda Nossa Senhora o defenda.

491 Lá vai a garça avoando Nos ares se peneirando. Dizei-me quando te vais Que eu até logo vou dando.

499 Lá vem a lua saindo Com três bolinhas de ouro; A do meio vem dizendo: Letra A é meu tesouro.

492 Lá vai a garça avoando Pelas bandas do sertão; Leva Manoel no bico, Maria no coração.

500 Lá vem a lua saindo Com três bolinhas de prata, A do meio vem dizendo: Letra A é quem me mata.

493 Lá vem a garça avoando Com as penas que Deus lhe deu; Contando penas por penas, Mais penas padeço eu.

501 Lá vem a lua saindo Com três palmos de altura; Não posso negar o bem Que eu quero a tal criatura.

494 Lá vem a garça avoando, Com uma corrente no pé. O diabo leve o homem Que não quer bem à mulhé.

502 Lá vem a lua saindo Com uma pinta de carvão; Boa noite foi aquela Em que te dei meu coração.

495 Lá vem a garça avoando, Os encontros vêm ringindo. Dois amor quando se se encontram Quando não falam, vêm rindo.

503 Lá vem a lua saindo Detrás de uma nuvem escura, Segura a tua palavra Que a minha está segura.

496 Lá vem a lua nascendo Vermelha como um quiabo, As moças sã para mim, As velhas são para o diabo.

504 Lá vem a lua saindo Lá por detrás da lagoa... Quando eu vejo meu benzinho Meu coração se magôa.

497 Lá vem a lua saindo Como anel de pedra fina. O moço que tem vergonha Não casa com sua prima.

505 Lá vem a lua saindo, Pintando o chão de amarelo. Bota a mão neste meu peito, Vigia o bem que eu te quero.

61


506 Lá vem a lua saindo Por detrás da bananeira Já me dói o céu da boca De beijar moça solteira.

514 Lá vem a lua saindo Por detrás de uma vidraça. Quando eu vejo meu benzinho Meu coração se espedaça.

507 Lá vem a lua saindo Por detrás da maravia, Botando matos abaixo, Fazendo da noite, dia.

515 Lá vem a lua saindo Por detrás de um barricão, Não é lua, não é nada, São os olhos de João.

508 Lá vem a lua saindo Por detrás da pimenteira... Já tenho os beiços feridos De beijar moça solteira.

516 Lá vem a lua saindo Por detrás de um barricão. O namoro de menina É uma surra de facão.

509 Lá vem a lua saindo Por detrás da pimenteira; Não é lua, não é nada, São os olhos das solteiras.

517 Lá vem a lua saindo Por detrás do leque-leque. Filho de branco é menino, Filho de pobre é moleque.

510

518 Lá vem a lua saindo Redonda como uma bola. Andei atrás de ver meu bem, Como já vi, vou-me embora.

Lá vem a lua saindo Por detrás da pimenteira. Não há dinheiro que pague Beijo de moça solteira. 511 Lá vem a lua saindo Por detrás daquele oiteiro. Tanta menina bonita, Tanto rapaz sem dinheiro!

519 Lá vem a lua saindo Redonda como uma bola. Como vim para te ver, Como já vi, vou-me embora.

512 Lá vem a lua saindo Por detrás de uma barrica; Não é lua, não é nada, São os olhos de Marica.

520 Lá vem a lua saindo, Redonda como uma bola. No meu terreiro não pisa Rapaz solteiro gabola.

513 Lá vem a lua saindo Por detrás de uma barrica. O namoro de menina Só se acaba de tabica.

521 Lá vem a lua saindo Redonda como uma bola. Para o gosto abesta o cheiro, Vontade também consola.

62


522 Lá vem a lua saindo Redonda como um botão. Desgraçada foi a hora Que eu te dei meu coração.

528 Lá vos mando um coração, Ei-lo preso, acorrentado; Descobrindo-se a viola, Que castiga meus cuidados.

523 Lá vem a lua saindo Redonda como um botão. Não é lua, não é nada, São os olhos de João.

529 Letra A é meu amor, Letra B, meus anelão: Aquela casa caiada Onde está meu coração.

524 Lá vem a lua saindo Redonda como um quiabo. As moças são para mim, As velhas para o diabo.

530 Letra E é toda minha Que eu comprei com meu dinheiro; Quem quiser a letra E Fale comigo primeiro.

525 Lá vem a lua saindo Redonda como um vintém Ainda não me casei, Já me dão os parabéns.

531 Letra Ji ou letra Jota Nome de Nosso Senhor; Se a letra Ji fosse padre Seria meu confessor.

526 Lá vem a lua saindo Redonda como um vintém Não é lua, não é nada, São os olhos do meu bem.

532 Limoeiro abaixa, abaixa, Quero apanhar um limão, Para tirar uma nódoa De dentro do coração.

527 Lá vem o pisa no ponto, Lá vem o ponto perdido, Lá vem o namora-moça, Lá vem o aborrecido.

533 Logo mando em tua casa Saber de tua saúde; Só não vou em pessoa Benzinho, porque não pude. M

534 Macacos era meu nome; Santa Maria adotei; Imperatriz nunca fui E União nunca serei.

536 Maceió, meu Maceió, Fortaleza de mamão; Atirei em Maceió, Dei com Maceió no chão.

535 Maceió, meu Maceió, Fortaleza de limão; Atirei com um bacamarte, Botei Maceió no chão.

537 Maceió, meu Maceió, Pedra de fino anelão; Atirei em Maceió, Dei com Maceió no chão. 63


538 Macieira pequenina Carregadinha de flor, Eu também sou pequenina Carregadinha de amor.

546 Mandei fazer um relógio De casca de um camarão. Bebi suor do teu rosto, Sangue do teu coração.

539 Magine, meu bem, magine, Magine com fé em Deus, Que eu hei de ver seu nome Num papel juntinho ao meu.

547 Mandei fazer um relógio Da casca de um caranguejo, Para contar os minutos E as horas que não e vejo.

540 Mandei carta de Recife, Bilhete p‟ra Maceió. Todo o mundo chupa a cana, O gosto fica no nó.

548 Mandei fazer um relógio De uma talhada de queijo Para contar os minutos E as horas que não te vejo.

541 Mandei falar a uma moça Se ela quer casar comigo; A resposta que ela deu: Logo digo, logo digo...

549 Manjericão é “desprezo”, Jurubeba é “quebra-roço”, Cabelo aberto no meio: “Já deixei de amar a troço”.

542 Mandei fazer uma casa Da madeira cor de rosa. Para tirar meu benzinho Dos olhos dos invejosos.

550 Manjericão é “desprezo”, P‟ra quem não sabe botar; Bota de cabeça p‟ra baixo: “Teu amor no seu logar”.

543 Mandei fazer uma casa De vinte e cinco janela Para botar meu benzinho Quando me casar com ela.

551 Manjericão miudinho Salpicado de ABC O coração só me pede Que eu me case com você.

544 Mandei fazer uma ponte Para meu bem passear; Todo o mundo está passando, Só meu bem não quer passar.

552 Manoel, meu Manoel, Nome de Nosso Senhor; Se Manoel fosse santo Seria meu confessor.

545 Mandei fazer um cigarro Da flor da sucupira, Para dar a esses carolas Que se gabem de mentira.

553 Manoel, meu Manoel, Nome de Nosso Senhor; Manoel, se foras padre, Serias meu confessor!

64


554 Manoel por ver as moças Fez uma ponte de ouro; As moças não passam nela, Manoel, porque sois tolo?

562 Margarida é um bichinho Que anda rente com o chão, Quando a gente quer pegar Margarida diz que não.

555 Manoel por ver as moças Fez uma ponte de prata; As moças não passam nela, Manoel, porque te matas?

563 Margarida, minha negra, Vai fiar teu algodão, Que estes rapazes dagora Promete, porém não dão.

556 Manoel, tu não conheces Que eu quero te sustentá Na ponta de minha agulha NO fundo do meu dedá?

564 Maria, minha Maria, Amor de minha paixão, Cadeado do meu peito, Chave do meu coraão.

557 Manoel, tu não embarques Que eu te quero sustentá Na ponta de minha agulha Na ponta de meu dedá.

565 Maria, na porta batem. Maria, vai ver quem é? É um homem pequenino Que tem medo de mulé.

558 Manoel tu vais a bordo, Levas a morte contigo; Esta mulher que tu levas E casada, tem marido.

566 Maribondo pequenino Mora debaixo do chão, Quando larga uma dentada É bichinho valentão.

559 Margarida diz que tem Quatro varas de colá Para dar à sua filha P‟ra casar com o generá.

567 Maribondo pequenino, Que me mordeu no umbigo; Se ele morde mais abaixo Lá estava o lêlê perdido.

560 Margarida diz que tem Quatro varas de cordão Para dar à sua filha P‟ra casar com o capitão.

568 Marrequinha da lagoa, Paturi do passo fundo! Como queres que eu te ame Se tu és de todo o mundo?

561 Margarida é um bichinho Que anda rasteiro com o chão, Quando a gente pega nela, Margarida diz que não.

569 Me atrepei na bananeira P‟ra tirar jaboticaba; Deixe o dono da laranja Não me róbe estas goiaba.

65


570 Meça bem os pés e venha Que eu sou do mesmo tamanho; Você corre, eu sou quem fica, Você perde, eu sou quem ganho.

578 Menina da saia curta, Que veio lá do riacho, Trepa aqui neste coqueiro E deita côcos pra baixo.

571 Me chamo cacho de uva Por ser fruta do verão. O amor que eu te tinha Entreguei na tua mão.

579 Menina das três meninas, Todas três eu quero bem, U‟a mais do que a outra, Outra mais do que ninguém.

572 Menina da saia branca, Da rendinha na maneira, Se tu tens de seres minha, Deixa de tanta canseira.

580 Menina de doze anos Não coma mais camarão, Que seu pai vai ser meu sogro E você, meu coração.

573 Menina da saia branca, Do colete de veludo, Por causa destes teus olhos, Eu por eles deixei tudo.

581 Menina de doze anos, Tinha doze namorados; Três alferes, três tenentes, Três doutô, três delegados.

574 Menina da saia branca Que anda rasteira no chão; Na barra de tua saia Arrasta meu coração.

582 Menina dos olhos quebrantes Meu coraão maguado; Menina, dê-me um sorriso Que ficarei brigado.

575 Menina da saia branca, Redondinha na maneira, Me lembro daquele abraço Que eu te dei na bananeira.

583 Menina, diga a seu pai Que dele não tenho medo; Já mandei fazer na loja Dois anéis para teu dedo.

576 Menina da saia branca Sapateia no tijolo; A barra de teu vestido É prata, parece ouro.

584 Menina, diga a seu pai Q}ue dele não tenho medo; Por ele mandei fazer Um anelão p‟ra teu dedo.

577 Menina da saia curta, Cinturinha de retrôs, Sobe aqui neste coqueiro E atira côco p‟ra nós.

585 Menina, diz a teu pai E teu pai a teu irmão: A lima que tu me deste, Não é lima, é um limão.

66


586 Menina, diz a teu pai Que não coma de colher; Que ele está p‟ra ser meu sogro E você minha mulher.

594 Menina dos olhos pretos Dê-me água p‟ra eu beber; Não é sêde não é nada, Somente para te ver.

587 Menina dos beiços de fita, Feição de pedra morena, Se eu não lograr os teus olhos Toda a vida sinto pena.

595 Menina dos olhos verdes De um lenço da mesma cor, Diz a teu pai que te case Que eu serei o teu amor.

588 Menina dos olhos dágua Espie pra você chorando... O povo já estão dizendo Que nos „stams namorando.

596 Menina, estes teus olhos São confeitos que me vendem, São balas com que me atiram, Correntes com que me prendem.

589 Menina dos olhos dágua Me dá água p‟ra beber; Não´é sêde, não é nada, É vontade de te ver.

597 Menina, estes teus olhos São duas bolas de vidro; Menina, guarda teus olhos P‟ra namorares comigo.

590 Menina dos olhos grandes Não zombes tanto de mim, Que até as pedras têm pena De te ver zombando assim.

598 Menina, levanta a sala Mode a saia não rasgar; A saia custa dinheiro, Dinheiro custa a ganhar.

591 Menina dos olhos grandes Não zombes tanto de mim, Que até as pedras têm pena De me ver sofrendo assim.

599 Menina, levanta a saia Para a saia não melar, Que o sabão custa dinheiro, Dinheiro custa a ganhar.

592 Menina dos olhos grandes Pra mim não lhes chorando; Que na rua já se sabe Que tu andas namorando.

600 Menina me chame rosa, Me chame manjericão, Me chame laranja verde Do lado do coração!

593 Menina dos olhos grandes Não olhes pra mim chorando; Que a rua já está cheia Que nos „stamos namorando.

601 Menina, minha menina, Do cabelo pixaim; Quanto mais tu botas banha Mais ele fica ruim.

67


602 Menina, minha menina, Não te ponhas a maginá; Quem „magina cria mêdo, Quem tem medo, não vai lá...

610 Menina, se queres vamos Que eu vou te passar no rio, Da espada faço um remo, Dos ossos faço um navio.

603 Menina, minha menina, Olhos da pedra redonda. Daquela pedra mais fina Onde o mar combate as ondas.

611 Menina, se queres vamos Que eu vou te passar no rio; Na garupa do melado, Na soombra do meu rosio.

604 Menina, minha menina, Sobrancelhas de veludo; Menina, teu pai é pobre, Mas teu corpo vale tudo.

612 Menina, teu pai não quer Que sejas amor da gente; Bota cinza nos olhos dele Que ele cega de repente.

605 Menina, minha menina, Vestidinha de fofóca; Não te peço em casamento Com medo de uma “taboca”.

613 Menna, tome esse lenço E não conte quem lhe deu; Adiante vai o lenço, Atrás do lenço vou eu.

606 Menina, peque este tema, Não preciso lhe diê, Falando da letra MêMaria moça morena.

614 Menina, tu pede a Deus O que eu peço a S. Vicente: Que junte nos dois um dia Numa casinha sem gente.

607 Menina, quando te fores Me escreve lá do caminho, Se não achares papel, Nas asas de um passarinho.

615 Menina da cor clara, Feição de laranja china! Nas horas que eu não te vejo Meu coração desatina!

608 Menina, sacode a bola, Sacode a bola p‟ro ar. Menina, o jogo da bola É o jogo de embolar.

616 Menina da mão de neve Que na minha mão pegou! Deixou um amor tão firme, Que de tanto se acabou.

609 Menina, se queres vamos, Eu vou te passar no rio; De um braço faço remo, De outro faço um navio.

617 Menina do cabelo preto, Benza-te Deus, ó meu Deus! Só não te boto quebranto Porque podes seres meu.

68


618 Menina das três meninas, Porém não digo quem é; Meu recado já „stá dado, Entenda lá quem quisé.

626 Meu amor é moreninho, Moreninho singular; Moreninho é cousa boa P‟ra quem sabe apreciar.

619 Menino Jesus da Lapa, Quem te deu cabelo longo? Foi a minha avó Santana Que tirou do seu tesouro.

627 Meu amor está mal comigo, Quero mandá-lo prender Nas correntes do meu braço, Na firma do bem querer.

620 Menina, quando se for Não me pise no capim, Não vá se iludir com as flores, Não vá se esquecer de mim.

628 Meu amor é um menino, Eu sou menina também; O amor de dois meninos Morre se querendo bem.

621 Mesmo depois de enterrado Debaixo do frio chão, Verás teu nome gravado Dentro do meu coração.

629 Meu amor é um menino, Que agora está buçando... Quando vai chegando a tarde, Meus cuidados vão chegando.

622 Mesmo que o fogo se apague, Na cinza deixa o calor; Mesmo que o amor se acabe, No coração deixa a dor.

630 Meu amor é um menino Que roubou minha consciência; Está namorando com outra, Quer que eu tenha paciência.

623 Mesmo que teu pai não queira, Tua mãe diga que não, Eu querendo e tu querendo, Tudo está em nossa mão.

631 Meu amor, tu és um cravo Daquele mais singular; Oh, que cravo tão bonito, Mal empregado secar!

624 Meu alecrim verde cheiroso, Meu alecrim peneirado, Se queres tomar amores Não me tragas enganado.

632 Meu anel caiu no chão, Retiniu mais de uma hora. Passei três dias sem fala Quando meu bem foi se embora.

625 Meu amor é bonitinho, Todo o mundo diz que é, Só parece um cravo branco Quando se tira do pé.

633 Meu anel de pedra verde, Ninguém o tem como eu; Ainda que muitos falem, Hei de estimar quem m‟o deu.

69


634 Meu anel da pedra verde Quem m‟o deu já embarcou: Foram os olhos mais bonitos Que as ondas do mar levou.

642 Meu benzinho, meu benzinho, Não me engane o coração; Se estás amando a outra Não venhas dizer que não.

635 Meu anel da pedra fina, Ninguém o tem como eu, Hei de amar a quem me ama E dar figa a que me deu.

643 Meu benzinho não é esse. Meu benzinho está trocado, Meu benzinho anda de branco, Chapéu de massa quebrado.

636 Meu anel de pedra fina Quebrou-se em quatro pedaços. Quando Deus mandar-me a morte, Vou morrer lá em teus braços.

644 Meu benzinho não era este, Nem a este eu quero bem; Estou amando este tolo Enquanto meu amor não vem.

637 Meu bem é filho do cravo, Eu sou filho da roseira; Não estás vendo que eu não deixo Uma flor que tanto cheira?

645 Meu Chico, meu Chicosinho, Alfinete de almofada. No dia em que não te vejo, Não coso, não faço nada.

638 Meu benzinho está doente. Vou mandá-lo visitá Com um pratinho de veneno Coberto de rosedá.

646 Meu compadre continue, Vamos brincar balancé; Sendo de gosto e vontade Só não brinca quem não qué.

639 Meu benzinho „stá mal comigo, E eu vou mandá-lo prender Com correntes de meu peito, Trancelim de bem querer.

647 Meu conselho quero dar Ao pessoal convivente: Que não ame moça feia Que o feio pega na gente.

640 Meu benzinho é um cravo, Só eu o soube escolher; Craveiro não bota outro, Só se tornar a nascer.

648 Meu coração sente uma dòr Meu peito soluça e geme; Foi meu mestre quem mandou Amarelo, còr de creme.

641 Meu benzinho foi-se embora, Não me disse para onde; Se eu soubera do caminho, Não se me dera do longe.

649 Meu craveiro ramalhudo Bota cravo sem botão. Se queres alguns amores Nem me doe o coração.

70


650 Meu lenço de risco bordado No pé de lírio estendido, Não desprezes quem te ama, Quem por ti vive perdido.

658 Minha gente venham ver Coisa que nunca se viu: Minha gata poz um ovo, Minha galinha pariu.

651 Meu limão, meu limoeiro, Meu pé de jacarandá, Uma vez sindô, lêlê, Outra vez, sindo lalá.

659 Minha gente venham ver Coisa que nunca se viu: O tição brigou com a brasa, E a panela caiu.

652 Meu nascimento foi triste, Muito triste é meu viver, Triste ando toda vida, Serei triste até morrer.

660 Minha gente venham vê O que o peixe contou: É de bangalelê, É de bangalalou.

653 Meu passarinho liberal Mora na beira do rio, Comeu duzentos cascudos, Ficou com o papo vasio.

661 Minha mãe bem me dizia Que eu não fosse à função, Que eu tinha a venta chata, Servia de mangação.

654 Meu pé de carrasco branco Bota a raiz em Bélem. Se eu me casar nesta terra, Mando te dizer com quem.

662 Minha mãe, bem me dizia Que eu não fosse me embarcar, Que este nau se perderia, Eu me lançaria ao mar.

655 Meu tatú do rabo mole, Meu guisado sem gordura! Eu não gasto meu dinheiro Com moça sem formosura.

663 Minha mãe brigou comigo Pelo baque da cancela, Quanto mais se ela visse O namoro na janela.

656 Minha folha de coentro Assentemos, conversemos, Se correr algum perigo, Somos solteiros, casemos.

664 Minha mãe brigou comigo Pelo baque da gaiola; Que dirá se ela visse O namoro na escola.

657 Minha gente eu vou me embora Que é de noite e eu tenho medo; Minha mãe é muito veia, Danada p‟ra dormir cedo.

665 Minha mãe brigou comigo Pelo baeque da terrina, Quanto mais se ela visse O namoro na esquina.

71


666 Minha mãe brigou comigo Por causa de um tostão, Quanto mais se ela visse Meu namoro com João.

674 Minha mãe, me case logo Não me deixe envelhecer; Que eu não sou soca de cana, Que morre e torna a nascer.

667 Minha mãe, brigou comigo Por cima do cortinado, Porque eu quebrei o copo Dando água ao namorado.

675 Minha mãe me chamou feio, Só ela quer ser bonita, Ela é o pé da roseira, Eu sou o laço de fita.

668 Minha mãe brigou comigo Porque namorei meu bem: Quando ela era solteira Namorou meu pai também.

676 Minha mãe me dê dinheiro P‟ra comprar um cinturão, P‟ra botar uma cartucheira E ir brigar com Lampião.

669 Minha mãe está me chamando, Diga a ela que eu já vou. Estou dando nó na gravata Do menino que chegou.

677 Minha mãe me deu uma surra Porque quebrei uma panela; Quanto mais se ela soubesse Que eu namoro de janela.

670 Minha mãe é tão fremosa, Eu a ela quero bem; Uma mãe filicitosa A seu filho logo vem.

678 Minha mãe me prometeu De me casar pequenina. Eu já „stou com onze anos... Minha mãe, que determina?

671 Minha mãe é uma coruja Mora no ôco do pau; O meu pai é um negro velho Tocador de berimbau.

679 Minha mãe, meu filho morre! De que morre meu netinho? Morre de manipueira Que é comer de bacorinho.

672 Minha mãe já me pediu Para deixar de beber; Quem não fuma, quem não bebe, Que alegria pode ter?

680 Minha mãe não quer que eu ame Nem que tenha o meu amô: Quero perguntá a ela Se ela nunca namorou.

673 Minha mãe, me case logo, Enquanto sou rapariga; Que o milho plantado tarde Não dá pendão nem espiga.

681 Minha mãe não quer que eu coma A casquinha do siri. Eu agora estou amando Um rapaz guarda-civi.

72


682 Minha mãe não quer eu vá Na casa de meu amô. Me amarra de corrente, Eu quebro a corrente e vou.

690 Minha mãe quero casar. Minha filha dizei com quem. Quero casar com Fulano. Filha, não casais bem.

683 Minha mãe não quer que eu vá Na casa de meu amô; Quero perguntar a ela Se ela nunca namorou.

691 Minha mãe tão pobresinha Nada tem para me dar; De hora em hora dá me um beijo E depois põe-se a chorar.

684 Minha mãe ontem me disse. Hoje torna a me dizer Que um tocador de viola Bota uma cara a perder.

692 Minha mãe tem sua casa, Eu tenho meu atoalhado; Minha mãe tem seu marido, Eu tenho meu namorado.

685 Minha mãe quando eu morrer Me enterre na camarinha. Me deixe um dedo de fora Para eu comer farinha.

693 Minha mãe era de neve Quando na dele pegou. Desprezaste um amor firme Que nunca mais outro chegou.

686 Minha mãe quando eu morrer Me enterre no portão; Me deixe um dedo de fóra P‟ra eu tocar violão.

694 Minha senhora me diga Quem pergunta quer saber: Eu partindo à meia noite, Onde vou amanhecer?

687 Minha mãe quando eu morrer Me enterre no seu terreiro: Me deixe um dedo de fóra P‟ra eu tocar no meu pandeiro.

695 Moça é papel de seda, Rapaz é papel bordado, Casado é papel curto, Viúvo é papel mofado.

688 Minha mãe quando eu morrer Não me enterre no sagrado; Me enterre em campos verdes Que é campo de namorado.

696 Moça feia não se casa Porque não acha com quem; Faz um uso no cabelo Que as outras moças não têm.

689 Minha mãe quando eu morrer Não me enterre no sagrado; Me enterre nos mato grosso Que é lugar dos desgraçados.

697 Morena, minha morena, Morena, flor do sertão, És linda como a açucena, Morena do coração!

73


698 Morena, minha morena, Sentemos e conversemos; E se houver algum perigo, Somos solteiros, casemos.

699 Morena, você me mata, Com essa graça que tem; Você fica criminosa E eu sem você, meu bem. N

700 Na entrada desta sala Eu vi meu bem na janela, Vi a rosa na roseira E o cravo encostado a ela.

707 Não ha papel nestas lojas, Nem tinta nesta cidade, Nem pena com que se escreva Rigorosa esta saudade.

701 Na entrada desta sala Vou levá minha bandeira. Viva meu gunvernadó, Da pruvinça brasileira!

708 Não há quem possa entender Os caprichos da mulher: Quando não quer, não diz nada, Não diz nada, quando quer.

702 Na estrada onde moras Todo o dia passo nela. Somente para te ver Debruçada na janela.

709 Não me bote água no copo Que cria lodo no fundo, Peço que não ame outra, Enquanto eu existir no mundo.

703 Na minha casa eu tenho Duas bonecas de louça. Peço licença à mais velha Para casar com a mais moça.

710 Não me caso com viúva, Nem que a linha dê um nó; Que é pra ninguém dizer Que o finado era milhó.

704 Namorei uma moça Filha de um fazendeiro, Era moça, era rica, Pissuia dinheiro.

711 Não me caso com viúvo Nem que mande o Padre Eterno, Que os olhos do viúvo São profundas do Inferno.

705 Nao está morto, não está vivo, Nem está em braços de alguém; Está suspenso nos ares Amando e querendo bem.

712 Não me corte a bananeira Que o cacho está de vez. Um amor que não é firme Não me engane outra vez.

706 Não fujo de uma pantera, Nem de uma onça pintada, Mas corro às léguas da velha Que se mete a namorada.

713 Não me corte o pé de lima Que é amparo da janela, É a escada de meu bem Que sobe e desce por ela. 74


714 Não precisa ser a rola, A rolinha do sertão, Pois teu ninho já está feito Dentro de meu coração.

722 Ninguém faça pontaria Onde o chumbo não alcança; Ninguém ponha o seu sentido Onde não tem esperança.

715 Não se deve nem brincando Dizer adeus a ninguém; Quem parte, parte chorando, Quem fica, saudades tem.

723 Ninguém perca as esperanças Daquilo que mais deseja. Que lá para o tempo adeante Poderá ser que assim seja.

716 Não ouço dar meia noite, Não ouço o galo cantar, Não ouço a voz de meu anjo, Não ouço as ondas do mar.

724 Ninguém se fie em mulher, Nem que ela esteja dormindo; Os olhos estão fechados, Sobrancelhas „stão bolindo.

717 Não sei se vá ou se fique, Não sei se fique ou se vá; Eu indo, não fico aqui, Ficando aqui, não vou lá.

725 No caminho de Maroim Tem boa água de beber; Também em um moreninho E por ele hei de morrer.

718 Não tenho medo do homem Nem do ronco que ele tem. Que o besouro também ronca, Vai-se ver: não é ninguém.

726 No lado de lá do rio, Logar de banho mimoso, Onde diverte a saudade, Faz um retiro saudoso.

719 Nas honradas nobres salas Entremos com alegria, P‟ra festejar o nascimento De Jesus, filho de Maria.

727 Nos cachos de teu cabelo Me deitei para dormi; Me deitei no mês de Março, Me acordei no mês de Abri.

720 Nem contigo, nem sem ti, Tem remédio o pesar meu; Contigo porque me matas, Sem ti porque morro eu.

728 Nos cachos de teu cabelo Fui aprender a nadar; Faltou-me a luz de teus olhos, Não pude mais viajar.

721 Nenén é bonitinha, Todo mundo diz que é; Só parece um cravo branco Quando se tira do pé.

729 Nós que de tão longe viemos Ao bom Jesus adorar, Marchemos com alegria Aos pés do seu santo altar.

75


730 Nosso amor só se acaba Quando as pedras florarem, As areias botarem fruto, As águas do mar secarem.

733 No ventre da Virgem Santa Encarnou Divina Graça; Entrou e saiu por ela Como o sol pela vidraça.

731 No tempo em que eu te amava, Não amei a mais ninguém; Só amei noventa e nove, Contigo inteirava cem.

734 Nunca vi carrapateira Botar cacho na raiz; Nunca vi mulher solteira Ter palavra no que diz.

732 No tempo em que eu te amava, Rompia matos de espinhos; Já hoje pago dinheiro P‟ra não ver o teu focinho. O 735 O A é primeira letra Que se lê no ABC. Quem quer bem trata por tu, E não por vossa mercê.

740 O amor é um bichinho Que mora dentro do peito; Para tirá-lo p‟ra fora, É preciso muito geito.

736 O amarelo desbota, O verde perdeu a côr. Se me perderes de vista, Não me percas o amor.

741 O amor que eu tenho É leal e verdadeiro; Só sairá do meu peito, Saindo a alma primeiro.

737 O amar não é bom não, Porque faz emagrecê, Cria ferida por dentro, Por fora seu bem não vê.

742 O anel bateu na pedra, Tiniu por mais de uma hora. Quem não tem amor aqui, Que faz que não vai embora?

738 O amor é uma cangalha Que se bota em quem quer bem; Quem não quer levar cangalha Não tem amor a ninguém.

743 O anel que tu me deste Era de vidro, quebrou-se; Aquele amor que eu te tinha Era pouco e acabou-se.

739 O amor é uma cangalha Que se bota em quem quer bem; Quem não quer levar rabicho, Não tenha amor a ninguém.

744 O anel que tu me deste Era vidro e se quebrou. O amor que tu me tinhas Era pouco e se acabou. 76


745 O anun é passo nobre, Passo do bico rombudo, Foi sina que Deus deixou: Todo negro ser beiçudo.

753 O cabelo do meu bem Tem toda capacidade. Quando ele tira o chapéu Abala toda a cidade.

746 O anun é passo nobre, Que até no cantar demora. Quem não tem amor aqui Que faz que não vai embora?

754 O café e o chá não prestam Porque me fazem calor. Só me lembro dos amigos Quando bebo este licor.

747 O anun é n passo nobre Sereno no avoá; Quando assenta e quando vôa, O que foi, o que será?

755 Ô ciranda, ô cirandinha, Vamos todos cirandar; Vamos dar a meia volta, Meia volta vamos dar.

748 O anun é passo nobre Sereno no avoar; Quando avoa e quando canta, Levanta o leme pro ar.

756 Ô ciranda, ô cirandinha, Vamos todos cirandar; Vamos dar a outra meia, Cavalheiro troca o par.

749 O anun é passo nobre Sereno no avó. Quem não tem amor aqui Dê com a mão que já vai lá.

757 Ô ciranda, ô cirandinha Vamos todos cirandar; Vamos dar a volta e meia, Quem está bem, deixe-se estar.

750 O anun é passo preto dPasso do bico rombudo, Foi sinal que Deus deixou Todo negro ser beiçudo.

758 O côco para ser côco Deve ser côco aveiado; A moça para ser moça Deve ter seu namorado.

751 Ô, Benzinho, ô benzinho, Vá na casa de papai, Pergunte por brincadeira:  Meu sogro, como é que vai?

759 O cravo caiu do céu Nos ares se espedaçou. Em pedaços hei de ver Quem por outra me deixou.

752 Ô, bonina disfarçada, Quem me dera ser assim; Para não andar morrendo Por quem não morre por mim!

760 O cravo também se muda Do jardim para o deserto. De longe também se ama Quem não pode amar de perto.

77


761 O cravo tem vinte folhas, A rosa tem vinte e uma; Arma o cravo uma demanda Por a rosa ter mais uma.

769 O gato a gente conhece Por ter unha e ser veloz; O ranço de minha goela Quebra fio de retrós.

762 O Cruzeiro vai virando Na meia noite em pino. Viva o cravo, viva a rosa, Viva a fulô da bonina.

770 Ô, jenipapo cheiroso, Divertimento da tarde! Agora eu plantei um pé Para matar minha saudade.

763 Ô de casa, ô de fóra! Mangerona quem „ta aí? É o cravo, é a rosa, É afulô do bugari.

771 O homem quando embarca Deve resar uma vez, Quando vaio p‟ra guerra, duas, E quando se casa, três.

764 Ô de casa, ô de fóra! Menina, vai ver quem é! É o cravo, é a rosa, É a açucena no pé.

772 Olhando estes teus olhos, Vejo neles dois punhais... Piedade, não me olhes. Teus olhos me são fatais!

765 O dono da casa Mandou eu entrá, Arrastou a cadeira, Mandou eu sentá.

773 Olha o bem que te queria E o mal que estou te querendo: Só queria te ver morto E os urubús te comendo.

766 O fogo quando se apaga Na cinza deixa o calor. O amor quando se acaba No coração deixa a dor.

774 Olhos negros de veludo Heis de fazer-me doutor; Pois sois meus livros de estudo Na Faculdade do Amor.

767 O fogo nasce da lenha, A lenha nasce do chão; A vista nasce dos olhos E o amor, do coração.

775 Olhos pretos matadores, Roubadores da feição; Tu roubaste o meu peito, Eu roubei teu coração.

768 O galo do meu terreiro Quando me vê, entristece. Assim faz quem tem amor Com gente que não conhece.

776 O limão é boa fruta, Também tem seu azedume; Também a boca me amarga Na matéria do ciúme.

78


777 Ô luar da meia noite Não venhas cá ao sertão! Que isto de quem tem amores, Quer escuro, luar não.

785 Ô, morte que matais a Lira, Matais a mim que sou teu; Matais-me da mesma morte Que a minha Lira morreu!

778 Ô mãe de Deus do Pilar Me dizei porque chorais?  Eu choro por meu filhinho Que os tormentos são demais.

786 Ô, mundo que foste mundo, Ô, mundo que á não és, Ô, mundo que estás virado Da cabeça para os pés.

779 Ô mar alto, ô mar alto, Ô mar alto sem ter fundo! Mais vale andar no mar alto, Do que na boca do mundo.

787 O Padre quando namora, Namora com a mão na c‟rôa, Namora, padre, namora, Namora que Deus perdoa.

780 O mar também é casado, É casado e tem mulher; É casado com a areia, Dá-lhe beijos quando quer.

788 O “Panema encheu, encheu, Tá de barreira a barreira; Quer dizer que tomou água Em cima nas cabeceiras.

781 O meu pai se chama Caco, Minha mãe Caca Maria; Arre lá com tanto caco! Sou filho de cacaria.

789 O papel com que te escrevo Tirei da palma da mão; A tinta tirei dos olhos; A pena do coração.

782 O meu nascer foi tão triste, Muito triste meu viver, Triste ando toda vida, Serei triste até morrer.

790 O pinto pinica o velho, O velho salta p‟ra trás; As meninas estão dizendo Que o velho quer ser rapaz.

783 Ô Meu Reis de Moçambique, Ô meu Reis de Luandá! Mande dois embaixadô Para em vossos pés prostá.

791 Ô, que caminho tão longe, Ô que légua tão tirana! Benzinho, não viva triste, De longe também se ama.

784 O meu riacho só corre Com águas nas cabeceiras; Com qualquer leblinasinha Vai de barreira a barreira.

792 Oh! que caminhos tão longos! Oh! que léguas tão tiranas! Meu benzinho, viva certo: De longe também se ama.

79


793 Oh! que coqueiros tão altos Botam cachos na raiz! Ciúme de mulher velha É na ponta do nariz.

801 Oh! que coqueiros tão altos, Cercados de espadas nuas! Quem me trouxe a esta terra Foi pena e saudades tuas.

794 Ô, que coqueiros tão altos, Botam cachos na raiz! Nunca vi mulher solteira Ter palavra no que diz.

802 O que é bom á nasce pronto, Assento cá no meu peito; Exceto urubú e negro Que já nascem sem geito.

795 Ô, que coqueiro tão alto Com um fio de ouro na ponta! Saiba Deus e todo o mundo Que eu de ti não faço conta.

803 Ô, que jardim de beleza, Que salão tão delicado! Seu Zé Brandão saia fóra Venha ver nosso Reisado.

796 Ô, que coqueiro tão alto Que de alto se envergou! O amor que tu me tinhas Era pouco e se acabou.

804 Ô, que lagoa tão grande Toda rodeada de espinho! Mal empregada esta barba, Pregada nesse focinho.

797 Ô, que coqueiro tão alto Que de alto se envergou! Mais envergado se veja Quem por outro me deixou.

805 O Rei mandou me chamá Prá casar com sua fia; O dote que ele me dava: Oropa, França e Baía.

798 Ô, que coqueiro tão alto Pendido p‟ra Jaraguá! O amor dos outros chega Só o meu não quer chegá.

806 O Rio de S. Francisco É estreito, corre bem; Faz um remanso no meio Onde padece meu bem.

799 Ô, que coqueiro tão alto Pendido p‟ra Jaraguá! Todo o mundo já chegou, Só falta meu bem chegá.

807 O Rio de S. Francisco Prometeu de não secar. Venha a morte e Deus me leve Se eu contigo não casar.

800 Oh! que coqueiro tão alto, Que de alto se quebrou! Se quiser casar comigo Vá pedir quem me criou.

808 Os anjos que tem no céu Só Deus poderá saber, Porque ele que fez tudo De nada pode esquecer.

80


809 O santo que eu mais adoro E venero de coração É o Divino S. José E a Virgem da Conceição.

817 Os olhos azuis são falsos, Os pretos são feiticeiros, Os olhos acastanhados São os leais, verdadeiros.

810 Os coqueiros „stão de luto, As palhas de sentimento... Não fui eu que fui a causa Deste nosso apartamento.

818 Os olhos do meu benzinho Parecem dois navegantes, De dia, duas joias, De noite, dois diamantes.

811 O sabiá está cantando No olhinho do alecrim. Meu bem, quando tu te fores, Nunca te esqueças de mim!

819 Os olhos de Sinhá Aninha São confeitos, não se vendem; São balas com que me atiram, Correntes com que me prendem.

812 O Senhor dono da casa Dê licença eu entrar; Viemos louvar a Jesus Que veio p‟ra nos salvar.

820 Os olhos pretos são falsos, Os azuis são lisongeiros, Os olhos acastanhados São os leais, verdadeiros.

813 O Senhor dono da casa É um nobre cidadão. Mande-me abrir esta porta, Veja que eu tenho razão.

821 O sol prometeu a lua Um laço de muitas cores. Quando o sol promete prendas Que dirá quem tem amores?

814 Os meus olhos, de chorar, Já nem luz, nem graças têm; Hei de dizer a meus olhos Que não chorem por ninguém.

822 Os peixes que tem no mar Encubro com meu chapéu. Quero que você me diga Quantos anjos tem no céu.

815 O sol entra pela porta E a lua pela janela. Amores, linda lembrança, Tenho daquela donzela.

823 Os peixes que tem no mar Eu conto de um em um. Quero que você me diga Quantas penas tem o anun.

816 O sol entra pela porta E a lua pelo telhado. O senhor dono da casa, Venha ver nosso Reisado.

824 Os pombinhos quando nascem Logo vêm dando beijinhos. Assim são os namorados Quando se apanham sozinhos.

81


825 Os teus olhos, meu amor, São duas ave-marias, Do rosário de amarguras Que eu reso todos os dias.

830 O veado a meia noite Foi comer no pé da amora. Caboclo segura o tiro Que o veado vai embora.

826 Os teus olhos negros, negros, São gentios de Guiné. De Guiné por serem negros, Gentios, por não ter fé.

831 Ô Virgem mãe Soberana, Ô, Virgem Mãe Carinhosa! Dai-me licença eu chegar Em vossa Matriz tão ditosa.

827 Os seus olhos mais os meus Têm um grande parecer; Mas os seus têm um geitinho Que bota o meu a perder.

832 Ô, Virgem Maria Soberana, Ô, Mãe de Deus do Pilar! Dai-me licença, senhora, Em vossa matriz eu entrar.

828 O tenente Lira Guedes Já pedi sua demissão, Só com medo do galope Do rifle de Lampião.

834833 Ô Zé, ô Zé, ô Zé enganador. Enganaste a filha alheia Com raminhos de fulô.

829 Ouvi troipel de cavalo. Ouvi cancela batê. Meu lindo amor é iáiá. Meu lindo amor é você! P 834 Pai João me chamou, Eu não quero ir; Eu vou para o mato Pegar juriti.

837 Papagaio da pena verde Bebeu água na P‟raiba. Na era que nos estamos: Boca fala. Deus castiga.

835 Pai João me chamou, Eu não vou lá, Eu vou para o mato Pegar meu preá.

838 Parece troça, parece, Mas é verdade patente, Que a gente nunca se esquece De quem se esquece da gente.

836 Pai João me chamou, Eu não vou olá, não; Eu vou para o mato Chachá meu feijão.

839 Partis? Quem fica é mentira. Partis? Quem fica é engano. Quem vai de um bem se retira, Quem fica de um bem tem dano. 82


840 Passarinho preso canta, Solto ele deve cantar; Ele foi preso sem culpa, Canta para aliviar.

848 Pescador do Alto Amazonas Pescando neste salão, Sacuda sua tarrafa E pesque meu coração.

841 Passo de Camaragibe Dá vassoura de botão. Viva Dr. Zé Fernandes Que é homem de posição.

849 Pescador não visse a lua E nem visse o clarão dela? Olha o canto da sereia, Pescador da barca bela.

842 Paturi da mata verde Chorava de arrependido. Eu choro porque não vejo Meu amor sempre comigo.

850 Pescador que andais pescando Que trazeis mais a sereia?  Trago cravo, trago rosas, Trago jasmim da baleia.

843 Paturi da mata verde Chorava fóra de hora. Eu choro porque não vejo O meu benzinh‟ toda hora.

851 Pescador que andas pescando Que trazes nesta canoa?  Trago cravo, trago rosas, Trago jasmim da lagoa.

844 Paturi da mata verde Chorava triste, coitado. Eu choro porque me vejo Do meu amor separado.

852 Pinicapau de atrevido Foi ao Norte da eleição, Suas botas ringideiras, Suas calças de baião.

845 Pau pereira, pau pereira, Pau pereira do sertão. Toda folha murcha e cai, Só do pau pereira, não.

853 Pinicapau de atrevido Foi ao Rio de Janeiro, Foi buscar moça bonita Prá casar com brasileiro.

846 Perde a rosa o cheiro ativo Só não perde a linda côr. Tudo no mundo se muda Só não muda o nosso amor.

854 Pinicapau de atrevido Foi ao Rio de Janeiro, Foi buscar moça bonita Que comprou com seu dinheiro.

847 Perna de porco é presunto, Mão de vaca é mocotó, Quem quiser viver feliz Deve sempre dormir só.

855 Pinicapau de atrevido Foi ao Rio de Janeiro Foi buscar sua moreninha Que comprou com seu dinheiro.

83


856 Pinicapau de atrevido Mandou fazer um tambor, Para tocar alvorada Na porta de seu amor.

864 Pitiguari está cantando No olhinho do café; Está cantando e está dizendo: Viva o nome de José!

857 Pinicapau de atrevido Não me venha beliscá, Que eu sou filha da rainha, Neta da garça reá.

865 Pitombeira ramalhada Descanso de uma saudade; Se meu amor não está aqui Não é por minha vontade.

858 Pinicapau é marinheiro, Ninguém pode duvidá, Com seu barrete vermelho, Sua camisa de zangá.

866 Plantei alecrim na baixa E mangericão no oiteiro. Triste vida, a de casado, Boa vida, a de solteiro!

859 Pirolito que bate, bate, Pirolito que já bateu; Quem gosta de mim é ela, Quem gosta dela sou eu.

867 Plantei amor em meu peito Pensando que não pegasse; Tanto pegou que nasceu, Tanto nasceu que ainda nasce.

860 Pisei na ponta da rama, Pisei na cobra corá, Pisei teu lindo pesinho, Pisei no teu carcanhá.

868 Plantei o meu pé de couve No balaio da costura. O amor que tem de ser meu De longe já me procura.

861 Pisei na ponta da rama, Pisei na rama corá, Pisei teu lindo pesinho, Pisei e tornei a pisá.

869 Plantei o meu pé de cravo Na cacimba de beber. Que se importa esta canalha Que eu queria bem a você?

862 Pitiguari „stá cantando, No falho da pitangueira; Está cantando e está dizendo: Vivam as moças solteiras!

870 Podes crer que me cativa Esta tua cor morena. Se querer bem fosse pecado, Essa culpa me condena.

863 Pitiguari está cantando No olhinho do araçá; Está cantando e está dizendo: Viva quem está pra casá!

871 Por debaixo dágua correm Moedinhas de vintém. Quero partir, mas não parto Por teu respeito, meu bem.

84


872 Por deb aixo dágua correm Moedinhas de vintém. Quero partir mas não posso Por tua causa, meu bem.

876 Prenda de meu coração, Açucena desmaiada. Alecrim verde florido Sereno da madrugada.

873 Por debaixo dágua correm Pedrinhas de diamantes. Ai de mim, que já não sou Querida como era dantes!

877 Pretinhos de Congo Para onde vai? Vou ver Santos Reis Para festejá.

874 Por debaixo dágua corre Peixinho que sabe lê. Hei de morrer no pecado, Querendo bem a você.

878 Primeiro Deus fez o homem E a mulher em seguimento; Primeiro se faz a torre E depois o catavento.

875 Por detrás daquela igreja Veio uma estrela e parou; O nosso Menino Deus Com ela se alumiou.

879 Procurei no alfabeto Letra da minha paixão; Encontrei a letra E, Coloquei no coração. Q

880 Quando a desgraça penetra Nada vale ao infeliz; Pois não se pode alcançar O que a fortuna não quis.

884 Quando de ti me apartei Os astros se desmudaram, O vento não ventou mais, As águas do mar secaram.

881 Quando a mulher quer negar Que ofendeu o seu amor, Ajunta dedo com dedo, Jura por Nosso Senhor.

885 Quando eu aqui cheguei Logo por ti perguntei; Me disseram que eras de outro, De vergonha não chorei.

882 Quando chegá a triste tarde Hora dos euros cantar, Tem um que canta tão triste Que faz as pedras chorar.

886 Quando eu canto, quando eu berro, Minha voz no mundo zôa. Canta a coruja na mata, Berra o sapo na lagoa.

883 Quando chega a triste tarde, Que o capim murcha o pendão, É a hora que mais aperta A dor do meu coração.

887 Quando eu cheguei nesta casa Não deixei de repará, Fui chegando e fui lovando Batente, porta e portá. 85


888 Quando eu era pequenina Que não sabia falar Minha mãe já me ensinava A Deus do céu adorar.

896 Quando eu vim de lá de cima Que passei no Pajeú, Eu vi teu corpo espichado, Coberto de tapurú.

889 Quando eu fui aqui chegando Logo por ti perguntei; Não me deram novas tuas, De vergonha não chorei.

897 Quando eu vim de minha terra Muita gente me chorou; Só uma malvada velha Muitas pragas me rogou.

890 Quando eu me for desta terra Hei de bater na cancela, Para o povo ficar dizendo: Lá se foi cravo da terra.

898 Quando eu vim de minha terra Um cachorro me mordeu; Todos disseram: coitado! Mas quem passou a dor, fui eu.

891 Quando eu nasci, gritei: Ai, Jesus, que amor me mata; Pois logo me acalentaram Nos braços de uma mulata.

899 Quando eu vim de Urucú Que passei lá nas Flexeiras Vi o teu corpo espichado Coberto de varejeiras.

892 Quando eu quiz, não me quisestes, Levastes de opinião; Agora que me quereis, Agora, não que, não.

900 Quando matares o gado A rabada há de ser minha. Para fazer um guisado E comer com Sinhá Aninha.

893 Quando eu vejo Mariquinhas No aceiro do roçado; Me esbandalho todo, Fico todo esbandalhado.

901 Quando me for desta terra Chorando a todos caminhos, Não é por pena da terra, Porque é de teus carinhos.

894 Quando eu vim de lá de cima Quasi que morro de sêde. As meninas me deram água Nas folhas da salsa verde.

902 Quando meu bem foi embora Não amei a mais ninguém; Amei a noventa e nove, Com ele completou cem.

895 Quando eu vim de lá de cima Que passei lá da Flexeira, Eu vi teu corpo espichado, Coberto de varejeira.

903 Quando nesta casa entrei Reparei, fiz cortezia; Agora, eu estou dizendo: Guarde Deus a bizarria.

86


904 Quando nesta casa entrei, Reparei, fiz eleição; Pisei na casca da lima, Deu-me um cheiro de limão.

Que casa é aquela? Parece um tesouro. Janela é de vidro, Varanda é de ouro.

912

905 Quando o meu bem foi-se embora Que eu não pude acompanhar, Cobri meu rosto com um véu, Levei a tarde a chorar.

913 Quem canta seu mal espanta, Quem chora seu mal aumenta; Eu choro por disfarçar Uma dor que me atormenta.

906 Quando passares na rua Pisa com força no chão, Que eu estou lá dentro cosendo, Não sei se passas ou não.

914 Quem dançar os Santos Reis Deve ter o pé ligeiro. P‟ra depois não ir dizendo: Tem buraco no terreiro.

907 Quando passardes por mim Fazei o semblante triste; Dai gostos a quem vos ama, Fazei que nunca me vistes.

915 Quem de meu peito saiu Que as chaves não carregou, Deixou as portas abertas Para novo moradô.

908 Quando passares por mim Põe os teus olhos no chão; Inda que andemos de amores, Que o mundo diga que não.

916 Quem é aquele que lá vem, Salta aqui, salta acolá? Só parece meu benzinho, Canela de sabiá.

909 Quando se toca na prima Logo acompanha o bordão: Viola que não tem corda É peito sem coração.

917 Quem é bom já nasce feito, Quem quer se fazer não pode: Ainda querendo ser nobre, Seu nascimento descobre.

910 Quando vires mulher magra Não tens mais que perguntar; Se é casada, tem ciúme, Se é solteira, quer casar.

918 Quem espera, desespera, Quem espera, sempre alcança; Não há maior alívio Do que viver na esperança.

911 Quebra côco, quebra côco, Na ladeira de Pilá; Quem não tem côco maduro, Não apanha côco lá.

919 Quem inventou a partida Não sabia o que era o amor; Quem parte, parte chorando, Quem fica, morre de dor.

87


920 Quem inventou a partida Não sabia o que era amor; Quem parte, parte sem vida, Quem fica, morre de dor.

928 Quem me dera ser a sêda, Depois da sêda, o setim, Para andar de mão em mão, As moças pegando em mim.

921 Quem me dera eu achar O que eu perdi naquela mata: O retrato de meu bem Numa moeda de prata.

929 Quem me dera ser rolinha, Da rolinha um papagaio, Para fazer o meu ninho No fundo do teu balaio.

922 Quem me dera eu ver hoje Quem está no meu pensamento; Meu coração se alegrava, Meu corpo tomava alento.

930 Quem me dera ver meu bem Trinta dias cada mês, Toda a semana seis dias, Cada minuto uma vez!

923 Quem me dera, quem me dera, Quem me dera p‟ra mim só Me deitar na tua rêde, Me cobrir com teu lençó!

931 Quem me empresta um vintém Que amanhã eu lhe dou dois, Para comprar uma fita E ir lançar o meu boi?

924 Quem me dera quem me dera Uma pena de pavão, Para escrever as saudades De meu bem lá no sertão.

932 Quem me vê eu „star sorrindo Não pense que é alegria; Meu coração está gelado Como água de três dias.

925 Quem me dera, quem me dera Uma pena de perú; Eu escrevia as saudades Do meu amor no “Grauçú”.

933 Quem me vê eu estar sorrindo Não pense que eu estou alegre; Meu coração está tão preto Como tinta que se escreve.

926 Quem me dera, quem me dera Uma pena e um tinteiro; Eu escreveria as saudades Do meu bem do “Brasileiro”.

934 Quem me vê eu estar chorando Não se ria de contente; Que os trabalhos deste mundo Não avisam a ninguém.

927 Quem me dera ser a arara, Da arara, um tesoureiro, Para fazer o meu ninho Nos cachos de teu cabelo.

935 Quem me vê eu estar chorando Não se ria, tenho dó; Que os trabalhos deste mundo Não ficou para mim só.

88


936 Quem morre de mal de amores Não se enterra no sagrado, Se enterra em campos verdes, Onde habitam os namorados.

944 Quem quiser andar direito P‟ra não se desconfiar, Quando olhar, não deve rir, Quando rir, não deve olhar.

937 Quem nunca me viu cantar, Nunca viu Santa Missão; Nunca viu cavar lageiro Com cavador de pinhão.

945 Quem quiser cantar comigo Lave a cara com sabão; Se não lavar bem lavada, Comigo não canta não.

938 Quem pede, pede chorando P‟ra dar precisa vontade; Coitadinho de quem pede Com sua necessidade!

946 Quem quiser escolher moça, Escolha pelo pisar; Toda moça que é velhaca Pisa no chão devagar.

939 Quem quer bem às escondidas Grande é a dor que padece, Passando por seu benzinho, Fazendo que não conhece.

947 Quem quiser pegar amor Bote um laço na tamanca; Inda ontem eu peguei um Com um laço de fita branca.

940 Quem quer bem dorme na rua, Na porta de seu amor; Da calçada faz a cama, E do céu o cobertor.

948 Quem quiser roer courana, Roa da ponta para o pé, Que o homem não rói courana, Quem rói courana é muié.

941 Quem quer bem logo se vê, Logo dá demonstração, Pelo geitinho dos olhos, Pelo aperto da mão.

949 Quem quiser roer courana Vá roer lá na baixada, Que homem não rói courana, Quem rói courana é cambada.

942 Quem quer bem logo se vê, Logo dá demonstração; Pelo piscar dos olhinhos E pelo aperto de mão.

950 Quem quiser tomar amores Vá lá dentro da cozinha; Um abano pendurado, Namorando a vassourinha.

943 Quem quer bem rompe parede, Rompe muro ladrinhado. Rompe janela de vidro, Trancada de cadeado.

951 Quem quiser vender eu compro Um limão por um tostão, Para tirar uma nódoa No meu triste coração.

89


952 Quem se for para o sertão Leve palhas de coqueiro; Dê lembrança a todo o mundo E meu bem seja o primeiro.

960 Quem tem amores, não dorme Nem de noite nem de dia; Dá tantas voltas na rêde, Como peixe nágua fria.

953 Quem se for pra Maceió Me faça um grande favô: Diga lá aquele moreno Se eu não morrer, logo vou.

961 Quem tem amor impedido Nada tem, tudo lhe falta; Não tem prazer e alegria, Tem paixão, raiva que mata.

954 Quem se for p‟ra Maceió Me faça uma caridade: No cabelo de um moreno Abra uma “liberdade”.

962 Quem tem carneiro, tem lã. Quem tem porco, em presunto. Não me caso com viúva Que é sobejo de defunto.

955 Quem se for p‟ra Maceió Não me pise no capim. Você diga àquele ingrato Que não se esqueça de mim.

963 Quem tem carneiro, tem lá, Quem tem porco, tem presunto, Quem tem cachaça, me dê, Que é coisa que eu gosto muito.

956 Quem se for p‟ra Maceió Que achar um lenço, é meu; Com um eme na ponta Foi meu amor quem me deu.

964 Quem tem seu filho pequeno Razão tem para cantar, Quantas vezes as mães cantam Com vontade de chorar!

957 Quem se for p‟ra minha terra Me faça um grande favô: De dizer a meu benzinho; Se eu não morrer logo vou.

965 Quem tiver filhas solteiras Não fale das malfadadas, Que as filhas da desgraça Também nasceram honradas.

958 Quem te ensinou lavandeira, Quem te ensinou a nadar? Foi os peixinho foi, foi. Foi os peixinhos do mar.

966 Quem tiver sua filha virgem Não mande apanhar café; Se for menina, vem moça, Se for moça, vem muié.

959 Quem tem amor escondido Muitos tormentos padece; Passando por perto dele, Fazendo que não conhece.

967 Quem tiver o seu amor Prenda-o dentro de um baú; Que as moças de Penedo São piores que urubú.

90


968 Quem tiver o seu segredo Não diga a mulher casada; A mulher diz ao marido, O marido às camaradas.

976 Querer bem não é bom, não, Por duas coisas que tem: Quem tem amor, tem ciúme, Quem tem ciúme, quer bem.

969 Quem tiver raiva de mim Que não puder se vingar, Coma jasmim de cachorro, Para a raiva se acabar.

977 Querer bem vai da fortuna, Fortuna de quem a tem; Como não tenho fortuna, Não quero bem a ninguém.

970 Quem tiver raiva de mim Que não puder se vingar, Faça da língua um chicote, Quando quiser, venha dar.

978 Quero bem à gente baixa Porque meu bem é baixinho. Gente baixa tem beleza, Tem delicado carinho.

971 Quem tiver raiva de mim Que não puder se vingar, Meta o dente na parede Coma barro até inchar.

979 Quero bem a letra G, Que é eleita de meu bem; Quem tiver inveja disso, Ame a letra G também.

972 Quem tiver raiva de mim, Que não puder se vingar, Vá p‟ra venda, compre corda, Vá na mata se enforcar.

980 Quero bem a letra V Letra de minha paixão, Procurei a letra V, Coloquei no coração.

973 Quem tiver seu amor novo, Tranque dentro de um baú, Que as moças de Penedo São piores que urubú.

981 Quero bem a letra V Que é a letra de meu bem; Quem tiver inveja dela, Ame a letra V também.

974 Quem tiver sua filha virgem Não mande apanhar café; Se for menina, vem moça, Se for moça vem muié

982 Quero bem a mulher magra Da cintura de macaco, Dos olhos arremelentos, Das pestanas baco-baco.

975 Querer bem não é bom, não, Por duas coisas que tem, Boca pequena bem feita, Não falar mal de ninguém.

983 Quero bem a rosa branca Porque abre no sereno. Quero bem a meu benzinho Porque tem a cor morena.

91


984 Quero bem a todo o mundo Com toda a gente me dou; Só não quero zombaria P‟ro lado do meu amô.

985 Quer o rico, quer o pobre, Todos têm seu amorzinho; O rico com seu dinheiro, O pobre com seu carinho. R

986 Rapadura do sertão É doce que nem melado, Quando me tocas a mão Eu fico todo babado.

991 Rosa branca se mudou Do jardim para o deserto, De longe também se ama Quem não pode amar de perto.

987 Rapazinho da calça parda Arrodeado de ABC, Quando eu nasci e me criei Foi p‟ra casar com você.

992 Roseira dá-me uma rosa, Craveiro, dá-me um botão; Se tu não deres a rosa Não dou-te o meu coração.

988 Ribeirão que corre, corre, Lá no fundo deita areia. Se querer bem fosse crime Eu morava na cadeia.

993 Rua abaixo, rua acima, Com o seu bandolim na mão; Namorando as camadas Que as solteiras minhas são.

989 Romeiro que vem de cima Da matriz do Joazeiro; Vamos resar o Divino Aos pés do Santo Cruzeiro

994 Rua abaixo, rua acima, Sempre com o chapéu na mão, Namorando as casadas Que as solteiras minhas são.

990 Rompo ferro e rompo bronze Rompo lageiro em pedaços, Rompo todos impossíveis Para morrer em teus braços. S 996 Sacudi meu lenço branco Lá em cima do telhado, A moça que tem juízo Não namora com soldado.

995 Sacudi meu lenço branco Dentro daquela barroca. Ainda me falas aí, Cara de galinha choca?

92


997 Sacudi meu lenço branco Na cacimba de bebê Faço conta de um cachorro Mas não faço de você.

1005 Sai-te daí, bicha feia, Não soubeste responder; Que o freio já te botei, A sela mandei fazer.

998 Sacudi meu lenço branco Na janela do mercado, Não há loja sem caixeiro, Nem moça sem namorado.

1006 Sai-te daqui, pata choca, Vai-te botar na maré! Outra melhor do que tu Eu dou de ponta de pé.

999 Sacudi meu lenço branco Na parede do mercado, Não me caso com viúvo Do fundilho arremendado.

1007 Santo Antónoi de Omirante (?) Filho de um barro cheiroso... Me deizei, meu Santo António Porque sois tão milagroso!

1000 Sacudi meu lenço branco Nos ares se espedaçou. Meu coração só padece Por gente de minha cô.

1008 Santo António já foi santo, Hoje em dia é marinheiro; Eu vou me embarcar com ele Para o Rio de Janeiro.

1001 Sacudi meu lenço branco Por detrás da sacristia; Bateu na venta do padre, Isso mesmo é que eu queria.

1009 S. Gonçalo de Amarante, Casamenteiro das velhas, Porque não casais as novas? Que mal vos fizeram elas?

1002 Sacudi meu lenço branco Por detrás do pano quente, Só não casarei contigo Se a morte for de repente.

1010 Sapatinho de araú, Touquinha de aruá, Camisinha de tucum, Feita de maracujá.

1003 Sacudi papel p‟ra cima, Papel não quiz avoar. Ontem esperei três anos, Hoje não posso esperar.

1011 Sapatinho que calcei, No monturo já deixei... Não me importa que outro logre Cousinhas que já gosei.

1004 Sai daí, pinto pelado, Não soubesses responder; Que a sela já te botei E o freio mandei fazer.

1012 Sapo cururú Da beira do rio; Não me botes nágua Que eu morro de frio.

93


1013 Sapo cururú Da beira do rio, Quando o sapo canta Cururú tem frio.

1021 Se eu roubei teu coração, Tu roubaste o meu também; Se eu roubei teu coração, É porque te quero bem.

1014 Se a perpétua cheirasse Seria a rainha das flores; Como a perpétua não cheira, Perpétua não tem amores.

1022 Se eu soubesse com certeza Que não me tinhas amor, Dava minha mão de prenda, Meu coração de penhor.

1015 Se a saudade me apertar, Eu bem sei que hei de fazer; Hei de me por no caminho, Suceda o que suceder.

1023 Seja bem aventurado O trabalhador do Divino, Escopo, enxó e machado São os ferros do carpina.

1016 Se a Viçosa fosse minha, Eu mandava ladrilhar, Com pedrinhas de diamantes Para meu bem passear.

1024 Se João fosse farinha Na minha boca não ia. Se José fosse anel Do meu dedo não saía.

1017 Se bem querer se comprasse, Eu já estava devendo, Dez contos de reis não paga O bem que estou te querendo.

1025 Senhora dona da casa Feche a porta, acenda a luz, Que estamos com a “cão” em casa, Rezemos o credo em cruz.

1018 Se courana se vendesse, Uma folha era um tostão; Porém quem está na courana Nunca dá demonstração.

1026 Senhora dona de casa Por favor a porta me abra, Que eu não sou cabrito novo Que mama dois numa cabar.

1019 Se esta rua fosse minha, Eu mandava ladrilhar Com pedrinhas de brilhante Para meu bem passear.

1027 Senhora dona da casa Quando me vê porque corre? Se é bonita me apareça. Se é feia, porque não morre?

1020 Se eu fora rica e tu pobre, Fidalga como ninguém, Por nenhum ouro do mundo Deixara a quem quero bem.

1028 Senhora dona da casa Se tem ovos, me dê um, Que ando de amores novos, Não posso catar sem nenhum.

94


1029 Senhores, minhas senhoras, Vou-me embora que vem chuva; Por causa destes choviscos Há muita mulher viúva.

1037 Se pensas que por ti morro, Ou que por ti desespero, É engano manifesto, Nunca te quiz, nem te quero.

1030 Ô Senhor dono da casa, Como o senhor não tem! O senhor manda em sua casa, Depois do senhor, ninguém.

1038 Se pensas que por ti morro, Que por ti ando morrendo, É uma pura mangação, Que de ti ando fazendo.

1031 Senhor dono da casa, Mandai abrir esta porta! Que os ferrolhos são de aço Que o ferro duro não corta.

1039 Se queres que o rio seque Vai fazer uma levada, Se queres casar comigo Fica calado, não diz nada.

1032 Senhor dono da casa, Olhos da cana caiana; Quanto mais a casa cresce Mais aumenta sua fama.

1040 Se ouvires tocar o sino Não perguntas quem morreu, Sou eu que me vou embora Sem poder dar-te um adeus.

1033 Senhor dono da casa, Olhos da pedra redonda, Daquela pedra mais fina, Onde o mar combate as ondas.

1041 Serena, p‟ra serenar... No meu peito sinto a dor, Em qualquer parte que eu chego, Benzinho, sois uma flor.

1034 Senhor dono da casa, Talhada de melancia. Sua muié, estrela dalva, Sua fia, luz do dia.

1042 Sete e sete são catorze, Três vez sete, vinte e um; Tenho sete namorados, Não me caso com nenhum.

1035 Sentei-me na pedra fina Fui fazer as minhas queixas. Não lhe faço mais carinho Porque sei que tu me deixas.

1043 Se tu soubesses, ó galo, Quanto custa um bem querer. De certo não cantarias Antes do dia amanhecer.

1036 Sentinela brada as armas Que lá vem o Imperador, Com sua bandeira branca, Seu lencinho chamador.

1044 Se São João soubesse, Quando seria o seu dia, Descia do céu à terra Com prazer e alegria.

95


1045 Seu Mané do Riachão Que pecados são os seus? Um ano de tanta chuva, Seu riacho não correu!

1053 Só queria saber ler Para soletrar José; E trazê-lo retratado Na pedra do meu ané.

1046 Seu Mané do Riachão Se cantou, não canta mais; Está dentro da garrancheira, Nem p‟ra diante, nem pra trás.

1054 Só queria ser papel, Papel de fino valor, Para escrever com letra d‟ouro O nome de meu amor.

1047 Se você não me queria Porque me acarinhou, Para agora me deixar Sem carinho, sem amô?

1055 Só queria ser papel P‟ra voar de ano em ano, Para ver o meu amor No “Colégio Diocesano”.

1048 Sicupira quando nasce Deita rama pelo chão; Meu amor quando se deita Bota a mão no coração.

1056 Sou cupido e sou menino, Cercadinho de flor; Digam todos: viva, viva!... Morra quem não tem amôr.

1049 Sobrancelhas de pau preto, Raios de sol quando nasce, Bôca pequena, bem feita, Olhos bem que me enganasse.

1057 Sou nêgo do mato, Cortadô de pau, De madeira grossa, Pra fazê girau.

1050 Solteirinha, não te cases, Logra a tua boa vida; Que inda ontem encontrei Rosa, Chorando de arrependida.

1058 Sou queijo, sou nata e massa, Massa fina de araruta, Que cai no chão, não se rela, Nem quebra, nem se machuca.

1051 Solteirinha, não te cases, Vai gosar tua boa vida; Que ontem vi u‟a casada Chorando de arrependida.

1059 Soa sereia, pesco peixe, Nesse mar eu tenho fama; Em minha cabeça verás A mais delicada dama.

1052 Soluçar é meu costume A toda hora do dia. Vivendo de ti ausente Não posso ter alegria.

1060 Sou soldado, sentei praça, No batalhão do amor; Como jurei bandeiras Não posso ser desertor.

96


1061 Sou soldado, sentei praça No regimento do Amor; Como sentei por meu gosto, Não quero ser desertor.

1063 Suspirar é meu costume A toda hora do dia. Vivendo de ti ausente, Não posso ter alegria.

1062 Suspende, mano, suspende Suspende esta suspensão; Suspende o pinto e o galo, Capote, perú, pavão.

1064 Suspiro que vai e vem, Dai-me nota de meu bem; Se ele é morto, si ele é vivo, Se anda em braços de alguém. T

1065 Tanta laranja madura, Tanto limão pelo chão! Coisa feia neste mundo É mulher de camisão.

1071 Tem-tem, menino, tem-tem, Tem-tem, menino dormir. Tem-tem que mamãe foi fóra, Tem-tem que logo há de vir.

1066 Tanta laranja madura, Tanto limão pelo chão, Tanto sangue derramado Dentro do meu coração!

1072 Tem-tem, menino, tem-tem, Tem-tem para ganhar vintém; Eu quero abraçar papei E minha mamãe também.

1067 Tanta laranja madura, Tanto limão, tanta amora! Tanta menina bonita, Minha mãe sem uma nora!

1073 Tenho dois aneis no dedo, Um de ouro, outro de prata, Tenho dois amô no mundo: Um me ama, outro me mata.

1068 Tão longe de ti, tão longe, Tão longe de ti me vejo; Tão perto de quem não quero, Tão longe de quem desejo.

1074 Tenho dois aneis no dedo: Um é de ouro, outro é de prata. Tenho dois amô no mundo: Um é branco, outro é mulato.

1069 Te mando carta fechada Para aquela baixa de flor, Para aquela casa de telha Onde achaste meu amor.

1075 Tenho meu anel de ouro, Tenho meu anel de prata; Quero ver zoar bezouro, Quero ver dançar mulata.

1070 Te mando meu coração Partido em quatro pedaços, Que ele já vai quasi morto, Me dai a vida em teus braços.

1076 Terreiro de minha casa, Chove chuva, nasce bredo. Benzinho, nossa amisade Não se acabará tão cêdo. 97


1077 Terreiro de minha casa, O capim não nasce mais, As passadas que tu deste Por mim tu não dareis mais.

1085 Todo branco quer ser rico, Todo mulato é pimpão, Todo negro é feiticeiro, Todo cigano é ladrão.

1078 Teu anel de pedra fina Meu dinheiro me custou. Com abraços e boquinhas Teu corpo já me pagou.

1086 Todo homem casado, Que só anda em baderna, A mulher faz a paga Com o menino na perna.

1079 Tico, tico na goteira... Olha a chuva que te molha! Onde tem rapaz solteiro, Os casados não se olha.

1087 Todo homem quando embarca Deve resar uma vez, Quando vai à guerra, duas, E quando se casa, três.

1080 Tirei o anel do dedo, Botei na palma da mão. Se eu contigo não casar, À outro não dou a mão.

1088 Todos olhos têm meninas, Todas meninas têm olhos; Os olhos desta menina São meninas de meus olhos.

1081 Toda gente se admira Do macaco andar em pé; O macaco já foi gente, Pode andar como quisé.

1089 Tomara achar quem me diga Onde a pena mais aumenta; SE é no peito de quem fica, Ou nalma de quem se ausenta.

1082 Toda mãe que tem seu filho Razão tem para chorar. Porque não sabe da sorte Que Deus tem para lhe dar.

1090 Tomara que as folhas sequem, Quero ver os bois que comem; Quero ver o bom passar Da mulher só, sem o homem.

1083 Toda mulher que se casa Grande castigo merece. Por dar o seu coração A um homem que não conhece.

1091 Trinta dias tem setembro Junho, abril e novembro; E os outros que aí estão Trinta e um eles terão.

1084 Toda vez que o vento venta Para a banda em que morais, Suspiro de hora em hora. Saudades cada vez mais.

1092 Tu de lá e eu de cá. Do outro lado da lagôa... De dia, não tive tempo, De noite, não tem canôa.

98


1093 Tu de cá e eu de lá Na pedra de teu ané, Queremos nos ajuntá Mas a fortuna não qué.

1097 Tu me deixaste por outra, Por outra que tem fazenda; Não és tu tão boa cousa, Nem teu pai tão boa prenda.

1094 Tudo no mundo se acaba, Tudo no mundo tem fim; Já se acabaram os gostos Deste mundo para mim.

1098 Tu pensas que eu faço conta De um pingo de amor chorado? Eu já tenho quem me faça Carinhos demasiados.

1095 Tudo quanto é verde seca Com o rigor do verão; Com chuva, tudo renova, Só a mocidade, não.

1099 Tu pensas que eu te quero, Ou por ti ando morrendo? Só queria te ver morto E os urubús te comendo!

1096 Tu és sombra, eu sou o sol Qual de nos será mais firme? Eu, como sol, a buscar-te Tu, como sombra, a fugir-me?

1100 Tu te queixas, eu me queixo... Qual de nos terá razão?... Tu te queixas de teus males, eu, de tua ingratidão. U

1101 Uma coisa neste mundo Me faz certa confusão: O vapor andar no trilho Sem pé, sem perna, sem mão.

1104 Uma rolinha cantando No olho do araçá; Está cantando, está dizendo: Viva quem está p‟ra casá.

1102 Uma ingrata que me ofende, Que merece que lhe faça? Eu não fazer caso dela, Que p‟ra castigo já passa.

1105 Um laço de fita verde Com três dedos de largura Nas ancas de uma mulata, Mata qualquer criatura.

1103 Uma rolinha cantando No olho da sempre-viva. Viva meu governador, Diga, meu bem, diga viva!

1106 Urubú da Serra Negra Foi dizer ao Presidente, Que já está com o bico doce De comer carne de gente. V

1107 Vadeia, mano, vadeia! No geito de vadiá! Segura o côco embolando Na pancada do ganzá. 99


1108 Vai-te, carta castelhana, Conversa e sabe falar! Que os olhos que te fizeram Já estão fartos de chorar.

1116 Vi a moça na janela Debruçada para o rio, Jogando dicionário Com o capitão do navio.

1109 Vai-te, carta fechadinha, Aos pés daquele jardim, „joelha, pede licença, Dá-lhe um abraço por mim.

1117 Vinte e quatro de dezembro, Meia noite deu sinal! Rompe aurora a primavera, Viva a noite de Natal!

1110 Vai-te, carta fechadinha, Deus te livre do perigo; Eu fico em ânsias de morte, Por não ir junto contigo.

1118 Vôa, vôa, passarinho, Se tu queres avoar! O biquinho pelo chão, As asinhas pelo ar!

1111 Vai-te, carta, que eu te mando Visitar quem está ausente! Quem está na “praça” diverte, Quem está no “mato” é que sente.

1119 Você diz que amor não dói? Amor dói no coração, Queira bem e viva ausente, Veja lá se dói ou não.

1112 Vai-te, carta que mandei! Olhos, não tenhas demora! Ajoelha, pede licença, Repara, carta, quem chora!

1120 Você diz que bala mata, Bala não mata ninguém; A bala que mais me mata São os olhos de meu bem.

1113 Vai-te, carta, que mandei No rico pé de jasmim! Ajoelha, pede licença, Vai dar um abraço por mim!

1121 Você diz que dá na bola, Na bola você não dá. Viva a torre de Assembleia, O coqueiro, olhe lá!

1114 Valha-me Nossa Senhora Que eu quero me levantar! A Virgem da Conceição Coroada em seu altar!

1122 Você diz que me quer bem, Eu digo que Deus lhe pague; Que seu amor é de interesse, Não se canse que é debalde.

1115 Vento que sopra de noite Vai dizer à minha bela Que eu só me sinto mais forte Quando estou pensando nela.

1123 Você diz que me quer bem, Eu digo que é muito pouco; Quem quer bem não faz assim, Nem mostra carinho a outro.

100


1124 Você diz que me quer bem, Eu digo que lhe agradeço; Queira bem a quem é rico, Eu sou pobre, não mereço.

1132 Você me botou feitiço, Para eu lhe querer bem, Bem como quero a você Nunca quis tanto a ninguém!

1125 Você diz que me quer bem, Eu também quero a você; Eu lhe quero toda a vida, Você só quando me vê.

1133 Você me chamou de negra Do cabelo pixaim, Sou negra, dou-me a respeito, Não amo cabra ruim.

1126 Você diz que me quer bem, Eu também quero a você. Entre o fogo e a fumaça, Quem quer bem, logo se vê.

1134 Você me chamou de preto... Sou preto, mas sou dengoso, Pimenta do reino é preta, Mas faz a prato gostoso.

1127 Você diz que me quer bem, Eu também quero a você; Quem tem amor, tem ciúme, Quem quer bem, logo se vê.

1135 Você se for, não me diga, A mim não queira levá Lá no meio do caminho Você se arrependerá.

1128 Você diz que me quer bem, Eu também quero a você. Um amor com outro se paga, Nada lhe fico a dever.

1136 Vou mandar-te o coração Partido em quatro pedaços; Ele inda vai meio vivo, Vou me acabar em teus braços.

1129 Você diz que não chorou, Querendo bem é mentira; Quem chegou a querer bem, Chora, soluça e suspira.

1137 Vou mandar-te um anelão Dentro de um gomo de cana, Para saberes, ingrato, Que de longe também se ama!

1130 Você diz que sabe ler, Mas não sabe soletrar. Quero que você me diga Quantos peixes tem no mar.

1138 Vou mandar-te um cravo branco Na ponta de um alfinete, Meu coração vai no meio, Servindo de ramalhete.

1131 Você grita que eu sou sua; Se eu sou sua, eu não sei... O mundo dá muitas voltas... Eu não sei de quem serei.

1139 Vou-me embora p‟ra Viçosa Vou plantar uma outra flô. Na Viçosa eu sou querida, Em “Bôa Sorte” não sou.

101


1140 Vou-me embora, vou-me embora, É mentira, não vou, não. Vai o corpo, vai a roda, Mas não vai meu coração.

1142 Vou-te escrever uma carta Na folha do fedegoso, Benzinho, te perguntando Quando tu serás meu noivo.

1141 Vou-me embora, vou-me embora, Volto à semana que vem. Quem não me conhece chora, Quem dirá quem me quer bem!

1143 Vou tocar meu alvorado, As águas sobem no linho. Compadre, mais vale sosinho Do que mal acompanhado.

102


BIBLIOGRAFIA I – Afrânio Peixoto – TROVAS POPULARES BRASILEIRAS – Liv. Fr. Alves – Rio – 1919. II – Guilherme Santos Neves – CANCIONEIRO CAPIXABA DE TROVAS POPULARES – Vitória – 1949. III – Amadeu Amaral – TRADIÇÕES POPULARES – Inst. Progresso Industrial S.A. – S. Paulo – 1948. IV – Jaime Cortesão – O QUE O POVO CANTA EM PORTUGAL – Edições Livros de Portugal – Rio – 1942. V – Alberto Faria – POESIA POPULAR NO BRASIL – in “Antologia do Folclore Brasileiro” de Luis da Câmara Cascudo – Livr. Martins – 3. Paulo – s/d – pags. 397-420. VI – Lindolfo Gomes – NOTAS DE FOLCLORE E LITERATURA COMPARADA – Rev. Filológica – Ano V – vol. VII – no 27 – Set 1944, pags. 195-211. VII – Pereira da Costa – FOLKLORE PERNAMBUCANO – Rev. do Instituto Histórico – 1908. VIII – Walter Spalding – POESIA DO POVO – Liv. do Globo – Porto Alegre – IX – 1934. X – Afrânio Peixoto – MISSANGAS – Cia. Editora Nacional – S. Paulo – 1931. Leite de Vasconcelos – OPÚSCULOS – Vol. VII – ETNOLOGIA – parte II – XI – Imprensa Nacional de Lisboa – 1938. XII – Leonardo Mota – CANTADORES – Livraria Castilho – Rio – 1921. Joaquim e Fernando Pires de Lima – TRADIÇÕES POPULARES DE XIII – ENTRE DOURO E MINHO – Barcelos – 1938. Laureano Prieto – A CANTIGA NA GUDISA (Ourense) – “Douro-Litoral” – XIV – 4a série, I-II – Porto – 1950 – pags. 84/98. Carlos Goes – MIL. QUADRAS POPULARES BRASILEIRAS – F. Briguiet XV – e Cia. – Rio de Janeiro – 1918. Veríssimo de Melo – CANCIONEIRO CAPIXABA – in “A Folha da XVI – Manhã” – 1949. XVII – Osório Duque Estrada – O NORTE – Porto – 1909. XVIII – Leonardo Mota – VIOLEIROS DO NORTE – S. Paulo – 1925. XIX – Leonardo Mota – SERTÃO ALEGRE – Belo Horizonte – 1928. Oneyde Alvarenga – MÚSICA POPULAR BRASILEIRA – Liv. Globo – P. XX – Alegre – 1950. Nuno Catharino Cardoso – CANCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS E XXI – BRASILEIRO – Portugal-Brasil Limitada Editora – Lisboa – 1921. Cecília Meirelles – FOLCLORE GUASCA E AÇORIANO – “Província de XXII – S. Pedro” – no 6 – 1946 – pags. 7/10. Cecília Meirelles – INFÂNCIA E FOLCLORE – vários artigos in “A Manhã” XXIII – – 1942/1944. XXIV – Cecília Meirelles – ENCONTROS – artigo in “A Manhã” – Rio. XXV – Cecília Meirelles – TRÊS CANCIONEIROS – artigo in “A Manhã” – Rio. XXVI – Fernando Pires de Lima – CANTARES DO MINHO – Barcelos – 1937. Carlos Lopes Cardoso – CANCIONEIRO POPULAR DE CETE – “DouroXXVII – Litoral” – 4a série – I-II – Porto – 1950 – pags. – 43-49. Vergílio Pereira – CANCIONEIRO DE CINFAES – Porto – 1950. 103


XXVIII – A. Afonso de Paço – CANCIONEIRO DE VIANA DO CASTELO – Livraria Cruz-Braga – 1928. XXIX – Gustavo Barroso – COLUNAS DO TEMPLO – Rio – 1932 (?). XXX – Joaquim Ribeiro – A INFLUÊNCIA HOLANDESA NO FOLCLORE BRASILEIRO – “Revista Filologica” – Ano V. vol. VI – no 24 – Junho de 1944 – pags. 319/322. XXXI – Fernando de Castro Pires de Lima – NOVA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DAS “AFINIDADES GALAICO-PORTUGUESAS DO CANCIONEIRO POPULAR” – in “Revista de Dialectologia y Tradiciones Populares – Tomo III – 1947, cadernos 3o e 4o pags. – 323/370. XXXII – Moreno Brandão – A MUSA ANÔNIMA – in “Revista do Instituto Histórico de Alagoas” – Vol. XVIII – ano 61 – 1935 – pags. 3/31. XXXIII – José Carlos de Luna – DE CANTE GRANDE Y DE CANTE CHICO – Madrid – 1926. XXXIV – Alfredo Brandão – A POESIA POPULAR EM ALAGOAS – in “Revista do Instituto Histórico de Alagoas – Vol. XXII – anos 42/43 – Maceió – pags. 7/17. XXXV – Leonardo Mota – NO TEMPO DE LAMPEÃO – Oficina Industrial Gráfica – Rio – 1930. XXXVI – Silvio Romero – CANTOS POPULARES DO BRASIL – Liv. Francisco Alves – 2a edição – Rio – 1897. XXXVII – Nery Camelo – ALMA DO NORDESTE – 5a edição – Tip. Batista de Souza – Rio – 1945. XXXVIII – Theo Brandão – FOLCLORE DE ALAGOAS – Liv. Ramalho Editora – Maceió – 1949. XXXIX – Afonso Duarte – O CICLO DO NATAL NA LITT. ORAL PORTUGUESA – Barcelos – 1887. XL – Luis Chaves – PÁGINAS FOLCLÓRICAS – Porto – 1942. XLI – Teófilo Braga – O POVO PORTUGUÊS – 2o vol. – Lisboa – 1885. XLII – Luis Chaves – PORTUGAL ALÉM – Gaia – Portugal – 1932. XLIII – Luis Chaves – ESTUDOS DE POESIA POPULAR – Porto – 1943. XLIV – Albino Bastos – FOLKLORE LANHOZENSE – Esposende – 1903. XLVI – Antônio Fráguas – CONTRIBUCION AL ESTUDIO DE LA NAVIDAD EN GALICIA – “Rev. Dialetologia y Tradiciones Populares” – Tomo III – 1947 – cadernos 3o e 4o – pags. 401/446. XLVII – Alberto Pimentel – AS ALEGRES CANÇÕES DO NORTE – Lisboa – 1905. XLVIII – Mario Lopez Osórnio – ORO NATIVO – Buenos Aires – 1945. XLIX – Vicente T. Mendoza – UN ROMANCE CASTELLANO QUE VIVE EN MEXICO – Anuario de La Soc. Folklorica de Mexico – I – 1942 – pags. 69/78. L – Bouzá Brey. Jorge Lorenzo – LA CASA, EL TRABAJO, Y LA CANTIGA EN PIAS – “Rev. Dialetologia y Trad. Populares” – Tomo V – caderno 3o. LI – Felix Coluccio – DICIONÁRIO FOLKLORICO ARGENTINO – 2a ed. – Buenos Aires – 1950. LII – Gustavo Otero Munõz – LA LITERATURA COLONIAL Y POPULAR DE COLOMBIA – La Paz – Bolívia – 1928. LIII – Julio Aramburú – EL FOLCLORE DE LOS NIÑOS – Buenos Aires – 1944. LIV – Emirto Lima – LAS PIESTAS DE SAN ROQUE EN BARRANQUILLA – “Anuario de la Soc. Folklorica de Mexico” – vol. 1o – Mexico – 1942. 104


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.