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Fazer Bem
Garland adquire frota ligeira elétrica e consome exclusivamente energia verde
Ogrupo Garland, um dos principais players em Portugal no setor de transportes, logística e navegação, tem vindo, desde 2012, a implementar um conjunto de medidas para reduzir a sua pegada ambiental, no âmbito de uma estratégia designada de “Rumo à Sustentabilidade”. Desde 2012, o grupo investiu 24 milhões de euros na construção e na renovação contra a pandemia covid-19 em Portugal e reforçar a resposta coletiva tituído pelas empresas Tetra Pak, Sidel Nacional de Saúde de oito monitores de sinais vitais da Philips (sete equipamentos modelo MX550 e um modelo G30e), avaliados em 55.392 euros. 10 milhões de euros a nível mundial para apoiar na resposta à crise sanitária causada pela covid-19, valor que foi distribuído pelos diferentes países em que o grupo opera. A pandemia provocada pelo surto de covid-19 trouxe desafios sem prece
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dos seus centros logísticos, que hoje ocupam mais de 85 mil metros quadrados, instalados de norte a sul do país, em Cascais, Aveiro, Gaia e Maia. Em todos eles, foram usadas soluções de construção, materiais e equipamentos para melhorar a eficiência energética dos mesmos. Em três deles (dois na Maia e um em Cascais) estão instalados um total de 638 painéis dentes, a todos os níveis e em todos os setores. O aumento do consumo de comida em casa levou a uma subida da procura no setor alimentar, obrigando a indústria a trabalhar ao máximo da sua capacidade, para que os alimentos continuem a chegar de forma segura e estejam disponíveis em qualquer lugar. Perante esta situação, desde o primeiro momento que foram reforçadas todas as medidas de saúde, segurança e prevenção de riscos laborais nas fábricas, para garantir a saúde e o bem-estar de todos os colaboradores e sócios. Através desta doação, a Tetra Pak, a promisso com a sociedade, colaborando com ajudas diretas para a compra de
solares, com 175,1 KW de capacidade instalada, estando já em curso o estudo de implementação para mais dois armazéns. Com uma produção anual de cerca de 275 mil KWh, os sistemas permitem a redução de 192,5 toneladas de emissões de CO2 por ano. Implicando um investimento de 195 mil euros, estes sistemas de autoconsumo foram dimensionados para colmatar 20% das necessidades de energia destes centros logísticos e otimizados para aproveitar eficientemente a energia produzida. Além da energia elétrica produzida para autoconsumo, a Garland Logística utiliza em todos os seus CL energia proveniente de fontes 100% renováveis, possuindo, desde 2018, o Certificado “Energia Verde – Classe A”, atribuída pela Axpo Iberia, entidade que disponibiliza serviços energéticos customizados para grandes, pequenas e médias empreNormalização e Certificação.
Grupo Tetra Laval doa 55 mil euros para luta contra covid-19 em Portugal
Com o objetivo de apoiar a luta a esta crise, o grupo Tetra Laval, conse DeLaval, fará uma doação ao Serviço No total, o grupo Tetra Laval doou Sidel e a DeLaval reforçam o seu comsas, e pela Associação Espanhola de dispositivos médicos em apoio às iniciativas de resposta à covid-19 desenvolvidas pelo Ministério da Saúde. Ramiro Ortiz, diretor-geral da Tetra Pak Iberia, afirma que “a Tetra Pak, juntamente com todos aqueles que constituem o grupo Tetra Laval, está extremamente grata pelos esforços dos nossos colaboradores, clientes e parceiros, que têm sido essenciais durante este período. O nosso compromisso é garantir o fornecimento de alimentos em todas as superfícies e, simultaneamente, assegurar que tomamos as medidas necessárias para que seja garantida a saúde e a segurança dos nossos colaboradores e de todas as pessoas envolvidas nas nossas operações”.
Coincidindo com a celebração do Dia Mundial do Meio Ambiente, a 5 de junho, a Henkel anunciou que “pretende ser três vezes mais eficiente em 2030 nas suas atividades comerciais relativamente à pegada ambiental que gera”. No final de 2019, a Henkel aumentou em 56% a sua eficiência total (em comparação com 2010). Durante 2019, a Henkel conseguiu alcançar três das metas que estavam planeadas para 2020: redução de 31% das emissões de CO2; redução de 40% de desperdício por tonelada de produto e melhoria em 42% da saúde e segurança no trabalho. Além disso, o consumo de água por tonelada de produto teve uma redução de 28%, em comparação com 2010. Isto significa que o objetivo de 30%, definido para 2020, está praticamente alcançado.Face à necessidade de reduzir as emissões de CO2 para limitar o aquecimento global, a Henkel pretende tornar-se uma empresa climaticamente positiva até 2040. Por esse motivo, estabeleceu uma série de metas específicas para reduzir as emissões de acordo com o Acordo de Paris para limitar o aquecimento global em 1,5 graus centígrados, Gulbenkian, a Google, o Banco para e a Tabaqueira anunciaram que irão responder positivamente ao apelo de Portuguesa dos Bancos Alimentares mil euros para o desenvolvimento de uma Rede de Emergência Alimentar. A campanha de angariação de donativos continua a decorrer e conta com o apoio institucional da RTP. O objetivo é dispoe que foram a p r o v a d a s pela iniciativa Science Based Targets. Entre elas, destaca- -se a redução da pegada de carbono da sua produção em 65% até 2025, dar resposta a 100% à necessidade de eletricidade por energia renovável ou substituir os restantes combustíveis fósseis por alternativas neutras para o clima, como biogás ou gás, gerado pela conversão de CO2, ou o fornecimento do excesso de energia neutra a terceiros. Além disso, a Henkel está comprometida em ajudar os seus clientes, consumidores e parceiros a economizar 100 milhões de toneladas métricas de CO2 até 2025, disponibilizando produtos e tecnologias inovadoras que possibilitem a redução do consumo de energia. Nos novos objetivos para 2025, a empresa amplia os seus esforços no desennibilizar alimentos básicos a milhares de famílias portuguesas afetadas pela crise da pandemia de covid-19. A Federação Portuguesa de Futebol e a Fundação do Futebol também se associaram à divulgação desta iniciativa. O contributo destas entidades permitirá apoiar a Rede de Emergência Alimentar, desenvolvida pela Entreajuda, com apoio nos Bancos Alimentares, a assegurar a distribuição de refeições confecionadas ou produtos tamente para os domicílios das famílias mais carenciadas. O objetivo desta ação solidária é respon
volvimento de embalagens sustentáveis, prevendo que todas as suas embalagens serão recicláveis ou reutilizáveis. Contribuir para o progresso social é outra das áreas principais da estratégia de sustentabilidade da Henkel. Até 2025, a Henkel deseja melhorar ainda mais o seu impacto social positivo nas comunidades, através de um fornecimento 100% responsável, alavancado os seus mais de 50 mil funcionários – que foram formados como embaixadores da sustentabilidade – e ajudando a melhorar 20 milhões de vidas
Empresas e instituições oferecem 800 mil euros para ajuda alimentar de emergência
OBPI e a Fundação La Caixa, a TEAK Capital (holding da família de Carlos Moreira da Silva), a Fundação Calouste o Desenvolvimento da América Latina Isabel Jonet, presidente da Federação Contra a Fome, com um apoio de 800 alimentares básicos para as IPSS ou direem todo o mundo. der, de forma excecional, à emergência social que resulta da crise sanitária, além de permitir evitar uma previsível rutura de stocks nos Bancos Alimentares, que não podem realizar em maio a habitual campanha de recolha de alimentos em supermercados. Antes da crise pandémica, os Bancos Alimentares, presentes em 22 pontos do país, angariavam alimentos para mais de 2.600 instituições, que por sua vez apoiavam 420 mil pessoas, ou seja, 4% da população portuguesa. Apenas no último mês, mais de 10 mil famílias já pediram apoio direto ao Banco Alimentar.
Sustainable Society Initiative lança movimento “Positive Brands”
ASustainable Society Initiative (SSI) acaba de lançar o movimento “Positive Brands”, um barómetro das principais tendências e temáticas de sustentabilidade para as empresas. Esta iniciativa tem como objetivo, destacar e apoiar as marcas que se assumem como força de mudança e que visam contribuir de forma positiva para a sociedade. O “Positive Brands” inclui uma metodologia de trabalho inovadora que permite definir a missão de uma marca em consonância com as preocupações da sociedade, que será posto em prática através de um plano de ação que traduza o quotidiano da sua atividade e das suas práticas. As empresas podem inscrever-se através da plataforma online Positive Brands para acederem à ferramenta de análise e avaliação e marcarem um diagnóstico, a fim de conturbados que se vive atualmente, “a Whirlpool Portugal decidiu contribuir com um pequeno gesto, oferecendo a duas instituições nacionais equipamentos que visam colmatar necessidades identificadas pelas mesmas”. Apoio ao Sem Abrigo, Emergência Médica, foram as instituições escolhidas para receberem donativos da marca. Para o centro CASA, foram oferecidos dois congeladores, dois combinados e duas máquinas de lavar e secar da marca Hotpoint e ao com bomba de calor, da Whirlpool. perceberem como tornar a sustentabilidade uma alavanca de inspiração e de impacto para as suas marcas. “Atualmente, as empresas e as marcas têm o poder de mudar o status quo de uma forma muito mais rápida que a regulamentação e muito mais efetiva que a política. Têm o poder de intervir e resolver os transtornos que afetam a sociedade, seja alterando as suas práticas e mobilizando o seu marketing para fazer avançar as normas sociais e o comportamento das pessoas, seja aceitando que não são perfeitas, mas sim honestas nas suas dificuldades e sinceras nos seus esforços para as ultrapassar”, refere Charlotte Mure-Ravaud, gestora estratégica da Sustainable Society Initiative. Num ano de impulso para a mudança e de provável viragem na história da “Este pequeno gesto e donativo vai ao encontro das iniciativas da marca que visam apoiar os seus funcionários, consumidores e a comunidade durante a pandemia do contribui para a consciencialização da necessidade de cumprirmos as normas e regras de higienização, salvaguardando a segurança de todos. As instituições escolhidas contribuem com o seu trabalho e esforço para dois setores da sociedade que, embora em diferentes âmbitos de atuação, são fundamentais nos serviços que prestam à comunidade”, destaca a companhia. “Se pudermos contribuir com um gesto para colmatar necessidades identificahumanidade, as empresas representam uma força de mudança poderosa para resolver os problemas mais urgentes relacionados com a “nova normalidade”, e podem dar um impulso positivo na solução dos desafios impostos pela crise humanitária, ampliando a oportunidade de sucesso nos negócios. “Neste contexto, o movimento Positive Brands surge para promover marcas honestas e autênticas. Marcas que dão significado ao que promovem, tornando-se únicas, através do seu próprio projeto de transformação no mercado. Marcas que atuam com base nos problemas existentes e que fazem da sua missão o compromisso de os resolver, contribuindo de forma positiva para a vida dos seus clientes, para a tou Charlotte Mure-Ravaud.
Devido aos tempos A CASA-Centro de e o INEM, Instituto Nacional de INEM uma máquina de secar roupa covid-19. Desta forma, sociedade ou para o mundo”, acrescendas junto das nossas instituições que prestam um serviço tão essencial à sociedade, seremos sempre os primeiros a fazê-lo em prol do bem comum e da segurança dos demais”, referiu por seu lado Armando Anjos, diretor-geral da Whirlpool de Portugal & Espanha. “Apesar deste período estar a ser difícil para todos nós, a atual situação também trouxe exemplos de atos de humanidade, onde podemos observar indivíduos e comunidades unidos para apoio mútuo”, e estas “duas instituições que vamos ajudar são exemplo disso.” De forma a representar o apoio da Whirlpool e a solidariedade da marca durante a situação atual, o seu logotipo foi também adaptado, incluindo um novo slogan que espelha a necessidade de consciencialização do distanciamento social e da segurança de todos: “Fique Seguro – Sinta a Distância”.
Endesa mantiene inversión en puntos de recarga de vehículos eléctricos en España
Endesa X continúa avanzando con su plan de expansión de infraestructura de recarga de vehículos eléctricos de acceso público. A pesar de la crisis sanitaria sin precedentes que está viviendo nuestro país, la compañía está realizando un esfuerzo extra para mantener su compromiso con la movilidad eléctrica y con su objetivo de acabar este año con los primeros dos mil puntos de recarga de acceso público instalados y a disposición de los usuarios. Se cumplirá así la primera fase del plan de desarrollo de infraestructuras de recarga que anunció la compañía a finales de 2018 y que permitirá recorrer nuestro país con tranquilidad en coche eléctrico. “A pesar de que todos los procesos de instalación de cargadores se han ralentizado estas semanas como consecuencia de la pandemia que azota a nuestro país, seguimos trabajando duro, adaptándonos a las circunstancias, para cumplir con nuestro compromiso de tener un cargador cada 100 kilometros al acabar el año en las vías principales. Es fundamental mantener los compromisos de inversión en estos momentos para poder contribuir a la recuperación de la economía española”, ha afirmado Josep Trabado, director general de Endesa X. El plan de desarrollo de infraestructura de Endesa se desarrolla en dos fases diferenciales: en esta primera fase el foco está en la red de carreteras y en las ciudades de más de 35 mil habitantes. Se trata de cubrir los 15 mil kilometros de vías principales y ofrecer cobertura de recarga al 75% de la población. De esta manera los usuarios tendrán un punto de recarga de Endesa a una distancia no superior a 100 kilometros y en las principales áreas urbanas del país. Los dos mil puntos de recarga tendrán diferentes tecnologías: recarga ultra rápida (350 kW); recarga rápida (50 kW); y recarga semi rápida (22kW). A partir de 2021/2023, el objetivo es desarrollar el crecimiento de la recarga pública en línea con el crecimiento esperado de la movilidad eléctrica en España. Endesa instalará más de 6.500 nuevos puntos de recarga de acceso público (en centros comerciales, parkings, cadenas hoteleras, áreas de servicio, etc.) para acompañar el crecimiento del mercado del vehículo eléctrico, dotando de mayor cobertura de infraestructura las zonas urbanas, incluyendo las islas. Desde la puesta en marcha del plan y gracias a los acuerdos alcanzados hasta ahora con los diferentes socios, ya están en marcha, acordados o en fase de instalación más de 1.500 puntos de recarga de acceso público por toda la geografía española.
Textos Actualidad€ actualidade@ccile.org Fotos DR
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gran tema
A fórmula do CEiiA para “oxigenar” a economia portuguesa
O Atena, criado em 45 dias no CEIIA - Centro de Engenharia, Desenvolvimento e Design de Produto, provou que Portugal pode passar de importador de ventiladores a exportador. Ao Atena podemos juntar o satélite português "Infante"; ou o carro mais pequeno do mundo, redesenhado em Portugal, que já foi estrela de Hollywood; ou o maior avião da Embraer, quase todo concebido pela engenharia portuguesa; ou o primeiro carro português, que se prepara para voar em Bruxelas; ou o equipamento que transforma jamantas e tubarões do mar dos Açores em "funcionários" da BBC; entre outros projetos. O lema das três centenas de engenheiros que trabalham neste centro, em Matosinhos, é tirar partido da boa preparação dos profissionais portugueses, encontrar os parceiros certos, inovar, desenvolver produtos e sediar o seu fabrico em Portugal. Com projetos nas áreas dos oceanos, da mobilidade terrestre e aérea, e, agora, no domínio dos equipamentos médicos, os responsáveis do CEIIA argumentam que, em várias áreas, Portugal pode deixar de ser apenas consumidor e passar a ser também criador, produtor e exportador. Uma fórmula tentadora, num país em que o setor dos serviços é responsável por dois terços do PIB…
“ H oje Portugal sabe que, aconteça o que acontecer, há um organismo português que consegue fazer 15 ventiladores por dia”, frisa Miguel
Braga, Head of Aeronautics & Defense do CEII A, o Centro de Engenharia,
Desenvolvimento e Design de Produto, sediado em Matosinhos, que juntou engenheiros e médicos, e, em 45 dias, criou o primeiro ventilador pulmonar português, o Atena (fotos nas págs. 1 e 34/36). Uma capacidade reconfortante, como reconheceu o primeiro- -ministro, António Costa, quando esteve no CEII A, e percebeu que o made in Portugal tinha chegado aos ventiladores: "O país precisa de ter a certeza de que se tudo correr mal (no capítulo da pandemia), não vão faltar ventiladores". Esse “conforto”, em economia, chama-se autonomia, já que traduz a capacidade de não depender de terceiros. "Desta crise, nós temos de sair com uma lição muito bem aprendida. Nós temos de reforçar as capacidades nacionais de produção e temos engenharia para isso, temos indústria para isso, temos competências profissionais para isso e, portanto, podemos ser autónomos", afirmou António Costa, acrescentando que “não podemos estar num mercado desregulado e selvagem, a lutar quase ombro e fisicamente para comprar um ventilador aqui e outro acolá” e que
“coisas tão banais como máscaras não podem vir de países que estão a milhares de quilómetros de distância”.
Miguel Braga (na foto) considera que
“o conforto de termos em casa essa capacidade, sem depender de terceiros, sem depender de cadeias logísticas altamente congestionadas, é uma questão de soberania.” O ventilador tornou-se “um instrumento de soberania”.
Este diretor e responsável comercial do CEII A acredita que o Atena será um exemplo inspirador: “O mais importante para nós foi ter dado um contributo para que, se voltar a acontecer uma situação desesperante, semelhante à que aconteceu com esta pandemia, se olhe para a capacidade que existe em Portugal. Sejam rápidos a alimentar a capacidade que existe em Portugal, no CEII A ou onde for. Demorou-se muito mais a tomar a decisão de um financiamento reembolsável (atribuído ao CEII A pela Agência Nacional de Inovação para dinamizar este projeto) do que a comprar ventiladores fora e alguns ainda nem che
Miguel Braga: "o maior valor acrescentado que o CEIIA confere ao país é o facto de empregar hoje cerca de 90 engenheiros aeronáuticos portugueses... A retenção de talento faz-se, na prática, com projetos"
garam. Não se trata de incompetência nem de falta de seriedade das pessoas que lá estão. Tem a ver com o pânico com que todos ficámos, incluindo os decisores.” A boa notícia, diz Miguel Braga, é que “em pânico, há quem, em Portugal, seja capaz de ajudar a solucionar o problema, seja num ventilador ou noutra coisa. Confiem nas competências que existem em Portugal, antes de assumirmos que não chegamos lá.”
A lição que o CEII A dá ao pôr mãos à obra e criar um ventilador pulmonar invasivo, que, à data da nossa entrevista, aguardava a autorização do Infarmed para poder ser usado nos hospitais portugueses, é inspiradora a vários níveis (caixa da pág. seg.). No entanto, se percorrermos a história do CEII A, percebemos que o Atena não é um caso isolado, mas sim mais um exemplo da fórmula que faz mexer este organismo desde 1999, altura em que nasceu no Tecmaia - Parque de Ciência e Tecnologia da Maia (em 2015, mudou-se para as atuais instalações de Matosinhos).
Criar valor para o setor automóvel em Portugal
Helena Silva, CT O (diretora técnica) do CEII A, está no centro desde o primeiro dia e recorda o que esteve na origem do mesmo: “O CEII A nasceu com o objetivo de criarmos uma capacidade de engenharia que nos permite hoje desenvolver produtos a partir de Portugal. Sempre foi esse o desígnio: capacidade de conceção e industrialização a partir do nosso país. Começámos a trabalhar no setor automóvel, que sempre foi um setor importante para a economia e para a indústria portuguesa. No entanto, esse tecido industrial é composto por pequenas e médias empresas, na altura com pouca capacidade para investir nestas atividades mais a montante, de desenvolvimento, e criou-se um centro de engenharia para desenvolver essa capacidade. Éramos excelentes produtores para outros, mas não havia a cultura de conceber novos produtos e o que fizemos foi desenvolver essa capacidade, em parceria com entidades internacionais que o sabiam fazer bem. Assim, os vinte primeiros engenheiros da equipa do CEII A foram trabalhar para o grupo italiano de design automóvel Pininfarina (desenhou vários Ferrari, entre outros veículos de marcas diversas), durante dois anos, para aprender o que era desenhar, fazer protótipos e industrializar um carro.”
A Pininfarina foi o primeiro parceiro e foi determinante para o CEII A,
Como nasceu o ventilador Atena
O primeiro ventilador médico invasivo para dar suporte ao tratamento de doentes com falência respiratória aguda concebido em Portugal tem o nome da deusa grega da justiça e da estratégia e os seus autores, engenheiros e médicos, foram elevados à categoria de “super-heróis” por conseguir este feito em 45 dias. O Atena foi distinguido no concurso express do programa Caixaimpulse Covid-19, da Fundação La Caixa. O projeto foi um dos seis selecionados de entre 349 iniciativas de inovação biomédica para combater a pandemia, apresentadas a concurso em Portugal e em Espanha. A Fundação La Caixa destacou as competências envolvidas: engenharia, desenvolvimento e inovação de produto, know-how técnico, capacidade de adaptação e produção da indústria, e trabalho de equipa. “Quando começámos este projeto, sabíamos que era uma meta muito ambiciosa, mas também sabíamos que a nossa missão era enorme – a de salvar vidas, numa altura de emergência de saúde sem precedentes. Graças ao envolvimento dos mecenas e dos parceiros, conseguimos já produzir 100 ventiladores, com todas as características essenciais para responder a esta pandemia, num muito curto espaço de tempo. Este prémio vem reconhecer a nossa competência, entrega e paixão”, sublinhava José Rui Felizardo, CEO do CEIIA, em reação à distinção. Os também diretores Miguel Braga e Helena Silva falam com emoção do projeto, reconhecendo que a vontade de fazer parte da solução, numa altura em que se temia uma catástrofe nos hospitais portugueses face ao insuficiente número de ventiladores para doentes nos cuidados intensivos, foi o pontapé de saída, conta Helena Silva: “Reunimos com o José Rui Felizardo, o nosso grande inspirador e quem identifica as grandes linhas orientadoras da estratégia do CEIIA, e com outros quadros do centro para decidir como poderíamos ajudar. Face à urgência de resolver a falta de ventiladores nos hospitais portugueses, nós estudamos bem essa temática para ver como poderíamos participar. Neste projeto foi fundamental integrarmos competências de várias áreas de dentro de casa, mas também a nossa capacidade de mobilizar parceiros, mecenas científicos como a EDP, a Gulbenkian, a REN, a Fundação La Caixa, a FLAD, o grupo Violas, etc., sem os quais não tínhamos conseguido comprar os materiais para fazer o projeto. Não é só com excelentes engenheiros que se fazem excelentes projetos. Também determinante, foi termos 20 médicos a trabalhar connosco, completamente integrados na equipa. Isso foi o ouro. O Miguel Braga e o Tiago Rebelo fizeram esse trabalho de ligar a equipa de engenheiros à de médicos e estamos a falar de médicos dos melhores de norte a sul do país, que se prontificaram a trabalhar connosco. O ventilador é deles. Nas várias fases deste projeto, o que foi preciso fazer, nós fizemos, e quando digo nós, estou a falar também dos médicos.” A CTO fala da elevada motivação dos funcionários do CEIIA: “O que faz, na prática, as coisas acontecerem no terreno, é esta capacidade que temos internamente de querer fazer parte dos projetos e de querer mobilizar a nossa envolvente para os objetivos. O nosso lema é: prefiro ter 1% de uma coisa enorme do que 100% de zero. É isto que queremos defender sempre em Portugal.” Antes da pandemia por covid-19, havia no mundo seis ou sete fabricantes de ventiladores invasivos para unidades de cuidados intensivos (EUA, Europa, China). Agora há mais um e é português. Miguel Braga revela que foi a equipa do CEIIA mais ligada ao mar e ao espaço que adaptou as suas competências para criar o ventilador: “A notável capacidade de adaptação e a capacidade de abraçar novos desafios e a qualidade dos nossos engenheiros foi determinante, mas o grande segredo é que este projeto pôs engenheiros
ao serviço dos médicos e não médicos ao serviço dos engenheiros. Os nossos engenheiros sabem fazer equipamentos muito mais complexos do que o ventilador, mas nós não conhecíamos o utilizador da máquina porque nunca lidámos com ele, com os médicos e enfermeiros. Nós quisemos conceber, desenvolver, prototipar, testar e ter o ventilador ligado a um doente no hospital. Esse era o nosso desafio, o ventilador já foi profundamente testado e está a ser usado num hospital brasileiro. Aguardamos autorização do Infarmed para a sua utilização nos hospitais nacionais. Isto depois de muitas horas de trabalho em colaboração com o Infarmed. O nível de responsabilidade que o CEIIA assume com este equipamento é muito mais do que o regulamentar." A linha de montagem do CEIIA já produziu mais de 300 ventiladores e vão produzir mais: "Temos muitas encomendas. O objetivo é passá-lo para a indústria nacional, mas em 45 dias não poderíamos fazê-lo.” O projeto contou com um financiamento reembolsável de 2,6 milhões da Agência Nacional de Inovação e de 1,5 milhão de euros de mecenas científicos. “Houve muitas entidades que não responderam ao desafio porque é necessário pagar este empréstimo”. A este primeiro ventilador seguir-se-á o V2, uma versão melhorada, adianta Miguel Braga: “Vamos continuar a produzir ventiladores com parceiros como a Efacec, a Frezite, entre outros, que são nossos parceiros na industrialização. A incorporação de peças nacionais vai crescer na versão V2, muito mais sofisticada com um design super avançado, porque queremos aproveitar esta oportunidade para colocar o Atena no nível dos melhores ventiladores do mundo.” O Atena quer ser um ventilador com selo europeu, acrescenta Helena Silva: “Queremos que o produto seja um produto com marca CE, de Portugal para a Europa. Apresentámos um projeto europeu também com fornecedores de tecnologia avançada nesta área. Numa situação de crise não queremos depender de outro continente, por uma questão até de soberania. A soberania é muito importante para a Europa e muito importante para Portugal e é preciso criar condições para a ter. Nós não começamos a ser produtores de produtos altamente avançados da noite para o dia, temos que criar uma cultura e uma cadeia de proximidade.” Com o Atena, nasceu uma nova área de intervenção para o CEIIA, e nasceu também a comunidade 4 Life, que junta pessoas e entidades dos vários setores da sociedade, que disponibilizam o seu conhecimento e tecnologia para o desenvolvimento e industrialização de equipamentos que salvem vidas, tornando Portugal menos dependente da produção de terceiros. “O ventilador é um dos primeiros produtos. Entretanto, já há um capacete para proteger os cirurgiões e os dentistas que está em desenvolvimento e vamos ter outros, que os médicos achem por bem que façamos. Durante a pandemia, abrimos os nossos canais (Facebook e Linkedin) à comunidade 4 Life, criada para articular os mecenas, os parceiros, os médicos e os portugueses que quiseram contribuir para este projeto.” Foram mais de 100 mil os portugueses que contribuíram financeiramente para o projeto. “Achamos que devemos retornar esse valor aos
portugueses e assinámos um protocolo com o Banco Alimentar para doarmos parte das receitas dos ventiladores (mais do que o valor que os portugueses investiram no ventilador) a essa entidade”, informa Helena Silva, frisando que o valor social da nossa tecnologia é muito importante para o CEIIA: “Queremos que este projeto seja um exemplo, que não seja único e que não seja só do CEIIA. Ter uma oportunidade, ser modesto e honesto intelectualmente, procurando quem sabe e quem usa o que nos propomos a fazer, envolvendo as equipas, conseguindo concretizar em pouco tempo, não deixar de ser ambicioso e procurar produzir, partilhar com outros países que podem precisar mais do que nós e ter um modelo de financiamento completamente inovador. Queremos que isto seja um exemplo de como se devem abordar este tipo de projetos, que misturam ciência com tecnologia.” Miguel Braga acrescenta outra vitória do Atena: “A equipa do CEIIA já era unida, mas acho que o projeto do ventilador nos uniu de uma forma exponencial. A forma como vivemos e estamos a viver esta pressão, a emoção que colocámos em tudo isto, no CEIIA, é outra grande conquista, para além do ventilador propriamente dito, remata.
salienta a engenheira: “Muito do que somos hoje devemos a essa colaboração com a Pininfarina. A nossa componente de design e de estilo vem muito dessa experiência. A nossa equipa que produz os protótipos de classe A, do melhor que existe no mercado, é composta por pessoas que foram formadas lá. Os nossos engenheiros de estruturas também. Portanto, houve uma cultura que partiu dali, e hoje a relação que temos com outros grupos, como o Leonardo, que também é italiano, vem daí.”
Ao trabalho com a Pinifarina, somaram-se outros trabalhos com a McLaren, Volkswagen, com o grupo PSA, acrescenta Helena Silva (foto na pág. 37): “Hoje trabalhamos muito de perto com a PSA e com a Volkswagen, ao nível dos interiores dos veículos do futuro.” Também aí “o mote é reter valor em Portugal e puxar pela nossa indústria, para evoluir nas cadeias de valor.”
À medida que o CEII A foi aumentando o seu portefólio de projetos internacionais com os grandes construtores, foi também dilatando a parceria com a indústria nacional. Exemplo disso é a Simoldes, observa Helena Silva: “A Simoldes é portuguesa, é a maior empresa de moldes da Europa e é uma parceira de desenvolvimento do construtor e viu no CEII A o aliado ideal nesse processo de propor novas soluções para interiores para os modelos de futuro da PSA, da Volkswagen e da Renault. Era mesmo isso que queríamos, ser parceiros da nossa indústria e apoiá-la junto dos seus clientes.”
O desígnio da sustentabilidade
Além da dinamização da investigação e da indústria em Portugal, a sustentabilidade sempre norteou os projetos criados pelo CEII A ou em que o centro se tem envolvido, sublinha Helena Silva: “Uma questão que teve a ver com a nossa génese foi precisamente a da sustentabilidade. A ligação à Pininfarina não foi apenas para formar engenheiros para a indústria automóvel, mas também para perceber como é que Portugal se poderia posicionar nesta indústria. Interessou-nos desde logo a questão da mobilidade sustentável, com emissões zero. Nós, em 2004, já falávamos em mobilidade elétrica e em veículos citadinos para ocupar menos espaço nas cidades. Era esse o nosso mind set e evoluiu para a integração entre a mobilidade física, a mobilidade de informação e os suportes energéticos. Interessou sempre ao CEII A trabalhar para a sustentabilidade: a forma como as pessoas se movem de A para B, sem
emissões, contribuindo para a neutralidade carbónica.”
Exemplo disso é o trabalho desenvolvido com a Uber, conta a engenheira: “O primeiro piloto de sustentabilidade da Uber, o Uber Green, foi feito connosco. Desafiámos a Uber a fazer este projeto porque queríamos demonstrar que valorizando as emissões evitadas, se poderia criar valor para o operador e também para outros serviços de mobilidade da cidade. Ou seja, conseguimos sensibilizar os clientes da Uber para o facto de que ao optarem por um veículo elétrico estavam a poupar o ambiente e a ganhar dinheiro, que poderiam usar noutras viagens com a Uber.” Este projeto e este mind set da sustentabilidade foi apresentado na COP 21 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), em Lima e depois em Paris, o que fez com que o CEII A se tornasse numa referência de sustentabilidade para a ONU, até porque tinham também uma plataforma que integrava vários serviços de mobilidade na cidade, o Mobi Me, que entretanto foi vendido à Galp, uma vez que não chegaram a acordo para continuar no projeto, em parceria. “O nosso mind set com a Uber Green deu origem à plataforma AYR (Are You Ready), que tem por objetivo a quantificação, valorização e transação de emissões de CO2 evitadas”, recorda Helena Silva, indicando que têm projetos nesse sentido em Matosinhos e em Cascais. “O futuro da mobilidade assenta em conseguir criar valor localmente, valorizando as emissões
que evito. Achamos que os modelos de negócio devem ser pensados com esta premissa de sustentabilidade. Tudo o que se passa na cidade tem que ter em conta os objetivos da agenda da neutralidade carbónica”, acrescenta.
Portugal foi pioneiro em 2008, enquanto primeiro país no mundo com uma rede integrada de mobilidade elétrica de norte a sul do país, com “um sistema e com uma legislação completamente inovadora”, lembra a engenheira, lamentando a posterior travagem: “Fomos e somos um exemplo a nível europeu e a nível mundial. Houve uma estagnação neste domínio porque não houve investimento necessário por não ser considerado estratégico e a rede tornou-se obsoleta. O CEII A assegurou durante muito tempo a sua manutenção em termos de gestão da rede, mas a certa altura precisava de parceiros para investir. A procura por viaturas elétricas não cresceu tão rápido quanto se esperava e os vários atores neste contexto desinteressaram-se.”
Na génese da mobilidade elétrica em Portugal, o CEII A trabalha na integração da infraestrutura com o veículo do utilizador, como é caso do projeto com a UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos: “ Estamos a fazer um trabalho com os utilizadores finais. Seja qual for o modelo e a forma como ele vai evoluir, ele tem que estar sempre focado no utilizador final e tem que ter uma forte componente de sustentabilidade ou seja a fonte de energia que carrega o meu carro, se devo carrega-lo durante a noite ou durante o dia. Estamos a trabalhar nesse sentido e as entidades públicas também querem perceber como deve o Mobi-E (o projeto público de mobilidade elétrica em Portugal) evoluir, perante os veículos que existem e as necessidades dos utilizadores. Acho que vamos dar um importante passo nesse sentido, que considera as fontes de energia.”
O CEII A quis desde o início “produzir um carro português, criar uma marca portuguesa de carros”. Logo no início, surgiu o projeto Vinci, com esse propósito. No entanto, o projeto não foi além do protótipo, confirma Helena Silva: “Nós queríamos fazer coisas e vimos uma oportunidade interessante quando nos desafiaram a conceber um carro a partir de um retro concept (um Corvette da Chevrolet) e o que nós fizemos foi o que a Pininfarina faz com Ferraris. Acontece que a nossa falta
de experiência fez com que o projeto ficasse por ali. O nosso objetivo não é fazer protótipos, mas sim ‘produtizar’, ou seja conceber, desenvolver e depois chegar à fase de replicar na indústria.” A responsável técnica considera que foi uma oportunidade de aprendizagem: “Aprendemos que quando entramos num projeto ele tem que efetivamente fixar valor em Portugal coisa que o Vinci não fez. Foi um exercício interessante para aprendermos, mas não teve impacto nenhum e todos os projetos em que o CEII A se envolve têm que ter impacto, no sentido de fixar valor em Portugal ou criar competências que não existam. Percebemos que é também fundamental que os nossos parceiros se sintonizem com a forma como pensamos.”
O carro português que o CEIIA quer pôr a voar em Bruxelas
O centro não desistiu de criar um veículo de marca portuguesa, conta Helena Silva: “O nosso objetivo é criar um meio de mobilidade citadino, de marca portuguesa. Temos um consórcio a trabalhar nisso. Chama-se programa BE.”
Na senda desse objetivo, o CEII A, redesenhou em 2009 o Buddy, o carro elétrico de origem norueguesa (Buddy Eletric), que é o mais pequeno veículo automóvel do mundo. A versão do CEII A, com o símbolo português da Ordem de Cristo nas jantes, foi conduzida por Matt Damon no filme “Downsizing” ("Pequena Grande Vida"), de 2017.
Cem por cento elétrico e vocacionado para a mobilidade urbana será também a viatura resultante do Programa BE, assinala Helena Silva: “Estamos a desenvolver um road map, para que Portugal venha a produzir, a partir da indústria nacional, um veículo muito avançado, que terá a possibilidade de se deslocar na horizontal e na vertical. Será opcionalmente dirigido, 100% elétrico e integrado com plataformas de gestão, para que seja possível pagar o carregamento das baterias, através da fatura de eletricidade. Esperamos ter alguma coisa para mostrar em Bruxelas, nomeadamente a capacidade de voar deste veículo, para o ano, quando Portugal for presidente do Conselho da União Europeia (primeiro semestre de 2021).
Engenharia aeronáutica e aeroespacial made in Portugal e by Portugal
Aos projetos na área automóvel, rapidamente se juntaram os de aeronáutica,
80% do volume de negócios destina-se a desenvolvimento de produto
O volume de negócios do CEIIA anda “em torno dos vinte milhões de euros”, indica Helena Silva, acrescentando que este ano, dadas as circunstâncias, não fazem ideia de quanto é que vai ser. Certo é que o centro continuará a investir o grosso do volume de negócios em I&D, diz: “80% do nosso volume de negócios é muito focado em desenvolvimento de produto. Somos um dos maiores investidores de investigação e desenvolvimento em Portugal, segundo o Inquérito para o Potencial Científico e tecnológico nacional do Ministério da Ciência e da Tecnologia.” O objetivo do CEIIA é evoluir para o seguinte modelo de financiamento: um terço é público (atribuído por concurso); um terço oriundo de receitas dos serviços de engenharia e um terço decorrente da valorização da atividade: spin-offs, venda de ativos (exemplo: venda do Mobi Me). Helena Silva, explica que, em Portugal, o Estado criou as figuras dos centros de interface, mais ligados à economia, e dos laboratórios colaborativos, mais ligados à ciência e à tecnologia: “O CEIIA tem um pezinho em cada um deles pela abrangência que temos da cadeia de valor toda. Somos vistos como laboratório colaborativo, a montante, muito ligados às universidades e investigação aplicada, e a jusante, como ligação ao mercado. Fazemos a ponte entre as universidades e as empresas. Por exemplo quando falamos em desenvolver um novo avião em parceria com a brasileira Desaer, estamos a desenvolver produto, vai haver muita investigação aplicada, mas também estamos a servir de alavanca para a nossa indústria.” O CEIIA colabora com todas as universidades do país e algumas do estrangeiro, como o MIT, por exemplo.
tirando partido da afinidade entre os dois setores, observa Helena Silva: “As matrizes industriais entre o setor automóvel e do setor da aeronáutica cruzam- -se muito e as características da nossa indústria são importantes para a indústria aeronáutica. O facto do tecido industrial ser feito sobretudo de PME dá-lhes flexibilidade para poderem trabalhar para vários setores. Nós criámos uma base de engenheiros aeronáuticos que possibilitou, por exemplo, que Portugal participasse no desenvolvimento do maior avião da Embraer, o KC-390 [foto na pág. seg.], e que a partir daí conseguíssemos atrair para Portugal a produção de três importantes módulos e isso foi histórico. Se nós não tivéssemos estado envolvidos na negociação com a Embraer em 2008 e em 2009, hoje não estaríamos a produzir dois terços da estrutura do KC-390. O grosso está a ser produzido na OGMAIndústria Aeronáutica de Portugal, e em Évora estão a produzir outros componentes também para a Embraer. O CEII A certificou, pela primeira vez em Portugal, aeroestruturas segundo as normas internacionais de aeronáutica. Concebemos, desenvolvemos, estamos a produzir e vamos estar ligados ao ciclo de vida do avião, ou seja, tudo o que seja customizações para novas missões. De cada vez que haja uma venda deste avião, que tenha a ver com estes módulos, Portugal vai estar lá.”
Reter o talento nacional
Miguel Braga reforça a importância de reter o talento nacional: “Portugal forma engenheiros de referência internacional, ao nível dos melhores do mundo. Isso já acontecia antes do CEII A, mas não tínhamos grandes projetos para fixar esses talentos em Portugal. Isso começou a acontecer, por exemplo na aeronáutica. O CEII A é um dos maiores empregadores de engenheiros de aeronáutica (Universidade da Beira Interior) e aeroespacial (Instituto Superior Técnico de Lisboa) em Portugal. O maior valor acrescentado que o CEII A confere ao país é o facto de empregar hoje cerca de 90 engenheiros aeronáuticos portugueses, que de outra maneira estariam a trabalhar fora de Portugal. Se não fosse o CEII A, não havia capacidade de absorver estes recursos. A retenção de talento faz-se, na prática, com projetos. Hoje é mais importante ter projetos que aliciem os profissionais, do que propriamente a questão remuneratória. Esse foi o grande segredo do CEII A”.
Miguel Braga é formado em Direito e em Gestão e juntou-se à equipa do CEII A há um ano e meio, depois de trabalhar no estrangeiro. Por isso, diz sentir-se à vontade para elogiar o passado do centro, já que não teve responsabilidade nele. “É notável a forma como o CEII A foi capaz de atrair projetos da Leonardo (helicópteros) e da Embraer (aviões), que mais do que clientes do CEII A são parceiros, que nos dão um feedback muito positivo do nosso trabalho.” Sendo responsável pela dinamização comercial dos projetos do CEII A, Miguel Braga acentua que “o maior valor que o CEII A tem para abordar o mercado, para ganhar parceiros e clientes, não é a habilidade comercial, mas sim a qualidade dos seus engenheiros”. O centro trabalha em estreita articulação com os nossos parceiros e clientes e não falhou mesmo em tempo de quarentena, nota o gestor: “Nestes meses, em que trabalhámos em circunstâncias especiais, em teletrabalho, em muitos casos, o nível de entrega não desceu. Pelo contrário. Fomos exímios e altamente elogiados. Inclusivamente, durante a pandemia, crescemos com os dois clientes de helicópteros que temos. Esses clientes perceberam que era connosco que queriam trabalhar, porque nós entregamos.”
Seja no automóvel, seja na aeronáutica, ou noutra área, o posicionamento do CEII A passa sempre por “apoiar a indústria nacional junto dos seus clientes e também atrair projetos dos grandes construtores para a indústria nacional”, insiste Helena Silva. O objetivo “é sempre ir de A a Z em Portugal, desenvolver produtos e trabalhar com a nossa indústria como
sucede com a Caetano Aeronautics, a OGMA, a Embraer (fábrica de Évora) e trazer produção para o nosso país. “
O CEII A quer replicar este processo noutros contextos e em todas as áreas em que investe. “Isto de criar uma cultura de produto e uma cultura de engenharia de referência internacional demora tempo”, observa a engenheira, indicando que “o CEII A não está em todas, está onde existem oportunidades para a indústria evoluir e para fixarmos valor em Portugal, quer desenvolvendo novos produtos, quer atraindo grandes programas aeronáuticos e automóveis para a indústria portuguesa”.
A oportunidade dos oceanos
A aeronáutica cruza com a área automóvel, da mesma forma que a aeroespacial cruza com a área dos oceanos, outra aposta forte do CEII A, indica a responsável técnica: “O CEII A também viu aí uma oportunidade, no domínio da ciência e da tecnologia, colocando os engenheiros aeronáuticos e aeroespaciais a trabalhar para o primeiro satélite português, o Infante. O CEII A tem o papel de mobilizar as universidades e a indústria para concretizar este projeto, que está na fase de desenvolvimento.” Dinamizado por um consórcio liderado pela empresa aeroespacial portuguesa Tekever, o Infante irá recolher dados marítimos e da superfície terrestre. “Esperamos que em 2021 estejamos em condições de lançar o primeiro satélite a partir dos Açores, que alojará o hub do espaço”, estima Helena Silva.
A área dos oceanos cruza-se com a área do espaço porque o espaço também tem novas oportunidades, aponta a engenheira: “O chamado novo espaço gera oportunidades para empresas que não trabalhavam essa área, antes reservada apenas às grandes agências espaciais.” Foi o que aconteceu com a Tesla (fabricante de carros elétricos), que colocou um veículo em órbita. O espaço abriu-se ao mercado e os investidores como Elon Musk (CEO da Tesla) entraram neste segmento porque sabem que podem ganhar dinheiro com ele, conclui Helena Silva: “Podem ganhar dinheiro, porque os satélites cada vez vão ser mais pequeninos, e a tecnologia vai ter tempos de desenvolvimento mais curtos. Cada euro investido vai ter que gerar retorno rápido.”
A área dos oceanos assenta numa colaboração do CEII A com a Universidade do Algarve e com a Universidade dos Açores. Nos Açores, estão a desenvolver “um projeto super interessante, com a BBC, para o programa 'Animals with Camaras', que faz a monitorização de animais marinhos de grande porte (jamantas e tubarões)” (foto na pág. 36). O CEII A desenvolve esse dispositivo que alberga a câmara (que é de outro fornecedor) e os sensores com a Universidade dos Açores. Este produto é enviado para vários outros organismos, parceiros da universidade.
Ainda no domínio dos oceanos é incontornável a oportunidade que Portugal tem face à extensão da plataforma continental que, a concretizar-se, fará com que 98% do território português fique debaixo de água, realça Helena Silva: “Isso não é uma notícia má, é uma notícia boa já que implica uma grande área de mar para monitorizar.” Miguel Braga comenta que “o que está a travar o processo e a atrasar a aprovação são as negociações em termos internacionais, que se prendem com a demonstração da capacidade que Portugal tem de monitorizar toda essa área e vigiar o território”. Essa é a oportunidade que o CEII A e outras organizações querem potenciar, diz: “Estamos a trabalhar em tecnologia capaz de monitorizar esse espaço. A grande questão é se o aumento de custos relacionados com a vigilância e segurança da nova área se justifica face ao que seremos capazes de retirar desse espaço e do crescente conhecimento desse espaço. É muito importante que Portugal seja capaz de desenvolver capacidades para explorar ao máximo o território que advém da extensão da plataforma.”
Miguel Braga lembra que o CEII A já executa o maior contrato que a EMSA (Agência Europeia de Segurança Marítima), sediada em Lisboa, tem em vigor no que se refere à vigilância através de sistemas de veículos autónomos (drones): “É no CEII A que estão os pilotos e o pessoal especializado que controlam estes sistemas e queremos fazer esta capacidade instalada crescer, justamente porque há uma nova oportunidade de mercado com o alargamento da plataforma. Não tem que ser uma empresa estrangeira a fazê-lo. Nós podemos fazê-lo.”
Na mesma linha, Helena Silva argumenta que “esta crise veio demonstrar que nós estamos ao nível dos melhores do mundo e muitas vezes de forma mais apaixonante e mais rápida e isto é uma lição aprendida”, acrescentando que o seu grande objetivo profissional “é mudar o mind set nacional, a cultura de que se vem do estrangeiro é bom e Portugal não presta”. A engenheira observa que “há entidades que continuam a pensar como pensavam há três meses e nestes três meses o mundo mudou em vários sentidos”. A mudança representa para Portugal uma oportunidade, advoga: “Acreditamos muito que apesar disto ser uma profunda crise de saúde pública e uma profunda crise económica, cuja dimensão desconhecemos, Portugal tem uma oportunidade única de mudar. Tocaremos nessa tecla até à exaustão. O que nos difere dos outros é que nós acreditamos que conseguimos chegar à solução e queremos que outros façam parte da solução.”