14 minute read
Espaço de Lazer
“Portugalidade, sazonalidade e proximidade”, as propostas de Hugo Rocha no Real by Casa da Calçada
Abriu há um ano, com a chancela do grupo Casa da Calçada e a liderança de Hugo Rocha na cozinha. O restaurante Real, na Baixa portuense, promete respeito pelos produtos e pela tradição, sem descurar a inovação, a elegância e a simplicidade, as “obsessões” confessas do chefe.
Texto Susana Marques smarques@ccile.org Fotos DR “A paixona-me estar constantemente a criar soluções para cenários diferentes, em ritmo elevado. Apaixoname ter que alterar constantemente a minha oferta de maneira a acompanhar os ciclos da Natureza.
Adoro saber que o dia seguinte vai ser sempre muito diferente do anterior. É uma profissão muito exigente em termos físicos e mentais, passo muitos dias sem ver os meus filhos, mas eu não a trocava por nada neste mundo”, conta
Hugo Rocha, o chefe responsável pela cozinha do Real by casa da calçada e do Bistrô que integra o mesmo projeto, depois de admitir que “não sabia estrelar um ovo”, quando entrou na Escola de
Hotelaria e turismo de Santa Maria da
Feira, e que só a meio do curso percebeu
“que era muito feliz a cozinhar e poderia fazer disso profissão”. O chefe, que nasceu a poucos metros do Real, chega à liderança da cozinha deste projeto no ano em que venceu a primeira etapa regional (Norte) da 32.ª edição da competição chefe cozinheiro do Ano 2021. do curriculo de Hugo Rocha fazem parte espaços como a casa da calçada (Amarante), o Vinum (Gaia), o Vilalara thalassa Resort (lagoa), o the lake Resort&SPA (Vilamoura), o commis chef (Barcelona) e estágios em restaurantes distinguidos com estrelas Michelin, tendo trabalhado com vários chefes que o marcaram: “As pessoas das quais me lembro todos os dias no trabalho são os chefes delfim Soares, tiago Bonito e Vítor Matos. O chefe delfim era meu formador na escola de hotelaria e fez-me perceber o valor da disciplina na profissão. O chefe tiago Bonito ensinou-me tudo o que eu precisava aprender para manejar um fogão; estou para conhecer um cozinheiro mais completo. O chefe Vítor Matos ajudou-me a atingir o meu ponto de maturidade como cozinheiro, e ensinou-me muito sobre como lutar por aquilo em que acredito, sem reservas. Mas os momentos que mais me ensinaram, tanto profissionalmente como em todos os outros âmbitos da minha vida, foram os nascimentos dos meus dois filhos, Pedro e Sofia.”
Aceitou o desafio de chefiar a cozinha do Real numa altura em que “procurava um projeto onde tivesse responsabilidade total sobre a oferta de comida”. Hugo Rocha já tinha trabalhado no grupo e diz que “a partilha de alguns valores e ideologia fez com que a escolha fosse natural”.
O Real abriu em agosto do ano passado, num espaço antes ocupado pelo Garça Real. Manuel Maia, diretor do grupo casa da calçada, diz que “a localização (centro do Porto), o facto de ser um espaço com história na cidade e a sua dimensão, possibilitando a existência de diferentes negócios ao mesmo
tempo” conjugaram-se para criar o projeto, que junta um restaurante, sala de eventos, café bistrô e cocktail bar.
O espaço tem a assinatura do arquiteto Paulo lobo: “do antigo espaço só resta uma parte do nome. A garça voou e abrimos o Real. O Paulo lobo teve sempre bastante liberdade nas suas escolhas. Foilhe pedido um espaço com classe, requinte, para um público mais jovem, que fosse uma referência na cidade e que, acima de tudo, fosse funcional.”
Manuel Maia diz que apesar de “vários sobressaltos, confinamentos e dificulda-
des de recrutamento” acreditam ter “um produto de enorme qualidade”, baseado nos conceitos de “portugalidade, sazonalidade e proximidade”, que querem “ dar a conhecer aos portuenses e turistas”. A proposta de Hugo Rocha é alicerçada na cozinha portuguesa contemporânea, com muito foco no produto: “Gosto de pratos equilibrados, conjugações de sabores simples e pontos de cozedura acertados. Sou obcecado pela simplicidade e pela elegância. Queremos manter esta matriz, explorando alguns sabores de outras latitudes. Reflete-se nas receitas que servem de base às nossas propostas, onde se percebe que damos preferência aos clássicos da gastronomia portuguesa, apesar de não os interpretarmos à letra. Nota-se na escolha que fazemos nos produtos a utilizar, onde os legumes são quase todos de produção biológica de proximidade. Sendo verão, o tomate coração de boi e o morango, por exemplo. Esta adaptação constante permite-nos trabalhar os legumes, peixes e outros produtos nas melhores épocas de consumo. O que nos leva a ter melhor produto final. A proximidade está vincada tanto na curta distância física que nos separa de alguns produtores, como na escolha de algumas receitas. Valorizamos muito os hábitos de consumo dos portuenses, recriando muitos pratos míticos da cidade. O facto de eu ter nascido a 100 metros do local onde estamos influencia muito nesse sentido.” Em todo o processo, é da investigação e desenvolvimento gastronómico que o chefe retira mais prazer”, salientando algumas das atuais propostas da carta: “A escolha é difícil, mas destacaria os carapaus alimados, que servimos marinados em molho Ponzu, dando um twist a
uma receita portuguesa; A vieira que servimos com caviar e com uma emulsão elaborada com o nosso Espumante casa da calçada; O pregado, que é o meu peixe preferido, servimos com cogumelos Morilles e espargos brancos, provavelmente os meus dois produtos preferidos de primavera; A presa de porco ibérico, guarnecida com gamba violeta algarvia e arroz da variedade bomba cozinhado no forno; Os morangos Mara des Bois, que refletem a nossa predileção por produto de temporada, e são servidos com chantilly, chocolate branco e hibisco.”
Há também um menu composto por cinco momentos (ao jantar), com uma entrada fria - sapateira, salada russa e maracujá da Madeira -, e uma entrada quente - lula de anzol, manteiga de cabra e alcaparras. A pescada de anzol, arroz carolino e lingueirão e o novilho nacional, raízes e espargos verdes são os pratos principais. A tarte de chocolate, flor de sal e gelado de baunilha remata a refeição.
Hugo Rocha também assina a carta do Bistrô: “É um espaço com características diferentes, com refeições mais simples, pensadas para serem servidas rapidamente. temos, naturalmente, o mesmo cuidado na seleção do produto e desenvolvimento da oferta. Além do prego, hambúrguer ou bolinhos de bacalhau, destaco a doçaria conventual amarantina que oferecemos no Real em parceria com a confeitaria da Ponte, parceiro de longa data da casa da calçada.”
Outro ingrediente essencial é o tato para gerir a equipa: “Vivemos uma renovação no cenário gastronómico da cidade, assim como uma mudança de mentalidade no que toca ao estilo de vida que as pessoas pretendem devido à pandemia. isso leva-me a ter uma abor-
dagem diferente e específica para cada elemento da equipa e para cada serviço”.
O Real pertence a um grupo com destaque Michelin, mas não trabalham com essa pressão, afirma o chefe: “Não é nosso objetivo de momento e temos isso bem definido, o que nos permite criar e desenvolver ideias com outro à vontade, além de abrir a possibilidade à utilização de alguns produtos diferentes. trabalhamos para proporcionar bons momentos e fazer sorrir os nossos clientes, de uma maneira honesta, descomplexada, aparentemente simples, mas com muito trabalho técnico por trás.”
O espaço integra também um cocktail Bar especializado em rum, realça Manuel Maia: “Quisemos seguir um caminho diferente. Sozinho, ou como parte de um cocktail, o rum é uma bebida fantástica para começar ou terminar uma refeição.”
Manuel Maia descarta para já a possibilidade de abrir um novo espaço, indicando que “de momento a prioridade passa pela renovação da casa da calçada, que encerrará para obras em 2023”.
Real By Casa da Calçada
Rua do Bonjardim, 185, Porto Telefone: 912551909
eSpAço de lAzer espacio de ocio Agenda cultural
Livro
“Os Cinco Homens que Mudaram Portugal para Sempre, Biografias Cruzadas, do Berço à Democracia”
Mário Soares, Sá Carneiro, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral e Ramalho Eanes são os políticos responsáveis pela mudança mais importante da história moderna do país: a transição para a democracia. É sobre eles e sobre as suas atividades políticas que escreve a jornalista e investigadora Isabel Nery no livro “Os Cinco Homens que Mudaram Portugal para Sempre, Biografias Cruzadas, do Berço à Democracia”, que acaba de ser lançado pela Dom Quixote. A obra conta como foram as suas vidas, os seus sucessos e insucessos, o que mais os marcou e o que os fez lutar –, e como todos eles se cruzaram nesse período extraordinário saído de 40 anos de ditadura. “Se Mário Soares regressa a Portugal três dias depois do 25 de Abril, Álvaro Cunhal chegará logo a seguir. Ambos tinham uma multidão à espera, mas cada um deu um rumo diferente à revolução. Enquanto os dois exilados testavam um lugar na vida portuguesa, Francisco Sá Carneiro era chamado do Porto a Lisboa para se reunir com Spínola, o presidente da Junta de Salvação Nacional. Por esses primeiros dias de liberdade, havia ainda espaço para a democracia cristã liderada por Diogo Freitas do Amaral. E embora António Ramalho Eanes estivesse em África no dia da revolução, o general ficaria para sempre associado ao 25 de Novembro de 1975, quando a instabilidade do Verão Quente amaina e tudo, ou quase tudo, se clarifica... Soares, Sá Carneiro, Cunhal, Freitas do Amaral e Ramalho Eanes: sem estes cinco homens, é difícil imaginar Portugal. A autora escreveu também a biografia “Sophia de Mello Breyner Andresen”, “Chorei de Véspera – Ensaio sobre a Morte por Amor à Vida”, “As Prisioneiras – Mães Atrás das Grades” e “Política e Jornais – Encontros Mediáticos”.
Exposições “Devemos agir” é o mote da Bienal de Cerveira
Aos 44 anos, “a bienal de arte mais antiga da Península Ibérica quer agir e colocar os artistas a pensar o mundo e as suas emergências globais”. Por isso o tema desta XXII Bienal Internacional de Arte de Cerveira é o “WE MUST TAKE ACTION / DEVEMOS AGIR”. Esta edição, inaugurada no passado dia 16 de julho, apresenta até ao final do ano o total de 270 obras, de cerca de 318 artistas de 29 países. Entre esses artistas estão os premiados no concurso internacional: André Silva, Costanza Givone e Sofia Arriscado, Gabriel Borem, Lemos + Lehmann, Lia Cunha, Marcio Pimenta, Romano Saraiva, Svenja Tiger e Tomé Capa. Com direção artística de Helena Mendes Pereira, o evento irá genericamente adotar o modelo de 1978, expondo o trabalho de vários artistas convidados, terá conferências internacionais, residências e intervenções artísticas, atividades em todo o concelho de Vila Nova de Cerveira, polos de exposição no Minho e na Galiza (Espanha), projetos curatoriais, oficinas e visitas orientadas e arte em espaço público. O Japão é o país convidado, protagonizando a mostra “Plenitude e Vazio” na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Cerveira. Nesta edição homenageia-se a falecida pintora Helena Almeida, através do projeto “Ego-Ergonomia”, no Fórum Cultural de Cerveira. A XXII Bienal Internacional de Arte de Cerveira integra a candidatura “Fundação Bienal de Arte de Cerveira: a Arte Contemporânea integrada na sociedade e no mundo” (2020 – 2021 – Apoio Sustentado – Artes Visuais), que conta com o apoio da República Portuguesa – Cultura / Direção-Geral das Artes.
Até 31 de dezembro, em Vila Nova de Cerveira
Espetáculo de luz volta a fazer brilhar Parque de Serralves à noite
A primeira edição do Serralves em Luz, referida no jornal britânico The Times como uma das 10 melhores exposições a visitar em toda a Europa, conhece este verão uma segunda edição. O espetáculo, visitável desde o dia 22 de junho, conta com direção artística de Nuno Maya e exibe os desenhos de luz do Coletivo OLAB, Sophie Guyot, Tamar Frank e Tilen Sepič. “Ao longo de um percurso de três quilómetros, vinte e cinco instalações de luz, com recurso a múltiplas fontes, tecnologias de baixo consumo e até elementos vegetais recuperados no próprio Parque, proporcionam uma experiência sensorial mágica, num ambiente imersivo que dá a conhecer novas perspetivas deste notável espaço e convida à descoberta do seu património natural e arquitetónico. Os desenhos de luz de Nuno Maya, criados especificamente para esta exposição, conjugam várias formas de luz com diversos locais do Parque, despertando no espectador diferentes emoções e sensações visuais, enquanto as intervenções internacionais se focam em peças escultóricas luminosas e interativas que permitem, pela primeira vez, um papel ativo do público que pode assim transformar, através da luz, as paisagens naturais dos espaços. Além da intervenção na natureza, há ainda uma projeção video mapping na fachada da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, resultante de um ateliê desenhado
pelo diretor criativo da exposição e executado com a colaboração do Serviço Educativo Ambiente de Serralves. Os desenhos são assinados por alunos do 2.º ano da Escola Básica da Pasteleira do Porto. Em paralelo a esta grande exposição noturna e ao ar livre, decorrerá um programa de visitas orientadas e de workshops de fotografia, que complementa e realça a vivência das diferentes dimensões em presença: luz, natureza, arte e arquitetura.
Até 31 de outubro, no Parque de Serralves, no Porto
Projeto “Primeira Pedra” destaca pedras portuguesas no Museu dos Coches
Os artistas Ai Weiwei, Álvaro Siza, Amanda Levete, Bijoy Jain, Carla Juaçaba, Carsten Höller, Claudia Moreira Salles, Eduardo Souto de Moura; Elemental, Estudio Campana, Fernanda Fragateiro, Fernando Brízio, Frith Kerr, Ian Anderson, Jasper Morrison, João Luís Carrilho da Graça, Jonathan Barnbrook, Jonathan Olivares, Jorge Silva, Julião Sarmento, Manuel Aires Mateus, Marina Abramovi, Mia Hägg, Michael Anastassiades, Michel Rojkind, Miguel Vieira Baptista, Paulo David, Pedro Falcão, Peter Saville, Philippe Starck, R2, Ronan & Erwan Bouroullec, Sagmeister & Walsh, Studio MK27, Vhils, Vladimir Djurovic assinam as obras que integram a exposição Primeira Pedra 2016 I 2022. O projeto conta com a curadoria de Guta Moura Guedes e reúne 74 obras originais feitas em pedra portuguesa e desenhadas por 36 autores de 15 países. As obras foram executadas com a ajuda da indústria e de artesãos nacionais. “Os trabalhos expostos são o resultado de uma dinâmica apaixonante entre criadores e entre as múltiplas pessoas e empresas que os produziram. Em cada um deles uma perspectiva diferente de olhar para um material milenar, a pedra. Um desafio dirigido às artes plásticas, à arquitetura e ao design e ao seu poder transformador”, lê-se na apresentação da mostra. Os artistas foram convidados a explorar “caminhos menos usuais às suas práticas”e “os designers gráficos, afastados há muito da pedra enquanto material de comunicação, abrem aqui um novo capítulo num momento em que o mundo se digitaliza e desmaterializa”. Esta série única de obras foi mostrada, de forma parcial, em Londres, Milão, Nova Iorque, São Paulo, Veneza, Weil am Rhein, Basel e Dubai em alguns dos mais importantes museus, instituições e eventos, e chega agora ao Museu dos Coches, em Lisboa, onde é pela primeira vez exibida na sua totalidade: “Revela-se num dos mais importantes museus portugueses e junto da que é a maior colecção de coches do mundo. Interage com o complexo museológico quer na grande praça, quer nos espaços interiores, permitindo uma multiplicidade de diálogos entre passado, presente e futuro.”
Até 25 de setembro, no Museu dos Coches, em Lisboa
textos Susana Marques smarques@ccile.org Fotos DR
“Empenhada em reforçar a sua missão junto da comunidade artística, a Caixa Geral de Depósitos volta a adquirir obras de arte para a sua Coleção e lança a 1.ª edição do Concurso Caixa para Jovens Artistas”, anuncia a instituição em comunicado. As candidaturas estão abertas até 12 de setembro deste ano e os resultados serão divulgados a partir de 25 de outubro também deste ano. Na primeira edição deste novo concurso, serão adquiridas obras de seis artistas, entre os 25 e os 35 anos, num valor global de 48.000 euros, que passarão a integrar a Coleção da CGD, gerida pela Culturgest. Esta coleção “espelha uma contemporaneidade abrangente e inclusiva e este concurso de aquisição inaugura um novo capítulo na história da Coleção, abrindo portas às gerações mais novas com o objetivo de promover a sua consolidação e qualificação”, descreve o comunicado da CGD. A Fundação Culturgest é, desde 2006, responsável pelo estudo, gestão, divulgação e conservação das cerca de 1800 obras de arte da Coleção da CGD, incluindo pintura, escultura, desenho, fotografia, vídeo, instalação e gravura. Como gestora designada da Coleção da CGD, a Culturgest é também responsável pela elaboração da política de aquisições e pela sua execução criteriosa. Uma primeira pré-seleção de candidaturas será realizada por Bruno Marchand (programador de artes visuais da Culturgest) e a decisão relativa aos vencedores é tomada pela comissão de aquisições: - Emílio Rui Vilar, Presidente da Comissão de Aquisições da CGD; Maria da Graça Carmona e Costa, Presidente da Fundação Carmona e Costa; Isabel Carlos, Curadora Independente e Crítica de Arte; Raquel Henriques da Silva, Historiadora de Arte e Coordenadora do Instituto de História de Arte (FCSH-UNL) e Delfim Sardo, Administrador do Centro Cultural de Belém.