ESPECIAL MULHERES
Mulheres no saneamento Engenheiras, biólogas, gestoras, coordenadoras, assessoras, professoras, mestres e doutoras, entre outras. As conquistas das mulheres que atuam no setor de saneamento são evidentes no mercado de trabalho. Nesta edição, a revista Saneas homenageia todas as profissionais que ajudam a desenvolver o setor. Leia a seguir depoimentos de algumas delas:
Por Jéssica Marques
Monica Ferreira do Amaral Porto
Viviana Borges Gerente da Divisão de Planejamento, Gestão e Desenvolvimento Operacional da Produção - MAGG - UN de Produção de Água - MA da Sabesp e presidente da AESabesp
Assessora da Presidência na Sabesp
m março comemoramos o dia internacional da mulher. Embora o tema seja complexo, é um momento de reflexão sobre o papel da mulher na atualidade e uma boa oportunidade para pensarmos sobre a sociedade a que pertencemos.
tuo no setor desde 1978. O tema Água sempre despertou o meu interesse desde a época de estudante O mundo vem mudando cada vez mais rápido. Ao fazermos uma retrospectiva sobre na Escola Politécnica da USP. Fiz Mestrado na área de alguns fatos históricos do papel da mulher na sociedade, percebemos um grande avanço. Hidrologia, que me levou a iniciar a vida profissional Por outro lado, vimos as estatísticas levantarem a desigualdade de gênero e crescer a taxa de como estagiária nessa área. Durante o programa de feminicídio recente no nosso país, e refletimos sobre as transformações sociais as quais vivenDoutorado, me interessei pela área de Qualidade ciamos. Será que estamos tão envolvidos numa condição desigual que não a percebemos? Será da Água. que perdemos a sensibilidade sobre a desigualdade de gênero? Ou será que estamos isolados convivendo apenas com pessoas que não pensam sobre o tema? Será que a sociedade avançou A partir de então toda minha atuação profissional, rapidamente na igualdade de gêneros no século passado e agora, no século 21, caminha a passos seja na área acadêmica ou fora dela, sempre foi lentos? Será que corremos o risco de, no futuro, perder os avanços obtidos nas últimas décadas? nos temas de Gestão de Recursos Hídricos e GesComo o setor de saneamento pode ajudar a sociedade numa convivência mais coerente entre tão da Qualidade da Água, em particular na área homens, mulheres e a natureza, respeitando suas individualidades, para buscarmos um mundo de Qualidade da Água em corpos d’água, e pela melhor para todos? interface do tema, acabei tendo um relacionamento direto com o setor de saneamento. Vivemos uma modernização tecnológica que tende a favorecer uma posição de igualdade de gêneros. Assistimos no final do século 20 e início do século 21 a mulher se firmando no mercado de trabalho, notadamente evoluindo numa crescente escolarização e acesso à informação. A AESabesp tem na inovação e na modernização tecnológica uma força na busca pela universalização do saneamento. Talvez por isso o ambiente da AESabesp favoreça a participação das mulheres. No setor de saneamento podemos dizer que a AESabesp está na vanguarda no que diz respeito às mulheres, com a eleição de três mulheres presidentes da entidade e de diversas diretoras, conselheiras, coordenadoras e especialistas em diferentes fóruns, comissões e grupo de trabalho, com voz, ao longo dos seus 33 anos de existência. A AESabesp em sua missão traz o desenvolvimento sustentável do saneamento. Quando se fala em sustentabilidade está se considerando o equilíbrio entre o econômico, o social e o ambiental. A ONU, em 2015, apresentou uma oportunidade de reunir os países e a população global para decidir sobre novos caminhos de forma a melhorar a vida das pessoas em todos os lugares. As discussões e ações tomadas pelos países resultaram no estabelecimento de 17 objetivos para transformar o mundo, os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS, numa ambiciosa agenda para 2030. As discussões se baseavam na mesma sustentabilidade que a AESabesp trabalha: com foco nas dimensões econômica, social e ambiental. Enquanto o ODS 6 trata de água potável e saneamento, o ODS 5 preconiza alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas, com leituras, indicadores e metas regionalizados para o Brasil. A AESabesp se aproxima dos ODS para um mundo justo, equitativo, tolerante, aberto e socialmente inclusivo em que sejam atendidas as necessidades das pessoas mais vulneráveis. E, embora o caminho para todas estas discussões seja longo e, por vezes, pareça que divagamos, em outros momentos as ações e fatos parecem convergir para um mesmo objetivo: um mundo melhor para todos.
Sempre trabalhei em ambientes com poucas mulheres. Entretanto, nunca me preocupei com isso. União, respeito, amizade, bom humor, devem fazer parte do nosso dia a dia com todos os colegas de trabalho, independentemente de gênero.
Desta forma, tive diversos marcos na minha carreira como, por exemplo, a pós-graduação, a decisão pela carreira acadêmica, e a participação intensa em redes profissionais, como no período em que fui presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, e finalmente aceitar o desafio de ir para o governo durante a crise hídrica. Todos esses passos dependeram de dedicação plena ao trabalho. Também destacaria o concurso para Professor Titular e o recebimento do prêmio Engenheiro do Ano em 2016, outorgado pelo Instituto de Engenharia de São Paulo. Acima de tudo, penso que a realização mais importante foi a oportunidade de contribuir, de perto, para a gestão da crise hídrica em São Paulo, graças ao convite do Dr. Benedito Braga para, com ele, participar do Governo do Estado de São Paulo, na Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos. Agora, depois de 41 anos de profissão, meu sonho é apenas o de conseguir convencer a todos os estudantes e jovens engenheiros, independente de gênero, que a carreira é gratificante e a dedicação ao estudo e ao trabalho valem muito a pena. Janeiro a Março de 2020
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