AINAS 15. 09/10 2021

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CROSSING

MAXWELL ALEXANDRE Nascido no Rio de Janeiro, em 1990, Maxwell Alexandre vive e trabalha na Favela da Rocinha, uma das mais populosas do Brasil. O artista desistiu da carreira de patinador profissional, que manteve dos 14 aos 20 anos, para tentar uma bolsa no curso de design na PUC RJ, onde se formou em 2016. Em contato com a matéria de plástica, com o artista Eduardo Berliner, passou a conhecer a arte contemporânea e a pintura. Após um distanciamento da comunidade, por razão da faculdade em que se dedicou durante anos, resolveu se reconectar com os amigos no intuito de pertencer novamente àqueles círculos, segundo entrevista concedida ao jornal O Globo em 2018. Desse retorno, surgiu o combustível para sua criação. Seu trabalho sugere um lugar afirmativo do negro retratado por meio das confluências entre a rotina dos desafios da contemporaneidade, como a marginalização e o enfrentamento policial, às influências nas letras do rap. Em entrevista ao site Vice Brasil, Alexandre cita que sua produção é pautada por poetas negros que têm vivências congruentes à sua. No depoimento, ele afirma que: “isso é forte. É uma quebra de paradigmas dentro da história da arte, uma vez que os artistas se alimentam majoritariamente de uma poesia branca e europeia pra produzir”. Essa aproximação com a música e com a comunidade contribuiu para a concepção da série Pardo é papel. Sobre folhas e folhas de papel pardo instaladas em seu estúdio, o artista pincela o cotidiano ao seu redor. Desse olhar, obras em grande escala são concebidas como um reflexo da autoidentificação da população negra – algo que o artista vê como um fenômeno positivo. Pardo é papel reflete uma inquietação com a utilização de um termo usado para velar a negritude do povo brasileiro. Alexandre explicita a problemática em torno do termo cunhado pelos dados de autodeclaração reunidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que designam parte da população negra no Brasil. Ao afirmar que pardo é uma denotação

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