A LEP
ANO I Setembro – 2014 N.º 05
mvp
APPLIED CARTOONING MANIFESTO DE ARTE-EDUCADORES MOSTRA COMO AUTORES PODEM GANHAR DINHEIRO COM HQ’S
MINHA OPINIÃO
O FANTASMA DA REDE SOCIAL por Frank Delmindo (frankdelmindo@hotmail.com)
Não pude deixar de ligar seu rosto iluminado pelo lume azulado
do display do celular a alguma manifestação fantasmagórica, destacado contra o fundo negro do quintal às escuras. Parecia o alto contraste de uma ilustração do Mignola, apenas o tom preto aveludado a não corresponder.
Oh, que insolência de sua parte. A inveja lhe corroia as entranhas? Desejava ser um sonho de objetificação para os meninos? Recordou-se de tudo o que sabia a respeito das relações íntimas de homens com mulheres, nada lhe parecendo tão premente ou hipnotizante.
A jovem vivia em relação à sua irmã caçula, uma situação bastante semelhante à de suas tias. A mais nova e mais bela chamava atenção dos garotos da vizinhança, deixando a mais velha de escanteio, restando-lhe poucos pretendentes. Agora, era a vez delas, de passar por este looping de um Destino pouco criativo e dado a repetições de enredos. Ou seríamos nós, o fator causador de tal pobreza de roteiro? Estaria o Destino enfadado de dispor às mãos, sempre as mesmas peças, de iguais detalhes, distintas apenas pela época?
Achou graça dos flagras dados nos tios e tias, na casa sempre cheia de membros da família toda, e de como alguns não se importavam em esconder ou manter discrição nas madrugadas barulhentas. O ranger de molas e os gemidos audíveis contavam a ação toda oculta pelas paredes dos quartos. O latido ruidoso do cachorro do vizinho a retirou do mar de conjecturas. Curioso, não via os moradores das casas à direita, à esquerda, nem ao fundo, com freqüência suficiente para memorizar suas feições ou figuras. Porém, podia apontar com segurança os latidos de todos os cachorros destas mesmas casas. Conhecia os ganidos dos animais quadrúpedes, desconhecendo a pessoa de seus donos e donas.
Solitária em seu quintal noturno encontrava nas redes sócias do mundo internético a companhia menos problemática. Bem diferente dos Romeus risonhos, desajeitados e exalando hormônios e vontade de reprodução da espécie humana. Sorria de lado, ao perceber a analogia entre todos eles e demais animais no cio, ali presentes pela necessidade irrefreável de cumprir ciclos biológicos. A irmã mais jovem exibia ares de cantora de funk da moda, as roupas diminutas e apertadas, a mecha preta lisa a encobrir parcialmente sua testa. Havia saído do corpo de menina a menos de meses, quiçá somente dias atrás. E transformou-se logo em farol e musa para os jovens da área, sonhadores e interessados em se dar bem como apenas os galãs de filmes pornôs podem conseguir.
Levantou-se do diminuto tamborete e foi ter com o restante da casa, bem iluminada e conhecidamente habitada. Faróis vindos da rua varreram o corredor e os cômodos frontais com suas luzes difusas. Ficou curiosa quanto aos vizinhos, quando desembarcaram para abrir os portões das garagens.
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Quem sabe o Destino não decidisse inovar, abandonar as velhas fórmulas mercadológicas de sua trama, e tecer melhores urdiduras para ela, irmã mais velha, a mais preterida dentre todas.
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ENTREVISTA
MAX ANDRADE por Dylan Moraes (dylanmoraes@gmail.com) Protótipo do autor web bem-sucedido, Max Andrade aceitou ceder esta entrevista para a ALEP MVP. Vejamos se é possível descobrir – e reproduzir, claro – o sucesso deste conhecido autor. Vamos ao embate! ALEP MVP: Quando o assunto são Quadrinhos, você se considera um autor apenas de mangás, ou tem interesse em transitar por outras estéticas quadrinísticas?
trabalho. Pra mim não funciona. Talvez pelo fato do “amadorismo” mesmo, poucos levam a sério como um trabalho de verdade. Grupos menores de pessoas mais comprometidas e unidas vocês vão ver um monte estourando aí. Pode ter certeza.
MAX ANDRADE: Me considero um autor de quadrinhos. Uso o nome “mangá” apenas para ter um direcionamento de público melhor, porque as pessoas gostam muito de separar as coisas. E também pela influência dos mesmos serem maiores na minha obra. Mas quero sempre viajar e melhorar meu trabalho com outras referências.
ALEP MVP: A grande pergunta, “qual o segredo do seu sucesso?” Revele para nossos leitores como podem ganhar concursos de mangás, financiar seguidamente projetos de crowdfunding, entregar sem problemas as recompensas dos apoiadores, etc.:
ALEP MVP: A pergunta de praxe, “de onde vem seu interesse por desenhos ou mangás”?
MAX ANDRADE: Bom, certamente ainda estou no caminho. Estou longe de ser um grande quadrinista ainda. Pra ganhar um concurso nacional de mangá tem que fazer um bom trabalho e que agrade os avaliadores, o que não é tão fácil assim. Já sobre o crowdfunding, é necessário estudar diversos outros projetos do meio e fazer com seriedade e compromisso com os leitores. Eu tento sempre manter o contato e deixar os mesmos atualizados sobre tudo que está rolando pra honrar com o compromisso deles. É negócio sério, não é brincadeira. Infelizmente sabemos que não são todos que fazem assim.
MAX ANDRADE: Meu pai era colecionador de quadrinhos e comprava muitos para nós, por isso me interessei desde que sei que existo. À medida que fui conhecendo mais, fiquei mais interessado e com vontade de fazer. ALEP MVP: Corre a boca pequena uma teoria de que formar coletivos de amadores mangakás seria uma prática acabada e sem mais futuro. Você acha que formar coletivos de autores amadores ainda pode surpreender ou revolucionar a cena independente dos mangás? MAX ANDRADE: Minha opinião é que grupos grandes dão trabalho. Pra mim não funciona. Talvez pelo fato do “amadorismo” mesmo, poucos levam a sério como um trabalho de verdade. Grupos menores de pessoas mais comprometidas e unidas vocês vão ver um monte estourando aí. Pode ter certeza. ALEP MVP: A grande pergunta, “qual o segredo do seu sucesso?” Revele para nossos leitores como podem ganhar concursos de mangás, financiar seguidamente projetos de crowdfunding, entregar sem problemas as recompensas dos apoiadores, etc.: MAX ANDRADE: Bom, certamente ainda estou no caminho. Estou longe de ser um grande quadrinista ainda. Pra ganhar um concurso nacional de mangá tem que fazer um bom trabalho e que agrade os avaliadores, o que não é tão fácil assim. Já sobre o crowdfunding, é necessário estudar diversos outros projetos do meio e fazer com seriedade e compromisso com os leitores. Eu tento sempre manter o contato e deixar os mesmos atualizados sobre tudo que está rolando pra honrar com o compromisso deles. É negócio sério, não é brincadeira. Infelizmente sabemos que não são todos que fazem assim.
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ALEP MVP: Qual sua opinião acerca de concursos nacionais de mangás que não remuneram ganhadores com prêmios em dinheiro? Você ou dinheiro? pretende comparticipou prêmios em Você participou ou participar de algum? pretende participar de algum? MAX ANDRADE: Participei sim. O da Ação Magazine era MAX ANDRADE: Participei nesse modelo, e o da JBC também. É importante ter em sim. O da Ação Magazine mente que existem menos de 10 quadrinistas brasileiros era nesse modelo, e o da com histórias próprias (autorais) sendo veiculados em JBC também. É importante banca de verdade no país todo. Então ter emPouquíssimos. mente que existem 10 esfera quadrinistas participar de um concurso quemenos te jogade nessa não é com histórias não receber nada, se não brasileiros olharmos apenas a área próprias (autorais) sendo financeira. Fora o fato de queveiculados quase nenhum em autor banca tem de grana pra bancar uma impressão de mais de verdade no país 10.000 todo. Pouquíssimos. Então partiexemplares, distribuição, divulgação e tudo mais. cipar de um concurso O alcance é de outro nível. Um crowdfunding que por te joga nessa esfera não é exemplo pode dar certo facilmente depois de um não receber nada, se não concurso desses. Não é um ganho? olharmos apenas a área financeira. Fora o fato de quase nenhum autor ALEP MVP: Ainda sobre osque coletivos de amadores tem grana pra bancar uma mangakás, você pode apontar quais os de maiores impressão maiserros de ocorridos nestes grupos? Mudaria ou proporia algo 10.000 exemplares, distribuição, divulgação e tudo diferente para eles? mais. O alcance de outroMenos nível. MAX ANDRADE: Mais organização, menosé euforia. Um crowdfunding por colaboradores, mais preparação. Os coletivos
tipo já não faz o menor sentido. Eu tenho contato com autores e editores e troco muita experiência com isso, aprendo e evoluo. Também tento ajudar os outros quando posso. Fora isso, só ignoro mesmo, antes eu dava atenção. Já tenho trabalho demais na fila pra perder tempo com isso. E recomendo o mesmo pra todo mundo. ALEP MVP: Outra pergunta de praxe, “você acredita ser possível transformar os atuais autores amadores em verdadeiros empreendedores? Pessoas produtivas com CNPJ, emissão de nota fiscal e ISSN ou ISBN nas publicações”? MAX ANDRADE: Acredito que sim, acho que tem muitos independentes que fazem isso, se sair do grupo só do mangá. E outra, não considero apenas essas formalidades como profissionalismo, tem muita coisa mais importante. ALEP MVP: Quais as maiores dificuldades encontradas e vividas em sua atividade autoral? Você usa estratégias ou artimanhas para contorná-las?
Ao lado: cena do mangá Tools Challenge; Acima: o autor, Max Andrade; Abaixo: logo de Tools Challenge na campanha de crowdfunding. Seria possível obter os mesmos resultados, adotando-se o modus operandi e postura profissional de Max Andrade? O alcance é de outro nível. Um crowdfunding, por exemplo, pode dar certo facilmente depois de um concurso desses. Não é um ganho? ALEP MVP: Ainda sobre os coletivos de amadores mangakás, você pode apontar quais os maiores erros ocorridos nestes grupos? Mudaria ou proporia algo diferente para eles? MAX ANDRADE: Mais organização, menos euforia. Menos colaboradores, mais preparação. Os coletivos apareceram em grande escala logo após o surgimento da Ação Magazine. Se não me engano, uns 5 ou 6 grupos. Praticamente todos já morreram, mas com certeza os autores aprenderam muito com isso. O mais forte de todos, disparado, e talvez mais profissional foi a Conexão Nanquim, que pisou feio na bola mas pode ressurgir de forma mais organizada. ALEP MVP: Você vê algo de positivo nos bate-bocas e discussões promovidas pelos trolls, haters e stalkers na Internet? Em Emespecial especial quando envolve a cena quando envolvedea cena independente mangakás e quadrinheiros? Ou acha independente manque são apenasdefazendeiros de tretas (plantam, colhem e gakás e quadrinheiros? distribuem safras inteiras de tretas)? Ou acha que são apenas tre-que não ajuda em nada. Discussão MAXfazendeiros ANDRADE: de Acho tas (plantam, colhem e édistribuem muito legal, masinteiofender e coisas do tipo já não faz o safras menor sentido. Eu tenho contato com autores e editores ras de tretas)? e troco muita experiência com isso, aprendo e evoluo. MAX ANDRADE: Acho Também ajudar que nãotento ajuda emos outros quando posso. nada. Discussão é Fora isso, só ignoro mesmo, antes eu dava atenção. Já muito legal, mas tenho trabalho demais na fila pra perder tempo com isso. ofender e coisas do E recomendo tipo já não fazoomesmo menor pra todo mundo. sentido. Eu tenho contato com autores e ALEP MVP: Outramuita pergunta de praxe, “você acredita ser editores e troco
MAX ANDRADE: Convencer as pessoas a ler e comprar seu trabalho, ter que divulgar ao mesmo tempo que produz. Estou fazendo quadrinhos a 7 anos e aprendi um tanto bom sobre isso tudo, as coisas estão indo bem no momento. Pra melhorar é só trabalhar, trabalhar, e trabalhar. Depois trabalhar mais um pouco. É o que estou fazendo, e falta muito pra chegar aos objetivos. ALEP MVP: Se fosse apresentar uma temporada do hipotético “O Aprendiz – Mangakás Nacionais”, quais características os vencedores do programa deveriam ter? E quais defeitos teriam os que ouvissem o seu “você está demitido”? MAX ANDRADE: Acho que mais importante de tudo seria a vontade de fazer, a seriedade pra levar em frente e humildade pra aprender com as dicas dos outros. O defeito maior seria ficar só sonhando e não colocar a mão na massa e não aceitar conselhos. ALEP MVP: Agradecemos o interesse e a participação de Max Andrade. Fique à vontade para dar seus recados aos nossos leitores. Vamos em frente! MAX ANDRADE: Obrigado pelo convite. Estou fechando o Tools Challenge 2 e ele será lançado em outubro, assim como tudo será entregue aos colaboradores nesse mês. Além disso, estou produzindo mais duas HQs como desenhista contratado e mais uma outra secreta que não posso revelar. Para saber de tudo isso, acompanhe as páginas no facebook! https://www.facebook.com/ToolsChallenge https://www.facebook.com/PuffnoPiripaaf Valeuzão! .
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MATÉRIA DE CAPA
APPLIED CARTOONING por Dylan Moraes (dylanmoraes@gmail.com) Manifesto de arte-educadores norte-americanos propõe uma abordagem interativa dos autores de ilustração e quadrinhos com seu público-alvo de leitores e com a própria realidade artístico-autoral contemporânea a O Center for Cartoon Studies (CCS), uma instituição norte-americana com foco na arte seqüencial, especificamente quadrinhos e Graphic Novels, fundada por James Sturm e Michelle Ollie em 2004, lançou um Manifesto chamado The Applied Cartooning. Nesta cartilha em quadrinhos, os autores James Sturm e Marek Bennett apresentam a situação média dos quadrinistas e interessados em viver da profissão de autor cartunista, propondo uma abordagem diferenciada.
de quadrinista, partindo, invariavelmente, na faixa etária da adolescência. Esta determinação juvenil de se trabalhar com o que se ama, os Desenhos e os Quadrinhos, será posta a prova pelas necessidades da vida cotidiana, tais como a chegada da vida adulta, enfermidades, ter filhos e conjugues, etc. Alugar stand em eventos de cultura pop e vender dezenas ou centenas de exemplares da sua obra física, lançar-se em campanha de financiamento coletivo, via um Kickstarter ou Catarse da vida, não garantirá um sustento digno para o autor quadrinheiro, chegando a comprometer sua produtividade autoral, pois enquanto vende em eventos esporádicos ou divulga e promove campanhas eventuais de crowdfunding, ninguém estará produzindo.
O Manifesto considera o interesse puro e simples em desenhos e quadrinhos como algo sem problemas, ainda na esfera de hobbys ou passatempos, tal qual um boleiro de fim-de-semana ou um ciclista eventual. O ponto de partida da proposta de Sturm e Bennett e, portanto, da própria instituição CCS, surge quando o amador ou interessado passa a olhar a produção de quadrinhos como uma carreira profissional. Modelos convencionais de publicação oferecem suas saídas, como a produção de livros quadrinizados, cujo valor remunerado pode até ser elevado, mas incompatíveis como forma de sustento do quadrinista, devido à demora de se produzir dezenas, quando não centenas de páginas de quadrinhos. Aceitar um trabalho destes, como quadrinista, pode ser um tiro no próprio pé, pois o pagamento pelo trabalho será gasto muito, muito tempo antes de a obra ser concluída. Como o quadrinista irá sustentar a si e a uma eventual família, enquanto produz para finalizar a encomenda? Para completar, vez ou outra o valor pago pelo serviço precisa ser dividido com agentes ou atravessadores do meio editorial, restando ainda menos para o mal-remunerado autor. No meio editorial convencional, as recompensas financeiras para o autor costumam ser escassas, dividida com agenciadores e incompatíveis enquanto fonte de renda suficiente e garantida. Se a obra for pouco ou nada conhecida do grande público, ou pouco divulgada, mesmo o apoio de boas críticas da imprensa especializada não garantem boas vendas. Para completar, uma audiência cada vez mais efêmera e passageira, passível de desatenção devido a um único click ou touchscream, mostra-se cada vez mais difícil de serem enredadas e convencidas a adquirir novas e desconhecidas obras quadrinísticas. Fatalista, porém coerente, o Manifesto do CCS compreende ser o amor e a paixão pela mídia Quadrinhos o incentivo maior em se buscar uma carreira profissional como
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A capa do Manifesto do Center for Cartoon Studies.
Fonte: Sturm e Bennett (2014).
editoras – tenha editores efetivos dentre sua rede de contatos – autopublicar-se, levantar capital para bancar impressões de exemplares; imprimir, distribuir, cuidar e fazer desovar com lucro os encalhes; iniciar, cuidar e finalizar a contento as campanhas de financiamento coletivo em sites de crowdfunding.
produzindo novas páginas de quadrinhos para ele. Com sua produção autoral paralisada, enquanto faz às vezes de autoeditor, o quadrinista não disporá de novas obras para lançar futuramente. Todas estas dificuldades vêm inseridas na luta do autor de quadrinhos por uma carreira econômica e financeiramente sustentável, e têm sido a maior barreira enfrentada pelos novatos e auto publicados.
Neste ponto, ocorre uma grande mudança de significado da atividade autoral dos quadrinheiros, nesta obra de Sturm e Bennett. Até aqui, a atividade do quadrinista era encarada como meio de auto-expressão e sentido de identidade dos autores. E se produzir Quadrinhos fosse uma maneira de exploração, interação e criar mudança real do mundo ao redor? E se produzir Quadrinhos pudesse ser mais um senso de comunidade, ao invés da corriqueira prática solitária individualizante?
Caracterizado na cartilha em quadrinhos de Sturm e Bennett como um diminuto roedor, o quadrinheiro corre em sua gaiola de esteira, tendo que, simultaneamente: 1. Encontrar tempo no seu dia-a-dia – Com vistas a viver uma vida sem endividamento, continuar os estudos – e se tiver abandonado a escola, retornar – não ter um comportamento consumista, cortar gastos considerados supérfluos, ter uma verdadeira disciplina financeira aplicada nas suas contas e gastos;
O Manifesto do Center for Cartoon Studies propõe encarar os mangás, comics e demais estéticas das hq’s, não como mais um subproduto da cultura geek, mas sim como um poderoso canal de apreensão, processamento e apresentação de informação visual e literária.
2. Produzir – Tiras, charges, webcomics, graphic novels, usar da arma maior de um quadrinista, o amor e paixão pelas hq´s;
Contextualizado com o oceano de imagens e cultura visual existente na Internet, a rede mundial de computadores, onde textos e imagens formariam uma “literatura visual”, a qual poderia ser canalizada para o veículo de comunicação Quadrinhos, transformada agora em um meio de geração e compartilhamento de idéias, chegando a moldar informações apresentadas.
3. Formar público para suas obras – Leitura de obras em quadrinhos e de outras mídias como cinema, literatura, animações, etc., participar de eventos de cultura pop, festivais literários, manter intensa divulgação na Internet e redes sociais; 4. Sustentar-se, a si e a sua família, por meio de sua produção autoral – Trabalhos convencionais para editoras – tenha editores efetivos dentre sua rede de contatos – autopublicar-se, levantar capital para bancar impressões de exemplares; imprimir, distribuir, cuidar e
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Ainda que surpreendente tal proposta não difira muito dos hieróglifos do Egito ou das pinturas rupestres em cavernas antiqüíssimas, formas de comunicação midiática, atreladas aos meios disponíveis para comunicadores de cada período histórico. Sturm e Bennett vêem e abordam as hq´s, em sua doutrina
em cavernas antiqüíssimas, formas de comunicação midiática, atreladas aos meios disponíveis para comunicadores de cada período histórico. Sturm e Bennett vêem e abordam as hq´s, em sua doutrina Applied Cartooning, como um verdadeiro código-fonte, por meio do qual se pode ver e interpretar a cultura textual-visual das modernas tecnologias digitais, bem como quaisquer tipos de assuntos, a saber:
como formas de beneficiar suas comunidades e a sociedade em geral. Os autores estabelecem uma analogia interessante. O quadrinheiro que produz para si mesmo está “desenhando caixas” – por estar fechado dentro da prática individualizante escolhida – enquanto que o quadrinista que produz para a comunidade e sociedade em que está inserido, o próprio conceito de Applied Cartooning, nesta prática externalizante escolhida, “desenha portas”. Apartidários, Sturm e Bennett não defendem uma abordagem em detrimento da outra, mas sim o uso de ambas, o mais simultaneamente possível.
a) Educação: Quadrinhos podem transformar alunos em participantes motivados, energizando o aprendizado e melhorando a aplicação dos currículos educacionais; b)Medicina: As hq’s podem instruir pacientes a formar narrativas concisas e permitir aos médicos uma comunicação de maior clareza e precisão;
O Applied Cartooning e sua produção externalizada para a sociedade ao redor cria esta ligação intrínseca entre os quadrinhos e desenhos produzidos e o ambiente coletivo humano.
c) Empreendedorismo: Um Plano de Negócio no formato de hq’s pode transmitir mensagens mais específicas para um público em especial;
O Center for Cartoon Studies (CCS), fundada pelo cartunista James Sturm e Michelle Ollie em 2004, é uma instituição com foco na arte seqüencial, especificamente quadrinhos e Graphic Novels, localizado na aldeia de White River Junction, na cidade de Hartford, Vermont, o Centro oferece um mestrado em Belas Artes, ambos os programas de certificação de um e dois anos, bem como programas de verão, e é "o único programa de formação de nível universitário de seu tipo nos Estados Unidos." Site da instituição: http://www.cartoonstudies.org/
d)Comunidades: Quadrinhos podem ser ferramentas de divulgação e mesmo desenvolvimento de idéias, e da apresentação destas para comunidades específicas.
James Sturm é um cartunista americano e co-fundador do CCS. Também é o fundador da Associação Nacional dos Quadrinhos Arte Educadores (NCAE), uma organização empenhada em ajudar a facilitar o ensino das histórias em quadrinhos no ensino superior. Marek Bennett, M.Ed., é um cartunista, músico e educador, que leva quadrinhos por meio de oficinas para todas as idades.
Logo do Center for Cartoon Studies. Sturm e Bennett reconhecem a dualidade existente na atividade dos desenhistas e quadrinistas em geral: o conjunto de habilidades cultivadas e desenvolvidas são valiosas como forma de expressão própria do autor, bem como formas de beneficiar suas comunidades e a sociedade em geral.
A cartilha do CCS pode ser lida na íntegra neste link http://issuu.com/cartoonstudies/docs/appliedcartooning manifesto Ω
Os autores estabelecem uma analogia interessante. O quadrinheiro que produz para si mesmo está “desenhando caixas” – por estar fechado dentro da prática individualizante escolhida – enquanto que o quadrinista que produz para a comunidade e sociedade em que está inserido, o próprio conceito de Applied Cartooning, nesta prática externalizante escolhida, “desenha portas”. Apartidários, Sturm e Bennett não defendem uma abordagem em detrimento da outra, mas sim o uso de ambas, o mais simultaneamente possível. O Applied Cartooning e sua produção externalizada para a sociedade ao redor cria esta ligação intrínseca entre os quadrinhos e desenhos produzidos e o ambiente coletivo humano.
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EMPREENDEDOR DOS QUADRINHOS
O “POUCO OU QUASE NADA” DO EMPREENDEDOR DOS QUADRINHOS (*) por Dylan Moraes (dylanmoraes@gmail.com)
Góis (2006) considera os diversos fatores do aumento de interesse e prática do Empreendedorismo, como sendo “um processo capaz de criação e desenvolvimento de atividade empresarial mobilizar a economia, devido a uma série de geradora de resultados positivos. Ao empreender, criamos transformações ocorridas, vivenciadas, em maior ou menor valor através do desenvolvimento de uma atividade medida, por todos os países, a exemplo do declínio nos empresarial. Alencar apud Schumpeter (2012) “chama níveis de emprego, aumento da pobreza, redução da atenção em sua análise para as economias monetizadas de interferência do Estado, políticas de incentivo à criação de crédito, ressaltando que a maioria dos novos micro e pequenas empresas, aprofundamento do processo empreendedores, não possuem os meios de produção, de globalização e emergência do capital humano, dentre capital fixo e nem capital de giro para custear a fundação de outras”. O Empreendedor Quadrinista enquadra-se em uma empresa; tendo que recorrer à credores (bancos, especial nesta emergência do capital humano, posto ser um angels), muitas vezes sem ter o que oferecer como garantia. tipo de empreendedor focado nas dimensões de suas Drucker (1987) considera empreendedor “aquele que capacidades próprias, seus talentos em ilustrar, roteirizar, faz um investimento relativamente baixo em um produto ou colorir e demais disciplinas relativas ao ato de produzir serviço, e consegue alocar uma margem de lucro alta ao seu Quadrinhos. negócio”. A abordagem de Drucker caracteriza exatamente Carpintéro e Bacic (2003) contextualizam a ação as especificações financeiras adequadas ao empreendedor empreendedora como diretamente relacionada à brasileiro e, por tabela, ao Empreendedor Quadrinista: baixo sobrevivência das pessoas, estas motivadas pelo investimento feito no serviço ou produto, aliado a uma desemprego ou por não adentrarem o mercado de trabalho, margem elevada de lucro. devido a baixa escolaridade ou quaisquer outras O Quadrinista Empreendedor atua inserido na dificuldades. Buscam solução na abertura de um realidade brasileira do Empreendedorismo, marcada por empreendimento individual, via de regra, de resultados este “pouco ou quase nada” afirmado por Barreto. E precários e negativos. Isto caracteriza este empreender por enfrenta falta de incentivo ou mesmo poucos estímulos necessidade como resultado de uma economia em para sua jornada empreendedora, falta de capital para dificuldades, sendo o contrário do empreender por investir e pouco acesso a crédito para constituir este capital oportunidades identificadas e almejadas, como se esperaria inicial, nível educacional insuficiente (baixa escolaridade) ou de uma economia forte e em franco crescimento. mesmo precário (vide os estudantes em nível universitário, O Empreendedor Quadrinista localiza-se fora destes acometidos pelo analfabetismo funcional), e a ausência de dois tipos de motivações, haja vista ser seu foco a auto instituições acadêmicas de formação técnica nas áreas de realização de trabalhar com o que lhe dá prazer e satisfação produção efetiva da mídia Quadrinhos, a ensinar pessoal. Confrontado pela inexistência de caminhos para suficientemente os autores brasileiros a criar, roteirizar, trabalhar com aquilo de que gosta, termina por buscar, no desenhar, arte-finalizar, colorir e dar acabamentos diversos Empreendedorismo, o caminho desejado para atuar com às suas obras quadrinísticas. sua tão querida mídia. A auto-realização do autor, em busca de expressar Conforme Barreto (1998), o Empreendedorismo sua arte, vem acompanhada da necessidade de criar os constitui-se na habilidade de concepção e estruturação de canais indispensáveis para esta própria atividade de algo, a partir de pouco ou quase nada. Este autor não quadrinista. Pelo simples fato de praticamente inexistirem considera esta capacidade uma característica da canais para a atividade profissional de quadrinista, este se personalidade humana, por visualizar o Empreendedorismo vê na exigência de atuar pessoalmente e desbravar estas como um comportamento ou processo voltado para a trilhas do editar a si mesmo. criação e desenvolvimento de atividade empresarial (*) Textodeextraído do positivos. livro GUIA DOcriamos EMPREENDEDOR DOS QUADRINHOS, à venda nos sites: geradora resultados Ao PRÁTICO empreender, valor através do desenvolvimento de uma atividade * CLUBE DE AUTORES: empresarial. Alencar apud Schumpeter (2012) “chama atenção em sua análise para as economias monetizadas de https://clubedeautores.com.br/book/156811-crédito, ressaltando que a maioria dos novos GUIA_PRATICO_DO_EMPREENDEDOR_DOS_QUADRINHOS#.UrcobNJDuZM empreendedores, não possuem os meios de produção, capital fixo e nem capital de giro para custear a fundação de * PERSE: uma empresa; tendo que recorrer à credores (bancos, angels), muitas vezes sem ter o que oferecer como garantia. http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1387371057615 Drucker (1987) considera empreendedor “aquele que faz um investimento relativamente baixo em um produto ou * Dylan Moraes Perfil no SKOOB: http://www.skoob.com.br/autor/10333 serviço, e consegui alocar uma margem de lucro alta ao seu 10 negócio”. A abordagem de Drucker caracteriza exatamente as especificações financeiras adequadas ao empreendedor
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EMPREENDEDORISMO PARA AUTORES
O COTIDIANO DE UM EMPREENDEDOR por Dylan Moraes (dylanmoraes@gmail.com)
“Livrar-se do patrão chato”, “trabalhar com aquilo que se gosta”,
ainda é horário um lema “fazer seunão próprio de trabalho” e muitos
outros mitos costumam percorrer a mente de quem planeja empreender. Dar as costas ao emprego comum, às obrigações de cumprir horários de expedientes, aos salários irrisórios e ao estresse no deslocamento de ida e volta do local de trabalho, abraçando o desafio da auto-realização e do sucesso financeiro. Todos os pensamentos corriqueiros para quem visualiza tornar-se um empreendedor. Incluindo os mais ilusórios possíveis, da ordem de “posso trabalhar quantas horas eu quiser, em qualquer dia da semana” ou “tirar férias o quanto e quando me der na telha”. A realidade cotidiana para quem empreende não poderia ser mais diferente. Ao serem confrontados pelo “deserto do mundo real”, estas pessoas descobrirão as condições e situações constantes na vida de empresários, e isto independente do porte da sua empresa:
monitorando aquele fechamento de projeto ou trabalho, ou aquela resposta fundamental do parceiro comercial, cuja desatenção pode custar recebimentos valiosos e mesmo críticos no funcionamento ou própria existência da empresa. Você, caro(a) leitor(a), não atenderia tal chamada? FÉRIAS – Imediatismos e questões administrativas fundamentais, como as que interrompem constantemente as refeições, continuam alcançando e afligindo o Empresário durante o seu período de férias. Nada de deixar o notebook ou laptop ou o celular desligado, sem saber a quanta anda a empresa “sem a sua presença indispensável”. Cria-se o mito do gestor insubstituível, e do monitoramento neurótico da saúde financeira da empresa, ainda que esta esteja nos trilhos e em franco progresso. CONVÍVIO COM A FAMÍLIA – Na hora de iniciar o empreendimento, o futuro empresário sempre saca da manga uma das grandes razões pessoais para empreender: aumentar o contato e tempo de convívio com sua família. E qual a grande ausência sentida no núcleo familiar, tão logo inicia-se o árduo e interminável trabalho de cuidar do negócio?
HORAS TRABALHADAS - Empresários enfrentam jornadas de trabalho de 12 a 15 horas. Empregados assalariados costumam seguir por 8 horas de trabalho, com intervalo de 1 ou 2 horas, podendo atingir 12, dependendo do regime de expediente acertado e aceito com o patrão. Hora do almoço? Empresários dificilmente fazem uma refeição inteira Pois é. Ficar até mais tarde no trabalho, sem algumas interrupções do telefone, celular ou ecuidando disto ou daquilo, ausentar-se também nos mail. Ignorar tais contatos para poder alimentar-se fins-de-semana e feriados, não apenas uma vez ou sem problemas não faz parte de quem está outra, mas consecutivamente por meses e mais monitorando aquele fechamento de projeto ou 12 meses... até o ponto de alcançar anos e mais anos a trabalho, ou aquela resposta fundamental do fio. Conheci um rico empresário do setor da parceiro comercial, cuja desatenção pode custar Construção, milionário devido aos seus contratos
meses... até o ponto de alcançar anos e mais anos a fio. Conheci um rico empresário do setor da Construção, milionário devido aos seus contratos assumidos com um governo estadual, obrigado a viajar de cidade em cidade, de município em município para acompanhar as obras, que hoje lamenta-se profundamente pelo fato de não ter acompanhado e, na prática, não ter visto o crescimento dos filhos. Para quem não tem, não quer ou ainda se julga imune ao profundo prazer e enorme realização pessoal de ter uma família, tal fato pode parecer diminuído pelos milhões de riqueza ajuntados por este empresário. Porém, quem tem família e sabe o valor de conjugue e filhos ou filhas, pode dimensionar a felicidade imensa dos empresários que sabem valorizar e manter seus núcleos familiares, sem sacrificá-los pela simples atividade de enriquecimento próprio, mantendo-se o enriquecimento pessoal-sentimental e familiar. INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA – Esta é uma das mais amargas constatações do Empresário, ao ver o constante número de equilibrismo ao qual está sujeito seu negócio, sempre tendo que levar em conta a influência intermitente de fornecedores, parceiros-chave, políticas governamentais variadas, questões trabalhistas e de recursos humanos. Inevitável cair à ficha de que, quando era um funcionário, nem desconfiava da real situação financeira da empresa que pagava seu salário: todo empregado é um “passageiro” desavisado e desconhecedor das dificuldades intermináveis enfrentadas pelo “motorista” do negócio, dentro do Capitalismo. E não se iluda, pois mesmo os que atuam criminosamente em mancomunação de corrupção ou criminalidade, podem ter seus tapetes irrevogavelmente puxados, suas “empresas” liquidadas e, ou a penitenciária ou a condição de foragido da Justiça a esperá-lo. PATRIMÔNIO PESSOAL – Esta será um grande banho de água fria para os que ainda têm uma visão romântica da atividade empresarial. Enquanto seu empreendimento estiver em expansão, e necessitando de novos aportes de capital e demais recursos, acredite, todo o bololô de dinheiro reunido pelo agora rico Empresário estará comprometido, pois quase sempre é dado como garantia dos 13 empréstimos realizados.
pois quase sempre é dado como garantia dos empréstimos realizados. Sim. Tenha ganhado milhares ou milhões de dinheiros, o patrimônio do empresário sempre estará sob maior ou menor grau de comprometimento. Prova cabal disso são os bilionários que, vez por outra, perdem todas as suas imensas fortunas, retornando a padrões, digamos, mais modestos de condição social. Desta maneira, ao cuidar de seu negócio e manter sua boa saúde financeira, o empresário também está garantindo a manutenção e continuidade de seu patrimônio pessoal. COMPETÊNCIA PARA SER UM EMPRESÁRIO DE SUCESSO – Não tem jeito, a pessoa do próprio empreendedor representa o maior bem da empresa. Passando ao longe das caras e nem sempre salvadoras consultorias especializadas em negócios, o empresário necessita ter capacitação própria para gerir e fazer progredir sua empresa. Considerando-se os motivos recorrentes das elevadas taxas de mortalidade de novos negócios, observada em nosso país, a figura do empreendedor e administrador de seu próprio negócio, desponta como o diferencial do sucesso ou fracasso. Sem as competências necessárias para administrar corretamente, o empresário poderá ver sua empresa descambar para o encerramento, pelo simples fato de não ter se capacitado para cuidá-la, contra as intempéries do mundo empresarial. Entretanto, e apesar de todas as dificuldades apresentadas, não apenas pela riqueza pessoal, mas também pela possibilidade de trabalhar naquilo que se ama, empreender e tornar-se um empresário vale muito a pena pois, se nem todos se encaixam na vida de empreendedor, o contrário também é uma verdade irrefutável: muitas pessoas cultivam a certeza pessoal e intransferível de terem nascido para o empresariado. E, se este for o seu “chamado de vida”, não se incomode se ainda necessitar da capacitação necessária para ter maiores chances de vitória nesta empreitada. Ninguém nasce sabendo das coisas. Tudo pode ser aprendido, bastando apenas dispor daquilo que o físico Albert Einstein chamava de “o maior poder existente na face da Terra”: a vontade humana de realizar.
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